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DO ERÓTICO AO POLÍTICO
Boa Vista
2005
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DO ERÓTICO AO POLÍTICO
Boa Vista
2005
2
DO ERÓTICO AO POLÍTICO
Banca Examinadora:
____________________________________________
Profª M.Sc. Vângela Maria Isidoro Morais (orientadora)
Universidade Federal de Roraima
____________________________________________
Prof. Maurício Elias Zouein (membro)
Universidade Federal de Roraima
____________________________________________
Profª Antônia Costa da Silva (membro)
Universidade Federal de Roraima
3
RESUMO
Palavras chaves:
Jornalismo de revista; imprensa gay; homossexualidade; semiótica da
cultura; opinião do leitor.
7
ABSTRACT
Key-words:
Magazine journalism; gay press; semiotics of the culture; homosexuality;
reader’ opinion.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO
A presente monografia tem como objeto de estudo a revista G Magazine
e fontes.
entre animais mamíferos, neste caso os macacos; a vida sexual nas tribos primitivas;
policiais; como a justiça reage à questão homossexual; bem como há uma breve
A seguir, podemos conferir o Capítulo II que trata dos autores e teorias que
Estes leitores mantêm uma relação amorosa com a revista que, de certa
Brasil.
Para a efetivação deste trabalho, foi realizada uma visita in-loco a sede da
Fractal Edições na cidade de São Paulo, para conseguir, junto aos que produzem a
funcionamento da mesma.
silvestres, tais como leões e macacos, trocando carícias entre seus pares do mesmo
sexo.
Spencer (1999, p.16) afirma que “os zoólogos foram até há pouco tempo reticentes
se que caso a fêmea necessite do macho apenas para a procriação, estes se tornam
machos.
fêmeas, os jovens bonobos ficariam isolados em outros grupos, que entre lutas e
“Jovens machos com ereção praticam felação um com o outro – ou sexo grupal, com
1
Homofobia é uma aversão a homossexuais e à homossexualidade, o que pode gerar violência. Esta
aversão pode vir a se manifestar tanto em heterossexuais quanto em homossexuais. Ronaldo
Pamplona da Costa ensina que “quando um homem homossexual é homofóbico, isso quer dizer
que ele não promoveu a contento a sua aceitação dessa forma de ser. Além de ter, injustificamente,
algo contra as pessoas homossexuais, há o agravante de que ele é uma delas (SPENCER, 1994,
91).
13
onde o sexo com crianças e adolescentes era comum e incentivado. Spencer denota
Mesmo assim foi possível catalogar algumas tribos e seus rituais sexuais.
Era muito comum, por exemplo, a pederastia ritualizada. Os mais jovens das tribos,
seus tios. Acreditava-se que o sêmen inserido no ânus do jovem transmitia força.
Para cada jovem, esse ritual durava pelo menos três anos em tribos como Marind e
Kiman2.
jovens eram encaminhados a um grande falo vermelho numa clareira da floresta. Daí
dava-se início a uma grande orgia masculina, único momento no calendário Marind
2
As tribos Marind e Kiman estão localizadas no conjunto de ilhas conhecido como Melanésia, no
Oceano Pacífico.
3
Soson é um gigante castrado que usava um colar de cabeças humanas em redor do pescoço
(SPENCER, 1999:20).
14
vezes os homens mantinham uma relação especial com os filhos de suas irmãs,
por meio da mãe, as seguintes pelo pai. Para os plebeus, a herança inicialmente
ao delimitar limites à vida e direitos das mulheres. Não foi encontrado nada que
proibisse atos homossexuais, no entanto, a questão não era citada com freqüência.
Muito do que se sabe sobre o antigo Egito foi descrito em desenhos das
copulavam. A idéia de que as mulheres pudessem gozar na relação sexual era vista
sexual para os rapazes. Todavia havia fortes indícios desse rito de passagem
masculino.
dinásticos. Spencer diz que, naquele período, os relatos transmitidos davam conta
de “uma homossexualidade aberta na corte. Não existia uma palavra precisa para
homossexualidade que expressasse esse tipo de amor sexual; mais uma vez, é
óbvio que ele não estava rotulado como sendo diferente do amor entre homens e
4 A esquizofrenia ocidental
Muito se sabe que a cultura ocidental tem suas bases arraigadas na cultura
vários aspectos, entre as ideologias gregas e hebraicas. Esses conflitos até hoje
todos os amigos e aos familiares do menino que pretendia conquistá-lo. Estes, por
sua vez, faziam de conta que não aceitavam tal relação e simulavam perseguição,
rapaz. E o garoto ainda seria afastado do pretendente. “No entanto, se o menino não
4
Uma convenção social em Creta, na Grécia, era a pederastia. Conforme Colin Spencer (1999), o
historiador grego Éforo (405-330 a.C.) havia escrito brilhantes relatos sobre a pederastia grega. No
entanto sua obra se extraviou. Tudo que se sabe, hoje em dia sobre isso vem dos livros de
geografia do escritor Estrabão de Amasia, que nasceu 200 anos depois.
17
O costume em Creta rezava que o rapaz mais desejável deveria ser valente
e inteligente, não o mais bonito. O rapaz era presenteado pelo amante e levado para
as montanhas onde ficariam juntos por dois meses. Lá, o jovem aprenderia a caçar e
reverência ao falo. Era tido como um objeto de proteção. Outros eram carregados
nas mãos como amuletos ou como sinos. Tinham falos decorados com asas, garras
amuletos retratando os órgãos femininos, sobretudo por ser sugerido que eles
18
tinham menos poderes. Com freqüência eram representados como um figo maduro
Muito embora a sociedade grega, até este momento histórico, pareça ser tão
norma social fosse sem dúvida a bissexualidade, esse conceito era limitado por
Entre os gregos não era bem aceita a postura de rapazes que amavam
rapaz que era casado, ter relacionamentos com outros rapazes, com cortesãs e/ou
com amantes.
hebreus, cujo estima pelas mulheres não era das melhores, seus atos eram regidos
pelo Talmude5.
Além de alguns controles, tais como a idade em que cada homem ou mulher
5
Doutrina e jurisprudência da lei mosaica com explicações dos textos jurídicos do Pentateuco (os
cincos primeiros livros do Velho Testamento, atribuídos a Moisés). (Dicionário Aurélio Eletrônico
Século XXI)
19
esposas quanto deseje, outra afirmava que não mais de quatro é o número
apropriado. A poligamia só foi proibida no judaísmo (SPENCER, 1999, p.
54).
vezes que os hebreus praticavam o sexo. Sendo que estamos nos referindo ao sexo
dentro do casamento que era uma obrigação religiosa, conforme Spencer apresenta:
prostituição masculina.
Outro exemplo muito comum para designar que Deus abomina as práticas
que provocou incêndio nas reservas naturais de petróleo, “uma visão inesquecível
escrita. “Como transcorreram cerca de 1.000, ou pelo menos 500 anos, entre os
eventos e a época em que foram escritos, é claro que o Gênesis é história baseada
ordem era pura, a desordem impura. É possível que esteja aí o início do dualismo
encher a Terra, o sêmen deveria ser injetado apenas no útero. O desperdício era
completamente abominado.
7
Sodoma e Gomorra eram duas das cinco cidades da planície da Jordânia em que, até hoje,
acredita-se que foram destruídas por ordem divina, em face dos, ainda discutíveis, pecados
homossexuais.
21
raciocínio que indique que na verdade havia um grande terror de que os costumes
hebreus profundamente afrontados. “A cultura ocidental herdou esse medo numa tal
medida que ele permanece vigorosamente vivo até hoje, alimentando a homofobia e
iguais.
8
O termo homossexualismo foi utilizado por Colin Spencer exaustivamente em sua obra. Atualmente,
o termo preferível é homossexualidade, por indicar comportamento, inclusive uma das bandeiras do
Movimento Homossexual. O termo antigo remete ao entendimento de quando era considerada
doença pela Organização Mundial de Saúde e Conselho Federal de Psicologia, bem como
Conselho Federal de Medicina. A palavra homossexual foi cunhada em 1869 pelo médico húngaro
Karoly Maria Benkert.
22
Tibério mantinha jovens meninos na Ilha de Capri, para que eles, quando na
piscina, fossem atrás dele para mordiscarem sua genitália. Tibério os chamava de
“meus peixinhos”.
Calígula (37 a 41 d.C.) foi sem dúvida um dos mais cruéis imperadores
mulheres, não escapavam de seus estupros. “Ao apresentar a mão para ser beijada,
ele estendia o dedo médio. Era o modo de dizer ‘beije o meu pênis’, e infeliz daquele
Numa destas situações, Messalina desafiou uma prostituta “para ver qual delas
Outros, como Adriano, cujo governo foi considerado como “pacificador”, era
amante de Antínoo com o qual ficou até a morte deste por afogamento; Nero chegou
Constâncio era considerado pela Igreja como pertencente a uma seita que
virgindade feminina etc. Inicialmente se deu através dos pobres, depois se buscou a
não dispensavam o sexo, que casassem, tornando-se marido ou esposa, para todo
o sempre.
estava o papa João XII. “João XII era um bissexual famélico e sôfrego, atraindo os
mais libertinos de ambos os sexos. Valia-se do tesouro papal para financiar suas
p. 57)
João XII foi culpado de incesto, adultério e assassinato. Depois de ter sido
afastado por algum tempo e ter retornado através de uma batalha política e
sangrenta, João foi chamado de volta. Leão VIII foi excomungado por João XII que,
posteriormente, dedicou-se a punir o clero que o havia apoiado. Seus inimigos foram
esquartejados. João XII foi morto a pauladas, com 24 anos, por um marido traído e
A Igreja Católica lutou durante 1.200 anos para impor a castidade aos
dos padres. O efeito dessa medida fez apenas com que os padres se tornassem
promíscuos. Nos conventos fora proibido a entrada de violinos, tendo em vista que o
religiosos que intercalam vozes de homens maduros com rapazes, foi considerada
de apelo homoerótico9.
A Inquisição veio com o papa Gregório IX (1127 – 41), cujo intuito fora
sórdidos. Todavia, em alguns casos, fora utilizada como pretexto para perseguições
9
O termo foi utilizado por Jurandir Freire da Costa em sua obra A inocência e o Vício – Estudos sobre
o homoerotismo (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1992). A proposta do autor é a mesma para a
palavra homossexualismo, reduzir o estigma que leva ao entendimento de doença.
25
ponto que o cidadão, por vezes, morria na fogueira sequer sabendo do que estava
sendo acusado.
vigiados constantemente.
mundo. Com isso viriam as religiões lideradas por Lutero e Calvino. Elas
Calvino que, sem remorso, executava todos aqueles que julgava serem pecadores.
aplicadas, havia leis incas e astecas que penalizavam com a morte na fogueira
próprio termo bugre, que designa os indígenas até hoje, vem do francês ‘bougre’,
72).
cargo de inquisidor-geral. Ele dava as ordens aos que habitavam na terra tupiniquim.
todos aqueles que cometiam os delitos como feitiçaria, homicídio, estupro e sodomia
10
“Segundo o historiador Jacques Sole, já na Antiguidade e durante a Idade Média o vocabulário
teológico-moral cristão englobava, sob o conceito de sodomia, tanto o sexo oral e anal (fora ou
dentro do casamento), quanto à relação sexual exclusivamente entre indivíduos do mesmo sexo”.
(TREVISAN, 2002, p.110).
28
eram punidos com o degredo para as colônias, sendo uma delas o Brasil. Entre os
habitavam. “A miséria dos costumes neste país me faz lembrar o fim das cinco
das casas, cozinhar e até mesmo tocar em orquestras. Belas negras serviam seus
sexual. Onde, aliás, os negrinhos, da mesma idade dos filhos dos senhores de
para que se evitassem a compra de negros com o sexo pequeno. Entendia-se que
sexual dentro das instituições de ensino no ano de 1864. Havia uma grande
escravas e destas aos filhos dos senhores, tanto durante a amamentação, quanto no
início da vida sexual deles. Mesmo sendo uma epidemia, os sintomas e sinais eram
tidos como um presente. Dentre os homens, quem não tivesse as marcas eram
sodomia na cidade São Paulo. Um caso em especial era denunciado na carta. Era o
trajavam
Colônia, bem como visitou Paraíba, Minas, Maranhão e Pará. Poucas são as
informações, mas denotam que o período que mais houve processos inquisitoriais foi
o século XVIII.
outros países da América Latina. Crimes como “por ofensa à moral e aos bons
periódicos, jornais, gravuras etc. que ofendessem a moral pública; a pena prevista
além de multa e perda do objeto onde constar a ofensa (o que significa, na prática,
que as publicações podiam ser recolhidas por ordem judicial) (TREVISAN, 2002, p.
167).
crime por ultraje ao pudor quando praticado em público. E aí estão incluídas “as
2002, p. 168).
nosso país “não gozava da mesma virilidade”. Dizia que a potência masculina havia
11
O abuso de liberdade – bem é que se advirta – deve ser aferido de acordo com os casos tipificados
na lei, do contrário, a liberdade de imprensa seria mera abstração, pura liberalidade das classes
dirigentes (MIRANDA, 1995, p. 149).
33
inclusive que se os exércitos não gozavam de sua potência não poderiam gozar de
sexo extraconjugal, evitar-se-ia a alta incidência de doenças venéreas. Esta idéia era
Várias ações foram desencadeadas como impor “uma educação [...] através
173).
que seria um cidadão desviante sexual que, aliás, este deveria saber quais os seus
12
Com referência às ideologias do padrão normativo heterossexual. Onde o falo exerce fascínio;
centrado no pênis, quando ele determina e tem poder. Machismo.
34
13
coibir os abusos dos uranistas nos jardins públicos do Rio de Janeiro do
século XIX [...] (TREVISAN, 2002, p. 73).
pederastas por roupas de cor verde, não conseguir assoviar este, por exemplo,
Tais justificativas caíram por terra. Mas eram explicadas como exceções à
regra, como foi o caso do “pederasta Traviata, famoso no Rio de Janeiro da segunda
metade do século XIX, que sabia assobiar óperas inteiras, ‘com a expressão de uma
melodiosa flauta’. Talvez fosse porque também ativo – tendo até um chefe de polícia
13
Termo empregado na obra de Platão, “O banquete, segundo o qual o amor de Vênus (ou Afrodite)
Urânia só era compartilhado pelos machos, de modo que seus afeiçoados voltam-se ao que é
másculo” (Trevisan, 2002, p. 113).
35
Experiências com cobaias machos, estavam sendo iniciadas nos anos 1910,
“doentes” (grifo meu), evitar atividades que pudessem haver algum motivo para
atividade sexual entre rapazes, cuidar da cultura moral e aumentar o contato com
colocar o “paciente” (grifo meu), para pernoitar com mulheres vestidas de homem,
181).
Houve, entre 1930 e 1940, várias tentativas para criminalizar e, até mesmo,
para criar mecanismos legais para que homossexuais fossem presos para
tratamento de sua conduta sexual desviante. Nenhuma das tentativas logrou êxito.
humilhar muitos homossexuais no Brasil, mesmo não havendo dispositivo legal para
isso.
João Silvério Trevisan (2002) cita um dos casos mais chocantes, inclusive
Lampião da Esquina.
menina chamada Cláudia, sempre mendigava com sua mãe que sofria de
depor contra ele dizendo que o mesmo teria se aproveitado da garota, uma vez que
quando foram dar banho nela perceberam que a vagina estava “vermelha e
inchada”. Criaram uma espécie de Comitê no prédio e inclusive ligavam para o jornal
do hímen. Mesmo assim Chrysóstomo foi indiciado por “maus tratos contra menor” e
alegação de que era um “pedofílico, numa cidade onde existem milhares de menores
Lampião, para “dar uma noção exata da personalidade daqueles que lêem o tal
jornal e, a fortiori, dos seus responsáveis”, argumento prontamente acatado pelo juiz
que ainda considerou o jornal como “pasquim imoral e contrário aos bons costumes”.
Com um processo que corria sobre segredo de justiça, fato à época não
comum e, após passar oito meses na cadeia sem que a culpa fosse formalizada, ele
38
foi julgado a dois anos e oito meses de prisão por atentado violento ao pudor e mais
dois meses e vinte dias por maus-tratos a menor e, também mais um ano de medida
inclusive perdido boa parte dos dentes, em face da burocracia para encaminhá-lo
dedicou à Cláudia, sua filha adotiva e faleceu alguns anos depois, sem ao menos ter
sobre cultura, humor, música, moda, comportamento e sexo, bem como publicações
de vida curta e outras mais dirigidas à pornografia ou aos vídeos pornôs gays, como
a revista Porn.
39
Imprensa Gay, fechada pelo regime militar, dirigida por Agildo Guimarães e Anuar
perante a condição deles. Na verdade era uma busca por uma identidade enquanto
grupo social.
40
viria a revolucionar.
O grupo sentia a falta de lésbicas, pois a sua presença era incerta. Lógico
São Paulo. A partir dali o grupo passou a se chamar “Somos – ‘nome expressivo,
sofria acusações de atentado à moral e aos bons costumes num inquérito policial,
através de pedido efetivado pelo Ministério da Justiça, cujo efeito repercutia tanto no
vários pontos do país. Em panfletos anônimos exigia-se o fim das vendas de jornais
O que motivou o movimento contra o Lampião foi uma matéria que criticava
o processo contra o jornalista Celso Curi, envolvido no imbróglio desde 1977 por
ofensa à moral e aos bons costumes, motivada pela coluna que o mesmo assinava
no antigo jornal Última Hora, a Coluna do Meio. Celso Curi foi absolvido através da
Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Belo Horizonte, Salvador, Brasília, Recife, João
reivindicação.
anúncios publicitários. Todavia sua existência estava mais voltada para a venda dos
14
A forma aportuguesada de gay está impressa em toda a obra de João Silvério Trevisan. A palavra
já consta no dicionário como guei. Tendo em vista a palavra em inglês ser utilizada constantemente
em vários materiais, sejam periódicos, movimento homossexual no Brasil e livros, optou-se pela
forma estrangeira.
43
retirando o impacto causado pelo Lampião, bem como “decisões não acertadas, que
tempo, o que sobrava, era uma militância sem muita representatividade e sem
Magna que trata dos direitos do cidadão. Neste período, o MHB já estava envolvido
com o Partido dos Trabalhadores que havia decidido não apoiar a reforma da
Constituição.
O norte do País não ficou de fora do mercado editorial GLS15. Como parte
de Manaus, no Amazonas, a revista Meio Termo (Figura 01), editada pela Complô
15
GLS – Gays, lésbicas e simpatizantes.
45
Caminha, Ney Flávio Mendes, Luiz Otávio Martins, Wilson Martins, Ana Cláudia
modifica-se radicalmente entre os homossexuais. “Isso fez com que muitos homens
a infecção pelo HIV. Os primeiros casos fatais foram identificados em Nova York. Os
rapidamente.
46
epidemia, fez com que o movimento gay agisse, pois se sentiam recriminados e
O pior era que, no seio da sociedade dos anos 1980, crescia um sentimento
de que a Aids era um castigo divino. Toda a mobilização política ocorrida pós-
mastro.
homossexual obtendo bons resultados. Houve uma redução dos casos, por
Uma prática de sexo também emergia: o sexo por telefone. Sem mencionar
16
Noite do dia 27 de julho de 1969, vários homens da polícia de Nova York adentraram o bar
Stonewall Inn, sempre com bastante escárnio. Conta-se que num momento em que todos os
freqüentadores estavam sendo revistados e quando várias travestis e drag queens estavam sendo
detidas, alguém bradou “gay power” e outras palavras de ordem se espalhavam pelo ambiente. A
polícia buscou reforço de 300 homens. Deu-se início a uma disputa entre homossexuais e policiais
que se seguiu até a manhã do dia seguinte e por outros quatros dias. Ela terminou apenas com a
intervenção do prefeito da cidade que prometeu também o fim da violência policial. Daquele
momento em diante, os cerca de 50 grupos homossexuais existentes nos Estados Unidos teriam o
número dobrado. “Passadas algumas semanas, um grupo militante nomeado Frente de Libertação
Gay lançaria o jornal ‘Come Out’, decretando o 28 de junho o ‘Dia do Orgulho Gay’”. (G Magazine
ed. 21, 06/1999, p. 31) Um mês depois aconteceu o que seria a primeira parada gay do mundo, ela
ficou conhecida como a “Marcha de Stonewall”. A revolta de Stonewall, como ficou conhecida, é um
marco histórico do Movimento Gay e o divisor de águas para uma tentativa de afirmação identitária.
17
Em 1978, um ativista de São Francisco – EUA faz um pedido a um artista plástico chamado Gilbert
Baker, para que criasse um símbolo que viesse a identificar o movimento gay daquela localidade.
Ele não imaginava que aquela idéia viria se tornar, na verdade o símbolo mais forte do movimento
homossexual mundial. Em princípio Baker criou a bandeira com oito cores: rosa, vermelho, laranja,
amarelo, verde, azul, índigo e violeta. Respectivamente, as cores significam: sexualidade, vida,
cura, sol, natureza, arte, harmonia e espírito. Mas, em face da indisponibilidade comercial, em
massa, da cor rosa, a bandeira foi confeccionada com sete listras. Com um assassinato de um
homossexual assumido, em 1978, a comunidade fez um protesto e utilizou pela primeira vez a
bandeira do arco-íris. Mas para que houvesse simetria na avenida onde acontecia o evento, o
Comitê da Parada do Orgulho eliminou a cor índigo.
47
saúde. Neste meio encontramos a travesti Brenda Lee que ficou famosa por abrigar
– em sua casa – e sustentar várias de seus pares infectadas com vírus HIV. A casa
virou extensão do hospital Emílio Ribas, tornando-se Casa Brenda Lee, fundamental
governo repassava dinheiro às instituições, que ficaram mais conhecidas como ONG
profissional.
Mesmo que a idéia de que a Aids deixara de ser uma doença apenas dos
epidemia, “afinal, eles têm sido os bodes expiatórios de todos os grandes desastres,
359).
grupos homossexuais pelo mundo, um senhor chamado Karl Heinrich Ulrichs, viria
48
Karl usou o codinome Numa Numantius, para evitar que seus familiares sofressem
serviço militar por ser homossexual, expulso de uma sociedade literária face ao teor
sexual.
8 Contexto Contemporâneo
Há profissionais do direito que dizem que, pelo menos no Brasil, por não
existir nada na lei que impeça a união de pessoas do mesmo sexo, é uma bobagem
tentar fazer com que o Estado venha reconhecer através de Lei. Todavia, outra ala
diz que realmente deve ser reconhecido, pois se trata de instrumento que declara o
quantos e quais direitos são negados pelo Estado aos homossexuais que
negados.
Dentre eles, podemos citar que o parceiro não tem direito à pensão
previdência, não adotam filhos em conjunto, não têm usufruto dos bens do parceiro
Várias explicações são dadas por aqueles que não querem que a união civil
seja possível. Em caso de adoção, por exemplo, a criança terá dois pais ou duas
de um referencial do sexo ausente não parece ser problema [...] a criança é capaz
que prevê a União Civil. Todavia, a ex-deputada federal Marta Suplicy empenhou-se
em votação.
plebiscito.
mesmo sexo ou, pelo menos, fornecendo instrumento que tenha características
similares e que venha diminuir o sofrimento das partes num eventual litígio, por
exemplo.
A Justiça do estado do Rio Grande do Sul tem sido uma das mais
nacional.
capital cearense criou lei que proíbe qualquer forma de discriminação quanto à
orientação sexual. Lei também aprovada pela Assembléia Legislativa de São Paulo,
hoje. Porém, alas religiosas que historicamente são contra, abominam e ainda
51
assinado pelo falecido papa João Paulo II e pelo atual papa, Bento XVI, Joseph
dormir na mesma cama. Mas não podem exercer o desejo que sentem um pelo
500 pessoas foram vítimas de agressão por pessoas que jogavam excremento do
1981.
Militar paulista que atesta 1.800.000. Na confusão dos números, quatro dias antes,
comparação:
falaram qual era o tema da Parada de 2005 – a reivindicação da união civil entre
edição número 5. Nele, como nas demais edições, foram colocados homens e
de reais19.
Seria tudo muito comum se não fosse por um professor universitário vindo
primeiro “paredão”20.
professor era o escolhido para o paredão, Wyllys disse que estaria sendo vítima do
programa e para o todo o Brasil, ao vivo, com todas as letras: “Por que eu sou gay!”
18
Programa de TV que confina cerca de quatorze pessoas numa casa durante pelo menos três
meses.
19
Nas edições anteriores, o programa oferecia R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
20
Meio pelo qual o programa de TV elimina um dos participantes, até que fique apenas o vencedor. O
eliminado é escolhido pelo público através de telefone e Internet.
21
No sítio da emissora, o internauta podia votar no participante com quem ele se simpatizasse.
54
professor Wyllys, provocadas por um grupo que ficou conhecido como “gigantes”,
liderado pelo médico Rogério Padovan. O grupo dizia que o professor estava se
Como quando numa brincadeira, onde participantes deveriam usar roupas exóticas,
Fora tantas outras cenas que aqui poderiam ser citadas, o professor gay
apresentado por Ana Maria Braga, virou ícone gay e escreveu outro livro22 que
[...] pertence a uma outra minoria: a dos brasileiros que lêem mais de dois
livros por ano. Jornalista [...], ele brindava seus companheiros de programa
com serões sobre história e literatura, além de recitar letras de artistas-
cabeça da MPB (VALLADARES, 2005).
22
Jean Wyllys escreveu o livro de contos Aflitos, publicado por uma editora baiana.
55
rapazes pertencentes ao grupo foram condenados, pelo Júri Popular por 6 votos a 1,
23
Grupo de rapazes de cabeça raspada que utilizam parâmetros preconceituosos e de caráter
violento.
24
O Grupo Gay da Bahia faz a coleta de dados a partir de notícias fornecidas pelos meios de
comunicação.
56
revistas dirigidas à grande massa e, até mesmo, revistas gospel que são
uma festa denominada de “Ou Vai ou Racha”, cuja intenção era a de conquistar
embrionário.
À época, o grupo que tinha à frente Sebastião Lima Diniz Neto 25, a travesti
Luana Barros (Ronaldo Barros da Costa) e o cabeleireiro Mota26, não logrou êxito.
sindicato.
atraso de mais de duas horas por causa do empréstimo do trio elétrico, é realizada a
primeira Parada GLS, organizada por Sandra dos Santos (José Santos Gómez) e
Sexual. Doze pessoas fundaram a entidade, são elas: Sandra dos Santos (José
25
Neto de Sebastião Diniz, um senhor que, nos anos 1950, veio para Roraima para ajudar a construir
a estrada da, hoje, BR-174, que dá acesso ao vizinho estado do Amazonas e ao restante do Brasil.
26
O cabeleireiro Mota não mais reside em Roraima.
27
GLBT – Gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros.
57
Santos Gómez), Sumaia Dias, Renildo Araújo, Roziane Araújo, Joaquim Abreu, Nívia
eram Carlos Fournier Filho, Sebastião Lima Diniz Neto, Josean Rego, Sílvia Reis
Associação que também é conhecida como Grupo DiveRRsidade (Figura 02), com
Roraima, que dá direito às pessoas do mesmo sexo, que comprovem união de fato,
em 27 de dezembro de 2004.
58
André Coelho e Ralf Wessestein (Figura 03), pastor de igreja luterana em Roraima,
foi o primeiro casal a oficializar sua união em Roraima. Eles já haviam celebrado a
internas que estão em cada um de nós” (COSTA, 1994, p. 23). Quando nos
referimos ao desejo sexual, nos referimos ao fato de que um ser humano sente
atração por outro, independente do sexo biológico, desejo esse que não pode ser
59
contido, ele pode, apenas, não ser divulgado e, eventualmente, não praticado.
bissexualidade e homossexualidade.
vamos encontrar denominações como gays (homens que fazem sexo com homens)
e lésbicas (mulheres que fazem sexo com mulheres). Que também podem adotar
têm comportamento de homens e que têm desejo, apenas, por homens com suas
sua vez, pode ter desejo por homens heterossexuais, bissexuais, bem como atraí-
los. Aliás, estes mesmos homens heterossexuais podem ter atração por gays e por
o que significa aquelas letras – GLBT – que tanto são difundidas pelo Movimento
nestes elementos de forma caricata); cross dresser (homens que se vestem com
necessariamente homossexual).
o corpo biológico não é aceito pela mente. Para a mente, o corpo, neste caso
Neste caso, e tão somente, pode ser realizada uma cirurgia de readequação
sexual, após a verificação minuciosa de uma junta médica, o que pode levar anos. O
Neste vasto contexto, que não pode ser inserido nesse trabalho, por se tratar
para resumir nomes e mais nomes que se agregam à luta pela livre expressão
homossexual.
linha militante engloba todos aqueles que não se sentem representados pelos
28
Papel de gênero nada mais é que o nosso comportamento frente às demais pessoas e à sociedade
como um todo (COSTA, 1994:23).
62
ações e comportamentos no universo homossexual. Aliás, boa parte dos termos tem
origem na língua africana iorubá, comumente utilizada pelos seguidores das religiões
afro-brasileiras.
Por que as pessoas têm tanto preconceito com relação à sexualidade que
tido como marginal? Qual (is) instrumento (s) podemos utilizar para reduzir o
instigam o autor.
procurar meios para impedir a visibilidade dos homossexuais que não contemplam e
serem felizes.
tantos era compartilhado pelo autor. Este sentia grande dificuldade de dizer quem
era, o que sentia, o que amava, sem ser molestado ou perseguido em todos os
29
O autor, Josean Rego, prefere utilizar-se da terceira pessoa, para referenciar-se neste subtítulo do
trabalho.
63
sua realidade ou criando a sua própria, onde ele pudesse ser feliz e demonstrasse
Mais tarde, vários colegas do jornal, se dirigiram até o bar que ficava a
jornalistas Carlos Dias, César Augusto de Oliveira, Mário Adolfo de Castro, Elizabeth
Menezes, Maria Derzi, Danilo Melo e a arquivista Marluce Angiole (Figura 04).
no mínimo curiosa. Ela dizia que a revista G Magazine era especial e que merecia
ser objeto de estudo. Ela não entendia por que ninguém havia feito um estudo sobre
publicação.
Mas como falar de uma publicação que, no mínimo, era objeto de escracho
30
Na cidade de Manaus pela primeira vez o autor conhece uma boate gay no ano de 1997, onde
pode finalmente exercer o direito de ser livre, sem ser observado preconceituosamente.
31
Segundo a proprietária da revista, Ana Fadigas, a empresa foi procurada inúmeras vezes para o
desenvolvimento de trabalhos acadêmicos e apenas três foram para conclusão de curso e
obtenção de títulos.
64
de outras mídias e que poderia encerrar sua vida dependendo da força exercida dos
Universidade. Ele desejava que ela fosse referência para outras pesquisas e
defendeu junto ao amigo César Oliveira, que pedia para não prestar atenção ao que
a colega dizia afinal, aquele era um momento de diversão e a G não caberia naquela
Elizabeth.
Mas aquele não era o momento para o autor se expor perante os demais.
jornal Folha de Boa Vista, consideradas pelo autor, extremamente violentas quando,
comunicação diversos.
O autor sabia que a revista tinha sido importante em sua vida. Mas não
Recado, espaço editorial assinado por Ana Fadigas, dizia como ele (o autor da carta)
G Magazine, não. Ela atendia, entendia e conversava com o leitor no mesmo tom.
extremamente afeminado ou que deveria ser travesti. O que fazia com que os
escrito pelo mesmo, que retratava um rapaz que buscava na noite a felicidade: Os
32
As discussões levadas pela G Magazine instigam cada vez mais o acadêmico, mostrando-lhe que o
mundo não só se resumia em discursos de mídias proferidas ao grande público.
67
notívagos33
mistério. O autor até queria se vestir de drag queen naquele dia, mas não se
considerado por ele, extremamente grande e que se identificava melhor com a sua
personalidade transgressora.
que na verdade era extremamente difícil, pois, além de não serem encontrados
facilmente em Roraima, muitos ainda não estavam traduzidos ou não haviam sido
breve publicidade.
Neste momento entra a Internet. Muitos títulos que balizam esta monografia
encarecendo o produto final. Tendo em vista a aquisição de livros cujos preços eram
acrescidos de frete.
trabalho, foi criado um blog34. O Carta Queer35 (Figura 05), como ficou conhecido, foi
33
O texto Os Notívagos, encontrado no site www.cartaqueer.blogger.com.br, está reproduzido no
apêndice deste trabalho.
34
Página pessoal na Internet que disponibiliza ferramenta de comentários aos internautas em cada
artigo ou textos escritos.
35
www.cartaqueer.blogger.com.br.
68
(Manaus-Amazonas) de matéria que tinha como intenção obter mais visitantes e, por
que não, colaboradores, bem como também teve um aumento do número de visitas
por causa de publicação de artigo no site Observatório da Imprensa 36. Mas também
foi destaque na revista G Magazine, pois o autor ainda tinha intenção de fazer um
on-line. Também foi destaque no jornal Folha de Boa Vista na coluna da jornalista
apresentado por Cida Lacerda, na recém criada TV Ativa, afiliada da Rede Gazeta.
36
O artigo encontrado no www.observatoriodaimprensa.com.br pode ser encontrado no apêndice
deste trabalho e a matéria do jornal A Crítica está reproduzida no anexo.
37
O questionário não foi criado, pois não teve condições técnicas para tal, mediante, também, o alto
custo.
69
cobrança que ele mesmo gerou nos seus pares acadêmicos que queriam ver o
trabalho. Esbarrou na falta de dinheiro para ir até a cidade de São Paulo (sede da
havia a necessidade de expressar isso em palavras. O autor não acreditava que isso
faria alguma diferença. O que era preciso era vencer o preconceito com
determinação, que por vezes fugia juntamente com a coragem. Era uma sensação
divulgar o trabalho.
Certo dia o autor foi contatado através da lista por Léo Mendes, presidente
que o autor morava em Roraima, e que este seria uma pessoa que representaria o
Estado num evento em Goiânia, parte do projeto Somos, dirigido aos homens que
fazem sexo com homens, que atua na área de prevenção às doenças sexualmente
Era agosto de 2003 quando o autor seguiu para a cidade de Goiânia, sob a
Nesse período que esteve mais ativo dentro da entidade, também colaborou com a
finalmente foi possível realizar a viagem até a cidade de São Paulo para conhecer a
Sem esquecer que seria uma oportunidade ímpar para conhecer uma cidade
fortalecido e orgulhoso de ser quem é. Crente de que está cumprindo uma grande
lésbicos).
público homossexual masculino, além do apelo erótico, que ocupa boa parte de suas
preferência para aquelas que continham mais fontes. Encontra-se neste trabalho, em
38
“A noção de homocultura apareceu, historicamente, no I Worldwide Conference about Homoculture
promovido pela International Lesbian Gay Association (Ilga), na cidade de Estocolmo, 1998. [...] O
objetivo desse encontro era inscrever a diversidade da cultura homoerótica das comunidades gays
e lésbicas no mundo, permitindo observar a flexibilidade enunciativa do termo homocultura”
(SANTOS; GARCIA, 2002, p.7).
39
Conforme Guacira Lopes Louro (2003:8), a teoria queer “é o excêntrico que não deseja ser
‘integrado’ e muito menos ‘tolerado’. Queer é um jeito de pensar e de ser que não aspira o centro
nem o quer como referência; um jeito de pensar e de ser que desafia as normas regulatórias das
sociedades, que assume o desconforto da ambigüidade, do ‘entre lugares’, do indecidível. Queer é
um corpo estranho, que incomoda, perturba, provoca e fascina.”
72
sabe-se exatamente com quem se está falando [...] entra no espaço privado, na
identifiquem o que o leitor quer, “afinal de contas, ele quer ler. É preciso ter antes
uma idéia bastante clara da publicação e do público que se quer atingir” (SCALZO,
2004, p. 38).
também darão norte a este estudo, bem como utilizaremos os estudos realizados por
em especial a Playboy.
uma comparação com o nosso objeto de estudo, pois alguns momentos da história e
73
revista americana.
Os princípios que devem reger a coleta de notícias, bem como quais são as
Para complementar, Eugênio Bucci faz uma grande explanação sobre ética
público a que se destina. A grande maioria, senão todos que trabalham junto a
revista são homossexuais ou, pelo menos tem contribuído de alguma forma com
minorias, bem como análises da nova conjuntura sobre sexo e gênero na mídia,
conhecida como queer, também associada aos estudos das duas obras citadas
acima.
semiótico da cultura. A Semiótica Russa ou, como ficou mais conhecida a Semiótica
“para se firmar como teoria geral dos signos”. Dentre os primeiros trabalhos
40
Adé, na língua iorubá, significa homossexual masculino.
75
cultura (Figura 06), vamos explicar cada um dos elementos através do próprio tema
e objeto de estudo:
Cultura mental: São os valores que a sociedade presta aos artefatos, o que
estamos, neste estudo, nos referindo a cultura homossexual. Quando nos referimos
referimos à cultura mental falamos dos valores que a cultura homossexual atribui ao
mental,
são:
grupo;
uma mudança cultural ou, o que significa dizer, que um elemento passa de uma
esfera para a outra. Caso isso ocorra, o código desse elemento, que estava noutra
Cultura homossexual
Culturalmente Culturalmente
Central Periférico
Extracultural Não-cultural
41
Os termos aqui contidos estão explicados ao longo deste trabalho, bem como no glossário.
78
Fractal Edições dirigida por Ana Fadigas (Figura 08) e Otávio Mesquita42. O nome foi
O Otávio Mesquita saiu porque ele achou que revista não era o
padrão dele. Ele investiu na revista. [...] ele divulgou. Ele tinha a Tábata que
era uma personagem muito engraçada. As pessoas gostavam muito. Ele
apoiou o projeto sempre [...] ajudou muito. Mas ele percebeu que não era a
dele ter uma editora. Então a gente comprou a parte dele e ele saiu (Ana
Fadigas, entrevista dia 23.05.2005, São Paulo/SP).
42
Otávio Mesquita colaborou até a 12ª edição da G Magazine. Posteriormente, continuou
desenvolvendo projetos para programas de televisão.
79
em bancas de revistas.
sem compromissos com a causa gay”. Seu advento veio ocupar uma lacuna deixada
pela revista Sui Generis44 (Figura 09): o nu erótico masculino. A confirmação vem do
43
Antes do lançamento, foi realizada uma pesquisa de mercado com o público gay, perguntando o
que eles gostariam de ter numa publicação dirigida a eles. As seções de cultura, entretenimento,
turismo e ensaios de nus masculinos foram as mais apontadas na pesquisa. O apelo de venda da
publicação são os garotos da capa, responsáveis pelos ensaios de nus masculinos (COSTA, 2001).
44
A revista Sui Generis teve a edição zero lançada no final de 1994 por Nelson Feitosa, com uma
proposta de levar cultura, política, artes, serviços e entretenimento ao público homossexual
brasileiro. “Mas a revista sucumbiu às novas exigências desse novo mercado, que demandou nus e
conteúdo mais sexual”. A revista teve 55 edições encerrando os trabalhos em 2000. A revista gerou
uma grande polêmica quando, na capa da edição nº 44 de junho de 1999, estampou dois homens
se beijando na boca. (Cf. STEFFEN, Luís Felipe. O fim de uma era. São Paulo: Mix Brasil, 2000.
Disponível em: <http://mixbrasil.uol.com.br/extra!suigeneris/sui.htm> Acesso em: 24 nov. 2003).
80
[...] eram pessoas que [...] não queriam colocar os nomes deles. Eles eram
46
dois homossexuais que não fariam o outing naquele momento numa
publicação [...] eles escolheram o nome, tinham o know how, [...] eu tinha a
vontade de fazer. Então era eu e eles, mas eu descobri no fim que o único
nome verdadeiro ia ser o meu na publicação. Por isso que começou com o
meu nome [...] Uma amiga minha a Ester (Rocha), assessora de imprensa
47
do Gugu [...] era muito minha amiga [...] nos aproximou. ‘Gente a Ana quer
tanto e vocês também tem esse título, Bananaloca’, que eles adoravam e tal
[...] e aí eu falei: eu topo! E aí nos juntamos. E daí eu descobri isso que eu
não teria nenhum jornalista assinando nem eles mesmo dando o nome por
que eles tinham o trabalho deles [...] isso há oito anos atrás. [...] Daí surgiu a
Bananaloca, que, na quinta edição, o que eu percebi foi que seria muito
difícil o meu projeto bater com o deles. [...] E aí eles tinham registrado o
nome Bananaloca e eu tinha registrado como da editora e, eles já tinham
registrado como deles. Tinha alguma... não bateu alguma coisa e eu resolvi
seguir o meu caminho de G Magazine mesmo e devolver o nome para eles
(entrevista dia 23.05.2005, São Paulo/SP).
45
Filiada ao PT de São Paulo, Ana Fadigas é uma profissional do ramo de revistas. Esteve no Grupo
Abril de 1977 à 1995. Dirigiu e editou revistas para o público infantil, como histórias em quadrinhos,
bem como revistas de fotonovelas, Contigo (trabalhou durante oito anos), Carícia, Boa Forma, Fluir
entre outras.
46
Outing é um termo em inglês que significa assumir perante a sociedade a condição homossexual.
No Brasil também é utilizado o termo “sair do armário”.
47
Augusto Liberato, o Gugu, apresentador de programa de TV no Sistema Brasileiro de Televisão –
SBT.
81
zero (Figura 10) da revista G Magazine, ainda com os nomes de Lhamas e Negrão
hoje ela é uma história possível de se contar. Na época era muito sensível.
[...] Não houve problema com os dois. Fui tudo feito com tanta verdade. [...]
Nem eles fizeram nada para mim, nem eu fiz nada para eles. [...] Preferia
que tudo fosse [...] feito do jeito que deveria ser. (entrevista dia 23.05.2005,
São Paulo/SP)
mais ousadas. Ela deixou de ser publicada quando um outro sócio, Ângelo Rossi,
saiu da Fractal, tornando-se dono da Editora Peixes, que hoje edita a Sexy.
48
Mix Brasil (www.mixbrasil.com.br) um dos sites de conteúdo GLS mais antigos do Brasil.
83
Olá tudo bem com vocês? Eu não fiquei muito bem ao saber das
dificuldades [...] e ainda por cima de existir a possibilidade da mesma
chegar ao fim. [...] Não quero acreditar que a revista que abriu as portas
para eu aceitar a minha sexualidade chegue ao fim. Foi pela G que comecei
a saber que existem pessoas como eu, foi pela G que conheci o mundo gay
[...] foi pela G que vi gente famosa abri mão de seus receios e se expor nu
ao mundo (isso me deixou muito contente) [...] Foi nessa revista que deixei
as minhas opiniões e sugestões que foram tratadas com tanto carinho
atenção pela Aninha Fadigas... e tantas outras situações gostosas que a
minha G Magazine trouxe (G Magazine nº 70, julho/2003, Editorial, carta de
Edson A. dos Santos).
algumas bem criativas como a do leitor Osmar Rezende, de Belo Horizonte, Minas
Gerais, que criou um cartaz (Figura 11), distribuído para vários amigos, com uma
montagem de várias fotos de modelos que saíram nus na revista, com os dizeres “dá
para imaginar a vida sem eles?” e “impossível ser feliz sem G” publica na G nº 70.
84
leitor trata Ana Fadigas. As primeiras cartas foram publicadas a partir da revista
declara que a publicação vai continuar e agrega figura onde acrescenta as frases:
“Apoiada pelo seu leitor, a G Magazine continua a luta [...] A revista da sua
identidade, da sua cidadania e do seu prazer, continua todo mês nas bancas!”.
Numa edição com uma capa ousada, onde havia uma tarja preta cobrindo o
Ana Fadigas. Ela diz que seu primeiro marido, Jayme Camargo Pai 49, revelou-se gay
para ela. Hoje são grandes amigos e, Camargo, também é editor-chefe da G e tem
ao material escrito, é João Silvério Trevisan 51. A grande maioria das mensagens faz
49
A designação “Pai” foi um artifício da publicação para diferenciar Jayme Camargo, o pai, do filho,
que assina com o mesmo nome e que também trabalhou na revista.
50
Por um longo período o espaço de opinião da revista, assinado por Ana Fadigas, chamava-se
Recado. Atualmente adota-se Editorial.
51
Trevisan escreve para a G Magazine coluna chamada Olho no Olho, hoje, de duas páginas, onde
discute uma série de assuntos do comportamento homossexual e militância. Seu material publicado
merece atenção especial e única, pois suas considerações são extremamente inquietantes e
provocadoras. É injusto falar dele em tão pouco espaço, mediante sua história que, inclusive
mencionamos neste estudo.
52
G News era trimestral e teve apenas duas edições, a primavera 2001 e a verão 2001/2002. Seu
conteúdo estava direcionado ao texto. Não havia material pornográfico ou erótico. A mesma foi
encerrada por falta de recursos.
86
foi produzida nos moldes da americana The Advocate e da francesa Têtu (teimoso),
o que traria os anunciantes que alegam que não anunciam na G Magazine por
telefone, fitas e cinemas pornôs, boates, bares, sex shops, tratamentos de beleza,
livros, perucas etc. Grandes anunciantes não procuram a publicação que tem como
87
dos Estados Unidos nos anos 1960, identificou que, quanto mais ousadas fossem as
fotos, menos anunciantes as publicações teriam. Um fato que ocorre hoje com a G
Magazine, tendo em vista que o que a revista trás são pênis enrijecidos no lugar das
produtos sejam dirigidos para eles. Além dos pênis eretos e, por se tratar de mídia
sexual, faz com que o processo de decisão de anúncio na revista seja disperso
afinal,
que produto tem para o gay? Você tem revista segmentada, você está
abrindo anúncio para aquele segmento. Não existem produtos. Você tem
serviços. [...] São pessoas que oferecem produtos para o mundo gay. [...]
Só temos serviços para o segmento. [...] Os produtos que existem [...] se
comunicam com os gays e como se comunicam com as lésbicas, como se
comunicam através de outros canais. Nas outras revistas segmentadas
você tem produtos para o segmento. No caso das revistas de viagem, nas
revistas de culinária [...] As pessoas têm preconceito porque elas não têm
que rotular um produto a uma determinada situação sexual, ela trabalha um
produto para o varejo. [...] Não vou veicular minha marca com o público gay
(Sílvia Campos, responsável pelo marketing, entrevista dia 25.05.2005, São
Paulo/SP).
leitor pode ser o mesmo do anunciante. “Muitas vezes, podem ser radicalmente
dirigida para os homens, tem como anunciantes várias cervejarias, linha de produtos
TV53(Figura 13) e o Banco do Brasil (Figura 14). A Direct TV já havia feito vários
anúncios na revista e, na mesma edição (nº 82) em que foi publicado um dos
Channel.
anúncio do Banco do Brasil, gerou grande feedback para a revista, o que representa
53
Canal por assinatura via satélite.
89
Editora Globo, Editora, Abril [...] E depois você tem o segmento. [...] A G é
de gay. A G não é percebida pelos anunciantes. [...] O cenário já mudou, a
mídia já mudou [...] nos bastidores ainda, não é isso. [...] O cenário é uma
grande parada [...] as leis estão mudando, mas no cenário a gente ainda
sofre para fazer o outing [...] A G a ainda por cima tem pinto de fora. Você
imagina que as grandes agências têm inúmeras desculpas para não estar lá
(na G). A nudez. [...] E aí você tira a nudez [...] Quando lancei a G News...
Ah, mas eu não sei ainda, ela não existe. Vai vender? Não vai? [...] As
desculpas vão acabando com o tempo. [...] Quando eu trabalhei com a
Contigo... a desculpa era uma revista para a empregada... ah, é só de
novela. [...] Hoje ela é uma revista que venceu as barreiras, tem vários
anúncios [...] O Banco do Brasil colocou esse anúncio porque pessoas nos
bastidores trabalharam pessoas. [...] Ele (Banco do Banco) não continuou
por que era uma campanha [...] que ele fez pela diversidade.[...] (Ana
Fadigas, diretora e editora, entrevista dia 23.05.2005, São Paulo/SP).
com outras revistas que não eram gays, e era assim. Agora eu vou cansar?
Nem morta! Nem mortinha (entrevista dia 23.05.2005, São Paulo/SP).
dos leitores brasileiros encontra-se na edição nº 04. Uma mensagem enviada por um
leitor de Belo Horizonte, fez severas críticas às várias publicações gays. Ele as
agora abrevia apenas os últimos nomes. O recurso foi muito utilizado também em
[...] parece que conhecem muito bem seu público e nunca se deram ao
trabalho de fazer uma pesquisa séria nem mesmo para confirmar suas
suspeitas. [...] fico irritado em ver nela (na G) os mesmos vícios de suas
‘irmãs’: a crença que os homossexuais sentem uma atração incontrolável
por heterossexuais [...] a crença de que o homossexual adora ser chamado
de ‘bicha’, ou por nomes femininos [...] a crença de que o gay adora drag
queens, que são homens frívolos e mentalmente perturbados, pois acham
que o fato de gostarem de machos, automaticamente os transforma em
fêmeas! Me irrita ver essa gente tomando conta da mídia e empurrando seu
modo de vida goela abaixo dos outros gays. [...] minha impressão é a de
que o público alvo da G Magazine é um homossexual afeminado, frívolo,
chiliquento, que não perde uma chance de usar calcinha e sutiã, que se
considera uma aberração da natureza por ter nascido mulher em corpo de
homem que sente tesão imenso por heteros. [...] e com um sentimento de
culpa do tamanho do mundo por gostarem de pessoas do mesmo sexo (G
Magazine nº 04, janeiro/1998, Cartas, Alan P. F, Belo Horizonte/MG, p. 64).
responde em letras vermelhas: “Cara valeu! Escreva sempre pra gente saber como
estamos indo, o.k? Afinal, são as cartas dos leitores que norteiam nosso trabalho” (G
um leitor que tem inteligência, ele é ácido, ele é amoroso, ele é apaixonado”.
91
Carrieri, conhecido por vários trabalhos em telenovelas da Rede Globo e por seu
37.362.
mulherada pode posar nua, por que os homens não podem? [...] Não aceitei fazer
Desde a primeira edição que vendeu 12.529 exemplares, a edição que mais
O sucesso de Carrieri foi tamanho que rendeu convites para posar outras
duas vezes para a G. Na terceira ele posou com o filho de 19 anos, Kaike Carrieri. O
92
[...] O que um nome famoso fez com a revista? Lançou a revista! Ela [...]
tinha uma venda razoável, mas com o nome desconhecido. E aí de repente
vem o primeiro grande ator de TV que coloca seu nome e sua imagem e
isso produz um efeito. E depois vem o primeiro jogador de futebol
(Francisco Pellegrini, diretor administrativo, entrevista dia 25.05.2005, São
Paulo/SP).
que viam concretizada, naquele momento, seu desejo de ver uma celebridade
despida.
cultura heterossexual ela sai da extracultura para a não-cultura, desta forma, ficando
distribuídas até em cópias piratas pela Internet. As cartas que fariam referência ao
conhecido nacionalmente como veio ao mundo. [...] Mateus Carrieri provou que
homem que é homem tem mais é que se mostrar.” (G MAGAZINE nº. 13,
93
Mateus Carrieri foi vítima de várias notas recriminatórias como pode denotar
publicação.
A “febre” de celebridades que viriam tirar a roupa foi destaque até na revista
jogadores ficaram nus. Vieram Dinei (Corinthians), Roger (goleiro do São Paulo),
O desejo de ver gente despida excita mais o sexo masculino que o feminino,
55
o que, eventualmente, poderia explicar o insucesso da revista Íntima e Pessoal
(Figura 16) publicada pela editora NBO em 2000, dirigida ao público feminino, com
54
Dinei (Edição 17), Roger (Edição 25), Bruno Carvalho (Edição 58) e Túlio Maravilha (Edição 75).
55
A publicação havia sido, inicialmente, publicada pela Salles Editora.
95
70% de leitores homens, contra 30% de mulheres. Quando não, esta proporção
Ainda sobre a Íntima e Pessoal, Sílvia Campos (Figura 17), responsável pelo
A Íntima quebrou por que não tinha público. [...] ver a bunda do
homem? [...] Seja alguma coisa, ou não seja nada, ou seja apenas
comportamento. [...] Pra quê público? Mulher foi criada pra ter vergonha do
nu. Quem gosta do nu é puta. (sic) Isso vem de gerações em gerações
(entrevista dia 25.05.2005, São Paulo/SP).
Afirmação ratificada por Marília Scalzo (2004, p. 61) onde ela diz que “muitas
Paulo, Roger José Noronha Silva, ou simplesmente, Roger, foi uma das que mais
A revista procura atender aos pedidos dos leitores com relação ao ensaio
17 (fevereiro/1999) que pediu, ainda empolgado com as fotos do Vampeta, “que tal
tirar a roupa, do Viola, do Raí, do Ozéias, do Túlio etc. Por que não tirar a roupa do
Otávio Mesquita?”. O pedido do Túlio foi aceito e o jogador posou na edição nº 75,
João Andrade afirmou que os leitores “querem tipos másculos. Reclamam quando
Ana Fadigas (entrevista dia 23.05.2005, São Paulo/SP) ratifica, pouco mais
Recebemos e-mails assim: nós não queremos ver gays. [...] Eles
falam assim: Ana, me desculpe, mas gostamos de homem. Mesmo que seja
gay, o homem, o padrão, o foco da revista [...] é o homem com
comportamento masculino.
encontrar com outro homem de sexo biológico homem, cujo comportamento deverá
56
Boa Noite Brasil é um programa de auditório apresentado por Gilberto Barros na rede Bandeirantes
(Band).
97
goleiro Roger.
da foto um outing. Lilico, por exemplo, admitiu ser gay publicamente no início de
Outros nomes famosos57 como Latino (cantor), David Cardoso Jr. (ator da
Victor Wagner (ator da novela Xica da Silva, rede Manchete), Márcio Duarte (cantor
e irmão do pagodeiro Vavá), Roger (banda Ultraje a Rigor), Nico Puig (ator), Rubens
Caribé (ator), Marcelo Picchi, Conrado (cantor e ator), Alexandre Frota (ator), Marco
Em alguns casos, rapazes que saem na G por serem famosos, ainda podem
ganhar mais espaço na mídia. É o caso de Theo Becker (edição 50) que foi ajudante
Magazine, fez parte do elenco de uma novela Celebridade da rede Globo. Ou o caso
de outro ajudante de palco, também da Xuxa, Renato Viana, que hoje faz parte do
Marília Scalzo cita Thomas Souto Corrêa onde ele afirma que “capa é feita
para vender revista”. A capa é o resumo irresistível da edição, ela deve seduzir o
leitor. E no caso da G Magazine essa sedução, tem como plano principal o apelo
erótico.
Para as fotos com o falo ereto, os rapazes fazem uso de revistas eróticas
dia a dia como advogados, estudantes, strippers, modelos indicados por agências
ou, até mesmo, rapazes que procuram a revista. Eles são escolhidos em dias
específicos. Durante a seleção pede-se ao rapaz para ficar com o pênis duro.
sem roupa, que não sejam especificamente do meio erótico: Playboy e G Magazine.
A G Magazine ainda é mais ousada, além de ser a única revista gay no mundo que
são fotografados com o pênis em riste o que traz à revista uma característica,
deveras,
muito peculiar [...] Ela é única no mundo. Inclusive o Brasil tem uma coisa
especial com nudez. [...] A Playboy também, no Brasil, é o único país onde
as famosas posam. Aqui não é pejorativo, aqui não pega mal para uma atriz
como a Déborah Secco sair na Playboy. Nos Estados Unidos acaba uma
carreira de uma atriz, ou em Portugal ou na Europa. Não existe isso. A
gente tem um moral um pouquinho diferente. E a G Magazine é a única
revista gay do mundo que publica famosos. Por que no mundo todas as
revistas gay ou tem conteúdo sério, como Advocate (EUA) e Têtu (Figura
18) na França com um pouquinho de apelo erótico [...] É uma revista
maravilhosa, o papel é superbom, os anunciantes são como a Volkswagem
[...] Mas não tem essa característica que a gente tem. [...] É uma
especialidade brasileira. [...] A desculpa dos anunciantes [...] é o medo do
falo ereto (Sérgio Miguez, editor, entrevista dia 23.05.2005, São Paulo/SP).
Brasil que um ator primeiro fica famoso, depois posa nu. A regra no resto do mundo
variar de R$ 40 mil até R$ 300 mil. As fotos que são publicadas são escolhidas pelos
Isso é uma coisa que você não vai conseguir. Nem que eu te
responda nem nada. É a coisa mais confidencial do mundo. Não tem jeito.
Eu vou te mentir tudo. Por contrato a gente não pode falar e ele não pode
falar. Por contrato ele pode dizer o que eles quiserem. (Ana Fadigas,
diretora e editora, entrevista dia 23.05.2005, São Paulo/SP)
Brasil, os rapazes que faziam parte do grupo que se juntou para eliminar os demais
redação da revista para dizer que não comprariam a publicação com fotos eróticas
Porém, Alan que, logo no início do programa, foi um dos responsáveis pelo
complô contra Jean, recebeu convite para posar para a G do mês de agosto de
58
As celebridades masculinas entram na Justiça para evitar que fotos deles pelados sejam
divulgadas. O ator Leonardo DiCaprio perdeu na justiça contra a revista americana Playgirl, que
mostrou fotos dele nu, baseadas em cenas do filme Eclipse de uma Paixão. Outro que perdeu na
justiça foi Brad Pitt para a mesma revista que publicou fotos dele pelado, adquiridas com um
fotógrafo. “Já Arnold Schwarzenegger ganhou uma indenização do jornal inglês Sunday Mirror, que
comprou fotos do fortão nu num vestiário e publicou-as como ‘as fotos gay de Arnie’ ”. (Veja,
Machões e Peladões. São Paulo: Abril, 1998. Disponível em: <http://veja.abril.com.br
/021298/p_114.htm>. Acesso em: 29 jun. 2005)
101
participante do último Big Brother Brasil e noiva de Alan, será capa da revista
Playboy.
como outras revistas eróticas, teve a capa da edição nº 91 (Figura 19), censurada
estudante de Direito, Júlio Capeletti. A capa foi censurada com uma tarja preta que
Fotonovela Gay60, Lolitos61, Relatos Eróticos62, Fetiche Gay63 e Transex, esta última
59
[...] eu detesto essa palavra: pornografia. Por que eu desconsidero pornografia. Eu acho tudo que é
um ato humano é um ato de prazer, de felicidade. [...] Eu Ana Fadigas [...] não estou colocando
uma regra para o mundo. [...] A maldade é uma pornografia. [...] A G me ensinou tanto coisa.
(entrevista dia 23.05.2005, São Paulo/SP). Neste momento, parafraseando Kovach e Rosenstiel
(2003:289), os valores do proprietário influenciam a natureza de um impresso.
60
Revista com sexo explícito. Não é mais publicada.
102
última.
2 Características editoriais
simetricamente colocados, tantos nas matérias quanto nas páginas que contém
muitos boxes, como pode ser percebido no exemplo a seguir, tirado da página do
61
A revista não é mais publicada. Os ensaios privilegiavam rapazes mais novos cujas idades
variavam entre 18 e 26 anos.
62
A revista apresenta apenas contos e relatos eróticos.
63
Revista com fotos de modelos pelados que, ao final, se masturbam e ejaculam.
103
Homem; João Silvério Trevisan, coluna Olho no Olho; Nany People – Na linha com...
Nany People; Renato Fernandes – Estilo; David Brazil, que assina sua coluna com o
(Tabela 01).
geral Ricardo Tapajós, tem contato direto, através de e-mail ou cartas, com os
colunistas: Vangel Leonel (cantora e escritora) e Glauco Mattoso (poeta). Leonel fala
a respeito de como uma lésbica vê o mundo gay e Mattoso inspira-se em temas que
homossexual.
Tabela 01
Uma página é dedicada aos contos eróticos que, geralmente, são enviados
64
Dados coletados nas três últimas edições (92, 93 e 94).
105
contava com seção de encontros – cartas publicadas dos leitores que procuram
Eles enviam pautas de diversos lugares do país, que podem ser acatadas ou não,
para agregar valor pois, “a periodicidade mais elástica exige que o jornalista
encontre novos enfoques para os assuntos de que vai tratar, buscando sempre uma
temos uma noção do que o leitor pensou a respeito do que foi noticiado. Suas
considerações são importantes para darmos vazão ao trabalho nas redações. Desta
que têm, pelo menos, duas fontes. As outras matérias com uma característica
colunas, entrevistas também não são objeto de estudo. Sendo livre a utilização
de duas em cada edição, três ou, até mesmo, nenhuma matéria que se relacione ao
trabalho.
Tabela 02
Reportagens analisadas e totais de cartas que as referenciam
65
A edição nº 94 está inserida, todavia apenas para averiguar se há cartas que fazem referência a
reportagem selecionada da edição anterior.
107
Com o título Sexo X Cifrões, a primeira reportagem trata dos homens que
procuram o sexo pago por prazer ou por falta de companheiro. Eles procuram
E outra na 34:
é o que deixa o leitor feliz, além de suprir suas necessidades de informação, cultura
[...] A matéria ‘Ao Mestre com Espinhos’ me fez lembrar de quando uma
professora disse em sala de aula, aqui na faculdade, que homossexualismo
está comprovado que é um fator biológico, a criança já nasce assim, é um
desvio, uma fatalidade, assim como nasce um mongolóide, também pode
nascer um homossexual, e que todos devem estar preparados. Que coisa.
Professora de faculdade! Gente, a revista atingiu mais uma vez um alto
estágio de qualidade gráfica, fotográfica e jornalística (G Magazine nº 39,
dezembro/2000, Cartas, Christian, Paranaguá, PR).
tudo aquilo que está fora do que ele determina como normal, gerando o preconceito
para o debate e um fórum para a crítica, o que torna “possível criar uma democracia
mesmo num país maior, diversificado [...]” (KOVACK; ROSENSTIEL, 2003, p. 207).
109
A afirmação do leitor André fica mais clara quando percebemos que “somos
uma sociedade em que a sexualidade ainda não está livre. A sexualidade está
trancafiada. [...] somos uma sociedade que não respeita os direitos e principalmente
de Bem com a Vida, que faz referência a um grupo de homens que não reproduz o
“ideal de beleza” masculina. Eles são gordos e peludos e vivem bem assim. A
2003, p. 31).
de fato existe nos ursos é atração pelos aspectos viris, em especial os pêlos
e a força muscular (G Magazine nº 44, maio/2001, Cartas, Gregory, Rio
Branco, AC).
não devem ser considerados apenas uma minoria, mas exploradores para toda a
248).
devolver a coluna Ursos, alerta para o fato de que é essencial ter um canal aberto
com o público.
Tal como diz a máxima: “mães são todas iguais, apenas mudam de
endereço”. A relação de mães e filhos “não pode ser reduzida a uma relação social,
datam do século 19, tem vários seguidores aqui e, por conseguinte, fazem do Brasil
A relação com Deus tornar-se uma fuga do mundo real. Uma busca pelo
ideal que se procura viver. Exemplo disso é a religião espírita e o candomblé onde
observamos que,
fevereiro de 2002. A prática que nasceu dos anos de repressão, é recorrente entre
mesmo é prática entre aqueles que não querem reproduzir a relação heterossexual.
67
[...] curto pegação. Clubes, saunas, cinemas, dark-rooms , e meu preferido:
os banheiros. Logo, foi fácil me identificar com a matéria sobre pegação
66
Pegação é um termo utilizado entre os homossexuais masculinos para definir o ato do sexo sem
compromisso em lugares públicos.
67
Dark-rooms são salas escuras, encontradas tanto em boates como em saunas, onde os
freqüentadores podem ter intimidades sem se reconhecerem.
113
2003, p. 291).
fica na cidade onde moram seus pais, local este em que pode encontrar seus pares
para encontros furtivos. A identidade gay ou até mesmo uma cultura gay está sendo
construída/modificada lentamente, pois até então, suas vidas estavam restritas a sua
casa ou guetos. O que, aliás, está sendo reproduzido pelo leitor. Durante os anos
[...] talvez, mais dificuldades teve para se estabelecer [...] Como toda forma
de legitimação, foi necessário todo um aparato de valores, idéias e
discursos. E que objeto melhor poderia, de forma direta e acessível, tornar
isto possível, se não os periódicos? (RODRIGUES, 2004, p. 281).
mundo afora: “mostraram a diversidade de uma sexualidade que é cada vez mais
Esquina, que foi, como já vimos, o primeiro periódico gay de circulação nacional,
pois,
tema é bem voltado para a realidade de grandes cidades como São Paulo, que tem
dos desejos dos seus leitores. As publicações dirigidas ao público gay “são muito
[...] o que me leva a escrever esta carta, é para dizer o quanto fiquei feliz
com a matéria Happy Hour GLS. Percebi na foto dos garotos que todos têm
minha idade, fiquei muito curioso e surpreso quando vi este assunto e fui lá
pessoalmente ao shopping Tatuapé para conferir. Em menos de 30 minutos
eu já havia conhecido 3 pessoas, e digo, conhecer no sentido de amizade.
Olha, foi muito bom saber que existem lugares perto de casa e o melhor que
é totalmente GRATUITO [grifo do autor] Hoje já tenho alguns amigos gays e
tenho quase uma paquera. Escrevo esta carta sem outro objetivo se não o
único de AGRADECER [grifo do autor] você e toda a revista neste espaço
pequeno, mas que com certeza me ajudou e pode ajudar outros jovens... (G
MAGAZINE nº. 66, março/2003, Cartas, RMS, São Paulo).
116
menção aos ensaios nus, alguns poucos faziam menção ao nu e depois ao material
no nu – uma obviedade, pois a revista nasceu com esta intenção e depois inseriu
mais densamente outros assuntos – pode ser verificada nos números tabulados no
com a letra “Q”. A letra “P” identifica o número de cartas publicadas na edição e, sob
dos números de “Q” e de “P”, das primeiras edições com o resultado da diferença de
“Q” e de “P” das edições mais recentes, fica mais perceptível o que queremos dizer,
apenas os ensaios nus. Uma proporção, que hoje, está praticamente o inverso de
pode chegar a 8. O que pode dizer que o leitor da G está ficando mais consciente
reproduzir as dispersões.
119
CONCLUSÃO
procuraram romper com a normalidade repressora, seja política, racial, étnica, etária
ou sexual.
Temos que ter mente que o jornalismo é uma arma de construção de uma
essas que devem existir, pois fazem parte do processo de afirmação das
identidades, sejam estas de grupos ou individuais. O que não pode existir são as
revista G Magazine faz. Principalmente, quando atende ao mais singelo pedido dos
leitores, das mais diversas cidades brasileiras, pedidos feitos por cartas ou por e-
mail.
publicação quando ao trato da informação que deve ser direta, completa e que
geral, atende a um segmento e que deve conhecer bem o seu leitor para poder
público homossexual brasileiro a ter interesse sobre outros assuntos, que não
fossem os machos com seus falos em estado de ebulição. Afinal, vários outros
caso, é uma revista concebida com carinho e editada por pessoas que sofreram o
que muitos sofrem e, quiçá, irão sofrer, um caminho tortuoso da descoberta solitária
68
Tendência do indivíduo em considerar valores, normas e outros elementos sociais e/ou culturais
próprios, como parâmetro para avaliar ou o aplicar a outro grupo social e/ou cultural.
121
direcionada ao mundo do sexual do homem com a mulher. Assim, tudo o que for
expor sentimentos.
sexo, a sua família, a sua história e muitos outros aspectos da vida. Ele é um
autodidata. O que não quer dizer que a família seja culpada, afinal, ela foi educada
numa cultura homofóbica. Cultura esta que o homossexual precisa derrubar para
que as pessoas aprendam a tratá-lo como cidadão que é, e que, dia após dia, tem
compreender que,
seu espaço midiático como porta-voz de seus anseios, para discutir e impedir que
69
TREVISAN, João Silvério. Homossexualidade como pedagogia. G Magazine, São Paulo, p. 22-1,
set. 2002.
122
dizer que existem como grupo e construir e/ou afirmar sua identidade.
brasileira construída por anos, oriunda de uma colonização imposta por Portugal. A
revista cumpre um papel importante ao ser erótica e é responsável por ser política.
123
REFERÊNCIAS
BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
CAPRIOGLIONE, Laura; MENA, Fernanda. Folha de São Paulo. Parada Gay tem
ampla presença feminina. Página C1, 30.05.2005
COSTA, Valdir. Imprensa Gay no Brasil: Uma questão de Gênero? São Paulo:
Intercom, 2002. Disponível em http://www.intercom.org.br/papers/xxi-
ci/gt15/GT1501.PDF Acesso em: 20 set. 2002.
FACCHINI, Regina. Paradas: uma política (homos) sexual lúdica, mas não tão light.
Revista Oficial da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. São Paulo: Top Secret,
2004.
FADIGAS, Ana. Revista G Magazine. São Paulo, 23 mai. 2005. Entrevista concedida
a Josean Deylanno Karter Furtado Rego, acadêmico do curso de Comunicação
Social da Universidade Federal de Roraima.
G Online. BBB 5: Público mantém o assumido Jean na Casa. São Paulo, 2005.
Disponível em: http://gonline.uol.com.br/livre/gnews/gnews.aspo?IdNews=1960
Acesso em: 07 jul. 2005
KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os Elementos do Jornalismo. Tradução Wladir
Dupont. São Paulo: Geração, 2003.
MOTT, Luiz; CERQUEIRA, Marcelo. Matei Porque Odeio Gay. Salvador: Grupo Gay
da Bahia, 2003.
PIRES, Thereza. Muito Além de Stonewall. São Paulo: MixBrasil, 2004. Disponível
em http://mixbrasil.uol.com.br/cultura/especiais/orgulhogay/orgulhogay.asp. Acesso
em: 25 jun. 2004.
RODRIGUES, Humberto. O Amor Entre Iguais. São Paulo: Mythos, 2004.
STEFFEN, Luís Felipe. O fim de uma era. São Paulo: Mix Brasil, 2000. Disponível
em: http://mixbrasil.uol.com.br/extra!suigeneris/sui.htm Acesso em: 24 nov. 2003.
OBRAS CONSULTADAS
MORAES, Eduardo. Transgêneros, o que e quem são? São Paulo: Abalo, 2003.
Disponível em: http://http:www.jornalabalo.com.br/materias/trans.htm Acesso em: 24
nov. 2003.
APÊNDICES
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/fd020420032p.htm.
APÊNDICE A
Extraído de http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/fd020420032p.htm
O limite entre brincadeira saudável e desrespeito é uma linha tênue. Por ser
tão frágil, essa "linha" pode vir a arrebentar e desencadear processos desagradáveis
tanto no objeto da "brincadeira" quanto nos espectadores, sejam heterossexuais ou
homossexuais. Entre os heterossexuais preconceituosos, valores heterossexuais
poderão estar sendo potencializados. Quanto ao homossexual, como se
comportará? Vai rir daquilo que vivencia, sabendo que é motivo de chacota dos
segmentos conservadores da sociedade, ou vai à luta reivindicar seus direitos?
O que assusta mesmo é o preconceito. Aliás, que fique bem claro, quando
me refiro ao preconceito quero dizer prejulgamento. É quando se tiram conclusões
apressadas de determinados fatos sem, ao menos, procurar seus fundamentos. É
necessário saber que há uma razão de ser para tudo.
Acredito, porém, que tal estudo não deva ser unilateral, a sociedade precisa
participar. Pensei na maneira mais acessível, para mim ou para eventuais
participantes. Portanto, criei um blog, uma espécie de diário virtual e eletrônico, que
o internauta pode acessar de qualquer lugar do planeta.
APÊNDICE B
28FEV2003).
OS NOTÍVAGOS
Hoje, nessa noite, quero dizer a todos aqueles que quiserem me ouvir, a
todos aqueles que quiserem sentir no peito a dor, a força, o sentimento, a vontade
de ser alguém e não poder. Por que a gente não pode ser alguém que é?
Podem vir a me perguntar: Por que será que ele não pode ser quem ele é?
Vivemos em sociedade, vivemos com pessoas. Vivemos com várias pessoas.
Regras e mais regras são impostas. Então qual o problema? Esse é o problema: a
regra é imposta. Em muitas das vezes e em muitos dos casos, você sofre por causa
dessa regra.
131
Essa inútil! O que os outros têm haver comigo? Porque os outros tanto se
preocupam com o que faço? Qual o sentimento? Qual o motivo dessa sensação
desagradável de asco, de nojo, de imundície que leva as pessoas a
sobrecarregarem as outras com suas colocações pudicas. Levantarem poeira, onde
nela se acobertam até o próximo vento. Tripudiam daqueles que apenas fazem ou
vivem de forma diferente. Como se esses não fossem ninguém.
Por isso eu digo que eu gosto da noite. Nela todos são iguais. Todos
procuram, todos querem, todos desejam... Incrível! Eu posso ser eu! Mas nem tanto.
Tudo bem mas eu vou sair. Quero encontrar... “Encontrar alguém...” Bem...
então uma pergunta: por que as pessoas não são elas mesmas enquanto é dia?
Enquanto o rei sol ilumina cada sulco de seus rostos, deixando clara cada marca do
tempo? Talvez seja o medo da rejeição.
Respeito, carinho, amor, dor... dor? Eu não gosto muito dessa senhora. Por
vezes ela bate a minha porta. Logicamente não quero abrir. Não gosto de sofrer.
Mas ela consegue derrubar a porta. E segue em minha direção para me abraçar. A
intenção dela é não me largar mais.
Vou para a minha casa! Corro para a minha misantropia. Morfeu me aguarda
em casa para me fazer descansar. Porque ser diferente? Em nada ajuda! Muito pelo
132
contrário, ser diferente é crime. Ser diferente é não se deixar ser aceito. Por que as
pessoas precisam ser iguais? Porque todas as pessoas precisam ser iguais?
Por sermos diferentes somos motivos de chacota. É crime não ser igual e
não ter como regras o convencional? Eu não tenho uma...(...busseta! – ilustrar uma
vagina). Aaaaahhhh! Eu não tenho atributos femininos e não gosto que me
identifiquem assim.
Por ser diferente ou ter uma o-ri-en-ta-ção diferente sou motivo de escracho
e de brincadeiras infames. Nasci assim, não tenho culpa. A igreja diz que é pecado.
Mas será que o Deus citado por ela deixaria seus filhos lutarem contra algo que nem
sequer a ciência explicou ainda. Eu não gosto de sofrer. Quem gosta de sofrer?
A eles, nem a nós, foi informado que era normal. Fomos educados de
maneira errada. Porque então não se educa diferente? Jornal, rádio, TV...
Ainda vão ter muito o que me agüentar. Tenho certeza que vencerei! E pelo
menos deixarei a minha parcela de contribuição. Por que as pessoas precisam
133
APÊNDICE C
135
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156
157
158
159
ANEXOS
ANEXO B – Gráficos
160
ANEXO A
Extraído de http://www.cartaqueer.blogger.com.br/estamosnamidia.htm
ANEXO B - GRAFICOS
163
164
165
166
167
GLOSSÁRIO70
Abafa o caso - expressão usada quando alguém não está a fim ou não está mais
podendo ouvir determinada conversa ou comentário; usa-se ainda quando
alguém, por algum motivo, não quer que o assunto seja levado adiante
Abalar - fazer algo bem feito
Adé - (do iorubá) homossexual masculino; bicha
Alibã - (do iorubá) 1 policial; polícia; 2 (rj) significa também o carro patrulha santana;
se for o camburão, chama-se tia cleide
Alibete - (do iorubá) roubo; elza
Alice - bicha que vive num mundo de fantasias
Alma sebosa - (pe) pessoa chata e escrota; pessoa do além; malassombrada
Amadê - (do iorubá) menino jovem
Amapô - (do iorubá) variante de amapoa
Amapoa - (do iorubá) 1 vagina; órgão sexual feminino; 2 termo usado para designar
mulher [variantes: amapô, mapô]
Andrógino - pessoa que tem características de homem e de mulher ou traços
marcantes do sexo oposto ao seu; aparência indefinida entre o feminino e
masculino.
Ânus - cu; edi, rosca; anel de couro; durante a inquisição, a igreja chamava o furico
de vaso traseiro ou parte prepóstera
Aparta que é briga - expressão utilizada para designar duas possibilidades: 1 gays
em pleno amasso e começando a extrapolar; 2 cuidado! Gente hétero, sem
graça e que não entende do babado no pedaço...
Aqué (aqüé) - (do iorubá) dinheiro
Aquendar (aqüendar) - (do iorubá) 1 chamar para prestar atenção; 2 fazer alguma
função
Aquiri (aqüiri) - (do iorubá) (ce) bofe
Aranha - o mesmo que vagina; a expressão botar as aranhas para brigar significa a
relação sexual entre mulheres
Arrasar - fazer algo bem-feito ou com graça
Arrombada - aquela que tem vagina ou ânus alargado por excesso de uso
Asilada - (ce) louca; bicha bem doida ou que está nervosa
Atender - ato de envolver-se ou comprometer-se sexualmente com alguém;
exemplo: vou atender fulano
Avoa - interjeição empregada quando alguém ou uma idéia desagradável chega
perto; também é usada quando alguém se aproxima na hora errada,
geralmente de uma mona aquendando um bofe: avoa, bicha!
Azuelar - (ce) comer o bofe; ser a ativa
Babado - 1 acontecimento qualquer, podendo tanto ser bom como mau; 2 basfond;
3 caso amoroso e/ou sexual
Bagaceira - lugar ou coisa ruim, podre; lama
Baitola - (pejorativo) (ce) gay; homossexual masculino; boiola
Iorubá - baseada nas línguas africanas empregadas pelo candomblé, é a linguagem
70
Dados retirados do site http://www.mohanna.hpg.ig.com.br/dicigay.htm.
168
Meia-bomba - diz-se do pênis que não atingiu ereção total, mas em torno de 50% ou
menos; frapê
Metrossexual – segundo o criador do termo, mark simpsom, metrossexual é
indivíduo do sexo masculino, não importando a orientação sexual, que vive
nas grandes metrópoles ou perto delas, sempre cuidadoso com o visual.
Michê - garoto de programa
Mona - (do iorubá) mulher, mas é frequentemente usado para denominar
homossexual masculino
Mona ocó - (do iorubá) tem diversos significados nos ambientes homossexuais:
mona é mulher e ocó, homem; em alguns grupos é usado para lésbicas
masculinizadas e em outros para gays não-efeminados ou também michês
[variante: monocó]
Montação - o processo de vestir-se com roupas de mulher, geralmente com certo
exagero
Montado - 1 bem vestido; 2 cross-dressing ou biba vestida de mulher
Morder a fronha - fazer a passivona; sentar no croquete
Muvuca - tumulto, aglomeração de pessoas
Neca - (do iorubá) pênis
Necão - pênis grande, avantajado; pauzão
Nena - (do iorubá) fezes
Nicaô - (do iorubá) diz-se do pênis de proporções avantajadas de travesti
Ocâni - (do iorubá) pênis
Ocó - (do iorubá) homem
Ocotô - (rn) pergunta equivalente a onde é que eu estou?; vocábulo geralmente
empregado por bichas passadas, desorientadas e disléxicas; exemplo:
depois de muito doida, a bicha olhou em volta e perguntou - ocotô?
Odara - (do iorubá) bonito, elegante, vivaz
Omivará - (do iorubá) esperma; porra
Operada - transexual que era do sexo masculino (ou nasceu com um pênis),
feminilizou-se, cortou o pênis e construiu uma envaginação; cortada
Oré - (do iorubá) garotão
Otim - (do iorubá) bebida alcóolica
Oxanã - (do iorubá) cigarro
Pacotão - pênis grande; mala (acepção 1)
Pacoteira - vagina grande ou inchada
Padê - (do iorubá) cocaína
Pajubá - variante de ioruba; bajubá.
Pam - abreviação de passiva até a morte
Pansexual - indivíduo versátil que transa com homem, mulher, cachorro, jumento,
árvore, melancia, pedra, areia e com a mão.
Pão-com-ovo - (pejorativo) (sp) homossexual pobre, tanto econômica como
culturalmente
Passada - (pa) - arrasada; chocada
Passar cheque - deitar fezes no pênis do homossexual ativo; checar; melar de nena
a neca do ocó; exemplo: ontem, no atendimento, a mona passou um cheque
no bofe
Passar um fax - defecar; cagar
Passivona - homossexual que apenas pratica o ato sexual passivo.
173