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MULUNGU

(Erythrina velutina Willdenow)

INTRODUÇÃO:

O mulungu, Erythrina velutina Willd, é uma espécie nativa, do gênero Erythrina, pertencente à
divisão Angiospermae, ordem Fabales, família Fabaceae. Possui cerca de 120 espécies com
distribuição principalmente nas regiões tropicais e subtropicais.

A Erythrina velutina é a única espécie do gênero ocorrente no Bioma Caatinga, possuindo


distribuição ampla em áreas secas e semiáridas da América do Sul, conhecida popularmente
como Eritrina, Mulungu e Suinã, no brasil ocorre na região nordeste e no norte de Minas
Gerais.

O nome genérico Erythrina vem do grego erythros, que significa “vermelho”, em alusão à cor
das flores; o epíteto específico velutina vem do latim, devido ao fato da folha apresentar
delicados e macios pêlos. O nome vulgar mulungu vem do tupi, mussungú ou muzungú e do
africano mulungu significando “pandeiro”, talvez pela batida no seu tronco oco emitir som.

CARACTERISTICAS DA ESPÉCIES/INFORMAÇÕES BOTÂNICAS:

Árvore de médio porte, 8 a 12 metros de altura, de comportamento decíduo de mudança


foliar;

Folhas trifoliadas, bem largas, 11 cm, deixando a árvore com a copa sempre cheia;

As inflorescências ocorrem em fascículos axilares, medindo de 12 cm a 20 cm de comprimento


as flores são alaranjadas ou vermelho-rutilante.

Fruto é uma vagem curta, 6 cm, com 1 a 3 sementes de 1 cm no formato de feijão,


avermelhadas ou amarronzadas.

O tronco é reto a levemente tortuoso, o caule, quando bem desenvolvido, pode atingir uns 70
cm de diâmetro. A casca mede até 25 mm de espessura, sendo lisa a levemente áspera.

ASPECTOS ECOLÓGICOS, AGRONÔMICOS E SILVICULTURAIS PARA O CULTIVO:

BIOLOGIA REPRODUTIVA: A Erythrina velutina é uma espécie hermafrodita. Costuma ser


visitada pelas abelhas Apis melífera e pelas abelhas mamangavas, por ser uma ótima fonte de
néctar.

A floração, acontece com a planta totalmente despida da folhagem, sendo esta a característica
que lhe confere a beleza e todo o charme. O período varia de acordo com a região, por
exemplo, em Minhas Gerais acontece de julho a agosto, na Bahia, de julho a dezembro, no
Estado de São Paulo de agosto a setembro, no Rio de Janeiro, de setembro a novembro, em
Pernambuco, de outubro a dezembro, em Sergipe, de novembro a dezembro, e no Ceará de
janeiro a fevereiro.

Assim como a floração, logicamente a frutificação também varia de acordo com a região.

A dispersão de frutos e sementes é do tipo anemocórica (pelo vento) e zoocórica,


principalmente por aves.
CLIMA: Erythrina velutina é uma espécie heliófila, intolerante ao frio. Ela se desenvolve bem a
pleno sol e por isso apresenta ampla resistência a seca.

SOLO: Erythrina velutina prefere solos coluviais de natureza úmido e aluvionais, com textura
arenosa ou argilosa, característica marcando nas várzeas úmidas e beiras de rios da caatinga
da região semi-árida do nordeste brasileiro.

NO CAMPO: O mulungu ocorre sob a forma de indivíduos isolados ou, em alguns casos, em
grupos pouco densos.

Sabe-se que é uma planta rústica e de rápido crescimento, logo, o seu desenvolvimento em
campo também é rápido, alcançando 3,5 m de altura em 2 anos.

Há poucos dados de crescimento sobre o mulungu, em plantios. Mas, o que se sabe é que
pode ser plantado em plantio misto, associado com espécies pioneiras e secundárias iniciais,
principalmente para corrigir sua forma. Essa espécie não apresenta derrama natural.

Quanto as podas, devem ser apenas de formação ou eliminação de brotos-ladrões.

No Ceará, Erythrina velutina já foi cultivada como árvore de sombra em cafezais. Na Bahia, é
usada para sombrear cacaueiros e, em Minas Gerais, é plantanda próximas as cercas, delimitar
terreno.

PROPAGAÇÃO/PRODUÇÃO DE MUDAS:

O primeiro passo é a coleta e beneficiamento: os frutos deverão ser colhidos diretamente da


árvore, quando iniciarem a abertura e queda espontânea, as sementes também poderão ser
recolhidas no chão após a queda. Em seguida, os frutos são deixados ao sol, para completar a
abertura e liberação das sementes.

Um detalhe muito importante e característico dessa espécie é que as suas sementes


apresentam dormência por conta da impermeabilidade do tegumento à água e, do mesmo
modo, pela possível presença de inibidores de germinação. A superação da dormência pode
ser obtida pela escarificação manual ou imersão em ácido sulfúrico por duas horas.

Curiosidade: Estudo feito com as sementes do mulungu na região de Pernambuco em 2013


demonstrou que as sementes coletadas em locais onde a planta tem acesso a maior conteúdo
hídrico no solo e nutrientes, apresentam uma maior porcentagem em embebição e menor
velocidade de germinação. Esse mesmo estudo também comprovou que em regiões mais
secas os frutos e sementes são menores sendo uma estratégia por conta da baixa
disponibilidade hídrica no solo. Mas, o tamanho dos frutos pouco influenciam na taxa de
germinação.

O segundo passo é a semeadura: recomenda-se semear duas sementes em sacos de


polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro, ou em tubetes de
polipropileno de tamanho médio. A melhor profundidade de semeadura está situada entre 1
cm e 2 m, com a semente posicionada com o hilo voltado para baixo. A rega deve ser feita
duas vezes ao dia, nos períodos menos ensolarados

A germinação: é epígea ou fanerocotiledonar. A emergência tem início entre 7 e 16 dias após a


semeadura, a taxa de germinação varia de 19 % a 87 % de germinação. Se necessária, a
repicagem pode ser feita 1 a 2 semanas após a germinação.
A propagação por estaquia de ramos também é possível, embora seja mais trabalhosa e
depende do bom enraizamento dos ramos. A propagação clonal por cultura de tecidos
também é uma opção, quando existe estrutura disponível.

Não existe uma recomendação específica sobre o momento ideal para transplantar as mudas
para o local definitivo (campo). Muitos autores sugerem que as mudas de espécies arbóreas
estão aptas para o plantio no campo quando a altura da parte aérea estiver entre 15 cm e 30
cm.

Outras curiosidades relevantes são: associação simbiótica que essa espécie apresenta, são
nódulos bacterianos do tipo Rhizobium, que lhe confere a capacidade de fixar nitrogênio. O
mulungu apresenta também alta atividade de assimilação de nitratos, este sistema incomum
de redução de nitratos parece estar restrito ao gênero Erythrina.

USO ECONÔMICO ATUAL OU POTENCIAL:

Aproveitamento alimentar: cruas ou cozidas, as flores dessa espécie são comestíveis.


Artesanato: pelo seu belo colorido, as sementes dessa espécie são ornamentais. Com elas,
pode-se confeccionar colares, pulseiras e brincos.

Corante: quando maceradas, as flores do mulungu produzem uma tinta amarelo-avermelhada,


que pode ser usada para tingir panos.

A madeira dessa espécie apresenta cor esbranquiçada, porosa, mole e de baixa durabilidade
natural. Por isso, quase não tem aplicação. Contudo, os sertanejos se servem dela para fazer
cavaletes, pau-de-jangada, balsa, cocho para pôr alimento para animais, forma de modelação,
molduras, caixotaria, brinquedos e tamancos.

Medicinal: a casca e os frutos dessa espécie são empregados na medicina popular em algumas
regiões do Nordeste, embora a eficácia e a segurança do seu uso ainda não tenham sido
comprovadas cientificamente. Assim, seu uso vem sendo feito com base na tradição popular.

O que se tem comprovado é que as sementes são muito tóxicas, não devem ser ingeridas, pois
dependendo da quantidade pode levar à morte.  As cascas do tronco e ramos são ricas em
eritrina, um alcaloide que atua sobre o sistema nervoso central causando paralisia, por isso seu
uso medicinal não deve ser feito sem o devido acompanhamento de um profissional de saúde.
 
Paisagístico: O mulungu-da-caatinga é uma árvore muito ornamental, tanto pela conformação
ampla da copa como pela florada de cor intensa, prestando-se para arborização de ruas,
jardins e alamedas, sempre em áreas abertas, pois é árvore de grande porte.

Plantios com finalidade ambiental: é recomendada para plantios mistos destinados à


restauração de áreas degradadas de preservação permanente.

SITUAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA ESPÉCIE:

Não utilizada em escala comercial, apenas por pequenos agricultores da regiões onde se
encontram essas espécie.

Entretanto, como costuma ocorrer sob a forma de indivíduos isolados ou em grupos pouco
densos, a sua exploração indiscriminada pode acarretar, a longo prazo, grandes prejuízos para
a espécie.
No Estado de Sergipe, por exemplo, é crescente a retirada de seus indivíduos para abertura de
áreas de pastagem e construção de estradas em Áreas de Preservação Permanente (APPs),
neste caso as matas ciliares, que são consideradas área protegidas pela Lei n. 12.651/ 2012
(BRASIL, 2012).

Mas, é importante destacar também que em alguns lugares há um processo de conservação


dessas plantas, quando os moradores fazem cerca que delimitam a propriedade, plantando
literalmente a espécie.

Fundamental gerar informações sobre a espécie afim de gerar planos de conservação e


manejo adequado.

http://www.esalq.usp.br/trilhas/uteis/ut02.php

http://www.aplantadavez.com.br/2015/08/mulungu-da-caatinga-erythrina-velutina.html

https://arvores.brasil.nom.br/new/eritrinamulungu/index.htm

CARVALHO, Paulo Ernanani Ramalho. Mulungu (Erythrina velutina). Colombo:


Embrapa, 2008. 8 p.
SILVA JUNIOR, Valter Tavares da et al. Erythrina velutina willd. (leguminosae-
papilionoideae) ocorrente em caatinga e brejo de altitude de pernambuco:
biometria, embebição e germinação. 2. ed. viçosa: revista árvore, 2012. 12 p.
SOUZA, danilla cristina lemos et al. indicadores de sustentabilidade para
conservação genética de erythrina velutina willd., em área de mata ciliar. 6. ed.
Viçosa: Revista Árvore, 2014. 38 v.
SILVA JUNIOR, Valter Tavares da et al. Biometria, germinação e crescimento
inicial de Erythrina velutina Wiild. Recife: Universidade Federal de Pernambuco,
2005. 70 f.
MELO, Ingrid Christie Alexandrino Ribeiro de. Contribuição ao conhecimento de
Erythrina Velutina Willd.: Uma abordagem farmobotânica. 2011. 99 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Farmácia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,
2011. Cap. 1

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