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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai

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NOVA SÉRIE

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Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai


www.etnolinguistica.org


..

O MUIRAQUITÃ_ E AS "CONTAS" DOS TAPAJó

POR

Frederico· Barata

Aparentemente não d.emos ainda, até o presente mo-


mento, nenhum passo apreciável para a solução do problema
dos muiraquitãs. Em muitcs aspectos, hoje como ontem
e provàvelmente por largo tempo, o seu estudo se fará num
' terreno de controvérsias. Há sempre uma certa dificuldade
em romper-se com o passado e modüicar o que aparente-
mente já está estabelecido, através de novos métodos de
obrervação. Algumas conjecturas e hipóteses formuladas
pelos precursores, apesar eia escassez dos elementos em que
se louvavam, impregnam-se de uma fôrça dogmática cuja
influência de certo modo se exerce e sempre se cpnstata
sôbre quantos pos_teriormente têm voltado ao assunto.
. -

/
Julgamç.>s, todavia, que já é possível precisar alguns pon-
tos importantes e estabelecer deduções que embora parciais
sejam ma:is válidas, baseando-nos no material bem maior -
acumulado e- na soma de conhecimentos mais seguros que
nos proporcionam os estudos especializados nestes últimos •

anos desenvolvidos.
Tôdas as explicações que . têm sido tentadas para o fe-
nômeno muiraquitã baseiam-se quase exclusivamente na in-
terpretação dos textos nem rempre claros dos cronistas. feita
em geral ao sabor de teses preconcebidas, e na apreciação,
dentro do mesmo critério, de um diminuto material conhe-
cido e sempre repetido, em sua mor parte pertenc-ente a co-
leções museológicas demasiado exíguas. A~ra, todavia;
quando já possuímos. não só uma quantidade ·apreciável de
muiraquitãs como, ainda, dados muito mais amplos sôbre
as zonas de cultura em que são comumente achados, é claro
que não devemos ficar~ adstritos a uma. apresentação, do pro~
blema ~ob ângulos idê:Q.tieos aos .que o orientaram preceden-
temente.
. De Barbosa Rodrigues · até aqui estendeu-se em muito o
campo de pesquisas não só arqueológicas como etnográficas

.
,~ '
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230 REVISTA DO MUSE.U PAULISTA, N. S., VOL. VIII

na Amazónia, fornecendo-nos elementos capazes de súgerir


caminhos outros, mais- consentâneos com os fatos e menos
arbitrários ou fantasiosos.
Torna·se indispensável, assim, uma revisão meticulosa
da matéria, a começar pelas interpretações dadas aos textos
dos cronistas e missionários da conquista. ~stes, bem como .
tudo o que foi ponderado por viajantes, exploradores e .cien- ·-
tistas, se examinados à luz das novas contribuições, estamos -,
certos que podem propiciar· melhores rumos, aproveitando-sê "
1 diferentemente e ao máximo as observações úteis e documeri-
tárias q~e necessàriamente se contêm nos relatos ·do tempo
em que· vicejavam as civilizações indígenas portadoras do
muiraquitã ou em que se conservava mer1os deformada a
tradição oral. ·
Teremos de começar a investigação pelo campo lingüís-
tico. Muiraquitã é vocábulo adaptado do tupi ou da língua- -
geral. Possivelmente, uma vez que começa a aparecer so-
• mente no século XIX:, nada tem a ver com o co1nportamento
dos índios antigos relativam€nte aos objetos de pedra-verde
e, por isso, não nos adiantaríamos muito na conceituação_
legitima do muiraquitã ainda que lográssemos obter a tra-
duÇão ou o significado exato da palavra.
Cientistas . e missionários ·nos ·séculos XVII e XVIII
captaram o vocábuló, todavia,. em convívio com tribos que
se achavam muito mais próximas da sua tradição e se nos
tivessem legado uma grafia certa e indiscutível isso nos teria ._ •
1 poupado trabalho. Não o fizeram, entretanto, e querendo .
transmitir à posteridade um nome que .ouviam pronunciar
numa língua extranha e complexa, cada um o escreveu ·de _"' ·
ouvido, sem maiores cuidados, apressadamente·, nunca
imaginf).ndo as dificuldades que tal procedimento nos iria_
causar no futuro.
E' no manuscrito de 1dauricio de Heriarte ( 1662) que
vamos encontrar a palavra pela primeira vez, grafada -d_e
duas maneiras: baraquitãs e buraquitas. (1) Vemos depois,
em 1759, o padre José de Moraes escrever puúraquitan (2)
e·, em 1762-1763, o bispo Frei João de S. José de Queiroz re-
gistar uuraquitan. (3) E é tudo quanto há até o fim do_, •
século XVIII. Antes, nenhum dos cronistas ou missioná~
- (

-
(1) - Mauricio de Heriarte. "Descripção do Esta do do Maranhão, Pará, ~ -
Corupá. e Rio das Ama.zonas". Edição por conta do Barão de PôrtQ
Seguro. Vienna d' Austrla. 1874. PA.gs. 19 e 37.
(2) - Padre José de Moraes... História. d a Companhia de Jesús na . extincta
Provlncia. do l\íaranhão e Pará.. Typog r a phla do Commérclo, de 'Brito. ·
& Braga. Rio de .Ta.neiro. 1ROO. PAg. l'ill'i.
(3) - Bispo D . Frei João de s. José. "Viagem e visita do Sertão em, o
Bispado do Gra:m-Pará. ·em 1762 e 1763". Revista. do Instituto H1sf.ó-
r1co e Geographico Brasileiro. Tomo T.X. Pé.&'. ffl.
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REVISTA DO ·MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII 231

rios anotou sequer. o uso das pedras-verdes. (4) Nem Car-


Vájal, que acom.panhou a viãgem de Orellana, em 1540-1542,
e se limita, depois de ter passado o Tapajós, a falar em "gente
de muito entendimento e engenho, pelo que vimos e pare-
ciam por tôdas as obras que fazem, tanto de escultura como
desenhos e pinturas de tôdas as côres, dos mais vivos tons,
que é coisa maravilhosa de ver" (5); nem Acuiía, compa-
nheiro de Pedro Teixeira na descida dêste pelo Amazo-
nas (1639), que reforça a lenda das .mulheres guerrEiras e \
.· chama os Tapajozes de "gente de brio" (6); nem Laureano
de .la Cruz (1650-1651), apesar de muitas vêzes referir-se· aos
Rapajozos "codiciosos y atrevidcs" ou aos Trapajosos, "in-
di~ amigos pero no cristianos" (7); -e nem· Betendorf (1661-
1669), m.a lgrado as minúcias da sua "Crônica" (8) de pri-
.
I

( ( 4) - Algu ns t ê m que r ido vem uma in dicação m ais a ntiga do uso de mui- '
:raquitãs n o manuscrito "Descobrimento do R io das A mazonas e sua s
Dilatadas Provfncias", a tribuído a Al ons o de Rojas, qua ndo r efere
que os í ndios ao longo d o Amazon as, n a rota percor rida por Pedro
'.i..'eixeira, não usam joias . senão as que di.1tt1e1noi da vrov,ncia dos
TapaJós. O trecho grita do,' a.cima , corresponde à tràdução brasilei-
Fa d e C . l\1ello L eit ão. No origina l, "Via je del Capíta n P edro T ei- _;...
xeira. á gua s arrida. dei r io de las Amazon a s ( 1638-l(k~9) ", publicad o
l p or Ma rcos J in1enez de la Espada e m Ma d rid, le-s e "no t ene n a l ha-
j as sinó s on la s que d ijimos de los de le provincia de los T rapajosos' '
(J>arágra!o 26).
A tra dução de a1ha.fas por ;ióias e a m ais cahfvel. en1bora a p a-
lavra espanhola. sig n ifique tambérn adornos preciosos , ~s tes, entre-
t a nto, podendo ser mesmo de plnmária, não s e justificaria n1 na cate-
goria d e excepção est a b elecida. pelo jesuíta e ntre os fndios a m&-
zônicos. N uma t radução par a o in g·Iês vê-se do mesmo modo " jewelle"
• corr espondendo a a lha jas. Qu e jóias outras poderia o c ronist a. t er
visto entre os Tapa jó que n ão fôssem os seus colares liticos ou
mulraquitã.s'! Esse é a pergunta que com a grado logo s e formula em
~ nosso esp·lrito. E' em vão. todav ia . que proc ura em t ôrla a narrati-
va de Alonso de Roja s a outra r ef erência assinalada sôbre as "jóis.s ",
da provfncia dos T a pajós. ·onde as descreve, jóia s de verdade, n1e-
t á licas. chamandõ-as de pla~as dP. ouro penduradas nas er11lh.a s e
, D&J!lzea, é Unicamente quando f a la do '-lUC ViU em "la Pr'OVincia, lJa-
rnada Culiman (SoUman o Solimões), veclna a los 01naguas " (Para-
grafo 24).
Tudo Indica, assim, que Alonso de Rojas se equivocou e escreveu
"provincia de los 'l'ra:paJosos" qua ndo o que queria verdadeiramen-
te escrever era. " pr ovincta de los Om.a gua.a". Ninguém , todavia, s e
apercebeu dêsl!le lapso e vem s endo repetido por certos a utores q ue
' t
' o padre d e Rojas foi o primeiro a mencionar as Jóias ou mul.raqultãs
, dos Tapajós, o que como acaba mos de ver não corresponde infeliz-
mente à realidade.
· · - Spix e Marttus (ob. cU:ada., pág. 205), r eferindo -se á. "pedra do
Amazona s", sugerem, baseados na .anotação de Jíerrera , (IV 10, c.
9,) que pudesse ser idênttca às duas encontradas entre os fndios por
D iego de Ordas (1530) na sua. e xpedição a o Amazonas. E comenta,
"Se essas pedras s ão idê nticas- à de que est a rnos trata nd o, o que é
p rovável, pelo tama nho e por dizer em os lndios haver r ocha s inteira s
·.. (5) -
delas, essa · é a m a is antiga noticia acerca dêsse minério".
Fr. " Gaspar CarvaJa l. "Relação". "BrasiUcwa", série 2.•, vol. 203,
.- (6) -
R.ilo Panlo. Rio. 1S.41. PA.g. 77•
Padre Chrlstobal d 'A c ufi&. "Novo descobrimento do grande rio das
Ama zon a s" . Revi sta do Instituto HJstorJco, Geographico e Ethno-
graphlco do ~rasi l. Tomo XX.VIII. 2.º Trimestre de 1805. Pág. 248.
(7) - P. Fr. Laureano de la Cruz. "Nuevo Descubrhniento del Rio de Ma-

na.íion llamado de las Amazonas", BlbHoteca de la Irradlación. ·Ma-
drid, 1900. PJigs. fi3 ~ 120.
(8) - Padre João Felippe Betendort. "Chronica. da Missão , dos Padres da
Companhia de Jesus no Estado do Maranhão". Revista do Instituto
HitJtórlco e Geográfico Brazilelro. Tomo LXXXII, P. r. Rio de
Janeiro, Ull~

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meiro missionário dos Tapajó e apesar de ter passado 38


anos da sua vida em contacto com a região dada como berço
dos muiraquitãs. La Condamine (1743-1744) fala-nos das
"pedras verdes conhecidas pelo nome de pedras ·d as Ama-
zonas" (9), mas não nos diz como se denominavam na lín-
gua indígena. O padre João Daniel ( 1797), que viveu 18
anos no Amazon·a s e que tão indignado se mostra com a
idolatria dos Tapajó (10), nenhuma vez nos fala das pedras- ..

verdes . Spix e Martius (1817-1820), finalmente, também /
não anotaram a designação em tupi d-a s. pierre8 divines que
tanto perseguiram e uma única vez se referem a muraquêi-
tá mas fixando bem que são outros amuletos, talhados "nas
costas da concha fluvial Unio, _;Ornamento mal acabado, ou
· a um pedaço d-e madrepérola ou a qualquer arredondado
osso de peixe". (11) .
A grafia atual muiraquitã, ligeiramente modificada, faz
a sua primeira aparição impressa, ao que pudemos verifica:r,
em 1873, ·no livro "Lembranças. e Curiosidades do Valle do
Amazcnas" , do Cônego Franciseo Bernardino de Souza, vá-
rias vêzes repetida como mueraquitan. Logo _depois encon-
tramo-la na edição de Viena , do manuscrito de Heriarte, do
Barão de Pôrto Seguro (1874), onde há uma nota dêsse
assinalando do mesmo medo mueraquitans. (12)
Em 1875, no "Relatório .so·b re o Yamundá", Barbosa
Rodrigues adota "muyrakytã. ( 13)
Como se vê do exposto, quantos se avistaram com os
índios, no primeiro século da conquista, não pucieram inter-
pretar de igual maneira o som inicial da palavra. Fixaram
baraquitã, buraquita, puúraquitan e uuraquitan.
Muiraquitã se popularisa muito depois, já no nosso tem-
po, sobretudo através da obra "O Muyrakytã", de Barbosa
Rodrigues, publicada em Manaus em _1889 e reeditada com
novas notas e ilustrações em 1889, no ,Rio de Janeiro. Re- .
petida hoje pelas populações da Amaz·ô nia e universaln1et)te
consagrada é, entretanto, uma nomenclatura que penetra
no interior e aí se vulgarisa pela bôca dos civilizados ou semj-
civilizados, quando os índios portadores jâ se acham pràti-
,.camente extintos.
'
(9) 1 Ch. M. de La Condamln e. "Viagem. na America. Mer idional de.e cea:.
do o rio das A mazonas". Biblioteca Brasileira. de Cult1.1ra. N .o 1.
ruo, 194.4. PA.g. 102. "'
( 10 ) - Padre João D a niel. HThe zouro De8coberto no Ma.xlmo Rio Amuo-
na.s' '. Revista. do Instituto Hlstorico e ·Geo&-r e.phico Brasileiro. Tomo
II. P ág. 49~. .
,.
(11) - Spix e Mar\iue. HViagem pelo Brasil" . Rio, I mprénsa. Nacional. Bdi-
ção comemora.tiva. do centenário do Inatituto Historico e Geo&'t'apbice
Bru1leiro. Pága. 146-195.
(12) - N ota d e lLSt'.erf stlco. P ;\g . 37.
(13) - 1. Barboe& !todrll'Ues.- .. Explora.ção do - Rio Ya.mundá. Rela.tório" .
Rio, 187~.
..
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REVISTA DO _MUSEU PAULISTA, N~ S., VOL. VIII ~33

O único dos missionários que nos dá uma tradução é


Fr. João de S. José, mas adotando a de Montoya para ibira- ..
qu11tã, ou seja "nó de pau". Só muito tempo depois outra
tradução é sugerida e esta por Varnhagen, que propõe pará-
ugui-tan, val~ndo por "pedras verdes do rio". (l<i:) Seguem-
,.
,. se numerosas outras versões, que não são mais do que- tenta-
tivas de adaptação da palavra ·à s conveniências dos tupinó-
, logos ou de apoio .a tes~ apriorlsticamente fcrmuladas, e
tôdas decorrentes da divulgação de Barbosa Rodrigues, a
quem devemos inegàvelmen~e não só a maior soma de in-
formações a respeito como o reconhecimento da importân-
cia do .m uiraquitã como problema arqueológ~co e que acei-
tou também a~ tradução de Montoya dada a ibiraquytã,
, ~1
"fi.udo de palo" ( 15) ou nó de pau, justificando-a pela seme-
lhança das pedras-verdes com certas madeiras.
Ladisláo . Netto prefere mirakitã, de mira, nação, ki,
chefe e itã, pedra, isto é, pedra de chefe, mas sendo ki uma
. .' partícula niái~ aí · inconcebivelmente encaixada. (16)
Teodoro Sampaio adota muiraquitã como "botão de
gente", _de muira, _gente e kitá, botão ou caroço. José Ve-
:
ríssimo traduz como "pedra de gente", de mirá, gente e itá
(itan no Pará),, pedra. (~7)
Ora, nenhuma dessas tradúções ou interpretações nos
• elucida devidam·e nte a respeito do que para o índio seria o
muiraquitã e a de Montoya certamente não tem relação al-
guma cem o amuleto, de tal modo é inadmissível que os.índios
cha·~assem "nó de pau" a uma pedra de tão diterentes gra-
dações "'d e côr, p,referentemente esverdeada e, em que pese
a afirmação de Barbosa Ro~ri.gues, sem a minima seme-
lhança com as protuberâncias de certas árvores, conhecidas
ainda hoje como "nós" na região e escolhidas para a fabri-
cação d_e objetos como os piões ou carrapetas dos brincos '
juvenis,. por terem -a.s fibra~ entrelaçadas e não se lascarem.
Também "botão de gente", como queria 'f.eodoro Sam-
paio, não se coaduna com a opjetividade dos nomes indí-
genas.
Já "pedra de chefe." se harmoniza melhor com a tradi-
ção e poderia ser verdadeira se, realmente, o miraquitã
fôsse um distintivo de poder, usado apenas pelos caciques
ou chefes. Não temos, porém,~ nenhuma prova conclude:p.te
de tal suposição. Pelo contz:ário, entre os Tapajó, com os
•'
(14) .- Heriarte. Oh. cit. Nota 6.• de Varnhag:en, á pá.g. 74.
(lt>) - P. Antônio Ruiz de Montoya. "Arte d e la: lengua Guarani, ó mas
' bien Tupi". Nueva edicion. Vieniia, Paris, 1876. Pág. 170 v.
(16) - -Ladislau Netto. "Investiga~es sobre a Archeologia Brasileira". Ar-
. chivos do Museu Nacional, vol. VI. :Rio, 188õ. Pá.g. 629.
' (17) - .Tosé V eriss imo. "As populações _ indigenaa e .. mestl~s d& Amazo-
nia' '. Revista. Trimestral do Jnstttuto Hi•toriCQ e Geographico Bra-
. . sileiro, Parte I~ vol_. 4 I>t\4f. &58..
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. ' 234 REVXSTÀ DO MUSEU PAULISTA, .N. S., VOL; -Vll.t


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quais vemos sempre ligados os muiraquitãs à época da con-
1 quista, há indicações que a invalidam, sendo uma delas a
observação de Heriarte de que serviam como dinheiro para
a compra de mulheres. (18) Teríamos de admitjr, a serem
pedras de chefes, que. só êstes se casariam e poderiam obter
mulheres ou, ainda, que a sua posição e· autoridade não os
eximia de pagar um tão alto preço pelas companheiras que
· elegessem.
Heriarte, de resto, que visitou os Tapajó no apogeu da
. sua cultura:; classifica cerno·' estima o que denotava.m pelos
muiraquitãs, o que em outras palavras quer dizer que os-
reputavam, que lhes tinham aprêço. -O cronista é lacônico
mas ainda assim nos ensina algo. Poderia ter dito, por '
exemplo, que adoravam, como o padre João Daniel ao refe-
rir-se às cinco pedras que. presidiam aos casamentos ou a
que imploravam o bom sucesso dos partos (19), mas não o
fêz talvez porque não viu nenhum carátei: m1stico no uso
ou na posse do muiraquitã, antes sentindo apenas a função-
de um objeto precioso, desejado, que se tornava capaz de
servir de dote, ou seja de ser trocado por um bem que- se
julgava maior.
1
Claro que essa interpretação de Heriarte não explica
ainda suficientemente o porquê da extraordinária estima
que os Tapajó tributavam ao muiraquitã. Mas elimina um
• ponto, restringindo o prcblema, pois afasta a idéia da pedra
de chefe ou distintivo hierárquico, pelo menos em . caráter
exclusivista, quando dá ao muiraquitã um valor de uso co-
mum e ao alcance de todos. Afasta, sobretudo, -O perigo da
generalização, pois se é admissível que originàriamente se
tivesse constituído um signo de poder e de comando, do gê-
nero dos cilindros grandes de quartzo que Wallace observou
~ntre os Uaupés (20), mostra-nos que isso não- mais se ve- ·
rificava entre os missionados de Betendorf, no século XVII,
quando com êles se avistou o ouvidor-geral.
Do mesmo modo não vemos como justiticar a liberdade
que tomaram muitos dos intérpretes modernos, alterando
para itá a terminação itã ou itan, sempre nasalada, que _
grafaram os cronistas. ltá, pedra, ~era vocábulo .tão comum_, '·
fazendo parte de tantos nomes geográficos e de tal maneira
conhecido desde os primeiros tempos do descobrimento, que
nunca poderiam os missionários confundir o seu som inten-
... samente agudo com o nasal ã ou an. Em Heriarte, no padre
José de Moraes ou no bispo Fr. João de S. José, a terminaç~o
' .
(18) - Kaurteio de Herlarte;-, Ob. cit. PAg. l~.
(19) - P. João Dante!. Ob. cit. P'gJn& m. - I •
(20) - Altred Russel W&IIa.ce~ •viagens pelo Amazona. e rio Ner:ro". "Bra-- •
2.•.
IÍillan&", 8érle vol. 188. São Pà.uk>, Rio., 1819. p4., 3M • lõi.
l

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REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII 233

é sem.p re itã ou itan, sendo ponto pacífico, pois, que a pala-


vra era oxítona e a ~ltilna sílaba nasal.
Muira, componente inicial que se generalizou afinal, é
interpretação que se origina, sem dúvida ~lguma, de uma
simbiose moderna e propositadamente estabelecida com o
registro de ibiraquytã ~por Montoya, e isso depois de ter a
Revistai do Instituto Histórico (21) divulgado, em 186_9, a
tradução idêntica que Fr. João de S. José deu às pedras-
verdes. Já vimos, contudo, .que a palavra traduzida como
nudo de ·p alo pelo autor do "Tesouro de· la lengua Guarani''
não tinha relação com o que hoje conhecemos por muira-
quitã. Ibiraquytã era o nome mesmo de ·nó de pau, como
se comprova ainda mais pela experiência que fêz Max Bou-
din entre velhos índios Tembé que, falando um tupi puro,
desconheciam por completo a existência dos amuletos (22).
No imenso campo especulativo que nos fica à mercê é
muito mais admissível a tradução de itã como sapo ou rã,
'· dispensando-nos de transformar a acentuação para itá..
Como seria também mais admissível que bura, -puúra ou uura '
correspondessem a puêra • (conta, miçanga), como certos
muiraquitãs usadas em colares ou cerno e11feite idêntico e •

que, ligando-se à idéia de sapo, estaria muito mais de acôrdo


· com a terminologia indígena e com a natureza do objeto,
sobretudo se .considerarn1os que é talvez exagerada a enor-
. me latitude com que empregamos o têrmo rnuíraquitã p~ra
designar indistintamente quantos ad<:>rnos.· líticos fabricai- ·
ram outrora os índios, f ôssem cilíndricos, laminares ou de
outras formas não batraquianas. É êste um · aspecto que
1
abordaremos "ainda no decorrer do presente trabalho. Vol-
. . tando, porém, ao nosso raciocínio, queremos apenas, com o
exemplo referido, mostr{ir como pedem a.s possibilidades in-
terpretativas ser conduzidas diferentemente, o que, melhor
do que nós, demonstra a carta que nos enviou, respondendo
- a uma consulta que- lhe fizemos, o prof. Max Boudin, da
Secção de Estudos do S. P. I., empenhado atualmente na ' .'
elaboração de um grande dicionário tupi para o qual vem ...

há anos coletando vocábulos e raízes num vasto estudo de


campo entre tribos amazônicas que utizam ainda êsse i~io­
ma na sua pureza. (23)
-
(21) - Revista. do Instj_tuto Historlco e GeographJco B raelleiro. Tomo IX.
1869 .
.r (22) - Comunicação .v erbal feita &o a.utor e constante também da carta. -
reproduzida. na.- npta. seguinte (23). . .
(23) - Transcrevo, a. segúir, a integra. da carta referida do i>rof. Max
Boudln: · '
"Belém, ~ . de marQo de 1953. Caro a.migo Frederico Barat,a.: Que-
rendo re•ponder à consulta. «1ue me if ez sôbre a possibilidade de ad-
mitir lt& como , •l!l&PO" na ~tmologta da palavra nutlra<iolt., de eu-
posta origem tupl • . hellltei muito antel de formular. não 86 pa.ra. · •• ~ _
oomo lMU'a mtm próprio. - um& eonclaalo aa.U8f&tól'la.
,
' .... _

236 REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII

Como se verá da exposição do prof. Boudin êle encon- '


trou entre os Tembé, do Gurupi, em pleno uso, itã como
-
sapo ou ra. _ f

Se pesquisas ulteriores confirmarem em definitivo -tal •


acepção, é certo que teremos afinal avançado um pouco no
esclarecimento do significado real dos muiraquitãs, pois se- -
ríamos então forçados a classificar como tais apenas os ba...
:.traquiformes e a · situar=- a designação ent;re as tribos pos-, ~
teriores à conquista, que já falavam a língua-geral. ·
' I

Será. essa uma palavra. estrangeira, nac-ionalfaada, lingulstic,amen-


te !alando, ou será. genuinamente tupi-guarani? Devo confes8ar. _de
Inicio, que os meus conhecimentos da. lingua. tupi são baseados nos
dialetos modernos falados seja pelos índios Tembé, seja pelos Urú-
bú, e nos meus estudos o tupi chamado clássico- só intervem para
afirmar ou in1'1rmar o sentido exato de cada palavra, independen- --
temente da etimologla. .
Tendo feito, entretanto, uma. pesquisa. comparativa entre tupi- ....
clá.ssico, guarani moderno, tembé e urubú., sou levado a. crer, a p-rlort,
que a variante tembé, dentro dêsses vá.rios aspectos dialetológicos da.
mesma Hngua. biisica. 'ou proto-tupi, é uma das mais puras e ma.la
claras. ·
Dai o termos toma.do o tembé-t~nêtéhara como base para apoiar
aa nossas considerações a. respeito do vocábulo mulraquitã.
Vemos inicialmente que esta palavra, mal grafa.da. pelos historia-
dores, dá margem a. uma série de interpretações, poucas das quais
podem ser julgadas inteiramente satisfatória s. Aa várias grafias an-
tigas com que depara.mos são as :.eguintes:
a) - ibiraqu)'1ã, em Montoya, que traduz por "iiudo de paio".
b) - ibirá quytã, em Batista Caetano, que traduz por "nós de
pau, os nós da. madeira e das arvores ; nome de um enfeíte' '.
e) - buraquJtã (e também baraqulta), em Heriarte, descrevendo
o objeto.
d) - puúraquitã, em .Tos~ de Moraes. idem.
e) - uuraqultã, êm Fr. João d e S. José de Queiroz, que ·dá- a
a tradução de. 1\fontoya, "n6 de pau''.
.All'lns cronistas, sendo a lingua tupi de tipo aglutinante, fica- <
raro hipnotisados pela imutabilidade do esquema quytã ou qultã, cujo
significado é de fato: saliência, excrecência, turgescência, verruga,
nó, botão, etc., tradução que sobren1odo dificultava o sentido dos
.•
outros esquemas ihira. hura, uuúrtt, unra.
E' lógico, por outra parte, que não consideremos todas essas ._
poslbilidades corno variações normais ele urn tema único. Se excetuar-
mos l\1ontoya, que ignorava por completo a existência do muiraquitã
como enfeite ou amuleto entre os Guarani do sul, ficamos bastante l
surpreendidos quando vemos Batista Caetano, seu disctpulo do -nor-
te, tendo tido conhecimento do adôrno múito depois, inclui-lo
entre os significados da palavra tupi iblrà quytã, "nó de pau", o
que fez ta-lvez iludido pela. pronúncia. aportugueea.da de determinada.
palavra indigena.
Pessoalmente, quando da nossa última permanência nas a:ldeias
Tembé e Urubú, tivemos oportunidade de indagar de vários dês_ses
indios tupi qual o sentido da palavra iwira-kytã. (tembé) ou mbira-
kitã (urubú), e sempre obtivemos a mesma resposta: nó de páu.
Pensamos por isso que não há relação etimológica nenhuma entre
o molraqutã dos crônistas e o .lblraquytã dos tupi, tudo
não passando de mera cbincid~ncia fonética. O que aconteceu com
Batista Caetano foi que. como tuplnólogo. Quiz apropriar-se des-
ta pala.v ra. mas n~ c.uidou de estudar o seu significado hipotético.
Exculida assim qualq,uer relação entre as duas interpretações
acima, resta-nos considerar as outras: ' .
1) - buraquliã., gue se a.presenta uma vez no trabalho de Hen- -
rlarte também com a grafia baraqulta, deixando supor
que a. 1'.íitima ·se-1a . um erro de redação. · · · · ·' ;
2) - pudraqultã-.
3) - uuraqultã, seguramente errada qua.ntQ à transcrição fo•
nétlca.
Antel!I de ·tudo devero08 salientar que o fonema inb, especifico
' ao génio da fonética. tupi, foi multas ve~es confundido pelos por-
tuguêsel!I e espanhóis . com 'O b, embor& nã:o exl$t& eata. ·modalidade
' -

-
- /
t
,

REVISTA DO· MUSEU PAULISTA, N> S., VOL. VIII 237

nos dialetos tupi senão sob a forma de um . v lábio-dental sonoro,


completamente diferente, que pode enfraquecer, tornar-se semi-vo- .
gal e até desaparecer. A sequência fonética histórica segue o pro-
cesso seguinte :
b V W ?
,,
' mb
Exemplos:
mb m

abá a.vã a.w• (homem)


.- tupl clássico
'--
guarani tembé
porabiki l)Oravlki pt1rawkl pnrakl
tu pi clássico guarani tembé urubú (tra balhar)
Outrossim a labial surda m e a labial explosiva P podem
se permut.H.r quando iniciais. como exemplificamos:
puk - explodir mukam - espingarda, coisa que explode.
purãng - bonito mu-murãng - enfeitar-se, fazer-se bonito.
purawkl - trabalhar - murawkl-haw - tra ba lho.
1u1'ir - missanga - mn'lr - idem. enfeite.
Devemos levar em conta, t ambém que o "glottal-stop", .que
gos com acento sôbre a vogal em que inicidfa, t eve êsse detalhe
muitas vezes esquecido pelos historiadores e crônistas que, do mes-
n10 1nodo, corn frequência confundira1n o i gutural tupi-guarani
• com o u latino (conservamos a denorr1inação de i gutura l a dotada
para o fonema pela Aca demia de Cultura Guara ni, de Assunção).
Basta lembrar as transcrições portuguesas conhecidas de palavra.
tupi como UbiraJ~ra e Ubiratã, do tupi iwira.-:tára e hvlrã.tã, re-
respectivamente " dono do arco" e "pau for te".
Voltando ao asunto que nos int eressa, teriamos assim as pos-
sibilidades hodiernas seguintes., tôdas provin do de formas arcá-
icas históricas :
a) - murakitã ou 1>urakltã, de pura(w) kitã.. •

b) - mlrakitI, de (a)mir-a(,v)kitã.
c) - pu'irakitã (em vez de pu' urakitã, de pu'ir-(w)kitã, idem
mu'lr-akitã. '
\ Podemos extrair fàcilmente o esque1na pura,vki ou paraki do
clássico porabiki .- t rabalhar, provindo de uma forma mais sim-
ples_ em a(w)kl - m anusear, usa r, apalpar, mexer.
Parece-nos caber a t radução do esquerna final itã por pedra
porque dificilmente os porfuguêses confundiriam uma vogal nasa-
lizada com s ua correspondente não nasalizada, havendo de resto
d emasiado exemplos n a toponímia brasileira comprobatórios dêste
modo de pensar.
·' A palavra ltã ainda existe n a lfngua tembé-ténêtéha ra. Sabe-
.
•. se que os tupi, para designarem certas especies da fauna ou da
flora, ligavam-nas a outras com as quais mantinham por vezes uma
sirnb1ose pa1·as1taria. Diz1an1 assin1 zatirima.w (por. zawtl-rimaw),
designando uma espécie de passaro que sempre é visto em compa-
nhia dos jabotis, segundo afi.rma m os ,indios, dando a traduçã,o
"criação de jaboti"; ta.tu-kiw para uma espécie de maruim bran-
co, que se traduz por "piolho de t atú" e, ainda, ita i-kaw, "ca-
b a de s·apinho", para designar u ma espécie de cada n ão identi-
ficada.
Sendo a vogal tembé ã, pronunciada como o õ , alemão em bose,
equivalente .à vogal nasalizada ã, encontramos em ita i uma for-
ma dimlnutiva de itii com a qua l denominam uma espécie de rã.
I
' . Para concluirmos dire1nos que das __ três possibilidades, acima.
aventadas, uma só r eside á análise critica do etimologista. E' ela.
pu 'ir-a(w)ki-(l)tã, ou a variação mu'lr-a(w)ki-(i)tã, que significaria
• então rã ou sapo u sado como enfeite, sendo este substantivo a forma
aglutinada dos seguintes esquemas:
pu'ir, idem mu'lr - missangas, contas enfeites-, etc.
a(w)ld - mexer. manusear, usar. apalpar.
itã - esp~~ie de. ríi. ou sapinho.

Faça desta, o uso que lhe convier. Sinceramente


(a.) MAX BOUDIN.

' - ,
'
. 238 REfISTA DO -MUSEU PAULIS.TA, N. S., VOL·. VIII .
1. 1 -
Itã ou- itan com o significado de sapo ou rã já fôra de
.resto assinalado por Bàtista . Caetano. (24)
Puêra, igualmente, consta em vários vocabulários .e di-
cionários (25) e já foi aventada., ~o princípio do século~_
para su~stituir muira em muiraquitã. Barbosa Rodrigues,
porém, condenou a sugestão no paséedouro, alegando que os
• índios não conheciam contas, de vez que estas foram intro-
duzidas pelos portuguêses (miçangas) e que puêra é tam-
bém nome ·e ngendrada' pelos conquistadores~ pois os índios
tinham apenas poyr '· para 9.esignar as sementes e grãos
furados dos seus colares primitivos. (26)
A diferenciação é infundada, sobretudo· hoje ' quando
sabemos que os colares indígenas não eram feitos somente
de caroços, sementes ou grãos, havendo-os e em abundância
formados d~ contas líticas como as que fabricavam com
perícia os Tapajó.
A opinião de Barbosa Rodrigues era uma .,.r esultante da
convicção com que defendia a tese de que "o muyrakytã_ é ,
um monumento Asiatico deixado no solo Americano por um
ou mais corpos de emigrantes". (27). Nó de pau calhava- ·
.l he admiràvelmente para sustentar · que "a jade ou nefrite
do rio é mais bela em côr e as vezes cortada de veias ·a zues
e a das móntanhas tem a aparencia de nó de madeira em
geral cortada de veios pardacentos, daí vindo o nome indí-
gena talvez porque outrora fossem mais usados os dessa
aparencia". (28) E, assim, fácil lhe ficava aduzir, man-
tendo a c.onexão do objeto com o qriente, qu.e "na, China tam.-
bém se conhecem as jades pelo nome de nó de páo ou de
madeira" . <29) '
Que Barbosa Rodrigues encontrou a tradição de puêra .
em tôrno dos muiraquitãs evidência-~ do seu "Relatorio
sopre o Rio Tapajós", onde nos diz: "Nas suas .terras anti-
1

gamente -e ainda hoje, mas é raro, encontravam-se contas


' de feldspatho (Muyraky_tãs) pelo que , muitos em vez . de

( al) - Dr. Ba ptfst a. Ca eta no de Almeida. N ogueira. " Vocabulâ r io d as Pa-


lavras Gu aran is Usadas pelo Traductor da 'Conquist a Espir itua l'
do P adre A . Ruiz d e Mon toya". Annaes d a Blbliotheca N a cional
do R io de Janeiro, vol. VI, 1879-. A ' pá.gina. 177: "otã ou lt6 s.
nome dados a sapos ou r ã.s, v ulgo tntanha , talvez dizen do lta. o que
soa, ba t e ou martella (t a lvez onom ) ". ·
(2õ) - No "Vocabulá.r io da l'lngua indigena geral para o uso do Semi-
n ário Episcopal do P ará", 1853, do Padre Manoel J u stiniano ·ae
Seixas, à p'á g. 46 : Puêra, s ubst . ! em:, conta. No "Vocabulário N eên-
gatú-P ortuguez" , d e St radelli, à pág. 618: Puêra-Pulra, o que é
pequen o, del gado. A s contas de vidro que vieram substituir os caro• •
cos da s fructa.s, os ossos e outras bugtga.n gas, com que os indtge-
nas faziam seus collares. tangas e mais enfeite~".
(26) - J . Barb osa Rodrigues.- "O Muyrakytã". Ma.naus. Typ. do A.ma.zon,as.
Rua. Guilherme Moreira. ~. Página 116.
(27) - Idem, Idem . PA.g. XV da Jntroducã.o .
(28) - Tdem. fd"lm. P Ag. ~l.
( 29) - I d em, ide m . Mesma pá.glna 31.

,. '
,.
. -•
REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII 239

Borary qv.erem que - seja Puerary. Destas contas usadas


' .
p·elos Tapayós, depois fallarei". (30) ,
Sabia, pois, que nein tôdas as contas dos índios eram de
' sementes ou grãos furados. E ainda mais patente fica a
sua contradição quando nos confessa que foi em Maio de
1872 que primeiro se interessou pelos muyrakytãs, ao pro-
curar saber em Santarém a origem do nome Borary ou Puê-
rary, com que era conhecida a antiga missão, "hoje ivilla
•• dp Alter do Chão", acrescentando: "Na aldêa de Santa-
rém ainda existem descen·d entes dos índios missionados em
Puêrary, que me afirmaram ter a extinta missão esse nome
devido às contas verdes ou amarelas, que· então se encon-
travam no Lago Verde e nas margens de um ribeirão, que
por essa circunstância, tomou êsse nome, que pela lingua
tupy significa rio das contas ou ªY'l!-ª das contas". (31)
Essas constatações, todavia, perseguido pela idéia apai-
xonada de prova·r ~ origem asiática dos muiraquitãs, não o
demoviam de uma argumentação tendente a sustentar a sua
• hipótese. Vemo-lo assim citar as denominações dadas por
• ~Heriarte, José de Moraes e Fr. João de S. José, comentando:
"Buraquitã (32), puuraquitan, uuraquitan são nomes origi-
• nados da mã audição e da orthographia, porque não passam
de uma corruptela de mbyrâ e kytã. No nheengatú moder-
no., mbyrá é gente e não páo. Muyrakytã, significa nó de
páo ou de madeira, pela semelhança que algumas jades tem
com a madeira." (33)
, .
Lo_go adiante, apesar dessas citações e para melhor aco-
modar os fatos ao seu raciocínio, diz-nos incompreensivel-
mente: "Já vimos que Heriarte, Frei João de S. José, José
de Moraes, Siegfried e Buffon davamrlhe o nome de
muyrakytã." (34)
E ainda, em outro periodo, anota: "Spix e Martius, na
sua Reise in Brasilie.n, escreveram muraqueitã, porém Mon-
toya escreveu lbyraquytã, donde a tradução de iíudo de
palo". (35)
Ora, Spix e· Martius , (que fizeram questão de salientar
não se referir a designação às pedras _verdes) escrevian1 entre
1817 e 1820 e Montoya o fêz em 1639, ou seja quando mis-
sionário no Paraguai e sem nunca ter sabido da existência
• dos amuletos ou enfeites líticos do Amazonas .

/.
(30) - J. Barbosa Rodrigues. "Relat ório sôbre o Rio T aparyós". Pá.gina. 151.
(31) - Idem. "O _MuyrS:kytã e os ,Idolos Simb.<;>licos". Segunda. edição, 1.o
• volume. Rio . de Janeiro, Imprensa Nac1onal, 1899. Pá.g. ~1.
(32) - A clta~ão não está. correta. Heriarte não grafou buraqultã é sim
baraqultõ.s e buruqultas.
(33) - J. Barhosa Rodrigues. Tdem. P~.gina 34. •
(34) - Tdem. ldE>..m. P~tgina 3!'>. •
(35) - Idem. ldf'-lll. P~.gina ~4.


1 •

..•
...... ... -
REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII

Após êste histórico, pode-se reconstituir fielmente como - .


se fórmou e surgiu a palavra muiraquitã cu· muyrakytã e ·
e.orno lhe foi atribuído o significado de "nó de pau".-. Bar-
bosa Rodrigues, te·ndo achado. ibiraquytã em Montoya e.
muraquêitá em Spix e Martius, começou em 1875 a divulgar
a interpretação muyrakytã, lançando-a aos quatro ventos
em sucessivas publicações. . ._
Era ·amigo pessoal de Batista Caetano e com êste cola-
borou em "Ensaios de Ciencia", além de submeter-lhe. de ••
' vez em quandQ suas dúvidas sôbre lingüística. (35) Assim,
em 1879, ao publicar a tradução do "Vocabulário Guarani",
Batista Caetano reproduziu ibiraquitã mas não se limitou ' -
\

a indicar a acepção única que Montoya lhe dera: nó de páu.


Acrescentou por sua conta "os nós da madeira e das .arvo-
r·es", bem como "nome de um enfeite" (37), o que mostra
que também êle, sob a influência de Barbosa Rodrigues,
aceitara um sentido novo com o qual Mo_n toya ~ jamais
·sonhara. .
E é assim, com a autoridade de Batista Caetano, que se
consagram indevidamente muw-aquitã .e ibiraquytã oomo
uma coisa só, significando nó. de páu, _q uando em verdade
Montoya traduziu corretamente apenas a última palavra· e
ao tempo em que a registrou, na primeira metade do século - (
XVII, nem uma referência fôra feita ainda aos enfeites,
amuletos ou pedras-verdes da Amazônia, totalmente desco- ..
nhecidos.
A análise crítica deixa evidente, portanto, que muira-
quitã, cem a significação de nó de páu, é uma interpretação ,
moderna e comptetamente arbitrária.
E impõe, outrossim, a observação de que muiraquitã
(com qualquer das grafias aproximadas que lhe deram), ..
corresponde a uma época em que já se difundira na 4mazô:.._
nia a língua-geral e isso deve indicar que a denominação
do objeto não e.mana dcs seus fabricantes antigos, que não
podiam ser Tupi, mas de índics qu·e possivelmente eram
apenas portadores de uma tradição. Tôdas as crônicas "• · ~

dêsse período com referências ao muiraquitã dão os Tapajó


como seus pcssuidores. Foi ie ntre êles, qu~n.do ~iém qa
própria já falaram também a língua-geral (38), .q ue Heriarte,
José de Moraes e Fr. João de São José viram as pedras-ver- _

· (36) - Em "O M~vrakytã ", edição de Man a us. diz Barboza Rodr i gues con·
firma ndo êsse fa to, à pâgina XI da Introdução: "... ta nto que o
m eu distinto an1igo Ba ptista Ca eta no, de saudosa memóriá, por di·
versás vezes procuroµ int erpreta -lo ... "; e à página 11 : " Citarei só
um facto, que a presentei a o , notável america n ista, o n1eu amigo Bap·
tista Caetano. de saudosa memória" . ,
(37) - Dr. Ba ptista Ca etano d e Almeida Nogueira, Ob. cit. Pág. 194.
(38) - ver "Revista do Museu P a u lista" , Nova. Série, vol. IV, a. r esenha
\
crit ica feita pelo autor a. "Oa 1'apa.jó", d e Curt Niniuendajú. Pá·
gina 4M.
,., "-

. \

,
•, ' - \
l

REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII 241


'
des -e bém ou mal .ouviram a denominação que lhe davam
em tupi. Pesquisas arqueológicas recentes mostram, toda-
via, que os Tapajó não mais utilizavam a nefrite ou jadeite·
em seus trabalhes líticos. 1'Tem um só muiraa'uitã,... dêsse
'
material foi encontrado em Santarém e adjacências em
condições de comprovar uma proveniência local de fabrica-
ção, como acontece com as contas de outras pedras, vulgar-
mente cor..hecidas tambér.a como muiraquitãs, qtle ali apa-
recem em qt1a11t idade e às vêzes i11acabadas, em diferentes
estágics da confecção. .
' O que os cronistas assinalaram entre os Tapajó ou na
area de sua influência pode ter sido unicamente uma tradi- '
Ção, não sabemos até que ponto modificada no seu conceito
original, do uso de um objeto possivelmente de importação
e que nada prova pertencesse ainda à manufatura tapajô-
-nica da fase em que produziram a bela cerâmica dos vasos
cte g,a rgalo e de cariátides. ·
· A ilação que tiramos, pois, de um exame minucioso dos
documentos históricos e pesando ccnvenientemente os da-
dos conhecidos, é a de que muiraquitã é nome tupi dado ao
objeto em época posterior à conquista da _Amazônia e, por-
tanto, sem a menor correspondência com a a11tiga e legíti-
ma conceituação indígena, que talvez nunca nos seja possí-
\ t
vel conhecer. Verificamos, também, que essa designação,
~hoje consagrada, . foi a principio empregada somente para o
artefato de pedra-verde ou nefrite e unicamente a partir do
século XIX se generaliza e abrange os enfeites de colar fei-
;
tos de minérios diferentes e até de outros materiais, como
constataram Spix e Martius em 1820, anotando muraq_ue-
itã para adornos de concha e de osso que se usavam pendu-
, rados ao pescoço.
-- ' Mais ainda, torna-se bem evidente que o aprêço pelos
muiraquitãs entre os índios já em contacto com a nossa civi-
' lização· e falando á língua-geral, com os quais se defron.:.
.. taram os missicnários a partir do século XVII, decorria prin-
cipalmente da procura intensa que -os brancos faziam do
1

objeto, tratando de obtê-lo por todos os medos e criando para


êle entre as tribos, com êsse procedimento; um valor espe-
.. cial como instrumento de trocas, ou seja um valor monetário.
E' o mesmo fenômeno que se passa hoje com as bordunas
e flexas dos Munduruku, com cs colares~ capacetes de plu-
' ' níária dos Urubu e, até certo ponto, com as l:;>onecas de barro
e as banquetas ~e madeira dos Karajá, valorizados entre
· êsses índios não como decorrência da sua própria cultura
• mas em conseqü~ncia do afã com que os disputam os ama-
dores e colecionadores, provocando_ 11m interêsse enorme
. 242 REVISTA DO MUSEU PAULISTA, .N. S., VOL. VIII
_,,
para que os possuam ou produzam a fim de explorar a nossa ·
predileção com vantajosas vendas e permutas.
E' uma dedução, de resto, que fatos hodiernos ainda
reforçam e confirmam. Em 1947, por exemplo, quando ini• . '
ciei pesquisas em Santarém-Aldeia, as "contas'' dos Tapajó .
não tinham valor algum e ninguém se apercebia da sua-
• existência. A minha intensiva procura e o interêsse que
por elas demonstrei acabou, entretanto, por modificar com-
pletamente tal situação. · Hoje não só há numerosas pes-
soas na cidade que possuem uma ou mais "contas", cha-
madas por todos de muiraquitãs, como passaram a ter um
valor monetário por vêzes exagerado. Isso faz com que os
caboclos e morador~s locais se entreguem também a pesqui-
sas, procurando a itodo custo obtê-las, não porque elas re- ...
.presentem alguma coisa importante para si próprios ou
para as suas crenças, mas pelo que podem proporcionar em 'I

dinheiro que, a final, é o nosso instrumento atual de per-


\ muta: ,
Barbosa Rodrigues ouviu em Santarém, de uma velha
·tapajó que chama "última relíquia dessa velha tribo" e a
quem atribuía uma idade de 120 anos, a declaraÇão de que
~quando ela ~ra menina "iam os· Tapuyus (Tapajó) anual-
mente ao rio Yamundá levar productos que trocavam por
êsses enfeites, que usavam, com religiosa superstição". (39)-
A velha, segundo ainda Barbosa Rodrigues, conservava no·
pescoço um muiraquitã. .
. \ . E' essa urna informação que, embora · não devidame~te '
controlada, torna-se aceitável por estar de acôrdo com mui-~
tas outras que possuímos sôbre o comércio dos Tapajó com
as províncias vizinhas. E reforça também a hipótese de que
os Tapajó efetivamente não fabricavam senão contas de
colar, que longe estavam de ser muiraquitãs típicos embora
às vêzes tivessem formas idênticâs. -
Nenhum dos cronistas fala na fabricação de muira-
quitãs pelos Tapajó. Viram-nos entre êles e regi.stram tão
sómente o aprêço que lhes dedicavam. Já em 1762 e 1763-;:
Frei João de S. José de Queiroz chega mesmo_a .dizer-nos_
que os Tapajó tinham perdid'O· contacto com as fontes de
pedra-verde (que denomina "barreiras verdes"), pois "fora
ignorado ou perdido de todo o lagar d'este barro, que d'agua
1 dizem endurecer como coral, mas sem isto acontecer ao pri- ,
meiro ar, como vulgarmente se cuida". Se eram tão abun-
dantes, como hoje sabemos, as "contas" dos Tapajó, como
explicar que ninguém a elas se referisse? Próvàvelmente . ,_

.. (39) - J . Barbosa Rodrigues. "Explor a ção do Valle do Amazonas" (Rela- .


t ório apresentado ao ministro da. Agricultur a, dr . .José F ernandes :: . .
da Costa P~reira). Rio, T>'Pf>gr a phla Nacional. .1875. -P á ginas 63 e M. ,
. .

' ! .•
REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII 243
'.
porque, sendo tão vulgares e por todos usadas em · colares~
. não se destacavam nem chamavam a atenção·. como os mui-
. raquitãs de jad.eíte pela estim..a que a êstes qedicavam ou
pelo uso sui-generis. A lenda somente a êst.es envolve por
• .haver em tôrno dêles um mistério, caracterizando-os cQmo
coisa excepcional. Nã-0 haveria ~endas a respetto se sua
fabricação houvesse sido constataºª ao tempo da conquista,
pois o que as provocava e difundia era a ignorância de como
eram feitas e de onde provinham, por parte dos viajantes e
missionários. Nunca houve lendas, nem foram necessárias
-explicações fantasiosas, por exemplo, para a cerâmica vis-
tosa e original dos Tapajó. .
Os cronistas antigos do sul assinalaram pedras-verdes
e outras, duras também, transformadas em ornatos traba-
lh~dos para os lábios ou tembetás. Nãos~ espantaram com
isso, entretanto, nem tiveram de imaginar, para justüicar
, tais artefatos, que fôssem feitos de um barro verde e mole
que adquirisse consistência ao -eontacto com o ar (40) ou
que mulheres amazonas os fôssem buscar ao fundo de um ·1

lago misterioso para ofertá-los aos amantes ocasionais. (41)


Aceitaram-nos como confeccionados pelos indígenas e . .isso .
nos contam simplesmente porque eram ainda fabricados
ao tempo em que os visitaram. Enquanto o padre José de
Moraes limita-se a dizer, ao tratar do Jamundá, "o certo
he que ha estas pedras ent1°<e os tndios, e eu tive huma gran·
de, e ainda se não sabe o lugar ·onde se acham, é donde se
tirão" (4~), Gabriel Soares de Souza conta-nos da Bahia,
com segurança: "no mesmo sertão ha muitas pedreiras · de
pedras verdes coalhadas muito rijas, de que o gentio tam.bem
jaz · pedras para trazer nos beiços roliças e -compridas, as
1
quaes lavram como as de cima, com o que ficam muito I

lustrosas". (43)
, Tudo leva a crer, assim, não ter nenhum cabimento· a
amplitude com que se' emprega o têrmo muiraquitã para
designar todos os .artefactos líticos com furo de suspensão e
não apenas alguns dentre êles, cuja origem e significação
infelizmente se confunde no desconhecimento completo em
que permanecemos da Amazônia precabralina, de suas tribos
extintas e de suas culturas desaparecidas ou modificadas.
E'. verdade que já se consagrou, por- muito repetida, a
idéia de que não só os objetos de nefrite ou jadefte eram
.- muiraquitãs. Afirmaram-no, _entre outros, Barbosa Rodii-
(4-0) - Versão ve1culáda. pelos autores antigos e especfaJ.mente por He-
rla.rte, Ob. clt. -Pá.g. 37.
(41) - Lenda. do lago Ya.cy·Ua.ru.A, no rto Ja.mundá., narrada por Barbos&
Rodrigues.
(42) - P. José de Moraes. Ob. ctt. Págine. 515.
(~) - Gabriel Soares de Souza . .. Trata.do descrfptlvo do Brasil em 1587".
Comp. Edit. Naclona.l, 3.a edição. São Paulo, 1938. Pá.gina 429.

\ . '
f
244

gues (44) e Nordenskiõld (45), salientando ambos a enor-


me variedade de minerais para a sua confecção utilizados; -
Isso estabelece a premissa de que eram uma e a mesma coisa
as "contas" dos Tapajó e _as peças de jadeíte proveni-entes
quase tôdas de zonas acima de Santarém, ou seja de maiS
ao ncrte. ~
Um exame tipológico apurado, porém, se opõe à afirma-
tiva e mostra diferenÇas técnicas cuja importância não pód~
ser negligenciada. Entte estas devemos considerar, sobre-
tudo, a das perfurações feitas para dar passagem aos cor-
déis de suspensão. As-formas batraquianas de jadeíte têm -
invariàvelmente um sistema ·especial de furos ·duplÓs late-
rais, invisíveis pela frente. t!sses furos nunca se encontram
nas "contas" dos Tapajó, aind~ quando representativas do _
' mesmo animal, e nem mesmo nas demais formas de jadeíte.-
Nestas, como nas "contas" dos Tapajó a perfuração é uma
só, contínua, seja transversal, atravessando a peça de lado
a lado (Figs. b e e da Prancha IV) , ou frontal, varando-a da
face ao verso (Figs. b, e e d da P,rancha V).
Em apenas ~6 anos conseguimos reunir cêrca de 170 /
dessas "contas" da área de Santar~m, muitas das quais aqui
reproduzimos. Nenhuma é de jadeíte e, embora algumas
sejam batraquüormes, nelas jamais foi utilizada a técnica
dos duplos furos laterais. /
Parece-nos seguro concluir que o processo de perfuração
.'das rãs ou sapos de jadeít~ indica destinar-se a peça a um-
uso isolado, enquanto o das "contas" dos Tapajó objetivava,.
t
indubitàvelmente, a formação de colares. Por outras pa- '
lavras, o sapo de jadeíte tinha uma função própria e êle sô-"'" , •
'
zinho a preenchia, sendo_por isso de proporções geralmente
, mais avantajadas. As rãs tapajônicas, em geral pequeninas
e de minerais diversos, usavam-se juntamente com outras '

"contas" em colares ou adornos compostos, nos quais -s ua


<
importância se apoucava para avult~r a do conjunto.
E' o mesmó, aliás, que devia acontecer com os demais
objetos de jadeíte, cilíndricos, laminares, bastonados, etc.,
que são igualmente conhecidos como muiraquitãs, mas que
'
(4A) - F,m "O. Muyrakytã e os fdolos s imb6lico8" , 1~. vol. I , pãgina.. 113:
·~. •&JaPre, f-eltoe de wma rocha. de grande dureza; aseim, aléa
do• de nephrite, Jadeite e chloromelanite, h! também os de dlorf.to.-
dolerlte, POrPh)'rO, petrosllex, •erpentioa., !eldspatho, quartso, ai'- \'
c;HJa., etc:• · ·
(~) - "Ar• .A.mericana'à, à J.>áglna. 12: "Ce eont les !amem; mu;yT.áqalth
' talllN. en forme d'anlma.u:s; ou d' objete diver• dane la. hé1>hrlte o•
j •
•n •utre cenre de pie_l're" ·- E à pá.glna 35 : ," Aux plue remarqua.blee
trouv&llle. ta.tte8 dane la. régton inférleure de 1' ,A.mBJ&one.. e;pp~­
tiennent lea o?jeUI .de J)lerre. que J' ai d~Ja mentionnés en pe.r1à.ni
dea vo7ages d Heriarte et de He.rcourt. Le mu~e de Gote~rg_ en
• ~e quelquea:-unee compt&nt parmt lea plws bellee qu• tlOle.nt _ ,.
;:~n\lee <J?l,. JCX.Xl.X -: XMIII). Ces obJet1 •ont partui. e11 ll6P)trt·
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., ' .
-
- ;;"-.
...

REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII 245

têm os furos para os cordéis de suspensão idênticos aos das


"contas" dos Tapajó e, portanto, se destinavam também ao
uso em colares. Pode-se supor, pois, que mesmo as pedra-3-
verdes não eram tôdas m.u iraquitãs e sim unicamente as
batraquiforme~ (mesmo não de jadeíte) quando caracteri-
<

zadas peles duplos furos laterais e comunicantes, invisíveis


pela frente, que as destinavam a um uso isolado e com uma
importância superior e excepcional que só por êsse fato se
patenteia. ·- ~
Esta maneira de encarar o assunto é autorizada ainda.
pelo fato de em certas · zonas amazônicas, nas quais se fa-
\
ziam enterramentos ·secundários, terem aparecido dentro de
uma única urna funerária, enterrados com o morto, núme-
rosos dêsses muiraquitãs não ·batraquiformes, o que demons- .•
tra de maneira iniludível que serviram como peças de colar.-
Eurico Fernandes, numa urna desenterrada no Cassiporé,
encontrou nada menos de 7, todos de jadeíte, de mistura com
miçangas e contas ven€zianas. (46) A professora Olívia
Idalia Tietê, por seu turno, encontrou noutra igaçaba, da
• '
(46) - A u rna referida acha-se ho:e na Comi.ssão Brasileira. Demarcadora.
de Linlites, em Belén1, a qual foi doada por E u rico Fernandes que,
em carta, teve a gentileza. de me descrever as condições do acha-
do h em ~onío o conteúdo da. mesma:
" Cemitério: em Vila Velha, à margem esquerda do rio Cassiporé,
onde hoje se achà construida a. ,vila. dêsse nome ('Vila Velha), no
\ Território Federal do Amapá.
I >ata da · pesquisa: Abril de 1935.
Situação da 1>.eça.:: Achav8-se a urna enterrada. en1 sentido verti-
cal, estando a parte superior ou bôca a 60 centinletros da sµpertf-
cie. rodeada. de fragmentos de barro que de1nonstravam ~er sido
protegida por outra urna lisa e de mH.iores proporções. Estava
cobert a por um.a esp6cie de prato, t ambém de barro, já todo par-
tido e igualmente sem pinturas. Nas vizlnhttn~as, en1 redor, ha-
via outras urnas completamente quebradas pela. ação do tempo e
das raízes das. ,grandes árvores que cresceran1 sôbre ela~. bem co- ,•

mo muitos cacos de louça indígena. ' "erifiquei que algumas dessas


urnas apresentavam características antropomorf::ts em alto relêvo.
algumas com simples pinturas e outras sem det;ora.ção nenhuma..
O local era plano, não of erecendo grande f acilidade à erosão pe-
las chuvas. O cemitério ocupava uma área. de 4,590 m2, com 102
metros de 1'.re nte e ~5 .de fundo, e em parte fôra revolvido pelas
construções de be.rracas ou plantações.
J)f'sf'rl!;lío da peça. :
.Altura: _4-25 milímet ros.
Circunf. da. boca: 620 milímetros.
Circunf. do l .o bojo: 905 milímetros.
Cintura: 890 milímetros.
Circunter. do 2.o bojo: l,~20 milfn1etros.
Feits. em barro amarelado, recoberta d e desenhos em braneo.
vermelho e · prêto, form'ft.ndo c urvas, ret a.s e gregas combinadas.
Apenas na bõca-, tinha. uma- pequena parte quebra.da e o fundo •ra
inteiri~o·, sem turo.
Conteúdo "-· N_o interior da urna, de mistura com tcrrrt, h1tvia re-
gular quantida,de de ossos calcinados, contu de vidro do tipo clt&-
mado -venezia,no. e de várias cores, branca.s, azuis e verdes e bas-
t a nte . miça:ngas . 'brancas, muita.a das quais fundidas posslvetmea-
te pela .a.~ão do togo e for.mando pequeno• blocos. Continha ta:m-
bém um pequéno mach&do_ de pedra e. conto maior curtosida.de, ee-
te mulraqúitãs_ ou tuknrauA• (como oe chamam os índios Pa.rlu·
kur), com a8 segutntes formatos e todos em nefrite ou jadefte: ·
4- eram ciUndrico11, 'com 45 miUmetros de . comprimento . • e~m.
• orttfclo de lado a la;do, estreitando-se no centro. Ttê8 ctllad.'ntl
eram de eõl' -"Yerdé-'Cla.r• e um ' de verde mw Ca.rr~.

• I I .. - . .
- - .. <

;!46 REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII

região do rio Matapi, no Amapá, 11m lote de 14 que se acham


expostas no Museu do Terr1tório. Nenh11m dêsses 'f!llUita- - :
quitãs é em forma de rã, do tipo clássico com furos duplos - • .
laterais, que até agora :só isoladamente têm sido achados.
Isso talvez signifique que, alertados pela sobrevivência- -- . -~
de uma tradição oral· indeterminada e quase inconciente,
diluida no tempo, têm razão os velhos caboclos do baixo Ama---
zonas. que teimam em considerar muiraquit~ legítimos e
poqerosos amuletos apenas os ~pos de jadeite, ·chamando· -
~os demais, de formas di'versas, mesmo quando co·nfeccio-
nados nesse mineral, depreciativamente de "contas de ín-
dio", sem as virtudes maravilhosas dos primeiros e se.m qual- · ·
quer participação nas lendas misteriosas e bonitas que po:- 1

voam todo o vale do rio-mar.


Não nos parece para desprezar - e nela insistimos
1

a hipótese de que os muiraquitãs batraquiformes e de ja- ·


deite, caracterizados pelos furos de suspensão duplos e la-
terais, invisíveis pela frente, pertençam a um passado mais
remoto, precabralino, e tivessem um conceito especial e di-
ferente daqueles que hoje conhecemos dos Tapajó, confecio-
nados de outros minérios, perdurando nêstes, tcdavia, de
certa maneira, uma reminiscência ou significado da forma. ·
Há efetivamente certas -0bservações que co-r roboram tal hipó- .
tese, como o achado freqüente em Santarém de muiraquitãs
("contas") feitos c~m o barro da cerâmica e · batraquifor-
mes (Figs. a, b, e e d .d a Prancha IX) . Ou porque o indí-
gena se tinha afastado. demasiado das fontes abastecedoras.'
de pedras verdes ou apropriadas para o fim que tinha em
vista, ou, o que é mais provável, por ter perdido . a 1técnica
indispensável ao trabalho dos minerais duros, verifica-se por ,
êsses achados que não pôde·· dispensar o uso do artefat0- ba-
traquiano e teve de suprir com a argila as deficiências com
que ~e defrontava.
Assinale-se, como refôrço à idéia, que nenhuma' das
outras formas líticas zoomorfas se encontrou ,a té aqui re-
produzida nesses muiraquitãs de barro. Sàr,nente a rã . .
Qual a razão?
~

l era eáférlco; com i l mlllmetros de clrcunterêncla , verde cla-
ro e com orlttcto de suspendo com a mesma. ca r act erfst lca dos an- ' .
<

teriores. ·
1 lembrave. a~ forma de um Instrumento sonante la m ina do, com
, 2 'mil11J1etro8 de -éspessura, verde claro, quebr~do ao meio e com
dole orttfclos de s~vent;IW, um em _ cada parte quebra da. '
1 possui& esttllza.ção não ldentlflc~da.,, lembrando .u m inseto, ..e
era. verd~ escuro, c-om 30 milhnetros de altura, 8 de espessura e 12 de
largura., com orlttcto num dos extremos , no sentido d a espessura,
Dêssea sete mulraqà.lt&a, dois c1Undrlcos t oram . p~r mim ofere-
cidos, um ao, general Braatllo Tab'or da. e outro ao Comandante .
Br az Dias de Agula.r. ós restantes dei de presente a.o meu a.migo·:
dr. Carlos Estevã.o de Oliveira" .
,

.'

REVISTA -DO MUSEU .PAULISTA, N. S., VOL. VIII 247

·. Von den Steinen acha ~que os modelos concretos é que


sempre dão· origem aos modelos decorativos e que o impulso
artístico, nos índios do Xingu, não é dirigido por considera-
ções simbólicas. Sustenta, ainda, que os fatôres determi-
nantes da escolha do modêlo zoomorfo são inconcientes e
derivam do tamanho, da forma e da côr do objeto a repre-
sentar ou de uma correspondência melhor ·e ntre o animal ..
escolhido e êsses caracteres. (47) E' provável que o sábio
alemão tenha encontrado entre as tribos que estudou, na
região xinguense, elementos comprovativos das suas dedu-
ções. ' No caso dos Tapajó, porém, o que se deduz da .análise
1 , estilística (48) é que havia uma conciência perfeitamente
definida quando escolhiam os seus modelos preferenciais e
essa escolha de maneira alguma dependia do material ou da
natureza. do objeto que tinham , em mira representar. '

. Ao contrá.Iio do que logrou observar von den Steinen


- no Xingu, nos Tapajó sente-se que o impulso artístieo era
nit_idamente ,'~dirigido por considerações simbólicas". Há
uma constante que hão podia ser senão intencional e que
levava os índios de San.tarém .a reproduzirem a rã, por
exemplo, ora no barro, ora em Jl?.inerais os mais diversos na
côr e na dureza, por vêzes com estilizações complicadas e
outras com o mais puro realismo, ora em relevo ou incisas
nos vasos, ora dando forma aos apitos ou como elementos
esculturais de adôrno da sua pomposa cerâmica. Caracte-
r es tão variados, cerno os do barro, da pedra e provàvel-
mente também da madeira; é que eram adaptados, pois, pela
técnica, à reprodução ou simbolização do animal eleito, não
dependendo a escolha do modêlo, entre êles, de fatôres de-
terminantes tão singelos como a forma, o tamanho e a côr
• do objeto a confeccionar ou de sua similitude com o material
disponível.
Por isso inclino-me a acreditar que a representação ba-
traquiana na pedra possuía entr~ os Tapajó uma importân-
cia idêntica à que tinha na sua cerâmica e deve ser encarada
como f enômeno mais local, .embora não possamos excluir a
possibilidade de uma herança cultural remota pu da sobre-
vivência de uma tradição, não sabemos, até que ponto modi·
\
ficada e que se liga ao muiraquita. O significado dêste, ou
melhor o seu ·conceito, teria porém variado de tal modo no
espaço e no tempo que os Tapajó, à época da conquista, já
o utilizavam sob out~os ângulos e com finalidades diversas .
das que determinaram a fabricação, provàvelmente pela \

(47) - Von den Stefnen : - "Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, vol.
X L V II, p ágin a 175. ,
(48) - Ver "Uma aná lise . estilfstlca da. cerâmica d e Santarém" , por Frede-
r ico Bar~ta.. ' em " Cultura", 'vol. V, Ministério da. Educação, Rio.
1953. . ' ~

...
-
• .' ..
' '

248 REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VII.I


'
mesma cultura em outro estágio de desenvolvimento -ou me~
••
mo por µma civilização que nada tivesse de comum com
a sua. .
, -
\

* * * '

· Têm sido encontrados muirnquitãs, de nefrite ou mine- •


ral assemelhado, nos pontos mais diversos dq t erritório brã..
sileiro. Pelas referências e pelo volume dos achados parece
fora de dúvida que um grand,e ponto de irradiação se loca;.

lizou na Arnazônia, na região Tapajós-Trombetas.- ~·
' O aparecimento dêsses artefatos líticos em zonas diver-
sificadas, no Maranhão, no Ceará ou no Piauí, em Alagôas,
em. Pernambuco e ha Bahia, pode ser explicado mais satis-
fatóriamente como um resultado do enorme aprêço que, não ...
' - só entre as tribos indígenas como entre os civilizados, desd~ •
os· recua.dos tempos da conquista, lhes era dispensado. .
Sabe-se, com efeito, que chegou a haver um · regular
comércio de exportação para a Europa dessas .pedras traba- ' ,
lhadas pela mão do índio, que eraní procµradíssimas par-a
serem reduzidas a pó e ingeridas como remédio julgado in-
'
falível na cura de certos males. (49) /

E' claro que ainda que não ccnsideremós as · imensas


áreas de comércio das tribos indígenas entre si, muitos mui•
raquitãs devem ter sido conduzidos, assim. como e foram
para o estrangeiro e pelo rne.smo motivo, para pontos dis- •
tanciados do de sua Qrigem, no próprio território nacional,
sem que isso signifique que tenham qualquer relaçã9 com as
culturas peculiares ao local do achado fortuito e muito me-
n~ causas idênticas de apreço ou veneração.
''> •
Estou mesmo convencido· de que os maiores veículos
dessa distribuição foram os civilizados, o que muito düiculta
' o problema pela atribuição ào muiraquitã de significados
que nada têm a ver com aquãle que certamente lhe. emp.res~
taram os primitivos fabricantes. Para que se tenha uma •

idéia de corno ainda nos nossos dias se locomovem os mui:-


raquitãs, narrarei que em 1949 tive um em mãos, _em San-
tarém, Gomprádo por um negociante local a um caboclo de
'· Vila Franca. Pois em 1952 fui -encontrá-lo em Pôrto Velho,
em poder de um amigo que mo cedeu e já ·O tinha por sua
VEYJ; adquirido de um piloto em Belém. Outro, também' pro-
l

(f9) - Em P"r. João de ~. José : •Estas eãD u decanta-dai! pedr~verd9
_ . que em Fran~ se es~imam t&nto .. . ": . "parece aer a pedra que o
dr. João Curvo Semedo manda. apltce.r nu dores nephrlticas em
cima da. parte at'fecta., pois há gra.ndee experlênctu n'eBte, parti-
cular. Sã.o n otáveis e8t&s p e<}raa pua. aa hemorrhoidee tnflammadu,
e também em ottensa. de nervo•, provando bem no• eaturporee de- •
pole de tra.sidâs ao · meno• três aemány junto ao corpo ; e taDi-
. b6m Mfregandó com elu a boba. P08t& à banda, .
a c~re,l.ta. ... ' '. ' •

l ·• •

...-
' .•
,1 -
REVISTA DO MúSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII 24~

veniente de Vila Franca (Fig. a, Prancha IlI), e que é um


.· dos mais belos batraquiformes que até hoje vi, me foi ofe-
• recido ·à venda em Santarém em 1948. Perdi-o de vista du-
rante quatro anos e acabei reencontrando-o já no Rio de
Janeiro, para onde fôra levado por um intermediário com
o intuito de vendê-lo ào Museu Nacional.
Encontros esporádicos, de um ou outro muiraquitã,
passam portanto a ter uma -importância relativa até que ,
possamos estabelecer uma zona em que apareçam concen.;.
trados, indicando haver sido de fabricação ou inicial distri-
' ". buição e onde deveriam estar patentes os vestígios da signr;.
• •
ficação criginária e legítima do traço cultu-ral.

Há um ponto, todavia, que também não pode deixar de
•.. ser examinado atentamente pelo estudioso da questão. E'
1 ~. o de que nessa migração ou nêsse vai-e-vem incessante dos
r-- muiraquitãs, predominou sempre, caracterizando uma pre ..
ferência que é menos ao artefato em si mesmo do que à
l . '
sua côr, o estranho amor à pedra-verde, tão difundido entre
os primitivos de tôda a América e do mundo. Fabricavam
os Tapajó, como já vimos, objetos de outro& minerais, de co-
lorações as mais variadas e tambem chamados hoje de mui-
raquitãs, mas, entretanto, só os feitos d.e pedra-verde ou mi-
neral parecido com a nefrite foram alvo do interêsse evi-
denciado pela ampla dispersão que assinalamos, o que pa-
·rece indicai; que, mais-do que o objeto propriamente, era a
fedra-ver~e que possuía a fôrça de sedução.

Assim sendo, .para um estudo arqueológico, se quizer-


mos 'chegar a algum resultado mais positivo, talvez seja
indispensável considerar o muiraquitã separado da c·ôr do
, mineral em que tenha sido confeccionado. Explicando-nos
melhor, entendemos que o muiraquitã pode ser um traço
cultural mencs generalizado do que se tem pensado e cuja
razão de ser esteja na sua forma e no uso a que :se destinava.
A preferência do índio pelo verd.e poderia ser outro traço
cultural, levando-o a tra·b alhar o muiraquitã em pedra dessa
côr sempre que fôsse possível. Mas não imperativamente,
como o çlemcnstram os que se têm achado, com a forma ba-
traquiana e os furos característicos, feitos em pedras de
outros tipos e como se dypreende, igualmente, do fato de
ser comum o aparecimento em uma mesma região de tem-
b et :.\s e r.iachados tantc em pedras verdes como em outras, \
evidenciando do mesmo modo dois traços culturais que pare..
, . cem distintos: o do uso do tembetá ou do machado e o da
côr verde, como preferência, pcdendo ambos aparecer em
ligação como ocorre cóm os muiraquitãs, mas não obrigatô-
riamente.'
l ... • •


. .
250 REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII • • •

O conceito d~ ~eparabllidade entre o material empre- ·


gado - a pedra verde - e o múiraquitã, até aqui predomi-
nante, tem a meu ver complicado o problema, concorrenQ.o,:
possivelmente, para a importância exagerada que . se tem
dado ao objeto, reputando-o men~s local e de nível superior
e incompatível com os demais €lementos conhecidos da cul-
tura material e espiritual das tribos na Amazônia.
Feito êsse reparo passaremos agora a examinar um outro
aspecto sempre pôst9 .em f o:co na discussão do problemà dos
muiraquitãs e que díz-· r·espeito à maneira pela qual · se
usariam.
1

Nimuendajú avento~ a possibilidade de que os batta-


quüormes se ostentassem na testa, baseando-se nos desgas-
tes apresentados pelos furos laterais os quais lhe pareceram
causados pelo cordel que funcionaria, assim, perpendicular
ao eixo da peça. (50) E' uma hipótese difícil de aceitar.
~sses desgastes não devem ter a mínima ~igação com o uso,
fôsse na testa ou como peitoral. Devem êles ter sido feitos
por ocasião da fabricação, pois não se pode conceber que
cordéis de suspensão, de algodão ou fibras vegetais, pudessem
produzir tais marcas, às vezes bem profundas e nítidas, so-
mente pela fricçã9 do uso, em pedras da dureza das jadeítes
ou nefrites. Tentando-se arra,nhar um dêsses muiraquitãs
com um instrulh·ento de ferro, verifica-se que mesmo empre-
gando bastante fôrça não se logra riscar a superfície. Odes-
gaste, assim, deve ter sidó anterior ao uso e conseqüência da
própria técnica de confecção. ,
Argumento desfavorável ao uso na testa é ainda a exis- .
tência de muiraquitãs_batraquüormes enormes, como o apre-
sentado nas Pranchas X e XI, que .estando incompleto pesa
300 gramas e tem o mesmo ~istema de dupla perfuração, in-
visível pela frente. Não se pode acreditar que objeto tão gran-
de e pesado fôsse destinado à fronte, como um diad€ma.
Aliás, a observação de Nimuendajú de que o desgaste in-
dica a posição do fio em sentido transversal, longe de provar
o uso na testa mais parece afastá-lo, de tal modo incômodo
seria para o índio ter êsse fio calcando a epiderme, uma .
vez que se punha de permeio entre esta e o muiraquitã. 1
E, além disso, para a suspensãq peitoral a colocação do fio
seria do mesmo modo em sentido transversal. Tudo indica
que o uso do muiraquitã fôsse, como é, comum para os or-
natos semelhantes: pendente do pescoço, sôbre o peito·, como
entr.e os Uaupés e os Maués o "cherembetá", de acôrdo com

..
(50) - Carta de ·N imuendaj'Ct a ~enry Wassén, citada. em "The Frog-MO·
tive Among the . South Amerlcan lndla.ns' •, Anthropos, Tomo XXIX,
Wlen. 1934., plí.g1na. 341.

1
REVISTA DO •MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII 251

os depoimentos de Barbosa Rodrigues, Ladislau Neto e


Wallace.
Eurico Fernandes colheu, porém, uma versão curiosa
entre os Pariukur. Na aldeia do rio Arukuá puviu de um
índio que adquirira no convívio com os francêses o nome
de Anaise, filho do chefe aruak "Capitão Russô", a infor-
mação de qu:e seu pai usava o "tukurauá" pendurado no
nariz e foi enterrado do lado francês juntamente com êsse
objeto.
N.ão podemos, pois, escapar a algumas dúvidas que per-
durarão por tnuito tempo não só sôbre êsse como sôbre
outros pontos. Em compensação, porém, certas questões
até pouco tempo ventiladas como misteriosas e para as
quais se procuravam as mais fantásticas soluções, já se apre-
sentam claras e pelo menos situadas nos limites do próprio
meio cultural indígena. Uma delas é a da manufatura dos
muiraquitãs.
Porque os índios da Amazônia não conheciam os metais
e nem os utilizavam houve necessidade de explicar de algum '

modo, fôsse o mais inverossímil, o fato de possuir em arte-


f a tos líticos admiràvelmente polidos e ·esculpidos em pedras
de grande dureza, que chegavam a ter perfurações delicadas \

de até sete centímetros de extensão.


Aos que primeiro se ocuparam do assunto, como é na-
tural, ignorado ainda o desenvolvimento artístico e técnico
de algumas culturas indígenas amazônicas, tornava-se inad-
., missível que pudessem ter sido fabricados normalmente por
indivíduos d esprovidos de qualquer instrumento de ferro.
1

E buscavam então apoio nas crendices populares e nas maiS


engenhosas fantasias para justificar o seu aparecimento. É
assim que os atônitos cronistas e missionários do tempo da •
conquista, à falta d·e uma explicação viável para o fenômeno, •
ch·egavam a aceitar que os muiraquitãs fôssem feitos de um
barro mole que endurecia ao ar ou pela ação· do fogo, en-
quanto outros se ~ontentavam em divulgar as lendas que os
davam como confeccionados pelas amazonas para recom-
pensarem aos amantes com quem conviviam uma vez por
ano, lendas de amor das lendárias mulheres guerreiras às
quais não faltava nunca a poesia de um luar iluminando as
margens do lago "Espelho da lua" quando das festas que
dedicavam à mãe do muiraquitã. '
I
· ~sses, como já dissemos, eram os que não criam fôssem
os índios capazes de dar forma às pedras e perfurá-las sem
instrumentos metálicos e apropriados.
Desde qúe se propagou a obra de Barbosa Rodrigues,
porém, e durante inuitos anos, nova corrente -filiou-se àque-
la: a dos que rec11_savam às culturas amazônicas a paterni..
'
' - -
-
252 REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. ' VIII

dade dos muiraquitãs não porqu·e -fôssem incapazes de ma-_


nufaturá-los mas porque afirmavam não existirem na região.
jazidas do mineral de que eram feitos, tido como jade e de
proveniência da Asia.
GonçalveS:· Dias, um pouco antes, em 1855; aventara
também uma _hipótese qúe, como é óbvio, não logrou resso-
nância, segundo a qual teriam sido os Tupinambá os pos-
suidores das pedras-verdes, 'trazendo-as para a Amaoonia.
.- ~
quando da sua grande migração para o norte fugindo às ,

\
perseguições decorrentes da chegada dos europeus ao lito·
' ral sulino. (51)
A teoria de Barbosa Rodrigwes, apesar de vivamente ~ '
;
combatida por Ladislau Netto e Sílvio Romero (52), logrou
conquistar inúmeros adeptos que viam na sua coincidência - '
,,
com as idéia-s do professor Heinrich Fischer, de Freiburg, sô-
bre a dispersão do jade -(53), uma prova de validade. '

Meyer e Vir~how, porém, no 7.° Congresso Internacional
, de Americanistas, de 1888, em BetliI_n, deixaram evidente .._ _ ,,_

desde logo a improcedência do alegadõ quanto à fonte única "


do mineral, demonstrand·o a sua existência em muitas outras •
- -!'~giões e invalidando po_i;tanto ª~ base em que repousava ; -
.: tôda a bem urdida construção. _-
Perdurava, contudo, em nosso país, como ainda hoje, a
ausência de qualquer localização indiscutivelmente estabe- -
lecida de jazidas de pedra verde, nefrite ou jadeíte. . ..
Presentem·ente, todavia, já ninguém tem dúvidas de -
\ que o minério deve existir em algurp lugar ainda não iden-
tificado da Amazônia e em outros pontos do Brasil, como
previra Ladislau Netto com admirável intuição.
. .
Peld menos três indicações conhecemo8 a respeito. A '
I

primeira dão-nos Damour e Fischer (54) quando nos reve-


lam a existência nos Museus de Bonn e Halle de duas me;:- -
tades de um bloco de "jade nephrite" que devia pesar inteiro
de 5 a 6 quilos, no estado de galet, de bordos arredondados,
de côr verde olivâtre e com a proveniência designada co1no
sendo do rio Topayos (Brésil), infelizmente seguida de uma , -
.
interrogação·: ou de Chine? que os autores referidos con-
sideram com justeza como vraiment regr.ettable. De qual-
,,,

.
.....-
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.
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,._·~
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.:
.-
(51) - Gonçalvez D ias. "Amazonas". Revist a do Instituto H istórico e Geo-
gráfico do Brasil, 3.• série, n.o 17, 1.o trimestre de 1855. P ágin a 66;
(õ2) - Ladisla o Netto. " Sur la n éphrit e et la jadéit e". A na,les du 7e. Con- •
gr ês Internation al d es A m éricanist es. Berlim, 1890, pág. 20.
- Silvio Romero.- "Barbosa Rodrigues e a ques t ão da p edra .
n eph rite", em "Ehnographia Brasileira.", Rio, 1888. Págin as 65 a 83. '

- (53) - Henrich Fischer. "Nephrit u n d .Ja deit etc." Stuttgart, 1880. - Id.
1Ie ber die 1nineralogisçh -archl:íologlschen B eziehungen zwischen Azien,
Europa und America" . "Neues Jahrbuc h tilr Mineralog ie etc., 1881.
...
~
·-: ' '
,,~

.-
'..

(M) - D a mour e t Fisch er . "Notice s u r la à ist rib ution géog:raphique des


haches et a utres obJets préhlst oriques en jade, néf hrite e t en Ja dei-
t e" . Em Révue Archéologique de Fra n ce. Paris, .JuHlet, 1878.


• •
.... •
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'

FREDERT<:t) BARA'f A Fig. 1 .

..•

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•• 1

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FIG. 1 - 1\Iulraqultii b~'t traqui n n o, c rn nc•fdtc \'erde c lar::t, cnl infcio de con-
fecGão. V is t o em duas pos ições. Não t e nl ai n ela os f ur os de suspen são, nem foi
polido. Na pa rte inferio r un1a incisão nla r ca o centro d e onde iriam partir as
linhas fortnadora s das pernas da rã. Os o lhos t ambém nem seque r foram loca-
lizados. Encontrado à n1argem direit a do rio Curuá, no 1nunicfpl o d e Alenquer.
Comprimento: 40 mm.; maior largura: 2:; 111111.; espessura: í mnl. (Proprieda-
d e do ge6logo Fritz Ackermann, e n1 Bc lénl) (•)

(•) - Que r no t c xtü gera l. que r n a IH'C'SCnte d escrição <las pranchas, o au-
tor emprega, a. d esig nação .itult•lt•· o u n(•l'rit•• pa 1·a ai:i 1u~draH-verdes
s e m que isso r e presente o r csult:ld O tlc un1 e xarne mincral óg·íco que não foi
possfve l faze r c n1 Bclén1 e q ue, a lé rn clis.~o . cxig-iri a 1nutílação das peças. P e la.
n1esn1a r a zão as "contas" dos Tapa jú são tan1bé m descritas apen as pela cõr·
e aparênc ia dos tnine r:lis d ive r sos cn1 que• foran1 confeccionadas.
A m a ioria das peças acha -se fort en1cntc a1npli afla, n a~ fotografias, para
p ern1itir u ma viRilO d et a lhada da fo r n1a <' as que niio t Pnl ind ica ção especifi-
cada d a p1·o p riedade pert encênl i1 <'Ol<'l;iin do aut or.
FIG. 2 - "Gontas" inacabadas dos Tapa jó, f}Jn dife re ntes etapas ele con-
fecção P. t l\clas pr9vP.niP.nt P.s dP. ~ant.arem:
a) - Pedra cinza, c la ra , apenas desbastada n1as evide ncia n do n itidamente
que a forma ia ser batraquiana. Comprime nto : 1!; mn1.
b) Pedra :cinzento-esverdeada, já alisada, mas de forma a inda indefinida
Con1 pr~ent<> : 18 mn1.
c) - P edra .amarelo-esverdeada, de nunciando t a mbé rn uma futura forma. ba-
traquia·rrn . ô local da perfuração, fronta l, a c ha-se apenas ind icado e n1
uma. e · o utra face. de notando que ia ser adot ado o processo d e duas
operações. Compri me nto: 1~ mn1.
d) P edra 1 ~ma\Jelo-esverd eada, de forma circular e a inda n ão a lisada. A
J.}erfura~ Já se acha con clufda, pelo processo de duas operações, isto
é 1 faze~do ·urn furo de cada lado, na rnesma direção, para se e n-
contra te'm ao centro, onde o oriffcio fica mais estreito. Diâmetro: 6 mn1.
e) - '' Conta ;:: possivelmente batraquiforme, a pen as iniciada. O a lisam ento
da pedra. de cõr cinza-escura, foi co1neçado só de um lado. Compri-
n1e nto: : 30 mm.
f), g) e h) __::_; Três "contas", também posslvelmente ba traquiformes, en1 inl-
cio de confecção. Pedras cinzento-amareladas foram utilizadas par.a. as
duas prin1eiras e cinzento-escura para a últirna. Cornprimento: 25 mm.,
27 rnm. e :~4 mm.
l"Hl ·:l) I·: n 1C() BA H A' I' A l~ 1' tt

2.

F TU. :~ - Co lar ro rn rn <lo ('0 111 :?o "conta»" <' ilín clricas elos T apaj6, d e
niin er :ii s d i v er sos e f o rni as e tarnanh os tnn1bé1n lli\'l'rsifica<los. N enh111na. é
el e n cfr·i t e e l' m bo ra p r ov<'n lw 111 tücl n s <i•' :-;a n tar<'· ni f o rrtn 1 col cta cla s e1n pon-
t os vari a dos e. a p 0n a s p:1 ra u1na <'X <'n1 p i i f'i <·:1<.;iio clu nio clo pclo Q u a 1 <:'r a m u sn-
<1:1 s. <'nfiaran1-s<' nun1 ('Ol"<l Pl fornrancio o C"olar ac-inia 1·cprocl 11zido. ( o l. <lo
n 11 tor ).
l"llEl)l~H lC<> 13.t\l{ ,\ 'fA.

F I G. ·l - Desenho r ep rod uz i n do un1a "con ta" t apajõnica con1 a f orn1a ele


unia t a rtaruga c n1 c uja carapaça se vêrn, i n cisos, os " q uadrados en cai x ados"
que n a orn a nien tação geon1et r i ca ela cc1·ân1 i ca rcpr c:;cnta1n t an1 b érn o quclô-
ni o ~1ni can1ente pela util ização clêsse det a lhe carac t cd:s t ico. ( Col. C. Lieb o l d .
Santa r én1) .

J
Fig. 4

~
{§( @\ \§,\
" §J Cill \§)
f .,,. ,' l ~ / 1

· : ..

.:"i O 'I' A .J «.

D esenho eh• tu·na c n cont1·a da no ccn1it6l'i6 <k \ "ila \"elha, T crri t 0 1·io li'e-
<Jcral d o A 1na.1nL
D esenhos de quatro cio:; :;etc nn1i 1·:1quitüs encontrados n o interior eh.~ 11r-
ll:t.•

' . \ .
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}' HEI> J ~ H J CO DAl{I\ 'fA .:\o la ·16.

----- ------- .......


---- ---------------------
---------------------·-·--------------- -~ .

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a) Sí•tTinha líti<:u, co n1 1:! tlcntl'!.;. C'n<·o 11t.ralla c111 Santaré 1n por Robert
Drown. l'cdra 1nuito <lnnt e <:ôr cinza-esc 111·a. Coniprini cnto: :! · n1n1.;
largunt: 1!l 111111.: cspessunt niaior: .J n ini.
b) - ~crrinha lítica, con1 1 3 dentes. en cont1·acla pelo autor numa exca vação
n a .\l<lcia, en1 Sant a r én1. P e<l r <t C<U:'tan ho-a,·C'rn iel h ada escura , ben1
polida e de apreciáYel d ureza . Con1p1·in1ento: 18 111111.; altura: 16 n1n1.;
t'HPCSSUl'a n1aior: :{ n1n1.
c) - Scr l"inha lítica coni clentes en1 dois h1 clos. provenien t e da praia da Ca i ei -
ra, c n1 !::iantarern, o nd e fói eol ct acla pelo autor. l'ccl r a ciu1·a, ele côr cinza
bt'nl escura . Con1prim cnto : 3 ' 111111.; l a r g ura: :.!:i n1111.; espessura máxin1a:
(j llllll.
d) - l 'cdr:t llC afi a r pontas ele in stnunentos e p osslve ln1ente t a n1bém para
ali,.;a1· as "contas"'. Côr c inza- escun1. P1·ovt' ni{·n(' ia: !'raia cht Cai c i -
r u , Bant a r é n1. Comprin1c nto : JO c 1ns. ; g·r·os:sur'-1: :!,:> c 1ns.

. ..
J>r an~ lta l

d
l'cdras de poli r . a r en osas , con 1 su l C'os proCun dus l'l'su l t :i ntcs du u so p ara afi -
r,ar as p ontas elos instru n w ntos d e tra b al h o e elas Clcxas ou. vo::;si\"ch11cntc, J>a ra
a li:;a1· as " contas" c ilíndricas ·
u) - P1·ovc n iên cia : Santa r é' n1, _\I d e ia. Con1p 1·i11 1c nto : fi2 111 111 .
l>) - I'ro ' e nil'1 n e iu : P rai a d t~ Ca ic ira, Santa r é 111 . Co111pri111 c 11tu : 00 111111.
e ) - l'ro \·c ni0 nc iu : l' r <ti a d <.t Cai d r a, !:ia nta r 6 111. Co111pri111 c nlv; tiO 111111.
P :-:::1r ha It

e
I

)íuiraquitãs l eg-íti1T1os. ele for111a b a t raquia n a e <'01n os furos duplos C'arac-


t c·risti<'os na f ac-\''! t> OSt <'lri o r:
a) - .'JC'f1·i t c , ·cnlc c lara, con1 Yeios a n1a 1·cl ados. 1~1·0,·c n i"·ncia: L ngo ele \'i -
la Fn1nca . Con1prin1 ento : :) 4 111111.; largura: <IX 1n1H.; cspcsssu ra nHlior:
li n1 1n.
h) .'\/cfr i t c Yer dc cscur ::i con1 algu rnas n1a n c i1ns Jigcin1mcntc 111ais clar::u=;.
l ' t'OY"ni (•n c i a s upost a : Ja munclú. A ltura : ·I ~ 111n1. : 1<u·gu1·a. n1a i o 1·: 40
1nn1. (Col . ~iu scn Go~ldi. BP.lfSn1. Pa1·r1 ).
e) - .\lcfrit · ,·erdc- c l ara tr·anslúc i da . con1 as bord<1s qu ein1ndas p ela a~ão
<lo fogo. T'roYcn i(!n c i a : r ei;i ão do L ago <li.! \' il :l F r a n ca. Co111pri111 ento :
·H 111 111.: rnaior l a r g-nra : ;{fl nini.: espessura n11íxi111n. : 10 n11n.
d) - Nefrite \'Cnl e-p:ili cln, corn a lg-unHlS n1:1nc has tna iH escuras. L ocal elo
nc-ha cl o : Pn rinti n s, J-\ n1azo n as, n 11n1a "ª 1:1, <lo Ct'n1itéri o públi co l ocal.
<..:0111p1·i n1c nto : (ii'> rnrn.; 1ni-1 io r· l a r g u r a : 40 n11n. ( L'1·o p1·i é d ~dl c d:l profes-
sor a A l xir:1 (J u ê iro:t. Sawni c 1-. l'n ri ntins.)
Prnn chn 111

a
b

e d
f

"Contas" tapn.1iinic:=i s hntraq11iforn1es. conh ecida s tan1hf\m como m11iraq11ltit:11,


mas confeccionadas em outros n1inerais que não n el'.rite e com u n1 só furo de s us-
pensão, t rnnsvcrsal ou f ronta 1 :
. a) - P edra esverdeada. Ornatos fina e firn1 cmente gravados. Revelando.
como certas peças da cerâmica dos Tapajó. un1 pronunciado nnt1·0-
pozoomorfismo que faz com que a rli., vista de face con10 na gravura..
se a presente conto uma. figura huma na. Proveniência: Santar~m. Com -
ptin1ento: 24 mm.: espessura 1nalor: 7 1nm.
b) - Pedra cinzento-clara, com a parência de esteatite mas b astante dura.
Proveniência: L ago de ' i lia Fra nca. Comprimento: 50 mm. ; maior lar-
g ura: :l4 mm.: espessura ml'í.xlma: ~mm.
c) - Pedra cinza -esverdeada. P roveniên cia: Santarém. Comprimento : 20 tnrn.;
rn::iior largura: 11 mn1.; espessura máxin1a: 6 n1m .
d) - P edra escura, lisa e quase preta. Proveniê ncia: Santaré1n . Cornpri-
n1ento: :!i n1n1.; rnu ior largura: :.?1 m1n.; espessura 1nflxin1a: 'i nir11.
Biblioteca Digital Curt Nimuendajú - Coleção Nicolai
www.etnolinguistica.org

P rancha J\'

e
"Contas" de colai· dos Tu.pajó . de cst i liz:t~~°Lo b n t1·aquiu.na:
a) - Pedra. n1arro n escu ra, ben1 polida e n1oclelada con1 es1nê 1·0. Furo de
suspen são tran sver so, b ast a nte fino, soh os olhos do n ninrnl. Pro-
Yeniên cia : Santu r éni. Con1pl'irnento: ~10 n1n1. ; n1aior larg ura: 2:~ 1nn1. ;
espessura: !I nun.
b) - Pedra escura, prêt o-es, ·er deada, ben1 poli da . Orifíc io <l c su spen são
fronta l. P1·ov eniên cia : Santa r én1 . Con1pl'irnento : 20 1nn1. ; n1aior lar-
gura: R n1n1. : espessu r a n1>í xin1a: ri 111ni.
c ) - P edra ci n za-cl a r a, l evernente esve1·deacla. Odfício de suspen são fron-
t al. A s peças ba t raquiforn1es ( n1es1no as de j acleite) são en1 geral
tra balhada s apen as nun1a face, a a n t el'io 1-. sendo a postel'ior comp l e-
t an1en t e lisa. Nesta, por ex cepc:ão, as incisões se repet em atrás. n1ar-
C'ando a ca b eça e as pernas d a rã. r'rO\'Cniéncia: Sa ntarén1. Con1pri -
n1ento: 22 ITil11.; 111aiOr largUnt: l !"i 111 111. ; esp essura máxin1n.: a IT1111.
tl) - Pf'd r a Cl'!Cura, qua se p r êt a. e poli da. P1·0,·eniên c ia: Sant a.rén1. Con11H'i-
nH'11to: ~·I 111111 . ; n1:1ior l :..l.r g ura: 7 111111.; <.:spessura 1náxin1a: .J. 1n 1n .

'
Fn l ·: D J ~ H 1C<) H.\ n ,\ 'l'A Pran c h a V


"Conta s " ele <'Ola r d e estilização bat raq u iforn1e. elos T apajó:
n ) - - P;i rtc i n f c rio1· d o cor po d e uma 1·à. n 1H g n i fi can1ent\! trn b n l ha ela, e 1n
Pt'dra <'iní'.a -C'svcrd e;tcla, c l <:t 1·a . F a lta a cab eça. seccio n ;.Cl:L ao que tudo
i nllic :i qun ndo f e ita a p e rfuraGàO. l·:stiL está. vi sív el. na IX Lrtc que -
hrada. d eixand o p er cebei· con1 nitidc " o p1·ocesso t écni co u s~~Hl o comu-
rn c nt<' \' (I li <' con s i sti a e n1 iniC' i a r 11111 f uru el e c1;1<l11 l<Hl o d a p c::n tJ >t nt
q Ut' os e:: na i:-; r csyccth o~ . ci:; tr<'i t Hn clo-!'le, se en con tn1s~e n1 H o centro .
P 1·0, ·C'ni t•n('i a: :-;n n t:1 r én1 . Largur;i: 17 111111 . : es!)essun1 n 1:'.txini:1: 10 1n n1.
h) - P~dr:t (':-;bra nqui c;ada , ti po cs t ea tite, co11 1 a l gun1 as n 1an chns n1:ti s es-
curas. l<' u ro t ra n !'< , ·e1·sal. Proccd(:n citt: Sa nta r é rn . Con1 p ri n1cnto : ;{~ n1n1.
(Col<'::ào <1 1·. t:<'ra ldo Con·f.a . E>n1 l1f' l? n1) .
e) P edra. c i nza-esYcr dea d a escu ra . b c n1 polida. Não possu i furo a lgun1
<le s uspen süo e a pen as te n1 na p a rte s u perio 1· um enta l h e o u es-
t ra n g ul a n1<;nto q u e fo n na u cab cca ao Qu a l se a t a Ya o <'Orde l. P1·0 -
('t'Õ0n <'i a: Sa nta r é n1. o n1pl"irncnto: :!2 111111. ; esp essura 111n io r : r; 111111.
d) - Pedra n <'g-rn , t •ô 1· 1l c a óe \·ic- h c . p o li da . Furo frontal. l'rovc nit:n c in:
Santarén1. Con1prin1cnto : 17 111111. ; ~sµcs::: ura n1a io r: .J 111111.

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Pra nc h a VI

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J:;stiliz;.1.:;õcs b<1tr:iquiC0 rn 1cs , c xtn·11ia11a·nt..:: s i 1np l ifi ca d a:oi, <·n1 " <.:unta s" de
col ar cloi:- 'rrtl>a i"• :
a) - Pedra (!e <' ÔI' c inza, t endendo para o escuro. P e rfunu;ão f r o ntal. P1·0-
v eni én c ia : !-:iunta 1·én1 . Co111 p1·in1 ento: J~ 111111. ; n1aio1· largura: 7 111111.;
(.'i-;pessura: -1 Jlll1l.
b ) - Pedra <'l u r a, t ipo estcat itc. F uro t rani:-,·er sa l. Pro\' ' n ii·n c i a: Santa -
r é111. C ot11prin1cnto: 19 11 1111.; nutior lar·g ura : 7 1nn1.; esp essura 111á xi-
n 1a: G 111111.
e) - Pedra c i n zit -cla r a , par c ial e l e\'cn1cnte a rnarelada. Fu ro t r a n S\'Crsa l.
.Procedên c i a: Santarén1 . Con1pri111c nto : l!l 111111.; n1aio r l a r g ura: U mrn. ;
espesurà 1náxima: 7 111111 .
d) - Pedra c l ;u·a , ti po est eatite. Furo tra n sver sal. Pro,·en iên cia: Santa -
r é n1. Corn prirnc nto: 11> 111111. ; n1u i o r l argura : l) 111111.; espessura: 4
11111l.
e) - Pccl r·a c l Hra , tip o est eatite . co1n n1anc ha s li gcira niente a111a.rcl adas. Fu-
r o tranl'!v c rRal. f>r occdên c i H : Sa nt:t r é rn. Cornprini ento: l 8 111111.; 1na io r
l a rgurtt: IJ 111111.; espessura: ::; n1111.
e

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"( '0 11t ;: s .. t :1 pn j ó ni<';1s 1h- l'stiliz:11;:io b;iln1qu ifo1·111c· :


a) - l '\•dr:i <·s,·c n l<'a d:1, cla 1·a o.: dunt. l'(•rfu:-:H;fio l r :111s \' <•r s; tl, 1·:1ra1·l1' 1'Ís-
t ir·: 1, Pstro.: ita <ln ao <.:entro. l 'ro,·cnii·n<'ia.: SH ntce r é nl. Con1pri 11 11·11to: :!:)
n1111.: l:1 r g 11n1 : (i n111 1. ; esl)('ssura n 1aio1· : .i 111111.
l>J - l 't•<l1·;i aei nzc ntacl:1, b c rn p o lida. l'c 1·fun1<;i'io dup l <l l:itc r:d. asst' 111c lh:t -
11" ~' do:-; n111irnc111 i tã s de j a d ci t c nias •>l>ti da c·on 1 l t'cni ca diü·1·t•ntc .
1111.• dia n tc a fcitunt de unr 1·\·g·o n a parte infel'io1· da <'a b c<.;tl para n êl c
d cs •1Hhoca 1·e n1 o s furos. Pro , ·c niê n c ia: ~an laré 11 1. Con1prin1c ntu : " "
11 1111.; IHr g-u1·a. 11 1aio1·: J nllll.
<') - P ed r a c inzenta. e:'lc u 1·a e f Oscn. P erfu1«1 1,(iiu trans,· ' r·sa l ao ni\·(' f <los
o lh o~;. Proced ê n c i a : Sant;;1r é n1. Cornpl'i 111c nto: ~;) n1n1. ; n1a i o 1· l u rgura:
17 ll1tll.
d) - l '1•d r;1 an1a r e lo-C's\' t'r<lca tl:1. ( ' l) lll o furo fronta l ;11 )1•1111 s con1r-t.;a do . in-
tli(.'an <l o o inít: io d t• cu nfc<: <;iio d o.; u111:t 1>1.:<.;a idi' nti('a ;\ tl ;1, fig. a) da
p 1·:11t<: ha :1nt<·1·ior. l ' r o<·ed i·n t·i a : S; • n t ·u·<'.' 111. '0111p1·i 1111·nlo : 1:; 111111.
FH E I) EH 1C() B.\H .\ 'J',\ Pranc ha \'I II

-.
"Contn s" t a pa _ióni c:us bat ra quifo n Hl'.S f ab•·ic<Hlas (·uni o 11 1cs111u barr o da. cc -
1á.11 1ka llpka:
a) o b ) - 1\ n 1cs n1u rã. vista c n1 duas posiçõc1:;. B arro b c111 cozido e pcrfu-
r aÇão t ntns,·c1·sal n a linha divi sóri a da ca b c1,;tt e do corpo do ani 111al.
I'rocc d~n cia : Santarl'rn. Con1prin1cnto: ·l f\ n 1111.
c) l 'cça c n1 ba rTo de cozirncnto infcr·ior e rú sti ca n o acaba.n1cnto . Pro-
v eniên cia.: Santarén1. Con1µrin1cnto: ~ :! nHn.
d) - P eça c~c cxpl endiclo acab a n1 ento, p odcn i 1u ser classific ada , pelo óti-
1no co zltn cnto do barro e p el a t écnica, ao nl\'cl da nielho r cer á rni ca
tapujõni ca. T en1 a trás a r c prcscnta GàO do orific i o a n a l que é co1nun1
n a ornan1ent aGào ba traquia n a dos vasos 111as nunca foi obser·vada na
arte lit ica. .Furo tr<.Lns versai l oi;o ac i ln a tht 1i n l1:t do pc::;co\;O. Procc-
d~n c i a. : San tarén1. Con1prin1 c11lo : :fü 111111.; 111a i 0r l:.u·g-ura: :!l n1n1.
2
l.' Hl ~ JJ E H 1C:C ) H.\H .\ 'f ,\

d
e
O 111ai o r m11iraq11it :1 ba t1·:1q11 i fo r 111 .. .i~t \· tw11nlr:1do n a n·~1 a o Hll 1a ;r.o ni\· a :
a. ) - l '\·<l n t <· inr.a - c l ;11·: 1 h~ ,· l· n 1 e n t c :1n1an.: l;id11 . con1 p(•q11en :1:-> · 11 1a n c h as 111His
esc uras <' ni t ô d :t :t s u p erfí<" i C. .\ p an3n c i a d1 · gTa ni t.d. B c n1 po -
Ji d;~ e el e acabH tn ' n to csn1 crad o . lJuc l>r a d a , f::-tl l a- lhc o lado inferi o r
direito . Os f uros d e su1>1.:n stto, cl u n l os e la t<.:n• i s. c ·u·:•ct cr;st ico s d as
n1s de j adc i t c, si tu a 1n-se n t rás e n tto stto Yi s ív c i s p el u frl'n t c d a. peça .
Pro ,·en iê nc i a: D c l t '1T a . Con1p r i1nento : JO::í 11 1111. ; n1a i o 1· esp essu r a: ~;;
lll lll.
? _Jl_;
-
FnI~ Dl ~ H r c o B.\ IL\ 'l'A Pranc ha ..\.

n) - :\ n1('s nia P<'Ga batr:lqui f orn1c d a P1·a11<"h:t X. \'is t a c n1 o utra p os1ça o ,


ele co.<:tu s. p a r a n10.<:t1·:_11· a rli.<:posi<:à o dos f\ll'•)s <:ant <'t•~ l'i s ti cos dos m11i-
rac111ltil~ df' lndci t <'.

'
FBT~ DEHI C() B.\HA'I',\ Prnn r ha XI


"Con ta:.". antrO!JOn1orfa s dos T npn_iú:
H) e b) K <'prcscn tac.;ã o lítica <1ue l en1bra ;tl~un1as fi g urin has ou i<lolitos
tla ('Crá n1i c:i , \· bit a c 1n duns posi<.;ôc s. I' ' ci ra e la nl, <·on1 apar~·n C' ia <le
es t<"·1titc, n1af; ele 1·c gu la r <lun'zn. T c n1 c m ,·0Jt:1 do ocsco ;o uni co ':1r
1101·1'c i t n 111c ntc n1a r<·: ~do e os dois seios. n o busto. in<lic:tn1 ser c!o sf'xo
f1;1ninino. Com fu r o::; ra sos na c :i bcç:1 e na base, corn o çon1 urn •' 11t<' ocor -
n· n a s r cpr c sc ntac;õC's iclênti<·as c 1n barro. O f uro lh' suspc nsu o (' t1·an ~ ­
,·<·1·s;i I, ao nh·t,;1 d os OU\'idos. Pro vcni ên C"ia: ~a nta1·(•111. Con1p1·in1<-nto: :!I
n11n. ( Col. Dr'. <: 1'n1 Ido Cor Ti· a. en1 B c 1tsn1).
<·) - l•:st iliz:1 c;fi o 1le ('a r a hun1an:i. o u 1náscan1. J>c<11·:1 c;inz1' nl<1 CS('t1r:1, p{)-
1icl:1. O fu r o th• suspen são (• n a. fr e nt •. tra.n s1' \'rs:1 I, no l ui.;·a r tlo,.;
u i heis. 1'1·0Yc n ii·nc i:i : Se1 nt H ré111. Co mpri n1 •nto: :{O 111111.
d) - Cabco..;a a ntropo 111 or f a. c ni p <.:<11·<1 a 1n:1 r c l o-quci11'1;ttla. quai'lC na <'li1· h:1-
bitua l <l<l C'C ránii c:1. Fu1·0 <lt' suspensão li ansvc rsal ao ní,·e l 1l:l l\' st:1.
f'l'O\'t•ni\•ncia: S<1n t nr·én1. Con1prin1ento . ·>·> 111111. ; 111aio r l:tr;.:-ura: li
IHl11 .: (' SPPSSlll'a ni:í xiina : 11 111111.
P) - l•:sti lizac;:io d e ca r·a hun1 a n:1 o u n1á8t:1r:i. d o tipo n•pro1luzillo :l Ci g-.
<· l tl\•st:1 n1(•s111a pn1 n c h:1. I• u1·0 <l c ~uH 1 H·ns:·10 i:,- u :1l n1<•nh• n o l 11 •.:-:11· 110~
o ll 1os f'Pcl r u :tl1Hl l'(' i :1el<1, ('l:tn1 1' p o lid :o. l 'r0 \'1: nii-n (·i 11: ~~1 nt:1 n ' n 1. C 1.11n -
pri 11 11:nt11 : l ·I llllll.: n1aior l :u·g-ura: 7 11ll11 .


2 .{,
F HEI )EH ICO íl,-\RATA Prancha XII

a
b

e
'' Contas ' ' t a pajô nica s zoo111orías:
a ) - ·E stiliza<;ão d e um tuc a no . P edra c l a r a e d <' 8t' ns h·el d ur<'za . com a p ~1 -
r ência n1Rn nór ea . Ben1 p o li da . O o ri fic i o ele suspen são f i ca n o lug ar
elos o lho8. PrO\'f'niên c i a : ::>n ntaré 1n. Co n 1pri n1c nto : :{() 11111 1.
b) - IO:sti l i u t<;à o a in da 111a i ::; s i111plific a ch1 d o n1<'sn10 anirnn 1 (tuc ano ). Pe-
dra idi·ntic a à antc l'i o r. ( > f u r o de• :-;u s pen silo fica. s itu<1 d o na. l)ttrtc
inferior-. l'ro \· en iên ci a. : S ~1 ntaré n1. Con 1p rin1 •n t o : 20 111111. ; CSPCSSttr·a :
;{ n1111.
c) 1.;i:;tiliznc;üo ind e finid a d e 11111 a n i n 1n l q u e l e11 1bn1. o qu ' a pa1·cc<' co-
1nu n1entc n a borda d e c e rt os pra t os lip icos d :1, cer f1.111i c<t elos 'l'ap:ijó .
Ped r a c in zenta. b <'n1 esc un1. e sal pic :H l a. d e d in linutos po ntos aniu 1·l: l a -
dos. O íuro d e s us p en são é nlti da 11 1ente f eito pelo p r oce:-;so d e d uas
op e r a<;õcs . partindo d e cada f a ce e c n con i 1·a ndo-sc a o centro o nde
o ca n a l se afuni l a . P r ovt:niên ci a : 8<1 ntaré111. Co111prin1C'n t o : 28 mrn .
d) - l'.;stil i zaçã.o d e um qua drúpede, p 0ssi\·c ln1c ntc pa ca o u co ti a . P cd r·a.
d e c ôr c inza csc111·a . Furo d e sus pc n sõv t rn n :-; ,·er sa l. n a C<-tb C'Gic do
a nirna l. Pro v eni ên c i ;-t : Sa ntaré n1. Con1pri1n c nlo : :{O n 1ni. (Co l. d1-. Ge-
r a l d o Corrêa , c n1 H e l é n1 ) .
21~
Pranc ha XIl i

,
"Contns" t apa jôn i<'HS zoomo r fns:
a) - I•::-;til ização d e papç: g-a i o ou per iquito. l'ed 1·a v e r de c l a r a . T'1·0 ,·c-
n i(' n c í n. : Sa nta r ón1. Co1nprin1ento : 20 111111. ; espessura. : 3 n1m.
h ) e <· ) - Papagai o , d e r epr esentação r ea líst a e n1agnif i co acab a n1en to. Pe-
clra c l a r a. l even1ente an1arcl ad:t e de r egular du1·c za . Orn a1ncn t ac;ã o
finan1 <'n t c gravada. itnita n clo pen a s, n as asas e na. cau<l<\ . O 01·i f i-
ci11 eh · supcnsüo s i t u<1-SC n o:-; o l hos da ave. ligando-os c ntr·c si. l'1·0-
('1' <li-n ci n: S;.1 nta r é n 1. Co111p ri n1c n t o : :~;; 11 1111.
<l) - l' <'<:n zoon1o rfa n ão identifi<':Hl a ( pos:c-;l vcl rn c nte llC r ií.) . P edrrL <' inz<'n -
t a. 11n w r el a d n , d <' n •i:n1lar <hll'C:t.a e po li da . r··u r o d e 1n1spen são Crontu 1.
Proven i ên c i a : A !ter do C h ü.o. Con1p t'i 1n e:nto: 2rJ 1n n1 .
e) Peça zoo1norfa n ão identificada (µr ovàveltu entc d e u1n acutipurú). Pe-
d r a idêntica à da fi g ura a nterior. F u ro de suspen são for m a n do o s
ol hos d o a nin1a l. f'rovt' nir n<'in: San tar~n1. Com p ri tn E>n t o : 2i'i 111 111.; es-
p<'ss u rn: 7 n1n1.

'
J>ra 11 ('li a Xl V

d

..

"Cont as" zoo n1o rfa s e de out1·a s f o rmas, tios Tapa jó :


a) - Cabeça de a \' C con1 es tili;1a ç ão n 1uito p ro nunc iada. P e dra panla c cn -
t a . Perfura ção a tra \'ÓS dos o lh os. lii;a ndo-os . Pro\'e n iência: San t a-
r é111. Comprin1ento : ao nnn. ; m aior la.q :;-ura: :.!:.! 111111.
b) - Pé hun1a n o, dc forn1ado pe lo uso elas µuls e iras corn o é co1nun1 ve r -
s e repres e ntado na c c râ1nica. P edn1 c inzenta , le ve 111e nte a 1na1·e iada.
Furo de s us pe ns ão pe rpe ndi c ul a r à. base. l'rocedê nê ía : Santaré nl.
Con1prime nto :.!7 111111.; altura.: 15 111111.
e) - Estilização v islve tme nte z oon1orfa, lle uni unin1a l não hle ntificad o. Pc-
<lra esverdeada., c la1:a. Proveniê nc ia: Santar61n. Con1prí rne nto: :30 nini .
d) - Outra estilização do n1e s n10 anirna l não ide ntificado da fig-. ante -
rior. P edra. ci nze nta , escura . l 'r o Yeniê nc ia : San t a r é n1. Co1np r ilncnto :
:!2 111111.; a ltura. 1na íor: 7 111111.
e) - Estiliza ção ba trn,quiforn1e 1n uito sirnplificucl a . Enfeitada. de p ontos, co-
1110 n us rãs escultóricas ou geom étrica.::; d a c erâm ica. Pedra a111ar e -
Ia da c la r a. Con1 furo, de s uspensão tra nsversal, á altura do pescoço.
P r o,·e nil}nc ia: Santa r é n1. Co n1pri mento: 22 111n1.; largur a m á xima: 8
111111.
l" llE OJ ~ HI CO 13.\HA.T.\ J>ran cha XV

d

"Contas" zoo mor f as tapajõnicas :


a) e b) - E1;tiliza ção de un1a. CRbcça. de cobra , co111 d o i s furo s. \lln t r ans-
v e r sal e o ut1·0 fro nta l, que a. d cstina 111 a func i on a r n o col ar con10 con-
t a. de ligu<:à o e, ao rnt' srno tcn1po, de s u s1)c11são de unia. outra, à
g-uisa de " p c n dcntif" . J>cd 1·u. cla r u, c:;hranqui çada. Vist :..t c111 dua s
p osi <;ücs. l'ro ,·enil'.·nc iu : Sa ntar6 n1. Co1u p rin1 c nto: :!:) 111111.
e ) e d) - R ep1·esc ntaGào :na i s r calistica ele o utra. cabeç a L1c cobr a (gibó ia)
con1 os desenhos tl picos dêssc ofidi o e a n1ar cação ela b oca. e d as
n a rina s. P ossui dois f uros. uni tra n s, ·ersa l e outro fronta l, cx a t a -
1nentc con10 os cl:t .f ig. antcl'i or. P <'d ra cscun.1 . quase prê t a . P rovc-
niêni c itL: Sa nta r é n1. Co111p1·in1ento : 30 111111.; cspcssu nt rn a i o r·: -.1 n1n1.

'
l' r ancha X \ '1


(

u.) - Conta c rn n <'írite v erd e c lar;1 , apar 0nt<.:1n c nl\! ant1·opon1o rfa. P c r·Cu -
r<.l~ào tra n svcr sa 1 conio a dn s " contas" lapa j õ nicas. PrO\ '(•nil:n c ia :
Tro rnbet as. Cpn1 p rln1ento: ·l ii 111111. (Col. J\llu:;c u Goel (li, Bel éni ) .
l>) - Ped r a esverd ea da c lara. R epresentação l)Oss·1vc ln1c ntc zoon101·fa, n ão
idc ntifi caclu. Proveniên c i a : Sa nta r én1 . Cv m pl'i 1nento: J!) m111.; espcs-
s ur·a. n1aior: ·1 n1n1.
e) P ccl ra escur a, quase prêt a . 1:-:st i 1ização n iio identi ficada, pro ,·ú \ 'el men-
t e zo1norfa. Proced ên c i a : Santa r ém . Con1prin1<.:nto ;.!1 111n1.: n1aior c:; -
p cssura: ·! nlt'11.
d) - "Conta" c n1 f o rn1 a d e p eixe. P ed 1·a es,·crcl catla . c l ara. Furo d e s u s-
p en são n o lugar dos o lhos. l ' r o v c nil:n c i:l : S:i ntaré ni. Con1 p ri1n c nto : :!l
111n1.: nia i o r csp esstu·a : 4 111111.
e) .. Conta " el e fo nna não identi f i ca ela. n1as que l e n1bni a 1·cpr cscntação
u ntropomo rfa e rn n efrite ela fi g-. :l) d esta n1esn1a prancha . Pedra u n1a -
r c lo - esverdcada, c lara . T'c r funiç ão f eita c n1 duas f ases. estreitada ao
cen tro . Proveni ên cia : Santarén1. Co1nprin1ento : 21 11101.; n1a ior espes-
s ura : 6 nini .
f) - .. Conta" d e f o 1·n1a não idcn ti f icada. possf\·0l n1ente ele 0sti 1izac:ão a n-
t ropomort'a. Ped r·a c lara , l ev c n1cntc a 111arcJ;.1dr1. Pro ,·cniên c i a: Su nta r·én1.
C o 1nprin1c nto : J~ nlln. ; espessura n1aior: ~ 111111.
a
- , .....
,.
..
,
e

' .
\

d
a). b ) e e) - Tr~· ~ " çontas" d e e~ til lzaçào id (~ nti ca e po~sh·c ln u.' nt e rcpre:;cn-
t a ti \"as d e rfts, pa r cccndo t c1· pe rtenci do a. uni 111e::n110 cola r. Pedra es-
verdeada, c la1·a . Pro\"eniê nc i<t: Sant aré1n. A prin1cira t e rn 25 111111. de
(•on1prin1cnto e a s o utras duas 2:~ 111111.
d) - l 'cdra. cs bra.nqui ~ada . coni furo d e ~uspe 11 silo d cspropo rc ionadan1c ntc
i.:-ra nde . H c presentação não identificada. Prove ni ê nc ia : Sa ntn.l"é m. Corn-
prin1ent o: 22 mn1. .
e) - ··cont a" corn estilização idêntica á da fii:;-. e) <la prancha anterior,
n1ais s in1plificad a . Pedra. cs,·crcleacla , c la r a , Proveniê n c ia. : Santaré rn.
Co1nprin1c nto: 25 n1n1.; espessura m <.tior: () n1111.
2u.
FJ~ J ~ l ) EH1CO BAH TA P ranth 1 X.\ ' I IJ

b e

.•

d
"Contas" c ilindricas :
a) - Nefrite '"erde, escu ra , de t on a lidade unifo rn1 e. A PC<:a. co1no t odos
os cili ndros, é p erfur a da no sentido do comprirnento e a p erfuração
foi f eita. en1 duas et a p as, p a rtindo de cada extremidade para en con-
tra r- se n o centro , onde o can a l se estrei t a enorn1en1entc. Proveniên-
c i a : La go de \'i la Fraca. Comprin1ento: :!:! nim.
b) - 1'1e fritc verd e, rnuito c lara, trans lúc ida. J<'orma de p il ão. Perfur ação
ca ract erfs tic a, como a da fi g. a nterior. P1·oced ên c ia: ()bidos. Con1-
prin1ento: l R mn1.
e) - Nefrite verde-amarelada. Apresenta ndo tuna bel a orn a n1entaçuo zo-
nár ia. P erfuração ciu·act erí stica. Proveniên c i tt: Tro1nbet a s. Compri nH'n-
t o: -Hí nirn. (Cotncil.o do 1\IT11snu Goeldi. B c lf·n1).
d) - ~l\l<l fl'it c verd e- esbranquiçada, uniforme. P erfuração idêntica 0:1s nntc rio-
r cs. Procedên c ia : J<'a ro. Comprimento: !i8 1nn1.
e) - "Conta" t apajõnica ci líndrica, ern pedra esver deada, clara e f õscn. .
•A. perfu ração é u niforme e p arece t er sido consegui ch'l con1 un1a ú n ica
oper ação. partindo d e unia. extren1idade até atingir a outra . I'rO\'C-
niên c i a: 8 a nta ri1n1. Con1primento: 19 mrn.
f) - ldc1n, ide1n, e m p edra. c inzento-escura . P erfuração delicada, f eita con1
inst1·umc nto niuito fin o e t 1:1n1bém ele tuna sú vez, pois o oriffclo t en1
o nl<'inno diâ.n1etro en1 t ôda a Rua. éxtcn flilo. I'r·o ,·en it•n <'in. : Sa ntn 1·(in1.
<.::01n1H·i nH~nto: 1 ti n1m.
Prnnrhn XTX
Fn ED I~HT CO nAHA.'l'A.

b
a

\
.
1

d
n) - "Con ta" c- ilíndr ica t a pa ,:iônica , aba ulad<1 (' cn1 pcd r n pardacenta . l c-
,·en1c nte a vcrn1cl.hada . Perfuração d e i ica d H e elo d iá 111c tro uni form e.
J 'ro v c ni (•n c ht : Sa nta r é n1. Con1pri1nc nto : :?2 111111.
li ) - "Conta" c ilínd ri ca t a pa j õnica en1 p cd nl. ela r a , l c ,·crn c ntc cs v c rd en d a .
. \ Pcrf u r a<;ào f o i fei t a pelo p r ocesso u sa d o n as n cfri t cs, a prescn t an-
- <lo-s(• o ori fic io estr c·i t ado ao centi·o. P 1·0 ,·cni(·n c in : i-ia nta 1·(•111. Con 1pri-
n w nlo: :!ll 111 111.
í' ) "Conta" c il!nllri ca t a p ajõnic a. aba ula da . crn p eclra c inza-c:o;v c r<l cn dn.
J ' ,·rf u ra<;;1o ig-u al n11•nte fc i t n p elo pniccsso u sa <lo n as 1H· f 1·i t es. C'n 1 d 11:1 s
<11h·r :i<;ô<'s. C'st1·ci t:1 ndo - se o o rüí cio no ce11t1·0. P1·0, ·cn i i •n c i a : ~:1 n t a -
r é·ni. Con11H·iinc nt·o: l :i 111111 .
d ) , P) 1· f ) - "Contas" t apajõ nicas <"l c forn1:1 Ol"Íg in:il c nüo i flf"ntifi c :Hla,. ·1·:neon-
tr:11n-HP co111 n1u i ta f r eq u ên c i a , 1·cp ct i d as c 111 d iver sos t i p os d e n 1i-
ncrais. d ) : p ed ra parclo-a v er111 c l hada: e): p ed r a <·inzentH; f): PC'él ra
e inza - cl a n 1. 1\ s pcr f ur:i <:<>cs siio tra n s ,·p 1·1:;a i::; <' f <'it ns pclo p r occRS()
usado n; 1s ll<' f ri t l!~. :1p1•:-;a 1· da 111:q 111ina < '1l>1'SH u 1·: 1 <l :t R pP<;a~. J '1·0 -
0

c·<'<li·n<"i n. S n nt:1 r €>111. Con1 p rin1,•nt v : d ) - :.!:~ 111111. : C') - ~ 7 1nm.;


f) - l !l 111 111.


FHE T)ERJC() BAR.\ 1'A.
Prancha XX

-.

b
a
e
a) - Conta lnn1in nd:'t en1 n efl'ile \"r·r1lc-n1nn,relnd::i. c l a r a , de ton a li,la d e uni-
fo rrn e. J 'roccd(•ncia: Faro . Con1pl'i111c nto: ~8 n1n1. l~sp ess u ra: 'J. n1n1.
.ApesHr fl;t in si g-nificante espessur a n p c 1 ·fu 1·a~;c1o é f eita con10 en1 t ô das
as n c fritcs o u jndc ites, con1 d ua s oper~u;ôes , iniciados os furos en1 ca-
da f ace a té se en cont1·aren1 n o centro onde o canal se udelp;ac;a.
b) - P e<.l r a esc ura , Quase p r ê" ta. Fonna triungul ar n1odificnda. co111 os â n-
gu los a1Tecl on<la<los. Furo d e suspensã o frontal. Possl\"eln1C'nle P<' ra.
s e r usada co1110 "pendentif" n os colares. r roYenién c ia: 8anta1·é111.
Con1 pri111C"nto: =~n ?11111. : C'SJ)C'SSUra: cl 111111.
e) - Pedra \ºC'1º11l\'lh a . fô sca . .A f orn1;1 l<·n1bra a de o ut1·11s contas. co1110 as
1las figos. h P r d a l '1·: 1n <'h <'I. ~"- \ º l 1. 1'r01' C'Clí·n c i;t : Sa11tar(•n1. Con1prin1C'n-
tt1 : :~ .; 111111 .

..

l•' l ll ~ J )l ~ HICO B.\R,\ 'rA Prancha XXl

b

a) - l '<•drR prêt o - ;,l\·cn11cl hada. Con1 fon11a l t•111 bra ndo :t de L'crto:; 111a ('ha-
do:-i. Face post eri or li sa . scn1 orn an11.:n t :11;ào. i'\:io possui fur·o e <1p(•-
11as uni enta lh e ou cs trang-ul:11nc 11to na pa rt e supe ri o r, onde :;e atavi~
o fio ele su s pen s:i o . Prove niên c ia: Sa ntarérn . Con1p 1·ir11 ento: ac; 111111.;
l'Sl)CSSUl'a: -1- 111 111.
b) - "Cont a" destin a da ç1 ser u sa da corno "ucn clen ti (" n os ('Ola r cs. P c-
tl ra rúseo-C'lara sa lpic u<la d e pontos c:;(·uros. .\n1ba:-; as fa<:cs são b(·111
po li cl ~1 s e ~cm o rn a n1L•nta cão, 1i111 i ta nclo-su esta a o <·on tõrn o da p c c;a,
ondul aLlo . .l:"uro frontal f eito d e unia só vez. J.'r ovc ni é n c i :~: ::>an t uré111.
Con1pl'i n1cnto: :!H 111111.
e) Outra "conta" - p endenti(. cil' for·n1a p ossh ·cl 111c ntc zoo n101·f a. alta-
n 1cnte est ilizada. Fa ces ant eri or •• po;:;tc rior lis<1l", :-ic111 o rna111 c ntação al-
gun1a. Apenas o con tôrn o <>upc ri o r foi ondula do por intern1 é<lio tl e in-
c i :;ões , l e n1b1·a n do :1 c rista el e uma ª'·e. u f uro 0 c xtraordin1\rian1entc
fino e deli ca do. f eito n a espcs::;ura tia µ cç:a que é tle apenas -! mn1.
Proven i ên c i a: • a ntarén1. Con1pl'im ento : :l() n1n1.
d) - i::stil ização zoon1o rfa. possh·eln1c ntc d e• t1111 ~t ª '·e. l 'ed ra <'õr· de tijo-
lo quc in1ad o . 1\'ào pos::;ui f uro P o corcl c l el e :suspvn ,.:io s<' fix ;1va n o ('n-
talhc da parti' supc rivr qu e sc·pu 1·a a <·ab,:1.;a tl o co r po do a11i111al. l'rv-
v c ni ün c i a: S; tnta rh11. Con1prin1 c nt o : :; 1 111111.
l'Hl ~J > EHICC) 13.\lL\ 'l'.\ l'ra uc lia XXll

d
a) - " Conta" alo11g-ad a , en1 pc 1l ra c in:t:c nla <'8<·u1·r1, q ua se pr(·t a . F t ll'O de
::;us i.H·n sii o fr·o n tal. Pro ,·cni ên c ia : ~a nta r é111. Co n 1pri1ucnt o: ao 111111 .
I.>) l•'ra i:;-rncn to <lc un1 a r t c f a t o l ítico c o111 a f o rrn rt. d e u rna f aca e que
t u d o in<l ica t enha s i do u sa do con10 ccr t ns " con l<ts" que n ão t ê1n furo
ele s w;pcn são . P edra , ·c rn1 c lha , d ur a. e p esa d a . Pro v en i ên c i a : San t a -
r <" rn. Con1prirn en t o : , O 1111n.
c) Frag n1cn to el e unia con t a - p c n d c ntif. I'c:dra. q u ase b r·a n c a , ele i n s ig n i -
fi C'ant c d ureza . Pr·ocerl ên c i a : '.Vl o n t c A l egTC. Con1 p rinH:nto . :IB nH11.
d) - " Conta " de f o rm a. sen1i-cô n i ca , I ernbra n <Jo t a1nbén1 u n1a ni fto d e pi-
l:i.o . P edra. c i n zenta esc u r a . r r o ,·cniên c i a : 8 t1ntaré 111. C o mpr i n1cnto : 11
111111.
C) " Conta· ' - pen cl cnti f, a l o n g-a cl a e f i1H1 n a c xtrc n1 i dad c in f er ior. Ped r a
<..: l n n 1. ca lcá.rc a, de p equen a cl ure:1.a. J•'u r o tr;1 n s v c r·sa 1. f eito de u ni a
::;ó , ·c :1.. Pru , ·cni ên c i a : l\1o ntc A l egr e. Cu ru p r i n 1c n t o : SU 111 nL
Fl11 ~ 1) T~ IlTC() B r\11 1\ 1'.A Pra n c h a XXI fI


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REVISTA DO 'MUSEU . PAULISTA, ·N. S., VOL. VIII . 253


. ..
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quer maneira; entretanto, não deixa .de ser ·signifié·atív.a ci-
tação tão antiga do Tapajós como · uma das prováveis •
, \ procedências. - . ·. ·
A segunda indicação, minuciosamente anotada por von
Ihering (55) e bem mais positiva, é a descoberta pelo sr.
Chistovam Barreto, colecionador e explorador baiano ,que
• cedeu ao Museu Paulista um vasto material arqueológico,
...
;\:
\
.
- 4e objetos trabalhados em nefrite da mesma espécie.•.. de
' '
'
'' . blocos brutos dêsse minério, no município de Am~rgosa, .na
Bahia·, onde alguns dêstes foram encontrados até · no cal- .
çamento das ruas. (56) •

A terceira, finalmente, talvez a mais importante, é · a


do aparecimento em Manaus, em· 1928, de um grande bloco
de pedra-verde malva, suposta ser de- nefrite ( infelizm.e nte
'. não analisado), pesando 5 quilos e 700 gramas e trazido da
serra~-de Roraima pelo sr. José Sant'Ana Barros. A· revista
'
~'Amazonida" publicou-lhe a fotografia que é a ~esma rep;ro-
,.
duzida ·por" Avelino Inácio de Oliveira, no Departame~to
Nacional de Produção Mineral, do Ministério da ·AgJ!ieúl- ,
tura, com os detalhes citados. ( 57) - ·~ .
\ Jiá ainda uma quarta indicação que se relacionando
com o mineral e sua existência na Amazônia é, ao~ mesmo
tempo, mais um elemento comprobatório de que os muira-
quitãs se fabricavam na 'região e integravam, portanto, umá
.\ das culturas materiais· ambientes. E'- a que resulta .do
.. • ' . achado de objetos inacabados em n efrite ou 'jadeíte, muitas
' . • vêzes apenas .em início· de confecção (Fig. 1).
'
A Fig. 1 reproduz uma peça batraquiana nessas condiç-O__es.
• A forma geral já se acha marcada mas só alguns entalhes,
· no lugar das pernas da rã, aparecem indicados com finos.tra-
.,. '
ços incisos, tão finos ~que nos conduzem insenslvelménte a \
·pe:Q.Sar na informação do bispo Fr. João de s. José quando
<(:

~
\ diz ser a pedra verde de uma dureza _impenetrável mas 'q ue
', ·"com um ·fio de algodão ou piteira com água· e arêa. fàcilmente
'
'se corta". (58). Dos furos não há ainda· o menor vestígio, o ·
.. que demonstra que se fa~iam em último lugar. · Por ·outro
l«ido a pedra - apresenta-s.e fôsca, evidenciando que o poli-
mento também era uma operação posterior, de acabamento
'
final. Sua côr ·'é verde-claro,' de tonalidade uniforme, . e.m ,
tu(lo . assemelhada à do cilindro reproduzido à Fig. d .::. a·a
-1... ~ > • ..-~ :·· ~ • ,. ; :"1 . ., . .~ \.~1 '.·

.<; ' .• . • • ~ '".' • ' ' '~- ~ • • .~r," ... • .,;.: '' ,,.\,' • '• • •• ;.;-··~~"'~ ~ ...

..
1
; ; -:: cf>a> L:: H .. 'von ' iherttig:··· "A~cheolo'gla. · corirpa~ativS1f do!·'s'iaan·!:.\ itevi8ta. elo
Museu Paulista. vol. VI. S. Paulo. 1004. .·
(56) - R eferido por von Ihering. Oh.citada.. pá,g: 555. . _, . _ .. __ ..
(57) - Avelino Ignacio de · Oliveira. "Recursos minerais da. bacia do, 'Rio ·
;. · Branco . (ESta.dó· do ·.Amazonas)"• •..: Awisó · n.o. . 1s; , dé 1~'1'. do :- De-
.. -.-''. ,... partamento.. Nacionil 'de Pr.odução <>M:rrteral:, : Mlnistêrt(}·.da. Agricul-
tura., Separata. n .o 6 da. revista. •Mineração e Meta.lurgt&", Pá.p.
8 e 9.
. (58) - Bispo D. Frei .João de S. José. Ob. cltad~ Pâg. 86:

1 ' '
. ":.
..,.... ,.. ., . •. . - ', .. ,- . ... "'
254 REVISTA DO MUSEU PAULIS1'A, N. S., VOL. VIII

Prancha XIX. Foi encontrada no lugar Pacov&l, à . margem ·


direita do rio Curuá, no município de Alenquer -e adquirida
pelo geólogo Fritz Ackermann que a conserva em- sua resi-
dência em Belém.
São muito poucas as peças inacabadas de jadeite co~e,.~_
cidas, naturalmente em relação co·m a própria escassez dos
objetos encontrados dêsse mineral. Entre as "contas" d08
Tapajó, de pedras diferentes, são entretanto comuns e na
Fig. 2 podem ver-se nada menos de seis, em várias etapas de
confecção. Interessante é a que aparece na letra e da
figura referida, pois tem o ponto em que se ia fazer a per-
furação .indicado em uma e outra face, mostrando que os
ins~uip.entos, certamente frágeis, para isso utilizados, não
pei'mitiam que se fizesse o furo continuo, começando de um ,

só lado até varar a peça. A operação ti.ÍlÍla de ser dividida


,y
.,
-··

em duas fases, executando-se perf_u rações numa e noutra


face para que os canais respectivos se encon1trassem em
meio do caminho, dai resultando que os furos se apresentam-,. '·
quase .sempre com a forma de- dois funiS invertidos, coinci- ·
dentes pelas pontas, ou seja com a parte central estreita eip
' \
relação às extreII}idades. Dizemos "ql,lase· sempre'! porque , - 1 '

. o processo só era regra geral nos minera!s du.ros;;ºêQmo ' :._ · . ,


jadeite ou nefrite e alguns dioritos ou diabas~. Em --certaS.- ·!. '

"contas" tapajônicas, feitas de pedras mais brandas, temos


encontrado, todavia, perfurações com o canal uniforme;
obtidas com uma única operação, principalmente __em obje...
t~ com a forma cilíndrica ou com a dos- reprodu~idos à ·
Prancha XX, Figs. d, e e /).
Para burilarem a pedra e furá-la deviam o síndios em-
\ pregar processos engenhosos e instrumentos rudimentares
mas eficientes, de sua invenção. Aquêles-exigiam teµipo e
paciência e êstes, sem dúvida, uma grande habilidade téc- ....
nica para o manejo. Para o trabalho nas pedras-verdes nem
. um só dêsses instrumentos foi ainda descoberto, mas é de
· crer-se que não se deviam diferençar dos que os Tapajó uti-
lizavam e entre os quais sobressae.m as diminutos serrinhas
(Figs. a, b e e da Pran<ma I) do mesmo mineral ou de algum
outro mais resistente do que o do objeto a manufaturar. São - : ,.,
niuito encontradiças em Santarém e se destinavam, ao que
parece, a fazer entalhes ou incisões, com auxílio de água e
\ areia.
A única referência que até aqui encont~ei a serrinhas
como as dos.Tapajó é a de Nordenskiõld em seu estudo sôbre
a cultura material das tribos do Grande Chaco. <59). ·

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REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII
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~i$'~ . Chama-as de "râcloir dentelé", ou seja raspadeira. dentàda


't ~ 41'.~ , ~. · . . e o desenho de uma._q-qe reproduz, proveniente de Caipi~-
di (território dos Chiriguano), na Bolívia, é idêntica ...em
~-·;.
1
:..,,. _ : - •

ci!l.· ::.--.~;-+:i:,. ;;.~.


tudo e por tudo à que apresentamos nêste trabalho, à Pran-
"~.J~~-- . · · cha I, ·Fig. q.
V~:~~·--·
-~~'%:~
:q':~~:::t
·-.;
As. serrinhas de pedra de Sant~!ém, a.'!i~s, j~ e~am '
conhecidas desd~. 19~4, quando Curt NrmuendaJu enviou 1i.ma
ao Museu de Gõteborg, no qual se acha· catalogada sob .º •
ê~i~, \ .· número 25.14.4. Em tamanho natural Ladislau Netto re-
'·lf~~ . ; . produz uma que ~.enomina "serrita d~ diori~o" (6~), ,ao· qµe
~f~:~tt;1tt<- · pensa~os ,. proven1en~e do Su!, que so ~e dife renc1a da,s de 1 '
~~~~·~-:-.i Santarem. por. possurr um nll:mero muito menor de dentes
*~'fl·
- ~·

·~ ,_ ~-;
,..
na parte infer1or.
«I ...,
·,_ ·.
..
Outro instrumento gue os Tapajó, ao que j__ulga.rnos,
_...~,~~ ~ · empregavam na confecçao de algumas das suas "cpntas"
"1 ~~$. " líticas, era a pedra de polir- (Prancha II, J[igs. a, b e e). ,_
~ Henry ·e Paula Reichlen (61) referem-se aos rochedos
de polir (rochers-polissoirs) dos quais reproduzem alguns
fragmentos, provenientes das ilhas du Salut, com seus sulcos
paralelos, em forma de V ou cruzados, perfeitamente asse-
melhados aos das pedras de polir ~os Tapajó. '
• Quase tôda a literatura a respeito existente admite que
os sulcos dessa~ pedras· fôssem prcduzidos pelo aguçamento
de fio dos ,machadosc_líticos ou das pontas de flexa; os mar- •
cados nas pedras de· polir de que nos estamos ocupando..são,
porém; tfto· delicados .e regulares que parec~m indicar .outro
uso como, por e~emplo,. o alisamento e desgaste das· contas
cilíndricas do .tipo- das que reproduzimos formando o colar.
da Fig. 3.
'
Que o trabalho -dEf polir se fazia nessas pedras com a
ajuda de água, cõmo' Gumilha testemunhou entre índios . do
Orenoco, parece cqnfirmar-se entre os Tapajó pelo fato de
aparecerem as · pedras de polir abundantemente em prãias,
como a da Caieira, em Santarém, de onde recolhi 31 mistu-
radas aos seixos roladcs, enquanto que apenas duas enct>n-
trei nas terras alta~ · ou prêtas, de mistura com fragmentos
de cerâmica.
Ladislau Netto- reproduz também fragm·entos de diorito
com sulcos idênticos :(62), que diz terem servido para fab~i­
cação e afiador de .n:iac,hados. ~ão dá, t edavia, a prove-
niência, embora, p~ló · têxto, se deduza que são de aborígenes
do ·SUl. .
.• \

(~O) .....- Ladlalao N~o. Oh. cttad~. P á.gtn 11 001. .


(61) - H e nry et f>aul'.á. Relchlen. HContribution a 1' .Arc h éolog le de là. GuYa-
. ne ),l'ranca-1se·~ . Joi.Jrnal de le Sociét é des A mérlcan1stes, N. Sérte..
· T . XXXV, Parl8, 1937. Planche II, t-h.
( d2) - t 'ª d1alao . N etto. Ob. citada. Páginas 486 e 4&7.
.'
1 . .. . .. ~
•·
.
\

256 REVISTA DO MUSEU PAULISTA, N. S., VOL. VIII


,
,,. "
Algumas das pedras de polir dos Tapajó apresentam-se , ~- "
sem os sulcos, apenas ligeiramente côncavas e desgástadas, · . .- ' . _. . ...
pelo uso, como acontece com as nossas pedras de amola,r - · .;_ ·. · ·
(Prancha I, Fig. d) . ., ·
Barbosa Rodrigues, -em . '"Antiguidades do Amazonas" _
(63) , publica um desenho de um berbequi'fr}, que idealizou; <
tendo por· ponto de partida uma peça de cerâmica encón-
1\ trada ao alto da serra •de Piquiatuba, na s proximidades de
Santarém e que, a seu ver, era· o instrumento com o. qual, os
inpios furavam os maclládos de pedra~ E~ curioso que tenha.
aceitado a possibilidade de -serem· furadas por êsse mod_o - , >
.
. ~

pedras duras e grossas, com . uma pua de madeira, não 4 . .


admitindo, porém, que _os mesmos ín~iQs pudessem ter feitq ·- , .!: • ~ "~ 1

as\ gravuras, incisões e fures nas pedras-verdes ou muira- ~ 1, t'.


quitãs que sustentava terem sido trazidos da Asia já traq~- , ~ . _ ,. .,
lhados, pelas migrações primitivas daquele continente. . -=
f
.. Em outro dos seus livros (64) apresenta tambêm .gra-·
~ -vuras do manuscrito mexicano de Lord Kingsborough; mos- .. . "'- •'/
ti:ando como, com_auxílio de . água e areia, se furavain~ a:s _ ~ ~. '~, , :
peças de jadeíte. ~ -,: -, ,. •• •

. Hoje, de resto, é ·inútil insistir-se em discussões sôbre ·a ·



_.,.
.....,
, maneira pela qual os índios davam forma às pedras e às.· -
. poliam e furavam. Como bem salienta Birket-Smith só nos
albores da arqueologia..: era difícil convencer que verdadei-;
"ramente ~e podia fazer t~l tr·a balho sem a ajuda de .metais. .· ,_'t. ;~ . ~·~J "
. Por tôda parte comprovou-se já, com exemplos indisc~tíveis:v· r- r • ·:·~.'. ·v;.,
que povos na idade · neolítica e os nossos índios inclusive., : ~- ;.. _,. · ·.f:·i':_.' 1

realizavam s·e us. artefatcs líticos t ão somente com o auxílio : ··. .-y • •• ~ ~
. de outras pedras,. de um estilete ou vareta de madeira; águà ~ , .
e areia. Sehested, recentemente, fêz algumas experiências .
coroadas de êxito e tendentes a detponstrar que o trabalho
de debastar e poli~ as pedras duras _p od.e ser executado p~lps.
métodos mais simples, usando unicamente água, · are~ -- e ·- ·
fragmentos de outros minerais. (65)
A técnica -dos Tapajó, que não mais tragalhavam com
minerais tão duros co-m·o a p.efrite ou jadeíte, é entretanto
a mesma. Na maioria de -suas '~contas" os furos de ·sus-
p~são são f~itos ~amb.é~ em duas operações, _partindp. ge
cada extr~mitj.~de p~r~ : que _o ;c~~al, , atµnil~ndo-se, s~~ ~p.- ·~ .. , ... ·4"'
• contr~ ao c~ntro; e, o. ptoce~s.o_.de d~sga$te ou desbastamelJ..t.O· _. ~. , ;.,."·-'· --~ ·~
. pára o}?te~ção. da f drm'.a .é vislvelriien te ídêntico, com~ ,i,gU:~I -., .·.· :.,.-~: ·~~ ~~f~-~~ ~
é o de polunento. . ' · ~:;.; ·:~tl ~,::V:· -. ·.__.
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· "' · , (M)' - Bârbosi Rodri?Ue~.", '' O , ?4uJi'"~~tã:. ~ . os ·.Id.~l?s" $Y;.m,bõl1cos" , vol. 1:0;~-- ,_ · ·" "'.' ,"' .. ,. • • .
E s t a mpa J,V,,._ f iga __,6._,&;i..,__e 8b . .. · . , . . .. . . ,. . , . ,, ., ~ .. ~~ . .
€M> ..!_ K a J Birket:>sniit h.'. • "'Vidâ ·y Historia.' de ' ias Ctfftüràs ·- Etnotoiti :t- :i::; \ . i , ~ •. ,
General". I. Edlt. N ova. Buenos A ires. Pág. 96. . . ~ ~ "":~"~ 'i ~ "" . .
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_,: r- ·.~ ~~..~ .. ~ ·i ~: · · · ~? Como as pedras que utilizavam eràm mais brandaS e
· ~ \: : ':? ·. . ·,-:- _ maleáveis, fácil lhes foi criar, todavia, uma variedade muito ,..
maior de formas, já que a resistência do material não opunha
difi~uldàdes seu es_pirito criador ou inventivo. Não en-
coq_tramos, ,é certo, na sua art.e lítica, uma diversidade de
"ªº ,.

f otmas tão graI}.de como na cerâmica. Mas, de qualquer


Jnaneira, comparadas com as dos artefatos· de jadeite, as
formas das "contas" tapajônicas são mais numerosas e por
. . vêz;es. de um , r_ealismo ·.que··, naql!eles jamais · se manifesta,
como podemos· verif-icar nó papagaio das figs. ·a e b da
Prancha XIV, no pé deformado da fig. b da Pran.c.h a JCV,
na cara simiesca da· fig. d . .da. Prancha XII, no peixe da
fig . .d da Prancha -XVII ou na cabeça de gibóia · das figs.
e e 4 da Prancha XV. :
"' . ·.
·_ ~Nuiica as ,·formas líticas tapajônicas reproduzem as · da
cerãmica, embora em· alguns casos -pareça haver ide_ntidades,.
· como entre as: das figuras: zoomorfas que ornamentam .· as .
botâas ~e çertos pratos e fruteiras e as "contas" das figs.
e e..d da Prancha XV.
. ~ óutras indicaçqes, todavia, "levam-nos à convicção de
que as artes lítica e oleira fôram contemporâneas entre os • •

Tápajó. Apesar da diferença das formas numa e noutra


representadas 11á em -ambas. uma semelhança de estilo que
1
... ...... "
se pressente através . do próprio espírito formal e pela repe-
.. tição, tanto na pedra co.mo no barro, ~e certos detalhes ~r­
namentais, característicos · da ~ cultura tapajônica. 'Entre
êstes citàremos as estilizações de rãs enfeitadas de pontos,
tão ,com~~s na ce.rámica {66), . e que podemos ver· -repetida
na_'"ieontâ " lítica e batraqtiiana· na fig. e da Prancha XV ;
Igualmente a ornamentação de "quadrados encaiXados",
que-simbcliza a ,tartaruga ·nos yasos (67); repete-se na "con-
ta-~' , que J:.eproduzimos- ·à Fíg: · 4, não deixando dúvidás, por-
tanto,- quanto ao intuito' de representação do. mesmo anir,nal.
,'•

1
: ·.. - .. CdNCLUSõES . · -

Em .face do exposto no presente trabalho julga.mos poder
formular as seguintes conclusões: '
1 ...:..:. Muyraquitã, vocábulo de língua. geral, é designação
• . , '· . mod,erna -~·, qtJ.~lquer" que seja a sua .tradução, reflete
uma. impressão· d,o obj~to 4ue nada tem a ver com a
. .., · _ intenção 4os seµs ant~gos .fabricantes, ..os ,qu~is forç~
, -. ~ ~amente 11iio, etam Tupi.

·\ · .·· , "· • r ~

•.
''·
. -.(~) - .. Uma h.n-á.Iise E~tiHstlca.. d a Cerâmica de Santarém", por ..:Frederioo
• · :. _ ~arata:~ · Em "Cúlturà."• publicaÇ?,o do · Serviço de Documepta~~ d~·
~ ' Ministér io da Educação, Ano I II, IJ..O G, Rio de ·.Janeiro 1952. P á:g : i91
idem. Pá.glna. 192 e F igs. 64a, 65. ·oo
,
e 67.
, .,·
/' .... . ........
·,
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- :
. ' - y .'
~
,. .......... '
'
.. ...
CONCLUSIONS
.

expo&tional development of the present - ...


the following conclusions can be formu- , :'\..
S., VOL. VIII
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characterized by double lateral boles on the posterior side,
denoting a special _ând definite use of the object.
.3 · - The so-called muyr~qultãs of the Tapajó, elabo-
rated With another technique and using various minerals, ,
were only neckace -"beads"- and their form-similarity with
many of the jade ai:tifacts represents merely a ·cultural re-
mi,n iscence of an object completely modüied · in its utility
and ·c oncept. . . ..· ·
. 4 - The other jade artifacts, of cylindrical or laminai
forros, with a ·transvet8al -bole identicil to the ones m'áde
bi the Tapajó, coUid ·háidly b.e :.fuuyraquitãs1 but yes ''b.eads~~
~nfectioned to .str·in.g · necklaces and; therefore, to be UiSed ·
as such ·a nd not as smgle aaornment. .
.5 - Th~ Tapajó ._that .the first missionaries contacted .
were beholders of· the gr~n stones, but did not manufacture
them. · ·
6 - The müyraq~tã seems to be more of a local phe-·
nonienon, with its-_origin in a yet undetermined culture, ·
without any doubt Amazonian, as can'"' be surmized by the
wrlinished artifacts, _in düferent stages of elaboratiori, that
have been found in-the Valley. To this culture the Tapajõ
were somehow fiÍiated,
. either by commercial links, or as con- ~

tinuators in anóther· stage of development. - .


7 - One can distinguish in the muyraquitã. two .aspeets
or cultural preferences: 1) the predomtnantly batrachian ·
form of the · objects, and 2) the hlgh esteem dispensed to
green stoh~s-; ·pref~rences whiçh frequently, although ·. not
ob~igatc;n-ny•. oçcur ~ _9onjl.lnctlon, the first be~g <?f a more,,. · ": l \
1~1 ~haracter, anq·· the se~ond a very old her1tage or tra- ' ~ i, .;_·: ~~<
dltión, importéd - and generálized. · . "-. ··· :,.}.. · "~:.~-
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