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18 de Dezembro de 2021

2º Grau

Tribunal Superior do Trabalho TST - AGRAVO


DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA :
AIRR 108-61.2015.5.09.0023 - Inteiro Teor

Processo
AIRR 108-61.2015.5.09.0023

Publicação
DEJT 10/04/2017

Relator
Luiz Philippe Vieira de Mello Filho

Inteiro Teor
Agravante:CONSÓRCIO DE PRODUTORES RURAIS CARLOS ORLANDO

CAVALLI

Advogado :Dr. Fabiano Nuud de Souza

Agravado :SUELI FRANCISCA DA SILVA

Advogado :Dr. Crisaine Miranda Grespan


VMF/lm

D E C I S Ã O

O 9º Tribunal Regional do Trabalho denegou seguimento ao

recurso de revista da reclamada a fls. 668-674.

Interpõe agravo de instrumento a reclamada a fls. 676-

693 sustentando, em síntese, que o apelo merecia regular


processamento.

Não foi apresentada contraminuta, conforme certidão a

fls. 892.

Desnecessária manifestação do Ministério Público do

Trabalho, a teor do art. 83 do RITST.

Preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade


concernentes à tempestividade, à representação

processual e ao preparo.

O presente agravo de instrumento foi interposto sob a


égide da Lei nº 13.015/2014.

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - CORTE DE CANA-DE-AÇÚCAR -

CALOR EXCESSIVO

Em seu arrazoado de revista, a reclamada sustentou ser


indevido o adicional de insalubridade pela exposição ao

calor em relação ao trabalhador rural que labora em céu


aberto, ao argumento de que a temperatura decorrente da
influência dos raios solares não pode ser adotada para

fins de caracterização da insalubridade, nos termos da


NR-15 do MTE.
Defendeu ainda, que a condenação, caso mantida, seja
limitada aos meses mais quentes do ano.

Indicou violação dos arts. 189, 190, 195 da CLT;

contrariedade à Súmula nº 448, I, do TST e à Orientação


Jurisprudencial nº 173 da SBDI-1; e suscitou divergência

jurisprudencial.

Com efeito, a Corte regional negou provimento ao recurso


ordinário da reclamada para manter a sentença na qual

foi julgado procedente o pedido de pagamento do


adicional de insalubridade. Assim decidiu a fls. 585-

595:

1. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE

O pedido de pagamento do adicional de insalubridade foi assim deferido na


sentença:

"(...) Partindo das considerações acima e com o intuito de dirimir a controvérsia


instaurada, bem como em atendimento à exigência legal (art. 195 da CLT), as partes
convencionaram o empréstimo da prova pericial produzida nos autos
00106/2015.023 (TRT), por meio da qual constatou-se presença de insalubridade,
em grau médio (20%), pela exposição ao calor. Quanto ao período de imposição de
agente insalutífero, a perita apontou duas possibilidades de consideração.

Transcreve-se (fls. 506 e 508): Analisando a medição obtida, considerações e dados


diários da temperatura média compensada e temperatura máxima diária do INMET,
podemos concluir que: 1) Considerando a temperatura média compensada diária -
INMET: As atividades da Reclamante são consideradas insalubres em grau médio
(20%), nos meses onde a temperatura é considerada elevada (de setembro a março),
em conformidade com o Anexo 3 da NR-15 da Portaria nº 3.214/78 do MTE. Nos
demais meses do ano a insalubridade não é caracterizada nas atividades da
Reclamante.
2) Considerando a temperatura máxima diária - INMET: As atividades da
Reclamante são consideradas insalubres em grau médio (20%), em todo período
laboral, em conformidade com o Anexo 3 da NR-15 da Portaria nº 3.214/78 do
MTE.

(...) PARECER FINAL 1) Caso o Douto Juiz considere a análise de acordo com a
temperatura média compensada diária - INMET: As atividades da Reclamante são
consideradas insalubres em grau médio (20%), nos meses onde a temperatura é
considerada elevada (de setembro a março), em conformidade com o Anexo 3 da
NR-15 da Portaria nº 3.214/78 do MTE. Nos demais meses do ano a insalubridade
não é caracterizada nas atividades da Reclamante.

2) Caso o Douto Juiz considere a análise de acordo com a temperatura máxima


diária: As atividades da Reclamante são consideradas insalubres em grau médio
(20%), pelo agente físico calor, em todo o período laboral, em conformidade com o
Anexo 3 da NR-15 da Portaria nº 3.214/78 do MTE. - com negritos no original
Conforme o laudo, a prova pericial constatou a existência de insalubridade pelo
agente calor, porém a análise considerou dois pontos de análise distintos, cabendo
ao Juízo interpretar qual será a posição aplicável ao caso. Na primeira situação, a
experta considerou a temperatura média compensada, o que quer dizer que, nos
meses de primavera e verão, a temperatura diária fica superior a 25ºC na maior
parte dos dias, ao passo que nos demais meses, podem ocorrer variações diárias
fazendo com que a temperatura média fique aquém do limite de 25ºC. Contudo,
para um segundo ponto de análise, a experta considerou apenas a temperatura
máxima, dia a dia, extraindo uma média comparativa entre os dias do ano e não
entre as fases do dia. Nesta segunda avaliação, obteve-se o resultado superior a
25ºC em todos os dias do ano.

É notório que o trabalho a céu aberto envolve situações variáveis quanto ao clima,
não se podendo considerar, para fins de decisão, apenas o momento da medição de
temperatura no ato da perícia. Por isso, salutar a análise feita pela perita, pois foram
consideradas as medições diárias feitas pelos órgãos meteorológicos estatais.

Por meio das mencionadas medições constatou-se que, pela temperatura máxima de
cada dia, a parte autora esteve exposta ao agente insalutífero em todos os dias da
contratação, inclusive nos meses de inverno, já que não se pode determinar em que
horas de cada dia houve o pico de temperatura.
Por outro lado, embora não seja possível estabelecer, com certeza, em qual
momento do dia se deu a temperatura máxima, é notório que, considerando o tipo
de trabalho da parte autora, tal pico ocorreu durante a jornada de trabalho. Assim,
entende-se que não seria razoável considerar a média compensada para aferição da
insalubridade porquanto, das horas do dia, as mais quentes, entre as 10 horas e 15
horas, quando há maior incidência de raios solares, dada a posição natural do sol,
estão inseridas na jornada de trabalho da parte autora.

Vale observar que o trabalho eventual em condições insalubres não faz nascer o
direito ao adicional respectivo. Contudo, se o trabalho é desempenhado em
situações de intermitência de exposição aos agentes de insalubridade, com
interregnos descontínuos, mas diários, há o direito à percepção do adicional, nos
termos do entendimento da S. 47 do TST.

Logo, pela segunda consideração da experta, com base na temperatura máxima


diária, tem-se a conclusão de que houve exposição da parte autora a agente
insalubre durante todos os dias do período contratual sob análise.

Embora impugnada pela parte ré, a conclusão pericial não pode ser desconsiderada,
dada a ausência de elementos outros que possam fundamentar decisão contrária ou
desconsideração do estudo realizado.

Consequentemente, acolhe-se a pretensão da parte autora para reconhecer o agente


insalubre em grau médio e condenar a parte ré a pagar, durante todo o período sob
análise, adicional de insalubridade de 20% sobre o mínimo legal.

(...)" (fls. 520/522, destaques no original)

Contrapondo-se, os reclamados afirmam que "não existe previsão legal para


adicional de insalubridade decorrente da exposição a raio solares, com trabalho a
céu aberto", salientando que são consideram insalubres apenas as atividades assim
classificadas pelo Ministério do Trabalho. Fazem alusão a parecer de engenheiro de
segurança no sentido de que o índice I.B.U.T.G (Índice de Bulbo Úmido -
Termômetro de Globo) não é adequado à realidade brasileira. Defendem que o
Anexo 3 da NR-15 não é aplicável ao trabalhador rural, aduzindo que "para a
atividade ser considerada como insalubre um dos seus requisitos indispensáveis é o
tempo de exposição ao agente", nos termos do artigo 189 da Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT). Ponderam que para avaliação da insalubridade há que se "levar
em conta todas as variações climáticas da região, como também a variação do
tempo, como os dias de chuva, os nublados e até os dias nos quais há mais vento,
eis que tais situações diminuem a temperatura do ambiente", assinalando que "a r.
sentença não considerou os meses de outono e inverno, onde as temperaturas são
sempre inferiores aos valores referidos, como reconhecido no laudo pericial." Sendo
as quatro estações do ano bem definidas na Região Sul, aduzem que se deve adotar
a "média anual da temperatura da região, sendo que no presente caso gira em torno
de 20 e 23º", comprovando que a reclamante "jamais laborou em ambiente
insalubre".

Argumentam, ainda, que "o r. Julgador utiliza como parâmetro apenas a temperatura
média máxima consoante se infere das informações fornecidas pelo IAPAR", mas
"não a média entre temperaturas máximas e mínimas", sendo que o perito também
"reconhece a insalubridade com base na temperatura máxima diária e não na
temperatura média". Com apoio nessas afirmações, pugnam pela exclusão da
condenação ao pagamento do adicional de insalubridade. Em caráter sucessivo, que
seja "deferido apenas nos períodos em que as temperaturas são mais elevadas
(primavera e verão)." (fls. 540/545, grifos no original)

Na audiência realizada no dia 3 de agosto de 2015 (fls. 480/482), as partes


ajustaram aproveitar o laudo pericial elaborado nos autos nº RTOrd 00106-2015-
023-09-00-2 como prova emprestada, cuja análise e parecer da expert estão assim
registrados:

"Analisando a medição obtida, considerações, dados diários da temperatura média


compensada e temperatura máxima diária do INMET, podemos concluir que: 1)
Considerando a temperatura média compensada diária - INMET: As atividades da
Reclamante são consideradas insalubres em grau médio (20%), nos meses onde a
temperatura é considerada elevada (de setembro a março), em conformidade com o
Anexo 3 da NR-15 da Portaria nº 3.214/78 do MTE. Nos demais meses do ano a
insalubridade não é caracterizada nas atividades da Reclamante.

2) Considerando a temperatura máxima diária - INMET: As atividades da


Reclamante são consideradas insalubres em grau médio (20%), em todo período
laboral, em conformidade com o Anexo 3 da NR-15 da Portaria nº 3.214/78 do
MTE.
(...) 15. PARECER FINAL

1) Caso o Douto Juiz considere a análise de acordo com a temperatura média


compensada diária - INMET: As atividades da Reclamante são consideradas
insalubres em grau médio (20%), nos meses onde a temperatura é considerada
elevada (de setembro a março), em conformidade com o Anexo 3 da NR-15 da
Portaria nº 3.214/78 do MTE. Nos demais meses do ano a insalubridade não é
caracterizada nas atividades da Reclamante.

2) Caso o Douto Juiz considere a análise de acordo com a temperatura máxima


diária: As atividades da Reclamante são consideradas insalubres em grau médio
(20%), pelo agente físico calor, em todo o período laboral, em conformidade com o
Anexo 3 da NR-15 da Portaria nº 3.214/78 do MTE. (fls. 506/508)

Conquanto a Norma Regulamentadora n.º 31, editada pela Portaria n.º 86, de 03 de
março de 2005, que dispõe sobre Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura,
Pecuária e Silvicultura, estabelecendo normas a serem cumpridas em relação aos
empregados que trabalham em condições climáticas desfavoráveis, que possam
comprometer sua saúde e segurança, prevendo inclusive adoção de medidas de
proteção pessoal (itens 31.19 e 31.20), tenha aplicação restrita aos trabalhadores
rurais, não afasta a incidência da Norma Regulamentadora n.º 15, pois é esta que
define as atividades e operações insalubres, abrangendo indistintamente todos
trabalhadores.

No caso, a prova técnica indica que as atividades desenvolvidas pela


reclamante são classificadas como insalubres pela relação oficial elaborada
pelo Ministério do Trabalho, assim dispondo a Norma Regulamentadora (NR)
n.º 15

(...) 15.1 - São consideradas atividades ou operações insalubres as que se


desenvolvem:

15.1.1 - Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos nºs 1, 2, 3, 5, 11 e 12.

Por sua vez, o mencionado Anexo 3 estabelece o seguinte:


LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA EXPOSIÇÃO AO CALOR 1 - A exposição
ao calor deve ser avaliada através do" índice de Bulbo Úmido - Termômetro de
Globo "(IBUTG), definido pelas equações que seguem: Ambientes internos ou
externos sem carga solar: IBUTG = 0,7 tbn + 0,3 tg Ambientes externos com carga
solar: IBUTG = 0,7 tbn + 0,1 tbs + 0,2 tg onde: tbn = temperatura de bulbo úmido
natural tg = temperatura de globo tbs = temperatura de bulbo seco.

2 - Os aparelhos que devem ser usados nesta avaliação são: termômetro de bulbo
úmido natural, termômetro de globo e termômetro de mercúrio comum.

3 - As medições devem ser efetuadas no local onde permanece o trabalhador, à


altura da região do corpo mais atingida.

Limites de Tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente


com períodos de descanso no próprio local de prestação de serviço.

1 - Em função do índice obtido, o regime de trabalho intermitente será definido no


Quadro nº 1.

2 - Os períodos de descanso serão considerados tempo de serviço para todos os


efeitos legais.

3 - A determinação do tipo de atividade (leve, moderada ou pesada) é feita


consultando-se o Quadro nº 3.

Limites de Tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente


com período de descanso em outro local (local de descanso).

1 - Para os fins deste item, considera-se como local de descanso, ambiente


termicamente mais ameno, com o trabalhador em repouso ou exercendo atividade
leve.

2 - Os limites de tolerância são dados segundo o Quadro nº 2.

(...).
Examinando a NR nº 15 da Portaria 3.214/1978, vê-se que o Anexo 3 fixa
limites de tolerância para exposição do trabalhador ao calor, conforme índices
estabelecidos em seus quadros 1 a 3, não excluindo as hipóteses em que o calor
seja proveniente de exposição ao sol. Há, inclusive, previsão expressa de
fórmula a ser utilizada para medir o índice de exposição ao calor em ambientes
externos com carga solar. Assim, o calor a que se refere o Anexo 3 deve ser
entendido como a somatória de vários fatores, incluindo o calor proveniente do
sol, daí porque a menção a medições sem carga solar (em ambiente com
cobertura natural ou artificial) e medições com carga solar (em ambiente
externo, sem nenhum tipo de cobertura).

Com isso, fica superada a tese de que não existe previsão legal para a insalubridade
resultante de exposição solar, com trabalho a céu aberto, de modo que a
caracterização atende a disposição do artigo 190 da CLT, que prevê elaboração de
quadro de atividades consideradas insalubres a cargo do Ministério do Trabalho.

Neste passo, não incide, no caso concreto, a diretriz contida no item I da OJ n.º 173
da SBDI-1 do colendo TST porque a constatação da expert pela existência de
insalubridade não decorreu apenas do fato da reclamante trabalhar a céu aberto, mas
em razão da exposição ao calor excessivo, com valores de I.B.U.T.G. superiores aos
limites de tolerância fixados nos quadros 1 a 3 do Anexo 3 da NR n.º 15.

Segue-se, dai, que, no caso em análise, aplica-se o item II da referida orientação


jurisprudencial, que estabelece:

"OJ-SDI1-173 ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. ATIVIDADE A CÉU


ABERTO. EXPOSIÇÃO AO SOL E AO CALOR (redação alterada na sessão do
tribunal pleno realizada em 14.09.2012) - Res. 186/2012, DEJT divulgado em 25,
26 e 27.09.2012 (...) II - Tem direito ao adicional de insalubridade o trabalhador que
exerce atividade exposto ao calor acima dos limites de tolerância, inclusive em
ambiente externo com carga solar, nas condições previstas no Anexo 3 da NR 15 da
Portaria nº 3214/78 do MTE."

Interpretando essa orientação jurisprudencial, o Pleno deste Tribunal, na sessão


realizada no dia 29 de fevereiro de 2016, aprovou a Súmula 34, que assim dispõe:
"ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO SOLAR.
INTERPRETAÇÃO DA OJ 173 DA SBDI-I DO TST. É indevido o pagamento de
adicional de insalubridade pela mera exposição à radiação solar, não se
enquadrando a hipótese no disposto na NR 15, Anexo 7. Devido o adicional se a
prova pericial indicar que o trabalho a céu aberto ocorria com exposição a calor
acima dos limites de tolerância da NR 15, Anexo 3. Interpretação dos incisos I e II
da OJ 173 da SBDI-I do TST."Esse verbete sumular tem origem nos seguintes
precedentes: RO-0002837-07.2013.5.09.0128, Relator Desembargador Edmilson
Antônio de Lima, 1ª Turma, DJe de 29/6/2015; RO-0000945-23.2014.5.09.0130,
Relatora Desembargadora Rosemarie Diedrichs Pimpão, 4ª Turma, DJe de
12/6/2015; RO-00039-2013-671-09-00-7, Relator Desembargador Arquimedes
Castro Campos Júnior, 5ª Turma, DJe de 28/4/2015; RO-0000310-
65.2013.5.09.0069, Relator Desembargador Francisco Roberto Ermel, 6ª Turma,
DJe de 10/4/2015; e ROPS-00984-2011-562-09-00-8, Relator Desembargadaor
Ubirajara Carlos Mendes, 7ª Turma, DJe de 16/5/2012.

Analisando o laudo, constata-se que foram realizadas as medições de níveis de


temperatura no local de trabalho considerando-se todas as condições em que
realizados os serviços, as variações climáticas e o tempo de exposição ao agente
insalubre, sendo avaliada a insalubridade através do I.B.U.T.G., tal como
estabelecido no anexo 3 da NR n.º 15, com as explicações técnicas justificando o
parecer de que a exposição ao agente insalutífero excede ao limite de tolerância
(fls. 496/505), com enquadramento em insalubridade em grau médio, no
percentual e 20% (vinte por cento).

Observa-se que todos os fatores climáticos foram levados em conta na análise


pericial, havendo expressa menção de que existe grande flutuação do clima e da
temperatura na região nas diversas estações do ano, afastando a alegação dos
recorrentes de que essas circunstâncias teriam sido desconsideradas na elaboração
do laudo. Nesse aspecto, aliás, não há respaldo técnico para sustentar afirmação de
que a temperatura média anual na região gira em torno de 20º a 23º; tampouco que
somente foi ultrapassada a temperatura limite na primavera e no verão.

Descabida a invocação de parecer indicando a inadequação do I.B.T.U.G. a


realidade brasileira, porquanto esse é o índice legalmente definido na NR nº 15,
como acima explicitado.
No que tocante ao período em que houve exposição ao agente insalubre,
compartilho do entendimento esposado pelo Julgador de origem, de que deve
prevalecer a temperatura máxima aferida no dia a dia, extraindo a média
comparativa de todos os dias do ano, ou seja, abrangendo todas as estações, porque
esse critério, a par de estar em conformidade com a NR 15, item" 15.1.5 ", é mais
condizente com a situação vivenciada pelos trabalhadores que se ocupam do corte
de cana de açúcar.

Nesse aspecto, com bem destacado na fundamentação da sentença," pela


temperatura máxima de cada dia, a parte autora esteve exposta ao agente
insalutífero em todos os dias da contratação, inclusive nos meses de inverno, já que
não se pode determinar em que horas de cada dia houve o pico de temperatura.
"Com efeito, apesar de não se poder estabelecer em que"momento do dia se deu a
temperatura máxima, é notório que, considerando o tipo de trabalho da parte autora,
tal pico ocorreu durante a jornada de trabalho. Assim, entende-se que não seria
razoável considerar a média compensada para aferição da insalubridade porquanto,
das horas do dia, as mais quentes, entre as 10 horas e 15 horas, quando há maior
incidência de raios solares, dada a posição natural do sol, estão inseridas na jornada
de trabalho da parte autora."

Nesse contexto, entendo que o perito utilizou corretamente as especificações


técnicas indicadas no Anexo 3 da NR 15 para avaliar a existência de insalubridade e
medir os valores de temperatura a que a reclamante se sujeitou na execução do
trabalho, sendo inafastável a conclusão de que faz jus ao adicional respectivo no
grau médio em todo o período contratual.

Nego provimento. (Grifamos)

De plano, verifica-se que a divergência jurisprudencial


suscitada com vistas a é inválida. Isso porque, embora
tenha sido informado o número do processo e o endereço

eletrônico de onde foi extraído o aresto paradigma, não


há indicação da fonte oficial de publicação, do órgão
prolator da decisão, nem da data de publicação no DEJT.

Ademais, não foi juntada certidão ou cópia autenticada


do respectivo acórdão. Portanto, o dissenso de teses
apresentado está em flagrante descompasso com a Súmula

nº 337, I, a, IV, c, do TST.

No que concerne à tese jurídica, esta Corte Superior já

firmou entendimento no sentido de que o trabalho do


empregado em ambiente extremamente quente está
enquadrado no Anexo nº 3 da NR 15 do Ministério do

Trabalho e Emprego e deve ser considerado insalubre,


situação apta a ensejar o pagamento do adicional
respectivo.

Nesse exato sentido é a Orientação Jurisprudencial nº


173, II, da SBDI-1, do TST:

ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. ATIVIDADE A CÉU ABERTO.


EXPOSIÇÃO AO SOL E AO CALOR.

............................................................................................................

II - Tem direito ao adicional de insalubridade o trabalhador que exerce atividade


exposto ao calor acima dos limites de tolerância, inclusive em ambiente externo
com carga solar, nas condições previstas no Anexo 3 da NR 15 da Portaria Nº
3214/78 do MTE.

Logo, o trabalho do obreiro em ambiente extremamente

quente é considerado situação insalubre, caso dos autos.

Nesse exato sentido são os seguintes precedentes


proferidos em idêntica situação:

AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA


INTERPOSTOS NA VIGÊNCIA DA LEI 11.496/2007. (...). ADICIONAL DE
INSALUBRIDADE. TRABALHO EM LAVOURA DE CANA-DE-AÇÚCAR.
ATIVIDADE A CÉU ABERTO. EXPOSIÇÃO AO SOL E AO CALOR
EXCESSIVO. Do acórdão turmário, vê-se que a controvérsia referente ao adicional
de insalubridade do trabalhador que labora em lavoura de cana-de-açúcar foi
dirimida com base no item II da Súmula 173/TST, não se justificando a alegação
patronal de que tal verbete só pode ser aplicado nos casos em que a carga solar está
conjugada com outra fonte artificial de calor, porquanto a NR-15, Anexo 3, da
Portaria 3.214/78, para efeito de reconhecimento de insalubridade, não distingue
entre fontes naturais e artificiais de calor. O seu Anexo 7, item 1, por exemplo,
contempla o trabalho em exposição contínua a raios ultravioleta, sem porém se
preocupar com a sua origem, não havendo dúvida de que os provenientes do sol, em
virtude dos raios ultravioleta existentes em sua composição, sujeitam o trabalhador
a eles exposto à insalubridade. Nesse contexto, reputo bem aplicado o item II da
Súmula 173/TST. Incidência do óbice da parte final do item II do artigo 894 da
CLT, a inviabilizar a pretensão recursal. (...) (Ag R-E-RR-132400-
42.2009.5.09.0242, Min. Rel. Alexandre de Souza Agra Belmonte, Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais, DEJT de 18/9/2015)

RECURSO DE REVISTA - ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - CORTE DE


CANA-DE-AÇÚCAR - CALOR EXCESSIVO. O Anexo nº 3 da NR 15 expedida
pelo Ministério do Trabalho e Emprego afirma que serão consideradas atividades
insalubres as operações que exponham os trabalhadores ao calor intenso, levando
em consideração as atividades executadas. Na hipótese, o Tribunal Regional, com
base no laudo pericial, atesta que o trabalhador em lavoura de cana-de-açúcar está
submetido a calor em nível superior ao tolerado, condição efetivamente prejudicial
à saúde. Incide a Orientação Jurisprudencial nº 173, II, da SBDI-1 do TST. Recurso
de revista não conhecido. HORAS IN ITINERE - FORMA DE PAGAMENTO -
SEM ADICIONAL EXTRAORDINÁRIO E SEM REFLEXOS - ALTERAÇÃO
PREVISTA EM NORMA COLETIVA - INVALIDADE. As horas in itinere são
efetivamente tempo à disposição do empregador e integram a jornada de trabalho
para todos os fins, nos termos dos arts. 4º e 58, § 1º, da CLT e da Súmula nº 90, V,
do TST. Além disso, em conformidade com o art. 7º, XVI, da Constituição Federal,
as horas extraordinárias devem ser remuneradas em quantia superior a cinquenta
por cento do valor da hora normal, pelo menos. Dessa forma, deve ser reputada
inválida a norma coletiva que alterou o critério de pagamento das horas itinerantes e
retirou a sua natureza jurídica salarial legalmente estabelecida por norma de ordem
pública, em prejuízo do trabalhador e para mitigar a importância econômica do
instituto. Recurso de revista não conhecido. (RR - 1831-89.2011.5.09.0562 , Rel.
Min. Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, DEJT de 31/3/2015)
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA - RECURSO
INTERPOSTO SOB A VIGÊNCIA DO CPC/2015 E DA LEI Nº 13.015/2014 -
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - CORTE DE CANA-DE-AÇÚCAR -
CALOR EXCESSIVO. A jurisprudência desta Corte consolidou-se no sentido de
que a condição de trabalhador rural que corta cana-de-açúcar, com labor a céu
aberto, sob a ação dos raios solares e de seu calor acima dos limites de tolerância, é
circunstância que caracteriza as atividades como insalubres, na forma do Anexo nº
3 da NR nº 15. Incidência da Orientação Jurisprudencial nº 173, II, da SBDI-1 do
TST. Precedentes. Agravo de Instrumento desprovido. (AIRR - 1915-
43.2014.5.09.0091, Rel. Min. Vieira de Mello Filho, 7ª Turma, DEJT de
19/12/2016)

RECURSO DE REVISTA (...). ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - CORTE


DE CANA-DE-AÇÚCAR - CALOR EXCESSIVO. No caso dos autos, o Colegiado
regional afastou a conclusão atingida no laudo pericial de ausência de insalubridade
em face da exposição ao calor do sol e suas radiações serem de origem natural e,
em decorrência disso, não se enquadrarem na legislação vigente, por entender que o
Anexo 3 da NR nº 15 contempla como agente insalubre tanto o calor gerado por
fontes naturais como artificiais. A Corte de origem concluiu que o reclamante, no
desempenho da atividade de corte de cana-de-açúcar, trabalhava em condições
insalubres, visto que era exposto aos agentes nocivos consistentes no calor e nas
radiações não ionizantes, enquadrando-o, por consequência, nos Anexos 3 e 7 da
NR 15 da Portaria nº 3.214/78, respectivamente. No concernente ao fornecimento e
uso de EPIs, o Tribunal Regional, após examinar os documentos a fls. 149-152 dos
autos originais, constatou a deficiência e a insuficiência dos equipamentos
fornecidos, por consectário, concluiu que não eram hábeis a elidir os aludidos
agentes nocivos. Ainda, verificou, mediante pesquisa junto ao sítio eletrônico do
IBGE, que o local onde o reclamante prestou serviços como cortador de cana situa-
se em zona climática quente/subquente e, em processo anterior, envolvendo a
mesma reclamada, restou demonstrada a extrapolação máxima do IBUTG. Nesse
passo, diante do contexto fático-probatório fixado no acórdão regional insuscetível
de reexame nesta fase processual, nos termos da Súmula nº 126 do TST, não se
verificam as violações, contrariedade e divergência apontadas. Isso porque a Corte
de origem apenas deu enquadramento jurídico diverso do consignado na prova
técnica, dentro do que lhe é autorizado, nos termos dos arts. 131 e 436 do CPC, e o
Anexo nº 3 da NR 15 expedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego afirma que
serão consideradas atividades insalubres as operações que exponham os
trabalhadores ao calor intenso, levando em consideração as atividades executadas.
Dessarte, em face do labor habitual em ambiente insalubre, exposição a calor
excessivo, o trabalhador tem direito ao recebimento do adicional de insalubridade.
Recurso de revista não conhecido. (RR-1161-71.2011.5.15.0081, Min. Rel. Vieira
de Mello Filho, 7ª Turma, DEJT de 2/10/2015)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA EM FACE DE


DECISÃO PUBLICADA A PARTIR DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014.
ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. TRABALHADOR RURAL. EXPOSIÇÃO
A CALOR ACIMA DOS LIMITES DE TOLERÂNCIA. O quadro fático delineado
no acórdão recorrido revela que ficou comprovada a insalubridade decorrente do
excesso de calor, pois a temperatura medida no local de trabalho frequentemente
ultrapassou 25º C, temperatura considerada limítrofe para trabalhos pesados,
conforme Quadro nº 01, do Anexo III, da NR nº 15. Decisão em consonância com a
Orientação Jurisprudencial nº 173, II, da SBDI-1 do TST. Agravo de instrumento a
que se nega provimento. (AIRR - 212-87.2014.5.09.0023, Rel. Min. Cláudio
Mascarenhas Brandão, 7ª Turma, DEJT de 2/12/2016)

(...) ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. TRABALHADOR RURAL.


EXPOSIÇÃO A CALOR ACIMA DOS LIMITES DE TOLERÂNCIA. O quadro
fático delineado no acórdão recorrido revela que a perícia atestou a insalubridade
decorrente do excesso de calor, pois a temperatura medida no local de trabalho foi
superior àquela fixada como máxima, no Quadro nº 01 do Anexo 03 da NR 15, para
o trabalho em canavial. Decisão em consonância com a Orientação Jurisprudencial
nº 173, II, da SBDI-1 do TST. Recurso de revista de que não se conhece. (...) (RR-
2575-21.2010.5.09.0562, Min. Rel. Cláudio Mascarenhas Brandão, 7ª Turma, DEJT
de 28/8/2015)

I. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DOS


RECLAMADOS. NÃO REGIDO PELA LEI 13.015/2014 (...). 2. ADICIONAL DE
INSALUBRIDADE. TRABALHADOR RURAL. MANEJO DE LAVOURA DE
CANA-DE-AÇÚCAR. EXPOSIÇÃO A CALOR EXCESSIVO. A decisão regional,
em que determinado o pagamento do adicional de insalubridade em razão de o
empregado trabalhar em atividade exposta ao calor excessivo, acima dos limites de
tolerância (Quadro 1, Anexo 3, da NR-15 do Ministério do Trabalho e Emprego),
está em conformidade com a jurisprudência iterativa, notória e atual desta Corte
Superior, nos termos da Orientação Jurisprudencial 173, II, da SBDI-1/TST. Agravo
de instrumento não provido. (AIRR-124-52.2012.5.09.0562, Rel. Min. Douglas
Alencar Rodrigues, 7ª Turma, DEJT de 25/11/2016)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA


VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE.
ATIVIDADE A CÉU ABERTO. EXPOSIÇÃO AO SOL E AO CALOR 1.
Consoante a diretriz perfilhada na Orientação Jurisprudencial nº 173, II, da SbDI-1
do TST, tem direito ao adicional de insalubridade o empregado que exerce atividade
exposto ao calor acima dos limites de tolerância, inclusive em ambiente externo
com carga solar, nas condições previstas no Anexo 3 da NR 15 da Portaria nº
3.214/78 do Ministério do Trabalho e Emprego. 2. Acórdão regional que mantém a
condenação do empregador ao pagamento de adicional de insalubridade, em face da
exposição do empregado ao calor acima dos limites de tolerância, encontra-se em
consonância com a iterativa, notória e atual jurisprudência do TST. 3. Agravo de
instrumento do Reclamado desprovido. (AIRR - 66-64.2014.5.20.0015, Rel. Min.
João Oreste Dalazen, 4ª Turma, DEJT de 24/6/2016)

RECURSO DE REVISTA. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. TRABALHO


EM LAVOURA DE CANA-DE-AÇÚCAR. EXPOSIÇÃO AO CALOR. LIMITE
DE TOLERÂNCIA ULTRAPASSADO. PREVISÃO NO ANEXO Nº 3 DA NR 15
DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. A jurisprudência iterativa,
notória e atual desta Corte Superior firmou-se no sentido de reconhecer a
insalubridade da atividade de corte de cana-de-açúcar, em decorrência da elevada
temperatura em que o labor é exercido. De modo que o adicional de insalubridade,
nessa hipótese, é devido não apenas pela exposição ao calor excessivo, mas,
também, pelas características peculiares da referida atividade. Incontroverso o
trabalho do reclamante no corte de cana-de-açúcar, a decisão recorrida finda por
traduzir consonância com a Orientação Jurisprudencial nº 173, item II, da SBDI-1,
segundo o qual"Tem direito ao adicional de insalubridade o trabalhador que exerce
atividade exposto ao calor acima dos limites de tolerância, inclusive em ambiente
externo com carga solar, nas condições previstas no Anexo 3 da NR 15 da Portaria
nº 3214/78 do MTE". Incidência do art. 896, § 7º, da CLT. Recurso de revista de
que não se conhece. (RR - 1191-52.2012.5.09.0562, Rel. Min. Walmir Oliveira da
Costa, 1ª Turma, DEJT de 4/3/2016)
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. ADICIONAL DE
INSALUBRIDADE. CORTE DE CANA-DE-AÇÚÇAR. EXPOSIÇÃO AO SOL E
AO CALOR. DECISÃO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA
UNIFORME DO COLENDO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Consta
do v. Acórdão Regional que o autor, em suas atividades laborais, estava exposto a
calor em nível superior ao limite de tolerância, conforme elementos de prova,
mantendo, assim, o deferimento do adicional de insalubridade em grau médio,
louvando-se nas disposições da OJ nº 173, II, da SDI-1/TST. Estando a matéria
superada por iterativa, notória e atual jurisprudência da Corte Superior Trabalhista,
autorizado fica o trancamento da Revista, nos termos da Súmula 333 do TST e do
artigo 896, § 7.º, da CLT. Agravo conhecido e desprovido. (AIRR - 1005-
77.2013.5.09.0567, Rel. Des. Conv. José Ribamar Oliveira Lima Júnior, 4ª Turma,
DEJT de 28/8/2015)

Ante o exposto, a questão do adicional de insalubridade


para os trabalhadores rurais cortadores de cana-de-
açúcar está pacificada nesta Corte, razão pela qual se

mostra inviável o processamento do recurso de revista


com fulcro no art. 896, a e c, da CLT.

Incidem o art. 896, § 7º, da CLT e a Súmula nº 333 do


TST.

Assim, amparado nos arts. 1019, caput, e 932, IV, a do


CPC/2015, nego provimento ao agravo de instrumento.

HORAS IN ITINERE - NEGOCIAÇÃO COLETIVA - ATRIBUIÇÃO DE

NATUREZA INDENIZATÓRIA - RENÚNCIA A PARTE SIGNIFICATIVA


DA REMUNERAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE

Em seu arrazoado de revista, a reclamada sustentou que,


em observância ao principio da autonomia negocial
coletiva, deve ser respeitada a norma convencional que
estabeleceu o tempo de percurso em uma hora normal

diária calculada de forma simples, possuindo, pois


natureza indenizatória.

Indicou violação dos arts. 7º, XXVI, 8º, III, da


Constituição Federal; 444 e 611, da CLT e colacionou
arestos à divergência jurisprudencial.

Com efeito, a Corte regional deu provimento ao recurso


ordinário do autor, condenando a reclamada ao pagamento
de horas extraordinárias referente às horas in itinere

que importem em excesso da jornada normal, com reflexos.


Assim decidiu a fls. 595-603:

HORAS IN ITINERE

Acerca das horas in itinere, o Julgador a quo decidiu:

"A parte autora alega que dispendia 03 horas por dia no transporte oferecido pela
parte ré, até o local de trabalho e no caminho de volta.

Pede o cômputo do mencionado período de itinerário em sua jornada de trabalho e a


condenação da parte ré ao pagamento das horas extras daí advindas, com o
adicional legal e reflexos.

Não há controvérsia fática no tocante a existência de jornada em itinerário. Todavia,


a parte ré afirma o regular pagamento de período fixo de 01 hora, calculado sobre a
produção do respectivo mês (12,50%), segundo normatizações autônomas
negociadas com o sindicato representativo da categoria dos trabalhadores e contrato
de emprego firmado com a parte autora. Ainda, alega que as horas de itinerário
estão inseridas na jornada de trabalho, não havendo que se falar em horas extras não
pagas.

Os instrumentos normativos trazidos aos autos pela parte ré estabeleceram o


pagamento fixo de 01 hora diária a título de itinerário, calculada sobre a produção e
inserida na jornada de trabalho.
Inicialmente, merece atenção questão relativa à possibilidade de flexibilização da
regra relativa ao tempo de itinerário como tempo de trabalho para todos os efeitos
legais.

Esse reconhecimento adveio da jurisprudência que, ao interpretar a regra do art. 4º


da CLT, passou a entender que o tempo gasto no trajeto para o trabalho seria um
período à disposição do empregador. Ademais, entendeu-se que impor ao
trabalhador o custo de tempo advindo desse deslocamento seria o mesmo que
transferir-lhe o custo da atividade econômica, uma vez que, ao instalar-se em local
de difícil acesso e não servido por transporte público, a empresa acabou por admitir
o custo adicional dessa peculiaridade. O entendimento, então sumulado (S. 90 do
TST), ganhou status de lei, conforme expressão do § 2º do art. 58 da CLT.

Até pouco tempo era controversa a possibilidade de flexibilização do citado


dispositivo de lei. Contudo, tal controvérsia deixou de existir com a Lei
Complementar 123/2006, que instituiu o estatuto da microempresa e da empresa de
pequeno porte. A citada lei, no afã de facilitar o estabelecimento e manutenção
desses negócios, houve por bem flexibilizar algumas regras fiscais e trabalhistas e,
entre outras coisas, incluiu o § 3º no já citado art. 58 da CLT. A partir daí, abriu-se
a possibilidade para que, nesse tipo de negócio, houvesse ampla negociação acerca
das horas de itinerário (tempo médio, forma e natureza da remuneração).

Ocorre que a previsão legal não abrangeu, como se viu, as empresas de maior porte,
como é o caso da parte ré que, a rigor, não teria os benefícios da lei complementar
em comento e, por isso, não poderia entabular negociação em torno dos elementos
discutidos no caso.

Contudo, entende-se que, ao criar a possibilidade de flexibilização, a lei acabou por


transpor a barreira protetiva, reconhecendo que a regra comporta tempe amentos.
Sob o ângulo do trabalhador, objetivamente, não há diferenças decorrentes do fato
de se trabalhar para uma pequena ou grande empresa e, sob o ângulo do
empregador, a discriminação acaba por criar desigualdade de tratamento não
razoável, já que a negociação setorial pode ser ampla e abranger diversos
empregadores de uma mesma categoria. Por isso, entende-se possível a negociação
entabulada quanto à jornada de itinerário. Resta, contudo, analisar se, no caso
concreto, essa negociação foi razoável ou se feriu frontalmente e de forma irregular
direitos básicos dos trabalhadores envolvidos.
O art. 7º, XXVI, da CRFB sedimenta a garantia de que os polos da relação laboral,
legitimamente representados por seus órgãos de classe, podem estabelecer normas
aplicáveis à todos os que se encontram definidos como partes da mesma categoria.
Assim, reconhecer validade à normatização autônoma é garantir segurança jurídica
às empresas e trabalhadores, permitindo confiança no sistema e, por consequência,
uso disseminado dessa forma saudável de avanço em âmbito laboral. Porém, a
negociação deve respeitar os padrões de dignidade do trabalhador (art. 1º da
CRFB), objetivar sempre a não discriminação (art. 3º da CRFB) e ter por limite a
vedação ao retrocesso social. Assim, há que se observar um mínimo de
razoabilidade nos termos da pactuação (...).

A negociação não pode, quanto à limitação das horas de itinerário, estabelecer


patamares equivalentes à própria supressão de direitos. Com efeito, sempre que há
renúncia em uma negociação, deve haver alguma vantagem em contrapartida a fim
de equalizar as perdas e ganhos para cada parte da relação. Em suma, a negociação
deve andar próxima da realidade do contrato, não descendo a patamares absurdos.
(...).

No caso concreto, há que se ponderar acerca do número de horas estabelecidas na


negociação e a forma de pagamento de tais horas.

Assim, passa-se a analisar, por primeiro, a proporcionalidade entre o patamar médio


estabelecido negocialmente e a realidade das horas gastas pelos trabalhadores em
itinerário (critério quantitativo de flexibilização).

O tempo alegadamente gasto pela parte autora seria de 03 horas por dia.

O período acordado, como se viu, é de 01 hora diária, calculado sobre a produção


do respectivo mês (12,50%) e pago conforme demonstrativos de pagamento
apresentados, fato que não foi objeto de impugnação específica.

A prova oral emprestada dos autos 01257/2014.023 (TRT), além de não demonstrar
que o tempo médio era, de fato, aquele afirmado pela inicial, evidenciou grande
variação do tempo de itinerário, tendo a própria parte autora dos autos afirmado que
há lavouras muito próximas à cidade, para os quais o trajeto dura de 20 a 30
minutos, enquanto que para as lavouras mais distantes pode demorar mais de 01
hora (itens 03/04 do depoimento). Somado a isso, é fato notório e de conhecimento
deste Juízo, em face das inúmeras ações promovidas contra a parte ré, a existência
de várias unidades de trabalho com equipes em praticamente todas as cidades da
região. Assim, não seria razoável a utilização de equipes em cidades ou regiões
muito distantes já que nessas mesmas regiões, ditas distantes, haveria equipes
próprias que poderiam, a um custo muito menor, atender às necessidades da parte
ré.

Por isso, tem-se que a média estabelecida em convenção representa algo próximo da
realidade e, por vezes, mais vantajoso ao trabalhador, já que admite-se a existência
de trabalho em regiões muito próximas, com trajetos diários menores do que aquele
fixado na norma coletiva.

Ademais, muitos trechos são atendidos por transporte público regular, não podendo
ser considerados como de difícil acesso.

Por outro lado, ainda que se admita o trajeto em tempo superior, não se pode
reconhecer o fato de forma absoluta, vez que é flagrante a dificuldade de
estabelecimento de uma média, pois os trabalhadores da empresa ré não tinham, no
caso, um percurso único, sendo difícil a mensuração em termos exatos.

Ainda, quanto ao cômputo das horas in itinere na jornada normal de trabalho, os


controles de jornada apresentados pela parte ré demonstram o horário de trabalho
apontado pela defesa, em harmonia com os instrumentos normativos juntados, além
de registrarem, inclusive, horas extras, pagas nos recibos de pagamento de
salário.Assim, uma vez admitido como regular o tempo convencionalmente gasto
no trajeto, não há que se falar em horas extras não pagas pelo cômputo das horas in
itinere.

Ressalta-se também a natureza salarial das horas in itinere que, conforme


consignado na defesa, eram calculadas pelo valor da produção mensal (12,50%).
Ademais, não houve impugnação pela parte autora no que tange a diferenças no
cômputo destas horas nos termos do que foi trazido na contestação, reputando-se,
por consequência, corretos os valores pagos sob a mencionada rubrica.

Assim, observa-se que os parâmetros de flexibilização encartados pelos acordos


coletivos firmados entre a parte ré e o sindicato representativo da categoria da parte
autora atenderam aos limites exigidos pela legislação, principalmente no que tange
à razoabilidade e proporcionalidade.

Rejeita-se."(fls. 524/528)

Dissentindo desse entendimento a reclamante afirma que essa"decisão não merece


prosperar, pois mesmo que havendo a possibilidade de haver negociação coletiva
para estipular o número de horas in itinere é necessário que haja alguma vantagem
compensatória ao trabalhador". Ademais, alega que"foi devidamente comprovadas
durante a instrução processual, pela oitiva de testemunhas, que o trajeto levava
sempre mais de 1h30min, e que o percurso duraria ainda acerca de 30 minutos para
chegar até a lavoura". Argumenta, outrossim, que"a limitação das horas itinerárias
previstas em convenção coletivas não pode retirar a natureza salarial da parcela ou
impedir a incidência do adicional de horas extras quanto ao tempo despendido no
trajeto, somado à jornada de trabalho."Mencionando jurisprudência em prol de sua
tese, postula a"integração de uma hora por dia laborado à jornada de trabalho, a
título de horas in itinere que, por extrapolar a jornada diária, deve ser remunerada
como hora extra (hora normal + adicional), com os devidos reflexos legais em DSR,
13º salários, férias com 1/3 e FGTS."(fls. 552/558)

As normas coletivas que disciplinam as horas in itinere, a exemplo da cláusula 17ª


do ACT de 2013/2014, estabelecem:

"CLÁUSULA DÉCIMA SÉTIMA - OUTRAS DISPOSIÇÕES SOBRE


JORNADA. Fica assegurado o pagamento de jornada "in itinere' fixada em 01
(uma) hora por dia, calculada sobre a sua produção, o que será especificado em seu
recibo de pagamento, correspondente a ida e retorno, dos pontos de saída para o
trabalho e retorno a estes pontos, independente do tempo gasto." (fl. 290)

A meu ver, as normas coletivas que restringem as horas in itinere,


independentemente do tempo efetivamente gasto, sem observar os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade, limitam o pagamento ao valor da hora normal,
suprimem o caráter salarial da referida verba e/ou afastam o tempo de percurso
como tempo à disposição, representam verdadeiro confisco de labor do empregado.
O reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho, previsto no
artigo 7º, inciso XXVI, da Constituição Federal (CF), não é ilimitado, devendo
subordinar-se às balizas da lei, observando-se as normas de ordem pública. Desse
modo, sem embargo de reconhecer a autonomia negocial coletiva, os preceitos
relativos à jornada de trabalho têm caráter de ordem pública e as horas in itinere
não são fruto de mera construção jurisprudencial consubstanciada na Súmula nº 90
do colendo TST, mas decorrem de interpretação dos artigos 4º e 58, parágrafo 2º, da
CLT, assim como outros dispositivos relativos ao tempo de serviço e jornada. Por
isso, não se reconhece validade às cláusulas normativas em menoscabo às normas
legais acima referidas. Assim sendo, entendo, ainda, que, conquanto a ordem
constitucional valorize e proteja o instituto da negociação coletiva, ela não pode
estar, no entanto, livre de quaisquer limites, atrelada, apenas, à vontade daqueles
que contratam.

Consequentemente, por esse prisma, não se pode atribuir validade jurídica à norma
em discussão porque fere preceito de ordem pública em detrimento do patamar
mínimo civilizatório a que faz jus o empregado. Ademais, a validade de cláusula
normativa que limita o direito às horas in itinere está condicionada à expressa e
específica previsão compensatória no instrumento, bem como à observância da
proporcionalidade com o tempo efetivamente gasto nos deslocamentos. Do
contrário, representa verdadeira subversão ao direito à livre negociação coletiva e
consequente renúncia a direito garantido por lei (art. 58, § 2º, da CLT). Essa
situação não se verifica no caso já que não foi instituído benefício para compensar a
disposição convencional limitadora das horas itinerárias.

No que tange à questão fática, propriamente dita, a reclamante afirmou na petição


inicial que "o tempo despendido diariamente no trajeto era em média de
3h00min/diárias" (item "5.3", fl. 9, grifo no original).

Na audiência realizada no dia 3 de agosto de 2015 (fls. 480/482), as partes


acordaram adotar como prova emprestada os depoimentos colhidos nos autos n.º nº
RTOrd 1257-2014-023.

Ao ser inquirido a respeito desse fato, o reclamante disse:

"(...) 2 - o ônibus passava no ponto entre 05h30/6h; 3 - havia lavouras próximas e


lavouras bem distantes; 4 - na lavoura o trabalho começava por volta das 07h, (...)
Perguntas pelo patrono da ré: (...) 3 - o tempo é bastante relativo, pois há lavouras
encostadas à cidade e outras situadas a mais de uma hora; 4 - nas lavouras mais
próximas o tempo gasto era de 20/30min; (...)." (fls. 480/481) Indagado a respeito
das horas in itinere, a testemunha Rosineide Rodrigues da Silva informou: "(...) 3 -
ia para o ponto às 05h30min, chegando na lavoura entre as 06h30h e 7h, contudo, se
chegassem antes das 07h tinham de aguardar para começar o trabalho às 07h; 4 -
não chegavam na lavoura após ás 07h; 5 - havia lavouras próximas à cidade e outras
distantes; (...) Perguntas pelo patrono do autor: (...) 4 - do ponto da depoente até a
lavoura mais próxima o ônibus gastava cerca de 40min, sendo 20min para a ida e
20min para a volta, para o ponto mais distante chegaram a gastar entre 1h e
1h20min apenas com a ida; (...) Perguntas pelo patrono do réu: 1 - os percursos
mais longos ocorreram em raríssimas vezes." (fls. 481/482)

Tendo em conta que o trabalho de corte de cana era realizado em diversas


fazendas da região, umas mais próximas do ponto, em que os deslocamentos
eram mais frequentes, outras mais distantes, fixo o tempo in itinere em 1 (uma)
hora e 20 (vinte) minutos diários, computado o trajeto de ida e volta, adotando
o tempo médio informado nos depoimentos.

Como a norma coletiva em destaque assegura o pagamento de 1 (uma) hora


diária, essa estipulação tem plena validade jurídica por atender a
proporcionalidade e razoabilidade. Neste sentido, é oportuna a transcrição da
Tese Prevalecente nº 3 deste Regional, in verbis:

"TESE JURÍDICA PREVALECENTE Nº 3, DO TRT DA 9ª REGIÃO. HORAS IN


ITINERE FIXADAS EM NORMA COLETIVA. VALIDADE CONDICIONADA À
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. Considera-se válida a norma
coletiva que estabelece o pagamento de número fixo de horas in itinere, desde que a
diferença entre o tempo efetivamente gasto e o previsto na cláusula coletiva não
exceda a 50%, em atenção aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade."

É indiscutível a natureza salarial das horas in itinere, não se admitindo


disposição a respeito por meio de negociação coletiva, consoante entendimento
consubstanciado na Súmula nº 25 deste Tribunal:

"HORAS IN ITINERE. NATUREZA JURÍDICA. NORMA DECORRENTE DE


NEGOCIAÇÃO COLETIVA. INDISPONIBILIDADE ABSOLUTA. Convenção ou
acordo coletivo que negocie ou suprima o caráter salarial das horas in itinere não
tem validade, pois se refere ao tempo à disposição do empregador que deve ser
retribuído com o salário equivalente, tratando-se de direito absolutamente
indisponível, salvo na hipótese do § 3º do art. 58 da CLT."
Por outro lado, se por força de lei o tempo de percurso deve ser considerado como à
disposição do empregador, o período despendido pelo trabalhador no trajeto, que
importa extrapolamento da jornada ordinária, deve ser remunerado como horas
extraordinárias, inclusive com reflexos em outras parcelas, pois assim preceitua o
item V da Súmula nº 90 do colendo TST:

"SÚMULA N. 90. HORAS" IN ITINERE ". TEMPO DE SERVIÇO (incorporadas


as Súmulas nºs 324 e 325 e as Orientações Jurisprudenciais nºs 50 e 236 da SBDI-
1)- Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005 (...) V - Considerando que as horas in
itinere são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jornada
legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional
respectivo."

Dessarte, para fins de apuração do excesso da jornada normal de trabalho, o


tempo in tinere de 1 (uma) hora diária previsto nas normas coletivas,
considerando 30 (trinta) minutos no início e igual tempo ao final, deve ser
somado à jornada registrada nos cartões de ponto acostados às fls. 150/207.

Compulsando os recibos salariais juntados às fls. 81/142 constata-se que as


horas in itinere foram quitadas de forma simples, em atenção à cláusula acima
transcrita. Logo, em relação às que implicaram extrapolamento da jornada
ordinária, é devido apenas o adicional extraordinário.

Em face do exposto, dou provimento ao recurso para acrescer à condenação o


pagamento do adicional de 50% (cinquenta por cento) sobre as horas in itinere que
importaram excesso da jornada normal, com reflexos em repousos semanais
remunerados, férias, acrescidas de 1/3 (um terço), décimo terceiro salário e FGTS,
no importe de 8% (oito por cento). (Grifamos)

A Corte regional validou a norma coletiva no que tange à


pré-estipulação de uma hora in itinere, por considerar

proporcional à média do tempo efetivamente gasto pelo

reclamante no trajeto de ida e volta ao trabalho,


considerando, de outro lado, inválida a estipulação
normativa de que este tempo não deve ser computado como

horas extraordinárias, bem como a sua natureza

indenizatória.

Com efeito, as horas in itinere, por consistirem tempo à


disposição do empregador, nos termos do art. 4º da CLT,

integram a jornada de trabalho, produzindo, por

consequência, horas extraordinárias, cujo pagamento


encontra assento no art. 7º, XVI, da Constituição

Federal, que assegura expressamente aos trabalhadores o

direito à "remuneração do serviço extraordinário,


superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do

normal".

Portanto, ao admitir que o pagamento das horas in

itinere seja feito na forma simples, excluídos o

adicional correspondente e reflexos em outras parcelas,


não se cogita de limitação razoável do instituto, mas de

mera renúncia de parte significativa do seu pagamento.

O reconhecimento constitucional da negociação coletiva,

preconizado no art. 7º, XXVI, faz-se sob o prisma da

valorização social do trabalho, inserto no art. 1º, IV,


da Constituição Federal, orientando-se, pois, numa

perspectiva prospectiva, que não tolera involuções com

relação ao patamar já assegurado legalmente.

Nesse sentido esta Corte já se pronunciou seja quanto à

impossibilidade de alteração da natureza jurídica da


parcela, seja quanto à invalidade do seu pagamento de

forma simples:

RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 11.496/2007. HORAS IN


ITINERE. ACORDO COLETIVO. EXCLUSÃO DA JORNADA DE TRABALHO
E DO CÁLCULO DAS HORAS EXTRAS. O debate se trava acerca da validade de
cláusula de norma coletiva que atribuiu à remuneração do tempo in itinere a
característica de ser parcela indenizatória, devida sem o adicional de horas extras e
sem reflexo no cálculo de outras verbas. Em rigor, discute-se sobre tal cláusula
revestir-se de eficácia que derivaria da autonomia privada coletiva ou, por outra, se
teria tal preceito excedido o limite de disponibilidade reservado à autodeterminação
dos atores sociais. Ao considerar, tendo em perspectiva o caso dos autos, que a
remuneração do tempo de trabalho ou do tempo à disposição do empregador, nos
limites da lei, não poderia ter sofrido redução ou desvirtuamento, o Tribunal
Superior do Trabalho remete às seguintes razões de decidir: 1. Em sistemas
jurídicos fundados em valores morais ou éticos, a autonomia privada não é
absoluta; 2. Os precedentes do STF, como os precedentes em geral, não comportam
leitura e classificação puramente esquemáticas, como se em seus escaninhos se
acomodassem, vistos ou não, todos os fragmentos da realidade factual ou jurídica.
Para além das razões de decidir, acima enumeradas, cabe registrar que os
precedentes do STF (RE 590.415/SC e RE 895759/PE) que enlevam a
autodeterminação coletiva cuidam de situações concretas nas quais a Excelsa Corte
enfatizou a paridade de forças que resultaria da participação de sindicato da
categoria profissional, não se correlacionando com caso, como o dos autos, em que
o Tribunal Regional do Trabalho constata não ter havido qualquer contrapartida,
sob as vestes da negociação coletiva, para compensar a renúncia de direito pelos
trabalhadores. Embargos conhecidos e não providos. (E-RR - 205900-
57.2007.5.09.0325, Rel. Min. Augusto César Leite de Carvalho, Tribunal Pleno,
DEJT de 3/2/2017)

EMBARGOS REGIDOS PELA LEI Nº 11.496/2007. HORAS IN ITINERE.


ACORDO COLETIVO. PAGAMENTO DE FORMA SIMPLES E SEM
REFLEXOS. INVALIDADE. NEGOCIAÇÃO EQUIVALENTE À RENÚNCIA DE
DIREITO FUNDAMENTAL INDISPONÍVEL. As normas coletivas de trabalho
não têm o poder de afastar direitos fundamentais assegurados constitucionalmente
aos trabalhadores, ainda mais se tratando de tempo extraordinário, que tem
repercussões na saúde e na segurança do trabalhador. É claro que a negociação
coletiva e o exercício da autonomia privada coletiva devem ser valorizados, nos
termos do inciso XXVI do artigo 7º da Constituição Federal. No entanto, esse
preceito constitucional deve ser interpretado e aplicado de forma conjunta e
sistemática com os outros dispositivos de igual estatura constitucional que, no
mesmo artigo 7º da Norma Fundamental de 1988, estabelecem direitos
fundamentais trabalhistas mínimos dos empregados brasileiros que não podem pura
e simplesmente ser afastados pela autonomia privada, ainda que coletiva. Nesse
sentido, o que este Tribunal Superior e sua SBDI-1 admitem é tão somente a
prefixação, em norma coletiva, do número de horas in itinere a serem pagas pelo
empregador a cada empregado na situação prevista no artigo 58, § 2º, da CLT, de
forma a evitar que, em cada caso individual concreto, seja necessário ao julgador
instruir e fixar, em sua sentença, o número médio de horas de percurso em situações
muito variadas no tempo, prevenindo, pela via da negociação coletiva, a
multiplicação de litígios. Isso não significa, todavia, que a norma coletiva de
trabalho possa permitir o pagamento dessa verba de natureza salarial (artigos 4º e
58, § 2º, da CLT) sobre base de cálculo diversa do valor real da remuneração do
trabalhador (como, por exemplo, o seu salário básico), atribuir a este natureza
indenizatória, com isso vedando os reflexos de seu valor sobre os demais direitos
trabalhistas, ou, se o tempo in itinere extrapolar a jornada legal, possibilitar seu
pagamento sem o respectivo adicional de horas extras (constitucional ou
normativo). Tais cláusulas, mesmo que ajustadas em negociação coletiva,
equivalem a pura e simples renúncia a direitos fundamentais indisponíveis,
assegurados pela Constituição Federal e pacificamente reconhecidos pela
jurisprudência deste Tribunal Superior (Súmulas nºs 45, 90, I e V, 115, 172, 264 e
347 e OJ nº 47 da SBDI-1). Se as horas in itinere, antes fruto de uma interpretação
extensiva do artigo 4º da Consolidação das Leis do Trabalho, consagrada na Súmula
nº 90 do TST, passaram, a partir da promulgação da Lei nº 10.243, de 19/6/2001, a
ser direito trabalhista assegurado por lei (artigo 58, § 2º, da Consolidação das Leis
do Trabalho), integram também o patrimônio mínimo indisponível que o
ordenamento jurídico trabalhista, em seu conjunto, não admite seja objeto de
renúncia ou de transação, seja pelo próprio trabalhador, individualmente
considerado, seja pela entidade sindical representativa da categoria profissional
correspondente. Assim, sendo esse tempo despendido pelo empregado até o local de
trabalho e para o seu retorno por qualquer meio de transporte computado na jornada
de trabalho, quando o local é de difícil acesso ou não servido por transporte público,
ele deve ser considerado, para todos os efeitos legais, tempo trabalhado. E, se assim
é, essas horas trabalhadas que ultrapassam o limite semanal e diário da jornada
normal são labor extraordinário, nos termos da Súmula 90, item V, desta Corte, in
verbis: -HORAS "IN ITINERE". TEMPO DE SERVIÇO. V - Considerando que as
horas "in itinere" são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a
jornada legal é considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional
respectivo. (ex-OJ nº 236 da SBDI-1 - inserida em 20.06.2001)-. Dessarte, se as
horas in itinere prestadas pela reclamante ultrapassavam sua jornada de trabalho,
sua natureza de horas extras é inegável, consoante o teor do item V da Súmula nº 90
desta Corte, devendo essas ser remuneradas com o adicional de serviço
extraordinário de no mínimo 50% que o inciso XVI do artigo 7º da Constituição
assegura a todos os trabalhadores urbanos e rurais de nosso país. Além disso, o
disposto no acordo coletivo ora em análise afronta também o patamar mínimo
constitucional e legalmente assegurado a todos os trabalhadores brasileiros, ao
desconsiderar a flagrante e induvidosa natureza salarial do pagamento
correspondente às horas in itinere, que são, obrigatoriamente, tempo à disposição do
empregador e de efetivo serviço, conforme os termos dos artigos 4º e 58, § 2º, da
Consolidação das Leis do Trabalho e do próprio item V da Súmula nº 90 desta
Corte. Precedentes desta Subseção. Embargos conhecidos e desprovidos. (E-RR -
1020-84.2011.5.09.0092, Rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais, DEJT de 29/8/2014)

RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI 11.496/2007. HORAS IN


ITINERE. PAGAMENTO DE FORMA SIMPLES. NORMA COLETIVA.
IMPOSSIBILIDADE. Cinge-se a controvérsia acerca da possibilidade de fixar o
pagamento das horas in itinere as quais extrapolem a jornada diária e semanal
normal de trabalho, de forma simples, mediante negociação coletiva. Como as horas
in itinere representam tempo à disposição do empregador e de efetivo serviço, nos
termos dos arts. 4º e 58, § 2º, da CLT, não se pode entender, tal como alega a
reclamada, que os trabalhadores foram beneficiados com a norma coletiva ora em
análise, visto os atores coletivos somente terem proporcionado um esvaziamento de
direitos já garantidos pela legislação trabalhista em patamares muito mais elevados
que aquele supostamente elaborado pelos sindicatos. A redução salarial referida no
art. 7º, VI, da Constituição Federal, quando se estabelece em convenção ou acordo
coletivo de trabalho, deve se revelar como tal, como redução salarial, em situações,
evidentemente, em que haja uma necessidade crítica, emergencial, que isso ocorra,
situação não verificada no acórdão recorrido. Precedentes. Recurso de embargos
conhecido e não provido. (E-RR - 1543-46.2010.5.09.0023, Rel. Min. Augusto
César Leite de Carvalho, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, DEJT
de 4/4/2014)

RECURSO DE REVISTA - HORAS IN ITINERE - NEGOCIAÇÃO COLETIVA -


PAGAMENTO DE FORMA SIMPLES - RENÚNCIA A PARTE DA
REMUNERAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE. Ressalvando meu entendimento
pessoal, tenho me curvado à posição majoritária desta Corte, que se orienta no
sentido de reconhecer validade à norma coletiva que limita o pagamento das horas
relativas ao período gasto em percurso de ida e volta ao trabalho, mesmo após a
vigência da Lei nº 10.423/2001, e não somente com relação às microempresas e
empresas de pequeno porte. No caso, entretanto, verifica-se nova investida de
flexibilização contra o pagamento da parcela, mediante determinação da
remuneração das horas de trajeto de forma simples e sem reflexos, em flagrante
exorbitância dos limites da negociação coletiva. Trata-se de cláusula normativa que
impõe à parcela significativa redução, a ponto de confundir-se com a renúncia ao
seu percebimento de parte substancial da remuneração correspondente. As horas in
itinere, por consistirem em tempo à disposição do empregador, nos termos do art. 4º
da CLT, integram-se à jornada de trabalho, produzindo, por consequência, horas
extraordinárias, cujo pagamento encontra disciplina constitucional: de acordo com o
art. 7º, XVI, da Constituição Federal, é direito dos trabalhadores a -remuneração do
serviço extraordinário, superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal-.
Portanto, ao admitir que o pagamento das horas de percurso seja realizado de forma
simples, não se cogita de limitação razoável do instituto, mas de mera renúncia de
parte - significativa, saliente-se - do seu pagamento. O reconhecimento
constitucional à negociação coletiva se faz sob o prisma da valorização social do
trabalho, orientando-se, pois, numa perspectiva prospectiva, que não tolera
involuções com relação ao patamar já assegurado legalmente. Precedentes. Recurso
de revista não conhecido. (RR-1404-92.2011.5.09.0562, Rel. Min. Vieira de Mello
Filho, 7ª Turma, DEJT de 17/5/2013)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA - RITO


SUMARÍSSIMO - HORAS IN ITINERE - LIMITAÇÃO DO PAGAMENTO DE
FORMA SIMPLES E SEM REFLEXOS - NEGOCIAÇÃO COLETIVA DE
TRABALHO A jurisprudência desta Corte, amparada no art. 7º, XXVI, da
Constituição Federal, firmou-se no sentido de admitir a possibilidade de limitação
do pagamento de horas in itinere, por convenção ou acordo coletivos de trabalho,
sendo devidos, todavia, o adicional de horas extraordinárias e os reflexos, a teor dos
arts. 7º, XVI, da Constituição Federal e 4º da CLT. Agravo de instrumento
desprovido. (AIRR-1578-04.2011.5.09.0562, Rel. Min. Vieira de Mello Filho, 4ª
Turma, DEJT de 3/5/2013)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEI N.º 13.015/14. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. LEI N.º 13.015/14. HORAS IN ITINERE. LIMITAÇÃO.
ADICIONAL E REFLEXOS. NORMA COLETIVA. 1. A jurisprudência desta
Corte superior vem admitindo a possibilidade de a norma coletiva estabelecer
tempo fixo para fins de pagamento das horas de percurso desde que tal limite
guarde proporcionalidade e razoabilidade em relação ao tempo efetivamente gasto
no deslocamento. 2. Admitida a existência de horas de percurso, consoante o
entendimento consagrado nesta Corte superior, resulta inválida a cláusula constante
de norma coletiva mediante a qual se exclui o adicional de horas extras, ou que
retire a sua incidência em outras verbas de natureza salarial. Com efeito, as horas de
percurso têm nítida natureza salarial, porquanto, nos termos da Súmula n.º 90 desta
Corte superior, são computáveis na jornada de trabalho e, havendo extrapolação da
jornada pactuada, são consideradas como extras, sobre elas incidindo o respectivo
adicional. Resulta inválida, dessarte, a norma coletiva mediante a qual se afasta a
integração das horas in itinere no salário do empregado. 3. Precedentes. 4. Agravo
de Instrumento a que se nega provimento. Agravo de Instrumento a que se nega
provimento. (AIRR - 1975-50.2013.5.09.0091, Rel. Des. Conv. Marcelo Lamego
Pertence, 1ª Turma, DEJT de 19/12/2016)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. (...). HORAS IN


ITINERE. NORMA COLETIVA. NATUREZA JURÍDICA. A jurisprudência deste
Sodalício, consolidada na Súmula nº 90, item V, do TST, é firme no sentido de que
as horas in itinere integram a jornada de trabalho para todos os efeitos legais, de
maneira que o tempo que ultrapassa a jornada é considerado como extraordinário.
Diante desse panorama, é inválida a norma coletiva que inibe a repercussão das
horas in itinere nas demais verbas de natureza salarial, quando constatada a
extrapolação da jornada legal. Destarte, o acórdão regional está em consonância
com a iterativa e notória jurisprudência desta Corte, de sorte que o trânsito do
recurso de revista encontra óbice no art. 896, § 7º, da CLT e na Súmula nº 333 do
TST. Agravo de instrumento a que se nega provimento. Agravo de instrumento não
provido. (AIRR - 953-18.2012.5.09.0567, Rel. Des. Conv. André Genn de
Assunção Barros, 7ª Turma, DEJT de 27/11/2015)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A


ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. (...) 2. HORAS IN ITINERE. LIMITAÇÃO
PREVISTA EM NORMA COLETIVA. POSSIBILIDADE, DESDE QUE
PRESERVADA A NATUREZA SALARIAL DA PARCELA, O ADICIONAL DE
HORAS EXTRAS E O RAZOÁVEL E PROPORCIONAL MONTANTE
NUMÉRICO PREFIXADO. A negociação coletiva trabalhista pode criar vantagens
materiais e jurídicas acima do padrão fixado em lei, modulando a natureza e os
efeitos da vantagem inovadora instituída. Contudo, regra geral, não tem o poder de
restringir ou modular vantagens estipuladas por lei, salvo se esta efetivamente assim
o autorizar. No caso das horas in itinere, estas estão instituídas e reguladas pela
CLT, desde o advento da Lei nº 10.243, de 2001 (art. 58, § 2º, CLT), sendo,
portanto, parcela imperativa, nos casos em que estiverem presentes seus elementos
constitutivos. Entretanto, o § 3º do mesmo art. 58 da CLT, inserido pela Lei
Complementar nº 123/2006, autorizou à negociação coletiva fixar o tempo médio
despendido, a forma e a natureza da remuneração, permitindo assim certo espaço
regulatório à negociação coletiva trabalhista nesse específico tema. Naturalmente
que não pode o instrumento coletivo negociado simplesmente suprimir a parcela,
nem lhe retirar o caráter salarial ou até mesmo excluir a sobrerremuneração do
adicional mínimo de 50%. Nesse norte, pacificou a SDI-1 do TST no sentido de que
se situa na margem aberta à negociação coletiva a abstrata estimativa do tempo
médio pré-agendado, sabendo-se que esse tempo não leva em conta situações
individualizadas, porém o conjunto da dinâmica da (s) empresa (s) envolvida (s),
com as inúmeras e variadas distâncias existentes ao longo dos pontos de acesso e
frentes de trabalho. Nesta medida, a SDI-I assentou que eventual diferença entre o
número de horas fixas e o número de horas efetivamente despendidas no trajeto
pode ser tolerada, desde que respeitado o limite ditado pela proporcionalidade e
pela razoabilidade na definição do número fixo de horas a serem pagas, com o fim
de não desbordar para a supressão do direito do empregado, se a negociação resultar
na fixação de uma quantidade de horas inferior a 50% do tempo real despendido no
percurso. Na hipótese dos autos, foi considerada válida a estipulação normativa
concernente à fixação de um tempo médio despendido nos trajetos de ida para o
trabalho e de retorno deste, por se mostrar razoável frente à realidade fática, tendo
sido declarada nula a cláusula normativa no ponto em que previu a natureza
indenizatória da hora in itinere e a sua não integração na jornada de trabalho. Com
efeito, reitere-se que esta Corte já firmou entendimento no sentido de que se a regra
da norma coletiva eliminar a natureza jurídica salarial da parcela e excluir o
pagamento do adicional de horas extras, nestes aspectos, a norma não teria
validade. Cabe esclarecer, por fim, que o acórdão do TRT, nos presentes autos, não
enfrenta, com especificidade de prequestionamento (Súmula 297 do TST), a
presença e precisa identificação, no instrumento coletivo negociado, de outras
vantagens aptas a compensar a supressão (total ou parcial) do direito fixado por lei
imperativa, afastando-se, pois, da hipótese tratada no RE n. 895.759, que foi objeto,
em setembro de 2016, de decisão monocrática do Ministro Teori Zavascki, do STF.
Agravo de instrumento desprovido. (AIRR - 1002-58.2014.5.09.0092, Rel. Min.
Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, DEJT de 19/12/2016)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA


VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. HORAS "IN ITINERE". NORMA
COLETIVA. NATUREZA INDENIZATÓRIA. INVALIDADE. 1. A parte agravante
não apresenta argumentos capazes de desconstituir a juridicidade da decisão de
prelibação do recurso de revista, à míngua da demonstração de pressuposto
intrínseco previsto no art. 896 da CLT. 2. Na hipótese, o Tribunal Regional
considerou inválida a norma coletiva que atribuiu natureza indenizatória às horas de
percurso, diante do disposto no art. 58, § 2º, da CLT. 3. O Tribunal Pleno desta
Corte, no julgamento do processo E-RR-205900-57.2007.5.09.0325, confirmou o
entendimento de que é inválida a norma coletiva que fixa a natureza indenizatória
da parcela horas "in itinere", por desvirtuar direitos fundamentais. Decisão
denegatória que se mantém, ante a não caracterização de afronta ao art. 7º, XXVI,
da Constituição Federal. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (AIRR -
20-74.2014.5.09.0567, Rel. Min. Walmir Oliveira da Costa, 1ª Turma, DEJT de
12/12/2016)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. HORAS IN ITINERE. BASE DE CÁLCULO.


NORMA COLETIVA. LIMITAÇÃO. HORA DIÁRIA. NORMATIVA. SÚMULA
Nº 90, V. NÃO PROVIMENTO. Não poderá ser considerada válida norma coletiva
que reduz o valor da hora in itinere a que o reclamante teria direito. Isto porque, no
presente caso, conforme registrado pelo MM. Juízo, as horas in itinere prestadas
pelo reclamante ultrapassavam sua jornada de trabalho, razão pela qual possuem
natureza de horas extraordinárias. Nos termos da Súmula nº 90, item V, as horas in
itinere devem ser remuneradas com o adicional de serviço extraordinário de no
mínimo 50%, nos termos do artigo 7º, XVI, da Constituição Federal. Nessa esteira,
não é válida norma coletiva de trabalho que reduz o valor da hora in itinere, sem
considerar a efetiva remuneração recebida pelo reclamante, com acréscimo de 50%,
pois impede o seu pagamento como labor extraordinário. Agravo de instrumento a
que se nega provimento. (AIRR-133600-91.2008.5.15.0100, Rel. Min. Guilherme
Augusto Caputo Bastos, 2ª Turma, DEJT de 20/4/2012)
RECURSO DE REVISTA. HORAS IN ITINERE. NEGOCIAÇÃO COLETIVA.
LIMITAÇÃO AO PAGAMENTO DO TEMPO DE DESLOCAMENTO
PREVIAMENTE ESTIPULADO DE FORMA SIMPLES, SEM ADICIONAL E
SEM REFLEXOS EM OUTRAS PARCELAS. Caracterizada a hora in itinere, nos
termos do art. 58, § 2.º, da CLT, o tempo despendido pelo empregado até o local de
trabalho é computado na jornada. E, extrapolada a jornada normal de trabalho, é
devido o adicional de horas extras, de que trata o art. 7.º, XVI, da Constituição
Federal, e reflexos. O pagamento desse adicional, por sua vez, constitui norma
cogente, que não pode ser suprimida pela vontade das partes, como ocorreu nestes
autos. Igualmente incabível a alteração da natureza jurídica salarial do valor pago
pelo empregador, como contraprestação pelo tempo em que o empregado esteja à
sua disposição, ao teor do art. 4.º da CLT. Nesses termos, inválida a cláusula de
norma coletiva que, tratando de horas in itinere, exclui o direito de que as horas à
disposição do empregador que extrapolem a jornada normal de trabalho sejam
pagas com o adicional de horas extras, bem como de que sejam consideradas
salário. Válida, entretanto, a cláusula quanto à estipulação do tempo de
deslocamento, conforme entendimento desta Corte. Recurso de revista a que se dá
parcial provimento. (RR-42700-54.2009.5.03.0070, Rel. Min. Kátia Magalhães
Arruda, 6ª Turma, DJ de 6/7/2012)

RECURSO DE REVISTA. HORAS "IN ITINERE". PAGAMENTO DE FORMA


SIMPLES. REFLEXOS. NEGOCIAÇÃO COLETIVA. Na forma do art. 58, § 2.º,
da CLT: "O tempo despendido pelo empregado até o local de trabalho e para o seu
retorno, por qualquer meio de transporte, não será computado na jornada de
trabalho, salvo quando, tratando-se de local de difícil acesso ou não servido por
transporte público, o empregador fornecer a condução". Por sua vez, o item V da
Súmula n.º 90 deste Tribunal Superior prevê: "Considerando que as horas 'in itinere'
são computáveis na jornada de trabalho, o tempo que extrapola a jornada legal é
considerado como extraordinário e sobre ele deve incidir o adicional respectivo".
Da exegese do art. 58, § 2.º, da CLT e do verbete sumular anteriormente referido,
verifica-se que as horas "in itinere" são computadas como tempo à disposição do
empregador e, como tais, devem ser pagas como extras, quando houver o
extrapolamento da jornada diária e semanal. Aliás, tratando-se a regra inserta no art.
58, § 2.º, consolidado de norma de ordem pública, não é autorizado às partes afastá-
la, mesmo que mediante negociação coletiva, razão pela qual se pode concluir que o
caráter salarial das horas "in itinere" ou a sua remuneração como extra, no caso de
extrapolamento da jornada diária de trabalho, não está aberta à flexibilização por
instrumento normativo. Precedentes da Corte. Recurso de Revista não conhecido.
(RR-2247-91.2010.5.09.0562, Rel. Min. Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, DEJT
de 7/12/2012)

HORAS IN ITINERE. NORMA COLETIVA. LIMITAÇÃO DO PAGAMENTO.


DE FORMA SIMPLES E SEM REFLEXOS. A jurisprudência desta Corte,
amparada no artigo 7.º, XXVI, da CF/88, firmou-se no sentido de admitir a
possibilidade de limitação do pagamento de horas in itinere, por convenção ou
acordo coletivos de trabalho. Contudo, é devido o adicional de horas extras e os
reflexos, conforme os arts. 7.º, XVI, da CF e 4.º da CLT. Recurso de revista não
conhecido. (TST-RR-363-90.2011.5.09.0562, Rel. Min. Dora Maria da Costa, 8.ª
Turma, DEJT de 31/8/2012)

HORAS IN ITINERE - ADICIONAL E REFLEXOS. Esta Corte já sedimentou o


entendimento de que é inválida cláusula de norma coletiva, que prevê a supressão
do pagamento do adicional de 50% (cinquenta por cento) quando constatada a
extrapolação da jornada, bem como a sua integração na remuneração do empregado.
Precedentes. Súmula n.º 333 desta Corte. Agravo de instrumento não provido.
(TST-AIRR-2063-38.2010.5.09.0562, Rel. Des. Conv. José Pedro de Camargo
Rodrigues de Souza, 1.ª Turma, DEJT de 11/5/2012)

Ainda, registre-se que não há tese explícita no acórdão

recorrido sobre a existência de possível concessão de


contrapartida à supressão de parte significativa da

remuneração das horas itinerantes, nem a referida

questão foi objeto de insurgência do recurso da


reclamada.

Nesse contexto, o entendimento adotado pelo Tribunal


Regional, no sentido de ser inválida a negociação

coletiva que obsta a integração ao salário e o pagamento

dos reflexos das horas in itinere, está em consonância


com a jurisprudência desta Corte.
Portanto, o recurso de revista não se credencia ao
processamento, em face da incidência do óbice previsto

no art. 896, § 7º, da CLT e na Súmula nº 333 do TST.

Assim, amparado nos arts. 1019, caput, e 932, IV, a do

CPC/2015, nego provimento ao agravo de instrumento.

Publique-se.

Brasília, 06 de abril de 2017.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

Ministro Vieira de Mello Filho

Relator

fls.

Disponível em: https://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/448404258/agravo-de-instrumento-em-


recurso-de-revista-airr-1086120155090023/inteiro-teor-448404280

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