Você está na página 1de 6

ESCOLA SUPERIOR PEDAGÓGICA DO BENGO

ESP – BENGO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


______________________________________________________________________

ISMAEL FRANCISCO GOMES DA SILVA JOÃO

HISTÓRIA DE ÁFRICA III

A FRANÇA CONTRA ÁFRICA: RESUMO

Resumo apresentado ao curso de História, III ano,


Sala 14, diurno, da Escola Superior Pedagógica do
Bengo como requisito parcial para conclusão da
cadeira de História de África III, sob orientação do
professor Fernandes Jones Bambi.

Região Académica I
Luanda – Bengo
CAXITO, 2016
Olhando para aquilo que é a sistematização da obra em questão, entendeu-se
elaborar a presente síntese em função da disposição dos capítulos e subtemas que lhes
correspondem. Porém, a obra é uma reflexão em torno da ingerência francesa e suas
implicações no plano político, económico e social no continente africano, em geral,
Camarões, em particular. Assim sendo:

No primeiro capítulo, quatro meses na minha aldeia, o autor narra seu regresso a
sua terra natal após longo período de ausência, fazendo referência ao clima de
insegurança e de violência que se instalará nalgumas regiões dos camarões, “o
extermínio metódico de todo um povo sabiamente orquestrado e mantido em silêncio”,
fala da forma de organização do espaço sociogeográfico – configuração e disposição das
casas – da constituição das famílias, bem como do estilo de vida das mesmas.

Em seguida, faz referência ao papel da mulher dentro dos ritos e divisão do


trabalho/actividades laborais realizados no seio da sociedade beti usando as seguintes
palavras: “são as mulheres que criam e introduzem ritos novos, práticas insólitas ou
exóticas… uma mulher tem a obrigação de cultivar um campo em cada estação; disso
depende sua honra”. Ainda sobre as mulheres, observa detalhadamente o fenómeno das
mães solteiras – seu percurso de vida em geral – a desigualdade do género a que estão
sujeitas no mercado de trabalho nas cidades cuja única “esperança” resume-se a
“prostituição”, bem como o estatuto deteriorado da viúva dentro da comunidade beti em
comparação ao passado. Por fim, observa que a mulher activa, com os rendimentos que
obtém da venda de sua produção agrícola, assegura o lar – no que se refere as despesas.
Contudo, em sua abordagem, encara a mulher como o “pilar” ou “espinha dorsal” da
sociedade.

Sobre a produção económica nas aldeias apresenta a agricultura de subsistência


como sendo a principal actividade onde “ de um modo geral as técnicas de cultura
continuam desesperadamente ancestrais e arcaicas”. Porém, demonstra que o fraco
poder de compra dos camponeses e as práticas da avicultura e pecuária, em vias de
desaparecimento, necessárias para a suprir parte das necessidades dos aldeões tem
influenciado, em grande medida, os hábitos alimentares.

Mais adiante, fala do êxodo rural e da condição masculina, que se traduz na


educação que é dada aos homens – pôr os rapazes nas escolas das cidades em
detrimento da aldeia – cuja finalidade era a de tornarem-se bem sucedidos e obterem um
emprego na função pública para que o seu regresso a aldeia fosse triunfal. Caso
contrário, o que os esperava seria o “sarcasmo” e a “humilhação” preferindo não tentar
a aventura do regresso.

No entanto, fruto da crise que se instalará nos camarões, muitos jovens


empregados na função pública, nas cidades, viram-se obrigados a regressar às aldeias
por causa do desemprego. Contudo, quando o homem fracassa na sua aspiração de ser
bem sucedido na cidade, o mesmo ocupa-se, sobretudo, da cultura do cacau ou da
construção de habitações.

Ao caracterizar o homem na sociedade rural beti, afirma que ele constitui um


peso para a mulher – quase sempre instável, muito raramente desempenhando o papel
de pai da família, alcoólatra ou doente e incapaz de trabalhar.

1
O autor observa que o crescimento demográfico nos camarões é bastante
acelerado.

Observasse ainda a análise que faz em torno do sistema educacional nos


camarões – forma, estrutura e funcionamento – sob o olhar atento das aspirações,
necessidades e frustrações dos estudantes dentro do sistema em questão.

Referindo-se ao desenvolvimento, acredita que a base para a edificação do


mesmo está na aldeia – onde deve realizar-se a acumulação primitiva que propiciará o
arranque económico – lamentado o facto de infelizmente o papel da aldeia ter sido
marginalizado.

No entanto, tendo em vista a marginalização que fora feita da aldeia, procura


verificar se esse desenvolvimento terá sido preparado nas cidades, sendo os casos em
estudo, as de Mbalmayo, Yaounde e Douala. Contudo, acredita que as cidades estão
longe de serem desenvolvidas quando olha-se para as seguintes palavras: “a África tem
uma enorme carência de hospitais, de escolas, de transportes, de saneamento, de
habitação, de serviços administrativos dignos desse nome, sem falar de industrias… as
metrópoles africanas estão assim condenadas a tornarem-se oceanos de bairros-de-lata
voltados à anarquia, à miséria, ao crime”.

Observa-se, na segunda parte da citação, acima referenciada, o desenhar do


quadro geral do desenvolvimento em África, onde os jovens estão propensos a
enveredar para a delinquência.

No SEGUNDO CAPÍTULO, da vida quotidiana e de algumas instituições,


decidi aflorar os aspectos que mais chamaram a minha atenção e julgo serem dignos de
nota.

Sobre a universidade nos camarões nota-se o posicionamento do autor,


bastante crítico, que a encara como um dos mais desastrosos insucessos do regime e nas
seguintes palavras: “ em vez de ser o raio de sol da capital, a alegria e a esperança da
nação, a universidade actua de facto como um cancro que rói a cidade e o país”.

É notório, mais adiante, o seu posicionamento, também critico, em relação a


violação do direito as liberdades de expressão, de opinião e de imprensa empreendida
pelo regime camarones.

Quanto as comunicações, analisando os dois exemplos de experiências vividas


pelo autor, são notório o desvio de correspondências sem que ninguém seja
responsabilizado.

No que se refere aos serviços de saúde, caracteriza-os como sendo débeis,


ineficientes, corrompido e quase inexistentes sendo os hospitais conhecidos ou
designados por “estabelecimentos para morrer”.

Quanto as deslocações, constatou-se que existem poucas vias de comunicação


nos camarões – linhas férreas insignificantes e estradas em péssimo estado de
conservação – cujas viagens por aí feitas estão isentas do mínimo de conforto e
segurança.

2
Em relação a segurança, constata-se que os campos ou as aldeias chegam a ser
mais seguras que a cidade onde a prática de crimes é frequente. Porém, os inquéritos
policiais relativos a resolução de um crime raramente terminam de maneira satisfatória
na medida em que a polícia – o reflexo do regime corrupto, irresponsável, sem
escrúpulos – por estar demasiado preocupada em apanhar os opositores do mesmo
esquece-se de proteger os citadinos.

Por fim, verificamos que além dos males já mencionados, cuja figura de capa
está assente no regime de partido único, enfrentado pela sociedade camaronesa a fraude
e o contrabando também incluem a longa lista.

Finalmente, no TERCEIRO CAPÍTULO o autor começa por dizer que o desejo


de realização pessoal é o que faz as pessoas correrem pelo mundo fora, mas que esta
ambição longe está de realizar-se na África francófona.

Denuncia a situação económica dos habitantes dos Camarões em véspera da


independência, caracterizada, sobretudo, pela má distribuição da riqueza e que trinta
anos após a independência o país terá erguido uma “pirâmide de dinheiro”, dinheiro
este, proveniente, maioritariamente, das “costas dos camponeses e das dividas externas”
distribuídos de modo desigual, cujo maior beneficiário fora a elite aristocrata ou, tal
como o autor faz referência, “beneficiários da generosidade irreflectida do estado”.
Porém, apesar da acumulação de capital/riqueza por parte da “elite” a mesma pouco fez
para a industrialização do país, pois seu capital acumulado fora destinado/alocado a
investimentos no estrangeiro e não local.

Denuncia a repressão a que é submetida a população por parte das ordens


policiais e politização do estado em todos os domínios da esfera social, cuja figura de
cartaz é Paul Biya.

Referindo-se ao estilo de vida ocidentalizado ostentado pela elite camaronesa,


evidencia a repercussão que o mesmo tem sobre os jovens “fascínio” e o desejo de
deixar um património matéria para os filhos. No entanto, em sua análise, contas
bancárias, acções ou bens imobiliários constituem heranças vazias.

Denuncia a ignorância e o desprezo com que as autoridades encaram a opinião


pública diante da injustiça dos órgãos judiciais, pois nada fazem contra a sabotagem dos
interesses vitais do país, fraude, desvio de fundos… denotando a falta de recursos por
parte do país para desmantelar a “anarquia rastejante” que como um câncer maligno terá
se instalado no país.

Ao trazer a visão ocidental relativa ao desenvolvimento de África, o autor diz


que ao apelar ao trabalho e ao desenvolvimento da África os ocidentais
“preconceituosos” não terão pensado na dimensão psicológica do desenvolvimento e na
desmoralização causada na alma dos povos africanos pelos dirigentes corruptos
irresponsáveis, fantoches manipulados por paris.
.
Mais adiante é abordada a questão da crise de identidade onde o autor, em seus
argumentos, afirma que os africanos são o único povo nos tempos que correm
atormentados pela dúvida em relação a definição da sua identidade, ainda que
acreditando-se ter-se definido isso nos anos 50 com a negritude, a crença logo cedo

3
desapareceu fruto da inconsequência dos seus fundadores que foram incapazes de
conciliar a teoria com a prática.

Ainda em relação a identidade africana, verificou-se que a mesma é associada a


uma dimensão mítica, citando Victor Hugo, que refere-se ao africano como “ninguém”
e que a África pertence ao ocidente concedida por dádiva, mas, na visão do autor, essa
dimensão mítica não passa de uma neurose.

Referindo a libertação do jugo colonial, o autor argumenta que os Camarões


não terão conhecido uma independência verdadeira e digna, pois continua sob tutela dos
antigos senhores (colonizador). Prova disso é o presidente Paul Biya que é a “politica
Francesa”. Contudo, afirma que estas políticas já não são aceites nos dias de hoje entre
o colonizador e o colonizado, pois sua relação deve basear-se no respeito e dignidade
mútuos e que satisfaçam os interesses de ambos os povos, pelo que, em sua opinião, o
afastamento de Biya do poder significaria a real independência dos Camarões.

Quando se debruça sobre “o pavor nórdico de perder a África”, constata-se que


a criação de franceses substitutos (africanos defensores da causa francesa em território
africano) fora bem sucedida nos camarões, consubstanciada nos dirigentes, homens que
consideram o estado sua propriedade, que não permitem ao pais emancipar-se.

Mais adiante, nota-se em seus argumentos a insatisfação do povo revelada


pelas frequentes tentativas de destruição do status quo, e o enquadramento da guerra
civil no contexto da guerra fria cujos interesses maiores nela terão sido os da França.

Relativamente “as sujeições de uma república das bananas” verifica-se, em


primeiro lugar, que a África não terá escolhido a cooperação franco-africana, fundada
nos “fictícios” “laços especiais” que lhe terá sido imposta no ambiente da guerra fria, tal
como fora imposta a colonização ou seja, de maneira ilegítima. Contudo, o autor
defende que estes laços especiais referem-se, em primeira instância, a mania dos
segredos e a mitologia. Ademais, os laços especiais, aqui referenciados, representam a
consolidação das relações entre ditadores (François Mitterrand e Paul Biya a título de
exemplo). Por fim, o autor afirma que a corrupção dentro dos “laços especiais” tem um
significado particular por apresentar-se como peça de tutela e instrumento privilegiado
do poder.

Afirma-se que desde a independência, os Camarões terão sofrido muitas


“mutações” (geográficas, sociais e demográficas). Porém, tais mudanças não se
registaram a nível da estrutura do poder (mesmos homens no comando com métodos
brutais e mentalidade limitada) que têm criado imensas dificuldades ao povo camarones
(crise económica, desemprego, miséria e por aí vai).

Defende-se que são os postulados do Dr. Knock “dos pretensos estados de


saúde – as pessoas saudáveis são doentes que se ignoram” que parecem governar tanto a
teoria como a prática do poder em África.

Mais adiante, dentro do quadro da cooperação, verifica-se que a política foi,


durante muito tempo, elemento primário deixando-se de lado o desenvolvimento, sendo
que o autor aponta três elementos (os homens, os capitais e os recursos naturais) para

4
poder compreender a razão do subdesenvolvimento dos Camarões, concluindo que nem
um nem outro terá faltado, mas que se resume a política adoptada pelos dirigentes
colocando em causa a soberania nacional.

Sobre a democratização, observa-se que o pontapé de saída para a mesma, nos


países francófonos, terá sido dado por François Mitterrand na declaração de La Baulle
em 1990, mas por ver seu amigos ditadores em má posição, em consequência da sua
declaração, o mesmo faz uma súbita “marcha trás” declarando que cada país poderia
“democratizar-se a sua maneira”, o que significa que determinado ditador não é
obrigado a aceitar a democratização se ela lhe parecer perigosa.

Contudo, apesar dos males que afligem a África o autor acredita que o
Camarões pode desenvolver-se se tiver a coragem de combater os três principais males
que a afligem, nomeadamente, a marginalização da aldeia, a cooperação franco-africana
e o centralismo.

Você também pode gostar