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Local-Global Territo Rio Financ As e Acu
Local-Global Territo Rio Financ As e Acu
ECONÔMICO BRASILEIRO
E SUAS ARTICULAÇÕES COM O
MATO GROSSO DO SUL
Lisandra Pereira Lamoso
ORGANIZADORA
Conselho editorial
Ana Claudia Santano: Doutora e Mestre em Ciên- Ligia Maria Silva Melo de Casimiro: Mestre em Di-
cias Jurídicas e Políticas pela Universidad de Sala- reito do Estado pela PUC/SP. Professora da Faculda-
manca, Espanha. Pós-doutoranda em Direito Públi- de Paraíso – FAP, em Juazeiro do Norte-CE, de gra-
co Econômico pela PUC/PR. Professora de diversos duação e pós graduação. Professora substituta da
cursos de pós-graduação no Brasil e exterior. Universidade Regional do Cariri – URCA, professora
Emerson Gabardo: Professor de Direito Adminis- colaboradora do Instituto Romeu Felipe Bacellar
trativo da Universidade Federal do Paraná. Pro- desde 2006, em Curitiba/PR.
fessor de Direito Econômico da Pontifícia Univer- Luiz Fernando Casagrande Pereira: Doutor e
sidade Católica do Paraná. Pós-doutor em Direito Mestre em Direito pela UFPR. Coordenador da pós-
Público Comparado pela Fordham University. graduação em Direito Eleitoral da Universidade Po-
Fernando Gama de Miranda Netto: Doutor em Di- sitivo. Autor de livros e artigos de processo civil e
reito pela UGF/RJ. Professor Adjunto de Direito Pro- direito eleitoral.
cessual da Universidade Federal Fluminense e mem- Rafael Santos de Oliveira: Doutor em Direito pela
bro do corpo permanente do Programa de Mestrado UFSC. Mestre e Graduado em Direito pela UFSM.
e Doutorado em Sociologia e Direito (UFF). Professor na graduação e pós-graduação em Direi-
to da UFSM. Coordenador do Curso de Direito da
UFSM. Editor da Revista Direitos Emergentes na So-
ciedade Global e da Revista Eletrônica do Curso de
Direito da UFSM.
ISBN 978-85-5544-XXX-X
TEMAS DO DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO BRASILEIRO
E SUAS ARTICULAÇÕES COM O
MATO GROSSO DO SUL
EDITORA ÍTHALA
CURITIBA – 2016
AUTORES
1. INTRODUÇÃO
O agronegócio brasileiro desempenha um importante papel na
economia nacional e na internacional2. Gerou 37% do total de empregos
do Brasil, ocupou 30% das terras brasileiras, em 2014 participou do
Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) do país, com um valor bruto de
1 Professor do Departamento de Geociências e do Programa de pós-graduação em
Geografia da UFSC.
2 O processo modernizador da agricultura brasileira forjou o surgimento de vários
tipos de agronegócio. Assim sendo, o agronegócio é entendido “como a cadeia pro-
dutiva que envolve desde a fabricação de insumos, passando pela produção nos
estabelecimentos agropecuários, pela transformação e o seu consumo final. Essa
cadeia incorpora todos os serviços de apoio: da pesquisa e assistência técnica, do
processamento, transporte e comercialização, crédito, exportação, serviços portu-
ários, distribuidores, bolsas e o consumidor final” (CONTINI et al., 2006, p. 6).
Nessa perspectiva, incluem-se os tipos de agronegócio em escala que se dedicam à
produção de fibras, grãos e carnes e os pequenos, dedicados à produção de frutas,
olerícolas e produtos que exigem o primado da qualidade (GONÇALVES, 2004).
Partindo do pressuposto de que o conteúdo material da riqueza é composto pela
produção de mais-valia e o excedente gerado (quer seja capitalista ou não), faz-se
necessário romper com a leitura da reprodução simples do capital, lastreada na
sequência de produção de mercadorias (M) para transformar em dinheiro (D) e
permitir a obtenção de mais mercadoria (M’). Segundo Gonçalves (2005, p. 8), essa
reprodução M-D-M’ consiste no processo da situação da agricultura do final do
século XIX. No atual estágio de desenvolvimento capitalista, a lógica de reprodução
é lastreada na operação capitalista de aplicar dinheiro (D) na produção de merca-
dorias (M) com objetivo de obter mais dinheiro (D’). Soma-se, ainda a essa lógica,
o papel determinante do capital financeiro e o capital fictício (títulos, derivativos,
securitização, ações etc.). A respeito da diferença entre o capital financeiro e o capi-
tal fictício, ver Marx (1983).
UUU 19
produção de R$ 430 bilhões. Desse total, 66,5% referem-se a lavouras e
33,5%, à produção pecuária. Em 2014, o agronegócio gerou uma renda
de R$ 1,1 trilhão, o que representa 22,5% do PIB brasileiro. Nas expor-
tações, o agronegócio alcançou a cifra de US$ 96,7 bilhões e um saldo
na balança comercial de US$ 80,1 bilhões (BRASIL, 2015).
Fruto do intenso processo de modernização da agricultura bra-
sileira, iniciado pós 1960, o agronegócio brasileiro foi capaz de ampliar,
nos últimos 20 anos, a área plantada de grãos em 37% e aumentar a pro-
dução em 176%. Somente a produção de soja cresceu de 1,5 milhões de
toneladas, em 1970, para 86,3 milhões, em 2014. A elevada produção de
grãos de soja foi acompanhada pelo crescimento da produção de carnes
bovinas, que pulou de 1,8 milhões de toneladas, em 1970, para 10 mil-
hões, em 2014. Esse crescimento foi verificado também na produção
de carne suína e frango. No agronegócio de carne suína, a produção
passou de 0,7 milhões para 3,4 milhões de toneladas, e a produção de
frango cresceu de 200 mil para 12,75 milhões de toneladas, no mesmo
período (USDA, 2015).
Esse dinamismo foi capaz de atender às demandas internas e exter-
nas. O consumo interno per capita, de carne, cresceu de 30,4 kg/hab./ano,
em 1970, para 100 kg/hab./ano, em 2011. No mercado externo, os agro-
negócios de carnes e grãos transformaram o Brasil em um dos players do
mercado mundial de alimentos. Entre 2000 e 2014, enquanto as expor-
tações de carne suína cresceram de 162 mil toneladas, em 2000, para 556
mil, em 2014, as exportações de carne bovina cresceram de 356 mil ton-
eladas para 1,5 milhões, contra um aumento de 916 mil para 3,9 milhões
de toneladas de carne de frango. Já as exportações de soja cresceram de 28
milhões de toneladas, em 2001, para 48 milhões, em 2014. Assim sendo,
o Brasil detêm 33,38% do total das exportações mundiais de carne de
frango, 19,9%, de carne bovina, 40%, de soja em grãos, 8%, de farelo
de soja, 19%, de óleo de soja e 8,1%, de carne suína (USDA, 2015). Esses
produtos do agronegócio são considerados como commodities (brutas e/
ou processadas) que tiveram, conforme a bibliografia consultada (APEX,
2012; AEB, 2012), seu dinamismo exportador associado à elevação da de-
Produção
Grãos Farelo Óleo
Países
2000 2008 2014 2000 2008 2014 2000 2008 2014
Mundo 175.8409 211.884 284.045 116.010 151.959 188.386 26.813 35.905 44.604
USA 29.303 90.605 89.507 35.730 35.473 36.297 8.355 8.503 8.920
Brasil 13.934 75.300 87.500 17.725 24.700 28.670 4.333 6.120 7.100
China 5.800 15.080 12.200 15.050 32.475 54.154 3.240 7.325 12.246
Argentina 10.400 49.000 54.000 13.718 24.363 28.525 3.190 5.914 6.975
Fonte: USDA (2015).
14 Do ponto de vista per capita, os dados da Abipecs (2013) indicam que Hong Kong
consumiu, em 2011, cerca de 66,5 kg/per capita/ano, contra 54,1 Kg/per capita/ano
de Macau e 46,5 kg/per capita/ano de Belarus. Já a União Europeia apresentou um
consumo aparente de 40,2 kg/per capita/ano. Entre 1992-2012, o consumo aparente
de carne suína na UE manteve-se estável com a redução do consumo nos principais
países como a Dinamarca, que diminuiu o uso de 76,3 kg/hab./ano, em 1993, para
64,2 kg/hab./ano, em 2003. A tendência de queda do consumo per capita foi verifi-
cada igualmente na Espanha, que reduziu seu consumo aparente de 63,9 Kg/hab./
ano, em 2003, para 48 kg/hab./ano, em 2012. No Brasil, o consumo per capita de
carne suína passou de 7,05 kg/ano, em 1990, para 14, kg/ano, em 2012.
15 Estatísticas indicam que, entre 2009 e 2018, o comércio mundial crescerá a uma
taxa moderada de 1,8% ao ano e reduzir-se-ão as exportações do Canadá, as quais
ficarão em torno de 1 milhão de toneladas, bem como para a União Europeia, que
sofrerá perdas, ficando, aproximadamente, em 1,2 milhão de toneladas (FAPRI,
2009).
18 Durante esse período, o destino das exportações brasileiras concentrava-se nos pa-
íses do Oriente Médio, dos quais se destacam o Iraque com 31,4%, o Kuwait com
21,4% e a Arábia Saudita com 20,4 (RIZZI, 1993).
19 No Oriente Médio, principal mercado para os produtos brasileiros, demonstra-se
claramente o aumento da produção interna. O Iraque aumentou sua produção in-
terna de 70 mil toneladas em 1981, para 315 mil, em 1987. Já o Kuwait aumentou
sua produção de 11 mil toneladas em 1981, para 20 mil, em 1987 (RIZZI, 1993).
Carne de Produção 9,269 9,558 9,998 10,350 11,840 12,550 13,200 13,700 13,350 13,080
frango Consumo 9,393 9,556 9,931 10,371 11,954 12,457 13,016 13,543 13,174 12,910
27 Entre 2003 e 2013, enquanto a área plantada de soja no Brasil passou de 21 para 29
milhões de hectares, nos EUA o crescimento foi de 29 para 30 milhões. Em termos
de produtividade, enquanto o Brasil cresceu de 2,5 mt/há, em 2003, para 3,11 mt/
há, em 2013, a produtividade americana cresceu de 2,56 mt/há para 2,66 mt/há,
respectivamente (CEBEC/APEX, 2015).
34 Na safra 2014/2015, a soja transgênica deverá cobrir 93% da área total, representando
29 milhões de hectares, sendo 76,7% desse total destinados à tecnologia tolerante a
herbicidas (TH) e 16,5% à tecnologia resistente a insetos e tolerante a herbicidas (RI/
TH). A margem que sobra para soja convencional é para atender ao nicho de mer-
cado, principalmente europeu, pois esse paga caro para ter soja não geneticamente
modificada (ESPÍNDOLA; CUNHA, 2015).
6. CONCLUSÃO
Procurou-se demonstrar, neste texto, que o desempenho exporta-
dor dos agronegócios de carnes e soja não é apenas reflexo do aumento
das demandas oriundas da China, ou apenas do aumento dos preços das
REFERÊNCIAS
ABIPECS. Associação Brasileira das Indústrias Produtoras e Exportadoras de
Carne Suína. Relatórios Anuais. 2013. Disponível em: <http://www.abipecs.
org.br/pt/relatorios.html>. Acesso em: 10 jun. 2015.
______. Associação Brasileira das Indústrias Produtoras e Exportadoras de
Carne Suína. Relatórios Anuais. 2014. Disponível em: <http://www.abipecs.
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AVISITE. Estatísticas. 2012. Disponível em: <http://www.avisite.com.br/>.
Acesso em: 31 mai. 2015.
UUU 55
tos teóricos as erigissem como pares dialéticos, quando normalmente
se encerram interpretações estáticas, funcionais e dicotômicas. Nessa
direção, em uma primeira abordagem, o local é absorvido, dissolvido,
ou simplesmente se configura em objeto de processos externos dados,
subsumido a determinações de exterioridade, de comando global. A se-
gunda remete-se ao localismo, como se suas particularidades e carac-
terísticas internas fossem capazes de consolidar as forças de “coesão e
resistência espacial” em uma perspectiva endógena, neutralizadora e/
ou reguladora da ação exterior. As duas abordagens buscam dar aos
espaços local e global uma dimensão de ser, de ente. Uma leitura que
faz com que essa categoria geográfica (espaço) ganhe vulto e forma de
sujeito social, substituindo as relações sociais que lhe dão concretude e
forma,o que exige demarcar que o espaço tem uma dimensão ontológi-
ca, como produto e expressão do ser, mas não pode assumir uma pers-
pectiva anímica, de ente, em substituição ao sujeito histórico e produtor
do espaço: o homem em suas relações sociais.
Dessa forma, a ontologia do espaço se processa no devir históri-
co do homem, em seu processo de produção/apropriação espacial. Essa
categoria geográfica tem sentido histórico pelo homem, na medida em
que estabelece constructos na sua relação com o mundo. A terra é o
mundo do homem, como afirmara Hartshorne (1939), na sua relação
com os outros homens. O que confere ao espaço uma segunda proprie-
dade, além de histórico, ele é relacional. A produção/construção social
dessa categoria se realiza na perspectiva do outro, do “não espaço” (SIL-
VA, 1996), o que confere um sentido de identidade/diferencialidade e,
no campo das relações sociais, consolidam-se processos de apropriação
diferenciados, construindo o território. Assim, o espaço não é uma di-
mensão idealista, abstrata, ao contrário, se expressa em materialidade,
dadas as determinações territoriais de classe (formas de produção e
apropriação). “O território é, assim, produto concreto da luta de clas-
ses, travada pela sociedade no processo de produção de sua existência”
(OLIVEIRA, 2008:5).
“(...) sua ordem é determinada pela relação que elas têm umas
com as outras na sociedade burguesa moderna, e que é justamen-
te o contrário de como elas aparecem naturalmente ou do que
corresponde à ordem do desenvolvimento histórico. Não se trata
da relação que as relações econômicas adotam historicamente em
sequência das várias formas de sociedade. Nem muito menos de
4 Esse ponto não deixamos de considerar, ainda que tal leitura possa ser rotulada de
“althusseriana”, embora não tenhamos uma compreensão monolítica das categorias
e instâncias sociais,o Estado moderno é uma “ordem burguesa”.
5 “(...) com seu monopólio da violência e suas definições de legalidade, tem papel
crucial no apoio e na promoção desses processos” (HARVEY, 2004:121).
7 O fato de sua análise estar restrita ao processo de mudança das relações hegemo-
nicamente colonialistas e, simultaneamente, serem apresentados os germes de uma
nova constituição do desenvolvimento do capitalismo (imperialismo) em sua di-
mensão financeira, Lenin, teve dificuldades em detalhar/separar os processos de
dominação colonialista dos processos de dominação econômicos, financeiros e po-
líticos de caráter imperialista.
8 “The ability to get what you want through attraction rather than coertion or pay-
ment. It arises from the attractivenes of as country's culture, political ideals, and
polices” (NYE, 2004:X).
“cabe registrar que o preço das coisas que não têm por si nenhum
valor, ou seja, não são produto de trabalho, como terra, ou que
ao menos não podem ser reproduzidas mediante trabalho, como
antiguidades, obras de arte de determinados mestres etc., pode
ser determinado por combinações casuais. Para vender uma coi-
sa é preciso apenas que seja comercializável e alienável” (Marx,
1983:137).
REFERÊNCIAS
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gético. (Tese de Doutorado em Geografia), 175 p. São Paulo: USP, 2014. .
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BRAGA, V.; CASTILLO, R.A. Tipologia e topologia de nós logísticos no terri-
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timodais. Boletim Campineiro de Geografia, v. 3, p. 235-258, 2013.
BRANDÃO, C. O necessário diálogo entre a economia política do desenvolvi-
mento e a geografia crítica em momento de crise estrutural do capitalismo. In:
1. INTRODUÇÃO
Na última década, o comércio exterior brasileiro cresceu a índices
significativos, impulsionado, principalmente, pela ampliação do comér-
cio extrarregional, resultante da elevação da demanda por commodities
do mercado chinês, mas também pelo comércio intrarregional, como
foi o caso do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).
Tal acréscimo dos fluxos comerciais intra e extrarregionais, por
sua vez, colocaram em foco a necessidade de retomar os projetos de
integração territorial (com foco nas infraestruturas), para expandir/
melhorar a conexão entre os países. Esse objetivo passou a ser perse-
guido a partir do ano 2000, com as obras delineadas na Iniciativa para
a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) e, por
conseguinte, no Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planeja-
mento (COSIPLAN). A lógica é facilitar a integração intrarregional no/
do continente sul-americano, mas também possibilitar maior interação
espacial com mercados extrarregionais, orientando-se pelos princípios
do multilateralismo e tendendo a diversificar parceiros comerciais.
A pesquisa aborda as desigualdades regionais no que diz respeito
à distribuição territorial das obras (transnacionais1) de transportes da
1 O termo obras transnacionais utilizado nesse trabalho não remete a obras que estão
localizadas entre áreas fronteiriças. Assim como não se refere a obras financiadas
UUU 97
IIRSA/COSIPLAN no Brasil, mais especificamente para o período de
2000 a 2013. Para alcançar tais resultados, a metodologia foi pautada em
revisão bibliográfica, atrelada à análise de dados secundários e entrevis-
tas a diversos órgãos, como a Coordenadoria Geral de Planejamento da
“Secretaria de Política Nacional de Transportes”, no Brasil e, na Directo-
ra Nacional de Planificación de la Integración Territorial Internacional,-
na Argentina,além de entrevistas com diversos especialistas.
Para tornar mais eloquente a pesquisa, dividimos o capítulo em
três subtópicos:
1. “O crescimento do comércio exterior brasileiro no limiar do
século XXI”. Essa parte verifica como a estratégia de diversificar os par-
ceiros comerciais e, concomitantemente, aprofundar a integração re-
gional garantiu ao governo brasileiro elevado crescimento do comércio
exterior, tornando-se uma das importantes estratégias para o desenvol-
vimento nacional. Por outro lado, esse crescimento de fluxos comerciais
criou a necessidade da existência de maior oferta de infraestruturas de
transportes entre os territórios, visando garantir o escoamento de com-
modities agrícolas e minerais. Conjuntura que colocou a região Centro
-Oeste, composta pelos estados de Goiás (Distrito Federal), Mato Gros-
so e Mato Grosso do Sul, enquanto importante recorte espacial esco-
lhido pelo grande capital e, consecutivamente pelo governo brasileiro,
como área demandante de políticas públicas, que visam à ampliação da
fluidez territorial, a fim de contribuir com o processo de crescimento
econômico regional e nacional. Assim, a demanda por infraestruturas
é crescente nesse espaço, com a atuação da “logística de Estado” (pla-
nejamento, gestão e estratégias públicas com a finalidade de aumentar
a fluidez territorial e atrair investimentos) e da “logística corporativa”
(estratégia, gestão e planejamento de transportes e armazenamento rea-
lizados pelo capital privado).
2. “O Brasil, a IIRSA/COSIPLAN e a necessidade de incrementar
o comércio exterior”. Após debater a importância do aprofundamento
por mais de um país. As mesmas referem-se a obras incluídas nos portfólios da IIR-
SA/COSIPLAN, que visam favorecer interações espaciais em âmbito transnacional.
98 UUU ?ÀVÊ,}jÀÊ-ÛiÀ>ÊUÊ6ÌÀÊjÊ*iÀiÀ>Ê`iÊ-Õâ>
dos movimentos integracionistas e dos diversos acordos de cooperação
econômica, enquanto tática utilizada pelos países para resguardar-se
dos efeitos do liberalismo econômico, focaremos na questão da integra-
ção territorial. Essa voltou a ser pensada no intuito de dar suporte, em
especial, às aspirações brasileiras de reduzir seus custos comerciais, a
fim de ampliar a participação dos produtos nacionais no mundo. Isso
posto, concebe-se um duplo movimento: a integração territorial e eco-
nômica na/da América do Sul, que facilita a circulação de mercado-
rias intrarregional, mas que, simultaneamente, possibilita a utilização
dessas infraestruturas para o comércio extrarregional, isto é, para mer-
cados localizados fora do bloco econômico. No caso brasileiro, essa é
uma estratégia interessante, pois possibilita integrar-se com os países
da região, mas também consolidar saídas para o mar do Pacífico, re-
duzindo os custos de exportação para o mercado asiático, em especial
para China.
3. “A necessidade de um planejamento integrado da fluidez terri-
torial para exportação no Brasil: articulando escalas”. Apontamos que
os planos dos Portfólios e das Agendas da IIRSA/COSIPLAN tomados
isoladamente são insuficientes para ampliar a fluidez territorial nacio-
nal. No entanto, o mesmo torna-se fundamental, uma vez que se apre-
senta enquanto uma política setorial complementar a outras agendas de
projetos nacionais, destinadas ao setor. Nesse sentido, propomos uma
agenda de pesquisa, objetivando a análise do conjunto de políticas seto-
riais de transportes, que de maneira complementar podem configurar
um novo contexto à fluidez territorial nacional.
6 Entre os dez principais produtos exportados pelo país, no ano de 2013, destacam-
se: minérios de ferro e seus concentrados; soja, mesmo triturada; óleos brutos de
petróleo; açúcar de cana, em bruto; plataformas de perfuração ou de exploração,
dragas, etc.; carne de frango congelada, fresca ou refrigerada incluindo miúdos;
farelo e resíduos da extração de óleo de soja; milho em grãos; automóveis de passa-
geiros; carne de bovino congelada, fresca ou refrigerada; celulose (MDIC, 2015).
7 Na região Centro-Oeste, apenas 10 empresas centralizaram 58,68% das exporta-
ções em valores, a saber: Bunge Alimentos S/A, 12,90%; ADM do Brasil LTDA,
9,11%; Louis Dreyfus Commodities Brasil S.A., 7,34%; Cargill Agrícola S/A, 6,65%;
JBS S/A, 6,51%; BRF – Brasil Foods S.A., 5,60%; Amaggi Exportação e Importa-
ção LTDA, 4,24%; Caramuru Alimentos S/A., 2,57%; Eldorado Brasil Celulose S/A,
2,10%; Mineração Maracá Indústria e Comércio S/A, 1,66% (MDIC, 2015).
8 Entre os dez principais produtos exportados pela região Centro-Oeste, no ano de
2013, destacavam-se:soja, mesmo triturada, exceto para semeadura (33,46%), mi-
lho em grão, exceto para semeadura (16,79%),bagaços e outros resíduos sólidos da
extração do óleo (9,73%); carnes desossadas de bovino, congeladas (7,22%); pasta
química de madeira de não conífera à soda ou sulfato, (3,67%); pedaços e miudezas,
comestíveis de galos/galinhas congelados (3%); outros açúcares de cana (2,63%);
algodão simplesmente debulhado, não cardado nem penteado (2,56%); carnes de
galos/galinhas, não cortadas em pedaço (1,83%); ouro em barras, fios e perfis de
seção maciça (1,70%), totalizando dez produtos que centralizavam 82,59% das ex-
portações provenientes da região (MDIC, 2015).
9 Como pudemos verificar, a Guiana Francesa não está inclusa, pois não é um país,
mas sim, um departamento ultramarino francês; assim como as Ilhas Malvinas
(Falkland) e as Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul não estão inclusas, pois são
territórios pertencentes ao Reino Unido.
10 Para o ano de 2013, seguindo a prática adotada pela iniciativa, foi selecionada, em
meio ao Portfólio Geral do COSIPLAN, uma lista com os principais projetos. Dessa
maneira, foi criada a Agenda de Projetos Prioritários de Integração (API), compos-
ta por 31 projetos classificados como “Projetos Estruturados”, ou seja, obras que
favorecem as redes de conectividade física, com alcance regional e com potencial
de fomentar sinergias e de solucionar as deficiências da infraestrutura existente e,
por conseguinte, 88 “Projetos Individuais”, aqueles que apresentam função com-
plementar aos projetos estruturados, geralmente de menor porte. Trata-se se um
pacote de obras que passou a funcionar enquanto vitrine da iniciativa, ganhando
destaque enquanto marketing governamental do projeto e tornando-se objeto de
grande parte das análises acadêmicas (SOUZA; SILVEIRA, 2014).
11 Para o ano de 2013,tinham sido definidos cinco grupos de trabalho, sendo que
quatro apresentavam projetos inclusos na API, a saber: G1 (Conexão entre Chi-
le-Bolívia-Paraguai-Brasil); G2 (Otimização do Corredor Corumbá-São Paulo-
Santos-Rio de Janeiro); G3 (Conexão entre Santa Cruz-Porto Suárez-Corumbá); e
G5 (Conexão do eixo ao Pacífico Ilo/Matarani-Desaguadero-La Paz/Arica-La Paz/
Iquique-Oruro-Cochabamba-Santa Cruz).
5. CONCLUSÃO
Após esse percurso, constata-se que ocorreram mudanças na
orientação da política externa brasileira, decorrente da transição do
governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) para o governo Luís
Inácio Lula da Silva (2003-2011), no que tange a busca por autonomia,
isto é, a capacidade do país em tomar decisões e adotar estratégias vi-
sando resguardar os interesses nacionais. As mudanças influenciaram
na intensificação das relações comerciais intra e extrarregionais, am-
pliando a participação do comércio exterior para o desenvolvimento
nacional.
A maior inserção internacional do país decorreu na ampliação
da quantidade de mercadorias em circulação, provenientes de diversas
regiões do país. Colocando em foco a necessidade da retomada dos pro-
jetos de integração territorial regional, para expandir/melhorar a inte-
gração entre os países. Esse objetivo passou a ser perseguido a partir
do ano 2000, com as obras delineadas na IIRSA/COSIPLAN, que ao
reduzir os custos de circulação ampliaram ainda mais as interações es-
paciais intra/extrarregionais.
1. INTRODUÇÃO
A redemocratização no Brasil trouxe novidades importantes nos
campos político, institucional, social e econômico. A partir da Consti-
tuição de 1988, uma série de medidas foi tomada pelos governos para
colocar a nação no grupo de países desenvolvidos, garantindo à popu-
lação acesso ao consumo e ao bem-estar. Porém, o desenvolvimento
econômico não é um conceito com definições rígidas, o que permite
que diferentes estratégias sejam adotadas e distintos objetivos sejam
perseguidos sob sua justificativa. Não obstante, há certo consenso de
que o desenvolvimento econômico é caracterizado fundamentalmente
pela ampliação do progresso técnico e científico de uma sociedade, ou
seja, por avanços no processo de industrialização e produção de bens de
consumo que permitam ampliação do bem-estar e qualidade de vida de
sua população. Sua realização, todavia, está atrelada à realidade política
de uma determinada sociedade e da forma como ela se relaciona com as
demais unidades do sistema internacional.
UUU 133
Para que sejam atingidos índices significativos de desenvolvi-
mento econômico, agentes políticos e econômicos precisam estar dis-
postos a assumir riscos. A trajetória desse desenvolvimento contempo-
râneo mostra que,nos casos de maior sucesso, o projeto foi conduzido
por políticas direcionadas pelo Estado, seja na viabilização de mercados
consumidores interna e externamente, na consolidação dos fundamen-
tos básicos para o desenvolvimento ou no fortalecimento de agentes do
mercado para suportar a pressão e a concorrência internacional (FIORI,
1999; CHANG, 2003; AMSDEN, 2004; NAYYAR, 2014; BIELSCHO-
WSKI, 2014).
De acordo com Cano e Silva (2010), estímulos como incentivos
fiscais, política cambial e controle da taxa de juros, compras governa-
mentais, investimentos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico são
formas com as quais o Estado pode promover políticas de desenvol-
vimento econômico no âmbito doméstico. Já no plano internacional,
o fortalecimento e defesa de sua moeda, o exercício diplomático e a
garantia da própria soberania permitem ao país galgar nova posição e
atingir um patamar de nação desenvolvida.
Esse trabalho referenda a importância do Estado na condução da
trajetória nacional de desenvolvimento a partir da construção de uma
política voltada para a indústria, partindo do pressuposto da necessi-
dade de um ritmo acelerado de industrialização para a efetivação de
um projeto de desenvolvimento. Nesse sentido, para contribuir com os
debates sobre o desenvolvimento econômico do Brasil contemporâneo,
nos propusemos a discutir as características dos governos FHC e Lula
no entendimento sobre o papel do Estado no incentivo ao desenvolvi-
mento econômico por meio de sua política industrial e de sua estratégia
de inserção internacional para o país. Na sequência, após breves apon-
tamentos sobre o debate a respeito do subdesenvolvimento e do desen-
volvimento no Brasil, discutiremos a concepção ideológica, a política
industrial e o modelo de inserção internacional concebidos nos anos
de FHC e Lula. Ainda que a retórica da busca por crescimento e desen-
volvimento econômico seja comum a ambos, e que os dois governos te-
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nham sido responsáveis por implantar importantes transformações na
estrutura social do país, inclusive com traços de continuidade, verifica-
se que as estratégias traçadas para atingir seus objetivos se orientaram
por distintas concepções teóricas, ideológicas e programáticas.
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gue a ser percebida como tal se incluída num discurso ideológico.
Assim, a concepção de desenvolvimento de uma sociedade não é
alheia à sua estrutura social, e tampouco a formulação de uma
política de desenvolvimento e sua implantação são concebíveis
sem preparação ideológica” (FURTADO, 2000, p. 22).
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belecida no tecido social que sustenta e legitima o governo em questão,
e a capacidade e a disposição desse em enfrentar os constrangimentos
sistêmicos resistentes a qualquer alteração no status quo.
Com efeito, escolhemos avaliar as medidas tomadas pelos gover-
nos FHC e Lula para a promoção do desenvolvimento econômico, por
acreditar que elas podem ilustrartal distinção, entre os caminhos es-
colhidos a serem percorridos como trajetória de desenvolvimento, no
padrão de inserção internacional e na política industrial, como veremos
na sequência.
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a credibilidade da economia nacional, e estimular a modernização do
parque industrial brasileiro.
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do em fator humano, teve impactos imediatos na indústria produtiva
brasileira, acelerando um movimento de especialização em vantagens
comparativas baseadas em commodities na economia brasileira, e ofere-
cendo espaço para discussões a respeito do processo de desindustriali-
zação no país (PESSOAet al, 2013). Esse quadro condicionou a inserção
do Brasil na economia global ao longo dos anos 1990, e dificultou qual-
quer estratégia de alteração do status quo da ordem internacional.
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ser competitivo em si mesmo. O Brasil sempre foi competitivo em
certas áreas. (...) Mas, colocar a competitividade internacional
como objetivo estratégico ao qual tudo se subordina é instalar-se
numa situação de dependência similar à da época pré-industrial”
(FURTADO, 2007 p. 75)
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Ademais, despertava a atenção – e, em alguns casos,a desconfiança
e o desconforto – da comunidade internacional, a linha de ação que seria
exercida pelo novo governo. Isso porque, além de combativo da diplo-
macia do governo Fernando Henrique Cardoso e de sua opção pelo seu
modelo de integração e participação nos arranjos institucionais multila-
terais, o Partido dos Trabalhadores sempre demonstrou forte engajamen-
to com temas internacionais, sobretudo como crítico aos programas das
instituições econômicas multilaterais, como o FMI e o BIRD, aos projetos
de promoção do livre comércio capitaneados pelos países desenvolvidos.
Portanto, nota-se uma inversão na prioridade e papel conferido à
política nacional. A estratégia de governo estaria calcada em mais três
pilares: manutenção da estabilidade econômica; inclusão social e for-
mação de um expressivo mercado de massas; e retomada do papel do
Estado nacoordenação de uma agenda novodesenvolvimentista. Nesse
chamado novodesenvolvimentismo, o Estado desempenha um papel
estratégico em prover o arcabouço institucional apropriado para sus-
tentar o processo estrutural de desenvolvimento econômico, haja vista
que, segundo seus entusiastas, esse requer uma estratégia nacional de
desenvolvimento que capture oportunidades globais.
O Estado que busca essa política deve ser forte o suficiente para
executar políticas macroeconômicas defensivas, que reduzam sua vul-
nerabilidade frente a crises cambiais, ou expansionistas, que se referem
às medidas de promoção do pleno emprego. Políticas de comércio exte-
rior e industriais também devem ser utilizadas para melhorar a inserção
desse país no comércio internacional. Sua implantação visa estabelecer
o controle do capital para correção das falhas de mercado, manutenção
dos índices de crescimento e garantia de manutenção de políticas volta-
das à redução da desigualdade social.
O novo desenvolvimentismo não é protecionista. Supõe que os
países de desenvolvimento médio já superaram a fase da indústria in-
fante e exige que as empresas sejam competitivas em todos os setores in-
dustriais aos quais se dedicarem, e que, em alguns, sejam especialmente
competitivas para poderem exportar (BRESSER-PEREIRA, 2006). Pre-
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A atuação do Estado revelou-se com a criação da Política Indus-
trial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), lançada, em março
de 2004, “com o objetivo de fortalecer e expandir a base industrial bra-
sileira por meio da melhoria da capacidade inovadora das empresas”
(ABDI, 2014). Tendo como objetivo principal a inovação na indústria,
a PITCE focava em quatro eixos: (i) inovação e desenvolvimento tec-
nológico; (ii) inserção externa; (iii) modernização industrial e ambien-
te institucional e (iv) aumento da capacidade produtiva (CORONELet
al, 2014). Buscava, com isso, financiar a aquisição de novas máquinas e
equipamentos nacionais, estimular a realização de parcerias públicas
e privadas, desenvolver a capacidade produtiva das empresas com o
propósito de melhor inseri-las no mercado mundial, adequá-las às exi-
gências dos principais mercados importadores e atuar na melhora da
infraestrutura nacional. A PITCE se alinhava teoricamente com o que
havia de moderno sobre política industrial, inovação e desenvolvimen-
to, e visava ainda reduzir tributos a setores-chave, como o de semicon-
dutores, softwares, bens de capital e fármacos.
Em continuidade à PITCE foi criada, em 2008, a Política de De-
senvolvimento Produtivo (PDP), objetivando “fortalecer a economia do
país, sustentar o crescimento e incentivar a exportação” (ABDI, 2014).
Tinha como principais metas: aceleração do investimento fixo, o esti-
mulo à inovação, a ampliação da inserção internacional do Brasil e o
aumento do número de micro e pequenas empresas exportadoras. O
programa da PDP foi dividido em 3 grandes grupos (programas para
consolidar e expandir a liderança, para fortalecer a competitividade e
programas mobilizadores em áreas estratégicas), além de um quarto
grupo chamado de “destaques estratégicos”. Esse abrangia os seguintes
programas: promoção das exportações; regionalização; micro e peque-
nas empresas, produção sustentável, integração com a África; integra-
ção produtiva da América Latina e Caribe (CANOESILVA, 2010). É im-
portante mencionar que o BNDES teve papel muito importante para a
operacionalização da PDP.
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econômico, mas incluiu-se o Estado nesse contexto, por meio de acor-
dos entre poder público e setor privado.
As duas políticas industriais descritas convergem ao que propõe
o paradigma logístico em relação à participação do Estado na condução
da política industrial do país e ao esforço evidente de garantir maior
inserção internacional do mesmo como estratégia de desenvolvimento.
Sendo assim, aliando os objetivos de desenvolvimento nacional e inser-
ção internacional em busca de autonomia, os formuladores da política
externa do governo Lula da Silva investiram na estratégia de diversifi-
cação das parcerias internacionais para potencializar os efeitos da reto-
mada de sua estratégia de desenvolvimento com base em uma formula-
ção nacional de retomada do investimento industrial.
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bem como a reorientação das relações comerciais do Brasil para a Chi-
na, principalmente, contribuíram para que os termos de troca refletis-
sem ganhos maiores para o Brasil, conduzindo o país em um processo
de aumento das reservas internacionais e do fortalecimento da indús-
tria nacional. (TEIXEIRA; PINTO, 2012).
As novas relações da indústria nacional com o mercado externo
geraram resultados satisfatórios. O envolvimento entre as empresas na-
cionais e a política externa do Governo Lula na busca por novos merca-
dos para os produtos brasileiros e dentro de uma estratégia de projeção
internacional do país foi consolidada. Ocorreu no Brasil, nesse período,
um aumento da oferta de crédito. Esse aumento foi proporcionado, em
boa parte, por novas relações econômicas internacionais que permiti-
ram o aumento dos termos de troca nas exportações. Com o aumento
do fluxo de capitais e de uma importante política industrial, foi possível
fortalecer as estruturas produtivas e o mercado interno, criando um
novo ciclo de desenvolvimento para o país, em que não apenas o setor
exportador contribuía para a demanda, mas também o mercado consu-
midor interno.
Considerando esse conjunto de fatores, aliado a parceria com o
BRICS, principalmente a China, o Brasil conseguiu,não total, mas par-
cialmente, diminuir a dependência financeira vista no governo anterior,
e proporcionar à sua própria economia um aumento do investimento
produtivo com o fim de se inserir nas relações econômicas internacio-
nais como um país capaz de inovar e competir na indústria.
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreendemos que o processo de desenvolvimento econômi-
co de uma nação depende de sua capacidade de promover crescimento
com transformações na estrutura social. Para isso, na atual conjuntura
da sociedade contemporânea, é imprescindível a constituição de uma
indústria nacional competitiva e que promova inovações de conteúdo
tecnocientífico. Dessa forma, permitirá à economia nacional uma inser-
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juntamente com as políticas industriais de incentivo ao crédito e a ino-
vação, abriu oportunidades para o investimento produtivo se instalar
em território nacional. Além do mais, a oferta de crédito e os direciona-
mentos das políticas industriais do governo Lula permitiram a criação
de grupos multinacionais brasileiros que ampliaram sua atuação em
mercados emergentes, ampliando assim a influência econômica inter-
nacional brasileira nesses novos espaços.
Importante frisar, porém, que apesar de diferenças entre os go-
vernos na tentativa de promover a indústria nacional e um novo modelo
de desenvolvimento, o país não conseguiu de maneira efetiva transfor-
mar sua pauta exportadora. A inserção do país ainda se dá por meio,
principalmente, da exportação de produtos primários ou commodities,
o que coloca o país em relevante dependência dos preços externos e
oscilações maiores do mercado internacional, sem prejuízo ainda da ex-
tensa dominância do investimento estrangeiro no mercado financeiro,
ao invés do investimento produtivo.
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158 UUU
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APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE
INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO
DE MATO GROSSO DO SUL 1
1. INTRODUÇÃO
A ação estatal na economia sempre foi um tema controverso nos
debates sobre o desempenho das atividades produtivas. Nos países de
industrialização tardia, como o Brasil, a atuação do Estado desenvolvi-
mentista tornou-se a saída para o fomento da atividade industrial e as po-
líticas industriais foram/são peças-chave nessa equação (RODRIK, 2009).
A retomada delas, no Brasil, ocorreu num momento em que a
economia mundial encontrava-se em ritmos acelerados de crescimento
com mercados do sudeste asiático em ascensão, como China e Índia que
fomentaram a demanda por commodities agrícolas e minerais durante
meados dos anos 2000, essa conjuntura nutriu a expansão de alguns
setores industriais brasileiros (BRESSER-PEREIRA, 2012).
Por outro lado, os incentivos fiscais, desde 1990, são as válvulas
de escape adotadas pelos governos estaduais para fomentar o desen-
volvimento industrial, e o acirramento entre as unidades federadas na
UUU 159
atração de empresas consolidou uma instabilidade jurídica chamada
guerra fiscal, que o geógrafo Milton Santos intitulou de guerra dos lu-
gares (SANTOS, 1999).
E foi nesse panorama que o estado de Mato Grosso do Sul, a par-
tir dos anos 2000, industrializou-se com base em dois nexos. O primei-
ro, ligado às políticas industriais do governo federal para criar líderes
nacionais nas cadeias produtivas globais como JBS e BRFoods (ALMEI-
DA, 2009). Não aprofundaremos, aqui, as questões relacionadas às PIs
na instância federal2.
E no segundo nexo, a política de incentivos fiscais redefiniu as
atividades industriais em algumas regiões do estado, sob a influência da
industrialização paulista, cujas fábricas encontraram, em Mato Grosso
do Sul, condições favoráveis para se instalar, sobretudo, com base nos
incentivos fiscais e mão de obra barata. Nesse cenário, esse trabalho
aponta a dimensão territorial da política de incentivos fiscais na indus-
trialização de Mato Grosso do Sul.
Para desempenhar essa tarefa, foram adotados na pesquisa os
referenciais de diversos autores renomados na matéria (MANZAGOL;
1985; SANTOS, 1996; RODRIK, 1999; KUPFER, 2003; ALMEIDA,
2009; AMSDEN, 2009; COUTINHO, 2009; LAMOSO, 2011 para citar-
mos alguns.
E nos valemos, ainda, da coleta de dados disponíveis nas bases
estatísticas do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comér-
cio Exterior (MDIC); Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Econômico do estado de Mato Grosso do Sul (SEMADE) e Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Uma vez feita a seleção dos
dados, a tarefa consistiu em aliar os softwares como PhilCarto e Corel-
Draw e elaborar o material cartográfico, ambos apresentados ao longo
da narrativa.
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2. POLÍTICA INDUSTRIAL E INCENTIVOS FISCAIS: APROXIMAÇÕES
No debate sobre política industrial3, os incentivos fiscais são
umas das vertentes estratégicas no fomento à indústria. As concepções
teóricas de PI’s são bem variadas e podem entrar num quadro descritivo
de acordo com a natureza delas e, ainda, nas metas pretendidas de cada
governo que as adotam (KUPFER, 2003). Grosso modo, as correntes
econômicas tradicionais vinculam as políticas industriais a estratégias
corretoras de falha de mercados. Todavia, os neoshumpeterianos e evo-
lucionários4 defendem uma abordagem mais profunda das PIs com a
inserção de instituições em sentido amplo, difusão de inovação, com
alto poder de coordenação (SUZIGAN E FURTADO, 2010)5.
Como apresentado anteriormente, nossa intenção com este tra-
balho é salientar alguns aspectos territoriais da industrialização do es-
tado de Mato Grosso do Sul, após os anos 2000, com a retomada das
políticas governamentais de fomento à industrialização. Mato Grosso
do Sul está localizado na divisa com os estados de São Paulo, Minas
Gerais, Goiás, Paraná e Mato Grosso (mapa 1), sua proximidade com
o Sudeste, aliada aos incentivos fiscais, promove uma industrialização
com uma peculiaridade, cujas plantas industriais são oriundas em sua
maioria (40%) do estado de São Paulo (RIBEIRO SILVA, 2014).
3 No trabalho, usaremos PI para nos referir a Política industrial e PIs para fazer refe-
rência ao plural.
4 Ver Suzigan e Furtado (2010).
5 Os economistas da corrente heterodoxa, que é uma expressão ampla que cobre
campos, projetos ou tradições separadas e, às vezes, distantes, como a economia
pós-keynesiana, feminista, marxiana e austríaca. E eles são a favor da atuação do
Estado na economia por meio das políticas industriais, sobretudo os autores ne-
oshumpeterianos, pós-keynesianos, neokeynesianos e neoinstitucionalistas (MO-
RAIS, 2006).
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 161
MAPA 1. Localização de Mato Grosso do Sul.
6 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp24.htm
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E o descumprimento dessa norma anulava qualquer acordo, ine-
ficácia do crédito para empresas/empresários e emitia a presunção de
irregularidade das contas governamentais para os governos que usas-
sem dessa estratégia.
Esse pano de fundo político funcionou muito bem até a segunda
metade da década 1980. Com a Constituição de 1988, e a consequente
maior autonomia aos estados na administração do ICMS, o que se deu
foi um generalizado descumprimento da lei, já que os estados aderiram
à concessão de incentivos de fomento à indústria como instrumento de
desenvolvimento regional, que, de início, era limitada ao setor indus-
trial, mas, durante a década de 1990, houve um transbordamento das
isenções fiscais para o setor de comércio, atividades de importação do
exterior e, inclusive, atacadista, como aconteceu no Ceará em 20127.
Essas estratégias adotadas pelas unidades federadas sustentaram
demasiadamente, durante as décadas de 1990/2000, os planos de desen-
volvimento industrial dos estados. Para aproximar o nosso debate de
uma perspectiva geográfica, Santos e Silveira (2008) apontam para uma
guerra dos lugares no Brasil.
Na qual,
7 http://www.sindiatacadista.com.br/?pagina=noticias&id=310
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 163
fiscal que está no plano jurídico, e de outro, a guerra dos lugares, a isen-
ção de impostos (ICMS) associada aos incentivos territoriais – conces-
são de terrenos pelas prefeituras, isenção de Imposto Territorial Predial
Urbano (IPTU), melhoria das vias de acesso, disponibilidade de gás e
energia. Santos e Silveira (2008) nos apontam que essas estratégias in-
terferem na localização das atividades produtivas, geralmente privile-
giando apenas o segmento empresarial com efeitos territoriais muitas
vezes, ou sempre, contraditórios para a sociedade como um todo. To-
davia, avancemos para entendermos o debate que gira em torno dos
incentivos.
Para exemplificar essa questão de uma instabilidade jurídica, o
Mato Grosso do Sul, segundo o relatório de assuntos econômicos do
Senado, foi o primeiro estado a criar um ato normativo instituindo be-
nefícios relativos ao ICMS, sem a prévia e necessária celebração de con-
vênio entre os estados e o Distrito Federal.
Contrariava, assim, os dispositivos constitucionais por meio da
Lei nº 1.798/97, que buscava diversificar a atividade industrial no estado
com até 90% de isenção, chamado plano PROAÇÃO do governo esta-
dual (STF-Pleno ADI 2.439/MS).
Essa lei foi revogada após a instituição da ADIN 2.439 e, diante
disso, uma nova lei foi instituída em 5 de novembro de 2001, a Lei nº
93/2001, que criou o Programa Estadual de Fomento à Industrialização,
ao Trabalho, ao Emprego e à Renda (MS EMPREENDEDOR)8 sob o
comando do Governador José Orcírio (1999-2007) e vigente até 2015.
Vale lembrar que essa lei ainda é alvo de ADINS do estado de São Paulo,
e seus objetivos são estipulados assim:
8 Para saber mais sobre as leis de incentivos fiscais antes dos anos 2000, ver Souza
(2002). Ele faz uma análise geográfica dessas leis desde a criação do estado, discur-
sos, posicionamentos políticos dos principais gestores do estado até então. Nessa
pesquisa, focaremos no período pós-lei 93/2001 e os processos advindos dela.
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da interiorização dos empreendimentos econômicos produtivos e
do aproveitamento das potencialidades econômicas regionais [...]
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 165
samento de cadeias produtivas, qualificação de mão de obra, iniciati-
vas de P&D e geração de empregos encenam como as suas principais
estratégias.
Após a instituição da lei, novas ADINS foram ajuizadas pelo es-
tado de São Paulo, o que fez com que o governo sul-mato-grossense,
em 2003, publicasse a Lei Complementar nº 939, que estabeleceu novos
marcos fiscais e englobou outros decretos (cerca de 34), que versam so-
bre incentivos ou benefícios fiscais de caráter geral em várias outras
cadeias produtivas.
Visava, com isso, o fortalecimento da economia industrial do es-
tado e, mesmo com essas novas diretrizes, o desenvolvimento industrial
se manteve, sobretudo, nos polos regionais de Corumbá, Campo Gran-
de, Dourados e Três Lagoas.
Esse contexto de desenvolvimento industrial é detentor de uma
institucionalidade que é conduzida por esse amplo elenco de políticas
de incentivos fiscais, regulações e normas implementadas em escala es-
tadual apresentadas até aqui. As dimensões territoriais dessas políticas
de fomento industrial, divididas em setores em Mato Grosso do Sul,
serão apresentadas a seguir.
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que fazem parte de uma mesma divisão, os produtos alimentícios; o
setor têxtil, um dos mais numerosos presentes no estado; e ainda o de
biocombustível, que apresenta uma territorialização recente, mas muito
importante para o fortalecimento do estado.
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 167
quatro unidades fabris, assim como Maracaju e Sete Quedas com duas
unidades fabris em cada uma (SEMADE, 2015).
Apesar dessas três cidades possuírem as maiores quantidades de
indústrias de bovinos por município, essas indústrias não usufruem dos
benefícios dos incentivos fiscais estaduais. Quando se trata de indús-
trias receptoras desses incentivos fiscais até o ano de 2013, municípios
como Anaurilândia, Batayporã, Campo Grande e Rochedo entraram
em evidência, resultando em aproximadamente 1.400 empregos gera-
dos no total. A partir de 2014, com as leis de incentivos fiscais estaduais,
pretende-se gerar mais de 4.000 empregos ao total, desses a maior parte
na capital, Campo Grande, pois possui uma das grandes empresas des-
se segmento. Também, municípios como Iguatemi, que não possuem
trajetória industrial muito presente nesse segmento, mas que por meio
dos incentivos fiscais, exercem poder de atração e manutenção da in-
dústria nessas localidades segundo dados da SEPROTUR – Secretaria
de Estado de Desenvolvimento Agrário da Produção da Indústria, do
Comércio e do Turismo(MATO GROSSO DO SUL, 2014)12.
Quando observamos sua distribuição espacial, vimos que essa
atividade é dispersa, localizando-se em todas as mesorregiões do esta-
do, no entanto, a maioria das unidades fabris localizava-se na mesorre-
gião Sudoeste de Mato Grosso do Sul, 16 unidades no ano de 2014, se-
guida pela mesorregião Leste do estado com nove unidades (SEMADE,
2015). Esses lugares possuem uma herança da pecuária extensiva, prin-
cipalmente no caso da mesorregião Leste do estado, caracterizando-se
como uma atividade industrial, subproduto da atividade anteriormen-
te predominante. Contudo, observamos a existência de uma dinâmica
territorial nesse segmento, na medida em que há uma mobilidade loca-
12 Os órgãos aqui elencados fazem referência aos anos de 2007 a 2014, disponível
em: http://goo.gl/oaQE4J Em 2015, houve a mudança de governo, logo, o arran-
jo institucional foi reemoldurado. A SEPROTUR – Secretaria de Estado de De-
senvolvimento Agrário da Produção da Indústria do Comércio e do Turismo foi
desmembrada em duas: SEPAF – Secretaria de Produção e Agricultura Familiar
e SEMADE – Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, cujos
dados debatidos aqui são retirados dessa última.
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cional das indústrias do segmento de bovinocultura de corte durante o
período de sete anos.
Em 2007, as mesorregiões Sudoeste e Centro-norte de Mato Gros-
so do Sul, possuíam juntas, 16 unidades fabris, de um total de 22 uni-
dades industriais voltadas à bovinocultura, no ano de 2012, a mesorre-
gião Sudoeste apresentava 13 unidades, as mesorregiões Centro-norte
e Leste possuíam oito unidades cada, enquanto que a mesorregião dos
Pantanais possuía somente uma indústria desse segmento (SEMADE,
2015), como vemos no mapa 2. Já no ano de 2014, a mesorregião Les-
te ultrapassou em quantidade de indústrias desse segmento a Centro-
norte, chegando a nove unidades fabris, enquanto que a mesorregião
Centro-norte possui cinco unidades e as mesorregiões Sudoeste e dos
Pantanais permanecem com a mesma quantidade apresentada no ano
de 2012, porém alterando a localização das indústrias entre alguns mu-
nicípios das respectivas mesorregiões (SEMADE, 2015).
MAPA 2. Espacialização das Indústrias de bovinocultura
nos anos de 2007, 2012 e 2014.
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 169
a mesorregião dos Pantanais não possui nenhum estabelecimento in-
dustrial voltado para esse segmento. Vejamos com detalhes no quadro1.
QUADRO 1. Localização das Indústrias de abate de suínos,
aves e pequenos animais no estado.
Mesorregião Município 2007 2012 2014
Camapuã 1 0 0
Campo Grande 7 6 5
Coxim 1 0 0
Mesorregião
Centro-norte
Rio Verde de Mato Grosso 1 0 0
São Gabriel do Oeste 2 2 2
Sidrolândia 1 2 2
Total/mesorregião 13 10 9
Caarapó 1 1 1
Mesorregião
Sudoeste Dourados 5 4 4
Itaquiraí 1 1 1
Total/mesorregião 7 6 6
Mesorregião Aparecida do Taboado 3 1 1
Leste Chapadão do Sul 0 1 0
Total/mesorregião 3 2 1
TOTAL GERAL 23 18 16
Fonte: SEMADE, 2015.
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As indústrias de abate de suínos, aves e pequenos animais, de-
vido às diferenças inclusive no processo produtivo, concentram-se
na porção Centro-sul do estado. Formam aí, uma espécie de espe-
cialização desse segmento, ainda tímida frente aos demais setores
industriais, como o setor de processamento de grãos, nessa região,
muito embora, o segmento tenha sofrido um decréscimo no total de
unidades industriais em todo o estado, caindo de 23 unidades fabris
em 2007 para 16, em 2014 (SEMADE, 2015).
As indústrias desse segmento que usufruem das leis de incen-
tivos fiscais estaduais totalizavam até o ano de 2013, aproximada-
mente, 1.500 empregos gerados, em municípios como Aparecida do
Taboado, Campo Grande, Itaquiraí e, também, Rochedo. Entretanto,
os projetos existentes que envolvem indústrias desse segmento apro-
ximam-se de 9.000 empregos gerados, sendo que desses, em torno
de 5.500 serão gerados no município de Dourados, onde localizam-
se duas empresas expoentes nesse segmento, a BRF – Brasil Foods
S. A. e a empresa JBS S/A. É válido ressaltar que essas empresas
resultantes de estratégias joint ventures são representativas no setor,
mas vão se beneficiar efetivamente dos incentivos à exportação atri-
buídos a Lei Kandir e, inclusive, de diretrizes da política industrial
do governo federal.
Outro segmento inserido no setor de carnes, são as indústrias
de produtos de carne, que se diferem dos segmentos trabalhados an-
teriormente (bovinos, suínos e pequenos animais) tanto no processo
produtivo, quanto em sua espacialização no estado. É um segmento
que consiste em poucas unidades industriais em todo estado. Em
2007 possuía nove unidades fabris, em 2012 chegou ao número de 23
e em 2014, possuía 17. Apesar da queda em quantidade, as indústrias
de produtos de carne, assim como as de abate de bovinos, também
apresentaram mobilidade locacional entre os anos de 2007 e 2014.
Os municípios como Maracaju, Rio Verde e Guia Lopes da Lacu-
na abriram indústrias desse segmento, porém somente em Campo
Grande há empresas que recebem os incentivos fiscais do governo
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 171
do estado e geraram, até 2013, menos de 50 empregos (SEMADE,
2015; MATO GROSSO DO SUL, 2014). Essas indústrias em geral,
se instalaram em municípios que já possuíam outras indústrias do
setor de carnes.
O setor de carnes, em sua totalidade (bovinos, suínos e pe-
quenos animais e, produtos de carne), apresentou crescimento em
unidades industriais no Mato Grosso do Sul, haja vista que em 2007
possuía 54 unidades fabris e, em 2014, passou a ter 64, localizadas
em todas as mesorregiões do estado, mas concentrando a maior parte
delas nas mesorregiões Sudoeste e Centro-norte (mapa 3).
MAPA 3. Localização das Indústrias do setor de carne em Mato Grosso do Sul
em 2007 e 2014.
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nos interessados em atrair investimentos estrangeiros, o que, no
Brasil, se manifestou no intenso processo de concessão de incenti-
vos fiscais e financeiros, denominado de ‘guerra fiscal’. (FIRKO-
WSKI, 2005, p. 76, grifo da autora).
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 173
des fabris, 92 somando os dois municípios, segundo dados da SEMADE
(2015).
Contudo, quando se trata de crescimento durante o período de
sete anos, os municípios de Coxim, Nova Andradina e Sidrolândia
entram em evidência, já que apresentaram as maiores taxas de cresci-
mento no estado, durante o período em questão. Coxim e Sidrolândia,
situadas na mesorregião Centro-sul, saltaram de 3 e 2 unidades fabris
em 2007, para 18 e 14, em 2014, respectivamente (mapa 4). Nova Andra-
dina, situada na mesorregião Leste do estado, apresentava, no ano de
2007, oito unidades fabris desse setor, já em 2014, passou a ter 20 uni-
dades do setor de laticínios em operação. Esses três municípios citados
possuem maiores quantidades de indústrias no setor, que se enquadram
no grupo também de laticínios, sendo que o grupo de sorvetes e gelados
comestíveis se apresentou em menores quantidades. Vemos novamente
municípios pouco tradicionais no setor de laticínios, se destacando nes-
se setor e industrialmente, o que antes não era uma realidade plausível,
mas que pode ser entendida, como uma atividade industrial que deriva
da pecuária, antes predominante.
MAPA 4. Espacialização das indústrias do setor de laticínios em
Mato Grosso do Sul nos anos de 2007 e 2014.
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aproximadamente 890 empregos gerados, em indústrias localizadas em
municípios como Bataguassu, Campo Grande, Inocência, São Gabriel
do Oeste e Terenos (MATO GROSSO DO SUL, 2014). Com exceção de
Campo Grande, que concentra a maior diversidade industrial do esta-
do, os outros municípios que se utilizaram das leis de incentivos fiscais
não são tradicionalmente industriais, mas que por meio das políticas de
incentivos puderam dinamizar suas economias interioranas.
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 175
DE, 2015). Vejamos no gráfico 1, a evolução e crescimento desde setor
em um período de 14 anos.
GRÁFICO 1. Indústrias de Alimentos em Mato Grosso do Sul – 2000 – 2014.
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leis de incentivos fiscais, os responsáveis pelo maior número de empre-
gos gerados até 2013, pelo setor alimentício.
Para sermos mais específicos, cabe aqui a ressalva de que o setor
de processamento de soja, assim como o de carnes e de indústrias que se
voltaram para exportação, muitas vezes optam por usufruir dos bene-
fícios da Lei Kandir (Lei Complementar nº 87/96), que isenta o imposto
cobrado sobre o produto exportado – ICMS, do que propriamente uti-
lizar as leis de incentivos fiscais estaduais, como as implementadas pelo
MS-Forte Indústria. Já as indústrias do setor de produção de mandioca
e fecularias, processamento de mel e de frutas são exemplos de indús-
trias de pequeno alcance ao mercado externo e que, por possuir merca-
do consumidor nacional, não usufruem da Lei Kandir. Dessa forma, o
Estado articulou outras medidas que possam atraí-las para o território,
como as políticas de incentivos fiscais do Mato Grosso do Sul, a partir
dos anos 2000.
Entretanto, os projetos para utilização dos incentivos fiscais exis-
tentes para implantação ou ampliação de indústrias, a partir de 2014, se-
gundo a SEPROTUR (MATO GROSSO DO SUL, 2014), apresenta uma
direcionamento às grandes corporações, que anteriormente não requi-
sitaram o benefício, como indústrias do setor de carne e processamento
de soja, que possuem o maior potencial para geração de empregos, em
torno de 18.000 postos de trabalho. Há também, o caso de empresas
que foram instaladas há mais tempo, mas que só agora aparecem como
possíveis receptoras de incentivos fiscais, por exemplo, a Indústria e Co-
mércio de Café Meridional LTDA, situada, desde 1987, em Paranaíba e
a empresa CIPA Indústria de Produtos Alimentares LTDA e a fábrica de
biscoitos Mabel, situada em Três Lagoas desde 1998.
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 177
godão (CNAE, 2015). Na análise desse setor, será possível estabelecer
um panorama desde os anos 2000 até o ano de 2014, haja vista que a
alteração de metodologia da CNAE realizada entre os anos de 2006 e
2007, não alterou a divisão do setor têxtil possibilitando uma análise
mais ampla do mesmo. Na medida em que as primeiras políticas de
incentivos fiscais tenham sido lançadas em 2001 (MS Empreendedor),
esses dados se tornam de suma importância para a análise.
O setor têxtil apresentava-se em pequena quantidade até os anos
2000, estando presente apenas em oito municípios do estado, tendo em
Três Lagoas a maior quantidade de indústrias em um mesmo municí-
pio, com nove unidades industriais. Em 200713, o setor têxtil aumentou
em número de municípios com unidades desse setor, passando a estar
presente em 17 municípios do estado, e quase dobrou em quantidades
industriais, passando de 23 para 40 unidades fabris em 2007. A partir
desse ano, podemos observar que começaram a aparecer municípios
como Aparecida do Taboado, Batayporã, Itaquiraí, Ivinhema, Paranaí-
ba e São Gabriel do Oeste, para citar somente alguns, com ao menos
uma planta industrial desse setor, sendo que nos anos anteriores não
havia nenhuma, ou seja, com a atuação das leis de incentivos fiscais, o
estado tornou-se mais atrativo, possibilitando às indústrias de setores
não tradicionais serem implantadas em Mato Grosso do Sul.
A partir de 2010, o setor têxtil experimentou grande crescimento
que continuaria nos anos seguintes como podemos evidenciar no grá-
fico 2. Em 2009, esse setor contava com 39 unidades industriais, já em
2010, passou a ter 74 unidades industriais e, em 2014, chegou à marca de
178 indústrias desse setor (SEMADE, 2015).
13 Iremos analisar também o setor têxtil no ano de 2007, para não perdermos a possi-
bilidade comparativa com os setores analisados, anteriormente, neste trabalho.
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GRÁFICO 2. Indústrias do setor Têxtil – 2000 – 2014.
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 179
Embora esse setor tenha se assentado principalmente em muni-
cípios que já possuíam uma atividade industrial considerável, é notável
o destaque que outros municípios vêm recebendo no setor industrial,
como é o caso de Coxim. Esta possuía, em 2010, uma fábrica têxtil e,
em 2014, passou a ter cinco unidades industriais. Já Iguatemi, que não
possuía indústria do setor têxtil, passou a ter seis unidades em 2014 e
Mundo Novo, que possuía somente uma indústria do setor, também
passou a ter seis unidades industriais (SEMADE, 2015). Observemos no
mapa 5, a dinâmica territorial do setor têxtil em Mato Grosso do Sul.
MAPA 5. Espacialização do setor têxtil nos anos 2000, 2007, 2010 e 2014.
Sobre os incentivos fiscais, esse setor está entre os que mais uti-
lizam esse benefício, tendo em Três Lagoas a maior concentração de
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empresas do setor têxtil que recebem incentivos fiscais do estado. Das
20 indústrias presentes no município até 2013, oito empresas usufruíam
das leis estaduais de incentivos fiscais, gerando aproximadamente 1.070
empregos (MATO GROSSO DO SUL, 2014). Essas empresas presentes
no município de Três Lagoas, em grande parte, possuem origem nos es-
tados do Sudeste brasileiro e veem no município a oportunidade de re-
dução de custos e com isso, a possibilidade de lograr o aumento da com-
petitividade de seu produto no mercado. Esse fato deriva da localização
limítrofe com o estado de São Paulo e também a presença de modais
de transporte, como o rodoviário pela BR-262 entre os estados de Mato
Grosso do Sul e São Paulo, sendo esse o mais utilizado pelas empresas
do setor têxtil; o modal ferroviário por meio da Ferrovia Novoeste, ad-
quirida, em 2006, pela empresa América Latina Logística LTDA – ALL;
e o transporte pela hidrovia Tietê-Paraná, ainda pouco utilizado. Outro
fator determinante para a mudança locacional das unidades produtivas
para o interior do país está na grande oferta de mão de obra barata.
Esse movimento é conhecido geograficamente como desconcen-
tração industrial (LENCIONI, 1994), processo em que empresas partem
em busca de espaços produtivos que sejam mais vantajosos, fugindo
das chamadas “deseconomias de aglomeração” (SPOSITO, 2007), que
aumentam o custo de produção para empresa, instalando filiais primei-
ramente na região metropolitana de São Paulo, com o passar dos anos
chegando ao interior do estado e mais recentemente se espraiando para
outros estados, como o caso de Mato Grosso do Sul. Entretanto, Sposito
(2007), quando trabalha a existência de eixos de desenvolvimento, sa-
lienta que devida às inovações tecnológicas se estabelecem novas lógicas
de localização industrial.
Nas palavras do autor:
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 181
máquinas e equipamentos e na organização das empresas que
aumentam a produtividade da mão de obra e dinamizam os pro-
dutos para uma melhor aceitação no mercado, assegurando os
lucros que estimulam a ação empresarial, a produção e novos in-
vestimentos em tecnologias, que se torna um processo contínuo.
E isso provoca, territorialmente, novas lógicas de localização das
atividades (SPOSITO, 2007, p. 5).
182 UUU
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ficando, em 2014, com duas unidades industriais em cada município.
Em contrapartida, aumentaram o número de unidades industriais do
setor em outros municípios, como Sidrolândia, que ultrapassou a capi-
tal Campo Grande em 2014, com um total de seis unidades industriais
e Rio Brilhante que, em 2007, possuía duas empresas do setor e passou
a ter cinco unidades industriais. Ademais, municípios como Caarapó,
Costa Rica, Fátima do Sul e Novo Horizonte do Sul, que antes não pos-
suíam nenhuma indústria do setor, passaram a ter uma indústria de
biocombustível em cada município (SEMADE, 2015).
Paraíso das Águas, que também não possuía nenhuma indústria
do setor em 2007, passou a ter, em 2014, duas indústrias de biocombus-
tíveis. Lembremos que esse município é o mais novo do estado de Mato
Grosso do Sul, emancipado em 2003, mas fundado somente em 2013,
devido aos impasses políticos que arrastaram até 2009 a validade de
sua emancipação. Esse município, em 2013, produziu 992.718 toneladas
de cana-de-açúcar, principal matéria-prima utilizada para a produção
de álcool no estado, possuindo uma área plantada e colhida de 12.452
hectares, ultrapassando a produção de cana-de açúcar do município de
Sidrolândia que, no mesmo ano, somou 672.703 toneladas em uma área
plantada e colhida de 13.997 hectares. Paraíso das Águas segue a ten-
dência da economia estadual, com a sua economia voltada para a pro-
dução de grãos como soja e milho para exportação, mas a produção de
cana-de-açúcar representou, em 2013, sua maior produção em lavoura
temporária (IBGE, 2015).
De toda forma, a localização desse setor no estado não apresen-
tou muitas alterações, com exceção aos municípios que não possuíam
nenhuma indústria do setor em 2007 e subiram para uma indústria em
2014; manteve-se praticamente o mesmo panorama locacional durante
esse mesmo período, somente a mesorregião Leste que aumentou suas
unidades industriais nesse setor de seis em 2007, para dez em 2014 (SE-
MADE, 2015), mas em sua maioria houve crescimento do setor, em mu-
nicípios que já possuíam indústrias de biocombustível, como podemos
observar no mapa 6, além de grande produção de cana-de-açúcar.
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 183
MAPA 6. Localização das indústrias de biocombustível em 2007 e 2014
no Mato Grosso do Sul.
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chamado sucroalcooleiro, apresentam-se poucos projetos que estão en-
tre os beneficiados. Dourados, com dez unidades industriais beneficia-
das, sendo duas do setor sucroalcooleiro, é o que possui mais empresas
que usufruem do benefício dentre os 12 municípios receptores, ademais
os dois estabelecimentos são de uma mesma corporação. Destacam-se
ainda, os municípios de Maracaju e Nova Alvorada do Sul, que de um
total de dois processos em cada município, um está voltado para indús-
tria de biocombustível (MATO GROSSO DO SUL, 2014).
GRÁFICO 3. Quantidade de Indústrias de Biocombustível no
Mato Grosso do Sul: 2007 – 2014
APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 185
Os setores analisados, mesmo com suas especificidades, sina-
lizam para um crescimento e implantação de plantas industriais no
estado de Mato Grosso do Sul, tanto em locais mais tradicionais, que
possuem um parque industrial mais desenvolvido, como os municípios
de Campo Grande, Dourados e Três Lagoas, como exercem poder de
atrair novas indústrias a lugares pouco tradicionais, mas que se tornam
atrativos por meio das leis de incentivos fiscais e dinamizam economi-
camente o lugar em que se instalam.
Vale ressaltar que as quantidades de empregos gerados, trabalha-
dos aqui para o ano de 2014, consideram somente o potencial das indús-
trias que receberam ou possuem futuros projetos para usufruírem dos
incentivos fiscais do estado, sendo assim, não representam o número
de empregos gerados por esses setores em suas totalidades dentro do
período.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A industrialização de Mato Grosso do Sul pode ser explicada por
meio de uma reunião de fatores que podemos assim esboçar: estruturas
de transporte e logística, disponibilidade de recursos hídricos, estrutu-
ra fundiária e a política de incentivos fiscais. Desse último fator, tenta-
mos, aqui, sublinhar a importância entre os anos de 2000 e 2014, após a
criação da Lei nº 93/2001. Esse contexto, por mais que tenha instigado
a instabilidade jurídica entre outras unidades federadas, por outro lado,
fomentou a atividade industrial no estado de Mato Grosso do Sul e ain-
da reestruturou espacialmente a indústria, como vimos no setor têxtil.
A querela sobre a guerra fiscal e a guerra dos lugares é notória.
As políticas de incentivos fiscais, entretanto, são incluídas nas estraté-
gias de desenvolvimento regional, integrando no processo de industria-
lização, municípios com pouca tradição industrial, tais como Mundo
Novo, Iguatemi e Batayporã. A política industrial do governo federal,
pouco trabalhada aqui nesse texto, por uma opção metodológica, entra
na agenda da industrialização fomentando corporações transnacionais
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como Cargill, Eldorado Brasil, JBS e ADM Alimentos em outros muni-
cípios mais dinâmicos como Campo Grande, Três Lagoas e Dourados.
Porém, o que é colocado na mesa para o poder público, seja para
o Brasil como um todo ou para Mato Grosso do Sul, é pensar uma agen-
da de desenvolvimento industrial sem os incentivos fiscais, já que as
empresas procuram em outras unidades federadas, além de vantagens
locacionais tradicionais, não mais encontradas no estado de São Paulo,
os incentivos, esses que, de curto a médio prazo, possuem data para ter
fim. Em outras palavras, resta saber quem vai sair perdendo no desfe-
cho das guerras (fiscal e dos lugares).
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APONTAMENTOS SOBRE A POLÍTICA DE INCENTIVOS FISCAIS E A INDUSTRIALIZAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL UUU 189
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA
NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS
MERCADOS INTERNO E EXTERNO:
PROPOSIÇÕES À REALIDADE BRASILEIRA
E SUL-MATO-GROSSENSE
Márcio Rogério Silveira
Alessandra dos Santos Julio
1. INTRODUÇÃO
As grandes corporações capitalistas elegem alguns territórios
como locais para produção e, por conseguinte, para investimentos. Tal
aspecto da dinâmica capitalista, referente à mobilidade geográfica do
capital, infere nesses territórios padrões diferenciados de desenvolvi-
mento e, entre muitos aspectos, contribuem para ampliar as seletivida-
des espaciais/territoriais e assim a reprodução das desigualdades eco-
nômicas e espaciais. Essa lógica imperialista (WOOD, 2014) também
interfere na organização dos sistemas de transportes (infraestruturas,
logística, fluxos, normas e tributação), pois os mesmos são importantes
demandas corporativas e essenciais para a ampliação capitalista.
A formação econômica e social brasileira formatou uma lógica
espacial na qual os sistemas de movimentos existentes atendem, prin-
cipalmente, as áreas economicamente mais dinâmicas. A construção
do território nacional e a instalação dos sistemas de transportes e co-
municação seguiram a organização das atividades econômicas em cada
período histórico. Esse aspecto é particularmente significativo quan-
do tratamos do sistema ferroviário de cargas. Haja vista que a malha
UUU 191
foi construída majoritariamente, a partir da segunda metade do século
XIX, ligando as fazendas agroexportadoras aos portos e as áreas de pe-
quena produção mercantil aos principais mercados internos (SILVEI-
RA, 2007). Portanto, algumas regiões brasileiras possuem uma malha
ferroviária maior, apesar de mais antiga e pouco eficiente, enquan-
to outras sofrem com a falta de alternativas para o transporte da sua
produção.
A economia sul-mato-grossense está muito atrelada ao merca-
do externo. Diferentemente de outros estados que tiveram uma par-
ticipação direta no processo de industrialização nacional, o desenvol-
vimento das forças produtivas no Mato Grosso do Sul é mais recente.
Estando esse diretamente associado à expansão da fronteira agrícola
e a demanda global por insumos agroalimentares e minerais (além de
alguns produtos para o mercado interno). Contudo, o desenvolvimento
da economia regional sofre, apesar de muitos investimentos, com as de-
ficiências nos sistemas de transportes e armazenamento, pois esses não
esses conseguem ser estruturados pelo poder público de acordo com as
demandas globais e o crescimento do PIB brasileiro.
Apesar da economia do estado estar ligada ao comércio interna-
cional – principalmente com a exportação do minério de ferro, o com-
plexo de soja e de carne bovina – e suas fronteiras estarem distante dos
principais portos, o modal ferroviário possui uma pequena participa-
ção na matriz de transporte estadual. As duas ferrovias com trechos no
estado não atendem plenamente às necessidades da fluidez regional. O
modal ferroviário é eficiente, no que se refere à relação custo/benefício,
para o transporte de carga em distâncias entre 400 e 1500 km e grandes
volumes. Outras vantagens do modal para o transporte de cargas são os
baixos custos unitários, a inexistência de grandes congestionamentos,
a menor vulnerabilidade a acidentes e roubos, o maior rendimento es-
pacial e o consumo de energia inferior e, portanto, menores impactos
ambientais.
Um sistema ferroviário maior e mais integrado, rompendo os tra-
dicionais sistemas litoral-interior (interior-produtor aos portos-empó-
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 193
dointerior para atender os períodos de altas safras (portos marítimos,
fluviais, de transbordo e alfandegamento terrestres). A retomada dos
investimentos públicos atrelada ao crescimento do mercado externo,
haja vista o contexto de expansão da demanda internacional por produ-
tos primários, refletiu numa maior procura pelo transporte ferroviário
de cargas. Houve, portanto, investimentos em infraestruturas de trans-
portes no Centro-Oeste, não apenas no modal ferroviário, mas também
a abertura de novos portos para completar o necessário escoamento da
produção. De modo que a compreensão do papel do setor ferroviário
para a economia sul-mato-grossense requer uma análise multiescalar
que abranjaas escalas nacional e internacional.
A questão que norteia este capítulo está relacionada às possibi-
lidades de desenvolvimento regional com a manutenção e ampliação
da malha ferroviária no estado do Mato Grosso do Sul. O capítulo está
organizado em três partes, além da introdução e conclusão. A primeira
apresenta o sistema ferrovário, após as concessões, com destaque para
as ferrovias existentes no estado sul-mato-grossense. A segunda expõe
dados da economia nacional e estadual, entendendo a dinâmica esta-
dual atrelada ao contexto nacional. O terceiro é para analisar a estra-
tégia da União, nos últimos anos, para o modal ferroviário e como a
maior integração das ferrovias podem contribuir para a ampliação do
desenvolvimento regional e, por conseguinte, nacional.
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 195
Ferrovia SulAtlântico S.A. (FSA), detentora da concessão de toda malha
ferroviária do Sul do país, parte do Centro-Oeste e de parte da malha
paulista1. É pertinente assinalar que os argumentos para justificar as
concessões se baseavam nos problemas decorrentes dos monopólios pú-
blicos. Contudo, as concessionárias se tornaram monopólios privados,
ou seja, não houve uma real ampliação da competitividade.
No caso da Ferrovia Novoeste, a empresa não conseguiu arcar
com suas obrigações junto ao governo federal e tampouco realiz’dx/-ar
os investimentos e manutenção da malha férrea previstos em contra-
to. Ao final da década ela já apresentava déficits e, em função disso,
conseguiu na justiça o direito ao pagamento parcial da dívida com o
Estado. No ano de 2002, em meio a um processo de revisão do contrato
de concessão e sucateamento da via, ela foi incluída na holding Brasil
Ferrovias.
A Ferronorte também passava por problemas financeiros e apesar
da venda de ações e incorporação de novos acionistas, a partir de 1997,
ela precisou recorrer ao financiamento público para conclusão dos tre-
chos entre a ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná e o terminal de
Inocência/MS, de Inocência à Chapadão do Sul/MS e de Chapadão do
Sul até Alto Taquari/MS, completando os 410 km da Fase I do projeto.
Souza (2011) revela que a atuação dessa ferrovia sempre esteve atrelada
à existência de recursos públicos, pois foram investidos na Ferronorte,
entre o início da obra até 2001, um total de R$ 1,321 bilhão, entre fi-
nanciamentos e renegociações de dívidas. Ela também foi incluída na
holding Brasil Ferrovias. Portanto, a necessidade de financiamento por
parte de instituições públicas às concessionárias como único meio de
alavancar recursos no mercado para realizar investimentos é mais uma
deficiência das concessões da década de 1990.
A holding Brasil Ferrovias foi criada em 2002 e controlava as fer-
rovias Ferronorte, Ferroban (Ferrovias Bandeirantes) e Novoeste. Em
2005, foi realizada uma reestruturação, com a divisão da holding se-
1 A ALL também era detentora da concessão da malha na Argentina, mas perdeu a
concessão do país por não cumprir o contrato de concessão.
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 197
Cuiabá/MT e Porto Velho/RO e (d) Cuiabá/MT e Santarém/PA (ANTT,
2013). Tal fato significa que para a construção desses trechos, o governo
federal necessitará realizar uma nova licitação. A expansão da ferrovia
entre Rondonópolis até Cuiabá é uma solicitação antiga do estado de
Mato Grosso e, apesar do fim da concessão para a ALL/Rumo, o estado
busca formas, junto ao governo federal, de viabilizar o trecho.
A última mudança entre as concessionárias ferroviárias foi a in-
corporação das ações da América Latina Logística4 pela Rumo Logís-
tica Operadora Multimodal S/A, do Grupo Cosan5, em maio de 2014.
O Grupo Cosan era um dos principais clientes da ferrovia, mas após
os investimentos na aquisição de material rodante e descontentamento
com os serviços prestados pela concessionária, o grupo entrou na jus-
tiça contra a mesma, por descumprimento de contrato. No decorrer do
processo as partes acordaram que seria menos prejudicial para ambas
uma fusão. A negociação foi aprovada pelo Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (CADE), em fevereiro de 2015 (REVISTA FER-
ROVIÁRIA, 2015). Após a operação de incorporação, o Grupo Cosan
passou a ser o maior acionistaindireto da ALL6.
A alteração da estrutura acionária representa uma mudança de
estratégia da empresa. No documento final de julgamento do CADE
consta a necessidade de cumprimento de um conjunto de medidas para
evitar a restrição de mercado aos usuários concorrentes do grupo Co-
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 199
do Sul. De acordo com a ALL, os trechos não apresentam demandas
que sustentem a reativação da malha. A ALL também depredou ativos
arrendados – que são patrimônios públicos, uma vez que ela é detentora
de uma concessão de bem público e não proprietária da mesma – a favor
de trechos com fluxos, ou seja, os corredores de exportação.
A desativação de trechos não rentáveis e a racionalização das ope-
rações são táticas das concessionárias para reduzir os custos e melhorar
a produtividade da empresa. Como a maioria dos acionistas das em-
presas ferroviárias éformada, como já relatado, por uma conjugação de
grupos de investimentos e típicos clientes ferroviários, o resultado é um
grande jogo financeiro envolvendo as ações dessas empresas e a manu-
tenção de trechos ferroviários com alto fluxo de cargas e de interesse de
grandes grupos econômicos do setor mineral e agroindustrial.
Apesar de contextos econômicos diferentes e de processos de
reestruturações diversos, a maioria dos países tiveram suas malhas re-
duzidas após os processos de reestruturações. Nos Estados Unidos as
companhias ferroviárias foram desde o princípio privadas, mas sob a
forte regulação do Estado. Ao final da década de 1970, houve um pro-
cesso de desregulamentação que permitiu abandonar a prestação de
serviço em malhas que não eram econômicas e/ou transferir para em-
presas regionais e locais (WATERS II, 2007). Após 1992, as grandes em-
presas ferroviárias americanas passaram aproximadamente 30.088 km
de linhas para operadoras locais e regionais.
Em 2013, a ANTT autorizou7 a devolução de 3.989 km de vias
pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Como base nesse precedente,
outras regiões com ferrovias subutilizadas podem questionar a atuação
da ANTT no sentido de cobrar o cumprimento do contrato das conces-
sionárias, a fim de evitar futuras devoluções e maiores danos àfluidez
regional. Inclusive, existem várias ações judiciais contra as concessioná-
rias ferroviárias, mas a maioria das decisões do judiciárioéfavorávelàs
empresas.
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 201
A Malha Oeste e a Malha Norte da ALL ligam o Centro-Oeste aos
portos do Sul e Sudeste do Brasil (figura 1). A maior parte das cargas de
soja do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás são escoadas pelos-
Porto de Santos e Paranaguá (SPNT/MT, 2012). Outros fatores, além
da qualidade da via, custos de transportes e proximidade, inferem na
escolha dos portos para a exportação e no custo final dos produtos, tais
como: a questão normativa e tributária e as rotas dos navios cargueiros.
Amenizar os fatores da renda diferencial, como produtividades do solo
e custos de transportes para insumos e escoamento da produção é uma
necessidade constante nas áreas mais distantes dos centros de consumo
e dos pontos nodais de exportação. Lembrando que os fatores de com-
petitividade relacionados aos custos de transportes incluem os sistemas
de logística, de normas e tributação e os custos de armazenamento.
FIGURA 1. Malha férrea nacional e ferrovias no estado do
Mato Grosso do Sul, 2014.
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 203
média maior, como é o caso das últimas extensões da Malha Norte,
inaugurada pela ALL, ao mesmo tempo, em trechos mais antigos ou
que atravessam áreas urbanas a velocidade é bem menor. A baixa velo-
cidade incide na competitividade do produto no mercado externo, pois
aumenta o tempo de circulação da mercadoria, o qual redunda em um
maior tempo de rotação do capital (tempo de produção + tempo de cir-
culação) (MARX, 2011). Quanto mais o tempo de circulação aproxime-
se de zero, mais funciona o capital, maior se torna sua produtividade e
produção de mais-valia (MARX, 2011).
As tabelas 1 e 2 demonstram as principais cargas transportadas
pelas respectivas ferrovias no ano de 2013. A Malha Norte transportou
principalmente soja, farelo de soja e milho (92% sobre o total de TKU
transportado). A tabela confirma que a ferrovia é utilizada basicamente
por grandes grupos exportadores que atuam nos estados de Mato Gros-
so e Mato Grosso do Sul. Esses dados exemplificam também a valori-
zação de alguns corredores em detrimento de outros, posto que a carga
está concentrada em espaços específicos.
TABELA 1. Carga transportada América Latina Logística Malha Norte S.A, 2013.
TU – tonelada TKU – tonelada
Grupo Mercadoria Subgrupo Mercadoria Mercadoria
útil quilômetro útil
Combustíveis, derivados do Combustíveis, derivados do
Álcool 561.472 549.021.250
petróleo e álcool petróleo e álcool
Outras mercadorias Contêiner Contêiner cheio de 20 Pés 1.550 2.386.128
Outras mercadorias Contêiner Contêiner cheio de 40 Pés 297.612 421.576.128
Outras mercadorias Contêiner Contêiner vazio de 20 Pés 159 128.065
Outras mercadorias Contêiner Contêiner vazio de 40 Pés 528 316.798
Setor agrícola, extração
Extração vegetal e celulose Celulose 578.792 538.692.712
vegetal e celulose
Setor agrícola, extração
Produção agrícola Grãos-milho 6.576.884 10.016.457.990
vegetal e celulose
Setor agrícola, extração
Soja e farelo de soja Farelo de soja 1.918.625 2.666.428.364
vegetal e celulose
Setor agrícola, extração
Soja e farelo de soja Soja 4.480.637 6.399.061.906
vegetal e celulose
Total 14.416.259 20.594.069.341
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 205
no Brasil como um todo, é um demonstrativo da contradição do siste-
ma capitalista.
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 207
TABELA 3. Balança comercial brasileira (US$ 1000 FOB), 1998-2014.
Exportação Importação PIB em Variação
Ano Var. Var. Saldo milhões de Percentual
Valor Valor R$ de 2014 Real
(%) (%)
1998 51.139.862 --- 57.763.476 --- -6.623.614 3.380.725.96 0,4
1999 48.012.790 -6,11 49.301.558 -14,65 -1.288.768 3.397.271.55 0,5
2000 55.118.920 14,80 55.850.663 13,28 -731.743 3 546 144.86 4.4
2001 58.286.593 5,75 55.601.758 -0,45 2.684.835 3 591 393.87 1.3
2002 60.438.653 3,69 47.242.654 -15,03 13.195.999 3 701 872.79 3.1
2003 73.203.222 21,12 48.325.567 2,29 24.877.655 3 747 165.46 1.2
2004 96.677.497 32,07 62.835.616 30,03 33.841.882 3 959 246.92 5.7
2005 118.529.184 22,60 73.600.376 17,13 44.928.809 4 083 929.95 3.1
2006 137.807.470 16,26 91.350.841 24,12 46.456.629 4 247 298.93 4.0
2007 160.649.073 16,58 120.617.446 32,04 40.031.627 4 502 390.10 6.0
2008 197.942.443 23,21 172.984.768 43,42 24.957.675 4 728 319.78 5.0
2009 152.994.742 -22,71 127.722.343 -26,17 25.272.399 4 717 238.66 -0.2
2010 201.915.276 31,98 181.768.427 42,32 20.146.848 5 074 363.77 7.6
2011 256.039.366 26,81 226.246.756 24,47 29.792.610 5 273 049.15 3.9
2012 242.572.846 -5,26 223.183.477 -1,35 19.389.369 5 366 041.81 1.8
2013 242.178.649 -0,16 239.627.495 7,37 2.551.155 5 513 184.28 2.7
2014 225.100.884 -7,00 229.140.035 -4,5 -4.039.150.352 5 521 256.07 0.1
Fonte: Secex, Base ALICE, IBGE, Banco Central do Brasil (2015).
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 209
-energética S.A. (álcool) (MDIC, 2015). Confirmando que as maiores
exportadoras são as grandes usuárias do sistema de transporte ferroviá-
rio no estado, pois seus produtos são típicos do transporte ferroviário,
ou seja, alto peso, volume e distância percorrida para sua efetivação em
mercadoria versus valor agregado.
TABELA 4. Principais produtos exportados pelo Mato Grosso do Sul, 2014.
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 211
TABELA 5. Exportação do estado de Mato Grosso do Sul, por fator agregado
(2000-2015).
TOTAL Básicos Semimanufaturados Manufaturados
Ano/Mês
US$ FOB US$ FOB US$ FOB (A) US$ FOB (B)
2000 253,238,706 204,138,564 19,461,155 29,583,935
2001 473,680,363 406,543,193 35,824,838 31,278,519
2002 384,238,042 296,476,564 49,260,536 38,500,694
2003 498,338,890 369,237,089 73,413,253 55,688,548
2004 644,754,039 435,204,004 141,912,375 67,637,660
2005 1,149,121,782 880,865,931 185,599,459 82,656,392
2006 1,004,338,508 730,402,541 207,954,334 65,382,776
2007 1,297,176,760 994,776,536 238,460,774 62,169,426
2008 2,095,551,415 1,691,621,252 326,436,144 75,277,190
2009 1,937,634,439 1,337,686,603 503,951,403 95,263,496
2010 2,960,507,709 1,916,305,312 853,824,844 188,145,784
2011 3,916,260,636 2,443,236,105 1,280,467,536 190,554,493
2012 4,212,756,213 2,647,521,754 1,357,512,134 205,621,191
2013 5,256,284,227 3,391,805,897 1,717,213,905 146,966,828
2014 5,245,499,753 3,527,726,553 1,606,406,588 111,045,366
Fonte: Secex/MDIC, 2015.
10 Um vagão graneleiro pode comportar até 100 toneladas de cargas, para transportar
a mesma quantidade seriam necessários 3,57 caminhões tipo graneleiro de carreta
com eixo simples ou 2 caminhões graneleiros de Carreta Eixo Alongado Bidirecio-
nal. Portanto uma composição com 50 vagões pode substituir até 178 caminhões.
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 213
se comparada a da logística, principalmente a da logística cor-
porativa que avança a “passos largos” no Brasil. Nesse sentido,
há um descompasso entre a expansão das infraestruturas e do
planejamento e gestão de rotas, armazenamento, etc. A eficiência
operacional hoje é significativa e tenta amenizar os problemas de
infraestruturas que, por um lado, foram solicitadas muito além
da capacidade nacional de implementá-las e, por outro lado, não
são produzidas eficientemente, pois os entraves para sua constru-
ção são enormes” (SILVEIRA, 2014, p.32).
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 215
infraestruturas apresentavam como objetivos: eliminar os principais
gargalos de restrição ao crescimento da economia; reduzir custos e au-
mentar a produtividade das empresas; estimular o aumento do investi-
mento privado e reduzir as desigualdades regionais.
As obras do PAC foram baseadas nos estudos e recomendações
do Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT). Trata-se de uma
proposta de longo prazo para o Estado Brasileiro, a qual teve início em
2006 e apontou prioridades de investimentos até 2031. De modo que
ele subsidiaria os planos plurianuais e outros planos de investimentos
prioritários para o desenvolvimento do país.
O PAC 2, lançado em 2011, pela presidente Dilma Rousseff, apre-
sentou uma divisão e objetivos mais claros quanto aos critérios de se-
leção das obras do setor ferroviário. O texto enfatizou que as obras vi-
savam desenvolver um sistema integrado, ligando as áreas de produção
agrícola e mineral aos portos, indústrias e mercado consumidor. Ele
reafirmou todas as obras presentes no PAC 1, posto que, somente algu-
mas estavam em execução, e incluiu novos projetos.
Em 15 de agosto de 2012, o governo federal lançou o Programa de
Investimentos em Logística (PIL). O Programa incluiu um conjunto de
projetos visando o desenvolvimento de um sistema de transportes mo-
dernos e eficientes, os quais deveriam ser realizados por meio de par-
cerias com o setor privado. Destarte, ele previu a transferência de parte
da construção e da manutenção de trechos ferroviários e rodoviários
via concessão à iniciativa privada. De fato, o maior objetivo do governo
com o PIL foi ampliar a participação do setor privado. O aumento da
participação do setor privado na ampliação das infraestruturas é uma
decisão importante para expandir os investimentos e a eficiência da
rede ferroviária de transporte. Temos que ter clareza que concretamen-
te nunca existiu uma rede ferroviária nacional, mas o que temos é um
conjunto de redes regionais desintegradas e pouco organizadas.
O PIL definiu 16 trechos ferroviários a serem construídos, em um
total de 11,5 mil km de linhas férreas, perfazendo um investimento de
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 217
entraves à execução das obras e as deficiências da malha existente man-
témum cenário onde os custos internos dos transportes para algumas
regiões ainda são altos. Um estudo realizado por Moreira (2014) bus-
cou quantificar os custos dos transportes das mercadorias destinadas à
exportação. E os dados apresentados corroboram que esses impactam
diretamente nas exportações. Entretanto, a metodologia da pesquisa
não inclui os custos de armazenamento, pedágios e outras taxas, os
quais também variam de acordo com as rotas selecionadas. Como, por
exemplo, as rodovias paulistas que apresentam ótima qualidade, mas
possuem os pedágios mais caros do país. Assim, considerando que a
metodologia se baseou nas rotas de menor custo, ela não demonstra
necessariamente as rotas utilizadas pelas empresas.
Ao correlacionar os dados encontrados na pesquisa e as obras
previstas pelo governo federal, Moreira (2014) apontouque as melho-
rias previstas contribuirão para a diminuição dos custos de transpor-
tes, principalmente, das mercadorias de baixo valor agregado. Outro
aspecto interessante é que os grandes projetos de expansão ferroviária
estão localizados nas regiões com menor desenvolvimento do sistema
de transporte nacional, assim, a conclusão das obras poderia ser uma
contribuição para a diminuição das desigualdades regionais, contudo,
para se alcançar esse resultado seria necessária uma série de políticas
conjuntas voltadas para o crescimento da produção e real atendimen-
to às necessidades regionais. Esse assunto remete às análises sobre o
desenvolvimento brasileiro realizado por Ignácio de Mourão Rangel.
Para Rangel (2005), “(...) o desenvolvimento é um processo de conflitos
internos e externos. Uma economia em desenvolvimento não resolve
um problema sem criar outro ainda maior. Por isso, a história do desen-
volvimento econômico do Brasil só pode ser a história de desequilíbrios
e de problemas que geram problemas” (RANGEL, 2005, p.41)13.
Além disso, os custos de transportes não são os únicos fatores
que determinam a competitividade do produto nacional destinado à ex-
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 219
espaço geográfico, como já identificado em Marx (2011). No Brasil, exis-
tem vários exemplos de concentrações produtivas e valorização de espa-
ços, a partir da instalação de infraestruturas. As infraestruturas, bem
planejadas, servem de atração para diversificadas atividades econômi-
cas, podendo, portanto, ser precursoras de concentrações econômicas
(produtivas, logísticas, entre outras). Vide o caso do porto de Itajaí, em
Santa Catarina, que, em essência, é o precursor de um arranjo de em-
presas denominado de “complexo logístico do Itajaí”, pois ao longo do
rio Itajaí, nos municípios de Itajaí e Navegantes, concentram-se serviços
de transportes, de armazenamento, de logística e algumas atividades
produtivas acessórias desses.
Dado o momento econômico do país e os problemas identificados
para o avanço das obras, a lista de projetos apresentadosno novo PIL é
mais realista e atende mais diretamente os interesses privados, inclu-
sive das atuais concessionárias. A estratégia do Estado com as novas
medidas do PIL é manter as concessões antigas e realizar investimentos
para ampliação da capacidade de tráfego e melhoria com novos pátios,
redução dos problemas nas passagens de nível e trechos urbanos. Esses
investimentos,queserãorealizados conjuntamente com as atuais conces-
sionárias, deverão ser financiados com recursos públicos, via BNDES,
como ocorreu nos últimos anos, portanto, o Estado ainda será respon-
sável por uma grande parte dos mesmos.
A conservação das inversões em infraestruturas de longo prazo
representa uma continuidade, apesar de menos ambiciosa, de dinami-
zação da economia interna, por meioda geração de demanda em outros
setores. Contudo, a manutenção do modelo de concessão vertical, ou
seja, a concessionária é responsável pelas infraestruturas, investimen-
tos e operação da malha férrea evidencia o atendimento dos interesses
das concessionárias, uma proposta que visa viabilizar investimentos de
médio e longo prazos (e que, como tal, possuem um longo período de
retorno) nas atuais concessões. Porém, o histórico dos baixos investi-
mentos nos fixos, pelas concessionárias, nos últimos anos, permite uma
série de questionamentos sobre a respectiva proposta. Ela vai requerer
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 221
vimento regional e não apenas o atendimento às necessidades dos seto-
res ligados à exportação. Considerando que a maior parte da produção
nacional é exportada pelos portos do Sul e Sudeste, a expansão dos por-
tos das outras regiões também é premente, de modo a garantir que real-
mente haja uma melhoria dos sistemas de transportes nacionais e uma
redução das desigualdades regionais. Posto que, conforme já apontado,
os acessos ferroviários aos portos de Santos e Paranaguá atravessam re-
giões densamente urbanizadas, o que demanda uma diminuição ainda
maior da velocidade de trânsito do trem, implicando em problemas nas
passagens de nível e o compartilhamento da malha férrea.
Além da “logísticas de Estado” (planejamento, gestão e estratégias
de fluxos, rotas, construção de infraestruturas, normatização e tributa-
ção) de responsabilidade do poder público, há a logística corporativa
(estratégia, planejamento e a gestão de transportes e armazenamento)
realizada pelas empresas. Caso esses dois ambientes funcionem juntos e
harmonicamente, a fluidez territorial será ideal para a diminuição dos
custos de transportes e aumento da competitividade de uma região e de
um país. Seus usos corretos e sobrepostos podem implicar em correções
nas desigualdades regionais, pois o desenvolvimento de um espaço po-
derá ser melhor planejado.
Para a expansão do modal ferroviário, identificamos alguns dos
aspectos das estratégias logísticas do Estado e alguns interesses corpora-
tivos na implementação das inversões públicas. No entanto, para enten-
der o modal é necessário também realizar alguns apontamentos sobre a
logística corporativa, mais especificamente, dos principais usuários do
modal ferroviário no país e das atuais concessionárias. Lembrando que
no atual contexto, existe uma linha muito tênue entre esses dois agen-
tes, basta recordarmos os principais acionistas das ferrovias.
Após as concessões ferroviárias, houve mudanças nas estraté-
gias competitivas adotadas pelas empresas em detrimento da amplia-
ção das infraestruturas e materiais rodantes (SILVEIRA, 2007). Dessa
maneira, as concessionárias passaram a investir na modernização dos
sistemas de comunicação, sinalização, equipamentos e dispositivos que
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 223
Como a maior parte da malha nacional é controlada pelos seus
principais clientes, caso da Vale (Estrada de Vitória a Minas, Estrada
de Ferro Carajás, Ferrovia Centro-Atlântica, Ferrovia Norte-Sul trecho
norte), da MRS Logística14, da CSN e, a partir deste ano, ALL/Rumo, o
planejamento é realizado visando, prioritariamente, as necessidades da
empresa. A Vale, por exemplo, investe em vagões de grande capacidade
de volume e peso com o objetivo de um maior ganho de escala nos tre-
chos que ligam as minas aos portos.
Outra estratégia que foi utilizada, tanto pelas concessionárias
quanto pelas grandes empresas exportadoras, foi a constituição de uma
empresa de logística. A ALL criou a Brado Logística, a Vale possui a VLI
Multimodal e a Cosan constituiu a Rumo. Essas empresas de logística
atuam no transporte intermodal, armanezagem e outros serviços logís-
ticos. A diversificação é uma alternativa as deficiências do modal ferro-
viário e também como estratégia para diminuir os custos de transporte.
Em 2011, a Vale optou por desmembrar as estradas de ferro FCA
e Ferrovia Norte-Sul e criar a VLI Multimodal S/A. A VLI é responsá-
vel pela logística das malhas férreas, terminais e portos e administra as
cargas que são de outras companhias. A VLI, assim como a Brado Lo-
gística, possuia participação de outros fundos e empresas na sua com-
posição acionária. O capital da VLI está distribuído entre a Vale (37,6%),
a Brookfield (26,5%), a Mitsui (20%) e o FI-FGTS (15,9%) (ANTF, 2015).
Obviamente, que cada empresa possuí objetivosespecíficos, ao criar as
empresas de logísticas, entretanto, a estratégia de diversificação em con-
tramão às tendências de terceirização demonstra a importância do se-
tor de transportes, armazenamento e logística, no contexto atual.
No que tange, específicamente à malha férrea, o foco das con-
cessionárias são os corredores de maior produtividade, sobretudo, de
minério e agrícola. A ALL-Malha Oeste, por exemplo, prioriza os tre-
chos diretamente ligados à exportação de minério de ferro e celulose
5. CONCLUSÃO
O planejamento do sistema de transportes nacional requer o en-
tendimento das dinâmicas econômicas do espaço nacional e também
a relação desse espaço com o mercado externo. No contexto da mun-
dialização do capital e do aumento do comércio mundial,sãonecessá-
riosinvestimentos na organização das infraestruturas de transportes,
de modo a contribuir para uma diminuição dos custos e uma melhor
ligação das áreas de produção aos portos. Isso implica em facilitar a
ampliação geográfica do capital. Uma necessidade, portanto, para o ca-
pital, mas uma disputa entre territórios e, em especial, na escala dos
Estados nacionais.
Entretanto, somente o atendimento do capital, por meiodas de-
mandas corporativas, não deve ser o objetivo último do governo fede-
ral, no que tange à condução dos projetos para o setor ferroviário. A
partir dessa compreensão,estecapítulo buscou analisar a atuação das
concessionárias, suas estratégias logísticas, a logística de Estado e os in-
vestimentos públicos e privados no modal ferroviário. Exemplos, nesse
sentido, para o Mato Grosso do Sul foram mostrados.
A análise evidenciou que as concessionárias ferroviárias procu-
ram ampliar ao máximo a lucratividade adotando estratégias de inves-
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 225
timentos mínimos, priorizando alguns trechos e ramais com o objetivo
de retornos emcurto prazo. Essa estratégia foi bastante deletéria para o
desenvolvimento regional, o qual ficou mais evidente com as demandas
advindas, após as alterações na política nacional e crescimento do país,
a partir de 2003. Os dados apresentados das exportações do Mato Gros-
so do Sul e do Brasil demonstraram o crescimento da exportação de
cargas tipicamente ferroviárias e confirmaram uma demanda crescente
do setor produtivo por maiores inversões nos sistemas de transportes,
de modo a diminuir os custos de produção.
O projeto do governo para expansão da malha nacional, princi-
palmente nas regiões Centro-Oeste e Norte, é impreterível como parte
de um planejamento para melhorar a competitividade e representa uma
expansão dos fluxos de mercadorias e a possibilidade de formação de
novas interações espaciais no interior do país. Salientamos a necessi-
dade de uma mudança da matriz de transporte nacional, com maior
participação dosmodaisferroviário, hidroviário (interior, de cabotagem
e de grandes distâncias). Deve haver uma integração de todas as redes
de transportes com o objetivo de formar uma única rede nacional de
transportes, ou seja, um sistema único de transporte, composto por re-
des de diversos modais interligadas. Isso quer dizer que precisamos tan-
to formar uma rede ferroviária nacional, como também criar, ajustar e
melhorar outras redes de transportes, como a rodoviária, a aeroviária, a
dutoviária, a de cabotagem, a hidroviária de interior, entre outras. Será
só por meio da conectividade e complementação de ambas as redes que
poderá haver uma rede nacional de transportes. Uma rede que atenda o
comércio interno e não apenas às exportações. Inclusive porque a varia-
ção do comércio mundial e os períodos descendentes da economia exi-
gem um planejamento econômico que não seja baseado exclusivamen-
te no mercado externo, ao contrário, a experiência dos últimos anos,
principalmente com a crise de 2007/2008, evidenciou a importância de
investimento na dinamização do mercado interno.
Outro fator que justifica maiores aportes de investimentos na am-
pliação da malha férrea nacional é o efeito multiplicador em setores da
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 227
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTE TERRESTRE-ANTT. 2011.
Deliberação nº 266/11, de 14 de dezembro de 2011.Dispõe sobre trechos
subutilizados ou desativados da malha ferroviária.
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 229
RANGEL, I. 2005. Obras reunidas.Rio de Janeiro: Contraponto,2005.
A INTEGRAÇÃO FERROVIÁRIA NACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DOS MERCADOS INTERNO E EXTERNO UUU 231
ESTABILIDADE E ARTICULAÇÃO DOS
MUNICÍPIOS DO MATO GROSSO DO SUL:
PROPOSIÇÕES PARA UMA
SUGESTÃO METODOLÓGICA 1
1. INTRODUÇÃO
O Mato Grosso do Sul, jovem estado criado de direito, em 11 de
outubro de 1977, e de fato, em 01 de janeiro de 1979, está localizado
na região Centro-Oeste do Brasil, em privilegiada condição estratégica:
faz divisa com os ricos estados de Minas Gerais e São Paulo, liga-se ao
Distrito Federal via território do Estado de Goiás, e disponibiliza seu
território aos fluxos oriundos do Norte, via Mato Grosso, em direção ao
Sul, prioritariamente ao porto de Paranaguá, noParaná.
Além disso, deve-se destacar a excepcional localização do esta-
do em relação às suas fronteiras internacionais.A larga fronteira com
a Bolívia suscita, no mínimo, dois elementos que impactam a estrutu-
ra natural-econômica do territóriosul-mato-grossense. Por um lado, a
presença do extenso Pantanal que, ao se alongar pelo território bolivia-
UUU 233
no, faz com que qualquer forma de ocupação e utilização traga sensí-
veis reflexos para os dois flancos da fronteira. Por outro lado, há que se
ressaltar o fato de que por essa fronteira passam,por dia,cerca deU$ 6
milhões em mercadorias transacionadas no corredor São Paulo-Santa
Cruz de la Sierra (OLIVEIRA, 2010).
De outra parte, há a fronteira entre o Brasil e o Paraguai, que se
estende desde o rio Paraguai – ligando a cidade sul-mato-grossense de
Porto Murtinho à cidade paraguaia de Carmelo Peralta -, até orio Para-
ná, onde ocorre a articulação entre o estado de Mato Grosso do Sul e os
departamentos paraguaios de Alto Paraguay, Concepción, Amambay e
Canindeyú. Mesclando, portanto, as bacias hidrográficas transnacio-
nais dos rios Paraguai, Apa e Paraná, além da enorme biodiversidade
materializada, por exemplo, na variada cobertura vegetal caracterizada
pela presença do Pantanal, do Chaco, do Cerrado e de resquícios da
Mata Atlântica – todas assinaladas no ZEE/MS (2014) – ; essa região de
fronteira acolhe sete cidades de Mato Grosso do Sulem condições de co-
nurbação, ou semiconurbação, com cidades paraguaias, destacando-se
entre elas Ponta Porã (BR) – Pedro Juan Caballero (PY) e Mundo Novo
(BR) – Salto del Guairá (PY),plenamente ligadas ao corredor Asunción
-Paranaguá (OLIVEIRA E ODDONE, 2012).
Necessário observar que a condição fronteiriçae estratégica do
território sul-mato-grossense ainda é mal dimensionada pelos agentes
públicos e privados, o que se reflete tanto na subutilização das suas po-
tencialidades no que se refere a terras, economia de arbitragem e traba-
lho, quanto na maximização de suas debilidades estruturais e conjun-
turais, em particular no tocante a questões como o tráfico, contraban-
do, descaminho etc.
Pode-se afirmar que,com uma área total de 357.125 km2, onde,
conforme dados do IBGE, vivem em 79 cidades distribuídas, majori-
tariamente, sobre a Serra de Maracaju4, cerca de 2,5 milhões de habi-
cerrado e possui uma grande faixa de terras de qualidade. No Mato Grosso do Sul,
a Serra de Maracaju cobre parte significativa do estado, estendendo-se do centro do
estado até a fronteira com o Paraguai.
14 Taxa de dependência: Pop. até 14 anos + Pop. com 65 anos ou mais / Pop. Total x 100.
15 Taxa de dependência de pobres e aposentados: População dependente de BF + Re-
passes do INSS / Pop. Total x 100.
22 = (a+b+c+d+e+f)/ 6.
23 = (g+h+i+j+k+l)/6
24 Isso pressupõe que toda articulação deva ser dotada de mecanismos de cooperação
mútua e modelos eficientes, modernos, flexíveis e sustentáveis.
25 Sobre o aprofundamento teórico dessa questão, recomenda-se a leitura do texto de
Silva Júnior (2012).
26 Cuja principal condição foi da não divulgação dos dados específicos (número de
movimentações e valores transacionados/mês) por município.
27 O método aqui utilizado se aproxima, mas não se alinha, à análise sobre redes ur-
banas elaboradas por GREEN, F.H.W (Urban hinterlands in England and Wales: an
analysis of bus services) em 1950 e por CARRUTHERS, IAN (Classification of Services
Centers in England and Walles) em 1957, aplicados na Inglaterra e País de Gales.
28 A guisa de exemplo, nos números da AGEPAN aparecem 24 municípios que não se
comunicaram entre si no ano de 2012, ao mesmo tempo, 22 outros aparecem ape-
nas com fluxo ou de entrada ou de saída, sendo zerada uma das partes, aparentando
inconsistência dos dados.
29 Os micropolos geográficos de ligação com base na intersecção do movimento de car-
gas com o movimento de viagens é mais uma parte da pesquisa “Polos geográficos
de Ligação” com apoio do CNPq e da Fundect.
REFERÊNCIAS
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to econômico do pantanal sul-mato-grossense (1830-1910). Dourados: Editora
da UFGD, 2011.
1. INTRODUÇÃO
Desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência do Bra-
sil, em 2003, as relações com a América do Sul ganharam nova ênfase
na política externa brasileira. Paralelamente, intensificou-se também a
inserção internacional de entes subnacionais, como municípios, provín-
cias e estados, impulsionados também pelos acordos de integração já
existentes, como o Mercosul.
Os principais centros industriais brasileiros (estados de São
Paulo e Rio de Janeiro, em especial) são responsáveis não apenas por
grande parte do abastecimento nacional, como também por parte im-
portante das exportações brasileiras – sobretudo no caso de produtos
manufaturados.
Pelo fato do eixo Rio-São Paulo concentrar as empresas mais
competitivas, as indústrias das demais unidades da federação brasileira
possuem, em grande parte, alcance local e/ou regional, apresentando
dificuldades para competir nos grandes centros dinâmicos da econo-
mia nacional.
Muitas dessas empresas passaram, então, a buscar oportunida-
des em outros países. Essa estratégia torna-se ainda mais viável àqueles
estados que estão geograficamente mais próximos de outras nações do
UUU 265
que do eixo Rio-São Paulo. A existência do Mercosul, uma maior com-
petitividade nesses locais e uma política externa favorável poderiam
ser elementos que impulsionariam esse movimento para o mercado
externo.
A intenção do trabalho proposto é, por conseguinte, avaliar se
houve incremento exportador, como também qualificar o comércio
Mato Grosso do Sul – Paraguai na última década e analisar os motivos
político-econômico-sociais que são a razão do atual cenário comercial
entre os dois entes. Serão investigados: a evolução do montante expor-
tado; os principais produtos; os principais municípios exportadores e o
tamanho das empresas exportadoras.
AS RELAÇÕES COMERCIAIS RECENTES DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL COM O PARAGUAI UUU 267
Desse modo, o país mostrava uma postura moderada e, de certa
forma, conformista e voluntarista, especialmente no que diz respeito à
aceitação de regras formuladas pelas grandes potências. Nesse cenário,
apesar de buscar a diversificação de parcerias econômico-políticas, a
ênfase estava, sobretudo, no relacionamento com os países responsáveis
pela formulação dessas regras – notadamente, Estados Unidos e União
Europeia . Além desses centros, os países vizinhos (sobretudo via Mer-
cosul) também ocuparam papel central na gestão de Cardoso.
A política externa de Lula da Silva trouxe, portanto, um modo
distinto de buscar o desenvolvimento nacional por meio das relações
externas. Vigevani e Cepaluni (2011) nomearam esse modelo como de
“autonomia pela diversificação”, que, segundo os mesmos (2011, p. 136),
pode ser resumido nas seguintes diretrizes:
AS RELAÇÕES COMERCIAIS RECENTES DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL COM O PARAGUAI UUU 269
mos criar um continente altamente desenvolvido com o povo ten-
do uma qualidade de vida extraordinária (...). A um país como o
Brasil não interessa ser apenas um país grande, economicamente
forte, com um monte de gente pobre do seu lado. É preciso que
todos cresçam, que todos tenham condições de se desenvolver”5.
5 O GLOBO. Lula diz que integração da América do Sul depende de gesto do Bra-
sil. Disponível em < http://oglobo.globo.com/economia/lula-diz-que-integracao-
da-america-do-sul-depende-de-gesto-do-brasil-3607901 >. Último acesso em
15/05/2014.
6 É importante ressaltar o papel destinado às empresas brasileiras nesse processo,
sobretudo na IIRSA.
AS RELAÇÕES COMERCIAIS RECENTES DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL COM O PARAGUAI UUU 271
TABELA 3. Exportações brasileiras para os países da América do Sul
(2002 e 2010). U$ FOB
AS RELAÇÕES COMERCIAIS RECENTES DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL COM O PARAGUAI UUU 273
O crescimento da economia paraguaia foi constante entre 2003 e
2008. Teve uma queda significativa em 2009 – em boa medida devido
à crise mundial – e retomou vigorosamente o crescimento em 2010. Na
comparação com as taxas de crescimento da economia brasileira, em
cinco dos dez anos compreendidos entre 2003 e 2012, o Paraguai cres-
ceu a taxas mais elevadas.
GRÁFICO 1. Crescimento do PIB – Brasil e Paraguai (2003 a 2012). Em %.
AS RELAÇÕES COMERCIAIS RECENTES DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL COM O PARAGUAI UUU 275
GRÁFICO 3. Importações do Paraguai junto ao Brasil (2013), em %.
8 BBC. Conheça Horácio Cartes, milionário eleito novo presidente do Paraguai. Dis-
ponível em < http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/04/130421_hora-
cio_cartes_paraguai_perfil_jp.shtml>. Último acesso em 16/05/2014.
9 PORTAL DA INDÚSTRIA. Paraguai espera atrair investimentos de US$ 7,5 bilhões
para infraestrutura. Disponível em: <http://www.portaldaindustria.com.br/cni/im-
prensa/2014/02/1,32954/paraguai-espera-atrair-investimentos-de-us-7-5-bilhoes
-para-infraestrutura.html>. Último acesso em 16/05/2014.
AS RELAÇÕES COMERCIAIS RECENTES DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL COM O PARAGUAI UUU 277
doze itens mais exportados pelo Brasil, sete também estão na lista daque-
les exportados pelo Mato Grosso do Sul11. Lamoso (2011b, p. 41) assinalou
a esse respeito que “A base exportadora do Mato Grosso do Sul revela o
papel que foi destinado ao agronegócio para conter o déficit que se abriu
na balança comercial com as políticas neoliberais dos anos 90”.
Ora, se a pauta de exportações do MS é composta essencialmente
por produtos básicos e a pauta de importações paraguaias composta es-
sencialmente de manufaturados, é de se esperar que as relações comer-
ciais entre ambos não sejam tão acentuadas. De fato, pode-se observar
que em 2013, o Paraguai foi apenas o 32º maior receptor das exporta-
ções sul-mato-grossenses, conforme mostra a tabela 5.
TABELA 5. Principais países de destino das exportações do MS (2013).
11 São eles: soja, pasta química de madeira, carne bovina, açúcar de cana, milho em
grão, minério de ferro e miúdos de aves.
AS RELAÇÕES COMERCIAIS RECENTES DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL COM O PARAGUAI UUU 279
TABELA 6. Comparação da posição do Paraguai entre os principais destinos das
exportações do MS e Brasil (2000-2013).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como o texto mostrou, a política externa de Lula da Silva foi
marcada por um incremento nas relações com a América Latina, em
grande medida como parte de um projeto de alcance internacional do
Brasil. Do ponto de vista econômico, o crescimento tanto das exporta-
ções, quanto das importações foi notável, aumentando a importância
da região para o comércio internacional brasileiro.
Importante destacar, ainda, que nesse processo houve uma ten-
dência de crescimento do déficit da maioria das economias vizinhas
junto ao Brasil, o que demonstra o poder econômico brasileiro frente
aos parceiros regionais. Constantemente acusado de imperialista, essa
situação pode vir a trazer problemas para a imagem e liderança que o
país almeja construir.
O Paraguai, um de seus vizinhos, tem uma importância regio-
nal bastante destacada. Com fronteira bastante viva com os estados
brasileiros do Paraná e Mato Grosso do Sul e uma economia que vem
AS RELAÇÕES COMERCIAIS RECENTES DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL COM O PARAGUAI UUU 281
crescendo a uma média próxima de 4% ao ano. Além disso, o novo
Presidente – Horacio Cartes – é um empresário que tem declarado a
intenção de fomentar o setor privado paraguaio, bem como continuar
atraindo investimentos externos.
Esse cenário parece indicar boas possibilidades de incremento
do comércio paraguaio com o Mato Grosso do Sul. De fato, quando
observamos em termos de volume, as exportações do MS para o Pa-
raguai tiveram um crescimento de quase 293%. Entretanto, essa taxa é
significativamente menor do que o crescimento das exportações brasi-
leiras para o vizinho (em torno de 423%). Esses dados parecem indicar
um contrassenso: ora, como as exportações de um estado vizinho (com
todas as facilidades logísticas, portanto) podem ter crescido em propor-
ção menor àquelas feitas pelo país em geral?
Parte da explicação para esse aparente contrassenso está na com-
posição da pauta importadora paraguaia e exportadora sul-mato-gros-
sense: enquanto a primeira está focada nos produtos manufaturados,
a segunda concentra-se nos produtos básicos. Desse modo, apesar da
proximidade geográfica, a complementaridade das economias não pa-
rece ser tão significativa. Ressalta-se, ainda, que alguns dos principais
produtos primários produzidos no MS também o são em larga escala no
país vizinho (caso da soja, por exemplo).
Por outro lado, outra parte da explicação pode residir na instala-
ção de filiais de empresas do estado no Paraguai, atraídos pelos custos
de produção relativamente mais baixos, energia abundante, proximida-
de idiomática, isenção de impostos, bem como pelas facilidades logísti-
cas12. É possível, portanto, que parcela importante do que seriam as ex-
12 Importante citar ainda a chamada Lei de Maquila, de 2000. Referida lei é voltada
especialmente para empresas estrangeiras cujo objetivo é, especificamente, a expor-
tação. Por meio de inúmeros incentivos fiscais, as empresas instalam-se no Paraguai
e podem importar as matérias-primas, maquinários e insumos necessários para
fabricação de produtos que são, então, reexportados. Apesar da lei datar de 2000, foi
com a ascensão de Horacio Cartes que o movimento de atração de investimentos
estrangeiros vem ganhando força – sobretudo junto ao Brasil.
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1. INTRODUÇÃO
A sociedade paraguaia se distingue dos demais países latino-a-
mericanos desde seus primórdios não somente por se constituir em
uma das populações mais homogêneas do território sul-americano1. No
decorrer dos séculos, as opções políticas fizeram com que o transcurso
da sua história fosse ainda mais singular, seja em função da presença
quase constante de regimes ditatoriais, ou pelo envolvimento direto em
conflitos bélicos.
Em se tratando da geografia econômica do país, a mesma está
caracterizada por atividades financeiras que se desenvolvem quase ex-
clusivamente na região oriental, onde se localizam as maiores cidades,
as poucas indústrias e as atividades comerciais. Essa concentração tam-
bém tem importantes implicações. Embora a geografia física tenha, por
meio do rio Paraguai, divido o país em duas regiões distintas2, as pos-
sibilidades de sobrevivência sublinharam ainda mais essa divisão. Na
parte oriental do país, onde se localiza a capital Assunção,3 está, tam-
bém, 97,5% da população. Os demais 2,5% estão distribuídos na porção
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ocidental, onde se destaca a presença de grupos menonitas4, indígenas,
pecuaristas e camponeses. Ainda do ponto de vista da geografia física,
o país limita-se com a Argentina (sul, leste e oeste), com o Brasil (norte
e leste) e Bolívia (norte e oeste).
A base econômica do país, atualmente, é definida pelo setor agro-
pecuário e pelo comércio, e foi se consolidando no decorrer da história
econômica do mesmo modo que a ausência de um processo industria-
lizante e a viabilidade da opção de exportação não estimularam o de-
senvolvimento de centros urbanos. A falta de alternativas decorrente
da inexistência de uma política econômica voltada à criação de outras
atividades industriais com uso intensivo de mão de obra (fator abun-
dante no país) está na base do elevado número de pessoas ocupadas na
triangulação comercial, em serviços bancários e financeiros, além do
subemprego urbano5.
Os anos de 1990 inauguram um período carregado de desafios e
necessidades de mudança. Para Soares (2007), a transição democrática
paraguaia em andamento precisa implantar, de fato, uma democracia
num país sem experiência democrática. Para isso, é preciso modernizar
e desvincular o aparelho estatal do Partido Colorado (historicamente
governante). Dessa forma, o século XXI surge sem que as reformas te-
nham se traduzido em mudanças práticas6 e o setor público permanece
paralisado com dificuldades para traçar um projeto de desenvolvimen-
to alternativo. A autora destaca também que o Paraguai é um país des-
conhecido e o contexto interno atual é resultado da ausência de trans-
formações necessárias, em função dos desafios impostos seja pela queda
7 A década de 1990 é o limite temporal da análise por razões de ordem prática (como
disponibilidade dos dados secundários) e pela expectativa de se identificar mudan-
ças significativas nos rumos políticos, sociais e econômicos (haja vista a queda do
regime militar) capazes de alterar o contexto institucional sobre a qual o século XXI
deveria se estabelecer.
11 Por desenvolvimento, adota-se a abordagem proposta por Sen (2010), para quem o
conceito pode (e deve) ser visto como algo decorrente da expansão das liberdades
reais que dependem de vários fatores, entre eles, o ambiente social e econômico
24 Em 2008, assumiu a presidência Fernando Lugo, cuja campanha política foi emba-
lada por propostas atinentes a Reforma Agrária, renegociação dos valores referentes
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