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Mundo

As vítimas de Hitler que o mundo esqueceu


Além de milhões de judeus, diversos outros grupos foram oprimidos e
devastados pelo governo nazista alemão
Por Sabrina Brito Atualizado em 26 jan 2022, 20h47 - Publicado em 27 jan 2022, 11h00

O uniforme usado em campos de concentração por testemunhas de Jeová, com o símbolo do triângulo
roxo. Departamento de Informações ao Público das Testemunhas de Jeová/Reprodução

Neste dia 27, comemora-se (embora “comemorar” esteja longe de ser


a palavra adequada) o Dia Internacional
Americanas Mercado
em Memória das Vítimas do
ABRIR
Holocausto. Em 2022, será celebrado
Peça mercado o aniversário de 77 anos desde o
na Americanas

!nal da Segunda Guerra Mundial, durante a qual o Estado alemão


nazista aniquilou milhões de pessoas, entre religiosos, minorias e
homossexuais, em nome de um futuro eugênico e ariano para a
Alemanha. Aos olhos nazistas, esses grupos eram responsáveis por
diversos fracassos ocorridos na história alemã, e, sem sua presença, a
nação poderia de fato prosperar.

Embora o termo “Holocausto” se re!ra exclusivamente ao genocídio


judeu provocado pelos nazistas em meados do século passado,
acabando com seis milhões de vidas, muitas outras comunidades
foram para sempre afetadas pelas atitudes sanguinárias do governo
de Adolf Hitler. O genocídio, a prisão e a tortura sistemática de
membros de outros povos perpetrados pelos nazistas pintou para
sempre as páginas da história de vermelho.

“É preciso lembrar que comparar diferentes sofrimentos humanos é


impossível”, diz a VEJA Stephen Smith, teólogo e fundador do Centro
do Holocausto do Reino Unido. “Mas é essencial comparar as causas e
consequências desse sofrimento para que possamos identi!car,
entender e prevenir esse tipo de crime no futuro.” Toda história é de
extrema importância e deve ser ouvida; a!nal, o ódio raramente
distingue entre povos, raças e etnias.

Um exemplo pouco conhecido de grupo que sofreu tremendamente


sob Hitler é o das testemunhas de Jeová. A fé de seus membros os
proibia de fazer saudações a o!ciais nazistas, de participar de atos
violentos, de pegar em armas e, portanto, de se alistar no exército
alemão. Suas crenças não eram compatíveis com os preceitos
pregados pelo governo da época, o que fez com que eles se tornassem
rapidamente inimigos do Estado. De acordo com o historiador
alemão e especialista em história europeia Robert Gerwarth, as
testemunhas de Jeová são o único grupo perseguido pelo Terceiro
Reich em razão apenas de sua fé.

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O símbolo que identi!cava essas pessoas frente ao regime nazista era


o triângulo roxo, frequentemente costurado nos uniformes dos
adeptos dessa religião que eram enviados a campos de concentração.
Calcula-se que aproximadamente 4,2 mil testemunhas de Jeová
tenham sido mandadas a esses lugares.

Se o triângulo roxo marcava esses religiosos, o triângulo rosa era


usado para diferenciar homossexuais em campos de concentração e
trabalho compulsório. Calcula-se que até 15 mil homens
homossexuais tenham sido forçosamente levados até esses locais,
onde sofriam com preconceito e violência diariamente. A maioria
morreu.

Outros 50 mil homossexuais receberam condenações criminais e


tiveram de viver sob condições desumanas. Eles poderiam ser objeto
de experimentos, tortura, castração ou trabalho forçado. Na prisão,
eles podiam ainda ser executados às centenas.

Pessoas doentes ou com de!ciências também foram vitimadas pelo


Estado nazista. Sob o programa T4 (abreviação de Tiergartenstrasse 4,
endereço onde o programa era executado), o regime da época pôs em
prática um projeto de suposta eutanásia, em que centenas de
indivíduos eram executados sob o pretexto de serem um fardo para a
sociedade alemã.

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Em apenas sete anos de governo Hitler, 360 mil pessoas com traços
como esquizofrenia e alcoolismo foram compulsivamente
esterilizadas. A partir de 1939, todas as crianças com menos de três
anos e com alguma síndrome, como a de Down, tornavam-se parte do
programa T4, responsável por suas mortes. Cerca de 250 mil jovens,
adultos e idosos com doenças ou de!ciências foram assassinadas
enquanto durou o Estado nazista alemão.

Mais um caso de uma comunidade profundamente prejudicada pelo


Estado nazista foi o dos povos Roma e Sinti, frequentemente
chamados de ciganos. Vistos como inferiores pelos apoiadores do
governo da época, esses indivíduos foram diretamente atacados
durante as décadas de 1930 e 1940, e, além dos judeus, foram os
únicos mandados a campos de extermínio, cujas câmaras de gás
tinham como objetivo !nal deletá-los da face da Terra.

Famílias inteiras e até mesmo crianças eram executadas. “Quando


crianças são vítimas de uma aniquilação, pode-se ter certeza de que o
objetivo último é o genocídio”, opina Smith.

Projeções apontam que os assassinatos dos povos Roma e Sinti entre


1933 e 1945 girem entre 200 e 500 mil. Aqueles que não eram mortos
pelo aparato nazista eram muitas vezes enviados a guetos precários,
deportados ou enviados a campos de concentração e trabalho. Foi só
no ano de 1981 que o governo da Alemanha Ocidental reconheceu as
atrocidades cometidas pelo país contra esses povos.

“O caso dos judeus e dos ciganos foi diferente dos demais”, explica a
VEJA Marcio Plitliuk, curador do Memorial do Holocausto de São
Paulo e diretor no Brasil do Yad Vashem, um dos maiores centros de
pesquisas e ensino sobre o Holocausto do mundo. “Homossexuais,
doentes e testemunhas de Jeová frequentemente morriam de fome,
maus tratos ou cansaço em campos de concentração ou trabalho
forçado, assim como ladrões e prostitutas; mas judeus e ciganos
morriam em nome de tentativas de genocídio pelo Estado nazista”,
a!rma.

Muito provavelmente, os nazistas acreditavam que suas ações


eugenistas e genocidas seriam glori!cadas ou ao menos esquecidas
no futuro próximo. Não foi o que aconteceu, em grande parte graças
aos esforços da comunidade judaica em relembrar o Holocausto e as
matanças nazistas para evitar que o mesmo erro seja cometido em
algum ponto da história.

É importante manter em mente ainda que não foi um punhado de


o!ciais nazistas que causou as inúmeras mortes durante a Segunda
Guerra Mundial, mas sim o povo e a indústria alemães, convencidos
por informações falsas de que judeus pretendiam destruir a
Alemanha e dominar o mundo, de que homossexuais e doentes não
deveriam ser parte de uma sociedade forte e perfeita, etc. Sem sua
ajuda e apoio, Hitler jamais teria conseguido colocar seu plano em
ação. Teria sido impossível, por exemplo, construir Auschwitz sem
engenheiros, arquitetos e donos de fábricas que concordassem com
os ideais nazistas.

Listar todas as comunidades e grupos prejudicados pelo regime de


Adolf Hitler seria impossível — a!nal, as estimativas sobre as mortes
provocadas fora da Segunda Guerra pelo Estado alemão chegam aos
11 milhões. Contudo, relembrar os genocídios de autoria dos nazistas
e celebrar as vidas perdidas durante os obscuros anos do meio do
século XX é talvez a melhor forma de impedir que algo do tipo ocorra
de novo, além de honrar todos que perderam a vida em nome da
putrefata causa nazista.

“É como diz aquela famosa frase”, conclui Pitliuk. “Esquecer as


vítimas é matá-las duas vezes.”

ALEMANHA HOLOCAUSTO NAZISMO

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