HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO SÃO PEDRO, JUIZ DE FORA - MG
RAFAELA TEIXEIRA PAULA 1 DOUGLAS KNOPP DE MENEZES GERHEIM2 1e2 Universidade Federal de Juiz de Fora; 1 rafatpaula@hotmail.com. 2 douglasgerheim@gmail.com RESUMO A abordagem Ecodinâmica tem como formulador Jean Tricart, na França. Essa abordagem perpassa por conceitos importantes que associam biologia e geografia. Estudar a ecodinâmica e o meio ambiente é uma forma de avaliar os impactos das ações do homem sobre o ecossistema. A ecologia estuda as relações entre seres vivos e meio ambiente. Como o homem participa ativamente dos ecossistemas em que vivem ele os modifica e os ecossistemas reagem exigindo algumas adaptações do homem. A forma como o homem mais influência na alteração do ecossistema é através da retirada de recursos naturais. Tricart estabelece uma classificação ecodinâmica dos meios ambientes, em meios estáveis, meios integrados e meios fortemente instáveis. O estado de equilíbrio dinâmico dos ambientes naturais foi interrompido a partir do momento em que as sociedades humanas passaram a intervir cada vez mais intensamente na exploração dos recursos naturais. Isso paralelamente ao avanço tecnológico, científico e econômico da sociedade. Por esse aumento dos impactos ambientais negativos, a necessidade de um planejamento ambiental é cada vez maior. Estudos referentes a fragilidade são de extrema importância ao Planejamento Ambiental. Tais estudos devem objetivar o desenvolvimento sustentado, cujo conservação e recuperação ambiental prevaleçam frente ao desenvolvimento tecnológico, econômico e social. Pretende-se analisar a fragilidade ambiental da bacia hidrográfica do Córrego São Pedro, situada na zona urbana de Juiz de Fora, através da produção de um mapa de fragilidade ambiental , estabelecendo níveis de instabilidade através da associação das variáveis ambientais declividade, formas de relevo e uso e ocupação da terra. Fez-se uma pesquisa bibliográfica acerca do tema Abordagem Ecodinâmica. As variáveis a serem trabalhadas para a produção do mapa de fragilidade ambiental determinadas pela importância ambiental que representam para o objetivo do trabalho, associadas à disponibilidade de informações que permitiriam trabalhar em escala compatível. Para a produção do mapa de declividade fez-se agrupamentos de intervalos de declividade em porcentagem em menor que 6%, entre 6 e 12 %, entre 12 e 20%, entre 20 e 30%, maior que 30%. Para o mapa de formas de relevo, faz-se a compartimentação geomorfológica, categorizados em Planícies, Colinas, Morros, Morros Interfluviais e Morros Suavizados. E, por fim, o mapa de uso e ocupação da terra foi produzido através da interpretação de imagens aéreas, onde se classifica o uso e ocupação em Pastagem, Remanescente Florestal, Solo Exposto e Área ocupada. Feito os mapas trabalhou-se com as categorias encontradas em cada mapa. Foram definidos níveis de instabilidade, de 1 a 5, sendo o nível 1 a valoração de menor energia morfodinâmica e o nível 5 a de maior. Esses valores foram atribuídos a cada categoria de cada uma das variáveis. Por fim, fez-se a sobreposição dos mapas produzidos, onde se fez a somatória dos níveis de instabilidade, resultando no mapa de fragilidade ambiental, com as seguintes classes de fragilidade: Menor que 3 corresponde à baixa fragilidade; entre 3 e 6, fragilidade média; entre 6 e 9, fragilidade média a alta; entre 9 e 12, fragilidade alta; e maior que 12, fragilidade muito alta. O resultado foi um mapa de fragilidade ambiental, em que nota-se que as áreas que indicam maior fragilidade ambiental se encontram em zonas com maior declividade e onde constam os morros como forma de relevo, onde tende a haver maior erosão, enquanto que nas planícies o índice de fragilidade ambiental é baixo, onde tende a ocorrer maior deposição. Há que se destacar que as áreas mais ocupadas não provoca, necessariamente, maior fragilidade ambiental, o que sugere que o ambiente natural, por si só estabelece uma dinâmica. PALAVRAS-CHAVE: Fragilidade Ambiental; Ecodinâmica; Planejamento. 1. INTRODUÇÃO
A abordagem Ecodinâmica tem como formulador Jean Tricart, na França. Essa
abordagem perpassa por conceitos importantes que associam biologia e geografia. Estudar a ecodinâmica e o meio ambiente é uma forma de avaliar os impactos das ações do homem sobre o ecossistema. Ecossistema deriva dos termos gregos “oikos”, que significa “casa” e “systema”, que significa “sistema”. Diz respeito ao conjunto formado por todas as comunidades bióticas que vivem e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que atuam sobre essas comunidades (CAVALCANTI, 2014). Os recursos ecológicos são elementos do meio ambiente necessários à vida. São recursos básicos e indispensáveis. (TRICART, 1977). De acordo com Edum (2007), a Ecologia estuda as relações entre seres vivos e meio ambiente. O primeiro cientista a usar a Ecologia com este conceito foi o alemão o Ernst Haeckel através da palavra "Ökologie", que deriva da junção dos termos gregos “oikos”, que significa “casa” e “logos”, que significa “estudo”. Para Tricart (1977), a Ecologia objetiva estudar os vários seres vivos em suas relações com o meio ambiente. Como o homem participa ativamente dos ecossistemas em que vivem ele os modifica e os ecossistemas reagem exigindo algumas adaptações do homem. Neste sentido, a forma como o homem mais influência na alteração do ecossistema é através da retirada de recursos naturais. Sistemas naturais são a interação de um conjunto de elementos formados a partir de processos naturais, capaz de se manter em um equilíbrio dinâmico, sem a intervenção humana. No entanto, além da participação do homem o conceito de sistema traz um conjunto de fenômenos que se processam através de fluxos de matéria e energia, que resultam em relações de dependência mútua entre os fenômenos (Tricart, 1977). Portanto o próprio sistema apresenta dinâmica. A ação humana é exercida em uma Natureza mutante, que evolui segundo leis próprias, das quais percebemos, de mais a mais, a complexidade. Não podemos nos limitar à descrição fisiográfica, do mesmo modo que o médico não pode se contentar com a anatomia. Estudar a organização do espaço é determinar como uma ação se insere na dinâmica natural; para corrigir certos aspectos desfavoráveis e para facilitar a exploração dos recursos ecológicos que o meio oferece. (TRICART, 1977:35) Neste sentido, Tricart (1977) estabelece uma classificação ecodinâmica dos meios ambientes, em meios estáveis, meios integrados e meios fortemente instáveis. Resumidamente, nos meios estáveis, os processos mecânicos atuam pouco e sempre de modo lento, havendo maior pedogênese do que morfogênese. Nesta situação a formação dos solos é maior que a erosão destes, favorecendo um meio estável e o desenvolvimento da vegetação. (TRICART, 1977) Nos meios integrades há interferência permanente de morfogênese e pedogênese, que se impõem de maneira concorrente sobre um mesmo espaço. (TRICART, 1977). Nos meios fortemente instáveis a morfogênese supera a pedogênese. Neste caso há instabilidade, rarefação da cobertura vegetal causada pela remoção da base para o seu desenvolvimento. (TRICART, 1977). De acordo com ROSS (1994), o estado de equilíbrio dinâmico dos ambientes naturais foi interrompido a partir do momento em que as sociedades humanas passaram a intervir cada vez mais intensamente na exploração dos recursos naturais. Isso paralelamente ao avanço tecnológico, científico e econômico da sociedade. A partir da Revolução Industrial houve intenso crescimento da demanda de recursos naturais e energia, utilizando recursos finitos, além do aumento da geração de impactos ambientais negativos, com influência física e social, como o aumento da poluição e degradação ambiental. (CAVALCANTI, 2014). Por todo esse aumento dos impactos ambientais negativos, a necessidade de um planejamento ambiental é cada vez mais necessário. ROSS (1994) salienta que Dentro da desta perspectiva de planejamento econômico e ambiental do território, quer seja ele, municipal, estadual, federal, bacia hidrográfica, ou qualquer outra unidade, é absolutamente necessário, que as intervenções humanas sejam planejadas com objetivos claros de ordenamento territorial, tornando-se, como premissas a potencialidade dos recursos naturais e humanos e as fragilidades dos ambientes. (ROSS, 1994:64). De acordo com o mesmo autor estudos anlíticos referentes a fragilidade são de extrema importância ao Planejamento Ambiental. É necessário destacar que tais estudos devem objetivar o desenvolvimento sustentado, cujo conservação e recuperação ambiental prevaleçam frente ao desenvolvimento tecnológico, econômico e social. Para se aplicar as fragilidades dos ambientes naturais ao planejamento territorial ambiental Ross (1994) se baseia no conceito de Unidades Ecodinâmicas de Tricart, já mencionadas no presente trabalho. Dentro dessa concepção ecológica o ambiente é analisado sob o prisma da Teoria de Sistemas que parte do pressuposto de que na natureza as trocas de energia e matéria se processam através das relações em equilíbrio dinâmico. Esse equilíbrio, entretanto, é frequentemente alterado pelas intervenções do homem nas diversas componentes da natureza, gerando estado de desequilíbrios temporários ou até permanentes. (ROSS, 1994:65). Neste sentido pretende-se analisar a fragilidade ambiental em uma bacia situada na zona urbana de Juiz de Fora.
2. OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo principal produzir um mapa de fragilidade
ambiental da bacia hidrográfica do Córrego São Pedro, estabelecendo níveis de instabilidade através da associação das variáveis ambientais declividade, formas de relevo e uso e ocupação da terra.
3. METODOLOGIA
Primeiramente fez-se uma pesquisa bibliográfica acerca do tema Abordagem
Ecodinâmica. Em segundo momento definiu-se a área de trabalho, sendo a Bacia Hidrográfica do Córrego São Pedro (BHCSP), situada no perímetro urbano de Juiz de Fora - MG, representada na figura 1. Figura 1: Localização da Bacia do Córrego São Pedro Fonte: adaptado de Gerheim, 2016
Posteriormente, foram estabelecidas as variáveis a serem trabalhadas para a
produção do mapa de fragilidade ambiental. Estas foram determinadas pela importância ambiental que representam para o objetivo do trabalho, associadas à disponibilidade de informações que permitiriam trabalhar em escala compatível. As variáveis pré- estabelecidas foram declividade, formas de relevo e uso e ocupação da terra. Já com os parâmetros definidos partiu-se para a produção dos mapas. Para a produção do mapa de declividade fez-se agrupamentos de intervalos de declividade em porcentagem em menor que 6%, entre 6 e 12 %, entre 12 e 20%, entre 20 e 30%, maior que 30%, utilizando como base as curvas de nível. Para o mapa de formas de relevo, faz-se a compartimentação geomorfológica, categorizados em Planícies, Colinas, Morros, Morros Interfluviais e Morros Suavizados. E, por fim, o mapa de uso e ocupação da terra foi produzido através da interpretação de imagens aéreas, onde se classifica o uso e ocupação em Pastagem, Remanescente Florestal, Solo Exposto e Área ocupada. As variáveis definidas e suas respectivas categorias são sintetizadas no quadro a seguir.
Quadro 1: Variáveis e respectivas categorias
Feito os mapas trabalhou-se com as categorias encontradas em cada mapa. Foram definidos níveis de instabilidade, de 1 a 5, sendo o nível 1 a valoração de menor energia morfodinâmica e o nível 5 a de maior. Esses valores foram atribuídos a cada categoria de cada uma das variáveis. Por fim, fez-se a sobreposição dos mapas produzidos, onde se fez a somatória dos níveis de instabilidade, resultando no mapa de fragilidade ambiental, com as seguintes classes de fragilidade (quadro 2): Menor que 3 corresponde à baixa fragilidade; entre 3 e 6, fragilidade média; entre 6 e 9, fragilidade média a alta; entre 9 e 12, fragilidade alta; e maior que 12 fragilidade muito alta.
Quadro 2: Níveis de instabilidade
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Declividade corresponde à inclinação da superfície do terreno em relação à
horizontal. A declividade constitui um dos elementos fundamentais para a mensuração de energia gravitacional presente no relevo, sendo que quanto maior o índice de declividade, maior a energia presente no sistema. (OLIVEIRA, 2016). O mapa de declividade produzido da Bacia Hidrográfica do Córrego São Pedro é apresentado na figura 2. Figura 2: Mapa de declividade da Bacia Hidrográfica do Córrego São Pedro
Os níveis de fragilidade ambiental de cada categoria da variável declividade são
sintetizados no quadro 3.
Quadro 3: Níveis de fragilidade ambiental da variável Declividade
Cunha (2012) entende as formas de relevo como fruto da interação da estrutura
geológica, clima e atividade antrópica, que se relacionam e interferem nas características pedológicas e da cobertura vegetal. Neste sentido foi produzido o mapa de compartimentação geomorfológica da área de estudo, apresentado na figura 3.
Figura 3: Mapa de Compartimentação Geomorfológica da Bacia Hidrográfica do Córrego São
Pedro
Os níveis de fragilidade ambiental definidos para as formas de relevo são
apresentados no quadro 4.
Quadro 4: Níveis de fragilidade ambiental da variável Formas de Relevo
O Uso e Ocupação da terra é definido em função da densificação, regime de
atividades, controle das edificações e parcelamento do solo, que configuram a paisagem. mapa de uso e ocupação da terra produzido é apresentado a seguir, na figura 4.
Figura 4: Mapa de Uso e Ocupação da terra da Bacia Hidrográfica do Córrego São
Pedro
Os níveis de fragilidade ambiental em relação ao uso e ocupação da terra se
encontram no quadro 5.
Quadro 5: Níveis de fragilidade ambiental da variável Ocupação e Uso da terra
Os mapas e seus respectivos níveis de fragilidade ambiental, quando sobrepostos
e somados indicaram o grau de fragilidade ambiental final em toda a bacia, mostrados a seguir, na figura 5. Figura 5: Mapa de Fragilidade Ambiental da Bacia Hidrográfica do Córrego São Pedro
Nota-se que as áreas que indicam maior fragilidade ambiental se encontram em
zonas com maior declividade e onde constam os morros como forma de relevo, onde tende a haver maior erosão, enquanto que nas planícies o índice de fragilidade ambiental é baixo, onde tende a ocorrer maior deposição. Há que se destacar que as áreas mais ocupadas não provoca, necessariamente, maior fragilidade ambiental, o que sugere que o ambiente natural, por si só estabelece uma dinâmica.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como a produção de mapas de risco, mapas de vulnerabilidade ambiental
entre outros, a produção de mapas de fragilidade ambiental pode ser um importante instrumento para o planejamento ambiental. Através de mapas como esse pode-se compreender a dinâmica dos sistemas naturais e aplicar ao planejamento, priorizando a conservação dos recursos naturais, mas compreendendo as necessidades básicas da sociedade, a respeito de tais recursos. REFERÊNCIAS CAVALANTI, F. A. G. S. Ecologia dos Ecossistemas. NT Editora. Brasília: 2014. 88p.
CUNHA, C. M. L. A Cartografia Geomorfológica em Áreas Litorâneas. Instituto de
Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, 2012, 105 p.
GERHEIM, D. K. de M. Alagamentos, Enxurradas e Inundações na Área Urbana
de Juiz de Fora: Um Olhar Sobre as Bacias Hidrográficas dos Córregos São Pedro e Ipiranga. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Geografia) Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2016.
ODUM, EUGENE P.; BARRETT, GARY W. Fundamentos de Ecologia. 5ªed. São
Paulo: Thomson Learning, 2007.
OLIVEIRA, A. de. Fragilidade Ambiental no Setor Norte do Mmunicípio de Juiz de
Fora (MG): Subsídios da Geomorfologia ao Planejamento Urbano. Dissertação de mestrado (em Geografia). Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, 2016.
PDDUA, Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental. Da Ocupação e Uso
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ROSS, J. L. S.. Análise Empírica da Fragilidade dos Ambientes Naturais e
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TRICART, J. – Ecodinâmica. Rio de Janeiro: FIBGE, Secretaria de Planejamento da