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Gabinete da Presidência

SUSPENSÃO DE LIMINAR N. 207373-92.2011.8.09.0000


(201192073738)
COMARCA DE GOIÂNIA
REQUERENTE : ESTADO DE GOIÁS E OUTRO
REQUERIDO : JUIZ DE DIREITO DA TERCEIRA VARA DA
FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL

D E C I S Ã O:

O Estado de Goiás e o Ministério Público do Estado


de Goiás, com fundamento no artigo 4º, § 1º, da Lei n. 8.437/92,
postulam a suspensão da execução dos efeitos da sentença
proferida nos autos da ação civil pública promovida pelo Ministério
Público, perante a 3ª Vara da Fazenda Pública Estadual da
Comarca de Goiânia, que, segundo alegam, incorreu em
julgamento extra petita, anulando os concursos públicos realizados
para provimento de cargos em 04 (quatro) setores do governo
estadual:
a) Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás –
CBMGO;
b) Secretaria de Cidadania e Trabalho;
c) Secretaria da Saúde do Estado de Goiás;
d) Superintendência da Polícia Técnico-Científica.

Segundo consta, a ação em referência foi ajuizada


sob o fundamento de que o regulamento do certame deixou de
indicar o quantitativo de vagas, além de exigir provas de aptidão

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física e exame psicotécnico para os cargos previstos no edital n. 05


do Concurso Público 1/2010-SSP/SPTC, em afronta ao artigo 37,
inciso I, da Constituição Federal.
Verifica-se da inicial que a sentença proferida
naquela ação, incorrendo em julgamento extra petita, anulou os
concursos e considerou prejudicado, por esse motivo, o pedido
constante do item 5.2 dos pedidos formulados na inicial, cujo pleito
era a nulidade da exigência de aprovação nos testes de aptidão
física e de exame psicotécnico do edital n. 05 do Concurso Público
1/2010-SSP/SPTC.
Noticiaram a seguir a rejeição dos embargos de
declaração opostos contra essa decisão, informando a interposição
de recurso de apelação que foi recebido apenas no efeito
devolutivo, para determinar “o imediato cumprimento da sentença,
mediante o afastamento dos candidatos nomeados e o
impedimento de novas nomeações em face da anulação dos
certames”.
Inconformados, ingressam o Estado de Goiás e o
Ministério Público com a presente suspensão de liminar, alegando
que a decisão impõe grave lesão ao interesse público.
Em suas razões, sustentam a potencialidade lesiva
da decisão, consubstanciada na determinação de afastamento de
aproximadamente 04 (quatro) mil servidores públicos que se
encontravam em pleno exercício de suas atividades.
Salientam a repercussão negativa do ato judicial
representa grave prejuízo ao Estado de Goiás e à sociedade, que
será privada da prestação eficiente do serviço público.
Ponderam o fato de que parcela dos candidatos
“aprovados e já empossados vieram de outros Estados, enquanto

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outros deixaram seus empregos e até pediram exoneração de


outros cargos públicos que ocupavam anteriormente”.
Ao final, reforçando a tese de que “a decisão é nula
por conceder aquilo que não foi pedido na inicial”, requerem a
suspensão da eficácia da sentença e da decisão que a mandou
cumprir, até que se dê o trânsito em julgado da decisão de mérito
da ação principal.
É o relatório.

Cuida a espécie, inquestionavelmente, de pedido de


suspensão de execução de sentença.
A meu ver, acham-se configurados, na hipótese em
exame, os requisitos necessários ao deferimento do pedido.
Com efeito, a Lei 8.437/1992, em seu artigo 4º,
autoriza o deferimento do pedido de execução de liminar ou de
sentença, para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e
à economia públicas.
Todavia, a análise da excepcional medida restringe-
se, pois, à verificação da lesão aos bens jurídicos tutelados pela
norma de regência, incumbindo à parte interessada demonstrar, de
modo cabal, o preenchimento de pelo menos um desses requisitos
mencionados.
Por consequência, não cabe, em incidente de
suspensão, o exame de matérias relacionadas ao mérito da causa
em que foi proferida a decisão, nem tampouco se examinam os
fundamentos jurídicos do decisum, erro de julgamento ou de
procedimento, cuja análise deve ocorrer nas vias recursais
adequadas.
Na espécie em comento, tenho por inequívoca a

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potencialidade lesiva da decisão objurgada, posto que apta a


deflagrar incomensuráveis riscos à ordem administrativa.
Consoante se observa, as razões apresentadas
pelos requerentes são plausíveis. Ora, para atender à
determinação judicial a Administração Pública deverá exonerar
quase 04 (quatro) mil servidores nomeados após aprovação nos
concursos públicos realizados para o provimento de vagas
das Secretarias Estaduais da Saúde, da Cidadania e Trabalho,
Corpo de Bombeiros e Polícia Técnico-Científica, o que certamente
comprometerá a execução dos serviços públicos disponibilizados à
sociedade.
Acresça-se o fato de ser público e notório o déficit de
servidores no Estado de Goiás. De modo que, o afastamento
desses concursados levaria os órgãos atingidos ao colapso, devido
à sobrecarga do serviço e à falta de funcionários nessas áreas
consideradas vitais, como saúde e Segurança Pública.
Ademais, na atual conjuntura fática, permitir que os
nefastos efeitos da decisão impugnada persistam, configuraria
um dano maior do que aquele que se busca resolver no mérito
da ação civil pública.
Isso porque a sentença atacada não se reveste do
caráter de executoriedade, haja vista não ter transitado em julgado.
Além disso não se pode deixar de considerar os
efeitos notoriamente danosos que o decisum causará ao interesse
e à continuidade do serviço público, visto que essa força de
trabalho representativa de grande parcela dos servidores estaduais
é indispensável ao bom funcionamento da máquina pública.
Diante disso, fica evidente que a decisão é capaz de
ocasionar grave lesão à ordem administrativa do Estado de Goiás.

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Consoante a melhor orientação doutrinária, “no juízo


de ordem pública está compreendido, também, a ordem
administrativa em geral, sobretudo a normal e adequada
administração do serviço” (Aristóteles Atheniense, Mandados de
Segurança e de Injunção, p. 248).
Por motivos tais, afigura-se-me catastrófico permitir o
imediato cumprimento da sentença, vez que sujeita inclusive à
revisão por este Tribunal em sede de recurso de apelação, razão
pela qual suspender seus efeitos é razoável e necessário.
Destarte, nos termos do artigo 4º, § 1º, da Lei
8.437/1992 e da convergência dos requisitos legais, defiro o pedido
para suspender a execução dos efeitos da sentença proferida nos
autos da ação civil pública n. 142217-38.2010.8.09.0051.
Comunique-se com urgência o magistrado prolator
da decisão.
Intimem-se.

Goiânia, 19 de maio de 2011.

Desembargador VÍTOR BARBOZA LENZA


Presidente

07-SL207373-92

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