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18 de Dezembro de 2021
2º Grau
Processo
AIRR 108-61.2015.5.09.0023
Publicação
DEJT 10/04/2017
Relator
Luiz Philippe Vieira de Mello Filho
Inteiro Teor
Agravante:CONSÓRCIO DE PRODUTORES RURAIS CARLOS ORLANDO
CAVALLI
D E C I S Ã O
fls. 892.
processual e ao preparo.
CALOR EXCESSIVO
jurisprudencial.
595:
1. ADICIONAL DE INSALUBRIDADE
(...) PARECER FINAL 1) Caso o Douto Juiz considere a análise de acordo com a
temperatura média compensada diária - INMET: As atividades da Reclamante são
consideradas insalubres em grau médio (20%), nos meses onde a temperatura é
considerada elevada (de setembro a março), em conformidade com o Anexo 3 da
NR-15 da Portaria nº 3.214/78 do MTE. Nos demais meses do ano a insalubridade
não é caracterizada nas atividades da Reclamante.
É notório que o trabalho a céu aberto envolve situações variáveis quanto ao clima,
não se podendo considerar, para fins de decisão, apenas o momento da medição de
temperatura no ato da perícia. Por isso, salutar a análise feita pela perita, pois foram
consideradas as medições diárias feitas pelos órgãos meteorológicos estatais.
Por meio das mencionadas medições constatou-se que, pela temperatura máxima de
cada dia, a parte autora esteve exposta ao agente insalutífero em todos os dias da
contratação, inclusive nos meses de inverno, já que não se pode determinar em que
horas de cada dia houve o pico de temperatura.
Por outro lado, embora não seja possível estabelecer, com certeza, em qual
momento do dia se deu a temperatura máxima, é notório que, considerando o tipo
de trabalho da parte autora, tal pico ocorreu durante a jornada de trabalho. Assim,
entende-se que não seria razoável considerar a média compensada para aferição da
insalubridade porquanto, das horas do dia, as mais quentes, entre as 10 horas e 15
horas, quando há maior incidência de raios solares, dada a posição natural do sol,
estão inseridas na jornada de trabalho da parte autora.
Vale observar que o trabalho eventual em condições insalubres não faz nascer o
direito ao adicional respectivo. Contudo, se o trabalho é desempenhado em
situações de intermitência de exposição aos agentes de insalubridade, com
interregnos descontínuos, mas diários, há o direito à percepção do adicional, nos
termos do entendimento da S. 47 do TST.
Embora impugnada pela parte ré, a conclusão pericial não pode ser desconsiderada,
dada a ausência de elementos outros que possam fundamentar decisão contrária ou
desconsideração do estudo realizado.
Argumentam, ainda, que "o r. Julgador utiliza como parâmetro apenas a temperatura
média máxima consoante se infere das informações fornecidas pelo IAPAR", mas
"não a média entre temperaturas máximas e mínimas", sendo que o perito também
"reconhece a insalubridade com base na temperatura máxima diária e não na
temperatura média". Com apoio nessas afirmações, pugnam pela exclusão da
condenação ao pagamento do adicional de insalubridade. Em caráter sucessivo, que
seja "deferido apenas nos períodos em que as temperaturas são mais elevadas
(primavera e verão)." (fls. 540/545, grifos no original)
Conquanto a Norma Regulamentadora n.º 31, editada pela Portaria n.º 86, de 03 de
março de 2005, que dispõe sobre Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura,
Pecuária e Silvicultura, estabelecendo normas a serem cumpridas em relação aos
empregados que trabalham em condições climáticas desfavoráveis, que possam
comprometer sua saúde e segurança, prevendo inclusive adoção de medidas de
proteção pessoal (itens 31.19 e 31.20), tenha aplicação restrita aos trabalhadores
rurais, não afasta a incidência da Norma Regulamentadora n.º 15, pois é esta que
define as atividades e operações insalubres, abrangendo indistintamente todos
trabalhadores.
15.1.1 - Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos nºs 1, 2, 3, 5, 11 e 12.
2 - Os aparelhos que devem ser usados nesta avaliação são: termômetro de bulbo
úmido natural, termômetro de globo e termômetro de mercúrio comum.
(...).
Examinando a NR nº 15 da Portaria 3.214/1978, vê-se que o Anexo 3 fixa
limites de tolerância para exposição do trabalhador ao calor, conforme índices
estabelecidos em seus quadros 1 a 3, não excluindo as hipóteses em que o calor
seja proveniente de exposição ao sol. Há, inclusive, previsão expressa de
fórmula a ser utilizada para medir o índice de exposição ao calor em ambientes
externos com carga solar. Assim, o calor a que se refere o Anexo 3 deve ser
entendido como a somatória de vários fatores, incluindo o calor proveniente do
sol, daí porque a menção a medições sem carga solar (em ambiente com
cobertura natural ou artificial) e medições com carga solar (em ambiente
externo, sem nenhum tipo de cobertura).
Com isso, fica superada a tese de que não existe previsão legal para a insalubridade
resultante de exposição solar, com trabalho a céu aberto, de modo que a
caracterização atende a disposição do artigo 190 da CLT, que prevê elaboração de
quadro de atividades consideradas insalubres a cargo do Ministério do Trabalho.
Neste passo, não incide, no caso concreto, a diretriz contida no item I da OJ n.º 173
da SBDI-1 do colendo TST porque a constatação da expert pela existência de
insalubridade não decorreu apenas do fato da reclamante trabalhar a céu aberto, mas
em razão da exposição ao calor excessivo, com valores de I.B.U.T.G. superiores aos
limites de tolerância fixados nos quadros 1 a 3 do Anexo 3 da NR n.º 15.
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HORAS IN ITINERE
"A parte autora alega que dispendia 03 horas por dia no transporte oferecido pela
parte ré, até o local de trabalho e no caminho de volta.
Ocorre que a previsão legal não abrangeu, como se viu, as empresas de maior porte,
como é o caso da parte ré que, a rigor, não teria os benefícios da lei complementar
em comento e, por isso, não poderia entabular negociação em torno dos elementos
discutidos no caso.
O tempo alegadamente gasto pela parte autora seria de 03 horas por dia.
A prova oral emprestada dos autos 01257/2014.023 (TRT), além de não demonstrar
que o tempo médio era, de fato, aquele afirmado pela inicial, evidenciou grande
variação do tempo de itinerário, tendo a própria parte autora dos autos afirmado que
há lavouras muito próximas à cidade, para os quais o trajeto dura de 20 a 30
minutos, enquanto que para as lavouras mais distantes pode demorar mais de 01
hora (itens 03/04 do depoimento). Somado a isso, é fato notório e de conhecimento
deste Juízo, em face das inúmeras ações promovidas contra a parte ré, a existência
de várias unidades de trabalho com equipes em praticamente todas as cidades da
região. Assim, não seria razoável a utilização de equipes em cidades ou regiões
muito distantes já que nessas mesmas regiões, ditas distantes, haveria equipes
próprias que poderiam, a um custo muito menor, atender às necessidades da parte
ré.
Por isso, tem-se que a média estabelecida em convenção representa algo próximo da
realidade e, por vezes, mais vantajoso ao trabalhador, já que admite-se a existência
de trabalho em regiões muito próximas, com trajetos diários menores do que aquele
fixado na norma coletiva.
Ademais, muitos trechos são atendidos por transporte público regular, não podendo
ser considerados como de difícil acesso.
Por outro lado, ainda que se admita o trajeto em tempo superior, não se pode
reconhecer o fato de forma absoluta, vez que é flagrante a dificuldade de
estabelecimento de uma média, pois os trabalhadores da empresa ré não tinham, no
caso, um percurso único, sendo difícil a mensuração em termos exatos.
Rejeita-se."(fls. 524/528)
Consequentemente, por esse prisma, não se pode atribuir validade jurídica à norma
em discussão porque fere preceito de ordem pública em detrimento do patamar
mínimo civilizatório a que faz jus o empregado. Ademais, a validade de cláusula
normativa que limita o direito às horas in itinere está condicionada à expressa e
específica previsão compensatória no instrumento, bem como à observância da
proporcionalidade com o tempo efetivamente gasto nos deslocamentos. Do
contrário, representa verdadeira subversão ao direito à livre negociação coletiva e
consequente renúncia a direito garantido por lei (art. 58, § 2º, da CLT). Essa
situação não se verifica no caso já que não foi instituído benefício para compensar a
disposição convencional limitadora das horas itinerárias.
indenizatória.
normal".
forma simples:
Publique-se.
Relator
fls.
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