O movimento é um dos factores que contribuem com desenvolvimento e
com a cultura humana, pois as crianças estão em contacto com ele desde que nascem, onde adquirem cada vez mais controle sobre o seu próprio corpo e se apropriam das possibilidades de interacção com o mundo em que vivem. A inúmeras possibilidades de movimento (engatinhar, caminhar, manusear objectos, saltar, correr, brincar sozinha ou em grupo) que uma criança pode experimentar possibilita uma linguagem que a permite agir sobre o meio físico e actuar sobre este de maneira significativa. E isto foi percebido pelas pessoas engajadas na Educação Infantil: “a necessidade das actividades de Movimento para as crianças”. No entanto, muitas vezes isto se restringe a brincadeiras nos aparelhos do parque, jogos de correr, brincadeiras livres nos espaços internos e externos da escola e brincadeiras de rua, todas elas permeando o objectivo de recreação: “[...] É importante que o aspecto lúdico seja desenvolvido nas crianças, com a finalidade de recrear-se. Entretanto, os objectivos do componente curricular “Movimento” para a Educação Infantil não podem resumir-se na visão de recreação” (MELLO). Ao analisar o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, é possível verificar que o Movimento é, ainda, concebido em uma visão orgânica: “[...] As capacidades de ordem física estão associadas à possibilidade de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, ao auto conhecimento, ao uso do corpo na expressão das emoções, ao deslocamento com segurança. As capacidades cognitivas estão associadas ao desenvolvimento dos recursos para pensar, o uso e apropriação de formas de representação e comunicação envolvendo resolução de problema” (MELLO) É como se o movimento estivesse relacionado apenas ao corpo, e o pensamento não fizesse parte dele. E isso esta presente nos objectivos de toda a proposta de Educação Infantil, tanto para zero a três anos, como para quatro a seis anos. Entretanto, a Educação Física que vem sendo discutida actualmente, como já fora citado, não tem como único objectivo o desenvolvimento das habilidades e capacidades físicas, ela tem como foco enquanto componente curricular educar a criança para a vida, desenvolvendo habilidades necessárias para a inserção desta criança nos diferentes ambientes da sociedade. Ainda que os objectivos educacionais apresentados no Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (1998), privilegiem a ampliação das possibilidades expressivas do próprio movimento utilizando gestos diversos e o ritmo corporal nas suas brincadeiras, danças, jogos e demais situações de interacção, além da exploração de diferentes qualidades e dinâmicas do movimento, como força velocidade, resistência e flexibilidade, ainda assim buscam o desenvolvimento de habilidades e capacidades físicas. Não basta uma Educação Física sob a visão de apenas movimentar-se, ela tem que ir mais além do desenvolvimento das capacidades físicas. Segundo Le Boulch, toda a educação pressupõe tomar decisões enquanto á finalidade da acção educativa. O objectivo é favorecer o desenvolvimento de um homem capaz de actuar num mundo em constante transformação por meio de um melhor conhecimento e aceitação de si mesmo, um melhor ajuste de sua conduta e uma verdadeira autonomia e acesso às suas responsabilidades no marco de sua acção social, possibilitando através de sua acção sobre atitudes e movimentos corporais. A Educação pelo Movimento não ocorre isoladamente, mas no homem como um todo, onde este movimento dentro de um contexto seja ele jogo, trabalho, expressão, adquire significado.
A Dança na Educação Infantil
Como pudemos perceber, o movimento é o meio de expressão fundamental
das crianças na Educação Infantil, isto porque o espaço entre a emoção e acção é menor quanto mais jovem for a criança. Considerar todas essas dimensões do movimento nos permite uma visão mais ampla para a preparação de actividades, projectos e conteúdos que melhor contemplem o movimento dentro das escolas de Educação Infantil. No mundo ocidental a “Dança-criativa”, “Dança-educativa” ou “Dança- educação” são modalidades similares na área de Dança no contexto escolar. No Brasil, essa modalidade foi também baptizada de “Expressão Corporal”, “Dança-Expressiva” ou até mesmo de ”Método Laban” (Marques) Então seja a Dança como for chamada, ela permite que a criança se aproprie de seus corpos, possibilitando uma comunicação corporal. Para Laban, a criança tem o impulso inato de realizar movimentos similares a Dança. Esta vontade inata da criança de fazer movimentos do tipo de dança é uma forma inconsciente de extroversão e exercício que a introduz ao mundo da influência de movimento e fortifica suas faculdades espontâneas de expressão. Portanto, nada mais pertinente que o trabalho de dança seja explorado dentro das escolas de Educação Infantil, uma vez que ela supõe na educação um aprendizado que integra o conhecimento intelectual e a livre expressão do aluno, visando não apenas proporcionar a vivência do corpo e diminuir tensões, mas favorecer a criatividade da criança, onde o trabalho com o seu corpo gere uma maior consciência corporal, para que esta criança possa compreender o que passa consigo e ao seu redor, tornando-a mais espontânea e conseguindo expressar seus desejos de modo mais natural. Anexo Dança na educação infantil: um convite ao educador
Patrícia Alzira Proscêncio2
pproscencio@yahoo.com.br Aguinaldo Moreira de Souza3 Universidade Estadual de Londrina
RESUMO
Esse trabalho propõe um olhar sobre a linguagem da dança no quotidiano
escolar, tendo-a como uma possibilidade de enriquecimento no processo de ensino e aprendizagem. Parte-se do pressuposto de que o ser humano é seu corpo e, por isso, está no mundo em movimento e expressão. O foco da pesquisa foi a educação infantil, para isso realizou-se uma oficina teórico/prática para 26 professoras dos Centros de Educação Infantil conveniados à Secretaria de Educação do município de Londrina. Nessa, discutiu-se a presença do movimento, da dança e a importância de sua inclusão na educação infantil. A base para o desenvolvimento prático desse trabalho foi o método da dança educativa de Rudolf Laban, criando situações de estímulos à percepção corporal das professoras participantes, para que possam vir a compreender o corpo e a movimentação de seu aluno. Finalmente, pensou-se na transferência dessas actividades aos seus alunos e nas interferências e relações dessas com os conteúdos das outras áreas de conhecimento abordados na educação infantil.
1 INTRODUÇÃO
A sociedade actual, tem exigido uma nova configuração para a escola e,
consequentemente, uma renovação do papel do professor, que se vê diante da necessidade de acrescentar à sua prática uma nova gama de saberes. A globalização tem feito com que a sociedade gire em torno da lógica de mercado e da empregabilidade, e, com essas preocupações de competitividade e individualidade perdeu-se a ideia do colectivo e da solidariedade. Por conta disso, na actual era da informação e do conhecimento espera que a escola atenda as exigências quanto aos saberes tecnológicos mas, sobretudo, que a educação, em sua essência, pense no desenvolvimento do ser humano e da sua vivência em sociedade, na tentativa de recuperar a identidade ética e cultural dos alunos de hoje. __________________________ 1 Publicado em: Anais da X Semana da Educação da Universidade Estadual de Londrina, 2008. (A Psicologia da Educação na Formação de Professores). CD- ROM. ISBN: 978–85-7846-007-5. 2Mestranda em Educação. Professora de dança. 3 Professor Dr. Orientador. É nesse contexto de transformações da prática no ambiente escolar e de reflexões a respeito dela, que proponho neste trabalho um olhar sobre as linguagens artísticas, mais precisamente a linguagem da dança, como uma possibilidade a ser acrescentada no processo educativo. Dessa forma, todo educador, independente de sua área de conhecimento específico, pode, desde que tenha o preparo adequado, utilizar-se da linguagem da dança em sala de aula como recurso, metodologia de ensino e, ainda, como forma de conhecimento. A proposta não é desenvolver uma técnica específica de dança na escola, como o balé, jazz, ou outra, mas sim, a pensar, em conjunto com o educador, em como utilizar a dança, de modo proveitoso, na articulação entre as diversas áreas de conhecimento, tendo seus conteúdos ensinados através dessa linguagem de forma significativa. Tenho me dedicado à dança, profissionalmente, há 15 (quinze) anos e trabalhando com a educação nessa área há 7 (sete). Na qualidade de artista e professora de dança, considero essa linguagem de grande relevância, como estímulo à criatividade, expressão, auto-estima e sensibilidade da criança. Penso-a principalmente como uma forma de conhecimento e construção do ser, dessa forma, senti-me motivada em pensar nas possibilidades de associação do saber artístico à prática do professor no contexto de uma sala de aula. Portanto, a realização desse trabalho se justifica pelo interesse em realizar investigações acerca de como os professores da educação infantil estão incluindo a linguagem da dança no trabalho com seus alunos em sala de aula, e se esta actividade tem feito parte do seu quotidiano. Isto tendo em vista que, com a Lei de Directrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDB – Lei nº 9.394/96), o ensino das artes tornou-se obrigatório na educação básica e, consequentemente, o ensino da linguagem da dança. Essa, enquanto linguagem artística e corporal, propicia experiências significativas para o desenvolvimento de habilidades corporais, bem como enriquecimento integral do educando. Na educação infantil, o professor, por meio da dança, pode estimular o impulso e a espontaneidade do movimento que são próprias da criança nessa faixa etária. Dessa forma, a criança adquire consciência corporal e passa a dominar e aperfeiçoar seu movimento e perceber o seu corpo e o do outro, bem como, o espaço em que ele se move. Assim começa a estabelecer relações com as diversas situações e lugares da vida em sociedade. Considero então que, uma actividade de dança contém valores outros: de autoconsciência, independência e autonomia. Vale dizer da importância destas características para a vida adulta de cidadão. Portanto, esse estudo tem como objectivo geral investigar a utilização da dança pelo professor da educação infantil, bem como a maneira como este aplica as actividades, seus objectivos e resultados e introduzir a possibilidade da aplicação da dança na educação infantil, enquanto linguagem artística e corporal. Especificamente pretende: desenvolver actividades de dança tendo como ponto de partida a percepção corporal do professor, através da sensibilização e consciência de si, do seu gesto, da sua postura, das suas possibilidades de movimento e expressão, para posteriormente compreender o corpo e a movimentação do seu aluno; discutir e apresentar aos professores o Método Laban (dança educativa); realizar investigação de movimento através da experienciação corporal, explorando os fatores de movimento (Fluência, Espaço, Peso e Tempo), reflectindo sobre a possibilidade de utilizar a linguagem da dança em sala de aula como elemento enriquecedor da prática docente e do processo de ensino e aprendizagem. Para isso, propõe-se uma investigação de movimento partindo da percepção corporal do professor, de modo a instigá-lo à criatividade, e compreensão de seu gesto, proporcionando condições para que ele desenvolva a sua sensibilidade e, posteriormente, a de seus alunos. É um convite ao educador a experienciar aspectos da linguagem não verbal, algumas formas de comunicação e expressão através do seu corpo.
2 MÉTODO
A presente pesquisa é de natureza básica com forma de abordagem
qualitativa e de carácter exploratório. Optou-se pela pesquisa qualitativa descritiva, bastante utilizada nas Ciências Humanas, porque o pesquisador é participativo e pode utilizar vários meios para a colecta de dados. Através de observações e anotações, o pesquisador procura compreender a essência dos fenómenos, descrevendo e analisando-os geralmente interessando-se mais pelo processo do que pelos resultados. Primeiramente, realizou-se um levantamento bibliográfico sobre teses, artigos e publicações relacionados ao tema de estudo, para selecção do material de interesse. Em seguida, foi realizada uma oficina teórico/prática para 26 professoras da educação infantil com os objectivos de investigar se estas desenvolvem actividades de dança no dia-a-dia com seus alunos; propor a discussão sobre a presença do movimento e da dança em nosso quotidiano e a sua importância na educação infantil; introduzir o referencial teórico que embasou as actividades práticas. Em sua parte prática, foram desenvolvidas actividades de estímulo à percepção corporal das professoras com base no método da dança educativa de Rudolf Laban. Concomitantemente, pensou-se na transferência dessas actividades, posteriormente, aos seus alunos e nas interferências e relações destas com os conteúdos das outras áreas de conhecimento abordados na educação infantil. Pois, em busca da tomada de consciência do professor em relação a o seu corpo ao se perceber, podemos resumir a ideia central de nossa proposta com palavras de Merleau-Ponty (apud Sérgio, 1994, p.28): “Perceber é tornar presente qualquer coisa com a ajuda do corpo [...] eu não estou diante do meu corpo, estou no meu corpo, ou melhor, sou meu corpo”. Neste relato descrevo o desenvolvimento da pesquisa em si, as reflexões sobre o ensino de dança na educação infantil e os resultados das mesmas, com o intuito de discutir e reflectir o contacto com as professoras na oficina teórico/prática, considerando a visão que elas têm sobre as possibilidades e dificuldades de se desenvolver as linguagens artísticas no interior da escola, não se sentindo devidamente preparadas para tal.
3 RESULTADO: A OFICINA
A oficina de dança na Educação Infantil foi direccionada a professoras
actuantes em Centros de Educação Infantil. Realizada em 16 de Julho de 2007, no período da tarde, com 4 horas de duração. Como o primeiro contacto com as professoras participantes deu-se no evento, para a elaboração das actividades práticas presumiu-se que essas professoras não tinham experiência na área de dança, por desconhecer, até então, essa informação. Para iniciar, dispusemos as cadeiras em círculo pela sala e fiz uma breve apresentação pessoal. Em seguida, introduzi a proposta de trabalho, passei uma lista para que todas anotassem seus endereços electrónicos de modo que posteriormente eu mantivesse contacto com essas professoras para envio de material e discussões subsequentes sobre o tema abordado. Através de uma discussão inicial, realizei uma avaliação oral, de cunho diagnóstico, investigando o que essas professoras pensavam acerca da dança, ensino das artes, das actividades que costumavam desenvolver na educação infantil, e qual o nível de conhecimento que possuíam sobre o tema, bem como a importância que atribuíam a essas actividades. Nessa avaliação introdutória constatei que, de fato, as professoras não tinham vivência na área da dança e se utilizavam dessa linguagem como uma “obrigação” nas ocasiões de festividades culturais: festas juninas, apresentação para as mães, Páscoa, etc., em “coreografias prontas”, associadas às cantigas de rodas ou cantigas destinadas ao desenvolvimento da oralidade. As professoras alegaram que não utilizavam a linguagem da dança, no quotidiano em sala de aula, por não terem habilidade na área, sentindo-se pouco à vontade para desenvolvê-la. Além de afirmarem dificuldade para elaborar esse tipo de actividade, bem como adequá-la aos seus alunos, torna-lhes complexo criar coreografias. Como suas turmas são numerosas, (de 20 a 30 alunos), outro obstáculo é “controlar” a turma durante essas actividades e fazê-las memorizar a sequência de passos. Demonstraram compreensão de que a dança, assim como o teatro, a música, o circo, entre outros, são linguagens artísticas. Contudo, por não terem domínio sobre elas, sentem receio em utilizá-las. Sendo assim, preferem utilizar, nas aulas de artes, pinturas e colagens. Apresentaram interesse e necessidade em ampliar seu nível de conhecimento a respeito das artes e reconheceram a importância da iniciativa da Secretaria da Educação em realizar tais oficinas e palestras no processo de formação continuada do professor, tornando possível a aproximação com outras linguagens e áreas de conhecimento que enriquecem a sua ação pedagógica. Ao discutir a relevância da dança na educação infantil, as professoras enumeraram alguns pontos: coordenação motora, socialização, ritmo e actividade física. Acrescentei mais alguns pontos à discussão: desenvolvimento da percepção corporal e das noções de espaço e lateralidade, favorecimento da auto-estima e dos aspectos da afectividade e emoção, como estímulo à criatividade, aprendizagem da comunicação e expressão através da linguagem não-verbal; além de pontuar a dança como área específica do conhecimento (fazer artístico). A partir desses comentários, e com base no referencial teórico deste trabalho, procurei nortear a discussão com a presença do movimento corporal e da dança, em nosso dia-a-dia, e sua importância na educação infantil. Introduzi o método de Rudolf Laban – Dança Educativa - com os quatro factores de movimento: Peso, Tempo, Espaço e Fluência (que foram explorados e experimentados na prática), pois, enfim, “[...] o ser humano adquire a linguagem do corpo a partir do seu próprio nascimento. É algo nato que ele traz consigo. Características como: espaço, ritmo, peso, força, leveza e condução dos movimentos do corpo não são aprendidos em cursos, mas com a consciência corporal” (CARTAXO, 2001, p. 102). De acordo com o autor citado, ao trabalhar com adultos é preciso “[...] redescobrir e reeducar, buscando a liberdade de expressão e de movimentos que toda criança tem, mas que o adulto perdeu, vítima da repressão, censura, enrijecimento e desvalorização do seu próprio corpo”. Lancei mão, como referência aos estágios de desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget para discutir a adequação das actividades à faixa etária de seus alunos. Falamos brevemente sobre as diversas fases, porém nos concentramos no período dos 2 (dois) aos 6 (seis) anos de vida, que trata da fase em que as crianças encontram-se em creches. Na sequência, desenvolvemos actividades práticas de estímulo à percepção corporal das professoras com base no método da dança educativa de Rudolf Laban, priorizando a compreensão do seu próprio corpo e suas possibilidades de movimentos, de modo que elas possam compreender também o corpo e a movimentação de seu aluno. Utilizei os temas de movimento, que são instrumentais didácticos, de aprendizado da Teoria de Movimento de Laban, abordados em Laban (1990) e comentados por Rengel (2003). “Cada um dos temas trata de um conceito e/ou uma ideia de movimento e corresponde a uma etapa na progressão da sensação e compreensão mental/emocional do movimento” (RENGEL, 2003, p. 101). O objectivo foi instigar o professor para prestar mais atenção ao seu corpo, percebendo como ele se movimenta sentindo cada parte isoladamente e a sua inter-relação com o todo. Para isso, foi proposto que experimentasse e criasse seu próprio movimento, estabelecendo e observando o seu ritmo corporal. Partindo dessa proposta, procurou-se transferir essa percepção ao corpo do “outro”, observando como “ele” se expressa e se movimenta. Além dessa observação, experimentou-se a relação do corpo com o espaço ao redor, ou seja, o modo como seu corpo e o do “outro” se movimentam e ocupam esse espaço. Em seguida, reflectiu-se sobre as interferências, possibilidades e relações dessas actividades com os conteúdos das outras áreas de conhecimento abordados na educação infantil. Como as professoras participantes da oficina não tinham vivência na área de dança, buscou-se, na prática, introduzir movimentos básicos e simples. A maior parte dos exercícios realizados pelas professoras durante a oficina pode ser adaptado e reelaborado para aplicação posterior aos seus alunos na educação infantil, e de acordo com o que íamos experienciando, também discutíamos sobre tal possibilidade.
4 DISCUSSÃO: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA A DANÇA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL
Investigamos a presença da dança, como linguagem artística e corporal, no
dia-a-dia de 26 professores da educação infantil, actuantes nos Centros de Educação Infantil conveniados à Secretaria da Educação do município de Londrina, e, portanto, a proposta deste trabalho é de convite, a esse educador, à reflexão sobre a inserção da linguagem da dança em sala de aula, vindo a enriquecer seu processo educativo. Tecemos como fundamento que a dança na escola não tem como intuito a formação de artistas, mas sim a promoção do conhecimento, da possibilidade do fazer arte e de sua apreciação. Além de capacitar o aluno a ler e interpretar os signos de seu quotidiano na sociedade e a tornar-se um ser crítico e analítico. Tratamos da totalidade do corpo, enxergando o ser humano como ser complexo e inteiro que percebe e vivência o mundo à sua volta, e considerando que tais experiências ficam impressas em seu corpo. Ou seja, o indivíduo, recebe as influências do meio sócio-cultural em que está inserido, fazendo-lhe pensar, reflectir, agir e, acima de tudo, transformar, ou não, o seu contexto social. Escolhemos a metodologia de Rudolf Laban – Dança Educativa - como proposta de trabalho para a educação infantil, priorizando a percepção e consciência corporal do professor. Através da experiência prática desenvolvemos os quatro factores de movimento: fluência, espaço, peso e tempo. Dessa forma, os profissionais da educação tiveram a oportunidade de pensar e repensar sobre movimento e a dança em seu corpo e no corpo do outro. Durante o contacto directo com as professoras, (que se deu na oficina teórico/prática) pudemos conjuntamente experienciar, reflectir, discutir e avaliar a possibilidade da inclusão da linguagem da dança na educação infantil e a importância desse trabalho de percepção corporal ser iniciado com o professor. Constatamos, que pelo fato das professoras não possuírem conhecimento artístico, nem vivência na área de dança, encontram-se despreparadas para trabalhar essa linguagem em sala de aula. Embora esse grupo de professoras reconheça a importância dessa linguagem e as suas possibilidades de trabalho – prova disso é que participaram dessa oficina - elas também reconheceram que a dança não faz parte do seu quotidiano. Portanto, por ser uma linguagem ausente em sua prática não estabelecem objectivos nem resultados a serem alcançados. Segundo elas, a dança só surge nesse contexto escolar no momento em que precisam pensar nas festividades culturais (Dia das Mães, Páscoa, etc), e então elaboram as coreografias com muita dificuldade e sob exigência da direcção. Apontaram como dificuldades encontradas: não saber que tipo de dança desenvolver com as crianças; não conseguir fazer com que os alunos memorizem os movimentos; falta de atenção e indisciplina da turma durante essas actividades, porque geralmente a turma é numerosa; falta de um profissional para desenvolver actividades corporais com os alunos (seja dança, educação física, etc.) ou, ao menos, para orientá-las em sua prática, já que elas têm ideias, mas não sabem adequá-las para serem desenvolvidas; e por fim, as professoras também apontaram que falta-lhes autonomia no interior da escola. As professoras concordam que é extremamente importante e necessário o processo de capacitação e formação continuada, não apenas pelo conteúdo que enriquecem a sua prática, mas também pela motivação que esses encontros e intercâmbios de experiências proporcionam a elas. Dentre as minhas dificuldades na realização desse estudo posso ressaltar que deparei-me com o espanto de algumas professoras ao comunicar que a oficina não era só teórica. Os comentários eram: “Como assim, vamos ter que dançar?”, “Mas eu não sei dançar”, entre outros. Logo, a primeira barreira a transpor, ao dar início à movimentação, foi a timidez de algumas professoras. Mas como já era previsto, elaborei algumas práticas que trabalhassem a interacção, o toque, e o entre olhar. Durante a investigação de movimento, gradativamente as professoras ficaram mais à vontade. No fechamento das actividades, como a avaliação para a minha proposta, pedi para que criassem uma coreografia de acordo com o que tínhamos explorado naquela tarde. Elas demonstraram uma boa compreensão, explorando adequadamente os factores de movimento e foram bem sucedidas, tanto em criação coreográfica, quanto no relacionamento, no diálogo entre si e interacção. O que podemos considerar é que em uma única oficina, com pessoas sem a vivência da dança - que não estão acostumadas a trabalhar e movimentar o seu corpo, pensando exclusivamente na maneira como ele se mexe - fica comprometido analisar a fundo os resultados que essa experiência pode trazer para o dia-a-dia desse professor em sua sala de aula. Para essa avaliação seria necessário estar com esses professores por um período maior, avaliando o processo de modo geral, e até dividir esse trabalho em dois aspectos: direccionando a pesquisa para o professor de modo que pudéssemos trabalhar melhor a sua conscientização corporal, e também para o acompanhamento no dia-a-dia dos CEIs, a fim de observar e orientar a prática com os alunos. Contudo essa oficina, mesmo tendo uma curta duração, funcionou como uma relação de troca, em que pudemos por meio do contacto directo com as professoras compreender a situação actual do seu trabalho no interior da escola, em relação ao desenvolvimento da linguagem da dança – seus principais problemas e dificuldades nesse sentido - e, ao mesmo tempo pudemos propor – mesmo que de forma introdutória – a possibilidade de reflexão sobre si, sobre o seu corpo, seu gesto e movimento e apresentar uma proposta de inserção da dança como linguagem artística e corporal no quotidiano da educação infantil, contribuindo no processo de ensino e aprendizagem. É preciso também reconhecer a necessidade do preparo desse educador para o desenvolvimento do trabalho com linguagens artísticas em sala de aula. Para o cumprimento da lei imposta, que diz que o ensino da arte é um componente curricular obrigatório na educação infantil – incluso aí, artes cénicas - há que se proporcionar uma formação inicial que enfoque essa questão (seja da dança especificamente ou da corporeidade e motricidade, de modo geral) ou criar oportunidades de capacitação continuada eficaz para aqueles que já estão actuando. Chegamos ao final deste estudo, considerando que acerca do que foi proposto inicialmente, reconhecemos que pode haver a continuidade do mesmo sob outros aspectos, visto que não há trabalho que se conclua definitivamente, pois existem sempre outros caminhos a trilhar e novas descobertas a serem feitas.
5 REFERÊNCIAS
• BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.cefetce.br/Ensino/Cursos/Medio/Lei.htm>. Acesso em: 17 Abril 2007; • CARTAXO, Carlos. O ensino das artes cénicas na escola fundamental e média. João Pessoa: Cartaxo, 2001; • LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna. São Paulo: Ícone, 1990. Tradução de: Maria da Conceição Parahyba Campos; • RENGEL, Lenira. Dicionário Laban. 2. ed. São Paulo: Annablume, 2003; • SÉRGIO, Manuel. Motricidade Humana: contribuições para um paradigma emergente. Lisboa: Instituto Piaget, 1994.