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TÓPICOS EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL

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3ª ATIVIDADE AVALIATIVA

Jean Michel Barboza Mendonça

Belo Horizonte
2021
A relevância e essencialidade intrínseca e extrínseca do meio ambiente para toda a
humanidade talvez seja um dos poucos dogmas que ainda subsistem. Em virtude de sua
evidente importância, não raro o meio ambiente é tido como um ativo, denunciado muitas
vezes pela alcunha utilizada para se referir a parte de seu universo - recursos naturais. Essa
abordagem econômica, que conduz invariavelmente a uma avaliação monetária, é
fundamental para o Direito, sobretudo no que se refere aos danos ambientais e sua
responsabilização jurídica.
Nesse sentido dispõe o Texto Constitucional de 1988, que prescreve que os danos e
ameaças ao patrimônio cultural serão punidos na forma da lei (art. 216, CF); determina ainda
que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,
pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados” (art. 225, CF).
A responsabilização, a depender de sua natureza e esfera de consequência, pode ser
civil, administrativa e ou penal.
Na seara civil, o dano e sua responsabilização acarretam a reparação e indenização
“por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (art. 186, CC). Aquele que
excede em seu direito além dos “limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes” (art. 187, CC).
Em que pese o legislador viabilizar a responsabilização de quem deu causa ou
responde pela degradação ambiental, o tema toma contornos mais complexos quando da
aferição do quantum debeatur por ocasião do dano ambiental, que sriva de uma prevenção
geral na conscientização coletiva sobre a importância de se preservar os recursos naturais.
Para além disso, a fixação do valor guarda outra finalidade, a de reforçar o princípio
precaucional quanto a possíveis sanções.
A reparação do dano ambiental pode ocorrer sob três formas: reparação in natura,
compensação ecológica e/ou pecuniária (art. 4°, VII, Lei n° 6.938/81 e art. 225, CF).
É certo que, uma vez ocorrido o dano ambiental, sua reparação jamais será absoluta,
isto porque é impossível repor, do ponto de vista ecológico, o estado das coisas da forma
exata como era antes do fato. A reparação in natura, como se dessume de sua própria
nomenclatura, trata de reparar o dano com a substância que foi danificada. Já a reparação
pecuniária dos danos ambientais requer, por sua vez, análise mais detida tendo em vista que
muitos elementos naturais não possuem valor econômico.
Algumas metodologias de aferição do valor indenizável contemplam danos em
diferentes compartimentos ambientais: relacionados à flora, à fauna silvestre, à mineração,
aos recursos hídricos, qualidade do ar e ao patrimônio histórico e cultural.registra-se que não
se desconsidera que o cenário ideal em qualquer dano ambiental é aquele em que é possível a
restauração ao status quo ante, bem como os danos extrapatrimoniais.
Como dito, os danos ao ambiente natural podem se classificar em patrimoniais e
extrapatrimoniais, podendo atingir bens materiais que, no caso do ambiente, são aqueles
empregados, direta ou indiretamente, atual ou futuro, como matéria-prima ou serviço pelas
pessoas e pelas atividades produtivas, enquanto os danos não patrimoniais difusos refletem na
saúde do homem no sentido psíquico, é a angústia decorrente da perda de bens ambientais
que, de alguma forma, garantiam o equilíbrio emocional, a satisfação em saber que bens
ambientais existem, ainda que inalcançáveis para uns em termos de poder presenciá-los.
Dentre os danos patrimoniais causados pelo episódio de colapso da barragem de
Fundão destacam-se a perda da renda familiar (financeira), dias sem trabalhar, e ainda em
caso de morte de um parente, ou redução da capacidade para o trabalho, das moradias, aqui
incluídos bens como eletrodomésticos, móveis, automóveis, etc. é possível o pedido de
indenização por lucros cessantes, correspondente ao valor que a pessoa deixou de auferir, em
razão do dano sofrido pelo rompimento das barragens.
Já na esfera extrapatrimonial, o abalo psicológico causado às vítimas, ao perderem
seus bens, que representam não apenas bens, mas sua história e memória emocional, bem
como às indenizações pelo sofrimento e desespero, da possibilidade de perder entes queridos,
ou a própria vida, sofrimentos estes que ultrapassam em muito um mero aborrecimento, e
devem ser indenizados.
Os métodos de quantificação monetária dos danos ambientais estudados pela teoria
econômica neoclássica refletem os elementos naturais que possuem valores de mercado,
porque são comercializados.
São diversos os métodos de valoração econômica estudados pela teoria econômica
neoclássica, todos compartilham o objetivo de atribuir valores monetários a bens e serviços
ambientais, destacando-se: valor de uso, valor de opção, valor de existência, preço de
mercado, defensivo, de produtividade marginal, valor de propriedade, reposição.
No caso do desastre ambiental de Mariana, visando operacionalizar as indenizações
aos envolvidos bem como as medidas de reparação, firmou-se com a SAMARCO um TTAC
como a base para toda a sequência de ações visando a mitigação de efeitos, diagnóstico
socioambiental e econômico, estabelecimento de programas de reparação e principalmente no
estabelecimento de um modelo fundacional de gestão financeira, que possui claros liames
com o modelo de operadores financeiros e fundos de desastre, existentes na Europa e no
Canadá.
No entanto, por vezes a concretização dos ideais que inspiraram a celebração deste
expediente carecem de efeitos efetividade, mostrando-se extremamente complexo estipular
um valor que satisfaça os danos causados pela atividade econômica.
A interpretação dos dados dos desastres de Mariana proporcionou, no âmbito
ambiental, a compreensão da magnitude dos efeitos sentidos pelo meio ambiente a partir da
evidente necessidade de reconstituir e indenizar os prejuízos sofridos, sendo de todo
justificável as indenizações nas esferas patrimoniais e extrapatrimoniais para as vítimas,
guardando ainda, como outra finalidade a responsabilização da mineradora por esse desastre.
Principalmente para que não ocorra a reincidência do desastre e o meio ambiente regenerado
possa voltar a abrigar o ecossistema destruído.
A análise e estudo do impacto gerada pelo “Caso de MAriana”, também permitiu a
reflexão acerca da necessidade de uma nova forma de liquidação de sentença, ou seja, uma
nova técnica processual para a liquidez das sentenças condenatórias ambientais vem de
encontro com as metodologias para a imposição de valores aos bens e serviços ambientais.
Faz-se necessária a complementação do microssistema jurídico para a devida garantia do
direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, ainda que na forma
ressarcitória.
A liquidação de sentença condenatória por danos ambientais difusos adequa-se, em
princípio, à liquidação por arbitramento no que tange aos métodos baseados em preços de
mercado. Neste caso, “experts” poderiam atribuir valores a bens e/ou serviços ambientais.

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