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 11/08/2020  Plantas daninhas

Erva-de-santa-luzia: de medicinal à planta daninha

Keli Souza da Silva


Doutora em agronomia. Manejo de plantas daninhas, da teoria à prática na Ag Mov Treinamentos. Mais de mil alunos
treinados em boas práticas na aplicação de agroquímicos.

A erva-de-santa-luzia é mais uma prova de que o conceito de planta daninha é relativo! Fitoterápica, utilizada
nos tratamentos de distúrbios respiratórios e como antiespasmódica, tem emergido como planta daninha
em cultivos de verão. Conheça a espécie e saiba como manejá-la eficientemente. Ou, se preferir,
também faça um chá!

Aliás, para conhecer as propriedades medicinais da erva de santa luzia, clique aqui.

A espécie Euphorbia hirta (EPHHI), já classificada como Chamaesyce hirta, também é conhecida
popularmente como erva-andorinha, eufórbia, folha-de-leite ou leiteira. Os dois últimos nomes, fazem
referência à liberação de látex, característica da família Euphorbiaceae, a qual o gênero pertence.

Como reconhecer a erva de santa luzia


Planta herbácea de ciclo anual, a erva-de-santa-luzia tem hábito de prostrado a ascendente, podendo
alcançar entorno 50 cm de altura. 

O caule é semi-ereto, variando de verde a avermelhado ou arroxeado, com pilosidade clara, branca ou até
amarela. Além disso, uma característica marcante é a liberação látex pelo caule, quando lesionado.

As folhas são simples, podendo alcançar 1,5 cm de largura por 4,0 cm de comprimento, oblongo-
lanceoladas, pontiagudas e com margem finamente dentada. A inserção das folhas no caule é oposta e os
pecíolos muito curtos. As folhas são verdes, no entanto, ocorre pigmentação avermelhada nas
extremidades, na superfície superior. Há pilosidade na face inferior da folha. Convém ressaltar que o
ambiente influencia na expressão dessas características, como resultado, pode ocorrer variações no
tamanho e cor.

A inflorescência, inserida nas axilas das folhas, é do tipo ciátio. Ou seja, formada por uma flor feminina
pedicelada, rodeada por várias flores masculinas, sendo o conjunto, envolto pelas brácteas. Os vários ciátios
são agrupados em fascículos de 0,5 a 1 cm de diâmetro. As pequenas flores variam de esverdeadas a
rosadas, com pedúnculo curto marrom-avermelhado e sem pétalas. Assim, as estruturas femininas
(gineceu) e masculinas (estames) são evidentes (Figura 1).

O fruto é do tipo cápsula, com três lóbulos, com dimensões da ordem de 1,5 mm. Há relatos da produção de 
aproximadamente 3 mil sementes por planta, as quais são muito pequenas (0,5 a 0,7 mm de comprimento).
A coloração também é marrom-avermelhada. 


A espécie é muito parecida com
Euphorbia hyssopifolia, a qual também é
conhecida por erva-andorinha. No
entanto, as folhas desta última são bem 
menos pontiagudas e o pedúnculo das
inflorescência é mais longo que em  E.
hirta.

Onde encontrar a
erva-de-santa-luzia
Uma das Euporbiaceae mais comuns, a
erva-de-santa-luzia é nativa da América
tropical, distribuindo-se em baixas
altitudes, pelos trópicos e subtrópicos. É
encontrada em todo o país, preferindo
condições de sol e boa drenagem do
solo. É uma colonizadora, após
episódios de perturbação, o que a torna
planta daninha comum em cultivos
anuais e perenes, pastagens, beiras de
estradas, jardins, gramados, terrenos
baldios, etc (Figura 2).

Figura 1 – Detalhes do caule, folhas e inflorescência da erva-de-santa-luzia.


Autor: Régis Stacke.
Biologia e ecologia
Duas informações são muito relevantes para o
manejo da espécie, na condição de planta
daninha: primeiramente, a erva-de-santa-luzia se
propaga apenas por sementes. Mas, por outro
lado, as culturas estarão competindo com uma
planta C4.

As sementes, que requerem luz, germinam bem


em temperaturas entre 15 e 40ºC. A
temperatura mínima relatada para germinação é
de 10ºC. A germinação é influenciada pela
umidade do solo, consequentemente, sendo
reduzida em solos secos. Além disso, tem sido
relatado que a pigmentação arroxeada é mais
intensa em condições de estresse hídrico.

Figura 2 – A erva-de-santa-luzia forma densas infestações. Autor:

Erva-de-santa-luzia,
Régis Stacke.

versão planta daninha 

Frequentemente associada aos cultivos de cana-de-açúcar e café. E. hirta é planta daninha de importância

secundária em cultivos anuais de verão. No entanto, sua frequência e abundância vem aumentado,
principalmente em cenários de soja e milho sob semeadura direta, onde há disponibilidade de luz para a

germinação. Além disso, devido ao tamanho diminuto das sementes, as mesmas não possuem reservas
expressivas para que as plântulas superem grandes profundidades de solo.

Ainda, a espécie tem sido relatada como hospedeira dos nematoides Meloidogyne incognita, M. graminicola

e M. javanica, dentre outros. Além disso, também hospeda mosca-branca (Bemisia tabaci), que é vetor de
diversos vírus de culturas como tomate, mandioca, tabaco e feijão. 

Manejo
Como resultado do fotoblastismo positivo, a cobertura do solo com uma robusta palhada reduz a
porcentagem de germinação das sementes, uma vez que interfere na disponibilidade de luz. Também,
efeitos alelopáticos são relatados. Ainda, na olericultura, a solarização do solo sob lona de polietileno, por
30 a 45 dias provém até 100% de controle.

O revolvimento do solo e enterrio das sementes também é relatado por afetar o estabelecimento da espécie.

Herbicidas registrados para o controle de erva-de-santa-luzia


Se você estiver lendo em um smartphone, use a tela na horizontal, para visualizar a tabela na íntegra.

HERBICIDA GRUPO QUÍMICO MECANISMO DE AÇÃO

Ametrina + trifloxissulfurom- Inibidor do FSII + Inibidor de


Triazina + Sulfoniluréia  
sódico ALS

Carfentrazona-etílica + Inibido de PROTOX + Inibidor de


Triazolona + glicina substituída  
glifosato EPSPS

Diclosulam  Sulfonanilida triazolopirimidina  Inibidor de ALS

Diurom   Uréia  Inibidor de FSII

Glifosato   Glicina substituída   Inibidor de EPSPS

Glicina substituída  + Ácido Inibidor de EPSPS + Auxina


Glifosato + 2,4-D
ariloxialcanóico sintética

Inibidor de ALS + Inibidor de


Imazapique + imazapir   Imidazolinona + Imidazolinona  
ALS

Imazapir Imidazolinona Inibidor de ALS

Inibidor de ALS + Inibidor de



Imazetapir + saflufenacil  Imidazolinona + pirimidinadiona 
PROTOX

Metsulfurom-metílico Sulfoniluréia   Inibidor de ALS 


HERBICIDA GRUPO QUÍMICO MECANISMO DE AÇÃO

Prometrina   Triazina Inibidor de FSII 

Saflufenacil Pirimidinadiona   Inibidor de PROTOX

Trifloxissulfurom-sódico Sulfoniluréia Inibidor de ALS

Inibidor da formação de
Trifluralina  Dinitroanilina  
microtúbulos

Fonte: Agrofit/MAPA. Consulta realizada em 08/08/2020.

Para a estratégia de manejo mais adequada para a realidade da sua lavoura, consulte sempre um(a)
engenheiro(a) agrônomo(a)!

Bibliografia consultada
Burch D. Two new species of Chamaesyce (Euphorbiaceae), new combinations and key to the Caribbean
members of the genus. Annals of the Missouri Botanical Garden, v. 53, p. 375-376, 1966.

Ferreira, D. T. R. G. Control of three Euphorbia species through herbicides applied during pre-emergence on
sugarcane straw. Revista Brasileira de Herbicidas, v.15, p.323-331, 2016.

Saha, D., et al. Emergence of garden spurge (Euphorbia hirta) and large crabgrass (Digitaria sanguinalis) in
response to different physical properties and depths of common mulch materials. Weed Technology v. 34, p.
172–179, 2020.
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