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DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA – 2020/2021

Aula n.º 9

LICENCIATURA EM SOLICITADORIA
ESCOLA SUPERIOR DE COMUNICAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E TURISMO (EsACT)
INSTITUTO POLITÉCNICO DE BRAGANÇA

Docente: Rui Ferreira


DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: DIREITO CONVENCIONAL

- Os acordos internacionais – 3 tipos que consagram regimes jurídicos diferentes:

- Acordos Eurocomunitários: art. 218.º e 216.º, do TFUE, que correspondem a acordos


celebrados pela UE em matéria que tem competência, o s quais vinculam as
instituições e os Estados-membros (art. 16.º, n.º 2, TUE), que não podem colocar
reservas, pois não são parte contratante.

- Acordos celebrados pelos Estados-membros: conservam a sua personalidade


jurídica internacional pelo que podem celebrar tratados em qualquer matéria que
não seja da competência exclusiva da UE (ex. Tratado Orçamental).
- Estes tratados acabam por vincular a UE, pelo princípio da cooperação leal (art.
4.º, n.º 3, TUE), uma vez que a UE não pode agir para esvaziar o conteúdo desses
acordos.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: DIREITO CONVENCIONAL

- Acordos mistos: acordos celebrados pela UE e pelos Estados-membros com


Estados terceiros (art. 216.º e Constituições). Por exemplo os acordos comerciais
com matéria conexa da competência exclusiva dos Estados-membros.

- Só entram vigor após ser celebrado, assinado e ratificado por todos os Estados-
membros e pela UE. Se todos ratificam tem os efeitos do art. 216.º, TFUE
(distinguindo-se as matérias comunitárias das outras), tendo em conta a
cooperação leal.

- Se nem todos ratificam, a doutrina discute a amplitude do acordo.


DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: OUTRAS FONTES

- COSTUME
- Tem expressão residual

- Alguma doutrina admite que tem lugar no Direito da União Europeia, pois, desde
logo, o TJUE já reconheceu os costumes do Direito Internacional Público, bem
como há costumes no seio comunitário. Por exemplo: acordos do Luxemburgo e
deliberação por consenso.

- Tem pouca importância, pois a ordem jurídica eucomunitária é muito estruturada


e tem um decisor normativo para colmatar falhas, bem como um controlo
jurisdicional (em que qualquer desvio pode ser controlado – muito diferente do
Direito Internacional Público).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: OUTRAS FONTES

- PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO


- As ordens jurídicas assentam sobre esses princípios, que revelam normas jurídicas e
o TJUE resolve problemas a partir deles.

- Poder revelador e consolidador enquanto elemento sistematizador do Direito da


União Europeia.

- Expressão de uma exigência de justiça e de respeito de certos valores superiores


do indivíduo e da sociedade civilizada em que este se integra.

- A UE também é regida por um direito não-escrito constituído pelos princípios gerais


de direito e pelos princípios resultantes da elaboração jurisprudencial do TJUE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: OUTRAS FONTES

- O TJUE recorre aos princípios do Direito Internacional Público quando é oportuno


reafirmar o caráter obrigatório dos Tratados em que a União se funda; quando se
trata de resolver conflito entre os Tratados que regem a UE e outro Tratado ligando
Estados-membros entre si ou a terceiros; quando é necessário para interpretar os
Tratados.

- Pode também aplicar princípios captados do direito interno dos Estados-membros.

- Aplica também os princípios fundamentais decorrentes da natureza específica da


UE: princípio da igualdade de tratamento; da não discriminação e da liberdade,
da solidariedade, da coesão económica e da preferência comunitária, do
equilíbrio institucional, da aplicabilidade direta, da primazia do direito da UE, do
efeito útil das disposições dos Tratados...
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: OUTRAS FONTES

- Estes tratam-se de princípios relativos à garantia da eficácia do Direito da União


Europeia na ordem interna dos Estados-membros.

- JURISPRUDÊNCIA
- Tem um papel muito vincado no Direito da União Europeia

- Do TJUE não há recurso e a pronúncia é vinculativa – além de ter efeito inter partes
vincula erga omnes e tem uma eficácia de precedente. Papel próximo do
supremo tribunal dos EUA.

- Efeito de precedente atípico – não há uma vinculação de natureza hierárquica


(como num Estado federal), mas sim de natureza funcional, tendo de ser acatada
para julgar casos futuros.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: OUTRAS FONTES

- O art. 267.º, TFUE, a partir do qual o TJUE criou a sua obra jurisprudencial (tendo em
conta o art. 19.º, TUE, em que o TJUE não se limita a interpretar e aplicar o Direito).
- Há ativismo judicial (cria e recria Direito através da interpretação extensiva).

- A golden age da jurisprudência deu-se nos anos 60 e 70, com o ato único europeu
os Estados-membros ganharam o poder de rever os Tratados saindo do escopo do
juiz a sua adaptação.
- Desde 1958 que os Tratados se foram adaptando pela interpretação do TJUE (pois
não houve revisões dos mesmos Tratados)
- Ativismo judicial consentido.

- Os tribunais viram a oportunidade de identificar características próprias de ordem


jurídica da UE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: OUTRAS FONTES

- As decisões constitucionais sobre princípios que enformam o Direito da União


Europeia vêm da jurisprudência e alguns nem têm consagração nos Tratados.

- Através de uma jurisprudência ousada, iniciado e prosseguida ao longo dos anos


60 e 70 o TJUE elaborou e conseguiu impor ao ordenamento jurídico comunitário
certos princípios.
- Isto porque a prossecução dos objetivos enunciados nos Tratados exigia a
aplicação uniforme do Direito da UE como direito comum a um conjunto de
Estados-membros que pretendem realizar a sua integração económica.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- O que está em causa é o funcionamento em rede de ordens jurídicas diferentes,


num espaço de internormatividade.

- Alguma doutrina refere que não se deve falar em hierarquia, nem em


constitucionalismo muti-nível, mas que há apenas uma articulação com base no
princípio da competência.

- A perspetiva é a de uma relação funcional com ordens jurídicas paritárias –


relação de internormatividade.
- Não pelo critério da hierarquia, mas sim pelo princípio da competência.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- O TJUE dirime litígios quando há conflito de normas, mas não atende ao critério
hierárquico e sim ao critério da competência – a norma aplicável é a que se
reconduz à competência, que decorre dos Tratados, por vontade dos Estados.

- A obra jurisprudencial dos anos 60 e 70 consagrou vários princípios do Direito da


União Europeia.

- PRINCIPIO DA AUTONOMIA
- Trata-se de uma característica das ordens jurídicas

- O TJUE afirmou desde cedo a autonomia da ordem jurídica comunitária, tanto em


relação ao DIP como em relação ao direito interno de cada Estado-membro.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Autonomia reciproca – eurocomunitária e nacional – são autónomas uma em


relação à outra.

- No acórdão Costa c. Enel e no acórdão Van Gend en Loos, o TJUE afirma a


independência da ordem jurídica da UE - ”Tratado CEE institui uma ordem jurídica
própria que é integrada no sistema jurídico dos Estados-membros a partir da
entrada em vigor do Tratado e que se impõe aos seus órgãos jurisdicionais
nacionais”.

- Faz valer a autonomia dessa ordem jurídica em relação aos Estados (autonomia
interna) e em relação ao Direito Internacional Público (autonomia externa).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- A TJUE considerou que o então Tratado da CEE, ao contrário de todos os outros


tratados internacionais, criou o seu próprio sistema jurídico – novo e autónomo – o
qual se baseava:
- Num sistema de fontes próprias;
- Num quadro institucional independente;
- Num sistema de fiscalização judicial eficaz;
- Em princípios específicos;
- Na especificidade dos objetivos do Tratado
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- O art. 344.º, TFUE, é elemento basilar da autonomia da ordem jurídica


eurocomunitária e jurisdição do Tribunal como garante dessa autonomia –
monopólio de jurisdição na origem de jurisprudência reiterada, constante e
consistente.

- O TJUE é cioso da autonomia e vê-se a si próprio como garante dos Tratados,


estando no topo e com papel fundamental.

- Pode até haver conflito com tribunais constitucionais nacionais, pois o TJUE
considera que a norma comunitária prevalece sobre a interna.
- O TJUE descobre o seu espaço de manobra e o seu lugar – qualquer litigio é
dirimido neste tribunal, a não ser que o Tratado permita uma solução diferente.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- PRINCÍPIO DO PRIMADO DO DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA


- A autonomia da ordem jurídica da UE implica que ela não é tributária das ordens
jurídicas dos Estados-membros e que, portanto, define as suas relações com estas
últimas segundo os seus próprios princípios e critérios – ou seja, sem subordinação
às leis ordinárias ou constitucionais dos Estados-membros.

- Segundo MOTA CAMPOS, os tratados não contêm uma regra de conflitos explicita,
a determinar ao juiz interno que resolva a favor do Direito da UE qualquer eventual
oposição entre este e o direito nacional.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Segundo PESCATORE, o direito da UE contém em si uma exigência existencial de


primazia; se ele não consegue em todas as circunstâncias superiorizar-se ao direito
nacional, é ineficaz e, portanto, inexistente.

- Sem o primado não há direito da UE, uma vez que este ficaria à mercê do
legislador e decisor nacional.
- Portanto, ou o direito da UE era aceite como hierarquicamente superior ao direito
interno ou estaria condenado a não sobreviver, senão como categoria residual –
tolerado pela ordem jurídica nacional na medida em que se lhe não opusesse,
mas incapaz de desempenhar a função, que deveria ser a sua, de instrumento
jurídico do processo de integração.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Não precisa de uma consagração nos Tratados, tendo sido originalmente


consagrado pela jurisprudência dos anos 60.

- O primado do direito da UE, corolário da sua vigência na ordem interna, era, de


resto, uma consequência inevitável da atribuição pelos Estados-membros de
amplas competências à UE.

- O Primado do direito da UE aparece como corolário do seu caráter de direito


comum a uma coletividade de Estados.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Este princípio fundamental foi declarado pelo TJUE – princípio do primado e


determinação progressiva das suas implicações são o resultado de um esforço
pretoriano.

- O acórdão Costa c. Enel (15.07.1964) contém toda uma teoria geral das relações
entre o direito da UE e o direito interno, bem como a justificação da superioridade
da ordem jurídica da UE sobre as ordens jurídicas nacionais, deduzida em termos
que, embora esclarecidos e desenvolvidos em acórdãos posteriores, jamais foram
ultrapassados.

- O Tribunal fornece o princípio que fundamenta a aplicabilidade do DUE em dois


pontos:
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Natureza específica da ordem jurídica comunitária: o Tratado da CEE institui um


ordem jurídica própria, integrada na ordem jurídica dos Estados-membros e que se
impõe às suas jurisdições, pois limitaram-se os direitos soberanos dos Estados-
membros, transferindo-os para a UE, criando assim um corpo de direito aplicável
aos seus cidadãos e a eles próprios.

- Exigências próprias da ordem jurídica comunitária – força executiva do Direito


Comunitário não poderia variar de um Estado-membro para outro, ao sabor das
legislações internas, sem pôr em perigo a realização das finalidades do Tratado ou
provocar uma discriminação proibida pelos mesmos.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Uma vez proclamado o princípio, o TJUE não cessou de o confirmar e explicitar,


sublinhando que o primado se manifesta em relação a todas as normas nacionais,
quaisquer que elas sejam, anteriores ou posteriores, tornando inaplicáveis de pleno
direito todas as disposições nacionais existentes.

- Segundo o acórdão Simmenthal (9.3.1979), sendo as normas de direito da UE


diretamente aplicáveis, são fonte imediata de direitos e obrigações para todos
aqueles a quem dizem respeito, quer se trate de Estados-membros quer dos
particulares que são sujeitos das relações jurídicas reguladas pelo direito da UE,
pelo que o juiz nacional, enquanto órgão dos Estados que tem por missão proteger
os direitos conferidos aos particulares pelo direito da UE, está diretamente
vinculado à observância dos princípios da aplicabilidade e do primado.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Incumbe-lhe, pois, uma vez chamado a julgar no âmbito da sua competência, a


obrigação de aplicar integralmente o direito comunitário, deixando inaplicada
qualquer disposição eventualmente contrária da lei nacional, quer esta seja
anterior quer posterior à regra comunitária.

- Existindo um conflito, a norma interna não pode ser aplicada e prevalece o Direito
da UE, quando não é possível conciliar normas.

- A administração em geral tem o dever de afastar a aplicação de qualquer


disposição nacional, ainda que de natureza constitucional, quando esta obste à
aplicação efetiva do direito da UE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- As normas internas devem ser desaplicadas pela administração pública ex oficio


(sem ter de ir a tribunal, a administração pública pode desaplicar por si) se
violarem qualquer tipo de norma de direito da UE – Ac. Internationale
Handelsgesellschatt (17.12.1970).

- A única referência atual encontra-se na Declaração 17, mas entende alguma


doutrina que essa declaração é inútil, uma vez que é claro que os Estados
reconhecem o primado e tal já é invocado há 50 anos.
- Estava previsto no art. 6.º da Constituição Europeia.
- Indícios do primado: art. 4.º, n.º 3, TUE; ação por incumprimento; art. 267.º, TFUE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Consequências/Função do primado:
- Em situação de litigio, e apenas em situações de litigio (pois o primado é uma
solução de conflitos entre normas e só deve ser invocado nessa sede – tem uma
função pragmática), garante-se a aplicação da norma comunitária em vez da
interna existente sobre a matéria.

- Principio de competência material – normas de direito da UE primam, pois são elas


que são praticadas no âmbito das competências sobre essa matéria dada à UE e
nenhum Estado tem competência isolada para afastar normas de Direito da UE,
uma vez que isso destruiria o caráter comunitário do direito da UE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- O que justifica a ideia de primado é a existência de domínios em que a UE é


materialmente competente, pelo que um Estado isoladamente não pode dispor
em sentido divergente.

- Para haver aplicabilidade prática do Direito do UE tem que se consagrar este


princípio.

- O Direito da UE é materialmente competente para regular o caso concreto e, por


isso, é que primam sobre as do direito nacional

- O primado apenas tem uma solução pragmática de desaplicação da norma


contrária.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- O primado não ilegaliza a norma interna que lhe seja contrária – não estabelece
relação de invalidação do direito interno face ao direito da UE, pois a ilegalidade
pressuporia uma realidade de subordinação hierárquica.

- Extensão/limites do primado:
- Não é nem incondicional nem absoluto, sendo condicionado, relativo e
materialmente justificado.

- PRIMADO E CRP
- A jurisprudência do TJUE suporta que o primado era geral e não admitia exceções.
- O tribunal constitucional alemão e italiano tinham perspetivas diferentes.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Estes tribunais avançaram com a teoria dos contra limites: o primado não se
poderia aplicar de forma absoluta e incondicional ignorando a natureza da norma
interna contrária; ideia de normas constitucionais internas (sobre direitos
fundamentais) que seriam invioláveis e nessa medida eram contra limite ao
primado.

- O TJUE incorporou essas objeções e respondeu-lhes indiretamente emitindo


jurisprudência em relação a direitos fundamentais, dizendo-se vinculados ao
respeito desses direitos que resultam das constituições dos Estados, convenções e
princípios – bloco de fundamentalidade, que vincula o juiz constitucional é o
mesmo que vincula o TJUE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Apesar deste entendimento jurisprudencial, que esvaziou as questões mais


controversas, ainda vão aparecendo questões controvertidas em relação ao
primado supraconstitucional.

- Não há jurisprudência unificada sobre isso, e o TJUE apresenta resposta algo


distintas – natureza flutuante/casuística dessa jurisprudência:
- Omega – TJUE conciliou-se com a posição do tribunal constitucional alemão;
- Michaniki – TJUE não atendeu ao posicionamento do tribunal constitucional;
- Kreil (C-285/98) – TJUE não entendeu ao posicionamento do tribunal constitucional
e decidiu que a constituição violava uma diretiva.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Melloni (C-399/11) – estava em causa o art. 53.º, CDFUE; esvaziou o artigo e


interpretou-o, estando mais preocupado com o primado do direito da UE do que
com a proteção dos direitos fundamentais.

- O próprio Tratado tem hoje disposição que limita o TJUE face a um exercício
incondicional do primado – art. 4.º, n.º 2, TUE.
- Princípio de respeito da identidade nacional (= identidade constitucional).

- A limitação não é exógena, mas sim endógena.


- O TJUE quanto tem de limitar o primado está a respeitar uma norma do TUE (o TJUE
está obrigado a fazer uma interpretação sistemática).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- O TJUE não pode ignorar os limites da sua própria jurisdição e, se o fizer, o tribunal
constitucional alemão adverte que ele, como guardião da Lei fundamental de
Bona, fará esse controlo.

- O tribunal constitucional alemão só aceita o primado na medida que (doutrina do


primado limitado) a norma em conflito esteja na competência dada pelos
Estados.
- Rejeita a ideia do mandato sem controlo – primado sim, se a UE não ultrapassar as
suas competências, pelo que o tribunal constitucional alemão arroga-se no direito
de ver se a norma comunitária não está a extravasar essas competências.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS.

- Considerou-se, também, competente para declarar uma disposição do direito


comunitário inaplicável pelas autoridades administrativas ou pelos órgãos
jurisdicionais alemães se ela ofendesse um direito fundamental, garantido pela lei
fundamental ou que afetasse a “estrutura fundamental da Constituição, que
confere a esta a sua identidade”.

- A mesma ideia encontra-se no art. 8.º, n.º 4, CRP, prevalecem na medida do


exercício legitimo das competências que os Tratados dão à UE, mas têm de
respeitar os princípios do Estado de Direito Democrático (positivação da
jurisprudência do tribunal constitucional alemão).
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ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- No art. 8.º, n.º 4, CRP, não há uma aceitação da primazia absoluto do direito da
UE, tal como definido pelo TJUE, uma vez que tem de se salvaguardar o respeito
pelos princípios fundamentais do Estado de Direito Democrático.

- Reconhece de forma expressa o primado do Direito da UE, mas estabelece-se


limites (adota em certa medida a doutrina dos contra limites).
- A CRP consagra uma reserva à primazia do direito da UE equiparável à que por via
jurisprudencial foi formulada pelos tribunais constitucionais alemão e italiano.

- O art. 7.º, n.º 6, CRP, estabelece a cláusula de limitação da soberania.


- É o que legitima limitações de soberania por via convencional, pelo que se
colocou na CRP um fundamento de autolimitação da própria CRP.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Não é limitação irrestrita, tem-se em conta o princípio da reciprocidade, da


subsidiariedade e respeito pelas competências da UE e Estado de Direito
Democrático.

- Se houver conflito de normas constitucionais e o Direito da UE, tem que haver uma
interpretação em conformidade, na medida do possível, do direito da UE.
- Se não for possível, então, atendendo ao primado, prevalece a norma do Direito
da UE, se não violar o art. 8.º, n.º 4, CRP.
- O papel dos tribunais é muito importante e perante conflito iminente de normas
deve colocar-se a questão ao TJUE.
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ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- PRINCÍPIO DA EFICÁCIA DIRETA


- A doutrina defende um conceito unitário que engloba dois princípios, que
nasceram separados, mas que se podem identificar à luz deste conceito unitário –
eficácia direta nas normas eurocomunitárias.

- Todas as disposições do Direito da UE, independentemente da sua fonte, da sua


natureza e do seu nível hierárquico, a partir do momento que entram em vigor na
UE, inserem-se automaticamente, de pleno direito, na ordem jurídica interna dos
Estados-membros, passando, consequentemente, a fazer parte, em posição de
primazia, do corpos iuris que todos os órgãos do Estado, nomeadamente, os
jurisdicionais, são obrigados a acatar e a fazer valer.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Toda a norma produz um efeito imediato traduzido na atribuição de um direito e


na imposição a outrem da correspondente obrigação.

- Pode ser alegada por quem tenha interesse legitimo em invoca-la (invocabilidade
em juízo perante as jurisdições nacionais)

- Princípio da aplicabilidade direta


- O TJUE considerou a aplicabilidade direta um princípio essencial da ordem jurídica
comunitária com fundamento de que a plena eficácia (efeito útil) dos Tratados
exigia que os agentes económicos do mercado interno se vissem possibilitados de
invocar perante as jurisdições nacionais as disposições dos Tratados e dos atos
normativos da UE, fazendo valer os direitos que nesses textos se pudessem fundar.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Segundo o Ac. Van Gend en Loos (5.2.1963), afirmou-se que a autonomia do


direito da UE, estabelecendo que as normas dos Tratados têm uma aplicabilidade
direta, uma vez que dizem respeito não só aos Estados-membros do mercado
comum, mas também, aos operadores desse mercado;

- Ao associar povos europeus no funcionamento dos órgãos confirma-se que eles


são diretamente interessados nas atividades da comunidade.

- O direito da UE está vocacionado para conferir direitos e impor obrigações não


apenas aos Estados-membros, mas igualmente aos seus cidadãos.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- O atual art. 267.º, TFUE, confia ao TJUE a interpretação das regras da UE, invocadas
pelos litigantes perante as jurisdições nacionais, o que não faria sentido se tais
regras não pudessem resultar, para os litigantes, direitos suscetíveis de serem
invocados nos tribunais internos

- As normas dos Tratados produzem efeito imediato e originam, ma esfera dos


litigantes, direitos individuais que às jurisdições nacionais incumbe salvaguardar.

- Os particulares podem invocar diretamente normas europeias perante jurisdições


nacionais e europeias.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- O acórdão Simmenthal (9.3.1978) dá a primeira noção de aplicabilidade direta –


“normas de direito comunitário produzem a plenitude dos seus efeitos, de modo
uniforme em todos os Estados-membros, a partir da sua entrada em vigor e
durante todo o período da respetiva vigência, constituindo uma fonte imediata de
direitos e obrigações para todos os seus destinatários, quer se trate de Estados-
membros ou de particulares, que sejam titulares de relações jurídicas às quais se
aplique o direito da UE. Vale igualmente para o juiz que tem por missão proteger
os direitos conferidos aos particulares pelo direito comunitário”.

- Pressupostos de:
- Vigência automática de pleno direito das normas de direito da UE;
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ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Não se confunde com self-executing – pode precisar de normas jurídicas internas


que acomodem as normas de Direito da UE.

- Produção de efeito imediato na esfera jurídica dos sujeitos de direito comunitário.

- Salvaguarda, pelo juiz nacional, dos direitos conferidos aos particulares por uma
norma comunitária.

- Aplicabilidade direta dos Regulamentos


- O art. 288.º, TFUE, dispõe que o regulamento é diretamente aplicável em todos os
Estados-membros.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Condicionado à publicação no JOUE e à sua entrada em vigor (art. 297.º, n.º 1,


TFUE).

- Não é aplicabilidade imediata: regulamento pode subordinar a aplicação das


suas disposições à intervenção de medidas ulteriores de execução a adotar pelas
instituições ou pelos Estados-membros.

- Aplicabilidade direta das decisões


- Resultam diretamente em direitos ou obrigações a favor ou a cargo dos
destinatários a que se dirigem – o que determina a sua aplicabilidade direta na
ordem interna.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Podem ser decisões dirigidas a Estados-membros nos termos que foi definido pela
jurisprudência Franz Grad (6.10.1970).

- Aplicabilidade direta dos acordos internacionais


- Deve ser considerada diretamente aplicável sempre que, atendendo ao objeto e
à natureza do acordo, este contem uma obrigação clara e precisa que não esteja
dependente, na sua execução ou nos seus efeitos, da intervenção de qualquer
ato posterior.

- Princípio do Efeito Direto


- Não está previsto nos Tratados e é criação jurisprudencial
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Vem responder a questões relacionadas com a possível aplicabilidade direta das


diretivas.

- Parece que só se impunha uma obrigação de resultados (obriga apenas quanto ai


resultado a atingir) e que os direitos para os particulares apenas resultariam das
disposições nacionais adotadas na ordem interna do Estado destinatário, para
implementar a diretiva.

- Na jurisprudência do tribunal foi-se consolidando que a diretiva poderia produzir


efeitos imediatos, suscetíveis de tutela jurisdicional, na esfera dos particulares
(acórdão Van Duyn – 4.12.1974)
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Segundo o ac. Van Duyn, uma vez que uma diretiva se trata de uma obrigação
imposta aos Estados-membros, a segurança jurídica dos interessados exige que
essa obrigação possa ser por eles invocada, mesmo tendo sido consagrada num
ato normativo que, no seu todo, não tem aplicabilidade direta.

- O TJUE invoca o princípio do efeito direto para assegurar garantias de direitos aos
particulares e punir o infrator (Estado-membro que não transpôs), retirando-lhe o
benefício da infração – não se pode socorrer da infração da não transposição
para negar o direito a um particular.

- Isto porque o efeito direto é mecanismo de substituição de algo que devia existir
(norma interna transpondo uma diretiva), mas que não existe.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- O Estado-membro quando não transpõe incorre em incumprimento (art. 258.º,


TFUE) e pode sofrer sanções (art. 260.º, TFUE), mas tal não vai impedir os particulares
de invocarem as normas de Direito da UE pelo seu efeito direto e demandar os
Estados-membros em ação de responsabilidade.

- O efeito direto não é automático e as normas das diretivas podem ter efeito direto
se cumprirem os seguintes requisitos:
- Positividade da norma (tem de ser regra de direito positivo)

- Clareza – em que o TJUE tem competência para interpretar a regra em questão,


tornando claro o seu sentido e alcance.
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ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Precisão da norma – precisão das obrigações impostas pela norma.


- Incondicionalidade da norma – exclusão de qualquer margem de apreciação e
intervenção por parte dos Estados-membros, que não têm o poder de mediação.
Tem de conter todos os elementos necessários para ser efetivamente aplicada
pelos tribunais nacionais à situação concreta sub judice.
- Perfeição jurídica da norma – vocação ou aptidão da norma para conferir direitos
subjetivos, criando na esfera jurídica dos particulares direitos e obrigações
individuais que os tribunais nacionais podem ser chamados a salvaguardar ou
impor. A norma tem de permitir aos particulares o exercício concreto desse
suposto direito.
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ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- No decurso do prazo de transposição não há efeito direto, uma vez que a norma
não é incondicional – isto é uma garantia para os Estados-membros.

- Segundo a jurisprudência assente, uma diretiva só pode ter efeito direto após
expirar o prazo fixado para a sua transposição na ordem jurídica dos Estados-
membros.
- Também não é incondicional se houver opção do legislador sobre a medida
jurídica a aplicar.

- O particular pode socorrer-se das diretivas para arguir em tribunal direitos que lhe
são conferidos e pode contestar quando não haja correta aplicação do Direito da
UE.
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- Trata-se da suscetibilidade de invocação da norma eurocomunitária pelos


particulares, no âmbito de um litígio em que sejam partes, nos tribunais nacionais.

- Efeito direto vertical: litígio que opõe particulares e poderes públicos


- Efeito direto horizontal: Litígio que opõe os particulares entre si.

- A norma da diretiva pode ser invocada na vertical, mas não na horizontal, pois
deve evitar-se que o Estado tire proveito da sua inobservância do direito da UE,
mas, uma diretiva não cria por si só obrigações na esfera jurídica de um particular
– Ac. Marshal (1986).
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- O impacto restritivo da doutrina do ac, Marshal inibiu os direitos dos particulares,


mas posteriormente a jurisprudência definiu que os particulares não podem
invocar na horizontal, mas têm garantias.

- Ac. Marleasing (1190) – aplicação uniforme: a interpretação do direito interno, na


medida do possível, conforme a diretiva, pois o Estado está vinculado ao fim da
diretiva.
- A diretiva serve de parâmetro de interpretação ao direito interno, dentro da
margem de apreciação (nunca habilita que o direito interno seja interpretado
contra legem – os tribunais nunca o podem invocar para interpretar o direito num
sentido contrário ao da letra da lei – violaria a separação de poderes).
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- Pode ser invocado num litígio entre particulares – tem que se interpretar o direito
interno conforme ao que diz a norma, se isso couber no que a norma preveja (ex.:
a norma não se referir com caráter taxativo e seja exemplificativo, e o elenco da
diretiva vem prever casos novos).
- Aplicação conforme tem o efeito de esgotar a interpretação da norma interna de
forma a que tal esteja der acordo com o direito da UE e o direito interno (nacional)

- Ac. Medicine Control Agency (1996) – efeito incidental das diretivas: nas relações
triangulares, admite-se que um particular invoque uma diretiva contra uma
entidade pública de modo a retirar efeitos jurídicos para as relações jurídico-
administrativas que esta tenha com outros particulares.
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- Ac. Wallonie (1197): os Estados devem de se abster de adotar atos contrários, que
prejudiquem ou inviabilizem a aplicação do resultado da diretiva (quando a
diretiva está em vigor e decorre o prazo de transposição).

- Ac. Kucukdevici (1997): a diretiva que concretiza um princípio geral do direito da


UE e que tem assento na CDFUE pode ser invocada, porque está na CDFUE (tem
aplicabilidade direta).
- Não reconhece efeitos horizontais das diretivas e apenas reconhece que se as
diretivas exprimirem princípios de outros instrumentos normativos que têm
aplicabilidade direta, esses princípios vinculam as relações jurídico-privadas.
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- Se tudo isto falhar e o particular não tiver forma de beneficiar, direta ou


indiretamente, dos efeitos normativos de uma diretiva, resta a tutela secundária de
tipo indemnizatório.
- Ac. Francovich (1991) – responsabilidade extracontratual: o particular tinha certo
direito dado por uma diretiva, mas por ela não ser incondicional viu esse direito
frustrado, pelo que pode demandar o Estado-membro para que este o indemnize
pelo prejuízo que sofreu de ver o seu direito suprimido.

- O efeito direto nasceu para ser invocado junto dos tribunais nacionais, mas evoluiu
para vincular a administração pública, se o administrado invocar norma da
diretiva – a administração teria que desaplicar a norma interna e utilizar a diretiva.
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ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS

- Alguma doutrina discorda desta situação, uma vez que há requisitos para se usar o
efeito direto, que têm de ser apreciados pelos tribunais – aqui punha-se em causa
a separação de poderes, pois a administração interpretava algo que cabia aos
tribunais.

- A administração só está vinculada à diretiva e tem de a utilizar se houver


jurisprudência consolidada (do TJUE ou tribunais superiores) em relação ao efeito
direto da diretiva.

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