Você está na página 1de 79

Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

ECOLOGIA DA PAISAGEM

Em função da composição florística podemos reconhecer associações, a unidade base.

A Importância do Espaço em Ecologia

Ecologia da paisagem é uma subdisciplina da paisagem que se debruça sobre o estuda da


paisagem e seus padrões e processos adjacentes. A ecologia da vegetação não se debruça sobre
sistemas antropogénicos, ao contrário da ecologia da paisagem.

Dentro de uma paisagem conseguimos detectar diferenças e vamos sendo cada vez mais
detalhados. Os diferentes tipos de vegetação não aparecem de forma aleatória, estão presentes de
acordo com o biótopo, as condições que oferecem (climáticas, relevo ou declive que influencia o
regime de insolação e propriedades do solo). Ao longo de uma encosta estabelecem-se gradientes,
gradientes de quantidade de água causados pela precipitação por exemplo. Se há variações das
condições ambientais à escala local podemos prever que as espécies se distribuam mediante esses
gradientes.

Gradientes edáficos/ catenais: variações cartográficas, em baixo as que mais necessitam de água e
em cima as que são mais resistentes à sua falta. A diferentes altitudes há diferentes espécies porque
as condições são diferentes.

Há um processo direccional que começa com espécies menos exigentes e continua com
espécies cada vez mais exigentes → sucessão ecológica.

O Nível da Paisagem em Ecologia

Há transferência de matéria e energia. É necessário analisar para além dos limites de um


único ecossistema. Há processos cuja relevância e compreensão só é possível quando analisada para
além daquilo que é um ecossistema, utilizando vários ecossistemas.

Níveis:

População
Meta-população
Comunidade
Meta-comunidade: não competem entre si mas estão ligadas por fenómenos de migração ou
dispersão
Ecossistema: agrupamento do biótipo e meta-comunidade, comunidade biológica mais o biótopo
(factores climáticos)
Parcela
Classe
Paisagem: conjunto ou mosaico de meta-comunidades, há espécies exclusivas de cada meta-
comunidade e outras que são partilhadas pelas meta-comunidades. As espécies com maior vínculo a
um determinado tipo de meta-comunidade vão estar representadas nessa paisagem no sítio onde
estiver a meta-comunidade. Uma paisagem pode ser definida de várias maneiras: pelas bacias
visuais, aquilo que se vê ou pelo ponto de vista ecológico, em base no seu funcionamento, nos
processos que lhe estão associados uma vez que tem de haver coerência ecológica. Podemos definir
a paisagem com base nas linhas de festo que permitem um ciclo hidrológico neste local. A paisagem
1
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

é um mosaico de parcelas pertencentes a diferentes classes.

Para definir a paisagem usam-se fotografias verticais. A ecologia da paisagem, a partir de


sistemas, caracteriza-os, descreve-os na sua componente estrutural (o que lá está) e a partir daí
tentar inferir sobre os processos que actuam e como actuam na paisagem. Tenta inferir os gradientes
a partir da estrutura da própria paisagem. Há um conjunto de conceitos que lhe são próprios:

Conceitos

Parcela: é uma parcela do terreno, não no sentido de propriedade, é um espaço contínuo e


relativamente homogéneo à vista desarmada.
Classe: tipo geral, onde pertencem as parcelas, corresponde a diferentes unidades do mesmo tipo de
ecossistema.
Matriz: classe predominante numa paisagem, ocupando normalmente maior área e tendo mais
importância nos processos.

Ecologia da Paisagem

Para definir a paisagem com várias comunidades temos de as fazer corresponder a várias classes.

Classe florestal
Classe urbana
Classe agrícola
Classe Matos

O elemento predominante
depende do espaço que estamos a
analisar, temos de definir a
fronteira da nossa paisagem.

Em qualquer paisagem podemos ter mais que uma classe a que chamar matriz e temos
também as classes não matriz que ocorrem de uma forma mais ou menos dispersa e fragmentada na
paisagem, um conceito importante na conservação. Os seres vivos podem ter o seu habitat
fragmentado.

Padrões e Processos

O aspecto das classes pode depender da época do ano sendo que as condições abióticas
alteram também a sua disposição. Podemos inferir sobre os processos através da visualização da
paisagem:

Os espaços para agricultura devem ser ricos em água e ter solos férteis que permitem uma
vegetação vigorosa. Haverá baixo nível de stress ambiental mas há um alto nível de perturbação
causada pela gestão Humana.
2
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

No espaço vegetal as árvores crescem lentamente, de 5 em 5 anos são cortadas pelo Homem, há
uma dinâmica diferente no espaço e no tempo. A floresta está mais presente nas áreas convexas, de
distribuição de nutrientes. Há níveis de stress mais elevado mas níveis de perturbação mais baixos.

A partir da estrutura da paisagem e do seu padrão espacial podemos inferir sobre os


processos que aí acontecem, desde os relacionados com o movimento da água, de nutrientes,
movimento de uma espécie de fauna, entre outros.

SIG: sistema de informação geográfica


Cartografia: representação do que conseguimos ver, o
conteúda da paisagem do ponto de vista das classes e sua
representação na mesma.

Estrutura

Composição: determinada através do nº de classes, riqueza especifica.


Diversidade: determinada através do índice de Shannon (abundância e riqueza específica) obtendo
um valor de equilíbrio que se for baixo significa que há uma classe predominante – matriz, se for
alto o índice de Shannon aumenta, significando a ausência de uma matriz claramente definida, a
paisagem será mais diversa.

Configuração

3
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Há 3 classes em cada proporção, com igual abundância relativa. Do ponto de vista da


configuração, estas 3 paisagens têm a mesma riqueza e a mesma diversidade. A diferença é a
fragmentação e na última imagem temos muito menos parcelas que nas outras. Os gráficos de barras
traduzem áreas. Para as mesmas classes podemos ter arranjos espaciais diferentes, diferente número
de parcelas (mais ou menos fragmentadas), e as parcelas das diferentes classes também podem
penetrar mais ou menos. A tudo isto chamamos configuração – é o arranjo espacial da paisagem que
complementa a composição na distribuição da estrutura. A estrutura da paisagem é o conjunto da
sua composição e configuração ou a sua composiçao-diversidade, analisando também a sua
configuração espacial.

Estrutura = Composição (riqueza específica  Diversidade) + configuração (arranjo espacial composição aliada à distribuição)

Paisagem de Grão Fino

Caracteriza-se por termos de andar pouco para estar numa parcela diferente. Esta paisagem
tem uma elevada diversidade de classes e um arranjo espacial/configuração complexo, chamando-se
paisagens de grão fino por haver variação a pequenas distâncias.

Paisagem de Grão Grosseiro

Caracteriza-se por temos poucas mas muito grandes parcelas. Para visitar parcelas
correspondentes a várias classes temos de percorrer grandes distâncias. A diversidade é menor e a
configuração é mais simples.

4
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Heterogeneidade (Gradientes, Perturbações e Sucessão Ecológica)

Há todo um conjunto de atributos que variam de acordo com a paisagem. Podemos ter para a
mesma classe talhões com idade diferente: pinheiros com 5 anos e outros com 50. Mas
cartografamos aquilo como uma mesma classe. Aqui há variações.
Dentro de uma mesma classe há também diferentes parcelas, a composição específica não
há-de ser exactamente a mesma. Nas meta-comunidades as comunidades não são iguais, variam na
riqueza específica.
Se considerarmos a estrutura da paisagem e acrescentarmos as restantes variações mais finas
temos um conceito mais abrangente – heterogeneidade. É um conceito mais abrangente que
podemos usar para descrever as variações da paisagem. Inclui as variações de natureza ambiental ou
biótica, a configuração, a estrutura, a diversidade, tudo.

A heterogeneidade é causada por factores abióticos (gradientes) e bióticos:

1. Gradientes ambientais: normalmente de factores que variam em


escala local (propriedades do solo relacionadas com a topografia ou
geologia por exemplo, factores climáticos, etc).

2. Perturbações: que podem ser causadas pelo Homem (colheitas, carros), por incêndios
naturais ou Humanos, secas extremas ou cheias extremas. As características da perturbação decidem
como será a paisagem depois da mesma passar. O impacto da perturbação depende da sua
frequência, da sua severidade e da extensão dos danos causados. A perturbação é um fenómeno
discreto no tempo que destrói a biomassa existente. Dependendo do padrão de ocorrência da
perturbação, frequência de ocorrência e severidade, o que acontece em cada espaço pode ser
bastante diferente. Numa primeira fase a perturbação pode reduzir a heterogeneidade e no momento
a seguir favorecê-la.

5
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

3. Sucessão ecológica: resposta de recuperação à perturbação, produz heterogeneidade


dependendo da severidade e frequência das perturbações. Se a perturbação for muito grave a
capacidade de recuperação será baseada essencialmente em espécies menos exigentes e mais
resistentes a condições adversas.

O Estudo Ecológico da Paisagem

Podemos calcular um conjunto de indicadores para a paisagem através de diferentes


abordagens:

Abordagens Estruturais:

A ecologia da paisagem tem aplicações práticas. Juntamente com as fotografias tem sempre
de ser feita uma verificação do terreno – validar a cartografia e recolher informação sobre o coberto
vegetal da parcela. Com isto produzem-se cartografias com legenda variável em função dos
objectivos.

6
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

- Configuração: nº de parcelas (quantas mais parcelas mais fragmentada é a paisagem)


- Diversidade: nº de espécies e índice de diversidade.

Abordagens Funcionais:

Em vez de inferirem sobre os processos a partir dos padrões, vão diretamente aos processos.
Partem de uma cartografia e inferem sobre o padrão da produtividade I. Ou a partir de uma imagem
de satélite é possível vermos quais as zonas mais produtivas, estimando índices de processos.

Resultados:

7
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Abordagem Estrutural:

Abordagem Funcional:

Aplicações da Ecologia da Paisagem

Gestão de Recursos Naturais

A ecologia da paisagem permite-nos saber onde estão as comunidades, o que é importante


para gestão de recursos, sem esquecer que isto é muito abrangente, desde a extensão de um recurso
natural específico, gestão de cheias, deslizamentos de terra, gestão do espaço florestal para diminuir
riscos associados, prever a distribuição e extensão de um incêndio, antecipar fenómenos de invasões
biológicas, entre outros.

Conservação da Natureza

Permite ver se um determinado habitat está mais ou menos concentrado, se está fragmentado
ou não, a conectividade das parcelas ajuda as meta-comunidades para que as espécies se distribuam
de uma forma melhor evitando a sua extinção. A ecologia da paisagem explica e prevê a diversidade
geral de plantas e animas nos diferentes ecossistemas, estima níveis de redundância, se uma espécie
está em várias classes ou em apenas uma. Permite antecipar quais os impactos de transformações na
paisagem, de uma desflorestação, de um incêndio ou de um novo campo agrícola.
8
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Avaliação Ambiental

Avaliação do impacto ambiental, estudos onde se prevê os impactos de uma determinada


infra-estrutura. Há que analisar os padrões de produtividade, diversidade, etc que interessa proteger.

Turismo e Promoção Territorial

Promoção do turismo, espaços de montanha ou zonas balneares que utilizam a paisagem


como cartão-de-visita. Aqui intervém a componente cénica e os serviços do ecossistema para os
clientes.

BIOGEOGRAFIA - Introdução e Princípios Gerais

O que é a biogeografia?
(Da ecologia a biogeografia)

“Biogeografia” → geografia da vida

Biogeografia do ser Humano na Terra → distribuição de áreas e densidades populacionais nas


diferentes regiões do globo, tenta compreender os padrões naturais de distribuição do ponto de vista
conjugado das condições ambientais e história. Os processos de natureza histórica remetem-nos
para os padrões pretéritos da distribuição, a partir de um registo fóssil sabemos a distribuição global
da altura.

Filogeografia: Estudo dos padrões passados e como evoluíram em escalas de centenas ou dezenas
de milhões de anos. (filogenia – relação entre organismos vivos, evolução a uma escala mais curta)

Conceito de Biogeografia: é uma disciplina com uma forte componente cartográfica intervindo
também a informação corológica – relativa à distribuição dos organismos vivos e suas comunidades
/ecossistemas.

“The study of the patterns of distribution of organismos is called Biogeography.”


“Biogeography is the science that attempts to document and understand spatial patterns od biodiversity.”
“ It is the study of distribution of organismos, both past and present, and of related patterns of variation over the earth in
the numbers and kinds of living things.”

Objectivos/ Questões centrais:

1. Explicar as actuais áreas de distribuição de espécies e ecossistemas e identificar os factores


responsáveis por essas áreas de distribuição;
2. Descrever os padrões de substituição da biodiversidade com as variações das condições
ambientais (ao longo dos gradientes);
3. Explicar as variações geográficas dos indicadores de biodiversidade (o porquê das mudanças
9
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

geográficas mediante as condições climáticas);


4. Reconstituir vias migratórias e identificar centros de dispersão (mudanças de clima passadas
provocaram migrações em larga escala);
5. Avaliar o papel das macro-oscilações geológicas e climáticas na distribuição actual dos taxa;
6. Estabelecer tipologias e cartografias biogeográficas a diferentes escalas geográficas (como
disciplina geográfica, estabelece classificações, unidades homogéneas do ponto de vista da
constituição biológica, acompanhando as da cartografia) Ex: a escala global podemos agregar a
diversidade biológica dividindo em 5 reinos, tipologia; representando-os no mapa temos uma
cartografia.

A biogeografia deve ser uma disciplina biológica porque se dedica ao estudo biótico, a parte
geográfica é relativa ao método usado uma vez que produz os resultados a que se propõe usando a
geografia. Ambas se encontram nos objectivos, produzir uma cartografia e é isso que nos dá a
posição de interface.

Padrões Biogeográficos Globais (Biomas)

Modelo global da distribuição de biomas:

1º : A biogeografia faz uma lista de biomas que dão origem a uma legenda;
2º : representa os biomas cartograficamente utilizando a legenda;
3º : procura explicar o padrão relacionando-o com as variações climáticas à escala global.

O bioma é o conteúdo biológico de um espaço, são os grandes tipos de ecossistemas à escala


global. A biogeogafia tem um carácter qualitativo, classifica o que lá existe. A natureza quantitativa
não tenta zonar as zonas com condições semelhantes mas sim analisar padrões de indicadores de
diversidade e nº de espécies numa determinada área.

Zonobiomas: de acordo com as condições climáticas;


Orobiomas: de acordo com a altitude;
Pedobiomas: de acordo com as propriedades do solo;

10
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Modelo global de distribuição de biodiversidade:

A biogeografia compila padrões. As cores mais quentes significam mais espécies. Não há
legenda, há uma rampa de valores. Representa-se a informação procurando descrever um padrão e
depois explica-lo.

Origens da Biogeografia

Começou a partir do momento em que um grupo de pessoas percebeu que um país não era
homogéneo. Esta percepção ganhou uma percepção global quando se começaram a fazer trocas
internacionais através do comércio, essencialmente ligado à agricultura. Todas as rotas de comércio
permitiram uma maior percepção das diferentes áreas. Com estas trocas começamos a ver plantas e
animais novos, que vieram de zonas afastadas por milhares de quilómetros. Esta é a informação pré-
corológica. As primeiras expedições com carácter científico aproveitaram inicialmente as rotas
comerciais. Se já havia a percepção de que em regiões afastadas havia espécies diferentes, agora
ganha-se a percepção que em zonas afastadas mas com climas semelhantes há espécies iguais.

Von humboldt “Pai da Biogeografia”

Estabeleceu o paralelismo entre as variações altitudinais e as latitudinais. Em particular no


hemisfério sul conseguiu descrever uma zonação altitudinal que associou a uma substituição
ecológica. Percebeu que a substituição altitudinal é muito semelhante à latitudinal. E ligou estes
11
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

gradientes a um gradiente climático. Desde logo percebeu que se para um mesmo intervalo
climático de altitude e latitude temos as mesmas espécies, se estiverem afastados por milhares de
Km e anos, vamos encontrar linhagens diferentes mas de evolução convergente.

Evolução da Biogeografia

1º Momento: associação ao estudo da evolução o estudo dos próprios organismos e afinidades


filogenéticas entre África e a América do Sul por exemplo. O que diz que os indivíduos não são
estáveis, nem a Terra pois a posição actual dos continentes é muito diferente do que foi no passado.

2º Momento: informática, permite acumular e gerir grandes volumes de informação ecológica e


analisa-los. Criou-se a capacidade de sensoriar o planeta e nesta altura os artigos científicos em
biogeografia dispararam.

Biogeografia e Fitossociologia

Fitogeografia: vinculada à distribuição dos biomas e tipos de vegetação.


Zoogeografia: vinculada à distribuição dos animais.
Fitossociologia: associar espécies iguais geograficamente. Abordagem iminentemente europeia,
mais na Península Ibérica. Baseia-se na cartografia pormenorizada da distribuição vegetal.
Ecótremo: fronteira entre 2 vegetações, e em cada vegetação temos muitas espécies.

A Biogeografia em Portugal

Ao longo dos anos houve várias cartas biogeográficas produzidas para Portugal baseadas em
diferentes factores.

Baseadas em indicadores fito-climáticos:

Baseada nas variações climáticas e usando as espécies florísticas á


escala regional:

12
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Baseada na Fitossociologia:

Alguns Conceitos em Biogeografia

O objetivo geral da biogeografia é descrever a geografia da vida, as unidades fundamentais


para as quais se obtém informação corológica, informação das espécies e informação acerca do tipo
de vegetação. A fitossociologia de base numérica é feita sob o conceito de espécie.

Idiotaxonomia:

Sintaxonomia:

Elementos fundamentais da biodiversidade:

Espécie: o conceito de espécie tem de ser estável. Como não é, em cada publicação tem de se
13
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

explicar qual o conceito de espécie utilizado. A emergência das ferramentas moleculares ajuda a
identificar espécies que antes não eram reconhecidas porque as variações morfológicas eram
pequenas. Agora há espécies emergentes pela genética.

Espécie sensu strito


Espécie sensu lato

Idiotaxonomia:

Sintaxonomia:

Áreas de Distribuição: é a área definida pelo mínimo polígono convexo, o polígono regular com a
menor área possível que une as ocorrências mais exteriores do conjunto e ocorrências da espécie. A
forma de limitar a área também tem de ser estável. Se a distância entre 2 pontos for demasiado
grande fazem-se 2 polígonos e a espécie passa a ter uma distribuição disjunta sendo a área central
da espécie a maior designando-a as outras por disjunções. Podemos estipular que a área de
distribuição de uma espécie será tanto maior quanto maior for o seu nicho ecológico, quanto mais
largos forem os intervalos de tolerância para os diferentes factores ecológicos.

Área de ocupação: é menor que a área de distribuição, é a soma dos pontos onde a espécie aparece.
A diferença é muito grande para espécies associadas a habitats específicos, lagos por exemplo.

Relação entre as condições, os recursos e a área de distribuição:


Relação entre a tolerância, o óptimo e a área de distribuição:

14
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

As condições e os recursos disponíveis condicionam a distribuição das espécies.

Relação entre nicho ecológico, habitat e área de distribuição:

Intervalos de tolerância mais abrangentes para os factores ecológicos bióticos e abióticos


permitem um nicho mais alargado que permite uma maior diversidade de habitats, faz com que a
espécie possa ter uma distribuição maior e mais contínua. A distribuição não está dependente da
existência de um só tipo de habitat mas de vários. Em função disto temos espécies com distribuição
mais ou menos extensa.

Compensação e Área de Distribuição

Compensação de Habitat:

I. Compensação altitudial (clisserial): fenómenos de disjunção, a maioria da diversidade está


no norte do mundo, as que aparecem em outros locais sao disjunções. A falta de latitude é
compensada pela subida em altitude.
15
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

II. Compensação topográfica (catenal): disponibilidade de água. Em Portugal temos zonas de


maior precipitação no norte mas são as zonas de encosta as mais exigentes em água. No Alentejo
encontramos pontualmente uma espécie exigente em água, mas a água da chuva não chega e então é
ao lençol freático que a espécie vai buscar a água, descem topograficamente e vão distribuir-se ao
longo dos cursos de água.

Áreas de Distribuição

● Diversidade:

Espécies cosmopolitas: espécies de distribuição global mais ampla, traduzindo uma maior tolerância
às variações de factores ecológicos, são mais flexíveis em habitats. Não ocupam o globo na
totalidade mas ocorrem em todos os continentes habitualmente.

Espécies endémicas: distribuição mais restrita relacionada com um nicho ecológico estreito,
intervalos de tolerância estreitos, espécies com elevada especificidade de habitats com processos de
natureza histórica associada. Acontece com espécies de origem recente, cuja evolução se deu cedo
numa escala filogenética, há poucos milhões de anos. Surgiu há pouco tempo e teve pouco tempo
para expandir e com um nicho ecológico estreito, não é boa competidora e fica restrita a uma mais
pequena área de distribuição. Há vários graus de endemismo. Ao contrário das espécies
cosmopolitas em que consideramos expansão pela mão Humana, nas endémicas temos de pôr à
frente “com ocorrência natural” ou “com ocorrência espontânea” porque muitas vezes tem valor
ornamental. Um endemismo tem ocorrência natural.

Com a comercialização transformamos algumas espécies não cosmopolitas em cosmopolitas.

Espécies circum-polares: estão na circunferência polar;


Boreais : hemisfério norte
Austrais: hemisfério sul

Espécies temperadas: distribuição em clima temperado

Espécies pantropicais: nos trópicos, ocorrem ao longo de cinturas de latitude entre trópicos, climas
tropicais;
16
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Espécies com distribuição disjunta: as disjunções têm uma origem climática ou de natureza
geológica;

● Expansão e Regressão

Ao longo dos milhões de anos da Terra aconteceram fenómenos que eliminaram grande
parte da biomassa de organismos vivos. Depois destas regressões há novas expansões de espécies,
acontecendo passados alguns milhares de anos uma nova catástrofe que provoca uma nova
regressão. Exemplos disso são as alterações climáticas como as glaciações que ainda hoje se podem
comprovar com as marcas que deixou nos nossos relevos. São as relíquias paleoclimáticas.

BIOGEOGRAFIA GLOBAL II

I - Caracterização Biofísica da Terra

1. ● Distribuição das massas continentais: tem influência sobre a distribuição da


fitodiversidade e sobre o clima e a distribuição dos ecossistemas (biomas). A distribuição dos
continentes é desigual, temos 2/3 no hemisfério norte e 1/3 no hemisfério sul. Isto tem um efeito
nos padrões climáticos globais, porque o factor abiótico mais importante que determina a
distribuição da biodiversidade quantitativamente e qualitativamente é o clima, nos seus diversos
factores específicos como a sazonalidade, a precipitação, etc.

2. ● Orografia (relevo): influência a distribuição da fitodiversidade e dos biomas


directamente, promovendo o isolamento e a especiação e indirectamente, fazendo variar as
características do (bio)clima. Tem um papel importante porque condiciona fortemente o clima
regional e por vezes também em regiões largas, controlando a sazonalidade, precipitação, etc. Do
ponto de vista climático são barreiras que acentuam os climas diferentes. A montante da montanha
temos um clima mais chuvoso, tipo atlântico. A jusante temos um clima mais continental, com
sazonalidade e menos precipitação, mais seco. Actua a nível das espécies também, os cumes das
montanhas funcionam como ecossistemas insulares, isolados do rigor das condições ambientais,
favorece a divergência e a especiação (aparecimento de novas espécies). As espécies sao
características de cumes de montanhas individuais. Para as espécies de menor altitude as montanhas
são uma barreira e fazem com que as diferenças biológicas das zonas de maior altitude dos dois
lados de alguma montanha sejam mais diferentes do que o esperado caso não houvesse a montanha.
A montanha potencia a especiação e produz isolamento das zonas de menor altitude de ambos os
lados da montanha.

3. ● Clima: insolação e redistribuição do calor: nas zonas tropicais temos um clima mais
quente mas também mais chuvoso e em função das características dos movimentos de rotação e
translação da Terra é a zona mais estável. O clima segue 2 vias principais: as correntes atmosféricas
e as correntes marinhas (quentes vindas dos trópicos e frias vindas dos pólos), e o seu efeito
conjugado redistribui globalmente a radiação recebida.
Clima: zonação climática global: A nível global com estes dois padrões temos a
heterogeneidade climática. Clima tropical apresenta-se perto do equador, caracterizado pela
estabilidade a nível climático e elevadas temperaturas, elevada precipitação e também
grande produtividade onde associamos os maiores níveis de biodiversidade. Nos trópicos de
Cancêr temos climas desérticos. Temos ainda os climas de temperaturas microtérmicas,
baixas ou muito baixas T.
17
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

4. ● Evolução paleogeográfica e paleoclimática: evolução geotectónica, de natureza geológica


que dá origem a radiografias distintas se recolhidas em diferentes momentos da história geológica
do globo. Considerando a evolução climática, ao longo de toda a história mas mais importante as
variações extremas que aconteceram, as mais recentes, existem evidências de movimentos de
biodiversidade.

II – Distribuição da Biodiversidade

Distribuição global da biodiversidade: os seus efeitos são negligenciáveis porque não se vêem.
Descrição e caracterização do conteúdo biológico e como se distribuem. No que toca ao gradiente
latitudinal da biodiversidade à escala global as excepções a este gradiente são as áreas desérticas.
Um factor ambiental para caracterizar isto é a variação da temperatura, que tem uma variação linear
com a latitude.

18
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Em geral a biodiversidade é maior (ecossistemas terrestres) em áreas mais quentes, mais


húmidas (de maior pluviosidade), áreas topográficas e climaticamente mais diversas, áreas menos
sazonais e áreas menos elevadas.

> Produção I bruta  > Biodiversidade

Hipóteses para a Distribuição Global da Biodiversidade:

I: Efeito abiótico na biodiversidade. Os trópicos têm mais espécies que as regiões médias e estas
têm mais que as elevadas como resultado directo das respostas das espécies aos factores abióticos.
Mais espécies podem encontrar o seu nicho ecológico nos trópicos.

II: Defende que as condições abióticas são importantes mas os padrões resultam das interacções
bióticas mediadas pelas condições abiótica.
Sabe-se que para um mesmo regime de temperatura há mais espécies onde houver mais água.
Para a mesma faixa latitudinal há mais espécies em zonas de baixa altitude. As montanhas
determinam diminuição da biodiversidade. Regiões mais estáveis (ao longo do ano, baixa
sazonalidade) tendem a ter maior biodiversidade. À escala global, quanto mais diversa do ponto de
vista ambiental for uma determinada área, mais espécies terá uma vez que se há mais condições
diferentes pode albergar mais nichos.
Com isto identificamos as 3 condições transversais aos múltiplos factores. Há 3 regras
transversais que promovem a diversidade:

1. Benignidade das condições ambientais: quanto mais favoráveis forem as condições maior é
a diversidade;
2. Diversidade para áreas com superfície comparável, as mais diversas do ponto de vista
ecológico serão as mais diversas em termos biológicos;
3. Estabilidade, não só medida num ciclo intra-anual, inexistência de sazonalidade, quanto
menos acentuadas as variações ao longo do ano maior será a biodiversidade;

Qual o processo intrínseco aos ecossistemas que se relaciona com a sazonalidade?

Produtividade I: produção de compostos orgânicos a partir da fotossíntese. É máxima em áreas mais


quentes onde não haja stress hídrico, sem sazonalidade. Se a vegetação poder crescer com grande
vigor fotossintetizando em níveis elevados durante todo o ano e sem stress hídrico temos produções
primárias elevadíssimas.

Outras hipóteses:

1. Área Geográfica: os trópicos albergam mais espécies porque possuem maior área.
2. Produtividade: os trópicos albergam mais espécies porque apresentam maiores níveis de
biomassa resultantes de maiores índices de produtividade.
19
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

3. Energia Ambiental: os trópicos albergam mais espécies porque apresentam condições ambientais
mais benignas em resultado da maior quantidade de energia solar incidente.
4. Princípio de Rapoport: os trópicos albergam mais espécies porque neles as espécies tendem a
possuir menores áreas de distribuição. As dimensões com latitude à escala global servem de suporte
para a teoria que defende que nos trópicos as espécies estão mais ambientadas.
5. Taxa evolutiva: os trópicos albergam mais espécies porque apresentam maiores taxas de evolução
(especiação) em resultado das temperaturas mais elevadas.
6. Restrições geométricas: modelo probabilístico independente da existência de gradientes
ambientais ou mecanismos biológicos.

III – Biomas: Conceitos

“…cada um destes tipos climáticos possui um conjunto de comunidades de plantas e animais cuja evolução os tornou bem adaptados
a tais factores ambientais; essas comunidades características são designadas por biomas”

“Bioma. Um tipo principal de vegetação natural que ocorre em locais em que prevalecem determinadas características climáticas e
edáficas, mas que pode incluir taxa diferentes em regiões distintas. “

“Unidade fundamental da geobiosfera. Um bioma, entendido como um ambiente, é uma área uniforme pertencente a um zonobioma,
orobioma ou pedobioma. “
Zonobioma: espaço ambiental onde está o bioma, caracterizado pelas suas condições ambientais.
Cada um é delimitado por um intervalo de temperatura e de precipitação. A cada zonobioma
associamos um clima particular, desde os de natureza tropical até aos de natureza boreal ou ártica,
aumentando do equador para os pólos.

Orobiomas: zonação altitudinal, clisserial, complexo de diferentes biomas dispostos ao longo de um


gradiente de altitude. O orobioma é o conjunto dos biomas de uma montanha.

20
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Pedobiomas: propriedades do solo, fazem com que o bioma real não seja o que se estava à espera.

5. ● Distribuição Geral dos Principais Biomas (Zonobiomas):

4 - Biomas: Diversidade e Distribuição

À escala global há um conjunto de factores que temos de considerar, os factores climáticos.


Os geográficos são também importantes mas o clima está sempre a condicionar. A temperatura e a
precipitação são também importantes, com variação latitudinal acentuada obedecendo a
determinadas regras. Os padrões desses 2 parâmetros formam uma macro-diversidade climática que
é agregada em tipos climáticos ou analisada quantitativamente procurando não tanto reconhecer a
diversidade climática em tropical, mediterrânea, etc mas sim identificar os gradientes climáticos,
identificar as componentes principais de variações e apresenta-las no espaço de forma a
compreender as combinações.
21
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Mapa dos Bioclimas à escala global:

Sem os classificar mas fazendo uma combinação das várias componentes principais, recorre
-se a centenas de centrais climatológicas, informação relativa a várias variáveis climáticas
relacionadas com os padrões de temperatura e precipitação. A temperatura pode ser expressa como
média anual, média mensal ou diária. A análise estatística de dados variados é feita para múltiplas
variáveis em n estações e n variáveis. A análise permite-nos identificar as grandes tendências de
variação e vão contribuir para zonar o globo do ponto de vista da diversidade climática. E há 3
fontes principais de variação do clima à escala global:

1. Temperatura (médias anuais)


2. Distribuição da Precipitação e Disponibilidade em água
3. Sazonalidade (ponto de vista das T a nível global e a nível regional do ponto de vista da
precipitação)

É preciso ver como varia a temperatura, a precipitação e como é a sazonalidade. Cada uma
das 3 correspondem a uma variável resultante de várias combinadas e identificam-se por uma cor,
fazendo variar do mais claro para o escuro (menores valores para maiores valores). Sobrepondo as
cores espacialmente temos várias cores que nos permitem reconhecer os grandes tipos de clima. As
zonas tropicais de menor sazonalidade e precipitação, zonas de áreas desérticas (escassez de
precipitação), nas latitudes médias no Hemisfério Norte são onde encontramos, em pequenas
distâncias, uma grande diversidade climática, ou seja, quer na América do Norte quer na Europa,
vamos encontrar uma grande diversidade de biomas, animais, condições, etc.
Esta diversidade climática está relacionada com um importante processo ecológico, a
produtividade I. Um volume de actividade fotossintética anual, uma determinada quantidade de E
fixada produz uma maior quantidade de nova biomassa.

22
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

O mapa traduz a produtividade I a nível global. Há ecossistemas que se destacam, florestas


tropicais. A América Central e do Sul, África equatorial e Indonésia têm muita biomassa, fixam
muita energia. Há zonas com um tom amarelo pálido que se localizam nas zonas de produtividade
média, mas estão distantes das florestas tropicais em questões de produtividade. A produtividade I é
considerada o indicador mais importante em ecologia, mesmo em questões ambientais que se
relacionam com as alterações climáticas e suas implicações socioeconómicas. Os factores
climáticos favorecem a produtividade que contribui para a diversidade, ou que promove a
diversidade que depois promove a produtividade. Sabemos que há uma correlação muito
significativa entre a produtividade e a diversidade.
Há 3 factores fundamentais que promovem a produtividade I:

1. Temperaturas elevadas e relativamente constantes ao longo do ano


2. Precipitação abundante, água sempre disponível
3. Elevada estabilidade ao longo do ano

Os indicadores numéricos de diversidade não são o único padrão ecológico. O padrão


quantitativo pode ser sintetizado com recurso a uma redução da diversidade, considerando 2
variáveis, a temperatura média anual e a precipitação média anual. Os limites são faixas de

23
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

transição cujas variações estão ligadas a outros factores. Para os valores médios podemos encontrar
em zonas de transição o bioma A ou B de acordo com a sazonalidade. A redução a 2 variáveis é boa
mas há múltiplas variações que contribuem para a diversidade climática. Ainda assim conseguimos,
no diagrama, relacionar claramente substituições de biomas ao longo de gradientes de precipitação.
Para uma mesma faixa de precipitação vemos a substituição de biomas. Para precipitações baixas
podemos ter savanas, tundras, etc., latitudes médias com baixa precipitação.
O diagrama diz-nos que há combinações que não se verificam no espaço, precipitações
elevadas e temperaturas muito negativas não existem.
Por melhor que seja a classificação de biomas é fácil reconhecer a diversidade existente ao
longo destes 2 eixos.

Biomas:

1. Deserto Frio
2. Tundra
3. Taiga (floresta boreal)
4. Estepe (pradaria temperada)
5. Floresta temperada caducifólia
6. Floresta e Matagal esclerofilos mediterrâneos
7. Floresta Temperada Pluviosa (incluindo Laurissilva)
8. Florestas Tropicais (Perenifólias e Caducifólias)
9. Savana
10. Deserto Quente

A forma como são agrupados depende dos autores. Há uns que incluem todas as variações
regionais e criam biomas distintos e há outros mais agregadores. O clima mediterrâneo pode ocorrer
noutros continentes e a vegetação e fauna que encontrámos aqui ou na Austrália ou América são
distintas, apesar de responderem a climas semelhantes, mas têm uma história evolutiva diferente e
para os mesmos desafios encontraram diferentes respostas. Estas diferenças podem ser reconhecidas
como sub-tipos. Vamos usar esta classificação mais agregada que nos permite descrever 10 biomas
diferentes desde o deserto frio até ao deserto quente.

Maiores latitudes:

1.Deserto Frio e 2.Tundra: desprovida de vida com excepção de


microorganismos que toleram condições extremas como viver dentro
do gelo, os extremófilos. A vegetação é sem flora vascular, no
contacto com a tundra podem aparecer musgos ou líquenes. Aqui não
há estações de crescimento, as condições não adaptadas ao
crescimento são constantes ao longo do ano. É um bioma que ocupa
as maiores latitudes, em particular no hemisfério Norte. A tundra é exclusiva do hemisfério Norte,
tem uma estação favorável ao crescimento, o verão, em que as T sobem um pouco acima dos 0ºC
durante 2 a 3 meses, permitindo alguma actividade biológica que se traduz no crescimento de
plantas e animais e sua reprodução. A vegetação é rasteira, dominada por pequenos arbustos e por
muitas herbáceas, vivazes, caméfitas (menos 40 cm) e hemicriptófitas (protegem as gemas à
superfície do solo). A tundra pode ocorrer em duas situações, a de natureza geográfica que ocorre no
intervalo latitudinal onde é esperada, nas maiores latitudes do hemisfério Norte. Mas pode ser
encontrada também, por compensação altitudinal, em menores latitudes, em função da altitude, no
alto da montanha, a tundra alpina, nos alpes. Há uma tundra de latitude, junto do àrtico e uma
24
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

tundra de altitude. A Tundra faz parte do orobioma, um conjunto de intervalos altitudinais. Aqui as
temperaturas rondam os -15ºC e a precipitação é variável.

3.Taiga (Floresta Boreal de Coníferas): floresta com grande porte,


por vezes largas dezenas de metros e de grande longevidade,
organismos que vivem durante muito tempo. Têm uma grande
quantidade de biomassa acumulada apesar de serem pouco
produtivos anualmente. Nas florestas estima-se que haja tanta ou
mais biomassa relativamente a todas as outras florestas juntas.
Em termos de impacto imediato aqui é muito maior. Existem na
Sibéria e Rússia. Florestas dominadas por coníferas, com pouco biodiversidade, é pauci-especifica
(pobre em espécies). É estruturalmente simples, sempre igual, com um estrato herbáceo rasteiro que
reveste o solo. Não há estratos arbóreos intermédios. Há uma grande presença de criptogâmicas,
musgos e também líquenes. Não significa que esteja aqui a maior diversidade de musgos a nível
global mas estes têm uma grande prevalência a nível do solo, por baixo do estrato arbóreo há um
tapete de musgo. A temperatura está entre os -5ºC e os 5ºC e a precipitação é variável.

A imagem do canto direito inferior representa um ecótono: zona de contacto entre 2


ecossistemas diferentes que pode ser aplicado a qualquer espaço visual. Tem condições ambientais
de transição.

Latitudes médias:

4.Estepe (pradaria temperada seca e/ou


continental):temperaturas médias anuais variáveis,
caracterizado simultâneamente pela ocorrência de elevado
stress hídrico (baixa precipitação – 300 a 1000 mm) e
25
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

elevada sazonalidade com verões muito quentes e invernos muito frios. As condições climáticas
condicionam o crescimento de árvores havendo alguma vegetação arbustiva, com gramíneas,
herbáceas vivazes e hemicriptófitas predominantes.

5.Floresta Temperada Caducifólia: árvores de folha caduca,


caducifólias. Condições climáticas de temperaturas médias anuais
intermédias variáveis e precipitação abundante (500 a 2500mm)
durante o ano todo. Não há uma estação seca, apenas um leve
decréscimo durante a estação quente. Na Europa Central onde este
bioma tem a sua maior ocupação, é comum haver precipitação
durante o verão. Outra característica importante é que na zona do
bioma há uma certa sazonalidade, o inverno é desfavorável ao crescimento, à semelhança da taiga,
encontramos comportamentos de hibernação em animais que nas plantas se traduz na queda da
folha. A perda da folha exige energia, é necessário repor a folhagem depois. As vantagens de perder
as folhas são oferecer menor resistência a ventos fortes pois o vento provocaria a queda das folhas à
força, e assim as substâncias fundamentais são reabsorvidas das folhas. E depois podia dar origem a
danos estruturais, ramos partidos, provocar o levantamento de raízes. No entanto se de facto o
investimento é elevado, as árvores podem fazê-lo porque têm uma estação favorável ao crescimento,
que começa no início da Primavera e vai até ao início do Outono, cerca de meio ano com condições
muito favoráveis para o crescimento e para além disso com água disponível, porque chove muito,
não há stress hídrico.

26
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

6.Floresta e Matagal de Esclerófitlas Mediterrânicas:


existência de uma estação seca, coincidente com a estação
quente, temos um verão seco. As árvores são Perenifoles, de
folha persistente apesar de estarem sujeitas a um inverno
rigoroso mas não podem deixar cair as folhas porque a
estação verdadeiramente favorável ao crescimento são apenas
1 a 2 meses na Primavera e 1 a 2 meses no Outono, porque o
verão é demasiado seco e o inverno demasiado frio. A
estratégia é aguentar as folhas mas para aumentar a eficiência mecânica durante o Inverno e reduzir
a perda de água no verão é reduzir o tamanho das folhas. Ou desenvolvem tecidos e órgãos para
armazenar água. Têm actividade fotossintética todo o ano, embora residual no pico do Inverno e do
Verão. Este bioma ocorre no Hemisfério Norte e Sul, em 5 zonas sendo a maior a bacia do
Mediterrâneo, Europa e Norte de África. Na Califórnia, sul do Chile, sul e sudoeste da Austrália e
na África do sul. Os climas mediterrânicos são santuários de biodiversidade global, sendo as regiões
onde se produzem os melhores vinhos.

7.Floresta Temperada Pluviosa (incluindo Laurissilva): elevada precipitação ao longo de todo o ano.
São semelhantes às florestas tropicais porque têm precipitações elevadas, regulares ao longo do ano
assim como a temperatura. Só as ilhas têm este clima, na Europa só existe nas ilhas portuguesas e
espanholas. Há arbustos e árvores grandes e pequenos. Designa-se de Laurissilva porque do ponto
de vista estrutural e de espécies de flora tem muitas lauráceas, loureiro por exemplo, e também
porque tem árvores e arbustos com adaptações a nível das folhas que as aproxima das folhas de
loureiro, laurifólias. As folhas são cobertas de ceras para escoar a água e de forma canaliculada para
fazer goteira para a água ir para o solo. As
temperaturas médias aqui estão abaixo dos
20ºC e nas zonas tropicais acima dos
20ºC. A pluviosidade é elevada,
mais de 2000 mm.

27
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

8.Florestas tropicais (de Perenifólias ou de Caducifólias): biomas


de Natureza florestal associados a zonas com maior disponibilidade
de água. Árvores de folha persistente, floresta amazónica, verde
mais escuro, América Central e Sul, África equatorial e sudeste
Asiático. Do ponto de vista estrutural são ainda mais diversas e
exuberantes que as Laurissilvas, têm múltiplos extractos arbóreos
desenvolvidos como lianas e trepadeiras, sendo ricos em plantas
epífitas. Temos muitas espécies diferentes. Ocorrem em climas
tropicais com precipitação abundante mas concentrada numa estação, há episódios muito fortes de
precipitação. As temperaturas estão entre os 20ºC e os 30ºC e a pluviosidade é superior a 1500 mm.

9.Savana: a disponibilidade de água condiciona o crescimento. Nas


condições mais chuvosas pode-se formar uma floresta aberta com
extracto herbáceo desenvolvido. À medida que há menos chuva vamos
ter a pradaria com árvores muito isoladas sendo que o conjunto é
classificado como savana mas podemos distinguir a savana arborizada e
a savana não arborizada ou aberta. São zonas muito importantes para a
conservação de mamíferos, em África em particular, tendo sido importantes para o desenvolvimento
do Homem.

28
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

10.Deserto quente: atinge lineares fora do crescimento, tem baixa


presença de vida macroscópica. São zonas de transição com a savana
em que há alguma densidade e diversidade de fauna e flora, com
cactos. São zonas de descidas das massas de ar.

Para cada bioma é importante saber as condições ambientais e climáticas que se associam a
espaços geográficos, zonobiomas e compreender e conhecer o tipo de vegetação e procurar relacio-
nar as características ambientais do espaço e as adaptações ao ecossistema.
Temos 10 biomas, 3 das maiores latitudes (Deserto frio, Tundra e Taiga), 4 das médias lati-
tudes (Estepe, Floresta temperada caducifólia, Floresta e Matagal e Floresta temperada pluviosa) e 3
de baixas latitudes (Florestas tropicais, Savana e Deserto quente).
Zonobiomas, Climas e Biomas
Há 3 tipos de organização dos biomas à escala global.

Ex: Zonobiomas de África vs Europa; Zonoecótonos: podemos encontrar diferentes zonobiomas


seguindo faixas relativamente paralelas relativamente ao equador e encontramos também faixas de
transição, ecótonos, que correspondem a zonas que do ponto de vista climático não têm as
características típicas de um clima mas sim do intermédio dos dois. As zonas de contacto entre
zonobiomas chamam-se zonoecótonos, são zonas de transição ecológica em que um bioma vai
sendo substituído por outro, tendo características intermédias dos dois. Na Europa, com latitude
média e linha de costa mais complexa, com maior influência de múltiplos climas, encontramos uma
distribuição complexa, elaborada, com extensos zonoecótonos e com uma história geológica muito
rica que faz com que haja orobiomas (montanhas) que têm uma influência muito grande.

29
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Reinos Biogeográficos

Reinos: Boreal, Neotropical, Paleotropical, Cabo, Austrália e Antártida.


Há uma certa afinidade na composição e origem dos biotas regionais. A relação entre a
evolução paleogeográfica e paleoclimática é evidente. A tipologia biogeográfica segue normalmente
um conjunto de níveis hierárquicos sendo que o nível superior é o reino, que se subdivide em
regiões, as regiões em províncias, e as províncias em sectores.

Reino  Região  Província  Sector

À escala global falamos de Reinos, as classificações são mais ou menos consensuais, 3 a 4


Reinos. São delimitados em função de um conjunto de zonobiomas característicos, dentro deles
haverá um conjunto de biomas que lhe sao característicos também, em função de uma história
evolutiva própria e longa o suficiente para a descrição de linhagens evolutivas (classes, ordens
exclusivas), em função da biodiversidade e da apresentação de síndromes adaptativos que traduzem
a sua adaptação àquele ecossistema.

Todo o Hemisfério Norte com excepção dos trópicos pode ser incluído no reino
Boreal/Holártico (“holo – tudo, ártico - norte”). A América do Norte esteve colada à Eurásia, então
partilham uma história evolutiva comum e têm uma diversidade interna que é depois reconhecida ao
nível das Regiões.
Nas zonas tropicais reconhecem-se 2 níveis, o Neotropical e o Paleotropical que incluem os
biomas dos zonobiomas tropicais.
30
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

O continente Australiana pelo seu isolamento e originalidade de linhagens evolutivas é


reconhecido como um Reino a parte.
A Antártida é reconhecida também como reino biogeográfico distinto. Acima de tudo é um
deserto frio, com um biota completamente diferente das restantes áreas.
O único ponto onde as classificações não são consensuais é no facto de reconhecerem o
Cabo como um reino em particular.

BIOGEOGRAFIA DA EUROPA

1. Caracterização Biofísica
2. VNP, Zonobiomas e Biomas
3. Sectorização biogeográfica

Geografia geral:

1) Localização no Hemisfério Norte: maioritariamente a latitudes médias, temperadas. Tem uma


grande massa continental, está próxima de África, tem ligações frequentes com a América do Norte.

2) Altimetria e Fisiografia: é um território assimétrico, com grandes massas de relevo a sul, ao


longo da bacia mediterrânea, porque é uma zona de tectónica de placas, a euro-asiática e a africana.
No centro da europa há um grande zonobioma que faz com que se tenha kms de transição.

Características do Clima:

1)Predomínio de climas mesotérmicos (Temperado e Mediterrânico), tem regimes de temperaturas


intermédias entre as zonas tropicais e de maior latitude. No norte, extremos setentrional e oriental
encontramos climas ditos microtérmicos, de temperaturas mais baixas, que têm associados níveis
mais baixos de biodiversidade e biomas particulares como a Tundra e a Taiga. No sul da Europa,
Península Ibérica e bacia do mediterrâneo encontramos espaços com clima desértico e semi-
desértico, há portanto diversidade climática.

31
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

2)Precipitação: aumentando o nível de detalhe passamos para uma escala de análise. As zonas mais
claras são zonas onde chove menos sendo que a fachada noroeste é onde há precipitações mais
elevadas. Há 3 zonas fundamentais onde chove muito pouco, no mediterrâneo, porque são zonas
que ficam a sul da faixa de circulação das depressões climatéricas de massas de ar. No oeste e no
sudeste as massas de ar chegam já com pouco humidade, são zonas de bioma Estepe. As nuances
prendem-se com o incremento das precipitações a sul onde há cadeias montanhosas, nos Alpes e
Balcãs. Todas as cadeias montanhosas provocam um aumento local e regional da precipitação. A
temperatura segue um gradiente norte → sul. Nas montanhas em pequenas distâncias temos
gradientes altitudinais de temperatura.

3) Climas: há 5 grandes tipos de clima à escala global que não obedecem apenas a variações de
temperatura mas que tentam considerar vários aspectos anuais e sazonais.

Clima Polar: tipicamente associados ao deserto frio, neve e gelo permanente não havendo uma
estação favorável.
Clima Boreal: climas de natureza microtérmica mas em que há já uma estação de crescimento
32
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

durante poucos meses mas que permite o desenvolvimento de vegetação com ocorrência de alguma
diversidade de fauna.
Clima Temperado: de natureza mesotérmica, regularidade de precipitação em todo o ano.
Clima Mediterrânico: podemos ter precipitações elevadas mas apenas numa estação, e no verão não
chove. Pode haver uma estação seca durante o verão, cerca de 2 meses.
Clima Tropical: de temperaturas elevadas e constantes, entre o trópico de Câncer e o de Capricórnio,
à volta do Equador. Podem ser mais ou menos chuvosos e mais ou menos sazonais.

No contexto Europeu só temos 4 destes 5 climas, não temos o tropical. Temos então ¾ dos
biomas à escala global.

4) Técnicas da análise de componentes principais: tentam reduzir a biodiversidade existente em


variáveis procurando identificar as direcções principais das variações em torno das quais um
conjunto de n variáveis variam identificando os gradientes principais que determinam os padrões de
biodiversidade.

Componentes principais:

1.Gradiente de Temperatura
2.Gradiente Oceânico: relação entre a sazonalidade das temperaturas e amplitude térmica anual, o
quão contrastante são o Inverno e o Verão. Os climas onde a amplitude térmica é elevada são os
continentais (verões muito quentes e invernos muito frios). Os climas onde a amplitude térmica é
menor são os climas oceânicos ou de influência oceânica. Essa menor variação está associada ao
efeito tamponante que as massas de água têm sobre a temperatura. A água resiste mais que a rocha
às variações de temperatura.
33
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

3.Gradiente de Precipitação

Criar estes gradientes permite-nos isolar componentes principais que explicam a variação
precisando apenas de 2 ou 3 variáveis. Podemos também combinar as componentes descrevendo a
diversidade climática em função da temperatura, oceânidade e sazonalidade.

Estes gráficos demonstram as correlações entre os scores dos diferentes extractos climáticos.
Esta classificação climática ajuda-nos a compreender como se distribuem os biomas na Europa.
Muita da biogeografia europeia é feita com base num conjunto de espécies de Quercus sendo que
apenas 25 foram testados. Há uma relação entre a distribuição desta espécie, como se os diferentes
Quercus se arrumassem num espaço. Esta análise e a forma como se faz tem ligação com os
principais padrões da Europa.

34
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

5) A história do continente: é também importante. O registo fóssil é importante para tentar fazer
datações para perceber as condições ambientais passadas. A outra fonte de informação é a
distribuição da diversidade genética actual, onde se refugiaram as espécies na glaciação e vias
migratórias quando o gelo desapareceu. Outras evidências de natureza geomorfológica são os vales
em U, cavados por glaciares.

Vegetação Natural Potencial

A sua distribuição é bastante complexa, a


vegetação natural potencial é a vegetação que se
desenvolveria espontaneamente num
qualquer espaço em função apenas das condições
ambientais, sem acção humana. Esta coincide com a vegetação que estaria nesse território antes de
o Homem intervir significativamente no espaço, tomando-se como valor de referência a vegetação
de há 3000 anos atrás. A outra implicação é que se em qualquer paisagem transformada o Homem
cessar a perturbação antrópica, se séculos depois a vegetação recuperaria para essa condição
selvagem.

Zonobiomas e Biomas

Os biomas são numerados do equador para os pólos. Há 6 zonobiomas e 7 biomas dos 9


zonobiomas à escala global que estão presentes na europa.

35
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Zonobiomas e Zonoecótonos

Para além dos 6 zonobiomas temos ainda 2 aspectos: a presença de importantes


representações de orobiomas (maciços montanhosos) e a existência de zonoecótonos de grandes
áreas, provavelmente as zonas de transição maiores, a soma dos reais zonobiomas.
A existência não apenas dos 6 mas de zonoecótonos entre todos os zonobiomas multiplica a
diversidade e cria outro mapa mais diverso.

EEA: Zonas e Províncias Biogeográficas (UE)

Do ponto de vista da regionalização há 2 classificações propostas:

a) Biogeografia europeia que reconhece 4 grandes zonas e dentro dessas um conjunto


diversificado de provínvias: Zona Mediterrânica, Zona Continental, Zona Alpina e Zona
Atlântica. Este é o mapa que se utiliza para avaliar e reportar as políticas europeias.

b) Distribuição da flora vascular, para a fauna no contexto europeu. Utiliza também


directamente a informação da distribuição da vegetação, potencial também uma vez que o
coberto da Europa está muito transformado pela influência Humana. A delimitação aqui é
biogeográfica. É uma classificação que obedece ao formalismo biogeográfico. Divide a
Europa, reino boreal, num conjunto de regiões com elevada filiação à distribuição dos
diferentes biomas na escala europeia.

Regiões Biogeográficas:

Região Circum-Árctica
Região Eurossiberiana: incluindo as sub-regiões (SB) Euroasiática Boreal, Atlântico-
Centroeuropeia e Alpino-Caucásica.
Região Mediterrânica: incluindo as sub-regiões Mediterrânica Ocidental, Mediterrânica Oriental e
Canária.
Região Irano-turânica: Estepe, clima seco com certa regularidade de precipitação.
36
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

BIOGROGRAFIA DE PORTUGAL CONTINENTAL

1.Caracterização Biofísica Geral: condições ambientais, recursos  componente abiótica

a)Enquadramento biogeográfico: Portugal está no extremo ocidental da região Mediterrânea, com


um clima associado ao Mediterrâneo com uma estação seca, o Verão, que pode ser prolongado e
com grandes florestas temperadas de caducifólias no Noroeste. O clima é influenciado por ser um
país de fachada oceânica, sendo que a sul do continente europeu as precipitações são escassas
durante o Verão.
É um país pequeno, estreito e alongado na direcção Norte  Sul em que há maiores
variações longitudinais que latitudinais. Foi um refúgio durante as glaciações, sabemos isso graças
às espécies, podendo afirmar que o sul da Europa o foi nessa altura. A biogeografia ibérica inclui
um bioma temperado, com dominância de um clima mediterrâneo mas com variações regionais.
Metade da nossa fronteira é mar e a outra metade é Espanha. Temos uma linha de costa simples,
massas de relevo concentradas na zona Norte sendo que no Sul o relevo é mais baixo, plano e com
menor densidade de acidentes geográficos. A Sul destes acidentes geográficos vão criar-se
condições climáticas diferentes das regiões que as rodeiam.

b)Hipsometria e Hidrografia: a hidrografia de Portugal é complexa, tem 3 bacias principais: Douro,


Tejo e Guadiana. A costa é suave e relativamente simples.

37
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

c)Litologia e Solos (pH): a costa geológica é mais complexa que a biológica. A influência da
geologia é importante para o tipo de vegetação. Há 3 tipos de rocha-mãe predominantes em
Portugal: verde-granito e rochas ígneas (predominante no Norte e Centro Norte incluindo
montanhas), rochas metasedimentares (a roxo, em todo o país, xisto) e formações sedimentares de
orla marinha e fluvial (a verde, são menos predominantes existindo mais no centro oeste de Portuga,
centro litoral). Temos ainda calcário (a amarelo), que surge sob a forma de ilha. Cada uma destas
rochas tem diferentes características: textura, pH, teor em argilas, etc.

A acidez do solo, pH, determina a sua fertilidade e disponibilidade de recursos. O solo é


mais ácido a Norte e mais básico no Centro e Sul dependendo das características da rocha-mãe e
também da precipitação (lixiviação). Em função da litologia temos diferentes espécies associadas a
diferentes condições.

c)Clima:
temperatura, precipitação, geadas: as normas climatológicas são valores médios para
intervalos iguais ou superiores a 30 anos. O território português é mais quente a Sul e mais frio a
Norte, algo visível ao nível das linhas de costa sem variações altitudinais. As variações no centro do
país são mais acentuadas que ao longo da costa.As zonas com temperaturas mais baixas estão
associadas às montanhas. Os vales dos principais rios estão bem vincados a Norte, a Sul são as
montanhas que surgem com diferentes condições. É também mais seco a Sul e mais chuvoso a
Norte, estando também a maior precipitação associada às montanhas. Nas cartas de temperaturas,
sempre que há montanhas há descida da temperatura mas não temos sempre aumento da
precipitação, pois à medida que a massa de água vai avançando e passando as cadeias montanhosas
vai ficando mais seca (ex: Nordeste). As montanhas mais a Este estão na sombra das montanhas
mais a Oeste.

38
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Duração da estação seca estival: quanto mais escura maior o nº de meses secos (verão, 1 mês,
menos de 30mm). As características mediterrânicas do clima vão de noroeste para sudeste. No
Noroeste o tempo é mais seco mas a estação seca é curta e quando avançamos há aumento do nº de
meses consecutivos de secas até aos 6 meses. Se houver mais de 2 meses de seca temos um clima
mediterrâneo, se tivermos menos de 1 mês temos um clima temperado. Com 2 meses de seca pode
ser um qualquer dependendo de outros factores. No quadrante Noroeste temos a floresta temperada
de caducifólias e no restante continente temos o bioma mediterrânico.

d)Bioclimatologia:

39
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Clima Orotemperado: exclusivo da Serra da Estrela;


Clima Supra temperado: pequena representação nas montanhas;
Clima Mesotemperado
Clima Temperado: não tem grandes variações;
Clima Termotemperado: temperado com temperaturas mais elevadas, baixas
altitudes perto da costa;

Altura da Montanha

Norte: Supra Mediterrâneo


Centro: Meso Mediterrâneo (média/baixa altitude)  Reflecte diferentes biomas
Sul: Termo Mediterrâneo

Fitogeografia Europeia
(Vegetação Natural Potencial – Biomas)

2.Conjuntos Fitocorológicos

a)Flora Vascular de Portugal Continental:

40
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Elementos florísticos: conjuntos de flora com a mesma distribuição do ponto de vista


geográfico, mesmas condições ambientais e com adaptação semelhante. Há 2 conjuntos
fundamentais:

Flora Temperada: espécies bem adaptadas à sazonalidade das temperaturas


mas não da precipitação, árvores caducifólias e espécies herbáceas;
Flora Mediterrânica: evoluíram sob as condições mediterrânicas, têm uma
maior dispersão, dominada por espécies perenifólias;

Mas há outras:
Flora endémica: ocorre exclusivamente numa área, no nosso caso no litoral
Centro e Sul;
Flora exótica: flora introduzida, invasora ou não, podendo dominar a
paisagem. Não entra em linha de conta na flora biogeográfica, apenas interessam as espécies nativas.

Elementos Boreo-Alpino: vestígios da fuga à migração;


Elementos Sub-Tropicais: quando existia Laurissilva o clima tornou-se desfavorável
resistindo apenas algumas espécies;

b)Vegetação floreal climatófila: distribuição das espécies dominantes:

Clima Mediterrânico Temperado Clima Seco


Clima Chuvoso

 A transição no clima chuvoso caracteriza-se pela existência de folhas marcescentes


(intermédias entre caducifólia e perenifólia). Têm em comum com a perenifólia o facto de
terem folhas na estação desfavorável, fotossinteticamente activas ou não, e têm em comum
com as caducifólias o facto de removerem toda a folhagem.
 Há espécies com características temperadas e distribuição mediterrânica, (Quercus); arvores
mais características de zonas de montanha (Betula); espécies com distribuição muito
específica, na transição entre o noroeste e o restante território, climas mediterrâneos
chuvosos (também Quercus).

3.Vegetação e Biogeografia
(Apenas inclui vegetação natural e
alguma semi- natural)

Diversidade: Naturalidade:

41
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Diversidade: Dinâmica: serial, não-serial, biótopos particulares. É utilizada pela biogeografia em


espécies sujeitas à sucessão ecológica. É vantajoso utilizá-la para desenhos pois estas espécies
surgem em todo o território facilitando a visualização da alteração das condições.

Diversidade: Carácter Catenal: a biogeografia da vegetação utiliza vegetação natural e semi-natural,


serial (ecossistemas relacionados com a sucessão ecológica) e climatófilo (zonas do meio da
encosta).

Grandes tipos eco-fisionómicos:


42
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

1.Florestas
2.Matagais
3.Matas
4.Prados Vivazes e Prados Anuais (Terófitas

Complexos de vegetação: mosaicos e padrões

Existem 2 cortes que resultam em informações diferentes:

Franco: permite distinguir 3 grandes zonas: Norte, Centro e Sul. Diferencia-as por espécies que
permite distinguir diferentes territórios, o território é mapeado através de linhas de precipitação ou
através da geologia do mesmo.

Costa: é mais representativa da biogeografia portuguesa. Baseia-se na distribuição da vegetação, das


florestas naturais dominadas por carvalhos, etc. Na ausência dos tipos eco-fisionómicos utiliza a
vegetação tal como descrita pela fitossociologia.

4.Tipologias Biogeográficas

5.
Aqui
BIOGEOGRAFIA MARINHA
A geografia funciona com a latitude e a longitude, está preparada para um meio
bidimensional. Mas o mar é um meio tridimensional, tem também profundidade. Outro problema é
não haver tanta informação sobre o meio marinho comparada à existente no meio terrestre. Mas os
seus objectivos são iguais.

Para compreender a biogeografia marinha é preciso perceber o que influencia a distribuição


das espécies, quais os padrões dessa distribuição de abundância, quais os padrões da distribuição
das espécies e como é que a distribuição de uma espécie varia em relação a outra.

O que influencia a distribuição de espécies Marinhas?

Produtividade = nº de organismos

Ambiente regional: Temperatura e Luz


Ambiente local: Salinidade e Tempo, Predadores/Competidores/Alimento, Distância dos
progenitores/ Sucesso Reprodutivo, Profundidade

Será o movimento de placas importante?

Sim, porque o Oceano está todo ligado.

O que determina a temperatura nos oceanos?

43
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Energia solar: Radiação e Duração do Dia


Profundidades
Correntes

O que determina a luminosidade nos oceanos?

Energia solar: Radiação e Duração do Dia


Profundidades
Condições atmosféricas
Limpidez da água

A energia solar distribui-se de acordo com a profundidade. Não há arrefecimentos tão


bruscos no mar como em terra. As correntes podem ser quentes ou frias e têm um grande impacto
na temperatura da água do mar tendo impacto no clima terrestre também. A limpidez da água é
muito diferente entre águas costeiras, turvas, e águas oceânicas que é muito mais calma e
transparente.
A distribuição das espécies reflectirá a distribuição da temperatura e luz. Estes gradientes
ambientais determinam a “área de distribuição das espécies”. Dentro da “área de distribuição da
espécie” as condições locais determinam se a espécie ocorre ou não.
O clima oceânico depende da profundidade (batimetria), das correntes, da temperatura
superficial, dos ventos e das ondas.

Hipóteses para a biogeografia dos oceanos

Testa se a temperatura e a luz são factores importantes para explicar os padrões que
observamos de biodiversidade. E estes 2 factores geralmente determinam o território em que a
espécie está presente. Muitas vezes há modelações de existência de espécie que tentam explicar a
sua distribuição a nível global.

Zonas oceânicas

Características a ter em consideração para a Biogeografia Marinha

Batimetria Oceânica

Mapa em que o vermelho é os 0 m e o azul até aos 11 000 m para termos uma ideia das
profundidades do oceano.

44
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Regiões Pelágicas formam regiões biogeográficas?

Velocidade dos ventos superficiais

Importante para explicar a distribuição dos organismos


de superfície que podem ser transportados pelas massas de ar.

Altura das Ondas

Correntes Oceânicas

 Estes 3 últimos factores influenciam muito a T e portanto a distribuição.

Temperatura média anual superficial

Segue um padrão semelhante ao terrestre tendo a mesma explicação, a radiação solar. Mas
há anomalias, temperaturas baixas onde deveria ser alta, por fenómenos de correntes ou upwelling
que trás água do fundo à superfície.
Varia ao longo dos anos, como o fenómeno do El Niño.
Para observar padrões biogeográficos recorre-se a mapas e gradientes com latitude,
longitude e profundidade. Estes gradientes são tipicamente representados como riqueza de espécies
contra uma variável ambiental.

Biomassa de fitoplâncton no verão (do Hemisfério Norte)

45
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Mostra que a produtividade não está dependente da T, pensava-se que quanto mais frio
menos produtivo. Mas basta alguma temperatura e nutrientes para haver produtividade. Mesmo nos
pólos há uma enorme produtividade.

Temperaturas Tropicais e Temperadas

A Tmédia anual é a mesma para 25º de latitude


em ambos os lados do equador.
Acima de 25º de latitude a Tmédia anual cai
rapidamente.

Florestas de Kelp e Recifes de Coral

Os recifes de coral formam habitats 3D para outros organismos, são muito importantes a
nível local para explicar a riqueza específica e a presença ou não de determinadas espécies.

Mangais e Sapais

Os habitats costeiros são os mais parecidos com os terrestres porque as espécies que ai
habitam são bênticas, podemos quase tratá-los de igual forma. Distribuem-se de uma forma definida.

Regiões Marinhas existentes

1.Longhurst pelágica: produtividade I, análise de produção de fitoplâncton, têm pouca


representação da parte biológica ou bêntica. São definidas por características físico-químicas e
representam ecossistemas e não regiões biogeográficas.

2.Large Marine Ecossistem (LME): com base em dados costeiros mas não abrangendo todas as
costas, divisão centrada em interesses de gestão e utilização; tem uma base biológica mas foram
feitos com objectivos de utilização económica sendo que se basearam em estudos políticos e
económicos.

3.Ecorregiões marinhas do mundo (MEOW): global mas apenas costeiro; 12 reinos (realms),
grandes regiões definidas pelos biotas que têm (pelágicas e costeiras), 232 ecoregiões e 62
províncias, inclui os LME, ZEE (zonas económicas exclusivas) e outras.

46
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

4.Glocal Open Oceans and Deep Sea-habitats bioregional classification (GOODS): divisão por
camadas, profundidade; classificação da UNESCO, define regiões pelágicas de oceanos profundos.
Define as regiões abissais e os hadais.

5.FAO areas: global, para pescas, questões políticas; regiões pelágicas de longhurst's definidas por
características físico-químicas, representam ecossistemas e não regiões biogeográficas, não são
definidas pela parte bêntica ou biológica.

6.ICES areas: regionais, pescas, apenas para o Atlântico Norte.

7.Geográfica (Seas and Oceans): global.

8.Política (Zonas Económicas Exclusivas): global se as zonas não ZEE forem incluídas, não é uma
divisão ecológica nem biológica.

O que fazer para resolver a questão das regiões biogeográficas no oceano?

Para avançar é preciso mais dados na distribuição de espécies e seus respectivos padrões.
A produtividade pelágica pode ser detectada por satélite por exemplo, os blooms de algas.
Existem vários métodos para obtém estes tipos de informação

OBIS (ocean biogrographic information sistmem): compila e analisa dados de informação


biogeográfica e consegue fazer análises para alguns grupos de espécies e regiões.

Sínteses Globais: dados históricos, SEAMAP.

Sínteses Regionais: Atlântico NE (ArticSSM, Kiel Bay, MacroBel, MedOBIS, Schel Estuary, etc.) e
Atântico NW (ACCD, SE USA, EAISSNA, etc)

Por Grupos taxonómicos: mamíferos, répteis, aves, que são relativamente fáceis de observar.

Por Habitats: síntese de habitats globais, seamounts online.

Por profundidade: temos informação até 100m, entre 100 e 1000 temos pouca e a mais de 1000 m
de profundidade não há praticamente nada.

 Estes 3 últimos permitem obter uma biogeografia mais fina.

Riqueza específica baseada em amostras: baseada em mais de 65 000 espécies do OBIS de todos os
47
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

taxa.

Riqueza de espécies com áreas de distribuição: baseada em modelos preditivos de mais de 10 000
mapas individuais de peixes e outros vertebrados marinhos, cerca de 2000 invertebrados e algumas
algas.

Riqueza específica/ Latitude: apesar de a produtividade não ser dependente da latitude, o número de
espécies parece ser. As variações são consideráveis, há mais espécies nos trópicos e menos espécies
no Ártico. Analisando por grupos de organismos, a baixas latitudes há maior número de espécies.

Riqueza específica/Profundidade: a riqueza específica aumenta com a profundidade dependendo da


zona mas até aos 2000 m e depois decresce. Há uma relação entre a riqueza específica e abundância.
Ao nível da profundidade analisamos o número de indivíduos, a biomassa total e a biomassa por
indivíduo. Profundidade: O nº de indivíduos decai rapidamente nos primeiros kms e começa a
aumentar até aos 2000m. A biomassa dos indivíduos tende também a aumentar com a profundidade.
O nº de espécies e sua variação com a profundidade varia dependendo da espécie.

Riqueza específica/Abundância: quanto mais espécies maior riqueza específica, maior número de
organismos. Parecem estar relacionadas.

Biogeografia dos Oceanos

Já há padrões reconhecíveis de distribuição. Há já alguns sistemas biogeográficos, não muito


biológicos alguns. Mas não há nenhum sistema completamente global, que abranja todo o oceano e
todas as profundidades. A informação marinha é ainda muito escassa quando comparada com a
terrestre.

BIODIVERSIDADE E BEM-ESTAR HUMANO


(Biodiversidade e funcionamento dos ecossistemas)

Biodiversidade: variabilidade entre organismos vivos, incluindo variabilidade genética, espécies e


ecossistemas. Diversidade de espécies, diversidade dentro de cada espécie. Acima da espécie
também há diversidade, nos ecossistemas. São os 3 níveis importantes, espécies, dentro das espécies
e acima das espécies.

+1.7 Milhões de espécies com nome, +1 250 000 terrestres e +250 000 marinhas.
Estimam-se uns 12 milhões de espécies

Diversidade genética: variabilidade ou diversidade genética dentro das populações das espécies.

Diversidade específica: abundância de espécies numa área. Ter mais espécies não quer dizer que o
ecossistema funcione bem ou mal.

Diversidade de ecossistemas e habitats: os ecossistemas incluem combinações únicas de espécies


diferentes com características físicas e químicas do habitat que definem uma zona particular. Os
ecossistemas são uma unidade diversa.

Geração da Biodiversidade
48
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Porque temos tantas espécies? Obra da evolução, mutações que passaram para as gerações seguintes.

O que está a acontecer à Biodiversidade

Estamos a perder biodiversidade a taxas sem precedente no passado histórico.


Já se fala numa 6ª extinção em massa.

A biodiversidade não está a diminuir de igual forma em todo o lado.

As causas mais associadas são a desflorestação, mudanças climáticas, espécies invasoras e


poluição de vários tipos.

49
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Porque é que isto é um problema?

1º Argumento: Valor estético, ético, necessidade dos bens e serviços dos ecossistemas. Valorização
económica destes bens e serviços, conservação de parques e espécies.

Bens que usamos diretamente: agricultura, pescas, produção animal, produtos cosméticos e
farmacêuticos, produtos medicinais, enzimas e produtos industriais. Os bens são utilizados na
alimentação e na indústria.
Serviços dos ecossistemas: reciclagem de nutrientes, produção de oxigénio, remoção de dióxido de
carbono, combate à erosão, estabilização de T, manutenção do ciclo da água, polinização e
dispersão de sementes, desintoxicação e despoluição e alimentação dos animais que comemos.

Ecossystem Services (TEEB 2010): estudo em “the economics of ecossistms and biodiversity”,
refere aa necessidade que temos da biodiversidade e para quê especificamente.

A falta de biodiversidade tem impacto socio-económico que por vezes tem de ser
compensado pela mão humana.
É preciso pensar se será ético extinguir para sempre organismos vivos mesmo que não
tenham valor para nós e ter noção da propriedade e dos direitos das gerações futuras. Os valores
éticos e culturais baseiam-se muitas vezes na beleza das plantas e animais, na beleza paisagística e
na identificação cultural.

O Bem estar humano depende da biodiversidade

MEA – lançamento de livros que advertem para a perda de biodiversidade no mundo:

50
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Foi um estudo que demonstrou qual a ligação entre a biodiversidade e o bem estar da
humanidade. Para obter os serviços temos de ter os ecossistemas a trabalhar, hoje já não se fala em
bens, apenas em serviços.

51
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Para o bem estar humano é preciso biodiversidade, o funcionamento correto dos


ecossistemas ((BEF), os serviços e bens dos mesmos (BES) pois têm valor económico também.

O que é o funcionamento dos ecossistemas?

Processos dos ecossistemas: produção primária e secundária, sequestração e recirculação de


carbono, transferência trófica, resistência, resiliência.

Para um ecossistema funcionar bem não deve haver equilíbrios e temos de medir as funções
também.

Nascimento de um novo Paradigma

Papel da biodiversidade no funcionamento dos ecossistemas

Como estudar o impacto da biodiversidade no funcionamento dos ecossistemas? Através da


52
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

biodiversidade específica, genética e de microorganismos.

Experiências em Cedar Creek: nas primeiras experiências variou-se o número de espécies de


plantas herbáceas e manipularam-se as comunidades para terem número diferente de espécies e
foram-se medindo características como a produção de biomassa, O2, redução de CO2, resistência à
seca, etc.

A experiência demonstrou que um aumento da biodiversidade levava a um aumento da


produtividade e que a utilização do nitrato era mais eficiente com maior diversidade.. Mas porquê?

Uma maior diversidade de espécies leva a um melhor uso dos recursos disponíveis. Em
alguns casos podemos atribuir o resultado ao efeito de amostragem ou à existência de uma espécie
dominante. Mas será que a nossa agricultura/produção animal tem sido feita segundo este princípio?

Experiência de BIODEPTH: Biodiversity and Ecological Processes in Terrestrial Herbaceous


Ecosystems: uma experiência a nível continental

Desenho Experimental: cada ecossistema tem a mesma densidade, o mesmo nº de indivíduos por
área. As plantas herbáceas são de tamanho semelhante e com funções idênticas. Os terrenos diferem
na riqueza específica, nº de espécies, mas têm condições ambientais idênticas sendo medidos os
processos dos ecossistemas.

53
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Diferenciação de Nicho

Há uma complementariedade do uso de recursos.

Em geral, o aumento da riqueza específica de um ecossistema leva ao aumento da


produtividade por mecanismos de complementariedade de utilização de recursos.
Há espécies que têm um efeito desproporcionado – espécies chave – e a sua perda leva a
uma perda desproporcionada de funcionamento em relação a perdas da espécie “média”.

A investigação pode ser feita a nível de observações, experimentação ou modelização.

BIOFUSE: efeitos da biodiversidade no funcionamento e estabilidade dos ecossistemas marinhos à


escala europeia. Pretende quantificar a estabilidade em comunidades naturalmente diferentes,
observar ao longo do tempo para ver se há maior estabilidade na composição de comunidades que
são mais diversas e manipular experimentalmente as comunidades bentónicas. Tem como objectivo
comum um estudo observacional que tem em conta várias amostras de um mesmo local. Tenta
descobrir também o papel de espécies estruturalmente dominantes na resposta a distúrbios
provocados (em termos de estrutura das comunidades, estabilidade e funcionamento dos
ecossistemas).

54
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

“SIMPLE” EXPERIMENT – DESIGN: respostas funcionais, avalia a estabilidade estrutural e a


produtividade.

Hipótese de mecanismos envolvidos em experiências de biodiversidade usando comunidades


sintéticas

55
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

ALTERAÇÕES GLOBAIS: ALTERAÇÃO CLIMÁTICA E INVASÕES

O clima, a alteração da T provocando acidificação, o aumento do CO2, mais tempestades,


alteração do sistema de chuvas, as espécies exóticas invasoras (são diferentes de sítio para sítio, não
é tão global como o clima mas atinge uma dimensão relevante em todo o mundo).
Em combinação estes 2 últimos factores são das causas principais de perda de
biodiversidade.

Alterações Globais: Ocupação da Terra

Estas alterações atacam a nível global destruindo habitats de outras espécies. Há uma
alteração profunda dos ecossistemas. Estas alterações são a principal razão para a perda de
biodiversidade.
A perda de habitat é hoje a causa nº1 de perda de biodiversidade.

Perturbações no Meio Terrestre

Químicas: sinergias com efeitos de nutrientes e poluentes;


Físicas: aumento da T, aumento das tempestades e inundações, diminuição da humidade;
Biológica: mudanças na composição, estrutura e funcionamento dos ecossistemas;

→ A humidade é um factor que explica a distribuição dos seres vivos terrestres. E não está a
diminuir mas sim a ter variações cada vez maiores.

Perturbações no Meio Marinho

Químicas: mudanças de pH, sinergias com efeitos de nutrientes e poluentes;


Físicas: aumento da T, aumento das tempestades e aumento do nível do mar;
Biológicas: mudanças na composição, estrutura e funcionamento dos ecossistemas;

Alterações climáticas

Ouve-se falar em aquecimento global porque em média há um aquecimento mas tem muitos
outros efeitos. São perturbações a grande escada temporal e espacial provocando muitas outras
perturbações locais diferentes. O aumento da temperatura não é linear, há redução/desaparecimento
de gelo/neve, a água do mar sobe, há secas/chuvas intensas, mudanças de correntes/upwelling,
aumento de tempestades na frequência e intensidade e aumento de CO2 atmosférico que acidifica os
oceanos.

56
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Comparação entre modelos e observações de temperatura sede 1850

A cinza é o que deveríamos observar se tivéssemos só a oscilação da T devido a causas


naturais (a), ou só a causas antropogénicas (b), ou de ambas (c). A vermelho é o que realmente
observamos.
Durante algum tempo há uma similaridade mas nos últimos anos deixou de ser assim.

O CO2, a T e o nível do mar continuam a aumentar mesmo depois das emissões serem
reduzidas.

Impactos e Opções para Acção

Não se pode reverter de um dia para o outro o que estamos a fazer. Mas devemos reduzir as
emissões, tentar não piorar. Fazer esforços para adaptação às mudanças que serão inevitáveis. Para
proteger os ecossistemas temos de reduzir as outras pressões a que os sobrepomos, a sobre-
exploração dos seus habitats e deles mesmos.
Não está previsto que os ecossistemas migrem para sítios em que as condições ambientais
57
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

são mais favoráveis. E se não deixarmos um espaço para eles se adaptarem eles não aguentam a
pressão.

Sinais evidentes do aumento da T:

Degelo dos Glaciares: o gelo, milenar, está a derreter. Prevê-se que até ao fim do século não haverá
gelo fixo, o que vai alterar as correntes marinhas, fazer desaparecer o habitat de muitos organismos.
Se medirmos o nº de espécies no Ártico vemos que está a aumentar. Aumenta a nível local mas a
nível global diminui. As cadeias alimentares estão instáveis aqui, não quer dizer que por ser grande
seja estável.

Consequências/ Efeitos para os Ecossistemas

Efeitos já detectados em populações de ursos polares e outros mamíferos terrestres que


necessitam do gelo para caçar e para se deslocarem. Muitos outros impactos detectados têm maior
relação com as diferenças de temperatura. A luz no oceano muda significativamente afectando o
fitoplâncton, aumentando a temperatura superficial dos oceanos, há libertação de CO2 na Tundra,
há subida do nível do mar, não só pelo degelo mas também pelo aumento da temperatura que leva à
sua expansão. Afecta especialmente os ecossistemas costeiros terrestres e marinhos. Nos terrestres
tem o efeito do sal e água e nos marinhos há um aumento da profundidade da luz e os ecossistemas
intertidais serão inundados. Se houver espaço disponível pensa-se que alguns deles poderão migrar
para outro local.

Impactos

Mudanças de espécies (migração), alterações dos ciclos de vida, desincronização de


interacções (presa/predador – ciclos reprodutivos), produtividade, extinções e alterações do
funcionamento.
Mudanças na composição específica por arrastos experimentais feitos todos os anos há
vários anos, em que se detecta alteração das espécies e menos espécies grandes. Há um decréscimo
da produtividade da pesca.
As zonas de intertidal são boas para estudar estes impactos, há mudanças na distribuição de
espécies intertidais, o seu limite tende a expandir-se.

Alterações de épocas de crescimento: floração mais cedo, alteração dos ciclos de vida podem levar
à extinção quando não têm alimento quando necessário.

Ecossistemas de Montanha: os ecossistemas começam a migrar cada vez mais para elevadas
altitudes. Os ecossistemas de altitude sao os principais em risco por causa das alterações climáticas.

Sobrevivência das Aves: aumento da sobrevivência das aves pelas medidas humanas. Na Europa,
neste momento, não parecem sofrer consequências negativas. Havia altas mortalidades de algumas
espécies durante o Inverno, com o aumento da T resistem mais.

Descargas dos rios: os rios têm uma dinâmica diferente da habitual mudando a biodiversidade dos
rios, das que está mais ameaçada, e afecta a parte marinha quando os rios descarregam no mar. Isto
tem impacto especialmente nos ecossistemas aquáticos nos rios e zonas costeiras. Maior pluma de
água doce e rica em nutrientes. No mar há um aumento de produtividade e no rio, com as alterações
de T haverá mais oxigenação. Há diminuição da T, oxigenação e habitats.
58
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Ondas de calor: mortes devido a elevadas T, ondas de calor.

Doenças: provocadas por carraças por exemplos, têm aumentado acredita-se devido ao aumento da
T.

As alterações climáticas têm efeito nas espécies, nos ecossistemas, nas comunidades, a nível
global. E actuam sinergicamente com outras alterações ambientais (espécies exóticas, poluição,
perda de habitat)

Impactos das Alterações Climáticas nas espécies: Dependem directamente da capacidade de


adaptação e migrarão de cada espécie e indirectamente do funcionamento dos ecossistemas.

Impactos das AC nos ecossistemas: Depende do impacto nas espécies. Descincronização das
interacções entre espécies, aparecimento de novas espécies, perda de espécies, mudanças de ciclos
de vida/crescimento. Não há normalmente migração conjunta.

Impactos das AC globalmente: Perda de biodiversidade, produtividade, serviços dos ecossistemas.


Não há uma tendência igual para todos os ecossistemas/regiões. Globalmente parece haver perda de
diversidade, perda de produtividade e serviços. Há algumas espécies que achamos não terem
problemas porque vão continuar a conseguir adaptar-se mas há muitas espécies que não sabemos se
vão conseguir adaptar-se ou não.

Perdas económicas

Os acontecimentos catastróficos de origem natural e as perdas nos produtos e serviços dos


ecossistemas resultam já em grandes prejuízos económicos.

Mudanças serão necessariamente um mal?

- Depende da intensidade e velocidade: ainda não sao conhecidas completamente e terao alguns
efeitos difíceis de contrariar;
- Depende da capacidade de adaptação: das comunidades humanas, especialmente as costeiras,
ordenamento do território e das actividades. E da capacidade de adaptação das comunidades
naturais, potencial próprio de adaptação, podem ser ajudadas com medidas apropriadas.

Espécies invasoras

Espécies exóticas, não nativas, introduzidas num determinado ecossistema. São muitas vezes
introduzidas voluntariamente para produção, ornamentação, como animais de estimação, para acção
ambiental. Ou podem ser introduzidas acidentalmente, vêm em cascos de navios e águas de lastro,
canais, aviões, carros, junto com organismos para a agricultura, aquacultura e floresta. Podem não
se estabelecer ou estabelecer-se sem causar problemas, ou ainda demorar anos a revelarem-se
invasoras.

Invasão Biológica: aumento não controlado do nº de indivíduos de uma espécie, atingindo,


localmente, densidades populacionais muito elevadas e afectando negativamente o biota nativo.

59
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Características gerais das espécies invasoras

Não há características que sejam aplicadas a todas. Mas as gerais serão a boa capacidade de
dispersão, a boa produção de propágulos/juvenis, a resistência a condições adversas e serem boas
competidoras (podem não ser no seu habitat natural mas tornam-se boas quando estão longe dos
seus inimigos naturais).

Mecanismos de invasão

O isolamento criado pelas barreiras biogeográficas levou à especiação e à criação de áreas


com condições ambientais distintas, ficando as espécies limitadas a regiões definidas, consoante a
sua amplitude ecológica.
A intervenção humana está a causar a destruição de muitas barreiras biogeográficas que
limitam a dispersão das espécies e levam à conectividade artificial que leva à dispersão. A acção
humana disponibiliza assim mecanismos de dispersão artificial

Fases de invasão

Das que chegam só uma pequena parte se estabelece e algumas têm um crescimento fora do
normal aumentando muito a sua biomassa causando problemas ao ecossistema. Em muitos cenários
a espécie reduz o seu efectivo a níveis não problemáticos.

Como explicamos a variação c)? Entretanto há uma interacção que se estabelece, predador, um
parasita.

Susceptibilidade dos ecossistemas à invasão

Não é conhecida à priori. Ecossistemas mais pobres em nº de espécie podem ser ou não mais
susceptíveis. Os ecossistemas mais degradados e mais isolados são normalmente mais susceptíveis.
A investigação está em curso. As espécies agrícolas dependem de nós. Mas há outras espécies que
introduzimos nos jardins por exemplo, e que podem alastrar-se para todo o lado. Temos também
60
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

cada vez mais espécies exóticas como animais de estimação. Algo problemático é não sabermos
quais os ecossistemas mais susceptíveis.

Consequências das invasões

Consequências ecológicas de perda de biodiversidade e alteração do funcionamento dos


ecossistemas. As invasões biológicas, em particular por espécies exóticas, são reconhecidas como
uma das maiores causas de perda de biodiversidade, alterando estrutural e funcionalmente os
ecossistemas. Têm também muitas vezes graves consequências ao nível económico e social: perda
de espécies com valor económico, perda de actividades económicas. Podem representar também um
risco para a saúde humana, para os sistemas produtores de alimentos e de fornecimento de água.
Este problema é também considerado como um dos principais componentes das alterações globais,
ocorrendo a um ritmo crescente em todo o mundo.

Propostas a nível Europeu: mecanismos de alerta e resposta rápida coordenado a nível Europeu.
Responsabilidade dos estados membros.

Serviço de Alerta e Resposta Rápida: formado em parte pelos países membros e comissão
europeia para alertar quando há introdução de uma nova espécie. Cria bases de dados que permitem
saber que algo foi introduzido perto de nós e pode chegar aqui e causar os mesmos problemas.

Erradicação:

A erradicação só é possível em espécies cuja introdução é detectada a tempo (fases iniciais)


mas tem custos incomportáveis. Deve ser feita monitorização de forma a detectar qualquer
recuperação. O conhecimento da susceptibilidade de diferentes áreas à invasão, o ritmo de dispersão
das espécies exóticas e o papel dessas espécies em área perturbadas, e não perturbadas são atributos
cujo conhecimento é essencial para a adopção de medidas coerentes e eficazes de gestão dessas
áreas. A investigação é também essencial.

61
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Controlo

Quando a erradicação já não é uma opção (espécies demasiado disseminada) faz-se um


controlo normalmente em áreas prioritárias, é um processo contínuo.
Metodologias: remoção mecânica, luta química, luta biológica – introduzir um predador.
Isto comporta grandes riscos e requer muita investigação.

Acção: Controlo Biológico: introdução de organismos para controle da espécie invasora. Algumas
destas experiências foram catastróficas, mesmo tentando arranjar organismos específicos para a
espécie a erradicar, acabam por se expandir demasiado.

Experiências em Portugal: proposta para controlo de Acacia. Já foi feita muita investigação na
África do Sul com insectos mas até hoje ainda não conseguiram autorização.

PROCESSOS LOCAIS DE ALTERAÇÃO AMBIENTAL E ECOLÓGICA


Respostas da biodiversidade e impactos ecológicos

As espécies invasoras são consideradas globalmente devido às trocas comerciais (espécies


invasoras) por todos os continentes (Austrália  Europa  América).

Os processos locais como o uso dos solos e construção de infra-estruturas transformam a


paisagem local. É importante estudar estas alterações para preservar as espécies e os ecossistemas
para tentar preservar os serviços dos ecossistemas. Para o ecossistema prestar certo serviço tem de
estar a funcionar bem.

A biodiversidade influencia os processos ecológicos e a provisão de serviços do ecossistema

A maioria dos processos ecológicos estão dependentes da biodiversidade, que é proporcional


aos serviços, o aumento da biodiversidade aumento os serviços.

62
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

A distribuição da biodiversidade é condicionada por uma grande variedade de factores

A distribuição da biodiversidade é uma entidade dinâmica. É necessário entender os padrões


de distribuição da diversidade que está dependente de factores bióticos e abióticos. Para
anteciparmos o efeito das mudanças ambientais nos serviços temos de relacioná-las com a
biodiversidade, que espécies temos e com que abundância em cada ecossistema.

Esses factores podem actuar em múltiplas escalas relevantes para os processos ecológicos

Os factores actuam em múltiplas escalas, interacções bióticas perdem importância à escala


global sendo a distribuição explicada pelos factores abióticos (considerados da escala global até ao
nível da paisagem). À medida que aprofundamos escalas vamos adicionando o contributo dos
factores que contribuem para a distribuição a essa escala, até à microescala (< 10cm, aula prática).

Os ecossistemas e a biodiversidade estão sujeitos a diversos tipos de alterações ambientais

Modelo ecológico: modelo que traduz a relação entre a distribuição da espécies e as condições
ambientais (abundância da espécie X x temperatura, condições do solo, etc). A partir de um
conjunto de vários pontos de observação (presentes e ausentes) podemos prever a distribuição do
resto do território se ocorrerem aumentos de temperatura e evitar que isso aconteça para manter o
63
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

ecossistema equilibrado. Se tivermos variações topográficas não haverá grande alteração a nível do
microclima.

Os registos fósseis revelam que a biodiversidade responde às alterações ambientais

Há evidências das consequências das alterações ambientais nas comunidades provenientes


do registo fóssil. Há uma alteração da distribuição das espécies com alteração das condições
ambientais. Há extinção em certos locais e colonização em outros.

As alterações ambientais locais resultam em larga medida da acção humana sobre a paisagem

Se transformarmos uma floresta num campo agrícola vão haver alterações na biodiversidade.
Quando construídos uma barragem há destruição dos ecossistemas que ficam debaixo de água.
Todas as transformações do uso do solo modificam a paisagem e a sua ecologia modificando
a sua biodiversidade.

As mudanças dos usos do solo e da estrutura da paisagem são importantes alterações locais

Estas alterações podem ser abruptas ou não. A conversão consiste em trocar o uso (cortar
uma floresta para passar a ser um campo agrícola), alteração da intensidade do uso - de
extensificação (passa para menor uso, como a substituição de um campo agrícola por um pomar) ou
intensificação (passa para maior uso, como a agricultura intensiva).

Intensificação e Extensificação: necessária visita local ao terreno


Conversão: mais fácil de identificar através de fotografia da zona e carta. Podemos analisar as cartas
a diferentes alturas num mesmo local e ver as diferenças

Estas mudanças podem ser estudadas a partir de séries temporais de ocupação do solo.

A biodiversidade responde a modificações nos usos do solo e na estrutura da paisagem

Trabalho: compreender a distribuição dos chimpanzés numa área homogénea


O modelo permite identificar as áreas melhores e piores para os chimpanzés ocuparem

Quanto mais diverso é o ecossistema melhor o seu funcionamento, por isso temos de estudar
e modelar várias espécies e ter em conta características funcionais.

64
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Essas respostas podem ser específicas de grupos taxonómicos ou funcionais de organismos

Este esquema ilustra a forma como uma espécie reage ao stress ambiental, competição e/ou
perturbações. As perturbações e os seus padrões espácio-temporais influenciam também a
biodiversidade.

Factores de stress: condicionam a capacidade de reprodução


Perturbações: destroem a biomassa existente (Ex: incêndios)
Competição

Os diferentes locais são classificados conforme têm elevado ou baixo nível de competição,
stress ou perturbação. Locais com menos competição têm mais stress.

As invasões biológicas (por espécies exóticas) são outro importante factor de alteração

Estas espécies ocupam espaços livres pois não têm espécies a crescer com este tipo de porte.
Levam à alteração as condições de sombra, deposição de nutrientes no solo, etc. A invasão depende
da espécie invasora, das suas características intrínsecas que vão determina o seu potencial invasor.
O próprio sistema pode ser também mais ou menos propício a invasão de acordo com as suas
características específicas como a estrutura da vegetação, necessidade de luz, grau de saturação da
comunidade, regime de perturbação. Nestes casos a fragmentação é positiva pois a probabilidade do
encontro das espécies invasoras é menor.

Alterações em zonas Costeiras provocam modificações nos seus ecossistemas

Na costa há um elevado stress ambiental, todos os gradientes ambientais têm elevada


influência sendo perpendiculares à linha de costa. Aqui há factores importantes como a salinidade, a
competição e a quantidade de nutrientes.

Quando o sistema entra em ruptura há perda de espécies havendo uma mistura das mesmas
em diferentes locas  turnover utilizado como medida de estabilidade (é maior em situações
65
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

estáveis).
Um perfil de erosão é mais curto que um perfil de estabilidade, o β é utilizado para calcular
a erosão e a biodiversidade para prever as condições.

Erosão Costeira

Direccionalidade

SERVIÇOS DE ECOSSISTEMAS

– Conceito de diversidade
– Factores determinantes da provisão de serviços de ecossistemas
– Os serviços de ecossistema na paisagem

Ipbes: intergovernmental platform on biodiversity and ecosystem services – agrega decisores e


investigadores procurando aproximá-los e aliar as decisões politicas ao conhecimento científico.

Serviços de Ecossistemas (SE)

Chamam-se serviços de ecossistemas para o bem-estar humano. Define o conjunto de


mecanismos através dos quais extraímos benefícios a partir do funcionamento dos ecossistemas,
funcionamento que é largamente mediado pela biodiversidade e por isso é lógico estabelecer a
relação entre a biodiversidade e o serviço do ecossistema. Mas isto não é linear, há um conjunto de
processos ecológicos mediados pela biodiversidade que permitem serviços diferentes.
Aqui entra então o conceito de bem-estar humano, que tem de ser o mais concretizado
possível. Definiram-se então 5 dimensões do bem-estar humano: segurança, materiais básicos para a
sobrevivência com qualidade, saúde, boas relações sociais e liberdade de escolha e acção.

66
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Diversidade de SE (MEA)

Aqui desenvolveu-se esta obra, obra do milénio, que juntou várias equipas de investigação
do mundo para avaliar aquilo que os ecossistemas davam à vida humana que permitia o seu bem-
estar.
→ Estamos a usar um conceito de ecossistema que é o mais geral, o mais abrangente que se pode
usar.

Serviços de ecossistemas:

Serviços de Produção: produtos/bens de consumo obtidos a partir dos ecossistemas

– Alimento, vestuário (fibras), combustíveis, recursos genéticos, água potável, medicamentos,


recursos ornamentais, etc

Serviços de Regulação: benefícios “intangíveis” (em geral sem valor no mercado) resultantes dos
processos dos ecossistemas e intimamente associados à gestão de riscos naturais

– regulação climática, manutenção da qualidade do ar, regulação hidrológica e controlo da


erosão, purificação da água e reciclagem de resíduos, controlo das doenças humanas, controlo
biológico (pragas das culturas e doenças dos animais), polinização (nomeadamente das culturas
agrícolas), mitigação dos efeitos de tempestades e outras catástrofes naturias, etc.

Serviços Culturais (ou de informação): benefícios directos imateriais, ainda que por vezes com
valor de mercado, resultantes do contacto com os ecossistemas

– Diversidade cultural e de sistema de conhecimento, valores espirituais e religiosos, ciência e


educação, valores estéticos e inspiração, valores patrimoniais culturais, turismo, lazer e recriação,
etc.

67
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Serviços de Suporte: serviços fundamentais para a provisão de todos os restantes serviços, com
impactos indirectos (ou ocorrendo a longo prazo) sobre os seres humanos

– Formação do solo, produção primária, reciclagem de água e nutrientes, produção de


oxigénio atmosférico, fornecimento de habitat para a flora e fauna, etc

A “cascata” de provisão dos SE

Aplicação de políticas de conservação da Natureza. Os serviços devem gerar benefícios


directos, as funções não, estão na base dos serviços. O serviço resulta de um encontro entre uma
oferta e uma procura, dimensão económica, (quantificação económica de ecossistemas – TEEB).
Chama-se cascata porque há um fluxo direccional. Se a oferta dos serviços, que vêm da esquerda,
for demasiado grande, o seu valor económico diminui. Se o potencial estiver lá mas não for
explorado, não ocorre, não tem valor. Se a procura for maior que a oferta pode levar a sobre-
exploração.

Determinantes da provisão de SE

Ecossistemas diferentes podem prestar um mesmo serviço e vice-versa. Gerir a previsão de


serviços de ecossistemas é a gestão de recursos naturais, das suas características. O objectivo pode
ser favorecer um determinado serviços. Se não for esse podem evidenciar-se vários serviços.
Há factores que influenciam o serviço de um ecossistema:

Tipo de ecossistema: floresta vs espaços abertos, por exemplo. Têm diferentes serviços e diferentes
valores económicos. Influenciam a passagem de seres vivos, as florestas providenciam muita
madeira, etc. Um dos ecossistemas é mais importante para um tipo de serviços e o outro para outros.

Estrutura da vegetação: dentro de cada ecossistema temos estruturas completamente diferentes.


68
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Podemos ver a estrutura horizontal, a capacidade de revestir o solo completamente. Mas também a
estrutura vertical, a nível da estratificação, dentro do espaço florestal podemos ter situações
complexas, com vários estratos, que podem fazer com que o somatório de cobetura de todas as
espécies ultrapassem os 200/300%. Isto influencia a água das chuvas que atinge o solo e a erosão do
mesmo.

Diversidade Funcional: para um mesmo tipo de ecossistema podemos ter niveis de diversidade
diferente e para um mesmo nivel de diversidade podemos ainda ter diferentes niveis de diversidade
funcional. Podemos ter 20 espécies de plantas, todas graminóides, e aqui a diversidade funcional é
baixa. Há uma relação direta que diz que ecossistemas mais diversos tendem a tratar os serviços que
providenciam de forma mais eficiente.

Composição e estrutura da paisagem: uma paisagem mais homogénea terá vários serviços a ser
desenvolvidos a uma taxa elevada e outros (geralmente os de regulação) que serão pobres. Esta
perda faz com que muitos serviços de regulação sejam perdidos porque está relacionada com a
transferência de energia na paisagem. Muitos serviços culturais serão também afectados, não há
uma relação directa aqui.

Perda de Serviços de Ecossistema

Aquilo a que as diversas avaliações têm chegado é que em diversos horizontes temporais há
claramente um conjunto de serviços que são promovidos, tanto em áreas geográficas maiores como
com mais intensidade, essencialmente serviços de produção. As nossas exigências crescentes em
termos de consumo e a população em crescimento levam à necessidade de mais áreas territoriais e
de mais serviços dos ecossistemas. Assim as conclusões são de que o aumento da nossa capacidade
de promover serviços de produção se traduzem numa perda de capacidade de serviços de regulação
e de serviços culturais. Prevê-se também que estes processos de degradação podem também ser
potenciados pelas alterações climáticas.
Estas perdas de serviços dos ecossistemas têm sido identificadas para o futuro tanto nos
campos agrícolas como outros ecossistemas que podem ainda vir a ser afetados. As zonas costeiras
têm recebido particular atenção porque são extremamente sensíveis e porque uma fracção cada vez
maior da população humana se concentra nestas áreas em todo o mundo.
Soma-se uma forte presença humana a uma elevada exploração, elevada pressão directa
sobre os ecossistemas aplicadas a nível local pela nossa presença de várias formas, perda de
capacidade dos SE e alterações climáticas.
Haverá fenómenos de degradação bastante intensos.

69
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Isto traduz uma pressão sobre o consumo dos serviços, exagerada, por parte dos
beneficiários dos SE, nós. Estes impactos produzem impactos adicionais sobre o nosso bem estar
humano como a nossa segurança. A resposta a estas alterações pode ser feita de duas formas:
através de uma adaptação directa dos nossos hábitos de consumo ou através de respostas de
natureza política que tentam mitigar os factores de pressão com determinadas estratégias e modelos.
Existem diversas formas de responder a estes impactos.

Existem diversos exemplos de alterações ambientais associados à perda de diversidade,


diversidade funcional e estrutural e perda de regulação dos processos ecológios e de prestação de
determinados serviços.

Ao nível de paisagem inicialmente mais diversas, produzimos paisagens mais homogéneas,


do ponto de vista do mercado mais simples para “vender” mas menos produtivas. Ao nivel da
actividade florestal potenciam-se determinados fenómenos de simplificação, como a repovoação,
diminuição dos incêndios. No caso das espécies invasoras, cujos impactos são um pouco diferentes
dependendo do tipo de espécie e ecossistema, a invasão terá diferentes impactos.

Os incêndios têm um impacto directo sobre os SE. Perde-se a capacidade de regulação mas
mais importante é afectada a capacidade intrínseca dos ecosssitemas de desempenharem os
processos ecológicos que lhes são intrínsecos, a produtividade primária, ficando a capacidade de
70
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

recuperação do ecossistema também comprometida.

Serviços de Ecossistema na Paisagem

Há 2 paradigmas fundamentais e opostos de gestão da paisagem:

1. Algumas são geridas na perspectiva de potenciação de determinados serviços dando origem


a paisagens mais homogéneas, interessantes do ponto de vista económico e práticas agrícolas mas
menos biodiversas.

2. Um segundo paradigma afirma que é possivel compatibilizar ambos mas há limiares de


estrutura. Potenciam a diversidade e contribuem para o valor cénico da paisagem.

Tem de haver espaço para os 2.


Do ponto de vista económico precisamos do primeiro.
O segundo permite ter um ponto de vista económico no ponto de vista de nichos para
turismo mas de alguma forma permitem que um conjunto mais diversidade de serviços possa ser aí
desenvolvido, incluindo actividades económicas de pequena escala.

Paisagens prestadoras de múltiplos SE

Zonas costeiras: são desinteressantes para a economia mas estão muito relacionadas com os
serviços culturais, serviços de regulação ambiental na defesa costeira, serviços de suporte na
formação de solo, fornecimento de habitat para uma biodiversidade especializada e para muitas
espécies com valor destacado na conservação e grau de raridade.
Rios: pesca desportiva - serviço cultural, serviços de regulação como o ciclo da água,
biorremediação, é também um espaço importante para a regulação climática mais local, as margens
são ambientais de elevada produtividade – serviços de suporte e indirectamente têm um papel nos
71
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

serviços de produção porque é esta água que rega as produções agrícolas.


Floresta: não tem investimento de instalação porque cresce naturalmente. Serviços: retenção
de água no solo que previne erosão, cheias e deslizamentos de terra – regulação, serviços de
produção: lenha, caça como serviços cultural com grande importância na economia no interior do
país, recolha de alimentação, cogumelos, serviço cultural ou de produção (caso seja consistente),
desenvolvimento de actividade desportivas, valor cénico da paisagem. Do ponto de vista de suporte
é um ecossistema dos mais importantes, na produtividade I também, são os mais importantes para a
formação do solo, tem um elevado valor de biodiversidade. O principal serviço que as florestas não
prestam é produção de alimento, e portanto não existem muitas.

Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas

A biodiversidade desempenha um papel central no funcionamento dos ecossistemas e,


portanto, na provisão dos serviços que caracterizam esses ecossistemas.
Em regra, a especialização territorial num determinado tipo de serviços implica a perda de
capacidade de provisão de outros bens; no entanto, em algumas situações ela pode ser compatível
com a conservação dos processos ecológicos, dos valores notáveis da biodiversidade e do valor
cultural da paisagem.
No entanto, paisagens diversas, com múltiplos ecossistemas, fornecem um balanço mais
interessante entre a conservação de elevados níveis de biodiversidade e a provisão de múltiplos
serviços.

ECOLOGIA E SOCIEDADE
Será que a ecologia é necessária à nossa sociedade?
Será que a aplicação dos conhecimentos de ecologia podem ajudar a nossa sociedade?

A ecologia estuda interacções entre os seres vivos e com o seu meio natural.

Porque será que os ecossistemas e a biodiversidade não estão no centro das preocupações da
sociedade?

A parte económica é mais valiosa, mas os serviços dos ecossistemas são cada vez mais
importantes.

Como podemos mudar isso?

É preciso passar a informação cá para fora, despertar a sociedade.

Ecologia e Sociedade

Ecossistemas e biodiversidade no centro das preocupações da nossa sociedade. Toda a


evolução que representa, os vens, os serviços que presta e todo o valor ético, cultural e espiritual.

Biodiversidade dos ecossistemas → Funcionamento dos serviços de Ecossistemas

Para os ecossistemas funcionarem da melhor maneira é preciso manter a sua diversidade.

72
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Serviços de Provisão Serviços de Regulação Serviços de Habitat Serviços Culturais


1.Alimento 7.Regulação da 16.Manutenção de 18. Informação
2.Água Qualidade do Ar ciclos migratórios Estética
3.Materiais 8.Regulação do Clima 17. Manutenção da 19. Oportunidades
4.Recursos Genéticos 9.Moderação de eventos Diversidade Genética de Recriação e
5.Recursos Medicinais extremos Turismo
6.Recursos Ornamentais 10.Regulação de fluxos 20. Inspiração para
de água cultura, arte e design
11.Tratamento de 21. Experiências
desperdícios espirituais
12.Prevenção da erosão 22. Informação para
13.Manutenção da desenvolvimento
fertilidade do solo cognitivo
14.Polinização
15.Controlo Biológico

Ano Internacional de Biodiversidade

Proclamado em 2007 pela AG da ONU com o objetivo de sensibilização do público sobre


biodiversidade (valor, papel e consequências de perda). Foi promovida a conservação com o slogan
“Biodiversidade é vida, biodiversidade é a nossa vida”.

Nenhuma das metas foi atingida tendo de se alterar a meta a cumprir para os objectivos.

Conservação da Natureza e Biodiversidade

Convenções internacionais para a protecção da biodiversidade a nível de legislação também.


As seis mais importantes são:

1. Convention on Biological Diversity


2. Convention on Internacional Trade in Endangered Species od Wild Fauna and Flora
(proibição do comércio internacional de marfim, corais, peles, entre outros porque põe em risco a
existência da espécie)
3. Convention on the Conservation of Migratory Species of Wild Animals
4. The Internacional Treaty on Plant Genetic Resources for Food and Agricultura (plantas e
agricultura, uso sustentável para a alimentação)
5. Convention on Wetlands (Ransar Convention, muito importantes pois as zonas húmidas
foram identificadas como as zonas de maior risco a nível global)
6. World Heritage Convention

CBD – Convention on Biological Diversity in Portugal

Objetivos:

- Conservação da diversidade biológica


- Utilização sustentável dos seus componentes
- Partilha justa e equitativa dos benefícios prevenientes da utilização dos recursos genéticos.

Parceiros: Assinada por 191 países


73
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Principais discussões e acordos: Plano estratégico 2011- 2020, 20 metas para 2020 ou mais cedo,
Orçamento de funcionamento, distribuição dos custos e mecanismos de financiamento, ABS –
(Access and Benefit Sharing), IPBES e Programas de trabalho.

Principais decisões acordadas: Constituição de uma comissão inter-governamental para o protocolo,


Contratos por mútuo consentimento de exploração de recursos genéticos e seus derivados,
Monitorização do cumprimento deste protocolo.

Problemas: Decisões por consenso, mas baseadas pouco no conhecimento pois os mecanismos de
obter melhor ciência são fracos (SBSSTA). Não há uma fonte com autoridade científica para
informar a CBD e outras convenções internacionais em biodiversidade

Nenhuma sub-meta foi completamente atingida. A maioria dos indicadores de progresso está
negativo. Nenhum governo diz que atingiu os objectivos. Pressões directas na biodiversidade estão
constantes ou a aumentar

Índices utilizados:

Living Planet Index (LPI) - monitorização de 7100 populações de 2300 espécies de mamíferos, aves,
répteis, anfíbios e peixes de todo o mundo
Wild bird index - Monitoriza populações selecionadas de aves selvagens
Red list index (RLI) - estima a percentagem de sobrevivência no futuro de grupos de espécies
seguidas por monitorização – determina se o risco de extinção está a diminuir ou a aumentar
Waterbird population status index - Populações de aves aquáticas

Em resumo: as projecções indicam que as extinções, perdas de habitat e mudanças na distribuição


das espécies continuam a aumentar e estão a acelerar. Há um alto risco de perda dramática de
biodiversidade e degradação dos serviços dos ecossistemas pelo colapso destes. É possível parar a
perda ou mesmo reverte-la com medidas urgentes e fortes.
A estratégia é aplicar a política de conservação da biodiversidade a todas as outras políticas
ambientais.

MEA – Millenium Ecossystem Assessment

Em 2005, envolveu cerca de 13 000 cientistas de todo o mundo mas teve relativamente
pouco impacte a nível político. A avaliação (2007) tinha falta de modelos usados por políticos e
gestores e não chegou aos possíveis utilizadores.

ipBes: comissão para a biodiversidade com o objetivo de colher e tratar a informação necessária
para aplicar uma estratégia. Participantes não governamentais, painel científico com resultados
aceites pelo governo

Principais Relatórios
A missão do TEEB's é fazer a natureza economicamente visível

74
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

- Science & Economics Foundations


- Synthesis
- Business Risks & Opportunities
- Evaluation & Decision Support for Local and Regional Policy
- Policy Evaluation for National Policy- Makers

AVALIAÇÃO E MONITORIZAÇÃO DOS HABITATS E DA BIODIVERSIDADE EM


PAISAGENS HETEROGÉNEAS

Avaliação dos impactos ambientais. Avaliar se as medidas diminuíram esses impactos.


É importante contar com ferramentas para a avaliação da evolução ao longo dos anos.

Motivações

Porquê e como avaliar os habitats e a paisagem?

A paisagem como contexto e os seus elementos de avaliação podem ser cartografados


permitindo-nos marcar no espaço onde se encontram os elementos de maior valor. Temos de ter a
noção que cada paisagem é marcada pelas várias classes de paisagens que correspondem a um tipo
de ecossistemas e a uma meta-comunidade. A paisagem não é uniforme, tem diversidade interna.

O território encontra-se em acelerada mudança

É importante a sua monitorização devido à sua dinâmica. Temos também processos de


natureza política que alteram a paisagem. Paralelamente temos outros fenómenos como incêndios,
que alteram radicalmente a fisionomia da paisagem e os processos graduais, que vão ocorrendo na
recuperação dos incêndios podendo incluir outros processos relacionados com o abandono da
agricultura.

Alterações profundas da paisagem

Podemos utilizar a cartografia de ocupação do solo de datas diferentes, separadas por vezes
por várias décadas e interpretar as alterações juntamente com momentos de incêndios, formação de
áreas protegidas, entre outros. Se repetirmos a aplicação de um protocolo na mesma área durante
vários anos temos uma avaliação distribuída ao longo do tempo avaliando os impactos.
A cartografia de ocupação do solo é reavaliada a cada 20 anos, monitorização de base
estratégica. Aqui não há nenhuma hipótese específica a avaliar.
O grande tipo de monitorização é o relacionado com o modelo de gestão, monitorizar na
área de influência de uma barragem sobre a agricultura. Esta é a monitorização dirigida à avaliação
de impactos. Aqui há uma hipótese colocada a avaliar.

É preciso caracterizar a paisagem do amostras, parcelas, fazer o inventário florestal e avaliar


a regularidade de um determinado recurso. A monitorização deve ter uma base estratégica.

75
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Alterações na paisagem e biodiversidade

Alterações nos elementos cuja valoração foi avaliada.

O desafio: Monitorização da biodiversidade

A monitorização tem indicadores comuns a vários países para poderem ser comparados.

Pressupostos

1. A biodiversidade da Paisagem
2. Os habitats e os serviços ecossistémicos: critérios relacionados com a biodiversidade,
determinados habitats e capacidade de prestar determinados serviços de ecossistemas. Directiva
habitats e Directiva Aves estabelecem os pilares de monitorização, espécies prioritárias na Europa
do ponto de vista da conservaç
3. O normativo (DH & PSRN2000): O normativo (DH e PSRN): oferecem regulamentos de
conservação e como deve ser gerido, lançam uma rede conservativa para proteger as espécies e
habitats estejam em perigo de extinção. Depois estes valores prioritários de conservação são listados.

76
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Porquê monitorizar os habitats e a paisagem?

- Constituem uma matriz ecológica da paisagem e dos territórios;


- Constituem as verdadeiras unidades de gestão e decisão;
- Têm um elevado potencial informativo (indicadores simétricos e emergentes);
- Estatutos legais de protecção (internacionais);
- Conexão com técnicas de observação remota;
- Ligação a corpos conceptuais emergentes e socialmente relevantes (serviços de
ecossistemas)

Opções estratégicas: Âmbito biológico e tipos de monitorização

Base estratégica = Base de vigilância

O sucesso depende da clarificação dos objectivos (que podem ser determinados através da %
de espécies exóticos com carácter invasor, riqueza específica, etc. ), das metodologias de avaliação
(a metodologia tem de ser estável para podermos comparar)e da competência das pessoas que fazem
a monitorização (devem ter competências semelhantes). A monitorização permite-nos assim obter
um conjunto de informação sobre o estado da população (diversidade, lista de espécies, etc).

Opções operacionais: Monitorização dirigida:

Protocolos

É necessário estabelecer um protocola para toda a monitorização.

Redes de Amostragem

É importante desenhar redes de amostragem pois esta define a qualidade dos dados e a
adequabilidade aos objectivos. Normalmente faz-se uma amostragem estratificada aleatória
distribuindo 100 pontos de forma a representar todo o território.

77
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Opções operacionais: Monitorização generalista:

Assegura o investimento de todos os países numa mesma monitorização. É uma rede


fundamental para a monitorização de habitats e biodiversidade em Portugal. Usa cartografia e
caracterização de elementos parcelares da paisagem (polígonos) para monitorização de habitats.

78
Ecologia e Biogeografia Mariana Trigo

Monitorização generalista de biodiversidade:

Monitorização generalista de flora:

Usam-se quadrados permanentes para monitorização de diversidade florística.

Monitorização generalista de fauna:

Ferramentas de detecção remota

Sistemas de GPS. A estabilidade da metodologia é fundamental.

79

Você também pode gostar