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Resumo
Este estudo teve por objetivo validar o General Decision-Making Style Inventory (GDMS) de
Scott e Bruce (1995), no contexto brasileiro. Para tanto, realizou-se uma pesquisa survey com
539 alunos dos cursos de graduação em Administração, Direito, Sistemas de Informação e
Ciências Contábeis de três Instituições de Ensino Superior localizadas no interior do Estado do
Rio Grande do Sul. Procedeu-se a uma análise fatorial exploratória que possibilitou identificar
cinco fatores correspondentes aos cinco estilos (Dependente, Procrastinador, Racional,
Intuitivo e Espontâneo) de tomada de decisão geral. Dezenove das 25 questões do instrumento
inicial permaneceram na versão final. Cabe salientar, que todos os fatores apresentaram
consistência interna satisfatória, com coeficiente Alfa (α) de Cronbach acima de 0,60 e que o
estilo Dependente manteve composição fatorial idêntica ao de Scott e Bruce. Como os demais
fatores sustentaram a essência de cada estilo presente no inventário original, pode-se verificar
que, de maneira geral, este estudo de validação confirma a estrutura fatorial original (e teórica)
do inventário GDMS. Esse resultado permite afirmar que, no contexto em que foi recolhida a
amostra, a escala apresentou qualidades psicométricas adequadas e satisfatórias, e que,
portanto, acredita-se que esse instrumento possa auxiliar no desenvolvimento de estudos
posteriores na área de processo decisório, bem como na identificação de fatores que subsidiam
o processo de tomada de decisão.
Palavras-Chave: estilos de tomada de decisão, decisão, validação de escala.
Abstract
This study aimed to validate the General Decision-Making Style Inventory (GDMS) by Scott
and Bruce (1995), in the Brazilian context. For this, a survey was carried out with 539 students
of the undergraduate courses in Management, Law, Information Systems and Accounting
Sciences of three Institutions of Higher Education located in the interior of the Rio Grande do
Sul State. An exploratory factorial analysis was carried out that allowed to identify five factors
corresponding to the five styles (Dependent, Procrastinator, Rational, Intuitive and
Spontaneous) of general decision making. Nineteen of the 25 questions of the initial instrument
remained in the final version. It should be noted that all factors presented satisfactory internal
consistency, with Cronbach's Alpha (α) coefficient above 0.60 and that the Dependent style
maintained a factorial composition identical to that of Scott and Bruce. As the other factors
supported the essence of each style, present in the original inventory, it can be verified in
general that this validation study confirms the original (and theoretical) factorial structure of
Revista de Administração da UNIMEP – v.17, n.1, Janeiro -Abril – 2019. Página 214
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the GDMS inventory. This result allows to affirm that, in the context in which the sample was
collected, the scale presented adequate and satisfactory psychometric qualities, and that,
therefore, it is believed that this instrument can help in the development of later studies in the
area of decision making, as well as in the identification of factors that support the decision-
making process.
Keywords: decision-making styles, decision, decision-scale validation
1 INTRODUÇÃO
Tomar decisão é um processo complexo que envolve a definição do problema, a busca
de informações, a definição de critérios para avaliação, a geração de alternativas, a análise de
custo/benefício e o teste de realidade. Gambetti et al. (2008) afirmam que ao tomar uma decisão,
o indivíduo deve considerar e integrar as informações disponíveis, com o intuito de gerar
alternativas e encontrar as estratégias adequadas para decidir. Relevante fator a considerar nesse
processo são as características inerentes ao indivíduo, as quais causam grande impacto na sua
tomada de decisão (LOO, 2000). O estilo de tomada de decisão foi um importante construto
levantado por Thunholm, que diz respeito às diferenças entre os indivíduos quanto ao
processamento da informação que será utilizada para resolver problemas e tomar decisões em
diferentes contextos (THUNHOLM, 2004).
Driver, Brousseau, e Hunsaker (1993) propuseram que o estilo de tomada de decisão é
um hábito aprendido e que as principais diferenças entre os estilos dizem respeito à quantidade
de informações consideradas durante o processo de decisão e o número de alternativas
identificadas até o momento em que a decisão é tomada, apresentando ainda, em alguns casos,
estilos primário e secundário de decisão. Já para Scott e Bruce (1995), o estilo de tomada de
decisão está relacionado com a maneira particular de reagir do indivíduo, a partir de um
contexto específico de decisão. Os autores identificaram, em seu estudo, cinco estilos de
decisão, racional, intuitiva, dependente, procrastinador e espontâneo, considerando que esses
são estilos independentes, porém não mutuamente excludentes, pois o decisor pode combinar
os estilos para tomar sua decisão.
Tendo em vista as características da personalidade e diferenças de cada indivíduo
associadas ao processo de tomada de decisão (LOO, 2000), este estudo tem por objetivo validar
o General Decision-Making Style Inventory (GDMS) - Inventário de Estilos de Tomada de
Decisão Geral - de Scott e Bruce (1995), no contexto brasileiro. Para tanto, realizou-se um
estudo de natureza descritiva, por meio do método de pesquisa survey. De acordo com Gambetti
(2008), o GDMS é um questionário bastante relevante, considerando a falta de instrumentos
psicométricos com a finalidade de mensurar as diferenças individuais na tomada de decisão.
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Apesar de que, originalmente, o inventário foi proposto em 1995, outros estudos têm
sido realizados, como por exemplo, os de Thunholm (2004) e Brousseau et al., (2006). Dando
continuidade à temática, observam-se os trabalhos de Sohail (2013) e Fischer, Soyez e Gurtner
(2015), esses trabalhos serão abordados ao longo do artigo.
No contexto nacional, a utilidade de um instrumento contemplando estilos de tomada
de decisão é notória, tanto que tange à pesquisa experimental, ao investigar processos de
pensamento, padrões de raciocínio, quanto em campos aplicados, onde se faz necessário
identificar um comportamento de tomada de decisão eficaz (SPICER e SADLER-SMITH,
2005). Acredita-se que esse instrumento possa auxiliar no desenvolvimento de estudos
posteriores na área de processo decisório, bem como na identificação de fatores que subsidiam
o processo de tomada de decisão.
Este artigo está estruturado da seguinte maneira: a primeira seção apresenta um resgate
da literatura sobre tomada de decisão. Na sequência, os estilos de tomada de decisão são
discutidos sob a perspectiva de diversos estudiosos do tema, juntamente com um breve
apanhado de pesquisas anteriores, de diferentes contextos, as quais utilizaram o GDMS como
instrumento de coleta de dados. Posteriormente, serão descritas as diretrizes metodológicas
utilizadas, a fim de alcançar o objetivo traçado para o estudo. O capítulo seguinte expõe os
resultados encontrados, bem como as análises realizadas. Por fim, são apresentados os
principais resultados, as conclusões dos autores e as sugestões para pesquisas futuras.
2 BASE CONCEITUAL
Como base teórica para o desenvolvimento da metodologia proposta por este trabalho,
esta seção apresenta dados e informações referentes à tomada de decisão e estilos de tomada de
decisão.
Para Brousseau et al. (2006), os estilos de tomada de decisão diferem em dois aspectos
fundamentais: a forma de como a informação é utilizada e como as opções são criadas.
Recentemente, pesquisas demonstraram que o processamento da informação humana tem
focado em estilos cognitivos, cujas respostas podem mudar em diferentes circunstâncias,
adaptando-se em situações diversas e fazendo-se eficaz quando atende a uma demanda
específica que exige uma decisão (BROUSSEAU e DRIVER, 2005).
Dessa forma, a teoria dos estilos de tomada de decisão propõe que os indivíduos
aprendem hábitos cognitivos relativos à utilização de informações criando um modo de escolha
(DRIVER et al., 1993). Scott e Bruce (1995) revisaram a literatura e relataram duas definições
sobre o estilo de tomada de decisão: o indivíduo tem um padrão habitual usado na tomada de
decisões (DRIVER, 1979); ou o indivíduo tem um modo característico de perceber e responder
às tarefas para tomada de decisão (HARREN, 1979).
Para Sohail (2013), o estilo de tomada de decisão é uma característica subjetiva, isto é,
reflete como a pessoa define e percebe o problema e como escolhe sua solução, sendo a decisão
final atribuída às características motivacionais e pessoais, bem como aos fatores ambientais e
as variáveis da tarefa, emergindo, assim, a sua complexidade, dificuldade e ambiguidade.
Já para Scott e Bruce (1995), o estilo de tomada de decisão não são traços de
personalidade, mas são os hábitos de reagir de uma forma particular em um contexto de decisão
específica. Ainda, os autores identificaram, a partir de teorização prévia e pesquisa empírica
com oficiais militares, quatro estilos de tomada de decisão em termos de comportamento:
racional, intuitiva, dependente e procrastinador. No entanto, um quinto estilo de decisão
emergiu em seu estudo, denominado de “espontâneo”, sendo este validado posteriormente com
alunos de graduação e MBA. Deste modo, Scott e Bruce (1995) criaram o General Decision-
Making Style Inventory (GDMS) - Inventário Geral de Estilos de Tomada de Decisão que avalia
cada um dos cinco estilos decisórios que, de acordo com os autores, são independentes, mas
não se excluem mutuamente, pois as pessoas podem usar uma combinação de estilos diferentes
na tomada de decisões. As definições e os cinco estilos de tomada de decisão de Scott e Bruce
(1995), adotados por esta pesquisa, são caracterizados conforme apresentado na Figura 1.
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
O inventário proposto por Scott e Bruce (1995) é constituído por 25 itens dispostos em
uma escala de cinco pontos, variando de discordo totalmente a concordo totalmente, os quais
compõem cinco estilos de tomada de decisão. O inventário é a abordagem conceitual mais
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A amostra investigada foi composta por 539 estudantes de quatro cursos de graduação:
60,3% de Administração, 24,1% de Direito, 10,0% de Sistemas de Informação e 5,6% de
Ciências Contábeis. Dentre os pesquisados, 53,7% são do sexo masculino e 46,3 % do sexo
feminino, com idade média de 23,5 anos. Com relação ao estado civil, a maioria 80,7 % são
pessoas solteiras, seguidos de 11,2% de pessoas casadas. No que se refere ao exercício de
atividade remunerada, 50 pesquisados não responderam essa questão, considerando para essa
variável 489 respondentes, 61,1% exercem atividade remunerada. Desses, 56,0% exercem
atividade em regime celetista, 12,5% em regime estatutário e 31,5 % de estágio profissional.
Dos respondentes que possuem atividade remunerada aproximadamente 50% atuam em áreas
administrativas.
Dessa forma, os dados do estudo foram tabulados e analisados estatisticamente por meio
do software Statistical Package for Social Sciences for Windows –SPSS 20.0, a fim de dar
prosseguimento às análises.
A fim de facilitar a análise e validação dos dados, e, ainda, a interpretação das evidências
identificadas a partir dos fatores pesquisados neste trabalho, esta seção foi dividida em duas
partes. A primeira exibe os resultados da validação estatística, por meio da análise fatorial
exploratória, dos estilos de tomada de decisão geral no contexto brasileiro. A segunda expõe
uma comparação dos resultados deste estudo com os achados do estudo de Scott e Bruce (1995).
Tabela 2 – Comunalidades
Variáveis Inicial Extração
Q2 1,000 ,719
Q3 1,000 ,569
Q5 1,000 ,705
Q6 1,000 ,455
Q7 1,000 ,746
Q8 1,000 ,423
Q9 1,000 ,479
Q10 1,000 ,494
Q11 1,000 ,551
Q12 1,000 ,666
Q13 1,000 ,601
Q14 1,000 ,613
Q15 1,000 ,718
Q16 1,000 ,554
Q18 1,000 ,650
Q19 1,000 ,493
Q20 1,000 ,509
Q21 1,000 ,540
Q22 1,000 ,568
Q23 1,000 ,580
Q24 1,000 ,623
Q25 1,000 ,508
Fonte: Dados da Pesquisa
Para a composição dos fatores procedeu-se a análise fatorial rotacionada, que teve como
método utilizado para a extração dos fatores a análise dos componentes principais e a rotação
Varimax com normalização Kaiser, resultando em seis fatores, conforme pode ser visualizado
na Tabela 4. No entanto, ao realizar à consistência interna do instrumento de pesquisa, apenas
um dos fatores obteve coeficiente Alpha de Cronbach menor que 0,6. Considerando que este
fator era formado por apenas duas variáveis não é viável a retirada de uma das questões para o
acréscimo no valor do coeficiente. Dessa forma, o mesmo foi considerado inadequado para
análise. Todos os demais fatores obtiveram índices de Alpha de Cronbach maiores que 0,6,
confirmando, assim, a consistência interna do instrumento.
Tabela 4 - Fatores que caracterizam os etilos de tomada de decisão geral, variável, carga
fatorial, Alpha de Cronbach e fatores originais correspondentes
Fator 01 – Estilo Dependente – Alpha (0,794)
Variáveis Descrição Fator original Carga Fatorial
18 Conselho de outras pessoas na tomada de decisões importantes Dependente 0,795
13 Apoio de outras pessoas na tomada de decisão Dependente 0,751
3 Ajuda frequente de outras pessoas na tomada de decisões Dependente 0,734
23 Orientação na direção certa na tomada de decisões importantes Dependente 0,731
8 Consulta a outras pessoas na tomada de decisão Dependente 0,639
Fator 02 – Estilo Procrastinador – Alpha (0,715)
Variáveis Descrição Fator original Carga Fatorial
24 Prorrogar a tomada de decisões devido ficar apreensivo Procrastinador 0,744
14 Adiar a tomada de decisões importantes Procrastinador 0,723
9 Postergar a tomada de decisão, sempre que possível Procrastinador 0,664
19 Tomar decisões importantes no último minuto Procrastinador 0,637
20 Tomar decisões impulsivas frequentemente Espontâneo 0,518
O primeiro fator, denominado Estilo Dependente, foi composto por cinco variáveis e
apresentou consistência interna de 0,794. Este fator expressa, de acordo com Scott e Bruce
(1995), o estilo de tomada de decisão caracterizado por indivíduos que constantemente buscam
conselhos e dependem da orientação e apoio de outras pessoas. Segundo Loo (2000) este estilo
reflete uma forte dependência em relação ao ponto de vista e conselhos de outras pessoas na
tomada de decisão. Salienta-se que, neste estudo, a composição desse fator manteve-se igual
daquele obtido no estudo original de Scott e Bruce (1995).
O segundo fator, Estilo Procrastinador, também apresentou boa consistência interna de
0,715. O mesmo abrange quatro variáveis que estão relacionadas às características de
indivíduos que tentam evitar e adiar as decisões, e quando as tomam é normalmente no último
momento (SCOTT e BRUCE, 1995) e uma variável relacionada ao estilo espontâneo.
Considerando que esta última variável diz respeito a tomar decisões impulsivas frequentemente,
não se aproxima das características do estilo predominante (procrastinador), optou-se pela
exclusão da mesma, uma vez que não houve redução na consistência interna, cujo valor após a
exclusão foi de 0,724. O fato desta variável, neste estudo, estar presente no estilo
procrastinador, pode estar associado ao efeito âncora, ou seja, pela posição que a mesma ocupa
no questionário aplicado (sequência da questão 19 que faz referência ao estilo procrastinador).
Acrescenta-se que esse efeito não foi saliente e nem identificado no pré-teste realizado anterior
à aplicação dos questionários. Cabe mencionar que este fator manteve a essência da composição
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do estilo procrastinador do estudo original de Scott e Bruce (1995), uma vez que apenas a
variável 4 (excluída por baixa comunalidade) e a variável 20 não compuseram o fator.
O terceiro fator, Estilo Racional, apresentou confiabilidade interna de 0,619 e manteve
a essência da composição do fator do estudo original de Scott e Bruce (1995), uma vez que
apenas a variável 1 não foi considerada por apresentar baixa comunalidade. Este fator
contempla quatro variáveis associadas à características de indivíduos que questionam o
problema de decisão de uma forma lógica e estruturada, considerando as diversas alternativas
de decisão (SCOTT e BRUCE, 1995). De acordo Wood (2012), um estilo de pensamento
racional é caracterizado por ser deliberado e pelo processamento analítico de informações,
estando livre de emoções.
O quarto fator, Estilo Intuitivo, apresentou boa confiabilidade interna, 0,753 e manteve
particular semelhança ao original de Scott e Bruce (1995), uma vez que as três variáveis que
formam este fator são as mesmas do fator Intuitivo do estudo de Scott e Bruce. Segundo esses
autores, o estilo intuitivo é caracterizado por indivíduos que possuem forte dependência de
emoções, pressentimentos, palpites, e intuições. Para Betsch (2008), pessoas com
características do estilo intuitivo tendem a decidir rápido, através de um processo automático e
sem esforço. Cabe salientar que as variáveis 12 e 17 presentes no inventário GDMS não
compuseram esse fator devido a 17 ter sido excluída da análise por baixa comunalidade e a 12
por compor o sexto fator deste estudo.
O quinto fator, Estilo Espontâneo, apresentou consistência interna de 0,632 e se
aproximou da composição do fator do estudo de Scott e Bruce (1995), uma vez que as variáveis
5, 10 e 15 que constituíram o fator nesse estudo, são as mesmas do inventário original. De
acordo com os autores, o estilo espontâneo é caracterizado por indivíduos que têm senso de
urgência e desejo de concluir o processo de decisão o mais rápido possível, ou seja, implementar
as decisões imediatamente. No entender de Wood (2012), indivíduos que possuem esse estilo
de decisão parecem tomar decisões sem qualquer deliberação. Com relação às variáveis 20 e
25 que não agregaram esse fator, o motivo foi decorrente de integração em outro fator e baixa
comunalidade, respectivamente.
O último fator agregou apenas duas variáveis (12 e 25) oriundas dos estilos Intuitivo e
Espontâneo, respectivamente, do inventário original de Scott e Bruce (1995). Devido à baixa
confiabilidade do fator (0,328) o mesmo foi desconsiderado da análise. Cabe lembrar que o
inventário GDMS é composto por cinco fatores, correspondentes aos cinco estilos de tomada
de decisão geral também identificados no contexto brasileiro.
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A análise estatística realizada, por meio da análise fatorial exploratória, serviu de base
para a validação do inventário de estilos de tomada de decisão geral no contexto brasileiro. A
redução de 6 variáveis, devido a baixa comunalidade, efeito âncora e formação de fator com
baixa consistência interna não afetou a qualidade psicométrica da escala, a confiabilidade
interna e nem a variância explicada, uma vez que essas foram satisfatórias. Neste sentido, os
cinco fatores do inventário original, foram confirmados no contexto brasileiro, porém com 19
variáveis, conforme pode ser visualizado na Tabela 5.
Por meio dos dados da Tabela 5, pode-se observar que o estilo Dependente foi o único
que manteve composição fatorial idêntica ao de Scott e Bruce (1995). Esse fator também
apresentou a maior confiabilidade interna (0,794). Cabe salientar que o estilo dependente está
relacionado à baixa capacidade de autorregulação, baixa autoestima e processo de decisão
interrompido (THUNHOLM, 2004).
Os demais estilos tiveram alterações na validação do instrumento no contexto brasileiro.
Os estilos Procrastinador e Racional mantiveram a essência da composição fatorial do estudo
original, ou seja, quatro variáveis das cinco de cada um desses fatores foram confirmadas neste
estudo, com exceção da variável 4 e 1 respectivamente. Para Wood (2012), indivíduos que
possuem estilo Procrastinador têm dificuldade de enfrentar um problema de tomada de decisão,
uma vez que evitam escolher e considerar alternativas. Por outro lado, indivíduos com estilo
Racional, por meio de um processo lógico, consideram as alternativas antes de escolher uma
opção (WOOD, 2012). Cabe acrescentar que o estilo Racional foi o que apresentou menor
consistência interna nesses estudo, ou seja, 0,619.
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5 CONCLUSÕES
explicada, composto pelas questões 2, 7 e 22. Por fim, o quinto fator relacionado ao estilo
Espontâneo, com menor variância explicada (6,57%), foi formado pelas variáveis 5,10 e 15.
A Tabela 6, a seguir, apresentada um resumo dos fatores originados desta validação,
bem como as variáveis que os compõem, que foram renumeradas em ordem crescente. Salienta-
se que o instrumento completo validado é apresentado no Apêndice A.
A validação deste instrumento no contexto brasileiro torna-se relevante, uma vez que os
estilos de tomada de decisão podem ser importantes para predizer a qualidade de tomada de
decisão. Em particular, um processo de tomada de decisão lógico racional parece resultar em
resultados positivos e, um estilo de tomada de decisão procrastinador e espontâneo podem
apresentar resultados negativos (WOOD, 2012).
Ainda, o GDMS é uma ferramenta favorável para medir as diferenças individuais na
tomada de decisão. Tal questionário poderia ser particularmente útil em diferentes contextos e
situações de decisão, pelo fato de que o conhecimento do próprio estilo pode fornecer insights
sobre os pontos fracos e fortes do indivíduo em diferentes abordagens decisórias. Dessa forma,
os indivíduos poderiam melhorar o seu estilo e entender as situações em que são tomadores de
decisão (GAMBETTI, 2008).
No entanto, pesquisas futuras sobre essa temática são recomendadas, para que se possa
investigar a ligação entre os estilos de tomada de decisão, medidos de pelo GDMS, e o
comportamento do indivíduo apresentado em tarefas de decisão realistas. Neste sentido,
conhecer mais sobre as implicações comportamentais de diferentes estilos de tomada de decisão
é importante, a fim de avaliar se o estilo de tomada de decisão é útil ao projetar apoio à decisão.
A versão brasileira do GDMS ainda precisa de alguns refinamentos na escala, a fim de
ganhar consistência e usabilidade com diferentes amostras. Neste sentido, recomenda-se
estudos de validação adicionais, como a replicação em grupos com diferentes características
demográficas, em contextos específicos de decisão, bem como estudos que correlacionem
faixas etárias dos pesquisados com seus estilos de decisão.
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Eu gosto de ter alguém para me orientar na direção certa, quando estou diante de decisões
5
importantes.
6 Eu postergo a tomada de decisão, sempre que possível.
7 Muitas vezes eu adio a tomada de decisões importantes.
Procrastinador
8 Eu geralmente tomo decisões importantes no último minuto.
9 Eu prorrogo a tomada de decisões, porque pensar nisso me faz ficar apreensivo.
10 Eu tomo decisões de uma forma lógica e sistemática.
11 A minha tomada de decisão requer uma reflexão cuidadosa.
Racional
12 Ao tomar uma decisão, considero várias opções em termos de um objetivo específico.
13 Eu analiso todas as minhas opções antes de tomar uma decisão.
14 Ao tomar decisões, eu confio em meu instinto.
Intuitivo 15 Quando tomo decisões, costumo confiar em minha intuição.
16 Ao tomar uma decisão, eu confio em meus sentimentos e reações.
17 Eu geralmente tomo decisões rápidas.
Espontâneo 18 Eu costumo tomar decisões no calor do momento.
19 Eu tomo decisões rápidas.
Instrumento de Estilos de Tomada de Decisão Geral
Fonte: Adaptado de Scott e Bruce (1995)