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Publicado em NOVA ESCOLA 02 de Agosto | 2021

Para planejar o retorno

1º e 2º ano: 5 pontos para superar


a defasagem e planejar as aulas
de Língua Portuguesa na volta às
escolas
Mapear o que foi trabalhado e o que falta trabalhar, avaliar o aprendizado
dos alunos e valorizar atividades em que eles se sintam competentes são
estratégias importantes no retorno
Marina Gama Cubas

Ilustração: Juliana da Costa/NOVA ESCOLA

Os dois primeiros anos do Ensino Fundamental 1 são fundamentais para a alfabetização das crianças.
Para planejar o próximo semestre, é preciso ter muito claro o que os estudantes conseguiram absorver
dos meses de ensino remoto antes de fazer o planejamento para o segundo semestre, que promete
ser de início das aulas presenciais, ainda que de forma parcial, em grande parte das redes de ensino do
país.

Não há dúvidas de que as limitações impostas pelo ensino remoto dos últimos meses exigiram dos
professores a priorização de conteúdos e de estratégias para lidar com as diferenças de acesso às
aulas remotas e de condições de estudo. Por tudo isso, é preciso que o professor tenha claro que
encontrará muitas diferenças de desenvolvimento entre os alunos no segundo semestre e precisará
pensar estrategicamente em como lidar com isso em sala de aula.
Para apontar caminhos possíveis, NOVA ESCOLA convidou três educadores de Língua Portuguesa do
Time de Autores para apresentar questões essenciais que o professor precisa considerar na hora de
elaborar o planejamento das aulas de 1º e 2º ano, sem deixar ninguém para trás. São elas: Kátia
Chiaradia, formadora de professores e desenvolvedora de materiais escolares de literatura; Mazé
Nóbrega, professora de pós-graduação do Instituto Vera Cruz, na capital paulista; e a formadora de
professores Renata Capovilla.

Mapear o que foi trabalhado e o que falta


Para ter elementos suficientes para um bom planejamento, o professor precisa entender o que o
estudante conseguiu aprender e desenvolver ao longo do ensino remoto ou misto no semestre
passado. Com base nisso ele poderá tomar decisões mais acertadas sobre o que trabalhar com as
crianças a partir de agora.

“A meta dos professores é manter o aluno na escola. Uma coisa importante para garantir que ele
continue seus estudos é fazer com que não se sinta despreparado e que possa ir para o próximo ano
de forma adequada. Então, precisamos garantir o prioritário entre todos os direitos essenciais que ele
possui e que eventualmente não teve assegurados por causa da pandemia. É preciso focar nas
aprendizagens que o estudante vai precisar para seguir para o próximo ano”, explica Kátia.

Para auxiliar o professor nessa tarefa, Katia produziu um conjunto de planilhas que pode ser usado
na hora de realizar esse mapeamento das habilidades desenvolvidas. No vídeo abaixo, Renata orienta
como esse material pode ser usado na disciplina de Língua Portuguesa, tanto para analisar o semestre
passado quanto para começar a planejar o próximo.

Vídeo: https://www.youtube.com/embed/nvnX5nvvQbA

Avaliar o aprendizado dos alunos


Qualquer novo passo na Educação precisa de uma avaliação diagnóstica, ou seja, um levantamento ou
mapeamento de saberes das crianças, explica Kátia. Segundo ela, é fundamental que o professor
reserve uma semana (ou até duas, se achar necessário) para promover vivências e experiências em
que as crianças possam mostrar o que sabem e o que também não sabem dentro das quatro práticas
de linguagem. Após o mapeamento do que falta, o professor poderá pensar nas atividades que
possam comprovar o desempenho da criança nas habilidades consideradas prioritárias.

Mazé ressalta que, passado o período de acolhimento, o professor precisa preparar atividades em que
ele possa fazer uma sondagem de caráter diagnóstico do sistema de escrita alfabética das crianças de
modo a ajustar o planejamento de acordo com as necessidades dos alunos.

Outro ponto importante, segundo Mazé, é identificar quais crianças tiveram mais condições de acesso
às tecnologias necessárias para acompanhar o ensino remoto e quais não tiveram. Nas escolas que
manterão parte das aulas no contexto remoto, deve-se adaptar as atividades às condições dessas
crianças que não possuem tantos recursos.

“O professor precisa ficar atento não apenas à ideia de rodízio do modelo misto, mas refletir como
distribuir a tarefa remota de uma forma adequada, antecipando uma versão impressa para quem não
tem acesso à tecnologia. Esse ponto é onde ele precisa dedicar maior atenção porque é preciso cuidar
muito das crianças que ficaram todo esse tempo fora da escola”, explica.

Um ensina o outro
Com o mapeamento e a avaliação, o próximo passo é colocar em prática o que foi planejado. Um bom
método para o professor neste momento é colocar as crianças para se auxiliarem. Mazé lembra que a
troca e a aprendizagem entre os pares foram muito prejudicadas pelo contexto de ensino remoto e
precisam ser recuperadas.

Kátia corrobora. “Em turma de alfabetização, colocar uma criança que está com hipótese silábica com
uma criança que está com uma hipótese pré-silábica para trabalharem juntas é muito funcional. A
criança da hipótese silábica vai ensinar a criança com a hipótese pré-silábica, e por sua vez, a criança
que sabe menos vai criar condições para que a outra solidifique o aprendizado.”

“Ao ajudar os colegas, a criança que está mais avançada também se sente desafiada, porque ensinar é
algo que se aprende também”, complementa Mazé. Outro benefício dessa prática é o desenvolvimento
de um sentimento de solidariedade e cooperação entre os estudantes, acrescenta Mazé.

Atividades em que as crianças se sintam competentes


Mazé lembra que as crianças estão, em geral, com muita vontade de voltar à escola, não tanto pelas
aulas, mas pela interação, as brincadeiras no corredor e pátio e a troca entre as crianças. Apesar disso,
o tempo do ensino remoto pode ter feito parte das crianças se sentirem inseguras sobre o que
aprenderam ou não. Por isso, ela sugere que o professor convide os alunos a fazerem tarefas em que
elas se sintam competentes.

Um exemplo que pode ser aplicado nos primeiros anos do Ensino Fundamental:

Pegue uma pequena estrofe para a criança fazer uma espécie de paródia. Por exemplo: “Se eu fosse
um peixinho e soubesse nadar, eu tirava fulano do fundo do mar...”

Se a criança faz algo do tipo: “Se eu fosse um cachorrinho e soubesse latir, eu...”, a possibilidade de ela
se sair bem é alta porque ela está criando um texto a partir de uma estrutura já existente.

“Pensar em atividades em que eles se saiam bem é uma forma do professor de dar maior confiança
para eles irem encarando desafios de maior complexidade”, explica. “Com essa atividade, criam-se
pequenas situações que apagam a possibilidade de comparabilidade e faz com que a criança se sinta
capaz de verdade, porque ela conseguiu fazer outro poema parecido com aquela brincadeira popular.”

Comunicação com a família


A rotina de todo mundo muda com o retorno das aulas presenciais, seja pai, professor e familiares. Por
isso, diz Mazé, a comunicação do professor com os pais precisa ser clara para que possa auxiliá-los a
entenderem as alterações, já que haverá dias em que as aulas serão na escola e outros nos quais as
atividades deverão ser feitas em casa. “O que o professor pode fazer é ajudar as famílias a terem
clareza quando é o dia de a criança ir para a escola, como vai ser organizado. A criança não têm
autonomia para fazer isso e o professor pode pedir o apoio da família.”

Ainda dentro da comunicação com os pais, cabe ao professor combater a ideia de irreversibilidade do
desenvolvimento e aprendizagem da criança por terem passado quase um ano e meio fora na escola.
“A aprendizagem não é linear. Se fosse, as pessoas não poderiam aprender coisas durante toda a vida”,
ressalta Mazé.

Kátia lembra que há professores que podem ter esse mesmo pensamento. Para ela, uma afirmação
desse tipo, feita na presença dos alunos, pode desestimular as crianças. “Eu acho um crime quando a
gente diz para uma criança que ela perdeu um ano e meio. Para uma criança de 6 ou 7 anos, um ano,
dois anos é uma quantidade grande de tempo e nós, adultos, não temos como mensurar o impacto
disso na automotivação e mesmo na aprendizagem da criança.”

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