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Resumo
O ano de 2019 foi marcado por grandes revoltas populares na maioria dos países da América
Latina, decorrente de insatisfações sociais causadas por medidas políticas e econômicas
neoliberais. Acompanhado por uma ascensão da direita, os últimos anos foram marcados por
um agravamento das desigualdades sociais, aumento no índice de desemprego das camadas
mais baixas da hierarquia social, e com isso, uma perseguição de minorias oprimidas se
tornou o bode expiatório das contradições do capital. Este artigo busca analisar a situação e as
razões que levaram à crise chilena no ano de 2019, dentro do contexto latino americano e
servir de base para uma análise crítica do atual cenário político brasileiro. O Brasil passa por
um período de reformas similares às realizadas no Chile após o fim do regime Pinochet, então
este trabalho propõe um comparativo com o objetivo de vislumbrar possíveis consequências
para os rumos neoliberais que vêm sido tomados com a reforma trabalhista e da previdência
no Brasil de 2019. Para tal, serão analisadas as relações de poder entre o Estado, os interesses
do capital internacional e a sua influência na América Latina dentro da perspectiva de blocos
no poder, e a relação entre capital e democracia expressa através de revoltas populares. Um
rápido comparativo à tomada do poder por Luís Bonaparte expresso no 18 Brumário se faz
necessário quando analisada a situação política em decorrência das similaridades que serão
igualmente apontadas, bem como as diferenças, para com a situação vivida pelos estados
latinos, quando propõe-se a responder às questões: O que levou à essa situação generalizada
no subcontinente, mas em especial no Chile? Como podem ser atendidas as demandas da
população? Estas revoltas vão se espalhar? Valendo-se de reportagens,e uma pesquisa
bibliográfica da história latina, serão pensadas respostas para as questões apresentadas.
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Palavras chave: Política, poder, economia, revolta popular, blocos no poder, América Latina.
Abstract:
The year of 2019 was marked by major popular uprisings in most countries of Latin America,
due to social and civil unrest caused by neoliberal political and economic measures.
Accompanied by a rise in the far-right, recent years have been marked by an aggravation in
social inequalities, rising unemployment in the lower classes, and as a result, the persecution
of oppressed minorities has become the scapegoat for the contradictions of the capital. This
article seeks to analyze the situation and reasons that led to the Chilean crisis in 2019, within
the Latin American context and to serve as a basis for a critical analysis of the current
Brazilian political scenario. Brazil is currently undergoing a series of reforms similar to those
carried out in Chile soon after the Pinochet regime ended, and as so, this paper proposes a
comparison with the aim of glimpsing possible consequences for the neoliberal directions that
have been taken with the labor and welfare reform in Brazil of 2019 with the current situation
in Chile. To this end , the relations of power between the state, the interests of international
capital and its influence in Latin America from the perspective of power blocs, and the
relationship between capital and democracy expressed through popular revolts will be
analyzed. A quick comparison to Luis Bonaparte's seizure of power expressed in the 18th
Brumaire is necessary when analyzing the political situation due to the similarities that will
be equally pointed out, as well as the differences, with the situation experienced by the Latin
states, when it is proposed to answer the questions: What led to this widespread situation in
the subcontinent, but especially in Chile? How can the demands of the population be met?
What is the next step? Will these riots spread? Using reports, reports of people present in the
revolts and a bibliographic search of Latin history, answers will be thought to the questions
presented.
Keywords: Politics, power, economy, popular revolt, power blocs, Latin America.
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anos” referentes aos quase 30 anos do fim do regime de Pinochet, onde foi dado início à
privatização em massa dos serviços de seguridade social.
Desde então, o movimento cresceu para abarcar questões de desigualdade
social, identitárias e exigindo uma política, econômica e social. Esta pluralidade de perfis
unidos contra uma mesma instituição, no caso o Estado burguês neoliberal, torna complexo
qualquer plano de apaziguar as revoltas.
Uma das questões identitárias que encontrou apoio internacional por unir
uma mesma insatisfação, foi a da crítica ao patriarcado através do coletivo feminista Las
Tesis, de Valparaíso, que através de uma performance intitulada “El violador eres tú”,
baseada nos textos da antropóloga Rita Segato, expressa um sentimento comum não só às
mulheres chilenas, mas à todas mulheres que vivem sob domínio de um Estado que não é
apenas capitalista, mas machista, que perpetua a crença de que devemos culpá las por suas
próprias violências.
Este identitarismo é apenas uma dentre as diversas pautas de luta do povo
chileno, e não era considerado como prioridade quando Marx e Engels elencaram como
principais agentes da luta de classes a burguesia e o proletariado, porque no contexto
histórico da revolução industrial, a opressão antagônica entre estas duas classes era tão
imponente que não era prioritário lidar com outras questões, porém com o desenvolvimento
tecnológico, as relações de trabalho se alteraram e a ascensão da classe média e os criadores
de capital improdutivo já não se enxergavam mais como classe trabalhadora, dificultando o
sentimento de união como classe. Após se reinventar a cada crise, o sistema capitalista
conseguiu instituir no pensamento hegemônico o conceito de mobilidade social e
meritocracia, outros tipos de opressão ganharam destaque e se acirraram enquanto a
dominação de classes se tornou legitimada.
A precarização do trabalho e a expropriação das condições de sobrevivência
levadas a um extremo onde a maioria dos cidadãos não têm condições de se manter com
dignidade como é o caso do Chile é um perfeito exemplo entre as contradições dos interesses
econômicos frente a interesses sociais. Apesar de fundamentar teoricamente, a maioria dos
manifestantes não tem perfil revolucionário, pois desejam apenas a capacidade de atender às
necessidades básicas próprias e de sua família, porém na formação social chilena, o bloco no
poder, os empresários que se beneficiam desta relação de exploração, não têm interesse em
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ceder direitos sociais, porém serão forçados a isso quando o custo das greves e da repressão
se tornarem incompatíveis com os lucros esperados.
A RESPOSTA DO GOVERNO
Enquanto o Brasil, assim como diversos outros países no mundo, opta por
seguir um plano político de caráter moralmente conservador, xenófobo e neoliberal (ou
monopolista privado), fica clara a necessidade de compreender os impactos de políticas
neoliberais no contexto da realidade latino americana, como uma forma particular do
capitalismo periférico no cenário atual.
Antes mesmo de qualquer manifestação no mesmo caráter, o presidente Jair
M. Bolsonaro aprovou uma lei similar à de proteção e segurança do Estado, que garante o
direito de uso de violência contra manifestações contrárias ao governo, sob a prerrogativa de
defender a ordem nacional e o patrimônio público e privado. Isto se deve em parte ao fato de
que o planejamento político e econômico de Paulo Guedes e os demais ministros, se orientam
pela ideologia da Escola de Chicago que orientou as políticas chilenas no início dos anos 90.
A normalização do uso da violência policial legitimada pelo discurso de representantes do
Executivo e Legislativo já é uma realidade brasileira, bem como a censura de pensamentos
contrários à hegemonia política privatista e neopentecostal.
Deve ser também levada em consideração, a influência e a pressão de
poderes econômicos internacionais, como formas de blocos no poder exteriores à forma de
Estado tradicional de cada nação. Assim como a classe burguesa cedeu o controle político
para Luís Bonaparte em 1851 na França, por perceber que poderia exercer o controle sem ter
de lidar diretamente com os antagonismos de classe próprios do capitalismo, os Estados
Unidos e outros países desenvolvidos perceberam que não era necessário o domínio e
presença colonial em países subdesenvolvidos, como era próprio do imperialismo durante os
séculos XVI a XX, quando poderiam exercer o controle através de uma coercitividade
econômica enquanto seu capital garantia controle sobre a Organização Mundial de Comércio,
sem ter de lidar com revoltas e lutas por independência, legitimados pelo pensamento liberal.
O Brasil, demais países da América Latina e países de economias
periféricas em geral, devem se atentar à influência da hegemonia global, possibilitada pela
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A noção de que a luta pelo sufrágio universal era uma luta que garantiria
igualdade e representatividade para todos era o plano para uns e uma ameaça para outros, o
que justificou diversos conflitos sociais e sufragistas ao longo do século XX, porém foi uma
conquista que apenas reproduziu os sistemas hegemônicos existentes. Saes continua:
REFERÊNCIAS
BBC NEWS Brasil. Protestos no Chile: o que está por trás da fúria em país “modelo” na
América Latina. 2019. (5m19s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=u9ETR84qnCk&t=26s>. Acesso em: 17 dez. 2019
MARX, Karl. O 18 de brumário de Luís Bonaparte / Karl Marx ; [tradução e notas Nélio
Schneider ; prólogo Herbert Marcuse]. - São Paulo : Boitempo, 2011.
POULANTZAS, N. Poder político e classes sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1977
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Redação. Bancos lucraram 8 vezes mais no governo de Lula do que no de FHC São
Paulo: Revista Veja, 12 setembro 2014. Disponível em:
<https://veja.abril.com.br/economia/bancos-lucraram-8-vezes-mais-no-governo-de-lula-do-qu
e-no-de-fhc/>. Acesso em: 10 dezembro 2019