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Semana de Animação da ESEC: práticas de aprendizagem de animação


socioeducativa em contexto formal e não formal

Article · October 2016

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2 authors:

Filipa Morais Mario Montez


Instituto Politécnico de Coimbra Instituto Politécnico de Coimbra
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Índice

CONSELHO DE REDAÇÃO | 4

EDITORIAL | 6

SEMANA DE ANIMAÇÃO DA ESEC: PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM DE ANIMAÇÃO


SOCIOEDUCATIVA EM CONTEXTO FORMAL E NÃO FORMAL | 7

PRÁTICAS DE LAZER: O EIXO ESPORTE E CULTURA DO PROGRAMA ESCOLA DA FAMÍLIA


- SÃO PAULO/BRASIL | 32

EL PAPEL DE LA COMUNIDAD Y DE SUS ORGANIZACIONES EN LA ANIMACIÓN


SOCIOCULTURAL | 50

FORMAÇÃO EM REDE NA CIDADE DE SÃO PAULO: SOBRE A INTERVENÇÃO


COMUNITÁRIA COM BASE NA ABORDAGEM COLABORATIVA E NA ANIMAÇÃO
SOCIOCULTURAL | 62

RETOS DE LA EDUCACIÓN SOCIOCULTURAL EN LA SOCIEDAD DIGITAL | 77

ANIMAÇÃO, ANIMADORES E MERCADO DE TRABALHO | 89

TRAJETÓRIAS DE VIDA E INTEGRAÇÃO SOCIAL DE JOVENS PÓS-INSTITUCIONALIZADOS.


ESTUDOS DE CASO NA CASA PIA DE LISBOA (2002-2011) | 128

PAPEL DEL DEPORTE EN UN GOLPE DE ESTADO “SUAVE”, EN LA GLOBALIZACIÒN:


MUNDIAL Y JO EN BRASIL 2016. ¿OTRO DEPORTE ES POSIBLE? | 151

LA HERENCIA EN LA CULTURA DOMINICANA | 206


“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Ficha Técnica

Diretor: Albino Luís Nunes Viveiros


E-mail: albinoviveiros@netmadeira.com
E-mail da revista: revistapraticasdeanimacao@gmail.com
Design/ Paginação: Elisa Franco Catanho
Coordenação de conteúdos: Cláudia Paixão
Textos (os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos seus autores):
António Manuel Rodrigues Ricardo Baptista, Cathia Alves, Eloy Altuve Mejìa, Fabián
Vilas, Filipa Canavarro Morais, Hélder Ferreira Isayama, Jose Francisco Jimenez, José
Rosado Medinas Martins, Juliana Pedreschi Rodrigues, Mário Montez, Mario Viché
Gonzalez e Paula Caroline de Oliveira Souza.
Periodicidade: Anual
Número atual: Ano 10 - N.º 9, outubro 2016 | outubro 2017
ISSN: 1646-8015
Revista com refere

Projeto de intercâmbio editorial «Animação Digital» (para aceder às revistas


Quaderns d’ Animació i Educació Social e Animación, territórios y prácticas
socioculturales clique no logo «AD»):

Apoio:
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Conselho de Redação

Prof. Doutor Victor J. Ventosa


Universidade Pontifícia de Salamanca | Rede Iberoamericana de Animação
Sociocultural

Prof. Doutor Marcelino Sousa Lopes


Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Prof. Doutor Victor Melo


Universidade Federal do Rio de Janeiro | Grupo de Pesquisa
"ANIMA"

Prof. Doutor Avelino Bento


Instituto Politécnico de Portalegre/ Escola Superior de
Educação

Prof. Doutor Mário Viché


Universidad Nacional de Educación a Distancia | Revista Quaderns d' Animació i
Educació Social

Prof. Doutor Jean Claude Gillet


Universidade de Bordeaux

Prof. Doutor Xavier Úcar Martinez


Universidade Autónoma de Barcelona

Prof. Doutora Ana Piedade


Instituto Politécnico de Beja/ Escola Superior de Educação | Rede CRIA

Dr. Manuel Martins


Revista Anim'Arte
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Dr. José Vieira


Instituto Português de Juventude

Dr. Albino Viveiros


AIASC – Associação Insular de Animação Sociocultural

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Editorial
Albino Viveiros

O campo de reflexão e intervenção da animação sociocultural é multidisciplinar


e é neste contexto que é publicado o número atual da Práticas de Animação. Os
artigos agora publicados revelam a pluralidade da intervenção na perspectiva da
animação sociocultural, a multiculturalidade do pensamento e da ação.
A Práticas de Animação ao longo dos números editados foi fazendo um trajeto
próprio, definiu a sua própia identidade editorial, sem deixar de fora áreas do saber
que entendemos serem transversais à animação sociocultural e consequentemente
deverão ser foco de estudo por partes dos animadores.
O número atual revela o alcance e notariedade que o projeto alcançou no meio
académico, entre os animadores socioculturais no território nacional e ibero-
americano. As latitudes e longitudes têm contribundo para o fortalecimento, para as
aprendizagens e partilha de conhecimento sobre os espaços de intervenção da
animação sociocultural e o papel determinante que os animadores socioculturais
desempenham na transformação social de grupos e comunidades.
Esperamos que a consolidação da revista seja um convite espontâneo para que
outros se animem e, contribuem ativamente com o seu pensamento e práticas.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Semana de Animação da ESEC: práticas de aprendizagem


de animação socioeducativa em contexto formal e não formal

Filipa Canavarro Morais, Socióloga*


Mário Montez, Animador Sociocultural**
Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra

Resumo
Com o evento Semana de Animação, cuja descrição é o objectivo deste texto,
pretendeu-se dar aos estudantes a oportunidade de, simultaneamente, aplicar as bases
teóricas da Animação Comunitária, aprender fazendo e tomar contacto com algumas
dificuldades e, portanto, desafios que são colocados ao animador no terreno, quando
tenta transformar um projeto que idealizou numa intervenção concreta. Acreditou-se
que esta estratégia de ensino, no contexto do curso de Animação Socioeducativa,
poderia estimular nos estudantes qualidades como criatividade, espírito de iniciativa,
capacidade de trabalho em equipa, autonomia, resiliência e responsabilidade.

Este texto apresenta pois duas experiências de aprendizagem prática de animação


socioeducativa realizadas no ensino superior e desenvolvidas num contexto
aproximado à realidade de intervenção, aproveitando a escola como espaço complexo
e dinâmico, bem como os diversos âmbitos de intervenção que possibilita. Ambas as
experiências foram realizadas na Escola Superior de Educação de Coimbra, no âmbito
do curso superior de Animação Socioeducativa nos anos 2015 e 2016.

Palavras-chave: animação socioeducativa; aprendizagem pela prática; ensino superior;


pedagogia de projecto; dinamização de espaços e momentos de lazer; participação;
integração social.

“Give the pupils something to do, not something to learn; and the doing is of such a
nature as to demand thinking; learning naturally results.”
J. DEWEY (1916) Democracy and Education: An Introduction to the Philosophy of

* fmorais@esec.pt Professora responsável pela realização da Semana de Animação da ESEC.


** montez@esec.pt Professor responsável pela realização da Semana de Animação da ESEC.
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Education

“If there is any characteristic that is distinctively human it is the capability for reflective
self-consciousness.(…) Among the types of thoughts that affect action, none is more
central or pervasive than people's judgments of their capabilities to deal effectively with
different realities”).
A. BANDURA (1986) Social Foundations of Thought and Action: A Social-Cognitive Theory

“É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira
que num dado momento a tua fala seja a tua prática.”
Paulo Freire

Introdução
Animação que se anima a si mesma.

Quem passou, em Abril de 2015, pela Escola Superior de Educação de Coimbra deparou-se com
jovens estudantes, professores e estudantes da Escola de Educação Sénior sentados em baixos
sofás coloridos, conversando animadamente. Eram pequenos sofás individuais feitos de pneus
e de trapos de vários padrões que, numa iniciativa de reciclagem, davam cor e assento ao
espaço exterior da escola, criando novos lugares de convívio em constante mutação. Estas
peças de mobiliário urbano exterior permaneceram ali depois da Semana de Animação 2015, e
assim se criou um lugar novo e uma diferente forma de estar na escola.

Em Abril de 2016 já não havia sofás reciclados; a chuva e o sol tiveram também a sua acção
interventiva. Contudo, viram-se mesas dispostas no claustro e tendas erguidas no pátio, nas
quais se apresentaram associações e projectos sociais, onde se experimentaram curiosidades
de outras culturas e provaram delícias de outros lugares do mundo, e onde representantes de
vários partidos e movimentos políticos discutiram a participação cidadã como factor essencial à
consolidação da democracia, não tivesse a animação socioeducativa em vista a
consciencialização para a participação das pessoas na vida política da sociedade.

São estas transformações e acções de consciencialização, reflexão, capacitação e mobilização


que aqui se apresentam, revisitando os dois primeiros anos da realização da iniciativa Semana
de Animação da ESEC.

A Semana de Animação foi uma iniciativa interdisciplinar do curso de Animação Socioeducativa


(ASE) que se realizou na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) em Abril de 2015 com
o sub-título ESECONNECTING PEOPLE e em Abril de 2016 com o sub-título PARTICIPAÇÃO
CIDADÃ. A iniciativa surgiu da necessidade e vontade, já antigas, de ensinar Animação
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Socioeducativa em contextos práticos que articulassem várias unidades curriculares, diversos


recursos e um universo variado de desafios. Justo será referir que surgiu também na sequência
de experiências anteriores de operacionalização das técnicas e princípios teóricos que
enquadram as intervenções comunitárias, nomeadamente, no seguimento da iniciativa Semana
Cultural, realizada no âmbito da unidade curricular Técnicas de Animação Comunitária, do 1º
ano do curso.

Através da concepção e implementação de projetos de animação comunitária, desenvolvidos


em equipas de trabalho que envolveram diferentes turmas, os estudantes do curso de
Animação Socioeducativa puderam pôr em prática diversas competências definidas no
programa do curso, trabalhando em contexto real de intervenção e usando a escola como
laboratório. Tiveram também, uma vez mais à semelhança do trabalho desenvolvido em anos
anteriores, a oportunidade de desenvolver práticas que se consideram relevantes para o seu
futuro profissional, mas desta feita envolvendo um número crescente de alunos e docentes e
iniciando uma colaboração com outras organizações. A iniciativa inseriu-se num projecto mais
lato que abrangeu, enquanto organizadores e desde a sua concepção, alunos e docentes das
unidades curriculares de Concepção de Projectos de Intervenção Comunitátia (CPIC),
Metodologias de Investigação-Acção (MIA), Atelier de Projectos de Intervenção (API) e Técnicas
de Animação Comunitária (TAC), e, mais recentemente, de Gestão de Equipamentos, Recursos
e Infraestruturas Locais (GERIL) dos 1º e 2º anos do curso, dos regimes diurno e pós-laboral.

Na fase de implementação contou-se, em 2015, com uma parceria com a Casa da Esquina,
associação sociocultural com acção em Coimbra, que nos propôs iniciar na ESEC um périplo do
seu projecto Encontrar a Cidade que tinha como objectivo criar espaços vivos e informais de
convívio e de aprendizagem. A configuração desses espaços era conseguida por um conjunto
de sofás individuais feitos de pneus reaproveitados forrados de tecidos e trapos velhos.
Contou-se também, a partir de 2015, com a colaboração da Escola de Educação Sénior-Instituto
IHumanus a que se juntaram, em 2016, alunos e docentes de outras UCs do curso de ASE, dos
cursos de Desporto e Lazer e de Turismo, assim como outras organizações de âmbito local e
regional.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Figura 1

Convívio nos
Sofás da Casa
da Esquina

Dinamização e
aproveitament
o do espaço
exterior da
escola

Descreve-se seguidamente a experiência de concepção e organização desta iniciativa enquanto


processo de aprendizagem e operacionalização de metodologias e técnicas de animação
sociocultural e educativa. A iniciativa visou, igualmente, dar a conhecer o trabalho
desenvolvido no curso de ASE a colegas (alunos e funcionários da ESEC,) alunos da Escola de
Educação Sénior e a todos aqueles que, não fazendo parte da escola participaram nas
atividades da semana (como público e/ou como intervenientes).

Figura 2

Talent Show

Participação de
alunos da
Escola de
Educação
Sénior e
Erasmus no
espetáculo de
mostra de
talentos dos
alunos

A Semana de Animação procurou ainda proporcionar a interacção entre diferentes pessoas e


serviços da escola e com entidades exteriores à mesma (através de colaborações, parcerias ou
patrocínios), favorecendo um primeiro contacto com ferramentas pertinentes para o trabalho
de animação socioeducativa.

Da apreciação geral dada pelos vários implicados, concluímos que a Semana de Animação se

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

tem tornado claramente um marco de aprendizagem prática e do trabalho interdisciplinar do


Curso de Animação Socioeducativa, para os restantes membros da comunidade esequiana,
uma ocasião de participar num evento que procurou conjugar dimensões formativas, lúdicas,
culturais, de convívio e debate cívico.

I – PROPOSTA
A Animação na teoria e na prática

A SEMANA DE ANIMAÇÃO contemplou um leque diversificado de atividades que


corresponderam aos vários âmbitos de intervenção em animação socioeducativa. Estas
atividades foram dirigidas aos interesses e necessidades dos participantes/público-alvo que os
alunos identificaram com base em diagnósticos prévios e foram subordinadas aos temas
“Integração Social” em 2015 e “Participação Cidadã” em 2016. Os temas foram
suficientemente abrangentes e desafiadores para permitir o surgimento de uma grande
variedade de propostas pelos diferentes grupos, tendo tido os alunos liberdade nas suas
escolhas e sido responsabilizados por estas e por todos os aspetos do seu planeamento e
concretização. A proposta foi apresentada no início do ano aos alunos e alunas, de forma a que
o trabalho desenvolvido se orientasse na direcção das temáticas definidas.

Figura 3

Educação de
Adultos

Preparação de
Workshop na área
da literacia
científica realizado
por docentes do
Curso de ASE
convidadas a
participar no
evento

O envolvimento dos alunos foi imediato após a proposta do tema: desde a recolha de
informação para a realização de diagnósticos e fundamentação teórica das suas intervenções, à
definição de objetivos, elaboração de programas, cronogramas e orçamentos, até à
implementação propriamente dita dos seus projetos de intervenção, todos se envolveram num

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

trabalho que se prolongou por vários meses. A responsabilidade por estas fases do trabalho foi
repartida por todos os alunos e alunas envolvidos, tendo os docentes procurado que os alunos
do 2º ano do curso ficassem com as questões de fundo e decisões mais estratégicas tais como:

a) identificar problemas no âmbito dos temas integradores propostos como ponto


de partida da intervenção.
b) elaborar um diagnóstico de base para a intervenção;
c) identificar os principais recursos a mobilizar;
d) definir os objectivos e os resultados esperados da intervenção;
e) desenhar a avaliação contemplando indicadores e instrumentos de
comprovação;
f) propor, em escala aberta, as acções a desenvolver para atingir os objectivos:
g) elaborar o orçamento geral para a intervenção.

As turmas do 1º ano foram desafiadas a conjugar o seu trabalho com o dos colegas do 2º ano,
numa lógica de equipa operacional, ficando responsáveis por questões mais práticas, mas
igualmente relevantes, tais como:

 definir as atividades mais apelativas e adequadas para concretizar os objectivos


gerais;
 responder às necessidades e interesses de grupos específicos identificados;
 identificar e gerir recursos humanos, técnicos e institucionais e materiais para a
operacionalização das actividades;
 avaliar as condições facilitadoras e potenciais limitações e barreiras à
concretização das actividades;
 produzir materiais diversos de suporte à realização das actividades;
 conceber os melhores instrumentos de divulgação para promover a
participação da população-alvo;
 encontrar alternativas possíveis para o financiamento das atividades propostas;
 dinamizar e apoiar a realização das actividades;
 definir instrumentos de auto e hetero-avaliação.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Figura 4

Teatro do Oprimido

Momento de
discussão e avaliação
da Actividade com os
alunos do Curso de
Teatro e Educação

II – PROCESSO
Dos problemas às actividades.

A SEMANA DE ANIMAÇÃO visou, entre outros objectivos, pôr em prática competências


associadas aos conteúdos das diferentes UCs do Curso de Animação Socioeducativa já acima
apresentadas. Na sua quase totalidade, as tarefas desenvolvidas pelos alunos no âmbito desta
iniciativa tiveram, como referido, o propósito de os colocar numa situação mais próxima dos
contextos reais de intervenção em animação socioeducativa, em contacto com problemas
relacionados com a identificação e gestão de recursos técnicos, materiais e humanos, das
condições favoráveis à realização das actividades e dos constrangimentos logísticos ou
burocráticos. Procurou também sensibilizá-los para a necessidade de saber trabalhar em
parceria com diferentes pessoas e instituições, adaptando as formas de comunicação aos seus
diferentes interlocutores.
Por fim, foi solicitada aos alunos, já no final do semestre lectivo, uma avaliação do seu
desempenho que incluísse a cobertura, participação, eficácia, eficiência do trabalho realizado,
os aspectos positivos e negativos do trabalho de grupo e o relacionamento entre os seus
membros.

Na U.C. de Técnicas de Animação Comunitária (TAC) do 1º ano, as atividades concebidas e


implementadas pelos alunos consistiram em colocar em prática, especificamente, alguns dos
conteúdos da disciplina:

Numa fase de Diagnóstico, e segundo os princípios e âmbitos da animação comunitária


definidos S. F. Quintas (1998) e E. Ander-Egg (2001), foi solicitado aos alunos do primeiro ano
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

– UC de Técnicas de Animação Comunitária, que realizassem:


a) uma caracterização do contexto sociocultural da comunidade nos seus vários
aspectos: sociais, demográficos, educativos, económicos, etc.;
b) a detecção dos principais problemas, carências e centros de interesse da
comunidade-alvo da intervenção;
c) a identificação de meios e condições favoráveis e desfavoráveis à intervenção
comunitária, avaliação dos recursos disponíveis, do grau de consciência e da
capacidade de participação e intervenção do grupo em análise.

Na fase de Planeamento, os alunos tiveram como responsabilidade:


a) a definição de objectivos gerais e específicos das actividades da intervenção
com base numa metodologia participativa;
b) a mobilização dos recursos humanos (individuais e colectivos) e materiais
disponíveis;
c) a calendarização das actividades, distribuição de tarefas e responsabilidades e
escolha dos espaços.

Figura 5

Street Art

Preparação do
espaço da
Atividade

(Grafitti e Hip
hop)

Na fase de Execução, foi solicitada aos alunos a realização de atividades culturais/de difusão,
artísticas, de formação, lúdicas e de carácter social, tendo a classificação proposta por Ander-
Egg servido como ponto de partida e base de constituição das equipas de trabalho, uma vez
que posteriormente lhes foi dada a liberdade pela escolha das atividades concretas a
desenvolver.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Figura 6

Tabuleiro
Humano

Jogo de
perguntas e
respostas em
que os alunos
são os peões
num tabuleiro
gigante

No que se refere à UC de Concepção de Projetos de Intervenção Comunitária (CPIC), foi


proposta aos alunos a concepção de um projecto de turma que respondesse aos temas
apresentados e que contemplasse um planeamento estratégico e operacional capaz de integrar
actividades a realizar em conjunto com os colegas do 1º ano, tornando os alunos do 2º ano os
coordenadores do projecto. No âmbito deste projecto foram ser planeadas, pelo menos, duas
actividades numa lógica de laboratório, sendo que uma das actividades seria realizada no
contexto da Semana de Animação e outra no contexto de intervenção de uma instituição.

Figura 7

Voluntariozani
a

Mostra de
Instituições
que
desenvolvem
no terreno
trabalho de
voluntariado

A UC de Atelier de Projetos de Intervenção (API), sendo uma UC prática, serviu de base para a
execução, monitorização e avaliação das actividades. Neste contexto foram definidos os
instrumentos para monitorização do processo e de registo das actividades, tais como: quadros
de tarefas e de responsabilidades; fichas de evolução; fichas de registo; etc.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Em 2016, integrou-se também a UC de Gestão de Equipamentos, Recursos e Infraestruturas


Locais (GERIL), que serviu de base à coordenação da Semana de Animação, senda cada equipa
de trabalho responsável por uma tipologia de tarefa necessária à boa realização da iniciativa,
desde a Coordenação Geral à Comunicação, logística, relações públicas, gestão de recursos e
formalidades.

A fase de implementação do trabalho preparado pelas duas turmas consistiu na


realização da Semana de Animação propriamente dita durante uma semana no mês
Abril, tendo-se definido como responsabilidades dos animadores/as em formação,
nesta fase, dinamizar e favorecer a participação, comunicação e coesão dos grupos.
Foi-lhes solicitado também que, logo nesta fase, estivessem criados mecanismos de
acompanhamento e de auto e do projecto, que se prolongou depois por um período de
reflexão posterior a essa semana (em que se consideraram aspectos diversos como a
cobertura da intervenção, a eficácia do trabalho realizado, o aproveitamento dos
recursos disponíveis ou a articulação entre as equipas de trabalho e entre os seus
membros).

Figura 8

Survival

Actividade no
exterior com o
Curso de
Desporto e
Lazer

O processo de desenvolvimento da SEMANA DE ANIMAÇÃO seguiu genericamente, por


todos os envolvidos, e nos dois anos considerados a seguinte sequência de trabalho:
● Diagnóstico e investigação;

● Planeamento;

● Divulgação e Mobilização para a Participação;

● Execução do Projecto: as Atividades;

● Avaliação.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

O quadro 1 apresenta a sitematização deste processo.

Quadro 1: Sistematização da Concepção da Semana de Animação

Tarefa Unidade Curricular Com quem

Diagnóstico e Concepção de Projectos de -----


planeamento de um Intervenção Comunitária
projecto sobre
integração de novos
alunos na ESEC

Investigação sobre o Metodologias de -----


problema para Investigação-Acção
diagnóstico

Execução e avaliação em conjunto


de uma das Atelier de Projectos de com o 1º
actividades definidas Intervenção ano
no planeamento

Coordenação da -----
execução e da
avaliação da
actividade

Avaliação de uma em conjunto


actividade executada com o 1º
por outra equipa ano

Execução e avaliação em conjunto


da actividade Técnicas de Animação com o 2º
Comunitária ano

Avaliação de uma em conjunto

actividade com o 2º

executada por outra ano

equipa

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Figura 9

Conta-me
como foi

Testemunhos
dos alunos da
Escola de
Educação
Sénior sobre o
25 de Abril

1. Diagnóstico e Investigação.

Em 2015, o projecto teve como ponto de partida a problemática da integração de novos


estudantes na ESEC”. Em 2016 a temática proposta partiu do problema da pouca participação
dos jovens nas tomadas de decisão políticas e na promoção da cidadania.

Figura 10

Uma escolha feita


por ti e para ti

Quizz sobre
participação
política e
cidadania

A partir destas problemáticas os estudantes identificaram problemas num processo de


diagnóstico que contou com:
a) Elaboração de análise SWOT para definição dos pontos fortes e das fraquezas
que se apresentavam no contexto da intervenção e para perspectivação das
oportunidades, assim como das ameaças que poderiam advir de um projecto
nesta área ou que o seu contexto pudesse apresentar.
b) Elaboração de Paisagem Organizacional para identificação dos actores
colectivos e individuais locais e seu posicionamento face à temática do projecto,
podendo desde logo identificar possíveis parcerias.
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

c) Simulação de um atelier de levantamento de problemas, com base na técnica


dos cartões (METAPLAN).
d) Componente exaustiva de investigação quantitativa e qualitativa para
identificação, validação, caracterização e compreensão dos problemas, utilizando
técnicas e instrumentos específicos de recolha e de análise de dados.
e) Técnicas de recolha de dados: conversas informais, questionários e entrevistas.
f) Elaboração de quadros de diagnóstico que contemplassem as causas e os
problemas associados a cada problema, os grupos mais afectados, os recursos
disponíveis e as necessidades identificadas pelos vários grupos da população para
a resolução de cada problema
g) tratamento estatístico dos dados recolhidos.

Após estes procedimentos, foram apresentados os seguintes problemas principais e


identificadas as necessidades, como se demonstra no quadro 2:

Figura 11

Comida e Cultura
do Mundo

Aluna Erasmus
representando a
República Checa
no evento

Figura 12

Comida e Cultura
do Mundo

Gastronomia dos
países lusófonos
apresentada pelos
alunos de Turismo no
evento de streetfood

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Quadro 2: problemas e necessidades identificados.

2015 2016
TEMA Integração de novos estudantes na ESEC Participação cidadã/ participação dos jovens na tomada de decisão política e na
promoção da cidadania
1. Falta de espaços promotores de interação entre os membros da comunidade da ESEC. 1. Muitos jovens não estão motivados para participar, nomeadamente, para
2. Dificuldades sentidas a nível de informação, pelos alunos das 1ª e 2ª fase, quando desenvolver acções de voluntariado.
chegam à ESEC. 2. A participação está condicionada às condições sociais, em particular, de inclusão
3. Falta de informação sobre os espaços da ESEC. e de exclusão social;
PROBLEMA 4. Dificuldade de integração social e académica dos estudantes de 2ª e 3ª fases e dos 3. A participação cidadã está condicionada às diferenças culturais.
trabalhadores estudantes . 4. O nível de literacia tem influência na capacidade e na motivação para a
5. Pouca integração dos alunos Erasmus. participação.
6. A praxe feita aos novos alunos é desadequada à integração, afastando os alunos da 5. A pouca participação dos alunos e alunas na ESEC prende-se com a falta de
escola. conhecimento dos ógãos de gestão da ESEC.
7. Os alunos e alunas do Pós-Laboral não têm acesso à maioria das iniciativas de 6. Desinteresse dos alunos da ESEC pela tomadas de decisão em assuntos
integração, acolhimento e socialização, devido ao horário das aulas. referentes à escola.
8. Degradação e abandono dos espaços potencializadores de socialização e de 7. Falta de conhecimento dos alunos sobre os seus direitos e deveres e dos
actividades socioculturais. regulamentos dos cursos.
9. Inexistência de ocasiões e iniciativas de convívio entre alunos, docentes e funcionários. 8. Falta de conhecimento do papel de órgãos como a Assembleia de
Representantes, o Concelho Pedagógico e a Associação de Estudantes, e da forma
como os alunos podem ser representados e/ou eleitos para estes órgãos.
9. Apesar de ser fácil promover o debate e reunir consenso entre os alunos
relativamente a problemas que os afectam, posteriormente estes não sabem como
e a quem comunicar essa informação.
1. Modificar os claustros de forma a criar espaços de convívio. 1. Fazer com que os alunos intervenham nas atividades propostas pela ESEC;
2. Dinamizar a cantina, bar e sala de estar anexa. 2. Consciencializar os alunos acerca da importância da participação cidadã;
3. Desenvolver uma melhor interação entre alunos, docentes e funcionários. 3. Combater o facto de os alunos não participarem nas tomadas de decisão
4. Informar os alunos sobre os espaços e serviços da ESEC. referentes à escola;
Necessidades 5. Inclusão e integração dos estudantes do 1º ano. 4. Os jovens explicarem o porquê de não se sentirem importantes nas tomadas de
6. Integrar os alunos Erasmus em espaços de convívio comuns. decisão;
5. Actividades específicas para a promoção de contacto entre alunos do regime
diurno e pós-laboral.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

2. Planeamento

O planeamento do projecto de intervenção foi também desenvolvido no primeiro semestre e


contemplou a definição de um objectivo principal, de três objectivos específicos, indicadores,
fontes de comprovação, actividades, seus resultados esperados, recursos e tempos de
realização. O planeamento foi apresentado por cada equipa tendo por base o diagnóstico e
utilizando como instrumentos:
a) Quadro Lógico ou Matriz de Enquadramento Lógico.
b) Quadros de planeamento que demonstrem a relação entre: Problemas e
Objectivos/ Necessidades e Actividades.

Embora cada equipa tenha trabalhado na concepção do seu projecto, o projecto global foi
criado a partir dos aspectos diferenciadores de cada projecto de cada equipa. Assim, cada
equipa ficou associada à definição e à formulação de um objectivo específico e de um conjunto
de duas actividades a realizar no segundo semestre. Destas duas actividades uma foi realizada
sob a total responsabilidade de cada equipa do 2º ano, outra por uma equipa mista formada
por estudantes do 1º e do 2º ano e ainda outra atividade proposta e realizada pelos alunos do
1º ano. A primeira actividade dos alunos do 2º ano foi realizada em qualquer contexto
socioterritorial e a segunda actividade (equipa mista) integrou-se na iniciativa Semana de
Animação da ESEC. Os alunos do 1º ano realizaram as actividades na ESEC que foi definida
como a comunidade-alvo da intervenção. Neste texto focar-nos-emos somente nas actividades
realizadas neste último contexto.

No que respeita aos objectivos e actividades, configurou-se, na generalidade, o projecto


conforme se apresenta no quadro 3.

21
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Quadro 3: Planeamento geral dos projetos.

2015 2016
TEMA Integração de novos estudantes na ESEC Participação cidadã/ participação dos jovens na tomada de decisão política e na
promoção da cidadania
Objectivo Contribuir para a integração de novos e novas estudantes Contribuir para a participação cidadã dos jovens através da consciencialização para
Principal da ESEC, promovendo momentos de convívio entre os as questões de cidaddania e de tomada de decisão nas esferas que lhes são mais
estudantes, docentes e funcionários durante o 2º semestre próximas, por meio de atividades socioeducativas realizadas no 2º semestre do
do ano letivo 2014/2015. ano letivo 2015/16.
Objectivos 1. Animar os espaços de interação social da ESEC 1. Dar a conhecer os órgãos de gestão e de representação existentes na ESEC e os
Específicos (claustros, bar e cantina) com 10 atividades lúdico- órgãos de soberania nacional através de atividades que envolvam 100 alunos da
pedagógicas que envolvam 50 alunos do primeiro ano da ESEC e de outros estabelecimentos de ensino, no 2º semestre de 2015/16.
ESEC, ao longo do 2ºsemestre de 2014/15.
2. Colocar em contacto os alunos do curso de ASE com outras realidades culturais
2. Realizar 2 actividades que dêem informação clara sobre existentes em Coimbra que se encontram condicionadas à participação política, em
os espaços da ESEC, envolvendo 50 alunos, 5 docentes e 4 Abril 2016.
funcionários da ESEC, até ao final de Maio de 2015.
3. Envolver 100 alunos da ESEC em atividades que os coloquem em contacto direto
3. Melhorar o atendimento a nível dos Serviços com 5 organizações sociais e 3 organizações políticas com acção directa na
Académicos, através da criação de um grupo de alunos do sociedade, durante o 2º semestre de 2015/16.
1º e 2ºano de ASE que apoie a integração e o processo
administrativo dos novos estudantes no próximo ano
lectivo.

22
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

3. Divulgação e Mobilização

Tanto em 2015 como em 2016, a responsabilidade pela escolha e implementação das


estratégias de divulgação do evento e a mobilização dos membros da comunidade esequiana
foi também atribuída aos alunos, tendo em conta os grupos-alvo e âmbitos específicos de cada
equipa. Os resultados do ano de 2015 no que se refere à participação de alunos e funcionários
da ESEC serviram de base para um repensar das estratégias de comunicação, designadamente
para adaptar cada formato ao interlocutor em causa. Neste sentido, os alunos optaram por
estratégias como utilizar o site da escola e grupos do facebook, elaborar cartazes e
desdobráveis, fazer convites pessoais e formais, exibir vídeos nas salas de aula, entre outros.

A título de exemplo, a actividade ASE Óscar Awards foi um evento mais dirigido ao curso de
AnimaçãoSocioeducativa com vista a reunir alunos e professores do regime diurno e pós-
laboral (embora fossem também premiados funcionários da escola); semanas antes da
actividade foram colocados teasers (cartazes) que iam chamando atenção para o evento mas
sem divulgar o que se iria passar, onde ou quando. Só num momento próximo à realização da
actividade é que foram conhecidos os seus pormenores, de forma a que o evento
surpreendesse toda a escola, e, de facto, esta gala veio a ser comentada um pouco por toda a
escola nas semanas seguintes.

Figura 13

ASE Oscars
Awards

Alguns dos
premiados

Uma tarefa conjunta do ano de 2015 foi a definição de um título para a Semana de Animação,
tendo em conta a temática principal da “Integração Social” e do tema específico
“integração dos novos estudantes na ESEC”. O título seleccionado pelas turmas foi
ESECONNECTINGPEOPLE, numa alusão à expectativa de que o projecto promovesse coesão
social no seio da comunidade da ESEC. Na sequência desta tarefa foi realizado outro concurso
de ideias entre primeiro ano (diurno e pós-laboral) e o segundo ano, de onde surgiu a proposta

23
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

de um logotipo para este evento que simbolizasse a comunidade e o trabalho do animador


(utilizado também na edição de 2016 da semana de Animação.) (Fig. 14).

Figura 14 – Logotipo vencedor

Os cartazes que seguidamente se apresentam sintetizam as atividades realizadas durante a


Semana de Animação, forneceram as informações necessárias aos eventuais participantes
interessados (actividades, horários, locais, etc.). Pretenderam não só favorecer a participação
nas atividades mas cumprir alguns requisitos programáticos como a elaboração de materiais de
divulgação.

Figura 15 – Cartaz de Divulgação da Semana de Animação 2015

24
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Figura 16 – Cartaz de Divulgação da Semana de Animação 2016

4. Implementação (execução) dos Projetos

Foi no segundo semestre que se implementaram as atividades, no contexto da unidade


curricular de Atelier de Projetos de Intervenção (2º ano) e de Técnicas de Animação
Comunitária (1º ano) com equipas mistas. Durante a implementação das actividades estas
sinergias foram reforçadas, procurando-se dos alunos e alunas uma aprendizagem colaborativa
numa lógica de educação pelos pares.

Figura 17

Torneio
Intercursos

Alunas/os de
diferentes cursos
nas bancadas

25
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Outras sinergias foram desenvolvidas com decorrer do processo foram criadas com as
UC de Atividades Lúdicas, do curso de Desporto e Lazer, de Organização de Eventos e
Marketing, do curso de Turismo. Igualmente foram potencializadas relações com grupos de
estudantes, docentes, serviços da ESEC e com pessoas externas à escola, tais como artistas,
desportistas, oradores, membros de partidos e de movimentos políticos locais. Foram também
criadas parcerias com organizações como a Associação de Estudantes, associação Casa da
Esquina e Escola de Educação Sénior do Instituto IHumanus, entre outras organizações locais.
Em cada ano tomaram parte na organização da SEMANA DE ANIMAÇÃO cerca de 70 estudantes
de Animação Socioeducativa e form envolvidos mais de uma centena de participantes (em cada
ano).

As imagens que se seguem são o registo da participação de alunos e docentes de outros cursos
bem como de pessoas e instituições exteriores à escola no evento Semana de Animação.

Figura 18

Suporte Básico
de Vida

Formação dada
pelos Bombeiros

Figura 19

Danças
de Salão

Demonstração
no Baile para a
Escola Sénior

26
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Figura 20

Workshop

Alimentação
Saudável

Figura 21

Zumba

Atividade
Física e
Dinamização
do Campo de
Jogos

Figura 22

Cultura
Oriental

Workshop de
caligrafia
japonesa e
chinesa

As actividades propostas nos projectos de CPIC, pelos alunos do 2º ano, foram apresentadas e
discutidas por cada equipa, ao mesmo tempo que se aferiram as condições para a realização
das mesmas ou definiram as reformulações necessárias para a realização de cada actividade.

Aos grupos de estudantes do 1º ano (cada um responsável por um dia da semana) coube ainda
o desafio de proporem e de realizarem por si mesmos uma actividade que respondesse ao

27
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

objectivo principal do projecto. Todas as actividades procuraram, de alguma forma, responder


às necessidades identificadas e contribuir para a resolução dos problemas também
identificados no diagnóstico.

Deste trabalho cooperativo surgiram planos de actividades/programas para as duas edições da


Semana de Animação que se apresentam nas figuras 23 e 24.

28
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Figura 23 - Programa da Semana de Animação 2015:

29
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Figura 24 – Programa da Semana de Animação 2016:

30
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do currículo à realidade.

Perante o impacto que esta iniciativa teve na ESEC, sucedendo o sucesso que a Semana Cultural
já tinha obtido nos quatro anos anteriores, a Semana de Animação mostrou ter condições para
se afirmar como uma referência de aprendizagem prática do curso de animação
socioeducativa. Os efeitos da iniciativa alargaram-se a alunos e docentes de outros cursos,
assim como a funcionários e a organizações que aderiram, tornando-a numa ocasião de
animação da Escola Superior de Educação de Coimbra.

As actividades realizadas mostraram a possibilidade de conciliar aprendizagens de teor


pedagógico (workshops, acções de formação, debates, conferências) com actividades de
carácter lúdico e cultural (concursos, jogos, música, dança, arte urbana, gastronomia,
artesanato, etc.) concretizando os desafios e os princípios da animação socioeducativa.

Uma vez que não há animação sem haver gente que a anime, salientamos o empenho das
alunas e dos alunos de ASE que acolheram a proposta de braços abertos, encararam as
dificuldades como desafios e viveram o processo como uma mais-valia para a sua formação em
animação socioeducativa.

31
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

PRÁTICAS DE LAZER: O EIXO ESPORTE E CULTURA DO PROGRAMA


ESCOLA DA FAMÍLIA - SÃO PAULO/BRASIL

Cathia Alves1
Hélder Ferreira Isayama2

Resumo

As ações do Programa Escola da Família têm como objetivo ocupar o espaço escolar
aos fins de semana com atividades/oficinas educativas, culturais e esportivas a partir
de quatro eixos: saúde, trabalho, cultura e esporte. O estudo em questão combinou a
pesquisa bibliográfica, de campo e documental para identificar as práticas educativas
de lazer em um conjunto de escolas de uma Diretoria de Ensino Regional no interior do
Estado de São Paulo. O Programa ocorre em vinte oito escolas, selecionamos três
unidades para caracterização desse estudo. Os dados apontam que eixo da cultura
promove a maioria das vivências e expressões, oferecendo oportunidades de vínculos
sociais, culturais e afetivos e junto com o eixo dos esportes contemplam participantes
de diferentes idades, predominando o público de crianças e adolescentes. De maneira
geral, as práticas incluem processos educativos divertidos, expressivos e envolvem
contextos de representações sociais com significados variados, desde jogos esportivos,
músicas, danças, atividades de conhecimento e promoção de campanhas sociais e
culturais. Nas unidades observadas predominam a prática esportiva de futsal e tênis de
mesa, encontros entre os participantes com objetivo de assistir as práticas esportivas,
ouvir música e de se reunir para bater papo.

Palavras chaves: Programa Escola da Família, Práticas de lazer, esporte e cultura.

Abstract

The actions of the Family School Program aim to occupy the school space on weekends
with activities / educational workshops, cultural and sports from four areas: health,
work, culture and sports. The study in question combined bibliographical research,
field and documentation to identify the educational leisure practices in a number of
schools in a Board of Regional Education in the State of São Paulo. The program takes
place in twenty eight schools, we selected three units to characterize this study. The
1
Professora do Instituto Federal de São Paulo – campus Salto, IFSP – SP. Doutoranda em Estudos do
lazer pela UFMG. Integrante do Oricolé – Laboratório de Pesquisa sobre Formação e Atuação
Profissional no Lazer da UFMG. Integrante do grupo de pesquisa LIMC - Grupo Multidisciplinar de
Estudos de Linguagens e Manifestações Culturais do IFSP – campus Salto. alves.cathia10@gmail.com
2
Realizou Estágio Pós-Doutoral em Educação pela UFRJ. Docente do Programa Interdisciplinar de Pós-
Graduação em Estudos do Lazer da UFMG. Líder do Oricolé – Laboratório de Pesquisa sobre Formação e
Atuação Profissional no Lazer da UFMG. Bolsista do Programa de Pesquisador Mineiro da Fapemig
(2014-2016). Editor da Revista Licere. helderisayama@yahoo.com.br

32
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

data indicate that culture promotes axis most perceptions and experiences, providing
opportunities for social, cultural and emotional bonds and together with the axis of the
sports include participants of different ages, predominantly the audience of children
and adolescents. In general, the practices include fun, expressive educational
processes and involve social representations contexts with different meanings, from
sports games, songs, dances, knowledge activities and promotion of social and cultural
campaigns. The observed units predominate sports practice futsal and table tennis,
meetings between the participants in order to watch sports practices, listen to music
and meet to chat.

Keywords: Family School program, leisure practices, sports and culture.

Introdução

Ao falar de práticas educativas no âmbito de um Programa de política pública


educacional, gostaríamos, inicialmente de recorrer ao contexto das políticas públicas a
partir de duas implicações: a possibilidade delas se tornarem objeto de estudo de
várias ciências; e a dinâmica de comportar olhares diferenciados (SOUZA, 2006). Assim,
a educação, a cultura, o esporte e o lazer fazem parte dessa dinâmica, que inclui o
campo de ação das políticas públicas abrangendo diversos olhares e visões,
respeitando o limite e as características de cada área, pois são capazes de se integrar e
concretizar operações em conjunto e de forma isolada.
Ball (2004) aponta que cada vez mais as políticas educacionais se articulam as
políticas sociais, muitas vezes, pautadas em interesses reducionistas e economicistas.
Para além desses interesses, notamos que as políticas públicas educacionais
têm contemplado práticas educativas que giram em torno do esporte, lazer e cultura.
No Brasil essas práticas tem se concretizado em programas e projetos governamentais
federais, sendo executadas pelos ministérios do Esporte, da Educação e Cultura,
ademais, as ações também são formatadas pelos governos estaduais, municipais,
terceiro setor e pelo poder privado.
Em âmbito federal, em breve consulta ao Ministério do Esporte (órgão do
governo federal brasileiro que opera com as políticas públicas de esporte e lazer), foi
possível identificar que a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão
Social (SNELIS) é a responsável pela implantação de diretrizes relativas dos programas
esportivos educacionais, de lazer e de inclusão social. No quadro atual, a secretaria
33
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

conta com dez programas e projetos em âmbito nacional que envolve práticas
educativas de esporte e lazer, incluindo processos de formação profissional e
realização de pesquisas e publicações. Entre esses programas destacamos o Programa
Segundo Tempo, Esporte da Escola, Esporte e Lazer da Cidade (PELC) e Vida Saudável
(VS) que se vinculam efetivamente as expressões de lazer, esporte, cultura e educação.
O Ministério da Educação (órgão da administração federal direta, tem como
área de competência a política nacional de educação), no ano de 2016, opera com os
programas “Atleta na escola” e “Mais Educação” que também envolvem valores,
princípios, características, práticas e vivências do esporte, da cultura e do lazer. Outro
Programa público que atua com esporte, lazer, cultura e educação, surge no ano de
2004, e é denominado Programa Escola Aberta. Fruto da parceria com a Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e com o governo
federal por meio do Ministério da Educação, se efetiva em alguns estados brasileiros,
procurando ofertar opções de lazer em unidades escolares aos fins de semana,
direcionado para comunidades carentes, pautados no combate à violência e promoção
da cultura de paz.
O ministério da Cultura (órgão da administração pública federal que tem como
áreas de competência a política nacional de cultura e a proteção do patrimônio
histórico e cultural) promove o Programa CEUs, Centros de Artes e Esportes Unificados
que procuram integrar num mesmo espaço projetos e ações culturais, de esporte e
lazer, práticas de formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços
socioassistenciais, políticas de prevenção à violência e de inclusão digital. Tem como
objetivo a promoção da cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social das
cidades brasileiras. O Programa tem como proposta desde 2010, construir 357
unidades por meio da parceria entre Governo Federal e municípios, aproximadamente
23 unidades foram inauguradas entre as cinco regiões do país.
Nessa conjuntura e contexto político de associar o lazer, o esporte e a cultura
como ferramentas educativas e de combate às violências a UNESCO firma mais
parcerias no Brasil, entre elas, configura-se a formação no plano estadual do governo
de São Paulo do Programa Escola da Família (PEF), iniciado no ano de 2003 a partir de
parcerias com a UNESCO e com entidades privadas.

34
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

O Programa foi instituído para desenvolver ações preventivas que diminuíssem


a vulnerabilidade infantil e juvenil, por meio da integração de crianças e adolescentes,
jovens e familiares com a escola, colaborando para a construção de atitudes e
comportamentos compatíveis com uma trajetória saudável de vida (LEME, 2007;
NUNES, 2007; SANTOS, 2008; FERREIRA, 2009; SOUZA, 2009).
A sistematização do Programa Escola da Família (PEF) ocorre a partir de quatro
eixos: Esporte, Cultura, Saúde e Trabalho, com o desenvolvimento de oficinas aos fins
de semana, em unidades escolares de todo estado de São Paulo que contam com o
programa. As oficinas podem ser cursos, minicursos, atividades, práticas, entre outros.
São planejadas por meio da elaboração da Grade de Atividades que organiza as ações
que serão desenvolvidas, facilitando a participação da comunidade (SÃO PAULO,
2010b).
As oficinas são ministradas pelos educadores universitários, e/ou educadores
voluntários. O Educador Universitário é o aluno de uma Instituição de Ensino Superior
conveniada ao PEF, seu papel no Programa é desenvolver atividades socioeducativas e
mediar às oficinas. Sua participação se dá por meio de contrapartida pelo benefício
recebido do Programa Bolsa-Universidade. Também existe a possibilidade do educador
voluntário atuar no Programa (SÃO PAULO, 2010b; 2014; 2016).
Na Diretoria de Ensino analisada, os educadores universitários,
(aproximadamente 151 alunos) são oriundos de diferentes áreas e campos de atuação,
como: Educação Física (39), Administração de Empresas (38), Engenharia
(Mecatrônica, Civil e Automação) (26) Pedagogia (22), Bacharel em Sistema de
Informação (BSI) (10) Letras (3), Turismo (3). E um educador universitário para os
cursos de Serviço Social, Design Gráfico, Biologia, Farmácia, Artes Visuais,
Enfermagem, Publicidade, Filosofia, Contábeis e Psicologia. Esses educadores atuam
com uma diversidade de público, desde crianças, adolescentes, jovens até famílias.
Nesse cenário, notamos que as práticas educativas em torno do lazer, esporte e
cultura são possibilidades de vivenciar e experimentar ações e atividades que muitas
vezes não estão presentes no cotidiano das pessoas com o objetivo de reduzir a
violência, promover a paz, gerar processos educativos e materializar parcerias de
cunho econômico, político e social. A relação entre os processos educativos, a cultura,
o esporte e consequentemente o lazer, são vínculos que abrangem diferentes ações
35
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

políticas em âmbitos municipais, estaduais e federais, e ainda, sofrem influências dos


valores e princípios de organismos internacionais.
Existe uma tensão no processo das políticas educacionais, uma apreensão entre
as preocupações com eficiência e com justiça social (BALL, 2006). Dessa forma, quais
são as práticas consideradas de animação no âmbito do esporte, cultura, lazer que
estão sendo ofertadas pelo Programa Escola da Família num conjunto de escolas de
uma Diretoria Regional de Ensino do interior do Estado de São Paulo-Brasil?
Essa pesquisa apresenta as práticas educativas que são ofertadas pelo
Programa Escola da Família numa região do interior do Estado de São Paulo em 28
escolas abertas durante os fins de semana, a partir de um semestre de coleta de dados
nos registros das ações e em observações diretas feitas no segundo semestre de 2015,
em reuniões, encontros e visitas as escolas.
A pesquisa demonstrou que as práticas esportivas, a música e o encontro entre
as pessoas atrai a comunidade para as escolas, principalmente crianças e adolescentes
do sexo masculino.

Passo a passo metodológico

Esse estudo utilizou três estratégias básicas para coletar os dados: a pesquisa
bibliográfica em torno das publicações sobre o Programa Escola da Família, disponível
no sistema on-line; a pesquisa documental em cinco documentos norteadores do
programa, bem como, no site do Programa e em registros feitos pelas unidades
escolares sobre as atividades; e a pesquisa de campo, por meio da observação direta
com diário de campo, em visitas as escolas e em participação em reuniões e encontros
de uma Diretoria Regional de Ensino de uma cidade do interior do Estado de São
Paulo, escolhida por acessibilidade e intencionalidade.
Quanto aos documentos, identificamos o Decreto nº 48.781, de 07 de julho de
2004 – Institui o Programa Escola da Família; a Resolução SE nº 24, de 05 de abril de
2005 – Dispõe sobre o Escola em Parceria; outra Resolução SE nº 18, de 05 de
fevereiro de 2010 - Dispõe sobre a consolidação das diretrizes e procedimentos do
Programa Escola da Família e dá providências correlatas. Analisamos o Manual

36
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Operativo do Programa Escola da Família – 2010, 2014, 2016; e o Caderno nº 32 Ideias-


2004.
Para verificação desses documentos foi utilizada a técnica de análise de
discurso. Segundo Foucault (2008, 2013) os discursos formam os objetos de que falam
não se restringem a um aglomerado de falas, diálogos, conversas, imagens ou textos
que selecionamos para investigar. Para o autor os enunciados são os ditos. “A análise
enunciativa só pode se referir a coisas ditas, a frases que foram realmente
pronunciadas ou escritas, a elementos significantes que foram traçados ou
articulados...” (FOUCAULT, 2008, p.124).
Os documentos servem para compreendermos as formas de implantação e
implementação das políticas públicas apontando as perspectivas políticas que
envolvem os processos educativos direcionados aos indivíduos (KLEIN e DAMICO,
2014).
Ademais, realizamos um exercício de articulação e bricolagem; leitura;
montagem, desmontagem e remontagem; composição, decomposição e
recomposição; questionamentos e descrição (PARAISO, 2014), tecendo e analisando os
manuais e diretrizes. Em cada documento apuramos o olhar, destacando detalhes,
pistas e sensibilidades que poderiam expressar as características do Programa e suas
práticas educativas.
Ainda tivemos a possibilidade de investigar no site do Programa o cadastro de
projetos e oficinas da diretoria. E por fim, fizemos a observação direta, convivendo
com o Programa, com visita a três unidades escolares alternando entre sábados e
domingos. Com participação nas reuniões e encontros durante o segundo semestre de
2015.
A observação direta se deu a partir de um diário de campo, com categorias
fundamentadas na revisão de literatura. A observação foi considerada como direta,
pois estivemos em contato com os gestores, educadores e comunidade. Essa
estratégia possibilitou olhar o objeto de pesquisa de perto, com uma visão atenta,
procurando examinar os detalhes, sem prever e nem intervir.
O objetivo foi perceber, notar, ver, constatar, verificar, reparar, atentar,
descobrir elementos que contribuíssem para detectar as práticas educativas em torno
do lazer, do esporte e da cultura.
37
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

A observação foi provocada pelo diário de campo. O diário foi composto por
um quadro, no qual estabelecemos o seguinte roteiro: local, data, clima, espaço,
atividades, materiais, intervenções, relações entre gestor e educador, relação entre
gestor e comunidade, relação entre educador e comunidade, relação entre
comunidade e comunidade. Discursos, falas, expressões, comportamentos sobre as
práticas, oficinas e observações gerais. O diário de campo contribuiu para seguirmos as
diversas fases da observação, colaborou para refletirmos antes, durante e após as
visitas.

Examinando os documentos e registros on-line: ausência e presença da Animação


Sociocultural

Após o exame dos documentos e dos registros das atividades do Programa


Escola da Família (PEF) e das observações, destacamos que os eixos do trabalho,
saúde, cultura e esporte, fundamentam a elaboração das atividades que são oferecidas
nas oficinas e dão formato ao programa, demonstram os caminhos pelos quais a
identidade do mesmo é formada.
Para essa pesquisa selecionamos o eixo da cultura e do esporte, por
demonstrar maior aproximação com o campo do lazer e suas expressões. E ainda, por
serem os eixos mais atrativos que contemplam maior número de pessoas e tem ações
permanentes no PEF.
O eixo da cultura é norteador do Programa, oferece o maior número de
oficinas, é atrativo, diverso, dinâmico e agrega interesse da comunidade como um
todo (NAPOLITANO, 2004; BENDRATH, 2010, 2011). Esse eixo promove diferentes
formas de manifestação artística, busca representar a expressão humana de si, do
outro, da sociedade e do mundo nas diferentes linguagens; teatrais, cinematográficas,
corporais, musicais, plásticas, fotográficas, folclóricas e científicas. Tem como meta
promover o (auto) conhecimento e o senso crítico dos participantes, colaborar para a
formação da identidade e propiciar a experimentação de outros papéis no sentido de
representações e encenações (SÃO PAULO, 2010a; 2014).
O objetivo do eixo cultura é facilitar o acesso as diferentes manifestações
artísticas, os costumes e expressões da comunidade, desse modo, a programação das
38
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

oficinas ocorre a partir da realidade da escola, das sugestões colhidas na comunidade,


da identidade do educador e com base nos princípios e diretrizes do Programa. Além
disso, é um eixo que procura promover tempo e espaço para o diálogo entre os
participantes, conferindo legitimidade às manifestações e enfatizando o respeito à
diversidade cultural (SÃO PAULO, 2010a; 2014).
Segundo Martins e Grilo (2004), o eixo cultura tem como uma de suas bases à
pedagogia da cooperação, como um caminho que pode possibilitar aos indivíduos a
lidarem com as diferenças, incluindo-as no jogo da vida de maneira pacífica e positiva.
Napolitano (2004), ao se referir ao PEF, atenta para o fato de que a relação
entre escola e cultura visa três objetivos principais: o reforço da autoestima; o
fortalecimento das identidades sociais e a ampliação do repertório de bens simbólicos
disponíveis para o aluno e suas comunidades. Essa relação busca alcançar a construção
de uma “cultura de paz”, matizadora das relações sociais violentas, que quase sempre
é mais presente quanto maior a exclusão socioeconômica das comunidades. Para o
autor, as práticas culturais, ocupam um espaço na vida das comunidades,
reconstruindo significados e o tecido social, bem como reconhecendo culturas e
levando a possíveis críticas de âmbito cultural e moral.
Verificamos nos registros on-line que no eixo da cultura são mencionados
diversas oficinas, tais como, alfabetização de adulto e criança, apresentações artísticas,
arte em jornal, artesanato, aulas de dança, bazar da pechincha ou feira de trocas,
biblioteca, jogos (bingo, games), capoeira, brinquedoteca, cantinho da leitura, cine
criança, confecção de bijuterias, curso corte e costura, curso de biscuit e curso de
violão. Além de desenho artístico, dobradura, eventos sociais (festas comemorativas),
jardinagem, manifestação religiosa, música, oficina de desenho, palestras, passeios,
pintura, preparação e confecção de materiais para eventos, reforço escolar, roda de
conversa, som livre, videokaraoke e videoteca. E ainda, chá da tarde, concurso de miss
e mister infantil, baile da terceira idade e campanhas (agasalho e natal sem fome).
Todas essas ações estão cadastradas nesse eixo e para cada uma existe um
projeto específico proposto pelos educadores universitários. Destacamos a diversidade
de temas oferecidos em formato de oficinas, demonstrando a representação da
cultura e seu caráter divergente e distinto.

39
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Quanto ao eixo do esporte, poucas informações estão disponíveis nos


documentos analisados e no sistema on-line, mas foi possível identificar que as
oficinas de práticas corporais revelam a realização de atividades esportivas, tais como:
futebol, vôlei, basquete, handebol, tênis de mesa e xadrez. O eixo esporte tem como
meta colaborar para o desenvolvimento físico e para a formação integral do indivíduo,
na construção do trabalho coletivo e na aquisição de valores sociais. Aponta caminhos
para a redução de desigualdades em busca da promoção da inclusão social (SÃO
PAULO, 2010a; 2014). Os documentos e registros on-line não descrevem informações
sobre a organização da programação e escolha das atividades.
Nos estudos realizados por Bendrath (2010), foi possível identificar que o eixo é
formado por práticas esportivas coletivas, na maioria das vezes, pelo futebol de salão,
devido à facilidade e gosto da comunidade envolvida e do educador universitário que
dirige as ações.
Percebemos que o eixo esporte atrai o público, seja para jogar, atuar no
campo/quadra ou para assistir e contemplar as atividades. É comum ter um público
sentado observando as práticas esportivas. Nas unidades escolares examinadas
verificamos que as modalidades de futsal, tênis de mesa, skate, lutas, vôlei, capoeira e
os jogos de pebolim e baralho, são predominantes, enfatizando o futsal e o tênis de
mesa.
Notamos que os eixos do programa representam os componentes do currículo
do PEF, assim sua identidade se traduz em grande parte pelo esporte e pela cultura,
que são maioria nas ações e movimentam um contingente de pessoas. Essas atividades
promovem a interação e atraem a comunidade para as escolas no fim de semana
traduzindo as experiências, gostos, desejos e vivências de lazer.
Essas práticas, consideradas práticas de animação sociocultural, imprimem
modos de ser e se tornaram naturalizadas no âmbito do PEF.
A animação sociocultural é tomada como uma forma de contribuir para a
compreensão das pessoas em relação a si próprias e ao mundo que as cerca. A
animação sociocultural atrai participação maior das pessoas em questões sociais
amplas, procura por soluções coletivas, inovando e renovando processos de
compartilhamento dos problemas da comunidade (ISAYAMA, 2002).

40
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

É uma metodologia que não é citada no âmbito do Programa, mas que poderia
possibilitar uma preparação dos educadores do PEF para implementação de mudanças
na sociedade, contribuindo para reflexão, ação e compromisso político e ético.
Nesse sentido, um educador do Programa Escola da Família, como animador
sociocultural seria sensível e responsável pela diversão, aprendizagem, contato das
pessoas com o lazer; promotor de vivacidade, incentivo, diálogo, transmitiria alegria,
trocaria aprendizagens e ensinamentos.
Consideramos que a animação como ferramenta metodológica reaviva o
compromisso com a sociedade através de ações pedagógica, de construções e trocas
de saberes ao redor do lazer. Propõe mudanças e interfere na vida dos sujeitos no
sentido de contribuir com a suas consciências sociais, morais e culturais em busca de
uma sociedade mais justa e humanizada (ALVES, 2007).
Desse modo, as práticas do PEF são ações formatadas que geram saber a partir
de relações de poder estabelecidas entre Gestor, Educadores, comunidade e da
própria identidade do Programa.
Segundo Foucault (2014) o poder e o saber estão envolvidos, se comprometem
entre seus campos, construindo relações. Essas relações formam um conjunto de
sujeitos com modalidades de conhecimentos, construídas por processos e lutas
associados à história, ambientes, atividades e também ao conhecimento. O poder
produz saber e o saber se forma com as relações de poder, e ainda, os sujeitos são
frutos dessa relação poder-saber adquirindo condutas e modos de ser. Essas formas de
conduta interferem em como os sujeitos se apropriam e vivem as diversas
experiências, não existe um grau de importância entre saber e poder, é um movimento
circular, linear e espontâneo.
Para Foucault (2005) o indivíduo e o poder circulam, pode ser submetido e
fazer submeter. “O individuo é um efeito do poder e é, ao mesmo tempo, na mesma
medida em que é um efeito seu, seu intermediário: o poder transita pelo individuo que
ele construiu” (p.35).
Assim é preciso fazer uma análise ascendente do poder, partir da própria
história, do trajeto, técnica e taticamente. Subsequente, olhar como os mecanismos
agem, como foram utilizados, transformados, deslocados. Espiar os níveis mais baixos,
como os mecanismos são anexados por fenômenos globais. Significa, portanto, não
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

olhar para o que está claro, mas olhar do menor para o maior, do micro poder, para o
macro para entender os mecanismos e as tramas vinculadas (FOUCAULT, 2015).
E ainda, onde há poder, há resistência. Desse modo, não existe especificamente
um lugar de resistência, existem pontos móveis e transitórios que se distribuem por
toda estrutura social, causando e levando a movimentos e circulação desse poder.
No âmbito de Programas como o PEF, esse jogo “saber-poder” ocorre o tempo
todo em diferentes esferas, por exemplo, na determinação de temas para eventos que
vem direcionado da gestão do Programa, na oferta de um café da manhã para
comunidade, na lógica das práticas de futebol, dança e convívio social que a
comunidade impõe ao uso do local, na relação hierarquizada entre comunidade,
educador e gestor, nas intenções de promover paz e reduzir a violência ofertando
políticas assistencialistas, na difusão de valores de cidadania, autonomia, participação
e inclusão..., entre outras coisas, a serem ainda descobertas e desvencilhadas em
ações de políticas educacionais.
A comunidade do PEF demonstra essa mobilidade quando adere mais a
algumas propostas do Programa do que a outras. Defendemos que o Programa é um
Programa de lazer educativo, não é uma extensão das ações curriculares da semana,
mas cria seu próprio currículo, produz dispositivos pedagógicos de ensinamento
próprios. Reforçam condutas esportivas, culturais e sociais, os saberes desse modo vão
sendo produzidos e os poderes vão sendo alterados, modificados, e assim o “jogo” vai
fluindo.

As práticas do PEF: O caso de uma Diretoria Regional de Ensino do interior do Estado


de São Paulo/Brasil

O PEF conta com uma programação anual ordenada pela Coordenação Geral do
Programa. A Coordenação Geral do Programa é compartilhada entre a Coordenadoria
de Gestão da Educação Básica (CGEB), Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
(SEE) e a Diretoria de Projetos Especiais (DPE) da Fundação para o Desenvolvimento da
Educação (FDE), órgão executor do Programa Escola da Família.
A Coordenação Geral define os principais eventos e atividades a serem
realizados durante o ano em todas as escolas do Estado (atualmente o programa opera
42
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

em 2.338 unidades). A Coordenação transmite essa organização para as Diretorias


Regionais de Ensino. Em cada Diretoria a gestão do PEF é composta por uma
coordenação regional, formado por um professor que é o Supervisor de Ensino e por
um professor, nomeado de Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico (PCNP). Essa
coordenação regional se reúne semanalmente com a coordenação local de cada
unidade escolar que atualmente é estruturada pela vice-direção da escola (SÃO
PAULO, 2016). Juntos coordenação regional e local definem o “currículo” do Programa
a partir da orientação da Coordenação Geral. Entendemos que essa programação,
traduz o currículo do Programa.
Nesse sentido o currículo é visto para além de um conjunto de conteúdos
específicos e envolve processos de regulação das ações e comportamentos dos
sujeitos em determinados espaços, locais e especificidades. Pode abranger modos de
ser, prescrevendo conhecimentos e saberes e, ainda, representando pensamentos,
atitudes e valores (SILVA, 1999; 2013).
O currículo que antes era visto como organização, sequência, enquadramento,
ordenamento e estruturação, passou a ser reconhecido como um artefato que
transmite conhecimentos legítimos e não legítimos. Dessa forma, o currículo comunica
um conjunto de saberes e habilidades que se julga esperado e propaga valores,
significados e subjetividades que nem sempre foram programadas por meio de
diversas práticas. Nessa linha de pensamento, caracterizamos o currículo a partir de
uma abordagem cultural, para além do âmbito escolar, não baseado em seriação, com
conteúdos determinados e categorizados em disciplinas, mas como artefato que
propaga vivências.
No caso específico do currículo do PEF selecionamos para ser examinado o
quadro do segundo semestre de 2015 dessa Diretoria, escolhida de forma intencional
e por acessibilidade, pois contempla uma região que mesmo no interior é central no
Estado e porque atende a três cidades, atingindo um público considerável.
Notamos que os artefatos são divididos por meses, de agosto a dezembro. Para
cada mês foi eleito um tema e dentro de cada mês tem datas específicas para
realização de uma atividade. Segundo a gestão em datas comemorativas ou de
campanhas deve ser feito um evento maior, ou seja, uma ação que envolva um público
maior e um impacto mais concreto junto às comunidades.
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Os educadores universitários são os mediadores das ações e junto a seus


gestores (vice-diretores) tem acesso a essa programação pronta e contribuem para
materializar as propostas em práticas, oficinas e ou atividades. Atualmente esses
educadores universitários cursam os cursos de graduação nas seguintes áreas:
Educação Física, Administração de Empresas, Engenharias e Pedagogia formando o
maior contingente de bolsistas. Já o curso de Bacharel em Sistema de Informação (BSI),
Letras, e Turismo compõe um número menor de alunos. E os cursos de Serviço Social,
Design Gráfico, Biologia, Farmácia, Artes Visuais, Enfermagem, Publicidade, Filosofia,
Contábeis e Psicologia tem apenas um aluno de cada curso de graduação como
bolsista do PEF.
Para além dessa programação, o PEF tem um currículo praticamente definido
com atividades fixas que ocorrem com ou sem mediação dos educadores universitários
e com ou sem intervenção da Gestão Geral e Regional. São ações que a comunidade
corporificou e realiza semanalmente, atividades apropriadas ao longo da história que
fazem parte da cultura e do contexto local. Predomina entre essas atividades, o futsal,
o tênis de mesa, as músicas (a comunidade pede para ligar o som) e a “oficina” de
manicure.
No mês de agosto, por exemplo, nomeado como mês do “Folclore”, as ações do
fim de semana deveriam se preocupar em gerar artefatos e práticas em torno da
temática folclore, bem como, realizar um evento chamado “um dia na escola do meu
filho” em homenagem ao dia dos pais. Essa atividade é promovida com o objetivo de
convidar os pais para conhecer e se aproximar da escola e participar de alguma
operação junto com os filhos.
Nas unidades observadas “um dia na escola do meu filho” foi realizado com
práticas de gincanas, sessão de cinema e jogos de tênis de mesa, xadrez e futsal. Em
algumas unidades as famílias pouco participam, mas quando tem um evento como
esse ou outro de grande porte, as famílias se aproximam e vivenciam alguma
atividade. No cotidiano do Programa, a maioria do público é formada por crianças e
adolescentes, com faixa etária entre 07 e 18 anos.
Os homens, considerados adultos e muitos pais das crianças que participam do
Programa, costumam frequentar a escola em número menor, geralmente aos sábados
pela manhã para jogarem futebol de salão.
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Como temática marcante do folclore, algumas unidades realizaram


apresentações de dança e roda de capoeira.
No mês de setembro não foi proposto nenhuma temática específica. As
atividades permanentes, ou seja, aquelas comuns do fim de semana, como práticas
esportivas, aulas de inglês ou espanhol, dança, encontros entre amigos, manicure e
pedicure e reforço escolar aconteceram normalmente. Essas práticas são habituais na
maioria das escolas, em alguns casos, como nos cursos de línguas as aulas são
mediadas por professores formados em parceria com alguma entidade privada.
Para outubro, mês das “crianças” o tema foi “resgate das brincadeiras” e ações
para campanha do “outubro rosa”.
Algumas unidades escolares em parceria com empresas e ou igrejas realizaram
o dia das crianças com equipamentos e brinquedos montados, como “pula pula”,
“piscina de bolinhas”, e mantiveram as práticas do futsal e tênis de mesa. Ofertaram
também “algodão doce” e pipoca. Para campanha “outubro rosa” os artefatos
produzidos foram cartazes, imagens, falas e discursos sobre a importância da
prevenção. Em algumas escolas as crianças e adolescentes produziram desenhos em
torno da temática.
Ficou evidente a carência de recursos e ausência de estrutura para realização
desses eventos e campanhas.
Já no mês de novembro, o tema “Da diversidade étnico-racial” e também
“novembro azul”, foram pouco abordados no cotidiano do Programa. As práticas
continuaram fluindo em torno principalmente das práticas de futsal, basquete, vôlei,
tênis de mesa, dama, xadrez, dominó. Em algumas unidades a comunidade também
pratica skate, lutas, brincadeiras livres, encontros para bate papos e o cuidado com a
beleza por meio da oficina de “manicure” e artesanatos.
O mês de dezembro não teve um tema específico, mas aponta o dia mundial de
combate a AIDS e o dia internacional do voluntário. Não observamos nenhuma prática
específica para essas temáticas, entretanto, algumas escolas elaboraram cartazes
sobre Prevenção e cuidados com a saúde e receberam panfletos e a comunidade foi
convidada a assistir vídeos educativos. Algumas unidades promoveram os vídeos como
uma sessão de cinema.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

A gestão local durante esse mês se preocupou em reunir os registros feitos


durante o semestre para organizar e montar a apresentação de um portfólio, ou seja,
um dossiê sobre todas as atividades e práticas que tinham sido realizadas durante o
semestre.
Observamos que as práticas descrevem um currículo flexível, mas também
dirigido, diríamos que dialeticamente a comunidade mantem algumas práticas que já
realiza todo fim de semana e eventualmente participa das ações demandadas pela
Secretaria Estadual de Educação.
Desse modo, as práticas educativas contribuem para formação das condutas,
escolhas e podem determinar comportamentos dos sujeitos que influenciam e são
influenciados por essas vivências.

Conclusão

Concluímos que o PEF é uma ação de política de governo que pode ter seu
prazo de duração determinado, o que leva ao descrédito das políticas públicas,
predominando a descontinuidade, o descaso e a falta de apropriação do direito.
Apontamos, portanto, ser necessária a incorporação no conjunto das políticas, os
fatores culturais, no sentido das representações, aceitações, rejeições e conquistas
coletivas, remetendo-se, ainda, as formas de organização dos indivíduos e o reflexo de
poder de pressão e articulação dos diferentes grupos.
O Programa oferece a abertura da estrutura das escolas que possuem um
padrão físico, disponibilizando quadras cobertas, pátio abertos e jardins, com poucos
recursos financeiros e materiais insuficientes para execução e criação de experiências
culturais, esportivas, lúdicas, e de lazer. Os bolsistas de diversos cursos do Ensino
Superior geralmente atuam com oficinas já delineadas ou pela gestão geral, regional
ou local do Programa, em alguns casos são implantadas novas ações como aula de
lutas e aulas de violão a partir de uma habilidade ou competência própria do bolsista.
Acreditamos que as metodologias do processo de animação sociocultural
poderiam contribuir para ações fundamentadas politicamente e culturalmente,
intervindo e alterando o dia a dia da comunidade.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

As práticas educativas de animação do Programa em torno do esporte, cultura


e lazer apontam para convivência, aproximação entre diferentes idades, harmonia
entre meninos, encontro esportivo expresso na prática do futsal e do tênis de mesa,
cuidado pessoal entre meninas e mulheres com as unhas, situação evidente nas
“oficinas” de manicure.
Identificamos que o currículo cultural do programa traduz condutas e
conhecimentos de combate à violência, conectados ao processo educativo por meio de
práticas de lazer, tais como, a busca por autonomia, inclusão, emancipação,
diversidade e participação cultural, o que pode demonstrar avanços para apropriação
do direito a educação, ao lazer, esporte e cultura, em ações de políticas públicas
educacionais, dando outros sentidos e significados as vivências esportivas e culturais
dos participantes.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

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49
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

EL PAPEL DE LA COMUNIDAD Y DE SUS ORGANIZACIONES EN LA


ANIMACIÓN SOCIOCULTURAL*

Socioanalista Fabián Vilas - 2008

Introducción.

Hace dos años en estas mismas fechas nos encontramos mujeres y varones de
diversos países preocupados y ocupados con la realidad de la animación sociocultural.
En esa instancia proponíamos hacer un recorrido conceptual y experiencial sobre las
múltiples y posibles intervenciones/ acciones desde la animación sociocultural en
nuestras diferentes sociedades, ámbitos y territorios. Entre muchas de las cosas que
compartimos y reflexionamos se desprende el papel de la animación sociocultural
como disciplina y ámbito articulador, integrador y posibilitante de múltiples instancias,
así como generador de condiciones para la transformación de la sociedad y de los
propios sujetos.

Creo firmemente que aún no le hemos dado la real significación que tuvo ese primer
congreso aunque es claro uno de sus resultados: la creación de la RIA- Red
Iberoamericana de Animación Sociocultural, que sin lugar a dudas nace como producto
de haberse congregado gente entorno a una actitud y a una convicción de unirse y
trabajar por un bien que los trascienda a ellos mismos y tenga un impacto movilizador
y generador de nuevas subjetividades en los más diversos lugares de nuestra
Iberoamérica y por que no más allá.

Como mencionaba antes la dimensión que tuvo este primer congreso no ha sido
valorada en su justo término por todos los actores y ámbitos de actúa n y
desenvuelven en el campo e la Animación Sociocultural. En tanto se dio un espacio
histórico y político de integración y articulación entre personas y organizaciones que
no se da entre gobiernos y estados hoy en día. Es claro que las características, las
incumbencias y las decisiones que se toman en estos ámbitos tienen que ver con otras

50
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

dimensiones de lo social, pero no me parece menor compararlas en algunos aspectos,


aunque no es el tema que hoy nos convoca.

Concretamente se propuso la creación de una red para crear condiciones que


posibilitaran el acceso a conceptos, reflexiones, experiencias y prácticas basadas en el
poder hacer y no en el poder fáctico circunscripto a unos pocos. Este hecho
significativo debe ser difundido y colectivizado en y con los diferentes ámbitos
nacionales e internacionales no solo para que se nos conozca, sino que también para
que se tome como referencia y por que no como modelo de integración.

Aspiro en este nuevo congreso poder multiplicar los realizado y lo vivido en el anterior,
así como ser todos y todas unas cajas de resonancia de lo que consigamos en términos
de lo aprendido y lo vivido en el mismo, en nuestros lugares de residencia y trabajo.
Colectivicemos lo vivido y lo aprendido esto hace de la animación una herramienta
eficaz, pertinente y superadora.

Desarrollo.

El presente artículo se orienta a partir del título: el papel de la comunidad y sus


organizaciones en la animación sociocultural, este nos plantea un desafío interesante y
nos posiciona en la siguiente diyuntiva: hablar sobre como la comunidad y sus
organizaciones toman a la animación sociocultural como herramienta y que
actividades realizan, o hablar de cómo se está desarrollando la animación sociocultural
como disciplina y de cómo la comunidad y sus organizaciones apuestan a su
potencialización y evolución aplicando modelos y acciones en los territorios de
intervención. Tomaremos la segunda opción e intentaremos ser pertinentes y
coherentes con la invitación y la temática del congreso.

La Comunidad y sus organizaciones, aproximaciones posibles.

Comenzaremos plateando algunas aproximaciones al término comunidad referido


directamente al eje de la ponencia y del desarrollo de sus organizaciones en tanto
51
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

propuestas de acción para resolver determinadas situaciones, conflictos y


problemáticas.

El concepto de comunidad es sumamente controvertido y del que abundan múltiples


aproximaciones y definiciones lo que hace que su delimitación sea una cuestión de
varios factores. En este sentido tomando a la Psicóloga Mirtha Cucco García podemos
apreciar cómo en cada definición se enfatizan determinados elementos en los que
está puesto el acento:

 En el área geográfica o la localidad.


 En el conjunto relaciones sociales- relaciones de clases sociales,
interinstitucionales, etc.
 En la conciencia de pertenencia- tradiciones, acciones que promueven la
identidad, cultura pueblerina, etc.
 En un concepto que trasciende lo local- país, nación, comunidad internacional.

Teniendo en cuenta algunas de las definiciones existentes podemos decir que a la


comunidad la entendemos como una unidad social compleja contextualizada en un
territorio determinado, con una identidad cultural y que presenta determinados
intereses básicos que se configuran en los procesos de construcción y de
deconstrucción propia en sus tiempos cotidianos y concretos. En tanto esto implica
una interacción permanente entre sus integrantes sostenida en la cooperación y la
participación social en el marco de una convivencia de cercanía y duradera. Es dable
destacar que toda comunidad no es algo que existe de por si, sino que deviene de una
dinámica y un proceso de construcción permanente en la que se generan las diversas
organizaciones, instituciones y valores sociales que la justifican y sostienen.

Como mencionamos anteriormente en el marco del proceso de construcción constante


de una comunidad aparecen y desaparecen situaciones y problemáticas de diversas
índoles para las cuales la propia comunidad se organiza de forma de dar solución y
superarlas dando así continuidad a la evolución de la misma. Esta toma de posición
frente a los problemas da lugar a formas diversas de organización que a posteriori

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

desarrollan lógicas de funcionamiento concretas, analizan la realidad y desarrollan


acciones que propenden a la resolución de esas situaciones que aquejan a la
comunidad.

Concretamente al día de hoy en las sociedades más o menos comunitarias la lógica de


comunidad es el sistema de relaciones sociales en donde los diversos grupos y
colectivos median y articulan las diversas exigencias que la propia comunidad les
imprime. Podemos decir quizás que esto está en muchos lugares en situaciones de
desaparición ya que el propio sistema capitalista y neoliberal ha logrado a lo largo de
los últimos cuarenta años que desaparezca en los sujetos la identidad comunitaria
desde donde se implica el propio individuo en la producción de sus propias
condiciones de existencia y de sus relaciones mas próximas con la tierra, con los otros
sujetos, con la naturaleza y consigo mismo. La necesidad de tener que vender su fuerza
de trabajo y no poder identificarse con lo conseguido en este y a su vez verse envuelto
en la vorágine del mercado y el consumo hace que las características de lo comunitario
vayan desapareciendo y siendo reemplazadas por las características de la comunidad-
mercado, excluyente y creadora de sujetos vulnerables. En esa situación muchas de las
diversas organizaciones que otrora tenían por cometido el implicar al sujeto,
organizaciones estas creadas por los propios individuos en base a sus intereses y
deseos muchas ya no existen o cambiaron de objetivos.

Un ejemplo claro que creo ilustra lo que intento decir en cuanto a la participación y
producción ciudadana son los barrios ciudadanos de mi país (Uruguay), los cuales han
constituido durante muchas décadas verdaderas escuelas ciudadanas donde se creo y
se transmitió de generación en generación una cultura ciudadana constituida por
diferentes subculturas que de diversas formas se organizaban y que así funcionaban de
tal forma que aportaban a la construcción y deconstrucción de la sociedad toda. Estos
barrios se configuraban en comunidades donde se generaban pautas y códigos que les
son propios y que son los que le dan identidad a los individuos y colectivos que en ellos
viven

53
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

En nuestra Latinoamérica a mediados del siglo veinte se comienza a dar una situación
socioeconómica donde el estado de bien estar social y benefactor comienza a caer.
Esto trae como consecuencia el decaimiento de muchas formas y lógicas de
participación de los ciudadanos ya que los espacios que generaban y sostenía el estado
comienzan a tener problemas para seguir funcionando. Es así que el estado deja de
brindar apoyo económico y estructural a muchas de las propuestas y políticas de
promoción y prevención social. Este es un hecho que suma al cambio de subjetividad
en cuanto al estado de conciencia comunitario. Es así que con el correr de los años y
las diferentes coyunturas sociales, políticas y económicas aparecen organizaciones con
características y aspectos regulados por el estado y sus leyes en cuanto a su formato y
que por tanto les significa un grado de organización mínimo en la propuesta a
desarrollar, en lo administrativo y en lo económico. En esta categoría podemos
encontrar tanto a comisiones de barrio, asociaciones deportivas, asociaciones
culturales y a las asociaciones civiles más comúnmente llamadas organizaciones no
gubernamentales.

Actualmente múltiples y diversos problemas sociales existen, muchos de ellos muy


difundidos por los medios de comunicación y otros no tanto y paradójicamente por no
serlo muchas veces no sentidos como tales por la población. Dada esta situación desde
varios ámbitos de la sociedad se rescata lo comunitario intentando generar nuevas
lógicas de comunicación y poder, así como de actitud activa y crítica de la propia
comunidad en la gestión de sus necesidades, incidiendo en el desarrollo, organización
y fortalecimiento de la misma, Este rescate se configura como frente de resistencias al
modelo imperante.

Es aquí donde encontramos que muchas organizaciones creadas en la propia


comunidad se erigen como espacios y dispositivos de intervención comunitaria que
toman una o varias disciplinas para desarrollar y así lograr la resolución de las diversas
y múltiples problemáticas sociales.

54
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

La intervención en la Comunidad una posibilidad concreta desde la Animación


Sociocultural.

La intervención en la comunidad o comunitaria es un concepto muy amplio y


utilizado por diferentes actuaciones y dispositivos que bajo esta denominación han ido
construyendo sus propios ámbitos y territorios. Es importante poder hacer una
distinción entre las actuaciones y diferentes acciones propias de la comunidad y las
que surgen con el objetivo explicito y planificado de intervención en un determinado
aspecto o realidad comunitaria. Entiendo que en este sentido se debe ser muy
cuidadoso para no generar extremos ni herir susceptibilidades, así como propiciar un
entendimiento de la relación dialéctica que existe entre las acciones de los técnicos y
profesionales y con las acciones de la propia comunidad. En este caso la
complementariedad es sumamente importante y definitoria para el impacto de
cualquier intervención.
Es así que podemos encontrar en el colectivo de intervenciones comunitarias varias
disciplinas que apuntan al desarrollo de la comunidad como ser la Educación Popular,
la Psicología Comunitaria, la Educación Social, la Medicina Social, la Psicología Social y
la Animación Sociocultural, entre otras. Todas ellas con similitudes en sus planteos y en
sus denominaciones, pero que a la hora de desarrollar la intervención de planificarla y
de evaluarla demuestran diferencias importantes. Una de las que caracterizan a cada
una de las actuaciones e intervenciones es la configuración del rol del profesional que
trabaja y la forma de hacerlo.

Dada la naturaleza de este congreso y el encargo que se nos ha realizado


profundizaremos sobre la Animación Sociocultural. En tanto esto, nos proponemos
hacer un análisis de cómo la misma se convierte en una de las disciplinas desde donde
generar actuaciones e intervenciones comunitarias y de cómo la propia comunidad y
sus organizaciones son necesarias para la evolución y consiguiente desarrollo de la
animación como puente- herramienta de acceso a la transformación social.
Es así que partimos del entendido que todos y todas las que nos encontramos aquí
conocemos cuales serían las características principales que constituyen a la Animación

55
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Sociocultural con algún que otro matriz pero que en general podemos acordar y que
encontramos en algunos de los países que están presentes aquí:

 Individuos que realizan y desarrollan acciones y actividades las cuales son


consideradas animación.
 Por parte de estaos y de la sociedad civil se considera a la animación como una
de las actividades propias de la política sociocultural.
 Organizaciones de la sociedad civil que toman a la animación como disciplina y
método principal para el desarrollo de sus programas.
 Instituciones que promueven la animación y la difunden

Concretamente podemos acordar que si tuviésemos que escoger cual es la esencia de


la animación sociocultural esta sería la participación.

Pero antes de seguir trabajando en la animación misma me interesa plantear que es lo


que sucede en la sociedad civil y el ámbito público. En el marco de la sociedad civil
podemos ver el surgimiento y profesionalización de las organizaciones no
gubernamentales, así como de otros movimientos sociales y de profesionales que
vienen desarrollando investigaciones, programas, planes y actividades que ha hecho
que la animación cobre un protagonismo sin precedentes. No podemos decir aún lo
mismo en lo que respecta al ámbito público. Son muchos los países que en la
formulación de sus políticas sociales y culturales no le atribuyen un papel protagónico
a la animación, muchas veces por que no la conocen y otras veces por que tienen una
concepción relacionada con la realización de actividades sin mayor valor alguno basada
en el divertimento. Que hacer en este sentido? Creemos firmemente que el papel de
las organizaciones de la sociedad civil juega un papel fundamental en la ubicación de la
animación sociocultural en el debate de la planificación de los países. Este es un
desafío complejo y que requiere de trabajo, tiempo y mucha paciencia, así como de
unirse los diferentes actores que se encuentran en este campo. Un ejemplo de ello es
este segundo iberoamericano de animación sociocultural.

56
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

¿Qué modelos de animación sociocultural y con que características?

Si tuviéramos que caracterizar en términos generales la situación en Uruguay y la


región respecto a la animación sociocultural podríamos decir que existe una cierta
efervescencia por la misma. Su relación con la educación no formal, la educación
popular y la recreación, así como las diferentes instancias y encuentros de las
diferentes individualidades e instituciones que se dedican a estos campos, hace que
concretamente la Animación Sociocultural se configure en una práctica social
privilegiada en relación a otras por parte de las diferentes organizaciones e
instituciones sociales y socioeducativas.

En el largo recorrido de la conformación como disciplina y método de intervención la


Animación Sociocultural se ha conformado a partir de las influencias notorias de los
modelos español y francés. A partir de los siguientes criterios es que creemos se
configura la misma en nuestra región:

 La Animación Sociocultural se aboca al análisis de los cambios sociales y


culturales y a cómo el individuo o el grupo van tomando posición. Tiende a un
cambio de actitudes en las personas de modo de participar en las
modificaciones de la sociedad y haciéndolo conscientemente,
 La Animación Sociocultural como dinamizador de la modificación de pautas
conservadoras de comunicación y la dinámica de los grupos,
 La Animación Sociocultural para algunos especialistas es un método de
adaptación y control de conflictos sociales, para otros es una concepción de
liberación individual y social a través de la participación,
 La Animación Sociocultural se propone como movilizadora de grandes masas y
como opción ante el modelo único de la cultura oficial (no por nada, en los
años de posguerra fue en los sindicatos franceses donde más se desarrollaron
las técnicas de animación). De allí que sea entendida como un método tanto
como un conjunto de acciones,
 La Animación Sociocultural genera una crítica al sistema social, y algunas
posiciones internas reclaman modificaciones sustanciales;
57
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

 La naturaleza metodológica de la Animación Sociocultural constituye un


modelo preferente de intervención aplicable a todos y cada uno de los campos
y temáticas de la educación no formal ( V. Ventosa)

No podemos decir que la Animación Sociocultural como intervención comunitaria se


haya conformado desde uno solo de los criterios mencionados sino, que todos ellos la
forman y en menor o mayor medida toman protagonismo según la índole de la
actuación social y comunitaria concreta a desarrollar.

A la hora del desarrollo de las diversas intervenciones comunitarias la animación


sociocultural se erige como una de las disciplinas y métodos adecuados en la medida
que se persigue la promoción de la participación popular en los diversos espacios de la
sociedad, así como el acceso a los bienes culturales comunes y la producción de los
mismos. En base a los criterios expuestos que a nuestro entender configuran a la
animación en nuestra región podemos decir que es necesario plantear una
contextualización de la misma y cuál debe ser la animación particular para la región
con que características y propuestas políticas, estéticas y éticas. En este sentido
entonces ¿De que animación sociocultural estamos hablando? , ¿Qué características
debe tener?, ¿Cuál es el papel de la animador?

Intentando responder a la primera pregunta decimos que la animación para nosotros


es un modelo de intervención comunitaria con estrategias destinadas a desarrollar
acciones y prácticas sociales dirigidas y destinadas a generar espacios y condiciones
para una sociabilidad diferente. Tratará de poner en relación a los sujetos de la
comunidad por medio de técnicas, actividades y acciones que potencien la
participación social propendiendo a la construcción de una ciudadanía activa y crítica.
Por lo tanto toda intervención comunitaria desde la animación tendrá en cuenta todos
los aspectos que hacen a la realidad cotidiana de las comunidades y sus respectivos
colectivos sociales. Nuestro modelo de animación tendrá como prioritarios los
siguientes aspectos: la dinamización, la motivación y la generación de condiciones para
el aprendizaje social.

58
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Respondiendo a la segunda pregunta planteamos las siguientes características que a


nuestro entender la animación debe tener en cuenta para seguir vigente y evolucionar:

 Ninguna metodología de intervención comunitaria actúa en el vacío sino sobre


la realidad que continuamente plantea cambios y conflictos nuevos y nuevas
posibilidades en un contexto social acelerado y vertiginoso. Esto es la
animación debe estar constantemente contextualizada y permanentemente
evaluada.
 Ante todo es necesario pensar y hacer nuevas prácticas, escenarios y geografías
y dispositivos críticos. Posicionarnos desde la pedagogía de la imaginación en
claro contacto con la población o sector de la misma con la que se trabaje.
 El desafío de la animación deber ser netamente político ya que ninguna acción
es neutra y debe tener posición sobre las problemáticas diversas que existen
realidades en las que se encuentra interviniendo.
 La animación debe propender a generar espacios de trabajo que desplieguen
condiciones de enunciabilidad de las dimensiones sociohistóricas de la
subjetividad.
 Debemos entender el desarrollo de a animación como un acto educativo
reivindicando el poder a través del acto productivo.
 La Animación Sociocultural no es solo una nueva modalidad de moda que
enseña , ni una innovación técnica en lo social, ni una técnica moderna de la
educación social ni una metodología social, ni siquiera un acto configurado en
la voluntas de quien lo realiza, sin o una concepción y proyecto político-social
 Generar actividades accesibles y de calidad.
 Destacar lo grupal se ubica en el centro de nuestra práctica desde la animación
sociocultural, reconocida desde una pedagogía en la que consideramos al grupo
como un ámbito privilegiado para potenciar y promover cambios en el proceso
de aprendizaje de los sujetos.

59
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Por último respondiendo a la tercera pregunta queremos plantear algunas


consideraciones sobre el rol del animador que aportan a la vigencia y evolución de las
cuales nos referimos anteriomente.

Al Animador lo concebimos ante todo como un educador, por ello deberá comprender
que su tarea es amplia y comprometida. Sus valores estarán en juego articulándose
con el de los demás constantemente.

Lo característico del trabajo del animador no es la función de dirección de actividades,


ni mucho menos el desarrollo del rol del que lo sabe todo ni que lo puede todo. La
función particular es el ejercicio de la capacidad de dinamización de los grupos y los
colectivos, la capacidad de motivar, acompañar y movilizar a estos.

Por esto todo animador deberá estar permanentemente atento al porqué de su labor,
así como al como desarrollarlo y al para qué.

Cabe destacar que todo animador es “un trabajador del conflicto”. Diariamente la
tarea consiste en generar las condiciones para el aprendizaje y la participación esto
implica que en los diversos ámbitos grupales y los diversos colectivos se generan
contradicciones, divergencias sobre los distintos intereses y conflictos. Es aquí que el
animador debe actuar y desarrollar su rol.

El educador trabajará desde la premisa que el conflicto es una instancia


transformadora que permite a todo colectivo, grupo y sujeto ir más allá del hecho y
aprender. Entonces planteamos a este como un mediador constante que deberá
utilizar todo su bagaje de experiencia, sus conocimientos y destrezas a la hora de
desarrollar su tarea socio-educativa y cultural cotidiana.

La labor del animador implica ética y estética y por ello la necesidad de concebir su rol
políticamente. El vínculo con los demás debe estar enmarcado en una estética
determinada que al decir de Schiller ubica al fenómeno de lo estético y plantea que en
él lo bello es forma viva y la belleza se convierte en libertad”. Nos parece importante
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

enmarcar nuestra acción cotidiana desde esta premisa asumiendo que la libertad se
consigue a partir de varios aspectos de lo humanos y uno de ellos es lo estético y el
mismo nos conduce por caminos de la belleza y nuevamente retomando a Schiller 1
cuando plantea que “solo el ejercicio estético lleva a lo ilimitado”.

Por último deseamos que nuestra labor educativa construida y basada desde lo
político, lo ético y lo estético se desarrolle en la dialéctica del juego estético, este es
una unidad de seriedad y juego donde la seriedad está basada en el contenido y el
juego lo está en la forma.

Bibliografía.

Mirta Cucco García, PROCC: Una propuesta de intervención sobre los malestares de la
vida cotidiana. Argentina ATUEL 2006

Ezequiel Ander- Egg, La Animación Sociocultural en los comienzos del siglo XXI
Argentina LUMEN 2008

Daniel Vega y Otros, Travesías Institucionales –Argentina, Lugar Editorial 2000

Víctor Ventosa, fuentes de la Animación Sociocultural- España, Editorial Popular 1993

Fabián Vilas, La Animación, la Educación y el Tiempo Libre, en Perspectivas actuales de


la ASC, España, CCS 2006

1
Filosofo Alemán
61
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Formação em rede na cidade de São Paulo: sobre a intervenção


comunitária com base na Abordagem Colaborativa e na Animação
Sociocultural.

Juliana Pedreschi Rodrigues1


Paula Caroline de Oliveira Souza2

Resumo: Neste eixo situamos a experiência de quase 50 anos da Organização não


Governamental “Vocação” que atua no campo do desenvolvimento comunitário tendo como
perspectiva a Abordagem Colaborativa e a Animação sociocultural como base de formação em
redes por meio da troca de experiências e ações socioculturais visando a construção de
vínculos familiares e comunitários através de suas conexões com universidades nacionais e
internacionais, com o poder público, com a Red Iberoamericana de Animación Sociocultural
(RIA).

Palavras-chave: Animação sociocultural; Desenvolvimento comunitário; Formação em redes.

Introdução

O presente relato tem como propósito expor a experiência da Organização não


governamental que surgiu ao final dos anos de 1960 com o nome de “Ação
Comunitária do Brasil” e que em 2015 mudou o seu nome fantasia para “Vocação”.
Essa organização nasceu na cidade de São Paulo, localizada no Estado de São Paulo e na
região sudeste do Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística a cidade de São Paulo ocupa um território de 1.509 km² e conta com uma

1 Professora do Curso de Bacharelado Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da


Universidade de São Paulo - EACH/USP. Presidenta do Nodo Brasil da Rede Iberoamericana de Animação
Sociocultural. Contato: julianaprodrigues@usp.br
2 Animadora sociocultural, pesquisadora e gestora de projetos. Vice Presidenta do Nodo Brasil da Rede
Iberoamericana de Animação Sociocultural. Contato: paula.lzt@gmail.com
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

população aproximada de 11.376.685 habitantes1 e é considerada a maior metrópole


da América Latina.

Apesar de ser o principal centro financeiro e mercantil da América Latina, na


cidade de São Paulo ainda podemos encontrar traços de desigualdades sociais, por um
lado a concentração de renda e privilégios para poucos e, de outro, pobreza e ausência
dos serviços públicos básicos para o desenvolvimento urbano. E nessa cidade
mundialmente conhecida pelo trabalho e progresso, em geral, distante do eixo de
desenvolvimento, no que se costuma nomear por “periferia” se encontram as moradias
precárias, os espaços desprovidos de bons equipamentos educacionais e de lazer, o
frágil serviço de saúde, o ineficiente transporte público que desumaniza o cidadão.

Esse cenário de pobreza e ausência de serviços públicos pode ser observado nas
“beiras da cidade” como no caso do extremo da Zona Sul da Cidade2, região
administrativa constituída pelas subprefeituras da Capela do Socorro, de Campo Limpo,
de Cidade Ademar, de Parelheiros, e do M'Boi Mirim. De acordo com o censo de 2010,
essa região tem uma população aproximada de 2.300.638 habitantes e ocupa um
território de 607 km². Para melhor compreensão seguem mapas3 de localização do
país, estado e cidade de São Paulo e da Zona Sul da cidade desta cidade (RODRIGUES E
SOUZA, 2015, p. 4-5).

Os bairros dos subdistritos de Campo Limpo, Capela do Socorro, Cidade Ademar


e M’Boi Mirim, localizados no extremo Sul da cidade de São Paulo e adjacências, são
localidades com altos índices de vulnerabilidade social, porém com vasta lista de
iniciativas organizadas visando o acesso à cultura, à saúde, à educação, a melhoria da
infraestrutura urbana, dentre outras reivindicações imprescindíveis para garantir uma
vida digna (BRASIL, 2004). Em geral, nesses bairros, encontramos os coletivos e as
lideranças comunitárias que não se resignam com a ausência de direitos sociais e, por
isso, se organizam e organizam toda a comunidade para lutar por eles. E é, justamente,

1IBGE, Diretoria de Pesquisas - DPE, Coordenação de População e Indicadores Sociais – Copis.


www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2010

2
hhtp://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/planejamento/plano_diretor/Plano_Municipal_
Habitacao
3 http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/guia/mapas/0001/mapa_subprefeituras.jpeg small>
64
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

nessa região que a Vocação desenvolve, há quase 50 anos, os seus programas sociais
através de ações realizadas em parceria com mais de 20 unidades de Organizações
Sociais de base comunitária todas localizadas nos subdistritos de M’Boi Mirim, Capela
do Socorro, Grajaú, Cidade Ademar, Campo Limpo e adjacências que atuam de acordo
com a realidade de cada bairro e, também em parceria com a Prefeitura da cidade de
São Paulo.

A Animação Sociocultual (ASC) e a Abordagem Colaborativa como estratégias


para a participação e criação de redes e vínculos comunitários.

A atuação da organização não governamental Vocação baseia-se na perspectiva


da Abordagem Colaborativa – ou ABCD (Asset-Based Community Development)
Desenvolvimento Comunitário Baseado em Talentos e Recursos Locais - que, unida à
Animação Sociocultural promove nas comunidades da Zona Sul da Cidade de São Paulo
formação continuada, o envolvimento e participação na dinâmica familiar e social.
Considerando como importante a união entre teoria e a prática, tais
metodologias/perspectivas tem a colaboração e a participação ativa dos sujeitos como
premissas, sendo a cultura local e o lazer campos profícuos para essa troca de
experiências.

Como base, propõe-se uma mudança de paradigma:

MUDANÇA DE PARADIGMA
De: Para:
Foco nos problemas e dificuldades Foco nas habilidades e potencialidades
Prevalece a opinião técnica do Prevalece o saber da comunidade
perito
Poder sobre a comunidade Poder compartilhado com a comunidade
Processo decisório centralizado Processo decisório compartilhado
Recursos ofertados vêm de fora Recursos estão na comunidade
Dependência e Clientelismo Corresponsabilidade e Cidadania

65
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Dentre seus principais objetivos, a Vocação, ao longo de quase cinco décadas,


buscou desenvolver habilidades e conectar pessoas promovendo a participação ativa
por meio do Programa de Desenvolvimento de Lideranças Comunitárias e do Programa
Lazer Comunitário com ações socioculturais voltadas para a construção de vínculos
familiares e comunitários.

Assim o Centro de Desenvolvimento Comunitário investe na qualificação de


suas formações como garantia de valorizar essas perspectivas em seus projetos e
sistematizar dados obtidos, visando aprofundar os conteúdos que inclusive
contribuem, sobremaneira, com a formação continuada de sua equipe, dos líderes
comunitários, dos Animadores Socioculturais e dos educadores culturais, pois
entendemos como Ventosa (2012) que a Animação Sociocultural, dentre outras
finalidades, possibilita atingir um processo gradual de autonomia e controle da própria
formação, através de técnicas participativas e grupais centradas na ação e difusão de
conhecimentos.

Por isso consideramos que a experiência da Vocação situa-se no eixo temático


três intitulado: “Experiencias iberoamericanas de ASC desde la sociedad civil
fortaleciendo el trabajo en redes”, que resume o campo de atuação e objetivos da
Vocação, organizado pelo Centro de Desenvolvimento Comunitário dessa instituição
visando à promoção da formação continuada e em redes. Tais formações buscam,
dentre outros objetivos:
Analisar a Animação Sociocultural unida ao desenvolvimento comunitário;
proporcionar vivências integradoras em oficinas participativas de enfoque
cultural e de lazer às famílias; estimular a atuação de lideranças que
exercitem suas capacidades como conectoras ao desenvolvimento de
vínculos entre atores sociais e recursos locais da comunidade; estimular a
organização e fortalecimento comunitário; promover a mobilização familiar
à participação ativa. (SOUZA; SARTORI, 2015, p.2)

Nesse processo prioriza-se desenvolver habilidades e conectar pessoas


promovendo a participação ativa por meio do Programa de Desenvolvimento de
Lideranças Comunitárias e do Lazer Comunitário que promovam ações socioculturais
com foco no estreitamento dos vínculos familiares e comunitários.

66
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Principais indicadores de impacto observados nas formações da Vocação.

Na Vocação as formações das equipes de trabalho e das comunidades ocorrem


desde o ano 2009 sendo desenvolvidas pelo Centro de Desenvolvimento Comunitário
com enfoque na Abordagem Colaborativa. Desta maneira, a partir dessa data os
conteúdos e conhecimentos foram refinados e novas parcerias foram estabelecidas
para fortalecer as formações. Dentre os principais parceiros estão a Universidade de
São Paulo, os espaços culturais da cidade e a Rede Iberoamericana de Animação
sociocultural.

Esses vínculos possibilitaram à Vocação refletir sobre a suas ações formativas e


investir, ainda mais, no processo de formação continuada, que culminou nos
resultados notados dos três últimos anos, 2013, 2014 e 2015 e que serão apresentados
em detalhes a seguir.

Principais resultados notados durante o trabalho em rede.

A promoção de Ações Intergeracionais: mesmo conscientes de que se


apresenta como um desafio agregar perfis e faixas etárias diferenciadas que compõem
uma família, as oficinas participativas, foram realizadas com vários sujeitos reunidos
nas vivências de lazer. Neste grupo, encontramos até quatro gerações da mesma
família unidas nas atividades.

Figura 01: Ações intergeracionais em eventos comunitários – CCSJ São Joaquim e Auriverde

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Fonte: A Banca

O processo de democratização do espaço das organizações sociais: como cita


Marcellino (2002, p.25), “pode-se dizer que democratizar o lazer implica democratizar
o espaço”. A participação ativa das famílias nas organizações sociais foi crescente no
decorrer do projeto.

Assim, quadras, salas de aula, galpões, pátios e até refeitórios têm sido
otimizados para o uso da comunidade durante as atividades de lazer com as famílias,
assim como, as barreiras de incertezas e insegurança começaram a ser quebradas pela
cumplicidade que começou a se desenvolver entre as organizações sociais e a
comunidade (KALOUSTIAN, 2000).

Figura 02: Jovens revitalizando organização social em evento Aurigreen e IAG

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Fonte: Acervo da Vocação

Desta maneira, a Vocação traçou o projeto apresentado nesse texto que


retrata, como a concepção de que o trabalho com criança e com adolescentes não tem
o mesmo resultado se ela ocorrer de forma isolada, ou seja, sem as redes. Entende-se
que somente possibilitando o envolvimento das famílias, cobrando e participando da
elaboração de políticas públicas que será possível termos cidadãos mais atuantes,
autônomos e protagonistas de suas vidas e cientes de seus direitos (TORO, 1996).

Figura 03: Apresentação de famílias e equipes em eventos Cidade Júlia e IAG

Fonte: Acervo Vocação e A Banca

Outros resultados de formações foram detalhados no estudo realizado por


Souza e Sartori (2015, p.332) no artigo intitulado: A formação de Animadores
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Socioculturais na região Sul da cidade de São Paulo, apresentado no I Congresso


Internacional “O animador sociocultural no século XXI: perfil, funções, âmbitos,
metodologias, modelo de formação, projetos de intervenção, realizado na cidade de
Barcelos, Portugal, em novembro de 2015.

Os principais resultados percebe-se que as ideias dadas pelas comunidades já


mostram frutos, unindo as propostas de lazer com as ações das organizações sociais
parceiras. Dentre outros importantes resultados:

1. Observa-se que as famílias estão encontrando novas formas


de se comunicarem, de se aproximarem das organizações
parceiras e dos grupos das Oficinas Culturais de Lazer, como
com Grupo no WhatsApp para se comunicarem;
2. Nota-se que aos poucos as pessoas começam a diminuir
segmentação em oportunidades de vivências familiares,
assim como passam a integrar novas práticas culturais em
família;
3. Percebe-se que avanços na sensibilização, ainda faltam, mas
conseguimos perceber diferenças nos depoimentos dos
grupos;
4. Observa-se nas discussões há a compreensão do grupo
participante a respeito do lazer como direito e do
fortalecimento comunitário quando estão juntos.
5. Nota-se a necessidade de integrar as equipes das
organizações sociais parceiras às premissas de nossa
metodologia, o processo de multiplicação tem sido algo que
necessitou maior atenção para avançarem, mas continuam
acontecendo;
6. Percebe-se que aos poucos há superação – por parte das
lideranças e gestores comunitários - para a dificuldade em
atrair as famílias para as atividades, que passam a descobrir o
universo de momentos de lazer em grupos intergeracionais;
7. E, percebe-se também que, ambas vertentes – Lazer
Comunitário e Formação de Lideranças Comunitárias – já
garantem em algumas comunidades, de maneira tímida,

70
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

porém crescente e notáveis em outras, a sustentabilidade do


processo onde o protagonismo e a autonomia já ocorrem de
fato.

Considerando a promoção da participação cidadã como foco das formações,


entende-se que os vínculos e as conexões entre pessoas acabam por ser o ponto de
partida para que haja a mobilização familiar e a organização comunitária. Segundo
Gohn (2006, P.28) nos processos de educação não formal “o grande educador é o
“outro” é aquele com quem interagimos ou com quem nos integramos e com quem
construímos vínculos imprescindíveis para o desenvolvimento social.

Possibilidades de difusão das experiências da Zona Sul da cidade de São Paulo para
outros bairros da cidade e para bairros de países iberoamericanos.

Segundo Green, Moore e O’Brien (2006, p.45) a “comunidade é construída a


partir da vontade de agir”. Assim, ao se trabalhar com a promoção de vínculos e com a
organização comunitária buscou-se, justamente, a participação cidadã, entendendo-se
o lazer como direito e a animação sociocultural como vetor para o protagonismo de
cidadãos que buscam a transformação social.

Para o caso do desenvolvimento destas experiências em outras comunidades


da América Latina, chama-se a atenção para as estratégias direcionadas ao Lazer
Comunitário promovidas e incentivadas pela Vocação e para algumas etapas que
foram essenciais para que as pessoas e para que as famílias pudessem vivenciar a
participação efetivamente.

Para desenvolver e/ou replicar a experiência sugere-se, como exemplo, partir


das seguintes premissas:

 Organizar encontros nas comunidades, com as famílias,


para que elas escolham as atividades socioculturais que
desejam desenvolver;

71
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

 Definir, em conjunto com as famílias horários, datas e a


linguagem cultural que será utilizada para o
desenvolvimento das atividades ao longo da formação;
 Organizar encontros de sensibilização visando despertar
nas famílias a sentido de participação cidadã e a
compreensão do lazer e da cultura como um direito
social;
 Elaborar um cronograma de planejamento colaborativo
de formações e encontros mensais e itinerantes –
envolvendo a equipe de Animadores socioculturais, as
famílias e demais membros da comunidade;
 Promover formação continuada da formação da equipe
técnica;
 Oferecer atividades e oficinas participativas com opções
escolhidas a partir do interesse das famílias e tendo a
família como parte de todo o processo;
 Promover eventos e saídas culturais visando a ampliação
do repertório cultural;
 Desenvolver formas manuais e digitais para o registro e
arquivo de todas as atividades e memória das formações;
 Estabelecer contatos com outras instituições do terceiro
setor, com empresas privadas, com o poder público
municipal, com universidades públicas como forma de
construir redes de colaboração e auxilio mútuo.

Desta maneira, as formações do Nodo Brasil da RIA, foram articuladas com a


Universidade e desenvolvidas de acordo com as expectativas das equipes da sociedade
civil, dos bairros, que organizadas passaram a compor o grupo assíduo de formações.
Desta forma, fez-se necessário a criação de um calendário mensal com temas
sinalizados e escolhidos por eles, permitiram compor o quadro a seguir, representando
o perfil das formações via rede, onde a equipe da Vocação participou ativamente e
também ministrou com outros profissionais algumas das temáticas, dentre eles,
mestres e doutores universitários da USP, UNICAMP e FMU e representantes de
importantes órgãos locais, como o Centro de Pesquisa e Formação do Serviço Social do
72
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Comércio – CPF/SESC/SP, o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Cultura e


Ação Comunitária - CENPEC.

Sobre a sistematização das experiências, sobre apoios e publicações.

A pesquisa e produção de conhecimentos é uma premissa defendida na Rede


Iberoamericana de Animação Sociocultural e, consequentemente, também pelo Nodo
Brasil da RIA.
Nos dois últimos anos, em meio às formações, uma vivência referiu-se à
valorização e sistematização de experiências realizadas ao longo do projeto da Vocação
– “Famílias que Educam” organizando resultados e apresentando detalhes de ações
que estiveram ligadas ao conteúdo das formações RIA de 2014 e 2015. O livro:
Construindo Vínculos Comunitários1 é resultado da união entre teoria e prática
desenvolvida no eixo – Produção e Disseminação de conhecimento defendido pela
organização citada. Desta forma, além da presença de animadores socioculturais –
denominação profissional assumida pela organização Vocação – também fez parte da
equipe de elaboração a pesquisadora Paula Caroline de Oliveira Souza, com função
específica para esta sistematização e relação teoria e prática e a gerente do Centro de
Desenvolvimento Comunitário Deise Rodrigues Sartori. Assim, em parceria com a RIA
Nodo Brasil, esta obra foi escrita junto com Juliana Pedreschi Rodrigues, professora da
Universidade de São Paulo.
A construção deste livro foi uma experiência viva, capaz de refletir em palavras
ditas por líderes e gestores comunitários “sim, esta obra faz sentido para nós, porque
nos enxergamos nela”.
Conforme cita Victor Ventosa no prefácio, o livro que relata a experiência de
formação em rede
ofrece de una manera clara, útil y estructurada, una muestra óptima de
cómo llevar a la práctica esta meta de la Animación Sociocultural en
contextos desfavorecidos y con niños, jóvenes y familias, a través del
empoderamiento de sus líderes y el despliegue de las potencialidades
creativas, expresivas y ocupacionales de sus destinatarios. [...] Con ello, se
consigue dar un salto cualitativo en el camino del reconocimiento social y

1
Baixe o livro em http://www.vocacao.org.br/downloads/Construindo-vinculos-comunitarios.pdf. A
publicação contou com rrecursos financeiros do Fundo Municipal e do Adolescente (FUMCAD) da Cidade
de São Paulo.
73
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

profesional de la animación sociocultural, pasando de una primera y ya


superada etapa casuística y testimonial del mero intercambio de
experiencias, a la etapa de la sistematización y fundamentación de las
mismas. (ROGRIGUES; SOUZA; SARTORI, 2015, p. 7)

O livro “Construindo Vínculos Comunitários”foi lançado no Seminário


“Mobilização Comunitária: experiências colaborativas” em outubro de 2015 e, no mês
seguinte, foi lançado no âmbito Internacional, no Congresso: O Animador Sociocultural
do Século XXI realizado pela Intervenção - Associação Portuguesa para a promoção e
divulgação cultural, na cidade de Barcelos, Portugal e, no mês de março foi também
lançado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.
Vale lembrar que a publicação do livro contou com o financiamento público do
FUMCAD - Fundo Municipal e do Adolescente (FUMCAD) da Cidade de São Paulo e que
suas edições são distribuidas gratuitamente em diferentes comunidades,
universidades, eventos e congressos da área da animação e educação social.

Considerações finais

Ao buscarmos a melhoria da convivência e da qualidade de vida nas cidades,


especificamente, no cenário onde atua como organização social, a Vocação busca
fomentar, por meio da perspectiva da Abordagem Colaborativa e da Animação
Sociocultural, a participação das famílias de jovens e crianças que integram o público
dos programas socioeducativos desenvolvidos junto às organizações sociais parceiras
em diferentes bairros do extremo sul da cidade de São Paulo.

No decorrer das ações desenvolvidas, novas demandas e desafios vão emergindo


das lideranças comunitárias e do contexto social e político que acompanha o cotidiano
das regiões pobres da cidade de São Paulo. Segundo Neumann (2004, p.66), “para
enfrentar o desafio de articular os esforços e trabalhos das instituições e das
comunidades, o primeiro passo é encorajar e fortalecer o relacionamento entre
moradores e profissionais de instituições e entre os profissionais das várias
instituições”. Assim, na busca pela conexão de atores sociais e da mobilização familiar
em prol do fortalecimento comunitário, novos arranjos surgem e novas soluções são
buscadas.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

É nesta busca que está a ampliação das redes de contato e conexões


socioculturais no incentivo à corresponsabilidade e cidadania para potencializar estes
elementos. Para que haja um trabalho em rede, além das formações continuadas, que
proporcionam às lideranças locais a troca de informações e apoio entre regiões de
atuação e o intercâmbio de ações provocados pela Vocação, também há o incentivo
para que novas conexões sejam criadas. Estas conexões se iniciam na compreensão de
que uma criança participante de um programa socioeducativo precisa ser incentivada a
se envolver com sua família e seus mais próximos, assim como sua família pode
estabelecer uma relação com vínculos de confiança com a escola e as organizações
sociais pelas quais elas transitam.

Esta premissa reflete o esforço dos programas da Vocação pelo Centro de


Desenvolvimento Comunitário em fomentar um ambiente favorável com pessoas
capazes de estimular crianças, adolescentes e jovens a encontrarem suas
oportunidades, de acordo com seus talentos e capacidades. Cada qual com suas ações
e perfis, formam novos laços, envolvendo toda uma comunidade.

Multiplicar as bases teóricas que a Vocação defende nestas perspectivas é uma


forma de disseminar e sensibilizar novos grupos, porém, mais que isto, foi realizado no
período citado dos projetos – 2009 a 2015 – a viabilidade prática dessas ações, de
acordo com a realidade de cada bairro junto às lideranças comunitárias. Além disto, a
disseminação de experiências e a troca de repertórios entre bairros, cidades e inclusive
entre países, tem possibilitado que a metodologia aplicada seja fonte de inspiração e,
principalmente, a formação de uma rede ainda maior, capaz de enriquecer e capacitar
ainda mais quem quer transformar sua realidade.

REFERÊNCIAS

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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: atualizada e ampliada. São


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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

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democracia e a participação. UNICEF – Brasil, 1996.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

RETOS DE LA EDUCACIÓN SOCIOCULTURAL EN LA SOCIEDAD DIGITAL

Mario Viché González1

RESUMEN

La Educación Sociocultural a través de sus múltiples prácticas, la animación, la


educación popular, la recreación, la educación sociocomunitaria es, ante todo, una
práxis social de inclusión, aceptación del otro, solidaridad y sostenibilidad. En los
últimos años estamos viendo el resurgir de actitudes intolerantes, autoritarias y
excluyentes que, aparentemente, apuntan a un cierto fracaso en las prácticas de la
Educación Socicultural a lo largo del siglo XX. Pero se trata solo de una aparente
contradicción ya que tras un análisis crítico de las coordenadas de una sociedad
digitalizada, regida por el neoliberalismo económico más radical y que provoca, como
consecuencia, directa graves desigualdades económicas y sociales las propuestas y las
prácticas de educadoras y educadores sociales mantienen su eficacía y significación a
través de prácticas interactivas, transmedia, cibercomunitarias y multiculturales.

PALABRAS CLAVE

Educación sociocultural, sociedad digital, práctica educativa, cibercomunidades, retos


sociales.

RESUMO

Educação Sociocultural através de suas muitas prática, entretenimento, educação


popular, recreação, educação sociocommunity é acima de tudo uma práxis social de
inclusão, aceitação dos outros, solidariedade e sustentabilidade. Nos últimos anos,
estamos vendo o ressurgimento de atitudes intolerantes, autoritárias e excludentes
que, aparentemente apontam para alguma falha nas práticas de Educação Socicultural
ao longo do século XX. Mas esta é apenas uma aparente contradição, porque depois
de uma análise crítica das coordenadas de uma sociedade digitalizada governada pelo
neoliberalismo econômico mais radical e causas, como resultado desigualdades
económicas e sociais directos, propostas sérias e práticas dos educadores e
educadores sociais manter a sua eficácia e importância, através de práticas
multiculturais interativos, transmedia e cibercomunitarias.

1
Profesor Asociado de la Universidad de Valencia e editor da revista Quaderns d’
Animació i Educació Social (quadernsanimacio.net) | mviche@marioviche.es

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PALAVRAS-CHAVE

Educação sociocultural, sociedade digital, prática educativa, comunidades virtuais,


desafios sociais

1. La Educación Sociocultural garante de la inclusión y la democracía.

Durante todo el siglo XX y parte del XIX la Educación ha estado liderando dinámicas
sociales de emancipación y libertad individual y comunitaria generando prácticas y
modelos de educación para la democracía y la ciudadanía, el análisis crítico, la toma de
conciencia, la coeducación, la tolerancia, el diálogo, la no violencia, las identidades
compartidas y la multiculturalidad.

A través de prácticas como la Escuela Nueva (A. Férriere), la Escuela del Pueblo
(Celestín Freinet), las Escuelas Libres, la Educación Liberadora (Paulo Freire), el
laicismo escolar (Jules Ferry) o las aportaciones de John Dewey en la construcción de
una escuela democrática, la educación ha ido sentando las bases de una sociedad
tolerante e inclusiva fundamentada en la Paz y la solidaridad internacional.

Con el apoyo de la UNESCO, investigadores y movimientos educativos han trabajado


con éxito en la génesis de una co-educación comunitaria, solidaria e inclusiva. La
aparición de términos como los de Educación Social, Educación para la Paz, Educación
para el Desarrollo comunitario, Educación para la Ciudadanía o el de la Animación
Sociocultural son indicadores de la existencia de una práctica educativa consolidada y
de la vigencia de estas propuestas socioeducativas.

Con especial enfásis, tras la Segunda Guerra Mundial, la educación se ha vertebrado


como una herramienta eficaz para la reconstrucción de la conciencia cívica del Planeta.
Tras el fracaso moral y cultural que supuso el fascismo en la primera mitad del seiglo
XX, la educación se postuló como una tarea colectiva de regeneración ciudadana,
convivencia multicultural, tolerancia y reconstrucción de un tejido social democrático
basado en las identidades nacionales, el diálogo intercultural y la convivencia pacífica.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Es en este contexto de regeneración democrática que la Educación Sociocultural se


desarrolla como práctica colectiva de identificación y desarrollo cultural, diálogo
ciudadano, transformación y cambio social. Tanto desde el modelo francófono que
trabaja por la reconstrucción de las identidades y la democracía cultural como desde el
modelo anglosajón que pone el enfásis en el desarrollo comunitario o el modelo
latinoamericano que postula una educación liberadora, la Educación Sociocultural se
presenta durante la segunda mitad del siglo XX y principios del XXI como una garantia
de convivencia ciudadana, tolerancia y desarrollo democrático

En los barrios periféricos de las ciudades del sur de Europa o en las comunidades
campesinas de América Latina tanto la Educación Popular como la Animación
Sociocultural han demostrado con creces la viabilidad de unos proyectos y unas
propuestas educativas para la convivencialidad, la autonomía y la libertad individual y
colectiva. Del mismo modo, a través de los Movimientos de Renovación Pedagógica y
las prácticas de la Pedagogía Social, se ha contribuido a la puesta en práctica de nuevos
modelos escolares participativos, colaborativos y en sintonía con el entorno
sociocultural.

El análisis de estos datos históricos nos permitió afirmar en el artículo titulado: La


Animación Sociocultural, una corriente educativa (Viché 2012) que:

“La Animación Sociocultural ha generado una representación de la realidad en


todas y todos aquellos que en algún momento han estado comprometidos con
sus prácticas de manera que esta representación se ha instalado en el imaginario
colectivo de todas y todos ellos ejerciendo un impacto nada despreciable sobre
otros colectivos sociales.
En concreto a lo largo de los años la animación ha creado una representación
social de:
La democracia como tarea colectiva, como sistema de participación de todos los
ciudadanos y ciudadanas. Frente a la democracia representativa la animación ha
generado la representación de una democracia participativa basada en la
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

interactividad, la toma de decisión y el compromiso activo con el devenir de la


vida colectiva.
La comunidad como el espacio de encuentro de las identidades individuales, las
inquietudes y los recursos colectivos. La comunidad como una construcción
colectiva basada en la solidaridad y la cooperación interactiva.
Las identidades como factores individuales de respeto, comunicación y creación
de fórmulas de cohesión social y comunicación multicultural.
La educación como una acción colectiva, autónoma y colaborativa. Frente a una
educación bancaria y dogmática la animación ha generado una representación
de la educación como tarea colectiva, dialógica y liberadora.
Y por último una representación de que el cambio y la transformación social es
posible, que la acción solidaria y continuada de individuos y colectivos puede
generar el cambio de las estructuras sociales hacía una sociedad inclusiva,
solidaria y distributiva, en la que el desarrollo es ante todo un crecimiento de la
inteligencia y la sensibilidad humana”.

2. Una aparente contradicción

No obstante, los últimos acontecimientos sociopolíticos en Europa y en el resto del


Mundo están poniendo en aparente evidencia los logros de la Pedagogía Social y la
Educación Sociocultural a lo largo de las décadas más recientes. La aparición de
actitudes intolerantes, posicionamientos integristas y enfrentamientos identitarios asi
como el crecimiento de las representaciones racistas y xenofobas en diversas zonas del
Planeta constituyen un eje de reflexión y evaluación crítica para unas pedagogías que
promueven el diálogo, la interactividad, la convivencialidad, la multiculturalidad, la
pedagogía de género y una educación inclusiva para la solidaridad, la sostenibilidad y
la Paz.

Cuando en países como Francia o Belgica la Animación Sociocltural y la Educación


Popular han trabajado durante años por implementar políticas socioeducativas
inclusivas y multiculturales en las periferias de las grandes ciudades desde centros
sociales de barrio, casas de la juventud, centros culturales y movimientos educativos,
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

los resultados parecen ser contradictorios. La inclusión no se ha producido, el diálogo


intercultural parece haber fracasado, la frustración y el incremento de la intolerancia y
la xenofobia se hacen cada vez más evidentes. Tanto el aumento de la pobreza y la
marginalidad social que afecta mayoritariamente a los colectivos emigrantes y que,
entre otros factores, está provocando crisis identitarias e integrismo cultural y religioso
así como el incremento de la fuerza sociopolítica de los partidos y colectivos xenofobos
en Europa son indicadores de un cierto fracaso en las políticas socioeducativas que
habían puesto el acento en la inclusión sociocultural, la tolerancia, la convivencia y la
solidaridad.

Igualmente en América Latina los esfuerzos socioeducativos realizados desde la


Educación Popular, las campañas de alfabetización, la Educación Liberadora, el Teatro
del Oprimido, los Círculos de Cultura o el movimiento por la Recreación han trabajado
por la democratización de la cultura y el desarrollo cultural y educativo como un
instrumento para la emancipación social y el desarrollo de una educación solidaria. De
modo similar, los últimos acontecimientos sociopolíticos en esta región parecen haber
cuestionado los logros de estas dinámicas socioeducativas.

Pero solo podemos hablar de aparente contradicción en cuanto a resultado de la praxis


socioeducativa pues si bien están incrementándose las representacines estereotipadas
e integristas de la realidad social y las actitudes xenofobas e intolerantes también es
una realidad que se están consolidando representacines críticas y solidarias de la
convivencia humana sobre el Planeta y que se están afianzando las actitudes inclusivas
y de diálogo multicultural en la búsqueda de una ciudadanía universal respetuosa con
las identidades indígenas, los derechos individuales y los principios comunitarios.

La aparición de las llamadas revoluciones digitales, el surgimiento de nuevos


movimientos y partidos políticos que postulan una nueva cultura de la solidaridad, la
multiculturalidad universal, la coordinación de los movimientos sociales a través del
Foro Social Mundial y la declaración de que Otro Mundo es posible y, sobre todo, los
cambios en la representación de la realidad social, las actitudes solidarias emergentes
que postulan un comercio justo, una economía del bién común o una cultura libre son
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

indicadores de que una nueva cultura de la solidaridad multicultural se está


desarrollando fruto del trabajo y la acción crítica de educadoras, educadores y
comunidades locales a lo largo de la historia más reciente.

Si bien, en un primer momento, podemos achacar a los postulados y a las políticas


neoliberales las causas de este aparente retroceso ya que son las políticas neoliberales
las que están minando el sector público, ninguneando sus modelos de intervención,
negando avances en políticas sociales y desarticulando el Estado del Bienestar,
también es verdad que la Sociedad del Siglo XXI ha sufrido profundos cambios
tecnológicos, estructurales, migratorios y culturales que obligan a reconsiderar y
reposicionar objetivos y estrategias de la acción cultural y educativa.

Es así que las estrategías de la Educación Sociocultural se han reposicionado


adaptándose a los nuevos entornos socioculturales y tecnológicos, realizando una
profunda lectura crítica de los signos de los nuevos tiempos marcados por la
digitalización de la sociedad y transformando sus representaciones identitarias en
función de los flujos migratorios y los actuales fenómenos de la convivencia
multicultural y el mestizaje sociocultural.

3. Nuevos entornos y nuevas narrativas para una acción sociocultural en el siglo XXI

Aunque, como hemos ido aportando, la Educación Sociocultural cuenta con una
historia y una solvencia como práctica social que le proporciona visibilidad y
credibilidad, la educación, como toda práctica socio comunitaria se adapta de forma
dinámica a los cambios estructurales y de representación de los contextos históricos
en los que se inserta.

En este sentido, en las primeras décadas del Siglo XXI, la Educación Sociocultural, en
cuanto praxis solidaria de lectura crítica de la realidad y transformación social, adapta
sus prácticas y estrategias a las dinámicas del cambio social y a los retos de la Sociedad
Digital en cuanto que esta se nos presenta como el nuevo contexto social y cultural de
referencia más inmediata.
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

En consecuencia con nuestra hipótesis de trabajo vamos a realizar un breve itinerario


que nos de pistas para analizar los retos que se le plantean a la Educación Sociocultural
desde las coordenadas del Ciberespacio y la Sociedad Digital en Red, algunos de ellos
ya planteados en el artículo “La animación sociocultural ante los retos de la
sobremodernidad” (Viché 2008)

Entre los retos que a la práctica de la Educación Sociocultural plantea la La Cultura


Digital hay que considerar:

a) Las nuevas narrativas digitales transmedia que rompen con la cultura de leer la
realidad a través de unas narrativas lineales de recreación e interpretación de la
cotidianidad y la transcendencia dando paso a unas narrativas transmedia
multiformes, múltiples, multiculturales y dinámicas que se estructuran de forma
hipertextual fruto de la autoría colectiva de múltiples actores que interactuan en el
mundo digital y que dan lugar a una multiplicidad de representaciones de la realidad y
a la confluencia de interpretaciones diversas sobre una misma realidad social.
Frente a unas narrativas históricas, contextualizadas y multigeneracionales surgen
nuevas narrativas que se construyen sobre nuevos contextos y lenguajes que
combinan las narrativas clásicas de interpretación del mundo con nuevas narrativas
mediáticas, digitales y transmedia que nos obligan a realizar una esfuerzo de alteridad
para establecer lazos de comunicación entre generaciones.
Frente a las narrativas estereotipadas creadas por los medios de comunicación desde
posicionamientos de poder surgen las narrativas transmedia como nuevas formas de
leer el mundo a partir de la autoría de múltiples actores que interactuan desde su
propia experiencia y que no solo generan múltiples universos discursivos sobre un
mismo contexto vivencial sino que se estructuran como contrapoderes alternativos en
ocasiones convergentes generando el fenómeno de empoderamiento que Cremades
denomina “Micropoderes” (Cremades 2007). En este sentido Lessig (2005: 62) afirma
“Cuando cada vez más ciudadanos expresen lo que piensan y lo defiendan por escrito,
esto afectará a la forma en que la gente entiende las cuestiones públicas”. Es, a través
de las narrativas transmedia, que individuos y comunidades se expresan y se hacen

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

visibles en el debate social, rompiendo estereotipos y dando paso a representaciones


de la alteridad como fórmulas de entendimiento, tolerancia y convivencialidad.

b) El ciberespacio como contexto digital para el intercambio, la comunicación, el


encuentro y el activismo social modifican los parámetros tradicionales de militancia,
asociacionismo, debate y compromiso sociocomunitario. El ciberespacio se presenta
como un lugar idóneo para la participación social, el empoderamiento colectivo y la
vivencia de una nueva ciudadanía. Los ciudadanos Internet se reivindican como nuevos
actores sociales que utilizan las interacciones en la Red para el compromiso social, el
ciberactivismo y la cooperación en proyectos colectivos de toma de conciencia y
cambio social. Así el ciberespacio se abre camino como contexto para la construcción
de redes de solidaridad y cambio social. Un ciberespacio que es a la vez espacio digital
y espacio físico de encuentro e implicación glocal, un contexto de referencia del que
todos formamos parte mismo no utilicemos las tecnologías al ciento por ciento
(Castells 2009). Es en este sentido que afirma Lessig (2005:60) “Los blogs permiten el
discurso público sin que el público ni siquiera tenga que reunir-se en un único lugar
público”. El ciberespacio deviene el ágora idónea para un debate social que se
desarrollo en este contexto digital y que se concreta en acciones vivenciadas de
cooperación y solidaridad.

c) La deslocalización es una consecuencia de la movilidad social y laboral pero también


de multiplicidad de ofertas diferenciadas de ocio, formación o entornos vitales pero
también, en la sociedad digital, es una consecuencia directa de una comunicación
virtual en la que las cibercomunidades adquieren mayor importancia identitaria y
funcional que las comunidades físicas de coexistencia. La aparición de
cibercomunidades de afinidades, identidades e intereses compartidos condiciona
radicalmente las tradicionales acciones de tipo presencial y militante. Una
deslocalización que va unida a la multiplicación de “no lugares” (M. Augé) en nuestra
vida cotidiana. Estos no lugares se presentan a nuestros ojos como espacios carentes
de identidad (centros comerciales, autopistas, aeropuertos, zonas de ocio) y que nos
obligan a redefinirlos como espacios de encuentro e identidad colectiva. Una
deslocalización que redimensiona el sentido y la función de los espacios clásicos de
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

convivencia e identificación: barrios, asociaciones y centros culturales, casinos y


puntos de encuentro al tiempo que introduce nuevos espacios digitales para el
encuentro, el intercambio, la expresión, las identidades y la cooperación en red. La
cibercomunidad se convierte así en lugar para el encuentro de intereses e inquietudes
y para la acción solidaria.

d) El paso de unas identidades estáticas tradicionales unidas a una historia, un espacio


físico y una cultura local a unas identidades dinámicas en construcción fruto de la
confluencia de las representaciones mediáticas, los flujos de población y la diversidad
de narrativas radicales. En este sentido la identidad pasa de ser un factor pertenencia a
un factor dinámico en evolución necesario para la consolidación de las comunidades
locales y los grupos de convergencia. De esta forma el análisis dialógico de la realidad
social y la búsqueda constante de la alteridad como fórmula de comunicación
interactiva y no estereotipada se convierte, cada vez más, en un factor clave en las
dinámicas de la Educación Sociocultural. La alteridad en cuanto encuentro con el otro
presupone la potencialidad de expresión de vivencias e identidades en las redes
sociales, la posibilidad de una auténtica autoría libre de estereotipos así como la
capacidad de escucha activa y aceptación de los otros. Es la confluencia de espacios
para la expresión y la comunicación que propicia el ciberespacio que es posible la
alteridad como actitud vital de aceptación del otro y la creación de nuevas identidades
dinámicas multiformes y multiculturales.

e) La contradicción entre un una cultura del consumo cultural regido por las estrategias
del mercado globalizado basadas en el marketing de los estereotipos y orientada a un
consumo masivo de productos culturales mediáticos, lúdicos, de ocio y turismo y una
cultura transmedia que se construye sobre los principios del intercambio, la
cooperación, la cultura libre, la gratuidad, la confluencia y la autoría individual y
colectiva nos obliga a un posicionamiento de las estrategias de la animación y la
gestión cultural que opte por la creatividad, la autoría, la libe expresión y la
interactividad en las redes como fórmulas de libertad, autonomía y desarrollo cultural
individual y comunitario. La cultura transmedia rompe definitivamente el paradigma
elitista, transmisor y consumista de la cultura para dar paso a una cultura viva,
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

dinámica que se construye desde la interactividad, la creatividad y el intercambio


como nueva forma de democracia cultural.

f) La aparición de nuevos movimientos sociales que se organizan en red y que


cuestionan las formas tradicionales de liderazgo, comunicación, activismo y
organización asociativa nos obligan a replantear los planteamientos, estrategias y
acciones de los movimientos y asociaciones socioculturales. Surgen nuevos colectivos y
movimientos sociales que fundamentan su acción en la problematización de la
realidad, el encuentro de identidades y representaciones y el activismo en red (que no
unicamente en la Red). Nuevos movimientos sociales que ponen el acento en un
liderazgo compartido y difuso y una acción vivencial y emocional que da identidad a la
acción social y a la ciudadanía (Gerbaudo 2012) al tiempo que rechazan las fórmulas
tradicionales de encuadramiento y liderazgo tradicionales. Unos movimientos que
hacen de la horizontalidad la estrategia prioritaria de actuación frente a las fórmulas
de organización piramidal y funcional.

g) La aparición de nuevos conceptos y representaciones de lo público como espacio


colectivo, como compromiso y tarea de la comunidad, el cambio como tarea individual
y colectiva de transformación de representaciones, actitudes radicales y formas de
organización, el debate social como patrimonio colectivo de múltiples actores que
interactuan en red, la participación como actitud ciudadana y fórmula de micro
empoderamiento (Cremades 2007) y la ciudadanía como compromiso democrático
activo y militante de los nuevos Ciudadanos Internet (Castells 2009) obligan a
replantearse la acción asociativa y militante de participación, lectura crítica de la
realidad y cambio social propias de la práctica de la animación sociocultural. El e-
gobierno es ya una realidad pero también formas de auto organización ciudadana,
empoderamiento, comunicación transmedia, ciberactivismo y compromiso con el
cambio necesario en una sociedad digital que que se está construyendo a partir de una
dialéctica entre una cultura privativa, neoliberal, competitiva y de autoría individual y
una cultura libre, transmedia, solidaria, del intercambio y la cooperación, del
ciberactivismo y la autoría colectiva.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

4. La Educación Sociocultural. Nuevos tiempos, nuevas prácticas.

En consecuencia con estos nuevos contextos y lenguajes socioculturales, la Educación


Sociocultural ha ido evolucionando, abandonando paradigmas transmisores, dirigistas
o asistencialistas para trabajar a partir de paradigmas dinámicos, cambiantes,
adaptados a una realidad que no esta sujeta a condicionantes espacio temporales y
que se va construyendo dia tras dia. Unos paradigmas que se contruyen a partir de la
expresion transmedia de una comunidad viva en la que múltiples autores se expresan
creativamente para construir juntos nuevas representacines de la realidad, de la
colectividad y de un futuro compartido.

Para Educadoras y Educadores socioculturales no hay una única comunidad, tampoco


comunidades. Su trabajo se desarrolla a través de cibercomunidades que tiene como
punto de encuentro la confluencia de sus identidades y que acaban concretando su
acción en espacios físicos de encuentro y cooperación.

La Educación Sociocultural trabaja con un tejido asociativo desinstitucionalizado donde


prima la acción solidaria sobre la militancia. Unas organizaciones que se mueven por
intereses y vivencias “problematizadoras” y que se organizan a través de estructuras
de participación horizontales y liderazgos difuminados pero dotados de una
importante carga emocional. Unas organizaciones flexibles que alcanzan sus mayores
dimensiones en los momentos del activismo y la acción directa.

La Educacion sociocultural trabaja con la multiculturalidad, la aceptación de la


diferencia y la interacción solidaria. Fruto de la cultura transmedia y la construcción de
narrativas cambiantes, dinámicas y convergentes la acción sociocutural es una acción
solidaria, no excluyente, tolerante y múltiple.

Es así como frente a las representaciones estereotipadas mediadas que aportan


visiones racistas, excluyentes e intolerantes la Educación continua presentándose
como una práctica democrática y dialógica de construcción de la alteridad y la
comunicación intercativa como fórmula viable de construcción de colectividades
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

humanas tolerantes, inclusivas, multiculturales y convivenciales. En este sentido la


Educación continua siendo una práctica cargada de futuro, un futuro del encuentro
solidario, la construcion de redes sociales y el encuentro multicultural.

BIBLIOGRAFÍA

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Cremades, Javier (2007); Micropoder. La fuerza del ciudadano en la era digital; Espasa;
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Animação, Animadores e Mercado de Trabalho

António Manuel Rodrigues Ricardo Baptista

Resumo: O presente artigo surge no âmbito do projecto de doutoramento “Animação


Sociocultural, Atores e Controvérsias Públicas” (projecto que toma como referência o
quadro teórico da Sociologia Pragmática que considera a acção como o produto de um
encontro entre as situações/contextos/acontecimentos e as formas como os actores nelas
se envolvem) e tem como objectivo dar conta dos principais traços caracterizadores da
Animação Sociocultural, bem como dos desafios que a sociedade moderna coloca a esta
actividade em matéria de mercado de trabalho.

Palavras-chave: Animação Sociocultural, Mercado de Trabalho, Trabalho em Rede

A emergência da Animação Sociocultural enquanto actividade de intervenção social,


educativa e cultural encontra explicação nas transformações sociais ocorridas a partir de
meados do século XX, bem como na acção das organizações internacionais e nas políticas
sociais e culturais promovidas pelos Estados nacionais1.

Em matéria de transformações sociais, salienta-se, antes de mais, o aumento do tempo


livre a partir da década de 50, mercê da diminuição dos horários de trabalho e da
consagração do direito a férias remuneradas, sendo que, nestas circunstâncias, a
Animação Sociocultural surge com o objectivo de planear e estruturar esse mesmo tempo
livre de forma a contribuir para a realização pessoal e social dos indivíduos. Em seguida,
destacam-se as situações de risco relacionadas com a pobreza, a marginalidade e a
exclusão social, fenómenos que a sociedade industrial trouxe consigo e, sendo assim, a
Animação Sociocultural surge como uma forma de promover a integração e participação


Licenciatura em Sociologia, pós-graduação e mestrado em Sociologia, área de especialização em
Conhecimento, Educação e Sociedade, doutorando em Sociologia, área de especialização em Cultura,
Conhecimento e Educação.
1
“A animação sociocultural nasce como uma forma de promoção de actividades destinadas a encher
criativamente o tempo livre, corrigir o desenraizamento que produzem os grandes centros urbanos,
evitar que se aprofunde ainda mais a fenda ou fossa cultural existente entre diferentes sectores sociais,
(…) criação de âmbitos de encontro que facilitem as relações interpessoais, alentar as formas de
educação permanente e criar as condições para a expressão, iniciativa e criatividade dos indivíduos.”
(Ander-Egg, 1999: 9).
89
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

dos indivíduos na vida social. Por último, assinala-se o incremento da educação social
como preocupação em promover a participação dos indivíduos e em desenvolver o seu
espírito crítico, procurando que estes se transformem em agentes activos da sua
formação.

No que respeita à acção das organizações internacionais, realça-se a importância dos


estudos e dos programas incrementados, em especial pela UNESCO e pelo Conselho da
Europa (através do Conselho de Cooperação Cultural2), em áreas como a educação
permanente, a educação extra-escolar e as políticas culturais e que contribuíram para que
a Animação Sociocultural encontrasse o seu espaço de actuação e, dessa maneira,
obtivesse reconhecimento internacional.

Por último, a incorporação das preocupações sociais e culturais nas políticas públicas
por parte dos Estados Nacionais contribuiu, através dos órgãos centrais e locais, para a
contratação de técnicos animadores para realizarem funções associadas ao combate à
pobreza e à exclusão social, à educação permanente e à difusão cultural. O turismo, a
cultura, a educação, a acção social, o associativismo, a problemática juvenil, a terceira
idade, a protecção de crianças e jovens, a promoção de novas tecnologias, a formação
de adultos, o desporto, constituem, entre outras, áreas de trabalho que exigem
equipas técnicas especializadas nas quais participam, muitas vezes, os Animadores
Socioculturais.

Animação Sociocultural: (in)definições de uma actividade profissional

Pese embora a projecção ganha a partir de meados do século XX, a imprecisão, a


ambiguidade e a incerteza parecem constituir traços caracterizadores da Animação
Sociocultural enquanto actividade profissional. Imprecisão, por ser difícil delimitar os
seus contornos. Ambiguidade, pelos múltiplos sentidos atribuídos ao conceito,
sentidos que resultam, por um lado, de posicionamentos ideológicos diferentes e, por
outro lado, da grande diversidade de âmbitos, de contextos e de públicos a quem a

2
Surgido em 1962, o Conselho de Cooperação Cultural subdividiu-se, em 2001, em quatro comités
directores: o Comité Director da Educação, o Comité Director do Ensino Superior e da Investigação o
Comité Director da Cultura e o Comité Director do Património Cultural.
90
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

actividade se dirige3, bem como da grande variedade de instrumentos que utiliza e de


actividades que desenvolve. Incerteza, pelo carácter transitório de muitos dos seus
trabalhos.

A imprecisão, a ambiguidade e a incerteza não são, na verdade, estranhas ao


Animador. O próprio conceito de Animação, em termos de evolução cronológica,
remete-nos para uma ampla gama de concepções, de tendências e de perspectivas. Na
verdade, “não há um autor que se tenha preocupado com o conceito de animação
sociocultural que, em seguida, não tenha reconhecido a polissemia, a ambiguidade, a
imprecisão, o carácter vago… no uso da expressão” (Trilla, 2004: 25).

O mesmo é reconhecido por Quintas e Castaño (1998: 17) quando afirmam que “o
conceito de animação é bastante impreciso. Não existe unanimidade entre os autores”.
Há, com efeito, segundo João Teixeira Lopes (1993: 79), uma “conflitualidade teórica à
volta do conceito”, conferindo aos autores perspectivas de abordagem diferentes: para
uns, inspirados em correntes anglo-saxónicas de raiz funcionalista, a animação
contribui para a regulação do sistema social, mediante a acção de mecanismos
estruturais conducentes a uma “situação social harmoniosa”; para outros,
influenciados pela filosofia das luzes (seja a corrente personalista de inspiração cristã,
seja a corrente laica com raízes no socialismo utópico e marcada pela “educação
popular”), a animação transcende as meras relações interpessoais para se estender às
relações colectivas; para os autores de inspiração marxista, a animação só tem sentido
se ligada a uma acção política com vista à transformação radical das estruturas
económicas e sociais. Para o mesmo autor, em abordagens mais recentes, a tendência
parece caracterizar-se por um certo consenso em relação ao conceito, realçando-se a
importância da comunicação interpessoal, das metodologias activas, dos processos de

3
“O Animador tem um leque vasto de escolhas para poder trabalhar; poderá empregar-se em
instituições, privadas ou comunitárias: fundações, autarquias, museus, bibliotecas, jardins-de-infância,
escolas, estabelecimentos prisionais, hospitais, centros de terceira idade, colónias de férias, associações
(culturais, recreativas, infantis, juvenis, grupos étnicos, emigrantes, toxicodependentes, homofobia…),
empresas, centros comerciais”, excerto da comunicação “Intervenção e Empregabilidade dos
Animadores Socioculturais”, efectuada por Catarina Maria Santos Garrelhas no I Congresso Nacional de
Animação Sociocultural, realizado no Centro de Congressos de Aveiro nos dias 18, 19 e 20 de Novembro
de 2010 e subordinado ao tema Profissão e Profissionalização dos Animadores.

91
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

consciencialização, da autonomia e libertação dos indivíduos e grupos, da participação


dos indivíduos na transformação das suas vidas, em suma, a noção de que o homem se
deve tornar um actor no pleno sentido do termo, ou seja, um criador dos sistemas de
organização social4.

Num artigo intitulado “Sobre a definição de Animação Sociocultural”, Azevedo (2008),


após colocar várias interrogações – “A animação sociocultural poderá ser uma ciência?
Poderá ser um ramo das ciências sociais? O que é a animação sociocultural? Será uma
técnica, um método ou uma ciência?” –, reconhece “que a mesma é um diamante em
bruto que carece de ser lapidado de forma a optimizar a sua apresentação e aplicação
social”.

Henri Théry (citado por Ander-Egg, 1999: 72) define a Animação Sociocultural como
um

“processo que compreende a acção em movimento, uma vitalização, uma dinamização das
energias que existem no seio do grupo, pessoas ou comunidades e, paralelamente, uma
restituição desta energia à comunidade de que emana para contribuir para um
„desenvolvimento comunitário‟ (…) com a condição de se „libertar da alienação‟ implícita de
uma certa forma de cultura”.

Por seu turno, Ander-Egg (1986) – ao considerar que a pedagogia da Animação


Sociocultural é a proximidade – faz prevalecer as qualidades pessoais sobre as
qualidades intelectuais, o que traduz um regime de acção que decorre em ambiente
familiar (Thévenot, 2006), em que o Animador se envolve intimamente com as pessoas
e as situações em que estas se encontram. Nessa medida, sublinha que a Animação
Sociocultural não está claramente definida, tanto na sua especificidade como nas suas
funções, apresentando-a como

4
João Teixeira Lopes, a propósito das abordagens mais recentes que tendem a assentar na “noção de
que o homem se deve tornar um actor no pleno sentido do termo, ou seja, um criador dos sistemas de
organização social”, faz menção à definição de Animação Sociocultural dada pela UNESCO, parecendo
esta constituir uma fonte inspiradora dessas mesmas abordagens: "A Animação Sociocultural é um
conjunto de práticas sociais que têm como finalidade estimular a iniciativa, bem como a participação das
comunidades no processo do seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sociopolítica em
que estão integrados."
92
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

“um conjunto de técnicas sociais que, baseadas numa pedagogia participativa, tem como
finalidade promover práticas e actividades voluntárias que, com a participação activa das
pessoas, se desenvolvem num seio de um grupo ou comunidade determinada, e se manifesta
nos diferentes âmbitos das actividades socioculturais que procuram a melhoria da qualidade de
vida” (id.: 125).

Como que a comprovar a falta de clareza, Ander-Egg (1999: 69-77) dá conta de trinta e
duas definições de vários autores, referindo que a maior parte delas “expressam um
projecto pedagógico de consciencialização, de participação e de criatividade social [e]
cada um, conforme as suas próprias perspectivas ideológicas/políticas/científicas e a
sua própria prática, poderá escolher ou rejeitar”.

Numa tentativa de sintetizar as definições de diversos autores sobre a Animação


Sociocultural, Lopes (2006) põe em relevo a grande variedade de sentidos atribuídos
ao conceito: uma “metodologia activa”, um “conjunto de práticas”, um “conjunto de
técnicas”, um “processo de consciencialização”, uma “intervenção”, um “percurso de
desenvolvimento e auto-desenvolvimento”, um “estímulo”, uma “participação”, uma
“transformação”.

Com o propósito de chegar a uma definição integradora da Animação Sociocultural,


Badesa (2008: 44-51) procurou identificar os elementos comuns e diferenciadores da
actividade a partir das definições dadas por vinte e quatro autores, tendo chegado à
conclusão de que:

“La Animación Sociocultural es un método de intervención, com acciones de práctica social,


dirigidas y destinadas a animar, ayudar, dar vida, poner en relación a los indivíduos y a la
sociedade n general, com una adecuada tecnologia, y mediante la utilización de instrumentos
que potencien el esfuerzo y la participación social y cultural.”

Ainda a partir dessas definições, Badesa aponta o objectivo da Animação Sociocultural:

93
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

“Transformar la sociedad mediante la participación y la iniciativa, com el fin de conseguir el


desarrollo personal, social y cultural, y a la vez potenciar la comunicación interpersonal,
respetando los valores democráticos, que lleven a la concienciación e integración social.”

Ao situar a Animação Sociocultural num terreno “flexível” e por natureza “criativo” e,


socorrendo-se de um discurso metafórico, Dinis (2007) procura diferenciá-la de outras
áreas de actividade ao identificar e caracterizar cinco perfis de Animadores: 1) o
“vidente”, cuja amplitude vai desde o visionário, mágico e sonhador, passando pelo
militante, vanguardista e estratega, até ao revolucionário, um modelo em que as
soluções são determinadas aprioristicamente; 2) o “terapeuta”, cujo espectro cobre o
analista, o parteiro, o médico, o reformador e o psicólogo, um modelo de pendor
reformista; 3) o “guia”, cobrindo o intérprete, o bandeirante, o empreendedor e
também o dinamizador cultural e o artífice de memórias colectivas; 4) o “técnico”,
compreendendo o prestador de serviços, o agente de programação e o organizador
profissional, um modelo que assenta num paradigma funcional de eficiência e eficácia;
5) o “mediador”, cujo modelo focaliza o papel de procurador, intermediário e treinador,
centralizando toda a acção nas pessoas nos grupos e nas comunidades.

Sublinhando a flexibilidade apontada por Dinis, Azevedo (2009) acrescenta o perfil do


“animador empreendedor”, como sendo aquele que “desenvolve a actividade em
diferentes cenários e posições organizacionais, quer como colaborador em qualquer
organização do terceiro sector ou do sector público, quer como empresário em nome
individual em qualquer sociedade comercial, independentemente da sua forma jurídica”.

Ao traçar o “perfil do Animador Investigador”, Correia (2008) realça um conjunto de


requisitos em que, notoriamente, as qualidades pessoais prevalecem sobre os
conhecimentos: desde a humildade, a coragem, a solidariedade, a paciência, a persistência
e a tolerância, passando pela mediação, a negociação, a criatividade, o dinamismo e a
inovação, até à capacidade de adaptação, à flexibilidade e ao espírito empreendedor.

94
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Por sua vez, Badesa (2008: 180-199) enumera os recursos que constituem as várias
dimensões do perfil do Animador Sociocultural5, bem como os valores que devem presidir
à actividade da Animação Sociocultural6, sendo enaltecidas, como provas de grandeza, a
vertentes cívica e inspirada da acção (Boltanski & Thévenot, 1991), em que o bem
colectivo, a promoção da participação, a igualdade, a criatividade, a inovação e a
autenticidade são, entre outras, formas de expressão privilegiadas.

Ao realçar a vertente cívica, Badesa (2008, 2015) apresenta a Animação Sociocultural


como uma metodologia de intervenção que promove a participação social e cultural, a
comunicação interpessoal e o respeito pelos valores democráticos, tendo como
propósito o desenvolvimento da consciência social:

“Os factores que justificam a relevância da Animação Sociocultural nas últimas décadas têm a
sua origem no desenvolvimento da consciência cívica, da responsabilidade e da necessidade de
um mundo melhor e mais justo. Na época do estado de direito e bem-estar, a procura e a oferta
de tarefas sociais e educacionais aumentou, abrindo novos espaços relacionados com a
animação sociocultural. Neste sentido, estamos em condições de afirmar que a educação não é
da competência exclusiva da escola. Também se pode conceber como um auxílio, para cumprir
valores fundamentais, relacionados com a igualdade de todos para todos, e para o
desenvolvimento da consciência da cidadania.” (Badesa & Moriche, 2015: 199).

As crescentes preocupações sociais e culturais, expressas nas políticas públicas


promovidas por alguns Estados nacionais, traduziram-se numa elevação da
contratação de animadores socioculturais a partir de meados do século XX, se bem que
as diferenças de enquadramento da actividade, conforme refere Idáñez (2015: 271-
272), sejam assinaláveis. Desde logo, diferenças em relação à expressão “Animação

5
“Dimensión cognitiva: se refiere a la capacidade global para actuar com un propósito, pensar
racionalmente y enfrentarse de forma eficaz com el médio. (…) Dimensión afectiva: afecto e sensibilidade
ante las personas y disposición a prestar servicio. (…) Dimensión social y de relación: se refiere a las
relaciones interpersonales que ponen en comunicación y ayudan a cada uno de los membros del grupo.
(…) Dimensión moral: conjunto de facultades del espíritu que conciernen al respeto humano. (…)
Dimensión física: hace referencia a la constitución o naturaleza corpórea.”
6
“Valores que debe potenciar la Animación Sociocultural: participación, libertad, relaciones humanas,
igualdad, comunicación, solidaridad, autonomia personal, democracia cultural, integración,
concientización, pluralismo, desarrolo crítico, identidade personal y comunitária, cooperación, actividade
creadora, dinamismo social, valoración del grupo, mentalidad nueva ante câmbios, objetividad,
associacionismo, tolerância, justicia, humanización, confianza, respeto hacia sí miesmo, felicidad,
consideración social, sabiduría, autoestima, compañerismo, honestidade.”
95
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Sociocultural”. Trata-se de uma expressão que não teve – nem tem – um equivalente
em todos os países. Na verdade, “em documentos internacionais do Conselho da
Europa, durante muitos anos, a expressão traduzia-se em inglês como equivalente a
„desenvolvimento comunitário‟ e, em alemão, como „pedagogia social‟. No caso da
América Latina, em muitos países, empregou-se mais a expressão „promoção
sociocultural‟ em vez de animação sociocultural”.

Ao mesmo tempo, essas diferenças fazem-se notar, de acordo com a mesma autora,
em relação aos campos profissionais em que a actividade se insere:

“(…) em França, a expressão „trabalho social‟ engloba todas as profissões do campo


sociocultural, incluindo animadores socioculturais, educadores especializados, assistentes em

serviço social, conselhos familiares, etc. Em Espanha, ao invés, a expressão


„trabalho social‟ utiliza-se de maneira restringida para designar o âmbito
profissional que em França se chama „assistente em serviço social‟ e a
„animação sociocultural‟ considera-se outra profissão diferenciada do
trabalhador social.”

Também em relação à certificação conferida se registam diferenças. Tudo faria supor


que, com a criação do Espaço Europeu do Ensino Superior, se registasse uma certa
homogeneidade no que respeita a âmbitos profissionais, mas tal não ocorreu.
Mantiveram-se, ainda segundo Idáñez, denominações diferenciadas para actividades
semelhantes e denominações semelhantes para actividades diferentes:

“(…) a „animação sociocultural‟ em França ou Portugal é um grau universitário, enquanto em


Espanha esse ofício só se denomina como tal na formação profissional (não universitária), se
bem que exista um grau universitário em „educação social‟, em cujas memórias de acreditação
se faz constar que um dos campos laborais de possível inserção destes graduados é a animação
sociocultural, por exemplo. Em países como França e Portugal, não existe um grau equivalente
ao de educação social espanhol. (…) pode existir uma mesma denominação para profissões
diferentes (o exemplo de França e Espanha com a expressão „trabalho social‟) e também pode
haver profissões iguais com denominações diferentes (o caso da Alemanha e França ou Espanha
com as expressões „pedagogia social‟ e „animação sociocultural‟. ” (Idáñez, 2015: 271).

96
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Ao debruçar-se sobre conceito de Animação Sociocultural, Maria de Lourdes Lima dos


Santos (1998: 249) adverte para o seu carácter difuso:

“(…) torna-se difícil precisar os seus limites e delimitar os seus contornos. Na maior parte dos
casos, procede-se de uma das três formas: por exemplificação/inventariação, definindo o
conceito pelas actividades que engloba; pela negativa, eliminando as actividades que não se
enquadram no seu âmbito; ou, ainda, pelo considerar do seu carácter residual: na Animação
cabe, então, um imenso „território – resto‟ de práticas de difícil classificação.”

A avaliar pelas várias definições, falta à Animação Sociocultural clareza conceptual e


epistemológica. Esta falta de clareza encontra explicação, por um lado, na ausência de
um corpo teórico de conhecimentos7 e, ainda, em termos metodológicos, na falta de
especificação dos princípios, protocolos, procedimentos ou modelos específicos de
intervenção validados e generalizáveis; por outro lado, a falta de clareza reside na
dúvida se as actividades que os animadores realizam são específicas da Animação
Sociocultural ou são usadas, também, noutras disciplinas ou âmbitos profissionais e,
sendo assim, não servindo para a definir como algo diferente de outras áreas
profissionais (Ventosa, 2011, 2015).

Opinião semelhante é expressa por Sousa (2015: 46), ao afirmar que a falta de clareza
da Animação Sociocultural reside no facto da práxis ter precedido a reflexão
académica. Nessa medida, a Animação, enquanto intervenção social, educativa e
cultural, é uma realidade que apenas se percebe na observação das práticas que
encerra e das várias interpretações e valorizações que se atribuem aos seus contextos
de actuação. É esta multiplicidade de facetas que enquadra o trabalho do Animador e
que, mesmo assim, no entender deste autor, constitui uma mais-valia:

“Longe de reduzir o trabalho do profissional de animação a apenas um contexto, uma


abordagem, uma prática ou um público, o animador vê-se, pelo contrário, na procura
incessante por novas e mais adequadas iniciativas sociais, culturais e educativas numa postura
de compromisso com uma sociedade em contínua transformação, tendo como fim último a

7
A Animação Sociocultural vai buscar a sua fundamentação a várias científicas, nomeadamente à
Psicologia, à Sociologia, à Antropologia Cultural, à Pedagogia, entre outras.
97
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

participação activa de cada sujeito no aperfeiçoamento progressivo da sua existência.” (Sousa,


2015: 46).

A ampla gama de concepções, tendências e perspectivas sobre a identidade da


Animação Sociocultural, leva a que Caride (2004: 46-49), advertindo acerca das suas
imprecisões, contradições e ambiguidades, realce a importância de esclarecer a função
da Animação Sociocultural na sociedade contemporânea, apontando, nessa medida, “a
necessidade de levar a cabo um amplo debate intelectual sobre os modelos de
racionalidade teórica que a devem orientar e justificar, recorrendo para isso às
metáforas, postulados ou axiomas que há anos configuram as opções paradigmáticas
mais relevantes nas ciências sociais.” Ao tomar como referência o que sucede em
outras áreas do conhecimento e da intervenção social (onde se regista um
interminável diálogo com a realidade, em resultado do qual vão sendo submetidos à
discussão os valores, as convicções, os procedimentos de modo a gerar
conhecimento), a Animação Sociocultural, de acordo com o mesmo autor, deve
transferir para o campo da teoria os resultados que vai obtendo a partir do diálogo que
vai estabelecendo com a realidade social.

É justamente esse contributo que Caride (2004: 54-61) procura dar na construção do
campo teórico da Animação Sociocultural. Considerando que o campo da teoria não se
encontra imune à influência das diversas concepções ideológicas e, sendo assim, não
podendo senão encerrar uma pluralidade de explicações sobre a realidade –
explicações sujeitas a refutações periódicas ou à revogação por outras –, Caride
distingue três perspectivas orientadoras da actividade teórica da Animação
Sociocultural: a tecnológica, a interpretativa e a dialéctica.

A tecnológica, assentando num postulado funcionalista, orienta a sua acção de


maneira estruturada, hierarquizada e organizada e, deste modo, prescritiva em
matéria de práticas culturais eficazes.
A interpretativa, assentando num postulado interaccionista, orienta a sua acção a
partir de práticas significativas do ponto de vista cultural e, desta maneira,
promovendo as relações sociais.

98
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

A dialéctica, assentando num processo político de transformação das estruturas


económicas e sociais, orienta a sua acção através do desenvolvimento da tomada de
consciência e da responsabilidade dos indivíduos enquanto sujeitos na construção de
alternativas sociais.

Defendendo um futuro menos tecnológico e mais humano para a Animação


Sociocultural, Silva (2016: 3) coloca em realce a perspectiva interpretativa apontada
por Caride. Destaca, para o efeito, a sua vertente cívica como prova de grandeza,
acentuando a importância de centrar a actividade no

“(…) estabelecimento de relações que potenciem dinâmicas colectivas geradoras de processos


sociais e culturais, articulando a vertente formal e não formal da educação, assumindo o/a
animador/a não propriamente uma função de mediador/a, mas antes de catalisador/a de
dinâmicas socioculturais que as realidades permitem gerar. (…) os aspectos da ASC, embora
sendo importantes, são secundários e subordinados à aproximação das pessoas e ao
protagonismo das relações humanas. Nesta abordagem, o tecnológico enfraquece perante a
ousadia da acção comum. Ousadia das pessoas no sentido de pensarem e de se arriscarem a
envolver-se em iniciativas sem ficar à espera de reformas, justificando a sua falta de
envolvimento com a falta de condições ideais e pré-requisitos fundamentais.”

O incipiente campo teórico, leva a que a Animação Sociocultural se assuma como um


conceito polissémico, difícil de definir. Esta dificuldade deve-se ao facto da sua
realidade se perceber através da observação das suas práticas. Em todo caso, definir a
Animação Sociocultural em função da intervenção, ou seja, reduzi-la a uma praxis ou
conjunto de práticas, mesmo que ordenadas e alimentadas pela reflexão a partir das
várias áreas das ciências sociais e humanas, não contribui, segundo Ventosa (2015),
para a sua autonomia, nem para a sua profissionalização. A maior parte das práticas ou
actividades realizadas não são exclusivas da Animação Sociocultural (jogos, teatro,
música, desporto, actividades de tempo livre, dinâmicas de grupo, entre outras), logo
não servem para delimitar e diferenciar o seu campo do de outras actividades ou
profissões.

99
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Aquilo que diferencia e é verdadeiramente identificador da Animação Sociocultural –


não deixando, porém, de ser pouco claro – assenta num dispositivo de ordem cívica,
traduzido, segundo o mesmo autor, na “intencionalidade pedagógica”8, na
“metodologia animadora”9 e na “suficiente qualificação”10. O que é delimitador e
diferenciador é:

“(…) a maneira de usar as ditas práticas, de tal forma que provoquem a autonomia pessoal e a
autoorganização colectiva do grupo ou comunidade com quem trabalha. Para isso, faz falta
desenvolver competências de participação no público destinatário. Esta forma de trabalhar e a
intencionalidade com que se trabalha (emancipatória ou autoorganizativa), acreditamos que é
específica e exclusiva da ASC. E mais, acreditamos que é a mais apropriada e fundamental da
ASC. Agora, isto não basta dizê-lo, há que prová-lo. Como? Pois, com o projecto, a
implementação e validação de modelos de intervenção aplicados aos diferentes momentos,
através dos quais passa todo o processo de animação (diagnóstico, análise, planificação,
execução e avaliação). Estes modelos têm de ser suficientemente testados e validados com a
sua aplicação a diferentes contextos e modalidades de animação, até verificarmos se eles são
igualmente eficazes, transferíveis e generalizáveis.” (Ventosa, 2015: 252).

Na discussão do perfil do Animador Sociocultural, percebe-se que os vários autores


enumeram um conjunto de requisitos que reputam como indispensáveis para o
exercício da actividade, mas que, no entanto, suscitam dúvidas se serão requisitos
inatos ou resultarão de um processo de aprendizagem. Começando por enunciar a
dúvidas e num propósito de as dissipar – “o animador nasce ou faz-se?” –, Fonte
(2015: 263-264) diz-se do lado do “faz-se”, mas inspirado no “nasce-se”. Para sustentar

8
“(…) as actividades de animação e tempo livre adquirem potencialidade educadora quando são
orientadas e organizadas com a intenção de educar e não apenas para entreter e divertir. Esta é uma
das maiores e mais importantes diferenças com outros perfis profissionais vizinhos, normalmente
focados exclusivamente no sector do ócio e da diversão. (…) o caminho e horizonte da Animação
Sociocultural é a participação, e isto não é um dom inato com que nasce o ser humano, mas uma
habilidade que é adquirida progressivamente após um processo necessário de aprendizagem activa.”
(Ventosa, 2015: 252-253).
9
“A base da Animação Sociocultural reside no trabalho grupal e na função dinamizadora participativa
que carregam os seus modelos, estratégias e técnicas. Para ser levada a cabo, esta dupla abordagem
requer uma metodologia activa, participativa, lúdica e grupal, isto é a metodologia específica da
Animação Sociocultural.” (Ventosa, 2015: 253).
10
“(…) o animador, na medida em que é educador e trabalha para a melhoria das pessoas, deve ser um
profissional devidamente formado e qualificado para desenvolver o seu trabalho, independentemente do
estatuto, profissional ou voluntário, que fundamenta o desempenho das suas tarefas.” (Ventosa, 2015:
253).
100
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

esta sua posição, recorre a Quintana11 e a Quintas e Sanchez12 cujos entendimentos


divergem.

Para Quintana o “animador nasce”, o que deixa supor que a sua grandeza radica num
mundo inspirado (Boltanski & Thévenot, 1991), o que leva a que a actividade seja
encarada como uma missão: “(…) quem pensa ser animador, tem que ver primeiro se
tem as competências para o ser (…). A animação é uma actividade vocacional e
vocação consiste numa inclinação profunda de dedicação a uma actividade para a qual
se está dotado”.

Já Quintas e Sanchez assumem uma posição contrária: “o animador não nasce, mas
faz-se”, posição cujo sentido é interpretado por Fonte ao considerar que o Animador,
não deixando de estar agraciado por um mundo inspirado, se revela sobretudo pelos
seus atributos profissionais e a sua eficácia (Boltanski & Thévenot, 1991), atributos que
constituem prova da sua grandeza e que só pela via da formação e do trabalho são
alcançáveis: “somos animadores, sustentados na essência e consciência do ser.
Contudo, para chegar a ser, temos que nos fazer animadores. Não se é animador por
graça ou habilidade. É-se pelo trabalho, com o fazer antes do ser, pela dedicação e
devoção, com sacrifício e abnegação. Apesar de se nascer com determinadas
características de animador, é possível, e necessário, construir-se um animador através
de uma formação adequada.”

No que se refere à diversidade de âmbitos, de contextos e de públicos a quem a


actividade se dirige, esta parece traduzir a capacidade de adaptação, a flexibilidade e o
espírito empreendedor dos Animadores Socioculturais. Ao mesmo tempo, parece
representar o reconhecimento da função social desta actividade, reconhecimento que,
por um lado, é medido pela necessidade do recrutamento destes profissionais pelo
sector público (administração central e poder local), privado (associações,
organizações não governamentais, organizações da área da cultura, entre outras) e

11
Quintana, J. M. (1993). Los ámbitos profesionales de la animación. Madrid: Narcea, S.A. Ediciones.
12
Quintas, S. F & Sánchez, M. G. (1999). Para compreender la animacion sociocultural. Navarra: Editorial
Verbo Divino
101
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

terceiro sector (Instituições de Apoio e Solidariedade Social) e, por outro lado, no


entender de Badesa (2015: 199), por constituir uma etapa de um processo de
profissionalização que a “legitima para a monopolização de um território ou jurisdição
laboral”.13

A reivindicação de uma jurisdição corresponde, no entanto, ao culminar de um


processo de “fechamento social” (Dubar, 1997: 149 e 169-171) em que uma profissão
detém condições de exigir o reconhecimento de direitos exclusivos, compreendendo
estes o monopólio do exercício profissional, a disciplina, o acesso à profissão, o
recrutamento e o licenciamento.

Considerando que a dinâmica de desenvolvimento profissional assenta nas disputas,


nos conflitos e na competição que se registam nas áreas jurisdicionais, o conhecimento
abstracto constitui, segundo a formulação de Abbott (1988), o principal recurso da
disputa jurisdicional e a característica que melhor define as profissões, sendo que o
seu controlo, conferindo-lhes capacidade de sobrevivência no competitivo sistema
ocupacional de que fazem parte, permite que estas estejam defendidas de intrusos,
uma vez que só um sistema de conhecimento governado por abstracção permite
dimensionar novos problemas e redefinir os já existentes.

A prática profissional compreende, segundo Abbott (1988), os actos de classificação do


problema, a sua análise e actuação sobre esse mesmo problema (isto é, o diagnóstico,
a inferência e o tratamento). Estes três actos têm, porém, um alcance diferenciado.
Enquanto o diagnóstico e o tratamento constituem actos de gestão da informação que
têm por base sistemas de classificação de problemas que vão do comum ao esotérico,
ajudando, por isso, a clarificar e a simplificar o trabalho profissional, mas, ao mesmo
tempo, tornando esse trabalho mais compreensível para os outsiders, a inferência
constitui um acto puramente profissional, actuando quando a ligação entre o

13
Acresce, ainda, que o posicionamento atribuído ao Animador pela Classificação Portuguesa das
Profissões de 2010, em comparação com o posicionamento que lhe estava atribuído pela Classificação
Nacional das Profissões de 1994, pode também ser interpretado como o reconhecimento da sua função
social. De facto, em 2010 o Animador passou a integrar o Grande Grupo 3-Técnicos e Profissões de Nível
Intermédio13, enquanto em 1994 integrava o Grande Grupo 5-Trabalhadores dos Serviços Pessoais, de
Protecção e Segurança e Vendedores.
102
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

diagnóstico e o tratamento não é clara. Significa, então, que quanto mais elevado for o
grau de predominância de inferência na ligação do diagnóstico ao tratamento, menor
será a vulnerabilidade jurisdicional. Esta ligação é afectada, em certas circunstâncias,
pela emergência de grandes clientes, pela transferência de trabalho profissional para
grandes organizações (factores que poderão condicionar o julgamento independente
por parte do profissional) e, especialmente, pelo desenvolvimento do conhecimento
abstracto, requisito indispensável para prevenir a rotinização da prática profissional e,
nessa medida, proporcionar a produção de novos diagnósticos, novos tratamentos e
novos métodos de inferência.

Em face das várias concepções, tendências e perspectivas, levanta-se a dúvida se a


Animação Sociocultural é profissionalizável. Na verdade, a incipiência de um corpo
teórico de conhecimentos, que sirva de ligação entre os problemas diagnosticados e a
actuação sobre esses problemas, torna difícil a constituição de uma área jusrisdicional.
Isso explica, de facto, a dificuldade em controlar a prestação de serviços, bem como
em proteger-se de intrusões, seja por parte de grupos ocupacionais que se encontrem
num processo de definição ou de alargamento da sua área jurisdicional, seja por parte
de clientes que, por entenderem a prática profissional da Animação Sociocultural
como uma prática meramente banal, não considerem o recurso aos seus profissionais
como a única forma de solucionar os seus problemas.

Em todo o caso, admitindo a possibilidade da Animação Sociocultural, à luz da


formulação concebida por Abbott, não ser susceptível de profissionalização, isso não
parece fazer perigar a sua existência tal como, na sua definição alargada, a UNESCO a
concebe: “A Animação Sociocultural é um conjunto de práticas sociais que tem como
finalidade estimular a iniciativa e a participação das comunidades no processo do seu
próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sociopolítica em que estão
integradas.”

103
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Animação, Animadores e Mercado de Trabalho

Em resultado das transformações ocorridas num mundo cada vez mais globalizado, é
posta à prova a capacidade da Animação Sociocultural para enfrentar os novos e
complexos desafios. E muito embora, no dizer de Ander-Egg (2008: 20-21), a
insuficiente valorização atribuída à Animação Sociocultural em termos de políticas
públicas14, não deixou de se alargar a intervenção dos Animadores Socioculturais e de
se ampliarem os seus perfis profissionais15, passando estes a actuar em campos que
tradicionalmente não eram os seus (Ferreira, 2008: 200)16.

A actuação em novos campos de intervenção parece traduzir a capacidade de


adaptação, a flexibilidade e o espírito empreendedor dos Animadores Socioculturais
perante experiências de trabalho que apresentam – muitas delas – um carácter
transitório17 e uma grande diversidade em termos das competências exigidas18. Ao

14
“Importa analisar a relação, o papel que joga a animação no âmbito das políticas públicas no âmbito
da sociedade civil. Vejamos o que acontece nas políticas públicas, para ser mais preciso na política
cultural da maioria dos países, definida pela UNESCO como o „conjunto de operações, princípios,
práticas e procedimentos de gestão administrativa ou de propostas que servem de base à acção cultural
do Estado‟. Ora bem, em quantos países a formulação da política cultural inclui a animação
sociocultural como uma forma de acção cultural do Estado, atribuindo-lhe um papel significativo? Em
poucos. E, isto, o que significa? (…) Depois de haver tido a oportunidade de analisar os conteúdos dos
documentos que expressam a política cultural dos respectivos países (América Latina, Europa e África),
considero que existe uma certa exclusão, marginalização ou, pelo menos, insuficiente valorização da
animação como uma das expressões da animação sociocultural. Mas o que acontece no âmbito da
sociedade civil? Ainda desde a última década do século XX, acentuado no século XXI, a importância da
animação tem outro significado. O surgimento e reforço das organizações não governamentais, os
movimentos e a emergência de novos actores sociais, têm mudado o panorama.” (Ander-Egg, 2008: 20-
21).
15
Animação Ambiental, Animação Hospitalar, Animação na Terceira Idade, Animação Terapêutica,
Animação Infantil, Animação Juvenil, Animação de Adultos, Animação Sociolaboral, Animação
Comercial, Animação com grupos com Necessidades Educativas Especiais, Animação de Museus,
Animação do Património, Animação da Leitura, Ciberanimação, Animação de Prisões, entre outros.
16
“Perante as transformações que ocorreram nas últimas décadas, a ASC evoluiu para novos campos.
(…) Os campos tradicionais da Animação Sociocultural foram, e são em grande parte ainda hoje, o ócio e
o tempo livre, assim como a promoção cultural. A animação sociolaboral alarga o campo da ASC à esfera
social, face aos problemas e necessidades emergentes nas sociedades contemporâneas, designadamente
o desemprego, a exclusão e outras formas de vulnerabilidade social. (…) O animador sociocultural
passou a fazer parte dos profissionais do trabalho social, realizando projectos e programas que visam
melhorar a posição dos indivíduos e dos grupos perante o mercado de trabalho, criando ambientes
solidários e cooperativos, com ênfase, não na competitividade e na produtividade como metas finais,
mas nas pessoas e na qualidade de vida.”
17
“Estamos sempre a falar de lugares…, do ponto de vista da colocação no mercado de trabalho, de
lugares que não são de desafogo, ou seja, não são de permanência (…): Professora – Entrevista – Julho
de 2010; (…) Há emprego em animação só que o emprego existente é irregular (…): Professor –
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

mesmo tempo, parece corresponder à indicação dada por Lopes (2008a) quando, em
matéria de empregabilidade, refere que

“entre os anos 60 e 90 existiu emprego em Animação. No século XXI vai existir muito trabalho
em Animação, mas não o modelo de emprego do século XX, isto requer preparar os Animadores
para um novo conceito de empregabilidade assente no trabalho em rede e não no trabalho por
conta de outrem, na criação de empresas que respondam ao pulsar do novo tempo e que os
contratos programa com lares, hospitais, jardins-de-infância, autarquias, organizações
governamentais, dêem respostas aos diferentes âmbitos de Animação existentes e ainda os que
hão-de vir, porque o movimento da vida vai sempre gerar novas necessidades e
consequentemente novos âmbitos.”

Ao traduzir uma mudança de paradigma em matéria de trabalho, a indicação dada


ajusta-se, assim, a um mundo em que o futuro se encontra completamente em aberto.
Por um lado, a lógica do “trabalho em rede” tende a difundir-se cada vez mais,
constituindo-se como o centro do sistema. Por outro lado, o fosso que separa a
decisão do conhecimento parece acentuar-se, ou seja, um mundo que impõe a cada
“um de nós o fardo de ter que tomar decisões cruciais que podem afectar a nossa
sobrevivência sem qualquer base de conhecimento adequado”19 e, por vezes, “sem ter
consciência das suas consequências” (Žižek, 1999: 450-451). Em muitos casos, a
incerteza que caracteriza o mundo moderno de hoje torna difícil prever os resultados
das decisões que os indivíduos possam tomar (sejam pessoais, sejam profissionais),
requerendo a aquisição de novas capacidades que os tornem adaptáveis, flexíveis e
empreendedores.
É verdade que “empregar-se, montar um negócio são acompanhados hoje de um grau
de incerteza muito elevado quanto aos seus resultados porque os contornos das
instituições que suportam tais actividades não são mais os mesmos” (Hespanha &

Entrevista – Julho de 2010 (entrevistas efectuadas no âmbito do projecto de doutoramento “Animação


Sociocultural, Actores e Controvérsias Públicas”).
18
“Nas colectividades, nos centros culturais, clubes, escolas, lares e outras associações/instituições,
começa a haver hoje mais espaço para o animador. Reforça-se cada vez mais a ligação às autarquias
como forma de desenvolvimento da cultura, da educação e do desporto.” (Vieira & Vieira, 2015: 152).
19
“Les „deuxièmes Lumières‟ à chacun d‟entre nous le fardeau d‟avoir à prendre des décisions
imposent

cruciales pouvant affecter notre survie elle-même, sans aucun fondement adéquat em termes de
Connaissance. (...) La liberté de décider dont jouit le sujet de „société‟ n‟est pas la liberté de pouvoir
décider librement de sa destinée, mais la liberté source d‟angoisse de celui qui est constamment
contraint de prendre des décisions sans avoir conscience de leurs conséquences.”
105
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Carapinheiro, 2002: 14), não deixa, paradoxalmente, de ser verdade que essas mesmas
decisões constituem, por vezes, um “abrir de portas” a novas oportunidades.

Ao contrário do que sucedia há umas décadas atrás20, o mundo do trabalho


caracteriza-se hoje em dia, especialmente nas gerações mais novas, por trajectórias
que apresentam, segundo Marques (2013: 20),

“descontinuidades e intermitências ao incluir períodos de formação, emprego, desemprego e


inactividade. Daí também serem diversos os estatutos ou as condições sob as quais os jovens
ingressam no mercado de trabalho: bolseiro, estagiário, tarefeiro, temporário, subcontratado,
entre outros. Partilham, todavia, de uma crescente vulnerabilidade e instabilidade laboral
explicável, em grande medida, pela crescente desregulação contratual”

Longe de serem lineares (Pais, 2005), os percursos profissionais são cada vez mais
“marcados pela instabilidade e pelo risco, ainda que em alguns casos com tónica nas
oportunidades e na realização” (Guerreiro & Abrantes, 2004: 28). A integração na vida
activa é, normalmente, caracterizada por um processo contínuo de transições de
situações de ocupação, desemprego e formação. Como tal, as trajectórias dos que
tentam ingressar no mundo do trabalho, em particular os jovens, constituem um
processo complexo que engloba relações mais prolongadas entre o itinerário
formativo e o itinerário laboral21.

20
Em que “graças a trajectórias profissionais claramente definidas, a tarefas extenuantes, mas de uma
regularidade tranquilizadora, à estabilidade considerável das equipas de trabalho, à grande utilidade
dos conhecimentos e, portanto, ao elevado valor concedido à acumulação de experiência profissional,
osriscos do mercado laboral podiam ser mantidos sob controlo, a incerteza via-se mitigada ou
desaparecia por completo, e os medos eram desterrados para o terreno marginal dos „azares da sorte‟
ou dos „acidentes fatais‟, evitando-se assim que saturassem o decorrer da vida quotidiana.” (Bauman,
2006a: 15).
21
Ganham expressão, no actual mundo do trabalho, as transições incertas/não lineares para a
empregabilidade. Transições que tendem a ser cada vez maia alongadas e que afectam tanto os
trabalhadores indiferenciados, como os trabalhadores altamente qualificados. Transições que o
Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3 de Novembro, no seu art.º 14.º, vem legitimar, ao introduzir a
obrigatoriedade da formação como condição do recebimento do subsídio de desemprego, o que
significa a perda de importância das certificações em favor de uma permanente
reconversão/requalificação profissional dos indivíduos. Esta necessidade permanente de
reconversão/requalificação caracteriza o “novo espírito do capitalismo” (Boltanski & Chiapello, 1999), ”,
estando-se perante o “indivíduo insuficiente” que tem o dever de se reconverter/requalificar para
ganhar capacidade competitiva, capacidade empreendedora, capacidade de iniciativa e de ser
polivalente, flexível, imaginativo, inovador, colaborador e, desta maneira, poder movimentar-se na rede
e integrar projectos muito diferenciados em matéria de exigências.
106
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Se o gradual desmantelamento dos mecanismos de protecção social ao nível do


mundo do trabalho parece conduzir a que cada indivíduo conte apenas consigo próprio
para lidar com os riscos e as oportunidades, exige também, da parte de cada um, uma
atitude reflexiva constante sobre as melhores decisões a tomar. Significa então, de
acordo com Giddens (1994: 13), que cada indivíduo “não só „tem‟ como vive uma
biografia organizada reflexivamente em termos de informação social e psicológica”, o
que implica ajustamentos e reconversões sucessivas de todos os aspectos da vida
profissional, ou seja, a transformação das “identidades especializadas” (Dubar, 1997:
98-99) por força de novos processos de socialização em que vai participando e que
resultam das constantes alterações económicas, tecnológicas, organizacionais e de
gestão de emprego.

Embora pareça ser crescente a impotência das comunidades locais em atenuar o risco
que os percursos profissionais comportam (Hespanha et al., 2002: 29), não deixa
porém de ser interessante, do ponto de vista analítico, perceber a maneira como os
indivíduos orientam e ajustam a sua acção, ou seja, que tomadas de posição vão
assumindo em face das situações concretas com que se vão deparando. Sendo assim,
ao invés de se estar perante um indivíduo conformado, sem verdadeira consciência
dos determinismos a que está sujeito, como diriam Bourdieu e Passeron (1964 e 1978),
está-se perante alguém que, por via de uma atitude reflexiva constante22, confere
sentido às suas acções e, nessa medida, desenvolve pontos de vista críticos
relativamente às várias situações em que vai estando envolvido.

É a valorização destas novas capacidades que ressalta da análise dos discursos


proferidos em Animação Sociocultural, ou seja, a importância que a lógica de projecto
(Boltanski & Chiapello, 1999; Boltanski, 2001) parece estar a ganhar em matéria de

22
Segundo Giddens (2005: 7-31), o ordenamento e reordenamento reflexivos das relações sociais é feito
à luz de contínuos inputs de informações e conhecimentos que afectam as acções dos indivíduos e dos
grupos, promovendo um fenómeno que não encontra paralelo na história: a deslocação da vida social
para fora do alcance das práticas pré-estabelecidas.
107
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

emprego23. A ser assim, a empregabilidade dos Animadores24 passará a estar


condicionada pela capacidade destes se movimentarem na “rede”25. Nessa medida, a
prova da sua grandeza passa a ser dada pela sua capacidade de adaptação, pela sua
flexibilidade26 e pelo seu espírito empreendedor que permitam enfrentar experiências
deque tendem a apresentar, como atrás se disse, um carácter transitório27 e uma
grande diversidade em termos das competências exigidas28.

Esta lógica, fazendo-se sentir nos vários sectores de intervenção da Animação


Sociocultural29, assume grande expressão no sector cultural, conforme realça Telmo
Gomes (2010: 118). Refere este autor que o aumento das oportunidades de trabalho
neste sector vem sendo associado a uma maior flexibilidade e precariedade dos
vínculos e prestações de trabalho, assim como à emergência ou consolidação de novas
funções e modos de organização do trabalho marcados pela polivalência e
cumulatividade.

23
“Potencialidades da metodologia de trabalho de projecto na formação de Animadores Socioculturais”,
comunicação efectuada no I Congresso Nacional de Animação Sociocultural, realizado no Centro de
Congressos de Aveiro nos dias 18, 19 e 20 de Novembro de 2010, por Carla Cibele e Sandra Cordeiro da
Escola Superior de Educação de Setúbal e Câmara Municipal de Palmela, in Santos Costa, 2010: 37-55.
24
O Censo Nacional de Animadores com formação superior, promovido pela Associação para o
Desenvolvimento da Animação Sociocultural (APDASC), indica que, dos 313 Animadores recenseados,
70% trabalham na área da Animação Sociocultural.
25
“Torna-se pertinente criar um trabalho em rede que permita a criação de espaços entendidos como
laboratórios de trabalho que ajudem a fundamentar a Animação Sociocultural e que fomentem,
segundo Ventosa (2012:352), „novos perfis profissionais e novas espacialidades (…) consolidando o seu
desenvolvimento profissional, científico e formativo.‟” (Filipe & Ribeiro, 2014: 123).
26
Tendência que parece acentuar-se, nomeadamente em França, a avaliar pelo estudo de Lebon e
Lescure (2007: 57-82), estudo que dá conta da situação profissional dos Animadores Socioculturais
como estando ”entre a precariedade e a flexibilidade”.
27
O Censo Nacional de Animadores com formação superior, promovido pela Associação para o
Desenvolvimento da Animação Sociocultural (APDASC), indica que, dos 313 Animadores recenseados,
38,3% possuem um estatuto profissional instável.
28
O Censo Nacional de Animadores com formação superior, promovido pela Associação para o
Desenvolvimento da Animação Sociocultural (APDASC), indica que, dos 313 Animadores Recenseados,
22,7% trabalham em autarquias, 18,5% em Instituições Particulares de Solidariedade Social, 10,2% em
associações de natureza variada, 9,6% em empresas de vários sectores de actividade, 8,1% em
Misericórdias, 17,9% em organizações de natureza desconhecida, não havendo dados sobre os restantes
22%.
29
Em sessões promovidas pela coordenação do curso de Animação e Intervenção Sociocultural da Escola
Superior de Educação de Setúbal, dirigidas a Animadores Socioculturais e organizadas em torno das
temáticas “formação dos animadores e entrada na vida activa” e “profissionalidade e o exercício da
profissão hoje”, percebe-se, a partir dos testemunhos recolhidos, que a situação de transitoriedade e de
precariedade é o que caracteriza a maior parte das experiências de trabalho posteriores à conclusão do
curso (Figueiredo & Cordeiro, 2015: 185).
108
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Os dados do Observatório das Actividades Culturais indicam que a crescente difusão


das formas flexíveis de trabalho, registada ao longo dos anos 80 e 90, se articula de um
modo estreito com o aumento da oferta cultural e, nessa medida, com o acréscimo de
emprego e de oportunidades de trabalho para os diversos profissionais relacionados
com o sector, contando-se entre estes os Animadores Socioculturais a trabalharem em
contextos culturais diversos, nomeadamente em departamentos de acção cultural de
Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia. Este aumento da oferta cultural,
nomeadamente ao nível das programações das autarquias locais, implica,
frequentemente, o estabelecimento de parcerias com associações, fundações e outras
entidades, com recurso a formas de trabalho flexíveis, na modalidade de projecto e
baseadas em práticas de outsourcing (Gomes & Martinho, 2009: 151-159; Martinho,
2010: 243-247).

O que se regista no sector cultural em geral e na Animação Sociocultural em particular,


nas várias vertentes da sua intervenção, inscreve-se num plano mais alargado de
profundas mudanças no mundo do trabalho em Portugal. Estas mudanças
compreendem não só o desaparecimento de certos sectores de actividade e o
surgimento de outros, como também alterações nos tipos de actividade, nas formas de
organização do trabalho, nas modalidades e condições do exercício profissional, nas
perspectivas e expectativas em relação ao trabalho, nos direitos laborais e nos vínculos
contratuais.

As relações de trabalho encontram-se hoje profundamente transformadas. Na


verdade, a crescente representação das formas instáveis de empregar tem vindo a
caracterizar a sociedade portuguesa: contratação a prazo/termo, recibos verdes,
trabalho temporário, trabalho clandestino, entre outras. Esta mudança começa a
desenhar-se a partir da segunda metade dos anos 70 – com a publicação da legislação
que regulamenta a contratação a prazo30 – e ao longo dos anos 8031, intensificando-se
a partir de meados dos anos 90.

30
A regulamentação da contratação de trabalho a prazo é estabelecida através do Decreto-Lei n.º
781/76, de 28 de Outubro.
31
Veja-se M.ª João Rodrigues (1988), O Sistema de Emprego em Portugal: Crise e Mutações.
109
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Efectivamente, as mudanças económicas e tecnológicas levaram a que os


empregadores passassem a utilizar, como estratégia de acção, formas de emprego que
permitiram uma maior flexibilização nos “modos de gestão da mão-de-obra”
(Rodrigues, 1988: 247), originando, assim, uma diminuição dos custos salariais, do
poder negocial dos trabalhadores e, ainda, uma maior facilidade na libertação de mão-
de-obra excedentária. Tal estratégia implicava a superação de determinadas
dimensões características ou “típicas” do emprego tradicional (id.: 205),
nomeadamente: a) estabilidade de emprego, caracterizada por um contrato de
duração indeterminada e, ao mesmo tempo, pelo controlo rígido dos despedimentos;
b) garantia de remuneração, com salário mínimo assegurado, pagamentos especiais do
trabalho suplementar e actualização periódica dos salários; c) regulamentação do
período de trabalho, com o estabelecimento de um período máximo de trabalho e
direito a descanso semanal e férias; d) ligação do trabalhador a um empregador e a um
local de trabalho, sendo este último legalmente definido como propriedade da
empresa; e) organização e protecção sindical; f) direito à greve.

A subversão de alguns destes princípios, mais do que uma medida conjuntural, tornou-
se num meio de transformação do sistema estrutural de emprego. A política de
flexibilização da mão-de-obra desenvolveu, assim, novos tipos de emprego que
contornaram alguns dos princípios precedentes.

O trabalho, enquanto mecanismo de inserção e de integração social e de


reconhecimento, garantindo níveis básicos de protecção social, parece, pois, estar
sujeito a um processo de fragilização. O modelo que tem vindo a ganhar força assenta,
em larga medida, no crescimento acentuado das formas de trabalho intermitentes e,
não raras vezes, socialmente pouco protegidas (Castel, 2003).

A contratação a termo32, o trabalho temporário33 e a falsa prestação de serviços34 são,


pois, exemplos ilustrativos de uma regra na prática contratual. O trabalho precário,

32
A contratação a termo, tendo sido concebida para regular o recrutamento de mão-de-obra
para a execução de tarefas de natureza eventual, extraordinária e/ou sazonal, tornou-se num
modo de empregar expressivo no contexto do trabalho português. A contratação a termo não
se destina, em muitos casos, à “satisfação de necessidade temporária da empresa e pelo
110
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

que legalmente constitui uma excepção, passou, na prática, a regra (Oliveira, 2015:
46). E, sendo assim, a ideia de fazer coexistir na empresa um grupo estável e um grupo
flexível de trabalhadores foi colocada de parte. A excepção parece ter ganho o
estatuto de regra com a alteração significativa do peso relativo daquilo a que, em
matéria de dimensões típicas do emprego tradicional, Dubar (1997: 164) chama o
“sector central” e o “sector periférico” do mercado de trabalho: o primeiro, incluindo
os trabalhadores que à organização interessaria conservar como forma de assegurar a
sua produção normal; osegundo, incluindo os trabalhadores que reforçariam o
primeiro grupo e recrutados de acordo com as oscilações do volume de trabalho.

Com efeito, aqueles que entram na vida activa fazem-no, geralmente, através de uma
destas formas precárias de emprego. Nestas circunstâncias, o risco dos indivíduos não
terem acesso, ao longo de toda uma vida activa, àquilo a que comummente se designa
por um estatuto profissional estável, assente em vínculos de trabalho de duração
indeterminada, parece ser crescente nas sociedades modernas.

Ora, mercê das alterações registadas no mundo do trabalho, traduzidas na fragilização


dos mecanismos colectivos de protecção social, tem vindo a assistir-se, segundo
Boltanski (2001: 25), a um apagamento do “mundo cívico” e a um forte aumento do
“mundo da inspiração”, sobretudo a partir dos anos 90, o que, de acordo com o
mesmo autor, “pode ser relacionado com a importância dada à inovação, ao risco e às
qualidades pessoais (como a intuição) dos actores da empresa.”

período estritamente necessário à satisfação dessa necessidade” (Código do Trabalho: art.º 140.º, n.º 1,
da Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro, artigo que não sofreu alterações nas três revisões efectuadas ao
Código do Trabalho através das Leis n. os 105/2009, de 14 de Setembro, 53/2011, de 14 de Outubro e
23/2012, de 25 de Junho), mas sim a assegurar um trabalho regular e continuado e, nestes termos,
tendo por fim iludir as disposições que regulam o contrato sem termo.
33
Considera-se contrato de trabalho temporário o contrato de trabalho a termo celebrado entre uma
empresa de trabalho temporário e um trabalhador, pelo qual este se obriga, mediante retribuição
daquela, a prestar a sua actividade a utilizadores, mantendo-se vinculado à empresa de trabalho
temporário – Código do Trabalho: art.º 172.º, alínea a), da Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro, artigo que
não sofreu alterações nas três revisões efectuadas ao Código do Trabalho através das Leis n.os 105/2009,
de 14 de Setembro, 53/2011, de 14 de Outubro e 23/2012, de 25 de Junho e 47/2012, de 29 de Agosto.
34
A relação designada por “prestação de serviços” não tem, numa boa parte dos casos, outro propósito
senão o de iludir as disposições que regulam uma relação de trabalho dependente e que implica a
celebração de um contrato “pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a prestar a
sua actividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e sob a autoridade e direcção
destas” – Código do Trabalho: art.º 11.º, alínea a), da Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro.
111
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

É neste contexto de incerteza e risco que se exige aos indivíduos que arrisquem, que
assumam riscos, que sejam empreendedores. Efectivamente, nas sociedades
modernas, cuja construção se tem vindo a alicerçar na insegurança (Castel, 2003),
proliferam os discursos que apelam a um certo perfil de trabalhador em que o
“espírito empreendedor” – associado à responsabilidade individual, à competição, à
criatividade, à adaptabilidade e à flexibilidade – se destaca enquanto requisito
fundamental para enfrentar os problemas actuais, especialmente os problemas de
emprego.

O desemprego e a precariedade surgem, deste modo, como oportunidades para o


desenvolvimento do empreendedorismo, o que, segundo Duarte (2013: 18), aponta
para uma “mudança de mentalidades” traduzida numa

“(…) ressimbolização da ruptura que significaria o desemprego, revestindo-a agora de um


sentido positivo. (…) tal poder-se-ia traduzir na seguinte síntese discursiva: „estás
desempregado ou num emprego precário? Estás em risco de perder o teu emprego? Não te
preocupes, tens apenas que ser empreendedor, que ter espírito de iniciativa, que contar contigo.
Não tens „espírito empreendedor‟? Não te preocupes, podes aprender a ser empreendedor,
podes frequentar acções de formação, podes ler livros de desenvolvimento pessoal e de auto-
ajuda, podes frequentar cursos de coaching; está apenas nas tuas mãos a solução para o
problema‟.”

Organizada em torno da narrativa da flexibilidade e do empreendedorismo, esta


configuração, a que Boltanski e Chiapelo (1999), servindo-se da literatura de gestão,
fazem referência na sua análise para dar conta do “novo espírito do capitalismo”,
assenta numa lógica de trabalho em rede em que a „flexibilidade‟ é apontada como
condição do progresso económico e social e o “empreendedorismo” como condição do
progresso e sucesso individual, seja para aceder ao mercado de trabalho, seja para se
manter nesse mesmo mercado.

A crer na apologia do empreendedorismo, de acordo com Campos e Soeiro (2016: 48-


49) “a questão do desemprego resolver-se-ia com a promoção de comportamentos
empreendedores por parte dos indivíduos, mais do que com políticas públicas de

112
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

criação de emprego”. Deste modo, os défices de natureza individual – em termos de


qualificações, de competências e de disposições – explicariam o fenómeno do
desemprego. Ultrapassados esses défices, após uma necessária aprendizagem do que
é ser empreendedor, o sucesso ou fracasso no mercado passaria a depender única e
exclusivamente do desempenho e esforço pessoal de cada indivíduo. Contudo,
remeter para a esfera do individual as explicações de um fenómeno social, como é o
caso do desemprego, é conferir credibilidade a leituras do social que tendem a
interpretar o social em termos não sociais, o que levou os mesmos autores a enveredarem
por uma atitude de vigilância epistemológica e, nessa medida,

“(…) a suspeitar de explicações fatalistas para fenómenos sociais complexos e a duvidar de


quem propõe respostas individualistas para problemas que sabemos serem colectivos, como o
desemprego e a precariedade. Por isso, a narrativa do empreendedorismo, que o apresenta
como uma „atitude‟, um „espírito‟ e um „modo de ser‟ do indivíduo capaz de resolver aqueles
problemas, sempre nos mereceu a maior desconfiança.” (Campos & Soeiro, 2016: 10).

Desconfiança justificada, uma vez que os resultados apresentados dão conta de que os
programas de apoio e promoção do empreendedorismo em Portugal têm tido uma
tradução pouco significativa em matéria de emprego:

“o apoio financeiro ao empreendedorismo concedido pelo Estado português resultou, no melhor


dos cenários, numa criação de empregos directos equivalente a 1% do total de desempregados
oficialmente inscritos nos centros de emprego nos primeiros anos de austeridade. A isto acresce
o apoio preferencial dado às grandes empresas e a discriminação dos cidadãos com menores
qualificações no acesso aos programas de apoio ao empreendedorismo.” (id.: 145).

A lógica do trabalho em rede, em que a flexibilidade e o empreendedorismo se


apresentam como soluções dos males económicos, sociais e individuais, coloca a
Animação Sociocultural numa nova fase que, no dizer de Montez (2015: 2-3), é
complementar das fases identificadas por Lopes (2006). Sendo que, nesta fase, a
Animação Sociocultural se vê confrontada com duas opções:

“Por um lado seguir um caminho em consonância com as ideologias actuais, arriscando fundir-
se entre outras actividades e profissões socioculturais e educativas, ou até empresariais; por
outro lado, seguir um caminho em sintonia com a identidade militante da animação

113
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

sociocultural, arriscando a marginalização desta actividade e a falta de reconhecimento político


formalizado. De um lado parecem estar os animadores e animadoras profissionais, com
formação específica na área, do outro parecem estar pessoas das mais variadas áreas das
ciências sociais (e não só) ou de outros sectores profissionais. ”

A avaliar pelo número crescente de animadores que, em resultado das dificuldades


sentidas face às expectativas construídas, tem vindo, segundo Montez, a adoptar um
modelo de actuação assente na flexibilidade e no empreendedorismo, acentua-se o
risco de se esvanecer o “espírito militante da animação”, privilegiando-se o carácter
“cuidador” e “intertainer” e não já a dimensão “transformadora”35 que se encontra na
génese da actividade, enquanto prática ligada à intervenção social, educativa e
cultural. Nestas circunstâncias, caminha-se para uma animação que se vai

“ (…) transformando subtilmente organizações sem fins lucrativos de acção social em empresas
de serviços sociais e educativos; animadores socioculturais em técnicos de gerontologia, em
técnicos de turismo ou de outros quaisquer ramos associados a instituições dispostas a pagar
valores que não dignificam a profissão. Perante o fantasma do desemprego as animadoras e os
animadores vão-se submetendo a um trabalho meramente técnico, menos crítico, cada vez com
menor capacidade de mobilização e, por isso, com muito pouco impacto político ou gerador de
mudança social. Por fim, face à necessidade de sustentabilidade (tida aqui somente como
aspecto financeiro) vão sendo criados negócios nos quais surge o nome “animação
sociocultural‟ sem que tenham realmente o ADN desta metodologia social na sua constituição.”
(Montez, 2015: 5-6).

Porém, não obstante o risco de se esvanecer o espírito militante da animação, Montez


não deixa de contrapor com as oportunidades proporcionadas pelo tempo presente,
assinalando que

35
“As plataformas de participação cidadã, os mercados locais de troca de produtos, as redes solidárias,
as redes de produção colaborativa, as actividades de transformação do espaço público, as mobilizações
e acções de protestos em defesa de direitos sociais, culturais e educativos, são iniciativas que assentam
na capacitação para a transformação social. Mesmo não sendo animadas por animadores e animadoras
profissionais, estas iniciativas são de animação sociocultural, no sentido militante e político da
animação.(…) Os campos da animação sociocultural na conjuntura actual, na sua vertente militante, são
diversos e abrangem quadros teóricos distintos, embora integrem um referencial comum, associado a
um conceito de Desenvolvimento que visa um equilíbrio entre os aspectos sociais, económicos e
ambientais. Neles se encontram formas alternativas de vida em sociedade, a implementação de redes
solidárias de colaboração ou de produção, a soberania alimentar e o activismo político tout-court, quer a
partir de uma mobilização de rua, quer a partir de uma mobilização por meios digitais num contexto
virtual.” (Montez, 2015: 6 e 10).
114
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

“(…) a animação precisa de se animar a si mesma, de procurar as reminiscências da sua clássica


utopia política e social nas realidades do presente, considerando até a existência de novos
espaços da animação, como é o caso do espaço virtual potencializado pela Internet. (…) a
animação sociocultural encara agora, na conjuntura histórica que atravessamos, estímulos
idênticos aos que a fizeram surgir. Estamos perante uma conjuntura repleta de oportunidades
para a afirmação da animação, em vários quadrantes, desde a sua pertinência institucional à
sua necessidade social e política, que respondem precisamente à utopia da animação.”
(Montez, 2015: 9-10).

Especificando o que entende por “novos espaços de animação”, Montez (2015: 10-28)
apresenta “sete paisagens possíveis para uma acção militante e consciente da
animação sociocultural no contexto contemporâneo”: criar comunidades sustentáveis
ou ecoaldeias; promover redes de apoio social; estabelecer redes de partilha de
conteúdos, tirando proveito da sociedade virtual; animar a economia local, protegendo
o artesanato e a gastronomia; promover acções colectivas com ampla participação
cidadã; conceber projectos de acesso ao micro-crédito e de criação do próprio
emprego; actuar nas organizações, humanizando o trabalho, dignificando o trabalho e
respeitando os direitos de quem trabalha.

Fazendo referência às competências dos Animadores Socioculturais para o século XXI,


também Moriche e Badesa (2015: 283-287) dão conta da importância da Animação
Sociocultural tirar proveito das oportunidades conferidas pela sociedade virtual, tendo
em vista a promoção de uma “cidadania digital”. Traçam, para o efeito, o perfil do
“ciberanimador” como sendo alguém que apresenta competências de três níveis: nível
político, com uma atitude crítica e reflexiva em matéria de compreensão dos contextos
sociais, políticos, económicos e educativos, bem como dos significados, interpretações
e acções que se produzem nesses mesmos contextos; nível de rede, com habilidade
para a comunicação em rede, orientada para a coesão e evolução do grupo, assim
como a gestão de conflitos, valoração de resultados e administração da informação
para a tomada de decisões, desenvolvimento da criatividade e capacidade para a
inovação e investigação; nível tecnológico, com conhecimento dos recursos

115
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

tecnológicos, sendo capaz de perceber onde, quando e como fazer uso desses mesmos
recursos.

A ciberanimação extravasa, assim, as tecnologias informáticas. Representa, segundo


Gonzalez (2008a), um novo paradigma sociocultural traduzido numa nova cultura, em
novos espaços e redes para a comunicação e a interactividade, em liberdade de
expressão, de auto-organização social, de comunidades reais que se estruturam no
espaço virtual, de desenvolvimento social e comunitário. Um novo paradigma cultural
que passa pela constituição de cibercomunidades em que a identidades são
compartilhadas em resultado de uma representação colectiva da realidade, em
resultado da existência de um espaço virtual comum que possibilita o intercâmbio, a
identificação e o sentido de pertença e, ainda, em resultado de finalidades comuns
definidas a partir da vivência desse mesmo sentido de pertença. Daí que a Animação
Cibercultural corresponda a uma oportunidade dos Animadores Socioculturais
aproveitarem a “potencialidade que a sociedade da informação oferece para o diálogo,
a tomada de consciência crítica, a mudança social, a interactividade, a estruturação
das comunidades humanas, a solidariedade e o desenvolvimento sustentável.”
(Gonzalez, 2008a: 92).

Reconhecendo as mudanças operadas a partir dos anos 90, Lopes (2015: 72) faz notar
que a Animação, para além de ter evoluído de uma formação iminentemente prática
nos anos 70 e 80 para um modelo teórico-prático de nível secundário (Animador
técnico-profissional) e de nível superior (Animador técnico-superior) a partir dos anos
90 e, ainda, de ter conhecido uma alteração em termos de género (de uma actividade
predominantemente masculina para uma actividade em que se assiste a um domínio
conheceu, ao mesmo tempo, uma mudança no campo da sua intervenção: “de um
Animador militante e polivalente evoluiu-se para um perfil técnico de Animador
centrado num âmbito específico”.

Corroborando desta perspectiva, Figueiredo e Cordeiro (2015: 182-183) referem que o


legado militante dos anos 70 está em vias de desaparecimento, uma vez que, sendo
fruto da escola a tempo inteiro, é difícil alguém tornar-se Animador sem ter feito um
116
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

conjunto de experiências significativas de educação não formal e, sendo assim,


consideram estes autores estar-se na iminência da Animação Sociocultural perder a
dimensão transformadora que marcou a sua génese.

Passou-se de um tempo em que o reforço da autonomia da Animação Sociocultural


aconselhava a concretização da formação em ambientes associativos, “onde o
empirismo e a troca de experiências ganhava o braço de ferro com os processos
clássicos de educação formal” para um tempo em que “são as clássicas instituições
escolares que dominam a formação dos animadores socioculturais” (Fonte, 2015: 264),
com todos os reflexos que esta mudança originou no campo da sua intervenção.

Não deixando de reconhecer a mudança operada, Lopes (2012: 79-90) assinala o


compromisso que a Animação Sociocultural mantém, apesar da mudança, com a
democracia, a participação, a liberdade e o desenvolvimento como pedra angular de
uma intervenção que transporte consigo a “utopia de que um outro mundo é possível”,
fazendo menção a uma prática profissional assente na interrogação e no
questionamento dos problemas que se colocam nos quotidianos e contextos
profissionais dos Animadores (Lopes, 2012: 79-90).

Apontando numa mesma linha, Gillet (2015: 366-368) reforça a ideia de compromisso
como imperativo na intervenção da Animação Sociocultural. Ao fazer menção ao seu
espírito militante, estabelece a relação entre esse espírito militante e o
comprometimento democrático, referindo que o Animador é alguém necessariamente
comprometido com a democracia, compromisso traduzido numa forma de trabalhar
em que devem ser sempre os outros a tomar as decisões que lhes dizem respeito.

Por seu turno, Escola (2015: 143-146), ao identificar alguns dos problemas a que as
sociedades actuais têm de responder – envelhecimento, pobreza, dificuldades de
acesso aos bens culturais, iliteracia digital, obstáculos à participação activa nas
questões da cidade, constrangimentos à construção de um espaço público
democrático –, destaca, como provas de grandeza cívica dos Animadores
Socioculturais, o bem colectivo, a participação na vida da cidade e a igualdade e, desta
117
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

maneira, como grandes exigências que lhes são colocadas nos vários contextos em que
são convidados a exercer a sua actividade profissional: a) colaborar na construção da
identidade pessoal e social dos cidadãos, no sentido de uma acção profissional assente
nos valores da liberdade, da autonomia, do diálogo, da crítica e da emancipação; b)
colaborar na construção do humano no homem, actuando com e sobre as pessoas e,
dessa forma, opondo-se a práticas desumanizadoras geradas pelo medo e a
incapacidade de lidar com a diferença; c) colaborar na construção de uma identidade
plural, contrariando a tendência da uniformização que conduz ao desaparecimento das
marcas da tradição, dos elementos identitários, dos traços culturais característicos das
populações de determinadas regiões; d) colaborar na construção de uma cidadania
planetária, ajudando a que cada um tome consciência do seu papel enquanto cidadão
do mundo.

Defendendo uma linha “transformadora”, Vieira e Vieira (2015: 150-151) referem que
a Animação Sociocultural assenta numa visão sistémica e numa prática de trabalho
social relacional em que o Animador terá de considerar o conjunto de componentes da
realidade das pessoas (família, escola, trabalho, projecto de vida, vizinhança). Daí que
estes autores, recorrendo a Paulo Freire36, considerem a “sua acção não poder incidir
sobre as partes isoladas, pensando que assim transforma a realidade, mas sobre a
totalidade. É transformando a totalidade que se transformam as partes e não o
contrário”, ou seja, uma Animação Sociocultural assente “(…) numa Pedagogia Social
que propicia a participação, a autonomia, a consciencialização e a interacção que,
embora partindo do outro, origina transformação de todos e com todos os implicados.”

Nota Final

Presentemente, a Animação Sociocultural vê-se perante os desafios de uma sociedade


que tende a organizar-se em torno de uma lógica de “trabalho em rede”, em que a
adaptabilidade, a flexibilidade e o empreendedorismo são requisitos exigidos de modo
a que os indivíduos possam enfrentar os problemas actuais, nomeadamente os
problemas de emprego.
36
Freire, P. (2001). Educação e Mudança. S. Paulo: Editora Paz e Terra, SA.
118
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Esta nova configuração da sociedade moderna coloca à prova a dimensão


“transformadora” que se encontra na génese da Animação Sociocultural, enquanto
actividade ligada à intervenção social, educativa e cultural. Nessa medida, a dúvida é
saber até que ponto as exigências da sociedade moderna não levarão esta actividade a
adoptar um modelo de actuação assente na flexibilidade e no empreendedorismo,
passando a privilegiar o carácter “cuidador” e “intertainer” e esvanecendo-se, assim, o
seu “espírito militante”.

Em face das várias concepções, tendências e perspectivas, levanta-se a dúvida se a


Animação Sociocultural é profissionalizável. Na verdade, a ausência de um corpo
teórico de conhecimentos, que sirva de ligação entre os problemas diagnosticados e a
actuação sobre esses problemas, torna difícil a constituição de uma área jusrisdicional.
Isso explica, de facto, a dificuldade em controlar a prestação de serviços, bem como
em proteger-se de intrusões, seja por parte de grupos ocupacionais que se encontrem
num processo de definição ou de alargamento da sua área jurisdicional, seja por parte
de clientes que, por entenderem a prática profissional da Animação Sociocultural
como uma prática meramente banal, não considerem o recurso aos seus profissionais
como a única forma de solucionar os seus problemas.

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127
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Trajetórias de Vida e Integração Social de Jovens Pós-Institucionalizados.


Estudos de Caso na Casa Pia de Lisboa (2002-2011)

José Rosado Medinas Martins1

Resumo

Este estudo longitudinal cruza três fases da vida da população (n=500) em


apreço: pré-institucionalização, institucionalização e pós-institucionalização.
Selecionou-se uma amostra (n=50) que foi entrevistada presencialmente; recolheram-
se dados de natureza quantitativa e qualitativa. As quatro hipóteses que nortearam a
investigação abrangeram diversos aspetos, como as problemáticas vivenciadas antes
da institucionalização, o “papel” e o “peso” do acolhimento, as relações de mentoring,
as relações familiares e a integração social.
Os resultados da investigação apontam para que, com a exceção parcial dos
maus-tratos, as restantes problemáticas vivenciadas antes do acolhimento não
condicionam a integração social. O período de acolhimento é positivamente nutritivo
para a integração social, nomeadamente porque contribui para a estruturação dos
indivíduos. Não se confirmou, de forma consistente, a importância das relações de
mentoring em acolhimento, mas ficou clara a importância do papel dos cuidadores,
nomeadamente através da transmissão de valores. Por fim, concluiu-se que a
manutenção dos laços familiares, durante o acolhimento, é importante para o bem-
estar e desenvolvimento dos indivíduos pois facilita a sua integração social posterior.
São necessárias políticas sociais para um melhor enquadramento no âmbito da
transição para fora dos cuidados e dos apoios a prestar em fase de pós-
institucionalização.

1
Licenciado em Animação Educativa e Socio-cultual, mestre em Relações Interculturais&nbsp e
doutorado em Ciências Sociais (especialização em Política Social).

128
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Palavras-chave: pré-institucionalização; institucionalização; pós-institucionalização;


integração social; trajetórias de vida; política social.

Introdução

Os percursos de vida de indivíduos com um passado de institucionalização são


o mote que deu origem a este trabalho de investigação, na área da política social,
denominado Trajetórias de Vida e Integração Social de Jovens Pós-Institucionalizados.
Estudos de Caso na Casa Pia de Lisboa (2002-2011).
A pesquisa inscreve-se na problemática da institucionalização de crianças e
jovens (c/j) em lares de infância e juventude (LIJ), devido à aplicação de medida de
acolhimento de longa duração, onde desenvolvem parte substancial do seu processo
de socialização. Os percursos de vida são, genericamente, multidimensionais, por isso
se torna relevante conhecer as trajetórias de vida em articulação com a Casa Pia de
Lisboa (CPL) como instituição de enquadramento. Assim, a questão de partida que nos
guia ao longo da investigação é: qual o papel do acolhimento institucional na
mobilidade social e nos modos de vida dos jovens na fase de pós-institucionalização?
Esta pergunta inicial traduz-se na tentativa de saber como é que o acolhimento
institucional contribuiu para a integração social dos jovens, ao nível dos seus modos de
vida, uma vez que a instituição assumiu o papel ressocializador dos indivíduos.
Formularam-se quatro hipóteses que orientaram esta pesquisa e que têm
como denominador comum a integração social dos indivíduos, uma vez que as
trajetórias de vida confluem no (in)sucesso da fase de pós-institucionalização a qual,
na maioria dos casos, marcou a transição para uma vida adulta, já
desinstitucionalizada, em que houve, necessariamente, uma influência inextinguível
das etapas biográficas precedentes.
A população em estudo (n=500) é composta por indivíduos que tiveram baixa
definitiva/processo de saída do acolhimento institucional na Casa Pia de Lisboa, a
partir de LIJ/RAIA (residência e apoio à integração de adolescentes) afetos a seis
centros de educação e desenvolvimento, no decorrer de um período de dez anos
(2002-2011), e sobre a qual construímos uma base de dados, recorrendo a
metodologia quantitativa. Nesta sequência, procedeu-se a contactos telefónicos de
129
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

follow-up (n=137). A partir dos referidos contactos foi selecionada a amostra (n=50)
que entrevistámos presencialmente de forma aprofundada tendo a informação sido
tratada qualitativamente.
1. Da precariedade à institucionalização e à integração

1.1. Estratégia de investigação e metodologia

A pergunta de partida que despoletou a construção das hipóteses e ajudou a


construir esta pesquisa foi: qual o papel do acolhimento institucional na mobilidade
social e nos modos de vida dos jovens na fase pós-institucionalização? Isto porque,
essencialmente, nos importa conhecer, através da voz dos indivíduos, qual é, de facto,
o “peso” efetivo dos fatores que os conduziram ao acolhimento institucional, como
decorreu o próprio acolhimento e as suas trajetórias de vida, sobretudo quando fazem
a transição para fora dos cuidados e, eventualmente, para a vida adulta e se encontram
desinstitucionalizados, percebendo o que contribuiu para a sua (des)integração social.
O estudo analisa as trajetórias de vida de jovens (n=500) que estiveram
acolhidos institucionalmente em seis Centros de Educação e de Desenvolvimento - CED
(antigos colégios) afetos à CPL, que saíram do acolhimento institucional num período
de dez anos (2002-2011), e que, atualmente, se encontram em meio natural de vida
junto das famílias ou em autonomia de vida.
Pretendemos compreender o seu processo de integração social através de um
estudo longitudinal tipo painel (Sampieri et al. 2006), em que se recorreu à técnica de
follow-up.
Encaramos como sendo relevante a implementação nesta pesquisa de
técnicas de metodologia quantitativa e qualitativa porque “a lógica da triangulação é
que cada método revela diferentes aspetos da realidade e consequentemente devem
utilizar-se diferentes métodos de observação da realidade” (Carmo e Ferreira 1998:
184).
Para responder às quatro hipóteses de estudo que aventámos, construímos
um modelo de análise no qual esquematizamos a forma como nos vamos apropriar das
trajetórias de vida individuais após nos basearmos numa revisão bibliográfica que
assenta, essencialmente, em textos internacionais temáticos que foram produzidos,

130
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

essencialmente, nos últimos quinze anos. Da revisão da literatura resultaram quatro


hipóteses de estudo:
a) Quanto mais precárias foram as condições vivenciadas em meio natural
de vida, conducentes ao acolhimento, maiores foram as dificuldades de
integração social subsequente.
b) Não obstante as experiências em meio natural de vida que precederam
o acolhimento, este viabilizou a integração social consequente.
c) As ligações significantes (re)criadas com os prestadores de cuidados
(mentoring), em contexto de acolhimento influem ulterioriormente na
integração social.
d) As relações significativas (familiares e/ou outras), mantidas no exterior
da instituição, durante o acolhimento, favorecem a integração social posterior.
e)
Na sequência de uma ronda afincada pela literatura temática, nomeadamente
a internacional, e uma vez definidas as hipóteses que iriam nortear este percurso de
investigação, considerámos oportuno abarcar seis CED (Pina Manique; D. Mª Pia; D.
Nuno A. Pereira; Nossa Sr.ª da Conceição; Stª Catarina; St.ª Clara), aos quais se
encontravam afetos diversos LIJ e apartamentos de autonomização, tendo como linhas
balizadoras um período de dez anos (2002-2011), durante os quais a população teve
baixa definitiva/processo de saída. Desta forma, passámos à analise de 500 processos
psicossociais de indivíduos que se encontravam nas circunstâncias referidas,
recorrendo, para tal, a metodologia quantitativa (SPSS).
Seguidamente, após termos contactado a população por escrito, por via da
instituição CPL e por via do investigador, tentámos estabelecer contacto telefónico de
follow-up, sendo que foi possível entrevistar 137 indivíduos ou os seus familiares. A
partir destas entrevistas telefónicas foi viável agendar e realizar entrevistas presenciais
com uma amostra constituída por 50 indivíduos, tal como nos havíamos proposto em
sede de projeto de investigação, e os dados foram examinados qualitativamente
(Maxqda).
Através do acesso aos dados empíricos obtidos, verificou-se possível
estabelecer uma relação simbiótica com a literatura consultada, à qual regressámos
amiúde durante o percurso de investigação, no sentido de consubstanciar touching
131
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

points e divergências, entre diferentes pesquisas realizadas. Nesta senda, redigimos o


trabalho final, no qual destacamos a perceção da influência da política social
institucional nas trajetórias de vida, o qual pretendemos devolver à CPL.
Numa primeira fase recolhemos informação processual em quinhentos
dossiers individuais de forma a preenchermos o draft anteriormente construído em
SPSS versão 20, o qual contemplava cento e seis variáveis. Nesta vertente, tendo em
conta o direito à informação atempada dos sujeitos e o direito dos mesmos,
eventualmente, a recusarem-se a ser contactados no âmbito deste estudo, foi-lhes
dirigida pelos Serviços Centrais da CPL, uma carta explicativa que apresentava o
investigador, o porquê de virem a ser contactados, ao mesmo tempo que esclarecia os
moldes em que iria decorrer a investigação, nomeadamente, a garantia do anonimato.
Todavia, não foi possível estabelecer contacto com cento e quarenta e um
indivíduos por não terem a morada ou telefone (ou as duas coisas) atualizadas junto
dos serviços2. Considerámos não ser pertinente contactar nove indivíduos por terem, à
data da recolha, menos de dezoito anos de idade. Três indivíduos haviam falecido na
data da compilação da informação. Portanto, foram enviadas, pela instituição,
trezentas e quarenta e sete cartas. Algum tempo depois, seis indivíduos contactaram
os serviços centrais da CPL no sentido de informarem que estavam indisponíveis para
colaborarem no estudo.
Numa segunda fase, tal como ficou acordado com a CPL, o investigador
enviou uma outra carta, a trezentos e quarenta e um indivíduos, na qual aclarava mais
detalhadamente os desígnios da pesquisa e informava os indivíduos de que iriam ser
contactados telefonicamente no âmbito do processo de follow-up que constituía uma
parte preponderante neste trabalho, solicitando aos mesmos que recorressem a um
endereço de correio eletrónico, criado propositadamente para o efeito, no sentido de
colocarem quaisquer questões pertinentes e atualizarem os contactos telefónicos.
Fomos contactados, através do referido endereço de e-mail, por sete
indivíduos (ou seus familiares). Foram devolvidas ao investigador trinta e duas cartas
devido a terem moradas incorretas porque, por exemplo, os indivíduos já haviam

2
O facto de não ter sido possível contactar muitos destes indivíduos deve-se, essencialmente à
dificuldade de localização uma vez que, em muitos casos, já haviam decorrido, em média, 3 a 8 anos
desde que tiveram baixa definitiva/processo de saída.
132
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

mudado de residência, contudo, alguns dispunham de números de telefone. Desta


forma, quando iniciámos os follow-up telefónicos, dispúnhamos de trezentos e nove
casos com nomes, moradas conhecidas e/ou números de telefone, mas não
conseguimos conversar com cento e setenta e dois indivíduos, pois os números não
correspondiam aos mesmos nem a familiares, ou pertenciam a familiares que não
tinham à data contacto com os indivíduos ou, ainda, porque não nos quiseram
disponibilizar os contactos dos sujeitos, por desconfiança ou por considerarem que o
passado institucional é uma coisa “a esquecer”, pelo que dialogámos com cento e
trinta e sete pessoas (follow-up’s validados).
Continuamente, esta base de dados foi enriquecida com contactos de follow-
up na medida em que se comunicou, telefonicamente, com uma parte da população
em estudo (n=137), composta pelos jovens referenciados (62.8% masculinos; 37.2%
femininos), cujos processos haviam sido analisados, no sentido de se aprofundar o
conhecimento e ser esta a forma de seleção da amostra que serviu o estudo
qualitativamente.
Os follow-up’s conseguidos foram de carácter direto (61.3%), sempre que
conseguíamos falar com os indivíduos, e indireto (38.7%) quando foram familiares
diretos a darem-nos informações, por terem assumido que haviam acompanhado as
trajetórias de vida dos jovens e se disponibilizaram para tal.
Numa fase posterior, foi selecionada a amostra (n=50), a partir dos contactos
telefónicos estabelecidos (n=137), e o enfoque passou a ser o qualitativo, pois foram
entrevistados presencialmente, e profundamente cinquenta indivíduos (n=50), (64%
masculinos; 36% femininos), o que permitiu efetuar uma análise interpretativa dos
resultados ao cruzá-los com os dados recolhidos quantitativamente.
As entrevistas aconteceram nos locais e a horas acordados com cada um dos
entrevistados, foram gravadas para posterior transcrição e análise de conteúdo com o
programa Maxqda versão 10.
Todos os inquiridos presencialmente assinaram um documento designado
“consentimento informado”, em que estes e o investigador se comprometiam a honrar
requisitos essenciais como o anonimato e a veracidade das trajetórias de vida.
Tratou-se de uma pesquisa não-experimental (Sampieri et al. 2006). A
investigação baseou-se num modelo longitudinal.
133
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Desta forma, surgiram-nos a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental


que concorreram paralelamente com a pesquisa empírica.
Foi aplicada a técnica da Janela de Johari (Carmo e Ferreira 1998), como
forma de aceder às quatro áreas (livre, secreta, cega e inconsciente) de conhecimento
dos indivíduos durante as entrevistas de caracter qualitativo.
Antes de se iniciar em profundidade o estudo em questão levámos a cabo
entrevistas exploratórias informais que nos coadjuvaram, em conjunto com a revisão
da literatura, na construção de instrumentos fundamentais na recolha de dados.
A escolha dos elementos participantes nas entrevistas exploratórias tiveram
por base de triagem uma amostragem (não probabilística) por conveniência (Carmo e
Ferreira 1998) a informantes privilegiados. Estas entrevistas possibilitaram um
conhecimento substancial da forma como se organizam interna e externamente as
residências de acolhimento e sobre as características marcantes da população
analisada. Estas entrevistas foram abrangentes, pouco estruturadas e profundas
(Carmo e Ferreira 1998), com respostas abertas, de forma a fornecerem pistas para a
construção da base de dados (análise quantitativa) e do guião de entrevista a aplicar à
amostra.
Uma vez que se tratou de um estudo sobre uma população-alvo que
apresenta especificidades de vária ordem, houve que ter em atenção aspetos
deontológicos (Carmo e Ferreira 1998) de forma a, por um lado, não ferir
suscetibilidades e, por outro lado, não pôr em causa a transmissão do conhecimento
adquirido.
Na aplicação de inquéritos por entrevista, são utilizadas questões objetivas,
na sua integridade questões abertas. Há um esforço para que o questionário seja
abrangente e profundo, contendo questões específicas, ao mesmo tempo que se tenta
fazer uso de uma linguagem próxima da que é praticada pela amostra constituída por
jovens adultos.
No que concerne ao enfoque quantitativo, nesta pesquisa socorremo-nos de
um sistema de amostragem total, em que todos os elementos do universo foram
envolvidos, na medida em que se procedeu à análise da generalidade dos processos
educativos e psicossociais dos jovens que saíram do acolhimento institucional de 2002
a 2011; são os vários aspetos recolhidos que constituem a base de dados. Assim, a
134
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

população é representativa da realidade que se desejou retratar, o que também se


passou ao nível dos contactos telefónicos.
Relativamente ao modelo qualitativo que empregamos, para apreender quais
têm sido as trajetórias empreendidas pela população em estudo optou-se por recorrer
ao processo de amostragem não probabilística de casos típicos, como nos dizem
Sampieri et al. 2006.
A amostragem não probabilística de casos típicos foi concretizada
selecionando um número representativo de indivíduos cujos processos institucionais
foram analisados e se disponibilizaram a participar na pesquisa, o que tornou possível
ter uma representação contrabalançada das perceções relativas à sua integração
social, ao mesmo tempo que se evitou a saturação da amostra.
As entrevistas à amostra, foram dirigidas tendo por base um guião
previamente construído para o efeito e cujas questões tiveram por base informações
diversas, teóricas (através da revisão da literatura) e empíricas (através das entrevistas
exploratórias), para que fosse possível aprofundar alguns aspetos. As questões
colocadas nestas entrevistas foram abertas, presenciais e tão específicas quanto
possível no sentido de se proceder a um “mergulho profundo” na realidade da
amostra.
As questões colocadas à amostra estão listadas de acordo com o quadro de
referência que a mesma tem da sua relação com: a família, a comunidade, a escola; o
emprego; a residência de acolhimento e acolhimento; os educadores; o projeto de
desenvolvimento pessoal; os pares; os aspetos “livres” focados pelos entrevistados
sobre as suas vivências e experiências (Foddy 1996).
Concretizadas as entrevistas, procedemos à sistematização dos resultados e à
correspondente análise de conteúdo para tirarmos as devidas ilações, a serem
apresentadas substancialmente na parte empírica deste trabalho. Portanto, foram
seguidos os seguintes passos: estabelecimento de categorias; codificação; tabulação;
análise estatística dos dados; avaliação das generalizações obtidas com os dados;
inferência de relações causais; interpretação dos dados e comunicação das conclusões.
Seguidamente, procedeu-se à análise de conteúdo que se impôs em relação
às referidas entrevistas. Esta é de cariz qualitativo e indireto (Carmo e ferreira 1998),
visando dar a noção da importância do tema.
135
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

As categorias de análise utilizadas são claras e adequadas ao problema em


questão com o intuito do estudo ser produtivo. Posteriormente foram criadas
unidades de registo, de contexto e de numeração para analisar a entrevista. As
unidades de registo foram psicológicas, semânticas e linguísticas. Quanto às unidades
de contexto, estas serviram para dar sentido às unidades de registo.

1.2 Trajetórias de vida e integração social de jovens pós-institucionalizados

Realizámos um percurso analítico, através das quatro hipóteses de


investigação que elencámos, no sentido de expormos e corelacionarmos as perceções
dos indivíduos, enquanto confirmamos, ou não, os pressupostos que conduziram a
pesquisa.
Relativamente à primeira hipótese, apurámos que a generalidade dos
indivíduos da amostra se encontra socialmente integrada e alguns revelaram atitudes
empreendedoras, pelo que a hipótese não se confirma, uma vez que as problemáticas
vivenciadas em meio natural de vida, em fase de pré-acolhimento, não impediram, na
maioria, a integração social em fase pós-institucional, exceto, parcialmente, no caso
particular dos maus-tratos, dado que alguns indivíduos que os sofreram
ulterioriormente à sua institucionalização não vieram a ser bem-sucedidos
encontrando-se entre os casos de desintegração social.
No que diz respeito à segunda hipótese, concluímos que o acolhimento, pela
sua forma e filosofia de funcionamento, viabilizou a integração social dos indivíduos,
uma vez que promoveu capital humano individual e social de melhor qualidade. O
apoio prestado na reta final do acolhimento constituiu-se como uma mais valia na
sustentabilidade de uma trajetória que se inicia com a saída da instituição.
Consideramos que existe um efeito relacional entre a (des)preparação e a
(in)oportunidade da saída relativamente ao (in)sucesso da integração social. A
precipitação das saídas podem ser prejudiciais para a integração social por (in)existir
estruturação.
No âmbito da hipótese III, aclarámos que em situação de acolhimento
institucional, é muito importante para as c/j saberem que podem contar com adultos
de referência comprometidos (mentoring), com os quais estabeleçam relações
136
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

consistentes de apoio, que acreditem neles e os incentivem a recuperar de situações


de desvantagem social, potenciando a resiliência, a quem saibam que podem recorrer,
embora seja difícil, nestas circunstâncias, estabelecerem relações personalizadas e
obterem segurança emocional. Concludentemente, tendo em conta esta hipótese de
estudo, consideramos poder afirmar que as relações de mentoring podem ser
facilitadoras do processo de integração social embora outros fatores possam coocorrer
simultaneamente e levar a trajetórias de desintegração.
Por último, tendo em conta a hipótese IV, verificamos que a manutenção das
relações familiares durante o período de acolhimento, desde que não interditada por
ordem judicial, é um fator importante para o bem estar e equilíbrio das c/j e facilitam a
integração social posterior à institucionalização. As famílias devem ser apoiadas no
desenvolvimento de competências comportamentais antes das c/j regressarem ao seu
convívio a tempo inteiro. Com frequência se apreende que existe pouco envolvimento
das famílias durante o período de institucionalização, sendo que cabe aos prestadores
de cuidados um maior investimento nesta área. Os jovens obtêm melhores resultados
e manifestam-se mais satisfeitos com o sistema de acolhimento quando, durante o
mesmo, existiu uma relação de proximidade com as famílias de origem.
O acompanhamento das c/j na transição para fora dos cuidados é essencial
para o sucesso da sua integração social. A interdependência afigura-se, nesta fase,
mais importante do que a autossuficiência, ressaltando, no caso específico da CPL, o
papel importante que desempenham as equipas técnicas AIF e RAIA.
No que concerne às expetativas que os indivíduos tinham quanto à sua
desinstitucionalização, é-nos dado verificar que o mais pragmáticos tiveram uma
melhor integração social.
No âmbito da experiência de desinstitucionalização a curto/médio prazo,
considerando-se as dificuldades com que os indivíduos se depararam e as resoluções
que encontraram, verifica-se uma incidência maior de dificuldades a curto prazo (1.º
ano pós acolhimento) e, posteriormente, uma adaptação, sendo frequentes as
transições profissionais e habitacionais.
No que confere às relações sociofamiliares e transições habitacionais, os
indivíduos referiram que sofreram alterações comportamentais durante o tempo em
que estiveram em acolhimento, o que os preparou melhor para a transição. Porém, as
137
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

famílias não haviam mudado ou haviam mudado pouco durante esse mesmo período.
Em muitos casos passaram a viver com a família quando deixaram o acolhimento mas,
algum tempo depois, fizeram outra opção habitacional.
O posicionamento dos indivíduos face à escolaridade e à formação
profissional contraria as tendências veiculadas pela literatura internacional, na medida
em que bastantes indivíduos continuaram a estudar após deixarem o acolhimento e
outros ainda pretendem voltar a fazê-lo, o que é um indicador de integração social,
pois quanto menos habilitações escolares tiverem, maiores dificuldades terão em se
integrarem, nomeadamente a nível socioprofissional. A formação profissional revela-se
importante na integração socioprofissional dos indivíduos porque lhes permite aceder
com maior facilidade ao mercado de trabalho.
Sobre a situação ocupacional e tempos de lazer, parece-nos, de forma
conclusiva, que não é possível fundar uma relação condicionadora entre as primeiras
experiências profissionais e a integração social. Constatámos que bastantes indivíduos
não têm atividades de lazer às quais sejam fiéis, mas que a existência destas, quando
são uma realidade, estão em ligação, tendencial, com os casos de integração social e,
eventualmente, de empreendedorismo, embora alguns indivíduos, estejam em
situação de desintegração social.
Alguns indivíduos, para além de se encontrarem socialmente integrados,
distinguiam-se no grande grupo da amostra (n=50), por serem particularmente
empreendedores, na medida em que têm vindo a demonstrar um percurso
escolar/profissional ascendente, muitas vezes a dispêndio de cumulação ocupacional.
Encontramo-nos em presença de integração social de indivíduos, com uma
trajetória de vida que passou pelo sistema de acolhimento de c/j, sempre que estes,
desde cedo, foram investidos e investiram, nomeadamente no campo escolar
(relevante enquanto fator de proteção), mas também ao nível da saúde, da
comunidade, e da família, pelos cuidadores e, também, quando os indivíduos
demonstram disponibilidade interior para serem cuidados e ajudados, sendo isso que
os faz objetivar a vida e não se tornarem apáticos perante as suas circunstâncias
reconhecidamente árduas.

138
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Notas finais

Na génese do acolhimento das c/j, em tempo pré-institucional, encontram-se


famílias que não tiveram circunstâncias pessoais e sociais para cuidar da infância, a
qual é socialmente considerada vulnerável e digna de especial atenção protetora.
Nesta senda, coocorrem frequentemente situações de maus-tratos, que vitimizam as
c/j, e carência socioeconómica que, isoladamente ou em conjunto, criam as condições
necessárias para se poder considerar que existem situações de risco/perigo, pelo que é
necessário proporcionar bem-estar aos mais desprotegidos através de uma
intervenção social que seja integrada e sustentável. É neste enquadramento que se
configura o acolhimento institucional de c/j, nomeadamente em LIJ, o qual visa
oferecer conjunturas de educação e de desenvolvimento integrado numa lógica
sistémica em que os indivíduos são considerados nas suas múltiplas facetas.
Ao nível da proteção às c/j em situação de perigo, que é devida pela agência
social do Estado e da sociedade civil, cumpre-nos abordar a temática
longitudinalmente (pré-institucionalização; institucionalização; pós-
institucionalização), porque essa é a trajetória de vida dos indivíduos que, em idade
infanto-juvenil, apresentaram vulnerabilidades e desproteção em relação àqueles que
deveriam assegurar o seu bem-estar e desenvolvimento e que, posteriormente à
desinstitucionalização, se vão encontrar socialmente integrados ou desintegrados.
A CPL, enquanto instituição relevante na área da formação e da proteção
infanto-juvenil em Portugal atravessou dois centenários e adapta-se, num movimento
ininterrupto, às necessidades sociais que apelam a uma melhor intervenção social a
este nível porque se as necessidades já não são as mesmas é, por isso, necessário
adequar as respostas aos problemas sociais contemporâneos. Neste sentido, a CPL tem
vindo a reestruturar-se desde 2003, optando por um modelo de acolhimento em que
as c/j se sintam integradas, dando enfâse ao relacionamento interpessoal, na
perspetiva da construção positiva da personalidade e da inclusão.
Atualmente, as respostas sociais desta natureza são, tendencialmente, de
menor dimensão e a visão da prestação de cuidados de proximidade ocorre ao abrigo
de ambientes familiares facilitadores de relações harmoniosas. Em Portugal, a lei
147/99 emoldura a proteção devida às c/j e, mais recentemente, o Manual dos
139
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Processos-Chave dos LIJ enuncia as linhas operacionais em unidades desta índole,


uniformizando procedimentos que se pretende que sejam a garantia de atenção
permanente às necessidades individuais e grupais.
Como nos elucida Gomes (2010), é necessário fazer corresponder as
necessidades das c/j do presente com respostas sociais que se matrimoniem no
sentido de responder às suas carências, “importa também criar uma rede de respostas
de acolhimento residencial, que se redefinam num sistema especializado onde a par de
um acolhimento regular surjam respostas de cariz terapêutico, capazes de dar uma
resposta eficaz e de qualidade às variadas necessidades que as crianças e jovens
necessitados de acolhimento residencial apresentam” (pp. 357-358).
Os abusos infantis e a concomitante ausência de outras respostas que se
considerem constituir alternativas mais sustentáveis para as c/j, determinam a opção
pelo acolhimento institucional, nomeadamente em LIJ, numa tentativa de as proteger
e promover o seu desenvolvimento harmonioso e bem-estar.
A estabilidade nas colocações é relevante para os progressos educacionais das
c/j uma vez que as ruturas e a constante mudança de cuidadores é conducente a
problemas comportamentais e, por vezes, escolares das c/j que se sentem afastadas
do grupo e dos cuidadores com que haviam estabelecido vinculação.
A conservação das relações familiares, sempre que tal seja possível, com as
famílias de origem, o treino de competências individuais e sociais, nomeadamente a
criação e a manutenção de uma relação estreita com a comunidade envolvente
(transferência de empowerment), o acompanhamento à saúde e ao estudo, as relações
privilegiadas com cuidadores de referência (mentoring), que se encontrem
comprometidos com a agência de desenvolvimento individual, são, em conjunto,
aspetos que se constituem como relevantes para o sucesso do acolhimento e ajudam
na estruturação dos sujeitos.
Conclui-se que o processo de preparação da saída do acolhimento deve ser
organizado imediatamente após o ingresso institucional e a institucionalização deve
durar somente o tempo considerado necessário, de acordo com cada caso individual,
para a estruturação do indivíduo e do seu agregado familiar, daí a importância do
envolvimento das famílias ao longo do processo garantindo-lhes um contacto direto
com as c/j ao mesmo tempo que se repensam e reorganizam para os receber. Neste
140
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

processo as famílias dependem, essencialmente, de ajuda técnica que lhes permita


uma reaproximação positiva e consistente.
Por outro lado, estão os indivíduos que, por algum motivo, não têm
possibilidade de se reintegrarem ao nível familiar. Para estes, a fase em que deixam o
acolhimento e um estilo de vida em que são notoriamente dependentes, pode
representar uma época de grande exposição ao risco, embora maioritariamente se
trate de jovens adultos. Usualmente a desinstitucionalização acontece, em muitos
casos, de forma contemporânea com a transição para a vida adulta. Assim, concluímos
que a saída da instituição não deve ser balizada a nível etário pois, muitas vezes, as
saídas aos dezoito anos revelam-se precoces e ocorrem numa altura em que os
indivíduos não se encontram suficientemente preparados emocionalmente e
economicamente para prosseguir por uma vida autónoma, sendo que socialmente lhes
é exigido que se tornem rapidamente independentes e autossuficientes.
Observamos que as ligações destes jovens adultos com cuidadores
comprometidos com o seu bem-estar, que sejam disponíveis e participantes, no seu
processo de integração social constituem uma mais-valia para a sustentabilidade da
autonomização desde que a base seja a da interdependência. É de salientar que os
indivíduos que são detentores de percursos escolares de sucesso em acolhimento se
encontram melhor preparados para a integração posterior.
A habitação, a par com a garantia de cuidados de saúde, são aspetos
relevantes para o êxito da integração social em fase de pós-acolhimento pois
permitem estabilidade e inclusão social em situações em que são inexistentes meios
familiares de suporte. Nesta senda, consideramos igualmente importante que os
jovens não se vejam obrigados a deixar de estudar em idades precoces e em fase de
pós-institucionalização, por terem que se autossustentar, pelo que nos parece, e
também de acordo com a literatura abordada sobre esta temática, que deverão estar
previstos apoios económicos e habitacionais que permitam dar continuidade aos
percursos escolares individuais em casos considerados congruentes.
Optámos por construir uma tipologia de integração social no sentido de
agrupar os indivíduos da amostra e demonstrar os resultados da investigação de uma
forma mais fidedigna e congruente com as hipóteses iniciais.

141
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

O relevo é atribuído à situação ocupacional dos indivíduos, sendo que da


amostra (n=50), bastantes indivíduos (trinta e um) encontravam-se a trabalhar ou a
estudar à data dos contactos presenciais, embora outros aspetos também fossem
considerados, tais como a situação habitacional, a situação familiar ou a ocupação dos
tempos livres.
De referir que, alguns entrevistados são indivíduos com atividades
ocupacionais ascendentes e empreendedoras e perspetivam-se a médio e longo prazo
em várias dimensões vivenciais, tendo objetivos que gostariam de vir a alcançar, sendo
que identificámos indivíduos (seis) que, para além de se encontrarem bem integrados
socialmente, apresentam características de forte empreendedorismo e de manifesta
resiliência. Estes indivíduos trabalham e estudam em simultâneo, lutando contra as
adversidades quotidianas dado que têm objetivos bem delineados para o seu futuro,
nomeadamente profissional. São, portanto, trinta e sete os casos de integração social.
Por outro lado, apresentam-se os indivíduos (treze) que considerámos, de
acordo com os critérios esboçados anteriormente, desintegrados socialmente. Esta
categorização justifica-se, essencialmente, porque se trata de indivíduos que não
estudam nem trabalham (sete) ou que trabalham de uma forma muito pouco
consistente do ponto de vista contratual (seis), isto é, desempenham esporadicamente
funções não especializadas, precárias, pontuais e com baixa remuneração.
Tendo em conta as premissas iniciais que guiaram esta investigação, é de
referir que, genericamente, não encontrámos uma relação causa-efeito entre as
problemáticas que levaram ao acolhimento e a integração social posterior, exceto,
parcialmente, no caso específico dos maus-tratos, uma vez que alguns indivíduos que
os sofreram demonstraram desintegração social. Foi manifestamente relevante o
papel do acolhimento e das regras institucionais na formação individual e no processo
de reintegração social subsequente.
Em bastantes casos a manutenção das relações familiares durante o
acolhimento permitiram minorar os efeitos da reaproximação em fase posterior,
nomeadamente ao nível da coabitação e da garantia de suporte familiar integrador.
Mais do que as relações de mentoring individualizadas, foram as relações positivas
recriadas com o “corpo” (equipa) de cuidadores que permitiram a adesão dos

142
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

indivíduos a referências paradigmáticas adultas, as quais ajudaram a sustentar a


transição para a vida adulta e a integração em fase de pós-institucionalização.
Foi a carência socioeconómica, muitas vezes agregada com maus-tratos e
negligência, que conduziu os indivíduos ao acolhimento institucional, provindos do
meio familiar nuclear, alargado ou compósito. Os indivíduos opinaram no sentido de
que o seu acolhimento foi uma decisão que influenciou positivamente as suas
trajetórias de vida, embora a entrada em acolhimento, nalguns casos, tivesse sido
difícil, devido à habituação a regras que não conheciam. Tendencialmente, a
integração social destes indivíduos foi considerada, pelos mesmos, um processo
positivo tendo demonstrado apreço pelo desenrolar dos acontecimentos a este nível.
Seguimos, ao logo do processo investigativo, quatro hipóteses de permitiram
aferir a fiabilidade do estudo e chegar a resultados consistentes. Assim, a primeira
hipótese: quanto mais precárias foram as condições vivenciadas em meio natural de
vida, conducentes ao acolhimento, maiores foram as dificuldades de integração social
subsequente, não se confirma na maioria dos casos, uma vez que, apesar dos motivos
que conduziram as c/j a acolhimento, estas conseguiram integrar-se socialmente
encontrando-se no presente a estudar, a trabalhar ou a acumular as duas atividades.
De salientar que no caso específico dos indivíduos que foram alvos de maus-tratos, a
hipótese é, parcialmente, confirmada porque muitos apresentam desintegração social
na atualidade. Logo, concluímos que as problemáticas vivenciadas anteriormente ao
acolhimento (ausência ou instabilidade do suporte familiar; maus-tratos; carência
socioeconómica; doença e comportamentos aditivos dos cuidadores), ou a
coocorrência de duas das categorias anteriormente expostas, podem ter, em muitos
casos, um peso manifesto nas atitudes e comportamentos das c/j, nomeadamente no
decorrer do acolhimento, mas não determinam, por si, o sucesso da integração social
posterior, com a ressalva do caso especial da ocorrência de maus-tratos, a que
aludimos anteriormente.
No que concerne à segunda hipótese: não obstante as experiências em meio
natural de vida que precederam o acolhimento, este viabilizou a integração social
sequente, confirma-se o papel do acolhimento na integração social dos indivíduos
dado que por lá adquiriram regras e valores que os fortaleceram e tornaram
estruturados para fazerem face às adversidades em momentos posteriores quando
143
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

deixaram a instituição. Neste aspeto temos como indicador a perceção dos indivíduos
relativamente às regras institucionais a que foram sujeitos em acolhimento e a ações
específicas concretizadas pelos cuidadores e que tiveram um significado importante
para os indivíduos na preparação do seu futuro. Em ambos os casos, um número
esmagador de indivíduos veiculou que as regras foram importantes na sua formação e
na construção da sua personalidade e deram exemplos de ações desenvolvidas por
parte dos técnicos/pessoal afeto à instituição que consideraram ter sido importantes
para a preparação do seu futuro.
Muitos consideraram que o modo de organização do LIJ se assemelhava a
uma família padrão embora com nuances diferentes, tal como o elevado número de
indivíduos em coabitação. Estas constatações permitem-nos afirmar que os indivíduos
se sentiam estáveis e seguros no ambiente do LIJ.
Relativamente à terceira hipótese: as ligações significantes (re)criadas com os
prestadores de cuidados (mentoring), em contexto de acolhimento, influem
ulteriormente na integração social. Tal como afirmámos relativamente à segunda
hipótese, concluímos, através da análise da quarta hipótese, que a generalidade dos
entrevistados obteve integração social pelo investimento global que foi concretizado
em período de acolhimento, mais do que por razões privilegiadas que tivessem
(re)criado com um cuidador específico e que se tenham afigurado como “ganchos
afetivos” promotores de resiliência. Isto porque os entrevistados atribuíram maior
relevância ao tempo que permaneceram com determinados cuidadores, sendo, em
muitos casos, duas ou três pessoas, e não apenas uma a funcionar como referência,
pelo que não se centram apenas numa figura.
Nesta perspetiva integram-se como referências os cuidadores que receberam
as c/j no LIJ e permaneceram estáveis nas respostas sociais, o que contribuiu para a
apropriação de sentimentos de segurança e de bem-estar por parte dos indivíduos
enquanto permaneceram em acolhimento, facilitando, naturalmente a transição para
fora dos cuidados institucionais e para a vida adulta.
Talvez mais do que a influência dos cuidadores em si, foi a assimilação das
regras de organização pessoal e de convivialidade que permitiram aos indivíduos vir a
integrar-se posteriormente. Sem prejuízo de alguns (poucos) indivíduos terem referido
que possuíam uma relação particularmente boa com um cuidador em especial,
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

consideramos que a integração social, em fase de pós acolhimento, se deve a uma


apropriação de princípios, valores e regras transmitido pelo corpo educativo mais do
que por indivíduos com funções educativas de referência, hipoteticamente, ou
“desejavelmente”, com uma maior proximidade de determinadas c/j em particular.
Vários inquiridos podem ser considerados particularmente resilientes e
empreendedores, uma vez que tendo um passado marcado por acentuadas
desvantagens sociais antes de serem acolhidos, à semelhança dos restantes sujeitos
entrevistados, e apesar das dificuldades experienciadas no percurso institucional,
encontram-se a investir em si próprios, conjugando trabalho e formação académica,
como forma de colmatarem as dificuldades a que estavam votados.
Estes indivíduos são trabalhadores estudantes e encontram-se determinados
em construir o seu próprio sucesso destronando as adversidades numa fuga para um
futuro melhor. Por fim temos a quarta e última hipótese: as relações significativas
(familiares e/ou outras), mantidas no exterior da instituição, durante o acolhimento,
favorecem a integração social posterior, a mesma confirma-se uma vez que, durante o
tempo em que esteve institucionalizado, um largo número de indivíduos manteve
contactos com as suas famílias de origem (nuclear; alargada; compósita)
periodicamente em alturas previamente determinadas, tais como fins de semana
(semanal ou quinzenalmente) e férias escolares.
Genericamente, também podiam ser visitados pelos familiares no LIJ, embora
isso não acontecesse com um número significativo de entrevistados. O assunto
“família” era abordado pelos cuidadores com os indivíduos, muito no sentido da
manutenção e do estreitamento das relações familiares, embora uma margem residual
de inquiridos tenha referido exatamente o contrário, ou seja, era encorajado a não
seguir os comportamentos de familiares que se encontravam em situação de desvio.
Na saída do acolhimento (LIJ/RAIA), muitos foram viver com as famílias de
onde eram provenientes mas nem todos por opção pessoal, sendo, antes, por falta de
alternativa residencial, tendo feito, posteriormente, outras transições habitacionais
que se prenderam com escolhas individuais.
Entendemos que o facto dos jovens adultos não regressarem às famílias de
onde originavam antes de serem acolhidos, ou de concretizarem transições
habitacionais em fase posterior, não significa, por si só, desintegração social desde que
145
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

outros aspetos se verifiquem tais como a integração em atividades ocupacionais


(escola; emprego) e a existência de uma habitação com carácter fixo.
Nesta linha de investigação, concluímos cinco aspetos que consideramos
relevantes:
a) Embora “pesadas”, as problemáticas vivenciadas em meio natural de
vida, antes do acolhimento institucional, não impediram a integração social posterior
da maioria porque os indivíduos demonstraram resiliência. Porém, refira-se o caso
específico dos indivíduos que sofreram maus-tratos na medida em que apresentam
uma maior propensão para a desintegração social pós-institucionalização;
b) Apesar das experiências negativas pelas quais os indivíduos passaram
em antes de serem acolhidos, o acolhimento teve um papel preponderante na
estruturação pessoal e social dos indivíduos, pelo que contribuiu para a sua integração
social, porque adquiriram regras, instrução, valores e autodeterminação;
c) A manutenção dos laços familiares durante o período de acolhimento
possibilitou a integração social na fase de pós-institucionalização porque, em muitos
casos, a família foi um suporte necessário e, mais ou menos presente, no
enquadramento dos indivíduos nesta fase de vulnerabilidade;
d) Não se verificou a existência de relações de mentoring que, por si,
fossem promotoras de processos positivos de integração social dado que não foram
relatadas experiências de relações de referência de um para um. Por outro lado,
verificou-se que a continuidade e a qualidade das relações que os indivíduos
estabeleceram com as equipas educativas, enquanto grupo de adultos cuidadores, são
importantes, a par com a estabilidade no acolhimento, para o processo de integração
social, dado que permitem segurança e bem-estar na maior parte dos casos; são, por
isso, formativas e integradoras.
e) A integração social é visível relativamente a grande parte da amostra,
dado que os indivíduos se encontram a trabalhar, a estudar ou a acumular as duas
atividades. Podem encontrar-se a viver com a família de origem, alargada, reconstruída,
construída ou compósita ou com amigos, mas não se verificam casos de desabrigo nem
de indigência. Entre os indivíduos que não preenchem os indicadores de integração
escolar, essencialmente a nível ocupacional, também não se verificam situações
degradantes mas, antes, concluímos que nestes casos se deveria ter prestado apoio
146
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

institucional mais dilatado no tempo, no sentido da existência de um “porto de abrigo”


a que os jovens soubessem que podiam recorrer em caso de necessidade. Verifica-se
que os apoios prestados são demasiados estanques no tempo e não permitem um
movimento de interdependência que, por si, possa ser securizante e permitir algum
amparo biopsicossocial.
A institucionalização de c/j em risco/perigo ocorre no âmbito das políticas
sociais de proteção à infância e juventude, deliberadas pelo Estado português e, como
tal, tratam-se de políticas públicas.
Concluímos, sublinhando uma afirmação de Torres e Marques Lito (2008): “
(…), o contexto social marca a trajetória individual. Quantos mais recursos económicos,
sociais e culturais possuir o indivíduo, maiores serão as suas possibilidades de
recuperação (…) ” (p. 43), na medida em que os que singram não são,
necessariamente, os mais fortes, mas os que demonstram ter maior capacidade de
adaptação às suas circunstâncias adversas de vida e conseguem tornear as
dificuldades. É essa, também, a função da política social: criar as condições de sucesso
para os que têm, inicialmente, desvantagens sociais, proporcionando-lhes os
instrumentos para inverterem o rumo das suas trajetórias de vida e promover a
integração social.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

PAPEL DEL DEPORTE EN UN GOLPE DE ESTADO “SUAVE”, EN LA


GLOBALIZACIÒN.: MUNDIAL Y JO EN BRASIL 2016. ¿OTRO DEPORTE ES
POSIBLE?

Eloy Altuve Mejìa

El Partido de los Trabajadores (PT) llegó al poder electoral en 2003 con Lula Da Silva
y se mantuvo hasta la destitución por el Congreso de la Presidenta Dilma Rousseff1 en
agosto 2016, con el denominado golpe “suave o blando” 2. Por ser vital para el futuro
de América Latina “Entender qué ha pasado en Brasil” (Gentili, 2016: 14),
inmediatamente resumimos la respuesta de autores participantes en el libro Golpe en
Brasil: Genealogía de una farsa, elaborado en pleno desarrollo del proceso de
destitución y editado por el Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO):

Perry Anderson (21-04-2016): Dilma ganó la presidencia en 2010 con una mayoría
aplastante y durante la primera mitad disfrutó de una aprobación de 75%. En 2014 fue
reelecta con ventaja de 3%. En enero 2015 comenzó su segunda presidencia y
“En 3 meses, grandes manifestaciones llenaron las calles de las principales ciudades…, con cerca de por
lo menos dos millones de personas que exigían su salida. En el Congreso, el PSDB…y sus aliados...se
movieron para conseguir su impeachment. El 1º de Mayo no consiguió ni siquiera dar su
discurso…transmitido por la televisión…cuando su discurso, en el Día Internacional de la Mujer, fue
transmitido, la gente comenzó a batir sus cacerolas y a tocar los cláxones” (Gentili, 2006: 36).


Universidad del Zulia. Maracaibo-Venezuela
1
En 2016 los diputados la acusan de corrupción y promueven su juicio político suspendiéndola por 180
días, luego el Senado la destituyó por “supuestos crímenes de responsabilidad” y eventos que tuvieron
lugar en gobiernos anteriores. Previamente, el exagente de la CIA Edward Snowden, denunció que la
Agencia de Seguridad Nacional de EEUU espiaba las comunicaciones de Dilma (Últimas Noticias, 18-09-
16: 13).
2
El antecedente es Paraguay 2012, donde el Senado realizó un juicio político “express” al Presidente
Fernando Lugo, destituyéndolo al responsabilizarlo de los enfrentamientos entre campesinos y policías
ocurridos en Curuguaty con saldo de 17 muertos. En 2009, EEUU estuvo detrás del golpe “semisuave” en
Honduras, a su base militar (lo confesó después) de Palmarola los militares trasladaron al Presidente
Manuel Zelaya que habían depuesto, secuestrado y lo expulsan del país; posteriormente, el Congreso lo
acusó de “violar la Constitución” y levanta un juicio que concluye en su destitución (Últimas Noticias, 18-
09-16: 13).

151
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

¿Cómo pudo pasar esto? Aunque ocultas, las raíces de esa debacle están en la base del
propio modelo de crecimiento del Partido de los Trabajadores (PT), cuyo éxito
dependía de
“aumento en los precios de las materias primas y un boom del consumo doméstico. Entre 2005 y 2011,
las ganancias comerciales…aumentaron más de un tercio, pues la demanda de…China y de otras partes
del mundo aumentó el valor de las principales exportaciones, así como el volumen de retorno fiscal para
gastos sociales. A finales del segundo mandato de Lula,…la exportación de bienes primarios subió de
28% a 41%, mientras que la de bienes manufacturados cayó de 55% a 44%; a finales del primer mandato
de Dilma, las materias primas eran responsables de más de la mitad del valor de las exportaciones. Pero
de 2011 en adelante, los precios de las principales mercancías comercializadas entraron en colapso: la
mena de hierro cayó de 180 a 55 US$ la tonelada, la soja…de 40 a 18 US$, el petróleo crudo cayó de 140
a 50 US$ el barril.
Y…el consumo doméstico también entró en declive... La principal estrategia del PT fue expandir la
demanda interna al aumentar el poder de compra de las clases populares. Y eso fue posible no sólo con
el aumento del salario mínimo y con transferencias de renta para los pobres -o Bolsa Familia- sino
también con una masiva inyección de crédito a los consumidores. Durante la década de 2005 a 2015, el
total de débitos controlados por el sector privado aumentó de 43% al 93% del PIB, con préstamos a los
consumidores…Cuando Dilma fue reelegida en 2014, los pagos de intereses en el crédito mobiliario
estaban absorbiendo más de 1/5 de la renta media disponible de los brasileños. Junto con el
agotamiento del boom de las materias primas, la época del consumismo tampoco era viable” (Gentili,
2006: 38).

Dilma aguanta el temporal que se le viene encima desde 2012 cuando la economía
se
“desaceleró, pasando de un crecimiento…de 2,72% en 2011 a…1% en 2012. Además, con una inflación
que ya rebasaba el 6%, en abril 2013, el Banco Central aumentó los intereses de forma abrupta...Dos
meses después, el país afrontó una ola de protestas…cuyo origen estaba en los precios de los billetes de
los autobuses en São Paulo y Río,… rápidamente aumentaron su dimensión haciéndose expresiones
generalizadas de descontento con los servicios públicos y, estimulados por los medios de comunicación,
también de hostilidad contra un Estado incompetente…la aprobación del gobierno cayó a la mitad. En
respuesta, éste…inició…reducciones preventivas en los gastos públicos y permitiendo que los intereses
aumentaran nuevamente. El crecimiento cayó aún más -sería prácticamente cero en 2014- pero el
desempleo y los salarios permanecieron estables” (Gentili, 2006: 36-37).

Y con una campaña desafiante triunfa en 2014. Planteó la necesidad de un poco de


austeridad y designa Ministro de Hacienda a un alto ejecutivo del segundo mayor
banco privado con el mandato de reducir la inflación y restaurar la confianza,
convirtiéndose en
“imperativos recortar los gastos sociales, reducir el crédito de los bancos públicos, subastar propiedades
del Estado y aumentar tasas para llevar el presupuesto…a…superávit primario…el Banco Central
aumentó su tipo de interés a 14,25%. Y ya que la economía se encontraba estancada, el
efecto…fue…una recesión: caída en las inversiones, disminución de los salarios y duplicación del
desempleo. Mientras el PIB se contraía, los ingresos fiscales disminuían, empeorando aún más el cuadro
de déficit y deuda pública…Pero la crisis de la popularidad…no fue resultado sólo del impacto de la
recesión en las condiciones de vida del pueblo. También fue…el precio a pagar por haber abdicado de las
promesas en base a las cuales fue elegida. De forma generalizada, la reacción de sus electores fue que…
ella engañó a los que la apoyaron al cumplir el programa de sus adversarios de campaña. Y eso no
generó sólo desilusión, sino también rabia” (Gentili, 2006: 37-38).

152
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

El objetivo de la nueva matriz económica fue estimular la economía a partir de un


aumento en las inversiones. Pero los medios para hacerlo habían disminuido. Y las
medidas tomadas tuvieron como efecto contribuir a ampliar el frente político y social
contra Dilma:
“Desde 2006, los bancos estatales pasaron a aumentar…su cantidad de préstamos,…la cartera del Banco
de Desarrollo del gobierno llegó a aumentar en 7 veces su valor desde 2007. Al ofertar tipos
preferenciales de intereses para las grandes compañías en un valor mucho más alto del de los subsidios
para las familias pobres, la Bolsa Empresarial pasó a costar al tesoro nacional el doble de lo que costaba
la Bolsa Familia. Favorable al agronegocio y a las constructoras, esa expansión directa de las
financiaciones públicas fue un anatema por el cual la clase media urbana pasó a adherirse a un
movimiento cada vez más violento anti-PT, con los medios de comunicación…haciendo admonición de
los peligros del estatismo…Se esperaba impulsar las inversiones del sector privado con concesiones
tributarias e intereses más bajos, pero eso impactó en la reducción de las inversiones en las
infraestructuras públicas, así como la devaluación del Real ayudó en las exportaciones
manufactureras…Con la esperanza de que eso trajera al sector industrial para su lado, el gobierno se
enfrentó a los bancos al forzarlos a aceptar retroceder al…2% de los intereses a finales de 2012. … Los
dueños de las industrias quedaron felices en coger los frutos de altos rendimientos durante el periodo
de crecimiento elevado del gobierno Lula,…Pero cuando eso terminó durante Dilma…las huelgas
recomenzaron, no tuvieron…compasión por quien los hubo favorecido anteriormente. Y no sólo las
grandes empresas, así como sus compañeras del Norte global, se encontraban cada vez más
en holdings financieros que se veían afectados negativamente debido a las políticas rentistas -y, por esa
razón, no podían dar la espalda totalmente a los bancos y fondos de inversión-, pero el propio grupo
social al que pertenece la mayor parte de los empresarios está formado por una clase media alta que se
había hecho más numerosa y politizada que los antiguos grupos de empresarios, manifestando así
mayor capacidad de comunicación y cohesión ideológica ante la sociedad…La furiosa hostilidad de ese
estrato contra el PT fue, inevitablemente, seguida también por el sector industrial. Tanto los banqueros
del piso de arriba como los profesionales del piso de abajo estaban comprometidos en derribar un
régimen que ahora veían como una amenaza a sus intereses comunes, lo que significó que los
empresarios tenían cada vez menos autonomía” (Gentili, 2006: 38-39).

Contra ese frente, ¿qué tipo de apoyo podría esperar el Partido de los Trabajadores
(PT)?
“Los sindicatos…eran una sombra de su pasado. Los pobres siguieron siendo beneficiarios pasivos del
gobierno que nunca se dispuso a formarlos u organizarlos, cuanto más movilizarlos en torno a una
fuerza colectiva. Los movimientos sociales - Sin tierra y Sin techo- fueron mantenidos apartados del
gobierno. Los intelectuales acabaron siendo marginados…Tampoco existió una verdadera política de
redistribución de la riqueza o de la renta: se mantuvo la…estructura tributaria regresiva legada de
Cardoso para Lula...Con la Bolsa Familia tomando forma de propina para madres de hijos en edad
escolar…Los aumentos en el salario mínimo significaron también un aumento en el número de
trabajadores con cartera firmada, lo que les garantizaría acceso a los derechos formales del empleo;
pero esto no incrementó…la sindicalización. Por encima de todo, con la llegada del crédito consignado -
los préstamos bancarios con intereses altos deducidos directamente de los salarios- el consumo privado
creció sin limitaciones y a costa de los gastos en los servicios públicos, cuyas mejorías habrían sido una
forma más cara de estimular la economía. Se estimuló la compraventa de aparatos electrónicos, bienes
de consumo y vehículos (recibió incentivos fiscales), mientras se desatendieron los cortes de agua,
pavimentación, autobuses eficientes, saneamiento básico aceptable, escuelas decentes y hospitales
públicos. Los bienes colectivos no tenían prioridad ni ideológica ni práctica. Por tanto, junto con la tan
necesaria mejoría en las condiciones de vida doméstica, el consumismo, en su peor forma, se esparció
en las capas populares a través de una jerarquía social en que la clase media se deslumbraba, siguiendo
patrones internacionales… Cuán perjudicial fue eso para el PT puede observarse a través de la cuestión
de la vivienda…En ella, la burbuja del consumo se transformó cada vez más en una dramática burbuja
inmobiliaria, en la que contratistas y empresas de construcción hicieron grandes fortunas, mientras el

153
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

precio de los inmuebles se disparó para la mayoría de las personas que vivían en las grandes ciudades y
cerca de la décima parte de la población no tenía acceso a viviendas en condiciones. De 2005 a 2014, el
crédito para la especulación inmobiliaria y construcción civil aumentó 20 veces; en São Paulo y en Río de
Janeiro los precios por metro cuadrado se cuadriplicaron. Solamente en el 2010, los alquileres en São
Paulo aumentaron 146%. Y en ese mismo periodo, había cerca de 6 millones de pisos desocupados, con
7 millones de familias sin techo. Y en vez de aumentar la oferta de casas populares, el gobierno financió
a las de la construcción privada -con un espléndido beneficio- de urbanizaciones en áreas periféricas,
cobrando alquileres más caros de lo que los más pobres pueden pagar, a la vez que apoyaba a las
autoridades locales en los desalojos de ocupaciones. Ante eso, los movimientos sociales ganaron
aliento…ahora son una de las principales fuerzas de Brasil: esos movimientos no están dentro sino
contra el PT” (Gentili, 2006: 40-41).

En conclusión, sin contar con una suficiente fuerza popular capaz de lidiar con la
“presión de las élites…Dilma cambió el rumbo seguramente para -después de su apretada reelección, al
batirse en retirada económicamente, con una política inicial de apretar los cinturones semejante a la
que Lula hizo en sus primeros años…- poder entonces, reproducir el mismo tipo de viraje. Pero las
condiciones externas impidieron cualquier comparación posible. El baile de las materias primas se acabó
y una recuperación, sea cuando sea, parece no tener sustentación” (Gentili, 2006: 41).

Frei Betto (13-05-16): “Si el PT hubiera valorado…a las dirigencias populares de


izquierda, hoy tendríamos un Congreso progresista… Pero prefirió realizar alianzas no
confiables” (Gentili, 2016: 90). Michael Löwy (17-05-16): “Podemos reprochar muchas
cosas a Dilma: no ha respetado sus promesas electorales y ha realizado numerosas
concesiones a los banqueros, industriales y latifundistas. Desde hace un año, la
izquierda política y social no ha dejado de reclamar un cambio en las políticas
económicas y sociales. Pero la divina oligarquía de derechas…quiere todo el poder
completo” (Gentili, 2016: 96). Immanuel Wallerstein (21-05-2016): El gobierno del PT
fue una mezcla que socorrió a
“los estratos más pobres.., asumió el liderazgo en la creación de estructuras autónomas
latinoamericanas…Por otra parte, las políticas macroeconómicas permanecieron…ortodoxas desde el
punto de vista…neoliberal…Y las…promesas del PT relativas a la prevención de la destrucción ambiental
nunca se implementaron…El PT tampoco llevó a cabo sus promesas de…reforma agraria…El resultado es
que la deserción de grupos dentro del partido y en las más amplias alianzas políticas fue constante”
(Gentili, 2006: 116-117).

Leonardo Boff (23 y 25-05- 2016): El reciente logro de la clase adinerada fue inclinar
la
“orientación de la política de los gobiernos de Lula-Dilma hacia sus intereses…Con el pretexto de
asegurar la gobernabilidad y de evitar el caos sistémico…consiguió…mantener inalterable la lógica
acumuladora del capital…Los proyectos sociales…no la obligaban a renunciar a nada,…eran adecuados
para sus propósitos...Los más críticos se dieron cuenta de que este camino era demasiado irracional e
inhumano para prolongarlo. Fue aquí donde se instaló una falla entre los movimientos sociales y el
gobierno Lula-Dilma”. Se esperó el momento adecuado para promover abiertamente la anti-revolución
articulándose una derecha “aliada de los bancos y el sistema financiero, inversores nacionales e
internacionales, prensa empresarial hostil, partidos conservadores, sectores del poder judicial, el FP y

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

MP sin excluir la influencia de la política exterior norteamericana…, FIESP, MP, Policía Federal y la
justicia.” (Gentili, 2006: 119-121/124-125)

Pablo Gentili (20-06-2016): Dilma Rousseff consolidó y amplió las reformas sociales de
“los dos primeros gobiernos del PT…Después del estrecho resultado electoral que le dio la victoria en
octubre de 2014, el gobierno se transformó en el abanderado de una mayor disciplina fiscal, abandonó
los mecanismos participativos y consultivos de la política pública creados durante la gestión de Lula…Y
quizás el principal error que hayamos cometido en la izquierda brasileña y latinoamericana… ha sido no
ponernos al frente…del combate a la corrupción” (Gentili, 2016: 85/81-82).

En el libro revisado, el Mundial de Fútbol 2014 y los Juegos Olímpicos (JO) 2016
apenas son mencionados una vez, por Dilma Rouseff en entrevista del 19-05-2016:
“Glenn Greenwald: hay mucha gente ahora que sale a las calles para protestar en su
defensa, en defensa de la democracia y están muy preocupados porque pueden ser
encuadrados dentro de la Ley Antiterrorismo, que, hace dos meses, usted aprobó.
Cuando entrevisté al ex presidente Lula el mes pasado, él dijo que está en contra de
esta ley porque da poderes innecesarios y peligrosos a los gobiernos, pudiendo
generar abusos. Ahora estos poderes están en manos de otro presidente. ¿Usted
piensa que fue un error aprobar esta ley? Dilma Rouseff: No, no creo, ¿sabes por qué?
Porque todos los elementos que permitirían este uso, yo los veté. Esta ley, que fue
aprobada en el Congreso, se refiere a los Juegos Olímpicos (JO)” (Gentili, 2016: 183).

Esta omisión del papel desempeñado por el Mundial 2014 y los JO 2016, es extensiva
a la gran mayoría de los diversos análisis sobre la crisis política brasileña, a pesar de
que:

1) El gobierno de Lula promovió-financió a Brasil como sede de ambos espectáculos


(los más importantes económica y mediáticamente y únicos que captan la atención
mundial simultáneamente) e inició los preparativos para efectuarlos, continuados por
Dilma. 2) La inversión pública total fue de -al menos- 19.225 millones US$. 3) Las
inéditas, insólitas y multitudinarias manifestaciones producidas contra el Mundial en
2013, antesala de la estrecha reelección de Dilma en octubre 2014. 4) La suspensión de
Dilma se produce 2 años después del Mundial, los JO tuvo que inaugurarlos el
Presidente provisional por estar suspendida y fue destituida inmediatamente después
de los JO.

155
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Quitian es una excepción, ubica el contexto en el que Brasil es sede del Mundial y
JO:
“Lula da Silva…desempeñó un papel de liderazgo ampliado a esferas extracontinentales. Supo mixturar
la fortaleza macroeconómica con la mejora del bienestar social…En esos tiempos de bonanza política y
fortaleza del Real,…Brasil concursó y ganó los dos mayores eventos de la contemporaneidad…se atrevía
…a realizar…los dos… en un lapso de dos años y con agregados notorios: en 2014 se ampliaron de 10 a
12 las ciudades sede de la Copa…Tenía también un mensaje interno: la izquierda en general y el PT en
particular demostraban…: …ser reconocidos por todos los organismos multilaterales -especialmente los
económicos- como actores destacados y en algunos casos como pares en la élite del gobierno mundial”
(Quitian, 2016).

Para precisar que los 2 eventos jugaron un papel destacado en la crisis política:
“La primera alerta fue antes del Mundial: millones de personas manifestándose. Es interesante apreciar
las diferencias entre esas multitudinarias marchas y las recientes que buscaban la salida de Dilma o su
permanencia: las primeras, en el marco de la Copa de las Confederaciones, no reconocían ningún
liderazgo, tenían un amplísimo pliego reivindicatorio (inclusión para minorías, más y mejor salud y
educación, etc.) y contaban con la presencia afrobrasilera; mientras que las protestas del último tiempo,
especialmente las pro-salida de Dilma, tuvieron un marcado acento de coalición partidista de derecha y
no tenían negros.
Otro elemento no menor es el pretexto de esas manifestaciones: el fútbol…fue un operador del
descontento. Los excesos de la FIFA desataron la indignación popular…
Una conclusión que merece mayores desarrollos es que el éxito relativo de los gobiernos de Lula y Dilma
produjeron la posibilidad de esas manifestaciones: basta ver cómo el grueso de quienes protestaban
eran de clase media (la misma que engrosó Lula sacando gente de la pobreza), con presencia masiva de
población afro (grupo particularmente beneficiado por las políticas del gobierno del PT) y activismo
movilizador del estamento académico que…nunca antes tuvieron un momento tan feliz en…financiación
e infraestructura como en los tiempos de Lula. Exacerbada expresión popular que puso de acuerdo a la
élite política que, pese a sus diferencias, legisló en tiempo récord ajustes a la tarifa de transporte (el
detonante) y destinación exclusiva de beneficios petroleros a la salud y educación...: en las protestas de
2013 hubo dos conquistas nacionales… Para nadie es un secreto que la Copa fue politizada, al punto
que varias sedes (como Sao Paulo, bastión del partido líder del impeachment, el PSDB) retrasaron las
obras para enturbiar esa imagen positiva ganada... la Copa salió tan bien en lo organizativo y económico
que dejó sin argumentos a la oposición
y el oprobioso desempeño deportivo eliminó cualquier propaganda oficial.
…llegan los JO que replicaron las protestas del Mundial, aunque en menor escala y con un
espectro…circunscrito a Rio de Janeiro. Protestas que comprobaron sus demandas con la declaración
oficial de quiebra del estado carioca expresado en atrasos en los salarios de empleados públicos y
mesadas a los pensionados y cierre de hospitales, escuelas y universidades. Todo -o casi todo- por culpa
de los Juegos, que son calificados por sectores sociales como Juegos de la exclusión…Juegos que…se
volvieron contra sus proponentes …en parte por los vaivenes de la economía internacional,… por yerros
en su administración, por la corrupción…y por el descrédito público de la gestión -magnificada como
crisis por el aparato mediático hegemónico afín a la coalición progolpe- que minó la gobernabilidad.
También, digámoslo claro, por los faraónicos gastos desde tiempos de la Copa” (Quitian, 2016).

En este trabajo se pretende presentar algunas hipótesis sobre el papel


desempeñado por el Mundial de Fútbol 2014 y los JO 2016 en la crisis política de Brasil
y explicar las razones de su ausencia en la mayoría de los análisis realizados.

156
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

I.- DEPORTE EN LA GLOBALIZACIÓN: EMPRESA TRANSNACIONAL ATÍPICA DE


ESPECTÁCULO Y ENTRETENIMIENTO (EDTEE)3

1.- Génesis y consolidación de la EDTEE


La génesis (1968-1981) de la EDTEE es el resultado de la articulación de tres
procesos:

1) Creación por ADIDAS de la empresa de marketing deportivo, Inter-Fútbol, como


resultado de la síntesis de experiencias previas de patrocinio: promoción de artículos
por deportistas-competidores, árbitros y jueces; empresas artesanales; Coca-Cola
patrocinante de los Juegos Olímpicos (JO) desde 1928; y la TV como medio de
difusión de los JO y financista de los JO y Mundial de Fútbol. Inter-Fútbol logró el
primer programa de comercialización acordado entre Coca-Cola y FIFA el 13-05-1976.
2) Con el apoyo de ADIDAS, la designación de Joao Havelange, Presidente en 1974 de
la FIFA y de Juan Antonio Samaranch, Presidente del Comité Olímpico Internacional
(COI) en 1980, significa el ascenso al poder en la Organización Deportiva Mundial
(ODM) de dirigentes partidarios de la comercialización asociados con empresas
transnacionales. 3) La nueva dirigencia comienza la profesionalización del deportista-
competidor: en el Congreso del COI 1981 la regla 26 de la Carta Olímpica que lo
definía como dedicado “a la práctica del deporte por gusto y por diversión, sin esperar
ningún beneficio material”, se sustituyó por “debe observar y respetar las reglas del
COI y de las federaciones internacionales”.

La consolidación de la EDTEE (1982-2016) se produce cuando:

1) ADIDAS crea -en 1982- la moderna empresa de marketing (International Sport


Leisure o ISL) y en 1985 se concentra el patrocinio deportivo en ISL con la
centralización de la comercialización de los Juegos Olímpicos (JO) en el COI,
consolidada en 1988 con la incorporación de EEUU al Programa de Comercialización
Centralizada de los JO. 2) Se profesionaliza el deportista-competidor, en un proceso
que va desde la eliminación de las palabras amateur y profesional de la Carta Olímpica
en 1986 hasta la actual Serie Mundial de Boxeo y Boxeo Profesional de la Asociación

3
Altuve, 2016: 9-13/17-23.
157
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Internacional de Boxeo Aficionado y participación de boxeadores profesionales en los


JO Brasil 2016.

En conclusión, la globalización del deporte es su proceso de conversión en empresa


que funciona con la lógica, dinámica, orientación, características, conductas y valores
de cualquier transnacional. En ese sentido: 1) Su objetivo fundamental es producir un
espectáculo crecientemente rentable, cotidiano y masivo. 2) Ha incorporado a su
funcionamiento ordinario -como condición intrínseca a su naturaleza, estructural-
desde su gestación, a: la trampa y la trampa legal, definida como “Acto ilícito que se
cubre con apariencias de legalidad” (Real Academia Española, RAE, 2014), cuyos
principales exponentes son el “lobby” y el doping; individuales o combinadas las
trampas significan soborno, corrupción, chantaje, delitos de distinto tipo y alcance 4. 3)
Pregona y practica sistemáticamente la caridad y beneficencia social interesada5. Su
atipicidad viene dada porque su influencia es mundial, está presente en todos los
países, ostenta el monopolio total de la producción del espectáculo al no existir 2
versiones del mismo evento simultáneamente y está constituida por unidades

4
El senador de EEUU Richard Blumenthal, de la Comisión encargada de investigar la corrupción en la
FIFA 2015, declaró “que al mando de este deporte existe una organización criminal al estilo de la Mafia”
(Velázquez-Gaztelu: 22-04-16). Precisamos nosotros, es mucho más extensa, amplia y compleja, se trata
de la mafia deportiva “globalizada o postmoderna” que surge de la conversión del deporte en EDTEE;
además de la FIFA, han incurrido en acciones delictivas sistemáticas y reiteradas: los Clubes
Profesionales evadiendo impuestos, firmando ilegalmente menores de edad…etc.; el Grupo Fórmula
Uno realiza la gestión empresarial de la F1 en paraísos fiscales; deportistas-competidores famosos son
evasores fiscales; Amaury Sport Organization organiza el rally de Dakar que devasta el medio ambiente,
etc… (Altuve, 2016: 14-17).
5
“FIFA: Su deteriorada imagen pública, pretende mejorarla invirtiendo 100 millones US$ de las
ganancias del Mundial 2014 en desarrollo de infraestructura futbolística, programas sociales y sanitarios
para comunidades desfavorecidas y asignó 900 millones US$ del presupuesto 2015-2018 para obras
sociales; la FIFA le donó más de 20 millones US$ a Interpol. Amaury Sport Organisation: Preserva y
amplía su mercado (fanáticos) del Tours de Francia y de -manera indirecta- del resto de sus eventos que
organiza (en 2010 fueron 21), con el patrocinio -en 2014- de 8 programas sociales. Real Madrid: Su
Fundación con programas sociales en 67 países y ser Embajador UNICEF en 2008-2009, es parte del
modelo de gestión para convertir a sus fanáticos en clientes. Michael Schumacher, Piloto de la F1: Sus
donaciones (más de 10 millones US$ en la India a la causa del tsunami y entre 5-10 millones US$, en
2008, a la fundación de Bill Clinton) le permitieron reducir sus impuestos”. Llama la atención la unión del
deporte con la iglesia católica: destaca su cercanía con el OPUS DEI, Juan Antonio Samaranch, Presidente
del COI en 1980-2001 era miembro del OPUS; la CONMEBOL (FIFA de América del Sur) donará 10 mil
US$ por cada gol convertido o penal atajado durante las Copas América 2015, 2016, 2019, 2023 y 2027,
a la institución Schollas Ocurrentes promovida por el Papa Francisco (Altuve, 2016: 17; Garrido: 22-04-
16).

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

económicas independientes e interdependientes, de las cuales las más poderosas son


empresas transnacionales.

2.- Componentes de la EDTEE

2.1.- Unidades de organización-gestión

1) Organización Deportiva Mundial (ODM), principal gobierno del deporte: Organiza


el espectáculo de equipos de países. Sus principales eventos -cada 4 años- son los
Juegos Olímpicos (JO) y el Mundial de Fútbol, organizados por el Comité Olímpico
Internacional (COI) y la FIFA, respectivamente. 2) Clubes Profesionales
Transnacionales avalados por la ODM: Organizan anualmente la parte del
espectáculo donde concurren delegaciones de competidores que representan a
equipos de países si el evento es internacional o provenientes de ciudades si es
nacional. Cuenta con el aval de la ODM, que lo dota de legalidad, autoriza el cuerpo de
árbitros y jueces y percibe algún tipo de ingreso. Avalada por las Federaciones
Nacionales y Federación de Fútbol de Europa, la Liga de Clubes europea es la más
importante mundialmente. “En 2001, el Manchester United de Inglaterra era el club
más costoso (1.400 millones US$) y fue el primero en cotizar en Bolsa. En España a
fines del siglo XX, el fútbol aportaba 1% del PIB y, en 1999, en Italia era el duodécimo
sector económico” (Altuve, 2002: 113/115-116). El total de los 20 clubes de fútbol con
más ingresos, en 2008-2009, fue de 5.525,52 millones US$ y 18 (80%) pertenecían a
Alemania, Italia, Francia e Inglaterra. El valor de los 10 clubes más costosos, en 2010,
fue de 12.602,2 millones US$ (Inglaterra y España con el fútbol tenían 3 cuyo costo era
el 31,76% y EEUU concentraba el 68,24% restante con 57,62%-6 de fútbol americano y
10,72%-1 de béisbol). El valor de las 10 marcas deportivas de clubes más valiosas, en
2010, fue de 2.072 millones US$ y se distribuyó en 48,91%-5 EEUU y 20%-2 Inglaterra,
20%-2 España y 10%-1 Alemania. El Real Madrid es modelo de Club Profesional
Transnacional: en 2008-2009 tenía 11 patrocinadores y aplicaba un modelo de gestión
que combina lo social y el marketing con el objetivo de potenciar la explotación de su
marca, transformando a sus aficionados en clientes. 3) Empresas transnacionales
avaladas por la ODM: Con la participación de clubes agrupados en la patronal AIGCP y
avalado por la Unión de Ciclismo Internacional y la Federación Francesa de Ciclismo, el
Tours de Francia es el tercer evento mundial, se realiza anualmente y es organizado

159
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

por Amaury Sport Organisation o ASO (Grupo Philippe Amaury Publicaciones), que en
2010 organizó 21 eventos de 6 disciplinas deportivas. En 2009 su presupuesto fue 139
millones US$, financiado en 10% por las ciudades-etapa, 50% por derechos
audiovisuales pagados por Eurovisión, France 2, France 3 y Francia 4 y 40% por
patrocinio de 32 empresas y la Asamblea de Departamentos y el Ministerio del
Interior de Francia; se transmitió a 186 países, con 118 canales de TV, 4.300 personas
trabajando en 650 medios de comunicación, 6.000.000 visitas en la web. 4) Empresas
transnacionales independientes de la ODM: Avalado por la Federación Internacional
de Automovilismo y con la participación de equipos de transnacionales, el principal
evento -anual- es la Fórmula Uno (F1) organizado por el Grupo Fórmula Uno de Alpha
Prema (propiedad de CVC Capital Partners) desde 2005 hasta septiembre 2016 cuando
fue vendido a Liberty Media6. En 1979-2004 la F1 arrojó beneficios valuados en 3.600
millones US$, estimándose que en cada año (hasta 2004 y 2005) movilizó más de
2.000 millones US$. En 2004, por derechos de TV obtuvo 800 millones US$, y se
estimó que en 2006 facturaría 980 con una altísima rentabilidad y alcanzaría
beneficios antes de impuestos de 501 millones US$. A partir de 2006 abandonó la
publicidad de cigarrillos, nuevos patrocinadores se incorporaron y en 2007 movilizó
13,6 mil millones US$, tuvo 597 millones de teleespectadores, con 11.183 horas de
retransmisión en 188 países de las cuales 5.169 horas (47%) fueron en vivo y directo.
En 2010, los derechos de TV fueron vendidos a 67 países y los patrocinadores oficiales
fueron el banco UBS, G.H. Mumm, DHL, LG Electronics, Inc y la aseguradora Allianz.

2.2.- Empresas transnacionales de bienes y servicios patrocinantes o “sponsors”

Compran a los organizadores-gestores el derecho de usar los símbolos-logos de los


eventos en la publicidad de sus productos y a los medios de comunicación los espacios
para difundir su publicidad identificada con los símbolos y logos del espectáculo.

6
El 07-09-16 Liberty Media -empresa estadounidense de medios de comunicación: televisión por cable
(Charter, etc.), teléfono (Liberty Global, etc.), radio satelital Sirius XM, etc.-, cuyo accionista mayoritario
es John Malone, propietario del equipo de béisbol profesional Bravos de Atlanta de EEUU, adquirió la F1
por 4.400 millones US$: posee todas las acciones con derecho a voto al comprar 18,7% por 746 millones
US$, completándose la compra en marzo 2017. CVC Capital Partners y otros vendedores mantendrán un
65%. El acuerdo incluyó calcular el valor de la F1 en unos 8.000 millones US$, incluyendo la deuda
(Harris /AP:08-09-16)

160
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

2.3.- Empresas transnacionales de medios de comunicación

Difunden el espectáculo, compran los derechos de transmisión a los organizadores


y venden los espacios a los patrocinantes. Además, desde fines de los 90 del siglo XX -
de manera creciente- vienen actuando simultáneamente como difusores y
organizadores.

2.4.- Deportista-competidor

Es un profesional cuyo trabajo es prepararse y competir, percibiendo


remuneraciones y beneficios. Se clasifica según la labor que desempeña: 1)
Representa su país en competencias de la ODM y trabaja en Clubes Profesionales
(fútbol, baloncesto, béisbol, etc.) o en eventos (ciclismo, atletismo, tenis, etc.)
organizados por transnacionales. 2) Representa su país en competencias ODM y -con
la mediación del Estado- labora en Clubes Profesionales o en eventos de
transnacionales: caso de Cuba. 3) Miembro de equipos de transnacionales en
competencias organizadas por otras transnacionales y avaladas por gobiernos del
deporte distintos a la ODM: caso F1 (Altuve 2002: 92-111).

2.5.- Público-fanático-consumidor

Es el destino del espectáculo, la base del funcionamiento de la empresa deportiva,


cuyo objetivo fundamental es la conversión de todos los habitantes del planeta en
fanáticos del deporte, espectadores que internalizan los mensajes publicitarios
emitidos durante los eventos y consumidores compulsivos de bienes y servicios de las
marcas difundidas.

3.- Desigualdad estructural o división internacional del deporte

Entendida como la especialización de unos países en ganar y otros en perder, se


configuró en lo competitivo como distribución regresiva de medallas-campeones
cuando el deporte moderno comenzó a desarrollarse, haciéndose extensiva a los
beneficios económicos cuando nace la EDTEE. Profundizándose y entrelazándose

161
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

ambas en la medida que se acentúa la globalización y se consolida la EDTEE. Veamos


las evidencias:

3.1.- Medallas-campeones
En los Juegos Olímpicos (JO) 1996-2012: el 7,31% (15) de países (Grupo de los
Nueve, Ucrania, Holanda, España, Australia, Corea del Sur y Cuba) obtuvieron 66,35%
(3.053) medallas, mientras el 44,87% (92) no ganaron ninguna. Entre 1896-2000, de
9.452 medallas el Grupo de los Nueve obtuvo 70,2% (6.643) y los 17 países más
ganadores fueron de Europa, EE.UU, Australia, Japón y China; América Latina y el
Caribe obtuvo 7,23% (333), de las cuales Brasil ganó 1,49% (69). En los JO 2016: el
9,8% (20) de países obtuvieron 68,99% (672) de medallas, el 57,35% (117) no ganaron
nada y el 32,84% (67) obtienen el 31% (302); el Grupo de los Nueve obtuvo 50,2%
(489) de medallas; América Latina y el Caribe obtuvo 6,87% (67) de medallas, de las
cuales Brasil ganó 1,95% (19).
La división internacional de medallas-campeones no se invalida por la actuación de
Argentina y Brasil en los Mundiales de Fútbol, quienes en los 12 realizados entre 1970-
2014 han ocupado 11 (22,9%) de las 48 (100%) posiciones semifinalistas y campeones
en 5 (41,6%) ediciones. Se explica porque ambos países son de los mayores
exportadores de materia prima de calidad o jugadores (según la FIFA 20% del total en
2011. AFP, 2012) para los anuales campeonatos de fútbol de los Clubes de Europa,
quienes a su vez son los principales proveedores de jugadores para las selecciones
nacionales en los Mundiales de Fútbol: en el Brasil 2014, los clubes europeos
aportaron 563 (76,4%) del total de jugadores, los de América 102 (13,8%) y los del
resto de los continentes 71 (9,5%) (Cálculos propios basados en ECA: 07-08-2014). El
Mundial es sustentado por los Clubes de Europa que le aportan jugadores para las
selecciones nacionales y a la vez es el principal escenario donde se exhiben los
jugadores que serán comprados por los clubes.

3.2.- Beneficios económicos


Con excepciones que confirman la regla, la mayoría de los deportistas-competidores
ganadores en los eventos mundiales y las transnacionales (organizadoras del
162
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

espectáculo; artículos e implementos deportivos; bienes y servicios patrocinantes; y


medios de comunicación) que se apropian del mayor volumen de beneficios
producidos por la EDTEE, provienen de EEUU, Canadá, Europa, Japón y China.

4.-Estado, ideología y EDTEE

El Estado apoya la conversión del deporte en EDTEE y se convierte en uno de sus


componentes fundamentales con funciones ejercidas a través de la política pública
deportiva, materializada en una normativa jurídico-legal, una estructura
administrativa-organizativa (ministerios, institutos, etc.) con programas-proyectos-
presupuesto.
La política pública deportiva que està determinada estructuralmente por la
dinámica de la EDTEE que se sintetiza en la distribución del poder concentrado
mundialmente en: 1) Empresas transnacionales organizadoras de 3 tipos de
espectáculo cuyos eventos principales son: Campeonatos Nacionales y Continentales
de Fútbol de Europa y Nacionales de Béisbol (MLB) y Baloncesto de EEUU (NBA);
Tours de Francia; y la F1. 2) Organización Deportiva Mundial (ODM): Principal gobierno
del deporte, organiza un tipo de espectáculo encabezado por los JO y el Mundial de
Fútbol y avala los Campeonatos de Fútbol de Europa, MLB y NBA de EEU y el Tours de
Francia. 3) Empresas transnacionales de medios de comunicación, de bienes y
servicios (patrocinantes o “sponsors”) y de artículos e implementos deportivos. 4) El
Grupo de los Nueve y otros pocos Estados de donde proceden las transnacionales que
forman parte de la EDTEE, suelen ser sede de los espectáculos importantes y se
apropian de la mayor cantidad de medallas-campeones en los eventos principales.
Participan protagónicamente en las decisiones del deporte, conducta que forma parte
de su política pública identificada y al servicio de sus intereses y de sus empresas
transnacionales, mientras la mayoría de los Estados sin o con poco poder en la EDTEE,
simplemente adecúan su política deportiva a una dinámica mundial ajena a sus
intereses.
Las funciones principales del Estado7 en la EDTEE son:

7
Otras funciones del Estado son: 1) Adecuar la participación del país a la naturaleza organizativa del
espectáculo: Cuando el organizador del espectáculo es la ODM, el Estado dispone, prepara y garantiza la
163
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

4.1.- Producir y reproducir la ideología deportiva, incorporándola a su bagaje


ideológico y legitimándose, convirtiendo al deporte en uno de sus aparatos
ideológicos

La ideología deportiva en la globalización se resume en la aceptación social unánime


- con todo lo que implica en cuanto a ideas- de que el deporte es el fenómeno más
completo y virtuoso de la humanidad, modelo ideal de convivencia, fraternidad,
democracia, nacionalismo, fuente de consuelo, esperanza y resignación donde todos
somos iguales y el tránsito a la felicidad no está tan lejos, se logrará en la medida que
el resto de la sociedad se parezca cada vez más al deporte.
La producción y reproducción de la ideología deportiva por el Estado a través de su
política pública inserta en la dinámica de la EDTEE: 1) Ha sido fundamental para que el
deporte logre: insertarse orgánico-institucional-geográfica y socialmente; formar parte
de la cotidianidad y captar simultáneamente el interés mundial; ser atractivo y de
fácil, inmediata y prolongada identificación por los espectadores; reforzar la
percepción, valoración y asimilación de su carácter intrínsecamente positivo por la
población. 2) Legítima al Estado, pasando a formar parte de su bagaje ideológico.
Independientemente del resultado de la participación del país (ganar o perder) en los
eventos, el Estado se legítima con el apoyo y promoción que hace al deporte a través
de la política pública, operándose así el proceso de conversión del deporte en aparato
ideológico. Obviamente, la legitimidad del Estado aumenta cuando el país obtiene

participación de su selección nacional. Si son Clubes Profesionales o Empresas Trasnacionales, apoya y


contribuye con su éxito. 2) Intervención de instancias estatales no deportivas en la EDTEE para
obtener mayor poder el Estado interventor y reforzar su legitimidad nacionalmente: En mayo 2015, la
Fiscalía de EEUU hizo acusaciones de soborno y corrupción a dueños-ejecutivos de empresas y 9
dirigentes FIFA de América, quienes fueron detenidos en Suiza y extraditados, en 2016 la mayoría se
declararon culpables de cargos menores, pagaron multas y/o se le confiscaron propiedades y recibieron
sentencias leves. Más allá de razones legales y ético-morales ¿Por qué EEUU presenta el caso en el
momento que se realiza la Asamblea Mundial FIFA donde se elegiría el Presidente, a pesar de que venía
investigando desde 2011 con el informante exdirigente FIFA Chuck Blazer y había adelantado
actuaciones judiciales importantes en 2013, 2014 y enero-abril 2015? ¿Por qué la Fiscalía menciona en
el informe a NIKE, Citibank, JPMorgan Chase, Bank of America y Republic Bank y no los imputa, ni
divulgó su participación? EEUU tiene poder en la EDTEE, enfrenta a la FIFA y su Presidente Joseph
Blatter, pretendiendo tener mayor influencia en una FIFA que favorezca más sus intereses; contando
con el apoyo de Coca-Cola, Visa, McDonald's y Budweiser, patrocinantes estadounidenses FIFA que
asomaron su intención de retirarse si Blatter no renunciaba. Blatter se defendió y destacó que ADIDAS,
Hyundai y Gazprom no se unieron a la petición de renuncia.

164
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

triunfos -al ganar competencias y/u organizar eventos- que se identifican con la
gestión estatal.

4.2.- Financiar, difundir la ideología deportiva, ejercer la violencia simbólica y


física directa y crear las demás condiciones que garanticen el éxito del espectáculo
deportivo cuando se realiza en su territorio: ser sede

La parte operativa-instrumental de los grandes espectáculos deportivos mundiales,


es responsabilidad de un Comité Organizador Nacional formado por el Estado sede,
organizaciones privadas y la instancia nacional de la Organización Deportiva Mundial u
ODM (en los JO es el Comité Olímpico Nacional y en el Mundial de Fútbol es la
Federación de Fútbol Nacional). Que funciona articuladamente con la instancia
internacional de la ODM, la cual es la máxima autoridad del evento, que en los JO es el
Comité Olímpico Internacional (COI) y en el Mundial de Fútbol es la FIFA.
En cuanto a su financiamiento, ha sido trasladado al Estado, los grandes
espectáculos deportivos mundiales son el resultado de inversiones de carácter estatal
usufructuadas principalmente por empresas transnacionales y la Organización
Deportiva Mundial (ODM) o gobierno del deporte encabezada por la FIFA y el Comité
Olímpico Internacional (COI), operando un proceso de transferencia de riqueza del
sector público al privado. En septiembre 1995, el COI anunció que a partir de 2004 la
parte de los derechos televisivos que se otorgaban a las ciudades-sedes olímpicas
bajaría del 60% al 49%, es decir, se reducen los ingresos del Comité Organizador
Nacional de los JO donde participa el Estado. Cuando el presupuesto de los JO Atlanta
1996 parecía especialmente desalentador, uno de los miembros prominentes del COI,
Dick Pound, anunciò que “En el futuro nunca más concederemos los juegos a una
ciudad que no cuente con un compromiso significativo del sector público” (Jennings
1996: 280/317); los Juegos Olímpicos (JO) Londres 2012 costaron más de 17.500
millones US$ y el Estado financió 14.610 millones US$, el 83,48%.
El Estado intensiva y extensivamente produce y reproduce la ideología deportiva
destacando las ventajas y beneficios para el país ser sede de un evento mundial,
garantizado con las inversiones que realiza en seguridad (dispositivos preventivos-
represivos, etc), infraestructura, servicios, logística, transporte, etc.. Y obtiene

165
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

retribuciones a través de impuestos, por el impacto económico generado por el


espectáculo, etc.

II.- PAPEL DEL MUNDIAL DE FÚTBOL 2014 Y LOS JUEGOS OLÍMPICOS (JO) 2016 EN EL
GOLPE DE ESTADO “BLANDO O SUAVE” EN BRASIL8
En el marco de una bonanza económica y favorables condiciones políticas
nacionales e internacionales, el Estado brasileño con poco poder en la empresa
deportiva transnacional de espectáculo y entretenimiento (EDTEE), incorporó a su
política pública deportiva la realización del Mundial de Fútbol 2014 y los JO 2016,
controlados y manejados -respectivamente- por la FIFA y el Comité Olímpico
Internacional (COI), quienes se apropiaron del mayor volumen de beneficios
económicos -que produjeron directa e indirectamente- junto a las empresas
transnacionales de bienes y servicios patrocinantes o “sponsors”, de medios de
comunicación y de artículos e implementos deportivos.
Cuando la FIFA y el Comité Olímpico Internacional (COI) le asignaron las sedes, el
gobierno tuvo el apoyo de la población porque el Estado difundió intensiva y
extensivamente la ideología deportiva de la globalización: ser sede de los dos eventos
que simbolizan la máxima convivencia, fraternidad, igualdad y democracia, apeló al
orgullo nacional, mostró los eventos como progreso y ratificación de la creciente
condición de potencia de la nación y destacó los amplios e innumerables beneficios
que se producirían. Estos pilares ideológicos fueron desmoronándose al ser cotejados
con la realidad:

1.- De la asignación de las sedes del Mundial y los Juegos Olímpicos (JO) en la cúspide
de popularidad de Lula da Silva, al fuerte debilitamiento de Dilma Rouseff
finalizando su primer gobierno en 2014, año en el que se realiza el Mundial y con una
desafiante campaña es reelecta con una estrecha ventaja del 3%

1.1.- Con la Ley N.12.663 de octubre 2011 denominada Ley General de la Copa, el
Estado otorgó privilegios9 fiscales, comerciales y amplias y diversas competencias a

8
Altuve, 2016: 20-23.
166
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

la FIFA y sus Socios-patrocinantes Coca-Cola, ADIDAS, Sony, Visa, MC Surcoreana de


Automóviles (Hyundai y Kia) y Fly Emirates

1) Brasil dejó de percibir 680 millones US$ por exonerarlos del pago de impuestos
sobre sus beneficios y durante 4 años. 2) Concedió a los patrocinadores la exclusividad
de presencias en estadios y sus alrededores, estableciéndose una zona de exclusión de
2 km. donde la FIFA se hizo cargo de la seguridad, vigilando la venta de productos, el
uso de sus marcas y derechos de sus patrocinadores. 3) Derogó la prohibición de
alcohol en los estadios -establecida en 2007- y permitió la comercialización exclusiva
de la cerveza Budweiser, patrocinante FIFA. 4) Contempló la creación de los
“tribunales de excepción" por la FIFA, para juzgar las sanciones económicas o penales
por casos de piratería u otros usos ilícitos de marcas y productos vinculados con la
FIFA y el Mundial. Las imposiciones de la FIFA comprendieron, además, la compra de
30 robots por casi 3,5 millones US$, a utilizarse en vigilancia, detección y
desactivación de explosivos y remodelar el estadio Maracaná expandiendo su zona VIP
y albergar 74.000 personas.

1.2.- La esperanza e ilusión de progreso y ventajas a crearse por el impacto


positivo en la economía a producirse por la inversión privada, se fue desvanecendo

En junio 2014, el Ministro de Deportes de Brasil, Aldo Rebelo, dijo que la


participación total del Estado en obras públicas y privadas para el Mundial ascendió a
13 mil 750 millones US$; fuentes independientes indicaron que superaría los 14.500
millones US$, con 99% de inversión del Estado. Las autoridades brasileñas estimaron:

9
Estos privilegios para la FIFA le permiten -según sus Informes de Finanzas FIFA 2011 y 2014- que su
ingreso: en 2007-2010 por derechos de TV y mercadotécnicos fue de 4.987 millones US$, de los cuales
3.520 (70,58%) provino del Mundial Sudáfrica 2010; en 2011-2014 fue de 5.718 millones US$, de los
cuales 4.308 (75,34%) provino del Mundial Brasil 2014. Sus patrocinantes en el Mundial 2010 fueron
Coca-Cola, Adidas, Sony, Visa, MC Surcoreana de Automóviles, Fly Emirates, Mc Donald’s, Ab-Inbev,
Continental AG, Lubricantes Castrol, MTN, Satyam y Yingu Solar.

167
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

1) En 2010, el impacto económico en 58.080 millones US$ y creación de 3.500.000


empleos. Según la Asociación de Vendedores Ambulantes más de 300.000 fueron
afectados desde antes del Mundial al ser desalojados de lugares requeridos para la
construcción de infraestructuras del evento y/o de los Juegos Olímpicos (JO) 2016, y en
las ciudades donde se disputarían partidos no se expidieron nuevas licencias para la
venta ambulante y las existentes fueron retiradas o no renovadas; otras fuentes
consideraron que el empleo no superaría 300.000 plazas. Según cálculos del inglés
Capital Economics, el aumento del consumo sólo sería entre un 0,1 y un 0,2% del PIB.
La agencia de calificación de riesgos Moody’s advirtió unos meses antes del Mundial
que tendría un impacto poco duradero. 2) En 2014, una inyección a la economía de
180 mil millones US$ en los próximos 3 años producto del “efecto rebote” de la
inversión. Pero, -según Euroméricas Sport, empresa de marketing deportivo-existían
motivos para ser moderado en sus cálculos de ganancias, que podrían convertirse en
pérdidas, si se toma en cuenta que en los últimos cuatro años, Sudáfrica arrastra una
deuda de 290 millones US$ por el no retorno de la inversión en los estadios que
construyó para el Mundial 2010. 3) Como recuperación de la inversión, la posible
utilidad social de las obras. Esto es casi inexistente y beneficia poco a los más pobres.
Las reformas de los estadios de Brasilia, Cuiabá, Manaus y Natal, sólo los hará
utilizables para el Mundial y JO 2016: unos con promedio de asistencia de 2.000
personas, quedan con capacidad de 70.000 y otros no se utilizarán jamás como el
Arena da Amazonia en Manaos. Una inversión significativa fue la aeroportuaria, con un
aporte importante de 1.320.000.000 US$ del capital privado, avanzando la
privatización.

1.3.- Para el Mundial 2014 y JO 2016, en agosto 2011 se aprobó permitir al


gobierno federal, estatal y municipal NO divulgar el presupuesto antes de la
licitación de obras, ocasionando corrupción político-empresarial y más gastos
estatales

Se puede ilustrar con los estadios, el costo del de Brasilia casi se triplicó y el Mané
Garrincha tuvo -al menos- 275 millones US$ en exceso. Se construyeron 5 y se

168
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

rehabilitaron 7 de los cuales 2 y parte de 1 se hizo con financiamiento privado. La


inversión total se estimó inicialmente en 1.112 millones US$ y fue mucho mayor.
Los aportes del empresario Andrade Gutiérrez de 73.180 y 37,1 millones US$ a
candidatos en las elecciones municipales 2008 y 2012, le permitió contratos de 4
estadios y de casi 1/4 parte del costo total de obras del Mundial. ODEBRECHT pasó de
90.909 a 11,6 millones US$ de una elección a otra y obtuvo 5 contratos, entre ellos
operar -con IMX y AEG- el Maracaná por 35 años, cuestionado por la Fiscalía de Río de
Janeiro porque la empresa pagaría 2 millones US$ al año, lo que no cubre ni siquiera
los 13,5 millones US$ anuales que el Estado debe pagar por el préstamo a 15 años
realizado para renovarlo.
Existen al menos 12 investigaciones federales de los gastos vinculados con el
Mundial. Pero, los fiscales dicen que no hay nadie, ni individuos ni empresas, que esté
siendo juzgado, podrían pasar años antes de que concluyan las auditorias oficiales y
sean juzgados.

1.4.- La desocupación y despeje de espacios requeridos por el Mundial y los JO


(construir infraestructuras, autopistas, etc.) con aplicación sistemática del ejercicio
estatal de la violencia física directa, institucionalizó la política de desalojos y
reconversiones urbanísticas creando una especulación inmobiliaria sin precedentes

Se estiman en 250.000 los desalojos realizados, la mayoría en zonas donde vive la


población de menores recursos, en São Paulo -al menos- se quedaron sin techo
70.000 familias y en Río de Janeiro 40.000. La situación de vivienda fue tan grave que
Carlos Alberto Parreira, coordinador técnico de la selección brasileña, dijo que “el
aficionado no puede vivir en un estadio”.

1.5.- Aplicada en la política de desalojos y reconversiones urbanísticas, el


creciente ejercicio estatal de la violencia se convirtió en recurso fundamental para
garantizar el éxito del Mundial 2014, sustentado en el ordenamiento jurídico
ampliado con nuevas leyes como la 728 y 236, aprobadas en 2011 y 2012,
respectivamente

169
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Teniendo como referencias obligadas: destacar que Brasil es un país que no cuenta
con

“policías antidisturbios, por lo tanto, son militares (con una estructura desde el golpe de Estado de
1964 y formados bajo la doctrina estadounidense y francesa) los que están en las calles conteniendo el
descontento, y el acuerdo de cooperación militar Brasil-EEUU firmado en 2010 durante el segundo
mandato de Lula, a partir del cual la empresa estadounidense Academi (antes Blackwater) ha entrenado
a la policía militar para contener acciones terroristas durante la Copa Mundial 2014 y JO 2016” (Bessi y
Navarro: 29-08-16).

Debe puntualizarse que desde 2011 el Estado comenzó a utilizar la violencia física
directa: “limpiando” 40 favelas cercanas a los estadios con tanques, helicópteros y
tropas de élite del ejército y las Unidades de Policía Pacificadora; creó la Secretaría
Especial para la Seguridad de Eventos Grandes o SESGE; adquirió millares de
armamentos no letales y el sistema de artillería antiaérea para proteger el espacio
aéreo de los eventos deportivos en 8 kilómetros e interceptar misiles de crucero y
aviones no tripulados; fabricó el vehículo blindado nacional, inspirado en modelos
israelíes y sudafricanos, para sustituir al “caveirao” utilizado en las favelas; renovó la
dotación del Batallón de Operaciones Especiales (BOPE); entrenó 50.000 policías y
25.000 vigilantes de seguridad privada, con asesoramiento de unidades de élite
antiterroristas estadounidenses.
Con el orgullo y soberanía nacional vapuleados por la FIFA y sus Socios, con el
progreso económico prometido convertido en espejismo debelado por el alto costo del
Mundial 2014 financiado con fondos públicos, inutilidad social de algunas obras y
corrupción combinada con impunidad en buena parte de todas, y con una violenta
política estatal de desalojos y reconversiones urbanísticas que profundizó el problema
de la vivienda, se fue desmoronando la ideología deportiva “mundialista” en medio
de una situación económica cada vez más difícil que agravaba los problemas de la vida
cotidiana de la población.
La crisis económica favoreció el desmoronamiento de la ideología deportiva
“mundialista” porque puso en evidencia las relaciones de poder intrínsecas al Mundial
2014 y los principales beneficiarios de su realización. La mayor parte de la población
desmejorada económicamente pudo percibir, aprehender, entender y sentir que el
Mundial no le ayudaba en nada en la difícil situación que estaba viviendo, que otros
170
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

eran quienes se beneficiaban, sintiéndose estafada y engañada por las promesas que
le hicieron. Resultaba incomprensible y molestaba ostensiblemente que ante el
aumento e intensificación de problemas cotidianos por limitados recursos estatales, el
gobierno tuviera que dedicar ingresos cada vez más escasos (por la caída de los precios
de los productos de exportación) a garantizar el Mundial beneficiando principalmente
a la FIFA y sus socios transnacionales y nacionales, empresarios constructores
corruptos asociados con políticos sobornados, etc.
La dinámica crisis económica-desmoronamiento de la ideología deportiva
“mundialista”, explica en buena medida las inéditas, insólitas y masivas protestas en
2013 unidas por las quejas contra la FIFA, los elevados costos que tenía para las arcas
públicas el Mundial, las ventajas fiscales concedidas a los organizadores del evento y
contenía demandas de reivindicaciones muy específicas para mejorar la calidad de vida
de la población (transporte, servicios públicos); articularon exigencias de solución de
necesidades básicas y severos cuestionamientos a la realización del Mundial, a su
simbología y a la FIFA. La aprobación del gobierno cayó a la mitad.
La intensificación de la violencia para enfrentar las protestas 2013 y continuar con la
política de desalojos generó más rechazo entre la población. Alcanzando su clímax en
el Mundial con un inédito despliegue de seguridad policiaco-militar: más de 60.000
policías y 18.000 militares apoyados en las protestas por una fuerza policial
antimotines; 10.000 policías recibieron entrenamiento en control de multitudes; las 12
ciudades anfitrionas contaron con 180.000 agentes; se utilizaron los ‘black blocks’,
grupo de personas enmascarados que junto a la policía se encargaban violentamente
de acabar cualquier tipo de protesta realizada; en el partido de clausura, 2.300 policías
se desplegaron en los alrededores del estadio Maracaná y, en el interior, la vigilancia
fue realizada por la empresa privada de seguridad contratada por la FIFA. Sin duda,
esto explica los más de 950 millones US$ invertidos en seguridad para el Mundial
2014, uno de los rubros con más inversión.
La intensificación de la violencia se sustentó en nuevas leyes aprobadas como la
12.850 y las 3.461 y 499 aprobadas en 2013, conformando un ordenamiento jurídico
que estableció la utilización de las fuerzas armadas para mantener el orden interno,
espionaje electrónico, límites al acceso a la web y al ejercicio de las libertades de
prensa, expresión y comunicación, evidenciado en la censura de las protestas
171
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

populares por la mayoría de los medios de comunicación aliados con la FIFA y sus
Socios externos y nacionales. Por eso en las protestas que continuaron hasta el mismo
Mundial, se expresaron consignas como “la FIFA es la que es terrorista” pocas horas
antes de la inauguración del Mundial en Sao Paulo, extendiéndose las
manifestaciones incluso a las gradas del estadio Arena Corinthians donde se oyeron
insultos contra la presidenta Dilma Rousseff y el presidente de la FIFA, Joseph Blatter,
cuando ambos entraron al palco de autoridades minutos antes del inicio del partido;
simultáneamente con manifestaciones en Río de Janeiro y en capitales regionales
como Porto Alegre (Río Grande do Sul), Belo Horizonte (Minas Gerais), Fortaleza
(Ceará) y Natal (Río Grande do Norte).

2.- Dilma Rouseff muy debilitada políticamente comienza su nuevo período, sigue
con los preparativos de los Juegos Olímpicos (JO) hasta el 12-05-16 cuando es
suspendida y sustituida por un presidente provisional que los inaugura el 05-08-16 y
es destituida el 31-08-16 después de concluir los juegos el 21-08-16, finalizando así el
gobierno del Partido de los Trabajadores (PT) iniciado en 2003

Dilma designa un Ministro de Hacienda proveniente de la banca privada para


reducir la inflación y restaurar la confianza, plantea como imperativos recortar los
gastos sociales, reducir el crédito de los bancos públicos, subastar propiedades del
Estado y aumentar tasas de interés para llevar el presupuesto a superávit primario. Y
como la economía se encontraba estancada, el efecto fue una recesión, la peor “en 20
años, el PIB cayó 3,8% en 2015 y se prevé que caerá 3,5% en 2016” (Ladiaria.com.uy.
24-08-16). La situación es más difícil, la crisis económica se ha agravado y el
debilitamiento del gobierno es mayor porque ha perdido credibilidad, la población que
apoyó a Dilma se siente engañada, desilusionada y enojada porque cumplió el
programa de gobierno de sus adversarios de campaña.
La profundización de la grave situación económica y aumento de la pérdida de
credibilidad gubernamental, facilitaron mucho más el desmoronamiento de la
ideología deportiva “olímpica”:

172
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

2.1.- Al mantenerse los privilegios y prebendas10 -establecidos en la Ley 12.663 o


Ley General de la Copa de octubre 2011- del Comité Olímpico Internacional (COI) y
sus Socios Olímpicos Mundiales Cocacola, Mcdonalds. Bridgestone, Dow Omega,
Procter Gamble, VISA, Atos Origin, Gen-Electric, Panasonic y Samsung11

Fueron exonerados del pago de impuestos por 4 años12 y “abarca también


contribuciones sociales y aranceles de importación en actividades propias y
directamente vinculadas a la organización o realización de los eventos, regirá hasta el
31 de diciembre de 2017”; se estima conservadoramente que el Estado dejó de
percibir 530 millones US$ y algunas estimaciones lo ubican en 1.000 millones US$
(Lanaciôn.com: 24-08-16).

2.2.- Las ideas de progreso y ventajas a obtener por el enorme impacto positivo
para el desarrollo económico que tendrían los Juegos Olímpicos (JO), difundidas por
el gobierno y el Comité Olímpico Internacional (COI) fueron negados por la realidad

Según el Estado, el presupuesto de inversiones para los juegos hasta agosto 2015 fue:
“Costos operativos de los eventos y de las competiciones…(comida de los atletas,
uniformes, alojamiento, transporte de los equipos y material deportivo…): 2.060
millones US$ provenientes de patrocinadores y otras fuentes privadas…Matriz de
Responsabilidades, que abarca proyectos como instalaciones deportivas:…hoy

10
Estos privilegios y prebendas es lo que permite al Comité Olímpico Internacional (COI) -según el
Informe de su Presidente en la Asamblea General 2012- asegurar: 3.600 millones US$ en derechos de
TV para los JO Invierno 2014 y JO 2016 y la meta es superar los 4.000, más de los 3.900 obtenidos en
los JO Invierno 2010 y JO 2012; para los JO Invierno 2018 y JO 2020 aseguró 2.600 millones US$ de los
medios de comunicación, su principal socio de TV es NBC que compró los derechos para EUU de cuatro
JO hasta 2020 por 4.380 millones US$; y dispone de 588 millones US$ en reservas financieras.
11
Los demás Socios-patrocinantes de los Juegos Olímpicos (JO) Río 2016 fueron: Oficiales: Bradesco.
Bradesco Seguros. Correios. N=T. Claro. Embratel. Nissan. Colaboradores Oficiales: Aliansce Shopping
Centers. Apex Brasil. Cisco. Estàcio. EY. Globo. Sadia. Qualy. SKQL. Latam Airlines. Latam Travel. 361º.
Proveedores: A) Airbnb. C&A. CEG. Dica do chef. Editora Globo. EF Education First. Eventim. GREE. ISDS.
Karcher. Komeco.Localiza. Manpowergroup. Microsoft. Mondo. Nielsen. NIKE. OFF!. RGS Events. Sapore.
SEG Gymnastics. Symantec. Technogym. 3 Corações. Riogaleão. B) Bauerfeind. Casa da Moeda do Brasil.
EMC. Hospital dos Olhos Paulista. Posterscope Brasil.
12
Los JO Londres 2012 tuvieron 54 patrocinadores y los principales fueron Visa, Samsung, Panasonic,
Procter Gamble, McDonalds, Dow, General Electric, Omega, Atos Origin, Cocacola y ACER. Las
autoridades londinenses “también les ofrecieron a los patrocinadores una exención impositiva, por 7
meses. La ley 1270 de Brasil fue todavía más allá: cuatro años” (Lanaciôn.com: 24-08-16).

173
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

suma…1.940 millones US$, de los cuales el 64% corresponde a recursos privados y el


36% a recursos públicos. Proyectos que anticipan o amplían inversiones federales,
estatales y municipales en infraestructura y políticas públicas, como los BRTs, el
Puerto Maravilla, la ampliación del metro, el VLT y el laboratorio de control de dopaje:
Muchos de esos proyectos se implementan por medio de asociaciones público-
privadas (APP). Del total de…US$ 7.250 millones US$, el 57% viene de recursos
públicos, mientras que un 43% proviene de recursos privados” (Gobierno Federal, 08-
2015: 4).
Dos altos funcionarios del Estado vinculados a los juegos resumen las ventajas:
1) El alcalde de Río de Janeiro, Eduardo Paes, detalló el 22-05-15 la inversión en
millones US$: 8.200 obras de infraestructura, 2.200 estadios e instalaciones deportivas
y 2.333 “en el costeo del evento”, para un total de 12.733 millones US$, y subrayó que
"Lo más importante es que el 57 %...será costeado por empresas privadas". Destacó
que cada real (unos 32 centavos de dólar) invertido se quintuplicará en el legado para
la ciudad, que comprende: saneamiento de gran parte del espacio; descontaminación
de la bahía de Guanabara;, eliminación de un gigantesco basurero y creación del
Puerto Maravilla (proyecto de revitalización portuaria); nueva línea de metro de 20
Km. y 150 Km. de carriles exclusivos para autobuses. Estas inversiones permitirán
aumentar el uso de servicio público de transporte masivo de 19 % en 2009 hasta el 63
% en 2016 (EFE: 24-08-16).
2) Vinicius Lummertz, director del Embratur, Instituto Brasileño de Turismo: Se
invirtieron
“24.600 millones US$ en obras públicas y se estima un retorno de 1.700 millones, la zona del Parque
Olímpico fue la más beneficiada con la infraestructura renovada…y con el servicio de transporte;…De 2
horas en micro, hoy con el BRT la gente llega del centro a Barra en 0,33. Tiene una nueva línea de subte.
Las inversiones privadas hoteleras en Barra han crecido…La idea es que en el Parque Olímpico se
mantenga un centro de alto rendimiento…, pero el 40% quedará para viviendas y fines comerciales. En
la Arena Carioca 1…la capacidad bajará de 16.000 a 6.500 lugares…y se usará para recitales…, el Arena
Carioca 2 servirá como lugar de formación de pesistas, judocas, luchadores y jugadores de tenis de
mesa. Mientras que se mantendrán el Velódromo y el estadio de tenis, la Arena Carioca 3…se
transformará en una escuela para 850 estudiantes y la Arena del Futuro…se convertirá en 4 escuelas
públicas…” (Sartori: 24-08-16).

Las ventajas se resumen en las promesas que hicieron las autoridades de impacto
positivo de los juegos sobre la economía y de los proyectos de transformación -
iniciados con el Mundial- que incluyen “obras de reforma de las instalaciones

174
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

deportivas, así como equipos deportivos, infraestructura de movilidad, urbanización de


barrios precarios, proyectos de reestructuración urbana y embellecimiento de espacios
públicos” (Bessi y Navarro: 29-08-16).Además, los mostraron como evidencia de
progreso, orgullo nacional y de ratificación de la creciente condición de potencia de la
nación.
El estudio "Las Olimpiadas: salida económica nula para Brasil", realizado por la
compañía Solunion, propiedad de la firma de seguro Euler Hermes y MAPFRE y al que
tuvo acceso El País, concluye que el efecto de los juegos en la economía serán
negativos13:

1) Se producirá un leve crecimiento de la economía. Se espera que el turismo genere


400 millones US$ e incremente el crecimiento real solo 0,02%, menos de la mitad del
impacto estimado. Los proyectos de inversión (según cifras oficiales el total en
infraestructura olímpica entre 2009 y 2015 podría alcanzar unos 12.000 millones US$)
y turismo añadirán solo 0,05% en el crecimiento real del PIB, en el que se espera un
declive de 3,5% en 2016. La inversión en infraestructura y el gasto público adicional
para los juegos incrementarán la deuda pública en 0,04 puntos del PIB. 2) Creación de
empleo en el corto plazo, durante la fase de inversión se produjo un aumento del
número de nuevas compañías, especialmente micro y pequeñas empresas. Pero
muchas tendrán una vida corta y se espera que cierren apenas terminado el evento. 3)
Incremento del número de insolvencias empresariales en el estado de Río de Janeiro,
un 5% en 2016, cifra que se elevará al 12% en las micro y pequeñas empresas. 4)
Generación de presiones inflacionarias hasta 2020, 1% de la inflación general en 2016
(estimada en 8,6%) desagregada de esta manera: 0,4% es residual del Mundial, 0,4%
Juegos Olímpicos y 0,2% es resultado de acoger ambos eventos en un tiempo tan corto
(Elpais.com.uy: 24-08-16). En cuanto al empleo, la auditora Ernst & Young calculó que
los juegos crearán 1,79 millones de empleos permanentes y temporales en el área
metropolitana de Río de Janeiro (Ladiaria.com.uy: 24-08-16).

13
Ejemplo son los JO Atenas 2004 que “costaron US$11.000 millones. Un año más tarde se había
disparado el déficit fiscal griego y los problemas se fueron agravando hasta llegar a la actual crisis
económica, que se ha convertido en un fenómeno casi crónico de los graves problemas de la eurozona”
(Lanaciôn.com: 24-08-16).

175
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Para Larissa Lacerda, la herencia que van a dejar los JO en Río de Janeiro es una
ciudad aún más segregada y excluyente: “La Ciudad Olímpica fue construida a través
de la profundización de las desigualdades socio-espaciales, sobre la base de una
política de ‘limpieza’ de la ciudad” (Bessi y Navarro: 29-08-16).
Río de Janeiro se queda con la incertidumbre sobre qué sucederá con el plan de
convertir el Parque Olímpico en un vibrante distrito con departamentos de lujo y
oficinas:
“En medio de una persistente recesión…, el consorcio que gestó el proyecto, al 26-08-16 sólo ha
vendido el 7% de los 3.604 departamentos de la Villa Olímpica…. Con los instituciones financieras
cobrando tasas prohibitivas para préstamos, las agencias de bienes raíces han tenido que ofrecer
incentivos…Los organizadores de Río 2016 y funcionarios de la ciudad no han dicho nada sobre si este
débil mercado podría afectar el desarrollo futuro del Parque Olímpico, de 1,18 millones de metros
cuadrados. Carlos Carvalho, el multimillonario que concibió el proyecto del Parque Olímpico… dijo que la
villa de atletas es para la élite de la ciudad. Su nombre es ‘Ilha Pura’— Isla Pura — y el precio de los
apartamentos promedia los 435.000 dólares, con piscina, spa y peluquería. Los penthouses pueden
costar hasta 700.000 dólares. Otro acaudalado empresario construye torres con apartamentos de lujo
alrededor del campo en el que se disputó el torneo de golf de los Juegos. El costo más barato de un piso
anda en los 2 millones de dólares” (AP: 26-08-16).

La inversión en transporte favoreció principalmente a sectores de mayor capacidad


adquisitiva, se reprimieron los vendedores ambulantes y se atropelló al medio
ambiente. Según el Informe elaborado por el Comité Popular Río- Mundial y
Olimpiadas, un colectivo que reúne a sindicatos, organizaciones no gubernamentales,
investigadores, estudiantes, afectados por las intervenciones del Mundial y los Juegos
Olímpicos:

“concentrándose en mejorar el transporte en las zonas ricas…Al mismo tiempo, han cortado las líneas
de conexión entre las zonas ricas y pobres... Denuncia las medidas represivas del gobierno contra los
vendedores ambulantes, derivadas…por la imposición de las zonas comerciales exclusivas en las
cercanías de instalaciones deportivas donde se ubican los patrocinadores…Según denuncia del
Ministerio Público del Trabajo de Río de Janeiro,… una de las constructoras…de la Villa
Olímpica…mantenía a 11 trabajadores en una situación semejante a la esclavitud… Se ha edificado la
construcción de una plaza, llamada Vía Transolímpica, que implicó la destrucción de 200 mil metros
cuadrados de Bosque Atlántico… En noviembre de 2015 fue inaugurado un campo de golf olímpico en
Barra de Tijuca, pese a las denuncias de activistas ambientales que alertaban que el predio se estaba
construyendo en una reserva ecológica. También advertían que la empresa que llevó adelante el
proyecto, Fiori Emprendimientos, recibió, además del pago por la obra (60 millones de reales) la
adjudicación de terrenos linderos donde construyó edificios de viviendas con una altura superior a la
autorizada”. (Bessi y Navarro: 29-08-16; Ensinck: 24-08-16)

2.3.- La vigencia de la potestad, aprobada en agosto 2011, del gobierno federal


estatal y municipal de NO divulgar el presupuesto antes de la licitación de obras,

176
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

favoreció -tal y como ocurrió en el Mundial- la corrupción político-empresarial y más


inversión del Estado, que aumentó todavía al financiar las empresas constructoras

Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, OAS, Galvão Engenharia, UTC, Mendes Junior y
Engevix, encabezadas por Andrade Gutierrez y Odebrecht, son el grupo de empresas -
todas bajo investigación judicial y con algunos presidentes detenidos en junio 2015-
que

“manejan casi toda la obra pública de los gobiernos nacional, provinciales y municipales, controlaron las
obras para los JO -como antes lo hicieron con las obras para el Mundial- y financian las campañas
de casi todos los partidos políticos, entre ellos el oficialista PT y el opositor PSDB…Odebrecht está
presente en las UTE que se adjudicaron 8 de las 10 mayores obras para el Mundial y JO…y está
involucrado en más de la mitad de los proyectos olímpicos…Andrade Gutiérrez, segunda en el ramo
consiguió entrar en 6 de las 10 mayores obras del Mundial y JO…Hasta noviembre 2015 por su relación
con el desarrollo de 11 proyectos olímpicos, participan en 92% de los desarrollos con contratos valuados
en 10,000 millones de dólares” (Bimbi: 14-09-16; Meza: 16-09-16; Reuters: 14-09-16).

La corrupción ha involucrado a las empresas constructoras encargadas de la


realización de casi una docena de proyectos olímpicos y a los responsables de la
descontaminación en la Bahía de Guanabara, escenario de diversas competencias
acuáticas. En noviembre 2015 “A pesar de las campañas de limpieza en la bahía y los
más de 193 millones de dólares que el Banco Interamericano de Desarrollo (BID) y el
Banco Japonés para la Cooperación Internacional (JBIC) han invertido de manera
conjunta entre 1994 y 2004, los residuos parecen ganarle la batalla al gobierno de
Río”(Meza: 16-09-16).La corrupción aumentó el costo de las obras y por ende la
inversión del Estado, que se hizo todavía mayor al financiar a las empresas para evitar
la paralización del trabajo: “el gobierno de Río de Janeiro ha prestado dinero a las
constructoras, con el propósito de que no suspendan operaciones, ya que muchas se
han quedado sin líneas de crédito”…Hasta noviembre 2015 “el gasto para el desarrollo
de la infraestructura olímpica se ha excedido en más de 70 millones de dólares” (Meza:
2016).

2.4.- Se mantuvo la política de desalojos y despeje de espacios requeridos para


completar las obras de infraestructura necesarias para los JO, sustentada en la
violencia que continuó siendo un elemento fundamental para garantizar su
realización

177
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Según el Comité Popular Río-Mundial y Olimpiadas, la mayoría de los desalojos se


encuentra:

“en zonas donde el sector inmobiliario ha especulado para obtener altos rendimientos y ganancias. En
los últimos tres años, el precio del metro cuadrado de los bienes vendidos en Río de Janeiro ha
aumentado, en promedio, 29.4%, pero en algunas zonas, como en la favela Vidigal, la valorización ha
llegado a 481%. Las reubicaciones vinculadas a los Juegos Olímpicos han afectado a miles de familias por
medio de la coacción y de la violencia institucional, violando gravemente los derechos humanos” (Bessi
y Navarro: 29-08-16).

Las operaciones de “limpieza” de las favelas, militarización de Río de Janeiro y demás


violaciones de derechos humanos, expresa el papel protagónico, institucional y
legalmente establecido de la violencia como factor decisivo en los Juegos Olímpicos
(JO):
“El Comité de los Derechos del Niño de la ONU en el Informe del año 2015…denunció la tentativa del
gobierno de limpiar la ciudad de Río de Janeiro para los JO y...está profundamente preocupado por el
gran número de niños en las calles que son vulnerables a ejecuciones extrajudiciales, tortura,
desapariciones, ser reclutados por grupos delictivos, abuso de drogas y la explotación sexual…El Informe
de Amnistía Internacional….muestra cómo están poniendo en práctica las mismas políticas de seguridad
pública que han llevado a un aumento en el número de asesinatos y violaciones de los derechos
humanos por parte de las fuerzas de seguridad, desde el Mundial 2014…desde el comienzo del año 2016
las redadas de la policía en las favelas de Río de Janeiro han promovido un verdadero genocidio de
jóvenes pobres y negros… algo muy semejante sucedió con los Juegos Panamericanos y la Copa del
Mundo…” (Bessi y Navarro: 29-08-16).

El antecedente del colapso de la ideología deportiva “mundialista” y la


intensificación de la crisis económica, hizo que colapsara mucho más rápido la
ideología deportiva “olímpica” expresada en el rechazo a los Juegos Olímpicos (sin
llegar a las multitudinarias manifestaciones realizadas contra el Mundial) de sectores
importantes de la población, quienes descubrieron que no ganaban nada con los
juegos cuyos beneficiarios principales eran el Comité Olímpico Internacional (COI) y sus
socios transnacionales y nacionales, empresarios constructores corruptos asociados
con políticos sobornados. En encuesta de la consultora Ibope publicada por el
diario Folha de Sao Paulo poco antes del evento:
“50% de los brasileños se declara abiertamente en contra de la celebración de los Juegos y un 63%
opinaron que el evento traerá más problemas que beneficios, mientras que sólo 32%…confía en que el
balance final será positivo Además, durante el recorrido de la antorcha olímpica por 300 ciudades…una
decena de eventos convocados a través de las redes sociales intentaron, con éxito, apagarla” (Sotos: 29-
08-16; Ladiaria.com.uy: 24-08-16). A 4 días del inicio de los juegos “son pocos los que se muestran
entusiasmados con la idea de acoger el mayor evento deportivo del planeta” (Sotos: 29-08-16).

178
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Entre 2014-2016 los motivos para el descontento siguen siendo los mismos: “el
dinero público se escapa entre grandes eventos y mayúsculos escándalos de
corrupción mientras la desigualdad continua siendo el cáncer que corroe por dentro a
la sociedad brasileña” (Sotos: 29-08-16). Colapsada la ideología deportiva, intensificada
la crisis económica y a flor de piel el descontento y enojo de sectores importantes de la
población, la gran burguesía brasileña asociada y con el apoyo del gran capital
transnacional inicia su demoledora ofensiva final -teniendo como quinta columna a sus
medios de comunicación-desde mediados del 2015 y obtiene un éxito rotundo al
destituir a Dilma y asumir el gobierno en agosto 2016.

III.- SEÑALES QUELA IZQUIERDA NO PUDO CAPTAR POR ESTAR IMBUIDA DE LA


CONCEPCIÒN POSITIVISTA BURGUESA DEL DEPORTE, PARTICULARMENTE EN BRASIL
NO SUPO DESCIFRAR Y ABORDAR REVOLUCIONARIA Y ADECUADAMENTE LA
REALIDAD DEL MUNDIAL DE FÙTBOL 2014 Y LOS JO 2016 QUE CONTRIBUYERON A SU
DEBILITAMIENTO POLÌTICO Y A LA ESTREPITOSA DERROTA QUE DESEMBOCÒ EN LA
DESTITUCIÒN DE LA PRESIDENTA DILMA ROUSEFF

1.- Señales

Particularmente significativa para América Latina e indiferente para buena parte de


políticos y académicos e invisibilizada mediáticamente, fue la incorporación de la
región al rally de Dakar14: Chile, Perú y Argentina en 2009-2013; en 2014 Bolivia;
Argentina, Chile y Bolivia en 2015; Bolivia y Argentina en 2016. Cuestionada por
sectores sociales:
“En Chile, en 2009 devastó 6 sitios arqueológicos, 52 en 2010 y en 2011 126 (45% del
total); en 2013, el Colegio de Arqueólogos acusó al Estado por “dejar caer ante una
organización internacional al sistema institucional de protección ambiental y
patrimonial”, la Legislatura admitió que se destruyó más del 44% de los sitios en

14
Propiedad de T. Sabine comenzó en 1979 y es organizado por Amaury Sports Organization.
Oficialmente hasta 2014 sus competidores han asesinado a 28 africanos y 4 sudamericanos, muriendo
26 pilotos y personal de apoyo. En 2 ediciones no ha causado muertes. Por oposición del Frente Polisario
a que atravesara el Sáhara occidental (1992-1994), pasó a el Oriente, Malí y el lago Chad. En 2008 se
suspendió (Pérez: 26-06-16).
179
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Atacama; la ONG Acción Ecológica y la Fundación Patrimonio Nuestro presentaron -en


diciembre 2011- en la Corte de Apelaciones de Santiago un recurso contra el rally en
defensa del patrimonio arqueológico, pues el Consejo de Monumentos Nacionales
constató y comprobó -en informe de mayo 2011 - el grave daño arqueológico y
paleontológico en el norte. En Lima, el Museo Paleontológico advirtió que “en 2012
fueron irreparables los daños en Ica, desierto y gran yacimiento de fósiles del
Mioceno”; Pablo Trenque del Centro de Interpretaciones del Mundo Andino, el 01-07-
2013 señaló que espantará “vicuñas, guanacos y toda la fauna…parece anecdótico que
se permita que un rally cruce la quebrada de Humahuaca, declarada en 2003
Patrimonio Cultural y Natural de la humanidad”. El organismo turístico peruano
CANATUR aseguró que Perú (en millones US$) recibiría 100 en 2012, y 600 en 2013,
año en el que según los cálculos más optimistas no llegó ni siquiera a 75. En el Cono
Sur, compitió en 2011 el equipo de la Guardia Civil española patrocinado por
“narcotraficantes como Transpinelo SL” (Pérez: 26-06-16).

Otras fueron acontecimientos transcendentales que estremecieron como nunca


antes al deporte y lo convirtieron en centro de opinión pública mundial entre 2013-
2016:

1.- Extensión del protagonismo mundial del Papa Francisco al deporte15

Se desempeñó como anfitrión del encuentro realizado en el Vaticano entre líderes


de las iglesias católica, protestante, musulmana, judía, budista y evangélica, con
jugadores (Maradona, Del Piero, Pirlo, Shevchenko, Cordoba, Valderrama, Trezeguet,
etc.) que participaron en el Primer Partido Interreligioso por la Paz el 01-09-2014 en
Roma y fue el artífice del acuerdo Vaticano-CONMEBOL (Confederación de Fútbol de
América del Sur o FIFA de Suramérica), en 2015, en función de recaudar fondos para
los proyectos de inclusión social y educativa con niños Scholas Ocurrentes y la
Fundación P.U.P.I (Onlus).

15
En 2015 participó en la Asamblea de la ONU y visitó Cuba

180
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

2.- Descubrimiento de la participación de los más altos dirigentes de la Organización


Deportiva Mundial (ODM) o gobierno del deporte (encabezada por el Comité
Olímpico internacional o COI y la FIFA) y de empresas en trampas, doping, soborno y
corrupción, de una dimensión tan amplia, diversa, sistemática y practicadas
históricamente, que evidencia su conversión en conductas y acciones intrínsecas,
estructurales e institucionalizadas en el deporte hoy

Soborno y corrupción en el fútbol entre 1991-mayo 2015, en la relación dirigentes


mundiales de la FIFA-Empresas intermediarias-Empresas de marketing o patrocinio
deportivo, presentado públicamente por la justicia de EEUU el 27-05-15, y doping,
“lobby”, soborno y corrupción en el atletismo mundial (que involucra al Estado ruso y
como gobierno del deporte a la Federación Internacional de Atletismo y Federación de
Atletismo de Rusia) descubierto entre 2013 y 2015 por denuncias independientes y
reconocido como cierto por la Agencia Mundial Antidopaje (AMA) en noviembre 2015.

3.- Con dimensión mundial y ocurrido en América Latina, cierra el ciclo de hechos
extraordinarios en el deporte las inéditas, insólitas y multitudinarias manifestaciones
en Brasil contra el Mundial de Fútbol 2014, iniciadas en 2013 hasta la inauguración y
primeros días de su realización. Por primera vez en la historia unas movilizaciones de
tal magnitud y duración las realiza la población del país sede de uno de los dos más
importantes espectáculos deportivos económica y mediáticamente, e incluyen como
foco de su protesta al ente responsable-dirigente máximo del evento, la FIFA

¿Quién iba a imaginar a cientos de miles de brasileños protestando a las puertas de


los estadios en contra de que su país fuese sede del Mundial o a unos 500 líderes
indígenas de cien etnias protestando en la capital Brasilia, en reclamo de políticas para
sus pueblos, contra medidas gubernamentales que afectan negativamente a sus
territorios y contra el Mundial, quejándose de la corrupción? ¿Por qué Brasil, la meca
del fútbol, cuyos ciudadanos llevan en el ADN la pasión por el balón, se manifestó
fervientemente contra la celebración del Mundial? ¿Cómo pudo suceder esto si el
fútbol es motivo del mayor orgullo nacional? ¿Qué nueva pasión es la que se adueñó
de los brasileños para levantar su voz y gritar "¡no van a tener Copa, van a tener
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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

huelga!"? ¿Cómo se explica que las protestas por más de un año recorrieron el país
con lemas como "No va a haber Mundial ", "Mundial para quién " y preguntas-
reflexiones cuestionadoras: “¿El fútbol va a salvarnos la vida?” “¿Un nuevo estadio va
a arreglar mi situación?” “¿Qué sentido tienen las 12 sedes del Mundial?” "¿Qué vale
más: un partido de fútbol mundial o la vida de los niños y de las personas que estamos
sufriendo en Río de Janeiro. Tres hospitales por un estadio demolido?"
A quién en su sano juicio se le ocurriría que iba a presenciar serios
cuestionamientos y fuertes arremetidas contra los símbolos del Mundial y de la FIFA,
con consignas en las protestas como "es la Copa de la élite, de los ricos de la FIFA",
"Hey FIFA, ¡vuelve a Suiza!", "FIFA, vete al infierno"; en Belém, (capital del Estado de
Pará) los manifestantes opuestos al evento y al aumento de la tarifa del transporte
público, ocuparon el edificio donde estaba expuesto el trofeo del Mundial, lo que
obligó a los organizadores a cancelar esta exposición, que ya se había realizado antes
en veinte poblaciones brasileñas; y en la ciudad de Teresópolis (Estado de Río de
Janeiro) durante las manifestaciones se destruyeron balones de fútbol hinchables,
álbumes de cromos y mascotas del torneo y atacaron e incendiaron una réplica gigante
-de 6 metros de altura- de la Copa, ubicada en una de las principales avenidas y a
escasos kilómetros del lugar que sería el hogar de la selección de fútbol brasileña
durante el Mundial. Todas las protestas estaban unidas por las quejas contra la FIFA,
los elevados costos que ha tenido para las arcas públicas el Mundial, las ventajas
fiscales concedidas a los organizadores del evento y contenía demandas de
reivindicaciones muy específicas para mejorar la calidad de vida de la población.
Y resultaba todavía más inimaginable que las protestas continuaran pocas horas
antes de la inauguración del Mundial en Sao Paulo, simultáneamente con
manifestaciones en Río de Janeiro y en, al menos cuatro capitales regionales ¿Cómo
pudo pasar esto en Brasil, la meca del fútbol y en el continente del Papa del fútbol?
Sufriendo en carne propia el soborno, corrupción y arbitrariedad e imposiciones de
la FIFA y sus Socios empresariales transnacionales y nacionales y del gobierno, mejor
que nadie la población brasileña intuyó, vislumbró, comprendió y puso en el tapete la
verdadera, cruda, dura y dolorosa realidad del deporte mundial, enfrentándola con sus
protestas masivas y colocó en la palestra académica, política y mediática este debate.
Muy en contraposición a lo que ha ocurrido con los escándalos de “lobby”, soborno y
182
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

corrupción en el fútbol y atletismo en 2015, la vinculación del nuevo presidente de la


FIFA -electo en 2016- con trampas “legales” en 2006 y la conversión del deporte en
una mafia “globalizada o postmoderna”, que han tenido un limitado tratamiento por
académicos, intelectuales y políticos, son temas abordados, fundamentalmente, por
periodistas y el mediático ha sido el casi único y limitado escenario de discusión.
Los manifestantes brasileños con irreverencia y osadía, combinando intuición y
conocimiento, sentimiento y análisis, han realizado la crítica más demoledora y
profunda jamás realizada masivamente hasta hoy al deporte moderno y, por qué no
decirlo, llevándose por delante a la intelectualidad, academia y dirigentes políticos de
cualquier posición (derecha, izquierda, centro y demás matices políticos) brasileños,
latinoamericanos y del mundo entero.

2.- Concepción positivista burguesa del deporte

Desde el mundo político y académico se discute ampliamente y se someten a


críticas contundentes, estructurales, casi todos los escenarios de la vida social, desde
posiciones extremadamente conservadoras-reaccionarias hasta la ferviente izquierda
radical-revolucionaria, pasando por el amplio centro socialdemócrata, derecha
“democrática”, etc, teniendo en común, al menos de palabra, en discursos y
documentos, la necesidad, el deseo y el anhelo de algún tipo de transformación:
cosmética, semi-profunda, profunda y hasta radical. Pero, en el caso del deporte por
predominar -a tal punto que es prácticamente unánime- académica, política y
socialmente la concepción positivista16 burguesa que privilegia y coloca en primer y

16
Una muestra representativa de la concepción positivista legal y legítimamente establecida, la expresa
la máxima dirigencia de la Organización Deportiva Mundial (ODM) o gobierno del deporte: 1) La FIFA a
través del libro “FIFA 1904-2004. Un siglo de fútbol (2004)”, elaborado por el Centro Internacional de
Estudios del Deporte de la Universidad de Neuchâtel-Suiza: “Describe el desarrollo y la ascensión de
una organización que ha superado con éxito dos guerras mundiales e innumerables conflictos
regionales gracias a su convencimiento -lejos de la política- de que el fútbol puede ser un instrumento
aglutinador y de entendimiento entre los pueblos…Relata la historia de la FIFA, cuyo crecimiento le fue
confiriendo los rasgos de una verdadera empresa internacional por su envergadura administrativa,
financiera y económica, narrando al mismo tiempo la historia de un siglo de fútbol…”. La FIFA:
“…trabaja en pro de intereses que no se contraponen con el principio de soberanía de los Estados
nacionales”. Estableció un diálogo político con la ONU sobre la base de acuerdos de “licencias,
patrocinio y organización de iniciativas, actividades y proyectos conjuntos contra el racismo, trabajo
infantil en la producción de pelotas de fútbol, etc”(Eisenberg, Lanfranchi, Mason y Wahl, 2004: 5/7/
9/233). 2) El Comité Olímpico Internacional (COI) con el libro “Juan Antonio Samaranch: Memorias
183
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

casi único plano el análisis de la dimensión técnica (física, fisiológica, biológica, médica)
y estadística, el debate suele limitarse -en buena medida- a cuestiones operativas-
instrumentales, no estructurales, de forma antes que de fondo.
La concepción positivista burguesa del deporte se sustenta en tres grandes mitos-
bases:
“1) El deporte es un fenómeno natural y eterno, ha existido y existirá siempre en la
humanidad; es intrínseco a la naturaleza humana; es positivo, inofensivo, neutral,
apolítico, transparente, igualitario, democrático, fraterno. 2) En tanto fenómeno
positivo, el deporte no puede ni debe ser sometido a ningún tipo de cuestionamiento
de fondo teórico-conceptual; sus problemas o dificultades son concebidos como
distorsiones por ser corregidas y superadas por su propia dinámica: puede discutirse la
forma, más no el fondo. 3) Lo necesario e importante por estudiar del deporte son sus
aspectos técnicos, estadísticos y físicos, con el objetivo de mantener y reforzar su
carácter positivo, corrigiendo, superando las posibles distorsiones que puedan
presentarse. La asimilación de estos mitos se ha traducido en desconocimiento
generalizado del fenómeno deportivo, en general, y, particularmente, en la academia
universitaria, donde es marcada la subestimación del estudio del deporte como
fenómeno socio-histórico. Además, son el fundamento de las políticas deportivas
aplicadas en Venezuela y en América Latina y contribuyen con la desmovilización de la
población, al crear la ilusión de la existencia de un escenario social donde no existe el
conflicto, no existen intereses diferentes y lucha de poder.
…En el discurso positivista, toda actividad que involucre el esfuerzo físico, realizada
con fines diversos (salud, educativos, recreativos, placer, rendimiento-récord-
campeón...) y donde se establecen o no comparaciones de cualquier naturaleza entre
los participantes, es deporte. El núcleo central de este concepto de deporte son las
actividades cuyo fin es la comparación de rendimientos corporales para registrar

Olímpicas (2002)”, elaborado por Juan Antonio Samaranch, Presidente del COI en 1980-2001: “Prefacio
del Rey de España: Nos deja un ejemplo…de identificación con los valores esenciales y más humanos
que definen a la gran familia olímpica, y estimulan la paz y el entendimiento…Introducción de Jacques
Rogge, Presidente del COI: Voluntad de universalidad; el hombre de la unidad, ayuda y solidario; ha
luchado…a favor de las mujeres…Entendió…que los JO tenían que respetar el medio ambiente.” …Para el
COI: “la política ha estado siempre…presente en…el campo del deporte…Desde 1896 todos los JO han
sido organizados con el acuerdo y la participación…de los gobiernos…hemos establecido y reforzado la
cooperación con las Naciones Unidas, con organizaciones políticas regionales, organismos
intergubernamentales y…no gubernamentales” (Samaranch, 2002: 5-6/9; 11-18/72-73/75/77-78).

184
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

récords y designar campeones. Derivados o desprendidos de esta raíz conceptual o


concepto base, se crea un amplio e ilimitado número de conceptos (deporte
recreativo, deporte indígena, deporte penitenciario, deporte masivo, deporte
participativo, deporte escolar, deporte de la tercera edad, deporte para la salud…)
para completar el universo conceptual positivista. Pero, son conceptos sin autonomía e
independencia, sin dinámica propia, porque la lógica y sentido de su contenido viene
dada por la referencia obligada que hacen al deporte de rendimiento, de récords y
campeones. Tienen en común la primera palabra, deporte, precisamente su
homogeneidad viene dada por el hecho de explicarse únicamente en su relación con
respecto al deporte de rendimiento, de récords y campeones. De allí la dificultad, la
imposibilidad de poder presentar científicamente argumentos que expliquen lo
semejante y lo distinto de unos conceptos con otros, quedándose la explicación en lo
meramente operativo y en las características de los usuarios (edad, ubicación
social…)…Esta elasticidad en el uso de un concepto que sirve para designar cualquier
cosa y exactamente nada (explicando múltiples y diversas realidades, siempre desde la
óptica referencial del deporte de rendimiento, récords y campeones) no es fortuita. Es
la manera de impedir el análisis profundo y cuestionamiento crítico del fenómeno
deportivo.
En conclusión, el positivismo presenta un concepto de deporte cuyo núcleo central es
la realidad del rendimiento-récord-campeón y abarca fenómenos y realidades
totalmente diferentes (salud, educación física, juego, recreación…), las cuales son
cubiertas con ramificaciones conceptuales originadas en el concepto-base” (Altuve,
2009: 20-21).
Desde una perspectiva crítico- analítica-totalizadora planteamos la necesidad de
repensar el deporte con el objetivo de empezar a discutir su superación e iniciar la
creación de las bases teórico-conceptuales y concretas de una alternativa, concibiendo
el deporte
“como un fenómeno histórico y social, que ha existido en dos momentos y sociedades
diferentes: del 884 al 393 a.de C., en el esclavismo; y desde 1896 hasta hoy, en el
capitalismo industrial. En ambos casos, es una competencia cuyo objetivo es designar
un campeón o ganador, pero, en el capitalismo, alcanzar o implantar una marca o
récord (registro) es tanto o más importante que la designación del campeón, más que
185
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

ganar lo que interesa es con cuánto se gana. También es muy diferente la significación
social y la institucionalidad deportiva; basta con mencionar que en el esclavismo el
llamado deporte antiguo se circunscribía a los JO Antiguos, mientras que en el
capitalismo, en el deporte moderno, los JO son sólo un componente muy importante
de una cadena de competencias que comprende los juegos olímpicos, campeonatos
mundiales (de fútbol, atletismo, béisbol, béisbol…), fórmula 1, abiertos de tenis, tours
de ciclismo, campeonatos mundiales inter-clubes de fútbol, etc. Como todo
fenómeno social, el deporte nace, crece, desaparece, resurge con otros contenidos. La
sociedad funcionó sin deporte hasta la irrupción del deporte antiguo, que tuvo una
duración máxima de 1.277 años; luego, la sociedad funcionó perfectamente 1.503
años sin deporte, y hoy tenemos 112 años de deporte moderno (Altuve, 2009,: 21-22).
Para nuestra perspectiva crítico-analítica-totalizadora17, el deporte es un fenómeno
social

17
Existen otras posiciones que tienen en común concebir las dificultades existentes en el deporte como
desviaciones que pueden ser corregidas y superadas incorporando nuevas dinámicas y lógicas de
funcionamiento: 1) El problema central es la existencia de dirigentes deshonestos y corruptos y se
resuelve con una dirigencia honesta y comprometida con los ideales olímpicos. 2) Reconoce que el
problema es más complejo y es esbozada -al ser elegido Presidente de la FIFA en 2016- por Gianni
Infantino “Vamos a restaurar la imagen de la FIFA...Se necesita implementar las reformas…El fútbol
siempre existirá, pero la manera en la que hemos vivido y percibido a la FIFA como organización en los
últimos meses no puede continuar", y al analizar el escándalo del fútbol 2015 por: a) BBCMUNDO: “no
se trata de un mero problema de corrupción, individual o de camarillas, sino de la anomia moral e
institucional que ha caracterizado la operación global de la organización”. b) Thomas Bach, Presidente
del Comité Olímpico Internacional (COI), “Este es un problema estructural y no se resolverá
simplemente con la elección de un nuevo presidente” (BBCMundo: 07-11-15 y 22-04-16). 3) Precisa
que el problema es “estar absolutamente monopolizado, secuestrado, por el capitalismo y su lógica
mercantil…sirve para demostrar la superioridad científico-tecnológica de los países donde se concentra
el capital, de la mano de sus aliados, las transnacionales, constituyendo el espacio social de legitimación
de una ideología olímpica que afirma y legitima la política siempre rapaz de las superpotencias” (ANEPP,
09-09-15; Flores y Avendaño, 2014: 42/45), y presenta alternativas de reflexiones-propuestas: a) La
Asociación Nacional de Empleados Públicos y Privados de Costa Rica propone: “ convertir el deporte en
derecho del pueblo y que deje de ser el monopolio de unos pocos” (ANEPP, 09-09-15). b) Pedro García
Avendaño y Zhandra Flores Esteves (Universidad Central de Venezuela): “el desafío consiste
en…resignificar su carácter lúdico y sus beneficios, …Creemos…en la posibilidad de construir una
sociedad distinta, más humana y más justa representando el deporte un espacio más desde donde se
puede hacer frente al poder instituido e instituyente… Nuestra obligación es diagnosticar y develar lo
oculto y democratizar el acceso a esos hallazgos para propiciar un debate riguroso al respecto, dentro y
fuera del ámbito universitario, a lo que debe seguir la articulación con otros entes y personas para
iniciar acciones que realmente permitan transformar la institución deportiva” (Flores y García, 2014: 47).
Para una óptica con gran fortaleza y desarrollo en América Latina, el deporte “puede ser visto como un
foco, un punto donde el analista se interroga por la dimensión de lo simbólico y su articulación
problemática con lo político. Pero también: el deporte es un espacio donde se despliegan algunas de las
operaciones narrativas más pregnantes y eficaces para construir identidades. Entonces, en esa periferia
de lo legítimo (porque el lugar central seguirá siendo la cátedra o la política o los medios, según su
capacidad históricamente variable de instituir y administrar legitimidades del discurso) podemos leer
186
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

“gestado, creado y conformado en un momento del desarrollo de la sociedad, que está en permanente
interacción con los demás fenómenos sociales, transformándose al mismo ritmo que lo hace la sociedad
a través de la historia, formando parte e incidiendo en ese proceso general de transformación,
alimentando y alimentándose en ese proceso de cambio. Es un fenómeno social que responde a
intereses sociales, de clase, muy específicos, cumpliendo determinadas funciones en los distintos
momentos históricos y, por lo tanto, ha tenido y tiene relaciones e implicaciones políticas, económicas,
sociales, culturales…. El deporte es una esfera de poder y como tal debe asumirse (Altuve, 2009, espacio
abierto: 21-22)

4- Concepción positivista burguesa: Fundamento de las políticas públicas deportivas


de los gobiernos “progresistas y de izquierda” de América Latina

Evidencias las encontramos en Argentina donde se permitió el rally de Dakar en


2009-2013 y 2015-2016, permitido en Bolivia entre 2014-2016. En Bolivia, Evo Morales
recibió

“en abril 2016 la visita del recién electo nuevo Presidente de la FIFA, Gianni Infantino, con honores de
Jefe de Estado y le concedió ‘un retrato del héroe indígena Túpac Katari tallado en madera, los
textos De Orinoca a Palacio Quemado y Las tres posesiones originarias, el Libro del Mar y La
Condecoración Nacional de la Orden del Cóndor de los Andes, la más alta distinción que
otorga…Bolivia a ciudadanos e instituciones…por eminentes servicios, civiles o militares,
prestados a la nación y a la humanidad`’; Morales puntualizó que ‘es una enorme alegría
recibir una alta autoridad que representa al fútbol mundial y es un orgullo’", destacando que la
visita es importante porque forma parte de una nueva generación de dirigentes con
responsabilidad de dignificar al fútbol manchado por la corrupción, y pidió a la FIFA trabajar
para que el balompié boliviano se renueve y obtenga una nueva imagen frente al retraso con
relación a Suramérica; Infantino expresó su gratitud y reiteró el apoyo de la FIFA al fútbol en
Bolivia(ABI: 22-04-16). Casi paralelamente a la visita se tendió la primera duda sobre la

operaciones de tipificación que colaboren en las dificultosas construcciones de las narraciones


identitarias” (Alabarces y Garriga Zucal, 2014:328). A fines de los 90 se sientan “…las bases de
discusión, las que habilitan definitivamente la legitimidad de estos objetos -ampliamente, los deportes;
centralmente, el fútbol- para la investigación social y a la vez los marcos desde donde leerlos. Lo que
resta es la producción de empirias, locales, regionales o continentales; el establecimiento de
comparaciones…Pero también falta trabajo en otros rubros y otras perspectivas, por ejemplo: en una
economía política…que debe diagnosticar los modos de concentración y ampliación de los capitales
monopólicos en la comunicación de masas…; en el análisis de las relaciones entre deporte y política, en
el presente e históricamente… además, con la pregunta sobre el poder como marco de hierro. Aunque
nos equivoquemos: aunque sustancialicemos las posibilidades impugnadoras y resistentes de los sujetos
en las prácticas deportivas -incluidas las de los espectadores-, o a la inversa, aunque pensemos la
capacidad de instituciones, agentes y regulaciones como omnipotentes e irrefutables. Pero en ambos
casos, y en todas las posibilidades intermedias, preguntando siempre por las relaciones de poder
involucradas, que es la pregunta crucial de las ciencias sociales latinoamericanas” (Alabarces y Garriga
Zucal, 2014: 328-330; Alabarces, Pablo, 2011: 25-26/36-37). Marchi lo reitera, la sociología del deporte
en América Latina se ha desarrollado en “tres fases principales. En primer lugar, durante los años 1980,
hubo discusiones de los aspectos sociales de opresión del deporte sobre la base de la teoría crítica. En
segundo lugar, los estudiosos se centraron en los aspectos estéticos de los deportes y su práctica. En la
tercera etapa, los estudiosos han ampliado la sociología del deporte mediante la reconstrucción de su
legitimidad mediante un mayor análisis interseccional que une el conocimiento y la comprensión a
través de las ciencias sociales y humanas.” (Marchi, 2015: 533)

187
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

honestidad del Presidente de la FIFA, al sospecharse que participó en una trampa legal, en
2006, cuando era Director de Servicios Legales de la UEFA (FIFA de Europa): firmó un contrato
de venta de los derechos de TV de la UEFA Champions League en 2006/7 y 2008/9, con Cross
Trading (compañía offshore registrada en la pequeña isla de Niue, Océano Pacífico Sur,
propiedad del padre e hijo Hugo y Mariano Jinkis, acusados de soborno y corrupción por EEUU
en el escándalo FIFA 2015), empresa que los compró por 111.000 US$ e inmediatamente
vendió por -casi el triple- 311.170 US$ a la televisora ecuatoriana Teleamazonas; Cross Trading
también pagó 28.000 US$ por los derechos de la Supercopa de Europa y los vendió a
Teleamazonas por 126.200 US$, y tiene vínculos con Juan Pedro Damiani, miembro del Comité
de Ética de la FIFA que está bajo investigación interna. Inicialmente la UEFA negó la
negociación, , pero, en abril 2016 le dijo a la BBC que los derechos de TV se venden al mejor
postor en una licitación abierta y y competitiva. Una fuente de alto nivel de la FIFA informó a la
BBC que el acuerdo de 2006 firmado por el actual presidente Infantino, deberá ser examinado
por el Comité de Ética (BBCMUNDO: 22-06-16; Altuve, 2016: 14).

A continuación revisemos con más detalle los casos de Venezuela y Brasil.

Venezuela 1999-201618: Gobiernos de Hugo Chávez- Nicolás Maduro

Se define la inserción de la política pública deportiva en el proyecto de socialismo


del siglo XXI del Estado: la actividad física, el deporte y la recreación fomentan ideas y
prácticas que constituyen una fuerza cultural, social y política extraordinaria para
avanzar hacia el socialismo. Concretan y alimentan directrices establecidas en el
Proyecto Nacional “Simón Bolívar”, en el Primer (2007-2013) y Segundo (2013-2019)
Planes Socialistas y recogidas en el Plan Nacional de Deporte, Actividad Física y
Educación Física 2013- 2025:

“Nueva Ética Socialista: La plena realización del socialismo del Siglo XXI supone un proyecto ético y
moral socialista bolivariano, centrado en la configuración de una conciencia revolucionaria…, que busca
afianzar valores inalienables que deben estar presentes en nuestra vida cotidiana: amor, amar al
prójimo…; corresponsabilidad moral…; ser social colectivo, …la conciencia de que el ser humano solo
puede realizarse en los otros seres humanos, de aquí nace el sentimiento de solidaridad, de
desprendimiento personal…; supremo valor de la vida…; valor del trabajo creador y productivo… La ética
en el fondo trata de la vida humana y busca esa fuerza creadora que nos haga sentir personas con
dignidad…. El Proyecto Ético Socialista Bolivariano debe llevarnos a la construcción del hombre nuevo
del Siglo XXI…. Suprema Felicidad Social: El socialismo significa la construcción de una estructura social
incluyente, un nuevo modelo social, productivo, humanista y endógeno. Su fin último es la suprema
felicidad para cada ciudadano. La base de este objetivo fundamental descansará en los caminos de la
justicia social, la equidad y la solidaridad entre los seres humanos y las instituciones de la República
(Altuve 2012: 17-18).

Concibiendo el

“...Presupuesto como el programa de gastos, plan de acción político y administrativo, expresado en


términos financieros, de que se vale una organización para llevar a cabo su acción de gobierno. El
presupuesto es el instrumento económico de que se vale la Planificación para alcanzar sus metas físicas:

18
Basado en Altuve: 2011, 2012 y 2016.

188
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

actividades, obras o servicios. En efecto, el presupuesto es un verdadero plan de acción político y


administrativo. Los egresos previstos señalan las metas que aquél se propone alcanzar. Allí están sus
prioridades. La asignación de recursos también está allí. Ellos reflejan con fidelidad, más que cualquier
retórica, la orientación ideológica del gobierno. La ideología dice lo qué hay que hacer y para quién hay
qué hacer desde el poder, y estas determinaciones se concretan, de manera importante, en el
presupuesto del Estado. Por tanto, él es la expresión fidedigna de la orientación ideológica del gobierno”
(Prieto 2007: 201).

Y teniendo en cuenta que la inversión del Estado durante 1999-2013, realizada por
sus dos organismos principales nacionales (Ministerio del Poder Popular para el
Deporte o MPPD e Instituto Nacional de Deportes o IND), fue de al menos
3.602.026.152 US$, debemos destacar que el Programa Deporte de Rendimiento es el
centro o fundamento de la política pública deportiva porque:
1) Entre 1999-2006 concentró el 45,32% del presupuesto. Su importancia aumenta al
considerar el resto de la distribución: 37,82% en la administración y 7,32% se
distribuyó entre los Programas Deporte para Todos y Educación Física y Deporte
Escolar; y casi todo el 9,51% asignado al Programa de Instalaciones Deportivas fue
para infraestructura de Alto Rendimiento (Juegos Deportivos Juveniles 2005 y en 2006
para estadios y demás obras de la Copa América 2007). 2) Promediando el
presupuesto del MPPD e IND en 2010, 2011 y 2013, la asignación al Deporte de
Rendimiento fue de 66,58%, 6,87% se asignó a los Programas Administrativo y de
Gestión, quedando el 26,55% para los demás Programas.
La política pública deportiva venezolana tiene una fundamentación teórico-
conceptual coherente con la orientación presupuestaria y con la auto-evaluación
estatal: el presupuesto está concentrado en el deporte de rendimiento, dirigido a
producir campeones y organizar-participar en eventos. Y la masificación-
democratización deportiva está concebida, principalmente, para alimentar al deporte
de rendimiento. Y según el Estado, ha sido muy exitosa porque se han obtenido -
históricamente- los mejores resultados en importantes competencias, se ha
participado en eventos de dimensión continental y mundial, se han organizado
exitosamente eventos nacionales e internacionales y se ha profundizado la
masificación-democratización deportiva.
Llama poderosamente la atención que en la política pública deportiva venezolana, la
única referencia -al menos en términos explícitos- del Estado sobre el deporte
mundial hoy, es que se realizará “una gestión de calidad, a tono con las tendencias

189
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

mundiales del sector”, planteamiento reiterado en la Visión del Ministerio del Poder
Popular para el Deporte (MPPD).
La ausencia de tratamiento estatal a la temática del deporte en la globalización
adquiere importancia cardinal porque uno los principios fundamentales de la política
pública deportiva es convertirse en una fuerza para avanzar al socialismo sustentada
en valores y conductas como justicia social, equidad, solidaridad, amor,
corresponsabilidad moral, ser social colectivo, supremo valor de la vida, trabajo
creador y productivo ¿Cómo puede alcanzarse y cultivarse este principio si la política
pública deportiva se inscribe, está en función y gira en torno al deporte mundial
globalizado que funciona-acciona y cultiva valores y conductas totalmente contrarios?
Imposible alcanzarlo y cultivarlo.

Brasil 2003-2016: Gobiernos de Lula Da Silva-Dilma Rouseff (2003- agosto2016)

Consideremos los planes-proyectos de las Secretarías del Ministerio del Deporte


Secretaría Nacional de Deporte de Alto Rendimiento-Ministerio del Deporte de Brasil

1) Plan Brasil Medallas 2016: Iniciado el 13-09-2012 por la presidenta Dilma Rousseff,
“Es un plan de inversión adicional de R$ 1.000 millones entre 2013-2016 en deporte de
alto rendimiento para lograr que Brasil -por primera vez en la historia-clasifique entre
los 10 primeros lugares de los JO y entre los 5 mejores de los Juegos Paralímpicos. De
ese financiamiento R$ 328 millones se destina a apoyar las selecciones de atletas por
diversas vías, entre ellas la Bolsa Pòdio (creada por la Ley 12.395/2011), contratación
de técnicos y equipos multidisciplinarios, compra de equipos y materiales y viajes para
entrenamiento y competiciones, y R$452, 2 millones están siendo utilizados en
construcción, reforma y equipamiento de centros de entrenamiento de varias
modalidades y complejos multideportivos. Las empresas estatales Banco do Brasil,
Caixa Económica Federal, Petrobras, Correos, BNDES y Banco do Nordeste, forman
parte e invertirán en el Plan Brasil Medallas” (MD: 17-09-16).

2) Centro de Iniciación del Deporte: Su objetivo es ampliar la oferta de


“infraestructura y equipamiento público deportivo…, incentivando la iniciación deportiva en territorios
de alta vulnerabilidad social de las ciudades…integra en un mismo espacio…actividades y práctica de

190
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

deportes orientados al deporte de alto rendimiento, estimulando la formación de atletas entre niños y
adolescentes”. El…financiamiento previsto es de más de R$ 839,3 millones” (MD: 17-09-16).

3) Red Nacional de Tratamiento: Partiendo del legado de infraestructura de los JO


2016

“Pretende articular las instalaciones. Su objetivo es crear un camino para el atleta desde su entrada
hasta el alto rendimiento. Por eso, las instalaciones tienen papeles distintos en la Red, desde aquellas
para descubrir talento, las que garantizan la formación de base, hasta las especializadas para atletas de
las selecciones nacionales. La inversión sobrepasa los R$ 3.000 millones” (MD: 17-09-16).

4) Bolsa Atleta: Mecanismo de apoyo económico al atleta de alto rendimiento, fue


creado en 2005. Al cumplir 10 años en 2015 esto fue lo que dijo la Presidenta Dilma
Rouseff:

“eran 975 bolsas en 2005 y 6.093 en 2.015. Son 43 mil bolsas en 10 años. Con mucho ánimo
pretendemos avanzar para asegurar que el mayor legado de las Olimpíadas y Paralimpíadas, es la
formación de atletas de alto rendimiento y de masificación de todos los deportes” (MD: 17-09-16).

5) Responsabilidades en los Juegos Olímpicos y Paralímpicos Río 2016

6) Juegos Escolares: Con 41 años de incentivo a la práctica deportiva en escuelas, su


objetivo es estimular el espíritu deportivo y difundir valores del deporte entre jóvenes.
(MD: 17-09-16).

Secretaría Nacional de Deporte, Educación, Ocio e Inclusión Social-Ministerio del


Deporte de Brasil

Su finalidad es realizar y apoyar competiciones y eventos de deporte y ocio,


actividades que contribuyan a acceder al deporte a la población de todas las edades,
estructurar la política de deporte estudiantil articulada con acciones orientadas a la
iniciación y formación deportiva y competencias deportivas, ligadas al estudio de la
práctica del deporte y ocio.

1) Segundo Tiempo: Su objetivo es democratizar la práctica y cultura del deporte para


“promover el desenvolvimiento…de niños, adolescentes y jóvenes, como factor de formación de
ciudadanía y mejora de calidad de vida, prioritariamente en áreas sociales vulnerables” (MD: 17-09-16).

191
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

2) Deporte en la Escuela: Creado por la integración de Segundo Tiempo con Más


Educación del Ministerio de Educación, duplicó la atención anual de Segundo Tiempo a
más de 5 millones de beneficiados profundizando la democracia en el deporte. La
formación en la escuela alimenta la base deportiva, detecta talento y es proveedor de
atletas a desarrollarse en los escalones del alto rendimiento: Escuela-Municipal-
Estado-Regional-Nacional y modalidades Olímpico y Paralímpico (MD: 17-09-16).

3) Deporte y Ocio (PELC): Creado en 2003, cumplió 13 años en 2016 y proporciona

“práctica de actividades físicas, culturales y de ocio para todos los grupos etarios y personas portadoras
de deficiencias, estimula la convivencia social, la formación de gestores y líderes comunitarios, favorece
la investigación y socialización del conocimiento, contribuyendo para que el deporte y ocio
sean…políticas al servicio de todos…Actualmente tiene dos Núcleos: Urbanos y para Pueblos y
Comunidades Tradicionales (…pueblos indígenas, quilombolas, populares, ribereñas, entre otras)…En
2012 el Núcleo de Vida Saludable del PELC fue reconocido como un importante Programa Social” (MD:
17-09-16).

4) Competiciones y Eventos de Deporte y Ocio: Desafíos para democratizar el


deporte:

“Asegurar prácticas deportivas y de ocio con acciones diferenciadas para públicos específicos…Ampliar
el acceso al deporte y ocio, a través de programas de inclusión social…Expandir y modernizar los
espacios públicos deportivos…Estructurar un sistema de competiciones estudiantiles…Promover
competiciones y eventos deportivos que motiven a la práctica deportiva regular…Contribuir a mejorar la
calidad de vida, promoviendo ejercicio de ciudadanía y desenvolvimiento social” (MD: 17-09-16).

5) Juegos de Pueblos Indígenas: Se realizaron en 2013 (la primera edición fue en 1996)
y su objetivo es la integración de las diferentes tribus, así como el rescate de las
celebraciones de las culturas tradicionales (MD: 17-09-16)

6) RED CEDES: Creada en 2003, está orientada al fomento de la investigación


integrada

“al Programa Brasil Potencia Deportiva Estudios e investigaciones científicas y tecnológicas para el
desenvolvimento del deporte. El Ministerio de Deporte en 2013 firmó un convenio con el Consejo
Nacional de Investigación Científica y Tecnológica (CNPq)… En 2014 se invitó a investigadores para
financiarles proyectos y el resultado de esta iniciativa sería la realización de 3 periódicos, 4 libros y 9
eventos científicos” (MD: 17-09-16).

192
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

Secretaría Nacional de Fútbol y Defensa de los Derechos de los Fanáticos-Ministerio


del Deporte Brasil

1) Legislación
2) Fútbol Femenino: Con el apoyo del Ministerio del Deporte empezó a desarrollarse
“en diciembre 2011…y febrero 2012…El Ministerio ha facilitado la realización de tres
Copas Libertadores: 2012 Pernambuco, 2013 Foz do Iguaçu (PR) y 2014 Sao José dos
Campos (SP)…El Campeonato Brasileño en 2013…fue patrocinado con R$ 10 millones
de la Caja Económica Federal y el apoyo del Ministerio… En 2014, 2015 y 2016 se
repitió el incentivo, con la misma cantidad anual…El Ministerio…también…invierte
en…campeonatos escolares de menores de 17 años y de la Universidad de Brasil Copa
CBUFF: la primera CBUFF 2014 tuvo una inversión del Gobierno Federal de más de R $
2 millones y en 2015 R $ 2.475 millones. El Ministerio beneficia a 137 atletas a través
del programa Bolsa Atleta, con una inversión anual de R$ 2.52 millones y 22 de la
selección se benefician de los premios del Plan Brasil...El Ministerio aprobó -a través de
la Ley de Incentivo al Deporte- el proyecto para la construcción del Centro de
Excelencia de Fútbol en Foz do Iguaçu (PR)…sede de los equipos de formación y
selecciones” (MD: 17-09-16).

3) Torcida Legal: Pretende mejorar las condiciones de seguridad y confort del público
en los estadios de fútbol y prevenir la violencia en los espectáculos deportivos (MD:17-
09-16).

4) Gobierno de la Copa 2014


5) Estadio: Obtener información sobre los estadios de fútbol para mantener vigentes
sus requisitos exigidos por el Sistema Brasileño de Clasificación de Estadios (MD: 17-
09-16).
Otros programas, proyectos y acciones del Ministerio del Deporte de Brasil son:
Artículos Deportivos City, Plaza de la Juventud, Voluntarios Brasil y la Ley de Incentivo
al Deporte que desde su
“implementación en 2007…destinó más de R$ 869 millones para…proyectos aplicados al deporte como
recreación, instrumento de educación y alto rendimiento. Establece que personas físicas y jurídicas
tienen derecho a incentivar proyectos deportivos…por medio de donaciones o patrocinios…Las personas

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jurídicas tributadas con base en el lucro real son empresas…multinacionales y conglomerados de los
sectores bancario, industrial, de transporte aéreo y de telecomunicaciones, entre otros.” (MD: 17-09-
16).

Una vez revisad la síntesis de los programas-proyectos de Brasil, llama


poderosamente la atención la semejanza en la columna vertebral de la política pública
venezolana y brasileña: se concentra en pretender alcanzar destacadas actuaciones en
las más importantes competencias internacionales y organizar-participar en eventos
mundiales, siendo la masificación-democratización deportiva un elemento
fundamental para el desarrollo del deporte de rendimiento que se traduzca en
victorias a nivel internacional. Se reconoce, acepta y asume el carácter
intrínsecamente positivo del deporte; no se critican las significaciones, ideas,
conductas y valores capitalistas que tiene como empresa transnacional que es; y se
asume como transformación revolucionaria fundamental o cambio social significativo
intentar convertir al país en una potencia deportiva, ganador en las principales
competencias y organizador-participante de y en eventos deportivos internacionales.
La academia y los políticos-gobiernos de izquierda no debaten sobre el carácter
estructural del deporte, con respecto a quienes ejercen y detentan el poder y
usufructúan los principales beneficios competitivos y económicos producidos
(relaciones de poder), los intereses sociales involucrados (carácter de clase), etc.., no le
hacen serios cuestionamientos al deporte porque están anclados en la concepción
positivista burguesa. No critican teórica-conceptual, concreta y estructuralmente la
orientación, lógica, dinámica de funcionamiento y esencia del espectáculo deportivo.
No se cuestiona la esencia del deporte convertido en Empresa Transnacional Atípica
de Espectáculo y Entretenimiento (EDTEE) y, obviamente, tampoco se plantea su
superación en términos estructurales, ni siquiera es considerada -al menos- como
posibilidad de análisis.
Por eso políticos y académicos prácticamente han ignorado al Mundial 2014 y los
Juegos Olímpicos (JO) 2016 en los análisis sobre el golpe de Estado “suave o blando”
en Brasil.
Y también por eso el PT con Lula y Dilma -coincidiendo con Chàvez y Maduro en
Venezuela, pero, en mayor escala- se plantearon como objetivos fundamentales de su
política pública deportiva alcanzar macro resultados en las competencias (entre los 10

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primeros en los JO, por ejemplo) y realizar de manera seguida, inmediata, los dos
espectáculos mundiales más costosos, complejos e importantes económica y
mediáticamente, obtener estos éxitos ratificaba la condición de gran potencia de
Brasil, su entrada completa y definitiva al club de las superpotencias, haría
indestructible la unidad nacional y llevaría a la cúspide política a sus impulsores. Y
colocaron como punto de honor y a cualquier precio -independientemente de la difícil
situación económica que empezó a vivirse en plenos preparativos -garantizar la
realización del Mundial y los JO tal y como lo establecieron la FIFA y el COI,
concediendo privilegios, prebendas y competencias a la FIFA y al COI que afectaban
negativamente al país, a la población e incluso atentaban contra la soberanía nacional
y derechos humanos; ante las insólitas, inéditas y multitudinarias protestas populares
con demandas de mejoras sociales y contra el Mundial, respondieron, respondieron
con una buena dosis de violencia física directa.
El PT, Lula y Dilma -porque son positivistas en el deporte y no vieron ni trataron las
relaciones de clase y de poder- no contaron con que las presiones y exigencias de
privilegios de todo tipo por parte de la FIFA y sus Socios (y del COI y sus Socios)
externos e internos, serían mantenidas sin ninguna contemplación ni consideración
con la situación económica difícil que atravesaba el país. Cumplir a toda costa con esas
exigencias contribuyó sustancialmente a colocar paulatinamente al gobierno a
espaldas de sectores importantes del pueblo, que no podían aceptar ni entender el
cumplimiento total con la FIFA-COI y sus Socios cuando escaseaban los ingresos
fiscales, y sumidos en una gran corrupción de empresarios y políticos en la refacción y
construcción de las obras para el Mundial y los JO. Todo ello fue aprovechado y
canalizado por la alta burguesía brasileña que con el apoyo del capital transnacional y
con sus medios de comunicación a la cabeza, adelantaron el proceso que llevó a la
destitución de Dilma.

CONCLUSIÒN FINAL

En medio de una bonanza económica y favorables condiciones políticas nacionales e


internacionales, el PT y Lula Da Silva imbuidos de la concepción positivista, la visión
burguesa del deporte, promovieron el Mundial de Fútbol y los JO difundiendo
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intensiva y extensivamente la ideología deportiva globalizadora, logrando consenso


social absoluto y total. Inclusive, contaron con el apoyo de los sectores de las clases
dominantes más reaccionarios asociados al gran capital transnacional, a quienes no le
fueron afectados sustancialmente de manera negativa sus intereses por las políticas
económicas gubernamentales, pero, veían como potencial peligro para sus intereses -
entre otras cosas- la política social y exterior del gobierno, y en definitiva, querían
volver al poder para implantar su propio proyecto político, aún cuando entendieron
ese no era el momento y decidieron esperar para actuar.
Simultáneamente se deteriora la situación económica -con la caída de los precios de
las materias primas exportables que produce una abrupta disminución de los ingresos-
que afecta negativamente a la población y avanza la preparación del Mundial de Fútbol
2014 que agrava el problema de la vivienda con las reconversiones urbanísticas y la
especulación inmobiliaria sin precedentes producidas al institucionalizar-legalizar la
violenta-represiva política de desalojos y despeje de espacios requeridos para
completar las obras de infraestructura necesarias, refaccionadas y/o construidas
incurriendo en una gran corrupción político-empresarial que elevó los costos y
aumento la inversión del Estado en el Mundial.
La desfavorable situación de sectores importantes de la población atribuida a
razones económicas, se acrecienta de manera irreversible y constante como
consecuencia del avance de los preparativos del Mundial 2014: la esperanza e ilusión
de progreso y ventajas económicas a crearse con la inversión privada se fue
desvaneciendo, al final sólo fue del 1% del costo total del evento; al mismo tiempo se
evidenciaba que las prebendas, privilegios y competencias otorgadas a la FIFA y sus
Socios (empresas transnacionales patrocinantes), sustentados legalmente, se
traducirían en menos ingresos para el Estado e incluso hasta constituyeron violaciones
a la soberanía nacional.
Resultaba incomprensible y molestaba ostensiblemente que ante el aumento e
intensificación de problemas cotidianos por limitados recursos estatales, el gobierno
tuviera que dedicar ingresos cada vez más escasos (por la caída de los precios de los
productos de

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de exportación) a garantizar el Mundial beneficiando principalmente a la FIFA y sus


socios transnacionales y nacionales, empresarios constructores corruptos asociados
con políticos sobornados, etc.
Y teniendo como detonante el aumento de las tarifas de transporte, se produjeron
las inéditas, insólitas y multitudinarias protestas en 2013 que articularon exigencias de
solución de necesidades básicas y severos cuestionamientos a la realización del
Mundial, a su simbología y a la FIFA. La aprobación del primer gobierno de Dilma
Rouseff cayó a la mitad.
Con una estrecha victoria en octubre 2014, Dilma Rouseff debilitada políticamente
comienza su nuevo período, designa un Ministro de Hacienda proveniente de la banca
privada para adelantar un programa económico de ribetes neoliberales que produce
enojo, desilusión y pérdida de credibilidad entre la población que la apoyó porque
considera que cumplió el programa de gobierno de sus adversarios de campaña.
La situación ahora es mucho más difícil, la crisis económica se ha agravado y el
debilitamiento del gobierno es mucho mayor y sigue con los preparativos de los
Juegos Olímpicos (JO) signados por la continuidad en los violentos desalojos,
corrupción político-empresarial en las obras, ausencia de efectos económicos positivos
significativos, prebendas y privilegios diversos para el COI y sus Socios, y aumento de la
inversión estatal.
Colapsada la ideología deportiva globalizadora basada en la concepción positivista
del deporte manejada por el PT primero con Lula y luego con Dilma e intensificada la
crisis económica y a flor de piel el descontento y enojo de sectores importantes de la
población, la derecha más oscura considerò que era el momento de pasar a la ofensiva
final y y obtiene un éxito rotundo al destituir a Dilma y asumir el gobierno en agosto
2016.
Es importante destacar que el PT, Lula y Dilma estaban convencidos de las verdades
positivistas sobre el deporte, siguieron adelante y hasta el final sin cortapisas con el
mismo libreto y concepción que definieron desde que promovieron la candidatura y
Brasil ganó la sede de los 2 eventos. Y no podía ser de otra forma, la única manera de
poder empezar a vislumbrar otro tipo de conducta y accionar político con respecto al
deporte desde otra perspectiva teórico-conceptual, particularmente creemos de

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aquella que parte de concebirlo desde el carácter de clase que tiene y considera que la
concepción positivista responde a los intereses de la burguesìa.
Siendo cierto que “el fútbol…fue un operador del descontento”, el asunto es mucho
más profundo y complejo. Los problemas económicos permitieron facilitar a la
población la comprensión o debelar la realidad de los dos eventos deportivos que la
afectaba negativamente, al mismo tiempo dichos eventos actuaron como referencias o
catalizadores para hacer exigencias económicas-sociales y fueron fuente de
descontento y enojo que se tradujo en debilitamiento político gubernamental. Dicho
de otra manera, la situación económica creó condiciones favorables para el
cuestionamiento del Mundial y los JO, que al hacerse justificó la exigencia de
reivindicaciones económico-sociales y aumentó la presión política sobre el gobierno.
Esto no podían leerlo el PT, Lula y Dilma desde su concepción positivista y por eso
nunca cambiaron su posición sobre los eventos.
Finalmente, consideramos muy pertinentes, vigentes, las reflexiones de Boaventura
De Sousa Santos del 01-01-2016:
“prestar especial atención a algunas señales del presente para ver en ellas tendencias,
embriones de lo que puede ser decisivo en el futuro…Si algo se puede afirmar con
alguna certeza acerca de las dificultades que están pasando las fuerzas progresistas en
América Latina, es que tales dificultades se asientan en el hecho de que sus gobiernos
no enfrentaron ni la cuestión de la Constitución ni la de la hegemonía…Por eso es
necesario que las izquierdas sepan tener miedo sin tener miedo del miedo. Sepan
sustraer semillas de esperanza a la trituradora neoliberal y plantarlas en terrenos
fértiles donde cada vez más ciudadanos sientan que pueden vivir bien, protegidos,
tanto del infierno del caos inminente, como del paraíso de las sirenas del consumo
obsesivo. Para que esto ocurra, la condición mínima es que las izquierdas permanezcan
firmes en dos luchas fundamentales: la Constitución y la hegemonía (De Sousa Santos,
2016: 205/209/211-212).
Reiteramos, una lucha fundamental de las izquierdas en la que deben permanecer
firmes es en la hegemonía. Y el deporte es un territorio para disputa de la hegemonía.
Puede avanzarse en esta dirección con el debate sobre ¿Otro deporte es posible?, que
es motivo de otro trabajo.

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“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

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205
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

LA HERENCIA EN LA CULTURA DOMINICANA

Jose Francisco Jimenez S.

A raíz de la conquista de América hubo un proceso de colonización en la


historia dominicana que se manifestó dentro de un patrón eminentemente
prejuiciado, primero con la desindianización de la cultura aborigen, después contra el
negro africano, dos etnias marginadas por una discriminación racial que ocultaba otra
más poderosa, la social. También una transculturación europea para establecer la
cultura europea occidental mediante la implantación de la lengua o el idioma y las
demás expresiones socio- culturales de los españoles conquistadores.
En este proceso se desató una opresión esclavista, que explotó a la población
nativa y también a la negra. Y así modificó su estilo de vida e impuso un nuevo orden
para lo cual utilizó el empleo desgraciado del látigo, la tortura y la horca.
Fruto de ello, crecieron la rebeliones y alzamientos de los indios y los negros, quienes
se vieron forzados a la huida hacia los montes para escapar a un lugar donde se vieran
libres de opresión y castigo.
En su escondite floreció la llamada cultura cimarrona como expresión de una
resistencia a los nuevos valores establecidos por los españoles y como ratificación de


Animador Socio-cultural | http://josefj.blogspot.com

206
“Práticas de Animação” ano 10 | número 9 | outubro 2016

los valores propios, salvaguardando así su cultura, sus rasgos entrañables de su hacer y
sentir. En suma, sus valores, su libertad e integridad.
Constituyendose el cimarronaje, sobre todo en el siglo XVI, en un vehículo que
sirvió de encuentro de tres culturas diferentes: la india, la africana y la española. Esas
tres culturas se conjugaron para formar una nueva e idéntica: la cultura cimarrona.
Entonces el cimarronaje no fue solo una vía de escape, sino una forma de
rebelión, y por consecuencia de subsistencia, de libertad y conservación de los rasgos
distintivos culturales propios.
La intensa relación o contacto de los españoles y negros esclavos con nuestros
primeros pobladores los indios tainos no duro en nuestra isla mas de 50 años. Lo que
significó que su impacto fuera limitado en la cultura indígena.
Dentro de una dimensión justa y apropiada, lo indígena no debe de exagerarse en
nuestra cultura, pues factores de orden genéticos explican el mayor peso de la cultura
europea y africana en el surgimiento de la nuestra.
Lo que si es justo señalar es lo sorprendente de la persistencia de ciertas
herencias culturales indígenas, a pesar del corto tiempo de contacto. Empero es en el
campo económico donde puede advertirse un continuo impacto de la cultura aborigen
a través del tiempo, impacto que ha ido perdiendo importancia.
Así vemos como la cultura aborigen nos legó como herencia la producción
artesanal de confección manual y de escaso desarrollo tecnológico, también el conuco,
que se caracteriza por el cultivo simultaneo de varios productos en una misma zona, el
uso del casabe, alimento duradero que significó la salvación de los españoles en su
regreso a su viejo continente, pues estos carecían de alimentos duraderos, así como el
uso de nuevo sistema de pesca con nasa y corrales etc. Es indiscutible que la yuca y su
industrialización vía el casabe representan el aporte más importante de la agricultura
taina a la dieta dominicana hasta nuestros dias.
Sin dudas, los mecanismos de subsistencia traídos por el español fracasaron
parcialmente y fueron los métodos indígenas los que permitieron que los primeros
hispanos adoptaran formas desconocidas en España, como las antes mencionadas.
Esto demostró que a diferencia de lo que creían los españoles, los indios tenían su
cultura que se expresaba en la preparación de sus alimentos, en su religión, en sus
artes y en todo un mundo que era producto de su trabajo frente a la naturaleza.
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La cultura dominicana es un mosaico de influencias de otras culturas, por


ejemplo el impacto sobre las artes y las letras dominicanas sobre temas indigenistas es
significativo, basta con mencionar a Manuel de Jesús Galván y su novela “Enrriquillo”,
Javier AnguloGuridi y su obra teatral “Iguaniona”, José Joaquín Pérez y su
poema”Fantasías indígenas”,y en nuestro siglo Juan Bosch, Fernández Simó y Marcio
Veloz Maggiolo, con cuentos y novelas.
También, en el campo de la música y la pintura su influencia ha sido limitada,
empero conservamos como herencias marginales, la maraca, el guiro y el fututo de
lamí, así como pinturas, escultura y artesanías etc. Además la herencia taina en el
campo de la medicina popular, indudablemente ha sido poco estudiada. Mas en la
tradición oral a pesar del tiempo persisten en los dominicanos, leyendas de la Ciguapa,
la Jupia y la India del charco, todos ligados a nuestros primeros pobladores, el indio
taino, igual que las creencias mágico- religiosas.
Nosotros pensamos junto a otros autores que el sentimiento de hispanidad en
el dominicano ha sido mayor que las percepción real de la raza que somos.
A sabiendas “ que los grupos étnicos que proporcionaron el mayor caudal de
rasgos y complejo, a la cultura nacional, son el español y el africano, con una evidente
e indiscutible prevalencia del primero sobre el segundo a pesar de la opinión de
algunos sociólogos e historiadores cuya posición anti- española los lleva a
menospreciar la preponderancia hispánica para encumbrar las influencias ejercidas por
los esclavos de distintas naciones africanas”.
Los españoles buscaron implantar su forma de vida y los caracteres que habían
alcanzado por siglos, en ese sentido el profesor Juan Bosch nos dice que “ España nos
trasmitió todo lo que tenia: su lengua, su arquitectura, su religión, su manera de vestir
y de comer, su arte militar y sus instituciones jurídicas y civiles, los ganados y hasta los
perros y las gallinas”. Entonces España trajo a Santo Domingo el mayor caudal de sus
valores culturales.
La historia dominicana nos ofrece varios momentos de reconexión con la
cultura española, la herencia es múltiple en nuestra cultura de hoy, pero donde va a
desempeñar el papel máximo es en la poesía popular dominicana como instrumento
expresivo y comunicativo, al decir del Dr. Bruno Rosario Candelier “ con la llegada de

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los españoles, llegaron al país romances y cantares del folclore español junto con otras
manifestaciones de la cultura hispana”.
Así mismo el reencuentro con altos valores de la hispanidad, habremos también
de experimentarlo los dominicanos, al entrar en contacto con los grupos españoles
que emigraron a raíz del triunfo del Franquismo en España y le facilitaron una nueva
dimensión a nuestra sociedad tradicional. Esa emigración resulto ser altamente
provechosa, pues los resultados podemos buscarlo en la formación educativa de la
generación nacida durante la guerra civil española 1939.
La presencia Africana en la cultura dominicana se ha dicho que es periférica y
aunque sin dudas existieron y existen elementos culturales de influencia africana
muchos autores hispanófilos se niegan ha admitir.
El negro africano llego a América en calidad y/o condición de esclavo y fue
precisamente él, quien les brindo al español conquistador, con su trabajo gratuito, las
riquezas del continente descubierto. Este fue traído y trasplantado a un hábitat,
integrado a una sociedad distinta a la suya y en la que se encontraba en un estado de
absoluta subordinación y opresión económica y social, viendo así el negro africano
destruida su organización tribal y política, y sus patrones culturales originales.
Ahora bien, este lejos de aceptar pasivamente que se le despojara de su
cultura, luchó con enconado esfuerzo y por diversos medios, para preservar inmovibles
sus patrones culturales, asumiendo una conducta de resistencia activa mediante la
rebelión y la practica del cimarronaje.
Conviene puntualizar que el dueño de esclavos ni las autoridades hicieron gran
esfuerzos por demoler hasta su total extinción los valores culturales del negro, solo lo
consideraban como factor de producción.
Pienso que la mayor influencia africana en nuestra cultura la podemos
encontrar en la música y el baile. La música y danza dominicanas han visto en ellas
supervivencias africanas muy arraigadas, aunque los ingredientes europeos que las
acompañan permiten que las clasifiquen como neo-africanas.
También, las creencias mágico- religiosas prevalecientes en las capas campesinas y
populares dominicana.
Así como un legado culinario propiamente africano a base de método de
cocción, hervido, asado a fuego directo o cocinado al vapor etc.
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Entiendo que es harto conocido, que ni la cultura indígena, ni la española, ni la


africana sobrevivieron enteras en Santo Domingo. Empero creo significativo que los
diversos aspecto aquí antes señalados bastaran para probar lo relevante que fue la
herencia indígena, española y africana en la cultura dominicana de hoy.
Nos guste o no, estas condicionan nuestro comportamiento y nuestra visión del
mundo.
Y es así, como aun pasadas las modalidades culturales y desaparecidas de la
superficie del tiempo, será evidente que siempre, para comprender que somos,
porque somos, y donde estamos, tendremos primero que entender el pasado que
parece frágil e indiferente. Es decir que la concepción de cultura como creación de un
destino personal y colectivo han de apoyarse en el pasado, pero sobre todo
construyendo el futuro.

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