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Flambagem de placas finas

Estruturas de Aço - Aula 5

Felipe Schaedler de Almeida


felipe.almeida@ufrgs.br

Departamento de Engenharia Civil


Escola de Engenharia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Porto Alegre – RS

Ensino Remoto Emergencial


Junho 2020
Sumário

1 Placas finas: Teoria de pequenas deformações


Flexão pura de placas finas
Placa com carga transversal
Flexão e compressão combinados
Flambagem de placa sob carga uniaxial

2 Comportamento pós-flambagem de placas finas


Largura efetiva da placa
Sumário

1 Placas finas: Teoria de pequenas deformações


Flexão pura de placas finas
Placa com carga transversal
Flexão e compressão combinados
Flambagem de placa sob carga uniaxial

2 Comportamento pós-flambagem de placas finas


Largura efetiva da placa
Sumário

1 Placas finas: Teoria de pequenas deformações


Flexão pura de placas finas
Placa com carga transversal
Flexão e compressão combinados
Flambagem de placa sob carga uniaxial

2 Comportamento pós-flambagem de placas finas


Largura efetiva da placa
Placas finas: Teoria de pequenas deformações

— Flexão pura de placas finas —


Placa com momento uniforme

Placa com espessura h submetida a momento fletor constante ao longo


das suas bordas:

Mx → Momento fletor por unidade de comprimento atuando em um lado


da placa paralelo ao eixo y (associado à tensão normal σx ),

Unidade = [força · comprimento / comprimento] (ex: kN·m/m)


Deformações

Hipóteses Cinemáticas:
Após a deformação, uma linha
inicialmente reta e perpendicular ao
plano médio da placa permanece:
Reta
Perpendicular ao plano médio na
configuração deformada
Com o comprimento original (h)
Com isso, as deformações normais nas
direções dos eixos x e y são dadas por:

1 1
εx = z e εy = z
ρx ρy

onde ρx e ρy são os raios de curvatura


nos planos x–z e y–z, respectivamente.
Tensões

Considerando a Lei de Hooke para o material, temos:


1 1
εx = (σx − νσy ) e εy = (σy − νσx )
E E
Sendo:
E - módulo de elasticidade longitudinal (módulo de Young)
ν - coeficiente de Poisson

1 1
Introduzindo em εx = z e εy = z e resolvendo para σx e σy , temos:
ρx ρy
! !
E 1 1 E 1 1
σx = −ν z e σy = −ν z
1 − ν2 ρx ρy 1 − ν2 ρy ρx
Resultante de tensões

Para o momento externo Mx aplicado em um segmento de comprimento


dy , temos:

Zh/2 Zh/2
Mx dy = σx z dzdy −→ Mx = σx z dz
−h/2 −h/2
Resultante de tensões
  R h/2
1
Substituindo σx = E
1−ν 2 ρx − ν ρ1y z , em Mx = −h/2 σx z dz, temos
! Zh/2
E 1 1
Mx = −ν z 2 dz
1 − ν2 ρx ρy
−h/2

De onde definimos a rigidez à flexão da placa (D)

Zh/2
E Eh3
D= z 2 dz → D =
1 − ν2 12(1 − ν 2 )
−h/2

com unidade = [ força · comprimento] (ex: [kN · m])


Assim, podemos escrever

! !
1 1 1 1
Mx = D +ν e My = D +ν
ρx ρy ρy ρx
Relação M–w
∂w ∂w
Para pequenos deslocamentos transversais w (x, y ): θx = e θy =
∂x ∂y

Considerando as relações:
1 ∂θx 1 ∂2w
= → =− 2
ρx ∂x ρx ∂x
e
1 ∂θy 1 ∂2w
= → =− 2
ρy ∂y ρy ∂y

! !
∂2w ∂2w ∂2w ∂2w
Temos: Mx = −D + ν e My = −D + ν
∂x 2 ∂y 2 ∂y 2 ∂x 2
Placas finas: Teoria de pequenas deformações

— Placa com carga transversal —


Elemento da placa com carga transversal q(x , y )

Dados por:
Z h/2
Mx = σx zdz
−h/2
Z h/2
My = σy zdz
−h/2
Z h/2
Mxy = − τxy zdz
−h/2
Z h/2
Myx = τyx zdz
−h/2
Mx , Mxy , e Qx são o momento fletor, Z h/2
o momento torsor e a força cortante Qx = τxz dz
−h/2
(por unidade de comprimento) Z h/2
atuando na face perpendicular ao Qy = τyz dz
eixo x, respectivamente. −h/2
Elemento da placa com carga transversal q(x , y )

obs:
como |τxy | = |τyx |
temos Myx = −Mxy .

Mx , Mxy , e Qx são o momento fletor,


o momento torsor e a força cortante
(por unidade de comprimento)
atuando na face perpendicular ao
eixo x, respectivamente.
Equilíbrio

P ∂Qx ∂Qy
Fz = 0 → + +q =0
∂x ∂y

Em torno do eixo y :
∂Mx ∂Myx
M=0 → + − Qx = 0
P
∂x ∂y

Em torno do eixo x:
∂My ∂Mxy
M=0 → − + + Qy = 0
P
∂y ∂x
Equação de equilíbrio da placa com carga transversal
∂Mx ∂Mxy ∂My ∂Myx
Substituindo + − Qx = 0 e − + + Qy = 0
∂x ∂y ∂y ∂x

∂Qx ∂Qy
em + +q =0
∂x ∂y

∂ 2 Mx ∂ 2 Mxy ∂ 2 My
temos − 2 + = −q
∂x 2 ∂xy ∂y 2
onde foi levado em conta que Myx = −Mxy

Usando a relação entre momentos (M) em deslocamento transversal (w ),


obtemos a equação de equilíbrio da placa:

∂4w ∂4w ∂4w q


4
+ 2 2 2
+ 4
=
∂x ∂ x∂ y ∂y D
Placas finas: Teoria de pequenas deformações

— Flexão e compressão combinados —


Placa submetida a carga transversal e força no plano

Nx e Ny são forças normais (por unidade de comprimento) atuando nos


planos perpendiculares aos eixo x e y, respectivamente.

Unidade = [força / comprimento] (ex: [kN/m])

O efeito de Nx e Ny na flexão da placa deve ser considerado quando esses


não são pequenos.
Equilibrio de forças no plano

P ∂Nx ∂Nyx
Fx = 0 → + =0
∂x ∂y

∂Ny ∂Nxy
Fy = 0 → + =0
P
∂y ∂x
Resultane da projeção de Nx , Ny e Nx y no eixo z

A resultante da projeção das forças no eixo z fica:

∂2w ∂2w ∂2w


Nx dxdy + Ny dxdy + 2Nxy dxdy
∂x 2 ∂y 2 ∂x∂y
Equação de equilíbrio

Adicionando a projeção das forças de Nx , Ny e Nxy à carga transversal


q(x, y ) atuando no elemento dxdy , temos a equação de equilíbrio da placa
!
∂ 2 Mx ∂ 2 Mxy ∂My ∂2w ∂2w ∂2w
2
−2 + 2
= − q + Nx 2 + Ny 2
+ 2Nxy
∂x ∂xy ∂y ∂x ∂y ∂x∂y

ou, em termos dos deslocamentos transversais (w ):


!
∂4w ∂4w ∂4w 1 ∂2w ∂2w ∂2w
+ 2 + = q + Nx 2 + Ny + 2Nxy
∂x 4 ∂ 2 x∂ 2 y ∂y 4 D ∂x ∂y 2 ∂x∂y
Equação de equilíbrio

Adicionando a projeção das forças de Nx , Ny e Nxy à carga transversal


q(x, y ) atuando no elemento dxdy , temos a equação de equilíbrio da placa
!
∂ 2 Mx ∂ 2 Mxy ∂My ∂2w ∂2w ∂2w
2
−2 + 2
= − q + Nx 2 + Ny 2
+ 2Nxy
∂x ∂xy ∂y ∂x ∂y ∂x∂y

ou, em termos dos deslocamentos transversais (w ):


!
∂4w ∂4w ∂4w 1 ∂2w ∂2w ∂2w
+ 2 + = q + Nx 2 + Ny + 2Nxy
∂x 4 ∂ 2 x∂ 2 y ∂y 4 D ∂x ∂y 2 ∂x∂y
Placas finas: Teoria de pequenas deformações

— Flambagem de placa sob carga uniaxial —


Placa

Considerando o caso particular da placa

com:
lados simplesmente apoiados (s.a.)
comprimento a, largura b e espessura h:
Submetida a força de compressão uniformemente distribuída na
direção x (Nx )
Equação de equilíbrio

Como q(x, y ) = Ny = Nxy = 0, a equação de equilíbrio

!
∂4w ∂4w ∂4w 1 ∂2w ∂2w ∂2w
4
+ 2 2 2
+ 4
= q + Nx 2 + Ny + 2Nxy
∂x ∂ x∂ y ∂y D ∂x ∂y 2 ∂x∂y

fica

∂4w ∂4w ∂4w Nx ∂ 2 w


4
+2 2 2 + 4
=
∂x ∂ x∂ y ∂y D ∂x 2
que define o problema com as condições de contorno:
∂2w
w =0e ∂x 2 = 0 em x = 0 e x = a
e
∂2w
w =0e ∂y 2
= 0 em y = 0” e y = b
Solução

A solução para o deslocamento transversal w é dado pela série

x y
   
w = amn sen mπ sen nπ
a b
!
π2 D n2 a 2
associado à força Nx = 2 m+
a m b2

m e n → número de semiondas nas direções x e y , respectivamente


amn → amplitude das combinações de m-n semiondas na solução.

m=3en=1
m=1en=1
Força crítica de flambagem elástica (Nx ,c )

Analisando a força
!
π2 D n2 a 2
Nx = 2 m+
a m b2
observamos que o menor valor é determinado com n = 1, de forma que
!
π2 D 1 a2
Nx ,cr = 2 m+
a m b2

cuja configuração deformada correspondente tem


m (várias) semiondas na direção da força (x)
apenas uma semionda (n = 1) na direção perpendicular (y ).
Podemos escrever Nx ,cr em termos da largura b
!
π2D 1 a2 π2D
Ncr = 2 m+ → Ncr = k
a m b2 b2

onde o coeficiente k pode ser obtido igualando as expressões:


!2 2
π2 D π2 D 1 a2 m a/b

k 2 = 2 m+ =⇒ k = +
b a m b2 a/b m
(k depende de m e a/b )

O valor m que resulta k mínimo é dado quando


∂k
= 0 =⇒ m = a/b
∂m
para o qual
2 2
m a/b a/b a/b
 
k= + = + =⇒ k = 4
a/b m a/b a/b
Podemos escrever Nx ,cr em termos da largura b
!
π2D 1 a2 π2D
Ncr = 2 m+ → Ncr = k
a m b2 b2

onde o coeficiente k pode ser obtido igualando as expressões:


!2 2
π2 D π2 D 1 a2 m a/b

k 2 = 2 m+ =⇒ k = +
b a m b2 a/b m
(k depende de m e a/b )

O valor m que resulta k mínimo é dado quando


∂k
= 0 =⇒ m = a/b
∂m
para o qual
2 2
m a/b a/b a/b
 
k= + = + =⇒ k = 4
a/b m a/b a/b
Podemos escrever Nx ,cr em termos da largura b
!
π2D 1 a2 π2D
Ncr = 2 m+ → Ncr = k
a m b2 b2

onde o coeficiente k pode ser obtido igualando as expressões:


!2 2
π2 D π2 D 1 a2 m a/b

k 2 = 2 m+ =⇒ k = +
b a m b2 a/b m
(k depende de m e a/b )

O valor m que resulta k mínimo é dado quando


∂k
= 0 =⇒ m = a/b
∂m
para o qual
2 2
m a/b a/b a/b
 
k= + = + =⇒ k = 4
a/b m a/b a/b
4

1 2 3 4 5

A razão a/b para a qual o número de semiondas que resulta no valor


mínimo de k passa de m para m + 1 é dada por
2 2
m a/b m+1 a/b
 
k= + = +
a/b m a/b m+1
p
De onde temos a/b = m(m + 1)
Força crítica de flambagem elástica para placa longa

Quando a placa é longa (a ≫ b), a flambagem ocorre com um número de


semiondas m grande.

Nesse caso: a
 =m
m(m + 1) ∼
= m2 −→ assim b
k = 4

Ou seja,

a flambagem ocorre com m ondas quadradas de comprimento a/m = b

4π 2 D
e com com força crítica Ncr =
b2
Tensão crítica de flambagem elástica para placa longa

A tensão crítica de flambagem elástica de uma placa longa (a ≫ b) de


espessura h submetida a força distribuída na direção do eixo x é dada por

Nx ,cr
σx ,cr =
h

π2D Eh3
com Nx ,cr = k e D =
b2 12(1 − ν 2 )

obtemos
π2 E
σx ,cr = k
12(1 − ν 2 )(b/h)2

O termo (b/h) define a esbeltez da placa


Tensão crítica de flambagem elástica para placa longa

A tensão crítica de flambagem elástica de uma placa longa (a ≫ b) de


espessura h submetida a força distribuída na direção do eixo x é dada por

Nx ,cr
σx ,cr =
h

π2D Eh3
com Nx ,cr = k e D =
b2 12(1 − ν 2 )

obtemos
π2 E
σx ,cr = k
12(1 − ν 2 )(b/h)2

O termo (b/h) define a esbeltez da placa


Outros coeficientes de flambagem

Compressão

s.a. s.a.

k=4 s.a. s.a. s.a. s.a. k=0,425


s.a. livre

engastado engastado

k=6,97 s.a. s.a. s.a. s.a. k=1,277


engastado livre
Outros coeficientes de flambagem
Sumário

1 Placas finas: Teoria de pequenas deformações


Flexão pura de placas finas
Placa com carga transversal
Flexão e compressão combinados
Flambagem de placa sob carga uniaxial

2 Comportamento pós-flambagem de placas finas


Largura efetiva da placa
Resistência pós-flambegem

Resistência pós-flambegem: Resistência adicional que um elemento


enrijecido (placa com as bordas apoiadas) pode apresenta em relação à
carga de flambagem.

Se deve a mecanismos de redistribuição de tensões na placa após a


flambagem.
Comportamento pós-flambagem de placas finas

— Largura efetiva da placa —


Largura efetiva - von Karman (1932)

A distribuição não uniforme de tensões normais ao longo da largura da


placa (b) após a flambagem é substituída por uma distribuição uniforme
de tensões em uma largura efetiva (bef ) com intensidade igual à tensão
real na borda da placa (σmax ), tal que:

Zb
σdy = bef σmax
0
Largura efetiva - von Karman

Largura efetiva (bef ): largura para a qual a placa flamba com tensão
igual à de escoamento

Para uma placa de espessura t e bordas apoiadas (k = 4), temos

π2E
σcr

=k 2 = fy
bef

12(1 − ν 2 )
t
a partir de onde se obtém
s
E π2
bef = Ct , onde C2 = k
fy 12(1 − ν 2 )

s
E
Com ν = 0, 3 e k = 4, 0 temos C = 1, 9 e assim, bef = 1, 9t
fy
Largura efetiva - Winter (1946)

A partir das observações de resultados de ensaios, Winter (1946) obteve a


seguinte expressão válida para σmax ≤ fy :
s " s #
E C /4 E
bef = Ct 1− (1)
σmax b/t σmax

Ou, para C = 1, 9:
s " s #
E 0, 475 E
bef = 1, 9t 1−
σmax b/t σmax
Usando a relação entre E e σcr dado por
2
π2E C 2E b/t

σcr = k  2 = −→ E = σcr
2
b (b/t)2 C
12(1 − ν )
t
em
s " s #
E C /4 E
bef = Ct 1−
σmax b/t σmax
temos

bef σcr σcr


r  r 
= 1 − 0, 25
b σmax σmax
A equação s " s #
E C /4 E
bef = Ct 1− (2)
σmax b/t σmax
foi generalizada apara outras condições de contorno (k), ganhando a forma
s " s #
kE 0, 208 kE
bef = 0, 95t 1− (3)
σmax b/t σmax
de onde se obtém
bef σcr σcr
r  r 
= 1 − 0, 22
b σmax σmax
Fator de redução (ρ)

A largura efetiva (bef ) pode ser expressa em função da largura da placa


(b) por
bef = ρb
onde o fator de redução (ρ) é definido em função do ínidice de esbeltez
(λ) como

0, 22 1 σmax
  r
ρ= 1− ≤1 , com λ=
λ λ σcr

Usando a definição de σcr , obtemos a seguinte expressão usada para λ na


NBR14762:2010
b/t
λ= q
0, 95 σkEmax
Fator de redução (ρ)

A largura efetiva (bef ) pode ser expressa em função da largura da placa


(b) por
bef = ρb
onde o fator de redução (ρ) é definido em função do ínidice de esbeltez
(λ) como

0, 22 1 σmax
  r
ρ= 1− ≤1 , com λ=
λ λ σcr

Usando a definição de σcr , obtemos a seguinte expressão usada para λ na


NBR14762:2010
b/t
λ= q
0, 95 σkEmax
Esbeltez limite da placa

Podemos observar que a placa é totalmente efetiva (bef = b) quando


ρ = 1, o que ocorre para

0, 22 1
 
ρ= 1− ≥1 −→ λ ≤ 0, 673
λ λ

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