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CDD 658.382
A REFORMA TRABALHISTA SOB A PERSPECTIVA DA SAÚDE E
SEGURANÇA DO TRABALHADOR
RESUMO
O poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, cujas principais funções consistem em
administrar o governo e sancionar leis aprovadas pelo poder legislativo. Usando de tal atribuição, o
governo Temer realizou em 2017 a reforma trabalhista, cujo objetivo era o de combater o
desemprego e a crise econômica no país. Tal reforma, trouxe mudanças significativas nas
Consolidações das Leis Trabalhistas (CLT), alterando pontos importantes da lei. Deste modo, faz-
se necessária uma análise acerca das mudanças provocadas por essa reforma e para isso, o
presente artigo tem como objetivo apresentar e analisar as alterações ocorridas referentes à jornada
de trabalho, trabalho remoto (home office), terceirização e gravidez sob a perspectiva da saúde e
segurança do trabalhador. Para tanto, o estudo conta com a exposição de artigos que demonstram
situações semelhantes às quais a reforma permitirá que aconteça com o trabalhador, possibilitando
a avaliação de pontos positivos e negativos dessa reforma e assim, identificar possíveis impactos
dessas mudanças na Saúde e Segurança do Trabalhador (SST), mostrando se tais alterações
seriam realmente a melhor saída para a fuga da crise econômica do país, ou, se surtirão o efeito
esperado no que diz respeito ao combate ao crescente número de desempregados no país, de
forma que isso não gere prejuízos para a saúde e segurança do trabalhador.
Palavras chave: Reforma trabalhista. Consolidação das Leis do Trabalho. Saúde e Segurança do
Trabalhador.
ABSTRACT
The Executive power is exercised by the President of the Republic, whose main functions are to
administer the government and sanction laws passed by the legislature. Using such attribution, the
Temer government carried out in 2017 the labor reform, whose objective was to combat
unemployment and the economic crisis in the country. This reform brought significant changes in the
Consolidations of Labor Laws (CLT), changing important points of the law. Thus, it is necessary to
analyze the changes brought about by this reform and for this, the present article aims to present
and analyze the changes that have occurred regarding the work day, home office, outsourcing and
pregnancy from the perspective of the health and safety of the worker. In order to do so, the study
will have the exhibition of articles that demonstrate situations similar to what the reform will allow to
happen to the worker, allowing the evaluation of the positive and negative aspects of this reform and
thus, identify possible impacts of these changes on Worker Health and Safety (WHS), showing
whether such changes would really be the best way out of the country's economic crisis, or whether
they will have the expected effect in combating the growing number of unemployed people in the
country, so that it does not cause any harm to the health and safety of the worker.
Keywords: Labor reform. Consolidations of Labor Laws. Worker Health and Safety.
INTRODUÇÃO
A segurança no trabalho tem sido um tema muito abordado atualmente devido a sua grande
contribuição tanto para a melhoria do desenvolvimento social, mostrando a preocupação com a
saúde dos trabalhadores, quanto para o progresso das organizações que evitam custos ou prejuízos
com possíveis incidentes que poderiam ocorrer sem a sua intervenção.
Por uma questão de obrigatoriedade da legislação, as empresas têm dado muita atenção a
questões relacionadas à Segurança do Trabalho. Mas Segurança vai muito mais além da legislação.
Ela traz muitos benefícios à empresa, pois faz com que ela se organize, aumentando a
produtividade e a qualidade dos produtos, melhorando as relações humanas no trabalho. Para
Gonçalves; Xavier e Rezende (2005), a segurança do trabalho tem como objetivo, a redução de
acidentes e de doenças relacionadas ao exercício de atividades e ao ambiente laboral.
Com a revolução Industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII, houve um aumento notável
do número de trabalhadores acidentados, devido ao uso crescente de máquinas, ao acúmulo de
operários em locais confinados, às longas jornadas laborais e à utilização de crianças nas atividades
industriais (CHAGAS; SALIM; SERVO, 2011).
Segundo Rosen (1994), tal fator começou a gerar uma pressão social para que o Estado
interferisse nessa situação, o que levou ao surgimento das primeiras normas trabalhistas na
Inglaterra (Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes, de 1802). Essas normas foram então passando
por reformulações e foram seguidas pelas demais nações.
No Brasil, assuntos relacionados a questões trabalhistas têm sido amplamente discutidos,
haja vista a necessidade de se garantir um melhor relacionamento entre empregado e
empregadores.
Para tratar dessas questões, atualmente contamos com a Consolidação das Leis Trabalhistas
- CLT, cujo propósito é regular as relações empregatícias e criar direitos trabalhistas. Ela impõe
regras, determina os direitos e deveres do empregado e do empregador e define conceitos
importantes para a interpretação das relações de trabalho.
Desde sua criação em 1943, a CLT passou por uma série de reformas, cuja mais recente,
ocorreu em 2017, alterando pontos importantes que serão discutidos ao longo do presente estudo,
como: jornada de trabalho, terceirização, gravidez e trabalho remoto.
Essas reformas muitas vezes são feitas com base em questões econômicas, o que acaba
deixando de lado fatores que influenciam diretamente nas condições em que os trabalhadores
estarão expostos.
É de grande importância o conhecimento sobre os riscos presentes dentro de um ambiente
organizacional, pois essa familiaridade com o meio é que permitirá a identificação e a posterior
correção dos desvios do sistema, a partir da compreensão da causa das falhas e da prevenção das
mesmas. Por isso, uma norma não deveria ser simplesmente imposta sem a devida análise de todos
os elementos envolvidos.
Tal fator revela a imprescindibilidade da intervenção de uma matéria que se preocupe com a
integridade do trabalhador, a chamada: Saúde e Segurança do Trabalhador (SST). Assim, a união
entre leis trabalhistas e responsáveis técnicos de SST, poderiam sim propor soluções de interesse
do governo, mas que também fossem de interesse dos trabalhadores no que diz respeito à
segurança dos mesmos.
Deste modo, faz-se necessária uma análise acerca das mudanças provocadas pela reforma
trabalhista de 2017 e para isso, o presente artigo tem como objetivo apresentar e analisar as
alterações ocorridas referente à jornada de trabalho, trabalho remoto (home office), terceirização e
gravidez sob a perspectiva da saúde e segurança do trabalhador.
METODOLOGIA
REVISÃO DE LITERATURA
Da Jornada de Trabalho
É valida, em caráter excepcional, a jornada de doze horas de trabalho por trinta e seis
de descanso, prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo
de trabalho ou convenção coletiva de trabalho, assegurada a remuneração em dobro
dos feriados trabalhados. O empregado não tem direito ao pagamento de adicional
referente ao labor prestado na décima primeira e décima segunda horas (BRASIL,
2012).
Até então, a duração normal do trabalho para os empregados em qualquer atividade privada,
não poderia exceder 8 (oito) horas diárias, mas por não haver lei específica disciplinando a matéria,
essa escala era permitida desde que prevista em acordo ou convenção coletiva de trabalho. Ao
incluir o artigo 59-A a nova regra possibilitou a adoção do regime também por meio de contrato
individual (PANTALEÃO, 2018).
No referido regime, o trabalhador executa suas atividades em uma jornada de 12 horas,
seguida de 36 horas de descanso. Dessa forma, ele trabalha 3 dias em uma semana, resultando
em uma carga horária semanal de 36 horas, e na semana seguinte, trabalha 4 dias, com uma carga
horária semanal de 48 horas (CALDAS, 2017).
A nova redação ainda afirma que qualquer prorrogação de atividade insalubre deverá ser
firmada por meio de licença prévia, mas exclui dessa condição, as jornadas de doze horas de
trabalho por trinta e seis horas ininterruptas de descanso. Além disso, prevê que a convenção
coletiva e o acordo coletivo de trabalho prevaleçam sobre a lei quando estes se referirem à
prorrogação da jornada de trabalho em ambientes insalubres sem licença prévia. Ou seja, se
determinada jornada (mesmo que seja sob regime 12 x 36) possuir licença prévia, o acordo coletivo
não pode prevalecer, caso contrário, o trabalhador não terá opção, senão, cumprir o acordo imposto.
A Organização Internacional do Trabalho – OIT procurou atender a principal demanda das
organizações sindicais no começo do século XX, que era o de limitar a jornada de trabalho, e assim,
estipulou o princípio das 8 horas por dia e 48 horas semanais de jornada laboral. Em 1935, com a
Convenção n. 47, passou a adotar um novo limite de 40 horas semanais de trabalho (LIMA, 2013).
Para o Ministério Público do Trabalho, essa necessidade da limitação da jornada de trabalho
por parte da OIT não se tratava apenas de uma opção ideológica, mas sim de uma condição social
e especialmente, biológica. E por isso, a reforma trabalhista não trouxe uma alteração eficaz nesse
ponto da CLT, já que não flexibiliza de modo razoável o direito à limitação da jornada dos
trabalhadores (BRASIL, 2018).
Em seu livro intitulado “Duração do trabalho em todo mundo” Lee, McCann e Messenger
(2009) abordam tendências de jornadas de trabalho, legislação e políticas numa perspectiva global.
Para eles, as mudanças legislativas acerca da jornada de trabalho que não são realizadas mediante
negociação coletiva, são motivo de preocupação, já que a ausência de informações pode impedir a
mensuração adequada dos impactos de tais mudanças na jornada de trabalho.
Um estudo apresentado em um seminário organizado pelo Tribunal Superior do Trabalho –
TST, com o tema “trabalho seguro” esclareceu que o turno ideal para realizações de atividades
laborais é o matutino, já o turno vespertino eleva em 18,3% o risco relativo ocupacional e o trabalho
noturno, em 30,4%. Em uma outra análise, tendo como comparação o número de horas trabalhadas,
o estudo demonstrou que a partir de cinco horas, a atividade já apresenta risco aumentado, com
dez horas esse risco se duplica, e com doze horas o risco chega a ser 2,5 vezes maior que o
observado em apenas duas horas de trabalho (BRASIL, 2018).
Além disso, é importante destacar que a jornada 12x36 acaba se tornando mais cansativa
para o trabalhador, o que pode fazer com que ele se torne mais propício a “erros”, devido à carga
horária exaustiva, dificultando seu nível de concentração, e consequentemente, ocasionando
acidentes pela falta de atenção. É o caso, por exemplo, de profissionais que atuam na área da
saúde, motoristas e vigilantes.
Por esses e outros fatores, as medidas de flexibilização da jornada de trabalho, devem ser
bem planejadas, caso contrário, desencadearão jornadas extensas e poderão influenciar
negativamente em aspectos sociais da vida do trabalhador (SILVA, 2013).
O artigo 60 já previa que a prorrogação de qualquer atividade considerada insalubre deveria
ser acordada somente por meio de licença prévia por parte de responsáveis de SST. Porém, a nova
regra incluiu o parágrafo único a esse artigo, que dispensa a necessidade da licença prévia para
jornadas trabalhistas de doze horas por trinta e seis horas de trabalho. Além disso, a nova redação
imposta pela reforma trabalhista inclui o artigo 611-A que prevê que a convenção coletiva e o acordo
coletivo de trabalho prevaleçam sobre a lei em aspectos como: enquadramento do grau de
insalubridade das atividades e, prorrogação de jornada em ambientes insalubres que não possuam
licença prévia (BRASIL, 2017).
Ao permitir a prevalência de acordos sobre a lei e dispensar a licença prévia em jornadas
12x36, a reforma entra em contradição com o próximo capítulo, que prevê que os acordos não
apresentem supressão ou a redução de direitos como normas de saúde, higiene e segurança do
trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho. Isso porque a
prorrogação da jornada por si só já vulnerabiliza a saúde física e mental do trabalhador, mas permitir
que tal prorrogação ocorra em ambiente insalubre e sem licença prévia das autoridades
competentes do Ministério do Trabalho para aferirem o grau de tolerância do organismo humano e
atestarem a segurança da atividade, constitui em uma imprudência do governo (BRASIL, 2018). A
análise de uma condição insalubre se trata de um fator técnico-científico que envolve muitos
aspectos e não pode ser tratado apenas como um ato de negociação entre as partes, mesmo as
partes coletivas. Principalmente porque na maioria dos casos, o empregado não tem realmente
condições de fazer exigências, pois precisa do emprego para sobreviver.
Como era a regra de acordo com o decreto-lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943:
Teletrabalho, home office ou trabalho remoto é definido pela OIT (1996) como uma atividade
que resulta em um produto ou serviço conforme especificado pelo empregador, independentemente
de quem fornece os equipamentos, materiais ou outros insumos utilizados, que seja realizada na
casa do trabalhador ou em outras instalações à sua escolha, que não o local de trabalho do
empregador.
A nova legislação, além de aprovar a regulamentação do teletrabalho, deixa claro que o
empregador deverá instruir os empregados, de maneira expressa e ostensiva sobre precauções a
serem tomadas como forma de impedir a ocorrência de acidentes ou doenças relacionadas ao
trabalho. Porém, a forma como a lei tratou esse assunto trouxe uma explanação muito abrangente,
não levando em conta, por exemplo, que cada ambiente laboral possui sua peculiaridade, e assim,
não há a possibilidade de conquistar ambientes seguros apenas oferecendo meras informações aos
trabalhadores (SOUZA et al., 2017).
Para garantir que os direitos trabalhistas dos teletrabalhadores sejam atendidos é
importante que a Norma Regulamentadora 17, que regulamenta e fornece orientações e
procedimentos obrigatórios de ergonomia, seja imposta no home office onde o trabalhador irá
atuar, de forma que o empregador desenvolva meios que permitam a supervisão e
acompanhamento da aplicação desta norma no ambiente laboral.
Também é importante ressaltar que há uma série de fatores que envolvem a aptidão do
empregado para atuar em um home office. Para Nilles (1997), o teletrabalhador deve ter um perfil
que contenha certas características, como: automotivação e autodisciplina; capacidade de
conciliação entre a vida profissional e a vida familiar; competência profissional e flexibilidade.
Terceirização
Por não haver uma legislação específica sobre a terceirização, decisões da Justiça do
Trabalho determinavam que esta era permitida apenas para as chamadas atividades-meio,
aquelas não consideradas como principais atividades da empresa ou atividades-fim. É o caso dos
serviços de limpeza e manutenção, por exemplo (AGÊNCIA BRASIL, 2017).
Gravidez
Como era a regra de acordo com a lei n.º 13.287, de 11 de maio de 2016
Art. 394-A. Sem prejuízo de sua remuneração, nesta incluído o valor do adicional de
insalubridade, a empregada deverá ser afastada de: (Redação dada pela Lei nº
13.467, de 2017)
I - Atividades consideradas insalubres em grau máximo, enquanto durar a gestação;
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
II - Atividades consideradas insalubres em grau médio ou mínimo, quando apresentar
atestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o
afastamento durante a gestação; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
III - atividades consideradas insalubres em qualquer grau, quando apresentar
atestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o
afastamento durante a lactação. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (BRASIL,
2017).
Anteriormente à reforma, a CLT orientava que tanto gestantes quanto lactantes fossem
afastadas de atividades ou locais considerados insalubres. Sendo assim, independente do grau de
insalubridade que a atividade ou o local proporcionasse, elas tinham o direito de se afastarem dos
mesmos.
Agora a CLT orienta que a empregada gestante que trabalhe em atividades consideradas
insalubres em grau máximo, seja afastada de suas funções ou local de trabalho, porém, não inclui
mais as lactantes no caput. A reforma atual também permite o afastamento de atividades
consideradas insalubres em grau médio ou mínimo, desde que a gestante apresente atestado de
saúde, que confirme a necessidade do afastamento durante o período gestacional.
A mudança poderá refletir negativamente na saúde da empregada gestante, a partir do
momento em que ela só poderá se afastar das atividades insalubres se tiver atestado que comprove
a necessidade de afastamento, mas a apresentação do respectivo atestado poderá gerar um mal-
estar entre o chefe e o setor em que a mesma trabalha, podendo até mesmo comprometer seu
emprego. Além disso, o médico que emitirá o atestado pode não ter informações necessárias
relativas ao trabalho e a real condição do ambiente laboral para avaliar se a gestante pode ou não,
continuar a se expor (SOUZA et al., 2017).
Um outro ponto que também deve ser levado em consideração é a questão do preparo do
médico quanto ao nível de informação necessária para que ele avalie as reais condições do
ambiente de trabalho da gestante ou lactante e determine seu afastamento.
De acordo com o Ministério da Saúde a ausência de registros, dados e informações nos
hospitais dificultam a avaliação dos casos, e uma adequada intervenção no quadro clínico de
pacientes, o que aumenta os erros terapêuticos. Por isso, é preciso que todos se conscientizem da
importância do registro médico. Ademais, o profissional da saúde deve conhecer os direitos
assegurados à gestante e respeitar os direitos trabalhistas da mesma (BRASIL, 2012).
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