Você está na página 1de 5

Aluno: André Junior Souza Ferreira

Formação do Estado Nacional na América Latina; “Transição para a crise” (capítulo


VII); KAPLAN, Marcos; Editorial Universitária, Santiago de Chile, 1969, págs. 239-
275.

O texto do capítulo VII escrito por Marcos Kaplan nos apresenta uma série de
argumentos e reflexões acerca do período de expansão do sistema capitalista na segunda
metade do século XIX e início do século XX através da Segunda Revolução Industrial,
a mudança na dinâmica hegemônica no período pós Primeira Guerra Mundial e a
maneira como essas transformações influenciaram na dinâmica política e econômica
interna dos países da América Latina. As modificações do sistema internacional a partir
do desenvolvimento de um período tecnológico-científico contribui decisivamente na
organização e funcionamento das economias e das sociedades nacionais. O progresso
técnico-científico incide nos modos de produção, padrões de consumo e na dimensão da
orientação ideológica dos Estados e sociedades mundiais. A Segunda Revolução
Industrial é o período que cria uma nova sociedade urbano-industrial e também está
associado a expansão do capital das potências europeias e a sua decorrente decadência
após a Primeira Guerra Mundial. Nesse sentido Kaplan mostra como houve uma
alteração na dinâmica da hegemonia mundial, em especial na América Latina com a
substituição da supremacia tecnológica, comercial e financeira da Grã-Bretanha pelos
Estados Unidos. Sobre a dinâmica Imperialista de expansão colonial europeia e dos
demais países além de alavancar o processo de urbanização das cidades, o caráter
monopolista era cercado de interesses comerciais, sobre isso Kaplan afirma: “A
urbanização, o surgimento e expansão de áreas metropolitanas e regiões urbano-
industriais é, e são resultados da concentração empresarial (necessidade de mão de obra
disponível em grande escala, diversificação induzida da estrutura econômica)
reforçando-a (mercado de massas). (...) A centralização e a concentração industriais e
bancárias reforçam-se mutuamente e seu entrelaçamento gera o capital financeiro como
forma dominante da economia (...).” (pág.241)

A relativa rapidez no processo de industrialização do continente europeu e a sua


concorrência com o mercado europeu trouxe para o comercio internacional uma série de
conflitos e tensões causados pelas políticas expansionistas e imperialistas desses
Estados e concomitantemente com a conquista de mercados e busca por novas areas e
novos mercados e pela forte de matéria prima e mão de obra barata. Essas tensões estão
expressas na criação de patentes como forma da ideologia de estado no sentido de
garantir o mercado, da dinâmica expansionista nas ações diplomáticas e a corrida pela
partilha da África e da Ásia e de novas formas de exploração dos mercados latino-
americanos; sobre isso Kaplan afirma: “Esta dinâmica expansionista modifica a ação
econômica, política, diplomática e estratégica das grandes potências europeias, do Japão
e dos Estados Unidos. Seus monopólios e governos lançam-se em desenfreada corrida
em que cada qual busca, às expensas de seus competidores, preservar o campo de ação
nacional e invadir o alheio, apoderar-se de novos territórios (fontes de matérias primas e
mão de obra, mercados, zonas de investimento) obter e garantir um afluxo contínuo de
amortizações, juros e dividendos a partir das implantações e mecanismos colonialistas.
(...) repartem entre si o mundo, por meio de modalidades coloniais diretas ou pela
criação de zonas de influência sobre países formalmente independentes (...).” (pág.243)

A crise causa pela Primeira Guerra Mundial é um prenuncio da mudança do panorama


hegemônico na economia internacional, a decadência do Grã-Bretanha e o surgimento
dos Estados Unidos requer uma leitura atenta da analise do texto No final do século
XIX e início do século XX, no mercado internacional já despontavam outros países
como forças industriais e econômicas que desenvolveram uma tecnologia que em certa
medida deixou a posição do progresso industrial britânico em atraso. Além dos Estados
Unidos, o texto traz um destaque para a indústria química e de bens de capital da
Alemanha e a sua necessidade de se firmar como potência colonial como uma
competidora dos britânicos. Kaplan afirma que a Primeira Guerra Mundial é uma
indicação da derrocada da Grã-Bretanha e do continente europeu frente aos avanços
econômicos, financeiros e comerciais dos Estados Unidos. Sobre os Estados Unidos
Kaplan afirma: “Os Estados Unidos conseguem manter-se afastados das complicações e
vicissitudes da política europeia mas as utilizam na promoção de seus próprios
interesses. Intervêm cada vez mais decisivamente na política mundial, orientando-se
para Ásia e a América Latina (...).” (pág.249)

Os países europeus se desgastam de forma relativa em muito por causa de suas


rivalidades e conflitos, e nesse sentido a balança comercial da Grã-Bretanha não
apresenta índices que favoreçam um futuro hegemônico na economia mundial. O texto
continua a sua abordagem, neste momento a um direcionamento para a compreensão
das consequências da Primeira Guerra Mundial, que em certa medida interrompe o
desenvolvimento do sistema capitalista mundial, interferindo substancialmente e
significantemente na economia europeia. As dividas geradas pela guerra, a diminuição
da força produtiva e os entraves políticos causados pela guerra devastadora são aspectos
destacados no texto de Kaplan, que também fala da importância da participação dos
Estados Unidos nesse conflito; sobre isso o texto indica: “A participação norte-
americana na guerra representa o ponto decisivo de inflexão e de passagem da era
europeia à da política mundial. Os Estados Unidos emergem do conflito como o mais
poderoso país industrial, dominante do mercado internacional, credor e principal
exportador de capitais, sucessor da Europa na hegemonia dentro do sistema capitalista.”
(Pág.252)

O autor também pontua sobre as implicações causadas pela Revolução Russa com o seu
papel ideológico e com uma nova proposta para pensar o mercado e o sistema político
internacional. Os impactos causados pela Primeira Guerra em todas as atividades
produtivas são muito fortes e a economia passa a ser repensada. Sobre isso o texto fala:
“O tipo de desenvolvimento dependente, desigual e combinado, em suas formas mais
extremadas, cria ou agrava dificuldades e desequilíbrios, suscita novas reivindicações e
conscientização faca a subordinação, exploração e atraso inerentes ao sistema colonial.”
(pág.255) A crise colonial faz com que a economias dos Estados repensem o modelo
liberal no sentido de que viam a necessidade de intervenção estatal na economia no
sentido de suas funções regulatórias, além do mais, a guerra determina, estimula e
proporcionou a valorização de recursos nos países dependentes e coloniais. Nesse
sentido de crise do sistema capitalista e conflitos bélicos, a Grã-Bretanha vê a sua
economia entrar em um período de decadência.

A partir da página 258, o autor demonstra a sua intenção, apresentando e defendendo a


sua ideia central. Demonstrando como se deu essa mudança na América Latina, Kaplan
mostra a passagem da hegemonia da Grã-Bretanha para os Estados Unidos e a suas
propostas de exploração das economias do continente latino-americano. Segundo o
texto, a Grã-Bretanha tinhas características econômicas diferentes dos Estados Unidos
no que se refere a política econômica para os países da América Latina; que eram: uma
economia livre cambista, especializada na produção industrial, compradora de matéria-
prima e alimentos e investidora comercial. Já os Estados Unidos é apresentado como
tendo uma economia protecionista, grande produtora de matérias-primas agropecuárias
e de alimentos, exportadora de artigos manufaturados com tendência a busca pelo
superávit primário e grande credora e investidora que se utiliza de seu sistema bancário
e de empréstimos. Os norte-americanos se utilizam de ações comerciais e financeiras no
sentido de uma crescente tendência a investimentos diretos e de tipo enclave nos setores
industriais da América Latina. As modificações no mercado mundial traz uma série de
implicações. O deslocamento do eixo econômico mundial esta inserido numa mudança
mais significativa no panorama das estruturas econômicas e da dinâmica comercial e
financeira mundial. Sobre a mudança do eixo econômico mundial, Kaplan afirma: “Isso
determina uma exasperação do nacionalismo econômico, do protecionismo e da
autossuficiência. (...) Isso se traduz, sobretudo, em uma descentralização das atividades
industriais e em um retrocesso das velhas especializações. Países tradicionalmente
agrários se industrializam. Países especializados na produção industrial reequipam e
desenvolvem seus setores agropecuários.” (pág.261)

Abordando os aspectos internos em sua parte final deste capítulo, o autor nos mostra os
impactos deste novo tipo de mentalidade nas economias da América Latina, a divisão
social do trabalho, a expansão do Estado, o crescimento da urbanização e o
desenvolvimento da especialização na unidade básica da produção primária são os
aspectos apontados durante essa parte. O desenvolvimento do corpo burocrático do
Estado e o desenvolvimento de uma indústria nacional tinha um caráter irregular e
desnivelado. No sentido de ampliação de seu corpo burocrático o Estado tem a
mentalidade de desenvolver o seu exercito profissional nas cidades. Analisando a
estrutura social, Kaplan vai mostrando como o surgimento da classe média afeta a forma
como esse Estado oligárquico funciona na América Latina; sobre isso ele afirma: “O
modelo de crescimento dependente e superficial começa a demonstrar inconveniências e
limites. Surge uma sensação de incerteza sobre as possibilidades de se alcançar
efetivamente o grande futuro nacional. A ascensão das camadas médias e trabalhadoras
age como fator de controvérsia e contestação.” (pág.266)

A necessidade das classes média suscita uma nova forma de se pensar o Estado e
demonstra o equilíbrio de poder com as reivindicações das classes médias no sentido de
uma participação no sistema de poder do Estado. a principio as suas reivindicações tem
um caráter de tentar criar uma economia independente e com uma maior participação
do Estado nos setores da vida pública da população, mas o autor vai demonstrando que
as suas aspirações não tem um caráter no sentido de melhoria real dos grupos populares.
Sobre isso, o autor elenca uma série de aspectos e justificativas para sustentar a ideia da
ação do Estado no sentido de suas atribuições: A Institucionalização e em alguns casos a
modificação das instituições tradicionais; A utilização da coação social com o papel de
árbitro entre as classes que seriam atribuídas ao Estado; A ampliação da oferta de
educação por parte do Estado, que em muito beneficia as classes médias no sentido de
que elas conseguem alcançar os níveis superiores de ensino; A organização coletiva da
política econômica com inspiração nacionalista e progressista que tem um propósito
difuso em relação os grupos populares.

A análise da ascensão da classe média aparece como ambiguidade no sentido dos


avanços sociais, porém o autor mostra que essa redefinição não altera o quadro de
liderança da oligarquia. Sobre isso o autor nos fala: “Tal ascensão implica uma primeira
quebra na vigência do tipo de crescimento dependente e do sistema de dominação
oligárquica. As camadas médias aumentam sua participação, influência e poder na
economia, sociedade, sistema político e cultura. (...) Nas camadas médias não existe
uma vontade revolucionária, havendo assim uma preferência pelo reformismo
gradualista (...) As mudanças produzidas pela ascensão das camadas médias são
absorvidas, passam a integrar a ordem social e a reforçá-la.” (pág.272-273) A classe
média cria uma identificação com a oligarquia e passa a aceitar o deslocamento de suas
reivindicações em benefício próprio, elas não conseguem exercer um controle total
sobre as decisões sócio/econômicas, contribuindo assim para adequação aos padrões
hegemônicos e a mudança no eixo de dependência de suas economias para os Estados
Unidos.

Você também pode gostar