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A DESENCARNAÇÃO Uma biografia da vida de Maurice Herbert Jones, escrita por Sa-
lomão Jacob Benchaya, pode ser acessada no blog do CCEPA: https://
Após 80 dias internado, em ccepa.blogspot.com/2021/06/maurice-herbert-jones-1929-2021_22.
razão de um câncer, desencarnou, html ou no livro de Benchaya “Da Religião Espírita ao Laicismo – A
aos 91 anos, na tarde do último trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre”, disponível gra-
dia 20 de junho, Maurice Herbert tuitamente na Internet.
Jones, ex-presidente da Federa-
ção Espírita do Rio Grande do Sul
Jones e nós Nossa Opinião
e também do Centro Cultural Espí-
rita de Porto Alegre (ex-Sociedade Como Sócrates, Jones poderia ter passado a vida inteira sem
Espírita Luz e Caridade). Seu traba- nada escrever e, mesmo assim, teria deixado um grande legado
lho na antiga SELC (hoje CCEPA) se intelectual a quem com ele privou. Os poucos artigos que elabo-
constitui num vigoroso exemplo de rou, sempre preciosos, foram feitos menos por iniciativa própria
como modernizar e dinamizar uma e muito mais por pressão de quem com ele convivia e lhe solici-
instituição, transformando-a num tava alguma contribuição naquela área.
núcleo de estudo e difusão karde- Também como o filósofo grego, que, ao invés de exibir-se na
cista. Com efeito, a SELC, quando tribuna, apreciava reunir-se na praça, dialogando com seus discí-
Maurice Herbert Jones
de sua chegada, era apenas um pulos, Jones tinha especial predileção pela conversa em pequenos
centro religioso de natureza sincré- grupos. Ali, mais do que com o pensador ateniense, parecia-se com
tica católico/umbandista/espírita. René Descartes, o filósofo que inaugurou a Modernidade ao propor
Já na FERGS, nas décadas de 70/80 do século passado, quan- a dúvida metódica. Como o pensador francês do Século XVI, Jones
do, sucessivamente, Jones e Salomão Jacob Benchaya, presidi- questionava verdades prontas e acabadas e apostava na capacida-
ram aquela federativa, foi lançada a histórica Campanha de Es- de humana de descobrir conhecimentos a partir da dúvida.
tudo Sistematizado da Doutrina Espírita (ESDE), marco inicial de Mas foi à luz do racionalismo espiritualista de Allan Kardec que
uma era em que o estudo sistemático das obras de Kardec passou Maurice Jones formou a base de seu pensamento, dedicando-se,
a ser adotado e estimulado pelo sistema federativo gaúcho e bra- por algum tempo, ao exame, difusão e vivência institucional, no
sileiro. movimento hegemônico, de cunho predominantemente religioso.
Após assumir um firme posicionamento não religioso, livre-pensa-
UMA VIDA DEDICADA À FAMÍLIA E AO ESPIRITISMO dor, de caráter eminentemente filosófico com relação à doutrina
Maurice era viúvo de Elba, que desencarnou em janeiro de fundada pelo eminente pedagogo francês do Século XIX, Allan Kar-
2020 e teve, ao lado do marido, importante atuação como mé- dec, recolheu-se exclusivamente ao âmbito do CCEPA. Ali, reunin-
dium e dirigente de estudos espíritas na SELC/CCEPA. Na presente do-se com pequeno grupo de estudiosos da filosofia kardecista, iria
experiência encarnatória, o casal Jones manteve uma união de 62 produzir, em ambiente receptivo às suas ideias, talvez suas mais
anos. Deixaram quatro filhos: Marcus, Ricardo, Eunice e Rogé- refinadas reflexões. O CCEPA, de fato, mesmo durante sua operosa
rio, vários netos e bisnetos. ação frente à FERGS, foi, em toda a vida de Jones, sua casa, e nós
Da tocante cerimônia de despedida, na tarde do dia 21, sua segunda família, privilegiados por com ele dialogarmos e ou-
participaram apenas familiares e quatro membros do Centro vi-lo, uma vez por semana, mesmo em seus últimos anos de vida.
Cultural Espírita de Porto Alegre. Em clima de saudade, mas Assinale-se que a lucidez o acompanhou quase até o final.
marcado pela serenidade de todos, seus filhos e netos reme- Estudioso da história do pensamento, humanista, intelectual
moraram lindos episódios da vida familiar, destacando em to- autodidata, tolerante e sempre cortês com os que dele discorda-
dos eles a sabedoria, a bondade, o exemplo, a integridade e a vam, Jones não escondia sua perplexidade e suas interrogações so-
retidão de caráter deixados por Jones e Elba. Também usaram bre o fenômeno grandioso do universo e da vida. Mas, em meio a
da palavra: Dirce Teresinha Carvalho Leite, Salomão Jacob tantas dúvidas, dizia frequentemente aos privilegiados companhei-
Benchaya, Milton Medran Moreira e Donarson Floriano Ma- ros que o acompanharam até o fim que, de todas as concepções
chado, respectivamente presidente e ex-presidentes do CCE- acerca de Deus, do universo e do homem, a que mais se prestava a
PA, que relembraram a atuação decisiva do “decano” da insti- encaminhar respostas a suas tantas dúvidas era a filosofia espírita.
tuição e suas ímpares qualidades intelectuais e morais, assim Algumas dessas dúvidas talvez agora ele esteja dirimindo,
como a fidelidade de Jones à filosofia inspirada e sustentada na superior dimensão onde se reencontra com sua querida Elba.
pelo espiritismo. (A Redação).
EDITORIAL
Um pensador original
Ler muito é um dos caminhos para a originalidade; uma pessoa é tão mais original
e peculiar quanto mais conhecer o que disseram os outros. Miguel Unamuno.
Em breve nota, na qual registrou a de- ser o espiritismo uma religião: Allan Kardec.
sencarnação de seu ex-presidente Maurice Pacienciosa e meticulosamente, Maurice Jo-
Herbert Jones - (https://www.fergs.org.br/sin- nes pesquisou e transcreveu, sem qualquer
gle-post/nota-de-desencarnacao-de-maurice Maur ice comentário, o que Kardec houvera escrito.
-herbert-jones) -, a Federação Espírita do Rio t J o n e s Dessa forma, sem dizer uma palavra sobre
Grande do Sul, qualificou-o como “um pen- Herber r a j o s o o tema, Jones abonava claros conceitos kar-
sador original e estudioso do Espiritismo”. st ro u - s e um co a decistas, na época quase unanimemente
Talvez a originalidade do pensamento
mo
r d a v e rdadeir repelidos. Uma atitude indubitavelmente
de Jones só possa ser efetivamente reco- defenso s p i r i t i s mo. inteligente de um “pensador singular”, dan-
a do e
nhecida, como agora o faz a instituição à naturez do provas de sua disciplinada e racional
qual ele prestou relevantes serviços, quan- condição de legítimo “estudioso do espiri-
do todos os espíritas se derem conta de tismo”, como o reconhece agora a Federa-
que em Kardec, hoje e sempre, está a base ção Espírita do Rio Grande do Sul.
irrevogável, insubstituível e insuperável do
genuíno espiritismo.
Maurice Herbert Jones, quando na FERGS, juntamente com Opinião do leitor
outros integrantes da antiga Sociedade Espírita Luz e Caridade
(hoje CCEPA), mostrou-se um corajoso defensor da verdadeira Falando sobre Espiritismo Laico
natureza do espiritismo. Disso deu especial testemunho em Acuso o recebimento do jornal Opinião e sou grato pela aten-
1986, na edição da histórica revista “A Reencarnação”, número ção a mim dispensada. O nosso jornalzinho, como se percebe
402, cujo título de capa era: “Espiritismo: Ciência e Filosofia. Até é espírita, não adota linha divisória. Desculpem-me a ousadia
que Ponto é Religião? ”. que tomo, mas não gostei do termo macumbeiro, utilizado
A discussão do tema integrou uma programação do cor- pelo vice-presidente da casa, para designar os seguidores
po editorial da revista, na época dirigida pelo hoje editor des- de doutrinas afro. (“Falando sobre Espiritismo Laico”, CCEPA
te jornal. Aquele número foi concebido para fechar uma tríade Opinião 296). Foi lamentável tal escrito. Será que ele pode fa-
propondo o debate em torno do chamado “tríplice aspecto” do lar que conhece a Doutrina Espírita? Agredir a outrem, sim-
espiritismo, como “ciência/filosofia/religião, assim tido por todo plesmente pelo ódio que destila dentro de si, não me parece
o movimento unificado, mas não exatamente coincidente com a ser atitude de um espírita. Ainda bem que vocês não aceitam
proposta original de Kardec. As duas edições anteriores haviam Jesus e detestam a prece, base da Doutrina Espírita. Dâmocles
enfocado, respectivamente, os aspectos científico e filosófico. Aurélio da Silva Aurélio – damocles.aurelio49@gmail.com .
À margem do movimento federativo, ressurgiam, na épo- Nota da Redação: Encaminhamos a carta acima ao autor do tex-
ca, debates sobre o sempre contestado, por uma minoria peri- to, Beto Souza, que assim nos respondeu: “Penso ser oportuno
férica, aspecto religioso do espiritismo. Debatê-lo, entretanto, informar que utilizamos a palavra pensando em seu significado
numa revista oficial de uma federação, integrante de um movi- formal acadêmico como consta nos dicionários, considerando
mento que se afirma “religioso, cristão e evangélico”, seria algo sua origem na ancestralidade angolana significando ‘invocador’,
absolutamente impensável. Daí a forma interrogativa com que ‘encantador de palavras’ e também um instrumento musical,
se ousou, cautelosamente, abordar o tema de capa. nome que na virada do século XIX passou a identificar a Macumba
A boa política, entretanto, do grupo que, na FERGS, debatia Carioca ou Candomblé de Angola, semelhante ao Batuque do Rio
o tema, mas não se sentia autorizado a contrariar o pensamen- Grande do Sul. Entretanto, reconhecendo a existência de outras
to quase unânime do movimento, redundou na edição de uma interpretações leigas, visando não reforçar percepções pejorati-
revista cujos articulistas convidados, quase todos, terminariam vas, agradecemos a observação e modificamos o texto nas mídias
por defender o aspecto religioso. Nos artigos, o máximo que se eletrônicas removendo o termo”. A Editoria do jornal sente-se no
se fez foi apelar para uma proposta de síntese entre os concei- dever de expressar que o leitor incorreu em lamentável equívoco
tos de moral e religião, ou reduzir as diferenças a mera questão ao fazer juízo precipitado acerca do conhecimento doutrinário e
semântica, evitando-se a tomada de uma posição polarizada en- das qualidades morais do vice-presidente do CCEPA. Por outro
tre os dois conceitos. lado, cabe-nos esclarecer, face à alusão depreciativa feita à nossa
Só uma matéria, contudo, da histórica revista defendia en- Instituição, que temos, sim, a respeito de Jesus, uma concepção
faticamente que o espiritismo não era religião. A matéria, em- distinta da que predomina no movimento espírita, eminentemen-
bora assinada por Maurice Herbert Jones, não expunha nenhum te cristólatra, como ele poderá encontrar no documento que lhe
pensamento pessoal seu. Limitava-se a transcrever da obra de enviamos - a Carta de Posicionamentos da CEPABrasil - e que,
Kardec dezenas de afirmações do fundador do espiritismo, sus- justamente por valorizarmos a prece, não a utilizamos na forma
tentando que “verdadeiro caráter do espiritismo é de uma ciên- ritualística e igrejeira tão empregada no movimento espírita.
cia e não de uma religião” e que “a palavra religião é inseparável
Falando sobre Espiritismo Laico (2)
de culto, o que o espiritismo não tem”.
Esse texto me representa. A Verdade é sempre a pergunta.
Ou seja, na histórica edição de “A Reencarnação” que preten- Bravo, Beto Souza! Célia Bacchini – Piracicaba, SP. (comentário
deu discutir o tema, apenas um autor acabou sustentando não publicado no Grupo ECK, onde foi reproduzido o artigo)
·· EDITOR CHEFE:
CCEPA · Milton R. Medran Moreira
REVISÃO: ASSINATURA:
· Néventon Vargas (João Pessoa/PB)
Envie o seu pedido de assinatura para o
· Leonardo Indrusiak
JORNALISTA: CCEPA, Rua Botafogo 678, Porto Alegre- RS, CEP
ORGÃO DO CENTRO CULTURAL ESPÍRITA DE PORTO ALEGRE
· Reg. Prof. MTb3.352 SECRETARIA E EXPEDIÇÃO: 90150-050, acompanhadode um cheque nominal
Departamento de Comunicação Social · Rui P. Nazário de Oliveira no valor de R$ 50,00 e receba, por um ano, este
CONSELHO EDITORIAL: · Tereza San Martins Samá vibrante mensário, porta-voz do pensamento
9 Rua Botafogo 678 - Menino Deus - P. Alegre - RS – CEP 90150-050
· Salomão Jacob Benchaya espírita dinâmico e inovador, cultivado no
m (51) 3209 2811 – k ccepars@gmail.com –
· Dirce Teresinha Habkost de PRODUÇÃO GRÁFICA E IMPRESSÃO:
K http://www.ccepa-opiniao.blogspot.com.br Centro Cultural Espírita de Porto Alegre.
Carvalho Leite Evangraf - www.evangraf.com.br
· Neventon Vargas. Fone: (51) 3336 2466 - Porto Alegre/RS Assinatura anual para o exterior:US$50,00
JULHO 2021
CCEPA
2 ORGÃO DO CENTRO CULTURAL ESPÍRITA DE PORTO ALEGRE
OPINIÕES
JULHO 2021
CCEPA
O depoimento de uma
REGISTROS DA
jovem advogada -
GRANDE IMPRENSA Bianca Medran Moreira:
Em sua edição de 30/6, o jornal Zero
Hora, de Porto Alegre, registrou a morte ELE ESTAVA SEMPRE SORRINDO
de Maurice Herbert Jones. O texto faz um -Seu Jones, quem são aquelas pessoas atra-
histórico da atividade de Jones no movi- vessando a rua, que acabaram de sair daqui?
mento espírita gaúcho, destacando entre Perguntava uma companheira nossa de CCEPA,
outros pontos: “A acuidade de seu pensamento, sua peculiar elu- ao Jones, quando eu estava chegando, à casa,
cubração filosófica, sua racionalidade que beirava o ceticismo e para uma palestra.
seu refinado senso de humor o tornaram um tipo raro de exposi- - Ah, minha filha, eu indiquei um centro es-
tor espírita”. Ressalta ainda que sua atuação junto ao Centro Cul- pírita pra elas. Elas devem estar indo pra lá.
tural Espírita de Porto Alegre marcou “uma profunda mudança - Mas, seu Jones...
na trajetória da instituição hoje reconhecida internacionalmente Era assim mesmo, se as pessoas fossem ao
por sua atuação de espiritismo sob a feição laica, livre-pensadora CCEPA, procurando fenômenos espíritas, mas não a filosofia es-
e por sua intensa atividade cultural”. pírita, logo o Jones tratava de indicar, amavelmente, um local que
pudesse dar colo e consolo aos viventes.
O depoimento de um experiente Objetivo e perspicaz. Um dia, no começo da minha faculda-
de, ele, do nada, me perguntou como estava o curso. Eu respondi
escritor espírita - Wilson Garcia: que estava bem bom, que eu já estava estagiando, que gostava
do Direito, mas que eu amava mesmo era fazer yoga. Ele riu e me
MAURICE HERBERT JONES E SEUS ADMIRADORES ADMIRÁVEIS respondeu em inglês, com um versinho bonitinho. Disse, em for-
ma de rima, que mesmo quando não estamos fazendo só aquilo
Um grande homem só pode ser grande que mais amamos, podemos, ainda assim, ser bem felizes, fazen-
se for admirado por grandes homens. Este é o do aquilo ali mesmo que já estávamos fazendo. Tratemos de ser
caso do grande homem que está presente nes- felizes, de qualquer jeito, e ponto. Parece conformismo, mas, só
se texto pequeno. percebi tempos depois, que era uma lição interessante, tanto so-
Não tive oportunidade de conhecê-lo de bre disciplina, quanto sobre felicidade.
perto, embora estivesse perto dele em algumas Divertido e provocador, sempre dizia que meu marido anda-
ocasiões. Não falei com ele, não o ouvi, não
va de skate tempo demais, que era para eu “abrir o olho”, com
senti suas palavras nem vi seu olhar macio. A
essa hora do skate. Era incrível como ele, que levava tudo tão a
distância entre nossos corpos foi mínima em
sério, estava sempre sorrindo e se divertindo. Sarcástico e bem
certos momentos e por isso foi enorme demais,
visto que não pude trocar com ele pensamentos, palavras, símbo- humorado como todo ser inteligente.
los, sequer ideias rasas ou profundas. Perfeccionista e ordenado, ele simplesmente reorientou o es-
Conheci-o por alguns poucos, pouquíssimos escritos por ele piritismo e construiu uma casa totalmente laica e inovadora.
assinados e, muito mais, pelos textos escritos por seus amigos fiéis O Jones sempre dizia que a doutrina espírita era fortemente
e admiradores incontestes. Esses, sim, falam de uma figura exem- vocacionada ao progresso e à interligação dos saberes. Que era
plar, serena, franca, leal. E eu passei a admirar tanto alguns des- uma filosofia capaz de superar os aparentes conflitos entre fé e
ses amigos dele, que não tenho a menor sombra de dúvidas de o razão entre ciência e religião. Mas, na verdade, ele que era.
admirar com todo o zelo e carinho. Por quê? Pelo simples fato de
saber que esses alguns amigos dele são homens admiráveis pela
dedicação, pela honestidade, pelo desejo do bem do outro. Enfim,
Conferências Internacionais
são homens incapazes de abrigar qualquer tipo de ódio, incapazes do CIMA - Julho/2021
de se deixarem levar pela paixão e de fomentar a desunião.
Esses homens são ao meu olhar grandes homens e se eles ad- DAVID SANTAMARIA ABRE PROGRAMAÇÃO
miram aquele a quem me refiro, não tenho razão senão para admi-
rá-lo também. Eles me contam histórias dele, de suas lutas, de seu
APRESENTANDO LIVRO SOBRE IMORTALIDADE
pensamento, de sua firmeza ética, de sua capacidade de apontar ca- Neste primeiro domingo de julho/4,
minhos e soluções, histórias que eu analiso sob o crivo da razão e da CIMA – Movimiento de Cultura Espírita,
ética e tais são os meus percentuais de bom-senso que concluo que Caracas, Venezuela, inicia sua série de con-
o meu referente foi, sim, um grande homem. ferências com expositores internacionais.
Vi muitos grandes homens eleitos por homens pequenos. Não David Santamaría - Barcelona/ES – será o
pude acreditar neles. Homens pequenos não são capazes de visua- orador, com o tema “Alma, Mente e Espí-
lizar as grandezas indiscutíveis dos grandes homens, porque seus rito”. A conferência marcao lançamento do
olhares estão contaminados pelo contexto dos interesses peque- livro “A Imortalidade da Alma”, da coleção
nos. Um grande homem só pode de fato ser sentido na inteireza “Livre-Pensar Espírita, Espiritismo para o
do sentimento por homens grandes, como ele. A régua de medida David Santamaría
Século XXI”, da CEPA.
do homem pequeno é curta, cinge-se ao que vem de retorno e ao
que espera que retorne, mas a régua do grande homem é extensa, Nos domingos seguintes:
sincera, desprovida de exigências e de desejos vis. 11.07 – “Meu Encontro com David Grossvater, com Jon Ai-
Ontem, um grande homem, assim visto por grandes homens, se zpúrua.
foi. Retornou ao espaço dos corpos leves, sutis, ainda que materiais. 18.07 – “A Mediunidade de Cura e o Curandeirismo, na Vi-
Deu-se de maneira tranquila, serena como era ele. E tudo continuou sao Espírita”, com Juan José Torres.
sereno entre os seus. Não houve luto, não houve pesar, não houve 25/07 – “Espiritismo e Ken Wilber – com Alcione Moreno.
nada que não fosse como ensina a lei da natureza. Alguém se vai, al-
guém retorna e a vida segue. O tempo da saudade começa, o tempo Horário de Caracas: 11h30. Horário de Brasília: 12h30. As
das comemorações tem início. No mais, tudo em ordem. conferências podem ser assistidas ao vivo em www.cimamovi-
Esse grande homem, garantido por homens de grandeza, se mientoespirita.org .
chama Maurice Herbert Jones.
JULHO 2021
CCEPA
NOTA DO EDITOR: A carta que a seguir reproduzimos foi es- ças às suas relevantes contribuições. Mas o mais importante, seu
crita em junho de 2018, por Dirce a Maurice Herbert Jones. É um Jones, sua identidade me toca por sua forma de ser, recheada de
documento que retrata o início da fase final de Jones na atu- humildade e de simplicidade, virtudes nem sempre presentes em
al experiência encarnatória. Ele se recuperava de um AVC que, quem é culto, mas com certeza, em quem é sábio.
mesmo não lhe tendo tirado a lucidez, privava-o de muitas ati- Sua identidade alcança-me no seu bom humor, em sua iro-
vidades físicas, intelectuais e de sociabilidade. Limitava-lhe in- nia inteligente, mas nunca depreciativa, aspectos tão raros nesse
clusive o exercício de uma atividade que vinha exercendo com conturbado mundo. Aprendo sobre descontração, alegria e leveza,
exemplar zelo, carinho e vigor: a assistência que, pessoalmente, desejando ser assim, também. No entanto, sua identidade envol-
fazia questão de prestar à esposa, então já gravemente enferma. ve-me na seriedade com que estuda, aprofunda e dá ensinamen-
tos sobre a forma de tratar a Doutrina, sempre enfatizando a fé
Porto Alegre, 03 de junho de 2018. raciocinada, o livre pensamento e o questionamento destituídos
de fanatismos, de preconceitos de qualquer natureza ou da eleição
Querido amigo Jones! de qualquer tipo de ídolos. Sua identidade mostra que tudo evolui,
No último encontro que tivemos no CCEPA, o senhor expres- que o mundo das ideias é múltiplo e que nada progride se não es-
sou a todos nós o momento difícil que está vivendo. A natureza, tiver aberto ao novo, pois, a vida é movimento e mutação.
seguindo seu ciclo que atinge a todos, indistintamente, apresenta Sua identidade repercute em mim na maneira como conse-
perdas, de toda ordem, que trazem sofrimentos. Em primeiro lugar, gue trazer suavidade e equilíbrio numa discussão às vezes pesada,
obrigada pela confiança em dividir conosco esse seu sentimento. quando excessos de personalidades (inclusive os meus) começam
Isso é confiança e prova de afeto. E é em nome desse afeto que, te- a desorientar-se. Seu tom de voz e sua palavra judiciosa lembram
nha certeza é recíproco, tomo a liberdade de tam- que a verdade nunca está contida inteiramente
bém expressar-lhe o meu que, penso, é o de toda num único argumento e que ela é sempre mais
comunidade do CCEPA. abrangente do que nos parece, no momento. Sua
“Sinto que estou perdendo a minha identidade identidade orienta-me sobre prudência, respeito e
e isso é muito ruim. Não consigo mais fazer o que humildade e, muito especialmente, sobre a neces-
eu fazia, esse não sou mais eu...”, o senhor disse, sidade de cultivar pluralidade de pensamento, sem
entre outras coisas. De tudo, o que ficou ecoan- perder-me do essencial.
do em mim foi: “Sinto que estou perdendo minha Sua identidade inspira e mobiliza-me a seguir
identidade...” seus exemplos, quando os mais antigos na casa me
Cheguei ao CCEPA há sete anos. Sete anos, contam sobre a sua trajetória nela. O CCEPA con-
alguém diria, o que são sete anos em uma vida tém-lhe inteiro, seu Jones, e abrange a sua linda e
longa? Eu digo que eles podem ser toda uma vida, exemplar história de vida. Desde as paredes físicas
quando representam conquistar novas que suportam o prédio às paredes que
compreensões, olhares inéditos, percep- sustentam as almas que aqui estão. O se-
ções revolucionárias na consciência e, so- nhor sabe do que falo: dedicação material
bretudo, nas práticas. A identidade de Jones mostra que e, muito além desta, abnegação humana
Encontrei essa oportunidade no CCE- tudo evolui, que o mundo das ideias que ultrapassa o simples dever, contribui-
PA, através da aprendizagem que as pes- é múltiplo e que nada progride se ção imprescindível para que outros cons-
soas que me acolheram tão generosamente não estiver aberto ao novo, pois, a truam a si mesmos...
me proporcionam, sempre. Elas partilha- vida é movimento e mutação. Por tudo isso, seu Jones, querido ami-
ram comigo não apenas o seu consistente go, e por muito mais que eu não consegui
conhecimento da Doutrina Espírita, mas, expressar, pois, por certo outros diriam
especialmente, seu modo de ser e seus exemplos edificantes como muito mais e de forma bem mais justa, eu lhe afirmo: sua identida-
seres humanos. Todas têm um lugar naquilo que já construí e que de não está se perdendo. Como um bem imaterial poderia perder-
repito a cada dia, nesse convívio tão caro para mim. se? Sua identidade vive, vigorosamente, em mim, e sei, em todos
Para minha felicidade foi no CCEPA que eu pude conhecê-lo, do CCEPA. Posso entender profundamente os seus sentimentos,
desfrutar de sua companhia e de tudo que ela representa para mim pois eles são naturais e justos. Todos compartilhamos do mesmo
e que, saiba, não é pouca coisa. Quero, então, seu Jones, afirmar receio de perda “material” e da angústia que isso traz. Somos ab-
categoricamente, embora uma das coisas que me ensinou é que solutamente iguais nesse quesito. Mas não posso concordar com
não devemos ser tão convictos sobre tudo, mas nisso vou desobe- a sua afirmativa que deu origem a este texto: “estou perdendo a
decer, pois também me ensinou que a desobediência é boa quan- minha identidade”. Isso seria irreal e ofensivo a nós, que o temos
do libertadora para o progresso, para afirmar que sua “identidade e que sempre o teremos em nós próprios, pois tentamos ser, ao
jamais se perderá”. Ela vive e palpita em mim e, sei, em todos que menos um pouquinho, semelhantes ao senhor... Sua identidade,
têm o privilégio de tê-lo conhecido e de privar de seu convívio. ou seja, o conjunto de todas as características e qualidades que lhe
Minha mente, meu coração, minha consciência e também são inerentes ecoam em mim, em nós, e ecoarão, sempre, multipli-
meus cadernos ( pois, eu também tenho medo de perder...) estão cando-se naqueles que possamos, talvez, atingir também.
repletos de seus ensinamentos, de suas falas, de suas observações Gratidão imensa por dividir comigo e com todo o grupo do
sempre todas tão oportunas, tão lúcidas e, principalmente, tão ins- CCEPA essa sua tão linda “identidade”. Gratidão pela força que
tigantes à curiosidade ativa, à reflexão necessária, à urgência de ela contém, a ponto de chegar em minha alma com a energia da
revisão de minhas práticas. Quantas vezes, um nome, uma teoria e transformação. Sua identidade é para minha alegria e bem interior,
uma referência suas me levaram a pesquisar, a procurar aprofundar parceira e companheira para sempre.
ou a ver algo pela primeira vez. Descortinei um mundo novo, gra- Com imenso afeto e enorme gratidão, Dirce.
JULHO 2021
CCEPA
6 ORGÃO DO CENTRO CULTURAL ESPÍRITA DE PORTO ALEGRE