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Melhoria da qualidade das obras públicas municipais

Simone Marotta de Azevedo

A implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade eficaz nas Administrações Públicas


Municipais deve ser tomada como ação prioritária na identificação de aspectos críticos visando a
melhoria da qualidade. A crescente consciência da necessidade de implantação de ferramentas de
controle, por parte dos Administradores, após a instituição da Lei de Responsabilidade Fiscal
evidenciou a responsabilidade no planejamento, transparência das ações do governo, equilíbrio das
contas públicas, adoção de sistemas de custos e sistemas de controle interno, entre outras
medidas. As principais irregularidades que ocorrem em obras públicas e os principais desperdícios
que as comprometem são identificadas como situações em que a obra não atende ao interesse
público. Para ser eficaz na fiscalização das obras públicas e com isso garantir a qualidade das
obras, a Administração deve designar Fiscais de Obras, nos Termos da Lei 8666/93, e definir
ferramentas de controle da qualidade, que auxiliam na identificação dos problemas e na
implementação de medidas para gerenciar com qualidade os processos. INTRODUÇÃO As
instituições públicas têm enfrentado dificuldades para responder às exigências do mercado no que
se referem à qualidade, custos e prazos. Essa realidade é conseqüência, em parte, das limitações
do exercício do poder de compra das instituições públicas brasileiras. A Administração Pública,
subordinada à Lei 8666, que institui normas para licitações e contratos, usualmente se utiliza da
modalidade menor preço para a contratação de obras e serviços de engenharia, isto é, a empresa
vencedora da licitação é aquela que ofertou o menor preço para a execução dos serviços. Este fato
é comumente utilizado como argumento para justificar a baixa qualidade das obras públicas e os
constantes aditamentos dos prazos e custos das mesmas. Cada dia que se passa sem haver
integração entre o projeto e a execução da obra, com a ausência de sistemas de gestão eficazes,
agrava o fraco desempenho dos modelos de gestão de contratos utilizados por uma grande parte
das Administrações Públicas. Daí a necessidade da utilização de ferramentas simples que
permitam o acompanhamento mais eficaz das obras e garantam a qualidade dos serviços de
engenharia prestados. Nesse trabalho são mostradas algumas ferramentas de “gestão da
qualidade” e a importância da implantação de um sistema de gestão da qualidade nas
Administrações Públicas. ARTIGO A Administração Pública deve, na implantação de um Sistema
de Gestão, tomar iniciativa para solucionar e evitar diversos aspectos críticos identificados para a
melhoria da qualidade:
- falhas na quantificação e orçamentação dos serviços;
- projetos inexistentes, incompletos ou inconsistentes;
- pouca ou inadequada estrutura para o acompanhamento das obras;
- desconhecimento dos requisitos a serem atendidos pelas obras ou serviços;
- atrasos na realização das medições, liberações e pagamentos de faturas;
- carência de padrões para a fiscalização e recebimento das obras. As ações de melhorias devem
ser implementadas em todos os processos que envolvem o ciclo de vida dos empreendimentos,
desde a sua concepção até o recebimento definitivo da obra, passando por elaboração de projetos
e especificações técnicas, orçamentos, licitação, contratação, fiscalização, pagamento, tramitação
de aditivos, manutenção e conservação das obras. A dificuldade de integração entre projeto e
produção, com ausência de sistemas de gestão que exijam dos projetistas uma visão orientada ao
canteiro de obras, geram problemas na gestão dos contratos. Erros são freqüentes, com a
conseqüente perda da qualidade dos produtos finais, o aumento de custos devido ao retrabalho e a
improvisação de soluções construtivas nos canteiros. Esses fatores atrasam o cronograma ou
geram paralisações nas obras. As principais irregularidades que ocorrem em obras públicas e os
principais desperdícios que as comprometem são identificadas como situações em que a obra não
atende ao interesse público:
- obra paralisada ou inacabada;
- obra inexistente;
- obras com pagamentos indevidos;
- obra realizada em desacordo com normas técnicas;
- obras superfaturadas;
- obras com despesas indevidas. A gestão do contrato por parte da administração pública às vezes
limita-se ao ato de fiscalizar e medir os serviços executados na obra, com pouca interferência sobre
o controle de materiais e processos construtivos. É feita pelo representante público diretamente
ligado às obras – o fiscal de obras – hoje denominado informalmente de gerente de
contratos, e busca obter a qualidade do fornecimento, a garantia do fornecimento, a redução de
custos, a agilidade nas readequações contratuais e a informação atualizada da posição de cada
contrato. É comum um fiscal atuar em diversas obras, o que reduz significativamente sua presença
nos canteiros, o que os limita a aceitar ou não um serviço, já que não é possível acompanhar o
processo de produção/execução. O fiscal, além das habilidades técnicas, deve ser um bom gestor.
Quando o serviço não é aceito, a empresa contratada com freqüência busca subterfúgios para
impor a contratante o produto não desejado ou, quando muito, concorda em resolver as pendências
através do retrabalho. Constata-se que este quadro adverso conduz a instituição pública à própria
sorte, ou seja, se a vencedora da licitação é uma empresa que busca honrar os seus compromissos
contratuais, provavelmente a obra atenderá às expectativas da contratante. Caso contrário, a obra
refletirá uma qualidade aquém do estabelecido em contrato, com os problemas mencionados
anteriormente. Para ser eficaz na fiscalização das obras públicas e com isso garantir a qualidade
das obras, a Administração deve designar um fiscal para tal, que deverá proceder às anotações
das ocorrências no Diário de Obras, medir os serviços executados, providenciar os Boletins de
Medição e, ao final da obra, verificar suas condições de funcionamento e receber as obras através
dos Termos de Recebimento Provisório e Definitivo, conforme Lei 8666/93. Estes procedimentos,
definidos por lei, são medidas de identificação, monitoramento, controle e solução de problemas
surgidos no andamento de uma obra e são de vital importância para que se cumpra a qualidade e
os prazos desejados. São entendidos como ferramentas de controle da qualidade apropriadas para
o serviço público, que auxiliam na identificação dos problemas e na implementação de medidas
para gerenciar os processos: - Diário de obras - documento onde são anotados, pelo fiscal ou
engenheiro da obra, os fatos acontecidos na execução de uma obra, sejam elas pendências ou
não;
- Boletim de Medição - documento que discrimina os serviços efetivamente executados pela
empresa contratada, medidos no período e aceitos pela Fiscalização. É fornecido para caracterizar
o andamento de cada intervenção isolada do empreendimento e possibilita a realização dos
procedimentos de aferição da evolução do contrato;
- Termos de Recebimento Provisório e Definitivo - termos circunstanciados, pelos quais os
responsáveis pelo acompanhamento das obras e serviços de engenharia recebem o objeto da
licitação, provisoriamente ou definitivamente, depois de corrigidas, reparadas ou removidas as
falhas no total ou em parte do objeto do contrato onde forem verificados vícios, defeitos ou
incorreções resultantes da execução ou de materiais empregados. Outras ferramentas e técnicas
para realizar o controle da qualidade são recursos criados para facilitar a visualização e
entendimento dos problemas, sintetizar o conhecimento e as conclusões, desenvolver a criatividade
e permitir o conhecimento do processo. A seguir são apresentadas algumas das principais
ferramentas e técnicas, conhecidas como ferramentas básicas da qualidade, cuja implantação e
utilização são de extrema facilidade e cujo retorno de resultados é imediato: - Brainstorming
– a mais conhecida técnica da geração de idéias. Procedimento utilizado para encontrar
soluções para um problema através de uma série de idéias, assim, permite descobrir as causas de
um problema através da discussão do tema em uma reunião.
- 5W1H – cronograma de planejamento que identifica as ações e as responsabilidades de
quem irá executar e/ou monitorar trabalhos através de um questionamento capaz de orientar as
diversas medidas que deverão ser implementadas. Elabora-se um quadro onde são utilizadas
ferramentas para planejar a implementação de uma solução, através das respostas aos seguintes
questionamentos: O que, quem, onde, quando, por que e como. Quando necessário, pode-se
incluir ainda o seguinte questionamento: ‘Quanto custa?’.
- Fluxograma – representação gráfica da seqüência de atividades de um processo, onde é
registrado o fluxo das etapas, de forma a orientar a realização de operações padronizadas.
- Lista de verificações – uma lista de itens pré-estabelecidos que serão marcados a partir do
momento que forem realizados ou avaliados. Serão utilizados formulários para organizar, simplificar
e otimizar a forma de registro das informações obtidas por um processo de coleta de dados,
utilizado para estabelecer quando e como uma ação realizada deverá ser verificada, de forma a
listar os defeitos/pendências.

Trata-se de ferramentas simples e de grande valia, que podem ser facilmente implementadas,
visando resultados positivos na Gestão de Obras Públicas, através da garantia de qualidade
implantada através de ações eficazes do Setor de Fiscalização de Obras Públicas. A Administração
Pública, na implantação de um Sistema de Gestão, deve providenciar e garantir:
- projetos básicos bem desenvolvidos, compatíveis com a obra;
- orçamento estimativo eficiente;
- equipe mínima de fiscalização, compatível com o número de obras contratadas;
- adequada gestão financeira dos contratos;
- especificações e requisitos claros de construção;
- projetos adequados, eficazes e eficientes, desde sua origem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A Administração Pública, através do Setor de Fiscalização de Obras,


enfrenta dificuldades para realizar a garantia da qualidade em seus projetos, o que é entendido
como aplicação de atividades da qualidade planejadas e sistemáticas para garantir que os projetos
irão empregar os processos necessários para atender aos requisitos. A implantação e bom
funcionamento de ferramentas de gestão vão depender do valor e da importância percebidas pelos
Administradores na produção e na apresentação de resultados aos parceiros envolvidos e nos
interessados nos objetivos traçados. O comprometimento é fruto do entendimento dos conceitos
que fundamentam a prática desta ferramenta de gestão.

A garantia da qualidade fornece uma base para a melhoria contínua dos processos, o que fornece
um meio iterativo para melhorar a qualidade de todos os processos. A melhoria contínua dos
processos reduz os desperdícios e as atividades sem nenhum valor agregado, o que permite ações
em níveis maiores de eficiência e eficácia. Neste contexto, a eficácia de uma obra pode ser
entendida como a qualidade, ou a adequada especificação da obra ou serviço e sua
correspondente execução, de forma a atender ao papel a que se destina. E, ainda, a eficiência
refere-se à economicidade do contrato, baseado no objetivo de alcançar a eficácia ao menor custo
possível, através da elaboração de planilhas estimativas orçamentárias baseadas em projetos
básicos ou executivos consistentes.

A correta definição das ferramentas e sua eficaz utilização levam a organização a atingir os
objetivos e metas planejados.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS TENÓRIO, Fernando G. Gestão de ONGs: Principais Funções


Gerenciais. São Paulo: Ed. Fundação Getúlio Vargas, 1997. 132p. TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO. Obras Públicas: recomendações básicas para a contratação e fiscalização de obras
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São Paulo: Ed. Atlas, 2ª ed, 2004. 344p. VARGAS, Ricardo Viana. Manual Prático do Plano de
Projeto: utilizando o PMBOK Guide. Ed. Brasport, 3ª ed, 2007. 226p. BRASIL. LEI nº 8666, de 21
de junho de 1993. Aprova a Lei de licitações e contratos da Administração Pública. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 1993. BRASIL. LEI nº 101, de 04 de
maio de 2000. Aprova a lei de responsabilidade fiscal. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 2000. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE - Guia do Conjunto de
Conhecimentos em Gerenciamento de Projetos, PMBOK ® Guide. Newtown Square, Pennsylvania,
USA, 2004.

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