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SUBSÍDIOS PARA A

REFORMA DA
EDUCAÇÃO SUPERIOR

Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Nacional


Estudos Estratégicos
SUBSÍDIOS PAR A A

REFORMA DA
EDUCAÇÃO SUPERIOR
Novembro de 2004
Academia Brasileira de Ciências

Grupo de trabalho
Alaor Silvério Chaves (UFMG)
Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho (UFRJ)
Francisco César de Sá Barreto (UFMG)
Gilberto Cardoso Alves Velho (UFRJ)
João Alziro Herz da Jornada (UFRGS e INMETRO)
Luiz Bevilacqua (LNCC)
Luiz Davidovich (UFRJ – coordenador)
Moysés Nussenzveig (UFRJ)
Ricardo Gattass (UFRJ E FINEP)
SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

APRESENTAÇÃO

S olicitada pelo Ministério da Educação e Cultura a dar uma contribuição ao debate sobre
a Reforma do Ensino Superior, a Academia Brasileira de Ciências formou um grupo de
trabalho com o objetivo de preparar documentos sobre os temas propostos pelo MEC. Esses
documentos são aqui reunidos, juntamente com o Manifesto de Angra dos Reis sobre a
Reforma Universitária, após terem sido expostos à comunidade de acadêmicos e debatidos
em Simpósio realizado, na sede da Academia, em 31 de maio deste ano.
O MEC propôs uma lista de sete temas para discussão, em dois Colóquios realizados em
Brasília, que contaram com a participação da ABC e de diversas entidades que representam
setores ligados à educação superior: 1. Papel da Universidade; 2. Autonomia; 3. Acesso e per-
manência; 4. Financiamento; 5. Avaliação; 6. Conteúdos e programas; 7. Estrutura e gestão.
Para nosso trabalho, resolvemos agrupar esses sete temas em três, cada um deles a
cargo de uma sub-comissão do grupo de trabalho da ABC: 1. Ingresso, permanência e para-
digmas curriculares; 2. Avaliação e financiamento; 3. Autonomia, estrutura e gestão.
Os documentos aqui apresentados adotam os princípios do Manifesto de Angra em De-
fesa da Universidade Pública, lançado em 1998, e detalham diversas propostas que têm por
objetivo promover uma educação superior comprometida com a qualidade do ensino e da
produção intelectual. Essas propostas concernem a estrutura e a avaliação das instituições
de ensino superior, bem como novos paradigmas curriculares, destinados a favorecer uma
formação básica sólida e ampla, tão necessária nesses tempos de rápido desenvolvimento
do conhecimento. O documento relativo aos novos paradigmas curriculares baseou-se em
contribuição preparada, anteriormente à formação do grupo de trabalho, pelo Prof. Alaor
Silvério Chaves.
As duas contribuições sobre ingresso, permanência e paradigmas curriculares e sobre
avaliação e financiamento propõem diretrizes gerais, enquanto o documento sobre autono-
mia, estrutura e gestão está na forma de Propostas para a Lei da Autonomia Universitária.
As propostas incluídas dizem respeito apenas aos aspectos que consideramos mais impor-
tantes e relevantes para a Reforma.
Esses documentos expressam a convicção de que a avaliação constante das institui-
ções de ensino superior por comissões externas de pares é um mecanismo essencial para o
aprimoramento dessas instituições e para a promoção de seu envolvimento tanto com as
fronteiras do conhecimento como com o desenvolvimento nacional e regional.
É importante ainda ressaltar que a plena realização dos objetivos de um sistema de
ensino superior em nosso País requer uma reforma profunda na educação de primeiro e
segundo graus, indispensável para propiciar a inclusão social de um imenso contingente
de excluídos. Medidas de inclusão social restritas ao ensino superior serão certamente

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pouco eficazes, e podem mesmo prejudicar a formação de recursos humanos necessários


para o desenvolvimento de nosso País. Por outro lado, novos paradigmas curriculares, que
levem a uma formação ampla e sólida no primeiro ciclo de ensino superior, selecionando
os estudantes oriundos do ensino médio pela sua capacidade de pensar e evitando a espe-
cialização prematura, podem ter reflexos positivos na ampliação do ingresso e na redução
da evasão.
Esperamos que o documento elaborado pela Academia Brasileira de Ciências possa con-
tribuir para a implantação de um sistema de ensino superior comprometido com a qualida-
de de ensino e pesquisa, adaptado ao rápido desenvolvimento do conhecimento no mundo
atual, e que possa realizar plenamente o papel de esteio fundamental para o desenvolvi-
mento de nosso País.

Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2004


Eduardo Moacyr Krieger
Presidente
Academia Brasileira de Ciências

Luiz Davidovich
p/ Grupo de Trabalho

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SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

SUMÁRIO
1. MANIFESTO DE ANGRA 1
Por uma reforma urgente para salvar a universidade pública 1
brasileira
Reformar o ensino superior – Ensinar a aprender 3
Reformar a organização – Mérito e valores acadêmicos 4
Autonomia e financiamento público 5
O papel da universidade pública na geração e difusão 5
de conhecimento
Reforma já 7

2. INGRESSO, PERMANÊNCIA E PARADIGMAS CURRICULARES 9


A universidade está sendo revista em todo o mundo 9
É possível melhorar a educação e ao mesmo tempo ampliar o 11
número de vagas nas IES com aumento de custos inferior ao do
aumento do número de vagas
O rápido avanço do conhecimento e a crescente dinâmica no 12
recorte das profissões pedem profissionais aptos para adaptação a
atividades inteiramente novas
Uma proposta para o Brasil: ingresso por três grandes áreas, e 14
cursos compostos de ciclos curtos.
A interdisciplinaridade, a capacidade de expressão e o espírito 15
crítico devem ser estimulados através de disciplinas eletivas e
oficinas de trabalho
O País precisa de mais de um tipo de Instituição 16
pública de Ensino Superior
Inclusão com qualidade e diversidade 17

3. AVALIAÇÃO E FINANCIAMENTO 19
1. A AVALIAÇÃO INDIVIDUAL 19
1.1. A dedicação exclusiva deve ser condicionada a rigoroso 19
acompanhamento individual
1.2. O atual regime probatório deve ter sua duração estendida e sua 19
avaliação deve ser rigorosa
2. A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 19
2.1. Deve ser restabelecida a sistemática de avaliação universal de 19

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cursos e divulgação de resultados através do “Provão” (nome atual:


ENADE), sem prejuízo de seu aperfeiçoamento e da adoção
de modalidades adicionais de avaliação
2.2. A recém-criada Comissão Nacional de Avaliação da Educação 20
Superior (CONAES) deve organizar a atuação das Comissões de
Avaliação de Cursos de Graduação
3. O FINANCIAMENTO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR 20
3.1. O financiamento basal às universidades públicas deve ser 20
garantido, e devem ser criadas formas adicionais de
financiamento.
3.2. Deve ser criado um Fundo Nacional de Desenvolvimento do 21
Ensino Superior, que proporcionará recursos para o
desenvolvimento do ensino de graduação de acordo com as
avaliações da CONAES.
3.3. O mecanismo de financiamento das pesquisas através de 21
projetos submetidos às agências (CNPq, CAPES, Finep e FAP’s) deve
ser preservado.
3.4. Deve ser criado um Programa Nacional de Laboratórios 22
Associados
3.5. Auxílios para pesquisa devem ser acompanhados de um 22
percentual destinado à infraestrutura fornecida pela instituição.
3.6. Financiamento público a pesquisadores de instituições 22
privadas deve passar pelos mesmos critérios de avaliação e
acompanhamento utilizados para os pesquisadores de instituições
públicas, considerando-se ainda a estabilidade da instituição e a
estrutura de sua carreira docente.

4. AUTONOMIA, ESTRUTURA E GESTÃO: 25


PROPOSTAS PARA A LEI DE AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA
DA AUTONOMIA 25
COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO DO DESENVOLVIMENTO 25
INSTITUCIONAL
DO FINANCIAMENTO À PESQUISA 26
ESTRUTURA E GESTÃO 27

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SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

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SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

1. MANIFESTO DE ANGRA
REUNIÃO DE ANGRA DOS REIS - ORGANIZADA PELA COORDENAÇÃO DE PROGRAMAS
DE ESTUDOS AVANÇADOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (COPEA)

O Grupo de Defesa da Universidade Pública,


constituído pelos signatários, vem a pú-
blico para conclamar o governo, a sociedade
Tanto na carreira universitária como na
escolha de dirigentes, a hierarquia do mérito
e da excelência acadêmica deve prevalecer
e a comunidade acadêmica a unirem esforços sobre o corporativismo. Uma estrutura depar-
por um novo pacto para a defesa da universi- tamental rígida é anacrônica diante da inter-
dade pública brasileira e da pesquisa nela re- disciplinaridade que caracteriza as pesquisas
alizada, através de uma reforma urgente, com de fronteira. A avaliação por pares, com pre-
base no predomínio dos valores acadêmicos, dominância de elementos externos, deve ser
da qualidade e da excelência. a base do julgamento do mérito em ensino,
Para construir um país que tenha, no pesquisa e extensão, para a progressão na
século 21, autonomia de decisão sobre seus carreira e para o ingresso e permanência no
destinos, é essencial investir em seus recursos regime de dedicação exclusiva.
humanos, em educação, ciência e tecnologia. Autonomia também é privilégio a ser con-
Nossa capacidade de formação do melhor quistado com base na análise caso a caso,
nível em graduação e pós-graduação, bem tendo como contrapartida avaliação externa
como de pesquisa científica e tecnológica, e acompanhamento permanentes. A auto-
concentra-se quase exclusivamente nas uni- nomia plena requer um plano estratégico de
versidades públicas. Graças a elas, o Brasil já longo prazo.
mostrou ser capaz de desenvolver tecnologia No mundo todo, universidades de qualida-
em setores estratégicos, que não pode ser ad- de e a pesquisa nelas realizada são financiados
quirida no exterior. primordialmente pelo governo, respeitando a
Devemos aproveitar este patrimônio ines- liberdade acadêmica. Reconhece-se hoje que
timável para dar um novo salto em qualidade, este é um dos investimentos mais rentáveis
mas isto requer reformas profundas no ensino, que um país pode fazer em seu futuro. Não
na organização e na gestão do financiamento existe país desenvolvido com universidade
das universidades públicas. São necessários subdesenvolvida.
métodos inovadores na seleção para ingresso
e na formação, estimulando a iniciativa in- Por uma reforma urgente
dividual e “ensinando a aprender”. É preciso para salvar a universidade
criar condições que permitam à universidade pública brasileira
pública atender à demanda crescente por um
ensino superior de qualidade. Nosso pressuposto para a reforma da uni-

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versidade pública é que ela visa atender ao a pós-graduação e desenvolver a pesquisa


anseio da sociedade pela construção de um já rendeu frutos muito positivos. É o que se
país desenvolvido, democrático, com auto- verifica pelos resultados do Exame Nacional
nomia de decisão sobre seus destinos, cujos de Cursos, pelas avaliações da CAPES e pe-
cidadãos possam realizar plenamente o seu las análises da produção científica brasileira,
potencial como seres humanos. entre uma variedade de outros indicadores.
No umbral do século 21 e no atual con- Há uma grande oportunidade, que não pode
texto internacional, o bem mais precioso com ser desperdiçada, de um salto qualitativo para
que conta um país é o seu capital humano. novo patamar.
Investimentos em educação, ciência e tecno- O sucesso dos programas de pós-gradu-
logia, em harmonia com um projeto nacional, ação e pesquisa na formação de pessoal não
representam a melhor estratégia para atingir pode servir de pretexto para retirar-lhes o
esse ideal. apoio, justamente quando ele se torna mais
A universidade pública representa apenas necessário. O investimento de décadas pode-
uma parte do problema mais amplo e comple- ria ser aniquilado em curto prazo, condenan-
xo do ensino superior no país, que exigirá um do o país a um atraso irremediável. Também
estudo aprofundado. Entretanto, justifica-se é essencial para o desenvolvimento do país a
focalizar nela nossa atenção, por suas carac- criação de condições para que a universidade
terísticas distintivas: por seu papel na preser- pública possa atender com a necessária quali-
vação da identidade e dignidade nacionais, dade a demanda crescente da população pelo
bem como na valorização da cultura; pela acesso ao ensino superior.
constatação de que, além de dever-se a ela A contribuição das universidades públicas
a melhor formação disponível na graduação, para desenvolver tecnologia de ponta é ates-
é quase exclusivamente responsável pela for- tada pelo seu papel na criação de nossa in-
mação pós-graduada e pela pesquisa, consti- dustria aeronáutica, em nossa liderança inter-
tuindo o patrimônio mais importante de que nacional na exploração de petróleo em águas
dispomos para catalisar projetos estratégicos profundas e no desenvolvimento precoce da
de desenvolvimento regional e nacional. tecnologia para fabricação de fibras óticas,
Entre eles, destaca-se o apoio à recupera- entre inúmeros outros exemplos. Nossas me-
ção do ensino público do primeiro e segundo lhores universidades públicas educaram as
graus, fator crucial não só para o desenvolvi- pessoas responsáveis por essas realizações e
mento, mas também para reduzir a ineqüidade contribuíram diretamente à geração de co-
no acesso das camadas menos favorecidas da nhecimentos decisivos para o sucesso destes
população à universidade pública, que agrava e de muitos outros notáveis empreendimentos
as desigualdades na distribuição de renda. nacionais.
Assim, o enorme esforço nacional para A despeito destes resultados, há quem
construir boas universidades públicas, criar afirme que não temos condições para compe-

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SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

tir ou mesmo para reproduzir alta tecnologia, caráter cada vez mais interdisciplinar dos
sendo mais econômico adquiri-la no exterior. avanços no conhecimento, requer uma re-
Tais idéias revelam um profundo desconheci- visão profunda das metodologias tradicio-
mento dos mecanismos de capacitação tecnoló- nais de ensino.
gica, da realidade do país e das restrições compe- Na graduação, é fundamental que se de-
titivas nas relações de troca internacionais. senvolva a iniciativa individual, a capacidade
Lamentavelmente, ao longo de vários go- de pensamento crítico, de “aprender a apren-
vernos sucessivos, esta atitude de descrença der” a fim de manter a atualização e conti-
na ciência e na universidade pública brasileira nuamente criar conhecimento. Deve-se en-
persiste em altos escalões governamentais, fatizar uma formação básica sólida, calcada
sobretudo em setores cruciais da Fazenda e nos princípios, válidos a longo prazo, em que
do Planejamento, responsáveis pela execução se alicerçam as inovações. Ao mesmo tempo,
orçamentária e pela definição das linhas mes- deve ser estimulada a capacidade de trabalhar
tras do desenvolvimento nacional. Um exem- cooperativamente.
plo eloqüente da importância estratégica de Como observou Einstein, o valor de uma
desenvolvermos ciência de alto nível, possi- formação universitária não reside no apren-
bilitado por investimentos na infra-estrutura dizado de muitos fatos, mas no treinamen-
do Centro de Previsão do Tempo e Estudos to da mente para conceber coisas novas: “a
Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas educação é aquilo que sobra quando se es-
Espaciais, foi sua predição correta, divulgada queceu todo o resto”. Para isto, ao invés de
com grande antecedência, dos efeitos do El sobrecarregar os estudantes com tempo em
Niño sobre a seca no Nordeste. sala de aula, deve-se deixar-lhes bastante
Um país não pode controlar nem influir tempo para o trabalho pessoal, bem dirigido
naquilo que não tem competência para pro- e valorizado, criando ambientes favoráveis em
duzir. A solução de muitos problemas espe- laboratórios e bibliotecas, e estimulando ins-
cificamente nossos, por exemplo na área de trumentos como a iniciação cientifica.
saúde, requer hoje em dia o domínio de tec- Os atuais sistemas de ingresso nas nossas
nologias avançadas, cuja aplicação à nossa universidades não aferem bem a aptidão para
realidade não interessa a outros países. esse tipo de formação. Ao impor uma esco-
lha precoce e estanque de carreira, especia-
Reformar o ensino superior – lizando-a por vezes até as raias do absurdo,
Ensinar a aprender tendem a provocar frustrações ulteriores e
sequer selecionam os candidatos melhor clas-
A principal função da universidade con- sificados.
tinua sendo a formação de pessoal. Cum- Há espaço e boas justificativas para várias
pri-la a contento, frente ao crescimento modalidades de experimentos inovadores. Um
explosivo da inovação tecnológica e ao exemplo atraente seria criar um período de

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iniciação profissional, no qual se ofereceriam o controle perene de disciplinas, contraria as


disciplinas básicas das áreas de ciências exa- tendências cada vez mais interdisciplinares
tas, biológicas e humanas, com flexibilidade da ciência e tecnologia de fronteira e deve
(bem orientada) na escolha do currículo. Ha- ser substituída por uma estrutura mais ágil e
veria oportunidades de contato com diferen- flexível.
tes carreiras, permitindo uma opção posterior Dois regimes de trabalho devem ser manti-
melhor informada e mais amadurecida. dos: o de dedicação exclusiva, essencial para a
Um modelo desse tipo (que não deve ser pesquisa (compatível com consultoria externa
confundido com o chamado “ciclo básico”, devidamente regulamentada), e um regime de
nunca implantado efetivamente) permitiria dedicação parcial, importante em áreas profis-
uma seleção com base nas aptidões gerais sionais onde atividades regulares externas con-
desejáveis no ingresso. Também valorizaria tribuem para a experiência a ser transmitida no
a docência em disciplinas básicas, motivan- ensino. A natureza distinta destes dois regimes
do os docentes a conquistar os alunos para requer carreiras acadêmicas bem diferenciadas
suas áreas. Quanto mais básico o nível de um entre eles.
curso, mais importante é que seja ministrado A progressão na carreira deve ser baseada
pelos docentes mais experimentados, capazes na avaliação do mérito - incluindo as atividades
de inspirar e motivar os estudantes. de ensino, pesquisa e extensão associadas a cada
regime - por comissões de pares, com prepon-
Reformar a organização – derância de membros externos à instituição. O
Mérito e valores acadêmicos regime de dedicação exclusiva é privilégio a ser
concedido apenas a quem o justifique, em ter-
Universidades que ambicionem atingir o mos da produção intelectual, e a permanência
mais alto padrão de ensino, pesquisa e exten- nele deve ser condicionada a rigoroso acompa-
são devem reger-se pela primazia do mérito nhamento individual.
e da qualidade acadêmica, submetendo-se a Deve ser mantida significativa diferenciação
uma permanente avaliação externa por pares salarial entre os escalões da carreira, incentivan-
e mantendo transparência na prestação de do a progressão. Não é recomendável a conces-
contas à sociedade, a qual deve estar repre- são da estabilidade logo nos primeiros escalões,
sentada nos órgãos colegiados de cúpula. pois tende a induzir uma acomodação e a blo-
A hierarquia do mérito, liderança e ex- quear o acesso de jovens melhor qualificados. Já
celência acadêmica também deve prevalecer a dedicação exclusiva é importante desde o início
na escolha de dirigentes, em todos os níveis, para quem pretende dedicar-se à pesquisa.
inclusive o departamental, em vista das ele- É essencial que haja um corpo técnico-admi-
vadas funções e responsabilidades da univer- nistrativo competente, cuja carreira premie e re-
sidade pública. A propensão dos departamen- munere à altura o aperfeiçoamento profissional e
tos a se fecharem em si mesmos, assumindo a eficiência na gestão dos recursos, penalizando

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SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

a burocracia e o desperdício. O primado da quali- sos, inclusive dentro da universidade pública.


dade sobre a quantidade de servidores deve ser A redução das desigualdades regionais depen-
a palavra de ordem. de criticamente de que seja complementado
o apoio federal através da atuação das fun-
Autonomia e dações estaduais de amparo à pesquisa, as
financiamento público quais, à exceção da FAPESP, só vêm liberando
uma pequena fração dos repasses previstos
Universidades de alto padrão, aliando en- nas Constituições estaduais.
sino e pesquisa, têm um custo elevado, e são A autonomia, como a dedicação exclusiva,
bancadas majoritariamente pelo poder públi- é um privilégio a ser conquistado caso a caso,
co em todos os países, inclusive, ao contrário com base na avaliação de mérito. Ela pressu-
do que se propala, nos Estados Unidos, onde põe responsabilidade e deve ser escalonada
80% dos jovens matriculados no ensino su- em diversos graus. A vinculação orçamen-
perior estudam em instituições públicas; nas tária deve ser atrelada ao desempenho, ava-
melhores universidades privadas, a pesquisa liado por comissões externas de pares, com
básica é sustentada pelo governo. É um in- presença internacional. A autonomia plena
vestimento de altíssimo grau de retorno para requer um plano estratégico de longo prazo,
o país. com acompanhamento permanente.
A recente crise em nossas universida- Consideramos necessária a criação de
des federais colocou em foco a questão da um órgão decisório especial para o exame e
autonomia, sem dúvida essencial para o seu acompanhamento da autonomia. Estamos
futuro. O problema mais polêmico é o da au- elaborando uma proposta para a estrutura-
tonomia financeira. Como preâmbulo, deve ção deste órgão, que deve ser composto em
ser eliminado o enorme passivo previdenciá- grande maioria por acadêmicos da mais alta
rio e deve ser garantido o financiamento dos qualificação.
hospitais universitários, que prestam serviços
relevantes à população. Trata-se de proble- O papel da universidade pública
mas análogos, embora de custo bem menor, na geração e difusão
ao saneamento do setor bancário. Em vista da de conhecimento
escassez de recursos do tesouro, poder-se-ia
recorrer a fontes internacionais, dentro do A caracterização da universidade como
contexto mais amplo da reforma das univer- o locus do saber, da liberdade acadêmica e
sidades públicas aqui proposta. da inteligência, livre do dirigismo, por melhor
Dada a grande diversidade regional em intencionado que seja, é um pressuposto bá-
nosso país e a grande variedade de papéis sico da autonomia. A universidade deve ser
cumpridos pelo ensino do terceiro grau, há es- capaz de olhar além dos limites exíguos do
paço para uma pluralidade de modelos diver- utilitarismo e de conjunturas momentâneas.

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É importante que se estimule a diversidade governos estaduais e locais.


dos saberes que ali habitam e convivem, res- Recente relatório do Conselho de Asses-
peitando as especificidades de cada área do sores Econômicos da Casa Branca atribui mais
conhecimento. de 50% do crescimento da economia daque-
Para formar recursos humanos altamente le pais, nos últimos 40 anos, a investimentos
qualificados, é essencial que tenham a opor- em pesquisa e desenvolvimento. Afirma esse
tunidade de atuar e conviver com pesquisa documento que a pesquisa básica, realizada
na fronteira do conhecimento. A atividade primordialmente em universidades e financia-
de pesquisa traz contribuição insubstituível da principalmente pelo governo, não só con-
para este fim, por desenvolver o raciocínio tribui para a educação - em particular para a
independente, a criatividade e o método na formação de cientistas e engenheiros - mas
abordagem de novos problemas. Jovens pro- tem também um papel chave na inovação in-
fissionais assim formados, dentro dos mais dustrial.
altos padrões acadêmicos e éticos, são uma Declara o presidente Bill Clinton: “Um
das principais contribuições da nossa univer- corte de verbas para pesquisa no limiar de
sidade pública para preservar um Brasil livre e um novo século, quando a pesquisa se tornará
torná-lo um país mais educado e mais justo. ainda mais importante do que já tem sido nos
A difusão do conhecimento gerado e ar- últimos cinqüenta anos, equivaleria a cortar
mazenado nas universidades se dá principal- nosso orçamento para defesa no auge da
mente através dos profissionais ali formados, guerra fria.” Seria portanto, para ele, um cri-
mas também através de atividades de exten- me de lesa-pátria. Coerentemente com esta
são, como consultorias, contratos de pesqui- declaração, os orçamentos de 1998 e 1999
sas e de serviços, hospitais universitários, e aumentam substancialmente os já conside-
outras atividades. A existência e o incremen- ráveis investimentos do governo americano
to destas atividades de extensão, voltadas à em pesquisa e nas universidades. Estratégias
difusão do conhecimento, é essencial para o análogas vêm sendo adotadas em países da
desenvolvimento da universidade brasileira. comunidade européia e do leste asiático.
É uma ilusão perigosa, porém, acreditar Para a empresa, segundo levantamento
que os recursos captados com atividades de do Massachusetts Institute of Technology, o
extensão possam substituir o investimento maior serviço prestado pela universidade é a
público na universidade. Nenhum sistema formação de profissionais altamente qualifi-
universitário no mundo funciona nesta base. cados. Além deste, destacam-se a consulto-
Mesmo nos Estados Unidos, sempre citados ria de alto nível e a assessoria em pesquisas
como modelo, menos de 7% do valor contra- inovadoras de desenvolvimento tecnológico.
tado para projetos de pesquisa em todas as A passagem desta fase à de produção é a que
universidades vem de empresas - 67% vem envolve os maiores investimentos, bem como
do governo federal, e outra fatia grande de uma série de etapas que fogem ao escopo da

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SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

universidade. O financiamento público ainda é cessivos, à alienação da empresa e da socie-


crucial numa etapa pré-competitiva, e a polí- dade, e ao predomínio de vantagens corpora-
tica governamental de desenvolvimento é um tivas, desvinculadas do mérito e dos valores
fator decisivo. acadêmicos.
Muito se tem falado em competitivida- Por isso propomos: Reforma já. Baseada
de da empresa no Brasil deste fim de século. em valores acadêmicos, em mérito, em liber-
Não é possível adquirir competitividade sem dade acadêmica, em ensino capaz de formar
o domínio da geração de conhecimento, num lideranças intelectuais, em pesquisa de exce-
mundo onde a mercadoria mais valiosa é esse lência, em interação da universidade com a
próprio conhecimento. No Brasil o número de sociedade. Uma reforma à altura das melho-
cientistas e engenheiros trabalhando em pes- res realizações e das elevadas responsabilida-
quisa e desenvolvimento em empresas é não des do ensino superior público brasileiro.
só muitíssimo inferior ao dos Estados Unidos,
como também muito inferior ao da Coréia do Signatários:
Sul. Para que o Brasil consiga competir num Alaor Silvério Chaves, Alberto Carvalho
mundo com estas características, é indispen- da Silva, Alzira Abreu, Carlos Alberto Aragão
sável acelerar nossa capacidade de formar de Carvalho Filho, Carlos Henrique de Brito
pessoal qualificado, criando ao mesmo tempo Cruz, Carlos Lessa, Carlos Vogt, Eduardo Mo-
condições que direcionem nossas empresas acyr Krieger, Esper Abrão Cavalheiro, Gilber-
para seu aproveitamento. to Cardoso Alves Velho, Glaci Zancan, Herch
Moysés Nussenzveig, Isaias Raw, Jacob Palis
Reforma já Junior, José Arthur Gianotti, José Fernando
Perez, Leopoldo de Meis, Luciano Coutinho,
Universidades públicas de qualidade ser- Luiz Bevilacqua, Luiz Fernando Dias Duarte,
vem os interesses mais elevados e perma- Luiz Pinguelli Rosa, Margarida de Souza Ne-
nentes da nação. Não podem ser atreladas a ves, Maria Manuela Ligeti Carneiro da Cunha,
interesses passageiros de cada governo, nem Roque Laraia, Sérgio Henrique Ferreira e Si-
de partidos políticos, nem de determinadas mon Schwartzman.
empresas, nem de corporações profissionais
de qualquer natureza. Conforme destacou o O presente manifesto resulta de reunião
matemático Laurent Schwartz, não há exem- promovida pela COPEA (Coordenação de
plo de país desenvolvido com universidade Programas de Estudos Avançados da UFRJ),
subdesenvolvida. em 29 e 30 de maio de 1998. Os signatários, que
É urgente, a fim de salvar nossa univer- o subscrevem a título individual, sem representar
sidade pública, unir esforços no combate ao qualquer corporação, resolveram associar-se,
desinteresse persistente da área econômica, formando o Grupo de Defesa
manifestado ao longo de vários governos su- da Universidade Publica.

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2. INGRESSO, PERMANÊNCIA E
PARADIGMAS CURRICULARES
A universidade está sendo revista dades devem se preparar para responder a
em todo o mundo esse anseio. Não apenas as aspirações, mas
também as habilidades, desses candidatos à

A discussão sobre a reforma universitária


em andamento no Brasil coincide com
uma reanálise da Universidade que se verifi-
educação superior são muito diversificadas e
heterogêneas, e o sistema deve estar prepa-
rado para atender tal diversidade. Não menos
ca em quase todo o mundo. Na Europa, vê-se diversificada é a solicitação que a sociedade
o Processo de Bolonha, uma reforma pro- faz sobre a qualificação dos profissionais for-
funda e abrangente no sistema universitário mados pelo sistema de educação superior. É
da União Européia. Por um lado, tal reforma uma demanda das sociedades da maioria das
tem por objetivo dar maior identidade à UE nações que esse sistema forme profissionais
e permitir o intercâmbio tanto de estudantes comprometidos com as soluções dos seus
quanto de profissionais no continente. Por problemas mais prementes além de promover
outro, inclui uma análise da missão da Uni- a inovação e o avanço do conhecimento. Em
versidade no mundo contemporâneo e do tipo ambas estas funções, o nível de conhecimen-
de formação que ela deva oferecer. Nos EUA, to solicitado do profissional é altamente vari-
muitas universidades, principalmente as de ável. Essa variabilidade tem sido obtida com
maior qualidade e prestígio, estão envolvidas relativo sucesso combinando-se o ensino de
em reformas do conteúdo dos seus cursos. graduação com estudos pós-graduados para
Uma revisão de todo esse movimento refor- uma parcela dos estudantes, mas uma revisão
mista é descabida neste texto, mas é possível da duração e do conteúdo dessas etapas de
apresentar-se uma idéia do seu denominador formação é urgente.
comum. Parece haver já uma visão consensual,
Dois fatos se destacam no cenário em tanto na Europa quanto nos EUA, sobre dois
que hoje atua a universidade. Primeiro, vi- pontos:
vemos numa era em que o conhecimento se a) Os cursos de nível superior devem
acumula com grande velocidade, e em que ter uma estrutura seqüencial composta de ci-
as tecnologias evoluem e se substituem com clos relativamente curtos.
uma dinâmica quase perturbadora. Segundo, b) A especialização, quando não pre-
a educação de nível superior vem se tornando cedida de uma formação científica bastante
cada vez mais acessível aos diversos extra- sólida e ampla, só é aceitável para profissio-
tos sociais. Quase todos os jovens almejam nais com função estritamente operacional.
obter educação de nível superior e as socie-

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Nos EUA, o sistema de educação supe- O que há de comum entre os movimen-


rior é muito amplo e diversificado. Ali temos tos reformistas americanos e o europeu é a
desde os “community colleges”, que oferecem crença de que, nesta era em que o conheci-
cursos com duração de dois anos, de caráter mento avança tão rápido e em que o recorte
predominantemente profissionalizante, até as das profissões é altamente instável, apenas
universidades de pesquisa (“research universi- uma formação assentada em uma sólida base
ties”) que formam desde o bacharel de quatro científica pode permitir que o profissional se
anos até o Ph.D. ou M.D.. Em todas as uni- adapte eficientemente ao que dele se exige.
versidades de pesquisa, o bacharelado contém Além disso, os cursos têm de ser suficiente-
um Ciclo Básico (CB) de pelo menos um ano mente flexíveis para que o estudante pos-
durante o qual o estudante não tem de de- sa, por um lado, reorientar sua formação no
clarar qualquer intenção sobre sua opção de meio do caminho e, por outro, atravessar as
carreira. O CB é dedicado aos fundamentos fronteiras tradicionais das disciplinas e dessa
das ciências e das artes. Nas melhores uni- forma ficar mais preparado para atuar em
versidades daquele país, há atualmente uma problemas cada vez mais temáticos e menos
tendência para o alongamento do CB, cuja disciplinares.
duração será de um ano e meio a dois anos, O Brasil inicia a discussão da sua reforma
dependendo da universidade. universitária a partir de uma realidade per-
Na UE, pelo Processo de Bolonha, os estudos versa onde se sobressaem três grandes pro-
universitários se comporão de cursos seqüenciais blemas:
no chamado ciclo 3-2-3: um bacharelado de três a) Nosso sistema de ensino superior
anos, seguido de um mestrado de dois anos, se- está sendo incapaz de oferecer educação de
guido de um doutorado de três anos. Ainda não qualidade para o número rapidamente cres-
há uma definição conclusiva sobre o conteúdo e cente de jovens que a solicitam.
a filosofia do bacharelado. Entretanto, a tendên- b) Nossos cursos de bacharelado são
cia é de se adotar uma estrutura contendo um em geral longos, com duração de 4 a 6 anos,
ciclo básico seguido de um ciclo profissionalizan- e altamente verticalizados, exigindo que o
te em que um rico elenco de disciplinas eletivas estudante tenha sua opção de carreira já ao
possibilite orientações muito diversas para a for- ingressar na universidade.
mação do estudante. c) As profissões de nível superior no
País são demasiado regulamentadas, o que
imobiliza o seu recorte e inibe a formação dos
A tendência mundial é de cursos
novos profissionais que o mundo contempo-
seqüenciais com ciclos de curta
râneo solicita.
duração, com currículos flexíveis,
fundamentados em base científica
Claramente, o terceiro desses problemas
ampla.
extrapola do âmbito da reforma universitária,

10
SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

car em que aspectos o sistema é ineficiente.


O Brasil precisa ampliar e
Talvez a maior causa de ineficiência do
modernizar sua educação superior.
sistema de universidades no País, pelo me-
As profissões têm de ser menos
nos no caso das universidades públicas, seja
regulamentadas para permitir a
o próprio processo de seleção dos seus estu-
criação e utilização de novos tipos
dantes. Por razões históricas, em grande parte
de profissionais.
ligadas a interesses corporativos das associa-
ções profissionais, os postulantes ao ingresso
pelo menos na forma como ela foi colocada na universidade brasileira competem a vagas
em discussão. Sem dúvida, ele tem de ser in- em carreiras predefinidas. Isso gera ineficiên-
cluído num programa de reformas mais am- cia por razões diversas. Primeiro, porque em
plo que vise inserir o País na era da inovação. algumas carreiras a competição é muito me-
Conforme ficará claro neste texto, o primeiro nos acirrada, o que permite o ingresso na uni-
e o segundo problemas acima expostos são versidade de candidatos com formação muito
interligados, e o atendimento de um número inferior à de grande parte dos excluídos que
maior de jovens requer também a criação de concorrem a carreiras mais procuradas. Tal
cursos de bacharelado mais curtos. aberração encontra justificativa no pressu-
posto fantasioso de que o estudante já tenha,
É possível melhorar a educação e ao ao completar o ensino médio, as informações
mesmo tempo ampliar o número de vagas indispensáveis para fazer uma opção de vida
nas IES com aumento de custos inferior por uma determinada carreira. As opções de
ao do aumento do número de vagas grande parte dos candidatos baseiam-se não
só em critérios associados às oportunidades
Há satisfatório consenso sobre a urgente de trabalho como também no prestígio his-
necessidade de se ampliar o número de vagas tórico das várias profissões, nas influências
nas Instituições de Ensino Superior (IES). Co- familiares, e no fato de que para a entrada na
loca-se assim um triplo desafio: (i) aumentar universidade há portas estreitas e portas lar-
os investimentos no setor público, onde se gas. É oportuno salientar as diversas facetas
concentra a quase totalidade da produção dessa opção precoce, incluindo as que redu-
intelectual em nosso País, e que tem funcio- zem a eficiência do sistema universitário (no
nado como um padrão de qualidade para o sentido de elevar o custo do formando) e as
ensino superior; (ii) estabelecer estruturas que que reduzem a qualidade da formação obtida
permitam a constante avaliação das IES, de pelo estudante.
modo a garantir que a ampliação das vagas No mundo inteiro, as universidades com-
não comprometa a qualidade do ensino e da petem para atrair os melhores estudantes. Se
pesquisa; e (iii) aumentar a eficiência das IES, a universidade adia a opção de carreira do es-
o que coloca a questão preliminar de identifi- tudante até que ele tenha informações sufi-

11
Academia Brasileira de Ciências

o nível de exigência sobre eles esteja muito


A seleção de estudantes na
abaixo do seu potencial.
universidade por carreiras pré-
Há cursos para os quais, por um lado, a
definidas tem origens históricas
competição de candidatos no exame de sele-
que hoje não se justificam.
ção é pouco acirrada e, por outro, o nível de
exigência após a entrada é muito alto. É o que
cientes, não somente das diversas carreiras, mas ocorre, por exemplo, na área das ciências físi-
também da qualidade da formação fornecida cas e da matemática. Apenas estudantes com
para cada carreira em sua universidade, os vários aptidões adequadas e considerável dedicação
cursos têm de competir internamente para atrair têm condições de obter desempenho satisfa-
os estudantes mais bem sucedidos após um Ciclo tório em matemática, física e química. Estas
Básico, cuja duração e caráter variam de uma são áreas por natureza difíceis para a maioria
universidade para outra. Assim, a existência de das pessoas, e além do mais atingiram um nível
um Ciclo Básico anterior à opção de carreira realmente singular de sofisticação nos tempos
acarreta duas competições: a competição entre recentes. Essa combinação de fatos faz com
os estudantes com vista a deixar aberto o leque que menos de 20% dos ingressantes nessas
mais amplo possível de opções, e a competição carreiras consigam completar os cursos, e o ní-
entre os departamentos e faculdades para de- vel de desistência é singularmente elevado. Mas
monstrar aos estudantes que ali podem obter a o índice de desistência é alto em quase todas
melhor formação. A decorrência dessa compe- as áreas porque muitos alunos descobrem que
tição é extremamente positiva. Os departamen- sua precoce opção de carreira foi um equívoco.
tos se esforçam para aprimorar a qualidade dos O índice global de desistência nas universidades
cursos e os estudantes para deles tirar o melhor brasileiras é anormalmente elevado.
proveito.
A eliminação da dupla competição entre O rápido avanço do conhecimento
departamentos e entre estudantes é alta- e a crescente dinâmica no recorte
mente deletéria. Por um lado, o estudante, das profissões pedem profissionais
mesmo aquele que demonstrou capacidade aptos para adaptação a atividades
para ser vencedor na competição por uma inteiramente novas
carreira altamente seletiva no processo de
entrada, pode acomodar-se após a marato- A rapidez no avanço do conhecimento é
na do vestibular e entrar em um processo de uma das características marcantes da nossa
apenas contar os anos para sua titulação. Em era. Associadas a essa dinâmica, as tecno-
todo o País, nas carreiras em que o vestibular logias aparecem e se tornam obsoletas com
é mais competitivo o índice de reprovação dos tempos de prevalência que não param de
estudantes, após o ingresso, tem sido essen- decrescer. As habilidades especializadas que
cialmente nulo, o que sugere fortemente que o profissional adquire no seu processo de for-

12
SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

mação costumam ficar desatualizadas e qua-


A formação mais
se inúteis muito rapidamente. Nesse cenário,
especializada pode tornar-se
vários conceitos e práticas têm sido objeto
rapidamente obsoleta.
de considerações e políticas diversas, desta-
O profissional com formação mais
cando-se o de educação continuada. Mesmo
científica e interdisciplinar se
sendo altamente dispendiosa, pode ser que a
adapta facilmente a mercados de
educação continuada se torne uma prática
trabalho altamente instáveis.
inevitável no mundo contemporâneo. Entre-
tanto, há também a consciência crescente de
que, pelo menos nas áreas mais dinâmicas, mação científica e metodológica mais ampla,
como por exemplo na de geração de novas essa é uma realidade inexorável.
tecnologias, apenas os profissionais com for- A questão que surge imediatamente é:
mação científica muito sólida e interdiscipli- que formação a universidade deve oferecer
nar são capazes de se adaptar eficientemente nesse cenário tão dinâmico? Para muitos, a
às exigências do mercado de trabalho. Parece universidade não pode mais visar treinar um
que estamos entrando numa nova era em que profissional pronto e acabado para uma deter-
o especialista vai se tornando um profissional minada função. As reformas curriculares que
com horizontes restritamente operacionais, se observam nas universidades americanas de
ou seja, apenas apto a realizar atividades vanguarda, e o amplo processo de reformas
mais ou menos rotineiras e em muitos casos pelo qual estão passando as universidades eu-
supervisionada por pessoas com visão mais ropéias refletem claramente essa visão. Nos
abrangente. Pelo menos nos casos em que EUA, tradicionalmente os cursos de gradua-
a especialização não se baseia em uma for- ção têm a duração de quatro anos, e a opção
de carreira nunca é feita antes do término do
primeiro ano. A atual tendência é a adoção de
As universidades devem concorrer
um Ciclo Básico de um ano e meio ou de dois
para atrair os melhores
anos, com índole interdisciplinar e ênfase nos
estudantes para seus Ciclos
fundamentos e métodos seminais das ciências
Básicos e seus departamentos
e das artes. O Ciclo Básico é seguido de um Ci-
devem concorrer para atrair os
clo Profissional muito flexível, no qual ênfases
que demonstrem mais aptidão
diversas podem ser escolhidas pelo estudan-
nos referidos Ciclos.
te, que conta com boa orientação acadêmica
para definir suas escolhas. Além do mais, o
Os estudantes devem ter bom
estudante é encorajado a graduar-se em mais
desempenho no Ciclo Básico para
de uma carreira , para obter um trânsito mais
garantir sua posterior opção pela
amplo em sua vida profissional. Por exemplo,
carreira.
hoje no MIT (Massachusetts Institute of Tech-

13
Academia Brasileira de Ciências

nology) pelo menos um terço dos estudantes praticado na Inglaterra há muito tempo. Com-
gradua-se em mais de um major, e esta fração binando sua estrutura de cursos com a ênfase
é crescente. Além disso, no mesmo MIT, o es- na formação científica e capacidade de pensar, a
tudante é encorajado a envolver-se em pes- Inglaterra tem tido grande sucesso. Em especial,
quisa desde cedo na sua graduação, estimu- sua ciência se destaca em todo o mundo pela
lando a sua iniciativa e criatividade, o que o alta qualidade e originalidade.
torna mais apto a enfrentar situações novas.
Na universidade européia reformulada Uma proposta para o Brasil: ingresso
pelo Processo de Bolonha, deverá ser adotado, por três grandes áreas, e cursos
em todos os países, o ciclo 3-2-3: três anos de compostos de ciclos curtos.
bacharelado, dois de mestrado e três de dou-
torado. De fato, é proposto atualmente que o Propomos que os cursos universitários se-
primeiro ciclo tenha no mímimo três anos, de jam compostos de ciclos de curta duração. A
modo a poder acomodar eventualmente ne- duração de cada ciclo deverá levar em consi-
cessidades específicas de algumas áreas do deração e respeitar a especificidade de cada
conhecimento. O bacharel europeu, após três área de conhecimento. É salutar que haja uma
anos, não terá necessariamente uma forma- diversidade de modelos e flexibilidade na im-
ção completa e especializada. Todavia, o que plementação dessa política. Os alunos serão
as empresas buscam hoje são profissionais selecionados para ingresso em uma de três
com a posse de alguns conceitos e métodos grandes áreas, Ciências Básicas e Engenharia
gerais e abrangentes e com capacidade de (CBE), Ciências da Vida (CV) e Humanidades,
pensar. Com esses requisitos, o profissional Artes e Ciências Sociais (HACS), sem terem
pode ser rapidamente treinado pela própria de declarar sua opção preliminar de carreira.
empresa para as funções específicas a que se Haverá um Ciclo Básico comum para cada
destina. Também pode ser agilmente readap- grande área, que visará o domínio de funda-
tado a outra função, quando for o caso. mentos gerais e seminais da grande área e terá
O mestrado e doutorado europeus também abrangência interdisciplinar. Por exemplo, um
serão rápidos, o que apenas pode dar bons re- Ciclo Básico de CBE poderia ter como núcleo
sultados se suas ênfases forem mais científicas obrigatório 8 créditos de cálculo, 8 créditos de
e menos técnicas. Na verdade, o sistema uni- física, 4 créditos de química, e 4 créditos de
versitário europeu se tornará algo próximo do já biologia. Após terminar esse ciclo, o estudante
receberá um diploma (cujo título poderia ser,
por exemplo, Diploma de Estudos Superiores),
A universidade não pode mais podendo encerrar nesse ponto seus estudos,
visar treinar um profissional ou matricular-se em um ciclo posterior. As
pronto e acabado para uma vagas para as opções posteriores de carreira
determinada função serão preenchidas com base no desempenho

14
SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

tre seus esforços naqueles que demonstrem


O Ciclo Básico deve se dividir bom desempenho. A situação atual, em que
em três grandes áreas: Ciências estudantes emperram a eficiência da univer-
Básicas e Engenharias, Ciências sidade devido a reprovações e raramente são
da Vida, e Humanidades, Artes e excluídos do sistema, é de absurda injustiça,
Ciências Sociais considerando-se o seu custo e a incapacida-
de de a universidade pública atender tantos
do estudante no Ciclo Básico. outros jovens que nela lutam para ingressar.
Como o Ciclo Básico será um segun- Os estudantes nessa situação, com desem-
do filtro, e apenas os melhores alunos terão penho insatisfatório persistente, devem ser
acesso a todas as carreiras, o estudante será jubilados.
mais estimulado a se dedicar ao estudo, e as-
sim os cursos poderão ser dados em mais alto A interdisciplinaridade, a capacidade
nível e de forma menos tutorial. O número de de expressão e o espírito crítico devem ser
disciplinas será também altamente reduzido estimulados através de disciplinas eletivas
(no momento, o aluno faz tipicamente sete e oficinas de trabalho
disciplinas por semestre, um absurdo peda-
gógico apenas praticado porque no fim não A redução substancial da carga horária
há quase nenhuma cobrança quanto ao de- obrigatória permitiria não apenas incentivar
sempenho), o que reduzirá a carga horária do- a participação ativa dos estudantes no pro-
cente em sala de aula. Em compensação, será cesso de aprendizagem. Possibilitaria também
estimulado e cobrado o trabalho individual e que o estudante tivesse uma formação mais
em grupo dos alunos fora da sala de aula. O abrangente, através de disciplinas eletivas e
excesso de disciplinas cursadas é atualmen- oficinas de trabalho.
te uma das maiores falhas do nosso sistema Nesse sentido, é importante que as insti-
universitário, e suas conseqüências são a so- tuições de ensino superior ofereçam regular-
brecarga do professor e o baixo desempenho mente disciplinas fundamentais para a forma-
do estudante. Substitui-se assim o trabalho ção de todos os alunos. Deve ser destacado,
necessário do aluno, que em muitos casos se- em particular, o ensino do Português, tendo
gue passivamente os cursos ministrados, pelo em vista a crescente deficiência de expressão
do professor. O sistema será também flexível demonstrada entre os alunos que ingressam
no sentido de dar um tratamento especial aos no ensino superior. Outras disciplinas impor-
alunos excepcionais, acelerando seu processo
de formação.
Para que o fluxo de estudantes, especial-
Os estudantes com desempenho
mente no Ciclo Básico, possa ser otimizado, é
insatisfatório persistente devem
essencial que a universidade pública concen-
ser jubilados

15
Academia Brasileira de Ciências

no sentido contrário ao desejável. Enquanto


O País precisa de universidades em todo o mundo são criadas universidades
abrangentes, de universidades técnicas com âmbito de atuação explicita-
técnicas e de instituições mente delimitado, no Brasil cada nova uni-
análogas aos community colleges versidade federal que se cria pretende abarcar
norte-americanos todo o escopo de outras de muito maior porte
e já bastante maduras. Por exemplo, algumas
tantes para a formação dos estudantes seriam escolas federais de agricultura postularam
história do Brasil e ciência da computação. e conquistaram o status de universidade e,
As oficinas de trabalho reuniriam grupos imediatamente, passaram e formular projetos
de até 20 estudantes, durante uma ou duas e a propor cursos nas mais diversas áreas do
horas por semana, versando sobre temas con- conhecimento.
trovertidos da atualidade ou temas mais es- Por um lado, é importante reconhecer que
pecíficos na fronteira do conhecimento. o País precisa ter, nas suas diversas regiões
A participação de estudantes em oficinas geográficas, universidades de grande porte e
de trabalho tem sido estimulada em univer- âmbito realmente universitário (no sentido de
sidades de outros países. Por exemplo, várias universal, abrangente) de atuação. Entretan-
universidades norte-americanas oferecem, to, o desejável é que tal conjunto de univer-
para os alunos cursarem já no primeiro se- sidades abrangentes seja complementado por
mestre, um amplo leque de temas de oficinas, universidades técnicas com graus variáveis
com o objetivo explícito de ampliar a forma- de especialização. Nestas, talvez a seleção
ção do estudante, desenvolver sua capacidade de estudantes por carreira e a verticalização
de expressão, sua criatividade e seu espírito dos cursos sejam mais adequadas do que o
crítico. sistema de ciclos de curta duração. Um tipo
de instituição a ser considerado é um análogo
O País precisa de mais de um tipo de dos “community colleges” norte-americanos,
Instituição pública de Ensino Superior com cursos de dois anos. Na verdade, tais ti-
pos de cursos já existem no País, levando ao
O conjunto das IFES é muito heterogêneo título de Tecnólogo. O que se propõe é sua
e, em princípio, este é um fato positivo. En- valorização e a ampliação das instituições
tretanto, tanto a política do MEC quanto os voltadas para esse tipo de formação. É es-
projetos das diversas IFES parecem visar um sencial que elas permaneçam voltadas para a
processo de homogeneização, por um lado formação de excelentes técnicos atendendo a
utópico e por outro indesejável. O País preci- expectativa dos alunos e não se desviem dos
sa de um universo diversificado de IFES com objetivos primordiais.
missões distintas e claramente formuladas. A necessidade de tal diversidade decorre
Parece que nesse aspecto estamos andando de que a sociedade demanda profissionais

16
SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

com nível de conhecimento muito diversi- se concentra a quase totalidade da pesquisa


ficado. No caso brasileiro, há de se conside- realizada no Brasil. Têm contribuído não só
rar também outras variáveis. Por exemplo, a para a formação de profissionais qualificados,
demanda desatendida da sociedade por pro- mas para a solução de problemas tecnológi-
fissionais em carreiras como enfermagem e cos brasileiros. Projetos de inclusão que impli-
licenciados em ciências é tão aguda que não cassem em uma redução da qualidade dessas
podemos pensar apenas no profissional do instituições seriam extremamente prejudi-
mais alto nível, com as qualificações ideais ciais para o País.
para a carreira, mas devemos adotar uma Além disso, não devemos enfrentar mani-
postura pragmática no sentido de atender tal festações de discriminação racial existentes
demanda num prazo mais curto. na sociedade brasileira com os mesmos cri-
térios de inspiração racial, preconceituosos e
Inclusão com qualidade e diversidade sem base científica. A caracterização racial,
ainda mais no caso da sociedade brasileira
É bem conhecido que o grande gargalo que com seu alto grau de miscigenação, é sujeita
limita o acesso ao ensino superior é a deficiência a todo tipo de distorções.
extrema de nosso ensino público fundamental e Ações afirmativas de inclusão são sem
médio. Para saná-la, é necessário um grande es- dúvida necessárias, não apenas na univer-
forço do Estado brasileiro para formar, valorizar e sidade, mas em todo o sistema educacional
reciclar professores para esses níveis de ensino. brasileiro. Entretanto, a questão central a ser
Mais ainda, é necessário dar condições para que enfrentada, em um projeto de inclusão, é a da
os alunos permaneçam na escola o dia inteiro, desigualdade social e de oportunidades, em
envolvidos em atividades formadoras, como es- geral, que afeta indivíduos provindos dos mais
portes, oficinas de arte, literatura e ciência, labo- variados grupos étnicos e culturais.
ratórios de informática. É importante discutir o que pode ser fei-
Por outro lado, as instituições públicas de to, pelas instituições de ensino superior, para
ensino superior constituem um patrimônio tentar remediar a exclusão social, ainda que
cultural de grande importância para nosso o principal motivo da mesma resida em ou-
País. Servem de referência como padrão de tros níveis de ensino. É necessário aumentar o
qualidade para a educação superior e nelas contingente no ensino superior de estudantes
de classes sociais menos favorecidas, o que
deve ser feito sem prejudicar a qualidade da
O grande gargalo que limita o educação fornecida. Essa deve ser uma preo-
acesso ao ensino superior é a cupação básica: maximizar a diversidade sem
deficiência extrema de nosso prejudicar a qualidade, de modo a preservar e
ensino público fundamental e aprimorar o patrimônio cultural construído ao
médio longo de várias décadas.

17
Academia Brasileira de Ciências

Entre as soluções possíveis, destacamos:


(i) o auxílio das instituições de ensino
superior (IES) à organização de cursos pré-
universitários para comunidades carentes,
com o fornecimento de material didático e a
participação como professores dos melhores
estudantes dessas IES, supervisionados por
docentes das mesmas;
A questão central a ser
(ii) a utilização de critérios de admissão
enfrentada, em um projeto de
que levem em conta o potencial de aprendiza-
inclusão, é a da desigualdade
do e o rendimento escolar previsto para os es-
social, em geral, que afeta
tudantes, o que envolve uma reformulação do
indivíduos provindos dos mais
processo de seleção, de modo a enfatizar mais
variados grupos étnicos e sociais
esses elementos e menos a informação pre-
viamente acumulada, e também um sistema
de bônus, que beneficie estudantes oriundos
de escolas públicas, sem prejuízo da qualidade
do ensino – o sistema adotado pela UNICAMP
é um exemplo de como a inclusão social pode
ser estimulada melhorando ao mesmo tempo
a qualidade do corpo discente;
(iii) a eliminação do desperdício de vagas
e talentos provocado por exames de seleção
já orientados para carreiras específicas, e por
uma especialização prematura no início dos
cursos universitários;
(iv) a diversificação das instituições de
ensino superior, ampliando o espectro de es-
tudantes atendidos, e incluindo escolas pro-
fissionalizantes e instituições de formação
geral, nos moldes dos “community colleges”
Deve ser uma preocupação básica
existentes nos Estados Unidos da América;
maximizar a diversidade sem
(v) a ampliação do papel das instituições
prejudicar a qualidade
públicas de ensino superior na formação de
professores bem qualificados para os níveis
fundamental e médio, acoplada a uma políti-
ca de valorização desses profissionais.

18
SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

3. AVALIAÇÃO E FINANCIAMENTO

E ducar é um serviço público que requer cre-


denciamento, supervisão, avaliação e acom-
panhamento do Estado. O financiamento das
Avaliação pelo Estado
é essencial para o
instituições públicas de ensino superior deve ser
desenvolvimento da educação
composto de duas parcelas: uma que garanta os
superior
itens de custeio e capital necessários para o bom
funcionamento dessas instituições, e a outra ba- manência nele sendo condicionada a rigoroso
seada nas avaliações. acompanhamento individual.
Dois tipos de avaliação devem co-existir: a
avaliação individual e a avaliação institucional. 1.2. O atual regime probatório deve ter
A avaliação deve ser a base para o desen- sua duração estendida e sua avaliação deve ser
volvimento da instituição, para o aumento da rigorosa
qualidade de seus quadros, de seu ensino e de
sua produção intelectual, e para sua inserção Atualmente, existe um regime probatório de
regional e nacional. dois anos em Universidades Federais, para do-
centes aprovados em concurso. Após esse pe-
1. A AVALIAÇÃO INDIVIDUAL ríodo, o docente é avaliado com relação às suas
atividades de pesquisa, ensino, extensão e ad-
1.1. A dedicação exclusiva deve ser con- ministração. Com base nessa avaliação, deve ser
dicionada a rigoroso acompanhamento in- decidida sua manutenção ou não na instituição.
dividual Essa avaliação, que tem sido puramente
pró-forma, deve ser levada a sério, com parti-
A carreira universitária comporta dois regi- cipação majoritária de pares externos à institui-
mes de trabalho: a dedicação exclusiva, essencial ção, estendendo-se ao mesmo tempo o período
para a pesquisa, e a dedicação parcial, impor- do regime probatório para cinco anos, de modo
tante em áreas profissionais onde atividades re- que se possa ter uma visão mais aprofundada da
gulares externas contribuem para a experiência atuação do docente na Universidade.
a ser transmitida no ensino. A natureza distinta
desses dois regimes requer carreiras acadêmicas
bem diferenciadas entre si.
O regime de dedicação exclusiva, que é
compatível com consultoria externa devida-
mente regulamentada, deve ser concedido
A dedicação exclusiva deve ser
mediante análise da produção intelectual, e
sujeita a avaliações periódicas por
deve ser sujeito a avaliações periódicas, a per-
pares

19
Academia Brasileira de Ciências

Deve-se implementar uma 2.2. A recém-criada Comissão Nacional


avaliação externa rigorosa de Avaliação da Educação Superior (CONAES)
durante o regime probatório deve organizar a atuação das Comissões de
Avaliação de Cursos de Graduação
2. A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL
O artigo 4 da Lei do SINAES prevê a ava-
2.1. Deve ser restabelecida a sistemática de liação dos cursos de graduação através de
avaliação universal de cursos e divulgação de procedimentos e instrumentos diversificados,
resultados através do “Provão” (nome atual: dentre os quais obrigatoriamente as visitas por
ENADE), sem prejuízo de seu aperfeiçoamen- comissões de especialistas das respectivas áreas
to e da adoção de modalidades adicionais de do conhecimento. Prevê ainda a atribuição de
avaliação conceitos. É importante que essas comissões de
especialistas, a serem indicadas pela CONAES,
A lei do Sistema Nacional de Avaliação do sejam compostas por profissionais de alto nível,
Ensino Superior (SINAES), proposta através da externos à instituição avaliada, nos moldes do
Medida Provisória no. 147, de 2003, e aprovada que é feito pela CAPES para a pós-graduação.
em março de 2004, prevê um Exame Nacional Na avaliação das instituições de ensino su-
de Desempenho dos Estudantes (ENADE), que se perior, devem ser levados em conta seus projetos
diferencia do sistema anterior do “Provão” por de longo prazo, suas contribuições à produção
admitir a utilização de procedimentos amos- intelectual, sua inserção regional e nacional, a
trais, e por admitir uma periodicidade de até três qualidade de seus cursos e de seu quadro docen-
anos. A implementação do “Provão” estimulou te, suas atividades de extensão, a estrutura de
diversas instituições privadas de ensino superior carreira docente, e a eficiência na gestão.
a contratarem docentes mais qualificados. Seu
enfraquecimento, por outro lado, coincidiu com 3. O FINANCIAMENTO DAS
demissões recentes desses mesmos docentes. INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR
É importante restabelecer a universalidade e
a periodicidade anual desse exame, sem prejuízo 3.1. O financiamento basal às universida-
de seu aperfeiçoamento e da adoção de moda- des públicas deve ser garantido, e devem ser
lidades adicionais de avaliação, como comissões criadas formas adicionais de financiamento.
externas de pares, nos moldes do que é feito
atualmente pela CAPES. A regulamentação da avaliação das institui-
ções de ensino superior, bem como a vinculação
entre essa avaliação e o financiamento das mes-
É importante restituir a mas, deve levar em conta que despesas básicas
universalidade do “Provão” anual e necessárias das universidades públicas sejam

20
SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

atendidas, independentemente da avaliação.


Essa observação é especialmente importante no O CONAES deve organizar um
momento atual, em que as universidades fede- sistema de avaliação que utilize
rais atravessam uma situação de penúria. É obri- comissões de especialistas de
gação do governo federal garantir, em relação às alto nível externos à instituição
universidades federais, itens como espaço físico avaliada
adequado para professores e estudantes, ener-
gia, comunicação telefônica e computacional, lidade para operar com eficácia.
segurança, limpeza e transporte. Nos primeiros anos de funcionamento, seu
É recomendável além disso que o desenvol- alvo principal deveria ser o sistema de Institui-
vimento do ensino de graduação tenha acesso ções Federais de Ensino Superior, estendendo
a fontes adicionais de recursos, especialmente depois sua atuação para as demais institui-
aquelas que permitam maior aproximação com ções públicas e também para as instituições
a pós-graduação e a pesquisa. privadas.
Fontes adicionais de financiamento público O órgão a ser criado teria entre suas atribui-
que se destinem a promover essa aproximação ções o financiamento de projetos, a concessão
devem ser disponibilizadas para instituições pú- de bolsas e auxílios e outros mecanismos neces-
blicas e para instituições comunitárias sem fins sários ao desenvolvimento qualitativo dos cur-
lucrativos. sos de graduação. Entre suas linhas de atuação e
O acesso a essas fontes adicionais deverá fomento, estariam o financiamento de projetos
depender de avaliação de mérito dos projetos de infra-estrutura como bibliotecas de quali-
apresentados. A continuidade do financiamento dade, recursos de informática e telecomunica-
deverá depender de acompanhamento regular ções aplicadas ao ensino, projetos pedagógicos
por comissões de especialistas externos. inovadores, programas setoriais de estímulo ao
re-equipamento de laboratórios e reestrutura-
3.2. Deve ser criado um Fundo Nacional ção de currículos e cursos, programas de inter-
de Desenvolvimento do Ensino Superior, que câmbio internacional de professores e alunos,
proporcionará recursos para o desenvolvimen- bolsas para professores envolvidos em projetos
to do ensino de graduação de acordo com as de melhoria do ensino, programas institucionais
avaliações da CONAES. de bolsas acadêmicas para alunos, programa de

Deve ser criado um órgão que desempe-


nhe, no ensino de graduação, o papel exerci-
É necessário um Fundo para
do pela CAPES no ensino de pós-graduação.
desenvolvimento do ensino de
Esse órgão, que seria o gestor do Fundo, deve
graduação, a ser gerido por órgão
abranger todo o sistema de ensino superior do
de atuação semelhante à da
País, e deve ter autonomia, agilidade e flexibi-
CAPES

21
Academia Brasileira de Ciências

cimento de padrões nacionais de qualidade.


Um sistema nacional de Por outro lado, o repasse direto às univer-
laboratórios associados traria sidades sujeitaria o financiamento dos grupos
recursos adicionais de pesquisa a um único processo decisório,
lastreados em avaliação submetendo-os sem possibilidade de recurso
a erros de julgamento, e além disso eliminan-
apoio ao desenvolvimento de material didático e do o cotejamento com outros projetos em es-
softwares educacionais abertos. cala nacional.

3.3. O mecanismo de financiamento das 3.4. Deve ser criado um Programa Na-
pesquisas através de projetos submetidos às cional de Laboratórios Associados
agências (CNPq, CAPES, Finep e FAP’s) deve
ser preservado. Sugere-se a criação de um Programa Na-
cional de Laboratórios Associados, destinado
As agências de financiamento à pesquisa a financiar por quatro anos, renováveis, pro-
têm exercido um papel importante no desen- jetos de instituições de ensino e pesquisa que
volvimento das instituições de ensino superior, tenham sido alvo de avaliação criteriosa de
promovendo a modernização de instituições mérito.
através do apoio a pesquisadores individuais Esse Programa deverá associar caracterís-
ou a grupos de pesquisa. Esse papel deve ser ticas do Programa de Entidades de Pesquisa
preservado, e mesmo reforçado, através de Associadas aprovado pelo CD do CNPq em
apoio institucional nos moldes do FNDCT, 1987 com a metodologia de avaliação desen-
evitando-se, no entanto, o repasse direto às volvida pelo programa de Apoio a Núcleos de
universidades para distribuição interna. Excelência (Pronex) criado em 1996.
A multiplicidade de fontes de financia-
mento assegura a existência de um leque di- 3.5. Auxílios para pesquisa devem ser
versificado de projetos de qualidade, sujeitan- acompanhados de um percentual destinado
do-os à avaliação externa, e protegendo-os à infraestrutura fornecida pela instituição.
de eventuais erros de julgamento ou restrições
orçamentárias. Além disso, o julgamento de É urgente reforçar o auxílio de caráter
caráter nacional proporcionado por agências institucional para as instituições de ensino
federais é extremamente útil para o estabele- superior. Sem ele, a atuação dos grupos de
pesquisa financiados fica prejudicada, pela
ausência de uma infraestrutura adequada.
Auxílios para pesquisa devem Além disso, docentes que não fazem parte de
incorporar “overheads” às um grupo de pesquisas financiado ficam às
instituições vezes impossibilitados de progredir em suas

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SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

pesquisas, e eventualmente conseguir um de proteger o investimento governamental


financiamento, pela ausência de requisitos e assegurar que os projetos financiados não
mínimos para a realização de suas pesquisas, sofram descontinuidade, deve ser considerada
como equipamento computacional e material também a estabilidade da instituição, a con-
bibliográfico. trapartida por ela oferecida e sua estrutura de
O apoio institucional seria reforçado carreira docente.
através de um percentual (“overhead”), adi-
cionado ao auxílio de pesquisa, e destinado à
infraestrutura fornecida pela instituição. Esse
percentual deverá constituir um aporte suple-
mentar aos orçamentos das agências, forneci-
do pelo Fundo Setorial de Infraestrutura.

3.6. Financiamento público a pesquisa-


dores de instituições privadas deve passar
pelos mesmos critérios de avaliação e acom-
panhamento utilizados para os pesquisado-
res de instituições públicas, considerando-
se ainda a estabilidade da instituição e a
estrutura de sua carreira docente.

A educação é um serviço público que re-


quer supervisão, avaliação e acompanhamen-
Financiamento público a
to do Estado. Esse é um requisito essencial
instituições privadas pressupõe
para a defesa da cidadania e para a salva-
avaliação
guarda dos interesses nacionais.
Instituições privadas de ensino superior
devem, portanto, ser submetidas, de forma
mandatória, à supervisão, avaliação e acom-
panhamento do governo federal, de modo a
garantir que seu funcionamento atende a pa-
drões nacionais de qualidade.
O financiamento público a pesquisado-
res de instituições privadas deve passar pelos
mesmos critérios de avaliação e acompanha-
mento utilizados para os pesquisadores de ins-
tituições públicas. No entanto, com o objetivo

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Academia Brasileira de Ciências

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SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

4. AUTONOMIA, ESTRUTURA E GESTÃO: PROPOSTAS


PARA A LEI DE AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA
Dispõe sobre a organização e avaliação do posta orçamentária, aprovada no Conselho de
ensino superior e a autonomia das universidades Desenvolvimento da Universidade, tendo como
federais condicionantes a avaliação externa, o acompa-
nhamento permanente e a incorporação desse
CAPÍTULO I orçamento pelo MEC na Lei de Diretrizes Orça-
DA AUTONOMIA mentárias do ano subsequente.

Art. 1 Esta Lei estabelece critérios e pro- Art. 4 Serão consideradas elegíveis para fins
cedimentos de alocação de recursos a univer- de autonomia de gestão financeira somente as
sidades federais incluídas no sistema de gestão universidades que atendam aos critérios estabe-
financeira autônoma, ressalvada sua natureza lecidos pela Comissão definida no Capítulo II.
autárquica ou fundacional.
CAPÍTULO II
Parágrafo único – O ingresso das universi- COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO
dades federais no sistema estabelecido nesta Lei DO DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL
dar-se-á mediante candidatura, ficando as ati-
vidades da Instituição sujeitas ao acompanha- Art. 5 Será criado um órgão decisório es-
mento permanente e à avaliação qualitativa e pecial, a Comissão de Acompanhamento do De-
quantitativa. Essa candidatura far-se-á a qual- senvolvimento Institucional (CADI), para o exa-
quer momento, por comunicação ao Ministro da me, concessão e acompanhamento permanente
Educação. da autonomia de gestão financeira e definição
dos critérios de alocação de recursos às univer-
Art. 2 O acompanhamento incluirá a avalia- sidades federais.
ção do mérito, da qualidade do ensino, pesquisa
e extensão, da organização, da gestão patrimo- Art. 6 Os membros da CADI serão nomeados
nial e financeira, da gestão de recursos humanos pelo Presidente da República.
e dos critérios de governabilidade.
§1o Comporão a CADI
Art. 3 Para os efeitos desta Lei, conside- 1. O Secretário Executivo do MEC, que a
ra-se: presidirá;
Autonomia de gestão financeira - Autono- 2. Os Presidentes da CAPES, do CNPq e da
mia integral de gestão patrimonial, financeira FINEP;
e de recursos humanos, consignada numa pro- 3. Quatro representantes da comunidade

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Academia Brasileira de Ciências

científica e tecnológica, cobrindo as áreas de CONAES;


Ciências Exatas e da Terra, Ciências da Vida, Ci- 3. avaliação dos cursos de pós-graduação
ências Humanas e Sociais e Tecnologia. pela CAPES;
4. Duas personalidades de notório saber es- 4. avaliação das atividades de extensão e
colhidas pelo Presidente da República. assistenciais pela SESU.

§2o Para a escolha dos representantes da §3o A CADI, com base na sua avaliação e
comunidade, cada um dos três Conselhos das nas avaliações referidas no §2o, fará proposta de
Agências referidas no item 2 submeterá à Presi- divisão do orçamento federal entre as universi-
dência da República uma lista composta de um dades públicas, levando em conta os resultados
nome para cada uma das quatro áreas cobertas. relativos ao ensino, pesquisa e extensão e à efi-
Das três listas formadas, o Presidente da Repú- ciência da gestão financeira. Além disso, usan-
blica designará um titular e um suplente para do esses mesmos critérios de avaliação, poderá
integrar cada área. propor ao governo federal eventuais aumentos
nos recursos destinados para esse fim.
§3º O mandato dos membros referidos no
ítem 3 será de 3 (três) anos, permitida uma úni- §4o A grade de distribuição de recursos
ca recondução. definida pela CADI a cada ano deverá ser im-
plementada de forma gradual, num intervalo de
Art. 7 A CADI deverá organizar o sistema de 2 anos.
avaliação dos Planos de Desenvolvimento Insti-
tucional das universidades para a atribuição de §5o A CADI convocará comissões auxiliares
conceitos, por meio de avaliações externas e de para fins específicos.
visitas de Comissão de Avaliação.
CAPÍTULO III
§1o A CADI deverá designar Comissão de DO FINANCIAMENTO À PESQUISA
Avaliação para visita a cada universidade, inte-
grada por professores e pesquisadores do mais Art. 8 A concessão pelas agências financia-
alto nível, do país ou do exterior, sem vínculo doras de auxílios para pesquisa será acompa-
institucional com a instituição visitada. nhada de um percentual destinado à infra-es-
trutura da instituição.
§2o Serão mantidas as sistemáticas de:
1. avaliação universal de cursos (ENADE) do Parágrafo único - Este percentual cons-
INEP, com a divulgação pública dos resultados, titui aporte suplementar aos orçamentos
sem prejuízo de seu aperfeiçoamento e de mo- fornecidos pelo Fundo Setorial de Infra-es-
dalidades adicionais de avaliação; trutura (CT-INFRA).
2. avaliação dos cursos de graduação pela

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SUBSÍDIOS PARA A REFORMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

CAPÍTULO IV mento da Universidade por meio de mecanismos


ESTRUTURA E GESTÃO de captação de recursos;
- aprovar orçamento anual de forma a ga-
Art. 9 A gestão financeira obedecerá ao rantir o alto padrão de ensino, pesquisa e exten-
Plano de Desenvolvimento Institucional, base- são;
ado em orçamento, planos de captação e de - supervisionar a gestão financeira;
gestão patrimonial aprovados pelo Conselho de - supervisionar os programas de auxílio ao
Desenvolvimento da Universidade. estudante;
- supervisionar o repasse de percentuais de
Art. 10 A gestão do ensino de graduação projetos e de taxas de serviço das Fundações
obedecerá aos planos de ensino de graduação, Universitárias para a universidade;
definidos pelos respectivos Conselhos, de acordo - aprovar planos de captação financeira e de
com o Plano de Desenvolvimento Institucional. gestão patrimonial a cada ano;
- aprovar um Plano plurianual de Desenvol-
Art. 11 A articulação da pesquisa científi- vimento Institucional da Universidade, que será
ca, tecnológica e de inovação será definida pelo revisto anualmente com base nos resultados
Conselho de Pesquisa, de acordo com o Plano de alcançados;
Desenvolvimento Institucional. - apresentar anualmente à sociedade, os
resultados e as realizações da Universidade, nos
Art. 12 A coordenação e articulação das seus vários segmentos de atividade.
atividades acadêmicas obedecerão ao plano de
desenvolvimento acadêmico, definido pelo Con- Art. 15 Os reitores serão escolhidos a par-
selho Universitário, de acordo com o Plano de tir de lista tríplice, a ser definida de acordo com
Desenvolvimento Institucional. o Art. 56 da Lei 9.394 de Diretrizes e Bases da
Educação.
Art. 13 O Conselho de Desenvolvimento,
presidido pelo Reitor, será composto por repre- Art. 16 Caberá ao reitor zelar pelo cumpri-
sentantes altamente qualificados de professores mento das decisões deliberativas do Conselho de
titulares, dos professores eméritos, dos ex-alu- Desenvolvimento.
nos, das academias e sociedades científicas, das
agências e fundações de fomento à pesquisa, da Art. 17 A estrutura organizacional da Uni-
sociedade civil e dos governos estadual e mu- versidade deverá ser simplificada, eliminando
nicipal. instâncias intermediárias que não tenham ati-
vidade fim.
Art. 14 Caberá ao Conselho de Desenvolvi-
mento da Universidade:
- criar e manter um Fundo de Desenvolvi-

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Esta publicação foi feita em Novembro de
2004 e usou a a família de fontes Libre
Sans Serif.

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