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RESENHA

SCISLESKI, Andrea Cristina Coelho; MARASCHIN, Cleci; TITTONI, Jaqueline.


A psicologia social e o trabalho em comunidades: limites e
possibilidades. Interamerican Journal of Psychology., Porto Alegre, v. 40, n.
1, abr. 2006 .

O artigo analisado para a presente resenha, utilizando-se da experiência


de trabalho com jovens moradores da comunidade da Ilha Grande dos
Marinheiros, região da periferia da cidade de Porto Alegre/Brasil, apresenta
reflexões sobre a implicação, a escuta e a autoria como ferramentas teóricas e
metodológicas da Psicologia Social para a produção de novas conexões espaço-
existenciais.

As autoras afirmam que os modos de deslocamento e de habitação do


território de uma comunidade produzem efeitos subjetivos, e que através da
ampliação do conhecimento e da discussão teórica, é possível traçar estratégias
de intervenção agenciadoras de novas conexões espaço-existenciais,
possibilitando assim, a reconfiguração das relações sociais e a reconfiguração
subjetiva dos sujeitos moradores da comunidade e dos próprios psicólogos que
nela atuam.

Ao reconhecer a importância da comunicação e da linguagem na


circulação e produção dos discursos, as autoras afirmam que o trabalho feito na
comunidade tinha por objetivo facilitar os movimentos de grupos dentro da
comunidade com o intuito de propiciar a circulação da fala, a troca de
experiências e a formulação de questões julgadas como pertinentes por eles.

O artigo traz ainda uma crítica à precariedade do fundamento


assistencialista, apontando-o como potencializador da reprodução de formas
homogeneizadas e cristalizadas de viver, que acabam por subjugar o sujeito à
necessidade, numa posição subjetivamente empobrecedora. E o outro, o que dá
assistência ao sujeito, é subjugado a uma posição estigmatizada, restrita à
condição de doador de recursos concretos. Desta feita, a circulação nas
conexões espaço-existenciais da comunidade é empobrecida e a potencialidade
da experiência, restringida.

Ao fim do artigo, as autoras concluem que é fundamental que haja uma


análise das relações que ative a escuta e a autoria, pois elas são capazes de
produzir deslocamentos, novos ordenamentos, novos lugares de intervenção e
novas conexões espaço-existenciais implicando em autoprodução,
autoconstrução, tanto dos sujeitos envolvidos no processo, e isto inclui o
psicólogo, quanto do processo em si.

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