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Algodão

Quem é o Bicudo?
O bicudo do omo todos os membros da fa- OCORRÊNCIA E HÁBITOS
algodoeiro -
Anthonomus grandis
C mília Curculionidae, esse
inseto apresenta como maior
característica o bico ou rostro, em cuja
A maior quantidade de adultos que
adentra à cultura chega na época da emis-
são dos botões florais, estruturas preferi-
ponta situam-se as peças bucais – mais das para sua alimentação, perfurando-as.
(Boheman) ou menos no centro do bico estão as an- É também a época da postura. Com o bico
tenas. eles alcançam o pólen dentro do botão e a
(Coleptera, É algo lento ao caminhar e raramente postura é feita num pequeno orifício que
voa, a não ser quando se dirige para a hi- a fêmea faz com as mandíbulas. Ao colo-
Curculionidae) – é bernação. Também chamada de diapau- car um ovo por botão, a fêmea o recobre
um pequeno besouro sa, a hibernação é um meio de sobrevi- com uma substância, como uma capa pro-
vência do inseto durante o inverno em tetora. O ovo é pequeno, branco, em for-
de 5 a 9 mm de países como os Estados Unidos, onde o ma de grão, podendo ser colocado também
frio é mais intenso. O local mais impor- nas “maçãs”, pequenas ou grandes, na fal-
comprimento, tante para se refugiar, naquele país, é a ta de botões. A preferência, tanto para ali-
coloração que varia camada de folhas secas que se forma sob mentação quanto oviposição, decresce do
as florestas localizadas nas proximidades botão floral para a maçã bem desenvolvi-
do pardo-acizentado das plantações. No Brasil, devido à con- da.
ao negro, com pêlos dição tropical, ocorre a quiescência no lu- Cada fêmea coloca cerca de seis ovos
gar da diapausa, o que significa que o in- por dia, num total de 200 em toda sua vida,
dourados esparsos seto não paralisa totalmente suas ativi- que em média é de pouco mais de 30 dias.
dades no inverno. Depois de dois a quatro dias as larvas eclo-
sobre as asas duras, Saindo da hibernação, o macho se di- dem e comem todo o interior do botão, que
onde se observam rige para as plantações de algodão, atra-
ído pelo cheiro, e começa se alimentan-
cai em uma semana, tempo que coincide
mais ou menos com a vida da larva – 6 a 12
estrias ou sulcos do de folhas novas. É então que libera dias. A larva se transforma em pupa no chão,
os feromônios, atraindo as fêmeas para ainda no interior do botão, com o empupa-
longitudinais a plantação. mento durando de 3 a 5 dias. Conforme as

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condições de umidade e temperatura, o ciclo
de ovo a adulto é de 11-21 dias. A umidade CARACTERÍSTICAS AGRONÔMICAS OBTIDAS POR PLANTA DA CULTIVAR CNPA ITA 90,
ideal para a sobrevivência das larvas durante AFETADA PELA DOENÇA AZUL, APÓS INFESTAÇÃO DE 100 % DE PULGÕES
o ciclo da cultura é próxima a 90%, e a tem-
peratura ótima se situa entre 24 e 25ºC.
É importante observar que a taxa de ovi- Nota* Produção Capulhos/ Altura da Peso de %
posição de 6 ovos/dia se refere às fêmeas que
saem da hibernação e entram em lavouras (g/planta) Planta planta (cm) capulho (g) de fibra
novas – daí os elevados danos que causam ao
colocarem os ovos nos primeiros botões flo- 1 94,0 21,1 124,2 4,5 41,4
rais. Estes, emitidos pelas plantas aos 60-80
dias, serão responsáveis por cerca de 75% da
2 59,6 14,8 115,7 4,0 40,5
produção total de fibras por ocasião da co- 3 51,7 15,0 91,4 3,4 39,9
lheita. A capacidade de oviposição decai de 4 24,7 8,4 79,5 3,0 33,8
geração para geração à medida em que o al-
godoeiropassapelasfasesdegerminação,flo- 5 7,9 4,0 60,6 2,1 23,6
rescimento, frutificação e maturação, a pon-
*escala de 1 a 5, sendo 1 plantas sem sintomas da doença e 5 plantas apresentando severo enfezamento
tode,nofinaldasafra,naépocadacolheita, Fonte: Freire et al. 1999.
uma fêmea colocar apenas m ovo a cada dois
dias.
Os adultos emergem dos botões ou ma-
çãs caídos ao chão fazendo um buraco carac- PERCENTAGEM DE PLANTAS DE DIFERENTES CULTIVARES AFETADAS PELA
terístico nas paredes desses órgãos. Ao sair, DOENÇA AZUL, APÓS 100% DE INFESTAÇÃO DE PULGÕES
dirigem-se para a planta para o acasalamento
e precisam se alimentar durante 5 a 6 dias,
antes de iniciar a postura – reproduzem-se
Plantas com sintoma de virose (%)
em cerca de sete gerações por ano. Na última
geração – por ocasião da colheita – surgem as Cultivar Época 1-67 dias Época 2-45 dias Época 3-10 dias
formas hibernantes, cujos adultos adquirem
maior quantidade de gordura, que os capaci- CNPA ITA 90 60,37 43,47 34,97
taráasobrevivernoperíododeentressafrasem
muita alimentação. Um em cada 200 adultos BRS ITA 96 0,15 0,10 0,075
hibernantes pode viver até 300 dias. BRS Antares 1,30 1,25 1,67
MT 94-151 1,37 0,12 0,47
DISSEMINAÇÃO E CONTROLE BRS Facual 4,22 0,62 0,57
A capacidade de reprodução do bicudo a MT 95-122 1,57 0,70 1,10
partir de um casal que entra na lavoura nova MT 95-743 3,00 0,60 1,82
chega a ser fantástica. Teoricamente, um ca-
sal no início do ciclo pode dar origem a 12 MT 95-773 8,52 2,62 2,57
milhões de descendentes no final da safra. No Fonte: Freire et al. 1999
entanto, graças aos efeitos do meio ambiente
– clima, inimigos naturais, competição por
alimentoseoutrosfatores–essaincrívelcifra e não chega a preocupar como meio de disse- meios para reduzir a população da praga a
se reduz a não mais de 2 milhões de indivídu- minação do Anthonomus grandis. níveis inferiores aos que causam danos eco-
os, população suficiente para a quebra total Embora exista, o controle biológico na- nômicos à produção algodoeira. Esses níveis
da produção. Knipling considera, entretanto, tural do bicudo é muito pouco efetivo, pois a são: 50 adultos fêmeas por hectare no início
que a população do bicudo aumenta cinco larva e a pupa vivem protegidas dentro do da safra ou 10-25% de botões danificados e/
vezes em cada geração, em condições normais, botão ou da maçã. Apenas um tipo de parasi- ou com postura durante o ciclo da cultura.
mas sob condições favoráveis pode chegar a to e um tipo de preador conseguem romper a Contudo, isso deve ser feito sem a quebra do
10vezes. casca do botão atacado, com o intuito de re- equilíbrio ecológico, o que é extremamente
São hospedeiros verdadeiros do bicudo as tirar a larva ou a pupa. São os himenópteros difícil em se tratando do bicudo. A razão da
malváceas dos gêneros Thespesia, Cienfuego- representados pelas espécies Bracon mellitor dificuldade é a aplicação de inseticidas que
sia e Hampea, nas quais pode se reproduzir (parasito) e Solenopsis sp. (predador), esta podem causar dano ao ambiente logo no iní-
da mesma forma como no algodão. Os algo- última conhecida por formiga “lava-pés”. cio da safra, quando a fauna benéfica é mais
doeiros não cultivados também lhe servem O parasitismo fica em torno de 10% e a rica e abundante. Torna-se portanto urgente
de morada. Felizmente tais hospedeiros não predação só é efetiva se houver mais de 200 adotartodasastáticasdemanejoecológicopara
são comuns no sul do Brasil, onde há só um ninhos em um hectare, o que é muito difícil evitartaisdesequilíbrios.Asmelhorestáticas
hospedeiro no qual a praga pode se estabele- de ocorrer. Já houve uma tentativa de criar o acabam sendo as ambientais (manipulação do
ceremtodasassuasfases (9deovoaadulto). B.mellitorealiberaçãode2.000parasitosnum meio ambiente contra as pragas e a favor dos
É o Hibiscus syriacus, uma planta ornamen- hectare teve 80% de eficiência no controle inimigos naturais) que no passado eram co-
tal importada da Síria devido às qualidades biológico. Todavia, essa técnica não surtiu nhecidascomo “métodosculturais,físicos,ou
de sua fibra. A “maçã” é comestível, além de efeitodevidoàdificuldadeemfazeracriação mecânicos, por exemplo”. .
ser usada em jardins para embelezamento. doparasito,nascondiçõesbrasileiras. Santin Gravena,
Felizmente a densidade dessa espécie é baixa Assim, é preciso lançar mão de todos os Consultor

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