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Crônica – Cruzadas

Dia e hora não importam para tal fato. Ele apenas veio, pediu. Tinha Fome. Eu
neguei, não tinha dinheiro trocado, me desculpei. Ele agradeceu a educação e a usou de
brecha para alastrar-se e contar um pouco da sua história. Tinha tido mulher e filhos em
Curitiba, porém abandonara tudo. Motivos? Acho que o cheiro de álcool que emanava
daquela figura magra era a melhor explicação que eu podia encontrar ou até mesmo que
ele poderia me dar. Terminou os acontecimentos resumidos de uma vida, se despediu e
foi.

Subi no ônibus, paguei e logo voltei pensando que talvez, por descuido meu ou
por culpa da minha fraqueza humana, nunca tenha o deixado ir e talvez nunca irei.
Refleti sobre cada momento da vida daquele homem e os comparei com a minha, como
tudo poderia ter sido diferente tanto para mim quanto para ele.

Conforme os meus pensamentos corriam junto ao ônibus percebi o que talvez


estivesse embaixo do meu nariz o tempo inteiro. Prédios, rodovias e pontes se uniam na
moldura da janela e faziam cada vez mais jus a Cidade de Pedra. Aquela “pintura” de
concreto fazia tudo ter mais sentido e ao mesmo tempo trazia questionamentos sobre
toda a “vida” que habita São Paulo. Milhares de alegrias e tristezas, dificuldades e
facilidades, sentimentos e histórias como as de um magro em uma estação qualquer.

Percebo que é meu ponto em cima da hora, me levanto rapidamente dando sinal.
Logo em seguida uma mão masculina me para pelo ombro e me devolve o troco que eu,
perdida em reflexões, não lembrei sequer de guardar. Agradeço. Desço e concluo: a
interação humana é incrível.

Joice Miranda Martins

Primeiro semestre de eventos. Professor Manoel Guaranha.

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