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* Tradicci:ío
oral de factos não relativos a fei tos de_guerra, por-
que a destes ·ten1 o no1ne de lvl<vtandyba.
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Schuller 11os diz .tam·be1n : « Bajo la inftue11cia de
la palabra per3uasiva del n1issionero cedió il pusilá-
nitne GuaraHi : no assi .il fiero Charrua. )> Ainda Azara
tratan·d o dos Guaranis escreve: «todos los Guaranis juntos
( sic ! ) no son capaces de dar sujecion á 5o 1\tlbayá ».
O mesmo Azara na Viageni á Amerz:ca Meridioxal> ainda
disse: «Todas as outras nações inspirão u1n terror panico;
duvido que dez ou doze guaranis reunidos ousassem
fazer frente a um só índio de outras nacões >
)) .
Uns habitavam então o norte e o centro e outros o sul
do littoral do Brazil, fallando ;todos uma só língua, que
os missionarios, depois de aprendel-a, a vulgarisaram
pela tribus não tapyiya, durante as suas missões, tor-
na ndo-se por isso depois conhecida por lingua 3eral.
Gente industriosa, ü1telligente e boa, tinha a sua
n1edicina, e os seus meios operatorios, assin1 c01no a
sua botanica, a sua zoologia, e as terras e as aguas de
seu berço eram todas no1neadas por termos da sua lingua,
tirad0s de observações proprias e perpetuados pela
sua porandyba. * '
• Não me occu pando senao d.<>.s plantas, não t r:i. tarei da nomen clatura do s i u.
g:i.res , e só a t•es lzerbaria , ou Ml:a i kaá, e a sua. nomenclatura, enoyndaua, fa rão
o objecto das sog uin tes paginas •
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Quem, com este systema, conheceria uma planta ?
Zaltt{ia1,ts'ct', em 1592, aproximando-se um pouco
do systema natural, dividio 664 plantas em 2 classes:
cogumellos, musgos, grammas-, legumes, ferulaceas,
fetos, compostas, umbeliferas, leitugas, jubarbas, aloes,
linhos, tanchagens, avelludadas, immortaes, borra-
gens, hortelãs, verbenas, hortenses, dormideiras, so . .
laneas, anemones, rainunculos, mal\ras, \rioletas, salsa..
parrilha, pepinos, palmeiras, euforbias, coniferas, oli..
veiras, roseiras, açafroeiras, carvalhos, lentiscos, tilias
e azevinhos.
GasparBa7tlzin, em 1586, em quarenta annos de tra-
balho, reunio 6000 plantas, que dividio em I 2 classes,
apresentando a synonimia dos diversos autores citados,
desde Tragus, cuja divisão é mais ou menos a de Bauhin.
Laurenberg, em 1626, di yidindo os vegetaes tam...
bem em 12 classes, assim as distinguio:
Hervas consideradas em relação ás raízes, ás flôres,
ás folhas, aos fructos, aos suecos, aos alimentos, á .p a..
tria, á grandeza, como abortos, e separou-as em a-rbustos
e arvores.
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das plantas. ~
Deixando de tratar dos systemas de Lud\vig, 1747,
de Siegbeck, 1737, de Roy m, 1740, de Haller, 1742, de
i\'l orandi, I 744, de Seguier 175.+, de ' 1achendorf, 1747,
de Heister, 1748, de Bergen, 1750 de Duhamel, 1755,
de Allioni, I 762, já todos seguindo os passos de Tour-
nefort, mas, ainda n1uitos dividindo os · seus systemas
em Hervas e Arvores, chegamos a Adanson, em
1763, que já reunio as plantas cm grupos ·naturaes
comparando· o maior nun1ero de caracteres semelhan-
tes, que estabeleceram 1G15 generos, divididos em
famílias.
Em 1778, Ber11ardo de Jussieu, fundando-se tambem
em caracteres naturaes, entretanto oppostos aos d@
Adanson, apresentou o novo systema, que seu sobrinho
Antonio de Jussieu publicou, e abriu então nova estrada
á botanica, sendo esse systema até então o melhor e que
foi adoptado sobretudo e.m França, dando lugar a que
•
pahi em diante as plantas fossem conhecidas por fa~
milias, generos e especies.
De Candolle inverteu a ordem de Jussieu e apre~ •
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\V, na sua graphia germanica, foi Ham Staden. Assün es-
creveu U>vara e não Guar:á; o u prefixo é usual, porqu@
o indio nunca diz o substantivo ein absoluto Uará· e ' .
sim u uct.rá, com o pronome u, elle uará.
Perpetuou l\vauasupe ( i iuá-uaçu-pé ) não ·igua-
•
guaçupé, que foi traduzido por ua bahia srande, quando
é verd~deiramente ca111inho do pilão gra11de, forma que
tem a ilha, como nos assevera Frei Gaspar da 1\1.adre de
Deus.
Pilão tem tido em tupy diversas orthographias; iuá_,
•
inuá, anibuá, i1.iduá. Bacia, enseada, angra, bahia é yuaá •
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ou, com a graphia castelhana, iguaá e portugueza abaá
~se Ham Staden ouvisse esta pronuncia não escre\reria
luá, que é pronuncia certa nazalisada lnuá.
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Marajá, Jucá. •
E' Anchieta tambem quem nos diz, referindo-se á
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pronuncia, apezar de corromper a mesma com a sua .. ..
graphia propria :
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« E ne1n. com isso o ha de faber pronunciar de •
•
qualquer m odo que fe esc1~eua fe não foi ouuindo o .
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difficil o modo de exprimir, transformaram Taoyifi em
Tapy . •
Concorrendo nesse termo quatro vogaes, sendo duas
nazo-gutturaes, dando todas quasi o som de i, foram
ellas unidas e transformaram o taf)"tji' en1 tapy.
Expliquemos : o primeiro y tem o som de u francez;
o i primeiro sôa como i propriamente, o segundo y
como il ou y grego e o segundo i, como i simples.
Estes quatro sons, reunidos, só a voz indígena os
póde pronunciar, tal a sua difficuldade. De .tapy , que
alguns escriptores perpetuaram, para tupy, foi facil a
mudanca.
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O que é exacto é que Karani e Tapj9;i são dous
termos injuriosos, com que se minioseavam as hordas
separadas, e que depois tiveram interpretação, para o
primeiro de guerreiros, e para os segundas de inimigo,
barbara, co1 itrario, etc.
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-· 31
• ou tapuyas.
A pronuncia do tern10 ij1: é tão difficil que se en-
contra assiin escripto: eüa, êêia ey1:, uuy, pe_lo qt1e
escrevem tambem Tapuya ( Cardim ), Tapyyia ( P.
Figueira), Tapyyi ( l\'1ontoya ), tapüa ( Anchieta ),
tapU)'ª ( Jaboatam) tapuhias ( Frei Vicente), que
ainda os modernos como o Padre Seixas e C-outo de
Magalhães, escrev-em Tapyija, .como são denominados
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• tivos habitantes deste grande Paiz », m·a s não nos falla
em 1~upys .
Só os modernos historiadores : ~'1artius, G . Dias,
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Varnhagen e outros dão os Tupys como nação que
teve esse nome proprio, quando Azara, em 1740, nos
diz que os Guaranis : « Llaman Tupys y tambien Ca-
ribes os comedores de carne humana. »
Ambroseti affirma que:
« La palabra Tupy , diesde tiempo immemorial,
parece haber sido applicada por. los Guaranis a todas las
tribus inimigas.»
O se affirmar, pois, que os Tapuyas são só as tribus \
do centro do Brasil, deve-se isso ao padre Simão
de Vasconcellos, que dividio os indios em rnaNsos e
bravos, sendo aquelles os Tupynambás e outros.
E' o mesmo quem nos assegura que o nome de
tapuya ve1n de suas aldeias, porque « faziam barracas
toscas e pequenas, chamadas como elles de tapuyas »;
que era « a gente maís vagabunda entre todos» , e que
não tinha na sua lingua, denominada, por elle, brasi-
lica, as lettras F. L. e R. ...
Ainda mais. Aquelles que se occuparam da Jingua
isso o confirma1n : o Padre Anchieta ( 1 595 ) denomina
1
• sua grammatica a da Lingua rnais usada e não dos Tu-
pys; o P. F igueira, E. França, Coronel Faria, de Lingua
Brasilica; Guimarães, Prazeres ~1:aranhão e P adre Seixas,
Lingua geral ; Coronel Accioli · Lz'lig·ua Tupina1nbd ; •
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· E' para ad1nirar como a lingua desse povo sem
litteratura, a não serem as Gratnmaticas, os Cathecismos e
os Vocabularios, tenha perdurado por mais de 400 annos,
apezar dos embates da civilisação, e dos embaraços por
esta oppostos á sua divulgação e a sua perpetuidade,
dando..se mais o facto de ter ella muito influido na nossa
maneira de fallar e introduzido termos e voca~ulos, nas
línguas conquistadoras, os quaes são repetidos, respeitados
e perpetuados. Apezar de ser un1a lingua de barbaros do...
minados e escravisados, de ser a lingua de um povo ven-
cido e que tende a desapparecer, a sua influencia é tal
que, como o homem, não se deixou dominar e, pelo con...
• •
trar10, se tem imposto.
Prohibida por lei de 7 de junho de 1755, decre-
tada por D. José, depois de se não fallar por mais de
seculo e meio senão · ella, ainda assim perdurou até
hoje.
No Paraguay é a lingua corrente, apezar da con..
· quista hespanhola, e, embora tenha sido tambem de..
cretada officialn1ente a sua e}..tincção, ella perdura e ·
é ainda a lingua nacional, sem o caracter official. O
natural mesmo descendente de extrangeiros a adopta e
na intimidade diariamente a emprega.
Foi a língua mais fallada na America, a que occupou
maiot área e que, apezar de todos os. entraves que tem
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emquanto a nossa natureza existir, porque ao·s seus pro-
ductos essa língua está vinculada. l\iuitos estropiados,,
alguns adulterados, quasi todos os seus ter111os per-
petuam assin1 ines1no o no1ne dos nossos rios, dos
nossos lagos, das nossas montanhas, dos nossos animaes,
1
1
das nossas plantas e de localidades, alé1n dos nomes
de familia, de objectos vulgares e de diversos usos.
Se é pouco fallada, está ainda enraizada numa ·grande
popu lação do norte do paiz. A marcha crescente
da civilização, depois de quatro seculos, ainda não
conseguio extinguil-a, cotno tem extinguido tribus que a
fallavam .. Con10 língua aglutinativa que é, facilmente
for1na de raizcs, palav ras co1npostas, que muito ben1
exprin1en1 o pensame11to, dando com propriedade e
cxactidão o significado dc3ejado, prestando-se assim a
con1posição de phrazes que prin1an1, algu111as, pela sua
cuphonia, elegancia, suavidade e doçllra .
Na formação de un1 termo, para exprimir uma
idéa, entram nelle vocabulos que, unidos produzem uma
palavra differente, cúja etymologia se d e-scobre ; assin1
para exprin1ir um rio grande dize111 parând, que não
é 111ais do que pará, 111ar e anã parente . Que melhor
palav ra, n.,outra 'língua ·indicaria a affinidade · que ha
entre u111 e outro termo, dando a idéa de grandeza?
Outro exemplo nos dá o Mbuyboty ybánii.
1vfbuyboty é nome generico dos Solidagos, tirado da
inflorescencia em espigas e Jíbánii é o especifico .
O termo generico etymologicamente assitn se· di-
\'ide : mbuy, varinha, espiga, i·boty flôr, e o especifico
_yubá, an1arello de ouro, e 1ni por mirini pequeno,
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americana, é natural que a informação indigena origi-
nasse o nome dado pelo celebre botanico.
O nome especifico de De Candolle -11iicrogl.ossa,
lingua pequena, referindo-se aos pappus e que o indio
diria apecumi, apresenta um caracter difficil de ser.achado
pelo vulgo e que só com o auxilio de uma lente se
distingue; entretanto o de yubá1ni, côr de ouro, pe-
quenas ( referindo-se ás flores ), melhor exprime, apezar
de ser vulgar essa côr nq genero.
~'las si a côr é vulgar, o genero no3 diz que é
uma especie de flores em espigas.
Entre «o que cicatriza feridas, de lingua pequena »
e a espiga de flores pequenas e côr de ouro, parece-
n1e que esta leva o amador, com mais facilidade, a
encontrar a especie.
Con10 este exemplo poderia citar muitos em favor ·
da classificação e nomenclatura dos selvagens que sem
terem lido a Ph11osophia botanica de Linneo, são por
natureza philosophos.
Ainda, para mostrar a sua grande perspicacia e e
propriedade na escolha dos termos, occupar-me-hei do
Pacob que os portuguezes fizeram pacova e pacoba,
genero em que estão incluídas as 1\fusas ou bana-
.
ne1ras.
O nome Pacoba deriva-se de paã, estar expri-
n1ido entre ou no n1eio, co, verbo estar, e ob folha,
significando o que está com as folhas entre si expri-
midas; e na realidade, 111elhor nome não podian1 dar,
referindo-se ao pseudo tronco, porque e.ste é, com effeito,
formado das vaginas das folhas sobrepostas e exprin1idas
entre si.
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PELA FORMA
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Akai, pontudo; oÇoç; cuspidatus.
Apua:·z, redo ndo; -rpo'/ocÃÓç; rotundus.
Akapoku, de ponta comprida; mucronatus. ·
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Poku, comprido; µcixpoç; longus.
Atuka, curto; ~poc)'uç; brevis.
Ty pipy r, largo; '1tÀ<Xtuç; latus.
Poy, fino; ÀE'7t-roç ; ten uis.
Puy, estreito; ç-tevoç, angustus.
Pen, esquinado; ywve<UÔ't)~; angulosus.
Pe1(a, chato; ofL<XÀoç; planus.
P ELA COR
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r PELA PROPRIEDADE
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Umirytyba= Umirysal.
Araçáty ba = Araçasal, ou Goiabal .
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siris, TatáJ,.ba, arvore de fogo, Cupyyba, e.rvore de
cupins, Ararayba, arvore das araras, etc., etc.
Os ter1nos con1postos de dous simples ligam-se, for-
mando uma só idéa e os que terminam em yba, em geral, '
•
em portuguez correspondem ao eit~a ou eiro, como
Araçd_,r ba, Araçazeiro, En1bi1yba, Embiribeira, Maça-
randyba, niassarandubeira, Copayba, copahybeira, etc.
Entretanto, con1Ínummente, esta terminação eira hybri-
da-se aos termos indígenas en1 portuguez dQnde vem,
de Pitang'tl, pitangueira, Vabiroba, Gabirobeira, Goyaba,
goiabeira,Marupd, marupazeiro,Embiryba, Embiribeira, ·
etc., etc. como o inglez diz Pear tree e o portuguez
Pereira.
Kaá que corresponde ao cpÜTov e cp~ÀÀov dos gregos, ··
significando planta, arbusto, he.r va e folha, e quando é
tomado como genero, sempre se addiciona . a u1n adje-
ctivo que o qualifica, como adiante veren1os.
Vá, yuá ou ybá, o fructo, o xC"Xp'1toç grego, é to-
• mado tambem como genero, e em combinação binaria
com um adjectivo, que sempre qualifica ou detern1ina
uma propriedade do fructo. Isto se vê n os seguintes ex-
emplos: Vá mirim, fructo pequeno, Vá heen, fructo
• doce, uá nhumá, fructo pegajoso, uá pochy, fructa má,
,..,
que se nao come, etc.
Myrá, Kaá, Vá, assin1 como Ybá, servem de ge-
neros zncertae sedis, em que ha duvida no grupo o~
•• família a que devem ser ligados, pelo que em todos os
grupos ou famílias, pelos índios formados, acham-se
estes generos .
A posposição rana, que ligada a um substantivo,
•
serve tamberri de genero, corresponde mais ou menos
, ao oi'des, qffinis ou súnilis dos botanicos, e espalha-se
por diversas· famílias, quando ha duvidas em ser nome
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Mart.
Taperybá ( Arvore-das taperas) = Spondias lutea L.
K opay ba ( Arvore de vagens pequenas) = Copai-
f era sp. var. ·
Tatayba ( Arvore de fogo)= CariC?car glabrum Pers . .
Karanáyba ( Arvore de fructos duros ) = Copernicia
cerifera Mart.
Timb6yba ( Arvore venenosa ) = Enterolobium
timbouva Mart.
.. Kaburéyba ( A rvore dos caborés ) = Myrocarpus •
frondosus F . A lem.
Tinguácjba ( Arvore de gorgulho ) = Za11thoxylon
spinosum Sw .
lpêyba ( Arvore dos patos) Tecoma sp. var.
. Maçarandyba ( Arvore de longrinas ) = ~itimusops
elata F. Allem.
Guaki'tyba ( Arvore de fazer cofos) = Couratari le-
galis Mart.
Jatayba ( Jutahy ou Jatahy ( Arvore de fructa dura )
= Hymoenea courbaril Hayne.
Sz'r~zjba ( Arvore . dos seris ) = Rhizophora man-
gle L.
Jundiáyba ( Arvoredopeixe bJundiá)=Terminaliasp . .
E mbay ba (Arvore ôca )= Cecropia sp . var.
Yaráyba ( Ai:vore de fructos com saliencias) =
Leopoldinia pulchra Mart.
•
Pi'ndáyba (Arvore que dá caniços) = Xy lopia fru-
tescens Aubl.
•
t A casca é empregada nas dysenteria.s .
• •
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•
•
•
• •
diversos exemplos: -
Kaá peua ( Folha chata ) = Cissampelos Parreira
..
Vell.
Kaá peua ( >> >> ) = Artanthe Mikaniana
Sing.
•
Kaá pororóka ( Planta que arrebenta co1n estalo)
= Drimys vVinterei Fast. .
Kaá tindyba ( Arvore folhas pontudas ) = Celtis
spinosa Spreng.
Kaá una (Herva preta ) = Solanum verbascifolium •
L. ,.
Kaá pitiú ( Herva catinguenta ) = Siparuna foetida
Barb. Rodr.
Kaá taya ( )) que queima ) = Vandellia diffu-
sa L.
f{aá ycüca ( )) resinosa) = Euphorbia pilulife-
ra L.
Kaá chy ( )) mãe) =llex amara Bomp.
f{aá mi ( )) pequena ) = Ilex Paraguayensis
--• Lambert.
J{aá nienzbeka ( H erva 1nolle ) = Polygala Paraensis.
Kaá pungá (folha que fere )= Gomphrena vermi- -
1
cularis L.
Kaá kyra (Planta que dorme) = Indigofera sp. var .
•
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•
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..
•
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No agrupamento. ta xonomico que segue, como
preveni, entram tambem lvfyrá, kaá, etc., como generos,
., por não saberen1 03 índios ben1 determinar em qual
dos nomeados devem ser .os termos incluídos.
Ha n1LÜtos outros generos que pertencem a outras
familias scientificas, separadas pelos botanicos, 111as cujas
affinidades e caracteres distinctivos escapam aos sel-
vagens. ,.,
Se a um delles perguntarem, entretanto, o que é um
. Yatáyba, vulgarn1ente Jatah)'*, dirão: é un1 Koniar:dá,
..
j
• •
..
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• »
»
1niri1n ( pequeno). =
» AkaJ'U y (pequenino ). . . =
piranga (vermelho) =
»
»
» pumilum St . !"lil,
h umile St . Hil.
occidentale var.
·» pakoba ( amarello, com a forma alongada como banana )
= Anacardium occidentale var.
~- » A!.,ayd ( cajá) ( Fructa caroçuda. ) açu ( grande ) . • = Spon-
dias lutea L.
» 11iiri11i (pequeno). » venulosa l\1art.
» y1nb11 ( que dá agua). = » purpurea L.
-
Gr. f(o1na1zdá = LEGU~1INOSAS
( K11111ií 1 fructo alongado, vagem, ndá, aberto em roda. )
1. J<omandá = PhASEOLE AS
li. Kaaeó, 1 } = Mr:M:OSAS
111. A nga
Gen. Koniandá ibá ( fructo ). , . • • • = Sophora to1nentosa L.
» 1niri1n ( pequeno ) • • = Vicia sp.
» atuktt (vagem curta ) . = Lathyrus sp.
» 11aç1t ( grande ) • . • = Eperua leucantha.
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Karaypé = R oSACEAS
( que se descasca) 1
•
Gen. Mur11cu,yá (maracujá) 1niri1n ( pequeno ) = Passiflora edu-
lis Sims.
» cltiri ka (enrugado) = Passifl0ra faetida L. .
» açtt ( grande } • . - » macrocarpa l\fart.
> boya (de cobra ) . = » ,·itifolia A. B. K .
» el f (verdadeiro ) • = » ·. alata Ait,
» piranga (vermelha) == » coccinea Aubl.
» atã (duro ) . . . . . - » ?
» Poka ( que estala) = » involucrata.
» P eroba (de pelle amarga). » ?
» pi.r:11na ( de pelle preta, rôxo-negro ).= Passiflo ra
-» amalocarpa Barb. Rodr.
» rur11r1t (que arrebenta) = Passiflora mucronata Lam.
1 Usam :\ cinza d.1. casca para junt:\r á argilla da louç.~, afim de que esta não
se ra.che ao fogo.
2 Tiradas a11 'sementes fica um vaso.
. . ..
. .. ,'
• •
' .
• •
59
Gr . Yumakar1J, * = C ACTACEAS
• (Yu , espinho, má por ybá, arvore, ka.r it, comer, arvore de espinho
que se come 1 • )
..
..... Pitan,t;a ( Pi, pell e, tang , tenra, vennelha = Stenocalyx sp .
Uaku1nicltá (gru1nichama) ( Uá, fructo. can1bi, e chá por hab, fructo
que aperta a lingua ) = Eugenia, Phyllocalyx sp.
'Jaboticaua ( jaboticaba ) Uá, hoh_y, rôxo azulado e kaá do inatto =
Myrciaria sp. var.
Ual>ir oóa ( Guabireba, gabiroba) ( Ua , iructa, j;J', pelle ob, an1arga=
Catnpomanezia, Abbevillea sp . var.
' F rei Velloso, em 1790, nã sua Jl-!e111oria soó1·e a cu 't11r a da llrumót óa diz:
« Os bra zilelros ( il'to é, os índios) dividiam a familia dos cactus ou c:>.ctoirC>s
cm du!\s: aos que tinham a folha chata e espinhosa, a que os botanicos dão ge-
ralmente o nome de opuntias, c hamavam .f1t-roóeba, de J"· espinho, oó(I , folha 1 óeéa
cha ta, o qual por corrupção se diz U r umbeba; e aos que eram esquinados, a
que os b otanicos, como Jussieu, cht\maram C1rios , pela configuração com as tochas
quadradas, davam o nome de /n nial1a1·té e hoje manacat·ú. »
t Co me-se não só· o fructo, como o tronco.
1
f'
1•
!
.·
•
. () Ü
Araçá ( Uá, fruta açai por tai, acida) Psidium sp. var.
N!tiáybatan ( N1,i enrugada,. uá, arvore, yb fructo, antan dura) =
Calyptranthes, l\1itranthes, sp.
Gç11ij;ara11a ( Genij;á, rana, falso) = Oustavia augusta L.
Nhiá ( nhi, enrugado, uâ, ftucto ) = Bertholctia excelsa, Couroupita.
•
= Lecythis urnigera Mart.
~t ..
ac11. •
Ça,,.,uká11
'.f' ;.!'
( sapucaia) ( Uá t1nga.
• '
'. =. L ecyth'ts 1anceol ata l) 01r.
·
"'1tká,, que se abre ) • 1niri1n = L ecyth'1s .cor1acea
.I'
. DC .
· y. . •= Lecytops1s sp. var .
~
piranga ( ver:e~ho, ~ •. = Couratari le-
7 1 1. ( • • .b , ) r-:i. 0 ahs I\·Lut _
1 y11·,1ijvá )equ1ti a Jt· ( )
. » rosa • . • • = » es·
/ii,desgrana,yóa , ar- . R d
tre11ens1s a •
vore, uá, fructo.
eté (verdadeiro) • . . = » do-
\ domestic t Mart
. .
..
'
..
61
•
Uiráeory ra,na ( falsa ) = Strychnos n~acrophy lla Barb. R odr•
• »
»
ka1nar uá. ( Dialecto mak uchy ) = Strychnos giganteJ.
Barb. Redr .
eté (verdadeira) macrophylla Strychnos toxifera Schomb.
'
Gr~. ! pê = BrGNONIACEAS
l•
» açu ( grande ) • • . • . • • • = cordiforme :t\1ill .
» 1úi ( de cheiro ) • • . • • ..., • • • = ovatum DC •
•
GR . Ayzt1:1i, Nha1nzty = L AURACEAS
•
/
•
'
62
• •
GR. Apé = URTICACEAS
(Chato, allusão ao cymulo das flores).
Apé • • • • . • • • • • • • =
Brosimum Gaudichaudii Trec.
» y (pequenino) • • • • • = Dorstenia [tubicina R. et P.
» kaapiá ( herva manchada) = _Dorstenia opifera Fisch.
G R. Ro1igonka = lLICI~EAs
(O que se engole, que se faz chá)
f(ongonha = Ilex sp. var .
» Kaa11zi = Ilex Paraguayensis St . Hil.
I
•
63
G R. f(arà = DroscoREACEAS
•
• »
»
»
uaçu tinga (branco) =
piranl[ª ( vermelho ) =
»
»
alba L •
rosea s,veet .
yaçaná ( j açan á } • . = Victoria regia Lindl.
•
•
64
1
G R • Pi1zdó = P ALMEIRAS
•
t Para ely~ o logia do9 nomes geuer k oi: vcja•se o rneu Sertum pa lmarum
1 Brasiliensium .
' •
•
,
1 '
.. ....
•
65
• Rodr •
Yacitara ( jacitara, Titara ) ( O que agarra a gente ) = Desmoncus
sp. var.
Imbttry • • • • • • • • -. •• = Diplotbemium sp., Polyandrococo~
•
•
Barb. Rodr •
T1tktt111á ( Fructo de tucum ) arara (arara ) = Astrocaryum sul-
phurem Barb. Rodr.
•
•
66
•
nekt.emá jJiririka ( pelle estalada ) • • • . = Astrocaryum auran·
tiacum Barb. Rodr.
» p111'i~itr!t ( manchado ) • • • • -. > vitelli·
num Barb. Rodr.
)) itaf'U ( grande ) • • • • • • • • -. Prin-
ceps Barb . Rodr.
> y ( pequenino ) • • • • • • • .- acaule •
Mart.
> .
r ana (falso) • • • • • • • • .....:::; » fiavum
Barb. Rodr.
ieaçit·y ( grande e pequeno ) ..
- > l\1ana ..
oense Barb. Rodr.
» yazetiry • • • • . . . . • • . • :.::::
.
Jauary
Mart. -
~4.iry ( Vá, fructo, y agua, frucfo que tem agua) yry = Astrocaryum
airy Mart. sp var.
» 1niri1n Bactris sp . •
Mbokayá ( mocayá, bocayuva, macauba, mocahiba )~ Acr ocomia
sp . var.
GR., f{aroatá = BROMELIACEAS
( /{aa, herva, oá, cabello, atã, duro, que tem fibras fortes, como
cabellos.)
J{aroatá = Bromelia sp. var.
Karauá = » variegata.
Naná ( nã, cheira, nã, <:heira, que cheira. muito) = Bromelia sa·
tiva L.
G1~. I(aroatáaçu =
.
( l(aroatá grande )
AMARYLLIDACEAS •
•
f{aroatá afU = Fourcroya gigarttea, Agave sp. •
GR. Tupáypy = ÜRCHIDACEAS
( Tupá, Deus, ypy, origem. )
TttjJayjJy yurakalzt (boa bocca ) Cattleyas, Laelias sp. var.
» sumaré ( ) Cyrtopodium sp. var •
•
..
•
.67
•
..
GR. Ymbiri = CANNACE.As
( Junco d' agua )
G R. Uarumà = MARANTHACEAS
.'
•
68
'
GR. Kaapiy = GRAMINEAS
•
( J(aa, herva. pi pelle, y fina, pelle fina de hervas )
..
'
\
•
•'
•'
•
• •
VII
•
Não sendo meu fim dar a nomenclatura indigena
da flora brasileira, e apenas mostrar quanto o indio
é observador, perspicaz e intelligente e quanto a sua clas-
sificação botanica está, mais ou menos, de accordo com
a taxonomia e a glossologia scientificas, segundo as regras
de Linneo, não apresentei sinão exemplos que com..
provem minhas asserções. Estes exemplos .poder-se-iam
alongar, mas para que? Os que apresento são tnais .(
que sufficientes.
Variados são os adjectivos que os índios empregam
na glossologia indigena, além dos que vimos, para ca-
racterisare1n as especies, e todos são os que os botanicos
e1nprega1n.
Linneo, na Philosophia botanica, emprega poucos
termos nas suas admiraveis descripções, para seu tempo;
mas, o numero delles hoje se tem augmentado con-
sideraveln1ente com o progresso scientifico na anatomia
• e na physiologia vegetaes.
Na construcção de um termo para genero de
•
.. '
·· ~
•
70
j·
•
Sch-,veyekerta Gmelim.
Ceraniiocephalum, Sch. Bip .
.J
•
•
•
71
'
,
/
-
,
'
•
•
73
, ..
74
•
75
=
•
Coussapoua ( Kuça puy ) Cousapoa latifolia •
Couroupita, ( Kurupitá ) Pelle el}Caroçada e dura=
Couroupita Guiane11sis.
Guapira ( U ápirá ) - Fructa de peixe Guapira =
Guianensis .
l\'loutabe ( Einbótabu·.t ) - Verga que se levanta. 2
= Moutabea Guiane11sis .
•
Mouroucoua ( l\'1urulcuuá, Arvore de dardos ) =
Mouroucoua violacea.
Ourouparia ( Diabo, Urupary, genio máo) =Üu...
rouparia Guianensis.
Pekea ( Pekyuá ) - Fructa gordurenta = Pekia
\
butyrosa.
. Guapoya ( yapóy - Fructo de alagadiço = Gua...
poya scandens.
Pourouma ( Purumá ) - Arvore que ronca Pou- ' =
rouma Guiane11sis .
Tendo sido acceito pela sciencia, entre as Tiliaceas,
o genero Apez'bá, de Aublet, e tambem as duas especies
tibourbou e petozuno, foi por isso tambe1n acceita a no-
me11clatura selvagem se111 o menor escrupulo. Assim:
Apeiba tibourbou Aublet.
Apeiba petot1mo Aublet.
E' a determinação indigena sanccionada por um
botanico sem modificação alguma, a não ser a da má
orthographia, motivada pela pronuncia franceza, que
· alterou a verdadeira indígena. ·
Apeiba 11ão é 1nais do que Apéybá, cuja interpre...~
tação já vimos, e os 11omes específicos tibourbou e pe-
x Auble t escreve A i ntQutabou, ,
f :i Allusã o ás raizes que se elevam a mais de 1 met l'o,
•
76'
.,... .
tounio não são mais do que tibebú1:, o que boia, e
pituuni, molle, significando em portuguez;
Apeybá ( Fructo e b 11 d 0 )(que boia ( tibourbou)
ª e u \molle ( petoumo ),
propriedade das duas especies que tem a madeira leve
e niolle, pelo que são chamadas, tambem, escova de
niacaco e ja;.zgadeira ou páo de. jangada. A primeira
porque tem os fructos cabelludos como escova ( Apéybá)
e a segunda por ser a madeira empregada nas jangridas
Todos foram acceitos pela sciencia.
Como exemplo e para se poder notar, tambem, a
differença entre o Guarany, do Paraguay, o Galliby, da
Guyana e o chamado Tupy, do Brasil, apresento alguna I
'
\
t l
•
' .
77
•
•
•
78
'
,.
...
79
t Ipiha, p:i.to e conka, memb ro, a.llusao ás raízes que tcem a mesmt\ f6:rma
do orgao masi:ulino d>es!le pa.lmipede.
-
•
• ' Jil l :s ..,. ~1:; ··~ . i ...,.
,.
•
.
• 80
•
O Nhaborandi, J aguara1'2di; J aborandi é inferior ao
aconito, descoberto pelo empirismo europêo, ambos ap-
plica~os pela sciencia medica? Diversas especies da •
- '
. .
r
..
81
'•
·'
82
.
1
•
tauré, Capparis ure11s Barb. Rodr., principaln1ente nos
rheun1atismos, beriberi ou nas pleurizias e pneu1nonias.
O termo indigena é bem applicado, pois quer dizer:
« corre fogo », isto é, «sueco que queima 4) de tatá, fogo,
e zry, correr.
Para applicação industrial descobrira1n os índios,
• tan1ben1, o Kaaocho, do·n de o no1ne cáucho, peruano, que
pela pronuncia hespanhola, os francezes fizeran1 caout-
chouc . .
Kaaocho diriva-se de kaa e ocho ou ochu, que signi-
fica « choro da planta)), o (e corrimento da planta)).
, Além do uso n1edicinal industrial dos vegetaes, fazem
elles de alguns ou de seus productos bebidas inebriantes'
ou não, para os seus poracés, ( dansas con1 cantos ), ou
, para alin1ento, alem de i11uitas igu-arias, co11dimentos,
dos quaes, a 1naior parte, são usados ainda hoje pelos ci-
vilisados, co1no se poderá ver a pags. 51-57 do
meu Vocabularz'o il;di15'ena, annexo á Pora1iduba A1na-
• ~o n ense .
'
Algu111as plantas, que no estado na~ural são toxicas,
elles as tornan1 inoffensivas, applicando-as á arte culi-
naria. Conhece1n tan1bem as plantas que dão sal e sabem
extrahil-o, assü11 como a:; que teem fecula e con1 esta
1 preparam diversas farinhas e bolos.
••
Con10 ten1os v isto, todos os termos dados aos vegetaes
teen1 uma ety1nologia e exprimem se1nprc uma pro--
'
priedade que caracterisa a planta.
,• 1
, E .mfin1, 11ão teen1 os índios t1111 methodo artificial,
con10 os botanicos, isto n1esn10 ainda todo in1perfeito ; n1as,
sen1 que o queiran1, estab.elecem uma ordem que não é
mais do que um methodo natural, pois nella conservam,
,.
.•
•
•
•
83
'
mais ou menos, as affinidades, chegando-se assim ao que
ensina a natureza.
Terminando este capitulo devo dizer que um dos
factos 1nais notaveis da nomenclatura indigena, é a grande
área geographica que clla occupa, sempre applicada á
mesma planta, apenas 1nodifi.cada a pronuncia de alguns
termos, segundo a latitude e o cruzarnento da raça.
Assim, no Amazonas, 'dizem Unzbauba e Anzbau)a,
ein Minas Geraes, Enzbauba, no Rio de Janeiro e outros
logares Enzbaiba, e no Paraguay 1VfbaJ"ba, arvore alta
de nibá, alto e yba, arvore, non1e applicado sen1pre ás
G'ecropias. r
* **
Ao finalisar este esboço devo dizer que, co1no entre
todos os povos, principalmente usiaticos e do te1npo da
M~ythologia pagã, entre os nossos selvagens, existen1
tambe1n muitas lendas ( tei1,zheá ) sobre as plantas e sobre os
fructos, umas dando-lhes a origem, e outras phallícas e
.
gnes1caes.
Essas lendas, salientando-se as genesicas ou gerado-
l\10YTYl\iA 1
U IPURUNGAUA
,
2
Yacurutu 111.aáaiua. Yacurutu cuchiyma mira
O Yacurutu cousa má. O Yacurutu antigamente gente •
uassu yané tenhen tendyra. Aé cué yepé ara,
grande ( gigante ) assitn como a irmã . Estavan1 um dia,
3
cuchiy1na, Nlura ruichaua payé etá irumo u mo-
outr'ora l\1uras os chefes os feiticeiros com fizeram
canhe1na Yacurutu ·maá arecé, paá, Yacurutu u ú
perder- se o Yacurutu, porque, dizem, o Yacurutu comia
-
aitá raira. Payé etá u mucen1a Yururá ramonha
,
os filhos. Os feiticeiros fizeram sahir da tartaruga o avô
uicuí arpe. Aé ana cuité Yacurutu u poiíru Yurará
praia em cima. Depois então o Yacurutu pisou da tartaruga
ra1no11ha recé . Çantá u puitá i pê Y urará
·avô no. Duro ( preso ) ficou d'elle pé da tartaruga
t Jl([qytyma não é mais do que uma corl'uptella. de ntbo ou mo, preposiçao
que torna os verbos transitivos, e 1iyty ou O)rty ( yó- tyr ), arvore alta, querendo
exprimir fa::er arvores, p . antar, fa zer apjar~.:er a p .'anta, e dahi o substantivop;a n-
, taçãc .
j. i E' a. coruja que scientificament e é conhecida por Strix e 'a11eator, tida pot•
• muito 11goureira.
3 Tribu de selvagens que infestava como p iratas o Amazonas e o Solimões .
T inham o se u quartel general na ilha que fica no Sollmões pouco acima da foz do
Rio Negro, e que a inda é conhecida por ilha dos lVIu r as . A cima d'osta. ilhl\ fica
a. den:>minada Yakurutu, que sep;undo a lenia, era h..'\ bitada pelo fabuloso gigante de
que s e trata aqui. Os l\1uras t:nha m uma linguagem por assovios µara não serem
entendidos, e quando queria:n participar aos seus que habitavam longe, qualquer
• o:curroncia, enviavam uma frccha que nos enfeites levava a explicaçao .
~•
•
••
l
'
• t'
•
.'.
85
•
ra1nonha recé. U iun1u quirimáo u poiíru amó i
avô no. Fez força e pisou outro d'elle
p ê irumo Yurará ramonha arpe. Aé ana, paá,
pé com da tartaruga do avô em cima. Depois, contam,
Yurará uatá paraná queté. u· cenó cendyra:
a tartaruga andou rio para. Chamou a irmã:
- Irure nhaá muirá cha iumu quirimáo arama
- Traz aquelle páo eu forcejar para
,
cece.
n'elle.
Cendyra u pecêca nhaá 111uirá recé, çantã iuire
A irmã pegou aquelle páo no, presa tambem
u puitá. Aé ana cuité Yurará ramonha u raçu paraná
ficou. Depois então da tartaruga o avô levou rio
queté. U canhe1na putare ramé u nheen, paá:
para. Perecer queria quando fallou, dizem:
-Ce . remiareru etá, pe iupêca curi iché. Cuçu...
- Meus netos, vocês vingarão me. Aqui
cui ce iuá chii u cerna curi m oytyma pe
estão meus braços d'elles sahirão (nascerão) plantas vocês
iupêca arama iché i tl cuáo curi muz'rápirang-a 1
t :f!: a Mimusops b:illa.t:\, que fornece madeira. vermelha, muito fol'te e elas·
t ica.
t É a Para.cuhyba. ou pracuuba com que se faz o virote das flechas.
a É uma. arvore da. familia. das Anonaceas, genero Rollini:i.
i.. É a. castanha do Pará, (Berthole tia cxcelsa), com cujo oleo dos caroços en-
vel'nisa.m os arcos para fortalecei-os.
•
86
~ . A OR JGE~1 DA PLA)!TAÇAO -
O Yacurutu era um genio máo. Quer elle, quer
sua irmã, eram gigantes. Estavan1 reunidos os chefes
Nluras e os feiticeiros, para perderetn o Yacurutu, que
lhes comia os filhos. Fizeram os feiticeiros sahir á praia
o avô das tartarugas, e o Yacurutu pisando-o, ficou
• com o pé preso. Forcejando tiral-o pisou-o com o outro
pé. A tartaruga então correu para o rio e elle cha..
_)
mando a irmã, lhe disse :
-
'
t
..,
(
Ota·
o-, .. . .
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[ www.etnolinguistica.org
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