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Release

Ó! - Juliana Perdigão



Juliana agora é essencial para Juliana é única. Ícone
compositora. Mas entender a da sua geração, ela
antes ela já era atriz. E efervescência da cena canta a marchinha-
antes de ser atriz ela musical mineira dos síntese do renascido
era cantora. E ainda anos 10 do século 21. carnaval de rua de
antes de ser cantora Agora ela lança esse Ó. Belo Horizonte: "que
ela sempre foi bom, que bom, que
instrumentista. Toca Antes de ser bom, ser
bem clarineta, flauta e instrumentista da contemporâneo seu"
clarone. Toca também Tulipa Ruiz ela foi e chuta a família
violão. E toca bem. integrante da banda mineira com tanta
Antes de viver em São Graveola e o Lixo elegância e bom
Paulo ela morava em Polifônico. Mas antes humor que o golpe
Belo Horizonte. Isso foi disso ela tocava nos chega a ser carinhoso.
antes dela entrar pro grupos Corta Jaca e
Teatro Oficina. Foi Quatro na Roda. E Mas ela foi azucrinar
quando ela gravou o sempre frequentou as a família tradicional
primeiro disco, Álbum rodas de choro. paulista, alugou uma
Desconhecido. Obra Juliana é múltipla, quitinete nas
imediações da produzir o novo e re-conhecimento de
Consolação, sentou álbum. Com ele forças matrizes da
praça e fincou raízes. assinou a parceria de cena: Ná Ozzetti e
Arregimentou uma “Fantasma”. Vai Tulipa Ruiz. Duas
banda paulista, vendo! vozes símbolo de
recuperou músicos momentos diferentes
mineiros perdidos na Juliana ainda se mas interligados de
Paulicéia. Se desdobra em projetos uma certa música
enturmou na cena paralelos e brasileira identificada
paulistana a ponto de perpendiculares, faz com uma certa
ser identificada como performances onde localidade e com
um deles. Mas nunca opera pedais de efeito características muito
deixou de ser mineira, e transita entre o específicas e
belorizontina, do hapenning e a peculiares.
Santo Antônio. Juliana intervenção social.
hoje é senhora dos Tudo sempre com o Seguimos numa
palcos, que aprendeu humor sarcástico que caminhada pelo
a dominar com o lhe é peculiar. Juliana centro de São Paulo.
comedimento dos é ímpar, Juliana é Mas é alguém com o
chorões e os excessos parte. De uma turma ouvido atento, com o
de loucura zecelsiana. que trabalha no limite olhar estrangeiro. É o
da canção, entre o olhar de um
Juliana é imprevisível, som e o sentido. De forasteiro, que
vai da tradição ao uma turma que estranha a cidade,
experimentalismo aprendeu a lição, embora se reconheça
num gesto tão natural entre o já ouvido e o nela.
que chega a parecer pop. Entre a
óbvio. E encontrou vanguarda e a Da parceria inusitada
cúmplices parceiros tradição. Entre os de Zé Celso com
para sua empreitada emboabas e a traição. Rimbaud e Fela Kuti
musical: Gongom, que abre e fecha o
Moita, Chicão e João Mas vamos ao disco. disco, Ó faz um arco
Antunes. Fechou Juliana fez com os que atravessa todo o
contrato com Kurva um disco século XX, das
gravadora YB, por incisivo, radical, um movimentações
onde lançou o monólito contra o libertárias europeias
primeiro disco e telhado de vidro dos ao underground
agora grava e lança o bons costumes, da tupiniquim. Do
segundo. Convidou família, do afrobeat ao punk
Rômulo Fróes, um patriarcado. E não rock. Da marchinha
dos principais deixa de ser uma de protesto
articuladores da cena pedrada muito contemporânea ao
paulista, compositor e elegante, com proto-samba dos anos
pensador inquieto, categoria. As duas 20. Da poesia
um que transita com participações concreta à pós-
desenvoltura pelos femininas no disco vanguarda paulista.
círculos concêntricos dão a dimensão das Tudo mediado por
da música e das artes escolhas de Juliana, um sentimento
plástica, para do seu entendimento impregnado de
pertecimento e provavelmente a mais Tagliari e toma ar
naturalidade. pop, a mais redonda, para mergulhar
ainda assim não faz novamente nas
Juliana fez um disco concessões. Aqui fica profundezas do
improvável. Mineira explícito uma sentido com Ana
que ainda é não triangulação Martins Marques.
poderia ter feito um improvável entre o Outro mineiro, Luiz
disco mais paulistano. Tropicalismo, o Clube Gabriel Lopes, um
Mas paulista que da Esquina e a Lira interiorano
ainda resiste em ser, Paulistana. cosmopolita, é um
não poderia ter ponto de equilíbrio
produzido um disco Mas talvez o maior no disco, com uma
tão mineiro. incomodo para o melodia solar
ouvido incauto sejam iluminando a letra
Essa habilidade em as letras. Seguir por minimalista que
conciliar o esse percurso em decifra o enigma do
inconciliável fica busca do fio da disco. Há um traço da
evidente quando ela meada, buscando um cidade no disco. Tá
canta o samba da sentido lógico- tudo aqui. Há ruídos e
carioca Ava Rocha em racional que rumores. Esse disco
parceria com Fredy justifique tudo pode não traz resposta, ele
Állan. Experimento gerar ânsia, suor frio, vem com dúvidas.
lisérgico taquicardia. Sem o Aliás, as dúvidas
milimetricamente chão. Fica pontuam o trabalho
calculado. Com “Na descompassado de ponta a ponta. E
Frente da Bandeira” quando Rômulo Fróes são reveladoras. Você
do maranhense Negro entra em cena, segue pode morrer de sede
Leo o experimento vai tenso com Nuno tanto no mar quanto
ao limite das Ramos e Guilherme num deserto. Juliana
(im)possibilidades Held, chega ao fundo não dá trégua. Dê
harmônicas. “Depois com Kiko Dinucci. Se uma volta pelo disco.
que o 9 virou 6”, a adensa na parceria de O risco é todo seu!
mais mineira e Juliana e Mauricio

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