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A crise social chilena em 2019 como referência para a crítica ao modelo brasileiro.

Uma análise política da crise social decorrente de políticas neoliberais.

Stefano Marcos Cavalcanti Torres

Resumo

O ano de 2019 foi marcado por grandes revoltas populares na maioria dos países da América
Latina, decorrente de insatisfações sociais causadas por medidas políticas e econômicas
neoliberais. Acompanhado por uma ascensão da direita, os últimos anos foram marcados por
um agravamento das desigualdades sociais, aumento no índice de desemprego das camadas
mais baixas da hierarquia social, e com isso, uma perseguição de minorias oprimidas se
tornou o bode expiatório das contradições do capital. Este artigo busca analisar a situação e as
razões que levaram à crise chilena no ano de 2019, dentro do contexto latino americano e
servir de base para uma análise crítica do atual cenário político brasileiro. O Brasil passa por
um período de reformas similares às realizadas no Chile após o fim do regime Pinochet, então
este trabalho propõe um comparativo com o objetivo de vislumbrar possíveis consequências
para os rumos neoliberais que vêm sido tomados com a reforma trabalhista e da previdência
no Brasil de 2019. Para tal, serão analisadas as relações de poder entre o Estado, os interesses
do capital internacional e a sua influência na América Latina dentro da perspectiva de blocos
no poder, e a relação entre capital e democracia expressa através de revoltas populares. Um
rápido comparativo à tomada do poder por Luís Bonaparte expresso no 18 Brumário se faz
necessário quando analisada a situação política em decorrência das similaridades que serão
igualmente apontadas, bem como as diferenças, para com a situação vivida pelos estados
latinos, quando propõe-se a responder às questões: O que levou à essa situação generalizada
no subcontinente, mas em especial no Chile? Como podem ser atendidas as demandas da
população? Estas revoltas vão se espalhar? Valendo-se de reportagens,e uma pesquisa
bibliográfica da história latina, serão pensadas respostas para as questões apresentadas.
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Palavras chave: Política, poder, economia, revolta popular, blocos no poder, América Latina.

Abstract:
The year of 2019 was marked by major popular uprisings in most countries of Latin America,
due to social and civil unrest caused by neoliberal political and economic measures.
Accompanied by a rise in the far-right, recent years have been marked by an aggravation in
social inequalities, rising unemployment in the lower classes, and as a result, the persecution
of oppressed minorities has become the scapegoat for the contradictions of the capital. This
article seeks to analyze the situation and reasons that led to the Chilean crisis in 2019, within
the Latin American context and to serve as a basis for a critical analysis of the current
Brazilian political scenario. Brazil is currently undergoing a series of reforms similar to those
carried out in Chile soon after the Pinochet regime ended, and as so, this paper proposes a
comparison with the aim of glimpsing possible consequences for the neoliberal directions that
have been taken with the labor and welfare reform in Brazil of 2019 with the current situation
in Chile. To this end , the relations of power between the state, the interests of international
capital and its influence in Latin America from the perspective of power blocs, and the
relationship between capital and democracy expressed through popular revolts will be
analyzed. A quick comparison to Luis Bonaparte's seizure of power expressed in the 18th
Brumaire is necessary when analyzing the political situation due to the similarities that will
be equally pointed out, as well as the differences, with the situation experienced by the Latin
states, when it is proposed to answer the questions: What led to this widespread situation in
the subcontinent, but especially in Chile? How can the demands of the population be met?
What is the next step? Will these riots spread? Using reports, reports of people present in the
revolts and a bibliographic search of Latin history, answers will be thought to the questions
presented.

Keywords: Politics, power, economy, popular revolt, power blocs, Latin America.
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O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Os últimos anos foram marcados pela ascensão de governos conservadores


dentro de um modelo econômico monopolista privado ao redor do mundo, e esta mudança foi
particularmente contrastante na América Latina, pois veio na sequência de governos, em sua
maioria, de centro esquerda, autores de políticas sociais que reduziram desigualdades sociais
históricas, enquanto economicamente focados no desenvolvimentismo e trazendo lucro às
classes dominantes.
O Chile é uma exceção no cenário latino americano pois desde a fim da
ditadura do general Pinochet (1973-1990), a antipatia para com um controle estatal e a
necessidade de suprir demandas sociais justificaram uma série de privatizações que até então
ficava a encargo do Estado, tal como o sistema de aposentadoria; o acesso à saúde; educação
e até a água, e servindo de modelo para políticas neoliberais em todo o mundo. Como no caso
deste estudo comparativo, o Brasil aprovou no ano de 2019 reformas do sistema
previdenciário, realizou cortes no orçamento da educação e aprovou a privatização da água.
Os indicadores econômicos apóiam este modelo, pois trouxe estabilidade
para a região e um crescimento constante do PIB, acima da média da região como indica o
gráfico:
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No ano de 2018, o crescimento do PIB foi de 4%, acima até da média


mundial que foi de 3,6%. Analisando apenas os dados macroeconômicos, o caso do Chile é
um estudo de caso de sucesso. A pobreza extrema também foi reduzida, passando de 30%
para 6,7% o número de chilenos que recebia menos de 6 dólares por dia¹ entretanto, o PIB
indica apenas a riqueza monetária total criada em um país, e não índices de desenvolvimento
social e distribuição de renda. A avaliação do bem-estar, por outro lado, não pode ser
analisada unicamente através de indicadores econômicos, pois não houve objetivamente uma
melhoria na qualidade de vida para a maioria do povo chileno.

[...] a relação entre, por um lado, um jogo institucional particular inscrito na


estrutura do Estado capitalista, jogo que funciona no sentido de uma unidade
especificamente política do poder de Estado, e, por outro lado, uma configuração
particular das relações entre classes dominantes: essas relações, na sua relação com
o Estado, funcionam no seio de uma unidade política específica recoberta pelo
conceito do bloco no poder.

O Estado para Poulantzas é compreendido segundo a definição de Gramsci


de uma soma da sociedade política e da sociedade civil. O sufrágio universal, uma das
instituições do Estado capitalista, serve de ferramenta para legitimar o poder da sociedade
política, enquanto o ciclo vicioso da hegemonia cultural tendo por referência as classes
dominantes às mantêm dominantes. O bloco no poder depende da pluralidade das classes ou
frações dominantes de determinada formação social. CARDOSO afirma que “Tal condição
está associada à definição das frações de classes dominantes que necessariamente apresentam
determinada autonomia, a qual, por sua vez, depende de elementos de coesão
político-ideológica e econômica numa determinada conjuntura histórica e espacial”. Portanto
as frações da classe burguesa comercial, industrial e financeira dentro de uma formação
social capitalista dependem desta unidade contraditória particular de várias classes ou frações
de classe dominantes para defender e controlar seus interesses perante o Estado,
correspondendo a uma forma particular de Estado. Esta unidade contraditória deve ser
apreendida teoricamente a partir do conceito de hegemonia aplicado ao bloco no poder.
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A esperança da classe trabalhadora era de que com a ascensão de líderes


pertencentes à própria classe, uma mudança ocorreria, quase que como uma revolução, porém
como analisado no 18 de Brumário, não são os que estão em cargos de poder político que
definem o sistema e modelo econômico, mas o sistema econômico que define o estado. Quem
controla as condições de reprodução do capital detêm o poder sobre aqueles que legitimam o
uso do poder. Assim como quando Luís Bonaparte tomou o poder na França de 1851, sem
tomar junto as terras ou os meios de produção da classe burguesa, permitiu que se mantivesse
as estruturas de poder e reprodução do estado burguês, a eleição de Rafael Correa no Equador
ou de Luiz Inácio Lula da Silva, podem ter gerado reformas positivas para a classe
trabalhadora, mas não foi uma revolução tal como esperado pelos grupos proletários ou
estudantes marxistas pois o bloco no poder se manteve. Não houve uma revolução, pois o
modelo desenvolvimentista ainda atendia aos interesses dos blocos no poder.
Enquanto Bonaparte tomou o poder para si como uma figura inesperada,
que acabou por salvar a classe burguesa de sua própria concorrência enquanto sendo uma
marionete que regulou as disputas comerciais, os representantes populares da América Latina
subiram aos postos de poder pelo descontentamento popular após longos períodos de
desprezo de demandas sociais e aumento de desigualdades econômicas.

O QUE O POVO QUER? QUAL A SAÍDA PARA A ONDA DE PROTESTOS?

O capital político-social atingiu o seu ponto crítico de deterioração no dia


18 de outubro, com o anúncio de uma alta de 30 pesos na tarifa do metrô, curiosamente o
equivalente a 20 centavos de real, o mesmo valor que foi o estopim das manifestações
brasileiras de 2013. Esta alta afetaria principalmente a população mais pobre que depende do
transporte público, e cujos gastos com transporte ocupam uma parcela significativa de seus
rendimentos. O governo voltou atrás quanto ao aumento na tarifa, mas já era tarde demais.
Foi apenas a gota d'água necessária para fazer transbordar um balde de insatisfações causadas
por demandas sociais ignoradas pelo sistema neoliberal, seguindo uma onda de protestos
latino americanos que, por motivos próprios de cada país, atingiu Equador, Argentina, Peru e
Bolívia. A frase que se popularizou pelo movimento chileno foi “Não são 30 pesos, são 30
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anos” referentes aos quase 30 anos do fim do regime de Pinochet, onde foi dado início à
privatização em massa dos serviços de seguridade social.
Desde então, o movimento cresceu para abarcar questões de desigualdade
social, identitárias e exigindo uma política, econômica e social. Esta pluralidade de perfis
unidos contra uma mesma instituição, no caso o Estado burguês neoliberal, torna complexo
qualquer plano de apaziguar as revoltas.
Uma das questões identitárias que encontrou apoio internacional por unir
uma mesma insatisfação, foi a da crítica ao patriarcado através do coletivo feminista Las
Tesis, de Valparaíso, que através de uma performance intitulada “El violador eres tú”,
baseada nos textos da antropóloga Rita Segato, expressa um sentimento comum não só às
mulheres chilenas, mas à todas mulheres que vivem sob domínio de um Estado que não é
apenas capitalista, mas machista, que perpetua a crença de que devemos culpá las por suas
próprias violências.
Este identitarismo é apenas uma dentre as diversas pautas de luta do povo
chileno, e não era considerado como prioridade quando Marx e Engels elencaram como
principais agentes da luta de classes a burguesia e o proletariado, porque no contexto
histórico da revolução industrial, a opressão antagônica entre estas duas classes era tão
imponente que não era prioritário lidar com outras questões, porém com o desenvolvimento
tecnológico, as relações de trabalho se alteraram e a ascensão da classe média e os criadores
de capital improdutivo já não se enxergavam mais como classe trabalhadora, dificultando o
sentimento de união como classe. Após se reinventar a cada crise, o sistema capitalista
conseguiu instituir no pensamento hegemônico o conceito de mobilidade social e
meritocracia, outros tipos de opressão ganharam destaque e se acirraram enquanto a
dominação de classes se tornou legitimada.
A precarização do trabalho e a expropriação das condições de sobrevivência
levadas a um extremo onde a maioria dos cidadãos não têm condições de se manter com
dignidade como é o caso do Chile é um perfeito exemplo entre as contradições dos interesses
econômicos frente a interesses sociais. Apesar de fundamentar teoricamente, a maioria dos
manifestantes não tem perfil revolucionário, pois desejam apenas a capacidade de atender às
necessidades básicas próprias e de sua família, porém na formação social chilena, o bloco no
poder, os empresários que se beneficiam desta relação de exploração, não têm interesse em
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ceder direitos sociais, porém serão forçados a isso quando o custo das greves e da repressão
se tornarem incompatíveis com os lucros esperados.

A RESPOSTA DO GOVERNO

O presidente Sebastián Piñera rejeitou qualquer possibilidade de renúncia


de seu cargo, e instituiu a aplicação da lei de segurança do Estado. Discurso de que a
repressão é apenas contra aqueles que se manifestam violentamente, e não contra os que se
rebelam pacificamente. Jacobi quando analisando movimentos populares da américa latina na
década de 70 e 80, concluiu que quando os protestos atacam a propriedade, devem ser
entendidos como "momentos elementares do processo de formação da consciência das classes
populares", enquanto "as mobilizações e assembleias dos bairros indicam um avanço nos
níveis de consciência e de organização da população na construção de uma real prática
democrática" (JACOBI)
Incapaz de lidar com a pluralidade de causas, Piñera optou pelo uso da
repressão violenta dos manifestantes através do uso dos carabineros, a força policial militar
nacional, como forma de controle dos protestos. Almejando a rápida supressão dos protestos,
tendo como objetivo os interesses do capital, os carabineros utilizam de táticas como
encarceramento, tortura e violência sexual de manifestantes a partir de 14 anos.

Primero fue la represión a la juventud, el estado de excepción y el toque de queda,


con Piñera diciendo por cadena nacional que "estamos en guerra". También
terminaron las clases en liceos y universidades para que no se organice la juventud.
Nada de eso alcanzó para frenar en las primeras semanas el ascenso del movimiento
hasta que el 12 de noviembre el gobierno vio el vacío bajo sus pies, cuando el país
se paralizó y los trabajadores pusieron su impronta, unidos a la juventud y los
pobladores. Chile había despertado el 18 de octubre y tembló el 12 de noviembre.
La Izquierda Diario

Descobriu-se recentemente que os canhões d’água utilizados pela polícia


como controle de multidões, continham uma mistura de água com soda cáustica, em tom com
ideologias conservadoras que sobem ao controle dos cargos executivos de países da América
Latina, que não tem medo de usar a violência para manter o poder da elite.
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POR QUE É RELEVANTE PARA O RESTO DA AMÉRICA LATINA E O BRASIL SE


ATENTAR À SITUAÇÃO DO CHILE?

Enquanto o Brasil, assim como diversos outros países no mundo, opta por
seguir um plano político de caráter moralmente conservador, xenófobo e neoliberal (ou
monopolista privado), fica clara a necessidade de compreender os impactos de políticas
neoliberais no contexto da realidade latino americana, como uma forma particular do
capitalismo periférico no cenário atual.
Antes mesmo de qualquer manifestação no mesmo caráter, o presidente Jair
M. Bolsonaro aprovou uma lei similar à de proteção e segurança do Estado, que garante o
direito de uso de violência contra manifestações contrárias ao governo, sob a prerrogativa de
defender a ordem nacional e o patrimônio público e privado. Isto se deve em parte ao fato de
que o planejamento político e econômico de Paulo Guedes e os demais ministros, se orientam
pela ideologia da Escola de Chicago que orientou as políticas chilenas no início dos anos 90.
A normalização do uso da violência policial legitimada pelo discurso de representantes do
Executivo e Legislativo já é uma realidade brasileira, bem como a censura de pensamentos
contrários à hegemonia política privatista e neopentecostal.
Deve ser também levada em consideração, a influência e a pressão de
poderes econômicos internacionais, como formas de blocos no poder exteriores à forma de
Estado tradicional de cada nação. Assim como a classe burguesa cedeu o controle político
para Luís Bonaparte em 1851 na França, por perceber que poderia exercer o controle sem ter
de lidar diretamente com os antagonismos de classe próprios do capitalismo, os Estados
Unidos e outros países desenvolvidos perceberam que não era necessário o domínio e
presença colonial em países subdesenvolvidos, como era próprio do imperialismo durante os
séculos XVI a XX, quando poderiam exercer o controle através de uma coercitividade
econômica enquanto seu capital garantia controle sobre a Organização Mundial de Comércio,
sem ter de lidar com revoltas e lutas por independência, legitimados pelo pensamento liberal.
O Brasil, demais países da América Latina e países de economias
periféricas em geral, devem se atentar à influência da hegemonia global, possibilitada pela
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democratização da tecnologia e meios de comunicação, defendendo uma ideia de


superioridade euro-americana e elitizada. Saes (2003) aponta que

[...] logo após as revoluções políticas burguesas que reorganizaram os aparelhos de


Estado europeus em função do princípio da igualdade jurídica, as classes
dominantes desses países já começaram a se opor a instauração da igualdade
política; isto é, a adoção do sufrágio universal e a constituição, em consequência, de
uma democracia plena. Justificando a sua oposição a qualquer "salto qualitativo" na
igualdade, tais classes argumentam que instituições políticas democráticas
acabariam por se voltar contra as próprias liberdades civis, sufocando-as. Por isso,
defendem enfaticamente a imposição de restrições de ordem censitária ou
capacitaria ao exercício do direito de voto. [...]
Décio Saes - Cidadania e capitalismo: uma crítica à concepção liberal de cidadania.

A noção de que a luta pelo sufrágio universal era uma luta que garantiria
igualdade e representatividade para todos era o plano para uns e uma ameaça para outros, o
que justificou diversos conflitos sociais e sufragistas ao longo do século XX, porém foi uma
conquista que apenas reproduziu os sistemas hegemônicos existentes. Saes continua:

Ora, qualquer variante de "democracia econômica" é insuscetível de se concretizar


numa sociedade capitalista, que evolui sempre na direção de uma crescente
concentração e centralização do capital. Isso significa que a instauração da condição
geral indispensável à concretização da participação política da maioria social
implica a superação do modelo capitalista de sociedade. Noutras palavras: uma
cidadania plena e ilimitada, conforme com as exigências ideológicas subjacentes ao
conceito apresentado por Marshall, situa-se além do horizonte da sociedade
capitalista e das suas instituições políticas.
Décio Saes - Cidadania e capitalismo: uma crítica à concepção liberal de cidadania

Então enquanto movimentos sociais lutarem por qualquer tipo de


democracia econômica ou igualdade civil sem almejar a sobrepujação do sistema capitalista,
estarão agindo de acordo com os interesses do próprio capital e nunca atingindo de fato o seu
objetivo.
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QUAIS AS PERSPECTIVAS PARA O FUTURO?

As crises sociais do capital, por não se manifestarem diretamente em


indicadores macroeconômicos, são muitas vezes atribuídas à insatisfações centradas na figura
de uma personalidade política cujo capital político será desgastado como bode expiatório.
A violência na repressão contra o povo chileno têm se intensificado
conforme os protestos impactam no processo de exploração da mais-valia. As opções para o
governo Piñera são desgastar e suprimir os protestos com violência até que cessem por medo
e desgaste como houve no Equador em Agosto, ou ceder na criação de direitos sociais e
atenda pautas suficientes para que o movimento se divida internamente e perca momentum
como foi o caso da Primavera Árabe de 2011. Como exposto por Sales, enquanto estes
movimentos conseguiram direitos momentaneamente, por não haverem se libertado da
estrutura do sistema capitalista, o padrão de desigualdades, exploração e opressão retornou
em ambos os casos e irá retornar no Chile caso aceitem um acordo.
Quanto ao Brasil, a tolerância para insatisfação sociopolítica cresceu pois
grande parte do povo aceitou a ideologia hegemônica euroamericana liberal de não se
enxergar como classe trabalhadora, mas uma classe média ou elite momentaneamente
desprovida de recursos, elevando empresários bem-sucedidos na missão de acumular capital à
um panteão de idolatria. Neste contexto, reformas políticas e econômicas irão usurpar dos
cidadãos brasileiros tantos direitos quanto puderem, com a garantia de que terão a arma da
repressão violenta como alternativa em caso de oposição.
Enquanto não houver uma conscientização das classes médias e baixas
como classe trabalhadora cujo direitos e valor estão sendo usurpados visando atender aos
interesses de um bloco no poder internacional imperialista interessados unicamente na
manutenção de um sistema de exploração, a concentração de renda nas mãos dos detentores
do poder político irá aumentar e moldar a sociedade. A luta por causas identitárias é válida e
deve ser ininterrupta, porém com a consciência de que qualquer tipo de opressão que serve
aos interesses capitalistas não pode ser extinto dentro de uma formação social capitalista.
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REFERÊNCIAS

BBC NEWS Brasil. Protestos no Chile: o que está por trás da fúria em país “modelo” na
América Latina. 2019. (5m19s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=u9ETR84qnCk&t=26s>. Acesso em: 17 dez. 2019

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Disponível em: <http://www.anpocs.com/images/stories/RBCS/03/rbcs03_02.pdf>. Acesso
em: 15 dezembro 2019.

“Dos meses de lucha, el cinismo de Piñera y las perspectivas de la izquierda


revolucionaria” La Izquierda Diario, Disponível em:
<http://www.laizquierdadiario.com/Dos-meses-de-lucha-el-cinismo-de-Pinera-y-las-perspecti
vas-de-la-izquierda-revolucionaria>. Acesso em: 23 dezembro 2019.

GOHN, M. G. “Uma proposta teórico-metodológica para a análise dos movimentos


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POULANTZAS, N. O Estado, os movimentos sociais, o partido. Espaço & Debates –


Revista de Estudos Regionais e urbanos, ano III, mai/ago 1983, São Paulo.

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12

Redação. Bancos lucraram 8 vezes mais no governo de Lula do que no de FHC São
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SAES, D. Cidadania e capitalismo: uma crítica à concepção liberal de cidadania. Crítica


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VALDÉS, Gilberto; PÉREZ, Alberto. Clases sociales y revolución social. - Cuadernos de


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