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2 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Fabiano Toni

Gestão florestal na Amazônia


brasileira:
avanços e obstáculos em um
sistema federalista
4 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Centro para Pesquisa Florestal Internacional, CIFOR


Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento, CIID/IDRC

Portada: Pablo Pacheco. Propriedade agrícola na Transamazônica, Uruara, Pará.

Edición del texto: Martha Cuba-Cronkleton.

© Todos os direitos reservados. Este pesquisa foi possível pelo apoio financeiro do Centro Internacional de
Pesquisas para o Desenvolvimento, Ottawa, Canadá. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,
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por fotocópia ou de outro modo, sem autorização prévia do CIFOR e do IDRC . As opiniões expressas são dos
autores e não necessariamente refletem os pontos de vista do CIFOR , IDRC e seus colaboradores.

Primera edición, marzo de 2006.

DL: 4-1-429-06

Producción:
Plural editores
Rosendo Gutiérrez 595 esq. Ecuador
Teléfono: 2411018 / Casilla 5097, La Paz – Bolivia
Email: plural@acelerate.com

Impreso en Bolivia
5

Contenido

Lista de Siglas ........................................................................................................................ 7


Apresentação.......................................................................................................................... 9

1. Introdução ...................................................................................................................... 11

2. Amazônia: Ocupação Territorial................................................................................. 15


1. Unidades de Conservação ................................................................................... 16
2. Terras Indígenas..................................................................................................... 16
3. Terras privadas ...................................................................................................... 18

3. O Setor Florestal na Amazônia.................................................................................... 21


1. Caracterização ........................................................................................................ 21
2. Problemas do setor ................................................................................................ 23

4. Marco Institucional e Jurídico para a Gestão das Florestas.................................... 27


1. Meio ambiente e florestas na Constituição........................................................ 27
2. Código Florestal..................................................................................................... 28
3. Repartição de poderes entre os entes federativos ............................................ 29

5. Obstáculos e Estímulos à Descentralização .............................................................. 33


1. Centralização e descentralização: tendências históricas ................................. 33
2. Situação fiscal dos Municípios ............................................................................ 34
3. Situação política e poder local............................................................................. 37
4. Políticas indutoras ................................................................................................. 41

6. Gestão Descentralizada ................................................................................................ 43


1. Governos estaduais e política florestal .............................................................. 43
Política florestal no Acre....................................................................................... 46
Política florestal no Amazonas ............................................................................ 48
Política florestal no Pará....................................................................................... 51
Política florestal nos Estados: Um balanço crítico............................................ 53
2. Gestão florestal municipal ................................................................................... 54
Experiências municipais....................................................................................... 56
Fortalecimento da capacidade local ................................................................... 60

7. Conclusões...................................................................................................................... 63

8. Prioridades de Pesquisa e Oportunidades de Atuação........................................... 67


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Anexo 1 Tipos de Unidades de Conservação ................................................................... 69

Bibliografia ............................................................................................................................. 71

Índice de Tabelas

Tabela 1: Distribuição das terras na Amazônia Brasileira .............................................. 15


Tabela 2: Posse de terras privadas na Amazônia Legal .................................................. 19
Tabela 3: Evolução do setor madeireiro na Amazônia 1998 - 2004................................ 22
Tabela 4: Evolução do marco normativo do manejo florestal na Amazônia ............... 29
Tabela 5: Evolução da arrecadação tributária das esferas de governo, entre
1998 e 2002. ..................................................................................................................... 37
Tabela 6: Municípios com conselhos municipais de meio ambiente
nos Estados da Amazônia ............................................................................................ 41
Tabela 7: Gestão Florestal nos Estados da Amazônia...................................................... 45
Tabela 8: Estruturas Político-Administrativas Ambientais em Municípios
dos Estados que Compõem a Amazônia em 2002 ................................................... 55
Tabela 9: Acordos e convênios entre governos municipais e outros órgãos
nos Estados da Amazônia ............................................................................................ 61
7

Lista de Siglas

APA Área de Proteção Ambiental


BASA Banco da Amazônia
COIAB Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
CONAM Conselho Nacional de Meio Ambiente
CONDIAC Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal do Alto Rio Acre
e Capixaba
DFID Department for International Development, (governo Britânico);
EMATER Empresa Paraense de Assistência Técnica e Extensão Rural.
FEPI Fundação Estadual de Política Indigenista (Amazonas)
FNMA Fundo Nacional do Meio Ambiente
FNO Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Norte
FUNAI Fundação Nacional do Índio
IBAM Instituto Brasileiro de Administração Municipal
IBAMA Instituto Brasileiro Do Meio Ambiente E Recursos Naturais
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IEF Instituto Estadual de Florestas
IMAC Instituto Acreano de Meio Ambiente (Acre)
INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IPAAM Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Amazonas)
IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano
ISS Imposto sobre Serviços,
MMA Ministério do Meio Ambiente
OEMAS Órgãos Estaduais De Meio Ambiente
PA Projeto de Assentamento
PAE Projeto de Assentamento Agroextrativista
PAF Projeto de Assentamento Florestal
PDS Projeto de Desenvolvimento Sustentável
PGAI Projeto de Gestão Ambiental Integrada
PMFSPS Plano de Manejo Florestal Sustentável com Procedimentos
Simplificados
PPG7 Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil
RPPN Reservas Particulares do Patrimônio Natural
SDS Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (Amazonas)
8 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

SEATER Secretaria de Assistência Técnica e Extensão Rural (Acre)


SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SECTAM Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente (Pará)
SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SEPROF Secretaria de Extrativismo e Agricultura Familiar (Acre)
SIVAM Sistema de Vigilância da Amazônia
SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
SPRN Subprograma de Políticas de Recursos Naturais
SUDAM Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia
SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus.
9

Apresentação

Este documento apresenta os resul- pactos que o processo geral de descen-


tados do estudo “Descentralização tralização, e particularmente da ges-
Florestal na América Latina: Olhando tão florestal, têm tido no manejo dos
para o Futuro”, realizado pelo Centro de recursos florestais e na distribuição de
Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR) benefícios econômicos derivados
com financiamento do International deste aproveitamento para todos os
Development Research Center (IDRC/ atores que dependem das florestas. A
Canadá). Desde a década de noventa, realidade da descentralização florestal
vários países da América Latina têm se tem levado a resultados bastante di-
dedicado a promover a descentralização versos. Nesse sentido, o CIFOR tem se
administrativa, financeira e política dos interessado em estudar quais são as
estados nacionais para os níveis de condições que explicam por que so-
governo mais abaixo na hierarquia terri- mente em alguns casos se chegou a
torial, que na maioria dos países corres- obter resultados positivos, quais os
ponde ao governo municipal. Ainda que fatores que limitam a gestão florestal
empreendendo maiores esforços na local e o que isso significa para o uso
descentralização dos serviços sociais das florestas e para a equidade em âm-
(educação e saúde, por exemplo), gra- bito local.
dualmente se há dirigido maior atenção
à descentralizar a gestão dos recursos A pesquisa que aqui se apresenta
naturais e, particularmente, dos florestais. parte da premissa de que o objetivo
principal de descentralizar as respon-
O CIFOR tomou interesse neste te- sabilidades e tomada de decisões sobre
ma, principalmente em analisar os im- os recursos florestais no nível de go-
10 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

verno municipal deveria ser o de pos sociais ligados a atividades flo-


melhorar as oportunidades de participa- restais.
ção para os grupos locais –particular-
mente para os grupos sociais margina- Esta pesquisa inclui estudos na Bo-
lizados– neste processo, bem como am- lívia, na Amazônia Brasileira, na Gua-
pliar os benefícios que eles obtém do temala, em Honduras e na Nicarágua,
uso destes recursos. Este estudo pre- assim como um documento-síntese, que
tende: 1) analisar o estado atual da apresenta uma proposta de agenda re-
descentralização florestal na região; 2) gional de pesquisa. Cada um desses es-
identificar seus efeitos sobre os grupos tudos é publicado em separado com a
sociais que dependem dos recursos da finalidade de facilitar sua leitura e dis-
floresta; 3) desenvolver um marco tribuição e contribuir tanto para o de-
conceitual para entender as interações bate nacional como também para os fo-
entre descentralização, governabilidade ros internacionais de discussão. A equi-
e meios de vida e; 4) identificar futuras pe de pesquisa foi composta por Anne
direções para a pesquisa e ação que Larson, Pablo Pacheco, Mario Vallejo,
possam melhorar os benefícios da Fabiano Toni, José Miguel Barrios e Iván
descentralização florestal para os gru- Guillén.

Doris Capistrano
Diretora do Programa Florestas e Governança, CIFOR
11

1. Introdução

Este documento é parte de uma pes- Em teoria o Brasil apresenta um


quisa mais ampla que tem por objetivo conjunto de condições bastante favorá-
entender as implicações da descentra- veis à descentralização das políticas e
lização de políticas florestais na América da gestão de seus recursos naturais. A
Latina. O estudo parte da premissa que o primeira dessas condições é a relativa
setor florestal tem importante papel na autonomia fiscal e financeira de que os
economia de diversos países do continen- Estados e Municípios desfrutam dentro
te e também no meio de vida de grande do sistema federativo brasileiro. Outra
parte de sua população rural. Desse condição favorável é o marco legal e
modo, as políticas que regulam o acesso, constitucional que rege a gestão dos re-
o uso e o controle dos recursos florestais cursos naturais e que dá aos entes fede-
devem não só visar ao uso racional dos rativos (União, Estados e Municípios)
mesmos, mas também responder às ne- competências concorrentes sobre o
cessidades da população que deles de- tema, ou seja, todos os níveis de gover-
pende. Em outras palavras a gestão flo- no podem atuar na área ambiental e flo-
restal deve ser eficiente e democrática. restal. Uma terceira condição é a exis-
Estudiosos da teoria democrática, de po- tência de precedentes para a descentra-
líticas públicas em geral e da gestão de lização de políticas e da administração
recursos naturais argumentam que a pública no país, particularmente dos
descentralização pode ser uma importan- sistemas de saúde e educação que, ape-
te ferramenta de democratização de de- sar de todos seus problemas, se encon-
cisões e de aumento da eficiência das tram em avançado estado de descentra-
ações públicas (Binswanger, Shah e lização. Finalmente, um quarto fator é
Parker, 1994; Carney 1995; Borja, 1988). a grande riqueza de recursos naturais
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do país, que, em tese, podem gerar im- políticas florestais estaduais quanto
portantes recursos para os Estados e pela mobilização de grupos de inte-
Municípios, por meio da arrecadação de resse que direta ou indiretamente são
impostos, taxas e royalties. afetados por tais políticas. Similar-
mente, uma descentralização que che-
Apesar das condições favoráveis, o gue ao nível municipal depende de
país não tem ainda uma política de como esses mesmos fatores se expres-
transferência de poderes e responsabi- sam em nível local. Além disso, ela
lidades sobre a gestão florestal do po- também é condicionada pelas compe-
der central para os Municípios. Mas isso tências que o governo estadual já pos-
tampouco quer dizer que a gestão flo- sui e por sua disposição de repassar
restal seja absolutamente centralizada. parte delas aos Municípios. Essa com-
O caso brasileiro é interessante justa- binação de fatores resulta em uma di-
mente pelas peculiaridades de seu sis- versidade muito grande de experiên-
tema federativo e de seu marco jurídi- cia de gestão florestal entre os diferen-
co. Quanto ao marco jurídico, é preciso tes Estados da Federação e entre os
entender que não é necessário um pro- Municípios de cada Estado.
cesso de descentralização ou de trans-
ferência explícita de responsabilidade Já se percebe uma divisão gradual
para que os entes federativos atuem na de competências e responsabilidades
gestão dos recursos naturais, ainda que entre os três níveis de governo. O go-
haja limites para essa atuação. Em ou- verno federal ainda centraliza muitos
tras palavras é possível haver um siste- poderes sobre a gestão florestal, enten-
ma não centralizado, sem que necessa- dida como as responsabilidade por
riamente haja descentralização (ver normatizar, autorizar e fiscalizar a ex-
Gregersen et al., 2005). ploração florestal e o desmatamento.
Entretanto, é cada vez maior a partici-
No que se refere ao sistema fede- pação dos Estados nessas tarefas, com
rativo é importante destacar o relati- destaque para Mato Grosso, Acre e
vo poder que os governos estaduais Amazonas, que nos últimos anos esta-
têm. Eles sim têm sido protagonistas beleceram convênios com o Instituto
de políticas mais consistentes de Brasileiro do Meio Ambiente e Recur-
descentralização, recebendo cada vez sos Naturais (IBAMA ) para formalizar
mais prerrogativas que eram do go- essa descentralização. Estados e União
verno federal, ainda que com enormes atuam também no estabelecimento de
diferenças no grau de envolvimento Unidades de Conservação, mas a últi-
de cada Estado com o tema. Essas di- ma tem papel muito mais destacado.
ferenças se explicam tanto pelo inte- Mais ainda, a União é responsável pelo
resse dos governantes em priorizar estabelecimento de áreas indígenas,
INTRODUÇÃO 13

que, na prática, são as terras mais pro- extrativistas a descentralização pode


tegidas da Amazônia. trazer grandes contribuições, particu-
larmente por meio da criação de siste-
Os Estados também têm assumido mas de gestão mais simplificados e efi-
responsabilidades crescentes nas tare- cientes, que facilitem a obtenção de li-
fas de fomento à atividade florestal, cenças de desmatamento e de explora-
particularmente por meio de assistên- ção florestal pelos pequenos proprietá-
cia técnica a atividades madeireiras e rios que não podem pagar pela elabo-
não madeireiras. Acre e Amazonas são ração de planos de manejo sofisticados.
dois bons exemplos disso, com desta- Isso não quer dizer que se deva permi-
que para o último, que criou uma agên- tir uma exploração agressiva da flores-
cia florestal que não só promove ta pelos mais pobres, mas sim que de-
capacitação como elabora planos de vem ser criadas condições para trazer
manejo para pequenos proprietários. Os esse grupo para a legalidade. A contra-
Municípios carecem de recursos e infra- partida pode ser uma exploração me-
estrutura para ter uma atuação mais in- nos intensiva da floresta, o que assegu-
cisiva no setor, mas ainda assim há inú- raria a conservação dos recursos flores-
meras experiências locais com atividades tais. Como veremos, a descentralização
que direta ou indiretamente afetam o no nível estadual parece estar contribu-
setor. Entre elas se destacam iniciativas indo, ainda que de maneira tímida, para
de fomentar o beneficiamento de madei- que isso aconteça. Os Municípios, por
ra, assistência técnica nas áreas de sua vez, ainda têm papel limitado nes-
extrativismo e sistemas agroflorestais, se processo, ainda que haja um grande
formação de consórcios intermunicipais número de experiências locais de inter-
e estabelecimento de convênios com ór- venção no setor florestal.
gãos públicos e privados para fortalecer
a gestão local, recuperação de áreas de- Para entender a descentralização na
gradadas e até mesmo criação de Uni- Amazônia, além das relações entre os
dades de Conservação. entes federativos é preciso considerar
o contexto local, particularmente o his-
Se pensarmos na garantia de aces- tórico de centralização das políticas
so dos grupos rurais marginalizados públicas nas mãos do governo federal
aos recursos florestais, é fácil concluir e, de modo muito particular, o controle
que o governo federal tem um papel que ele ainda tem sobre grande parte
muito importante, pois é o ator que das terras da região, o que é uma dura-
mais bem atende aos interesses da po- doura conseqüência da política de se-
pulação indígena – seguramente o setor gurança nacional adotada durante o
social mais vulnerável na Amazônia. governo militar. Como exemplo, vale
Em relação a pequenos produtores e citar que inúmeros Municípios têm a
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maior parte de seu território sob con- nia, com destaque para a legislação
trole federal, o que limita o desenvolvi- existente e para a distribuição de po-
mento de políticas locais efetivas de deres entre os entes federativos. Na
gestão de seus recursos naturais. Tais seção 4 discutimos alguns obstáculos
Municípios ficam impedidos de criar e estímulos à descentralização, dando
unidades de conservação nestas áreas, foco à situação fiscal e política dos
ou mesmo de cobrar impostos sobre a municípios. Na seção seguinte, anali-
propriedade urbana, que é importante samos os papéis dos governos estadu-
fonte de receitas municipais. ais e municipais na gestão florestal na
Amazônia. Além de apresentar um
Este trabalho se divide em seis quadro geral da atuação dos Estados,
partes. Na primeira, fazemos uma ca- usamos os exemplos do Acre, Amazo-
racterização geral da Amazônia, com nas e Pará para enriquecer a discus-
atenção à ocupação territorial em ter- são. Em relação aos Municípios, abor-
mos de áreas privadas, unidades de damos algumas áreas de atuação nas
conservação, terras indígenas e popu- quais eles têm maior participação, uti-
lação. Na segunda parte, apresenta- lizando exemplos ocasionais. Final-
mos alguns dados básicos do setor flo- mente, na parte 6, apresentamos os
restal na Amazônia e discutimos al- comentários finais sobre as oportuni-
guns de seus principais problemas. dades e obstáculos à descentralização
Na terceira parte, analisamos breve- e fazemos sugestões de temas de pes-
mente o marco institucional no qual quisa que possam dar aporte à
se insere a gestão florestal na Amazô- descentralização da gestão florestal
15

2. Amazônia: ocupação territorial

A Amazônia brasileira cobre um ter- públicas, que incluem Unidades de Con-


ritório de 4,87 milhões de km2, dos quais servação de Proteção Integral, Unidades
cerca de 17% já foram desmatados1. Na de Uso Sustentável (4,9% e 9,1% do terri-
região vivem cerca de 20 milhões de ha- tório amazônico, respectivamente) e Ter-
bitantes, 60% dos quais em áreas urba- ras Indígenas (20,4%) (Ferreira e Almeida,
nas. Estima-se que as camadas mais po- 2005). Os 40,8 % restantes das terras pú-
bres da população –um grupo de aproxi- blicas são áreas devolutas ou de domínio
madamente 6 milhões de extrativistas, indeterminado. As terras privadas se di-
agricultores familiares e indígenas– ocu- videm em florestas privadas, fazendas de
pem cerca de um terço dessas terras (Lima gado e lotes de colonização, assentamen-
et al, 2003). Aproximadamente 75% da to e reforma agrária. Na tabela 1 apresen-
região Amazônica é formada por terras tamos uma síntese desses dados.

Tabela 1
Distribuição das terras na Amazônia Brasileira

Terras públicas Terras privadas


Terras Indígenas Unidades de Conservação Terras Devolutas
Uso Sustentável Proteção Integral
Área 993.480 443.170 238.630 1.986.960 1.217.500
% da Amazônia 20,4 9,1 4,9 40,8 25,0
Fonte: Adaptado de Ferreira e Almeida (2005) e Lima et al. (2003)

1
Os números relativos à cobertura vegetal, desmatamento total e taxas anuais de desmatamento são controverti-
dos e variam de acordo com as diferentes metodologias utilizadas por diversos autores e estudos, particularmente
pelo tratamento que se dá a áreas de cerrado e de transição entre cerrado e floresta. A respeito, ver Margulis, 2003.
16 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

1. Unidades de Conservação so. Muitas delas foram criadas por meio


de decretos legislativos, sem consultas
A lei nº 9.985, de 18 de junho de populares. Como resultado, são inúme-
2000, instituiu o Sistema Nacional de ros os conflitos nessas áreas, como por
Unidades de Conservação da Natureza exemplo, a sobreposição de Parques
(SNUC ), ao fixar critérios e normas para Nacionais e Terras Indígenas ou a cria-
a criação, implantação e gestão das uni- ção de parques em áreas ocupadas por
dades de conservação do país. O SNUC extrativistas e ribeirinhos. Com raras ex-
estabelece dois grupos de unidades de ceções, elites econômicas, administra-
conservação: Proteção Integral e Uso dores municipais e mesmo a população
Sustentável. Nas Unidades de Uso Sus- em geral têm grandes reservas quanto
tentável se permite a exploração e o apro- à presença de Unidades de Proteção
veitamento econômico dos recursos na- Integral em seus Municípios, pois con-
turais, enquanto que as Unidades de sideram que elas representam um im-
Proteção Integral se destinam à preser- pedimento ao livre uso da terra e ao
vação da biodiversidade e de outros desenvolvimento local.
atributos naturais de seu território2.

Apesar de ser federal, a lei nº 9.985 2. Terras Indígenas


estabelece que Estados, Municípios e
União têm responsabilidade e poder No total, existem 377 Terras Indíge-
para criar unidades de conservação. A nas na Amazônia, que abrigam 160.000
lei prevê também a participação social indígenas pertencentes a 160 povos 3.
na criação e definição das normas de Dessas terras, 76% já são legalmente re-
uso destas áreas. De modo geral, a par- conhecidas, isto é, têm usufruto garanti-
ticipação popular é mais intensa nas do exclusivamente para os indígenas
Unidades de Uso Sustentável que, qua- (Instituto Socioambiental, 2005).
se invariavelmente, são criadas sob
pressão da população local. Nas Unida- O Brasil tem um órgão específico –a
des de Proteção Integral, ocorre o inver- Fundação Nacional do Índio (FUNAI )–

2
O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes categorias: I - Estação Ecológica; II -
Reserva Biológica; III - Parque Nacional (Estadual ou Municipal); IV - Monumento Natural; e V - Refúgio de Vida
Silvestre. Constituem o Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes categorias: I - Área de Proteção
Ambiental; II - Área de Relevante Interesse Ecológico; III - Floresta Nacional (Estadual ou Municipal); IV - Reserva
Extrativista; V - Reserva de Fauna; VI - Reserva de Desenvolvimento Sustentável; e VII - Reserva Particular do
Patrimônio Natural. Para um melhor entendimento do uso permitido para cada categoria de Unidade de
Conservação, ver Anexo 1
3
O IBGE estima que a população indígena seja de 154.004 mil habitantes, enquanto a Fundação Nacional do
Índio, (Funai) estima que seja de 175.571 mil. Os dados variam devido a diferenças metodológicas, que são discu-
tidas com maior profundidade no projeto Povos Indígenas do Brasil, da ONG Instituto Socioambiental (http://
www.socioambiental.org/pib/portugues/quonqua/quantossao/difest.shtm)
AMAZÔNIA : OCUPAÇÃO TERRITORIAL 17
18 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

para cuidar dos interesses da popula- estatais. Os serviços de saúde e educa-


ção indígena, principalmente no que diz ção prestados a essa população são in-
respeito à demarcação e fiscalização de suficientes e precários. A renda que os
seu território. Há também uma impor- indígenas obtêm de suas terras é baixa
tante organização de natureza privada, e limitada, particularmente no que diz
ligada à Igreja Católica, o Conselho respeito à exploração madeireira, pois
Indigenista Missionário (CIMI), que tem não há um marco normativo que regu-
importante papel na luta pelos direitos le a atividade em suas terras, ou seja,
desses povos e pela manutenção de sua não é proibido extrair madeira das ter-
cultura. Ademais, na Amazônia há um ras indígenas, mas também não há
grande número de pequenas associa- como fazê-lo legalmente.
ções indígenas de distintas característi-
cas (locais, regionais, representativas de
etnias específicas, de mulheres, de es- 3. Terras privadas
tudantes, etc.), que atuam principal-
mente na captação de recursos e de- Não há números muito confiáveis
senvolvimento de pequenos projetos4. sobre a posse de terras privadas na re-
Parte dessas associações (75 organiza- gião, dadas a desordem fundiária e as
ções, que representam 165 povos) são afi- constantes práticas de apropriação frau-
liadas à Coordenação das Organizações dulenta de terras públicas. Entretanto,
Indígenas da Amazônia Brasileira é sabido que a maior parte das terras
(COIAB), ONG que estimula e acompanha privadas pertence a madeireiros (flores-
a criação de novas organizações indíge- tas privadas) e pecuaristas de grande e
nas e promove a articulação entre elas. médio porte, que são também respon-
sáveis pelo grosso do desmatamento
Apesar das dimensões de suas ter- acumulado na Amazônia. Estudo do
ras, da proteção da FUNAI e da existên- Banco Mundial aponta que esses atores
cia de uma ampla rede de organizações são responsáveis por 75% do desmata-
sociais, os indígenas são um grupo bas- mento da região (Margulis, 2003). Da-
tante vulnerável. A fiscalização de suas dos do Censo Agropecuário de 1995/
terras é deficiente, e são comuns os con- 1996, do Instituto Brasileiro de Geogra-
flitos –em geral violentos– com agricul- fia e Estatística ( IBGE ), apontam uma
tores, pecuaristas, garimpeiros, madei- acentuada concentração da terra (Tabe-
reiros e grandes empresas privadas e la 2). Enquanto as propriedades com

4 O número de associações cresceu rapidamente após a promulgação da Constituição de 1988, cujo artigo 232
abriu a possibilidade dessas associações se constituírem como pessoas jurídicas. Além disso, desde início da déca-
da de 1990, o “mercado” de projetos para organizações civis aumentou consideravelmente, ao passo que os recur-
sos do Estado foram diminuindo. O projeto Povos Indígenas do Brasil (ver nota anterior) traz uma análise mais
detalhada dessa proliferação de associações.
AMAZÔNIA : OCUPAÇÃO TERRITORIAL 19

mais de 10.000 ha representavam ape- % da área sob domínio privado na re-


nas 0,1% dos estabelecimentos rurais da gião. As decisões de investimento de
região, elas ocupavam 27,7% do total de um número reduzido de grandes pro-
sua área privada. Por outro lado, os prietários têm, portanto, um efeito mui-
pequenos estabelecimentos (de até 100 to maior sobre a cobertura florestal do
ha) perfaziam 81,8 % do número total que as decisões de uma massa muito
de propriedades rurais e somente 11,3 maior de pequenos produtores.

Tabela 2
Posse de terras privadas na Amazônia Legal

Tamanho do esta- Número de Área % Est. % Área


belecimento (ha) estabelecimentos (em ha)
Menos de 10 416.704 921.276 46,7 0,8
10 a 100 313.533 12.693.380 35,1 10,5
100 a 500 113.435 21.021.951 12,7 17,4
500 a 1.000 14.869 10.276.130 1,7 8,5
1.000 a 2.000 893 12.202.182 1,0 10,1
2.000 a 5.000 5.829 17.492.122 0,7 14,5
5.000 a 10.000 1.843 12.700.586 0,2 10,5
Acima de10.000 1.249 33.451.576 0,1 27,7
Não declarado 16.873 - 1,9 -
Total 893.128 120.759.203 100,0 100,0
Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995/1996

A existência de grandes áreas pri- (INCRA), que vem distribuindo terras na


vadas de floresta não implica explora- região desde a década de 1970. De acor-
ção florestal em larga escala. Parte sig- do com dados do Censo Agropecuário
nificativa dessas áreas é comprada ou de 1996, havia até então na Amazônia
grilada com propósitos diversos, que mais de 750 mil famílias com lotes de
podem envolver a exploração futura de até 100 ha vivendo em projetos de colo-
madeira, a abertura de pastagens, o nização e em assentamentos, o que re-
plantio de grãos ou simplesmente a es- presentava cerca de 70% da população
peculação fundiária. rural da região (Vosti et al., 2002). Esses
números aumentaram consideravelmen-
Na região há também um grande te desde então, pois a região se tornou
contingente de pequenos proprietários prioritária para reforma agrária, dada
rurais assentados pelo Instituto Nacio- sua grande proporção de terras públi-
nal de Colonização e Reforma Agrária cas, que não precisam ser desapropria-
20 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

das. O número de famílias em assenta- do a populações de extrativistas, prin-


mentos de reforma agrária na Amazônia cipalmente seringueiros e coletores de
Legal mais do que triplicou entre 1994 e castanha. O PDS tem uma proposta pa-
2002 –passando de 161.500 para 528.571, recida, mas é voltado a populações que
o que representava a ocupação de cerca não vivem tradicionalmente do
de 4,9% do bioma (Barreto et al. 2005). extrativismo e que podem explorá-lo.
Já nos PAFs, lotes de florestas serão con-
Existem quatro tipos de assenta- cedidos por 30 anos, com possibilidade
mentos na região: projetos de assenta- da renovação da concessão por mais 30
mento (PA), de assentamento agroextra- anos, para extrativistas e agricultores,
tivistas (PAE), de assentamento flores- que poderão manejar sustentavelmen-
tal (PAF) e de desenvolvimento susten- te os recursos naturais e desmatar 5%
tável ( PDS ). O PAD e o PA são projetos da área total para a construção de ca-
tradicionais de concessão de lotes indi- sas, centros comunitários e implemen-
viduais a agricultores. O PAE é destina- tação de agricultura de subsistência.
21

3. O setor florestal na Amazônia

1. Caracterização extração de toras diminuiu (de 28, 3 para


24,5 milhões de metros cúbicos), o que
No ano de 2004 a indústria madei- implica aumento do rendimento indus-
reira extraiu 24,5 milhões de metros cú- trial do setor (Lentini et al., 2005).
bicos de toras na Amazônia, que rende- O número de empregos diretos e
ram 10,4 milhões de metros cúbicos de indiretos no setor variou muito pouco,
madeira processada. Entre 1998 e 2004, passando de 353 mil para 379 mil (Len-
o valor das exportações de madeira da tini et al., 2005). Tais empregos dizem
Amazônia aumentou consideravelmen- respeito às atividades de extração, ser-
te, passando de US$ 381 milhões para US$ ragem, beneficiamento, industrializa-
942 milhões. Vale notar ainda que 64% ção, exportação (empregos diretos), fa-
da madeira processada no ano de 2003 bricação de móveis, venda de insumos,
teve como destino o mercado domésti- manutenção de máquinas e equipamen-
co (Lentini et al., 2005). Houve conside- tos, transporte, comercialização e servi-
rável redução, uma vez que em 1998 ti- ços técnicos florestais (empregos indi-
nha como destino o mercado doméstico retos). Infelizmente não há dados desa-
86% da produção. No período analisa- gregados sobre a geração de empregos
do a produção de madeira beneficiada de acordo com o tamanho da explora-
permaneceu constante, ao passo que a ção florestal.
22 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Tabela 3
Evolução do setor madeireiro na Amazônia 1998 - 2004

1988 2004
Consumo de madeira em tora (milhões m_/ano) 28,3 24,5
Produção de madeira processada (milhões m_/ano) 10,8 10,4
Rendimento médio do processamento 38% 42%
Número de pólos madeireiros 72 82
Número de empresas 2.570 3.132
Número de empregos 353.044 379.621
Fonte: Lentini, 2005

Em 2004, o Pará foi responsável por quais a produção supera os 100.000 m3


cerca de 45% do total da produção de toras por ano. As empresas se insta-
extrativista de madeira em tora da lam nesses pólos devido à disponibili-
Amazônia, seguido por Mato Grosso dade de matéria-prima, infra-estrutura
(33%) e Rondônia (15%) (Lentini, 2005). (estradas, energia elétrica, serviços ban-
Esses três Estados também têm as mai- cários) e mão-de-obra. 5
ores áreas de pastagem e os maiores re-
banhos bovinos da região, o que não é As serrarias preferencialmente se
coincidência, pois a extração madeirei- instalam em regiões onde é alto o esto-
ra na Amazônia está intimamente liga- que de madeiras de valor e iniciam a
da ao desenvolvimento da pecuária e exploração de duas ou três espécies.
da produção de grãos em larga escala. Tradicionalmente, o primeiro alvo da
exploração era o mogno (Switenia macro-
Em geral, as madeireiras se insta- phyla), a mais valiosa madeira da região,
lam nas zonas de floresta –muitas ve- cuja extração foi proibida devido ao ris-
zes elas mesmas constroem as estradas co de extinção. Outras duas espécies de
de acesso–, retiram a madeira de maior alto valor são o cedro (Cedrela odorata) e
valor de áreas próprias ou compram a o ipê (Tabebuia sp), também extraídas no
matéria-prima de terceiros e seguem primeiro ciclo de corte. Após o esgota-
adiante. A floresta já empobrecida é mento dessas espécies, as empresas
então queimada e transformada em áre- retornam às áreas já exploradas e inici-
as de pastagem que, após alguns anos, am um segundo ciclo, no qual buscam
podem ser convertidas para a produção madeiras de valor um pouco mais bai-
de grão, principalmente soja. A maior xo, como o jatobá (Hymenea coubaril),
parte da madeira é produzida em 82 freijó (Cordia sagoti), cumaru, (Dipteryx
pólos madeireiros, em cada um dos odorata) e maçaranduba (Manilkara sp).

5 Ver Smeraldi e Veríssimo, 1999.


O SETOR FLORESTAL NA AMAZÔNIA 23

Nessa fase a exploração se intensifica e deira pode ser uma importante fonte de
atinge o nível de 5 a 10 árvores por hec- renda. Como o preço do metro cúbico
tare, o que corresponde à média de 40 da madeira varia de R$ 60,00 a R$ 200,00
m3 a 50 m 3/ha , dependendo da região dependendo da espécie e de sua quali-
explorada. dade, o produtor pode ter uma renda
bruta de R$ 3.600,00 a R$ 12.000,00. Mes-
Grande parte da madeira extraída mo descontados os altos custos de pro-
na Amazônia hoje provém de áreas de dução e transporte, que podem facil-
desmatamento. Segundo dados da ONG mente chegar a 70% do valor bruto, a
Amigos da Terra, em 2002 aproximada- madeira pode contribuir significativa-
mente 75% da madeira da Amazônia mente para a renda dos pequenos agri-
tinha origem legal atestada por meio de cultores. Estimativas de 1995 mostram
autorizações de desmatamento, en- que o PIB per capita rural na Amazônia
quanto 5% dela era obtida por meio de era de US$ 1.411,00/ano. Esse é um va-
planos de manejo regulares. Os outros lor médio, que não considera as desi-
20% eram oriundos de fonte ilegal, sen- gualdades na distribuição de renda. Ou
do que 75% dessa fração era extraída seja, o estrato mais pobre da população
de unidades de conservação e 25% pro- tem uma renda ainda mais baixa. Os
vinham de planos de manejo irregula- recursos gerados pela venda da madei-
res (Smeraldi, 2002). ra são particularmente importantes pa-
ra os recém-assentados, que têm maior
O uso de madeira de desmatamen- necessidade de capital para financiar a
tos torna os pequenos produtores um abertura de novas áreas, a implemen-
importante elo na cadeia produtiva da tação de suas lavouras e a construção
madeira, uma vez que eles podem des- de suas casas.
matar anualmente até 3 ha, o que, em
tese, lhes permite extrair legalmente até
60 m3 de madeira por ano, sem necessi- 2. Problemas do setor
dade de apresentação de inventário flo-
restal6. Considerando que há mais de O setor florestal da Amazônia en-
500 mil famílias assentadas na região, e frenta sérios problemas estruturais,
que outras 50 mil são assentadas anu- dentre os quais se destacam: 1) os de
almente, só a produção de madeira de natureza institucional, notadamente o
pequenos desmatamentos poderia su- descompasso entre o marco normativo
prir a demanda da indústria nacional. existente e a capacidade operacional do
Para os agricultores, a venda dessa ma- Estado; 2) a situação fundiária caótica

6 Esse valor pode ser maior, mas, neste caso, é necessário apresentar inventário, o que não é economicamente
viável para os pequenos produtores.
24 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

da Amazônia e; 3) deficiências de infra- da em propriedades particulares na


estrutura, crédito e assistência técnica. Amazônia. Essa exigência não é cum-
Tais problemas incidem com diferente prida na prática, o que é demonstrado
intensidade sobre os diversos grupos pelo crescimento descontrolado da taxa
que utilizam os recursos florestais. De de desmatamento nos últimos anos.
modo geral, entretanto, o impacto de- Desde o início da década de 1990 a
les sobre o setor florestal se traduz em Amazônia vem perdendo por ano apro-
uma exploração madeireira que segue ximadamente 0,5% de sua cobertura, o
sendo essencialmente predatória, ape- que corresponde, em média, a de 17.000
sar de uma tendência recente de dimi- km2 a 18.000 km 2. O pico do desmata-
nuição da ilegalidade; na incapacidade mento foi de 29.000 km2, em 1995. No
de conter o desmatamento e em baixa ano seguinte este valor caiu significati-
capacidade de gerar benefícios para a vamente, para cerca de 13.000 km 2 e,
população rural mais pobre. desde então, vem subindo gradualmen-
te, tendo atingido o alarmante nível de
As normativas que regem o desma- 26.000 km 2 entre 2003 e 2004.
tamento e a exploração florestal no Bra-
sil são detalhadas e rigorosas, principal- Os crimes ambientais, que incluem
mente no que diz respeito ao manejo o desmatamento e a exploração madei-
florestal, o que torna a elaboração e reira irregular, podem levar a punições
aprovação de projetos cara e demora- administrativas, cíveis e criminais, que
da. Em parte, a demora se deve à pe- incluem multas, reparação ou compen-
quena capacidade técnica do Estado sação dos danos causados e até mesmo
para analisar os projetos apresentados. a prisão dos réus. Apesar disso, o que
Certamente a centralização dessa tare- se vê na realidade é uma dificuldade de
fa contribui para sua morosidade. A articulação muito grande entre os ór-
despeito de alguns Estados (ver seção gãos de fiscalização (IBAMA e os órgãos
5) terem assumido grande parte das res- ambientais estaduais), entre esses e a
ponsabilidades de comando e controle Justiça, e entre a Justiça e estadual e a
da atividade madeireira, para estimu- Justiça federal. Além disso, os proces-
lar o crescimento do setor, em grande sos são lentos, freqüentemente têm pro-
parte da Amazônia tais atribuições se- blemas técnicos e há muitos mecanis-
guem centralizadas pelo IBAMA . mos e artifícios para recorrer das deci-
sões administrativas e judiciais e pro-
Outro exemplo claro desse descom- telar o pagamento de multas. Um estu-
passo institucional diz respeito ao des- do sobre a punição de crimes ambien-
matamento. O código florestal brasilei- tais em Mato Grosso revela que 18% das
ro é bastante restritivo e determina que multas aplicadas em 2001, que corres-
80% da vegetação nativa seja preserva- pondiam a 39% do valor total das autu-
O SETOR FLORESTAL NA AMAZÔNIA 25

ações, foram canceladas. Em 15 % das da por esses documentos7. Como resul-


multas lavradas em 2001 houve redu- tado, pequenos proprietários acabam
ção equivalente a 95% dos valores ini- desmatando e vendendo madeira ilegal-
ciais. O valor médio de 100 multas qui- mente, muitas vezes apenas por não con-
tadas (desconsiderando uma multa qui- seguir atender às exigências burocráti-
tada de R$ 1,05 milhão), foi de R$ 7.000, cas dos órgãos competentes.
correspondendo, portanto, a 1% do va-
lor médio das multas aplicadas em 2001 Além de não conseguir comprovar
–R$ 687 mil (Lima, 2005). a posse da terra, os pequenos produto-
res não têm condições de custear a ela-
Um grande obstáculo para a apro- boração de planos de manejo florestal e
vação de planos de manejo florestal e de arcar com os custos dos processos
para a obtenção de autorizações de des- burocráticos. Mesmo nas áreas em que
matamento é a falta de documentação os produtores podem fazer planos de
da posse da terra. A grilagem e a fraude manejo coletivos, caso das Reservas
de títulos de terras são muito freqüentes Extrativistas e PAEs, os custos ainda são
na Amazônia. Obviamente, a falta de se- muito elevados - e os benefícios, duvi-
gurança da posse da terra desestimula a dosos. Esse problema é agravado pela
compra de áreas de floresta por empre- falta de crédito e assistência técnica flo-
sas madeireiras que desejam investir se- restal para pequenos produtores.
riamente no manejo florestal.
A população indígena é ainda mais
O problema fundiário afeta igual- alijada do setor florestal. Além de en-
mente os pequenos agricultores, uma frentar os mesmos problemas de falta
vez que muitos deles são posseiros e não de recursos para elaboração de planos
têm documentação nenhuma que possa de manejo, ainda vive sob um vácuo
amparar pedidos de autorização de institucional, pois a exploração madei-
desmatamento ou de autorização de reira em suas áreas não é normatizada.
manejo florestal. Mesmo os agricultores Dada a extensão de suas terras e a ri-
familiares assentados pelo INCRA têm di- queza de espécies madeireiras de mui-
ficuldades para atestar a posse legal da tas delas, os indígenas acabam sendo
terra, pois somente uma pequena parce- vítimas e, por vezes, coniventes com a
la recebeu os títulos definitivos de suas exploração ilegal de suas florestas. Na
áreas. Ainda que o IBAMA aceite outras década de 1990, por exemplo, foram
formas de comprovação de posse e pro- freqüentes as notícias sobre a venda de
priedade para áreas de até 100 ha, o mogno em terras Kayapó por valores
INCRA não consegue atender à deman- aviltantes (ver Greenpeace, 2001). Mais

7 Para simplificar o processo, o Ibama publicou uma Instrução Normativa (nº 74), em agosto de 2005, aumentan-
do a gama de documentos aceitos para comprovação de posse da terra.
26 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

recentemente, as lideranças do Parque tinham autorização de funcionamento


Indígena do Xingu denunciaram que, (Smeraldi, 2002)8.
com ajuda de um líder indígena, ma-
deireiros entraram no extremo-oeste do Essas mudanças fizeram a relação
parque e desmataram 800 hectares em custo/benefício da ilegalidade subir ra-
um ano. Exemplos como esses se repe- pidamente, saltando de aproximada-
tem por toda a Amazônia. mente R$ 1,50 para R$ 11,00 por metro
cúbico. Isso tornou a compra da maté-
Os problemas fundiários, as dificul- ria-prima de agricultores e pecuaristas
dades técnicas e as contradições institu- mais atrativa do que a corrupção e o ris-
cionais no setor florestal tornam o ma- co de processos administrativos e judi-
nejo florestal muito difícil. Isso em parte ciais (Smeraldi, 2002). A oferta dessa
explica por que atualmente a madeira de matéria-prima tem acompanhado a de-
desmatamentos legalizados representa a manda, uma vez que parte do desma-
maior fonte de matéria-prima das serra- tamento é legal e pode suprir as necessi-
rias. Outra razão está no fato de que a dades da indústria. Apesar disso, uma
exploração ilegal também tem sido coi- fração considerável da madeira da qual
bida. Na década de 1990, estimava-se os pequenos agricultores dispõem é
que cerca de 80% da madeira era extraí- queimada todo ano, à medida que no-
da ilegalmente. Esse número declinou vas áreas agrícolas são abertas, pois eles
em parte porque se adotou um referen- não conseguem obter as autorizações de
cial normativo muito mais restritivo, desmatamento e de transporte de pro-
como a criação da Lei de Crimes Am- dutos florestais a tempo e acabam des-
bientais (nº 9.605/98), que estabeleceu matando suas áreas ilegalmente. Mesmo
multas maiores do que aquelas até en- quando conseguem obter a documenta-
tão existentes. Além disso, foram inten- ção necessária, ou quando decidem ven-
sificadas as operações de fiscalização, der sua madeira ilegalmente, os peque-
inclusive com a participação da Polícia nos produtores têm que arcar com os al-
Federal –e com ampla cobertura da tos custos de extração e transporte, o que
mídia. Os planos de manejo existentes diminui sensivelmente seu ganho. Em
foram revisados pelo IBAMA em busca suma, a comercialização de madeira de
de fraudes e incorreções e, como resul- desmatamento pode atender à deman-
tado, entre 1997 e 2000 o IBAMA cance- da da indústria, mas além de ser preda-
lou 1.940 dos 2.806 planos de manejo que tória é pouco eficiente para gerar renda
existiam no início do período e aprovou para os setores mais pobres da popula-
somente 34 novos. Em 2001, apenas 490 ção rural.

8 Atualmente, segundo dados do Ibama há 5.366 autorizações expedidas, para uma área autorizada total de
2.407.081,39 ha de florestas. Segundo dados do FSC, em 2005 havia na Amazônia 23 projetos de manejo empresa-
rial certificados, com uma área total de 1.216.922,90 ha e oito projetos comunitários, com área total de 25.721,90 ha.
27

4. Marco institucional e jurídico para a gestão das florestas

1. Meio ambiente e florestas na digam respeito ao ambiente. Especifi-


Constituição camente, a Carta Constitucional, em
seus artigos 23 e 24, estabelece que o
A Constituição de 1988 incorporou Estado tem dever de preservar um
vários temas que não estavam presen- “meio ambiente ecologicamente equili-
tes nas constituições anteriores, seja brado,” o que inclui explicitamente as
pelo caráter pouco democrático daque- florestas 9, e determina também que a
las, seja por mudanças na pauta políti- preservação do meio ambiente é dever
ca do país e do mundo que ocorreram do “Poder Público”, o que envolve as
nas décadas de 70 e 80. A proteção ao três esferas do governo. É importante
ambiente foi um desses temas. lembrar que esses temas eram tratados
como sendo de competência exclusiva
A proteção ambiental foi enquadra- da União na Constituição anterior e,
da no âmbito das competências comuns desde 1988, são de responsabilidade da
e concorrentes entre União, Estados e União, Estados e Municípios (Benatti et
Municípios. Isso quer dizer que nenhu- al, 2000). Apesar de haver alguma divi-
ma das três esferas tem poder exclusi- são de poder estabelecida por legisla-
vo de legislar ou executar políticas que ção ordinária e outras normativas, não

9 O artigo 23 é mais explícito e lista como deveres do Estado a proteção das paisagens naturais notáveis e dos
sítios arqueológicos (inciso III); proteção do meio ambiente e combate à poluição (inciso VI); preservação das
florestas, da fauna e da flora (inciso VII), registro, acompanhamento e fiscalização dos recursos hídricos e minerais
(inciso XI). No artigo 24, a Constituição trata do direito urbanístico (inciso I), florestas, caça, pesca, fauna, conservação
da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção ao meio ambiente e controle da poluição (inciso VII);
patrimônio paisagístico (inciso VII); e responsabilidade por dano ao meio ambiente (inciso VIII).
28 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

existe uma regulamentação clara e ine- restas públicas, a definição dos concei-
quívoca dos artigos 23 e 24, o que cria tos de área de preservação permanente
vácuos de poder, sobreposição de pa- (arts. 2º e 3º) e de reserva legal (arts. 16ºe
péis e conflitos entre União, Estados e 44º), nas quais o desmatamento é proi-
Municípios. Por outro lado, esse marco bido. O Código estabeleceu a obrigação
indefinido deixa margem para a ação dos proprietários privados de conservar
complementar dos entes federativos e no mínimo 20% da cobertura florestal
para acordos entre os órgãos ambientais original de suas áreas (50% na Amazô-
dos três níveis de governo para coor- nia), como áreas de reserva legal. Em
denar suas atividades. 1996, como forma de conter o alarmante
ritmo de desmatamento da floresta
amazônica, o governo federal publicou
2. Código Florestal uma medida provisória aumentando a
proporção das reservas legais de 50%
O primeiro Código Florestal brasi- para 80% das propriedades na Amazô-
leiro foi promulgado em 1934, durante nia e de 20% para 50% no resto do país.
o governo de Getúlio Vargas. O marco
jurídico vigente que regula o uso das Outra inovação foi a exigência de
florestas, entretanto, é o Código de 1965 planos de manejo florestal para a
(lei nº 4.771), que foi alterado várias extração madeireira em florestas nati-
vezes por decretos-lei e medidas provi- vas. Essa exigência, na prática, foi ig-
sórias. Trata-se de um conjunto de leis norada por 20 anos, período em que
que regula o uso do solo tanto em áreas houve apenas avanços nas discussões
públicas quanto privadas. Por seu rigor de aspectos técnicos e jurídicos do ma-
e caráter conservacionista ele é comu- nejo. Em 1996, finalmente, efetivaram-
mente criticado por produtores rurais, se as primeiras normas de manejo flo-
que consideram a lei uma interferência restal, regulamentando o que havia sido
excessiva do Estado no direito de uso proposto no Código e, assim, os planos
da propriedade privada. de manejo começaram a ser implemen-
tados. A Tabela 4 sintetiza a evolução
Entre as principais inovações (e pon- da normatização do manejo florestal,
tos polêmicos) do Código estão a cria- com destaque para a Amazônia, desde
ção de parques (art. 5º), reservas e flo- a edição do Código Florestal, em 1965.
MARCO INSTITUCIONAL E JURÍDICO PARA A GESTÃO DAS FLORESTAS 29

Tabela 4
Evolução do marco normativo do manejo florestal na Amazônia

Código Florestal, lei 1965 Proibiu a exploração sob forma empírica das florestas primitivas da bacia
nº 4.771 amazônica. Estabeleceu necessidade de planos técnicos de condução e
manejo, mas não os regulamentou.
Lei nºo 7.511 Portaria 1986 Definiu manejo sustentado: “equilíbrio entre incremento líquido e corte,
nº 486/86-P quer anualmente, quer em período um pouco mais longo.” Conceituou o
Rendimento Sustentado como rendimento que corresponde ao incremen-
to da floresta.”
Ordem de Serviço 1989 Estabeleceu o Roteiro Básico para Análise de Planos de Manejo Florestal.
002/89-DIREN IBAMA
IN 080 IBAMA 1991 Definiu intensidade amostral e periodicidade do inventário contínuo, o nível
de abordagem do inventário florestal, da regeneração natural, tratamentos
silviculturais. Estabeleceu o ciclo de corte mínimo de 20 anos (posterior-
mente aumentado para 30 anos)
Decreto nº 1.282 1994 Delimitou a Bacia Amazônica.
Medida Provisória 1.511 1.996 Aumentou a área de Reserva Legal na Região Amazônica para 80%.
002/89-DIREN IBAMA
Instruções Normativas 1998 Estabeleceu as regras para o manejo florestal comunitário, manejo florestal
4, 5 e 6 (IBAMA) simplificado e manejo florestal empresarial
Instrução Normativa 1999 Regulamentou o desmatamento, nas seguintes condições:I - até 3 hectares
7/Ministério do Meio por ano, em área de até 100 hectares, revestida de floresta nativa (com
Ambiente (MMA) título de propriedade ou posse reconhecida); II - até 5 hectares por ano,
em áreas extrativistas de posse coletiva, de mais de 100 hectares, desde
que comprovada a prática de agricultura familiar; III - até 20% da área
total da propriedade em áreas de 100 a 200 hectares; IV - de acordo com
a MP 1.736-35 (Atualmente 2.080-61), em áreas acima de 200 hectares
(após vistoria).
Medida Provisória 2.080-61 2001 Regulou a conversão de floresta em agricultura e pecuária

3. Repartição de poderes entre os Conselho Nacional de Meio Ambiente


entes federativos (Conama), por exemplo, estabelece que
as responsabilidades sobre o licencia-
O marco legal brasileiro dá amplos mento ambiental de atividades polui-
poderes para os Municípios elabora- doras e consumidoras de recursos na-
rem e executarem políticas ambientais turais (projetos de exploração florestal
em suas terras. Leis complementares e e indústrias madeireiras aqui se inclu-
normativas definem melhor a distri- em) se alocam de acordo com a mag-
buição de poderes e alocação de algu- nitude potencial das mesmas. Cabe
mas responsabilidades entre os entes portanto ao IBAMA (governo federal)
federativos. A resolução 237/1998, do licenciar atividades de impacto nacio-
30 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

nal; Estados e Municípios licenciam Nas disputas entre Estados e União,


atividades de impacto restrito a seus os Estados mais pobres e menos articu-
territórios 10. Na prática, há uma dis- lados politicamente costumam levar
puta muito grande entre os órgãos desvantagem, coisa que se repete nas
ambientais municipais, estaduais e disputas entre Municípios e governos
nacional pelo licenciamento de gran- estaduais. Comumente sobram para os
des empreendimentos, independente- Municípios responsabilidades de licen-
mente da escala geográfica de seus im- ciamento que têm alto custo operacio-
pactos. Atividades que rendem mais nal, geram poucas receitas e ainda tra-
recursos aos órgãos ambientais, por zem ônus político aos administradores
motivos óbvios, são sempre alvo de municipais. Isso acaba dificultando a
disputas. criação ou o fortalecimento de órgãos

10 De acordo com a Resolução Conama 237/98: Art. 4º - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis - Ibama, órgão executor do Sistema Nacional de Meio Ambiente, o licenciamento
ambiental, a que se refere o artigo 10 da lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com
significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber:
I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma
continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da
União.
II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do país ou de um ou mais Estados;
IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em
qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da
Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN;
V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica.
§ 1º - O Ibama fará o licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame técnico procedido pelos órgãos
ambientais dos Estados e Municípios em que se localizar a atividade ou empreendimento, bem como, quando
couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
envolvidos no procedimento de licenciamento.
§ 2º - O Ibama, ressalvada sua competência supletiva, poderá delegar aos Estados o licenciamento de atividade
com significativo impacto ambiental de âmbito regional, uniformizando, quando possível, as exigências.
Art. 5º - Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal o licenciamento ambiental dos
empreendimentos e atividades:
I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em unidades de conservação de domínio estadual
ou do Distrito Federal;
II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente
relacionadas no artigo 2º da lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim forem consideradas
por normas federais, estaduais ou municipais;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais Municípios;
IV - delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio.
Parágrafo único. O órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal fará o licenciamento de que trata este artigo
após considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Municípios em que se localizar a atividade
ou empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento.
Art. 6º - Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos competentes da União, dos Estados e do
Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambien-
tal local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio.
MARCO INSTITUCIONAL E JURÍDICO PARA A GESTÃO DAS FLORESTAS 31

ambientais municipais (ver Toni e do manejo florestal. A legislação deter-


Pacheco, 2005). mina que a exploração de florestas e de
formações sucessoras, tanto de domínio
Apesar dessas disputas, a lei tam- público quanto de domínio privado,
bém permite que as prerrogativas que depende de aprovação prévia do IBAMA
são claramente delimitadas sejam dele- e que cabe à União, diretamente, por
gadas de cima para baixo, por meio de meio do órgão executivo específico, ou
contratos e acordos e convênios de co- em convênio com os Estados e Municí-
operação. Embora tais acordos sejam pios, fiscalizar a aplicação das normas
difíceis e requeiram grande empenho do Código Florestal (artigos 19 e 22).
político, estão se tornando cada vez Como veremos na seção 5, alguns Esta-
mais freqüentes. É o caso, por exemplo, dos já tomaram para si estas atividades.
32 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
33

5. Obstáculos e estímulos à descentralização

1. Centralização e descentraliza- As mudanças mais recentes e sig-


ção: tendências históricas nificativas do balanço de poder entre os
entes federativos se deram em 1964,
A história política do Brasil é mar- com o golpe militar que interrompeu o
cada por recorrentes mudanças nas re- processo democrático brasileiro por 20
lações entre as esferas de governo, ora anos, e após 1988, quando a nova Cons-
caminhando no sentido da descentra- tituição brasileira foi aprovada. O pri-
lização, ora no da centralização11. O sis- meiro evento teve um caráter marcada-
tema municipal implementado no Bra- mente centralizador, com forte impacto
sil seguiu o modelo português, que con- sobre a região amazônica. O segundo
cedia relativa autonomia aos governos teve efeito contrário e concedeu maior
locais (vilas). No período colonial, o poder e autonomia aos Municípios.
poder municipal se fazia sentir, sobre-
tudo, nas zonas urbanas. Em contraste, Como parte da conjugação de polí-
nas áreas rurais se desenvolvia a agri- ticas de desenvolvimento com a dou-
cultura sob controle privado em exten- trina de segurança nacional, houve du-
sas áreas, fora do controle do poder rante o governo militar uma forte inter-
municipal. Esse modelo deixou suas venção federal na posse e controle das
marcas na organização social e política terras públicas. Na Amazônia, todas as
do país, que ainda é caracterizada pela terras situadas em uma faixa de 100 km
negligência do poder público em rela- de cada lado das estradas federais pas-
ção à zona rural. saram para o controle da União. Com

11
A respeito desses ciclos de descentralização e centralização, ver Nickson, 1989.
34 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

isso, o INCRA , criado naquele período, rosos para o Estado (Nickson, 1999).
ganhou domínio sobre terras munici- Como conseqüência, o princípio
pais, inclusive em áreas urbanas. descentralizador da Constituição de
1988 se expressou na forma de um au-
Outras agências federais que con- mento progressivo dos recursos desti-
centraram poder e recursos foram a Su- nados aos governos municipais, acom-
perintendência de Desenvolvimento da panhado da transferência de alguns ser-
Amazônia (Sudam) e o Banco da Ama- viços anteriormente prestados pelos go-
zônia (Basa), responsáveis pelo vernos estaduais e federal.
planejamento e gerenciamento de gran-
de parte dos subsídios dados aos em- Atualmente os Municípios brasilei-
presários que se instalavam na região. ros gozam de uma autonomia relativa-
A centralização política também se acir- mente grande em relação aos governos
rou, uma vez que a população das ca- estaduais e federal. A Constituição de
pitais, das estâncias hidrominerais e das 1988 criou um arranjo institucional úni-
cidades localizadas em áreas conside- co, no qual os Municípios são membros
radas de “segurança nacional” perde- da União, juntamente com os Estados e
ram o direito de eleger seus prefeitos. o Distrito Federal. Com isso os Municí-
As forças armadas tiveram forte presen- pios ganharam poder de auto-organi-
ça na região durante todo esse período, zação, ou seja, de elaborar e aprovar
também intervindo direta ou indire- suas Leis Orgânicas, que são equivalen-
tamente na distribuição de terras. tes a constituições municipais. A com-
petência para legislar sobre a criação de
A Constituição de 1988 teve como novos Municípios também passou da
um de seus principais objetivos resta- União para os Estados 12.
belecer o equilíbrio de poder entre Es-
tados, Municípios e União. Esta tendên-
cia descentralizadora, além de ter sido 2. Situação fiscal dos Municípios
induzida pelo repúdio ao regime auto-
ritário, vigente até 1984, também foi ali- Os Municípios brasileiros têm duas
mentada por fatores externos, particu- fontes principais de recursos: as recei-
larmente as receitas de ajustes estrutu- tas tributárias próprias e as transferên-
rais impostas pelo Fundo Monetário In- cias feitas pelos governos estadual e fe-
ternacional aos países que enfrentavam deral. A luta de governadores, prefei-
crises fiscais. O FMI via na descen- tos e parlamentares que defendiam a
tralização uma maneira de aumentar a descentralização durante a elaboração
eficiência na prestação de serviços one- da Constituição de 1988 foi principal-
12
Com exceção do período 1967/1988, os Estados sempre tiveram o poder de legislar sobre a criação de novos
Municípios.
OBSTÁCULOS E ESTÍMULOS À DESCENTRALIZAÇÃO 35

mente para aumentar as transferências rência certamente ampliaram a autono-


provenientes dos cofres da União. mia dos governos municipais e aumen-
taram consideravelmente sua participa-
As receitas próprias provêm dos se- ção na distribuição de receitas fiscais. No
guintes tributos: Imposto Predial e início da década de 1990, a participação
Territorial Urbano; Imposto sobre Servi- dos Municípios na divisão dos recursos
ços de Qualquer Natureza; Imposto so- financeiros constitucionalmente destina-
bre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI); dos aos poderes públicos chegou a 18,55
Imposto sobre a Venda a Varejo de Com- % do total (Bremaeker, 2004). Para alguns,
bustíveis Líquidos e Gasosos, exceto óleo essas transferências desestimularam os
diesel (IVVC); Taxas e Contribuição de governos municipais a mais bem explo-
Melhorias. As receitas de transferências rar as ferramentas fiscais das quais dis-
federais são compostas por: 22,5% da ar- põem, particularmente o Imposto sobre
recadação do imposto da União sobre a Propriedade Territorial Urbana (IPTU),
renda e proventos de qualquer nature- gerando até o que alguns críticos chama-
za, 22,5% do imposto da União sobre ram de clima de irresponsabilidade fis-
produtos industrializados (juntas, estas cal (Shah, 1991). Contudo, é fato que
duas alíquotas compõem o Fundo de muitos Municípios arrecadam pouco não
Participação dos Municípios-FPM) e 70% porque assim desejem, mas pela dificul-
do imposto da União sobre operações de dade de geração de receitas locais, parti-
crédito, câmbio e seguro, ou relativas a cularmente em regiões mais pobres. Em
títulos ou valores mobiliários, inciden- um país onde a concentração popula-
tes sobre o ouro (IOF-ouro). As receitas cional e a de renda são muito acentua-
de transferências estaduais são formadas das, essa dificuldade se torna particular-
por 25% da arrecadação do Imposto Es- mente séria. No Brasil, 9,5% dos Municí-
tadual sobre Circulação de Mercadorias pios concentram 72,8% da população ur-
e prestação de serviços de transporte in- bana e 79,7% da renda das pessoas físicas
terestadual e intermunicipal e de comu- (Bremaeker, 2004).
nicação ( ICMS) e 50% do imposto esta-
dual sobre propriedade de veículos Há um acentuado desequilíbrio
automotores (IPVA). entre as receitas tributárias próprias e
as transferências, o que causa grande
As mudanças constitucionais que dependência dos Municípios em rela-
estabeleceram essas alíquotas de transfe- ção aos Estados e ao governo federal13.
13
Dentre as diversas fontes de receitas dos Municípios, o Fundo de Participação dos Municípios tem papel
destacado. Em 1992, cerca de 35% dos municípios tinham o FPM como fonte de mais da metade de seus recursos.
Cerca de metade dos Municípios pequenos tinha de 40% a 60% de seus recursos financeiros provenientes do FPM.
A segunda fonte mais importante de repasse de recursos para os Municípios é o ICMS. Contudo, pela sua natureza
e forma de repasse, este tributo é muito mais significativo em Municípios de grande porte (mais de 50.000 habitan-
tes) que têm uma economia mais desenvolvida (Bremaeker, 1994).
36 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Aproximadamente 81% dos Municípi- aumenta consideravelmente nas regiões


os têm no FPM sua principal fonte de Norte (com 47,4%) e Nordeste (com
receita, e em 28% dos Municípios o FPM 41,0%).
é responsável por mais de metade da
receita municipal (Bremaeker, 2004). Outro fator que afeta negativamen-
Devido às disparidades de desenvolvi- te a situação fiscal dos Municípios é a
mento, esse problema é muito maior em crescente necessidade de assumir a
Municípios pequenos: quase 90% dos prestação de responsabilidades dos go-
que contam com menos de 10.000 habi- vernos federal e estadual. Ainda que em
tantes não geravam 10% de suas recei- alguns casos esse tipo de descentraliza-
tas em 1992. ção seja acompanhado de transferênci-
as fiscais, os valores pagos ficam muito
A dependência dos repasses é mui- aquém dos custos dos serviços. É clara-
to comum na Amazônia, cujos Municí- mente o caso da saúde. Além disso,em
pios são majoritariamente de pequeno alguns casos ocorre uma descentra-
e médio porte, com economia alicerçada lização por “default”, na qual o Muni-
no setor primário. Lá, as estruturas es- cípio simplesmente se vê obrigado a
taduais de fiscalização são muito pre- assumir tarefas dos outros níveis de
cárias, o que aumenta a evasão fiscal e, governo pela negligência desses. Um
conseqüentemente, diminui a arrecada- caso típico é a segurança pública, servi-
ção e o repasse do ICMS. Para piorar ain- ço de responsabilidade dos governos
da mais a situação fiscal desses Muni- estaduais, mas que cada vez mais é as-
cípios, parte deles tem sede localizada sumido por governos locais, que se
em áreas de colonização cujas terras vêem impelidos a criar guardas muni-
pertencem formalmente à União, sob cipais para tentar deter o aumento da
tutela do Instituto Nacional de Coloni- criminalidade. Segundo dados do Ins-
zação e Reforma Agrária (INCRA ); as- tituto Brasileiro de Administração Mu-
sim, nem podem arrecadar o IPTU , que nicipal ( IBAM ), os Municípios brasilei-
é uma das formas mais seguras de ge- ros gastam em média 4,52 % de sua re-
rar receita própria. Como agravante, ceita desempenhando funções de com-
mesmo em Municípios em que o poder petência exclusiva dos governos esta-
público pode cobrar IPTU , a inadim- duais e federal. O pior é que esta por-
plência costuma ser alta. Segundo centagem tende a ser maior justamente
Bremaeker (2004), em apenas 12,6% dos nos Municípios mais pobres e com me-
Municípios brasileiros o índice de ina- nor capacidade de arrecadação
dimplência é inferior a 20% do valor (Breamaker, 2003).
lançado. O índice de inadimplência é
superior a 80% do valor lançado em Também é fato que os governos es-
20,2% dos Municípios. Essa proporção taduais e, principalmente, o governo
OBSTÁCULOS E ESTÍMULOS À DESCENTRALIZAÇÃO 37

federal, lançam mão de artifícios fiscais recadação tributária nominal dos Mu-
para evitar as transferência de recur- nicípios vem crescendo menos do que
sos. Isto é feito pelo aumento da co- a dos Estados e União; em outras pala-
brança de taxas e impostos que não vras, diminuindo proporcionalmente
fazem parte das transferências consti- ao longo do tempo, conforme indica-
tucionais. Como resultado disso, a ar- do na Tabela 5.

Tabela 5
Evolução da arrecadação tributária das esferas de governo, entre 1998 e 2002
(Em R$ milhões, valores correntes de 2002)

ANOS TOTAL UNIÃO ESTADOS MUNICÍPIOS


Arrecadação % Arrecadação % Arrecadação %
1998 271.856 186.561 68,6 7 1.142 26,2 14.145 5,2
1999 309.420 215.915 69,8 78.516 25,4 14.989 4,8
2000 357.646 247.420 69,2 94.216 26,3 16.011 4,5
2001 406.118 280.197 69,0 108.066 26,6 17.855 4,4
2002 473.844 332.387 70,1 120.841 25,5 20.616 4,4
FONTE: Extraído de Bremaeker, 2004.

A fragilidade financeira dos peque- de impostos aos Municípios, que pou-


nos Municípios é um obstáculo consi- co se empenham em criar programas de
derável à descentralização da política capacitação (com algumas exceções que
ambiental e florestal. Com dificuldades são analisadas mais adiante) para os
de prover serviços essenciais à popula- governos municipais e que não lhes
ção, tais como educação e saúde, as pre- transferem tarefas que podem gerar re-
feituras se vêem em apuros ainda mai- ceitas para seus órgãos ambientais.
ores para construir capacidade técnica
na área ambiental/florestal, coisa que
requer investimentos em recursos hu- 3. Situação política e poder local
manos e equipamentos. Esta dificulda-
de é freqüentemente citada –e exagera- Além de criar uma situação mais
da– por aqueles que resistem à descen- favorável aos Municípios no que diz
tralização, particularmente os órgãos respeito à repartição de receitas fiscais,
ambientais do governo federal e dos a Constituição de 1988 lhes deu o po-
governos estaduais. É preciso ter em der de estabelecer suas Leis Orgânicas,
mente, contudo, que essa situação é que são equivalentes a constituições
acirrada pelos níveis superiores de go- municipais. Além disso, a competência
verno, que têm diminuído os repasses para legislar sobre a criação de novos
38 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Municípios também passou da União te das rodovias Transamazônica e


para os Estados. Como conseqüência Cuiabá-Santarém e ainda atravessar o
disso, entre 1988 e 1997 surgiram no rio Amazonas.
Brasil 1.328 municípios, o que represen-
ta um quarto do total existente em 2000. Há também situações em que o ta-
Esse fenômeno foi ainda mais acentua- manho da população de determinados
do na Amazônia, onde 327 dos 791 distritos supera a população das sedes
municípios existentes em 1997 foram municipais, sem que haja investimen-
criados após a promulgação da Consti- tos proporcionais do governo munici-
tuição. Cerca de três quartos dos Muni- pal nas áreas mais povoadas. Entretan-
cípios brasileiros que surgiram após to, há outros motivos menos nobres
1988 não poderiam ter sido criados caso para a formação de novos Municípios.
ainda valessem as exigências anteriores Um deles é o próprio mecanismo de
à Constituição de 1988 14 (Tomio, 2000). distribuição do FPM. Qualquer Municí-
pio com 10.188 habitantes ou menos
Essa proliferação de Municípios é recebe a cota mínima de transferência.
um tema bastante sério do ponto de vis- Assim sendo, quanto menor a popula-
ta da descentralização. Em uma região ção desses municípios, maior o valor per
como a Amazônia, na qual Municípios capita de impostos transferidos por meio
têm dimensões gigantescas e difíceis deste mecanismo. Obviamente, como a
condições de transporte entre a sede massa de impostos recolhidos perma-
municipal e seus diversos distritos, em nece igual, o benefício que os novos
princípio o desmembramento de Mu- Municípios recebem corresponde a uma
nicípios pode gerar aumento de efici- perda para todos os outros Municípios,
ência administrativa e aproximação en- particularmente para aqueles dos quais
tre a população e o governo local. Na se desmembram.
região da Transamazônica, por exem-
plo, essa foi uma demanda concreta dos Outro importante fator a estimular
movimentos populares nas décadas de a criação de novos Municípios e até
1980 e 1990. Em muitos casos, para che- mesmo de Estados são os interesses das
gar à sede de seus Municípios, a popu- elites políticas locais em criar novos es-
lação tinha que viajar dias, cruzar par- paços de poder. Novos Municípios e

14
Os novos Municípios deveriam ter pelo menos 10.000 habitantes ou cinco milésimos da população do Estado;
eleitorado não inferior a 10% da população; centro urbano constituído com pelo menos 200 casas; e uma arrecadação
no exercício anterior de pelo menos cinco milésimos da receita estadual de impostos (Bremaeker,1991). Como
forma de controlar a multiplicação do número de Municípios, tendo em vista particularmente os desequilíbrios
fiscais que ela acarretava, em 1996 uma emenda constitucional voltou a estabelecer algum controle federal sobre a
regulamentação de novos Municípios. Entre outras medidas, passoua ser exigida a realização de um “estudo de
viabilidade” do novo Município, e as consultas populares para referendar a criação de novos Municípios foram
estendidas à população de todos os Municípios afetados pela mudança (Tomio, 2000).
OBSTÁCULOS E ESTÍMULOS À DESCENTRALIZAÇÃO 39

novos Estados significam novos cargos Os riscos são maiores em certas re-
eletivos e empregos públicos, sem a giões, como as de fronteira agrícola, ou
necessidade de competir com grupos já aquelas em que é alta a concentração
arraigados no poder. Não é raro que os da propriedade da terra, ou ainda onde
líderes de movimentos de emancipação a atividade madeireira é muito inten-
acabem constituindo pequenas oligar- sa. Por outro lado, Municípios que têm
quias locais, que se encastelam no po- setores sociais mais fortes e organiza-
der durante muitos anos. dos conseguem, até certo ponto, con-
trabalançar esta tendência de captura
Essa oligarquização e a influência de poder pelas elites. Em toda a Ama-
das elites econômicas sobre o poder lo- zônia há um grande número de sindi-
cal constituem outro sério problema catos de trabalhadores rurais, associa-
para a descentralização de políticas flo- ções de produtores e movimentos de
restais. Comumente se argumenta que base. Grande parte dessas organiza-
o poder local nos Municípios do interi- ções tem líderes que atuam na política
or pode facilmente ser capturado por partidária e que eventualmente são
elites que têm interesse direto no uso eleitos vereadores ou até mesmo pre-
predatório dos recursos naturais. De feitos em seus Municípios. Isso é mui-
fato, muitos Municípios da Amazônia to claro na região da Transamazônica,
são diretamente controlados por madei- no Pará e na região do Alto Rio Acre,
reiros que atuam na ilegalidade, por exemplo, onde os movimentos so-
pecuaristas responsáveis por grandes ciais tiveram sucesso ao formar coliga-
áreas de desmatamento ilegal, grileiros ções com outros partidos ou eleger
e seus prepostos. A transferência direta seus próprios representantes como pre-
de poder de decisão sobre o uso dos feitos, principalmente pelo Partido dos
recursos florestais para os Municípios Trabalhadores.
pode acarretar danos severos à floresta
e, principalmente, prejudicar pequenos De modo geral, os indígenas são o
posseiros, agricultores familiares, ribei- grupo mais vulnerável entre aqueles
rinhos e indígenas. Há exemplos recen- que necessitam dos recursos da flores-
tes muito claros disso: a luta dos pro- ta como meio de vida. Além de enfren-
dutores de arroz de Roraima contra a tar as ameaças de grandes empresári-
demarcação da Reserva Indígena Rapo- os dos setores agropecuário e madei-
sa-Serra do Sol; os conflitos entre ma- reiro, muitas vezes seus interesses se
deireiros/grileiros e populações tradi- chocam com os de pequenos agricul-
cionais em Porto de Moz; e a voraz tores e garimpeiros, a quem não agra-
grilagem das terras do entorno da BR- da a política de demarcar grandes ex-
163, que teve início com o anúncio da tensões de terras para os indígenas.
pavimentação da estrada. Um indicativo da debilidade política
40 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

desse grupo é o fato de que nas elei- vimento rural, onde são tratadas ques-
ções municipais de 2004, nos 5.560 Mu- tões ligadas à infra-estrutura de trans-
nicípios brasileiros, somente 48 verea- portes, agricultura e, menos freqüen-
dores indígenas foram eleitos, entre 182 temente, extrativismo e florestas. Infe-
candidatos. Apenas nove indígenas se lizmente, não há números disponíveis
candidataram a prefeito; quatro foram sobre tais conselhos. Como agravante,
eleitos: um no Estado de Minas Gerais contudo, há o fato de que mesmo aque-
(São João das Missões), um no Amazo- les conselhos que têm caráter delibera-
nas (Barreirinha), um na Paraíba (Mar- tivo e costumam se reunir têm poder
cação) e outro em Roraima (Nor- muito limitado frente aos prefeitos e
mandia) ( CIMI, 2004). secretários municipais. São freqüentes
as acusações de que prefeitos e secretá-
Como forma de aumentar a partici- rios manipulam a composição dos con-
pação popular nas decisões municipais, selhos para que lhes sejam favoráveis.
foram criados Conselhos Municipais de Em outros casos, o poder executivo sim-
diversas áreas de políticas publicas –edu- plesmente ignora as decisões tomadas
cação, saúde, assistência social, meio pelos conselhos quando assim lhe con-
ambiente, criança e adolescente e outros. vém. Isso ocorre porque não há meca-
A Tabela 6 traz informações sobre a exis- nismos eficientes que garantam que as
tência de conselhos de meio ambiente deliberações sejam cumpridas, ou que
nos nove Estados da Amazônia, com punam os prefeitos e secretários que
base em informações do IBGE (2002). Em não as cumpram. Nas cidades do inte-
média, apenas 22,11% dos Municípios rior da Amazônia, os setores da socie-
têm um conselho formalmente constitu- dade civil que contestam as ações polí-
ído. Uma proporção menor ainda de ticas do poder executivo em geral têm
Municípios tem conselhos que de fato se dificuldades para contratar advogados
reúnem periodicamente (17,39% se reu- ou acionar o Ministério Público para ir
niram ao menos duas vezes no ano an- à Justiça e coibir os abusos cometidos.
terior à coleta de dados). Menos da me- Outra limitação séria para o bom funci-
tade dos conselhos existentes (46,07 %) onamento dos conselhos é a falta de
tem poder deliberativo. pessoal qualificado para participar das
discussões e da tomada de decisões.
Esse quadro tem como atenuante o Freqüentemente, os líderes de algumas
fato de que o conselho municipal de organizações de base se vêem quase que
meio ambiente não é necessariamente obrigados a participar de vários conse-
o único foro de discussão de assuntos lhos, pela simples falta de outras pes-
ligados às florestas. Muitos Municípios soas que queiram ou tenham condições
têm conselhos municipais de desenvol- mínimas para fazer isso.
OBSTÁCULOS E ESTÍMULOS À DESCENTRALIZAÇÃO 41

Tabela 6
Municípios com conselhos municipais de meio ambiente
nos Estados da Amazônia

Municípios com conselhos constituídos


Estado Número de Conselhos Conselhos que Conselhos que
Municípios Total com poder se reuniram ao se reuniram ao
deliberativo menos 2 vezes menos uma vez
no ano anterior no ano anterior
RO 52 13 7 4 9
AC 22 6 6 4 4
AM 62 15 8 6 12
RR 15 4 2 2 2
PA 143 40 19 22 34
AP 16 5 2 2 4
TO 139 14 5 10 10
MA 217 35 15 15 25
MT 139 46 18 27 40
Total 805 178 82 142 140

Fonte: IBGE, Perfil dos Municípios Brasileiros, 2002.

4. Políticas indutoras O componente do PPG 7 que tem


maior impacto direto sobre a
Apesar de ainda não haver um descentralização das políticas florestais
marco jurídico que determine a trans- é o Subprograma de Políticas de Recur-
ferência de recursos e responsabilida- sos Naturais (SPRN ), cujo objetivo é aju-
des do governo federal para os gover- dar os Estados e alguns Municípios da
nos municipais, existem alguns pro- Amazônia a se capacitar para a gestão
gramas federais que incentivam pre- de seus recursos naturais. O trabalho do
feituras e grupos da sociedade civil a SPRN envolve a elaboração de políticas,
participar da gestão territorial e flo- o fortalecimento das instituições públi-
restal. Esses programas são coordena- cas e a resolução de problemas institu-
dos pelo Ministério do Meio Ambien- cionais. A principal ação do subprogra-
te. O mais importante deles, o PPG 7 ma tem sido a implementação do Pro-
(Programa Piloto para as Florestas jeto de Gestão Ambiental Integrada nos
Tropicais) é um programa de coope- Estados (PGAI), na Amazônia. Cada uni-
ração internacional entre o Brasil, G-7 dade participante implementa o PGAI
e governo dos Países Baixos, e tem por tomando por base seu plano ambiental,
objetivo a conservação das florestas que aponta suas prioridades. O PGAI
tropicais brasileiras. transfere recursos para os Estados in-
42 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

vestirem na capacitação de técnicos e na cremento de 165% na área total sob


infra-estrutura dos órgãos ambientais. proteção, desde 1991. Em Minas Gerais,
A estratégia utilizada para tanto fica a o incremento entre 1995 e 2000 foi de
cargo dos Estados. Em nível municipal, 62%. Recentemente, os Estados de São
o que se vê é que o programa teve im- Paulo, Rio Grande do Sul, Rondônia,
pacto muito pequeno na área rural dos Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ado-
municípios, o que obviamente inclui a taram mecanismos semelhantes. Na
gestão dos recursos florestais (Toni e prática, isso significou principalmente
Pacheco, 2005). a regularização de áreas de conserva-
ção municipais, principalmente Áreas
Alguns Estados criaram um meca- de Proteção Ambiental (APAs), simples
nismo de compensação fiscal para esti- de ser legalizadas e pouco restritivas no
mular Municípios a criar unidades de que diz respeito ao uso do solo. Tam-
conservação, ou simplesmente para bém houve expressivo aumento no nú-
compensá-los pela perda de geração de mero de Reservas Particulares do Patri-
riqueza que a existência de tais áreas pode mônio Natural ( RPPN s). Obviamente,
causar. Conhecido como ICMS-ecológico para as prefeituras interessa criar e re-
ou ICMS-verde, é uma nova fórmula de gulamentar áreas de proteção já existen-
distribuição da parcela do imposto es- tes para ter acesso aos recursos do ICMS-
tadual sobre consumo (a rigor, Imposto ecológico. Com o mesmo objetivo, os
sobre Circulação de Mercadorias e Ser- governos municipais oferecem incenti-
viços-ICMS) que cabe aos Municípios. vos a proprietários privados para que
criem RPPN s. Com freqüência esses in-
Os Estados do Paraná e Minas Ge- centivos se traduzem em obras de infra-
rais, pioneiros na adoção do ICMS -eco- estrutura que melhoram o acesso às pro-
lógico, já colheram bons resultados des- priedades onde as reservas se encon-
sa política15. No Paraná, houve um in- tram (May, 2002).

15
Para uma discussão mais aprofundada dos valores e critérios de alocação do ICMS-ecológico, ver May, 2002.
43

6. Gestão descentralizada

1. Governos estaduais e política tas entre os Órgãos Estaduais de Meio


florestal Ambiente (Oemas) e o IBAMA . Nos Es-
tados da Amazônia, o estabelecimento
Como já dito anteriormente, o mar- de acordos de gestão compartilhada ou
co jurídico brasileiro nas áreas descentralizada está se tornado cada
ambiental e florestal é mal definido e vez mais comum.
deixa margens para sobreposições, vá-
cuos e disputas de poder. O melhor Minas Gerais tem uma competên-
exemplo disso talvez seja a repartição cia bastante sólida na área e conta com
de poder entre Estados e governo fede- uma instituição –Instituto Estadual de
ral na área florestal. Alguns Estados to- Florestas (IEF)– que tem mais de 500 en-
maram para si as responsabilidades so- genheiros florestais em seu quadro de
bre o setor, enquanto outros continuam funcionários e que se dedica à execu-
com uma gestão centralizada nas mãos ção da política florestal do Estado. Essa
do governo federal. Entre os dois extre- política inclui por exemplo a fiscaliza-
mos, outros Estados buscam firmar con- ção e a emissão de autorizações de ma-
vênios para efetivar uma descentrali- nejo florestal e a administração de uni-
zação pactuada. São Paulo, Minas Ge- dades de conservação e pesquisas na
rais, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás área florestal.
são exemplos de Estados que atuam na
gestão florestal com autonomia. Bahia, A razão da gestão florestal em Mi-
Ceará e Mato Grosso do Sul, por sua nas e em outros Estados ser feita por
vez, estão entre os Estados em que há seus OEMA s e não pelo IBAMA , sem ne-
sobreposição de competência e dispu- cessidade de estabelecimento de convê-
44 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

nios e sem grandes atritos, está no fato suas populações tradicionais começou a
de que tais Estados estabeleceram suas ganhar vulto. Essa preocupação chegou
políticas florestais há muitos anos, an- aos governos estaduais mais recente-
tes mesmo da criação do IBAMA . No mente e agora começa a ganhar corpo
caso de Minas Gerais, por exemplo, o por meio do fortalecimento dos Oemas
IEF foi criado em 1962, antes portanto e da descentralização das políticas do
da criação do próprio Código Florestal, governo federal para os estaduais.
que é de 1965. Em outras palavras, eles
ocuparam um espaço político-adminis- Entre os fatores que afetam a trans-
trativo que estava aberto e que necessi- ferência de poderes para os Estados não
tava ser preenchido, uma vez que o podem ser desprezados os componen-
setor florestal era tido como importan- tes políticos e corporativos. Obviamen-
te para suas economias e que eram ne- te o IBAMA reluta em ceder poderes aos
cessárias ações de fomento, normati- Estados, mas não necessariamente co-
zação e comando e controle. mo uma decisão formal da instituição.
Sem dúvida há nas instâncias decisórias
Chama a atenção o fato de que os do órgão uma preocupação com possí-
Estados que têm mais iniciativa e mai- veis conseqüências negativas da des-
or autonomia em suas políticas flores- centralização, o que é legítimo. Por ou-
tais são justamente os com menor co- tro lado, há também uma percepção de
bertura de florestas. É possível que as que o trabalho centralizado é inefi-
políticas para esse setor tenham sido ciente, e que o órgão não precisa estar
elaboradas tendo em vista tanto a ne- por trás de toda e qualquer decisão –de
cessidade de assegurar o suprimento de caráter técnico, político ou administra-
matérias-primas florestais em um con- tivo– que afete o uso das florestas. Ape-
texto de escassez crescente quanto a sar dessa sensibilidade de parte da di-
constatação dos danos ambientais de- retoria do órgão, as relações dele com
correntes do desmatamento. Os Estados os Estados e, conseqüentemente, os re-
da Amazônia, por outro lado, até recen- sultados das negociações ou disputas
temente operavam sob uma lógica de entre eles são profundamente afetados
disponibilidade quase ilimitada de ma- pelas relações políticas entre os funcio-
téria-prima para a indústria madeirei- nários das gerências executivas do
ra e de terras para agricultura. De fato, IBAMA nos Estados e os dirigentes dos
na década de 1970 o governo militar es- Oemas. Atritos nos níveis mais baixos
timulou a ocupação do “vazio” amazô- da administração, motivados por fato-
nico por meio do corte da floresta e da res de ordem política ou defesa de inte-
implementação de pastagens. Somente resses corporativos, contribuem para a
após o início da década de 1990 a preo- demora no estabelecimento dos convê-
cupação com o destino da floresta e de nios e dificultam sua implementação.
GESTÃO DESCENTRALIZADA 45

A Tabela 7 mostra o estágio de o desmatamento. Rondônia, sem fazer


descentralização das políticas florestais nenhum tipo de convênio, tomou para
nos Estados da Amazônia. Para efeitos si as responsabilidades sobre as duas
deste estudo, consideramos alguns pro- áreas. O Estado do Pará vem negocian-
cedimentos que são essenciais no setor do um convênio amplo com o MMA para
florestal da região: 1) a emissão de auto- assumir diversas responsabilidades hoje
rização de desmatamento; 2) autorização centralizadas, mas ainda não atua nes-
de manejo florestal, que envolve a apre- sas duas áreas. Tocantins já licencia
ciação dos planos de manejo sustentá- desmatamentos em áreas de até 500 ha
vel, a emissão de autorização de corte e e, a partir de 2006, poderá autorizar
exploração e a emissão de autorização desmatamentos em qualquer escala. Nos
de transporte de produtos florestais e; 3) outros Estados essas atividades seguem
a fiscalização das operações de sob controle centralizado do IBAMA .
desmatamento e de exploração florestal. Como veremos na seqüência, a
descentralização foi uma demanda dos
Os Estados do Acre e de Mato Gros- governos dos Estados do Acre e Ama-
so se destacam por já ter assumido to- zonas, que a perceberam como um re-
das as atribuições que antes eram do quisito fundamental para implementar
IBAMA. O Amazonas também reclamou políticas florestais mais amplas, que in-
para si as prerrogativas sobre a explora- cluem a geração de renda e empregos
ção florestal, mas por decisão própria por meio do fomento às atividades ma-
não ficou com a responsabilidade sobre deireiras e não madeireiras.

Tabela 7
Gestão Florestal nos Estados da Amazônia

Estado Desmatamento Exploração Florestal


Acre Governo do Estado Governo do Estado
Amapá IBAMA IBAMA
Amazonas IBAMA Governo do Estado
Maranhão IBAMA IBAMA
Mato Grosso Governo do Estado Governo do Estado
Pará IBAMA (convênio em negociação) IBAMA (convênio em negociação)
Rondônia Governo do Estado, Sem convênio Governo do Estado, Sem convênio
Roraima IBAMA IBAMA
Tocantins Até 500 Ha, Governo do Estado Acima de 500 HA, IBAMA
IBAMA Governo do estado assume toda a
responsabilidade em 2006
Fonte: IBAMA, Diretoria de Florestas
46 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Política florestal no Acre O governo do Acre buscou trazer


para si algumas atribuições do IBAMA ,
O Estado do Acre tem uma super- por meio da realização de um pacto de
fície territorial de 153.149,9 km2, o que transferência de poderes desse órgão
corresponde a 3,9% da área amazônica para o IMAC e para a Secretaria de Esta-
brasileira e a 1,8% do território nacio- do de Floresta. Essa transferência foi
nal ( IBGE, 1995). Cerca de 10% da área feita de maneira gradativa. Inicialmen-
de floresta original foi removida por te, em 1999, o IMAC assumiu a respon-
ação antrópica, o que faz do Estado um sabilidade pela autorização de desmata-
dos menos desmatados da Amazônia mento de áreas de até 3 ha. Em 2001, o
brasileira. A população do Acre, no ano limite foi estendido para áreas de até 20
de 2000, era de pouco mais de 557 mil ha; em 2002, para 60 ha e; a partir de
habitantes, dos quais 45% viviam na 2003, para áreas de qualquer dimensão.
capital, Rio Branco ( IBGE 2000). Em 2004, O IMAC assumiu também as
responsabilidades sobre as autorizações
O governo estadual busca, desde 1998, de manejo florestal e sobre a fiscaliza-
reorganizar a estrutura econômica do Es- ção do transporte de produtos florestais.
tado para tornar a atividade florestal base
de sua economia, sem aumentar os danos O IMAC trabalha agora para descon-
às florestas. Isso tem sido feito por órgãos centrar suas atividades de licenciamento.
executivos de fomento e de comando e Há uma proposta de descentralização do
controle. Para implementar suas políticas licenciamento ambiental, mas somente
florestais, o governo criou uma estrutura para o Município de Rio Branco, que tem
administrativa que conta com uma secre- uma secretaria de meio ambiente relati-
taria de extrativismo e agricultura famili- vamente bem estruturada e um gover-
ar (SEPROF), uma secretaria de florestas e no municipal politicamente afinado com
uma secretaria de assistência técnica e ex- o governo do Estado16.
tensão rural (SEATER). As atividades de
ordenamento territorial e de comando e O Estado conseguiu também assu-
controle estão a cargo da Secretaria de mir o recolhimento e uso da Taxa de
Meio Ambiente e Recursos Naturais e de Reposição Florestal que, de modo ge-
uma autarquia a ela ligada, o Instituto ral, é centralizada pelo IBAMA 17. Em al-
Acreano de Meio Ambiente (IMAC). guns Estados, a administração dessa

16
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Rio Branco foi beneficiária do PGAI em sua primeira fase. Com
seu fortalecimento, a secretaria chegou a iniciar atividades de licenciamento ambiental, mas mudanças políticas
provocaram a interrupção desse trabalho.
17
A taxa, de R$ 1,10 por árvore –cerca de R$ 6,60 por metro estéril, ou R$ 8,80 por metro cúbico de madeira
extraída– como o próprio nome deixa evidente, deveria ser aplicada na recomposição dos estoques de madeira
nativa. Contudo, a aplicação real destes recursos nas atividades de reposição florestal é mínima, e muitos de seus
potencias beneficiários reclamam da ineficiência do arranjo institucional centralizado que coordena a atividade.
GESTÃO DESCENTRALIZADA 47

taxa é descentralizada, ou até mesmo Estado começou a implementar sua


privatizada por meio de organizações política florestal, em 1998. Contando
sem fins lucrativos credenciadas a re- com as Terras Indígenas, as áreas pro-
colher as taxas e implementar projetos tegidas cobrem quase metade (48,32 %)
de reposição florestal. Isso ocorreu por da superfície do Acre. É certo que a
demanda dos próprios usuários, que implementação das Unidades de Con-
não viam retorno da taxa e que, ao mes- servação ainda precisa ser consolidada,
mo tempo, necessitavam garantir a con- o que não é tarefa simples, devido à ne-
tinuidade do suprimento de madeira. cessidade de recursos humanos e finan-
A ineficiência da administração centra- ceiros para fazê-lo. Além disso, a políti-
lizada da taxa é uma barreira que o go- ca florestal do Estado, em particular a
verno do Acre espera poder superar implementação de áreas protegidas, é
para investir um pouco mais no setor. contestada por grupos políticos e
econômicos influentes que se opõem ao
Um importante componente da governo. As eleições de 2006 e a eventu-
política estadual foi a elaboração do al posse de um governador desse grupo
Zoneamento Ecológico Econômico do podem abalar seriamente essa política.
Estado, realizado com apoio do PPG7 e
da cooperação alemã. Uma primeira No setor não madeireiro, as princi-
versão foi realizada em 1999 e 2000, na pais ações se deram na estruturação do
escala de 1:1.000.000, e forneceu mapas setor produtivo da castanha e da bor-
temáticos utilizados, entre outras coisas, racha. Em relação à castanha, estão sen-
para o estabelecimento de diversas Uni- do montadas usinas de beneficiamento
dades de Conservação estaduais. Em do produto. A produção de látex foi in-
uma segunda fase, os trabalhos estão centivada por meio da concessão de um
sendo refinados a uma escala de subsídio direto aos produtores (inicial-
1:250.000, e o Estado tem trabalhado mente de R$ 0,40 / kg; hoje, de R$ 0,70)
junto com os governos municipais de que fez o preço do produto subir signi-
Brasiléia e Epitaciolândia para realizar ficativamente 18.
os zoneamentos desses Municípios.
No setor madeireiro, o governo
As Unidades de Conservação co- busca incentivar o manejo florestal,
brem cerca de 5 milhões de ha, número privado e comunitário, a certificação
que praticamente dobrou desde que o e a verticalização da indústria. O ma-

18
A produção de borracha, que era de 900 toneladas em 1999 atingiu 1.600 toneladas ao final de seis meses do
programa e 3.500 toneladas em 2004. Ainda assim, os técnicos do governo reconhecem que a atividade não é
economicamente sustentável para os extrativistas nos patamares atuais de preço (R$ 1,50 a R$ 1,60/kg + R$ 0, 70
relativos ao subsídio). A maior parte dos extrativistas, quando pode, concentra seu trabalho na coleta de castanha,
que nos últimos anos atingiu valores muito elevados, próximos de R$ 20,00 por lata.
48 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

nejo comunitário está sendo incenti- Política florestal no Amazonas


vado por meio da formação de coo-
perativas e pelo fornecimento de as- O Amazonas é o maior Estado do
sistência técnica por extensionistas do Brasil, com uma área de 1,5 milhão de
governo. A principal ação para km 2, e tem o menor porcentual de
verticalizar a produção foi a implan- desmatamento na Amazônia - 2%. Ape-
tação de um pólo madeireiro em Rio sar de baixo, o desmatamento começa
Branco, em parceria com o SEBRAE e o a ser preocupante na região sul do Es-
SENAI e recursos da SUFRAMA 19. Um tado, onde cresceu 16% entre 2003 e
pequeno pólo moveleiro também foi 2004 devido ao avanço da fronteira agrí-
instalado em Xapuri, onde já funcio- cola e florestal. A preservação do Esta-
na uma indústria de móveis de alto do se explica por diversos fatores. Em
padrão totalmente certificada, além de primeiro lugar, há uma concentração de
pequenas movelarias que atendem à áreas extremamente úmidas que não
demanda local. são apropriadas para o desenvolvimen-
to da agricultura e da pecuária. Em se-
Ainda como parte dos esforços de gundo lugar, parte do Estado ainda é
descentralização, em 2004 foi feita uma relativamente isolada dos mercados
parceria entre o IBAMA , IMAC e Secreta- consumidores de produtos agropecuá-
ria de Florestas para criar o Escritório rios do país devido a sua curta malha
de Manejo Florestal, estrutura respon- rodoviária. Em terceiro lugar, o mode-
sável pelo licenciamento, monitora- lo de desenvolvimento que se adotou
mento e fiscalização dos planos de ma- no Amazonas a partir da década de 60,
nejo, pela administração do Fundo de quando o governo militar incentivou a
Reposição Florestal e pela emissão de ocupação da região, foi diferente do que
Autorização de Transporte-ATPF. Como se viu em outros Estados. Enquanto no
resultado dos projetos voltados ao ma- Pará, Rondônia e Mato Grosso se priori-
nejo florestal, até 2005 se conseguiu au- zou a instalação de grandes projetos
torizar o manejo de 206 mil hectares de agropecuários e de colonização, no
florestas. Apesar dos avanços o escritó- Amazonas se procurou estimular um
rio conta com apenas 15 funcionários, setor industrial de base tecnológica por
entre engenheiros florestais, biólogos, meio de incentivos fiscais. Assim nas-
agrônomos e técnicos administrativos, ceu a Zona Franca de Manaus.
o que ainda é muito pouco face ao po-
tencial florestal do Estado e às ambições A população do Estado em 2000 era
do governo estadual. de 2.817.252 habitantes, dos quais 50,8
19
Sebrae: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, órgão voltado ao desenvolvimento
sustentável das empresas de pequeno porte; Senai: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial; Suframa:
Superintendência da Zona Franca de Manaus.
GESTÃO DESCENTRALIZADA 49

% viviam na capital, Manaus. O restan- O governo do Amazonas foi bastan-


te se distribuía em outros 61 Municípi- te incisivo no estabelecimento de nego-
os. Cerca de 75% da população do Es- ciações com o IBAMA para descentrali-
tado vivia em áreas urbanas. Esse alto zar a gestão florestal, que ocorreu de
índice de urbanização se explica pelo maneira progressiva, porém bastante
fato de que 99,35 % da população de acelerada, entre 2003 e 2005. Logo em
Manaus é urbana. Isso significa que 49% 2003 foi assinado um primeiro convê-
da população do interior é rural (IBGE, nio pelo qual o IBAMA repassou à SDS
2000). A economia estadual se concen- as competências sobre o manejo flores-
tra fortemente na capital, onde há mais tal (normatização, licenciamento do ma-
oportunidades de emprego, devido à nejo e controle e fiscalização do trans-
industrialização e à renda gerada pelo porte e industrialização de produtos flo-
pagamento de royalties da produção de restais) nas mesorregiões do Alto Soli-
gás. Em 2000, o PIB per capita de Ma- mões e Juruá e nos Municípios de
naus era quase o dobro da média do Maués e Boa Vista do Ramos. Em 2004
Estado –R$ 11.037,00 contra R$ 6.668,00 e 2005 o convênio foi acrescido de ter-
(IBGE, 2002)–, o que claramente indica mos que estenderam esses poderes para
que a população do interior ainda é todo o Estado.
muito pobre.
A limitada abrangência geográfica
Nesse contexto de pobreza rural, inicial do convênio se explica pela prio-
concentração da economia em indústri- rização dessas áreas no início de um
as da capital e enorme cobertura de ve- programa estadual de geração de ren-
getação nativa, o setor florestal pode ser da e empregos na zona rural, chamado
decisivo para diminuir as desigualda- Zona Franca Verde. Como o programa
des. De fato, de modo semelhante ao tem um componente muito forte de uso
que ocorreu em 1998 no Acre, em 2003 dos recursos naturais, particularmente
o governo do Amazonas decidiu priori- florestais e pesqueiros, a necessidade de
zar o desenvolvimento florestal do Es- imprimir maior agilidade aos processos
tado. A coordenação dessa política cabe administrativos era muito grande, e o
à Secretaria de Estado do Meio Ambi- governo prontamente passou a advogar
ente e Desenvolvimento Sustentável a descentralização como ferramenta
(SDS) criada em 2003. A secretaria conta para alcançar esse objetivo.
com três órgãos autárquicos executores
de suas políticas: o Instituto de Proteção Dentro do quadro institucional es-
Ambiental do Amazonas ( IPAAM ), a tabelecido a partir de 2003, e com a
Fundação Estadual de Política Indige- efetivação dos convênios, a SDS norma-
nista (FEPI) e a Agência de Florestas e tiza a exploração florestal, enquanto o
Negócios Sustentáveis do Amazonas. IPAAM trabalha em conjunto com o
50 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

IBAMA na análise das propostas de ma- nos elaborados. Apesar desses avanços,
nejo florestal e na fiscalização do setor. o processo é limitado pela relativa mo-
Paradoxalmente, o governo do Amazo- rosidade e baixa capacidade do Ipaam
nas não reclamou para si a responsabi- de analisar os planos enviados elabora-
lidade para licenciar o desmatamento, dos pela agência e por particulares.
apesar do convênio firmado com o
IBAMA permitir e até incentivar mais A equipe da agência é relativamen-
esse passo na descentralização. Isto pos- te pequena, com técnicos presentes em
sivelmente se explica pelo fato de que apenas 15 dos 62 Municípios do Esta-
o governo estadual prioriza a explora- do. Considerando as dimensões do
ção florestal manejada e não quer ter Amazonas e as dificuldades de trans-
que se desgastar com o licenciamento e porte, é fácil concluir que esta estrutu-
controle do desmatamento. ra ainda precisará ser ampliada e des-
concentrada. Além disso, o problema
Uma importante inovação do go- fundiário continua sendo um limitante,
verno foi a normatização do Plano de pois é difícil para muitos moradores da
Manejo Florestal Sustentável com Pro- zona rural atestar a posse sobre suas
cedimentos Simplificados (PMFSPS), que áreas. Para otimizar o processo, a agên-
beneficia produtores que queiram ma- cia prioriza aqueles que têm título de
nejar áreas de até 500 ha. Essa norma suas áreas, o que de certa forma benefi-
(portaria SDS 040/03) elimina a exigên- cia os produtores que têm melhores
cia de estabelecimento de parcelas per- condições socioeconômicas.
manentes e de talhonamento da área a
ser manejada. Como precaução para O governo também tem utilizado
evitar a extração predatória da madei- subvenções e estímulos fiscais para o
ra, ele também estabelece um limite de setor. Um desses estímulos é a isenção
intensidade máxima de exploração anu- do ICMS sobre a circulação de produtos
al de 1 m 3/ha. florestais dentro do Estado. Outro mais
específico para os extrativistas foi a cri-
Além das normas terem sido sim- ação de uma subvenção de R$ 0,70/ kg
plificadas, a Agência de Florestas auxi- de borracha que, segundo dados da SDS,
lia os produtores no preparo dos pla- beneficiou 984 famílias em 2004 e acar-
nos de manejo. Como resultado, até fi- retou um aumento da produção de bor-
nal de 2004 já haviam sido elaborados racha da ordem de 79% entre 2003 e
288 planos, o que significava uma área 2004. Os extrativistas também se bene-
de 79.514.07 ha manejados. Os núme- ficiaram da instalação de uma usina de
ros de 2005 ainda não estão computa- castanha no município de Lábrea e têm
dos, mas técnicos da secretaria afirmam trabalhado na difusão de boas práticas
que até outubro já havia mais de 400 pla- de manejo do extrativismo não só de
GESTÃO DESCENTRALIZADA 51

castanha e borracha, como também de Política florestal no Pará


açaí e de óleos vegetais.
Com uma área de 1,25 milhão de
Um grande avanço da política flo- 2
km , o Pará é o segundo maior Estado
restal e ambiental desde 2003 se refere à do Brasil e lidera o ranking do desmata-
demarcação de Unidades de Conserva- mento na Amazônia, com uma perda de
ção. Em 2002 havia no Amazonas 12 10,1% de sua cobertura florestal. A ex-
Unidades de Conservação estaduais, pansão da pecuária, do número de
com uma área total de 7,4 milhões de projetos de assentamento e, mais recen-
hectares Em 2004, após a criação de mais temente, da agricultura mecanizada,
17 unidades, a área havia praticamente têm sido os principais motores desse
dobrado, chegando a 14,4 milhões de desmatamento.
hectares. Nove dessas unidades foram
criadas no sul do Estado, com objetivo Diferentemente dos Estados do
de compor um mosaico de Unidades de Acre e do Amazonas, a racionalização
Conservação que ajudem a conter o da exploração florestal não foi conside-
avanço do desmatamento e da grilagem rada uma prioridade, a despeito do fato
nessa zona. De acordo com o Cadastro da economia florestal extrativista do
Nacional de Unidades de Conservação Estado ser a maior do país. Ao contrá-
do MMA20, o Estado tem ainda 37 Uni- rio, o governo estadual vem dando pri-
dades de Conservação federais, que co- oridade, desde 1995, à modernização da
brem 18,9 milhões de hectares. Soman- agricultura, com o lema de “desenvol-
do-se a isso as 178 Terras Indígenas, que ver sem devastar”, consolidando a fron-
ocupam 45,7 milhões de hectares, che- teira agrícola. Essa política esteve sem-
ga-se a uma impressionante área de 790 pre em afinidade com algumas das
mil km2 de áreas protegidas o que, em metas do Programa Avança Brasil do
teoria, é algo bastante positivo para a Governo Federal (entre 1995 e 2002),
conservação dos recursos naturais, mas particularmente a introdução da soja e
que também significa um grande desa- o desenvolvimento da infra-estrutura
fio em termos de gestão e fiscalização. de transporte de carga do Estado 21.
20
http://www.mma.gov.br/index.cfm?id_estrutura=66&id_menu=2074&id_conteudo=269. Acesso feito em 20/
11/2005
21
O Pará desenvolveu três pólos de produção de soja, localizados na região Sul do Estado e nos Municípios de
Santarém e Paragominas. Apesar de ser a principal cultura introduzida nessas áreas, a soja é acompanhada de
outros grãos, como o milho e o arroz, em sistemas de rotação de culturas. Muitas vezes, o plantio de grãos é apenas
uma etapa na recuperação de pastagens degradadas. O segundo pilar da estratégia de desenvolvimento do Estado
–modernização e expansão da infra-estrutura de transporte –está diretamente ligado à produção de grãos. Duran-
te esse período, o governo federal iniciou as obras de ampliação do Porto de Santarém e de construção de um
terminal de armazenamento e embarque de grãos. Além disso, a rodovia Cuiabá– Santarém começou a ser asfaltada
para facilitar o transporte da soja produzida em Mato Grosso e, futuramente, no próprio Pará. Na região de
Paragominas, o governo iniciou a construção da hidrovia do Capim, que ligará o Município ao porto de Barcarena.
Esta rota servirá para escoar a produção de madeira e soja e para levar insumos de volta ao Município.
52 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

O Pará tem maior participação em ção para descentralização diretamente


atividades de licenciamento e inclusive com o Ministério do Meio Ambiente,
disputa com Municípios e com o gover- mas até final de 2005 o que havia ainda
no federal as prerrogativas sobre o era algo como um protocolo de inten-
licenciamento de uma grande gama de ções muito abrangente, sem uma defi-
atividades. Essa estratégia se deve em nição conclusiva de como as responsa-
grande parte ao potencial de arrecadação bilidades serão repartidas. Com isso,
que tem o licenciamento de algumas apesar de sua grande dimensão territo-
atividades, particularmente no caso do rial e da complexidade de seus proble-
Pará, onde se concentra um grande nú- mas ambientais, a gestão florestal segue
mero de empreendimentos de grande centralizada, a cargo do IBAMA .
porte e com alto potencial poluidor e de
impacto ambiental, como usinas Segundo dados da Secretaria de
hidrelétricas, lavras minerais, indústrias Ciência Tecnologia e Meio Ambiente
siderúrgicas, indústrias de papel e celu- ( SECTAM ) 22, o Pará tem um total de
lose, frigoríficos e abatedouros e outros. 18.625.185 hectares de Unidades de
Conservação, o que corresponde a 14,9
O governo estadual do Pará come- % de seu território. Entre essas áreas,
çou a atuar mais intensamente na gestão há 34 UCs federais (12.353.255 hectares),
ambiental em 1998, a partir da im- 12 estaduais (6.196.252 hectares, 12
plementação do PGAI. Durante o primei- municipais (75.891 hectares) e quatro
ro ano de execução foram realizadas ofi- particulares (2.806 hectares). Das 41 Ter-
cinas de planejamento para execução de ras Indígenas identificadas, somente 33
ações ambientais em nove Municípios das têm área definida, e totalizam
duas áreas abrangidas pelo projeto, per- 47.321.358 hectares, ou 37,8 % da super-
mitindo alguns avanços na descentra- fície do Estado. Assim como em outros
lização da gestão ambiental. O Estado Estados, há uma grande dificuldade
adquiriu quase todos os equipamentos para implementar o manejo efetivo das
para estabelecer seu Sistema Estadual de Unidades de Conservação e há muitos
Informações Ambientais, realizou fóruns problemas de invasões e desmatamen-
públicos e seminários temáticos e cursos to, particularmente nas áreas estaduais,
sobre as bases administrativas e legais da que em sua maioria são Áreas de Pro-
gestão ambiental nos Municípios já cober- teção Ambiental (APA).
tos pelo PGAI/PA.
O Estado prioriza a realização de
Em 2005 o governo do Estado co- seu Zoneamento Ecológico-Econômi-
meçou a negociar acordos de coopera- co, que foi iniciado em 2002. Em uma

22
http://www.sectam.pa.gov.br/uc.htm. Acesso feito em 23/10/2005.
GESTÃO DESCENTRALIZADA 53

primeira fase, foi feito um macrozonea- Política florestal nos Estados: Um


mento, na escala 1: 2.000.000, posteri- balanço crítico
ormente sancionado por lei (lei nº
6.745, de 6 de maio de 2005). O zonea- As políticas dos Estados do Acre e
mento estabelece quatro zonas de ges- Amazonas são bastante similares e
tão territorial, definidas a partir de ambas diferem em muito daquela do
dados atuais relativos ao grau de de- Estado do Pará. Os dois primeiros Es-
gradação ou preservação da qualida- tados priorizaram o setor florestal e pro-
de ambiental e à intensidade do uso e curaram obter responsabilidades do
exploração de recursos naturais. As zo- IBAMA para administrar esse setor.
nas são as seguintes: Além da descentralização, esses Esta-
dos investiram na criação de capacida-
I - 65% (sessenta e cinco por cento), no de para a gestão florestal, coisa que in-
mínimo, destinados a áreas espe- cluiu novas estruturas administrativas
cialmente protegidas, assim distri- e contratação e capacitação de técnicos.
buídas: Como parte dessa política florestal, es-
ses Estados criaram nos últimos anos
a) 28% (vinte e oito por cento), no várias Unidades de Conservação, que
mínimo, para Terras Indígenas e têm como objetivo controlar o avanço
Terras de Quilombos; da fronteira agrícola e ao mesmo tem-
b) 27% (vinte e sete por cento), no po gerar renda e empregos por meio da
mínimo, destinados a Unidades exploração florestal.
de Conservação de Uso Susten-
tável; e O governo do Pará, por outro lado,
c) 10% (dez por cento), no mínimo, aposta no desenvolvimento por meio da
destinados a Unidades de Con- pecuária, agricultura mecanizada e
servação de Proteção Integral; grandes projetos de mineração, energia
e transformação de matérias-primas. A
II - 35% (trinta e cinco por cento), no estrutura e as atribuições da SECTAM re-
máximo, para consolidação e fletem essas prioridades. Em vez de cri-
expansão de atividades produtivas, ar capacidade na área florestal e pressi-
áreas de recuperação e áreas alte- onar o IBAMA a transferir poderes para
radas. o Estado, a secretaria investiu nas áreas
Apesar do zoneamento estabelecer de licenciamento ambiental e fiscaliza-
uma grande extensão de áreas pro- ção, além de desenvolver um sistema
tegidas, seus críticos temem que na de informações ambientais, com auxí-
verdade o grande objetivo do go- lio do PGAI. O governo paraense tam-
verno seja expandir a área de agro- pouco investiu na criação de novas
pecuária no Estado. Unidades de Conservação nos últimos
54 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

anos, diferentemente do que fizeram os cialmente causadoras de impactos am-


governos do Acre e do Amazonas. bientais. Apesar de não gostar das
atividades de fiscalização, os empresá-
Em comum, os três Estados têm rios que precisam de licenciamento para
uma política ambiental e florestal bas- poder trabalhar apóiam as demandas
tante centralizada, com pouco estímu- por descentralização, pois esperam as-
lo à participação dos Municípios. O sim ter um atendimento mais eficiente.
Pará é o Estado que avançou um pouco No Acre e no Amazonas os órgãos am-
mais na descentralização, ao eleger bientais estão mais desconcentrados, o
como prioridade do PGAI a estruturação que é reflexo das políticas adotadas nes-
e fortalecimento de órgãos ambientais ses dois Estados, que têm foco na pro-
em 12 Municípios, dos quais 7 na região dução extrativista e agrícola familiar.
do Moju-Capim –Moju, Tomé-Açu,
Paragominas, Irituia, Tucuruí, Breu
Branco, Jacundá– e 5 na área do Tapajós 2. Gestão florestal municipal
- Itaituba, Santarém, Belterra, Novo Pro-
gresso e Jacareacanga. O fortalecimen- Os Municípios da Amazônia, prin-
to institucional dos órgãos ambientais cipalmente os menores e mais pobres,
desses Municípios não necessariamen- têm ainda mais dificuldades que os Es-
te foi acompanhado de uma transferên- tados para estruturar seus órgãos am-
cia significativa de poderes e responsa- bientais e assumir responsabilidades na
bilidades. Em geral, os Municípios re- área florestal. Segundo levantamento
ceberam a incumbência de licenciar e do IBGE, em 2002, 30% dos Municípios
fiscalizar algumas atividades de menor dos 9 Estados da Amazônia não tinham
impacto que, a rigor, já eram de sua nenhuma estrutura político-administra-
competência. tiva na área ambiental, com grande va-
riação entre os Estados (Tabela 8). En-
Apesar desse tímido passo em quanto os 16 Municípios do Amapá têm
direção à descentralização, o Estado do alguma estrutura, em Tocantins somen-
Pará tem uma estrutura altamente con- te 41% dos 139 Municípios contam com
centrada, o que causa grande frustra- algo similar. É bem menor a proporção
ção entre os empresários que necessi- de Municípios que têm uma secretaria
tam de licenças ambientais para operar exclusiva de meio ambiente –somente
seus negócios. Como os técnicos da 60, ou 10,73% do total de Municípios.
SECTAM se concentram em Belém, e as De modo geral, os Municípios têm se-
viagens ao interior são caras e demora- cretarias mistas, que reúnem mais de
das, as visitas são raras, o que compro- uma área administrativa (47,94% dos
mete tanto a emissão de licenças quan- municípios que têm estrutura ambien-
to a fiscalização das atividades poten- tal), ou então um departamento ou as-
GESTÃO DESCENTRALIZADA 55

sessoria de meio ambiente dentro de maioria desses casos (52,77%), trata-se


alguma outra secretaria (41,32%). Na da secretaria municipal de agricultura.

Tabela 8
Estruturas Político-Administrativas Ambientais em Municípios dos Estados
que Compõem a Amazônia em 2002

Com Secretaria De Meio Ambiente Sem Secretaria


Estado No Mun. Com Estru- Secretaria Secretaria Meio Ambiente Depto. Meio Ambiente Total Amb.
tura de Meio Exclusiva- + Outra Área em Outra Secretaria + Agric.
Ambiente Meio
Ambiente
Total Agric. Total Agric.
RO 52 29 3 14 13 12 9 22
AC 22 16 3 9 8 4 3 11
AM 62 53 14 30 9 9 4 13
RR 15 11 - 8 4 3 1 5
PA 143 112 15 49 27 48 24 51
AP 16 16 6 8 6 2 1 7
TO 139 57 5 24 3 28 10 13
MA 217 152 10 61 38 81 57 95
MT 139 113 4 65 42 44 36 78
Total 805 559 60 268 150 231 145 295

Fonte: IBGE – Perfil dos Municípios Brasileiros 2002.

A interpretação desses números re- secretarias de meio ambiente são essen-


quer cuidado. O pequeno número de cialmente urbanas e envolvem ativida-
Municípios que têm estruturas am- des como coleta e tratamento de resí-
bientais autônomas não surpreende e duos sólidos, paisagismo e ajardina-
tampouco é um indicativo claro de to- mento e licenciamento de atividades
das as dificuldades com a gestão urbanas.
ambiental local. De modo geral, são jus-
tamente os municípios maiores que têm A freqüente associação dos órgãos
essas estruturas, porque eles podem de meio ambiente com os de agropecuá-
custeá-las e porque há uma demanda ria revela as dificuldades dos pequenos
local muito grande por seus serviços. municípios em criar órgãos autônomos.
Isso não significa que esses municípios Ela também é preocupante porque pode
necessariamente sejam mais ativos na indicar uma subordinação da política
gestão florestal. Pelo contrário, as de- ambiental à política agropecuária, e elas
mandas que justificam e sustentam as muitas vezes são claramente incompa-
56 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

tíveis. Por outro lado, essa associação produto de seu território e, com
tem um lado positivo: a preocupação isso, podem fiscalizar o repasse do
com a geração de renda pelo uso dos re- Imposto sobre Circulação de
cursos naturais em muitos Municípios. Mercadorias e Serviços (ICMS ) do
governo estadual para o municipal,
Experiências municipais o que evita a perda de arrecadação
de impostos gerados pelo setor de
Seja com fins de geração de renda, beneficiamento de madeira.
seja com fins conservacionistas, o fato é
que os governos locais tomam iniciati- Planejamento e ordenamento ter-
vas concretas que direta ou indireta- ritorial: Brasiléia e Epitaciolândia,
mente afetam o setor florestal. Entre tais no Acre, deram início à elaboração
iniciativas destacam-se a criação de leis de seus ZEE s municipais, com
e ações administrativas para proteger o auxílio do governo do Estado e da
setor, fomento a sistemas agroflorestais Cooperação Alemã ( GTZ ). Em Itai-
por meio de assistência técnica, coorde- tuba, a secretaria municipal de meio
nação institucional com órgãos gover- ambiente conseguiu estruturar um
namentais que afetam o uso dos recur- pequeno laboratório de geoproce-
sos florestais, criação de áreas protegi- ssamento, com recursos do PGAI, e
das, recuperação de áreas degradadas capacitou técnicos para produzir
e outras. A seguir citamos e discutimos mapas que podem fornecer valio-
alguns exemplos desses tipos de ação. sos subsídios a uma política de
planejamento de uso dos recursos
Legislação e fiscalização: Muitos naturais.
municípios procuram criar leis
municipais que impeçam a saída de Otimização de uso de recursos
madeira em tora do Município, evi- florestais e aproveitamento de
tando assim que a agregação de resíduos da indústria madeireira.
valor à atividade e a corresponden- Em Paragominas (PA), por exemplo,
te arrecadação fiscal sejam apro- a prefeitura desenvolve um projeto
priadas em Municípios vizinhos para o uso da serragem –material
que serram e beneficiam a madeira. abundante nesse importante pólo
Itaituba ( PA) já tem esse tipo de madeireiro– para a fabricação de
legislação. Em Porto de Moz (PA), “briquetes” combustíveis (Maia,
lei similar foi proposta, mas recu- 2005). Em Marabá, a secretaria Mu-
sada porque criaria um monop- nicipal de Meio Ambiente buscou
sônio no mercado de madeira. Há apoio da Universidade Federal do
Municípios, como Juína (MT), que Pará para encontrar uma solução
controlam toda a entrada e saída do tecnológica para diminuir o consu-
GESTÃO DESCENTRALIZADA 57

mo de lenha no setor cerâmico do seus solos, produtos que serão a


Município. Após identificar uma base do processo de ordenamento
solução adequada –a queima de territorial do município.
serragem– fez um trabalho de
assistência técnica para ajudar as Unidades de Conservação : No
indústrias a converter seus fornos município de Marabá há uma
para usar esse combustível. experiência interessante de parceria
entre governo municipal, ONG s e
Articulação Interinstitucional: Em uma empresa privada, que resultou
muitos casos, os governantes mu- no estabelecimento da Área de Re-
nicipais querem implementar ações levante Interesse Ecológico “Reser-
mais incisivas na área florestal, mas va Nordisk”. Trata-se de uma área
como carecem de mandato formal de 2.999 hectares de floresta pri-
para tanto, buscam se aproximar mária, no meio de uma imensa área
das agências estaduais e federais e desmatada. A propriedade foi cedi-
facilitar o trabalho dessas. É o caso da em comodato pela madeireira
de Fonte Boa, no Amazonas, onde Nordisk a uma ONG local –Fun-
a prefeitura construiu e cedeu as dação Zoobotânica–, para estudos
instalações para abrigar os escritó- e preservação. Os técnicos da ONG
rios locais da Agência de Florestas, constataram que a área era um dos
do Ipaam e do IBAMA e assim se raros remanescentes do chamado
aproximar destes órgãos e promo- polígono dos castanhais, que outro-
ver a articulação entre eles para ra cobria a região, e sua diretoria
otimizar a exploração florestal no iniciou um diálogo com a Secreta-
município. Em Apuí, também no ria Municipal de Meio Ambiente e
Amazonas, o Departamento de levou a discussão sobre a preserva-
Meio Ambiente da prefeitura auxi- ção da área ao Conselho Municipal
lia o IBAMA no cadastramento de de Meio Ambiente. Após um acor-
produtores que queiram solicitar a do com a empresa, que se dispôs a
autorização de desmate e apóia o passar a posse da terra à prefeitura,
Ipaam nas atividades de controle o Conselho aprovou uma resolução
ambiental no Município. Em criando a área, decisão que foi ho-
Itaituba, a prefeitura estabeleceu mologada posteriormente por de-
convênios com o Sistema de creto municipal.
Vigilância da Amazônia (SIVAM) e Em Juína, a prefeitura criou um
com a Empresa Brasileira de Pes- parque municipal de aproximada-
quisa Agropecuária ( EMBRAPA ) mente 40 ha que cobre parte da sede
para montar a base cartográfica do municipal e de seu entorno. Essa
município e fazer o mapeamento de era uma área extremamente degra-
58 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

dada que está sendo recuperada Amazônia. As regras do edital


pela prefeitura e que, além de área privilegiavam os Municípios que se
verde urbana, servirá como expe- associavam para compartilhar re-
riência piloto para recuperação de cursos humanos e materiais.
outras áreas degradadas do
Município. Sistemas agroflorestais: Há por
toda Amazônia um grande núme-
Formação de consórcios: Muni- ro de experiências de implemen-
cípios vizinhos têm formado con- tação de sistemas florestais, com
sórcios como forma de otimizar a apoio dos mais diversos órgãos:
captação de recursos e abordar pro- governo federal, governos esta-
blemas ambientais que atravessam duais, prefeituras, universidades e
suas fronteiras. Um exemplo é o organismos de pesquisa interna-
Consórcio de Desenvolvimento cionais. Muitas prefeituras fomen-
Intermunicipal do Alto Rio Acre e tam essa atividade por meio da bus-
Capixaba ( CONDIAC ), integrado ca de parcerias, pelo fornecimento
pelos municípios de Assis Brasil, de assistência técnica, pressionando
Brasiléia, Epitaciolândia, Xapuri e bancos estatais para a liberação de
Capixaba. Criado oficialmente em crédito e também produzindo mu-
2003, o consórcio tem uma pequena das para distribuição aos agriculto-
equipe própria e, entre outras res, como no caso de Juína.
atividades, participa de um projeto Em Rio Branco, em meados da dé-
para recuperação da mata ciliar do cada de 90 a prefeitura organizou
rio Acre. O projeto foi submetido ao quatro pequenos assentamentos
Fundo Nacional de Meio Ambien- agroflorestais no entorno da capi-
te ( FNMA) em 2005 e tem por obje- tal. Esses pólos agroflorestais
tivos recuperar a mata e aumentar tinham por objetivo levar de volta
a população de espécies de valor ao campo parte dos imigrantes que
econômico e trazer para a legalida- viviam em favelas na capital. Os
de os produtores que desmataram assentados trabalham com plantio
ilegalmente essas áreas de preser- de frutíferas e espécies nativas e na
vação permanente. produção de verduras para consu-
Em outros casos, a formação de mo no mercado de Rio Branco.
consórcios é induzida por ações do Experiência semelhante foi repro-
governo federal, como o edital que duzida em Xapuri., onde também
o FNMA lançou em 2003 (edital se instalou uma mini-indústria de
FNMA 05/2003) para receber beneficiamento de Copaíba.
propostas de fortalecimento da Em Moju também há um forte fo-
gestão ambiental nos Municípios da mento aos sistemas agroflorestais.
GESTÃO DESCENTRALIZADA 59

A Secretaria municipal de Agricul- Recuperação de áreas degradadas:


tura e Meio Ambiente (Semagri) Além do exemplo citado anterior-
estabeleceu parceiras com a Em- mente, do projeto do Condiac, há
brapa, empresas madeireiras locais, vários Municípios que têm traba-
SECTAM , EMATER e DFID 23 para lhado nessa área. Em Juína (MT), a
produzir mudas e sementes, capa- Secretaria de Agricultura Minera-
citar agricultores e fornecer-lhes ção e Meio Ambiente estabeleceu
assistência técnica. um grande viveiro de mudas
florestais com capacidade de
Subsídios e incentivos fiscais: os produção de 120 mil mudas/ano,
governo municipais têm pouco que são utilizadas na recuperação
poder de fogo quando o assunto da vegetação do parque municipal
á subsídios e incentivos, pois a de matas ciliares em áreas públicas
maior parcela dos impostos e e privadas. Em Moju (PA), a prefei-
taxas é arrecadada pelos Estados tura também investiu na recupera-
e pela União. Ainda assim, há ção de áreas alteradas, principal-
exemplos de prefeituras que mente às margens do rio Ubá.
atraem indústria por meio de Nesse trabalho conta com a colabo-
concessão de isenções de IPTU e ração de diversos atores, incluindo
ISS (Imposto sobre Serviços), ou uma empresa do setor madeireiro
pela doação de terrenos e inves- que fornece à prefeitura mudas
timentos em infra-estrutura de florestais produzidas em seu vi-
transporte e energia, por exemplo. veiro.
Em Xapuri, a prefeitura cedeu os
terrenos e isentou de ISS e taxas de Se as prefeituras por um lado atuam
alvará as indústrias que se insta- em frentes que podem afetar positiva-
laram no Pólo de Produtos Flo- mente o uso sustentável do setor flores-
restais instalado no Município tal, por outro lado elas também se envol-
com recursos da Suframa e apoio vem em diversas atividades que podem
do governo estadual, que também ter impactos bastante negativos. A seguir
concedeu isenções de impostos. discutimos algumas das principais.
Em Paragominas a prefeitura fez
algo similar para atrair indústrias Abertura de estradas: Esse é certa-
de diversos setores, incluindo be- mente um dos serviços mais impor-
neficiamento de madeira e pro- tantes para a população rural, pois
dução de móveis. determina seu acesso a mercados e

23
DFID: Department for International Development, do governo Britânico; EMATER: Empresa Paraense de
Assistência Técnica e Extensão Rural.
60 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

serviços de saúde e educação, en- rebanho dos Estados da Amazônia


tre outros. Entretanto, a abertura de aumentou 148%, número muito su-
estradas é uma das principais cau- perior ao do aumento do rebanho
sas do avanço da fronteira agrícola nacional (32 %). Secretarias estaduais
e florestal, bem como do desma- e municipais de agricultura têm sido
tamento. Algumas prefeituras parceiras decisivas do governo fede-
constroem estradas para melhorar ral no Programa Nacional de
as condições de vida dos agriculto- Erradicação da Febre Aftosa, fazendo
res familiares, mas muitas vezes trabalhos de divulgação, distribuição
isso é feito com intenção de facili- de vacinas e fiscalização.
tar a penetração de madeireiros na
floresta. Isso é particularmente im- Crédito rural: Na década de 90,
portante nas áreas onde a atividade principalmente, muitos governos
madeireira é intensa. Não é raro en- municipais se engajaram em ativi-
contrar nessas regiões parcerias dades de lobby político junto ao Ban-
informais entre madeireiros e co da Amazônia para facilitar a
prefeitos para expandir a malha liberação de crédito rural para pe-
viária do Município. Nesses casos quenos produtores agropecuários. A
a prefeitura costuma custear o princípio, a maior parte desse
combustível para os tratores dos dinheiro (proveniente do Fundo
empresários fazerem a abertura das Constitucional de Desenvolvimento
estradas. do Norte-FNO) deveria ter sido usa-
da para financiar a implementação
Programas de combate à aftosa: de sistemas agroflorestais e pecuária
Talvez o melhor exemplo de sucesso de leite. Entretanto, acabou subsi-
na coordenação de atividades entre diando a expansão da pecuária de
os três níveis de governo no Brasil corte entre pequenos produtores,
seja o programa de combate à febre com sérios prejuízos para a floresta
aftosa, que tem expandido o merca- devido à expansão de áreas de pas-
do de carne de Estados da Amazônia tagem.
por meio da derrubada de barreiras
sanitárias. Enquanto alguns Estados Fortalecimento da capacidade local
ganham acesso ao mercado interna-
cional de carne, outros os substituem Para exemplificar as diversas ações
como fonte no mercado interno. Com dos municípios na área florestal, recor-
isso, a demanda por carne produzida remos a um pequeno número de Muni-
no país aumentou acentuadamente, cípios. Certamente, no universo de 850
o que causou uma rápida expansão Municípios da Amazônia há muitas
da pecuária. Entre 1990 e 2005, o outras experiências inovadoras na área.
GESTÃO DESCENTRALIZADA 61

Chama a atenção, contudo, o fato de que falta de capacidade técnica e financeira.


nos exemplos citados anteriormente Em muitos casos elas são informais; em
quase que invariavelmente os Municí- outros, são oficializadas por meio de acor-
pios trabalham em parceria com algum dos e convênios. A tabela 9 mostra que
ator externo -ONG, organismo de coo- essas ferramentas têm sido utilizadas ape-
peração, órgão de outro nível de gover- nas por uma parcela dos Municípios dos
no, centro de pesquisa etc. Estados da Amazônia. Em 2002, cerca de
36 % desses Municípios tinham algum
As parcerias ajudam os governos tipo de convênio estabelecido, o que não
municipais a contornar o problema de é um número muito grande.

Tabela 9
Acordos e convênios entre governos municipais e outros órgãos nos Estados da Amazônia

Estado
RO AC AM RR PA AP TO MA MT Total
Total de Municípios 52 22 62 15 143 16 139 217 139 805
Com convênio 18 8 33 8 54 13 35 61 59 289
Órgão Mun. 2 - 3 1 3 - 1 - 5 15
Órgão Est. 7 5 14 2 39 12 26 13 26 144
Órgão Fed 11 3 22 4 21 5 16 36 18 136
Empresa Estatal 1 - 2 - 4 - - 2 5 14
Inst.. Privada 3 - 4 3 7 5 3 8 8 41
Orgão Intern. 1 2 1 2 5 4 - 1 1 17
ONG 4 2 8 1 7 3 7 13 8 53
Univer. /Órgão Pesquisa 3 2 7 - 13 2 7 4 7 45
Outro 1 - 2 - - - 1 5 5 14
Fonte: IBGE – Perfil dos Municípios Brasileiros -2002

Os dados sugerem que esses Mu- problemas socioambientais muito acen-


nicípios têm múltiplos convênios (a tuados. Um caso exemplar é Xapuri,
soma das diversas categorias de convê- que traz consigo toda a mística da luta
nio supera o número total de Municípi- dos seringueiros e da vida e morte de
os com convênio). Uma explicação para Chico Mendes. No Município há diver-
isso é que alguns municípios têm atra- sos programas dos governos federal e
tivos muito particulares que criam uma estadual, de ONG s, de organismos in-
demanda por cooperação, como, por ternacionais e de empresas particulares.
exemplo, parques e reservas, ou ainda É conveniente para muitos desses atores
62 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

ter seus nomes associados a Xapuri e ente. Sem dúvida, prefeitos respondem
assim, ganhar uma projeção positiva. a estímulos que afetam diretamente o
Outra explicação, que não exclui essa pri- orçamento municipal. Uma secretaria
meira, é que alguns Municípios de fato deficitária que compete com outros ór-
buscam mais apoio externo, movidos por gãos administrativos do governo mu-
preferências políticas de seus prefeitos e nicipal por recursos orçamentários não
secretários e, muitas vezes, beneficiados é atrativa para um administrador pú-
por suas boas relações políticas na capi- blico. Porém mesmo o licenciamento de
tal e pela competência de alguns de seus pequenas atividades pode gerar recei-
técnicos. Isto torna a tarefa de fortalecer tas para o município e, em alguns ca-
os órgãos municipais de meio ambiente sos, custear o órgão ambiental A expe-
ainda mais importante. riência do Município de Marabá é bas-
tante ilustrativa nesse sentido. Mesmo
O fortalecimento de órgãos muni- sem conseguir tirar da SECTAM a res-
cipais de meio ambiente exige investi- ponsabilidade de licenciar grandes em-
mentos em capacitação e infra-estrutu- preendimentos, muitos deles claramen-
ra, o que pode ser feito pelos governos te da alçada municipal, a secretaria de
estaduais e federal e até mesmo pelas meio ambiente consegue gerar receitas
prefeituras. Uma importante discussão para pagar seus custos operacionais e
que precisa ser estimulada nos Municí- ainda presta com eficiência uma série
pios diz respeito à sustentabilidade fi- de serviços de gestão ambiental (Toni e
nanceira das estruturas de meio ambi- Pacheco, 2005).
63

7. Conclusões

Fica claro que apesar de não estar genas estivesse sob controle municipal
em curso um processo formal de des- ou até mesmo estadual.
centralização da gestão florestal no
Brasil, na prática os três níveis admi- A raiz dos conflitos é a necessidade
nistrativos se envolvem diretamente dos indígenas de ter acesso a amplas áre-
com o tema e cada um traz contribui- as de floresta, o que muitas vezes é con-
ções e problemas distintos para uma testado por outros grupos. O governo
gestão mais eqüitativa dos recursos federal tem sido fundamental para as-
naturais. As experiências aqui relata- segurar esse acesso por meio da criação
das e o histórico da ocupação ama- de Terras Indígenas. A demarcação de-
zônica e do próprio Brasil demonstram las e sua efetiva proteção ainda deixam
que, por mais desejável que possa ser muito a desejar, mas são justamente as
a descentralização, a presença do go- áreas mais bem protegidas da Amazô-
verno federal ainda é essencial para nia. Considerando as fortes pressões lo-
proteger os interesses dos indígenas. cais, é duvidoso que outros níveis de
Esses grupos têm se envolvido em con- governo pudessem assumir a responsa-
flitos com praticamente todos os outros bilidade pela criação e demarcação de
atores que ocupam a região: madeirei- Terras Indígenas. Outro ponto importan-
ros, pecuaristas, garimpeiros, grandes te é a dificuldade que os indígenas têm
empresas mineradoras e até mesmo para explorar a madeira de suas terras.
agricultores familiares. Seu poder po- Para que isso possa ser feito legalmente
lítico na esfera local é mínimo, e o gru- é necessário que se desenvolva um mar-
po poderia ser gravemente ameaçado co legal apropriado, o que, a princípio, é
se o poder de estabelecer Terras Indí- matéria de competência federal.
64 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

As experiências de descentralização responsáveis (Imac e Ipaam) continua


em nível estadual, apesar de relativa- sendo um gargalo no setor florestal. Es-
mente recentes –7 anos no Acre, 3 anos ses Estados ainda precisam fortalecer
no Amazonas– se mostram muito pro- seus órgãos ambientais para acelerar
missoras no sentido de tornar o setor flo- esse processo, mas não é certo que ha-
restal uma fonte de renda efetiva para verá recursos para fazer isso e investir
pequenos produtores. Os governos des- mais no setor de fomento. Os governos
ses Estados criaram subsídios que bene- municipais poderiam assumir um pa-
ficiam diretamente os extrativistas, coi- pel maior na área de fomento. Contu-
sa que se revela pelo aumento da pro- do, os Estados têm se mostrado ainda
dução de borracha, por exemplo. Mais pouco propensos a estender a
importante, contudo, foi a criação de descentralização ao nível municipal.
condições para dar aos pequenos produ-
tores acesso à atividade madeireira le- Os Municípios ainda padecem de
gal. A descentralização teve um papel uma baixa capacidade institucional, mas
primordial nisso, pois esses Estados cri- a boa notícia é que isso não é regra. Há
aram normas e procedimentos adminis- diversos governos municipais adotando
trativos simplificados que facilitam a iniciativas inovadoras na área florestal,
obtenção de autorizações de desmata- sem que haja um programa de
mento e de exploração madeireira. descentralização com objetivos claros e
metas definidas. A discussão sobre a via-
Também foi fundamental nesses dois bilidade fiscal dos órgãos ambientais
Estados a criação de mecanismos e estru- municipais é imperativa e certamente,
turas de fomento, tanto para o setor ma- para que se atinja um patamar desejável
deireiro quanto para o não madeireiro. A de geração de receitas, é preciso haver
assistência técnica florestal tem um pa- uma descentralização mais agressiva das
pel muito importante, pois essas popula- tarefas de licenciamento, acompanhada
ções não têm familiaridade com o mane- da capacitação local. Com a geração de
jo florestal e necessitam de capacitação receitas, os órgãos municipais certamen-
constante. A experiência de criação da te terão maior facilidade para contratar
Agência Florestal no Amazonas é bastan- técnicos e engenheiros florestais que pos-
te significativa, apesar de ainda operar em sam prestar assistência aos pequenos pro-
uma escala bastante limitada. dutores rurais que desejam aproveitar
legalmente seus recursos florestais. Ob-
Tanto no Acre quanto no Amazo- viamente essa ação mais direta do poder
nas, mesmo após a descentralização, o municipal pressupõe a existência de um
processo de análise dos planos de ma- quadro institucional mais favorável, se-
nejo e de pedidos de autorização de melhante ao que se está criando no Esta-
desmatamento submetidos aos órgãos do do Amazonas com a regulamentação
CONCLUSÕES 65

do manejo florestal simplificado. Nesse Apesar da morosidade para que se


quadro, os técnicos podem elaborar um chegue a um sistema de gestão flores-
maior número de planos de manejo, coi- tal compartilhada entre União, Estados
sa que certamente também demandará e Municípios, tem havido avanços sig-
maior capacidade dos órgãos competen- nificativos nos últimos anos, e as expe-
tes para analisar os referidos planos e fis- riências em curso precisam ser mais
calizar sua implementação. bem avaliadas e divulgadas.
66 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
67

8. Prioridades de pesquisa e oportunidades de atuação

O que existe de mais concreto na madeira têm tido nos Estados do Acre
região amazônica em termos de e Amazonas, tanto do ponto de vista de
descentralização de poderes de decisão geração de renda e diminuição de po-
ocorre no nível estadual. Entre os Esta- breza quanto fiscal.
dos, as causas, a natureza, o grau e as
conseqüências da descentralização são Os exemplos de atividades desen-
bastante variáveis e muito pouco foi volvidas por governos municipais são
feito até hoje para se compreender essa apenas circunstanciais. É necessário que
diversidade. Um estudo comparativo se faça uma sistematização e uma aná-
mais amplo sobre as condições para a lise comparativa mais ostensiva dessas
descentralização e suas conseqüências experiências, nas quais se busque apon-
seria muito adequado nesse momento tar os fatores que facilitam ou dificul-
em que alguns Estados decidem ampli- tam a inserção dos Municípios na ges-
ar suas competências na área enquanto tão florestal. Assim como no caso dos
outros relutam em fazê-lo. Tal levanta- Estados, esse tipo de pesquisa deveria
mento deveria incluir Estados de fora incluir Municípios de outras regiões,
da Amazônia, nos quais há experiênci- nos quais os governos municipais são
as mais antigas e consolidadas de ges- mais ativos na gestão de seus recursos
tão descentralizada, das quais se podem naturais. É muito importante ajudar a
extrair importantes lições. Ainda no ní- difundir essas experiências e promover
vel estadual, seria importante analisar intercâmbios entre administradores
o impacto que as políticas de subsídios municipais para que eles percebam as
ao extrativismo e de promoção da oportunidades e benefícios da des-
verticalização da cadeia de produção da centralização. Ainda nessa linha de es-
68 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

tudos comparativos, é importante estu- estratégias adotadas pelo programa em


dar Municípios onde têm funcionado cada Estado da Amazônia e buscar li-
arranjos institucionais para gestão flo- ções em seus sucessos e fracassos.
restal que incluem múltiplos atores –go-
vernamentais e privados. A partir des- O aprendizado com as experiências
ses estudos seria possível identificar os de gestão descentralizada passadas e em
fatores que facilitam ou dificultam o curso pode servir como valioso aporte
estabelecimento de tais mecanismos. para futuras políticas de descentralização.
Mais importante ainda, a difusão de ex-
Uma outra importante vertente de periências positivas tem potencial de ex-
pesquisa é o acompanhamento do im- pandir a discussão sobre o tema e des-
pacto que tiveram as poucas políticas pertar o interesse de atores relevantes –
voltadas ao fortalecimento da gestão particularmente nas esferas decisórias
descentralizada, notadamente o PGAI. É estaduais e municipais–, a quem cabe tra-
fundamental comparar as diferentes balhar pela descentralização.
ANEXO 69

Anexo 1
Tipos de Unidades de Conservação

Tipo de Unidade Objetivos/Atributos


Unidades de Proteção Integral
I - Estação Ecológica: Preservação da natureza e realização de pesquisas científicas Proibida a visitação
pública, exceto com objetivo educacional. A pesquisa científica depende de
autorização prévia do órgão responsável
II - Reserva Biológica: Preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus
limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais
III - Parque Nacional: Preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza
cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento
de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato
com a natureza e de turismo ecológico
IV - Monumento Natural: Preservação de sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.
V - Refúgio de Vida Silvestre: Proteção de ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência
ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou
migratória
Unidades de Uso Sustentável
I - Área de Proteção Ambiental: Área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atri-
butos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para
a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas. Tem como objetivos
básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e
assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
II - Área de Relevante Área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana,
Interesse Ecológico com características naturais extraordinárias ou que abrigue exemplares raros da
biota regional. Tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância
regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-
lo com os objetivos de conservação da natureza.
III - Floresta Nacional: Área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas, tem como ob-
jetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científi-
ca, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas.
IV - Reserva Extrativista: É uma área utilizada por populações locais, cuja subsistência baseia-se no
extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação
de animais de pequeno porte. Seus objetivos básicos são proteger os meios de
vida e a cultura dessas populações e assegurar o uso sustentável dos recursos
naturais da unidade.
V - Reserva de Fauna: É uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou
aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos
sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos
VI - Reserva de Área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência se baseia em
Desenvolvimento Sustentável: sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao
70 GESTÃO FLORESTAL NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham


um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade
biológica.
VII – Reserva Particular do Área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade
Patrimônio Natural: biológica.
71

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