princípios da isonomia, isegoria e isocracia,
HISTÓRIA GERAL
ANTIGUIDADE CLÁSSICA – GRÉCIA
ANDERSON SANCHES
TEXTO GUIA
Apesar de já ser habitada, a Península
Balcânica começou a se transformar no berço da
civilização helênica quando, entre 2000 e 1200
a.C, passou a receber ondas migratórias de
povos indo-europeus. Este período de
povoamento da Hélade por Aqueus, Jônios,
Eólios e Dórios é chamado de Período Pré-
Homérico. É preciso ressaltar a violência das
investidas dos Dórios, por volta de 1200 a.C,
responsável por provocar a Primeira Diáspora
Grega e o início de um período de considerável
regressão das sociedades peninsulares,
conhecido como Período Homérico, entre 1200 e
800 a.C.
Em boa medida impulsionado pelo
crescimento demográfico e pela elevação do nível
de tensão social, iniciou-se, a partir do século VIII
a.C, mais um movimento de dispersão dos gregos
pelo Mediterrâneo, a Segunda Diáspora Grega,
acompanhado do crescimento de um novo
modelo de organização social, a Pólis, a típica
cidade-Estado da Grécia antiga. O processo de
formação das pólis ocorreu no Período Arcaico,
entre os séculos VIII e VI a.C, e foi caracterizado
pelo pluralismo (Ler Texto Complementar 01).
Apesar dos helenos falarem a mesma língua e
adorarem os meus deuses, mas vivendo em pólis
autônomas, nunca constituíram um Estado
Nacional. Esparta e Atenas não foram as únicas,
mas sempre são apresentadas como os grandes
exemplos de cidades-Estados Gregas, servindo
como referência para o entendimento dos
diferentes modelos de organização política e do
exercício da cidadania.
Sempre lembrado como tendo origem na
Grécia Antiga, o sistema democrático foi
duplamente limitado. No tempo, porque ele
funcionou entre os séculos VI e V a.C, e no
espaço, porque ele foi praticado,
fundamentalmente, em Atenas. Certamente, ao
invés de fazer referência à democracia grega, o
melhor é usar a expressão democracia ateniense.
A democracia em Atenas resultou da combinação
de um quadro social, marcadamente,
convulsionado e da ação de políticos e
legisladores responsáveis por fazer com que a
sociedade superasse estruturas oligárquicas ou
aristocráticas (Ler Texto Complementar 02) . A
democracia em Atenas estava assentada nos
havendo a exclusão de menores, mulheres,
escravizados e estrangeiros, apesar da ausência
de xenofobia e de forte cosmopolitismo (Ler
Texto Complementar 03). Cabe aqui destacar
que a existência da escravidão foi essencial para
construção e funcionamento da democracia em
Atenas, os cidadãos eram capazes de possuir
tempo livre para a ação política em razão dos
trabalhadores escravizados.
O período Clássico da História Grega,
situado ente os séculos V e IV a.C. representou o
apogeu da democracia (Ler Texto
Complementar 04) e do imperialismo atenienses,
notadamente após a vitória militar sobre os
Persas. Mas foi também neste período que se
iniciou a derrocada da civilização helênica, uma
vez que após a tragédia da Guerra do
Peloponeso, uma verdadeira guerra civil grega,
as pólis, enfraquecidas pelo conflito, não foram
capazes de deter o expansionismo macedônico.
Era o início do Período Helenístico, em que, sob o
impulso de Alexandre Magno, a cultura grega foi
mesclada a valores orientais, dando origem ao
que se convencionou chamar de helenismo.
Talvez movidos por uma mítica visão de
origem pura, alguns pensem que a democracia
ateniense não padecia dos problemas que
acometem o sistema democrático
contemporâneo, grande engano. Corrupção
administrativa, abuso de poder econômico e
político, compra de votos e manipulação do
eleitorado, por exemplo, eram problemas já
enfrentados na antiga democracia. O que fez a
democracia ateniense algo extraordinário foi o
fato transferir o poder decisório das mãos de um
pequeno grupo de afortunados pelo nascimento e
pela posse fundiária, e transferi-lo a uma
coletividade heterogênea, isso em um tempo em
que o poder de mandar estava nas mãos de um
só, chamado de rei, imperador ou faraó (Ler
Texto Complementar 05).
Por último, penso ser importante uma
comparação, mesmo que breve, entre os
sistemas democráticos ateniense antigo e
brasileiro contemporâneo. O modelo de
democracia ateniense não apenas admitia, mas
estava alicerçado no regime de trabalho de
escravizados, o brasileiro não admite o trabalho
escravo, sendo crime submeter um trabalhador à
condição análoga de escravidão. O sistema
político de Atenas segregava as mulheres,
rebaixando-as a uma condição de total submissão
às figuras masculinas mais próximas, a nossa
democracia, segundo expressa previsão
constitucional (Art. 5º, inciso I), garante a
igualdade entre homens e mulheres. A
democracia de Atenas excluía os estrangeiros da
vida política. A Constituição de 1988 não admite o
voto de estrangeiros, como regra, mas há uma
exceção para os cidadãos portugueses, com
residência habitual no Brasil e que conseguiram a
aprovação de um requerimento junto ao Ministério
da Justiça. Por fim, a democracia ateniense é
direta, e a nossa é indireta, novamente, como
regra, mas há três mecanismos de democracia
direta previstos em nossa constituição, são eles:
o referendo, o plebiscito e a lei de iniciativa
popular.
(Anderson Sanches)
TEXTOS COMPLEMENTARES
TEXTO 1
De todas as cidades é provavelmente a
polis, cidade-estado grega, a que mais
claramente expressa a dimensão política do
urbano. Do ponto de vista territorial, uma polis se
divide em duas partes: a acrópole (...) e a ágora
(...) No entanto, se perguntássemos a um grego
da época clássica o que era a polis,
provavelmente esta não seria sua definição: para
ele a polis não designava um lugar geográfico,
mas uma prática política exercida pela
comunidade de seus cidadãos. Da mesma forma
se referiam os romanos à civitas, a cidade no
sentido da participação dos cidadãos na vida
pública. Se no caso da polis ou da civitas o
conceito de cidade não se referia à dimensão
espacial da cidade e sim à sua dimensão política,
o conceito de cidadão não se refere ao morador
da cidade, mas ao indivíduo que, por direito, pode
participar da vida política."
ROLNIK,Raquel. O que é cidade. São Paulo.
Brasiliense. Coleção Primeiros Passos.
TEXTO 2
A partir do século VII, como,
consequência de uma exitosa política imperialista,
a classe dos aristocratas eupátridas,
monopolizadora do poder político, passa a ser
contestada por dois segmentos sociais: os
demiurgos, enriquecidos com comércio marítimo
e desejosos de participar do governo, através do
exercício da cidadania, a fim de defender os seus
interesses; e os gorgóis, pequenos proprietários
ou trabalhadores agrícolas dependentes dos
eupátridas, empobrecidos, por perderem seus
postos de trabalho para os escravos, que agiam
interessados em melhorar a sua situação
econômica e abolir a escravidão por dívida. O
processo de construção do sistema democrático
ateniense decorre da busca de uma solução para
esse grave quadro de tesões sociais. A
democracia foi a solução encontrada para a
convulsão político-social que o sistema
oligárquico não conseguiu oferecer uma resposta
satisfatória.
(Anderson Sanches)
TEXTO 3
Entre os gregos, tudo que incumbia ao
povo fazer, ele o fazia por si mesmo, pois estava
sempre reunido na ágora. Vivia num clima
ameno, não era de modo algum ambicioso e,
contando com escravos para substituí-lo no
trabalho, sua grande ocupação era a liberdade.
[...] Como?! A liberdade só se mantém com apoio
da escravidão? Talvez. Os dois excessos se
tocam. Tudo o que, de qualquer forma, não existe
na natureza, oferece seus inconvenientes e a
sociedade civil mais do que todo o resto.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo:
Martin Claret, 2003.
TEXTO 4
No tempo de Péricles (461-429 a.C), o
comparecimento à assembleia soberana era
aberto a todo o cidadão. A assembleia era um
comício ao ar livre que reunia centenas de
atenienses do sexo masculino, com idade
superior a 18 anos. Todos os que compareciam
tinham direito de fazer uso da palavra. As
decisões da assembleia representavam a palavra
final na guerra e na paz, nos tratados, nas
finanças, nas legislações, nas obras públicas, no
julgamento dos casos mais importantes, na
eleição de administradores, enfim na totalidade
das atividades governamentais.
BRAICK, Patrícia Ramos e MOTA, Myriam Becho.
História: Das cavernas ao terceiro milênio, 2ª Edição. São
Paulo: Editora Moderna, 2010. p. 102.
TEXTO 5
Vivemos sob a forma de governo que não
se baseia nas instituições de nossos vizinhos; ao
contrário, servimos de modelo a alguns ao invés
de imitar os outros. Seu nome, como tudo o que
depende não de poucos, mas da maioria, é
democracia. Quando se trata de resolver disputas
privadas, todos são iguais perante a lei. Ninguém,
na medida em que é passível de servir o Estado,
é mantido à margem da política por conta da
pobreza.
TUCIDIDES (c.460-c. 400 a.C.) História da Guerra
do Peloponeso, Livro II, 37. Brasília; Editora Universidade de
Brasília, 2001. p.109.