Simulado IME – Questões Resolvidas

Questão 01) Encontrar todas as funções f :ℝ → ℝ para as quais

x f ( x ) + f (1 − x ) = 2 x − x ( para ∀x ∈ ℝ ) .
2 4

Solução:

(1 − x ) f (1 − x ) + f ( x ) = 2 (1 − x ) − (1 − x ) (*). Pelo enunciado, sabemos que

2 4
Façamos x ↔ 1− x :
f (1 − x ) = 2 x − x − x f ( x ) . Substituindo em (*), teremos:
4 2

(1 − x )  2 x − x 4 − x 2 f ( x ) + f ( x ) = 2 (1 − x ) − (1 − x ) ⇒ (1 − 2 x + x 2 ) ⋅ 2 x − x 4 − x 2 f ( x )  + f ( x ) = 2 − 2 x − 1 +
2 4

+4 x3 − 6 x 2 + 4 x − x 4 ⇒ − f ( x ) ⋅ 1 − x 2 ⋅ (1 − x )  = x 6 − 2 x5 + 2 x 3 − 2 x 2 + 1 .
2

 
6 5 3 2 2
( )
Como x − 2 x + 2 x − 2 x + 1 = x − 1 1 − x (1 − x )  , podemos concluir que f ( x ) = 1 − x 2 e esta função

2 2


realmente satisfaz o enunciado.

Questão 02) Sejam An x n e Bn x n matrizes reais tais que A2 + B 2 = AB . Provar que se AB − BA é uma
matriz invertível, então n é múltiplo de 3 .

Solução:

Consideremos S = A + wB , onde w é uma raiz cúbica primitiva da unidade. Teremos, portanto:

SS = ( A + wB )( A + wB ) = A2 + wAB + wBA + B 2 = AB + wAB + wBA = w ( BA − AB ) .

A última igualdade é decorrente do fato de 1 + w = − w . Como det ( SS ) = det S ⋅ det S é um número real e
det  w ( BA − AB )  = wn det ( BA − AB ) ≠ 0 , wn deve ser um número real e, portanto, n é múltiplo de 3 .

1 1 1
Questão 03) Encontrar todos os números positivos x tais que − = .
[ x ] [ 2 x ] 6 { x}
Solução:

1 1 1 n
Seja n ∈ ℤ e λ ∈ ℝ (tal que 0 ≤ λ < 1 ). Façamos x = n + λ . Teremos, portanto: − = ⇒λ = .
2 n 2n 6λ 3
Pela restrição imposta a λ , devemos ter necessariamente n = 1 . Assim x = 4 .
3
Seja agora n ∈ ℤ e λ ∈ ℝ (tal que 1 ≤ λ < 1 ). Façamos x = n + λ . Teremos, portanto:
2
1 1 1 n ⋅ ( 2n + 1)
− = ⇒λ= .
n 2 n + 1 6λ 6 ⋅ ( n + 1)
Pela restrição imposta a λ , devemos ter necessariamente n = {2,3} . Assim teremos os seguintes valores
para x : 23 ou 31 .
9 8

Questão 04) Demonstre que a dízima periódica 0, XYZYZYZ ... , onde X , Y e Z são algarismos distintos,
99 X + 10Y + Z
pode ser expressa pela fração .
990

Solução:

Y Z
X  Y Y Y   Z Z Y  X X Y Z
0, XYZYZYZ = +  2 + 4 + 6 + ...  +  3 + 5 + 7 + ...  = + 100 + 1000 = + + =
10  10 10 10   10 10 10  10 1 − 1 1− 1 10 99 990
100 100
99 X + 10Y + Z
. c.q.d
990

Questão 05) Calcular o valor de x na expressão seguinte:

1
2 = 1+ , onde o 2 aparece n vezes.
1
2+
1
2+
1
2 +⋯ +
2+ x

Solução:

1 1 1 1
2 = 1+ ⇔ 2 −1 = ⇔ = 2+ ⇔
2+
1
2+
1 2 −1 2+
1
1 1 1
2+ 2+ 2 +⋯ +
2 +⋯ +
1
2 +⋯ +
1 2+ x
2+ x 2+ x
1 1
⇔ 2 +1 = 2 + ⇔ 2 = 1+ (*).
1 1
2+ 2+
1 1
2 +⋯+ 2 +⋯ +
2+ x 2+ x

Repare que na equação (*), o 2 aparece exatamente ( n − 1) vezes. Repetindo esse processo, poderemos
chegar à uma equação com a mesma forma de (*), em que o 2 aparece 1 vez apenas.

Teremos, portanto:

1 1 1
2 = 1+ ⇔ 2 −1 = ⇔ = 2 + x ⇔ 2 + 1 = 2 + x ⇔ x = 2 −1 .
2+ x 2+ x 2 −1
Questão 06) Dizemos que um número p é um ponto fixo de uma permutação de {1, 2,3,..., n} se p ocupa
a sua posição original, isto é, o p -ésimo lugar. Mostre que o valor absoluto da diferença do número de
permutações sem qualquer ponto fixo e o número de permutações com exatamente um ponto fixo é igual a
1.

Solução:

Seja {ank } a representação do número de permutações de uma sequência com n elementos distintos e
n
exatamente k pontos fixos. Temos: an0 = n !− ∑ ank ( n ≥ 1) (*) . Definamos ainda a00 como tendo valor
k =1

n n
n
unitário. Assim: ank =   an −0 k ( 0 ≤ k ≤ n ) . Substituindo em (*), teremos: an0 = n !− ∑   an −0 k (I).
k  k =1  k 

( −1)
k
n
Provarei, por indução, que a = n !∑ 0
n (II). Para isto, precisamos do lema a seguir.
k =0 k!
( −1) ( −1) .
j k
n +1 n +1− k n
Lema) ∑∑
j !k !
k =1 j =0
=∑
k = 0 ( k + 1) !

A prova deste Lema também será feita por indução.

( −1) ( −1) ( −1) = 0 ( −1) .

j 0 k k
0 +1 0 +1− k
i) n = 0 : ∑∑
j !k !
k =10!1! j =0
= =
( 0 + 1)! ∑
k = 0 ( k + 1) !

ii) supondo que o Lema vale para n, teremos:

( −1) ( −1) ( −1) = 1 + n+1 n+1−k ( −1) + n+1 ( −1)
j j j j n + 2− k
n + 2 n + 2−k n +1 n + 2 − k 0

∑∑
k =1 j =0 j !k !
=∑
k =1
∑j =0 j !k !
+∑
j =0
∑∑ ∑
j !( n + 2 ) ! ( n + 2 )! k =1 j =0 j !k ! k =1 ( n + 2 − k ) !k !
=

( −1) + 1 n +1  n + 2  −1 n+ 2−k ⋅1k = n ( −1) + 1 1 + 1 − 1 n +2 − −1 n+2 − 1 =

k k
n
1
 k ( ) ( ) ( )
( n + 2 )! k =0 ( k + 1)! ( n + 2 )! ∑
= +∑ ∑
k = 0 ( k + 1) ! ( n + 2)! 
k =1   

( −1) + 1 1 + 1 − 1 n + 2 − −1 n + 2 − 1 = n ( −1) + ( −1) = n +1 ( −1) . Está,

k k n +1 k
n
=∑ ( ) ( )  ∑ ( n + 2 )! ∑
portanto,
k = 0 ( k + 1) ! ( n + 2 )!  k = 0 ( k + 1) ! k = 0 ( k + 1) !

demonstrado o Lema.

Para provar (II), iremos supor que esta equação é verdadeira para a00 , a10 , a20 ,..., an0 e provar que isso implica
ela também ser verdadeira para an0+1 . A partir de (I), podemos escrever:
n +1 n + 1
( n + 1) ! n + 1 − k !n+1−k ( −1) = n + 1 !1 − n +1 n+1−k ( −1) 
j j
n +1
  0
an0+1 = ( n + 1) !− ∑  ( ) ∑ ( ) ∑ ( )  ∑ ∑
a
 n +1− k = n + 1 ! − =
k =1 k !( n + 1 − k ) !
k =1  k  j! 
j =0
 k =1 j =0 k ! j ! 
 ( −1)   n +1 ( −1)k −1  ( −1)
k k
n n +1
= ( n + 1) !1 − ∑  = ( n + 1) !1 − ∑  = ( n + 1) !∑ .
 k = 0 ( k + 1) !   k =1 k !  k !
    k =0
 ( −1) ( −1)
0 k
0
Naturalmente: a 0
0 = 1 = 0! = 0!∑ . Está, finalmente, demonstrado.
0! k =0 k!
Para satisfazer o enunciado da questão, teremos de provar que: an0 − a1n = 1 . Ora, temos:

( −1) − n ⋅ n − 1 ! n −1 ( −1) = n ! ( −1) = 1.

k k n
n n
a − a = a −   an0−1 = n !∑
0
n
1
n
0
n ( )∑
1  k =0 k! k =0 k! n!

Questão 07) Calcular ovalor de x que maximiza a seguinte expressão:

 81 3 
y = log 34 x + 9 log 3 9 ⋅ log 32 x log 3   , sabendo que 1 ≤ x ≤ 3 .
9

 x 

Solução:

Seja z = log 3 x ( 0 ≤ z ≤ 9) . ( )
Teremos y ( z ) = z 4 + 9 ⋅ 2 z 2 9 − z = z 4 − 18 z 3 + 81z 2 . Para maximizar y ,
2
dy
temos de estudar o sinal de .
dz
dy
dz 2 (
= 4 z 3 − 54 z 2 + 162 z = 2 z ( 2 z 2 − 27 z + 81) = 4 z z − 9 ( z − 9 ) . )
dy
i) 0 ≤ z ≤ 9 ⇒ ≥0.
2 dz
dy
ii) 9 < z ≤ 9 ⇒ <0.
2 dz

De i) e ii), podemos notar que z = 9 é um ponto de máximo. Assim, o valor de x que maximiza y é tal
2
( 3) .
9
que log 3 x = 9 ⇒ x =
2

1 1
Questão 08) Seja x ∈ ℂ tal que x + = 1 . Calcular x 6 + 6 .
x x

Solução:

1
Sejam x e as raízes da equação y 2 − y + 1 = 0 . Pela Fórmula de Newton, podemos afirmar que
x
T = T − T k − 2 , para ∀k ∈ ℤ .
k k −1

i) fazendo k = 2 : T 2 = T 1 − T 0 = 1 − 2 = −1 ;
ii) fazendo k = 3 : T 3 = T 2 − T 1 = −1 − 1 = −2 ;
iii) fazendo k = 4 : T 4 = T 3 − T 2 = −2 − ( −1) = −1 ;
iv) fazendo k = 5 : T 5 = T 4 − T 3 = −1 − ( −2 ) = 1 ;
v) fazendo k = 6 : T 6 = T 5 − T 4 = 1 − ( −1) = 2 ;

1
Portanto chegamos à conclusão que T 6 = x 6 + = 2.
x6

 2π   4π   6π  1
Questão 09) Provar que cos   + cos   + cos  =− .
 7   7   7  2

Solução:

 2π 
i  w + w−1 w2 + w−2 w3 + w−3 1
Seja w = e  7 
. Provemos que + + = − ⇔ w6 + w5 + w4 + w2 + w + 1 = − w3 ⇔
2 2 2 2
7
6
w7 − 1  i 27π  
⇔ ∑w = 0 ⇔
k
= 0 , que de fato é verdade, já que w = e    = ei( 2π ) = 1 . c.q.d
7

k =0 w −1  

Questão 10) Provar que log 5 2 é irracional.

Solução:

p
Suponhamos, por absurdo, que log 5 2 é racional. Assim sendo, ∃ p, q ∈ ℤ tais que log 5 2 = ⇔ 5 p = 2q ,
q
que é um absurdo, já que 2q é par e 5 p é ímpar. c.q.d