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Instalações Hidráulicas – Água Fria e Quente

SCHOLA DIGITAL
2018

Material Didático de Leitura


Obrigatória utilizado na
Disciplina de Instalações
Hidráulicas – Água Fria e
Quente – Revisão 00 de
Janeiro de 2018
Instalações Hidráulicas – Água Fria e Quente
ÍNDICE

UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

Aula 1: Hidrostática I...................................................................................................................1

Aula 2: Hidrostática II................................................................................................................10

Aula 3: Hidrodinâmica...............................................................................................................21

UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

Aula 4: Água Fria.......................................................................................................................30

Aula 5: Sistemas de Abastecimento..........................................................................................38

Aula 6: Reservatório..................................................................................................................48

UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

Aula 7: Rede de Distribuição.....................................................................................................60

Aula 8: Dimensionamento........................................................................................................73

Aula 9: Captação.......................................................................................................................92

UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

Aula 10: Classificação..............................................................................................................106

Aula 11: Dimensionamento....................................................................................................123

Aula 12: Materiais e Componentes.........................................................................................129


Aula 1 – Hidrostática I
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

Unidade 1 – Mecânica dos Fluidos

Aula 1: Hidrostática I

Para se conhecer a respeito de Instalações Hidráulicas de Água deve-se saber o mínimo do


comportamento desta dentro e fora das tubulações. Para isso, estuda-se a Mecânica dos
Fluidos, que é o segmento da física que estuda o efeito das forças em fluídos. Esse estudo será
dividido em hidrostática – quando os fluídos estão em equilíbrio estático – e hidrodinâmica
quando os fluídos estão sujeitos a forças externas diferentes de zero.

1. A Hidrostática

1.1. Fluidos

Antes de se estudar os fluidos, deve-se lembrar que a matéria, como a conhecemos, se


apresenta em três diferentes estados físicos, de acordo com a agregação de partículas: o
estado sólido, o estado líquido e o estado gasoso.

O estado sólido caracteriza-se por conferir a um corpo forma e volume bem definidos.
Os líquidos e os gases, ao contrário dos sólidos, não possuem forma própria: assumem,
naturalmente, a forma do recipiente que os contém. Os líquidos têm volume definido,
enquanto os gases, por serem expansíveis, ocupam todo o volume do recipiente que
estejam ocupando.

Fluido é uma substância que pode escoar (fluir) e, assim, o termo inclui líquidos e
gases, que diferem notavelmente em suas compressibilidades; um gás é facilmente
comprimido, enquanto um líquido é, praticamente, incompressível. A pequena (mínima)
variação de volume de um líquido sob pressão pode ser omitida nas situações iniciais desta
aula.

Como visto acima, os líquidos têm volume definido, enquanto os gases, por serem
expansíveis, ocupam todo o volume do recipiente em que estejam contidos. Estes aspectos

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Aula 1 – Hidrostática I
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são importantes, pois é uma das características que os distinguem quando se fala de um
fluido.

Como visto, a propriedade comum a estes dois estados físicos, de forma indefinida
(líquido e gasoso) é escoar ou "fluir" com facilidade através de um condutor ou duto. O que
será estudado na aula são os "fluidos ideais", também chamados fluidos perfeitos.

Nos fluidos ideais, consideremos que não existe atrito entre as moléculas que se
deslocam quando o fluido escoa, nem atrito entre o fluido e as paredes do condutor. De
qualquer maneira, este problema de atrito só será importante no estudo dos fluidos em
movimento (hidrodinâmica) e, basicamente, não influirá sobre os fluidos em equilíbrio, cujo
estudo (hidrostática) é objeto inicial desta aula.

Pode-se adiantar, entretanto, que a grandeza que caracteriza o atrito entre as


moléculas de um fluido é a viscosidade. Por exemplo, você certamente já percebeu a
diferença marcante quando despejamos uma lata de óleo em um tanque ou no chão e outra
igual cheia de água. Diz-se que o óleo é mais viscoso que a água, pois "flui" com maior
dificuldade que a água.

1.1.1. Propriedades Gerais dos Fluidos

A Hidrostática, como citado, trata de estudar os fluidos em equilíbrio. Caracterizar-se-


á, agora, algumas das propriedades dos fluidos em equilíbrio, dando ênfase especial aos
líquidos. Serão mostradas algumas diferenças entre líquidos e gases (a dos gases para serem
estudados, com maior detalhe, posteriormente).

As propriedades dos líquidos que serão apresentadas a seguir são de fácil verificação
experimental e as explicações teóricas são baseadas nas leis de Newton.

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UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

a) A superfície livre de um líquido em equilíbrio é plana e horizontal.

b) A força exercida por um líquido sobre uma superfície qualquer é sempre


perpendicular (normal) a essa superfície. Isto pode ser constatado quando fura-se
um vaso que contém líquidos e observa-se que este se projeta (derrama, escoa)
perpendicularmente à parede do vaso.

c) A terceira propriedade diz respeito à imiscibilidade de líquidos de diferentes


densidades, quando em equilíbrio. É o que se observa, por exemplo, entre o óleo
de cozinha e a água que, quando colocados em um mesmo recipiente, não se
misturam, apresentando uma superfície de separação plana e horizontal. O óleo,
por ser menos denso do que a água, se sobrepõe a ela.

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d) É observado que, ao mergulhar em uma piscina ou mesmo no mar, a "pressão"


aumenta à medida em que é maior a profundidade que você alcança. Ou seja,
ocorre uma variação de pressão, em função da profundidade. O estudo desta
propriedade, com detalhes, será feito posteriormente.

1.1.2. Diferença entre Gases e Líquidos

Apesar dos líquidos e gases serem classificados como fluidos, há algumas diferenças
entre eles que podem ser destacadas. Uma primeira diferença já foi, de certa forma,
apontada anteriormente, quando viu-se que os gases, por serem expansíveis, ocupam o
volume total dentro de um recipiente, qualquer que seja sua capacidade.

Quando se coloca um certo volume de líquido num vaso de maior capacidade, ele
ocupará somente uma parte do vaso, igual ao seu próprio volume. Uma segunda diferença a
perceber entre os gases e os líquidos é a propriedade que têm os primeiros de serem
facilmente compressíveis.

Isto significa que podemos encerrar, num recipiente de 1 litro, como o da figura ao
lado, uma quantidade bem maior de gás, o mesmo não ocorrendo com relação aos líquidos.

Uma diferença muito importante entre líquido e gás é a miscibilidade. Os líquidos,


como já visto, nem sempre são miscíveis entre si, como no caso do óleo e da água. Os gases,
ao contrário, sempre se misturam homogeneamente entre si. Um exemplo típico é o ar
atmosférico, constituído de nitrogênio, oxigênio e outros gases em menor proporção. Um
outro exemplo é o do maçarico oxi-acetilênico. O acetileno e oxigênio, provenientes de suas
respectivas garrafas, se misturam no interior do maçarico. Há ainda muitas outras
diferenças entre fluido líquido e fluido gasoso que serão assimiladas posteriormente.

1.2. Grandezas dos Fluidos

Para que se entenda o estudo dos conceitos que regem a mecânica dos fluidos em
equilíbrio, isto é, a hidrostática, é importante que se estudem alguns conceitos básicos das
substâncias.

Serão, particularmente, vistas as grandezas físicas “massa específica”, “peso


específico” e “densidade”. Estas grandezas estão, de maneira geral, relacionadas com o
estudo dos fluidos, portanto, servirão tanto no estudo dos líquidos como no dos gases. Suas
aplicações, porém, estendem-se aos sólidos.

1.2.1. Massa Específica

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Aula 1 – Hidrostática I
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

Esta grandeza, característica específica de cada substância, é conhecida também pelo


nome de densidade absoluta. Ela será representada aqui pela letra grega µ (mi).

m
μ=
V

Onde:

m é a massa da substância em análise;


V é o volume da substância em análise.

Se a massa é expressa em gramas (g) e o volume em cm³, a massa específica, no


sistema prático, é expressa em g/cm³. No SI (Sistema Internacional de Unidade), a massa é
dada em quilogramas e o volume em m³, portanto a massa específica é expressa em kg/m³.

Exemplo: A figura representa um bloco homogêneo de ferro. Sabe-se que sua massa é
igual a 15200 kg. Pede-se sua densidade.

Resolução:

Será encontrado o volume do sólido e posteriormente, sua densidade com aplicação


direta da definição.

V = 2 m . 1 m . 1 m → V = 2 m³

µ = m/V → µ = 15200 kg/2 m³ → µ = 7600 kg/m³

Observe que a massa específica está relacionada com a massa e o volume dos corpos.
Como massa, 1 kg de chumbo é igual a 1 kg de isopor, porém o volume de isopor necessário
para 1 kg é muito maior que o volume de chumbo necessário para o mesmo 1 kg.

Isto será demonstrado através da massa específica. A massa específica do isopor vale
200 kg/m³ e a do chumbo 11.400 kg/m³. Ao se calcular, aplicando a relação, µ = m/V, o
volume necessário de isopor e chumbo, para se ter 1 kg de cada substância é:

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Aula 1 – Hidrostática I
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𝑉𝑖𝑠𝑜𝑝𝑜𝑟 = 𝑚3 𝑒 𝑉𝑐ℎ𝑢𝑚𝑏𝑜 = 𝑚3
11400 200

𝑉𝑖𝑠𝑜𝑝𝑜𝑟 = 5000 𝑐𝑚3 𝑒 𝑉𝑐ℎ𝑢𝑚𝑏𝑜 = 87𝑐𝑚³

Constata-se que, realmente, o volume de isopor é bem mais elevado do que o de


chumbo. De maneira geral, quando dizemos que um corpo tem massa específica elevada,
isto significa que ele contém uma grande massa em um volume pequeno. Podemos dizer
que o corpo é muito denso.

1.2.2. Peso Específico

Definida a massa específica pela relação m/V, definiremos o peso específico de uma
substância, que constitui um corpo homogêneo, como a razão entre o peso “P” e o volume
“V” do corpo constituído da substância analisada. Da relação extraída da 2ª Lei Newtoniana,
tem-se que P = m . g, portanto:

P
ρ=
V

Onde:

ρ (rô) é o peso específico;


P é o peso;
V é o volume.

Se o peso é expresso em Newton e o volume em m³, a unidade de peso específico, no


SI, será o N/m³. No sistema prático (CGS), esta unidade será expressa em dina/cm³ e no
MKGFS (técnico) é kgf/m³.

Um quadro com as unidades de massa específica e peso específico é apresentado a


seguir:

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Aula 1 – Hidrostática I
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

1.2.3. Densidade Relativa

Será definida agora uma terceira grandeza física denominada densidade relativa ou
simplesmente densidade. A densidade é definida como a relação entre as massas
específicas de suas substâncias.

𝜇𝐴
𝑑=
𝜇𝐵

Em geral, usa-se a água como substância de referência, de modo que é possível


expressar a equação acima da seguinte maneira:

𝜇
𝑑=
𝜇á𝑔𝑢𝑎

A densidade é uma grandeza adimensional, e, portanto, o seu valor é o mesmo para


qualquer sistema de unidades. Uma outra observação que se deve fazer é que, muitas
vezes, encontra-se a densidade expressa em unidades de massa específica. Nestes casos, se
estará considerando a densidade absoluta (massa específica) igual à densidade relativa
tomada em relação à massa específica da água, que é igual a 1 g/cm³ ou 100 kg/m³.

Valores típicos de densidade absoluta (massa específica) à temperatura ambiente


(condições normais), são dados na tabela abaixo.

Exemplo: O heptano e o octano são duas substâncias que entram na composição da


gasolina. Suas massas específicas valem, respectivamente, 0,68 g/cm 3 e 0,70 g/cm3. Deseja-

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Aula 1 – Hidrostática I
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se saber a densidade da gasolina obtida, misturando-se 65 cm3 de heptano e 35 cm3 de


octano.

Resolução:

1º Passo: Encontrar o Volume de Gasolina

Vgasolina = Vheptano + Voctano → Vgasolina = 65 + 35 → Vgasolina = 100 cm³

2º Passo: Encontrar a Massa do Sistema:

mgasolina = mheptano + moctano ①

mheptano = µheptano . Vheptano → mheptano = 0,68 . 65 → mheptano = 44,2 g

moctano = µoctano . Voctano → moctano = 0,70 . 35 → moctano = 24,5 g

Retornando à relação ①, tem-se:

mgasolina = mheptano + moctano → mgasolina = 44,2 + 24,5 → mgasolina = 68,7 g

3º Passo: Densidade da Mistura:

µgasolina = mgasolina/Vgasolina → µgasolina = 67,8/100 → µgasolina = 0,678 g/cm³

1.2.4. Variação da Densidade de Líquidos com a Temperatura

Observa-se que uma substância qualquer, quando aquecida, se dilata, isto é, seu
volume torna-se maior. Lembre-se do que acontece com o termômetro, para medir
temperaturas. O mercúrio, quando aquecido, aumenta de volume, subindo na escala.
Apesar desse aumento de volume, a massa da substância permanece a mesma (lembre-se
de que a massa é uma grandeza constante). Viu-se que a densidade absoluta é a relação
entre massa e volume. Mantendo a massa constante e fazendo o volume variar, estamos,
automaticamente, provocando uma variação na densidade da substância. A conclusão,
portanto, é que a densidade absoluta varia com a temperatura.

Suponha-se uma experiência com os seguintes dados sobre o álcool metílico:

• Para 30°C, m = 790 g, V = 1000 cm3;


• Quando a 50°C, ocorreu um acréscimo de 12 cm3 no volume.

Deseja-se saber qual a densidade absoluta do álcool na temperatura de 30°C e 50°C.

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Aula 1 – Hidrostática I
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

µ30°C = m/V
µ30°C = 790/1000
µ30°C = 0,7900 g/cm3

Na temperatura de 50°C, o volume aumentou de 12 cm 3, portanto:

V = 1000 + 12 → V = 1012 cm3

A massa não varia com a temperatura, daí:

µ50°C = m/V → µ50°C = 790/1012 → µ50°C = 0,7806 g/cm³

Variação: 0,7900 – 0,7806 = 0,0094 g/cm3

Neste caso, esta variação é pequena, pois aumento de volume também foi pequeno. A
temperatura elevou-se de 30°C a 50°C. Para maiores variações de temperatura, maiores
serão as variações de volume e, consequentemente, os valores de densidade começam a
diferir sensivelmente. Em se tratando de líquidos e sólidos, a dilatação tem pouco efeito
sobre a apreciável alteração no volume, para variações de temperatura elevadas.

A situação se modifica bastante em relação aos gases que apresentam grande


dilatação térmica.

Na prática, a medida da densidade é uma técnica de grande importância, em muitas


circunstâncias. O estado da bateria de um automóvel pode ser testado pela medida da
densidade de eletrólito, uma solução de ácido sulfúrico. À medida que a bateria descarrega,
o ácido sulfúrico (H2SO4) combina-se com o chumbo nas placas da bateria e forma sulfato de
chumbo, que é insolúvel, decrescendo, então, a concentração da solução. A densidade varia
desde 1,30 g/cm3, numa bateria carregada, até 1,15 g/cm3, numa descarregada. Este tipo de
medida é rotineiramente realizado em postos de gasolina, com o uso de um simples
hidrômetro, que mede a densidade pela observação do nível, no qual um corpo calibrado
flutua numa amostra da solução eletrolítica.

Baseado e adaptado de LUIZ


FERNANDO FIATTE CARVALHO.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

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Aula 2 – Hidrostática II
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
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Aula 2: Hidrostática II

O termo fluido é usado para descrever um objeto ou substância que deve estar em movimento
para resistir forças aplicadas externamente. Um fluido sempre escorre quando forças
deformantes lhe são aplicadas.

1. Pressão nos Fluidos

1.1. Conceitos Básicos de Pressão

O conceito de pressão foi introduzido a partir da análise da ação de uma força sobre
uma superfície; já nos fluidos, o peso do fluido hidrostático foi desprezado e a pressão
suposta tornou-se igual em todos os pontos. Entretanto, é um fato conhecido que a pressão
atmosférica diminui com a altitude e que, num lago ou no mar, aumenta com a
profundidade. Generaliza-se o conceito de pressão e se define, num ponto qualquer, como
a relação entre a força normal F, exercida sobre uma área elementar A, incluindo o ponto, e
esta área:

Retomando os conceitos triviais de outras disciplinas, quando você exerce, com a


palma da mão, uma força sobre uma superfície (uma parede, por exemplo), dizemos que se
está exercendo uma pressão sobre a parede. A figura representa a força F aplicada em um
determinado ponto da superfície, onde a componente normal (Fx) da força atua realizando
pressão. Observa-se, porém que, na realidade, a força aplicada pela mão distribui-se sobre
uma área, exercendo a pressão. Deste modo, tem-se

F
p=
A

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Aula 2 – Hidrostática II
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

Assim define-se a pressão de uma força sobre uma superfície, como sendo a razão
entre a força normal e a área da superfície considerada. As unidades serão expressas pela
razão entre as unidades de força e as unidades de área, nos sistemas conhecidos.

A unidade SI é também conhecida pelo nome PASCAL, abreviando-se Pa, que vale 1
N/m².

1.2. Experiência de Torriceli

O físico italiano pegou um tubo de vidro de cerca de 1 m de comprimento, fechado em


uma das extremidades. Encheu o tubo de mercúrio, tampou a extremidade aberta, com o
dedo, e inverteu o tubo, introduzindo-o em uma cuba de mercúrio. Observou, então, que o
tubo não ficava completamente cheio, isto é, o nível de mercúrio diminuía no interior do
tubo, mantendo uma altura de cerca de 760 mm em relação ao nível de mercúrio da cuba.

A experiência comprova a existência da pressão atmosférica, ou seja, a coluna de


Mercúrio equilibra-se por ação da pressão que a atmosferas exerce sobre a superfície livre
de mercúrio na cuba, e esta pressão é numericamente igual ao peso de uma coluna de
mercúrio de 760 mm de altura. Variações em torno deste valor serão obtidas segundo o
local em que se realize a experiência. Ao nível do mar, obtém-se 760 mmHg. Em lugares
mais altos, como a pressão atmosférica é menor, a altura da coluna liquida de mercúrio
também será menor.

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No alto do monte “Everest”, por exemplo, a experiência acusaria uma pressão


atmosférica da ordem de 300 mmHg. A experiência também pode ser realizada com outros
líquidos que não o mercúrio. A altura da coluna é inversamente proporcional à densidade
do líquido empregado. Isto significa que quanto menor a densidade do líquido, maior a
altura da coluna. No caso da água, atingiria o valor de 10,3 m. As relações que se
apresentam são:

Pressão Atmosférica = 1 atm = 760 mmHg = 10,3 m (H2O) = 105 N/m²

1.3. Variação de Pressão com relação à Profundidade

Ao se mergulhar, percebe-se que, ao afundar na água, a pressão aumenta (por


exemplo, uma dor de ouvido). O mesmo fenômeno pode ocorrer na atmosfera, quando se
desce de uma montanha. O aumento de pressão, neste caso, também afeta o ouvido. Veja-
se, então, como calcular esta variação de pressão que os corpos experimentam à medida
que se aprofundam num fluido.

Considere o caso particular de um recipiente cilíndrico que contém um líquido de


massa específica μ até uma altura h acima do fundo, como mostrado ao lado.

Temos as seguintes relações já apresentadas:

①P=m.g
② m = μ/V
③ p = F/A

Utilizando-se de 1, 2 e 3, tem-se que:

P=μ.g.h

1.3.1. Pressão Total do Fundo

Esta pressão será dada pela pressão atmosférica que age sobre a superfície livre do
líquido, mais a pressão que, devido ao peso do líquido, age sobre o fundo do recipiente.
Tem-se, então: Pressão Total = Pressão Atmosférica + Pressão da Coluna Líquida.

Pt = Patm + μ . g . h

1.3.2. Diferença de Pressão

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Aula 2 – Hidrostática II
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

Analisando-se a situação anterior, será deduzida a fórmula que fornece a diferença de


pressão entre pontos de profundidade diferente.

Tem-se que:

PB = PA + Pliq → PB – PA = μ . g . h

Esta relação é conhecida como Lei de Stevin ou equação fundamental da hidrostática e


pode ser enunciada da seguinte maneira: “A variação da pressão entre dois pontos
quaisquer de um fluido é igual ao produto de sua massa específica pela diferença de nível
entre os dois pontos e pela aceleração da gravidade”. Para uma melhor compreensão, tem-
se a figura:

1.4. Medidores de Pressão

O tipo mais simples de medidor de pressão é o manômetro de tubo aberto,


representado na figura abaixo. Consiste num tubo em forma de U, contendo um líquido,
uma extremidade estando à pressão P que se deseja medir, enquanto a outra é aberta na
atmosfera, à pressão Pa.

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O barômetro de mercúrio é um tubo longo, de vidro, cheio deste metal e invertido


numa cuba também contendo mercúrio. O espaço acima da coluna contém somente vapor
de mercúrio, cuja pressão, em temperatura ambiente, é tão pequena que pode ser
desprezada. Vê-se, facilmente, que:

Pa = µ . g . (y2 – y1) = µ . g . h

Como visto, a unidade SI de pressão é o Pascal (1 Pa), igual a um Newton por metro
quadrado (1 N.m–2). Uma unidade relacionada é o bar, definido como 105 Pa. Por serem o
barômetro e o manômetro de mercúrio frequentemente usados em laboratórios, é costume
expressar a pressão atmosférica e outras em “polegadas, centímetros ou milímetros de
mercúrio”, embora não sejam unidades reais de pressão. A pressão exercida por uma
coluna de um milímetro de mercúrio é comumente chamada um torr, em homenagem ao
físico italiano já citado anteriormente.

Um tipo de medidor, normalmente usado pelos médicos, para medida da pressão


sanguínea contém um tipo de manômetro. Medidas de pressão sanguíneas, como 130/80,
referem-se às pressões máxima e mínima, medidas em milímetros de mercúrio ou torr.
Devido à diferença de altura, a pressão hidrostática varia em diferentes pontos do corpo; o
ponto de referência padrão é o antebraço, na altura do coração. A pressão também é
afetada pela natureza viscosa do fluxo sanguíneo e pelas válvulas ao longo do sistema
vascular, que atuam como reguladores de pressão.

2. Vasos Comunicantes

O dispositivo da figura abaixo, demonstra como ocorre o princípio dos vasos


comunicantes.

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Na figura, os pontos A, B, e C estão situados a um mesmo nível em relação à superfície


livre e, portanto, as pressões PA, PB, e PC são iguais entre si.

Suponha que o líquido tenha massa específica µ. As pressões P A, PB, e PC são,


respectivamente:

• PA = Patm + µghA
• PB = Patm + µghB
• PC = Patm + µghC

Para que sejam efetivamente iguais, como deduzimos anteriormente, é necessário que
as alturas hA = hB = hC sejam iguais entre si, isto é, hA = hB = hC.

Pode-se concluir que, num sistema de vasos comunicantes, como o mostrado na


figura, as superfícies livres do líquido estão todas no mesmo nível, nos diversos vasos do
sistema.

Este princípio dos vasos comunicantes permite, por exemplo, que você possa transferir
um líquido de um reservatório para outro, sem necessidade de bombeamento, como se vê
na figura abaixo:

Uma aplicação também importante deste princípio é que ele nos permite calcular a
densidade absoluta dos líquidos.

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Aula 2 – Hidrostática II
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Suponhamos um vaso comunicante, no qual colocamos dois líquidos imiscíveis, por


exemplo, água e óleo.

Na figura A, temos somente água no tubo, e, na figura B, colocamos óleo. Neste caso,
as alturas são diferentes, pois as densidades dos líquidos são diferentes. Com a introdução
de óleo, a água teve sua altura alterada. À medida que o sistema tende ao equilíbrio, a água
para de subir no ramo direito e as pressões nos dois ramos se igualam.

Tem-se, como nível de referência, a linha que passa pela superfície de separação dos
dois fluidos. Observe a figura B. As pressões, nos pontos A e B são, respectivamente:

PA = Patm + µóleo . hóleo . g

PB = Patm + µágua . hágua . g

Como PA e PB são iguais, pois representam pressões aplicadas no mesmo nível de um


líquido em equilíbrio, então:

PA = PB → Patm + µóleo . hóleo . g = Patm + µágua . hágua . g

µóleo . hóleo = µágua . hágua

Com esta expressão, é possível se calcular a densidade absoluta do óleo de qualquer


outro não miscível.

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3. Princípio de Pascal

O princípio de Pascal pode ser enunciado da seguinte maneira:

“Um acréscimo de pressão, num ponto qualquer de um líquido em equilíbrio,


transmite-se integralmente a todos os pontos do líquido”.

Isto significa que, quando aumentamos de uma quantidade P a pressão exercida na


superfície livre de um líquido em equilíbrio, todos os pontos do líquido sofrerão o mesmo
acréscimo de pressão P. Uma aplicação prática do princípio de Pascal é a da prensa
hidráulica, ilustrada na figura abaixo.

Quando é comprimido o êmbolo 1, o acréscimo de pressão transmite-se pelo líquido e


atinge o êmbolo 2, que é móvel. Entre este êmbolo, que possui na sua parte superior uma
plataforma móvel, e a plataforma fixa, é colocado o corpo que se deseja comprimir.

A força F1 exercida no êmbolo de área A1 provoca um acréscimo de pressão no líquido:


P = F/A = F1/A1. Pelo princípio de Pascal, este acréscimo de pressão transmite-se pelo
líquido, atingindo, neste caso, o êmbolo de área A 2. Se a área aumentou, a força exercida
sobre o êmbolo também crescerá a fim de manter constante a pressão. Portanto:

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Exemplo: Os pistões de uma prensa hidráulica de um sucateador de automóveis têm,


respectivamente, 1 m e 3 m de diâmetro. Uma força de 100 kgf atua no pistão menor. Que
força deve ser aplicada pelo pistão maior, para funcionar a prensa?

Resolução:

Fa/Aa = Fb/Ab → Fa/πra² = Fb/πrb²


100/(3,14 . 0,5²) = Fb/(3,14 . 1,5²)
Fb = 900 kgf

4. Princípio de Arquimedes

Observa-se que os corpos, quando imersos em água, perdem, “aparentemente”, um


pouco de seu peso, ou seja, é mais fácil levantar um corpo dentro da água do que fora dela.
Pode-se presumir, portanto, que a água exerce uma força sobre o corpo, de modo a
equilibrar o peso resultante. Esta força exercida pelo fluido sobre o corpo é chamada de
empuxo. Arquimedes enunciou, então, o seguinte princípio:

“Todo corpo imerso em um fluido, está sujeito à ação de uma força vertical de baixo
para cima (empuxo), cujo módulo é igual ao peso da quantidade de fluido deslocada”.

Analise-se, agora, a influência do peso nas diversas situações:

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Para o cálculo deste empuxo, leva-se em consideração que:

• O peso do corpo vale: P = m . g, ou ainda, já que m = µ . V, P = µc . Vc . g, onde


Vc é o volume do corpo;
• Quando o corpo está mergulhando no fluido, ele desloca um certo volume
deste fluido (dois corpos não ocupam mesmo lugar no espaço,
simultaneamente) e recebe um empuxo E;
• Esse líquido deslocado tem um certo peso e o empuxo representa o peso do
líquido deslocado, quando da imersão do corpo.

Portanto:

E = Peso líquido deslocado


E = mL . g

E = µ L . Vd . g

Onde:

µL é a densidade do líquido deslocado;


Vd é o volume de líquido deslocado;
g é a aceleração da gravidade.

Exemplo: Um cilindro de 40 cm de altura está parcialmente imerso em óleo (0,90


3
g/cm ). A parte do cilindro que está fora do óleo, tem 10 cm de altura. Calcule a massa
específica de que é feito o cilindro.

Resolução:

1º Passo:

Se o corpo flutua, significa que ele está em equilíbrio. Portanto, é válido escrever que:
P = E.

19
Aula 2 – Hidrostática II
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Como:

P = µc . Vc . g

E = µL . Vd . g

Portanto:

µc . Vc . g = µL . Vd . g
µc . Vc = µL . Vd ①

2º Passo:

Não se sabe o valor de Vc e tampouco Vd. Todavia, sabe-se calcular o volume de um


cilindro que é igual à área da base, vezes a altura:

Vc = A . H

Vd = A . h

Substituindo-se estes valores em ①, tem-se:

µc . A . H = µ L . A . h
µc . H = µ L . h
µc = µL . h/H
µc = 0,90 . (30/40)
µc = 0,675 g/cm³

Baseado e adaptado de LUIZ


FERNANDO FIATTE CARVALHO.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

20
Aula 3 – Hidrodinâmica
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

Aula 3: Hidrodinâmica

Nesse ramo da Física, denominado hidrodinâmica, muitos aspectos dos movimentos dos
fluidos ainda estão sendo objeto de estudo. Entretanto, supondo algumas simplificações,
pode-se ter um bom entendimento sobre o assunto, que serão apresentados e expandidos
nesta aula para que sirvam de base para as aulas de instalações hidráulicas que se seguirão a
essa.

1. Conceitos

A hidrodinâmica é o estudo de fluidos em movimento. É um dos ramos mais


complexos da Mecânica dos Fluidos, como se pode ver nos exemplos mais corriqueiros de
fluxo, como um rio que transborda, uma barragem rompida, o vazamento de petróleo e até
a fumaça retorcida que sai da ponta acesa de um cigarro. Embora cada gota d'água ou
partícula de fumaça tenha o seu movimento determinado pelas leis de Newton, as equações
resultantes podem ser complicadas demais. Felizmente, muitas situações de importância
prática podem ser representadas por modelos idealizados, suficientemente simples para
permitir uma análise detalhada e fácil compreensão.

Inicialmente, vamos considerar apenas o que é chamado fluido ideal, isto é, um fluido
incompressível e que não tem força interna de atrito ou viscosidade. A hipótese de
incompressibilidade é válida com boa aproximação quando se trata de líquidos; porém, para
os gases, só é válida quando o escoamento é tal que as diferenças de pressão não são muito
grandes.

O caminho percorrido por um elemento de um fluido em movimento é chamado linha


de escoamento. Em geral, a velocidade do elemento varia em módulo e direção, ao longo
de sua linha de escoamento. Se cada elemento que passa por um ponto tiver a mesma linha
de escoamento dos precedentes, o escoamento é denominado estável ou estacionário.

No início de qualquer escoamento, o mesmo é instável, mas, na maioria dos casos,


passa a ser estacionário depois de um certo período de tempo. A velocidade em cada ponto
do espaço, no escoamento estacionário, permanece constante em relação ao tempo,

21
Aula 3 – Hidrodinâmica
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

embora a velocidade de uma determinada partícula do fluido possa variar ao longo da linha
de escoamento.

Linha de corrente é definida como uma curva tangente, em qualquer ponto, que está
na direção do vetor velocidade do fluido naquele ponto. No fluxo estacionário, as linhas de
corrente coincidem com as de escoamento.

1.1. Escoamento

O movimento de fluidos pode se processar, fundamentalmente, de duas maneiras


diferentes:

• Escoamento laminar (ou lamelar);


• Escoamento turbulento.

O escoamento laminar caracteriza-se pelo movimento ordenado das moléculas do


fluido, e todas as moléculas que passam num dado ponto devem possuir a mesma
velocidade. O movimento do fluido pode, em qualquer ponto, ser completamente previsto.

O escoamento turbulento não é interessante devido às desvantagens e perigos que


sua presença pode acarretar. Quando um corpo se move através de um fluido, de modo a
provocar turbulência, a resistência ao seu movimento é bastante grande. Por esta razão,
aviões, carros e locomotivas são projetados de forma a evitar turbulência.

1.2. Vazão em Escoamento Uniforme

A vazão ou débito de um fluido é a razão entre o volume de fluido escoado em um


tempo e o intervalo de tempo considerado.

V
Q=
t

Onde V é o volume escoado no tempo t, e Q é a vazão. As unidades de vazão são


resultantes da razão entre unidades de volume e unidades de tempo.

22
Aula 3 – Hidrodinâmica
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

São ainda muito usadas as unidades litro por segundo e metro cúbico por hora (m 3/h).
Se tivermos num condutor um fluido em escoamento uniforme, isto é, o fluido escoando
com velocidade constante, a vazão poderá ser calculada multiplicando-se a velocidade (v)
do fluido, em dada seção do condutor, pela área (A) da seção considerada, ou seja:

Q=A.v

Suponhamos um condutor de seção constante:

O Volume escoado entre as seções (1) e (2) de área A é igual:

V=A.L

Porém L = v . t (o movimento é uniforme) e, daí, temos que:

V = A . (v . t)

Como Q = V/t , tem-se que:

Q=A.v

1.3. Equação da Continuidade

Diz-se que um fluido encontra-se escoando em regime permanente quando a


velocidade, num dado ponto, não varia com o tempo.

23
Aula 3 – Hidrodinâmica
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Assim, considerando A como um ponto qualquer no interior de um fluido, este estará


em regime permanente, desde que toda partícula que chegue ao ponto A passe com a
mesma velocidade e na mesma direção. O mesmo é válido para os pontos B e C, porém não
há obrigação que vb e vc sejam iguais a va. O importante é que toda partícula que passe por
B tenha a mesma velocidade vb e por C a mesma velocidade vc.

Se unirmos os pontos A, B e C, temos a trajetória de qualquer partícula que tenha


passado pelo ponto A. Esta trajetória é conhecida pelo nome de linha de corrente.

Suponhamos, agora, um fluido qualquer escoando em regime permanente no interior


de um condutor de secção reta variável.

A velocidade do fluido no ponto A1 é V1, e no ponto A2 é V2 . A1 e A2 são áreas da


secção reta do tubo nos dois pontos considerados.

Já foi visto que Q = V/t e Q = Av, portanto podemos escrever que:

V/t = A . v
V = A . (v . t)

Sabe-se, ainda, que a massa específica é definida pela relação:

µ = m/V
m=µ.V
m = µA . vt

Pode-se, então, dizer tendo em vista esta última equação, que a massa de fluido
passando através da secção A1 por segundo é m = µ1A1v1; e que a massa de fluido que
atravessa a secção A2, em cada segundo é igual a m = µ2A2v2.

24
Aula 3 – Hidrodinâmica
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

Estamos supondo aqui que a massa específica do fluido varia ponto a ponto no interior
do tubo. A massa de fluido, porém, permanece constante, desde que nenhuma partícula
fluida possa atravessar as paredes do condutor. Portanto, podemos escrever:

µ1 . A1 . v1 = µ2 . A2 . v2

Esta é a equação da continuidade nos escoamentos em regime permanente. Se o


fluido for incompressível, não haverá variação de volume e, portanto, µ1 = µ2 e a equação da
continuidade toma uma forma mais simples, qual seja A 1 . v1 = A2 . v2 ou Q1 = Q2.

Esta relação nos mostra que onde a área da secção do condutor for maior, a
velocidade de escoamento da massa fluida é menor e vice-versa.

1.4. Medidores de Pressão

Dois aparelhos são utilizados para medir a vazão de um fluido em escoamento.


Nenhum dos dois fornece uma leitura direta da vazão, havendo necessidade de cálculo
suplementar para se obter o resultado desejado.

1.4.1. Tubo de Pitot

É constituído, basicamente, de um tubo em forma de U, provido de duas aberturas que


permanecem imersas no fluido. Por uma torneira T (vide figura), pode-se aspirar o fluido e
medir o desnível h que se estabelece entre os dois ramos do tubo. A expressão para calcular
a vazão é a seguinte:

2 .h
Q = A .√
μ

Onde:

A é a área da secção reta do tubo por onde o fluido escoa;


µ é a massa específica do fluido.
h é a altura manométrica.

1.4.2. Medidor Venturi

Constitui-se de uma seção convergente que reduz o diâmetro da canalização entre a


metade e um quarto. Segue-se uma seção divergente (vide figura a seguir). A função da
seção convergente é aumentar a velocidade do fluido e temporariamente diminuir sua
pressão. A diferença de pressões entre a entrada do Venturi e a garganta é medida num

25
Aula 3 – Hidrodinâmica
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

manômetro de mercúrio. O cone divergente serve para a área de escoamento e para reduzir
a perda de energia.

Para se calcular a vazão, usa-se a equação da continuidade e a equação de Bernouilli,


obtendo-se a seguinte expressão:

2 . g . (μ′ − μ) . h
Q = a .√
μ

Onde:

a é a área da secção reta na garganta do Venturi;


µ' é a massa específica do líquido do manômetro;
µ é a massa específica do fluido em escoamento;
h é a altura manométrica;
g é a aceleração da gravidade.

1.5. Viscosidade

Quando se introduz um tubo de vidro em água e logo o retira, pode-se observar que
no extremo do tubo permanece pendurada uma gota do líquido. Há, portanto, uma
aderência entre o líquido e o sólido que mantém a gota em repouso, impedindo-a de se
desprender por ação da gravidade.

Quando um fluido qualquer escoa sobre uma placa plana horizontal, observa-se que a
camada de fluido que está em contato com a superfície da placa encontra-se em repouso
devido ao fenômeno da aderência.

26
Aula 3 – Hidrodinâmica
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

A velocidade das partículas fluidas nas diferentes camadas vai aumentando


gradativamente, à medida que é maior a distância da camada em relação à superfície da
placa.

As camadas sucessivas do fluido têm, portanto, diferentes velocidades. Isto implica


que cada camada tende a retardar o movimento da vizinha, que se move com maior
velocidade e, ao contrário, acelerar a camada vizinha com menos velocidade. Assim, numa
determinada camada de fluido atuam duas forças: uma na direção do escoamento e outra
em sentido oposto.

Estas forças surgem devido ao que chamamos de viscosidade do fluido. A viscosidade


é, para fluidos, uma grandeza análoga ao atrito, ou seja, a viscosidade é uma espécie de
atrito entre as partículas do fluido que se movem com velocidades distintas.

Em geral, expressamos este atrito entre as partículas dos fluidos pela grandeza
denominada coeficiente de viscosidade ou simplesmente viscosidade, que é característica
para cada fluido.

Denotaremos o coeficiente de viscosidade pela letra grega η (eta).

tensão de cisalhamento F/A


η= =
variação do cisalhamento ν/l

ν
∴ F = η.A
l

1.5.1. Lei de Poiseuille

É evidente, pela natureza geral dos efeitos viscosos, que a velocidade de um fluido
viscoso, que escoa através de um tubo, não será constante em todos os pontos de uma
secção reta. A camada mais externa do fluido adere às paredes e sua velocidade é nula. As
paredes exercem sobre ela uma força para trás e esta, por sua vez, exerce uma força na

27
Aula 3 – Hidrodinâmica
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

camada seguinte na mesma direção e assim por diante. Se a velocidade não for muito
grande, o escoamento será lamelar, a velocidade atingirá um máximo no centro do tubo,
decrescendo a zero nas paredes.

Como vimos, o escoamento é semelhante ao do movimento de vários tubos


telescópios que deslizam um em relação ao outro: o tubo central avança mais rapidamente,
enquanto o externo permanece em repouso.

Considere a variação de velocidade em relação ao raio de um tubo, cujo raio interno é


R, através do qual escoa um fluido coaxial, com um tubo, de raio r e comprimento. A força,
na extremidade esquerda do tubo, é µ1 π r2 e, na direita, é µ2 π r2. A força propulsora é:

F = (µ1 – µ2) π . r²

1.6. Princípio de funcionamento do Sifão e efeitos do Golpe de Aríete (martelo


hidráulico)
1.6.1. Sifão

Um sifão nada mais é que um tubo encurvado, aberto nos extremos e com um ramo
maior que o outro.

Enchendo o tubo com líquido e introduzindo o extremo da parte mais curta num
recipiente contendo o mesmo líquido com que se encheu o sifão, dá-se início a um
escoamento sem que haja necessidade de bombas ou outro equipamento qualquer. O
fenômeno pode ser explicado da seguinte maneira: a pressão em A, que empurra o líquido
para cima dentro do tubo, é igual à pressão atmosférica, menos o peso da coluna de líquido
DB.

PA = Patm – µ . g . hDB

A pressão em C, que tende a suportar o líquido no tubo, é igual à pressão atmosférica,


menos o peso da coluna de líquido BC.

28
Aula 3 – Hidrodinâmica
UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS FLUIDOS

PC = Patm − μ . g . hBC
e Patm = PC − μ . g . hBC
Patm = PA − μ . g . hDB

Portanto:

PA + µ . g . hDB = PC + µ . g . hBC

Como hBC é maior que hDB, para a igualdade acima ser verdade, a pressão que empurra
líquido em A deve ser maior que a pressão que suporta o líquido em C.

PA – PC = µ . g . (hBC – hDB)

Estabelece-se, portanto, uma corrente de líquido desde A até C, enquanto o extremo C


permaneça mais baixo que o nível do líquido (D).

Para fazer o sifão funcionar, é necessário enchê-lo, previamente, com o líquido ou,
então, depois de introduzi-lo no recipiente, aspirar pelo outro extremo.

1.6.2. Aríete Hidráulico

O Aríete hidráulico ou martelo hidráulico, ou ainda carneiro hidráulico, é um


dispositivo para elevar um líquido, que aproveita a própria energia do líquido.

Quando se fecha bruscamente a válvula A, a parada do líquido produz um choque


brusco (golpe de Aríete) e a pressão aumenta instantaneamente, provocando a abertura da
válvula B. O líquido é então empurrado para o reservatório superior, sob o efeito da
sobrepressão. Quando a válvula B se fecha, abre-se a válvula A, estabelecendo o Baseado e adaptado de LUIZ
escoamento e o fenômeno pode ser reproduzido. FERNANDO FIATTE CARVALHO.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

29
Aula 4 – Água Fria
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Unidade 2 – Reservação de Água Fria

Aula 4: Água Fria

Uma instalação predial de água fria (temperatura ambiente) constitui-se no conjunto de


tubulações, equipamentos, reservatórios e dispositivos, destinados ao abastecimento dos
aparelhos e pontos de utilização de água da edificação, em quantidade suficiente, mantendo
a qualidade da água fornecida pelo sistema de abastecimento.

1. Condições Gerais

O sistema de água fria deve ser separado fisicamente de quaisquer outras instalações
que conduzam água potável, como por exemplo as instalações as instalações de água para
reuso ou de qualidade insatisfatória, desconhecida ou questionável. Os componentes da
instalação não podem transmitir substâncias tóxicas à água ou contaminar a água por meio
de metais pesados.

A norma que fixa as exigências e recomendações relativas a projeto, execução e


manutenção da instalação predial de água fria é a NBR 5626, da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT). De acordo com a norma, as instalações prediais de água fria
devem ser projetadas de modo que, durante a vida útil do edifício que as contém, atendam
aos seguintes requisitos:

• Preservar a potabilidade da água;


• Garantir o fornecimento de água de forma contínua, em quantidade
adequada e com pressões e velocidades compatíveis com perfeito
funcionamento dos aparelhos sanitários, peças de utilização e demais
componentes;
• Promover economia de água e energia;
• Possibilitar manutenção fácil e econômica;
• Evitar níveis de ruído inadequados à ocupação do ambiente;

30
Aula 4 – Água Fria
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

• Proporcionar conforto aos usuários, prevendo peças de utilização


adequadamente localizadas, de fácil operação, com vazões satisfatórias e
atendendo às demais exigências do usuário.

2. Entrada e Fornecimento de Água Fria

Uma instalação predial de água fria pode ser alimentada de duas formas: pela rede
pública de abastecimento ou por um sistema privado, quando a primeira não estiver
disponível.

Quando a instalação for alimentada pela rede pública, a entrada de água no prédio
será feita por meio do ramal predial, executado pela concessionária pública responsável
pelo abastecimento, que interliga a rede pública de distribuição de água à instalação
predial.

Antes de solicitar o fornecimento de água, porém, o projetista deve fazer uma


consulta prévia à concessionária, visando a obter informações sobre as características da
oferta de água no local de execução da obra. É importante obter informações a respeito de
eventuais limitações de vazão, do regime de variação de pressões, das características da
água, da constância de abastecimento, e outros que julgar relevantes.

2.1. Poços Artesianos

31
Aula 4 – Água Fria
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Quando for prevista utilização de água proveniente de poços, o órgão público


responsável pelo gerenciamento dos recursos hídricos deverá ser consultado previamente.

Os tipos de poços variam conforme a tecnologia empregada, os métodos de proteção


ao meio ambiente e de segurança, e o sistema de operação. Num poço artesiano
convencional, a água permanece dentro do poço e tem de ser bombeada para a superfície.
Já no chamado poço surgente, a água jorra naturalmente, por diferença de pressão com a
superfície.

O serviço de perfuração e instalação de poços artesianos envolve uma série de tarefas,


a começar pelo estudo de avaliação hidrogeológica, feito por geólogo credenciado ao Crea
(Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura e Agronomia), que identifica as
probabilidades de haver recursos hídricos no local avaliado. Se a disponibilidade hídrica se
mostrar provável, é elaborado então um projeto construtivo da perfuração.

A empresa contratada para a perfuração e instalação e seu técnico responsável devem


ser credenciados ao Crea e os serviços realizados na perfuração e instalação devem atender
às normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para projeto e construção de
poços de água para abastecimento.

2.1.1. Poços Pouco Profundos

Existem vários meios para bombeamento de água de poços. O mais simples é uma
bomba centrífuga com a tubulação de sucção e respectiva válvula de pé no interior do poço.
Esse sistema é adequado para poços pouco profundos, uma vez que a altura máxima de
sucção de uma bomba centrífuga (H da Figura abaixo) é teoricamente cerca de 10 metros.
Na prática, devido a perdas nas tubulações, o valor máximo se situa na faixa de 7 a 8
metros.

32
Aula 4 – Água Fria
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

2.1.2. Poços Profundos

Para profundidades maiores, outros arranjos devem ser usados, como uma bomba de
eixo prolongado. O motor fica na superfície e aciona a bomba no fundo do poço por meio
de um eixo vertical no interior da tubulação. Assim, H (Figura) não é altura de sucção e sim
de recalque e seu valor máximo só depende das características construtivas da bomba. Em
geral, é usado para profundidades de até 300 metros.

2.2. Cavaletes

De maneira geral, todo sistema público que fornece água exige a colocação de um
medidor de consumo, chamado “hidrômetro”. Esse dispositivo é instalado em um
compartimento de alvenaria ou concreto, juntamente com um registro de gaveta, e a
canalização ali existente é chamada de “cavalete”. A canalização que liga o cavalete ao
reservatório interno (alimentador predial), geralmente, é da mesma bitola (diâmetro) do
ramal predial (interliga a rede pública à instalação predial).

Antes de iniciar o projeto, o arquiteto deve efetuar um estudo do terreno e a


posteação da rua para definir a melhor localização do conjunto: hidrômetro, medidor de
energia elétrica, caixa de correspondência, campainha com interfone e câmara TV. Os
equipamentos de medição de água e energia elétrica serão instalados pelas concessionárias,
em local previamente preparado, dentro da propriedade particular, preferencialmente no

33
Aula 4 – Água Fria
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

limite do terreno com a via pública, em parede externa da própria edificação, em muros
divisórios, e servirá para medir o consumo de água e energia elétrica da edificação.

A localização do compartimento que abriga o cavalete e do quadro de medição vai


depender basicamente do posicionamento dos ramais de entrada de água e de energia. De
qualquer maneira, deve ser localizado no projeto arquitetônico de modo a facilitar a leitura
pelas concessionárias fornecedoras de água e de energia. Assim, vale ressaltar que o ideal é
o compartimento ter os painéis de leitura voltados para o lado do passeio público, para que
possam ser lidos mesmo que a casa esteja fechada ou sem morador.

A entrada de água e de energia deve sempre compor com a ideia usada para o poste
de modo que se consiga uma coerência de padrões. Assim, se o poste foi embutido numa
estrutura de alvenaria, o mesmo deve acontecer com a caixa de medição (centro de
medição). Desta forma, facilita-se a medição do hidrômetro e do relógio de medição.

Até para facilitar a medição do hidrômetro e do relógio de medição, as três peças


(entrada de água, energia e poste) devem formar um só elemento no projeto arquitetônico.

34
Aula 4 – Água Fria
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

2.3. Medição de Água Individualizada

A medição de água através de um único hidrômetro, em edifícios multifamiliares, está


sendo gradativamente substituída pela medição de água individualizada que se constitui
sinônimo de economia de água e justiça social (o consumidor paga efetivamente pelo seu
consumo).

O sistema consiste na instalação de um hidrômetro no ramal de alimentação de cada


unidade habitacional, de modo que seja medido todo o seu consumo, com a finalidade de

35
Aula 4 – Água Fria
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

racionalizar o seu uso e fazer a cobrança proporcional ao volume consumido. Hoje, esse tipo
de medição desperta o interesse de muitos arquitetos e projetistas, bem como dos
administradores de condomínios e concessionárias (empresas) de abastecimento de água
para combater a inadimplência.

A medição individual de água em condomínios prediais é importante por várias razões,


dentre as quais, destacam-se: redução do desperdício de água e, consequentemente, do
volume efluente de esgotos; economia de energia elétrica devido à redução do volume
bombeado para o reservatório superior; redução do índice de inadimplência; identificação
de vazamentos de difícil percepção.

36
Aula 4 – Água Fria
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

37
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Aula 5: Sistemas de Abastecimento

Existem três sistemas de abastecimento da rede predial de distribuição: direto, indireto e


misto. Cada um desses sistemas apresenta vantagens e desvantagens, que devem ser
analisadas pelo projetista, conforme a realidade local e as características do edifício em que
esteja trabalhando. Como visto na disciplina Introdução Á Construção, os conceitos serão
aprofundados juntamente às demais características.

1. Sistema de Distribuição Direto

A alimentação da rede predial de distribuição é feita diretamente da rede pública de


abastecimento. Nesse caso, não existe reservatório domiciliar, e a distribuição é feita de
forma ascendente, ou seja, as peças de utilização de água são abastecidas diretamente da
rede pública.

Esse sistema tem baixo custo de instalação, porém, se houver qualquer problema que
ocasione a interrupção no fornecimento de água no sistema público, certamente faltará
água na edificação.

38
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

2. Sistema de Distribuição Indireto

No sistema indireto, adotam-se reservatórios para minimizar os problemas referentes


à intermitência ou a irregularidades no abastecimento de água e a variações de pressões da
rede pública. No sistema indireto, consideram-se três situações, descritas a seguir.

2.1. Sistema Indireto Sem Bombeamento

Esse sistema é adotado quando a pressão na rede pública é suficiente para alimentar o
reservatório superior. O reservatório interno da edificação ou do conjunto de edificações
alimenta os diversos pontos de consumo por gravidade; portanto, ele deve estar sempre a
uma altura superior a qualquer ponto de consumo.

Obviamente, a grande vantagem desse sistema é que a água do reservatório garante o


abastecimento interno, mesmo que o fornecimento da rede pública seja provisoriamente
interrompido, o que o torna o sistema mais utilizado em edificações de até três pavimentos
(9 m de altura total até o reservatório).

2.2. Sistema Indireto Com Bombeamento

Esse sistema, normalmente, é utilizado quando a pressão da rede pública não é


suficiente para alimentar diretamente o reservatório superior – como, por exemplo, em
edificações com mais de três pavimentos (acima de 9 m de altura).

39
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Nesse caso, adota-se um reservatório inferior, de onde a água é bombeada até o


reservatório elevado, por meio de um sistema de recalque. A alimentação da rede de
distribuição predial é feita por gravidade, a partir do reservatório superior.

2.3. Sistema Indireto Hidropneumático

Esse sistema de abastecimento requer um equipamento para pressurização da água a


partir de um reservatório inferior. Ele é adotado sempre que há necessidade de pressão em
determinado ponto da rede, que não pode ser obtida pelo sistema indireto por gravidade,
ou quando, por razões técnicas e econômicas, se deixa de construir um reservatório
elevado.

É um sistema que demanda alguns cuidados especiais. Além do custo adicional, exige
manutenção periódica. Além disso, caso falte energia elétrica na edificação, ele fica
inoperante, necessitando de gerador alternativo para funcionar.

40
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

41
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

3. Sistema de Distribuição Mista

No sistema de distribuição mista, parte da alimentação da rede de distribuição predial


é feita diretamente pela rede pública de abastecimento e parte pelo reservatório superior.

Esse sistema é o mais usual e mais vantajoso que os demais, pois algumas peças
podem ser alimentadas diretamente pela rede pública, como torneiras externas, tanques
em áreas de serviço ou edícula, situados no pavimento térreo. Nesse caso, como a pressão
na rede pública quase sempre é maior do que a obtida a partir do reservatório superior, os
pontos de utilização de água terão maior pressão.

4. Materiais Hidráulicos e Recomendações

As próximas informações serão as de uma instalação de água básica em uma


edificação comum. Alguns materiais e instruções serão apresentadas, porém, obviamente,
são ilustrativas e o profissional de construção deverá sempre seguir as orientações de
projeto.

42
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

4.1. Compra

Ter em mente as seguintes observações:

• É aconselhado você usar tubos e conexões do mesmo fabricante;


• Os tubos e conexões são comercializados em mm, conforme NBR 5680:

43
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

4.2. Armazenagem

Para armazenar os tubos e conexões, você deve tomar os seguintes cuidados:

• Guardar os tubos sempre na posição horizontal, e as conexões em sacos ou


caixas em locais sombreados, livres da ação direta do sol;
• Livre do contato direto com o solo, produtos químicos ou de esgotos.

4.3. Ferramentas

As ferramentas para o desenvolvimento das instalações hidráulicas são:

• Metro ou trena;
• Arco de serra;
• Lima bastarda;
• Lixa de pano n.º 100 para ferro;
• Estopa branca;
• Solução limpadora;
• Adesivo (cola);
• Pincel chato.

4.4. Procedimentos

4.4.1. Para executar uma junta soldável:

a) Verificar se a bolsa e a ponta dos tubos a serem unidos estão perfeitamente


limpas. Por meio de uma lixa n.º 100, tirar o brilho das superfícies a serem
soldadas, com o objetivo de melhorar a aderência (“colagem”);

b) Limpar as superfícies lixadas com a solução limpadora, eliminando as impurezas


que poderiam impedir a posterior ação do adesivo;

44
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

c) Aplicar com o pincel chato uma camada bem fi na de adesivo na parte interna da
bolsa, cobrindo apenas um terço da mesma, e outra camada na parte externa da
ponta do tubo;

d) Juntar as duas peças, forçando o encaixe até o fundo da bolsa, sem torcer;

e) Remover o excesso de adesivo e deixar secar. Deixe passar água pela tubulação
somente depois de decorridas 24 horas após a execução da instalação.

45
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

4.4.2. Instalação de Registros e Aparelhos (com veda-rosca)

• Examinar a qualidade da peça e da rosca;


• Colocar a ponta da fita sobre a superfície da rosca;
• Cobrir a rosca;
• Enrolar camadas suficientes de fita em toda a rosca não deixe sobras de fita
nas extremidades da rosca;
• Cortar e apertar a fita (puxar a fita até romper);
• Pressionar os dedos sobre a fita, para que fi que bem apertada.

4.4.3. Técnica de Instalação

A forma de enroscar é simples, porém muito importante, e quando bem feita evita
danos na rosca e vazamentos. A vedação não é obtida com aperto excessivo.

• Enroscar com a mão;


• Encaixar a rosca, girando da esquerda para a direita;
• Apertar somente com a mão.

46
Aula 5 – Sistemas de Abastecimento
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

4.4.4. Cuidados na Instalação

Deverão ser tomados os seguintes cuidados:

• Evitar a passagem da tubulação pelo piso, porque, no caso de eventual


vazamento em junta, torna-se difícil sua localização e se faz necessária a
quebra do piso. É aconselhável passar a tubulação pelo muro ou parede;
• Eventualmente, se houver a necessidade de se instalar a tubulação no piso,
observe se ela, na vala, foi envolvida em material sem pedras ou corpos
estranhos que possam danificá-la e, principalmente, se a vala foi bem
compactada (socada);
• Nunca utilize fogo para curvar ou abrir a bolsa na tubulação, porque isso pode
danificar o PVC. Utilizar sempre conexões, tais como curvas, joelhos e luvas;
• Quando se conectam registros, torneiras, chuveiros metálicos e outros
aparelhos, recomenda-se a utilização de roscas de bucha de latão;
• Não cruze e nem encoste a tubulação de água fria com a tubulação de água
quente. Evite também que elas sejam instaladas próximas umas das outra ou
próximas às chaminés (lareiras);
• Recomenda-se sempre a colocação de registros de gavetas em cada ambiente
(banheiro, cozinha, área de serviço etc.), para facilitar a manutenção e evitar
perda de água no caso de vazamentos em qualquer aparelho.

47
Aula 6 – Reservatórios
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Aula 6: Reservatórios

Enquanto em alguns países da Europa e nos Estados Unidos, o abastecimento de água é feito
diretamente pela rede pública, as edificações brasileiras, normalmente, utilizam um
reservatório superior, o que faz com que as instalações hidráulicas funcionem sob baixa
pressão.

1. Generalidades

Os reservatórios domiciliares têm sido comumente utilizados para compensar a falta


de água na rede pública, devido às falhas existentes no sistema de abastecimento e na rede
de distribuição. Em resumo, sabe-se que, em uma instalação predial de água, o
abastecimento pelo sistema indireto, com ou sem bombeamento, necessita de
reservatórios para garantir sua regularidade e que o reservatório interno alimenta os
diversos pontos de consumo por gravidade; dessa maneira, ele está sempre a uma altura
superior a qualquer ponto de consumo.

A água da rede pública apresenta uma determinada pressão, que varia ao longo da
rede de distribuição. Dessa maneira, se o reservatório domiciliar ficar a uma altura não
atingida por essa pressão, a rede não terá capacidade de alimentá-lo. Como limite prático, a
altura do reservatório com relação à via pública não deve ser superior a 9 m. Quando o
reservatório não pode ser alimentado diretamente pela rede pública, deve-se utilizar um
sistema de recalque, que é constituído, no mínimo, de dois reservatórios (inferior e
superior). O inferior será alimentado pela rede de distribuição e alimentará o reservatório
superior por meio de um sistema de recalque (conjunto motor e bomba). O superior
alimentará os pontos de consumo por gravidade.

1.1. Reservatórios em Projetos Arquitetônicos

Muitos projetos arquitetônicos omitem informações importantes sobre os


reservatórios, como: localização, altura, tipo, capacidade etc. Outros sequer preveem o
reservatório.

O arquiteto deve inteirar-se das características técnicas dos reservatórios para garantir
a harmonização entre os aspectos estéticos e técnicos na concepção do projeto.

48
Aula 6 – Reservatórios
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

Reservatórios de maior capacidade devem ser divididos em dois ou mais


compartimentos (interligados por meio de um barrilete), para permitir operações de
manutenção sem interrupção na distribuição de água. O arquiteto deve também verificar a
necessidade ou não da reserva de incêndio, que deverá ser acrescida à capacidade
destinada ao consumo quando colocada no reservatório superior ou em um reservatório
independente.

Além do dimensionamento e da localização dos reservatórios, ele deve prever uma


altura adequada para o barrilete, com facilidade de acesso, para facilitar futuras operações
de manobra de registros e manutenção das canalizações.

1.1.1. Reservatório Superior

O reservatório superior pode ser alimentado pelo sistema de recalque ou diretamente,


pelo alimentador predial. O reservatório elevado, quando abastecido diretamente pela rede
pública, em prédios residenciais, localiza-se habitualmente na cobertura, em uma posição o
mais próxima possível dos pontos de consumo, devido a dois fatores: perda de carga e
economia.

Nas residências de pequeno e médio porte, os reservatórios, normalmente, localizam-


se sob o telhado, embora possam também localizar-se sobre ele. Quando a reserva de água
for considerável (acima de 2000 litros), o reservatório deverá ser projetado sobre o telhado,
com estrutura adequada de suporte. Normalmente, nesse tipo de residência, utiliza-se
estrutura de madeira ou de concreto, que serve de apoio para transmissão de cargas às
vigas e paredes mais próximas. Deve-se evitar o apoio (concentração de cargas) sobre lajes
de concreto ou sobre forros.

Nos prédios com mais de três pavimentos, o reservatório superior é locado,


geralmente, sobre a caixa de escada, em função da proximidade de seus pilares.

49
Aula 6 – Reservatórios
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Na execução ou instalação do reservatório elevado, é importante prever a facilidade


de acesso, como a utilização de escadas ou portas independentes. O acesso ao interior do
reservatório, para inspeção e limpeza, deve ser garantido por meio de uma abertura mínima
de 60 cm, em qualquer direção.

1.1.2. Reservatório Inferior

O reservatório inferior se faz necessário em prédios com mais de três pavimentos


(acima de 9 m de altura), pois, geralmente, até esse limite, a pressão na rede pública é
suficiente para abastecimento do reservatório elevado. Nesses casos, há necessidade de
dois reservatórios: um na parte inferior e outro na superior da edificação, o que também
evitará a sobrecarga nas estruturas. O reservatório inferior deve ser instalado em locais de
fácil acesso, de forma isolada, e afastado de tubulações de esgoto, para evitar eventuais
vazamentos ou contaminações pelas paredes. Quando localizados no subsolo, as tampas
deverão ser elevadas pelo menos 10 cm em relação ao piso acabado, e nunca rentes a ele,
para evitar a contaminação pela infiltração de água.

No projeto arquitetônico deve ser previsto um espaço físico para localização do


sistema elevatório, denominado “casa de bombas”, suficiente para a instalação de dois
conjuntos de bomba, ficando um de reserva, para atender a eventuais emergências. O
sistema elevatório depende da localização do reservatório inferior, pois deve estar junto a
ele. Quanto às bombas, existem dois tipos básicos de disposição, com relação ao nível de
água do poço de sucção: acima do reservatório; em posição inferior, no nível do piso do

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Aula 6 – Reservatórios
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

reservatório (bomba afogada). A disposição mais comumente utilizada é em nível mais


elevado, que permite melhores condições de manutenção do sistema e de seu próprio
abrigo.

2. Reservação de Água Fria

De acordo com NBR 5626, a capacidade dos reservatórios deve ser estabelecida
levando-se em consideração o padrão de consumo de água no edifício e, onde for possível
obter informações, a frequência e duração de interrupções do abastecimento.

O volume de água reservado para uso doméstico deve ser, no mínimo, o necessário
para 24 horas de consumo normal no edifício, sem considerar o volume de água para
combate a incêndio.

No caso de residência pequena, recomenda-se que a reserva mínima seja de 500 litros.
Para o volume máximo, a norma recomenda que sejam atendidos dois critérios: garantia de
potabilidade da água nos reservatórios no período de detenção médio em utilização
normal; atendimento à disposição legal ou ao regulamento que estabeleça volume máximo
de reservação.

2.1. Consumo de Água

O consumo de água pode variar muito, dependendo da disponibilidade de acesso ao


abastecimento e de aspectos culturais da população, entre outros. Alguns estudos mostram
que, por dia, uma pessoa no Brasil gasta de 50 litros a 200 litros de água. Portanto, com 200
litros/dia utilizados de forma racional, vive-se confortavelmente.

Para calcular o consumo diário de água dentro de uma edificação, é necessária uma
boa coleta de informações: pressão e vazão nos pontos de utilização; quantidade e
frequência de utilização dos aparelhos; população; condições socioeconômicas; clima, entre
outros. O memorial descritivo de arquitetura também deve ser convenientemente

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Aula 6 – Reservatórios
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

estudado, pois algumas atividades básicas e complementares, como piscina e lavanderia,


podem influenciar no consumo diário.

Na ausência de critérios e informações, para calcular o consumo diário de uma


edificação, utilizam-se tabelas apropriadas: verifica-se a taxa de ocupação de acordo com o
tipo de uso do edifício e o consumo per capita (por pessoa). O consumo diário (Cd) pode ser
calculado pela seguinte fórmula:

Cd = P . q

Onde:

Cd é o consumo diário (litros/dia);


P é a população que ocupará a edificação;
q é o consumo per capita (litros/dia).

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Aula 6 – Reservatórios
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

2.2. Capacidade dos Reservatórios

A capacidade calcula refere-se a um dia de consumo. Tendo em vista a intermitência


do abastecimento da rede pública, e na falta de informações, é recomendável dimensionar
reservatórios com capacidade suficiente para dois dias de consumo. Essa capacidade é
calculada em função da população e da natureza da edificação. Então, a quantidade total de
água a ser armazenada será:

CR = 2 . Cd

Onde:

CR é a capacidade total do reservatório (litros);


Cd é o consumo diário (litros/dia).

Para os casos comuns de reservatórios domiciliares, recomenda-se a seguinte


distribuição, a partir da reservação total (CR):

• Reservatório inferior: 60% CR;

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Aula 6 – Reservatórios
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

• Reservatório superior: 40% CR.

Esses valores são fixados para aliviar a carga da estrutura, pois a maior reserva (60%)
fica no reservatório inferior, próximo ao solo. A reserva de incêndio, usualmente, é colocada
no reservatório superior, que deve ter sua capacidade aumentada para comportar o volume
referente a essa reserva.

Exemplo: Calcular a capacidade dos reservatórios de um edifício residencial de 10


pavimentos, com 2 apartamentos por pavimento, sendo que cada apartamento possui 2
quartos e uma dependência de empregada. Adotar reserva de incêndio de 10000 litros,
prevista para ser armazenada no reservatório superior.

Resolução:

Adota-se:

• 2 pessoas/quarto;
• 1 pessoa/quarto empregada.

P = (2 . 2) + 1 = 5 pessoas/apto . 20 aptos → 100 pessoas

Cd = P . q = 100 . 200 l/dia → Cd = 20 000 l/dia

CR = 2 Cd → CR = 2 . 20 000 → CR = 40 000 l

CR (superior) = (0,4 . 40 000) + 10 000 l → CR (superior) = 26 000 l

CR (inferior) = 0,6 × 40 000 → CR (inferior) = 24 000 l

3. Tipos de Reservatórios

Serão exemplificados a seguir.

3.1. Reservatórios Moldados in Loco

São considerados moldados in loco os reservatórios executados na própria obra.


Podem ser de concreto armado, alvenaria etc. São utilizados, geralmente, para grandes
reservas e são construídos conjuntamente com a estrutura da edificação, seguindo o
projeto específico. São encontrados em dois formatos: o cilíndrico e o de paralelepípedo.

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Aula 6 – Reservatórios
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

A quantidade de água que o reservatório vai receber, deve estar de acordo com o
projeto do empreendimento, assegurando uma reserva de emergência e de incêndio nas
células instaladas dentro do reservatório.

Os reservatórios de concreto devem ser executados de acordo com a NBR 6118 -


Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento. Alguns cuidados com a
impermeabilização também são importantes. Para tanto, deve ser consultada a NBR 9575 -
Impermeabilização - Seleção e Projeto.

Para o dimensionamento dos reservatórios moldados in loco, utiliza-se a fórmula:

V=A.h

Onde:

V é o volume → capacidade do reservatório (m³);


A é a área do reservatório (m²);
h é a altura do reservatório (m).

3.2. Reservatórios Industrializados

Os reservatórios industrializados são construídos basicamente de fibrocimento, metal,


polietileno ou fibra de vidro. Normalmente, são usados para pequenas e médias reservas
(capacidade máxima em torno de 1000 litros a 2000 litros). Em casos extraordinários,

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Aula 6 – Reservatórios
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

podem ser fabricados sob encomenda para grandes reservas (principalmente os


reservatórios de aço).

Os reservatórios de fibra de vidro e de PVC vêm sendo muito utilizados nas instalações
prediais devido a algumas vantagens que apresentam em relação aos demais reservatórios:
em função de sua superfície interna ser lisa, acumulam menos sujeira que os demais, sendo,
portanto, mais higiênicos; são mais leves e têm encaixes mais precisos, além da facilidade
de transporte, instalação e manutenção. Outra vantagem desses reservatórios é que são
fabricados também para médias e grandes reservas, ocupando muito menos espaço que os
convencionais de menor capacidade. Na compra de um reservatório industrializado, devem-
se verificar sempre as especificações das normas pertinentes. As normas da ABNT para
caixas d’água plásticas são: NBR 14799 – Reservatório poliolefínico para água potável -
Requisitos; NBR 14800 – Reservatório poliolefínico para água potável - Instalações em obra.

Os reservatórios domiciliares devem: ser providos obrigatoriamente de tampa que


impeça a entrada de animais e corpos estranhos; preservar os padrões de higiene e
segurança ditados pelas normas; ter especificação para recebimento relativa a cada tipo de
material, inclusive métodos de ensaio. Na instalação, devem ser tomados alguns cuidados
especiais. A caixa d’água deve ser instalada em local ventilado e de fácil acesso para
inspeção e limpeza. Recomenda-se um espaço mínimo em torno da caixa de 60 cm,
podendo chegar a 45 cm para caixas de até 1000 litros. O reservatório deve ser instalado
sobre uma base estável, capaz de resistir aos esforços sobre ela atuantes. A base,
preferencialmente de concreto, deve ter a superfície plana, rígida e nivelada sem a presença
de pedriscos pontiagudos capazes de danificar a caixa; a furação também é importante:
além de ferramentas apropriadas, o instalador deve verificar os locais indicados pelo
fabricante antes de começar o procedimento.

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Aula 6 – Reservatórios
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

4. Posicionamento de Reservatórios

4.1. Altura dos Reservatórios

A altura do reservatório é determinante no cálculo das pressões dinâmicas nos pontos


de consumo. Dessa maneira, independentemente do tipo de reservatório adotado
(industrializado ou moldado in loco), deve-se posicioná-lo a uma determinada altura, para
que as peças de utilização tenham um funcionamento perfeito. A altura do barrilete deve
ser calculada e, depois, compatibilizada com a altura estabelecida no projeto arquitetônico.
É importante lembrar que a pressão não depende do volume de água contido no
reservatório, e sim da altura. Para estes cálculos, são utilizadas as equações da primeira
unidade.

4.2. Localização

Além da altura, a localização inadequada do reservatório no projeto arquitetônico


também pode interferir na pressão da água nos pontos de utilização. Isso se deve às perdas
de carga (a ser estudado em dimensionamento) que ocorrem durante o percurso da água na

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Aula 6 – Reservatórios
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

rede de distribuição. Quanto maior a perda de carga em uma canalização, menor a pressão
dinâmica nos pontos de utilização.

Dessa maneira, deve-se diminuir o número de conexões, além de encurtar o


comprimento das canalizações sempre que possível, caso se pretenda aumentar a pressão
no início das colunas e nos pontos de utilização.

O reservatório deve ser localizado o mais próximo possível dos pontos de consumo,
para que não ocorra perda de cargas exagerada nas canalizações, o que acarretaria uma
diminuição da pressão nos pontos de utilização.

Na Figura a seguir, observa-se um posicionamento distante do reservatório superior


em relação aos pontos de consumo. Levando em consideração os conceitos de perda de
carga, quando esse posicionamento é inevitável, por razões arquitetônicas ou estruturais,
deve-se posicionar o reservatório a uma determinada altura, para compensar essas perdas,
para que não ocorra um comprometimento das pressões dinâmicas nos pontos de
utilização.

O ideal seria localizá-lo em uma posição equidistante dos pontos de consumo,


diminuindo, consequentemente, as perdas de carga e a altura necessária para compensar
essas perdas. Cabe ao arquiteto compatibilizar os aspectos técnicos para o posicionamento
da caixa-d’água e sua proposta arquitetônica.

O reservatório e seus equipamentos também devem ser localizados de modo


adequado em função de suas características funcionais, tais como: espaço, iluminação,
ventilação, proteção sanitária, operação e manutenção.

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Aula 6 – Reservatórios
UNIDADE 2 – RESERVAÇÃO DE ÁGUA FRIA

5. A Influência dos Reservatórios na Qualidade da Água

Todo reservatório deve ser construído com material adequado, para não comprometer
a potabilidade da água.

Mesmo assim, um dos principais inconvenientes do uso dos reservatórios, além do


custo adicional, é de ordem higiênica, pela facilidade de contaminação, principalmente para
os usuários que se localizam próximos de locais específicos da rede de distribuição, como
pontas de rede, onde, em geral, a concentração de cloro residual é, muitas vezes,
inexistente.

Em geral, a localização imprópria do reservatório, a negligência do usuário em relação


à sua conservação, a falta de cobertura adequada e de limpezas periódicas são os principais
fatores que contribuem para a alteração da qualidade da água.

É extremamente importante a limpeza periódica do reservatório (pelo menos duas


vezes ao ano), para garantir a potabilidade da água, a qual pode ser veículo direto ou
indireto para transmissão de doenças. Para essa limpeza, deve-se obedecer aos seguintes
requisitos:

• Fechar o registro de entrada de água no reservatório e abrir todas as torneiras


da edificação, deixando que a água escoe por todos os canos existentes;
• À medida que a água escoar, realizar uma limpeza física (retirada de lodo e
outros materiais), escovando o fundo e as paredes da caixa com uma escova
reservada exclusivamente para essa finalidade;
• Abrir o registro de entrada de água e fechar o registro geral de distribuição
para encher novamente o reservatório;
• Realizar a desinfecção, utilizando produtos à base de cloro (normalmente se
adiciona 1 litro de hipoclorito de sódio a 11% para cada 1000 litros de água);
• Tampar o reservatório e deixar essa solução agir durante uma hora (durante
esse período, não se deve utilizar a água para consumo);
• Realizada a desinfecção, abrir o registro geral e todas as torneiras, para
esvaziar o reservatório, deixando a solução de cloro escoar por todos os canos
da instalação;
• Antes de utilizar a água para consumo, encher novamente o reservatório com
água limpa e voltar a esvaziá-lo, para eliminar os resíduos de cloro;
• Encher novamente o reservatório para uso normal.

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Aula 7 – Rede de Distribuição
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Unidade 3 – Distribuição de Água Fria

Aula 7: Rede de Distribuição

A rede de distribuição de água fria é constituída pelo conjunto de canalizações que interligam
os pontos de consumo ao reservatório da edificação. Para traçar uma rede de distribuição, é
sempre aconselhável fazer uma divisão dos pontos de consumo. Dessa forma, os pontos de
consumo do banheiro devem ser alimentados por uma canalização, e os pontos de consumo
da cozinha e da área de serviço por outra, por exemplo.

1. Constituintes do Sistema

A citação acima se dá por dois motivos: canalização mais econômica e uso não
simultâneo. Quanto menor for o número de pontos de consumo de uma canalização, tanto
menor será seu diâmetro e, consequentemente, seu custo.

1.1. Barrilete

Barrilete é o conjunto de tubulações que se origina no reservatório e do qual se


derivam as colunas de distribuição. O barrilete pode ser: concentrado ou ramificado. O tipo

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Aula 7 – Rede de Distribuição
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

concentrado tem a vantagem de abrigar os registros de operação em uma área restrita,


facilitando a segurança e o controle do sistema, possibilitando a criação de um local
fechado, embora de maiores dimensões. O tipo ramificado é mais econômico, possibilita
uma quantidade menor de tubulações junto ao reservatório, os registros são mais
espaçados e colocados antes do início das colunas de distribuição.

1.2. Colunas, Ramais e Sub-ramais

As colunas de distribuição de água fria derivam do barrilete, descem na posição


vertical e alimentam os ramais nos pavimentos que, por sua vez, alimentam os sub-ramais
das peças de utilização. Cada coluna deverá conter um registro de gaveta posicionado à
montante do primeiro ramal.

Deve-se utilizar coluna exclusiva para válvulas de descarga para evitar interferências
com os demais pontos de utilização. Entretanto, devido à economia, muitos projetistas
utilizam a mesma coluna, que abastece a válvula para alimentar as demais peças de
utilização. Isso deve ser evitado, principalmente, quando se utilizar aquecedor de água,
jamais ligá-lo a ramal servido por coluna que também atenda a ramal com válvula de
descarga, pois o golpe de aríete acabará por danificar o aquecedor.

A norma NBR 5626 recomenda que nos casos de instalações que contenham válvulas
de descarga, a coluna de distribuição deverá ser ventilada. Porém, é recomendável a
ventilação da coluna independentemente de haver válvula de descarga na rede*. A
ventilação é importante para evitar a possibilidade de contaminação da instalação devido
ao fenômeno chamado retrossifonagem. Outra razão para ventilar a coluna de distribuição

61
Aula 7 – Rede de Distribuição
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

é que nas tubulações sempre ocorrem bolhas de ar, que normalmente acompanham o fluxo
de água, causando a diminuição das vazões das tubulações. Com a ventilação da coluna
essas bolhas serão expelidas, melhorando o funcionamento das peças de utilização.
Também no caso de esvaziamento da rede por falta de água e, quando volta a mesma a
encher, o ar fica “preso”, dificultando a passagem da água. Neste caso, a ventilação
permitirá a expulsão do ar acumulado.

1.3. Materiais

Uma escolha adequada dos materiais, dispositivos e peças de utilização é condição


básica para o bom funcionamento das instalações, pois, mesmo existindo um bom projeto,

62
Aula 7 – Rede de Distribuição
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

na etapa de construção poderá ocorrer uma série de erros que pode comprometer a
qualidade da construção.

O conhecimento de alguns aspectos tecnológicos das instalações prediais, visando à


sua adequação aos sistemas construtivos, é de fundamental importância para o projetista.

Para a escolha dos materiais, também é importante a observância da NBR 5626, que
fixa as condições exigíveis, a maneira e os critérios pelos quais devem ser projetadas as
instalações prediais de água fria, para atender às exigências técnicas de higiene, segurança,
economia e conforto dos usuários.

Existem vários componentes empregados nos sistemas prediais de água fria: tubos e
conexões, válvulas, registros, hidrômetros, bombas, reservatórios etc. Os materiais mais
comumente utilizados nos tubos são: cloreto de polivinila (PVC rígido), aço galvanizado e
cobre.

Normalmente, as tubulações destinadas ao transporte de água potável são executadas


com tubos de plástico (PVC), imunes à corrosão. Existem vários fabricantes de tubos e
conexões de PVC. Para uso em instalações prediais de água fria, utilizam-se dois tipos: o PVC
rígido soldável marrom, com diâmetros externos que variam de 20 mm a 110 mm, e o PVC
rígido roscável branco, com diâmetros que vão de ½” a 4”.

As principais vantagens dos tubos e conexões de PVC em relação aos outros materiais
são: leveza e facilidade de transporte e manuseio; durabilidade ilimitada; resistência à
corrosão; facilidade de instalação; baixo custo e menor perda de carga. As principais
desvantagens são: baixa resistência ao calor e degradação por exposição prolongada ao sol.

Os tubos metálicos apresentam como vantagens: maior resistência mecânica; menor


deformação; resistência a altas temperaturas (não entram em combustão nas temperaturas
usuais de incêndio). As desvantagens são: suscetíveis à corrosão; possibilidade de alteração
das características físico-químicas da água pelo processo de corrosão e de outros resíduos;
maior transmissão de ruídos ao longo dos tubos; maior perda de pressão

Os tubos e conexões de ferro galvanizado, geralmente, são utilizados em instalações


aparentes e nos sistemas hidráulicos de combate a incêndios. As conexões, principalmente
os cotovelos, são muito utilizadas nos pontos de torneira de jardim, pia, tanque etc. por
serem mais resistentes.

Os tubos e conexões de cobre são tradicionalmente utilizados nas instalações de água


quente, mas também podem ser utilizados nas de água fria. As tubulações de cobre

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Aula 7 – Rede de Distribuição
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

proporcionam menores diâmetros no dimensionamento, entretanto seu custo é maior que


as de PVC.

Qualquer que seja o material escolhido para a instalação, é importante verificar se


obedecem a alguns parâmetros fixados pelas normas brasileiras. Portanto, ao comprar
tubos e conexões, deve-se verificar se eles contêm a marcação com o número da norma
ABNT correspondente e a marca do fabricante.

A falta de observância das normas, bem como deficiências no material e na mão de


obra, aliada à eventual negligência dos projetistas e construtores, pode comprometer a
qualidade da obra e gerar vícios construtivos.

1.4. Controladores de Fluxo

São dispositivos destinados a controlar, interromper e estabelecer o fornecimento da


água nas tubulações e nos aparelhos sanitários. Normalmente, são confeccionados em
bronze, ferro fundido, latão e PVC, satisfazendo as especificações das normas vigentes.

Os mais importantes dispositivos controladores de fluxo utilizados nas instalações


hidráulicas são:

• Torneiras;
• Misturadores;
• Registros de gaveta (que permitem a abertura ou fechamento de passagem
de água por tubulações);
• Registros de pressão (utilizados em pontos onde se necessita de regulagem de
vazão, como chuveiros, duchas, torneiras etc.);
• Válvulas de descarga (presentes nas instalações de bacias sanitárias);
• Válvulas de retenção (utilizadas para que a água flua somente em um
determinado sentido na tubulação);
• Válvulas de alívio ou redutoras de pressão (que mantêm constante a pressão
de saída na tubulação, já reduzida a valores adequados).

2. Instalações e seus Desenhos

2.1. Instalações de Registros

Depois de escolher o modelo de registro adequado ao tipo de tubulação da instalação


(soldável ou roscável) o projetista deve estudar o posicionamento e altura de cada registro
dentro do compartimento.

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Aula 7 – Rede de Distribuição
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

A altura padrão do registro de gaveta é de 180 cm em relação ao piso acabado. O seu


posicionamento na parede depende do detalhe isométrico de água fria e quente e das
interfaces com o leiaute do compartimento.

A colocação de registros de pressão dentro do box deve ser estudada de maneira que
os registros do chuveiro possam ser abertos e fechados sem que a pessoa se molhe. Isso é
muito importante principalmente no inverno, quando a água fria causa maior desconforto.
A altura ideal desses registros deve estar compreendida entre 100 e 110 cm em relação ao
piso acabado.

Com relação ao registro de pressão para banheira de hidromassagem, a altura é


variável, pois depende das dimensões especificadas pelo fabricante. Além disso, o arquiteto
pode posicionar a banheira em um nível mais alto do que o nível do piso do banheiro.

2.2. Layouts

Os desenhos das instalações baseiam-se no projeto arquitetônico; portanto, um


projeto bem resolvido, com as peças sanitárias e os equipamentos corretamente definidos e
localizados, pontos de água devidamente cotados com a utilização do sistema de eixos
longitudinais e transversais, ao longo das paredes e/ou pilares, é condição básica para que
se consiga um leiaute adequado para a futura elaboração do projeto de instalações.

65
Aula 7 – Rede de Distribuição
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Os desenhos dos projetos das instalações devem seguir basicamente as normas


brasileiras para desenho técnico, no geral, atendendo também às especificidades de cada
projeto: água fria, água quente, incêndio, esgoto e águas pluviais.

Atualmente, existem diversos programas computadorizados no mercado, que auxiliam


a elaboração dos projetos de hidráulica e seu desenho, inclusive as perspectivas
isométricas.

66
Aula 7 – Rede de Distribuição
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

2.3. Detalhes Isométricos

Para melhor visualização da rede de distribuição de água fria, desenham-se os


compartimentos sanitários em perspectiva isométrica. Os detalhes isométricos, geralmente,
são elaborados nas escalas 1:20 ou 1:25. Desenham-se com traços finos os contornos das
paredes e marca-se a posição das portas e janelas. As cotas são dispensáveis.

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Aula 7 – Rede de Distribuição
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Os aparelhos sanitários são representados por suas convenções em traços de maior


espessura, bem como as tubulações, os registros e outros detalhes. A seguir é apresentado
um roteiro simplificado para o desenho de isométricos.

a) Traça-se a planta cega do compartimento com esquadro de 60°.


b) Locam-se os eixos dos pontos de consumo de água (lavatório, bacia sanitária,
ducha higiênica, chuveiro etc.).
c) Traça-se uma linha pontilhada do eixo das peças até a altura dos pontos de
consumo.
d) Traçam-se os ramais internos, unindo os pontos de consumo.
e) Indicam-se, nos ramais e sub-ramais, os diâmetros correspondentes.

2.4. Altura dos Pontos

O posicionamento dos pontos de entrada de água e a posição de registros e outros


elementos pode variar em função de determinados modelos de aparelhos. Porém, as
alturas mais utilizadas para diversos tipos de aparelhos são:

A seguir seguem demonstrados alguns exemplos dos principais detalhes isométricos de


projetos.

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Aula 7 – Rede de Distribuição
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

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Aula 7 – Rede de Distribuição
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

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Aula 7 – Rede de Distribuição
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

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Aula 7 – Rede de Distribuição
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

Aula 8: Dimensionamento

A NBR 5626 fixa as exigências e os critérios para o dimensionamento das canalizações de água
fria. Cada peça de utilização necessita de uma determinada vazão para um perfeito
funcionamento. Essas vazões estão relacionadas empiricamente com um número
convencionado de peso das peças. Esses pesos, por sua vez, têm relação direta com os
diâmetros mínimos necessários para o funcionamento das peças.

1. Tabelas e Ábacos

Tendo em vista a conveniência sob o aspecto econômico, toda a instalação de água fria
deve ser dimensionada trecho a trecho. O dimensionamento do barrilete, assim como das
colunas, dos ramais de distribuição e dos sub-ramais que alimentam as peças de utilização,
deverá ser feito por trechos por meio de tabelas apropriadas. Em virtude de as tubulações
serem dimensionadas como condutos forçados, é necessário que fiquem perfeitamente
definidos no projeto hidráulico, para cada trecho da canalização, os quatro parâmetros
hidráulicos do escoamento: vazão, velocidade, perda de carga e pressão. Portanto, para o
dimensionamento das canalizações de água fria, é primordial a elaboração de um projeto
hidráulico.

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Aula 8 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

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Aula 8 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Exemplo: Calcular os diâmetros das tubulações de uma instalação de água fria que
abastece as seguintes peças de utilização: 1 bacia sanitária com válvula de descarga, 1
ducha higiênica, 1 lavatório (torneira ou misturador, 1 chuveiro elétrico, 1 pia (torneira ou
misturador), 1 tanque e 1 torneira de jardim.

Cada trecho (ramal) terá o peso e seu diâmetro correspondente, em função dos
aparelhos que alimentam, conforme mostra a Tabela abaixo.

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

Quanto aos sub-ramais (trechos que alimentam cada peça de utilização


separadamente), verifica-se o peso de cada peça e seu diâmetro correspondente.

2. Pressões Máximas e Mínimas

Nas instalações prediais, consideram-se três tipos de pressão: a estática (pressão nos
tubos com a água parada), a dinâmica (pressão com a água em movimento) e a pressão de
serviço (pressão máxima que se pode aplicar a um tubo, conexão, válvula ou outro
dispositivo, quando em uso normal).

As pressões são medidas em kgf/cm² (quilograma força por centímetro quadrado),


entretanto existem outras formas de expressar medidas de pressão; a mais usual nas
instalações prediais de água fria é o m.c.a (metro de coluna d’água). Com relação à
equivalência entre ambas, 1 kgf/cm² é a pressão exercida por uma coluna d’água de 10 m
de altura.

O Brasil adota o Sistema Internacional de Medidas, segundo o qual a unidade de


pressão é o Pa (pascal).

2.1. Pressão Estática

Com relação à pressão estática, a norma NBR 5626 diz o seguinte: “Em uma instalação
predial de água fria, em qualquer ponto, a pressão estática máxima não deve ultrapassar 40
m.c.a. (metros de coluna d’água).”

Isso significa que a diferença entre a altura do reservatório superior e o ponto mais
baixo da instalação predial não deve ser maior que 40 metros.

Uma pressão acima desse valor ocasionará ruído, golpe de aríete e manutenção
constante nas instalações. Dessa maneira, devem-se tomar alguns cuidados com edifícios
com mais de 40 m de altura, normalmente edifícios com mais de treze pavimentos

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Aula 8 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

convencionais (pé-direito de 3 m × 13 = 39 m). Como, então, projetar uma instalação de


água fria em um edifício com mais de 40 metros de altura?

A solução mais utilizada pelos arquitetos e projetistas, por ocupar menos espaço, é o
uso de válvulas redutoras de pressão. Esses dispositivos reguladores de pressão
normalmente são instalados no subsolo do prédio.

O valor da pressão estática menos as perdas de cargas distribuídas e localizadas


corresponde ao valor da pressão dinâmica.

2.2. Pressão Dinâmica

Com relação à pressão dinâmica, de acordo com a NBR 5626, em qualquer ponto da
rede predial de distribuição, a pressão da água em regime de escoamento não deve ser
inferior a 0,50 m.c.a. Esse valor visa a impedir que o ponto crítico da rede de distribuição,
geralmente o ponto de encontro entre o barrilete e a coluna de distribuição, possa obter
pressão negativa.

Por outro lado, uma pressão excessiva na peça de utilização tende a aumentar
desnecessariamente o consumo de água. Portanto, em condições dinâmicas, os valores das
pressões nessas peças devem ser controlados, para resultarem próximos aos mínimos
necessários.

Para que as peças de utilização tenham um funcionamento perfeito, a pressão da água


nos pontos de utilização (pressão dinâmica) não deve ser inferior a 1 m.c.a., com exceção do
ponto da caixa de descarga, onde a pressão pode ser menor, até um mínimo de 0,50 m.c.a.

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

O fabricante deve definir os valores limites da pressão dinâmica para as peças de utilização
de sua produção, respeitando sempre as normas específicas.

2.3. Pressão de Serviço

Com relação à pressão de serviço, a norma NBR 5626 fala o seguinte:

“o fechamento de qualquer peça de utilização não pode provocar sobrepressão em


qualquer ponto da instalação que seja maior que 20 m.c.a. acima da pressão estática nesse
ponto”.

Isso significa que a pressão de serviço não deve ultrapassar a 60 m.c.a., pois é o
resultado da máxima pressão estática (40 m.c.a.) somada à máxima sobrepressão (20
m.c.a.).

Alguns profissionais da construção civil que executam instalações em prédios com


grandes alturas utilizam tubos metálicos, pensando que estes são mais resistentes que os
tubos de PVC. É importante ressaltar que o conceito de pressão máxima independe do tipo
de tubulação, pois a norma não faz distinção quanto ao tipo de material. Dessa forma, a
pressão estática máxima de 40 m.c.a. deve ser obedecida em qualquer caso, independente
dos materiais dos tubos (PVC, cobre ou ferro) que serão utilizados nas instalações de água
fria e quente.

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Aula 8 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

2.4. Dispositivos Controladores de Pressão

As peças de utilização são projetadas de modo a funcionar com pressões estática ou


dinâmica (máximas e mínimas) preestabelecidas pelos fabricantes dos tubos, dispositivos e
aparelhos sanitários. Portanto, uma das maiores preocupações nas redes hidráulicas é a
pressão nos pontos de utilização.

Atualmente, existem no mercado dispositivos que elevam ou reduzem a pressão da


água nas canalizações. Quando falta pressão na rede, o pressurizador é um recurso
eficiente; quando a pressão é elevada (acima de 40 m.c.a), utilizam-se válvulas reguladoras
de pressão.

2.4.1. Pressurizador

Um dos problemas mais comuns em todo tipo de edificação é a falta de pressão de


água do reservatórios. Para resolvê-lo, geralmente são utilizados pressurizadores para
aumentar e manter a pressão nas redes. Além do custo reduzido, esses dispositivos
praticamente não exigem manutenção. São encontrados em diversos modelos no mercado
e podem ser utilizados: em residências, apartamentos, hotéis, motéis, hospitais,
restaurantes etc. Também podem ser utilizados em indústrias, para alimentar máquinas,
equipamentos etc., dispensando a construção de torres para caixa-d’água. No meio rural,
para o abastecimento de residências, irrigação etc.

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

Cada modelo apresenta suas vantagens. Antes de escolher o equipamento, no


entanto, deve-se consultar os catálogos dos fabricantes e os revendedores autorizados.

Alguns fabricantes mais conscienciosos recomendam alguns cuidados com relação à


instalação desses equipamentos, principalmente quanto à localização e à prevenção de
ruídos.

O pressurizador deverá estar localizado o mais distante possível de locais onde é


necessário silêncio (dormitórios, escritórios, salas de reunião). Para que não haja ruído
devido a vibrações, deverá ser evitada a instalação diretamente sobre lajes, principalmente
sobre as de grandes dimensões e pequena espessura – quando for colocado sobre lajes,
deverá haver base provida de amortecedores.

2.4.2. Válvulas Redutoras de Pressão

Nos edifícios mais altos, o reservatório de água instalado sobre a cobertura,


geralmente sobre a caixa de escada, gera diferentes pressões.

Quanto maior a diferença de cota do ramal em relação ao reservatório, maior a


pressão. Isso implica dizer que, nos pavimentos mais baixos, maior será a pressão da água
nos pontos de consumo.

Quando a pressão na rede predial for alta demais, particularmente nos edifícios com
mais de treze pavimentos (considerando-se um pé-direito de 3 m), com pressão estática
acima de 40 m.c.a, utilizam-se válvulas automáticas de redução de pressão, as quais
substituem os reservatórios intermediários, que reduzem a pressão da rede hidráulica a
valores especificados em projeto. Em geral, os edifícios possuem uma estação central de
redutores de pressão, com dois equipamentos de grande porte instalados (de 2” a 3”). A
válvula redutora de pressão (VRP) pode ser instalada a meia altura do prédio ou no subsolo.

Para prédios que adotam a medição individualizada de água adota-se a instalação de


um redutor de pressão, de menor porte para limitar e regular a entrada de água nos vários
pavimentos do edifício, a fim de que cada apartamento receba a água com pressão
adequada, normalmente 3 bar. Cada bar de pressão equivale a 1 kgf/cm2 ou 10 m.c.a. Além
de diminuir a pressão, os redutores otimizam o consumo de água e evitam o desgaste
prematuro das instalações hidráulicas.

Embora a norma não faça distinção sobre qual ou quais materiais devem compor as
instalações com pressão estática acima de 40 m.c.a, devem-se adotar tubos mais resistentes
e tomar cuidados redobrados quanto às emendas e conexões.

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Aula 8 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

3. Velocidade da Água

A NBR 5626 (ABNT) recomenda que as tubulações sejam dimensionadas de modo que
a velocidade da água, em qualquer trecho, não ultrapasse valores superiores a 3 m/s. Acima
desse valor, ocorre um ruído desagradável na tubulação, devido à vibração das paredes
ocasionada pela ação do escoamento da água.

As instalações de água fria devem ser projetadas e executadas de maneira a atender às


necessidades de conforto do usuário, com relação aos níveis de ruído produzidos ou
transmitidos pela própria instalação, bem como evitar que as vibrações venham a provocar
danos à instalação.

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Aula 8 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

A transmissão do ruído em instalações prediais de água fria é bastante complexa,


porém essa ocorrência, assim como de vibrações, está bastante associada a edifícios altos e
instalações pressurizadas. A movimentação da água (sob pressão relativamente elevada)
nas tubulações, nos aparelhos hidráulicos (válvulas de descarga, conexões, torneiras,
torneiras de boia, bombas de recalque, peças de utilização etc.) e em bombas de recalque
gera ruído de impacto, que se propaga pela canalização e, daí, pela estrutura e pelas
paredes (elementos normalmente solidários), que, por sua vez, irradiam o ruído para as
adjacências, incomodando os ocupantes da edificação. Em alguns projetos, os cuidados com
relação aos níveis de ruído devem ser redobrados, sendo necessário um tratamento
acústico para os locais.

Um fenômeno muito conhecido, que ocorre, principalmente, nos prédios mais antigos
e causa ruídos extremamente desagradáveis, é o “golpe de aríete”. Ele acontece quando a
água, ao descer com muita velocidade pela canalização, é bruscamente interrompida,
ficando os equipamentos e a própria canalização sujeitos a choques violentos.

Para amenizar esse problema, podem ser usados alguns recursos, como válvulas de
descarga e registros com fechamento mais suave, limitação da velocidade nas tubulações
etc. Principalmente em prédios, é preferível utilizar caixas de descarga, pois além de
consumirem menor quantidade de água, não provocam golpe de aríete.

O uso de tecnologias construtivas mais novas pode ajudar em outros casos. O


polietileno, por exemplo, por ser menos rígido e permitir que a água passe por trajetos
curvos de forma mais suave, tende a diminuir os ruídos. Existem também outras medidas
simples, que podem minimizar, ou até mesmo resolver, o problema dos ruídos – projetar as
instalações de forma que as prumadas não passem por paredes de ambientes com mais
exigência de ocupação, por exemplo.

Para conforto dos moradores com relação aos níveis de ruído provocados pelas
instalações, uma distribuição correta dos cômodos também é de fundamental importância.
A seguir, são apresentadas algumas recomendações construtivas, que devem ser
observadas para evitar ou impedir o aparecimento de ruído nas edificações.

• Locar as peças de utilização na parede oposta à contígua aos ambientes


habitados ou, na impossibilidade disso, utilizar dispositivos antirruído nas
instalações;

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

• Não utilizar tijolos vazados de cerâmica ou concreto nas paredes que


suportem (ou tragam embutidas) tubulações de água de alimentação com
ramais para válvula de descarga ou sob pressurização pneumática;
• Deixar um recobrimento mínimo de 50 mm (tijolo maciço, argamassa, ou
tijolo + argamassa) na face voltada para dormitórios, sala de estar, sala
íntima, escritórios e home theater;
• Utilizar vasos sanitários acoplados à caixa de descarga, em vez de válvulas de
descarga.

4. Perda de Carga nas Canalizações

Quando um fluido escoa, existe um movimento relativo entre suas partículas,


resultando daí um atrito entre elas. Essa energia é dissipada sob a forma de calor. Assim, a
perda de carga em uma canalização pode ser entendida como a diferença entre a energia
inicial e a energia final de um líquido, quando ele flui em uma canalização de um ponto ao
outro.

As perdas de carga poderão ser: distribuídas (ocasionadas pelo movimento da água na


tubulação) ou localizadas (ocasionadas por conexões, válvulas, registros etc.).

Dois fatores são determinantes para que ocorra uma maior ou menor perda de carga:
a viscosidade e a turbulência. Portanto, maior comprimento de tubos, maior número de
conexões, tubos mais rugosos e menores diâmetros geram maiores atritos e choques e,
consequentemente, maiores perdas de carga e menor pressão nas peças de utilização.

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Aula 8 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

É importante lembrar que na prática não existe escoamento em tubulações sem perda
de carga. O que deve ser feito é reduzi-la aos níveis aceitáveis para que não ocorra uma
diminuição de pressão nas peças de utilização. Os tubos de PVC, por terem paredes mais
lisas, oferecem menores perdas de carga.

4.1. Cálculo da Perda de Carga e Pressão Dinâmica

Para calcular a pressão dinâmica em qualquer ponto da instalação se faz necessário


calcular as perdas de carga do sistema (distribuídas e localizadas).

As perdas distribuídas (ao longo de um tubo) dependem do seu comprimento e


diâmetro interno, da rugosidade da sua superfície interna e da sua vazão. De acordo com a
NBR 5626, “para calcular o valor da perda de carga nos tubos, recomenda-se utilizar a
equação universal, obtendo-se os valores das rugosidades junto aos fabricantes dos tubos”.
Na falta dessas informações podem ser utilizadas as expressões de Fair-Whipple-Hsiao
indicadas a seguir:

Para tubos rugosos (tubos de aço carbono, galvanizado ou não):

J = 20,2 . 106 . Q1,88 . d–4,88

Para tubos lisos (tubos de plástico, cobre ou liga de cobre):

J = 8,69 . 106 . Q1,75 . d–4,75

Onde:

J é a perda de carga unitária, em quilopascals por metro;


Q é a vazão estimada na seção considerada, em litros por segundo;
d é o diâmetro interno do tubo, em milímetros.

As perdas localizadas (perdas pontuais), ocorridas nas conexões, registros etc. pela
elevação da turbulência da água nesses locais são obtidas através da Tabela de Perda de
Carga Localizada NBR 5626 que fornece as perdas localizadas, diretamente em
“comprimento equivalente de canalização”.

Portanto, a perda de carga total do sistema será a somatória das perdas distribuídas e
localizadas.

Para calcular a pressão dinâmica em qualquer ponto da instalação, utiliza-se a seguinte


fórmula:

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

Pd = P e – h f

Onde:

Pd é a pressão dinâmica;
Pe é a pressão estática;
hf é a perda de carga total.

Exemplo: Ao analisar o esquema hidráulico da página 78, o memorial descritivo e as


memórias de cálculo referentes ao projeto, observa-se que:

• O nível mínimo de água do reservatório está localizado na cota 40,00 m;


• A perda de carga total entre o reservatório e o chuveiro é de 2,0 m.c.a;
• A pressão mínima recomendada para o funcionamento do chuveiro elétrico é
de 1 m.c.a.

Com base nessas informações, calcular a pressão dinâmica no ponto do chuveiro.

Resolução:

Pd = Pe – hf
Pd = (40,00 – 35,00) – 2,00
Pd = 5,00 – 2,00
Pd = 3 m.c.a

Observação: Quando a pressão no ponto do chuveiro for inferior a 1 m.c.a, o projetista


deve adotar algumas medidas, tais como: aumentar a altura do reservatório, diminuir as
perdas de cargas ou pressurizar a rede de distribuição.

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Aula 8 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

5. Ábacos e Tabelas Auxiliares

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

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Aula 8 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

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Aula 8 – Dimensionamento
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

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Aula 9 – Captação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Aula 9: Captação

O homem possui dois tipos de fontes para seu abastecimento que são as águas superficiais
(rios, lagos, canais, etc.) e subterrâneas (lençóis subterrâneos). Efetivamente essas fontes não
estão sempre separadas. Em seu deslocamento pela crosta terrestre a água que em
determinado local é superficial pode ser subterrânea em uma próxima etapa e até voltar a ser
superficial posteriormente.

1. Fontes e Tipos

As águas de superfície são as de mais fácil captação e por isso havendo, pois, uma
tendência a que sejam mais utilizadas no consumo humano. No entanto temos que menos
de 5% da água doce existente no globo terrestre encontram-se disponíveis
superficialmente, ficando o restante armazenado em reservas subterrâneas.

Logicamente que nem toda água armazenada no subsolo pode ser retirada em
condições economicamente viáveis, principalmente as localizadas em profundidades
excessivas e confinadas entre formações rochosas.

Quanto a sua dinâmica de deslocamento as águas superficiais são frequentemente


renovadas em sua massa enquanto que as subterrâneas podem ter séculos de acumulação
em seu aquífero, pois sua renovação é muito mais lenta pelas dificuldades óbvias,
principalmente nas camadas mais profundas.

1.1. Tipos de Mananciais

A captação tem por finalidade criar condições para que a água seja retirada do
manancial abastecedor em quantidade capaz de atender o consumo e em qualidade tal que
dispense tratamentos ou os reduza ao mínimo possível. É, portanto, a unidade de
extremidade de montante do sistema.

Chama-se de manancial abastecedor a fonte de onde se retira a água com condições


sanitárias adequadas e vazão suficiente para atender a demanda. No caso da existência de
mais de um manancial, a escolha é feita considerando-se não só a quantidade e a qualidade,
mas também o aspecto econômico, pois nem sempre o que custa inicialmente menos é o

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Aula 9 – Captação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

que convém, já que o custo maior pode implicar em custo de operação e manutenção
menor.

Na escolha de manancial, também deve-se levar em consideração o consumo atual


provável, bem como a previsão de crescimento da comunidade e a capacidade ou não de o
manancial satisfazer a este consumo. Todo e qualquer sistema é projetado para servir, por
certo espaço de tempo, denominado período de projeto. Estes reservatórios podem dos
seguintes tipos: superficiais (rios e lagos), subterrâneos (fontes naturais, galerias filtrantes,
poços) e águas pluviais (superfícies preparadas). Embora, como citado anteriormente, os
mananciais de superfície pareçam de mais fácil utilização, as águas subterrâneas são
aproveitadas desde a antiguidade. Egípcios e chineses já eram peritos na escavação do solo
com a finalidade exclusiva de obterem água, a mais de 2000 anos antes de Cristo. A própria
Bíblia Sagrada do Cristianismo revela fatos como o bíblico poço de José, no Egito, com cerca
de 90 metros de profundidade cavado na rocha, e o gesto de Moisés criando uma fonte na
rocha.

2. Águas Superficiais

Devido a água ser essencial para subsistência humana (nosso organismo necessita ser
reabastecido com cerca de 2,5 litros desse líquido por dia) normalmente temos as
comunidades urbanas formadas às margens de rios ou desembocaduras destes. Quando
estudamos dados geográficos ou históricos das grandes cidades percebemos sua associação
com um ou mais rios, por exemplo, Londres-Tâmisa, Paris-Sena, Roma-Pó, Lisboa-Tejo, Nova
Iorque-Hudson, Buenos Aires-Prata, São Paulo-Tietê, Recife-Capibaribe/Beberibe, Manaus-
Negro, Belém-Amazonas, Teresina-Parnaíba, Natal-Potengi, etc.

2.1. Condições de Captação

As águas superficiais empregadas em sistemas de abastecimento geralmente são


originárias de um curso de água natural. Opções mais raras seriam captações em lagos
naturais ou no mar com dessalinização posterior. As condições de escoamento, a variação
do nível d’água, a estabilidade do local de captação, etc., é que vão implicar em que sejam
efetuadas obras preliminares a sua captação e a dimensão destas obras. Basicamente as
condições a serem analisadas são descritas a seguir.

2.1.1. Quantidade de Água

São três as situações que podemos nos deparar quando vamos analisar a quantidade
de água disponível no possível manancial de abastecimento:

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Aula 9 – Captação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

• A vazão é suficiente na estiagem;


• É insuficiente na estiagem, mas suficiente na média;
• Existe vazão, mas inferior ao consumo previsto.

A primeira situação é a ideal, pois, havendo vazão suficiente continuamente, o


problema seguinte é criar a forma mais conveniente de captação direta da correnteza. Esta
é a forma mais comum onde os rios são perenes (ou perenizados artificialmente).

A segunda hipótese significa que durante determinado período do ano não vamos
encontrar vazão suficiente para cobertura do consumo previsto. Como na média a vazão é
suficiente, então durante o período de cheias haverá um excesso de vazão que se
armazenado adequadamente poderá suprir o déficit na estiagem. Este armazenamento
normalmente é conseguido através das barragens de acumulação que são reservatórios
construídos para acumularem um volume tal que durante a estiagem compensem as
demandas com o volume armazenado em sua bacia hidráulica. Esta é a forma mais
frequente para sistemas com vazões de consumo para comunidades superiores a 5000
habitantes, no interior do Nordeste Brasileiro, onde é comum o esvaziamento completo dos
rios nos períodos de seca.

A terceira situação é a mais delicada quanto ao aproveitamento do manancial. Como


não temos vazão suficiente, a solução mais simplista é procurarmos outro manancial para a
captação. Se regionalmente não podemos contar com outro manancial que supra a
demanda total, então poderemos ser obrigados a utilizarmos mananciais complementares,
ou seja, a vazão a ser fornecida pelo primeiro não é suficiente, mas reunida com a captada
em um manancial complementar (ou em mais de um) viabiliza-se o abastecimento, dentro
das condições regionais. É a situação mais comum no abastecimento dos grandes centros
urbanos.

2.1.2. Qualidade da Água

Na captação de águas superficiais parte-se do princípio sanitário que é uma água


sempre suspeita, pois está naturalmente sujeita a possíveis processos de poluição e
contaminação. É básico, sob o ponto de vista operacional do sistema, captar águas de
melhor qualidade possível, localizando adequadamente a tomada e efetivando-se medidas
de proteção sanitária desta tomada, como por exemplo no caso de tomada em rios, instalar
a captação à montante de descargas poluidoras e da comunidade a abastecer.

Especificamente, as tomadas em reservatórios de acumulação não devem ser tão


superficiais nem também tão profundas, para que não ocorram problemas de natureza

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Aula 9 – Captação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

física, química ou biológica. Superficialmente ações físicas danosas podem ter origem
através de ventos, correntezas (principalmente durante os períodos de enchentes com
extravaso do reservatório) e impactos de corpos flutuantes. Nas partes mais profundas
sempre teremos maior quantidade de sedimentos em suspensão, dificultando ou
encarecendo a remoção de turbidez nos processos de tratamento.

Agentes químicos poderão estar presentes a qualquer profundidade, mas há uma


tendência das águas mais próximas da superfície terem maiores teores de gases dissolvidos
(CO2, por exemplo), de dureza e de ferro e manganês e seus compostos.

Biologicamente, nas camadas superiores da massa de água, temos maior proliferação


de algas. Essa ocorrência dá gosto ruim e odor desagradável a estas águas, dificultando o
tratamento, principalmente em regiões de clima quente e ensolarado. A profundidade desta
lâmina, a partir da superfície livre, dependerá da espessura da zona fótica, que por sua vez
vai depender da transparência da água armazenada, visto que o desenvolvimento algológico
depende da presença de luz no ambiente aquático, isto é, a espessura da camada vai
depender de até onde a luz solar irá penetrar na água. Enquanto isso no fundo dos lagos
gera-se uma massa biológica, chamada de plâncton, que também confere características
impróprias para utilização da água ali acumulada.

2.1.3. Garantia de Funcionamento

Para que não haja interrupções imprevistas no sistema decorrentes de problemas na


captação, devemos identificar com precisão, antes da elaboração do projeto da captação, as
posições do nível mínimo para que a entrada de sucção permaneça sempre afogada e do
nível máximo para que não haja inundações danosas às instalações de captação. A
determinação da velocidade de deslocamento da água no manancial também é de suma
importância para dimensionamento das estruturas de captação que estarão em contato
com a correnteza e ondas e sujeitas a impactos com corpos flutuantes.

Além da preocupação com a estabilidade das estruturas, proteção contra correntezas,


inundações, desmoronamentos, etc., devemos tomar medidas que não permitam
obstruções com a entrada indevida de corpos sólidos, como peixes, por exemplo. Esta

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Aula 9 – Captação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

proteção é conseguida com emprego de grades, telas ou crivos, conforme for o caso,
antecedendo a entrada da água na canalização (figura acima).

2.1.4. Economia nas Instalações

Os princípios básicos da engenharia são a simplicidade, a técnica e a economia. A luz


destes princípios o projeto da captação deve se guiar por soluções que envolvam o menor
custo sem o sacrifício da funcionalidade. Para que isto seja conseguido devemos estudar
com antecedência, a permanência natural do ponto de captação, a velocidade da
correnteza, a natureza do leito de apoio das estruturas a serem edificadas e a vida útil
destas, a facilidade de acesso e de instalação de todas as edificações necessárias (por
exemplo, a estação de recalque, quando for o caso, depósitos, etc.), a flexibilidade física
para futuras ampliações e os custos de aquisição do terreno.

2.1.5. Localização

A princípio, a localização ideal é aquela que possibilite menor percurso de adução


compatibilizado com menores alturas de transposição pela mesma adutora no seu
caminhamento. Partindo deste princípio, o projetista terá a missão de otimizar a situação
através das análises das várias alternativas peculiares ao manancial a ser utilizado.

Para melhor rendimento operacional, é importante que, além das medidas já citadas, a
captação em rios seja em trechos retos, pois nestes trechos há menor possibilidade de
assoreamentos. Quando a captação for em trecho curvo temos que na margem côncava
haverá maior agressividade da correnteza, enquanto que na convexa maiores possibilidades
de assoreamentos, principalmente de areia e matéria orgânica em suspensão. É, portanto,
preferível a captação na margem côncava, visto que problemas erosivos podem ser
neutralizados com proteções estruturais na instalação, enquanto que o assoreamento seria
um problema contínuo durante a operação do sistema.

A captação em barragens deve situar-se o mais próximo possível da maciço de


barramento considerando que nestes locais há maior lâmina disponível, correntezas de
menores velocidades, menor turbidez, condições mais favoráveis para captação por
gravidade, etc.

Em lagos naturais as captações devem ser instaladas, de preferência, em posições


intermediárias entre as desembocaduras afluentes e o local de extravaso do lago.

2.2. Exemplos de Captação

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Aula 9 – Captação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

a) Margens Estáveis

b) Margens Sujeitas à Erosão

c) Margens Instáveis

d) Leito Rochoso com Lâmina Líquida Muito Baixa

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Aula 9 – Captação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Muitos outros modelos são aplicáveis, uns mais e outros menos rebuscados,
dependendo das características do leito e dos reservatórios, como neste exemplo de
captação em reservatório de grande vazão e grande oscilação de nível.

3. Águas Subterrâneas

3.1. Mananciais

Os reservatórios de águas subterrâneas são chamados de lençóis. Essas águas podem


estar acumuladas em dois tipos de lençóis: o freático ou o cativo. O lençol freático
caracteriza-se por está assentado sobre uma camada impermeável de subsolo, rocha por
exemplo, e submetido a pressão atmosférica local. O lençol cativo caracteriza-se por estar
confinado entre duas camadas impermeáveis de crosta terrestre e submetido a uma
pressão superior a pressão atmosférica local.

3.1.1. Captações em Lençol Freático

A captação do lençol freático pode ser executada por galerias filtrantes, drenos, fontes
ou poços freáticos. O emprego de galerias filtrantes é característico de terrenos permeáveis,
mas de pequena espessura (aproximadamente de um a dois metros) onde há necessidade
de se aumentar a área vertical de captação para coleta de maior vazão (Figuras). Estas
galerias em geral são tubos furados, que convergem para um poço de reunião, de onde a

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Aula 9 – Captação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

água é retirada em geral por bombeamento, não sendo incomum outros métodos mais
rudimentares.

Quando o lençol freático é muito superficial, as canalizações coletoras ficam na


superfície ou a pequenas profundidades de aterrramento, então temos os chamados
drenos. Podem ser construídos com tubos furados ou simplesmente com manilhas
cerâmicas não rejuntadas.

As galerias são mais comuns sob leitos arenosos de rios com grande variação de nível,
enquanto que os drenos são mais comuns em áreas onde o lençol é aflorante
permanecendo praticamente no mesmo nível do terreno saturado ou sob leitos arenosos de
rios com pequena variação de nível.

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Aula 9 – Captação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Os poços são mais frequentes porque normalmente o lençol freático tem grande
variação de nível entre os períodos de chuvas, ou seja, durante os períodos de estiagem,
necessitando de maiores profundidades de escavações para garantia da permanência da
vazão de captação. Logicamente as camadas permeáveis também são de espessuras
consideráveis, podendo em algumas situações ser necessário o emprego de captores radiais
partindo da parte mais profunda do poço para que este tenha rendimento mais efetivo.

Os tipos de poços empregados na captação de água do lençol freático são o raso


comum, o amazonas e o tubular. O poço raso, popularmente chamado de cacimba ou
cacimbão, é um poço construído escavando-se o terreno, em geral na forma cilíndrica, com
revestimento de alvenaria ou com peças pré-moldadas (tubulões), com diâmetro da ordem
de um a quatro metros por cinco a vinte de profundidade em média, a depender da posição
do lençol freático. A parte inferior, em contato com o lençol deve ser de pedra arrumada, de
alvenaria furada ou de peças cilíndricas pré-moldadas furadas quando for o caso.
Dependendo da estabilidade do terreno o fundo do poço pode exigir o não revestimento
(Figura).

Para evitar o carreamento de areia para o interior dos poços ou mesmo dos orifícios
pode-se envolver a área de drenagem com uma camada de pedregulho e areia grossa,

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Aula 9 – Captação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

externamente. A retirada da água do seu interior deve ser através de bombeamento por
medida de segurança sanitária, mas para abastecimentos singelos são frequentes o uso de
sarilhos e outras bombas manuais.

O poço amazonas é uma variável do escavado, próprio de áreas onde o terreno é


muito instável por excesso de água no solo (areias movediças). Seu método construtivo é
que o caracteriza, pois sua construção tem de ser executada por pessoal especializado,
empregando peças pré-fabricadas a medida que a escavação vai desenvolvendo-se. Sua
denominação deve-se ao fato de ser muito comum na região amazônica em função de que
os terrenos terem este comportamento, principalmente nas épocas de enchentes. São
poços para pequenas vazões, destinados a abastecerem pequenas comunidades.
Dependendo da vazão solicitada e da capacidade do lençol abastecedor os poços freáticos
podem ser classificados da seguinte maneira:

• Quanto a modalidade de construção:


✓ Escavados (profundidades até 20m, diâmetros de 0,80 a 3,00m,
vazão até 20 l/s);
✓ Perfurados;
✓ Cravados.

• Quanto ao tipo de lençol:


✓ Rasos;
✓ Profundos.

3.1.2. Captação em Lençóis Cativos

A captação de lençóis cativos normalmente é feita através de poços artesianos e, mais


raramente, por fontes de encosta.

NOTA: A designação “artesiano” é datada do século XII, derivada do nome da cidade


de Artois, França, onde historicamente em 1126, foi perfurado com sucesso pela primeira
vez, um poço desta natureza. Um dos poços artesianos mais famosos da história,
principalmente pelos seus registros de sondagens, etapas de perfuração e métodos de
recuperação de ferramentas, é o de Grenelle, próximo a Paris, perfurado de 1833 a 1841,
com 549 metros de profundidade, permaneceu por mais de 15 anos como o mais profundo
do mundo; outro famoso poço próximo a Paris é o de Passy, concluído em 1857, com 0,70 m
de diâmetro e produção de 21.150 m3/dia a uma altura de 16,50 metros acima do solo.

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Aula 9 – Captação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

4. Adução

Adução é o conjunto de encanamentos, peças especiais e obras de arte destinados a


promover o transporte da água em um sistema de abastecimento entre:

• Captação e reservatório de distribuição; captação e ETA (Estação de


Tratamento de Água);
• Captação a rede de distribuição;
• ETA e reservatório;
• ETA e rede;
• Reservatório à rede;
• Reservatório a reservatório.

As características numéricas das Adutoras (vazão, dimensionamento, etc.) são as


mesmas, guardadas as devidas proporções e particularidades, das tubulações em gerais,
portanto, não serão aprofundadas. Elas, basicamente, se classificam assim:

• De acordo com a energia de movimentação do líquido: gravidade, recalque e


mista;
• De acordo com o modo de escoamento do líquido: livre, forçada e mista;
• De acordo com a natureza da água: bruta e tratada (Figura).

4.1. Materiais da Adução

Os materiais empregados nas canalizações de adução costumam ser agrupados em


três categorias principais, a saber, são as Tubulações, Conexões e Peças Especiais.

102
Aula 9 – Captação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

Na realidade estes materiais são utilizados em todas as unidades do sistema, de


acordo com suas características específicas. O projetista deve estar atualizado com as
potencialidades e novidades do mercado, especialmente através de catálogos convencionais
ou eletrônicos dos fabricantes e com as normas técnicas em vigor.

No processo de aprendizagem é fundamental que, além do estudo teórico, haja um


programa de visualização do material em estudo, pois dada a sua grande variedade
estrutural e mercadológica desses materiais, esta etapa metodológica torna-se
indispensável, além das possíveis ilustrações do texto. Uma visita a um almoxarifado de uma
companhia concessionária seria uma sugestão.

4.1.1. Tubulações

As tubulações (canalizações construídas com tubos) são classificadas segundo o


material de fabricação dos tubos, do tipo de junta e da pressão de serviço. Os tubos, as
peças pré-moldadas que vão constituir as canalizações, podem ser de:

• Polietileno de Alta Densidade (PEAD);


• Cloreto de Polivinil (PVC);
• Ferro Fundido Dúctil (FºFº);
• Aço Soldado ou Rebitado;
• Concreto Simples ou Armado;
• Fibra de Vidro;
• Fibrocimento (em desuso).

A escolha do material dos tubos depende primariamente das pressões de serviço (a


pressão interna quando em funcionamento hidráulico) que as tubulações vão ser
submetidas. Além dos diversos materiais, os fabricantes oferecem, para um mesmo
material, diversas opções para pressões de serviço e de ruptura, em geral mediante
condições normalizadas oficialmente. Esses tubos de diferentes resistências estão divididos
em grupos geralmente denominados de classes. Por exemplo: PVC Classe 20 significa que
este tubo deve trabalhar a uma pressão máxima de 10 kgf/cm². Outros aspectos também
podem ser bastante relevantes na especificação do tubo, tais como:

• Facilidade de montagem (transporte, armazenagem, peso, corte, número de


juntas e rapidez na sua execução etc.);
• Resistência aos esforços externos (reaterros, cargas, pancadas acidentais
etc.);
• Funcionamento hidráulico, manutenção e durabilidade;

103
Aula 9 – Captação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

• Custos de aquisição e montagem.

As juntas podem ser do tipo flexível ou elástica com anéis de borracha (as mais
comuns, especialmente para tubulações enterradas), soldadas (para PVC embutidas e com
adesivo próprio), soldadas com solda elétrica em tubulações de aço, e flangeadas, travadas
ou mecânicas para tubos de ferro fundido. Tubos metálicos normalmente são empregados
para trechos de alta pressão e, obrigatoriamente, para trechos expostos e sujeitos a cargas
acidentais.

4.1.1.1. TUBOS DE PVC

Sendo materiais bem mais econômicos e muitas vezes mais adequados que os tubos
metálicos, os tubos de PVC são fabricados a partir de matérias-primas como carvão, cal e
cloreto de sódio. Prova da adequação desse material, tem-se notícia da fabricação, no
exterior uma tubulação com vários quilômetros de extensão, desprovida de junta, o que foi
obtido com o deslocamento da máquina à medida que o conduto ia se formando. O
processo químico que envolve a fabricação do PVC é a seguinte:

Os valores das pressões máximas de serviço decrescem com o aumento da


temperatura na base de 20 % para cada mais 10o C.

Possuem ótima resistência à corrosão, pois sendo compostos por matérias


essencialmente não corrosivos, a tubulações de plástico, são sem dúvida alguma, as que
menos ficam sujeitas ao ataque da água e de terreno agressivos. Todavia, esta afirmação só
é válida para temperaturas até 60 o C no máximo. Vale salientar que esses tubos também
são imunes à corrosão eletrolítica.

As suas paredes lisas beneficiam a sua capacidade de escoamento, sendo, sob as


mesmas condições de trabalho e para mesmo diâmetro, capaz de fornecer uma vazão 1,4
vezes maior que o ferro fundido.

Normalmente são fabricados com juntas elásticas, sendo estas, para 60 e 300 mm de
diâmetro, os mais comuns nos sistemas públicos de abastecimento de água. Essas juntas
compõem-se de um anel de borracha que fica comprimido entre a ponta de um tubo e a
bolsa do outro com o qual se une. Em geral o fabricante passa as seguintes recomendações:

104
Aula 9 – Captação
UNIDADE 3 – DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA FRIA

“Antes da execução da junta, cumpre verificar se a bola, os anéis de borracha e as


extremidades dos tubos a ligar se acham bem secos e limpos (isentos de arei, terra, lama,
óleo, etc.). Realizada a junta, deve-se provocar uma folga de, no mínimo, um centímetro
entre as extremidades, para permitir eventuais deformações, o que será conseguido, por
exemplo, imprimindo à extremidade livre do tubo recém-unido vários movimentos
circulares. Em seguida deve-se verificar a posição dos anéis que devem ficar dentro da sede
para isso disposta. Qualquer material usado pode favorecer o deslocamento nos anéis de
borracha, deverá ter características que não afetem a durabilidade dos mesmo e dos tubos
de PVC rígido”.

4.1.2. Conexões

Estas peças são destinadas a ligarem tubos ou seguimentos de tubos entre si,
permitindo mudanças de direção, derivações, alterações de diâmetros etc., e são fabricadas
nas classes e juntas compatíveis com a tubulação. As mais comuns são:

• Curvas (mudanças de direção);


• Tês (derivação simples);
• Cruzetas derivação dupla;
• Reduções (mudanças de diâmetro);
• Luvas (ligação entre duas pontas);
• Caps (fechamento de extremidades);
• Junções (derivações inclinadas) etc.

4.1.3. Peças Especiais

São peças com finalidades específicas, tais como controle de vazões, esgotamento de
canalizações, retirada de ar ou reenchimento de trechos de tubulação etc. Entre elas as
mais comuns são:

• Registros ou válvulas de manobra para controle do fluxo;


• Válvulas de retenção para impedir retorno do fluxo;
• Ventosas para aliviar o ar das canalizações;
• Crivos par impedir a entrada de material grosseiro nos condutos;
• Válvulas de pé para manter o escoamento dos conjuntos elevatórios;
• Comportas e Adufas para controle das entradas e saídas de vazão;
• Hidrante para fornecimento de água para combate a incêndios.
Baseado e adaptado deCarlos
Fernandes de Medeiros Filho.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

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Aula 10 – Classificação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Unidade 4 – Sistema de Água Quente

Aula 10: Classificação

O projeto dos sistemas prediais de água quente deve ser feito de forma a garantir que a água
chegue em todos os pontos de consumo, sempre que necessário, na temperatura, quantidade
e qualidade adequadas ao uso. Além disso, deve permitir a rastreabilidade e acessibilidade ao
sistema em caso de manutenção.

1. Introdução

Nesta unidade são abordados os principais aspectos relacionados com o projeto dos
sistemas prediais de água quente, ressaltando as recomendações contidas na Norma
Brasileira NBR-7198 - "Projeto e Execução de Instalações Prediais de Água Quente".

Primeiramente, são apresentados os principais tipos de sistemas prediais de água


quente, com as condições técnicas que determinam a sua utilização, incluindo a questão da
recirculação e da medição individualizada do consumo nos referidos sistemas

Em seguida, são discutidos os elementos que devem constituir a documentação básica


do projeto dos sistemas, prediais de água quente.

Por último, são relacionadas as principais etapas que constituem o dimensionamento


dos sistemas prediais de água quente, bem como as recomendações no que se refere aos
materiais e componentes a serem especificados.

2. Classificação dos Sistemas

Os sistemas prediais de água quente podem ser classificados em individual, central


privado e central coletivo.

106
Aula 10 – Classificação
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

O sistema individual consiste na alimentação de um único ponto de utilização, sem


necessidade de uma rede de água quente. O sistema central privado consiste, basicamente,
de um equipamento responsável pelo aquecimento da água e uma rede de tubulações que
distribuem a água aquecida a pontos de utilização que pertencem a uma mesma unidade
(ex.: apartamento). O sistema central coletivo, por sua vez, é constituído por um
equipamento gerador de água quente e uma rede de tubulações que conduzem a água
aquecida até aos pontos de utilização pertencentes a mais de uma unidade (ex.: edifício de
apartamentos). A abordagem desses sistemas será feita considerando-se duas grandes
partes: geração/reservação e distribuição.

A geração de água quente consiste no processo de transferência de calor a partir de


uma fonte energética para obtenção de água a uma dada temperatura, podendo haver
reservação do volume a ser aquecido ou não. A transferência de calor pode se realizar de
modo direto ou indireto.

Na modalidade de aquecimento direto, a fonte energética atua no reservatório ou


serpentina que contém a água cuja temperatura deseja-se elevar, enquanto que no indireto
a fonte energética aquece um determinado volume de fluído o qual, por condução, eleva a
temperatura da água de consumo. Por outro, lado, a distribuição de água quente
compreende o conjunto de tubulações que conduzem a água aquecida aos diversos pontos
de utilização.

2.1. Sistema Individual

2.1.1. Geração e Reservação

Os energéticos utilizados neste tipo de sistema são essencialmente o gás combustível e


a eletricidade. No caso de aquecedores individuais a eletricidade tem-se uma resistência
que é ligada automaticamente pelo próprio fluxo de água, conforme esquema da figura.

107
Aula 10 – Classificação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Por sua vez, os aquecedores individuais a gás combustível possuem um queimador que
é acionado por uma chama piloto, quando da passagem do fluxo de água, sendo que o ar
ambiente é utilizado como comburente. Estes equipamentos podem ser classificados,
quanto ao comburente utilizado, em aquecedores de fluxo balanceado ("Balanced Flue") e
aquecedores com consumo de ar interno ao ambiente.

Os aquecedores de fluxo balanceado (“Balanced Flue") utilizam como comburente o ar


externo ao ambiente e os produtos originados nessa combustão são também destinados
para o exterior. Em vista disso, estes equipamentos podem ser instalados em quaisquer
ambientes, inclusive naqueles onde a permanência de pessoas é prolongada.

Nas Figuras a seguir são apresentados, respectivamente, o aquecedor do tipo com


consumo de ar interno em relação ao ambiente de instalação e o de fluxo.

A alimentação de água fria, tanto para o aquecedor a gás como para o que utiliza
eletricidade, no caso do sistema individual, é feita juntamente com os demais aparelhos,
não necessitando de uma coluna individual.

No caso de aquecedores a gás com consumo de ar interno em relação ao ambiente de


instalação, deve ser previsto um dispositivo para exaustão dos gases provenientes da
combustão.

2.1.2. Distribuição

Neste tipo de sistema de aquecimento, o equipamento gerador de calor está situado


no próprio ponto de consumo, inexistindo uma rede de tubulações para a distribuição da
água aquecida ou tendo uma não significativa.

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Aula 10 – Classificação
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

2.2. Sistema Central Privado

2.2.1. Geração e Reservação

As fontes energéticas comumente utilizadas neste tipo de sistema são, basicamente,


gás combustível, eletricidade, óleo combustível, lenha e energia solar. Na sequência, serão
abordados os equipamentos de aquecimento a gás combustível e a eletricidade, os quais
podem ser classificados, segundo o princípio de funcionamento, em:

• Aquecedores instantâneos (ou de passagem), onde a água vai sendo aquecida


à medida que passa pela fonte de aquecimento, sem requerer reservação;
• Aquecedores de acumulação, quando se tem a reservação do volume de água
a ser aquecido.

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Aula 10 – Classificação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Como no caso dos aquecedores individuais a gás combustível, pode-se ter também o
equipamento de fluxo balanceado.

O abastecimento de água fria para o aquecedor deve ser feito através de uma coluna
exclusiva, independentemente das demais do edifício, conforme vê-se na figura.

A entrada da água fria deve ser feita em uma cota superior ao aquecedor o que,
associado a uma ventilação permanente (respiro ou ventosa) evita o esvaziamento do
mesmo em caso de falta d'água no reservatório ou no caso de manutenção dos
aquecedores.

Deve ser previsto um dispositivo que evite o retorno da água do interior do aquecedor
em direção à coluna, evitando assim maiores perdas de energia; atualmente, um recurso
muito utilizado é o sifão térmico, o qual reduz as perdas, não as eliminando de todo,
contudo.

É necessário ainda, prever um dispositivo de exaustão dos gases nos aquecedores.

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Aula 10 – Classificação
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

Por fim, a central de aquecimento, no caso de aquecedor de acumulação, pode ser


constituída por um bloco único ou então ter o gerador separado do reservatório, quando
houver maior flexibilidade quanto à localização dos equipamentos. Um esquema deste tipo
é mostrado na Figura.

2.2.2. Distribuição

A distribuição da água quente em um sistema central privado constitui-se,


basicamente, de ramais que conduzem a água desde o equipamento de aquecimento
(instantâneo ou de acumulação) até os diversos pontos de utilização.

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Aula 10 – Classificação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Tendo em vista obter-se uma temperatura adequada no ponto de utilização, o trajeto


percorrido pela água quente deve ser o mais curto possível e as tubulações devidamente
isoladas.

2.3. Sistema Central Coletivo

2.3.1. Geração e Reservação

Uma vez que o gerador de água quente abastece várias unidades, está implícita a
reservação do volume a ser aquecido, constituindo o que se denomina usualmente de
caldeira. Existem caldeiras que incorporam dispositivos para aquecimento a gás combustível
e a eletricidade, possibilitando a alternância da fonte energética. A seguir é apresentado um
esquema de uma caldeira a gás combustível.

O abastecimento de água fria é feito por uma coluna exclusiva, uma vez que a vazão
requerida é muito elevada.

O gerador e o reservatório podem estar localizados conjuntamente ou não,


dependendo da flexibilidade para adequação dos ambientes, considerando que esses
equipamentos são de grande porte. Geralmente, a central de aquecimento é instalada na
parte inferior do edifício; entretanto, pode-se ter o gerador na parte inferior e o
reservatório na parte superior (cobertura ou outro pavimento).

Como nos aquecedores individuais e nos centrais privados a gás combustível, pode-se
ter também o equipamento de fluxo balanceado.

2.3.2. Distribuição

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Aula 10 – Classificação
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

Quanto à modalidade de distribuição, o sistema central coletivo pode ser classificado


em ascendente, descendente e misto. Na distribuição descendente, um barrilete superior
alimenta as colunas que abastecem os pontos de utilização, conforme o esquema da figura:

Quando a distribuição é ascendente, tem-se um barrilete inferior, como mostra a


Figura:

A modalidade de distribuição mista resulta da combinação dos tipos citados


anteriormente, conforme figura:

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Aula 10 – Classificação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

2.4. Sistema com Aquecimento Solar

Nos últimos anos, o aumento desenfreado dos custos e a disponibilidade cada vez mais
limitada das formas convencionais de energia também motivada preocupação crescente em
diversos setores.

Diante deste contexto, a energia solar surge como uma alternativa energética de
grande potencial a ser avaliada, inclusive, na questão do pré-aquecimento de água a nível
residencial, uma vez que a interface necessária para compatibilizar os sistemas à energia
solar e aqueles tradicionais, não apresenta maiores dificuldades técnicas.

No entanto, embora a quantidade total de energia solar que, de forma continua,


atinge o planeta seja enorme (equivalente à potência de 1,73 . 1017 Watts), cada metro
quadrado da sua superfície recebe uma quantidade descontinua e relativamente pequena,
cuja intensidade depende de diversos fatores, entre os quais o de natureza geográfica.

Principalmente, em função das alternâncias periódicas (dia/noite, verão/inverno) e


casuais (nebulosidade, precipitações), a quantidade de energia disponível (irradiação total)
pode variar de algo próximo a zero, num dia muito nebuloso com chuva ou à noite, até
aproximadamente 950Kcal/m2, sob determinadas condições em um dia claro de verão.

Assim, no aproveitamento da energia solar, deve-se preconizar a sua captação, a


conversão de calor, a transferência e o armazenamento para utilização nos períodos em que
a mesma não se encontra disponível.

114
Aula 10 – Classificação
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

Por outro lado, é possível constatar também que a implantação de um sistema de


aquecimento de água exige altos investimentos iniciais (comparativamente a outros
sistemas), fato que se constitui no principal obstáculo para a difusão do seu emprego por
parte dos usuários. Contudo, qualquer análise a longo prazo demonstra a viabilidade
econômica do sistema.

2.4.1. Sistema Convencional Assistido por Coletores Solares

Os coletores (painéis ou captadores) solares, dispositivos através dos quais a radiação


solar é captada, convertida em calor e transferida por meio de um fluído circulante, tal
como a água, constituem o elemento vital do sistema de aquecimento solar. Na figura
abaixo são apresentados os componentes básicos de um coletor solar piano, que são,
tipicamente:

• Cobertura transparente, constituída de uma ou mais placas, em geral, de


vidro piano;
• Placa absorvedora, normalmente metálica e pintada de preto fosco (ou de
material seletivo de radiação), apresentando, em geral, uma grelha de tubos
de cobre;
• Isolamento térmico, comumente uma camada de là de vidro colocada no
fundo e nas laterais do coletor, a fim de reduzir ao máximo as perdas de calor;
• Caixa do coletor, elemento estrutural frequentemente de chapas/perfis de
alumínio, com função de abrigar e proteger os componentes internos contra
as intempéries.

A utilização de coletores solares em edifícios residenciais, com a finalidade de assistir a


um sistema convencional de aquecimento de água (sistema de pré-aquecimento da água),

115
Aula 10 – Classificação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

pode ser realizada de maneira relativamente simples, conforme ilustra o esquema


apresentado na figura.

Neste diagrama simplificado, havendo radiação solar incidente, os coletores solares


promovem o pré-aquecimento da água fria proveniente do reservatório superior (A) da
edificação. O esquema refere-se a um sistema central coletivo; para o caso de um sistema
central privado, o esquema resulta absolutamente similar, na medida em que, ao contrário
de um único equipamento gerador de água quente, ter-se-iam aquecedores em pavimentos
superpostos, alimentados pela mesma coluna de água pré-aquecida. O cuidado adicional,
como de praxe para o abastecimento de aquecedores num sistema central privado
qualquer, consiste em se efetuar as derivações, em cada pavimento, a partir da coluna, em
cota superior ao respectivo aquecedor.

3. Características Outras dos Sistemas

3.1. Redução de Pressão

Em determinadas situações de projeto, em edifícios muito altos, por exemplo, toma-se


necessário reduzir a pressão disponível. Este assunto é análogo ao tratado no mesmo tópico
para Água Fria, nas aulas anteriores. A título de exemplificação, apresenta-se, na figura
abaixo, um esquema de um sistema central coletivo com redução de pressão da coluna de
abastecimento da caldeira.

116
Aula 10 – Classificação
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

3.2. Medição Individualizada de Água Quente

O procedimento corrente de rateio mensal da conta de água entre os condôminos nos


edifícios residenciais onde a mesma é compartilhada, além de injusto, por não ser
proporcional ao consumo efetivo, ocasiona normalmente desperdícios de água na medida
em que não há, evidentemente, motivação para a economia. Em termos de água quente, na
verdade, este tem sido o grande entrave na disseminação do sistema central coletivo de
aquecimento de água.

A dificuldade, no entanto, pode vir a ser contornada através da medição


individualizada do consumo, uma vez que a partir da análise de leis, regulamentos e
instrumentos aplicáveis à gestão dos condomínios quanto à utilização do sistema de
medição, não existe qualquer impedimento. Hoje é, inclusive, bem comum em novas
edificações.

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Aula 10 – Classificação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Em tais bases, serão abordados a seguir alguns aspectos da individualização da


medição do consumo de água quente em consonância com o tipo de sistema adotado.

Deve-se enfatizar que, a rigor, o sistema de medição individualizada do consumo de


água quente deve ser ponderado de maneira conjunta e integrada com a questão dos
consumos de água fria e do energético empregado no aquecimento.

3.2.1. Sistema Individual

No sistema individual, devido à inexistência de rede de água quente, o problema se


encontra relacionado, exclusivamente, à consecução da medição individualizada dos
consumos, tanto de água fria, quanto do energético utilizado. Em função desta
especificidade, não se aprofundará o assunto; as alternativas passíveis de implantação,
contudo, são semelhantes àquelas referentes ao sistema central privado.

3.2.2. Sistema Central Privado

O principal problema técnico constitui a baixa pressão disponível no último pavimento,


tendo em vista à grande perda de carga introduzida justamente pelo hidrômetro. Uma
opção a ser considerada, em tal circunstância, consiste na adoção de hidrômetros com
característica maior que aquela necessária.

Além disso, no caso de edifícios muito altos, obviamente, deverão ser instaladas
estações de redução de pressão, em tantas quantas forem as colunas descendentes, que
ultrapassem o limite de pressão preestabelecido.

De qualquer maneira, as alternativas de medição individualizada de água quente, para


o sistema central privado são, basicamente, aquelas que derivam de hidrômetros
individuais de água quente a partir de uma distribuição de água quente coletiva, que segue
os mesmos precedentes da distribuição predial individualizada de água fria, estudados em
aula anterior.

3.2.3. Sistema Central Coletivo

Neste sistema, o caráter coletivo na geração/reservação da água quente e a


introdução de um sistema de recirculação trazem complicações adicionais no que se refere
à consecução da medição individualizada do consumo.

Em edifícios de apartamentos pequenos, particularmente, cuja distribuição de água


quente possa ser efetuada através de apenas uma coluna, com ramais internos em cada
unidade residencial, a individualização da medição não implica em maiores dificuldades,

118
Aula 10 – Classificação
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

como se pode ver no esquema da figura a seguir, que ilustra um sistema central coletivo
ascendente com retorno.

As alternativas de medição passíveis de implantação, evidentemente, resultam


dependentes da modalidade de distribuição de água quente (ascendente, descendente ou
mista), podendo-se estabelecer semelhanças com aquelas relativas ao sistema central
privado. Observa-se, entretanto, que o aumento do número de colunas de distribuição de
água quente por apartamento (como é usual, uma vez que se prevê, em geral, uma
prumada para cada ambiente sanitário) determina a necessidade de se instalar hidrômetros
em cada coluna adicional, tornando a aplicação desse tipo de medição, a priori, mais difícil
em grandes apartamentos.

3.3. Recirculação de Água Quente

Tanto por convecção, quanto por radiação e condução, o sistema predial de água
quente transmite calor ao seu entorno, normalmente à temperatura mais baixa.

Assim, se se deixar de promover de alguma forma o reaquecimento da água e esta


permanecer sem movimentação no interior das tubulações (isto é, se não houver demanda
de água quente) durante um certo período de tempo, pode ocorrer uma queda na sua
temperatura a um nível tal que se torna relativamente fria e, portanto, incompatível com o
desempenho esperado do sistema. O suprimento de água quente pode vir a resultar
insatisfatório, igualmente, se o traçado da rede for bastante extenso.

119
Aula 10 – Classificação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Qualquer que seja o caso, o lapso excessivo de tempo à espera da chegada da água
quente ao ponto de utilização é de todo modo indesejável, sob a perspectiva do usuário,
senão pelo desconforto inerente à demora, pelo desperdício de uma quantidade de água
fria eliminada inutilmente.

Uma das técnicas empregadas, na prática, para contornar a questão, consiste na


introdução de um sistema de recirculação (ou retorno) da água quente, tipicamente um
conjunto de tubulações interligando os pontos mais distantes da rede ao equipamento de
aquecimento.

Esta recirculação, por sua vez, pode ser natural ou forçada. Na recirculação natural,
utiliza-se a carga gerada pela diferença de temperaturas (e em consequência de densidades)
da água nas redes de distribuição e de retorno, fenômeno usualmente denominado de
termossifão; como a água na rede de retorno se encontra a uma temperatura mais baixa e,
portanto, mais densa, esta induz uma carga hidrostática maior no ponto de inserção da
tubulação de retorno ao equipamento de aquecimento. Por outro lado, na recirculação
forçada, a carga necessária é obtida através da interposição de uma bomba, adequada à
temperatura de serviço do sistema.

Deve-se evidenciar, entretanto, que esta empreitada, no sentido de manter as


condições normais de temperatura nos pontos de utilização tem conduzido com frequência
a projetos inadequados de recirculação de água quente, uma vez que estes se apresentam
infestados de misteriosos "macetes" e adivinhações que têm recebido o endosso de
diversas publicações; até mesmo renomados profissionais no campo dos sistemas
hidráulicos prediais têm criado seus próprios critérios e parâmetros para o
dimensionamento do retorno da água quente.

O resultado de tal contexto constitui um quadro confuso e desnecessário de regras


práticas (em detrimento de soluções de cunho eminentemente científico) que, em geral,
levam ao superdimensionamento dos componentes do sistema de recirculação de água
quente, além de provocar perdas adicionais de calor.

4. Escolha do Sistema a Ser Utilizado

Existem diversos fatores que condicionam a utilização dos sistemas prediais de água
apresentados até aqui, os quais serão expostos a seguir.

4.1. Sistema Individual

120
Aula 10 – Classificação
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

O primeiro aspecto a ser considerado diz respeito ao desejo ou não de instalação de


uma rede de água quente, rede esta que aumenta o custo da edificação, determinando,
muitas vezes, a instalação desse sistema em edifícios de baixa renda.

No caso de equipamento a gás combustível, do tipo que utiliza ar do ambiente para a


combustão, é necessário um volume mínimo do ambiente, o qual é função do tempo de
permanência das pessoas, do tipo de atividade exercida, da concentração de poluentes,
entre outros. Há que se ressaltar que não existem fabricantes de aquecedores de fluxo
balanceado no Brasil, sendo a instalação dos equipamentos com consumo de ar interno ao
ambiente, no ponto de utilização (no interior de boxes) extremamente perigosa, pois a
grande quantidade de vapor gerado no banho faz com que se tenha mais combustão, o que
diminui o rendimento do equipamento e aumenta a produção de monóxido de carbono
(tóxico).

Além disso, este sistema mostra-se inadequado para aquecimento em banheiras,


devido à baixa vazão de água quente em temperaturas mais elevadas, o que irá implicar em
um grande período de tempo para o enchimento desse aparelho.

Por último, uma vez que o sobreaquecimento e a vazão de utilização apresentam-se


baixos (menores potências), pode-se dizer que o conforto proporcionado é menor do que
num sistema central.

4.2. Sistema Central Privado

Assim como no sistema anterior, o primeiro aspecto a ser analisado quando da escolha
por um sistema central privado, é o desejo de instalação de uma rede de água quente que
contribui para o aumento do custo inicial da edificação.

Com respeito à adequação dos ambientes para a instalação de um aquecedor a gás,


assim como no sistema de aquecimento individual, torna-se necessário um volume mínimo
de ar no ambiente, através da previsão de uma ventilação permanente, o que limita a sua
utilização em ambientes de pequenas dimensões.

Outro fator a ressaltar é que aquecedores de acumulação necessitam de maior espaço


físico para sua instalação, o que determina, muitas vezes, a utilização de aquecedores de
passagem.

Por outro lado, o trajeto a ser percorrido pela água quente, em unidades maiores, é
muito longo, o que limita a utilização de um único aquecedor instantâneo. Neste caso, o
mais adequado seria a instalação de um aquecedor de acumulação que proporciona um

121
Aula 10 – Classificação
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

maior conforto ao usuário, apesar de levar mais tempo para a chegada, da água e das
perdas de calor ao longo do percurso, que fazem com que a temperatura chegue bem mais
baixa no ponto de utilização.

O problema do tempo de espera da água quente no ponto de utilização pode ser


solucionado, por exemplo, com a adoção de uma rede de recirculação, já mencionado.

Além disso, no aquecimento instantâneo o fornecimento de água quente a mais de um


ponto de utilização, em funcionamento simultâneo, é feito de forma precária, fato este
inexistente no caso de um aquecedor de acumulação, desde que devidamente
dimensionado.

4.3. Sistema Central Coletivo

Em linhas gerais, o sistema central coletivo é utilizado onde não se torna necessário o
rateio do energético para produção de água quente e, é claro, onde se deseja uma rede de
água quente.

Por outro lado, este sistema pode ser utilizado quando se dispõe de pouco espaço
físico no apartamento, ou não se deseja utilizá-lo para a instalação do equipamento de
aquecimento.

Devido às características da distribuição, tem-se uma diminuição no traçado da rede


no interior do apartamento, o que reduz o incômodo provocado no caso de manutenção.
Além disso, o usuário não se preocupa com a manutenção do equipamento, que é feita pelo
condomínio.

Um outro aspecto a salientar é que o "produto" água quente é de melhor qualidade,


em termos de sobreaquecimento e vazões, principalmente quando utiliza-se recirculação.
Inclusive, devido à alta vazão proporcionada em temperaturas mais elevadas, não existe
preocupação com o abastecimento de vários pontos em uso simultâneo, se o equipamento
estiver adequadamente dimensionado.

Entretanto, as perdas de calor no reservatório são maiores do que num aquecedor


utilizado no sistema central privado.

Baseado e adaptado de
Marina Sangoi, O. Marraccini,
Yukio Kavassaki. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

122
Aula 11 – Dimensionamento
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

Aula 11: Dimensionamento

Os métodos de dimensionamento dos equipamentos geradores de água quente constantes


dos documentos técnicos normativos não incorporam, na sua essência, conceitos e
procedimentos modernos, baseados no perfil de consumo da edificação, levando, muitas
vezes, a resultados grosseiros (superdimensionamento), que não permitem ao projetista
precisar a grandeza do erro cometido na suposição de um regime de funcionamento e da
magnitude das vazões de pico.

1. Projeto de Água Quente

O projeto do sistema predial de água quente compreende, basicamente, as seguintes


etapas:

• Concepção;
• Cálculo (dimensionamento);
• Quantificação e orçamentação;
• Elaboração do projeto para a produção;
• Elaboração do projeto "as built”.

A concepção consiste na proposição da solução a ser adotada, a qual é função não


somente das solicitações sobre o sistema, mas também das exigências da normalização
técnica, resultando na definição do traçado do sistema, dos tipos de sistemas a serem
adotados, etc.

O cálculo consiste na estimativa das solicitações impostas ao sistema predial de água


quente e no dimensionamento de todos os seus componentes para atender a estas
solicitações.

O projeto para produção consiste num conjunto de elementos a serem elaborados


tendo em vista o processo de execução do sistema, tais como: detalhes de "kits" hidráulicos
e tabelas descritivas dos componentes dos "kits".

O projeto "as built” é elaborado a partir de registros de alterações no sistema, feitas na


obra, tendo por objetivo possibilitar a rastreabilidade do sistema em caso de manutenção.

123
Aula 11 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Dentro do projeto do sistema predial de água quente, os elementos gráficos e


documentos a serem apresentados variam conforme a complexidade do referido sistema
e/ou da edificação para a qual foi projetado.

De qualquer forma, alguns elementos básicos devem ser apresentados, quais sejam:

• Planta baixa da cobertura, barrilete, andar(res) tipo, térreo, subsolo(s), com a


indicação das colunas de alimentação dos aquecedores (sistema central),
ramais e desvios;
• Esquema vertical (ou fluxograma geral) apresentado conjuntamente com o
sistema predial de água fria, sem escala, indicando as colunas de alimentação
dos aquecedores;
• Desenhos isométricos dos ambientes sanitários, com a indicação das colunas
de distribuição, ramais e sub-ramais;
• Memorial descritivo e especificações técnicas.

De posse dos elementos acima, podem ser procedidas as etapas de quantificação e


orçamentação dos componentes do sistema, para a posterior execução.

2. Dimensionamento dos Sistemas

2.1. Geração e Reservação

O superdimensionamento dos geradores de água quente se traduz, na prática, em


equipamentos cuja operação é ineficiente e com alto custo de implantação para a usuário,
além de introduzir indesejáveis picas de demanda nos sistemas de energia.

Do ponto de vista do dimensionamento tem-se, de um lado, a solicitação sobre a


sistema de geração de água quente, determinada pelos usuários e consubstanciada no perfil
de consumo, através de uma vazão de suprimento (ou capacidade de recuperação) e seu
correspondente volume de armazenamento (ou acumulação) requerida, isto é:

(CR . V)solicitante

Em contrapartida, tem-se as características de capacidade de recuperação e volume


armazenado oferecidas pelo sistema de geração de água quente, ou seja:

(CR . V)sistema

124
Aula 11 – Dimensionamento
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

Assim, a sistema, coma resposta adequada à água solicitante, premissa básica de


dimensionamento, deve apresentar:

(CR . V)sistema ≥ (CR . V)solicitante

Ressaltando que a capacidade de recuperação nominal, que, em última análise,


representa a potência instalada do aquecedor, deve incorporar, evidentemente, a seu
rendimento no processo de transferência de energia, ao passo que a volume de acumulação
nominal deve considerar a ocorrência de estratificação da distribuição de temperaturas no
interior do aquecedor, cujo efeito imediato é a diminuição do volume efetivamente
utilizável.

Adicionalmente, todas as perdas de calor (nos sistemas de distribuição e recirculação


de água quente e no próprio aquecedor) devem ser calculadas e utilizadas no ajuste da
capacidade de recuperação, tendo em vista a correto balanceamento entre as entradas e
saídas de energia, com a intuito de manter níveis desejados de temperatura.

Contudo, não se dispõe ainda de muitos dados a respeito do padrão de consumo de


água quente para as edificações brasileiras, e a adoção de dados estrangeiros não tem
demostrado ser adequada, dado que os hábitos dos usuários com relação ao uso da água
quente são bastante diferenciados.

Dentro desse contexto, tendo em vista as dificuldades apontadas, os geradores são


dimensionados, no caso de equipamentos de acumulação, a partir da estimativa do
consumo diário de água quente, o que será visto a seguir.

Para o caso de equipamentos instantâneos, os mesmos deverão atender vazão


máxima provável no sistema de distribuição, o que será abordado mais adiante.

2.1.1. Estimativa do Consumo Diário de Água Quente

O consumo diário de água quente, é estimado, tendo em vista o tipo de edificação,


pela seguinte fórmula:

CD = CAQ . P

Onde:

CD é o consumo diário de água quente, total (l/dia);


CAQ é o consumo diário de água quente "per capita" (l/dia);
P é a população do edifício (pessoas).

125
Aula 11 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Na tabela abaixo são indicados alguns valores do consumo diário de água quente.

Na tabela seguinte são apresentados alguns índices para a determinação da população


em edifícios para diferentes fins.

2.1.2. Determinação do Volume a ser Reservado

A determinação do volume de água a ser reservado é feita a partir da aplicação da


Primeira Lei da Termodinâmica, ou seja:

Qcedido = Qrecebido

Considerando-se regime permanente e que nenhum trabalho de máquina é realizado,


a expressão anterior passa ser (os índices '1' e '2' referem-se à água quente e à água fria,
respectivamente):

m1 . c1 (ti1 – tf) = m2 . c2 (tf – ti2)

Onde:

m é a vazão em massa (l/h);


c é o calor específico (Kcal/KgoC);

126
Aula 11 – Dimensionamento
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

t é a temperatura (oC).

Como c1 = c2, uma vez que se trata de um mesmo líquido, tem-se:

m1 . ti1 + m2 . ti2 = (m1 + m2) tf

Ademais:

m1 → VAQ
ti1 → tAQ
m2 → VAF
ti2 → tAF
(m1 + m2) → Vmist
tf → tmist

Onde:

tAQ é a temperatura de água quente no aquecedor (valor usual 70 o C);


VAQ é o volume de água quente (consumo diário a 70o C – incógnita);
tAF é a temperatura da água fria no inverno (valor usual 15 o C);
VAF é o volume de água fria;
tmist é a temperatura da mistura (água morna, valor usual 42o C);
Vmist é o volume de água de mistura utilizado (consumo diário, tabela acima).

Mas:

Vmist = VAF + VAQ

Substituindo estes valores na expressão anterior, vem:

70 VAQ + 15(Vmist – VAQ) = 42 Vmist

VAQ = 0,51 Vmist

2.2. Distribuição

O dimensionamento da distribuição do sistema predial de água quente é feito de


maneira análoga ao sistema de água fria, ou seja, considera-se regime permanente em
conduto forçado, onde faz-se um balanceamento entre o diâmetro da tubulação, a vazão de
projeto esperada e as pressões necessárias para o funcionamento adequado dos aparelhos
e equipamentos sanitários, tendo em vista a carga disponível.

127
Aula 11 – Dimensionamento
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

2.2.1. Vazão

Um dos principais requisitos de desempenho dos sistemas prediais de água quente é a


existência de água na quantidade e temperatura adequadas ao uso, em todos os pontos de
utilização, sempre que necessário, o que deve ser garantido tendo-se em vista uma
minimização dos custos envolvidos.

Ressalta-se, ainda, que para um mesmo nível de satisfação de um determinado


usuário, a vazão de água quente apresenta-se variável em função de sua temperatura,
sendo tanto mais alta aquela, quanto menor for esta, ou seja:

(t mist − t AF )
qAQ = . qmist
(t AQ − t AF )

Onde:

qAQ é a vazão de água quente (l/s);


tmist é a temperatura de mistura (água morna - oC);
tAF é a temperatura da água fria (oC);
tAQ é a temperatura da água quente (oC);
qmist é a vazão de mistura (água morna – l/s).

A determinação da vazão de projeto em cada trecho do sistema, velocidade e perda de


carga são análogas à da água fria, já estudado.

Baseado e adaptado de
Marina Sangoi, O. Marraccini,
Yukio Kavassaki. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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Aula 12 – Materiais e Componentes
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

Aula 12: Materiais e Componentes

O sistema de água quente em uma edificação é totalmente separado do sistema de água-fria.


A água quente deve chegar em todos os pontos de consumo desejados com temperatura e
pressão adequadas para o funcionamento dos equipamentos (chuveiros, misturadores de
lavatórios, de pias, etc.) e para isso demandam materiais especializados.

1. Geradores de Água Quente

Como salientado anteriormente em outra aula, os geradores de água quente são


divididos, quanto ao princípio de funcionamento, em instantâneo e de acumulação.

O princípio de aquecimento instantâneo, a gás combustível, é apresentado na figura. A


água vai sendo aquecida à medida que flui através de um tubo em espiral (A) em contato
com um queimador (B):

Os aquecedores instantâneos, conforme se tenha contato da água com os gases de


combustão ou não, podem ser classificados em abertos e fechados.

Nos aquecedores instantâneos do tipo aberto a água entra em contato com os


produtos de combustão. Conforme esquema da figura abaixo, a água entra pela válvula
automática (A) e é distribuída pelo tubo (B) até a parte superior do aquecedor, de onde cai
numa bandeja em forma de anel (C). Esta bandeja é perfurada, de modo a permitir que a
água seja aspergida sobre uma chapa, também perfurada, em forma de campânula (D). A
água, após passar por esta campânula é coletada em um recipiente em forma de anel (E), de

129
Aula 12 – Materiais e Componentes
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

onde é drenada pelo tubo de saída (F). Os gases provenientes da combustão no queimador
(G) sobem em direção à saída, passando pelo chapéu de tiragem (1) e indo para a chaminé
(J).

Nos aquecedores instantâneos do tipo fechado, figura abaixo, não há o risco de


contaminação da água pelo contato com os gases de combustão, uma vez que os dois estão
completamente isolados. A água entra no aquecedor pelo duto na parte inferior (A), passa
pelo tubo em espiral B1 B2 que envolve a unidade de aquecimento até alcançar o trocador
de calor (C), de onde é conduzido para a conexão externa (D). Na unidade de aquecimento
(K) o gás entra pelo tubo (E), passa pela válvula automática (F) a qual aciona o queimador
(G) pela passagem do fluxo de água. Os gases provenientes da combustão sobem em
direção ao trocador de calor aletado (C), passando depois ao redor da placa (H), pelo
chapéu de tiragem (1), alcançando finalmente a chaminé (J).

130
Aula 12 – Materiais e Componentes
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

O acionamento do queimador é feito por uma válvula automática, a qual é


apresentada na figura:

A válvula automática, apresentada na figura é constituída por um restritor (B),


representado por um venturi colocado na alimentação de água. Acima deste, existe a
câmara (E) do diafragma (F), que é normalmente circular e serve de apoio para a fixação do
mesmo. O diafragma divide a câmara em dois compartimentos. Um deles (X) é ligado à
alimentação da água por meio do conduto (D) e outro (Y) através do orifício (C) localizado
no lado de entrada do restritor.

A água, após passar pelo venturi é conduzida pelo duto (R) em direção à (S) e para o
trocador de calor instalado no corpo do aquecedor. A conexão de gás é feita através de (H),
de onde o mesmo é conduzido imediatamente para o piloto (O), que é controlado por um
registro. Quando este registro é aberto, o piloto se acende, ficando a chama
permanentemente acesa. O suprimento de gás para o queimador (P) é feito quando a
válvula (K) se desloca do assento (J), desobstruindo a passagem do gás.

Quando o aquecedor está desligado uma mola (L) mantém a válvula de gás fechada,
uma vez que as pressões em ambos os lados do diafragma são iguais.

Assim que o registro de água é aberto, a água passa pelo venturi, sofrendo uma
redução de pressão. A pressão reduzida atua na câmara superior do diafragma até que o
gradiente seja tal que a força relativa à pressão na entrada da água desloca a válvula,
permitindo a passagem da vazão total de gás para o queimador. A ignição é feita pela
chama piloto.

131
Aula 12 – Materiais e Componentes
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

Os aquecedores de acumulação a gás combustível, por sua vez, são constituídos,


conforme a figura a seguir, por um reservatório (A) que contém a água que é aquecida pelo
queimador (B). O reservatório normalmente é ligado à atmosfera por um duto (G).

O suprimento de gás é feito por meio de um tubo (C), passando pela válvula (D);
enquanto que a água entra no reservatório através da conexão (E).

Primeiramente, um determinado volume é reservado e aquecido; à medida que se dá


o consumo (abertura de uma torneira, por exemplo), a água fria entra no aparelho,
deslocando a água quente e fazendo com que o termostato acione a válvula que libera o
fluxo total de gás para o queimador.

Os aquecedores de acumulação são providos de dispositivos de controle, que


interrompem o fornecimento de gás na temperatura regulada, restabelecendo-o assim que
a temperatura baixar e de dispositivos de segurança.

Os dispositivos de segurança podem ser divididos em dois grupos:

• De bloqueio, que impedem a passagem de gás, caso, apague a chama piloto;


• De alívio, que não permitem que a pressão no aquecedor atinja valores
maiores do que aqueles preestabelecidos.

Na Figura abaixo apresenta-se um esquema de um dispositivo de bloqueio.

132
Aula 12 – Materiais e Componentes
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

O gás entra no termostato pela conexão (A) quando o botão (B) é acionado; mantendo
o botão acionado, ocorrerá o acendimento automático do piloto. A chama do piloto (C)
aquece o termopar (D) e por este, através do efeito termoelétrico (dois metais em contato
aquecidos geram corrente elétrica), circula uma corrente elétrica que imanta a bobina (E)
fazendo com que se mantenha a passagem de gás para o piloto. Caso apague a chama do
piloto, o termopar esfria, fechando totalmente a entrada de gás para o queimador (F). Para
um novo acendimento é necessário pressionar o botão (B), reiniciando o ciclo.

Estando o piloto aceso e a bobina imantada, o termostato permite a passagem de gás


para o queimador principal, que irá acender devido à chama piloto. Quando a temperatura
na água atinge o valor preestabelecido, o bulbo do termostato dilata e fecha a passagem do
gás para o queimador; quando a água esfria, o bulbo do termostato contrai e abre a
passagem do gás.

Na figura ao lado é apresentado um dispositivo de alívio. Trata-se de uma válvula de


segurança com corpo em bronze fundido e com uma mola a qual, devidamente regulada,
alivia o eventual excesso de pressão no interior do aquecedor, pois a força gerada pela
pressão, comprime a mola para cima.

Quando a pressão cai, a válvula volta a fechar também pela ação da mola, só que no
sentido contrário, ou seja, pela distensão desta que leva o assento (A) de volta a sede (B).

No caso dos equipamentos a eletricidade, o aquecimento se realiza pelo calor


dissipado pela passagem de uma corrente elétrica em um condutor com uma dada
resistência. Assim como nos equipamentos a gás combustível, existem os aquecedores de

133
Aula 12 – Materiais e Componentes
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

passagem e os de acumulação. A seguir é apresentado um esquema de um aquecedor de


acumulação a eletricidade.

2. Tubos e Conexões

Tradicionalmente, são empregados nos sistemas prediais de água quente, tubos e


conexões de cobre e, mais recentemente, de CPVC (cloreto de polivinila pós-clorado).

2.1. Cobre

Os tubos de cobre são fabricados por extrusão e denominados “tubos sem costura".
Devem ser produzidos, no Brasil, em conformidade com as especificações das seguintes
normas:

• NBR 6318: tubos leves;


• NBR 7417: tubos extra-leves;
• NBR 7542: tubos médios e pesados.

E também obedecendo aos requisitos gerais estabelecidos na NBR 5020. Os tubos


leves e extra leves são os mais empregados, compreendendo as classes A, E e I, com
diâmetros nominais externos entre 15 mm e 104 mm, com pressões de serviço de 20,0
Kgf/cm2 até 88 Kgf/cm2, dependendo da bitola e da classe do tubo. Na Tabela são

134
Aula 12 – Materiais e Componentes
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

apresentados os tubos de cobre classe E, mais comumente empregados em sistemas


prediais.

As conexões de cobre, fabricadas de acordo com a EB 366, podem apresentar pontas


e/ou bolsas lisas e/ou roscadas, em função direta da sua finalidade.

Para unir pontas e bolsas lisas, as juntas são efetuadas, em geral, através de soldagem
capilar, utilizando metal de enchimento composto basicamente de 50% de estanho e 50%
de chumbo (NBR 5883). No caso de roscas macho e fêmea, estas seguem o padrão BSP.

2.2. Cloreto de Polivinila Pós-Clorado (CPVC)

Os tubos e conexões de CPVC para sistemas prediais de água quente são fabricados no
Brasil de acordo com as especificações contidas na Norma internacional ASTM (American
Society for Testing and Materials) - D-2846/82, com diâmetros nominais externos variando
de 15 mm a 28 mm em barras de 3 m, com pontas lisas.

A pressão de serviço é 6Kgf/cm2 (60 m.c.a) conduzindo água a 80° C e 24 Kgf/cm2 (240
m.c.a) conduzindo água a 20° C. Na tabela 8 são apresentados os tubos de CPVC.

135
Aula 12 – Materiais e Componentes
INSTALAÇÕES HIDRÁULICAS – ÁGUA
FRIA E QUENTE

A junta é feita através de soldagem química a frio, com a utilização de adesivo próprio
para este fim. As conexões são fabricadas em espessura compatível com os tubos de CPVC,
sendo algumas delas projetadas para aplicação nos pontos de transição das tubulações de
CPVC para tubos e conexões metálicas.

Existe uma grande variedade de tipos de conexões, por isso as mesmas não serão
abordadas em detalhe neste trabalho. Informações podem ser obtidas diretamente nos
catálogos dos fabricantes.

2.3. PPR (Polipropileno Copolímero Random)

Os tubos e conexões em PPR operam com temperatura média de até 80° C, são
projetados com média de vida útil de 50 anos. Eles apresentam enorme praticidade de
instalação e são isentos de roscas, anéis de borracha ou adesivo plástico.

Sua conexão é feita pelo processo de termofusão, onde o tubo e a conexão são
aquecidas e se fundem tornando-se uma tubulação contínua, essa união é feita através do
termofusor, a uma temperatura aproximada de 260° C.

O PPR pode ser utilizado em instalações residenciais e prediais, como por exemplo;
residências, edifícios e imóveis comerciais que necessitam de alta durabilidade e o mínimo
de manutenção.

Entende-se que se a instalação de água quente for bem executada, ou seja, se todas as
normas de instalação forem obedecidas, sem sombra de dúvida o PPR torna-se um dos
melhores tipos de tubulação para se usar em uma instalação de água quente, podendo
substituir a instalação de tubulações de cobre, ainda com benefícios financeiros, pois o
cobre é em média 20% mais caro que o PPR.

2.4. Válvulas

As válvulas são dispositivos destinados a estabelecer, controlar e interromper o


fornecimento de água nas tubulações e nos aparelhos sanitários. As válvulas de segurança e
de alívio, por serem dispositivos incorporados ao aquecedor, foram apresentadas no item 1.

2.5. Isolantes

O calor é transmitido, por condução pela parede, do interior das tubulações de água
quente para o meio. A fim de dificultar esta perda de calor e, com isso, aumentar a

136
Aula 12 – Materiais e Componentes
UNIDADE 4 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE

eficiência do sistema de distribuição de água quente, são utilizados isolantes que se


constituem, basicamente, em materiais com baixa condutividade térmica.

Em tubulações embutidas, os isolantes mais utilizados são as canaletas, normalmente


de materiais plásticos, e a massa de amianto e nata de cat.

Por outro lado, nas tubulações aparentes são frequentemente empregadas as


canaletas de lã de vidro e de silicato de cicio, conforme a figura abaixo.

Estas canaletas envolvem o tubo e são presas por cintas de aço. Quando exposto às
intempéries, o isolante deve ser protegido com uma lâmina de alumínio ou com uma
camada de massa asfáltica.

Baseado e adaptado de
Marina Sangoi, O. Marraccini,
Yukio Kavassaki. Edições sem
prejuízo de conteúdo.

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