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Aula n.º 9
LICENCIATURA EM SOLICITADORIA
ESCOLA SUPERIOR DE COMUNICAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E TURISMO (EsACT)
INSTITUTO POLITÉCNICO DE BRAGANÇA
- Só entram vigor após ser celebrado, assinado e ratificado por todos os Estados-
membros e pela UE. Se todos ratificam tem os efeitos do art. 216.º, TFUE
(distinguindo-se as matérias comunitárias das outras), tendo em conta a
cooperação leal.
- COSTUME
- Tem expressão residual
- Alguma doutrina admite que tem lugar no Direito da União Europeia, pois, desde
logo, o TJUE já reconheceu os costumes do Direito Internacional Público, bem
como há costumes no seio comunitário. Por exemplo: acordos do Luxemburgo e
deliberação por consenso.
- JURISPRUDÊNCIA
- Tem um papel muito vincado no Direito da União Europeia
- Do TJUE não há recurso e a pronúncia é vinculativa – além de ter efeito inter partes
vincula erga omnes e tem uma eficácia de precedente. Papel próximo do
supremo tribunal dos EUA.
- O art. 267.º, TFUE, a partir do qual o TJUE criou a sua obra jurisprudencial (tendo em
conta o art. 19.º, TUE, em que o TJUE não se limita a interpretar e aplicar o Direito).
- Há ativismo judicial (cria e recria Direito através da interpretação extensiva).
- A golden age da jurisprudência deu-se nos anos 60 e 70, com o ato único europeu
os Estados-membros ganharam o poder de rever os Tratados saindo do escopo do
juiz a sua adaptação.
- Desde 1958 que os Tratados se foram adaptando pela interpretação do TJUE (pois
não houve revisões dos mesmos Tratados)
- Ativismo judicial consentido.
- O TJUE dirime litígios quando há conflito de normas, mas não atende ao critério
hierárquico e sim ao critério da competência – a norma aplicável é a que se
reconduz à competência, que decorre dos Tratados, por vontade dos Estados.
- PRINCIPIO DA AUTONOMIA
- Trata-se de uma característica das ordens jurídicas
- Faz valer a autonomia dessa ordem jurídica em relação aos Estados (autonomia
interna) e em relação ao Direito Internacional Público (autonomia externa).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- Pode até haver conflito com tribunais constitucionais nacionais, pois o TJUE
considera que a norma comunitária prevalece sobre a interna.
- O TJUE descobre o seu espaço de manobra e o seu lugar – qualquer litigio é
dirimido neste tribunal, a não ser que o Tratado permita uma solução diferente.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- Segundo MOTA CAMPOS, os tratados não contêm uma regra de conflitos explicita,
a determinar ao juiz interno que resolva a favor do Direito da UE qualquer eventual
oposição entre este e o direito nacional.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- Sem o primado não há direito da UE, uma vez que este ficaria à mercê do
legislador e decisor nacional.
- Portanto, ou o direito da UE era aceite como hierarquicamente superior ao direito
interno ou estaria condenado a não sobreviver, senão como categoria residual –
tolerado pela ordem jurídica nacional na medida em que se lhe não opusesse,
mas incapaz de desempenhar a função, que deveria ser a sua, de instrumento
jurídico do processo de integração.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- O acórdão Costa c. Enel (15.07.1964) contém toda uma teoria geral das relações
entre o direito da UE e o direito interno, bem como a justificação da superioridade
da ordem jurídica da UE sobre as ordens jurídicas nacionais, deduzida em termos
que, embora esclarecidos e desenvolvidos em acórdãos posteriores, jamais foram
ultrapassados.
- Existindo um conflito, a norma interna não pode ser aplicada e prevalece o Direito
da UE, quando não é possível conciliar normas.
- Consequências/Função do primado:
- Em situação de litigio, e apenas em situações de litigio (pois o primado é uma
solução de conflitos entre normas e só deve ser invocado nessa sede – tem uma
função pragmática), garante-se a aplicação da norma comunitária em vez da
interna existente sobre a matéria.
- O primado não ilegaliza a norma interna que lhe seja contrária – não estabelece
relação de invalidação do direito interno face ao direito da UE, pois a ilegalidade
pressuporia uma realidade de subordinação hierárquica.
- Extensão/limites do primado:
- Não é nem incondicional nem absoluto, sendo condicionado, relativo e
materialmente justificado.
- PRIMADO E CRP
- A jurisprudência do TJUE suporta que o primado era geral e não admitia exceções.
- O tribunal constitucional alemão e italiano tinham perspetivas diferentes.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- Estes tribunais avançaram com a teoria dos contra limites: o primado não se
poderia aplicar de forma absoluta e incondicional ignorando a natureza da norma
interna contrária; ideia de normas constitucionais internas (sobre direitos
fundamentais) que seriam invioláveis e nessa medida eram contra limite ao
primado.
- O próprio Tratado tem hoje disposição que limita o TJUE face a um exercício
incondicional do primado – art. 4.º, n.º 2, TUE.
- Princípio de respeito da identidade nacional (= identidade constitucional).
- O TJUE não pode ignorar os limites da sua própria jurisdição e, se o fizer, o tribunal
constitucional alemão adverte que ele, como guardião da Lei fundamental de
Bona, fará esse controlo.
- No art. 8.º, n.º 4, CRP, não há uma aceitação da primazia absoluto do direito da
UE, tal como definido pelo TJUE, uma vez que tem de se salvaguardar o respeito
pelos princípios fundamentais do Estado de Direito Democrático.
- Se houver conflito de normas constitucionais e o Direito da UE, tem que haver uma
interpretação em conformidade, na medida do possível, do direito da UE.
- Se não for possível, então, atendendo ao primado, prevalece a norma do Direito
da UE, se não violar o art. 8.º, n.º 4, CRP.
- O papel dos tribunais é muito importante e perante conflito iminente de normas
deve colocar-se a questão ao TJUE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- Pode ser alegada por quem tenha interesse legitimo em invoca-la (invocabilidade
em juízo perante as jurisdições nacionais)
- O atual art. 267.º, TFUE, confia ao TJUE a interpretação das regras da UE, invocadas
pelos litigantes perante as jurisdições nacionais, o que não faria sentido se tais
regras não pudessem resultar, para os litigantes, direitos suscetíveis de serem
invocados nos tribunais internos
- Pressupostos de:
- Vigência automática de pleno direito das normas de direito da UE;
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- Salvaguarda, pelo juiz nacional, dos direitos conferidos aos particulares por uma
norma comunitária.
- Podem ser decisões dirigidas a Estados-membros nos termos que foi definido pela
jurisprudência Franz Grad (6.10.1970).
- Segundo o ac. Van Duyn, uma vez que uma diretiva se trata de uma obrigação
imposta aos Estados-membros, a segurança jurídica dos interessados exige que
essa obrigação possa ser por eles invocada, mesmo tendo sido consagrada num
ato normativo que, no seu todo, não tem aplicabilidade direta.
- O TJUE invoca o princípio do efeito direto para assegurar garantias de direitos aos
particulares e punir o infrator (Estado-membro que não transpôs), retirando-lhe o
benefício da infração – não se pode socorrer da infração da não transposição
para negar o direito a um particular.
- Isto porque o efeito direto é mecanismo de substituição de algo que devia existir
(norma interna transpondo uma diretiva), mas que não existe.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- O efeito direto não é automático e as normas das diretivas podem ter efeito direto
se cumprirem os seguintes requisitos:
- Positividade da norma (tem de ser regra de direito positivo)
- No decurso do prazo de transposição não há efeito direto, uma vez que a norma
não é incondicional – isto é uma garantia para os Estados-membros.
- Segundo a jurisprudência assente, uma diretiva só pode ter efeito direto após
expirar o prazo fixado para a sua transposição na ordem jurídica dos Estados-
membros.
- Também não é incondicional se houver opção do legislador sobre a medida
jurídica a aplicar.
- O particular pode socorrer-se das diretivas para arguir em tribunal direitos que lhe
são conferidos e pode contestar quando não haja correta aplicação do Direito da
UE.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- A norma da diretiva pode ser invocada na vertical, mas não na horizontal, pois
deve evitar-se que o Estado tire proveito da sua inobservância do direito da UE,
mas, uma diretiva não cria por si só obrigações na esfera jurídica de um particular
– Ac. Marshal (1986).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- Pode ser invocado num litígio entre particulares – tem que se interpretar o direito
interno conforme ao que diz a norma, se isso couber no que a norma preveja (ex.:
a norma não se referir com caráter taxativo e seja exemplificativo, e o elenco da
diretiva vem prever casos novos).
- Aplicação conforme tem o efeito de esgotar a interpretação da norma interna de
forma a que tal esteja der acordo com o direito da UE e o direito interno (nacional)
- Ac. Medicine Control Agency (1996) – efeito incidental das diretivas: nas relações
triangulares, admite-se que um particular invoque uma diretiva contra uma
entidade pública de modo a retirar efeitos jurídicos para as relações jurídico-
administrativas que esta tenha com outros particulares.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- Ac. Wallonie (1197): os Estados devem de se abster de adotar atos contrários, que
prejudiquem ou inviabilizem a aplicação do resultado da diretiva (quando a
diretiva está em vigor e decorre o prazo de transposição).
- O efeito direto nasceu para ser invocado junto dos tribunais nacionais, mas evoluiu
para vincular a administração pública, se o administrado invocar norma da
diretiva – a administração teria que desaplicar a norma interna e utilizar a diretiva.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: ARTICULAÇÃO DA ORDEM JURÍDICA DA UE COM AS
ORDENS JURÍDICAS DOS ESTADOS-MEMBROS
- Alguma doutrina discorda desta situação, uma vez que há requisitos para se usar o
efeito direto, que têm de ser apreciados pelos tribunais – aqui punha-se em causa
a separação de poderes, pois a administração interpretava algo que cabia aos
tribunais.