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INSTITUTO DE ESTUDOS ESTRATÉGICOS

GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS


COMÉRCIO INTERNACIONAL II

2020.2

SEGUNDA AVALIAÇÃO – 16.IV.2021

ANA LAURA MARÇAL MONSORES

NITERÓI
2021
QUESTÃO ÚNICA

De acordo com Eli Diniz e Luís Carlos Bresser Pereira, o processo de retrocesso da
industrialização brasileira a partir da década de 90 foi concomitante com a mudança da
estratégia da política econômica vigente no país. As elites brasileiras, ao importarem o
modelo do Norte neoliberal, influenciaram no enfraquecimento do nacional
desenvolvimentismo antes vigente no Brasil, submetendo a nação à hegemonia externa.
Com essa nova influência, o enfoque da política econômica deixa de ser a indústria e
passa a ser o setor financeiro. Ao mesmo tempo o empresariado, classe dirigente desde os
anos 1930 na economia nacional, também se submete ao modelo neoliberal, dando espaço
para uma nova parcela dominante na economia: os rentistas. A nova abordagem vigente trazia
consigo um teor anti-estatista, com privatizações e a liberalização do mercado, tendo apenas
os empresários industriais a preocupação em defender algum grau de protecionismo na
economia nacional.
O efeito dessa transformação econômica culminou no fechamento e falências de
empresas, além da associação e fusão com empresas estrangeiras, e a diminuição de empregos
no setor industrial, causando uma desindustrialização no território nacional. No final dos anos
90, o quadro produtivo existente era instável e notava-se a ascensão de grupos transnacionais
e o aprofundamento da concentração de capitais, marcando de fato o fim da precedente ordem
desenvolvimentista do país.
Porém, no final da década de 90, a estrutura copiada pelo Norte é alvo de críticas e a
nova atmosfera econômica do século XXI quebra o consenso neoliberal, expressando a
necessidade de reformulações na política econômica brasileira. Um novo contexto se
apresenta no sistema internacional, com o enfraquecimento norte-americano e o crescimento
econômico de países que não adotaram o modelo neoliberal, como China e Índia; e assim,
uma nova oportunidade para redefinir a estratégia do país aparece. O neodesenvolvimentismo,
caracterizado por romper tanto com o desenvolvimentismo tradicional quanto com a ortodoxia
convencional, surge como alternativa para o empresariado brasileiro.
De acordo com os autores, para a adoção desta diretriz econômica, é necessária a
apresentação de um desenvolvimentismo menos intervencionista e menos protecionista, mas
com uma política macroeconômica baseada em disciplina fiscal, juros baixos, e taxa de
câmbio competitiva. Deve-se destacar também o anterior fracasso da ortodoxia convencional
em incorporar os países de renda média em um comércio internacional globalizado de
maneira justa, neutralizando sua capacidade competitiva e beneficiando os países ricos.
Assim, nesta nova abordagem neodesenvolvimentista, é preciso privilegiar uma política de
câmbio benéfica para o Brasil.
Ao falar sobre comércio justo, é possível também comparar os estudos de Diniz e
Bresser Pereira à análise do agronegócio por Esther Vivas Esteve, em que o conceito de
soberania alimentar é apresentado como tema, e a necessidade de combater as políticas
neoliberais e as multinacionais é proposta pela autora. A compreensão da necessidade de
aliança entre Norte e Sul e campo e cidade é essencial para uma nova base comercial que não
se norteia pelo lucro capitalista. Assim, como os autores anteriormente citados, Esther
também critica o modelo de globalização neoliberal que incita a competição e neutralização
das partes periféricas no sistema internacional. Sua lupa temática é o agronegócio e o controle
das grandes potências sob as políticas agrícolas e alimentares. De acordo com a autora, é
possível promover uma relação justa no comércio internacional, em que todos os envolvidos
tenham direito aos mesmos recursos e à prosperidade.
Assim, para o comércio do agronegócio justo é necessária a atenção ao conceito de
soberania alimentar. É responsabilidade coletiva dos sujeitos internacionais garantir que os
produtores tenham acesso aos recursos naturais e que os países possuam soberania na decisão
de suas políticas agrícolas e alimentares. É possível compreender nas leituras apresentadas a
resistência tradicionalista à globalização justa e um comércio internacional benéfico a todas as
partes.
Raul Zibechi, em sua busca de projetar o Brasil como potência global, aponta a
importância de um conjunto de alianças, inicialmente com outros países do Sul e
posteriormente com do Norte, além de marcar presença em fóruns internacionais e competir
no comércio internacional. Para tal alcance, Raul descreve o planejamento estratégico que
deve ser delineado e os projetos que ocorreram no país. Entre tais estratégias o autor descreve
a criação de campeãs nacionais, empresas e instituições estáveis e prósperas que demonstrem
a autossuficiência brasileira no comércio internacional, e que sejam voltadas para o exterior
como modelo do crescimento econômico brasileiro e da efetividade do
neodesenvolvimentismo.

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