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Artigo Gota
Artigo Gota
Introdução:
A motivação de realizar este estudo sobre a peça teatral de Chico Buarque e
Paulo Pontes nasceu do interesse que sempre nutri pela forma do primeiro abordar
problemas sociais através de metáforas dentro de suas obras e também, pela
possibilidade de mais uma vez, colocar em evidencia a luta diária dos brasileiros em
busca de seus sonhos, que mesmo durante o período da Ditadura Militar (que silenciou
muitas vozes) não impediu nossa gente de sonhar e acreditar em mundo melhor.
Músico, poeta, dramaturgo e escritor, Chico Buarque em parceria com Paulo
Pontes (1975), partindo do texto Medéia do teledramatúrgico Oduvaldo Vianna Filho,
(morto no ano anterior), re-elaboram o texto surgindo então à peça Gota d’Água, que
marca e estréia da tragédia na literatura brasileira.
A peça, conforme expõem seus autores no prefácio, reflete três preocupações
básicas: i) a busca da reflexão sobre o processo de concentração de riquezas e
*Acadêmica do 6º semestre do curso de Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso-UNEMAT,
Núcleo Pedagógico de Juína.
marginalização política no Brasil; ii) a necessidade de fazer com que o povo volte a ser
o centro da cultura brasileira; iii) a revalorização da palavra como fundamento da
expressão teatral.
Uma das características de Chico Buarque é a sutileza ao abordar um assunto
polemico de maneira menos agressiva em relação a outros autores de seu tempo, e ao
mesmo tempo, sem abrir mão do caráter crítico sócio-político-cultural. Isso fez com que
o autor fosse um dos artistas mais visados pela censura nas duas décadas de Ditadura
Militar.
Gota d’Água é uma forma inteligente de expressão da resistência democrática
durante a ditadura militar no Brasil. No entanto, naquele período a obra não encontrou
maiores problemas, passando despercebida pela censura e pôde estrear em dezembro de
1975.
Diante do legado que contribui e enriquece a cultura nacional, Chico Buarque
faz uso de metáforas e adquire a imagem de artesão da linguagem como afirma
(MENESES, 1982, p. 17): “As palavras, com ele adquirem, na sua fluidez, algo de
alquímico. Algo mágico...” e utilizando-se da arte da escrita, o autor faz desta obra uma
única fonte de concretude, substância e originalidade capaz de resgatar a identidade
cultural brasileira no contexto dos anos de chumbo regidos pela Ditadura Militar, que
espalhava terror, reduzindo o direito à liberdade e à crítica a quase zero.
Por outro lado à economia do país que já não funcionava em sua totalidade,
passava por problemas gravíssimos, resultando no crescimento acelerado da
desigualdade social na medida em que os anos se arrastavam. Desta forma o rico ficava
cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre, enquanto a TV em cores camuflava e
anestesiava a crise com programas de entretenimento que nem de longe lembrava a
realidade do país.
A obra Gota d’Água relata a vida de pessoas simples que viviam em conjuntos
habitacionais que eram muito comuns nos centros urbanos brasileiros. A vila do Meio
Dia, situada no subúrbio do Rio de Janeiro chamado e o plano perfeito para o drama de
um jovem infiel chamado Jasão e de dona Joana, uma senhora abandonada, traída e em
péssimas condições financeiras.
Para alcançar o objetivo proposto pelo estudo foi realizada a leitura preliminar
da obra Gota d’água de Chico Buarque e Paulo Pontes, e de outras fontes na internet
com a intenção se ter um melhor entendimento do discurso literário dos referidos
autores. Depois de realizada a leitura deu-se um breve resumo da história onde foram
escolhidos alguns trechos, que em linguagem coloquial evidencia alguns pontos críticos
do governo militar que serão analisados neste artigo.
Considerações finais
Vale salientar ainda, que uma das características da tragédia é a presença
marcante dos valores referentes ao período em que esta foi escrita, como afirma
SOUZA 2005 “...toda e qualquer produção trágica estará imbuída dos valores de cada
período, mesmo aquelas que se pautaram em uma peça teatral já constituída.” Por isso,
as tragédias são consideradas uma das melhores expressões artísticas sobre as
problemáticas sociais da sociedade pertencente em um determinado hiato temporal.
Assim como a Medeia de Eurípedes que aborda uma nova era vivida pelos
Gregos, a tragédia brasileira Gota d’Água também retratou os conflitos nacionais em
um determinado tempo da história. Enquanto Eurípedes busca evidenciar o novo
espírito do homem da época, que começa a ter consciência de seus atos, provocando
conflitos nas tentativas de libertação em relação às “amarras” dos imortais (os deuses
gregos), Chico Buarque e Paulo Pontes evidencia a luta dos brasileiros contra
“amarras” controladas não por deuses, mas por instituições ou por classes dominantes,
ou seja, por uma “engrenagem” social que encurralou a nação. Desta maneira, as classes
médias e baixas da sociedade brasileira, conviveram no período da ditadura militar, em
um cenário de conflito que refletia a luta pela sobrevivência, por um governo justo e
principalmente, pela liberdade.
O período histórico de Gota D’água (1975) foi um momento de grande
decepção para os intelectuais brasileiros, pois estes perceberam que não acabariam com
o autoritarismo da noite para o dia, afinal dez anos já havia se passado e o regime estava
cada dia mais fortalecido. As representações construídas sob as influências de cada
tempo são significativas dentro da tragédia e o desanimo dos autores/intelectuais da
obra pode ter influenciado no desfecho, quando Joana não consegue matar as figuras
autoritárias simbolizadas por Creonte e “companhia”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-BUARQUE, Chico & PONTES, Paulo. Gota d’água. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1981.
-MENESES, Adélia Bezerra de. Desenho mágico: poesia e política em Chico Buarque.
São Paulo: HUCITEC, 1982.
-GAZOLLA, Rachel. Para não ler ingenuamente uma tragédia. São Paulo: Loyola,
2001.
-SOUSA, Dolores Puga Alves de. Tradições e apropriações da tragédia: Gota d’Água
nos caminhos da Medéia clássica e da Medéia popular. Uberlândia: Revista Fênix 2005
Disponível em: www.revistafenix.pro.br acessado em: 03/03/2011.