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https://novaescola.org.br/conteudo/20366/vamos-escrever-um-diario-
compartilhado
“Para trabalhar a escrita de diário na escola, uma das estratégias que valem a pena é fazer uma
mudança para garantir que todos tenham a experiência: propor o compartilhamento”, afirma Manuela
Prado, professora de Língua Portuguesa do Colégio Santa Cruz e selecionadora do Prêmio Educador
Nota 10. Talvez a experiência acarrete certa perda da espontaneidade e da função mais profunda de
autorreflexão. Mas um dos bônus da proposta é o olhar para o outro.
Sem tirar a função primeira do diário de ser algo privado, existem formas de ação para que o
compartilhamento seja da experiência e não do conteúdo. Neste caso, a espontaneidade da
elaboração é preservada, já que o aluno se sentirá à vontade para ser sincero consigo mesmo, sem o
medo do julgamento. “O cuidado com a privacidade é fundamental por se tratar de um trabalho com o
gênero confessional que tem objetivos relacionados às habilidades e não apenas do estudo da
linguagem”, reforça Maria Alice Junqueira, coordenadora de projetos de alfabetização do Cenpec
Educação. O professor pode estimular o compartilhamento da experiência de escrita – não do
conteúdo. “O diário, além do exercício de produção de texto, é um exercício de reflexão e de
autoconhecimento.”
É possível discutir em sala como os alunos estão sentindo o momento atual, estimulá-los a escreverem
por alguns dias suas impressões cotidianas. Assim, a escrita mantém-se como exercício privado de
elaboração para que, na hora da discussão sobre o momento ou o fato vivido, o estudante chegue com
as reflexões mais maturadas sobre si mesmo. Os diários podem, ainda, ser uma forma de o professor
conhecer cada um da turma. "Há experiências em que as crianças querem compartilhar a escrita com o
professor, o que pode ser muito rico para ele conhecer a realidade dos estudantes", conta Maria Alice.
Por isso, mesmo que a atividade não contemple a entrega do que foi escrito, é importante mostrar-se
aberto para receber as produções dos alunos, caso eles assim desejem.
Para fazer com que a atividade, além de estimular a escrita e a reflexão, contribua para a criatividade, é
possível propor que os estudantes relatem o cotidiano de uma personagem de ficção de um livro
trabalhado nas aulas. A sugestão de Mazé Nóbrega, assessora pedagógica e consultora em
metodologia de Língua Portuguesa de NOVA ESCOLA, é especialmente interessante para o 6º e o 7º
ano. A partir dessa experiência é possível passar para o diário propriamente dito, mas aí o que será
compartilhado será a experiência de escrever – não o conteúdo. “Combine com a turma que cada um
vai escrever o próprio diário durante quinze dias. Depois, organize uma roda de conversa para que os
estudantes contem como foi escrever, como se sentiram escrevendo, quem vai continuar com o
diário”, orienta Mazé.
Nova Escola Box conversou com o professor Rafael Palomino, professor de Língua Portuguesa e
selecionador do Prêmio Educador Nota 10, sobre como encaminhar a proposta.
PASSO A PASSO
1. Vamos conversar? Antes de apresentar a proposta para a turma, pergunte sobre como tem sido a
rotina de cada um com o ensino remoto. Os alunos podem ter dificuldade para se abrir, ainda mais em
encontros síncronos, mas uma boa questão disparadora é a própria Educação: como estão fazendo
para acompanhar as aulas? Sempre alguém toca nas dificuldades e isso dá a chance de perguntar por
que, ampliando assim a conversa para falar sobre as dificuldades do ensino remoto e da própria
pandemia. Com o passar do tempo, os alunos vão se abrindo e o tema sendo legitimado.
2. Vamos escrever? Proponha que cada um faça um diário da pandemia. Explique que a intenção não
é fazer um diário íntimo, daqueles que ninguém pode ler, mas sim, algo semelhante a um diário de
viagem ou diário de bordo. Sugira que os alunos escrevam como se estivessem conversando com seu
eu do futuro pós-pandemia, dizendo a ele o que gostariam que ele se lembrasse. Destaque que o
objetivo do diário é fazer um registro de impressões pessoais sobre um momento que é muito
excepcional, e do qual talvez gostássemos de guardar registros, para rever no futuro, quando tudo
tiver passado. Não se trata, portanto, de descrever a rotina, mas de, a partir dela, refletir sobre sua
condição na pandemia, que pode ser a de isolado ou de pessoa privada do direito de se isolar.
Explique para a garotada que é importante organizar um produto: um diário feito à mão, customizado
como cada um quiser, ou um diário digital, compartilhável ou não, no formato de blog. O importante é
ser algo ao qual eles possam atribuir valor afetivo.
Ponto de atenção: Oriente os alunos para que deem atenção a temas relevantes: é importante falar
sobre o dia, mas estimule-os a superarem o simples relato, investigando um pouco o que, no dia,
pareceu importante e por qual motivo. Para tal, proponha questões disparadoras, como: “O que
chamou atenção na imprensa, no YouTube, na Netflix, e por quê?”
6. Vamos compartilhar? Crie uma rotina de compartilhamento das reflexões. O diário pode durar um
mês, por exemplo, e haver quatro momentos, em aula, nos quais alguns alunos lerão os registros que
quiserem dividir com os colegas sobre sua semana.
Ponto de atenção: Ninguém precisa compartilhar todo o conteúdo, é possível que os alunos escolham
trechos para ler para os colegas.
7. Vamos dialogar? A partir dos relatos, proponha a discussão, que pode ser durante uma aula
síncrona. Para aquecer a conversa, pergunte se a turma identifica pontos em comum da rotina de cada
um e o que chamou atenção dos alunos em determinado relato.