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CONEXÃO UNIFAMETRO 2020

XVI SEMANA ACADÊMICA


ISSN: 2357-8645

ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA: UM RECURSO


INOVADOR NA ÁREA DA SAÚDE
Larissa Lima Nogueira¹
Elias Elijeydson de Menezes¹
Júlio Alcântara Tavares²
Thaís Teles Veras Nunes²
¹Discente-Centro Universitário FAMETRO - UNIFAMETRO
²Docente-Centro Universitário FAMETRO - UNIFAMETRO
larissa.nogueira01@aluno.unifametro.edu.br

Área Temática: Promoção da Saúde e Tecnologias Aplicadas


Encontro Científico: VIII Encontro de Monitoria e Iniciação Científica

RESUMO

Introdução: A Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) é uma técnica que emprega o


princípio da indução eletromagnética baseada na frequente mudança de direção de uma corrente
elétrica. Ela possui um vasto campo de aplicabilidade, como na melhora da dor crônica, na
aprendizagem motora e no tratamento de distúrbios neurológicos. Métodos: Trata-se de um
estudo de revisão sistemática da literatura, realizada em setembro de 2020, na Biblioteca Virtual
de Saúde, por meio da palavra chave “estimulação transcraniana”. Foram aplicados os filtros
de idiomas (português e espanhol), de corte temporal (10 anos) e apenas textos completos
disponíveis, restando 21 resultados. Após a leitura dos títulos e resumos dos arquivos e exclusão
de revisões de literatura, arquivos repetidos e que não faziam parte da temática proposta,
restaram 8 estudos. Resultados: A revisão sistemática expôs que a EMT tem possibilidade de
uso em diversas modalidades: desde a estimulação analgésica em quadros álgicos crônicos de
dor lombar, até no tratamento de distúrbios psíquicos, como o transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade e transtorno depressivo maior; e na reabilitação de disfunções neurológicas,
como afasias e parestesias. Alguns estudos também trazem a EMT como método avaliativo das
funções cerebrais. Considerações finais: É possível estabelecer a EMT como recurso inovador
na área da saúde, tanto na sua usabilidade como no seu desempenho. Seus benefícios e seu
diversificado campo de aplicabilidade a tornam uma tecnologia versátil e muito promissora.
Palavras-chave: Estimulação Magnética Transcraniana; Estimulação Transcraniana por
Corrente Contínua; Tecnologia Aplicada à Saúde; Inovação Tecnológica.

INTRODUÇÃO

A Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) é uma técnica que emprega o


princípio da indução eletromagnética baseada na frequente mudança de direção de uma corrente
elétrica. Essa corrente é capaz de originar um campo magnético, por ser alternada e muito
potente, ultrapassando tecidos moles e estruturas ósseas (ALMEIDA; ET AL., 2013).
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O impulso magnético é provocado por uma bobina que pode ser estimulada ou
inibida, proporcionando uma ação na região cortical. Esta técnica é regulada por meio do ajuste
adequado da frequência e da intensidade destes impulsos. A indução de uma maior duração da
excitabilidade neural requer a utilização de alta frequência, ao contrário da aplicação de baixa
frequência, que reduz a excitabilidade cortical com uma durabilidade de horas ou dias.
Entretanto, após a indução de alta frequência faz-se necessário à utilização de um mecanismo
de refrigeração por ocasionar o aquecimento da bobina, gerando um alto custo para o manuseio
da aparelhagem (OKANO; ET AL., 2013; WAGNER; VALERO; PASCUAL, 2007).

A EMT divide-se em: repetitiva (EMTr), onde os pulsos são aplicados com uma
frequência constante, e EMT de pulso único, onde uma única corrente é levada ao córtex. Outra
modalidade não invasiva, indolor e de fácil manipulação, denominada Estimulação
Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), possui uma aparelhagem mais barata, diferente
da EMT que necessita de uma refrigeração, o que a torna mais dispendiosa (FREGNI;
PASCUAL, 2001; BOGGIO, 2006; COSTA et al., 2012).

A ETCC apresenta uma fraca corrente elétrica, administrada por eletrodos de


superfície e borracha condutora de eletricidade envolta por uma esponja, posicionada sobre o
couro cabeludo, e que causa mudanças na excitabilidade cerebral após os estímulos serem
realizados. Os efeitos desta técnica dependem da geometria neuronal, da direção e duração do
fluxo elétrico, da intensidade, bem como da posição do eletrodo e sua polaridade (NITSCHE;
PAULUS, 2000; NITSCHE; PAULUS, 2001; LIEBETANZ; ET AL., 2002; NITSCHE; ET
AL., 2008).

A modulação da ETCC é realizada por meio de uma corrente elétrica ativa ou


simulada (chamada “sham”), com polaridade positiva (anódica) que tende a aumentar a
excitabilidade cortical próxima à área em que está fixado o ânodo; e negativa (catódica) que
inibe a excitabilidade cortical adjacente à área onde está localizado o cátodo (NORRIS;
DEGABRIELE; LAGAPOULOS, 2010; SCHESTATSKY; ET AL., 2013).

A EMT possui um vasto campo de aplicabilidade, como na melhora da dor crônica,


na aprendizagem motora e no tratamento de distúrbios neurológicos, como a doença de
Parkinson, acidente vascular cerebral, nos sintomas de Alzheimer, e na depressão. Por
conseguinte, possibilita uma melhoria no desempenho físico, na modulação do controle
autonômico cardíaco, na pressão arterial, diminuição da dor muscular tardia e no controle do
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apetite (BOGGIO; ET AL., 2006; BOLOGNINI; ET AL., 2011; ANTAL; PAULUS, 2010;
PALM; ET AL., 2008; MONTENEGRO; ET AL., 2011; MONTENEGRO; ET AL., 2012;
COGIAMANIAN ET AL., 2010).

Esta pesquisa justifica-se pela crescente necessidade do conhecimento de


tecnologias atuais em saúde e torna-se relevante por se tratar de uma tecnologia utilizada por
diversos profissionais da área da saúde e que apresenta uma expressiva capacidade de alterar o
estado funcional do cérebro. A partir disso, o estudo tem como objetivo identificar
possibilidades de aplicação da EMT.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de revisão sistemática da literatura. A busca foi realizada em


setembro de 2020, na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), por meio da palavra chave
“estimulação transcraniana”, nos títulos, resumos e assuntos; sendo encontrados 2649
resultados.
Foi aplicado os filtros de idiomas (português e espanhol), de corte temporal (10
anos) e apenas textos completos disponíveis, restando 21 resultados; distribuídos nas bases:
Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Index Psicologia,
Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS), Bibliografia Brasileira
de Odontologia (BBO) e Base de dados em Enfermagem (BDENF).
A partir deste quantitativo, os pesquisadores realizaram a leitura dos títulos e
resumos dos arquivos e excluíram revisões de literatura, arquivos repetidos e que não faziam
parte da temática proposta, restando 8 estudos; os quais foram lidos na íntegra e explanados em
uma tabela (tabela 1).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Título Autores|Ano Objetivo

Efeito da estimulação transcraniana


OLIVEIRA, Avaliar o efeito da estimulação do córtex préfrontal
por corrente continua no córtex
F. S.; ET AL., dorsolateral direito e esquerdo sobre a reprodução de
préfrontal dorsolateral sobre a
2016. intervalos de tempo.
reprodução de intervalo de tempo.
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Efeitos da estimulação
Avaliar os efeitos da estimulação transcraniana por corrente
transcraniana por corrente continua COSTA, T.
contínua sobre funções visuais básicas processadas por
sobre o processamento visual L., 2014.
diferentes vias e grupos de células no sistema visual.
básico.

Eficácia analgésica da estimulação


Investigar se a aplicação simultânea de estimulação por
elétrica cerebral e periférica na dor
HAZIME, F. corrente contínua e estimulação elétrica periférica é mais
lombar crônica inespecífica: ensaio
A., 2015. eficaz para o alívio da dor do que a aplicação isolada destas
clínico aleatorizado, duplo-cego,
técnicas em pacientes com dor lombar crônica inespecífica.
fatorial.

Estimulação cerebral não invasiva


Avaliar o desempenho atencional de adultos com
excitatória sobre a atenção de
DUTRA, T.; sintomatologia de déficit de atenção e hiperatividade
adultos com sintomas do transtorno
et al., 2017. comparando-os com adultos saudáveis, após a aplicação de
de déficit de atenção e
técnicas de estimulação cerebral não invasiva excitatória.
hiperatividade.

Estimulação transcraniana com


corrente contínua na recuperação Avaliar os efeitos da estimulação transcraniana com corrente
GIONGO, C.
sensorial de pacientes com contínua em pacientes com queixa de parestesia em ramos
C.,2015.
parestesia do ramo mandibular (v3): do nervo mandibular.
estudo piloto.

Estimulação transcraniana por


corrente contínua: estudo sobre SILVA, F. R.; Comparar os resultados nas tarefas de nomeação de
respostas em tarefas de nomeação et al.;2018. pacientes afásicos após AVC dos grupos ativo e controle.
em afásicos.

Verificar o efeito da aplicação da estimulação transcraniana


Respostas fisiológicas do exercício
SILVA L, V. por corrente contínua anódica em variáveis neuromusculares
concorrente associado à ETCC em
D. C., 2016. e cardiorrespiratórias durante e após o exercício de força e
idosos.
aeróbio (concorrente), comparando com a situação placebo.

Tratamento do transtorno Avaliar a eficácia terapêutica da estimulação transcraniana


depressivo maior com estimulação por corrente contínua, em comparação e associação ao
BRUNONI,
transcraniana por corrente contínua: antidepressivo sertralina, no tratamento da episódio
A. R., 2012.
ensaio clínico aleatorizado, duplo- depressivo no transtorno depressivo maior ao longo de 6
cego, fatorial. semanas.

Tabela 1. Resultados

A revisão sistemática expôs que a EMT tem possibilidade de uso em diversas


modalidades. HAZIME (2015) trouxe em seu estudo o grande efeito analgésico que a ETCC
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pode oferecer em indivíduos com dor lombar crônica, porém, que um efeito mais duradouro
somente foi alcançado com associação da técnica de estimulação elétrica periférica.
Partindo para o âmbito psíquico, a EMT apresentou a potencial utilização no
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e no transtorno depressivo maior.
DUTRA, ET AL. (2017) aponta que a estimulação cerebral não invasiva melhora a cognição
de indivíduos com TDAH, porém pode apresentar efeito oposto em indivíduos sem o transtorno.
Já em relação ao transtorno depressivo maior, BRUNONI (2012) trás resultados que
demonstram que a ETCC pode ser utilizada de forma complementar ao tratamento
farmacológico, ou mesmo substituí-lo em indivíduos que não podem ou não querem fazer uso
de medicação.
A EMT também se mostrou eficiente na reabilitação de disfunções neurológicas,
como afasias e parestesias. SILVA, ET AL. (2018) indica a ETCC na reabilitação de pacientes
com afasia de Broca ou anômica decorrentes de acidente vascular encefálico; e GIONGO
(2015) indica para pacientes com parestesia pós cirurgias buco-maxilo, evidenciando, através
de testes táteis e térmicos, que a ETCC aliviou as parestesias.
Além disso, a ETCC pode ser utilizada como método avaliativo das funções
cerebrais. COSTA (2014) trouxe a ETCC como um método de estimulação de diferentes células
do córtex visual, tornando a técnica um potencial método do estudo do sistema visual. Da
mesma forma fez OLIVEIRA, ET AL., 2016., mas com um estudo voltado para a percepção de
tempo no córtex préfrontal dorsolateral, comprovando que os córtex direito e esquerdo agem
de forma diferente.
Apenas o estudo de SILVA (2016), que verificou as respostas fisiológicas do
exercício físico em idosos associado a ETCC, não apresentou resultados significantes,
afirmando que os efeitos do exercício nos participantes que não passaram pela ETCC foram os
mesmos dos que utilizaram a terapia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, a partir dos resultados obtidos, é possível estabelecer que a EMT é um


recurso inovador na área da saúde, tanto na sua usabilidade como no seu desempenho. Seus
benefícios e seu diversificado campo de aplicabilidade a tornam uma tecnologia versátil e muito
promissora, podendo ser utilizada em avalições neurológicas e no tratamento de disfunções,
sendo ou não de origem nervosa.
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REFERÊNCIAS

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