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Qualidade Da Escola Pública CEPED EDIPE
Qualidade Da Escola Pública CEPED EDIPE
_________________________________________________________
Políticas educacionais, didática e formação de professores
Conselho Editorial:
Akiko Santos - UFRRJ
Ângela Imaculada Dalben - UFMG
Bernhard Fichtner - Universidade de Siegen/Alemanha
Celi Nelza Zulke Taffarel - UFBA
Claudia Maria Lima - UNESP/Presidente Prudente
Denise Silva Araújo - PUC-Goiás
Gilberto Lacerda Santos - UnB
Hermínia Hernández Fernández - UH/Cuba
José Carlos Libâneo - PUC-Goiás
Maria Amélia Santoro Franco - UNISANTOS
Mirza Seabra Toschi - UEG
Maria Guiomar Carneiro Tomazello - UNIMEP
Marilza Vanessa Rosa Suanno - UFG/UEG
Monique Andries Nogueira - UFRJ
Sandra Valéria Limonta - UFG
Saturnino de La Torre - UB/Espanha
Selma Garrido Pimenta - USP
Vera Candau - PUC-Rio de Janeiro
Viviana González Maura - UH/Cuba
1ª Edição
Goiânia - Goiás
Ceped Publicações / Gráfica e Editora América Ltda / Editora Kelps
- 2013 -
© 2013, José Carlos Libâneo, Marilza Vanessa Rosa Suanno,
Sandra Valéria Limonta
Revisão: Os Autores
Projeto gráfico e capa: Franco Jr.
Impressão e acabamento: Gráfica e Editora América Ltda.
CDU 371.217.42
1. Escola Pública.......................................................371.217.42
2. Educação – política educacional...............................37.014.5
3. Educação – professores – formação...............................377.8
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2013
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO....................................................................... 7
Capítulo I
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA: ESTADO E
ORGANISMOS MULTILATERAIS............................................... 13
Olinda Evangelista
Capítulo II
INTERNACIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS
E REPERCUSSÕES NO FUNCIONAMENTO CURRICULAR E
PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS.................................................. 47
José Carlos Libâneo
Capítulo III
A CONSTRUÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA BRASILEIRA:
A CONTRIBUIÇÃO DE ANÍSIO TEIXEIRA................................... 73
Elianda Figueiredo Arantes Tiballi
Capítulo IV
POLÍTICAS PÚBLICAS, DIRETRIZES E NECESSIDADES DA
EDUCAÇÃO BÁSICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES............. 91
Selma Garrido Pimenta
Sumário
Capítulo V
CURRÍCULO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
NOTAS PARA DISCUSSÃO..................................................... 107
Antonio Flavio Barbosa Moreira
Capítulo VI
ALGUMAS IDEIAS FORÇA E PONTOS DE TENSÃO
RELACIONAL EM DIDÁTICA, CURRÍCULO E FORMAÇÃO
DE PROFESSORES................................................................. 131
Maria Rita Neto Sales Oliveira
Capítulo VII
DIDÁTICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA
O ENSINO SUPERIOR............................................................ 149
Léa das Graças Camargos Anastasiou
Capítulo VIII
FORMAÇÃO DE PROFESSORES, TRABALHO DOCENTE
E QUALIDADE DO ENSINO.................................................... 173
Sandra Valéria Limonta
Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da Silva
Capítulo IX
DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – UMA
REFLEXÃO NECESSÁRIA........................................................ 189
Mirza Seabra Toschi
Capitulo X
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E DIDÁTICA: ANOTAÇÕES
SOBRE ESPECIFICIDADES...................................................... 207
Kátia Morosov Alonso
Introdução
1
Texto preparado para a Conferência de Abertura do V EDIPE - Encontro Estadual de Didática e Práti-
1
cas de Ensino. Tema: Didática e formação de professores: a qualidade da Educação em debate. Cen-
tro de Convenções da Universidade Federal de Goiás (UFG) - Campus Samambaia, Goiânia, 27 a 30
de agosto de 2013.
Olinda Evangelista
nas legalmente, mas pela força física. Isso não impediu, contudo, que
no bojo das respostas oferecidas florescessem teorias educacionais crí-
ticas, das quais refiro como a mais importante: a pedagogia histórico-
-crítica (SAVIANI, 1991; 1996; 2000. LIBÂNEO, 1993), tal como for-
mulada por Saviani e companheiros de luta.
Se naquele momento, contudo, o Estado apareceu como nosso
alvo de crítica, nos dias que correm é possível formular outra resposta à
indagação. Podemos afirmar, sem sombras de dúvidas, que quem educa
o educador é o capital. Não nos enganemos, entretanto, sobre o seu an-
tagonista – o trabalho – que está presente na disputa política e tem mui-
to que dizer sobre o tema.
Segundo Motta (2009, p. 552-553) “A ‘teoria do capital humano’, no decorrer da expansão capitalis-
2
ta, sofreu vários ajustes conforme conjuntura econômica e política (Frigotto, 1986; 1998; 2000. Gen-
tili, 1998; 2002). No Brasil, sua penetração mais efetiva foi na década de 1970, compondo as bases
ideológicas do ‘desenvolvimentismo’ calcado num modelo de desenvolvimento amplamente con-
centrador e associado ao capital internacional. E serviu para justificar e legitimar políticas do Estado
(ditadura militar), na medida em que estas estariam situadas na ideia de democratização das opor-
tunidades educacionais como forma de distribuição de renda e de desenvolvimento social – vivia-se
a era do ‘pleno emprego’ e do ‘milagre econômico’. Nos anos 80 e 90, a ‘teoria do capital humano’
sofre ajustes em decorrência da mudança do regime de acumulação do capital – globalização – e da
inserção do novo padrão tecnológico de produção e de organização do trabalho – reestruturação
produtiva.”
Initiative (FTI) (Iniciativa Via Rápida para a Educação)5, mas que apre-
sentassem quatro condições: boa governação, políticas sólidas, capa-
cidade institucional e formas de financiamento adequadas, entre elas a
captação de recursos de doadores não governamentais.
Esse conjunto de orientações configurava o que o BM vinha
plantando, mais claramente após a década de 1990: a reforma das po-
líticas nacionais de educação, espécie de motoniveladora dos sistemas
nacionais de educação, a construção de uma agenda global – com con-
cessões locais mediadas pelos bons parceiros governamentais. No do-
cumento Banco Mundial: consultas sobre a nova estratégia da edu-
cação 2020, no qual se avaliam as estratégias de 2000 e 2005 e se
põem em discussão as para 2020, o Banco sintetiza suas diretrizes para
2000 da seguinte forma: investimento na “educação para todos” e na
“qualidade do ensino”. Derivam dessas diretrizes quatro prioridades:
a) oferta de educação fundamental para pessoas de baixa renda e meni-
nas; b) intervenções preventivas em relação à saúde das crianças na es-
cola; c) inovações no ensino e d) implementação de uma reforma sistê-
mica na área educacional.
Em 2005, o Banco manteve a diretriz de “educação para todos”,
vinculando-a, entretanto, ao desenvolvimento da economia do conheci-
mento e às sociedades coesas6. Três foram as prioridades eleitas: a) edu-
cação em uma perspectiva de âmbito nacional; b) abordagem setorial e
5
Segundo a Ação Educativa (2005, p. 44), “A Iniciativa Via Rápida - IVR (conhecida no âmbito internacio-
nal como Fast-Track Iniciative) foi lançada em abril de 2002 durante reunião do FMI e do Banco Mun-
dial, pelos Ministros de Desenvolvimento e Finanças, com o objetivo de acelerar o alcance das Metas
de Desenvolvimento do Milênio a partir de uma ação mais coordenada e eficaz de cooperação interna-
cional. Especificamente, a IVR busca atingir três resultados: (1) a conclusão universal do ensino primá-
rio até 2015; (2) o acesso universal ao ensino primário até 2010 e (3) melhores resultados de aprendi-
zagem. A IVR é liderada pelo Banco Mundial, com o apoio da maior parte dos doadores bilaterais bem
como das instituições do sistema ONU, tais como Unesco e Unicef.” Quando este texto foi escrito faziam
parte da IVR Burquina Faso, Guiné Bissau, Guiana, Honduras, Mauritânia, Nicarágua e Nigéria, Etiópia,
Gâmbia, Gana, Madagascar, Moldova, Moçambique, Vietnam, Iêmen (AÇÃO EDUCATIVA, 2005, p. 44).
6
Mauro Iasi (2012, p. 287) cita uma passagem exemplar desse espírito de coesão, oferecida pelo en-
tão candidato à vice-presidência da República, Michel Temer, por ocasião de uma discussão com in-
vestidores estrangeiros: “declarou que o país estava pronto para receber investimentos, uma vez que
se trata de um país ‘internamente pacificado’, no qual se ‘os movimentos sociais não estivessem pa-
cificados, se os setores políticos não estivessem pacificados, se os setores políticos não estivessem
pacificados [...] se aqueles mais pobres não estivessem pacificados [...] isto geraria uma insegurança’
(Folha de S. Paulo, São Paulo, 27 ago. 2010, caderno A, p. 8)”.
9
São elas: “capacidade de pensar analiticamente, fazer perguntas críticas, aprender novas habilida-
des, e operar com alto nível de habilidades interpessoais e de comunicação, inclusive com o domínio
de idiomas estrangeiros e a capacidade de trabalhar eficazmente em equipes.” (BANCO MUNDIAL,
2010b, p. 3)
10
Segundo o BM (2010b, p. 4), os “secretários de educação do Brasil estão cada vez mais se concen-
trando em duas estratégias importantes de abordagem – ambas compatíveis com a boa-prática glo-
bal: intervenções preventivas (expansão de serviços de desenvolvimento da primeira infância para
famílias de baixa renda) e intervenções corretivas (tutoria particular, programas de aprendizagem
acelerada e outros programas voltados para crianças com necessidades especiais).”
11
A perspectiva da agência é a de que “[...] o Brasil está vivendo uma transição demográfica que terá
um impacto notável sobre a população em idade escolar na próxima década. A redução projetada de
23 por cento no número de estudantes de ensino fundamental corresponderá a quase 7 milhões de
assentos vazios nas escolas do país. Se o Brasil fosse seguir o exemplo coreano e mantiver o tama-
nho das classes constante durante este período, a força de trabalho docente do ensino fundamental
se reduziria por mais de 300.000 (do número atual de 1,3 milhões) até 2025. Esta transformação de-
mográfica é uma bonificação para o sistema educacional e permitirá que os níveis atuais de gastos
financiem uma grande melhoria na qualidade escolar” (BANCO MUNDIAL, 2012, p. 4).
12
Nesse aspecto, o cinismo do Banco (2010b, p. 5) é óbvio: “várias políticas públicas durante a década
passada reduziram o tamanho médio das classes e impuseram aumentos generalizados dos salários
de professores, com pouca evidência – tanto no Brasil quanto em outros lugares – de que estas con-
tribuíssem para resultados melhores.”
O BM cita as experiências de bônus para professores nos estados de Minas Gerais, Pernambuco e
13
Robertson cita como um resultado importante desse trabalho o relatório do BM, O papel e impacto
14
Referências bibliográficas
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ção brasileira e na dos países que integram a Iniciativa Via Rápida na América Latina,
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Introdução
1 Não é demais lembrar que no art. 87 da LDB/1996, §1º se estabelece que o Plano Nacional de Edu-
cação a ser encaminhado ao Congresso Nacional deve estar em sintonia com a Declaração Mundial
sobre Educação para Todos.
2 Freitas cita, a esse respeito, um autor finlandês que, a propósito da definição de objetivos mínimos
de ensino, comentou: “se você definir objetivos mínimos para as escolas você sempre vai alcançar
objetivos baixos, mínimos. É por isso que estabelecermos objetivos elevados para todos...” (FREITAS,
2012, p. 389). O mesmo autor cita Saviani: “todos sabemos que a juventude mais pobre depende
fundamentalmente da escola para aprender; se for limitada suja passagem pela escola às habilida-
des básicas, nisso se resumirá sua formação (p. 390).
Considerações finais
Referências bibliográficas
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RABELO, Jackline; MENDES SEGUNDO, Maria das D.; JIMEZES, Susana. Edu-
cação para todos e reprodução do capital. In: Revista Trabalho Necessário, ano 7,
n.9, 2009.
1. As origens
Havia entre o pragmatismo (em que pese a heterogeneidade de concepções que esse termo com-
6
preende e as divergências teóricas entre seus propositores), o entendimento de que a Filosofia de-
veria superar sua forma abstrata e contemplativa, passando da contemplação à ação, passagem esta
que seria garantida pela Ciência. A crítica à Filosofia especulativa e idealista baseava-se em um estilo
de pensamento moderno que aliava a Filosofia à Ciência para combater aqueles estilos de pensa-
mento que dificultavam a instauração da “nova ordem do mundo”. Ver a este respeito: Sass, 1992.
Diante do dilema de toda ordem com que se debatiam por força de sua
filiação ao regime autoritário que remunerava seus serviços, buscaram
minimizar os favores da cooptação se lhes contrapondo uma produção
intelectual fundada em álibis nacionalistas. Pelo que diziam, o fato de
serem servidores do estado lhes concedia melhores condições para a
feitura de obras que tomassem o pulso da Nação e cuja validez se embe-
bia dos anseios de expressão da coletividade e não das demandas feitas
por qualquer grupo dirigente. (Miceli, 1919, p. 159)
2. O contexto
Anísio Spínola Teixeira (1900-1970) nasceu em Caitité-BA. Concluiu o curso de Direito em 1952. Foi
8
Inspetor Geral do Ensino da Bahia de 1924 a 1929. Lecionou Filosofia da Educação na Escola Normal
de Salvador de 1929 a 1930. Em 1931 foi nomeado Secretário da Educação da prefeitura do distri-
to Federal. Em 1935, após criar a Universidade do Distrito Federal foi acusado de comunista, tendo
se isolado da cena política, só voltando em 1946 como Conselheiro da UNESCO. Em 1947 assumiu a
Secretaria Geral da Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior - CAPES e em 1952
passou a acumular com esse cargo o de diretor do INEP, onde permaneceu até 1964.
3. Os postulados
Considerações finais
Referências bibliográficas
DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.
GANDINI, R. Anísio Teixeira: Limites da Pedagogia Liberal. In; MORAES, R. et. al.
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SARTRE, J. P. Questões de método. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. (Coleção
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SASS, O. Crítica da razão solitária: a psicologia social de George Herbart Mead. São
Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1992. (Tese de doutorado).
TEIXEIRA, Anísio E. Educação para o mundo moderno. São Paulo: Editora Nacional,
1969.
O conceito de professor reflexivo, por exemplo, ilustra essa apropriação indevida por políticas de go-
1
vernos que desvalorizam os professores, ao contrário do que as pesquisas realizadas nas universi-
dades de diferentes países apontam. Um estudo sobre esse tema encontra-se no livro de PIMENTA
& GHEDIN, Professor Reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo. Cortez Ed. 2002
(1ª. Ed.); 2012 (7ª. Ed.)
no, no qual as escolas são equipadas com redes de televisão que transmitem os programas das dis-
ciplinas gerados por uma central e que coloca os professores como monitores. Em decorrência, con-
seguiram realizar grande economia, pois em cada sala de aula se colocava um monitor no lugar de
cinco professores de uma 5ª série, por exemplo. E a tarefa desses seria a de fazer a mediação entre
os programas de todas as áreas do currículo e os alunos. Essa política ilustra claramente a lógica do
estado mínimo, característica do neoliberalismo.
rar os jovens para o mundo do trabalho, que exige deles novas compe-
tências: criar, pensar, propor soluções, conviver em equipe, competên-
cias essas compatíveis com as novas configurações do processo produ-
tivo. Estas novas exigências estariam modificando significativamente a
identidade do trabalhador que passou, da noite para o dia, a ser valori-
zado como alguém que deve pensar e propor. Mas pensar soluções para
maior produtividade que gere maior lucro. No entanto, não está coloca-
do em pauta o desenvolvimento da capacidade de pensar soluções para
uma melhor distribuição do que se gera com o lucro. É neste tênue equi-
líbrio, nesta tênue questão que coloca em pauta as finalidades do pen-
sar e do criar, que temos que diferenciar o papel da escola e o seu tra-
balho com as informações e o conhecimento. Essa questão da relação
entre escola e trabalho está nos pondo a pensar e coloca vários proble-
mas. Essa terminologia que incorpora a capacidade do pensar criativo,
de repente, se identifica com aquela que apontava, como objetivos da
escola, a formação de alunos críticos e pensantes e capazes de propor
alternativas.
A outra questão é a da sociedade do não-emprego. Vivemos,
hoje, em uma sociedade do não–emprego, isto é, valoriza-se o trabalho
autônomo como forma de se descartar as conquistas trabalhistas, que
são dispendiosas para os empregadores, incluindo o Estado. Para con-
seguir trabalho e sobreviver o trabalhador, cada vez mais desemprega-
do, necessita buscar por sua conta re-qualificações. E aí pode-se com-
preender a imensa valorização hoje conferida aos programas de forma-
ção contínua que está transformando a educação em excelente mercado.
Nesse conjunto de questões, qual seria o papel da escola e que
respostas esta poderia apresentar para a valorização da educação na di-
reção do efetivo desenvolvimento social que apontamos? Qual é o pa-
pel dos professores? Como pensar a profissão docente, a formação e de-
senvolvimento profissional dos professores?
Na sociedade do não-emprego o trabalho dos professores ainda
se realiza, em sua maioria, sob a forma de ‘emprego’, apesar de já se
anunciarem novas formas, como o trabalho autônomo e terceirizado (há
escolas que contratam os serviços de professores de Educação Física,
O tema dos saberes necessários à docência tem sido objeto de estudos e pesquisas no país e no
3
exterior. Particularmente, nossas pesquisas tem se debruçado sobre o esse tema; parte de seus re-
sultados estão disponíveis nos livros PIMENTA. (org.) Saberes pedagógicos e atividade docente. São
Paulo. Cortez Ed. 1999 (1ª. Ed.); 2012 (7ª. Ed.); PIMENTA & LIMA. Estágio e Docência. São Paulo. Cor-
tez Ed. 2004 (1ª. Ed.); 2012 (6ª. Ed.).
pública no Brasil contemporâneo. São Paulo. Edições Loyola. 2013. Fruto das pesquisas realizadas
no âmbito do GEPEFE/FEUSP, seus autores apresentam e discutem o papel social da escola em seus
níveis: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.
como: eu respeito o que o meu aluno sabe; respeito tanto que sequer in-
terfiro para mudá-lo. O que é muito diferente de reconhecer: ao reco-
nhecer, já estou me comprometendo a levá-lo adiante. No respeito há o
“eu” e o “aluno”; no reconhecimento há o “nós”. Na escola a perspec-
tiva do “nós” deve prevalecer. Não é o interesse do aluno individual-
mente considerado que se busca atender, mas o interesse dos sujeitos,
do coletivo. O que requer a interpretação do individual no coletivo, que
contempla e ultrapassa o individual, que o alarga, que o leva adiante.
Essa condutas deve se manifestar na atividade cotidiana das escolas,
nas salas de aula, no relacionamento entre os profissionais, entre dire-
ção e professores e alunos e pais; nas formas de avaliação, nas formas
de planejar o curso, na forma de organizar o funcionamento do dia es-
colar, se o portão fica aberto ou fechado. Manifestam-se, também, nas
formas de gestão colocando em xeque o autoritarismo absurdo e arrai-
gado presente nas escolas, bem como nas formas como a escola se rela-
ciona com a comunidade.
Analisar, compreender essas manifestações do cotidiano das es-
colas e indagar o seu significado possibilita enxergarmos caminhos. Por
vezes, estamos tão impregnados desse cotidiano, que não conseguimos
vê-lo. Um exemplo disso é a questão da indisciplina, principal proble-
ma das escolas de qualquer nível social, junto com a violência. O que
está acontecendo? Vamos tomar esse fenômeno em nossas mãos e ana-
lisá-lo para compreender, para ampliar nossa compreensão e, daí, bus-
car caminhos. Quando se diz “indisciplina”, estamos dizendo a mesma
coisa? O que é indisciplina para os professores? E para os alunos? Por
que? Vamos perguntar para cada professor o que é indisciplina. Qual a
concepção que cada um tem de indisciplina. E para a direção, o que é
indisciplina? Vamos perguntar para os alunos. Vamos começar a conhe-
cer esse fenômeno, investigá-lo. Certamente teremos surpresas, colhe-
remos pistas, poderemos juntos encontrar caminhos para superar esse
problema que está se tornando em verdadeiro câncer em nossas escolas.
Parece que não se está conseguindo olhar de frente esse fenômeno. Há
razões, há explicações externas e internas à escola. Quando se conse-
gue fazer esse mapeamento, é possível levantar os diferentes níveis de
para onde. A reflexão que aqui se pretende pode ajudar a clarear essa
área nebulosa.
A segunda condição, vinculada à primeira, consiste em nos per-
guntar: quem somos nós que estamos nas escolas, fazendo as escolas,
quem somos nós que estamos nas universidades formando professo-
res, qual a relação entre a escola e as universidades, qual a relação en-
tre a formação inicial e o trabalho necessário na escola. Ou seja, quais
são as condições do pessoal que trabalha nas escolas. Sobre os progra-
mas de formação contínua, a quais necessidades respondem? Poderiam
ser formulados a partir das necessidades identificadas e analisadas das
escolas, dos profissionais que lá estão, do compromisso que se esta-
belece entre estes, a escola e os resultados da formação contínua para
o trabalho na escola. Quais as condições materiais que a escola preci-
sa para ensinar com qualidade? Não é possível acreditar nas intenções
proclamadas e continuar com uma política que desqualifica as condi-
ções materiais das escolas, que não têm sequer biblioteca, sequer acesso
aos meios de comunicações “tradicionais”, que são a leitura e a escrita.
E, menos ainda, às novas formas de comunicação virtual. Qual o senti-
do das políticas que se apropriam dos novos conceitos nos seus discur-
sos, mas mantêm as escolas na situação de pobreza material, e que não
investem na formação e na carreira docente? Uma escola que se preten-
de parceira num processo de igualdade social, precisa de equipamen-
tos, de apropriar-se da modernização tecnológica para incorporar esses
novos recursos em favor de suas finalidades. Não se a escola tenha um
laboratório que não funciona porque não tem manutenção. Manutenção
e equipagem é responsabilidade do poder público, como o é também o
provimento das condições humanas e do desenvolvimento profissional
dos professores para se colocarem em condições de proporem e gesta-
rem formas criativas de fazer a escola.
Portanto, há que se pensar também nas condições de remunera-
ção, de trabalho, de formação inicial e contínua. Mas, uma formação
que tenha a escola como ponto de partida e como ponto de chegada.
A formação contínua não deve ser apenas para certificar (o certificado
vem junto), mas é uma formação contínua que tenha o lócus escolar e
seus problemas como ponto de reflexão e análise e como análise das te-
orias, como possibilidade de ajudar a fazer o enfrentamento dos proble-
mas na escola.
Há que se pensar, também, na jornada de trabalho dos professo-
res. Uma educação de qualidade social não se consegue com o traba-
lho terceirizado. O modo como as políticas estão tratando a jornada de
trabalho e a fixação dos professores no local na escola, são indicadores
de análise da intencionalidade das mesmas. Para compreender estas,
no caso da escola em ciclos, que é uma proposta interessante, é preci-
so analisar as condições de sua implantação. Não será com professores
funcionários técnicos, executores de tarefas, que se fará uma nova es-
cola. Os professores precisam ser valorizados como parceiros, como su-
jeitos das propostas. Para isso é necessário, no mínimo, ouvi-los.
A relação escola-comunidade e escola-alunos é outro ponto ne-
vrálgico para as mudanças que se pretende. Volto à questão da indisci-
plina. Enquanto não tivermos os nossos alunos como sujeitos do pro-
cesso, enquanto não estabelecermos um contrato de trabalho no interior
da escola, no qual os vários atores se veem representados e, portanto,
os interesses equalizados em direção a uma meta de qualidade social da
escola, dificilmente vamos conseguir resolver o problema da indiscipli-
na. Nesse tema, tenho uma hipótese: um dos grandes fatores da indisci-
plina na escola se deve ao fato de que os alunos não têm uma identifi-
cação com a escola, não a reconhecem como sua. Nela, não há espaço
para colocarem e discutirem suas representações de escola, como ela
entra (ou não) no seu mundo, nos seus sonhos. O que esperam da esco-
la. Penso que essa é também uma questão importante para pensarmos e
repensarmos a política no âmbito da escola.
Introdução
2. A importância da escola
Considerações finais
Referências bibliográficas
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GARCIA, Regina L. (Orgs.) O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 1999
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SILVA, Tomaz Tadeu. O currículo como fetiche. Belo Horizonte: Autêntica, 1999
Introdução
1
tica de Ensino, em Goiás, em agosto de 2013. O texto envolve conteúdos de outros sobre a temáti-
ca, construídos pela autora, como os textos apresentados no IV Colóquio sobre pesquisa em trabalho
e educação, na UFPe, em junho de 2013 e no Encontro de Educação da PUC-Rio em 1º de julho de
2013, O texto está estreitamente relacionado a estudos realizados no estágio de pós-doutoramento
sênior, realizado pela autora, no Instituto de Educação da Universidade do Minho, com bolsa da Co-
ordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, (CAPES/MEC). Processo BEX 3757/11-0.
Maria Rita Neto Sales Oliveira
1. Pressupostos
pregado ora para indicar um campo de estudo ora para indicar o obje-
to de estudo desse campo. Igualmente, observe-se a ambiguidade do
termo “expectativas de aprendizagem” presente nas novas diretrizes
curriculares nacionais para a educação básica, tal como discutido por
Moreira (2013).
Esse caráter polissêmico dificulta o diálogo entre os campos pe-
dagógicos. Mas não se pode desconhecer que ele é funcional ao enco-
brimento das finalidades de políticas e práticas dominantes e compro-
metidas, não raro, com aquela posição produtivista na educação. Dentro
disso, o caráter vago de termos ou expressões carrega consigo a possi-
bilidade de adesão, por parte de diferentes sujeitos com interesses di-
versos, àquilo que se propõe, com base nesses termos ou expressões.
Nessa discussão, não se pode esquecer de que aquilo que pode
ser considerado como apenas uma questão ambígua não é abstraída das
relações sociais. Aqui, também, se aplicam as afirmações de Frigotto
(2009) quando, na discussão da polissemia da categoria trabalho, afir-
ma que esta tem suas “variações de sentido marcadas pelo desenvolvi-
mento histórico-cultural, por valores, tradições, por concepções ideoló-
gicas e disputas sociais” (p. 178).
Vale perguntar: será que as novas determinações (trata-se das novas po-
líticas curriculares no Brasil) afetarão a prática pedagógica nas escolas?
Como se expressarão, então, as relações entre políticas e práticas curri-
culares? (Moreira, 2013, p. 79).
Considerações finais
Referências bibliográficas
Trabalhamos desde 1992 com grupos de docentes universitários, inicialmente com a disciplina Me-
1
todologia de Ensino Superior em programas de Mestrado da UFPr e depois com grupos institucio-
nais, públicos e privados, visando tanto a formação inicial ou continuada como revisão de grade para
as diversas aproximações de matriz curricular articulada.
Léa das Graças Camargos Anastasiou
ceria e contrato didático entre docentes e discentes; a este respeito vide ANASTASIOU, L. G. C. In:
Processos de Ensinagem. Joiniville, SC: Editora Univille: 2003.
1998.
de, no Prosaude e Reforgrad: aspectos metacognitivos”. A coordenadora foi a Profa. Dra. Maria Jose
Sparça Salles e participaram também: Dra. Marcia Sakai da UEL e Dr. Ruy Sousa, da UFRO. O relatório
foi recém entregue e já aprovado, aguardando publicação.
Silvia, da Universidade de Algarve, publicados no texto “Resiliencia na Educação Superior”. In: ISAIA
S. M. A. e BOLZAN, D. P. de V, na obra Pedagogia Universitária e desenvolvimento profissional docen-
te, Porto Alegre, EDIPUCRS, 2009.
Considerações complementares
Referências bibliográficas
MEIREU, P. Aprender... Sim, mas como? Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1998.
12
Referências bibliográficas
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pesquisa na formação e no trabalho dos professores da educação básica. Diálogo Edu-
cacional, Curitiba, v.12, n.37, p. 743-762, set./dez. 2012.
Introdução
tificação e os xMooc são mais tradicionais, centrados nos conteúdos (FIGUEIREDO, 2012).
Creative Commons é uma entidade sem fins lucrativos criada para permitir maior flexibilidade na
2
utilização de obras protegidas por direitos autorais. A ideia é fazer com que um autor/criador per-
mita o uso mais amplo de seus materiais por terceiros, sem que estes o façam infringindo as leis
de proteção à propriedade intelectual. Com a licença Creative Commons, um compositor pode per-
mitir que outros artistas utilizem algumas de suas composições criando uma mistura de ritmos, por
exemplo. Um escritor pode disponibilizar um artigo e permitir que outros autores o utilizem, seja
publicando em outros meios, seja aplicando parte do conteúdo em um novo texto, seja utilizando o
original, mas efetuando mudanças, enfim. (http://www.infowester.com/creativecommons.php)
2. Distância transacional
Esses dois casos são desafios também aos cursos mais livres, nos
quais todos os objetivos não são antecipadamente traçados e se deixa
espaço para o exercício da autonomia do aluno. Chartier (1999) alerta
que “a proliferação textual pode se tornar obstáculo ao conhecimento.
Para dominá-la, são necessários instrumentos capazes de triar; classi-
ficar; hierarquizar” (p.99). Em virtude desse oceano de informações,
Dowbor (2001) destaca como essencial que se saiba realizar uma ‘bus-
ca’ às informações presentes nos sites, a fim de encontrar o de que se
necessita, evitando se ‘afogar’ em tantas informações. Espera-se que
esses instrumentos sejam oferecidos pelos professores e discutidos com
os alunos. Segundo Dowbor, essa importante e acelerada dissemina-
ção da informação traz, à educação, desafios e oportunidades (2001).
Desafios, porque o universo de conhecimento está sendo revoluciona-
do de forma tão profunda, que a mudança é questão de sobrevivência.
E oportunidades, porque o conhecimento, matéria prima da educação,
está no centro do desenvolvimento moderno e mais democraticamen-
te disponível.
Pode-se argumentar que na Internet não se tem conhecimento,
mas sim apenas informações. Há dúvidas a respeito disso, pois temos
bibliotecas como a de Londres (http://www.bl.uk/), a segunda maior do
mundo, cujo acervo é todo digitalizado, inclusive livros raros, dos quais
se pode fazer download. As revistas científicas, teses, dissertações e re-
latórios de pesquisa estão disponíveis online para consulta ampliada.
Embora toda essa produção seja considerada conhecimento acadêmico,
não se pode abdicar da reflexão conjunta sobre o que se lê e se estuda.
É no debate e na reflexão conjunta que se atribuem significados aos
conteúdos que se encontram nos sites da Internet. Por isso, mesmo os
cursos online mais abertos não podem abrir mão do diálogo entre pro-
fessores e alunos, alunos e alunos, convidados e alunos. É nesse debate
e na reflexão que se dá sentido aos conhecimentos. Dessa forma, cur-
sos online não podem ser pouco dialógicos, sob pena de perder a essên-
cia do ato educativo, que é parte essencial do ato de aprender e ensinar.
Peters (2009) analisa que nos cursos online não se aprende de
modo sistemático e linear, como ocorre na aprendizagem tradicional
la incorporación de las TIC’s a la educación. Combina los puntos fuertes de la formación presencial
(trabajo directo de actitudes y habilidades sociales así como la posibilidad de establecer relaciones
interpersonales entre profesor-estudiante y estudiante-estudiante), con lo mejor de la formación
virtual (interacción, rapidez, acceso a recursos de todo tipo y flexibilidad), devolviendo protagonis-
mo al contacto personal-presencial que se pierde en las ofertas formativas completamente virtua-
les. Al integrar distintos canales de formación, el b-learning permite flexibilizar el proceso educativo,
adecuándolo a las necesidades y características de los destinatarios y permitiendo diversas modali-
dades de interacción, tanto de manera presencial como virtual.
nicação e interação.
eles, porque, para ser visto e estar presente, é preciso escrever, e o tem-
po de interação não é limitado como em aulas presenciais7.
Processos educativos colaborativos em rede, embora despertem a
autonomia dos estudantes, não dispensam a mediação docente, como os
processos pedagógicos ensinam. Todavia, essa mediação já não se faz
de forma isolada na relação do aluno com o conhecimento. Analisar as
mediações na perspectiva dos processos de ensinar e aprender implica
entendê-las em sua dupla mediação: a do professor e a do meio a que o
estudante tem acesso (TOSCHI, 2010, p. 6).
Tem ocorrido na atualidade um resgate do aluno como centro
do processo educativo, tal como na escola nova. Todavia, se se fala em
rede, esta não tem centro e isso a caracteriza. Assim, embora a direção
do processo educativo online seja, ainda, creditada ao professor, não
faz sentido apontar um centro para a educação mediada por computa-
dor, cujo processo não se centra no professor nem no aluno. São nós
que estão, ambos, em rede e se relacionam em diferentes direções e ti-
pos de relações.
Se precisar indicar um centro, este seria a comunicação, fator
fundamental nos processos educativos, em especial, mediados por uma
máquina, a segunda mediação. Em cursos com mediação eletrônica, a
mediação docente – a comunicação – precisa primar pela qualidade, ser
mais efetiva, ser “turbinada”.
Ter uma pedagogia da virtualidade (GOMEZ, 2004) pode ser
uma alternativa possível. Essa pedagogia supõe conectividade e solida-
riedade em rede, ou seja, ampla, plural, aberta, rápida, rizomática e li-
bertadora. Detalha a autora Gomez (2004, p. 47):
Os autores alertam, no entanto, que, para cumprir todo esse potencial, são necessários grandes in-
7
Referências bibliográficas
INUZUKA, M. A.; DUARTE, R. T. Produção de REA apoiada por MOOC. In: SAN-
TANA, Bianca; ROSSINI, Carolina; PRETTO, Nelson De Lucca (Orgs.). Recursos
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br/wp-content/uploads/2012/05/REA-inuzuka-duarte.pdf>. Capturado em: 15 de maio
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Disponível em: <www.prp.ueg.br/sic2010/apresentacao/trabalhos/.../dupla_mediacao.
pdf>. Acesso em: 1 julho de 2013.
no ensino superior que ao se apoiar no uso mais intenso das TDIC traz
à cena a desqualificação dos profissionais que, em princípio, acompa-
nhariam os alunos em seus estudos, imputando qualidade duvidosa aos
resultados da formação.
Para o escopo do debate a ser apresentado a definição do mode-
lo ora mencionado é importante para entendermos a natureza massifi-
cadora do ensino disposto pela maioria dos programas/projetos que se
utilizam da modalidade de EaD no país, mais particularmente dos que
se utilizam das TDIC, fazendo retomar discussão do “modelo industrial
de EaD”. Também a questão sobre ser possível ou não aprendizagens
“a distância” é crucial para se compreender diferentes opções institu-
cionais na organização de sistemas para essa oferta, bem como o atra-
vessamento das TDIC no “não presencial”, justamente por não ocorrer
numa relação face-a-face em todo o tempo da formação.
Com isso pretende-se “localizar” a natureza das reflexões aqui
propostas, considerando, em primeiro, lugar, que as teorias clássicas
de aprendizagem não foram transformadas (ao menos até o momento)
pelo uso mais intenso das TDIC como afirmado por Blikstein e Zuffo
(2001). Ao contrario, é por meio da compreensão delas, ou melhor, é
com base em seus princípios que vimos experiências bastante distintas
seja na oferta da EaD ou no uso das TDIC.
Para dar conta então das reflexões em pauta traz-se à cena al-
guns elementos/aspectos tidos como relevantes na discussão sobre uma
“didática na ou da EaD”, com argumentos em favor da constituição de
espaços próprios de ensino/aprendizagem, estes porém como consequ-
ência de escolhas/opções institucionais que ensejam, necessariamente,
concepções, metodologias, instrumentos e técnicas que se associam a
modelos mais ou menos industrializados de EaD.
Além disso, e como veremos mais adiante, a modalidade de en-
sino parece importar pouco se pensarmos os processos de formação
1
vigor para a EaD. Conforme exposto em trabalho já publicado (ALONSO, 2010) a EaD não consistiria
em “modalidade de ensino”, mas em sistema cuja estruturação/organização traria elementos pró-
prios, estes integrados aos fazeres institucionais.
Reflexões finais
Referências bibliográficas
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Olinda Evangelista
Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal
do Paraná (1980), mestrado em Educação: História e Filosofia da
Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988)
e doutorado em Educação: História, Política, Sociedade pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (1997). Realizou Estudos Pós-
doutorais na Universidade do Minho, Portugal, em 2004. Atualmente
é Professora Associada III da Universidade Federal de Santa Catarina.
Leciona no Curso de Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em
Educação do Centro de Ciências da Educação-UFSC. Tem experiên-
cia na área de Educação, com ênfase em Política da Educação, atuan-
do principalmente nos seguintes temas: política educacional, Curso de
Pedagogia e formação docente. Coordena o Grupo de Estudos sobre
Política Educacional e Trabalho GEPETO/CED/UFSC.