MECANISMOS FINANCEIROS & DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

TRANSFERÊNCIA DE RENDA E NOVOS MODELOS DE GESTÃO PARA

O REPASSE DE RECURSOS ENTRE EMPRESAS E COMUNIDADES

4 Guia para
a construção e
implementação
comunitária
de Programas de
Transferência de Renda
Princípios norteadores Marco legal e normativo

Assim como os mecanismos financeiros, e por estar inserido em um arranjo mais amplo de governança e ges- A presente proposta buscou dialogar com os marcos legais e normativos, assim como com aquilo que é consi-
tão, o programa de transferência de renda deve igualmente ser orientado e cumprir com algumas características: derado uma boa prática ou padrão internacional:

Planejamento Participação Transparência Autonomia Capacidades

A execução do Tanto na elaboração Junto com a No médio e longo Buscando maior

programa deve estar como na gestão do participação, a prazo busca-se uma equidade e eficiência OIT – Convenção IFC – Princípios do FGV e IFC – BID – Sector ONU – Princípios ICMM – Indigenous
baseada em um programa, devem transparência é um autonomia cada vez é preciso um esforço 169 Equador Grandes Obras extractivo y orientadores sobre People and Mining
plano que preveja a existir ferramentas critério dos mais maior dos beneficiários, constante de construção na Amazônia sociedad civil empresas e direitos
duração do programa, e espaços para que importantes para via suas instituições de capacidades, para humanos
a frequência dos possa haver uma que haja uma boa representativas, na alcançar os estágios
pagamentos, assim ampla participação dos gestão dos recursos gestão e execução do desejáveis em termos Consentimento Livre, Princípio 5 sobre Instrumentos Níveis “colaboração” Princípios gerais Parte 1, capítulos
como todos os demais beneficiários. utilizados, assim como programa. dos critérios anteriores, Prévio e Informado engajamento das Financeiros e “aliança” na relação de “Respeito” e 2, 3 e 4 sobre
aspectos da estrutura e para garantir o caráter principalmente partes interessadas entre empresas e “Reparação” engajamento,
do funcionamento. equitável do programa. autonomia e comunidades para fins gestão de impactos e
planejamento. de desenvolvimento acordos
local.
Convenção no 169 Os Princípios do Grandes Obras Sector extractivo A responsabilidade Indigenous People
da Organização Equador - Um na Amazônia - y sociedad civil: Corporativa de and Mining - Good
Monitoramento e avaliação
Internacional do referencial do Aprendizados e Cuando el trabajo Respeitar os Direitos Practice Guide,
Trabalho - OIT sobre setor financeiro Diretrizes, FGV, de comunidades, Humanos: Um Guia ICMM, 2015
Juntamente com as fases preparatória, construção e piloto será importante conduzir um acompanhamento siste- Povos Indígenas e para identificação, 2018 gobiernos e industrias Interpretativo. Escritório
Tribais. Decreto Nº avaliação e es sinónimo de do Alto Comissariado
matizado da implementação do programa para fins de registro da experiência e de seus impactos na comunidade. 5.051, 19 abril 2004 gerenciamento de desarrollo, BID, 2018 das Nações Unidas
Tratando-se de uma experiência inovadora - cuja fonte das transferências pode ter origem privada - o acompanha- riscos socioambientais para os Direitos
mento da construção e implementação por meio de um sistema de monitoramento (indicadores de processo) e em projetos, IFC, 2013 Humanos. 2011
avaliação (indicadores de impacto) é essencial para compartilhar os resultados além de permitir que esse modelo seja bit.ly/2wVIMf2 www.equator- bit.ly/2UgS8LI bit.ly/2Fn1tLp bit.ly/2WkmUUe bit.ly/2FxoY5X
principles.com
reproduzido em outros contextos fornecendo informações importantes para orientar futuros desenhos de programas.

Fases e etapas da implementação

Preparação Construção

4
Definição do
objetivo principal
do programa
• É um programa voltado para a redução
da pobreza ou com fins redistributivos?
• Quais são as necessidades e
1 2 3 características locais?
Primeira reunião informativa Segunda reunião informativa Consentimento • Há objetivos mais específicos e setoriais
(acesso à educação, algum serviço etc)?
• O que é? • Revisitar todos os tópicos da primeira reunião. • Revisitar todos os tópicos da etapa anterior.
• Como funciona? • Quais critérios precisariam ser definidos (ver • Como será o processo de construção do
Objetivo
• Seria interessante para a comunidade? Por quê? fase de construção) e avaliados? programa?
alinhamento ao contexto local e às
• Como poderia ser o processo de construção de um • Queremos avançar nessa construção? • Há consentimento? necessidades da população. Construção
programa comunitário? de consenso quanto ao objetivo principal.
Objetivo Objetivo Resultado
ampliar o público e aprofundar o tema. Não há ser informativa e de consentimento. definição dos objetivos do programa
Objetivo
introduzir o tema pela primeira vez. Não há nenhuma nenhuma deliberação a ser feita, mas sim uma Resultado e encaminhamentos para o próximo
expressão de interesse registrada em ata. consentimento e protocolo para os encontro.
deliberação a ser feita, no máximo uma consulta sobre o
Resultado próximos passos.
interesse da comunidade por esse tipo de ferramenta. Público
Resultado pactuar uma próxima reunião em assembleia para Público o mais amplo possível.
consentimento da comunidade. o mais amplo possível.
pactuar uma próxima reunião, com maior participação.
Público Público

pode se restringir às principais lideranças. todas as lideranças, principais atores locais e

membros da comunidade.
5
Definição do formato
do programa
8 • Quais os prós e contras de um programa
com ou sem condicionalidades para se
Verificação de alcançar os objetivos estabelecidos?
condicionalidade • Será com ou sem condicionalidade?
(Caso opte-se por um progra-
ma de transferência de renda • Qual será o público atendido?
condicionada)
• Qual seria o sistema de verificação • Se a opção for com condicionalidades, há
e conformidade? sustentabilidade orçamentária e recursos
humanos e tecnológicos disponíveis, para o
• Qual a frequência? monitoramento e sistema de verificação?
• Como será feita (instrumentais
e quem será o responsável)?
7 6 • Como será o financiamento do programa?
Definição das condicionalidades Definição dos beneficiários
• Quais as penalidades no caso (Caso opte-se por um programa de transferência de renda condicionada) Objetivo
de não conformidade? • Há algum conflito comunitário Objetivo definir qual será o público beneficiário,
• Qual será o custo de construção • O que deve ser Objetivo ou de relacionamento entre definir qual será o se será um programa com ou
e implementação (contratação e monitorado? definir quais serão as atores mapeado anterior à este recorte de beneficiários. sem condicionalidades e se há
treinamento de pessoal + burocracia)? • O objetivo da condicionalidades do processo? Resultados sustentabilidade e condições para tal.
condicionalidade será programa. definição do Resultado
Objetivo
• Quais são os critérios de definição do formato do programa e
apenas garantir o acesso Resultado público atendido e
definir quais são os meios de elegibilidade?
aos serviços públicos (como definição das encaminhamentos para encaminhamentos para o próximo
verificação das condicionalidades condicionalidades • Qual o custo orçamentário de o próximo encontro. encontro.
no caso da maioria dos
e recursos necessários. com base no objetivo acolher mais beneficiários? Público Público
programas de transferência
Resultado
de renda)? e recursos disponíveis • Qual o risco e custo social o mais amplo possível. o mais amplo possível.
definição dos meios de construídos nos da eclosão de conflitos e
verificação das condicionalidades • Ou algo mais específico, passos anteriores. ressentimentos que afetarão a
e definição dos recursos como combater Encaminhamentos vida comunitária?
disponíveis construídos a desnutrição ou para o próximo
nos passos anteriores. diminuir a incidência • Haverá recorte de idade,
encontro.
Encaminhamentos para o de um determinado gênero, etc?
Público
próximo encontro. comportamento? o mais amplo possível.
Público
o mais amplo possível.
Piloto

9
Estrutura do sistema
de benefícios
• Qual o parâmetro de definição do valor
dos benefícios? Será pago por indivíduo ou
família? Será um valor único ou variável
dependendo da formação familiar?
• O valor será definido pela disposição
orçamentária ou por uma linha pré-
estabelecida?
• O que o contexto local e a própria comunidade
sinalizam como uma renda justa?
• Qual o período de duração? Qual a
frequência do pagamento?
• Qual será o mecanismo de pagamento?
• Qual o acesso dessa população aos meios de
pagamento?
• Em localidades remotas, quais são os
empecilhos para acessar os benefícios?
• Qual o custo do meio de pagamento
definido?
10 11 12
Possibilidades de integração com outros Pactuações sobre o piloto Execução e ajustes
Objetivo
programas (Não se aplica a todas as comunidades) • Quais serão as especificidades em • O que funcionou?
definir qual será a
estrutura do sistema de • Seria uma modalidade de co- relação ao modelo geral? • O que não funcionou?
Objetivo
benefícios. gestão desejável? mapear as possibilidades • Qual será o calendário? • Quais ajustes serão
Resultado da integração com outros
• Qual é o status de articulação e precisos e possíveis?
definição do valor relacionamento entre os atores programas de transferência Objetivo
do benefício, da municipais para a integração de renda. pactuar as próxima etapa. Objetivo
periodicidade, do período do programa e para que tenha Resultado Resultado executar e ajustar o programa
de duração do programa sustentabilidade com troca de mapeamento de programas plano para execução do piloto, piloto.
e do mecanismo gestão municipal? e articulação com o com valores e cronograma definido. Resultado
de pagamento. poder público local. Público ajustes finais para
Encaminhamentos para o • Há possibilidade de realizar um representantes e lideranças.
Encaminhamentos para o implementação do programa.
próximo encontro. acordo com o município para
próximo encontro. Público
Público integrar o programa ao Bolsa
Público o mais amplo possível.
o mais amplo possível. Família?
o mais amplo possível.
O desenho deste guia tem como base as análises apresentadas nos estudos
que compõem o conjunto Mecanismos Financeiros e Desenvolvimento Territo-
rial: modelos de gestão e programas de transferência de renda para uma nova
relação entre empresas e comunidades, assim como a própria experiência de
construção do Fundo Quilombola pelo Programa Territórios Sustentáveis em si.

Ele é uma referência inicial, com indicação de 12 passos a serem seguidos em

3 grandes fases. A 1ª fase se refere à elaboração de um protocolo específico; a
2ª fase à construção de um programa local de transferência de renda, seguindo
o protocolo elaborado, à partir de etapas básicas imprescindíveis e; a 3ª fase, à
sua fase de teste e implementação. Trata-se de um referencial que abre portas
para um longo caminho que deve ser percorrido de forma participativa, com as
próprias comunidades e eventuais beneficiários do programa.

O próximo ciclo deste trabalho prevê o desenvolvimento de uma proposta de-

finitiva, co-criada com as comunidades, e que poderá servir de base para todo
e qualquer processo de construção de um programa local de distribuição de
renda, pois conterá todas as garantias de adaptabilidade a realidades locais e
especificidades de cada território.

Vale ressaltar que um programa de transferência de renda local ou comunitário

deve ser inserido em um arranjo mais amplo de governança territorial e gestão
financeira. No caso do Programa Territórios Sustentáveis, um possível progra-
ma de transferência de renda nos territórios quilombolas do Rio Trombetas é
precedido pela elaboração dos Planos de Vida e pela implantação do Fundo
Quilombola, que já ocorreram nesses territórios. Assim, o programa de trans-
ferência de renda se insere numa estratégia mais ampla de desenvolvimento
territorial, que conta com um longo trabalho de fortalecimento das instâncias
locais, o que dá sustentação para todo o processo.

Por fim, é importante destacar que cada território é um território, com sua di-
nâmica, contexto e atores próprios. Então, este guia não tem a pretensão de
ser um documento rígido, com etapas e passos inflexíveis. Cada parte pode
ser desenvolvida de forma simultânea ou separadamente das demais, assim
como mais de um passo ou etapa poderá ser realizada num único dia ou, pelo
contrário, uma única etapa pode se estender por diversos dias. Tudo dependerá
do território, da dinâmica instalada, da relação de confiança e da capacidade de
internalização dos conhecimentos e engajamento no processo.