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Fábulas mais famosas de Esopo:

A lebre e a tartaruga

A história que será contada a seguir é um clássico de Esopo que foi recontado por
La Fontaine, outro grande impulsionador da divulgação das fábulas. A lebre e a
tartaruga é uma típica fábula: não se sabe quando o evento se passou, nem onde,
e os personagens centrais são animais com características humanas - têm
sentimentos, falam, possuem consciência.

— Tenho pena de você —, disse uma vez a lebre à tartaruga: — obrigada a andar
com a tua casa às costas, não podes passear, correr, brincar, e livrar-te de teus
inimigos.

— Guarda para ti a tua compaixão — disse a tartaruga — pesada como sou, e tu


ligeira como te gabas de ser, apostemos que eu chego primeiro do que tu a
qualquer meta que nos proponhamos a alcançar.

— Vá feito, disse a lebre: só pela graça aceito a aposta.

Ajustada a meta, pôs-se a tartaruga a caminho; a lebre que a via, pesada, ir


remando em seco, ria-se como uma perdida; e pôs-se a saltar, a divertir-se; e a
tartaruga ia-se adiantando.

— Olá! camarada, disse-lhe a lebre, não te canses assim! Que galope é esse? Olha
que eu vou dormir um pouquinho.

E se bem o disse, melhor o fez; para escarnecer da tartaruga, deitou-se, e fingiu


dormir, dizendo: sempre hei de chegar a tempo. De súbito olha; já era tarde; a
tartaruga estava na meta, e vencedora lhe retribuía os seus deboches:

— Que vergonha! Uma tartaruga venceu em ligeireza a uma lebre!

MORAL DA HISTÓRIA: Nada vale correr; cumpre partir em tempo, e não se divertir
pelo caminho.
A cigarra e a formiga

A história da cigarra e da formiga talvez seja a mais famosa e difundida fábula de


Esopo. A narrativa breve, de apenas um ou dois parágrafos, traz dois animais
antagônicos como personagens: a formiga, símbolo do trabalho e do empenho, e a
cigarra, representante da preguiça e da displicência. Enquanto a formiga pensou no
longo prazo e trabalhou durante o verão para se abastecer no inverno, a cigarra,
imediatista, passou o verão a cantar, sem pensar na estação que viria a seguir.

A cada bela estação uma formiga incansável levava para sua casa os mais
abundantes mantimentos: quando chegou o inverno, estava farta. Uma cigarra, que
todo o verão levara a cantar, achou-se então na maior miséria. Quase a morrer de
fome, veio esta, de mãos postas, suplicar à formiga lhe emprestasse um pouco do
que lhe sobrava, prometendo pagar-lhe com o juro que quisesse. A formiga, que
não é de gênio emprestador; perguntou-lhe, pois, o que fizera no verão que não se
precavera.

— No verão, cantei, o calor não me deixou trabalhar.

— Cantastes! tornou a formiga; pois agora dançai.

MORAL DA HISTÓRIA: Trabalhemos para nos livrarmos do suplício da cigarra, e


não aturarmos a zombaria das formigas.
O leão e o rato

A fábula do leão e do rato ensina o leitor sobre o ciclo da generosidade e o valor da


vida em comunidade. Quando o rato precisou de ajuda, o leão o acudiu, algum
tempo a seguir, quando foi a vez do leão estar em apuros, o rato esteve lá
prontamente disposto a o amparar. A fábula nos estimula a praticar o bem e ensina
que um dia podemos ajudar e no dia a seguir seremos ajudados.

Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado à sombra de uma boa árvore.
Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele acordou.

Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu embaixo da pata. Tanto o
ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou que fosse
embora.

Algum tempo depois, o leão ficou preso na rede de uns caçadores. Não conseguia
se soltar, e fazia a floresta inteira tremer com seus urros de raiva.

Nisso, apareceu o ratinho. Com seus dentes afiados, roeu as cordas e soltou o
leão.

MORAL DA HISTÓRIA: Uma boa ação ganha outra.

A fábula do leão e do rato foi adaptada para desenho animado e está disponível na
íntegra com um total de sete minutos de duração:
O lobo e o cordeiro

No caso dessa fábula de Esopo, o cordeiro e o lobo ocupam posições opostas.


Enquanto o cordeiro representa a inocência e a humildade, sempre tentando
justificar e contornar os problemas que lhe são apresentados, o lobo é símbolo da
crueldade e da maldade.

Estava um lobo a beber água num ribeiro, quando avistou um cordeiro que também
bebia da mesma água, um pouco mais abaixo. Mal viu o cordeiro, o lobo foi ter com
ele de má cara, arreganhando os dentes.

— Como tens a ousadia de turvar a água onde eu estou a beber?

Respondeu o cordeiro humildemente:

— Eu estou a beber mais abaixo, por isso não te posso turvar a água.

— Ainda respondes, insolente! — retorquiu o lobo ainda mais colérico. — Já há seis


meses o teu pai me fez o mesmo.

Respondeu o cordeiro:

— Nesse tempo, Senhor, ainda eu não era nascido, não tenho culpa.

— Sim, tens — replicou o lobo —, que estragaste todo o pasto do meu campo.

— Mas isso não pode ser — disse o cordeiro —, porque ainda não tenho dentes.

O lobo, sem mais uma palavra, saltou sobre ele e logo o degolou e comeu.

MORAL DA HISTÓRIA: Tentar evitar o mal daquele que já decidiu cometê-lo?


Perda de tempo!
A rã e o boi

A historinha da rã e do boi aborda sentimentos humanos frequentes como a inveja,


a ira e a cobiça. Apesar de serem animais da floresta, as fábulas atribuem afetos
humanos a seres animados e, muitas vezes até, inanimados. Nesse caso, a rã tem
uma postura tipicamente narcisista ao tentar competir com o boi acerca do seu
tamanho. O resultado final é trágico, mas a narrativa serve, de forma alegórica,
como alerta para não alimentarmos sentimentos de disputa.

Uma rã estava no prado olhando um boi e sentiu tal inveja do tamanho dele que
começou a inflar para ficar maior.

Então, outra rã chegou e perguntou se o boi era o maior dos dois.

A primeira respondeu que não – e se esforçou para inflar mais.

Depois, repetiu a pergunta:

– Quem é maior agora?

A outra rã respondeu:

– O boi.

A rã ficou furiosa e tentou ficar maior inflando mais e mais, até que arrebentou.

MORAL DA HISTÓRIA: Quem tenta parecer maior do que é se arrebenta.


A raposa e o corvo

A raposa é dos animais mais habituais nas fábulas de Esopo. Caracterizada pela
sua esperteza atroz, a raposa frequentemente encontra soluções fora do
convencional para conseguir aquilo que deseja. No caso da história da raposa e do
corvo, vemos como a raposa, através da sua malandragem, rouba o corvo (que, por
sua vez, já havia roubado um queijo). A história nos ensina os perigos da vaidade e
da soberba. Pego pela armadilha pregada pela raposa, o corvo, convencido, perde
aquilo que tinha e tanto desejava.

Um corvo roubou um queijo, e com ele no bico foi pousar em uma árvore. Uma
raposa, atraída cheiro, desejou logo comer o queijo; mas como! a árvore era alta, e
o corvo tem asas, e sabe voar. Recorreu pois a raposa às suas manhas:

- Bons dias, meu amo, disse; quanto folgo de o ver assim belo e nédio. Certo entre
o povo aligero não há quem o iguale. Dizem que o rouxinol o excede, porque canta;
pois eu afirmo que V. Exa. não canta porque não quer; se o quisesse, desbancaria
a todos os rouxinóis.

Ufano por se ver com tanta justiça apreciado, o corvo quis mostrar que também
cantava, e logo que abriu o bico, caiu-lhe o queijo. A raposa o apanhou, e, safa,
disse:

- Adeus, Sr. Corvo, aprenda a desconfiar das adulações, e não lhe ficará cara a
lição pelo preço desse queijo.

MORAL DA HISTÓRIA: Desconfiai quando vos virdes mui gabados; o adulador


escarnece de vossa credulidade, e prepara-se para vos fazer pagar por bom preço
os seus elogios.
Quem foi Esopo?

Pouco se sabe sobre Esopo, há quem duvide até da sua existência. A primeira
referência ao escritor foi feita por Heródoto, que comentou o fato do contador de
fábulas ter sido escravo.

Nascido supostamente no século VI a.C. ou VII a.C., na Ásia Menor, Esopo foi um
contador de histórias de imensa cultura que foi capturado e levado para a Grécia
para servir como escravo.

Esopo fez tanto sucesso na Grécia que o escultor Lisipes ergueu uma estátua em
sua homenagem. O contador de fábulas teve um final de vida trágico, sendo
condenado à morte por um crime que não cometeu.

Heráclides do Ponto, sábio da época alexandrina, escreveu comentando a


condenação de Esopo a pena de morte. Supostamente o contador de fábulas havia
furtado um objeto sagrado e a morte foi a sua punição cabal.

Artistófanes também confirmou a mesma tese de Heráclides e deu pormenores do


ocorrido: Esopo, ao visitar Delfos, provocou os habitantes argumentando que eles
não trabalhavam, viviam apenas das oferendas dedicadas ao deus Apolo. Furiosos,
os habitantes plantaram na mala de Esopo uma taça sagrada. Quando o furto foi
descoberto, Esopo recebeu uma punição fatal: foi atirado de um rochedo.

Conhecemos o trabalho realizado por Esopo graças ao grego Demétrio de Falero


(280 a.C.), que reuniu, no século IV a.C, as histórias contadas. O monge bizantino
Planúdio, também reuniu, no século XIV, outras tantas narrativas.
Busto de Esopo localizado em Roma.

O que são as fábulas?

A fábula veio do conto, e se diferencia dele porque o contador explicita nela uma
lição de moral. As fábulas também possuem frequentemente apenas animais como
personagens. A esses animais são atribuídas características humanas.

As fábulas foram criadas no Oriente e se espalharam ao redor do globo. Acredita-se


que o percurso tenha sido da Índia para a China, então para o Tibete e depois para
a Pérsia.

Dizemos frequentemente que a origem das fábulas foi a Grécia porque lá as


histórias ganharam os contornos que conhecemos hoje.

As primeiras fábulas registradas são do século VIII a.C. O primeiro volume


encontrado (Pantchatantra) foi escrito em sâncrito e depois foi traduzido para o
árabe.

Esopo foi um dos mais famosos contadores - embora não tivesse sido o inventor do
gênero nem sequer das histórias que contava - e ficou famoso por ter difundido o
gênero.

Não sabemos ao certo quantas histórias chegou a criar, foram encontrados uma
série de manuscritos ao longo do tempo, embora seja impossível garantir a autoria.
O maior especialista na produção de Esopo foi o professor francês Émille Chambry
(1864-1938).

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