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A Dimensão Subjetiva
da Subcidadania:
Considerações Sobre
a Desigualdade Social
Brasileira
Subjective Dimension Of A Sub-Citizenship Status:
Considerations On The Brazilian Social Inequality

La Dimensión Subjetiva De La Subciudadanía:


Consideraciones Sobre La Desigualdad Social Brasilera

Luane Neves Santos,


Alessivânia Márcia
Assunção Mota &
Marcus Vinícius de
Oliveira Silva

Universidade
Federal da Bahia
Artigo

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2013, 33 (3), 700-715


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PSICOLOGIA:
CIÊNCIA E PROFISSÃO, Luane Neves Santos,Alessivânia Márcia Assunção Mota & Marcus Vinícius de Oliveira Silva
2013, 33 (3), 700-715

Resumo: Este artigo aborda a temática da desigualdade social e suas repercussões na subjetividade dos
brasileiros, a partir de um esforço integrativo para superar a visão objetivista do fenômeno. Para tanto,
recorre às proposições da sociologia de Jessé Souza e da psicologia de Gonzalez Rey, visando a um en-
riquecimento da compreensão dos processos sociopsicológicos que se fazem presentes nesse fenômeno,
normalmente percebido por um viés exclusivamente economicista. O artigo adota, como ponto de partida,
os esforços explicativos de Jessé Souza, sobretudo em sua descrição do caráter orgânico da desigualdade
social brasileira, que tem como consequência a produção de uma subespécie humana; de Gonzalez Rey,
extrai os elementos simbólicos, valorativos e relacionais da produção subjetiva da desigualdade, consolidada
cotidianamente em práticas coletivas que a naturalizam. Torna-se necessário alinhar esforços interpretativos
para a compreensão da desigualdade social a partir de perspectivas superadoras da dicotomia indivíduo-
sociedade, pois, assim como a construção social da subcidadania – bem como os demais efeitos do modo
como a desigualdade social se consolidou e se retroalimenta no Brasil – tem um componente estrutural
relativo à subjetividade social, esta também se perpetua pela ação pré-reflexiva de cada sujeito na vivência
de sua subjetividade individual.
Palavras-chave: Subjetividade. Iniquidade social. Psicologia social. Exclusão social.

Abstract: This article deals with the theme of social inequality and its repercussion on the subjectivity of
Brazilians, based on an integrational effort for the overcoming of the objectivist vision of the fenomena. To
do so, it makes use of the proposals of Jessé Souza, sociologist, and of Gonzalez Rey’s psychology, having
in mind a better comprehension of the socio-psychological processes that take part in this fenomena,
which are many times perceived and biased by economists. The article adopts as a start point the many
explanations of Jessé Souza, mainly his descriptions of the inequality in the Brazilian society, which has as
a consequence the outcome of a “human sub-citizenship”. I took the symbolic elements used by Gonzales
Rey which have the same values and are also related to a formation of a subjective social inequality,
consolidated on day to day group practices. It is therefore necessary to put together several interpretations
in order to better understand what social inequality is. Taking into account the different perspectives that
overcome the dichotomy individual-society – as the construction of the social sub-citizenship as well as
the other effects on how social inequality has been consolidated and has a feedback in Brazil – there is a
structural component related to the social subjectivity, being the latest also perpetuated through the pre-
reflexive action of each individual, on each individual subjective experience.
Keywords: Subjectivity. Social issues. Social psychology. Social exclusion.

Resumen: Este artículo reflexiona sobre la temática de la desigualdad social y sus repercusiones en la
subjetividad de los brasileros, a partir de una esfuerzo integrativo para superación de la visión objetivista
del fenómeno. Para eso, se recurre a las proposiciones de la sociología de Jessé Souza y de la psicología de
Gonzalez Rey visando un enriquecimiento de la comprensión de los procesos socios psicológicos que se
hacen presentes en este fenómeno, normalmente percibido por un enfoque exclusivamente economicista.
Adopta como punto de partida, los esfuerzos explicativos de Jessé Souza, principalmente en su descripción
del carácter orgánico de la desigualdad social brasilera, que tiene como consecuencia la producción de una
“sub-especie humana”. De Gonzalez Rey se extraen los elementos simbólicos, valorativos y relacionales
de la producción subjetiva de la desigualdad, consolidada cotidianamente en prácticas colectivas que la
naturalizan. De esta manera, se vuelve necesario alinear esfuerzos interpretativos para la comprensión de
la desigualdad social a partir de perspectivas superadoras de la dicotomía individuo - sociedad, pues, al
paso en que la construcción social de la subciudadanía - así como los demás efectos del modo como la
desigualdad social se consolidó y se retroalimenta en el Brasil - tiene un componente estructural relativo a
la subjetividad social, la subjetividad social también se perpetua por la acción pre-reflexiva de cada sujeto
en la vivencia de su subjetividad individual.
Palabras clave: Subjetividad. Problemas sociales. Psicología social. Exclusión social.

O presente artigo tem por objetivo discutir retroalimentação da desigualdade social no


o tema da desigualdade social e suas Brasil. A aproximação teórica entre os autores
repercussões na subjetividade dos brasileiros pode ser de grande utilidade, na medida
a partir da perspectiva sociológica de Jessé em que, oriundos de matrizes disciplinares
Souza e psicológica de Gonzalez Rey, distintas, a saber, a Psicologia e as ciências
com vistas a compreender a dimensão sociais, ambos se movimentam no sentido de
subjetiva da subcidadania e o processo de evidenciar as suas insatisfações com os limites

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impostos pela dicotomia sujeito/sociedade 11,2%, enquanto o índice de Gini diminuiu


que a tradicional distinção entre essas matérias 7,1%. Outro fator importante nesse contexto
produz, condição que possibilita melhor são as diferenças regionais destacadas pelo
compreender as implicações psicossociais indicador: maior no Centro-Oeste (0,558) e
da desigualdade social na construção das menor nas Regiões Norte e Sul (0,498) em
subjetividades referida tanto aos indivíduos 2008.
quanto às coletividades.
Assim, fortes desigualdades na distribuição de
A desigualdade social é um tema complexo renda implicam a consolidação da pobreza e
que pode ser abordado por diferentes situam-se entre os problemas mais graves do
perspectivas. Em geral, evidenciada pelas País. Estados como Piauí, Paraíba e Alagoas,
dimensões econômicas objetivas, sobretudo que possuem os maiores índices de Gini do
na diferença da distribuição da renda, ela Brasil, por exemplo, apresentam proporções
inclui também dimensões relativas a aspectos elevadas de famílias com rendimento mensal
existenciais, a relações sociais e a expressão familiar per capita inferior a ½ salário mínimo:
política (Souza, 2006a). O histórico acesso 44,1%, 42,2% e 47,6%, respectivamente
diferenciado a recursos, tanto de ordem (IBGE, 2010).
material como simbólica, caracteriza o
contexto no qual as pessoas se desenvolvem A despeito da melhoria dos índices de
e constroem suas subjetividades. desigualdade social, estes ainda permanecem
muito altos e como um grande desafio à
No caso brasileiro, a desigualdade social sociedade brasileira. Dados divulgados
apresenta-se historicamente como um pela Fundação Getúlio Vargas na pesquisa
grave problema, ainda que com um cenário intitulada Desigualdade de Renda na Década
promissor a partir das políticas públicas (Neri, 2011) destacam uma redução na
direcionadas para a área social que foram pobreza de 50,64% entre dezembro de 2002
implementadas pelo governo Lula. De acordo e 2010 e do índice que mede a desigualdade,
com o Instituto Brasileiro de Geografia e que chegou ao mínimo em uma série histórica
Estatística - IBGE (2010), na pesquisa sobre desde 1960. A taxa de crescimento na última
indicadores de desenvolvimento sustentável, década dos 50% mais pobres foi 577% mais
o Brasil permanece com elevado índice de alta que a dos 10% mais ricos.
Gini (0.531 em 2008), que mede o grau de
concentração na distribuição de rendimentos Conforme assinalado por Neri, a desigualdade
da população e varia de 0 (zero), situação social se constitui em níveis e distâncias
de plena igualdade, a 1 (um), conjuntura desiguais entre as pessoas, quer seja de
de desigualdade máxima. Em condições um ponto de vista referido à totalidade da
reais, é muito difícil que o índice alcance população – desigualdade vertical – quer seja
esses valores extremos, porém, um índice entre segmentos específicos dessa população,
em torno de 0,5 é compreendido como um a partir de gênero, escolaridade, etnia –
valor expressivo de fortes desigualdades na desigualdade horizontal.
distribuição de renda na região analisada.
Quanto ao estudo, por parte da Psicologia
O que se observa, portanto, é que o brasileira, de temas associados à desigualdade
crescimento econômico no País não reduziu social, observa-se que os psicólogos, ainda
a desigualdade social na mesma proporção. que tardiamente, têm se interessado
Dados do IBGE revelam, por exemplo, que, progressivamente pela questão, exigindo a
entre 1996 e 2006, o PIB per capita cresceu ampliação dos estudos nessa temática, dada

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sua grande relevância social. Destaca-se deferência, reportando-se à noção moderna


como um dos pioneiros o trabalho de Patto de cidadania jurídica e política (Souza, 2006b).
(1984), que, ao analisar a Psicologia e as
classes subalternas, produz uma importante A desigualdade social produz fortes
reflexão crítica sobre a teoria da carência ressonâncias na constituição da subjetividade,
cultural como modelo explicativo das tanto individual quanto social. Para Rey
dificuldades de inserção social das classes (2005a), a subjetividade é configurada como
pobres. Produções mais atuais evidenciam unidades representativas das sínteses das
de forma mais específica os entrelaçamentos histórias individuais associadas a elementos
entre a experiência de subalternidade e das histórias coletivas, a partir das quais a
A noção de as implicações subjetivas de tal condição. subjetividade se organiza. Nessa perspectiva,
subcidadania Entre estes, incluem-se os estudos sobre a a subjetividade apresenta um caráter sistêmico
implica uma dimensão subjetiva dos fenômenos sociais e compreende a expressão do sujeito como
hierarquia
(Bock & Gonçalves, 2009), a invisibilidade manifestação da subjetividade individual,
valorativa das
pessoas – implícita pública (Costa, 2004), o sofrimento ético- susceptível a mudanças a depender do
e enraizada político (Sawaia, 2001) e a humilhação social contexto da subjetividade social.
institucionalmente (Gonçalves Filho, 1998).
de modo invisível
– que determina Ao adotar um conceito de subjetividade
quem é ou não Convergentes, a leitura psicológica de Spink distanciado da compreensão comumente
gente, e, por e Spink (2005) e a tomada sociológica de utilizada – associada aos aspectos
consequência,
Souza (2006a) sobre o tema apontou que intrapsíquicos do sujeito, determinante das
quem é ou não
cidadão. Tal há muitos mecanismos mantenedores da ações humanas e dissociada do contexto
processo incide desigualdade social no Brasil, com destaque social – busca-se uma reflexão que abranja o
fundamentalmente para o processo de naturalização que a tema em sua complexidade, entendendo-o
nos acessos
envolve. Nessa perspectiva, a desigualdade como um campo de significação heurística ao
diferenciados aos
recursos materiais social é percebida como uma construção permitir um diálogo permanente com todos
e simbólicos na coletiva, consolidada cotidianamente nas os níveis constitutivos da realidade social e
vida social (Souza, relações estabelecidas pelos sujeitos a partir dos sujeitos imersos nesse contexto.
2003).
das práticas sociais reiteradas pelas crenças e
valores. Acrescenta-se ainda que, em países Discutiremos a seguir a temática da desigualdade
periféricos como o Brasil, a desigualdade social e da subcidadania distanciando-nos desse
social toma contornos perversos, dada a viés econômico, focados na sua relevância para
condição de miséria e de subcidadania a construção da subjetividade em seus vários
vivenciada por amplas camadas da sociedade. ângulos, enfatizando componentes tanto de
ordem social quanto psicológica, no intuito
A noção de subcidadania implica uma de problematizar a questão e de contribuir
hierarquia valorativa das pessoas – implícita para implicação de todos na construção de
e enraizada institucionalmente de modo alternativas teóricas e práticas às perspectivas
invisível – que determina quem é ou não gente, vigentes.
e, por consequência, quem é ou não cidadão.
Tal processo incide fundamentalmente nos A construção social da
acessos diferenciados aos recursos materiais subcidadania no contexto da
e simbólicos na vida social (Souza, 2003).
desigualdade social brasileira
Assim, o compartilhamento de uma dada
estrutura psicossocial apresenta-se como
A compreensão de Jessé Souza sobre as
a base tácita do reconhecimento social,
características constitutivas do Brasil levaram-
entendido como atribuição de respeito e

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no a produzir uma série de trabalhos proposições. Nessa obra, Fernandes (1978)


direcionados a uma reinterpretação da produz um significativo relato sobre a
formação social do País, propondo o inserção social do negro após a abolição da
desenvolvimento de uma importante teoria escravatura, na cidade de São Paulo.
social crítica sobre a desigualdade social
brasileira e seus desdobramentos nos âmbitos Souza destaca sua convergência com a
individuais e coletivos. Para Souza (2006b), a perspectiva apresentada por Fernandes, de
desigualdade social no País é naturalizada a que faltava fundamentalmente ao ex-escravo
tal ponto na vida cotidiana que esta se torna uma organização psicossocial para adaptar-
pouco acessível à percepção, permanecendo se à nova ordem social pós-abolição, que é
invisível. Assim, a percepção da existência de inerente à atividade capitalista e requer uma
pessoas pobres e miseráveis é obscurecida por pré-socialização em um sentido específico.
um arsenal de justificativas que normalizam Trata-se da não adaptação do negro para o
as condições precárias de existência de um trabalho livre e da sua inaptidão para operar
segmento da população, como, por exemplo, de acordo com modelos de comportamento
as ideias de meritocracia, de trajetórias
e de personalidade da sociedade competitiva.
pessoais fracassadas, de sorte ou azar.
Tal dificuldade de adaptação pode ser
Nesse sentido, para o referido autor, a
Para Souza compreendida, uma vez que os negros foram
marginalização constante de grupos sociais
(2006b), a libertos, porém não incluídos na vida social.
desigualdade inteiros correlaciona-se com a disseminação
Além disso, ao retomar Florestan, Souza alerta
social no País ativa de certas compreensões morais e
é naturalizada
que a política escravocrata brasileira criava
políticas na sociedade. Dentre estas, a
a tal ponto na obstáculos a qualquer modo de organização
noção que reduz a causa da marginalidade à
vida cotidiana familiar ou comunitária entre os escravos.
que esta se torna possibilidade de resolução do problema por
Aproximando-se de Fernandes, considera que
pouco acessível via exclusivamente econômica é um bom
à percepção, a desorganização de âmbito familiar repercute
exemplo, pois oculta a dimensão fundamental
permanecendo decisivamente na constituição de um padrão
invisível.
das relações sociais moldadas a partir de
de ação desorganizada na vida social,
critérios que atribuem reconhecimento social
para uns e marginalidade para outros, de um inicialmente atribuída a negros e mulatos,
processo que alia cidadania e subcidadania mas que historicamente foi decisivo para a
(Souza, 2006b). constituição de uma ralé estrutural no Brasil.

Pa r a f u n d a m e n t a r s e u s a r g u m e n t o s Na obra de Jessé, o termo ralé compõe uma


teóricos sobre a constituição de um padrão categoria teórica de cunho metafórico, que se
nomeadamente periférico de cidadania refere a uma classe de indivíduos desprovidos
e subcidadania, Souza (2003) recorre à não somente do capital cultural e econômico
matriz sociológica oriunda de Charles Taylor mas também fundamentalmente sem acesso
e de Pierre Bourdieu. Do primeiro autor, às pré-condições sociais, morais e culturais
ele recupera as formulações sobre a teoria que permitem essa apropriação (Souza,
do reconhecimento social, e do último, as 2009). Por inspiração de Elias (1994), tais
noções de habitus e de distinção. Ademais, ao pré-condições constituem o terreno em que
retomar o contexto histórico que favoreceu objetividade e subjetividade se interpenetram
a emergência desses padrões no Brasil, ele no processo histórico. O termo é utilizado em
apresenta as considerações de Florestan tom provocativo, sem a intenção de ofender
Fernandes sobre a integração do negro na ou de humilhar as pessoas que compõem esse
sociedade de classes, acrescentando novas grupo social (Souza, 2009).

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Nesse ponto, Souza amplia os horizontes condicionada às ações dos sujeitos em bases
acerca das hipóteses explicativas sobre historica e socialmente situadas.
a marginalidade do negro na sociedade
brasileira, a qual, na sua visão, é prototípica A noção de habitus permite desvelar a força
dos modos de expressão da marginalidade das construções ideológicas presentes na
que se estende sobre a ralé. Desse modo, sociedade, os processos de constituição
acentua a possibilidade de compreender dos sujeitos baseados na naturalização e na
as contribuições teóricas de Florestan à luz banalização das desigualdades, reproduzidas
da constituição e da reprodução de um e aceitas pelos próprios sujeitos, e nos
habitus específico. O habitus compreende mecanismos utilizados para legitimá-las como
um sistema de estruturas cognitivas e boa e justa, em outras palavras, compreender
motivadoras, que produz um esquema de a persuasão invisível como produto de uma
condutas e de comportamentos que passa a pedagogia implícita que atua sutilmente nos
gerar práticas individuais e coletivas. detalhes cotidianos considerados de menor
importância (andar, vestir, falar, consumir,
Segundo Bourdieu (2009), o habitus constitui etc.) que vai inscrevendo-se e naturalizando-
em um sistema de disposições e de estruturas se, de forma imperceptível e inconsciente,
duráveis e transponíveis, princípio gerador em toda uma estrutura social. Nesse uso que
e organizador das práticas individuais e faz de Bourdieu, a construção de Jessé Souza
coletivas, de acordo com os esquemas distancia-se das compreensões economicistas
engendrados pelos grupos dominantes. para valorizar aspectos que são normalmente
Cada experiência, ao ser depositada nos considerados em dimensões subjetivas.
organismos sob a forma de esquemas de
percepção, de pensamento e de ação, tende, O uso do conceito de habitus na obra do
de forma mais segura que todas as regras autor é fundamental, pois amplia a explicação
formais e normas explícitas, a garantir a da marginalidade localizada no preconceito
conformidade das práticas e sua constância de cor, alertando para a centralidade
ao longo do tempo. da reprodução de um habitus precário
como causa principal da inadaptação e da
Bourdieu afirma que a dinâmica de marginalização desses grupos. Ao propor
produção simbólica na vida dos sujeitos não tal compreensão, o referido autor não
ocorre arbitrariamente; ao contrário, essas descarta a existência do preconceito, apenas
produções seriam provenientes desse sistema destaca que, para além da cor, existe um
dominante e legitimador das preferências, preconceito que remete a um tipo específico
estilos, formas de ser, pensar e atuar, que de personalidade, expressa na ralé, avaliada
se incorporariam nos sujeitos de uma forma como improdutiva e disruptiva para a
tão sedimentada, complexa e mascarada sociedade como um todo.
que o processo de dominação e de opressão
tenderia a se tornar legítimo. Como produto Em consequência, o problema não está
da ação dominante do sistema, o habitus somente na cor, mas na inadaptação social.
permitiria a produção livre de todos os Nesse ponto, Souza (2003) sinaliza uma
pensamentos, percepções e ações, fazendo- ruptura teórica com Florestan, ampliando a
se, entretanto, nos limites inerentes às discussão proposta por esse autor ao produzir
condições particulares de sua produção a tensão cor versus habitus. Para apoiar tal
(Souza, 2003), isso porque o habitus possui interpretação, Souza retoma os achados de
uma capacidade infinita de engendrar Fernandes, que comparam as condições
uma liberdade controlada, condicional e de inadaptação da população negra às dos

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dependentes rurais brancos, combinando O habitus precário pode ser compreendido


esses dois elementos como formadores da como um modo de organização da
“gentinha” ou da “ralé” nacional. personalidade dotado de disposições
de comportamento insuficientes para as
Refletir sobre a tensão cor/habitus exige, demandas objetivas para que, seja um
portanto, a ação de debruçar-se sobre o indivíduo, seja um grupo social, possa ser
componente oculto por trás da cor. Segundo considerado produtivo e útil em uma sociedade
Souza (2003), Florestan indica o caminho a moderna e competitiva. Tal processo instaura
ser seguido através da repetição constante um tipo de validação ao sujeito, que passa a
em seu trabalho, de que o que os negros usufruir de reconhecimento social e de seus
queriam essencialmente era transformar- correlatos. No entanto, a vivência do habitus
se e “ser gente”. Nesse sentido, ser gente precário, como elemento fundamental na
pode ser comparado às pré-condições para construção de uma ralé estrutural, só se
a constituição de um habitus apropriado às apresenta como um fenômeno de massa em
necessidades institucionais da nova ordem, países periféricos como o Brasil (Souza, 2003).
independentemente da cor de pele; esse
ser gente, no caso, expressa as lutas por Já o habitus secundário parte da
reconhecimento, pré-condição social para homogeneização dos pressupostos atuantes
a configuração e a expressão dos selfs na constituição do habitus primário,
individuais. acrescentando critérios classificatórios de
distinção social com base no conceito de
Ao aprofundar a discussão sobre o habitus, gosto, desenvolvido por Bourdieu (2007).
Souza propõe uma subdivisão interna Nesse aspecto o gosto ganha a qualidade de
de tal categoria com vistas a atribuir- uma moeda invisível, que transforma o capital
lhe um caráter histórico mais matizado: econômico puro e, sobretudo, o capital
habitus precário, primário e secundário. cultural em um conjunto de signos sociais
Por habitus primário, ele compreende os de distinção legítima. Destaca-se ainda que
esquemas avaliativos e as disposições de esse processo de luta pela distinção, firmada
comportamento objetivamente absorvidos e no que Souza denomina habitus secundário,
incorporados, como proposto na perspectiva existe tanto em sociedades periféricas quanto
bourdieusiana do termo, que possibilita o nas avançadas, pois associa-se à apropriação
compartilhamento entre as pessoas de uma seletiva de bens e de recursos escassos.
noção de dignidade, no sentido tayloriano:
A noção de subcidadania instaura um grande
1 Quando Souza É e s s a d i m e n s ã o d a ‘d i g n i d a d e ’ desconforto quando analisada a partir de
refere-se ao aspecto compartilhada, no sentido não jurídico
europeu, não está de ‘levar o outro em consideração’, e que uma perspectiva individual, por meio do
remetendo-se à Taylor chama de respeito atitudinal, que questionamento de como esse processo se
entidade concreta da tem que estar disseminada de forma efetiva
Europa, nem a um apresenta em nossas relações sociais. Nesse
numa sociedade para que possamos dizer
tipo físico específico, sentido, Souza ressalta que não se trata de
mas destacando a fonte
que, nessa sociedade concreta, temos
a dimensão jurídica da cidadania e da intencionalidade, porque
histórica da concepção
culturalmente assentada igualdade garantida pela lei. Para que
de ser humano, que haja eficácia legal da regra de igualdade, é nenhum brasileiro europeizado1 de classe
se apresenta de forma necessário que a percepção da igualdade média confessaria, em sã consciência, que
hegemônica por meio na dimensão da vida cotidiana esteja considera seus compatriotas das classes
da ação empírica de efetivamente internalizada (2003, p. 166) baixas não-europeizadas ‘sub-gente’.
instituições como Grande parte dessas pessoas votam em
mercado competitivo partidos de esquerda e participam de
e Estado racional campanhas contra a fome e coisas do
centralizado. gênero. A dimensão aqui é objetiva,

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sub-liminar, implícita e intransparente. cultivo das pré-condições morais, culturais e


Ela é implícita também no sentido de políticas da marginalidade, pois a miséria dos
que não precisa ser linguisticamente
mediada ou simbolicamente articulada. desclassificados é moldada não apenas sob
Ela implica, como a idéia de habitus em a forma de miséria econômica mas também
Bourdieu, toda uma visão de mundo e sob a forma de miséria emocional, existencial
uma hierarquia moral que se sedimenta
e política, que são naturalizadas (Souza,
e se mostra como signo social de forma
imperceptível a partir de signos sociais 2006a). O ideal de justiça, apresentado
aparentemente sem importância, como pelo mundo moderno, fundamenta-se na
a inclinação respeitosa e inconsciente do meritocracia – entendida como a possibilidade
inferior social quando encontra com um
de os indivíduos superarem as barreiras
superior, pela tonalidade da voz mais do
que pelo que é dito, etc (Souza, 2003, sociais, econômicas e culturais existentes
p. 175) – desconsiderando a real natureza desses
obstáculos (Souza, 2003). Assim, o indivíduo
Propor a noção de múltiplos habitus tem por privilegiado por um aparente talento inato
O ideal
de justiça, objetivo superar concepções subjetivistas seria, na verdade, produto de capacidades
apresentado da realidade que restringem a mesma às e de habilidades transmitidas de pais para
pelo mundo interações face a face. Ademais, a falta de filhos por mecanismos de identificação
moderno,
reconhecimento não implica somente a afetiva por meio de exemplos cotidianos,
fundamenta-se
na meritocracia ausência do devido respeito a alguém. Ela assegurando a reprodução de privilégios de
– entendida produz feridas profundas, incidindo nas classe indefinidamente no tempo (Souza,
como a 2009), ainda que tais aspectos possam figurar
vítimas também por meio do autodesprezo.
possibilidade
E, na maioria das vezes, a aceitação da como pressupostos latentes ou inconscientes.
de os indivíduos
superarem as situação de precariedade como legítima
barreiras sociais, e até merecida corrobora a naturalização Souza considera que esse poderoso
econômicas processo de identificação emocional e
da desigualdade, mesmo em casos de
e culturais
existentes – desigualdade extrema como na sociedade afetiva desempenhe uma larga vantagem na
desconsiderando brasileira (Souza, 2003). competição social, em relação à ralé, seja
a real natureza na escola, seja no mercado de trabalho, em
desses
Para Souza, o fundamento principal daqueles relação às classes desfavorecidas. A ralé, ao
obstáculos
(Souza, 2003). que visualizam na classe social um elemento dispor apenas do corpo para sua reprodução,
que não impacta na performance social dos não apresentaria condições de atender as
sujeitos é o pressuposto do desempenho e demandas de um mercado competitivo,
da disciplina. A anuência e a internalização globalizado, exigente e segregador, sem
generalizada desse princípio individualista paralelo mesmo quando se faz alusão ao
tornam-se as responsáveis pela percepção lumpenproletariado marxista, que funcionava
de fracasso pessoal como modelo explicativo como um exército industrial de reserva
da inadaptação e da marginalização desses que, em épocas de crescimento econômico
setores. Ressalta-se ainda que a disseminação poderia ser absorvido pelo capital (Marx,
dessa visão ocorre tanto pelas parcelas 1988).
dominantes na sociedade como também
pelas próprias vítimas. Ao pulverizar a discussão sobre a desigualdade
social brasileira, outras teses colaboram para
Pressupõe-se que o marginalizado seja o seu processo de naturalização, desfocando
portador das mesmas capacidades os componentes subjetivos através de um
disposicionais do indivíduo da classe média jogo de prestidigitação objetivista: 1) ênfase
(Souza, 2003). No entanto, a reprodução excessiva nas cruzadas contra a corrupção,
de classes marginalizadas vincula-se ao desconsiderando que esse é um problema

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das sociedades modernas como um todo, 2) sociológicos possam incorporar a perspectiva


foco em reformas administrativas, como se o da vivência concreta dos sujeitos, ou, como ele
problema de base fosse somente de gestão afirma, “estudar o social individualizado, isto
apropriada dos recursos, 3) destaque nas é, o social refratado em um corpo individual
diferenças regionais, que conduzem a uma – cuja peculiaridade é atravessar os diferentes
luta contra as elites retrógradas, como se as grupos, instituições, campos de forças e de
regiões mais modernas não enfrentassem lutas e cenas –, é estudar a realidade social sob
problemas semelhantes, e, sobretudo, 4) a a forma incorporada, interiorizada” (Lahire,
crença fetichista na capacidade da economia 2008, p. 375).
em solucionar todos os problemas (Souza,
2003). A compreensão dos aspectos da subjetividade
dos brasileiros, configurada a partir dos
Nessa hipótese, viveria a sociedade brasileira, elementos característicos do processo de
liberada do potencial horror associado ao desenvolvimento social deste país, torna-
seu caráter perverso, um tipo sui generis de se fundamental para o entendimento das
estratificação, no qual as classes sociais são múltiplas formas pelas quais os sujeitos vêm
demarcadas não somente pela renda mas, experienciando, sentindo e expressando tais
sobretudo, pela capacidade diferencial dos tensionamentos, contradições e determinações
sujeitos de dispor dos recursos tanto materiais em sua complexidade.
quanto simbólicos, o que termina por
retroalimentar o processo de desigualdade Abordar o tema da subjetividade atualmente
social no País (Souza, 2009). pressupõe um convite à subversão do
seu significado e limites de compreensão,
A subjetividade em uma circunscritos, até então, pelas ciências
perspectiva superadora da humanas e pelo senso comum. Quando
se questiona o significado do termo ou se
dicotomia indivíduo-sociedade
recorre aos dicionários e enciclopédias, é
frequente encontrarmos uma polissemia
Ao afirmar que o ponto principal é saber
que tende a incorrer em compreensões
porque as pessoas sentem o que elas sentem
divergentes e algumas vezes limitantes
e qual a dinâmica social que produz, de
em sua capacidade explicativa sobre as
maneira tão avassaladora, esse tipo de
práticas humanas socialmente construídas. As
humilhação e de baixa auto-estima para
definições comumente encontradas referem-
determinada classe de pessoas, Souza
se a “íntimo”, “pessoal”, “o que não se acessa”,
(2006c) nos propõe a concepção de uma “interior”, “o que não é objetivo” ou ainda “é
nova teoria crítica da sociedade. Nesta, muito subjetivo para ser explicado”.
associa-se uma percepção de subjetividade
que intenciona explicitar a dinâmica das Conforme análise de Figueiredo e Santi
causas que produzem dor, desrespeito, não (2003), a subjetividade foi compreendida
reconhecimento e humilhação para uns e inicialmente como as experiências individuais
legitimação, prazer e saúde para outros. sentidas e vividas como únicas e originais,
quase incomunicáveis e inacessíveis a outras
Souza associa-se a outras iniciativas experiências. O seu estudo relaciona-se a
sociológicas tais como a de Bernard Lahire, questões filosóficas referentes à busca da
no artigo intitulado Esboço do Programa origem dos seres, da existência, dos desejos,
Científico de uma Sociologia Psicológica, no experiências, sentimentos e valores, sendo
qual indica a importância de que os estudos denominada por esses autores subjetividade

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privatizada, a qual refletia a visão predominante incentivava o desenvolvimento de ações


do pensamento liberal vigente no final do controladoras e previsíveis do comportamento
século XVIII. Inicialmente legitimada pelo humano, além de servir como suporte,
campo filosófico, a subjetividade privatizada ordenamento e regulação social. Referindo-
demarcava uma distinção entre os processos se a obra de Vygotsky, Rey (2005b) destaca
íntimos da alma (relacionados à essência que ele, bem como seus seguidores, Luria
do eu, à interioridade do pensamento) e os e Leontiev, apresentavam fortes críticas às
processos do corpo (sujeitos às mesmas leis posições reducionistas sobre a compreensão
físicas e orgânicas). da vida consciente, o incentivo à produção
de uma psicologia dialética, uma correlação
A crença na existência de um polo objetivo e entre fenômeno subjetivo e fenômeno
de um polo subjetivo, de um mundo interno objetivo, além de afirmarem que o sujeito
e de um mundo externo produz a percepção poderia ser melhor compreendido a partir
nos sujeitos de que são seres únicos, de seu contexto cultural.
singulares e individualizados, sem relação,
contudo, com o mundo real e objetivo, o As concepções atuais de subjetividade
que leva a compreensão desses sujeitos a redimensionam a importância dos aspectos
ancorar-se em aspectos dicotômicos e muitas sociais e coletivos para constituição dos
vezes incomunicáveis entre objetividade/ sujeitos, aspectos esses que são construídos a
subjetividade, corpo/mente, razão/emoção, partir da realidade social e expressos através
indivíduo/sociedade, inclusão/exclusão dos significados, emoções, ideias, discursos,
(Figueiredo & Santi, 2003). etc. Necessitam, por sua vez, na visão de
Bock, Gonçalves e Furtado (2009), ser
Baseando-se nos trabalhos desenvolvidos constantemente compreendidos, analisados
por Lev Semenovitch Vygotsky, Rey (2005a) e criticados, visando a desvelar os aspectos
buscou explicar a complementaridade ideológicos que mascaram as relações sociais
entre o cognitivo, o afetivo, o social e de dominação, desigualdade e manutenção
o individual, distanciando-se teórica, do status quo.
epistemológica e metodologicamente das
explicações propostas tradicionalmente A fundamentação teórica sobre subjetividade
pelas ciências humanas para a compreensão desenvolvida pelo psicólogo social cubano
da psique. No desenvolvimento da teoria Fe r n a n d o G o n z á l e z R e y c o n s i d e r a
sobre a subjetividade, surge em Gonzalez a afirmação superadora da dicotomia
Rey a necessidade de elaborar uma nova indivíduo/sociedade. É a partir dos conflitos
perspectiva epistemológica e metodológica de e contradições vivenciados no contexto social
produção de conhecimento da subjetividade, revolucionário cubano que a teoria de Rey
resgatando a centralidade dos sujeitos, a se desenvolve. Orientado pela perspectiva
construção do conhecimento de forma histórico-cultural, ele apresenta as categorias
interativa entre pesquisador e sujeitos, sujeito e subjetividade como “categorias
além de uma perspectiva construtivo- subversivas”, por acreditar, dentre outros
interpretativa do saber, guiada pelas categorias motivos, que elas “legitimam o espaço e a
de configuração subjetiva, subjetividade tensão da diferença, reconhecendo assim
individual, subjetividade social e sentido o direito de posições distintas dos sujeitos
subjetivo (Rey, 2005c). individuais” (Martinez, 2005, p.28).

A concepção de subjetividade, movida Rey (2005b) compreende a subjetividade


pelo pensamento naturalista e positivista, como um sistema em desenvolvimento,

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que integra o atual e o histórico, em cada sem apreciar a subjetividade dos espaços
momento de ação do sujeito nas diversas sociais que colaboram para a sua construção
esferas de sua vida. Destaca ainda o autor (Martínez, 2005).
que a subjetividade é um sistema dinâmico,
cuja unidade central são as configurações de A subjetividade social permite compreender
sentido, que integram o presente e o passado que os espaços coletivos apresentam uma
em cada momento de ação do sujeito. As dimensão simbólica, objetivada através das
configurações subjetivas organizam, portanto, leis, valores, regras, significados, ideologias,
a subjetividade como sistema e podem ser teorias, discursos, ciências, etc. Assim, em
consideradas relativamente estáveis por cada momento histórico, as configurações
estarem ligadas a uma produção de sentidos subjetivas se apresentarão conforme se
subjetivos que precede o momento presente configurarem as relações sociais e as formas
da ação do sujeito e que contribui para a de produção da vida a que os sujeitos derem
produção de sentidos de qualquer ação nova, significado.
O sujeito
que impacta na organização do sistema.
constituído por
uma concepção Segundo Rey (2005b, p. 203), a ação de
dialética e O sentido subjetivo se estabelece como um um indivíduo em um determinado contexto
complexa de sistema psíquico qualitativamente distinto social “poderá não apresentar repercussões
homem torna-
se o verdadeiro
a partir da integração da emoção aos imediatas, mas tende a ser correspondida
protagonista de registros simbólicos (Rey, 2005b), em um por reações advindas dos outros integrantes
sua história e da alinhamento espacial e temporal que define desses espaços, impressas pelos processos de
história coletiva
o seu caráter socio-histórico. As conexões e subjetivação característicos desse contexto,
construída
simultaneamente, os desdobramentos dos sentidos são variados gerando assim zonas de tensão”. Esse
sendo também o e não adotam uma regra universal. Desse tensionamento característico da complexidade
responsável pelo modo, o uso do termo configuração subjetiva da organização social e da ação dos sujeitos
próprio processo
é uma referência à organização desses nesses espaços (ações essas que apresentam
de subjetivação
a partir dos complexos processos. O sentido subjetivo elementos de sentido provenientes de outros
contextos onde existe, por conseguinte, em um fluir na espaços) pode proporcionar momentos de
se encontra subjetividade, que toma formas diversificadas crescimento social e individual.
inserido
(Rey, 2005a).
nas configurações subjetivas. Por isso,
um sentido subjetivo pode participar, ao Desse modo, os sujeitos, ao desenvolverem
mesmo tempo, da composição de diferentes diferentes tipos de atividades, constroem
configurações e estar vinculado à produção uma forma única e particular de produção
de novos sentidos em cada uma delas, em de sentidos, constituindo, portanto,
um processo para além da consciência do configurações subjetivas diferenciadas em
sujeito (Rey, 2005b). suas expressões particulares. O sujeito
constituído por uma concepção dialética e
As configurações subjetivas do aspecto complexa de homem torna-se o verdadeiro
social não aparecem, portanto, como algo protagonista de sua história e da história
externo, em contraposição às configurações coletiva construída simultaneamente, sendo
das subjetividades individuais, pois estas se também o responsável pelo próprio processo
constituem mutuamente, uma vez que não de subjetivação a partir dos contextos onde
é possível considerar a subjetividade de um se encontra inserido (Rey, 2005a).
espaço social desatrelada da subjetividade
dos indivíduos que a compõem. De modo A compreensão de sujeito em Rey dialoga
análogo, não é possível compreender a com aspectos das formulações de Morin
constituição da subjetividade individual (2000) no que tange à necessidade de uma

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transcendência na concepção de indivíduo e a sua perspectiva histórico-cultural se


para compreender a noção de sujeito, coadunam com a dimensão subjetiva da
visando a superar a simplicidade do primeiro desigualdade social teorizada por Jessé Souza.
para dar conta da complexidade do segundo.
A compreensão de sujeito, nessa perspectiva, Conforme visto anteriormente, a desigualdade
elegeria alguns princípios indispensáveis a social tem sido apresentada atualmente como
seu processo de construção: autonomia, uma questão de ordem essencialmente
autorreferência, intencionalidade, unidade econômica. Essa visão enfatiza uma dimensão
subjetiva/objetiva do sujeito, exclusão (na de base que não somente institui mas que
qual o eu é único para cada um) e inclusão também retroalimenta a desigualdade ao
(compreendida como a capacidade de tornar legítimo o acesso diferenciado a
agregar outros elementos na subjetividade) recursos materiais e simbólicos a partir da
(Morin, 2000). hierarquia valorativa dos indivíduos em
sub(cidadãos).
A concepção teórica de Gonzalez Rey
estabelece uma subjetividade qualificada É preciso refletir por quais motivos, passados
como mutável, dinâmica e polifórmica, que séculos de descobrimento, o Brasil continua
supera a dicotomia indivíduo/sociedade para na condição de nação periférica, cuja
que, mesmo sob condições estruturantes, desigualdade é cotidianamente naturalizada,
seja possível aos indivíduos uma mobilidade em que se convive perversamente com
dos sentidos e significados que integre as um exército de subcidadãos. É necessário,
inquietações e os questionamentos, buscando também, questionar-se sobre os reais
compreender porque nos tornamos assim e interesses das instituições dominantes,
não de outro jeito, e o mais importante, como dos valores difundidos, dos mecanismos
fazermos para nos tornarmos de outro jeito utilizados para manter uma ordem natural
e não permanecermos assim. de compreensão para o problema da
desigualdade, em um processo explicativo
A dimensão subjetiva da que esteja acima de qualquer suspeita.
Ausente tal condição, é em um clima de
subcidadania
suspeição que se pode pensar na expansão
da ralé como uma ocorrência classista
A problemática situação de desigualdade
intencional, resultante de um abandono
social no Brasil, aliada aos esforços
político e social, legitimado nas práticas
políticos da Psicologia como profissão de
cotidianas por séculos a fio, geração pós
compromisso social (Bock, 1999), reforça
geração.
a importância da produção de estudos que
possam refletir sobre as dimensões subjetivas
Ao refletir sobre os impactos da dimensão
associadas à desigualdade social, buscando subjetiva na construção e na manutenção da
superar as perspectivas dicotômicas e o viés subcidadania, entendida como produto da
economicista. profunda desigualdade social existente no
País, muitos questionamentos ainda exigem
Ainda que González Rey, psicólogo respostas: Que componentes relacionais
cubano residente no Brasil, não tenha sustentam esse processo? Como os sujeitos se
tematizado especificamente a problemática vinculam de maneira diferenciada a partir da
da desigualdade social brasileira, seus posição que o outro ocupa na hierarquia social?
determinantes históricos e suas ressonâncias Como propor mudanças que efetivamente
nos processos de produção da subjetividade possam encontrar ressonância na sociedade?

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De acordo com Souza (2009), esclarecer a configurações das subjetividades individuais,


desigualdade e a marginalidade brasileira mas constituem-se mutuamente, uma vez que
impõe restaurar, obrigatoriamente, a não é possível considerar a subjetividade de
discussão teórica em torno da ambiguidade um espaço social desatrelada da subjetividade
característica de toda sociedade moderna, dos indivíduos que a compõem. De modo
que é a de se supor igualitária e justa e ser, análogo, não é possível compreender a
em ato, desigual e injusta. Esse processo, constituição da subjetividade individual
contudo, não está posto de um modo sem apreciar a subjetividade dos espaços
estanque, mas é continuamente moldado e sociais que colaboram para a sua construção
consolidado por meio das vivências subjetivas (Martínez, 2005).
individuais e sociais, que se especificam nos
processos históricos das nações. Toda produção de sentidos subjetivos é fruto
da tensão entre os sentidos que surgem no
Nesse sentido, a dimensão subjetiva decorrer da ação do sujeito e os sentidos que
associada à construção e à manutenção precedem esse momento (Rey, 2005b). A
da desigualdade social no Brasil pode ser responsabilidade pela superação dos efeitos da
Souza e Luna considerada um fenômeno complexo. desigualdade social na ralé possui aspectos de
(2009) destacam Martínez (2005) nos alerta que um indivíduo cunho individual, na medida em que apontam
que uma pode abarcar conjuntamente características e o modo de vinculação entre os sujeitos em
pessoa que se
concepções contraditórias, em dependência nossa sociedade, contudo, também inclui uma
acostumou a
não ser tratada da articulação entre os sentidos subjetivos responsabilidade coletiva, dada a necessidade
como cidadã formados na sua história de vida e os de democratização das oportunidades (Souza,
muitas vezes não momentos relacionais nas diversas esferas 2010).
sabe como exigir
benefícios, que, sociais. Desse modo, no que tange à vivência
não obstante da desigualdade social, podemos observar Em uma perspectiva complementar, o conceito
serem garantidos que estamos imersos em uma subjetividade de subcidadania desenvolvido por Souza pode
em lei, exigiriam
social de construções histórico-valorativas, a ser compreendido frente às teorizações de
a organização
de ações, a partir da posição ocupada pelas pessoas na Rey de que a subjetividade social atravessa de
disciplina e o hierarquia social, que são incorporadas de modo constante a individualidade, motivo pela
autocontrole que modo pré-reflexivo, no sentido bourdiesiano qual se observa que a subjetividade individual
não possuem.
(Bourdieu, 2007, 2009). é capaz de produzir novos sentidos subjetivos
de acordo, também, com o espaço social em
Nesse contexto, torna-se necessário alinhar que a ação do sujeito se desdobra. No curso
esforços interpretativos para a compreensão do seu desenvolvimento, o sentido subjetivo
da desigualdade social a partir de perspectivas torna-se, de certa forma, independente dos
superadoras da dicotomia indivíduo- processos simbólicos e das emoções originais
sociedade, pois, assim como que a construção que o determinaram, e estende-se de muitas
social da subcidadania – bem como os demais formas não identificáveis, tanto para o sujeito
efeitos do modo como a desigualdade social como para seu entorno.
se consolidou e se retroalimenta no Brasil
– tem um componente estrutural relativo Entretanto, Luna (2009) destacam que uma
à subjetividade social, esta última também pessoa que se acostumou a não ser tratada
se perpetua pela ação pré-reflexiva de cada como cidadã muitas vezes não sabe como
sujeito na vivência de sua subjetividade exigir benefícios, que, não obstante serem
individual. As configurações subjetivas garantidos em lei, exigiriam a organização
construídas no âmbito social não aparecem de ações, a disciplina e o autocontrole que
como algo externo, em contraposição às não possuem. Esse processo guarda profunda

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correlação com o modo como se estruturou produzirem novos sentidos subjetivos (Rey,
e se expressa a subjetividade desses sujeitos 2005b) e de transformarem a realidade ao
através dos processos disponíveis para tal em seu redor pode contribuir para relativizar a
nossa sociedade. Necessário se faz, portanto, sensação de determinismo implícito presente
dar visibilidade ao tema da desigualdade social, nos estudos sobre a desigualdade social
destacando seus componentes subjetivos, os brasileira e de subcidadania. Entretanto,
quais constroem e retroalimentam a noção de para que tal processo ocorra, observa-se a
subcidadania atribuída à ralé, contribuindo para necessidade de um suporte social efetivo
a manutenção da desigualdade social no Brasil. ao sujeito, que seja capaz de favorecer
transformações do seu habitus.

Convergente com as hegemônicas Os sujeitos constroem uma forma única e


concepções dicotômicas, que discriminam particular de produção de sentidos, e, ao
sujeito e sociedade como âmbitos distintos desenvolverem diferentes tipos de atividades,
e independentes, a perspectiva sociológica as configurações subjetivas se constituiriam de
assegura a supremacia da afirmação da forma diferenciada nas expressões de cada
dimensão social, enquanto, na perspectiva um deles, já que não estariam determinados
psicológica, o destaque é para a dimensão somente por forças externas, que atuam em
individual, a despeito das perspectivas relação a eles; ao contrário, apresentariam
superadoras da dicotomia indivíduo-sociedade condições de expressar seu potencial criativo
apresentadas neste trabalho. Contudo, uma através do exercício de opções pessoais,
vez que sociedades formam indivíduos e modificando as condições supostamente
indivíduos estruturam sociedades, tais visões determinadas na constituição da ralé brasileira.
deveriam ser integrativas e complementares. Contudo, cabe questionar: há espaço para a
expressão da ralé em nossa sociedade?
A ênfase na possibilidade de os sujeitos

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Luane Neves Santos


Mestre em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia, Salvador – BA - Brasil.
E-mail: luanepsi@yahoo.com.br

Alessivânia Márcia assunção Mota


Mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade Federal da Bahia, Salvador – BA - Brasil.
E-mail: alessivania@hotmail.com

Marcus Vinícius de Oliveira Silva


Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e docente da Universidade Federal
da Bahia, Salvador – BA – Brasil
E-mail: matraga2@uol.com.br

Endereço para envio de correspondência:


Rua Aristides Novis, 197, Federação. CEP: 40210-909. Salvador, BA.

Recebido 25/03/2012, 1ª Reformulação 14/12/2012, Aprovado 11/04/2013.

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