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7º Congresso Florestal Nacional

Conhecimento e Inovação

Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais

Artigos / Comunicações

Vila Real e Bragança

5 – 8 Junho 2013

ORGANIZAÇÃO
7 Congresso Florestal Nacional

Ficha técnica

7 Congresso Florestal Nacional


Artigos / Comunicações
CD

Editores: João Bento, José Lousada, Maria do Sameiro Patrício

Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais


Vila Real e Bragança, Portugal.
Junho 2013

ISBN: 978-972-99656-2-3

Esta edição foi patrocinada pelo


Programa – Fundo de Apoio à Comunidade Ciêntifica/FCT

Divulgação

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VII CONGRESSO FLORESTAL NACIONAL
FLORESTAS 2013 – Conhecimento e Inovação

Sociedade Portuguesa de Ciências Florestais

Organização:
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)
Escola Superior Agrária de Bragança (ESAB/IPB)

Vila Real / Bragança, Junho 2013

A sétima edição do Congresso Florestal Nacional decorre em 2013, em Trás-os-Montes, nas cidades
de Vila Real e Bragança. Os Congressos Florestais vêm sendo organizados pela Sociedade
Portuguesa de Ciências Florestais desde 1986, envolvendo na sua preparação diferentes instituições
anfitriãs, tendo proporcionado a sua concretização de forma descentralizada em vários locais do País.

Os anteriores Congressos,

I – Lisboa, 1986 – Floresta, Desafio de Longo Prazo


II – Porto, 1990 – Floresta e Mudança
III – Figueira da Foz, 1994 – Os Recursos Florestais no Desenvolvimento Rural
IV – Évora, 2001 – A Floresta na Sociedade do Futuro
V – Viseu, 2005 – A Floresta e as Gentes
VI – Ponta Delgada, 2009 – A Floresta num Mundo Globalizado

e a actual edição mantêm em comum duas características; a periodicidade quadrienal, apenas


dilatada na mudança de milénio, e a agenda múltipla de temas e assuntos abordados, um pouco à
semelhança da diversidade das influências e implicações que as florestas representam na sua gestão
e para o desenvolvimento das sociedades.

No entanto, neste 7º Congresso acrescentam-se algumas “novidades”, originalmente referidas no seu


anúncio de lançamento, no Outono passado.
7 Congresso Florestal Nacional

É largamente ampliado o quadro de conferencistas

FLORESTAS 2013, uma presença do conhecimento / um património consolidado


O Congresso reservará um tempo especial para conferências com especialistas de áreas científicas
consagradas, explicitando o interesse que a floresta inspira para as suas abordagens. Da
Biotecnologia às Ciências Humanas e Sociais, da Energia à Ecologia, a floresta constitui motivo de
estudo, aprofundamento e consolidação do conhecimento.

Promovem-se numerosas Mesas Temáticas, tanto em Plenário como em Sessões Paralelas,


procurando alargar ainda mais o leque das matérias em apreciação

FLORESTAS 2013, um espaço de debate / as políticas florestais


As políticas públicas de apoio e intervenção nas florestas serão objecto de análise e revisão,
igualmente à luz do conhecimento e com o rigor científico que a aplicação de recursos limitados
obriga e exige. A Defesa da Floresta Contra Incêndios, a Luta Contra o Nemátode da Madeira de
Pinheiro, o Apoio ao Associativismo, a Articulação do Planeamento e Ordenamento do Território, ou a
Gestão da Propriedade Pública, deverão constituir temas de debate enriquecido a partir das
contribuições e ensinamentos da investigação.
FLORESTAS 2013, uma oportunidade de formação / as respostas partilhadas
O conhecimento constitui a base da inovação e da aplicação das soluções adequadas aos novos
desafios que se colocam na gestão, intervenção e condução dos espaços florestais, com vista à
obtenção duma cadeia estável de produtos e serviços disponibilizados à comunidade. Nas diversas
mesas temáticas procurar-se-á responder aos desafios e constrangimentos de maior expressão e
actualidade.

Realizam-se Laboratórios Académicos de divulgação de linhas de investigação

FLORESTAS 2013, uma janela para a inovação / o contributo da investigação florestal


O Congresso constituirá igualmente uma possibilidade de conhecer os trabalhos e resultados mais
recentes da investigação florestal expressa em projectos e contributos académicos recentes,
procurando divulgar soluções que correspondam a abordagens para novos problemas, ou novas
aproximações para antigas práticas cristalizadas.

Optou-se por concentrar nas sessões de posters uma parte substancial da participação dos
congressistas, proporcionando o funcionamento das sessões do Congresso, tanto em Plenário, como
em Sessões Paralelas, de forma menos convencional, proporcionando o debate e esclarecimento, em
detrimento da exposição oral mais personalizada.

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7 Congresso Florestal Nacional

Nesta 7ª edição, a adesão dos participantes traduziu-se na recepção de cerca de 300 resumos; mais
de 250 referentes a posters e cerca de 40 para apresentação em Laboratórios Académicos.
Entretanto, foram recebidos cerca de 70 artigos de desenvolvimento; de entre os que foram recebidos
até final do mês de Março, foram seleccionados e avaliados 15 para publicação na revista Silva
Lusitana. No actual CD, reproduzem-se os cerca de 55 artigos remanescentes, nomeadamente os
que nos chegaram em datas mais recentes, até meados do mês de Maio. A actual edição mantém na
generalidade a forma em que os artigos foram recebidos, estando, neste CD, para maior facilidade de
consulta, organizados por ordem alfabética de autores.

Desta forma, através da totalidade das sessões, em simultâneo com o conjunto do material
bibliográfico editado (Livro de Resumos, Número Especial da Silva Lusitana e CD-Rom), e o
complemento proporcionado pela Visita de Estudo do Congresso ao Parque Natural de Montezinho e
ao Planalto Mirandês (arborização de terras agrícolas), uma vez mais na óptica do Conhecimento e
Inovação… FLORESTAS 2013 procurará disponibilizar, como habitualmente, a uma larga
representação de técnicos profissionais, responsáveis administrativos, produtores e proprietários,
estudantes e interessados individuais ou institucionais, um contacto e aproximação com o
conhecimento científico, capaz de proporcionar o usufruto dos espaços florestais com garantia de
maior eficiência, persistência e aproveitamento da plenitude das suas potencialidades.

De 5 a 8 de Junho de 2013, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro em Vila Real e a


Escola Superior Agrária em Bragança acolhem o VII Congresso Florestal Nacional, tendo como
referência a tradicional hospitalidade Transmontana.

João Bento (SPCF)


José Lousada (CIFAP/UTAD)
Maria do Sameiro Patrício (ESAB/IPB)

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7 Congresso Florestal Nacional

ÍNDICE

Operacionalização da Gestão Florestal da Mata Nacional de Valverde ...........................................1 


M. Amaral e C. Borges 

Implementação de um SIG no planeamento e gestão da avaliação biomecânica e fitossanitária


de exemplares arbóreos ......................................................................................................................13 
P. Barracosa, M. Ribeiro, D. Gaião, H. Viana 

Recursos micológicos do montado de sobro ...................................................................................21 


Barrento, M. J., Ramos, A. P., Azevedo Gomes, A., Machado, H. 

Comportamento de absorção de CCB de três espécies de Eucalyptus durante o tratamento de


substituição de seiva e penetração do produto nos mourões tratados.........................................30 
Aline Fernanda de Brito, Elias Taylor Durgante Severo e Fred Willians Calonego 

Potencial of invasive acacia species as bioenergy producers........................................................35 


Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião 

Baldios das freguesias de Arões e Junqueira: estudo e proposta de intervenção ......................46 


J. Carvalho, V. Silva, J.G. Amaral e L. Nunes 

Variação da composição química de Eucalyptus globulus com a idade. ......................................54 


I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Pereira e B. Esteves 

Custos com a exploração florestal na ex-UGFD ...............................................................................60 


J. Calçada Duarte 

ASSOCIATIVISMO FLORESTAL NA REGIÃO NORTE ......................................................................74 


J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral 

Reconstituição do diâmetro à altura do peito a partir do diâmetro do cepo para as quercíneas


protegidas .............................................................................................................................................91 
J. Calçada Duarte, Paula Afonso Pinto 

Variação transversal da composição química de árvores de Eucalyptus globulus com 15 anos


de idade ...............................................................................................................................................107 
B. Esteves, I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Viana e H. Pereira 

Mechanical properties of paraffin treated wood .............................................................................113 


B. Esteves, L. Nunes, I. Domingos, e H. Pereira 

Contribuição para a optimização da produção em viveiro de piorno-amarelo (Retama


sphaerocarpa (L.) Boissier, Fabaceae), por via seminal ................................................................118 
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião 

Comparação de métodos de detecção de fungos, germinação e Transmissão de Alternaria


alternata via sementes de Handroanthus chrysotrichus (Mart. Ex DC) Mattos (Ipê-Amarelo) ..130 
Vinícius Spolaor Fantinel, Luciana Magda de Oliveira e Priscilla Félix Schneider 

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7 Congresso Florestal Nacional

Perfil Ambiental das Cavacas e da Estilha de Madeira de Pinho à Saída da Floresta Portuguesa
..............................................................................................................................................................140 
José V. Ferreira, Helder Viana, Bruno Esteves, Luísa P. Cruz Lopes, Idalina Domingos. 

Avaliação do módulo de queda de folhada em eucaliptais no modelo 3PG ................................148 


Paulo N. Firmino, Paula Soares, Margarida Tomé, Clara Araújo 

Armazenamento de carbono e azoto nos horizontes superficiais do solo sob povoamentos


florestais puros ...................................................................................................................................157 
F. Fonseca, A. Martins e T. de Figueiredo 

Nuevas propuestas en la lucha contra la desertificación: Los Waterboxx ..................................164 


Garrido F, Marcos JL, Hernandez S, Clérigo Z, Ortiz L 

Large spill of mining wastes in Portelo stream: Impacts on ecosystem integrity and on angling
potential ...............................................................................................................................................173 
Ana M. Geraldes, Elsa C. Ramalhosa, Miguel Caetano e Amílcar Teixeira 

Áreas Públicas e Comunitárias. Uma Floresta Diferente ...............................................................184 


Maria Adelaide Germano 

Tapada Nacional de Mafra, um caso de sucesso no restauro do coberto florestal em áreas


ardidas .................................................................................................................................................200 
Alberto Azevedo Gomes, Ricardo Paiva, Filipe X. Catry 

Estrutura populacional de duas espécies arbóreas em Floresta Ombrófila Mista Aluvial sujeitas
ao pastoreio em Ponte Alta do Norte, Santa Catarina, Brasil ........................................................214 
J.P. Gomes, P.I. Ferreira, N.C.F. Costa, L. I. B. Stedille, H.M. Dacoregio, R.L.C. Bortoluzzi e A. Mantovani 

Caracterização termogravimétrica e físico-mecânica de briquetes produzidos com resíduos de


bambu e finos de carvão vegetal ......................................................................................................226 
Djailson Silva da Costa Júnior; Azarias Machado de Andrade; Ananias Francisco Dias Júnior; Vitor Werneck
Soares; Pablo Vieira dos Santos 

Parâmetros de qualidade do carvão vegetal de Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. baseado na


analise química imediata ...................................................................................................................231 
Djailson Silva da Costa Júnior, Clécio Maynard B. Fonseca, Leandro Calegari, Gregório Mateus Santana,
Girlânio Holanda da Silva e Alexandre José da Silva 

Caracterização morfométrica da bacia do rio Sordo e determinação do uso potencial do solo236 


Renato f. do Valle Junior, Simone G. P. Varandas, Luís F. S. Fernandes, Fernando A. L. Pacheco 

WOODTECH: Promoção da inovação para a melhoria da competitividade das PME na indústria


madeireira do espaço SUDOE ...........................................................................................................248 
Sofia Knapic, Jorge Gominho e Helena Pereira 

Operacionalização do pagamento de sequestro de carbono em larga escala como serviço


ambiental em montado ......................................................................................................................252 
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos 

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7 Congresso Florestal Nacional

Modelo de Ordenamento da Pesca no rio Olo.................................................................................262 


António M. V. Martinho 

Substituição parcial de uma resina de UF por madeira liquefeita ................................................278 


J. Martins, J. M. Martins, L. Cruz Lopes e B. Esteves 

Melhoria da compartimentação por cirurgia de árvores ................................................................284 


Luís M Pontes Martins 

As múltiplas causas para o declínio da Floresta Urbana...............................................................292 


Luís M Pontes Martins 

Segurança de árvores: o caso da Escola Francesa, Porto ............................................................307 


Luís M Pontes Martins e Paulo Travassos 

Estudo da biodiversidade arbórea e arbustiva da Ecopista do Dão .............................................321 


H. Matos, C. Costa e L. Nunes 

Flora Aromática e Medicinal da Ecopista do Dão ...........................................................................331 


A. Melo, L. Nunes e C. Costa 

Ajuste de equações de biomassa total e por componentes para carvalho-negral e pinheiro-


bravo no distrito de Vila Real ............................................................................................................342 
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares 

Importância da pesca lúdica e desportiva no Nordeste Transmontano.......................................356 


Fernando Miranda e Amílcar Teixeira 

The porosity of natural cork stoppers..............................................................................................366 


Vanda Oliveira, Sofia Knapic and Helena Pereira 

Incork: Avaliação da influência da estrutura interna na transmissão de oxigénio de rolhas de


cortiça natural por técnicas não destrutivas ...................................................................................372 
Vanda Oliveira, Sofia Knapic, Paulo Lopes, Miguel Cabral e Helena Pereira 

Produção potencial de biomassa em culturas energéticas lenhosas no Norte de Portugal .....378 


Maria S. Patrício, Luís Nunes, Ângelo D. Saraiva e João C. Azevedo 

Corte de regeneração de um povoamento de castanheiro bravo aos 65 anos de idade: Efeito no


stock de C e nutrientes do solo ........................................................................................................385 
Maria S. Patrício, Luís Nunes e Ermelinda L. Pereira 

Estudo comparativo da anatomia de madeira e casca de duas espécies de eucalipto .............391 


Marília Pirralho, Doahn Flores, Vicelina B. Sousa, Teresa Quilhó, Helena Pereira e Sofia Knapic 

Variação da densidade da madeira de eucalipto: estudo comparativo de seis espécies ..........400 


Marília Pirralho, José Luis Louzada, Helena Pereira e Sofia Knapic 

Métodos de ensaio de emissões de formaldeído para painéis derivados de madeira - avaliação


e comparação de resinas de baixa emissão....................................................................................408 
João Pereira, Cristina Coelho, João Ferra, Jorge Martins, Fernão Magalhães, Luísa Carvalho 

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7 Congresso Florestal Nacional

Internacionalização da Indústria da Cortiça: Os impactos na Fileira da Cortiça ........................422 


Miguel Pestana e Inocêncio Seita Coelho 

Análise da percepção da população e dos agentes locais sobre os problemas que afectam a
floresta no município de Góis ...........................................................................................................435 
Lúcia Saldanha, Beatriz Fidalgo, Tiago Lameiras, Raúl Salas, José Gaspar, António Ferreira 

Continuidade fluvial em Mini-Hídricas – O caso da Ribeira de Santa Natália..............................446 


Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos e Amilcar Teixeira 

A gestão ambiental da Fileira Florestal em Portugal ......................................................................457 


Elsa Sarmento, Vanda Dores 

Influence of pre-steaming treatment on the initial moisture content, moisture gradient and
drying rate of Eucalyptus grandis ....................................................................................................469 
Elias Taylor Durgante Severo, Fred Willians Calonego, Aline Fernanda de Brito, Cinthia Dias Rocha, Melany
Maria Alonso Pelozzi e Paula Lúcia Martins Rodrigues 

Avaliação do stock de CO2 e previsão da respetiva evolução num horizonte de 30 anos na


Tapada das Roças e na Tapada do Mouco ......................................................................................477 
Paula Soares, João Pedro Pina, Margarida Tomé e Nuno Oliveira 

Proposta de Carta de Aptidão Agrícola e Florestal para Cascais .................................................486 


V. Silva e A. Neto 

Caracterização do mercado de trabalho florestal na região Baixo Vouga ...................................500 


Catarine Tavares, Luís Sarabando, Helder Viana 

Efeitos do fogo sobre a dinâmica da vegetação: o caso do Douro e Alto Trás-os-Montes .......513 
Diana Tavares, Ana Catarina Sequeira, Marta S. Rocha, Francisco C. Rego, Rui Reis 

Bioecologia dos mexilhões de água doce (Unionidae) nos rios Sabor, Tua e Tâmega (Bacia do
Douro, Portugal): Principais ameaças e medidas de conservação ..............................................525 
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima 

sIMFLOR – Plataforma para Simuladores da Floresta em Portugal .............................................537 


Margarida Tomé, Joana A. Paulo, Sónia P. Faias, Susana Barreiro e João H. N. Palma 

Monitorização de populações selvagens – Contributo para uma gestão florestal sustentável 543 
Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca 

Principais características da biomassa e propriedades da cinza de combustão de matos


nativos do Norte de Portugal e NW de Espanha .............................................................................554 
H. Viana, D.J. Vega-Nieva, L. Ortiz Torres, J. Lousada, J. Aranha 

É possível cultivar paricá na Europa? .............................................................................................563 


Sabrina B. Vieira, Jaqueline M. Gomes, João O. P. de Carvalho 

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7 Congresso Florestal Nacional

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Artigos
Comunicações
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Operacionalização da Gestão Florestal da Mata Nacional de Valverde

M. Amaral1* e C. Borges1

1: ICNF; EN5 Edifício da Associação de regantes, 7580-103 Alcácer do Sal


e-mail: maria.amaral@icnf.pt

Resumo: Tendo como base o Plano de Gestão Florestal da Mata Nacional de Valverde (MNV) e
os objectivos estabelecidos, faz-se uma análise à operacionalização do mesmo durante os anos
de 2008 a 2012. Sendo uma Mata Nacional essencialmente, ocupada por povoamentos florestais
de pinheiro-manso, de sobreiro e de pinheiro-bravo, faz parte de uma área mais vasta de
características agro-florestais caracteristicamente mediterrânicas. Embora os povoamentos de
pinheiro-manso, 78,18 % das espécies florestais presentes, visassem a produção de lenho existe
uma tendência crescente para conversão em produção de fruto, devido ao interesse económico
do pinhão, diversificando assim as fontes de rendimento. Esta situação conduziu à mudança de
paradigma da exploração do pinheiro-manso, conduzindo ao estabelecimento de objectivos que
concretizem diferentes opções de gestão inicialmente previstas.
Serão promovidas ações de rearborização de áreas atualmente ocupadas por pinhal-bravo e que
foram submetidas a cortes sanitários de todas as árvores com sintomatologia da presença de
NMP ou sujeitadas a corte final mantendo a exploração do pinheiro-bravo como produtor de
madeira. É necessário encontrar o equilíbrio entre a obtenção de receita com produtos florestais
(fruto, cortiça e madeira/biomassa) e as despesas de manutenção, tendo sempre em
consideração a valorização da componente ambiental e o incremento da biodiversidade. A MNV
reúne condições ímpares para o desenvolvimento de ações de investigação/experimentação e
demonstração, com a utilização de técnicas silvícolas inovadoras na condução dos povoamentos,
e desenvolvimento de modelos de exploração otimizada para as diversas vertentes, alicerçados
numa maior rentabilização económica. A promoção e a conservação de habitats e espécies
prioritárias no âmbito das Diretivas comunitárias (Habitats e Aves), condiciona a gestão, levando
a repensar algumas opções tomadas e permitindo olhar não apenas para os povoamentos
florestais mas também para o ecossistema como uma unidade de gestão em que as várias
componentes se encontram todas interligadas.
Palavras-chave: Mata Nacional de Valverde, Plano de Gestão Florestal, Pinheiro manso

Abstract: Based on the Forest management plan of the National Forest of Valverde (MNV) and
the objectives set, it is an analysis to the operationalization of the same during the years 2008 to
2012. Being an essentially National Forest, occupied by stands of umbrella pine, cork oak and
maritime pine, is part of a wider area of agro-forestry characteristically Mediterranean
characteristics. Although the stands of umbrella pine, 78.18% of forest species present, target the
production of wood there is a growing trend for conversion in fruit production, due to the economic
interest of the pinion, diversifying the sources of income. This led to the paradigm shift of umbrella
pine, resulting in the establishment of objectives to achieve different management options initially
planned.
Reforestation actions will be promoted in areas currently occupied by maritime pine and that have
undergone phytossanitary cuts of all trees with symptoms of the presence of NMP or subjected to
final cut keeping the exploration of maritime pine as a producer of wood. It is necessary to find a
balance between getting revenue from forest products (fruit, cork and wood/biomass) and
maintenance costs, taking into consideration the enhancement of the environmental component
and increase biodiversity. The MNV brings together unique conditions for the development of
research/testing and demonstration, using innovative forestry techniques in the conduct of
settlements and development of operating models optimized for the various aspects, based on
greater economic exploitation. The promotion and conservation of priority habitats and species
within the framework of Community Policies (Habitats and Birds), makes the management,
leading to rethink some decisions and allowing not only look to the stands but also to the
ecosystem as a unit of management in which the various components are all interconnected.
Keywords: National Forest of Valverde, Forest Management Plan, Umbrella pine
M. Amaral e C. Borges

1. INTRODUÇÃO

2. MATA NACIONAL DE VALVERDE

A Mata Nacional de Valverde (MNV) localiza-se no concelho de Alcácer do Sal, distrito de Setúbal,
entre os paralelos 38º 18’ 8” e 38º 20’ 40” de latitude Norte e 0º 35’ e 0º 37’ de longitude do meridiano
de Lisboa. Tem uma área total de 942,44 ha. O seu acesso principal efetua-se pela EN 120 ou IC1,
que a atravessa longitudinalmente, sendo a entrada principal da Mata ao km 5. Também é em parte
atravessada transversalmente pela EN 382.

Figura 1 – Carta Enquadramento Geográfico – fonte PGF MNV

A sua área é ocupada principalmente por povoamentos florestais, sendo as espécies predominantes
o pinheiro manso, o sobreiro e o pinheiro bravo, sendo o pinheiro manso a espécie mais
representativa, ocupando cerca de 70 % da área total. Também se verifica a existência de outras
espécies florestais, como eucalipto e outras folhosas, em menor percentagem, localizando-se
preferencialmente em pequenas clareiras e linhas de água com galerias ripícolas.
Tendo as Matas Nacionais servido para ensaio à instalação de variadas espécies florestais para
diferentes fins, assinalasse a existência de uma mancha de Taxodium numa linha de água
permanente.
A MNV insere-se na Região Biogeográfica – Região Mediterrânica, Província Costeiro-Lusitano-
Andaluza, Sector Divisório Português, Subsector Ribatejano e Superdistrito Sadense, localizando-se
na Bacia Hidrográfica do Sado.
Ainda de acordo com a Carta das Grandes Regiões de Arborização, elaborada com base na Carta
Ecológica de Pina-Manique e Albuquerque (1984), a MNV encontra-se na Região Basal
Submediterrânea, que é caracterizada por ser a região onde predomina o Quercus suber. Também o
Pinus pinaster apresenta igualmente boas condições de crescimento, com razoável potencialidade,
nas condições de mais elevada humidade atmosférica. Verificou-se nesta região a expansão de

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M. Amaral e C. Borges

Eucalyptus globulus, devendo de acordo com Alves (1982) ser considerada para algumas zonas o
interesse do Pinus pinea, tendo como objetivo a produção de fruto.
Segundo o Plano Regional de Ordenamento Florestal do Alentejo Litoral (PROFAL) também podem
ser consideradas outras espécies tais como o Cipreste (Cupressus sempervirens), a Casuarina
(Casuarina equisetifolia), o Eucalipto (Eucalyptus globulus), o Freixo (Fraxinus angustifolia), o Choupo
(Populus spp.), o Salgueiro (Salix spp.) e o Zimbro (Juniperus spp.). Poderão ainda ser utilizadas
outras espécies florestais desde que as características edafo-climáticas locais assim o justifiquem.
A MNV apresenta uma altitude que varia entre 26,276 metros na zona a Norte e os 100 metros na
sua zona central, podendo-se afirmar de uma forma mais generalizada que se verifica o domínio da
classe entre os 50 e os 100 metros.
Esta mata insere-se na bacia do Sado, sendo atravessada pelos seus afluentes Ribeira de Albergaria
e Barranco da Areia.
Na zona oeste da MNV verifica-se a existência de uma faixa com cerca 51,55 ha, classificada no
âmbito da Diretiva 92/43/CEE, fazendo parte do sítio Comporta-Galé. Este sítio de interesse
comunitário (SIC), abrange uma área total de 32.050,81 ha, sendo apenas 0,16 % da sua área
coincidente com a da Mata Nacional de Valverde, correspondendo a cerca de 5,5% da sua área total.

Figura 2 – Carta de Localização e Ortofotomapas – fonte PGF MNV

Quita-Quita (1953) identificou nos inventários que efetuou nesta mata um predomínio de terófitas
(30.4%), seguindo-se as nanofanerófitas (21%), as hemicriptófitas (21%), as caméfitas (11.7%), as
geófitas (8.4%) e as macrofanerófitas (7.5%).
Além das espécies principais foram cartografadas as áreas de distribuição de outras espécies com
relevância para a conservação de habitats naturais e para a alimentação de diversas espécies da
Fauna, como o medronheiro (Arbutus unedo) e a carvalhiça (Quercus lusitanica). Enquanto a

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M. Amaral e C. Borges

carvalhiça tem uma distribuição muito concentrada na Mata, o medronheiro é bastante comum,
podendo ocorrer de forma isolada, em pequenas concentrações ou em pequenas comunidades
vegetais correspondentes ao habitat natural 5330 do Anexo I da diretiva habitats. As espécies
zambujeiro e catapereiro ocorrem, geralmente, em pequenas concentrações e têm uma distribuição
muito limitada na Mata.
Na Mata os zimbrais do habitat 2250* ocorrem frequentemente em mosaico com os sargaçais
psamófilos do habitat 2260, os urzais-tojais do habitat 2150* e as formações de líquenes do género
Cladonia sp. pl. Na zona da charca da Mata há ainda a particularidade da espécie sanguinho-de-água
(Frangula alnus) ocorrer com alguma abundância.
Na Mata Nacional de Valverde foi identificada uma espécie da Flora do Anexo II e IV, denominada
Armeria rouyana* das 16 espécies declaradas oficialmente para o sítio Comporta/Galé. Num futuro
próximo poderão ainda ser adicionadas a estas listas outras espécies ainda não identificadas, uma
vez que os habitats têm condições para aí ocorrerem, nomeadamente a Jonopsidium acaule*.
A Armeria rouyana* ocorre quase sempre agregada à associação Thymo capitellati-Staracanthetum
genistoidis, sobretudo em clareiras de pinhais abertos instalados em paleodunas plio-pleistocénicas e
em outros depósitos de areias soltas, que constituem biótopos arenosos mas profundos, secos
hidricamente, sem compensação freática. Foi determinada uma área de distribuição desta espécie de
cerca de 150 a 200 ha, mas as ações de gestão florestal implementadas mais recentemente no
pinhal, bem como as que se prevêem executar, poderão promover significativamente a área de
distribuição desta espécie.
A Portaria n.º 725-G/93, de 10 de agosto cria a reserva de caça, zona ALS-1, designada por Mata
Nacional de Valverde, por constituir uma importante dormida de pombos de importância nacional.
Esta Reserva, criada por tempo indeterminado, passou a denominar-se, com a atual legislação,
Refúgio de Caça. Na Mata Nacional de Valverde ocorrem 18 espécies cinegéticas sendo as mais
representativas: pombos, tordos, estorninhos, javalis, lebres e saca-rabos. Existem ainda coelhos,
raposas, perdizes e galinhas de água mas em menor abundância.
Apesar de não discriminadas, ocorrem ainda na Mata outras espécies de aves, nomeadamente de
passeriforme migradores e alguns sedentários típicos de matos e bosques, ou de caniçais e galerias
ripícolas (incluídas no Anexo II da Convenção de Berna). Apesar de não identificadas, ocorrem
algumas espécies de morcegos, os quais geralmente habitam cavidades existentes em árvores
envelhecidas ou decrépitas.
A MNV situa-se num denominado Local de Intervenção (LI) da também denominada Zona de
Restrição (ZR), uma vez que encontra num local onde é conhecida a presença do nemátodo da
madeira do pinheiro (NMP).
Em termos de incêndios florestais, verificou-se em 2004 uma ocorrência em que arderam entre 3 e 5
hectares, sobretudo de eucalipto, tendo o incêndio tido o seu ponto de início junto à berma da estrada
IC1, progredindo para Este.

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M. Amaral e C. Borges

3. GESTÃO FLORESTAL DA MNV

3.1. Historico

A Mata Nacional de Valverde encontra-se submetida ao Regime Florestal Total. Esta Mata pertenceu
à Ordem de Cristo, conservando ainda o seu nome primitivo, não sendo possível saber se foi
adquirida ou criada pela citada Ordem. Posteriormente, passou a pertencer à Capela de Santa Maria
do Castelo, situada em Alcácer do Sal, tendo transitado em 1820 para a Superintendência da
Marinha. Por alvará de 24 de julho de 1824 foi incluída na Administração Geral das Matas do Reino,
sob dependência do Ministério da Marinha e Ultramar, passando a 7 de julho de 1847 a constituir a 8ª
Administração Geral das Matas do Reino, até 22 de junho de 1872, data em que passou a pertencer
à Divisão Florestal do Sul, fazendo parte da 1ª Secção desta Divisão (Quita-Quita, 1953; DGSFA,
1956).
Entre 1919 e 1975 a MNV esteve sob administração da Direção-Geral dos Serviços Florestais e
Aquícolas (DGSFA), integrando a 4ª Circunscrição, 2ª Repartição Técnica, 20ª Administração
Florestal de Alcácer do Sal. Através do Decreto nº 39546, de 24 de fevereiro de 1954 (DG nº 40, Iª
série, de 24/2) foi posto em execução o Plano de Ordenamento, tendo ocorrido revisões do mesmo
em 1956, 1966 e 1975/76. (PGF MNV, 2012)
Em 1977 passou a ser administrada pela Direcção-Geral do Ordenamento e Gestão Florestal
(DGOGF), que em 1983 passou a designar-se Direcção-Geral das Florestas (DGF) e mais tarde
Instituto Florestal em 1993. (Borges, et al., 2009)
Em 1997 passou para a administração da Direção Regional de Agricultura do Alentejo (DRAAL), na
sequência da integração neste organismo dos serviços florestais regionais. Entre 2004 e 2012, em
virtude da nova verticalização dos serviços florestais, a entidade gestora foi Direcção-Geral dos
Recursos Florestais (DGRF) e posteriormente a Autoridade Florestal Nacional (AFN). Atualmente
encontra-se sob gestão do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), organismo que
resultou da fusão entre a AFN o Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB).
A Planta Parcelar mais antiga conhecida da Mata Nacional de Valverde data de 1873, sem a sua
atual divisão em talhões (Figura 3).
Em 1874 é elaborado pela Administração Geral das Matas – Divisão Florestal do Sul, o Projeto de
Arborização para as Charnecas da Região Alentejo Litoral. No decénio de 1943-52, dada a falta de
um Plano de Ordenamento, os produtos principais da MNV eram constituídos por toros de eucalipto e
pinheiro, varas de pinheiro e eucalipto ou acácia, lenha de eucalipto, pinheiro ou sobreiro, esta última
proveniente de desbastes ou de árvores secas, e alguma cortiça. O aproveitamento do arvoredo
resultava, assim, quase exclusivamente de cortes de limpeza ou de cortes culturais / sanitários, com
ausência de cortes finais, fornecendo-se gratuitamente lenha miúda, caruma e mato aos habitantes
das povoações vizinhas (PGF MNV, 2012).

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M. Amaral e C. Borges

Figura 3 – Planta Parcelar e Planta de Ordenamento de 1953 – fonte PGF MNV

A MNV está dividida em 33 talhões e 2 séries em 1956, data em que foi elaborado um Plano de
Ordenamento, onde se previa uma rotação de 6 anos para os cortes culturais. Os povoamentos
tinham uma grande irregularidade, com ocorrência de excesso de arvoredo em idade de corte,
estando previstos cortes rasos para o pinheiro bravo entre os 94 e os 101 anos e para o caso do
pinheiro manso entre os 104 e os 123 anos. As parcelas a corte deviam confrontar com o arvoredo
mais novo com o objectivo de se regularizar povoamentos futuros.
Em 1964 foi projectado o caminho florestal e respetivos ramais numa extensão de mais de 6 km.
Já entre 1965 e 1966 no âmbito de um trabalho de melhoramento selectivo efetuaram-se enxertias
em pinheiro manso em alguns talhões da MNV (Sousa, 1968), verificando-se que a data para a
obtenção de êxito nesta operação na Mata se situa a partir da 2ª quinzena de abril, com tempo
quente e seco. O Plano de Revisão da Possibilidade para a mata é elaborado em 1966, abarcando o
período de 1966/67 a 1985/86, passando a elaboração dos autos de marca de corte cultural ou
extraordinário a serem feitos por parcelas e não por talhões, uma vez que passou a considerar o
volume do material lenhoso.
No entanto, em 1975/76 é feita uma Revisão de Ordenamento, onde se verificou uma distribuição
anormal por classes de idade do pinheiro manso e que particamente a totalidade do pinheiro bravo ter
mais de 50 anos, com claros problemas de regeneração. Por outro lado já estava previsto a
progressiva redução do pinheiro bravo que deveria ser substituído por pinheiro manso nos casos em
que as estações o admitissem.

3.2. PGF

O PGF para a MNV foi elaborado em agosto de 2012 pela Direção Regional de Florestas do Alentejo
(DRFA), e que resultou de um trabalho coordenado pelo Eng.º João Ribeiro, que retomou um trabalho

6
M. Amaral e C. Borges

iniciado pela Eng.ª Ágata Lam e que contou com a colaboração de outros colegas da DRFA,
nomeadamente o Eng.º João Pedro Pereira.
De acordo com o estipulado pela Lei de Bases da Política Florestal, Lei nº 33/96, de 17 de agosto,
cabendo ao Estado a definição de normas reguladoras da fruição dos recursos naturais, constituindo
os Planos de Gestão Florestal (PGF) um instrumento básico de ordenamento florestal das
explorações no quadro de regulamentação das intervenções de natureza cultural e/ou de exploração.
Estes planos visam estabelecer normas específicas de intervenção sobre a ocupação e utilização dos
espaços florestais, promovendo a produção sustentada de bens e serviços por eles fornecidos. O
Decreto-Lei n.º 16/2009, de 14 de junho, regula o processo de elaboração, execução e alteração dos
PGF, a aplicar nos espaços florestais, estabelecendo os seus elementos mínimos, assim como as
peças que neles devem constar.
A necessidade de adoção e aplicação dos PGF emana do reconhecimento da floresta como sendo
um recurso natural renovável, tendo a necessidade de que o seu uso e gestão ser enquadrados
respeitando as políticas setoriais de âmbito agrícola, ambiental e de ordenamento do território.
O PGF é um instrumento de ordenamento florestal subordinado ao Plano Regional de Ordenamento
Florestal (PROF) de cada região. Assim, no caso específico do PGF da MNV estabeleceu-se um
protocolo com o Departamento de Engenharia Florestal do Instituto Superior de Agronomia com vista
ao desenvolvimento de uma metodologia de inventário florestal e tratamento dos dados de campo
recolhidos, com inclusão de recolha de elementos que permitam obter alguns indicadores de gestão
florestal sustentável (PGF MNV, 2012).

4. OPERACIONALIZAÇÃO DO PGF

4.1. Mudança de Paradigma

Em função das excelentes condições edafo-climáticas para o desenvolvimento do pinheiro manso, o


objetivo de produção estava centralizado na produção de lenho. Sendo atualmente o fruto passou a
ser uma importante fonte de rendimento e um produto bastante valorizado em termos económicos e
ambientais, o PGF preconiza a necessidade de se introduzir uma mudança na estratégia de produção
da Mata, possibilitando uma interessante diversificação de rendimento.
Assim, continuando a manter algumas áreas dedicadas à produção de madeira, uma vez que para
povoamento adultos não é possível a reconversão sem acarretar graves custos ambientais, pretende-
se aumentar a produção de fruto, recorrendo a cortes culturais de maior intensidade, do tipo C e D
(Figura 4) com remoção de 50 a 75 % do material lenhoso, nas parcelas e talhões onde esta
alteração de objetivo seja exequível, nomeadamente nos povoamentos mais jovens.

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M. Amaral e C. Borges

Figura 4 – Graus de intensidade de desbaste pelo baixo – fonte PGF MNV

No caso dos cortes culturais do tipo C algumas das árvores co-dominantes são retiradas e no tipo D
muitas das co-dominantes são retiradas mas não todas, sendo a escolha destas assente no facto de
apresentarem defeitos ou então que a sua retirada possa favorecer o desenvolvimento e crescimento
das restantes (Smith et al., 1996).
Sousa (1968) refere que nesta Mata a produção de pinha pode variar, em ano de safra, de 40 kg a
200 kg, sendo a produção média de cerca de 70 kg.ha-1.ano-1 de pinhão com casca.
Os povoamentos de sobreiro estão dispersos pela Mata, existindo no entanto no canto SW uma
mancha contínua com alguma dimensão. Trata-se de um arvoredo em fase de valorização crescente
e em plena produção, sendo necessário proceder-se à unificação das tiragens por forma a optimizar a
sua gestão e contribuir para a economia das operações.
Têm sido efectuados cortes culturais de pinheiro bravo e pinheiro manso, cortes de eucalipto e
desbastes sanitários de sobreiros. No caso particular do pinheiro bravo, em função do aparecimento
do nemátodo da madeira do pinheiro (NMP), têm sido cortados todas as árvores que apresentam
sintomas de declíneo. (974 em 2011 e 447 no inicio de 2013)
Tendo em conta que as projecções avançadas pelo projecto SIAM, num horizonte temporal de 1
século, em que projecta a hipótese de um aumento generalizado da temperatura em simultâneo com
a diminuição de precipitação anual na ordem dos 100 mm, será de considerar um previsível impacte
na produtividade das florestas e no balanço de carbono. Por outro lado, esta situação também deverá
produzir alterações na mortalidade das espécies florestais e respetiva adaptabilidade, maior
susceptibilidade a pragas e doenças, ocorrência de fogos florestais e afetar a biodiversidade.
Ainda de acordo com este projecto SIAM a região do Sado seria aquela precisamente onde poderiam
ocorrer impactes mais acentuados, nomeadamente ao nível de algumas das espécies presentes na
MNV, como sejam o sobreiro, pinheiro bravo e eucalipto. Estas duas últimas espécies podem ver a
sua viabilidade económica comprometida em consequência de forte secura associada a uma muito
provável redução das disponibilidades hídricas subterrâneas.
De acordo com (Santos et al., 2006) em termos de biodiversidade foram estimados em 75% os
impactes negativos nas espécies presentes na Reserva Natural do Estuário do Sado.

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M. Amaral e C. Borges

4.1. Exemplo de operacionalização

Para o gestor florestal e neste caso para o gestor público, o que é importante em cada momento é
saber, tendo em conta a avaliação feita, quais as acções previstas em cada ano para se proceder ao
seu agendamento, tendo uma previsão dos custos e das receitas envolvidas. Será também
importante no final de cada ano verificarem-se quais as acções desenvolvidas, aferir os custos e
receitas. Em relação às acções previstas no PGF e que não foram efectuadas, deverá proceder-se à
fundamentação da situação, saber se é possível alterar a programação ou se é necessário uma
alteração ao PGF, podendo nalgumas situações a acção já nem se justificar. Neste caso o Sistema
Informação Geográfico (SIG) associado ao documento escrito é de extrema importância uma vez que
nos permite ter uma a explanação espacial das acções previstas.
Tomemos com exemplo de um ano de Gestão:
1.ª Etapa – Elaboração de cartografia com as acções previstas para o próximo ano. Reunião técnica
para análise das acções e pequenos acertos que possam surgir. Distribuição de tarefas - Elaboração
de hastas, elaboração da programação dos trabalhos feitos com meios próprios, propostas de
adjudicação de trabalhos e outras. (deverá ser feita no ano anterior – quando se está a fazer a
elaboração o plano de actividades do organismo)
2.ª Etapa – Desenvolvimento dos trabalhos. No final de cada trabalho deverá ser feita uma ficha de
conclusão do mesmo.
3.ª Etapa – Nova reunião técnica com vista à análise dos trabalhos efectuados, verificar o que falta
executar, verificar se é necessário fazer alterações. Apresentação de propostas de alterações para
serem aprovadas. Redistribuição de tarefas.
4.ª Etapa – Avaliação das acções efectuadas, dos desvios que não foram corrigidos. Elaboração de
um pequeno relatório (ficha) que deverá ser anexada ao PGF. Esta fase pode coincidir com a 1.ª fase
do novo ano de gestão.

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M. Amaral e C. Borges

Figura 5 – Ações previstas para 2012 na MNV – fonte PGF MNV

5. CONCLUSÕES

As principais fontes de receita da exploração florestal da MNV são os desbastes culturais efectuados
nos povoamentos de pinheiro manso, a exploração do eucaliptal, a madeira proveniente dos
desbastes sanitários de pinheiro bravo e de sobreiro, a extracção de cortiça e a produção anual de
pinhas. Com a alteração de paradigma prevista no PGF Esta situação deverá nos próximos anos ser
alterada no sentido de a produção anual de pinhas passar a constituir uma das principais fontes de
receita da MNV.
Por outro lado a funcionalidade da protecção tem como objectivo a implementação de medidas de
conservação do solo e da água, estando nessas condições as áreas de montado e pinhal, assim
como aquelas onde foram identificados habitats.
Embora não tenha sido seleccionada como uma floresta modelo no âmbito do Plano Regional de
Ordenamento Florestal do Alentejo Litoral, reúne condições ímpares para o desenvolvimento de
ações de investigação/experimentação e demonstração, nomeadamente com a utilização de técnicas

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M. Amaral e C. Borges

silvícolas inovadoras na condução dos povoamentos e de desenvolvimento de modelos de


exploração otimizada para as diversas vertentes, alicerçados numa maior rentabilização económica.
(PGF)
Os objectivos especificados pelo PGF a atingir durante a sua vigência são resumidamente os
seguintes:
- Promover ações de rearborização de áreas atualmente ocupadas por pinhal-bravo e que foram
submetidas a cortes sanitários ou serão submetidas a corte final, mantendo a exploração do pinheiro-
bravo como produtor de madeira;
- Manter, melhorar e fomentar a área ocupada por sobreiro, privilegiando a proteção da regeneração
natural como forma de aumentar o grau de coberto, promovendo a rearborização/adensamento das
manchas existentes.4
- Manter os povoamentos de pinheiro-manso, quer como produtor de madeira, quer como produtor de
fruto aumentando o seu potencial produtivo. Pretende-se a implementação de um modelo de
silvicultura baseado em desbastes pelo baixo na área de pinhal manso com a seleção de árvores
dominadas, doentes e secas de forma a garantir um maior espaçamento tendo em vista uma maior
produção de fruto. Pretende-se ainda promover na área de pinhal o aproveitamento de toda a
regeneração natural de quercíneas;
- Promover a conservação de habitats e espécies prioritárias no âmbito das Diretivas comunitárias
(Habitats e Aves), consubstanciadas no PSRN2000;
- Manter a rede viária e divisional em estado de conservação adequado à acessibilidade necessária
às operações normais de exploração e de defesa da floresta contra incêndios, constituindo-se ainda
como elementos de compartimentação do espaço florestal;
- Estabelecimento de protocolos com diversas Universidades e Organismos de Investigação tendo em
vista a instalação de parcelas experimentais para estudo de vários fatores (e.g., os diferentes
compassos de plantação, diferentes graus de desramação, ensaios de proveniência e o
melhoramento recorrendo à enxertia) para o pinheiro-manso como produtor de fruto;
- Ensaiar e promover técnicas de silvicultura próxima da Natureza;
A gestão florestal tem ser uma atividade com capacidade permanente de adaptabilidade às
circunstâncias envolventes. Todas as consequências das decisões tomadas na maior parte dos casos
só são visíveis vários anos depois. O PGF permite-nos ter estes objectivos sempre presentes e
mesmo que haja uma mudança de gestão estes continuam válidos. Não nos podemos esquecer que
a gestão florestal é uma actividade de longo prazo, as medidas tomadas hoje só têm efeito daqui a
algumas décadas. A sustentação das acções e a sua monitorização permite-nos minimizar os erros
futuros que poderão hipotecar a gestão sustentável dos recursos durante largas décadas. O equilíbrio
entre a função de produção e conservação na gestão dos povoamentos florestais é uma
responsabilidade de todos os gestores florestais, tendo os serviços públicos uma responsabilidade
acrescida uma vez que gere património florestal nacional e que deve servir de modelo para todos.

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M. Amaral e C. Borges

REFERÊNCIAS

PGF da Mata Nacional de Valverde – AFN 2012


ALVES, A. A. M., 1982, Técnicas de Produção Florestal. Fundamentos, tipificação e métodos.
Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa.
BORGES, C. et al, 2009, Os Serviços Públicos Florestais terão razão para existir? 6º Congresso
Florestal Nacional, Ponta Delgada, 2009.
QUITA-QUITA, J. A. C., 1953, O Pinheiro Manso, Contribuição para o estudo na Mata Nacional de
Valverde. Relatório final do Curso de Engenheiro Silvicultor. Instituto Superior de Agronomia,
Universidade Técnica de Lisboa.
SANTOS, F.D. E MIRANDA, P., 2006, Alterações Climáticas em Portugal. Cenários, Impactos e
Medidas de Adaptação - Projecto SIAM II. (editores) Gradiva, Lisboa.
SOUSA, MARIA LEONOR NUNES MEIRELES DE, 1968, Alguns aspectos do melhoramento
selectivo do pinheiro manso (Pinus pinea L.). Relatório Final do Curso de Engenheiro Silvicultor.
Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa.
DIRECÇÃO-GERAL DOS SERVIÇOS FLORESTAIS E AQUÍCOLAS, 1956, Mata Nacional de
Valverde. Plano de Ordenamento. Lisboa.

12
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Implementação de um SIG no planeamento e gestão da avaliação


biomecânica e fitossanitária de exemplares arbóreos

P. Barracosa1*, M. Ribeiro1, D. Gaião1, H. Viana1

1: CI&DETS, Departamento de Agricultura e Ecologia Sustentável, Escola Superior Agrária, Instituto


Politécnico de Viseu. Quinta da Alagoa, 3500-606. Quinta da Alagoa - Ranhados, 3500-606 Viseu. Tel:
+351 232 446 600; fax: +351 232 426 536.
e-mail: pbarracosa@esav.ipv.pt

Resumo: Ao longo da última década, realizamos estudos de diagnóstico e avaliações


biomecânicas e fitossanitárias num número significativo de exemplares e de espécies, em
diversos centros urbanos distribuídos pelo país. Os estudos realizados facultaram a aquisição de
um conhecimento técnico-científico, sobre as principais deficiências e limitações observadas no
património arbóreo, relacionando os defeitos com causas prováveis, de acordo com as
características das espécies. O acompanhamento de obras de requalificação em espaços
públicos, tem-nos permitido avaliar a evolução da situação dos exemplares, face aos
constrangimentos que decorreram da implementação das infraestruturas e dos novos contextos
espaciais. O extenso volume de dados obtidos e a necessidade de possuirmos uma plataforma
dinâmica, passível de ser atualizada que possibilite a implementação de um sistema de avisos
para um melhor planeamento e gestão, suscitou o objetivo de criar uma base de dados. Nesta
ferramenta, são introduzidos elementos gerais relativos, à localização, parâmetros
dendrométricos e características do estado biomecânico e fitossanitário para além de elementos
gráficos, como as sondagens do resistógrafo, fotografias e a ficha de avaliação. A base de dados
integrada num sistema de informação geográfica (SIG), permite uma visualização gráfica do
contexto espacial da área de estudo, com a localização de pormenor de cada um dos exemplares
arbóreos, bem como de todos os elementos infraestruturais que possam causar constrangimento.
Com base nesta experiência, temos procurado disseminar os resultados e conclusões obtidas,
numa perspetiva técnico-científica e pedagógica, junto das autarquias e das empresas de obras
públicas e paisagismo, no sentido de sugerirmos neste domínio algumas propostas estratégicas a
implementar numa perspetiva proactiva.
Palavras-chave: Património arbóreo, diagnóstico biomecânico e fitossanitário, paisagismo,
sistema de informação geográfica, bases de dados.

Abstract: Over the last decade, we have conducted studies of diagnostic and biomechanical
evaluations in a significant number of specimens and species in several urban centers. These
studies provided the acquisition of technical and scientific knowledge and the main limitations
observed in trees, relating the faults with probable cause, according the characteristics of each
species. The development of a database were determined by a large quantity of data obtained
and the need to possess a dynamic platform, which can be updated and permits a implementation
of a warning system for better planning and management. Were introduced general elements
relating to the location, characteristics and dendrometric parameters, biomechanical and
phytosanitary observations, resistograph analysis, photographs and evaluation form. The
integrated database in a geographic information system (GIS) provides a graphic visualization of
the spatial context of the studied area, with the location in detail of each tree specimens, and the
infrastructural elements that may cause constraint. Our aim is disseminate the results and
conclusions obtained, through a technical and pedagogical way, near municipalities and
landscaping enterprises, suggesting some strategic proposals to implement in a proactive
perspective.
Keywords: Heritage tree, biomechanical and phytosanitary diagnosis, landscaping, geographic
information system, databank.
P. Barracosa, M. Ribeiro, D. Gaião, H. Viana

1. INTRODUÇÃO

As árvores constituem estruturas vivas, características da paisagem urbana, que estabelecem uma
estreita relação na arquitetura das cidades e que, desempenham um papel multifuncional de cariz
funcional e estético nos ecossistemas urbanos. O controlo de elementos poluentes, designadamente
O3, PM10, NO2, SO2 e CO, que constituem atualmente um dos maiores problemas ambientais,
representa apenas uma das várias formas através da qual as árvores contribuem para a qualidade
em meio urbano, assumindo-se como estruturas promotoras da saúde e bem-estar das populações.
Deste modo, de acordo com os vários estudos realizados, o planeamento e gestão do coberto vegetal
urbano tem-se revelado uma estratégia fulcral para melhorar os padrões da qualidade de vida das
populações nas cidades e dos ecossistemas urbanos (Nowak et al., 2006).
As árvores pelos constrangimentos sofridos, em confronto com elementos infraestruturais aéreos ou
subterrâneos, podem tornar-se suscetíveis a diversos fatores de stresse (Saebo et al., 2003), sendo
que, por se constituírem como parte integrante do património cultural e ecológico dos espaços
urbanos, carecem de preservação e manutenção, o que representam indubitavelmente custos
associados (Terho, 2005).
Uma árvore de risco é uma estrutura que apresenta defeitos estruturais que podem provocar a sua
rutura, suscetível de causar danos de ordem material ou humana, conforme o local onde se encontre
e dependendo do seu estado biomecânico e fitossanitário. As árvores que potencialmente, devido à
combinação dos defeitos estruturais com algumas condições agravantes, possam atingir alvos devem
ser avaliadas e, se necessário, acompanhadas através de uma monitorização regular de modo a
evitar danos gravosos (Clark & Matheny, 1993).
Na realização destes estudos, procede-se inicialmente a uma análise cuidada, através da observação
pormenorizada das áreas de estudo, de modo a identificar os exemplares que se possam constituir
como árvores de risco e os alvos potenciais em caso de rutura. Quando se procede a uma avaliação,
as raízes, o tronco e os ramos são as estruturas onde, normalmente, é possível encontrar os defeitos.
São identificadas cavidades, feridas, fissuras, sinais de podridão, cancros, pragas, fungos e doenças.
O meio envolvente à árvore também é tido em conta, pois muitas vezes, são os elementos
envolventes que condicionam e promovem a degradação do exemplar e consequente rutura e queda
de árvores (Clark & Matheny, 1993).
A realização destes estudos, em alguns casos, têm sido desenvolvidos em áreas sujeitas a projetos
de requalificação paisagística e sobre os quais era fulcral fazer um diagnóstico exaustivo para que, a
implementação dos novos projetos tivesse em linha de conta o estado biomecânico e fitossanitários
dos exemplares envolvidos e que se promova um planeamento adequado dos espaços arborizados
de forma a proporcionar, às árvores, as melhores condições de desenvolvimento, integrando-as num
espaço e escala (Pereira, et. al., 2005, Barracosa et. al. 2009). Simultaneamente, procuramos ter
uma atitude pedagógica para com as empresas e autarquias envolvidas nos projetos, de modo a
chamar à atenção de práticas menos corretas e identificar os exemplares de risco, sempre na lógica
de preservar os exemplares, salvaguardando a segurança de pessoas e bens, uma questão que se
assume atualmente de vital importância. Temos vindo a assistir, com alguma frequência, à ocorrência
de fenómenos climatológicos extremos, que provocam a queda e rutura de exemplares arbóreos, com

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P. Barracosa, M. Ribeiro, D. Gaião, H. Viana

particular incidência em meios urbanos, com graves consequências materiais e por vezes até
humanas. A identificação de exemplares com fragilidades biomecânicas, poderá constituir também
nestes casos um meio auxiliar precioso para prevenir os danos causados por algumas destas
ocorrência.
Tomando em consideração a intenção de contribuir para os objetivos acima referidos, iniciamos um
projeto, em colaboração com a Câmara Municipal de Penafiel, que visou a criação de uma ferramenta
dinâmica, onde se possa registar a informação relativa às espécies existentes nos seus espaços
ajardinados, numa base de dados em formato digital e que esta possa ser integrada num Sistema de
Informação Geográfica (SIG). As informações foram obtidas através da realização de um amplo
estudo de diagnóstico biomecânico e fitossanitário do património arbóreo existente nos jardins da
cidade de Penafiel, com recurso à observação e realização de sondagens por resistógrafo. Com esta
ferramenta pretendeu-se criar condições para uma otimização da gestão e planeamento dos espaços
verdes da cidade, de uma forma atualizada, dinâmica e que auxilie os meios técnicos da autarquia na
tomada de decisão de uma forma mais correta e fundamentada.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Ficha de Campo

Definiu-se uma ficha de campo (adaptada de Clark & Matheny (1993)) com os devidos ajustamentos
relativos ao local de estudo, que permite descrever de modo objetivo cada um dos exemplares
arbóreos. A ficha contempla aspetos, relativos à identificação da árvore: com indicação do número da
árvore e a sua localização; Características da árvore: nome científico, diâmetro à altura do peito
(DAP), perímetro à altura do peito (PAP), altura e classe de idade; Estado da árvore: existência de
decaimento apical, estado do recobrimento das feridas e presença de rebentos epicórmicos;
Condições do local: informações relativas ao estado e tipo de pavimento, obstruções ao crescimento,
constrangimentos; Uso do alvo: existência de infraestruturas no espaço que possam constituir um
alvo em caso de queda do exemplar, bem como a utilização do espaço circundante por pessoas,
veículos ou elementos móveis: Defeitos gerais da árvore: indicação de defeitos gerais ao nível da
raiz, colo, tronco, pernadas e copa relativos ao estado biomecânico da árvore; Classificação de risco:
Esta análise é feita, segundo Clark (s/d) através da determinação de estimativa de risco, cujo cálculo
é realizado com base nos seguintes fatores: potencial de rutura da árvore que será inferido após
análise dos defeitos estruturais apresentados pela árvore, a dimensão do elemento com
probabilidade de falha que está diretamente relacionada com os danos que poderá causar numa
eventual falha e o uso do alvo que é classificado mediante a frequência com que a área é utilizada.
Cada um destes itens é avaliado de 1 a 4 pontos, sendo que o valor final da estimativa de risco, que
varia numa escala de 12 pontos, é o somatório dos 3 fatores. De 8 a 9 a árvore deve ser monitorizada
semestral ou anualmente. Entre 10 e 11 o risco é muito elevado e obriga a uma tomada de decisão
de modo a reduzir o risco. Quando é estimado um risco igual a 12 a árvore deve ser abatida.

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P. Barracosa, M. Ribeiro, D. Gaião, H. Viana

2.2. Registo Fotográfico

No âmbito deste tipo de estudo, é essencial a existência de um registo fotográfico que será anexado
à ficha individual de cada exemplar na base de dados, permitindo uma rápida identificação da árvore
e poderá ser um elemento importante na observação e monitorização da evolução do defeito e na
fundamentação das intervenções sugeridas. As fotografias devem permitir visualizar um
enquadramento geral do exemplar no espaço e observar em pormenor os defeitos dos exemplares
estudados.

2.3. Base de dados

De forma a constituir uma ferramenta dinâmica, de fácil consulta e rápida atualização foi criada uma
base de dados em Microsoft Access com os parâmetros recolhidos na ficha de campo, tal como o
nome científico, nome comum, diâmetro à altura do peito, circunferência à altura do peito, altura,
local, coordenadas geográficas, parâmetros relativos ao estado fitossanitário, a classificação de risco,
registo fotográfico, entre outros. O formulário criado possibilita adicionar novos registos de
exemplares, pesquisar uma árvore pelo seu código de identificação ou outro parâmetro e facilita a
elaboração de relatórios, tabelas e gráficos dinâmicos, que se revelarão como um auxílio fundamental
na gestão do património arbóreo.

2.4. Sistema de Informação Geográfica para a gestão do parque arbóreo urbano

De forma a fazer uma gestão eficaz do parque arbóreo urbano foi construída uma base de dados
geográfica, utilizando o ArcGis 9.x, com os exemplares arbóreos. A aplicação SIG permite fazer a
gestão de dados geográficos dos dados georreferenciados, análise espacial, edição de dados,
produção de cartografia, pesquisas estruturadas à base e ligação a base de dados externas.
A ligação da base de dados externa criada em Microsoft Access, aos dados geográficos, possibilita a
visualização da informação detalhada, relativa a cada árvore, através de uma simples inquirição da
localização (ponto) geográfica referente a cada árvore, permitindo a análise em SIG com base nesses
atributos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Análise Geral

No estudo, que serviu de base para a implementação de uma ferramenta SIG e de uma base de
dados externa, foram avaliadas um total de 375 árvores, distribuídas pelos jardins do Sameiro e do
Calvário na cidade de Penafiel. Ambos os jardins apresentam uma elevada diversidade de espécies,
autóctones e alóctones, tendo sido identificados um total de 32 espécies, sendo que o Platanus
hybrida, o Cupressus macrocarpa e a Tilia tomentosa foram aquelas que revelaram uma maior
representatividade (Figura 1).

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P. Barracosa, M. Ribeiro, D. Gaião, H. Viana

Figura 1 - Distribuição do número de exemplares por espécie no Jardim do Sameiro.

Em relação à estimativa de risco dos exemplares arbóreos avaliados, podemos observar que a
extensa maioria não apresenta valores de risco elevados, sendo reduzido o número de árvores com
estimativas de risco superiores a 9 e que consequentemente necessitem de uma monitorização
apertada ou uma qualquer tomada de decisão (Figura 2).

Figura 2 - Distribuição do número de espécies por classificação de risco.

3.2. Avaliação Biomecânica e Fitossanitária

A título de exemplo de avaliação biomecânica apresentamos o exemplar arbóreo Plantanus hybrida


(n.º 279), que revela como maior defeito estrutural uma cavidade de grande dimensão na base de um
dos seus ramos principais (Figura 3), o que suscitou a necessidade de realização de uma sondagem
recorrendo ao resistógrafo. Apresenta igualmente alguns sinais de decaimento apical (dieback) na
sua copa e rebentos epicórmicos imediatamente abaixo da cavidade.

17
P. Barracosa, M. Ribeiro, D. Gaião, H. Viana

Foi realizada uma sondagem com resistógrado do lado oposto à cavidade, de modo a tentar avaliar a
extensão da podridão. Pela análise e interpretação da sondagem, é possível verificar que apresenta
uma resistência normal, sensivelmente até os 14 cm, após o qual sofre uma abruta redução da
resistência numa extensão de três centímetros. Regista-se uma recuperação da resistência embora
apenas durante 2 cm após o qual se observa uma alteração significativa da resistência até ao final da
sondagem (Figura 4).

Figura 3 - Vista geral do decaimento apical na copa do exemplar de Plantanus hybrida (Esq.).
Pormenor da cavidade no tronco e dos rebentos epicórmicos (Dir.)

Figura 4 - Sondagem por registógrafo realizada no exemplar Plantanus hybrida (n.º 279).

3.3. Base de dados

A estrutura do formulário elaborado teve como intuito possibilitar a pesquisa rápida de uma árvore
obtendo informações acerca do seu estado no momento em que foi avaliada e, facilmente, poder
observar-se a sua evolução. Para que esta ferramenta se torne uma mais valia exige uma contínua
atualização dos dados referentes aos exemplares estudados, bem como o registo de novos
exemplares que permitirão ampliar a área e o número de exemplares em análise. A possibilidade de
serem gerados gráficos e tabelas dinâmicas é também um aspeto a realçar que permite a elaboração
de relatórios periódicos devidamente fundamentados em dados objetivos, para as tomadas de
decisão (Figura 5).

18
P. Barracosa, M. Ribeiro, D. Gaião, H. Viana

Figura 5 - Exemplo do ambiente da base de dados relativo ao exemplar Plantanus hybrida (n.º 52).

3.4. Sistema de Informação Geográfica para a gestão do parque arbóreo urbano

O sistema de informação geográfica permite a visualização, análise e atualização dinâmica da base


de dados geográfica. A tabela de atributos pode ser relacionada com a base de dados externa e
facilmente atualizada com a informação de cada exemplar arbóreo. Na Figura 6 podemos observar a
localização dos exemplares arbóreos no jardim do Sameiro, com a indicação do grau de risco, de
acordo com as avaliações realizada em cada um dos exemplares arbóreos, após a ligação à base de
dados externa desenvolvida em Microsoft Access.

Figura 6- Exemplo do SIG relativo à indicação da classificação de risco nos exemplares arbóreos do
jardim do Sameiro.

19
P. Barracosa, M. Ribeiro, D. Gaião, H. Viana

4. CONCLUSÃO

O um sistema de informação geográfica, contendo a vasta informação recolhida sobre o património


arbóreo de uma cidade é uma ferramenta dinâmica, passível de atualizações periódicas, constituindo
uma ferramenta fundamental para uma otimização da gestão e planeamento dos espaços verdes
urbanos. O sistema pode evoluir no sentido de poder ser programado um sistema para emissão de
sinais de alerta, onde somos avisados automaticamente e com antecedência, sobre as
monitorizações e intervenções que se devem ir realizando nos diversos exemplares. Desta forma, é
possível acompanhar a evolução do estado fitossanitário das árvores, delinear o plano de visitas,
planear atempadamente as intervenções rentabilizando meios e recursos. A monitorização continua
permite, por exemplo, no caso de aviso atempado de fenómenos climatéricos extremos, por parte da
proteção civil, estabelecer perímetros de segurança nos exemplares que denotem fragilidade nas
características biomecânicas, por forma a evitar ou minimizar potenciais danos materiais ou humanos.
Outra das vantagens desta ferramenta prende-se com o facto de poderem ser elaborados relatórios
de forma mais célere e tecnicamente fundamentada e facilitar as questões relativas ao planeamento e
orçamentação das ações de preservação e manutenção a realizar sobre o património arbóreo.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos aos serviços técnicos da autarquia de Penafiel, designadamente ao gabinete técnico


florestal, pela colaboração e disponibilização de informação técnica essencial para prossecução e
desenvolvimento deste estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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3:113-120.

20
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Recursos micológicos do montado de sobro

Barrento, M. J.1, Ramos, A. P.2, Azevedo Gomes, A.1, Machado, H.1*

1: UEIS – SAFSV, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P., Quinta do Marquês, 2780-
159 Oeiras
2: CEER, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada da Ajuda,
1349-017 Lisboa
*
e-mail: helena.machado@iniav.pt

Resumo: O inventário de cogumelos silvestres, visando a avaliação da abundância e diversidade


de espécies, é uma ferramenta de grande utilidade na exploração deste recurso.
Pretendeu-se com este trabalho caraterizar as comunidades macrofúngicas quanto à
composição, abundância e diversidade, em quatro montados de sobro sujeitos a diferentes
técnicas de gestão, situados na Serra de Grândola, no Sul de Portugal.
Em cada montado delimitou-se uma parcela, com uma área de 1 ha, na qual foram identificadas
todas as árvores presentes. O inventário micológico foi realizado durante a estação outonal de
2010, uma vez por semana, sempre que as condições meteorológicas o permitiram. Os
cogumelos foram identificados até à espécie ou género, com recurso fundamentalmente a
características morfológicas. Para cada parcela determinou-se a abundância e diversidade de
espécies macrofúngicas e o espetro biológico. Calculou-se ainda o índice de similaridade de
Jaccard de modo a avaliar diferenças na composição das comunidades entre as parcelas de
estudo. A frequência/abundância foi determinada através da contagem do número de árvores
onde dada espécie ocorre.
Em toda a área de estudo foram registadas 132 espécies de macrofungos. Os géneros mais
abundantes foram Laccaria, Russula e Cortinarius, sendo Laccaria laccata a espécie mais
frequente. Dentro das espécies com interesse gastronómico destacam-se: Amanita caesarea,
Boletus aereus, Lactarius deliciosus e Macrolepiota procera.
As diferenças encontradas na composição macrofúngica revelam que as técnicas de gestão
florestal, nomeadamente a forma como os matos são controlados, podem influenciar a ocorrência
de cogumelos com valor gastronómico e/ou económico. Neste contexto, a adoção de técnicas
que fomentem e valorizem os recursos micológicos associados ao montado de sobro surge como
instrumento essencial para a futura sustentabilidade deste ecossistema.
Palavras-chave: cogumelos silvestres, inventário micológico, técnicas de gestão, valorização

Abstract: Fruiting body inventory, in order to evaluate abundance and diversity of species, is a
useful tool for the exploitation of mycological resources.
The goal of this work was to characterize composition, abundance and diversity of macrofungal
communities, in four cork-oak montados subject to different management practices, located in
Grândola hills, southern Portugal.
In each montado a plot of 1 ha was delimited, where all trees were identified. Fruiting body
inventory was done weekly during the autumn season of 2010, whenever weather conditions
allowed that. The macrofungi were identified to species or genus level, by morphological methods.
Abundance, diversity and biological spectrum were assessed in each plot. Jaccard similarity index
was also calculated allowing to evaluate differences on species composition between study plots.
The frequency/abundance was calculated as the number of trees in which a given species occurs.
A total of 132 species of macrofungi were found in the study area, being Laccaria, Russula and
Cortinarius the most abundant genera. Laccaria laccata was the species with higher frequencies
of occurrence. Within species with gastronomic interest stand out: Amanita caesarea, Boletus
aereus, Lactarius deliciosus and Macrolepiota procera.
Differences found in the macrofungi composition reveal that forest management practices, and
particularly shrub control practices, may influence the occurrence of mushrooms with
Barrento, M. J., Ramos, A. P., Azevedo Gomes, A., Machado, H.

gastronomic/economic value. This result can prompt the adoption of correct silvicultural practices
that promote and enhance mycological resources associated with cork-oak montado, ensuring the
sustainability of this ecosystem.
Keywords: wild mushrooms, fruiting body inventory, management practices, valorisation

1. INTRODUÇÃO

O montado é um sistema agro-silvo-pastoril caraterizado por povoamentos pouco densos,


principalmente dominados por carvalhos mediterrânicos perenifólios, o sobreiro (Quercus suber L.) e
a azinheira (Quercus rotundifolia Lam.), monoespecíficos ou mistos, em associação com arbustos ou
rotação de culturas/pousio/pastagens e/ou pastoreio de gado caprino, ovino, suíno e bovino (Barrico
et al., 2010; Pinto-Correia e Mascarenhas, 1999). Em Portugal este sistema ocupa cerca de 800 000
ha, principalmente na região do Alentejo, onde ocupa 730.000 ha (AFN, 2010). Também no Sudoeste
de Espanha, maioritariamente na Extremadura e Andaluzia, encontra-se um sistema semelhante, a
dehesa. Assim, e de acordo com Pinto-Correia et al. (2011), a área ocupada pelo montado/dehesa no
Sudoeste da Península Ibérica é de 3,5 – 4,0 M ha.
Os montados são ecossistemas humanizados com elevado valor socioeconómico e suportando
elevada biodiversidade (Bugalho et al., 2011). A presença de árvores dispersas e os seus efeitos na
camada herbácea causando heterogeneidade de habitats, juntamente com as diversas atividades de
produção (cultura agrícola, pastagem, pastoreio) e a diversificação na composição, densidade e
estrutura do povoamento, enriquecem a biodiversidade (Plieninger e Wildbrand, 2001).
Para além de toda a diversidade de espécies de animais e plantas, elevada diversidade de
comunidades de fungos, tanto ectomicorrízicos como saprófitas, está associada a carvalhos
mediterrâneos (ARONSON et al., 2009). Em particular, a composição e a estrutura das comunidades
de fungos micorrízicos associadas ao sobreiro apresentam grande diversidade (AZUL et al., 2010).
A composição das comunidades macrofúngicas é fortemente influenciada pela área e composição do
coberto florestal (Santos-Silva et al., 2011), estando Lactarius deliciosus (L.: Fr) Gray e espécies do
género Suillus associadas à presença de Pinus pinea L. (Ortega e Navarro, 2006). Por outro lado, as
técnicas de controlo de matos, quando efetuadas através de pastoreio permanente ou envolvendo
mobilização do solo, podem ter impacto negativo, quer ao nível da produção de carpóforos, quer na
diversidade de espécies (AZUL et al., 2011).
Amanita caesarea (Scop.: Fr.) Pers., Amanita ponderosa (Malençon & R. Heim), Boletus aereus Bull.:
Fr., Cantharellus cibarius Fr., Lepista nuda (Bull.) Cooke, Macrolepiota procera (Scop.: Fr.) Singer e
Lactarius deliciosus são exemplos de recursos micológicos associados aos montados. A maioria
destas espécies, além de constituírem um recurso micológico, são espécies micorrízicas com um
papel fundamental na conservação destes ecossistemas devido às relações nutricionais que
estabelecem com os seus hospedeiros.
A realização de inventários micológicos com o objetivo da caraterização das comunidades
macrofúngicas é de grande utilidade para o aproveitamento dos recursos micológicos. Assim, no
presente estudo pretendeu-se estudar a abundância e diversidade de macrofungos em montados de
sobro sujeitos a diferentes técnicas de gestão, e avaliar o impacto dessas mesmas técnicas de
gestão florestal na produção de cogumelos e consequentemente na valorização dos recursos

22
Barrento, M. J., Ramos, A. P., Azevedo Gomes, A., Machado, H.

micológicos.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de estudo

O presente estudo foi realizado na Serra de Grândola (38º6’N-8º63’W; altitude: 325 m), no Alentejo,
sul de Portugal.
O clima é tipicamente mediterrâneo, caraterizado por verões quentes e invernos suaves, com
influência Atlântica (BUSCARDO et al., 2010), a precipitação anual é de 676 mm e a temperatura
média anual é de 15,6 ºC (INMG, 1991). A formação geológica é dominada pelo complexo xisto-
grauváquico com estratificação vertical (COSTA et al., 2009).
A Serra de Grândola é ocupada predominantemente por montado de sobro, onde se desenvolve um
rico bosque mediterrâneo composto sobretudo por estevas (Cistus ladanifer L.) e sargaços (Cistus
monspeliensis L.), e também por alecrim (Rosmanirus officinalis L.) e ericas (Erica sp.) (REBELO et
al., 2009).
Foram selecionadas quatro parcelas de montado de sobro sujeitas a diferentes técnicas de gestão de
matos, com 1 ha cada: Barradas da Serra (BS), localizada no concelho de Grândola, Mostardeira (M),
Tanganhal Novo (TN) e Várzea dos Pereiros (VP) localizadas no concelho de Santiago do Cacém. BS
e M fazem parte de sistemas florestais com pastoreio ovino-ocasional. Já TN carateriza-se por um
sistema agroflorestal, também com pastoreio ovino-ocasional e VP é caraterizada por um sistema
agro-silvo-pastoril. Nas parcelas BS e TN foi aplicada fertilização. Relativamente ao controlo de
matos, em BS este foi feito com recurso a roçadora ao passo que em M, foi feito manualmente; nas
outras duas parcelas o controlo de matos foi efetuado através de meio mecânico com distúrbio do
solo (gradagem).
Todas as parcelas são povoamentos monoespecíficos, exceto BS que também inclui pinheiro manso
(P. pinea) na sua composição.

2.2. Inventário micológico e identificação dos macrofungos

O inventário micológico foi realizado em todas as parcelas durante a estação outonal de 2010, uma
vez por semana, sempre que as condições meteorológicas o permitiram. Ao percorrer a área de
inventário, quando se encontrava um carpóforo ou conjunto de carpóforos da mesma espécie, este(s)
era(m) considerado(s) uma amostra. Para cada amostra registou-se o respetivo número, a
quantidade de carpóforos, o nome da espécie (quando identificada) e o número da árvore mais
próxima (no caso dos fungos ECM, corresponde à árvore hospedeira). Um ou mais exemplares de
cada amostra foram fotografados, armazenados em sacos de papel identificados e transportados
para o laboratório para posterior identificação.
Os fungos foram identificados até ao nível de espécie ou género. A identificação baseou-se na
observação de caraterísticas macro e microscópicas, de acordo com os procedimentos habituais e
consulta de guias adequados (BASSO, 1999; GERHARDT et al., 2000; LOZANO, 2001; MUNÕZ,

23
Barrento, M. J., Ramos, A. P., Azevedo Gomes, A., Machado, H.

2005; SARNARI, 2005; SARNARI, 2007).

2.3. Caraterização da comunidade macrofúngica

Neste estudo a abundância de macrofungos foi quantificada através da contagem do número de


árvores onde determinado macrofungo ocorre (número de indivíduos) e não através dos métodos
mais usuais, como a quantificação do número de carpóforos ou avaliação do micélio presente no
rizoplano utilizando técnicas moleculares (BARRICO et al., 2010). Assim, o indivíduo não
corresponde ao carpóforo mas sim ao micélio associado a uma árvore, considerando-se que origina
todos os carpóforos de dada espécie presentes na área de projeção de copa. Assumiu-se que os
carpóforos pertencentes a dada espécie presentes na mesma árvore em múltiplas visitas indicam a
persistência do mesmo micélio. Para cada parcela, determinou-se o número total de indivíduos de
cada espécie.
As espécies macrofúngicas foram agrupadas de acordo com a categoria trófica em saprófitas,
parasitas e micorrízicas. Para a análise de dados a única espécie parasita encontrada foi incluída no
grupo dos saprófitas.
Para cada parcela avaliou-se a diversidade de espécies através da determinação do parâmetro
riqueza específica (S), que corresponde ao número total de espécies, e calculou-se o espetro
biológico (1) segundo MOREAU et al. (2002), que indica a razão entre espécies micorrízicas e
saprófitas, a qual pode constituir um parâmetro de medição do grau de maturidade e nível de
conservação de algumas comunidades (ORTEGA e LORITE, 2007). Calculou-se o índice de
similaridade de Jaccard (2), o qual permite avaliar diferenças na composição de espécies entre as
parcelas (MORENO, 2001).
número de espécies micorrízicas
    ó                                                 
número de espécies saprófitas

í                                                            

em que a é o número de espécies presentes no local A, b é o número de espécies presentes no local


B e c é o número de espécies presentes em ambos os locais.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Abundância e diversidade macrofúngica

Foram registados 706 indivíduos distribuídos por 132 taxa. As famílias mais abundantes foram:
Russulaceae com 55 taxa (39,24% dos indivíduos), Tricholomataceae com 10 taxa (17,00% dos
indivíduos) e Cortinariaceae com 8 taxa (13,16%). Um total de 35 géneros foi identificado, sendo os
mais representativos Russula (33,14% dos indivíduos), Laccaria (13,60% dos indivíduos) e
Cortinarius (12,61% dos indivíduos), embora um número considerável de cogumelos identificados
pertença aos géneros Amanita, Boletus, Clitocybe, Gymnopilus, Hygrophorus, Lactarius, Macrolepiota

24
Barrento, M. J., Ramos, A. P., Azevedo Gomes, A., Machado, H.

e Tricholoma.
Observaram-se diferenças na abundância e composição das comunidades macrofúngicas entre as
parcelas de estudo. Assim, registaram-se 325, 281, 85 e 15 indivíduos nas parcelas Mostardeira,
Barradas da Serra, Várzea dos Pereiros e Tanganhal Novo, respetivamente.
Pela observação da figura 1 verificamos que (i) BS e M se caraterizam por uma grande
representatividade do género Russula sendo também frequentes os géneros Amanita, Cortinarius,
Laccaria e Lactarius, (ii) o género Tricholoma aparece apenas nestas duas parcelas, embora com
fraca representatividade; (iii) BS é a única parcela onde se registou a presença do género
Hygrophorus; (iv) a parcela TN é caraterizada pela elevada frequência do género Gymnopilus, bem
como pela presença de Macrolepiota sp.. Por fim, (v) em VP o género mais abundante é Russula,
encontrando-se ainda bem representados os géneros Laccaria e Macrolepiota.
Concluindo, BS e M foram as parcelas que apresentaram abundância mais elevada e maior
semelhança em termos de composição de géneros. Já VP apresentou menor abundância de
macrofungos mas alguma similaridade com estas duas parcelas. TN é a parcela que mais se
distingue em relação às outras: para além do número de indivíduos encontrados ter sido muito baixo,
apenas se registaram três dos géneros mais representativos da área de estudo (Cortinarius,
Gymnopilus e Macrolepiota).

100,00
90,00
80,00
70,00
60,00
% 50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
BS M TN VP

Amanita Boletus Clitocybe Cortinarius


Gymnopilus Hygrophorus Laccaria Lactarius
Macrolepiota Russula Tricholoma Outros

Figura 1: Percentagem de indivíduos pertencentes aos géneros mais representativos nas parcelas de
estudo (BS – Barradas da Serra; M – Mostardeira; TN – Tanganhal Novo; VP – Várzea dos Pereiros).

Relativamente aos cogumelos silvestres com interesse gastronómico destacaram-se: Amanita


caesarea, Boletus aereus, Lactarius deliciosus e Macrolepiota procera, cujas ocorrências também
contribuiram para diferenciar as parcelas quanto à composição da comunidade macrofúngica.
Amanita caesarea ocorreu apenas nas parcelas BS e M, embora nesta última se tenha registado

25
Barrento, M. J., Ramos, A. P., Azevedo Gomes, A., Machado, H.

apenas um indivíduo. Já Boletus aereus ocorreu em todas as parcelas exceto no TN, sendo a sua
representatividade muito mais elevada na parcela M. A espécie L. deliciosus foi encontrada apenas
em BS e M. procera ocorreu em todas as parcelas exceto em BS, ainda que com uma
representatividade mais elevada em VP (Tabela 1).

Tabela 1: Número de indivíduos das espécies com interesse gastronómico, por parcela
(BS - Barradas da Serra, M - Mostardeira, TN - Tanganhal Novo e VP - Várzea dos Pereiros).
Parcela Amanita caesarea Boletus aereus Lactarius deliciosus Macrolepiota procera
BS 9 2 9 0
M 1 21 0 1
TN 0 0 0 1
VP 0 2 0 8

Estes resultados mostram que determinadas características das parcelas parecem favorecer algumas
espécies de cogumelos em deterimento de outras. Assim, A. caesarea e L. deliciosus exibem
preferência pelas condições associadas a BS, sendo que nesta parcela existe pinheiro manso,
espécie à qual L. deliciosus está associada (ORTEGA e NAVARRO, 2006). Já B. aereus parece
preferir a parcela M ao passo que M. procera é favorecida pelas condições da parcela VP.
A maior diversidade de espécies foi observada em BS e M (Tabela 2), sendo estas as parcelas que
mais se assemelham em termos de composição, como referido anteriormente, partilhando 30 % das
espécies (Tabela 3). Pelo contrário, uma menor diversidade de espécies, com predomínio de
espécies saprófitas sobre as micorrízicas, separa o TN das restantes parcelas. VP representa uma
situação intermédia, partilhando idêntica percentagem de espécies com M e TN.
Se por um lado, a predominância de fungos saprófitas em TN reflete-se na existência de grande
quantidade de matéria orgânica em decomposição nesta parcela, por outro lado, nas restantes
parcelas as condições ambientais criadas pela maior área de copa (árvores com maior porte e vigor)
promovem a riqueza micorrízica e minimizam a ocorrência de fungos saprófitas (SANTOS-SILVA et
al., 2011).

Tabela 2. Riqueza específica e espetro biológico calculados para as parcelas de estudo


(BS - Barradas da Serra, M - Mostardeira, TN - Tanganhal Novo e VP - Várzea dos Pereiros).
Parcela Riqueza específica (S) Espetro biológico
BS 73 7,11
M 78 5,50
TN 13 0,08
VP 31 2,10

A relação entre as espécies micorrízicas e saprófitas pode constituir um parâmetro indicativo do grau
de maturidade e nível de conservação das comunidades, bem como do estado de sanidade
(ORTEGA e LORITE, 2007). De facto, as parcelas onde se observaram valores mais elevados de
espetro biológico (BS e M) são aquelas que parecem apresentar um melhor estado fitossanitário,
enquanto em TN, com um valor de espetro biológico de 0,08, foi possível observar uma situação de

26
Barrento, M. J., Ramos, A. P., Azevedo Gomes, A., Machado, H.

declínio acentuado.

Tabela 3. Índice de similaridade de Jaccard (Ij) entre as parcelas de estudo (BS - Barradas da Serra,
M - Mostardeira, TN - Tanganhal Novo e VP - Várzea dos Pereiros).
Comparação
BS vs M BS vs VP BS vs TN M vs VP M vs TN VP vs TN
entre parcelas
Ij 0,30 0,08 0,01 0,16 0,06 0,16

Os resultados obtidos sugerem que as técnicas de controlo de matos podem influenciar a abundância
e diversidade macrofúngica. Nas parcelas em que os matos são controlados sem recurso a
mobilização do solo (BS e M), a abundância e diversidade de espécies são mais elevadas, ao passo
que nas parcelas onde se recorre a maquinaria pesada envolvendo mobilização do solo (VP e TN)
estes dois índices são bastante inferiores. Estes resultados estão de acordo com BARRICO et al.
(2010), que referem que a gradagem tem um efeito negativo na riqueza macrofúngica, a qual, pelo
contrário, é favorecida por operações de mobilização mínima do solo.

4. CONCLUSÕES

Os resultados mostram diferenças na abundância, composição e diversidade das comunidades


macrofúngicas nas parcelas de estudo, as quais parecem ser resultado das diferentes técnicas de
controlo de matos adotadas. Os meios mecânicos usados envolvendo mobilização do solo têm efeitos
negativos, quer diretamente, através da danificação de raízes, quer indiretamente, afetando o
processo de micorrização. De facto, as parcelas de estudo que não estão sujeitas a mobilização do
solo apresentam abundância e diversidade de espécies macrofúngicas mais elevada.
No entanto, as caraterísticas inerentes a cada local, como a densidade e situação de degradação do
povoamento, as condições químicas e físicas do solo, entre outras, também influenciam as
comunidades macrofúngicas. Em particular, as espécies com interesse gastronómico/económico
encontradas na área de estudo parecem ter preferência por determinadas condições locais, o que
pode ser explicado pela presença de dada espécie apenas numa das parcelas de estudo ou
predominância numa das parcelas.
Este estudo permitiu demonstrar que a gestão florestal deve adotar técnicas de controlo de matos
que evitem a mobilização do solo de modo a preservar a abundância e diversidade de cogumelos de
diferentes espécies, contribuindo assim para a valorização dos recursos micológicos.
Por fim, o presente estudo evidencia ainda a importância da realização de inventários micológicos,
com vista à caraterização das comunidades macrofúngicas associadas ao montado de sobro, como
um instrumento indispensável para a adoção de medidas de gestão que, face à situação de declínio
verificado neste ecossistema, promovam a sua sustentabilidade.

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29
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Comportamento de absorção de CCB de três espécies de Eucalyptus


durante o tratamento de substituição de seiva e penetração do produto nos
mourões tratados

Aline Fernanda de Brito1*, Elias Taylor Durgante Severo2 e Fred Willians Calonego3

1, 2 e 3: FCA/UNESP-Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Caixa Postal


237, Botucatu, São Paulo, Brasil.

e-mail: Aline Fernanda de Brito, alinefernanda03@yahoo.com.br

Resumo: Por ser um material renovável, a madeira vem sendo utilizada com destaque em
relação a outros materiais. Contudo, madeiras provenientes de reflorestamento apresentam uma
durabilidade natural reduzida quando comparada com alguns gêneros de madeira nativa do
Brasil. Entretanto, quando os produtos de madeiras de Eucalyptus spp. são preservados
quimicamente apresentam vida útil prolongada. Assim, o objetivo do estudo foi avaliar a
qualidade dos mourões de cinco espécies do gênero Eucalyptus spp. preservados com CCB
através do método de substituição de seiva. Para tanto, mourões de Corymbia citriodora,
Eucalyptus saligna, Eucalyptus camaldulensis, Eucalyptus urophylla e de Eucalyptus urophylla x
grandis com 20 anos de idade, provenientes da Fazenda Experimental Lageado, Faculdade de
Ciências Agronômicas, de Botucatu, SP, Brasil, foram utilizadas nesse estudo. Os mourões com
diâmetros entre 12 e 16 cm e 2,20 m de comprimento foram tratados com o produto hidrossolúvel
CCB pelo método de substituição de seiva. Após o tratamento, os mourões foram empilhados e
secos ao ar livre durante 30 dias. Posteriormente, foram retirados discos da região
correspondente à linha de afloramento com o solo, a cerca de 70 cm da base de cada mourão.
As seguintes características foram analisadas: massa específica básica da madeira, porcentagem
de alburno, porcentagem de alburno tratado e a relação da penetração boro/cobre nas espécies
estudadas. Os resultados mostraram que, dentre as espécies estudadas: (1) os mourões de C.
citriodora apresentaram a maior densidade básica (0,667g/cm3) e a maior percentagem de
alburno tratado com boro (80,6%) e os de E. saligna apresentaram a menor densidade básica
(0,431g/cm3) e a maior percentagem de alburno tratado com cobre (55,7%); e (2) os mourões de
E. camaldulensis e de E. urophylla apresentaram densidades básicas de 0,570 e 0,508g/cm3 e,
respectivamente, as menores percentagens de alburno tratado com boro (37,9%) e cobre
(24,1%).
Palavras-chave: CCB, Eucalyptus spp., substituição de seiva.

Abstract: Being a renewable material, wood has been used especially in relation to other
materials. However, wood from reforestation have a natural durability low compared to some
genera of wood native to Brazil. However, when the products of wood of Eucalyptus spp. are
chemically preserved exhibit long life. The objective of the study was to evaluate the quality of the
stakes of five species of the genus Eucalyptus spp. preserved with BAC through the replacement
method sap. Therefore, stakes Corymbia citriodora, Eucalyptus saligna, Eucalyptus
camaldulensis, Eucalyptus urophylla and Eucalyptus grandis x urophylla with 20-year-old from
Lageado Experimental Farm, Faculty of Agricultural Sciences, Botucatu, SP, Brazil, were used in
this study. The stakes with diameters between 12 and 16 cm and 2.20 m in length were treated
with the soluble product by the CCB replacement method sap. After treatment, the stakes were
stacked and dried outdoors for 30 days. Subsequently, the discs were removed region
corresponding to the line with the outcropping soil, about 70 cm from the base of each post. The
following characteristics were analyzed: basic wood density, percentage of sapwood, treated and
percentage of sapwood penetration ratio of boron / copper in the studied species. The results
showed that among the studied species: (1) the stakes of C. citriodora showed the highest
specific gravity (0.667 g/cm3) and greater percentage of sapwood treated with boron (80.6%) and
E. saligna showed the lowest basic density (0.431 g/cm3) and greater percentage of sapwood
Brito, A. F., Severo, E. T. D., Calonego, F. W.

treated with copper (55.7%) and (2) the stakes E. and E. camaldulensis urophylla presented basic
densities of 0.570 and 0.508 g/cm3 and, respectively, smaller percentages of sapwood treated
with boron (37.9%) and copper (24.1%).
Keywords: CCB, Eucalyptus spp., replacement of sap

1. INTRODUÇÃO

Ultimamente a madeira de eucalipto vem sendo utilizada com destaque em relação a outros
materiais, devido à qualidade de suas propriedades físicas, químicas e mecânicas. Segundo a
ABRAF (2012), no ano de 2011 o plantio de eucalipto cresceu 2,5% em relação ao ano de 2010,
representando o equivalente a 74,8% da área de plantio de florestas, desse total, apenas 0,25% é
plantado com a espécie Corymbia citriodora, que é a espécie mais usada para tratamento
preservativo. Desse modo, torna se importante selecionar espécies alternativas, porém com
características de resistência e tratabilidade química similares ao Corymbia citriodora, que apresenta
massa especifica básica entre 0,73 e 0,86 g/cm³ e resistência a flexão de 121, 4 MPa. As espécies E.
camaldulensis; E. saligna; E. urophylla e o hibrido E. urophylla x E.urograndis apresentam massa
especifica básica na ordem de 0,52 a 0,63 g/cm³; 0,44 a 0,54 g/cm³; 0,5 e 0,56 g/cm³ e 0,44 e 0,67
g/cm³, respectivamente. A resistência em flexão estática das respectivas espécies são da ordem de
90 a 104 MPa; 46,08 a 101,6 MPa; 78 a 97 MPa e 82 MPa (EVANGELISTA, 2007; FERREIRA et al.,,
1978; GONÇALVEZ et al., 2009; CRUZ et al., 2003; PEREIRA et al., 2000). Entretanto um dos
principais parâmetros analisados para avaliar a qualidade das madeiras preservadas quimicamente é
a penetração do produto químico ao longo do alburno. A norma P-EB – 474 da ABNT (1973)
estabelece que a penetração do produto seja total no alburno, porém Galvão (1968) afirma que não é
possível que o alburno seja 100% tratado em métodos que não utilizam pressão durante o tratamento
de madeira. Desse modo, classificam-se penetrações superiores a 10 mm como satisfatórias. Paes
(1991), utilizando diferentes concentrações de preservativo hidrossolúvel CCB no tratamento de
bracatinga (Mimosa scabrella Benth), notou que o elemento cobre em concentração de 2%
apresentou penetração satisfatória em torno de 14,50 mm na região de afloramento dos mourões.
Torres et al (2011) utilizando uma solução de CCB a 2% de concentração no tratamento de madeira
juvenil de Eucalyptus camaldulensis Dehnh. obteve penetrações satisfatórias variando de 19,25 a
26,25 mm para a região de afloramento. Farias Sobrinho et al (2005) submetendo a madeira de
algaroba ao método de substituição de seiva em soluções de 2% de obteve resultados para o cobre
de 10,30 mm enquanto o boro, devido à sua maior mobilidade, obteve 21,60 mm de penetração.
Contudo, na literatura não existem trabalhos que evidenciem o comportamento de varias espécies de
Eucalyptus com intuito de encontrar espécies alternativas ao C. Citriodora. Assim, o objetivo do
presente estudo foi avaliar o comportamento de várias espécies do gênero Eucalyptus durante o
tratamento pelo método sem pressão denominado de substituição de seiva

2. MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados mourões de cinco espécies de Eucalyptus com 20 anos de idade, escolhidos
aleatoriamente. Os mourões possuíam 2,20 m. de comprimento e diâmetro variando entre 12 e 16

31
Brito, A. F., Severo, E. T. D., Calonego, F. W.

cm. Os mourões foram tratados com o produto hidrossolúvel CCB através do método de substituição
de seiva. Após o tratamento, os mourões foram empilhados em forma de tabique ao ar livre,
protegidos da ocorrência de chuva por 30 dias, para que o produto se fixasse à madeira. Foram
analisadas a massa específica básica, porcentagem de alburno, porcentagem de alburno tratado e a
relação da penetração boro/cobre nas cinco espécies tratadas.
Para determinação da massa especifica básica, foram cortados suplementares aos mourões e estes
foram pesados para se obter o peso úmido, peso saturado e peso imerso após a saturação dos
discos, e peso seco, após os discos permanecerem em estufa a 103+ 2°C até atingirem peso
constante. A partir desses valores se obteve a massa especifica básica de cada espécie. A
mensuração da porcentagem de alburno e porcentagem de alburno tratado foi realizada com auxilio
de paquímetro digital. Para tanto, foram retirados discos com aproximadamente 2,0 cm de espessura
da região de afloramento dos mourões que foram lixados e demarcados em quatro pontos
perpendiculares à medula. Primeiramente, foi medido a porcentagem de alburno em cada disco, em
seguida um lado dos discos foi pincelada solução de Cromoazurol S a fim de revelar a presença do
elemento cobre. Do outro lado do disco, foi pincelada solução de Álcool polivinílico e iodo, para
identificar a presença do elemento boro. Após a secagem das soluções nos discos, efetuou-se a
mensuração da profundidade de cada elemento com auxilio de paquímetro digital. Foram medidos os
quatro pontos demarcados e a média final representa a profundidade de penetração de cada um dos
elementos e a porcentagem de alburno tratado P-MB-790 da ABNT (1973).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme metodologia citada anteriormente foi realizada a caracterização física dos mourões de
várias espécies de Eucalyptus spp. através da massa especifica básica, porcentagem de alburno,
porcentagem de alburno tratado e a relação da penetração boro/cobre nas cinco espécies tratadas.
A normalidade dos dados recomendou a adoção de análise de variância levando em consideração as
espécies estudas e o teste de Tukey a 95% de probabilidade para a comparação de médias. A tabela
1 mostra de forma detalhada os resultados obtidos.
Em relação à massa especifica básica, a espécie C. Citriodora apresentou maior valor (0,667 g/cm³) e
a espécie E. saligna apresentou menor massa especifica (0,431 g/cm³) em relação as espécies
estudadas, valores semelhantes aos encontrados por Pereira et al., (2000) de 0,73 g/cm³ e entre
0,44 e 0,54 g/cm³, respectivamente.

32
Brito, A. F., Severo, E. T. D., Calonego, F. W.

Tabela 1. Caracterização física e comportamento da penetração dos elementos cobre e boro em


espécies de Eucalyptus.

Alburno tratado com cobre e Relação


boro Boro/Cobre
M.E.basica % Cobre Cobre Boro Boro
Espécie N (g/cm³) alburno (mm) (%) (mm) (%) Boro/Cobre
43,9 80,6
C. citriodora 5 0,667 a 41,4 a 12,64 ab 24,33 a 2,0 b
63,1
E. saligna 3 0,431 d 0,431 d 16,67 55,7 a 19,12 ab 1,1 c
37,5 57,7
E. urograndis 5 0,496 c 0,496 c 10,69 ab 16,37 ab 1,5 bc
72,1
E. urophylla 4 0,508 c 0,508 c 7,06 24,1 b 20,52 ab 2,9 a
E. 37,9
camaldulensis 4 0,570 b 0,570 b 6,94 24,8 b 10,91 b 1,6 bc
Sendo: N-número de repetições; letras iguais - diferença não significativa; letras diferentes - diferença
significativa pelo teste de Tukey com 95% de probabilidade.

A maior profundidade de alburno tratado com boro foi obtida pela espécie C. Citriodora (24,33 mm) e
a espécie E. camaldulensis apresentou menor profundidade (10,91 mm). Para o elemento cobre, o
maior valor apresentado foi da espécie E. saligna (16,67 mm) e a espécie E. camaldulensis
apresentou a menor percentagem de alburno tratado (6,94 mm). Tais valores estão de acordo com
Paes (1991), Torres et al (2011) e Farias Sobrinho et al (2005). As espécies E. urophylla e E.
camaldulensis não atingiram penetração mínima recomendada de 10 mm para o elementro cobre,
provavelmente em função da permeabilidade da madeira.

4. CONCLUSÃO

Os resultados mostraram que, dentre as espécies estudadas: (1) os mourões de C. citriodora


apresentaram a maior densidade básica (0,667g/cm3) e a maior percentagem de alburno tratado com
boro (80,6%) e os de E. saligna apresentaram a menor densidade básica (0,431g/cm3) e a maior
percentagem de alburno tratado com cobre (55,7%); e (2) os mourões de E. camaldulensis e de E.
urophylla apresentaram densidades básicas de 0,570 e 0,508g/cm3 e, respectivamente, as menores
percentagens de alburno tratado com boro (37,9%) e cobre (24,1%).

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33
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EVANGELISTA, W. V. 2007. Caracterização da madeira de clones de Eucalyptus camaldulensis


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7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Potencial of invasive acacia species as bioenergy producers

Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada da
Ajuda, 1349-017 Lisboa

e-mail: afabiao@isa.utl.pt
Abstract: Most fast-growing forest tree species used for biomass-for-energy production in Europe
may be inadequate for that objective under Mediterranean climate conditions, due to summer
drought intensity. In Portugal, exotic woody species well adapted to summer water stress, such as
Eucalyptus globulus (blue gum) and acacias, may be more promising for biomass production than
woody natives. The use of invasive acacias as a bioenergy source may be matched with
eradication programmes that are envisaged by the Portuguese regulation on invasive species.
However, effects of summer drought on these plants must be clarified. The objective of our study
was to assess the biomass production performance of blue gum and acacia species under
controlled conditions, with and without summer irrigation. An experiment with Eucalyptus globulus,
Acacia melanoxylon, A. dealbata and A. pycnantha was installed in the Bioenergetic Plant Facility
(BioenergISA) within the campus of the Instituto Superior de Agronomia (ISA) aiming to assess
the biomass production after 1, 2, 3, 4 and 5 years, and 1 and 2 years after coppice. The plots
were installed in the beginning of 2012, survival and growth were monitored along one year and
biomass production was evaluated after one year by the harvest method. The results showed a
very low survival in rainfed plots of eucalypt and in both irrigated and rainfed treatments of Acacia
dealbata, whereas irrigated and rainfed Acacia pycnantha had similar survival rates. The best
growth rates, evaluated by total tree height, were measured in irrigated eucalypt and A.
pycnantha, which also had the highest biomass production on an area basis. The evolution of the
experimental plots along the next few years and the sprouting vigour after harvest will be crucial
for economic and environmental validation of the study hypothesis.
Keywords: Bioenergy, eradication, exotic species, Portugal, survival rate.

Resumo - Potencial das acácias invasoras para a produção de biomassa para energia: A
maioria das espécies florestais de crescimento rápido usadas na Europa para produção de
biomassa para energia pode ser de pouca utilidade em clima Mediterrâneo, com secura estival
pronunciada. As espécies lenhosas exóticas bem adaptadas ao stress hídrico estival, como o
eucalipto e as acácias, podem ser mais promissoras em Portugal. O uso das acácias como fonte
de biomassa pode articular-se com a execução de planos de erradicação previstos na Lei, devido
ao seu carácter invasor. No entanto, o efeito da secura estival no crescimento destas espécies
deve ser clarificado. Os objectivos deste estudo consistem em determinar a produção de
biomassa de eucalipto e acácias sob condições controladas, com e sem rega estival. Para o
efeito, estabeleceu-se, no Campo Pedagógico de Plantas Bioenergéticas (BioenergISA) do
Instituto Superior de Agronomia (ISA), um ensaio com Eucalyptus globulus, Acacia melanoxylon,
A. dealbata e A. pycnantha, para avaliar a produção de biomassa ao fim de 1, 2, 3, 4 e 5 anos,
bem como em talhadias após 1 e 2 anos. O ensaio foi instalado no início de 2012 e a
sobrevivência e o crescimento monitorizados ao longo de um ano, tendo-se avaliado a produção
no final do ano. Os resultados obtidos demonstraram uma sobrevivência muito baixa no
tratamento não regado de eucalipto e em ambos os tratamentos de Acacia dealbata, não se
registando diferenças entre os tratamentos regado e não regado de Acacia pycnantha. Os
melhores crescimentos, avaliados pela altura das árvores, foram em eucalipto e A. pycnantha
regados. Estas espécies, que também apresentaram a maior biomassa por unidade de área,
obtiveram valores claramente superiores nos tratamentos regados. A evolução das parcelas
experimentais nos anos vindouros e o vigor da rebentação das touças após corte serão
essenciais para a validação económica e ambiental das hipóteses formuladas neste estudo.
Palavras-chave: Bioenergia, erradicação, exóticas, Portugal, sobrevivência.
Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

INTRODUCTION

Plant biomass is the single most important renewable energy source and a key choice to also
contribute to fulfil the engagements of the Kyoto Protocol of reducing greenhouse gas emissions and
to replace fossil fuels (FAAIJ, 2006). Given the existence of raw material in Portugal and the negative
externalities (forest fires) of letting this raw material accumulate in forests, the National Forest Strategy
(DGRF, 2006) proposes that priority should be given to create a market for forest fuels, which would
promote the further utilisation of residual biomass and reduce net costs of stand clearance.
Most short rotation energy crops used in Europe (e. g. willows and poplars) may be of limited
usefulness under Mediterranean summer drought conditions. Exotic trees well adapted to summer
stress, such as eucalyptus and acacias, may be more promising as biomass producers in Portugal.
The area of eucalypt plantations in Portugal significantly increased over the last decades (BORGES
and BORGES, 2007; ICNF, 2013), but they may become sensitive to changes in the international pulp
markets that compromise its use and economic value. A reasonable knowledge on biomass
production and management options in eucalypt coppices is already available (FABIÃO, 1986;
FABIÃO et al., 1995; CARNEIRO et al., 2008; CARNEIRO et al., 2009) and may become a key factor
on their conversion to bio-energy production.
Australian species of the genus Acacia are an environmental problem in several areas of Europe,
especially in France, Spain and Portugal due to the invasive character of some of them (CAMPOS et
al., 2002; MARCHANTE et al., 2008b; RICHARDSON and REJMÁNEK, 2011). Due to its colonizing
capacity, wattles may threaten native habitats by competing with vegetation communities and
smothering associated fauna, and thus reducing native biodiversity (HOFFMANN et al., 2002). In
Portugal, these species are not anymore allowed in plantations and the restrictive law recommends
their control or eradication through large scale plans. As control actions involve high costs, mainly due
to the necessity of several follow up control actions, the use of their biomass as raw material for
energy and/or bio-products may be an alternative (SANTOS et al., 2004; GRUPO DE TRABALHO DO
MADRP DE ENERGIAS ALTERNATIVAS, 2005) to compensate the costs of eradication.
The aim of this study consists in the improvement of knowledge on the potential of woody species well
adapted to Portuguese summer drought as energy crops under Mediterranean climate. Seedlings of
Eucalyptus globulus clones with high biomass production were used as a reference. Acacia
melanoxylon, A. pycnantha and A. dealbata, frequent invaders of abandoned fields and coastal sand
dunes, were privileged as target invader species, based on literature referring their biomass
production performance and, in the case of A. melanoxylon, owing to its ability for fast growth and high
dimension at maturity (MEDHURST et al., 2003). Aiming the establishment of a controlled experiment,
these species were propagated in nursery from seeds collected in existing Portuguese stands. The
objective was to clarify the feasibility of using young regeneration that usually follows the harvest of
dominant Acacia trees as raw material for bio-energy, partially supporting the costs of eradication
follow up in subsequent years.

36
Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

METHODS AND MATERIALS

Plant materials

Seeds of Acacia dealbata, A. pycnantha and A. melanoxylon were collected in wild Portuguese
stands, respectively from interior Central Portugal, Central Algarve, and Sintra Forest Perimeter. They
were subjected to hot water (80-90ºC) pre-treatment for 4 hours to break seed coat dormancy, before
sowing in propagation liner trays in November 2010 at Instituto Superior de Agronomia (ISA) nursery.
Seedlings of a Eucalyptus globulus clone, with high biomass production, were obtained from Altri
Florestal. Before planting, a random sample of 16 seedlings of each species were characterized for
height and biomass (aboveground and roots).

Experimental design

The field trials were established in the biomass-for-energy facility (BioenergISA) at ISA. Seedlings
were installed in January 2012 and the selected species were established with two treatments: near-
optimal drop irrigation (from 14 June to 29 October, totalising ca. 1200 L m-2) and a rain fed control. To
avoid effects of water percolation in the soil, the rain fed and irrigated plots were separated and the
former installed at higher elevation than the latter. The location of species in treatments was
randomized. The near-optimal irrigation was set regarding the evapotranspiration values daily
published online by the Portuguese Weather Survey Authority (available at
http://www.ipma.pt/pt/agrometeorologia/mapas/diario/index.jsp?page=deto_co.xml).
Each species and treatment occupies an area of 6×5 m2. Seedlings were planted at a compass of
0.5×0.5 m2, i.e., with a density of 4 m-2. One year after planting, ca. 1/3 of installed plants (adjusted
according to survival) of each species and treatment was randomly sampled for above ground
biomass assessment.

Measurements and sampling

Tree height (h) of measurable living seedlings in each plot was assessed with a measuring tape at
planting and 7, 41, 70, 129, 160, 257 and 350 days after planting and survival rate evaluated.
Biomass production was evaluated by the harvest method, collecting at least 30 seedlings of each
species and treatment. Each plant was divided into three components namely stem, twigs and
branches, and leaves; they were weighed to the nearest 0.001 g and values compiled for total fresh
weight biomass; they were then oven-dried at 80ºC until constant weight (at least 48 hours) and
weighted to obtain oven-dry biomass. Aboveground dry weight per hectare for each species was also
estimated, accounting for mean tree dry weight and survival in each treatment.

Data handling and statistical analysis

Differences in mean tree height and mean aboveground total and component biomass across species
and treatments were tested through Analysis of Variance (two-way ANOVA; factors: species *
treatments). Post-hoc analyses were conducted using the Tukey test for multiple comparisons of
means. All tests were done using the statistics software package IBM SPSS Statistics 19.0.0 (IBM

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Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

Corporation, Somers, NY, USA), considering a significance level of 5% (α=0.05). Normality of data
distribution and homogeneity of variance were confirmed by Kolmogorov–Smirnov test and Levene
test, respectively.

RESULTS

Seedling characterization

The mean height, dry weight and root to shoot biomass ratio of eucalypt and acacia seedlings are
shown in Table 1. Eucalypt seedlings were smaller than those of the three acacia species and showed
lower root/shoot biomass ratio than those of acacias, probably due to vegetative origin of plants. The
three acacia species ranked in aboveground height A. pycnantha > A. melanoxylon > A. dealbata,
whereas A. dealbata and A. melanoxylon changed positions when mean total biomass was
considered. However, Acacia melanoxylon had higher root/shoot ratio than the other species included
in this study.

Table 1. Seedling characteristics of Acacia dealbata, A. melanoxylon, A. pycnatha and Eucalyptus


globulus before planting in treatment plots.

Mean height Oven dry weight (g) Root/Shoot


Species
(cm) aboveground belowground total ratio

Acacia dealbata 22.0 ± 1.2 0.65 ± 0.08 0.47 ± 0.07 1.12 ± 0.15 0.70 ± 0.04
Acacia melanoxylon 26.6 ± 1.8 0.43 ± 0.04 0.60 ± 0.05 1.03 ± 0.08 1.42 ± 0.09
Acacia pycnantha 30.6 ± 1.9 2.48 ± 0.28 1.98 ± 0.23 4.46 ± 0.45 0.85 ± 0.07
Eucalyptus globulus 21.8 ± 0.5 1.42 ± 0.07 0.44 ± 0.02 1.87 ± 0.09 0.31 ± 0.01

Seedling survival

Survival rates of the species used in the present study are shown in Table 2. The results revealed a
very low survival in rain fed plots of eucalypt (25%) and in both irrigated and rain fed treatments of
Acacia dealbata (30 and 49.2 %, respectively). A. pycnantha had the highest proportion of survival in
both areas, irrigated and rain fed (respectively 94.2 and 93.3%), followed by irrigated eucalypt (90%)
and A. melanoxylon (72.5%).

Tree growth

Tree growth along the first year after planting was evaluated by mean tree height (Figure 1). Rain fed
eucalypts were all harvested previously to the last measurement in irrigated treatment plot and final
growth comparison and statistical analysis were performed between trees slightly different in age, but
Figure 1 shows that growth of irrigated plants along that short time interval was negligible.
The highest growth performances were observed in irrigated eucalypt and A. pycnantha, attaining
100.6 and 109.9 cm, respectively. These species also had greater heights in rain fed plots (77.9 and
73.6 cm) than all the other Acacia species, in both irrigated and rain fed treatment plots.
In all species except A. dealbata irrigation significantly (p<0.05) contributed to higher growth than that

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Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

observed in rain fed treatment plots. A. dealbata which had a higher growth in rain fed than in
irrigated plot (29.1 cm vs. 25.7 cm), but the difference was not statistically significant.

Table 2. Survival (% of initial seedling quantities) of Acacia dealbata, A. melanoxylon, A. pycnatha and
Eucalyptus globulus in treatment plots along the first year of the experiment.
Days after planting
Species Treatments
7 41 70 129 160 257 350

Irrigated 100.0 75.8 69.2 63.3 51.7 34.2 30.0


A. dealbata
Rain fed 100.0 91.7 90.0 86.7 76.7 53.3 49.2

Irrigated 100.0 100.0 99.2 99.2 86.7 80.8 72.5


A. melanoxylon
Rain fed 100.0 100.0 100.0 94.2 89.2 60.0 59.2

Irrigated 100.0 100.0 99.2 97.5 95.8 94.2 94.2


A. pycnantha
Rain fed 100.0 98.3 95.0 95.0 95.0 94.2 93.3

Irrigated 100.0 97.5 97.5 95.0 90.8 90.8 90.0


E. globulus
Rain fed 99.2 96.7 96.7 95.8 90.8 27.5 25.0

Figure 1. Tree height (cm) increase for Acacia dealbata, A. melanoxylon, A. pycnantha, and
Eucalyptus globulus through the first year after planting (vertical bars represent ± 1 standard error).
Different characters indicate statistically significant differences between treatments in the same
measuring date (p < 0.05, ANOVA procedure). Rain fed eucalypts were all harvested previously to the

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Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

last measurement in irrigated treatment plot (see text).

Biomass production

Table 3 shows the average values of total and component tree aboveground dry biomass in the
studied acacia species and eucalypt one year after planting. Acacia pycnantha trees in irrigated plots
showed the potential to accumulate more biomass than all the other species, irrespective of treatment
(p<0.05), attaining 46.3, 13.0, 39.8 and 99.1 g dry biomass tree-1 respectively for stem, branches,
leaves, and total aboveground.
Total aboveground dry biomass of A. pycnantha was estimated in an area basis at about 3732.5 and
515.9 kg ha-1 respectively in irrigated and rain fed plots, whereas irrigated Eucalyptus globulus only
attained 1039.3 kg ha-1 (and 290.9 kg ha-1 in rain fed treatment plot). A. dealbata ranked the lowest
values in both treatments (8.7 and 37.9 kg ha-1 in irrigated and rain fed respectively), followed by A.
melanoxylon with 52.2 kg ha-1 in rain fed treatment.

Table 3. Mean aboveground dry biomass for the whole-tree and its components (g tree -1) of Acacia
dealbata, A. melanoxylon, A. pycnatha and Eucalyptus globulus and their total estimated aboveground
biomass (kg ha-1) in treatment plots 1 year after planting. Values in the same column followed by
different characters differ significantly (p < 0.05, ANOVA procedure and Tukey test).
Estimated
Biomass production (g tree -1)
production
Species Treatments
by area
Stem Branches Leaves Whole tree
(kg ha-1)

Irrigated 0.507 a 0.053 a 0.185 a 0.745 a 8.7


Acacia
dealbata
Rain fed 0.783 ab 0.117 ab 1.027 a 1.927 ab 37.9

Irrigated 6.217 a 0.828 a 5.009 ad 12.053 a 349.5


Acacia
melanoxylon
Rain fed 0.893 ab 0.110 ab 1.205 a 2.208 ab 52.2

Irrigated 46.331 c 12.978 c 39.783 c 99.092 c 3732.5


Acacia
pycnantha
Rain fed 5.487 ab 1.320 ab 7.012 ab 13.818 ab 515.9

Irrigated 9.461 a 1.640 a 16.987 bd 28.089 a 1039.3


Eucalyptus
globulus
Rain fed 7.480 ab 2.284 ab 19.326 b 29.090 ab 290.9

Allocation of dry biomass into different components as a percentage of the total aboveground dry
biomass for each species is illustrated in Figure 2. Dry biomass of stem of most acacia species
accounted for about 40-60% of the total above-ground dry biomass, while in Eucalyptus globulus did
not exceed 33.7% in irrigated plots. Nevertheless, leaf allocation in eucalypt was higher (60.5% for
irrigated and 66.4% for rain fed) than in acacia species, where it ranged between 25% (irrigated A.

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Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

dealbata) and 55% (rain fed A. melanoxylon). Branches generally had the lowest dry biomass
allocation, with a maximum value for irrigated plots of A. pycnantha with 13.1% of the total above-
ground biomass.

Figure 2. Allocation of dry biomass into different components as a percentage of the total
aboveground dry biomass for Acacia dealbata, A. melanoxylon, A. pycnantha and Eucalyptus
globulus.

DISCUSSION

The most surprising result obtained within the present study was the low survival, growth and
aboveground biomass production of planted Acacia dealbata, especially under irrigation, which has
been pointed out as one of the most aggressive and invasive species in terrestrial ecosystems in
Portugal, well adapted to margins of water courses (MARCHANTE et al., 2005; FERREIRA et al.,
2011; GIBSON et al., 2011). Our results suggest that its invasiveness may be at least partially related
to ability to sprout from roots and stumps, although this species tend to increase its invasive character
after fire and/or soil disturbance, and also in relation to long-term soil-stored seed banks
(MARCHANTE et al, 2008a; LORENZO et al., 2010; GIBSON et al., 2011). Nevertheless, debility of
seedlings produced within the experiment was observed at nursery and confirmed in the general
characterization of plants before planting. Ongoing studies in seedling propagation have already
suggested that such debility is not related to the seed origin, since it was confirmed with different seed
provenances after the conclusion of this study. Mutualistic relationships with nitrogen-fixing bacteria
were not considered in our study and may also contribute to the low establishment success of this
species (GIBSON et al., 2011).
An opposite trend was observed in Acacia pycnantha, which confirmed an appreciable potential for

41
Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

early biomass increase even in rain fed conditions. One of our main objectives was to confirm the
early biomass production potential of invasive acacias in order to economically support eradication
follow up, as discussed by KULL et al. (2011), through the harvest of young plants to be used as raw
material for energy production. Biomass production in this acacia one year after planting was 1.8-3.4
times higher than that of E. globulus, a reference in similar environmental conditions, depending on
applied treatment (respectively rain fed and irrigated). This species was widely used to cover areas of
shallow and dry soils under management of the Forest Authority in Algarve, where nowadays it
occupies a significant area. It was used in the past for fuel wood, but this type of utilization strongly
decreased over the last decades and almost disappeared in that region, allowing good perspectives
for bio-energy purposes.
Our results were inconclusive for A. melanoxylon, which still requires further research to confirm its
potential for early biomass production, crucial to at least partially support harvesting for energy in the
early growth stage. In our study its biomass production was low, especially under rain fed conditions.
MEDHURST et al. (2003) pointed out its tolerance to shadow and competition in early growth stages
and the value of that tolerance to improve tree form. Nevertheless, survival of A. melanoxylon in our
study was only regular and tree height increase over the first year was poor, especially under rain fed
conditions. As referred above for A. dealbata, occurrence of root nitrogen-fixing bacteria was not
surveyed within this study and may influence the establishment success. It remains unclear whether
vegetative propagation may explain, or not, invasiveness of this species in the wild.
Further research on this area should include acacia seedlings obtained by vegetative propagation,
which may be better adapted to early fast growth than those obtained from seed, at least in A.
dealbata, and survey of nitrogen-fixing bacteria nodules in seedling roots. This may be especially
important to better understand early growth and invasiveness of A. dealbata that had a low survival
and biomass production performance in our study. The inclusion of A. longifolia in this experiment is
also envisaged by the authors, due to its importance as an invader of coastal areas in Portugal with
strong impact on native plant communities (HELLMANN et al., 2011).

CONCLUSIONS

A. pycnantha had an early biomass production clearly higher than that of E. globulus (the reference
species in biomass production), allowing the conclusion that harvest for biomass may at least partially
support the costs of follow up of seedlings emerging after eradication of larger trees.
This may also allow some speculation on the use and conversion of stands of this species that occur
in areas of shallow and dry soils in southern Portugal, namely in Algarve, aiming energy production
from their biomass.
Further research is still needed to confirm the feasibility of early harvesting of A. dealbata and A.
melanoxylon for bioenergy, as well as to clarify the mechanisms of invasiveness in these species.

ACKNOWLEDGEMENTS

Funding for this study was supported by Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), Portugal,

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Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

through a post-doctoral grant attributed to Marta Carneiro (SFRH / BPD / 64852 / 2009). Altri Florestal
is gratefully acknowledged for supplying Eucalyptus globulus seedlings for use in the present
experiment. Carla Faria is also acknowledged for assistance on nursery seedling production.

43
Marta Carneiro, Rita Moreira, Patrícia Alves, Jorge Gominho, António Fabião

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45
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Baldios das freguesias de Arões e Junqueira: estudo e proposta de


intervenção

J. Carvalho1, V. Silva2, J.G. Amaral3e L. Nunes1,4,5*

1: Escola Superior Agrária de Viseu (ESAV) / Instituto Politécnico de Viseu (ISPV), Viseu, Portugal.
2: Câmara Municipal de Vale de Cambra, Aveiro, Portugal.
3: Bosque, Lda. Rua de Santa Iria, n.28 C/, 5000-444, Vila Real, Portugal.
4: CITAB, Universidade de Trás-os-Montes Alto Douro (UTAD), Vila Real, Portugal.
5: CEABN, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, Portugal.

e-mail: {Leónia Nunes}, leonianunes@gmail.com


Resumo:Os baldios são terrenos na posse e gestão das comunidades locais (compartes). Os
baldios têm como finalidade servir de logradouro comum de forma a possibilitar o pastoreio de
gado, recolha de lenha, matos, culturas, usos agrícolas, silvícolas, silvo-pastoris ou
apícolas.Estas áreas ocupam cerca de 11% (507 mil ha) da área florestal. Os baldios devem ter
uma gestão ativa onde as comunidades locais, através do normal funcionamento dos seus
órgãos, mostrem interesse pela sua administração, podendo assim usufruir das ocupações
produtivas dessas áreas, quer seja na exploração de inertes, produção de energias renováveis
ou exploração de índole florestal ou silvícola, evitando desta forma o seu abandono.A gestão de
uma área comunitária, quando submetida ao Regime Florestal Parcial, pode ser gerida através da
co-gestão com a administração pública, com maior ou menor protagonismo da entidade co-
gestora, Conselho Diretivo e/ou Junta de Freguesia. De salientar que a atual atitude de gestão
não é reconhecida sem que existam planos de intervenção nas áreas comunitárias, os quais
deverão identificar a gestão a efetuar.O presente trabalho teve como objetivo o identificar,
cartografar e apresentar uma proposta de um plano de intervenção para as áreas comunitárias
geridas pela Junta de Freguesia de Arões e Junta de Freguesia de Junqueira, Concelho de Vale
de Cambra, num total de 22 e 15 parcelas de terreno, respectivamente.As propostas
apresentadas tiveram por base o estudo de campo realizado, objectivos de gestão florestal,
previamente estipulados para cada uma das áreas pela entidade gestora responsável,e trabalhos
já iniciados pela Câmara Municipal.
Palavras-chave: terrenos comunitários, gestão florestal, Vale de Cambra
Abstract:The commons are a type ofland owned and managed by local communities. The
commons are intended to serve as public property in order to allow grazing, collecting firewood,
forests, crops, agricultural uses, forestry, forest-pastoral or beekeeping. These areas occupy
about 11% (507,000 ha) of the forest area. The commons must have an active management by
local communities and these shouldshow interest in their administration through the normal
functioning of its organs, so they can enjoy the productive occupations of those areas, whether in
aggregate exploration, renewable energy production or exploitation of nature forestry, thus
avoiding its abandonment.Managing a community area, when submitted to the Forest Partial
Regime, can be done through co-management with the public administration, with a greater or
lesser role in co-management by the Board of Directors and / or the Parish Council. It is
mandatory to have intervention and management plans about the communal areas for the actual
management to be recognized. This study aims to identify, map and submit a proposal for an
action plan for the community areas managed by the Parish Councils of Arões and Junqueira,
Borough of Vale de Cambra, in a total of 22 and 15 plots of land, respectively. The proposals
were based on field work, forest management objectives previously set for each area by the
management entity responsible and work already undertaken by the Municipality.
Keywords:community land, forest management, Vale de Cambra
J. Carvalho, V. Silva, J.G. Amaral e L. Nunes

1. INTRODUÇÃO

Os baldios são terrenos com uso e gestão pertencentes às comunidades locais (compartes) que
deles retiram benefícios para satisfazer necessidades individuais, tais como pastoreio de gado, roça
de mato ou lenha, uso agrícola, apícola ou silvícola (BICA, 2003).Os compartes são os moradores de
uma ou mais freguesias ou parte delas que, segundo os usos e costumes, têm direito ao uso e posse
do baldio.
Segundo MENDONÇA (1960), os baldios surgiram com a nacionalidade, tendo origens diversas,
concessões reais aos vizinhos de um lugar, aforamentos das ordens religiosas e casas nobres,
fruição abusiva de terras abandonadas pelos proprietários cujo uso e o tempo transformou em direito.
O território florestal português ocupa cerca de 39% da área total (AFN, 2010), dos quais 11% são
área baldia, 6% da área pertencem a um conjunto diversificado de entidades (estado, câmaras
municipais, juntas de freguesias, associações, igreja, etc.)e 83 % estão na posse e gestão privada
(RADICH & BAPTISTA, 2005).A área total de baldios em Portugal é cerca de 507 mil ha(RADICH &
BAPTISTA, 2005), localizadosessencialmente no Norte e Centro do país, sendo a área de baldios no
Norte de 261,198 ha, cerca de 51% (ESTEVÃO, 1982; DEVY VARETA, 2003).
O regime florestal, constituído com o objetivo de responder às necessidades de arborização dos
incultos e a fenómenos de erosão causados pela utilização indisciplinada dos baldios, está dividido
em três tipos (Decreto-Lei n.º 254/2009, 24 de Setembro): regime florestal total aplicado aos terrenos
pertencentes ao estado, regime florestal parcial; regime florestal especial aplicado a espaços
florestais privados, espaços florestais comunitários não inseridos em perímetro florestal.Todos os
terrenos florestais sujeitos ao regime florestal necessitam de realizar um plano de gestão florestal
(PGF), independentemente da sua área, e seguir as propostas de gestão referidas neste plano
(Decreto-Lei n.º 254/2009, 24 de Setembro).
Atualmente a Lei 68/93, 4 de Setembro, denominada lei dos baldios, regula o uso e fruição,
organização e funcionamento e extinção dos terrenos baldios, da qual foram alterados os art.º 30.º e
39.º pela Lei nº 89/97, de 30 de Julho.
De acordo com a Lei 68/93, 4 de Setembro, a administração dos baldios é feita pelos compartes “...ou
na falta deles através de órgãos democraticamente eleitos”. As comunidades locais organizam-se,
para o exercício dos atos de representação, disposição, gestão e fiscalização relativos aos
correspondentes baldios, através de uma Assembleia de Compartes, um Conselho Diretivo e uma
Comissão de Fiscalização, sendo eleitos por períodos de 2 anos.
No âmbito da valorização florestal, qualificação da gestão, certificação e incorporação das melhores
práticas dos baldios, o Despacho n.º 22922/2008 refere a importância da realização de um Programa
Nacional para a Valorização dos Territórios Comunitários (PNVTC) no qual seriam identificados os
estrangulamentos e propostas de soluções para os problemas com que hoje se depara o universo
dos baldios. Para a elaboração deste programa foi criada uma Comissão que funcionou na
dependência do presidente da Autoridade Florestal Nacional (AFN).
A utilização dos baldiostem de obedecer a planos de utilização, os quais devem ser feitos em
colaboração com as entidades administrativas que superintendemno ordenamento do território e na
defesa do ambiente.Os baldios podem ser usados no todo ou em parte, por cessão de exploração,

47
J. Carvalho, V. Silva, J.G. Amaral e L. Nunes

designadamente para efeitos de povoamento ou exploração florestal, com exceção nas partes dos
baldios com aptidão para aproveitamento agrícola. Os baldios tornam-se importantes na dinamização
económica e social das povoações trazendo inúmeras vantagens para as comunidades locais e para
a fixação das populações nas aldeias, pois aqueles terrenos são utilizados em seu benefício.
O presente estudo teve como objetivo o identificar e cartografar as áreas comunitáriasgeridas pela
Junta de Freguesia de Arões e Junta de Freguesia de Junqueira, num total de 22 e 15 parcelasde
terreno respetivamente, localizados no concelho de Vale de Cambra, para apresentação de um plano
de intervenção para as áreas baldias, tendo em contauma avaliação da situação existente e dos
objetivospreconizados para cada uma das áreas pelas entidades gestoras.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo é composta por 22 parcelasde terreno pertencentes ao Baldio dafreguesia de


Arõese por 15 parcelasde terreno pertencentes ao Baldio da freguesia de Junqueira, Concelho de
Vale de Cambra, Distrito de Aveiro (Figura 1).
A freguesia de Arões estende-se pelas encostas da Serra da Gralheira, no extremo sudeste do
Município e faz fronteira com os municípios de Sever do Vouga, Arouca, São Pedro do Sul e Oliveira
de Frades. Tem uma área de 41 Km2 e dista 25 Km da sede de Concelho. Os usos do solo na
freguesia são essencialmente ocupados pela agricultura e floresta. A freguesia de Junqueira tem um
território de 17,5 Km2, situa-se no centro-sul do Município a 15 km da sede de Concelho, estende-se
pelas ramificações da Serra da Gralheira. É uma área predominantemente rural onde impera a
agricultura e a floresta.
As parcelas pertencentes aos Baldios das freguesias de Arões e Junqueira não estão sujeitos ao
regime florestal, quer total quer parcial. No entanto, podem ser sujeitas a regime florestal especial se
as entidades gestoras solicitarem a sua submissão. Em ambos os casos os baldios são geridos pelas
Juntas de Freguesia.

Figura 1. Localização da área em estudo e distribuição das parcelas de terreno.

48
J. Carvalho, V. Silva, J.G. Amaral e L. Nunes

O trabalho de campo decorreu entre os meses de Abril aJunho de 2010. A primeira etapa consistiu na
recolha de informação de terreno com o objetivo de caracterizar as parcelas. Para tal, efetuou-se
visitas a cada parcela para levantamento dos usos e ocupação do solo, assim como informação
relativa às espécies de flora e fauna existentes no local, medição do declive do terreno e
pedregosidade e procedeu-se à georreferenciação dos limites administrativos das parcelas de
terreno.Em paralelo, realizaram-se entrevistas às pessoas responsáveis pela gestão dos baldios.Os
dados recolhidos nas entrevistas possibilitaram a identificação dos trabalhos já iniciados pelas Juntas
de Freguesia na área de estudo, o regime da propriedade, entidade gestora e objectivos previstos
para cada parcela de área baldia.
Posteriormente, foram estudadosos elementos recolhidos durante o trabalho de campo para auxiliar
nas propostas de intervenção a apresentar. Realizaram-se pesquisas sobre dados publicados da área
de estudo e uma revisão bibliográfica da legislação em vigor. Todos estes elementos foram depois
compilados e resultam na proposta de intervenção.

3. PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO PARA AS ÁREAS BALDIAS

A gestão dos espaços rurais e/ou florestais é um instrumento importante para o melhor
aproveitamento doseu uso. As intervenções nestes espaços requerem planeamento das operações
de gestão a aplicar de modo a cumprir com objetivos propostos.À semelhança destes espaços, as
áreas baldias, requerem um planeamento de todas as operações para melhor aproveitar os bens e
serviços prestados. Para além disto, importa gerir a área baldia de modo a evitar o seu abandono
e/ou intervir em áreas anteriormente abandonadas. Desta forma, torna-se importante a existência de
planos de intervenção nas áreas baldias que apresentem a gestão a efectuar em cada uma destas
áreas.
A presente proposta de intervenção para cada parcela de área baldiada área de estudo teve como
finalidade auxiliar na gestão e planeamento destas parcelas. A proposta teve por base as
características do terreno de cada parcela (declive, a vegetação, as infra-estruturas existentes, entre
outros) em consonância com os objetivos previamente estipulados para estas áreas pelas entidades
gestoras. Apresentaram-se propostas de instalação de povoamentos florestais com as espécies de
pinheiro-bravo, carvalho-alvarinho, carvalho-americano, choupo e/ou castanheiro, construção de
parques de lazer de forma a rentabilizar a utilização do espaço e continuidade de trabalhos já
definidos pela entidade gestora, caso de algumas parcelas com previsão de instalação de
povoamento de pinheiro-bravo e instalação de parques de lazer.
As parcelas de terreno apresentam, em média, uma área de 0,38 ha, sendo que aparcela maior tem
uma área de 2,5 ha e a menor 0,03 ha. Apesar da reduzida dimensão das áreas, as propostas
incidiram sobre todas as parcelas, como forma de existir um aproveitamento do terreno, evitando
assim o abandono.
As parcelas de terreno são maioritariamente áreas de matos, cerca de 54% constituídas por esteva
(Cistus ladanifer L.), urze (Erica arborea L.) giesta (Cytisus striatus (Hill) Rothm), carqueja (Genista
tridentata L.), tojo (Ulex sp.), fetos (Pteridium sp.) e algumas parcelas apresentam também pinheiro-
bravo (Pinus pinaster Aiton). Em duas parcelas já foram construídos parques de lazer e em duas

49
J. Carvalho, V. Silva, J.G. Amaral e L. Nunes

parcelas existem pontos de água de combate a incêndios florestais.


Cada proposta por parcela foi elaborada numa ficha de proposta de intervenção para uma fácil leitura
e organização da informação, num formato simplificado a disponibilizar aos órgãos responsáveis pela
gestão, Assembleias de Compartes e Juntas de Freguesia. Cada ficha foi composta pela
caracterização geral da parcela de terreno, imagens do local, fundamentaçãoe a proposta de
intervenção. A figura 2 apresenta um exemplo de uma ficha de proposta de intervenção, no total de
37 fichas, que foram compiladas e às quais se elaborou-se uma brochura intitulada ‘Propostas de
Intervenção para as Áreas Baldias das Freguesias de Arões e Junqueira’.

Figura 2. Ficha de proposta de intervenção.

Para asparcelas cujas propostas de intervenção são instalação de povoamentos florestais, com o
objetivo de produção de madeira, as espécies selecionadas são pinheiro-bravo, para 71% das
parcelas, uma vez que esta é a espécie dominante da região, carvalho-americano porque é uma
espécie que se adapta bem a todos os tipos de solos (exceto alagadiços), carvalho-alvarinho, visto
que esta espécie já existia nas confrontações das parcelas e é uma espécie adaptada à área e,
choupo para a instalação numa parcela ribeirinha (Tabela 1). O número de plantas a instalar teve em
conta o compasso de instalação ideal para a produção de madeira de cada espécie, e a área das
parcelas. Para as parcelas cujas propostas será a instalação e / ou manutenção de parques de lazer
fez-se a propostas das espécies a instalar, número de plantas também o número relativo à
quantidade de mesas, bancos e caixotes do lixo.

50
J. Carvalho, V. Silva, J.G. Amaral e L. Nunes

Tabela 1. Proposta de instalação de povoamento para produção de madeira.


Espécies Compasso Número de plantas Altura das plantas
pinheiro-bravo
3X2m Entre 50 a 2081a 0,30 cm
(Pinus pinaster)
carvalho-americano
3X3m Entre 106 a 167a 0,40 cm
(Quercus rubra)
carvalho-alvarinho
3X2m 570 0,40 cm
(Quercus robur)
choupo
4X4m 245 0,60 cm
(Populus x canadensis)
a: proposta variável conforme características da parcela, apresenta-se apenas o intervalo.

O anexo A apresenta as propostas de intervenção e as operações culturais a realizar em cada


parcela de terreno da área de estudo. Verifica-se que o pinheiro-bravo é a espécie predominante nas
propostas. Nas parcelas onde foi apenas proposta a sua manutenção apenas se realiza uma
operação, a limpeza de matos, sempre que se verifique necessário. As intervenções onde não se
propõe a instalação por plantação deve-se à presença de regeneração natural que vai ser conduzida
ou à existência de povoamentos já adultos.

4. CONCLUSÕES

Este trabalho permitiu apresentar um conjunto de propostas de intervenção em parcelas de


terreno de baldios com o objetivo de auxiliar na tomada de decisão à gestão e planeamento das
destas áreas, através da instalação de povoamentos florestais, condução de povoamentos já
existentes, criação de parques de lazer e ainda instalação de canteiros de ervas aromáticas.
As parcelas de terreno dos baldios da área de estudo caracterizam-se pelas suas pequenas
dimensões, tendo a maior parcela uma área de 2,5 ha e a menor de 0,03ha. Verificou-se a
necessidade de apresentar propostas de intervenção para cada uma das parcelasde modo a
evitar o abandono destas áreas, uma vez que a generalidade destas áreas não tem qualquer tipo
de aproveitamento. As propostas apresentadas foram baseadas em objetivos já previstos pela
entidade gestora e nas características apresentadas pelas parcelas.
As propostas de intervenção apresentadas são importantes na medida em que demonstram as
diferentes utilidades que se pode dar às parcelas de terreno dos baldios e que apesar das suas
pequenas dimensões se conseguem obter rendimentos. As mesmas, também representam uma
motivação para fixar as populações nas aldeias, uma vez que estas obtêm receitas dessas áreas
e têm benefícios ecológicos ao contribuir para a minimização da erosão dos solos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Junta de Freguesia de Arões, Junta de Freguesia de Junqueira,


Compartes e Suzana Fernandes pela informação fornecida e esclarecimentos de dúvidas, e ao
Eng.º Marco Magalhães pela ajuda na elaboração do mapa de localização.

51
J. Carvalho, V. Silva, J.G. Amaral e L. Nunes

BIBLIOGRAFIA

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Gestão Florestal. Lisboa: 209pp.
BICA, A., 2003. O Regime Jurídico dos Baldios. http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/12_vtjane
iro2003_antoniobica.pdf, consultado em 29/08/2011.
DEVY-VARETA, N., 2003. O Regime Florestal em Portugal através do Século XX (1903-2003).
Revista da Faculdade de Letras. Geografia. I Série, vol. XIX. Porto: 447-455.
ESTEVÃO, J.A., 1983. A florestação dos baldios. Análise Social, vol. XIX (77-78-79), 1983-3.º, 4.º 5.º,
1157-1260.
MENDONÇA, J.C., 1960. A arborização dos terrenos sob a administração florestal do Estado em face
do II Plano de Fomento. Secretaria de Estado da Agricultura. Lisboa: 229-246.
RADICH, M.C., BAPTISTA, F.O., 2005. Floresta e Sociedade: Um Percurso (1875-2005). Silva
Lusitana. 13(2): 143-157.

52
J. Carvalho, V. Silva, J.G. Amaral e L. Nunes

Anexo A. Operações culturais a realizar em cada parcela de terreno em estudo.


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A A J J J J J J J J J J J J J J J

Limpeza de
mato
Instalação por
plantação
Corte de
árvores em pé
Podas de
formação

Rolagem

Desbaste

Desramações

pinheiro-bravo carvalho-americano choupo Manutenção

castanheiro carvalho-alvarinho Parque de Lazer Plantas Aromáticas

A: referente às parcelas de terreno pertencentes à freguesia de Arões; J: referente às parcelas de terreno pertencentes à freguesia de Junqueira.
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Variação da composição química de Eucalyptus globulus com a idade.

I. Domingos1, L. Cruz Lopes1, J. Ferreira1, H. Pereira2 e B. Esteves1*

1: Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde, ESTV, Instituto Politécnico de Viseu, Av. Coronel
José Maria V. de Andrade, Campus Politécnico, 3504-510 Viseu. Portugal
2: Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada
da Ajuda
1349-017 Lisboa, Portugal

*e-mail: bruno@demad.estv.ipv.pt
Resumo: Madeira de eucalipto (Eucalyptus globulus Labill.) com idades entre 6 e 15 anos, da
região de Águeda, foi utilizada nos ensaios. Cada rodela foi partida, estilhada, moída num
moinho de facas e fracionada granulometricamente. A composição química foi determinada para
a fração de 40-60 mesh. Os extrativos foram determinados por extração sucessiva em Soxhlet de
cerca de 3 g de amostra com 150 ml de: diclorometano (DCM), etanol e água. O tempo de
extração foi 6 h para DCM e 18 h para etanol e água. A percentagem de extrativos em cada
solvente foi determinada por gravimetria após evaporação do solvente em relação à massa seca
inicial. A lenhina insolúvel em ácido foi determinada pelo método de Klason e a lenhina solúvel
medindo a absorbância a 205 nm num espectrofotómetro. As análises foram feitas em duplicado.
O extrato em DCM variou entre 0,18% e 0,25%, sendo aproximadamente constante à medida que
a idade aumenta. O teor de extrativos em etanol aumenta significativamente com a idade desde
0,9% para árvores com 6 anos até 4,8% para árvores com 15 anos. Em relação aos extrativos em
água, à exceção das amostras com 15 anos de idade que apresentaram um valor inferior (1,0%),
todas as outras apresentaram um valor aproximadamente constante, variando entre 2,0% e 2,6%.
Os extrativos totais aumentam com a idade das árvores, variando entre 3,3% e 6,0%,
influenciados pelo aumento dos extrativos em etanol. A percentagem de lenhina Klason foi
aproximadamente constante variando entre 19,6% e 23,1%. O mesmo se passou em relação ao
teor de lenhina solúvel que variou entre 3,3% e 4,0%. Conclui-se que com o aumento da idade a
madeira de eucalipto apresenta mais extrativos sobretudo compostos fenólicos.
Palavras-chave: Composição química, Eucalyptus globulus Labill, idade
Abstract: Wood of eucalyptus (Eucalyptus globulus Labill.) aged between 6 and 15 years from
the region of Águeda, has been used. Each slice was cut and crushed in a knives mill. Chemical
composition was determined for the 40-60 mesh fraction. The extractives were determined by
successive extraction in Soxhlet of about 3 g of the sample with 150 ml of Dichloromethane
(DCM), ethanol and water. The extraction time was 6h for DCM and 18h for ethanol and water.
The extractive percentage in each solvent was determined gravimetrically after the evaporation of
the solvent in relation to initial dry mass. Acid-insoluble lignin was determined by the Klason
method and soluble lignin by measuring the absorbance at 205 nm in a spectrophotometer. The
analyses were done in duplicate.
The DCM extract varied between 0.18% and 0.25%, with approximately constant content as the
age increases. The extractive content in ethanol significantly increases with age from 0.9% to
trees with 6 years up to 4.8% for trees with 15 years. In relation to the extractives in water, with
the exception of samples with 15 years of age who have a lower value (1.0%), all other presented
a value approximately constant, varying between 2.0% and 2.6%. The total extractives increased
with the age of trees, ranging from 3.3% to 6.0%, influenced by the increase in ethanol
extractives. The Klason lignin content was approximately constant ranging from 19.6% and
23.1%. The same happened in relation to soluble lignin content that ranged between 3.3% and
4.0%. It is concluded that with increasing age the eucalyptus wood features more extractives
especially phenolic compounds.

Keywords: Chemical composition, Eucalyptus globulus Labill, age


I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Pereira e B. Esteves

1. INTRODUÇÃO

O eucalipto está hoje em dia plantado um pouco por todo o mundo, em plantações intensivas e
de curta rotação (7 a 12 anos), destinando-se essencialmente à produção de pasta para papel.
Em Portugal, de acordo com o 6º Inventário Florestal Nacional (ICNF, 2013) o eucalipto é a
espécie mais plantada, tendo apresentado um aumento de 16% de área entre 1995 e 2010, e
ocupando atualmente uma área florestal de cerca de 812 mil hectares.

As diversas espécies de eucalipto mostram uma variação na composição química da madeira de


40-62% para a celulose, 12-22% para a hemicelulose e 15-25% de lenhina (Silva el al 2005, Hillis
e Brown 1978). Em relação à madeira de Eucalyptus globulus, Pereira (1988) determinou a
composição química em árvores com idades entre 11 e 14 anos, em quatro localizações
diferentes tendo encontrado variabilidade entre árvores e localizações. A composição química
média encontrada foi a seguinte: cinzas 0,4%, extrativos totais 4,9%, lenhina insolúvel 19,5%,
lenhina solúvel 3,6%, celulose 54%, pentosanas 18,9% (% massa seca).

O conhecimento da variação da composição química com a idade permite escolher a idade de


corte ideal de acordo com a utilização a dar à madeira. Miranda e Pereira (2002) determinaram a
variação da composição química para árvores de Eucalyptus globulus com 2, 3 e 6 anos e
constataram que houve um aumento com a idade de lenhina e extrativos, principalmente solúveis
em água e etanol. Resultados semelhantes foram obtidos por Silva et al (2005) para árvores com
idades entre 10 e 25 anos da espécie Eucalyptus grandis. No entanto, Raymond (2000), em
ensaios com madeira de Eucalyptus globulus, apresentou resultados diferentes, observando um
aumento dos teores de holocelulose e extrativos com a idade, ocorrendo o inverso quanto aos
teores de lenhina.

Na Europa, Eucalyptus globulus é uma espécie utilizada essencialmente na produção de pasta


para papel devido à sua elevada produtividade e qualidade dos papéis produzidos (Miranda et al.,
2003, Santos et al., 2006, Lourenço et al 2009), sendo cortada entre os 11-14 anos. A utilização
do eucalipto noutros produtos no âmbito de uma Biorefinaria ou para fabrico de pellets ou
briquetes permite considerar outras idades de corte. Este trabalho teve como objetivo avaliar a
composição química do Eucalyptus globulus, com idades compreendidas entre 6 e 15 anos, de
modo a poder determinar a sua adequabilidade a diferentes usos industriais.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Preparação das amostras

Madeira de eucalipto (Eucalyptus globulus Labill.) com idades entre 6 e 15 anos, da região de
Águeda, foi utilizada nos ensaios. Cada rodela foi partida, estilhada, moída num moinho de facas
e fracionada granulometricamente. A fração 40-60 foi utilizada nos ensaios.

55
I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Pereira e B. Esteves

2.2. Determinação dos extrativos

Os extrativos foram determinados por extração sucessiva em Soxhlet de cerca de 3 g de amostra


com 150 ml de: diclorometano (DCM), etanol e água. O tempo de extração foi 6 h para DCM e 16
h para etanol e água. A percentagem de extrativos em cada solvente foi determinada por
gravimetria após evaporação do solvente em relação à massa seca inicial.

As amostras pesadas (cerca de 3 g) foram colocadas num dedo de extração previamente tarado
que se introduziu num Soxhlet de 250 ml de sifão pequeno. Introduziram-se 150 ml de
diclorometano num balão de fundo redondo de 250 ml e colocou-se o balão na manta, sobre este
colocou-se o Soxhlet e o respetivo condensador. A extração manteve-se durante um período de 6
horas, após o qual se retirou o dedo de extração contendo a amostra e se deixou a secar ao ar.
O balão contendo o diclorometano e os extrativos em solução foi deixado em refluxo com um
Sohxlet vazio onde se recuperou parte do solvente, até ficarem cerca de 25 ml de solvente no
balão. Seguidamente, colocou-se o solvente com os extrativos num copo pré-pesado e foi seco
numa estufa a 40 ºC durante 24 horas, seguido de 1 hora a 100ºC. Colocou-se então o copo no
exsicador durante 30 min e pesou-se. Após o material extratado com diclorometano estar seco
repetiu-se o procedimento de extração utilizando como solvente etanol e em seguida água, com a
diferença que, neste caso, a extração se manteve durante 16 horas. A percentagem de extrativos
em cada solvente foi calculada em relação à massa seca da madeira inicial segundo: %
resíduo seco
Extrativos = massa seca *100 (1)

em que a massa seca é calculada como:

massa húmida
massa seca = (1+%humidade/100) (2)

2.3. Determinação da lenhina

As amostras moídas foram colocadas numa estufa a 60 ºC de um dia para o outro, seguida de 1
hora a 100 ºC e deixadas arrefecer em exsicador. Em seguida pesaram-se exatamente 350 mg
de cada amostra para pequenas tinas de vidro. Adicionaram-se 3 ml de ácido sulfúrico a 72%
gelado e colocaram-se as tinas de vidro num banho termostático a 30 ºC durante uma hora,
mexendo a mistura com uma vareta de vidro de 10 em 10 minutos. No final mediram-se 84 ml de
água destilada numa proveta e com o auxílio da água, passaram-se as misturas para frascos de
vidro térmico de 100 ml que foram colocados numa autoclave com água no fundo. As amostras
permaneceram na autoclave durante uma hora à temperatura de 120 ºC. Retiraram-se os frascos
da autoclave e arrefeceram-se com gelo. Filtrou-se a mistura para um kitasato com um cadinho
de placa filtrante nº 4 pré-pesado. Os cadinhos contendo a lenhina foram colocados numa estufa
a 60 ºC de um dia para o outro, seguido de uma hora a 100 ºC, deixados a arrefecer e pesados.
A percentagem de lenhina insolúvel foi calculada como:

56
I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Pereira e B. Esteves

massa de lenhina (mg)


% Lenhina = massa inicial (mg) *100 (3)

A determinação da lenhina solúvel foi efetuada, medindo a absorvância em espectrofotómetro a


205 nm de acordo com a norma Tappi UM 250 “Acid-soluble lignin in wood and pulp”.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O extrato em DCM foi o que apresentou menor quantidade e variou entre 0,18% e 0,25%,
sendo aproximadamente constante à medida que a idade aumenta (Figura 1a). O teor de
extrativos em etanol aumenta significativamente com a idade desde 0,9% para árvores com 6
anos até 4,8% para árvores com 15 anos, sendo o aumento aproximadamente linear com um
fator de correlação de 0,94 (Figura 1b). Resultados semelhantes foram apresentados por Miranda
e Pereira (2002) com árvores entre os 2 e 6 anos.
Em relação aos extrativos em água, à exceção das amostras com 15 anos de idade que
apresentaram um valor inferior (1,0%), todas as outras apresentaram um valor aproximadamente
constante, variando entre 2,0% e 2,6% (Figura 1c). Parece haver uma ligeira trajetória
descendente, contrária à observada por Miranda e Pereira (2002) com árvores entre os 2 e 6
anos.
Os extrativos totais aumentam com a idade das árvores, variando entre 3,3% para 6 anos e
6,0% para 15 anos, influenciados pelo aumento dos extrativos em etanol que representam mais
de 50% do total (Figura 1d). Os resultados encontrados não diferem substancialmente dos
obtidos por Miranda e Pereira (2002b), que obtiveram 3,7% de extrativos usando Eucalyptus
globulus com 9 anos de idade e dos de Pereira (1988), para uma madeira de Eucalyptus globulus
com 11-14 anos idade em que os extrativos totais foram de 4,9%.

1,0 Diclorometano 7,0 Etanol


6,0
Extrativos (%)

Extrativos (%)

0,8
5,0
0,6 4,0
R² = 0,9438
3,0
0,4
2,0
0,2 1,0
0,0
0,0
6 8 10 12 14 16 6 8 10 12 14 16
Idade (anos) Idade (anos)

7,0 Água 7,0 Totais


6,0 6,0
Extrativos (%)

Extrativos (%)

5,0 5,0
4,0 4,0
3,0 3,0
2,0 2,0
1,0 1,0
0,0 0,0
6 8 10 12 14 16 6 8 10 12 14 16
Idade (anos) Idade (anos)
Figura 1: Variação dos extrativos em diclorometano(a), etanol(b), água (c) e totais com a idade.

57
I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Pereira e B. Esteves

No que diz respeito aos teores de lenhina verificou-se que a percentagem de lenhina Klason
foi aproximadamente constante, embora com uma ligeira tendência de subida, variando entre
19,6% e 23,1% (Figura 2). Miranda e Pereira (2002) obtiveram um claro aumento dos teores de
lenhina com a idade para árvores entre os 2 e 6 anos. Raymond (2000) obteve um resultado
contrário, observando uma diminuição do teor de lenhina com a idade.
Em relação ao teor de lenhina solúvel, este variou entre 3,3% e 4,0%, sem uma variação
consistente, contrariamente à diminuição apresentada por Miranda e Pereira (2002).

25,0

20,0
Lenhina (%)

15,0
Lenhina insolúvel
10,0 Lenhina solúvel

5,0

0,0
6 8 10 12 14 16
Idade (anos)

Figura 2: Variação da lenhina klason (insolúvel) e solúvel com a idade para o eucalipto.

O aumento dos teores de extrativos e de lenhina com a idade indiciam que se pretendermos
utilizar a madeira de eucalipto para a produção de briquetes ou pellets será vantajoso do ponto
de vista da composição química aumentar a idade de corte devido a um aumento de extrativos e
lenhina conduzir a um aumento do poder calorífico.

4. CONCLUSÕES

Conclui-se que, com o aumento da idade, a madeira de eucalipto apresenta mais extrativos,
essencialmente solúveis em etanol, possivelmente devido ao aumento de compostos fenólicos.
Os extrativos em diclorometano e em água são aproximadamente constantes. O teor de lenhina
klason é aproximadamente constante mas com uma ligeira tendência de subida. O conhecimento
da variação da composição química com a idade poderá permitir a escolha da idade de corte de
acordo com a utilização a dar à madeira

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação para a Ciência e Tecnologia (Ref.


PTDC/ECM/099121/2008) e ao Centro de estudos em educação, tecnologias e saúde (CIDETS)
pelo apoio financeiro.

58
I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Pereira e B. Esteves

REFERÊNCIAS

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ICNF, 2013. IFN6 – Áreas dos usos do solo e das espécies florestais de Portugal continental.
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Lourenço, A., Gominho, J., Pereira, H. 2009. A influência do cerne do eucalipto na produção de pasta
para papel. In Congresso Florestal Nacional, 6º, Ponta Delgada, 2009 - A floresta num mundo
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Santos, A.J.A., Anjos, O.M.S., Simões, R.M.S., 2006. Papermaking potencial of Acacia dealbata and
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tronco na composição química da madeira de Eucalyptus grandis Hill ex Maiden. Revista Árvore,
Viçosa-MG, 29(3): 455-460.

59
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas ­ Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Custos com a exploração florestal na ex-UGFD

J. Calçada Duarte1

1: ICNF, Departamento de Conservação da Natureza e das Florestas do Norte; joao.duarte@icnf.pt

e-mail: {J. Calçada Duarte}, joao.duarte@icnf.pt


Resumo. Uma das competências da ex-Unidade de Gestão Florestal do Douro (UGFD) – um dos
serviços locais da extinta Autoridade Florestal Nacional – consistiu em assegurar a gestão das
áreas submetidas a Regime Florestal na sua área territorial de influência, coincidente com a
região PROF DOURO.
No âmbito da exploração florestal daquelas áreas, maioritariamente baldias e totalizando cerca
de 26 500 hectares (dos quais apenas uma pequena parte – cerca 15% – reunia condições de
exploração), foram duas as principais atividades desenvolvidas pela então UGFD: i) na fase
anterior à venda, a marcação de arvoredo, enquanto tarefa relativa à marcação e inventariação
do material lenhoso a alienar e, ii) na fase pós-venda, o acompanhamento do corte, enquanto
atividade de acompanhamento e controlo dos trabalhos de corte e extração desenvolvidos pela
entidade adquirente do material lenhoso. Enquanto a primeira era desenvolvida em equipa,
habitualmente constituída por quatro elementos, a segunda era essencialmente uma tarefa
individual.
Apesar da UGFD ter um contributo residual na totalidade do arvoredo autuado na região Norte
pelos então Serviços Florestais, marcando em média cerca de 6 000 m3 por ano (cerca de 5% do
total regional), considera-se vantajoso apresentar e discutir os custos associados a tais
atividades, por se tratarem de indicadores muito pouco conhecidos e divulgados.
Apresenta-se a metodologia utilizada e discutem-se os custos unitários das duas principais
tarefas de campo relativas à exploração florestal – marcação de arvoredo e acompanhamento de
cortes –, tendo por base o trabalho desenvolvido nos últimos 4 anos.
Palavras-chave: Custos, Auto de marca, Acompanhamento do corte

Abstract: One of the responsibilities of the Unidade de Gestão Florestal do Douro (UGFD), one
of the local offices of the extinct Forestry Service, was to manage the areas under the Forest
Regime in its territorial area of influence.
Within those areas of forestry, mostly commons and totaling approximately 26,500 hectares (of
which only a small portion - about 15% - gathered harvesting activities), two major tasks were
undertaken by the former UGFD: i) in the previous phase for sale, marking trees, while on the task
of inventorying and marking the timber for cut, and, ii) in the post-sale phase, harvest
accompaniment, while on the task of supervising and controlling the harvest of contracted timber
volumes by timber purchasers. While the first was developed as a team, usually consisting of four
persons, the second was essentially an individual task.
Despite UGFD has a residual contribution in the entire grove apprehended in the North by the
former Forestry Service, marking an average of 6,000 m3 per year (about 5% of the regional
total), we find it convenient to present and discuss the costs associated with such activities,
because they are poorly known and disseminated indicators.
It is presented the methodology used, and discussed the unit costs of the two main tasks
concerning the forestry field – marking trees and harvest accompaniment – based on the work
done in the last 4 years.
Keywords: Costs, Marking trees for harvest, Harvest accompaniment
J. Calçada Duarte

1. INTRODUÇÃO

A gestão das áreas submetidas a Regime Florestal tem sido, explicita ou implicitamente e com mais
ou menos exclusividade, uma das principais dimensões da missão da nossa Administração Florestal.
No âmbito dessa gestão, a componente da intervenção produtiva nos povoamentos florestais, tem
assumido vincado destaque pelos recursos humanos e financeiros envolvidos.
É pois usual – tem-lo sido nas últimas décadas – os serviços oficiais disporem assiduamente de
equipas no terreno a efetuar autos de marca culturais (desbastes), finais (cortes rasos) e/ou
extraordinários (cortes resultantes de incêndios, de problemas fitossanitários ou de outros
imprevistos).
Apesar dessa constância – anual, territorial e já histórica –, desconhecem-se indicadores que
traduzam o custo das principais atividades e/ou processos associados, por não ser ainda prática
corrente promover essas avaliações.
Este tipo de lacunas – desconhecimento dos custos associados a atividades chave –, motivou a
elaboração do presente estudo, onde se pretende retratar a experiência da ex-UGFD em matéria de
indicadores de eficiência e de economicidade nas atividades de exploração florestal e, em
simultâneo, incentivar iniciativas análogas pela via da explicitação de metodologias acessíveis.
Depois de se apresentar a metodologia usada e de uma breve caraterização dos dados de base,
discutem-se os custos de marcação e de acompanhamento, isoladamente e em conjunto, segundo
três dimensões: custo por unidade de volume autuado; custo relativo por unidade de volume autuado
comparativamente ao preço unitário de venda, e custo por árvore marcada (dimensão aplicada
apenas à fase de marcação). A anteceder as considerações finais discute-se sumariamente o
potencial preditivo de algumas variáveis na estimação de duas das três variáveis de custo analisadas.

2. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES

Nos serviços oficiais, a venda de material lenhoso acarreta duas fases de campo distintas: uma, a
anteceder a arrematação, com a finalidade de marcar e quantificar o lote objeto da venda; outra,
posterior à adjudicação, com o propósito de acompanhar os trabalhos de exploração, assegurando o
cumprimento das condições contratualizadas.
Na primeira executa-se o auto de marca; na segunda procede-se ao acompanhamento do corte.

2.1. Execução do auto de marca

A marcação do arvoredo, realizada em equipa normalmente constituída por quatro elementos, incluiu
as seguintes três tarefas base:
1ª. Reconhecimento da área e do tipo de intervenção a realizar
Tarefa realizada frequentemente com a participação de um técnico superior (e, também com
frequência, com a participação de representantes do cogestor), cujo propósito consistiu no
estabelecimento dos critérios de marcação e na delimitação da área de intervenção (área do lote).
2ª. Autuação do arvoredo
Avançando sobre o terreno, os três marcadores da equipa seguiam em paralelo à frente, distanciados

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entre si alguns metros (consoante o tipo de corte e as condições do terreno e do povoamento),


selecionando as árvores a abater. Estas árvores eram sutadas e o valor da respetiva classe de
diâmetro “cantado” (anunciado em alta voz) ao chefe de equipa (elemento mais experiente), que
seguia atrás com funções de registo e de orientação do trabalho de marcação. Simultaneamente,
essas árvores eram marcadas com dois cortes, à esquerda e à direita do tronco, segundo a direção
de marcação e ligeiramente acima ou abaixo da altura do peito.
Esta autuação das árvores a corte – entalhe na casca com perfuração do lenho recorrendo ao
martelo florestal (machada com marcador no topo) ou à tradicional machada –, é já uma simplificação
da prática instituída pelo Decreto de 24 de Dezembro de 1903, que previa também a impressão da
marca do martelo nos dois cortes feitos ao nível do peito e num terceiro feito ao nível basal, à
semelhança, por exemplo, das tradicionais operações de martelage e de señalamiento praticadas em
França e Espanha, respetivamente.
3ª. Medição de alturas
A última tarefa de campo dos autos de marca respeitava à medição de pares de valores “diâmetro à
altura do peito / altura total” de pelo menos 30 árvores tidas por representativas das árvores
marcadas, para a posterior determinação da altura média por classe de diâmetro. A escolha destas
árvores, dispersas pela área do lote, assentava na proporcionalidade ditada pela tabela de
frequências final, inscrita nas fichas de registo de árvores marcadas para corte, fazendo-se a medição
das alturas com o hipsómetro Blume Leiss. Foi uma tarefa que nos dois primeiros anos implicou
também, nalguns casos, a participação de um técnico superior.

2.2. Acompanhamento do corte

O acompanhamento dos trabalhos de corte e extração foi uma atividade executada por um assistente
operacional, previamente designado para o efeito, auxiliado pontualmente por um técnico superior
sempre que tal se revelou necessário.
É também uma atividade assente em momentos chave, a saber:
1º. Início do corte
Momento em que se autorizam formalmente os trabalhos de corte e extração do arvoredo vendido –
i.e., das árvores marcadas –, caracterizado pela vistoria conjunta à área do lote, onde além do
representante do adjudicatário era também chamado a participar o representante do cogestor, no
sentido de se avaliarem e discutirem as condições presentes e as condições contratuais.
2º. Acompanhamento do corte
A assiduidade e a essência desta tarefa variaram em função do tipo de corte presente.
Perante cortes seletivos, as árvores marcadas só eram abatidas na presença do elemento
responsável pelo acompanhamento do corte que, depois da operação de abate, imprimia nos cepos a
marca do martelo florestal, registando em impresso próprio todos os cepos batidos. Era também
registado o relato sumário do acompanhamento realizado.
Sempre que possível, e numa perspetiva de contenção de custos, procurava-se que 2 ou 3 dias
semanais bastassem para estas ações de acompanhamento.
Perante cortes a eito, só eram batidos os cepos das árvores exteriores do lote, caso este fosse

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contiguo a áreas arborizadas, procurando que as visitas de acompanhamento não consumissem mais
de 1 a 2 dias por semana (num mesmo dia, um mesmo elemento podia acompanhar mais do que um
lote).
3º. Conclusão do corte
Momento da última vistoria, sempre que possível conjunta tal como aquando do início do corte, da
qual resultava um auto de conclusão.

3. METODOLOGIA DE DESAGREGAÇÃO DE CUSTOS

3.1. Generalidades

Na ex-UGFD, toda e qualquer utilização das viaturas oficiais, assim como toda e qualquer despesa,
era imediatamente imputada a um determinado código consoante a atividade, tarefa e/ou processo
em causa, com o propósito de se avaliarem, anualmente, custos e indicadores de gestão (UGFD,
2011).
No caso em estudo, em que se reuniram e uniformizaram registos de quatro anos, os custos unitários
que serviram de base à determinação dos custos totais, referentes ao custo da jorna e ao custo da
deslocação, resultaram, por simplificação, da média ponderada dos custos unitários contabilizados
em cada um dos quatro anos em análise, excetuando o caso da componente das ajudas de custo.
Assim,
i) O custo da jorna, i.e., o custo de referência de um dia de trabalho – fixado em 40,7 EUR para um
assistente operacional (AO) e em 79,5 EUR para um técnico superior (TS) –, foi determinado a partir
do custo horário correspondente à remuneração base fixada, através da expressão:

[4,27 + 7 x ((remuneração base x 12) / (52 x 35))] (1)

ii) O custo por quilómetro (km) realizado, globalmente fixado em 0,25 EUR, resultou do custo médio
de manutenção das viaturas com maior taxa de utilização nas atividades em causa (que oscilou entre
os 0,10 EUR/km verificados em 2012 e os 0,14 EUR/km registados em 2010), acrescido do custo
médio com o consumo de combustível, fixado em 0,129 EUR/km pela operação de ponderação
referida – no caso ponderando consumos, despesas de combustível e taxas de utilização.
iii) O valor para a ajuda de custo a 25%, cifrou-se, para as duas categorias profissionais em causa,
AO e TS, em 7,45 EUR e 11,42 EUR (anos de 2009 e 2010) e em 5,69 EUR e 8,28 EUR (anos de
2011 e 2012), descontando já o subsídio de refeição (4,27 EUR). Houve lugar ao abono de ajudas de
custo a 25% sempre que a deslocação, abrangendo o período compreendido entre as 13 e as 14
horas, se fazia para fora da localidade considerada como domicilio profissional; para situações com
regresso posterior às 20 horas, foram contabilizadas ajudas de custo a 50%.
Significa, portanto, que apenas foram tidos em conta os custos associados à componente operacional
das atividades em causa, descurando-se assim toda a componente administrativa implicada (e.g., a
relativa ao tratamento dos dados de campo e ao preenchimento dos formulários oficiais), cujo peso
relativo se considera marginal.

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3.2. Variáveis de custo total

O custo total de marcação e/ou de acompanhamento determinado para cada lote, resultante da soma
das três parcelas de custo acima referidas (remuneração, deslocação e ajudas de custo), foi, para
efeitos de comparabilidade, transformado nas seguintes variáveis, ditas variáveis de custo total:
i) Custo total por unidade de volume autuado – €i/m.cub., com i = m no caso da marcação
(€m/m.cub); i = a para o acompanhamento (€a/m.cub.) e i = ma; para o conjunto das duas atividades
(€ma/m.cub.), fazendo:

€i/m.cub. = [custo total apurado (EUR) / volume total do lote (m3)] (2)

ii) Custo total por unidade de volume marcado relativamente ao preço unitário de venda (%€i),

%€i = [€i/m.cub. / ((valor do lote (EUR)) / (volume do lote (m3))) x 100], com i = m, a ou ma (3)

iii) Custo total de marcação por árvore marcada,

€m/árvore = [custo total apurado (EUR) / número total de árvores do lote] (4)

4. DADOS DE BASE

Os registos disponíveis são relativos a um total de 77 lotes, marcados e/ou concluídos pela ex-UGFD
no quadriénio 2009/12, perfazendo uma área total de intervenção de cerca de 1050 hectares e
sumariamente caracterizados na Tabela 1.
Desses 77 lotes, constituídos essencialmente por resinosas com predomínio do pinheiro bravo:
i) 36 dizem respeito a operações de desbaste (cortes culturais), 13 a cortes rasos ou finais e 28 a
cortes imprevistos ou extraordinários, onde se incluem, entre outros, os lotes de material queimado,
de material partido e/ou derrubado por intempéries e de arvoredo fortemente debilitado e/ou seco;
ii) 35 dispõem de registos de custos referentes apenas à atividade de marcação, 36 têm registos de
marcação e de acompanhamento, e os 6 restantes apenas possuem informação relativa aos custos
de acompanhamento;
iii) 54 foram já adjudicados, dispondo portanto de informações adicionais relacionadas ao preço de
venda (determinação das variáveis “%€i”).

Tabela 1. Caracterização sumária dos dados de base


total de lotes total de árvores volume total
tipo de corte
número % número % m3 %
cultural 36 47 78.453 54 14.070,73 42
final 13 17 28.736 20 12.138,23 37
extraordinário 28 36 36.958 26 7.074,81 21
totalidade dos
77 100 144.147 100 33.283,78 100
cortes

Quanto à dimensão média das árvores autuadas (Figura 1), destaca-se a grande heterogeneidade
subjacente aos cortes extraordinários, onde se incluem lotes com árvores ardidas de pequenas
dimensões e lotes de árvores grossas, sejam também elas ardidas ou resultantes de cortes
sanitários. No caso de cortes culturais, contemplam-se quer primeiras intervenções, quer outros
desbastes.

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Figura 1. Número de árvores por metro cúbico autuado e por tipo de corte; amplitudes dos intervalos
de confiança para um nível de significância de 5% (barras traçadas a meio pelos respetivos valores
) e dos intervalos interquartis (barras traçadas nas extremidades pelos valores do primeiro e terceiro
quartil, representando o terceiro traço a localização da mediana).
Nota: a amplitude do intervalo de confiança circunscrito pela elipse é uma mera indicação da
presumível precisão associada ao valor médio apresentado, face à manifestação de evidências
contestando a hipótese de normalidade da distribuição

5. RESULTADOS

5.1. Custos de marcação e Acompanhamento

As estatísticas usadas como critério de análise foram a média aritmética (), associada ao respetivo
intervalo de confiança para um nível de significância de 5% (SE), a mediana e o intervalo interquartil,
[Q1, Q3], enquanto indicador robusto para os valores extremos, muito altos e muito baixos, pois
apenas engloba a metade mais central da totalidade das observações, doravante representado por
“Q1 — Q3”.
Para a avaliação da hipótese de normalidade, exigida para as amostras de reduzida dimensão (i.e.,
constituídas por menos de 30 lotes), recorreu-se ao teste proposto por FILLIBEN (1975), também
para um nível de significância de 5%. Nestes casos, e perante a manifestação de evidências relativas
a um elevado enviesamento da distribuição, aconselhando a rejeição da hipótese da sua
normalidade, o pretenso intervalo de confiança é apresentado entre parêntesis, “± (SE)”, devendo ser
lido apenas como mera indicação da presumível precisão associada ao valor médio apresentado.
Da observação da Tabela 2, que condensa os resultados obtidos para as diferentes variáveis de
custo e para a diferente tipologia de lotes ou cortes, constata-se, em síntese, que:
i) O custo global de um auto de marca cifra-se em 2,11 EUR/m3, o que representa 12,4% do preço
unitário médio de venda e 0,45 EUR por árvore autuada.
ii) Tal como esperado, os custos mais baixos são relativos à execução de autos de marca finais, cuja
grandeza é cerca de metade dos custos relativos à marcação de desbastes.
iii) Os custos de marcação mais elevados são referentes aos desbastes quando se isola a variável

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“custo por metro cúbico autuado” (tal como expectável, quer pela seletividade associada, quer por
serem os cortes que tendem a incluir as árvores mais finas – veja-se Figura 1), e aos cortes
extraordinários no caso das variáveis de custo remanescentes, o que podendo assumir-se como
inesperado, tem explicação nos menores preços de venda e nas maiores dificuldades de marcação
(recorda-se que estes lotes são também constituídos por árvores queimadas, partidas e/ou
derrubadas).

Tabela 2. Custos de marcação e de acompanhamento por variável de custo e por tipologia de corte.

variável de custo por estatística


tipo de corte
atividade  ± SE Q1 — Q3 mediana n

cultural 2,49 ± 0,58 1,45 — 3,06 2,08 34


custo por metro final 1,04 ± (0,73) 0,57 — 0,97 0,67 10
cúbico autuado
extraordinário 2,04 ± (0,51) 1,19 — 2,72 1,69 27
(€m/m.cub.)
marcação de arvoredo

todos 2,11 ± 0,36 1,09 — 2,93 1,84 71

€m / m.cub. em cultural 9,9 ± 2,7 6,2 — 12,4 7,5 19


percentagem do final 6,2 ± (4,1) 3,0 — 5,8 3,6 9
preço unitário
extraordinário 17,6 ± (6,1) 6,5 — 26,2 13,5 20
de venda
(%€m) todos 12,4 ± 3,0 5,5 — 17,6 8,1 48

cultural 0,44 ± 0,11 0,30 — 0,49 0,36 34


custo por árvore final 0,39 ± (0,22) 0,24 — 0,39 0,30 10
marcada
extraordinário 0,49 ± (0,12) 0,24 — 0,74 0,37 27
(€m/árvore)
todos 0,45 ± 0,07 0,27 — 0,51 0,35 71

cultural 1,57 ± 0,44 0,95 — 1,78 1,65 19


custo por metro final 0,72 ± 0,27 0,47 — 0,93 0,76 9
acompanhamento de

cúbico autuado
extraordinário 1,41 ± (1,06) 0,64 — 1,24 0,86 14
(€a / m.cub.)
todos 1,33 ± 0,39 0,65 — 1,68 0,95 42
cortes

cultural 8,4 ± (3,4) 4,8 — 9,7 6,9 19


€a/m.cub. em
percentagem do final 3,6 ± 1,5 2,0 — 4,5 4,1 9
preço unitário extraordinário 9,5 ± (5,7) 4,5 — 9,0 14,0 14
de venda (%€a)
todos 7,7 ± 2,4 4,1 — 8,7 5,9 42

cultural 3,30 ± (0,70) 2,08 — 4,68 3,00 17


custo por metro final 1,90 ± (1,52) 1,06 — 1,80 1,38 6
acompanhamento de

cúbico autuado
extraordinário 2,70 ± (1,27) 1,55 — 3,07 1,80 13
(€ma/m.cub.)
marcação e

todos 2,95 ± 0,61 1,55 — 4,34 2,17 36


cortes

€ma/m.cub. em cultural 17,1 ± (4,9) 10,8 — 20,0 15,0 17


percentagem do final 9,6 ± (6,9) 6,5 — 9,3 7,9 6
preço unitário
extraordinário 21,3 ± (10,0) 11,0 — 30,3 13,6 13
de venda
(%€ma) todos 17,6 ± 4,5 9,3 — 20,1 13,5 36

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iv) Os custos globais de acompanhamento, perto de 40% abaixo dos custos globais de marcação,
situaram-se em 1,33 EUR/m3 adjudicado, o que equivale a 7,7% do preço unitário médio de venda.
v) O acompanhamento de cortes culturais e de cortes extraordinários é cerca de duas vezes mais
oneroso que o acompanhamento de cortes finais (a este respeito sublinha-se que a entrada em vigor
do Decreto-Lei n.º 95/2011, de 8 de Agosto, relativo às medidas de controlo da doença da
murchidão dos pinheiros, acarretou um aumento dos custos de acompanhamento face à
necessidade acrescida de controlar e acompanhar o processamento dos sobrantes do abate).
vi) As atividades de marcação e de acompanhamento dos cortes representam, em média, 17,6% do
montante total da adjudicação; em 25% dos casos, esses custos foram superiores a 20% daquele
valor, sendo que para metade dos lotes analisados aqueles custos foram inferiores a 13,5% da
receita total apurada.
Isolando a atividade de marcação, discrimina-se na Tabela 3 o peso médio relativo de cada
parcela de custo (deslocação ou transporte, ajudas de custo e remuneração) no custo total de
marcação.
Tabela 3. Peso médio relativo das parcelas de custo no custo total de marcação.
parcela de custo

transporte ajudas de custo remuneração

13,6% ± 1,5 13,1% ± 1,0 73,3% ± 1,9

Constata-se assim que do total de encargos tidos com a constituição de um determinado lote, cerca
de três quartos têm origem na componente remuneratória (custo da jorna), repartindo-se o quarto
remanescente em partes iguais pelas componentes transporte e ajudas de custo.
A realização de idêntica análise por tipologia de corte, demonstrou que a componente vencimento era
mais diluída nos cortes finais ( = 69,5%) e mais vincada nos cortes culturais ( = 75,9%).
Ainda a propósito da componente vencimento, e porque o valor da jorna pode gerar discussão –
seja porque podem existir grandes variações de vencimento no seio de uma equipa de trabalho,
seja porque se pode questionar a metodologia de cálculo (assente no valor da hora normal de
trabalho, conforme expresso no Artigo 71.º da Lei n.º 12-A/2008, de 27 de Fevereiro; a partir do
vencimento diário conforme formulação do Decreto-Lei n.º 42046, publicado em 23 de Dezembro
de 1958; referência a 12 ou a 14 meses de remuneração), optou-se por traduzir o custo de
marcação em função da variação do valor da jorna imputada aos Assistentes Operacionais
(intervalo entre 30 a 50 EUR), mantendo inalterado todo o restante quadro de referências e
condições.
A equação 5 – baseada em 11 observações (valores inteiros pares do custo da jorna entre os 30 e
os 50 EUR) e apresentando um coeficiente de determinação (R2) igual a 1,000 um desvio padrão da
avaliação (syx) de 0,003 EUR – traduz aquela relação e, ao permitir simular a influência do custo
da jorna no custo de marcação, demonstra, a par da Tabela 3, o vincado peso da componente do
vencimento na variável custo em análise.

€m/m.cub. = 0,604 + 0,037 x custo da jorna (EUR) (5)

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Ainda ao nível da marcação, registou-se uma produtividade média diária de 796±103 árvores
marcadas e medidas, bastante abaixo da produtividade antes apontadas às equipas constituídas
por mestres e guardas florestais – 1800 árvores/dia em cortes seletivos segundo DUARTE (2000)
–, o que pode ser explicado pela conjugação dos seguintes fatores: reduzida experiência das
equipas, reduzida dimensão dos lotes (apenas 22% dos lotes têm mais de 500 m3 de volume,
quando, tipicamente, o volume de um lote médio ronda os 800 m3) e elevada dispersão
geográfica, com a existência de lotes distanciados a mais de 100 quilómetros do domicílio
profissional.
Penalizou também o desempenho o facto de não terem sido descontados quaisquer tempos
mortos e, principalmente, tempos dedicados a outras tarefas marginais, como as realizadas
periodicamente no inicio do dia, antes da deslocação para o lote (caso da realização de
depósitos bancários das receitas apuradas nos balcões de atendimento ao público), e as
ocasiões em que as atividades de marcação ou acompanhamento terminavam antes do final do
dia de trabalho.

5.2. Fontes de benchmarking

Desconhecendo-se a existência de referências internas úteis ao confronto com os resultados


obtidos e à melhoria do desempenho, procuraram-se outras fontes num processo categorizado
como benchmarking que servissem aquele propósito de comparação (pesquisa breve e não
estruturada, tanto mais que estão em causa comparações algo grosseiras, uma vez que os
procedimentos de base não são – ou poderão não ser – totalmente comparáveis).
AMIEL E CHAMPS (1989) referem valores de 5 EUR/m3 (20 francos por estere), para a marcação do
primeiro desbaste, o que representaria mais de 23% do preço unitário de venda (poderá mesmo
atingir os 60% na presença de árvores com diâmetro à altura do peito inferior a 22,5 centímetros,
conforme consulta efetuada à página eletrónica do Office National des Forêts (www.onf.fr/filiere-
bois).
A cooperativa francesa “Provence Forêt” cobra aos seus associados 12% do montante da venda
para realizar as operações de marcação, medição, venda e acompanhamento de cortes de
resinosas (PROVENVE FORÊT, 2011).
Experiências irlandesas situaram os custos de marcação e medição de desbastes entre 1,25 e
2,50 EUR/m3 (preços de 2001), com o valor médio nos 1,70 EUR/m3 (PHILLIPS, 2004), o que
corresponderia a mais de 30% do preço unitário de venda no caso dos primeiros desbastes e a
cerca de 10% desse preço perante árvores de dimensão média, leia-se 4 a 5 árvores/m3 (veja-se
informação disponibilizada em http://www.teagasc.ie/forestry/advice/timber_prices.asp).
Com base em 23 cortes realizados no estado norte-americano do Maine, SENDAK (2002) propôs a
estimação do custo de marcação em função do custo horário da equipa e do volume marcado,
tendo obtido para uma equipa de 3 elementos um custo médio de cerca de 1 EUR/m3 marcado
($13,96/acre), correspondendo a cerca de 8,5% do preço unitário de venda em pé.
Na região sudeste dos Estados Unidos, os custos de marcação aumentaram cerca de 34% entre
2002 e 2008 (BARLOW, 2009), fixando-se naquele último ano em cerca de 150 EUR/ha (86,99

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$/acre), o que poderá representar um custo de 3 a 5 EUR/m3 na marcação de desbastes.


Idênticos custos são praticados no Canadá por uma empresa do Quebeque (RFB, 2011) perante
povoamentos de resinosas com áreas inferiores a 10 hectares; para áreas superiores, o preço
desce para cerca de 95 EUR/ha (125 $/ha).
SYDOR et al. (2004) modelaram o tempo e o custo de marcação de dois tipos de desbaste, pelo
baixo e seletivo, em povoamentos de pinheiros, unicamente em função da área basal marcada
por unidade de superfície, concluindo pela existência de uma relação inversa entre o tempo de
marcação e a área basal marcada por unidade de superfície. Concluíram também que o tipo de
desbaste influencia significativamente a previsão do tempo de marcação, e que o tempo gasto na
marcação das árvores com tinta não é afetado pela dimensão das árvores marcadas.
Consideram ainda aqueles autores que a equipa que melhor responde às atividades de marcação
é constituída por 3 a 4 marcadores e por um apontador.
KELLOG e BETTINGER (1994), em estudo realizado em povoamentos de resinosas com 47 anos de
idade, concluíram não existirem diferenças significativas na produtividade e nos danos causados
às árvores, entre povoamentos com marcação prévia do desbaste (marcação por tinta) e aqueles
em que não é feita qualquer marcação, fazendo-se a seleção das árvores a abater no momento
do corte pelo operador do harvester.
Depois de apresentar alternativas bem-sucedidas à marcação tradicional, quer em eficiência,
quer em resultado seletivo – como é o caso da prática acima referida e muito vulgarizada em
algumas regiões, que deixa para o momento do corte e para os operadores dos denominados
harvesters a seleção das árvores a abater –, HÖFLE (2010) defendeu a marcação prévia dos
cortes por operadores experientes (marcação positiva incidindo sobre as árvores de futuro ou
marcação negativa identificando as árvores a abater), depois de aferidos os critérios qualitativos
e quantitativos de intervenção em provas prévias (à semelhança, sublinhe-se, da prática
instituída entre nós na Mata Nacional de Leiria).

5.3. Perspetivas de modelação das variáveis de custo

Mesmo sem o objetivo de desenvolver modelos preditivos dos custos em análise, optou-se por
inferir sobre as maiores ou menores dificuldades de tal propósito, enquanto incentivo à
elaboração deste tipo de ferramentas de trabalho que, acrescentando informação a processos de
tomada de decisão, permitem explicar, justificar ou alterar rotinas de trabalho tendo em vista a
maximização das quatro dimensões base dos indicadores de desempenho: eficácia, eficiência,
economicidade e qualidade.
Para o fim proposto, e com base na informação disponível, confrontaram-se as duas variáveis de
custo de marcação absoluto, €m/m.cub. e €m/árvore, com variáveis de que se suspeitava
poderem revelar capacidade preditiva.
O grau de associação entre as variáveis em cotejo assentou em avaliações quantitativas, através
do coeficiente de correlação, e qualitativas mediante análise visual dos diagramas de dispersão
respetivos.
O resultado deste confronto, realizado para os desbastes e para a totalidade dos cortes, também

69
J. Calçada Duarte

para se inferir do nível de influência do tipo de intervenção no resultado final, é apresentado na


Tabela 4 com a caracterização do grau de associação – A: correlação linear ausente, i.e, não
significativa a 0,05; P: correlação presente, significativa ao nível de 5%; F: relação linear forte,
significativa a 0,01, apresentando-se entre parênteses o sinal da correlação quando esta se
evidenciou presente ou forte. Perante evidências visuais da existência de relações não lineares,
as simbologias anteriores (A, P ou F) foram sublinhadas e apresentadas a negrito.

Tabela 4. Grau de associação entre potenciais variáveis explicativas e as variáveis de custo (A:
correlação linear ausente, i.e, não significativa a 0,05; P: correlação presente, significativa ao nível de
5%; F: relação linear forte, significativa a 0,01, apresentando-se entre parênteses o sinal da
correlação quando esta se evidenciou presente ou forte; simbologias sublinhadas e a negrito
significam a existência de relações não lineares).
variável de custo
potencial variável explicativa tipo de corte
€m / m.cub. €m / árvore
var1: distância entre o domicilio profissional e o cultural A A
local do lote (km) totalidade A A
cultural A A
var2: total de quilómetros percorridos
totalidade A A
cultural A A
var3: total de jornas consumidas
totalidade P (+) A
cultural F (-) A
var4: área do lote (ha)
totalidade P (-) A
cultural P (-) F (-)
var5: número de árvores do lote
totalidade A F (-)
var6: número médio de árvores marcadas por cultural F (+) A
hectare totalidade A P (-)
3 cultural F (-) F (-)
var7: volume total do lote (m )
totalidade F (-) F (-)
3 -1 cultural A A
var8: volume marcado por hectare (m ha )
totalidade F (-) P (-)
3 cultural F (-) P (-)
var9: volume médio das árvores marcadas (m )
totalidade F (-) A
var10: número médio de árvores por metro cultural A F (-)
cúbico autuado totalidade P (+) A
cultural F (-) A
var11: diâmetro médio das árvores do lote
totalidade F (-) A
2 cultural F (-) P (-)
var12: área basal do lote (m )
totalidade F (-) F (-)
2 -1 cultural A A
var13: área basal marcada por hectare (m ha )
totalidade P (-) A
cultural A A
var14: número total de dias de trabalho
totalidade A A
var15: número médio de árvores marcadas por cultural F (-) F (-)
dia de trabalho totalidade F(-) F (-)
var16: volume médio marcado por dia de cultural F (-) F(-)
3
trabalho (m ) totalidade F (-) F(-)
var17: área basal média marcada por dia de cultural F (-) P(-)
trabalho (m2) totalidade F (-) F(-)

70
J. Calçada Duarte

Da análise daquela tabela resulta evidente que não será difícil produzir boas estimativas do custo
de marcação a partir de variáveis facilmente acessíveis.
A título meramente exemplificativo, o custo por cada árvore marcada, em desbaste ou na
globalidade dos cortes, poderia, no caso presente, ser estimado a partir do número médio de
árvores marcadas diariamente (“var15” na Tabela 4) através das expressões 6 e 7,
respetivamente:

€m/m.cub. = exp(0,793 - 0,003 x var15), com R2 = 0,863 e syx = 0,12 EUR (6)

€m/m.cub. = exp(0,544 - 0,002 x var15), com R2 = 0,731 e syx = 0,16 EUR (7)

Pelas diferenças, significativas, na constante que marca a ordenada na origem, e pelos ganhos,
também significativos, na precisão das estimativas, parece ainda ser aconselhável individualizar os
modelos preditivos por tipologia de corte ou, em alternativa, considerar essa individualização num
determinado modelo, enquanto variável explicativa desagregada ou até artificial.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo reverteu, apenas, a experiência da ex-UGFD; importa pois ter presente que a sua
limitação territorial, a reduzida expressão do volume autuado, na ordem dos 5% do volume
anualmente marcado pelos serviços oficiais na região Norte, e a reduzida experiência das duas
equipas de marcação, inviabilizam representatividades mais vastas.
Apesar dos desempenhos obtidos na marcação traduzirem prestações aceitáveis face às
referências externas apontadas, considera-se que tais desempenhos se devem encarar como
custos máximos, tanto mais que a realização de um auto de marca cultural é uma operação
tecnicamente desequilibrada, pois caracteriza com rigor o arvoredo a desbastar, mas em nada
caracteriza o povoamento principal.
Por outro lado, importa ter presente que a receita que cabe ao Estado é o correspondente a 40%
do montante da adjudicação (20% em algumas situações pontuais), havendo casos em que essa
receita não cobre as despesas tidas com a marcação e o acompanhamento do corte (algo
frequente nos lotes mais distanciados do domicilio profissional).
Considera-se pois que o desempenho das equipas da ex-UGFD é suscetível, já no imediato, de
vincada margem de progresso, quer pela experiência entretanto acumulada, quer pela desejável
melhoria das condições de trabalho, concretizadas, por exemplo, pela cedência de equipamento
de proteção individual.
Como exemplo refere-se que um acréscimo de 10% no número de árvores marcadas e medidas
diariamente, passando das atuais 800 para as 875 árvores, ao reduzir em cerca de 20% o
número de dias de trabalho, baixaria os custos de marcação para 1,87 EUR/m3, equivalendo a
11,1% do preço unitário de venda e a 0,40 EUR por árvore marcada. Neste cenário, o peso da
componente vencimento passaria para os 70%, contra os 73% atualmente registados.
Por último, regista-se o desafio de se reproduzir, com mais abrangência, a presente metodologia,
no sentido de se fixarem os custos da exploração florestal, ensaiando em simultâneo novas
práticas e desagregando o nível de informação, decompondo por exemplo os cortes

71
J. Calçada Duarte

extraordinários em cortes a eito e cortes seletivos.


Com efeito, para o caso dos últimos desbastes, acredita-se que marcar as árvores que ficam em
pé, cintando com tinta os respetivos troncos ao nível do solo, ao invés da tradicional marcação
negativa, acrescentará eficiência, em particular pela redução significativa dos custos de
acompanhamento.
Acredita-se também que uma equipa constituída por 5 elementos poderá revelar melhores
resultados, seja pelo aumento da produtividade de marcação, seja pela diminuição dos custos de
acompanhamento – por exemplo, para as produtividades registadas, uma jorna adicional a
marcar o tronco ao nível do solo (seja das árvores a abater, seja das árvores a manter), para que
num caso ou noutro se garanta uma fácil verificação de que apenas foram abatidas as árvores
selecionadas para esse efeito, elevaria os custos de marcação a 2,50 EUR/m3, i.e., a 14,7% do
preço unitário de venda, mas reduziria significativamente os custos de acompanhamento pela
redução do número de deslocações (com a concomitante alteração de procedimentos, duas
visitas seriam o bastante).
Neste último cenário, duas visitas de acompanhamento por lote, uma no início e outra no fim dos
trabalhos, os custos de acompanhamento ter-se-iam fixado em 0,61 EUR/m3, correspondente a
3,9% do preço unitário de venda, contra os 1,33 EUR/m3 efetivamente registados (veja-se Tabela
3), o que traduz um ganho global de eficiência mesmo com os níveis atuais de produtividade.

RECONHECIMENTO

Concluído o estudo, manifesta-se vincado reconhecimento à vasta equipa da ex-UGFD pelo


desEMPENHO demonstrado perante competências tão diversas como melhoria contínua,
organização e trabalho de equipa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARLOW, B., 2009. Costs for common forestry practices in the south. ACES, 1pp. Acedido em 21 de
Março de 2012, em http://www.aces.edu/timelyinfo/ForestryWildlife/2009/October/FW_10_30
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DUARTE, J.C., 2000. Intervenção produtiva no pinhal bravo do Tâmega: diagnóstico, reflexão e
propostas – Parte I. In: "Relatório final. Projecto PAMAF-IED nº 4004 – Ordenamento de
povoamentos de pinheiro bravo na região do Alto Tâmega, 1997-2000". Anexo 12, 17 pp.
FILLIBEN, J.J., 1975. The probability plot correlation coefficient test for normality. Technometrics 17:
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HÖFLE, H.H., 2010. CCFG Timber Harvesting Workshop 2010, Harvesting systems, 71-74 Acedido
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KELLOGG, L.D., BETTINGER, P., 1994. Thinning productivity ans cost for a mechanized cut-to-length
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PHILLIPS, H. 2004. Thinning to improve stand quality. COFORD, Silviculture / Management n.º 10, 4

72
J. Calçada Duarte

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SENDAK, P.E., 2002. Timber marking costs in spruce-fir: experience on the Penobscot experimental
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Legislação citada
Decreto de 24 de Dezembro de 1903. Diário de Governo n.º 294 de 30 de Dezembro de 1903.
Decreto-Lei n.º 42046. Diário do Governo n.º 278 de 23 de Dezembro de 1958.
Decreto-Lei n.º 95/2001. Diário da república n.º 151 de 8 de Agosto de 2011.
Lei n.º 12-A/2008. Diário da República n.º 41 de 27 de Fevereiro de 2008.

73
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas ­ Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Associativismo florestal na região norte

J. Calçada Duarte1*, João Bento2, João Gama Amaral3

1: ICNF, Departamento de Conservação da Natureza e das Florestas do Norte;


2: CIFAP/UTAD;
3: Bosque, Lda

*Email: joao.duarte@icnf.pt

Resumo: Conforme se refere no preâmbulo da Portaria n.º 118-A/2009, de 29 de janeiro – que


aprova o Regulamento de Enquadramento e Apoio às Organizações de Produtores Florestais –
as OPFs devem ser olhadas pelo Estado como estruturas fundamentais às políticas Públicas.
Não estranha portanto que o movimento associativo tenha vindo a ganhar crescente importância
e projeção, exercendo múltiplas tarefas que extravasam em muito o tradicional aconselhamento e
apoio aos proprietários e produtores florestais. Contudo, importa perceber como esta importância
e projeção é percecionada pelos seus quadros internos e pelos diferentes agentes que com as
OPFs colaboram ou competem, também como forma de percecionar tendências, sinergias e
conflitos.
Tendo por base o resultado de um inquérito realizado junto de quadros técnicos (exercendo
funções em seis grupos-tipo de atividades de natureza florestal) com doze anos de distância,
discutem-se diversas perspetivas do associativismo florestal, desde o conhecimento detido sobre
o movimento associativo, até ao quadro das suas atribuições (próprias ou delegadas; atuais e
potenciais; desejáveis e impróprias).

Palavras-chave: Associativismo florestal, funções e atribuições, inquérito


J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

1 - INTRODUÇÃO

A Lei da Bases da Política Florestal (Lei n.º 33/96, de 17 de agosto) reconheceu a dinamização e
apoio ao associativismo como um dos pilares da promoção da gestão do património florestal (objetivo
de política consagrado na alínea e) do seu Artigo 4.º).
As conclusões do 1.º seminário sobre associativismo florestal, realizado na Guarda em 1998,
reconhecem que “a sustentabilidade da floresta portuguesa, a preservação do ambiente e o
desenvolvimento das zonas rurais, carecem de um sector associativo forte, dinâmico e actuante”
(DGF, 1998).
O quadro orientador da política para o sector florestal aprovado em 1999 (Plano de Desenvolvimento
Sustentável da Floresta Portuguesa – Resolução do Conselho de Ministros n.º 27/99, retificada pela
Declaração de Rectificação n.º 10-AA/99, publicada a 30 de abril) agrega, no âmbito das grandes
orientações estratégicas, o associativismo, a transferência de funções e a modernização
administrativa. Enfatizou-se uma vez mais a promoção e o fortalecimento do associativismo florestal
e, com o objetivo de racionalizar e dar mais eficácia à Administração, preconizou-se, entre outras, a
transferência de competências, assente em contratos-programa e parcerias com as então
denominadas APF (Associações de Produtores Florestais).
Também em 1999 foram publicados dois diplomas regulamentadores da Lei de Bases, relativos aos
Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) e aos Planos de Gestão Florestal (PGF), o que
acentuou a discussão em torno das questões florestais.
Foi neste quadro de crescente projeção do movimento associativo e no seu eventual reforço pela via
da transferência de funções então sob alçada da Administração, que os autores entenderam
auscultar os técnicos florestais da região, quer enquanto elemento adicional de reflexão, quer
enquanto ensaio de verificação e recolha de diagnósticos e pontos de vista.
Vicissitudes várias têm atrasado a divulgação de resultados, prometida aquando do lançamento da
iniciativa. Volvidos cerca de 12 anos – e 4 após a provação do Regulamento de Enquadramento e
Apoio às Organizações de Produtores Florestais pela Portaria n.º 118-A/2009, de 29 de janeiro –,
considera-se que a atual discussão sobre as funções do Estado, com previsíveis implicações sobre a
Administração Florestal, restaura em parte atualidade à publicação dos resultados então obtidos.
Após a apresentação sumária do inquérito e do contexto em que o mesmo foi promovido,
apresentam-se as questões então formuladas e os resultados obtidos, globalmente e por grupo de
atividade. A anteceder as considerações finais analisam-se eventuais relações entre a origem
profissional dos inquiridos e a sua perceção sobre as funções a desempenhar pelas estruturas
associativas e pelo Estado.

2 - O INQUÉRITO

O inquérito intitulado “Associativismo Florestal na Região Norte” foi uma iniciativa dos autores
enquanto parceria entre o Departamento Florestal da UTAD e o então Conselho Regional do Colégio
de Engenharia Florestal da Ordem dos Engenheiros.
Foi implementado no decurso do último trimestre de 2001 junto dos técnicos florestais que
desenvolviam atividade na região Norte, desagregada nas duas regiões agrárias então existentes –

75
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

Trás-os-Montes (TM) e Entre Douro e Minho (EDM) –, tendo-se obtido um total de 109 respostas.
Esta dimensão da amostra (109 inquéritos), bastante significativa, traduzirá mais de dois terços da
totalidade de técnicos florestais que à data operavam na região.
O inquérito foi estruturado em 5 secções – i) Identificação; ii) Posicionamento; iii) Perspetivas gerais;
iv) Atribuições e, v) Comentários –, apresentando-se em simultâneo e por facilidade de leitura, as
questões colocadas e uma primeira abordagem aos resultados obtidos.

2.1 - Súmulas de contexto

A data da promoção do inquérito seguiu-se a um período de forte expansão no número de estruturas


associativas, conforme se pode observar na Tabela 1, elaborada com base em DGF (2000; 2002) e
Moraes (2002) – a informação relativa a 2013 foi obtida junto do ICNF.

Tabela 1. Número de estruturas associativas ativas (associações e cooperativas) em diferentes


períodos temporais.
ano (valores relativos ao início do ano)
região
1977 1998 2000 2002 2013

EDM 1 13 14 22
TM 1 6 40 25

Norte (EDM + TM) 2 19 54 47 53


e
% no total nacional 11% 28% 49% 36% 30%

Conforme se observa, o inquérito foi realizado numa fase de ligeira diminuição do número de
associações, depois do acentuado acréscimo ocorrido entre 1998 e 2000, biénio no qual o número de
estruturas associativas na região Norte quase triplicou (na então designada região agrária de Trás-os-
Montes esse aumento foi de 566%.). Para aquele vincado crescimento, contribuíram decisivamente
as associações criadas aquando da constituição de Agrupamentos de Produtores Florestais no
âmbito de programas comunitários de (re)arborização e beneficiação (peso de 53% no total
registado).
Das 47 entidades registadas no início de 2002, 8 eram cooperativas (6 na área do Entre Douro e

76
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

Minho e 2 na área de Trás-os-Montes) e 39 tinham estatuto de associação, 23 das quais sedeadas


em Trás-os-Montes (MORAES, 2002).
No que se refere à Administração Florestal pública, os Serviços Florestais regionais estavam à data
integrados nas duas Direções Regionais de Agricultura (Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes). Os
inquiridos da então Direção Geral das Florestas exerciam funções em Amarante, no Centro Nacional
de Sementes Florestais (CENASEF).
O grupo que abaixo é designado por “serviços públicos”, para além de técnicos dos Serviços
Florestais, inclui também técnicos do então IFADAP e, com representatividade mais residual, técnicos
de autarquias (note-se que à data não estavam ainda instituídos os Gabinetes Técnicos Florestais) e
do ex-ICN.
Em finais de 2001 vigorava já o terceiro Quadro Comunitário de Apoio (QCA III), o que associado ao
acompanhamento de projetos do QCA anterior, conferia vincada dinâmica à atividade centrada na
elaboração, execução e acompanhamento de projetos florestais, (re)arborização e beneficiação em
particular (programas AGRO e RURIS). Era esta atividade que, à data, absorvia a maioria dos
técnicos enquadrados no abaixo designado sector privado. Houve também participação de técnicos a
desenvolver outras atividades como consultoria, gestão e/ou exploração florestal e, inseridos em
empresas do ramo industrial, nomeadamente de serração e/ou mobiliário.
A nível do ensino superior (setor de atividade designado por docência), consideraram-se os dois
estabelecimentos de ensino existentes: ESAB (atual ESA do IPB) e UTAD.

3 - QUESTÕES E RESULTADOS PRÉVIOS

3.1 - Identificação

Na primeira secção do inquérito formularam-se 4 questões para caracterizar o inquirido segundo o


sector de atividade, inscrição na ordem dos engenheiros, experiência profissional e área geográfica
de atuação.
O setor de atividade foi inicialmente desagregado em 6 categorias: associação florestal;
administração pública; docente da área florestal; sector privado (por conta doutrem); por conta
própria; outro. Pelo agrupamento destas 3 últimas, resultou a seguinte segmentação:
A - com atividade em Organização de Produtores Florestais (OPF);
E - com atividade na Administração Pública (central e local);
P - com atividade no sector privado
D - com atividade de docência florestal,
A análise da Tabela 2 e Figura 1, onde se condensa a caracterização dos participantes, evidencia
que:
- Existe um equilíbrio na proporção de participantes por sector de atividade (também em
resultado da pressão exercida pelos autores sobre alguns dos inquiridos no sentido de garantir a
sua participação).
- Predominam as respostas de homens (estatística na Figura 1 - (II), resultante de 93 inquéritos
identificados).
- Predomínio de técnicos que exerciam a sua atividade na região agrária de Trás-os-Montes

77
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

(TM), também em resultado de não existirem representantes do sector da docência na região do


Entre Douro e Minho (EDM).

Tabela 2. Caracterização sumária dos inquiridos.


número e proporção de técnicos
total
grupo na área inscritos classe de experiência profissional (anos)
de de na
de
respostas <2 2a5 5 a 15 > 15
actividade TM OE

109 100% 71 65% 40 37% 12 11% 23 21% 55 50% 19 17%


totais
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

sector associativo 25 100% 10 40% 1 4% 9 36% 12 48% 4 16% 0 0%

(A) 23% 14% 3% 75% 52% 7% 0%

serviços públicos 32 100% 21 66% 16 50% 0 0% 1 3% 24 75% 7 22%

(E) 29% 30% 40% 0% 4% 44% 37%

sector privado 26 100% 14 54% 8 31% 2 8% 6 23% 15 58% 3 12%

(A) 24% 20% 20% 17% 26% 27% 16%

docência 26 100% 26 100% 15 58% 1 4% 4 15% 12 46% 9 35%

(D) 24% 37% 38% 8% 17% 22% 47%

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%


totais
109 100% 71 65% 40 37% 12 11% 23 21% 55 50% 19 17%

Figura 1. Caracterização sumária dos inquiridos

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J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

- Pouco mais de 1/3 dos representantes estavam inscritos na Ordem dos Engenheiros (OE), sendo
que essa taxa de adesão era diminuta nos representantes do sector associativo, em contraste com o
sector do ensino (4% vs. 60%, respetivamente).
- Predomínio de técnicos com mais de 5 anos de atividade profissional, e predomínio de técnicos
recém-licenciados no setor associativo, no qual 84% (36% + 48%, veja-se Tabela 2) tinha menos
de 5 anos de experiência profissional.

3.2 - Posicionamento

Nesta secção foram formuladas as questões identificadas nas Tabelas 3 e 4, que condensam
também os resultados obtidos.

Tabela 3. Questão “Relativamente ao associativismo florestal, considera-se:”; opções de resposta e


resultados obtidos.
sector de atividade
opção de resposta totais
A E P D

Bem informado 48% 19% 35% 13% 30%

Mal informado 4% 16% 15% 60% 19%

Suficientemente informado 48% 66% 50% 27% 51%

Tabela 4. Questão “Encara o associativismo florestal como:”; opções de resposta e resultados


obtidos.
sector de atividade
opção de resposta totais
A E P D
Uma forma de organização dos proprietários /
37% 42% 34% 24% 35%
produtores florestais

Uma moda 0% 2% 7% 0% 2%

Uma condição indispensável ao desenvolvimento do


63% 56% 59% 76% 63%
sector florestal

Como notas de destaque refere-se que a maioria dos inquiridos se considerava bem ou
suficientemente informada sobre o associativismo florestal, ainda que ao nível dos docentes
predominassem os que se consideravam mal informados (Tabela 3).
Quanto à forma como o associativismo era encarado, cerca de dois terços dos inquiridos entendia-o
como uma condição indispensável ao desenvolvimento do sector florestal, mostrando-se o sector da
docência o mais convicto nessa opção. Apesar de partilharem a tendência dominante, os técnicos
dos serviços públicos foram os que revelaram uma posição mais dispersa (Tabela 4).

79
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

3.3 - Perspetivas gerais

Esta parte do questionário é constituída por 5 questões, uma das quais desdobrada em duas alíneas
– vejam-se Tabelas 5 a 10.

Tabela 5. Questão “Quantas associações florestais identifica:”; opções de resposta e resultados


obtidos (número médio).
sector de atividade
opção de resposta totais
A E P D

Na área de Trás-os-Montes 7 7 6 5 6

Na área de Entre Douro e Minho 8 7 5 4 6

Globalmente foram identificadas, em média, 6 associações na área de Trás-os-Montes (TM) e 6 na


área de Entre Douro e Minho (EDM) – Tabela 5. Numa análise mais fina, verificou-se que os
participantes tenderam a identificar mais associações na sua área de atuação, do que na área
vizinha: a média global foi de 7 / 5 para os participantes de TM, e de 8 / 4 para os participantes do
EDM.
Por outro lado, cerca de um quarto dos técnicos identificou, no total, menos de 5 associações e cerca
de dois terços (63%) identificou mais de 10 (9% da totalidade dos técnicos identificou pelo menos 20
associações em ambas as regiões).

Tabela 6. Questão “Na condição de um sector associativo forte, dinâmico e atuante, considera que o
número existente de associações florestais é:”; opções de resposta e resultados obtidos.
sector de atividade
opção de resposta totais
A E P D

Insuficiente 12% 21% 16% 60% 27%

Adequado 44% 29% 24% 20% 29%

Exagerado 8% 12% 24% 0% 11%

Atributos independentes do número de associações 36% 38% 36% 20% 33%

Ainda relativamente ao número de associações existentes, um pouco mais de um quarto dos


participantes, com predominância dos docentes, considerou esse número insuficiente. Contudo, a
tendência global repartiu-se entre considerar o número como adequado, e o entendimento de que um
sector associativo forte, dinâmico e atuante não estava dependente do número de associações
existentes (Tabela 6).
Uma outra questão incidiu sobre a área de intervenção e sobre a forma de organização das
associações que melhor responderia, na perspetiva dos auscultados, à referida condição de um
sector associativo forte, dinâmico.

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J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

Tabela 7. Questão “As associações que melhor respondem à condição de um sector associativo forte,
dinâmico e atuante são:”; opções de resposta e resultados obtidos.
sector de atividade
opção de resposta totais
A E P D

Associações de âmbito local 30% 20% 18% 26% 23%

Associações de âmbito municipal 19% 23% 18% 16% 19%

Associações de âmbito intermunicipal 11% 23% 18% 13% 17%

Associações de âmbito regional 22% 20% 27% 26% 24%

Associações de âmbito nacional 0% 0% 0% 3% 1%

Atributos independentes da dimensão das


19% 14% 18% 16% 17%
associações

Quanto à área de intervenção (Tabela 7), foi descartada a opção relativa a associações de âmbito
nacional (só residualmente ponderada por docentes). A tendência global foi dar preferência a duas
tipologias, âmbito local e âmbito regional, sendo que para a maioria dos técnicos, a área de
intervenção é um elemento determinante no desempenho das associações.
Relativamente à forma de organização, diferenciada entre entidades autónomas e entidades
federadas, verificou-se um claro predomínio desta última opção, assim como do entendimento que
aquela forma de organização é também uma condição determinante ao desempenho das
associações (Tabela 8).

Tabela 8. Questão “As associações que melhor respondem à condição de um sector associativo forte,
dinâmico e atuante são:”; opções de resposta e resultados obtidos.

sector de atividade
opção de resposta totais
A E P D

Associações autónomas 4% 12% 19% 4% 10%

Associações integradas numa organização de cúpula


83% 72% 54% 77% 71%
(e.g. federação)
Atributos independentes da forma de organização 13% 16% 27% 19% 19%

Foi também perguntado sobre as causas das maiores dificuldades de funcionamento das
associações, aparecendo como resposta mais destacada, em termos globais (22%) e dentro dos
diferentes grupos (24% em A, 17% em E, 22% em P e 26% em D), a indefinição da política florestal.

81
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

Face à representatividade das diferentes opções colocadas, e por facilidade de leitura, optou-se por
apresentar os resultados obtidos sob a forma gráfica, inserida na tabela que apresenta a questão
(Tabela 9).

Tabela 9. Questão “As maiores dificuldades de funcionamento das associações resultam de:”; opções
de resposta e resultados obtidos (repartição das respostas por alínea de opção e sector de atividade).

opção de resposta

a) Desconfiança relativamente a
este tipo de iniciativas

b) Falta de tradição

c) Falta de apoios oficiais

d) Falta de financiamento

e) Formação deficiente dos


órgãos diretivos
f) Tensões entre associados

g) Afirmação e intervenção
técnica limitada

h) Indefinição da política
florestal
i) Resultados a longo prazo

j) Desconfianças
interinstitucionais

Outros (a discriminar)

No total, 8 dos inquiridos assinalaram outras causas, identificadas em metade dos casos. Nestes,
destaca-se a falta de protocolos e de outros acordos, também com a Administração, no sentido de se
garantir maior autonomia funcional e financeira.A última questão da secção em análise, intitulada,
recorde-se, de perspetivas gerais, incide sobre a transferência de funções – lato sensu – da
Administração para as associações (Tabela 10).
Apenas uma minoria dos técnicos participantes (10%) considerou aquela transferência de funções
indesejável, sendo que nenhum técnico do sector associativo assinalou esta opção.
Dentro dos que consideram desejável a transferência de funções, 27% fizeram-no por entenderem
faltar dinamismo e capacidade de resposta à Administração (entendimento maioritário nos diferentes
sectores de atividade, com exceção dos serviços públicos), 25% porque entenderam que essa
transferência contribuiria para credibilizar e reforçar o movimento associativo e 24% por acreditarem

82
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

que desse processo resultaria a resolução de muitos dos problemas existentes.


Oito dos inquiridos apontaram outras razões favoráveis a essa transferência, nomeadamente: a
promoção de maior autonomia funcional e de maior afirmação perante os associados; a
descentralização de funções da Administração e a sua falta de recursos. Foi também referido que
“determinadas funções não têm de estar na Administração”.

Tabela 10. Questão “A transferência de funções da administração pública para as associações


florestais é:”; opções de resposta e resultados obtidos.
sector de atividade
opção de resposta totais
A E P D

Indesejável 0% 14% 11% 13% 10%

Desejável, porque desse processo depende a


0% 5% 5% 0% 3%
sobrevivência das associações

Desejável, pois credibiliza e reforça o sector


30% 32% 18% 22% 25%
associativo

Desejável, porque as associações necessitam de


3% 2% 11% 6% 6%
maior autonomia

Desejável, pela falta de dinamismo e de capacidade


38% 16% 27% 31% 27%
de resposta da administração

Desejável, porque desse processo depende a


24% 23% 23% 28% 24%
resolução de muitos dos problemas do sector florestal

Desejável, porque 5% 9% 5% 0% 5%

3.4 - Atribuições

No capítulo das competências a desenvolver pelas associações, o questionário formulou 2 questões.


A primeira identificou 28 atividades específicas, pedindo-se aos inquiridos que ajuizassem, segundo 4
alternativas, em que grau essas atividades deveriam ou não ser exercidas pelas associações (Anexo
I). A segunda, explicitada na Tabela 11, incidiu sobre as atividades de natureza empresarial.
Numa análise prévia à primeira daquelas questões, as quatro alternativas de base, identificadas por
0, 1, 2 e 3, foram agrupadas em duas, em função do grau de reserva associado: a junção das
alternativas 0 e 1, enquanto atividades vedadas ou condicionadas às associações, e a junção das
opções 2 e 3, enquanto atividades que podiam ou deviam ser exercidas pelas OPF.
Feito este agrupamento, e com base nos resultados globais, sem distinguir portanto a origem
profissional do inquirido, as 28 atividades foram depois divididas em três grupos em função da

83
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

resposta dominante (de forma expedita considerou-se haver dominância de resposta quando a
mesma era subscrita por pelo menos dois terços dos inquiridos) ou da ausência de posição
dominante. Constitui-se assim o grupo das atividades que, segundo o entendimento dominante,
deveriam estar vedadas e/ou condicionadas ao quadro das competências das associações
(atividades reservadas); o grupo das que pelo contrário poderiam e/ou deveriam fazer parte desse
quadro (atividades não reservadas); e o grupo das que não reunindo posição dominante, denunciava
divisão de entendimentos (atividades controversas).
Perante aquele critério, resultaram em reservadas as atividades a3 (86%), a13 (75%), a14 (72%), a21
(69%) e a28 (75%), e como controversas as atividades a5 (35 vs. 65%), a6 (44 vs. 56%), a11 (48 vs.
52), a12 (58 vs. 42%), a15 (44 vs.56%), a16 (52 vs. 48%), a20 (64 vs. 36%), a23 (39 vs. 61%), a24
(39 vs. 61%) e a25 (56 vs. 44%) – o primeiro valor diz respeito à percentagem dos inquiridos que
consideraram a atividade reservada e ou condicionada.
Para melhor se perceber a origem da divisão global de opiniões, em particular se é transversal aos 4
sectores ou, se pelo contrário, é mais determinada pela origem profissional, procedeu-se a uma
análise mais detalhada das atividades consideradas como controversas. Esta análise, condensada na
Figura 2, incidiu na desagregação das respostas do primeiro grupo acima referido (grupo das
atividades vedadas ou condicionadas às associações) por sector profissional.
A observação da Figura 2 (como escala auxiliar é apresentada, na primeira coluna, a proporção de
cada grupo profissional no total da amostra dos 109 participantes), revela que o entendimento dos
técnicos do sector público foi determinante para determinadas atividades não se assumirem como
“não reservadas” (e.g. a5, a15 e a23), e que a divisão existente nas outras é resultado da divisão de
opiniões que existe dentro dos diferentes sectores profissionais.
De forma a averiguar em simultâneo as preferências dadas pelos diferentes sectores profissionais,
relativamente às atribuições suscetíveis de serem consideradas na atividade das associações
florestais, procedeu-se ainda à análise destes dados, pelo procedimento das componentes principais.
Assim, procurou-se encontrar quais os eixos que representavam a maior parte da variância contida
no conjunto das 34 variáveis em causa (as 6 actividades profissionais iniciais + 28 atribuições). Tendo
garantido por rotação a ortogonalidade dos eixos explicativos, verificou-se que as duas primeiras
componentes explicavam praticamente 30% (21 + 8) da variância original.

84
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

Figura 2. Proporção total dos inquiridos por sector profissional (coluna “total”) e peso relativo de
cada sector que, no grupo das atividades controversas (a5, a6, …a25), manifestou reservas em
atribuir às associações essas atividades.

Na composição do primeiro eixo, identificam-se em simultâneo a origem profissional ligada à


administração pública e um conjunto amplo de funções aparentemente susceptíveis de ser
disputadas em diferentes graus pelas associações florestais. Em contrapartida, o eixo 2 evidencia na
sua composição a presença de técnicos ligados ao sector associativo e incorpora com sinais opostos,
atribuições exclusivamente da competência da administração pública (a3, a4, a16, a25, a28) e a
elaboração e acompanhamento de projectos (a1, a2) localizadas na proximidade do espaço de
influência dos técnicos com actividade em associações florestais.
Nas Figuras 3 e 4 procede-se à representação, no mesmo espaço vectorial formado pelos dois
primeiros eixos, à representação dos grupos profissionais dos inquiridos e das atribuições
consideradas. Como se pode observar (Figura 3) a localização dos inquiridos oriundos da
administração pública (factor 1 negativo) encontra-se completamente oposto ao grupo dos técnicos
das associações (valor mais positivo do factor 1), mantendo-se pelo meio, com certa proximidade, os
restantes grupos de técnicos.

85
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

Figura 3. Localização dos grupos profissionais no espaço dos dois primeiros eixos

Na Figura 4, pela conjugação dos dois eixos é possível distinguir três grupos de atribuições: parte
mais positiva do factor 2 traduzindo o conjunto das funções inacessíveis às associações, em
oposição às duas situações de elaboração e acompanhamento de projectos, na parte negativa do
factor 2. O terceiro grupo traduz um conjunto de atribuições que mereceram menor unanimidade
dos inquiridos.

Figura 4. Localização dos grupos de atribuições no espaço dos dois primeiros eixos

Por fim, e relativamente à última questão do capítulo “atribuições”, veiculada na Tabela 11, os
resultados obtidos evidenciam também alguma divisão de opiniões, quer a nível global, quer

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J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

entre os 4 sectores de atividade.

Tabela 11. Questão “As atividades com enquadramento empresarial (e.g. produção de plantas,
execução física de projetos, exploração florestal e comercialização do material lenhoso):”; opções de
resposta e resultados obtidos.

sector de atividade
opção de resposta totais
A E P D

Não devem, em caso algum, ser abertas às


4% 9% 31% 4% 12%
associações florestais
Só devem ser realizadas pelas associações florestais
29% 35% 38% 38% 35%
pela via da celebração de contratos programa com
Só devem ser realizadas pelas associações florestais
8% 24% 12% 23% 17%
pela via da associação a estruturas com esse

Devem ser livremente desenvolvidas pelas


50% 26% 12% 35% 30%
associações florestais

Outros 8% 6% 8% 0% 5%

Destes resultados destaca-se o entendimento global de que as atividades com enquadramento


empresarial podem ser realizadas pelas associações (apesar de perto de um terço dos técnicos
do sector privado não subscreverem esse entendimento), reunindo alguma transversalidade a
opinião de isso se fazer pela via da celebração de contratos programa com entidades do ramo.
Destaque ainda para o facto de metade dos técnicos do sector associativo ter defendido que essas
atividades deveriam ser livremente desenvolvidas pelas associações florestais.
Na opção “outros” a maioria das respostas isolou e diferenciou as atividades exemplificadas.

3.5 - Comentários

A finalizar o questionário, e no seguimento do campo de preenchimento facultativo destinado à


identificação, o participante foi despertado a comentar o que tivesse por conveniente e a abordar
outras questões que gostaria de ver tratadas.
Responderam a este último desafio 12 dos 109 participantes (11%), segundo duas linhas de
abordagem: i) fundamentação de respostas e/ou pontos de vista e, ii) apreciação ao questionário.
No âmbito da primeira, foi sublinhada a importância das OPF enquanto interlocutores
privilegiados entre os produtores e proprietários florestais e a Administração. Foram destacadas
dois tipos de ameaças ao movimento associativo, ambas com origem na Administração: o
excesso de burocracia e o atraso nos pagamentos das importâncias devidas e, noutro contexto, o
risco das OPF ficarem financeiramente dependentes do Estado.

87
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

Foi contestada a sobreposição territorial das áreas das OPF, defendendo-se que várias
associações não devem disputar a mesma área. Foi também defendido que a intervenção ao
nível do projeto deveria ser exclusiva do tecido empresarial, e que as ações de controlo e
fiscalização deveriam estar limitadas às entidades oficiais.
Relativamente à apreciação do questionário, dois dos participantes classificaram-no como
tendencioso (ou com algumas perguntas tendenciosas). Foram apontadas algumas omissões,
nomeadamente a falta de questões relativas a estímulos fiscais, créditos bonificados a longo
prazo e outros aspetos económicos e financeiros.

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apreciações realizadas há 12 anos sobre o conjunto das atribuições que deveriam e/ou poderiam
ser desempenhadas pelas Organizações de Produtores Florestais, vulgo OPF, demonstraram, no
essencial, três tipologias de tendência.
Uma primeira, onde foram identificadas várias atividades específicas que deveriam, segundo o
entendimento dominante, ser atribuições das OPF.
Outra, onde também de forma algo consensual e transversal, se apontaram as atividades que,
por oposição, não deveriam ser exercidas por aquelas estruturas associativas.
E uma terceira, relativa às atividades onde não se verificou uma tendência dominante, seja
porque essa falta de maior consenso se revelou transversal à amostra (divisão acentuada de
opiniões em todos as origens profissionais), seja porque essa divisão se deu mais vincadamente
entre grupos profissionais. São exemplos desta última segmentação (dissonância de posições em
função da origem profissional) o antagonismo, algo frequentes, entre as posições dominantes
assumidas pelos técnicos do movimento associativo e as posições maioritárias manifestadas
pelos técnicos dos serviços oficiais.
O presente trabalho revelou assim, com um desfasamento temporal de 12 anos, as posições dos
técnicos da região Norte sobre o quadro de atribuições das OPF.
Volvidos 12 anos, e ao recolocar-se na ordem do dia a discussão sobre as funções do Estado,
este tipo de abordagens readquire atualidade e pertinência. Atualidade, face ao previsível
processo de transferências de funções associado à anunciada reforma do Estado; pertinência,
face à evolução entretanto ocorrida, seja ao nível das atividades exercidas pelas OPF (veja-se
por exemplo a questão da certificação da gestão florestal, que antes era vista com reservas
enquanto atividade a exercer pelo movimento associativo), seja ao nível dos interlocutores
presentes, onde por exemplo os Gabinetes Técnicos Florestais (GTF) ganharam relevância,
acrescida com a transferência de atribuições operada pela Lei n.º 20/2009, de 12 de Maio.
Por estes motivos, e porque os autores também se querem redimir (ainda que inadvertidamente,
foram malogradas as expectativas dos que entusiasticamente participaram há 12 anos atrás),
deixa-se como nota final a determinação em repetir e ampliar a iniciativa.

88
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

BIBLIOGRAFIA

DGF. 1998. 1º Seminário sobre Associativismo Florestal. Conclusões finais. 4 pp.


DGF. 2000. Associativismo florestal. Acedido em 7 de Julho de 2000 em http://www.dgf.min-
agricultura.pt/assoc/index.htm.
DGF. 2002. Associativismo florestal. DGF/DFPF. 10 pp.
MORAES, C.E. 2002. Panorama Global das Organizações florestais em Portugal. Distribuição
geográfica, evolução quantitativa e qualitativa. Seminário “associativismo e cooperativismo
florestal. 5pp.

89
J. Calçada Duarte, João Bento, João Gama Amaral

ANEXO I

Questão do inquérito referida e discutida em 3.4. Atribuíções

Das seguintes atividades indique, com 0, 1, 2, ou 3 aquelas que:

0: não devem, de todo, fazer parte do quadro de competências das associações;


1: podem, com algumas reservas, ser exercidas pelas associações;

2: podem, sem reservas, ser atribuições das associações

3: devem, sem reservas, ser atribuições das associações

a1 elaboração de projectos de investimento


a2 acompanhamento de projectos
a3 validação de projectos
elaboração e vulgarização de metodologias sobre técnicas de instalação, condução e
a4
exploração de povoamentos florestais
a5 elaboração e vulgarização de cartografia temática (e.g. inventário florestal)
a6 elaboração de estudos estratégicos (e.g. planos de ordenamento)
a7 prevenção, detecção e vigilância de incêndios florestais
a8 levantamento cartográfico das áreas ardidas
a9 elaboração de planos de protecção contra incêndios florestais
a10 execução de planos de protecção contra incêndios florestais
a11 inventariação e conservação de árvores e arvoredos classificados de interesse público
a12 identificação e preservação de ecossistemas de grande importância e sensibilidade ecológica
a13 autorização e controlo de podas e desbastes de sobreiros e azinheiras
autorização e controlo de medidas de correcção da densidade das espécies cinegéticas
a14
causadoras de prejuízos
a15 intervenção técnica em áreas baldias
a16 controlo de normas de segurança, higiene e saúde no trabalho florestal
a17 preparação e realização de acções de formação profissional
a18 preparação e realização de acções de experimentação e demonstração
a19 extensão florestal
a20 acções de inspecção / certificação dos produtos florestais
a21 acções de certificação da gestão florestal
a22 avaliação do potencial lenhoso
a23 selecção e colheita de sementes para repovoamentos
a24 prestação de outros serviços (e.g. peritagens)
a25 venda de impressos oficiais, nomeadamente licenças de caça e pesca
a26 desenvolvimento de acções de recreio e lazer (e.g. turismo rural)
a27 promoção de agrupamentos de proprietários / produtores florestais
a28 policiamento e fiscalização de áreas florestais

90
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas ­ Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Reconstituição do diâmetro à altura do peito a partir do diâmetro do cepo


para as quercíneas protegidas

J. Calçada Duarte1, Paula Afonso Pinto1

1: ICNF/Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Norte;


Parque Florestal – 5000-567 Vila Real.

e-mail: joao.duarte@icnf.pt

Resumo. O sobreiro e a azinheira são, pela sua importância económica e ambiental, espécies
protegidas por lei. Por serem espécies protegidas, as várias entidades que zelam pela sua defesa
e valorização, vertente judicial incluída, têm questionado sobre o porte e o valor de árvores
indevidamente abatidas, a partir das dimensões dos cepos deixados no solo.
Com base nesta preocupação, estabelecem-se relações entre o diâmetro do cepo e o diâmetro à
altura do peito para as referidas espécies, ensaiando, quando necessário, a regressão ponderada
e distintos fatores de ponderação.
No caso da azinheira, é ainda avaliada a influência do tipo de regeneração, diferenciando-se as
árvores com evidente origem caulinar ou radicular (ditas árvores de talhadia), das árvores com
aparente origem seminal (designadas por árvores em alto fuste).
São também abordados os conceitos de árvore jovem e árvore adulta, e analisada a dimensão
média do cepo que dá origem a uma árvore, conforme definição constante no Decreto-Lei n.º
169/2001, de 25 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de
Junho.
Palavras-chave: Sobreiro, Azinheira, Diâmetro à altura do cepo; Diâmetro à altura do peito

Abstract: The cork and holm oak are species protected by law, due to their economic and
environmental importance. As they are protected species, the several entities responsible for their
defense and valuation, legal aspects included, have questioned about the size and value of trees
unjustifiably felled, given the dimensions of the tree stumps left in the ground.
Based on this concern, relations between the diameter of the tree stump and the diameter at
breast height for these species are established, rehearsing when necessary, the weighted
regression and different weights.
In the case of holm oak, it is further evaluated the influence of the regeneration type, differing the
trees with evident stem or root origin (so-called coppice trees) from the ones with apparent
seminal origin (referred to as trees of high forest).
The concepts of young and adult tree are also addressed, and the average size of the tree stump
that gives rise to a tree is analyzed, as defined in the Decreto-Lei n.º 169/2001, dated May 25, as
amended by Decreto-Lei n.º 155/2004, dated June 30.
Keywords: Cork oak, Holm oak, Diameter at stump height; Diameter at breast height
J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

1. INTRODUÇÃO

O quadro legislativo que institui a proteção do sobreiro e da azinheira, concede aos Serviços Oficiais
competentes atribuições tão vastas como a análise e decisão de requerimentos (corte e/ou arranque,
podas e outras práticas culturais), a adoção de medidas preventivas, o pedido de embargos, a
aplicação de coimas e a proposta de sanções acessórias.
Em determinadas regiões do país, a proteção do sobro e azinho é mesmo uma das atividades
centrais dos Serviços. Para além do caso do Alentejo, refere-se a título de exemplo a experiência da
ex-UGFD (Unidade de Gestão Florestal do Douro) no quadriénio 2009/12.
Com efeito, e não contabilizando os requerimentos associados aos grandes aproveitamentos
hidroeléctricos (AH) em curso (AH do Baixo Sabor e AH de Foz Tua), a ex-UGFD tramitou, em média,
cerca de 130 pedidos anuais de corte e/ou arranque de sobreiros e azinheiras, cifrando-se o custo
para a Administração em 72 EUR/processo (UGFD, 2011).
Se a capacidade de resposta àquele expediente da ex-UGFD só pontualmente foi questionada (numa
estratégia de conciliação do tempo de resposta com a redução de custos, o prazo médio de resposta
cifrou-se, globalmente, em 30 dia corridos), já o mesmo não aconteceu quanto a solicitações
veiculadas por instrutores de processos de contraordenação e por entidades fiscalizadoras e judiciais,
no que se refere à caracterização do arvoredo a partir das dimensões dos cepos deixados no solo.
Foi essa lacuna, no essencial, que motivou o presente trabalho.
Na ausência de registos ou de informação mais detalhada, a reconstituição da dimensão das árvores
entretanto removidas a partir dos cepos deixados no solo, é uma prática expedita e comum. Uma das
hipóteses será, caso a caso e quando possível, avaliar as árvores vizinhas e fazer uma qualquer
associação entre a dimensão dos cepos e o porte das árvores.
Contudo, perante a necessidade específica de se qualificar e/ou quantificar os danos provocados por
furtos e outras transgressões, ou mesmo perante a determinação de valores indemnizatórios, o
recurso a uma relação de aplicação abrangente entre o diâmetro do cepo e o diâmetro à altura do
peito, revela-se a opção mais simples e prática.
Depois de uma abordagem sumária à evolução protecionista do sobreiro e da azinheira, discute-se,
com base em consulta bibliográfica, a distinção entre árvores jovens e árvores adultas. As
considerações finais, que recuperam também aquela distinção, são precedidas da proposta de
equações para estimar o valor do diâmetro à altura do peito a partir do diâmetro do cepo.

2. CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS

2.1. Sobre a proteção do sobreiro e da azinheira

De acordo com NATIVIDADE (1950), a preocupação com a proteção do património florestal,


essencialmente do sobreiro, parece datar do século XIII com as leis agrárias nacionais.
Um outro marco, sublinhado por VIEIRA (1990), coincide com o período dos descobrimentos, no qual
foram tomadas medidas para proteger as áreas florestais e contrariar a sua diminuição, uma vez que
o sobro e o azinho faziam parte das madeiras mais utilizadas na construção naval. Mais tarde, ainda
segundo aquele autor, e por ação do Marquês de Pombal, é proibida a divisão dos montados e matas

92
J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

do Alentejo.
Contudo, é a partir do século XX que a legislação protecionista dos recursos florestais, assume a sua
maior expressão (AFN, 2011), apresentando este trabalho a compilação legislativa de 70 dos
principais diplomas relativos ao sobreiro e a azinheira, publicados entre 1917 e 2004
Nestas várias disposições foram sendo regulamentadas as autorizações a emitir pelos Serviços
Oficiais, para cortes e/ou arranques, podas, desbastes, descortiçamento, entre outros, bem como as
coimas a aplicar no âmbito das infrações cometidas.
Em 1930 é estabelecido o diâmetro a partir do qual é permitida a desbóia dos chaparros –
circunferência à altura do peito (CAP) de 0,47 m –, dimensão alterada em 1937 para os 0,60 m.
Em 1935 - um ano antes da criação da Junta Nacional da Cortiça –, com a publicação da Portaria nº
8:295, a 15 de Outubro, são definidos os critérios para a classificação de povoamento de sobreiros e
azinheiras e montados em consociação arbórea-arvense. Considerava-se então montado de sobro ou
azinho, o povoamento cuja população era constituída por mais de 70% de sobreiros ou azinheiras.
Estipulava ainda aquele preceito que o montado de sobro em produção, ou em cujo solo se
praticasse, anual ou periodicamente, a cultura cerealífera, era classificado como cultura florestal
quando em presença de densidades superiores a 50 árvores por hectare; já nos montados de sobro
em formação (em desbóia ou produtores de cortiça secundeira), a feição florestal predominaria
quando existissem mais de 100 árvores por hectare.
Mais tarde, com a publicação do Decreto-Lei n.º 14/77, de 6 de janeiro, ganha relevo a proteção da
azinheira, regulamentando-se os cortes ou arranques e introduzindo o critério de densidade normal.
As coimas a aplicar eram fixadas por classe de dimensão da porção basal do tronco.
Por sua vez, e com o intuito de reunir e sistematizar num só documento as disposições dispersas no
tempo e em vários diplomas relativos à proteção do sobreiro – preocupação inscrita no preâmbulo do
Decreto-Lei nº 221/78, de 3 de agosto –, foram normalizadas as operações culturais e de exploração
dos montados, nomeadamente os cortes ou arranques de sobreiros em criação ou adultos, bem
como os procedimento a realizar na participação dessas operações à então Direcção-Geral de
Ordenamento e Gestão Florestal.
O Decreto-Lei nº 221/78, de 3 de agosto foi revogado pelo Decreto-Lei nº 172/88, de 16 de maio,
alterando-se, entre outros, a dimensão mínima que permite a desbóia, de 60 para os atuais 70 cm de
CAP.
Em 1997, perante a necessidade de dar novo impulso à proteção do sobreiro e da azinheira face aos
sinais de pressão e degradação constatados e no âmbito de uma estratégia mundial de conservação,
é publicado o Decreto-Lei nº 11/97, de 14 de janeiro. Este diploma, precursor da legislação
atualmente em vigor, introduziu alterações significativas na legislação até vigente; entre outros,
clarificou a definição de montado de sobro, de azinho ou misto, relacionando as densidades mínimas
com o perímetro à altura do peito (PAP) e regulamentou os cortes e/ou arranques, as conversões, o
descortiçamento, e a aplicação de coimas.
Foi então definido montado de sobro, de azinho ou misto, como a formação vegetal onde se verifique
a presença de sobreiros e/ou azinheiras, associados ou não entre si ou com outras espécies, e cuja
densidade satisfaça, relativamente ao sobreiro e/ou à azinheira, os seguintes valores mínimos: i) 50

93
J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

árvores por hectare, perante sobreiros e azinheiras com altura superior a 1 m e PAP inferior a 30 cm;
ii) 30 árvores por hectare, quando o valor médio do PAP se situa entre 30 cm e 79 cm; iii) 20 árvores
por hectare, quando o valor médio do PAP se situa entre 80 cm e 129 cm; iv) 10 árvores por hectare,
quando o valor médio do PAP das espécies em causa é superior a 130 cm.
Apesar das classes de densidade referidas se manterem inalteradas, a definição de povoamento
(terminologia presente), foi posteriormente atualizada pela legislação vigente (Decreto-Lei nº
169/2001 de 25 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 155/2004, de 30 de
junho) com critérios de área mínima. Esta nova legislação instituiu ainda conceitos como pequenos
núcleos de elevado valor ecológico, medidas compensatórias (corte autorizados) e medidas de
reposição (cortes não autorizados).
Por último, destaca-se ainda que a destruição de exemplares de sobreiro e/ou azinheira pode, à luz
do Código Penal, configurar crime de dano contra a natureza (Lei n.º 56/2011, de 15 de novembro).

2.1. Árvores jovens e árvores adultas

Como no formulário do requerimento para corte ou arranque de sobreiros e azinheiras a submeter


aos Serviços Oficiais, o número de exemplares pedido é desagregado em árvores adultas e árvores
jovens (veja-se modelo disponibilizado no portal do ICNF), importa esclarecer os critérios de tal
distinção, uma vez que a terminologia em confronto – jovem vs. adulta – nem sempre é devidamente
explicitada.
Para FORTANIER e JONKERS (1976), o envelhecimento nas plantas contempla três aspetos
interrelacionados (um cronológico, outro ontogenético e outro fisiológico), de tal modo que poderá não
haver qualquer contradição se uma planta for considerada jovem e adulta ou juvenil e senescente.
Na decomposição formulada, o aspeto cronológico refere-se apenas ao tempo volvido desde a
germinação, não dando portanto qualquer informação sobre a fase ontogenética (a dimensão
ontogenética, determinada pelo código genético aparentemente centrado no meristema apical, refere-
se ao processo de passagem pelos diferentes estágios de desenvolvimento) ou sobre a dimensão ou
condição fisiológica, muito centrada nos pontos fracos do processo de envelhecimento, tais como a
perda de vitalidade e a maior suscetibilidade a condições adversas.
No que se refere à dimensão ontogenética, a parte aérea das plantas passa por três fases de
desenvolvimento ou maturação mais ou menos distintas (POETHIG, 1990; 2010; HUIJSER e SCHMID,
2011): uma fase vegetativa, diferenciada entre juvenil e adulta, e uma fase reprodutiva dita de fase
adulta reprodutiva.
Ainda segundo aqueles autores, se a transição entre a fase vegetativa e a fase reprodutiva é mais ou
menos abrupta e visiva, pois é marcada pela floração e frutificação enquanto evidências da
maturação sexual, já o mesmo não acontece com a transição entre as duas fases vegetativas, apesar
de algumas plantas apresentarem alterações morfológicas em resultado dessa transição, como é o
caso da aquisição de características de planta adulta como a forma da folha e o porte e a forma do
tronco.
BOLD (2000) considera jovens as plantas pré-reprodutivas e adultas as plantas reprodutivas; dentro
das adultas, diferencia as adultas jovens das adultas velhas, sugerindo assim o reconhecimento de

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J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

uma nova fase de desenvolvimento no estádio adulto.


Estas breves referências demonstram a abrangência, a complexidade e até a controvérsia
associadas à diferenciação dos termos em análise – jovem e adulto –, justificando assim o recurso a
simplificações mais ou menos expeditas, como as que se baseiam em variáveis dendrométricas mais
ou menos acessíveis. Desde logo, pelo recurso à idade, determinada com mais ou menos rigor; por
facilidade e simplificação, recorrendo à altura total e, mais comummente, ao diâmetro à altura do
peito (d).
Num estudo sobre interações inter e intraespecíficas entre exemplares jovens e adultos de 4
espécies, entre as quais a azinheira, GRANDA et al. (2012) consideraram adultas as plantas com mais
de 1 metro de altura.
Vários autores adotam o valor de 10 cm de diâmetro à altura do peito (em valor absoluto ou enquanto
representação dos diâmetros superiores a 7,4 cm e inferiores a 12,5 cm) como critério diferenciador
de árvores jovens (por vezes designadas de regeneração) e adultas. Fizeram-no para a azinheira,
entre outros e na península ibérica, PLIENINGER et al. (2004), PULIDO E DÍAZ (2005) e PULIDO et al.
(2001), e para a azinheira e sobreiro URBIETA et al. (2011).
PLIENINGER et al. (2003), estudando os diâmetros do tronco em montados de azinho,
caracterizaram o montado jovem através de um diâmetro médio de 31 cm e uma idade estimada
de 60 a 100 anos. Também em montados de azinho, RAMÍREZ E DÍAZ (2008) consideram adultas
as árvores d > 5 cm, tidas por árvores que já florescem e produzem bolota, e como adultos
jovens os exemplares com d < 15 cm. Já para VÁSQUEZ (1998), que interpretou a idade como a
circunferência à altura do peito (CAP), o estado juvenil caracteriza-se por diâmetros inferiores a
16 cm (CAP < 50 cm) e o estado jovem por diâmetros entre 16 e 32 cm (segue-se ainda a idade
adulta, dita madura, e, acima de valores de CAP de 200 cm – d ≈ 63,5 cm – a classe das
azinheiras velhas.
Na chave descritiva da fisionomia dos azinhais proposta por GARNICA E ROBLES (1991), a
azinheira jovem é definida por valores do diâmetro do tronco inferiores a 20 cm.
Para um montado misto, GARCIA-CALVO et al. (2009) estabeleceram 6 classes de idade para a
azinheira e para o sobreiro, fixando o limite superior da primeira classe em 35 anos e nos
seguintes valores de diâmetro à altura do peito: 15 cm para a azinheira e 25 cm para o sobreiro.
O revogado Decreto-Lei nº 14/77,de 6 de janeiro, fixava multas de transgressão em função do
perímetro basal do tronco, tomado até à altura de 50 cm a contar do solo, instituindo para o efeito 4
classes: perímetro inferior a 50 cm; perímetro compreendido entre 50 e 100 cm; perímetro
compreendido entre 100 e 150 cm; e perímetro superior a 150 cm.
Por fim, o normativo em uso pelo ICNF (BARROS, 2008) considera a azinheira jovem perante valores
de CAP inferiores a 20 cm (d < 6,4 cm), por ser a dimensão adotada pelo IFN4 (3ª revisão do
Inventário Florestal Nacional) para definir árvores menores de azinheira (DGF, 2001). Ainda assim, e
apesar destas normas vigorarem, sublinha-se que o 5.º Inventário Florestal Nacional aferiu aquela
dimensão, passando a considerar azinheiras menores as árvores com d < 7,5 cm (AFN, 2010).
No caso do sobreiro, e segundo o normativo referido (BARROS, 2008), considera-se que um
sobreiro é adulto quando atingiu as dimensões que permitem a desbóia, i.e., 70 cm de CAP ou

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J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

22,3 cm de diâmetro.
NATIVIDADE (1950), estabeleceu 4 classes de desenvolvimento do sobreiro. A primeira, até 50 cm
de PAP, designada por chaparral não explorado; a segunda, dita de arvoredo em valorização
crescente, para valores de PAP entre 50 e 100 cm; a terceira, referenciada por arvoredo em
plena produção, para valores de PAP entre 1 e 1,80 metros e, por fim, a classe do arvoredo
próximo do limite da exploração económica.
TOMÉ (2007), refere ser costume distinguirem-se três fases: a fase de regeneração, que ocorre
até o sobreiro atingir o nível de 1,30 metros; a fase juvenil, iniciada desde que se atinge a altura
de 1,30 metros até ao primeiro descortiçamento; e, a partir do primeiro descortiçamento, a fase
adulta. Define ainda regeneração de sobreiro, natural ou artificial, as árvores que possuem altura
inferior a 1,30 metros e aquelas que apresentam d < 7,5 cm.
O modelo de crescimento e produção denominado “suber” (FPFP, 2001; TOMÉ, 2004), desdobra a
fase adulta acima caracterizada em fase intermédia ou de segundeira, marcada pela segunda
extração de cortiça (cortiça segundeira) e em fase adulta ou de produção, na qual a árvore
apresenta cortiça amadia.
Sobre o tema ora em discussão (idades ou estágios de desenvolvimento), a legislação
atualmente em vigor – Decreto-Lei nº 169/2001, de 25 de Maio, com as alterações introduzidas pelo
Decreto-Lei n.º 155/2004, de 30 de Junho – insere várias referências para além da já referida
dimensão mínima para a primeira despela (CAP sobre casca de 70 cm).
Desde logo, apenas considera árvore o exemplar de azinheira ou sobreiro que apresenta mais de 1
metro de altura.
Por outro lado, adota quatro classes de densidade em função da dimensão (CAP) das árvores
presentes: até 30 cm; de 30 a 79 cm; de 80 a 129 cm; superior a 130 cm (em rigor será igual ou
superior a 130 cm).

3. DADOS DE BASE

Os dados utilizados para a modelação da relação entre o diâmetro à altura do peito (d) e o
diâmetro à altura de 0,1 metros, dito diâmetro do cepo (dc), foram recolhidos na região Norte,
maioritariamente nas áreas abrangidas pelos PROF do Douro e do Nordeste.
Ambos os diâmetros, localizados no tronco com o auxílio de uma bitola, foram medidos com uma
suta à precisão de 1/10 cm.
Perante a observação de secções mais ou menos irregulares e/ou elípticas, foram tomadas duas
medições cruzadas, registando-se por simplificação o valor da sua média aritmética.
No caso do sobreiro, foram constituídas duas séries de registo: uma principal, relativa às árvores
nunca descortiçadas; outra secundária face aos objetivos propostos – e por isso menos
abrangente –, relativa a árvores recentemente descortiçadas, i.e., a árvores que na data de
medição evidenciavam terem sido descortiçadas há menos de um ano.
No caso da azinheira também se constituíram dois grupos de observações, desta feita tendo em
conta as características da base do tronco. As árvores que apresentavam evidente origem
caulinar ou radicular, cujo corte deixaria no solo cepos com o aspeto tipificado pelo esboço “T” da

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J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

Figura 1 (árvores que tipicamente apresentam porte e configuração arbustiva, e que na


terminologia não técnica são por vezes designadas tufos), e as árvores com aparente origem
seminal, das quais resulta um cepo com o aspeto esboçado “AF” também na Figura 1 (árvores
tipicamente com configuração arbórea).
Por simplicidade, estas duas últimas séries serão doravante designadas por “azinheiras de
talhadia” e “azinheiras em alto-fuste”, respetivamente.
(T) (AF)

Figura 1. Aspeto distintivo entre as azinheiras de talhadia (T) e as azinheiras em alto-fuste (AF).

Ainda relativamente às azinheiras, e perante a existência de bifurcação abaixo do nível do peito,


foi apenas medido o diâmetro da pernada dominante (a mais grossa e/ou a mais vigorosa),
assumindo-se assim a existência de uma única árvore.
Na tabela 1 sumariam-se os dados de base pelas quatro séries referidas.

Tabela 1. Caracterização sumária dos dados de base (n é o n.º de pares de valores d /dc; min e max
os valores mínimo e máximo, respetivamente;  a média aritmética e P25 e P75 o primeiro e
terceiro quartil).
valores de d (cm)
série designação n
min P25  P75 max

1 sobreiro não descortiçado 560 0,1 4,3 8,0 14,2 23,2


2 sobreiro com despela recente 100 17,6 18,7 22,3 25,8 34,1
3 azinheira de talhadia 287 0,2 1,6 4,3 6,1 20,9
4 azinheira em alto-fuste 479 0,2 3,4 7,6 9,6 40,5

4. METODOLOGIA

Autores como SANTOS (1956), DECOURT (1964), BYLIN (1982) e PARRESOL (1993), reportam uma
relação linear entre o diâmetro à altura do peito e o diâmetro à altura do cepo, e DECOURT (1965),
postulou a lei do crescimento em diâmetro segundo a qual é linear a relação entre os diâmetros
de dois quaisquer níveis do tronco.
Outros autores contudo, e.g. MCLURE (1968) e WESTFALL (2010), traduziram a relação em causa
através de modelos mais complexos.
A análise dos diagramas de dispersão das 4 séries descritas (Figura 2), evidencia a relação
linear, pelo que como pressuposto será este o modelo de suporte ao ajustamento.
Sumariamente – neste capítulo seguiu-se de perto FREESE (1964), NETER et al. (1966) e FONSECA
(2009), o modelo de regressão linear simples é traduzido pela equação,

, i= i-ésima observação = 1,… n (1)

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J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

na qual Y é a variável resposta (no caso o diâmetro à altura do peito d), X a variável explicativa
ou regressor (no caso o dc),  o erro associado a Y e  e  os parâmetros da regressão.
Sobre a componente de erro , também designada por discrepância ou perturbação, recaem os
seguintes pressupostos base: i) pressuposto do erro nulo com distribuição normal; ii) pressuposto
da homocedasticidade ou da variância constante e, iii) pressuposto da aleatoriedade e da
independência.

Figura 2. Diagramas de dispersão para as 4 séries de observações (na série 4 não está representado
o valor máximo de d porquanto se optou por manter a escala dos diagramas para efeitos de melhor
comparabilidade).

Esclarecida a questão do modelo a utilizar, o passo seguinte consistiu no seu ajustamento aos
dados de suporte, tendo em vista a determinação das estimativas de  (ordenada na origem) e 
(declive), representados por a e b, respetivamente.
No processo de ajustamento referido, foi também registado:
i) A significância de a e b (aspeto de particular relevância no que se refere à ordenada na origem,
visto que não é de descartar o recurso ao modelo condicionado).
ii) Os erros padrões associados àquelas estimativas (que permitem inferir sobre o intervalo que
conterá, segundo os pressupostos assumidos, o parâmetro respetivo), enquanto elementos de
análise previa à comparação de regressões. A análise definitiva, quando relevante, foi realizada
com o teste de Chow (CHOW, 1960), pela sua robustez e simplicidade.

98
J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

iii) O valor do coeficiente de determinação (R2) e do desvio padrão dos resíduos (sxy), enquanto
indicadores da qualidade do ajustamento (perante a impossibilidade de obter diretamente estas
estatísticas, e.g., em resultado de eventuais transformações e/ou ponderações, os valores em
causa foram calculados, por simplificação e para efeitos de comparabilidade, aplicando a
formulação respetiva aos pares de valores / (valor observado na amostragem / valor
estimado pelo modelo) aferidos à unidade original, i.e.,


(2)


1  ∑ (3)

A verificação do pressuposto da homocedasticidade assentou na análise gráfica dos resíduos


( vs.  e, perante suspeitas da sua violação, na aplicação do teste de Goldfel-Quandt
(GQ), conforme NETER et al. (1996), descartando os 20% das observações mais centrais.
A presença de heterocedasticidade foi corrigida ensaiando transformações de variáveis ou
usando a regressão ponderada. Neste último caso, a ponderação foi precedida da divisão da
amostra em 5 grupos de igual dimensão (depois de ordenada por ordem crescente de dc, tal
como foi realizada para a aplicação do teste de GQ), aplicando a cada um, dos 5 grupos assim
definidos, o modelo base e utilizando os 5 pares de valores “s2xy / ”, assim resultantes, para
modelar a variância do erro residual, i.e., do estimador da variância, não conhecida, do termo 
da equação (1).
Adicionalmente, e como os diagramas de dispersão parecem indicar, como exemplifica FREESE
(1964), que uma qualquer observação da cauda inferior da distribuição revela muito mais sobre a
localização da linha de regressão que uma qualquer observação do extremo superior, foram
também testados, perante a necessidade de reduzir a influência das maiores dispersões, dois
pressupostos adicionais. O pressuposto da variância do erro ser proporcional ao regressor dci
(wi=1/dci), ou ser proporcional a dc2i (wi=1/dc2i) – wi é o fator de ponderação que, para efeitos de
ajustamento, multiplica os termos da equação (1) na forma √ ).
Caso não se revele aconselhável associar as séries 3 e 4 numa única regressão, i.e., caso se
considerem distintos os dois modelos eleitos para as duas tipologias de azinheira, será ensaiado
o ajustamento da regressão linear múltipla ao conjunto dos dados, adicionando à equação (1)
uma variável qualitativa binária (0 e 1).
Por último, e atendendo à definição particular de árvore (exemplar de sobreiro ou azinheira com
mais de 1 metro de altura), importa definir a dimensão média do cepo associada a essa altura
mínima.
Para esse efeito, confrontaram-se duas metodologias expeditas: i) a determinação, em cada um
dos modelos eleitos, do valor de dc quando o diâmetro à altura do peito é nulo e, ii) a
determinação do valor da ordenada na origem no modelo invertido dc=f(d), ajustado apenas para
valores de dc inferiores a 10 cm (note-se que são opções que, propositadamente, sobrestimam a
dimensão procurada). A comparação destas alternativas incidiu na análise dos valores de R2, sxy
e comportamento dos resíduos (tendências e amplitudes) nos subconjuntos formados.

99
J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

5. RESULTADOS

O resultado do ajustamento da equação (1) às 4 séries definidas encontra-se sumariado na


Tabela 2, evidenciando-se a negrito as opções que, em cada série, demonstraram melhor
desempenho.
Tabela 2. Resultados do ajustamento da equação (1) às quatro séries definidas
série aeb R2 Syx equação e observações

a = -1,809 ± 0,107 revelou heterocedasticidade (análise gráfica e teste


0.968 1,3 1.1 CQ)
b = 0,841 ± 0,006

a = -1,763 ± 0,084 ponderação de 1.1 com wi = 1/(0,584+0,004*dci^2)


1 0.968 1,3 1.2
b = 0,837 ± 0,007

a = -1,691 ± 0,070 ponderação de 1.1 com wi = 1/dci


0.968 1,3 1.3
b = 0,833 ± 0,006

a = 2,525 ± 0,883 resíduos homocedásticos (análise gráfica)


2 0,841 1,9 2.1
b = 0,724 ± 0,032

a = -1,144 ± 0,108 revelou heterocedasticidade (análise gráfica e teste


0,926 1,0 3.1 CQ)
b = 0,743 ± 0,012
1,710
a = -0,856 ± 0,060 ponderação de 3.1 com wi = 1/(0,025*dci )
3 0,924 1,0 3.2
b = 0,697 ± 0,013

a = -0,976 ± 0,074 ponderação de 3.1 com wi = 1/dci


0,925 1,0 3.3
b = 0,720 ± 0,012

a = -2,254 ± 0,126 revelou heterocedasticidade (análise gráfica e teste


4 0,948 1,5 4.1 CQ)
b = 0,870 ± 0,009
1,676
a = -1,328 ± 0,064 ponderação de 4.1 com wi = 1/(0,027*dci )
4 0,937 1,6 4.2
b = 0,779 ± 0,009

a = -1,598 ± 0,085 ponderação de 4.1 com wi = 1/dci


4 0,944 1,5 4.3
b = 0,812 ± 0,009
2
a = -1,234 ± 0,057 ponderação de 4.1 com wi = 1/dci
4 0,933 1,7 4.4
b = 0,764 ± 0,009
2
a = -0,945 ± 0,185 equação na forma d=a+b*dc+c*dc , visto se ter
constatada uma relação entre os coeficientes b e o
b = 0,654 ± 0,025 diâmetro médio no conjunto das 5 observações
4 0,956 1,4 4.6 utilizadas na modelação da variância dos resíduos na
c = 0,006 ± 0,001 2
equação 4.2 (bi=0,521+0,022dci, com R =0,909);
revelou heterocedasticidade (análise gráfica e teste
CQ)

a = -0,944 ± 0,113 ponderação de 4.6 com wi = 1/dci

4 b = 0,654 ± 0,021 0,956 1,4 4.7

c = 0,006 ± 0,001

100
J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

A observação da Tabela e o resultado das análises preliminares efetuadas de acordo com a


metodologia descrita, permitem evidenciar que:
i) A ponderação, não exercendo influência relevante nos índices globais de ajustamento, foi
eficaz na correção da heterocedasticidade (veja-se exemplo na Figura 3).
ii) Ainda assim, as ponderações realizadas através da modelação da variância residual (com
base nos 5 grupos em que foi dividida a amostra), revelou fracas prestações, comparativamente
a pressupostos mais simples. Tal facto é explicado, pelo menos para a série 1, pela limitação de
informação, pois a replicação dessa metodologia sobre 10 grupos, em vez dos 5 inicialmente
ensaiados, originou melhores desempenhos – foram obtidos dois fatores de ponderação
equivalentes entre si em resultado, e originando os mesmos coeficientes da opção eleita
(equação 1.3), a saber: wi=1/(0,131*dci) e wi=1/(0,065*dci1,226).

(equação 1.1) (equação 1.2) (equação 1.3)

Figura 3. Gráficos dos resíduos evidenciando a correção da heterocedasticidade na série 1

iii) Para o sobreiro, e tal como expectável, há diferenças entre o adelgaçamento do tronco sobre
casca e o adelgaçamento sobre pau, apresentando-se este último mais próximo da cilindricidade.
iv) Na série 4, apesar do modelo de regressão múltipla revelar ligeira supremacia (modelo só
ensaiado face à relação observada entre os declives das retas e o diâmetro médio do cepo –
veja-se Tabela 2), elegeu-se, para representar a série, a equação 4.3 pela sua maior
simplicidade.
v) Verificaram-se diferenças significativas (P<0,001) entre as equações 3.3 e 4.3, pelo que se
revela importante diferenciar a tipologia da azinheira em causa (as azinheiras ditas de talhadia
tendem a apresentar maior afunilamento entre o nível do cepo e o nível à altura do peito
particularmente nas maiores dimensões).
vi) Ainda no caso da azinheira, o ensaio da regressão linear múltipla com a adição de uma
variável binária, não revelou resultados satisfatórios (a exceção, rejeitada apenas pelo sua
natureza menos expedita, associava essa variável binária ao quadrado do diâmetro do cepo).
vii) Apesar das diferenças registadas, optou-se por apresentar a equação ajustada ao conjunto
das séries 3 e 4, a utilizar somente quando se desconheça a tipologia das azinheiras.
viii) Ainda que estatisticamente diferentes, existem mais semelhanças entre as séries 1 e 4
(sobreiro e azinheira em alto fuste) do que entre as duas séries relativas à azinheira.
As equações propostas são apresentadas na Tabela 3, omitindo-se a relativa ao sobreiro

101
J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

descortiçado pelo seu reduzido interesse face aos propósitos do trabalho.


Quanto à dimensão do cepo associada ao conceito de árvore, inscrevem-se na tabela 4 os
valores propostos. São valores conservadores, algo sobrestimados, no sentido de se assegurar
que perante dimensões superiores, são residuais os casos em que os sobreiros ou azinheiras
correspondentes possam apresentar alturas inferiores a 1 metro.

Tabela 3. Súmula das equações propostas

equação para o equação para o


espécie sxy sxy R2
diâmetro (cm) perímetro (cm)

sobreiro d = -1,691+0,833*dc 1,3 PAP = -5,312+0,833*PC 4,1 0,968

nota: sobreiro nunca descortiçado; aplicável até dimensões máximas do cepo de 40 cm de diâmetro ou
125 cm de perímetro

azinheira d = -0,976+0,720*dc 1,0 PAP = -3,066+0,720*PC 3,1 0,925

nota: azinheira de talhadia; aplicável até dimensões máximas do cepo de 25 cm de diâmetro ou 80 cm de


perímetro

azinheira d = -1,598+0,812*dc 1,6 PAP = -5,020+0,812*PC 5,0 0,944

nota: azinheira em alto fuste; aplicável até dimensões máximas do cepo de 40 cm de diâmetro ou 125 cm
de perímetro

azinheira d = -1,933+0,845*dc 1,4 PAP = -6,073+0,845*PC 4,4 0,946

nota: azinheira de tipologia desconhecida; aplicável até dimensões máximas do cepo de 40 cm de


diâmetro ou 125 cm de perímetro

Tabela 4. Dimensão máxima dos cepos em exemplares com menos de 1 m de altura (na coluna dos
diâmetros, o primeiro valor entre parenteses é a ordenada na origem resultante do ajustamento dc=f(d) nas amostras
constituídas por diâmetros de cepo inferiores a 10 cm, e o segundo o valor que na equação d=f(dc) eleita, corresponde a d=0).

espécie dc (cm) PC (cm)

sobreiro 3,0 (2,8; 2,0) 9,4

azinheira de talhadia 2,0 (1,9; 1,3) 6,3

azinheira em alto fuste 2,5 (2,4; 1,9) 7,9

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como nota final, e como ferramenta adicional de auxílio aos instrutores de processos
contraordenacionais ou similares, deixam-se na Tabela 5 algumas referências dendrométricas
para as classes de dimensão legalmente instituídas na definição de povoamento.
Sugere-se também uma reflexão sobre o conteúdo dos formulários de requerimento de corte e/ou

102
J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

arranque, pois tem-se por vantajosa a substituição das referências “jovem e adulto” pelas 4
classes de densidade instituídas. Acrescentaria informação técnica, justificável face aos custos
envolvidos, sem criar dificuldades adicionais, estamos em crer, ao requerente.
A não ser assim, considera-se que o conceito de azinheira jovem, atualmente em vigor, deve ser
revisto, até porque os critérios que levaram à sua definição foram entretanto alterados.
Por último, e no que se refere especificamente com os objetivos do trabalho, justifica-se o
alargamento da representatividade geográfica e dendrométrica, também para melhor avaliar a
questão da similitude das relações (até porque parece ser viável conciliar numa única expressão
o sobreiro e a azinheira) e a modelação do perfil do tronco em árvores jovens de reduzido porte.

Tabela 5. Algumas referências dendrométricas expeditas para a azinheira e para o sobreiro.


classe de densidade (DL n.º 169/2001, de 25
1ª 2ª 3ª 4ª
de maio)

n.º mínimo de árvores por hectare 50 30 20 10

altura total do limite inferior da classe (cm) altura > 1 metro não aplicável (na) na na

CAP do limite inferior da classe (cm) na 30 80 130

CAP que define azinheira adulta (cm) 20

CAP que permite a despela (cm) 70

d correspondente ao valor de CAP (cm) na 6,4 9,5 22,3 25,5 41,4

AZINHEIRA (tipologia desconhecida):

diâmetro do cepo (cm) 2,5 9,9 13,5 - 32,5 51,3

idade (EMBÚN, 1962) - - 30 - 60 100

Idade (PANAÏOTIS et al., 1997) - 37 46 - 89 127

Idade (PLIENINGER et al., 2003) - 26 32 - 69 118

SOBREIRO:

diâmetro do cepo (cm) 3,0 - 13,4 28,8 32,6 51,7

idade (FALCÃO, 2002); povoamento médio - - 14 29 33 51

Idade (REIS, 2002) - - 12 29 34 61

Idade (MONTERO e CAÑELLAS 2003) - - 11 26 31 59

Idade (TOMÉ, 2004); SI=12 - - - 34 40 70

103
J. Calçada Duarte, P. Afonso Pinto

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Decreto-Lei n.º 11/97. Diário da República n.º 11 de 14 de janeiro de 1997
O Decreto-Lei n.º 169/2001. Diário da República n.º 121 de 25 de maio de 2001
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7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Variação transversal da composição química de árvores de Eucalyptus


globulus com 15 anos de idade

B. Esteves1*, I. Domingos1, L. Cruz Lopes1, J. Ferreira1, H. Viana1 e H. Pereira2

1: Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde, ESTV, Instituto Politécnico de Viseu, Av. Coronel
José Maria V. de Andrade, Campus Politécnico, 3504-510 Viseu. Portugal
2: Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada
da Ajuda
1349-017 Lisboa, Portugal

*e-mail: bruno@demad.estv.ipv.pt
Resumo: Madeira de eucalipto (Eucalyptus globulus Labill.) com 15 anos de idade, da região de
Águeda, foi utilizada nos ensaios. A composição química, nomeadamente extrativos em
diclorometano (DCM), etanol, água e totais e lenhina insolúvel e solúvel foi determinada para a
fração de 40-60 mesh.
O extrato em DCM variou entre 0,24% e 0,38%, representando aproximadamente 5% dos
extrativos totais. O teor de extrativos em DCM manteve-se praticamente constante no cerne, com
uma ligeira diminuição a partir da medula (0,38%) até à fronteira com o borne (0,34%), e
decrescendo no borne para 0,24%. Os extrativos em etanol representam mais de 50% do total e
aumentam da medula para a fronteira do borne de 2,56% para 5,20%, diminuído depois no borne
para 0,99%. Em relação aos extrativos em água, estes representam cerca de 45% do total e
diminuem da medula para a fronteira do borne, de 3,39% para 2,18% embora sem grandes
alterações nos pontos mais próximos da medula. Devido ao alto teor de extrativos solúveis em
etanol os extrativos totais têm uma variação semelhante, aumentando da medula para a fronteira
do borne. A percentagem de lenhina Klason aumentou da medula (19,8%) para a fronteira do
borne (22,2%), aumentando ligeiramente no borne (23,0%). O teor de lenhina solúvel foi
aproximadamente o mesmo para todas as amostras (aprox. 2%)
Palavras-chave: Composição química, Eucalyptus globulus, variação transversal

Abstract: Eucalypt (Eucalyptus globulus Labill.) wood with 15 years of age from the region of
Águeda, waas used. The chemical composition, in particular extractives in dichloromethane
(DCM), ethanol, water and total extractives, insoluble and soluble lignin, was determined for the
40-60 mesh fraction.
The DCM extract ranged between 0.24% and 0.38%, representing approximately 5% of total
extractives. The extractive in DCM remained almost constant in heartwood, with a slight decrease
from the pith (0.38%) to the sapwood border (0.34%), and decreasing in sapwood to 0.24%. The
ethanol extractives represent more than 50% of the total and increased from pith to the sapwood
border from 2.56% to 5.20%, decreasing in sapwood (0.99%). Water extractives account for about
45% of the total and decreased from pith to the sapwood border (3.39% to 2.18%), although no
major changes were observed at the points close to the pith. Due to the high content of
extractives soluble in ethanol the total content has a similar variation, increasing from the pith to
the sapwood border. Klason lignin increased from the pith (19.8%) to the sapwood border
(22.2%), increasing slightly in sapwood (23.0%). The soluble lignin content was approximately 2%
for all samples.

Keywords: Chemical composition, Eucalyptus globulus, transversal variation


B. Esteves, I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Viana e H. Pereira

1. INTRODUÇÃO

O eucalipto está hoje em dia plantado um pouco por todo o mundo, em plantações intensivas e
de curta rotação (7 a 12 anos), destinando-se essencialmente à produção de pasta para papel.
Em Portugal, de acordo com o 6º Inventário Florestal Nacional (ICNF, 2013) o eucalipto é a
espécie mais plantada, com um aumento de área de 16% entre 1995 e 2010, ocupando
atualmente 812 mil hectares. A composição química da madeira de eucalipto constitui uma das
características importantes para a sua qualidade tecnológica, verificando-se variação entre
espécies e dentro da espécie (Pereira et al. 2011)

Existem alguns estudos sobre a variação radial da composição química da madeira de algumas
espécies de eucalipto. Lima et al. (2011) concluíram que o teor de lenhina de amostras de
Eucalyptus umbra não mostrou variação radial, assim como a holocelulose e os extrativos que
apresentaram oscilações, mas sem nenhuma tendência de aumento ou diminuição no sentido
medula-casca. No entanto, (Arantes et al. 2011) estudaram alguns clones de E. urophylla x E.
grandis com cerca de 6 anos de idade onde os teores de lenhina total e os extrativos mostraram
uma variação decrescente na direção medula-casca. Em ensaios com E. globulus (Morais e
Pereira 2011) obtiveram uma maior percentagem de extrativos no cerne, 3,8% contra 2.4% no
borne, essencialmente devido aos extrativos solúveis em etanol. Segundo (Wilkes 1984) o
conteúdo pode diminuir desde o exterior para o interior do cerne.

Este trabalho teve como objetivo avaliar a variação radial da composição química do Eucalyptus
globulus, com 15 anos de idade, de modo a poder determinar com maior rigor a sua
adequabilidade aos diferentes usos industriais.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Preparação das amostras

Madeira de eucalipto (Eucalyptus globulus Labill.) com 15 anos de idade proveniente da região
de Águeda, foi utilizada nos ensaios. Cada rodela foi dividida em borne e cerne, sendo o cerne
dividido em cinco partes da medula até à periferia. As amostras foram partidas, estilhadas,
moídas num moinho de facas e fracionadas granulometricamente. A fração 40-60 foi utilizada nos
ensaios.

2.2. Determinação dos extrativos

Os extrativos foram determinados por extração sucessiva em Soxhlet de cerca de 3 g de amostra


com 150 ml de: diclorometano (DCM), etanol e água. O tempo de extração foi 6 h para DCM e 18
h para etanol e água. A amostra extratada e os extrativos secaram-se ao ar para DCM, a 40ºC de
um dia para o outro seguido de 1 hora a 100ºC para o etanol e para a água a secagem foi feita
em estufa a 100ºC. Depois de secos, os extrativos foram colocados no exsicador 30 min e
pesados. A percentagem de extrativos em cada solvente foi calculada em relação à massa seca

108
B. Esteves, I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Viana e H. Pereira

da madeira inicial segundo a Norma Tappi T 204 om-88 “Solvent extractives of wood and pulp” de
acordo com:

resíduo seco
% Extractivos = massa seca *100 (1)

2.3. Determinação da lenhina

As amostras moídas foram colocadas numa estufa a 60 ºC de um dia para o outro, seguida de 1
hora a 100 ºC. Em seguida pesaram-se exatamente 350 mg de cada amostra para pequenas
tinas de vidro. Adicionaram-se 3 ml de ácido sulfúrico a 72% gelado e colocaram-se os goblés
num banho termostático a 30 ºC durante uma hora, mexendo a mistura com uma vareta de vidro
de 10 em 10 minutos. No final mediram-se 84 ml de água destilada numa proveta e com o auxílio
da água, passaram-se as misturas para frascos de vidro térmico de 100 ml que foram colocados
numa autoclave com água no fundo. As amostras permaneceram na autoclave durante uma hora
à temperatura de 120 ºC. Retiraram-se os frascos da autoclave e arrefeceram-se com gelo.
Filtrou-se a mistura para um kitasato com um cadinho de placa filtrante pré-pesado. Os cadinhos
contendo a lenhina foram colocados numa estufa a 60 ºC de um dia para o outro, seguido de uma
hora a 100 ºC, deixados a arrefecer e pesados. A percentagem de lenhina insolúvel foi calculada
como:

massa de lenhina (mg)


% Lenhina = massa inicial (mg) *100 (3)

A determinação da lenhina solúvel foi efectuada, retirando 2 ml do filtrado, diluindo a 20 ml e


medindo em espectrofotómetro a 205 nm de acordo com a norma Tappi UM 250 “Acid-soluble
lignin in wood and pulp”.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O extrato em DCM variou entre 0,24% e 0,38%, representando aproximadamente 5% dos extrativos
totais. O teor de extrativos em DCM manteve-se praticamente constante no cerne, com uma ligeira
diminuição a partir da medula (0,38%) até à fronteira com o borne (0,34%), e decrescendo mais
significativamente no borne (0,24%) o que significa que a medula apresenta o maior teor de extrativos
solúveis em diclorometano (Figura 1a).
Os extrativos em etanol representam mais de 50% do total o que está de acordo com o referido por
vários autores como (Morais e Pereira 2011). Verificou-se que o teor de extrativos em etanol
aumentou da medula para a fronteira do borne de 2,56% para 5,20%, diminuído depois drasticamente
no borne para 0,99% (Figura 1b).
Em relação aos extrativos em água, estes representam cerca de 45% do total e diminuem da medula
para a fronteira do borne, de 3,39% para 2,18% embora sem grandes alterações nos pontos mais
próximos da medula (Figura 1c). O borne também apresenta um teor de extrativos em água inferior.
Devido ao alto teor de extrativos solúveis em etanol, os extrativos totais têm uma variação

109
B. Esteves, I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Viana e H. Pereira

semelhante, aumentando da medula para a fronteira do borne e diminuído drasticamente para o


borne (Figura 1d). Resultados contrários foram obtidos por (Arantes et al. 2011) com Eucalyptus
urophylla x Eucalyptus grandis com cerca de 6 anos de idade onde os extrativos mostraram uma
variação decrescente na direção medula-casca. Lima et al. (2011) com amostras de Eucalyptus
umbra não encontraram qualquer variação no sentido radial.

Extrativos em diclorometano Extrativos em etanol
0,5 7,0
6,0
Extrativos (%)

Extrativos (%)
0,4
5,0
0,3 4,0
0,2 3,0 Cerne
Cerne
2,0
0,1 Borne Borne
1,0
0,0 0,0
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
Posição Posição

Extractivos em água Extractivos totais


7,0 9,0
6,0 8,0
Extrativos (%)
Extrativos (%)

7,0
5,0 Cerne
6,0
4,0 5,0
3,0 4,0
Cerne
3,0
2,0
2,0 Borne
1,0 1,0
0,0 0,0
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
Posição Posição

Figura 1: Percentagem de extrativos no borne e ao longo do cerne do eucalipto.

A percentagem de lenhina Klason aumentou da medula (19,8%) para a fronteira do borne (22,2%),
aumentando ligeiramente no borne (23,0%) (Figura 2). O teor de lenhina solúvel foi aproximadamente
o mesmo para todas as amostras (aprox. 2%). Arantes et al. (2011) com E. urophylla x E. grandis
obtiveram uma variação decrescente do teor de lenhina total na direção medula-casca, enquanto
Lima et al. (2011) com amostras de Eucalyptus umbra não encontraram qualquer variação no sentido
radial.

110
B. Esteves, I. Domingos, L. Cruz Lopes, J. Ferreira, H. Viana e H. Pereira

25

Lenhina (%)
20

15
Cerne klason cerne solúvel
10 Borne Klason Borne solúvel

0
1 2 3 4 5 6
Posição

Figura 2: Percentagem de lenhina solúvel e insolúvel no borne e ao longo do cerne do


eucalipto.

4. CONCLUSÕES

Concluiu-se que no sentido medula-casca diminuem os extrativos em diclorometano e em água e


aumentam os extrativos em etanol e totais embora diminuindo drasticamente no borne. A lenhina
klason aumentou no sentido medula-casca sendo a lenhina solúvel aproximadamente constante.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação para a Ciência e Tecnologia (Ref. PTDC/ECM/099121/2008) e ao


Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde (CIDETS) pelo apoio financeiro.

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112
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Mechanical properties of paraffin treated wood

B. Esteves1*, L. Nunes2, I. Domingos1, e H. Pereira3

1: Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde, ESTV, Instituto Politécnico de Viseu, Av. Coronel
José Maria V. de Andrade, Campus Politécnico, 3504-510 Viseu. Portugal
2: Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Departamento de Estruturas. Divisão de Estruturas em
Madeira, Lisboa, Portugal
3: Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada
da Ajuda 1349-017 Lisboa, Portugal

e-mail: bruno@demad.estv.ipv.pt
Resumo: A parafina tem sido utilizada ao longo dos tempos como proteção superficial da
madeira. A sua utilização por impregnação para melhorar a resistência à biodegradação é
recente. Pretendeu-se com este estudo determinar a eventual melhoria das principais
propriedades mecânicas da madeira com este tratamento. A madeira utilizada nos testes foi
madeira sã de Pinus pinaster Ait. A madeira foi impregnada com parafina a diferentes níveis,
usando um processo de quente-frio, partindo de madeira húmida e seca, com 2 h em banho
quente a 160ºC e 10 ou 30 min em banho a 70ºC. O ganho de massa, a tensão de rotura à flexão
e o módulo aparente de elasticidade (MOE) num ensaio a 3 pontos e a dureza Janka foram
determinados com recurso a uma máquina de testes universal. Como esperado, a madeira
húmida absorveu mais parafina com ganhos de massa entre 72% e 100%. A madeira seca
apresentou ganhos de massa entre 46% e 51%. A tensão de rotura à flexão aumentou com o
aumento de massa de parafina, atingindo um acréscimo de 39% em relação à madeira não
tratada para a madeira com um ganho de massa próximo de 80%. Em relação ao MOE, houve
também um aumento, embora menor, atingindo cerca de 13% para ganho de massa de cerca de
80%. Verificou-se um aumento da dureza Janka com o ganho de massa, atingindo cerca de 40%
de aumento para a madeira com 80% de ganho de massa. Conclui-se que a impregnação com
parafina não deve ser feita com madeira completamente seca e que, além do conhecido aumento
de resistência à biodegradação, esta impregnação melhora também várias propriedades
mecânicas da madeira como a sua resistência à flexão e dureza, o que lhe pode atribuir um
maior valor acrescentado.
Palavras-chave: Modificação da madeira, parafina, Pinus pinaster, propriedades mecânicas.

Abstract: Paraffin has been used throughout the ages as surface protection of wood. Its use by
impregnation to improve resistance to biodegradation is recent. This study was intended to
determine the improvements of main mechanical properties of wood with this treatment. The wood
used in the tests was healthy wood of Pinus pinaster Ait. The wood was impregnated with paraffin
at different levels, using a hot-cold process, with dry and moist wood, with 2h in a hot bath at
160°C and 10 or 30 min in a water bath at 70°C. Weight gain, bending strength and bending
stiffness (MOE) were determined using a universal testing machine by a 3 points essay. The
Janka hardness was also determined. As expected, the moist wood absorbed more paraffin with
weight gains between 72% and 100%. The dry wood presented weight gains between 46% and
51%. The bending strength (MOR) increased with the increase in paraffin, reaching a 39%
increase compared to untreated wood for wood with a weight gain of about 80%. In relation to
MOE, there was also an increase, but smaller, reaching about 13% for wood with a weight gain
around 80%. The Janka hardness increased significantly with the weight gain, reaching about
40% for wood with 80% weight gain. In conclusion the impregnation should not be made with
completely dry wood and, in addition to the known resistance to biodegradation; the treatment
also improves several mechanical properties like bending strength, bending stiffness and
hardness which might increase the wood value.
Keywords: mechanical properties, paraffin, Pinus pinaster, wood modification
B. Esteves, L. Nunes, I. Domingos e H. Pereira

1. INTRODUCTION

The environmental concerns about the use of dangerous chemicals on wood protection have led to an
increase in research on processes to improve properties of less noble woods without the use of
chemicals or with less harmful chemicals. Several wood modification processes have reached
commercialization, mainly those based on heat treatment, chemical modification or impregnation. Both
chemical modification and impregnation use chemicals, but these chemicals have to be harmless to
the environment. The main difference between chemical and impregnation modification is that in
chemical modification there are chemical bonds that are responsible for the improvements. In
impregnation modification, although there might be some chemical bonds they are not responsible for
the improvements. Paraffin is considered a harmless chemical highly hydrophobic and commonly
used has a surface treatment to prevent water uptake. (Scholz et al. 2010) studied the efficacy of
distinct waxes, including paraffin, impregnated in Scots pine sapwood (Pinus sylvestris L.) against
termites and concluded that waxes reduced termite damage, without preventing it. Nevertheless wax-
impregnated pine sapwood showed, according to EN 117, a 100% termite mortality rate. The
treatment made with paraffin resulted in a good resistance against R. banyulensis while amide wax-
treated beech sustained less 5% mass loss against C. acinaciformis and M. darwiniensis. Esteves et
al (2012) studied the potential of using paraffin impregnation to improve some wood properties, like
lower equilibrium moisture content, better dimensional stability and termite durability against
Reticulitermes grassei (Clément). ASE ranged between 38-96% and 16-71% for respectively 35% and
65% relative humidity. Equilibrium moisture content decreased drastically due to the treatment from
9.9%, 12.0% to 0.5% and 2.1% for 35% and 65% relative humidity. Termite durability improved from
level 4 to level 3 of attack. Treated wood presented higher termite mortality (52%) against (17%) of
untreated wood. This work intends to determine the improvements in mechanical properties of paraffin
treated wood.

2. MATERIAL AND METHODS

2.1. Treatment

Pinus pinaster wood was used for the tests. The samples for mechanical tests had approximately
20x20x360 mm3, without knots or other singularities and well-defined tangential, radial and
longitudinal sections. The paraffin impregnation was made by hot and cold process. The treatment
was done using a hot bath at 140° C and a cold bath at 70ºC. The time spent in the hot bath was
2h and the time spent in the cold bath was 10 and 30 min using dry and moist wood. Five
replicates were tested for each treatment. For the determination of the weight gain of moist
samples it was assumed that after the treatment the moisture was approximately zero. The
samples were weighted before and after the impregnation and their dimensions measured in all
directions with a Digital Caliper (0.01mm).

114
B. Esteves, L. Nunes, I. Domingos e H. Pereira

2.2. Bending strength

Mechanical tests were performed in a Servosis Universal machine. Bending strength and modulus
of elasticity were determined by a three point bending test. Measurements were made using a
constant velocity of 40 kgf/min. MOE and bending strength were determined according to the
following equations from the standard NP 619:

F * L3
MOE(N/mm 2 ) = (1)
x * 4 * b * h 3

F
Where  x is the slope of the elastic zone in N/mm, L is the arm length, h the height and b the
width all expressed in mm.

*L
Bendingstrength(MPa)= 3F máx 10/ 6 (2)
2 *b * h
Where Fmáx is the load on rupture in N, L is the arm length, h the height and b the width all
expressed in mm.

2.3. Janka Hardness

Janka hardness was measured according to ISO 3350 (1975) standard with minor changes. The force
used was the force required to penetrate a steel ball of 11.28 mm in wood up to a quarter of its
diameter (2.82 mm), instead of half as mentioned in the standard due to the softness of Pinus pinaster
wood.

3. RESULTS AND DISCUSSION

3.1. Treatment

Weight gain due to paraffin treatment ranged between 46% and 100%, 46-51% for dry wood and 72-
100% for moist wood been on average 49% for dry wood and 87% for moist wood. This means that to
have a full impregnation of wood the treatment must be made with moist wood.

3.2. Bending strength

Figures 1a and 1b present the bending stiffness (MOE) and bending strength (MOR) for untreated and
treated pine in relation to paraffin weight gain.

115
B. Esteves, L. Nunes, I. Domingos e H. Pereira

18000 180
16000 160
14000 140
12000 120
MOE(MPa)

MOR (MPa)
10000 100
8000 80
6000 60
4000 40
2000 20
0 0
0 50 100 0 50 100
Mass loss (%) Mass loss (%)

Figure 1: MOE (left) and MOR (right) of untreated and treated wood.

MOE increased slightly with the increase in paraffin weight gain reaching about 13% increase for 80%
weight gain. The bending strength increased more than bending stiffness reaching a 39% increase for
wood with a weight gain around 80%.

3.3. Janka Hardness

Figure 2 presents the hardness for untreated and paraffin treated wood. Even thought hardness had a
rather disperse results the hardness increases with the paraffin weight gain

300
250
200
Hardness

150
100
50
0
0 50 100 150
Weigh gain (%)

Figure 2: Hardness of untreated and treated wood

This increase in bending strength, bending stiffness and hardness is important because it might allow
the utilization of this wood in more demanding applications. Earlier tests performed by Esteves et al
(2012) concluded that this wood is more resistant to termites and presents a significantly higher
dimensional stability.

4. CONCLUSIONS

The treatment increases the main mechanical properties: bending strength, bending stiffness and
hardness. The increase is proportional to the paraffin weight gain. To have a successful impregnation
the treatment should not be made with completely dry wood. In addition to the known resistance to
biodegradation and better dimensional stability this treatment might allow the utilization of wood in
more demanding applications increasing its intrinsic value.

116
B. Esteves, L. Nunes, I. Domingos e H. Pereira

ACKNOWLEDGEMENTS

The authors would like to thank the Portuguese Foundation for Science and Technology (ref.
PTDC/ECM/099121/2008) and the Centre for Studies in Education, Technologies and Health for the
financial support.

REFERENCES

Esteves, B., Marques, A. V., Domingos, I., Pereira, H. 2006. Influence of steam heating on the
properties of pine (Pinus pinaster) and eucalypt (Eucalyptus globulus) wood. Wood Science and
Technology, 41, 193-207.
Esteves, B., Nunes, L., Domingos, I., Pereira, H. 2012. Wood treatment by paraffin impregnation-
Preliminary research. In Abstracts of ECWM6: 6th European Conference on Wood Modification.
16-18 September. Ljubljana, Slovenia.
Scholz, G., Militz, H., Gascón-Garrido, P., Ibiza-Palacios, M. S., Oliver-Villanueva, J. V., Peters, B. C.,
Fitzgerald, C. J. 2010. Improved termite resistance of wood by wax impregnation." International
Biodeterioration & Biodegradation, 64(8), 688-693.

117
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Contribuição para a optimização da produção em viveiro de piorno-amarelo


(Retama sphaerocarpa (L.) Boissier, Fabaceae), por via seminal

André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António


Fabião

Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada da
Ajuda, 1349-017 Lisboa
e-mail: andrefabiao@isa.utl.pt

Resumo: O piorno-amarelo (Retama sphaerocarpa), espécie arbustiva espontânea na Península


Ibérica, tem interesse potencial para o restauro de ecossistemas, produção de biomassa para
energia e utilização em jardins. Como é típico da sua família botânica, apresenta dormência da
semente por dureza do tegumento, existindo pouca informação quanto às técnicas adequadas
para a produção de plantas. Com o objectivo de potenciar a sua utilização para os fins acima
descritos, tem vindo a estudar-se a optimização da sua produção em viveiro. Efectuaram-se
ensaios de germinação, com e sem tratamentos de pré-germinação, usando as normas da
International Seed Test Association (ISTA) para espécies do género Cytisus, por não existirem
normas para Retama spp. Testou-se a escarificação com água quente (imersão de curta e longa
duração) e com ácido sulfúrico. Paralelamente foi avaliado o efeito da conservação de semente à
temperatura ambiente durante 1 e 2 anos, após escaldão curto e ácido, e a relação da cor do
tegumento após imersão em água (preto, verde, ou castanho) com o sucesso germinativo em
contentores. A escarificação com água quente (escaldão curto ou longo) e com ácido foi sempre
significativamente mais eficaz do que a testemunha (p<0,05), apresentando taxas de germinação
entre 43 e 70% em 92 dias. A conservação da semente durante 2 anos baixou significativamente
o sucesso germinativo, enquanto a conservação durante 1 ano não diminuiu a capacidade
germinativa em relação a sementes frescas. Em contentores, após escaldão longo, as sementes
castanhas ou verdes germinaram mais rápida e abundantemente (44,6-51,8% em 112 dias), com
o valor mais alto para as verdes pequenas, com deficiente imbibição inicial e germinação mais
lenta. As de tegumento negro tiveram germinação significativamente mais baixa (4,9±0,4%,
p<0,05). A produção de plantas por via seminal parece, assim, ser facilmente exequível.
Palavras-chave: Dormência, dureza do tegumento, escarificação, germinação, sementes.
Abstract: Retama sphaerocarpa is a spontaneous Iberian leguminous shrub that has a high
potential for ecosystem restoration, production of biomass for energy and as a low-maintenance
Mediterranean garden plant. As in several species of the Fabaceae family, hard seed coat
induces seed dormancy and decreases plant production performance in nursery. Available
information on efficient pre-germination treatments is scarce, but essential to improve plant
production. Thus, seed germination scarification tests were performed. International Seed Test
Association (ISTA) rules for the genus Cytisus were used, due to lack of testing rules for Retama.
Treatments were scarification with hot water (for short and long time periods), and with sulphuric
acid. Additionally, the effect of seed conservation for 1 and 2 years at room temperature on
germination success (after scarification) was assessed. The relationship between wet-seed coat
colour (black, brown or green) and germination rates in nursery containers was also tested. Seed
scarification with hot water (for short or long time periods) always induced significantly higher
germination rates than in the untreated control, ranging 43-70% in 92 days. Seed conservation for
2 years significantly decreased germination success, whereas conservation for 1 year did not
decreased the seed germination rate when compared to that of freshly-collected seed. After 24-
hour hot water scarification the brown and green coat seeds germinated faster and more
successfully in nursery containers (44.6-51.8% in 112 days) than those with black coat (4.9±0.4%,
p<0.05); the highest value was observed in small green seeds, which had a deficient water
imbibition and germinated slower than the others. Nursery plant production from seed appears to
be, therefore, feasible.
Keywords: seed dormancy, hard seed coat, scarification, germination, seeds.
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

1. INTRODUÇÃO

O piorno-amarelo, ou retama (Retama sphaerocarpa (L.) Boiss., Fabaceae) é uma espécie arbustiva
autóctone da Península Ibérica muito bem adaptada a meios semi-áridos e a solos delgados e secos.
A sua parte aérea apresenta uma reduzida área foliar, uma vez que possui folhas muito pequenas,
presentes apenas durante um curto período na Primavera, após o que desenvolve caules
fotossintéticos (cladódios) orientados verticalmente, minimizando a intercepção luminosa e o
sobreaquecimento por condução (HAASE et al., 2000).
Possui uma grande amplitude ecológica, sendo pouco exigente e indiferente ao tipo de solo, apenas
não tolerando locais que sejam excessivamente frios ou húmidos. Pode ser encontrada na Península
Ibérica desde o nível do mar até aos 1400 metros de altitude (RUIZ DE LA TORRE et al., 1996;
LOPEZ GONZÁLEZ, 2004) e ocorre naturalmente em Portugal na Terra Quente Duriense e no interior
do Centro e Sul do País, geralmente nas etapas sucessórias da degradação dos azinhais (BINGRE et
al., 2007).
Trata-se de uma espécie com elevado interesse para o restauro de solos degradados, devido à sua
tolerância à secura, simbiose do sistema radical com bactérias fixadoras de azoto e profundidade da
radicação (HAASE et al., 1996; ESPIGARES et al., 2004; RODRÍGUEZ-ECHEVERRÍA e PÉREZ-
FERNÁNDEZ, 2005). É também ambientalmente importante como elemento constituinte e
estruturante de comunidades vegetais de zonas áridas e semi-áridas (BENAYAS et al., 2002;
CARAVACA et al., 2003). Adicionalmente, possui potencial como espécie cultivada para a produção
de biomassa para fins energéticos (devido à considerável proporção de biomassa lenhosa na parte
aérea) e ainda como espécie constituinte de jardins Mediterrâneos de baixa manutenção (RUIZ DE
LA TORRE et al., 1996; BARCELÓ e PARERA, 2005).
A frutificação desta espécie ocorre, geralmente, entre Julho e Agosto, frequentemente com
abundância. O fruto é uma vagem castanho-amarelada que contém 1 (por vezes duas) sementes
elipsoidais com 3,5-5 mm de comprimento (TALAVERA, 1997), que se apresentam na maturação
com uma tonalidade exterior verde-acastanhada ou negra. A recolha da semente faz-se com a
vagem, que é indeiscente, efectuando-se a extracção e limpeza após a colheita. Como acontece com
outras leguminosas arbustivas de distribuição ibérica (HARTMANN et al., 1997; BASKIN e BASKIN,
2001), a semente apresenta dormência física (PUGNAIRE et al., 2006), sendo escassa e nem
sempre concordante a bibliografia disponível quanto à eficácia dos métodos clássicos de tratamento
pré-germinativo para a produção de plantas em viveiro, designadamente da escarificação com água
quente ou com ácido sulfúrico (e. g. RUIZ DE LA TORRE et al., 1996; LOPEZ et al., 1999).
O objectivo deste estudo consistiu em determinar qual o tratamento de pré-germinação mais eficaz
para quebrar a dureza do tegumento destas sementes, potenciando a sua utilização em viveiro para a
produção de plantas destinadas a acções de restauro de ecossistemas mediterrâneos, à instalação
de jardins mediterrâneos de baixa manutenção e ao aproveitamento da biomassa vegetal para a
produção de energia, em articulação ou não com as duas primeiras utilizações. As hipóteses testadas
foram: (i) existem métodos tradicionais de quebra da dormência física susceptíveis de promover taxas
de germinação expressivas e adequadas à produção em viveiro de plantas de piorno-amarelo em
escala comercial; (ii) é possível identificar características morfológicas das próprias sementes

119
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

relacionáveis com a sua aptidão germinativa após tratamento; e (iii) a conservação das sementes por
um período prolongado não afecta significativamente a sua capacidade germinativa, salvaguardada
pela dureza e impermeabilidade do tegumento.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Origem, recolha e manipulação das sementes

O material seminal usado no presente estudo foi divido em dois lotes, consoante a sua origem e/ou
época de colheita:
 Lote 1 - Vagens colhidas na região de Estremoz em Janeiro de 2008 (provenientes de 10
indivíduos) e vagens colhidas nos concelhos de Arraiolos e Cabeção em Novembro de 2008
(7 indivíduos);
 Lote 2 - Vagens da Tapada da Ajuda, colhidas em Setembro de 2011 (cerca de 10
indivíduos).
As vagens foram descascadas manualmente e as sementes armazenadas à temperatura ambiente
em envelopes de papel pardo até ao início dos ensaios, seguindo o procedimento descrito em
ROBLES et al. (2005).
Antes dos ensaios de germinação, as sementes do lote 1 foram desinfectadas por imersão em etanol
a 98% durante um minuto, seguida de imersão em hipoclorito de sódio durante 2 minutos e posterior
lavagem com água destilada (RODRIGUEZ-ECHEVERRÍA, 2005). No que se refere às sementes do
lote 2, estas foram apenas desinfectadas por imersão em hipoclorito de sódio durante 10 minutos,
seguida de lavagem com água destilada.

2.2. Delineamento experimental dos ensaios em câmara de germinação

Os testes efectuados em câmara de germinação decorreram no Viveiro Florestal do Instituto Superior


de Agronomia (ISA), seguindo as normas estabelecidas pela International Seed Testing Association
(ISTA) para espécies arbustivas do género Cytisus, por esta entidade não ter definidas condições de
germinação para o género Retama. O delineamento experimental decorreu em blocos completos
aleatórios. No lote 1 (Ensaio A) estudaram-se dois factores (período de conservação e tratamento
pré-germinativo), num total de seis tratamentos distintos (2 X 3).
Os dois níveis do factor período de conservação foram os seguintes:
 Conservação 1 (C1) – semente com cerca de 1 ano de conservação.
 Conservação 2 (C2) – semente com cerca de 2 anos de conservação.
Os três níveis do factor tratamento pré-germinativo foram os seguintes:
 Tratamento A (TA) – ausência de tratamento pré-germinativo.
 Tratamento B (TB) – imersão da semente em ácido sulfúrico (concentração de 96%), durante
60 minutos e na ausência de luz (ANÓNIMO, s/d; LÓPEZ et al., 1999).
 Tratamento C (TC) – escaldão curto, consistindo na imersão da semente em água quente
(80ºC) durante 30 segundos, seguida de arrefecimento em água destilada à temperatura
ambiente (RUIZ DE LA TORRE et al., 1996).

120
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

Para cada tratamento foram efectuadas 10 repetições (10 amostras com 20 sementes cada uma),
num total de 200 sementes.
No lote 2 (Ensaio B) testou-se o factor “tratamento pré-germinativo”, com os seguintes níveis:
 Testemunha (C) – Sem tratamento de pré-germinação.
 Escaldão Curto (EC) – Imersão em água quente (80-90ºC) durante 30 segundos, seguida de
arrefecimento em água destilada à temperatura ambiente (RUIZ DE LA TORRE et al., 1996).
 Escaldão Longo (EL) – Imersão em água quente (80-90ºC) com permanência na água
durante 24 horas.
 Escarificação com Ácido (A) – Imersão em ácido sulfúrico a 96% durante 30 minutos,
adaptando a técnica recomendada por LÓPEZ et al. (1999) para leguminosas ibéricas.
Para cada tratamento foram efectuadas 10 repetições, com 15 sementes cada, num total de 150
sementes.
O Ensaio A iniciou-se em Dezembro de 2009 e o Ensaio B arrancou em Janeiro de 2012. A
capacidade germinativa das sementes foi avaliada em câmara de germinação a 21ºC (±3ºC), sem
controlo de humidade e na ausência de luz. Utilizou-se papel de filtro húmido como meio de
germinação, durante um período de 92 dias, em vez do período padrão de 21-28 dias recomendado
nas regras da ISTA, por haver naquele intervalo de tempo poucas sementes germinadas para permitir
conclusões válidas. O humedecimento do papel de filtro foi efectuado sempre que necessário (em
média a cada 2 ou 3 dias), com água destilada. O critério de classificação da semente como
germinada foi a emergência da radícula ao atingir 1 mm de comprimento (LÓPEZ et al., 1999). As
sementes ostentando micélio de fungos em toda a superfície foram retiradas do ensaio e
contabilizadas como não germinadas.

2.3. Delineamento experimental do ensaio de germinação em viveiro

Paralelamente ao ensaio de pré-germinação, dois sub-lotes de sementes provenientes do lote 2


foram tratados por escaldão longo, conforme definido acima (EL), e semeados em contentores de 28
alvéolos, na estufa do Viveiro Florestal do ISA, com 16 repetições (16 contentores de 28 alvéolos)
(Ensaio C). Este ensaio iniciou-se em Dezembro de 2011. As sementes foram seleccionadas pela cor
do tegumento e turgescência, tendo cada alvéolo recebido uma única semente. Foram tratadas
separadamente as sementes de cor preta (8 tabuleiros), castanha (3 tabuleiros), verde e túrgida (3
tabuleiros) e de cor verde e sem sinais de turgescência por absorção de água no tratamento de pré-
germinação (verdes pequenas, 2 tabuleiros). Esta separação teve por objectivo identificar
características externas da semente de piorno-amarelo com influência no seu valor cultural em
viveiro.
Os tabuleiros foram observados com periodicidade variável, conforme o ritmo de germinação, durante
112 dias, contabilizando-se em cada tabuleiro o número de plantas nascidas.

2.4. Análise de dados

A análise de dados foi realizada recorrendo ao software estatístico SPSS 18 (PASW Statistics,
Release 18.0.0, 2009; ®SPSS Inc.). Para a exploração dos dados e construção de gráficos recorreu-

121
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

se ao software Microsoft® Office Excel® 2007 SP2 (®Microsoft Corporation, 2007).


A normalidade da distribuição foi verificada através do Teste de D’Agostino-Pearson, conforme
recomendado por D’AGOSTINO et al. (1990), recorrendo-se a uma macro desenvolvida para SPSS
por DECARLO (1997) (Ensaio A) e pelo Teste de Kolmogorov-Smirnov (Ensaios B e C). A
homogeneidade das variâncias foi verificada através do Teste de Levene.
A análise estatística do Ensaio A foi realizada recorrendo a testes não paramétricos, pois, mesmo
recorrendo à transformação das variáveis, não se cumpriam os pressupostos da análise de variância
(ANOVA). Realizou-se um teste de Mann-Whitney para determinar a existência de diferenças entre os
períodos de conservação (independentemente dos tratamentos pré-germinativos). Foram também
efectuados testes de Kruskal-Wallis para averiguar da existência de diferenças entre os três
tratamentos pré-germinativos em cada período de conservação. O teste de Kruskal-Wallis não
identifica quais os tratamentos que diferem significativamente entre si. Deste modo, sempre que o
mesmo apresentou resultados significativos, efectuou-se uma comparação múltipla das médias das
ordens através do teste de Games-Howell (RUXTON & BEAUCHAMP, 2008; MAROCO, 2010).
Nos Ensaios B e C, os dados foram analisados através de Análise de Variância e do Teste de Tukey.
Nas situações de não homogeneidade das variâncias utilizou-se o teste T3 de Dunnett.

3. RESULTADOS

3.1. Ensaio A

No final do ensaio, verificou-se que que as sementes com 1 ano de conservação apresentaram taxas
de germinação significativamente mais elevadas (53,7±8,3%) do que as sementes com 2 anos de
conservação (28,8±4,9%) (U=203,000, p≤0,05) (Figura 1).

Figura 1. Curvas de germinação de Retama sphaerocarpa considerando apenas como factor de


estudo o período de conservação. As barras verticais representam o erro padrão (n=30) e letras
diferentes do lado direito indicam diferenças significativas no final do ensaio (p<0,05).

O tratamento que apresentou melhores resultados foi o C1TB (sementes com 1 ano de conservação,

122
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

tratamento de pré-germinação com ácido sulfúrico), com uma taxa de germinação no final do ensaio
de 69,5±3,5%. O tratamento C1TC (sementes com 1 ano de conservação, escaldão curto) apresentou
resultados finais muito semelhantes, com uma taxa de germinação de 68,6±6,2%. Como seria
previsível, tendo em consideração as características da semente de Retama sphaerocarpa (sementes
duras, com dormência física), os tratamentos testemunha apresentaram piores resultados (C1TA e
C2TA) com, respectivamente, 23,1±4,2% e 17,0±2,6% de taxa de germinação (Figuras 2 e 3).
Nas sementes com 1 ano de conservação, verificou-se a existência de diferenças estatisticamente
significativa entre os diferentes tratamentos [H(2)=18,317, p≤0,05]. O tratamento A apresentou taxas
de germinação significativamente menores do que os tratamentos B e C (p≤0,05) (Figura 2).

Figura 2. Curvas de germinação de semente de Retama sphaerocarpa com 1 ano de conservação,


submetida a diferentes tratamentos de pré-germinação. As barras verticais representam o erro padrão
(n=10) e letras diferentes à direita das curvas indicam diferenças significativas entre tratamentos no
final do ensaio (p<0,05). C1TA – testemunha; C1TB – ácido sulfúrico; C1TC – escaldão curto.

Nas sementes com 2 anos de conservação também se verificou a existência de diferenças


significativas entre os diferentes tratamentos [H(2)=12,893, p≤0,05]. O tratamento A apresentou taxas
de germinação significativamente menores do que o tratamento B (p≤0,05) (Figura 3).

123
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

Figura 3. Curvas de germinação de semente de Retama sphaerocarpa com 2 anos de conservação,


submetida a diferentes tratamentos de pré-germinação. As barras verticais representam o erro padrão
(n=10) e letras diferentes à direita das curvas indicam diferenças significativas entre tratamentos no
final do ensaio (p<0,05). C2TA – testemunha; C2TB – ácido sulfúrico; C2TC – escaldão curto.

3.2. Ensaio B

Ao fim de 92 dias, a comparação estatística dos resultados indicou que os tratamentos de pré-
germinação com escaldão longo e com ácido produziram taxas de germinação significativamente
mais elevadas (56,7±2,2% e 57,3±4,7%, respectivamente) do que a ausência de tratamento pré-
germinativo (p<0,05, Figura 4), enquanto a aplicação de escaldão curto originou uma taxa de
germinação (43,3±2,4%) que não diferiu significativamente da ausência de tratamento
(38,2±2,2%, p>0,05). Por outro lado, não se detectaram diferenças significativas entre o escaldão
longo e a escarificação com ácido.

Figura 4. Curvas de germinação de Retama sphaerocarpa em câmara de germinação com

124
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

temperatura controlada, após diferentes tipos de tratamento pré-germinativo. As barras verticais


representam o erro padrão (n=10) e letras diferentes à direita das curvas assinalam diferenças
significativas entre tratamentos no final do ensaio (p<0,05). C – testemunha; EL – escaldão longo; EC
– escaldão curto; A – escarificação com ácido.

3.3. Ensaio C

O valor cultural das sementes, em condições comuns de produção de plantas em contentor, produziu
resultados que não se afastaram muito dos provenientes do ensaio descrito anteriormente para os
tratamentos de pré-germinação com água quente (escaldão longo). De facto, ao fim de 112 dias,
obteve-se um valor cultural máximo de 51,2±4,2% e 51,8±1,7%, respectivamente para as sementes
com tegumento de cor castanha e para as sementes verdes pequenas (Figura 5).
A separação das sementes do piorno-amarelo de acordo com a cor do tegumento mostrou bons
resultados como estimador do valor cultural, dado que os valores observados para as sementes de
cor preta – as mais abundantes na altura em que se efectuou a colheita – foram inferiores a 5%
(4,9±0,4%), contrastando claramente com os valores máximos indicados acima. As sementes verdes
de tamanho normal apresentaram um valor cultural marginalmente mais baixo do que aqueles
máximos (44,6±2,1%), mas a diferença não foi estatisticamente significativa (p>0,05).

Figura 5. Curvas de germinação de Retama sphaerocarpa em tabuleiros de produção de plantas, na


estufa do Viveiro Florestal do ISA. As barras verticais representam o erro-padrão (n=8 para as
sementes pretas, n=3 para as sementes castanhas e verdes, n=2 para as sementes verdes
pequenas). Letras diferentes à direita das curvas indicam diferenças significativas entre os valores
obtidos no final do ensaio (p<0,05).

4. DISCUSSÃO

Na natureza, a dureza das sementes das leguminosas declina gradualmente ao longo do tempo,
como resultado da acção de factores naturais, podendo ser quebrada artificialmente, em cultura,
através de métodos físicos ou químicos, como por exemplo a imersão em água quase fervente ou

125
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

em ácido sulfúrico, a abrasão física ou pressão, a colocação das sementes em ambientes com
baixas temperaturas, ou alternando entre locais de baixas e altas temperaturas (HARTMANN et
al., 1997). A maioria destes métodos de quebra de dormência simula fenómenos naturais, como a
ocorrência do fogo (escaldão com água quente) ou o trajecto das sementes no aparelho digestivo
de vertebrados, como no caso da escarificação com ácido (GIBSON et al., 2011).
Os resultados obtidos indicam que a imersão das sementes de Retama sphaerocarpa em água
quente (escaldão curto ou longo) ou em ácido sulfúrico com concentração 96% durante 60
minutos são os tratamentos pré-germinativos mais eficazes para potenciar a produção em viveiro
desta espécie. O tratamento de pré-germinação com água quente (escaldão curto ou longo) é
mais simples, mais económico e com menos riscos para os operadores, pelo que é preferível
para utilização em larga escala na produção de plantas em viveiro. A utilização deste tratamento
permite não só maximizar o número de sementes germinadas, como também garantir que a
maior parte das sementes germinam num espaço de tempo relativamente reduzido (em particular
após escarificação com escaldão longo), possibilitando desse modo uma maior uniformidade de
crescimento do lote de plantas produzidas pelo viveiro. Na perspectiva do viveirista a
uniformidade da idade das plantas produzidas é um factor muito importante, pois facilita a gestão
e escoamento dos stocks. Por outro lado, observou-se um maior sucesso germinativo com
sementes conservadas durante 1 ano, comparativamente à semente fresca. No entanto, deve-se
ter em conta que as origens de semente e respectivas épocas de colheita foram diferentes,
correspondendo eventualmente a estados de maturação também diferentes. Adicionalmente, as
diferenças nas técnicas de desinfecção prévias aos ensaios de germinação, bem como as
diferentes origens dos lotes de sementes, poderão ter-se reflectido no estado sanitário das
mesmas. Este facto dificulta a comparação entre resultados, não se tendo também encontrado
referências bibliográficas relativas ao efeito da conservação na germinação desta espécie. Pode
ser interessante ensaiar no futuro diferentes métodos de conservação da semente de Retama
sphaerocarpa, eliminando ou controlando as condicionantes referidas acima.
Os resultados obtidos em ambos os ensaios foram diferentes dos verificados na bibliografia, pois
só se obtiveram valores similares aos referidos na mesma no tratamento C1TC (semente com 1
ano de conservação, escaldão curto) do ensaio A. Neste tratamento obtiveram-se taxas de
germinação de 43,4% após 29 dias de ensaio, similares aos resultados obtidos por LÓPEZ et al.
(1999), e de 68,6% após 92 dias, similares aos resultados referidos por RUIZ DE LA TORRE et
al. (1996). Os resultados do presente estudo sugerem que os valores deste último autor (que não
menciona o período temporal) se referem a ensaios com um período temporal mais alargado
(superior a 92 dias). As causas para a disparidade entre os resultados obtidos nos ensaios A e B,
bem como para as diferenças entre estes e os resultados constantes da bibliografia, poderão ser
a presença de sementes em diferentes estados de maturidade, diferenças da capacidade
germinativa dos vários indivíduos constituintes dos lotes ensaiados e/ou a contaminação fúngica
do ensaio.
Assim, a percentagem de sementes que germinaram também foi afectada pelo elevado número
que foi sendo retirado ao longo dos ensaios devido a contaminação fúngica. No ensaio A foi

126
André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

aparente a maior susceptibilidade aos fungos por parte das sementes com 2 anos de
conservação, o que se poderá dever ao maior tempo de conservação em condições não
controladas, ou ao estado de maturação das sementes no momento da colheita. Alguns factores
que poderão ter influenciado a contaminação fúngica foram condições de assepsia na câmara de
germinação, eventualmente desadequadas, ou a possível contaminação da água destilada
utilizada (por exemplo, incorrecta desinfecção dos recipientes onde a mesma foi armazenada).
Por outro lado, a separação das sementes do piorno-amarelo de acordo com a cor do tegumento
e as características da imbibição em água após o escaldão (nas sementes com tegumento de cor
verde) permitiu concluir que a cor das sementes é uma característica a ter em conta como
indicadora do seu valor cultural, já que as sementes verdes e castanhas tiveram um ritmo de
germinação claramente superior, embora a deficiência de imbibição de algumas sementes de
tegumento verde se tenha traduzido num ritmo de germinação bastante mais lento. Com efeito,
os resultados ao fim de cerca de 180 dias, não apresentados neste texto, atingiram nestas
sementes 64,0±4,5%, enquanto nas restantes se mantiveram estabilizados. Ficou por esclarecer
se o baixo valor cultural das sementes de tegumento negro está relacionado com um maior
endurecimento daquele tegumento, influenciando negativamente a sua reacção ao “escaldão”, ou
se há nestas sementes uma perda real do valor cultural associada a qualquer fenómeno de
degradação fisiológica que ocasione também a alteração de cor do tegumento.
Na produção em viveiro desta espécie é importante garantir a uniformidade dos lotes de
sementes a utilizar (principalmente ao nível do estado de maturação da semente), bem como
acautelar possíveis fontes de contaminação de origem fúngica, que poderão reduzir
substancialmente o sucesso do processo germinativo. Ainda assim, a produção de Retama
sphaerocarpa por via seminal em contentores não se revelou particularmente complicada,
exigindo apenas a realização de um tratamento pré-germinativo adequado nas sementes.
Tratando-se duma espécie que pode ser utilizada em jardins mediterrânicos de baixa
manutenção e que apresenta um elevado potencial para a recuperação de ecossistemas
degradados e para a produção de biomassa com fins energéticos, é de prever que no futuro a
procura por plantas desta espécie aumente, justificando desse modo uma maior aposta na sua
produção.

5. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos confirmaram que (i) os métodos tradicionais de quebra da dormência física,
designadamente a escarificação com água quente e a imersão em ácido sulfúrico, promovem
taxas de germinação adequadas à produção em viveiro de plantas de piorno-amarelo à escala
comercial e que (ii) a cor que o tegumento da semente adquire após a imbibição em água é um
bom indicador do seu valor cultural, justificando-se o desenvolvimento da investigação neste
domínio; (iii) por outro lado, a conservação da semente à temperatura ambiente só parece
garantir um sucesso germinativo razoável até cerca de um ano após a colheita.

AGRADECIMENTOS

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André Fabião, R. Morón Agut, C. Faria, R. Moreira, M. Carneiro, M. H. Almeida e António Fabião

Este estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) através do
Projecto “Potencial de espécies lenhosas autóctones para a produção de energia a partir da
biomassa” (PTDC/AGR-CFL//114826/2009) e de uma Bolsa de Pós-doutoramento atribuída a
Marta Carneiro (SFRH/BPD/64852/2009). Os autores agradecem a prestimosa colaboração de
António Correia na obtenção de parte das sementes e na discussão informal de alguns aspectos
do trabalho, bem como dos funcionários do Viveiro Florestal do Instituto Superior de Agronomia.

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129
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Comparação de métodos de detecção de fungos, germinação e Transmissão


de Alternaria alternata via sementes de Handroanthus chrysotrichus (Mart.
Ex DC) Mattos (Ipê-Amarelo)

Vinícius Spolaor Fantinel1*, Luciana Magda de Oliveira1 e Priscilla Félix Schneider2

1: Universidade do Estado de Santa Catarina; Departamento de Engenharia Florestal; Avenida Luiz de


Camões, 2090- Bairro Conta Dinheiro- Lages- Santa Catarina- Brasil; CEP: 88520-000
2: Universidade do Estado de Santa Catarina; Departamento de Produção Vegetal; Avenida Luiz de
Camões, 2090- Bairro Conta Dinheiro- Lages- Santa Catarina- Brasil; CEP: 88520-000
e-mail: Vinícius Spolaor Fantinel; vinispofan@hotmail.com

Resumo: O Ipê- amarelo (Handroanthus chrysotrichus) (Mart. Ex DC) Mattos possui alto valor
econômico, ornamental e medicinal, sendo bastante utilizado em projetos paisagísticos e
arborização urbana devido a sua beleza florística. Esse trabalho teve como objetivo avaliar a
qualidade fisiológica e sanitária de sementes de ipê- amarelo submetidas ou não á assepssia
superficial, por meio de dois métodos de detecção. A qualidade fisiológica das sementes foi
realizada a partir do teste de germinação das sementes provenientes de duas procedências. Foi
avaliada a qualidade sanitária por meio do método papel-filtro e BDA (batata-dextrose-ágar). Para
a análise fisiológica das sementes utilizou-se caixas tipo “gerbox” com substrato de papel-filtro à
temperatura de 25°C com fotoperíodo de 12 horas por sete dias. As sementes, tanto no teste de
sanidade quanto no fisiológico, foram subdivididas, sendo uma subamostra submetida a assepsia
superficial (com hipoclorito de sódio 1%, álcool 70% e água destilada) e outra não. No teste de
germinação, avaliou-se também, a transmissão dos fungos por meio de lesões encontradas nas
plântulas. Foram identificados e quantificados os fungos: Cladosporium sp., Alternaria alternata,
Epicoccum sp., Phoma sp., Phomopsis sp., Aspergillus sp., Fusarium sp., Chaetomium sp. e
Rhizoctonia sp. De maneira geral, a assepsia proporcionou redução drástica na incidência de
todos os fungos podendo-se inferir que a maioria dos fungos estavam contaminando as
sementes. Os fungos não interferiram diretamente na porcentagem de plântulas normais e a
assepsia reduziu a germinação demonstrando ser fitotóxica. A máxima germinação foi verificada
na amostra Santa Cruz do Sul (SCS). O fungo Alternaria alternata foi detectado em todas as
amostras e sua transmissão foi constatada, causando apodrecimento de cotilédones e má
formação das raízes.
Palavras-chave: Germinação, Sanidade, Transmissibilidade, Handroanthus chrysotrichus

Abstract: Handroanthus chrysotrichus (Mart. Ex DC) Mattos has high economic value,
ornamental and medicinal. It is a species widely used in landscaping and urban forestry because
of its floristic beauty. This study aimed to assess the physiological and sanitary quality of seeds of
Handroanthus chrysotrichus submitted or not at the surface sterilization, through two methods.
The physiological quality of seeds was carried out from the germination of seeds from two
sources. The sanitary quality was evaluated using the method filter paper and PDA (potato
dextrose agar). For physiological analysis of seed was used boxes like "gerbox" with filter paper
substrate at a temperature of 25 ° C with a photoperiod of 12 hours for seven days. The seeds,
both the sanity and the physiological, have been subdivided and a portion subjected to surface
sterilization (with 1% sodium hypochlorite, 70% alcohol and distilled water) and some not. In the
germination test, was also evaluated, through the transmission of fungi found in seedling injury.
Were identified and quantified the fungi: Cladosporium sp., Alternaria alternata, Epicoccum sp.
Phoma sp. Phomopsis sp., Aspergillus sp., Fusarium sp. Chaetomium sp. and Rhizoctonia sp. In
general, the drastic reduction in aseptic provided in the incidence of all fungi may be inferred that
most of the seeds were contaminating fungi. Fungi do not interfere directly in the percentage of
normal seedlings and aseptic reduced germination proved to be phytotoxic. The maximum
germination was observed in the sample Santa Cruz do Sul (SCS). The fungus Alternaria
Vinícius Spolaor Fantinel, Luciana Magda de Oliveira, Priscilla Félix Schneider

alternata was detected in all samples of the filter paper and its transmission was observed,
causing rotting of cotyledons and poor root.
Keywords: Germination, Sanity, Transmission; Tree seeds, Handroanthus chrysotrichus

INTRODUÇÃO

O interesse na propagação de espécies florestais nativas tem se intensificado devido à ênfase na


problemática ambiental, ressaltando-se a necessidade de recuperação de áreas degradadas e
recomposição da paisagem (MORAIS, 2004).
Nesse contexto, o conhecimento da biologia de espécies nativas é de fundamental importância para a
condução desses projetos, uma vez que essas espécies são as mais indicadas para os projetos de
restauração, pois tornam o ecossistema mais próximo e equilibrado em relação ao original existente.
Entre as espécies com interesse diversificado e utilizado em programas de reflorestamento, encontra-
se o gênero Handroanthus (ipê), cuja propagação é feita por sementes e sua qualidade sanitária é
fundamental para a produção de mudas sadias. Nas espécies que se reproduzem sexualmente, como
a maioria das espécies florestais, Bino et al. (1998) destacaram que a semente é o material primário
de propagação, e o sucesso no controle de sua qualidade é a base para uma maior produtividade.
De acordo com Leonhardt et al. (2001), a utilização de espécies florestais não tradicionais para
plantios com finalidade produtiva ou ambiental, necessita de estudos para o desenvolvimento de
tecnologia adequada de produção. Inicialmente, deve-se ter o conhecimento da qualidade das suas
sementes.
Por se tratar de um insumo biológico sujeito a uma série de fatores, a manipulação de sementes
requer cuidados especiais sob vários aspectos. Dentre os fatores que afetam sua qualidade, a
associação com microrganismos constitui uma preocupação cada vez maior, principalmente nos
países tropicais, onde condições climáticas mais diversificadas fazem com que um número maior de
problemas sanitários torne-se previsível (MACHADO, 2002).
Alguns testes são comumente utilizados para o conhecimento da qualidade fisiológica e sanitária de
sementes, tais como teste de germinação e vigor, teste de sanidade e de transmissão. Para Peske et
al. (2003), germinação é definida como emergência e o desenvolvimento das estruturas essenciais do
embrião, manifestando sua capacidade de dar origem a uma plântula normal, sob condições de
campo. Este teste é usado para comparar diferentes lotes, e é desenvolvido em condições
controladas de laboratório. O percentual germinativo da semente varia com sua herança genética e
sanidade.
A semente atua como um vetor de patógenos, sendo os fungos os mais frequentes (PESKE et al.,
2003) e, podem ser atacadas em campo, assim como nas demais operações, de colheita, secagem e
armazenamento, o que resulta em perda de viabilidade, redução na capacidade germinativa e
tombamento de plântulas emergidas (CARNEIRO, 1987).
As poucas informações sobre o efeito de fungos associados a sementes representam um entrave em
qualquer programa que necessite, periodicamente, de sementes de alta qualidade para a propagação
dessas espécies, visando à preservação e utilização com os mais variados interesses. Assim, a
pesquisa na área de patologia de sementes é um ponto de partida para fornecer subsídio sobre os
principais problemas que podem ocorrer nas sementes, como a baixa ou a falta de germinação, perda

131
Vinícius Spolaor Fantinel, Luciana Magda de Oliveira, Priscilla Félix Schneider

da viabilidade com consequente interferência na longevidade de sementes armazenadas e insucesso


na produção de mudas (BOTELHO, 2006).
Assim, este trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade fisiológica e sanitária de sementes de ipê-
amarelo, provenientes de dois municípios do Estado do Rio Grande do Sul, submetidas ou não à
assepsia superficial, por meio de dois métodos de detecção.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Fitopatologia, pertencente ao Departamento


de Defesa Fitossanitária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS.
As sementes de ipê-amarelo foram procedentes de dois municípios do Estado do Rio Grande do Sul:
Santa Cruz do Sul (SCS) e Venâncio Aires (VA) (Tabela 1). As mesmas foram obtidas do programa
Bolsa de Sementes do Viveiro Florestal da Universidade Federal de Santa Maria.

Tabela 1 – Procedência e data de coleta de sementes de ipê-amarelo.

Amostras Município Data de coleta

SCS Santa Cruz do Sul 10/12/2010

VA Venâncio Aires 6/11/2010

Para a realização do teste de germinação foram utilizadas 200 sementes de cada amostra, divididas
em oito repetições de 25 sementes cada (com e sem assepsia). Em um tratamento, foi realizada
assepsia das sementes, que consistiu na imersão em hipoclorito de sódio 1%, álcool 70% (ambos por
30 segundos) e enxágue em água destilada, por 30 segundos. A semeadura foi realizada em caixas
de plástico transparente (“gerbox”), previamente desinfestadas com álcool 70% e hipoclorito de sódio
1%. Como substrato, foram utilizadas duas folhas de papel-filtro esterilizadas e umedecidas com
água destilada esterilizada. Após, as sementes foram incubadas em câmara de germinação, com
temperatura de 25 °C e fotoperíodo de 12 horas.
A primeira avaliação foi realizada aos sete dias após a instalação do teste, na qual foi feita a
contagem de germinação (plântulas normais). Aos 14 dias, contabilizaram-se o número de plântulas
normais, anormais, sementes duras e mortas (BRASIL, 2009).
Para a realização do teste de detecção em papel-filtro, foram utilizadas 200 sementes de cada
amostra, divididas em oito repetições de 25 sementes. As sementes foram distribuídas em caixas de
plástico transparente (“gerbox”), previamente desinfestadas com solução de hipoclorito de sódio 1% e
álcool (70%), forradas internamente com duas folhas de papel-filtro esterilizadas e umedecidas com
água destilada esterilizada. O material foi armazenado a uma temperatura de 20 ± 2 ºC, com
fotoperíodo de 12 horas por sete dias. Após esse período, procedeu-se a avaliação e a identificação
dos fungos por meio de microscópio estereoscópico, onde as sementes foram observadas
individualmente.
Na medida em que foram encontradas estruturas fúngicas, foi realizada a transferência das mesmas
para lâminas com corante de lactofenol e azul de metileno e posteriormente, analisadas com auxilio
do microscópio óptico. A identificação dos fungos foi realizada conforme descrições de Barnett e

132
Vinícius Spolaor Fantinel, Luciana Magda de Oliveira, Priscilla Félix Schneider

Hunter (1972).
Para a realização do método Batata-Dextrose-Agar (BDA), foram utilizadas 100 sementes de cada
lote, divididas em dez repetições, colocando-se cinco sementes por placa, sendo uma repetição
composta de duas placas.
As sementes foram desinfestadas em álcool 70% e posteriormente, com hipoclorito de sódio 1%
(ambos por 30 segundos). Após este tratamento, as mesmas foram lavadas em água destilada e
esterilizada e em seguida plaqueadas em meio (BDA). Ambos os procedimentos foram realizados em
câmara de fluxo laminar, devidamente limpa visando evitar os agentes contaminantes.
A incubação foi realizada em câmara de incubação com temperatura de 20°C ± 2°C, com 12 horas de
luz /12 horas de escuro por sete dias. Após este período, procedeu-se a avaliação e identificação dos
fungos, conforme metodologia descrita anteriormente.
Para o teste de transmissão de fungos via semente, utilizou-se 200 sementes de cada amostra,
divididas em oito repetições de 25 sementes (100 sementes de cada amostra passaram por
tratamento de assepsia). A semeadura foi realizada em caixas do tipo “gerbox”, e o substrato utilizado
foi areia, previamente peneirada e autoclavada. As caixas “gerbox” foram mantidas em uma sala com
climatização e luminosidade controlada.
As análises foram realizadas aos sete, 14 e 21 dias após a instalação do teste, onde foi avaliada a
quantidade de plântulas emergidas. Após o vigésimo primeiro dia, as sementes que não germinaram
foram retiradas e mantidas em câmara úmida para a identificação de possíveis estruturas fúngicas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 2, verifica-se que para a amostra Santa Cruz do Sul (SCS), houve diferença significativa
para todas as variáveis analisadas, quando comparados os dois métodos (com e sem assepsia das
sementes). Quanto à porcentagem de germinação verificou-se um número significativamente menor
de sementes germinadas no tratamento com assepsia, o que indica que houve fitotoxidade por parte
da metodologia de assepsia adotada.

Tabela 2- Comparações da germinação (%) através da utilização de dois métodos, com assepsia das
sementes (C/A) e sem assepsia (S/A) para as amostras Santa Cruz do Sul (SCS) e Venâncio Aires
(VA) Laboratório de Fitopatologia Florestal, UFSM, Santa Maria, RS.

Variáveis (%)
Tratamentos Germinação Anormais Mortas
Santa Cruz do Sul (SCS)
C/A 21,00 b* 5,00 b 74,00 a
S/A 44,00 a 6,50 a 49,50 b
CV (%) 24,59 12,43 15,83
Venâncio Aires (VA)
C/A 23,00a * 7,00 a 70,00 a
S/A 31,00 a 4,00 a 65,00 a
CV (%) 13,09 14,52 18,03

133
Vinícius Spolaor Fantinel, Luciana Magda de Oliveira, Priscilla Félix Schneider

Na amostra Venâncio Aires (VA), a porcentagem de germinação não diferiu estatisticamente entre os
tratamentos com assepsia e sem assepsia das sementes (Tabela 2). Segundo Nakagawa (1999), o
teste de germinação baseia-se no princípio de que, amostras com maiores percentagens de plântulas
normais na primeira contagem, são mais vigorosas.
Na análise da germinação, o tratamento sem assepsia da amostra SCS resultou em maior
porcentagem de sementes germinadas em relação ao método com assepsia, fato que se repete na
amostra VA (Tabela 2). Porém, mesmo a porcentagem de germinação sendo mais elevada no
tratamento sem assepsia da amostra VA, não diferiu estatisticamente em relação ao tratamento com
assepsia. A porcentagem de plântulas anormais foi estatisticamente superior no tratamento sem
assepsia para a amostra SCS e inferior na amostra VA para o mesmo tratamento, porém não ocorreu
diferença estatística entre os tratamentos.
A assepsia provocou um aumento significativo no número de sementes mortas para a amostra SCS,
bem como para a amostra VA (Tabela 2). Nesse caso, provavelmente a concentração do produto
utilizado e o tempo de imersão, tenham prejudicado a germinação, causando anormalidades e
aumentando a porcentagem de sementes mortas. Estes resultados estão de acordo com Lorenzi
(1998), pois segundo este autor, as sementes de ipê apresentam baixa porcentagem de germinação.
Sales (1992) avaliou o efeito de produtos químicos no controle de fungos em sementes de ipê-
amarelo e constatou que o hipoclorito de sódio 1% por 10 minutos, utilizado na assepsia, provocou
redução no tamanho, peso da matéria verde e matéria seca de plântulas, mostrando ser prejudicial.
Nery (2005), também observou reduções significativas na porcentagem de germinação de ipê-
amarelo causada pelo hipoclorito a 2%. Já Oliveira (2004), ao contrário, não observou efeitos
negativos quando sementes de ipê-amarelo foram submetidas a assepsia com hipoclorito de sódio a
2% durante 2 minutos.
Segundo IPEF (1998), sementes de ipê apresentam taxa de germinação em torno de 60%. Neste
trabalho, os resultados obtidos evidenciam que as sementes de ipê-amarelo apresentaram baixa
germinação, sendo de 21 a 44%. Estes valores baixos de germinação podem ter sido influenciados
pela grande quantidade de fungos detectados nas sementes conforme as Tabelas 3 e 4.
Foram detectados oito diferentes gêneros de fungos nas duas amostras e através de dois métodos de
detecção, sendo que cinco destes potencialmente fitopatogênicos (Alternaria alternata, Fusarium,
Rhizoctonia, Cladosporium Phoma e Phomopsis) e outros dois saprófitas (Epicoccum e Aspergillus)
(Tabela 3).
Entre os métodos de detecção para a amostra SCS, apenas Phoma sp., Phomopsis sp. e Alternaria
alternata diferiram significativamente (Tabela 3). Para Alternaria alternata, vale destacar que na
detecção com o meio BDA, teve ocorrência em 16% das sementes. No entanto, no substrato papel-
filtro, a incidência de Alternaria alternata apresentou valores menores (7,5%). Para as sementes
provenientes de Venâncio Aires,a incidência maior de Alternaria alternata, encontra-se nas repetições
de papel-filtro, chegando até 4,11% e em BDA, até 3,33% das sementes.
Fusarium sp. não diferiu significativamente para ambas as amostras (Tabela 3). Segundo Ferreira
(1989), algumas espécies de Fusarium sp. têm sido relatadas causando tombamento em pré ou pós-
emergência de plântulas de espécies florestais, sendo problema comum em sementes. Pela alta

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Vinícius Spolaor Fantinel, Luciana Magda de Oliveira, Priscilla Félix Schneider

incidência deste fungo e pelos danos que algumas espécies desse fungo podem proporcionar, é
necessário que se realizem testes de patogenicidade para verificar se o fungo é capaz de causar
danos às plântulas.
Para Dhingra et al. (1980) e Machado (1988), as associações com fungos do gênero Fusarium sp.,
em sementes de culturas agronômicas, ocorrem durante a formação ou maturação do fruto e
cuidados na colheita e no manuseio podem reduzi-las.

Tabela 3 - Incidência de Fungos (%) para as amostras de Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires, por
meio dos métodos Papel- Filtro (PF) e Batata-Dextrose-Ágar (BDA). Laboratório de Fitopatologia
Florestal, UFSM, Santa Maria, RS.
Tratamentos Fusarium Epiccocum Alternaria Cladosporium Phoma Rhizoctonia Phomopsis Chaetomium Aspergillus
Santa Cruz do Sul
PF 3,62 a* 0,70 a 7,50 b 6,00 a 27,00 a 0,70 a 37.59 b - -
BDA 3,86 a 1,61 a 16,00 a 0,00 a 0,00 b 2,32 a 11,25a - -
CV (%) 17,44 14,70 12.05 14,38 >30 6,04 11,23 - -

Venâncio Aires

PF 4,02 a* 2,45 a 4,11 a 2,60 a 30,00 a 0,00 b 10,78 a 1,00 a 1,00 a


BDA 2,38 a 0,70 b 3,33 a 0,70 b 0,00 b 6,25 a 4,75 a 0,00 a 2,50 a
CV(%) 21,50 33,11 32,26 >30 39,25 56,57 14,06 21,02 15,97

Conforme os resultados obtidos, observa-se que a assepsia proporcionou a redução de todos os


gêneros de fungos encontrados, patogênicos ou não, mostrando a eficiência desse tratamento. Na
amostra VA, destaca-se a ocorrência de dois gêneros de fungos que não ocorrem na amostra Santa
Cruz do Sul, são eles: Phomopsis sp. e Aspergillus sp. A quantidade de sementes em todas as
repetições com estruturas fúngicas detectadas foi maior na amostra SCS.
Em relação aos fungos de armazenamento, Aspergillus é relatado por uma gama de autores como
um dos principais gêneros de fungos associados às sementes durante o armazenamento em
condições inadequadas (NEERGAARD,1979; DHINGRA, 1985).
Phomopsis sp. está relacionado com o aumento de sintomas em plântulas oriundas de sementes de
ipê-amarelo. O mesmo é relatado como patogênico por reduzir a germinação de sementes desse
gênero e aumentar o número de plântulas doentes (SALES, 1992).
Alternaria alternata, além de ser o fungo mais frequente nas sementes, foi o que apresentou maior
incidência em todas as amostras avaliadas (Tabela 4). Wetzel (2004) relata a associação desse
gênero com sementes de 58 espécies florestais nativas do cerrado brasileiro, causando uma série de
danos tais como: redução na taxa de germinação das sementes, queda do vigor de plântulas e
escurecimento das sementes provocando deterioração do endosperma.
A menor incidência de Alternaria alternata foi detectada na amostra VA, diferindo estatisticamente da
amostra SCS (Tabela 4). Esta espécie de fungo também foi detectada por Silva e Muniz (2003),
constatando que dentre 10 espécies florestais estudadas, as de ipê foram as que apresentaram maior
incidência de Alternaria alternata.

135
Vinícius Spolaor Fantinel, Luciana Magda de Oliveira, Priscilla Félix Schneider

Também foram encontrados colonizando sementes de ipê-amarelo outros possíveis patógenos de


espécies florestais. Phoma sp. esteve presente no tratamento sem assepsia em papel-filtro nas
amostras SCS e VA, sendo que as maiores incidências foram observadas na amostra VA, diferindo
estatisticamente nas duas amostras (Tabela 4 ).
Dentre os vários fungos encontrados em sementes de ipê-amarelo, destaca-se Epicoccum sp,
presente em ambas as amostras em todas as repetições (Tabela 4). Não há relatos desse fungo
como patogênico de espécies florestais.
Podemos observar uma grande diversidade de fungos presentes nas sementes dessa espécie na
qual foi desenvolvido esse trabalho. Possivelmente, a forma como as sementes foram coletadas pode
explicar a má qualidade dessas amostras. A contaminação de sementes seja de espécies florestais
ou não, pode estar relacionada com diversos fatores. Ferreira (1989) atribui essas contaminações à
forma em que a maioria das espécies florestais é coletada. Geralmente, a coleta é realizada no solo,
onde os frutos e as sementes são colonizados por diversos fungos. Pode-se destacar que a
incidência de fungos em sementes de ipê-amarelo é semelhante e pouco relacionada com a
procedência dessas sementes, embora a ocorrência de fungos tenha variado entre as amostras.
Para a realização do teste de transmissão, foi escolhida a amostra Santa Cruz do Sul (SCS), pois
esta obteve uma maior porcentagem de germinação quando utilizado o papel-filtro como substrato.
Com o teste de transmissão em sementes de ipê-amarelo, foi possível identificar a ocorrência de
algumas plântulas com sintomas da doença, porém parte das sementes não germinou.
As sementes não germinadas foram submetidas à análise para a identificação de possíveis agentes
patogênicos.
A partir da análise estatística, foi possível identificar Alternaria alternata, não só em sementes, mas
também em estruturas necrosadas presentes nas plântulas. A porcentagem de germinação das
sementes no substrato areia foi muito superior comparada com a utilização do papel-filtro como
substrato, chegando em até 80% para as repetições sem assepsia aos 21 dias.
Como foi possível a identificação de Alternaria alternata, pode-se concluir que houve transmissão
desse fungo para a plântula uma vez que foram encontradas estruturas com necrose e/ou manchas
escuras nos cotilédones, hipocótilo, epicótilo e raízes das mesmas.
Os resultados sugerem que esse fungo é um patógeno de plântulas para a espécie e estão de acordo
com os obtidos por (WIELEWSKI; et al , 2002). Nesse trabalho foram detectados Fusarium,
Alternaria, Phoma e Phomopsis associados às sementes, mudas e árvores de ipê-amarelo, em um
levantamento de doenças, sendo considerados potencialmente patogênicos.
A Tabela 4 demonstra os resultados apresentados quando foi comparada a sanidade em papel-filtro
com e sem assepsia para as duas amostras estudadas no trabalho.
Sales (1992) constatou, por meio do teste de patogenicidade em plântulas de ipê-amarelo, que
Alternaria alternata pode ser patogênico, reduzindo a germinação, apodrecendo completamente os
cotilédones e a radícula.Vários trabalhos sobre fungos associados às sementes de espécies nativas
não associaram a incidência de fungos aos prejuízos causados à germinação de sementes.
Nascimento et al.(2006) evidenciaram, em sementes de amendoim-bravo (Pterogyne nitens), espécie
florestal nativa da Mata Atlântica, que a alta incidência de fungos presentes nessas sementes não

136
Vinícius Spolaor Fantinel, Luciana Magda de Oliveira, Priscilla Félix Schneider

afetou a germinação. A análise dessas características de germinação e sanidade de espécies


florestais constitui um fator importantíssimo uma vez que essas são pouco estudadas, principalmente
as nativas responsáveis pelos processos de recuperação de áreas degradadas.

Tabela 4 – Incidência de fungos (%) através da comparação da sanidade em papel-filtro com


assepsia (CA) e sem assepsia(SA) para as amostras Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires
Fusarium Epiccocum Alternaria Chaetomium Cladosporium Phoma Phomopsis Aspergillus

Santa Cruz do Sul

C/A 19,00 a* 3,00 b 16,00 b 0,00 b 6,00 b 0,00 b - -


S/A 40,00 a 78,00 a 85,00 a 15,00 a 33,00 a 27,00a - -

CV(%) 19,87 22,01 28,33 15,09 >30 22,10


Venâncio Aires
C/A 4,02 b 7,00 b 4,11b 1,00 a 8,00 b 0,00 b 0,00 b 0,00 b

S/A 6,07 a 55,00 a 8,44 a 7,00 a 33,00 a 30,00a 10,00 a 5,00 a

CV 22,18 30,49 15,08 25,74 19,09 >30 14,09 12,39


(%)

No que tange ao estudo da associação de fungos transportados pelas sementes de ipê-amarelo, é


necessário cada vez mais seu aprofundamento para fornecer informações para escolha do melhor
método de controle, a fim de evitar problemas no armazenamento e garantir a produção de mudas
sadias e vigorosas dessa espécie. O percentual de sementes não germinadas de ipê-amarelo no
teste de transmissão para a amostra SCS foi de 20%. Para a avaliação da transmissão dos fungos
por sementes de ipê, na amostra avaliada, foi realizada a contagem de plântulas normais, anormais e
sementes mortas. Por meio das análises, foi possível concluir que a germinação foi superior para o
tratamento sem assepsia, diferindo estatisticamente pelo teste Tukey com um nível de significância
de 0,05 (Tabela 5). A quantidade de plântulas anormais bem como a quantidade de plântulas mortas
foi superior quando a assepsia foi adotada, comprovando mais uma vez exercer efeitos tóxicos., no
entanto pode-se constatar que o tratamento causou redução nos sintomas nas plântulas avaliadas,
alterações vistas também nas raízes que tiveram seus tamanhos reduzidos.
Não houve diferença nos sintomas apresentados entre os tratamentos com e sem assepsia e ocorreu
uma associação constante de um tipo de sintoma com um fungo específico.

Tabela 5 – Porcentagem de Germinação, plântulas anormais e sementes mortas para a amostra


Santa Cruz do Sul (SCS), com assepsia (C/A) e sem assepsia (S/A).

Variáveis(%)
SCS Germinação Anormais Mortas
C/A 51,50 b 7,00 a 41,50 a
S/A 80,00 a 3,00 b 17,00 b
CV(%) 25,05 10,09 22,13

137
Vinícius Spolaor Fantinel, Luciana Magda de Oliveira, Priscilla Félix Schneider

CONCLUSÕES

- Foram encontrados e quantificados nas sementes de ipê-amarelo os fungos Cladosporium


sp., Alternaria alternata, Epicoccum sp., Phoma sp., Phomopsis sp., Aspergillus sp., Fusarium
spp., Chaetomium sp.e Rhizoctonia sp.
- A assepsia superficial (com hipoclorito de sódio 1%, álcool 70% e água destilada) reduz a
incidência dos fungos nas sementes de ipê-amarelo, no entanto mostrou ser fitotóxica, pois a
quantidade de sementes mortas e anormais foi superior.
- Alternaria alternata foi o fungo com maior incidência em sementes de ambas as amostras,
sendo comprovada sua transmissão para plântulas de ipê-amarelo, causando necrose em
folíolos bem como diminuição no tamanho das raízes analisadas.

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139
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Perfil Ambiental das Cavacas e da Estilha de Madeira de Pinho à Saída da


Floresta Portuguesa

José V. Ferreira, Helder Viana, Bruno Esteves, Luísa P. Cruz Lopes, Idalina Domingos.

Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde, ESTGV, Instituto Politécnico de Viseu, Campus
Politécnico de Repeses, 3504-510 Viseu, Portugal. Tel: +351232480500; Fax:+351232424651

e-mail: jvf@estv.ipv.pt
Resumo. O objetivo deste estudo é determinar e comparar o impacte ambiental da produção de
cavacas e de estilha, na floresta de pinheiro bravo em Portugal e traçar os respetivos perfis
ambientais. As cavacas, normalmente utilizadas como combustível, são provenientes de madeira
residual que é cortada em rolos com 1 metro de comprimento, que são rachados numa máquina
acionada por trator. Os rolos de pequeno diâmetro e os ramos não são rachados. A estilha é
proveniente de madeira industrial que é estilhada, junto ao caminho florestal, num estilhador
móvel, logo após o abate da árvore. A base de dados “ecoinvent” foi utilizada e adaptada à
situação Portuguesa e com o auxílio do software “SimaPro 7.3.3” procedeu-se a uma “Análise de
Ciclo de Vida”, conforme descrito na série de Normas ISO 14040. O método “Ecoindicator99” foi
o escolhido para traçar e comparar os perfis ambientais dos dois produtos. Os resultados
mostram que na produção de cavacas de pinho o processo “Madeira residual de pinho, seca
naturalmente, na floresta portuguesa (x=20%)” é aquele que contribui maioritariamente para
todas as categorias de impacte, exceto para a acidificação e que, na produção de estilha de
pinho, os impactes ambientais em todas as categorias, são maioritariamente provenientes do
processo “Madeira industrial de pinho, na floresta portuguesa (x=102%)”. Em termos
comparativos, as cavacas são preferíveis à estilha nas categorias de impacte “Carcinogens,
Resp. organics, Radiation, Ecotoxicity, Lande use e Minerals” e o inverso é verdadeiro apenas
para as categorias “Resp. inorganics, e Acidification/Eutrophication”. A escolha de um daqueles
produtos é indiferente para a categoria de impacte “Climate Change” e praticamente indiferente
para as categorias “Ozon layer e Fossil fuels”.
Palavras-chave: Madeira de pinho, Cavacas, Estilha, Análise de ciclo de vida, Perfil ambiental.

Abstract: The aim of this study was to dtermine and compare the environmental impact of
firewood (split wood) and chips at Portuguese Pinus pinaster forest and plot their environmental
profile. The firewood, usually used as fuel, is provided from residual wood that is cut into one
meter long log pieces, split with a mobile, tractor-powered cleaving machine. Small-diameter logs
and branches are not splited. Wood chips are provided from industrial wood that is fed into a
mobile chopper machine, immediately after harvesting, at the forest road. The database
“ecoinvent” was used and adapted to include the Portuguese situation and with the help of the
software "SimaPro 7.3.3 a Life Cycle Assessment was performed according to ISO 14040 series
of standards.The method "Ecoindicator99" was chosen to plot and compare the environmental
profiles of the two products. The results show that, in firewood production, the process “residual
wood pine, naturally dried, at Portuguese forest, (x=20%)” is the one which contributes the most
to all types of impact categories, except for acidification and, in wood chips production,
environmental impacts in all categories, are mostly from the process "industrial wood pine, at
Portuguese forest (x=102%)”. Comparatively, firewood is preferable to wood chips in the impact
categories “Carcinogens, Resp. organics, Radiation, Ecotoxicity, Lande use and Minerals” and the
reverse is true only for categories “Resp. inorganics, and Acidification/Eutrophication”. The
contribution of both products for “Climate Change” is the same and for “Ozone layer and Fossil
fuels” is almost the same.
Keywords: Wood pine, Firewood, Chips, Life cycle assessment, Environmental profile.
José V. Ferreira, Helder Viana, Bruno Esteves, Luísa P. Cruz Lopes, Idalina Domingos

1. INTRODUÇÃO

De acordo com os dados do 5º Inventário Florestal Nacional (DNGF, 2010), a floresta de pinheiro
bravo, em Portugal Continental, ocupava uma área de 885x103 ha, representando 27% de toda a área
florestal e 85% do total de resinosas. Em termos de volume, o pinheiro bravo representava 93,5% do
volume total de resinosas. As principais conclusões aos resultados preliminares do 6º Inventário
Florestal Nacional (ICNF, 2013) apontam que, no período de 1995 a 2010, a área de pinheiro‐bravo
apresentou uma forte redução, de ‐13% relativamente à superfície arborizada (povoamentos) e de
‐27% quanto à superfície total (povoamentos e superfícies temporariamente desarborizadas, i.e.
superfícies cortadas, ardidas e em regeneração).
De acordo com o documento final sobre a estratégia nacional para as florestas (DGRF, 2006), a
produção lenhosa de pinheiro bravo, proveniente da floresta portuguesa, cuja função é a produção
lenhosa, pode ser classificada segundo o seu destino final em: “madeira para serração” (3,4x106
m3/ano); “madeira para trituração” (1,4x106 m3/ano); e, “biomassa para energia” (0,2x106 m3/ano).
Comparando esta classificação com a adotada por Werner et. al. (2007) e que também é proposta
neste estudo, consideram-se as seguintes equivalências: a “madeira para serração” é equivalente a
“rolaria de madeira”; a “madeira para trituração” é equivalente a “madeira industrial” – constituída por
árvores de pequeno diâmetro ou com demasiado defeitos e utilizada, normalmente, como matéria-
prima na indústria dos aglomerados de partículas/fibras ou de pasta para papel, mas que pode
também ser utilizada como combustível; e, a “biomassa para energia” é equivalente a “madeira
residual” – constituída por ramos e árvores de pequeno diâmetro.
As cavacas, utilizadas como combustível, são normalmente provenientes de madeira residual, que é
cortada em rolos com 1 metro de comprimento, que são rachados numa máquina acionada por trator.
Os rolos de pequeno diâmetro e os ramos não são rachados. A estilha é proveniente de madeira
industrial que é estilhada junto ao caminho florestal num estilhador móvel logo após o abate da árvore
e é utilizada como combustível ou como matéria-prima na indústria dos aglomerados de
partículas/fibras ou de pasta para papel.
O objetivo deste estudo é determinar e comparar os impactes ambientais da produção de cavacas e
de estilha, à saída da floresta de pinheiro bravo, em Portugal, e traçar os respetivos perfis ambientais.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para determinar e comparar os aspetos ambientais, associados com a produção de cavacas e


estilha, elaborou-se um estudo de Análise de Ciclo de Vida (ISO 2006 a) e b)), apoiado pelo software
“SimaPro 7.3.3” (Pré Consultant, 2012). O método “Ecoindicator99”, foi o escolhido para traçar e
comparar os perfis ambientais dos dois produtos em estudo. A maioria dos dados são provenientes
de estudos portugueses, mas alguns deles foram obtidos da base de dados “ecoinvent” (Werner et.
al., 2007).
De acordo com a Norma ISO, a ACV é dividida nas seguintes fases: definição dos objetivos – na qual
se definem o objetivo e âmbito do estudo, assim como a unidade funcional (u.f.); análise de inventário
- na qual são listados os consumo de recursos, a produção de resíduos sólidos e as emissões de
poluentes para o ar, água e solo, por u.f.; avaliação de impacte – na qual são avaliados os impactes

141
José V. Ferreira, Helder Viana, Bruno Esteves, Luísa P. Cruz Lopes, Idalina Domingos

ambientais dos poluentes emitidos ao longo do ciclo de vida; e, interpretação dos resultados.
A unidade funcional, para avaliar os impactes ambientais dos produtos em estudo, é: 1m3 de cavacas
na floresta; e, 1m3 de estilha a granel na floresta.
A unidade funcional para comparar os perfis ambientais dos dois produtos é, seguindo as
recomendações da norma ISO (2006, a)), o valor em m3 de cavacas e de estilha a granel que
possuem o mesmo poder calorífico, ou seja, para as cavacas na floresta, a u.f.=1 m3 e para a estilha
a granel na floresta, a u.f.=2.32 m3, conforme calculado mais adiante.
Os limites de cada um dos sistemas em estudo estão representados nas Figs. 1 e 2, respetivamente,
para a produção de cavacas e de estilha a granel na floresta.

Madeira residual de pinho,


0,909 m3
seca naturalmente, na
Troncos, 1 m3 Cavacas, 1 m, de
floresta portuguesa
( b )
68.3 MJ de pinho, pinho, na floresta

Gasóleo queimado na na floresta (com casca)

máquina de torar e rachar

Figura 1 Processos e fluxos para produção de cavacas, de pinho, na floresta

Madeira industrial de pinho, 0,373m3


na floresta portuguesa Estilha, de 1 m3 Estilha, de pinho,
(u=102%) pinho, na floresta
Estilhagem da madeira 164 kg u=102%, (a granel)
verde, com estilhador móvel, na floresta
(madeira

Figura 2 Processos e fluxos para produção de estilha, de pinho, na floresta

As cargas ambientais dos processos “Madeira residual de pinho, seca naturalmente, na floresta
portuguesa (x=20%)” e “Madeira industrial de pinho, na floresta portuguesa (x=102%)” foram obtidas
de Ferreira e Domingos., (2012). Os processos “Gasóleo queimado na máquina de torar e rachar” e
“Estilhagem da madeira verde, com estilhador móvel, na floresta” correspondem, respetivamente, aos
processos “Diesel, burned in building machine/GLO U” e “Wood chopping, mobile choper, in
forest/RER U” da base de dados “ecoinvent” (Werner et. al., 2007).
Consideraram-se os seguintes pressupostos:
- A casca corresponde a 10% da madeira (Ferreira e Domingos, 2012).;
- Consomem-se 7 litros de gasóleo por cada Hora Homem de Trabalho (HHT), na máquina de torar e
rachar e são necessárias 0.27 HHT/m3 de madeira processada (Werner F., et. al., 2007);
- A densidade e o poder calorífico inferior da madeira, em função do conteúdo de agua (x), foram
calculados, respetivamente, pelas seguintes expressões (Frischknecht, 2007):
%     0%     0%     /100 (1)

142
José V. Ferreira, Helder Viana, Bruno Esteves, Luísa P. Cruz Lopes, Idalina Domingos

                    PCI (x%) [MJ/kg] = PCS [MJ/kg] – 1.32 [MJ/kg] – 20 [MJ/kg] * x / (100+x) (2)
Onde: PCI - poder calorífico inferior; e, PCS - poder calorífico superior;
- A madeira verde de pinho (após o corte na floresta) tem um conteúdo de água (na base seca) de
x=102% e a madeira seca (x=0%) tem uma densidade d(0%)=400 kg/m 3 (Lousada, et. al., 2008);
- O PCS da madeira seca de pinho (x=0%) = 19 MJ/kg (Carvalho, 2009);
- A densidade da estilha é de 0,41 m3/m3 de estilha a granel (Francescato, e Antonini, 2009).
Com base nos pressupostos referidos, a relação entre 1m3 de cavacas e 1m3 de estilha a granel,
na floresta, é de:
- com base na massa de madeira seca - cavacas/estilha a granel = 400kg / 164 kg = 2,44;
- com base no poder calorífico - cavacas/estilha a granel = 6888 MJ / 2972 MJ = 2,32.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da avaliação de danos, por categoria de impacte, de 1 m3 de cavacas de pinho e de 1


m3 de estilha de pinho a granel, utilizando o método Eco-indicator 99 (H) V2.09 / Europe EI 99 H/A,
estão representados, respetivamente nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1 Avaliação de danos de 1 m3 de cavacas de pinho na floresta

Categoria de Unidade Total Gasóleo Madeira residual de pinho,


impacte queimado na seca naturalmente, na
máquina de torar floresta portuguesa
e rachar (x=20%)
Carcinogens DALY 2,81E-06 2,30E-07 2,58E-06
Resp. organics DALY 1,44E-07 1,42E-08 1,30E-07
Resp. inorganics DALY 2,56E-05 1,21E-05 1,35E-05
Climate change DALY 3,52E-06 1,32E-06 2,21E-06
Radiation DALY 5,32E-08 3,80E-09 4,94E-08
Ozone layer DALY 1,96E-09 8,15E-10 1,15E-09
Ecotoxicity PDF*m2yr 0,488 0,0499 0,438
Acidification/ PDF*m2yr 0,819 0,432 0,388
Eutrophication
Land use PDF*m2yr 67,462 0,0631 67,399
Minerals MJ surplus 1,399 0,0594 1,340
Fossil fuels MJ surplus 28,760 12,132 16,629

Da Tabela 1, podemos constatar que na produção de cavacas de pinho o processo “Madeira residual
de pinho, seca naturalmente, na floresta portuguesa (x=20%)” é aquele que contribui maioritariamente
para todas as categorias de impacte, exceto para a acidificação, onde o processo “Gasóleo queimado
na máquina de torar e rachar” é aquele que mais contribui.

143
José V. Ferreira, Helder Viana, Bruno Esteves, Luísa P. Cruz Lopes, Idalina Domingos

Tabela 2 Avaliação de danos de 1 m3 de estilha de pinho a granel, x=102%, na floresta


Categoria de Unidade Total Madeira industrial de Estilhagem da
impacte pinho, na floresta madeira verde,
portuguesa com estilhador
(x=102%) móvel, na floresta
Carcinogens DALY 1,36E-06 1,23E-06 1,33E-07
Resp. organics DALY 6,55E-08 6,04E-08 5,05E-09
Resp. inorganics DALY 1,06E-05 6,35E-06 4,25E-06
Climate change DALY 1,52E-06 1,04E-06 4,77E-07
Radiation DALY 2,55E-08 2,35E-08 1,98E-09
Ozone layer DALY 8,35E-10 5,38E-10 2,97E-10
Ecotoxicity PDF*m2yr 0,252 0,208 0,0438
Acidification/ PDF*m2yr 0,330 0,181 0,148
Eutrophication
Land use PDF*m2yr 31,341 31,318 0,0234
Minerals MJ surplus 0,738 0,641 0,0972
Fossil fuels MJ surplus 12,23679 7,8075231 4,429268
Os impactes ambientais, em todas as categorias de impacte, atribuídos à estilha de pinho, são
maioritariamente provenientes do processo “Madeira industrial de pinho, na floresta portuguesa
(x=102%)”, conforme se pode observar pela Tabela 2.
Os resultados da comparação de danos, por categoria de impacte e por categoria de dano, para a
mesma unidade funcional (u.f.) de cavacas de pinho (1 u.f.=1 m3) e de estilha de pinho a granel (1
u.f.=2,32 m3), utilizando o método Eco-indicator 99 (H) V2.09 / Europe EI 99 H/A, estão
representados, respetivamente nas Figuras 3 e 4.
120,

95 96 99 99
100, 90 93 93
89
84 82
80,

60, cavacas,
%

pinho, na
floresta
40,

20, Estilha, pinho,


u=102%, na
floresta
0,

Figura 3 A comparar, por categoria de impacte, 1 m3 de cavacas de pinho, com 2,32 m3 de estilha de
pinho, x=102%, na floresta.

144
José V. Ferreira, Helder Viana, Bruno Esteves, Luísa P. Cruz Lopes, Idalina Domingos

Constata-se da Figura 3, que os impactes ambientais das cavacas são superiores aos da estilha, nas
categorias de impacte “Resp. inorganics, e Acidification/Eutrophication” e o inverso é verdadeiro,
para as categorias “Carcinogens, Resp. organics, Radiation, Ecotoxicity, Lande use e Minerals”. A
escolha de um deles é indiferente para a categoria de impacte “Climate Change” e praticamente
indiferente nas categorias “Ozon layer e Fossil fuels”.
A Figura 4, mostra que as cavacas são preferíveis à estilha na categoria de dano “Ecosystem Quality”
e que o contrário é verdadeiro na categoria “Human Health”, sendo praticamente indiferente na
categoria “Resources”.

102

100 99,8
100

98
98

96
%

cavacas, 
94
93 pinho, na 
floresta
92
estilha, 
pinho, 
90 u=102%, na 
floresta
88
Human Health Ecosystem Quality Resources

Figura 4 A comparar 1 m3 'cavacas, pinho, na floresta/PT U' com 2,32 m3 'Estilha, pinho, x=102%, na
floresta/PT U'

4. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos neste estudo mostram-nos que os impactes ambientais da produção de


cavacas de pinho na floresta, em todas as categorias de impacte, devem-se fundamentalmente ao
processo “Madeira residual de pinho, seca naturalmente, na floresta portuguesa (x=20%)” exceto na
categoria “Acidification/Eutrophication” onde o processo “Gasóleo queimado na máquina de torar e
rachar”, contribui com aproximadamente 53%. A contribuição deste processo é ainda significativa
nas categorias “Resp. inorganics (47%), “Fossil fuels” e “Ozone layer” (42%) e “Climate change”
(37%).
Os impactes ambientais da produção de estilha de pinho na floresta devem-se fundamentalmente ao
processo “Madeira industrial de pinho, na floresta portuguesa (x=102%)”. A contribuição do processo
“Estilhagem da madeira verde, com estilhador móvel, na floresta” é ainda assim significativa, nas
categorias “Acidification/Eutrophication” (45%), “Resp. inorganics (40%), “Fossil fuels” e “Ozone layer”
(36%) e “Climate change” (31%).

145
José V. Ferreira, Helder Viana, Bruno Esteves, Luísa P. Cruz Lopes, Idalina Domingos

Comparando os impactes ambientais das cavacas de pinho com a estilha de pinho, na base da
mesma unidade funcional (u.f.), apenas se pode concluir que as cavacas são preferíveis se
considerarmos como mais importantes as categorias de impacte “Carcinogens, Resp. organics,
Radiation, Ecotoxicity, Lande use e Minerals” e que a estilha é preferível se as mais importantes
forem “Resp. inorganics e Acidification/Eutrophication”. Os danos provocados pelas cavacas na
categoria “Ecosystem Quality” representam 93% dos provocados pela estilha e que nas categorias
“Human Health” e “Resources” as diferenças são insignificantes.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer ao Centro de estudos em educação, tecnologias e saúde


(CIDETS) pelo apoio financeiro.

REFERENCES

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Dissertação de Mestrado em Engenharia Mecânica. UTAD, Vila Real.
DGRF, 2006. Estratégia Nacional para as Florestas. Direção Geral dos Recursos Florestais. In:
http://www.afn.min-agricultura.pt/portal/gestao-florestal/ppf/enf
DNGF, 2010. 5.º Inventário Florestal Nacional. Apresentação do Relatório Final. Direção Nacional de
Gestão Florestal. In: http://www.afn.min-agricultura.pt/portal/ifn/resource/ficheiros/ifn/Apresenta-
IFN5-AFN-DNGF-JP.pdf
FERREIRA J.V. AND DOMINGOS I., 2012. Life Cycle Inventory of Softwood Production in the
Portuguese Forest. 2012 IUFRO Conference - Division 5 Forest Products, 8-13 July 2012, Estoril
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Francescato, V., and Antonini, E., 2009. WOOD FUEL HANDBOOK. AIEL – Italian Agriforestry Energy
Association, Italy. In: http://nuke.biomasstradecentres.eu/Portals/0/D2.1.1%20-
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Frischknecht, R., Jungbluth, N., (Editors) 2007. Overview and Methodology, Data v2.0. Ecoinvent
report Nº 1, Dubendorf, December.
ICNF, 2013. IFN6 – Áreas dos usos do solo e das espécies florestais de Portugal continental.
Resultados preliminares. [pdf], 34 pp, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
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ISO, 2006(a) Environmental management - Life cycle assessment - Principles and framework, ISO
14040:2006(E). International Organization for Standardization, Geneva.
ISO, 2006(b) Environmental management - Life cycle assessment - Requirements and guidelines, ISO
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Lousada, J., Noronha, M., Lopes, D., Silva, M., 2008. Relações entre Peso, Volume e Densidade para
a Madeira de Pinheiro Bravo (Pinus pinaster Ait.) Cultivado em Portugal. Silva Lusitana 16(2):
183 - 196, 2008 © EFN, Lisboa. Portugal.
Pré Consultant, 2012. SimaPro Software, version 7.3.3, the Netherlands. In: http://www.pre-
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José V. Ferreira, Helder Viana, Bruno Esteves, Luísa P. Cruz Lopes, Idalina Domingos

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as Fuel and Construction Material. ecoinvent report No 9. Swiss Centre for Life Cycle Inventories,
Dubendorf.

147
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Avaliação do módulo de queda de folhada em eucaliptais no modelo 3PG

Paulo N. Firmino1*, Paula Soares1, Margarida Tomé1, Clara Araújo2

1: Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada
da Ajuda, 1349-017 Lisboa
2: Altri Florestal, SA, Rua Natália Correia, 2-A, 2250-070 Constância

e-mail: {Autor para correspondência}, pnfirmino@gmail.com

Resumo: A subvalorização das estimativas de biomassa de folhada obtidas com a utilização do


modelo 3-PG na análise do ensaio de fertilização e rega, para todos os tratamentos
(Testemunha, Fertilização, Rega e Fertilização+Rega) conduziu à instalação de cestos de recolha
de folhada em três parcelas, localizadas na Quinta do Furadouro, em Óbidos, em povoamentos
de Eucalyptus globulus de origem seminal, em alto fuste e com diferentes idades e localizados
em zonas com diferentes índices de qualidade de estação para confirmar as tendências
observadas no referido ensaio. As parcelas 1 e 2 foram instaladas num eucaliptal de 4,5 anos,
diferindo apenas no índice de qualidade de estação, enquanto a parcela 3 num de 8,5 anos de
idade. As recolhas de folhada foram efectuadas com intervalos de 15 dias. Respectivamente,
obtiveram-se valores de biomassa seca de folhada acumulada no período de 15 Março a 26
Outubro de 2011 de 1,12 Mg ha-1, 1,86 Mg ha-1 e 2,82 Mg ha-1. A melhor qualidade de estação
diferenciou os resultados das parcelas da mesma idade, enquanto que a parcela de 8,5 anos
apresentou valores superiores a ambas. Embora o número de recolhas seja reduzido, as
estimativas obtidas pelo modelo 3-PG para as parcelas indiciam também a mesma subestimação,
parecendo confirmar os resultados do ensaio que justificou este estudo.
Embora estejam indiciadas conclusões, é necessário este estudo completar, pelo menos, um ano
de recolhas de folhada e/ou possivelmente instalar novas parcelas para confirmar a necessidade
de melhorar o submodelo de queda de folhada do modelo 3-PG para Eucalyptus globulus em
Portugal.
Palavras-chave: Modelo 3-PG, Eucalyptus globulus, Queda de folhada.

Abstract: An underestimation of accumulated leaf biomass obtained with the 3-PG model when
applied to a fertilization and irrigation trial of Eucalyptus globulus, conduced to install three plots
in seminal high forest of Eucalyptus globulus with different ages and different site indexes to
support the tendency observed in the fertilization and irrigation trial. Plots 1 and 2 were installed
in a 4,5 years old eucalyptus stand, while plot 3 was installed in a 8,5 years old stand.
Accumulated litterfall (dried) biomass during the period 15 March-26 October 2011, was 1,12 Mg
ha-1, 1,86 Mg ha-1 and 2,82 Mg ha-1 respectively. A higher site index distinguished results of the
same age stands, while the plot at the older stand achieved superior biomass. Although the
reduced number of litterfall collects, estimates obtained by 3-PG when applied to the three plots
seems to confirm the underestimation of litterfall. It’s necessary to follow this study for, at least,
one year and possibly install more plots in different combinations of age and site index to confirm
the need of improvement of the litterfall module of 3-PG model in Portugal.
Keywords: 3-PG model, Eucalyptus globulus, litterfall
Paulo N. Firmino, Paula Soares, Margarida Tomé e Clara Araújo

1. INTRODUÇÃO

Têm sido realizados diversos esforços na modelação do crescimento da Eucalyptus globulus em


Portugal, pretendendo-se idealmente que os modelos desenvolvidos sirvam como ferramentas de
decisão no planeamento e gestão florestais. Dos modelos baseados em processos fisiológicos
destaca-se, actualmente em Portugal e no mundo em geral, o modelo 3-PG (Physiological Principles
Predicting Growth) pela sua simplicidade e por necessitar de poucos parâmetros iniciais e destes
serem relativamente fáceis de obter.
O modelo 3-PG é constituído por cinco submodelos: (1) assimilação de carbohidratos (produção de
biomassa), (2) partição de biomassa por folhas, raízes e o conjunto de lenho, casca e ramos, (3)
mortalidade, (4) balanço de água no solo e (5) conversão de valores de biomassa em variáveis de
interesse a produtores florestais (SANDS e LANDSBERG, 2002). A falta de aderência do módulo da
queda de folhada do submodelo de partição da biomassa em relação aos valores obtidos em campo
num ensaio de fertilização e rega (PEREIRA et al., 1989) localizado na região de Óbidos, revela a
necessidade de o validar, a fim de confirmar a necessidade de se efectuar uma reparametrização.
Neste estudo, instalou-se um sistema de recolha de folhada de Eucalyptus globulus na mesma região
do ensaio anterior de modo a se obter um novo conjunto de dados. Posteriormente, compararam-se
ambos os resultados a fim de perceber se era ou não necessário o reajustamento dos parâmetros do
módulo de queda de folhada do modelo 3-PG.

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A parte experimental do estudo foi realizada na Quinta do Furadouro, concelho de Óbidos, zona a
cerca de 10 km de distância ao Oceano Atlântico, localizada a 39º 21’N, 9º 15´W, com uma altitude
média de 86 m. A propriedade pertencente ao Grupo Altri Florestal.
A precipitação média anual é de 607 mm, ocorrendo 75% entre Novembro e Março, existindo também
um período seco, em que apenas chove 10% da precipitação total entre Maio e Setembro. No
entanto, este período seco é atenuado pela elevada humidade relativa do ar, característica da região,
que durante o Verão pode chegar aos 80%, pelo número de dias com orvalho, e pelos frequentes
nevoeiros que ocorrem (REIS e GONÇALVES, 1981).
A Quinta do Furadouro apresenta alguma heterogeneidade quanto ao tipo de solos existentes.
Predominam zonas de complexos sedimentares, dominados por arenitos mais ou menos
compactados e com maior ou menor pedregosidade. No entanto, encontram-se também zonas com
alguma proporção de argila. A textura varia entre Franco-Limosa/Franco-Argilo-Limosa/Franco-
Arenosa.

3. METODOLOGIA

3.1. Instalação de parcelas

Por questões logísticas e financeiras foi decidida a instalação de apenas três parcelas em

149
Paulo N. Firmino, Paula Soares, Margarida Tomé e Clara Araújo

povoamentos de eucalipto em alto fuste e de origem seminal. Foi usado como critério de selecção
dos povoamentos o serem representativos de diferentes condições de crescimento – associados a
diferentes índices de qualidade da estação e diferentes idades. As três parcelas são de formato
circular de 1000 m2 de área (raio de 17,84 m), estando descritas pormenorizadamente na Tabela 1,
onde também se apresentam os valores máximos de água disponível no solo e o índice de fertilidade
do solo, parâmetros de entrada do modelo 3-PG e que foram atribuidos por um especialista em solos
durante uma visita às parcelas. É também mencionada a divisão dos povoamentos onde se localiza
cada uma das parcelas, denominadas Unidades Operacionais (UO).

Tabela 1. Descrição das parcelas instaladas na Quinta do Furadouro.


Parcela
1 2 3
Unidade Operacional (UO) 30 30 11
Mês/ano plantação Maio/2006 Maio/2006 Abril/2002
Idade (anos) 4,7 4,7 8,7
Rotação 1ª 1ª 1ª
Compasso (m x m) 2x4 2 x4 2 x4
-1
N (ha ) 1220 1200 1200
hdom (m) 13,1 16,4 21,7
IQE (m) 20,9 24,4 23,2
dg (cm) 8,8 11,1 14,6
Textura do solo Franco-limoso Arenoso-Franco Arenoso-Franco
ASWmáx 100-120mm 90-100mm 60-80mm
FR 0,8 0,6 0,4
em que N é o número de árvores vivas por hectare; hdom, a altura dominante (m),
definida como a média da altura das árvores mais grossas na proporção de 100
árvores por hectare; IQE, índice de qualidade da estação, definido como o valor da
altura dominante aos 10 anos – foi estimado com a equação de crescimento em altura
dominante do modelo Globulus 3.0 (TOMÉ et al., 2006); dg, diâmetro quadrático
médio; ASWmáx, a água máxima disponível no solo; FR, índice de fertilidade do solo.

3.2. Cestos de recolha de folhada

Foram instalados 20 cestos por parcela e, por questões logísticas, todo o material caído nos 20
cestos foi recolhido num único saco de plástico de 50 litros, devidamente identificado e datado.
Para escolher as árvores junto das quais seriam colocados os cestos, após a medição das parcelas,
ordenaram-se, por ordem crescente, os diâmetros de todas as árvores de cada parcela e criaram-se
cinco classes de diâmetro, com igual número de árvores. Em cada classe de, aproximadamente, 24
árvores foram seleccionadas, aleatoriamente, 4 árvores num total de 20 árvores seleccionadas por
parcela.
Para maior facilidade, montaram-se cestos cujo comprimento (2 m) e largura (1 m) correspondiam a
metade do compasso, perfazendo 2 m2 de área (2x1). Assim, a cada uma das 4 árvores

150
Paulo N. Firmino, Paula Soares, Margarida Tomé e Clara Araújo

seleccionadas em cada classe de diâmetro de cada parcela, foi associado um cesto a um quadrante
diferente. A área de queda de folhada de cada árvore foi dividida em 4 quadrantes e a cada uma das
4 árvores seleccionadas foi atribuido um cesto, não havendo repetições do mesmo quadrante.

3.2. Tratamento do material recolhido

A periodicidade da recolha da folhada foi quinzenal, com início a 14 de Março de 2011. Até 24 de
Outubro de 2011 efetuaram-se 17 recolhas. No mesmo dia o material recolhido era guardado no
frigorífico até ser processado, por norma, no dia seguinte à recolha. Foi classificado e separado em
Cascas, Folhas, Cápsulas e Ramos, seco e pesado. Foi feita a colocação na estufa, a 70ºC, durante
48 horas. No final deste período as caixas foram retiradas, colocadas no exsicador durante 15
minutos, para arrefecerem sem ganhar humidade do ar, e, posteriormente, pesadas. A pesagem foi
repetida entre espaços de 24 a 48 horas até se verificar peso estabilizado. Considerou-se que o peso
estabilizava quando a diferença de valores entre medições feitas em dias sucessivos fosse inferior a
0,5% do valor registado da pesagem anterior.

4. MODELO 3-PG PARAMETRIZADO PARA PORTUGAL

A versão do 3-PG parametrizada para povoamentos de Eucalyptus globulus em Portugal foi


desenvolvida por FONTES et al. (2006). A parametrização teve por base dados recolhidos no ensaio
de Fertilização e Rega instalado na Quinta do Furadouro, ocupando uma área total de 24.300 m2,
tendo sido plantado em Março de 1986. Apresenta a particularidade de parte ter sido parcialmente
cortado em 1991 e 1992 para instalação dos viveiros florestais. O objectivo inicial era estudar a
produção de biomassa para a espécie Eucalyptus globulus em diferentes combinações de regimes de
fertilização e irrigação, nomeadamente Rega (R), Fertilização (F), Fertilização e Rega (F+R) e
Testemunha (T). A folhada foi determinada usando 20 cestos circulares por tratamento, com 1,23 m2
de área por cesto. Foi recolhida folhada entre Fevereiro de 1988 e Março de 1992, perfazendo 51
recolhas. Os cestos eram esvaziados sensivelmente uma vez por mês, e os componentes separados
e secos a 80ºC por 72 horas antes da pesagem (PEREIRA et al.,1989). MADEIRA et al. (1995)
documentou os resultados sobre a queda de folhada neste estudo.

5. AVALIAÇÃO DO MÓDULO DE FOLHADA

Para iniciar o programa 3-PG há que inserir informação de input. É necessária informação específica
de povoamento e solo para cada parcela em ambos os ensaios. São também necessários os dados
climáticos referentes à região.
As biomassas iniciais do povoamento foram calculadas a partir das equações de biomassa ao nível
da árvore desenvolvidas para a Eucalyptus globulus por ANTÓNIO et al. (2007). Os valores ao nível
do povoamento foram calculados através do somatório das biomassas das árvores de cada parcela
reportada ao hectare.
Os dados relativos ao solo foram obtidos por ida ao campo com um perito em solos, o professor

151
Paulo N. Firmino, Paula Soares, Margarida Tomé e Clara Araújo

Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia, Carlos Manuel de Arruda Pacheco.

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1. Resultados das parcelas instaladas

A biomassa de folhada acumulada nas 17 recolhas do estudo correspondeu a 1,12 Mg ha-1 na parcela
1, 1,86 Mg ha-1 na parcela 2 e 2,82 Mg ha-1 na parcela 3 (Tabela 2) considerando serem referentes
apenas ao período de sete meses (entre Março e Outubro).

Tabela 2. Quantidades totais acumuladas de componentes da folhada e desvios padrão (entre


parêntesis), recolhidas em cada uma das parcelas entre Março e Outubro, e proporções dessas
componentes em relação aos totais.
Data de Outros materiais
Parcela Folhas (f) Total (t) f/t o/t
Plantação (o)
Kg ha-1 Kg ha-1 Kg ha-1 % %
1 Maio/2006 948,67 (38,33) 167,05 (11,05) 1115,72 (39,87) 85,03 14,97
2 Maio/2006 1597,75 (51,68) 260,61 (13,53) 1858,37 (59,46) 85,98 14,02
3 Abril/2002 1904,80 (61,78) 916,93 (72,02) 2821,73 (123,81) 67,50 32,50

Dada a reduzida duração do estudo, uma comparação com os valores anuais existentes na
bibliografia é apenas possível expectando uma queda de folhada média para os cinco restantes
meses em falta. Tendo isso em conta, os resultados da parcela 2 e principalmente da parcela 1 (5
anos ambas) mostram-se abaixo dos obtidos por MADEIRA et al. (1995), apresentando 3,93 Mg ha-1
quando o eucaliptal se encontrava com 5 a 6 anos de idade (Ensaio de fertilização e rega, tratamento
Testemunha). Os outros tratamentos do mesmo estudo são excluídos da comparação dado terem
sido positivamente manipulados. Após considerar estas comparações, é possível expectar que os
valores acumulados obtidos neste estudo não só estejam de acordo com os do ensaio de Fertilização
e Rega como também dos restantes estudos realizados em Portugal em Eucalyptus globulus, não
havendo anomalias nas quantidades de queda de folhada total recolhidas.

6.2. Avaliação do módulo de folhada – Ensaio de fertilização e rega

Correndo o modelo 3-PG pode-se construir um gráfico com a quantidade acumulada de


queda de folhada total (Mg ha-1) em função da idade do povoamento. Os dados reais (com base nas
recolhas em campo), também em quantidade acumulada de folhada total (Mg ha-1), foram
adicionados ao mesmo gráfico, de modo a se poder analisar a exactidão das estimativas. Os
resultados para o ensaio de fertilização e rega são apresentados na Figura 1:

Testemunha Fertilização+Rega

152
Paulo N. Firmino, Paula Soares, Margarida Tomé e Clara Araújo

20 20
18 18
16 16

Folhada (Mg ha-1)


Folhada (Mg ha-1)

14 14
12 12
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 0 1 2 3 4 5 6 7
Idade (anos) Idade (anos)
observados ajustados observados ajustados

Rega Fertilização

20 20
18 18
Folhada (Mg ha-1)
Folhada (Mg ha-1)

16 16
14 14
12 12
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 0 1
2 3 4 5 6 7
Idade (anos) Idade (anos)
observados ajustados observados ajustados

Figura 1. Valores acumulados de folhada, com cestos de área 1,23 m2, entre os 2 e os 6 anos de
idade (entre 1988 e 1992).

Observando os gráficos da Figura 1, vê-se que os dados reais e o modelo se iniciam próximos mas,
logo a partir das primeiras recolhas, observa-se um desvio, aumentando gradualmente o erro
(diferença entre valor real e valor estimado) com o intervalo de projecção. O modelo parece
subestimar os valores de folhada em relação aos dados de fertilização e rega, sendo esta
subestimação maior com o tempo e com a manipulação (no sentido favorável) das condições do solo.

6.3. Avaliação do módulo de folhada – Parcelas instaladas neste trabalho

Após correr o modelo 3-PG, construiram-se os gráficos de valores estimados vs observados para as
três parcelas (Figura 2) num procedimento semelhante ao efectuado em 6.2..

153
Paulo N. Firmino, Paula Soares, Margarida Tomé e Clara Araújo

Parcela 1 Parcela 2

4,0 4,0
3,5 3,5
3,0 3,0

Folhada (Mg ha-1)


Folhada (Mg ha-1)

2,5 2,5
2,0 2,0
1,5 1,5
1,0 1,0
0,5 0,5
0,0 0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 0 1 2 3 4 5 6 7 8
Idade (anos) Idade (anos)
observados ajustados observados ajustados

Parcela 3

4,0
3,5
3,0
Folhada (Mg ha-1)

2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Idade (anos)
observados ajustados

Figura 2. Valores acumulados de folhada, entre os 5 e os 6 anos de idade, no caso das parcelas 1 e
2, e entre os 9 e 10 anos de idade na parcela 3.

A diferença entre valores estimados e valores reais vai aumentando gradualmente com o tempo,
conduzindo a uma subestimação dos valores de queda de folhada, tal como se observa nos gráficos
para o ensaio de fertilização e rega (Figura 1). Surge a possibilidade de revisão da estrutura do
módulo de folhada para o modelo 3-PG, na tentativa de melhor a aderência do modelo aos dados
reais. Segundo os gráficos apresentados (e também nos do ensaio de fertilização de rega) há um
desvio entre valores observados e estimados principalmente entre Maio e Agosto. É possível que o
modelo não esteja correctamente ajustado para o período de Primavera/Verão nesta região onde há
uma queda acentuada de folhada que, segundo SANDS (2004), não é explicada pela equação do
módulo de folhada. Um maior número de recolhas, no mínimo 24 recolhas para realizar um ciclo
anual e ser possível observar as variações da queda de folhada durante todo o ano, seria

154
Paulo N. Firmino, Paula Soares, Margarida Tomé e Clara Araújo

fundamental para conferir maior consistência aos dados.

7. CONCLUSÕES

Embora o número de recolhas seja reduzido, as estimativas obtidas com o modelo 3-PG para as três
parcelas instaladas parecem confirmar a subestimação da queda de folhada nos eucaliptais com as
características anteriormente referidas
É necessário continuar a recolher a folhada até fazer, pelo menos, um período anual e eventualmente
instalar novas parcelas com cestos de recolha em eucaliptais com diferentes características de idade
e de qualidade de estação.

AGRADECIMENTOS

É indispensável agradecer ao grupo Altri Florestal por possibilitar e apoiar a instalação do ensaio.
Agradece-se também ao professor Carlos Manuel de Arruda Pacheco, pelos conhecimentos
facultados e disponibilidade para acompanhar a equipa ao campo.
O trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto AFORE (CP-IP 228589-2) financiado pelo European
Community’s Seventh Framework Programme FP7/2007-2013.

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7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Armazenamento de carbono e azoto nos horizontes superficiais do solo sob


povoamentos florestais puros

F. Fonseca1, A. Martins2 e T. de Figueiredo1

1: Centro de Investigação de Montanha (CIMO), Instituto Politécnico de Bragança/ESA, Campus de Santa


Apolónia, Apartado 1172, 5301-855 Bragança, Portugal
2: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Apartado 1013, 5001-911 Vila Real, Portugal

e-mail: ffonseca@ipb.pt, amartins@utad.pt, tomasfig@ipb.pt

Resumo: Os horizontes orgânicos e minerais dos solos florestais apresentam elevada


importância no armazenamento de carbono (C) e azoto (N). No entanto, o conhecimento dos
efeitos das espécies florestais na fixação destes elementos é ainda escasso, principalmente em
Portugal. Com o propósito de contribuir para este conhecimento realizou-se um estudo em quatro
povoamentos puros instalados na década de 40 na Serra da Padrela, próximo de Vila Pouca de
Aguiar. Duas das espécies apresentam elevada representação na região Norte do país, Castanea
sativa (CS) e Pinus pinaster (PP) e duas, embora com menor representatividade, evidenciam
interesse silvícola, Pseudotsuga menziesii (PM) e Pinus nigra (PN). Na seleção das áreas de
amostragem, procuraram-se características semelhantes no que respeita a topografia, litologia e
clima, de modo a reduzir o efeito de outras variáveis e a melhor identificar as possíveis
diferenças no armazenamento de C e N devidas à espécie florestal. Em cada povoamento, foram
selecionados 15 locais ao acaso e colhido o material orgânico numa área de 0,49 m 2 por local. A
colheita do material orgânico obedeceu a critérios morfológicos tendo sido separado nas
camadas L, F e H. As camadas L e F, por sua vez, foram separadas em três frações: agulhas ou
folhas, pinhas ou ouriços e ramos. Nos mesmos locais, foram colhidas amostras de solo nas
profundidades 0-10 e 10-20 cm. As concentrações de C e N foram determinadas em todas as
amostras (horizontes orgânicos e minerais) e convertidas em massa por unidade de área. A
massa de C por unidade de área segue a sequência PN > PM > CS > PP, mantendo as espécies
PM e PP a mesma tendência para o N que segue a sequência CS > PM > PN > PP. As espécies
PM e CS armazenam quantidades idênticas de C e N, sendo que cerca de 90% da quantidade
destes elementos se encontra nos horizontes minerais do solo. Nas espécies PN e PP o
contributo dos horizontes orgânicos é mais expressivo na retenção destes elementos.
Palavras-chave: espécies florestais, horizontes orgânicos e minerais, carbono, azoto

Abstract: The organic and mineral horizons of forest soils are highly important in carbon (C) and
nitrogen (N) storage. However, knowledge of the effects of the forest species on these elements
fixation is still scarce, particularly in Portugal. In order to contribute to this knowledge, a study was
carried out in four pure forest stands installed in the 40s in Serra da Padrela, near Vila Pouca de
Aguiar. Two of the species have high representation in the North of the country, Castanea sativa
(CS) and Pinus pinaster (PP) and two, albeit their smaller representation, have interest to forestry,
Pseudotsuga menziesii (PM) and Pinus nigra (PN). When selecting the sampling areas, similar
characteristics were sought with respect to topography, lithology and climate, so as to reduce the
effect of other variables and better identify the differences in the C and N storage due to forest
species. In each stand, 15 sites were selected at random and organic material was collected in an
area of 0.49 m2 per site. Organic material collection obeyed morphological criteria, having been
separated in layers L, F and H. Layers L and F were, in turn, separated into three fractions:
needles or leaves; pinecones or husks; and branches. In the same locations, soil samples were
taken at 0-10 and 10-20 cm depths. Concentrations of C and N were determined in all samples
(organic and mineral horizons) and converted to mass per unit area. The C mass per unit area
follows the sequence PN> PM> CS> PP while the species PM and PP maintain the same
tendency as N, following the sequence CS> PM> PN> PP. The species PM and CS stored
identical quantities of C and N, and about 90% of this amount is found in soil minerals horizons. In
F. Fonseca, A. Martins e T. de Figueiredo

PN and PP species, the contribution of organic horizons is more significant in the retention of
these elements.
Keywords: forest species, organic and mineral horizons, carbon, nitrogen

1. INTRODUÇÃO

Nos ecossistemas florestais, a vegetação constitui a principal fonte de resíduos da fração orgânica do
solo, pelo que será de esperar que esta seja afetada de forma mais ou menos marcada pela
quantidade de biomassa produzida e características da mesma. Os solos são a base de todo o
crescimento florestal e têm um papel fundamental nos processos hidrológicos e no ciclo de nutrientes,
com especial relevância para os ciclos do carbono (C) e azoto (N). Para compreender a dinâmica do
C é também necessário compreender a dinâmica do N. Frequentemente o N constitui um fator
limitante em sistemas florestais, pelo que o seu estudo pode fornecer informação importante sobre o
ecossistema como fonte ou reservatório de C (De Vries et al., 2006). Os resíduos orgânicos
acumulam-se à superfície do solo formando as camadas orgânicas designadas globalmente por
horizonte orgânico, e que no seu desenvolvimento máximo compreende três subhorizontes: L, F e H
(Ranger and Bonneau, 1984). O subhorizonte L é constituído por material fresco levemente
descolorido (Wesemael, 1993) morfologicamente intacto com idade até dois ou mais anos conforme
as espécies (Toutain et al., 1988). Constitui a maior fonte de reservas orgânicas do solo. O
subhorizonte F é a zona imediatamente subjacente constituindo uma camada de fermentação
(Ranger and Bonneau, 1984). Os materiais orgânicos estão parcialmente decompostos, mas
suficientemente bem preservados permitindo a identificação da sua origem (Pritchett and Fisher,
1987). Normalmente os resíduos orgânicos estão aderentes uns aos outros por intermédio de
filamentos micélicos das micorrizas (Toutain et al., 1988) e apresentam dejetos de animais à
superfície (Wesemael, 1993). Finalmente, o suhorizonte H compreende material orgânico amorfo com
muitos excrementos da fauna do solo e micorrizas (Wesemael, 1993). Apresenta baixa coerência e
transição gradual para o horizonte mineral superficial (horizonte A) (Toutain et al., 1988), contendo
considerável quantidade de matéria mineral (Pritchett and Fisher, 1987). A instalação de
povoamentos florestais puros produz diversos efeitos ao nível dos ecossistemas, incluindo os
padrões espacial e temporal de produção de raízes, a qualidade e quantidade de biomassa, atividade
microbiana e dinâmica do C e N no solo (Steinaker and Wilson, 2005). Com o presente trabalho,
pretende-se estudar o armazenamento de C e N nos horizontes orgânicos e minerais do solo sob
povoamentos florestais puros.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo foi conduzido em povoamentos adultos de quatro espécies florestais, duas com
elevada representação na região norte do país, Castanea sativa (CS) e Pinus pinaster (PP) e duas
com menor representatividade mas com interesse silvícola – Pseudotsuga menziesii (PM) e Pinus
nigra (PN). Os povoamentos localizam-se na Serra da Padrela, N. de Portugal, 41º29’24’’N e
7º36’43’’W, maioritariamente entre os 800 e os 900m de altitude, exposição SW a W e declives

158
F. Fonseca, A. Martins e T. de Figueiredo

variáveis entre 10% (PN) e 40% (PM). A temperatura média anual é de 11,3 ºC, com médias mensais
que variam entre 4,0 ºC (dezembro) e 21,9 ºC (agosto). A precipitação média anual é de 1381 mm e
distribui-se ao longo de todo o ano, apresentando valores máximos no outono-inverno, e um máximo
secundário na primavera (INMG, 1991). De acordo com FAO-UNESCO (1998) e com os estudos
realizados no campo, em todos os casos, estamos em presença de solos integrados na unidade
Umbrissolos húmicos de xistos e rochas afins. Os povoamentos foram instalados em áreas ocupadas
por matos e exemplares dispersos de Quercus pyrenaica. Foram sujeitos a limpezas e desbastes,
mas não existem registos de quando e como foram realizados. Trata-se de povoamentos puros
regulares com cerca de 60 anos de idade e, de um modo geral, as árvores exibem fustes direitos, boa
desramação natural e bons crescimentos. Na seleção das áreas de amostragem (povoamentos),
procuraram-se características semelhantes no que respeita a topografia, litologia e clima, de modo a
reduzir a interferência de outras variáveis e a melhor identificar as possíveis diferenças no
armazenamento de C e N devidas ao tipo de coberto florestal. Em cada povoamento foram
selecionados, de forma aleatória, 15 locais de amostragem, onde se procedeu à recolha do material
orgânico numa área de 0,49 m2 por local. Cada amostra foi subdividida segundo os critérios
morfológicos em L - resíduos orgânicos intactos; F - resíduos orgânicos em estado de decomposição
mais ou menos avançado; H - correspondente à incorporação da matéria orgânica com o horizonte
mineral subjacente. As camadas L e F foram separadas em 3 frações: agulhas ou folhas, pinhas ou
ouriços e ramos. Assim, o horizonte orgânico ficou subdividido em 7 subhorizontes: Lagulhas ou Lfolhas;
Lpinhas ou Louriços; Lramos; Fagulhas ou Ffolhas; Fpinhas ou Fouriços; Framos e H, de acordo com as espécies
coníferas e caducifólias. Posteriormente, agruparam-se 3 a 3 as amostras de cada um dos
subhorizontes, perfazendo 5 amostras por subhorizonte, num total de 35 amostras por espécie. Estas
amostras de horizonte orgânico foram pesadas após secagem a 65ºC até peso constante e moídas
em moinho de facas. Nos mesmos locais, foram colhidas amostras de solo nas profundidades 0-10 e
10-20 cm. Também nestas profundidades colheram-se amostras não perturbadas para determinação
da densidade aparente. As concentrações de C e N foram determinadas em todas as amostras
(horizontes orgânicos e minerais) e convertidas em massa por unidade de área. O tratamento
estatístico dos dados baseou-se em análises de variância e testes de comparação múltipla de médias
(Tukey, 5%) para as variáveis em análise.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A quantidade de resíduos orgânicos acumulados à superfície do solo (horizontes orgânicos) é


significativamente superior para a espécie PN (59,3 t ha-1), seguida das espécies PM (33,0 t ha-1) e
PP (23,5 t ha-1) e por último a espécie CS (16,6 t ha-1) (Figura 1). As diferenças entre espécies estão
essencialmente relacionadas com a taxa de decomposição anual (k) - 18 % para o PN, 19 % para PP,
35 % para PM e 55 % para CS, (Martins et al., 1998) e com o ritmo de acumulação de pinhas
(elevado para a espécie PN). Como os horizontes orgânicos do solo têm um papel relevante no
armazenamento de C e N, o seu contributo tende a ser mais expressivo nas espécies PN e PM
(Figura 2).

159
F. Fonseca, A. Martins e T. de Figueiredo

70
59,3b
60
Biomassa (t ha-1)
50

40
33,0a

30
23,5a

20 16,6a

10

0
PP PN PM CS
Espécies

Figura 1. Biomassa total do horizonte orgânico nos povoamentos de P. pinaster (PP), P. nigra (PN),
P. menziesii (PM) e C. sativa (CS). Médias seguidas da mesma letra não são significativamente
diferentes (p<0,05)

Relacionado com o processo de humificação dos horizontes orgânicos, o armazenamento de C


diminui de L para H, verificando-se comportamento inverso para o N (Figura 2). A fração folhas é a
que mais contribui para o armazenamento de C e N, representando cerca de 70% e 60%,
respetivamente, do total armazenado nos horizontes orgânicos das espécies PP e CS. Na espécie
PN, a fração pinhas tem um papel relevante mostrando no caso do C valores muito similares aos
encontrados para as folhas. As deficiências de N são frequentes em solos de climas frios onde este
nutriente fica imobilizado nos horizontes orgânicos (Prescott et al., 1993). A espécie PN mostra
sempre os valores mais elevados e as espécies PM e CS os menores, comportamento que está
essencialmente relacionado com as taxas de decomposição e com a quantidade e qualidade dos
resíduos orgânicos produzidos pelas diferentes espécies (Martins et al., 1998; Guo et al., 2008).

kg m-2 kg m-2 H
0,07 3 2,75b Framos
0,058b Fpinhas/ouriços
0,06 0,051b 2,5
Ffolhas
0,05
2 Lramos
0,04 0,035ab
0,028a 1,5 Lpinhas/ouriços
1,23a
0,03 0,97a Lfolhas
1
0,02 0,55a
0,01 0,5
0 0
PP PN PM CS PP PN PM CS
Azoto Carbono

Figura 2. Armazenamento de C e N (kg m-2) nos horizontes orgânicos do solo, de acordo com as
espécies. Para cada variável, médias seguidas da mesma letra não são significativamente diferentes
(p<0,05)

160
F. Fonseca, A. Martins e T. de Figueiredo

Na profundidade 0-20 cm os teores de C variam de 3,0 kg m-2 (PP) a 6.5 kg m-2 (PN) e os de N de
0.22 kg m-2 (PP) a 0.52 kg m-2 (CS) (Tabela 1). Em todos os povoamentos os teores de C e N são
ligeiramente mais elevados na camada superficial (0-10 cm) e com valores significativamente
inferiores em PP comparativamente às restantes espécies. Vários estudos referem que um elevado
número de compostos orgânicos do solo estão intimamente associados com as partículas minerais,
variando a sua taxa de decomposição com a qualidade e distribuição dos componentes orgânicos
que entram no sistema e ainda com as interações organo-minerais estabelecidas (Martins et al. 2007;
Post and Kwon 2000; Zheng et al. 2008),

Tabela 1. Armazenamento de C e N nos horizontes minerais do solo, de acordo com a profundidade e


as espécies. Para cada profundidade e variável, médias seguidas da mesma letra não são
significativamente diferentes (p<0,05)
Profundidade (cm) Espécie
PP PN PM CS
-2
Carbono (média ± desvio padrão (kg m ))
0-10 1,7 ± 0,9a 3,4 ± 0,2b 2,8 ± 0,3b 3,1 ± 0,6b
a b b
10-20 1,3 ± 0,8 3,1 ± 0,6 2,4 ± 0,3 2,8 ± 0,7b
Azoto (média ± desvio padrão (kg m-2))
0-10 0,12 ± 0,07a 0,24 ± 0,03b 0,24 ± 0,04b 0,28 ± 0,06b
a b b
10-20 0,10 ± 0,08 0,18 ± 0,04 0,22 ± 0,05 0,24 ± 0,03b

Os horizontes orgânicos representam menos de 30% e 12% do total de C e N armazenado no


sistema, respetivamente (Figura 3). A massa de C por metro quadrado de terreno é mais elevada em
PN e mais baixa em PP. Os povoamentos de PM e CS apresentam quantidades similares. A espécie
PP mantém os valores mais baixos para o N, mostrando as restantes espécies valores muito
próximos. A razão C/N é sempre mais elevada para a espécie PN, indicando maior tempo de
residência do C neste sistema.

kg m-2 Horizontes minerais Horizontes orgânicos

10 9,21b
9
8
7 6,45a 6,38a

6
5
4,01a
4
70
3 81
91
2
76
0,482b 0,514b 0,546b
1 0,247a
88 90 94
0 89

PP PN PM CS PP PN PM CS
Carbono Azoto

Figura 3. Armazenamento total de C e N nos horizontes do solo (números acima das barras em kg m-
2
), de acordo com as espécies. Os números no interior das barras indicam a percentagem de C e N
armazenado nos horizontes minerais do solo. Médias seguidas da mesma letra não são
significativamente diferentes (p<0,05)

161
F. Fonseca, A. Martins e T. de Figueiredo

O conhecimento do armazenamento de C nos horizontes superficiais do solo de povoamentos


florestais pode dar indicação do potencial de CO2 libertado para a atmosfera quando nestes sistemas
ocorrem perturbações (Bing et al., 2006.; Zheng et al., 2008; Fonseca et al., 2012).

4. CONCLUSÕES

O armazenamento global de C e N é inferior na espécie PP e superior na espécie PN, contribuindo


para este efeito quer o compartimento solo quer o compartimento horizonte orgânico. No povoamento
de CS o compartimento solo armazena mais de 90% do total de C e N. Nos restantes povoamentos
não vai além dos 80% no caso do C e de cerca de 90% no caso do N. Globalmente, as espécies PM
e CS apresentam comportamento idêntico na retenção de C e N.

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163
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Nuevas propuestas en la lucha contra la desertificación: Los Waterboxx

Garrido F1, Marcos JL, Hernandez S2, Clérigo Z3, Ortiz L3

1: Departamento de Producción Vegetal y Recursos Forestales. ETS Ingenierías Agrarias, Universidad de


Valladolid, Avd. Madrid 44, 34004 Palencia, España
2: Departamento de Ingeniería Agrícola y Forestal (Universidad de Valladolid España)
3: Departamento de Ingeniería Cartográfica, Geodésica y Fotogrametría (Universidad de Valladolid España)

fegala@pvs.uva.es
Resumen: Las condiciones ambientales de la Península Ibérica, en especial el ámbito
mediterráneo, se caracterizan por altas temperaturas, suelos pobres, elevada radiación y
evaporación con escasez de precipitaciones. Estos factores conllevan procesos de degradación
del suelo que pueden conducir a la desertificación y son la causa de graves problemas de
viabilidad en las repoblaciones forestales.
Este trabajo tiene por objeto demostrar la viabilidad técnica y económica mediante la aplicación
de una tecnología innovadora para la siembra y plantación de árboles en zonas semiáridas de la
España penínsular. El waterboxx es un innovador sistema de riego que capta, conserva y
transmite el agua de lluvia y el rocío de la noche a la plántula en los primeros estadios de
desarrollo.
Para este estudio se instalaron en una parcela de 2,7 hectáreas situada en Villalba de los Alcores
(Valladolid), 918 brinzales alojados en tres tipos de waterboxx y 162 plantas testigo colocadas al
azar, para así poder establecer diferencias entre unos y otros. Se realizaron dos muestreos, en
marzo y en agosto, y se tomaron datos del 5 % del total de muestras. En cada una de ellas se
analizó la altura de planta, estado fenológico, daños abióticos o bióticos, temperatura interior y
exterior waterboxx y cantidad de agua presente en su interior. Los análisis realizados para valorar
la eficiencia del método se efectuaron con STATGRAPHICS plus 5.1 y Microsoft EXCEL 2007.
Los resultados de las pruebas experimentales arrojaron tasas medias de supervivencia
superiores al 90% en aquellos plantones con waterboxx, sin diferencias significativas entre las
especies utilizadas, mientras que el grupo de control plantado sin ningún dispositivo específico el
54% había muerto después de un año.
Los mejores resultados se pueden obtener para ámbitos diferenciados, como la agricultura, la
reforestación y restauración de los ecosistemas y podría ofrecer una solución interesante para la
siembra o plantación en lugares donde el riego es difícil y costoso realizar.

Palabras clave: waterbox, desiertos verdes, forestación, zonas áridas, control del
riego,supervivencia.

Abstract: The environmental conditions of the Iberian Peninsula, in the Mediterranean, are
characterized by high temperatures, poor soils and low rainfall. These factors involve soil
degradation processes that can lead to desertification and cause serious problems in the
afforestation survival.
This paper aims to demonstrate the technical and economic feasibility, through the application of
innovative technology in the afforestation of semiarid areas of mainland Spain. The "waterboxx" is
an innovative irrigation system that attracts, retains and conveys rainwater and dew of the night to
the seedling in the early stages of development, without any energy expenditure.
For this study, 918 saplings housed in three types of waterboxx, and 162 control plants placed as
contours, were settled on a plot of 2.7 hectares located in Villalba de los Alcores (Valladolid). Two
controls over 5% of total samples were performed in the most critical periods for the plant, one in
March and one in August.
Height, phonological state, abiotic or biotic damage, temperature inside and outside of waterboxx
and amount of water present therein were measured in each of the plants.
Analyses conducted to assess the efficiency of the method were performed with Statgraphics plus
Fermin Garrido, Jose Luis Marcos, Salvador Hernandez, Zacarias Clérigo y Luis Ortiz

5.1 and Microsoft Excel 2007.


The results of experimental tests yielded mean survival rates exceeding 90% in those plants in
waterboxx, without significant differences among species or among waterboxx types used,
whereas in the control group without any specific device irrigation 64% of the seedlings had died
after one year.
The best results can be obtained in areas such as agriculture, reforestation and restoration of
ecosystems and could also offer an interesting solution for sowing or planting in places where
irrigation is difficult and expensive to conduct.
Key words: green desserts, reforestation, arid areas, irrigation control, survival

1. INTRODUCCIÓN

La desertización es el proceso natural de degradación ecológica por el cual el suelo pierde parte o
todo su potencial productivo, lo que conlleva la aparición de condiciones desérticas. Se produce bajo
fenómenos meteorológicos adversos como la sequía prolongada o las lluvias torrenciales. Como
consecuencia, el ciclo hidrológico, la vegetación y los sistemas asociados se ven seriamente
afectados.
Una tercera parte del territorio español (un total de 159.337 kilómetros cuadrados de los 506.061 que
ocupa nuestro país) sufre un riesgo alto o muy alto de desertificación (figura1). La intervención
humana ha agravado el problema. Las talas excesivas, los incendios, el pastoreo abusivo, las
prácticas agrícolas inadecuadas y la construcción descuidada de pistas, carreteras y otras obras
públicas aumentan la facilidad de erosión del suelo. En terrenos degradados o semidesérticos se ha
observado que el porcentaje de supervivencia en repoblaciones forestales es escaso, con una
elevada proporción de marras que limitan su éxito y causan cuantiosos costes de reposición.

Figura 1: Mapa de riesgo de desertización en España (fuente: www.magrama.gob.es)

El estrés hídrico es uno de los principales factores que limitan el establecimiento de los brinzales en
ambientes mediterráneos. Para combatir este problema, se hace indispensable suministrar una cierta
cantidad extra de agua, siendo el riego una práctica muy costosa e inviable en repoblaciones
protectoras.

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Fermin Garrido, Jose Luis Marcos, Salvador Hernandez, Zacarias Clérigo y Luis Ortiz

Bastaría con aplicar mini dosis de agua al brinzal para que el sistema radical comenzase a desarrollar
en profundidad y fuera capaz de sobrevivir de manera independiente los próximos años. Una
pequeña plántula de dos savias tiene un activo sistema radicular pivotante, capaz de absorber agua
del subsuelo por lo que unas necesidades de sólo 2 a 5 litros por planta y temporada puede ser más
que suficiente para sobrevivir ya que se trata de especies perfectamente adaptadas a condiciones de
extrema sequedad.
Nuestro estudio plantea evaluar una novedosa técnología de riego para repoblaciones forestales
denominada waterboxx, que a continuación detallaremos y analizaremos.
El objetivo principal de este estudio es demostrar la viabilidad técnica y económica de supervivencia
en especies forestales de zonas áridas o semiáridas de la península ibérica, a través de los
denominados waterboxx. Como objetivos específicos pretendemos, analizar la supervivencia de los
distintas brinzales colocados en los waterboxx, así como evaluar el estado fenológico de los mismos
respecto a las plantas testigos.

2. MATERIAL Y MÉTODOS

La zona de estudio se encuentra en Villalba de los Alcores, municipio situado al nordeste de la


provincia de Valladolid, en la Comunidad Autónoma de Castilla y León, en el norte de la Península
Ibérica. Está inmerso en el borde superior de la Comarca de Montes Torozos, a unos 28 km de
distancia de Valladolid capital y a 40 km de Palencia capital.
La precipitación anual media es de 456,4 mm, concentrándose principalmente a finales de otoño y
principios de invierno, presentando otro máximo relativo en primavera. Las precipitaciones mínimas
se recogen en los meses de agosto y septiembre (20 mm y 30 mm respectivamente). La temperatura
media anual es de 11,44 ºC y alcanza su máximo en agosto, donde la temperatura media de las
máximas llega a 28,5 ºC. El mes más frío es enero, con una temperatura media de las mínimas de
0,8 ºC.
La innovadora tecnología, ideada por el Holandés Pieter Hoff, permite la supervivencia de los
brinzales en condiciones de extrema sequía suministrando mini dosis de agua de manera regular
durante la fase inicial de crecimiento. El waterboxx es una caja de polipropileno con forma cilíndrica
de 0,5m de diámetro y 0,25m de altura. El centro está hueco y tiene forma de ocho para permitir el
crecimiento de uno o dos pequeños brinzales o semillas, en su interior un depósito de 15 litros de
capacidad (figura 2).
A través de las ranuras diagonales de su cara exterior se recoge el agua de lluvia y se canaliza al
fondo del depósito por dos conductos laterales. En el fondo del recipiente se encuentra instalada una
mecha cuya función es hacer llegar el agua del depósito al sistema radical de la planta, formándose
una columna de agua capilar bajo el mismo.

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Fermin Garrido, Jose Luis Marcos, Salvador Hernandez, Zacarias Clérigo y Luis Ortiz

Figura 2: El waterboxx es una caja de polipropileno con forma cilíndrica de 0,5m de diámetro y 0,25m
de altura. El centro está hueco y tiene forma de ocho para permitir el crecimiento de uno o dos
pequeños brinzales o semillas, en su interior un depósito de 15 litros de capacidad.

En nuestra zona de estudio se experimenta con tres tipos diferentes de waterboxx según su grado de
biodegradabilidad: amarillo, crema y verde.
Las especies seleccionadas para reforestar son: Quercus ilex subsp. Ballota y Pinus pinea como
especies principales y Retama sphaerocarpa y Crataegus monogyna como especies accesorias.
Además se ha introducido de manera experimental (Quercus pyrenaica) a pesar de ser una especie
poco común en Montes Torozos.
La zona de estudio abarca una superficie de 2,7 ha donde los waterboxx están distribuidos en una
ladera que tiene dos orientaciones, noroeste y suroeste. En ella se han instalado 918 waterboxx (301
amarillos, 476 crema y 141 verdes) y 162 plantas testigos con el objetivo de establecer diferencias de
supervivencia y crecimiento.
Las especies seleccionadas están repartidas de la siguiente manera: 529 son encinas, 324
corresponden a pino piñonero, 108 son de rebollo, 87 pertenecen al espino albar y 32 a la retama
haciendo un total de 1080 plántulas.
Las tareas de preparación del terreno y plantación se llevaron a cabo en septiembre de 2011. Se
realizó un ahoyado con barrena acoplada a la toma de fuerza de un tractor de 50 cm de
profundidad. Paralelamente y de forma manual se realizó la plantación de los brinzales en taco, uno
por hoyo. A continuación se añadieron 15 litros de agua en el depósito. No se requieren más labores
de preparación ni cuidados posteriores. El marco de plantación fue de 5 x 5 metros a tresbolillo
siguiendo curvas de nivel.
La plantación se realizó el 24 de septiembre de 2011 y la toma de datos en campo tuvo lugar el 2 de
marzo y el 15 de agosto de 2012, dichas fechas coinciden con la salida del invierno y del verano,
épocas críticas para cualquier brinzal. Consideramos que son los momentos más representativos
para la realización del control de supervivencia.

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Fermin Garrido, Jose Luis Marcos, Salvador Hernandez, Zacarias Clérigo y Luis Ortiz

Se estableció un muestreo al azar del 5% del total de muestras, tomándose datos de 54 ejemplares,
48 colocados en los waterboxx y 6 testigos, de un total de 1080, todos ellos fueron georefenciados
mediante GPS y en cada una de ellos se cuantifico: Estado fenológico (vivo o muerto), Altura (cm),
Daños bióticos, Daños abióticos, Estado hojas(defoliación), Temperatura suelo interior y exterior,
Temperatura agua, Temperatura ambiente y Cantidad de altura de agua (cm) presente en el interior
del waterboxx durante la campaña 2011- 2012.
La toma de datos se llevó a cabo con los siguientes aparatos de medida: metro para determinar la
altura de la planta y del agua. Termómetro para calcular las diferentes temperaturas, GPS para
localizar la posición de las muestras. El resto de las variables se valoraron visualmente atendiendo a
unos criterios preestablecidos. El recorrido del muestreo fue aleatorio. Se comenzó por la parte
superior (orientación sureste) para ir descendiendo en zig-zag (figura 3).

Figura 3: Mapa donde aparece el orden de recorrido del muestreo y especies analizadas (Quercus
ilex, Pinus pinea, Quercus pyrenaica, Crataegus monogyna, Retama sphaerocarpa).

Se efectuó un análisis descriptivo de los datos tomados en los muestreos de marzo y agosto a través

168
Fermin Garrido, Jose Luis Marcos, Salvador Hernandez, Zacarias Clérigo y Luis Ortiz

del programa STATGRAPHICS Plus 5.1 y Microsoft Office Excel 2007. El análisis de varianza y el test
de rango múltiple LSD se realizó también con STATGRAPHICS Plus 5.1.

3. RESULTADOS Y DISCUSIÓN

En la zona objeto de estudio se analizaron 54 ejemplares, 46 waterboxx y 8 plantas testigo como ya


se comentó en el material y métodos. El primer objetivo que planteaba el estudio era demostrar el
elevado porcentaje de supervivencia que se alcanza con esta innovadora tecnología (figura 4).

Ejemplares vivos

30
25
24-09-2011
20
Unidades

02-03-2012
15 15-08-2012
10
5
0
a
ca
a

pa

yn
ne

i le

ai
ar

og
pi

en
us

oc

on
s

r
rc

er
nu

py
ue

m
ha
Pi

s
Q

s
u
sp

gu
rc
a

ue

ae
m

at
Q
ta

Cr
Re

Figura 4: Nº de brinzales vivos según especies ensayadas a lo largo de los tres muestreos realizados.
La primera columna representa el momento inicial del transplante.

Se observan diferencias entre muestreos a nivel supervivencia entre testigos y waterboxx (figura 5).
En marzo (2-03-2012) el total de marras fue de 5, de las cuales dos fueron testigos y tres brinzales
alojados en waterboxx. Respecto a los porcentajes, el 25 % de la plantas testigo murieron en Marzo
mientras que solo hubo un 7 % de marras en los waterboxx.
En el control final de Agosto (15-08-2012) observamos que el número de plantas muertas en los
testigos es de 5 y en los waterboxx de 7 lo que representa un 62,5% de los testigos y un 15,2% en los
water, posiblemente debido a la intensa sequía sufrida durante ese verano.

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Fermin Garrido, Jose Luis Marcos, Salvador Hernandez, Zacarias Clérigo y Luis Ortiz

Supervivencia

100
90
80
% supervivencia

70
60 Vivo Testigo
50 Vivo Waterboxx
40
30
20
10
0
Marzo Agosto

Figura 5: Porcentaje de brinzales vivos (54 en total), diferenciando entre plantas testigo y brinzales
situados en los waterboxx, en los muestreos de Marzo y Agosto.

Respecto a la supervivencia de las especies elegidas, indicar que las arbustivas como Retama y
Crataegus tuvieron una supervivencia del 100% y la que peor se comportó fue el Quercus Pyrenaica
con un 66,7% de supervivencia, posiblemente al estar fuera de estación en los montes Torozos como
indicamos en la introducción. Pinus pinea mostró un 81,25% normal para la especie y Quercus Ilex
74,07% aun siendo una especie menos heliófila en los primeros estadios. Entre marzo y agosto, la
atura media de vuelo en los brinzales colocados en los waterboxx (fig 6), aumentó progresivamente
como era de esperar, salvo en la Retama sphaerocarpa que decreció debido a ramoneo por conejos
(tabla 1), mientras que las plantas testigo que sobrevivieron crecieron muy lentamente.

Incrementos altura

50

40
Altura (cm)

24-09-2011
30
02-03-2012
20
15-08-2012
10

0
Pinus pinea Quercus ilex Retama Quercus Crataegus
sphaerocarpa pyrenaica monogyna

Especies

Figura 6: Crecimiento medio de cada especie a lo largo del año según controles.
En la Retama shaerocarpa hay un decrecimiento en marzo debido a ramoneo por roedores

170
Fermin Garrido, Jose Luis Marcos, Salvador Hernandez, Zacarias Clérigo y Luis Ortiz

Tabla 1: Incrementos en alturas medias de las diferentes especies según momento del
muestreo. En Retama se producen daños abióticos por conejos.

Incremento altura media 24-09-2011 02-03-2012 15-08-2012

Pinus pinea 17,38 20,03 24,15

Quercus ilex 15,07 16,26 21,45

Retama sphaerocarpa 33,00 18,00 50,00

Quercus pyrenaica 14,17 18,67 26,25

Crataegus monogyna 27,00 41,25 46,75

Las plántulas colocadas en los waterboxx de color verde presentaron mejores incrementos en altura
que el resto (datos sin analizar), un año después de su plantación. Los waterboxx de color más claro
amarillo y crema, tuvieron abúndate presencia de algas en su interior, debido al paso de la luz a
través de sus paredes, lo que dificultan la circulación de agua a través de la mecha hacia el suelo y
producen irregularidades en la distribución, motivo de estudio en próximos trabajos.

4. CONCLUSIONES

En consecuencia con lo anteriormente expuesto, las conclusiones preliminares que se pueden


extraerse sobre la viabilidad de esta nueva tecnología de riego a utilizar en repoblaciones forestales
serían las siguientes:
El waterboxx se muestra como un sistema de riego capaz de captar el agua de lluvia y rocío y
conservarla durante periodos cálidos y xéricos prolongados, suministrándola gradualmente y evitando
la aparición de estrés hídrico en los brinzales durante los primeros años de vida.
Provee, en los primeros estadios de crecimiento unas condiciones de humedad y temperatura
óptimas respecto al exterior, generadas por el efecto de la inercia térmica de la masa de agua
almacenada en el interior del waterboxx.
La innovadora tecnología de riego a logrado en las plántulas con waterboxx unos porcentajes de
supervivencia superiores al 85% durante el primer año del repoblado, mientras que la
supervivencia en los testigos de las diferentes especies no ha llegado al 38% al final del experimento
en agosto.
Sería conveniente disminuir su precio, ya que resulta caro para su utilización en repoblaciones
forestales, y fabricarlo de materiales biodegradables para evitar recogerlo en el monte.
La tecnología que presentamos en este estudio ronda los 10 euros la unidad, precio bastante elevado
para su utilización en repoblaciones forestales a eso hay que añadir los costes de plantación,
preparación del terreno, transporte de agua para llenar el depósito del waterboxx y posterior retirada
del recipiente. Es por lo tanto un método de riego viable desde el punto técnico, pero todavía en fase
experimental en lo económico.

171
Fermin Garrido, Jose Luis Marcos, Salvador Hernandez, Zacarias Clérigo y Luis Ortiz

BIBLIOGRAFÍA

FELIU JOFRE, A., GUEORGUÍEVA RANCAÑO, I., 2005. La degradación y desertificación de los
suelos en España. Fundación Gas Natural.
MARTÍNEZ DE AZAGRA, A., MONGIL MANSO, J., ROJO SERRANO L., 2004. Oasification: a forest
solution to many problems of desertification. Investigación Agraria: Sistemas y Recursos
Forestales, 13 (3):437-442.
MARTÍNEZ DE AZAGRA, A., 2012. Los riegos de apoyo y socorro en repoblaciones forestales.
Revista Foresta.
MONTERO DE BURGOS, J.L., GONZÁLEZ REBOLLAR, J.L., 1983. Diagramas Bioclimáticos,
ICONA, Madrid, 379 pp.
SERRADA R., 1995. Avance de apuntes de selvicultura. Er. Escuela Universitaria de Ingeniería
técnica Forestal. Madrid
SALKIND, N. J., 1998. Métodos de Investigación. Pearson Educación. México.

172
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Large spill of mining wastes in Portelo stream: Impacts on ecosystem


integrity and on angling potential

Ana M. Geraldes1, Elsa C. Ramalhosa1, Miguel Caetano2 e Amílcar Teixeira1*

1Mountain Research Centre (CIMO), ESA- Polytechnic Institute of Bragança, Campus de Stª
Apolónia,Apartado1172, 5301-855 Bragança, Portugal
2IPMA, Instituto Português do Mar e da Atmosfera, Avenida Brasília, 1449-006 Lisboa, Portugal

e-mail: amilt@ipb.pt

Abstract: Streams located at Montesinho Natural Park (NE Portugal) have high potential for
brown trout (Salmo trutta) angling. However, in this territory there are several abandoned mine
sites. Therefore, the continuous drainage of fine grained tailings can be particularly problematic
due to arsenic, copper, aluminium and zinc. However, until now no significant disturbance was
detected in water quality and in biota. Nevertheless, there has never been such a large spill of
mining wastes as that occurred in January 2010. As a consequence of intense precipitation,
several millions of cubic meters of wastes were spilled into Portelo stream. The large amount of
wastes covered the riverbed with a layer of mud reaching more than half a meter in areas close to
the mine. Both riparian and agricultural areas were also affected by the sediments from mine.
Wastes were spilled downstream by several strong rain events. Thus, the objective of the present
research was to evaluate the impact of this event on ecosystem integrity and ultimately on angling
potential. To achieve the proposed objective the water from four sampling points along the
affected stream was sampled for the following metals - Al, Mn, Co, Cu, Ni, Cd and As.
Concomitantly, macroinvertebrate and fish assemblages were also assessed. Temporal
differences between stations were not detected. On contrary spatial differences were found. As
expected, the stations located near the mine showed the highest levels of contamination and
disturbance. Consequently, in these stations no macroinvertebrates and fish were found during
the period of study.

Key-words: Mine spilling, macroinvertebrates, headwater stream, ecosystem integrity, angling


potential
Ana M. Geraldes, Elsa C. Ramalhosa, Miguel Caetano e Amílcar Teixeira

1. INTRODUCTION

Continuous effects of mining activity on water quality and aquatic biota have been documented in a
wide range of aquatic systems (NELSON and ROLINE 1996; 1999; MARQUÉS et al. 2003;
GERHARDT et al. 2004; BRUNS 2005; FREUND and PETTY 2007; BESSER et al. 2007; van
DAMME et al. 2008; GRAY and DELANEY 2008; POULTON et al. 2010). On contrary, studies
concerning the sudden release of millions of cubic meters of waste products from ore-processing
facilities in streams are scarce. These accidental spills intensify water pollution and have strong
impacts in biota (PRAT et al. 1999; SOLÁ et al. 2004). The physicochemical effects of these events on
aquatic ecosystems lead to abrupt changes in: (1) pH and conductivity; (2) metal concentration; (3)
water transparency and riverbed structure. The consequences for biota depend on local,
meteorological, geographic and environmental conditions, making the impact of these events
unpredictable. Aquatic assemblages are quite well adapted to variable hydrological regimes, allowing
them to tolerate certain changes. However, occasionally, the tolerance thresholds of many species are
surpassed, and the structure of the assemblage changed irreversibly in some cases (MARQUÉS et al.
2003).
Portugal has about 175 old abandoned mine sites. Some of them are seriously degraded, containing
large volume of old mining residues with significant environmental impact on local or regional scales
(SANTOS OLIVEIRA et al. 2002; CABRAL-PINTO and SILVA 2005). An unprecedented large spill of
mining wastes occurred in the abandoned Sn Portelo mine (NE Portugal) in January 2010. As a
consequence of intense rainfall, several millions of cubic meters of wastes and acid water were spilled
into Portelo stream. These wastes covered the riverbed with a layer of fine grained particles, reaching
50 cm in areas closer to the mine. Both riparian and agricultural areas were also affected by spreading
of this mine wastes. Since no record of mining wastes has been found in these habitats previously, the
aim of the present study was to evaluate the amplitude of the initial effects of the spill on the aquatic
ecosystem. Therefore, during the first semester after the contamination event dissolved
concentrations of Al, As, Cd, Co, Cu, Mn and Ni were assessed. Conductivity, pH and concentration of
Suspended Particulate Matter (SPM) were also monitored. Concomitantly, the effects of spill on the
macroinvertebrate assemblages and on angling potential were assessed.

2. STUDY AREA

The abandoned Sn Portelo mine is located in Montesinho Natural Park (NE Portugal) (Figure1).
Mining wastes accumulated in a small riverbed during the last twenty years were spilled into Portelo
Stream in January 2010.This headwater stream flows through granitic and schistic substrates for
about 20 Km. It is a tributary of Sabor River, which flows into Douro River. Riparian vegetation is
mainly composed of Alnus glutinosa. Fish assemblages are dominated by brown trout (Salmo trutta).
Chub (Squalius carolitertii) and nase (Pseudochondrostoma duriense) can also be present (OLIVEIRA
et al. 2007). The study area has an enormous potential for brown trout angling. Apart from past
mining activities, direct human influence in the area is reduced being confined to small villages, where
the main activity is extensive agriculture. The four sampling sites were located within the 20 km closest
to the mine (Figure1; Table 1).

174
Ana M. Geraldes, Elsa C. Ramalhosa, Miguel Caetano e Amílcar Teixeira

Figure 1- Location of the sampling stations.

A control site (C) was selected in an unaffected tributary, without influence of the mining area. A
sampling site (1) was located closer to the mining area around 250 m downstream. The second site
(2) was located 5 Km downstream from 1. The last site (3) was located in Sabor River, after receiving
waters from Portelo stream and is located 15 Km downstream mine facilities. All sites presented
similar characteristics of slope, water current velocity, riparian cover and human occupation. The
sampling sites were located in a non-regulated river sections. For this reason and because of the
influence of Mediterranean climate the flow may vary from 0.3 to 1 m3s-1. The total annual precipitation
in the region varied between 800 and 1000 mm. Most of the precipitation events occur between
October and March with an inter-annual irregular variation pattern. The rain fall during this period was
around 400 mm (PORTUGUESE METEOROLOGY INSTITUTE, 2010). However, 2010 was
considered a wet year, since the total precipitation occurring between January and July was 727 mm.

3. MATERIAL AND METHODS

3.1. Water parameters

Conductivity, pH, temperature and dissolved oxygen were measured “in situ” with a multiparametric
probe HANNA HI9828. Water was monthly sampled (from January to July 2010) in the four sampling
sites. Samples were collected in 5-L polyethylene bottles previously acid-washed. Dissolved and
particulate fractions were separated by filtration through cellulose acetate membranes (0.45 μm) and
weighed. Samples for dissolved trace elements analysis were acidified with Suprapure HNO3 (pH <2).
Particle retained membranes were dried at 40° C and weighed to calculate the concentration of
suspended particulate matter (SPM) and stored in freezer for metal analyses. Concentrations of Al,

175
Ana M. Geraldes, Elsa C. Ramalhosa, Miguel Caetano e Amílcar Teixeira

Mn, Co, Cu, Ni, Cd and As in dissolved fraction were determined using a quadrupole ICP-MS (Thermo
Elemental, X-Series) equipped with a Peltier Impact bead spray chamber and a concentric Meinhard
nebulizer. The experimental parameters were: forward power 1400 W; peak jumping mode; 150
sweeps per replicate; dwell time 10 ms; dead time 50 ns. Indium was the internal standard chosen.
For the analyzed elements, coefficients of variation for counts (n=5) were lower than 2 % and a 10-
point calibration within a range of 0.1 to 200 µg L-1 was used for quantification. Two procedural blanks
were prepared using similar analytical procedures and reagents, and included within each batch of 10
samples. Procedural blanks always accounted for less than 1 % of element concentrations in the
samples. The precision and accuracy of the analytical methodologies were controlled through
repeated analysis of the elements studied in the certified reference material SLRS-5 from the National
Research Council of Canada.
Potential toxicity of metal concentrations from water samples was examined by calculating toxic units
(TU) for Al, Mn, Co, Cu, Ni, Cd and As according to NELSON and ROLINE (1999). TU for each metal
concentration were calculated by dividing the measured concentrations by the values for Daphnia
magna 48 lethal concentrations to 50% of the organisms (LC50) found in BIESINGER and Christensen
(1972), KHANGAROT and RAY (1989), SANKARAMANACHI and QASIM (1999) and FERREIRA et
al. (2010). Individual TU were summed to determine the overall toxicity for each sampling period and
sampling site. This methodology allows evaluate the biologically-relevant integration of metal effects
using an indirect measurement of toxicity (YIM et al., 2006).

3.2. Macroinvertebrate assemblages

The macroinvertebrate assemblages were sampled according to INAG (2008). At each site, composite
multi-habitat samples were taken using a hand net (25 x25 cm frame; 500 μm mesh size) and each
microhabitat (e.g., riffle, pool, edge, vegetation) was sampled in proportion to its representation.
Organisms were preserved in 70% ethanol and identified at least to genus level for most taxonomic
families (except for some Diptera and Oligochaeta). To assess the relationship between water
parameters and macroinvertebrate assemblage composition several metrics were selected: Diversity
index (H’), evenness (J’), number of families in the orders Ephemeroptera, Plecoptera and Trichoptera
(% EPT) and in Diptera-Oligochaeta (%), Northern Portuguese Invertebrate Index (IPtIN) (INAG 2009),
Functional Feeding Groups (MERRITT and CUMMINS 1978) and Habits/Behavior were assigned
according to the primary category documented by TACHET et al (2002) and complemented with
information based upon MERRITT and CUMMINS (1996) and BARBOUR et al (1999). These metrics
were identified as the most sensitive to disturbance in Northern Portugal catchments (VARANDAS and
CORTES 2010; CORTES et al. 2011).

176
Ana M. Geraldes, Elsa C. Ramalhosa, Miguel Caetano e Amílcar Teixeira

3.3. Fish assemblages

Fish were sampled by electrofishing (Hans Grassl ELT60, DC, 1.5W, 300-600 volts) in 100 m
sections, concomitantly with macroinvertebrate sampling. Fish were returned to water after
species identification.

3.4. Statistical analysis

Samples were pooled in three distinct periods: Winter (W); Spring (Sp) and Summer (S). Non-Metric
Multidimensional Scaling (NMDS) was used to examine spatial and seasonal patterns in water
parameters and macroinvertebrate abundance data on the basis of similarity (Bray-Curtis distance).
NMDS analysis produces a two-dimensional plot where data are arranged in a continuum in such a
way that samples close together are similar and samples which are far apart are dissimilar. Species
abundance data were Log (X+1) transformed to balance the contributions from the few very abundant
species with the many rare species. Differences between sites and seasons were tested by a One-
Way ANOSIM test. A One-Way ANOVA was performed as a complement to the multivariate analysis
mentioned above in order to assess differences in water parameters between sites and seasons. The
assumption of normal distribution of the variables was assessed by the Kolmogorov-Smirnov test and
homogeneity of variance using the Levene test. When normality and homogeneity of variances were
not observed, the nonparametric Kruskal-Wallis test followed by multiple comparisons of orders means
was applied, as described in Maroco (2010). Multivariate analysis was performed using PRIMER
Version 5 and other routines were carried out using SPSS Version 16.

4. RESULTS

4.1. Water parameters

During the first six months the studied variables, apart from SPM concentrations, did not show
significant seasonal variations. The lowest values for pH and the highest concentrations of heavy
metals were always found at site 1 located in Portelo stream, downstream of the mine. Herein pH was
always below 4.8. Concerning dissolved metals, Al was the most abundant element followed by Mn,
Cu, Co, Cd and As. Metal concentrations decreased from site 1 to 2 (Table1). Regarding site 3, the
metal concentrations, pH, conductivity and SPM concentrations were generally similar to those
observed in the control (C). Differences between sites were confirmed by the statistical analysis
performed (Table1). Moreover, these data are in line with the ordination plot of NMDS based on pH,
conductivity, SPM and metal concentrations (Figure 2) which indicated the existence of two groups:
One formed by sites 1 and 2 (the more contaminated areas located in Portelo stream just downstream
mine) and the other by the site 3 (located in Baçal River), site C and site 2 in summer. This fact was
due to a decrease on SPM concentrations at this site in summer. Calculated Toxic Units (TU) were
lower than 1 for Al, Mn, Co, Ni, Cd and As at all sampling sites. Conversely, TU values for Cu were
higher than 1 at site 1 for all seasons (>40 in winter; >30 in spring; > 20 in summer) and at site 2 in
winter and spring (>10). At site 2 in summer TU for Cu was lower than1.

177
Ana M. Geraldes, Elsa C. Ramalhosa, Miguel Caetano e Amílcar Teixeira

Table 1 – Some general features of the sampling sites. Mean values and range of water parameters
measured at sampling stations.

Sampling sites Significance1


1 2 3 C
Latitude 41º56.003'N 41º55.730N 41º51.827N 41º55.930N
Longitude 6º44245'W 6º43.752 6º44.078W 6º44.281'W
Sediment (%)
>2mm 0.9 66.9 18.6 67.8
< 2mm 99.1 33.1 81.4 32.2
Altitude 838 775 600 761
a a a
T(ºC) 9.7 (7.2-19.0) 9.9 (7.3-20.4) 9.4 (5.1-20.4) 8.2 (6.1-18.9)a ns
pH 4.58 (4.02-4.72)a 5.38 (4.96-6.60)b 6.54 (6.10-7.30)c 6.15 (5.80-6.65)b,c ***
a
Conductivity 159.5 73.0b 42.1c 29.1d ***
(μS/cm) (144.0-174.5) (64.7-81.2) (37.5-81.9) (25.0-36.3)
a a a
Dissolved 8.60 8.82 9.65 8.10a ns
Oxygen (mg/L) (7.00-9.37) (7.60-10.10) (7.60-12.00) (7.20-9.80)
a,b
SPM (mg/L) 6.4910 3a
2.7010 3a
29.0 0.0715b *
4 3 (0-143) (0-4.70)
(0-2.7110 ) (0-5.4310 )
a b c
Ni (μg/L) 64.6 (61.4-131) 25.4 (12.6-38.0) 1.68 (0.94-2.55) 1.46 (1.08-1.89)c ***
a b c c
Cd (μg/L) 6.55 (4.71-9.97) 2.28 (0.75-3.55) 0.085 (0.01-0.18) 0.10 (0.03-0.20) ***
a b c b,c
Al (μg/L) 1114 (859-1253) 196 (5.00-295) 4.80 (0.90-11.0) 11.9 (0.50-24.7) ***
a b c c
Cu (μg/L) 325 (247-656) 97.3 (5.16-144) <DL (<DL-1.13) 0.14 (<DL-0.79) ***
a b c d
Mn (μg/L) 746 (252-1216) 207 (133-342) 21.6 (11.6-27.3) 2.12 (<DL -4.59) ***
a
As (μg/L) 2.32 (1.11-9.50) 1.79 (1.04-3.04)a,b 1.85 (1.60-8.47)a 0.83 (0.56-2.09)b *
a b c c
Co (μg/L) 68.4 (40.9-228) 26.8 (5.27-52.2) 1.12 (0.09-2.45) 0.46 (0.05-0.71) ***
Data expressed as median (range). Values followed by the same letter under the same row were not significantly
1 ns
different. Significance: *p<0.05, ** p< 0.01, *** p<0.005, no significant

Stress: 0,01 A

S1
S2
WC
Sp1 S3 SpC
W2 SC
W1 Sp2 Sp3
W3

Figure 2- Results of NDMS ordination for water parameters.

178
Ana M. Geraldes, Elsa C. Ramalhosa, Miguel Caetano e Amílcar Teixeira

(Symbols: W- winter; Sp- spring; S- summer)

4.2. Macroinvertebrate assemblage

Assemblages at sites 1 and 2 were strongly impacted. In fact, no individuals were sampled during the
surveyed period. It was found sensitive taxa simultaneously at sites C and 3, like Ephemeroptera (e.g.,
Habrophlebia fusca, Ecdyonurus gr. venosus and Calliarcys humilis), Plecoptera (e.g., Leuctra sp.,
Capnioneura sp. and Isoperla sp.) and Trichoptera (e.g., Allogamus sp., Sericostoma sp. and
Philopotamus sp.). The occurrence of these insects indicated that in site 3 the disturbance caused by
the mine spill seemed to be negligible. This idea is reinforced by the different macroinvertebrate
metrics, which evidence that macroinvertebrate assemblages found in site 3 were similar to those
determined in the undisturbed site C (Table 2). Therefore, the assemblages found in site 3 could have
been also the reflex of lower SPM and metals concentrations and higher pH values than those
determined in sites 1 and 2. The ordination plot of the NMDS based on macroinvertebrate data
grouped site 1 with site 2 and site 3 with site C, reflecting the scenario above mentioned (Figure 3).
Furthermore, ANOSIM analysis stressed the results of NMDS (R=0.75; p=0.001).

Table 2- List of macroinvertebrate metrics and indices used to evaluate sites C and 3.

Metric name WC SpC SC W3 Sp3 S3


Diversity (H’) 3.00 2.77 2.80 2.59 2.27 2.36
Evenness (J’) 0.82 0.84 0.80 0.76 0.76 0.74
% EPT families 0.53 0.63 0.44 0.44 0.65 0.30
% Diptera+Oligochaeta families 0.30 0.24 0.23 0.18 0.19 0.24
IPtIN * 0.86 0.84 0.77 0.70 0.70 0.59
Habits/behavior (% of total taxa)
Sprawlers 0.32 0.26 0.15 0.28 0.25 0.09
Clingers 0.47 0.52 0.47 0.31 0.35 0.52
Swimmers 0.08 0.07 0.06 0.06 0.15 0.09
Burrowers 0.13 0.15 0.15 0.22 0.25 0.26
Divers 0.03 0.00 0.06 0.03 0.05 0.09
Skaters 0.00 0.00 0.06 0.06 0.00 0.00
Climbers 0.00 0.00 0.00 0.03 0.00 0.00
Functional feeding groups (% of total taxa)
Shredders 0.29 0.30 0.15 0.22 0.20 0.09
Predators and Parasites 0.21 0.15 0.32 0.34 0.30 0.26
Gathering collectors 0.24 0.26 0.24 0.25 0.35 0.22
Filtering Collectors 0.11 0.15 0.12 0.06 0.05 0.13
Scrapers 0.16 0.15 0.18 0.13 0.10 0.30
W: winter; Sp: spring; S :summer. * reference values 0.98; >0.86 Excellent/Good; 0.60 Good/Fair;
0.40 Fair/Poor; 0.20 Poor/Very poor

179
Ana M. Geraldes, Elsa C. Ramalhosa, Miguel Caetano e Amílcar Teixeira

Stress: 0,05
W3 B
Sp2 Sp3

S2
WC
S1
Sp1
W1 SpC

SC
W2
S3

Figure 3 - Results of NDMS ordination for macroinvertebrate assemblages


(Symbols: W- winter; Sp- spring; S- summer).

4.3. Fish assemblages

In sites 1 and 2 no fish were sampled during the period of study. In site C only brown trout (Salmo
trutta) was sampled. In site 3 fish assemblage was dominated by Calandino (Squalius
alburnoides), Northern Iberian chub (Squalius carolitertii) and Northern straight-mouth nase
(Pseudochondrostoma duriense).

5. DISCUSSION

The short-term effects of mine spill were harsher in the sites 1 and 2, which are located at the first 5-
Km downstream the mine, including all extension of Portelo Stream. In this section, the highest metal
concentrations and SPM load and the lowest pH values were detected.
PRAT et al. (1999) and SÓLA et al. (2004) showed that metal concentrations in water decreased
exponentially with the distance to the mine during the Aznalcóllar mining spill. The observed decrease
might result from metal sorption to particles, particle settling, oxide and/or hydroxide precipitation and
dilution (NELSON and ROLINE 1996; POULTON et al. 2010). The mining spill impacts at site 3
(located around 20 km downstream from the mine) were not detectable. The spill occurred in winter
during a heavy rainy period with consequently high stream and river discharges. Therefore, large
amounts of sediments might have been flushed away. Furthermore, Sabor River receives water from
other tributaries without mining activity. According to GRAY and DELANEY (2008) the dilution of
metals load and the change of pH due to tributaries that have no mining impacts are important for
maintaining aquatic life in these systems although, not significant enough to eliminate all risks to
aquatic organisms. In fact, macroinvertebrate assemblages at site 3 were similar to the one reported
at control site. Results concerning fish assemblage were in line with those obtained for
macroinvertebrate assemblages. Fish assemblage composition and structure did not change
significantly when compared with data obtained before the mining spill (TEIXEIRA, unpublished data).

180
Ana M. Geraldes, Elsa C. Ramalhosa, Miguel Caetano e Amílcar Teixeira

Conversely, at sites 1 and 2 the mine spill had led to the total disappearance of the
macroinvertebrates and fish. PRAT et al. (1999) reported that seven months after the Aznalcóllar
mining spill a slight recovery in macroinvertebrate species number occurred even at the most affected
sites. However, they verified that macroinvertebrate assemblage was substantially different from the
reference station. Conversely, at stations located in Portelo stream no recovery has occurred. Even in
samples performed in 2011 no animals were caught and principally, at station 1 low pH and high metal
concentration still persisting (unpublished data). Furthermore, the loss of habitat had occurred as a
result of the deposit on the riverbed of fine grained sediments. Portelo watershed is very small and the
dilution effect from Sabor River did not occurred here so intensively. In the present study metal
determination in sediments was not performed. According to MARQUÉS et al. (2003) and GRAY and
DELANEY (2008) the critical factors responsible for disrupting the macroinvertebrate assemblage
appears to be pH and metal concentrations or a combination of the two. It also should be stressed that
the surface water quality has a greater influence than pore water quality in macroinvertebrate
assemblages (NELSON and ROLINE 1996). It is true that the physical habitat alterations induced by
spill inhibit biotic recovery. But the results obtained by NELSON and ROLINE 1996; 1999; PRAT et al.
1999; SÓLA et al. 2004; FREUND and PETTY 2007; POULTON et al. 2010) suggest that
macroinvertebrate assemblages will recover quickly when adjacent colonist pools exist together with
absence of degraded habitat and if inputs of metals could be mitigated or eliminated. A similar
behavior was described for fish assemblages when impacted by mining pollution (FORD 1989;
DIAMOND et al. 2002; RICCIARDI et al. 2009).
Since no mitigation or restorations measures were implemented, acid mine drainage and spilling may
still occurring at Portelo currently, becoming more accentuated during rainfall periods. In the future if
mitigation measures are not implemented it is possible that this abandoned mine might pose additional
environmental risks, not only to the aquatic system but also for other natural values included in
Montesinho Natural Park, threatening areas with high ecological, recreational and economic
importance.

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183
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Áreas Públicas e Comunitárias. Uma Floresta Diferente.

Maria Adelaide Germano

Licenciada em Silvicultura, Engenheira Silvicultora.


Pós-Graduação em Políticas de Ambiente

Falar de áreas públicas e comunitárias e da sua floresta é conhecer o nosso passado e a nossa
história florestal, pois só assim compreendemos o nosso presente e podemos perspetivar o nosso
futuro. Falar de floresta é pensar à perpetuidade, gerindo e explorando, de forma sustentada um
recurso que existe dadas as intervenções florestais no território por quem nos antecedeu. Pois se
nada se passasse, não existiria o tempo passado, e, se nada adviesse, não existiria o tempo futuro,
e, se nada existisse, não existiria o tempo presente.

Alguns marcos da história florestal

No ano de 1385, o Rei D. Fernando nomeia o primeiro Monteiro-Mor do Reino e dá destaque à


importância das coutadas, não só como espaço para a actividade cinegética mas também como um
bem de carácter produtivo refletido na exploração de madeiras e lenhas, sujeitas a uma pressão
crescente. Em 1495 surge o 1º Regimento de Reflorestação, diploma este que tornava obrigatória,
aos «moradores», a plantação de árvores.
No início do reinado de D. Manuel (em 1498) nas Cortes de Lisboa, foi debatida a questão da
existência de floresta tendo sido acordado que «entre muitos problemas, tenta-se resolver alguns
relacionados com as matas e os produtos florestais... O Rei acaba por atender às queixas sobre as
dificuldades do abastecimento e a extensão demasiadamente ampla das suas coutadas».
No século XVI (em 1565) a Lei das Árvores tem como principal objetivo promover uma política de
reflorestação nos baldios ou propriedades privadas de todos os municípios, ficando estes incumbidos
de dar andamento ao processo, bem como zelar pela proteção das parcelas plantadas. As áreas
prioritárias são os «montes baldios» ou, caso não existam, as propriedades privadas.
Porém, no fim do século XVIII, excetuando o Minho, uma grande parte de Trás-os-Montes e a Beira,
quase todo o resto do território de Portugal é deixado sem cultura. A Estremadura e o Algarve estão
incultos. Quase todas as serras estão sem arvoredo nos seus cumes e a existência de incultos e a
sua imensa vastidão eram mal aceites e tidas como não benéfica.
Em 1868 é publicado o “Relatório acerca da Arborização Geral de Portugal” o qual identificava os
terrenos cuja arborização era útil e necessária, incidindo sobre as areias móveis do litoral, os terrenos
marginais que requeriam revestimento florestal, as cumeadas das montanhas, as zonas onde se
formam os cursos de água temporários e torrenciais, as grandes extensões de charneca, áridas e
despovoadas.
Maria Adelaide Germano

Este Relatório apura também as áreas de incultos e outros terrenos improdutivos, incluindo areais e
dunas da costa marítima, perfazendo no total cerca de 4 300 000 hectares nos quais era necessário
intervir, avançando com a sua florestação e criação de riqueza.

O imperativo da florestação como garantia do interesse público

O Regime Florestal.

Chegamos assim à transição do século XIX para o século XX, altura em que: i) são consolidados os
conceitos e princípios da ciência e do ensino florestais, ii) é dado reforço à importância dos produtos
florestais na economia nacional, iii) é reconhecida a valorização do revestimento florestal no
aproveitamento dos incultos, iv) dá-se início aos trabalhos florestais com vista à fixação das dunas e
à arborização das Serras da Estrela e do Gerês, e v) é elaborado um quadro normativo da
intervenção do Estado no sector florestal, nascendo o conceito de Regime Florestal.
Por Decreto de 24 de Dezembro de 1901 é definido o conceito de Regime Florestal, o qual diz
respeito ao “conjunto de disposições destinadas a assegurar não só a creação, exploração e
conservação da riqueza silvicola, sob o ponto de vista da economia nacional, mas tambem o
revestimento florestal dos terrenos cuja arborização seja de utilidade publica, e conveniente ou
necessaria para o bom regimen das aguas e defeza das varzeas, para a valorização das planicies
aridas e beneficio do clima, ou para a fixação e conservação do solo, nas montanhas, e das areias,
no litoral maritimo.”
O Decreto de 1901 é regulamentado, também por Decreto em 1903. Estes dois diplomas são hoje um
documento técnico florestal de inegável importância que é a origem e o cerne de muitos conceitos e
orientações técnicas, constituindo a base dos princípios que norteiam a gestão florestal e os
instrumentos de intervenção no património florestal.

As Matas Nacionais e os Perímetros Florestais.

Este conceito quando aplicado aos diferentes tipos de patrimónios fundiários divide o Regime
Florestal em duas denominações distintas: i) regime florestal Total (aplicado ao património fundiário
pertencente ao domínio privado do Estado), e ii) regime florestal Parcial (quando aplicado ao
património fundiário pertencente ao domínio privado das autarquias e a privados e aos terrenos
baldios).
Temos assim duas grandes divisões do território submetido a Regime Florestal: i) as Matas Nacionais
(submetidas a Regime Florestal Total), ii) e os Perímetros Florestais (submetidos a Regime Florestal
Parcial).
As Matas Nacionais seriam ordenadas e exploradas com o objetivo de maximizar a produção de
madeira e a melhor utilização, conservação e administração da riqueza silvícola na posse do Estado,
tendo em vista o interesse público nacional, e atendendo também às necessidades das indústrias
criadas na dependência das matas e à conveniência dos povos.

185
Maria Adelaide Germano

As suas áreas e respetivo número, distribuídas por distrito, encontram-se discriminadas no Anexo I.
Os Perímetros Florestais seriam ordenados e explorados por forma a satisfazer, na medida do
possível, o interesse dos povos locais e das entidades que respetivamente os possuíssem.

O Regime Florestal e a sua aplicação direta acontecem ainda antes de este conceito existir de modo
formal, pois as Matas Nacionais já existentes em 1901 ficam (automaticamente) submetidas ao
Regime Florestal Total com a publicação do Decreto de 24 de dezembro de 1901.
No que respeita ao Regime Florestal Parcial este aparece de forma incipiente a partir de 1901, mas é
no ano de 1938 com a publicação da Lei nº 1971 (Lei do Povoamento Florestal) que ele ganha uma
maior expressão.
Determinou esta Lei que os terrenos baldios, definitivamente reconhecidos pelos serviços do
Ministério da Agricultura como mais próprios para a cultura florestal do que para qualquer outra,
seriam arborizados pelos corpos administrativos ou pelo Estado, segundo planos gerais e projetos
devidamente aprovados.
Os terrenos baldios depois de submetidos ao Regime Florestal entrariam na posse dos serviços à
medida que fossem arborizados.
A execução do determinado na Lei n.º 1971 operacionalizou, no terreno: i) a continuação da
florestação das dunas (em 14 500 ha), ii) a florestação dos baldios a norte do Tejo (420 000 ha), iii) a
instalação de reservas de vegetação (em 33 000 ha), iv) a instalação de pastagens (em 60 000 ha), v)
a construção de 2455 km de caminhos, 1050 casas de guarda, 140 postos de vigia e vi) a instalação
de uma rede própria de telecomunicações com 1159 telefones e 5800 km de rede telefónica.
Podemos consultar, no Anexo II, os elementos existentes na publicação” Reconhecimento dos
Baldios do Continente” da Junta de Colonização Interna (ano de 1939) que dizem respeito às áreas
dos Baldios.
É de relevar que, em termos dos registos históricos, aparece como mata nacional mais antiga a Mata
Nacional da Fôja, situada no concelho da Figueira da Foz (distrito de Coimbra). De facto, com a
doação feita por D. Sancho II (1223-1248) aos frades Crúzios dos terrenos incultos ao norte do
Mondego do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, foi iniciado o registo histórico desta propriedade (já
com o nome de Mata Nacional da Fôja), havendo também referências à necessidade da sua
arborização.
A Mata Nacional de Leiria com o seu pinhal remonta a datas anteriores ao reinado de D. Dinis (1279-
1325). No entanto, foi este monarca que mandou fazer as grandes sementeiras com pinheiro bravo.
De referir que como Mata Nacional mais recente aparece a Mata Nacional da Herdade da Parra
(concelho de Silves, distrito de Faro) que foi adquirida pelo Estado em 1982 e submetida a Regime
Florestal Total neste mesmo ano.
Nos quadros 1 e 2 encontramos sistematizados os dados da aplicação do Regime Florestal (as
últimas submissões a este regime acontecem na década de 80 do século XX).
Assim, podemos observar que, para o Continente e Região Autónoma da Madeira, as áreas de
Perímetros Florestais e Matas Nacionais não atingem os 550 000 ha, constituindo apenas 17% da
respectiva área florestal total.

186
Maria Adelaide Germano

Contudo, para a Região Autónoma dos Açores as áreas correspondentes têm uma maior expressão,
totalizando cerca de 30 000 ha, i.e. 42% da respectiva área florestal total.

Quadro 1 - Áreas submetidas a Regime Florestal

Matas Nacionais Perímetros Florestais


Área
Total
Portugal
(ha)
Número Área (ha) Número Área (ha)

Continental 61 65 500 170 470 511 536 011

RA dos Açores 1 15 10 29 590 29 605

RA da Madeira 4 6 340 6 7 000 13 340

Total 66 71 855 186 507 101 578 956

Quadro 2 – Percentagem das áreas submetidas a Regime Florestal

Área (ha) submetida a


Portugal Área Florestal (ha) * %
Regime Florestal

Continental 3 200 000 536 011 17

RA dos Açores 70 000 29 605 42

RA da Madeira 78 500 13 340 17

* fontes: Inventário Florestal Nacional 6, fevereiro de 2013


Estratégia Nacional para as Florestas (RAA), 2006
1º Inventário Florestal da RAM, dezembro de 2008

A gestão florestal à perpetuidade de um recurso lucrativo, natural e renovável

Temos hoje nos Decretos do Regime Florestal um guião técnico de intervenção florestal no território.
Conceitos que hoje estão cimentados e fazem parte do cerne da silvicultura portuguesa aparecem na
regulamentação do Regime Florestal. Vejamos dois exemplos: o conceito de Auto de Marca e o de
Planos de Ordenamento.

187
Maria Adelaide Germano

O conceito de “Auto de Marca” aparece em 1903 “ … nenhum corte de arvoredo se poderá efetuar
sem prévio Auto de Marca”. Inovador em termos da gestão florestal, permite obter a avaliação do
volume de material lenhoso a abater, sua localização e características e a respectiva informação
sistematizada, dando origem às tabelas de produção e aos modelos de silvicultura.
Quanto aos Planos de Ordenamento passam a ser elaborados obrigatoriamente de acordo com
modelos aprovados (pelo Decreto de 1903), revistos e atualizados cada dez anos. Requerem a
execução de relatório anual e devem maximizar a produção de madeira, o desenvolvimento das
indústrias, a explorabilidade física dos povoamentos, o valor cénico da paisagem, o ensino e a
investigação.
Decorre do conceito de Regime Florestal que as Matas Nacionais e os Perímetros Florestais são
ordenados e explorados com o objetivo de otimizar não só a produção sustentada de material
lenhoso e a sua melhor utilização, mas também a conservação e administração da riqueza silvícola
na posse do Estado, tendo em vista o interesse público nacional. Devem também considerar-se as
necessidades das indústrias criadas na dependência das matas e a conveniência dos povos,
conciliando estas finalidades com o interesse das populações locais e das entidades que sejam
detentoras dos territórios e do seu uso e fruição.

Planos de Gestão.

Os (atuais) Planos de Gestão Florestal são um instrumento de administração de espaços florestais


que determinam, no espaço e no tempo, as intervenções de natureza cultural e de exploração dos
recursos, visando a produção sustentada dos bens e serviços por eles proporcionados, tendo em
conta as actividades e os usos dos espaços envolventes.
No entanto, para as áreas submetidas a Regime Florestal, desde o ano de 1903 que existe a
obrigatoriedade da existência de um Plano de Ordenamento. Também, com a implementação da Lei
do Povoamento Florestal existiu a obrigatoriedade, para cada nova unidade submetida a Regime
Florestal (os Perímetros Florestais), da elaboração de um Projeto de Arborização, sujeito a validações
futuras e consequentes revisões.
A floresta das áreas públicas e comunitárias desde sempre está sujeita a regras para as intervenções
de cariz florestal e exploração dos recursos, sendo as áreas submetidas a Regime Florestal pioneiras
quanto à sujeição e cumprimento de Planos de Gestão.

Zonas de Intervenção Florestal.

As Zonas de Intervenção Florestal dizem respeito a uma área territorial contínua e delimitada,
constituída maioritariamente por espaços florestais, submetida a um Plano de Gestão Florestal e
gerida por uma única entidade, podendo ser constituídas por:
 Áreas privadas
 Áreas comunitárias - terrenos baldios, submetidos ou não a RF e administrados em cogestão
com o Estado ou em regime de autogestão pelos compartes,

188
Maria Adelaide Germano

 Áreas sob administração direta do Estado ou das autarquias em associação com áreas de
privados – terrenos particulares e terrenos administrados pelo Estado (do domínio privado do
Estado ou baldios) ou
 Autarquias e por áreas comunitárias em associação com áreas de privados – terrenos
particulares e baldios, submetidos ou não a RF, e administrados em cogestão com o Estado
ou em regime de autogestão pelos compartes.
No quadro seguinte (Quadro 3) chamamos a atenção para quão diminuto é o valor da área e o
número das ZIF com sobreposição com matas nacionais, quando comparado com os mesmos valores
das ZIF com sobreposição com baldios cogeridos.

Quadro 3 – Zonas de Intervenção Florestal

Área (ha) Número

Total 848 380 162

Com sobreposição com baldios


13 547 41
cogeridos

Com sobreposição com matas nacionais 50 1

Arvoredo de Interesse Público.

Desde o ano de 1938 que a legislação florestal contempla a classificação de Arvoredo de Interesse
Público, legislação esta que recentemente foi atualizada pela Lei n.º 53/2012, de 5 de setembro, e
que se aplica aos povoamentos florestais, bosques ou bosquetes, arboretos, alamedas e jardins de
interesse botânico, histórico, paisagístico ou artístico, bem como aos exemplares isolados de
espécies vegetais que, pela sua representatividade, raridade, porte, idade, historial, significado
cultural ou enquadramento paisagístico, possam ser considerados de relevante interesse público,
deste modo se recomendando a sua cuidadosa conservação.
Em Portugal Continental existem 593 unidades de arvoredo classificado de interesse público, dos
quais 52 (representam 9% do total) estão em áreas públicas submetidas a Regime Florestal. Destas
52 unidades, 47 localizam-se na faixa litoral do distrito de Leiria, nas Matas Nacionais de Leiria, do
Urso, da Charneca do Nicho e do Pedrógão.

Materiais Florestais de Reprodução.

As características dos materiais florestais de reprodução, utilizados na regeneração e na arborização


dos espaços florestais, são essenciais para a sua biodiversidade e gestão sustentável. A importância
da sua qualidade genética, adaptação e resistência, reflete-se no valor produtivo das florestas e está
reconhecida pela União Europeia desde 1966, tendo sido objeto de uma das primeiras diretivas

189
Maria Adelaide Germano

comunitárias aplicada a Portugal (Decreto n.º 205/2003, de 12 de setembro).


Para algumas das espécies que desempenham um papel importante nas arborizações e que são de
grande relevância económica para o País, como sejam o sobreiro, o pinheiro-bravo, o pinheiro-manso
e o eucalipto- glóbulo, foi considerado, em defesa da qualidade de todos os produtos da cadeia, que
só deve ser aceite a comercialização, ao utilizador final, de sementes provenientes de povoamentos
selecionados.
No quadro seguinte podemos observar que dos 484 povoamentos classificados para produção,
metade se localizam em áreas submetidas ao regime florestal.

Quadro 4 – Povoamentos em produção

Total % em áreas submetidas a Regime Florestal

484 50

Incêndios Florestais.

No Quadro 5 apresentamos, para o último período de 10 anos (2002 - 2011), as áreas ardidas nas
matas públicas e comunitárias. Relevamos que apenas 15% da área total ardida nesse período se
encontra em áreas submetidas a Regime Florestal.

Quadro 5 – Áreas percorridas por incêndios florestais

% das áreas
Área em Matas Área em Matas
Área Nacional submetidas a Regime
Públicas Comunitárias
Florestal

Total do
período de 1 326 221 6 601 186 764 15
2002 a 2011

unidade: hectare

Nemátodo da Madeira do Pinheiro.

No Quadro 6 referenciamos as áreas de Regime Florestal em “Locais de Intervenção”, isto é,


freguesias onde é conhecida a presença de Nemátodo da Madeira do Pinheiro (NMP) ou em que é
reconhecido o risco do seu estabelecimento e dispersão.

190
Maria Adelaide Germano

Realçamos que, no que respeita a áreas públicas e comunitárias submetidas a Regime Florestal,
apenas 7% da área total de coníferas se encontra em “Locais de Intervenção”.

Quadro 6 – Áreas referenciadas em Locais de Intervenção do NMP

Área de Coníferas localizada em Locais


Área Nacional % das áreas em
de Intervenção
Locais de Intervenção
LI – Freguesias Infetadas (372)

Área de
536 011 43 000 7
Regime Florestal

Área Florestal 3 200 000 400 000 13

unidade: hectare

Que modelos de gestão participada

Gestão de terrenos baldios.

Enquanto que nas áreas submetidas a Regime Florestal Total temos um único interlocutor na sua
gestão – o Estado -, já nos Perímetros Florestais, constituídos por terrenos baldios, esta gestão é
partilhada e participada.
E porque os baldios submetidos a Regime Florestal são hoje cerca de 370 mil hectares (representam
70% da área total sujeita a esta servidão florestal pública) entendemos que merecem um tratamento
mais alargado e uma análise mais detalhada das suas características e existências.
Como atrás referimos, desde 1938 esta gestão dos terrenos baldios (terrenos baldios arborizados)
ficam na posse do Estado, sendo por este geridos de forma única e sem interlocutor, tendo presente
o conceito de Regime Florestal.
Em 1976 pelo Decreto-Lei nº 39/76, são devolvidos ao uso, fruição e administração dos respectivos
compartes os terrenos baldios submetidos, ou não, ao regime florestal.
A administração única, por parte do Estado, dos terrenos baldios submetidos a regime florestal, passa
a administração em regime de associação entre os compartes e/ou autarquias e o Estado (regime de
cogestão) ou a administração exclusiva (autogestão) pelos compartes e/ou autarquias.
Constituem-se as "unidades de baldio", que podem corresponder a um ou mais lugares, ou a toda a
freguesia, organizam-se as assembleias de compartes e é escolhida a modalidade de administração:
em regime de exclusividade pelos compartes ou em regime de associação entre os compartes e o
Estado.

191
Maria Adelaide Germano

Também em 1976 o Decreto-Lei nº 40/76, determina que os atos e negócios de apropriação de


terrenos baldios, incluindo a usucapião, são atos nulos.
O facto de em 1976 os terrenos baldios deixarem de ser alienáveis é também algo de inovador, pois
até essa data tal podia acontecer, sendo os mesmos objeto de apropriação e comercialização.
Refiro alguns dos principais marcos legislativos que regulam esta matéria:
 Em 1918 o decreto nº. 4805, determina que o Estado deve promover o desbravamento e a
cultura dos terrenos baldios e proceder à sua divisão. As Autarquias são autorizadas a dividir
todos os baldios que lhes pertençam e a cede-los aos moradores vizinhos, para estes os
reduzirem a culturas agrícolas.
 Em 1927 o decreto nº. 13663 permite que as Autarquias possam alienar baldios em hasta
pública, desde que estes sejam de dimensão reduzida, não possam ter aproveitamento
agrícola e não tenham condições de bom aproveitamento florestal.
 O Código Administrativo de 1936 classifica os baldios como terrenos não individualmente
apropriados e dos quais só é possível tirar proveito pelos indivíduos residentes, sendo
prescritíveis. Quanto à sua utilidade social e aptidão cultural classificam-se em: i) Baldios
indispensáveis ao logradouro comum; ii) Baldios dispensáveis ao logradouro comum e
próprios para cultura; iii) Baldios dispensáveis ao logradouro comum e impróprios para
cultura; iv) Baldios arborizados ou destinados à arborização
Em 1993 é publicada a Lei nº 68/93 (atual lei dos baldios) que revoga o Decreto-Lei nº 39/76, mas
mantêm os conceitos de baldio, de comparte, de unidade de baldio e da sua finalidade.
Reforça a competência das assembleias de compartes e a nulidade dos atos de apropriação de
terrenos baldios, permite o arrendamento/cessão de exploração de terrenos baldios e cria a figura do
Plano de Utilização dos Recursos do Baldio (PUB) possibilitando a gestão conjunta.
Desaparece a figura da “administração em regime de exclusividade pelos compartes”, mantendo-se
este regime, sendo possível os compartes assumirem a totalidade dos poderes de administração dos
seus baldios.
É mantida a figura da "administração em regime de associação", entre os compartes e o Estado, para
as “unidades de baldio” constituídas até Setembro de 1993, podendo esta cessar passados 20 anos,
após a necessária notificação ao Estado, ou a qualquer momento desde que as partes regulem por
acordo as compensações a que houver lugar.
Consagra ainda as figuras administrativas dos "poderes de delegação" e da "administração
transitória”.
No Quadro 7 apresentamos o número de Unidades de Baldio e respetiva modalidade de
administração e podemos observar que a grande maioria (cerca de 70%) é gerida por conselhos
diretivos, independentemente da modalidade de administração.

192
Maria Adelaide Germano

Quadro 7 - Unidades de Baldio (maio de 2013):

Modalidade de administração Subtotal


Representante
Âmbito
dos regime de associação exclusivamente e
Geográfico
compartes entre os compartes e o pelos compartes
Estado Total
Conselho
586 187 773 (70%)
Diretivo

Junta de
275 59 334 (30%)
Portugal Freguesia
Continental

subtotal 861 (80%) 246 (20%) 1107

Podemos referir (Quadro 8) que um número significativo destas Unidades de Baldio – quase 70% -,
foi constituído a partir da publicação da primeira “Lei dos Baldios”.
 15% das freguesias com baldios submetidos a Regime Florestal não têm ainda assembleias
de compartes constituídas e em funcionamento
 32 Unidades de Baldio pediram o fim do regime de cogestão com o Estado (5%)

Quadro 8 - Unidades de Baldio devolvidas ao uso, fruição e administração dos compartes:

UB constituídas entre
UB constituídas após 1993
1976 e 1993

total

cogestão exclusividade cogestão exclusividade

575 (78%) 162 (22%) 298 (80%) 72 (20%)

1107

737 (67%) 370 (33%)

No entanto, no Anexo III, podemos observar mais detalhadamente a desagregação, por distrito, dos
Baldios administrados em regime de exclusividade pelos compartes e em regime de cogestão,
explicitando o número de Unidades de Baldio e respectivas áreas.

193
Maria Adelaide Germano

Planos de Utilização dos Recursos dos Baldios.

A Lei de Bases da Política Florestal determina que compete ao Estado cooperar na elaboração de
planos integrados de utilização dos baldios.
Por seu lado a Estratégia Nacional para as Florestas, aprovada em 2006, prevê que os
representantes dos compartes beneficiem de aconselhamento florestal, que haja uma flexibilização
dos modelos de gestão dos baldios permitindo a possibilidade de entidades privadas fazerem a sua
gestão e que sejam encontradas novas formas de parceria entre o Estado e os compartes garantindo
a sustentabilidade económica da gestão dos terrenos baldios (submetidos ou não a Regime
Florestal).
Tais metas traduzem-se na possibilidade de viabilizar a realização de contratos de gestão para os
baldios.
Consciente da importância dos territórios baldios, no ano de 2007, o Estado imprimiu uma nova
dinâmica ao processo de regularização dos Planos de Utilização dos Recursos dos Baldios,
reconhecendo a importância fundamental que estes instrumentos têm para estabelecer as bases de
uma gestão correta destes territórios. Este esforço iria abrir a possibilidade de formalizar e aprovar
um maior número de candidaturas ao PRODER.
Foram celebrados protocolos com as entidades federativas do sector dos baldios as quais congregam
associações que se dispuseram a participar na elaboração dos Planos de Utilização dos Recursos
dos Baldios.

Quadro 9 – Planos de Utilização dos Recursos dos Baldios

Previsões e Objetivos Aprovados


Realização
(ano de 2007) (maio de 2013)

número área número área número área

680 450 000 667 286 000 98 % 64 %

Da área total objeto de Planos de Utilização de Recursos dos Baldios, 208 mil hectares dizem
respeito a baldios submetidos a Regime Florestal e 38 mil hectares a baldios não submetidos a
Regime Florestal. Há ainda que contabilizar 40 mil hectares que incidem sobre áreas de sobreposição
entre duas (ou mais) Unidades de Baldio.
Assim, foram aprovados até maio deste ano, 667 planos de utilização dos recursos de baldios, o que
corresponde a uma área de 286 000ha

194
Maria Adelaide Germano

Equipas de Sapadores Florestais:

As equipas de Sapadores Florestais constituídas e em funcionamento em Unidades de Baldio


inseridas em áreas submetidas a regime florestal são 45, representam 16 % do total nacional, e estão
distribuídas do seguinte modo:

Quadro 10 – Equipas de Sapadores Florestais

Unidades de Baldio submetidas a Regime Florestal

Total Nacional Gestão em exclusividade Cogestão com o Estado

5 40
278
45 (16%)

Grupos de Baldios.

Consolidados os Planos de Utilização dos Recursos dos Baldios, estão assim criadas as condições
para se avançar para a operacionalização da figura de Grupo de Baldios, sua constituição e
funcionamento.
A constituição de Grupos de Baldios, figura que se enquadra no conceito de gestão conjunta prevista
na Lei dos Baldios, e a sua organização e funcionamento, carecem de um enquadramento e da
definição de procedimentos para a sua estruturação.
Será assim possível traduzir a sua existência em unidades de ordenamento com exigência da
dimensão requerida por objetivos de usos múltiplos e integrados, potenciando a construção de
diversas infraestruturas que só se justificam a uma escala superior à de uma só Unidade de Baldio,
ou por economias de escala na aquisição e utilização de equipamento.
Os Grupos de Baldios serão uma forma de potenciar uma gestão florestal ativa, profissional e
exigente dos territórios baldios, tendo sempre presente os usos e costumes consuetudinários das
comunidades locais.
Obtém-se deste modo a programação da utilização racional dos recursos efetivos e potenciais dos
baldios, com sujeição a critérios de coordenação e valia socioeconómica e ambiental, não só a nível
da Unidade de Baldio, como a conjuntos de Unidades de Baldio organizadas e em funcionamento na
figura de Grupo de Baldios.
Esta nova abordagem abrirá a possibilidade de criar novas formas de assegurar um envolvimento das
comunidades locais na gestão dos territórios baldios submetidos a Regime Florestal, contribuindo
para a sustentabilidade das novas realidades sociais, associadas à gestão eficaz e dinâmica dos
espaços florestais e dos seus recursos associados.

195
Maria Adelaide Germano

A Floresta a crescer.

A 26 de dezembro de 1999, uma tempestade varreu drasticamente a Europa. No rasto de desolação


estima-se que terão ficado tombadas cerca de trezentos milhões de árvores. Em França, nas
semanas que se seguiram, os gabinetes governamentais elaboraram aprofundados programas de
reflorestação, procurando ao mesmo tempo tirar partido do acidente, pois a floresta seria por eles
reconstruída com uma racionalidade mais adequada. Mas quando passaram ao terreno, os
engenheiros florestais aperceberam-se que a floresta tinha já começado a sua regeneração. E que,
contrariando os planos técnicos, a natureza havia encontrado soluções novas muito mais vantajosas
do que aquelas planeadas na geometria dos gabinetes.
Portugal, no início deste ano, foi assolado por períodos de intensos temporais que provocaram a
queda de milhares de árvores e a devastação de inúmeras áreas de floresta. Importa agora atuar no
território, fazendo com que a floresta recupere e as novas florestações aconteçam, implementando o
desenvolvimento das zonas florestais para a melhoria da resistência, conciliando os valores produtivo
e económico com o valor ambiental.
Há portanto que tornar exponencial o crescente valor dos recursos florestais, maximizando os seus
múltiplos aproveitamentos não só na produção de material lenhoso mas também nos serviços silvo-
ambientais, climáticos e de conservação, tendo presentes as funções dominantes dos diversos tipos
de floresta, a sua importância física, biofísica, inscrição territorial e valorização funcional.
A floresta tem forçosamente que continuar a ser um setor potenciador de riqueza, de biodiversidade,
e de equilíbrio ambiental.

196
Maria Adelaide Germano

Anexo I

Áreas de Matas Nacionais e respetivo número, distribuídas por distrito.

Distrito Número de Matas Nacionais Área (ha)

Aveiro 4 4000

Braga 1 5000

Castelo Branco 3 1500

Coimbra 9 9500

Évora 1 1500

Faro 3 3000

Leiria 8 23000

Lisboa 15 2200

Portalegre 1 800

Santarém 3 700

Setúbal 8 12300

Viana do Castelo 3 150

Vila Real 1 50

Total 60 65500

197
Maria Adelaide Germano

Anexo II

Inventário de baldios, por distrito e área, de acordo com o seu aproveitamento e potencialidades.
Área de Baldios
Área de Baldios com aproveitamento e potencialidades submetidos a Total da área de baldios
futuras (ha) Regime Florestal (ha)
(ha)
Distrito Submetidos a
Agrícola
Regime
até de 1938 Inventário
não Florestal Reservados Florestal
colonizável 1937 a 1968 da JCI
colonizável (perímetros
florestais)

Aveiro 300 58 8387 300 0 8600 9045 8600

Beja 9385 102 553 6400 0 0 16440 0

Braga 70 323 5742 0 19200 22170 6135 41370

Bragança 2477 5638 17046 3340 5200 47575 28501 52775

Castelo
0 381 12818 0 2830 11880 13199 14710
Branco

Coimbra 2858 445 30885 9368 3000 26600 43556 29600

Évora 520 45 358 842 0 0 1765 0

Faro 3596 352 242 3596 1870 0 7786 1870

Guarda 4502 2209 22596 13563 1600 21700 42870 23300

Leiria 1709 4958 12925 2965 0 5150 22557 5150

Lisboa 0 80 1081 0 3900 0 1161 3900

Portalegre 3250 374 34 3250 430 0 6908 430

Porto 0 168 2355 0 6170 0 2523 6170

Santarém 274 10174 3562 1474 0 12500 15484 12500

Setúbal 0 10 168 0 0 0 178 0

Viana do
2021 4901 49649 4180 0 30350 60751 30350
Castelo

Vila Real 7366 4150 95468 16507 12000 122670 123491 134670

Viseu 1824 3013 68497 13668 0 72850 87002 72850

40152 37381 332366 79453 56200 382045

TOTAL 489352 438245


489352 438245

198
Maria Adelaide Germano

Anexo III

Número de Unidades de Baldio (já constituídas e com assembleia de compartes), por distrito, considerando a
desagregação pela modalidade de administração: i) em regime de exclusividades pelos compartes; ii) em regime
de associação (cogestão) com o Estado.

administração exclusiva administração em cogestão


pelos compartes com o Estado
Distrito
Número de Número de
Unidades de Área Unidades de Área
Baldio (ha) Baldio (ha)

Aveiro 11 1500 35 3000

Braga 27 12100 7 1000

Bragança 9 2000 70 31000

Castelo Branco 0 0 6 7000

Coimbra 21 3500 71 19000

Guarda 7 3000 30 10000

Leiria 8 2000 5 2000

Lisboa 0 0 4 800

Porto 2 200 10 7000

Santarém 5 3000 4 1000

Viana do Castelo 34 8000 135 43000

Vila Real 43 7000 297 60000

Viseu 79 6000 187 45000

Total 246 48300 861 229800

199
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Tapada Nacional de Mafra, um caso de sucesso no restauro do coberto


florestal em áreas ardidas

Alberto Azevedo Gomes1, Ricardo Paiva1, Filipe X. Catry2

1: UESSAFSV do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária; Quinta do Marquês, Av. Da


República, 2780-159 OEIRAS
2: Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves - ISA; Tapada da Ajuda, 1349-017 LISBOA

e-mail: 1º Autor, ricardo.paiva@iniav.pt; 2º Autor, alberto.gomes@iniav.pt; 3º Autor, fcatry@isa.utl.pt

Resumo. A Tapada Nacional de Mafra (TNM) – Centro Turístico, Cinegético e de Educação


Ambiental, é gerida desde 1998 por uma régie-cooperativa de responsabilidade limitada, é um
espaço de carácter fortemente florestal inserido no conjunto histórico-cultural formado pelo
Palácio Nacional de Mafra, Jardim do Cerco e pela originalmente designada Tapada Real de
Mafra
Detentora de um importante património natural, a TNM constitui um espaço multifuncional que
decorre da diversidade de valências, posicionando-a como espaço privilegiado de biodiversidade,
memória histórica e cultural, turismo e lazer, educação ambiental, gestão sustentável dos
recursos, conhecimento científico, aprendizagem e demonstração, tendo por missão promover a
sua preservação e valorização em respeito pelos seus valores, património e história.
Em Setembro de 2003, um incêndio florestal afetou 70% do coberto vegetal, com elevados
prejuízos na riqueza florestal e faunística existente. Iniciou-se de imediato a extração da madeira
queimada e elaborou-se o novo plano de ordenamento.
Em 2004 iniciou-se o processo de recuperação das áreas ardidas visando a reposição dos
valores ambientais e paisagísticos, a implementação de um plano de defesa da floresta contra
incêndios, a proteção das espécies faunísticas com elevado interesse conservacionista e a
exploração de matérias primas de origem florestal. No mesmo ano iniciaram-se os inventários
para monitorização e estudo da regeneração natural, das ações de rearborização e do impacte
dos herbívoros, tendo em vista analisar a capacidade regenerativa e desenvolvimento dos novos
povoamentos.
Pretende-se fazer uma análise retrospetiva da evolução da TNM desde a situação anterior ao
incêndio, apresentando os primeiros resultados da evolução da regeneração florestal, analisa-se
a situação atual e apresentam-se as estratégias para a sua gestão sustentável. Esta experiência
constitui um exemplo de restauração do coberto florestal pós incêndio, em conciliação com a
valorização ambiental, a gestão cinegética e a sustentabilidade ambiental e económica destes
espaços florestais.
Palavras-chave: incêndios florestais, restauro florestal e cinegético, sustentabilidade ambiental

Abstract: Tapada Nacional de Mafra (TNM), Turistic, Cinegetic and Environment Education
Center has been managed since 1998 by a régie-cooperativa of limited liability. It is a forest area
included in the historic-cultural group composed by Palácio Nacional de Mafra, Jardim do Cerco
and by originally designated “Tapada Real de Mafra”.
Detaining an important natural patrimony, TNM represents a multifunctional area which arises
from diversity of valences, positioning it as a privileged space of biodiversity, historical and
cultural memory, tourism and leisure, environmental education, resources sustainable
management, scientific knowledge, learning and demonstration, whose mission is to promote its
preservation and valorisation regarding their values, patrimony and history.
In September 2003, a forest fire affected 70% of canopy with high damages in forest and wildlife
richness. In the same year immediately started the removal of burned wood and a new
management plan was elaborated.
The recovery process of burned areas started in 2004 regarding the environmental and landscape
values replacement, the implementation of the protection plan against forest fires, the protection
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

of wildlife with high conservation value and the exploitation of forest products. In the same year
began the inventories for monitoring and study of forest natural regeneration, herbivores impact in
reforestation in order to analyse the regenerative capacity and growth of new plants and stands.
This work aims to make a retrospective analysis of TNM developments before and after 2003,
presenting the first results of forest regeneration evolution. It is analysed the actual situation and it
is shown strategies for sustainable management. This experience is an example of vegetation
cover restoration post fire, in conciliation with environmental valorisation, hunting, sustainability
and economy of this forest types.
Keywords: forest fire, canopy and, wildlife restoration, environmental sustainability

1. INTRODUÇÃO
A Tapada Nacional de Mafra (TNM) integra o conjunto histórico-cultural e territorial de elevado
interesse composto pelo Palácio Nacional de Mafra e pela originalmente designada Tapada Real de
Mafra (na qual se insere a TNM em aproximadamente 2/3 da área), cuja criação data de 1747 com o
objetivo de fornecer lenha para o palácio e como espaço de caça e lazer dos monarcas. Denotando
um carácter predominantemente florestal, a TNM constitui atualmente um espaço público
multifuncional que alberga uma importante diversidade faunística e vegetal. Esta multifuncionalidade
decorre da diversidade de valências presentes na TNM, posicionando-a simultaneamente enquanto
espaço de biodiversidade (dimensão ambiental), espaço de memória (dimensão histórico-cultural),
espaço de turismo e lazer (dimensão lúdica), espaço de investigação e experimentação (dimensão
técnico-científica) e espaço de aprendizagem e demonstração (dimensão formativa).
A TNM é gerida por uma régie-cooperativa (cooperativa de interesse público) de responsabilidade
limitada, com a designação oficial de Tapada Nacional de Mafra – Centro Turístico, Cinegético e de
Educação Ambienta, desde 1998 l. Na DECLARAÇÂO da MISSÃO, a TNM é criada para: Promover a
valorização e a visibilidade da TNM enquanto unidade territorial integrada no conjunto histórico-
cultural formado pelo Palácio Nacional de Mafra e pela(s) tapada(s) adjacente(s), dinamizada por
atividades de recreio e lazer compatíveis com a preservação dos recursos faunísticos e florísticos e
posicionada enquanto suporte de referência para o desenvolvimento de atividades de sensibilização e
educação ambiental e de investigação, experimentação e demonstração da gestão ambiental.
Em Setembro de 2003 ocorreu um grande incêndio florestal que atingiu 70% dos 833 ha da área da
TNM, afectando uma grande parte do património natural existente. Face a esta ocorrência, executou-
se um plano de ação para promover a reposição do potencial silvícola e do património natural
destruído, para recuperar as funções económicas, ambientais e sociais que lhe estão atribuídas no
âmbito dos princípios adotados para a Missão da TNM e para a prossecução dos objetivos
estratégicos definidos no plano estratégico de desenvolvimento da TNM: i) Promover práticas de
referência no domínio da gestão ambiental; ii) Ganhar dimensão e qualidade no domínio da educação
ambiental; iii) Disponibilizar experiências diferenciadas no domínio do lazer.
Sendo a investigação um dos princípios da Missão da TNM, e não havendo conhecimento suficiente
sobre a resiliência e a capacidade de regeneração das várias espécies florestais em áreas ardidas,
autóctones e não autóctones, efetuaram-se alguns estudos sobre a capacidade e tipologia da
regeneração natural, a adaptação e o crescimento das espécies utilizadas na rearborização.
O objetivo deste artigo é o de dar a conhecer o processo de restauro e recuperação do coberto

201
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

florestal nas áreas ardidas da TNM.

2. EVOLUÇÃO DO COBERTO FLORESTAL DA TNM NOS ÚLTIMOS 20 ANOS


2.1. Resenha sobre a história florestal da Tapada Nacional de Mafra
Na sua origem, a floresta da Tapada de Mafra seria composta por um misto de carvalhos de folha
marcescente (Quercus faginea e Quercus pyrenaica), carvalhos de folha persistente como o sobreiro
(Quercus suber) e a azinheira (Quercus rotundifolia), freixos (Fraxinus angustifolia), por espécies sub-
arbóreas como o medronheiro (Arbutus unedo), o sanguinal (Rhamnus alaternus), o pilriteiro
(Crataegus monogyna), a aroeira (Pistaceo lentiscus), e por espécies arbustivas como a esteva
(género Cistus), as urzes (género Erica), tojo (género Ulex) (Rego 2006). Esta riqueza de vegetação
deve-se também à complexidade geológica da região que é composta por formações do Cretácico
(margas, calcários e arenitos) e do Jurássico, rochas eruptivas do complexo vulcânico Lisboa-Mafra,
conglomerados e calcários brancos do Paleogénico, arenitos e calcários margosos do mio-pliocénico,
que condicionou a formação de um relevo ondulado forte, por vezes acidentado.
Desde a sua origem, quando a vegetação nativa cobria toda a área, que a composição e estrutura do
coberto vegetal da TNM sofreu profundas alterações mercê principalmente da pressão humana
exercida sobre a floresta para abastecimento de lenha ao convento ou para fazer carvão, mas à qual
não são estranhos os incêndios florestais que ocorreram no passado. Disso é prova o relato efetuado
por William Blackford em 1787 (in Rego, 2006), poucos anos passados sobre a construção do
Convento de Mafra, em que referia que a tapada “…havia sido tisnada por um fogo que há coisa de
um mês atrás devorou a maior parte do seu arvoredo e da sua verdura”. Também Roussado Gorjão
em 1834 (in Rego, 2006) referia que “os fogos na tapada continuam a ocorrer porque se admitiam
todas as pessoas que queriam fazer carvão e, como o mato fosse muito denso, as carvoeiras
largavam fogo ao mesmo para arrancar a cepa”.
Mais recentemente ocorreram incêndios em 1975 e em 1981, tendo então a TNM sido encerrada ao
de forma a evitar a ocorrência de mais incêndios por negligência humana. Com o incêndio de 2003,
registaram-se avultados prejuízos no coberto vegetal da TNM, que abrigava e era o suporte para uma
importante diversidade animal e florística.
Os problemas e preocupações com a floresta da tapada são bastante antigos e são consequência
das diferentes formas de utilização a que a tapada esteve sujeita, desde o consumo de lenha para o
convento delapidando intensivamente o coberto florestal, principalmente os carvalhos pela melhor
qualidade das suas lenhas, até à destruição de áreas florestais para a instalação de vinhas e olivais.
A partir de 1939, já sob a administração dos serviços florestais, efetuaram-se alguns trabalhos de
ordenamento e arborização com pinheiro bravo e carvalhos autóctones procurando reconstituir, em
parte, a floresta nativa. Ao longo deste processo foram surgindo alguns núcleos de eucaliptal a partir
da plantação dispersa de árvores para fins paisagísticos e, principalmente, por disseminação dos
terrenos da TNM a partir de plantações confinantes, mercê do carácter de espécie invasora que o
eucalipto demonstra nesta região. As tentativas para introduzir pastagens melhoradas para
alimentação da fauna cinegética nas zonas planas de altitude, resultaram em problemas de erosão
acelerada do solo provocada pelo pisoteio intenso dos animais no período primaveril em que se

202
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

verifica o crescimento dos pastos.


Com a criação da Régie-Cooperativa da TNM em 1998 alterou-se um pouco o modelo de gestão da
TNM, nomeadamente pela redução da área de eucalipto e a sua progressiva reconversão com
carvalhos autóctones, particularmente com espécies produtoras de fruto para alimentação da fauna
Assim, a composição e estrutura do coberto existente corresponde a um mosaico paisagístico que se
caracteriza por apresentar, na atualidade, uma riqueza e uma originalidade florísticas e fitocenóticas
baixas relativamente à situação de origem. Poder-se-á assim dizer que a história da vegetação da
Tapada Nacional de Mafra é função da ação combinada da natureza e do homem e traduz as formas
de gestão levadas a cabo ao longo dos anos em função dos objetivos traçados para a tapada

2.2. Ocupação florestal do solo antes do incêndio de 2003


Antes do incêndio ocorrido em Setembro de 2003, os matos (constituídos principalmente por urzes)
ocupavam cerca de 45% da área da TNM (figura 1), representando, um aumento significativo
relativamente à situação que se observava em 1995, o que se justifica pelo corte de alguns núcleos
de eucaliptal. Não obstante este facto e o passado de delapidação da vegetação arbórea nativa, a
TNM detinha ainda na sua estrutura florestal espécies representativas da região, mercê, muito
provavelmente, da forte capacidade resiliente das mesmas, demonstrada pelos resultados obtidos
nos estudos efetuados sobre o assunto e que adiante se referem (ver ponto 2).
Entre as espécies da silva nativa referem-se: o pinheiro manso (Pinus pinea), o carvalho-português
(Quercus faginea), o sobreiro (Quercus suber), o carrasco (Quercus coccifera), o freixo (Fraxinus
angustifolia e Fraxinus angustifólia), o zambujeiro (Olea europaea var. sylvestris). As espécies nativas
estavam ainda representadas pelo pilriteiro (Crataegus monoyina Jack) e a aroeira (Pistacia lentiscus
L.). O pinheiro bravo (Pinus pinaster) o castanheiro (Castanea sativa) e o eucalipto (Eucalyptus
globulus) em algumas manchas espalhadas eram as principais espécies introduzidas na TNM.
Nas clareiras surgem as áreas degradadas onde se procurou instalar as pastagens melhoradas e
pastagens espontâneas de composição diversa mas com baixos valores forrageiros.
.

203
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

Figura 1. Carta de ocupação do solo antes do incêndio de 2003

A TNM detinha ainda um importante património em recursos faunísticos e cinegéticos, o que lhe
conferia uma posição importante no panorama da riqueza da biodiversidade em Portugal. Os
vertebrados constituem o grupo taxonómico mais representativo e diversificado, tendo sido já
identificadas: i) aves com 48 espécies, como a águia de Bonelli (Hieraaetus fasciatus), classificada no
Livro Vermelho dos vertebrados de Portugal como espécie em perigo de extinção, o açor (Accipiter
gentilis) como espécie vulnerável e o bufo real (Bubo bubo) como espécie quase ameaçada; ii) os
mamíferos com 21 espécies já detetadas, com destaque para o veado (Cervus elhaphus), o gamo
(Cervus dama) e o javali (Sus scrofa), pelo seu interesse cinegético e visualidade no campo, o coelho
(Oryctolagus cuniculus) que está com o estatuto de espécie quase ameaçada e os morcegos de que
estão já identificadas oito 8 colónias, com destaque para o morcego de ferradura (Rhinolophus

hipposideros); ii) os anfíbios com 7 espécies e os répteis com 13 espécies já identificadas,


destacando-se nestes último grupo a víbora cornuda (Vipera latastei), classificada como vulnerável
pelo estatuto de conservação.

2.3. O incêndio de 2003


Consequências
Em Setembro de 2003, a TNM foi atingida por um incêndio florestal que atingiu 70% dos 833 ha que
constituem a sua área (figura 2), com destruição quase total do coberto vegetal então existente.

204
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

.
Figura 2 – Áreas percorridas pelo incêndio de 2003

Das espécies florestais o eucalipto foi a mais atingida quando avaliada relativamente à área de
ocupação antes do incêndio (figura 3). Relativamente ao impacte na fauna, nomeadamente nos
cervídeos, a mortalidade foi reduzida na medida em que ainda houve tempo dos animais se
deslocarem para as zonas não atingidas pelo incêndio.

Figura 3 – Percentagem de área ardida por espécie

O combate ao incêndio permitiu ainda dominar as chamas nas áreas envolvente aos locais de
nidificação das aves mais importantes, nomeadamente a Águia-de-bonelli no pinhal da Chanquinha.
Apesar do enorme prejuízo e destruição causados pelo fogo, pode considerar-se que com este
incêndio se abriu uma janela de oportunidade necessária e há muitos anos desejada, para
reconverter o coberto vegetal da TNM de forma a promover um ordenamento florestal mais adequado
às condições estacionais locais, reconstituir a floresta autóctone, instalar um sistema mais eficaz de
prevenção e combate a futuros incêndios.

2.4. Ações de recuperação do coberto florestal


Tendo em vista a recuperação e o restauro do coberto florestal, e no cumprimento da Missão adotada

205
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

para a TNM como espaço público vocacionado para a educação ambiental com relevância para as
espécies cinegéticas e espécies faunísticas com estatuto conservacionista, iniciou-se de imediato um
plano de ação para a limpeza de todo o espaço contemplando o corte e remoção das árvores
queimadas e a reparação dos caminhos e infraestruturas, elaborou-se o novo plano do ordenamento
e ocupação florestal do solo e definiu-se um plano de defesa da floresta contra incêndios.
Toda a área da TNM está submetida ao regime florestal segundo o disposto Decreto nº 31373 de 8
de Julho de 1941. (Diário do Governo 1ª Série, nº 156). Por seu lado, A TNM está integrada na ZIF
(Zona de intervenção Florestal Mafra Este) sendo o parceiro maioritário com cerca de 40 % da área
total da ZIF, estando classificada como parcela de elevada e muito elevada perigosidade de incêndio.
Como tal, a TNM está obrigada ao cumprimento do plano de gestão definido para a ZIF e,
consequentemente, do respetivo PMDFCI (Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios)
e das tarefas específicas nos seguintes Eixos: Eixo 1, aumento da resiliência do território através
criação de faixas de compartimentação, mosaicos de descontinuidade no coberto florestal, faixas de
gestão de combustíveis, manutenção da rede viária e criação de zonas de gestão na floresta; Eixo 2,
redução dos riscos de incêndios florestais promovendo ações de educação e sensibilização dos
diferentes públicos; Eixo 3, melhoria da eficácia do ataque e gestão de incêndios florestais; Eixo 4,
recuperação e reabilitação dos ecossistemas; Eixo 5, adaptação de uma estrutura orgânica funcional
através de ações de silvicultura preventiva, beneficiação de rede viária e criação de pontos de água.
O formato jurídico da régie-cooperativa exige o princípio da auto suficiência económica e financeira,
facto que impõe a necessidade de geração de receitas para fazer face aos custos em recursos
humanos, em equipamentos e manutenção e nas ações de gestão. Neste sentido, o novo plano de
ordenamento florestal possibilita a gestão de algumas áreas para a exploração de produtos florestais,
nomeadamente a produção de madeira de eucalipto e a produção de pinha.
Sendo o sobreiro uma das principais espécies presentes na TNM, equacionou-se retomar a tiragem
de cortiça que deixou de ser praticada desde 1939, por determinação dos serviços florestais a quem
fora entregue a administração da TNM. Por se tratar, na maior parte, de árvores com muitos anos e
cortiças muito espessas, optou-se por não atuar nestas árvores por receio do impacte sobre as
árvores, criando-se em alternativa novos povoamentos de sobreiro para a produção de cortiça.
A experiência decorrente do incêndio de 2003 suscitou igualmente uma atenção redobrada em
relação às áreas não ardidas, traduzindo assim uma estratégia de redução de riscos.
O processo de reordenamento florestal da TNM foi suportado por um conjunto de candidaturas aos
diversos instrumentos de cofinanciamento público de apoio à floresta, nomeadamente o Programa
Agro e o Fundo Florestal Permanente (FFP) e com o apoio financeiro de várias empresas privadas,
nomeadamente a Audemars Piguet, a Auxan e a Fima Lever, visando os seguintes grandes objetivos;
i) o desenvolvimento de operações de silvicultura preventiva, ii) a sinalização de estruturas de defesa
contra incêndios e iii) a beneficiação e construção de infra-estruturas de combate a fogos..
Relativamente ao Programa AGRO, focalizado nas áreas ardidas, a intervenção visou a
rearborização da área com o intuito de promover a reposição do potencial silvícola e o
desenvolvimento de uma floresta de uso múltiplo de suporte à a exploração dos recursos cinegéticos.
O recurso aos apoios financeiros do FFP foi essencialmente para redinamizar as atividades

206
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

económicas da tapada, através de campanhas de sensibilização e divulgação junto da população,


para fazer face à forte quebra da visitação que se verificou a seguir ao incêndio.
Os apoios das empresas foram direcionados de forma determinante para a realização de várias
ações de recuperação e restauro do coberto e infraestruturas várias, nomeadamente para efetuar o
reordenamento das áreas não ardidas e executar ações de proteção do arvoredo, nalguns casos com
a instalação de protetores contra a ação dos herbívoros, noutros com a instalação de cercas,
nomeadamente quando se tratasse de áreas contínuas de rearborização como foi a instalação das
cercas no pinhal manso da Chanquinha, na Boavista e na Barrela.
Os trabalhos de reflorestação/rearborização decorreram em 2004 e 2005, O plano de ordenamento e
o modelo de gestão florestal adotados para a TNM após o incêndio, descrevem-se no respetivo PGF.

2.5. Ocupação do solo após o incêndio


Da análise da carta de ocupação do solo após o incêndio (Figura 4) conclui-se que, o coberto florestal
da TNM é mais diversificado, fruto do aumento significativo das áreas com povoamentos mistos de
folhosas, sendo esta medida essencial na prevenção e defesa contra a propagação de incêndios.

Figura 4. Carta de ocupação do solo após o incêndio de 2003

Deixaram, assim, de existir grandes manchas de monocultura florestal, havendo uma maior
compartimentação da paisagem, a qual foi ajudada também pela requalificação das galerias ripícolas
e pela manutenção das pastagens. Muito embora não se tenha procedido a uma inventariação e
catalogação da flora por recurso a métodos taxonómicos e cartográficos, amostrando toda a área nas
diferentes épocas do ano, pode dizer-se que o trabalho de recuperação realizado na TNM após o
incêndio de 2003 foi notável (ainda que limitado pela ausência de um plano de plantações detalhado),
encontrando-se esta mais rica e segura que anteriormente.
TABELA 1. Alterações na ocupação do solo decorrentes do plano de ordenamento florestal

207
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

ÁREA
ESPÉCIES FLORESTAIS
pré-incêndio pós-incêndio

Ec 38,35 31,59

Pnb 78,76 -

Pnm 72,79 75,58

Sb - 21,49

Folhosas diversas 49,04 151,46

Pnb x Qs - 17,56

Qs x Qf x Pb 45,03
Floresta mista 164,09
Qs x Qf x Pnm 52,86

Qs x Qc x Fx - 171,53

Matos 380,37 225,62

Pastagens 47,89 38,9

Uso agrícola 0,53 -

Edifícações 1,4 1,6

TOTAL 833,22 833,22

Legenda: Ec, eucalipto; Pnb, pinheiro-bravo; Pnm, pinheiro-manso; Qs, sobreiro; Qf, carvalho-português; Qc,
carrasco; Fx, freixo
Após o incêndio, verificou-se uma forte rebentação de toiça nas espécies folhosas, nomeadamente
no sobreiro, em detrimento do pinhal bravo e manso em que as árvores sobrantes ficaram muito
danificadas e com vários problemas sanitários. Este facto e a constatação de uma forte regeneração
natural do sobreiro, foi considerado nas ações do plano de rearborização dando maior importância às
folhosas, nomeadamente os carvalhos autóctones, como aproximação à floresta natural.
Na tabela 1, pode observar-se as seguintes alterações no coberto vegetal da TNM após a execução
dos trabalhos de restauro do coberto: i) Reconversão das áreas de povoamentos puros de pinheiro-
bravo para povoamentos mistos de pinheiro-bravo com sobreiro; ii) Aumento da área de floresta mista
de carvalhos, plantando novas áreas de sobreiro com carvalho-cerquinho e freixo, ou reconvertendo
os povoamentos mistos de carvalhos com pinheiro bravo aproveitando a forte dinâmica da
regeneração natural dos carvalhos; iii) Instalação de novos povoamentos puros de sobreiro, na
perspetiva da produção futura de fruto e cortiça; iv) Diminuição da área de povoamentos puros de
eucalipto para a produção de lenho para pasta de papel; v) Diminuição da área de matos através de
ações de queima, nomeadamente utilizando a técnica de fogo controlado.
Para além das espécies referidas e que constituem as principais utilizadas, plantaram-se
pontualmente várias outras (nativas e exóticas) tendo em vista aumentar a diversidade botânica da
paisagem, nomeadamente Populus nigra, Alnus glutinosa, Salix atrocinera, Arbutus unedo, Corylus
avellana, Acer pseudoplatanus, Viburnum tinus, Celtis australis, Cedrus atlantica, Larix decidera,
Cupressus lusitanica, Cupressus macrocarpa, Cupressus sempervirens.

Relativamente à fauna selvagem tem vindo a Esta variação deverá estar ligada não só às
verificar-se um aumento em espécies alterações que ocorreram na composição e
identificadas e em número, não obstante a estrutura da vegetação após o incêndio, mas
intensidade do fogo de 2003 Tabela 2 também na resposta rápida que foi dada no

208
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

sentido de reconstituição do coberto vegetal e, ANO do INVENTÁRIO


bem assim no formato de gestão adotado,
2003 2012
focalizado da estabilidade e sossego em que a
unidades unidades
TNM se manteve durante todo o período de
Aves 48 63
recuperação do coberto florestal.
Mamíferos 21 26

Tabela 2 – variação de espécies da fauna Colónias de Morcegos 8 11

entre 2003 e 2012 Anfíbios 7 11

Reptéis 13 15

3. RESULTADOS DOS ESTUDOS SOBRE REGENERAÇÃO DO COBERTO FLORESTAL DA TNM


Sendo Missão da TNM o desenvolver atividades de investigação, iniciaram-se no ano do incêndio e
em parceria com o ISA-CEABN, estudos sobre a resistência e resiliência das espécies florestais,
avaliando a mortalidade ao nível dos indivíduos, a capacidade de regeneração natural e crescimento,
o efeito da presença de cervídeos na regeneração natural, e o comportamento das árvores plantadas.

3.1. Sobrevivência e regeneração das espécies arbóreas


A seguir ao incêndio sobrepôs-se uma quadrícula de 500 m à área da TNM e selecionaram-se
aleatoriamente 26 pontos (em áreas ardidas) onde foram estabelecidos trajetos para monitorizar o
estado vegetativo de cerca de 1200 indivíduos das principais espécies arbóreas.

Tabela 3 – Mortalidade acumulada (morte dos indivíduos) por espécie nos primeiros 4 anos após o
incêndio (n=755 árvores); a percentagem de árvores com morte da parte aérea (morte da copa) foi
quase a mesma nos 4 anos e os valores apresentados referem-se ao 4º ano (fonte: Catry et al. 2010)
o porte arbóreo será lento.
Mortalidade acumulada (%) Morte da
Espécie º º º º
n (P)
1 ano 2 ano 3 ano 4 ano copa (%)
Castanea sativa 20 40 80 83 83 30 (0)
Crataegus monogyna 0 0 7 7 93 75 (46)
Eucalyptus globulus 0 0 0 0 100 60 (0)
Fraxinus angustifolia 0 0 0 0 15 62 (10)
Olea europaea var. sylvestris 0 0 0 0 97 78 (44)
Pinus pinaster 84 88 95 95 95 56 (0)
Pinus pinea 77 82 85 85 85 78 (0)
Pistacia lentiscus 0 0 0 0 100 71 (34)
Quercus coccifera 0 0 10 10 99 67 (26)
Quercus faginea 2 3 3 14 89 89 (56)
Quercus suber 1 1 1 1 1 89 (0)
n (P) = número total de árvores monitorizadas durante o periodo de 4 anos de estudo e número de árvores protegidas dos
herbívoros (entre parênteses).

209
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

Foram também medidos parâmetros de severidade do fogo, características do local, e características


dos indivíduos. Os resultados apresentados respeitam à monitorização de 755 indivíduos de 11
espécies (9 folhosas e 2 resinosas) ao longo dos primeiros quatro anos após o fogo (Tabela 3).
Os resultados obtidos indicam uma mortalidade quase total (91%) das espécies resinosas (pinheiro
bravo e manso), e uma elevada taxa de sobrevivência das espécies folhosas (93%), exceto nos
castanheiros cuja mortalidade (83 %) se deveu ao já precário estado sanitários antes do incêndio.
Com exceção do sobreiro, mais resistente ao fogo devido à proteção exercida pela cortiça, a
regeneração das folhosas deveu-se à sua capacidade de rebentação de toiça, dado que o incêndio
não destruiu os sistemas radiculares, e não ao nível das copas que ficaram destruídas. Nestas
condições, o processo de recuperação do arvoredo até atingir o porte arbóreo será lento.
O mesmo, não se observou nas espécies resinosas cuja regeneração só é assegurada a partir de
semente.

3.2. Estudo da regeneração natural versus plantação


Efetuou-se a monitorização da mortalidade e dos crescimentos em altura e em diâmetro de 180
árvores plantadas e protegidas com abrigos de rede das seguintes espécies: carvalho-português e
freixo. Os resultados obtidos foram comparados com a informação relativa à regeneração natural das
mesmas espécies.

Figura 5. Comparação entre regeneração natural e árvores plantadas: A) Média da altura máxima
(cm); B) média do diâmetro máximo (cm); C) mortalidade (%). (fonte: Catry et al. 2007)

Os dados indicam uma mortalidade quase nula na regeneração natural e valores entre 20% e 23 %
de mortalidade nas árvores plantadas, com maior expressão nas espécies autóctones. Verificou-se
também uma clara superioridade dos crescimentos em altura e diâmetro nas árvores de regeneração
natural comparativamente com as plantadas, o que se atribui ao facto dos sistemas radiculares das
primeiras estarem já instalados e bem desenvolvidos.

3.3. Impacte dos herbívoros no crescimento da regeneração natural

210
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

Este estudo decorreu entre árvores protegidas da ação dos herbívoros e árvores não protegidas.
Para a proteção das plantas recorreu-se a duas técnicas: protetores individuais em rede metálica,
distribuídos casualmente nas áreas de estudo e instalação de 5 pares de parcelas permanentes
sendo uma parcela vedada e outra não vedada (testemunha) por cada par.
Os resultados comprovam uma clara ação dos herbívoros sobre as plantas não protegidas que
apresentam baixos crescimentos em altura relativamente às plantas protegidas (figura 6).

Figura 6. Média da altura (cm) máxima da regeneração natural de toiça de 7 espécies três anos após
o fogo: árvores protegidas e árvores não protegidas da ação dos herbívoros. (fonte: Catry et al. 2007)

4. CONCLUSÕES
Em Portugal é frequente a ideia de que a recuperação de áreas ardidas deve ser feita com recurso à
plantação de novas árvores. Os resultados alcançados sugerem, contudo, a ideia da importância do
aproveitamento da regeneração natural em detrimento da plantação ou da sementeira na
recuperação do coberto florestal após incêndios. É certo que a opção pelo aproveitamento da
regeneração natural implica não só a existência dos respetivos povoamentos antes dos incêndios,
como depende da dimensão dos efeitos destrutivos do incêndio . Tal é o caso da Tapada Nacional de
Mafra. Os estudos efetuados são também elucidativos sobre a complexidade da gestão florestal em
conciliação com a conservação ambiental em locais com presença de elevada carga animal de
herbívoros, principalmente no que respeite à capacidade de renovação dos cobertos florestais.

ESTRATÉGIAS PARA A GESTÃO FLORESTAL FUTURA


A sustentabilidade ambiental e económica da TNM, enquanto espaço público multifuncional de
referência na conservação da natureza, na sensibilização e educação ambiental, na exploração
florestal e cinegética, bem como espaço de realização de atividades de investigação no domínio da
gestão ambiental integrada, passa pela sua valorização e maior visibilidade no seio do conjunto
histórico-cultural e territorial onde está integrada, formado pelo Palácio Nacional de Mafra, o Jardim
do cerco e a originalmente designada Tapada Real de Mafra.
A política da Direção da TNM para a área florestal encara a floresta como um recurso natural
renovável, que deve ser gerido num quadro de desenvolvimento e produção sustentável integrada de
bens e serviços, tendo em conta o seu passado histórico e a sua atual importância como espaço
aberto dedicado ao turismo e à conservação da natureza. Neste sentido, é um objetivo estratégico da
TNM para a área florestal, promover práticas de referência no domínio da gestão ambiental,

211
Alberto Azevedo Gomes; Ricardo Paiva; Filipe Catry

entendida esta como sendo o conjunto dos procedimentos e práticas adotadas no planeamento,
gestão e monitorização dos recursos naturais presentes de forma a assegurar a sua sustentabilidade
enquanto espaço de biodiversidade, e de desenvolver modelos e práticas de gestão suscetíveis de
serem transferidos para a sociedade.
Este objetivo estratégico será materializado na realização das seguintes ações: i) Dotar a TNM de
instrumentos sistemáticos de apoio à gestão ambiental; ii) Fomentar e consolidar o nível de
segurança do coberto florestal da TNM; iii) Estimular a adoção de um relacionamento com entidades
ligadas à investigação na área do ambiente e da gestão florestal integrada; iv) Divulgar os
conhecimentos adquiridos em fóruns técnicos e científicos de âmbito nacional e internacional
Atualmente assiste-se a fatores antagónicos dentro da TNM que dificultam a sua plena gestão
sustentável e que decorrem do elevado número de animais presentes (gamos, veados e javalis) que,
sendo uma mais-valia para a atividade turística na TNM, coloca problemas de excesso de carga
animal com reflexos no empobrecimento da biodiversidade da flora e da regeneração natural do
coberto arbóreo, onde predominam espécies produtoras de fruto para a dieta alimentar dos animais.
O Plano de Gestão Florestal traçado para a TNM, contempla realizar várias numa perspetiva
integrada e interativa dos recursos naturais. Face ao forte desenvolvimento dos matos de ericáceas e
fetos, à dificuldade de regeneração das espécies florestais e do comportamento invasor do eucalipto
na TNM, torna-se necessário uma adaptar o PGF à nova realidade tendo por base científica e técnica
os resultados promissores dos estudo já efetuados. Assim, entre muitas outras ações a efetuar na
TNM, será dado particular atenção ao conjunto das ações relacionadas com a gestão do património
florestal da TNM:
- Valorização da resiliência e promoção da capacidade de regeneração natural das folhosas no
restauro do coberto florestal, em particular as espécies autóctones;
- Intensificação do controlo dos matos com às técnicas manuais do fogo controlado e moto-roçadoras,
ou mecanizada se as condições de relevo permitirem, salvaguardando sempre os riscos de erosão;
- Corte seletivo de árvores em risco de queda (em 2013 caíram perto de 400 árvores, algumas
exemplares de grandes dimensões como os cupressus localizados da entrada do Codeçal);
- Condução dos novos povoamentos de pinheiro manso tendo em vista a produção de pinha;
-- Eventual criação de áreas de pastagem natural ou melhorada, em locais de melhor aptidão;
- Deslocar os núcleos de eucalipto disseminados pela tapada para a zona entre Muro Seco e Sonível,
para produção de lenho, reflorestando os mesmos com espécies folhosas autóctones.

BIBLIOGRAFIA
Carrilho P., Amaral S., Ferreira M., Paiva R., Cavaco A., 2009. Plano de Gestão Florestal da Tapada
Nacional de Mafra. Ed. TNM e Florest
Catry FX, Rego F, Moreira F, Fernades PM, Pausas, JG (2010). Post-fire tree mortality in mixed
forests of central Portugal. Forest Ecology and Management 206, 1184-1192.
Catry F, Bugalho M, Silva J (2007). Recuperação da Floresta após o fogo. O caso da Tapada
Nacional de Mafra. 36 pp. Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves - Instituto Superior de

212
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Agronomia, Lisboa.
Costa J.C, Aguiar C., Capelo J.H., Lousã M. & Neto C.(1998). Biogeografia de Portugal Continental.
Quercetea, V. 0. ISSN 0874-5250.

213
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Estrutura populacional de duas espécies arbóreas em Floresta Ombrófila


Mista Aluvial sujeitas ao pastoreio em Ponte Alta do Norte, Santa Catarina,
Brasil

J.P. Gomes 1*, P.I. Ferreira², N.C.F. Costa², L. I. B. Stedille², H.M. Dacoregio², R.L.C.
Bortoluzzi³ e A. Mantovani³

1: Grupo de Pesquisa “Uso e Conservação de Recursos Florestais”; Universidade do Estado de Santa


Catarina, CAV (UDESC/CAV). Av. Luiz de Camões, 2090, CEP 88520-000, Lages – SC, Brasil.
2: Grupo de Pesquisa “Uso e Conservação de Recursos Florestais”; Universidade do Estado de Santa
Catarina, CAV (UDESC/CAV). Av. Luiz de Camões, 2090, CEP 88520-000, Lages – SC, Brasil.
3: Departamento de Engenharia Florestal; Universidade do Estado de Santa Catarina, CAV (UDESC/CAV).
Av. Luiz de Camões, 2090, CEP 88520-000, Lages – SC, Brasil.

e- mail: {Juliano Pereira Gomes}, julianopgomes@yahoo.com.br


Resumo: Fragmentos remanescentes de Floresta Ombrófila Mista, em fazendas do sul do Brasil,
são comumente utilizados como áreas de pastoreio para bovinos criados extensivamente. O
efeito do pastoreio sobre populações de espécies arbóreas pode ser avaliado através da
estrutura demográfica. O objetivo deste trabalho foi avaliar a estrutura populacional de duas
espécies arbóreas ocorrentes em fragmentos de Floresta Ombrófila Mista Aluvial sujeitos a ação
do gado bovino. O estudo foi desenvolvido em cinco Áreas de Preservação Permanente (APP’s),
localizados no município de Ponte Alta do Norte, região serrana de Santa Catarina, Brasil. Foi
utilizado o método de área fixa, onde foi alocado uma parcela de 1000m² em cada APP, com
diferentes densidades de gado. Nas parcelas foram amostrados todos os indivíduos de
Sebastiania commersoniana (Baillon) Smith e Downs e Inga vera Willd. Os indivíduos amostrados
foram medidos quanto ao diâmetro ao nível do colo (DAC) e altura, sendo posteriormente
classificados em estágios de vida, para possibilitar a comparação da estrutura populacional entre
os locais. A estrutura demográfica entre locais foi comparada por análise de variância
multivariada. Foram amostrados 2609 indivíduos em 0,5 ha (equivalente a 5218 indivíduos*ha-1)
sendo 1359 pertencentes a Sebastiana commersoniana e 1250 indivíduos pertencentes a Inga
vera. O resultado da análise revelou que a Área V foi o único local que não diferiu
significativamente da testemunha, coincidindo com a menor densidade de gado bovino dentre
todos os locais levantados. As populações destas duas espécies apresentam, no geral, padrão
demográfico tendendo a “J-invertido”, com capacidade de manter a dinâmica populacional.
Palavras-chave: Sebastiania commersoniana (Baillon) Smith e Inga vera Willd, demografia e J
invertido.

Abstract: Remnants fragments of Mixed Ombrophillous Forest, on southern Brazil farms, are
commonly used as grazing areas for cattle creation extensively. The effect of grazing on
populations of tree species can be evaluated through of the demographic structure. The reason of
this study was to evaluate the population structure of two tree species, that occurring in Alluvial
Mixed Ombrophillous Forest fragments subject to action of cattle.The study was developed in five
Permanent Preservation Areas (PPA), located in the Ponte Alta do Norte municipality, one
highland plateau region of Santa Catarina, Brazil. We used the method of fixed area, where was
allocated a plots of 1000m² in each APP, with different densities of the cattle. In the plots were
sampled all individuals of the Sebastiana commersoniana (Baillon) Smith and Downs and Inga
vera Willd. The sampled individuals were measured as to your diameter at soil level (DCH) and
height, and then after classified into stages of life, to provide the comparison of population
structure among the sites. The demographic structure between the sites was compared by
multivariate analysis of variance. Was sampled 2609 individuals in 0.5 hectare (equivalent to 5218
individuals ha-1) being 1359 of the Sebastiana commersoniana and 1250 individuals belonging to
J.P. Gomes, P.I. Ferreira, N.C.F. Costa, L. I. B. Stedille, H.M. Dacoregio, R.L.C. Bortoluzzi e A. Mantovani

Inga vera. The result of the analysis revealed that Area V was the only place that don’t changed
significantly from the control area, coinciding with the lowest density of cattle among all sampled
locations. The populations of these two species presented, in general, demographic standard with
trend to "inverted J”, with capacity to keep the population dynamics.
Keywords: Sebastiania commersoniana (Baillon) Smith, Inga vera Willd, demography and
inverted J.

1. INTRODUÇÃO

A Floresta Ombrófila Mista (ou Mata de Araucária) ocorre de forma contínua nos planaltos dos
estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e de forma disjunta nas regiões mais altas
de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais (RODERJAN et al., 2002), Argentina (Província de
Misiones) e no Paraguai (Departamento Alto Paraná). Essa tipologia vegetal admite as formações
Submontana, Montana, Altomontana e Aluvial, essa última subordinada aos rios (IBGE, 1992).
Nas áreas próximas aos rios, a Floresta Ombrófila Mista percorre, em geral, terrenos recentes
(Holoceno) de geomorfologia plana até suave-ondulada e em processo de sedimentação aluvial, onde
os solos são, frequentemente, cobertos por águas fluviais (KLEIN e HATSCHBACH 1962;
RODERJAN et al., 2002). Nestes locais, as comunidades florestais apresentam-se diferenciadas, em
geral, com baixa riqueza (KLEIN e HATSCHBACH 1962), constituindo as chamadas Florestas
Ombrófilas Mistas Aluviais (VELOSO et al., 1991).
A água, como fator inerente a essa tipologia, auxilia como fonte de recursos, transportando sementes
hidrocóricas e porções ainda vivas de árvores e arbustos que podem se propagar vegetativamente.
Por outro lado, sua influência pode ser limitante às plantas, causando danos abrasivos quando
desenvolve altas velocidades, e soterrar a serapilheira, o banco de sementes e a vegetação rasteira,
se carregada de sedimentos (SCHNITZLER, 1997).
As comunidades vegetais que ocupam áreas aluviais são influenciadas principalmente pelas
características do substrato (CURCIO et al., 2007). A dinâmica de movimentação do curso da água
promove erosão e deposição de sedimentos, influenciando no relevo aluvial (TROPPMAIR e
MACHADO, 1974; SALO e KALLIOLA, 1991). Tais variações na altura do terreno, juntamente com a
profundidade do lençol freático e a velocidade de drenagem da água (TOREZAN e SILVEIRA 2002;
BIANCHINI et al,. 2003; DALANESI et al., 2004), influenciam fortemente a ocorrência de espécies
(JOLY, 1991). Adicionalmente, as características nutricionais do solo são influenciadas pela baixa
drenagem do terreno (DALANESI et al., 2004), o que deve exercer influência no estabelecimento de
plantas (IVANAUSKAS et al., 1997; KOTCHETKOFF-HENRIQUES et al., 2005), bem como na
abundância relativa das espécies (LIMA et al., 2003).
Sabe-se que áreas aluviais são consideradas Áreas de Preservação Permanente (APP’s). Estas são
as florestas naturais referidas nas condições previstas no artigo 1º da lei nº 12651, de 25 de maio de
2012 (Código Florestal). O Código Florestal Brasileiro estabelece o livre acesso de pessoas e animais
em APP’s para obtenção de água, desde que não haja comprometimento à regeneração e a
manutenção da vegetação nativa (BRASILIA, 2012).
Fragmentos remanescentes de Floresta Ombrófila Mista, em fazendas do sul do Brasil, são
comumente utilizados como áreas de pastoreio para bovinos criados extensivamente (MAUHS, 2002;

215
J.P. Gomes, P.I. Ferreira, N.C.F. Costa, L. I. B. Stedille, H.M. Dacoregio, R.L.C. Bortoluzzi e A. Mantovani

LIEBSCH e ACRA, 2004; MACHADO, 2004), sobretudo no inverno, quando as pastagens possuem
baixa biomassa verde. Além disso, os fragmentos também têm sido utilizados pelo gado bovino como
abrigo contra temperaturas extremas, tanto no inverno quanto no verão (SAMPAIO e GUARINO,
2007).
O efeito de fatores como a intensidade de pastoreio, na persistência em longo prazo de uma
população vegetal, pode ser avaliado através da estrutura populacional, que é a distribuição de
frequência dos indivíduos em classes de tamanho ou em estágios de vida (GATSUK et al., 1980).
A maioria dos estudos realizados para testar o efeito do manejo do gado na estrutura populacional
foram desenhados para comparar populações em diferentes fragmentos submetidos a um gradiente
de intensidades de pastoreio (RELVA e VEBLEN, 1998; VARGAS et al., 2002; MILLER e WELLS,
2003). Entretanto, pode haver alta variação espacial na estrutura de populações vegetais, devido à
heterogeneidade nas condições ambientais entre fragmentos, mesmo naqueles não sujeitos as
intervenções antrópicas (HEGLAND et al., 2001).
Através da abordagem acima, o presente trabalho teve como propósito avaliar a estrutura
populacional de duas espécies arbóreas ocorrentes em fragmentos de Floresta Ombrófila Mista
Aluvial sujeitos a ação do gado bovino.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 . Área de estudo

O estudo foi desenvolvido em cinco locais considerados Áreas de Preservação Permanente (APP),
pertencentes ao domínio Floresta Ombrófila Mista Aluvial, localizadas no município de Ponte Alta do
Norte, região serrana de Santa Catarina.
Segundo a classificação de Köeppen a região é caracterizada por um clima do tipo “Cfb”,
mesotérmico, subtropical úmido, com verões frescos, sem estações seca definida, geadas severas
frequentes, com média das temperaturas máximas de 19ºC e das mínimas de 10,1ºC. A temperatura
média anual está em torno de 15,1ºC, a umidade relativa do ar 83,5%, a precipitação média anual de,
aproximadamente, 1390 mm, regularmente distribuídas durante o ano (MOTA et al., 1971).

2.2. Obtenção dos dados

Para a realização do estudo, foi utilizado o método de parcelas fixas, distribuídas em cinco Áreas de
Preservação Permanente. Em cada APP foi alocada uma parcela de 1000 m², divididas em
subparcelas de 10x10 m totalizando 5000 m2 de área amostral. Nas parcelas foram amostrados todos
os indivíduos de Sebastiania commersoniana (Baillon) Smith e Downs e Inga vera Willd.
Sebastiania commersoniana é uma espécie arbórea de médio porte, pertencente à família
Euphorbiaceae, característica das florestas aluviais e das matas de galeria, onde muitas vezes se
torna dominante (REITZ et al., 1988). Segundo Medeiros e Zanon (1998); Santos e Aguiar (2000),
possui potencial melífero, sua madeira é utilizada para fins não nobres e é recomendada para a
recuperação de matas ciliares.

216
J.P. Gomes, P.I. Ferreira, N.C.F. Costa, L. I. B. Stedille, H.M. Dacoregio, R.L.C. Bortoluzzi e A. Mantovani

A segunda espécie estudada foi Inga vera nativa da Mata Atlântica, pertencente à família Fabaceae,
indicada para recomposição de matas ciliares, sendo capaz de suportar encharcamento e inundações
temporárias (DURIGAN e NOGUEIRA, 1990).
Os indivíduos amostrados foram medidos quanto ao diâmetro ao nível do colo (DAC) e altura sendo
posteriormente classificados em estágios de vida, para possibilitar a comparação da estrutura
populacional entre os locais. Pelo fato das espécies possuírem portes diferentes, o critério de
classificação foi diferenciado, para S. commersoniana: plântula (altura ≤ 30 cm); jovem I (altura> 30≤
100 cm); jovem II (altura > 100 cm e DAC ≤ 5 cm); arvoreta (DAC > 5 ≤ 15 cm); e árvore (DAC > 15
cm). Os indivíduos de I. vera foram classificados em: plântula (altura ≤ 30 cm); jovem I (altura < 30 ≤
100cm); jovem II (altura > 100 cm e DAC ≤ 5 cm); arvoreta (DAC > 5 ≤ 10 cm); e árvore (DAC > 10
cm).
Dos cinco locais abordados no estudo, quatro estavam sujeitos a diferentes densidades de gado, ver
Tabela 1. O local Área I (Testemunha) possui área de 258,29 há, sem presença de gado por
aproximadamente dez anos. Os animais são criados de maneira extensiva como forma preventiva,
visando o controle da população do rato-de-espinho (Euryzygomatomys spinosus G. Fischer, 1814 –
Echimyidae), pois reduzem o material herbáceo onde os ratos ficam abrigados. O rato-de-espinho é
causador de danos expressivos em povoamentos de Pinus spp. próximos às APP’s.

2.3. Análise dos dados

A estrutura demográfica consistiu na análise de variância multivariada (MANOVA) considerando as


variáveis dependentes DAC e Altura e fatores Classe, Local e Espécie. Posteriormente foi realizado o
teste t de Dunnett, que trata um grupo como controle, e compara todos os outros grupos com ele, a
Área I (Testemunha) foi o grupo utilizado como controle.

Tabela 1. Características das áreas estudadas em Floresta Ombrófila Mista aluvial de Ponte Alta -
SC. APP= Áreas de Preservação Permanente; Nº ind. = Número de indivíduos; Densidade = Número
de indivíduos/Área Total (Indivíduos por Área Total).

APP Gado Densidade


Local Área total (ha) (ha) (Nº ind.) (ind./Área total)
Área I (Testemunha) 258,29 43,07 0 0,00
Área II 1216,9 146,12 224 0,18
Área III 399,8 89,56 110 0,28
Área IV 866,03 135,16 252 0,29
Área V 2048,68 243,97 197 0,10

Durante o levantamento foram realizadas contagens do número de fezes encontradas nas parcelas,
para posterior comparação com a densidade de animais, e ainda estimativas da área com pisoteio
(carreiros) formada dentro da parcela.

217
J.P. Gomes, P.I. Ferreira, N.C.F. Costa, L. I. B. Stedille, H.M. Dacoregio, R.L.C. Bortoluzzi e A. Mantovani

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Estrutura demográfica da população estudada
Ao todo foram amostrados 2609 indivíduos em 0,5 ha (equivalente a 5218 indivíduos*ha-1) sendo
1359 pertencentes a Sebastiana commersoniana e 1250 indivíduos pertencentes a Inga vera.
A classe que apresentou maior número de indivíduos foi diferente entre as duas espécies, sendo a
classe Plântula a mais frequente para I. vera (47%), já a classe mais frequente em S. commersoniana
foi Jovem I (41,8%). Esperava-se comportamento semelhante entre as espécies estudadas,
entretanto, encontrou-se somente para I. vera, maior frequência para a classe Plântula (Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição de frequência por classe em cinco locais


Frequência observada (%)
Classe I. vera S. commersoniana Média
Plântula 47,4 30,7 39,1
Jovem I 43,7 41,8 42,7
Jovem II 6,5 17,9 12,2
Arvoreta 0,9 6,7 3,8*
Árvore 1,5 2,9 2,2
* Diferença significativa ao nível de 95% de confiança (F=5,97; p=0,04).

Pode-se observar que este fato não ocorre em todos os locais para ambas as espécies (Figuras 1 e
2).

300

250
N° de indivíduos

200 Plântula
Jovem I
150
Jovem II
100 Arvoreta
Árvore
50

0
Área I Área II Área III Área IV Área V

Figura 1 – Estrutura demográfica de indivíduos de Inga vera em cinco diferentes locais em Floresta
Ombrófila Mista Aluvial localizada em Ponte Alta SC.

De maneira geral, o padrão de distribuição das classes da estrutura populacional é notadamente do


tipo J invertido, ou seja, há um maior número de indivíduos nas classes inferiores, e este número vai
diminuindo para as classes seguintes (SCHAAF et al., 2006). Este fenômeno indica crescimento
populacional e capacidade de regeneração da floresta (KNIGHT, 1975; CLARK et al., 1999; GRAU,
2000; RODRIGUEZ-BURITICÁ et al., 2005; WADT et al., 2005).

218
J.P. Gomes, P.I. Ferreira, N.C.F. Costa, L. I. B. Stedille, H.M. Dacoregio, R.L.C. Bortoluzzi e A. Mantovani

300

250

N° de indivíduos Plântula
200
Jovem I
150 Jovem II

100 Arvoreta
Árvore
50

0
Área I Área II Área III  Área IV Área V
Figura 2 – Estrutura demográfica de indivíduos de Sebatiana commersoniana em cinco diferentes
locais em Floresta Ombrófila Mista Aluvial localizada em Ponte Alta SC.

Ao comparar as duas espécies foi possível observar que S. commersoniana possui maior número de
indivíduos nas classes Jovem II, Arvoreta e Árvore e menor número de indivíduos nas classes
Plântula e Jovem I do que I. vera, (Figura 3). Isso sugere que esta ocorrendo uma maior eficiência no
sistema de recrutamento das plantas de S. commersoniana para a classe superior se comparada a
outra espécie estudada. Pode-se inferir que este fenômeno pode ser resultado de interações
ambientais, como por exemplo, maior abertura de dossel, que proporciona condições ideais para o
recrutamento em categorias superiores. Segundo Santos e Souza (2007), a estrutura demográfica
esta sujeita a eventos ambientais estocásticos, que influenciam fortemente sua dinâmica e
consequentemente sua estrutura.

Figura 3 – Distribuição das frequências da estrutura populacional das espécies Inga vera e
Sebastiana commersoniana em ambiente de Floresta Ombrófila mista Aluvial.

219
J.P. Gomes, P.I. Ferreira, N.C.F. Costa, L. I. B. Stedille, H.M. Dacoregio, R.L.C. Bortoluzzi e A. Mantovani

Em ambas as espécies estudadas houve a ausência de representantes da classe Árvore em pelo


menos um dos locais (Tabela 2 e 3). Este acontecimento pode influenciar diretamente sobre a
regeneração natural, assim como encontrado por Garcia et al (1999); Aparício et al (2005) e Santos e
Souza (2007). Caso não haja fontes de propágulos, não haverá o estabelecimento de novos
indivíduos para manter a dinâmica na composição demográfica da população.

Tabela 2. Demografia populacional de Sebastiana commersoniana de cinco diferentes locais em


ambiente de Floresta Ombrófila Mista Aluvial.
Número de indivíduos
Classe demográfica Área I Área II Área III Área IV Área V
Plântulas 53 42 10 210 103
Jovem I 102 78 98 201 90
Jovem II 41 57 42 95 8
Arvoreta 13 30 3 37 8
Árvore 15 2 0 12 10

Tabela 3.Demografia populacional de Inga vera de cinco diferentes locais em ambiente de Floresta
Ombrófila Mista Aluvial.
Número de indivíduos
Classe demográfica Área I Área II Área III Área IV Área V
Plântulas 251 6 211 43 81
Jovem I 72 19 60 106 288
Jovem II 18 10 1 28 24
Arvoreta 3 1 2 3 2
Árvore 5 0 2 3 9

Outro fato que pode influenciar na quantidade de indivíduos no banco de plântulas é a predação de
frutos por roedores, principalmente por capivara (Hidrochoerus hydrochaeris Linnaeus, 1766) a qual
foi visualizada no local em alta densidade (Figura 4). Segundo Zagt e Werger (1997), a presença de
indivíduos de uma espécie num determinado local depende da quantidade de sementes disponíveis e
da sobrevivência e crescimento das plântulas.

220
J.P. Gomes, P.I. Ferreira, N.C.F. Costa, L. I. B. Stedille, H.M. Dacoregio, R.L.C. Bortoluzzi e A. Mantovani

b c

Figura 4. Efeito da capivara (Hidrochoerus hydrochaeris Linnaeus) sobre a área de estudo. Carreiros
(a). Pegadas (b). Fezes (c).

3.2. Efeito do gado sobre a estrutura populacional

O resultado da análise multivariada mostrou que houve diferença estatística significativa entre as
áreas. Isso revela que existem diferenças na estrutura demográfica entre os cinco locais para as
espécies S. commersoniana e I. vera em ambiente de Floresta Ombrófila Mista aluvial. O teste de
Dunnet realizado para as variáveis altura e DAC mostrou que há diferença média significativa com
95% de confiança entre o local Área I (Testemunha) com relação Área II, Área III e Área IV, sendo
Área V o único local que não apresentou diferença média significativa. As diferenças apresentadas
por estas variáveis revelam que a estrutura populacional para os três locais diferem em relação à
testemunha e consequentemente nas classes demográficas em Área II, Área III e área IV, (tabela 5).

221
J.P. Gomes, P.I. Ferreira, N.C.F. Costa, L. I. B. Stedille, H.M. Dacoregio, R.L.C. Bortoluzzi e A. Mantovani

Tabela 5. Resultado do Teste T de Dunnett para comparação das médias dos locais com Área I
(Testemunha)
   DAC Altura 
Local Erro padrão Sig. Erro padrão Sig.
Área II* 0,13044 0,001 0,07858 0,001
Área III* 0,1091 0,001 0,06572 0,001
Área IV* 0,09514 0,002 0,05732 0,001
Área V 0,09887 0,996 0,05956 0,280
*. A diferença média é significativa no nível 0,05.

Área V foi o único local que não diferiu significativamente da testemunha (tabela 5), coincidindo com a
menor densidade de gado bovino dentre todos os locais levantados. Essa menor densidade de
animais pode ter possibilitado reduzida interferência sobre a estrutura demográfica de I vera e S.
commersoniana. De acordo com Tobler et al (2003), os impactos ocasionados pelo pisoteio e
herbivoria podem provocar um desequilíbrio sobre a dinâmica da população. Este resultado
demonstra que pode haver uma lotação máxima de gado sem alterar a estrutura populacional de
espécies arbóreas.
Além da densidade de gado, as diferenças encontradas podem ser explicadas pelas características
ambientais de cada local. Nestes ambientes não só a presença de gado causa alterações no meio
natural, como também, o fato das áreas serem utilizadas por pescadores, que realizam o corte de
indivíduos, verificado pela presença de cepas nas parcelas.
As intensidades de pisoteio (carreiros) para Área II, Área III, Área IV e Área V foram 0%, 7%, 16% e
2,5% respectivamente da área alterada dentro da parcela. O número de fezes encontrado foi uma
para Área II, três para Área III, 11 para Área IV, e 10 para Área V. Dessa forma a diferença da
estrutura demográfica em relação a testemunha do local Área IV, pode estar relacionada a maior
densidade de gado, fato que foi confirmado pela maior intensidade de pisoteio e número de fezes.

4. CONCLUSÃO

As populações de Sebastiania commersoniana e Inga vera nos fragmentos estudados de floresta


ombrófila mista aluvial apresentaram, no geral, padrão demográfico tendendo a “j-invertido”. Pode-se
dizer que ambas as espécies apresentam estrutura com capacidade de manter a dinâmica
populacional.

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225
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Caracterização termogravimétrica e físico-mecânica de briquetes


produzidos com resíduos de bambu e finos de carvão vegetal

Djailson Silva da Costa Júnior1; Azarias Machado de Andrade2; Ananias Francisco Dias
Júnior3; Vitor Werneck Soares3; Pablo Vieira dos Santos3

1: Discente do Curso de Eng. Florestal, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Intercambio
na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), através do Programa de Mobilidade Acadêmica
- Bolsista de Iniciação Cientifica PIBIC/CNPq/UFRRJ, - Rodov. PB 110, 58700-970 – Patos, PB – Brasil.
2: Professor Associado IV, Instituto de Florestas/UFRRJ);
3: Graduandos em Engenharia Florestal, UFRRJ;

e-mail: djailson_junior@hotmail.com

Resumo: Este trabalho objetivou a caracterização de briquetes produzidos com resíduos de


bambu e finos de carvão vegetal, tendo por base o comportamento térmico e a resistência dos
mesmos à compressão. Os briquetes foram produzidos a partir das seguintes proporções de
resíduos de bambu e finos de carvão de Eucalyptus spp, respectivamente: somente resíduos de
bambu (T1); 4/1 (T2); 1/1 (T3); 1/4 (T4); e, somente moinha de carvão (T5). Determinou-se a
resistência dos briquetes à compressão (Kgf/cm2) em uma Máquina Universal de Ensaios e a
velocidade da queima dos mesmos (g/min), sob os efeitos da chama de um maçarico. Observou-
se que quanto maior for a proporção de resíduos de bambu na composição dos briquetes, maior
será a sua resistência à compressão, que variou de 42,01 a 77,48 Kgf/cm2. Maiores umidades de
equilíbrio foram observadas nos briquetes com as maiores proporções de resíduos de bambu, o
que pode ter aumentado a resistência à compressão dos mesmos. Isto, por sua vez, acarretou o
aumento no ritmo da queima dos mesmos, que variou de 2,13 a 4,43 g/min. As menores
velocidades de queima e a possibilidade de geração de mais chamas durante a expulsão de
maiores volumes de gases inflamáveis, faz com que os briquetes com as maiores proporções de
resíduos de bambu possam sejam indicados para a queima direta em fogões domésticos e nas
fornalhas de cerâmicas, olarias e caldeiras industriais. Os briquetes com as maiores proporções
de finos de carvão, devido à menor geração de gases, são indicados para a queima em
churrasqueiras.

Palavras-chave: Energia da biomassa; Briquetes; Bambu; Finos de carvão vegetal.

Thermogravimetric and physico-mechanical characterization of briquettes made with


bamboo waste and charcoal fines

Summary: This work aimed to the characterization of briquettes made with bamboo waste and
charcoal fines, on the basis of the thermal behavior and the resistance to compression. The
briquettes are produced from the following proportions of bamboo and Eucalyptus spp coal fines,
respectively: only bamboo residues (T1); 4/1 (T2); 1/1 (T3); 1/4 (T4); and, only coal mill (T5). It
was determined the strength of briquettes to pressure (Kgf/cm2) in a Universal testing Machine
and the speed of burning them (g/min), under the effects of the flame of a torch. It was observed
that the higher the proportion of bamboo residues on composition of briquettes, the greater its
resistance to compression, which ranged from 42.01 to 77.48 Kgf/cm2. Largest balance moisture
were observed in briquettes with the highest proportions of bamboo residues, which may have
increased the compressive strength. This, in turn, led to the decrease in the speed of burning,
which ranged from 2.13 to 4.43 g/min. The lowest burning speed and the possibility of generating
more fire during the expulsion of the largest volumes of flammable gases, causes the briquettes
with the highest proportions of bamboo residues may be indicated for direct burning in household
stoves and ceramic furnaces, potteries and industrial boilers. The briquettes with the highest
D. S.Costa Júnior; A. M. Andrade; A. F. Dias Júnior; V. W. Soares; P. V. Santos

proportions of fine coal, due to lower gas generation, are indicated for burning in barbecue grills.

Keywords: Biomass Energy; Briquettes; Bamboo; Charcoal fines.

1. INTRODUÇÃO

A compactação de resíduos agroflorestais, tais como cascas de frutos, palhas de cereais, pó de


madeira, finos de carvão vegetal, dentre outros, pode resultar num eficiente combustível. Tais
resíduos, após serem compactados, têm a sua densidade significativamente aumentada e passam a
ser denominados briquetes (OLIVEIRA et al., 2006).
Os briquetes, em função das suas características físicas, químicas e mecânicas, podem ser utilizados
como combustíveis domésticos e industriais, muitas vezes com uma alta eficiência térmica.
Dentre as vantagens da conversão de resíduos em briquetes, destacam-se: a reciclagem de resíduos
agroflorestais; a geração de emprego e renda para os pequenos produtores; a homogeneização, a
diminuição do volume e o aumento da densidade dos resíduos, pela compactação; e, a maior
facilidade de transporte, armazenamento e manipulação do combustível gerado.
No Brasil, muitos setores geram, anualmente, grandes quantidades de resíduos. O setor industrial,
por exemplo, geram enormes volumes de cascas de frutos, de palhas de cereais, de fragmentos de
madeira, de finos de carvão vegetal, de lodo orgânico, etc., grande parte desse material poderia ser
compactada, resultando em briquetes de boa qualidade (ANDRADE & SANTIAGO, 2005).
A qualidade de um briquete, além de estar associada às suas propriedades físicas, químicas e
mecânicas, depende do seu comportamento durante o manuseio e uso. Briquetes energéticos devem
ser resistentes aos impactos, quedas e compressão e, ao mesmo tempo, queimar numa velocidade
adequada, sem a geração de odor e de volumes excessivos de gases e vapores (Quirino & Brito
(1991); Rocha (2006)).
Dentro deste contexto, o presente trabalho de pesquisa objetivou a avaliação termogravimétrica e
físico-mecânica de briquetes produzidos com resíduos de bambu, misturados ou não a finos de
carvão vegetal.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Os finos de carvão vegetal foram obtidos após a carbonização de lenha de Eucalyptus spp, num forno
de carvoejamento da UFRRJ. Os resíduos de bambu foram fornecidos por uma pequena fábrica de
espetos para churrascos, do município de Nazaré da Mata, PE.
Os citados materiais foram compactados no interior de um molde de aço inoxidável, constituído por
três peças básicas: 1ª) um cilindro de aço com o comprimento de 10 cm, diâmetro interno de 6 cm e
paredes com a espessura de 1 cm; 2ª) um êmbolo fixo, com o mesmo diâmetro do cilindro, com a
parte interna convexa; e, 3ª) um êmbolo móvel, com o mesmo diâmetro do cilindro, com a parte
interna convexa. As prensagens resultaram em briquetes com o formato de uma almofada,

227
D. S.Costa Júnior; A. M. Andrade; A. F. Dias Júnior; V. W. Soares; P. V. Santos

constituída por duas semiesferas ajustadas entre si.


A força de compactação, de 567,75 kgf/cm2, foi fornecida por uma prensa hidráulica, com a
capacidade máxima de 15 toneladas (Figura 1). Antes de cada prensagem utilizou-se como
aglutinante a CMC (carboximetilcelulose), na concentração de 30 g/L, que foi pulverizada
rapidamente sobre os materiais, espalhados numa fina camada.
Os tratamentos analisados foram: T1 = briquetes de resíduos de bambu; T2 = briquetes com
proporções de 4:1 de resíduos de bambu e finos de carvão vegetal, respectivamente; T3 = briquetes
com proporções de 1:1 de resíduos de bambu e finos de carvão vegetal, respectivamente; T4 =
Briquetes com proporções de 1:4 de resíduos de bambu e finos de carvão vegetal, respectivamente;
e, T5 = briquetes de finos de carvão vegetal.
As velocidades de queima dos briquetes (g/min) foram determinadas após o contato dos mesmos
com a chama de um maçarico de gás butano (Figura 2). As massas dos briquetes foram
determinadas antes e após a combustão por um período de 3 minutos. As resistências dos briquetes
às forças de compressão (kgf/cm2) foram determinadas numa Máquina Universal de Ensaios.

Figura 1: Prensa hidráulica e molde em aço, Figura 2: Detalhes do ensaio de queima


utilizados para a confecção dos briquetes. realizado.
Figure 1: Details of the press and steel mold Figure 2: Details of the rehearsal of it burns
used for make the briquettes. accomplished.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi notado que os briquetes constituídos de resíduo de bambu resistem mais aos ensaios de ruptura
e de queima, tal fato pode estar relacionado ao maior teor de umidade apresentado pelos briquetes
com bambu, cujos teores variaram de 13,7% à 17,5%.
Os briquetes mais resistentes à compressão foram, também, os menos resistentes à combustão, o
que, provavelmente, esteja relacionado aos maiores teores de voláteis nos mesmos. Os altos teores
de voláteis decorrem dos fatos destes briquetes não terem sidos submetidos ao processo de
carbonização.
A Figura 3 ilustra a correlação entre o ritmo de queima (g/min) e a resistência à compressão (Kgf/cm2)

228
D. S.Costa Júnior; A. M. Andrade; A. F. Dias Júnior; V. W. Soares; P. V. Santos

para os respectivos tratamentos.

2
R = 0,87 R2 =0 ,9 7 R 2=0,79

A B C

Figura 3: Correlações observadas entre as variáveis analisadas, onde: A = Velocidade de Queima


(g/min) e Resistência à Compressão (kgf/cm2); B = Umidade de Equilíbrio (%) e Resistência à
Compressão (kgf/cm2); C = Umidade de Equilíbrio (%) e Ritmo de Queima (g/min).
Figure 3: Correlations between the variables analyzed, where: A = Burning speed (g/min) and
compressive strength (kgf/cm2); B = Equilibrium moisture (%) and compressive strength (kgf/cm2); C =
Equilibrium moisture (%) and Burning speed (g/min).

As médias das resistências à compressão variaram de 50,9 Kgf/cm2 à 77,4 Kgf/cm2, para os briquetes
com 100% de finos de carvão vegetal e 100% de resíduos de bambu, respectivamente.
Como o teor de umidade de um briquete é de extrema importância quando da avaliação deste
recurso energético, sobretudo ao se analisar o ponto de ignição do mesmo, quanto menor o teor de
umidade supõe-se que o briquete seja o melhor (GOMES, 2006).
A Figura 3B e 3C apresentam as correlações existentes entre umidade de equilíbrio, com a
resistência à compressão e o ritmo de queima dos briquetes.
Observou-se que, quanto maior o teor de umidade de equilíbrio dos briquetes (%), maior será a
resistência à compressão (Kgf/cm2) e maior o ritmo de queima (g/min).
As médias das umidades de equilíbrio dos briquetes variaram de 13,2% à 17,5%, para os tratamentos
5 e 1, respectivamente. Já os ritmos de queima variaram de 2,1 g/min à 4,4 g/min, para os
tratamentos 5 e 1, respectivamente. Considerando-se que as umidades médias apresentaram valores
absolutos relativamente próximos, não houve uma interferência significativa das mesmas sobre os
ritmos de queima dos briquetes, embora tenha havido sobre o ponto de ignição dos mesmos.

4. CONCLUSÕES

Tendo por base as propriedades dos briquetes ora analisados, concluiu-se que:
- Os briquetes produzidos com finos de carvão vegetal são menos resistentes aos ensaios
analisados, porém para uso doméstico é o mais indicado, uma vez que contêm menos voláteis;

229
D. S.Costa Júnior; A. M. Andrade; A. F. Dias Júnior; V. W. Soares; P. V. Santos

- Os briquetes de bambu são mais indicados para a queima direta em fornalhas;


- As alterações na qualidade dos briquetes foram provocadas pela composição dos mesmos (carvão
e, ou, bambu) e não pela umidade de equilíbrio ou pela resistência à compressão dos mesmos.

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230
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Parâmetros de qualidade do carvão vegetal de Mimosa tenuiflora (Willd.)


Poir. baseado na analise química imediata

Djailson Silva da Costa Júnior1*, Clécio Maynard B. Fonseca2, Leandro Calegari2, Gregório
Mateus Santana3, Girlânio Holanda da Silva2 e Alexandre José da Silva2

1: Discente do Curso de Eng. Florestal, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Intercambio
na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), através do Programa de Mobilidade Acadêmica
- Bolsista de Iniciação Cientifica PIBIC/CNPq/UFRRJ, - Rodov. PB 110, 58700-970 – Patos, PB – Brasil.
2: Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal da UFCG campus Patos.
3: Universidade Federal de Lavras, UFLA.

e-mail: djailson_junior@hotmail.com
Resumo: O carvão é um material que apresenta variação devido às propriedades da madeira,
por serem variáveis entre espécies, dentro do tronco e entre diferentes qualidades de sítios. O
rendimento e as propriedades do carvão vegetal dependem da qualidade da madeira que lhe deu
origem, do equipamento, dos fatores inerentes à madeira e condições operacionais da
carbonização. O uso de madeiras mais densa reflete num carvão de melhor qualidade.
Adicionalmente, os meios de produção influenciam na qualidade, com base nesses termos
objetivou-se avaliar a qualidade do carvão de Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. (jurema-preta)
gerado sob diferentes condições de carbonizações. Sendo realizadas em triplicata, em fornos
elétricos do tipo mufla, nas temperaturas de 400ºC, 500ºC e 600ºC, analisando-se posteriormente
suas qualidades físicas, de acordo com as normas (MB ABNT 1269/79), (COPANT 461/72) e
(ABNT NBR 9165- 1985). Utilizou-se a equação de Goutal para determinação do poder calorífico
superior em (Kcal/Kg), para determinação da analise química imediata baseou-se na norma
ASTM D-1764, adaptada por Oliveira et al. (1982). Em relação à densidade aparente não houve
diferença significativa obtendo média de 0,42, 0,42 e 0,46 (g/cm3) para os respectivos
tratamentos, assim como a densidade verdadeira com médias de 1,36, 1,37 e 1,41 (g/cm3). Se
tratando do teor de carbono fixo e poder calorífico superior houve diferença significativas entre os
tratamentos, para o poder calorífico superior obteve média de 8400,1 (b), 8666,9 (a) e 8659,1 (a),
valores em (Kcal./Kg), para o teor de carbono fixo havendo uma correlação de (R=0,65), com
médias de 61,34 % (c), 72,07 % (b) e 82,08 % (a). Em função dos resultados obtidos,
recomenda-se a utilização da maior temperatura de carbonização para gerar produtos de maior
concentração de carbono fixo influenciando em seu poder calorífico de melhor qualidade.
Palavras-chave: Caatinga, Propriedades do Carvão e Energia

Abstract: The coal is a material that presents variation due to the properties of the wood, for they
be variables among species, inside of the trunk and among different qualities of ranches. The
income and the properties of the vegetable coal depend on the quality of the wood that gave
him/her origin, of the equipment, of the inherent factors to the wood and operational conditions of
the carbonization. The denser use of wood contemplates in a coal of better quality. Additionally,
the means of production influence in the quality, with base in those terms was aimed at to
evaluate the quality of the coal of Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. (jurema-black) generated under
different conditions of carbonizations. Being accomplished in triplicata, in electric ovens of the
type mufla, in the temperatures of 400ºC, 500ºC and 600ºC, being analyzed their physical
qualities later, in agreement with the norms (MB ABNT 1269/79), (COPANT 461/72) and (ABNT
NBR 9165 - 1985). the equation of Goutal was Used for determination of the superior calorific
power in (Kcal/Kg), for determination of the it analyzes immediate chemistry was based in the
norm ASTM D-1764, adapted by Oliveira et al. (1982). In relation to the apparent density there
was not significant difference obtaining average of 0,42, 0,42 and 0,46 (g/cm3) for the respective
treatments, as well as the true density with averages of 1,36, 1,37 and 1,41 (g/cm3). If treating of
the tenor of fixed carbon and to can calorific superior there was significant difference among the
D. S. Costa Júnior, C. M. B. Fonseca, L. Calegari, G. M. Santana, G. H. Silva e A. J. Silva

treatments, for the power calorific superior he/she obtained average of 8400,1 (b), 8666,9 (the)
and 8659,1 (the), values in (Kcal. / Kg), for the tenor of fixed carbon having a correlation of
(R=0,65), with averages of 61,34% (c), 72,07% (b) and 82,08% (the). In function of the obtained
results, the use of the largest carbonization temperature is recommended to generate products of
larger concentration of fixed carbon influencing in his/her calorific power of better quality.
Keywords: Caatinga, Properties of the coal and Energy

1. INTRODUÇÃO

Com o aumento da população nas últimas décadas e os avanços tecnológicos, com a utilização dos
combustíveis fósseis, a madeira passou a ser utilizada como combustível sólido, líquido e gasoso, em
processos para a geração de energia térmica, mecânica e elétrica (BRITO, 2007).
Dentre as espécies empregadas para a produção de carvão vegetal no Nordeste destacam-se a
Mimosa tenuiflora (jurema-preta), Caesalpinia pyramidalis (catingueira), Anadenanthera colubrina
(angico), Caesalpinia ferrea (jucá), Bauhinia forficata (mororó), Aspidospema pyrifolium (pereiro) e
Tabebuia aurea (craibeira), (Oliveira et al., 2006).
A qualidade da madeira é um fator de extrema importância quando o objetivo é a produção de carvão
vegetal com alto rendimento, baixo custo e elevada qualidade. O uso de madeira mais densa reflete
em um carvão de melhor qualidade (PALUDZYSYN FILHO, 2008). Características como a densidade
básica, poder calorífico, constituição química e umidade estão entre os principais critérios de seleção
da madeira para esta atividade. A densidade básica é uma quantificação direta do material lenhoso,
por unidade de volume, podendo variar de 0,13 a 1,40 g/cm³ (BOWYER et al., 2003; BURGER e
RICHTER, 1991). Estando relacionada com muitas propriedades e características tecnológicas
importantes para a produção e a utilização dos produtos florestais, tem-se mostrado um bom índice
universal para avaliar a qualidade da madeira (MEDEIROS et al., 2009). O poder calorífico define-se
como a quantidade de energia na forma de calor liberada pela combustão de uma unidade de massa
da madeira (JARA, 1989).
Teve por objetivo avaliar alguns parâmetros de qualidade do carvão vegetal, obtido de Mimosa
tenuiflora (Willd.) Poir, gerados sob diferentes temperaturas de carbonização.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Coleta do material e preparo para análise

Foram abatidas nove árvores no Núcleo de Pesquisa do Semiárido (NUPEÁRIDO), pertencente à


Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), no município de Patos-Paraíba - Brasil, sendo as
mesmas direcionadas ao Laboratório de Produtos Florestais da UFCG, campus de Patos - Paraíba,
onde foi conduzido o experimento.
Foram retirados discos de diferentes classes de diâmetros, que foram amostrados em forma de
quartil. Foram acondicionados, em cadinho metálico 200g de cavacos absolutamente secos, onde
foram realizadas as carbonizações em forno tipo mufla elétrica, sob diferentes temperaturas, sendo
(T1= 400ºC); (T2= 500 ºC) e (T3= 600 ºC).

232
D. S. Costa Júnior, C. M. B. Fonseca, L. Calegari, G. M. Santana, G. H. Silva e A. J. Silva

Analise físico-química

A densidade verdadeira e aparente do carvão foi obtida de acordo com as Normas da ABNT NBR
9165 (1985) e ASTM-D-167-73, adaptada por Oliveira et al., (1982).
A partir da análise química imediata, realizada de acordo com a norma ASTM D-1764, adaptada por
Oliveira et al., (1982), foi possível determinar o poder calorífico superior (kcal/kg), utilizando a formula
de Goutal, que permite calcular sem a necessidade de uma análise química elementar conforme
descrito por Adad (1982).
Para os teste de médias utilizou-se o software (ASSISTAT), através do teste de Tukey a 5% de
significância.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme verificado neste estudo, obteve-se média para o poder calorífico superior a 400ºC média de
8400,1 Kcal./Kg; 8666,9 Kcal./Kg a 500 ºC; e 8659,1 Kcal./Kg a 600 ºC, sendo T1 inferior ao teste de
medias diferindo estatisticamente, quando se quer obter um material com alto teor de carbono fixo é
recomendado fazer uso de temperaturas elevadas, apresentando valores de (82,08% a) para T3;
(72,07% b) para T2; & (61,34% c) para o T1, quanto às propriedades físicas avaliadas, obteve
densidade verdadeira de 1,36, 1,37 e 1,41 (g/cm3), não diferindo entre si, assim como a densidade
aparente apresentando média de 0,42, 0,42 e 0,40 (g/cm3) respectivamente, para os tratamentos,
valores estes superiores ao encontrado por (Oliveira et al., 2010).
A espécie avaliada possui alto potencial energético, onde já existe relato de que é indicada para tal
atividade energética de acordo com (Oliveira et. al, 2003) em região semiárida, em estudos anteriores
com a mesma espécie, porem com marchas de carbonizações diferentes, confirmando suas
propriedades tecnológicas, sendo necessária a avaliação em diferentes processos de produção.
Com relação aos materiais obtidos em maiores temperaturas apresentou maior média do poder
calorífico superior, observado na (Figura 1a), existindo correlação de (R=0,65), entre o teor de
carbono fixo e o poder calorífico. O aumento do calor de combustão proporcionou maior concentração
no teor de carbono fixo, subitem que os produzidos a 400 ºC retém “matéria” com baixo valor de
poder calorífico (resinas, alcatrão, etc.), enquanto que os de maiores temperaturas, contem maior
porcentagem de carbono fixo (Figura 1 b), onde existe ótima correlação entre as variáveis analisadas
de (R=0,98).

233
D. S. Costa Júnior, C. M. B. Fonseca, L. Calegari, G. M. Santana, G. H. Silva e A. J. Silva

(A) (B)

Figura 1: (A) Correlação entre o teor de carbono fixo (%) e poder calorífico superior (Kcal/Kg); (B)
Correlação entre as temperaturas de carbonizações e o teor de carbono fixo, do carvão de Mimosa
tenuiflora (Jurema-preta), de acordo com os tratamentos a 400 ºC); 500 ºC; e 600 ºC.

4. CONCLUSÕES

- Os carvões submetidos a maiores temperaturas apresentam melhores propriedades físico-


químicas;
- Apesar do aumento da temperatura, durante o processo de carbonização diminuir o
rendimento, é recomendável utilizar maiores temperaturas, quando se quer obter um carvão
para usos mais nobres, como o uso em siderúrgicas;
- Faz necessários estudos quanto à viabilidade da produção do carvão sob altas temperaturas
em relação ao rendimento gravimétrico em larga escala.
-

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A) BURGER, L. M.; RICHTER, H. G. Anatomia da madeira. São Paulo: Nobel, 1991.157 p.


B) JARA, E.R.P. O poder calorífico de algumas madeiras que ocorrem no Brasil. São Paulo:
Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, 1989. (Comunicação Técnica, 1797).
MEDEIROS, X.J. AZEVÊDO, B.K. ALMEIDA, C.M.A. BRITO, R.H. LIMA, S.F. OLIVEIRA,E. Avaliação
da densidade da madeira de Piptadenia stipulacea ((Benth) Ducke) e Amburana cearensis
Para utilização como potencial energético. II Congresso nordestino de engenharia florestal i
simpósio da pós-graduação em ciências florestais da ufcg xii semana da engenharia florestal,
P.4, 2009.
OLIVEIRA, E; VITAL, R.B. PIMENTA, S.A. LUCIA, D.M. LADEIRA, M.M.A. CAR NEIRO, O.C.A.
Estrutura anatômica da madeira e qualidade do carvão de Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.
R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.311-318, 2006.
PALUDZYSYN FILHO, E. Melhoramento do eucalipto para a produção de energia. Revista Opiniões,

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D. S. Costa Júnior, C. M. B. Fonseca, L. Calegari, G. M. Santana, G. H. Silva e A. J. Silva

Ribeirão Preto, jun-ago 2008. Disponível em:


<http://www.revistaopinioes.com.br/cp/edicao_materias. php?id=15> Acesso em: 28 de Nov.
2012.
QUIRINO, F.W. VALE, T.A. ANDRADE, A.P.A. ABREU, S.L.V. AZEVEDO, S.C.A. Poder calorífico
da madeira e de materiais ligno celulósicos. Publicado na Revista da Madeira nº 89 abril 2005
pag. 100-106.
C) ADAD, J. M. T. Controle Químico de Qualidade. Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1982.
BOWYER, J. L.; SHMULSKY, R.; HAYGREEN, J. G. Forest products and wood science: an
introduction. New York: Blackwell Publishing, 2003. 554 p.
BRITO, J. O. O uso energético da madeira. Estudos Avançados. São Paulo, vol.21, n. 59, 2007.
OLIVEIRA, J.B.; GOMES, P.A.; ALMEIDA, M.R. Caracterização e otimização do processo de
fabricação de carvão vegetal em fornos de alvenaria. In: FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO
DE MINAS GERAIS. Carvão vegetal: destilação, carvoejamento, propriedades, controle de
qualidade. Belo Horizonte, 1982. P.62 10

235
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Caracterização morfométrica da bacia do rio Sordo e determinação do uso


potencial do solo

Renato f. do Valle Junior1*, Simone G. P. Varandas1, Luís F. S. Fernandes, Fernando A. L.


Pacheco

1: CITAB-UTAD – Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas da Universidade de


Trás-os-Montes e Alto Douro, Quinta de Prados, 5001-801 Vila Real, Portugal

e-mail: renato@iftm.edu.br

Resumo: A crescente expansão das atividades agropecuárias, desvalorizando as potencialidades


e limitações quanto ao uso dos solos, constitui uma fonte potencial de degradação do meio
ambiente. Este trabalho teve por objetivo avaliar padrões morfométricos de microbacias
hidrográficas de 1a a 4a ordem como indicadores na diferenciação das principais classes de solos
para a bacia hidrográfica do rio Sordo e concelho de Vila Real, detetando-se as limitações quanto
ao uso potencial do solo, segundo a metodologia do coeficiente de rugosidade (RN). Utilizaram-
se técnicas de geoprocessamento cuja integração da informação foi realizada através do Sistema
de Informação Geográfica IDRISI. Este sistema aliado ao uso das Cartas Militares digitais do
Instituto Geográfico do Exército (IGE), escala 1:25.000, de onde foram extraídas as redes de
drenagem e curvas de nível, possibilitou a elaboração do modelo digital do terreno e consequente
delimitação das microbacias. Na avaliação da classificação do uso potencial do solo constatou-se
que 70.25% das microbacias são apropriadas para a prática agrícola, 23,04% para pecuária,
4,96% para pecuária/floresta e 1,75% indicado para floresta. Os parâmetros morfométricos,
índice de circularidade (IC), índice de sinuosidade (IS), perímetro, coeficiente de forma (kf) e
densidade de drenagem (Dd), mostraram-se relevantes como indicadores na diferenciação de
tipos de solo entre Fluvissolo e Leptossolo.
Palavras-chave: caracterização morfométrica, uso potencial do solo, coeficiente RN, impacte
ambiental, GIS

Abstract: The growing expansion of agricultural activities, disregarding the potential and
limitations as to the use of land, is a potential source of environmental degradation. This study
aimed to evaluate patterns of morphometric micro-watersheds from 1st to 4th order of magnitude
as differentiation indicators of the main soil classes for the river Sordo basin and municipality of
Vila Real, detecting the limitations as to potential soil, according to the methodology of roughness
coefficient (RN). We used geoprocessing techniques whose integration of information was
performed using IDRISI Geographical Information System. This system combined with digital
Military Maps of the Geographic Army Institute (IGE), 1:25000 scale, where it was extracted
drainage networks and level curves, allowed the development of the digital terrain model and
subsequent delimitation of micro-watersheds. In evaluating the classification of the potential soil
use it was found that 70.25% of the watersheds are suitable for the practice of agriculture, 23.04%
for livesstock, 4.96% for livestock/forest and 1,75% suitable for forest. Morphometric parameters,
circularity index (CI) sinuosity index (SI), perimeter, shape coefficient (kf) and drainage density
(Dd) were relevant as indicators in differentiating between Fluvissolo and Leptossolo classes.

Keywords: morphometric characterization, potential soil use, coefficient RN, environmental


impact, GIS
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

1. INTRODUÇÃO

A bacia hidrográfica por ser uma unidade geomorfológica fundamental, cujas características
influenciam todo o fluxo superficial da água, constitui-se como uma área ideal para o ordenamento
integrado da gestão dos recursos naturais no meio ambiente. Definida como uma área de captação
natural da água da precipitação que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, a
bacia hidrográfica é composta por um conjunto de superfícies vertentes (encostas) e de uma rede de
drenagem formada por cursos de água que convergem até resultar num leito único junto à foz
(SILVEIRA, 2001).
A análise morfométrica, que compreende o levantamento de índices numéricos que classificam as
redes de drenagem em bacias hidrográficas, pode contribuir para estudos de análises hidrológicas ou
ambientais, elucidando questões relacionadas com o entendimento da dinâmica ambiental. Com a
análise combinada dos dados morfométricos pode-se diferenciar áreas homogéneas, possibilitando a
determinação de vulnerabilidades ambientais (ANTONELLI e THOMAZ, 2007). Deste modo, o padrão
de drenagem reflete algumas propriedades do terreno, como infiltração e escoamento das águas das
chuvas, e expressam a estreita correlação com a litologia, estrutura geológica e formação superficial
dos elementos que compõem a superfície terrestre, determinando diferenças essenciais entre
distintas paisagens, como relatam estudos clássicos desenvolvidos por HORTON (1945), STRAHLER
(1957) e FRANÇA (1968). Assim sendo, emprega-se a morfometria como análise quantitativa
mediante o uso dos parâmetros calculados, tais como: coeficiente de compacidade, índice de
circularidade, densidade de drenagem, declive, comprimento dos cursos de água, coeficiente de
rugosidade, entre outros (ALVES e CASTRO, 2003; POLITANO e PISSARRA, 2003; PISSARRA et
al., 2004).
O risco de degradação ambiental em bacias hidrográficas pode ser estimado pelo coeficiente de
rugosidade (RN), obtido pelo produto entre a densidade de drenagem e o declive médio da
microbacia (PISSARRA et al., 2004; ROCHA, 1977; GIOTTO et al., 1992; MELLO FILHO e ROCHA,
1992).
O objetivo deste trabalho foi determinar e avaliar padrões morfométricos de microbacias hidrográficas
de 1a a 4a ordem de magnitude, como indicadores na diferenciação das classes de uso do solo
(Fluvissolos e Leptossolos) para a bacia hidrográfica do rio Sordo e Concelho de Vila Real,
detetando-se o uso potencial do solo, segundo a metodologia do coeficiente de rugosidade (RN).

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de estudo

A bacia do rio Sordo, pertencente à bacia hidrográfica do rio Douro, situa-se na região de Trás-os-

Montes e Alto Douro (norte de Portugal). Com uma área de 51,015 Km2, está localizada entre os
paralelos 41o 16’ 05,57’’ e 41o 20’ 12,81’’ de latitude norte e os meridianos de 07o 55’ 21,82’’e 07o 45’
42,45’’ a oeste de Greenwich, abrangendo grande parte dos municípios de Vila Real e Santa Marta
de Penaguião. O rio Sordo, afluente da margem direita do rio Corgo, tem a extensão aproximada de

237
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

20 km e, conjuntamente com os seus tributários origina um padrão de drenagem dendrítico,


apresentando a bacia hidrográfica uma forma radial em que é possível individualizar um conjunto de
53 microbacias (Figura 1).

Figura 1. Microbacias dos principais cursos d’água da bacia do rio Sordo

De acordo com AGROCONSULTORES e COBA (1991), os tipos de solo na bacia hidrográfica do rio
Sordo são os Leptossolos, que cobrem uma área significativa, surgindo também, com menor
representação, os Fluvissolos na zona do vale da Campeã e Antrossolos no sector mais a jusante da
bacia hidrográfica.
O uso e ocupação do solo são condicionados fundamentalmente pela morfologia da bacia
hidrográfica em que nas regiões menos acidentadas a agricultura diversificada se encontra presente.
Nas áreas mais elevadas e de solos mais pobres domina a floresta que contrasta com a região mais
a jusante em que se demarca a vinha em associação com a oliveira.

2.2. Recolha de dados

O banco de dados referente à rede de drenagem e curvas de nível da bacia foi obtido através das
Cartas Digitais Militares de Portugal (Folhas 101 e 114) à escala 1:25000, com as coordenadas
planimétricas Hayford Gauss Militar Datum Lisboa, com projeção Universal Transversa de Mercator, a
partir do Instituto Geográfico do Exército (IGEOE). Neste trabalho utilizaram-se as cartas com
equidistância vertical entre curvas de nível de 10 m e todos os mapas gerados adotaram o sistema de
projeção Universal Transversa de Mercator (UTM), fuso 29, Datum planimétrico WGS84 (World
Geodetic System, 1984).

238
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

2.2. Tratamento de dados

O modelo digital do terreno (MDT) foi gerado à partir das curvas de nível extraídas das Cartas
Militares Digitais e processadas no software IDRISI Selva, possibilitando a elaboração de mapas de
declive seguindo os intervalos de EMBRAPA (1999). O IDRISI é um software de sistema de
informação geográfica e processamento de imagens com ênfase em funções de análise que reúne
um conjunto de módulos que abrangem um grande número de operações analíticas, desde
ferramentas básicas para cálculo de distância até ferramentas mais sofisticadas para análises
complexas como por exemplo o Land Change Modeler e o Earth Trends Modeler.
A caracterização morfométrica das microbacias hidrográficas foi efetuada recorrendo a parâmetros
constantes na literatura e adaptados através da aplicação do IDRISI Selva e AutoCAD 2007. Esta
caracterização compreendeu variáveis geométricas e da rede de drenagem de acordo com
TONELLO (2005). As bacias de 1a à 4a ordem, pertencentes à bacia hidrográfica do rio Sordo,
seguindo a metodologia de STRAHLER (1957) foram analisadas. Assim, a rede de drenagem foi
correlacionada com as unidades de solos: Leptossolos e Antrossolos e os elementos dimensionais
foram analisados para diferentes unidades de solos. Para cada microbacia foram extraídas as
variáveis morfométricas que a seguir se descrevem:
- Área da bacia (A, km2): compreende a superfície total da bacia (HORTON, 1945;
CHRISTOFOLETTI, 1980). Esta variável morfométrica é a mais importante, uma vez que define,
de modo geral, o volume de água que será escoado pela bacia. Quanto maior for a área da
bacia, maior será o volume de água que passará pela sua desembocadura, aumentando o efeito
das enchentes no interior da bacia e a jusante da mesma;
- Perímetro da bacia (P, km): corresponde à medida do comprimento da linha imaginária do divisor
de águas da bacia (normalmente a linha de cumeada) e que delimita a área da mesma (SMITH,
1950);
- Maior comprimento (C, km): Linha reta que une a foz até o ponto extremo sobre a linha divisória
de águas seguindo a direção aproximada do vale principal (SCHUM, 1956);
- Maior Largura (L, km): Medida transversalmente ao maior comprimento no mapa divisório das
microbacias;
- Índice de Circularidade (IC): Relação existente entre a área da bacia e a área de um círculo com
o mesmo perímetro (MÜLLER, 1953). Trata-se de uma variável morfométrica onde quanto mais
próximo de 1 mais próxima estará da forma circular, sendo maior a suscetibilidade às cheias tal
como refere ROCHA (1991) pois haverá uma maior concentração de água no rio principal em
períodos de chuva intensa;
- Índice de sinuosidade do curso de água (Si) - É a relação do comprimento do rio principal e o
comprimento do talvegue (VILLELA e MATTOS,1975). Quanto maior o índice, menor a
velocidade do escoamento e, consequentemente, menor a influência nas enchentes a jusante da
bacia (maior retenção de água no interior da bacia);
- Coeficiente de Compacidade ou Índice de Gravelius (KC): Relaciona o perímetro da bacia e o
perímetro de um círculo de área igual à da bacia; Um coeficiente mínimo igual a 1
corresponderia à bacia circular. Assim, inexistindo outros fatores, quanto maior o Kc menos

239
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

propensa a enchentes é a bacia.


- Fator de Forma (Kf): É a relação entre a largura média da bacia e o comprimento axial da bacia.
É medido da foz ao ponto mais distante da bacia. A largura média obtém-se dividindo a área da
bacia pelo comprimento da bacia. Este índice também indica a maior ou menor propensão de
uma bacia às cheias. Uma bacia com Kf baixo, logo L grande, será menos suscetível a
enchentes que outra com mesma área, mas Kf maior. Tal deve-se ao facto de que numa bacia
estreita e longa (Kf baixo) haver menor possibilidade de ocorrência de chuvas intensas que
cubram simultaneamente toda a sua extensão;
- Comprimento total da rede de drenagem (Cr): Corresponde ao comprimento total dos segmentos
de rios (km) que formam a rede de drenagem da bacia (HORTON, 1945);
- Ordem de ramificação ou magnitude (OR): os canais de drenagem foram classificados de acordo
com o sistema de HORTON (1945), modificado por STRAHLER (1957).
- Comprimento total dos canais por ordem (Ctw): representa o comprimento total dos segmentos
de rios em cada ordem, sendo identificados por Ctw (Ctw1, Ctw2) – (FRANÇA, 1968).
- Densidade de drenagem (Dd, km.km-2): Relação entre o comprimento da rede de drenagem (Cr)
e a área da bacia (A) - Dd = Cr.A-1, (HORTON, 1945); De acordo com HIRUMA e PONÇANO
(1994) densidade de drenagem é um dos principais parâmetros na análise morfométrica de
bacias hidrográficas pois reflete a influência das características topográficas, litológicas,
pedológicas e da cobertura vegetal e incorpora a influência antrópica e permite saber se a bacia
tem uma boa drenagem ou não e assim a sua tendência para a ocorrência de cheias.
- Coeficiente de Rugosidade (RN): Parâmetro que permite definir o uso potencial do solo para fins
agrícolas, pastagem e/ou floresta. ROCHA e KURTZ (2001) cita quatro classes para o RN, as
quais se encontram descritas abaixo:
A – Solos com aptidão para agricultura (menor valor de RN);
B – Solos com aptidão para pastagem;
C – Solos com aptidão para pastagem/floresta;
D – Solos com aptidão para floresta (maior valor de RN).

Para se caracterizar o “Uso Potencial do Solo” nas quatro classes descritas por ROCHA e KURTZ
(2001) são calculados a “Amplitude” – A e o Intervalo de classes – I, dos coeficientes de
rugosidades, sendo:
A = (maior valor de RN – menor valor de RN) e I = A/4

O denominador 4 representa o número de classes de aptidão (A, B, C, D). Para a definição dos
intervalos de domínios (largura dos intervalos das classes de RN’s), inicia-se com a classe inferior, a
fim de incluir o menor valor de RN. Posteriormente, acrescenta-se o valor do intervalo de classe,
definindo-se deste modo o limite superior do intervalo.
A partir da determinação do uso potencial do solo, elaborado a partir do coeficiente de rugosidade
(RN), procedeu-se à elaboração do mapa de classificação das 53 microbacias do rio Sordo e 39
microbacias localizadas próximas ao concelho de Vila Real, correspondentes aos solos estudados.
Desta forma, criou-se um padrão de caracterização morfométrica da região, utilizando-se o software

240
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

IDRISI. Assim, para cada uso potencial do solo, foram determinadas as amplitudes de variação do
coeficiente de rugosidade (RN) para cada microbacia e classe de solo predominante, de acordo com
a metodologia de ROCHA e KURTZ (2001).

2.3. Análise estatística

As diversas variáveis morfométricas foram avaliadas por meio da análise de variância, utilizando-se o
programa MINITAB, com o propósito de permitir uma melhor análise dos aspetos da variabilidade das
características de cada microbacia hidrográfica em função das três unidades de solos estudadas,
procurando-se gerar padrões morfométricos regionais que favoreçam a classificação e identificação
dos principais solos da região. Finalmente, após análise de variância, para as variáveis significativas
ao teste de F, procedeu-se ao teste de médias de Tukey 5%.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Utilizando-se a sobreposição das LAYERS “curvas de nível” e “redes de drenagem” recorrendo ao


software IDRISI, foram identificadas todas as microbacias hidrográficas de 1a a 4a ordens, segundo
STRAHLER (1957), em função do traçado da rede de drenagem, da identificação dos respetivos
divisores topográficos e do grau de hierarquia dos segmentos de rios.
Para análise dos dados foram selecionadas 38 microbacias de 1a ordem, 32 de 2a ordem, 13 de 3a
ordem e 9 de 4a ordem, totalizando 92 microbacias. Estas microbacias foram selecionadas em função
dos principais cursos de água da bacia do rio Sordo e concelho de Vila Real.
Dos parâmetros morfométricos estudados verificou-se que o coeficiente de forma (kf) dos Antrossolos
apresentou diferenças estatisticamente significativas para a probabilidade (p< 0,05), quanto
comparado com os Leptossolos, para microbacias de 1a ordem, revelando que os Leptossolos
apresentam maior suscetibilidade às cheias (Quadro 1). Contudo, para microbacias de 1a e 2a, ordem
o coeficiente de compacidade (Kc) dos Antrossolos diferenciou-se de forma altamente significativa
(p< 0,0001) dos Leptossolos, mostrando-se como apresentando uma tendência media para cheias.
A área da microbacia é uma característica determinante para o total do escoamento superficial das
chuvas. Para bacias de 1a e 2a ordem, não se observou diferença estatística entre os solos estudados
(Quadros 1, 2 e 3). Contudo, para bacias de 3a ordem de magnitude, os Leptossolos apresentaram
maior valor médio de área 4,291 km2 quando comparado aos Antrossolos 1,198 km2, mostrando que
os Leptossolos apresentam maior escoamento total para bacias de 3a ordem (Quadro 4), satisfazendo
os princípios de STRAHLER (1957).
Os valores médios do perímetro e maior comprimento aumentam sucessivamente com o aumento da
ordem da bacia, apresentando valores médios maiores nos solos com menor movimentação
topográfica, semelhante aos dados observados por PISSARRA (2002).
De acordo com os resultados, a densidade de drenagem (Dd) dos Leptossolos (2,377 km.km-2)
evidenciou diferenças estatísticas significativas (p< 0,018) quanto comparada aos Antrossolos (3,544
km.km-2) para microbacias de 1a ordem (Quadro 5). Face ao observado, os Antrossolos apresentam

241
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

uma maior eficiência de drenagem quando comparados aos Leptossolos. Seguindo a mesma
convergência, para microbacias de 3a ordem, a densidade de drenagem dos Antrossolos apresentou
diferenças estatisticamente significativas (p< 0,001) quanto comparada aos Leptossolos (Quadro 2).

Quadro 1. Valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação das variáveis dimensionais das
microbacias hidrográficas de 1a ordem em função das unidades de solo avaliados
Unidades de Solo
Leptossolo Antrossolo
Variáveis
Média Desvio CV (%) Média Desvio CV (%)
padrão padrão
A (km2) 0,211(ns) 0,144 68,2 0,166 (ns) 0,981 5,9

P (km) 2,743(ns) 0,979 35.6 2,593 (ns) 0,948 36,5

C (km) 0,560(ns) 0,292 52,14 0,594 (ns) 0,184 30,9

L (km) 0,453(ns) 0,390 86,0 0,390(ns) 0,197 50,5

IC 0,343(ns) 0,082 23,9 0,298 (ns) 0,056 18,7

Si 1,083(ns) 0,055 5,07 0,974 (ns) 0,308 31,6

Kc 1,734(ns) 0,231 13,3 1,839 (ns) 0,163 8,86

Kf 0,836a 0,481 57,5 0,518b (0,05) 0,471 90,9

Médias com a mesma letra não diferem pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%; (ns) não
significativo ao teste de F.

Quadro 2. Valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação das variáveis dimensionais das
microbacias hidrográficas de 2a ordem em função das unidades de solos avaliados
Unidades de Solo
Leptossolo Antrossolo
Variáveis
Média Desvio CV (%) Média Desvio CV (%)
padrão padrão
2
A (km ) 0,598(ns) 0,404 67,5 0,373 (ns) 0,282 75,6

P (km) 4,902a 0,979 19,9 3,131b (0,002) 0,948 30,2

C (km) 1,089(ns) 0,565 51,8 0,843 (ns) 0,236 27,9

L (km) 0,753a 0,390 51,7 0,532b (0,03) 0,197 37,0

IC 0,306a 0,088 28,7 0,445b (0,001) 0,077 17,3

Si 1,143a 0,107 9,3 1,069b (0,005) 0,029 2,7

Kc 1,843a 0,259 14,0 1,503b (0,001) 0,129 8,6

Kf 0,587(ns) 0,328 55,8 0,502 (ns) 0,162 32,2

Médias com a mesma letra não diferem pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%; (ns) não
significativo ao teste de F.

242
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

Quadro 3. Valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação das variáveis dimensionais das
microbacias hidrográficas de 3a ordem em função das unidades de solos avaliados
Unidades de Solo
Leptossolo Antrossolo
Variáveis
Média Desvio CV (%) Média Desvio CV (%)
padrão padrão
2
A (km ) 4,291a 2,269 52,8 1,198b (0,003) 0,420 35,0

P (km) 12,536a 4,041 32,2 4,041b (0,001) 1,237 30,6

C (km) 2,693a 0,864 32,0 1,587b (0,006) 0,314 19,7

L (km) 1,871a 0,692 36,9 0,980b (0,008) 0,292 29,7

IC 0,344a 0,092 26,7 0,461b (0,05) 0,100 21,6

Si 1,169(ns) 0,027 2,3 1,166 (ns) 0,046 3,9

Kc 1,729a 0,233 13,4 1,487b (0,05) 0,181 12,1

Kf 0,691(ns) 0,538 77,8 0,487 (ns) 0,131 26,8

Médias com a mesma letra não diferem pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%; (ns) não
significativo ao teste de F.

Quadro 4. Valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação das variáveis dimensionais das
microbacias hidrográficas de 4a ordem em função das unidades de solos avaliados
Unidades de Solo
Leptossolo Antrossolo
Variáveis
Média Desvio CV (%) Média Desvio CV (%)
padrão padrão
A (km2) 4,911(ns) 2,144 43,6 7,664 (ns) 3,579 46,9

P (km) 13,781(ns) 4,872 35,3 18,973 (ns) 6,870 35,2

C (km) 4,123(ns) 1,751 42,4 4,882 (ns) 2,207 45,1

L (km) 2,161(ns) 0,474 21,9 2,584 (ns) 0,217 8,3

IC 0,339(ns) 0,090 26,5 0,276 (ns) 0,076 27,5

Si 1,182(ns) 0,080 6,7 1,315 (ns) 0,225 17,1

Kc 1,747(ns) 0,253 14,4 1,921 (ns) 0,239 12,4

Kf 0,470(ns) 0,442 94,0 0,387 (ns) 0,226 58,3

Médias com a mesma letra não diferem pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%; (ns) não
significativo ao teste de F.

De acordo com os valores de declive médio verificámos que a inclinação nos Antrossolos
apresentaram diferenças significativas (p< 0,04) para microbacias de 3a ordem quando comparados
aos Leptossolos (Quadro 5). Nos Antrossolos o declive é mais acentuado, gerando maior velocidade
do escoamento superficial da água das chuvas, favorecendo maior esculturação da paisagem. Desta
forma, o coeficiente de rugosidade (RN) apresentou diferenças estatísticas significativas (p< 0,003)
entre os Antrossolos e os Leptossolos, para microbacias de 3a ordem (Quadro 5), revelando que os
Antrossolos apresentam maiores valores de RN quando comparados com os Leptossolos, havendo

243
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

possivelmente restrições quanto ao uso potencial destes solos.

Quadro 5. Valores da média, desvio padrão e coeficiente de variação das características


dimensionais relativas à Dd, RN e Declive médio (DM) das microbacias de 1ª - 4a ordem
Unidades de Solo
Ordem das Leptossolo Antrossolo
Variáveis
Microbacias Média Desvio CV (%) Média Desvio CV (%)
padrão padrão
1ª 2,377 a 1,016 42,7 3,544b (0,018) 1,902 53,6

2ª 3,376(ns) 1,692 0,501 3,719 (ns) 1,202 32,3


Dd(km.km-2)
3ª 2,799 a 0,606 21,6 4,277 b (0,001) 0,525 12,2

4ª 3,972(ns) 0,182 4,58 4,165 (ns) 0,055 1,3

1ª 86,14(ns) 64,28 74,6 106,8 (ns) 64,71 60,5

2ª 103,16(ns) 89,04 86,3 128,16 (ns) 63,34 49,4


RN
3ª 61,81 a 29,33 47,4 137,98 b (0,003) 38,88 28,17

4ª 79,31(ns) 23,78 29,98 78,84 (ns) 17,37 22,03

1ª 33,05(ns) 14,56 44.05 31,24 (ns) 14,32 45,8

2ª 27,31(ns) 10,25 37,5 34,10 (ns) 14,05 41,2


DM (%)
3ª 21,17 a 7,38 34,8 32,8 b (0,04) 9,55 29,1

4ª 21,14(ns) 5,780 27,3 18,89(ns) 3,952 20,9

Médias com a mesma letra não diferem pelo teste de Tukey ao nível de significância de 5%; (ns) não significativo ao teste de F.

Uma vez identificados os Usos Potenciais do Solo, foram estimados para cada um desses usos as
amplitudes de variação do coeficiente de rugosidade (RN) para cada microbacia e classe de solo
predominante (Quadro 6).

Quadro 6. Estimativa da classe de uso potencial do solo segundo os coeficientes de rugosidade


Unidades de Solo
Uso Potencial
Antrossolos Leptossolos

A 14,53 - 68,64 17,43 - 84,92

B 68,64 - 122,75 84,92 - 152,42

C 122,75 - 176,87 152,42 - 219,91

D 176,87 - 230,98 219,91 - 287,40

A – Solos potenciais para agricultura; B – Solos potenciais para


pastagens; C – Solos potenciais para pastagem/floresta; D – Solos
potenciais para floresta

Para as microbacias hidrográficas do rio Sordo, foi possível observar que 70,25% da área é indicada
para agricultura, 23,04% para pecuária, 4,96% para pecuária e floresta e apenas 1,75% para floresta

244
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

(Figura 2). Através da análise do Quadro 6 constata-se que os maiores valores foram alcançados nos
Leptossolos e os menores nos Antrossolos. Considera-se, portanto, que nesta bacia hidrográfica a
maior homogeneidade se verifica entre as microbacias localizadas nos Antrossolos.
Quanto aos valores dos intervalos (I), considerando as quatro classes para uso potencial do solo,
torna-se evidente que os valores mais homogéneos estão relacionados com a menor variação
topográfica. Estes dados demonstram que a análise do uso potencial do solo deva ser realizada para
cada região, onde as características morfométricas são específicas para a diferenciação entre
unidades de solos, devido às diferenças existentes na formação, topografia, uso e ocupação.

Figura 2. Classificação do uso potencial do solo das microbacias hidrográficas de acordo com a
metodologia do RN

4. CONCLUSÕES

Em conformidade com a metodologia aplicada e os resultados obtidos conclui-se que os parâmetros


morfológicos Índice de Circularidade (IC), Coeficiente de Compacidade (kc), Índice de Sinuosidade
(IS) e Perímetro são relevantes como indicadores na diferenciação de classes de solo mais
concretamente na diferenciação entre Antrossolos e Leptossolos, em microbacias de 2a e 3a ordem
na bacia do rio Sordo.
Os parâmetros Densidade de drenagem (Dd) e o Coeficiente de Forma (Kf) na análise de microbacias
de 1a ordem foram os melhores indicadores de diferenciação das classes dos solos estudados, sendo
que os Leptossolos apresentaram menor eficiência de drenagem.
Na avaliação da classificação do uso potencial do solo das microbacias do rio Sordo (metodologia do
RN), 35,8397 km2 da bacia (70,25%) apresenta-se adequada para a prática agrícola, enquanto
11,7540 km2 (23,04%) tem aptidão para a pecuária, 2,5294km2 (4,96%) para pecuária/floresta e
apenas 0,8919 km2 (1,75%) possui características adequadas para a floresta.

245
R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

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R. F. do Valle Junior,S. G. P. Varandas, L. F. S. Fernandes, F. A. L. Pacheco

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VILLELA, S.M., MATTOS, A.,1975. Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil. 245 pp.

247
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

WOODTECH: Promoção da inovação para a melhoria da competitividade das


PME na indústria madeireira do espaço SUDOE

Sofia Knapic, Jorge Gominho e Helena Pereira

Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior, de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada da
Ajuda, 1347-017 Lisboa, Portugal

e-mail: sknapic@isa.utl.pt

Resumo: A floresta da região SUDOE (Espanha, França, Portugal e Reino Unido-Gibraltar) é


essencialmente mediterrânica e com características específicas que prejudicam a sua
competitividade (grande diversidade florestal, massas descontínuas, propriedade florestal
fragmentada, etc.). Problemas relacionados com a globalização da economia, as tendências
sociais, a baixa competitividade da indústria madeireira do Espaço SUDOE e a falta de
demonstração de experiências-piloto, assim como a falta de inovação e de formação das PMEs,
dão origem a um desencontro entre a procura potencial da madeira local e a oferta existente.
O WOODTECH é um projeto de inovação e de transferência de tecnologia, cuja finalidade é
contribuir para que as empresas de primeira e de segunda transformação da madeira do espaço
SUDOE sejam mais competitivas frente a um mercado globalizado, reforçando a sua capacidade
de desenvolver novos produtos com valor acrescentado utilizando madeira de florestas locais,
geridas de maneira sustentável.
O projeto tem como objetivos: desenvolver produtos com espécies de madeira provenientes do
Espaço SUDOE; disponibilizar às PME estes produtos inovadores, para fins comerciais;
promover e divulgar esses novos produtos tanto junto do sector madeireiro, como junto da
sociedade, promovendo a transferência dos conhecimentos e das tecnologias daí geradas;
formar e dar ferramentas de empreendedorismo às PME incentivando a criação de emprego; criar
uma rede de cooperação entre as PME interessadas e os parceiros do projeto.
Como resultados esperam-se o desenvolvimento e caracterização de novos produtos elaborados
com madeira das espécies de florestas do espaço SUDOE. Estes novos produtos serão
promovidos através da elaboração de uma newsletter, catálogos, participação em feiras e
congressos. Será também formada uma rede estável de cooperação transnacional entre os
parceiros do projeto, PME participantes e outros agentes de interesse relacionados com o
projeto.

Palavras-chave: espaço SUDOE, inovação, competitividade, produtos de madeira.

Abstract: The forest of the SUDOE region (Spain, France, Portugal, United Kingdom-Gibraltar) is
essentially Mediterranean. It has specific characteristics that affect its competitiveness (high
forest diversity, discontinuous areas, fragmented forest ownership, etc.). Problems related with
the globalization of the economy, social trends, the low competitiveness of the timber industry in
the SUDOE region and the lack of training and innovation of the SME, contribute to a mismatch
between the local necessities on demand and supply.
WOODTECH is a project based on innovation and transfer of technology. It aims to assist timber
processing SME’s within the SUDOE region to be more competitive in the face of a globalized
market, strengthening its ability to develop new products with added value using local wood from
forests that are managed sustainably.
The project aims to: develop products with wood species from the SUDOE region; provide these
innovative products to the local SMEs for commercial purposes; promote and disseminate the new
products to the timber industry, as well as to the society, promoting at the same time the transfer
of knowledge and technologies generated; train and give tools to SMEs by encouraging
entrepreneurship and job creation; create a network of cooperation between SMEs interested and
the project partners.
S. Knapic, J. Gominho e H. Pereira

The results are expected to enhance the development and characterization of new products made
with wood from forest species SUDOE space. These new products will be promoted through the
development of a newsletter, catalogs, participation in fairs and congresses. A stable network of
transnational cooperation between the project partners, SMEs and other participating agents of
interest related to the project will also be formed.

Keywords: SUDOE region, innovation, competitive edge, wood products.

INTRODUÇÃO

A Europa é uma das regiões do mundo com maior superfície florestal (1005 milhões de hectares,
correspondendo a cerca de 25% da área de floresta mundial) e possui uma importante indústria de
produtos florestais, embora enfrentando algumas dificuldades de competitividade.
O Espaço SUDOE é composto por 30 regiões e cidades e abrange uma superfície de 770 120 km2, o
que representa cerca de 18% da superfície da União Europeia (EU-27). A floresta que compõe a
região SUDOE (Espanha, França, Portugal e Reino Unido-Gibraltar) é essencialmente mediterrânica,
com características específicas que prejudicam a sua competitividade, como sejam a grande
diversidade florestal, os povoamentos descontínuos e a propriedade florestal altamente fragmentada
Por outro lado, problemas relacionados com a globalização da economia, as tendências sociais, a
baixa competitividade da indústria madeireira do espaço SUDOE e a falta de demonstração de
experiências-piloto, assim como a falta de inovação e de formação nas PME leva a um inevitável
desencontro entre a procura potencial da madeira local e a oferta real existente.
As indústrias madeireiras do espaço SUDOE apresentam uma tendência para importar madeira
serrada e acondicionada proveniente de países como a Ásia, Estados Unidos e América Latina. O
projeto Woodtech assenta na inovação e transferência de tecnologia entre centros de investigação e
PME da zona SUDOE. Tem como objetivo principal contribuir para que as empresas de primeira e de
segunda transformação da madeira sejam mais competitivas num mercado globalizado reforçando,
em simultâneo, a sua capacidade de desenvolver novos produtos com um valor adicional utilizando
madeira de florestas locais, geridas de forma sustentável.
O projeto Woodtech visa melhorar a competitividade da indústria madeireira da região SUDOE,
inovando em produtos madeireiros e dando formação às empresas do sector, valorizando os recursos
locais (na medida em que existe madeira que não é aproveitada e que poderá ser utilizada para
outros usos que não os atuais).
O projeto engloba um promotor - CTFC (Centre Tecnológico Florestal de Catalunha) - e sete
parceiros - INCAFUST (Institut Català de la Fusta), CIEBI-BIC (Centro de Inovação Empresarial da
Beira Interior), HAZI (Hazi Konsultoria), XYLOFUTUR (Pôle de compétitivité Xylofutur), ISA (Instituto
Superior de Agronomia), AIDIMA (Instituto Tecnológico de la Madera, el Mueble y Afines) e CIRAD
(La Recherche Agronomique pour le Développement).

249
S. Knapic, J. Gominho e H. Pereira

1. VALOR ACRESCENTADO DA COOPERAÇÃO TRANSNACIONAL PARA O


DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

A região SUDOE apresenta recursos florestais abundantes, uma indústria transformadora com
capacidade operacional, centros tecnológicos, universidades e centros de competitividade
empresarial que suportam as PME. Possui ainda um conhecimento e experiência nesta área e uma
cultura muito enraizada de uma gestão florestal sustentável. Estes fatores, aliados à pouca oferta de
novos produtos madeireiros e a uma sociedade cada vez mais sensibilizada para “green products”,
permite lançar os alicerces para um projeto que contribua para resolver alguns problemas das PME:
falta de inovação em produtos, criação de novas empresas, pouca colaboração empresarial, fraco
lobby empresarial da região SUDOE, bem como a excessiva dependência dos mercados exteriores.
Ao dotar as PME de novas ferramentas de empreendedorismo e inovação está-se a combater a
tendência atual de produção de produtos com baixo valor acrescentado, crescente descapitalização
das empresas, abertura da região SUDOE a produtos novos e mais baratos, utilização de materiais
que substituem a madeira tais com o betão, o aço o plástico.
O projeto Woodtech (www.woodtech-project.eu) irá promover o desenvolvimento de quatro produtos
com soluções construtivas elaboradas com madeira de espécies existentes na floresta da região
SUDOE (Pinus uncinata, Pinus pinaster, Quercus ilex, Quercus faginea, Pinus radiata, Pinus
halepensis), que funcionarão como exemplos de inovação e criação de mais valia. Estes produtos,
bem como a tecnologia associada, serão depois disponibilizados às PME locais para fins
promocionais e de exploração comercial. Pretende-se promover e divulgar esses novos produtos
tanto junto do sector madeireiro, como junto da sociedade.
O consórcio irá prestar serviços de assessoria técnica a cerca de 20 empresas do sector madeireiro
da região SUDOE favorecendo uma transferência de conhecimentos e tecnologias. Em última análise
trata-se de melhorar a competitividade das PME, formando e dando ferramentas de
empreendedorismo, incentivando os processos de otimização, internacionalização, aprovisionamento
da matéria-prima e criação de emprego, promovendo uma rede estável de cooperação transnacional
entre os parceiros do projeto, PME participantes e outros agentes relacionados com o projeto (Figura
1).

2. CONCLUSÕES

As espécies florestais com as quais está previsto desenvolver novos produtos e/ou aplicações
industriais estão presentes nas distintas regiões geográficas, pelo que se deve considerar uma
avaliação do “recurso florestal” a escala superior à regional ou nacional.
A abordagem global do projeto irá responder a questões setoriais das PME da região SUDOE criando
uma oportunidade para a transferência de conhecimento dos novos produtos desenvolvidos e
respetiva disponibilização às PME sem esquecer os aspetos de proteção e exploração comercial dos
novos produtos (por exemplo, patentes). Este projeto abre espaço de colaboração entre parceiros do
projeto com PME e outros órgãos relacionados com os participantes, gerando uma rede estável de
cooperação que perdure para além da duração do projeto

250
S. Knapic, J. Gominho e H. Pereira

No âmbito de um mercado globalizado e livre, este projeto propõe a redução da tendência de


aumento do volume de importações de madeira da região SUDOE, assentando na lógica da
inovação, sustentabilidade e proximidades dos mercados.

Figura 1. Esquema de desenvolvimento do projeto

AGRADECIMENTOS

Este projeto é financiado por “Programa de cooperación territorial Europa Espacio Sudoeste Europeo,
Interreg IVB SUDOE” e FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional).
O primeiro autor é financiado através de uma bolsa de pós-doutoramento da FCT (Fundação para a
Ciência e Tecnologia).

251
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Operacionalização do pagamento de sequestro de carbono em larga escala


como serviço ambiental em montado

S. Manso1*, I. Gama1, M. Alves1, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins1,2, N. Calado3 e T.


Domingos2

1: Terraprima – Serviços Ambientais, Lda.; Av. Manuel da Maia n.º 36, C/v Dta., 1000-201 Lisboa.
2: IN+ Centre for Innovation, Technology and Policy Research, Environment and Energy Scientific Area,
Department of Mechanical Engineering (DEM), Instituto Superior Técnico, Technical University of Lisbon,
Av. Rovisco Pais, 1, 1049-001 Lisboa, Portugal.
3: UNAC – União da Floresta Mediterrânica, Avenida do Colégio Militar, Lote 1786, 1549-012 Lisboa

e-mail: Sara Manso, sara.manso@terraprima.pt

Resumo: Com recurso a um projecto implementado/gerido pela Terraprima, em colaboração com


a UNAC, é feita uma demonstração da metodologia e dos procedimentos envolvidos no
pagamento da prestação de serviços ambientais, em larga escala, em áreas de montado. Trata-
se de um projecto financiado pelo FPC, ao abrigo do programa nacional para facilitar o
cumprimento das metas do Protocolo de Quioto. O envolvimento directo dos proprietários
florestais é uma das características fundamentais, uma vez que são os responsáveis pela
implementação do projecto. A adesão a este requer a contratualização do fornecimento de
carbono como uma prestação de serviços ambientais, através do recurso a métodos menos
destrutivos de desmatação. No último relatório constavam 138 aderentes, contribuindo com cerca
de 41.000 ha, sendo o objectivo atingir 100.000 ha. A necessidade de um controlo/monitorização
rigorosos das actividades que conduzem ao sequestro de carbono, assim como o elevado
número de agricultores e área envolvida, representaram desafios que requereram um
compromisso entre a informação necessária e a razão custo-eficiência do projecto. A solução
passou pela monitorização das práticas de gestão em combinação com abordagens
computacionais inovadoras (portal, base de dados e formulário online). Além do sequestro de
carbono, o projecto também promove menor susceptibilidade à erosão do solo e aos incêndios,
uma melhoria do balanço hídrico e, em última análise, recuperação do solo a longo prazo e um
sistema florestal mais vigoroso. Tratam-se, portanto, de serviços ambientais para os quais
esquemas de pagamento podem ser desenhados no futuro, o que gerará novos desafios em
termos de processamento de informação, monitorização e controlo das contribuições individuais.
Palavras-chave: Controlo de Mato, Sequestro de Carbono, Protocolo de Quioto, Serviço
Ambiental.

Abstract: A project whose objective is to promote soil carbon sequestration is used to exemplify
methodological and procedural approaches to large scale payment schemes of environmental
services in montado areas. The project has been implemented/managed by Terraprima, in
collaboration with UNAC. Funding has been provided by the FPC, under a national programme to
facilitate the accomplishment of Kyoto Protocol commitments. Direct involvement of forest owners
has been one of the most important characteristics of the project, since they are the ones
responsible for its implementation. Joining the project requires signing a contract for the provision
of carbon sequestration as an environmental service, which is then provided by using less
destructive methods for shrub control. According to the last report, 138 forest owners have been
involved, contributing to approximately 41.000 ha of montado under better soil management
practices, but the aim is to reach 100.000 ha. The need for rigorous approaches to control/monitor
the management practices that lead to carbon sequestration, together with the number of farmers
and hectares involved, represented a challenge that required a balance between information
requirements and cost-efficiency of the project. The solution included a focus on monitoring
management practices combined with innovative computational approaches (portal, databases
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos

and web-based applications). Together with carbon sequestration, the project also promotes a
decrease in susceptibility to soil erosion and wildfires, an improvement of soil water balance and,
ultimately, long-term soil recovery and a more vigorous forest system. All are environmental
services for which payment schemes can be designed in the future, what brings new challenges in
terms of information processing, monitoring and control of individual contributions.
Keywords: Shrub control, Carbon sequestration, Kyoto Protocol, Environmental Service.

1. INTRODUÇÃO

O Projecto “Sequestro de Carbono por Alteração de Métodos de Controlo de Vegetação Espontânea”


(doravante designado Projecto dos Matos) é um projecto que está a ser implementado pela
Terraprima – Serviços Ambientais, Lda. em colaboração com a UNAC (União da Floresta
Mediterrânica) e que tem como objectivo promover o sequestro de carbono no solo em sistemas
agro-florestais e a sua remuneração como um serviço ambiental (40€ por hectare intervencionado).
A Terraprima – Serviços Ambientais, Lda. é uma empresa spin off do Instituto Superior Técnico cujo
trabalho se tem centrado na sustentabilidade dos sistemas agrícolas, tendo sido recentemente
reconhecida como um caso de sucesso de empreendedorismo pela University Technology Enterprise
Network (http://utenportugal.org) e distinguida em 2010 com o Galardão Rede Climática Ouro na
categoria Empresas. A sua equipa técnica esteve envolvida, entre 2003 e 2008, no projecto LIFE
“Extensity” (www.extensity.pt), o qual envolveu 12 entidades públicas e privadas das áreas de
agricultura e ambiente. Um dos objectivos deste projecto era o de recompensar os agricultores que
implementassem um Sistema de Gestão de Sustentabilidade, adicionando valor aos produtos através
da certificação e do pagamento de serviços ambientais. Os resultados científicos do projecto,
relativos ao sequestro de carbono no solo em pastagens semeadas biodiversas (PPSBRL), levaram o
Governo Português a optar pelo sequestro opcional associado à Gestão de Pastagens, no âmbito do
Protocolo de Quioto. Esta importância reflectiu-se ainda no Programa de Desenvolvimento Rural
(PDR) que considerou elegível na Medida 1.2.1 o apoio ao investimento de instalação de pastagens
semeadas biodiversas.
Com base nos resultados do “Extensity” e num outro projecto de Mercado de carbono voluntário
apoiado pela EDP, a Terraprima desenvolveu um projecto no tópico do sequestro de carbono no solo
por PPSBRL que foi submetido ao FPC em 2008 e 2010, tendo ambas as candidaturas sido
aprovadas. Este projecto ganhou, em 2010, o Galardão de Ouro Rede Climática pela Associação
Portuguesa de Engenharia do Ambiente, recebeu uma menção honrosa nos Green Project Awards
2011 (www.greenprojectawards.pt/2011/vencedores-2011/) e ficou entre os semi-finalistas de 2012 do
prémio Land for Life da UNCCD. Prolongar-se á até 2014 e espera-se que envolva 1.000 agricultores
e que contribua com 50.000 hectares de novas PPSBRL.
O reconhecimento da experiência da Terraprima no desenvolvimento e implementação de projectos
de remuneração do sequestro de carbono, a larga-escala e no meio agrícola, levou a UNAC a lançar-
lhe o desafio do Projecto dos Matos, o qual recebeu a aprovação do Fundo Português de Carbono
(FPC) em 2010.
A parceria entre a Terraprima e a UNAC no presente projecto consubstancia-se, portanto, na união
da experiência e conhecimento da primeira (sobre metodologias adequadas de contabilização e

253
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos

monitorização do sequestro de carbono no solo, e na concepção e gestão de outros projectos


similares à escala de milhares de hectares e de centenas de agricultores) com a capacidade da
segunda (e das suas Associadas) de relacionamento directo com os agricultores e produtores
florestais da área de implementação do projecto.
O carbono gerado pelo projecto é contabilizado pelo FPC no âmbito do contributo das actividades
opcionais de alteração do Uso da Terra, Mudança no Uso da Terra e Actividades Florestais
(LULUCF) para alcançar as metas estabelecidas para Portugal no âmbito do Protocolo de Quioto.
Tanto a Terraprima como a UNAC viram também, no projecto, a possibilidade de contribuir para a
mitigação da degradação do solo nos sistemas agro-florestais no sul do país, através do aumento da
matéria orgânica no solo. Nestes sistemas, as práticas de controlo de mato consistem, usualmente,
no recurso periódico à gradagem (cada 4-5 anos) para eliminar a vegetação arbustiva espontânea.
Esta prática é destrutiva para o solo, provocando a mineralização da matéria orgânica que foi
acumulada durante o período não intervencionado, pelo que é recomendável a sua substituição por
uma intervenção com corta-matos (ou destroçadores). Na sequência de trabalhos do Instituto
Superior Técnico, de modelação da dinâmica da matéria orgânica em solos submetidos aos dois
métodos de controlo de mato (ver Valada et al., 2012), assumiu-se que o acréscimo de carbono
associado à mudança de gradagem para corta-matos seria de 3,6 tCO2/ha.ano (factor de sequestro
bastante conservador, dado os resultados apresentados no trabalho citado).
O apoio do Fundo Português de Carbono (FPC) é direccionado para a designada Área Adicional, a
área onde efectivamente ocorre uma mudança de práticas de controlo de mato, pelo que é
necessária a sua aferição rigorosa. É igualmente aceite a inscrição de áreas que anteriormente ao
projecto já eram controladas com corta-matos. Estas áreas representam, na verdade, um custo para o
projecto suportado por todos os aderentes, mas considerou-se adequado premiar quem assumiu
boas práticas de forma pioneira.
Para que um agricultor possa aderir ao projecto (estando ainda aberto o período de adesão), é
necessário que a área candidata (também designada por área de compromisso) cumpra os requisitos
de elegibilidade. Nomeadamente, que seja uma área florestal (percentagem de coberto arbóreo ≥
10%) em que a espécie dominante seja o sobreiro, a azinheira, o carvalho negral ou o pinheiro
manso, e em que o mato seja controlado regularmente. As condições biofísicas e bioclimáticas para
as quais o factor de sequestro utilizado é aplicável em território nacional circunscrevem o projecto às
zonas Sul, Interior Centro, Serra Algravia e Terra Quente Transmontana. Durante o período de
compromisso do projecto (1 de Janeiro de 2011 a 31 de Dezembro de 2014), a área de compromisso
não poderá sofrer mobilização do solo. A condição de adicionalidade do sequestro de carbono
proporcionado pelo projecto obriga, ainda, à exclusão de áreas anteriormente consideradas nos
cálculos dos balanços de carbono reportados no Inventário Nacional de Emissões, mais
particularmente áreas de pastagens semeadas biodiversas registadas na base de dados do Instituto
de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) com os códigos 04 e 999 e áreas aderentes dos
projectos Terraprima de sequestro de carbono em PPSBRL.
Para a formalização da adesão é necessário o agricultor fazer um planeamento das áreas de
compromisso a intervencionar durante o projecto podendo, posteriormente, fazer o seu

254
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos

replaneamento caso seja necessário.


Face à dimensão do Projecto dos Matos, tanto em número de aderentes, como de área contratada, e
por forma a dar resposta, de modo exacto e transparente, à execução dos múltiplos e complexos pré-
requisitos contratuais do projecto, tornou-se fundamental a concepção de uma estrutura de
informação de Bases de Dados (geográficos e não geográficos) sólida. Esta estrutura foi
desenvolvida para que permitisse fazer um planeamento e monitorização inequívocos, quer nas
validações internas executadas pelos técnicos da Terraprima, quer ainda nas auditorias externas a
que o projecto está sujeito periodicamente. A concepção desta estrutura de Bases de Dados foi
desenvolvida tendo em consideração três princípios fundamentais: informação actualizada,
informação relacional e informação acessível em qualquer lugar, bastando para tal uma ligação à
internet. Estas características das BDs têm possibilitado a produção de subprodutos de apoio à
gestão do projecto, tais como relatórios de monitorização/evolução semanais, produzidos de forma
automática e que podem ser apresentados em variados formatos digitais, consoante o fim a que se
destinam.

2. MÉTODOS

A equipa técnica do projecto integra elementos da Terraprima e das Associadas da UNAC, sendo que
na descrição dos métodos de implementação e gestão do projecto foram tidas em consideração as
actividades especificamente atribuídas a cada uma das entidades.
Os técnicos das Associações ficaram responsáveis por recepcionar as intenções de adesão, iniciar os
processos de adesão, recolher a informação e a documentação necessária à contratação e proceder
à verificação do cenário de referência (i.e., da situação na ausência do projecto) e das áreas
intervencionadas. À Terraprima coube a validação e monitorização dos dados fornecidos pelas
Associadas, bem como os cálculos do sequestro, o seu reporte ao FPC e o respectivo pagamento.
Por uma questão de rigor, todas as validações com implicações na contabilização de áreas, como a
validação da elegibilidade da área de compromisso, cenário de referência, posse de terra e
sobreposição com as parcelas dos projectos PPSBRL, foram feitas ao nível da parcela do IFAP.
No decurso da descrição das abordagens metodológicas seguidas será dado ênfase às aplicações
computacionais de apoio desenvolvidas.

2.1. Criação de processos de adesão

A gestão do projecto tem beneficiado de uma plataforma informática desenvolvida para dar apoio
aos Projectos Terraprima/FPC, alojada no portal www.terraprima.pt/fpc/prd e desenvolvida pela
empresa Conexa – Tecnologias e Sistemas de Informação, Lda. O portal permite armazenar e
gerir, por processo, a informação e documentação de apoio ao projecto, disponibilizando-a
posteriormente para consulta e controlo, de forma segura e acessível (Figura 1). A cada
Associada da UNAC envolvida (após o devido registo e credenciação dos técnicos envolvidos)
foram atribuídos username e password de forma a ser-lhes possível criar processos no portal, um
para cada agricultor aderente.

255
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos

Figura 1 – Portal de apoio aos Projectos Terraprima

Cada processo iniciado no portal, correspondente a um NIF (Número de identificação Fiscal), tem
um conjunto de documentos associados ao aderente, fundamentais para as validações e cuja
lista foi previamente facultada por email a todos os técnicos das Associadas da UNAC. De forma
sistemática, pode dizer-se que toda a documentação exigida para carregar no portal atende a
três objectivos: 1) Validação das condições de elegibilidade das parcelas candidatas; 2)
Validação das condições legais para fins de preparação do contrato; 3) Monitorização de áreas
intervencionadas para fins de facturação e pagamentos.
Após submissão de um determinado NIF no portal, esse aderente e respectiva informação
passam automaticamente a incorporar as Bases de Dados em Backoffice na Terraprima.

2.2. Validação das condições de elegibilidade

Assim que a informação é incorporada nas Bases de Dados, inicia-se uma série de análises e
validações no que diz respeito à documentação adicionada no portal e às áreas de compromisso.
Estas validações de índole consecutiva e relacional são suportadas em duas Bases de Dados,
também relacionais, providas de automatismos para detecção e prevenção de erros e que
integram interfaces com tipologia de “formulário” - BD Validação Legal e BD Contratação Matos.
A BD Validação Legal é transversal, ou seja, abrange todos os aderentes Terraprima, evitando
uma dupla validação no caso de NIF inscritos tanto nos projectos PPSBRL como no presente
projecto (Figura 2). Nesta BD validam-se todos os dados necessários, do ponto de vista legal,
para comprovar a idoneidade do fornecedor do serviço ambiental e da área onde ele é gerado.

256
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos

Figura 2 – Interface (de acesso) da BD Validação Legal

Na BD Contratação Matos (Figura 3) são feitas todas as validações das áreas dos parcelários
aderentes ao projecto. A cada NIF são associados parcelários com identificação de Áreas Úteis e
Áreas Elegíveis da parcela, Áreas de Compromisso Planeadas, Áreas Intervencionadas e outros
dados referentes à condição de adicionalidade da parcela, como é o caso do Método e do Ano da
Última Intervenção de controlo de matos que ocorreu antes de 2011 (Figura 4). Os parcelários
correspondem a um número único do IFAP e são obrigatoriamente acompanhados pelo P3, o
documento com a sua representação geográfica.
A validação da Área Elegível é feita por fotointerpretação, podendo implicar correcções na área
inicialmente planeada antes da facturação.

Figura 3- Formulários disponíveis na BD Contratação Matos

257
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos

2.3. Preparação do contrato

Na preparação do contrato é utilizada a informação validada na BD Validação Legal e a


informação das áreas de compromisso validadas na BD Contratação Matos. É também anexado
a este uma tabela com os dados do(s) representante(s) legal(ais) e da herdade correspondente,
assim como a tabela com o planeamento das intervenções. Por último, são anexados os P3
desenhados (desenho dos parcelários cujas área planeadas não correspondam à totalidade da
área elegível do P3).
Tanto a minuta do contrato como as tabelas anexas são produzidos a partir das BDs, sendo
preenchidas automaticamente com os dados mais actualizados, nomeadamente da área
contratualizada (a qual pode sofrer alterações devido a replaneamento das intervenções). Para
que um contrato seja produzido é necessário que uma série de restrições de controlo da
validação das condições legais, de elegibilidade e de cumprimento dos compromissos do projecto
sejam cumpridas. Consoante o tipo de contraente, são criadas minutas de contrato diferenciadas
de acordo com a forma legal do aderente (pessoa singular, sociedades e herdeiros). O contrato
final é um produto em formato digital do tipo PDF, que é carregado no portal para que a
Associada UNAC, responsável pelo acompanhamento do agricultor, possa descarregar e facultar
ao mesmo para ser assinado e devolvido por correio à Terraprima.

2.4. Monitorização

As acções de monitorização referem-se tanto ao acompanhamento da execução do projecto


como à validação do cenário de referência. São implementadas pelos técnicos das Associadas
da UNAC, mas a sua verificação é feita pela Terraprima com o apoio da BD Contratação Matos.
Os únicos documentos associados ao acompanhamento da execução do projecto, para cada NIF
(ou aderente), são os P3 correspondentes aos parcelários das áreas de compromisso e o
designado Formulário de Verificação, onde são registadas as áreas planeadas e as áreas
intervencionadas após a sua verificação.
O Formulário de Verificação está acessível às Associadas da UNAC através de uma plataforma
online denominada WebForm (Figura 4). Cada uma das Associadas, de forma independente,
pode preencher o valor das áreas intervencionadas e verificadas em campo, para o seu grupo de
aderentes, assim como as observações, a data e o nome do técnico que fez a visita de campo.
Se necessário, pode também proceder ao replaneamento das áreas a intervencionar. Esta
plataforma dá liberdade às associadas para gerirem o preenchimento de dados, directamente
através de um browser e de uma ligação à internet sem dependerem do Backoffice da
Terraprima, e de ter acesso a relatórios actualizados (Figura 4).

258
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos

Figura 4 – Plataforma formulário online (webform)

Figura 5 – Relatório associado ao formulário online (webform)

2.5. Facturação e Pagamento aos agricultores

Após a recepção do contrato, se não existirem problemas nas validações anteriores, é possível
proceder à fase de facturação que é executada numa base de dados criada pela Terraprima para o
efeito - BD Contractos Facturação e Pagamentos (Figura 6). Esta BD verifica automaticamente o
cumprimento das restrições impostas para se poder facturar os aderentes do projecto, como também
as Áreas Intervencionadas inscritas pelas Associadas da UNAC no webform (uma vez que é parte
integrante da estrutura de informação relacional de Bases de Dados Terraprima). Gera, ainda, todos
os dados que devem constar da factura.

259
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos

Figura 6 - BD Contratos Facturas e Pagamentos

Após validação da área intervencionada, se não estiver nenhum documento em falta, o agricultor é
pago após boa cobrança da parte do FPC. A BD Contratos Facturação e Pagamentos está preparada
para diferenciar a facturação tendo em conta este princípio e faz o ajuste mesmo quando há alteração
das áreas de compromisso.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O último reporte ao FPC dava conta de 138 aderentes e dum total de quase 41.000 ha, distribuídos
pelo território nacional conforme ilustrado na Figura 7. Mas a adesão continua a verificar-se, pelo que
se ambicionam os 100.000 ha aderentes.

Figura 7 - Distribuição da área aderente (ha) e dos agricultores por concelhos (em número dentro de
cada concelho)

260
S. Manso, I. Gama, M. Alves, N. Rodrigues, O. Rodrigues, H. Martins, N. Calado e T. Domingos

A dimensão do projecto anteriormente expressa traduziu-se na validação da elegibilidade e da


idoneidade do número de agricultores e de hectares mencionados, mas também na validação de
8.500 ha intervencionados em 2011 (entretanto, a área intervencionada em 2012 estará validada
ainda em Março).
O facto das validações efectuadas pela Terraprima se apoiarem numa estrutura de informação
assente em bases de dados relacionais permite consultar sempre a informação mais actualizada e
evita a proliferação de ficheiros dispersos e habilitados a uma rápida desactualização. Ao reduzir o
número de ficheiros, e ao relacionar dados necessários para as validações contínuas, reduz-se
drasticamente o número de erros e aumenta-se a fiabilidade e robustez da informação produzida. O
facto de existir uma plataforma online – WebForm - que está sincronizada com o Backoffice,
possibilita às Associadas da UNAC a validação de áreas intervencionadas e o replaneamento de
áreas a intervencionar de forma expedita e com segurança. À Terraprima possibilita também uma
monitorização, em tempo real, dos dados inscritos, evitando simultaneamente erros na alteração de
números de parcelário, na inscrição e na eliminação de parcelários sem prévio consentimento, ou
ainda, na alteração de áreas intervencionadas já validadas e fechadas. Adicionalmente, esta
plataforma possibilita, individualmente, às Associadas da UNAC e aos auditores externos a consulta,
em tempo real e de forma transparente, dos dados dos parcelários inscritos.

4. CONCLUSÃO

A dimensão do projecto gerou desafios de gestão de informação importantes, que tiveram de ser
abordados de forma criteriosa uma vez que é necessário garantir rigor, robustez e transparência
na determinação do sequestro de carbono, no pagamento do serviço ambiental prestado pelos
agricultores e no trabalho de monitorização efectuado pelos técnicos das Associada da UNAC.
Só foi possível cumprir estes critérios através das ferramentas computacionais inovadoras
desenvolvidas pela Terraprima. Todas elas expressam a opção por uma gestão integrada da
informação, através da utilização de várias plataformas relacionais e sincronizadas, o que
possibilita uma participação interactiva do Backoffice da Terraprima e das Associadas da UNAC
na obtenção de resultados mais robustos e transparentes, quer na incorporação de dados, quer
na monitorização e validação.

REFERÊNCIAS

VALADA, T.; TEIXEIRA, R.; MARTINS, H.; RIBEIRO, M. AND DOMINGOS, T. 2012. Grassland
management options under Kyoto Protocol Article 3.4. The Portuguese case study. Acar, Z.;
López-Francos, A. and Porqueddu, C. (eds.). New approaches for grassland research in a
context of climate and socio-economic changes. Options Mediterranéennes, Series A:
Mediterranean Seminars, Nº 102. Zaragoza: CIHEAM/Ondokuz Mays University, pp. 53 -56.

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7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Modelo de Ordenamento da Pesca no rio Olo

António M. V. Martinho

ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas; Parque Florestal, 5000-567, Vila Real

e-mail: António Martinho, antonio.martinho@icnf.pt

Resumo: Com o presente trabalho foi possível implementar um conjunto de medidas de


ordenamento da pesca desportiva à truta-de-rio no rio Olo — curso de água de montanha da
região norte de Portugal que atravessa o Parque Natural do Alvão (PNAL). Procedeu-se, num
total de 12 estações, à amostragem da ictiofauna através da pesca elétrica, após caracterização
hidrogeomorfológica dos habitats baseada na metodologia River Habitat Survey. Foi realizada a
análise dos dados respeitantes à idade, crescimento, condição física dos exemplares
monitorizados, bem como da sua relação com os diferentes tipos de habitats onde foram
capturados. Para detetar padrões espaciais de distribuição subjacentes aos dados bióticos
(espécies/abundâncias e espécies/idades) e ambientais, foram usados métodos multivariados.
Os resultados apontam para um curso fluvial constituído por uma grande diversidade de habitats,
os quais apresentam um elevado grau de naturalidade. A truta e o escalo constituíram as
espécies piscícolas mais euribiontes. De enfatizar a diminuta presença de exóticas cuja
ocorrência está diretamente associada a habitats mais lênticos. A truta (com idades máximas de
5 anos) apresenta um crescimento isométrico e revela uma ligeira falta de robustez. Da análise
multivariada efetuada ressalta a ausência de uma tipologia clara das estações de amostragem.
Este facto mostra que as características locais dos micro-habitats e da cortina ripária são mais
importantes do que a variação dos gradientes longitudinais (ex. temperatura, velocidade da
corrente, condutividade). Foi assim possível verificar que a variação total das espécies se
encontra diretamente relacionada com a qualidade do habitat fluvial, isto é com as características
da cortina ripária e do canal, tipos de corrente e uso do solo ao longo das margens. Como
resultado deste trabalho foi criada a Zona de Pesca Reservada (ZPR) do rio Olo (Portaria nº
206/2008, de 25 de Fevereiro), com a qual se promove a pesca desportiva, baseada em
princípios mais conservacionistas, visando a sustentabilidade dos recursos piscícolas.
Palavras-chave: Ordenamento piscícola, Habitats, Pesca desportiva, Gestão sustentável, Salmo
truta
Abstract: The present work intended to implement a set of fisheries management procedures,
mainly related to the brown trout in a mountain river in north of Portugal, the river Olo, which runs
along the Parque Natural do Alvão (PNAL). This study was carried out in a total of 12 sampling
sites and comprised the hydromorphological characterization of the habitats, based in the
methodology of the River Habitat Survey (RHS) and the assessment of the ictiofauna through the
electrofishing. The objective was to relate the environmental characteristics with the structure and
composition of fish populations. These were characterized by the age, growth and physical
condition. To detect underlying spatial patterns of distribution to the biotic species and
environmental data, multivariate methods were used. The results showed that river Olo is a
stream composed by a great diversity of non-disturbed habitats, reflected by indices of "good" to
"optimal" quality. The trout and chub constituted the fish species with higher spatial dispersion,
having been found from its headwater to the mouth. We must to pointing out the scarce presence
of exotic species (gudgeon and pumpkinseed) which are concentrated on the final reaches of this
river. Its occurrence is directly associated to more lenthic habitats, where the water temperature is
higher. The trout, with no more than 5 years old, presented an isometric growth and it revealed a
slight lack of robustness. The multivariate analysis outlined the absence of a clear typology of the
sampling sites. This fact shows that the local microhabitat features and the riparian vegetation are
more important than the variation of the longitudinal gradients (e.g. temperature, water velocity,
conductivity, etc). According to the multivariate analysis it was possible to verify that the total
variation of the species was directly associated with the quality of the fluvial habitat, such as the
António M. V. Martinho

riparian vegetation and the channel characteristics, flow types and the land use along the river
corridor. As a practical result of this work, it was created the Reserved Fishing Area (ZPR) of the
river Olo (Portaria nº. 206/2008, of february 25) that promotes the exercise of the sport fishing to
seek for the sustainability of the fishing resources.
Keywords: Fish management, Habitat, Sport fishing, Sustainability, Salmo trutta

1. INTRODUÇÃO

A importância dos nossos recursos hídricos foi fortemente reconhecida na década de noventa. As
razões de tal consciencialização assentaram no desenvolvimento social, tecnológico e económico,
aliados ao aumento de períodos hidrológicos limite, onde secas extremas alternaram com cheias.
Nesse período temporal, assistiu-se à criação de novas estruturas administrativas, assim como foram
aprovados novos instrumentos legais e, transpostas para o direito nacional, várias diretivas
comunitárias, instituindo novas regras no âmbito do ordenamento e gestão dos recursos hídricos
(FERREIRA e BOCHECHAS, 2001).
No universo das massas hídricas dulçaquícolas as comunidades piscícolas continuam a constituir um
recurso de elevado significado para o Homem. Para além das suas funções alimentares e de recreio,
a sua existência possibilita boas oportunidades de avaliação das condições de qualidade ambiental
dos ecossistemas fluviais (FERREIRA, 2001).
No nosso país foram, em 2001, licenciados cerca de 250.000 pescadores desportivos
(aproximadamente 2,5% da população portuguesa) para uma área potencial hídrica de cerca de
150.000 ha (DGF, 2001). Estima-se que, em 2008, tal valor ultrapassava já os 175.000 ha, onde só o
espelho de água da Albufeira do Alqueva, com 250 km2 (INAG, 2008a), é suficiente para perfazer tal
massa hídrica. Esta atividade, constitui um fator de riqueza nacional, dada a crescente procura por
este desporto de natureza (ARNPD, 2008). De acordo com dados fornecidos no portal do ICNF
(2013), Portugal apresenta uma taxa de ordenamento da pesca lúdica fluvial crescente (Zonas de
Proteção, Zonas de Pesca Reservada, Concessões de Pesca Desportiva e Zonas de Pesca
Profissional).
O ordenamento pressupõe a criação de regras de utilização perfeitamente definidas (quotas diárias
de pesca por pescador, de tamanhos mínimos, épocas de pesca, e entre outras, que poderão evoluir
até à interdição de pescar em determinadas áreas - zonas de proteção, de refúgio ou de desova)
(ALMODÓVAR, 2001). Estas normas terão de ser assim instituídas caso a caso e definidas em
função das potencialidades e limitações de cada um dos ecossistemas e da procura por estes
recursos. Face às circunstâncias, a fiscalização ocupa um papel fundamental neste domínio uma vez
tem como objetivo assegurar o cumprimento da legislação vigente e de todas as regras específicas
definidas em cada plano de ordenamento (DEL VIEJO, 2005).
Os habitats físicos de muitos rios do nosso planeta têm vindo a ser degradados por ação antrópica
(IMHOF et al., 1996; GAFNY et al., 2000; HALL et al., 2002). O habitat físico, é definido como o
espaço vivo dos organismos que habitam os rios, sendo dinâmico, no espaço e no tempo, devido às
interações estabelecidas entre as características estruturais do canal (tamanho, forma, inclinação,
deposição, estrutura das margens e substrato) e o regime hidrológico (MADDOCK, 1999). O estado
deste espaço vivo influenciará a estrutura e a organização biótica em cada um dos rios (RICHARDS

263
António M. V. Martinho

et al., 1997; MADDOCK, 1999). As condições em que cada habitat se encontra são determinadas por
fatores gerados em diversas escalas espaciais e temporais (IMHOF et al., 1996; DAVIES et al., 2000).
Os cuidados a assumir como prioritários e que envolvem a proteção e a conservação das
comunidades piscícolas autóctones não têm, neste último século, sido adotados, assistindo-se a um
aumento muito mais diversificado da pressão sobre as populações selvagens de peixes. Segundo
DEKKER (1991), a pesca intensiva e a poluição constituem as duas fontes de pressão que mais têm
contribuído para o colapso da ictiofauna. Contudo, outras ações antrópicas (ex. regularização dos
rios, desenvolvimento da agricultura com intensificação do regadio, desflorestação, introdução e
transferência de espécies exóticas, degradação e fragmentação de habitats), têm concorrido para
aumentar ainda mais a pressão sobre aquelas populações (SWALES, 1994; COLLARES-PEREIRA e
COWX, 2004). Estas atividades resultam na degradação e perda de habitats, e consequentemente no
declínio da distribuição e abundância das espécies piscícolas autóctones (ORMEROD, 2003). A par
dessas circunstâncias, a introdução abusiva de espécies exóticas, para além de possibilitar a
hibridação com as autóctones, constituem focos de transmissão de parasitas e agentes patogénicos
para as espécies nativas (ELVIRA e ALMODÓVAR, 2001). Porém, algumas dessas espécies, como o
achigã (Micropterus salmoides) e a carpa (Cyprinus carpio), constituem espécies muito importantes
para a pesca desportiva, de lazer ou de competição (OLIVEIRA et al., 2007), com efeitos muito
positivos para a economia das regiões (LINLOKKEN, 1995; ARLINGHAUS e MEHNER, 2002;
COOKE e COWX, 2006) mais interiorizadas do nosso país (ARNPD, 2008).
Entre as espécies piscícolas autóctones mais apreciadas, quer em termos desportivos quer
gastronómicos, destaca-se a truta-de-rio (Salmo trutta), cuja sobrepesca e furtivismo estão, em certos
cursos fluviais, na origem da redução das populações destes salmonídeos (GARCIA DE JALÓN,
1997).
Com o presente trabalho foram adotadas medidas de gestão e ordenamento, mais conservacionistas,
da pesca desportiva, num curso de água que atravessa uma área considerável do Parque Natural do
Alvão (PNAL) — 55% da sua extensão, aproximadamente 23.900 metros, localiza-se em área
protegida.
A importância em proceder ao ordenamento da atividade pesca desportiva neste rio encontra-se
intimamente relacionada com a necessidade de melhor entender as razões que têm conduzido à
assinalada diminuição das populações de truta-de-rio. A crescente procura deste tipo de recursos,
cujo alerta é explicitado pelo POPNAL/ICN (2006), assinala a sua sobrepesca (ex. utilização de
técnicas ilegais - bombas, venenos, redes e exercício da pesca no defeso), na bacia hidrográfica do
Olo, afetando a estrutura das suas populações. Estas, constituem também razões para que
atualmente, na região nortenha portuguesa, aquela atividade lúdico-desportiva esteja cada vez mais
concentrada num número cada vez mais reduzido de rios truteiros, justificando-se a implementação
de regras de exploração que acautelem a sustentabilidade daqueles recursos.
Os Distritos de Vila Real e de Bragança, por circunstâncias diversas, entre as quais se destaca a da
destruição de habitats e a poluição, exibem atualmente uma oferta muito mais reduzida de rios
truteiros de qualidade, estando assim esta atividade cada vez mais concentrada num reduzido leque
de opções (ex. rios Tinhela, Pinhão, Beça, Mente, Rabaçal e Tuela) cuja pressão de pesca, pelos

264
António M. V. Martinho

motivos expostos, anualmente se acentua. Fruto das atuais exigências energéticas e de retenção de
água, para regadio e abastecimento público, a construção de novas barragens nos rios Tinhela,
Pinhão, Beça, Rabaçal, Mente e Tuela estão na origem da destruição maciça de habitats ripários.
Neste contexto, este trabalho visa: i) analisar e avaliar as potencialidades do curso de água para a
atividade pesca desportiva; ii) proceder à monitorização de espécies piscícolas existentes neste curso
de água; iii) definir quais as técnicas de gestão de populações piscícolas mais adequadas para o
efeito, tendo em vista, se necessário: a reabilitação ou a melhoria de habitats, a realização de
repovoamentos ou a transferência de populações, a definição de outras práticas mitigadoras de riscos
ecológicos; e, iv) o ordenamento da pesca desportiva, recorrendo aos instrumentos legais
disponíveis, estabelecendo regras conducentes à mais correta utilização dos recursos piscícolas mas
que simultaneamente permitam o fomento sustentado da atividade pesca.
Com a Portaria nº 206/2008, de 25 de Fevereiro, foi criada a Zona de Pesca Reservada (ZPR) do rio
Olo, alicerçada em propostas de gestão que procuram garantir a exploração mais sustentável dos
recursos piscícolas, permitindo o fomento desta atividade e, consequentemente, a possibilidade da
mesma poder contribuir para o desenvolvimento de uma região muito interiorizada do nosso país.

2. METODOLOGIA

2.1. Área de estudo

A bacia hidrográfica do Olo (Figura 1) ocupa uma área aproximada de 143,75 Km2, e reparte-se de
forma diferenciada pelas suas margens. Estende-se desde o lugar de Meroicinhas (Serra do Alvão),
onde nasce, percorrendo, as suas águas, até à sua confluência com o rio Tâmega, Concelho de
Amarante, um total de cerca de 43700 metros.
O desnível entre a nascente e a foz do rio Olo é de cerca de 1200 metros, apresentando um perfil
longitudinal de declives muito acentuados nos troços médio e superior. O seu vale evolui por
desníveis e cascatas, cujo acidente fisiográfico mais notório é o denominado por Fisgas de Ermelo.
Este, ao longo de 500 metros, é abruptamente interrompido por um acidente geológico originado por
uma falha que é responsável pela origem de uma sucessão de quedas de água. Este desnível, com
cerca de 250 metros, atua como uma importante barreira física para a progressão ascendente da
fauna piscícola, nomeadamente para as espécies migradoras (POPNAL/ICN, 2006).
A bacia hidrográfica do Olo é pouca compacta (coeficiente de compacidade, Kc, de 1,60), pelo que
apresenta regime torrencial, aspeto típico de cursos de água que fluem em vales entalhados e
alonga-se de acordo com a exposição dominante NE-SE (OLIVEIRA, 1996). A reduzida compacidade
desta bacia confere-lhe uma rápida capacidade de escoamento não estando por isso muito sujeita à
ocorrência de cheias. Uma característica específica deste curso de água assenta na circunstância de
existirem dois troços descontínuos onde se encontram populações de salmonídeos, ocorrendo uma
sucessão longitudinal bem definida das espécies que integram a fauna ictiológica a qual inclui a truta-
de-rio (Salmo trutta), o escalo (Squalius carolitertii), a boga (Pseudochondrostoma duriense) e a
enguia (Anguilla anguilla) (CORTES, 1995).

265
António M. V. Martinho

Baseado no CORINE LAND COVER (2000), a área da bacia hidrográfica do rio Olo, à data deste
estudo, apresentava-se maioritariamente ocupada por espaços florestais, incultos e agroflorestais
(83,9%), sendo que as atividades predominantemente agrícolas, representavam 16,1% da mesma.

2.2. Seleção dos locais de amostragem

A representatividade constituiu o elemento determinante subjacente à escolha dos troços a amostrar.


Assim, conforme se pode observar na Figura 1, a sua escolha efetuou-se no pressuposto de serem
os troços mais representativos para melhor avaliar a totalidade deste curso de água no que concerne
à sua geomorfologia, diversidade de habitats que o constituem, estrutura da sua vegetação ripária,
tipos de ocupação do solo, estruturas artificiais nele edificadas e possibilidade em aceder a esses
mesmos locais. A opção em trabalhar um total de doze estações encontra-se profundamente
relacionada com a necessidade de garantir uma boa caracterização da variação longitudinal dos
habitats que constituem a totalidade deste rio de montanha. Esta fase do trabalho decorreu no mês
de agosto de 2007.

T1
T4
T6 T3
T5
T8 T7 T2
T9

T10

T11
T12

Figura 1. Localização das estações de amostragem (Ti) na Bacia Hidrográfica do rio Olo

2.3. Caracterização hidromorfológica dos habitats

A caracterização dos habitats foi obtida recorrendo à metodologia River Habitat Survey (RHS)
(RAVEN et al., 2000), adaptada no âmbito da aplicação da Directiva Quadro da Água (DQA). O RHS
assenta num conjunto de procedimentos que envolvem a caracterização de variáveis
hidromorfológicas e do corredor ribeirinho ao longo de 500 m, abrangendo uma faixa de 50 m de cada
lado do rio. A qualidade hidromorfológica resulta da aplicação do índice de artificialização do canal
(HMS – Índice de Modificação do Habitat) e índice de Qualidade do Habitat (HQA - Índice de
Qualidade do Habitat) que se traduz numa medida de riqueza, raridade e de biodiversidade dos
habitats ripícolas. De acordo com a tipologia definida pelo INAG (INAG, 2008b), o rio Olo enquadra-se
no tipo N1, sendo assim possível através dos valores obtidos apurar a sensibilidade do índice HQA

266
António M. V. Martinho

na deteção de pressões antropogénicas (INAG, 2009).

2.4. Amostragem da ictiofauna

A amostragem da ictiofauna decorreu entre os meses de agosto e setembro de 2007, num total de 36
pescas (60 m/troço). A metodologia adotada para a captura das espécies piscícolas assentou na
técnica da pesca elétrica, processo comummente usado neste tipo de trabalhos que permite efetuar
com relativa facilidade e alguma rapidez a apreensão das espécies piscícolas para efeitos de estudos
desta natureza. A pesca elétrica constitui um processo eficiente e relativamente inofensivo para a
fauna piscícola, embora fortemente seletiva por espécie e classe de tamanho CORTES (1995). Para
este tipo de pesca utilizou-se a corrente por impulsos (a uma tensão ajustada de 1000 Volts devido às
reduzidas condutividades de 14,8 a 59,60 µS.cm-1), tendo para o efeito sido utilizado um aparelho
portátil da marca Hans Grassl, modelo IG200/2. Manteve-se, tanto quanto possível, uma intensidade
de captura (CPUE) constante, de forma a amostrar todo o leito molhado de cada local de
amostragem. Os indivíduos capturados foram identificados até à espécie, foram medidos, em termos
do seu comprimento total (distância entre a extremidades da cabeça e da barbatana caudal), e
pesados. Após a recolha destes dados biométricos foram retiradas algumas escamas de alguns
exemplares representativos de todas as suas classes de comprimento por espécie capturada, para
posterior avaliação em laboratório das suas idades pelo processo da escalimetria. As escamas foram
colhidas com um bisturi da mesma zona corporal (região média), nomeadamente acima das suas
linhas laterais e mantidas em invólucros devidamente identificados (local, data, peso, comprimento e
espécie capturada).

2.5. Tratamento de dados

2.5.1. Caracterização da ictiofauna

Neste âmbito foi realizado o estudo dos dados relacionados com a idade, crescimento, condição
física dos exemplares monitorizados, bem como a análise da sua relação com os diferentes tipos de
habitats, onde foram capturados. As espécies estudadas foram a truta-de-rio (Salmo trutta), o escalo
do norte (Squalius carolitertii), a boga (Pseudochondrostoma duriense) e o barbo (Luciobarbus
bocagei).
Para a determinação dos parâmetros de crescimento de cada espécie usou-se a equação de VON
BERTALANFFY (1938), recorrendo ao software FISAT II (FAO/ICLARM STOCK ASSESSMENT
TOOLS II - GAYANILO et al., 2005). Os comprimentos registados foram distribuídos por classes de 1
cm e por classes anuais. Para a obtenção dos comprimentos modais por idade recorreu-se ao
modelo de BHATTACHARYA (1967) e ao modelo não sazonal de VON BERTALANFFY (1938).
A relação peso-comprimento foi estabelecida de acordo com a equação de BAGENAL e TESCH
(1978), permitindo o cálculo do coeficiente de alometria (b) para cada uma das espécies estudadas.
Segundo CORTES e FERREIRA (1993), este coeficiente constitui um indicador do crescimento dos

267
António M. V. Martinho

indivíduos, assumindo valores compreendidos entre 2 e 4, oscilante de espécie para espécie, cuja
variabilidade depende de fatores como a duração do dia, o tipo de habitats, sexo e, entre outros, da
maturação sexual. Para aferir se o coeficiente b é significativamente diferente de 3 recorreu-se ao
teste t − apresentado por ECONOMOU e PSARRAS (1991) e desenvolvido por PAULY e
GAUSCHUTZ (1979). Com base nos dados anteriores foram calculados os coeficientes de condição
física (K) para cada um dos indivíduos de cada espécie através da equação de RICKER (1975). Este
fator garante-nos informação sobre a condição física das espécies estudadas. O fator (K) é um índice
muito utilizado em estudos de biologia pesqueira, pois indica o grau de bem-estar do peixe no
ambiente em que vive (BRAGA, 1986). De acordo com VAZZOLER (1996), este parâmetro, reflete
aspetos nutricionais recentes e/ou gastos de reservas em atividades cíclicas que podem ser
relacionadas com aspetos de natureza ambiental e comportamental das espécies.
No presente estudo, a idade dos peixes amostrados foi conhecida com recurso à escalimetria. A
determinação da idade foi realizada em laboratório com o auxílio de lupa estereoscópica, por
observação direta, em escamas de indivíduos com mais de um ano de idade. A avaliação da
estrutura etária das populações foi efetuada com base no método BHATTACHARYA (1967). Nesta
sequência, foi utilizada a segunda versão da ferramenta informática FAO-ICLARM – STOCK
ASSESSMENT TOOLS (FISAT v. II, GAYANILO et al., 2005), a qual se encontra desenvolvida para
conhecer e estudar de forma mais adequada as distribuições das espécies piscícolas por classes de
comprimento. Para tal, foi usada a rotina ASSESS - MODAL PROGRESSION ANALYSIS. Com esta
metodologia é possível quantificar os comprimentos médios, o número de indivíduos, os desvios
padrão e os índices de separação por classe de idade em estudo.

2.5.2. Análise multivariada no estudo ecológico das comunidades íctias

Para explorar padrões de distribuição foi usada a análise multivariada, cujo objetivo é reduzir um
grande número de variáveis a poucas dimensões, com o mínimo de perda de informação, de forma
permitir a deteção dos principais padrões de similaridade, associação e correlação entre as variáveis
(JONGMAN et al., 1995). Neste contexto, recorreu-se ao Método da Análise de Redundância (RDA,
ANDERSON et al., 2007). Segundo estes autores, a RDA é uma ordenação duma matriz de dados
estando os seus eixos constrangidos para se tornarem combinações lineares das variáveis de outra
matriz. A RDA é em simultâneo uma forma constrangida da PCA (TER BRAAK e SMILAUER, 1998)
que permite estabelecer as relações entre dois conjuntos de dados (por exemplo, espécies e
variáveis ambientais). A análise de redundância (RDA) foi efetuada através do software PRIMER v6
(ANDERSON et al., 2007).

3. RESULTADOS

3.1. Avaliação da qualidade dos habitats ribeirinhos

A avaliação dos diferentes habitats apresenta-se alicerçada na comparação dos índices HQA e HMS
dos doze pontos de amostragem (Quadro 1).

268
António M. V. Martinho

Quadro 1. Valores dos índices HQA e HMS por estação (T) de amostragem RHS

INDICES T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T 10 T 11 T 12
HQA I I I I I I I I II I I I

HMS II III II III II III IV III II IV III IV

O Quadro 1 revela um curso de água cujos habitats se apresentam classificados como sendo de
“Ótima qualidade” (49≤HQA≤72; HQA≥50 - Classe 1 - Excelente qualidade), uma vez que, apenas em
T9, se atinge um HQA de 49 (41≤HQA≤50 - Classe 2 - Boa qualidade). Quanto ao HMS, as
pontuações obtidas enquadram-se entre 3 e 28. Este fato traduz que algumas das estações de
amostragem se apresentam na classe “Predominantemente não modificada” (T1, T3, T5, e T9), e que
os habitats de T5 e T9 evidenciavam uma qualidade “semi-natural”, muito próxima de “pristino”,
traduzindo assim a quase inexistência de modificações nos mesmos. No que respeita aos valores do
HMS atingido nas T2, T4, T6, T8 e T11, estas denotam serem constituídos por habitats “Obviamente
modificados”, em face da ação antrópica aí patente (muros nas margens, represamento dos rios com
afundamento do canal, passagens de pessoas e animais no canal, pequenas pontes e pontões, …).
Finalmente, nos locais T7, T10 e T12 foi observado um maior grau de modificação daqueles habitats.
Das ações antrópicas aí registadas ressaltam, entre outras, as relacionadas com a modificação anual
do canal para a sua utilização recreativa (praias fluviais rústicas), de represamento para
abastecimento de água para o combate a incêndios florestais, destruição de represas tradicionais,
beneficiação de ponte rodoviária e da sua estrutura de suporte e passagens de veículos, pessoas e
animais no canal.

3.2. Caracterização das populações piscícolas

Ao longo das 12 estações de amostragem, foram capturados um total de 1221 indivíduos. De notar
que os Cyprinidae representaram cerca de 91,50 % da totalidade dos indivíduos amostrados ao longo
do presente curso de água. A seguir, por ordem decrescente de abundância, os Salmonidae
representaram cerca de 8% e os Anguilidae e Perchidae registaram um nível de ocorrência igual, isto
é, de cerca de 0,25%, respetivamente.
A truta-de-rio e o escalo constituíram neste curso fluvial as espécies piscícolas mais euribiontes.
Foram encontradas desde a sua cabeceira até à sua foz, sendo legítimo poder afirmar que este rio
possui a truta-de-rio quase desde a sua nascente até à sua confluência com o Tâmega. A boga, por
sua vez, foi a espécie mais capturada. A sua presença é dominante nos troços médios do rio, seguida
do escalo, que é a espécie mais abundante a montante das Fisgas de Ermelo. De salientar a captura,
apenas a jusante do desnível orográfico anteriormente referido, de alguns exemplares de enguia e a
ocorrência muito diminuta da perca-sol (Lepomis gibbosus), cuja ocorrência se confinou apenas à
estação mais a jusante, junto à foz do Olo. Este troço encontra-se mais povoado por barbos (2
espécies) e alguns bordalos, coincidindo esta circunstância com locais onde a temperatura média da
água é mais alta. Em face destes resultados, importa salientar a diminuta presença de exóticas

269
António M. V. Martinho

(perca-sol e góbio - Gobio lozanoi) neste curso de água.


As relações entre o peso e o comprimento das espécies piscícolas estudadas evidenciam que a truta
apresenta para a totalidade das 12 estações de amostragem um crescimento isométrico e uma ligeira
falta de robustez. O barbo expõe uma ligeira falta de robustez e um crescimento alométrico,
comprovando que a relação entre o seu comprimento e o seu peso diminui ligeiramente com a idade
(b< 3). A boga apresenta um crescimento isométrico e alguma robustez. Por último, o escalo,
apresenta um crescimento alométrico, revelando vigor físico.
Os resultados obtidos apontam para o facto da truta e do barbo constituírem as espécies que, neste
curso de água, maiores crescimentos teóricos podem atingir L∞ = 29,93 e L∞ = 40,43, respetivamente.
Quanto às restantes espécies, verifica-se uma grande proximidade aos valores dos crescimentos
máximos teóricos obtidos, cuja variação ocorreu entre L∞ = 19,43 (boga) e L∞ = 20,48 (escalo).
A análise da estrutura etária mostra que entre a população amostrada de salmonídeos (98 trutas),
72,4% correspondem a indivíduos com idades compreendidas entre 0+ e 1+. Quanto ao escalo,
foram identificados mais indivíduos de idades mais jovens (0+, 1+ e 2+) do que exemplares de mais
idade (3+ e 4+). Relativamente à boga, o método Bhattacharya consegue a individualização de todos
os escalões etários anteriormente definidos pela escalimetria (0+, 1+, 2+ e 3+) e mostra que, para as
12 estações de amostragem, a estrutura da população parece ser constituída por indivíduos das
classes mais jovens. Do mesmo é possível concluir sobre o forte pendor dos indivíduos mais jovens
na estrutura etária desta comunidade de ciprinídeos, onde cerca de 82% dos seus indivíduos se
distribuem pelas idades compreendidas entre 0+ e 1+. Relativamente ao barbo, as classes de idade
mais facilmente definidas foram a 2+, 3+ e 5+. Contudo, a escalimetria revelou a existência de
indivíduos de classes com mais idade (6+ e 7+). Cerca de 63% dos barbos amostrados são
indivíduos jovens, com idades compreendidas entre 0+ e 1+, cuja frequência de ocorrência foi
superior em T8 e T9. Em T12 detetou-se uma maior densidade de barbos, com predomínio dos
pertencentes a classes de idade mais avançadas, devendo tal facto estar associado à proximidade
desta estação em relação à confluência com o rio Tâmega.

3.3. Relação entre os parâmetros populacionais e os descritores ambientais

No âmbito da análise dos padrões de distribuição espacial das populações e sua relação com os
descritores ambientais, o total da variação registada nos dois primeiros eixos da RDA foi de 56,71%.
Os restantes eixos absorveram de 21,21% (RDA3 = 11,15%; RDA4 = 10,06%) da variância, pelo que
a variação em torno destes quatro eixos foi de 77,92% (Figura 2).

270
António M. V. Martinho

100 10
a) b)

T2T2
T2T7 T2T2
T2T7

50 50 HQATRE
HQALU50
O2
T2T9 G1FLT2T9
G3VG
G1MATHMS
RDA2

HQA G1FLWR

RDA2
T4T6 HQACHG2OS5SHI
G1MATNB2
T4T6
Truta G2O
G2OS5C
G2 HQAFLTP
G3VG G3V
G1FLWSM
T4T2 Góbi HQASPF
T1T6 Bord T4T2G1MO
G2OS5TL2
T1T6 T8T6
0 T3T9 0 T3T9HQAB
T1T9 Barb T6T7
T7TT11T1 T1T9 T6T7
T7T9 T11T1
EscaT4T8
T5T6 T6T
T12TT10T
T8T6
T8T
T10T
T10T9 T6T3T12 T8T2
T11T
T1T2
T3T6 T6T1
T11T
T12T Bog T4TET5T6
T1T
ST5T9 COND T10T9
T7T4
T9T9
T6T1
T5T2
T3T2 T7T
T8T
T9TT11T EST
T5T T8T9T10
T10
T5T9 T3T T11T
T7T
T12T
T9T T7T6
T12T2
T9T T9T6
T9T2
T12T9

-50 -50
-100 -50 0 50 -100 -50 0 50

RDA1 RDA1

Figura 2. Bi-plot da RDA a) das espécies piscícolas e estações de amostragem e, b) das variáveis e
índices derivados do RHS e estações de amostragem

Torna-se evidente (Figura 2a) a existência de uma zona de transição onde se concentra um número
significativo de estações que enfatizam a transição das comunidades de salmonídeos para as de
ciprinídeos, com dominância para estes últimos. Relativamente às comunidades de salmonídeos,
estas fazem-se agora representar pelos seus indivíduos mais maduros (2+, 3+, 4+ e 5+) com maior
capacidade potencial de reprodução (T8 e T10). Trata-se de uma zona inicialmente dominada pela
boga e pelo escalo, este último em menor número que a espécie anterior, que de forma gradual vai
dando lugar ao barbo, cuja presença se faz inicialmente sentir em T7 e daí até T12 marcando de forma
sempre crescente a sua presença. O barbo atinge a sua máxima expressividade nos troços
localizados mais a jusante (T12) onde foram capturados os exemplares mais maduros. De realçar a
presença de anguilídeos em T6, T7 e T12 e, em número menos significativo, de indivíduos dos géneros
Squalius (T11, T12), Lepomis (T12) e Gobio (T11, T12).
No que se refere à truta, a sua distribuição ao longo das estações T2 e T10 evidencia que esta espécie
é mais influenciada por valores mais significativos de vegetação arbórea e características associadas
(HQATRE), constituindo bons locais onde estas comunidades piscícolas se sentem mais protegidas e
coincidindo com segmentos de rio que possuem cortinas ripárias bem estruturadas (amieiros, freixos,
salgueiros, …) e implantadas em margens bem consolidadas (Figura 2b). A diversidade de atributos
das margens (HQABKF), de tipos de corrente (HQAFLTP) e de diferentes substratos do canal
(HQACHS) aponta para a existência de cascalheiras naqueles segmentos fluviais (T2 e T10), com
zonas de difícil acesso, de reduzida pressão humana, onde se regista a existência de um número
significativo de troços lóticos e lênticos, geradores de uma grande diversidade de tipos de corrente.
Estas características proporcionam ainda condições naturais coincidentes com zonas de desova. A
reduzida utilização agrícola do solo, nos 50 metros do topo da margem (HQALU50), coincide também
com boas áreas de juvenis de truta, até pelo “input” de matéria orgânica proveniente de folhada,
associada a grandes produtividades das comunidades de macroinvertebrados, a base da dieta
alimentar desta espécie (OSCOZ et al., 2005).

271
António M. V. Martinho

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

O rio Olo caracteriza-se por ser um curso fluvial de montanha, com acentuados desníveis nos seus
sectores médio e superior, cujo elemento orográfico mais notável corresponde às quedas de água
das Fisgas de Ermelo - acidente geológico responsável pela sucessão de 250 metros de cascatas de
água que constituem um obstáculo à migração para montante das espécies piscícolas. Tal facto
poderá estar na origem da existência de populações isoladas, diferenciadas entre si, geneticamente
(ALEXANDRINO et al., 2001), com especial incidência para as comunidades de escalos e de truta-
de-rio. No seu troço inferior, apresenta-se em menor escala povoado com espécies como o bordalo
(Squalius alburnoides), góbio, e perca-sol. O rio Olo está classificado como salmonídeo (Portaria
462/2001, de 8 de Maio) e o seu leito apresenta-se constituído por substratos predominantemente
grosseiros (blocos e cascalho), por uma reduzida diversidade de macrófitos aquáticos e uma densa
cobertura ripícola (RODRIGUES, 1995).
Na sequência do referido em outros estudos (CORTES et al. 2007), o presente trabalho confirma
estarmos perante um curso fluvial constituído por uma grande diversidade de habitats, os quais
parecem apresentar reduzidas taxas de artificialização e índices de “boa” a “ótima” qualidade. Prevê-
se que este quadro se venha a manter ao longo do tempo, já que cerca de metade do presente curso
fluvial (55%) se localiza em área protegida do PNAL, esperando-se daí que seja dada continuidade à
política de gestão conservacionista levada a efeito pelo ICNF, prevendo-se a manutenção e melhoria
dos padrões de elevada qualidade e biodiversidade dos ecossistemas que o constituem.
Este estudo demonstra que à medida que se evolui de montante para jusante, aumenta a diversidade
das comunidades íctias encontradas, com especial ênfase para os locais mais a jusante onde
dominam os ciprinídeos (LÓBON-CERVIÁ et al., 1985; RODRIGUES, 1995; FORMIGO, 1997). A
presença de populações de espécies exóticas ao longo de toda a área de estudo foi muito reduzida,
estando a sua ocorrência diretamente associada a habitats mais lênticos, onde a temperatura da
água é mais elevada, e com locais mais próximos da confluência com o Tâmega, uma vez que a
captura da perca-sol apenas ocorreu em T12.
O estatuto da truta-de-rio mudou há já algum tempo pois deixou de ser encarada como uma espécie
europeia para ser considerada uma espécie introduzida um pouco por todo o mundo (ELLIOTT,
1994), quer em termos de pesca desportiva e profissional quer no âmbito da aquacultura
(BALIGNIÈRE e MAISSE, 1999). Os valores dos crescimentos encontrados evidenciam, para o caso
da truta, serem coincidentes com os obtidos por FORMIGO (1997) e FRANCO (2000). Quanto à
grandeza dos resultados obtidos por MAIA e VALENTE (1999) e CORTES et al. (2000), calculados
para exemplares do rio Lima, estes diferem no que respeita aos parâmetros t0 e L∞, mostrando ser
maiores do que os obtidos neste trabalho. Tais diferenças poderão eventualmente ter a sua origem
em fatores bióticos e abióticos, como a temperatura da água, o tamanho dos indivíduos que
constituem as comunidades piscícolas (ELLIOTT, 1994), os locais e dimensão dos rios onde se
desenvolveram esses trabalhos (MAIA e VALENTE, 1999), assim como ao tipo de tratamento
estatístico usado, nomeadamente ao software a que se recorreu para o efeito. Os valores do
comprimento máximo teórico calculado para a truta-de-rio (L∞ = 29,93) no curso de água em estudo,
quando comparado com os obtidos por outros autores noutros locais da Europa parecem enquadrar-

272
António M. V. Martinho

se no intervalo que varia entre L∞ = 21,40 (Reino Unido) e L∞ = 65,94 (Espanha - rio Ucero), valor este
intimamente associado a um rio muito produtivo (GARCIA DE JALÓN, 1997). No que respeita às
restantes espécies (barbo, boga e escalo), os resultados encontrados coincidem de forma abrangente
com a generalidade dos alcançados em outros estudos. Apenas no caso de alguns dos valores
obtidos para os parâmetros da equação de Von Bertalanffy, para a boga, são mais distantes dos
obtidos neste trabalho - rio Jarama (LÓBON-CERVIÁ, 1982).
Dos valores obtidos para o comprimento médio por classes de idade das trutas, os que mais se
aproximam dos deste estudo são os efetuados em Portugal (FORMIGO, 1997), ou em locais mais
próximos do nosso país (LÓBON-CERVIÁ E PENCZAK, 1984; NICOLA e ALMODÓVAR, 2002 -
Espanha), sendo curioso que, entre os divulgados para alguns rios da Turquia, alguns mostram, para
determinados escalões etários, ser próximos dos determinados neste estudo (ARSLAN, 2003). Se a
tal constatação acrescer o facto de estarmos a comparar dados de comprimentos médios por classe
de idade medidos à furca, então, nalguns casos, maior ainda deverá ser a aproximação entre aquelas
medidas. Comparativamente às restantes espécies, é possível concluir que os valores observados
são amplamente próximos dos resultados obtidos em trabalhos produzidos no nosso país,
nomeadamente dos alcançados nos rios Lima (FRANCO, 2000) e Távora (MOTA, 1998), diferindo, os
mesmos, com os encontrados no rio Jarama - Espanha (LÓBON-CERVIÁ e PENCZAK, 1984).
Segundo (ELLIOTT, 1994; KLEMETSON et al., 2003), este fato deverá estar dependente da natureza
genética dos indivíduos aí presentes, da disponibilidade em alimento, da temperatura da água, dos
tipos de habitats e da existência de pesca em cada um dos locais onde tal informação foi recolhida.
Em suma, fundamentados nos resultados deste estudo e num conjunto de critérios (ex. existência de
recursos piscícolas, proximidade/afastamento de povoações, tipos de habitat, existência de praias
fluviais rústicas, facilidade/dificuldade de fiscalização, e entre outros, interesse por parte da sociedade
civil) foi implementado um modelo de ordenamento da pesca desportiva, baseado na criação de
zonas com diferentes graus de proteção, que podem ir até à total interdição de pescar. Assim, foram
criados os troços/tramos (ver Figura 3): troços onde a pesca está interdita, denominadas zonas de
proteção (troços 1, 3, 5, 8, 10, 12 e 14) - de ressalvar que todos os afluentes deste curso de água
constituem zonas de proteção; troços de pesca sem morte (tramos 6 e 11) e; troços de pesca com
morte (tramos 2, 4, 7, 9 e 13). A criação desta Zona de Pesca Reservada (ZPR) constitui um enorme
esforço da administração para mudar mentalidades e criar novos hábitos da pesca desportiva,
tornando o seu exercício mais compatível com uma utilização mais conservacionista daqueles
recursos, permitindo que esta atividade contribua para o desenvolvimento desta região interiorizada
do nosso país.

273
António M. V. Martinho

Figura 3. Mapa de ordenamento da pesca desportiva (em vigor)

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277
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Substituição parcial de uma resina de UF por madeira liquefeita

J. Martins1, J. M. Martins2, L. Cruz Lopes3 e B. Esteves3*

1:Aluno de Engenharia de Madeiras. ESTV, Instituto Politécnico de Viseu, Av. Coronel José Maria V. de
Andrade, Campus Politécnico, 3504-510 Viseu. Portugal
2: Laboratório de Engenharia de Processos Ambiente e Energia, ESTV, Instituto Politécnico de Viseu, Av.
Coronel José Maria V. de Andrade, Campus Politécnico, 3504-510 Viseu. Portugal
3: Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde, ESTV, Instituto Politécnico de Viseu, Av. Coronel
José Maria V. de Andrade, Campus Politécnico, 3504-510 Viseu. Portugal

*e-mail: bruno@demad.estv.ipv.pt.pt

Resumo: As resinas de Ureia-formaldeído (UF) são as mais utilizadas na produção de


aglomerados de fibras e partículas. No entanto, a crescente limitação aos teores de formaldeído
tem levado à procura de novas resinas com baixo ou nulo teor de formaldeído. Através do
processo de liquefação a madeira transforma-se num potencial substituto viável destas resinas.
Neste estudo utilizou-se madeira liquefeita (ML) de Pinus pinaster Ait. através de um processo
com recurso a etilenoglicol (EG) catalisado por ácido sulfúrico (AS) a 3% num reator de camisa
dupla aquecido a óleo a 160ºC durante 90 min. Determinou-se o tempo de gelificação de várias
misturas ML-UF de 3:7 a 9:1. Estudou-se a possibilidade de substituição parcial da resina UF por
madeira liquefeita, neutralizada e não neutralizada. Para isso determinou-se a resistência de
colagem entre duas folhas de madeira (resistência á tração) coladas com uma mistura de ML-UF
(50:50) utilizando o equipamento ABES®. Com o aumento da percentagem de ML verifica-se uma
diminuição do tempo de gelificação até atingir a relação 5:5 o que se manteve até uma relação de
8:2, aumentando em seguida. Verificou-se que quanto maior a temperatura maior é a resistência
à tração da resina ML-UF. A resina não neutralizada reagiu mais depressa (100s) que a
neutralizada (600s) mas ambas apresentaram uma resistência interna máxima de cerca de 5
N/mm2 ligeiramente inferior às resinas UF Em conclusão é possível utilizar madeira de Pinus
pinaster liquefeita com poliálcoois como substituto parcial da resina UF na produção de
aglomerados de partículas.
Palavras-chave: ABES®; Madeira liquefeita, poliálcoois, Pinus pinaster, resina UF.
Abstract: Urea-formaldehyde (UF) resins are used in the manufacture of fiber and particle
boards. However, the increasing limits on formaldehyde levels have led to the search of new
resins with low or zero formaldehyde content. Through liquefaction wood becomes a potential and
viable replacement of these resins. In this study we used liquefied wood (ML) of Pinus pinaster
Ait. in a process using ethylene glycol (EG) catalyzed by 3% sulfuric acid (SA) on a double shirt
reactor with heated oil at 160° C for 90 min. Gelification time was determined for several ML-UF
mixtures from 3: 7 to 9: 1. The possibility of partial replacement of UF resin by neutralized and
non neutralized liquefied wood, was studied. To determine this feasibility the internal bonding
strength between two sheets of wood (resistance to traction) was determined for a mixture of ML-
UF (50: 50) using the ABES ® equipment. With the increase in the proportion of liquefied wood
there is a decrease in the Gelification time until a 5:5 ratio and remained until a 8: 2 ratio
increasing afterwards. It was found that the higher the temperature the greater the bonding
strength of the ML-UF resin. The non neutralized resin reacted more quickly (100s) than the
neutralized (600s) but both showed a maximum internal resistance of about 5 N/mm2 slightly
lower than commercial UF resins. In conclusion it is possible to use Pinus pinaster liquefied wood
with polyhydric alcohols as partial substitute of UF resin in the production of particleboards.
Keywords: ABES ®; Liquefied wood, polyhydric alcohols, Pinus pinaster, UF resin
J. Martins, J. M. Martins, L. Cruz Lopes e B. Esteves

1. INTRODUÇÃO

A madeira liquefeita tem vindo a ser utilizada para produzir resinas diferentes de acordo com o agente
de liquefação. Quando se utiliza fenol como agente de liquefação a madeira liquefeirta pode ser
utilizada na produção de resinas fenólicas. Pan et al (2009) usaram madeira liquefeita com fenol,
usando um catalisador ácido para preparar resinas fenólicas do tipo Novolac enquanto Hassan et al
(2009) produziram resinas do tipo Resol. Alma et al. (1998) e Zhang et al. (2005) produziram o
mesmo tipo de resinas mas recorrendo a catalisadores alcalinos. Utilizando poliálcoois como agentes
de liquefação os tipos de resinas produzidas são diferentes. Lee e Lin (2008) usaram madeira
liquefeita para a produção de um adesivo à base de poliuretano. Também resinas epóxi foram
preparadas por Kobaiashi et al. (2000) a partir de madeira liquefeita com poliálcoois. Mansouri et al
(2007) estudaram a possibilidade de usar madeira liquefeita como adesivos de painel de madeira com
base de lenhina sem formaldeído. Os adesivos apresentaram uma boa força de adesão, suficiente
para passar as especificações internacionais relevantes para painéis de classe-exterior e também
mostraram reatividade suficiente para produzir painéis com tempos de prensagem comparáveis aos
de adesivos comerciais baseados em formaldeído. O desempenho da ligação de amostras de
madeira de faia, colados com um adesivo resultando da mistura de madeira liquefeita e resina
fenólica, foi investigada por Ugovsek et al. (2010) que concluíram que para aplicações não-estruturais
em condições secas, até 25% das resinas sintéticas de fenol-formaldeído poderia ser substituído por
madeira liquefeita com uma ligação satisfatória. Kunaver et al. (2010) estudaram a possibilidade de
substituir parcialmente resinas UF, MF e MUF por madeira liquefeita para a produção de painéis e
concluíram que seria possível substituir até 50% das resinas mantendo as características mínimas
requeridas para este tipo de painéis. Cruz Lopes et al (2013) utilizaram madeira de pinho liquefeita
para substituir parcialmente uma resina MUF e concluíram que com o aumento da madeira liquefeita
a força de adesão diminuiu. No entanto, apesar da diminuição em 30% da resistência interna para
uma mistura de MUF com 50% de madeira liquefeita a resistência ainda se encontrava dentro dos
padrões mínimos exigidos. O principal objetivo desta pesquisa foi usar madeira de pinho liquefeita
preparada pelo processo de poliálcoois como substituto parcial de resinas UF na produção de
aglomerado.

2. MATERIAL E METODOS

2.1. Processo de liquefação

Serrim de pinheiro bravo (Pinus Pinaster Ait) produzido na serra circular de uma carpintaria local foi
utilizada nos testes. A amostra foi peneirada em três frações: > 40, 40-60 e < 60 Mesh. A fração 40-
60 foi selecionada para os testes. Etilenoglicol (EG) foi usado como solvente na proporção de 4:1, ou
seja 4g de EG para cada grama de madeira seca adicionando 3% de ácido sulfúrico (AS) como um
catalisador baseado na massa de EG. Para alcançar uma melhor percentagem de liquefação, a
mistura foi agitada de modo a obter uma preparação mais homogênea através de um agitador
automático a ±70rpm.

279
J. Martins, J. M. Martins, L. Cruz Lopes e B. Esteves

O processo de liquefação foi realizado num reator PARR LKT PED cilíndrico de vidro de 600ml com
duplo revestimento. A temperatura de liquefação foi 160ºC ou 180ºC (temperatura do óleo na
camisa). A solução final foi solubilizada numa mistura de dioxano e água na proporção de 4:1. Para
separar os resíduos sólidos resultantes da liquefação, utilizou-se uma bomba e um funil de Buckner
com um filtro de papel. A percentagem de liquefação foi calculada através da seguinte fórmula:

M     í  
Liquefação  %     1 100 (1)
M        

A água e o dioxano foram evaporados com evaporador rotativo a pressão reduzida de 700mmHg
por uma bomba de vácuo.

2.2. Determinação do tempo de gelificação

Determinou-se o tempo de gelificação de diferentes misturas entre adesivo e madeira liquefeita


(Figura 1) com rácios (9:1, 8:2, 7:3, 6:4, 5:5, 4:6, 3:7, 2:8 e 9:1). As misturas foram colocadas
num copo em banho-maria continuamente agitados com uma vareta. O tempo de gelificação foi
determinado com um cronómetro.

Figura 1: Determinação do tempo de gelificação

2.3. Determinação da resistência de adesão das resinas

O ABES ® (Figura 2) é um equipamento que permite testar diferentes tipos de adesivos através
da colagem de duas lamelas testando a força de tração máxima da adesão. Utilizaram-se duas
lamelas de folheado de faia, com espessura de 0.5 mm, 20 mm de largura e 117 mm de
comprimento.

Figura 2: Determinação da força de adesão

280
J. Martins, J. M. Martins, L. Cruz Lopes e B. Esteves

As resinas foram preparadas adicionando a resina UF, a madeira liquefeita e sulfato de amónio
como catalisador. Para cada teste, 6,7 mg de cola foram usados com uma área de sobreposição
de 100 mm2. Definindo o tempo e temperatura desejada para ativar e curar o adesivo o ABES®
através de um ensaio de tração tangencial determina a força máxima necessária para quebrar a
linha de colagem. A resistência de adesão interna (IB) foi determinada pela seguinte fórmula:

F ç N
IB  N/mm2     (2)
Á     çã

A madeira liquefeita neutralizada (MLN) foi neutralizada com uma solução de NaOH a 12%.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O tempo de gelificação para a madeira liquefeita a 160ºC e a 180ºC foi semelhante (Figura 3) não se
verificando nenhuma diferença com a temperatura de liquefação. O tempo de gelificação diminuiu
inicialmente, de 600s para 100s com o aumento da madeira liquefeita até atingir uma proporção de
5:5. Depois manteve-se constante até uma proporção de 8:2 aumentando em seguida. A gelificação
das resinas de Ureia-formaldeído (UF) ocorre entre 50-150s a 100ºC na presença de um catalisador
como o sulfato de amónio mas também é possível utilizando um catalisador ácido como o ácido
sulfúrico. Uma vez que a madeira liquefeita possui cerca de 3% de ácido sulfúrico a diminuição inicial
do tempo de gelificação justifica-se pelo facto de o aumento de ácido ter um efeito superior ao
aumento da madeira liquefeita na resina o que se alterou a partir de uma proporção de 8:2 em que o
teor elevado de madeira liquefeita já não permitiu uma correta gelificação da resina. Um aumento
semelhante foi obtido por Kunaver et al (2010).

700
600
500
Tempo (s)

400
300 160ºC
200 180ºC
100
0
3:7 4:6 5:5 6:4 7:3 8:2 9:1
Racio ML‐Resina UF

Figura 3: Tempo de gelificação de misturas de resina UF com madeira liquefeita a 160ºC e


180ºC.

Na Figura 4a podemos ver a curva do ABES para uma resina resultante da mistura UF-ML a
50:50 e curada a 105ºC e 115ºC e na figura 4b podemos ver a mesma resina mas neste caso

281
J. Martins, J. M. Martins, L. Cruz Lopes e B. Esteves

neutralizada e curada a 115ºC. De acordo com Heineman (2004) e Ferra et al. (2011) a curva tem
três fases diferentes, um atraso inicial atribuído à perda de energia devido a evaporação da água,
uma segunda fase de crescimento linear devido a reação de polimerização por processos em
cadeia e ligações cruzadas e uma última fase é onde as curvas estabilizam atingindo o valor
máximo. A fase inicial não consta na figura porque o primeiro ponto foi apenas aos 50s, altura em
que o atraso inicial já teria ocorrido. A segunda fase de crescimento quase linear pode ser vista
até cerca de 100s para a resina não neutralizada ML-UF (Figura 4a) e até cerca de 100-150s
para resina neutralizada MLN-UF. Verificou-se que a uma temperatura mais elevada as curvas
têm uma maior inclinação para resinas UF e UF-LW.

ABES ABES
600 600

500 500

400 400
Força (N)

Força(N)
300 300

200 ML+UF a 115ºC 200 ML+UF a 115ºC


ML+UF a 105ºC MLN+UF a 115ºC
100 100

0 0
0 200 400 600 800 0 200 400 600 800
Tempo (s) Tempo (s)

Figura 4a e 4b: Força de adesão das misturas de madeira liquefeita não neutralizada (ML) e
neutralizada (MLN) com uma resina de ureia-formaldeído (UF)

A resistência de adesão interna da resina ML-UF para 600s foi de cerca de 3,5 N/mm2 a 105ºC e um
pouco superior 4 N/mm2 a 115ºC. No entanto o máximo (5 N/mm2) foi obtido a cerca de 100s que é
próximo aos 80s (a 100ºC) utilizados pela indústria de aglomerado. Utilizando a resina neutralizada
(Figura 4b) o declive da zona linear foi menor e a resistência interna máxima também foi ligeiramente
inferior embora aos 600s tenha sido superior (4,5 N/mm2) o que significa que demorou mais tempo a
ativar mas os resultados finais foram semelhantes.

4. CONCLUSÕES

Com o aumento da percentagem de ML verifica-se uma diminuição do tempo de gelificação até


atingir a relação 5:5 o que se manteve até uma relação de 8:2, aumentando em seguida. A resina
não neutralizada reagiu mais depressa (100s) que a neutralizada (600s) mas ambas
apresentaram uma resistência interna máxima de cerca de 5 N/mm2 ligeiramente inferior às
resinas de UF. Em conclusão é possível utilizar madeira de Pinus pinaster liquefeita com
poliálcoois como substituto parcial da resina de UF na produção de aglomerados de partículas.

282
J. Martins, J. M. Martins, L. Cruz Lopes e B. Esteves

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer à Fundação para a ciência e tecnologia (Ref.


PTDC/ECM/099121/2008) e ao Centro de estudos em educação, tecnologias e saúde (CIDETS)
pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

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phenolated wood resin. Wood Sci Technol,32:297–308.
Ferra, J., Ohlmeyer, M., Mendes, A., Costa, M., Carvalho, L., Magalhães, F. 2011. Evaluation of urea-
formaldehyde adhesives performance by recently developed mechanical tests. International
Journal of Adhesion and Adhesives, 31(3): 127-134.
Heinemann, C., 2004. Characterization of the curing process of adhesives inwood-particle matrices by
evaluation of mechanical and chemical kinetics. Hamburg: Institute for Wood Technology,
University of Hamburg.
Kobayashi, M., Tukamoto, K., Tomita, B. 2000. Application of liquefied wood to a new resin system-
synthesis and properties of liquefied wood/epoxy resins, Holzforschung, 54(1), 93-100.
Kunaver, M., Medved, S., Cuk, N. 2010 Application of liquefied wood as a new particle board adhesive
system, Bioresource Technology(101), 1361-1368.
Mansouri, N., Pizzi, A., Salvado, J. 2007. Lignin-based wood panel adhesives without formaldehyde.
Holz Roh Werkst 65: 65–70
Pan, H., Shupe, T. F., Hse, C-Y, 2009. Characterization of novolac type liquefied, Eur. J. Wood Prod.,
67: 427–437.
Ugovsek, A, Kariz, M, Sernek, M., 2010. Bonding of beech wood with an adhesive mixture made of
liquefied wood and phenolic resin. Hardwood Science and Technology. The 4th Conference on
Hardwood Research and Utilisation in Europe.
Zhang, Q., Zhao, G., Jie, S. 2005. Liquefaction and product identification of main chemical
compositions of wood in phenol, Forestry Studies in China, 7(2), 31-37.
Lee, W., Lin, M. 2008. Preparation and application of polyurethane adhesives made from polyhydric
alcohol liquefied Taiwan acacia and China fir. Journal of Applied Polymer science, 109, 161-177.
Cruz Lopes, L., Martins, J., Martins, J. M., Esteves, B. 2013 Study of the potential use of pine liquefied
wood for the partial substitution of MUF resin. In Proceedings of: ACCMES 2013-Asian
Conference on civil, material and environmental science. 15-17 March Tokyo.

283
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Melhoria da compartimentação por cirurgia de árvores

Luís M Pontes Martins

Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista; UTAD, Vila Real

e-mail: lmartins@utad.pt

Resumo. De um modo geral, as árvores mantêm o stresse uniforme em toda a sua estrutura,
permitindo reduzir pontos de fragilidade ou de fractura. No diagnóstico considera-se pois que a
árvore é uma estrutura auto optimizada que segue a regra de uma utilização económica e
eficiente do material sendo, simultaneamente, muito resistente. Quando a distribuição uniforme
da tensão por toda a superfície da árvore é perturbada, esta responde com a deposição de
maiores quantidades de lenho na zona enfraquecida. Desta forma, tenta recuperar a situação
inicial de stress uniforme.
De modo idêntico, a árvore reage pela compartimentação de tecidos afectados por agentes
bióticos, abióticos ou por lesões mecânicas. Esta compartimentação envolve 4 barreiras
explicadas pelo modelo CODIT (Compartmentalization Of Decay In Trees) descrito por Alex
Shigo.
Considerando esse modelo CODIT, foi realizado um estudo para a estabilização e
compartimentação de uma grande cavidade de um sobreiro (Quercus suber L.) inserido no
“Parque Natureza e Biodiversidade” em Boticas. A importância da árvore no Parque levou ao
ensaio de uma técnica de cirurgia que visa acelerar o processo de compartimentação. Baseia-se
na colocação de uma estrutura metálica inserida na zona do câmbio, para direccionar
adequadamente a formação de novos tecidos.
Os primeiros resultados relativos à melhoria estrutural são muito positivos. A melhoria da
compartimentação continua a ser monitorizada, mas os primeiros indicadores mostram que a
técnica usada é mais adequada, quando, por exemplo, comparada com a comum estabilização
de cavidades ou ramos codominantes por cintas metálicas.

Palavras-chave: Modelo CODIT, diagnóstico, estabilização estrutural.

Abstract. Generally, trees maintain uniform stress of their structure, reducing weak points witch
can lead to a fracture. In the diagnosis it is considered that the tree structure is a well optimized
structure according to an efficient use of the material, being simultaneously very robust. When the
uniform distribution of tension across the surface of the tree is disturbed, it responds with the
deposition of greater amounts of wood in the weakened zone. Thus, attempts to recover the initial
situation of uniform stress.
Similarly, the tree reacts by compartmentalization of tissues affected by biotic, abiotic or
mechanical injury. This involves the formation of four barriers explained by the CODIT model
(Compartmentalization of Decay in Trees) described by Alex Shigo.
Considering this model, a study was conducted to stabilize a large cavity of a cork oak (Quercus
suber L.) located in the "Nature and Biodiversity Park" in Boticas. The importance of tree in the
Park led to the try a surgery technique that aims to accelerate the process of
compartmentalization. It is based on placing a metal structure embedded in the cambium zone, to
properly direct the formation of new tissues.
The first results for the structural improvement are very positive. The compartmentalization
continues to be monitored, but the early indicators show that the technique is more appropriate
when, for example, compared with the common cavity stabilization by metal straps.

Key-words: CODIT model, diagnosis, structural stability.


Luís M Martins

INTRODUÇÃO

O sobreiro (Quercus suber L.) deste estudo localiza-se no “Parque natureza e Biodiversidade” em
Boticas. Não é uma árvore notável mas a sua posição é essencial para o enriquecimento paisagístico
do local, dando um contributo valioso à visitação. Como existem poucos sobreiros no Parque, esta
árvore contribui também para o aumento da biodiversidade, interessando assim a sua preservação.
Infelizmente encontrava-se muito maltratada e a queda de um ramo devido a uma codominância
dilacerou grande parte do tronco. Isso iria inviabilizar a sua manutenção por muito mais tempo devido
ao risco evidente para pessoas e bens.
Neste documento faz-se a descrição do trabalho de cirurgia para recuperação do sobreiro, o qual
estava previamente autorizado pela Autoridade Florestal Nacional. No último ponto apresenta-se uma
proposta para a valorização estética do local e melhor protecção do sistema radicular.

MATERIAL E MÉTODOS

Condição global da árvore


O sobreiro apresentava a copa muito fechada e desequilibrada. O excesso de líquenes já impedia o
bom desempenho fotossintético. O tronco com uma codominância muito acentuada não tinha
resistência estrutural para suportar a copa.
Pese embora o facto de ter sido colocada uma cinta no cimo do tronco, esta não iria impedir a queda
da árvore. De facto, observaram-se fissuras laterais no tronco, sinónimo de que este estava em risco
de quebrar a todo o momento (Figura 8).

Figura 8. Sobreiro antes da intervenção cirúrgica.

Os parâmetros dendrométricos foram determinados com um hipsómetro electrónico e com uma fita
métrica, a idade com uma verruma de Pressler (
Quadro 1).

285
Luís M Martins

As dimensões da cavidade foram medidas segundo os eixos cartesianos X, Y e Z. Atendendo a estes


valores e aos parâmetros dendrométricos a árvore estava numa condição estrutural muito débil e de
risco eminente. Isso é perfeitamente confirmado pelos critérios de segurança descritos por Mattheck e
Bethge (2000.).
Numa condição normal seria recomendado o seu abate, por existir risco para pessoas e bens.

Quadro 1. Parâmetros dendrométricos do sobreiro alvo de intervenção.

Parâmetro Dimensão
Altura da árvore 10.30 m
Altura 1ª inserção dos ramos 3,10 m
Perímetro do tronco 1,30 m 2,15 m
Diâmetro do tronco a 1,30 m 0,68 m
Perímetro do colo 2,40 m
Diâmetro do colo 0,76 m
Diâmetro copa 10,4 m
Altura da copa 7,20 m
Forma da copa Hemisférica
Idade 44 anos

Figura 9. Representação esquemática da dimensão da lesão. Na árvore em análise X = 0,40 m; Y = 2,5 m e


Z = 0,45 m.

Cirurgia e estabilização da copa


A cirurgia da copa foi realizada em 30 de Março de 2012 por três operadores. Houve corte de ramos
entrelaçados e mal conformados, mas respeitando sempre a arquitectura natural da árvore.
Usou-se uma motosserra com lâmina de 35 cm, serrotes telescópicos, serrotes de mão e tesouras de
poda. Nos cortes foram sempre mantidos os ramos tira-seiva, a ruga da casca e o colo de
compressão.

286
Luís M Martins

Os operadores estavam munidos com os equipamentos de segurança adequados à intervenção,


estando sempre seguros por arnês e corda de segurança a ramos estruturais da árvore. Resultados
dos cortes, removeu-se cerca de 1/3 dos ramos da copa (Figura 10).

Figura 10. Intervenção cirúrgica na copa. A instalação prévia de uma cinta já a estrangular os ramos, era
ineficaz para a estabilização da árvore. À direita, os sobrantes da poda, cerca de 1/3 da copa.

A copa foi estabilizada com três cabos de aço de 12 mm de diâmetro. Para isso furaram-se de um
lado ao outro seis ramos estruturais, nos quais foram introduzidos os cabos em ângulos
aproximadamente rectos. Este processo minimiza os danos nos ramos pois área afectada de tecido
vivo, designadamente na zona cambial, é mínima.
Os extremos foram descortiçados com um formão e colocados cerra-cabos no extremo dos furos.
Para manter a tensão no ramo, antes do aperto final do cabo usou-se uma cinta com ajuste do
aperto.

Cirurgia e estabilização do tronco


O tronco por estar muito afectado por um cancro e por uma codominância teve de ser estabilizado a
esses dois níveis. A intervenção realizou-se em 10 de Abril de 2012 por três operadores.
O interior do tronco do sobreiro estava afectado por uma podridão branca, tendo ainda ataques
intensos de formigas e outros insectos xilófilos. Para a extirpação do cancro procedeu-se primeiro à
remoção física de todo o material solto. Posteriormente, com a ajuda de formão e motosserra limpou-
se todo o material afectado quer pela podridão quer pelos insectos.
Toda a superfície ficou com boa drenagem, não havendo pontos onde possa existir acumulação de
água.
Após a limpeza de todo o interior da cavidade esta foi pincelada com duas demãos de um produto
adequado à conservação da madeira que actua com insecticida e fungicida. O principal princípio
activo é a permetrina.

287
Luís M Martins

Figura 11. Perfuração do tronco para a colocação de varões roscados.

Estabilização da Codominância
Devido à quebra de um ramo estrutural o tronco ficou muito afectado. A estabilização da copa é
importante mas é igualmente relevante garantir a devida resistência biomecânica ao tronco. Para isso
foram efectuados 4 furos de um extremo ao outro do tronco, nos quais se colocaram 4 varões
roscados e devidamente aparafusados, com as anilhas junto ao câmbio da árvore (Figura 12).

Figura 12. Colocação de 4 varões roscados no tronco

Para ajudar ao fecho da cavidade fez-se um entalhe até ao câmbio ao longo dos bordos da cavidade,
i.e., na barreira 4 devidamente descrita por Alex Shigo (Shigo, 1991).
Entre os topos foi colocada uma rede de 1 cm de malha, previamente estruturada com “malha sol”. A
rede permite o adequado arejamento da cavidade e assim os processos de naturais de defesa da
árvore podem actuar, designadamente pelas barreiras 1, 2 e 3.

288
Luís M Martins

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste sobreiro há interesse que a cortiça virgem seja mantida, de modo a melhorar a sua protecção
contra agentes bióticos e longevidade da árvore. Tendo 44 anos supostamente seria uma árvore de
dimensões superiores, não fosse o caso de estar muito debilitada pela codominância do tronco.

Cirurgia
Para a intervenção foram necessárias 50 horas de trabalho, distribuídas ao longo de dois dias, pelos
operadores António J Gomes, Carlos J Tomás e Luís M Martins (Erro! A origem da referência não
foi encontrada.).
A garantia desta intervenção é vitalícia no que respeita à estabilização estrutural da codominância da
árvore. A garantia do impedimento de novas infecções na cavidade é de cinco anos. A lesão merece
no entanto ser acompanhada de forma a perceber a capacidade da árvore em compartimentar a
estrutura armada.

Figura 13. Aspecto global após cirurgia, já com a copa estabilizada com três cabos de aço.

Estabilização da codominância
É previsível que as células meristemáticas do câmbio ao encontrarem uma estrutura física, tendam a
envolver (compartimentar) o obstáculo. Assim, acelera-se o processo de fecho da cavidade (Figura
14).
Com a estrutura fechada melhora-se substancialmente a resistência estrutural do tronco e são
impedidas as infecções por fungos lenhículas devido à ausência de oxigénio.
Criam-se também condições para a preservação desta árvore por muitos mais anos, pois trata-se de
um sobreiro ainda jovem, dando-se assim um importante contributo para a valorização paisagística do
“Parque: Natureza e Biodiversidade”

289
Luís M Martins

Figura 14. Tronco estabilizado com malha metálica e intervenientes na operação cirúrgica ao sobreiro.

Como foi diminuído substancialmente o risco para pessoas e bens, propomos uma protecção que
permita a visitação mas também a protecção física das raízes da árvore por impedir de algum modo o
acesso das pessoas à principal área de projecção da copa.

Consiste num gradeamento circular com 40 cm de altura, em pinho tratado. Nos paus distanciados
entre si a cerca de 50 cm deve ser pregada uma corda de sisal para dar a imagem de uma copa
perfeitamente circular. A catenária da corda entre os paus é interessante em termos estéticos (Figura
15).

Ø
7m
Painel

Corda de sisal com

Figura 15. Gradeamento circular em pinho tratado e corda de sisal

290
Luís M Martins

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MATTHECK, C. AND K. BETHGE. 2000. Simple mathematical approaches to tree biomechanics.
Arboricultural Journal 24: 307-326
SHIGO, A. L. 1991. Arboricultura moderna. Touch trees. Durham, New Hampshire, 165 pp.

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7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

As múltiplas causas para o declínio da Floresta Urbana

Luís M Pontes Martins

Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista; UTAD, Vila Real

e-mail: lmartins@utad.pt

Resumo: O aumento da população urbana criou uma grande pressão pela ocupação dos
espaços por novos edifícios. Os novos bairros que foram surgindo, nem sempre tiveram o devido
equilíbrio com áreas verdes. Assistiu-se pois nos últimos anos à necessidade aumentar espaços
arborizados para funções como recreio, lazer ou desporto, pelo reconhecimento dos inúmeros os
benefícios da Floresta Urbana para o bem-estar da população.
Acresce que a Floresta Urbana está sujeita a um conjunto relevante de constrangimentos, devido
às características intrínsecas ao espaço urbano, mas também devido a formas de manutenção
inadequadas.
É pois muito importante a avaliação criteriosa do património arbóreo, designadamente nos
aspectos relacionados com a fitossanidade pois estes muitas vezes condicionam a sobrevivência
e segurança das árvores.
Nesta comunicação apresenta-se o caso de estudo de uma avaliação em Peso da Régua, com a
utilização de uma metodologia que pode ser facilmente usada noutros trabalhos.
São analisados os Factores de Predisposição, de Indução e Aceleradores do Declínio de um
conjunto de tílias em alinhamento. A análise também compreende a identificação de árvores em
risco de acordo com as dimensões de cancros e cavidades.
No estudo foram identificados constrangimentos, que são recorrentes à Floresta Urbana, mas
que podem ser mitigados se a actuação for realizada no momento oportuno. Destacaríamos a má
planificação do espaço para as raízes, a excessiva compactação do solo, erros na formação da
árvore, as podas excessivas, o escaldão e finalmente o declínio mais rápido causados pelos
agentes bióticos, também chamados Factores Aceleradores.
Palavras-chave: Património arbóreo, constrangimentos, manutenção, fitossanidade.

Abstract. The increase of human population on urban areas has created great pressure for
occupation the spaces by new buildings. The new neighborhoods that have emerged did not
always have the proper balance with green areas. The need to increase wooded spaces for
functions such as recreation, leisure or sport is based on the recognition of the many benefits of
the Urban Forest for the welfare of the population. However, Urban Forest is subject to a relevant
set of constraints due to the intrinsic characteristics of the urban space, but also caused by
inadequate maintenance.
Therefore it is very important the careful assessment of trees, particularly in aspects related to
plant health, because they often affect the survival and safety.
This paper presents a study case in the town of Peso da Régua, by the use of a methodology that
can be easily used on other studies.
In the study are analyzed the Predisposing, Induction and Accelerators factors and their relation
to the tree decline. The analysis also involves the risk quantification according to the dimensions
of wood decay and cavities on the trees.
The study identified a set of constraints that are very common on the Urban Forest, but that can
be mitigated by using the adequate species, pruning or maintenance. We would highlight the poor
planning of space for the roots, excessive soil compaction, errors in the initial pruning, excessive
pruning on adult trees (topping or tipping pruning), and finally the more rapid decline caused by
biotic agents.

Keywords: Urban Forest, constraints, maintenance, topping or tipping pruning.


Luís M Martins

INTRODUÇÃO

A Floresta Urbana está sujeita a um conjunto de agressões, pese embora os múltiplos benefícios da
sua presença. Dos vários constrangimentos, destacaríamos as intervenções pelas podas ou a
excessiva compactação, que é muito comum no meio urbano.
A idade avançada é outro factor relevante que contribui para baixar a resiliência e capacidade de
defesa. Assim, a fronteira entre intervir em árvores velhas – criando portas de entrada a fungos
patogénicos - e os aspectos relacionados com a segurança pode ser bastante estreita. É pois muito
importante a avaliação criteriosa de cada caso, de modo a que as acções sejam pouco intrusivas mas
que contribuam para a melhor preservação do património arbóreo. A avaliação fitossanitária e da
segurança são portanto peças essenciais para a gestão eficaz dos recursos disponíveis. É nesse
sentido que surge a diagnose apresentada neste relatório.
As tílias avaliadas localizam-se na Avenida Dr. Antão de Carvalho, no Peso da Régua, apesar de não
terem uma idade muita avançada estão em franca condição de declínio, procurando-se nesta análise
avaliar as causas e preconizar as intervenções que contribuam para melhorar o se valor estético e
segurança.
O documento pretende também desenvolver alguma pedagogia quer nos métodos de diagnóstico e
interpretação da informação, quer na forma de intervir nas árvores.
A análise dos resultados permitiu fazer uma resenha das condições de declínio mais relevantes e que
são comuns na Floresta Urbana. Os erros inerentes à escolha da espécie, excessiva compactação do
solo e as podas inadequadas são disso um exemplo.

MATERIAL E MÉTODOS

As árvores avaliadas estão dispostas em alameda na Avenida Dr. Antão de Carvalho (Peso da
Régua), nas coordenadas angulares (WGS 84) 41º09’52.50’’N 7º47’23.83’’ W e à altitude média de
130 m. O trânsito na avenida faz-se nos dois sentidos sendo bastante intenso.
As tílias foram numeradas sequencialmente de 1 a 36, de acordo no sentido NW, i.e., o sentido
descendente da rua.

Dendrologia e Parâmetros Dendrométricos

Nos parâmetros dendrométricos avaliou-se o perímetro à altura do peito (P), padronizado para 1.30
m, convertido posteriormente para o diâmetro à mesma altura (d) (Marques et al., 2005). Para o
diâmetro médio da copa (Dc) pode usar-se o hipsómetro Vertex ou então uma fita métrica vulgar de
15-20 m. Neste parâmetro estima-se visualmente a projecção vertical da extremidade dos ramos,
medindo-se até ao outro extremo, numa direcção horizontal que passa junto ao tronco. Para este
trabalho foram efectuadas duas leituras em direcções perpendiculares, considerando-se depois a
média aritmética.
Mediu-se ainda a altura da árvore (H) e a altura da primeira inserção dos ramos (Hr). Para a
determinação destas variáveis usou-se um hipsómetro electrónico (mod. Vertex Haglof) com 0.1 m de
precisão.

293
Luís M Martins

Ambiente e factores Abióticos

Na envolvência e projecção da copa são considerados os diversos aspectos que caracterizam toda a
zona de proximidade da árvore e que mais a afectam positiva ou negativamente. Efectivamente o
ambiente é determinante para compreender eventuais perturbações fisiológicas e assim efectuar
avaliações mais fidedignas.
No trabalho de campo são registadas a posição relativa a outras árvores, o pavimento e o estado de
conservação na área de projecção da copa. Isso permite melhorar a percepção das interacções que
poderão ocorrer entre a árvore e o meio.
Selecciona-se uma opção para a área envolvente (E) e área de projecção da copa (Pc) para o melhor
tratamento dos dados relativos aos espaços verdes (Figura 16).

Figura 16. Ambiente envolvente e área de projecção da copa.

Factores de Predisposição e Indução

Consideram-se como factores de predisposição, aqueles que tem repercussões no desenvolvimento


da árvore no longo prazo. Deste modo condicionam o crescimento, capacidade de defesa e
indubitavelmente a segurança. São incluídas as condições do local, do ambiente e até o genótipo dos
indivíduos. Os factores de indução ocorrem episodicamente, como surtos de seca, podendo também
ter origem humana, como as podas mal executadas, por exemplo.

Fitossanidade

A avaliação da fitossanidade obedeceu ao método vulgarmente designado no Reino Unido por VTA
(Visual Tree Assessment). O método desenvolvido por Mattheck e Breloer (1994), baseia-se no
axioma da tensão constante, isto é, no facto das árvores crescerem mantendo uma tensão uniforme
em toda a sua estrutura. Quando este modelo é alterado por um qualquer defeito, agressão biótica ou
abiótica, a planta tende a restabelecer o equilíbrio com a deposição de material reparador (Shigo,
1991).
Sinais de doenças (carpóforos ou outras frutificações, micélio, etc.) insectos nocivos e mesmo
material vegetal afectado foram considerados para um estudo mais atento em laboratório. Para a
identificação dos agentes patogénicos em laboratório recorreu-se a chaves dicotómicas e a
bibliografia da especialidade como de Rollán (2001) ou Bom (1987).

294
Luís M Martins

No auxílio ao diagnóstico foi usado o resistógrafo IML Resi F400-S. O resistógrafo permite a
quantificação da resistência apresentada pela madeira à perfuração de uma broca a velocidades de
avanço e rotação constantes (Rinn, 1994). A medição da densidade do lenho é efectuada através da
determinação da quantidade de energia necessária para realizar o orifício, permitindo a avaliação das
propriedades mecânicas e diagnosticar defeitos tanto em árvores vivas como em estruturas de
madeira (Mattheck e Bethge, 2000; Moore, 2000).
A utilização do resistógrafo produz resultados muito satisfatórios, no que se refere à avaliação do
crescimento, detecção de podridões, ataque de fungos ou insectos, avaliação de níveis de densidade
e localização de fendas e espaços ocos. Simultaneamente à perfuração, os resultados são obtidos
através de uma reprodução gráfica por uma pequena impressora ou armazenados num computador.
Na diagnose usou-se um martelo de borracha o qual por meio do som da pancada permita avaliar
sobre a condição interna das árvores. Outras ferramentas (ex. binóculos, formão, machada, lupa,
canivete, etc.) foram também usadas auxiliando na prospecção da condição do interior dos tecidos.

Dimensão das Lesões

Para cada uma das árvores fez-se a avaliação das dimensões das lesões dos cancros, cavidades ou
codominâncias, para conhecer correctamente a respectiva gravidade. A gravidade da lesão (L) é
função do Perímetro do tronco (PL) a uma dada altura de L (hL). L, representa portanto o centro da
lesão, ou seja, o local de maior risco de fractura devido à cavidade, cancro ou codominância.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Da visita efectuada à Avenida Dr. Antão de Carvalho (Peso da Régua), constata-se que há um
conjunto de factores que poderão estar na origem do declínio das árvores. Para a situação observada
considerámos os factores de Predisposição, Indução e Aceleradores que respeitam os pressupostos
do modelo de Manion (Figura 17). Este modelo, de um modo geral, tem sido utilizado para explicar o
fenómeno da perda de vigor de alguns ecossistemas florestais (Manion, 1991, Cabral e Sardinha,
1992; Sousa, 1990).

295
Luís M Martins

Figura 17. Modelo de espiral de declínio das árvores prposto por Manion (1991).

Factores de Predisposição

Consideram-se como Factores de Predisposição aqueles que actuam a longo prazo, designadamente
condições climáticas adversas, perturbações no solo, ou solos de baixo fundo de fertilidade, poluição
atmosférica, genótipo de pior qualidade, etc. Contribuem para ir fragilizando as árvores, sobretudo se
instaladas em locais sensíveis, havendo desse modo uma perda gradual da resiliência (Sousa et al.,
2007). Nestes factores destacaríamos para o local em estudo os seguintes:

Idade das árvores

De um modo geral as tílias avaliadas têm mais de 50 anos. Não se podendo considerar que é uma
idade muito avançada para uma tília, todavia, em meio urbano as condições para a sobrevivência não
são habitualmente tão boas quanto no meio natural. Deve-se aos factores adversos característicos do
espaço urbano como a poluição atmosférica e presença de maior número de poeiras, à compactação
do solo, à interrupção do ciclo de nutrientes pela remoção da folhagem durante o Outono, aterros,
desaterros, podas, etc.
Assim a idade avançada destas árvores faz baixar a sua resiliência e capacidade de defesa contra
agentes bióticos, sobretudo fungos e insectos, ou abióticos, como a queima por geadas ou por
excesso de insolação.

Interrupção do ciclo de nutrientes

A remoção da folhada durante o Outono interrompe a incorporação de matéria orgânica e a lenta


renovação de nutrientes

Compactação e impermeabilização do solo

Devido à arquitectura da Avenida, as tílias sofrem de alguma asfixia radicular. O estacionamento e


trânsito automóvel dificultam também o alongamento radicular e indubitavelmente a resiliência das

296
Luís M Martins

árvores.
O ciclo natural de nutrientes é interrompido, devido à remoção da folhada e a penetração de água,
apesar da calçada portuguesa, pode ser baixa. Efectivamente, a inclinação da rua e o muro de
suporte de terras facilitam a drenagem.

Vento e exposição solar

A alameda é muito fustigada por ventos de Sul e Sudoeste em certa medida proporcionados pela
localização do rio Douro. O vale encaixado do Douro conduz a brisa marítima, mas na Régua o vento
é já muito seco e quente.
A observação da exposição solar das cavidades, permite efectivamente constatar que estão na
maioria das vezes expostas a S ou SW. Ou seja, na exposição onde a casca e tronco fica mais
sensível devido ao escaldão e assim mais vulnerável aos agentes bióticos.

Factores de Indução

Os Factores de Indução são aqueles que causam danos directos nas árvores e que podem ocorrer de
forma episódica. Estes factores abióticos estão muitas vezes relacionados com surtos de seca,
queimas por geadas, sol ou fogo, excesso de água, entre outros. O homem pode também
desempenhar um papel preponderante e ser incluído nos factores de Indução. Aliás, não é por acaso
que é considerado também como elemento no chamado tetraedro da doença pelo seu papel
interventivo e condicionante quer do meio, quer do desenvolvimento do agente biótico ou do
hospedeiro.
Neste caso em concreto, nos Factores de Indução destacaríamos as podas. Efectivamente, na
formação das árvores optou-se pela condução em taça que contraria a arquitectura natural da copa
da tília. O desenvolvimento natural desta árvore é em eixo central revestido, apesar da copa tender
para uma forma caracteristicamente hemisférica. São também comuns nas tílias crescimento de
ramos codominantes, devendo estes sim ser controlados, sobretudo quando se trata de
codominância em V e de casca inclusa.
As intervenções ocorreram também em pernadas de diâmetro excessivo, sem deixar ramos tira-seiva,
não dando portando oportunidade às árvores para compartimentar devidamente os tecidos.
Observam-se também cortes de ramos sem tira-seiva que a escola anglo-saxonica designa como
topping ou cortes em tipping. As boas práticas reprovam esse tipo de intervenção pois além de não
evitarem de todo o novo crescimento em altura da árvore, promovem o aparecimento de muitos
ramos adventícios e de muitos cancros devido à incapacidade da árvore compartimentar devidamente
os tecidos.

Factores de Aceleração

Os Factores de Aceleração ocorrem devido à perda gradual de vigor das árvores, seguida de uma
diminuição das suas capacidades de defesa. São assim criadas as condições para a instalação de
agentes bióticos, como último elo de uma cadeia de factores desfavoráveis.
Os agentes bióticos podem causar uma sintomatologia de declínio gradual, confundindo-se neste

297
Luís M Martins

caso, com os efeitos dos Factores de Predisposição ou de Indução, ou então causar a morte da
árvore em poucas semanas.
Os agentes bióticos ao actuarem pela degradação dos tecidos alteram a biomecânica aceleram a
instabilidade da árvore.
Neste estudo foram observados fungos causadores de podridões branca e cúbica castanha e ainda
podridões do colo. Foram também detectados insectos (térmitas e larvas de Melolontha melolontha)
responsáveis pela aceleração da degradação do lenho e em última análise do declínio das árvores.

Podridão Cúbica Húmida


Os Fungos de podridão cúbica húmida afectam as madeiras com humidades superiores a 20 – 35%
exteriores ou interiores, e são caracterizadas através de uma coloração escura à superfície. As
especies Cniophora cerebella D. e Poriavaillantii F. (Rodrigues, 2004). Estes fungos degradam tanto
as madeiras de resinosas como de folhosas.

Podridão Cúbica Seca


Os fungos de podridão cúbica seca as hifas transportam humidade de madeiras atacadas para
madeiras secas e sãs, permitindo-se a proliferação do fungo (Rodrigues, 2004).

Podridão Cúbica Húmida e Parda


Esta podridão é caracterizada por uma película superficial branca, geralmente descolorada e corroída
que quando seca apresenta pequenas fissuras. Os fungos degradam celuloses e hemiceluloses da
parede celular da madeira, degradam a parede celular secundária formando cavidades paralelas (de
várias formas e tamanhos, sendo mais visíveis na madeira de Outono que na de Primavera devido à
quantidade de substâncias nutritivas) à direcção das microfibras da celulose. Quando o ataque é
muito forte, a parede secundária desliga-se completamente da terciária (que também poderá ser
danificada).
O ataque destes fungos é executado por três fases: 1ª - diminuição inicial do peso da madeira; 2ª -
penetração micelar passiva sem perda de peso; 3ª - diminuição relevante do peso da madeira. As
consequências são o aumento da permeabilidade e diminuição da resistência à tracção e
compressão, bem como diminuição do peso (Rodrigues, 2004).

Insectos Xilófagos
Os insectos xilófagos são aqueles que à excepção das térmitas (classe Isópteros - Cryptotermes
brevis, por exemplo) iniciam a infestação por uma operação de postura vulnerável. Não só por ser
cobiçada por animais que a parasitam ou dela se servem como alimento, como também pelo facto
dos ovos não possuírem protecção contra acções mecânicas, e necessitarem para a sua eclosão de
condições ambientais favoráveis, designadamente temperaturas extremas e variações térmicas
bruscas e intensas ao longo do ano (Rodrigues, 2004).
Formigas térmitas e larvas de Melolonta melolonta são também sinais de fragilidade das árvores
(Figura 18).

298
Luís M Martins

Figura 18. Cavidade com larvas de Melolontha mololontha.

Líquenes e trepadeiras
A elevada presença de líquenes – associações entre algas e fungos – no tronco das árvores é bom
indicador do reduzido crescimento das árvores. O efeito desta associação na fitossanidade da planta
é reduzido. Pode antes ser interpretado como um indicador de que a árvore está em declínio devido à
sua elevada idade ou devido a relações de parasitismo de outros agentes bióticos que lhe atrasam ou
impedem o crescimento.
Quando o aumento em diâmetro se faz nos moldes normais, não há tempo suficiente para que os
líquenes se instalem em populações elevadas nem tenham um crescimento assinalável. Este quando
se verifica é geralmente na orientação mais fresca, i.e., a Norte.
A presença de trepadeiras (Hedera helix, por exemplo) pode considerar-se como um sinal indicador
da fragilidade das árvores idêntico ao dos líquenes. Há quem a considere uma planta ornamental de
muros e jardins, ou uma planta prejudicial que deteriora paredes e que quando invade o solo, impede
que outras plantas se desenvolvam.
Apesar de se agarrar aos troncos das árvores, a hera não é uma planta parasita, pois não se alimenta
da seiva. Este dado não é contudo perfeitamente consensual pois percebe-se que uma árvore
coberta de heras dificilmente tem um crescimento normal.
Os frutos das heras que amadurecem na Primavera são tóxicos. Também por essa razão há
vantagens em ter os troncos limpos minorando assim os riscos de eventuais intoxicações.

Fitossanidade e Segurança

A medição dos cancros Cancros e cavidades determina a estabilidade da árvore. Por exemplo, na
árvore 3 verifica-se que a zona afectada tem 15 cm de raio (Z). Ao nível hL, ou seja, onde a lesão é
mais grave, o diâmetro do tronco (dL) é de 0.51 m, correspondendo a um rácio (Z/dL) de 29 %.

299
Luís M Martins

Figura 19. Resistograma referente à arvore nº 3, com leitura a 1,10 m no lado oposto da
cavidade.

No Quadro 2 apresentam-se os dados da mesma árvore, servindo pois exemplo explicativo. Assim,
os dados referentes ao Perímetro ou Raio onde a lesão é mais grave / Perímetro ou Raio do tronco
ou ramo ao nível dessa lesão (X/PL; Z/dL), ajudam à tomada de decisão sobre a estabilidade e
segurança da árvore.

Quadro 2. Dendrometria da árvore 3 e dimensões da lesão no ponto mais crítico.

Árvore Dendrometria (árvore) Dimensões da Lesão


X Y Z
Nº P d PL dL hL (perím) (altura) (raio) X/PL Z/dL
3 1.60 0.51 1.60 0.51 1.10 0.15 1.40 0.15 9% 29%

Os parâmetros indicados em cima estão de acordo com Mattheck e Bethge (2000) que
desenvolveram diversas observações relativas à biomecânica da árvore. Sempre que o rácio X/PL ou
Z/dL é superior a 35 %, começamos a entrar no nível de risco. Obviamente, há um conjunto de outros
factores que devem ser considerados na tomada de decisão e enquanto se desenvolve o diagnóstico
por VTA. Desses destacaríamos a dimensão da copa, a proximidade de outras árvores e
coalescência de copas e a qualidade das barreiras de compartimentação, sobretudo a Barreira 4
explicada no modelo de Alex Shigo, cuja resistência estrutura é elevada (Shigo, 1991).

Outro exemplo é a árvore 7, Com uma grande cavidade no tronco que teve origem no corte da
pernada principal. Esta tília tem uma baixa resistência estrutural e está ainda afectada por Armillaria
sp. Um fungo do solo que afecta as raízes e colo e podridões invasivas difíceis de travar (Figura 20).

300
Luís M Martins

A falta de segurança leva a recomendar o seu ABATE urgente.

Figura 20. Cavidade na árvore 7 e sinais de Armillaria sp.

Condição Global das árvores

Apresenta-se de seguida a condição global das árvores, depois de reunida toda a informação, quer
das observações por VTA, quer dos parâmetros resultado das medições das lesões.

Quadro 3. Condição global das árvores

Condição global Número da tília Total

Boa 35, 36 2 (5.6 %)

Razoável 1, 4, 5, 9 4 (11.1%)

Débil 2, 3, 6, 17, 20, 21, 23, 28, 29, 30, 31, 33 12 (33.3 %)

Muito débil 12, 15, 22, 25, 26, 34 6 (16.7%)

Em risco estrutural (ABATE) 7, 8, 10, 11, 13, 14, 16, 18, 19, 24, 27, 32 12 (33.3%)

Total 36 (100%)

301
Luís M Martins

Quadro 4. Condição global das árvores, de acordo com a numeração sequencial ao longo da
rua.

Nº Arv. Condição Nº Arv. Condição Nº Arv. Condição

1 Razoável 13 ABATE 25 Muito Débil


2 Débil 14 ABATE 26 Muito Débil
3 Débil 15 Muito Débil 27 ABATE
4 Razoável 16 ABATE 28 Débil
5 Razoável 17 Débil 29 Débil
6 Débil 18 ABATE 30 Débil
7 ABATE 19 ABATE 31 Débil
8 ABATE 20 Débil 32 ABATE
9 Razoável 21 Débil 33 Débil
10 ABATE 22 Razoável 34 Muito Débil
11 ABATE 23 Débil 35 Boa
12 Muito Débil 24 ABATE 36 Boa

Intervenções

Neste ponto foram seriadas as árvores, consoante a prioridade de intervenção. Ou seja, primeiro as
que necessitam de uma intervenção urgente (Prioridade Máxima – nível 1), devendo actuar-se no
prazo de um a dois meses, por se encontrarem num condição perigosa e nas que deve haver
intervenção no repouso vegetativo (Quadro 5).

Quadro 5. Agrupamento das árvores de acordo com a intervenção e prioridade

Intervenção Máxima prioridade (1) Prioridade 2 a 3


ABATE (12 árvores). 7, 8, 10, 11, 13, 14, 16,
18, 19, 24, 27, 32
Reduzir ligeiramente a altura da copa; . Todas, excepto a 9, 35 e 36
retirar ramos adventícios em excesso.

Limpeza e drenagem de cavidades . Todas, excepto a 9, 35 e 36

Controlar térmitas e outros insectos de . Todas, excepto a 9, 35 e 36


cavidades e cancros.

Cortar ramos secos ou apodrecidos. . Todas, excepto a 9, 35 e 36

Pincelar com cal apagada. .9

302
Luís M Martins

CONCLUSÕES

Este trabalho permitiu concluir que os cancros e cavidades que condicionam agora a segurança das
árvores, tiveram origem em podas. Estas não atenderam à arquitectura natural das copas e ao tentar
contrariar o desenvolvimento das tílias só contribuíram para a sua grande fragilidade.
Assim, contrariamente ao que é comummente aceite, a poda não é necessariamente uma boa
prática. Sobretudo quando falamos de árvores velhas. Contribui na maioria das vezes, para uma
resposta no imediato (dois anos seguintes), mas rapidamente surgem cancros de fungos oportunistas
que afectam estas árvores já com uma baixa capacidade de defesa, acelerando o seu declínio.
O presente estudo embora pretendesse a análise específica das condições das árvores em maior
risco, tentou explicar das causas de declínio com a devida fundamentação técnica. Ao mesmo tempo
propõe uma metodologia de análise e de boas práticas em arboricultura.
Neste campo da pedagogia, pensamos, que também os objectivos referidos na Introdução deste
trabalho, foram conseguidos. Como aspecto final, não deixa de ser triste a recomendação de tantas
plantas para abate, quando a génese da fitopatologia é a protecção, manutenção e defesa da árvore.
A protecção do homem impera aqui como prioridade, mostrando mais uma vez o sentido egoísta
perante a natureza que se vai tentando moldar aos caprichos do domínio de uma espécie que,
presentemente é dominante, mas com uma história na Terra bem mais curta.

Agradecimentos
Agradecemos à Câmara Municipal de Peso da Régua pela disponibilização dos meios e logística
necessária ao diagnóstico, aspecto que foi conseguido pelo apoio e colaboração do Eng. Manuel
Saraiva. Agradecemos também ao Sr. António Fonseca pela boa ajuda nos trabalhos de campo.

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MANION, P. D. 1991. Tree Disease Concepts Prentice-Hall Inc.
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Arboricultural Journal 24: 307-326
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Congreso ISA Europeo y V Espafiol de Arboricultura: Ciudades Arboladas para ei Siglo XXT —
Trees in Towns for the XXI Century. Asociación Espafiola de Arboricultura. Valência.
RINN, F. 1994. Resistographic inspection of construction timber, poles and trees. Micro drillings for
detection and evaluation of decay, wood quality and tree growth. Comunicação para a
conferência Proceedings of Pacific Timber Engeneering Conference. PTCE. Gold Coast.

303
Luís M Martins

RODRIGUES, R. M. O. 2004. Construções antigas de madeira: experiência de obra e reforço


estrutural. Dissertação de Mestrado, Universidade do Minho, 287 pp.
SOUSA, E. M. R. 1990. O Declínio da Floresta. Trabalho de síntese de acesso à categoria de
Assistente de Investigação Instituto de Investigação Agrária, Estação Florestal Nacional, 54 pp.
SOUSA, E. M. R., M. N. SANTOS, M. C. VARELA E J. HENRIQUES. 2007. Perda de vigor dos
Montados de Sobro e Azinho: Análise da situação e perspectivas (Documento síntese). Instituto
Nacional de Recursos Biológicos, IP, Estação Florestal Nacional, Oeiras, 91 pp.
SHIGO, A. L. 1991. Arboricultura moderna. Touch trees. Durham, New Hampshire, 165 pp.
ROLLÁN, M. G. 2001. Manual para buscar setas. Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentation,
Madrid, 454 pp.

304
Luís M Martins

Anexo – Ficha de campo

1. LOCALIZAÇÃO E DENDROLOGIA
Arv. Nº Coordenadas X; Y Data
Rua (Praça; Jardim; Rotunda, etc.) Altitude Hora início
Nome comum: N. Científico:

2. PARÂMETROS DENDROMÉTRICOS (m)


Diâmetro (d) Altura (H) Altura 1ºs ramos (hR) Diâm. Copa (DC)
Perímetro (P)

Idade < 10 10 - 20 20 - 50 50 - 70
aproximada: 70 - 100 > 100 Anos

3. AMBIENTE e FACTORES ABIÓTICOS


3.1. Envolvente à árvore (uma opção); 3.2. Projecção da copa (uma opção)
Parque Alameda Estacionamento Junto a edifício
Isolada Bosque Mulching Relvado
Jardim Calçada

3.3. Factores de Predisposição (FP); 3.4. Factores de Indução (FI)


Sem Fact. Lim. Idade Podas anteriores Compactação
Outras árvores Valas Tubagens Rede eléctrica
Caldeira Edifício Desaterro Aterro
Toxic. do solo Rega Nível freático
0 = FA sem limitação; 1 = FA Ligeiro; 2 = FA evidente; 3 = FA Muito grave

4. FITOSSANIDADE
0 = Sem sintomas; 1 = Sintomas ligeiros; 2 = Sintomas evidentes; 3 = Sintomas muito graves;
4 = Estragos severos e irreversíveis. 4 = Árvore morta  Ponto 9

4.1 Sistema radicular e colo


Compactação Fungos Podridão do colo
Caldeira Insuficiente Média: _______

4.2 Tronco
Cavidades Codominância Vandalismo Cancros
Fungos Pragas Média: _______

4.3 Ramos principais


Cancros Secos ou partidos Mal Conformados Fungos
Pragas Codominância Média:_______

4.4 Ramos secundários e terminais


Cancros Secos ou partidos Codominância Fungos
Pragas Média: ______

4.5 Folhas
Cloroses Necroses Lepras Afídios
Média: ______

4.6 Copa
Dieback Copa desequilibrada
Média: ______

305
Luís M Martins

5. CLASSE DE ESTRAGO
(4.1+4.2+4.3+4.4+4.5+4.6) / 6 = __________________ (Reg. Europeu 1696/87)

6. LESÕES
Cancro (Can); Cavidade (Cav) Codominância (Cod); Prodridão do colo (Pod_colo)
Dimensões: (P0, P2.60, h1, h2, X1, X2, Z1, Z2); Exp, PL, hL, X, Y, Z.

7. AGENTES ACELERADORES
Identificação dos agentes bióticos

8. EQUIPAMENTO
Martelo de Borracha Penetrómetro Vareta extensível
Resistógrafo Machado Formão

9. INTERVENÇÕES
CIRURGIA ÁRVORES Corte ramos Secos Corte ramos ladrões
C. r. codominantes Poda de Formação Cortar tocos
Limpar cavidade Drenar cavidade Retirar tutor
Redução rega ABATE

10. PRIORIDADE DE INTERVENÇÃO


1 2 3 4 (1- Mínima, 2- Média, 3- Alta, 4- Urgente)

11. AVALIAÇÃO EXTRA


Não Patrimonial  12 Árvore em risco

12. AVALIAÇÃO PATRIMONIAL


Valor base (Vb) = . € Estado sanitário (Els) = . F. Extrínsecos (Ele) =
F. Intrínsecos (Eli) = Vf = Vb.Els. (1+Ele+Eli)
Ponderações: Els (0-2); Ele (0-2.5); Eli (0-0.5) Valor Patrimonial =
__________ €

AMOSTRAS S / N FOTOGRAFIAS S / N PRÓXIMA AVALIAÇÃO Mês / Ano

RELATÓRIO S / N FIM DA DIAGNOSE Hora

306
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Segurança de árvores: o caso da Escola Francesa, Porto

Luís M Pontes Martins1 e Paulo Travassos2


1
Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista; Centro de Investigação e de Tecnologias
Agro-Ambientais e Biológicas (CITAB); UTAD, Vila Real
2
Laboratório de Ecologia Aplicada; Centro de Investigação e de Tecnologias Agro-Ambientais e Biológicas
(CITAB); UTAD, Vila Real

e-mail: lmartins@utad.pt

Resumo. A Floresta Urbana está habitualmente condicionada por factores abióticos adversos. No
solo, são comuns a impermeabilização, reduzido volume, compactação, interrupção do ciclo de
nutrientes, baixos teores em matéria orgânica e nutrientes, perdas de micorrizas ou deposição de
poluentes. A copa é também condicionada, pelo excesso ou carência de luz, pela poluição
atmosférica ou falta de espaço devido a outras árvores ou edifícios. A esses factores acrescem
as intervenções de formação e manutenção inadequadas.
Assim, o envelhecimento da Floresta Urbana é habitualmente precoce, o qual é também
acelerado pelos agentes bióticos, sobretudo quando os Factores de Predisposição e de Indução
são intensificados. A fronteira entre intervir em árvores velhas, com podas, por exemplo, criando
portas de entrada a fungos patogénicos, e os aspectos relacionados com a segurança pode por
isso, ser bastante estreita.
É pois muito importante a avaliação criteriosa de cada árvore, de modo a que as acções sejam
pouco intrusivas mas que contribuam para a melhor preservação, sendo a avaliação fitossanitária
e da segurança peças essenciais.
Este estudo de fitossanidade e segurança foi realizado na Escola Francesa – Porto. Na avaliação
da segurança são descritos os factores abióticos e bióticos relacionados com o declínio, a
dendrometria e a dimensão de lesões, determinada com um resistógrafo.
A análise possibilitou inferir sobre a estabilidade, atendendo às relações altura/diâmetro;
dimensão dos cancros ou cavidades; equilíbrio da copa e nível de ataque dos agentes
aceleradores do declínio. Isso permitiu inferir e preconizar as intervenções mais adequadas. Das
18 árvores estudadas seis estavam numa condição muito débil, logo merecendo uma atenção
redobrada e três foram abatidas.
Palavras-chave: Floresta Urbana, factores abióticos, estabilidade.

Abstract. The development of Urban Forest is usually limited by adverse abiotic factors. In soil,
are common the reduced volume, compaction, low levels of organic matter and nutrients, loss of
mycorrhizal fungi or deposition of pollutants. The canopy is frequently conditioned by the excess
or lack of light, air pollution or lack of space, due to other trees or buildings. Also, inadequate
maintenance is very common.
Those factors intensify the tree fragility to biotic agents. By this sense, it is very important the
careful evaluation of trees because it can help to improve the tree longevity and their safety.
The study of plant health and safety for public was conducted in the Escola Francesa - Porto. The
methodology describes the Visual Tree Assessment (VTA) and the use of specific equipment to
help the diagnostic.
The analysis could recognize the trees stability, given the by the relationship between height and
diameter and by the dimension of wood decay or cavities. This allowed recognize the most
appropriate interventions. On the 18 trees studied, six were in a very weak condition, deserving
careful attention immediately and three were recommended to be removed.

Key-words: Urban Forest; abiotic factors; safety.


Luís M Martins, P. Travassos

INTRODUÇÃO

As árvores ornamentais estão sujeitas a um conjunto de agressões e dos vários constrangimentos de


origem humana, destacaríamos as más intervenções de poda ou a excessiva compactação do solo,
que contribuem frequentemente para aumentar a fragilidade, reduzir a resiliência e a sua capacidade
de defesa.
É pois muito importante a avaliação criteriosa de cada árvore, de modo a que as ações sejam pouco
intrusivas mas que contribuam para a melhor preservação do património arbóreo, sendo a avaliação
fitossanitária e da segurança peças essenciais para a gestão eficaz dos recursos disponíveis. Neste
sentido, foi realizado o presente estudo de estabilidade das árvores dos espaços verdes da Escola
Francesa – Porto. São árvores com idade avançada (mais de 80 anos) e algumas delas estão em
franca condição de declínio, pelo que durante o trabalho de avaliação se procurou determinar as
causas e preconizar intervenções que contribuam para melhorar o valor estético e promover a
segurança.
Neste documento descreve-se a metodologia usada – Material e Métodos -, onde se incluem as
características do local avaliado, e alguns aspetos de natureza teórica importantes para os métodos
de observação.
Na Discussão dos Resultados analisam-se os constrangimentos que ajudam a explicar o declínio.
Apontam-se por isso os Fatores de Predisposição, de Indução e Aceleradores, procurando-se
explicar o quadro que levou à gradual fragilidade das árvores.
A análise permitiu estimar a segurança de cada árvore, tendo sempre em consideração os
parâmetros dendrométricos e as dimensões das lesões.
No final apresenta-se um resumo sob a forma de dois quadros,
15 relativo à condição global das árvores

bem como as propostas de intervenção considerando prioritário o abate de 3 árvores pela sua
condição de risco.

MATERIAL E MÉTODOS

As árvores deste diagnóstico foram avaliadas em fevereiro de 2012. Estão instaladas nos espaços
verdes da Escola Francesa (Porto) que confronta a oeste com a Rua de Gil Eanes e as restantes
confrontações com os terrenos da Fundação de Serralves (Figura 21).
Cada uma das 18 árvores foi identificada, com o número, data de avaliação, gravados numa etiqueta
plastificada. Esta identificação além de referenciar os exemplares durante os trabalhos de campo e
ao longo do estudo, permite também reduzir eventuais erros no momento de aplicação das
intervenções.

308
Luís M Martins, P. Travassos

ESCOLA
FRANCESA
F UNDAÇÃO
DE SERRALVES

Figura 21. Vista aérea da Escola Francesa e limites com a Fundação de Serralves (Gogle earth,
2012).

Dendrologia e Parâmetros dendrométricos

Na avaliação das árvores referenciadas consideraram-se os seguintes parâmetros dendrométricos:


- O perímetro à altura do peito (P), padronizado para 1.30 m, convertido posteriormente para o
diâmetro à mesma altura (d) (Marques et al., 2005). Esta variável é sempre considerada na
dendrometria da árvore pois é de fácil obtenção e correlaciona-se com parâmetros como por exemplo
a altura, a idade, ou o volume.
- O diâmetro médio da copa (Dc) determinado com o hipsómetro eletrónico Vertex ou nalguns casos
com recurso a uma fita métrica de 20 m. Neste parâmetro estima-se visualmente a projeção vertical
da extremidade dos ramos, medindo-se até ao outro extremo, numa direção horizontal que passa
junto ao tronco. Para este trabalho foram efetuadas duas leituras em direções perpendiculares,
considerando-se depois a média aritmética entre as duas leituras.
- A altura da árvore (H) e a altura da primeira inserção dos ramos (Hr) determinadas com recurso a
um hipsómetro eletrónico (mod. Vertex Haglof) com 0.1 m de precisão.
- O volume da copa (Vc) determinado como se de um cone perfeito se tratasse (havendo portando
sobrestima na sua avaliação) aplicando a expressão:

Vc= 1/3.π.(Dc/2)2.Hc (1)

Onde: (Dc) é o Diâmetro da copa e (Hc) a altura da copa.

309
Luís M Martins, P. Travassos

Ambiente e Fatores Abióticos

Para uma avaliação fitossanitária fidedigna, a caraterização do ambiente próximo a cada uma das
árvores é determinante para compreender eventuais perturbações fisiológicas das árvores. Nesse
sentido, na análise de cada árvore, e na área de projeção da sua copa (Pc), foram considerados os
diferentes aspetos que caracterizam a envolvente próxima (E) e que influenciam positiva ou
negativamente cada uma das árvores.
Um dos fatores abióticos importantes considerados neste estudo é a compactação do solo. Este
parâmetro foi avaliado através da utilização do Penetrómetro Eijkelkamp®, na área de projeção da
copa da maioria das árvores estudadas. A resistência à penetração no solo foi medida exercendo
sobre ele uma determinada pressão sobre uma área conhecida, com auxílio do penetrómetro, cujo
princípio se baseia na conjugação entre a resistência do penetrómetro (Qp) e a resistência à
penetração da raiz (Qr).

Qpr = Fpr/Apr
(2)

Onde:
F é a força necessária à penetração do cone do penetrómetro (p) ou componente da força axial de
avanço da raiz (r),
A representa a área transversal do cone do penetrómetro (p) ou área transversal posterior à zona de
elongação da raiz (r).

A impedância mecânica está usualmente associada a valores elevados de densidade do solo devido
à ausência de fendas no solo, a ausência ou restrição do teor em oxigénio (usualmente associado ao
excesso de água), o solo seco e temperaturas muito altas ou muito baixas.
As condições químicas do solo podem também ser muito limitantes quando se registam elevadas
concentrações de alumínio (usualmente associadas a valores baixos de pH), baixa quantidade de
nutrientes e fitotoxicidade química.

Fitossanidade

A avaliação da fitossanidade obedeceu ao método vulgarmente designado no Reino Unido por VTA
(Visual Tree Assessment). O método desenvolvido por Mattheck e Breloer (1994), baseia-se no
axioma da tensão constante isto é, no facto das árvores crescerem mantendo uma tensão uniforme
em toda a sua estrutura. Quando este modelo é alterado por um qualquer defeito, agressão biótica ou
abiótica, a planta tende a restabelecer o equilíbrio com a deposição de material reparador (Shigo,
1991).
Sinais de doenças (carpóforos ou outras frutificações, micélio, etc.) insetos nocivos e mesmo material
vegetal afetado foram considerados para um estudo mais atento em laboratório. Para a identificação
dos agentes patogénicos em laboratório foram utilizadas chaves dicotómicas e bibliografia da
especialidade (Rollán, 2001; Bom, 1987).

310
Luís M Martins, P. Travassos

No auxílio ao diagnóstico foi utilizado o resistógrafo IML Resi F400-S® que permite a quantificação da
resistência apresentada pela madeira à perfuração de uma broca a velocidades de avanço e rotação
constantes (Rinn, 1994). Este método mede a densidade do lenho através da determinação da
quantidade de energia necessária para abrir o orifício, permitindo a avaliação das propriedades
mecânicas e diagnosticar defeitos tanto em árvores vivas como em estruturas de madeira (Mattheck e
Bethge, 2000; Moore, 2000)., cujos resultados são reproduzidos graficamente em folha de papel
graduado. A utilização deste resistógrafo produz resultados muito satisfatórios relativamente à
avaliação do crescimento, deteção de podridões, ataque de fungos ou insetos, avaliação de níveis de
densidade e localização de fendas e espaços ocos.
Ainda durante o diagnóstico foram utilizados diferentes ferramentas (e.g. binóculos, martelo de
borracha, formão, machada, lupa, canivete) que permitiram auxiliar na avaliação da condição externa
e interna das árvores.

Dimensões das Lesões

Para cada uma das árvores foi realizada a avaliação das dimensões das lesões (cancros, cavidades
ou codominâncias) para determinar corretamente a sua extensão e gravidade. Para a determinação
das dimensões consideram-se os três eixos cartesianos, i.e., X, Y e Z (Figura 22) determinando-se a
gravidade da lesão (L) em função do Perímetro do tronco (PL) a uma dada altura de L (hL), em que L
representa o centro da lesão ou seja, o local de maior risco de fratura.

Figura 22. Representação esquemática das dimensões das lesões.

Biomecânica da árvore

Para a avaliação da estabilidade, i.e. o Momento de Fratura (MF), Mattheck e Bethge (2000)
simplificaram as variáveis baseando-se apenas no Raio da árvore ou ramo (R), onde se prevê que
ocorra a fratura. Efetivamente, o momento de uma força em relação a um ponto de um eixo, é
descrito por um vetor posição, sendo a grandeza vetorial obtida através do produto vetorial entre o
vetor posição e o vetor força:

311
Luís M Martins, P. Travassos


M
 
Eixo de

r

F
M  r .F.sen (3)
rotação )

O raio (R) pode ser determinado medindo o respetivo Perímetro (P), sendo P = 2π. R. Assim, O
máximo esforço suportado pela árvore irá então depender da Tensão de Rotura do lenho (σF),
variável consoante a espécie. Logo, o Momento de Fratura (MF) pode ser determinado pela equação
em baixo.

M F   F . .R 3 (4)
4
Onde:
MF = Momento de Fratura
σF = Tensão de Rotura
R = Raio do lenho

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

No Quadro 6 e Quadro 7 apresentam-se os resultados relativos aos parâmetros dendrométricos e de


compactação do solo.

Quadro 6. Parâmetros dendrométricos das árvores e relação entre a altura e o diâmetro (H/d).
O parâmetro obtido na relação H/d encontra-se compreendido entre [0-39] árvore estável, [40-
50] árvore considerada com algum grau de instabilidade e >50 árvore instável (Mattheck e
Bethge, 2000).

Nº Árv. Espécie P d Dc1 Dc2 Dc Hc Vc Hr H H/d


m m m m m m m3 m m m
1 Pinus pinaster 2,30 0,73 8,4 8,3 8,4 8,0 145 21,2 29,2 40
2 Pinus pinaster 1,80 0,57 7,0 7,0 7,0 6,3 80 17,9 24,2 42
3 Pinus pinaster 1,63 0,52 5,5 5,6 5,6 4,1 33 14,1 18,2 35
4 Pinus pinaster 1,77 0,56 7,0 6,9 7,0 2,8 35 11,2 14,0 25
5 Pinus pinaster 1,65 0,53 4,7 4,6 4,7 3,6 20 12,3 15,9 30
6 Pinus pinaster 1,78 0,57 6,4 6,3 6,4 8,9 93 18,8 27,7 49
7 Pinus pinaster 1,64 0,52 10,4 10,4 10,4 7,1 199 18,4 25,5 49
8 Pinus pinaster 2,00 0,64 10,6 10,7 10,7 8,9 262 17,6 26,5 42
9 Pinus pinaster 2,20 0,70 11,0 11,4 11,2 4,0 130 22,5 26,5 38
10 Pinus pinaster 2,17 0,69 7,4 7,4 7,4 5,8 82 16,2 22,0 32
11 Pinus pinaster 1,65 0,53 1,5 4,5 3,0 7,0 16 22,5 29,5 56
12 Pinus pinaster 2,36 0,75 3,3 8,7 6,0 9,8 91 17,2 27,0 36
13 Eucalyptus globulus 2,82 0,90 7,0 6,9 7,0 21,0 263 6,5 27,5 31
14 Eucalyptus globulus 2,58 0,82 9,7 10,1 9,9 21,7 551 5,5 27,2 33
15 Eucalyptus globulus 3,74 1,19 17,6 18,4 18,0 25,5 2141 2,5 28,0 24
16 Eucalyptus globulus 2,86 0,91 13,8 13,8 13,8 34,8 1718 3,5 38,3 42
17 Eucalyptus globulus 2,53 0,81 15,0 15,0 15,0 31,0 1808 6,5 37,5 47
18 Populus nigra 3,08 0,98 8,3 8,2 8,25 22,0 388 2,5 24,5 25

312
Luís M Martins, P. Travassos

Quadro 7. Valores médios da compacidade do solo (MPa).

Nº Árv. Espécie Sob coberto Compactação


N/cm2 Mpa Qualitativa
1 Pinus pinaster Terra/ervado 200 2,0 Normal
2 Pinus pinaster Terra/ervado 300 3,0 Médio/Alto
3 Pinus pinaster Terra/ervado 150 1,5 Bom
4 Pinus pinaster Terra/ervado 200 2,0 Normal
5 Pinus pinaster Terra/ervado 150 1,5 Bom
6 Pinus pinaster Terra/ervado 150 1,5 Bom
7 Pinus pinaster Terra/ervado 150 1,5 Bom
8 Pinus pinaster Saibro 100 1,0 Bom
9 Pinus pinaster Saibro 150 1,5 Bom
10 Pinus pinaster Saibro 450 4,5 Alto
11 Pinus pinaster Saibro 650 6,5 Alto
12 Pinus pinaster Saibro 750 7,5 Alto
13 Pinus pinaster Saibro 650 6,5 Alto
14 Pinus pinaster Saibro 500 5,0 Alto
15 Eucalyptus globulus Relvado 200 2,0 Normal
16 Eucalyptus globulus Relvado 300 3,0 Médio/Alto
17 Eucalyptus globulus Terra -
18 Populus nigra Relvado 150 1,5 Bom

Para uma melhor análise global considerámos os fatores de Predisposição, Indução e Aceleradores
que respeitam os pressupostos do modelo de Manion que de um modo geral, tem sido utilizado para
explicar o fenómeno da perda de vigor de alguns ecossistemas florestais (Manion, 1991, Cabral e
Sardinha, 1992; Sousa, 1990). Considerando que existe um conjunto variado de fatores que poderão
estar na origem do declínio das árvores e tendo em conta que as árvores estudadas se encontram
dentro do perímetro de uma escola, e incluídas na área verde do espaço de recreio, as condições de
segurança foram avaliadas de acordo com critérios mais estreitos.

Fatores de Predisposição

Consideram-se como Fatores de Predisposição aqueles que atuam a longo prazo, designadamente
condições climáticas adversas, perturbações no solo, ou solos de baixo fundo de fertilidade, poluição
atmosférica, genótipo de pior qualidade, etc. Estes fatores tem repercussões no desenvolvimento da
árvore a longo prazo e condicionam o crescimento, a capacidade de defesa e indubitavelmente a
segurança dos espaços.
Estes fatores contribuem para a fragilização das árvores, havendo desse modo uma perda gradual da
resiliência (Sousa et al., 2007), contribuindo para a insegurança dos espaços sobretudo se instaladas
em locais sensíveis. De acordo com as árvores analisadas nos espaços da Escola Francesa,
destacam-se fatores como:

Idade das árvores


De um modo geral os exemplares considerados têm mais de 80 anos. Essa condição baixa a sua
resiliência e capacidade de defesa contra agentes bióticos (sobretudo fungos e insetos) ou abióticos
(e.g. queima por geadas ou por excesso de insolação).

313
Luís M Martins, P. Travassos

Interrupção do ciclo de nutrientes


A remoção da folhada durante o outono concorre para a interrupção da incorporação de matéria
orgânica no solo e para a lenta renovação de nutrientes.

Fatores de Indução

Estes fatores são considerados como elementos da doença pelo seu papel interventivo e
condicionante sobre o desenvolvimento do agente biótico ou do hospedeiro. No caso estudado foram
considerados os seguintes fatores:
Compactação/Aterros
A compactação do solo depende essencialmente da sua estrutura, textura, quantidade de água e teor
em matéria orgânica, e constitui uma das limitações mais comuns ao crescimento da raiz. De facto, o
crescimento da raiz é contínuo quando existe uma boa porosidade (300-500 µm) normalmente
associada a uma baixa compactação.
O diagnóstico permitiu registar uma subida do nível do solo, tanto nos pinheiros 1 a 12, como nos
eucaliptos 13 a 15 (Figura 23).
A alteração do perfil do solo causa constrangimentos às árvores por impedir a respiração das raízes
pelas lenticelas (pequenas aberturas que facilitam as trocas gasosas nas raízes e caules
suberificados), assim como produzem efeitos negativos a capacidade de defesa da árvore,
designadamente prejudicando a associação com fungos micorrízicos.
Como a maioria das raízes são superficiais (Figura 23), os aterros ou desaterros causam importantes
desequilíbrios devido às perdas na captação de água e nutrientes, e a árvore pode sucumbir devido a
fatores abióticos (e.g. temperaturas muito altas em ambiente seco) ou tornar-se muito suscetível a
agentes bióticos (e.g. fungos e pragas).

Figura 23. À esquerda aterro com cerca de 50 cm e à direita, a tracejado, o nível anterior do
solo.

314
Luís M Martins, P. Travassos

Desaterros
Os desaterros aumentam também a fragilidade das árvores por as suas raízes ficarem expostas e
bastantes vulneráveis a fatores que conduzem à destruição do seu sistema radicular (e.g. passagem
de peões).
Os trabalhos de avaliação permitiram registar a exposição de parte do sistema radicular dos pinheiros
identificados com os números 7 a 12.

Figura 24. Raízes de pinheiro expostas pela erosão, condição que é agravada pela passagem
de pessoas.

Para a reparação dos efeitos da erosão na envolvência do caminho pedonal pode recorrer-se à
Engenharia Natural, i.e., com a construção de uma escada em madeira (Figura 25) que poderá ter a
sua estrutura assente em terra vegetal e com apenas a última camada superior, dos degraus, assente
em saibro ou areia grossa.

Figura 25. Utilização de escadas em madeira.

315
Luís M Martins, P. Travassos

Fatores de Aceleração

Os Fatores de Aceleração ocorrem devido à perda gradual de vigor das árvores, seguida de uma
diminuição das suas capacidades de defesa desenvolvendo-se assim as condições para a instalação
de agentes bióticos, como último elo de uma cadeia de fatores desfavoráveis. Estes agentes, ao
atuarem pela degradação dos tecidos, alteram a biomecânica e aceleram a instabilidade da árvore,
provocando uma sintomatologia de declínio gradual, confundindo-se neste caso, com os efeitos dos
Fatores de Predisposição ou de Indução, ou então causar a morte da árvore em poucas semanas.
Durante os trabalhos de avaliação e diagnóstico foram detetados episódios de ataques de
processionária (Thaumetopoea pityocampa) nos pinheiros em anos anteriores, tendo este inseto, no
que respeita à fitossanidade das árvores em análise, contribuído para o seu maior enfraquecimento.
No diagnóstico dos pinheiros foram também observados alguns sinais do Cardimento-do-Pinheiro.
Este fungo ataca geralmente, o cerne dos pinheiros idosos, tanto da espécie Pinus pinaster como P.
pinea, causando por vezes estragos tão importantes na madeira que chega a ser desvalorizada em
50% ou mais.
Na fase inicial do ataque o cerne apresenta, em geral, uma cor avermelhada e a madeira exibe então,
possivelmente por conter um teor elevado em resina, um peso específico superior ao normal e até
mesmo uma maior resistência mecânica. É a fase do «ardido».
Só mais tarde o aspeto da podridão a que o fungo dá origem, dos tipos branca e alveolar, se torna
típico pela formação de pequenas bolsas ou alvéolos que, à medida que aumentam de número e
dimensão, vão diminuindo a resistência mecânica da madeira até a tornarem praticamente nula. É a
fase do «cardido».

Figura 26. Cardimento do pinheiro

316
Luís M Martins, P. Travassos

Fitossanidade e Segurança

A título de exemplo apresentamos a árvore 3 – pinheiro bravo – que apresentava um ápice bastante
inclinado. A copa é relativamente estreita, e começa a infletir para sul a partir de 8,4 m de altura como
consequência do processo de à competição com as outras árvores pela luz. O volume global da copa
(Vc) é de apenas 33m3 e não revelando problemas estruturais pela aplicação da relação entre a altura
e o diâmetro do tronco. Durante o estudo de fitossanidade não se registou a presença de
escolitídeos, no entanto com foram observados exsudados de resina no tronco, foi realizada uma
leitura com o resistógrafo IML Resi F400-S® que não revelou problemas estruturais no interior do
tronco (Figura 27).

BORNE
CERNE

CERNE

Densidade do lenho
Comprimento
Figura 27. Resistograma da árvore n.º 2. A densidade (y) do lenho é a normal para
( )o pinheiro

bravo.

A árvore 5 – pinheiro bravo - apresenta uma inclinação para Sul a partir da altura de 10.7m, e a sua
copa encontra-se muito inclinada para Poente pendendo sobre o edifício vizinho.
Durante o estudo fitossanitário não foram registados sinais de presença da processionária
(Thaumetopoea pityocampa) assim como não foram observadas galerias de escolitídeos (Ips spp.)
porém, foram observados sinais de Trametes pini (Xanthochrous pini) cuja infeção terá evoluído para
a fase do cardido, ou seja, terá já provocado elevadas perdas estruturais do lenho.
Atendendo aos aspetos estruturais (Figura 28) e fitossanitários registados, e ao natural crescimento
desta árvore, não se prevê a sua possível recuperação existindo um problema de estabilidade e do
risco de esta quebrar pelo tronco pelo que se aconselha o seu ABATE.

317
Luís M Martins, P. Travassos

Figura 28. Esquema mostrando as dimensões e estrutura da copa da árvore n.º 5.

CONCLUSÕES

Quando cai uma árvore ou um ramo de grandes dimensões, a maioria das vezes é consequência de
problemas radiculares ou do colo, das dimensões de cancros em profundidade, da existência de
cavidades ou de ramos codominantes (Mattheck e Bethge, 1998).
As árvores são muito estruturalmente resistentes a pequenas oscilações devido ao vento, porém
podem facilmente perder a sua capacidade de sustentação quando se encontram sujeitas a longas ou
pouco habituais exposições a ventos fortes. Na maior parte dos casos, nestas situações extremas, os
danos sofridos pelas árvores encontram-se escondidos no solo, tornando difícil o seu diagnóstico. De
facto, a realização de escavações localizadas geralmente não fornece informações relevantes, no
meio urbano, uma vez que as raízes, ao contrário do que é normal, não se desenvolvem em círculo,
mas sim pelos locais que conseguem aproveitar.
A quantificação exata da biomecânica das árvores, tendo em conta as várias condições existentes, é
difícil de conseguir. Não apenas devido às variáveis do local como também devido às diferenças
entre espécies e variabilidade na mesma espécie. Além disso as condições físicas e de reação do
solo são muito difíceis de observar e de quantificar por exemplo, quando a pedregosidade do solo é
desconhecida bem como a extensão e dimensão do sistema radicular. É no entanto, possível
estabelecer alguns limites baseados em modelos matemáticos e da resistência mecânica dos tecidos
das árvores (Mattheck e Bethge, 2000).
O desenvolvimento dos trabalhos de avaliação estrutural e de fitossanidade das 18 árvores
localizadas no perímetro do espaço da Escola Francesa – Porto, permitiram classificar a condição
global das árvores de acordo com os resultados obtidos, quer pelas observações por VTA, quer de
acordo com os parâmetros que foram obtidos pelas medições das lesões (Quadro 8).

318
Luís M Martins, P. Travassos

Quadro 8. Condição global das árvores

Condição global Número da árvore Total


Boa 13 3 (5.6%)
Razoável 1, 2, 3, 4, 14, 15 6 (33.3%)
Débil 8, 16 2 (11.1%)
Muito débil 6, 7, 9, 10, 11, 12 6 (33.3%)
Em risco estrutural (ABATE) 5, 17, 18 3 (16.7%)
Total 18 (100%)

Com base na análise da condição global de cada uma das árvores estudadas, foi elaborada uma lista
de intervenções de acordo com a prioridade da intervenção (Quadro 5). O estudo permitiu garantir
uma melhor segurança do parque da Escola e de certo modo a renovação da estrutura verde por
indivíduos mais jovens e assim melhor defendidos das agressões do meio.

Quadro 9. Agrupamento das árvores de acordo com a intervenção e prioridade

Intervenção Nº DE ÁRVORE
 ABATE (3 árvores). 5, 17, 18
 Redução da erosão do solo e melhoria da condição das raízes 2, 3, 6, 7, 8 , 9, 10, 11, 12
usando processos de estabilização de Engenharia Natural
 Corte de ramo a friccionar o tronco 2
 Nova avaliação após o abate da árvore 5 1 a 12

AGRADECIMENTOS

Endereçamos os nossos melhores agradecimentos:

À Engª. Luísa Neves da empresa CINCLUS Project Manager por toda a disponibilidade apoio
logístico à realização dos trabalhos de campo.
Ao Prof. Tom de Gomez da Universidade do Arizona (EUA) pela colaboração dos trabalhos de campo
e elucidação de diversos aspectos com vista à melhor compreensão do declínio das árvores.
Ao Prof. João Cabral do Laboratório de Ecologia Aplicada da Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro por toda a disponibilidade de meios e contactos protocolares com a Escola Francesa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOM. M. 1987. Guia de campo de los Hongos de Europa. Ediciones Ómega, Barcelona, 351 pp.
MANION, P. D. 1991. Tree Disease Concepts Prentice-Hall Inc.
MARQUES, C. P., LOPES, D., FONSECA, T., 2005. Apontamentos de Dendrometria, UTAD. 165 pp.

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Luís M Martins, P. Travassos

MATTHECK, C. AND K. BETHGE. 1998. The mechanical survival strategy of trees. Arboricultural
Journal 22: 369-386.
MATTHECK, C. AND K. BETHGE. 2000. Simple mathematical approaches to tree biomechanics.
Arboricultural Journal 24: 307-326
MATTHECK, C. AND H. BRELOER. 1994. Field guide for visual tree assessment (VTA). Arboricultural
Journal 18: 1-23.
MOORE, W. 2000. The combined use of the resistograph and the shigometer for accurate mapping
and diagnosis of the internal condition of woody support organs in trees. Ponencias dei IV
Congreso ISA Europeo y V Espafiol de Arboricultura: Ciudades Arboladas para ei Siglo XXT —
Trees in Towns for the XXI Century. Asociación Espafiola de Arboricultura. Valência.
RINN, F. 1994. Resistographic inspection of construction timber, poles and trees. Micro drillings for
detection and evaluation of decay, wood quality and tree growth. Comunicação para a
conferência Proceedings of Pacific Timber Engeneering Conference. PTCE. Gold Coast.
SOUSA, E. M. R. 1990. O Declínio da Floresta. Trabalho de síntese de acesso à categoria de
Assistente de Investigação Instituto de Investigação Agrária, Estação Florestal Nacional, 54 pp.
SOUSA, E. M. R., M. N. SANTOS, M. C. VARELA E J. HENRIQUES. 2007. Perda de vigor dos
Montados de Sobro e Azinho: Análise da situação e perspectivas (Documento síntese). Instituto
Nacional de Recursos Biológicos, IP, Estação Florestal Nacional, Oeiras, 91 pp.
SHIGO, A. L. 1991. Arboricultura moderna. Touch trees. Durham, New Hampshire, 165 pp.
ROLLÁN, M. G. 2001. Manual para buscar setas. Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentation,
Madrid, 454 pp.

320
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Estudo da biodiversidade arbórea e arbustiva da Ecopista do Dão

H. Matos1, C. Costa1 e L. Nunes1,2,3*

1: Escola Superior Agrária de Viseu (ESAV) / Instituto Politécnico de Viseu (ISPV), Viseu, Portugal.
2: CITAB, Universidade de Trás-os-Montes Alto Douro (UTAD), Vila Real, Portugal.
3: CEABN, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, Portugal.

e-mail: {Leónia Nunes}, leonianunes@gmail.com

Resumo: A preservação da diversidade biológica é fundamental para o funcionamento dos


ecossistemas e para o equilíbrio de todo o planeta. A perda de biodiversidade pode levar à
redução da produtividade dos ecossistemas e de um conjunto de bens e serviços fornecidos por
estes. Assim, torna-se importante avaliar e monitorizar a biodiversidade dos ecossistemas para
aferir estratégias de diminuição da perda da biodiversidade. Este trabalho teve como objetivo o
estudo da biodiversidade dos estratos arbóreo e arbustivo da Ecopista do Dão. A Ecopista do
Dão constitui um corredor verde de grande interesse ecológico e paisagístico e de grande
utilização pela comunidade envolvente. Procedeu-se ao levantamento florístico das espécies
presentes e à determinação dos índices de diversidade ao longo de uma faixa definida na
ecopista, em 7 tipologias de vegetação predominante (‘Pinhal’, ‘Carvalhal’, ‘Acácias’,
‘ArvAgricFlor’, ‘Eucaliptal’, ‘Robínias’, ‘AmSal’). Foram instaladas parcelas de forma aleatória em
cada uma das tipologias de vegetação, num total de 36 parcelas de amostragem cujo
levantamento se efetuou através do método do quadrado (25m x 25m). No conjunto das 36
parcelas foram identificados um total de 7250 indivíduos pertencentes a 30 espécies diferentes.
Na globalidade da Ecopista, verificou-se que a biodiversidade existente nos estratos arbóreo e
arbustivo é elevada. Com base em índices de diversidade verificou-se que parcelas com pouca
diversidade têm pouca representatividade na área de estudo estabelecida. A partir da análise de
componentes principais não se registou nenhuma relação entre qualquer das características do
local consideradas com as espécies encontradas (declive, exposição, fatores topográficos, % de
cobertura do solo). O mais provável será que a variação da biodiversidade da Ecopista se deva a
fatores antropogénicos, como práticas culturais, quer florestais, quer agrícolas, à introdução de
espécies exóticas invasoras ou à alteração da paisagem levada a cabo pela urbanização.
Palavras-chave: diversidade biológica, espécies vegetais, abundância, dominância, índices

Abstract: Biodiversity is essential for ecosystems and earth equilibrium. The lost of biodiversity
might reduce ecosystems productivity, as well as, natural goods and services. Therefore, to
monitor and assess ecosystems biodiversity it is necessary to establish conservation and
improvement strategies. The present work is a first step to monitor the vegetal Dão trail (Ecopista
do Dão) biodiversity. Dão trail is a green corridor with major ecological and landscape interest, for
the local community. The local vegetation (tree and shrub levels) was assessed, using a quadrat
sampling method, and diversity was determined. Vegetation typologies were defined (‘Pinhal’,
‘Carvalhal’, ‘Acácias’, ‘ArvAgricFlor’, ‘Eucaliptal’, ‘Robínias’, ‘AmSal’), for 36 plots. A total of 7250
individuals and 30 species was found. For the total Dão trail, biodiversity is high, and plots with
low levels of biodiversity don’t have major representation. Based on the principal component
analysis, it was not possible to find relation between species and local factors, like slope,
exposure, topographic factors, soil coverage. Probably, the biodiversity changes along Dão trail
result from man intervention, mainly agricultural and forestry practices, invasors’ species
presence and urbanization.
Keywords: biodiversity, plant species, abundance, dominance, diversity indices
H. Matos, C. Costa e L. Nunes

1. INTRODUÇÃO

A sobrevivência da espécie humana dependeu sempre da combinação de diferentes formas de vida e


da sua interação com o meio físico envolvente. No entanto, a diversidade biológica, ou
biodiversidade, tem sido posta em causa pelas ações concretizadas pelo Homem, tais como perda e
fragmentação de habitats, agricultura intensiva e consequente exploração excessiva dos solos,
exploração comercial desregrada de algumas espécies, poluição da água, ar e solo e introdução de
espécies exóticas (CBD, 2000; LOVEJOY, 2001; AHFINGER et al., 2009; CHADWICK, 2010).
Nas últimas décadas, o Homem apercebeu-se, finalmente, que muitas formas de vida do planeta
encontram-se ameaçadas, pondo em causa a sua própria sobrevivência. Em 1992, realizou-se a
Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, Brasil, onde estabeleceram-se três objetivos:
conservação da biodiversidade, uso sustentável dos seus componentes e repartição justa e equitativa
dos benefícios provenientes da utilização de recursos genéticos. Mais recentemente, as Nações
Unidas declararam, o ano de 2010 o Ano Internacional da Biodiversidade, de modo a realçar a
importância da diversidade biológica (CBD, 2000).
A preservação da diversidade biológica é fundamental para o funcionamento dos ecossistemas. Os
ciclos da água e do ar, a reciclagem de nutrientes, estão dependentes da existência da diversidade
de espécies. Cada espécie desempenha um papel e o conjunto de todas as espécies é essencial à
manutenção e funcionamento do ecossistema (YOU et al., 2009). A biodiversidade é igualmente
responsável por mitigar a poluição, proteger os lençóis de água, combater a erosão dos solos,
amenizar as variações do clima e minimizar acontecimentos catastróficos.
A criação, preservação e promoção de espaços verdes assumem uma importância como zonas de
lazer e recreio que fomentam a qualidade de vida das populações mas também promovem a proteção
e conservação da natureza e recursos biológicos.
Uma ecopista, ou via de comunicação autónoma reservada a deslocações não motorizadas, inserida
num espaço natural ou pouco intervencionado pode funcionar como um corredor verde permitindo a
conectividade entre manchas e a mobilidade de espécies animais e a manutenção da biodiversidade.
Em Portugal, a instalação de ecopistas tem ocorrido em caminhos e linhas férreas abandonadas,
como a Ecopista do Dão que ocupa o traçado da antiga Linha do Dão. Uma Ecopista constitui, ainda,
uma excelente rota entre o meio urbano e o meio rural com a possibilidade de usufruir de diferentes
elementos paisagísticos. Sob o ponto de vista ecológico é importante, estes espaços contribuem para
a manutenção da sustentabilidade ambiental do espaço urbano circundante, já que ajudam a mitigar
as pressões causadas pelos centros urbanos.
De modo a valorizar estes espaços, do ponto de vista ambiental, e a contribuir para justificar a sua
existência, manutenção e preservação, é importante conhecer a biodiversidade ali existente.
A diversidade de espécies ou biodiversidade é um conceito multidimensional que inclui a riqueza,
número de diferentes categorias biológicas, equitabilidade e abundância relativa dessas mesmas
categorias (PEREIRA et al., 2007; RODRIGUES, 2007). A biodiversidade tem em conta a
variabilidade ao nível local, designada de alfa diversidade, complementaridade biológica entre
habitats, designada por beta diversidade e variabilidade entre paisagens, intitulada gama diversidade

322
H. Matos, C. Costa e L. Nunes

(RODRIGUES, 2007). A biodiversidade arbórea e arbustiva de um determinado local pode ser


estimada através de levantamentos florísticos e da determinação de índices de diversidade, que
quantificam o número de espécies presentes num determinado local e permitem a sua comparação
com outros locais.
O presente trabalho teve como objetivo conhecer a biodiversidade presente nas áreas florestais ao
longo do trajeto da Ecopista do Dão ao nível dos estratos arbóreo e arbustivo.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de estudo

O percurso da Ecopista do Dão corresponde à antiga linha de caminho-de-ferro do Dão, entre Viseu e
Santa Comba Dão, e tem uma extensão total de 49,5 Km. A área de estudo localizou-se entre os
quilómetros 2,5 e 7 - Tondelinha a Figueiró, concelho de Viseu - abrangida pelas cartas militares
números 177, 178, 188 e 189 à escala 1:25000 do Instituto Geográfico do Exército (IGP, 2010).
Estabeleceu-se uma faixa de 800m de largura numa extensão de 4,5km, com uma área total de
39,5ha, na qual se realizou um levantamento florístico (Figura 1).

Figura 1. Localização da área de estudo.

A área de estudo encontra-se na região da Beira Alta, com duas zonas com cotas diferentes: uma
entre os 200 e 400m (andar basal, zona mediterrâneo-atlântica) e outra entre os 400 e 700m (andar
submontano, zona sub-atlântica). A temperatura média registada varia entre os 12,5 e 15,0ºC e a
precipitação média anual varia entre 1200 e 1400mm. A humidade relativa do ar varia entre 65 a 70%

323
H. Matos, C. Costa e L. Nunes

(APA, 2007). Os solos presentes nesta zona são do tipo cambissolos húmicos, constituídos por
rochas eruptivas vulcânicas, com pH entre 4,6 e 5,5.

2.2. Metodologia

O trabalho de campo decorreu entre os meses de Agosto e Setembro de 2010. A primeira etapa
consistiu na definição da área a abranger, com o objetivo de caracterizar a biodiversidade presente
nos espaços florestais ao longo do percurso da Ecopista. Para tal, percorreu-se toda a Ecopista, de
forma a identificar uma zona representativa da vegetação dominante no local. Verificaram-se diversos
contrastes no tipo de ocupação do solo, que de modo geral podem ser agrupados em três diferentes
usos: agrícola, florestal e social. Após esta etapa, estabeleceu-se uma faixa ao longo da ecopista,
com cerca de 400 m para ambos os lados numa extensão de 4,5km, e procedeu-se à identificação da
vegetação existente de modo a selecionar os locais para a instalação de parcelas de amostragem.
Com esta identificação, estabeleceram-se 7 tipologias de vegetação predominante – ‘Pinhal’,
‘Carvalhal’, ‘Acácias’, ‘ArvAgricFlor’, ‘Eucaliptal’, ‘Robínias’, ‘AmSal’ – que permitiram instalar, de
forma aleatória, 36 parcelas de amostragem (Figura 2). A seleção dos locais para instalação das
parcelas teve em conta a diversidade existente de modo a contemplar todas as diferenças em cada
tipologia de vegetação.

Figura 2. Localização e identificação das parcelas de estudo.

O levantamento florístico foi efetuado através do método do quadrado, por ser o mais utilizado e
adequado a comunidades florestais, como as presentes na área de estudo. O método do quadrado
consiste em colocar uma unidade de amostragem de forma aleatória ou ao longo de transetos. No

324
H. Matos, C. Costa e L. Nunes

presente estudo delimitou-se um quadrado de 625m2 (25m x 25m), aleatoriamente, em cada parcela
previamente definida recorrendo para o efeito a uma fita métrica. Procedeu-se à medição do declive,
utilizando um clinómetro, e ao registo da exposição de cada parcela e de fatores topográficos.
Efetuou-se a identificação e contagem das espécies arbóreas e arbustivas presentes em cada
parcela de estudo, e, registaram-se as espécies identificadas. Realizou-se a quantificação da
percentagem de cobertura do solo de cada parcela analisada de acordo com a escala de
dominância de cobertura/abundância (adaptado de PILLAR, 1996), e para as situações que se
revelaram necessárias, identificou-se a cobertura do solo dentro da parcela.
Para as espécies cuja identificação não foi possível efetuar no decorrer do trabalho de campo,
colheram-se partes da planta para posterior análise em laboratório.
Para avaliar a biodiversidade existente na área de estudo calcularam-se índices de diversidade
Alfa, nomeadamente, índice de Simpson (D) e Shannon-Wiener (H’), índice de equitabilidade (E)
e índice de dominância Berger-Parker (d) que são os mais utilizados em levantamentos florísticos
em ecossistemas florestais.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No conjunto das 36 parcelas foram identificados 7250 indivíduos pertencentes a 30 espécies


diferentes, 54% arbustivas e 46% arbóreas, sendo as mais representadas Pinus pinaster Aiton,
no estrato arbóreo e Ulex europaeus L. e Cytisus multiflorus Sweet no estrato arbustivo.
Relativamente ao estrato arbóreo, para além de P. pinaster, presente em 81% das parcelas,
destacou-se Quercus robur L., em 97% das parcelas, e Quercus pyrenaica Willd., embora em
menor número de parcelas. No estrato arbustivo, para além das espécies U. europaeus e C.
multiflorus, nalgumas parcelas, impõe-se a espécie Genista florida L., devido a factores edafo-
climáticos, como exposição solar, proximidade a cursos de água e composição florística das
parcelas adjacentes. Relativamente à cobertura de solo de cada parcela, verificou-se que, as
parcelas onde predominam espécies como P. pinaster, Q. robur e fruteiras, apresentam maiores
percentagens de cobertura (90 e 95%).
De acordo com o conjunto de vegetação existente, definiram-se 7 tipologias de vegetação
predominante, nomeadamente ‘Pinhal’, parcelas com andar dominante de pinheiro-bravo;
‘Carvalhal’, parcelas com andar dominante de carvalho-comum e carvalho-negral; ‘Acácias’, parcelas
com dominância de acácias; ‘ArvAgricFlor’, parcelas com dominância de fruteiras e árvores florestais;
‘Eucaliptal’, parcelas com dominância de eucalipto; ‘Robínias’, parcelas com dominância de robínias e
‘AmSal’, parcelas com dominância de amieiros e salgueiros. A tabela 1 apresenta as espécies
vegetais inventariadas nas 36 parcelas de amostragem por presença nas tipologias definidas. A
tipologia ‘Pinhal’, com 47% das parcelas de amostragem apresenta o maior número de espécies
inventariadas (87%), com destaque também para a tipologia ‘Carvalhal’ com 19% das parcelas de
amostragem e com presença de 50% das espécies inventariadas, e da tipologia ‘ArvAgriFlor’ com
14% das parcelas de amostragem e com presença de 63% das espécies inventariadas.

325
H. Matos, C. Costa e L. Nunes

Tabela 1. Espécies identificadas em cada tipologia de vegetação.

Espécie Pinhal Carvalhal Acácias ArvAgricFlor Eucaliptal Robínias AmSal


Acacia dealbata Link x x x
Alnus glutinosa L.
Arbutus unedo L. x x x
Castanea sativa Mill. x x x
Cistus ladanifer L. x
Cistus salviifolius L. x x x
Corylus avellana L. x
Cydonia oblonga Mill. x
Cytisus multiflorus Sweet x x x x
Daphne gnidium L. x x x
Erica lusitanica Rudolphi x x
Eucalyptus globulus Labill. x x x
Galactites tomentosa Moench x
Genista florida L. x x x x
Laurus nobilis L. x x
Malus domestica Borkh. x x
Olea europaea L. x x x
Phytolacca americana L. x x x
Pinus pinaster Aiton x x x x x
Pinus pinea L. x
Prunus avium L. x x
Prunus laurocerasus L.
Prunus lusitanica L. x
Quercus pyrenaica Willd. x x x
Quercus robur L. x x x x x x
Salix atrocinerea Brot. x x
Salix viminalis L. x x
Robinia pseudoacacia L. x x x x
Ruscus aculeatus L. x x
Ulex europaeus L. x x x x x

Calculou-se a biodiversidade existente para as 7 tipologias de vegetação com base em índices


de biodiversidade (Tabela 2). A tipologia ‘ArvAgricFlor’ apresenta o maior índice de Simpson
(6,06) e a tipologia ‘Eucaliptal’ o menor (1,85). As tipologias ‘Eucaliptal’, ‘Acácias’ e ‘AmSal’ são
compostas por uma única parcela que apresentam poucas espécies na sua composição, sendo
que para estas tipologias o índice de Simpson é maior na tipologia ‘AmSal’, já que é o que mais
se aproxima da sua riqueza específica (número de espécies, S). Em relação ao índice de
Shannon-Wiener a tipologia ‘ArvAgricFlor’ apresenta o valor mais elevado, sendo o valor mais
baixo registado na tipologia ‘Eucaliptal’. Da análise dos valores do índice de equitabilidade
verifica-se que as tipologias ‘Carvalhal’, ‘ArvAgricFlor’ e ‘AmSal’ são as que apresentam valores
mais elevados (0,72, 0,70 e 0,66, respetivamente). Este facto pode explicar-se pela repartição
mais homogénea do número de indivíduos presentes pelas espécies que compõem estas
tipologias. Em sentido contrário, as tipologias ‘Robínias’ e ‘Eucaliptal’ apresentam baixos valores

326
H. Matos, C. Costa e L. Nunes

de equitabilidade, uma vez que existe uma dominância clara de uma das espécies presentes.
Quanto ao índice de Berger-Parker, o valor mais elevado foi registado na tipologia ‘Eucaliptal’,
pois existem apenas três espécies e uma delas, Eucalyptus globulus Labill., representa cerca de
93% dos indivíduos presentes na tipologia. As tipologias onde se registam índices de Berger-
Parker menores são ‘ArvAgricFlor’ e ‘Carvalhal’, devido a uma maior equitabilidade.

Tabela 2. Índices de biodiversidade por tipologias de vegetação.

Simpson Riqueza Shannon- Equitabilidade Berger-


TIPOLOGIA ln S
D especifica s Wiener H' E Parker d
Pinhal 4,25 22 1,77 3,09 0,57 0,31
Carvalhal 5,56 16 1,98 2,77 0,72 0,26
Acácias 2,18 5 1,02 1,61 0,64 0,64
ArvAgricFlor 6,06 21 2,12 3,04 0,70 0,25
Eucaliptal 1,16 3 0,30 1,10 0,28 0,93
Robínias 1,71 6 0,81 1,79 0,45 0,74
AmSal 1,85 3 0,72 1,10 0,66 0,67

Com o cálculo dos índices de biodiversidade para o conjunto das 36 parcelas amostradas, é
possível chegar a valores que representem a biodiversidade global existente na área de estudo
(Tabela 3). Verifica-se que a área de estudo apresenta um índice de biodiversidade de Simpson
de 6,21, que é um valor baixo já que fica longe do valor da riqueza específica (S=30). O índice de
Shannon-Wiener apresenta um valor mais elevado, pois o valor máximo que poderia obter é de
3,40. Em relação ao índice de equitabilidade o valor é de 0,64, representa uma equitabilidade
elevada. A espécie com mais indivíduos identificados na globalidade da área de estudo é o U.
europaeus, com uma dominância de 0,28 (total de indivíduos de 2025). No geral, verifica-se que
a biodiversidade existente nos estratos arbóreo e arbustivo na área de estudo é elevada.

Tabela 3. Índices de biodiversidade para a área de estudo.

ÁREA DE Simpson Riqueza Shannon- Equitabilidade Berger-


ln S
ESTUDO D especifica s Wiener H' E Parker d
36 parcelas de
6,21 30 2,18 3,40 0,64 0,28
amostragem

Posteriormente, efetuou-se uma Análise de Componentes Principais (ACP), com recurso ao


software Canoco v. 4.5., para analisar as relações existentes entre os dados recolhidos relativos
ao declive, exposição, fatores topográficos e percentagem de cobertura do solo e os índices de
biodiversidade calculados. ACP é um dos métodos estatísticos mais usados quando se
pretendem analisar dados multivariados e permite verificar se existe algum fator presente nos
componentes principais que possa explicar a variação do conjunto de valores das variáveis
originais (Moroco, 2003).

327
H. Matos, C. Costa e L. Nunes

Para a análise entraram as variáveis que caracterizam as parcelas (declive, % de cobertura,


fatores topográficos e exposição), as espécies inventariadas e as tipologias de vegetação
predominante. Não se encontraram relações fortes entre as características das parcelas e as
espécies inventariadas nestas, já que a variância em cada eixo, correspondente aos
componentes principais, é muito baixa (Figura 4a). No entanto, verifica-se que 23,5% da
variância é explicada pela tipologia (Figura 4b), isto é, existe uma relação entre a tipologia das
parcelas e as espécies que nelas são encontradas, e desta forma a tipologia constitui um bom
fator para justificar a associação das espécies que foi realizada. A relação tipologia-espécies é
mais forte em relação às espécies Acacia dealbata Link., Alnus glutinosa L., E. globulus, P.
pinaster, P. pinea e Robinia pseudoacacia L., que apresentam grande relação com as tipologias
‘Acácias’, ‘AmSal’, ‘Eucaliptal’, ‘Pinhal’ e ‘Robínias’, respectivamente. No caso da tipologia
‘Carvalhal’, a relação entre Q. pyrenaica e Q. robur é menos significativa. Este facto pode ficar a
dever-se à presença de um número razoável de indivíduos de outras espécies, como C.
multiflorus e G. florida. As espécies fruteiras, como Cydonia oblonga Mill. e Prunus avium L.,
como era de esperar, apresentam uma relação com a tipologia ‘ArvAgricFlor’.

a)

328
H. Matos, C. Costa e L. Nunes

b)

Figura 4. Análise de componentes principais entre as espécies inventariadas e, a) características das


parcelas b) tipologia.

4. CONCLUSÃO

Este trabalho permitiu conhecer a diversidade dos estratos arbóreo e arbustivo da ecopista do
Dão. Com o cálculo dos índices de biodiversidade nas parcelas de amostragem verificou-se que
parcelas com muitos indivíduos da mesma espécie apresentam índices de diversidade mais
baixos e, parcelas com poucas espécies também apresentam, em geral, pouca diversidade.
Contudo, estas parcelas têm pouca representatividade na área de estudo estabelecida, já que
existem em menor número. As parcelas com valores de diversidade mais elevados pertencem à
tipologia ‘ArvAgricFlor’. A partir da análise de componentes principais não se registou nenhuma
relação entre as características das parcelas considerados (exposição, declive, fatores
topográficos e percentagem de cobertura das parcelas) com as espécies encontradas. A variação
da biodiversidade arbórea e arbustiva da Ecopista do Dão deve-se sobretudo à intervenção
humana, através de práticas culturais diversas, florestais e/ou agrícolas, introdução de espécies
exóticas invasoras ou alteração da paisagem levada a cabo pela urbanização de espaços onde
anteriormente podia-se encontrar vegetação.
A manutenção da diversidade de espécies em zonas como as ecopistas deverá constituir uma
das prioridades das entidades responsáveis. No caso particular da área da Ecopista do Dão, a
diversidade poderá ser aumentada em algumas zonas de baixa diversidade recorrendo à
diversificação das espécies que possam vir a ser introduzidas no local, sem que tal signifique
recorrer a espécies exóticas invasoras, como aconteceu no passado. Deve dar-se preferência a
espécies autóctones, bem adaptadas ao local e sem grande necessidade de intervenção ao

329
H. Matos, C. Costa e L. Nunes

longo do tempo, como o P. pinaster, Q. robur, Q. pyrenaica, A. glutinosa e S. atrocinerea. O


controle das espécies invasoras já existentes será, também, uma das medidas a ser tomada, de
forma evitar a proliferação das mesmas e a reduzir a possível ameaça à diversidade local.

REFERÊNCIAS

APA, 2007. Atlas do Ambiente Digital. Agência Portuguesa do Ambiente, Amadora.


http://www.iambiente.pt/atlas/dl/download.jsp, consultado em 30/10/10.
AHFINGER, R., GIBBS, J., HARRISON, I., LAVERTY, M., STERLING, E., 2009. What is Biodiversity.
In Nora Bynum Collection. Houston. Rice University, 1-6, 11-46, 49-54.
http://cnx.org/content/col10639/latest/, consultado em 22/10/10.
CBD, 2000. Assurer la pérennité de la vie sur Terre - La Convention sur la diversité biologique : pour
la nature et le bien-être de l’humanité. Secrétariat de la Convention sur la Diversité Biologique.
Montréal.: 2-8 p. http://www.cbd.int/doc/publications/cbd-sustain-fr.pdf, consultado em 15/10/10
CHADWICK, N., 2010. One step forward to halting biodiversity loss?.
http://www.iucn.org/knowledge/news/focus/the_appliance_of_science/press/?5316/One-step-forward-
to-halting-global-biodiversity-loss, consultado em 9/09/2011.
IGP, 2010. Carta Administrativa de Portugal (CAOP). Instituto Geográfico Português [online]
disponível em: http://www.igeo.pt/produtos/cadastro/caop/shapes_2010.htm, consultado em
20/08/10.
LOVEJOY, T.E., 2001. Foreword.
http://wwf.panda.org/what_we_do/how_we_work/conservation/forests/publications/?3582/The-design-
and-management-of-forest-protected-areas, consultado em 9/09/2011.
MOROCO, J., 2003. Análise Estatística, com utilização do SPSS. Lisboa. Edições Silabo, 231-257.
http://www2.dce.ua.pt/leies/pacgi/cap9-Moroco.pdf, consultado em 12/11/10
PEREIRA, C., GANHÃO, A., PEREIRA, A.J., REINO, J., PEREIRA, S., HEITOR, A., 2007.
Conservação da Biodiversidade em Meios Florestais. CONFRAGRI, 17-20.
PILLAR, V.D., 1996. Descrição de Comunidades Vegetais. Departamento de Botânica. UFRGS, Porto
Alegre.
RODRIGUES, W.C., 2007. Ecologia geral riqueza e diversidade de espécies. Aulas de Ecologia
Geral. Universidade Severino Sombra, Rio de Janeiro, 2-14.
http://www.ebras.bio.br/autor/aulas/riqueza_diversidade_transp.pdf, consultado em 13/10/10.
YOU, M., VASSEUR, L., RÉGNIÈRE, J., ZHENG, Y., 2009. The three dimensions of species diversity.
The Open Conservation Biology Journal 3: 82-88.

330
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Flora Aromática e Medicinal da Ecopista do Dão

A. Melo1, L. Nunes1,2,3* e C. Costa1

1: Escola Superior Agrária de Viseu (ESAV) / Instituto Politécnico de Viseu (ISPV), Viseu, Portugal.
2: CITAB, Universidade de Trás-os-Montes Alto Douro (UTAD),Vila Real, Portugal.
3: CEABN, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, Portugal.

e-mail: {Leónia Nunes }, leonianunes@gmail.com

Resumo. A Ecopista do Dão, que resulta da requalificação do antigo ramal ferroviário de Dão, é
um espaço verde privilegiado com importantes funções para a comunidade local, particularmente
de lazer, recreio e educação ambiental, que podem ser valorizadas através da promoção de
atividades de carácter científico. A riqueza ambiental é presença constante em toda a extensão
da Ecopista, composta por espécies vegetais dos diversos estratos, arbóreo, arbustivo e
herbáceo. Ao longo de um percurso de cerca de 8 km, é possível observar grande biodiversidade
vegetal, da qual se salienta a flora aromática e medicinal. O presente trabalho surge com o
objetivo de contribuir para a interpretação botânica de plantas aromáticas e medicinais presentes
na Ecopista do Dão. Neste sentido, foi efetuado, em 2010, um levantamento florístico com o
objetivo de inventariar a flora aromática e medicinal do local, durante um período de quatro
meses (Março a Julho), com base no método dos transectos. Identificaram-se 46 espécies
medicinais, das quais 10 são simultaneamente aromáticas, pertencentes a 31 famílias diferentes
e foram descritas as características botânicas e propriedades medicinais e/ou aromáticas, bem
como problemas de toxicidade, partes utilizadas e outras utilizações comuns para estas espécies.
As espécies identificadas foram descritas e incluídas num Guia - Flora aromática e medicinal.
Ecopista do Dão - que inclui um conjunto de percursos botânicos com diversas atividades de
descoberta, que pretendem incentivar os utentes da Ecopista a utilizar este espaço apreciando a
natureza e promovendo a divulgação de conhecimento e respeito pela biodiversidade.
Palavras-chave: flora aromática e medicinal, transectos, biodiversidade, ecopista do Dão

Abstract. Dão ecotrail (‘Ecopista do Dão’), built on the ancient train road, is a green space with
important functions for the local community, particularly leisure, recreation and environmental
education, which can be valued by promoting scientific activities. The environmental richness is
present throughout its length, composed of several strata of plant species. Among them, there is a
group of plants with highly valued characteristics, by its close relationship with mankind - the
aromatic and medicinal flora. This study is a contribution for the assessment of the local aromatic
and medicinal flora. In 2010, for a period of four months (mars to july), a floristic survey was
conducted, based on the transect method, and 46 medicinal species were identified of which 10
are also aromatic, belonging to 31 different families. All species were described, including
medicinal and aromatic characteristics, toxicity, edible organs and most common uses. These
information was included in the guide ‘Medicinal and aromatic flora. Dão ecotrail’ along with
several botanical pathways, that included ‘nature’ activities that intend to persuade the ecotrail’
users towards the recognition and appreciation of biodiversity and nature.
Keywords: aromatic and medicinal flora, transects, biodiversity, Dão ecotrail
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

1. INTRODUÇÃO

As plantas aromáticas e medicinais foram utilizadas pelo Homem desde o início da era
civilizacional, inicialmente por instinto mas, com o tempo, o conhecimento das suas propriedades
permitiu que a sua aplicação se tornasse mais racional. Este saber foi transmitido e conservado
por via popular, através da tradição oral e escrita e constitui hoje um património cultural que
importa conservar e estudar (FRAZÃO-MOREIRA & FERNANDES, 2006).
Também a nível científico se assiste ao interesse crescente pelo estudo das plantas medicinais,
quer relativamente à sua constituição quer ação farmacológica, com o consequente aumento da
investigação, aparecimento de publicações especializadas de nível internacional de grande rigor
científico e qualidade e da informação técnica disponível (CUNHA et al., 2006).
Num sentido genérico, consideram-se como plantas aromáticas medicinais todas aquelas cujo
uso pela população ao longo dos tempos foi reconhecido pelo seu efeito benéfico para a saúde
(CUNHA et al., 2007).
As plantas aromáticas caracterizam-se por possuírem, em estruturas especializadas, óleos
essenciais de natureza volátil. Estes são compostos voláteis pertencentes, normalmente, a vários
grupos químicos, facilmente arrastados pelo vapor de água, praticamente insolúveis na água,
mas solúveis em solventes orgânicos e gorduras (CUNHA et al., 2007; FRAZÃO-MOREIRA &
FERNANDES, 2006). Por outro lado, plantas medicinais são as que contêm, em um ou mais dos
seus órgãos, substâncias (metabolitos secundários ou princípios ativos) capazes de alterar as
funções fisiológicas dos seres vivos, que podem ser utilizadas com finalidade terapêutica ou ser
precursores para a hemissíntese de um químico-farmacêutico (NETO et al., 2008; FRAZÃO-
MOREIRA & FERNANDES, 2006).
Das plantas aromáticas são extraídas matérias-primas aromáticas, cujas combinações -
composições aromáticas - originam perfumes, utilizados na indústria cosmética, sabões,
detergentes, indústria alimentar, tabaqueira e farmacêutica. As plantas medicinais podem ser
utilizadas desde a medicina tradicional à medicina alopática, fitoterapia, homeopática,
aromaterapia, fisioterapia veterinária, cosmética e para-farmácia (FRAZÃO-MOREIRA &
FERNANDES, 2006).
Mais de três quartos da população mundial depende de extratos vegetais para fins medicinais.
Das cerca de 250 000 de espécies vegetais do planeta, 80 000 têm propriedades medicinais
(cerca de 30%). O uso medicinal está difundido em todo mundo e é parte integrante de cada
cultura (DMAPR, 2009).
Alguns autores referem que, se a população continuar a crescer ao ritmo atual (em 2020, deve
atingir os 11,5 bilhões), haverá escassez de medicamentos, o tratamento de doenças comuns
terá custos proibitivos e verificar-se-á o aumento das resistências aos medicamentos agora
utilizados, pelo que a utilização das espécies vegetais como alternativas alopáticas será
indispensável (DMAPR, 2009).
Grande parte das espécies vegetais com propriedades aromáticas e medicinais estão, ainda, por
ser estudadas e o conhecimento que se tem delas é sobretudo empírico, resultante do censo
comum e do conhecimento que passou de geração em geração. Este tipo de informação não

332
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

registado corre o risco iminente de se perder, pelo que o estudo e registo das propriedades
destas espécies é urgente (CUNHA et al., 2008; SOUSA, 2005). Neste sentido, a diversidade
aromática e medicinal tem sido sistematicamente monitorizada, no âmbito de diversos estudos,
que se baseiam em levantamentos florísticos mais ou menos intensivos (CUNHA et al., 2007;
FRAZÃO-MOREIRA & FERNANDES, 2006)
As metodologias de levantamento florístico incluem diversos métodos para realizar a
caracterização da vegetação, sendo os mais simples e usuais o método de Daubenmire, Braun-
Blanquet, método dos transectos, métodos dos quadrados ou monitorização fotográfica. Tais
métodos diferem quanto ao tipo de informação que recolhem, adaptação à área de estudo, tempo
de realização, entre outras.
A Ecopista do Dão, que resulta da requalificação do antigo ramal ferroviário de Dão e liga o
centro urbano de Viseu a Figueiró, atravessando várias localidades (Azenha, Vildemoinhos,
Cubo, Santarinho, Tondelinha, Ponte Mourisca, São Martinho, Travassós, Canelas e Figueiró),
com um comprimento aproximado de 8 km, é um espaços verdes urbano, destinado a tráfego não
motorizado e que procura contribuir para o bem-estar físico e para o combate ao stress do dia-a-
dia das populações urbanas e rurais locais. Para além do desenvolvimento de atividades físicas e
de lazer, estes espaços podem contribuir para a conservação da natureza ao constituir
importantes corredores para a migração da fauna e locais de preservação e promoção da
biodiversidade, para além de poderem ser utilizadas com fins de educação ambiental e
investigação científica.
Para o levantamento da flora aromática e medicinal de percursos como os existentes numa
Ecopista, revela-se adequado o método dos transectos, devido ao formato da área de estudo
(Figura 1). O método dos transectos pode ser utilizado para a descrição da composição florística
de uma área e é um método muito vantajoso e eficiente em estudos de comunidades para zonas
de transição ou em fases adjacentes de sucessão ecológica e no estudo da composição florística
de parcelas (CUMMINGS et al, 2001; MADSEN, 1999). Este método compreende a escolha de
um ou vários transectos na área em estudo, nos quais são registadas os exemplares de espécies
vegetais que vão sendo intersectadas ao longo dos transectos predefinidos. Permite estimar
facilmente a cobertura vegetal de diferentes estratos verticais, podendo ser aplicada em grandes
ou pequenas áreas. Possibilita a determinação da composição florística bem como a cobertura
basal e foliar de determinada zona em estudo. Para que este método se possa por em prática, é
necessário definir o número dos transectos e o comprimento dos mesmos. Os resultados do
método são muito precisos, pelo que é indicado para o estudo das espécies mais abundantes
(COULLONDON et al., 1999a), apesar de não ser adequado para se utilizar em situações de
espécies herbáceas muito densas (COULLOUDON et al., 1999b)
O presente trabalho teve como objetivo a inventariação de espécies aromáticas e medicinais
presentes ao longo do percurso da Ecopista do Dão, com vista ao conhecimento da
biodiversidade aromática e medicinal do local e à elaboração de uma proposta de guia de
espécies aromáticas e medicinais, em linguagem acessível ao público em geral, que possibilitem
a identificação e conhecimento das espécies vegetais com interesse medicinal e aromático ali

333
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

presentes.

2. METODOLOGIA

Para o levantamento da flora aromática e medicinal da Ecopista utilizou-se o método dos


transectos, por ser o mais adequado ao objetivo do trabalho e ao formato da área de estudo, uma
via com cerca de 8 km (Figura 1). Como se pretendia a caracterização da flora aromática e
medicinal presente na Ecopista, e não a sua representatividade no conjunto floral local,
procedeu-se à inventariação das espécies mais abundantes e visíveis da Ecopista.

Figura 1. Trajecto da Ecopista do Dão.

Ao longo de quatro meses foram feitas vinte visitas à Ecopista do Dão, onde se percorreu um
transecto ao longo da Ecopista, constituído pela totalidade do percurso disponível até à data
(cerca de 7 km), sempre pelo lado direito da mesma e em ambos os sentidos, e se registaram as
plantas aromáticas e medicinais visíveis em ambas as margens, a cada dois passos, numa
largura de cerca de 3 metros.
O levantamento foi efetuado entre Março e Julho, permitindo observar as diversas espécies em
diferentes fases do seu ciclo de vida (fase vegetativa, floração e frutificação), o que facilitou a
identificação das espécies.
Após a identificação de todas as espécies, organizou-se a informação por família, propriedades
aromáticas e/ou medicinais, tipo fisionómico, toxicidade e tipo de polinização. Para além disso,
procedeu-se à descrição botânica das espécies encontradas, das principais propriedades
medicinais e aromáticas e partes utilizadas, bem como algumas outras aplicações mais comuns
como, para alimento, ornamental, perfumaria, entre outras, o que permitiu a elaboração de um
guia botânico das plantas aromáticas e medicinais – Flora aromática e medicinal da Ecopista do
Dão (Figura 2a.), que inclui um conjunto de fichas botânicas (Figura 2b.), por cada espécie com
propriedades aromáticas e medicinais, organizado por famílias. Estas fichas são constituídas por
informação sobre a espécie em causa, onde são referidos o nome científico, nomes comuns,
enquadramento sistemático (ordem, família) e descritor de cada espécie, e sempre que possível,
a distribuição geográfica nacional da espécie.

334
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

a. b.
Figura 2. a. Guia botânico das espécies aromáticas e medicinais da Ecopista do Dão e b. Ficha
botânica do guia de espécies aromáticas e medicinais da Ecopista do Dão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram identificadas, ao longo da Ecopista, 46 espécies vegetais com características aromáticas e


medicinais, pertencentes a 31 famílias diferentes, sendo a mais representativa das famílias a
Labiatae (Tabela 1), com seis espécies: Lavandula angustifolia Miller, L. pedunculata Miller,
Melissa officinalis L., Mentha suaveolens Ehrh, Rosmarinus officinalis L. e Salvia officinalis L..
Para esta família, as propriedades medicinais, mais comuns são a espasmolítica apresentada por
cinco espécies (L. angustifolia Miller, L. pedunculata Miller, M. officinalis L., R. officinalis L. e S.
officinalis L.), a que se segue a propriedade anti-flatulente (L. angustifolia Miller, M. officinalis L.,
M. suaveolens Ehrh e S. officinalis L.), e propriedade anti-séptica (L. angustifolia Miller, L.
pedunculata Miller, M. suaveolens Ehrh e S. officinalis L.).
A segunda família mais representativa é a Rosaceae, da qual foram registadas cinco espécies:
Cydonia oblonga Mill, Malus domestica Borkh, Prunus avium L., P. domestica L. e Rubus idaeus
L.). Para a referida família, as propriedades medicinais mais comuns são adstringente (C.
oblonga Mill, M. domestica Borkh, P. avium L., R. idaeus L.), e laxante (C. oblonga Mill, M.
domestica Borkh, P. domestica L. e R. idaeus L.).
A última das famílias mais representativa é a Asteraceae, com três espécies, Helianthus annuus
L., Lactuca sativa L. e Taraxacum officinalis Weber. Dentro desta família, destacam-se as
propriedades medicinais expectorantes, anti-pirético e emoliente (H. annuus L. e L. sativa L.) e
digestiva (H. annus L. e T. officinalis Weber).

335
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

Tabela 1. Listagem de espécies aromáticas identificadas na Ecopista do Dão

Família Nome Científico Nome Comum


Helianthus annus L. girasol
Asteraceae Lactuca sativa L. alface
Taraxacum officinalis Weber dente-de-leão
Boraginaceae Echium vulgare L. soagem
Brassicaceae Nasturtium officinalis R. Brown agrião
Cactaceae Opuntia ficus-indica (L.) Miller figueira-da-índia
Caprifoliaceae Sambucus nigra L. sabugueiro
Corylaceae Corylus avellanaL. aveleira
Cruciferae Capsella bursa-pastoris L. bolsa-de-pastor
Arbutus unedo L. medronho
Ericaceae
Calluna vulgaris (L.) Hull urze
Fagaceae Castanea sativa Mill castanheiro
Fumariaceae Fumaria officinalis L. fumária
Arundo donax L. cana-comun
Gramineae
Zea mays L. milho
Hypericaceae Hypericum perforatumL. hipericão
Juglandiaceae Juglans regia L. nogueira
Lavandula angustifolia Miller lavanda
Labiatae Lavandula pedunculata Miller rosmaninho
Salvia officinalisL. salva
Melissa officinalis L. erva-cidereira
Lamiaceae Mentha suaveolens Ehrh mentrasto
Rosmarinus officinalis L. alecrim
Lauracea Laurus nobilis L. louro
Liliaceae Allium cepa L. cebola
Malvaceae Tilia cordata Mill tília
Moraceae Ficus caricaL. figueira
Myrtaceae Eucalyptus globulusLabill eucalipto
Oleacea Olea europea L. oliveira
Papaveraceae Chelidonium majusL. erva-das-verrugas
Pinaceae Pinus pinea L. pinheiro-manso
Plantaginaceae Plantago lanceolata L. tanchagem-menor
Polygonaceae Polygonum aviculareL. sempre-noiva
Primulaceae Anagalis arvensisL. mourrião
Ranunculaceae Consolida regalisL. consolda-real
Cydonia oblonga Mill marmeleiro
Malus domestica Borkh macieira
Rosaceae Prunus avium L. cerejeira
Prunus domesticaL. ameixiera
Rubus idaeusL. framboeseira
Rutaceae Citrus limonum(L.) Burm f. limoeiro
Scrophulariaceae Digitalis purpurea L. dedaleira
Solanaceae Solanum tuberosum L. batata
Urticaceae Parietaria officinalisL.
Verbenaceae Aloysia citriodora Palau lúcia-lima
Vitaceae Vitis vinífera L. videira

336
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

As 46 espécies identificadas apresentam propriedades medicinais e 10 têm propriedades


aromáticas e medicinais. Em geral as propriedades medicinais mais comuns são diurética (27
espécies), digestiva (19 espécies), adstringente (18 espécies) e laxante (17 espécies) (Figura 3).
As partes utilizadas para as diferentes espécies de aromáticas e medicinais diferem. A parte mais
utilizada destas espécies são as folhas (34 espécies) e as partes floridas, onde estão incluídas as
inflorescências e flores (14 espécies). Apenas num caso se registou a utilização de toda a planta
(Fumaria officinalis L.) (Figura 4).
O tipo fisionómico mais comum, entre as 46 espécies inventariadas, é microfanerófito (10
espécies) ou sejam espécies que quando em arbustos adultos, as gemas de renovo se
encontram acima dos 2 m de altura, a que se seguem 9 hemicriptófitos (espécies cujas gemas de
renovo se encontram acima da superfície do solo e em algumas situações envolvidas por folhas
em forma de roseta) 9 nanofanerófitos (pequenos arbustos onde as gemas de renovo se
encontram entre os 20 e os 25 cm de altura); 8 mesofanerófitos (plantas adultas com gemas de
renovo entre os 8 e os 20 m de altura) e 9 terófitos (cujas gemas provêm da germinação de
sementes) (Figura 5).
Na bibliografia consultada, são referidos registos de toxidade, em algumas das espécies
referidas. Assim, propõe-se uma escala de toxidade, em que as espécies são classificadas em
não tóxicas, quando nenhum dos seus órgãos, mesmo em grandes quantidades, contêm
substâncias que provocam sintomas tóxicos, moderadamente tóxicas, quando existem
referências a casos em que as plantas se tornam tóxicas quando em caso de consumo
excessivo, ou apenas alguns dos seus órgãos têm estas características, pelo que devem ser
manuseadas com algum cuidado, e tóxicas, que incluem todas as espécies que podem, em
alguns casos, provocar a morte, apesar de terem características medicinais utilizadas para a
indústria.

337
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

Vasoprotector Toda a planta
Vasodilatante Sementes
Vasoconstitor
Venotónico Ritidoma
Tónico Resina
Sodurífero
Sedativo Raíz
Laxante Partes floridas
Hipotensor
Hipoglicémico Látex
Hidratante
Hemostático Frutos
Galactagogo Folhas
Expectorante
Estimulante Caule
Espasmolítico
Energético 0 10 20 30 40
Emoliente
Diurético
Digestivo Figura 4. Partes utilizadas das espécies aromáticas e
Desparasitante medicinais da Ecopista do Dão.
Desinfectante
Depurativo
Colagogo
Cicatrizante
Cardiotónico Terófito
Calmante Nanofanerófito/ Microfanerófito
Anti‐viral
Anti‐tússico Nanofanerófito
Anti‐séptico, urinário …
Anti‐séptico Microfanerófito/ Mesofanerófito
Anti‐reumático
Anti‐pirético Microfanerófito
Anti‐inflamatório
Anti‐fúngico Mesofanerófito
Anti‐flatulento
Anti‐diarréico Megafanerófito
Anti‐coagulante Hemicriptófito
Anti‐bacteriano
Analgésico Helófito
Afrodisíaco
Adstringente Caméfito
0 20 0 2 4 6 8 10
Figura 3. Propriedades medicinais das Figura 5. Hábitos fisionómicos das espécies aromáticas e
espécies aromáticas e medicinais da medicinais da Ecopista do Dão.
Ecopista do Dão

De entre as espécies inventariadas, 31 espécies não são tóxicas (70%), 8 espécies são
moderadamente tóxicas (15%) e 7 estão assinaladas como tóxicas (15%) (Figura 6).
Relativamente ao tipo de polinização, foram descritas 7 espécies cuja polinização é
maioritariamente anemófila (pela ação do vento), 37 espécies com polinização preferencialmente
entomófila (através de insetos que são atraídos pela cor, melada, aroma) e 39 espécies
hermafroditas, nas quais ocorre sobretudo a autopolinização. Em diversas espécies, a
autopolinização, é referida em simultâneo com a polinização entomófila (35 espécies) (Figura 7).
Finalmente, foi recolhida e sistematizada informação sobre outros usos que as plantas
aromáticas e medicinais podem ter no quotidiano. Entre muitas, as mais referidas são: alimento,
corante, madeira, repelente e óleo essencial (Figura 8).

338
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

Muito 
Tóxica
15% a)
Modera
damente 
b)
Tóxica
15% Não 
Tóxica c)
70%

0 10 20 30 40

Figura 7. Tipos de polinização das


Figura 6. Percentagem de espécies tóxicas,
espécies aromáticas e medicinais da
moderadamente tóxicas e não tóxicas, das
Ecopista do Dão: a) anemófila, b)
espécies aromáticas e medicinais da Ecopista
entomófila, c) autopolinização.
do Dão.

Taninos
Sebes
sabão
Repelente
Produtos capilares
Infusão preservante de …
Pot‐pourri
Papel
Ornamental
Óleo Essencial
Melífera
Madeira
Instrumentos Musicais
Insecticida
Herbicida
Culinária
Cosmético
Corante
Cobertura do solo
Cestaria
Biomassa/Combustível
Alimento
0 5 10 15 20

Figura 8. Outros usos das espécies aromáticas e medicinais da Ecopista do Dão.

4. CONCLUSÃO

Em pleno centro urbano da cidade de Viseu, um espaço verde como a Ecopista do Dão, torna-se
uma mais-valia para toda a população, uma vez que promove hábitos de vida saudáveis, como a
atividade desportiva num cenário de contacto direto com a natureza. Sabe-se que a prática de

339
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

um desporto ou de uma atividade física moderada, tal como uma caminhada, podem evitar um
grande número de doenças que afetam, hoje em dia, grande parte da população mundial.
Simultaneamente, ao longo deste percurso, com cerca de 8 km, é possível observar grande
biodiversidade vegetal, da qual se salienta a flora aromática e medicinal, com pelo menos 46
espécies identificadas.
A tradução desta riqueza vegetal na forma de um guia pode cativar a população a frequentar este
espaço e assim descobrir e conhecer uma parte da flora aromática e medicinal da Ecopista do
Dão.
Seria muito interessante que num futuro próximo, se promovam mais atividades no espaço,
através da elaboração de mais percursos botânicos e do enriquecimento do guia botânico, com
outras espécies vegetais dos vários extratos presentes na Ecopista, nomeadamente, espécies
ornamentais, agrícolas e florestais, bem como de outros grupos de seres vivos, como aves,
insetos, répteis ou mamíferos, de modo que os utentes deste espaço verde possam usufruir dos
benefícios cedidos pela descoberta da biodiversidade autóctone e a aprender a respeitar,
valorizar e conservar.

REFERÊNCIAS

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PELLANT, M., PODBORNY, P., RASMUSSEN, A., ROBLES, B., SHAVER, P., SPEHAR, J.,
WILLOUGHBY, J. 1999a. Line intercept techniques to estimate cover. University of Idaho College
of Natural Resources. http://www.cnr.uidaho.edu/veg_measure/Modules/Lessons/Module%205
/5_4_Lines.htm. (8/08/2010).
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Land Management. Denver, Colorado. www.blm.gov/nstc/library/pdf/samplveg.pdf. (12/11/2010).
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South Carolina. http://www.ableweb.org/volumes/vol-22/13-cummings.pdf. (8/08/2010): 13.
CUNHA, A., RIBEIRO, J., ROQUE, O.R. 2007. Plantas aromáticas em Portugal caracterização e
utilização. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa: 19-32.
CUNHA, A., SILVA, A.P., ROQUE, O.R. 2006. Plantas e produtos vegetais em fitoterapia. 2ª Edição,
Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa: 21-25
DMAPR. 2009. Directorate of medicinal and aromatic plants research. DMAPR. India.
http://www.dmapr.org.in/. (12/11/2010).
MADSEN, J. 1999. Point intercept and line intercept methods for aquatics plant management. aquatic
plant control technical. http://el.erdc.usace.army.mil/aqua/pdf/apcmi-02.pdf. (18/08/2010).
NETO, F.C., MORGADO, J., DIAS, S. 2008. A cultura de PAM, custos e benefícios. DRAP-Norte.
Braga: 3-5.

340
A. Melo, L. Nunes e C. Costa

FRAZÃO-MOREIRA, A., FERNANDES, M. 2005. Plantas e saberes. No limiar da etnobotânica em


Portugal. Edições Colibri. Lisboa. 11-27.

341
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Ajuste de equações de biomassa total e por componentes para carvalho-


negral e pinheiro-bravo no distrito de Vila Real

A. Mendes1, L. Nunes1,2,3, D. Lopes1 e P. Soares4

1: CITAB, University of Trás-os-Montes Alto Douro (UTAD), Vila Real, Portugal.


2: Agrarian School of Viseu (ESAV) / Polytechnic Institute of Viseu (ISPV), Viseu, Portugal.
3: CEABN, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa, Portugal.
4: CEF, Instituto Superior de Agronomia, (UTL), Lisboa, Portugal.

e-mail: {Leónia Nunes}, leonianunes@gmail.com

Resumo: O ajustamento de equações de biomassa para espécies florestais reveste-se de grande


utilidade em diversos estudos. A investigação que lhe está associada pode considerar-se de
difícil implementação pois exige intenso trabalho de campo, custos elevados e métodos morosos
que pressupõem o abate e pesagem das árvores amostra. O presente estudo teve como
objectivo ajustar equações de biomassa anidra aérea, total e por componentes (tronco, ramos e
folhas), ao nível da árvore, para o carvalho-negral e o pinheiro-bravo. Efectuou-se a recolha de
dados em parcelas de amostragem do Inventário Florestal Nacional, distribuídas pelo distrito de
Vila Real, correspondentes a povoamentos puros e mistos de carvalho-negral e pinheiro-bravo.
Determinou-se a árvore média, com base na altura média, em cada parcela e procedeu-se ao
abate de 15 árvores de carvalho-negral e 21 de pinheiro-bravo, com dimensões idênticas na área
circundante à parcela. Para a biomassa das componentes da árvore o ajustamento das equações
foi feito recorrendo ao procedimento NLIN do módulo SAS STAT (v9.2), utilizando o algoritmo de
Gauss-Newton. Para as árvores adultas de pinheiro-bravo procedeu-se, numa primeira fase, à
validação das equações ajustadas em FAIAS (2008) para verificar se as equações apresentavam
bom desempenho para os dados recolhidos em campo. Observaram-se diferenças entre os
valores reais e os correspondentes valores estimados aceitáveis para as árvores adultas, pelo
que não se achou necessário ajustar novas equações. Para as árvores jovens de pinheiro-bravo
ajustaram-se novas equações. A biomassa total foi definida pelo somatório das biomassas das
componentes, tendo-se efectuado, para o carvalho-negral e o pinheiro-bravo jovem, o
ajustamento simultâneo das equações.
Palavras-chave: biomassa, Pinus pinaster, Quercus pyrenaica, equações alométricas.
Abstract: Biomass equations for components and total biomass estimations of forest species are
useful in a wide range of studies. These estimations are difficult to obtain not only because of the
preparatory intensive field work necessary and associated costs but also because it is a slow
process and a destructive sampling method. Nevertheless there is a need to get the information
necessary to define and support the forest management decisions and have a better
understanding of carbon sequestration in forest ecosystems. So, there is now a higher interest in
their estimation. The subject of the present study was to derive biomass equations, at tree level,
for aboveground components and total biomass of Quercus pyrenaica Willd. and Pinus pinaster
Aiton. These equations allow biomass estimation with information from conventional forest
inventories. Data were collected on sampling plots from the Portuguese National Forest Inventory
across Vila Real district. The average tree height of the sampling plots was calculated and trees
with these dimensions were identified nearby the NFI plots for harvesting. The harvested was
done in 36 trees (15 Q. pyrenaica and 21 P. pinaster) and all the aboveground components
(needles, leaves, stem and branches) were separated and weighted. The equations were
simultaneously fitted using seemingly unrelated regression. For both species the aboveground
biomass equations had good fitting with the field data.
Keywords: biomass, Pinus pinaster, Quercus pyrenaica, alometric equations.
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

1. INTRODUÇÃO

A importância da floresta e do sector florestal em Portugal é inquestionável, tendo em consideração a


extensão territorial que ocupa e a sua relevância no âmbito das funções económicas, ambientais,
sociais e culturais que lhe estão associadas. A floresta em Portugal continental ocupa cerca de 38%
da área do território, segundo o Inventário Florestal Nacional de 2006 (IFN 2005/06), onde o pinheiro-
bravo é a espécie florestal que ocupa maior área (sobretudo na região Centro e Norte Litoral do País),
com cerca de 885 019 ha de povoamentos puros e mistos dominantes (AFN, 2010), sendo o principal
suporte da indústria de serração e aglomerados. Os carvalhos ocupam uma área de cerca de 150
020 ha (AFN, 2010).
No distrito de Vila Real, a floresta ocupa 680 659 ha, cerca de 38% do distrito, e destes 72% são
ocupados por pinheiro-bravo e 13% por carvalhos (AFN, 2010). Neste contexto torna-se evidente a
importância da compatibilização das características naturais do território com objectivos económicos
potencialmente decorrentes da exploração sustentada da floresta. Assim, que a determinação da
biomassa florestal assume um aspecto essencial nos estudos de quantificação de carbono, nos
efeitos da desflorestação e na fixação de carbono relacionada com o balanço global, entre outros.
A biomassa é uma das variáveis mais importante da árvore florestal e, consequentemente, dos
povoamentos florestais. A sua determinação representa um grande contributo, não apenas para a
compreensão do conceito teórico das necessidades de energia e fluxo de elementos processados
pelos ecossistemas, como também, do ponto de vista mais prático, como meio de monitorização dos
possíveis impactos ecológicos nas florestas (ABOAL et al., 2005).
A determinação da biomassa acumulada pelas árvores, e em termos genéricos pelas áreas florestais,
tem sido objecto de estudo há mais de um século (KUNZE, 1873 cit. in FEHRMANN & KLEINN,
2006).
A biomassa pode ser estimada através de métodos directos ou indirectos. O primeiro consiste no
processo destrutivo que pressupõe o abate e pesagem das árvores amostra. Tem como
inconvenientes o facto de ser um método muito demorado com custos elevados devido às grandes
quantidades e dimensões de biomassa que é necessário processar para obter resultados
(ONYEKWELU, 2004; NATH et al., 2009). Com o método indirecto (processo não destrutivo),
pretende-se o estabelecimento de relações através da análise de regressão, entre a biomassa e
alguns parâmetros mensuráveis das árvores, nomeadamente, diâmetro à altura do peito (d, 1,30 m de
altura), e a altura total (h), sendo um método menos dispendioso do que o método directo. Assim, de
entre as abordagens metodológicas descritas, as não destrutivas reconhece como padrão base o uso
das relações alométricas. Estas relações começaram por ter aplicação generalizada no estudo e
caracterização de animais e de plantas herbáceas (WEST et al., 2001), razão que levou os
investigadores florestais a pesquisar, com metodologia semelhante, regras universais que
permitissem estimar a biomassa das árvores em função de variáveis mensuráveis, facilmente
observáveis (ENQUIST & NIKLAS, 2002). Este tipo de investigação tem sido objecto de interesse
crescente e consequente incremento face à necessidade de obter informação que sustente a
formulação e definição de políticas ambientais, de cariz climático, que exigem estimativas fiáveis

343
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

(BROWN, 2002; JOOSTEN et al., 2004). SENELWA & SIMS (1998) referem que o desenvolvimento
de equações para estimar a produção de povoamentos florestais é considerado um primeiro passo
necessário para avaliar a correcta gestão dos regimes florestais a seguir. As equações devem
permitir estimar a produção de biomassa, os efeitos dos períodos de rotação a ser explorados, bem
como simular a interacção de outras actividades silvícolas a implementar e seus impactos.
O presente estudo teve como objectivo estimar equações de biomassa total e por componentes para
o pinheiro-bravo (Pinus pinaster Aiton) e carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.) com base em
dados obtidos por amostragem destrutiva de árvores para o distrito de Vila Real.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de estudo

Foram seleccionadas 36 árvores para amostragem destrutiva de 29 povoamentos localizadas no


distrito de Vila Real (Figura 1). Os povoamentos seleccionados encontram-se na área adjacente
de parcelas de amostragem permanentes do Inventário Florestal Nacional (IFN).

Figura 1. Localização da área de estudo.

A área de estudo apresenta uma temperatura média do ar entre 7,5ºC e 16ºC, coincidindo as zonas
mais frias com as de maior altitude, e a precipitação média anual varia entre 300mm, na faixa
nascente do Distrito, e 1800mm, nas franjas montanhosas que predominam a poente (Figura 2).

344
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

Figura 2. Diagrama ombrotérmico da área de estudo.

A área de estudo apresenta zonas ecológicas desde a zona Basal (inferior a 400m) até à zona
Erminiano (superior a 1300m), com predominância para a zona Montano (700 a 1000m), zona
Submontano (400 a 700m) e zona Altimontano (1000 a 1300m), com cerca de 35, 30 e 15% de
ocupação, respectivamente. Quanto à fitogeografia predominam as áreas caracterizadas como
‘noroeste montanhoso’, variando gradualmente até à ocupação por uma faixa de ‘terra quente’,
localizada nos limites Sul e Nascente do Distrito. Os solos presentes são do tipo cambissolos húmicos
e, em algumas manchas, do tipo litossolos e rankers.

2.2. Metodologia

O trabalho de campo iniciou-se com a selecção de 29 parcelas de amostragem permanentes do


IFN onde se realizaram medições dendrométricas para cálculo a árvore média, por observação do
diâmetro à altura do peiro e altura, de cada parcela. De seguida, procedeu-se à escolha das árvores
para abate na área circundante das parcelas permanentes - árvores da mesma espécie com
dimensões equivalentes às das árvores médias das parcelas. Os povoamentos são puros de
carvalho-negral, de pinheiro-bravo e mistos das duas espécies, e abateram-se 36 árvores, 15 de
carvalho-negral e 21 de pinheiro-bravo.
O protocolo de campo para a determinação da biomassa foi baseado em SOARES (2008). Em todas
as árvores foram medidas as seguintes variáveis: diâmetro a 1,30m de altura (d, cm); diâmetro da
base a 15cm de altura (db, cm); altura total (h, m); 4 raios de copa, nas direcções Norte, Sul, Este e
Oeste; distância da árvore às árvores circundantes. Foram ainda registadas todas as características
das árvores circundantes que pudessem interferir no crescimento da árvore a abater,
designadamente o diâmetro, a altura total e os 4 raios de copa; a localização das árvores
circundantes em relação à árvore central baseou-se na medição da distância e do azimute.
Consideraram-se 3 componentes da biomassa da árvore na amostragem destrutiva: agulhas e folhas,
tronco e ramos vivos (ramos com dimensões inferior a 2,5cm, entre 2,5 e 7,5cm e maiores que
7,5cm). Após o abate, procedeu-se à medição da altura total, altura da base da copa, comprimento da
copa viva e altura do cepo. O tronco foi medido desde o cepo até à bicada e foi fraccionado em toros

345
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

desde a base até 1,30m e a partir daqui em toros de aproximadamente 2m de comprimento até à
bicada (ponto em que o diâmetro do tronco com casca tem 7cm). De referir que na definição da
secção de corte teve-se o cuidado da não coincidência com pontos de inserção de ramos, pelo que
nem todos os toros tinham exactamente 2m. Foi recolhida uma rodela amostra com espessura média
de 5cm em cada um desses intervalos para determinação do teor de humidade e percentagem de
casca. Cada toro foi pesado em fresco assim como as rodelas amostra. A copa foi dividida em três
terços e procedeu-se às pesagens dos ramos secos e da copa viva em cada uma destas partes. Em
cada um dos terços foi recolhido uma pernada, que representasse uma pernada média de cada um
destes terços que foi pesada e trazida para laboratório para ser posteriormente analisada. Nas
pernadas amostra foram separadas e pesadas as seguintes componentes: folhas e agulhas, ramos
de dimensão inferior a 2,5cm, entre 2,5 e 7,5cm, maiores do que 7,5cm. Uma amostra de cada
componente foi guardada para determinação do teor de humidade.
Em laboratório, através das amostras recolhidas de tronco e copa, procedeu-se à determinação do
teor de humidade pela pesagem das amostras após secagem em estufa a 75ºC até aquisição de
peso anidro constante, após o que se efectuou a pesagem final de cada uma das amostras, do tronco
e da copa viva, para que assim se obtivessem os respectivos pesos secos. Ainda para as rodelas
procedeu-se à separação da casca da rodela, pesagem da casca e da rodela sem casca e separação
da amostra da casca e sua pesagem. A biomassa seca de cada componente da copa foi calculada
pelo produto entre a razão peso seco/peso fresco da amostra dessa componente e o peso fresco total
da componente, estimado a partir da proporção que a componente representava em relação ao peso
fresco total da copa. A biomassa seca do tronco foi calculada pelo produto entre a razão peso
seco/peso fresco da amostra de cada componente e o peso fresco total da componente, estimado a
partir da proporção que a componente representada em relação ao peso fresco total do tronco.

2.3. Caracterização dos povoamentos

Procedeu-se à caracterização dendrométrica das árvores dos povoamentos em estudo. Foram


calculadas as variáveis do povoamento, puro e misto e por espécie, nomeadamente: diâmetro médio
(d), altura média (h), nº árvores por ha (N) e área basal (G). Para os povoamentos puros (Tabela 1a),
verifica-se uma proximidade nas variáveis médias d e h, para ambas as espécies, assumindo o
diâmetro valores médios de 22,1cm para o carvalho-negral e 24,2cm para o pinheiro-bravo, sendo as
alturas médias de 10,9m e 13,8m, respectivamente. O pinheiro-bravo com 545 arv/ha apresenta uma
densidade cerca de 30% superior à do carvalho-negral (388 arv/ha). Esta diferença reflecte-se na
área basal dos povoamentos, sendo que o pinheiro-bravo apresenta cerca do dobro da área basal do
carvalho-negral (21,0 e 10,6 m2 ha-1, respectivamente). No que respeita aos povoamentos mistos
(Tabela 1b), apesar dos resultados das variáveis d e h serem semelhantes, verifica-se que a
densidade média do carvalho-negral (291 arv/ha) é cerca de 40% superior à do pinheiro-bravo (176
arv/ha). Não obstante, a área basal obtida para o carvalho-negral, 8,1 m2 ha-1, é inferior à do pinheiro-
bravo, 11,8 m2 ha-1.

346
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

Tabela 1. Caracterização dendrométrica dos povoamentos puros e mistos de carvalho-negral e


pinheiro-bravo adulto. Entre parêntesis indica-se o nº de árvores abatidas em cada povoamento.

(a) Povoamentos puros


Carvalho-negral Pinheiro-bravo
N º parcelas
-1 2 -1 -1 2 -1
d (cm) h (m) N (arv ha ) G (m ha ) d (cm) h (m) N (arv ha ) G (m ha )

Máximo 35,3 17,3 1420 19,9 37,4 19,0 2040 37,9


Média 22,1 10,9 388 10,6 24,2 13,8 545 21,0
20 (24)
Mínimo 13,3 7,9 80 3,3 11,6 7,0 80 4,3
Des Pad 7,4 2,6 394 5,8 6,8 3,4 471 10,1

(b) Povoamentos mistos


Carvalho-negral Pinheiro-bravo
N º parcelas
-1 2 -1 -1 2 -1
d (cm) h (m) N (arv ha ) G (m ha ) d (cm) h (m) N (arv ha ) G (m ha )

Máximo 39,0 13,5 500 16,3 49,6 21,0 280 23,2


Média 20,4 10,1 291 8,1 27,9 13,8 176 11,8
9 (12)
Mínimo 11,3 7,1 40 1,9 11,9 8,4 60 0.7
Des Pad 9,3 2,1 183 5,8 11,7 3,6 74 7,5

Para além dos dados recolhidos especificamente para o presente estudo, foram também utilizados
dados de outros trabalhos prévios. A Tabela 2 apresenta a caracterização das 30 árvores individuais
de pinheiro-bravo jovem, dados do trabalho de ARNALDO et al. (2010), em que para este grupo de
árvores apenas são apresentados valores para as variáveis das árvores individuais, pois a
informação recolhida não permitiu a sua associação por parcelas, e portanto, não foi possível o
cálculo das variáveis dendrométricas de povoamento. Para árvores desta dimensão a análise do
diâmetro da base (medido a 10cm de altura da árvore) é a abordagem mais adequada. O d0,10
apresenta um valor médio de 4,3cm e a altura média das árvores não ultrapassa os 2m.

Tabela 2. Caracterização dendrométrica das árvores de pinheiro-bravo jovem (adaptado de


ARNALDO et al., 2010).

d0,10 (cm) d (cm) h (m)


Máximo 7,3 3,6 3,1
Média 4,3 1,5 2,0
Mínimo 2,7 0,0 1,2
Des Pad 1,2 0,9 0.5

2.4. Modelo alométrico

Para as árvores adultas de pinheiro-bravo, procedeu-se à validação das equações ajustadas em


FAIAS (2008) (Tabela 3) verificando-se se as estimativas obtidas eram idênticas aos dados
recolhidos em campo.

347
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

Tabela 3. Equações de biomassa aérea, total e por componentes, para pinheiro-bravo (FAIAS,
2008).

Componentes da árvore Equações


1,868252 1,216072
Tronco sem casca (ww) ww = 0,011565 d h
Tronco com casca (ws) ws = ww + wb
2,274024
Casca (wb) wb = 0,015953 d
2,763628
Ramos (wbr) wbr = 0,003971 d
1,612475 -0,547370
Agulhas (wl) wl = 0,065631 d (h/d)
Biomassa total wa = ww + wb + wbr + wl
sendo d, o diâmetro da árvore medido a 1,30m de altura (cm); h, altura total da árvore (m).

No que respeita ao ajustamento de equações relativas às árvores jovens de pinheiro-bravo e às


árvores de carvalho-negral, utilizou-se a metodologia que a seguir se descreve, e que se baseia nas
metodologias descritas por MYERS (1986), PARRESOL (1999), PARRESOL (2001), CORTIÇADA et
al. (2005) e CORREIA et al. (2008). A biomassa das várias componentes da árvore (tronco, ramos e
folhas/agulhas) bem como a biomassa total acima do solo (definida como a soma das biomassas das
componentes) foram estimadas com base na relação alométrica, tendo sido testadas como variáveis
independentes o diâmetro medido a 1,30m de altura e a altura total ou combinações destas. Para
cada componente, o ajustamento das várias equações foi feito recorrendo ao procedimento NLIN do
módulo SAS STAT v9.2 (SAS Institute, 1999-2001), utilizando o algoritmo de Gauss-Newton, que
através de um processo iterativo gera estimativas optimizadas para os vários parâmetros,
minimizando em simultâneo a soma dos quadrados dos resíduos. Seleccionou-se o modelo que, para
cada componente, apresentava um maior valor de R2ajustado e menor soma dos quadrados dos
resíduos (SQR), sendo condição que todas as estimativas dos parâmetros diferissem
significativamente de zero. É importante referir que, pelo facto das árvores abatidas não fazerem
parte de uma parcela previamente medida, não estavam disponíveis parâmetros do povoamento tais
como a idade, a altura dominante, o número de árvores do povoamento e área basal por hectare,
pelo que não puderam ser testados na expressão dos coeficientes das equações.

Pinheiro-bravo jovem
Partiu-se da relação alométrica para seleccionar as melhores equações de biomassa para cada
componente (Figura 3). Verificou-se que a relação das biomassas de folhas e de ramos com a
altura total da árvore era pouco evidente. Porque se trata de árvores jovens, em que o diâmetro
pode não ser uma variável possível de ser medida, o modelo alométrico escolhido foi do tipo:

w  a d 1 ht (1)

onde, w é a biomassa (kg) das várias componentes da árvore (tronco, ramos e agulhas); d é o
diâmetro (cm) da árvore medido a 1,30 m de altura; ht é a altura total (m) da árvore e a 0, a1 e a2
são os parâmetros da equação. Adicionou-se uma unidade ao diâmetro para ultrapassar as
situações em que o diâmetro era nulo.

348
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

Figura 3. Relação entre a biomassa total e por componentes com as variáveis altura total e diâmetro
da árvore para dados de pinheiro-bravo jovem (h < 3,5m).

Numa primeira fase, foram seleccionados os modelos específicos para cada componente (em
que a biomassa podia ser função de d e ht; só de d ou só de ht) tendo-se seleccionado aquele
cujas estimativas dos parâmetros foram significativamente diferentes de zero e que correspondia
a um maior valor de R2ajustado e a uma menor soma do quadrado dos resíduos (SQR).
De seguida, analisou-se a homocedasticidade dos resíduos, por observação dos gráficos dos
resíduos studentizados em função dos respectivos valores estimados. No caso de não se
verificar homocedasticidade definiu-se uma equação para ponderação dos referidos resíduos
efectuando-se, posteriormente, o reajustamento das equações de biomassa por regressão não
linear ponderada com pesos determinados de acordo com a metodologia apresentada por
PARRESOL (1999). Foi analisada a normalidade dos resíduos studentizados (através do gráfico
de probabilidades normal). A não normalidade destes resíduos foi ultrapassada efectuando o
reajustamento das equações por regressão robusta baseada no método do estimador de Huber
(MYERS, 1986). Após selecção e ajustamento da equação para cada uma das componentes de
biomassa (Tabela 4), procedeu-se ao ajustamento simultâneo das equações. Para tal, seguiu-se
o procedimento referido por PARRESOL (2001), método dos mínimos quadrados generalizados
designado por Nonlinear Seemingly Unrelated Regressions (NSUR), o qual foi aplicado
recorrendo à opção ITSUR do procedimento MODEL do SAS (SAS Institute, 1999-2001). No
ajustamento simultâneo, a biomassa de cada componente foi calculada pelas equações presente
na Tabela 4 e a biomassa total como o somatório das biomassas das componentes. Cada
regressão foi ajustada utilizando os pesos específicos determinados no ajustamento
independente.

349
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

Tabela 4. Equação de biomassa seleccionada por componente da árvore para pinheiro-bravo


jovem.

Componentes da árvore Equação


a1 a2
Agulhas w = a0 (d + 1) ht
a1
Ramos w = a0 (d + 1)
a1
Tronco w = a0 (d + 1)
a1 a2
Biomassa aérea total w = a0 (d + 1) ht

Carvalho-negral
A metodologia de selecção e ajustamento das equações de biomassa foi idêntica à descrita para
o pinheiro-bravo jovem. Foram obtidos resultados mais satisfatórios com o perímetro da árvore
pelo que o modelo alométrico seleccionado foi:

w   a πd ht (2)

em que as variáveis têm o significado anteriormente apresentado.


Foram seleccionados os modelos específicos para cada componente (em que a biomassa podia
ser função de πd e ht; só de πd ou só de ht) (Tabela 5).

Tabela 5. Equação de biomassa seleccionada por componente da árvore para carvalho-negral.

Componentes da árvore Equação


a1
Agulhas w = a0 (πd)
a1 a2
Ramos w = a0 (πd) ht
a1 a2
Tronco w = a0 (πd) ht
a1 a2
Biomassa aérea total w = a0 (πd) ht

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Caracterização das árvores abatidas

Relativamente aos dados das 36 árvores abatidas, verifica-se que a biomassa seca total média
por árvore para o carvalho-negral é de 186,0kg, variando entre 45,5 e 508,6kg, e para o pinheiro-
bravo é de 210,1kg, variando entre 30,3kg e 553,1kg (Tabela 6). No que respeita à altura total
das árvores, o pinheiro-bravo varia entre 6,9 e 19,5m, e o carvalho-negral entre 8,6 e 17,4m.

Tabela 6. Características das árvores abatidas, valores médios ± desvio-padrão.

Variáveis Carvalho-negral Pinheiro-bravo

d (cm) 18,9 ± 7,4 24,9 ± 6,8


h (m) 12,1 ± 2,8 13,6 ± 3,5
Biomassa seca
186,0 ± 160,5 210,1 ± 141,0
total (Kg)

Para as árvores amostradas, em média o pinheiro-bravo apresenta valores de diâmetro (24,9 ±


6,8cm) mais elevados que o carvalho-negral (18,9 ± 7,4cm) embora, para ambas as espécies,
tenham sido encontradas classes de diâmetro de 35 e 40cm (Figura 4).

350
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

Figura 4. Número de árvores por classes de diâmetro para, a) carvalho-negral; b) pinheiro-bravo.

Relativamente à análise por componentes, para o carvalho-negral, a componente que, em termos


médios, apresentou mais biomassa foi a do tronco (66%), seguida dos ramos (30%) e das folhas
(4%). Para o pinheiro-bravo, a componente que em termos médios apresentou mais biomassa foi
a do tronco (72%), seguida dos ramos (18%) e das agulhas (10%).

3.2. Ajustamento das equações de biomassa

Pinheiro-bravo
Procedeu-se à validação das equações ajustadas por FAIAS (2008) para os dados do estudo de
pinheiro-bravo adulto. Dos resultados obtidos verificou-se que estas equações apresentam bons
resultados para estes dados (Figura 5), que indicia que estas equações podem ser utilizadas
para esta zona do país (erro médio de 0,1kg árvore-1, sendo o erro definido pela diferença entre o
valor real e o valor estimado com as equações de FAIAS (2008)). As equações apresentam bom
comportamento em termos de biomassa de tronco e de biomassa total acima do solo, uma vez
que os valores observados são muito semelhantes aos valores estimados. No entanto, verifica-se
que a equação de FAIAS (2008) subestima os valores de biomassa das folhas. Isto deve-se ao
facto desta espécie apresentar tipicamente uma grande heterogeneidade de copa, com situações
em que o mesmo d se associa a copas com diferentes profundidades. Idêntico comportamento se
verifica para a biomassa de ramos embora com diferenças menos acentuadas. Dos resultados da
precisão e enviesamento para cada componente verifica-se que para as folhas obteve-se um erro
percentual médio de 23,1% (estimativa subestimada), para os ramos de 9,1% e para o tronco de -
5,6% (estimativa sobreestimada). Em termos percentuais do Erro Absoluto Médio, a equação da
biomassa das folhas é a menos precisa (25,0%) e a biomassa do tronco é a mais precisa (9,2%).

351
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

Figura 5. Comparação da biomassa estimada com as equações de FAIAS (2008) com a biomassa
obtida neste estudo para pinheiro-bravo adulto.

Contudo, o bom desempenho para as árvores adultas não se verifica com as árvores jovens
(Figura 6), pelo que, para as árvores jovens, foram ajustadas novas equações.

12
árvores  jovens
10
Wtronco real (kg)

0
0 2 4 6 8 10 12
Wtronco estimada (kg)

Figura 6. Comparação da biomassa estimada com as equações de FAIAS (2008) com a biomassa
obtida neste estudo para pinheiro-bravo jovem.

A Tabela 7 apresenta os resíduos PRESS para o pinheiro-bravo jovem. O somatório dos resíduos
PRESS e o somatório dos resíduos PRESS em valor absoluto (APRESS) avaliam,
respectivamente, o enviesamento e a precisão do modelo. Verifica-se, que as equações de
biomassa para o tronco são as mais precisas e as menos enviesadas enquanto as das folhas
apresentam tendências opostas.

352
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

Tabela 7. Resíduos PRESS obtidos para o pinheiro-bravo jovem.


2
mpress mІpressІ P5(press) P95(press) SQE R aj

Wfolhas 0,1953 1,6740 -3,2424 3,3378 134,3130 0,64


Wramos -0,0014 1,1227 -1,6082 3,0854 58,8331 0,34
Wtronco 0,0659 1,1078 -1,9456 3,1625 74,1186 0,68
Wtotal 0,2797 3,2848 -5,8510 7,6977 521,4940 0,70
mpress: média dos resíduos press; m|press|; média dos resíduos press absolutos; P5(press): percentil 5 e P95(press):
2
percentil 95 dos resíduos press; SQE: soma dos quadrados dos erros; R aj: coeficiente de determinação ajustado.

As equações finais obtidas por ajustamento simultâneo para o pinheiro-bravo jovem encontram-
se na Tabela 8.
Tabela 8. Equações finais resultantes do ajustamento simultâneo e respectivos coeficientes de
determinação ajustados – pinheiro-bravo jovem.
2
Componente Equação Estimativa dos Parâmetros R aj

a1 a2
Agulhas wl = a0 (d + 1) ht a0 = 1,38040; a1 = 2,39942; a2 = -1,41296 0,62
a1
Ramos wbr = a0 (d + 1) a0 = 0,878604; a1 = 1,222651 0,31
a1
Tronco ws = a0 (d + 1) a0 = 0,82682; a1 = 1,637085 0,68
Biomassa aérea total wa = wl + wbr + ws 0,65

Carvalho-negral
Com base nas equações seleccionadas para o carvalho-negral, a Tabela 9 apresenta os resíduos
PRESS obtidos. Esta espécie não tem comportamento análogo ao pinheiro-bravo, quando
comparamos a performance dos diferentes componentes da árvore.

Tabela 9. Resíduos PRESS obtidos para o carvalho-negral.


2
mpress mІpressІ P5(press) P95(press) SQE R aj

Wfolhas 1,61655 20,4455 -62,1209 85,0428 15033,06 0,93


Wramos 0,04701 1,8803 -4,0518 5,5515 74,6500 0,84
Wtronco -1,64543 13,6049 -42,3414 32,3251 4743,27 0,91
Wtotal 2,87905 29,9112 -78,5892 123,9940 29243,42 0,92
mpress: média dos resíduos press; m|press|; média dos resíduos press absolutos; P5(press): percentil 5 e P95(press):
2
percentil 95 dos resíduos press; SQE: soma dos quadrados dos erros; R aj: coeficiente de determinação ajustado.

As equações finais obtidas por ajustamento simultâneo para o carvalho-negral encontram-se na


Tabela 10.

Tabela 10. Equações finais resultantes do ajustamento simultâneo e respectivos coeficientes de


determinação ajustados – carvalho-negral.
2
Componente Equação Estimativa dos Parâmetros R aj

a1
Folhas w = a0 (πd) a0 = 0,003993; a1 = 1,887544 0,83
a1 a2
Ramos w = a0 (πd) ht a0 = 0,00025; a1 = 2,669501; a2 = 0,564713 0,90
a1 a2
Tronco w = a0 (πd) ht a0 = 0,002449; a1 = 1,719506; a2 = 1,4353 0,93
Biomassa aérea total wa = wl + wbr + ws 0,91

353
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

4. CONCLUSÃO

Neste estudo ajustaram-se equações de biomassa para carvalho-negral e exemplares jovens de


pinheiro-bravo, de forma a estimar a biomassa aérea anidra total e por componentes de cada
árvore individual para a região Norte de Portugal. O ajustamento simultâneo das equações do
tronco, ramos, agulhas/folhas e da biomassa total, expressa como somatório das biomassas das
componentes, produziu resultados satisfatórios.
Para os povoamentos de pinheiro-bravo adulto os resultados obtidos permitiram concluir que as
equações propostas por FAIAS (2008) podem ser utilizadas para esta região do país, já que
conduziram a estimativas precisas de biomassa quando aplicadas às variáveis recolhidas no
campo (d e h). O desempenho destas equações, quando aplicadas a povoamentos jovens de
pinheiro-bravo, revelou-se desadequado, pelo que se procedeu ao ajustamento de novas
equações para este conjunto de árvores jovens. Realce-se, neste âmbito, que o desejável será
conseguir, em trabalhos futuros, ampliar e uniformizar a base de dados e proceder ao
ajustamento de um modelo com bom desempenho comum às árvores adultas e jovens de
pinheiro-bravo.
Apesar da reduzida base de dados utilizada para o ajustamento dos modelos do carvalho-negral,
esta permitiu ajustar equações que podem responder à necessidade crescente de estimativas da
biomassa anidra da espécie na região. Também será desejável, em trabalhos futuros, ampliar a
base de dados, considerando a distribuição mais equitativa das dimensões das árvores amostra,
para que os modelos a obter tenham uma base de sustentação muito mais ampla e garantam
uma maior confiança de utilização. Contudo, sendo uma espécie de enorme importância
ecológica, a dificuldade em obter exemplares para ampliação da base de dados é sempre
dificultada.
De referir como linhas de trabalho futuro, a quantificação da biomassa das raízes, com maiores
potencialidades de aplicação dos modelos de biomassa e cálculo da produtividade total da árvore
e, aplicação das equações ajustadas em estudos de estimativa de carbono fixado pelas duas
espécies.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Marco Magalhães, Armindo Teixeira, Carlos Fernandes e Carlos Brito pela
ajuda prestada no trabalho de campo e de laboratório. Este trabalho é financiado por Fundos FEDER
através do Programa Operacional Fatores de Competitividade - COMPETE e por Fundos Nacionais
através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia no âmbito do projeto FCOMP-01-0124-
FEDER-022692 e pelo projecto PTDC/AGR-CFL/68186/2006 e Programa FCT
SFRH/PROTEC/50127/2009.

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354
A. Mendes, L. Nunes, D. Lopes e P. Soares

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355
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Importância da pesca lúdica e desportiva no Nordeste Transmontano

Fernando Miranda1* e Amílcar Teixeira2


1
ESA - IPB, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança, Campus Santa Apolónia,
Apartado 1172, 5301-855 Bragança, Portugal.
2
CIMO - ESA - IPB, Centro de Investigação de Montanha, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico
de Bragança, Campus Santa Apolónia, Apartado 1172, 5301-855 Bragança, Portugal.

e-mail: amilt@ipb.pt

Resumo: No ano de 2012, foi feita uma caraterização da pesca lúdica e desportiva do Nordeste
Transmontano, baseada num universo de 120 inquéritos realizados a pescadores entrevistados
maioritariamente nas bacias hidrográficas dos rios Sabor e Tua. Foram obtidas informações
relevantes, como o perfil, preferência pelo tipo de massa hídrica, frequências de viagens,
motivação, gastos despendidos, interesse em competições, vigilância e legislação existente.
Nesta região do norte de Portugal, os pescadores revelaram preferência por espécies
autóctones, com especial predominância pela truta, e ainda pelo barbo, boga e escalo, mas
também se verificou um aumento do interesse na pesca ao achigã e ao lúcio, de introdução
relativamente recente. Foram ainda identificadas pressões sobre os recursos piscícolas
resultantes da sobrepesca, poluição, regularização e degradação das galerias ripícolas. Surgiram
também indicações acerca da necessidade de comunicação entre pescadores, serviços estatais
e investigação e ainda do envolvimento do público e dos media, através do desenvolvimento de
diferentes ações de informação, sensibilização e educação. Tendo em conta a baixa
produtividade piscícola que caracteriza as águas oligotróficas dos rios do Nordeste de Portugal, é
sugerida a necessidade de evolução para: 1) técnicas de pesca sem morte (i.e. catch and
release); 2) uso exclusivo de iscos artificiais; 3) criação de zonas de proteção adequadas; 4)
criação de parques de pesca; 5) aplicação de técnicas de melhoria do habitat em zonas
degradadas; 6) melhor gestão das zonas concessionadas; 7) medidas legislativas apropriadas; 8)
melhor gestão e ordenamento das massas hídricas. Importa ainda realçar que as albufeiras dos
Aproveitamentos Hidroelétricos do Baixo Sabor (AHBS) e de Foz Tua (AHFT) poderão, num
futuro próximo, atrair muitos pescadores não residentes, de Portugal, Espanha e outros países, e
potenciar os benefícios diretos (e.g. nº de licenças, equipamentos) e indiretos (e.g. restauração,
alojamento) associados à pesca na região.
Palavras-chave: pescadores, inquéritos, pesca desportiva, Nordeste Transmontano

Abstract: During 2012, it was made the characterization of fishing activity of northeastern
Portugal, based on the inquiry of 120 fishermen present mainly in different watercourses of Sabor
and Tua rivers. Different information was obtained related with type of fishermen, motivation,
costs, contest interest, vigilance and legislation. In this region fishermen revealed preference by
autochthonous species, namely brown trout and cyprinid fishes like Iberian endemic barbel, nase
and chub species. It was also detected a recent interest on exotic species like blackbass and
pikeperch. Overfishing, pollution, regulation and riparian degradation were identified as the main
threats of wild fish resources. Furthermore, it was signed that local and national authorities,
investigation, fishermen and general public must be involved and educational programs
developed. Taking into account the low natural productivity of oligotrophic waters of northeastern
Portugal, different measures were assigned, such as: 1) catch and release techniques; 2)
exclusive use of artificial baits; 3) creation of more protection zones; 4) creation of fishing parks;
5) habitat improvement of disturbed areas; 6) best management of fish licensed areas; 7)
development of new legal measures and 8) better watershed management. Finally, the big dams
constructions in the Tua, Sabor and Tâmega rivers, can create new opportunities to attract many
fishermen from Portugal, Spain and other countries and direct (e.g. licenses, equipment) and
indirect benefits (accommodation, restaurants) must be explored linked to the fishing activity of
Fernando Miranda e Amílcar Teixeira

this region.
Keywords: Fishermen, inquiry, angling, Northeastern Portugal

1. INTRODUÇÃO

As massas de águas superficiais de Portugal apresentam elevadas potencialidades para suportar um


conjunto de espécies aquícolas que constituem um valioso recurso natural renovável do ponto de
vista social, cultural e económico. Por tal razão, a sua gestão, proteção e exploração deve ser
norteada de acordo com princípios de sustentabilidade que assegurem a manutenção da
biodiversidade (BOCHECHAS, 2000). Existem muitas espécies, algumas delas endemismos ibéricos,
que têm elevado interesse em termos de conservação, estando listadas no Livro Vermelho do
Vertebrados de Portugal (CABRAL et al., 2005) face à crescente ameaça das populações distribuídas
pelas diferentes bacias hidrográficas. A sobrepesca, mas também outros fenómenos de perturbação
do meio aquático como a poluição e eutrofização das massas hídricas, a regularização e canalização
de rios, a extração de inertes ou a degradação dos ecótonos ripários, tem contribuído para a
delapidação de recursos aquícolas de elevado valor biológico, cultural e inclusive económico. De
facto, o valor económico da pesca em Portugal assume, hoje em dia, um papel relevante, como
aparece expresso na matriz estruturante definida pela Estratégia Nacional para as Florestas (DGRF,
2007). É por isso fundamental perceber o comportamento de todos os utilizadores dos recursos
aquáticos, entre os quais, a pescadores assumem uma notável importância. No entanto, a informação
referente à pesca lúdica e desportiva é ainda hoje pouco utilizada na formulação das melhores ações
de gestão e ordenamento dos recursos aquícolas. Com o presente estudo pretendeu-se fazer um
levantamento da situação atual da pesca lúdica e desportiva no Nordeste Transmontano, baseado em
inquéritos realizados a pescadores, com o intuito de atualizar o perfil dos utilizadores dos recursos
piscícolas da região e contribuir para uma melhor gestão e ordenamento das massas hídricas.

2. METODOLOGIA

2.1 Área de Estudo

O estudo foi desenvolvido nas bacias hidrográficas dos rios Sabor e Tua, dois dos principais afluentes
da margem direita do rio Douro em território de Portugal. A comunidade piscícola do Alto Tua e Alto
Sabor está composta quase exclusivamente por espécies autóctones pertencentes às famílias
Salmonidae, Cyprinidae e Cobitidae, sinónimo da integridade ecológica existente. Por exemplo, na
cabeceira dos rios, situados no interior do Parque Natural de Montesinho (PNM), é comum encontrar
populações exclusivas de truta-de-rio (Salmo trutta) ou em coabitação com diferentes espécies
autóctones pertencentes à família Cyprinidae, caso do escalo (Squalius carolitertii), do barbo
(Luciobarbus bocagei), da boga (Pseudochondrostoma duriense) e do bordalo (Squalius alburnoides).
Registo ainda para a presença do verdemã do norte (Cobitis calderoni). Nos setores médios e
terminais dos rios principais ocorrem, com tendência cada vez mais dominante, espécies piscícolas
exóticas resultantes de introduções acidentais ou deliberadas do Homem, pertencentes às famílias
Centrarchidae, Esocidae, Percidae, Poeciliidae, Cyprinidae e Salmonidae. A introdução de algumas

357
Fernando Miranda e Amílcar Teixeira

espécies é relativamente recente, como a perca-sol (Lepomis gibbosus), o achigã (Micropterus


salmoides), o lúcio (Esox lucius), a lucioperca (Sander lucioperca), o góbio (Gobio lozanoi), a
gambúsia (Gambusia holbrooki) e o alburno (Alburnus alburnus), ou então mais antiga como a carpa
(Cyprinus carpio), o pimpão (Carassius auratus) e a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss).

2.2. Inquéritos

A Escola Superior Agrária de Bragança, com a colaboração do Unidade de Gestão Florestal do


Nordeste Transmontano, atualmente inserida no Instituto de Conservação da Natureza e das
Florestas (ICNF), elaborou um inquérito, baseado em 43 questões, que pretendeu atualizar a
informação referente à pesca lúdica e desportiva no Nordeste Transmontano, mais especificamente
nas bacias hidrográficas dos rios Sabor e Tua. O modelo do questionário teve na sua génese
documentos diversos (DGF, 1998 e 1999, SILVA, 2006), suficientemente testados noutras bacias
hidrográficas de Portugal, tendo sido acrescentadas questões, atualmente considerados como
relevantes para atingir os objetivos delineados no estudo. A metodologia escolhida para obtenção da
recolha dos dados pretendidos foi através da técnica do inquérito por questionário, de
autoadministração e resposta facultativa, dirigida aos pescadores do Nordeste Transmontano. O
referido inquérito foi realizado de março a julho de 2012 e a maior parte do questionário reportou-se
ao ano transato (2011). O âmbito geográfico estabelecido foi a região do Nordeste Transmontano. O
universo estatístico do presente estudo foi baseado em 120 inquéritos, a maioria dos quais realizados
a pescadores que exerciam a atividade da pesca desportiva em troços de rios de aptidão
salmonícola, ciprinícola e em albufeiras de barragens.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos permitiram obter o perfil do pescador que frequenta os rios e albufeiras do
Nordeste Transmontano. Entre outros aspetos, realça-se que a maioria dos pescadores são do sexo
masculino, possuem uma idade compreendida entre os 41 e 60 anos, desloca-se normalmente em
viatura própria e faz das jornadas de pesca um momento de confraternização com amigos também
pescadores. Provavelmente, dada a densidade de drenagem da região e a distribuição dos stocks
piscícolas por várias massas hídricas, as deslocações não excedem os 50 km, não justificando
gastos mais elevados em alojamento e alimentação. Os gastos envolvidos em equipamentos são
também relativamente baixos, i.e. inferiores a 250 euros. Ficou ainda bem patente o interesse que a
pesca lúdica e desportiva exerce em pescadores cuja atividade profissional aparece perfeitamente
dispersa por todos os quadrantes da sociedade, embora os rendimentos da maioria dos pescadores
se situem em estratos intermédios, i.e. entre os 750 e 1500 euros (Figura 1).
O estudo efetuado mostrou também uma maior procura dos pescadores do Nordeste Transmontano
pelas espécies autóctones, com especial predominância para a truta de rio, mas também pelo barbo,
boga e escalo, capturados essencialmente nas massas de água de caráter lótico. A motivação dos
pescadores consiste na captura de muitos peixes, especialmente de dimensão superior, embora
tenham sido destacados como principais condicionalismos a sobrepesca e a vigilância inadequada.
Ficou explícito a fraca participação em competições de pesca desportiva, embora sejam muito poucos

358
Fernando Miranda e Amílcar Teixeira

os concursos na região do nordeste transmontano. Quando questionados acerca da formação


específica do pescador, a maioria tem consciência do baixo nível de conhecimentos acerca da
bioecologia das espécies e declarou estar disponível para participar mais ativamente, nomeadamente
em associações de pesca que visem uma melhor gestão das populações e ecossistemas. Os
repovoamentos e as medidas legislativas adequadas são ainda as principais ferramentas que, na
perspetiva dos pescadores, devem ser tomadas para melhoria do potencial pesqueiro (Figura 3).

Qual é a idade (anos)? Tipo de transporte para a pesca?

60
De automóvel 
50 1% próprio
40 20%
De automóvel de 
30 familiares ou amigos
20
79% De motociclo
10
0
De outro meio de 
<15  16‐25  26‐40  41‐60  > 60  transporte

Qual a distância percorrida desde a sua


Quantas horas dedica à pesca/dia?
residência até aos locais e pesca?
60

1% 1% 50
Menos de 50 km
19% 40 Menos de 2 horas
51 a 100 km
Entre 2 e 4 horas
30
101 a 200 km Entre 4 e 6 horas
79%
Mais de 200 Km 20 Mais de 6 horas

10

Em 2011, quais as despesas (deslocação, Qual o valor global do equipamento de pesca


alimentação, alojamento) que teve com a pesca? (canas de pesca, carretos, barcos, amostras)?

80
Até 250 euros
70 < 250 euros
60 251 a 500 euros 251 ‐ 500 euros
50 1001 ‐ 2500 euros
40 501 a 1000 euros
2501 ‐ 5000 euros
30
1001 a 1500 euros 5001 ‐ 10000 euros
20
10 Mais de 1500 euros > 10000 euros

0
0 20 40 60

359
Fernando Miranda e Amílcar Teixeira

Qual a sua atividade principal-profissão? Qual o valor do rendimento médio mensal do


seu agregado familiar, líquido de impostos e
Desempregado outros descontos?
Reformado
até 500 €
Agricultura e pescas
5% 5% 3%
Adm. Pública/empresas 8% 11% 501 a 750 €
13% 10%
24%
Trab. não qualificados 751 a 1500 €
1%
9% 9% Intelectuais/científicas 21%
47% 1501 a 2000 €
11% 10% Pes. administrativo 
2001 a 3000 €
6% 4% Técnicos nível médio
mais de 3000 €
Estudantes
Serviços e vendedores Não sabe/Não responde

Operários

Figura 1. Perfil do pescador transmontano (baseado em 120 inquéritos, ano de 2012).

Foi detetado um incremento no interesse da pesca do lúcio, achigã e lucioperca, de introdução


relativamente recente nas massas de água lênticas (albufeiras e foz dos rios), ao contrário da carpa o
cujo interesse é diminuto, quando comparado com as preferências do pescadores do sul do país
(FERREIRA et al., 1999). O valor gastronómico associado ao lúcio e achigã justifica a tendência
observada, que paulatinamente vêm ganhando novos pescadores, inclusive alguns aficionados da
pesca à truta. No entanto, é ainda a truta selvagem que exibe um valor comercial mais elevado,
nomeadamente ao nível dos restaurantes locais, que pode atingir alto preço de mercado (e.g. 15-20
euros/Kg). Apesar do interesse depositado pelos pescadores nos ciprinídeos, o seu valor comercial é
residual (6-8 euros/Kg). Estes peixes constituem um importante alimento, muitas vezes usada para
consumo próprio ou para oferta. Importa, pois, realçar que a pesca tem gerado, por si só, alguns
benefícios indiretos na região, ao nível da gastronomia, alojamento e aquisição de equipamentos
diversos, que poderão ser ainda mais potenciados (Figura 2).

Figura 2. Captura de exemplares de dimensão apreciável (truta de 75 cm, rio Tuela); Gastronomia
regional associada à espécie (região do Nordeste Transmontano).

Apesar dos interesses na proteção de espécies autóctones, tudo leva a crer que a pesca desportiva
no Nordeste Transmontano venha a aumentar num futuro próximo, nomeadamente com a criação de

360
Fernando Miranda e Amílcar Teixeira

novos ambientes aquáticos, como são as albufeiras dos Aproveitamentos Hidroelétricos do Baixo
Sabor (AHBS) e de Foz Tua (AHFT), em fase de construção e que irão aumentar a área disponível
para o estabelecimento de novas comunidades piscícolas (no caso do AHBS ocupará uma extensão
de aproximadamente 60 kms, atingindo a foz do rio Maçãs e o AHFT que se estenderá ao longo de
30 kms). De facto, estes ambientes modificados vão servir para ampliar o potencial pesqueiro
associado a espécies altamente vorazes, de regime piscívoro, com elevado interesse para a pesca
desportiva, como sejam o achigã, o lúcio e a lucioperca. Nesta medida, poderão aumentar os
benefícios diretos (e.g. nº de licenças, equipamentos) e indiretos (e.g. restauração, alojamento)
associados à pesca desportiva no Nordeste Transmontano. É por isso necessário desenvolver planos
que passem pela informação e formação de todos os potenciais utilizadores, de modo a não replicar
modelos mas antes definir estratégias orientadas para a especificidade de cada massa hídrica.

Qual a principal motivação para a pesca? Quais principais fatores de diminuição 
do potencial pesqueiro na região?

16% 22%

26%
18% 28% 26%
9%
17%

Peixe demasiado pequeno
Expetativa de pescar muitos peixes Demasiados pescadores
Expetativa de pescar peixes de tamanho superior à média Água poluída
Beleza da paisagem Margens muito inclinadas e com muitas pedras
Proximidade de casa Pouco peixe
Acessos difíceis
Concursos nacionais e internacionais
Muito lixo nas margens
Treino ou simples recreio Falta de sombras
Porque não vinha a este local à muito tempo Outra caraterística diferente das indicadas

Comparativamente com outros anos  Como poderia ser melhorado o potencial 
como evoluiram as capturas? pesqueiro na região?
4%
Diminuiu Manteve Aumentou
10%
42%

44%

Repovoamentos
Medidas legislativas (nº peixes, dias pesca, sem morte)
Truta Barbo Boga e Escalo Achigã Lúcio Melhoria de habitat
Outras

361
Fernando Miranda e Amílcar Teixeira

Estaria disposto a pertencer a uma  Participa habitualmente em concursos de 
associação e contribuir para melhor  pesca?
gestão das pescas? 100

9% Sim 80
14%
60
Não 40
77%
20
Não sabe/Não 
responde 0

Sim, muitas vezes Sim, algumas vezes Raramente Não

Acha suficiente a formação dos pescadores? Como classifica a vigilância atual?

Sim

22% 9% Suficiente

Não
Insuficiente
69%
Não sabe/Não 
responde
Inexistente

0 20 40 60 80

Figura 3. Respostas a diferentes questões do inquérito realizado aos pescadores transmontanos.

À semelhança doutros autores (e.g. MARTA et al., 2001) foram identificados vários fatores de
perturbação do meio aquático que restringem a pesca desportiva em muitos troços/massas hídricas
da região transmontana (Figura 4).

Especial destaque para a poluição e eutrofização da água, regularização e obras hidráulicas


construídas no leito de rios, ausência de apoios para a realização de competições, pesca ilegal, falta
de infraestruturas de apoio à pesca desportiva, dificuldade para circular (vedações colocadas pelos
proprietários locais) nas zonas de domínio público situado nas margens dos rios, falta de informação
acerca da atividade, ausência de material bibliográfico em língua portuguesa acerca da bioecologia
das espécies e conservação de ecossistemas, baixo nível de reconhecimento do valor
socioeconómico da pesca desportiva pelo público em geral, insuficiente monitorização e falta de
estratégias de gestão adequadas e uma fiscalização eficaz.

362
Fernando Miranda e Amílcar Teixeira

Figura 4. Fatores de perturbação: 1) seca prolongada; 2) regularização de caudais fenómenos de 3)


poluição e eutrofização; 4) sedimentação e toxicidade detetados no nordeste Transmontano.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A baixa produtividade piscícola que caracteriza as águas oligotróficas dos rios do Nordeste de
Portugal, sugere, face à maior pressão pesqueira, a necessidade de evoluir para: 1) uso exclusivo de
iscos artificiais; 2) técnicas de pesca sem morte (i.e. catch and release) 3) criação de zonas de
proteção adequadas; 4) criação de parques de pesca; 5) aplicação de técnicas de melhoria do habitat
em zonas degradadas; 6) melhor gestão das zonas concessionadas; 7) medidas legislativas
especificamente adaptadas a cada massa hídrica (e.g. nº mínimo de peixes/pescador/dia; nº de dias
de pesca, tamanho mínimo); 8) recurso a repovoamentos apenas em casos particulares e sempre
com stocks originados a partir de reprodutores geneticamente idênticos, para além da criação dos
animais com técnicas de estabulação e acondicionamento ao meio selvagem apropriadas.

363
Fernando Miranda e Amílcar Teixeira

Figura 2. A exploração de espécies introduzidas em albufeiras e a pesca sem morte em rios truteiros
são desafios à gestão da pesca desportiva no Nordeste Transmontano.

Os resultados obtidos recomendam a necessidade e esforço futuro de comunicação entre todos os


utilizadores, nomeadamente pescadores, serviços estatais e investigação, com o intuito de
desenvolver mecanismos fundamentais para a gestão e ordenamento das massas hídricas, tendo em
conta os conflitos subjacentes à exploração e conservação de recursos aquícolas. Conforme realçam
AAS & DITTON (1998) a gestão deverá abranger uma escala temporal apreciável (médio-longo
prazo) e garantir benefícios económicos à sociedade, sendo por isso essencial ter o envolvimento do
público em geral e particularmente dos media, através do desenvolvimento de diferentes ações de
extensão que passam pela facilidade de acesso a informação e elaboração de programas educativos.
Por outro lado, são também necessárias medidas de legislação (e.g. lei da pesca nas águas
interiores, Lei nº 7/2008, que tarda em ser regulamentada e que irá redefinir conceitos e
oportunidades) e fiscalização adequadas, no sentido de penalizar os infratores (e.g. pesca ilegal) e
dissuadir comportamentos erróneos. Finalmente, a atitude marcadamente recolectora assumida pela
maioria dos pescadores deverá ser também reequacionada e orientada para uma participação mais
ativa (e.g. fomento de organizações/ associações de pesca) na gestão de populações piscícolas e
ecossistemas, de modo a salvaguardar não só o exercício da pesca desportiva como também a
integridade ecológica e sustentabilidade dos recursos aquáticos. Entre as recomendações para o
desenvolvimento da pesca lúdica e desportiva na região do Nordeste Transmontano destacam-se:
1) Desenvolvimento duma base de dados de todos os pescadores da região;
2) Estabelecimento de Programas de monitorização e definição de Planos adequados à
especificidade de cada massa hídrica;
3) Criação e publicação de calendários de competições de pesca desportiva;
4) Fornecimento anual de informação detalhada do estado ictiológico de cada massa hídrica;
5) Definição de estratégias de comunicação e investigação conhecidas de todos os utilizadores;
6) Promoção de mais entidades/associações de pesca;
7) Definição de medidas de fiscalização e legislação adequadas;
8) Adoção de medidas de sustentabilidade na gestão dos recursos que promovam a
biodiversidade e proteção e melhoria dos stocks pesqueiros.

364
Fernando Miranda e Amílcar Teixeira

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7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

The porosity of natural cork stoppers

Vanda Oliveira1*, Sofia Knapic1 and Helena Pereira1

1: Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada
da Ajuda, P 1349-017 Lisboa, Portugal.

e-mail: vandaoliveira@isa.utl.pt

Abstract: Natural cork stoppers are the premium product of the cork industry with worldwide
recognition of quality and performance as wine sealant. The occurrence of negative evolution of
bottled wines has often been attributed to cork stoppers as a result of their intrinsic variability.
One of the main characteristics of cork stoppers is their surface porosity which is the determining
factor for their commercial quality grading. Although several studies have analysed the porosity of
cork stoppers, the results have been limited to rather small samplings and the anisotropy of
porosity was not studied in detail.
In this study, the porosity of 600 natural cork stoppers was characterized by image analysis on the
lateral surface and tops. Porosity coefficient was 2.4%, 4.0% and 5.6%, respectively for premium,
good and standard stoppers. Tops (transverse section) have a lower porosity coefficient and
much less pores per unit area (about 60%) in relation to the lateral surface. Moreover, pores in
the tops are more elongated than in the lateral surface. The detailed observation of the lateral
surface of stoppers showed its heterogeneity in relation to porosity features. The tangential
regions present higher porosity (3.1%, 4.9% and 6.2% for, respectively, premium, good and
standard quality) while radial regions had larger pores and higher largest pore area. The shape-
type variables presented mean values similar for the entire lateral surface, with slightly higher
shape factor in the tangential section than in the radial section. The anisotropy of porosity
features shown by cork stoppers is a consequence of the biological development of cork and of
the method of production i.e. the cutting orientation. Understanding this variation is a relevant
component in the analysis of stoppers performance as wine sealants and can lead to
improvements in cork quality classification algorithms used in the automated systems.

Keywords: natural cork stoppers, quality classes, image analysis, porosity


V. Oliveira, S. Knapic e H. Pereira

1. INTRODUCTION

The natural cork stoppers are the premium product of the cork industry with worldwide recognition of
quality and performance as wine sealant (FORTES et al. 2004, PEREIRA 2007).
There are, however, some cases of an explained negative evolution of bottled wines that have often
been attributed to cork stoppers as a result of their intrinsic variability. One of the main characteristics
of cork stoppers is their quality given by their surface porosity which is the determining factor for their
commercial quality grading. The natural cork stoppers are graded into quality classes based on the
extent of the apparent lenticular porosity, as seen by human or machine vision (FORTES et al. 2004,
PEREIRA 2007).
Although several studies have analysed the porosity of cork stoppers (COSTA and PEREIRA 2005,
2006, 2007, 2009), the results have been limited to rather small samplings, and regarding the surface
area covered by image analysis and the anisotropy of porosity was not detailed. The best classes
include stoppers with few and very small lenticular channels, while lower quality stoppers contain a
noticeable porosity with appreciable dimensions but variability within a quality grade was found to be
large (PEREIRA 2007). Since the sampling on these studies was limited in number of cork stoppers
and in the surface area covered by image analysis, the question remains on the reasons underlying
the variation. A very recent study from our laboratory has shown that variation of some of the pores’
characteristics in the stopper surface is important (OLIVEIRA et al. 2012).
This paper presents the results on a detailed observation of cork stoppers based on a large sample in
order to encompass cork natural variability. Moreover, this study was made on the total external
surface of stoppers of three major quality grades coded as premium, good and standard. Such
classification follows the most actual tendency regarding cork stopper use by the quality wine markets
as might be better adapted to reality and performance requirements (COSTA and PEREIRA 2005,
2007). The results demonstrated that the lateral surface of the cork stoppers is not homogeneous with
regard to the distribution and characteristics of the lenticular channels.

2. MATERIALS AND METHODS

The 600 natural cork stoppers (24 mm diameter x 45 mm length) were collected at a major cork
industrial unit before washing and surface treatment. They were randomly sampled after grading by
the automated vision system and subsequently inspected by skilled operators, and finally graded into
the three quality classes coded as premium, good and standard.
The surface image of the natural cork stoppers was acquired with an image analysis system that
includes a digital 7 mega pixels in macro stand solution set on an acquisition Kaiser RS1 Board with a
controlled illumination apparatus, connected to a computer using AnalySIS® image processing
software (Analysis Soft Imaging System GmbH, Münster, Germany, version 3.1).
Two circular frames were acquired for the two tops, corresponding to 96% of the total top area. The
cylindrical lateral surface of the body was analysed by acquiring eight successive frames, covering
100% of the total lateral area. The first frame was set perpendicular to the cork growth rings and the
others were subsequently taken by rotating the stopper 45º.
Knowing that the stoppers are punched out with the cylinder axis in the axial direction of the cork strip,

367
V. Oliveira, S. Knapic e H. Pereira

the image analysis of the lateral surface of a stopper give us information on tangential and radial
sections, while the tops correspond to transversal sections of cork (PEREIRA et al. 1987, PEREIRA
2007).
After image segmentation each pore can be measured and quantitatively characterized, in other hand
an observation region can be characterized by the mean values of its pores or by their concentration
(PEREIRA 2007). The set of collected variables can be classified into dimension- (like area), shape-
(like shape factor) and color-type variables (RGB system). These data were filtered and only pores
with area equal or superior to 0.1 mm2 were considered for the analysis. The pixel size was 0.05 mm
and therefore the lowest pore area that could be resolved was 0.02 mm2. Each cork section and the
full lateral body of each stopper were characterized by several calculated variables.

3. RESULTS AND DISCUSSION

3.1. Characterization of quality classes

The different cork stopper quality classes are characterized in Table 1 in relation to their total lateral
surface.

Table 1. Mean (n=200) and standard deviation (in brackets) of the independent variables of the
lateral surface for the three quality classes of natural cork stoppers.

Premium Good Standard


Porosity coefficient (%) 2.4 (0.8) 4.0 (1.4) 5.6 (2.0)
Number of pores 135 (48) 167 (58) 193 (54)
2
Average pore area (mm ) 0.6 (0.2) 0.9 (0.3) 1.1 (0.4)
2
Maximum pore area (mm ) 6.5 (3.2) 11.3 (6.0) 18.0 (9.9)
Average pore shape factor 0.6 (0.1) 0.5 (0.0) 0.5 (0.1)
Average pore aspect ratio 2.0 (0.3) 2.1 (0.2) 2.1 (0.2)
Average pore Red 93 (29) 96 (21) 91 (30)
Average pore Green 71 (22) 77 (16) 69 (24)
Average pore Blue 76 (20) 80 (14) 73 (22)

The average porosity coefficient was 2.4%, 4.0% and 5.6%, respectively for premium, good and
standard class. These are values within the range and with similar trend as referenced by COSTA and
PEREIRA (2007, 2009). Namely, COSTA and PEREIRA (2007) published porosity coefficients of
1.6%, 4.6% and 7.4% for superior, standard and inferior grades, respectively. The standard deviation
of the porosity coefficient of the lateral surface was 0.8%, 1.4% and 2.0% for the premium, good and
standard quality class respectively (Table 1), showing that there is high variance in the porosity
coefficient.
There was an increasing trend from premium to standard quality class for the porosity coefficient,
number of pores, the average and the maximum pore area. The average pore area in the lateral
surface of cork stoppers increased from 0.6 mm2 to 0.9 mm2 and 1.1 mm2 for premium, good and
standard classes, also the maximum pore area differed significantly between classes with 6.5 mm2,

368
V. Oliveira, S. Knapic e H. Pereira

11.3 mm2 and 18.0 mm2 respectively (Table 1). The values are within the published range for superior
and inferior classes (COSTA and PEREIRA 2007). Comparatively the premium stoppers showed less
and smaller pores.
As previously reported by GONZALEZ-ADRADOS and PEREIRA (1996), the shape variables
presented identical values between quality classes. The color-type variables showed differences
between classes although without a trend.

3.2. Variation between cork sections

The surface of the cork stoppers is not homogeneous relative to the section of cork: the lateral surface
ranges from regions corresponding to tangential and radial sections of cork, and the tops of stoppers
correspond to transverse sections of cork (PEREIRA 2007). This is a consequence of the biological
development of cork and of the cutting direction for production of stoppers (the cylindrical axis of the
stopper is parallel to the axial direction of cork).
The lenticular channels appear with a different aspect in these three sections: in the radial and
transverse sections they look like elongated rectangular channels, and in the tangential section they
have a circular to elliptical form (PEREIRA 2007).
Figure 1 presents the variation of the porosity coefficient within the lateral surface with special
reference to the tangential and radial sections for the three quality classes of natural cork stoppers. In
every section the porosity coefficient showed an increasing trend from premium to standard quality
class.
The tangential section had the highest porosity coefficients (Figure 1) due to the high number of pores
even if the average pore area was smaller (Figure 2). PEREIRA et al. (1996) had already stated that
the average pore area was higher in the transverse/radial section than in the tangential section.
It was found that pores in the transverse section had a higher aspect ratio than in the radial and
tangential sections, and therefore were more elongated or thinner. Transverse section (corresponding
to the tops of cork stoppers) also presented the highest average pore area with values of 1.3 mm2, 1.5
mm2 and 1.7 mm2, respectively for premium, good and standard quality classes.

Figure 1. Variation of the porosity coefficient (%) in the cork stoppers lateral surface for the
three quality classes. Mean (n=200).

369
V. Oliveira, S. Knapic e H. Pereira

Figure 2. Variation of the average pore area (mm2) in the cork stoppers lateral surface for the
three quality classes. Mean (n=200).

The pore features presented variation along the lateral surface of cork stoppers, which is not
homogeneous in this aspect, and it was observed that the main differences occur between radial and
tangential sections.

4. CONCLUSION

The three quality classes that follow the most actual tendency regarding cork stopper use by the
quality wine markets were characterized by image analysis of their external surface. Quality classes
can be distinguished by the mean values of the main porosity features of their surface, considering the
lateral surface or each cork section (transversal, tangential and radial). These features showed an
increasing trend from the premium to standard quality class.
Variation of pore features occurred along the lateral surface of cork stoppers, mainly between radial
and tangential sections. Radial sections presented pores approximately parallel to the tops of the
stopper, in a smaller number but with superior dimension when compared to tangential sections that
had pores oriented along the stopper’s axis, in higher number and with circular to elliptical form. On
the other hand, pores in the transverse section had a higher aspect ratio than in the radial and
tangential sections, and therefore were more elongated or thinner. Transverse section also presented
the highest average pore area.
The anisotropy of porosity features shown by cork stoppers is a consequence of the biological
development of cork and of the method of production i.e. the cutting orientation. Understanding this
variation is a relevant component in the analysis of performance of stoppers as wine sealants and can
led to improvements in cork quality classification algorithms used in the automated systems.

ACKNOWLEDGEMENTS

This work was supported by FEDER funds through the Operational Programme for Competitiveness
Factors – COMPETE and by National Funds under the project FCOMP-01-0124-FEDER-005421.
Centro de Estudos Florestais (Forest Research Center) is a research unit supported by the national

370
V. Oliveira, S. Knapic e H. Pereira

research funding of FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia (PEst-OE/AGR/UI0239/2011). The


first and second authors acknowledge a scholarship by FCT.
The authors acknowledge the collaboration of Amorim & Irmãos, S. A. in materials supply and the
assistance of our colleague Lídia Silva in the image analysis.

REFERENCES

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Journal International des Sciences de la Vigne et du Vin 39: 209-218.
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PEREIRA, H., LOPES, F., GRAÇA, J., 1996. The evaluation of the quality of cork planks by image
analysis. Holzforschung 50:111-115.

371
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Incork: Avaliação da influência da estrutura interna na transmissão de


oxigénio de rolhas de cortiça natural por técnicas não destrutivas

Vanda Oliveira1*, Sofia Knapic1, Paulo Lopes2, Miguel Cabral2 e Helena Pereira1

1: Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada
da Ajuda, P 1349-017 Lisboa, Portugal.
2: Amorim & Irmãos, R&D Department, Rua de Meladas 380, P.O. Box 20, Mozelos, 4536-902, Portugal

e-mail: vandaoliveira@isa.utl.pt

Resumo: A avaliação da qualidade das rolhas de cortiça natural é feita actualmente por uma
análise visual da sua superfície exterior utilizando sistemas automáticos de análise de imagem ou
operadores. As rolhas de boa qualidade apresentam poucos poros de pequena dimensão,
contrariamente às de menor qualidade com muitos poros ou poros de grande dimensão. Verifica-
se, no entanto, que existe uma grande heterogeneidade das classes de qualidade em relação à
taxa de transmissão de oxigénio, uma importante propriedade das rolhas de cortiça, definidora da
sua capacidade como vedante. Os estudos existentes têm mostrado que a transmissão de
oxigénio das rolhas naturais é independente dos parâmetros clássicos de valorização comercial,
classe visual de qualidade, diâmetro, comprimento e massa volúmica. Estes resultados
evidenciam a necessidade de identificar parâmetros críticos internos à superfície da rolha,
responsáveis por classes de qualidade não homogéneas. O projeto de investigação INCORK tem
como principal objectivo o desenvolvimento de uma nova forma de caracterizar as rolhas de
cortiça natural, usando não só as suas características externas, mas também as suas
características internas. Para atingir este objectivo procedeu-se à caracterização total da
estrutura interna e externa de rolhas de cortiça natural efectuando uma caracterização por
análise de imagem da superfície exterior, bem como aplicando técnicas não destrutivas de
caracterização de materiais, nomeadamente radiação terahertz e tomografia axial computorizada
(TAC), previamente à determinação da transmissão de oxigénio. O INCORK visa o
desenvolvimento de um novo sistema integrado de avaliação não destrutiva da estrutura interna e
da superfície exterior das rolhas de cortiça que permita optimizar a sua classificação do ponto de
vista da qualidade e da transmissão de oxigénio.
Palavras-chave: rolhas de cortiça natural, transmissão de oxigénio, análise de imagem, radiação
terahertz, tomografia axial computorizada

Abstract: The natural cork stoppers are graded into quality classes in function of the homogeneity
of their external surface mostly based on the extent of the apparent lenticular porosity, as seen by
human or machine vision. The best classes include stoppers with few and very small lenticular
channels, while lower quality stoppers contain a noticeable porosity with appreciable dimensions.
The different quality classes present a considerable heterogeneity in oxygen transmission rate,
one important property of cork stoppers, defining its ability as sealant. Recent studies have shown
that the oxygen transmission rate of natural corks stoppers is independent of the classic
parameters of valorisation, visual quality grades, diameter, length and density. These results
highlight the need to identify internal critical parameters responsible for quality classes
nonhomogeneous. The research project INCORK has as main objective the development of a new
way to characterize the natural cork stoppers, using their external and internal characteristics.
With this goal was made the characterization of the total internal and external structure of natural
cork stoppers using image analysis of the outer surface and applying non-destructive techniques
for materials characterization, including terahertz radiation and computed tomography (CT), prior
to determination of the oxygen transmission rate after bottling. The INCORK aims at the
development of a new integrated system for non-destructive evaluation of internal structure and
outer surface of cork stoppers that allows optimizing its quality grading and oxygen transmission.
Keywords: natural cork stoppers, oxygen transmission, image analysis, terahertz radiation,
V. Oliveira, S. Knapic, P. Lopes, M. Cabral e H. Pereira

computed tomography

1. INTRODUÇÃO

Actualmente a avaliação da qualidade das rolhas de cortiça natural é feita por uma análise visual da
sua superfície exterior. As rolhas de boa qualidade apresentam poucos poros e/ou poros de pequena
dimensão, enquanto as rolhas de má qualidade apresentam muitos poros e/ou poros de grande
dimensão. Estudos anteriores mostraram já que os algoritmos de classificação automática,
implementados em sistemas de análise de imagem e baseados em variáveis como a área máxima
dos poros ou o coeficiente de porosidade, permitem uma boa classificação considerando apenas três
classes agrupadas e uma não tão boa classificação quando considerando as tradicionais sete classes
comerciais (COSTA e PEREIRA 2005, 2007, PEREIRA 2007). Por outro lado, outros estudos
revelaram também que, independentemente do sistema de classificação, simples ou agrupado, a
heterogeneidade das classes de qualidade mantém-se em relação a uma importante propriedade da
cortiça, a taxa de transmissão de oxigénio, definidora da capacidade da rolha como vedante (LOPES
et al. 2005).
As rolhas de cortiça, sejam técnicas ou naturais, são fundamentalmente impermeáveis ao oxigénio
atmosférico; mas transmitem oxigénio a partir da sua própria estrutura celular para o vinho (LOPES et
al. 2007). Contudo, no caso das rolhas naturais de cortiça, esta transmissão de oxigénio é bastante
variável, o que não acontece no caso de vedantes técnicos (LOPES et al. 2006). Os estudos
existentes mostraram também que a transmissão de oxigénio das rolhas naturais é independente dos
parâmetros clássicos de valorização comercial, classe visual de qualidade, diâmetro, comprimento e
massa volúmica (LOPES et al. 2006). Estes resultados mostraram a necessidade de identificar
parâmetros críticos internos à superfície da rolha, responsáveis por classes de qualidade não
homogéneas.
O projecto Incork tem como objectivo o desenvolvimento de um sistema inovador de classificação de
rolhas de cortiça natural baseados na caracterização da sua superfície externa e/ou estrutura interna
que permitam obter classes de transmissão de oxigénio uniformes e isentas de defeitos. O
conhecimento resultante deste projecto será utilizado para o desenvolvimento de novos sistemas de
decisão de forma a obter uma classificação de rolhas de cortiça natural com performance mais
uniforme, nomeadamente em termos de transmissão de oxigénio, qualidade visual e exclusão de
defeitos críticos.
O Incork tem como parceiros a Amorim & Irmãos, o Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior
de Agronomia e o Departamento de Física do New Jersey Institute of Tecnology (NJIT).

2. MATERIAL E MÉTODOS

De forma a atingir o objectivo do projecto foram aprofundados os estudos das relações entre: i)
estrutura interna das rolhas e a sua transmissão de oxigénio após engarrafamento; ii) estrutura
interna das rolhas e características da superfície exterior; iii) estrutura interna das rolhas e defeitos
críticos. Estudou-se a relação das características da estrutura interna com as classes de transmissão

373
V. Oliveira, S. Knapic, P. Lopes, M. Cabral e H. Pereira

de oxigénio e com as características de porosidade da superfície da rolha de cortiça, tendo também


em conta as características físicas e estruturais das rolhas.

2.1. Material

O Incork inclui dois lotes de 300 rolhas de cortiça natural produzidos industrialmente a partir de
pranchas de calibre 20 a 24 linhas e 12 a 14 linhas, perfazendo um total de 600 rolhas. Incluiu
também um outro lote de rolhas onde foram identificados os principais defeitos presentes em rolhas
de cortiça natural: cobrilha, formiga, verde e mancha amarela.
As rolhas de cortiça natural foram classificadas em classes de qualidade em função da
homogeneidade da sua superfície exterior. A classificação foi realizada primeiramente com recurso a
máquinas classificadoras de escolha automática que, por diferença de cor dos poros em relação à
massa de cortiça, quantificam o grau de porosidade e alguns parâmetros dos poros, utilizando
programas de análise de imagem. Dadas algumas limitações destas máquinas classificadoras
realizou-se posteriormente uma classificação manual final das rolhas escolhidas para afinar a classe.
Optou-se por efectuar o agrupamento das seis classes comerciais da classificação da rolha de cortiça
natural em três classes de qualidade: Extra e Flor; Superior e 1ª e 2ª e 3ª. Para cada uma destas
classes de qualidade objecto de estudo seleccionaram-se aleatoriamente 100 rolhas.

2.2. Análise de imagem

Para cada uma das rolhas procedeu-se à aquisição de imagens da totalidade da superfície exterior do
corpo cilíndrico e dos topos (bases circulares). O sistema de análise de imagem utilizado incorpora
uma solução com captura digital de 7 mega pixéis em macro stand (câmara de vídeo ProgRes
CapturePro 2.7 ligada a uma objectiva AF Nikkor 24 mm f2.8) e uma mesa de reprografia Kaiser RS1,
com coluna de 89 cm, com sistema de iluminação de alta frequência (Kaiser RB 5004 HF), ligado a
um computador que utiliza o software AnalySIS® (Analysis Soft Imaging System GmbH Mϋnster,
Alemanha, versão 3.1) para processamento da imagem.
As imagens foram adquiridas utilizando a mesma intensidade luminosa em formato RGB. A detecção
dos poros foi efectuada utilizando duas Regiões de Interesse predefinidas, uma rectangular para as
secções do corpo da rolha e outra circular para os topos das rolhas. No corpo, a visualização foi feita
através da sobreposição de oito imagens sucessivas. A primeira imagem é perpendicular aos anéis
de crescimento e as subsequentes rodando a rolha 45º.

2.3. Análise da estrutura interna das rolhas

Para a caracterização da estrutura interna das rolhas foram exploradas técnicas não destrutivas, tais
como radiação Terahertz e Tomografia Computorizada.
No espectro electromagnético, a radiação terahertz localiza-se entre os microondas e a radiação
infravermelha, nas frequências entre 300 biliões até 3 triliões de ciclos por segundo. Tanto células
vivas quanto compostos químicos inertes emitem "assinaturas" características na faixa dos terahertz.
O potencial da espectroscopia e imagem de terahertz para a avaliação não destrutiva de diferentes
materiais, como por exemplo grãos, folhas, madeira, produtos farmacêuticos, líquidos e explosivos,

374
V. Oliveira, S. Knapic, P. Lopes, M. Cabral e H. Pereira

está bem documentado. Estas aplicações só são possíveis porque a radiação terahertz tem a
capacidade de se difundir através de papel, plástico, madeira e outros materiais não metálicos.
Segundo a equipa de investigadores do NJIT, a espectroscopia de terahertz pode detectar defeitos,
fendas e variações de densidade na cortiça com uma resolução de 100-300 µm (LI HOR et al. 2008).
A tomografia axial computorizada (TAC) é uma técnica não destrutiva para a medição da transmissão
da radiação electromagnética através de um material e, tal como uma radiografia convencional,
baseia-se no princípio que cada material absorve os raios X de forma diferente. Esta técnica acoplada
com processamento geométrico digital permite gerar uma imagem tridimensional do interior do
objecto a partir de uma série bi-dimensional de imagens de raio-X captadas em torno de um único
eixo de rotação. A TAC mede a quantidade de radiação absorvida em cada zona do espaço analisado
e traduz essa medição numa escala de cinzentos, produzindo assim uma imagem. Cada pixel da
imagem corresponde à média da absorção do material nesse ponto, expresso em unidades de
Hounsfield. Ao processar uma imagem proveniente de uma TAC é possível distinguir porosidades,
cuja densidade é praticamente nula, da cortiça que constitui a rolha.

2.4. Análise da transmissão de oxigénio

A medição da transmissão de oxigénio das rolhas de cortiça natural foi realizada utilizando o método
colorimétrico optimizado e calibrado em estudos preliminares.
O processo de calibração da redução e oxidação do corante índigo de carmim em garrafa é descrito
em LOPES et al. (2005). Resumidamente, utiliza-se uma solução de ditionito de sódio a 20 mL (2,9
g/L) para reduzir 350 mL de índigo de carmim (250 mg/L), levando a uma mudança de cor de azul anil
para amarelo. Quantidades controladas de oxigénio são então injetadas e as mudanças de cor são
medidas com um colorímetro. Cada um dos pontos da curva de calibração é obtido calculando-se a
média de cinco repetições. A curva de calibração é válida até um limite máximo de quantificação de
oxigénio de 4 mL.
As medições dos parâmetros L*, a*, b* (CIELAB) foram realizadas com um espectro colorímetro
Minolta série CM-508i equipado com um acessório de transmitância CM-A76 (Osaka, Japão). Estas
medições foram obtidas utilizando iluminante D65 e 10° de acordo com a CIELAB76 (MCLAREN
1980). Todas as medidas foram realizadas no escuro e à temperatura ambiente (18±4°C).

3. RESULTADOS

Os resultados obtidos até ao momento apontam para uma aparente inexistência de correlações
significativas entre as taxas de transmissão de oxigénio e a quantidade de oxigénio após 12
meses com os diferentes parâmetros de caracterização das propriedades físicas da superfície
externa e da estrutura interna das rolhas de cortiça natural. Estes resultados demonstram que a
actual análise da qualidade visual das rolhas não se correlaciona directamente com as variáveis
da sua estrutura interna e com a sua performance enquanto vedante em função da transmissão
de oxigénio. No entanto, verificou-se que as técnicas de análise interna de Tomografia Axial
Computorizada (TAC) e radiação Terahertz (THz), são altamente eficientes na identificação de
rolhas com defeitos críticos.

375
V. Oliveira, S. Knapic, P. Lopes, M. Cabral e H. Pereira

Os resultados tornam claro que os parâmetros analisados pelas diferentes técnicas não são
suficientemente robustos para agrupar as rolhas de cortiça natural em classes de transmissão de
oxigénio mais uniformes e que, eventualmente, outros factores que não foram analisados
poderão ser contribuidores significativos. No entanto, os dados recolhidos e tratados
estatisticamente, até ao momento, aconselham a detalhar alguns aspectos de análise da
estrutura interna, nomeadamente a reanálise dos parâmetros e das correlações entre as taxas de
transmissão de oxigénio e os dados da caracterização da estrutura interna por THz utilizando um
software mais robusto, COMSOL. Por outro lado, será necessária a realização de mais alguns
ensaios TAC com pormenor num subconjunto da amostra inicial das rolhas.
Com vista ao esclarecimento de algumas questões, encontra-se em curso a elaboração de
análises complementares utilizando espectroscopia de infravermelho próximo. Tratando-se de um
método não destrutivo de análise das rolhas, com menores custos operacionais, será passível de
colocação em linha de produção caso se confirme a sua capacidade para contribuir para avaliar a
performance das rolhas em termos de transmissão de oxigénio.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi financiado por fundos FEDER através do Programa Operacional Factores de
Competitividade - COMPETE e por fundos nacionais no âmbito do projecto FCOMP-01-0124-FEDER-
005421. O Centro de Estudos Florestais é uma unidade de investigação apoiada pelo financiamento
nacional da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia (PEst-OE/AGR/UI0239/2011).
Agradecemos a participação no projecto do Departamento de Física do New Jersey Institute of
Tecnology responsáveis pelos trabalhos com radiação Terahertz, bem como a colaboração da
empresa Uavision na aquisição das imagens TAC. O primeiro e segundo autores agradecem as
respectivas bolsas de investigação atribuídas pela FCT.

REFERÊNCIAS

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Journal International des Sciences de la Vigne et du Vin 39: 209-218.
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Netherlands, 336 pp.

377
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Produção potencial de biomassa em culturas energéticas lenhosas no Norte


de Portugal

Maria S. Patrício1*, Luís Nunes1, Ângelo D. Saraiva2 e João C. Azevedo1

1: Centro de Investigação de Montanha (CIMO), ESA - Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Stª
Apolónia, Apartado 1172, 5301-854 Bragança, Portugal
2: ESA - Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Stª Apolónia, Apartado 1172, 5301-854 Bragança,
Portugal

e-mail: {Maria S. Patrício}, e-mail: sampat@ipb.pt


Resumo: Existem cada vez mais evidências de que as emissões dos chamados gases de efeito
de estufa (GEE), dos quais o CO2 é o principal, estão a alterar o clima global. O Governo
Português, alinhado com a Comissão Europeia, tem por objetivo reduzir 20 % nas emissões
nacionais de CO2, aos níveis de 1990, no horizonte 2020. As culturas energéticas são encaradas
como fundamentais no processo de redução dos GEE e consequente diminuição da dependência
de fontes energéticas externas. A utilização de espécies florestais exploradas em talhadia em
curtas rotações (CLCR), como o choupo e o salgueiro, produzem emissões líquidas de CO2 muito
baixas podendo ajudar a atingir estes objetivos. Em 2007, no âmbito do projeto de investigação
PTDC/AGR-CFL/64500/2006, foi instalada uma plantação (CLCR) em Bragança, Trás-os-Montes.
A cultura foi instalada numa área de 4 ha com as seguintes espécies: salgueiro (hibrido local
Salix alba x Salix fragilis e um clone de salgueiro sueco Salix. L., Terra Nova), choupo (Populus
nigra e Populus x euroamericana, clone I-214) e freixo (Fraxinus angustifolia). A plantação foi
efetuada por estacaria direta em dupla linha com densidades que variaram das 15000 às 20000
estacas por hectare para o salgueiro e 10000 a 15000 estacas por hectare para o choupo e o
freixo. A rolagem foi feita no ano seguinte ao da plantação com o objetivo de fomentar um
rebentamento vigoroso da talhadia. Avaliou-se a produção potencial em biomassa e carbono
sequestrado ao 3º ano da primeira rotação. Os clones de choupo e salgueiro apresentaram maior
crescimento, maior produção de biomassa e, consequentemente, maior armazenamento de
carbono do que as respetivas espécies locais. A produção de biomassa potencial nestas
condições variou entre 889.8 kg ha-1 e 5076.8 kg ha-1 para o freixo e o choupo I-214,
respetivamente.
Palavras-chave: Culturas lenhosas de curta rotação, produtividade, biomassa para energia

Abstract: There are more and more evidences that the emissions of Greenhouse Gases (GHG),
from which the CO2 is the most responsible, are changing the global climate. The Portuguese
government, in line with the European Commission, aims to reduce 20% of national emissions of
CO2, on 1990 levels, by 2020. Dedicated energy crops are seen as fundamental in the process of
GHG reduction and consequent decrease of dependence on external energy sources. Short
rotation woody crops (SRWC) using poplar or willow, as they produce very low net CO2
emissions, can help to achieve these goals. In 2007, in the framework of the research project
PTDC/AGR-CFL/64500/2006, a SRWC crop was established in Bragança, Trás-os-Montes. The
crop was installed in a 4 ha area using willow (local hybrid Salix alba x Salix fragilis and a
Swedish Salix. L. clone, Terra Nova), poplar (local Populus nigra and Populus x euroamericana,
clone I-214) and ash (Fraxinus angustifolia). The crop was planted by simply pushing cuttings
using a double row design with densities ranging from 15000 to 20000 cuttings per hectare for
willow and 10000 to 15000 cuttings per hectare for poplar and ash. The cut back was done one
growing season after plantation to encourage the coppice to produce more shoots. The potential
biomass production and carbon storage were assessed at the end of the 3rd year of the 1st cutting
cycle. Poplar and willow clones presented higher growth, higher biomass production and,
consequently, higher carbon storage than their native counterparts. The potential biomass
production ranged from 889.8 kg ha-1 to 5076.8 kg ha-1 for ash and poplar I-214, respectively.
Keywords: Short rotation woody crops, yield, biomass for energy
Maria S. Patrício, Luís Nunes, Ângelo D. Saraiva e João C. Azevedo

1. INTRODUÇÃO

Existe um consenso alargado em torno do efeito das emissões dos chamados gases de efeito de
estufa (GEE), entre os quais o CO2 é o principal, nas alterações do clima à escala global. Numa
estratégia de combate às alterações climáticas, o Governo Português, alinhado com a Comissão
Europeia, tem por objetivo reduzir em 20 % as emissões nacionais de CO2, aos níveis de 1990,
no horizonte 2020.
A Estratégia Nacional para a Energia (ENE 2020), aprovada pela Resolução do Conselho de
Ministros n.º 29/2010, de 15 de Abril, assume a importância da biomassa florestal para o País. Na
sequência, a Resolução do Conselho de Ministros n.º 81/2010 de 3 de Novembro, em linha com a
estratégia nacional para as florestas (ENF, 2006), aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros
n.º 114/2006 de 15 de Setembro, aprova um conjunto de medidas que visam o incentivo à produção
de biomassa em Portugal, sem prejuízo do aproveitamento da biomassa oriunda de outras fontes
endógenas, tais como os combustíveis derivados de resíduos. Dando desenvolvimento a estas
medidas, o Decreto-Lei n.º 5/2011 de 10 de Janeiro, estabelece as medidas destinadas a promover a
produção e o aproveitamento de biomassa, para garantir o abastecimento das centrais dedicadas de
biomassa florestal e fixa um incentivo à venda da eletricidade associado ao cumprimento dessas
medidas. Os prazos de acesso a este incentivo foram inclusivamente alargados pelo Decreto-Lei n.º
179/2012 de 3 de Agosto.
O Decreto-Lei n.º 5/2011 impõe deveres aos promotores de centrais dedicadas a biomassa florestal,
entre eles a necessidade de apresentar um plano de ação para 10 anos visando a sustentabilidade a
prazo do aprovisionamento das centrais. Esse plano deve contemplar medidas de promoção de
fontes de biomassa florestal que permitam atingir, no prazo de 10 anos, 30 % do abastecimento das
necessidades das centrais, incluindo, nomeadamente, biomassa florestal residual, agrícola e agro-
industrial, biomassa oriunda de resíduos e a instalação de culturas energéticas dedicadas. O D-L n.º
5/2011 refere-se a culturas energéticas como sendo culturas florestais de rápido crescimento, cuja
produção e despectiva silvicultura preveja rotações inferiores ou iguais a seis anos e cuja
transformação industrial seja dedicada à produção de energia elétrica ou térmica. Espécies florestais
exploradas em talhadia de curtas rotações (CLCR), como o choupo e o salgueiro, produzem
emissões líquidas de CO2 muito baixas e são uma fonte de energia renovável, podendo ajudar a
atingir os objetivos de redução quer no que respeita a emissões, quer da dependência energética e
financeira nacional.
As culturas energéticas dedicadas de biomassa lenhosa em Portugal são raras e de âmbito
experimental. É necessário produzir conhecimento no que diz respeito às técnicas de instalação,
manutenção e colheita, ao material vegetal a utilizar, à gestão da água, entre outros aspetos, que
permita avaliar as potencialidades de expansão destas culturas a curto prazo. Dada a necessidade de
produzir conhecimento sobre estes sistemas, foi instalado um ensaio experimental com culturas
lenhosas de curta rotação (CLCR) no Norte de Portugal, no âmbito do projeto de investigação
PTDC/AGR-CFL/64500/2006. O projeto incluiu seis tarefas: (1) sistemas de produção de
biomassa, (2) efeitos ambientais das CLCR, (3) cicio do carbono, (4) conteúdo energético de
combustíveis lenhosos, (5) potencial regional de produção de biomassa e de energia e (6) análise

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Maria S. Patrício, Luís Nunes, Ângelo D. Saraiva e João C. Azevedo

do cicio de vida e sustentabilidade. Neste trabalho, apresentam-se os resultados da avaliação da


produção potencial em biomassa e carbono sequestrado no final do 3º ano da primeira rotação
da CLCR.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de estudo

O ensaio experimental foi instalado numa quinta privada localizada em Bragança, Região de Trás-os-
Montes, no Norte de Portugal (41º48’57’’ N, 6º44’54’’ W e 620 m de altitude). A precipitação anual é
de 741.1 mm com um máximo de 105.4 mm ocorrido em Janeiro e mínimo de 14.4 mm ocorrido em
Agosto. A temperatura média anual é de 11.9 ºC com um máximo absoluto de 37.2 ºC registado em
Junho e um mínimo absoluto de -11.4 ºC registado em Janeiro. O solo é do tipo Luvisolos crómicos
(FAO, 1998) com textura franca. A concentração de carbono orgânico na camada 0-5 cm do solo
mineral varia de 4.5 a 7.6 g kg-1, a soma das bases de troca oscila entre 30 e 42 cmolc kg-1 e o pH
(H2O) apresenta valores no intervalo (5.9-6.4). O terreno é maioritariamente plano.

2.2. Dispositivo experimental

O dispositivo experimental, estabelecido em 2007, ocupando uma área de 4 hectares, consistiu numa
plantação por estacaria direta, seguindo um esquema de linhas duplas distanciadas de 75 cm e
alternadas a uma distância de 1.5 m. As espécies utilizadas foram o salgueiro (hibrido local Salix alba
x Salix fragilis e um clone sueco Salix. L., Terra Nova), choupo (Populus nigra e Populus x
euroamericana, clone I-214) e freixo (Fraxinus angustifolia). Na plantação foram usadas estacas de
20-25 cm de comprimento com densidades que variaram das 15000 (D1) às 20000 (D2) estacas por
hectare para o salgueiro e 10000 (D1) a 15000 (D2) estacas por hectare para o choupo e o freixo.
Procedeu-se à rolagem no ano seguinte ao da plantação com o objetivo de fomentar um
rebentamento vigoroso da talhadia.

2.3. Recolha de dados

A recolha de dados de campo foi efetuada em Fevereiro de 2012, no final do 3º ano de crescimento
da primeira rotação, após a rolagem. Consideraram-se 4 parcelas de amostragem por tratamento
(espécie x densidade) para efeitos de avaliação da produção potencial de biomassa e correspondente
carbono armazenado. A área das parcelas variou em função da densidade de plantação. As unidades
de amostragem, de forma retangular, foram estabelecidas de modo a conter 4 touças vivas. A sua
localização foi definida de forma a serem representativas dos tratamentos e a evitar efeitos de
bordadura. As densidades D2 para o clone de salgueiro e D1 para o salgueiro local e para o freixo,
não foram analisadas devido às elevadas taxas de mortalidade nestes tratamentos.
Em cada touça, numeraram-se todas as varas sequencialmente a partir da mais alta e segundo a
direção dos ponteiros do relógio. Em cada vara da touça mediu-se a altura total (h) em centímetros, o
diâmetro a 0.1 metros do nível do solo (d0.10), bem como, sempre que possível, os diâmetros a 1.0 e
1.3 metros do nível do solo (d1.0 e d, respetivamente), também em centímetros. Para a medição dos

380
Maria S. Patrício, Luís Nunes, Ângelo D. Saraiva e João C. Azevedo

diâmetros usou-se uma craveira e para a medição da altura utilizou-se uma vara telescópica.
Após a recolha das variáveis dendrométricas, as varas de cada touça foram cortadas e em seguida
embaladas em sacos plásticos herméticos devidamente etiquetados com o tratamento (espécie x
densidade), número da parcela, número da touça e da vara. O material foi depois transportado em
arcas térmicas para o laboratório, pesado individualmente numa balança de precisão (0.01 g) para
registo do peso fresco e colocado em estufa, a 103±2 ºC, até peso constante. Considerou-se o
carbono armazenado correspondente a 50% da biomassa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

São apresentados os valores médios para algumas variáveis dendrométricas, bem como da produção
potencial de biomassa, por espécie e por touça (Tabela 1).

Tabela 1. Crescimento médio e produção potencial de biomassa por espécie e por touça
Espécie Nv/touça d0.10 hmed hdom Wf Ws Wf Ws
-1
(cm) (cm) (cm) (g) (g) (kg ha ) (kg ha-1)
P_Clone 1.75 2.01 208.37 286.50 830.11 337.65 2814.59 1161.57
S_Clone 2.19 1.52 207.16 243.25 475.83 210.99 2403.20 1065.62
P_Local 2.06 1.31 127.59 149.25 310.38 139.88 1113.66 496.70
S_Local 2.00 1.11 105.17 124.00 196.42 92.88 739.79 349.81
Freixo 1.50 0.98 90.08 107.00 95.71 59.06 360.47 222.45
P_Clone: choupo clone (Populus x euroamericana, I-214); S_Clone: salgueiro clone (Salix. L. Terra Nova); P_Local: choupo
local (Populus nigra); S_Local: salgueiro híbrido local (Salix alba x Salix fragilis); Nv/touça: número de varas por touça; d0.10:
diâmetro da vara a 0.10 m do solo; hmed: altura média das varas; hdom: altura dominante; Wf: peso fresco; Ws: peso seco.

Os resultados mostram que os clones de choupo e salgueiro (P_Clone e S_Clone) apresentam maior
crescimento e produção potencial de biomassa em comparação com as respetivas espécies locais
utilizadas (P_Local e S_Local). O valor médio mais elevado da produção potencial de biomassa por
touça é obtido com o clone de choupo (Populus x euroamericana, I-214), confirmando-se a tendência
que se tem vindo a registar em avaliações anteriores. Na análise da produção de biomassa ao final
do 2º ano da 1ª rotação, a produção potencial em termos médios era idêntica no clone de salgueiro
(Salix. L. Terra Nova) e no choupo local (Populus nigra) (PATRÍCIO et al., 2011). No entanto, ao final
do 3º ano, começa a verificar-se uma diferenciação.
A tabela 2 mostra os valores da produção potencial de biomassa por tratamento (espécie x
densidade), 3 anos após o rolamento. Valores médios da produção por espécie são apresentados na
tabela 3.

381
Maria S. Patrício, Luís Nunes, Ângelo D. Saraiva e João C. Azevedo

Tabela 2. Produção potencial de biomassa por espécie e densidade, 3 anos após o rolamento
Espécie Densidade Nt ha-1 Nv ha-1 Nv/touça Wf Ws C
-1 -1
(kg ha ) (kg ha ) (kg ha-1)
P_Clone D2 15066 26365 1.8 11844.3 5076.8 2538.4
D1 9877 17284 1.8 9500.6 3354.8 1677.4
S_Clone D2 20202 44192 2.2 9612.8 4262.5 2131.3
D1 *
P_Local D2 15066 31387 2.1 5377.4 2343.0 1171.5
D1 9877 19753 2.0 1686.4 918.0 459.0
S_Local D2 *
D1 15066 30132 2.0 2959.2 1399.2 699.6
Freixo D2 15066 22599 1.5 1441.9 889.8 444.9
D1 *
-1
* tratamentos nos quais a análise não foi possível devido às elevadas taxas de mortalidade. Nt ha : número de touças por
-1
hectare; Nv ha : número de varas por hectare; C: stock de carbono

Tabela 3. Produção potencial de biomassa por espécie


Espécie Wf Ws C
-1 -1
(kg ha ) (kg ha ) (kg ha-1)
P_Clone 11258.4 4646.3 2323.2
S_Clone 9612.8 4262.5 2131.3
P_Local 4454.6 1986.8 993.4
S_Local 2959.2 1399.3 699.6
Freixo 1441.9 889.8 444.9

Onde a comparação é possível (P_Clone e P_Local), pode observar-se que a densidades superiores
(D2) correspondem maiores valores de produção potencial de biomassa. Esta produção potencial,
traduzida em peso seco da biomassa, varia de 889.8 kg ha-1, observada para o freixo, a 5076.8 kg ha-
1
, observada para o clone de choupo I-214. A esta biomassa corresponde um armazenamento de
carbono de 444.9 kg ha-1 a 2538.4 kg ha-1, observado para o freixo e clone de choupo I-214,
respetivamente (Tabela 2). Os clones de choupo e salgueiro, em média, produzem mais biomassa e,
consequentemente, armazenam mais carbono do que as respetivas espécies nativas (Tabela 3).
Grande parte da informação sobre produção de biomassa em CLCR encontrada na literatura refere-
se a choupo e salgueiro. MAKESCHIN (1999) refere 8 a 10 ton ha-1 ano-1 como a média da produção
de matéria seca nas CLCR de choupo e salgueiro em solos férteis do Norte e Centro da Europa. Para
estas regiões e para cultivo intensivo sob condições ótimas de gestão, VANDE-WALLE et al. (2007)
indicam valores de produção situados nos intervalos 10-12 ton ha-1 ano-1 para salgueiro e 10-15 ton
ha-1 ano-1 para choupo. Para produções intensivas, o valor de 10 ton ha-1 ano-1 é indicado como
referência para um retorno razoável para o produtor (TUBBY e ARMSTRONG, 2002).
Os resultados do presente estudo dão conta de produções cumulativas aos 3 anos da primeira

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Maria S. Patrício, Luís Nunes, Ângelo D. Saraiva e João C. Azevedo

rotação de 5.1 ton ha-1 para o clone de choupo, o que corresponde a 1.7 ton ha-1 ano-1. No caso do
clone de salgueiro, a produção potencial de biomassa é de 1.1 ton ha-1 ano-1. Estes valores estão
bastante abaixo dos níveis de produção acima referidos. Chama-se a atenção para o facto dos níveis
de produção de biomassa encontrados neste estudo dizerem respeito a uma situação longe do ótimo
para uma CLCR, com dificuldades ao nível do controlo de infestantes, ausência de fertilização
azotada e com deficit hídrico na época estival. Nos balanços da produção de CLCR feitos no final da
década de 90 do século XX, para o Norte e Centro da Europa, são referidas algumas situações de
dificuldade de adaptação nas primeiras rotações e baixas produções de biomassa. Por exemplo,
BERGKVIST e LEDIN (1998) indicam um valor médio de 2.8 ton ha-1 ano-1 para salgueiro e
HOFMANN-SCHIELLE et al. (1999) referem produções médias de 2 a 4 ton ha-1 ano-1 para salgueiro
e choupo, na 1ª rotação de 5 anos, em ambos os casos. As causas mais apontadas para o insucesso
na primeira instalação são a dificuldade no controlo de infestantes e stress hídrico, sendo também
mencionados danos pelo gelo, pragas e doenças e ainda a escolha inadequada da proveniência dos
clones (e.g., MAKESCHIN, 1999; DICKMANN, 2006). Nas regiões onde há um maior conhecimento
sobre CLCR, a experiência adquirida pelos produtores ao nível da gestão e a melhoria genética das
espécies permitiu aumentos de produtividade muito significativos. MOLA-YUDEGO (2011) refere
aumentos médios anuais de produtividade de 2.06 ton ha-1 para as CLCR comerciais de salgueiro do
Centro e Sul da Suécia, desde as primeiras instalações em meados de 80 até à viragem do século
XX, fruto da conjugação da experiência adquirida pelos produtores e o desenvolvimento de clones
com excelentes características morfológicas, resistentes ao gelo e ao ataque de pragas.

4. CONCLUSÕES

Este estudo apresenta os valores da produção potencial de biomassa obtidos numa CLCR de
choupo, salgueiro e freixo, instalada em Bragança, Nordeste de Portugal, num ciclo de 3 anos.
Os clones de choupo e salgueiro utilizados, demonstraram maior produção de biomassa
relativamente às correspondentes espécies locais não melhoradas. A maior produção foi
observada para o clone de choupo I-214 com valores de 5.1 ton ha-1 no final do 3º ano da primeira
rotação. Estes valores correspondem a uma produtividade média de 1.7 ton ha-1 ano-1, bastante
abaixo dos valores referidos na bibliografia para culturas intensivas em situações ótimas. Apesar
disso, este é um estudo pioneiro, ao nível das CLCR dedicados para a produção de biomassa
para energia. A produção potencial apresentada deve corresponder a níveis mínimos de
produtividade, obtidos na ausência de fertilização e de controlo de infestantes, associados a
limitações na disponibilidade hídrica nos períodos secos. O potencial de produção será
naturalmente superior quando satisfeitas as condições ótimas para este tipo de culturas,
associadas à seleção de material vegetal melhorado e bem adaptado às condições locais.

383
Maria S. Patrício, Luís Nunes, Ângelo D. Saraiva e João C. Azevedo

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERGKVIST, P., LEDIN, S., 1998. Stem biomass yields at different planting designs and spacings in
willow coppice systems. Biomass and Bioenergy 14(2): 149-156.
DICKMANN D.I., 2006. Silviculture and biology of short-rotation woody crops in temperate regions:
Then and now. Biomass and Bioenergy 30: 696–705.
ENF, 2006. Estratégia Nacional para as Florestas. Direcção Geral dos Recursos Florestais. Lisboa,
159 pp.
FAO, 1998. World reference base for soil resources. World Soil Resources Reports, Rome, 88 pp.
HOFMANN-SCHIELLE C., JUG A., MAKESCHIN F., REHFUESS K.E., 1999. Short rotation
plantations of balsam poplar, aspen and willows on former arable land in the Federal Republic of
Germany. I. Site-growth relationships. Forest Ecology and Management 121: 41-55.
MOLA-YODEGO, B., 2011. Trends and productivity improvements from commercial willow plantations
in Sweden during the period 1986-2000. Biomass and Bioenergy (35): 446-453.
MAKESCHIN, F. 1999. Short rotation forestry in Central and Northern Europe - introduction and
conclusions. Forest Ecology and Management 121: 1-7.
PATRÍCIO, M.S., NUNES, L.F., SARAIVA, A.D., AZEVEDO, J.C., 2011. Potential Biomass Production
of a Short Rotation Crop in Portugal. In: CarboForest Conference, Forest Research Institute,
Sekocin Stary, Poland, September 21-23.
TUBY, I., ARMSTRONG, A., 2002. Establishment and Management of Short Rotation Coppice.
Practice Note, Forestry Comission, Edinburgh, 12 pp.
VANDE-WALLE, I., VAN CAMP, N., VAN DE CASTEELE, L., VERHEYEN, K., LEMEUR, R., 2007.
Short-rotation forestry of birch, maple, poplar and willow in Flanders (Belgium) I—Biomass
production after 4 years of tree growth. Biomass and Bioenergy 31: 267-275.

AGRADECIMENTOS

Este estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), através do Projeto de
Investigação PTDC/AGR-CFL/64500/2006.

384
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Corte de regeneração de um povoamento de castanheiro bravo aos 65 anos


de idade: Efeito no stock de C e nutrientes do solo

Maria S. Patrício1*, Luís Nunes1 e Ermelinda L. Pereira1

1: Centro de Investigação de Montanha (CIMO), ESA - Instituto Politécnico de Bragança, Campus de Stª
Apolónia, Apartado 1172, 5301-854 Bragança, Portugal

e-mail: {Maria S. Patrício}, e-mail: sampat@ipb.pt

Resumo: As modificações causadas pela extração do material lenhoso em corte final podem
exercer grande influência no armazenamento de carbono e nutrientes do solo. No presente
trabalho avalia-se o impacte de um corte final de regeneração no stock de carbono e nutrientes
do solo num povoamento de castanheiro bravo (Castanea sativa Mill.) explorado em alto-fuste. O
povoamento situado na serra da Padrela (41º 31’ 47” N, 7º 35’ 22” W), com uma área aproximada
de 3 ha, foi submetido a um corte raso com sementões no repouso vegetativo de 2002-2003, aos
65 anos de idade. Em 2002 (antes do corte) e em 2012 (após o corte) recolheram-se amostras de
solo em perfis nas profundidades 0-10 cm, 10-30 cm e 30-60 cm para a determinação dos
seguintes parâmetros: pH, C orgânico, N total, P e K extraíveis e bases de troca. Uma década
após o corte, os resultados obtidos permitiram observar uma subida dos valores do pH (H2O) nas
profundidades 0-10 cm e 10-30 cm, e uma diminuição significativa dos teores de P nos primeiros
10 cm de solo. Para o C e restantes parâmetros analisados não se observaram diferenças
significativas após aplicação do teste de Tukey (p > 0,05). Neste ecossistema, o esperado efeito
nefasto do corte no armazenamento de carbono não se faz sentir 10 anos depois. Os
decréscimos observados no stock de C do solo foram de 4 % nos primeiros 10 cm, 9 % na
profundidade 10-30 cm e 13 % na profundidade 30-60 cm.
Palavras-chave: Castanea sativa, corte raso, alto fuste castanheiro, armazenamento de carbono
no solo

Abstract: The changes caused by harvesting of woody material on final cut can have great
influence on soil carbon and nutrients storage. In the present study we evaluate the impact of a
clearcut of regeneration on soil carbon and nutrients storage in a stand of chestnut (Castanea
sativa Mill.) managed on high-forest system. The stand located in the Serra da Padrela (41 º 31
'47 "N, 7 ° 35' 22" W), with an area of about 3 ha was subjected to a clearcut with seed trees
during the winter 2002-2003, at 65 years of age. In 2002 (before cutting) and 2012 (after cutting)
samples were collected from soil profiles in the depths 0-10 cm, 10-30 cm, 30-60 cm for
evaluating the following parameters: pH, organic C , total N, P and K extractable and cation-
exchange capacity. Ten years after cutting, the results allowed to observe an increase in values of
pH (H2O) in the depths 0-10 cm and 10-30 cm, and a significant decrease in the levels of P in the
first 10 cm of soil. C and remaining parameters analyzed do not differ significantly after applying
the Tukey test (p> 0.05). In this ecosystem, the expected adverse effect of clearcutting on the
carbon storage is not observed after 10 years. The decreases observed on soil C storage were
4% in the first 10 cm, 9% at 10-30 cm and 13% at 30-60 cm depth.
Keywords: Castanea sativa, clearcut, chestnut high-forest, soil carbon storage
Maria S. Patrício, Luís Nunes e Ermelinda L. Pereira

1. INTRODUÇÃO

As florestas fixam dióxido de carbono a partir da atmosfera sequestrando-o na biomassa, nos


produtos de madeira e nos solos (efeito armazenamento). As florestas temperadas são consideradas
importantes sumidouros de carbono, contudo, qualquer alteração no uso da terra ou no clima afeta o
seu armazenamento com impactes significativos no balanço total do carbono. A desflorestação
conduz geralmente a perdas substanciais de carbono e nutrientes presentes no solo e na vegetação
(MANN 1986; DAVIDSON e ACKERMAN,1993). Particularmente, solos inicialmente ricos em carbono
perdem grandes quantidades do carbono armazenado a seguir à exploração das árvores (WBGU,
1998).
O armazenamento de carbono no solo é um componente significativo do ciclo global do carbono
(NAVE et al., 2010). As florestas contêm cerca de metade do carbono terrestre (1146 x 1015 g) do
qual cerca de dois terços está retido no solo (DIXON et al., 1994; JOHNSON e CURTIS, 2001;
GOODALE et al., 2002) sob a forma de matéria orgânica. Esta desempenha variadas funções
importantes sendo uma fonte essencial de nutrientes para as plantas e para a manutenção da
produtividade e sustentabilidade dos ecossistemas. O teor de matéria orgânica no solo de uma
floresta madura não perturbada representa o equilíbrio entre os agentes fornecedores de detritos
orgânicos frescos e aqueles que conduzem à sua decomposição (BOCKHEIM, 2003). Segundo o
autor a razão C:N é estável em solos florestais onde se verifica este equilíbrio. Nos solos florestais a
matéria orgânica pode ser regulada através de uma gestão conservativa selecionando
cuidadosamente as práticas culturais mais adequadas para esse fim.
O comportamento dos nutrientes nos ecossistemas florestais é caracterizado em termos de
abundância e de perda ou migração. Em ecossistemas florestais geridos a remoção ou colheita de
produtos pode constituir a maior perda de nutrientes. Para o castanheiro bravo de alto fuste, a
exploração tradicional das árvores no final da revolução (tronco com casca) pode remover 77 % da
biomassa aérea total e 51 % (P), 43 %(K) e 53 % (N) (PATRÍCIO, 2006). Segundo o autor, a
estimativa da extração da biomassa aérea das árvores no povoamento de castanheiro em estudo é
de 200 t ha-1 o que corresponde a cerca de 99 t ha-1 de carbono exportado.
A porosidade e a matéria orgânica do solo são consideradas as propriedades chave mais
influenciadas pela gestão e mais relacionadas com a vitalidade e o crescimento, considerando
restrições de clima e topografia (BOCKHEIM, 2003). A gestão florestal, sobretudo a colheita do
material lenhoso, pode afetar significativamente o armazenamento de C no solo (NAVE et al., 2010).
Aos cortes rasos para exploração da madeira são atribuídas numerosas críticas relacionadas
essencialmente com a perda temporária do coberto, designadamente, demasiada exposição da
superfície do solo, agravamento dos problemas de erosão, aceleração da decomposição da matéria
orgânica com a libertação de grandes quantidades de CO2 para a atmosfera, lixiviação de nutrientes,
entre outros. Contudo, existem poucos dados sobre a perturbação causada pelos cortes rasos no
stock de carbono e nutrientes do solo nas nossas condições. Assim, com este trabalho pretende-se
avaliar o efeito do corte raso com sementões no armazenamento de carbono e nutrientes do solo
num povoamento de alto fuste de castanheiro bravo (Castanea sativa Mill.) explorado aos 65 anos de
idade.

386
Maria S. Patrício, Luís Nunes e Ermelinda L. Pereira

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Descrição do local

O presente trabalho desenvolve-se num povoamento de castanheiro bravo situado na serra da


Padrela (Nordeste de Portugal), num local denominado Vale do Carro, Concelho de Vila Pouca de
Aguiar, com as coordenadas 41º 31’ 47’’ de latitude N e 7º 35’ 22’’ de longitude W. Insere-se na
contiguidade de uma linha de água com exposição predominante nor-nordeste (N.NE) no lado da
estrada e su-sudoeste (S.SW) no lado oposto, com declive de 25 a 30º e uma altitude de 850 m.
A temperatura média anual é de 12,5 ºC, a temperatura máxima absoluta é de 37,5 ºC, atingida no
mês de Agosto, e a mínima absoluta é de -7,4 ºC, observada nos meses de Janeiro e Fevereiro. A
precipitação total anual é de 1132,8 mm com um máximo de 167,5 mm atingido em Janeiro e um
mínimo de 10,9 mm registado em Julho, de acordo com dados de “O Clima de Portugal”, referentes a
valores médios de 1951 a 1981, das estações udométrica da Padrela e climatológica de Pedras
Salgadas. A temperatura média é superior a 10 ºC de Abril a Outubro. O solo da área de estudo
corresponde a um Regossolo dístrico (FAO, 1998).

2.2. Metodologia aplicada

Este estudo realiza-se num povoamento de castanheiro bravo, com 65 anos de idade, explorado em
regime de alto fuste, para produção de madeira de grandes dimensões. No repouso vegetativo de
2002-2003, este povoamento com uma área aproximada de 3 hectares e com uma densidade média
de 259 árvores por hectare, foi submetido a um corte raso com sementões com o objetivo de colher o
material lenhoso produzido e fomentar a regeneração natural. A extração do material lenhoso foi
efetuada pelo método tradicional com a remoção do tronco principal com casca para madeira de
serração e o restante material para lenha. Em 2002, antes do corte, efetuou-se a caracterização
físico-química do solo em 3 perfis nas profundidades 0-10 cm, 10-30 cm e 30-60 cm, tendo-se
determinado os seguintes parâmetros: pH (H2O) e pH KCl, C orgânico, N total, P e K extraíveis e
bases de troca. Em 2012, uma década após o corte, repetiu-se o mesmo procedimento.

A B C

Figura1: Aspeto geral do povoamento de castanheiro bravo antes do cote (A) e durante o corte
(B). Perfil do solo (C).

Os valores de pH, em água e em KCl 1 M, foram obtidos pelo método potenciométrico. A


determinação do C orgânico foi obtida pelo método de Walkley-Black e o N total pelo método
Kjeldahl. O fósforo e potássio extraíveis foram determinados de acordo com o método de Egner-

387
Maria S. Patrício, Luís Nunes e Ermelinda L. Pereira

Riehm. As bases de troca foram extraídas através de uma solução de acetato de amónio
(NH4CH3COO) 1 M ajustada a pH 7,0. A determinação de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) no extrato foi
realizada por espectrofotometria de absorção atómica. Os teores em potássio (K) e sódio (Na) foram
determinados por espectrofotometria de emissão de chama.

2.3. Análise estatística

No tratamento estatístico dos dados recolhidos recorreu-se à ANOVA, após verificação dos
respetivos pressupostos, para comprovar a existência de diferenças significativas (α=0,05) nos
valores dos parâmetros do solo em 2002 e em 2012 (programa SPSS, versão 17.0 para Windows). A
comparação múltipla de médias foi efetuada aplicando o teste de Tukey (α=0,05).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como é sabido os cortes rasos podem conduzir à aceleração da decomposição da matéria orgânica
com a libertação de grandes quantidades de CO2 para a atmosfera, lixiviação e volatilização de
alguns nutrientes devido à maior exposição da superfície do solo.
Assim, comparando os resultados das análises efetuadas ao solo, antes do corte e uma década
depois, podemos observar uma subida dos valores do pH (H2O) nas profundidades 0-10 cm e 10-30
cm e uma diminuição significativa dos teores de P nos primeiros 10 cm de solo (Tabela 1). A dinâmica
do P depende da sua concentração no substrato orgânico. As menores quantidades de P podem ser
devidas aos maiores impactes da exploração madeireira na camada orgânica do solo. Em 2012 a
avaliação da camada orgânica não foi considerada devido à vegetação herbácea existente que
dificultava a sua colheita. Contudo, esta camada era muito reduzida o que indicia uma perda bastante
considerável apesar da regeneração verificada, sobretudo devido à talhadia entretanto formada em
consequência da rebentação das toiças após o corte. O carbono armazenado na camada orgânica do
solo é mais vulnerável às perdas induzidas pela colheita (-36% em média para folhosas) do que a
fração mineral do solo (NAVE et al., 2010).
Para o carbono e restantes parâmetros analisados nas frações minerais do solo não se observaram
diferenças significativas após aplicação do teste de Tukey (p > 0,05). Neste ecossistema, o efeito
negativo do corte no armazenamento de carbono não se faz sentir 10 anos depois. Os decréscimos
observados no stock de C do solo foram de 4 % nos primeiros 10 cm, 9 % na profundidade 10-30 cm
e 13 % na profundidade 30-60 cm.
Segundo (BOCKHEIM, 2003) a razão C:N é estável em solos florestais onde se verifica um equilíbrio
entre a matéria orgânica fornecida ao solo e a sua decomposição, com valores no horizonte mineral
superficial geralmente de 15:1 a 30:1. Assim, como se pode observar na tabela 1, a relação C:N no
povoamento em estudo antes do corte é considerada estável o que significa que o ecossistema se
encontrava em equilíbrio deste ponto de vista. Uma década depois do corte o desequilíbrio na relação
C:N que poderá ter existido encontra-se praticamente recuperado.

388
Maria S. Patrício, Luís Nunes e Ermelinda L. Pereira

Tabela 1: Concentrações médias (n=3) de C orgânico e de nutrientes nas camadas 0-10, 10-30 e 30-
60 cm de solo. Letras diferentes na mesma coluna, para cada profundidade, indicam diferenças
significativas (p < 0,05)

pH Corg N P K Ca Mg K Na C/N
-1 -1 -1
Ano H2O KCl g kg mg kg cmol (+) kg
0-10 cm
2002 4,80 b 4,17 a 56,13 a 3,73 a 11,21 a 152,13 a 1,01 a 0,57 a 0,53 a 0,06 a 15,35 a
2012 5,37 a 4,15 a 53,88 a 3,98 a 7,04 b 206,45 a 1,99 a 3,73 a 0,55 a 0,08 a 13,79 a
10-30 cm
2002 4,77 b 4,22 a 44,40 a 2,77 a 5,89 a 126,96 a 0,25 b 0,31 a 0,32 a 0,05 a 15.83 a
2012 5,31 a 4,17 a 40,33 a 2,77 a 2,97 a 160,65 a 0,87 a 0,74 a 0,36 a 0,12 a 14,54 a
30-60 cm
2002 5,10 a 4,27 a 33,30 a 2,29 a 3,59 a 109,35 a 0,60 a 0,19 a 0,27 a 0,05 a 14,31 a
2012 5,27 a 4,11b 28,78 a 2,25 a 2,73 a 140,73 a 0,81 a 0,72 a 0,34 a 0,13 a 11.85 a

O impacte da colheita no armazenamento de carbono na camada orgânica e na componente mineral


do solo tem diferentes consequências para o balanço de carbono devido às diferenças na magnitude
dos reservatórios de C entre as diferentes camadas de solo, sendo o carbono armazenado na
camada orgânica mais vulnerável às perdas induzidas pela colheita (NAVE et al., 2010). A figura 2
mostra as quantidades de carbono observadas nas diferentes camadas da fração mineral do solo
antes da perturbação causada pela exploração do material lenhoso e uma década depois.

50
45
40
35
C org  (t/ha)

30
25
2002
20
2012
15
10
5
0
0‐10 cm 10‐30 cm 30‐60 cm
Profundidades

Figura 2: Quantidades de C orgânico, nas camadas 0-10, 10-30 e 30-60 cm do solo, em 2002 e 2012

4. CONCLUSÕES

O impacte global do corte raso no armazenamento do carbono na fração mineral do solo não é
significativo uma década depois. As perdas induzidas pela colheita do material lenhoso parecem
manifestar-se sobretudo na reduzida camada orgânica observada. Os decréscimos observados no
stock de carbono do solo variaram entre 4 % e 13 % ao longo do perfil.

389
Maria S. Patrício, Luís Nunes e Ermelinda L. Pereira

BIBLIOGRAFIA

BOCKHEIM, J.G., 2003. Forest soils. In Introduction to Forest Ecosystem Science and Management.
3ª Edition, Raymond A. Young and Ronald L. Giese eds., University of Wisconsin-Madison,
Wiley, pp. 98-113.
DAVIDSON, E.A., ACKERMAN, I.L.,1993. Changes in soil carbon inventories following cultivation of
previously untilled soils. Biogeochemistry 20:161-193
DIXON, R.K., BROWN, S., HOUGHTON, R.A., SOLOMON, A.M., TREXLER, M.C., WISNIEWSKI, J.,
1994. Carbon pools and flux of global forest ecosystems. Science 263, 185–190.
FA0. 1988. FAO-Unesco Soil Map of the World. Revised Legend. FAO, Rome. 79 pp.
GOODALE, C.L., APPS, M.J., BIRDSEY, R.A., FIELD, C.B., HEATH, L.S., HOUGHTON, R.A.,
JENKINS, J.C., KOHLMAIER, G.H., KURZ, W., LIU, S.R., NABUURS, G.J., NILSSON, S.,
SHVIDENKO, A.Z., 2002. Forest carbon sinks in the Northern Hemisphere. Ecological
Applications 12, 891–899.
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA E GEOFÍSICA, 1991. O Clima de Portugal. Fascículo
XLIX, Vol. 3, 3ª Região, 70 pp.
JOHNSON, D.W., CURTIS, P.S., 2001. Effects of forest management on soil C and N storage: meta
analysis. For Ecol Manage 140, 227–238.
MANN, L.K., 1986. Changes in soil carbon storage after cultivation. Soil Sci. 142:277-288.
NAVE, L.E., VANCE, E.D., SWANSTON, C.W., CURTIS, P.S., 2010. Harvest impacts on soil carbon
storage in temperate forests. For Eco Manage 259: 857-866.
PATRÍCIO, M.S., 2006. Análise da potencialidade produtiva do castanheiro em Portugal. Tese de
Doutoramento. Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, 232 pp.
WBGU, 1998. The accounting of biological sinks and sources under the Kyoto protocol: a step
forwards or backwards for global environmental protection? WBGU (Wissenschaftlicher Beirat der
Bundesregierung—Globale Umweltveränderungen), 75 pp.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Departamento de Conservação da Natureza e Florestas (DCNF) a


disponibilização dos terrenos sob a sua tutela para a realização deste estudo bem como à Comissão
do Baldio de Bornes de Aguiar (Serra da Padrela).

390
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Estudo comparativo da anatomia de madeira e casca de duas espécies de


eucalipto

Marília Pirralho1*, Doahn Flores2, Vicelina B. Sousa1, Teresa Quilhó1,3, Helena Pereira1 e
Sofia Knapic1
1
Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior, de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada
da Ajuda, 1347-017 Lisboa, Portugal
2
Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Ciências Florestais e da Madeira, Universidade Federal do
Espírito Santo, Avenida Governador Carlos Lindemberg, 316, Centro - 29550-000 - Jerônimo Monteiro,
Espírito Santo, Brasil
3
Centro das Florestas e Produtos Florestais, Instituto de Investigação Científica Tropical, Tapada da Ajuda,
1347-017 Lisboa, Portugal

e-mail: mariliapirralho@isa.utl.pt

Resumo: Neste trabalho foram caracterizadas e comparadas, do ponto de vista da anatomia da


madeira e casca, duas espécies de eucalipto: Eucalyptus sideroxylon e E. viminalis. O trabalho
aqui apresentado faz parte do projecto “EucPlus-Novos processos e utilizações para madeira de
eucalipto” (PTDC/AGR-CFL/119752/2010), coordenado pelo Centro de Estudos Florestais.
Os eucaliptos, com 4 anos de idade, cresceram numa área experimental localizada no campus do
Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. A cada árvore foi retirada
uma rodela ao nível do DAP que serviu de base para o estudo da variação radial dos vasos,
fibras e raios.
A madeira foi estudada macroscópica e microscopicamente. Ao nível macroscópico foram
determinadas a área de vasos e o número de vasos por mm2 ao longo do raio (da medula para a
casca). Fizeram-se cortes histológicos (com utilização de micrómetro), segundo três planos -
tangencial (em três posições do raio 30%, 60% e 90%), transversal e radial - onde se
caracterizaram as duas espécies ao nível microscópico. A caracterização biométrica das fibras da
madeira foi realizada em material dissociado recolhido em três posições do raio (30%, 60% e
90%), determinando-se a largura, espessura e o comprimento das fibras. Os raios foram medidos
nas três posições no plano tangencial. Utilizaram-se técnicas de microscopia de luz transmitida e
análise de imagem. A casca foi caracterizada nos três planos: tangencial, transversal e radial. A
anatomia da casca destas duas espécies não tinha sido ainda investigada. A caracterização e
variabilidade anatómica (lenho e casca) destas duas espécies permitirão contribuir para a
avaliação do seu potencial comportamento do ponto de vista físico, mecânico e químico.

Palavras-chave: Eucaliptos, vasos, caracterização biométrica, fibras, casca.

Abstract: Two eucalypt species - Eucalyptus sideroxylon and E. viminalis - were characterized
and compared regarding the anatomy of wood and bark. This work is part of the project "New
EucPlus processes and uses for eucalyptus wood" (PTDC/AGR-CFL/119752/2010), coordinated
by the Center for Forest Studies.
The 4-year-old eucalypt trees grew up in an experimental area located on the campus of the
School of Agriculture, Technical University of Lisbon. From each tree a sample was taken at 1.30
m height (DBH) and used for studying the radial variation of the vessels, fibres and rays.
The wood was studied at a macroscopic and microscopic level. Macroscopically the area and
number of vessels per mm2 along the ray (from pith to bark) was determined. Histological sections
were obtained (using a micrometer) in three directions - tangential (representing 30%, 60% and
90% of the ray), transverse and radial - and the two species characterized at the microscopic
level. The biometric characterization of wood fibres was done in dissociated material at 30%, 60%
Marília Pirralho, Doahn Flores, Vicelina B. Sousa, Teresa Quilhó, Helena Pereira e Sofia Knapic

and 90% of the ray, by measuring width, thickness and length. The rays were measured at the
three positions in the tangential direction. Transmitted light microscopy and image analysis were
used. The bark was characterized in three directions: tangential, radial and transversal. The bark
anatomy of these two species has not yet been investigated. The characterization and anatomical
variability (wood and bark) of these two species will contribute to assess their potential behavior
regarding physical, mechanical and chemical properties.

Keywords: Eucalyptus, vessels, biometric characterization, bark.

1. INTRODUCTION

The knowledge of size and structure of anatomical elements which influence the wood and bark
properties in Eucalyptus are a useful tool to improve the quality of the final products (CARVALHO
1997, QUILHÓ et al. 2000, MIRANDA and PEREIRA 2002, RAMÍREZ et al. 2009, PEREIRA et al.
2011).
Although Eucalyptus had their origin in Australia, they are present today in other regions, as is the
case of Eucalyptus globulus in Portugal and Spain (PEREIRA et al. 2011). Only a few species are
from Indonesia and Papua New Guinea (GONZALEZ et al. 2011). Several species are exotics in
different regions i.e. E. nitens in Portugal and Spain as well as in Argentina and Chile; E. grandis in
the sub-tropical and tropical zones of Argentina, China, Brazil, India, South Africa, Uruguay and
Vietnam (FORRESTER et al. 2010). In spite of the numerous anatomical studies of wood
(CARVALHO 1997, MIRANDA and PEREIRA 2002, RAMÍREZ et al. 2009) and bark (CHATTAWAY
1955a, 1955b, 1955c; ALFONSO 1987, QUILHÓ et al. 1999, 2000) of the genus Eucalyptus, the
information on E. viminalis e E. sideroxylon is scarce.
The study of the anatomic characteristics is important because performance and potential value of
products depend on a wide range of interlinked fundamental wood characteristics (HUANG et al.
2003). The secondary xylem includes different cell types (i.e vessels, fibres, axial and radial
parenchyma in xylem or in phloem) originated by the vascular cambium; this cambium also
differentiates the secondary phloem with sieve tubes, fibres, axial and radial parenchyma and
sclereids (EVERT 2006). The secondary phloem, the periderm and rhytidome represent the bark
(RICHTER et al. 1996). For trees growing in plantations, these wood and bark cells are affected by
some factors such as site, ecological conditions, management, genetics and age (ZOBEL and VAN
BUIJTENEN 1989).
The main objective of this study was to characterize and compare the anatomic structure of wood and
bark of E. viminalis and E.sideroxylon.

2. MATERIAL & METHODS

This study was conducted in E. viminalis and E. sideroxylon trees with 4 years of age from an
experimental site located in the campus fields of the School of Agriculture, Technical University of
Lisbon, at Tapada da Ajuda, Lisboa, Portugal (38°42´N; 09°10´W). The region is under the influence of
a mesothermal humid climate, with a dry season in the summer extending from June to August, and

392
Marília Pirralho, Doahn Flores, Vicelina B. Sousa, Teresa Quilhó, Helena Pereira e Sofia Knapic

registering above 10°C in the coldest month and below or equal to 22°C in the hottest month. The soil
is a vertisol characterized by a fine, or medium to fine, texture, derived from tuffs or basalts, frequently
with limestone on the inferior horizons, or from calcareous rock (in much less extension).
In each tree samples with 10 cm thickness were collected at 1.30 of the tree height (DBH) and
wood and bark were separated.
The wood was studied macroscopically: vessel area was determined from pith to bark, using the
Leica software Qwin V 3.5.0, after acquisition of a sequence of images of each ray through a
digital camera Leica DFC 320 coupled to Leica Magnifier MZ6. Microscopically the wood was
characterized at three radial points: near pith, 30% of the radius; middle, 60%; and near the
cambium, 90%. Transversal, tangential and radial sections with 17 µm thickness were obtained,
using a micrometer, stained with safranin and mounted in Eukitt. Ray height and number of cells
were measured in 40 uniseriate rays, in tangential sections. The length, width and wall thickness
of 40 fibres were measured on dissociated material using image analysis LAS software V4.2
assisted by a digital camera EC3 coupled to a transmitted light Dialux 22 EB microscope.
Descriptive terminology follows the IAWA List of Microscopic Feature for Hardwood Identification
(IAWA COMMITTEE 1989).
The bark samples were impregnated with DP 1500 polyethylene glycol. Transversal, tangential and
radial sections of approximately 17 μm thickness were prepared with a Leica SM 2400 microtome
using Tesafilm 106/4106 adhesive for sample retrieval (QUILHÓ et al. 1999). The sections were
stained with a triple staining of chrysodine/acridine red and astra blue and mounted on Eukitt. Light
microscopic observations were made using Leica DM LA and photomicrographs were taken with a
Nikon Microphot-FXA. The terminology follows RICHTER et al. (1996).

3. RESULTS & DISCUSSION

3.1. Anatomical characterization

Figure 1 shows the wood structure of E. viminalis (Fig. 1 A-C) and E. sideroxylon (Fig. 1D – E). The
two species are diffuse-porous with solitary vessels, which are circular to oval and arranged in a
diagonal pattern (Fig. 1A, D); the axial parenchyma is of different types i.e. apotracheal diffuse and
diffuse in aggregates or paratracheal vasicentric uni or circunvascular (Fig. 1A, D); the rays are mostly
uniseriate, occasionally biseriate (Fig. 1B, E) and homogenous with procumbent cells (Fig. 1C, F). The
same type of vessels, axial and radial parenchyma are found in other Eucalyptus spp. (OLIVEIRA and
FREITAS 1970, ALFONSO 1987, PEREIRA et al. 20011).

393
Marília Pirralho, Doahn Flores, Vicelina B. Sousa, Teresa Quilhó, Helena Pereira e Sofia Knapic

Figure1. Wood microscopic details: a Transverse section of E. viminalis; b Tangential section of E.


viminalis; c Radial section of E. viminalis; d Transverse section of E. sideroxylon; e Tangential section
of E. sideroxylon; f Radial section of E. sideroxylon. Scale bar = 300 µm.

Figures 2 and 3 show the bark structure of E. viminalis and E. sideroxylon. The bark of E.viminalis is
described as almost wholly smooth, or rough grey and persistent on the lower part of the trunk, shed
in long ribbons from the upper trunk and branches, leaving a smooth white or yellowish surface; in
contrast, E. sideroxylon has an ironbark, persistent to the small branches, hard and deeply furrowed,
dark brown to black (BOLAN et al. 1992). However the studied trees were very young and exhibited a
similar structure, in both species; this is in accordance with observations of CHATTAWAY (1955a,
1955b, 1955c) and ALFONSO (1987) from young eucalypt barks.
The barks present the following features: a periderm with two types of phellem cells (suberized and
lignified cells) and a poorly developed phelloderm (Fig. 2A and 3A); a thin layer of non-collapsed
phloem where tangential bands of fibres alternate with thin layers of axial parenchyma cells and sieve
tube elements (Fig. 2B and 3B); the collapsed phloem includes some dilatation tissue as a result of
tree growth i.e expanded axial parenchyma cells (Fig. 2C and 3C); the rays are mainly uniseriate (Fig.
2D and 3D) and homogenous (Fig. 2E and 3E); clusters of expanded parenchyma cells are present in
both species (Fig. 2E and 3E), more evident in E. viminalis. The bark structure of these species at this
age resembles the bark structure of E.globulus (QUILHÓ et al.1999).

394
Marília Pirralho, Doahn Flores, Vicelina B. Sousa, Teresa Quilhó, Helena Pereira e Sofia Knapic

Figure 2. Microscopic structure of E. viminalis bark. A – Periderm including the lignified (lig) and
suberized (sub) cells of the phellem and 2-3 cells of the phelloderm; deposits of suberin (arrow);
cortex (cx). (transverse section) B – phloem with non collapsed phloem and collapsed phloem
(transverse section); C- collapsed phloem (transverse section); D- phloem (tangential section); E-
phloem (radial section). Scale bar = 50 µm.

Figure 3. Microscopic structure of E. sideroxylon bark. A – Periderm including the lignified (lig) and
suberized (sub) cells of the phellem and 1 cell of the phelloderm; deposits of suberin (arrow); cortex
(cx). (transverse section) B – phloem with non collapsed phloem and collapsed phloem (transverse
section); C- collapsed phloem (transverse section); D- phloem (tangential section); E- phloem (radial
section). Scale bar = 50 µm

3.2. Biometry

E. sideroxylon fibre length increased from an average 740.5 µm near the pith to 859.7 µm near the
cambium (Table 1). This trend was not observed for E. viminalis. The most frequent pattern of radial
variation of fibre length and wall thickness in the Eucalyptus genus is an increase from pith to near
cambium (PEREIRA et al. 2011). This pattern of radial variation was found in E. sideroxylon. E.

395
Marília Pirralho, Doahn Flores, Vicelina B. Sousa, Teresa Quilhó, Helena Pereira e Sofia Knapic

tereticornis showed a higher fibre length value of 850 at 4 years of age (RAO et al. 2002), when
compared to E. viminais and E. sideroxylon.

Fibre width increased radially in E. viminalis (19.8 µm near pith and 20.6 µm near bark), but decreased
in E. sideroxylon. Fibre wall thickness decreased from 3.8 µm to 3.0 µm and 2.7 µm, respectively, at
the pith, middle and near cambium positions in E. viminalis. In E. sideroxylon the fibre wall thickness
was not significantly different from pith to bark, with average values ranging from 3.8 µm of 4.2 µm and
to 3.8 µm in the three radial positions. These values of wall thickness are within the range of 1.7 µm to
6.6 µm reported for E.globulus at 9 and 12 years of age (PEREIRA et al. 2011).
Vessel area increased from pith to bark for E.viminalis and E. sideroxylon (Table 1). Vessels were
smaller near the pith (0.0078  mm2 for E. viminalis and 0.0034 mm2 for E. sideroxylon), increasing
afterwards (0.0079 mm2 for E.viminalis and 0.0035 mm2 for E. sideroxylon) and reaching its maximum
near the bark (0.0082 mm2 for E. viminalis and for E.sideroxylon). The same pattern of variation was
found in E. globulus (PEREIRA et al. 2011) i.e. vessels area increased from the pith to near cambium.

Table 1. Results of fibre variables (length, width and wall thickness) and vessel area measured at
tree radial position (30%, 60% and 90% of radius) of Eucalyptus viminalis and E. sideroxylon
Species Position Fibre length Fibre width Fibre wall Vessel area
(%) (µm) (µm) thickness (mm2)
(µm)
30 616.1±83.2 19.8±3.9 3.8±0.8 0.0078±0.003
E. viminalis 60 908.8±84.7 17.2±2.8 3.0±0.38 0.0079±0.041
90 699.7±73.5 20.6±3.0 2.7±0.7 0.0082±0.004
30 740.5±68.7 13.3±1.5 3.8±0.45 0.0034±0.0009
E. sideroxylon 60 816.8±97.8 20.4±3.0 4.2±0.76 0.0035±0.0009
90 859.7±74.8 13.3±1.3 3.8±0.59 0,0035±0.001

Table 2 shows the dimensions of uniseriate rays. The ray height increased radially from pith to bark in
E. sideroxylon (108.6 µm to 124.7 µm), and decreased in E. viminalis (166.5 µm to 153.3 µm). E.
sideroxylon showed 28% of bisseriate rays near pith and 34% near the cambium. In E. viminalis only
uniseriate rays were observed.
Regarding the variance analysis (table 3) results indicated that species and radial position and
interaction between species and position had a very significant effect in all the fibre biometric
variables (p<0.001). Interaction between species and position accounted for most of the variability
(35%, 52% and 24% of the total variation for fibre length, width and wall thickness, respectively).
Species had a significant effect in fibre wall thickness (28%). Between-fibre variation (error
component) was high at 50%, 64% to 60% of the total variation respectively.

396
Marília Pirralho, Doahn Flores, Vicelina B. Sousa, Teresa Quilhó, Helena Pereira e Sofia Knapic

Table 2.Variable of uniseriate rays measured at three radial position (30%,60%,90%) of E.viminalis
and E.sideroxylon
Specie Position (%) Height (µm)
30 166.5±45.7
E.viminalis 60 149.0±44.2
90 153.3±43.5
30 108.6±25.4
E.sideroxylon 60 107.9±28.1
90 124.7±38.9

Table 3. Summary of variance analysis for fibre length, width and wall thickness measured at tree
radial position (pith, middle and bark) for E.viminalis and E.sideroxylon

df F P Exp.Var.( %)
Species Fibre length 1 36.6 <0.001 8
Fibre width 1 95.1 <0.001 19
Fibre wall thickness 1 83.1 <0.001 28
Position Fibre length 2 101.1 <0.001 4
Fibre width 2 15.1 <0.001 5
Fibre wall thickness 2 13.5 <0.001 7
Species*Position Fibre length 2 55.1 <0.001 35
Fibre width 2 85.8 <0.001 52
Fibre wall thickness 2 23.9 <0.001 24
Error Fibre length 234 26
Fibre width 234 25
Fibre wall thickness 234 41

4. CONCLUSIONS

The anatomic structure of wood and bark of E. viminalis and E. sideroxylon was compared. The wood
and bark structure of young E. viminalis and E. sideroxylon species are similar.
Both species presented the same radial pattern of the vessels area and similar to E .globulus i.e.
vessels area increased from pith to near cambium. Fibres of E. sideroxylon were higher and wider
than E. viminalis fibers, but their wall thickness was similar. E. viminalis reported a higher height of
unseriate rays. Interaction between species and the radial position was the most significant effect for
the variation of fibre biometric variables. E.sideroxylon showed a similar radial pattern of fibre length to
that found in the genus Eucalyptus.

397
Marília Pirralho, Doahn Flores, Vicelina B. Sousa, Teresa Quilhó, Helena Pereira e Sofia Knapic

ACKNOWLEDGMENTS

This study was funded by project “Eucplus - new processes and uses for eucalypt woods”
(PTDC/AGR-CFL/119752/2010) by FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia). The Centro de
Estudos Florestais is a research unit funded by FCT within the POCTI-FEDER programme. The
third author author acknowledges funding from FCT as a doctoral student, the last author
acknowledges funding from FCT as a post-doctoral researcher.

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Marília Pirralho, Doahn Flores, Vicelina B. Sousa, Teresa Quilhó, Helena Pereira e Sofia Knapic

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399
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Variação da densidade da madeira de eucalipto: estudo comparativo de seis


espécies

Marília Pirralho1*, José Luis Louzada2, Helena Pereira1 e Sofia Knapic1

1: Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa,


Lisboa, Portugal, Tapada da Ajuda 1349-017, Lisboa, Portugal
2: Departamento Florestal, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila real, Portugal

e-mail: mariliapirralho@isa.utl.pt

Resumo: Em Portugal, e contrariamente ao que se passa noutros países, a madeira de eucalipto


não é utilizada como madeira sólida e, consequentemente, a investigação tem sido direccionada
para a produção de pasta para papel. Parece pois importante um estudo direccionado para o
desenvolvimento de novos processos e utilizações para madeira de eucalipto.
A densidade é um parâmetro de caracterização da madeira fundamental para a compreender do
ponto de vista mecânico e físico. O estudo sobre a densidade da madeira é portanto um dos
primeiros e mais importantes quando se pretende caracterizar a madeira como matéria-prima. O
trabalho aqui apresentado faz parte do projecto “EucPlus-Novos processos e utilizações para
madeira de eucalipto” (PTDC/AGR-CFL/119752/2010), coordenado pelo Centro de Estudos
Florestais.
Foram estudadas seis espécies de eucalipto: E. botryoides, E.maculata, E. nitens,
E.polyanthemos, E. sideroxylon, E.viminalis, que cresceram numa área experimental localizada
no campus do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. Estas
espécies foram colhidas para amostragem com 4 anos de idade. Utilizando a técnica de
microdensitometria por raios-x, determinou-se a densidade média, a densidade do lenho inicial, a
densidade do lenho final, a percentagem de lenho final e o índice de heterogeneidade.
Os factores de variação que apresentaram maior influência nas componentes da densidade
estudadas foram a espécie e a posição radial, verificando-se um padrão geral de diminuição da
medula para o câmbio. As espécies em estudo revelaram em geral valores de densidade
elevados, variando entre 0,84 gcm-3no caso de E.polyanthemos e 0,53 gcm-3 no caso de
E.viminalis.
Keywords: Densidade, madeira sólida, eucalipto, microdensitometria.

Abstract: In Portugal, contrary to other countries, eucalyptus wood is not used as solid wood with
its research mainly directed to pulp production. It is therefore important to study the development
of new processes and uses of eucalyptus wood.
Wood density is essential to understand mechanical and physical behaviour, and therefore an
important parameter to study when attempting to characterize wood as raw material. The work
presented here is part of the project "New EucPlus processes and uses for eucalyptus wood"
(PTDC/AGR-CFL/119752/2010), coordinated by the Center of Forest Studies.
Six species of Eucalyptus were studied: E. botryoides, E.maculata, E. nitens, E.polyanthemos, E.
sideroxylon, E.viminalis. These species were collected for sampling with 4 years of age in an
experimental area located on the campus of the School of Agronomy, Technical University of
Lisbon.
Density features - average density, earlywood density, latewood density, percentage of latewood
and the heterogeneity index – were assesed using X-ray microdensitometry.
The variation factors that showed to have the highest influence upon density features were
species and and radial position, with a general pattern of decreasing from pith to cambium. The
test species showed generally higher density values varying from 0.84 gcm-3 in the case of
E.polyanthemos and 0.53 gcm-3 for E.viminalis.
Keywords: Density, solid wood, eucalyptus, microdensitometry.
M. Pirralho, J. L. Louzada, H. Pereira e S. Knapic

1. INTRODUCTION

Availability of forest raw materials for pulp, solid wood and bio fuels is decreasing and concerns
regarding sustainability are starting to appear. Increase of diversity, rotation length, intelligent
management and product diversification, wood quality improvement and adoption of new processes
are strategic issues for countries where forest and forest-based industries are important. In Portugal,
eucalypt forests occupy large areas (812 000 ha) as commercial plantations directed for pulpwood
production for which a large body of knowledge has been gained (ALVES et al. 2007, PEREIRA et al.
2011). The research for new processes and uses will require a characterization of eucalypt wood
regarding important properties for solid wood, with density being a fundamental criterion to define the
wood technological quality.
Eucalypt wood density has been studied in some species, such as E. globulus (PEREIRA et al. 2011),
E. tereticornis (SHARMA et al. 2005), E. camaldulensis, E. citriodora, E. tereticornis, E. paniculata, E.
pilularis, E. cloeziana, E. urophyla and E. grandis (OLIVEIRA et al. 2005), and an Eucalyptus hybrid
(KUMAR et al. 2011). The objective of this paper is to evaluate the density features for young trees of
six Eucalyptus species grown in the same site using X-ray microdensitometry. X-ray microdensimetric
technique is one of the most common methods to study the wood density variation and has been
applied to many wood species (KOUBAA et al. 2002; MANNES et al. 2007; POLGE 1978; WALKER
1988).

2. MATERIAL & METHODS

The trees were grown in an experimental site located in the campus fields of the School of Agriculture,
Technical University of Lisbon, at Tapada da Ajuda, Lisboa, Portugal (38°42´N; 09°10´W). The region
is under the influence of a mesothermal humid climate, with a dry season in the summer extending
from June to August, and registering above 10°C in the coldest month and below or equal to 22°C in
the hottest month. The soil is a Vertisol characterized by a fine, or medium to fine, texture, derived
from tuffs or basalts, frequently with limestone on the inferior horizons, or from calcareous rock (in
much less extension). Samples of six species with four years old of Eucalyptus were collected - E.
botryoides, E.maculata, E. nitens, E.polyanthemos, E. Sideroxylon, and E.viminalis.
A 10 cm-thick disk was taken from each tree at breast height (1.3 m) and the mean wood diameter
was measured. The disks were sawn into a 2 mm-thick (longitudinal direction) radial strip segment
using an especially designed equipment consisting of a carriage driven feed to a high-speed (10000
rpm) twin blade cutting system, and sanded. Two replicates per species were analysed.
The samples were conditioned at 12% moisture content, X-rayed perpendicularly to the transverse
section and their image scanned by microdensitometric analysis as described in the literature
(LOUZADA and FONSECA 2002). The time of exposure to radiation was 350 s, at an intensity of 18
mA and an acceleration tension of 12 kV, with a 2.5 m distance between X-ray source and film. The
data composing the radial density profiles were recorded every 100 µm with a slit height (tangential
direction) of 455 µm.
The radial variation was studied by dividing each wood radius into ten equal segments from pith to
bark. For each radial segment, average density (RD), earlywood density (EWD), latewood density

401
M. Pirralho, J. L. Louzada, H. Pereira e S. Knapic

(LWD) and, latewood percentage (LWP) were determined. The density threshold for the earlywood-
latewood classification in each radial segment was set by the average of the minimum and maximum
density values in that segment (KNAPIC et al. 2008; MOTHE et al. 1998; ROZENBERG et al. 2001).
The heterogeneity index (HI) gives the dispersion of values around the average density of the
segment, and was calculated through the standard deviation values within each segment.
Analyses of variance for all density components were performed according to the model presented in
Table 2 to test the significance and to establish the variance components associated with each source
of variation. Average values for the tree were calculated by arithmetic means of the successive radial
segments and average radial growth rate was calculated by dividing the wood radius by the years of
growth.

3. RESULTS & DISCUSSION

An important characteristic of the six studied Eucalyptus species was their overall high wood density
(Table 1). Table 1 shows the average values and range of the mean wood density as well as of
earlywood (EWD) and latewood (LWD) density, and latewood percentage for all species. Figures 1
and 2 show graphically the variation of the density components in the six Eucalyptus species.

Table 1. Values of mean density, earlywood and latewood density and latewood percentage

of the six Eucalyptus species (with standard deviation, and minimum and maximum values)

Average Standard deviation Maximum – Minimum


-3
MD (gcm ) 0.65 0.12 0.84 - 0.53
-3
EWD (gcm ) 0.59 0.13 0.79 - 0.48
LWD (gcm-3) 0.71 10 0.85 - 0.59
LWP (%) 52.3 7.6 64.8 - 43.3
MD – medium density; EWD – earlywood density; LWD – latewood density;
LWP – latewood percentage

These Eucalyptus species revealed a high mean density of 0.65 gcm-3, ranging from 0.53 gcm-3 to
0.84 gcm-3, with an average EWD of 0.59 gcm-3 and LWD of 0.70 gcm-3. The latewood corresponded
on average to 52% of the total growth, varying from 43.3% for E. botryoides and 64.8% for E.
polyanthemos (Figure 3).
The highest values of mean wood density were registered by E. polyanthemos (0.84 gcm-3), E.
sideroxylon (0.80 gcm-3) and E. botryoides (0.62 gcm-3), while the lowest values belonged to E.
viminalis (0.53 gcm-3), E. maculata (0.53 gcm-3) and E. nitens (0.55 gcm-3). Similar species variations
were recorded for earlywood and latewood density values (Figures 23).
In the literature it is possible to find values of wood density for various of these species, although
direct comparisons should be avoided, since tree age, growth conditions and method of determination
usually differ. For specie E. nitens (SENELWA and SIMS 1999), was found 0.428 gcm-3 for 4 year old
and 0.550 gcm-3 for 6.5 year old E. maculata (MACKENSEN and BAUHUS 2003).

402
M. Pirralho, J. L. Louzada, H. Pereira e S. Knapic

Figure 1. Mean wood density of the six studied Eucalyptus species

Figure 2. Mean earlywood and latewood density of the six studied Eucalyptus species

Figure 3. Mean latewood percentage of the six studied Eucalyptus species

The data was processed with analysis of variance made for each density component regarding the
statistical significance and proportion of explained variation for the different sources of variation
(species, radial position and their interaction).
The effect that mostly contributed to the variation of density components was the species. The effect
of the species was highly significant and the explained variance was higher in mean density (48.7%
var.), earlywood density (49.6% var.) and minimum density (52.0% var.). The effect of the radial
position was always highly significant and represents 13.4%, 25.6%, and 20.4% of the total variation

403
M. Pirralho, J. L. Louzada, H. Pereira e S. Knapic

of the mean density, maximum density and latewood density, respectively. The effect of species/
position interaction was only significant (p<0.05) in latewood percentage.
The radial position was also a statistically highly significant source of variation for all density
components as well as the interaction of species and radial position (Table 2). Some species showed
an overall tendency of decreasing density values from pith to cambium (Figure 4), as it was shown by
E. nitens (0.73 gcm-3 to 0.51 gcm-3). However in the other species the values remained rather constant
along the radius around some fluctuations (Figure 4) as shown by E. brotryoides (0.68 gcm-3 to 0.63
gcm-3), E. polyanthemos (0.78 gcm-3 to 0.75 gcm-3), and E. sideroxylon (0.87 gcm-3 to 0.80 gcm-3). The
radial decrease of density was in general more pronounced in the inner region near the pith (until
about 30% of the radius) after which it remained rather constant. This result means that the general
increase of wood density with cambial age that is found in Eucalyptus spp. (PEREIRA et al. 2011) is
still not noticeable in such young trees.

Table 2. Variance analysis for each component, showing the statistical significance and the
percentage of total variation for each source of variation

Source of Mean MXD EWD LWD MIND HI LWP


variation density (%Var.Sig.) (%Var.Sig.) (%Var.Sig.) (%Var.Sig.) (%Var.Sig.) (%Var.Sig.)
(%Var.Sig.)
Species 48.7*** 23.7*** 49.6*** 31.1*** 52.0*** 9.6** 4.1ns
Dir/Specie 9.3*** 8.9*** 9.0*** 9.1*** 8.4*** 2.9* 3.8ns
Radial
13.4*** 25.6*** 10.2*** 20.4*** 8.7*** 24.8*** 11.2***
Position
Position
13.0*** 21.3*** 15.6*** 19.4*** 14.8*** 24.7*** 12.4*
xSpecies
Residual 15.6 20.7 15.7 20.0 16.1 38.1 68.5

Figure 4. Variation of the mean density along the 10 radial positions in the six Eucalyptus species

At 4 years of age, the mean underbark (wood) diameter at breast height was 12.2 cm with a
considerable variation between species (Figure 5). The highest radial growth was shown by E.
maculata (2.2 cmyr-1), and E. botryoides and E. nitens (1.6 cmyr-1). The species with lowest growth
were E. polyanthemos (0.9 cmyr-1) and E. sideroxylon (1.3 cmyr-1). Reports of radial growth of other

404
M. Pirralho, J. L. Louzada, H. Pereira e S. Knapic

species at 4 years of age were found for Casuariana equisetifolia (5.5 cm diameter) and Acacia
auriculaeformis (4.5 cm) (KUMAR et al. 2011), and for Eucalyptus globulus and E. nitens (9.7 and
11.4 cm, respectively) (PÉREZ et al. 2011) and an Eucalyptus hybrid (4.8 cm) (KUMAR et al. 2011).
However comparisons should not be made directly since tree growth depends heavily on soil and
climate conditions as well as on the silvicultural model.

Figure 5. Wood diameter at 1.3 m of the six Eucalyptus species

CONCLUSIONS

The studied six Eucalyptus species - E. botryoides, E. maculata, E. nitens, E. polyanthemos, E.


sideroxylon and, and E. viminalis - can be considered very dense with an overall relatively high
growth rate. There was a variation of wood density with E. polyanthemos and E. sideroxylon showing
a mean wood density above 0.75 gcm-3.
The comparison of radial growth of these species grown in the same conditions showed appreciable
differences, with values ranging from 0.9 cmyr-1 up to 2.2 cmyr-1. There was a variation of wood
density with E. polyanthemos and E. sideroxylon showing in all radial positions a mean wood density
above 0.75 gcm-3.
This study focused on an early assessment of the density features of different eucalypt species and
the results allowed to out single promising species, namely E. botryoides, E. polyanthemos and E.
sideroxylon.

405
M. Pirralho, J. L. Louzada, H. Pereira e S. Knapic

ACKNOWLEDGMENTS

This study was funded by project EucPlus - New processes and uses for eucalypt woods
(PTDC/AGR-CFL/119752/2010) by FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia, Portugal). The
Centro de Estudos Florestais is a research unit funded by FCT within the POCTI-FEDER
programme. The last author acknowledges funding from FCT as a post doc researcher. We thank
warmly Dr. Paula Soares for providing the samples and the information about the trial. The trial
was sponsored by CELPA – Associação da Indústria Papeleira (Portuguese Pulp and Paper
Industry Association).

REFERENCES

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407
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Métodos de ensaio de emissões de formaldeído para painéis derivados de


madeira - avaliação e comparação de resinas de baixa emissão

João Pereira*1, Cristina Coelho2, João Ferra3, Jorge Martins4, Fernão Magalhães5, Luísa
Carvalho6
1
Bolseiro, ARCP – Associação Rede de Competência em Polímeros, Rua Júlio de Matos 828/882, 4200-355
Porto, PORTUGAL.
2
Professora Adjunta, DEMad - Dept. de Engenharia de Madeiras, Instituto Politécnico de Viseu, Campus
Politécnico de Repeses, 3504-510 Viseu, PORTUGAL.
3
PhD, EuroResinas S.A. – Industrias Químicas, 7520-195 Sines, Portugal.
4
Professor Coordenador, DEMad – Dept. de Engenharia de Madeiras, Instituto Politécnico de Viseu,
Campus Politécnico de Repeses, 3504-510 Viseu, PORTUGAL.
5
Professor Auxiliar, LEPAE, Dept. de Engenharia Química, Universidade do Porto- Faculdade de
Engenharia, Rua Drº Roberto Frias, 4200-465, Porto, PORTUGAL.
6
Professora Coordenadora, DEMad - Dept. de Engenharia de Madeiras, Instituto Politécnico de Viseu,
Campus Politécnico de Repeses, 3504-510 Viseu, PORTUGAL.

*e-mail: jamp@fe.up.pt

Resumo: O formaldeído é um composto orgânico comum muito utilizado em diversas aplicações como
matéria-prima, nomeadamente nas resinas de ureia-formaldeído (UF), melamina-ureia-formaldeído (MUF) e
fenol-formaldeído (PF). As resinas de ureia-formaldeído (UF) são as mais usadas para a produção dos
derivados de madeira, devido à sua elevada reatividade, elevado desempenho, excelente adesão à madeira
e um baixo custo, mas têm como grande desvantagem as emissões de formaldeído. Em 2006 foi publicada
uma recomendação da “International Agency for Research on Cancer (IARC)”, referindo que “o formaldeído
é carcinogéneo para humanos". Assim, as entidades reguladoras dos diferentes países, e em algumas
situações o próprio mercado, têm vindo a aumentar as restrições às emissões de COV(s), e em particular
de formaldeído destes produtos. A avaliação e classificação das emissões de formaldeído dos painéis
derivados de madeira não são uniformes em todos os países. A Europa, EUA e Japão foram pioneiros no
desenvolvimento de métodos de ensaio e definiram as suas próprias normas e métodos de ensaio para
determinar as emissões de formaldeído utilizando diferentes princípios e equipamentos. Os métodos que
usam câmaras e células para determinar as emissões de formaldeído são bastante demorados. Os
chamados métodos derivados, como o método do perforador utilizado no controlo de qualidade avaliam o
formaldeído que potencialmente poderá ser emitido. Existem dúvidas sobre qual dos métodos é o mais
adequado e também sobre as correlações existentes entre os diferentes métodos. Neste artigo é
apresentada uma revisão crítica aos vários métodos de determinação de emissão de formaldeído e
respetivas classificações, bem como uma comparação dos resultados obtidos em laboratório (Câmara,
Análise de Gás, Exsicador e método do Perforador) para aglomerado de partículas produzido a partir de
resinas com baixa emissão de formaldeído (UF e MUF). Foi também ensaiada uma placa de aglomerado de
partículas comercial de acordo com os métodos referidos e também usando o método da câmara.

Palavras-chave: Formaldeído, Resinas, Derivados de Madeira, Emissões de Formaldeído, Métodos de


Ensaio.

Abstract: Formaldehyde is a common organic compound very used in various applications as raw
materials, in particular urea-formaldehyde (UF), melamine-urea-formaldehyde (MUF), and phenol-
formaldehyde (PF). The urea-formaldehyde (UF) resins are commonly used for the production of wood-
based, due to their high reactivity, high performance, excellent adhesion to wood and low cost, but the big
disadvantage is the emissions of formaldehyde. In 2006 was published a recommendation of the
“International Agency for Research on Cancer (IARC)”, stating that "formaldehyde is carcinogenic to
humans." Thus, the regulatory authorities of different countries, and in some cases the market itself, have
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

been increasing restrictions on emissions of VOC (s), and in particular formaldehyde in these products.
Evaluation and classification of formaldehyde emissions from wood-based panels are not uniform across
countries. Europe, USA and Japan were pioneers in the development of test methods and set their own
standards and methods for determining formaldehyde emissions using different principles and equipment.
The chambers and cells methods determine the formaldehyde emission, but are very time consuming. Other
derived methods, as the perforator developed for pretesting and production control, evaluate the
formaldehyde content (emittable potential). There is doubt of which is more appropriate and the validity of
the correlations between the different methods.
In this paper, we present a review on several formaldehyde test methods and release classes, as well as a
comparison of results obtained at our laboratory (chamber, gas analysis, desiccator and perforator methods)
for particleboard produced with low formaldehyde emission (UF and MUF) resins. A commercial
particleboard was also tested with those formaldehyde emission methods and also with chamber method.

Keywords: Formaldehyde, Resins, Wood-Based Products, Formaldehyde Emissions, Test Methods.

1. INTRODUÇÃO

As resinas de ureia-formaldeído (UF) são as mais usadas na produção de derivados de madeira,


essencialmente devido à sua elevada reatividade, elevado desempenho, excelente adesão à madeira
e um baixo custo de produção, mas a grande desvantagem são as emissões de formaldeído, quer
durante a produção das placas, quer durante o seu tempo de aplicação (Dunky, 1998). O formaldeído
é um composto orgânico comum e é muito utilizado em variadas aplicações industriais como matéria-
prima, nomeadamente para a produção de adesivos à base de formaldeído para madeira e
compósitos de madeira, como ureia-formaldeído (UF), melamina-formaldeído (MF), fenol-formaldeído
(PF) e fenol-resorcinol-formaldeído (PRF). Os efeitos nocivos à saúde provocados pela exposição do
formaldeído em casas pré-fabricadas, especialmente a irritação nos olhos e vias aéreas superiores,
foram os primeiros relatados em meados da década de 1960 (Salthammer et al., 2010). Em 2004, a
“Internacional Agency for Research on Cancer (IARC)” da Organização Mundial de Saúde (OMS)
recomendou a reclassificação de formaldeído como "cancerígeno para os seres humanos (grupo 1)"
e, em 2006, esta recomendação foi finalmente publicada (IARC, 2006). Como consequência, as
diversas autoridades e instituições de diferentes países têm-se preocupado com o formaldeído como
um agente poluidor prioritário e novas regulamentações surgiram considerando limites de exposição
cada vez menor. Dentro da União Europeia, o formaldeído é atualmente classificado como substância
3R40 ("evidência limitada de efeitos cancerígenos"), mas esta classificação está a ser revista sob o
novo regulamento para produtos químicos “Registration, evaluation, authorization and restrictions of
Chemicals” (REACH). Para este fim, a FormaCare (2010) (formaldehyde sector group of the
European Chemical Industry Council) estabeleceu regras para facilitar a criação de um consórcio
permitindo aos fabricantes europeus de formaldeído de trabalhar juntos como um grupo unificado
para as suas atividades de conformidade REACH.
Independentemente da classificação do formaldeído, os produtores de resinas continuam a apostar
no desenvolvimento de novas resinas e captadores de forma a reduzir os níveis de emissão para
valores próximos, e mesmo abaixo, da madeira natural (Schafer and Roffael 2000). Por outro lado,
devido à escassez de madeira, os produtores de derivados de madeira têm sido forçados ao uso de
uma percentagem crescente de madeira reciclada, o que parece conduzir a um aumento das
emissões de formaldeído (Martins, Pereira et al., 2007). Enfrentando as novas orientações e normas

409
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

de emissões, os produtores industriais têm vindo a fazer esforços na redução das emissões de
formaldeído, sendo muito significativa a diminuição no decorrer das últimas décadas (FormaCare,
2010).
Para a determinação de emissões de formaldeído em produtos de derivados de madeira, vários
métodos e padrões foram surgindo na Europa, EUA e Japão. Cada método quantifica uma
característica emissão ligeiramente diferente e produz resultados em unidades diferentes e não
comparáveis entre si (Athanassiadou e Ohlmeyer 2009). Esta proliferação de métodos de ensaio e
resultados que não são passíveis de comparação, geram muitas vezes confusão entre as entidades
reguladoras governamentais, consumidores e no sector da indústria (Athanassiadou e Ohlmeyer
2009). Além disso, os valores de emissão de formaldeído verificados nos anos 70 e 80 eram
substancialmente mais elevados, pelo que os métodos de ensaio outrora desenvolvidos necessitaram
de ser adaptados e melhorados para os intervalos de emissão atuais. Têm sido propostos novos
métodos de ensaio a fim de cumprir com as novas exigências: maior precisão, limites de deteção
mais baixos, maior rapidez e reprodutibilidade.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

No âmbito dos projetos E0-Formaldehyde e ECOUF, foram sintetizadas diferentes formulações de


resinas UF e MUF usando diferentes parâmetros, de forma a estabelecer correlações com os limites
de emissão de formaldeído dos diferentes métodos de ensaio.
Para cada resina, foram produzidos painéis de aglomerado de partículas à escala laboratorial e, em
seguida, caracterizados de forma a quantificar o desempenho físico-mecânico, bem como a emissão
ou teor de formaldeído. Uma amostra de aglomerado de partículas comercial foi também testada para
análise de formaldeído.
A produção laboratorial de aglomerado de partículas é essencialmente dividida em três fases:
encolagem, formação e prensagem. A matéria-prima para a formação da camada externa (CE) e
camada interna (CI), é fornecida pela fábrica da SONAE Indústria PCDM – situada em Oliveira do
Hospital e são compostas de diferentes proporções de pinho, eucalipto, serrim de pinho e madeira
reciclada. O teor de água das misturas standard foi verificada antes da encolagem, utilizando uma
balança de infravermelhos. A média do teor de água das camadas CE e camada CI foi de 2.5% e
3.5%, respetivamente. As partículas de madeira foram misturadas com a resina, catalisador e
parafina numa encoladora laboratorial. O factor Fx (teor de resina na placa) foi de 6.3% de sólidos de
resina na CE e 6.9% na CI, com base na massa seca das partículas de madeira. A resina catalisada
foi mais na CI (3% de sólidos com base no peso seco de resina em estufa) do que na CE (1% de
sólidos com base no peso seco de resina em estufa). O teor de parafina foi 0.15% (massa de sólidos
de parafina por massa seca de madeira em estufa).
Os painéis de aglomerado de partículas de três camadas são formados manualmente em formas de
alumínio com 220x220x80 mm e posteriormente prensados numa prensa laboratorial controlada por
computador. A partícula encolada foi prensada a 190 °C durante 150 s para produzir painéis com uma
massa volúmica média de 650 kg/m3 e com 17 mm de espessura. A seguir à prensagem, os painéis
são armazenados em ambiente condicionado (20 ºC, 65% de Humidade relativa) e posteriormente

410
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

testados de acordo com as diferentes normas europeias.


Os painéis são testados de acordo com as normas europeias para a massa volúmica (MV) (EN 323),
a resistência interna (RI) (EN 319), o teor de água (TA) (EN 322) e o inchamento em espessura após
imersão em água 24 h (IE) (EN 317). Em cada série de 5 painéis, foi selecionado aleatoriamente um
painel para a análise do teor de formaldeído (TF) de acordo com a EN 120 (método de perforador),
três painéis foram usados para o método do exsicador (JIS A 1460), um painel de cada série foi
submetido ao método de análise de gás (EN 717-2) para determinação da emissão de formaldeído.
Foi também utilizada uma amostra de aglomerado de partículas comercial que foi submetida a todos
os métodos referidos e também ao da norma EN 717-1 (determinação da emissão de formaldeído
pelo método da câmara de 1 m3).

3. MÉTODOS DE ENSAIO PARA DETERMINAÇÃO DE EMISSÕES DE FORMALDEÍDO

A emissão de formaldeído nos painéis de madeira deve-se, não só, ao formaldeído residual presente
sob a forma de gás no substrato ou dissolvido na água presente no interior do painel, mas
essencialmente à reversibilidade das reacções originando a hidrólise das ligações metileno-éter e dos
grupos metilo terminais (Dunky 1998). A libertação do formaldeído depende de factores internos e
factores externos. Os factores internos compreendem o tipo de matéria e resina utilizada, parâmetros
e condições de produção do painel e a própria idade do painel. Factores externos são a temperatura,
humidade relativa, taxa de renovação do ar e a área total do painel em relação ao volume do lugar
onde os painéis estão armazenados (Athanassiadou and Ohlmeyer 2009). Os métodos para
determinação do teor de formaldeído devem ter em consideração os factores acima referidos, de
forma a serem reprodutíveis, fiáveis e relacionáveis entre diferentes análises.
Os métodos se ensaio existentes podem ser divididos em dois grupos: emissão real (formaldeído
efectivamente emitido na condição do ensaio) e emissão potencial (quantidade máxima de
formaldeído existente no painel que pode ser emitido em condições severas de acondicionamento)
(Dunky 2004).
A Erro! A origem da referência não foi encontrada. resume algumas das mais
importantes normas para determinação de emissões de formaldeído e que são utilizadas na análise
de painéis de derivados de madeira.

Tabela 1. Normas e métodos de ensaio para determinação de formaldeído a partir de painéis de


derivados de madeira (Athanassiadou, 2000, Marutzy, 2008)
Métodos de ensaio Normas (ou nome do método)
ASTM E 1333, ASTM D 6007, EN 717-1, JIS A
Câmara
1901, JIS A 1911, ISO 12460-1, ISO 12460-2
Análise de gás EN 717-2, ISO 12460-3
Método do frasco EN 717-3, método AWPA
ASTM D 5582, ISO 12460-4, JIS A 1460, JAS
Exsicador
MAFF 235, JAS 233, AS/NZS 4266.16
Perforador EN 120, ISO 12460-5
Field and Laboratorry Emission Cell “FLEC”,
Outros
Dynamic Microchamber “DMC”

411
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

3.1. Emissão real

3.1.1. Método da câmara

A avaliação da emissão real de formaldeído de um produto sob condições típicas de ambiente


interior em edifícios e em escalas de tempo definidas requer a utilização de uma câmara de
temperatura controlada. A concentração de formaldeído do ar no interior da câmara é medida. A
norma americana ASTM E 1333 apresenta uma câmara de ensaio grande que visa a simulação
das condições de uma sala com 22 m2. A norma ASTM D 6007 apresenta uma câmara mais
pequena (0,02 a 1 m3) e as amostras permanecem nas condições operatórias da câmara até a
concentração de formaldeído atingir o estado estacionário (a variação da concentração deverá
ser igual ou inferior a 0.03 ppm). A CARB (Californian Air Resources Board) aprovou recentemente
regulamentos que exige o uso destas câmaras para os ensaios de certificação, o que aumentou a
importância destes métodos. A “International Organization for Standardization (ISO)” apresenta como
método de referência a norma ISO /FDIS 12460-1 (1 m3) e para o método derivado, a norma ISO/DIS
12460-2.
As condições para a norma europeia EN 717-1 (método da câmara) apresentam três diferentes
opções para o seu volume: > 12 m3, 1 m3 e 225 litros. As condições operatórias diferem um pouco
das da norma americana, apresentando uma temperatura de (23 ± 0,5) °C e uma humidade relativa
de (45 ± 3) %. A renovação de ar é o dobro da equivalente americana, ou seja, 1/hr. O tempo de
análise é de pelo menos 10 dias. A principal vantagem do método da câmara é, relativamente a
outros métodos, para além de simular as condições dos espaços habitados, utilizar maior quantidade
de amostra, minimizando as influências da variabilidade do material a analisar.
As câmaras pequenas são amplamente usadas na Europa e na América do Norte e podem ser muito
precisas, relativamente fáceis de adptar e correlacionam-se bem com as câmaras grandes.
Neste estudo, foi usada uma câmara de 1 m3. No interior da câmara foram colocados dois painéis de
aglomerado de partículas comercial de 500 x 500 x espessura (mm) para o ensaio. O formaldeído
emitido a partir dos painéis de ensaio mistura-se com o ar na câmara, o qual é recolhido em
amostragens pelo menos duas vezes por dia. A concentração de formaldeído é determinada
extraindo o ar a partir da saída da câmara por meio de dois frascos de lavagem de gás contendo
água destilada, sendo esta que absorve o formaldeído. A concentração de formaldeído na atmosfera
da câmara é calculada a partir da concentração da água nos frascos de lavagem de gás e o volume
do ar recolhido, sendo expressa em [mg/m3]. As amostragens continuam periódicamente até que a
concentração de formaldeído na câmara atinja o estado de equilíbrio, a qual requer pelo menos 11
dias (EN 717-1). Cada uma das normas especifica um método diferente para determinar quando
ocorrem as condições em que atinge o estado estacionário das emissões de formaldeído. Contudo,
aceita-se uma variação na emissão de formaldeído inferior a 5% ao longo de um determinado período
e que representa uma condição de estado quase estacionário. Além disso, todas as normas
determinam que o ensaio deverá finalizar após 28 dias, mesmo que a condição de estado
estacionário não seja atingida (Irle, 2011).

412
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

3.1.2. Método de análise de gás

O método de análise de gás (EN 717-2) é um ensaio que determina a emissão de formaldeído em
condições aceleradas: uma temperatura de 60 º C num período definido de 4 horas. Neste método,
um provete de ensaio com as dimensões de 400 x 50 x espessura (mm) e com os bordos selados
com folha de aluminio é colocado numa câmara fechada com temperatura de (60 ± 0,5) ºC, com uma
humidade relativa inferior a 3%, um fluxo de ar de (60 ± 3) L / h e sob uma sobrepressão de 1000-
1200 Pa. O formaldeído libertado do provete de ensaio mistura-se com o ar da câmara sendo que
este é continuamente retirado da câmara passando através de frascos de lavagem de gás que
contêm água destilada, sendo esta que absorve o formaldeído. O formaldeído é determinado em
intervalos de 1 hora, até perfazer 4 horas. A cada hora, o ar passa automáticamente através de um
par de frascos de lavagem de gás. No fim do ensaio, a emissão de formaldeído é calculada a partir da
concentração de formaldeído, o tempo de amostragem e a área exposta do provete de ensaio,
expressa em [mg/m2 h].
Apesar do tempo de análise deste método ser reduzido, os ensaio envolvem um elevado investimento
em equipamentos. A norma EN13986 indica este método para ensaios em painéis de derivados de
madeira não revestidos (contraplacado, placas de madeira maciça, LVL) ou pintados, revestidos ou
folheados (aglomerado de partículas, OSB, MDF, contraplacado, placas de madeira maciça,
aglomerado de fibras (via húmida), aglomerado de partículas ligadas, por cimento e LVL).

3.1.3. Método do exsicador

O método do exsicador de maior relevância é o definido na norma japonesa JIS A 1460. É um dos
métodos mais económicos, mas tem uma desvantagem: os provetes do ensaio devem ser
condicionados em condições de temperatura de (20 ± 2) ºC e uma humidade relativa de (65 ± 5)% até
atingirem massa constante, o que pode demorar o ensaio até uma semana. Os provetes são
seccionados em retângulos de 150 x 50 x espessura. Um ensaio corresponde a uma série de
provetes com uma área total o mais próximo possível de 1800 cm2 (inclui as faces, os lados e os
bordos), estando ligados a um suporte de metal e colocados numa rede de arame de aço inoxidável,
sobre um cristalizador contendo água destilada, tudo no interior de um exsicador com um diâmetro
nominal de 240 mm. O exsicador é fechado herméticamente e os provetes são selados no seu interior
durante 24 horas a uma temperatura controlada de (20 ± 0,5) °C. A emissão de formaldeído é
absorvida pela água destilada contida no cristalizador.
A concentração de formaldeído na água destilada é determinada por um método fotométrico
utilizando o método de acetilacetona, mas as condições da reacção e quantidades dos reagentes são
diferentes das normas europeias EN 717-1 e EN 120. A emissão de formaldeído é expressa em [mg /
L].
Uma norma semelhante é definida na ASTM D 5582, mas com algumas alterações significativas:
diâmetro do exsicador (250 mm) e a duração da análise (somente 2 horas). Existem outras normas
que são baseadas no mesmo principio, como a JIS 233 e a JIS 235. Uma norma recentemente

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Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

harmonizada foi adotada pela “International Organization for Standardization (ISO)”, como a ISO / CD
12460-4.

3.2. Emissão potencial


3.2.1. Método do perforador
O método do perforador (EN 120) quantifica o teor de formaldeído existente nos painéis de derivados
de madeira. Enquanto que um ensaio pelo método da câmara pode demorar vários días até atingir o
estado de equilíbrio, o método do perforador é muito mais rápido, sendo considerado por esta razão,
o método indicado para o controle diário de produção numa unidade fabril. É, precisamente este
ensaio o mais usado na Europa para determinar o teor de formaldeído em aglomerado de partículas e
MDF. A norma EN 13986, indica este método para aglomerado de partículas não revestido, OSB,
MDF e aglomerados de linho. Também é usado em todo o mundo, excetuando na América do Norte.
O formaldeído é extraído a partir de provetes de ensaio (110 g de quadrados com 25 × 25 x
espessura (mm)), por intermédio de tolueno em ebulição durante 2 horas e, em seguida, transferido
para água destilada ou desmineralizada. O teor de formaldeído da solução aquosa é determinado
fotometricamente pelo método de acetilacetona. Apresenta como desvantagem, o facto de originar
resíduos do tolueno. Os resultados são expressos em [mg de formaldeído / 100 g de placa seca
anidra]. Os valores do perforador para aglomerado der partículas, OSB e MDF, devem ser obtidos a
partir de painéis condicionados a um teor de água de referência (6,5%). De acordo com
especificações normativas, para aglomerado de partículas com diferentes teores de água, dever-se-á
corrigir o valor do perforador através de um fator de correção. Este fator de correção é discutível, uma
vez que depende de outros fatores, e não só do teor de água dos painéis de derivados de madeira
(Roffael e Johnsson, 2011). A precisão deste método tem sido amplamente discutida porque, quando
o teor de formaldeído apresenta valores reduzidos (inferiores a 4 mg/100 g placa seca anidra), a sua
precisão também é mais reduzida. A norma ISO 12460-4 apresenta um método de ensaio
semelhante ao anterior.

3.3. Análise dos métodos de emissões de formaldeído


Considerando os diferentes métodos existentes, e tendo em conta que parece difícil de encontrar
um acordo global sobre o estabelecimento de um método de referência, é importante conhecer os
diferentes métodos e suas principais características. A Tabela 2 apresenta os parâmetros de
ensaio que foram utilizados nos métodos deste estudo.

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Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

Tabela 2. Parâmetros de ensaio para os métodos de determinação de emissões de formaldeído


Métodos
Câmara Análise de gás Exsicador Perforador
EN 717-1 EN 717-2 JIS A 1460 EN 120
Pre-condicionamento Não Não 7 dias Não
3
Volume 1m 4L 6L -
Temperatura (23 ± 0.5) ºC (60 ± 0.5) ºC (20 ± 0.5) ºC -
Humidade relativa (45 ± 3) % <3% - -
Taxa de renovação do
1 h−1 - - -
ar
Fator de carga 1 m2/m3 10 m2/m3 ≈ 30 m2/m3 -
2 2 2
Área total 1 m (2 provetes) 0.040 m (2 provetes) ≈ 0.18 m 110 g
Bordos não selados 1.5 m/m2 Não Sim Sim
Tempo de ensaio 10 a 28 dias 4 horas 24 horas 3 horas
Método de análise acetilacetona acetilacetona acetilacetona acetilacetona
Unidades mg/100 g placa
mg/m3 (ar) mg/m2h mg/L
seca anidra

De facto não existe um método que se evidencie, apresentando todos eles vantagens e
desvantagens. Os custos de instalação calculados apresentam uma relação de 0.5:8:100 para o
perforador, análise de gás e câmara grande, respetivamente (Athanassiadou e Ohlmeyer 2009).
Ensaios de emissões de formaldeido em câmaras são geralmente demorados e utilizam
equipamento mais sofisticado e dispendioso. No entanto, para competir num mercado globalizado os
produtores de painéis derivados de madeira, têm de certificar os seus produtos de acordo com as
normas de diferentes países ou regulamentação regional, que consideram métodos de referência
diferentes, como o Japão (exsicador JIS A 1460), EUA (método da câmara) e Europa (método do
perforador). Uma nova abordagem e uma cooperação mais estreita entre as diferentes regiões do
mundo no que diz respeito a métodos de ensaio de emissões de formaldeído, foram acordos entre
CEN / TC 112 e ISO / TC 89. A resolução foi tomada em Sydney, 2011-2: "ISO / TC 89”, por
unanimidade apoia um maior desenvolvimento nas normas da série ISO 12460 "Determinação de
emissões de formaldeído", sob o Acordo de Viena, em cooperação com o CEN / TC 112, para tornar-
se normas EN ISO.

3.4. Limites de emissões de formaldeído para painéis derivados de madeira


Nos últimos anos, foram estabelecidas e / ou reformuladas as regulamentações nacionais em
alguns países, restringindo os limites de emissões de formaldeído a partir de painéis derivados
de madeira. As normas para os métodos de ensaio de determinação do formaldeído não referem
a classificação dos painéis derivados de madeira de acordo com os resultados obtidos nas
emissões de formaldeído. Esta classificação é estabelecida nas normas de especificação de
cada produto. A norma europeia EN 13986 (painéis derivados de madeira para uso na
construção) classifica a emissão de formaldeído em duas classes: E1 ou E2 (ver Tabela 3).

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Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

Tabela 2. Revisão geral sobre os limites superiores de emissões de formaldeído (PB – Particleboard/
Placa de aglomerado de partículas, MDF – Medium Density Fibreboard/ Aglomerados de fibras
obtidos por via seca, PW – Plywood/ Contraplacado, OSB – Oriented Strand Board/ Aglomerado de
partículas de madeira longas e orientadas, LVL – Laminated Veneer Lumber/ Madeira microlamelada
colada) (Athanassiadou e Ohlmeyer, 2009)
Região Norma de Método de Classificação Tipos de placas Valor Limite
classificação ensaio do painel
ENV 717-1 > 0.124 mg/m3 ar
PB, OSB e MDF
8 < mg/100 g placa
EN 120 (não revestido)
seca anidra ≤ 30
ENV 717-1 PW, SWP e LVL > 0.124 mg/m3 ar
E2
(não revestida)
PW, PB, OSB,
EN 717-2 3.5 < mg/m2.h ≤ 8
MDF, LVL (e
Europa outras) revestidas
EN 13986
ENV 717-1 ≤ 0.124 mg/m3 ar
PB, OSB e MDF
≤ 8 mg/100 g placa
EN 120 (não revestidos)
seca anidra
ENV 717-1 PW, SWP e LVL ≤ 0.124 mg/m3 ar
E1
(não revestido)
PW, PB, OSB,
EN 717-2 ≤ 3.5 mg/m2.h
MDF, LVL (e
outros) revestidos
F** ≤ 1.5 mg/L
JIS A 5908 &
Japão JIS A 1460 F*** ≤ 0.5 mg/L
5905
F**** ≤ 0.3 mg/L
ASTM E1333
ANSI A208.1 PB, MDF ≤ 0.3 ppm
(câmara
&2
grande) PW ≤ 0.2 ppm
USA PB 0.18 ppm
Fase 1
MDF 0.21 ppm
CARB ASTM E1333
PB 0.09 ppm
Fase 2
MDF 0.11 ppm

Têm-se verificado algumas discussões internas nas Associações Europeias de placas de derivados
de madeira, que levou a EPF (European Panel Federation) a criar a sua própria classe de
formaldeído EPF-S, que corresponderia a valores de perforador inferiores a 4 mg/100 g placa seca
anidra para aglomerado de partículas e 5 mg/100 g placa seca anidra para MDF (espessura> 8 mm).
Também foi introduzida, impulsionada pela IKEA (IOSMAT 0003), uma classe de equivalência com
metade do limite de emissão de formaldeído da classe E1: a classe chamada E0 (ou E0.5) (ainda não
reconhecida oficialmente pelo CEN). Recentemente, todos os membros da EPF concordaram em
produzir somente classe E1. No Japão, são definidos limites mais restritos nas normas JIS A 5908 e
5905, por ordem decrescente de emissão F**, F*** e F****. O F** é mais ou menos equivalente à
classe Europeia E1, enquanto o F*** e F**** correspondem a valores de emissão muito mais baixos.
A emissão da classe F**** está próxima da emissão de madeira maciça não tratada, entre 0,5-2
mg/100 g (Athanassiadou e Ohlmeyer, 2009). Nos Estados Unidos da América, a ANSI A208.1 & 2
referem como valores limite os valores apresentados na Tabela 4. Mais recentemente, na Califórnia,
a CARB (California Air Resources Board) propôs limites ambiciosos para as emissões de formaldeído

416
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

para derivados de madeira, sendo hoje uma referência para este setor: na Fase 1, os limites são mais
ou menos equivalentes à classe E1 (e F**), enquanto na Fase 2 os limites são semelhantes aos F***.
Foram estabelecidos por diferentes autores correlações entre os principais métodos de determinação
de formaldeído (exsicador, perforador e câmara), de forma a simplificar as comparações entre
diferentes métodos. Devido às diferentes condições operatórias de cada método, não é possível uma
relação direta, embora se encontre na bibliografia correlações aproximadas (Risholm-Sundman,
Larsen et al. 2006; Que and Furuno 2007; Park, Kang et al. 2010). Na região de baixas emissões de
formaldeido, há uma baixa correlação entre os valores corrigidos do método do perforador e a
emissão de formaldeído de painéis (Roffael e Johnsson, 2011). De acordo com esses autores, no
valor de perforador, o coeficiente de transferência de massa, não é considerada. Assim, os painéis
com o mesmo valor de perforador, mas de densidades diferentes podem ter diferentes tipos de
emissões. A Tabela 4 apresenta uma relação entre os limites dos diferentes métodos, alguns deles
baseados em correlações.

Tabela 3. Relação entre os diferentes métodos e normas existentes (Nota1: Valores obtidos por
correlação) (Harmon 2008)
Japão Europa IKEA EUA
Método
F*** F**** E1 E0.5 CARB F1 CARB F2
EN 120
[mg / 100 g placa ≤ 4.51 ≤ 2.71 ≤ 8.0 ≤ 4.0 ≤ 11.31 ≤ 5.61
seca anidra]
EN 717-1
≤ 0.0541 ≤ 0.0341 ≤ 0.124 ≤ 0.050 ≤ 0.1761 ≤ 0.0881
[mg / m3 ar]
ASTM E1333
≤ 0.0551 ≤ 0.0351 ≤ 0.1271 ≤ 0.0511 ≤ 0.180 ≤ 0.090
[ppm]
JIS A 1460
≤ 0.5 ≤ 0.3 ≤ 0.91 ≤ 0.41 ≤ 1.31 ≤ 0.61
[mg / L]

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram produzidos em laboratório diversos painéis de aglomerado de partículas com diferentes


resinas (UF e MUF) e com inclusão de captadores de formaldeído. Avaliaram-se as emissões de
formaldeído destes painéis com três diferentes métodos, o método de perforador (EN 120), o
método de análise de gás (EN 717-2) e o método do exsicador (JIS A 1460). Devido ao tamanho
reduzido dos painéis em laboratório (220 x 220 x espessura (mm)), não foi possível avaliar o
método da câmara. Uma amostra de aglomerado de partículas comercial também foi avaliada,
usando os três métodos anteriores e também o método de câmara (EN 717-1). Devido ao
diferente comportamento dos diferente sistemas de encolagem, sobretudo a resistência mecânica
e, principalmente, o “spring-back”, apenas os painéis com uma espessura de 17 ± 0.2 mm, uma
massa volúmica de 650 ± 20 kg/m3 e uma resistência interna superior a 0.40 MPa (EN 319) foram
avaliadas no que respeita à determinação do teor/emissão de formaldeído.
A Figura 1 mostra os resultados dos painéis que foram avaliados segundo a norma EN 120 e JIS
A 1460. Existe uma correlação muito fraca entre os valores dos dois métodos. Podem-se

417
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

observar diferenças de 40% para valores próximos de 1 mg / L (JIS A 1460). Para valores baixos
de emissões de formaldeído e teores de formaldeído, não parece existir relação entre os dois
métodos. Estes resultados podem ser facilmente justificados pela presença de captdores de
formaldeido, que têm um comportamento muito diferente em ambos os ensaios, principalmente
devido à humidade relativa e temperatura ambiente: o ensaio do método JIS A 1460 é realizado
muito próximo da temperatura e humidade relativa ambiente, enquanto o ensaio do método EN
120 é realizado a uma temperatura muito mais alta (superior a 110 º C) e na presença de tolueno.

12
EN120 [mg / 100 g]

UF
Cap
10 MUF

0
0 0.5 1 1.5 2

JIS [mg/ L]

Figura 1. Teor de formaldeido (EN 120) e emissão de formaldeído (JIS A 1460) para as mesmas
amostras

A Figura 2 mostra os resultados dos painéis que foram avaliados segundo as normas EN 120 e
EN 717-2. Neste caso, temos ensaios de determinação do teor de formaldeído e ensaios de
emissão de formaldeído. Como ambos os métodos são utilizados pela mesma norma de
classificação, o facto de algumas das amostras apresentarem uma classificação diferente (E1 ou
E2) é uma constatação muito importante.

12
UF
EN717-2 (mg / m² h)

Cap
10

0
0 2 4 6 8 10 12

EN120 [mg / 100 g]

Figura 2. Teor de formaldeído (EN 120) e emissão de formaldeído (EN 717-2) para as mesmas
amostras

418
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

Estes resultados não podem ser facilmente justificados como os anteriores, devido à presença de
captadores de formaldeído, que ainda têm um comportamento diferente em ambos os ensaios,
principalmente devido à temperatura do ar e à humidade relativa. O ensaio da EN 717-2 é
realizado a uma temperatura de 60 ºC e na presença de ar seco, enquanto que o ensaio da EN
120 é realizado a uma temperatura muito mais alta (superior a 110 º C) e na presença de tolueno.
A diferente permeabilidade dos painéis e o facto do ensaio da EN 120 ser baseado em equilíbrio
de fases (tolueno-água), enquanto que o ensaio da EN 717-2 é uma "dessorção" dinâmica,
poderia explicar os resultados.
A Figura 3 mostra os resultados dos painéis que foram avaliados para a norma EN 717-2 e JIS A
1460. Como esperado, os resultados obtidos indicam melhores correlações comparativamente
com as figuras 1 e 2, uma vez que estamos na presença de dois ensaios de avaliação de
emissões de formaldeído. De referir que, o ensaio da JIS A 1450 é realizado em fase de equilíbrio
(ar-água), enquanto que o ensaio da EN 717-2 é uma dinâmica de "dessorção".

12
UF
EN717-2 (mg / m² h)

Cap
10

0
0 0.5 1 1.5 2

JIS [mg/ L]

Figura 3. Valores de emissões de formaldeído (JIS A 1460 e EN 717-2) para as mesmas amostras

Na Tabela 5 são apresentados os resultados para as emissões/teores de formaldeído e a


respetiva classificação, para um painel comercial que foi avaliado através dos métodos de ensaio
das normas EN 717-1, EN 717-2, JIS A 1460 e EN 120.

Tabela 5. Resultados para os quatro ensaios realizados no painel de aglomerado de partículas


comercial
Método Valor Japão Europa

EN 120 [mg / 100 g placa seca anidra] 5.3 E1

EN 717-1 [mg / m3 (ar)] 0.166 E2

EN 717-2 [mg / m2 h] 5.6 E2

JIS A 1460 [mg / L] 1.60 F*

419
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

Estes resultados já eram esperados e podem ser justificados pelas condições do ensaio,
conforme já foi mencionado anteriormente (os ensaios JIS A 1460 e EN 717-1 são realizados
muito próximo da temperatura e humidade relativa ambiente, o método do perforador é realizado
na presença de tolueno em ebulição a cerca de 110 ºC e o ensaio de análise de gás é realizado a
uma temperatura de 60 ºC, na presença de ar seco).

5. CONCLUSÕES

O objetivo deste trabalho foi apresentar uma revisão crítica sobre os vários métodos de ensaios
de formaldeído e respetivas classificações, bem como uma comparação dos resultados obtidos
no nosso laboratório (câmara, análise de gás, exsicador e perforador) para aglomerado de
partículas produzidos com resinas de muito baixa emissão de formaldeído (UF e MUF). Foram
analisados diferentes painéis de aglomerado de partículas produzidos no nosso laboratório, com
diferentes resinas UF e MUF e com incorporação de diferentes captadores de formaldeído,
através dos métodos de ensaio das normas EN 120, EN 717-2 e a JIS A 1460. Foram também
realizados ensaios com um painel de aglomerado de partículas comercial usando os três
métodos referidos anteriormente, e ainda o método da câmara (EN 717-1). As principais
conclusões deste estudo foram:
- Não foram encontradas correlações entre os diferentes métodos e os desvios são mais
significativos na gama das mais baixas emissões/teores de formaldeído.
- Um painel de aglomerado de partículas comercial pode ser classificado de forma diferente
como E1 e E2, dependendo do método de ensaio selecionado.
Este trabalho realça a necessidade de se estabelecer um sistema universal para avaliar e
classificar as emissões de formaldeído de painéis de derivados de madeira. Considerando a
situação atual, com a existência de muitos métodos de ensaio de emissões de formaldeído e
diferentes classificações, não só aumentam os custos dos produtos, por crescente complexidade
dos procedimentos de controlo de qualidade, mas, até mais importante, pode gerar alguma
confusão no mercado dos painéis de derivados de madeira.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho é co-financiado pelo FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) / QREN
(projeto E0_formaldehyde com referência FCOMP010202FEDER005347) e os fundos nacionais
através da FCT (Projecto PTDC/EQU-EQU/111571/2009 com a referência FCOMP-01-0124-FEDER -
015239), no âmbito do COMPETE-Programa Operacional de Competitividade Fator (POFC). Os
autores agradecem à Euroresinas e à Sonae Indústria PCDM pelo fornecimento das matérias-primas
necessárias para o desenvolvimento deste trabalho.

420
Pereira J., Coelho C., Ferra J., Martins J., Magalhães F., Carvalho L.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Panels”. In COST Action WG3 (E49)-Performance in use and new products of wood based
composites. M. Fan, M. Ohlmeyer, M. Irle (eds.), pp.219-240,London, Brunel University Press
Blair, A., P. Stewart, et al. (1986) “Mortality among Industrial-Workers Exposed to Formaldehyde"
Journal of the National Cancer Institute 76(6): 1071-1084
CARB (2009) “A Quick Reference Guide to the California Air Resources Board’s Airborne Toxic
Control Measure (ATCM) for Formaldehyde Emissions from Composite Wood Products”
Dunky, M. (1998) "Urea-formaldehyde (UF) adhesive resins for wood" International Journal of
Adhesion and Adhesives 18(2): 95-107
Dunky, M. (2004) “Challenges with formaldehyde based. In COST E34 Conference”. M. Properzi, F.
Pichelin and M. Lehmann (eds). Biel, Switzerland.
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Organization - International Agency For Research On Cancer. 88.
Irle, M. (2011) “Analysing formaldehyde and how it can be done”, Wood-based panels International,
May 2011
Martins, J., J. Pereira, et al. (2007). “Effect of recycled wood on formaldehyde release of
particleboard”. COST Action E49 Conference "Measurement and Control of VOC Emission from
Wood-Based Panels. F. WKI. Braunschweig, Germany.
Maruztky (2008). “Global formaldehyde regulations and requirements: Current situation and
developments”, 6th European Wood-based Panel Symposium, Hanover, October 10th, 2008
Que, Z. and T. Furuno (2007) "Formaldehyde emission from wood products: relationship between the
values by the chamber method and those by the desiccator test." Wood Science and Technology
41(3): 267-279.
Risholm-Sundman, M., A. Larsen, E. Vestin, A. Weibull (2006) "Formaldehyde emission - Comparison
of Different standard methods", Atmosferic Environment 41: 3193-3202.
Roffael, E. and B. Johnsson (2011). “The perforator value in balance”. Proceedings of the International
Panel Products Symposium, Llandudno, Wales, U.K.
Salthammer, T., S. Mentese, and R. Marutzky (2010). “Formaldehyde in the Indoor Environment”,
Chem. Rev. 2010, 110, 2536–2572
Schafer, M. and E. Roffael (2000). "On the formaldehyde release of wood." Holz Als Roh-Und
Werkstoff 58(4): 259-264

421
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Internacionalização da Indústria da Cortiça: Os impactos na Fileira da


Cortiça

Miguel Pestana1*e Inocêncio Seita Coelho2

1: Unidade Estratégica de Investigação e Serviços de Sistemas Agrários e Florestais e Sanidade Vegetal;


Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.; Av. da República, Quinta do Marquês, 2780-
159 Oeiras
2: Unidade Estratégica de Investigação e Serviços de Sistemas Agrários e Florestais e Sanidade Vegetal;
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.; Av. da República, Quinta do Marquês, 2780-
157 Oeiras

e-mail: miguel.pestana@iniav.pt

Resumo: Este trabalho é um contributo para melhor conhecer o processo de internacionalização


do setor corticeiro português, apontando também algumas vias facilitadoras desse processo.
Na introdução é dada uma visão do estado atual de internacionalização das empresas e a
atuação destas nas diversas vertentes da gestão empresarial.
Inicia-se com uma breve caracterização da situação atual dos montados de sobro e da cortiça.
É apresentada de forma resumida a estrutura da indústria da cortiça e um breve diagnóstico da
mesma, onde se analisam as perspetivas de atuação interna e externa.
Procede-se a uma análise do binómio garrafa-rolha de cortiça natural, para se passar à
internacionalização desta fileira. Aqui, servimo-nos da evolução havida no maior grupo industrial
deste setor, como exemplo de uma internacionalização bem-sucedida.
Finalmente propõem-se um conjunto de iniciativas, que devem ser tomadas para uma nova
atitude na internacionalização desta indústria.
Palavras-chave: Cortiça; Indústria; Montado, Política, Estratégia.

Abstract: This work aims to contribute to better understand the internationalization process of the
cork cluster in Portugal, aiming to identify some ways to achieve this core objective.
The introduction gives a overview of the current internationalization of companies and
performance in these various aspects of business management.
It begins with a brief description of the current situation of the cork-oak stands and cork.
It is presented in summarized form the structure of the cork industry and brief diagnosis, which
analyses the prospects for domestic and external activities.
Was made an analysis of the binominal wine-cork stopper and afterword we pass to the
internationalization of this sector. Then, we employed the development that took place at the
largest industrial group of this sector, as an example of successful internationalization.
Finally, we proposed a set of initiatives that should be taken to a new attitude in the
internationalization of this sector.
Keywords: Cork; Industry; Cork-Oak Stand; Policy; Strategy.
M. Pestana e I. Seita Coelho

1. INTRODUÇÃO

O sucesso ou insucesso do setor da transformação da cortiça tem reflexos imediatos na


sustentabilidade económica dos montados de sobro. Estes sistemas produtivos constituem fonte de
receitas do maior relevo, em amplas regiões rurais do sudoeste da Península Ibérica, em geral, e do
sul de Portugal, em particular.
Em trabalho anterior (PESTANA et al. 2007) identificou-se um conjunto de constrangimentos ao êxito
do setor, em que se destacaram, alguma fragilidade caracterizada: pela debilitação e, em certos
casos, pela morte de sobreiros, a despela (descortiçamento) é uma das tarefas que empregam mão-
de-obra intensiva, sendo manual; a despela inadequada, contribuindo para a debilidade dos sobreiros
e para o aumento do custo da matéria-prima; a indústria tem algumas fraquezas – qualidade,
quantidade e preço da matéria-prima – causados pelas altas margens de intermediação; o
trabalhador desta indústria é geralmente pouco qualificado; a taxa de investimento tem aumentado
nesta indústria, devido ao aumento da concorrência estrangeira, forçando a modernização industrial e
o desenvolvimento de substitutos para a maioria dos produtos de cortiça.
No entanto, a internacionalização das empresas portuguesas, têm na sua agenda a projeção das
suas atividades no exterior, ou mesmo a criação de novas unidades fabris ou até a aquisição de
empresas noutros países. É sabido que, desde 1995, o valor líquido dos investimentos portugueses
no estrangeiro ultrapassa o investimento estrangeiro em Portugal, o que para um país historicamente
importador de capitais, é um fenómeno notável.
Numa economia globalizada, que enfatiza a interpenetração do capital internacional, consolidando a
crescente interdependência das grandes organizações, para além das suas fronteiras e colocando as
questões nacionais em segundo plano (os interesses dos estados são, mais do que nunca, ligados
aos interesses de organizações internacionais de capital), arrastando para uma competição global.
Há de facto um crescente reconhecimento da inevitabilidade de competir em mercados abertos e sob
a coação do tempo. Nos últimos anos, uma parcela significativa das empresas nacionais alteraram a
visão sobre este assunto, uma vez que se aperceberam que a proteção conferida pelas fronteiras é
cada vez mais efémera.
No entanto, isso não significa que os setores nacionais perderam toda a sua relevância. Por um lado,
para muitas empresas, os principais concorrentes são outras empresas nacionais, embora os
desafios competitivos das empresas europeias, não estabelecidas, sejam em não considerar grande
importância a Portugal. Por outro lado, apesar de todas as vantagens do mercado único, vender na
Europa, não é o mesmo que vender em Portugal, uma vez que as diferenças nacionais (em termos
de língua, a cultura, o consumo, a relação entre as empresas e a sua envolvente) continuam a pesar.
Daí tornar-se essencial, pensar-se sobre o processo de internacionalização das empresas
portuguesas numa lógica estratégica, em face de uma concorrência cada vez mais global. Tais ações
visam ganhar competitividade e incrementar a exploração das suas competências próprias, através
da inserção de redes dinâmicas. Por conseguinte, os processos de internacionalização não são
simples, nem podem ser separados da competitividade estratégica seguida pelas empresas. Esta
envolve vários aspetos: a atitude competitiva; a configuração geográfica dos seus negócios;
mecanismos de gestão e coordenação das atividades; o desenvolvimento de competências internas

423
M. Pestana e I. Seita Coelho

de criação, aquisição e integração de conhecimento; as relações com outras empresas à sua volta; e
capacidade de adaptação e articulação com as condições de outros locais (normas, cultura, etc.).
É um facto, que o negócio da cortiça, desde finais de século XIX, já se trabalhava num mercado
global, pelo que este artigo pretende ser uma reflexão sobre tema, sendo um exercício que contribui
para um melhor entendimento sobre as relações da indústria da cortiça e assim, contribuir para o
êxito da implantação das empresas portuguesas no estrangeiro.

2. O SISTEMA MONTADO

Em Portugal, as florestas ocupam 38% do território continental (3.349.000 ha), onde cerca de 49%
dessa área está incluída em propriedades privadas, sendo 70% da área de sobreiros e azinheiras. A
maioria desses Montados está inserida em grandes unidades de produção localizadas no sul. Os
restantes 30% pertencem a unidades de pequena ou muito pequena dimensão, localizadas no norte e
centro. (COELHO, 2000)
Tabela 1 indica a percentagem das áreas da floresta nacional e de sobreiro.

Tabela 1 – Floresta e Montados de acordo com o tipo de propriedade

Tipo % de área Florestal % de área de Sobreiro


Público e comunal 10,0 0,4
Privado industrial 7,2 1,4
Privado não-industrial 82,8 98,2
Total 100,0 100,0
Fontes: CELPA e Inventário Florestal (Pestana et al., 2007)
O sobreiro em Portugal está principalmente na posse de proprietários privados e está localizada
principalmente nas regiões do Alentejo e Ribatejo.
Na última metade do século passado, a área de florestas de carvalho em Portugal aumentou 9,8%
(quando compara com a existente em 1955), correspondendo a uma taxa anula média de
crescimento de 0,2%.
Pela análise da Tabela 2 é evidente que este aumento não foi constante em todo o período. Entre
1955 e 1970, o crescimento médio anual foi de 0,05%, em 1985 essa taxa era de 0,08% ao ano e em
2003 subiu para 0,2%, assim como em 2005/6. No período de 1985 a 2005/6, houve um aumento
significativo da área de sobreiro.

Tabela 2 – Evolução da área de Montado na segunda metade do século XX

Ano Área (1000 ha) ∆ média acumulada


1955* 651 -
1970** 656 0,77
1985** 664 2,0
2003** 713 9,5
2005/2006*** 716 9,8
*SROA, ** Inventário Florestal (PESTANA et al., 2007); ***AFN (APCOR, 2011a)

424
M. Pestana e I. Seita Coelho

A Tabela 3 mostra a distribuição mundial de Sobreiro, onde Portugal tem a posição líder com 34%.
A produção reflete as diferenças na produtividade, mas, acima de tudo, reflete a existência de
montado não-produtivo, onde não há extração de cortiça. Para a produção média global de 201.428
toneladas, a alocação é feita de acordo com o exposto na Tabela 4.
Os países da Península Ibérica, que detêm 61% da área de Sobreiro, produzem-se em média 81% do
total, enquanto os países do Norte de África, com mais de 1/3 da área, só produzem 14,2% do total.

Tabela 3 – Distribuição mundial de sobreiro

País Área (ha) %


Portugal 715 922 34
Espanha 574 248 27
Marrocos 383 120 18
Argélia 230 000 11
Tunísia 85 771 4
França 85 228 3
Itália 64 800 3
Total 2 119 089 100
Fonte: AFN (APCOR, 2011a)

Tabela 4 – Média da produção mundial de cortiça por país

País %
Portugal 49.6
Espanha 30,5
Marrocos 5,8
Argélia 4,9
Tunísia 3,5
Itália 3,1
França 2,6
Total 100
Fonte: FAO (APCOR, 2011a)
Em Portugal, a maior parte da mão-de-obra empregada é assalariada, com grande expressão a mão-
de-obra familiar. Nos Montados adultos envolvem maior uso de trabalho assalariado, sendo a
extração de cortiça e tratamento do gado, tarefas que empregam trabalho mais intensamente.
A partir dos dados obtidos nos registos de várias unidades de produção, pôde-se chegar a um
número médio de 0,2 UTA (unidades de trabalho ano) na extração de cortiça, no montado de sobro.
O rancho que efetua a despela é geralmente comandado por um capataz, que dirige um grupo de 10,
um motorista de trator, uma coqueira (que tem a tarefa de preparar as refeições) e um marcador (que
marca o ano da despela, após a extração da cortiça).
Considerando-se a mão-de-obra utilizada nos serviços contratados à guarda da propriedade e a
manutenção das infraestruturas, a intensidade do uso de mão-de-obra varia entre 1,8 e 2,5 UTA da

425
M. Pestana e I. Seita Coelho

SAU (superfície agrícola utilizada), de acordo com maior ou menor intensidade do sistema de
produção (COELHO, 1996). Ao aplicar esses valores para toda a área ocupada pelo Sobreiro,
podemos chegar a um emprego total de mão-de-obra qualificada de 5.300-5.500 UTA, por ano.

3. A INDÚSTRIA DA CORTIÇA

A cortiça e o sobreiro têm uma situação ecológica e socioeconómica excecional em Portugal, sendo
nos últimos 30 anos do século XX, o líder mundial no negócio da cortiça, (MORUNO, 2009 e 2010).
Portugal é o país com maior área ocupada pelo sobreiro mundo, seguido de Espanha e Argélia.
A cortiça é o principal produto do sobreiro, sendo Portugal o principal produtor, com 52% da produção
mundial e tendo capacidade instalada para laborar toda a cortiça.
De acordo com dados da Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), o nosso país exportou em
2010, 156,2 mil toneladas de produtos, principalmente cortiça transformada, no valor de 754,3
milhões de euros, um aumento de 7,4% sobre 2009. Os dados da APCOR também indicam, que as
exportações de produtos de cortiça em 2010 representou 2,1% do total das exportações nacionais.
França é o país que compra mais em Portugal (20,4%, 154,2 milhões de euros, em 2010), seguido
pelos EUA (15,8%, 119,2 milhões de euros). (APCOR, 2011)
Espanha importa 10,4% da cortiça transformada em Portugal (75,8 milhões de euros em 2010),
sendo o maior contribuinte para o volume de importações de cortiça para Portugal (77,9% de 48.200
toneladas de cortiça, para ser transformada na indústria nacional), a que correspondem a 91,6
milhões de euros. (APCOR, 2011)

4. BREVE DIAGNÓSTICO DO SETOR

Como já foi referido, Portugal é o maior produtor de matéria-prima e também tem a capacidade
instalada para trabalhar toda a cortiça mundial. No entanto, a indústria está enfrentando vários
problemas estruturais, que vão desde a produção e extração de cortiça, passa pelos canais de
distribuição e termina no produto deficientemente trabalhado. Em relação ao processamento, é
dividido em dois grupos, com diferentes características técnicas e de organização: por um lado, um
grupo de empresas, que controla muito da capacidade instalada, tem tecnologia e as redes de
distribuição; e, por outro lado, um número elevado de fabricantes pequenos de rolhas, alguns sem
condições de produção e comercialização e, em geral, oferecem produtos de qualidade inferior.
A comercialização, do produto final ou da matéria-prima, é também prejudicada pela falta de
organização e pelo conflito de interesses, entre produtores de matéria-prima e a indústria, e, ainda,
pela dependência dos intermediários (nacionais e estrangeiros), o que também contribui para um
preço final mais alto.

4.1. O Contexto Externo

A indústria da cortiça é caracterizada por um alto nível de ameaça de novos concorrentes no setor
preparador e transformador, um alto poder de negocial dos fornecedores de matéria-prima cortiça e
fornecedores para o setor de granulados e aglomerados (indústria de rolha de cortiça), um alto poder
negocial dos clientes, uma forte ameaça de produtos substitutos, em especial na indústria da rolha.

426
M. Pestana e I. Seita Coelho

(PESTANA et al., 2007)


Existe um rendimento produtivo baixo no setor preparativo e transformador (rolha de cortiça) e maior
nos aglomerados. A manutenção da posição cimeira de produtos de cortiça vai, sem dúvida, para o
desenvolvimento e qualidade de produtos com maior valor acrescentado. (PESTANA et al., 2007)

4.2. O Contexto Interno

Esta fileira tem uma grande importância na economia de Portugal, uma vez que é líder mundial na
transformação e comercialização de produtos de cortiça e tem uma matéria-prima de qualidade com
características técnicas exclusivas. A indústria tem alguns grupos económicos com capital nacional e
o seu “know-how” é um ponto forte, em relação aos concorrentes internacionais. (PESTANA et al.,
2007)
No entanto, o grande número de empresas de pequena dimensão e tecnologicamente ultrapassada,
com uma estrutura rígida e inadequada ao presente, com trabalhadores qualificados, sem canais de
distribuição e com uma forte dependência de intermediários externos, associado também a uma falta
de imagem de marca, uma baixa incorporação de I&D no produto final e inovação de novos produtos
são fatores debilitantes da indústria. (PESTANA et al., 2007)
Por outro lado, as novas técnicas de produção, com ganhos evidentes na produtividade, associados a
uma crescente preocupação com as questões ambientais e energéticas relativas ao uso de produtos
naturais e renováveis, são oportunidades nesta indústria. Nesse sentido, há ainda a destacar, o
esforço para combater a eliminação de 2,4,6 tricloroanisol (TCA), liderado pela indústria rolheira, bem
como as relações formais com o setor vinícola, a fim de melhorar a contribuição das rolhas de cortiça
natural na vedação de vinhos engarrafados e a penetração em novas áreas emergentes (Austrália,
América do Norte e Sul e África do Sul) de produção de vinhos. (PESTANA et al., 2007)
Relativamente à matéria-prima, por um lado, há um poder maior de compra, associado com a procura
de matéria-prima de qualidade e, em contrapartida, há uma variação frequente (oscilação) do preço
da cortiça em bruto, o que leva a alguma instabilidade do mercado. (PESTANA et al., 2007)

5. O BINÓMIO: ROLHA-GARRAFA

O casamento entre esses dois elementos já é antigo, muito embora o entendimento entre eles seja
recente. Os engarrafadores têm as suas próprias especificações para a compra de rolha, que deve
ser acertada com as outras partes – fabricantes e consumidores –, para evitar a avaliação parcial
habitual, baseada em critérios mais ou menos subjetivos.
As rolhas de cortiça continuam a liderar as exportações portuguesas de cortiça, alcançando um valor
de 552 milhões de euros, seguido pelos materiais de construção com 165 milhões de euros. Dentro
do segmento das rolhas de cortiça, as rolhas de cortiça natural estão em primeiro lugar, com 374
milhões de euros, seguido pelas rolhas de champanhe, com 88 milhões de euros.
Baseando-nos no trabalho de ZAPATA (2010), focaremos os aspetos mais importantes desta união.
1. Sabe-se que existe uma tendência para o aumento da produção de vinho de qualidade,
aumentando a quantidade de garrafas de vinho.

427
M. Pestana e I. Seita Coelho

2. Há um processo de concentração de grandes empresas, em detrimento das pequenas e


médias, o que aumenta da importância da produção em massa.
3. Há uma crescente internacionalização do negócio do vinho, com o aumento das exportações
de forma constante, o qual é também acompanhado pelo aumento do consumo. Este
fenómeno iniciou-se nos países do Mediterrâneo, mas atualmente o consumo é maior fora
destes países vinícolas tradicionais.
4. Em contraste, há uma diminuição do consumo per capita, levando a mudanças substanciais
no hábito de consumo de vinho em países tradicionais de vinho, i.e., baixo número de clientes
regulares e aumento dos ocasionais – um aumento de consumidores do sexo feminino e mais
jovem. O fenómeno também está associado com a divulgação do “Modelo Celebração”, que
reduziu o caracter alimentar diário e reforçou a sua dimensão simbólica. Este comportamento
está associado, com o aumento do consumo de vinhos de qualidade.
5. Desde o final dos anos 80, há uma presença crescente de novos países produtores, o que
aumentou a competição internacional de vinhos na economia, até agora dominada pelos
países tradicionais produtores de vinho, o que não tira a liderança à França, que tem mantido
uma firme posição, em quase todas as vertentes do negócio mundial do vinho.
6. Como resultado do aumento da produção de vinho, há um aumento na produção de garrafas
de vinho e, portanto, de vedantes – rolhas e vedantes substitutos. A concorrência entre
vedantes é determinada não apenas (ou principalmente) pelo preço unitário, uma vez que
leva em conta outros fatores, como o tipo de engarrafadora que é necessário em cada caso –
as rolhas de cortiça (natural e aglomeradas) e sintéticas podem usar o mesma engarrafadora,
o quem não é o caso das “screw cup”, que requer um engarrafamento mais caro.
7. O aumento das vendas de vinhos em supermercados tem incentivado a produção em massa
e reduziu o custo unitário. Estes objetivos não são contrários (não favorável) às rolhas de
cortiça, dependendo das vantagens e desvantagens da vedação das rolhas concorrentes no
mercado – baixa das rolhas de cortiça natural e a alta das rolhas aglomeradas e sintéticas
8. A distância (física e “cultural”) entre os novos países produtores de vinho e os países
produtores de rolha de cortiça pode jogar contra as rolhas de cortiça, em favor de vedantes
substitutos.
9. Há uma concentração da procura para a rolhas de cortiça natural de baixa qualidade (e
média-baixa) e em rolhas aglomeradas, que também incide sobre a procura de matérias-
primas de baixa qualidade. Por outro lado, a manutenção de uma pequena quota de mercado
de rolhas de cortiça e de matéria-prima de alta qualidade, pode aumentar no futuro, uma vez
que aumenta a produção de vinhos de qualidade superior. Estas rolhas (rolhas de cortiça
natural de alta qualidade) não são concorrentes, mas complementares, para outras rolhas e
vedantes.
10. O destino do sobreiro depende das rolhas de cortiça (e, portanto, da evolução do negócio do
vinho),e estas dependem principalmente da situação atual e futura dos montados de sobro.

428
M. Pestana e I. Seita Coelho

6. A INTERNACIONALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA DA CORTIÇA

A internacionalização da indústria da cortiça é baseada na estratégia do Grupo Amorim, uma vez que
este grupo tem uma posição de grande destaque no setor. Por essa razão, podemos estudar o seu
comportamento e, assim, generalizar para o mercado da cortiça, como modelo de conduta para
outras empresas.
Com o “boom” económico dos anos 50 e 60, a Amorim soube desenvolver uma estratégia assente em
quatro ideias chave, que dependem do sucesso exterior:
1. Para exportar produtos com maior valor acrescentado, ao invés de exportar cortiça com
processamento reduzido;
2. Diversificação de mercados e produtos de exportados;
3. Importação do poder de compra dos clientes;
4. Liderar todo o processo de transformação e comercialização de toda a cortiça no
mercado mundial. (AMORIM, 2011)
Este último ponto seria alcançado através da transformação da cortiça portuguesa, mas também da
importação de todo o resto, pois é sabido que 75% da disponibilidade global de cortiça está localizada
a sul da Península Ibérica (Alentejo e Extremadura) e o restante na bacia do Mediterrâneo (norte de
África e sul França e Itália).
Durante este período, o Grupo adquiriu conhecimento e controlo da oferta mundial de cortiça,
produtos concorrentes e mercados consumidores. (SANTOS, 1997)

6.1. Parcerias com empresas internacionais como forma de diversificação do Grupo

Este aspeto é muito importante para o processo de internacionalização que o Grupo queria. Foi
através da associação com parceiros internacionais, em termos de o próprio capital de algumas das
suas empresas. A “holding” do Grupo (fundada em 1988) favoreceram a associação precoce
parceiros internacionais de reconhecido valor em várias áreas. Abriu também o seu capital em 1991,
para outros grupos internacionais não corticeiros. (SANTOS, 1997)

6.2. Necessidade de controlar a distribuição

Cedo o grupo considerou a presença (sozinho ou em parceria) nos mercados consumidores primários
de produtos de cortiça, fosse uma clara aposta de 1990. (SANTOS, 1997)
Das seis empresas que o grupo estava envolvido na indústria da cortiça (rolhas de vinho, rolhas de
champanhe, revestimento de pavimentos, pavimentos de borracha, aglomerados de cortiça pura
expandida e aglomerados compostos), apenas as três primeiras áreas são essenciais no mundo dos
negócios (incluindo a aplicação final, tipo e localização geográfica do consumidor, estrutura e
distribuição) para a implementação da sua própria distribuição.
No setor das rolhas, em qualquer uma das áreas mencionadas, as particularidades de cada caso
eram diferentes:
- Implementação de “joint venture” com parceiros locais;
- Empresas detidas integralmente pelo Grupo, com conhecimentos técnicos e cultura de cada
país;

429
M. Pestana e I. Seita Coelho

- Praticamente distribuidores exclusivos nos países com posição dominantes no vinho e no


espumante. (SANTOS 1997)
Este princípio levou à implementação, nos países de grande consumo e de elevado potencial
económico, a uma proximidade do utilizador e atender os seus pedidos e os do mercado, anunciar o
produto, destacando as suas vantagens e viver com a cultura desse país (SANTOS, 1997)
Sabe-se também que o mercado interno é demasiado pequeno para assegurar a produção das
unidades industriais.
O setor dos pavimentos, que faz parte do Grupo desde 1976, só na década de 90 do século passado,
ele sofreu uma grande revolução tecnológica, com a introdução de novas combinações de materiais,
novos produtos e “design”. Paralelamente este foi associado com uma grande campanha publicitária
focada na divulgação do produto, (SANTOS, 1997)
Com o conhecimento do negócio, tornou-se evidente que as perspetivas eram dependentes da
evolução tecnológica e do controlo da distribuição, incluindo os seguintes aspetos:
- Os pavimentos com cortiça não têm grande significado no consumo mundial de pisos;
- Os distribuidores não promovem os produtos que não conhecem;
- Com a presença local se pode satisfazer a necessidade do mercado. (APCOR, 2011)
Por estas razões, o Grupo começou nos finais dos anos 80 do século passado, adquirir vários
distribuidores do mercado, tornando-se possível alcançar uma distribuição própria, com técnicos e
experiência no setor. (SANTOS, 1997)
Este grupo de empresas, atualmente contribui com cerca de 60% das vendas de pavimentos
(APCOR, 2011). Assim, a organização do Grupo mudou bastante, à medida que foram criados os
novos serviços pós-venda, publicidade, visitas técnicas à indústria, desenvolvimento de novos
produtos, “merchadising”, logística, aprovação de produto em conformidade com as normas
internacionais, etc. (SANTOS, 1997)
Com esta revolução foi possível:
- Maior conhecimento de cada mercado e as tendências dos negócios (gostos dos
consumidores e dos concorrentes) permite uma maior intervenção/antecipação das ações;
- Ganhos na organização na necessidade de coordenar várias estruturas no exterior, com
diferentes culturas;
- Maior visibilidade para a evolução do negócio;
- Maior consciência das áreas anteriormente negligenciadas, como era a comunicação e
serviço pós-venda;
- Laços mais fortes entre os industriais, comerciais e utilizadores finais;
- Abrir a possibilidade de usar a estrutura existente, para comercializar outros produtos.
(SANTOS, 1997)

7. O QUE MUDAR

Levando-se em conta este panorama, vamos apontar alguns aspetos, que devem mudar neste
negócio, a fim de melhorar a internacionalização da indústria da cortiça.
Começamos por indicar um conjunto de iniciativas que devem ser promovidas, a fim de alcançar o

430
M. Pestana e I. Seita Coelho

objetivo principal - melhorar a internacionalização desta indústria.

7.1. O “Rolhão”

A recolha de rolhas promovidas por algumas organizações ambientalistas é uma iniciativa que
pretende ser “verde”, mas pode criar uma distorção no mercado de matérias-primas. Na verdade, esta
iniciativa é bem vista pelo público, mas pode tornar-se num desastre para os proprietários florestais,
porque esta cortiça poderá destabilizar o mercado das cortiças para a indústria de granulados.
Numa análise mais aprofundada, verificou-se que a quantidade arrecadada combinado com as
sobras da produção de rolha pode ser suficiente para abastecer as unidades de granulados de
cortiça, que, por razões óbvias, torna desnecessário a compra de matéria-prima de pior qualidade.
Além desta questão de procura vs oferta de matéria-prima, há também o aspeto do preço da cortiça
no mato. Aqui também, e pelas mesmas razões, é sentida a queda do preço da cortiça, uma vez que
i
o mercado tem excesso de oferta .

7.2. Empresas de pequena e média dimensão

O renascimento do setor terá de passar pelas pequenas e médias empresas, com grande dinamismo
e com a capacidade de se adaptar rapidamente às mudanças do mercado. Empresas flexíveis e com
grande dose de “empreendorismo” em mercados que os grandes grupos não se sentem confortáveis.
Além disso, a reestruturação das empresas deve ser baseada em pequenas unidades estratégicas de
negócio, realizando ações de importância vital para a competitividade, ou seja, as capacidades
fundamentais para a empresa e também adaptar-se facilmente às mudanças e solicitações do seu
ambiente (ser adaptativa). Esta sugestão para a reestruturação é também aplicável às grandes
unidades industriais, uma vez que se abrem possibilidades de reorganizar, a fim de ser mais
adaptável às exigências da sua envolvente.

7.3. Reorganização das Empresas Industriais de Cortiça

A empresa precisa de ser repensada, redesenhada e redimensionada, Na verdade, a estrutura


funcional, que ainda persiste em muitas empresas, não funciona. Assim, e de acordo com a frase “a
forma segue a função”, o negócio deve ser visto como um todo e não da maneira usual – funcional.
A fim de se fazer a reorganização, precisamos de uma ferramenta importante – Planeamento
Estratégico. Para simplificar aplicação desta ferramenta de gestão, a reorganização pode ocorrer em

i
De acordo com a Tabela 5, o consumo de cortiça reciclada na Corticeira Amorim em 2010, atingiu as 349 toneladas. A
variação inter-anual deve-se, em parte, às oportunidades de reciclagem que aparecem - em 2009, a quantidade extraordinária
de cortiça aglomerada expandida resultou das demolições de grandes unidades frigoríficas. (APCOR, 2011b)

Tabela 5 – Utilização de cortiça reciclada na Corticeira Amorim (Ton.)

Produtos Reciclados 2006 2007 2008 2009 2010


Rolhas de cortiça 16 222 147 92 99
Outros Prod. de Cortiça n.c. 124 37 570 250
TOTAL 16 346 184 662 349
Fonte: Amorim (2011)

431
M. Pestana e I. Seita Coelho

torno das suas competências/capacidades estratégicas, i.e., as coisas que a empresa faz melhor.
Assim, lembramos que a estratégia só é credível, depois de se vencer três etapas:
- O primeiro passo consiste, em analisar o que existe, a sua funcionalidade e utilidade, ou seja,
a estrutura de escala da empresa, de acordo com a sua futura missão;
- Seguidamente reorganizar a empresa, ou seja, compor o fluxograma da empresa;
- Finalmente definir a forma de gerir o trabalho, os objetivos, o fluxo de informação, o tipo de
funções, as equipes, etc.

7.4. O ‘Cluster’ da Cortiça

É um facto que o setor produtivo articulado (agregado) de cortiça que existia no final do século XX
transformou-se num oligopólio produtivo articulado. Esta mudança pode-nos levar a uma sufocante
economia de mercado, orientando-nos o desaparecimento de setor.

7.5. A Substituição da Rolha de Cortiça Natural

Como é sabido, a “screw-cup” tornou-se o vedante que domina o mercado mundial do vinho.
Descobrimos também que há um aumento de iniciativas para promover a cortiça.
Estas duas afirmações combinadas com o aumento da área da vinha em todo o mundo leva à
revitalização da fileira da cortiça, optando por novas aplicações e deixando a produção de rolhas de
cortiça natural, base deste setor.
Esta questão é urgente, desde que o grande problema deste setor é o excesso de cortiça de baixa
qualidade, imprópria para rolhas, o que reforça a necessidade de repensar as bases do setor.

7.6. Recrutamento e Seleção de Funcionários nas Empresas

As empresas ou, pelo menos, muitas empresas têm vindo a aumentar gradualmente, ao longo dos
anos, os níveis de exigência baseados nas qualificações, para selecionar e recrutar os seus
funcionários.
Quanto às competências, as empresas ponderam as atitudes e comportamentos que os empregados
devem tomar, como: iniciativa; liderança; responsabilidade; trabalho em equipa; adaptação à
mudança; “apetite” pelo risco. (GRILO, 2010)
Grande importância também está sendo dada às questões de segurança, meio ambiente e higiene no
trabalho. (Grilo, 2010)
Tudo isto destina-se a aumentar a competitividade, a criar uma cultura de inovação e aumentar os
níveis de qualidade e produtividade das empresas. (GRILO, 2010)
Nas pequenas e médias empresas é prática relativamente recente, o apoio para a conclusão do 12º
ano de escolaridade ou do ensino primário aos seus funcionários (GRILO, 2010).

7.7. Renovar a descortiçamento (ELENA ROSELLÒ, 2006)

A adoção de novas tecnologias, algumas já disponíveis, como a máquina de descortiçamento e a


necessidade de jovens (homens e mulheres) para esta operação (tradicionalmente excluídos),
simplificando trabalho e reduzindo os riscos e os requisitos físicos, são assuntos urgentes.

432
M. Pestana e I. Seita Coelho

Além disso, há a necessidade de formar novas gerações e introduzir novas tecnologias.

7.8. Sustentabilidade do Montado (ELENA ROSELLÒ, 2006)

A generalização dos planos de gestão para garantir a renovação do sobreiro e o aumento dos
animais e dos produtos obtidos.

7.9 Qualidade comprovada (ELENA ROSELLÒ, 2006)

A indústria deve continuar o seu esforço de transparência e informação. Devem avançar na


construção de um ferramenta coletiva capaz de recolher, processar e distribuir informações do setor,
tanto económica como técnica. Só assim, se alcança o caminho da qualidade e se fará frente à
concorrência agressiva dos produtos substitutos/alternativos.
Finalmente é necessário clarificar e simplificar o mercado abastecedor, para evitar a confusão atual,
gerada pelas escalas de qualidade específicas de cada intermediário para cada mercado. Um
mercado globalizado e informado, é importante.

7.10. Novos Negócios. Novas alianças (ELENA ROSELLÒ, 2006)

Finalmente, este desafio diz respeito à posição da rolha de cortiça no mercado de vedação de vinhos.
Ela permaneceu numa posição altamente dominante até ao início deste século. A perda é assumida
pelas rolhas de cortiça natural, enquanto as rolhas técnicas e aglomeradas tipo 1+1 têm progredido,
apesar de ter sido concebido e anunciado sistemas alternativos de vedação concorrentes. As novas
“rolhas” geralmente aparecem no mercado, apoiadas por um esforço de publicidade importante.
Várias linhas de ação parecem ser prioritárias. Primeiro, devemos reconsiderar atividades de
publicidade. Em segundo lugar, a indústria da cortiça deve reorientar a sua estratégia em busca da
comunicação com os seus aliados naturais. O novo alvo é o consumidor, que sempre manifestou as
suas preferências pela rolha de cortiça. O carácter vivo - cortiça renovável e natural - vai ao encontro
da consciência conservacionista. É necessário fortalecer os canais de cooperação entre as
organizações de consumidores, ambientalistas e de cortiça no mundo. A cortiça será a primeira a
ganhar.

7.11. O Desenvolvimento de uma Estratégia

Existem três ideias chave em que se deve basear a estratégia de internacionalização, a saber:
a. Exportação de produtos com maior valor acrescentado;
b. A diversificação de mercados e produtos de exportação:
c. Controlar todo o processo de transformação e comercialização.
Para b) o sucesso deve ser previsto com parcerias com empresas internacionais, como forma de
diversificação, uma vez que a associação com parceiros internacionais, ao nível do próprio capital,
daria uma maior consistência.
Em relação ao último ponto, é importante a presença nos mercados de consumo, só ou em parceria,
como uma forma de conhecer as necessidades dos clientes e controlar a distribuição. É evidente que
tudo isto é importante, mas conhecer bem o negócio também o é, para que a evolução seja

433
M. Pestana e I. Seita Coelho

consistente.

BIBLIOGRAFIA

AMORIM, 2011. <http://www.amorim.com/gru_historia.php> (30 de Junho de 2011)


APCOR, 2011. <http://www.apcor.pt/artigo/287.htm> (27 de Maio de 2011)
APCOR, 2011a. <http://www.apcor.pt/artigo/58.htm> (15 de Dezembro de 2011a)
APCOR, 2011b. Cortiça. Cultura, Natureza, Futuro. Apcor, Sta Maria de Lamas.
COELHO, I. ,1996. O montado a economia e o desenvolvimento do Alentejo. Silva Lusitana, 4 (1),
pp.39-48.
COELHO, I., 2000. Proprietários e Mercado da Terra nas Regiões de Montado. O Caso
do Concelho de Santiago do Cacém. Silva Lusitana, 8 (1), pp. 61 – 74.
ELENA ROSELLÒ, M., 2006. El corcho en la encrucijada: la pérdida del monopólio. Boletín económico
del ICE, 2889, pp. 127-145.
GRILO, E., 2010.: Se não estudas estás tramado. Tinta-da-china, 2ª edição, Lisboa.
MORUNO, F. P., 2009. The cork export business in Spain and Portugal in the 20th century: changes
and public intervention. Ph D. Tesis, Universidad de Extremadura, Badajoz.
MORUNO, F. P., 2010. El negocio del corcho en España durante el siglo XX. Estudios de Historia
Económica, 57, Banco de España, Madrid.
PESTANA, M., COELHO, I. S., 2007. A Fileira da Cortiça em Portugal - Posicionamento e
Competitividade. III Congresso Iberoamericano de productos forestales , 3 al 5 de Julio, en
Puerto Madero, Buenos Aires, Argentina. (Publicação em CD)
SANTOS, C.O., 1997. Amorim. History of a Family. Grupo Amorim, 2 volumes, Mozelos.
ZAPATA, S., 2010. La “Revolución Vitivinícola” y sus efectos sobre el negocio corchero; AEHE DT-
1002, febrero (www.aene.net).

434
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Análise da percepção da população e dos agentes locais sobre os


problemas que afectam a floresta no município de Góis

Lúcia Saldanha1, Beatriz Fidalgo1, Tiago Lameiras1, Raúl Salas1, José Gaspar1, António
Ferreira2

1: Departamento Florestal; Escola Superior Agrária de Coimbra; Bencanta, Coimbra.


2: Departamento de Ambiente; Escola Superior Agrária de Coimbra; Bencanta, Coimbra

e-mail: Lúcia Saldanha, lsaldanha@esac.pt

Resumo: O conhecimento das percepções sociais sobre a floresta e sobre as políticas florestais
em curso revela-se essencial como forma de promover o envolvimento e a participações dos
agentes locais na gestão florestal e na implementação das políticas definidas para o sector.
Porem os processos de consulta e de envolvimento das populações locais na definição de
políticas e medidas de prevenção de incêndios florestais e gestão de áreas ardidas tem sido
residual. O presente estudo insere-se no projecto de investigação Forestake PTDC/AGR-
CFL/099970/2008 “O papel dos agentes locais no sucesso da política florestal em áreas
afectadas por incêndios em Portugal”. Pretende-se com este trabalho mais especificamente,
avaliar a percepção dos agentes, organizações e comunidades locais face à situação actual da
floresta, ao trabalho realizado e ao sucesso ou insucesso da política florestal no município de
Góis. Na abordagem aos agentes locais procedeu-se inicialmente à sua identificação e à
constituição de um grupo local de apoio para a discussão e acompanhamento do projecto. Os
agentes locais foram entrevistados tendo por guião um questionário, permitindo assim uma
análise dos dados a dois níveis: qualitativo (análise de conteúdo das transcrições das
entrevistas) e quantitativo (análise das respostas fechadas do questionário). A abordagem à
comunidade local foi efectuada através da realização de inquéritos presenciais a uma amostra
representativa da população. Com base no trabalho desenvolvido discutem-se os resultados
preliminares obtidos em termos dos problemas que afectam a floresta no município de Góis.
Palavras-chave: percepção da floresta; gestão florestal, agentes locais, população local;
inquéritos
Abstract:: Knowledge of social perceptions on the forest and on forest policies in progress it is
essential in order to promote the involvement and participation of local actors in forest
management and implementation of the policies defined for the sector. However the processes of
consultation and involvement of local community in policy development about fire prevention and
management of burned areas, have been residual. This study is part of the research project
Forestake PTDC/AGR-CFL/099970/2008 "The role of local actors in policy success in areas
affected by forest fires in Portugal". This work aims at evaluate the perception of agents,
organizations and local communities about the current situation of the forests, the work done and
the success or failure of forest policy in the municipality of Goes. The approached used to work
with local agents started with the identification and the establishment of a local support group for
discussion and monitoring of the project. Local actors were interviewed with a questionnaire by
script, allowing for data analysis at two levels: qualitative (content analysis of the transcripts of
interviews) and quantitative (analysis of closed questions in the questionnaire). The local
community was approached by conducting surveys to a representative sample of the population.
Based on the work we discuss the preliminary results obtained in terms of the problems affecting
the forest in the municipality of Goes.
Keywords: perception of forest, forest management, stakeholders, local population, survey
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas as áreas rurais na Europa sofreram grandes mudanças, fruto de novas
dinâmicas socioeconómicas (BAPTISTA, 2001) . Estas dinâmicas porque são geradas quer
localmente quer externamente através de mudanças nas relações de procura e consumo de bens e
serviços das áreas rurais, têm conduzido a uma diferenciação crescente das áreas rurais
(MARSDEN, 1998).
Em muitas regiões verificou-se um declínio da importância da produção agrícola e a valorização de
outras funções ambientais e culturais dos espaços rurais (ELANDS, 2004). Noutras regiões o declínio
da agricultura e o despovoamento, foram acompanhados por um aumento da área florestal ocupada
com funções eminentemente produtivas, como aconteceu em muitas das zonas do interior do nosso
país (BEATRIZ e PÁSCOA, 2007). Este facto é acompanhado pelo grande aumento da área ardida,
com consequências dramáticas na preservação dos recursos florestais e das paisagens tradicionais
(SILVA et al, 2008) e a tomada de consciência por parte dos decisores políticos da necessidade de
actuar no sentido de promover um sistema nacional de defesa da floresta contra incêndios (MENDES,
2008).
Esta alteração vem obrigar a repensar a floresta e as suas políticas de modo a garantir a integração
destes objectivos mais amplos. Os desafios colocados pela gestão sustentável dos recursos florestais
implicam uma mudança na forma como planeamos e gerimos a floresta.
Para garantir a aderência às políticas à gestão é necessária adesão de todos aqueles que de forma
directa ou indirecta estão envolvidos. A sua participação tem como objectivo melhorar a qualidade
das decisões, reconhecendo-os como fonte legítima de conhecimento e ideias para as decisões, e
incorporar outros valores nos processos de decisão já que existem grandes diferenças na percepção
das realidades entre técnicos, políticos, cidadãos e investigadores, democratizando o processo de
decisão (ELSASSER, 2007; SANTOS et al, 2004). O envolvimento dos diversos agentes leva ao
reforço de confiança nas instituições governamentais, invertendo-se o declínio da confiança verificada
nas últimas décadas (SANTOS et al, 2004).
O importante papel das mudanças sociais na gestão dos espaços florestais só foi recentemente
reconhecido, o que é tanto mais surpreendente quanto a gestão é claramente uma concepção social
no sentido em que é feita em resposta às exigências humanas. Como as exigências são propensas à
mudança, o futuro da gestão florestal em qualquer região é, em grande medida, determinado pela
direção das mudanças sociais a ocorrerem nessa região (HOOGSTRA, 2004).
Esse reconhecimento tardio traduz-se em os estudos sobre os impactos sociais da gestão florestal
serem menos numerosos que aqueles que lidam com os impactos ecológico e económico da gestão
florestal, principalmente por causa do ênfase dado aos aspectos económicos (DHUBHAIN et al,
2009).
O objectivo central do projecto de investigação FORESTAKE corresponde à avaliação das
representações sociais sobre a floresta e a política florestal e dos atuais papéis dos agentes locais na
aplicação das medidas políticas para o sector, em particular na prevenção e mitigação dos incêndios
e na recuperação das áreas ardidas, com vista a propor uma estratégia efetiva de participação dos
agentes, das suas organizações e das comunidades locais, melhorando o processo de aprendizagem

436
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

social.
O conhecimento das perceções sociais surge como vital no ajustamento dos objetivos das políticas
às representações acerca da floresta, tendo sido implementado um estudo de perceção social aos
agentes nacionais responsáveis pela definição da política florestal e pela defesa da floresta contra
incêndios, aos técnicos dos gabinetes técnicos florestais e das associações florestais, e aos agentes
e às comunidades locais de três áreas de estudo da região Norte e Centro de Portugal (Sítio do
Montemuro; concelho de Góis; concelho de Mação). O trabalho aqui apresentado insere-se no
trabalho desenvolvido no âmbito deste projecto em Góis.

2. OBJECTIVOS

Neste documento apresentam-se os resultados preliminares do projecto realizado em Góis obtidos


sobre a identificação dos problemas na área de estudo ao nível da população local e dos agentes
locais e procedemos à sua discussão.

3. ÁREA DE ESTUDO

O trabalho realizado incidiu sobre o concelho de Góis, no distrito de Coimbra. Góis insere-se na
unidade territorial do Pinhal Interior Norte na Região Centro. Tem uma área total de cerca de 266 km2
e está organizado administrativamente em 5 freguesias.
Integrado na unidade biofísica do Sistema do Maciço Central constituído pelas serras da Lousã, Açor
e Estrela. É um concelho montanhoso, com uma variação altimétrica que vai dos 200 aos 1000
metros, marcado pelos três principais cursos de água (rio Ceira, rio Unhais e rio Sótão) onde
encostas pronunciadas alternam com vales encaixados. A excepção encontra-se nos vales do rio
Ceira, principalmente nas freguesias de Vila Nova do Ceira e de Góis.
Na Tabela 1 apresenta-se um resumo das principais características socio económicas e de ocupação
do solo da área de estudo.
De acordo com o Plano Municipal de Defesa da Floresta Contra Incêndios, PMDFCI, (CMDFCI, 2009)
Góis tem um uso dominantemente florestal, quer com ocupação florestal ou com matos,
representando estas duas formas cerca de 95% do território. De acordo, com o PMDFCI existe uma
predominância de povoamentos mistos de pinheiro bravo, eucalipto e acácia (73%).
A evolução da ocupação florestal parece estar de algum modo relacionada com a ocorrência de
incêndios. Nas últimas 3 décadas (de 1980 a 2010) arderam 25747 ha de mato e floresta, sendo o
período de meados da década de 80 a meados da década de 90 particularmente violento. Mais
recentemente as últimas grandes ocorrências dizem respeito aos anos de 2000, 2001 e 2005. Desde
então os registos em termos de área ardida têm sido substancialmente reduzidos (ICNF, 2013).
Góis tem passado por um processo acentuado de despovoamento desde meados do século passado
até à década de 70. Apesar de ter desacelerado um pouco na década de 80, essa tendência
permanece até ao último censo (CMG, 2009; INE, 2012).
Analisando o índice de envelhecimento da população dos últimos três censos verificamos que há um
grande um envelhecimento constante e acentuado nos últimos 20 anos. Actualmente Góis apresenta
um índice de envelhecimento de 310%, cerca de três vezes superior do país (129%).

437
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

Tabela 1 – Principais características bio-socio-demográficas da área de estudo


Indicador Fonte
2
Área total (km ) 266 CMDFCI Góis
Usos do solo dominantes
 Floresta 202,54 CMDFCI Góis
 Inculto 46,74 CMDFCI Góis
 Agrícola 8,06 CMDFCI Góis
População residente 2011 4260 INE
Variação da população no período 1970-2011 -2695 INE
2
Densidade populacional no concelho (hab./km ) 16,0 INE
Índice de envelhecimento Góis 310% INE
População activa por sector de actividade económica
Primário 436 INE
Secundário 1060 INE
Terciário 1309 INE

4. METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi desenvolvida no âmbito do projecto FORESTAKE para ser aplicada a três
áreas de estudo do projecto: Góis, Mação e Serra de Montemuro. Esta metodologia considerou duas
abordagens distintas consoante o público-alvo: a população local e os agentes locais.

4.1 População local

A percepção da população foi avaliada através da realização de um inquérito presencial a uma


amostra da população residente no município com mais de 18 anos.
A amostra foi seleccionada de forma a garantir a proporcionalidade quanto à distribuição espacial
(freguesia), ao sexo e ao estrato etário (dos 18 aos 24 anos, dos 25 aos 64 anos e dos 65 anos em
diante). O tamanho da amostra considerado foi de 5%, ou seja, 184 inquéritos.
Os inquéritos em que os inquiridos não responderam a mais de metade das perguntas foram
rejeitados.
O inquérito foi definido com o objectivo de avaliar a percepção da população sobre a floresta, em
geral, debruçando-se em particular sobre: contributo da floresta para a economia do concelho, função
da floresta no concelho, principais problemas, acções imediatas a desenvolver, tipo de floresta mais
adequado. O inquérito era composto por um total de 47 perguntas de diferentes tipos, abertas e
fechadas, com ou sem limite de opções, com ou sem pontuação da importância.
Neste trabalho apresentam-se apenas os resultados obtidos para a identificação dos problemas.
Neste caso concreto a pergunta era feita de forma aberta, pedindo-se ao inquirido para identificar os
principais problemas da floresta no concelho. Cada respondente podia indicar mais do que uma
resposta. A(s) resposta(s) obtida(s) era(m) enquadrada(s) dentro das opções disponíveis no
formulário do inquérito.
Caso o inquirido desse uma resposta não enquadrável nas opções disponíveis no inquérito, essa
resposta era anotada. Eram também registadas observações que se considerassem esclarecer a

438
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

resposta do inquirido.
Os inquéritos foram realizados num período não consecutivo de Novembro de 2012 a Abril de 2013.
Foi definida uma base de dados em Ms Access para registo e análise dos dados dos inquéritos.

4.2 Agentes locais

No grupo de agentes locais tentou-se incluir todos aqueles que tivessem de algum modo
competências, responsabilidades e interesses no uso e gestão dos recursos naturais.
A sua identificação foi realizada junto dos colaboradores locais, nomeadamente da Câmara Municipal
de Góis, utilizando como ponto de partida uma lista de contactos que a Câmara possuiu para tratar
questões relacionadas com a floresta, convidando-os para participar numa sessão de divulgação do
projecto e dos seus objectivos. Para além da divulgação do projecto essa sessão serviu também para
actualizar a lista de contactos, mantendo apenas as pessoas/entidades que manifestaram o seu
interesse em continuar a participar no projecto. Os participantes podem agrupar-se nos seguintes
grandes grupos:
Proprietários/Gestores: agentes locais directamente envolvidos na gestão de espaços
florestais na área de estudo;
Utilizadores: entidades que desenvolvem actividades nos espaços florestais sem estarem
necessariamente envolvidas na sua gestão;
Decisores: entidades públicas ou privadas directa ou indirectamente envolvidas na definição
ou aplicação de políticas, e grupos de pressão (associações de desenvolvimento, entidades de
investigação e desenvolvimento).
No total realizaram-se 36 entrevistas presenciais, tendo como guião um questionário com estrutura
idêntica à do inquérito à população local. As questões foram colocada de forma aberta utilizando as
respostas para o preenchimento do questionário, efectuado pelo entrevistador. As entrevistas foram
gravadas para posterior transcrição e análise qualitativa futura.
Os inquéritos foram realizados num período não consecutivo de Outubro de 2012 a Março de 2013.
Foi definida uma base de dados em Ms Access para registo e análise dos dados dos inquéritos.

5. RESULTADOS

5.1. Percepção da população local sobre os problemas da floresta

Nos inquéritos à população local obtiveram-se um total de 191 inquéritos válidos, respeitando as
proporções originalmente estabelecidas para a representação da freguesia, da classe etária e do
sexo.
Os resultados mostram que a população inquirida possui um baixo nível de escolaridade na sua
maioria (50%), realidade para a qual contribui essencialmente o estrato etário com 65 anos ou mais,
não tendo por vezes chegado a concluir o 1º ciclo, situação mais comum para as mulheres. Esta
tendência é tanto maior quanto menor é a densidade populacional das freguesias. É também nas
freguesias menos densamente povoadas que encontramos pessoas reformadas ou sem exercerem
uma actividade económica. Na freguesia de Góis concentra-se a maioria da população activa, com
mais formação .

439
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

A relação de posse com a floresta é uma realidade para a maioria dos entrevistados. Mais de metade
dos inquiridos assumem-se como proprietários florestais. Os resultados mais baixos são encontrados
em Góis, estando associados a inquiridos mais jovens, e que eventualmente não terão ainda herdado
dos pais, ou por não serem naturais do município.
São proprietários típicos de minifúndio, de reduzida dimensão e elevada pulverização.
A maioria da população (cerca de 91%) de alguma maneira usa o espaço florestal, quer seja para
visitar/cuidar das suas propriedades, quer seja para disfrutar momentos de lazer (passeio, caça e
pesca), quer seja para complemento das suas necessidades (lenha ou mato para os animais).
Considerando a temática dos problemas, verificou-se que dos 191 inquéritos realizados apenas um
inquirido afirmou considerar não existirem problemas associados ao espaço florestal em Góis. As
questões relacionadas com o ordenamento e gestão dos espaços florestais estão no topo das
preocupações da população em Góis, seguidas de muito próximo pelas preocupações com os riscos
associados a esse espaço (ver Figura 1). Estes dois grandes temas reflectem mais de 2/3 das
preocupações. Com alguma distância e em terceiro lugar aparecem os problemas relacionados
directamente com os proprietários.

3% 1%
4%
4%

ordenamento e gestão
riscos
37%
17% dos proprietários
comercialização e exploração
da propriedade
do sector
outro
34%

Figura 1 – Principais grupos de problemas que afectam a floresta (população local)

Analisando os problemas associados ao ordenamento e gestão, verificamos que na sua maioria se


relacionam com as alterações, mais ou menos recentes, introduzidas na paisagem, pelo abandono da
gestão tradicional do espaço rural, floresta, agricultura e pastoreio (27%), com a acumulação de mato
(38%) e o aparecimento de novos sistemas de uso florestal como o eucalipto (13%).
A falta de adequação dos acessos, quer seja por ausência quer seja por falta de manutenção,
constitui um dos problemas apontados com frequência (8%).
Outros problemas apontados referem-se à ausência de salvaguarda das aldeias em caso de incêndio,
ao estado de conservação das linhas de água, da biodiversidade e a falta de controlo da propagação
do javali e do veado com consequências nefastas para a agricultura.
No que diz respeito aos riscos associados aos espaços florestais, as preocupações concentram-se
nos problemas fitossanitários (49%). Das 120 manifestações de preocupação com pragas e doenças,
cerca de 90% referiam-se ao nemátodo do pinheiro, embora também se registasse a preocupação

440
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

com o gorgulho do eucalipto e com ambas. A preocupação com o gorgulho do eucalipto é


manifestada particularmente na freguesia de Alvares.
Os incêndios florestais não sendo a primeira preocupação em termos de riscos, são ainda
considerados como um problema (28%).
A expansão de espécies invasoras é uma preocupação manifestada em 23% dos riscos apontados
referindo-se à acácia mimosa (Acacia dealbata Link).
Relativamente ao grupo de problemas relacionados com os proprietários, destaca-se o
envelhecimento da população e o despovoamento (57%). O segundo problema mais referido neste
grupo é o seu desinteresse no seu estatuto de proprietário (33%).Também é apontada a falta de
capacidade dos proprietários para gerirem as propriedades (9%).
A Figura 2 mostra os resultados obtidos para os 10 problemas individuais com maior número de
respostas.

Preço da madeira

Deficiência de acessos

Expansão do eucalipto

Desinteresse dos proprietários

Expansão de espécies invasoras

Envelhecimento e despovoamento

Incêndios florestais

Abandono da gestão tradicional no espaço rural

Acumulação de mato

Pragas e doenças

0 20 40 60 80 100 120 140

Figura 2 – Número de respostas por tipo de problema identificado nos inquéritos à população local

A sua análise mostra que os problemas relacionados com as pragas e doenças e a acumulação de
mato são de longe os problemas mais referidos. Segue-se um conjunto de problemas com uma
relação de causa efeito com a acumulação de mato, como o abandono da gestão tradicional do
espaço, os incêndios florestais e o despovoamento. Finalmente aparecem as espécies invasoras, a
expansão do eucalipto, a deficiência de acessos e os baixos preços do material lenhoso com um
número muito mais reduzido de respostas.
Analisando os resultados por freguesia, verifica-se que a variação é muito pequena sendo comuns as
questões relativas à acumulação de mato, às pragas e doenças, ao envelhecimento ao
despovoamento e aos incêndios florestais.

5.2 Percepção dos agentes locais sobre problemas da floresta no concelho

A percepção dos problemas pelos agentes locais concentra-se em geral sobre as questões
relacionadas com os riscos (31%) e com os problemas estruturais relacionados com o proprietário e

441
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

com a propriedade (26 e 18%, respectivamente). Ao contrário do verificado no inquérito à população


local, as questões relativas ao ordenamento e gestão surgem com um peso bastante inferior (menos
de 4%).

4%
4%
riscos
31% do proprietário
17%
da propriedade
do sector
18% comercialização e exploração
ordenamento e gestão
26%

Figura 3 – Principais grupos de problemas que afectam a floresta (agentes locais)

No que diz respeito aos riscos, são de novo os problemas fitossanitários os que assumem maior
destaque (41%), seguido dos incêndios florestais (32%) e das espécies invasoras (27%).
O envelhecimento e despovoamento é o principal problema identificado (62%) seguido da falta de
capacidade para gerir (19%). O desinteresse e falta de capacidade organizativa completam os
problemas apontados associados aos proprietários.
A fragmentação e dispersão da propriedade é o problema mais frequentemente referido no que diz
respeito às características relativas à propriedade (72%), seguido da ausência de cadastro (24%).
As questões relacionadas com a cooperação deficiente entre instituições, com a existência de um
quadro legal deficiente, com a falta de fiscalização, com o papel do Estado compõem o quarto maior
grupo de problemas identificados pelos agentes locais.
Verificamos no global das entrevistas realizadas que o problema mais associado ao espaço florestal
está relacionado com o envelhecimento e despovoamento e com as características de minifúndio da
estrutura da propriedade. A estes dois aspectos estruturais, seguem-se as questões ligadas às
ameaças à floresta com as pragas e doenças, os incêndios florestais e a expansão das espécies
invasoras.
Surgem também com algum destaque questões relativas à cooperação entre instituições, ausência
de cadastro e a existência de um quadro legal deficiente.

442
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

desinteresse dos proprietários

ausência de cadastro

quadro legal deficiente

cooperação entre instituições deficiente

capacidade dos proprietários

aumento de espécies invasoras

incêndios florestais

pragas e doenças

fragmentação e dispersão da propriedade

envelhecimento e despovoamento

0 5 10 15 20 25

Figura 4 – Número de respostas por tipo de problema identificado nas entrevistas aos agentes locais

Apesar de haver uniformidade nas respostas quanto a considerar os riscos como um problema
principal em Góis verificam-se algumas diferenças entre os diferentes agentes locais. Assim, por
exemplo, se nas entrevistas com a administração regional e local sobressaem as questões de
ordenamento, já as empresas do sector identificam problemas ao nível dos riscos, do sector e da
propriedade.

6. INTERPRETAÇÃO E CONCLUSÕES

A população local valoriza as questões relacionadas com o ordenamento e gestão, todas elas de
algum modo reflexo da alteração dos sistemas tradicionais de gestão e da paisagem no espaço
rural.
Essa transformação traduziu-se na redução da prática da agricultura até ao limite das pequenas
hortas na proximidade das habitações, na eliminação drástica do pastoreio, tendo os grandes
rebanhos passado a 4 ou 5 animais, na extinção do castanheiro e na redução da área de pinhal.
Apesar de identificarem a importância da floresta como fonte de rendimento, que actualmente
provem do eucalipto e é um complemento importante na economia familiar, têm uma opinião
negativa sobre a expansão do eucalipto, utilizando a expressão de “um mal necessário”.
No entanto, se tradicionalmente o modelo de gestão recorria a uma diversificação de rendimentos
provenientes da floresta, a madeira, a resina, a cortiça, o mel, os animais da pastagem, o novo
modelo de gestão, baseado quase exclusivamente no eucalipto e no pinheiro bravo, concentra a
obtenção de rendimento no momento do corte, aumentando o risco de perda de rendimentos com
a ocorrência de incêndios florestais e consequente perda do valor da madeira.
O abandono da gestão tradicional é associado à ausência de controlo de mato nos povoamentos.
A percepção da população local sobre a gestão dos povoamentos florestais limita-se à gestão
florestal, sendo ausência de gestão vista pela população local pela ausência de limpeza de mato,
única intervenção referida durante as entrevistas.

443
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

Às alterações nos modelos de gestão estão associadas as alterações demográfica com a perda da
população jovem por emigração e o envelhecimento da população que ainda permanece. Na
percepção da população local este aspecto surge associado ao desinteresse dos proprietários
ausentes “que já não identificam os seus Terrenos”.
Por outro lado, os proprietários que ficam não têm capacidade para gerir os seus terrenos, quer em
termos físicos, por estarem envelhecidos, quer em termos económicos, por sobreviverem com
pensões muito modestas.
No entanto, neste contexto, não é identificada a falta de capacidade organizativa.
Na identificação dos problemas da floresta a percepção da população local não identifica como
relevante as actuais características da estrutura da propriedade (dimensão e dispersão da
propriedade). Este aspecto é interessante já que pretendendo-se ver na floresta uma fonte de
rendimento não é associado pela população local o impacto negativo que a pulverização da
propriedade tem na rentabilidade do investimento florestal, e nas limitando que coloca á gestão
florestal.
Quanto à percepção dos riscos é interessante notar que apesar do concelho de Góis apresentar
de acordo com PMDF um risco de incêndio muito elevado e de ter um histórico de incêndios de
grandes dimensões de décadas, este não é o risco mais referido. As pragas e doenças como já
foi referido foram não só o risco mais referido mas o problema mais referido pela população local.
Esta situação sugere-nos que a percepção do risco estará relacionada com os acontecimentos
mais recentes, o que se enquadra perfeitamente neste caso já os últimos sete anos os incêndios
não têm tido grande expressão e ao contrário, a presença de nemátodo do pinheiro e do gorgulho
do eucalipto tem sido evidente no mesmo período.
Por seu lado, os agentes locais atribuem um grande peso às questões estruturais relativas à
estrutura da propriedade, em termos da sua dimensão e fragmentação, e da impossibilidade de
identificar o proprietário (ausência de cadastro).
Os agentes locais têm uma abordagem mais técnica dos problemas. Constituem em si um grupo
mais homogéneo, havendo uma menor dispersão na identificação dos principais problemas.
No que diz respeito aos riscos, a posição dos agentes locais é idêntica, apesar de o risco relativo
às pragas e doenças não se destacar do risco de incêndio.

7. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos permitem-nos concluir que apesar de se confrontarem com a mesma


realidade, a percepção dos problemas que lhe estão associados é diferente para a população e
para os agentes locais.
O perfil dos proprietários florestais e a estrutura da propriedade não são, de uma maneira geral,
encarados pela população local como um problema mas como uma característica dificilmente
alterável com a qual estão habituados a conviver.
Para a mesma realidade a abordagem dos agentes locais mostra-se diferente dando relevo às
questões relacionadas com os problemas estruturais da floresta: estrutura da propriedade, perfil
do proprietário, enquadramento legal, relacionamento institucional e papel do Estado.

444
L. Saldanha, B. Fidalgo, T. Lameiras, R. Salas, J. Gaspar, A. Ferreira

REFERÊNCIAS

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2009. 45 pp.
CMG (2009). Plano Municipal de Emergência da Protecção Civil. Parte IV – Informação
complementar. Secção II Análise de riscos. Dezembro de 2009. Góis: Câmara Municipal de Góis.
DHUBHÁIN, A., FLÉCHARD, M., MOLONEY, R., O’CONNOR, D., 2009. Stakeholders’ perceptions of
forestry in rural areas—Two case studies in Ireland. Land use policy. 26 (1): 695-703.
ELANDS, B., O’LEARY, T., BOERWINKEL, H., WIERSUM, K., 2004. Forest as a mirror of rural
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ELSASSER, P., 2007. Do “stakeholders” represent citizen interests? An empirical inquiry into
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http://www.icnf.pt/ [acedido em maio 2013]
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2006 a 2010. In http://www.icnf.pt/ [acedido em maio 2013]
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MENDES, A., 2008. Política florestal em Portugal depois de 2003. In Incêndios Florestais. 5 anos
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SANTOS, F., MARTINS, H., BORGES, J., 2004. Desenvolvimento de abordagens participativas no
planeamento florestal português. Silva Lusitana Número Especial : 67-76.
SILVA, J. S., DEUS, E.; SALDANHA, L., 2008. Evolução dos incêndios florestais em Portugal, antes e
depois de 2003. In Incêndios Florestais. 5 anos após 2003. Liga para a Protecção da Natureza,
Autoridade Florestal Nacional, Lisboa, pp. 13-63.

445
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Continuidade fluvial em Mini-Hídricas – O caso da Ribeira de Santa Natália

Cátia Santos1, Simone Varandas1-2, Marisa Lopes1-2, Vítor Pereira1-2, Pedro Santos3 Amilcar
Teixeira4

1: UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Ciências Florestais e


Arquitectura Paisagista, Apartado 1013, 5001-811 Vila Real, Portugal,
2: CITAB-UTAD – Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas, Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Ciências Florestais e Arquitectura Paisagista, Apartado
1013, 5001-811 Vila Real, Portugal.
3: NOCTULA - Modelação e Ambiente, Quinta da Alagoa Lote 222 - 1º Frente, 3500-606 Viseu (Portugal)
4: CIMO- ESA-IPB – Centro de Investigação de Montanha, Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de
Bragança, Campus de Santa Apolónia, Apartado 1172, 5301-854 Bragança, Portugal

Resumo: As centrais Mini-Hídricas são aproveitamentos hidroelétricos com potências instaladas


inferiores a 10 MVA. Regra geral, estas centrais são a fio de fio-de-água, ou seja, havendo
armazenamento de água este será em pequena quantidade, minimizando os impactos ambientais
em relação a uma central de albufeira. No entanto, os açudes característicos das mini-hídricas
podem impedir a passagem de peixes, isolando as populações existentes a montante do açude.
O presente trabalho incidiu no estudo das comunidades piscícolas presentes a montante e a
jusante da Mini-hídrica da Ribeira de Santa Natália, pertencente à Região Hidrográfica 3 (RH3),
afluente da margem direita do Rio Tâmega. O principal objetivo foi o de apurar a existência ou
não de continuidade fluvial na zona da Mini-Hídrica e verificar a necessidade da implementação
de um dispositivo de transposição para peixes no referido local.
A amostragem da ictiofauna, foi realizada em três locais, tendo em consideração a localização de
elementos (como açudes) que poderiam constituir barreira à passagem da mesma. Foram
inventariadas quatro espécies piscícolas, nomeadamente, truta-de-rio (Salmo trutta), bordalo
(Squalius alburnoides), boga do Norte (Pseudochondrostoma duriense) e enguia-europeia
(Anguilla anguilla).A truta-de-rio e o bordalo, principais espécies capturadas, foram encontradas
nos três locais de amostragem, verificando-se que a Ribeira de Santa Natália apresenta uma
comunidade piscícola saudável e relativamente bem estruturada. As espécies boga e enguia
apresentaram-se como residuais.
Deste estudo, foi possível concluir que os açudes intermédios (açudes semi-desagregados de
pequena dimensão), construídos no trecho da Ribeira de Santa Natália, não constituem por si só
um obstáculo à passagem de peixes, pois é potencialmente possível, principalmente durante o
período de Inverno, a sua transposição por esta comunidade para os troços mais a montante.
Palavras-chave: mini-hídrica, ictiofauna, continuidade fluvial.
Abstract: Small Hydropower plants are hydroelectric power installed with less than 10 MVA. This
diversion dams do not generally impound water in a reservoir, minimizing environmental impacts
in relation to a central reservoir. However, the reservoirs characteristic of Small hydro can prevent
fish passage, isolating existing populations upstream of the weir.
The present work focused on the study of fish communities present upstream and downstream of
the Small hydro installed in the Santa Natalia stream, belonging to River Basin District 3 (RH3), a
right bank tributary of the River Tâmega. The main objective was to determine if exist fluvial
continuity in the area of Small-Hydro and verify the need for the implementation of a device for
fish passage.
The sampling of fish fauna was conducted at three locations, taking into account the location of
elements (such as weirs) that could constitute a barrier to its passage. Four fish species were
surveyed including brown trout (Salmo trutta), calandino (Squalius alburnoides), northern straight-
mouth nase (Pseudochondrostoma duriense) and European eel (Anguilla anguilla). Brown trout
and calandino, the main captured species, were found in the three sampling sites, confirming that
the Santa Natalia stream has a healthy fish community and relatively well structured. The species
Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos, Amilcar Teixeira

northern straight-mouth nase and eel showed up as residual. We conclude that the intermediate
reservoirs (semi-disaggregated small weirs), built on the studied stretch of the Santa Natalia
stream, not constitute by itself a barrier to fish passage. Potentially it is possible, especially during
the winter period, the transposition of fish fauna to the upstream sections.
Keywords: Small Hydropower plants, fish communities, fluvial continuity.

Introdução
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO,
2006), um conjunto de forças afeta e continuará a afetar seriamente os nossos recursos aquáticos
naturais como resultado de ações humanas e estas incluem alterações do ecossistema e paisagem,
sedimentação, poluição, excesso de extração e mudanças climáticas. Esta Organização refere ainda
que a remoção, destruição ou o comprometimento dos ecossistemas naturais estão entre os
principais impactos que põem em causa a sustentabilidade dos recursos hídricos naturais. De facto,
os ecossistemas fluviais têm sofrido uma crescente pressão sobretudo derivada da construção de
açudes, barragens e pequenos aproveitamentos hidroelétricos (mini-hídricas) por forma a garantir as
necessidades de abastecimento humano, atividades agrícolas, recreativas e principalmente produção
de energia elétrica (Pinheiro et al.).
Embora a energia hidroelétrica possa ser considerada uma fonte de energia limpa, quando
comparada com os combustíveis fósseis e centrais nucleares, as infraestruturas e o seu
funcionamento podem provocar impactes sobre o ecossistema aquático e organismos que deste
dependem (Hasler et al., 2009). Tais impactes incluem a captação de água, regulação de fluxo, perda
de conectividade, perda de habitat, degradação do meio aquático e benefício de espécies exóticas
(Francis R.A., 2011 e Biber-Klemm S., 1995). Contudo, a energia hidroelétrica apresenta diversas
vantagens, como o baixo custo de funcionamento, produção de energia em horas de elevada procura
e desenvolvimento económico e social (Weiming et al., 2010).
As centrais mini-hídricas são pequenos aproveitamentos hidroelétricos com potência instalada até 10
MW. Regra geral, são centrais de fio-de-água, ou seja, se houver armazenamento de água este será
em pequena escala, o que minimiza os impactes no ambiente em relação a uma central de albufeira,
contudo, não têm capacidade de regularizar o caudal afluente. (Bahtiyar Dursun e Cihan Gokcolk,
2011)
São várias as influências antropogénicas presentes nos rios e as consequentes alterações do meio,
de onde se pode destacar a fauna piscícola. Os peixes de água doce têm vindo a sofrer um crescente
declínio, consequência de barreiras físicas construídas nos rios, pesca excessiva, introdução de
espécies exóticas, degradação e perda de habitat (Biber-Klemm S., 1995). Tal como refere Santo
(2005) o efeito barreira nos rios portugueses deixou de ser um problema apenas das espécies
migradoras diádromas mas passou a ser fundamentalmente das espécies potamódromas, cuja
deslocação no curso de água resulta na separação de habitats necessários para completarem o seu
ciclo de vida como garante de troca de informação genética. Segundo este mesmo autor os impactos
serão maiores ou menores consoante a disponibilidade de habitats a jusante da barreira.
Por forma a mitigar os impactes do efeito barreira, impostos pelas obras hidráulicas, nas

447
Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos, Amilcar Teixeira

comunidades piscícolas podem implementar-se certas medidas de proteção de onde se destacam as


passagens para peixes, permitindo em menor escala, o restabelecimento do fluxo dos mesmos ao
longo do rio (Jungwirth 1998 e Santo 2005).
O presente estudo incidiu na análise das comunidades piscícolas presentes a montante e a jusante
de uma central mini-hídrica, por forma a apurar a existência ou não de continuidade fluvial e verificar
a necessidade da implementação de um dispositivo de transposição para peixes no referido local.

Metodologia

Área de estudo
A área de estudo incidiu sobre a ribeira de Santa Natália, de orientação Norte-Sul. É um afluente da
margem direita do rio Tâmega, nasce na Freguesia de Rego, no Concelho de Celorico de Basto, no
Distrito de Braga, a cerca de 840 metros de altitude e desenvolve-se numa extensão de cerca de 16
km até à foz, no rio Tâmega, em Amarante. Como principais afluentes podemos apontar a ribeira de
Borba, na margem direita, e a ribeira do Pertelim, na margem esquerda.
Na ribeira em análise está instalada a Mini-Hidrica de Pego Negro, a qual se destina à produção de
energia elétrica sendo constituída por um Açude e respetiva Tomada de Água, por um Circuito
Hidráulico na margem direita e por uma Central Hidroelétrica onde estão instalados dois Grupos
Turbina – Gerador. A central de fio-de-água Pego Negro (Figura 1) é alimentada pela ribeira de Santa
Natália e pertence à empresa Hidroeléctrica do Pego Lda. Iniciou a sua produção em 1998 e conta
com 0,17 MW de potência instalada.
Com o propósito de se obter uma perspetiva da situação atual das populações piscícolas no
ecossistema aquático em estudo (ribeira de Santa Natália), na área sob influência da Mini-hídrica,
mais concretamente a zona a montante e a jusante deste empreendimento, fez-se uma
caracterização das referidas comunidades íctias em três locais de amostragem (Figura 2):

 Um local (SNat1) no Sector 1- Troço localizado imediatamente a montante do regolfo da


mini-hídrica
 Um local (SNat2) no Sector 2- Troço imediatamente a jusante da mini-hídrica e a montante
do primeiro açude tradicional.
 Um local (SNat3) no Sector 3 - Troço a jusante dos açudes tradicionais na zona da Central
de Pego Negro.

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Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos, Amilcar Teixeira

Figura 1 - Localização da mini-hídrica e central do Pego Negro

A escolha dos locais supra citados teve em consideração a localização de elementos (estruturas
físicas tais como açudes) que poderiam constituir barreira à passagem da fauna piscícola.
Todo o processo de amostragem da fauna piscícola foi desenvolvido de acordo com o protocolo
“Avaliação Biológica da Qualidade da Água em Sistemas Fluviais segundo a Directiva Quadro da
Água - Protocolo de amostragem e análise para a fauna piscícola” (INAG, 2008).
Na seleção do troço de amostragem, esteve subjacente a representatividade do sector a monitorizar,
incluindo a máxima variedade de habitats disponíveis e conteve pelo menos um riffle no sector. A
área de amostragem relacionou-se com a largura do rio. Assim, como o rio em análise tinha
comprimento inferior a 30 m, o troço de amostragem correspondeu a 20 vezes a sua largura.

Figura 2 - Localização dos locais e sectores amostrados na ribeira de Santa Natália

Caracterização das comunidades piscícolas


As amostragens da comunidade piscícola foram realizadas a pé percorrendo todo o leito, de jusante

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Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos, Amilcar Teixeira

para montante, com equipamento de pesca elétrica devidamente ajustado em função da


condutividade elétrica da água (equipamento portátil de corrente contínua DC-600V), previamente
determinada, permitindo desta forma aumentar a eficiência da pesca, evitando simultaneamente
lesões e a mortalidade dos peixes. A voltagem usada variou entre os 150 a 200 V de modo a produzir
uma corrente de 1.5-3 A.
Após a captura, os peixes foram manipulados cuidadosamente e mantidos, até ao seu
processamento, dentro de caixas com água abundante e oxigenação assegurada por arejadores
portáteis. O processamento dos exemplares incluiu a sua identificação até à espécie e a obtenção de
dados biométricos (comprimento total).
A identificação dos exemplares de ictiofauna e a sua medição (comprimento total) realizou-se
imediatamente no local de colheita. Após identificação e medição, os exemplares foram
cuidadosamente devolvidos ao meio em zonas sem corrente, de modo a que este inventário
proporcionasse a menor perturbação possível. Para além destas determinações foi também
observado o estado sanitário de cada indivíduo capturado. Para a identificação e informações sobre
espécies piscícolas recorreu-se a Almaça (1996), Kottelat (1997), Coelho et al. (1998, 2005) e ICN
(2005).

Tratamento de dados
Para a avaliação da integridade biótica/ qualidade ecológica de rios com base nas comunidades
piscícolas recorreu-se ao índice piscícola de integridade biótica (F-IBIP) recentemente desenvolvido
para Portugal (Oliveira, 2010) e entretanto adotado pelo Instituto da Água, no âmbito da DQA (INAG,
I.P. E AFN, 2012), como método nacional de avaliação (ver detalhes no site
http://www.wiser.eu/programme-and-results/data-and-guidelines/method-database/). Assim, as
componentes relevantes para a avaliação do estado biológico com base no elemento peixes são a
composição e abundância. A composição é a identificação até à espécie e permite avaliar a
composição da comunidade piscícola em determinado troço avaliado, assim como fornece
informações relativas à existência de espécies exóticas e respetivas quantificações. A abundância
considera o número de indivíduos de cada espécie identificada no troço de amostragem,
relacionando-o com a área de amostragem.
Os resultados para cada troço amostrado foram estabelecidos com base na totalidade das colheitas
efetuadas nos diversos tipos de habitats presentes. As áreas pescadas foram calculadas e os valores
para cada local foram determinados por densidade (nº de indivíduos colhidos / 100 m2 de área
amostrada), Captura por Unidade de Esforço - CPUE (nº de indivíduos / minuto de pesca) e Índice F-
IBIP.

Resultados
Na amostragem efetuada, foram inventariadas quatro espécies piscícolas, a truta-de-rio (Salmo
trutta), a boga do Norte (Pseudochondrostoma duriense), o bordalo (Squalius alburnoides) e a
enguia-europeia (Anguilla anguilla) (Quadro 1), as quais pertencem às famílias Salmonidae,
Cyprinidae e Anguillidae, respetivamente.

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Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos, Amilcar Teixeira

Quadro 1 - Indivíduos pescados nos diferentes locais de amostragem

SNat1 SNat2 SNat3


Espécie
Nº % Nº % Nº %
indivíduos Captura/ indivíduos Captura/ indivíduos Captura/
Anguilla anguilla (Enguia) 0 0,00 0 0,00 1 10,00

Pseudochondrostoma 3 7,69 11 21,57 0 0,00


duriense (Boga)
Salmo truta (Truta de rio) 24 61,54 5 9,80 8 80,00

Squalius alburnoides 12 30,77 35 68,63 1 10,00


(Bordalo)
Total de indivíduos 39 100 51 100 10 100

Trata-se assim de uma ribeira dominada por duas espécies, o bordalo e a truta-de-rio. Na totalidade
dos locais amostrados (perfazendo um comprimento total de 300 m) foram capturados 29 trutas, 16
das quais com comprimentos compreendidos entre os 7 e 11 cm (idades 0+ e 1+), 12 trutas entre os
16 e 23 cm (idades entre os 3+ e 5+), 1 truta com idade aproximadamente de 6+ e finalmente outra
com idade provavelmente igual ou superior a 8 anos de idade (8+).
Quanto ao bordalo, verificou-se ser a espécie mais abundante tendo sido capturados na totalidade
dos 3 locais amostrados 48 exemplares todos adultos (Quadro 1). Esta espécie reproduz-se com
cerca de 2 anos de idade (Maturação sexual dos machos – 33 mm e das fêmeas – 44 mm) possuindo
nessa fase tamanhos muito pequenos. Por este motivo a probabilidade dos juvenis serem capturados
é muito pequena já que a pesca elétrica é seletiva relativamente aos tamanhos. Tamanhos muito
pequenos acabam por não ser capturados. Esta espécie de peixe de pequenas dimensões é
endémica da Península Ibérica e é estritamente protegida, pois está em risco de extinção. O seu
estatuto de conservação nacional é de vulnerável (ICN, 2005) e a importância conservacionista desta
espécie enfatiza-se pelo facto de vários locais do País terem sido designados para a Diretiva Habitats
devido à sua presença.
No que concerne à boga, dos 14 exemplares capturados (Quadro 1) apenas 1 apresenta a idade 3+
sendo os restantes indivíduos juvenis (idades 0+ e 1+).
Quanto à enguia, apenas foi capturada um exemplar de grandes dimensões no local amostrado mais
a jusante (SNat3). De referir que esta espécie possui estatuto de conservação de “Em Perigo”
estando por isso listada no livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (ICN, 2005).
Como se pode observar através do Quadro 2 a maior densidade de indivíduos foi encontrada no local
SNat1 inserida no sector mais a montante da mini-hídrica contrastando com o sector mais a jusante
no qual foi observada a menor densidade (apenas 2 ind.100 m-2).

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Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos, Amilcar Teixeira

Quadro 2 – Densidade (nº de indivíduos colhidos.100 m-2 de área amostrada) e CPUE (nº de
indivíduos. minuto de pesca-1) para os 3 locais amostrados

SNat1 SNat2 SNat3

Densidade (ind. 100m-2) 7.8 5.2 2

CPUE (ind. min-1) 1.26 1.76 0.24

Avaliação do estado biológico: Índice F-IBIP


Tal como referido na metodologia para a avaliação da integridade biótica/qualidade ecológica do
sistema fluvial em estudo recorreu-se ao Índice Piscícola de Integridade Biótica para Rios Vadeáveis
de Portugal Continental (F-IBIP), desenvolvido pela AFN. Como é possível constatar, através da
análise do Quadro 3, todos os sectores amostrados apresentam excelente qualidade baseada nas
comunidades íctias.

Quadro3 - Índice Piscícola de Integridade Biótica para Rios Vadeáveis de Portugal Continental (F-
IBIP)

SNat1 SNat2 SNat3

F-IBIP 0,978 0,845 0,973

Classificação EXCELENTE EXCELENTE EXCELENTE

Discussão de Resultados
A análise dos resultados mostra que a ribeira de Santa Natália em estudo é dominada por duas
espécies, nomeadamente, o bordalo e a truta-de-rio. A presença desta última espécie permite apurar
que a qualidade da água é suficientemente aceitável, dado tratar-se de uma espécie intolerante, que
requer águas bem oxigenadas.
Na totalidade dos locais amostrados o número de trutas capturadas, compreendidas entre as idades
0+ e 8+, mostra trata-se de uma população relativamente jovem apesar de se verificar algum
desequilíbrio na estrutura da população. É notória a falta de alguns grupos de indivíduos reprodutores
embora não pareça estar em causa o garante das gerações futuras uma vez que ainda se observa
um número apreciável destes indivíduos. Também não parece existir falta de recrutamento dado o
número elevado de juvenis encontrados. No entanto, existe uma diminuição drástica do número de
indivíduos do sector 1 (SNat1) para os sectores 2 (SNat2) e 3 (SNat3). Segundo Tavares (1999), esta
diminuição pode dever-se, entre outros fatores, às frequentes oscilações de caudal resultantes do
regime de descargas da mini-hidrica, sendo as características de profundidade, tipo de substrato e

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Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos, Amilcar Teixeira

velocidade da corrente, provavelmente mais favoráveis a montante.


Quanto ao bordalo, verificou-se ser a espécie mais abundante e os exemplares capturados eram
todos adultos (Quadro 1). Tal como a truta, o bordalo foi encontrado nos 3 sectores amostrados. Esta
distribuição alargada, segundo Ferreira et al. (1997), deve-se ao facto de o bordalo se englobar na
família dos ciprinídeos, os quais de caracterizam por apresentar grande diversidade trófica e pouca
especialização alimentar. Estes autores salientam ainda a elevada plasticidade e oportunismo destas
espécies em relação aos locais onde são encontrados e aos tipos de alimento ingeridos ao longo das
várias épocas do ano.
No que concerne à boga, dos 14 exemplares capturados (Quadro 1) apenas 1 apresenta a idade 3+
sendo os restantes indivíduos juvenis (idades 0+ e 1+). Dada a proximidade do rio Tâmega coloca-se
a hipótese dos indivíduos adultos serem provenientes desse curso de água utilizando a ribeira de
Santa Natália, nos 500 m imediatamente a montante da zona de descarga da mini-hídrica, como local
de desova, regressando de novo ao grande rio logo após o período de reprodução. Esta constatação
é corroborada por Tavares (1999) que num estudo efetuado no rio Ardena observou um
comportamento semelhante por parte dos grandes reprodutores, isto é, utilizando apenas os
pequenos afluentes para a desova regressando de seguida ao rio principal (rio Paiva).
Relativamente à enguia, o facto de ter sido encontrado apenas um exemplar de grandes dimensões
na ribeira estudada (ver Quadro 1), poderá significar que este indivíduo se deslocou
aproximadamente 4,5 km do rio Tâmega até ao sector mais a jusante (SNat3) onde foi encontrada.
Enquanto a ribeira suprir as suas necessidades de alimentação até que esta atinja a fase de enguia
prateada, provavelmente este individuo permanecerá no local regressando unicamente ao rio
principal quando começar a sua migração até ao mar (espécie catádroma).
Da análise do Quadro 2 constata-se uma maior densidade de indivíduos no local SNat1 inserida no
sector mais a montante da mini-hídrica, contrastando com o sector mais a jusante no qual foi
observada a menor densidade (apenas 2 ind. 100 m-2). Segundo Rolls R.J. (2010) e Trussart et al
(2002), as barreiras artificiais criadas para aproveitamentos hidroelétricos podem impedir as
migrações de peixes a montante e jusante das mesmas, o que poderá justificar o desequilíbrio das
densidades piscícolas observadas a montante e jusante da Mini-hídrica.
Foi também possível observar, através da análise do Quadro 3, que todos os sectores amostrados
apresentaram excelente qualidade baseada nas comunidades piscícolas (índice F-IBIP). De
ressalvar, no entanto, que devido ao número relativamente baixo de indivíduos capturados no local
SNat2 o valor do índice deve ser lido com a devida reserva.

Conclusões
Face aos resultados obtidos, a ribeira de Santa Natália apresenta uma comunidade piscícola
saudável, relativamente bem estruturada no que concerne às suas principais espécies (bordalo e
truta). As espécies boga e enguia apresentam-se como residuais embora no caso da boga tenham
sido encontrados fundamentalmente juvenis já que os indivíduos reprodutores preferem outras
condições as quais são encontradas num rio de maiores dimensões como é o caso do rio Tâmega,
onde esta ribeira desagua. Desta forma poder-se-á concluir que os açudes intermédios (açudes de
pequena dimensão, Figura 3) construídos no trecho da ribeira entre o Açude de Pego Negro e a

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Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos, Amilcar Teixeira

Restituição de caudais poderão não constituir por si só um obstáculo à passagem de peixes até
porque apresentam já algumas aberturas, embora relativamente pequenas, tornando potencialmente
possível, principalmente durante o período de Inverno, a subida dos peixes para os troços mais a
montante.

Figura 3 - localização dos açudes existentes no trecho da ribeira de Santa Natália entre o açude de
Pego Negro e a Restituição de caudais

Tendo em consideração os resultados obtidos foi possível apurar que na ribeira de Santa Natália
estão presentes duas espécies de especial interesse conservacionista nomeadamente o Squalius
alburnoides e a Anguilla anguilla. Tal como referido nos resultados ambas as espécies se encontram
listadas no livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005): o bordalo apresenta-se
como “Vulnerável” e a enguia como estando “Em Perigo”. De lembrar que o Livro Vermelho admite
que no caso do bordalo nos últimos 10 a 12 anos tenha ocorrido uma redução do efetivo populacional
nacional em cerca de 50%, sendo urgentes os esforços no sentido da sua preservação. Entre os
principais fatores de ameaça encontram-se a poluição, a construção de barragens, a alteração do
regime natural de caudais, a captação de águas e a introdução de espécies exóticas. A redução
sofrida é virtualmente irreversível, pois os fatores de ameaça tendem a agravar-se e as estimativas
apontam a continuação do declínio. No que à enguia diz respeito, o mesmo Livro refere uma redução
da espécie nos últimos 18 a 24 anos a qual poderá ter atingido 75% do número de indivíduos
maduros prevendo-se que tal possa continuar a verificar-se no futuro. Do mesmo modo que para a
espécie anterior, as causas da redução, embora geralmente compreendidas, não são reversíveis nem
tão pouco cessaram. Ainda de acordo com o Livro Vermelho, as consequências deste decréscimo
são ainda desconhecidas mas têm necessariamente implicações no número de reprodutores que
conseguem alcançar o Mar dos Sargaços para se reproduzirem. Dadas as condicionantes em termos
de conectividade da Bacia Hidrográfica do rio Douro, e mais concretamente na sub-bacia do rio
Tâmega não é expectável que a enguia seja muito abundante nesta ribeira. O exemplar capturado
encontra-se na fase de enguia amarela ou enguia prateada, apresentando um comportamento
relativamente sedentário ou migratório, quer para jusante, quer para montante, tudo dependendo nos
níveis de fragmentação existentes e das barreiras ao longo do percurso, que neste caso trata-se

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Cátia Santos, Simone Varandas, Marisa Lopes, Vítor Pereira, Pedro Santos, Amilcar Teixeira

fundamentalmente da barragem do Torrão na foz do rio Tâmega a qual poderá inviabilizar a sua
descida até ao mar para se poder reproduzir.
Uma vez que o açude do Pego Negro, em análise, foi construído há 70 anos será de prever que as
populações piscícolas se encontram perfeitamente adaptadas às novas condições de habitat que
entretanto surgiram. Esta descontinuidade criada pelo açude poderá ser um fator impeditivo de
contacto entre as populações de jusante e montante (potenciando o isolamento genético das
espécies nos troços de montante) a longo prazo, contribuindo para a inviabilidade destas populações.
Contudo, tratando-se duma linha de água de baixa ordem, a presença da albufeira do açude garante
condições para a manutenção duma maior densidade de peixes reprodutores que asseguram,
conforme confirmado pelo estudo, a dispersão das espécies para troços lóticos situados a montante
do empreendimento. Por outro lado, a presença de indivíduos de grandes dimensões indica também
a baixa pressão pesqueira a que tem sido sujeita a Ribeira de Santa Natália. Também, o fluxo
genético é facilmente propagado para jusante do açude pela suposta transposição de peixes,
nomeadamente em épocas de caudais mais elevados.

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456
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

A gestão ambiental da Fileira Florestal em Portugal

Elsa Sarmento*, Vanda Dores2

1: Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial, Universidade de Aveiro; Campus


Universitário de Santiago, 3810-193 Aveiro, Portugal
2: Direção de Serviços de Gestão de Informação e Estatística, Gabinete de Estratégia e Estudos, Ministério
da Economia e do Emprego; Av. da República 79, 1º, 1050-246 Lisboa, Portugal

e-mail: {Elsa Sarmento}, esarmento@ua.pt

Resumo. Em 2011, ano internacional das Florestas, muito se refletiu sobre a multifuncionalidade
das Florestas e a considerável variedade dos seus contributos para o meio ambiente, economia e
bem-estar social. Concluiu-se que estes precisam de ser respeitados, num equilíbrio entre a
viabilidade económica e ambiental da Floresta, mas também entre aspetos de
sustentabilidade ecológica e aceitação social. Este trabalho oferece uma definição própria de um
conjunto de indústrias de base florestal, que intitulámos “Fileira Florestal” e descreve alguns dos
desafios relacionados com a gestão ambiental deste património, nomeadamente no que diz
respeito ao uso do solo, emissões de CO2 e incêndios. As Florestas constituem-se como
sumidouros naturais de carbono líquido, contribuindo positivamente para o equilíbrio de CO2 na
atmosfera. A partir de 1960, verificou-se um crescimento muito rápido da superfície ocupada com
eucaliptal, que coincidiu com o aumento das emissões de dióxido de carbono e de partículas
suspensas atribuídas às indústrias da Fileira Florestal, que correspondem a mais de metade das
emissões da Indústria Transformadora. Portugal é o país da Europa Mediterrânica onde a média
anual da área ardida registou os maiores acréscimos nas últimas duas décadas. Este problema
vem-se materializado num défice de gestão das áreas florestais, a que se junta o progressivo
abandono de um número considerável de áreas agrícolas. O desafio central da Fileira Florestal
permanece o de utilizar de forma sustentável os seus recursos naturais, incluindo as suas
potencialidades no domínio agro-florestal, aproveitando o elevado potencial endógeno nacional
de um recurso abundante.
Palavras-chave: Gestão Florestal, Ambiente, Incêndios florestais

Abstract: In 2011, the International Year of Forests, the multifunctional role of Forests and the
considerable variety of its contributions to the environment, economy and social welfare were
widely debated. It was concluded that these need to be respected, in order to achieve an
appropriate balance between its environmental and economic viability, but also between its
ecological sustainability and social acceptance. This paper offers a specific definition of the
Forestry industry and describes some of its challenges related to environmental management
issues, particularly with regard to land use, CO2 emissions and Forest fires. Forests play a
fundamental role in carbon sequestration, contributing positively to the balance of CO2 in the
atmosphere. The rapid growth of the surface occupied with the eucalyptus, occurring since 1960,
has coincided with the increase of carbon dioxide emissions and suspended solid concentrations
assigned to the Forestry industries, which account for more than half of the total emissions
originating from the overall manufacturing sector. Portugal is the Mediterranean country with the
largest average annual increase of Forest consumed by fire during the last two decades. This
problem is related to the poor management of Forest areas and the progressive abandonment of
a considerable number of agricultural lands. The central challenge for the Portuguese forestry
remains one of assuring a sustainable use of its natural resources, including its potential in agro-
forestry, by taking full advantage of the endogenous benefits of an abundant resource.

Keywords: Forest Management, Forestry, Forest fires


E. Sarmento e V. Dores

1. INTRODUÇÃO

De acordo com os dados da Autoridade Florestal Nacional (2005/2006), a Floresta cobre cerca de
38,8% do território continental português. Tal como no resto da Europa, a Floresta portuguesa é
relativamente recente, pois foi apenas ao longo dos últimos 100 anos que ocorreu grande parte da
reflorestação, após um processo de desflorestação que se prolongou até ao século XIX. Uma parcela
substancial da área de Florestas encontra-se ainda na fase inicial da sucessão ecológica, não
estando ainda em equilíbrio com o meio ambiente, com os agentes bióticos, nem com a frequência de
ocorrência de fogos. A região mediterrânica apresenta vulnerabilidades muito próprias, quer a nível
da exposição a alterações ambientais, como o aquecimento climático, quer na sua exposição em
anos mais recentes a incêndios e pragas.

Em Portugal, a Floresta, em resultado da deliberada reflorestação ou da espontânea regeneração de


terrenos abandonados, padece há séculos da influência considerável da ação humana,
nomeadamente através da agricultura e da pastorícia, com consequências marcantes, não só a nível
da destruição, mas também da sua transformação, em resultado da sua substituição por culturas ou
por espécies arbóreas não autóctones. Tanto quanto se pode deduzir da informação compilada até
aos nossos dias, a Floresta portuguesa encontra-se, desde há muito, profundamente artificializada.
As características mais marcantes da evolução da ocupação da área florestal desde o século XIX até
aos nossos dias consistem na progressiva utilização de terrenos incultos, sem grande vocação
agrícola, e no alargamento da área de Pinheiro-bravo, que é hoje a principal espécie produtora de
madeira a nível nacional.

Este trabalho versa sobre alguns dos desafios relacionados com a gestão ambiental deste património,
nomeadamente no que diz respeito ao uso do solo, emissões de CO2 e incêndios. Oferece uma
definição própria de um conjunto de indústrias de base florestal, que intitulámos “Fileira Florestal”,
que assenta na nomenclatura estatística oficial para efeitos da sua delimitação. De acordo com a
metodologia adotada neste trabalho, a Fileira Florestal é constituída por um conjunto de atividades
económicas de base florestal: a indústria da madeira e da cortiça, do mobiliário e da pasta, do papel e
do cartão.

Na secção seguinte, introduz-se a metodologia e na secção 3 abordam-se alguns desafios ambientais


da Fileira, com destaque para uma análise sintética dos incêndios florestais. A secção 4 oferece
alguns comentários finais.

2. METODOLOGIA

Não é frequente encontrar uma delimitação precisa e consensualizada acerca do que é efetivamente
o “setor florestal”. Enquanto a montante, as suas fronteiras podem ser mais facilmente delimitadas, a
jusante não são tão evidentes. Habitualmente considera-se que integra um conjunto diversificado e
interdependente de atividades, mas também de valores e interesses, quer coletivos quer privados que
devem necessariamente ser compatibilizados. Habitualmente, o “setor florestal” engloba todos os
aspetos relativos à exploração, gestão e transformação da Floresta e compreende todos os agentes e

458
E. Sarmento e V. Dores

atividades incluídos nas atividades de produção de bens e serviços na Floresta, até à disponibilização
de produtos finais transformados para consumo. Agrupa tradicionalmente a produção florestal, a
indústria florestal ou de base florestal e os serviços que lhe estão associados, incluindo a caça, a
pesca e a silvicultura.

Este trabalho assenta numa definição própria de um conjunto de indústrias de base florestal,
intitulada neste estudo de “Fileira Florestal”. Esta definição tem por base a nomenclatura estatística
oficial para efeitos de caracterização do seu contexto macroeconómico e sectorial. De acordo com a
metodologia adotada, a Fileira Florestal é constituída por um conjunto de atividades económicas de
base florestal. As atividades económicas a integrar na contabilização estatística da Fileira são:

- Indústria da madeira, cortiça e suas obras, exceto mobiliário, obras de espartaria e cestaria (CAE 16
e 32995 na CAE Rev.3)

- Fabricação da pasta, do papel, de cartão e seus artigos (CAE 17 na CAE Rev.3)

- Fabricação de mobiliário e de colchões (CAE 31 e 9524 na CAE Rev.3).

3. DESAFIOS PARA A GESTÃO AMBIENTAL DA FILEIRA FLORESTAL

O quarto Relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (United Nations


Intergovernmental Panel on Climate Change, IPCC, 2007) - grupo científico criado pelo Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente e pela Organização Meteorológica Mundial em 1988 - veio
confirmar a evidência científica das alterações climáticas na Terra. A segunda metade do século XX
foi o período mais quente no hemisfério Norte nos últimos 1.300 anos, tendo a Europa registado um
aumento superior à média global. Nas últimas décadas tem-se verificado um aumento na frequência
de acontecimentos extremos, entre os quais secas prolongadas, que têm vindo a afetar igualmente
Portugal.

De acordo com o relatório preliminar da análise climatológica de Portugal Continental da década


2000-2009, do Instituto de Meteorologia de Portugal (2010), nas últimas 4 décadas verificou-se que “a
década 2000-2009 foi, em relação à temperatura máxima, mais quente do que a década 1990-1999,
que por sua vez já tinha sido mais quente do que a década anterior. A tendência para um progressivo
aquecimento à superfície, desde o início da década de 70 do século passado, é refletida num
aumento médio da temperatura média de 0,33ºC à década”, um ritmo de crescimento superior ao que
se verifica em termos mundiais. Tendo em conta apenas os valores de referência do país, a
temperatura média em 2009 ficou 0,9ºC acima do normal. Estas alterações climáticas provocam
vulnerabilidades acrescidas a pragas e doenças, como por exemplo o nemátodo do Pinheiro, e à
seca, tornando a Floresta mais vulnerável a incêndios florestais. Neste momento, alterações e
perturbações à Floresta resultantes de incêndios e pragas são já correlacionados com os efeitos do
aumento de temperatura.

O papel das Florestas na mitigação destes problemas está reconhecido no texto da Convenção
Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. Os sumidouros naturais de dióxido de

459
E. Sarmento e V. Dores

carbono (CO2) contribuem positivamente para o equilíbrio de CO2 na atmosfera, ao absorverem este
gás (tendo o coberto florestal um papel primordial nesta função), ou ao fixarem no solo o carbono
(como no caso das atividades agrícolas). Estes sumidouros têm um papel fundamental na redução e
estabilização da concentração de CO2 na atmosfera. As Florestas são reconhecidamente os grandes
sumidouros de carbono líquido por excelência. No entanto, o seu potencial de sequestro adicional de
carbono está bastante interdependente dos objetivos de gestão florestal.

São necessárias novas estratégias de adaptação, a fim de reduzir estes riscos e a manter em aberto
futuras opções de gestão florestal. Há já alguns sinais de progresso em relação à redução de
ameaças à diversidade biológica das Florestas europeias. No entanto, mantém-se a necessidade de
continuada preservação e conservação de espécies ameaçadas, de controle de espécies exóticas
invasoras e de combate e prevenção mais eficaz aos incêndios florestais, de forma a melhor lidar
com a fragmentação da Floresta que resulta das alterações a nível do uso da terra.

O desenvolvimento e a inovação, que têm permitido um aproveitamento mais alargado da bioenergia


e biocombustíveis de base florestal, podem fazer da Floresta um sector mais diversificado e
competitivo. No entanto, é possível que a Floresta possa perder parte substancial destes ganhos para
o sector energético.

3.1. Mobilização de carbono

Uma das principais funções associadas ao ecossistema florestal consiste na sua capacidade de
mobilização de carbono. O solo agrícola, e sobretudo a Floresta, constituem os únicos sumidouros de
CO2, que operam através da fixação de carbono que ocorre durante a função fotossintética.
O aumento do volume dos povoamentos florestais tem consequências positivas para a mobilização
de carbono, embora a efetividade da retenção esteja fortemente condicionada pela utilização dada
aos produtos extraídos da Floresta e pela própria idade dos povoamentos.
O aumento do valor dos Produtos Florestais está também ligado ao aproveitamento de Biomassa
para a Energia. O Pinheiro-bravo é a principal espécie responsável pelo volume, biomassa e carbono
armazenado.
De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (2012), depois de um aumento significativo
verificado nos anos 90, as emissões nacionais de gases com efeito de estufa revelam uma tendência
decrescente, contínua desde 2005. Em 2009, pela primeira vez desde 1998, as emissões nacionais
de gases com efeito de estufa situaram-se cerca de 1% abaixo da meta média nacional de
cumprimento no âmbito do Protocolo de Quioto. As emissões referentes a 2009 representam um
decréscimo de 4,3% em relação ao ano anterior. No entanto, Portugal continua a posicionar-se acima
da média da UE-27 no que respeita à intensidade energética.
De acordo com as Contas Satélite do Ambiente (Contas das Emissões Atmosféricas), publicadas pelo
INE, na Fileira Florestal, as emissões de dióxido de carbono e de partículas suspensas têm vindo a
aumentar, apesar do ligeiro decréscimo registado em 2008. Destaca-se a atividade da Indústria da
Pasta, do Papel e do Cartão, que é responsável por mais emissões que as da Agricultura, Silvicultura

460
E. Sarmento e V. Dores

e Pescas e por mais de metade das emissões da Indústria Transformadora.


No que diz respeito ao potencial de efeito de estufa, o contributo da Fileira Florestal permaneceu
significativamente mais reduzido que o da Agricultura, Silvicultura e Pescas e que o da Indústria
Transformadora. A partir de 2008, registam-se diminuições em todos os sectores e subsectores da
Tabela 1.
Na Fileira Florestal, o índice de acidificação aumentou em 2009, face aos seus valores históricos,
tendo este no entanto diminuído no sector da Agricultura, Silvicultura e Pescas e na Indústria
Transformadora.

Tabela 1. Potencial de efeito de estufa (PEE) e Índice de Acidificação (IA)

2005 2006 2007 2008 2009 2005 2006 2007 2008 2009

PEE (1000 t equiv. Co2 ) PA (t equiv. SO2)

Fileira Florestal (1) 2.212,6 2.236,7 2.013,0 1.897,4 1.851,7 36.706,4 37.170,3 37.350,7 36.530,6 38.575,2

Indústria da Madeira 899,5 929,5 813,0 694,4 664,3 1.962,2 1.991,8 1.962,6 1.600,7 1.715,2
Indústria da pasta, do papel e do
1.266,6 1.260,0 1.153,6 1.157,0 1.142,6 34.494,5 34.929,6 35.143,3 34.701,9 36.632,6
cartão
Indústria do Mobiliário 46,5 47,2 46,4 46,0 44,8 249,7 248,9 244,8 228,0 227,4

Agricultura, Silvicultura e Pescas 9.867,1 9.794,4 9.845,5 9.992,4 9.806,9 106.504,3 104.052,7 104.171,0 105.375,6 104.447,8

Indústria Transform adora 21.515,0 20.988,0 21.121,3 20.649,4 16.607,3 123.027,6 120.352,1 122.080,9 117.318,2 96.918,4

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do INE, Contas Satélite do Ambiente (Contas das
Emissões Atmosféricas). Nota: (1) Fileira Florestal definida como referido na secção metodológica
deste artigo.

Nas últimas décadas foi feito em Portugal um esforço considerável de melhoria da eficiência
energética, de modo a substituir formas de energia de maior intensidade de utilização de carbono por
outras mais ecológicas e a reduzir a emissão dos gases com maior potencial de aquecimento, como o
metano. Optou-se pela distribuição generalizada de Gás Natural, o que trouxe consequências
positivas na redução das emissões de CO2 e pela implementação de soluções ambientalmente mais
adequadas ao tratamento de resíduos sólidos urbanos.

De acordo com o INE (Contas Satélite do Ambiente, Contas da Energia), o consumo total de energia
da Fileira Florestal, sendo bastante mais elevado que o da Agricultura, Silvicultura e Pescas,
aumentou em 2009, devido sobretudo ao comportamento do consumo energético da Indústria da
Pasta, do Papel e do Cartão e da Indústria do Mobiliário. Este aumento não foi acompanhado pela
Indústria Transformadora, cujo consumo cai para valores inferiores aos registados entre todo o
período 2005 - 2008.
No entanto, o consumo energético de madeira e outros resíduos vegetais da Fileira Florestal (cerca
de 30% do registado na Indústria Transformadora) regista uma quebra, explicada pelo
comportamento da principal indústria consumidora de energia, a da Pasta, do Papel e do Cartão.

461
E. Sarmento e V. Dores

3.2. Incêndios florestais

Nas últimas três décadas, fatores externos e internos contribuíram para criar uma imagem de elevado
risco de investimento e exploração associada à Fileira Florestal. Portugal é um dos países da União
Europeia com mais Floresta nas mãos de privados (cerca de 90%), que se confrontam com
dificuldades acrescidas derivadas da baixa rentabilidade da exploração destas atividades. Mather e
Pereira (2006) consideram que o problema dos incêndios florestais tem sido agravado pelos
processos de modernização e pela complexidade das interações entre a demografia e o uso da terra,
verificadas sobretudo nos últimos cem anos nas áreas rurais portuguesas. Este problema tem tido
particular incidência na Floresta do Norte e do Centro, assim como nalgumas áreas serranas do Sul,
materializando-se num défice de gestão das áreas florestais, a que se vem juntar o progressivo
abandono de um número considerável de áreas agrícolas. Esta situação é uma das principais
responsáveis pela dimensão do flagelo dos incêndios, que tomou, ao longo dos últimos anos,
proporções de calamidade pública.

Os fogos florestais destroem todos os anos, em Portugal, vários milhares de hectares de


povoamentos florestais e mato, a um ritmo que não tem abrandado, apesar das inúmeras medidas
preventivas e de combate que têm vindo a ser implementadas. Segundo Catry et al. (2006), Portugal
é o país da Europa Mediterrânica onde a média anual da área ardida registou os maiores acréscimos
nas últimas duas décadas. Segundo o “Global Review of Forest Fires” (WWFii e IUCNiii, 2000), a zona
Mediterrânica sofre cerca de 50.000 incêndios por ano, que destroem cerca de 600.000 hectares.
Estima-se que o número e a área ardida sejam o dobro da verificada nos anos 70, embora se julgue
que parte deste acréscimo se deva a melhores condições de reporte e controlo estatístico dos dados
referentes a incêndios.

Para além das perdas económicas e de diversidade, os fogos produzem igualmente efeitos adversos
no ambiente, pelas grandes quantidades de dióxido de carbono que libertam. Os anos de 2003 e
2005 foram particularmente adversos, com a ocorrência de inúmeros incêndios florestais que foram
responsáveis pela emissão de diversos poluentes para a atmosfera, com efeitos nefastos na
qualidade do ar (Martins et al., 2009).

O fumo resultante da queima de biomassa é constituído por diversos produtos químicos, entre os
quais monóxido e dióxido de carbono, metano, hidrocarbonetos não metânicos, óxidos de azoto,
óxido nitroso e amoníaco. A par das emissões industriais e do sector dos transportes, as emissões de
CO2 libertadas nos fogos florestais são suscetíveis de ter impacto na contabilização nacional das
emissões de carbono. Desta forma, o cumprimento dos compromissos assumidos com o Protocolo de
Quioto passa, também, pela redução do número de fogos e da área ardida.

A mitigação destes riscos é também essencial para continuar a assegurar o fluxo de investimento
privado no sector. O Governo (Resolução do Conselho de Ministros nº 65/2006) reconheceu que os

ii
Fundo Mundial para a Natureza (World Wide Fund for Nature).
iii
União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (International Union for Conservation of
Nature)

462
E. Sarmento e V. Dores

incêndios florestais constituem uma séria ameaça à Floresta portuguesa, comprometendo a


sustentabilidade económica e social do País. Assumiu-se a defesa da Floresta como prioridade
nacional, estruturando uma intervenção concertada de curto e médio prazos, numa lógica de
otimização do valor do património coletivo e da minimização das perdas sociais. Reconhece-se que a
política de defesa da Floresta contra incêndios, dada a sua importância vital para o País, não poderia
ser implementada de forma isolada, havendo necessidade de a inserir num contexto de proteção do
ambiente, de ordenamento do território, de desenvolvimento rural e de proteção civil e na criação de
uma maior transversalidade e convergência de esforços entre todas as partes envolvidas.

O Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios (PNDFCI), aprovado em 2006, enuncia esta
estratégia e determina os objetivos, as prioridades e as intervenções a desenvolver para atingir as
metas preconizadas. O PNDFCI pretendeu contribuir, a par da restante legislação já aprovada, para a
definição de uma estratégia e a articulação com um conjunto de outras ações, com vista a fomentar a
gestão ativa da floresta, criando condições propícias para a redução progressiva dos incêndios
florestais.

A dimensão dos prejuízos dos incêndios está claramente associada à distribuição da localização dos
incêndios de maiores dimensões. Os médios e os grandes incêndios representaram mais de 85% da
área ardida entre 2003 e 2005 (Direção-Geral dos Recursos Florestais, 2006). Em 2010, o número de
fogachos (incêndios cuja área total ardida é inferior a 1 hectare) representou cerca de 82% do total de
incêndios em Portugal Continental (Tabela 2).

Tabela 2. Incêndios florestais – Continente

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Incêndios Florestais
34.109 26.947 26.576 26.219 22.165 35.824 20.444 20.316 14.930 26.136 22.026
(nº de ocorrências)
Taxa de Variação (%) -21,0 -1,4 -1,3 -15,5 61,6 -42,9 -0,6 -26,5 75,1 -15,7

Incêndios Florestais 8.802 6.898 6.521 5.323 5.069 8.192 3.499 3.677 2.591 5.862 3.970

Taxa de Variação (%) -21,6 -5,5 -18,4 -4,8 61,6 -57,3 5,1 -29,5 126,2 -32,3

Fogachos 25.307 20.049 20.055 20.896 17.096 27.632 16.945 16.639 12.339 20.274 18.056

Taxa de Variação (%) -20,8 0,0 4,2 -18,2 61,6 -38,7 -1,8 -25,8 64,3 -10,9

Superfície e tipo de superfície ardida


160 112 125 426 130 339 76 49 18 87 133
(m il hectares)
Taxa de Variação (%) -29,6 11,0 241,7 -69,4 160,6 -77,6 -35,1 -64,4 397,7 52,2

Povoamentos Florestais 69 46 65 286 56 214 36 10 5 24 46


Taxa de Variação (%) -33,5 42,9 339,0 -80,3 280,2 -83,0 -72,9 -44,4 341,3 91,2

Matos 91 67 59 140 74 125 40 40 12 63 87


Taxa de Variação (%) -26,7 -10,9 135,1 -47,2 69,5 -68,3 -0,5 -69,4 423,2 37,4

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da AFN, IFN.

De acordo com Pinho (2008), entre 2001 e 2005, os incêndios consumiram uma média anual de
213.000 hectares, particularmente nas regiões de montanha e do interior, afetando sobretudo as
regiões mais deprimidas do ponto de vista socioeconómico. Os anos de 2003 e 2005 foram

463
E. Sarmento e V. Dores

particularmente alarmantes, por motivos diferenciados. Durante os meses de Verão do ano de 2003,
os valores contabilizados de área ardida foram bastante elevados. O ano de 2005 caracterizou-se
pelo elevado número de ocorrências de incêndios. O número de ocorrências voltou a elevar-se no
Outono de 2007, pensando-se que possam ter sido causadas pelos efeitos da atividade pastoril, a fim
de renovar as pastagens (Manso et al., 2010). Os últimos dados da AFN registaram, em 2009 e 2010,
um aumento considerável da superfície ardida no Continente face aos 3 anos anteriores, sendo no
entanto inferior às registadas em 2003 e 2005, anos de elevada área ardida. São maioritariamente as
áreas de matos as destruídas pelos incêndios, com exceção dos anos 2003 e 2005, onde os
povoamentos florestais foram os que mais sofreram com este flagelo.

A comparação com 22 países da União Europeia (UE) e outros quatro extra-UE para os quais o
Eurostat possui informação, revela que Portugal tem sido o país a registar o maior número de
incêndios florestais, em 2000, 2005 e 2008 (Tabela 3). Em área ardida foi o quarto mais prejudicado
em 2008 (17.244 hectares), onde Itália, Espanha e Grécia registaram um maior prejuízo, mas em
2005 verificou a maior área ardida (338.262 hectares) e em 2000, a segunda maior (159.605 hectares
ardidos), a seguir a Espanha.

Tabela 3. Incêndios florestais e área ardida na Europa, 2000, 2005 e 2008

Número de incêndios florestais Área total ardida em hectares

2000 2005 2008 2000 2005 2008


Portugal 34.109 35.697 13.832 159.605 338.262 17.244
Espanha 24.118 25.492 11.612 188.586 188.697 39.895
Polónia 12.428 12.803 9.091 7.013 7.387 3.028
Itália 8.595 7.951 6.486 114.648 47.575 66.329
Suécia 4.708 4.573 5.420 1.552 1.562 4.280
França 4.603 4.698 2.781 24.078 22.135 6.001
Grécia 2.581 1.544 1.481 145.033 6.437 29.152
Finlândia 806 1.069 1.415 262 495 824
Alemanha 1.210 496 818 581 183 539
Letónia 915 365 700 1.341 120 364
Bulgária 1.710 241 582 57.406 1.456 5.289
Hungria 811 150 502 1.595 3.531 2.404
Lituânia 654 301 301 352 51 112
Eslováquia 824 287 182 904 524 118
Chipres 285 185 114 8.034 1.838 2.392
Roménia 688 64 91 3.607 162 373
Eslovénia : 73 74 : 280 75
Estónia : 65 71 : 87 1.280
Austria : 954 : : 74 :
Bélgica : : : : : :
Rep. Checa 1.499 619 : 375 227 :
Dinamarca : : : : : :

Croácia 7.797 3.368 : 129.883 21.407 :


Noruega : 122 : : 346 :
Suiça 49 63 46 68 41 65
Turquia 2.353 1.530 2.135 26.353 2.821 23.577

Fonte: Eurostat.

464
E. Sarmento e V. Dores

Parece não existir uma relação direta entre o número de ocorrências e a área ardida, embora as
evidências apontem para uma forte relação entre o número e ignições e os padrões da atividade
humana. O número de incêndios investigados tem aumentado consideravelmente. Em 2010, 61,4%
dos incêndios foram investigados, tendo sido possível determinar a sua causa. À exceção do ano de
2006, a maioria dos incêndios deveu-se a causas determinadas (Figura 1) designadamente a
comportamentos incendiaristas e ao uso do fogo. As causas naturais são residuais face à ação
humana sobre o meio-ambiente.

É portanto imprescindível compreender a dinâmica destes distúrbios naturais e a forma como se


relacionam com a ação humana, pois as Florestas evoluíram sob estes regimes de perturbação, aos
quais se foram adaptando. Begtsson et al. (2000) refere que para preservar e gerir a biodiversidade
nos ecossistemas humanizados das atuais Florestas europeias, são indispensáveis boas práticas de
gestão e intervenção.

Causas determinadas
Causas indeterminadas
9.000 Uso do Fogo Incendiarismo
5.000
8.000
7.000
4.000
6.000
5.000 3.000

4.000 Nº

3.000 2.000

2.000
1.000
1.000
0 0
2006 2007 2008 2009 2010 2006 2007 2008 2009 2010

Figura 1 - Ocorrências de Incêndios florestais investigadas com causa determinada, por tipo
de causa, 2006 – 2010, Continente

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da AFN, IFN.

O trabalho de Pinho (2008) revela a existência de grupos de freguesias com determinadas


características regionais, “onde se verificam prováveis tendências de causalidade de ocorrências de
incêndios e de propagação dos mesmos” (pp.36).

O número de ocorrências incendiárias obedece a um comportamento sazonal, aumentando a partir


de janeiro e atingindo o seu auge em agosto, no qual a área ardida é desproporcionalmente elevada,
nomeadamente a correspondente a matos, decrescendo posteriormente entre setembro e dezembro
(Figura 2).

465
E. Sarmento e V. Dores

Figura 2. Ocorrências mensais de Incêndios florestais e área ardida, 2010 e média 2000 –
2009.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da AFN, IFN.

Não só o sequestro e a emissão de CO2 para a atmosfera, mas também aspetos da ecologia florestal
relacionados com os incêndios, como a carga combustível dos povoamentos florestais e o potencial
de propagação de fogos, têm uma valiosa base de sustentação na tipificação da Floresta portuguesa.
Verifica-se naturalmente que as espécies mais afetadas pelos incêndios são aquelas cuja proliferação
e dispersão regional é a mais abundante. As chamas têm consumido particularmente o Pinheiro-
bravo (44% das árvores consumidas pelas chamas em 2010), o Eucalipto (34%) e Carvalhos (14%)
(Figura 3).

Figura 3. Repartição da área ardida pelas espécies mais afetadas

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da AFN, IFN.


Nota: Inclui outras espécies: sobreiro, azinheiro, pinheiro manso, castanheiro, outras resinosas,
outras folhosas e ainda outras espécies não determinadas/identificadas.

466
E. Sarmento e V. Dores

4. COMENTÁRIOS FINAIS

O território português apresenta um potencial considerável para a exploração florestal. A partir de


1960, observa-se sobretudo um crescimento muito rápido da superfície ocupada com eucaliptal, em
relação direta com as necessidades de matéria-prima da indústria da celulose e pasta de papel. Esta
tem sido a responsável pelo aumento das emissões de dióxido de carbono e de partículas suspensas
atribuídas às indústrias da Fileira Florestal, sendo estas emissões superiores ao sector da Agricultura,
Silvicultura e Pescas e correspondendo a mais de metade das emissões da Indústria
Transformadora.

Nas últimas três décadas, fatores externos e internos contribuíram para criar uma imagem de elevado
risco de investimento e exploração associada à Fileira Florestal. Portugal é um dos países da União
Europeia com mais Floresta nas mãos de privados, que se confrontam com dificuldades derivadas da
baixa rentabilidade destas atividades. Este problema tem-se materializado num défice de gestão das
áreas florestais, a que se vem juntar o progressivo abandono de um número considerável de áreas
agrícolas. Esta situação é uma das principais responsáveis pela dimensão do flagelo dos incêndios,
que tomou, ao longo dos últimos anos, proporções de calamidade pública. Os fogos florestais
destroem todos os anos, em Portugal, vários milhares de hectares de povoamentos florestais e mato,
a um ritmo que não tem abrandado, apesar das inúmeras medidas preventivas e de combate que têm
vindo a ser implementadas. Portugal é o país da Europa Mediterrânica onde a média anual da área
ardida registou os maiores acréscimos nas últimas duas décadas. Estima-se que o número e a área
ardida sejam sensivelmente o dobro da verificada nos anos 70. Uma comparação com 26 países
europeus, revela que em Portugal se registou o maior número de incêndios florestais em 2000, 2005
e 2008, sendo neste último ano, o quarto país mais afetado em área ardida.

Manifestamente, a política de defesa da Floresta contra incêndios não pode ser implementada de
forma isolada. Há que a inserir num contexto de proteção ambiental, de ordenamento do território, de
desenvolvimento rural e de proteção civil e de criação de uma maior transversalidade e convergência
de esforços entre todos os agentes envolvidos. São necessárias novas estratégias de adaptação, a
fim de reduzir estes riscos e a manter em aberto novas opções de gestão florestal.

Há já alguns sinais de progresso em relação à redução de ameaças à diversidade biológica das


Florestas europeias. No entanto, mantém-se a necessidade de continuada preservação e
conservação de espécies ameaçadas, de controlo de espécies exóticas invasoras e de combate e
prevenção mais eficaz aos incêndios florestais, de forma a melhor lidar com a fragmentação da
Floresta que resulta das alterações a nível do uso da terra. A mitigação destes riscos é também
essencial para continuar a assegurar um fluxo de investimento privado na Fileira.

O desafio central da Fileira Florestal permanece o de utilizar de forma sustentável os seus recursos
naturais, incluindo as suas potencialidades no domínio agro-florestal, aproveitando o potencial
endógeno nacional de um recurso abundante. Portugal encontra na Floresta e nos seus espaços
florestais uma prioridade estratégia e um projecto mobilizador, capaz de fornecer um forte contributo
ao desenvolvimento rural e de suportar uma indústria transformadora, que se pretende competitiva e
moderna, num contexto de forte concorrência e inovação internacional.

467
E. Sarmento e V. Dores

REFERÊNCIAS

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468
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas ­ Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Influence of pre-steaming treatment on the initial moisture content, moisture


gradient and drying rate of Eucalyptus grandis

Elias Taylor Durgante Severo1*, Fred Willians Calonego2, Aline Fernanda de Brito3, Cinthia
Dias Rocha4, Melany Maria Alonso Pelozzi5 e Paula Lúcia Martins Rodrigues6

1 a 6: FCA/UNESP-Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Caixa Postal 237,


Botucatu, São Paulo, Brasil.

E-mail: Elias Taylor Durgante Severo, severo@fca.unesp.br

Abstract. The aim of this study was to evaluate the effect of pre-steaming on the initial moisture
content, moisture gradient, and drying rate in Eucalyptus grandis wood. For this purpose half
boards with 30mm x 75 mm x 2600 mm (thickness, width and length, respectively), were steamed
at 94°C and 100% relative humidity for 3 hour after 1 hour of heating-up and the other part was
kept as control. The boards were dried in a drying electric oven with fan at 55ºC. The results
showed that the steaming prior to drying of wood caused: (1) significant reduction of 9.5% in the
initial moisture content; (2) significant increase of 8.2% in the drying rate, resulting in a drying rate
of 0.0072560; (3) significant decrease of 23.5% and 16.9% in the moisture gradient between the
outer layer and the center of boards and between the outer and intermediate layers of boards,
respectively.

Keywords: Eucalyptus grandis; steaming prior to drying; initial moisture content; drying rate;
moisture gradient.
E. T. D. Severo, F. W. Calonego, A. F. de Brito, C. D. Rocha, M. M. A. Pelozzi e P. L. M. Rodrigues

1. INTRODUCTION

The use of Eucalyptus has caused many frustrations in the timber industry due to the sawn and drying
defects, leading to considerable loss of raw materials and consequent economic losses. The main
frustrations regarding the use of this wood specie, particularly as lumber, are due primarily to their
intrinsic characteristics such as: growth stress, high shrinkage, slow drying, high moisture gradient,
surface cracks, and collapse during drying (CALONEGO; SEVERO, 2007; CALONEGO et al., 2010;
SEVERO et al. 2010).
During all phases of wood processing, the drying process is the best way to add value to the product.
Drying eucalypts woods is considered to be slow and difficult because of their low permeability, which
is responsible for their sharp moisture gradient and the consequential formation of drying stresses.
During drying, the superficial layers of boards are under tensile stress, while the center is under
compression, causing superficial and end-crack and warping (VERMAAS, 1995; SEVERO, 2000;
CALONEGO; SEVERO, 2004, 2007).
Steaming wood is a technique that may solve the drying problems, and it is applied for a variety of
other purposes, including to change color, reduce growth stress levels, improve dimensional stability,
increase permeability, reduce the initial moisture content, increase drying rate, and reduce the
moisture gradient and drying defects (KOLLMANN; CÔTE, 1968; HILDEBRAND, 1970; MACKAY,
1971; SIMPSON, 1975, 1976; WEIK et al., 1984; CHAFE, 1990; CALONEGO; SEVERO, 2004, 2007;
ZHANG; CAI, 2008; CALONEGO et al., 2010; SEVERO et al., 2010).
The steaming technique provided a moisture content loss during the heating process by increasing the
temperature and the expansion of water bubbles inside the wood. Later, during cooling, more moisture
was lost by evaporation (ELLWOOD; ERICKSON, 1962). The steamed wood has partially hydrolyzed
the pit membrane, reducing pit aspiration and, consequently, increasing its permeability (NICHOLAS;
THOMAS, 1968; KININMONTH, 1971; MATSUMURA et al., 1999; ZHANG; CAI, 2008).
Several hypotheses have been proposed to explain the mechanism by which the drying rate increases
in steamed wood. The explanations include (1) an increase in the permeability of the warts layer and
accessibility to the S3 layer from the cell wall, (2) acid hydrolysis of the chemical components from the
cell walls, and (3) the mobilization and partial removal of extractives during steaming allow greater
access of water molecules to cell walls resulting in more rapid radial and tangential diffusion during
wood drying (KININMONTH, 1971; MACKAY, 1971; SALUD, 1976; ALEXIOU et al., 1990;
MATSUMURA et al., 1999; ZHANG; CAI, 2008).
Steaming of Hem-fir wood at 100ºC for 5–20 h significantly reduced the moisture gradient with
increasing thermal treatment time (AVRAMIDIS; OLIVEIRA, 1993). The use of pre-steaming on E.
pilularis wood caused a 12.2% reduction in the moisture gradient between the center and the surface
of the boards during the first 8 days of drying, and a reduction in the moisture gradient of 5.2%
throughout the drying process (ALEXIOU et al., 1990).
Thus, the objective of this study was to evaluate the effect of pré-steaming on the initial moisture
content, the moisture gradient, and the drying rate of E. grandis wood.

470
E. T. D. Severo, F. W. Calonego, A. F. de Brito, C. D. Rocha, M. M. A. Pelozzi e P. L. M. Rodrigues

2. MATERIAL AND METHODS

2.1. Collection of material


In this study, we utilized E. grandis wood with 9-year-old from Ariona Farm, belonging to the Company
Suzano Pulp and Paper, Itatinga, SP, Brazil. The logs were sawing in boards that were cross-cut
sawed and surfaced on both faces.
The boards were cut with dimensions of 30 mm × 75 mm × 2600 mm and, subsequently, were divided
in half to obtain two-paired test samples with approximately 1.0 m long. The boards’ cross-sections
were sealed with a synthetic resin to avoid moisture loss by axial direction of the pieces.
Part of the paired boards was kept in its original condition (untreated board), and the other half was
reserved for steaming prior to drying (steamed board). The steaming treatment was conducted under
saturated steam at 94°C for 3 h after 1 h of heating-up as recommend by Campbell (1961), Simpson
(1976), and Alexiou et al. (1990).

2.2. Drying process of wood


Both the untreated and the steamed boards were marked into equal samples, each containing the
sections “x” and “y” and a zone called discard with lengths of 10, 15, and 25 mm, respectively, as
shown in Figure 1.
Untreated and steamed boards were dried at 55ºC in an electric oven with fan. Periodically, the oven
was discharged to remove the “x” and “y” sections. Soon after the removal of these sections, the
boards’ cross-sections were sealed and replaced in the oven.

Figure 1. Outer layer for obtaining the sections and “x” and “y” sub-samples from paired boards.

471
E. T. D. Severo, F. W. Calonego, A. F. de Brito, C. D. Rocha, M. M. A. Pelozzi e P. L. M. Rodrigues

2.3 Determination of boards’ initial moisture content and drying rate


Initial moisture content was determined from first “y” section removed of untreated and steamed
boards before drying in an electric oven, as shown in Figure 1.
In pre-determinate times, the weights of the “y” sections from untreated and steamed boards were
determined on a balance with 0.01 g accuracy and were then dried in a electric oven at 1032ºC to
determine their oven-dry weight. Thus, it was possible to determine the moisture content of all “y”
sections removed during the drying process.
As the drying rate refers to the percentage of evaporated water in a given period, it is represented by
the angular value from the linear regression curve, adjusted to represent the wood moisture content as
a function of its drying time, as shown in equation 1:

ln u  b  A  t (Eq. 1)
Where: lnu - logarithm of the wood moisture content, %; b - coefficient from the linear regression that
represents the wood drying curve; A - angular coefficient from the linear regression that represents the
drying rate; t - drying time, hours.

2.4. Determination of boards’ moisture gradient


To determine the moisture gradient, the weights of the “x” sections from untreated and steamed
boards were initially verified within an accuracy of 0.01 g and, subsequently, they were laminated into
five equal parts in the thickness direction, as shown in Figure 1.
The moisture content from wooden laminas was determined based on the oven-dry weight. The
average moisture content was calculated across laminates equidistant from the center of each section.
Thus, ‘‘reference 1” indicates the average of wooden laminas A and E, ‘‘reference 2” indicates the
average of wooden laminas B and D, and ‘‘reference 3” indicates wooden lamina C. The moisture
gradient was calculated between references 3 and 1 and also between 3 and 2.
As the sections “x” from steamed boards dried faster than the untreated boards, and considering that
the comparisons between moisture gradients can only be performed at the same moisture content, it
was necessary to identify and compare sections with the same moisture content or around 1.5%
variation between untreated and steamed boards.
The treatments were arranged in which the factor was steaming (two levels, with and without
steaming). To determine the significance of differences between means, we used paired t tests at a
probability of 95%.

3. RESULTS AND DISCUSSION

3.1. Effect of steaming on the initial moisture content


Table 1 shows the average values for the initial moisture content to untreated and steamed boards
from E. grandis.

472
E. T. D. Severo, F. W. Calonego, A. F. de Brito, C. D. Rocha, M. M. A. Pelozzi e P. L. M. Rodrigues

Table 1. Effect of pre-steaming on the initial moisture content of E. grandis wood.

Untreated Pre-steamed
Reduction
Variable
S X N S X N (%)
Initial Moisture
15 86,3 21 15,6 78,1 21 9,5*
Content (%)
where: X - average value; S - standard deviation; N - number of replicates; * - significant difference at
5% level of significance by t-test paired.

As can be seen in Table 1, the initial moisture content in untreated boards was higher than in steamed
boards. Verify that the steamed caused a significant average decrease in the initial moisture content of
9.5%.
This reduction in moisture content is due to the drying process that occurs in the wood, even in
environments saturated with humidity when the timber is subjected to steaming at atmospheric
pressure (KOLLMANN; CÔTE, 1968; HILDEBRAND, 1970; CHAFE, 1990). According to Ellwood and
Erickson (1962), the decrease of moisture content from the wood occurs in three phases: (1) in the
temperature increase during the heating period, (2) when the timber reaches the boiling point of water
due to the expansion of air bubbles, and (3) during the wood cooling at atmosphere temperature.
These results are similar to those obtained by Campbell (1961) and Chafe (1990), who concluded that
the pre-steaming on Eucalyptus provided reductions in the initial moisture content from 5 to 20% in
function to the kind of wood.

3.3. Effect of steaming on the moisture gradient


Table 2 shows the average values for the moisture gradient from untreated and steamed boards of E.
grandis
It is observed that the steamed boards from E. grandis presented the lower moisture gradient than
untreated boards. This behavior applies to both between the outer layers and the center of the boards
(between references 3 and 1) as between the intermediate layers and the center of the board
(between references 3 and 2).

Table 2. Effect of pre-steaming on the moisture gradient of E. grandis wood.

Untreated Pre-steamed
Reduction
References Moisture gradient Moisture gradient
N N (%)
(%) (%)
3-1 6 18.8 6 14.4 23.5*
3-2 6 5.9 6 4.9 16.9*
Where N – number of replications; * – significant difference at 5% significance level by t-test paired;
reference 3-1 – moisture gradient between the outer layers and the center of the sample; reference 3-
2 – moisture gradient between the intermediate layers and the center of the sample.

473
E. T. D. Severo, F. W. Calonego, A. F. de Brito, C. D. Rocha, M. M. A. Pelozzi e P. L. M. Rodrigues

There was a significant reduction in the moisture gradient between the outer layers and center of the
boards (between references 3 and 1) of 23.5% with steaming. The same thermal treatment caused
significant reductions of 16.9% in the moisture gradient between the intermediate layers and the
center of the boards (between references 3 and 2). Similar results were reported by Campbell (1961),
Ellwood and Erickson (1962), Simpson (1976), Avramidis and Oliveira (1993), and Guoxing et al.
(2003), who studied the effect of steaming on the wood of other species.
The increase in the diffusion coefficient from steamed wood appears to be primarily responsible for
reducing the moisture gradient (KININMONTH, 1971; ALEXIOU et al., 1990). These results are similar
with those reported by Mackay (1971), who found an increase in the diffusion coefficient between 7
and 12% in steamed boards from E. regnans.

3.2. Effect of steaming on the drying rate


Table 3 shows the average values for the drying rates and the determination coefficients from the
regression models adjusted to determine the moisture content to untreated and steamed boards as a
function of drying time of E. grandis in electric oven with fan.

Table 3. Effect of pre-steaming on the drying rate of E. grandis wood.


Untreated Pre-steamed Increase of
2 2
N IMC FMC R IMC FMC R the drying
Drying rate Drying rate
(%) (%) (%) (%) (%) (%) rate (%)
1 103.1 5.4 0.007222 98.7 101.6 4.7 0.008064 97.6 10.5
2 88.2 5.7 0.007246 98.3 73.9 4.9 0.007478 98.6 2.1
3 76.4 5.4 0.006371 98.6 68.2 5.4 0.007045 96.0 9.6
4 75.9 7.2 0.005979 98.2 68.5 6.3 0.006468 97.0 7.6
Mean 0.006705* 0.007256* 8.2
Where N – number of replications; IMC – initial moisture content; FMC – final moisture content; * –
significant difference at 5% level of significance by t-test paired.

It is can seen, in Table 3, that the drying curves of both treatments were adjusted perfectly to the
regression model utilized. The linear regression equations that represent original data had
determination coefficients (R2) between 96 and 98.7% and, therefore, could be used to estimate the
drying rate from E. grandis boards.
It is verified, also in Table 3, that the drying rate in steamed boards was higher than in untreated
boards. The thermal treatment with steam caused a significant increase in the drying rate of 8.2% for
E. grandis boards. Similar behavior was showed by Simpson (1975), Alexiou et al. (1990) and
Matsumura et al. (1999), who steamed other kinds of wood.

474
E. T. D. Severo, F. W. Calonego, A. F. de Brito, C. D. Rocha, M. M. A. Pelozzi e P. L. M. Rodrigues

4. CONCLUSIONS
Based on the results, we observed the following effects of thermal treatment with steam on E. grandis
boards: (1) the initial moisture content were significantly reduced by 9.5%; (2) the drying rate was
significantly increased by 8.2%; (3) steamed boards in an oven showed drying rate of 0.007256; (4)
the moisture gradient between the outer layer and the center of boards was significantly decreased by
23.5% and between the outer and intermediate layers was decreased by 16.9%.

ACKNOWLEDGMENTS: The authors thank the Research Assistance Foundation from São Paulo
(FAPESP), Brazil, for financial support of this research through grant numbers 00/02165-7, 02/05028-
6 and 09/03835-0

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476
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Avaliação do stock de CO2 e previsão da respetiva evolução num horizonte


de 30 anos na Tapada das Roças e na Tapada do Mouco

Paula Soares1*, João Pedro Pina2, Margarida Tomé1 e Nuno Oliveira3

1: Centro de Estudos Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Tapada
da Ajuda, 1349-017 Lisboa
2: Cistus, Floresta e Ambiente, Lda, R. Dom Tomás de Almeida, 9, 2510-090 Óbidos
3: Parques de Sintra - Monte da Lua, Parque de Monserrate, 2710-405 Sintra

e-mail: {Autor para correspondência}, paulasoares@isa.utl.pt

Resumo: Neste trabalho avaliou-se o stock de CO2 para um momento base (maio de 2011) e
estimou-se a respetiva evolução num horizonte de 30 anos para 20 ha de floresta localizados nas
Tapadas das Roças e do Mouco sob gestão da Parques de Sintra – Monte da Lua, em Sintra.
Com base na cartografia e trabalho de campo identificaram-se 9 estratos e marcaram-se 26
parcelas de inventário. Nestas parcelas mediram-se os diâmetros cruzados e a altura total de
cada árvore com diâmetro superior a 4,5 cm e, abaixo deste valor, contabilizou-se o número de
árvores por espécie e por estrato tendo sido atribuídos valores médios de diâmetro e de altura.
Recolheram-se amostras de folhada e de solo. Para caracterizar o momento base calculou-se a
biomassa total da componente arbórea, a biomassa do horizonte orgânico do solo (folhada) e o
teor de carbono no solo. Em dezembro de 2011 plantaram-se várias espécies de árvores
consideradas adaptadas à área de estudo. A estimativa da evolução do stock de CO2 foi efetuada
para os períodos 5, 15 e 30 anos considerando dois cenários: 1 - evolução do stock de CO2 para
a situação que caracteriza o momento base; 2 - evolução do stock de CO2 para a situação que
caracteriza o momento base mas com a remoção de eucaliptos, pinheiros bravos e acácias e
com a inclusão das árvores plantadas em dezembro. Assumiu-se que não houve ingresso de
acácias porque foram eliminadas por pulverização foliar. Assumiu-se que o stock de CO2 das
componentes horizonte orgânico do solo (folhada) e solo foi constante no horizonte 30 anos.
Neste trabalho apresentamos os resultados deste estudo.
Palavras-chave: floresta mista, stock carbono, fixação carbono

Abstract: In this work, and in 20 ha of forest located in Tapada das Roças and Tapada do Mouco,
areas managed by Parques de Sintra – Monte da Lua, the CO2 stock of the baseline (may 2011)
was estimated as well as the CO2 evolution for a 30 years period. Based on maps and field work,
9 strata were identified and 26 inventory plots were defined. Dbh, total height of trees with a dbh
larger than 4,5 cm and, for those with a dbh smaller than 4,5 cm, number of trees per species and
strata were counted and mean dbh and height calculated. Litter and soil samples were collected.
To characterize the baseline, total aboveground biomass, litter biomass and soil carbon were
estimated. In December 2011, several adapted tree species were planted. Estimates of CO2 stock
during 30 years – 5, 15 and 30 years – were done considering 2 scenarios: (1) the situation
characterized in the baseline; (2) the situation characterized in the baseline but considering the
adapted tree species planted in December 2011 and the cut of eucalyptus, maritime pine and
acacia genus. Ingrowth of acacias was not considered because natural regeneration was
controlled by herbicides. Litter and soil CO2 stock were assumed constant during the 30 years
period. Results are presented in this work.

Keywords: mixed forest, carbon stock, carbon fixation


Paula Soares, João Pedro Pina, Margarida Tomé e Nuno Oliveira

1. INTRODUÇÃO

Neste trablho pretende-se estimar o stock de CO2 em 20 hectares localizados na Tapada das Roças
e na Tapada do Mouco, considerando maio de 2011 como situação base.
De acordo com as guidelines do LULUCF Land Use, Land-Use Change and Forestry (IPCC, 2003)
podem usar-se dois métodos baseados em inventários para estimar as emissões/remoções de
carbono na floresta:
1. método default: as emissões/remoções de carbono são avaliadas pela diferença entre o
crescimento e as perdas de biomassa (associadas principalmente a cortes e fogos); a incerteza do
método default está associada principalmente às estimativas do crescimento da biomassa, sempre
difíceis de obter, assim como às estimativas das correspondentes perdas;
2. método stock-change: as emissões/remoções de carbono são avaliadas pela diferença entre os
stocks de carbono em dois inventários sucessivos; a incerteza está principalmente relacionada com
os erros de amostragem associados a cada um dos inventários florestais.
Neste trabalho optou-se pelo método stock-change, sendo a situação de referência caracterizada
com base em inventário florestal e a monitorização (repetição do inventário ao longo do período em
análise) substituída por estimativas realizadas com os modelos de crescimento disponíveis para as
diferentes espécies florestais presentes nas Tapadas ou, na ausência de modelo para as espécies,
com modelos disponíveis para uma espécie com uma taxa de crescimento semelhante.

2. CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO NO ANO BASE

O inventário na Tapada das Roças e na Tapada do Mouco decorreu na primavera de 2011. Na figura
1 identificam-se os estratos considerados e localizam-se as 26 parcelas de inventário.

Figura 1. Estratos considerados e localização das parcelas de inventário na Tapada das Roças e na
Tapada do Mouco.

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Paula Soares, João Pedro Pina, Margarida Tomé e Nuno Oliveira

Na tabela 1 listam-se as espécies inventariadas nos vários estratos na Tapada das Roças e na
Tapada do Mouco indicando, ao nível da árvore, os valores mínimos e máximos de diâmetro medido
a 1,30 m de altura e de altura total. No inventário, as medições foram efetuadas ao nível da árvore
tendo sido medidos os diâmetros cruzados e a altura total de cada árvore com diâmetro superior a 4,5
cm (sendo considerada “árvore”, indivíduo com altura igual ou superior a 2,0 m). Abaixo dos 4,5 cm,
contabilizou-se o número de árvores por espécie e por estrato tendo sido atribuídos valores médios
de diâmetro e de altura.

Tabela 1. Listagem e caracterização das espécies inventariadas.

espécie nome nº d (cm) h (m)


comum árv. (min-máx) (min-máx)

TAPADA DAS ROÇAS


Acacia spp. acácia 12 7,1 – 35,6 9,1 – 19,3
Arbutus unedo medronheiro 5 4,6 – 12,2 3,7 – 6,2
Castanea sativa castanheiro 5 7,9 – 11,5 8,6 – 13,1
Cupressus spp. cipreste 12 5,4 – 28,7 4,0 – 14,5
Eucalyptus spp. eucalipto 449 4,6 – 44,3 3,5 – 32,3
Pinus pinaster pinheiro bravo 300 4,7 – 46,7 5,1 – 21,6
Pittosporum undulatum incenso 118 4,2 – 23,0 4,7 – 17,8
Quercus spp. carvalho 9 5,5 – 19,7 3,0 – 13,8
Quercus suber sobreiro 10 5,1 – 41,8 2,9 – 13,8

TAPADA DO MOUCO
Acacia spp. acácia 8 5,5 – 69,9 5,9 – 27,7
Araucaria sp. araucária 1 31,8 14,0
Arbutus unedo medronheiro 18 4,6 – 8,2 3,4 – 6,2
Cupressus spp. cipreste 1 21,5 12,6
Erica arborea urze 7 4,4 – 5,7 3,6 – 5,2
Eucalyptus spp. eucalipto 264 4,6 – 62,2 3,0 – 36,2
Pinus pinaster pinheiro bravo 187 5,0 – 42,9 4,0 – 21,3
Pinus pinea pinheiro manso 28 5,2 – 14,3 3,1 – 6,6
Platanus spp. plátano 1 39,6 22,0
Quercus spp. carvalho 4 5,7 – 46,2 4,5 – 17,2
Quercus suber sobreiro 2 5,7 – 9,1 4,3 – 6,0
Robinia pseudoacacia folhado 3 9,4 – 18,6 8,0 – 13,9

Para avaliar o stock de CO2 em maio de 2011 calculou-se a biomassa total da componente arbórea, a
biomassa do horizonte orgânico do solo (folhada) e o teor de carbono no solo. Por biomassa total da
componente arbórea entendeu-se a soma da biomassa aérea com a biomassa das raízes. Os valores
foram calculados ao nível da árvore. Para estimar a biomassa total de cada árvore recorreu-se à

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informação publicada tendo sido selecionada a mais adequada e atual. O documento base foi o
relatório do inventário florestal nacional 2005-2006 (TOMÉ et al., 2007). Na inexistência de equações
para determinadas espécies, as biomassas foram estimadas com equações de espécies com forma e
crescimento semelhantes. A biomassa ao nível da parcela foi calculada pelo somatório da biomassa
das árvores da parcela, posteriormente reduzida ao hectare. A avaliação ao nível do estrato foi
baseada no valor médio de biomassa por hectare, multiplicado pela área total do estrato.
Determinou-se também a biomassa (seca) da folhada de cada parcela de inventário a qual foi,
posteriormente, reduzida ao hectare. A avaliação, ao nível do estrato, foi baseada no valor médio de
biomassa por hectare, multiplicado pela área total do estrato.
Para calcular os valores de carbono para a componente arbórea e para o horizonte orgânico do solo
(folhada) multiplicaram-se os valores de biomassa por 0,5 (NABUURS et al., 2003) e os valores de
CO2 resultaram da multiplicação dos valores de carbono por 3,67.
Para determinar os valores de carbono no solo fez-se, em cada parcela de inventário, 4 recolhas de
solo na camada 0-30 cm. Desse compósito retirou-se uma amostra. A avaliação, ao nível do estrato,
foi baseada no valor médio de carbono por hectare, multiplicado pela área total do estrato.

3. ESTRATO CORRESPONDENTE À PLANTAÇÃO EFETUADA EM DEZEMBRO DE 2011

Para além dos estratos inventariados foi considerado um outro estrato que corresponde a uma
arborização efetuada em dezembro de 2011 com várias espécies de árvores: Arbutus unedo,
Castanea sativa, Corylus avellana, Crataegus monogyna, Frangula alnus, Fraxinus angustifolia, Ilex
aquifolium, Juglans nigra, Laurus nobilis, Malus sylvestris, Prunus avium, Prunus lusitanica, Pyrus
bourgaeana, Quercus pyrenaica, Quercus robur, Quercus suber, Salix atrocinerea, Sambucus nigra e
Sorbus domestica. Estas árvores foram plantadas a compasso 4x4 por toda a área e foram
distribuídas em várias combinações de espécies.
Este estrato não foi considerado na caracterização da baseline uma vez que a plantação foi posterior
à realização do inventário.

4. EVOLUÇÃO DO STOCK DE CO2 NUM HORIZONTE DE 30 ANOS

A previsão da evolução do stock de CO2 foi efetuada para os períodos 5 anos (ano 2016), 15 anos
(ano 2026) e 30 anos (ano 2041). Foram considerados dois cenários:
Cenário 1:
Evolução do stock de CO2 num horizonte de 30 anos para a situação que caracteriza a baseline.
Assumiu-se que o stock de CO2 das componentes horizonte orgânico do solo (folhada) e solo foi
constante no horizonte 30 anos.
Cenário 2:
Evolução do stock de CO2 num horizonte de 30 anos para a situação que caracteriza a baseline mas
com a remoção de eucaliptos, pinheiros bravos e acácias de acordo com o plano de gestão definido
para a área e com a inclusão das árvores plantadas em dezembro de 2011. Assumiu-se que não
houve ingresso de acácias porque a regeneração natural e a rebentação foram controladas por
pulverização foliar. Assumiu-se que o stock de CO2 das componentes horizonte orgânico do solo

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(folhada) e solo foi constante no horizonte 30 anos.

Utilizaram-se equações de crescimento em diâmetro independentes da idade. A inexistência de


equações em Portugal para algumas das espécies inventariadas e para as espécies plantadas nas
Tapadas fez com que se optasse pelas equações apresentadas no trabalho de TRASOBARES et al.
(2007), para o nordeste da Península Ibérica. Efetuado o crescimento em diâmetro de cada árvore,
aplicou-se uma equação hipsométrica para estimar a altura total. Utilizaram-se as equações
hipsométricas desenvolvidas por TOMÉ et al. (2007) para árvores isoladas.
Assumiu-se que todas as árvores plantadas em dezembro de 2011 tinham, 5 anos mais tarde (ano
2016), um diâmetro e uma altura variáveis com a espécie. O diâmetro, em 2016, foi definido com
base na observação de dados de inventário das bases de dados do Grupo Forchange (Centro de
Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia); para as espécies em relação às quais não
existiam referências atribuíram-se valores de diâmetro de espécies com forma e crescimento
semelhantes. A altura, em 2016, foi calculada tendo por base o valor de diâmetro em 2016, com as
relações hipsométricas já referidas. A cada espécie foi atribuído um valor máximo de altura definido
com base no guia Los Árboles y Arbustos de la Península Ibérica y Islas Baleares (GONZÁLEZ,
2006).
Calculados os pares de valores diâmetro/altura da árvore aplicaram-se equações de estimação da
biomassa total (NABUURS et al., 2003, ZIANIs et al., 2005, MONTERO et al., 2005, TOMÉ et al.,
2007). Para estimar a biomassa total de cada árvore do estrato correspondente à plantação de
dezembro de 2011, recorreu-se à informação publicada tendo sido selecionada a mais adequada e
atual. O documento base foi o trabalho de TOMÉ et al. (2007). Na inexistência de equações para
determinadas espécies, as biomassas foram estimadas com equações de espécies com forma e taxa
de crescimento semelhantes.
As estimativas apresentadas basearam-se nos seguintes pressupostos:
- a não existência de mortalidade natural – o número de árvores manteve-se em períodos em que não
tenham existido cortes (desbastes e/ou cortes finais);
- a eliminação total das acácias no ano 2021;
- a redução da densidade dos pinheiros bravos e eucaliptos em dois momentos: 2021 e 2031;
- a não influência no crescimento das árvores jovens das árvores já existentes no momento da
plantação efetuada em 2011;
- que todas as árvores plantadas em 2011 tinham, em 2016, valores de diâmetro e de altura;
- a utilização de equações de estimação da biomassa e da altura total e de equações de crescimento
em diâmetro ao nível da árvore;
- a utilização de equações específicas para as espécies presentes e, na ausência dessas equações,
a de espécies com taxa de crescimento e forma idênticas.

5. RESULTADOS

Na tabela 2 apresentam-se os valores de biomassa total por hectare e por estrato bem como os

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Paula Soares, João Pedro Pina, Margarida Tomé e Nuno Oliveira

valores de CO2 por estrato para o ano 2011 – situação inicial.


Nas tabelas 3 e 4 apresentam-se os valores de biomassa total por hectare e por estrato bem como os
valores de CO2 por estrato para os anos 2016, 2026 e 2041 para os cenários 1 e 2.
Nos cerca de 20 ha considerados na Tapada das Roças e na Tapada do Mouco partiu-se de uma
situação base (maio de 2011) de 15491,19 Mg de CO2 estimando-se para o ano 2041 (período de
projeção de 30 anos) 19005,89 Mg de CO2, correspondendo a uma retenção de 3514,7 Mg de CO2.

Tabela 2. Valores de biomassa total por hectare e por estrato e de CO2 por estrato para o ano 2011 -
baseline.

estrato área biomassa total biomassa total CO2


(ha) (Mg/ha) (Mg) (Mg)
EcAc** 0,175 251,39 43,99 80,73
EcEc 9,873 251,39 2481,97 4554,42
EcPb 0,749 224,10 167,85 308,01
EcPt 1,528 283,58 433,32 795,14
PbEc 0,273 275,96 75,34 138,24
PbPb 5,626 178,06 1001,77 1838,24
PbPt 0,225 251,47 56,58 103,83
PtEc 0,397 119,36 47,39 86,96
misto 0,268 95,95 25,71 47,19
folhada 19,114* 35,93 680,56 1248,83
solo 19,114* - - 6289,60
total: 15491,19
Ac, Acacia sp.; Pb, Pinus pinaster; Pt, Pittosporum sp.; Ec, Eucalyptus globulus; *
não foi considerada a área do estrato clareira; ** este estrato não foi inventariado
por ser inacessível – foi-lhe atribuído o valor de biomassa por hectare do estrato
EcEc.

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Tabela 3. Valores de biomassa total por ha e por estrato e de CO2 por estrato - cenário 1 (projeção da
baseline).
estrato área biomassa total biomassa total CO2
(ha) (Mg/ha) (Mg) (Mg)
período de projeção de 5 anos: ano 2016
EcAc* 0,175 282,66 49,47 97.77
EcEc 9,873 282,66 2790,68 5120.90
EcPb 0,749 271,55 203,39 373.23
EcPt 1,528 325,96 498,06 913.94
PbEc 0,273 308,55 84,23 154.57
PbPb 5,626 224,57 1263,44 2318.41
PbPt 0,225 300,46 67,60 124.05
PtEc 0,397 135,06 53,62 98.39
misto 0,268 105,56 28,29 51.91
folhada 19,114** 35,65 681,41 1250.39
solo 19,114** - - 6289.60
Total: 16793,16
período de projeção de 15 anos: ano 2026
EcAc* 0,175 344,55 60,30 110,64
EcEc 9,873 344,55 3401,72 6242,15
EcPb 0,749 369,25 276,57 507,50
EcPt 1,528 410,01 626,50 1149,62
PbEc 0,273 373,78 102,04 187,25
PbPb 5,626 320,32 1802,13 3306,90
PbPt 0,225 397,98 89,55 164,32
PtEc 0,397 167,78 66,61 122,23
misto 0,268 125,27 33,57 61,61
folhada 19,114** 35,65 681,41 1250,39
solo 19,114** - - 6289,60
Total: 19392,21
período de projeção de 30 anos: ano 2041
EcAc* 0,175 449,41 78,65 144,32
EcEc 9,873 449,41 4437,01 8141,92
EcPb 0,749 525,89 393,89 722,79
EcPt 1,528 547,26 836,21 1534,45
PbEc 0,273 481,17 131,36 241,04
PbPb 5,626 460,60 2591,35 4755,12
PbPt 0,225 540,15 121,53 223,01
PtEc 0,397 224,64 89,18 163,65
misto 0,268 156,50 41,94 76,96
folhada 19,114** 35,65 681,41 1250,39
solo 19,114** - - 6289,60
Total: 23543,25
Ac, Acacia sp.; Pb, Pinus pinaster; Pt, Pittosporum sp.; Ec, Eucalyptus globulus; * o estrato EcAc não
foi inventariado pelo que foram usados os valores de biomassa por hectare do estrato EcEc; ** na
área da folhada não foi considerada a área das clareiras mas foi considerada a área do estrato EcAc.

483
Paula Soares, João Pedro Pina, Margarida Tomé e Nuno Oliveira

Tabela 4. Valores de biomassa total por ha e por estrato e de CO2 por estrato - cenário 2 (projeção da
baseline com desbastes aos 10 e 20 anos e projeção das árvores plantadas em dezembro 2011).
estrato área biomassa total biomassa total CO2
(ha) (Mg/ha) (Mg) (Mg)
período de projeção de 5 anos: ano 2016
EcAc* 0,175 282,66 49,47 97,77
EcEc 9,873 282,66 2790,68 5120,90
EcPb 0,749 271,55 203,39 373,23
EcPt 1,528 325,96 498,06 913,94
PbEc 0,273 308,55 84,23 154,57
PbPb 5,626 224,57 1263,44 2318,41
PbPt 0,225 300,46 67,60 124,05
PtEc 0,397 135,06 53,62 98,39
misto 0,268 105,56 28,29 51,91
clareiras 0,410 8,15 3,34 6,13
plant_2011 19,114** 146,09 268,08
folhada 19,114** 35,65 681,41 1250,39
solo 19,114** - - 6289,60
Total: 17067,37
período de projeção de 15 anos: ano 2026
EcAc* 0,175 332,10 58,12 106,65
EcEc 9,873 332,10 3278,83 6016,65
EcPb 0,749 346,95 259,87 476,85
EcPt 1,528 385,95 589,72 1082,14
PbEc 0,273 333,05 90,92 166,84
PbPb 5,626 281,49 1583,68 2906,05
PbPt 0,225 349,57 78,65 144,33
PtEc 0,397 121,19 48,11 88,28
misto 0,268 68,38 18,33 33,63
clareiras 0,410 16,33 6,69 12,28
plant_2011 19,114** 301,37 553,03
folhada 19,114** 35,65 681,41 1250,39
solo 19,114** - - 6289,60
Total: 19126,72
período de projeção de 30 anos: ano 2041
EcAc* 0,175 302,14 52,87 97,02
EcEc 9,873 302,14 2982,99 5473,79
EcPb 0,749 312,51 234,07 429,51
EcPt 1,528 322,60 492,93 904,53
PbEc 0,273 206,00 56,24 103,20
PbPb 5,626 221,05 1243,65 2282,10
PbPt 0,225 252,30 56,77 104,17
PtEc 0,397 101,93 40,46 74,25
misto 0,268 94,36 25,29 46,40
clareiras 0,410 38,63 15,84 29,07
plant_2011 19,114** 1047,34 1921,86
folhada 19,114** 35,65 681,41 1250,39
solo 19,114** - - 6289,60
Total: 19005,89
Ac, Acacia sp.; Pb, Pinus pinaster; Pt, Pittosporum sp.; Ec, Eucalyptus globulus; * o estrato EcAc não
foi inventariado pelo que foram usados os valores de biomassa por hectare do estrato EcEc; ** na
área da folhada não foi considerada a área das clareiras mas foi considerada a área do estrato EcAc.

484
Paula Soares, João Pedro Pina, Margarida Tomé e Nuno Oliveira

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a realização do trabalho verificou-se que:


- não existem publicadas equações de predição e de crescimento para aplicação a sistemas
complexos tais como os que caracterizam a Tapada das Roças e a Tapada do Mouco: várias
espécies na mesma área, espécies com diferentes idades ocupando diferentes andares num mesmo
estrato, espécies não comerciais;
- é fundamental a monitorização da área considerada neste estudo sendo particularmente importante
a realização do inventário no ano 2016, ano em que se assumiu que todas as árvores plantadas em
dezembro de 2011 teriam altura suficiente para medição do diâmetro.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi parcialmente financiado pelo Programa LIFE, projeto BIO+Sintra – Carbon footprint
reduction, a contribution to enhance biodiversity in Sintra (LIFE09 INF/PT/00048).

7. REFERÊNCIAS

GONZÁLEZ, G.A.L., 2006. Los Árboles y Arbustos de la Península Ibérica e Islas Baleares (2ª ed.).
Ediciones Mundi-Prensa, Madrid, 1727 pp.
IPCC - The Intergovernmental Panel on Climate Change, 2003. Good Practice Guidance for Land
Use, Land-Use Change and Forestry. Institute for Global Environmental Strategies. Available
online at: http://www.ipcc-nggip.iges.or.jp/public/gpglulucf/gpglulucf_contents.htm
MONTERO, G., RUIZ-PEINADO, R., MUÑOZ, M., 2005. Producción de Biomasa y Fijación de C02 por
los Bosques Españoles. Monografías INIA, Serie Forestal nº 13, 270 pp.
NABUURS, G.J., RAVINDRANATH, N.H., PAUSTIAN, K., FREIBAUER, A., HOHENSTEIN, W.,
MAKUNDI, W., 2003. LUCF sector good practice guidance. In: Penman, J., Gytarsky, M.,
Hiraishi, T., Krug, T., Kruger, D., Pipatti, R., Buendia, L., Miwa, K., Ngara, T., Tanabe, K.,
Wagner, F. (eds.), Good Practice Guidance for Land Use, Land-Use Change and Forestry. IPCC
National Greenhouse Gas Inventories Programme, pp: 3.1-3.185.
TOMÉ, M., BARREIRO, S., CORTIÇADA, A., PAULO, J.A., MEYER, A.V., RAMOS, T., MALICO, P.,
2007. Inventário Florestal 2005-2006. Áreas, Volumes e Biomassas dos Povoamentos Florestais.
Resultados Nacionais e por NUT’s II e III. Publicações GIMREF PT 8/2007, Centro de Estudos
Florestais, Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.
TRASOBARES, A., PUKKALA, T., CONDÉS, S., 2007. Modelos de Crecimiento y Producción en el
Inventario Forestal Nacional. Aplicación para el Análisis de Escenarios Forestales en el Noreste
Peninsular (não publicado).
ZIANIS, D., MUUKKONEN, P., MÄKIPÄÄ, R., MENCUCCINI, M., 2005. Biomass and stem volume
equations for tree species in Europe. Silva Fennica Monographs 4, 63 pp.

485
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Proposta de Carta de Aptidão Agrícola e Florestal para Cascais

V. Silva1* e A. Neto1

1: Empresa Municipal de Ambiente de Cascais; Complexo Multisserviços da Câmara Municipal de Cascais,


Estrada de Manique n.º 1830 Alcoitão, 2645-138 Alcabideche

e-mail: silvadavasco@gmail.com

Resumo: No âmbito da revisão do Plano Diretor Municipal de Cascais elaborou-se a carta de


aptidão agrícola e florestal para o concelho no sentido de contribuir para o processo de tomada
de decisão no ordenamento do território. Em função da presença de formações vegetais, do tipo
de classe de solo, das características edafo-climáticas e da vegetação natural potencial dos
espaços, recorrendo a uma análise em sistemas de informação geográfica (SIG), foi definida a
aptidão para cada uma das seguintes categorias de ocupação do solo: espaço natural, agrícola e
florestal. O processo de validação teve em conta que cada espaço (de acordo com o seu
potencial) apenas pode ser classificado com uma categoria, iniciando-se a escolha pela
existência de valores naturais a preservar, seguindo-se a aptidão agrícola e por fim a aptidão
florestal. Com vista à proteção do solo e funções ecológicas inerentes, áreas sem aptidão
agrícola ou florestal foram remetidas para a categoria de espaço natural. A proposta apoiou-se na
ocupação atual do solo, capacidade de uso, séries de vegetação e em critérios de delimitação da
estrutura ecológica, procurando definir usos adequados seja na preservação das propriedades
intrínsecas (do solo) importantes para sustentar uma boa produção de biomassa, seja na
salvaguarda de habitats naturais com interesse para a conservação, na revitalização das
atividades agrícolas ou na criação de florestas, incluindo galerias ripícolas, no sentido da
prestação de serviços ecológicos e de habitat para a fauna e flora silvestres, e quando
compatível, como suporte de atividades de recreio e lazer das populações.
Palavras-chave: Plano Diretor Municipal, Estrutura Ecológica, Vegetação natural, SIG

Abstract: Within the Cascais Municipal Development Master Plan revision, an agriculture and
forestry land aptitude map has been drawn in order to help the decision-making process in land-
use planning. Using natural vegetal formations presence, soil class, edapho-climatic
characteristics and natural potential vegetation, a geographic information system (GIS) analysis
was performed to determine the aptitude for each of the following land-use categories: natural,
agriculture and forest. According to the patch potential, and assuming that only category could be
chosen, a validation process started by identifying the presence of considerable natural values
that must be preserved, followed by the suitability for agricultural use and finally for forestry.
Aiming to the soil protection and its ecological functions, areas without potential for forestry or
agricultural use were also referred to the natural category. The aptitude for agricultural and
forestry use final proposal, based on the current land cover, land use capacity, vegetation series
and green infrastructure delimitation criteria, define suitable land-use applications that will allow to
preserve soils intrinsic properties, important to support good biomass production, as well as to
protect natural habitats with conservation importance, revitalize agricultural activities and
establish new forests (including riparian galleries), towards the delivery of ecological services,
providing habitat for wild flora and fauna and, when compatible, the support for recreational
human activities.

Keywords: Municipal Development Master Plan, Green Infrastructure, Natural vegetation, GIS
V. Silva e A. Neto

1. INTRODUÇÃO

A proposta de Carta de Aptidão Agrícola e Florestal de áreas de solo rural e urbano afeto à Estrutura
Ecológica do concelho de Cascais integra as seguintes componentes:
Espaço Agrícola, que agrega áreas com aptidão para a atividade agrícola e pastoril, combinada com
a prestação de serviços ecológicos e atividades de lazer, áreas que se caraterizam igualmente pela
importância na estruturação da paisagem.
Espaço Florestal, que incorpora áreas com aptidão florestal para criação ou fomento do coberto
arbóreo, com funções essencialmente de conservação e proteção, e quando compatíveis, de recreio
e lazer.
Espaço Natural, que pretende salvaguardar áreas que apresentam valores naturais de elevado
interesse, essenciais para a manutenção dos serviços ecológicos e de habitat para a fauna e flora
silvestres.

2. ANÁLISE

2.1. Espaço agrícola

Dados e Metodologia
Na determinação da maior aptidão dos solos para a atividade agrícola usaram-se como base as
cartas de Capacidade de Uso do Solo e de Solos (1:25000) (IHERA, 2002) e recorreu-se aos critérios
de delimitação da Reserva Agrícola Nacional (RAN) dispostos no Decreto-Lei n.º 73/2009. Neste
processo foram consideradas as classes de capacidade de uso do solo A, B e Ch, e as unidades de
solo classificadas como baixas aluviares (Aluviossolos) e coluviais (Coluviossolos), sempre que
maioritariamente representadas. Dada a escassez de solo disponível no concelho e partindo do
princípio de que não se pretende uma utilização agrícola intensiva, considerou-se também aptos os
restantes solos de classe de uso C, ou seja, as sub-classes Ce e Cs.

Tabela 1. Classes de Capacidade de Uso do solo. Adaptado de SROA (1965).

Classe Caraterísticas principais


A Solos com poucas ou nenhumas limitações, sem riscos de erosão ou com riscos ligeiros e
susceptíveis de utilização agrícola intensiva
B Solos com limitações moderadas, riscos de erosão no máximo moderados e susceptíveis de
utilização agrícola moderadamente intensiva
C Solos com limitações acentuadas, riscos de erosão no máximo elevados, susceptíveis de utilização
agrícola pouco intensiva
D Solos com limitações severas a muito severas, riscos de erosão no máximo elevados a muito
elevados, normalmente não susceptíveis de utilização agrícola, poucas ou moderadas limitações
para pastagem e exploração de matos e exploração florestal
E Solos com limitações muito severas, riscos de erosão muito elevados, não susceptíveis de
utilização agrícola, severas a muito severas limitações para pastagem, matos e exploração
florestal, servindo apenas para vegetação natural ou floresta de proteção ou recuperação ou não
susceptíveis de qualquer utilização.

487
V. Silva e A. Neto

Tabela 2. Sub-classes de Capacidade de Uso do Solo. Adaptado de SROA (1965).

Classe Caraterísticas principais


e Erosão e escorrimento superficial
É constituída pelo conjunto dos solos duma classe em que a susceptibilidade, os riscos ou os
efeitos da erosão constituem o fator dominante de limitação. O risco de erosão (resultante da
susceptibilidade à erosão e do declive) e, em certos casos, o grau de erosão são os principais
fatores a considerar para a inclusão dos solos nesta subclasse.
h Excesso de água
Inclui os solos em que o excesso de água constitui o principal fator limitante da sua utilização ou
condicionador dos riscos a que o solo está sujeito. Uma drenagem pobre resultante quer de uma
permeabilidade lenta quer dum nível freático elevado e a frequência das inundações são os
principais factores determinantes dum excesso de água no solo.
s Limitações do solo na zona radicular
Abrange os solos em que predominam as limitações na zona radicular. Os principais factores que
determinam essa limitação são a espessura efetiva, a secura associada à baixa capacidade de
água utilizável, a baixa fertilidade difícil de corrigir ou uma pouco favorável resposta aos
fertilizantes, a salinidade e/ou alcalinidade, a quantidade e tamanho de elementos grosseiros, os
afloramentos rochosos, etc.

Tabela 3. Unidades de solos incluídas na RAN. Adaptado de DGADR (2008).

Sub- Código Nome das Famílias


Ordem
Ordem SROA
A Aluviossolos Modernos Não Calcários, de textura mediana
Aa Aluviossolos Modernos Não Calcários, de textura pesada
Aluviossolos

Aac Aluviossolos Modernos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura pesada


Ac Aluviossolos Modernos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura mediana
Alc Aluviossolos Modernos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura ligeira
Sb Coluviossolos Não Calcários, de textura mediana
Sba Coluviossolos Não Calcários, de textura pesada
Solos Incipientes

Sbac Coluviossolos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura pesada


Coluviossolos

Sbc Coluviossolos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura mediana


Sbl Coluviossolos Não Calcários, de textura ligeira
Sblc Coluviossolos Calcários (Para-Solos Calcários), de textura ligeira

Conclusões
Os espaços agrícolas, dependendo do tipo de classe do solo, podem apresentar uma utilização mais
ou menos intensiva, consoante as caraterísticas de drenagem, textura e disponibilidade de água.
Essencialmente, pretende-se promover a manutenção dos ecossistemas e as práticas agrícolas
sustentáveis que privilegiem o modo de produção biológico e uma agricultura de proximidade que
vise o abastecimento de mercados locais, seja na produção de frutícolas e hortícolas, na produção de
vinho de Carcavelos em área de Região Demarcada como produto D.O.C., na requalificação de
espaços verdes em solo urbano que conjuguem o recreio e a produção, na instalação de pastagens

488
V. Silva e A. Neto

biodiversas em mosaico com matos e prados naturais ou na criação de raças autóctones baseada na
produção animal em regime extensivo (FIGUEIREDO et al., 2010; LA ROSA & PRIVITERA, 2013;
ROSAS et al., 2009; ZEEUW et al., 2001).

Figura 1. Solo com máxima aptidão para vinho de Carcavelos em Região Demarcada.

2.2. Espaço florestal

Dados e Metodologia
A capacidade de desenvolvimento de determinada espécie vegetal depende das caraterísticas de
solo e clima do local. Com base na Carta de Solos (1:25000) (IHERA, 2002), interpretaram-se os
solos em função da sua aptidão para a produção florestal de dada espécie pelo cruzamento em SIG
com a Carta de Vegetação Natural Potencial (1:25000, elaboração própria), resultando áreas com
diferentes níveis de aptidão florestal para cada espécie selecionada de acordo com as séries de
vegetação do concelho.

Interpretação dos solos


Com base na metodologia apresentada por DIAS et al. (2008) as unidades de solo foram
classificadas em características-diagnóstico que condicionam o desenvolvimento das plantas. Neste
processo, por exemplo, foi tida em conta a fase do solo, uma vez que pode representar por si uma
condicionante. Assim, para solos em fase delgada (d), se a espessura efetiva pode ser aumentada
por meios mecânicos a caraterística diagnóstico passa a ser Profundidade expansível (2), caso
contrário passa a Espessura efetiva (10). De igual forma, solos em fase mal drenada (h) a
característica diagnóstico passa a Drenagem interna (8).

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V. Silva e A. Neto

Tabela 4. Classes de caraterísticas-diagnóstico. Fonte: DIAS et al. (2008).


N.º Caraterísticas-Diagnóstico Condicionante ao Desenvolvimento
Ordem
1 Sem limitações Sem condicionantes
2 Profundidade expansível Limitações de espessura efetiva, que pode ser aumentada por meios
mecânicos
3 Calcário ativo Presença de calcário ativo
4 Descontinuidade textural Horizonte B argílico
5 Caraterísticas vérticas Abertura de fendas que dificultam ou limitam o desenvolvimento das raízes
de plantas multianuais
6 Salinidade Excesso de sais no perfil do solo
7 Drenagem externa Potencial acumulação de água à superfície do solo
8 Drenagem interna Presença de toalhas freáticas superficiais
9 Armazenagem de água Deficiente capacidade de armazenamento de água
10 Espessura efetiva Limitação de espessura efetiva que não pode ser aumentada por meios
mecânicos
11 Afloramento rochoso Não produtivo
12 Área social Não produtivo

Tabela 5. Correspondência das unidades de solo às caracteristicas-diagnóstico. Adaptado de DIAS et


al. (2008) e GUTIERRES (2004).
N.º Característica- Unidades-Solo Código Solos
Ordem Diagnóstico
1 Sem limitações As não mencionadas Eb, Lb, Lpt, Lvt, Mng,
Mns, Mnt, Pg, Pgm, Ppn,
Psn, Rcg, Vt, Vto
2 Profundidade Incipientes, litossolos, de regime xérico, derivados de Pcdc, Vato, Vcd, Vcd#,
expansível arenitos xistos ou grauvaques. Argiluviados, Vcd', Vcdl, Vcdt, Vgn,
mediterrâneos vermelhos ou amarelos, calcários ou Vtc, Lb(d), Lpt(d),
não, normais, para barros, com laterite ou húmicos. Pcdc(d), Pg(d), Pgm(d),
Calcários, pardos de regime xérico, para litossolos Ppn(d), Psn(d), Vt(d),
Vto(d)
3 Calcário ativo Calcários, pardos ou vermelhos, de regime xérico, Pc, Pc', Pcb, Pcds, Pcs,
normais ou para barros Pcs', Pcsd, Pcsd', Pcst,
Pct, Pcx, Ptc, Spc', Svc',
Vac, Vac', Vc, Vc', Vcsd,
Vcst, Vct
4 Descontinuidade Argiluviados, mediterrâneos pardos, calcários ou não, Paco, Pao, Pato, Pgn,
textural normais ou para barros Pm, Pmg, Pmn
5 Características Barros pretos, pardos ou castanho avermelhados, Ba, Bac, Bca, Bp, Bpc,
vérticas calcários ou não, muito, pouco ou não Cb, Cbc
descarbonatados
6 Salinidade Halomórficos, salinos, de salinidade elevada ou -
moderada, de aluviões ou rochas detríticas
7 Drenagem Incipientes, aluviossolos, modernos ou antigos, A, Aa, Aac, Ac, Alc, Sb,
externa calcários, não calcários ou não calcários húmicos. Sba, Sbac, Sbc, Sbl, Sblc
Incipientes, coluviossolos, calcários, não calcários ou
não calcários húmicos
8 Drenagem Incipientes, regossolos, psamíticos, para Ca, Cd, Pagc, Pago, Pdg,
interna hidromórficos. Argiluviados, mediterrâneos pardos, Sg, Cb(h), Sba(h), Vcd(h)
calcários ou não, para hidromórficos. Podzolizados,
podzois hidromórficos, com ou sem surraipa.
Hidromórficos, com horizonte eluvial para aluviossolos,
para regossolos, para barros, para argiluviados.
Hidromórficos, sem horizonte eluvial, planossolos ou
planossólicos. Hidromórficos, orgânicos, turfosos
9 Armazenamento Incipientes, regossolos, psamíticos, normais Rg

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V. Silva e A. Neto

de água
10 Espessura Incipientes, litossolos, de regime xérico, derivados de Bp(d), Cb(d), Cbc(d),
efetiva granito, gneisse, gabro ou quartzo Paco(d), Pc'(d),Pcds(d),
Pcs'(d), Pcsd(d),
Pcsd’(d), Pct(d), Pcx(d),
Pmg(d), Ptc(d), Vc(d),
Vc’(d), Vct(d)
11 Afloramento Não produtivo Arc, Arct, Arg, Ars
rochoso
12 Área social Não produtivo Área social

Interpretação da vegetação natural potencial


A Carta de Vegetação Natural Potencial de Cascais (1:25000, elaboração própria) delimitou-se com
base num modelo simplificado de correspondências entre a litologia, os solos, a bioclimatologia e as
séries de vegetação (CAPELO et al., 2007). Os cursos de água e respetivas zonas de proteção foram
delimitados segundo a tipologia do diploma da Reserva Ecológica Nacional (REN), do Decreto-Lei n.º
166/2008, definindo uma margem de 10 m a partir das linhas que delimitam os seus leitos. Para cada
série de vegetação apresentam-se as espécies que permitem identificar a fitocenose no terreno, e
como tal, são passíveis de usar em projetos de florestação e/ou recuperação biofísica.

Tabela 6. Séries de vegetação e espécies a utilizar. Adaptado de ACN (2010).

Série de vegetação Espécies arbóreas Espécies arbustivas


Carvalho-cerquinho Quercus faginea subsp. Quercus coccifera, Rhamnus alaternos, R.
(Ariso vulgare-Querco broteroi, Olea europaea var. oleoides, Pistacia lentiscus, Phillyrea latifolia,
broteroi S.) sylvestris, Laurus nobilis Myrtus communis
Zambujeiro (Viburno tini- Olea europaea var. sylvestris, Viburnum tinus, Rhamnus oleoides, R. alaternus,
Oleo sylvestris S.) Ceratonia siliqua Pistacia lentiscus, Quercus coccifera, Lonicera
etrusca
Sobreiro (Asparago Quercus suber, Q. robur, Arbutus unedo, Viburnum tinus, Cytisus striatus,
aphylli-Querco suberis Olea europaea var. sylvestris Quercus lusitanica, Myrtus communis, Phillyrea
S.) angustifolia, Pistacia lentiscus, Rhamnus
Carvalho-negral (Arbuto Quercus pyrenaica, Q. suber alaternus
unedonis-Querco
pyrenaicae S.)
Amieiro (Scrophulario Alnus glutinosa, Salix Sambucus nigra, Crataegus monogyna, Prunus
scorodoniae-Alno atrocinerea spinosa ssp. insititioides
glutinosae S.)
Freixo (Ranunculo Fraxinus angustifolia, Frangula alnus, Prunus spinosa ssp. insititioides,
ficariae-Fraxino Populus nigra, Ulmus minor Pyrus bourgaeana, Cydonia oblonga
angustifoliae S.)

Ainda que não se existam solos halomórficos ou de salinidade elevada no concelho, nos troços
litorais das linhas de água, pela forte estiagem e proximidade ao mar, subsistem sais no perfil do solo
que permitem o estabelecimento de vegetação ripícola sub-halófila constituída por tamargais de
Tamarix africana e T. gallica, espécies a ter em conta em ações de plantação.

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V. Silva e A. Neto

Estabelece-se em seguida a correspondência entre as condicionantes ao desenvolvimento e as


espécies arbóreas que “encabeçam” as séries de vegetação identificadas na Carta de Vegetação
Natural Potencial em diferentes níveis de aptidão florestal.

Tabela 7. Classificação das condicionantes ao uso florestal por espécie em 3 níveis de


aptidão. Adaptado de DIAS et al. (2008) e CORREIA & OLIVEIRA (1999, 2003).

Espécie Superior Referência Inferior


Quercus Descontinuidade Drenagem externa, Afloramento rochoso, Área social,
pyrenaica textural, Profundidade Drenagem interna, Calcário ativo, Caraterísticas
expansível, Sem Espessura efetiva, vérticas, Salinidade
limitações Armazenagem de água
Quercus robur Sem limitações Drenagem externa Afloramento rochoso, Área social,
Descontinuidade Drenagem interna Calcário ativo, Caraterísticas
textural Espessura efetiva vérticas, Salinidade,
Profundidade Armazenagem de água
expansível
Quercus suber Profundidade Descontinuidade textural, Afloramento rochoso, Área social,
expansível, Sem Drenagem externa, Calcário ativo, Caraterísticas
limitações Armazenagem de água, vérticas, Drenagem interna,
Espessura efetiva Salinidade
Quercus Profundidade Calcário ativo, Salinidade, Afloramento rochoso, Área social,
faginea expansível, Sem Descontinuidade textural, Caraterísticas vérticas, Salinidade
limitações Armazenagem de água,
Drenagem interna,
Drenagem externa
Olea europaea Profundidade Salinidade, Caraterísticas Afloramento rochoso, Área social,
var. sylvestris expansível, Calcário vérticas Drenagem interna, Drenagem
ativo, Descontinuidade externa, Espessura efetiva,
textural, Sem Armazenagem de água
limitações
Fraxinus Drenagem externa Drenagem interna Afloramento rochoso, Área social,
angustifolia, Descontinuidade textural,
Salix Profundidade expansível, Sem
atrocinerea, limitações, Calcário ativo,
Alnus glutinosa Caraterísticas vérticas,
Salinidade, Armazenagem de
água, Espessura efetiva

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V. Silva e A. Neto

Figura 229. Aptidão florestal para o sobreiro.

Conclusões
Nesta categoria incluem-se todas as áreas com níveis de aptidão de referência e/ou superior
para, pelo menos, uma das espécies eleitas. Verteram ainda as áreas de ocupação atual de
matos (e.g. carrascais, tojais) onde se pretende a progressão da sucessão ecológica, de
povoamentos florestais (e.g. eucaliptais, pinhais, acaciais) a reconverter para floresta autóctone,
e de ribeiras a constituir galeria ripícola. De notar que os matos, para além de configurarem um
habitat natural, ensombram o solo e criam condições que permitem a instalação de espécies
características de etapas sucessionalmente mais evoluídas (arbóreas) e que poderão substituir
(gradualmente) os matos e dominar a paisagem. O incremento do coberto florestal deve ser
realizado com recurso a técnicas silvícolas de perturbação mínima (cf. ELI, 2007; GUIOMAR &
FERNANDES, 2011; SANDE SILVA, 2007). No Espaço florestal são admitidos usos múltiplos de
conservação, proteção, recreio e lazer. Para além da preservação do património natural e
histórico-cultural associado a estes espaços, as florestas, quer em meio rural ou urbano, devem
ser encaradas como fonte de serviços (ecológicos) associados a valias económicas, seja turismo
de natureza, aproveitamento de produtos não-lenhosos (e.g. cogumelos, espargos), proteção civil
(e.g. redução do risco de incêndio e de cheia), ou melhoria de qualidade de vida da população
(e.g. espaços naturais de proximidade) (GONÇALVES et al., 2008; PEREIRA et al., 2009).

493
V. Silva e A. Neto

2.3. Espaço natural

Dados e Metodologia
Da Carta de Vegetação Natural Atual de Cascais (1:25000) foram selecionadas áreas que
correspondem a formações vegetais com elevado e muito elevado valor biológico e interesse de
conservação – Carta de Valor Biológico e Carta de Interesse de Conservação (1:25000) (ACN, 2010).
Estas comunidades apresentam correspondência aos tipos e sub-tipos de habitats naturais
constantes no Plano Setorial da Rede Natura 2000 (ALFA, 2004), instrumento que define orientações
estratégicas para a gestão destes valores em áreas protegidas, mas que também podem ser
aplicadas no restante território. Da lista de habitats detetados os que apresentam asterisco (*)
possuem interesse prioritário para a conservação.

Tabela 2. Tipos de habitats que compõem os espaços naturais. Adaptado de ALFA (2004).

Habitat Comunidade Sintáxone


1240 - Arribas litorais com vegetação Comunidade de Limonietum multiflori-virgati
mediterrânica com Limonium e Armeria sp.pl. limónio
endémicos Comunidade de Diantho cintrani-Daucetum
cravina-de-sintra halophili
2110 - Dunas móveis embrionárias com Elymus Comunidade de feno- Euphorbio paraliae-Elytrigietum
farctus das-areias boreoatlanticae
2120 - Dunas brancas Comunidade de Loto cretici-Ammophiletum
estorno australis
2130pt2 - * Duna cinzenta com matos Comunidade de erva- Armerio welwitschii-
camefíticos dominados por Armeria welwitschii divina Crucianelletum maritimae
2250pt1 - * Zimbrais de Juniperus turbinata Sabinal Osyrio quadripartitae-
subsp. turbinata Juniperetum turbinatae
2270 - * Dunas com florestas de Pinus pinea Pinhal de pinheiro- Quercetea ilicis
e/ou Pinus pinaster manso e/ou pinheiro-
bravo
4030pt1 - Tojais e urzais-tojais aero-halófilos Tojal de tojo-durázio Daphno maritimi-Ulicetum
mediterrânicos ou 4030pt3 - Urzais, urzais-tojais congesti ou Lavandulo luisieri-
e urzais-estevais mediterrânicos não litorais Ulicetum jussiaei
5210pt2 - Zimbrais-carrascais de Juniperus Zimbral – Carrascal Querco cocciferae-Juniperetum
turbinata subsp. turbinata sobre calcários turbinatae
5330pt4 - Matagais com Quercus lusitanica Formação de Erico scopariae-Quercetum
carvalhiça lusitanicae
5330pt5 - Carrascais, espargueirais e matagais Carrascal Melico arrectae-Quercetum
afins basófilos cocciferae
5330pt7 - Matos baixos calcícolas Tojal de tojo-gatunho Salvio sclareoidis-Ulicetum
densi
6110 - * Prados rupícolas calcários ou basófilos Comunidade de Calendulo lusitanicae-
plantas suculentas Antirrhinion linkiani

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V. Silva e A. Neto

6210 - * Arrelvados vivazes calcícolas e Prado vivaz de Phlomido lychnitidis-


xerófilos, frequentemente ricos em orquídeas braquipódio Brachypodietum phoenicoides

6220pt3 - * Arrelvados vivazes neutrobasófilos Prado de hiparrénia Carici depressae-


de gramíneas altas Hyparrhenietum sinaicae
6220pt4 - * Arrelvados vivazes silicícolas de Prado de baracejo Avenulo sulcatae-Stipetum
gramíneas altas giganteae
6410pt4 - Juncais de Juncus valvatus Juncal de Juncus Juncetum acutifloro-valvati
valvatus
6420 - Juncais mediterrânicos não halófilos e Comunidade de Gaudinio fragilis-Hordeion
não nitrófilos alpista-da-água bulbosi
8210 - Afloramentos rochosos calcários com Comunidade de Asplenietalia petrarchae
vegetação vascular casmofítica calcícola rochas
8220pt3 - Biótopos de comunidades comofíticas Comunidade de Anomodonto-Polypodietea
esciófilas ou de comunidades epifíticas polipódio
8230pt3 - Comunidades derivadas de Sedum Comunidade de Sedo-Scleranthetea
sediforme ou S. album arroz-dos-muros
91B0 - Freixiais Freixial Ranunculo ficariae-Fraxinetum
angustifoliae
91E0pt1 - * Amiais ripícolas Amial Scrophulario scorodoniae-
Alnetum glutinosae
91F0 - Florestas mistas sub-higrófilas de Ulmal Vinco difformis-Ulmetum
Fraxinus angustifolia, Q. robur e Ulmus minor minoris
92A0pt3 - Salgueirais arbóreos psamófilos de Salgueiral-preto Viti viniferae-Salicetum
Salix atrocinerea atrocinereae
9240 - Carvalhais de Quercus faginea subsp. Cercal Arisaro-Quercetum broteroi
broteroi
9320pt1 - Bosques olissiponenses-arrabidenses Zambujal Viburno tini-Oleetum sylvestris
de zambujeiros e alfarrobeiras

Conclusões
Nos espaços naturais, as formações dunares e de arribas costeiras, ainda que fragmentadas,
encontram-se bem representadas. Os matagais, matos e prados vivazes, que se podem
subdividir em Urzais, tojais e arrelvados acidófilos e Carrascais/espinhais, tojais e prados vivazes
calcários com orquídeas, predominam, com maior ou menor grau de presença, com elevada
cobertura, e, ainda que configurem habitats naturais, é aceitável uma redução até 50 % da sua
área de ocupação, exclusivamente por progressão sucessional (cf. Espaço Florestal), com
manutenção ou melhoria do grau de conservação do mosaico na restante área, mantida nesta
classe de espaço (CALACIURA & SPINELLI, 2008). Formações naturais mais evoluídas
estruturalmente como bosques são raras ou inexistentes, tendo sido as potenciais áreas
ocupadas por plantações (e.g. Pinus spp.) ou invadidas por espécies exóticas (e.g. Acacia spp.).
No que respeita às galerias ripícolas também se encontram muito degradadas e invadidas por
espécies exóticas (e.g. Arundo donax), predominando estádios regressivos como silvados e

495
V. Silva e A. Neto

prados. Em solos temporariamente encharcados ou com alguma compensação edáfica ocorrem


juncais/arrelvados húmidos e sebes espinhosas, enquanto nos afloramentos e paredes rochosas
surgem comunidades de plantas suculentas, fetos e briófitos. Estas formações encontram-se
associadas à compartimentação da paisagem e são importantes pela disponibilização de habitat
para a fauna e flora silvestres (ICN, 2003). Por fim, com vista à proteção do recurso solo e
funções ecológicas inerentes, áreas sem aptidão agrícola ou florestal foram remetidas também
para a categoria de espaço natural.

3. PROPOSTA

A sobreposição em SIG dos resultados obtidos para cada tipo de Espaço – Florestal, Agrícola e
Natural, implicou a existência de áreas do território com aptidão para mais do que uma das
componentes, sendo portanto necessário escolher qual a mais adequada através de uma
avaliação pericial. Adaptando a metodologia apresentada por GUIOMAR et al. (2007), a cada
área de território foram atribuídas por ordem hierárquica até 3 funções de uso, de acordo com a
aptidão ou existência de valores naturais a preservar. O critério hierárquico utilizado teve como
referência o valor biológico e interesse para conservação de habitats naturais, a constituição de
galerias ripícolas e o colmatar da escassez de áreas adequadas para a atividade agrícola.

Tabela 9. Critério hierárquico na escolha da proposta de uso.

Ordem Tipologia Proposta


1 Áreas c/ vegetação natural de valor elevado Espaço Natural
2 Linhas de água e margens Espaço Florestal
3 Áreas c/ aptidão agrícola Espaço Agrícola
4 Áreas c/ aptidão florestal Espaço Florestal
5 Outras áreas Espaço Natural

Desta forma, para cada área do território é proposto um uso adequado baseado na ordem
hierárquica, na dimensão útil e forma das manchas (e.g. áreas <500 m2 foram agregadas às
áreas vizinhas) e no uso atual do solo. Todas as áreas edificadas foram excluídas da proposta.
Estas operações tiveram como base cartográfica a Carta de Ocupação do Solo (escala 1:10000,
elaboração própria).

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V. Silva e A. Neto

Figura 3. Aptidão agrícola e florestal.

A justaposição entre a cartografia de ocupação do solo e a carta de aptidão agrícola e florestal


permitiu a comparação em termos de dimensão total das diferentes tipologias (em ha) na
situação atual e na proposta (CMC, 2010).

Tabela 10. Comparação do uso atual e proposto.

Componente Atual (ha) Proposto (ha) Alterado (ha)


Espaço Agrícola 559,6 1137,7 578,1
(5,7%) (11,6%) (+103,3)
Espaço Florestal 1006,7 3090,3 2083,6
(10,3%) (31,6%) (+207,0%)
Espaço Natural 1581,9 903,5 -678,4
(16,2%) (9,3%) (-42,9%)

De notar que na situação atual, para além das componentes mencionadas, existem espaços sem
valor ecológico relevante (cerca de 1560ha, representando 15,9% do território), que se
encontram desocupados tanto de edificação, como de floresta ou agricultura. São estes solos
que permitiram aumentar as componentes agrícola e florestal, sem que haja necessidade de uma
sobrelevada reconversão dos espaços naturais de elevado valor ecológico. Esta proposta
promove a biodiversidade e a manutenção dos serviços dos ecossistemas pela diversificação do
coberto vegetal e pela preservação de variedades e recursos genéticos autóctones em solo rural
e urbano pertencente à estrutura ecológica de Cascais.

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V. Silva e A. Neto

REFERÊNCIAS

ACN, 2010. Cascais Estrutura Ecológica – Relatório Técnico: Análise e Proposta. Relatório interno.
Agência Cascais Natura/EMAC/CMC, 292pp.
ALFA, 2004. Tipos de Habitat Naturais e Semi-Naturais do Anexo I da Directiva 92/43/CEE (Portugal
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499
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Caracterização do mercado de trabalho florestal na região Baixo Vouga

Catarine Tavares1*, Luís Sarabando2, Helder Viana1,3,

1: CI&DETS, Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Viseu. Quinta da Alagoa-Ranhados, 3500-606
Viseu. Tel: +351 232 446 600; fax: +351 232 426 536.
2: Associação Florestal do Baixo Vouga. Centro Coordenador de Transportes, 3850-022 Albergaria-a-Velha.
3: CITAB, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Apartado 1014, 5001-801 Vila Real.

e-mail: catarinetav@hotmail.com

Resumo: A Região Baixo Vouga (NUTIII) é extensamente ocupada por povoamentos florestais,
com 75.863 ha, dos quais 50.449 ha de eucalipto e 21.576 ha de pinheiro-bravo. Como
consequência, a fileira florestal tem sido o suporte de múltiplas atividades profissionais
contribuindo para um valorizado mercado de trabalho dos diversos agentes que operam neste
sector. Com o intuito de caracterizar o mercado de trabalho no sector florestal, nas suas
diferentes dimensões, foi realizado um estudo aos agentes que operam no sector florestal da
Região. O trabalho decorreu sob a forma de inquéritos a uma amostra de 45 empresários
florestais, acompanhado de observações de campo das atividades desenvolvidas (desde a
mobilização do solo ao corte final), de forma a relacionar e validar a informação recolhida. Os
resultados permitiram caracterizar as empresas quanto: às atividades principais e secundárias
exercidas; tipo, quantidade e operacionalidade dos equipamentos; número de trabalhadores,
faixas etárias e suas funções; subcontratação de serviços; cumprimento das imposições legais
para a sua atividade (a nível da Segurança e Saúde no Trabalho, formações especializadas para
a atividade/função, organização dos equipamentos de trabalho/máquinas e utilização de
Equipamentos de Proteção Individual); volume de negócios e custos anuais com manutenções e
reparações de equipamentos; quantificados os acidentes de trabalho decorrentes da atividade e
levantados os principais problemas associados à atividade florestal, identificados pelos
inquiridos. A análise feita exibe as potencialidades e oportunidades do sector, nesta região, e
expõe algumas dificuldades, que se traduzem na ausência do integral cumprimento de todas as
obrigatoriedades exigidas por lei, quer de dificuldades económicas que as empresas identificam.
Pretende-se que o conhecimento obtido por este trabalho, acerca da realidade do sector, possa
contribuir para a melhoria contínua do funcionamento das empresas e cumprimento das suas
atividades, para a criação de mais e melhores oportunidades, para a dignificação do trabalho
florestal e, desta forma, valorizar cada vez mais o sector florestal nesta região.
Palavras-chave: Fileira florestal, trabalho florestal, empresários florestais, Região Baixo Vouga
Abstract: The Baixo Vouga Region (NUTIII) is extensively occupied by forest stands, with 75.863
ha, of which 50.449 ha of eucalyptus and 21,576 ha from maritime pine. As a result, the forestry
sector has been supported by multiple professional activities contributing to a valued labour
market of the various agents working in this sector. In order to characterize the labour market, in
its different dimensions, a study was conducted to the agents operating in the forestry sector in
this Region. The survey was conducted to a sample of 45 forestry companies. The results
characterize the firms as: major and secondary activities; fulfilment of legal requirements for its
activity (in terms of Health and Safety at Work, specialized training for the activity, organization of
work equipment / machinery and use of Personal Protection Equipment); volume of business, and
annual costs with maintenance and repairs of equipment; analysis of accidents at work and raised
the main problems associated with forestry, identified by the inquired. The analysis shows the
potential and opportunities of the sector in this region, and exposes some difficulties. It is
intended that the knowledge gained by this work, about the reality of the sector, can contribute to
the continuous improvement of companies and thus generating more and better opportunities in
the forestry sector.
Keywords: Forestry sector, forest work, forestry companies, Baixo Vouga Region
C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

1. INTRODUÇÃO

A floresta é considerada fonte de múltiplos recursos sendo de extrema importância em diversos


fatores: ambientais, pessoais, sociais e económicos. Além disso, contribui em grande escala para o
emprego e para a indústria florestal no que diz respeito ao material lenhoso que dela pode ser
retirada. De acordo com a Estratégia Nacional para as Florestas, a fileira florestal representa 10% da
exportação nacional, contribuindo para 2% dos empregos da população ativa (DGRF, 2006).
O mercado florestal é bastante valorizado pela sociedade por ser fonte de produtos comercializáveis
e de fácil acesso e com rentabilidade económica, com acontece na Região Baixo Vouga (NUTIII).
Esta região é extensamente ocupada por povoamentos florestais, com 75.863 ha, dos quais
50.449 ha de eucalipto e 21.576 ha de pinheiro-bravo. Como consequência, a fileira florestal tem
sido o suporte de múltiplas atividades profissionais contribuindo para um valorizado mercado de
trabalho dos diversos agentes que operam neste sector (viveiristas, empreiteiros, sapadores
florestais, projetistas, etc.). Contudo, a exploração intensiva associada, muitas vezes, ao
incumprimento de obrigatoriedades legais a que as empresas estão sujeitas, como por exemplo no
plano da Segurança e Saúde no Trabalho (SST), contribuem para constrangimentos e dificuldades de
operar no sector florestal.
A atividade florestal é caracterizada por um conjunto de critérios e regras particulares, quanto à sua
organização, à utilização de equipamentos específicos para a atividade, incluindo a utilização de
equipamentos de proteção individual (EPI’s), bem como o cumprimento de práticas não agressoras
ao meio ambiente. Assim, os agentes que operam no sector florestal estão sujeitos a um conjunto de
obrigações que devem cumprir, de acordo com a legislação, como por exemplo, o Decreto-Lei nº
102/2009 de 10 setembro que corresponde ao regime jurídico da promoção da segurança e saúde no
trabalho, o Decreto-Lei nº 348/93 de 1 de outubro que refere as prescrições mínimas de Segurança e
de Saúde dos trabalhadores na utilização de Equipamentos de Proteção Individual, o Decreto -Lei
nº103/2008 de 24 de junho que estabelece as regras a que deve obedecer a colocação no mercado e
a entrada em serviço das máquinas, a Portaria nº 987/93 de 6 de outubro que apresenta os requisitos
mínimos de segurança e saúde nos locais de trabalho e a Lei nº 35/2004 de 29 de Julho que são
regimes aplicados aos contratos de trabalho regulados pelo Código do Trabalho.
A organização da atividade contribui para qualificar a empresa e reduzir os riscos de acidentes
inerentes à atividade florestal. Os agentes florestais devem organizar os serviços das empresas,
mobilizando os meios necessários, principalmente nos domínios da prevenção (Fernandes, 2004), da
formação e da informação dos trabalhadores. A variedade de tarefas e as particularidades do meio
ambiente onde se desenvolve a atividade florestal (e.g. estaleiros móveis, locais isolados, terrenos
irregulares e de difícil acesso), exigem uma planificação e uma política de gestão eficaz, por parte
dos empregadores no que diz respeito à segurança e saúde e o cumprimento das medidas
preventivas pelos trabalhadores (Amaral et al., 2006).
A caracterização do mercado de trabalho florestal é de primordial importância para melhor
compreender as várias vertentes profissionais e, desta forma, analisar as potencialidades,
oportunidades e constrangimentos do sector. Consequentemente, esta informação permite às
empresas melhorar procedimentos da sua atividade, prevenir riscos e acidentes e desta forma

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C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

melhorar a sua eficiência e competitividade. Assim, este trabalho teve como objectivo estudar as
empresas florestais da Região Baixo Vouga, caracterizando o mercado de trabalho deste sector. Uma
vez que o universo de agentes florestais é muito vasto, o trabalho recaiu apenas nas empresas
florestais envolvidas na exploração e comercialização do material lenhoso, que são aquelas com
maior dinâmica e representatividade na região.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Caracterização da área de estudo

A área de estudo insere-se na região do Baixo Vouga, NUT III (Nomenclatura das Unidades
Territoriais - NUT), compreendendo 169.127 hectares, o que corresponde a 30% da área do Plano
Regional de Ordenamento Florestal (PROF) do Centro Litoral (DGRF, 2006b).
A região é ocupada com 75.863 ha por povoamentos florestais, dos quais 50.449 ha de eucalipto
e 21.576 ha de pinheiro-bravo. A área de pinheiro bravo tem vindo gradualmente a reduzir, em
detrimento do eucalipto como mostram os dados dos IFN entre 1995 e 2005 (DNGF, 2010). A
avaliar pelos resultados preliminares do 6º IFN de 2010 (DNGF, 2010)., a nível nacional, esta
tendência faz com que a área atual de pinheiro bravo, na região do Baixo Vouga, seja ainda
menor.

2.2. Metodologia

O trabalho decorreu sob a forma de inquéritos (Matalon, 1993), elaborados para o efeito, a
uma amostra de 45 empresários florestais, As entrevistas foram realizadas forma presencial ou por
telefone. De forma a relacionar e validar a informação recolhida foram feitas visitas de campo
para observação das atividades desenvolvidas pelas empresas (desde a mobilização do solo ao
corte final). Desta forma, foi possível observar, in loco, se, existia o cumprimento de algumas
imposições legais, principalmente no campo da Saúde e Segurança no trabalho. A distribuição das
empresas na região é apresentada na Figura 1.

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C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

Figura 1 – Localização das sedes das empresas na Região do Baixo Vouga

3. RESULTADOS

Embora os inquéritos tenham sido abrangentes, de forma a recolher contemplar a informação


necessária para a caracterização, o mais detalhada possível, das empresas florestais, apenas se
apesentam os principais resultados quanto: às atividades principais e secundárias exercidas; tipo
de atividade exercida, quantidade e operacionalidade dos equipamentos; número de
trabalhadores, faixas etárias e suas funções; subcontratação de serviços; cumprimento das
imposições legais para a sua atividade (a nível da Segurança e Saúde no Trabalho, formações
especializadas para a atividade/função, organização dos equipamentos de trabalho/máquinas e
utilização de Equipamentos de Proteção Individual); volume de negócios e custos anuais com
manutenções e reparações de equipamentos; quantificados os acidentes de trabalho decorrentes
da atividade e levantados os principais problemas associados à atividade florestal, identificados
pelos inquiridos.

3.1. Atividades principais e secundárias exercidas

Dos 45 inquiridos, apenas quatro sabiam o código CAE- Classificação Portuguesa das Atividades
Económicas, que correspondia à sua atividade. No entanto, como se constatou, todas prestam
serviços relacionados com a silvicultura e exploração florestal (02200). As atividades que as
empresas inquiridas desenvolvem, constam na figura 2.

503
C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

Figura 2 - Principais atividades florestais exercidas pelas empresas inquiridas

Como é possível verificar, na amostra inquirida, a atividade florestal com maior predominância, é a
Exploração com 62% (28 empresas) incluindo as três operações, corte, rechega e transporte. Além
disso, outra atividade principal realizada (9%, que corresponde a quatro empresas) é o corte de
árvores apenas, sem envolver as restantes operações da exploração.

3.2. Número de trabalhadores, faixas etárias e suas funções

Na figura 3 é apresentado o número de trabalhadores, em intervalos, por empresa. As 45 empresas


empregam 230 trabalhadores permanentes recorrendo, contudo, a mão-de-obra eventual em
algumas épocas do ano. Como se observa, a maior parte das empresas (37) tem menos de 5
trabalhadores, havendo no entanto duas empresas que empregam entre 31 a 35 trabalhadores.

Figura 3 - Número de trabalhadores por empresa

A idade dos trabalhadores é um fator importante na execução das tarefas exigidas. Algumas funções,
pela sua dureza, exigem mão-de-obra mais jovem, mas, pela especificidade destas funções a
experiência é um factor importante que só se ganha com a experiência do trabalho (Figura 4).

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C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

Figura 4 - Idade dos trabalhadores

Dos 230 trabalhadores, das empresas inquiridas, 26% têm idades compreendidas entre os 46 e os 55
anos, 25% entre 36 e 45 anos, 23% entre 26 e 35 anos, 9% entre 18 e 25, 9% entre 56 e 65 anos, 3%
entre 66 e 75 anos e 5% correspondem a trabalhadores cuja informação não foi fornecida pela
empresa.

3.3. Subcontratação de serviços

Muitas empresas subcontratam outras para a realização de certas atividades e trabalhos


complementares aos seus. A Figura 5 mostra a percentagem de empresas que subcontratam
serviços, bem como o tipo de atividade subcontratada.

Figura 5 - Subcontratação de serviços

A figura 5 mostra que a maior parte das empresas inquiridas (62%) contratam outras empresas para a
realização de atividades. Algumas empresas (9%), não souberam/quiseram responder a essa
questão. O serviço mais subcontratado a terceiros é o de corte na exploração florestal (39% das
empresas), seguido do transporte (20%) e da rechega (20%).

3.4. Cumprimento das imposições legais para desenvolver a atividade

Como referido anteriormente, as empresas devem cumprir algumas imposições legais para correta
execução das suas atividades. De todas as obrigatoriedades legais, foi considerado importante para o

505
C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

objetivo deste trabalho indagar acerca do conhecimento que as empresas possuíam sobre ao nível
da Segurança e Saúde no Trabalho (SST), formações especializadas para a atividade/função,
organização dos equipamentos de trabalho/máquinas, e utilização de Equipamentos de Proteção
Individual (EPI).

3.4.1. Segurança e Saúde no Trabalho

Quanto ao serviço de segurança e saúde da empresa (seguros de acidentes de trabalho, de fichas de


aptidão médica, etc.), as empresas foram inquiridas quanto à organização que possuem. A maior
parte das empresas (93%) afirmaram ter os serviços de segurança e saúde da empresa organizados,
sendo que 7% não tem registos sobre esta questão (Figura 6).

Figura 6 - Organização dos Serviços de Segurança e Saúde

3.4.2. Formações específicas para à atividade/função

Dos 45 inquiridos, apenas sete afirmaram que seus empregados possuíam formação na função de
motosserristas e três inquiridos responderam que seus empregados estavam a frequentar formação
para poderem conduzir (o chamado CAM – Certidão de Aptidão para Motorista). O curso CAM é
frequentado nas escolas de condução da região, enquanto o curso de motosserrista é realizado no
Concelho da Lousã. Por motivos de indisponibilidade de deslocação e de tempo, poucos são os
empregadores que facultam aos trabalhadores este tipo de formação, não obstante da
obrigatoriedade legal.
Quanto à formação específica, de acordo com o artigo 131.º da Lei nº 7/2009 de 12 de Fevereiro, o
empregador deve, “assegurar a cada trabalhador o direito individual à formação, através de um
número mínimo anual de horas de formação”. Dessa forma, foi questionada se as empresas
cumpriram a obrigatoriedade de facultarem formação aos seus empregados (Figura 7)

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C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

Figura 7 - Empresas que facultaram formação aos seus empregados no ano de 2011

Como se observa na Figura 7, 71% das empresas não cumpriram com a obrigatoriedade de
facultarem formação aos seus empregados. Cerca de 13% das empresas não souberam responder
se as formações foram realizadas realmente ou se conseguiram, pelo menos, alcançar o número
mínimo exigido por lei.
Foi também inquirido às empresas o que entendiam acerca da necessidade de formação específica
para o funcionamento da sua empresa, incluindo os seus empregados e a nível pessoal (Figura 8).
A maioria das empresas (76%) respondeu não ser necessário nenhuma formação específica para o
melhor funcionamento da sua empresa. O motivo principal apresentado foi que os trabalhadores já
tinham experiência suficiente para desempenharem as suas funções. Os inquiridos que afirmaram a
necessidade de formação específica (24%), pelo menos para contribuir para contabilizar as 35 horas
de formação (exigidas por lei), afirmaram não ter conhecimento das formações disponíveis e as que
conheciam, localizavam-se distantes da área de intervenção das empresas, ou da área de residência
de cada empregador/trabalhador.

Figura 8 - Necessidade de formação específica para o funcionamento da empresa

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C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

3.4.3. Utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI)

A distribuição dos EPI’S aos trabalhadores é da responsabilidade das empresas. Esta deve também
averiguar se os equipamentos se encontram em perfeito estado de conservação e utilização
(Decreto-Lei nº 348/93).
Os inquiridos afirmaram todos terem distribuído os EPI’s aos seus trabalhadores, demonstrando
conhecimento da legislação em vigor, pelo que, foi perguntado quando efetuaram a distribuição dos
EPI’s, pela última vez (Figura 9).

Figura 9 - Ano da última distribuição dos EPI's aos trabalhadores

Como se observa na figura 9, 42% das empresas entregaram EPI’s aos seus trabalhadores, pela
última vez, no ano em que foi feito o inquérito (2012), 44% entregaram em 2011, 7% entregaram em
2010, 2% realizou a distribuição no ano de 2009 e 5% entregaram em 2008.
As empresas que distribuíram EPI’s, pela última vez, há mais de 2 anos, apresentaram que estes não
sofreram nenhum tipo de acidente ou avaria, e ainda se encontram em bom estado de utilização.

3.4.4. Seguros de acidente de trabalho individual e de responsabilidade civil

Para uma correta realização da atividade florestal, é necessário como obrigatoriedade a existência de
seguros, quer sejam de acidente de trabalho individual ou os de responsabilidade civil.
De forma a abordar essa responsabilidade por parte dos empregadores, foi questionada se as
empresas possuíam seguros de acidentes de trabalho para os trabalhadores, como se apresenta na
figura 23.
Quanto a seguros de acidente de trabalho individual apenas 1 inquirido, dos 45, respondeu não ter
seguro de acidente de trabalho argumentando o facto de ser trabalhador por conta própria e não
querer ter esse encargo financeiro. Quanto à existência de seguro de responsabilidade civil, não
sendo obrigatório, nem todas as empresas acham conveniente a sua obtenção, como se observa na
Figura 10.

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Figura 10 - Existência de seguro de responsabilidade civil na empresa

Apesar de a maior parte das empresas inquiridas (65%) terem um seguro de responsabilidade civil,
24% não os acha essenciais para a sua empresa e 11% mostraram desconhecimento destes
seguros.

3.5. Volume de negócios

É de conhecimento geral que a atividade florestal é um setor fundamental para a economia do país.
O volume de negócios anual das empresas, constituiu um fator importante para o estudo do mercado
de trabalho. Dessa forma, foi questionada às empresas acerca do volume de negócios alcançados no
ano de 2011, em valores monetários (Figura 11).

Sobre esta questão, 13 empresas não responderam por entenderem que este tema era
extremamente confidencial para a empresa, ou por não terem uma contabilidade organizada que lhes
permitissem saber o volume de negócios gerado em 2011. Apenas uma empresa teve um volume de
negócios inferior a 10.000€, cinco empresas geraram entre 25.000€ a 50.000€, quatro empresas
entre 10.000€ a 25.000€; quatro empresas entre 75.000€ a 100.000€; quatro empresas entre
175.000€ a 200.000€, três empresas entre 225.000€ a 250.000€; duas empresas entre 250.000€ a
300.000€, três empresas entre 300.000€ a 350.000€, três empresas entre 350.000€ a 500.000€.
Acima dos 500.000€ de volume de negócios estão apenas três das empresas inquiridas.
Dada a sensibilidade desta pergunta, as respostas podem ter sido enviesadas da realidade, por
defeito. Contudo, estas respostas são indicativas da importância da atividade de exploração florestal
para a economia.

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Figura 11 – Volume de negócios (€) das empresas inquiridas, no ano de 2011

3.6. Manutenção e reparação dos equipamentos

Os equipamentos e máquinas florestais exigem uma manutenção e reparação constante fruto das
tarefas de desgaste a que são sujeitas. O apoio mecânico para manter e reparar os equipamentos
florestais é fundamental para manter o correto funcionamento dos mesmos. Por isso, foi inquirido às
empresas, de que forma realizam a manutenção e reparação dos seus equipamentos bem como
quais os custos anuais com manutenções e reparações de equipamentos e máquinas (Figura 12).

Figura 12 – Custos anuais com manutenções e reparações de equipamentos

Os custos anuais com manutenções e reparações de equipamentos sendo muito variáveis foram
agrupados por intervalos. Como se observa 73% das empresas têm custos acima de 10.000€ a
25.000€ o que é significativo.

3.7. Acidentes de trabalho

O sector florestal apresenta uma elevada taxa de acidentes considerados graves e até mortais, sendo

510
C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

necessário criar medidas e formas de prevenção com o intuito de evitar e diminuir a ocorrência de
acidentes. Com o intuito de quantificar e tipificar os acidentes de trabalho ocorridos nos últimos dois,
e há mais de dois anos, perguntou-se às empresas se tinham registos de acidentes de trabalho.
Considerando os últimos dois anos, em 71% das empresas não se registaram acidentes e em 29%
das empresas eles ocorreram. Considerando os acidentes ocorridos há mais de dois, 67% das
empresas referiam não ter existido nada relevante mas 29% das empresas referiram terem ocorrido.
A tipificação e quantificação desses acidentes são apresentadas na Figura 13.

Figura 13 – Discriminação do número de acidentes por atividade

Como se observa na Figura os acidentes ocorreram nas funções de motosserrista, motorista,


operador de máquinas e indiferenciados (realizam qualquer tarefa que não tenha nenhuma categoria
específica). Como se observa, a maioria dos acidentes ocorreu em trabalhadores sem função
específica. A falta de especialização pode contribuir para estes acidentes.

3.8. Principais problemas da atividade florestal

Por último, foram levantados os principais problemas associados à atividade florestal, identificados
pelos inquiridos (Figura 14).

O principal constrangimento identificado foi o preço elevado das matérias-primas (48% dos
inquiridos), seguido da concorrência, que 19% dos inquiridos aponta como um número excessivo de
agentes a competir na mesma atividade.

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C. Tavares, L. Sarabando, H. Viana

Figura 14 – Principais problemas associados à atividade florestal, identificados pelos inquiridos

4. CONCLUSÃO

A realização do presente trabalho ajudou a ter uma percepção mais aprofundada do sector
florestal e as várias vertentes profissionais que o envolvem. A análise feita exibe as
potencialidades e oportunidades do sector, nesta região, e expõe algumas dificuldades, que se
traduzem na ausência do integral cumprimento de todas as obrigatoriedades exigidas por lei,
quer de dificuldades económicas que as empresas identificam. Pretende-se que o conhecimento
obtido por este trabalho, acerca da realidade do sector, possa contribuir para a melhoria contínua
do funcionamento das empresas e cumprimento das suas atividades, para a criação de mais e
melhores oportunidades, para a dignificação do trabalho florestal e, desta forma, valorizar cada
vez mais o sector florestal nesta região.

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512
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Efeitos do fogo sobre a dinâmica da vegetação: o caso do Douro e Alto


Trás-os-Montes

Diana Tavares 1, Ana Catarina Sequeira 1, Marta S. Rocha 1, Francisco C. Rego 1, Rui Reis2

1 : Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves; Instituto Superior de Agronomia; Universidade Técnica
de Lisboa; Tapada da Ajuda, 1349-017, Lisboa
2: Direcção Geral do Território; Rua da Artilharia 1, 107; 1099-052, Lisboa

e-mail: Marta S. Rocha, marta.sousa.rocha@gmail.com

Resumo: Neste artigo apresenta-se o caso estudo do Douro e Alto Trás-os-Montes com o
objectivo de analisar as alterações espaciotemporais do uso do solo no intervalo de tempo de
1970 a 2007 e a sua correlação com ocorrências de incêndios. Para tal, recorreu-se à cartografia
do Inventário Florestal Nacional (1965-78), às Cartas de Ocupação do Solo de 1990 e 2007 e ao
levantamento de áreas ardidas de 1975 a 2006, para a criação de várias matrizes de transição
com as quais se caracterizaram e analisaram os padrões temporais das dinâmicas de uso do
solo. Verificou-se que a paisagem evoluiu de acordo com os factores sociais, muito influenciado
pelo êxodo rural. Desta forma, propiciou-se um aumento da classe dos Matos, a par com o
decréscimo das classes de agricultura. Quando o sistema interagiu com o fogo, verificou-se a
grande sensibilidade do Pinheiro bravo e o aumento da classe de Matos. Esta abordagem
mostrou-se importante na medida em que se consegue perceber a evolução da paisagem sob a
influência do fogo e sem a presença deste. Tal análise permite agir de forma mais pertinente na
gestão da paisagem e servir como uma ferramenta útil ao estabelecimento de novas políticas
florestais.
Palavras-chave: IFN’70, COS de 1990 e 2007, dinâmica da paisagem, incêndios

Abstract: The paper presents the case study of Douro and Alto Trás-os-Montes, focused on a
comprehensive and detailed analysis of the wildfire-driven spatiotemporal forest dynamics in
Portugal between 1970 and 200. To this end, we resorted old and recent cartography, spanning a
time period of three to four decades, such as National Forest Inventory of 1965/78 – IFN’70, Land
Cover Map of Continental Portugal for 1990 and 2007, and cartography of burnt areas for the
period 1975-2006), in order to create several transition matrices with which were characterized
and analyzed the temporal patterns of land use dynamics. It was found that the landscape has
evolved according to social factors, much influenced by the rural exodus. Therefore, we found an
increase in the class of Shrubland, along with the decline in agriculture classes. When the system
interacted with fire, there was a great sensitivity in Pinus pinaster and an increase in the class of
Shrublands. This approach proved to be important as one can understand the evolution of the
landscape under the influence or absence of fire. Such analysis will allow a more relevant
management of the landscape, which could be a useful tool for the establishment of new forest
policies.
Keywords: IFN’70; COS 1990 and 2007, landscape dynamics, wildfires
Diana Tavares, Catarina Sequeira, Marta S. Rocha, Francisco C. Rego

2. INTRODUÇÃO

Hoje em dia floresta e incêndios são termos quase indissociáveis. Mas foi apenas a partir dos anos
70 que o fogo se tornou um elemento frequente e de elevado perigo na nossa Paisagem, tendo um
papel muito importante na sua evolução e apresentando grandes impactes ao nível social, ambiental
e económico.
Sendo Portugal um dos países, do sul da Europa, mais afectado pelos fogos, tendo em conta a razão
áreas ardidas/área territorial (J. S. PEREIRA, PEREIRA, REGO, SILVA, & SILVA, 2006) torna-se
relevante alargar o estudo da sua influência nas dinâmicas da paisagem portuguesa.

O Fogo e a Floresta
O fogo foi desde sempre considerado um factor natural e importante no equilíbrio do ecossistema não
representando qualquer ameaça a este (GUIMARÃES, 2009). É na segunda metade do séc. XX,
década de 70, que Portugal é surpreendido por um novo fenómeno: os incêndios rurais. O fogo ganha
uma nova escala passando a ser tratado como incêndio. O risco de fogo na vegetação é uma
inevitabilidade do clima mediterrânico pois em cada ano se passa por um ciclo em que o inverno é
chuvoso permitindo a acumulação de combustível e o verão é quente e seco (CATRY, BUGALHO, &
SILVA, 2007; J. S. PEREIRA et al., 2006). Os anos 70 foram fortemente marcados pelo êxodo rural,
resultando no abandono dos campos agrícolas e áreas florestais levando ao desaparecimento do
mosaico agro-florestal. Como consequência nas décadas seguintes assistiu-se a um aumento das
áreas ardidas em cada ano. O ano de 2003 ultrapassou todos os registos em áreas ardidas e o fogo
chegava agora às habitações e atingia directamente bens e pessoas (J. S. PEREIRA et al., 2006).
Por ano verificam-se cerca de 30.000 ignições que se concentram nos meses de verão. No período
de 1980 a 2004 observou-se que 93% da área ardida concentrava-se entre Junho e Setembro, e que
os fogos com mais de 1.000 ha, responsáveis por cerca de 90% da área ardida em cada ano,
correspondem a apenas 1% dos fogos. Nos últimos 25 anos, dos 30% de território ardido 1.200.000
ha arderam uma vez, 300.000 ha arderam duas vezes e 110.000 ha arderam três vezes.
Espacialmente a recorrência de fogos verifica-se em áreas montanhosas do interior e está associada
à queima de vegetação (MOREIRA & COELHO, 2008). Na década de 90, uma área equivalente a
20% do território acima do rio Tejo, foi destruída por incêndios florestais, correspondendo a mais de
um milhão de hectares (MARTINS & RIBEIRO, 2004).
Entre 1990 e 2005 menos de 1/3 da área percorrida pelo fogo era floresta, mais de metade
correspondia a matos, onde se incluem áreas de pastagem naturais e áreas recém-queimadas que
voltaram a arder, 11% da área ardida equivalia a terrenos agrícolas e 1% dizia respeito a áreas
urbanas, solos nus ou afloramentos rochosos (J. S. PEREIRA et al., 2006).
Relativamente à distribuição da floresta portuguesa, a região sul é constituída por carvalhos de folha
perene, dominando o sobreiro nas zonas de maior humidade e a azinheira nas zonas de maior
secura. Na região norte aparecem os carvalhos de folha caduca, dominando o carvalho negral nas
maiores altitudes, sendo substituído, à medida que se desce as encostas e aumenta a humidade,
pelo carvalho alvarinho. O carvalho cerquinho estende-se desde o Alto Douro até às serranias do
Algarve. O pinheiro bravo aparece no litoral norte (desde as bacias do Tejo e Sado até ao rio Minho),

514
Diana Tavares, Catarina Sequeira, Marta S. Rocha, Francisco C. Rego

concorrendo com os carvalhos na Beira central, mais a sul, quando a secura aumenta, o pinheiro
manso toma o seu lugar. Os castanheiros sobem até aos 1000 m, estendendo-se até Portalegre. O
vidoeiro (espécie de altitude) não aparece a sul do Zêzere e Mondego. A alfarrobeira raramente se
encontra a norte da serra do Algarve (J. PEREIRA & CORREIA, n.d.). Durante o séc. XX, a área de
espaços florestais arborizados aumentou significativamente, sobretudo devido ao sobreiro e pinheiro
bravo até à década de 70 e ao eucalipto a partir da década de 50 (DGRF, 2007). A fixação da floresta
de produção no território deve-se ao abandono da agricultura e expansão do pinheiro, ou aumento da
área de sobreiro e eucalipto em resposta à industrialização da cortiça e pasta de papel
respectivamente (J. S. PEREIRA et al., 2006).
Os povoamentos de pinheiros estão sujeitos a um maior risco de incêndio do que outras espécies,
devido à alta inflamabilidade da resina e das agulhas e caruma, e à sua grande produção de manta
morta sobre o solo (SARDINHA & MACEDO, 1993; SILVA, 2007). No entanto o pinheiro bravo possui
algumas características que lhe conferem alguma resistência ao fogo (CATRY et al., 2007; SILVA,
2007), como a casca espessa o que permite sobreviver a incêndios de baixa intensidade, e mantém
frequentemente pinhas fechadas na copa que abrem após exposição ao calor, libertando uma grande
quantidade de sementes. Os eucaliptos, de um modo geral, evoluíram num ambiente em que o fogo é
um fenómeno natural recorrente tendo desenvolvido várias características de resistência ao fogo
como (SILVA, 2007) a capacidade de reconstituir a copa queimada, emitindo rebentos na própria
copa, e a facilidade de germinar em áreas recentemente queimadas. A alta inflamabilidade do
eucalipto deve-se à grande quantidade de óleos que as suas folhas contêm (CATRY et al., 2007). Por
isso o fogo no eucaliptal deve-se essencialmente à combustão do estrato herbáceo ou à combustão
dos detritos (folhas, ramos e cascas) dos próprios eucaliptos (SARDINHA & MACEDO, 1993). Além
disso, em Portugal, as plantações de eucalipto constituem frequentemente manchas contínuas de
vegetação, sendo assim bastante susceptíveis à propagação de incêndios (SILVA, 2007). O sobreiro
é a espécie mais representativa dos montados portugueses. Estes são bastante inflamáveis no
entanto encontram-se bem adaptados ao fogo, conseguindo regenerar a partir da copa, mesmo após
um incêndio severo, permitindo-lhe recuperar muito mais depressa do que outras espécies. No
entanto esta resistência depende da espessura da casca (cortiça) que é um excelente isolante
térmico e retardante da combustão (CATRY et al., 2007).
O caso de estudo aqui apresentado corresponde às NUT III do Douro e Alto de Trás-os-Montes.
Numa primeira parte faz-se a caracterização geral da área. De seguida analisa-se a paisagem nos
anos 1970, 1990 e 2007 e estuda-se as dinâmicas dessa paisagem para os intervalos de tempo
1970/1990 e 1990/2007. Por ultimo relaciona-se esta análise com a informação das áreas ardidas de
modo a perceber qual a evolução dos diferentes tipos de floresta e de que forma o fogo influenciou
essas alterações de uso do solo.

2. CASO DE ESTUDO

As NUTIII do Douro e Alto Trás-os-Montes, como um conjunto (NDATM), têm por limite geográfico a
Norte e a Este com Espanha, a Sul com a Beira Interior Norte e o Dão-Lafões e a Oeste com o
Tâmega, Ave e Cávado. Abrange um total de 34 concelhos, pertencentes aos Distritos de Bragança,

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Vila Real, Viseu e Guarda, e ocupa uma área total de 1.227.964 ha.
A NDATM engloba diferentes Unidades de Paisagem e, como tal, apresenta uma considerada
diversidade paisagística. Existem zonas de vales, mais ou menos estreitos, normalmente mais
agrícolas que contrastam com as zonas serranas agrestes circundantes, quer pela intensidade de
usos, actividades económicas, ou concentração populacional (D’ABREU, CORREIA, OLIVEIRA,
MAGRO, & Al., 2004).
Genericamente o clima do total é mediterrânico com influência continental, caracterizado por duas
estações extremas, com Invernos severos e Verões quentes, e com amplitudes térmicas
pronunciadas, tanto diárias como anuais. Caracteriza-se por ser agreste e frio nas áreas planálticas e
mais quente nas áreas profundas encaixadas. A paisagem varia entre serras imponentes, veigas
férteis, rios e ribeiras mais ou menos encaixadas. Mais pormenorizadamente: quanto à precipitação,
existe uma grande variação na área, situando-se entre 400 e 2.800 mm/ano. A temperatura média
anual situa-se entre os 7,5º e os 16º, sendo que o decréscimo acontece se Sul para Norte e os
valores médios anuais de humidade estão entre 65% e 85%.
Os solos são predominantemente cambissolos, luvissolos e litossolos e, relativamente à litologia, é
essencialmente de natureza xistosa. Além do xisto, existem grauvaques e algumas manchas
graníticas e, em menor extensão, manchas de quartzitos, de gneisses e areias.
É rasgada pelos vales dos rios Tâmega, Tua, e pelo Douro, zonas que demonstram maior aptidão
agrícola, e abrange as serras do Alvão, Marão, e Montesinho, entre outras elevações, encontrando-se
o ponto de menor altitude nos 2 m e o de maior altitude nos 1.527 m.
A NDATM tem cerca de 185.964 habitantes, com uma média de idades de aproximadamente 42
anos. A densidade populacional média é de 37,6 habitantes/Km2, sendo para o Douro 50,1
habitantes/Km2 e para Alto Trás-os-Montes 25 habitantes/Km2 (INE, 2011).

2. METODOLOGIA

A metodologia adoptada para o estudo dos efeitos do fogo sobre a dinâmica da paisagem na área
relativa ao caso de estudo tem por base noções de incêndios florestais e comportamento da
vegetação perante os mesmos. A estes conceitos associam-se as particularidades biofísicas do local
e a acção antrópica. Para se quantificar essas dinâmicas geraram-se matrizes de transição, também
designadas como cadeias de Markov, que representam um formalismo de modelação de sistemas
que o descrevem como um processo estocástico, ou seja, representam a probabilidade de cada
classe se manter ou transformar numa outra classe entre dois períodos de tempo.
As matrizes de transição têm sido utilizadas em diversos estudos de dinâmicas de solos a diferentes
escalas espaciais (BAKER, 1989). Neste trabalho foram geradas seis matrizes de transição de
estados que permitem analisar as alterações de ocupação do solo entre 1970 e 1990, 1990 e 2007 e
1970 e 2007 com e sem a presença de fogo o que nos permite estudar as dinâmicas do uso do solo e
a influência que o fogo tem nessas mesmas dinâmicas, analisar a susceptibilidade dos diferentes
tipos de vegetação ao fogo e prever qual será a transformação da ocupação do solo num período de
tempo futuro.

516
Diana Tavares, Catarina Sequeira, Marta S. Rocha, Francisco C. Rego

3.1. Materiais

Cartografia de base
Para a análise das transformações da paisagem na área de estudo, utilizaram-se as cartas do
Inventário Florestal Nacional de 1970 (IFN 70), da Carta de Ocupação do Solo de 1990 (COS 90) e
da Carta de Ocupação do Solo de 2007 (COS 07). Na Tabela 1 faz-se um pequeno resumo das
características das mesmas.
Tabela 1. Características da cartografia base.
Material Fonte Formato Informação Relevante
IFN 70 AFN Shapefile Escala - 1:25000
COS 90 IGP Shapefile Escala - 1:25000
COS 07 IGP Shapefile Escala - 1:25000

Numa primeira análise das legendas procedeu-se a uma harmonização das mesmas, de modo a
serem comparáveis entre si, resultando em 98 classes de ocupação de uso do solo, em que as
classes correspondentes às áreas florestais se encontram mais descriminadas e as classes das áreas
agrícolas e áreas sociais menos descriminadas, de acordo com o nível de detalhe do COS 2007 que
se considerou mais pertinente para cada tipo de uso de solo e para análise que se pretendia. Para a
análise das matrizes de transição considerou-se que 98 classes de uso de solo era um nível muito
detalhado da paisagem havendo transições que não tinham qualquer relevância ao nível do país e
decidiu-se fazer uma reclassificação para 35 classes (Tabela 2), tendo em conta áreas superiores a
2.500 hectares para cada classe de ocupação do uso do solo nos 3 anos em estudo.

Tabela 2. Legenda adoptada com o agrupamento das ocupações de uso do solo em 35 classes.
Código Descrição Código Descrição
1 Tecido urbano e espaços verdes urbanos 17 Florestas de outros carvalhos
Culturas temporárias de sequeiro, pastagens e áreas
4 18 Florestas abertas de outros carvalhos
naturais
5 Culturas temporárias de regadio 19 Florestas de castanheiro
7 Vinhas 20 Florestas de eucalipto
8 Pomares 23 Florestas de outras folhosas
9 Olivais 24 Florestas de pinheiro bravo
SAF de sobreiro (c/ ou s/ azinheira) com culturas
Florestas de pinheiro bravo com folhosas ou
10 agrícolas (temporárias ou permanentes) ou pastagens 25
resinosas
(sequeiro ou regadio)
11 Florestas de sobreiro 26 Florestas abertas de pinheiro bravo
Florestas de abertas pinheiro bravo com
12 Florestas abertas de sobreiro 27
folhosas ou resinosas
SAF de azinheira com culturas agrícolas (temporárias ou
13 30 Florestas de outras resinosas
permanentes) ou pastagens (sequeiro ou regadio)
14 Florestas de azinheira 31 Matos, incultos e improdutivos
15 Florestas abertas de azinheira 33 Novas plantações
16 SAF de outros carvalhos e outras espécies 35 Águas

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Cartografia auxiliar
Para a análise da dinâmica da paisagem com a influência do fogo e de algumas características do
território, fez-se uso de uma base de dados de áreas ardidas que reúne ocorrências desde 1975 a
2006 (aa 75-06) (Tabela 3).

Tabela 3. Características da cartografia auxiliar utilizada.


Material Fonte Formato Informação Relevante
aa 75-06 CEABN Shapefile 1975 a 1983 AMC – 35ha
1984 a 2006 AMC – 5ha

Software
Utilizou-se o ArcGIS® para gerar as intersecções entre cartografia, o software estatístico SPSS e o
Excel para tratamento dos dados provenientes do ArcGIS®.

3.2. Método

Matrizes de transição
Como se disse, as matrizes de transição representam, aqui, as probabilidades de mudança entre
classes de uso do solo, ou seja, representam a probabilidade de cada classe se manter ou
transformar numa outra classe entre dois períodos de tempo.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados apresentados no Gráfico 1 mostram que, quantitativamente, assistiu-se desde os anos


70, a um aumento das áreas sociais (código 1, 2, 3), decréscimo da agricultura (código 4, 5, 6, 7, 8, 9,
10, 16), manutenção da área de matos (código 31), aumento e posterior decréscimo das resinosas
(código 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 32) e a um aumento consecutivo das folhosas (código 14, 15, 17,
18, 19, 20, 21, 23, 11, 12).

100%

80%

60%

40%

20%

0%
IFN 70 COS 90 COS 07

1 10 11 12 14 15 16 17 18 19
2 20 21 23 24 25 26 27 28 29
3 30 31 32 4 5 6 7 8 9

Gráfico 1. Ocupação do solo em 1970, 1990 e 2007.

O aumento das áreas sociais até 2007 aconteceu sobretudo devido à construção de acessibilidades e
de habitações financiadas por dinheiro externo proveniente de investimentos de emigrantes. Na

518
Diana Tavares, Catarina Sequeira, Marta S. Rocha, Francisco C. Rego

região do Douro prende-se também com o desenvolvimento de infra-estruturas ligadas à exploração


vitivinícola.
A Agricultura foi sucessivamente diminuindo devido ao êxodo rural e ao abandono dos campos
agrícolas pela procura de outras actividades mais rentáveis nos centros urbanos. Tendo em conta
que a Agricultura é um sistema que depende quer de factores naturais quer de factores humanos,
tem que existir um balanço positivo entre eles para esta se tornar próspera. Relativamente aos
factores naturais, o clima tal como o solo e o relevo apresentam-se rigorosos, difíceis e exigentes,
sobretudo na parte Norte da NDATM. Os factores humanos, traduzidos na densidade populacional,
nos sistemas económicos e políticos, nas técnicas de trabalho e meios utilizados e, no grau de
formação dos agricultores, evidenciavam-se até ao final do período analisado cada vez mais
escassos e com menos apoios pelo facto de as gerações mais novas já se interessarem pouco pela
actividade agrícola.
Quanto ao tipo de Agricultura praticado, o sequeiro e o regadio. Apesar da Agricultura de regadio ser
mais produtiva em termos de unidade-área, existem nesta área factores como a topografia e a
pequena dimensão da propriedade que vão condicionar a sua instalação e manutenção, tornando-se
então mais rentável uma Agricultura de sequeiro. Apesar da classe cultura temporária de sequeiro ter
diminuído até 2007, continuou a ser a mais representativa das classes agrícolas.
Em relação aos Matos, estes aumentaram durante todo o período como consequência, na sua
maioria, de um abandono dos terrenos. O Eucalipto (20, 21), que actualmente é a terceira das
espécies florestais dominantes em Portugal, no período 70-07 não demonstra uma forte presença na
área. Foi plantado para produção de celulose, mas não se adaptou muito bem, essencialmente
devido ao clima.
Qualitativamente, e em termos gerais (Gráfico 2), verificou-se que na generalidade as ocupações se
mantiveram ao longo do período observado (70-07), diferenciando-se essencialmente ao nível da
densidade do povoamento. Quando se verifica transição do uso do solo, este aconteceu
principalmente para a classes de uso de Matos, Incultos ou Improdutivos (31). No entanto,
considerou-se que esta análise poderia tornar-se muito geral pelo facto de ser realizada para um
período de tempo muito grande, podendo algumas alterações passar despercebidas. Desta forma,
fez-se uma segunda análise para dois períodos de tempo mais pequenos: 70/90 e 90/07.

Gráfico 2. Alterações qualitativas na ocupação do solo entre 1970 e 2007.


No período de 70/90, e em relação à análise anterior, acrescenta-se que quando há transição de uma

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classe de uso do solo para outra, além das transições para Mato, Incultos ou Improdutivos (31), já
referidas anteriormente, sobressaem as transições para as classes de floresta de Pinheiro bravo,
puras ou mistas (24, 25, 26, 27, e 30), como mostra o Gráfico 3.

Gráfico 3. Alterações qualitativas na ocupação do solo entre 1970 e 1990


No período 90/07 verificou-se que mais uma vez os usos têm tendência a manter-se principalmente
nas classes de uso agrícola. Em relação às transições observa-se o mesmo comportamento do
período de tempo anterior em que há uma tendência de certas classes passarem para as classes de
ocupação das Florestas de Pinheiro bravos, sendo a mais evidente a classe das Florestas de
Eucalipto (Gráfico 4).

Gráfico 4. Alterações qualitativas na ocupação do solo entre 1990 e 2007.

Sensibilidade da paisagem ao fogo


A agregação das parcelas originais da informação referente ao IFN 70, COS 90 e COS 07 em 35
classes permitiu perceber com maior facilidade a composição da paisagem. Seguidamente é
analisada a susceptibilidade das diferentes classes de uso de solo ao fogo.
As classes das áreas sociais (1, 2, 3) correspondem a espaços em que a ocorrência de fogos
florestais é muito reduzida.
As classes de agricultura (4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 16) mostram algumas diferenças entre elas no que
respeita à sensibilidade ao fogo. Assim, para a cultura de regadio a susceptibilidade de risco de
incêndio é baixa. Para outras classes de uso do solo como vinha, pomar, olival, de sequeiro, ou

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Diana Tavares, Catarina Sequeira, Marta S. Rocha, Francisco C. Rego

outras agrícolas, como sistemas agro-florestais (SAF), em que a utilização agrícola é dominante, a
susceptibilidade ao fogo já é significativa e tende a aumentar com o nível de abandono em que se
encontra.
Na classe dos matos, incultos e improdutivos (31) apresentam-se dois opostos no que respeita à
susceptibilidade aos fogos. Os matos e incultos são particularmente susceptíveis a este enquanto que
nos improdutivos a ocorrência de incêndios é quase nula.
A classe de resinosas (24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 32) é representada essencialmente por pinheiro
bravo e esta espécie está sujeita a um maior risco de incêndios do que outras espécies devido à alta
inflamabilidade da resina e das agulhas e caruma, e à sua grande produção de manta morta sobre o
solo.
De um modo geral as folhosas (11, 12, 14, 15, 17, 18, 19, 20, 21, 23) são menos inflamáveis que as
resinosas. Dentro das folhosas e em relação à sua susceptibilidade ao fogo pode-se admitir que as
formações arbóreas constituídas maioritariamente por espécies de folha caduca são menos
susceptíveis ao fogo que outras formações vegetais (CATRY et al., 2007). As classes referentes às
florestas de eucaliptos são muito susceptíveis ao fogo uma vez que o eucalipto é uma espécie muito
inflamável devido à grande quantidade de óleos que as suas folhas contêm.
Efectivamente, as classes que arderam menos em 70/90 foram a Floresta de Azinheira e a Floresta
de Castanheiro e em 90/07 foram as de agricultura. Nestas últimas a carga combustível é menor, por
ser mais vigiada, estar localizada mais perto das povoações e não serem parcelas de área elevada,
já que a agricultura se desenvolve em parcelas de pequenas dimensões. Os usos do solo mais
afectados pelo fogo nos dois períodos foram as classes de Pinheiro bravo, SAF de Sobreiro e Matos,
Incultos e Improdutivos. Estes últimos, por na maioria serem áreas não limpas e sem vigilância que se
tornam muito susceptíveis ao fogo, ou por fazerem parte de uma agricultura silvopastoril e estarem
muito ligados com o fogo. É de referir que quando se fala em fogo para a classe 31, os improdutivos
não fazem parte da análise porque não são afectados.

0,5

0,4

0,3 70/90
90/07
0,2

0,1

0
1 3 5 8 10 12 15 17 19 21 24 26 30 32

Gráfico 5. Área ardida por classe de uso relativamente ao total de cada classe (%)

Em seguida analisa-se a existência de fogos nos dois períodos de tempo estudados e a sua relação
com as classes de uso do solo. Apresentam-se duas tabelas (Tabela 4 e Tabela 5) resultantes da
análise das matrizes de transição, e que sumarizam as transições mais relevantes para cada período.

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Diana Tavares, Catarina Sequeira, Marta S. Rocha, Francisco C. Rego

Verifica-se que no período de 70/90, na presença do fogo, existe uma tendência mais acentuada de
quase todas as classes para a transição para Matos, Incultos e Improdutivos (31). Na sua ausência
esta situação não se verifica, ou acontece em menor dimensão.

Tabela 4. Transições na ocupação do solo mais relevantes no período 70/90.


Transições 70/90 Ardeu Não Ardeu
10 31 (35,96%) 11 (20,01%) 11 (39,52%)
11 11 (52,50%) 11 (49,79%)
12 11 (41,59%) 11 (48,72%)
14 31 (66,42%) 31 (29,61%) 11 (26,79%)
15 31 (70,32%) 31 (42,50%)
17 31 (68,51%) 17 (35,24%) 31 (28,99%)
19 31 (39,34%) 19 (51,38%)
23 31 (49,90%) 31 (17,77%) 23 (14,79%) 17 (12,90%)
24 31 (72,16%) 24 (51,36%)
25 31 (52,03%) 25 (30,44%)
26 31 (72,45%) 24 (38,70%) 31 (22, 67%)
30 31 (46,65%) 30 (35,72%) 30 (48,20%)
31 31 (81,73%) 31 (55,33%)

No período 90/07 (Tabela 5), observa-se a mesma situação, isto é, que existe uma propensão para a
transição para Matos, Incultos e Improdutivos (31) na presença de fogo, mas neste período há ainda
a acrescentar as transições para as classes de Floresta de Pinheiro bravo e para Culturas
temporárias de sequeiro, pastagens e áreas naturais (4). A Floresta aberta de Eucalipto (21), que não
existia em 1970, quer tenha ardido ou não, deu sempre lugar a Floresta de Pinheiro bravo,
contrariamente ao que aconteceu com a Floresta de Eucalipto (20). A Floresta aberta de Eucalipto
tem uma tendência muito marcada de transitar para Floresta de Pinheiro bravo, quer exista fogo ou
mesmo na sua ausência. De facto, o Eucalipto por não ser uma espécie bem adaptada ao local,
encontra-se muito vulnerável e sem hipótese de permanência quando em competição com outras
espécies perfeitamente adaptadas, como é o caso do pinheiro bravo. Além disso, a morte dos
povoamentos em certos locais por falta de adaptação leva ao aparecimento de Matos. No caso das
classes de Floresta de Pinheiro bravo é de referir que, mesmo sendo a estrutura dos povoamentos
mais importante que a composição em espécies, grande parte da NDATM é constituída por
povoamentos mono-específicos, que constituem um grande perigo no que concerne à propagação de
um incêndio.

Tabela 5. Transições na ocupação do solo mais relevantes no período 90/07.


Transições
Ardeu Não Ardeu
90/07
1 23 (30,55%) 31 (27,55%) 1 (62,26%)
2 31 (65,28%) 31 (34,51%)

522
Diana Tavares, Catarina Sequeira, Marta S. Rocha, Francisco C. Rego

3 26 (57,89%) 31 (35,94%) 31 (50,83%)


4 31 (43,28%) 4 (26,07%) 4 (45,92%)
5 4 (35,38%) 31 (22,45%) 4 (41,30%) 5 (26,15%)
6 17 (55,47%) 23 (44,41%)
7 7 (31,92%) 31 (28,21%) 7 (62,46%)
8 31 (40,87%) 9 (32,87%)
9 31 (37,67%) 9 (27,76%) 9 (57,10%)
10 31 (45,07%) 27 (20,60%) 4 (29,26%) 31 (18,33%)
11 11 (42,65%) 11 (43,14%)
12 31 (37,28%) 12 (20,63%) 31 (32,89%)
13 4 (31,68%) 15 (21,54%) 31 (17,93%)
16 31 (49,82%) 4 (34,26%)
17 31 (28,76%) 17 (23,25%) 17 (43,52%)
18 31 (40,58%) 17 (28,52%) 31 (21,99%)
19 31 (30,75%) 8 (42,56%)
20 31 (35,30%) 33 (22,83%) 20 (22,51%) 20 (35,63%) 33 (24,22%)
21 26 (81,10%) 24 (25,85%) 27 (15,01%) 23 (14,73%)
23 31 (33,57%) 23 (23,98%) 23 (22,11%) 17 (18,26%)
24 31 (44,57%) 26 (25,79%) 24 (41,51%)
25 31 (32,11%) 25 (27,93%) 31 (13,46%) 24 (13,19%)
26 31 (51,11%) 26 (23,04%) 31 (28,25%) 24 (19,63%) 25 (13,11%)
27 31 (43,18%) 31 (25,30%) 25 (18,30%)
28 17 (42,63%) 19 (30,98%)
30 31 (38,39%) 33 (27,28%) 24 (42,10%) 31 (21,15%)
31 31 (72,62%) 31 (60,04%)
32 31 (41,91%) 26 (26,44%) 31 (38,10%) 24 (20,57%)

5. CONCLUSÂO

Este artigo procurou explorar as dinâmicas da paisagem na NDATM no período de 1970 a 2007, por
meio de tabelas dinâmicas originadas da cartografia base de 1970, 1990 e 2007. Verificou-se que a
paisagem evoluiu de acordo com os factores sociais, muito influenciado pelo êxodo rural e por todas
as suas consequências. Desta forma, propiciou-se um aumento da classe dos Matos, Incultos e
Improdutivos a par com o decréscimo das classes de agricultura. Quando o sistema interagiu com o
fogo, verificou-se a grande sensibilidade das classes de Pinheiro bravo e o grande aumento da classe
de Matos, Incultos e Improdutivos em resultado das transições de outras classes de ocupação do
solo. Esta é uma área muito susceptível a incêndios devido à sua grande área florestal e a presença
do fogo foi e continuará a ser determinante nas alterações do uso do solo ao longo do tempo, já que
acentua tendências e favorece algumas ocupações do solo em detrimento de outras. De uma
maneira geral, o fogo desencadeia um desenvolvimento na paisagem diferente daquele que
aconteceria se não existisse. Com base na análise apresentada, é possível adquirir um melhor
entendimento da relação fogo-floresta, permitindo no futuro elaborar modelos de previsão do
comportamento do fogo na NDATM, e tomar opções mais acertadas na gestão da paisagem,
tornando-a menos susceptível aos incêndios florestais.

523
Diana Tavares, Catarina Sequeira, Marta S. Rocha, Francisco C. Rego

AGRADECIMENTOS

Este estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT/MCTES) através do
Projecto PTDC/ AGR-CFL/104651/2008 FIRELAND - Efeitos do fogo sobre a dinâmica da vegetação
à escala da paisagem em Portugal, e tem como parceiros: Instituto Geográfico Português (IGP),
Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta Neves (CEABN/ISA/UTL) e Autoridade Florestal Nacional
(AFN). Agradecemos a colaboração do Paulo Salgueiro, do Centro de Ecologia Aplicada Prof. Baeta
Neves, no apoio ao tratamento de dados.

BIBLIOGRAFIA

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Luso-Americana para o Desenvolvimento / Liga para a Protecção da Natureza.

524
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Bioecologia dos mexilhões de água doce (Unionidae) nos rios Sabor, Tua e
Tâmega (Bacia do Douro, Portugal): Principais ameaças e medidas de
conservação

Amílcar Teixeira1* Simone Varandas2, Ronaldo Sousa3,4, Elsa Froufe3 e Manuel Lopes-
Lima3,5
1
CIMO - ESA - IPB, Centro de Investigação de Montanha, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico
de Bragança, Campus Santa Apolónia, Apartado 1172, 5301-855 Bragança, Portugal.
2
CITAB - UTAD, Quinta de Prados, Apartado 1013, 5001-801 Vila Real, Portugal
3
CIMAR-LA/CIIMAR-UP, Rua dos Bragas 289, 4050-123 Porto, Portugal
4
CBMA - Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 Braga, Portugal.
5
ICBAS - Universidade do Porto, Rua de Jorge Viterbo Ferreira n.º 228, 4050-313 PORTO, Portugal

e-mail: amilt@ipb.pt

Resumo: Foram avaliadas as condições ambientais das populações de náiades (Mollusca,


Bivalvia, Unionidae) em diferentes troços dos rios Tâmega, Tua e Sabor, na proximidade de
grandes empreendimentos hidroelétricos em fase de construção. No verão dos anos 2010, 2011
e 2012 foi caracterizado o habitat e microhabitat disponível e usado pelas espécies Unio
delphinus, Anodonta anatina e Potomida littoralis. Recorreu-se à metodologia do River Habitat
Survey (RHS) para a avaliação do habitat aquático e ribeirinho. Para avaliação do microhabitat,
foram realizados transectos paralelos (próximo das margens) e perpendiculares ao fluxo de água.
Em cada microhabitat amostrado (0,25 m2) procedeu-se à medição das variáveis profundidade,
substrato dominante, velocidade no leito e coluna de água, cobertura e distância à margem. Os
unionídeos demonstraram uma distribuição espacial agregada em zonas específicas, tendo-se
detetado densidades superiores na proximidade das margens e especialmente em braços laterais
dos rios com fluxo permanente de água. Foram construídas curvas de preferência para cada
espécie. Assim, Unio delphinus e Anodonta anatina colonizam preferencialmente pools com
substrato fino, com núcleos populacionais situados entre raízes submersas, próximo de margens
escavadas. Por sua vez, a espécie Potomida littoralis apresenta densidades superiores em zonas
de maior corrente (riffles) e substrato mais grosseiro (seixos e pedras). Foram ainda realizadas
experiências laboratoriais para determinação da íctiofauna hospedeira das 3 espécies de
unionídeos, do qual se realça a afinidade quase exclusiva destas náiades com a fauna piscícola
autóctone (nomeadamente com ciprinídeos endémicos e salmonídeos). Face às ameaças
detetadas, caso da poluição, sedimentação e especialmente da regularização que conduzirá a
uma redução do habitat disponível e da íctiofauna nativa nos rios Sabor, Tua e Tâmega, é
fundamental a conservação de habitats e ecossistemas prioritários e a requalificação ambiental
de troços degradados de modo a preservar as espécies de invertebrados e vertebrados
autóctones fortemente ameaçadas.
Palavras-chave: náiades, habitat, qualidade da água, peixes hospedeiros

Abstract: The environmental conditions of naiad populations (Mollusca, Bivalvia, Unionidae) in


the rivers Tâmega, Tua and Sabor were assessed. In the summer of 2010, 2011 and 2012 it was
characterized the habitat and microhabitat available and used by the species Unio delphinus,
Anodonta anatina and Potomida littoralis. To the evaluation of aquatic and riparian habitat, the
River Habitat Survey methodology (RHS) was applied and complemented with the microhabitat
analyses. Parallel and perpendicular transects were made and the variables of depth, dominant
substrate, water column and bottom current, cover and distance to bank were measured (0.25
m2). The naiads showed an aggregated spatial distribution, with higher densities near the banks
and especially in the lateral arms of the rivers, with permanent flow. The preference curves
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

allowed to detect differences between Unio delphinus and Anodonta anatina, which preferentially
colonize microhabitats with fine organic and inorganic sediments, near the banks, between
submerged roots, and the Potomida littoralis, which occurred in higher densities in riffle zones
with coarse substrate (pebbles and stones). The results of laboratory experiments made to
determine the host fishes of Unionidae naiads, showed the affinity of autochthonous mussels
almost exclusively with the native fish fauna (namely endemic cyprinids and brown trout).
Conservation measures of habitats and priority ecosystems and rehabilitation of disturbed areas
(pollution, sedimentation and regulation) must be implemented in order to preserve endangered
vertebrate and invertebrate species of the Tâmega, Tua and Sabor rivers.
Keywords: naiads, habitat, water quality, host fishes

1. INTRODUÇÃO

Os bivalves de água doce são atualmente um dos grupos de organismos mais ameaçados e em risco
de extinção (BOGAN, 1993; WILLIAMS et al., 1993; NEVES et al., 1997; STRAYER et al., 2004).
BAUER (1988) refere que num passado recente os mexilhões de água-doce (Mollusca, Bivalvia,
Unionoida) sofreram uma diminuição superior a 90% na Europa, com tendência para um
agravamento no futuro. Entre os principais fatores de ameaça que levaram à regressão e/ou ao
desaparecimento de muitas populações de náiades incluem-se: 1) a poluição tópica (efluentes
domésticos e industriais) e difusa (agricultura, pecuária), 2) a regularização dos cursos de água
(represamentos e construção de barragens) que afeta a qualidade e quantidade de água e habitat
disponível (deposição de quantidades elevadas de sedimentos finos), 3) a extração de inertes
(destruição de habitats), 4) o desaparecimento dos peixes hospedeiros (sobrepesca e alteração dos
habitats) e 5) a introdução de espécies exóticas, que alteraram profundamente a composição
faunística do biota presente nos sistemas aquáticos (HASTIE et al., 2003; REIS, 2003).
No Nordeste Transmontano, nomeadamente nas bacias hidrográficas dos rios Sabor, Tua e Tâmega,
principais afluentes da margem direita do rio Douro em território português, está referenciado um bom
estado de integridade ecológica que permitiu, nomeadamente em áreas protegidas (e.g. Parque
Natural de Montesinho) mas também em muitos troços dos setores intermédios e terminais destes
rios de média-grande dimensão, a presença de diversas espécies autóctones com elevado valor em
termos de conservação. Nesta área ocorrem populações de náiades com grande sucesso reprodutor,
distribuídas por duas famílias: 1) Margaritiferidae, da qual faz parte apenas a espécie Margaritifera
margaritifera (LINNAEUS 1785), espécie muito ameaçada a nível nacional e mundial, estando
incluída nos Anexos II e V da Diretiva Habitats, no Anexo III da Convenção de Berna e classificada
como "Em Perigo" pelo Livro Vermelho da IUCN (2008) e 2) Unionidae, composta pelas espécies
Potomida littoralis (CUVIER 1798), Anodonta anatina (LINNAEUS 1785) e Unio delphinus
(SPENGLER 1793). No entanto, o Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial
Hidroelétrico (PNBEPH) que contempla três grandes aproveitamentos hidroelétricos em fase de
construção (i.e. Baixo Sabor- AHBS, Foz Tua- AHFT e Cascatas do Tâmega), e ainda múltiplas mini-
hídricas distribuídas pelas diferentes bacias hidrográficas, ameaçam seriamente a sobrevivência de
muitas destas populações de náiades. A degradação dos cursos de água e a perda de diversidade,
comum a muitos países europeus, estão na base da criação da Diretiva Quadro da Água (DQA)
(2000/60/CE), cujos objetivos compreendem, entre outros, a preservação e recuperação dos

526
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

ecossistemas aquáticos. Plantas, peixes e invertebrados, fazem parte dos elementos biológicos que,
conjuntamente com os elementos hidromorfológicos e físico-químicos da água assumem um papel
relevante na avaliação do estado ecológico. Entre os invertebrados, os bivalves de água doce são
tidos como espécies-sentinela dos ecossistemas, desempenhando um papel fundamental na
manutenção da qualidade da água. De facto, ao diminuírem a quantidade de clorofila a e de matéria
sólida suspensa, contribuem para a depuração natural dos ecossistemas aquáticos (VAUGHN &
HAKENKAMP, 2001). Segundo REIS (2006), a náiade M. margaritifera pode filtrar, por dia, cerca de
50 litros de água e consegue sobreviver em locais com mais de 700 indivíduos/m2. As espécies da
ordem Unionoida são, por isso, muito utilizadas na monitorização da qualidade da água por serem
excelentes bioindicadores, pela função de filtração desempenhada no ecossistema, e também pela
longevidade e modo de vida sedentária e complexo do seu ciclo de vida. Refira-se que as náiades
são parasitas obrigatórios, uma vez que os gloquídeos (i.e. larvas) necessitam desenvolver-se em
espécies piscícolas que funcionam como hospedeiros durante a fase inicial do ciclo de vida. É uma
notável estratégia de dispersão, uma vez que aproveitam a mobilidade e capacidade de colonização
da fauna piscícola, especialmente para troços situados a montante da ocorrência dos progenitores.
No caso da espécie Margaritifera margaritifera somente a família Salmonidae (i.e. truta e salmão)
funciona como hospedeiro nos cursos de água de Portugal. No que respeita aos unionídeos da região
transmontana, i.e. Potomida littoralis, Anodonta anatina e Unio delphinus, são pouco conhecidos
aspetos básicos da sua bioecologia. Nesta perspetiva, o presente trabalho teve como objetivos: 1)
avaliar e analisar as condições ecológicas dos rios Tâmega, Tua e Sabor, baseadas nas
características físicas e químicas de água e dos sedimentos; 2) caraterizar o habitat aquático e
ribeirinho com recurso ao River Habitat Survey; 3) determinar a preferência das náiades U. delphinus,
A. anatina e P. littoralis pelos microhabitats disponíveis; 4) identificar os peixes hospedeiros dos
unionídeos com base em testes laboratoriais.

Figura 1. Localização dos troços amostrados nos rios Tâmega, Tua e Sabor (Bacia do Douro).

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Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

2. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no verão de 2010, 2011, 2012 tendo-se selecionado diversos troços
distribuídos pelos setores médio e final dos rios Tua, Sabor e Tâmega (Bacia do Rio Douro), situados
no Nordeste Transmontano (Figura 1).

2.1. Caraterização ecológica

Para a caraterização ecológica dos rios, procedeu-se à avaliação da qualidade ambiental dos troços
selecionados através da realização de análises das seguintes componentes: 1) Qualidade da água:
foram recolhidas amostras para realização de análises físico-químicas (e.g. fósforo total, ortofosfatos,
nitratos, amónia, oxidabilidade) em laboratório. No campo, foram medidos, através de métodos
potenciométricos, os parâmetros da temperatura, pH, oxigénio dissolvido (OD), condutividade elétrica
e sólidos suspensos totais (SST). Todos os processos de colheita e determinação foram realizados
de acordo com APHA (2005). Em função das características determinadas a água foi classificada
segundo a sua qualidade para usos múltiplos, utilizando a classificação adotada pelo INAG (2008); 2)
Sedimentos: as amostras foram recolhidas e determinadas as frações correspondentes aos materiais
orgânicos particulados (POM) e aos materiais inorgânicos particulados (PIM), de acordo com a
metodologia ESS 340.2 (1993); 3) Biota: a amostragem das comunidades de diatomáceas,
macrófitos, macroinvertebrados e peixes foi realizada com base nos protocolos estabelecidos em
Portugal pelo Instituto da Água no âmbito da implementação da Diretiva Quadro da Água (DQA)
(INAG, 2008). Os macroinvertebrados foram identificados até ao nível taxonómico de família, com
recurso a chaves dicotómicas apropriadas, como por exemplo TACHET et al. (1981, 2010). Procedeu-
se ao cálculo do índice IBMWP (ALBA-TERCEDOR, 2000) e do Índice Português de Invertebrados do
Norte IPtIN (INAG, 2009). Este índice IPtIN integra diferentes métricas como sejam: o nº de taxa; nº
famílias pertencentes aos Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT); Equitabilidade; Indice de
diversidade de Shannon-Weaner (H’) e IASPT (razão entre a pontuação do IBMWP e o nº de
famílias). Para captura da fauna piscícola foi utilizado um aparelho de pesca elétrica portátil com
output de corrente contínua e por impulsos (HANS GRASSL ELT60, DC, 1.5W, 300-600V),
adaptando o tipo de corrente elétrica aos valores de condutividade da água. A avaliação dos habitats
aquáticos e ribeirinhos foi realizada com base no RHS- River Habitat Survey (RAVEN et al., 1998).
Esta técnica recorre a dados físicos e de habitat, qualitativos e quantitativos, do sistema aquático e da
zona ribeirinha envolvente. Por cada rio foi selecionado um troço de 500 m, de modo a abranger a
análise duma faixa de 50m de cada lado do rio. Estas observações foram realizadas em duas escalas
distintas: a) em transectos dispostos em intervalos de 50 m e através do b) varrimento contínuo de
todo o troço. Da aplicação do RHS derivam o índice de Qualidade de Habitat (HQA) e o índice de
Modificação do Habitat (HMS). O HQA, composto pela agregação de 10 sub-índices, é uma medida
de riqueza, raridade e diversidade dos habitats fluviais e o HMS quantifica o grau de artificialização do
canal. Estes índices foram calculados a partir do software RAPID 2.1 (DAVY-BOWKER et al., 2008).
No que respeita à avaliação do microhabitat disponível, recorreu-se a transectos perpendiculares e
paralelos, neste caso realizados junto à margem. Em cada transecto, a amostragem reportou-se a
uma área de 0,25 m2 (quadrado de 50x50 cm) com um espaçamento de 1 metro e medidas as

528
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

variáveis da profundidade total, velocidades da corrente no leito e coluna de água, substrato


dominante e cobertura. O microhabitat usado pelas diferentes espécies de unionídeos foi
determinado através de transectos, mediante o uso de um Aquascope, medindo para cada área de
0,25 m2 o número de bivalves emergentes e as variáveis anteriormente referenciadas para o
microhabitat disponível. No sentido de ampliar a informação do microhabitat usado pelos bivalves
procedeu-se ainda a uma prospeção seletiva ao longo do troço, com base na observação sub-
aquática (snorkeling). Sempre que encontrados locais com pelo menos 5 indivíduos visíveis numa
quadrícula de 50x50 cm foram feitas amostragens adicionais nas quadrículas contíguas, continuando
sempre que aparecesse pelo menos mais do que um indivíduo em cada área amostrada, tendo sido
igualmente anotadas as variáveis do microhabitat definidas. Recorreu-se ao programa STATISTICA 7
(STATSOFT, 2004) para a obtenção das curvas de preferência, baseadas em regressões polinomiais,
para as variáveis definidas do microhabitat, diferenciadas por cada uma das 3 espécies de
unionídeos. A preferência demonstrada pela espécie foi determinada em função do microhabitat
disponível através do cálculo, para cada variável, da razão entre o microhabitat usado e disponível,
seguido de uma estandardização de modo a obter uma escala de variação entre 0 (sem preferência)
e 1 (máxima preferência). Foram ainda realizados testes não paramétricos (U de MANN-WHITNEY; H
de KRUSKALL-WALLIS) para deteção de diferenças significativas ao nível das caraterísticas físico-
químicas da água e uso do microhabitat pelas náiades.

2.2. Identificação dos peixes hospedeiros dos Unionidae

As experiências para identificação dos peixes hospedeiros das 3 náiades foram conduzidas num
sistema de aquários (Aquaneering Systems ®), composto por 40 tanques de 16L com recirculação de
água, sistema de controlo da temperatura (manutenção ao longo da experiência duma temperatura
constante de 20ºC) e filtros físico, de carvão ativado e de U.V. (ultra-violeta), para manutenção duma
boa qualidade da água. Previamente, foram capturados e devidamente transportados para laboratório
(i.e. em tanques com oxigénio) diversos exemplares de unionídeos (P. littoralis, U. delphinus e A.
anatina) e da fauna piscícola presente na bacia hidrográfica do rio Douro. Foram testadas 15
espécies piscícolas das quais 7 são autóctones, caso da truta de rio (Salmo trutta), bordalo (Squalius
alburnoides), escalo do norte (Squalius carolitertii), barbo do norte (Luciobarbus bocagei) boga do
Douro (Pseudochondrostoma duriense), ruivaco (Achondrostoma oligopelis) e enguia (Anguilla
anguilla) e 8 são introduzidas, caso da perca-sol (Lepomis gibbosus), achigã (Micropterus salmoides),
lúcio (Esox lucius), góbio (Gobio lozanoi), carpa (Cyprinus carpio), truta arco-íris (Oncorhynchus
mykiss), gambúsia (Gambusia holbrooki) e verdemã do sul (Cobitis paludica). O procedimento
laboratorial compreendeu uma fase inicial de infestação, realizada independentemente para cada
uma das três espécies de náiades. Assim, os peixes foram colocados durante 30 minutos num
pequeno aquário dispondo de oxigénio assistido, juntamente com uma densidade elevada de
gloquídeos viáveis extraídos das brânquias dos mexilhões. Posteriormente, os exemplares de cada
espécie piscícola foram separados e colocados em diferentes tanques do Sistema Aquaneering. A
monitorização foi realizada com periodicidade diária, tendo sido sifonados todos os tanques com um
crivo de malha de 180 µm, e identificados e contados os juvenis viáveis dos bivalves com um

529
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

microscópio estereoscópico OLYMPUS SZX10, com ampliação de 10-132x. Para além a identificação
das espécies piscícolas que efetivamente funcionaram como hospedeiros de cada espécie de náiade,
foram ainda determinados o tempo de metamorfose e número total de juvenis produzidos (Figura 2).

Figura 2. Infestação e Sistema de aquários (Aquaneering systems ®) usados no estudo.

3. RESULTADOS

Os resultados obtidos mostraram uma boa qualidade da água dos rios Sabor e Tua, tendo sido
registados valores médios relativamente baixos de sais dissolvidos (condutividade elétrica EC< 100
µS/cm) e de nutrientes, caso dos compostos azotados (N-NO3- < 0,05 mg/L) e fosfatados (P-Total <
0,06 mg/L) e concentrações não limitantes de oxigénio (O.D.> 7,8 mg O2/L). Ao nível dos sedimentos
foram encontrados valores médios relativamente baixos para as frações POM (< 5 mg/L) e PIM (<1,5
mg/L). No caso do rio Tâmega foi detetada uma diminuição da qualidade da água (classificação
razoável) expressa nas diferenças significativas (P < 0,05, teste H, KRUSKAL-WALLIS) encontradas
para vários parâmetros físico-químicos amostrados (condutividade, SST, nitratos, fósforo total e
ortofosfatos) e inclusive ao nível dos sedimentos (fração POM) (Tabela 1).

Tabela 1. Parâmetros físico-químicos da água superficial e sedimentos (frações POM e PIM) dos
troços amostrados nos rios Sabor, Tua e Tâmega- verão de 2010, 2011 e 2012 (média ± SD).

O.D. pH Condutividade Oxidabilidade Temperatura SST


(mg O2/L) (µS/cm) (mgO2/L) (ºC) (mg/L)

Sabor 8,0±1,5 7,3±0,3 99,4±20,3 2,0±0,2 23,0±4,3 5,0±1,1

Tua 7,9±2,3 7,5±0,8 96,3±25,6 3,1±0,5 22,2±2,3 5,2±3,2

Tâmega 7,1±2,3 7,2±0,5 133,8±12,4 4,6±0,3 23,5±4,3 12,0±5,3

Nitratos Amónia P-Total Ortofosfatos POM PIM


- + 3-
(mg NO3 /L) (mgNH4 /L) (mgP/L) (mgPO4 /L) (mg/L) (mg/L)

Sabor 0,05±0,04 0,02±0,01 0,01±0,01 0,03±0,01 1,4±0,2 2,9±1,1

Tua 0,01±0,02 0,18±0,01 0,06±0,01 0,02±0,01 1,5±0,3 3,5±1,3

Tâmega 0,35±0,12 0,02±0,01 0,12±0,05 0,25±0,01 4,5±1,1 3,9±3,2

Para além da caraterização físico-química da água, foi realizada uma abordagem complementar, de

530
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

acordo com a DQA, baseada nos elementos hidromorfológicos (RHS) e biológicos (Diatomáceas
(IPS), Macrófitos (MTR), Invertebrados (IPtIN) e peixes (F-IBIP) realçando-se a boa qualidade
ecológica obtida para os rios Sabor, Tua e apenas razoável para o rio Tâmega (Tabela 2).

Tabela 2. Classificação ecológica baseada em elementos físico-químicos, hidromorfológicos e


biológicos dos troços amostrados nos rios Sabor Tua e Tâmega (verão de 2010, 2011 e 2012).

Indices Rio Sabor Rio Tua Rio Tâmega


Físico-química da água II- Boa II- Boa III- Razoável
RHS (HQA e HMS) I- Excelente II- Boa III- Razoável
Diatomáceas (IPS) II- Boa I- Excelente II- Boa
Macrófitas (MTR) II- Boa II- Boa II- Boa
Invertebrados (IPtIN) II- Boa I- Excelente II- Boa
Peixes (F-IBIP) III- Razoável III- Razoável III- Razoável
Qualidade Ecológica Final II- Boa II- Boa III- Razoável

Da aplicação do River Habitat Survey foi possível qualificar respetivamente de excelente, boa e
razoável a qualidade dos habitats aquáticos e ribeirinhos dos rios Sabor, Tua e Tâmega. Foram
detetadas elevadas densidade de unionídeos no rio Sabor, nomeadamente em braços laterais com
fluxo permanente de água. Os transectos (spot-checks) complementados pelo varrimento (sweep-up)
dos troços amostrados, permitiram realçar as associações estabelecidas entre os unionídeos e as
seguintes variáveis do RHS: 1) Características do canal: maior densidade em pools e runs
localizados, muitas vezes, em braços laterais dos rios, embora tenham sido detetados muitos
exemplares, especialmente de Potomida littoralis, em zonas de corrente- riffles; 2) Substrato do canal:
U. delphinus e A. anatina estão presentes nos interstícios mais finos (complexo areia-silte-matéria
orgânica fina) situados nas margens, enquanto P. littoralis possui densidades superiores em zonas
dos interstícios de blocos e pedras do leito do rio; 3) Perfil das margens e galeria ripícola: ocupação
preferencial de margens escavadas, maioritariamente U. delphinus e A. anatina, muitas vezes entre
as raízes, em zonas do rio permanentemente inundadas. Numa escala mais detalhada, i.e. ao nível
do microhabitat, as curvas de preferência (Figura 3), construídas para as náiades U. delphinus, A.
anatina e P. littoralis, mostraram um comportamento semelhante das duas primeiras espécies
relativamente às variáveis da velocidade da corrente (< 0,10 m.s-1), do substrato dominante
(preferência por sedimentos finos) e da cobertura (raízes e margens escavadas, fortemente
ensombradas). Contudo, são percetíveis diferenças no uso do microhabitat de U. delphinus e A.
anatina relativamente a P. littoralis que prefere habitar os interstícios de substratos mais grosseiros
como blocos e pedras, que constituem também a cobertura mais usada. Refira-se ainda que não
foram detetadas diferenças significativas (P> 0,05, Teste U, MANN-WHITNEY) no uso do
microhabitat entre populações da mesma espécie pertencente a rios diferentes.

531
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

P. littoralis = -3.7*10 5+12631.9*x -161.8*x 2+0.9*x 3-0.002*x 4 P. littoralis =-11052.5+388.3*x -5.1*x 2 +0.03*x ^3-6.5*10 -5 *x 4
5 2 3 4 U. delphinus =-15300.4+545.3*x -7.3*x 2 +0.04*x 3 -9.5*10 -5 *x 4
U. delphinus =-1.6*10 +5642.0*x -72.7*x +0.4*x -0.0009*x
A. anatina =16593.5-590.0*x +7.9*x 2 -0.04*x 3 +0.0001*x 4
A. anatina =1.5*10 5-5190.2*x +65.6*x 2-0.4*x 3+0.0008*x 4
1.0
1.0
P. littoralis
P. littoralis
U. delphinus
A. anatina 0.8 U. delphinus
0.8 A. anatina

Probabilidade relativ a de us o
Probabilidade relativa de uso

0.6
0.6

0.4
0.4

0.2
0.2

0.0
0.0

-0.2
0-0.10 0.21-0.30 0.41-0.50 0.61-0.70 0.81-0.90 >1.00 21-30 61-70 101-110 141-150 181-190
0.11-0.20 0.31-0.40 0.51-0.60 0.71-0.80 0.91-1.00 41-50 81-90 121-130 161-170 0-10
Velocidade da c orrente (m/s ) Profundidade total (c m)

2 3 4 P. littoralis =-1.2+1.3*x -0.3*x 2 +0.02*x 3 -0.0007*x 4


P. littoralis = 0.6-0.9*x +0.4*x -0.1*x +0.003*x
2 3 4 U. delphinus =-0.6+0.5*x -0.06*x 2 +0.002*x 3 +4.1*10 -5 *x 4
U. delphinus =-0.3+0.6*x -0.1*x +0.01*x -0.0002*x A. anatina =-0.05-0.01*x +0.06*x 2 -0.01*x 3 +0.0004*x 4
2 3 4
A. anatina =-0.9+1.6*x -0.6*x +0.1*x -0.003*x 1.0
1.0
P. littoralis P. littoralis
0.8
Probabilidade relativa de uso
U. delphinus U. delphinus
Probabilidade relativa de uso

0.8 A. anatina A. anatina

0.6
0.6

0.4
0.4

0.2 0.2

0.0 0.0
obj 15-30 cm
obj <15cm

obj >30cm
nenhuma

veg. ripícola

turbulência

Veg. aquática
obj <15 & veg. rip.

obj 15-30 & veg. rip.

obj>30 & veg.rip.


raizes & margens

obj <15 & raizes

obj 15-30, raizes

obj>30, raizes
pedras grand.
areia

grav ilha

cascalho

rocha
finos

blocos
pedras peq.

pedras med.
folhada

Subs trato Dominante Cobertura

Figura 3. Curvas de preferência, construídas com base em regressões polinomiais, para as


populações de Anodonta anatina (n=51) Potomida littoralis (n=77) e Unio delphinus (n=126) presentes
nos rios Sabor, Tua e Tâmega, relativamente às seguintes variáveis do microhabitat: velocidade da
corrente, profundidade total, substrato dominante e cobertura (verão de 2010, 2011).

No que respeita à identificação dos peixes hospedeiros dos unionídeos, os estudos laboratoriais
efetuados permitiram verificar uma grande discrepância na capacidade das espécies piscícolas
funcionarem como hospedeiros na fase larvar destas náiades, nomeadamente entre a íctiofauna
autóctone e a introduzida. De facto, realça-se que os peixes introduzidos só muito residualmente
funcionaram como espécies hospedeiras das náiades, caso da truta arco-íris (12,5 juvenis/peixe) para
Anodonta anatina e o góbio (0,1 juv./peixe) e a gambúsia (0,3 juv./peixe) para Unio delphinus. Mais
especificamente, o enquistamento dos gloquídeos e subsequente sucesso na transformação para
juvenis permitiu obter 258 exemplares de Potomida littoralis distribuídos unicamente espécies
autóctones. O tempo de metamorfose e início da transformação em juvenis durou aproximadamente
15 dias e o escalo revelou ser a espécie com maior sucesso como hospedeiro (18,5 juv./peixe). No
entanto, outras espécies como o barbo, boga, ruivaco, bordalo e truta também funcionaram como
hospedeiros. No que se refere à náiade Unio delphinus foram obtidos 2618 juvenis, concentrados
maioritariamente nos ciprinídeos, como por exemplo no barbo (188,3 juv./peixe), e no bordalo (50,5

532
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

juv./peixe), com formação de juvenis a partir do 12º dia. Para a náiade Anodonta anatina formaram-se
693 juvenis viáveis mais homogeneamente distribuídos não só pelos ciprinídeos, caso do bordalo
(12,8 juv./peixe), escalo (16,4 juv./peixe), boga (10,3 juv./peixe), ruivaco (7,9 juv./peixe) como
também pelos salmonídeos, como a truta de rio (16,5 juv./peixe) (Tabela 3).

Tabela 3. Determinação (nº médio de juvenis de náiades por peixe e espécie) dos peixes hospedeiros
de Anodonta anatina, Potomida littoralis e Unio delphinus na bacia do Douro.

Anodonta anatina Potomida littoralis Unio delphinus


Nº médio Nº médio Nº médio
Nº peixes Nº peixes Nº peixes
juvenis/ juvenis/ juvenis/
(N) (N) (N)
Espécies Piscícolas peixe peixe peixe
Nativas
Salmo trutta fario 6 16,5 10 0,5 14 3,4
Achondrostoma oligolepis 9 7,9 14 2,0 14 1,4
Luciobarbus bocagei 8 4,0 14 1,0 7 188,3
Pseudochondrostoma duriense 9 10,3 6 4,0 10 5,8
Squalius carolitertii 7 16,4 10 18,5 11 18,9
Squalius alburnoides 16 12,8 20 1,3 19 50,5
1
Anguilla anguilla * * 6 0,0 6 0
2
Cobitis paludica 6 0,5 * * 6 0
Introduzidas
Cyprinus carpio 4 0 * * * *
Gobio lozanoi 16 0 15 0 34 0,1
Gambusia holbrooki * * 35 0 14 0,3
Lepomis gibbosus 18 0 6 0 16 0
Micropterus salmoides 6 0 6 0 6 0
Esox lucius * * 6 0 6 0
Oncorhynchus mykiss 6 12,5 * * * *
1 2
Espécie migradora catádroma de presença residual nas bacias de estudo; Espécie nativa do sul de Portugal;
* Espécie não testada para a náiade em causa

4. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo confirmou a existência de populações viáveis de unionídeos em diversos troços


dos rios Tâmega, Tua e Sabor. Apesar da perturbação derivada de impactos negativos associados à
pressão antrópica (e.g. poluição e eutrofização), a qualidade detetada na água e habitats ribeirinhos e
aquáticos tem permitido a sobrevivência de muitas populações de náiades no nordeste de Portugal.
Importa salientar a escassez de estudos relativos à bioecologia das náiades presentes nestes rios
(TEIXEIRA et al., 2010) que, num futuro próximo, serão profundamente alterados pela construção de
grandes barragens (e.g. Aproveitamentos hidroelétricos do Baixo Sabor, Foz Tua e cascatas do
Tâmega). O declínio das populações de bivalves de água doce devido à regularização está bem

533
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

documentado (BOGAN, 1993; NEVES et al., 1997; HUGHES & PARMALEE, 1999). Com efeito, estes
moluscos tendem a desaparecer em ambientes regularizados, onde ocorrem alterações bruscas na
qualidade da água (e.g. regime térmico, teor de oxigénio dissolvido, pH) e fenómenos de eutrofização
e sedimentação que não favorecem a sua sobrevivência. Também a instabilidade das margens,
marcadas por flutuações irregulares do nível de água, inviabilizam a colonização das zonas
marginais. Por outro lado, nos recém-criados ambientes lênticos dá-se, por norma, a substituição da
fauna piscícola autóctone por espécies alienígenas de caráter invasor com grande plasticidade
ecológica. No presente estudo foram identificados os habitats e microhabitats preferidos dos
unionídeos e das espécies piscícolas presentes na bacia hidrográfica do rio Douro. Assim, no
processo de dispersão e colonização de habitats, foi detetado que os unionídeos têm tendência a
aglomerar-se em zonas específicas dos rios, especialmente nas margens e em zonas de meandros
que usufruam de um fluxo de água contínuo ao longo do ano e no qual esteja patente uma elevada
estabilidade do mosaico de microhabitats aquáticos e ribeirinhos. A importância da existência de
galerias ripícolas bem desenvolvidas ficou também patente, uma vez que os amieiros e salgueiros
(principais espécies ripárias) estão suportados por raízes submersas, fortes e salientes, que retêm
grandes quantidades de sedimentos finos (i.e. complexo de materiais particulados e dissolvidos de
origem inorgânica e orgânica) e fornecem habitats únicos onde podem ser encontradas colónias
abundantes de náiades. Para além disso, as zonas ensombradas das margens dos cursos de água
servem também de refúgio e fonte de alimento para a íctiofauna, sendo locais privilegiados para os
peixes serem infestados pelos gloquídeos (larvas) das náiades. Neste particular aspeto, ficou
demonstrado que as espécies autóctones, nomeadamente a truta e os ciprinídeos endémicos (barbo,
boga, escalo, bordalo e ruivaco), são as principais espécies hospedeiras dos unionídeos. Foram
ainda registados, embora em número muito residual, casos de sucesso com a formação de juvenis de
Unio delphinus para as espécies exóticas góbio e gambúsia e de Anodonta anatina para a truta arco-
íris. Refira-se que o aumento na densidade de espécies exóticas nos sectores terminais dos rios
Sabor, Tua e Tâmega está reportado em vários estudos (OLIVEIRA et al., 2007), sendo este um dos
principais fatores que contribuem para a regressão das náiades em ambientes aquáticos selvagens.
O declínio que se prevê no futuro para as populações de unionídeos, dado o conflito com grandes
obras de engenharia associadas à exploração da água (e.g. canalização, dragagem, regularização,
hidroeletricidade, represamento das águas), justifica a implementação dum Plano de Ação que vise a
conservação destas espécies nos ecossistemas da região transmontana. Existe uma concordância
geral de que métodos orientados para a conservação de habitats e ecossistemas são de longe mais
eficientes e menos onerosos na manutenção da biodiversidade do que métodos específicos de
conservação de espécies-alvo. A necessidade de promover planos de ação para a recuperação das
espécies ameaçadas é reconhecida, por exemplo, nas decisões da Convenção das Nações Unidas
para a Biodiversidade (1992), a Convenção de Berna (1979 e subsequentes recomendações), a
Diretiva Habitats (Directiva 92/43 EEC) e a Estratégia Pan-Europeia da Diversidade Biológica e
Paisagística (1995). Ainda que as espécies Unio crassus, Margaritifera margaritifera, Margaritifera
auricularia e Pseudanodonta complanata sejam consideradas as náiades mais ameaçadas da
Europa, o desconhecimento do status e ameaças a que estão sujeitas outras náiades, caso de Unio

534
Amílcar Teixeira, Simone Varandas, Ronaldo Sousa, Elsa Froufe e Manuel Lopes-Lima

delphinus, Potomida littoralis e Anodonta anatina justifica esforços que vão de encontro à defesa do
património natural e dos serviços ecossistémicos que estes habitats e espécies autóctones prestam à
escala regional, nacional e internacional.

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536
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

sIMFLOR – Plataforma para Simuladores da Floresta em Portugal

Margarida Tomé1*, Joana A. Paulo1, Sónia P. Faias1, Susana Barreiro1 e João H. N. Palma1

1: ForChange; Centro de Estudos Florestais (CEF); Instituto Superior de Agronomia (ISA); Universidade
Técnica de Lisboa (UTL); Tapada da Ajuda; 1349-017 Lisboa.

e-mail: {Margarida Tomé}, magatome@isa.utl.pt

RESUMO: O sIMfLOR é uma plataforma que incorpora os mais recentes modelos para a floresta
portuguesa, implementados em interfaces computacionais, designadas por simuladores. A
utilização dos modelos permite simular a evolução de povoamentos florestais, para um
determinado horizonte de planeamento definido pelo utilizador, produzindo estimativas da
produção de produtos lenhosos, não lenhosos e de indicadores de sustentabilidade. Através da
análise da informação produzida, o gestor florestal pode avaliar, em tempo útil, as consequências
de diferentes alternativas de gestão na evolução dos povoamentos. O sIMfLOR procura ser uma
ligação entre os utilizadores finais e os produtos científicos desenvolvidos, tornando-se relevante
para a estratégica da gestão florestal sustentável. Esta plataforma encontra-se disponível em
www.isa.utl.pt/cef/forchange/fctools. Na presente versão, estão disponíveis dois simuladores do
povoamento: o SUBER, concebido para simular a evolução dos montados de sobro em Portugal
e da respetiva produção de cortiça, utilizando informação ao nível da árvore para caracterizar os
povoamentos florestais; e o GLOBULUS, desenvolvido para simular o crescimento de
povoamentos de eucalipto em regime de alto fuste ou em talhadia, combinando informação de
inventário ao nível do povoamento.
Palavras-Chave: Modelos da floresta, Alternativas de gestão florestal, GLOBULUS, SUBER

ABSTRACT: sIMfLOR is a platform that incorporates the most recent Portuguese forest models by
implementing them into simulators accessible through user-friendly interfaces. A forest model
provides information on forest growth for a planning horizon defined by the user, by estimating
wood, non-wood products and sustainability indicators. Through the analysis of the outputs, the
forest manager can evaluate, at present, the consequences of different management alternatives
in the stand evolution. Thus, sIMfLOR attempts to be the link between the end-users and the
scientific products, which is relevant to define the strategy for sustainable forest management.
The sIMfLOR platform can be permanently accessed at www.isa.utl.pt/cef/forchange/fctools. The
current version displays two stand simulators: SUBER conceived to project the evolution of cork
oak stands and predict the respective cork production, by using tree inventory data to characterize
the stand; and GLOBULUS, developed to project the evolution of eucalyptus stands, either as
high forest or as coppice stand, by using inventory data at the stand level as input.
Keywords: Forest models, Forest Management Alternatives, GLOBULUS, SUBER
Margarida Tomé, Joana A. Paulo, Sónia P. Faias, Susana Barreiro e João H. N. Palma

INTRODUÇÃO

Os modelos da floresta são ferramentas de apoio à decisão que permitem a previsão da evolução dos
povoamentos florestais face a diferentes alternativas de gestão. A sua utilização pela sociedade
implica a sua implementação em interfaces computacionais, as quais designamos por simuladores da
floresta. A plataforma sIMfLOR surge para colmatar a lacuna existente entre os modelos
desenvolvidos, no âmbito de trabalho do grupo de investigação, e a sua aplicação pelos decisores
florestais. Em FAIAS et al. (2012) encontram-se descritos outros produtos utilizados na Europa, de
alguma forma semelhantes a esta plataforma, mas pouco adaptados, quer às espécies florestais
portuguesas, quer aos potenciais utilizadores em Portugal.
O sIMfLOR integra simuladores que utilizam vários modelos, implementados em diferentes
linguagens de programação. A informação necessária para o funcionamento dos simuladores como,
por exemplo, os dados económicos ou as alternativas de gestão pode ser diretamente preenchida
e/ou selecionada ou gerada nas interfaces da plataforma. No entanto, existe alguma informação que
tem de ser preparada fora da plataforma em ficheiros texto (comma-separated values), como por
exemplo, os dados provenientes de inventário florestal que caracterizam os povoamentos. Os
resultados dos simuladores podem ser visualizados em ficheiros texto ou importados para ficheiros
Excel, preparados para permitir a visualização tabular e gráfica, podendo ser editados pelo utilizador.
A estrutura da plataforma tem por base três menus: Simulador, Gerador e Ferramentas (Figura 1).
Pode ser acedida em versão português ou inglês, assim como os manuais dos simuladores
disponíveis através do menu Ajuda.

Figura 1 – Esquema da plataforma sIMfLOR

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Margarida Tomé, Joana A. Paulo, Sónia P. Faias, Susana Barreiro e João H. N. Palma

MENU SIMULADORES

O menu Simuladores inclui diferentes tipos de simuladores de acordo com a escala espacial
pretendida. Ao nível regional existem dois simuladores que não se encontram disponíveis diretamente
na plataforma, porque a sua aplicação requerer apoio técnico inicial. Ao nível do povoamento, podem
ser selecionados dois simuladores consoante a espécie florestal que se pretenda simular. Este tipo
de simuladores permite projetar um novo povoamento, um povoamento existente ou múltiplos
povoamentos. Estes simuladores consideram um conjunto de operações florestais calendarizadas
para um determinado horizonte de planeamento definido pelo utilizador.
O SUBER é um simulador do povoamento para simular a evolução dos montados de sobro e da
respetiva produção de cortiça em Portugal, que utiliza informação ao nível da árvore para caracterizar
os povoamentos florestais. O crescimento do povoamento é projetado com um modelo da árvore
individual independente da distância, o modelo Suber v.5.0 (ALMEIDA et al., 2010; PAULO et al.,
2010; PAULO et al., 2011; PAULO, 2011).
O GLOBULUS é um simulador do povoamento desenvolvido para simular a evolução de
povoamentos eucalipto, em regime de alto fuste ou talhadia com idade conhecida ou não
(irregulares), utilizando a informação de inventário ao nível do povoamento. O crescimento do
povoamento pode ser projetado recorrendo a três modelos de crescimento consoante o tipo de
povoamento ou o objetivo de gestão: o modelo Globulus v.3.0 (TOMÉ et al., 2006) se a gestão é
direcionada para a produção de pasta; o modelo GlobEP (BARREIRO, 2011), se a gestão é
direcionada para produção de biomassa para energia ou o modelo GYMMA se o povoamento for
irregular ou de idade desconhecida (BARREIRO et al., 2004).
O SIMPLOT é um simulador regional não espacializado com base em parcelas de inventário florestal
(BARREIRO e TOMÉ, 2011; BARREIRO e TOMÉ, 2012), concebido para projetar a evolução de
diversos povoamentos de uma região, tendo em conta as seguintes variáveis externas: procura de
madeira e biomassa, área ardida, área de novas plantações e área abandonada. Os modelos de
crescimento utilizados dependem do tipo de povoamento sendo aplicados os mesmos modelos
utilizados no simulador GLOBULUS.
O SIMYT é um simulador regional não espacializado baseado numa tabela de produção (COELHO et
al., 2012; TOMÉ et al., 2010), tendo em conta as seguintes variáveis externas: procura de madeira,
área ardida, área de novas plantações e área abandonada. A tabela de produção, especifica para
cada espécie, deve incluir as diferentes classes de idade para povoamentos puros regulares e ser
representativa da qualidade da estação média da região. A tabela deve ainda conter duas classes
adicionais de modo a representar os povoamentos irregulares e os povoamentos não geridos. As
tabelas de produção necessárias à utilização deste simulador podem ser construídas com recurso
aos simuladores do povoamento ou obtidas pro qualquer outro processo. O SIMYT é aplicável a
qualquer espécie florestal, desde que seja possível construir a respetiva tabela de produção.
A gestão florestal é outra variável externa tida em conta no decorrer das simulações obtidas com
qualquer um dos diferentes simuladores, permitindo ao utilizador determinar o impacte económico
decorrente da aplicação de diferentes alternativas de gestão florestal (FMA).

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Margarida Tomé, Joana A. Paulo, Sónia P. Faias, Susana Barreiro e João H. N. Palma

MENU GERADOR

O Menu Gerador permite ao utilizador gerar diferentes inputs requeridos pelos simuladores através de
interfaces que facilitam a inserção da informação.
O gerador de alternativas de gestão florestal (FMA) constrói um ficheiro que caracteriza a gestão
florestal do povoamento, obtendo-se uma matriz com uma estrutura independente da espécie florestal
selecionada. A FMA descreve e calendariza as operações florestais a realizar desde a regeneração
até o povoamento atingir uma determinada idade, que pode ser após a idade comum de corte final.
As operações florestais podem ser selecionadas a partir de uma lista construída com base na matriz
definida pela Comissão de Acompanhamento de Operações Florestais - CAOF (ANEFA, 2011). Além
disso, devem ser fornecidas informações mais detalhadas para algumas operações, como: o tipo e
intensidade de desbaste ou o coeficiente de descortiçamento.
O gerador de alternativas de gestão florestal sequencial (SFMA) foi desenvolvido para permitir ao
utilizador flexibilizar o tipo de gestão durante um determinado horizonte de planeamento, construindo
uma sequência de diferentes matrizes de FMA, geradas pelo menu anterior. Este gerador é
particularmente útil quando se simulam em simultâneo diversos povoamentos existentes.
O gerador de dados económicos permite ao utilizador navegar por diferentes separadores,
nomeadamente: operações florestais, diferenciando valores de maquinaria e trabalho; consumíveis;
preços de madeira por categorias de aproveitamento ou preços de produtos não lenhosos, como é o
caso da cortiça. O utilizador pode usar os valores pré definidos, com base em estatísticas
económicas atualizadas pela Comissão de Acompanhamento de Operações Florestais - CAOF
(ANEFA, 2011) ou inserir novos valores, alterando os custos médios.

MENU FERRAMENTAS

O menu Ferramentas inclui algumas aplicações desenvolvidas pelo grupo ForChange que permitem
gerar informação prática, que de forma direta ou indireta pode estar relacionada com os inputs para
os simuladores.
A ferramenta de Projeção de Calibre permite estimar a evolução do calibre da cortiça a partir de
diferentes amostras de cortiça. Utiliza equações específicas do modelo Suber v5.0 (ALMEIDA et al.,
2010; PAULO et al., 2010; PAULO et al., 2011; PAULO, 2011).
A ferramenta Climate Picker ou dados de clima, permite obter variáveis climáticas mensais,
geralmente utilizadas em modelos de base-fisiológica. Esta ferramenta foi desenvolvida a partir de
uma base de dados HadRM3Q0_A1B (COLLINS et al., 2006), que representa o cenário climático
mais adaptado ao contexto de Portugal (SOARES et al., 2012). Podem ser obtidas variáveis
climáticas atuais e futuras selecionando um local de interesse, onde a interface irá procurar o ponto
mais próximo da estação climática do modelo climático regional (grelha de 25 km).
A ferramenta Calculadora da Árvore permite calcular algumas variáveis para as principais espécies
florestais portuguesas, a partir de varáveis medidas ao nível da árvore. São utilizadas as equações
publicadas no inventário florestal nacional (AFN, 2010), para calcular as seguintes variáveis: altura
total (m), área basal (m2), volume (m3) e biomassa (kg) por componentes.

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Margarida Tomé, Joana A. Paulo, Sónia P. Faias, Susana Barreiro e João H. N. Palma

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sIMfLOR, sendo uma plataforma para os simuladores da floresta portuguesa, pretende promover o
uso dos modelos da floresta existentes em Portugal, permitindo fornecer as informações de entrada
necessárias, que de outro modo tornaria o processo mais complexo e demorado. Esta plataforma,
encontra-se em contínua evolução com o objetivo de fazer chegar o contributo de novos resultados
provenientes da investigação aos decisores florestais. De momento encontra-se em desenvolvida a
interface para incorporar um modelo de base fisiológica, o 3PG (Figura 1).
O sIMfLOR está disponível para ser utilizado por estudantes, professores, investigadores, técnicos de
associações florestais ou instituições públicas, gestores florestais, proprietários florestais, e
consultores florestais.

AGRADECIMENTOS

A plataforma sIMfLOR desenvolvida pelo grupo de investigação ForChange foi iniciada sob projeto
EFORWOOD – Tools for Sustainability Impact Assessment of the Forestry-Wood Chain, financiado
pela União Europeia (FP6-2004- 518128-2), tendo sido continuado no âmbito do projeto MOTIVE –
Models for Adaptive Forest Management, financiado pela União Europeia (FP7-ENV-2008-1-
226544).

REFERÊNCIAS

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7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Monitorização de populações selvagens – Contributo para uma gestão


florestal sustentável

Rita T. Torres1*, João Santos1, 2, João Carvalho1 e Carlos Fonseca1

1: Departamento de Biologia & CESAM, Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal; Endereço
postal: rita.torres@ua.pt; jlocarvalho@gmail.com; cfonseca@ua.pt
2: Instituto de Investigación en Recursos Cinegéticos (IREC, CSIC-UCLM-JCCM), Ronda de Toledo s/n,
13071 Ciudad Real, Espanha; joaovalente@ua.pt

e-mail: rita.torres@ua.pt

Resumo: Nas últimas décadas tem-se assistido, por toda a Europa, ao aumento da abundância e
distribuição do veado (Cervus elaphus) e do corço (Capreolus capreolus). Este incremento
promove, em alguns casos, desequilíbrios nos ecossistemas que se traduzem num impacto
negativo crescente nas atividades agro-silvo-pastoris.
Em Portugal, apesar do conhecimento gerado sobre a biologia e ecologia destas espécies, a
complexidade de fatores que afetam a sua ocorrência e distribuição ainda não está totalmente
compreendida. Do corço ao veado, têm sido desenvolvidos esforços no sentido de caraterizar as
suas populações em várias áreas da Península Ibérica. A aplicação de metodologias indiretas
tem garantido a obtenção de informação valiosa acerca da ecologia das duas espécies.
Usando o método de contagem de excrementos em transectos previamente definidos,
correlacionaram-se os dados de presença do corço e do veado, no Parque Natural de
Montesinho, com uma série de factores que potencialmente afectam a sua distribuição (estrutura
florestal e da paisagem, características da vegetação e perturbação humana), analisando-se,
igualmente, a relação interespecífica entre estas espécies.
A distribuição do corço está positivamente associada a zonas com grande densidade de arbustos
e a zonas distantes da rede viária, enquanto o índice de forma médio (Mean Shape Index) e a
presença de veado estão negativamente relacionados com a distribuição do corço. Por outro
lado, a percentagem de coberto arbustivo, heterogeneidade da paisagem e a presença de corço
estão positivamente relacionados com a presença de veado. Os nossos resultados sugerem que
pode ocorrer competição interespecífica, com efeitos assimétricos, entre estas espécies e
realçam a necessidade de explorar a natureza dessas interações com maior detalhe nos
ecossistemas mediterrâneos. A monitorização de populações silvestres e a compreensão dos
factores que regulam a sua presença e distribuição são ferramentas indispensáveis para adotar
medidas de mitigação adequadas que proporcionem uma gestão florestal sustentável.
Palavras-chave: ungulados, nordeste Transmontano, monitorização, floresta, perturbação
humana
Abstract: In the last decades, there has been an increase in number and distribution area of red
deer (Cervus elaphus) and roe deer (Capreolus capreolus) throughout Europe and Portugal is no
exception. Such expansion can promote imbalances in the ecosystems that result in a negative
impact on the agro-forestry-pastoral system. Even tough there is some research on these species
in Portugal, the complexity of factors affecting their occurrence and distribution is not yet fully
understood. Continuous monitoring of wild populations is a key aspect for the development of
efficient and integrated strategies for management and conservation. Efforts have been made in
order to characterize their populations in several areas of the Iberian Peninsula. Using pellet
group counting, we correlated data on the presence of both species in Montesinho Natural Park
with a series of environmental factors that could affect the species distribution (habitat structure,
habitat composition, landscape structure and human disturbance). We also analysed their
interspecific relationship. Roe deer distribution is positively associated with areas of high density
of shrubs and areas distant from roads, while the mean shape index and red deer presence were
negatively correlated. On the other hand, the percentage of shrub cover, landscape heterogeneity
Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca

and the presence of roe deer are positively related with red deer presence. Our results suggest
that interspecific competition can occur with asymmetric effects between these species and
highlight the need to explore the nature of these interactions in greater detail in Mediterranean
ecosystems. Monitoring wildlife populations and understanding the factors that regulate their
presence and distribution are valuable tools to develop proper mitigation measures that can
provide sustainable forest management.
Keywords: ungulates, northeast Portugal, monitoring, Portugal, human disturbance, forest.

1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, tem-se registado, um pouco por toda a Europa, um aumento da densidade e
distribuição de ungulados, cervídeos em particular (Apollonio et al. 2010). A gestão sustentável
destas populações selvagens depende de uma monitorização efetiva do seu estatuto, das suas
tendências populacionais e também dos factores ambientais que as regulam (Gordon et al. 2004). Um
pouco por todo o mundo, têm sido aplicadas várias técnicas na monitorização de populações de
ungulados (para revisão ver Kie 1988; Mayle et al. 1999). De uma forma geral, os métodos dividem-
se em métodos diretos, quando há um contacto direto entre o observador e o animal, e métodos
indiretos, onde a presença do animal é aferida através da análise de indícios da sua presença.
Embora os métodos diretos permitam estimar a estrutura de uma população (e.g. rácio sexual,
estrutura etária), a maioria destes métodos são demorados, dispendiosos e pouco práticos para
implementar em grandes áreas (Smart et al. 2004). Assim, para o estudo de espécies com hábitos
esquivos e em locais onde a vegetação é densa, os métodos diretos tornam-se inexequíveis e, em
tais casos, são preteridos pelos métodos indiretos. Estas metodologias baseiam-se normalmente na
contagem de grupos de excrementos (Mayle et al. 1999; Marques et al. 2001), e possibilitam a
avaliação das tendências de distribuição da população, as preferências e alterações sazonais nos
padrões do uso de habitat (Mayle et al. 1999). Esta abordagem tem sido amplamente utilizada em
várias regiões florestadas por todo o mundo (e.g. Borkowski e Ukalska 2008; Marques et al. 2001) e,
na Península Ibérica, tem sido aplicada para determinar as densidades e o uso do habitat do veado
(Cervus elaphus) (Bugalho 1992; Acevedo et al. 2008) e corço (Capreolus capreolus) (Carvalho 2008;
Acevedo et al. 2010; Torres et al. 2011). Nos últimos anos, no norte de Portugal, as populações de
veado e de corço têm seguido a tendência europeia, expandindo-se em número e distribuição
(Vingada et al. 2010).
Vários estudos têm analisado a interação interespecífica entre estas duas espécies, contudo a
natureza desta relação permanece incerta (Putman 1996). Latham et al. (1997) documentaram a
existência de um efeito negativo da densidade de excrementos de veado na densidade de
excrementos de corço, enquanto o reverso não foi observado (Latham et al. 1999). Por outro lado,
Borkowski e Ukalska (2008) demonstraram que a densidade de excrementos de veado não estava
negativamente correlacionada com a densidade de excrementos de corço, sugerindo que, no
sudoeste da Polónia, a competição interespecífica não foi um fator importante. No entanto, Richard et
al. (2010) demonstraram que a densidade de veado tem um efeito negativo sobre a massa corporal
das crias de corço, sugerindo que a interação entre estes ungulados é verdadeiramente de
competição. No entanto, a maior parte destes estudos foram realizados em regiões temperadas da
Europa central e ocidental, onde as densidades destes ungulados são elevadas e onde estas

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Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca

espécies habitam a área central da sua distribuição. Contrariamente, poucos estudos se têm focado
em ecossistemas mediterrânicos (San José et al. 1997; Ferretti et al. 2011), que se encontram
localizados no limite de distribuição destas espécies e são, em teoria, habitats menos favoráveis
(Tellería e Virgós 1997). Em Portugal, tanto o corço como o veado encontram-se no limite oeste da
sua distribuição europeia. Na região de Trás-os-Montes, no nordeste de Portugal, o veado e o corço
ocorrem simpatricamente com um elevado grau de sobreposição espacial. Teoricamente, a
competição interespecífica ocorre mais frequentemente entre espécies com sobreposição de espaço
e dieta e, geralmente, tem efeitos assimétricos, sendo as espécies com maior tamanho corporal,
competitivamente superiores (Brown e Maurer 1986). Com este trabalho, pretendeu-se determinar os
fatores que afetam a distribuição do corço e do veado no nordeste transmontano, nordeste de
Portugal, e estimar os coeficientes de competição. Estas informações irão fornecer um importante
contributo para a compreensão da competição interespecífica entre estas duas espécies, num habitat
predominantemente mediterrânico, constituindo um passo importante no desenvolvimento de
estratégias de gestão e conservação mais adequadas para estas duas espécies.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo
O estudo foi realizado no Parque Natural de Montesinho e na Serra da Nogueira, Trás-os-Montes, no
nordeste de Portugal, cobrindo uma área de 75,000 ha (Figura 1). O clima é predominantemente
mediterrânico, com temperatura média anual entre os 3º C no mês mais frio e 21º C no mês mais
quente e a precipitação média varia entre 1000 e 1600 mm. Em termos de relevo, a elevação varia
entre 438 a 1481m. A vegetação é variada e caracterizada por formações de Quercus pyrenaica,
Castanea sativa, Pinus sylvestris, Pinus pinaster e Quercus rotundifolia. As principais espécies
arbustivas são a Erica australis, Pterospartum tridentatum, Halimium alyssoides, Cistus ladanifer e
Lavandula sampaioana. A área é atravessada por uma diversidade de rios e pequenos riachos e a
vegetação ripícola associada é principalmente constituída por Alnus glutinosa, Fraxinus angustifolia,
Populus nigra e Salix salviifolia. A área apresenta um mosaico de manchas de floresta de folha
caduca e de coníferas, fragmentada por pequenos campos cultivados. A área apresenta uma baixa
densidade populacional, cerca de 9,5 pessoas/km2, que vivem em pequenas aldeias.

Dados de presença
Foram distribuídos seis transectos por toda a área de estudo, tendo sido dispostos aleatoriamente de
forma a cobrir toda a área (Figura 1). Cada transecto, de conformação triangular, possuía três
quilómetros no total (um quilómetro de cada lado). Para maximizar a cobertura espacial e mitigar a
dependência das unidades de amostragem, os segmentos foram uniformemente espaçados ao longo
da linha. Cada unidade de amostragem consistia num segmento de 100 m de comprimento por 2 m
de largura, espaçados 200 m entre si. Para cada unidade de amostragem, foi registado, em primeiro
lugar, a presença de excrementos de corço e de veado. Depois, num círculo de 10 m de raio, foram
registadas algumas variáveis de habitat que potencialmente podem afetar a distribuição destas
espécies. No campo, apenas os grupos fecais contendo seis ou mais excrementos individuais, e

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Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca

identificados como sendo produzidos na mesma defecação (tamanho semelhante, forma, textura e
cor), foram anotados (Mayle et al. 1999) A distinção entre grupos de excrementos de corço e veado
foi possível devido a diferenças no tamanho e forma (em caso de dúvida, os excrementos não eram
contabilizados). Para minimizar o erro inter-observador, os técnicos de campo eram experientes e foi
mantido um técnico fixo ao longo de todo o trabalho de campo.

Figura 1. Localização geográfica da área de estudo e apresentação da distribuição espacial dos


transectos.

Variáveis ambientais
No total, foram usadas 33 variáveis na análise (Tabela 1). As variáveis foram classificadas em quatro
classes: (1) estrutura do habitat, (2) composição do habitat, (3) perturbação humana e fatores
topográficos e (4) estrutura da paisagem. Estrutura do habitat: estas variáveis foram estimadas num
círculo com um raio de 10 m, centrado em cada segmento, e foram usadas para avaliar a abundância
de alimento e cobertura. A presença de alimento foi avaliada através da estimativa visual da
percentagem de árvores, matos e vegetação rasteira, de acordo com uma escala dividida em 5
categorias: 0 (0%), 1 (1-24%), 2 (25-49%), 3 (50-74%) e 4 (75-100%). Os locais com vegetação
densa proporcionam condições de abrigo aos ungulados, fornecendo proteção visual (horizontal)
contra os predadores. A proteção visual foi estimada medindo a visibilidade (m) de uma placa com o

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Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca

tamanho médio de um cervídeo. Numa direção aleatória, foi medida a distância mínima necessária
para que a placa estivesse completamente escondida ao nível do olho do observador. A cobertura
(vertical) é também importante como proteção para condições meteorológicas: uma copa densa
fornece abrigo contra condições climáticas adversas. A cobertura foi estimada utilizando o densímetro
de Lemmon. Foi medida contra o céu aberto nos quatro pontos cardeais, tendo sido depois estimada
a média destas quatro medições; (2) Composição do habitat: estas variáveis foram obtidas a partir de
dados da CORINE Land-cover. As categorias foram agregadas em cinco tipos de vegetação: 1)
campos agrícolas, 2) matos 3) prados-lameiros, 4) floresta de folha caduca e 5) floresta de coníferas.
A abundância de grupos de excrementos foi investigada numa escala espacial ampla (buffer com
12,6 km - escala populacional) e numa escala de correspondente à área vital (buffer com 1,26 km);
(3) perturbação humana e fatores topográficos: embora na área de estudo só seja permitida a caça
ao veado, a perturbação humana pode influenciar a distribuição destas espécies, pois podem ser
consideradas análogas ao risco de predação. De forma a analisar os diferentes níveis de
perturbação, foi medida a distância de cada segmento a núcleos “urbanos” e a estradas asfaltadas.
Foi também medida a distância a linhas/corpos de água; (4) Estrutura da paisagem: os ungulados são
influenciados pela estrutura da paisagem, sendo que, paisagens mais heterogéneas, favorecem
densidades mais elevadas de ungulados, em contraste com paisagens mais uniformes. Os buffers
construídos anteriormente foram utilizados para calcular os índices de paisagem: número de
manchas (np), densidade de ecótono (de), média do índice de forma (msi) e índice de diversidade de
Shannon (sdhi). Foi usado o FRAGSTATS, na extensão Patch Analyst no ArcView 3.2.

Tabela 1. Variáveis usadas para determinar os fatores que influenciam a distribuição de corço e
veado, em Trás-os-Montes, nordeste de Portugal (outubro 2007 – agosto 2009).
Variáveis/Códigos Descrição

Estrutura do habitat Micro-habitat


TREECOV % de árvores (altura > 2m)
SHRCOV % de matos (altura 50-200cm )
GRNCOV % de vegetação rasteira (altura < 50 cm)
AGRICOV % de campos agrícolas
MEADCOV % de lameiros
PINCOV % de Pinus sylvestris e Pinus pinaster
PYRCOV % de Quercus pyrenaica
DECCOV % de floresta de folha caduca
ILEXCOV % de Quercus rotundifolia
SATCOV % de Castanea sativa
CISTCOV % de Cistaceae
ERICOV % de Ericaceae
THORNCOV % de arbustos espinhosos (Rosa, Rubus, Crataegus, Prunus)
LEGCOV % de Leguminosae (Pterospartum, Cytisus sp.)
PTERICOV % de Pteridium aquilinum
POACOV % de Poaceae
HALCOV % de Halimium alyssoides
CANCOV Medida da densidade da copa das árvores
VISINDEX Medida da visibilidade lateral (m)
Estrutura do habitat Macro-habitat

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Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca

PROP_1 Proporção de todos tipos de habitat dentro do buffer de


1.26Km (%)
PROP_2 Proporção de todos tipos de habitat dentro do buffer de
12.6Km (%)
Perturbação humana e fatores topográficos
DIST_RIV Distância ao rio mais próximo (m)
DIST_ROAD Distância à estrada asfaltada mais próxima (m)
DIST_POP Distância ao núcleo populacional mais próximo (m)
ALT Altitude (m)
Estrutura da paisagem
NP Número de manchas
DE Densidade de ecótono
MSI Média do Índice de Forma (Mean shape index)
SHDI Índice de diversidade Shannon

Tratamento estatístico
De forma a evitar multicolinearidade, foi efectuada uma matriz de correlação de Pearson, onde foram
descartadas as variáveis que estavam correlacionadas entre si. Quando um par de variáveis possuía
um r> 0,5 (variáveis correlacionadas entre si), a variável com maior valor biológico era mantida. As
variáveis obtidas na etapa anterior foram então relacionadas com a variável resposta (número de
grupos fecais), usando modelos lineares generalizados mistos (GLMM), com uma distribuição de
Poisson e função de ligação logarítmica. Os transectos foram incluídos no modelo como factores
aleatórios. As variáveis não correlacionadas foram incluídas num modelo final. Todos os possíveis
modelos candidatos foram selecionadas usando de Critério de Informação de Akaike (Akaike
Information Criterion) (AIC) e o melhor modelo foi selecionado de acordo com o menor valor de AIC.
Os modelos GLMM foram analisados com GLIMMIX no software SAS para Windows 9.2. As
correlações de Pearson foram calculadas pelo procedimento CORR, do software SAS.

3. RESULTADOS

Veado

Do conjunto inicial de 33 variáveis ambientais que poderiam explicar a distribuição veado, as


seguintes variáveis foram descartadas no primeiro passo da análise, devido à excessiva correlação:
micro-habitat (TREECOV, MEADCOV, PINCOV, PYRCOV, DECCOV, ILEXCOV, SATCOV,
CISTCOV, THORNCOV, PTERICOV, HALCOV, CANCOV, VISINDEX), perturbação humana
(DIST_ROAD, DIST_POP) e macro-habitat (NP_1, NP_2, DE_1, DE_2, MSI_1, SDI_1, SEI_1, SEI_2).
Antes de se realizar a análise multivariada, 11 variáveis foram relacionadas com a variável resposta
através de testes univariados (Tabela 2). As variáveis selecionadas no segundo passo da análise,
foram integradas no modelo final. Do conjunto inicial de 33 variáveis, o modelo final reteve apenas
três variáveis: ROE_PRES; SHRUBCOV e MSI_2 (Tabela 3). Os nossos resultados mostram que, no
nordeste transmontano, a ocorrência de veado está positivamente correlacionada com áreas de
elevada densidade de matos (GLMz parâmetro de estimativa: 0.4251, t = 3.67, P = 0.0003), áreas
onde o corço está presente (GLMz parâmetro de estimativa: 1,1015, t = 3,58; P = 0,0004) e áreas

548
Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca

onde as manchas de vegetação ocorrem de forma mais irregular (GLMz parâmetro estimativa:
3,1909, t = 2,64, P = 0,0084) (Tabela 3).

Corço

As análises univariadas encontram-se descritas em Torres et al. (2011). Os nossos resultados


mostram que, na área de estudo, a ocorrência de corço está positivamente correlacionada com áreas
com elevada densidade de matos (GLMz parâmetro estimativa: 0.006, t = 0,25, P = 0,08), distância a
estradas (GLMz parâmetro de estimativa: 0.0003, t = 4,52, P <0,0001), e negativamente com o índice
de forma média (GLMz estimativa parâmetro: -3,692, t = -4,62, P <0,0001) e com a presença de
veado (parâmetro estimativa GLMz : -0,255, t = -3,98, P <0,0001) (Tabela 3).

Coeficiente de competição estimado

O coeficiente de competição do corço em relação ao veado foi 1,102, enquanto que o coeficiente de
competição do veado em relação ao corço cifrou-se nos -0,255 (Tabela 3). Esta diferença sugere uma
assimetria na relação interespecífica entre estas duas espécies, indicando que a presença de veado
tem um efeito negativo na distribuição do corço.

Tabela 2. Variáveis utilizadas na primeira etapa do GLM para testar os fatores que afetam o corço
(Torres et al. 2011) e o veado, no nordeste de Portugal, Trás-os-Montes, e os níveis de significância
das correlações de Pearson entre cada variável explicativa e o número de grupos de excrementos
(n.s. = não significativo).
Veado Corço
Variável Significância Significância

PROP_1 <-0,0001 n.s.


PROP_2 0,0015 n.s.
SHRCOV <0,0001 <0,0001
ERICOV <0,0001 n.s.
THORNCOV n.s. 0,097
LEGCOV 0,0004 n.s.
HALCOV n.s. 0,065
GRNCOV -0,0058 n.s.
POACOV -0,0015 n.s.
AGRICOV <-0,0001 n.s.
DIST_RIV -0,0155 n.s.
DIST_ROAD n.s. 0,034
MSI_2 0,101 -0,007
SDI_2 0,439 *

*não foi estimado no trabalho anterior (Torres et al. 2011)

549
Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca

Tabela 3.Variáveis retidas no modelo final com um modelo linear generalizado misto (GLMM),
explicando a distribuição de veado e de corço, no nordeste de Portugal, Trás-os-Montes, e os
respetivos níveis de significância. A estimativa para o valor do coeficiente padronizado, e o erro
padrão de cada variável padronizada incluídas no modelo é apresentado, incluindo o que é
interpretado como o coeficiente de competição para cada espécie.

Veado Corço
Coeficiente estimado ± SE Coeficiente estimado ± SE

SHRCOV -2,590±1,217 SHRCOV 0.006±0,024


MSI_2 0,425±0,116 MSI_2 -0.369±0,798
ROE_PRES 1.102±0,308 RED_PRES -0.255±0,006
DIST_ROAD <0,001±0,001

4. DISCUSSÃO

Até ao momento, este foi o primeiro estudo que analisou a interação interespecífica entre
o corço e o veado em Portugal, numa paisagem mediterrânica, onde ambas as espécies ocupam
os limites da sua distribuição europeia e onde ocorrem em baixas densidades (Vingada et al.
1991). Várias variáveis ambientais parecem afetar a ocorrência de ambas as espécies (ver
Torres et al. 2011), contudo de diferentes formas.
Ritchie et al. (2009) sugeriram que os coeficientes de competição são uma boa
ferramenta para se avaliar a competição entre populações de herbívoros. A abordagem
estatística utilizada no presente estudo é uma modificação da descrita por Fox e Luo (1996) e
Luo et al. (1998) e resulta, em maior grau, numa exploração da interação entre estas duas
espécies do que numa exploração da competição formal, porém serve como um ponto de partida
para explorar a sua relação.
Os nossos resultados sugerem que a distribuição do corço não é moldada apenas por
fatores abióticos (fatores ambientais) mas também por fatores bióticos (presença de veado).
Embora os resultados sejam apenas correlativos, a intensidade da associação negativa entre o
corço e o veado é consistente com uma interação assimétrica (Ritchie et al. 2009). Observou-se
um efeito negativo da presença de veado na distribuição do corço sugerindo que o corço é
vulnerável à interação, o que é consistente com estudos anteriores (Latham et al. 1996; San José
et al. 1997, Richard et al. 2010). Possíveis mecanismos para esta alegada interação podem
resultar da sobreposição alimentar: a dieta do corço pode incluir plantas consumidas pelo veado,
como já foi demonstrado noutros estudos (e.g. Latham et al. 1999). Por outro lado, o corço
(espécie de menor tamanho) pode ser intolerante à proximidade de espécies maiores
(sobreposição de habitat), algo também já demonstrado noutros estudos (e.g. Ferretti et al.
2008). Os nossos resultados sugerem que o efeito negativo da presença de veado na distribuição
de corço é unidirecional: a presença de veado está positivamente correlacionada com a presença
de corço.
O veado ocorreu mais frequentemente em manchas com maiores densidades de coberto
arbustivo, áreas com maior heterogeneidade espacial e áreas onde o corço estava presente. O

550
Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca

veado adapta-se às mudanças sazonais na quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis.


Portanto, este ungulado parece satisfazer as suas necessidades nutricionais no estrato arbustivo.
Adicionalmente, tal uso pode também ser considerado como uma resposta anti-predatória. Os
nossos resultados mostram que o veado usa menos frequentemente áreas com menor
heterogeneidade espacial, uma vez que a sua distribuição está negativamente correlacionada
com o índice de forma médio (MSI). Contudo, o MSI necessita de uma interpretação cuidadosa,
uma vez que o seu significado pode alterar de um índice de complexidade para um índice de
agregação. Alguns fatores que contribuem para a diminuição da complexidade da paisagem são
as paisagens agrícolas (manchas em forma de retângulos com limites retos e distintos) e a
diminuição de áreas naturais e semi-naturais (Mander et al. 1999). Os resultados do modelo do
corço estão completamente descritos em Torres et al. (2011).
Os animais de menor tamanho corporal são mais seletivos na sua alimentação do que as
espécies maiores (Gordon e Illius 1996). Os nossos resultados apontam nesta direção, uma vez
que o corço usou mais frequentemente áreas mais ricas em recursos alimentares que, na nossa
área de estudo, correspondem à sua alimentação preferencial (Faria 1999).
Apesar da dificuldade em analisar-se a interação entre duas espécies com
comportamentos espaciais diferentes, os resultados desta investigação reforçam a necessidade
de estudos mais aprofundados. Novos estudos deverão comparar os coeficientes de competição
em diferentes pontos da área de distribuição destas espécies. Os nossos resultados não só
adicionam uma nova compreensão da influência da interação interespecífica entre o corço e o
veado num ecossistema mediterrânico, mas também tem implicações para a conservação do
corço, uma espécie que se encontra numa fase crucial de recuperação populacional em Portugal.
Estudos anteriores (ver acima) sugerem que o aumento das densidades de veado poderá ter um
efeito (negativo) nas densidades e distribuição do corço.
Sem dúvida que a monitorização de populações silvestres e a compreensão dos factores que
regulam a sua presença e distribuição são ferramentas indispensáveis para adotar medidas de
mitigação adequadas que proporcionem uma gestão florestal sustentável. Consequentemente, as
ações de gestão na área de estudo (Trás-os-Montes) devem ser direcionadas no sentido de i)
controlar a expansão da instalação de grandes infra-estruturas em zonas rurais, pois estas espécies
necessitam de locais de refúgio isolados e com baixa perturbação; ii) valorizar o padrão de vegetação
em mosaico que proporciona um tipo de habitat muito favorável aos ungulados, nomeadamente a
existência de clareiras em áreas florestais e/ou arbustivas densas, que fomentam o efeito ecótono e
valorizar árvores e arbustos autóctones; e iii) preservar os bosquetes, maciços arbustivos e a
conservação de bandas ripícolas, que inseridas numa paisagem agrícola e humanizada,
proporcionam as condições de alimento, abrigo e tranquilidade que ambas as espécies necessitam.

551
Rita T. Torres, João Santos, João Carvalho e Carlos Fonseca

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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553
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

Principais características da biomassa e propriedades da cinza de


combustão de matos nativos do Norte de Portugal e NW de Espanha

H. Viana1,2,*, D.J. Vega-Nieva2, L. Ortiz Torres2, J. Lousada3, J. Aranha3

1: CI&DETS, Escola Superior Agrária, Instituto Politécnico de Viseu. Quinta da Alagoa-Ranhados, 3500-606
Viseu. Tel: +351 232 446 600; fax: +351 232 426 536.
2: Escuela Universitaria de Ingeniería Técnica Forestal. Univerdidade de Vigo
3: CITAB, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Apartado 1014, 5001-801 Vila Real

e-mail: hviana@esav.ipv.pt

Resumo: O Norte-Centro de Portugal e a região da Galiza (NW de Espanha) são ocupados por
extensas áreas de matos (cerca de 1,4 e 1 milhão de hectares, respetivamente), com elevadas
cargas arbustivas, que ciclicamente são consumidos pelos incêndios florestais. No sentido de
minimizar os impactes do fogo, bem como diminuir a sua incidência, as politicas estabelecidas
nos últimos anos, para a promoção da geração de energia por combustão de biomassa florestal,
quer em Portugal como em Espanha, tiveram como foco central a utilização dos matos como
potencial fonte de combustível. Desta forma, é fundamental caracterizar esta biomassa quanto às
suas características termo-físico-químicas, bem como avaliar as propriedades das cinzas
resultantes da combustão. Pelo seu interesse e predominância, este estudo caracteriza a
biomassa das principais espécies arbustivas lenhosas, giesta (Cytisus multiflorus), urze (Erica
arborea), carqueja (Pterospartum tridentatum) e tojo (Ulex europaeus). Os resultados mostraram
um poder calorífico superior de 24.44 MJ kg-1 para a urze, 22.46 MJ kg-1 para a giesta, 21.94 MJ
kg-1 para a carqueja e 21.16 MJ kg-1 para o tojo. O teor de carbono (C) armazenado na biomassa
aérea variou entre 46.2 a 49.8 %, e o conteúdo de azoto (N) entre 0.63 a 2.05 %, sendo que a
urze é a espécie com a taxa mais alta em C e menor em N. Todas as espécies apresentaram
conteúdos de enxofre (S) abaixo de 0,1%. As cinzas da combustão da biomassa variaram entre 1
a 2 %. As análises químicas às cinzas revelaram entre 16.6 % a 33.6 % de sílica e 24 a 30% de
metais alcalinos, configurando potenciais problemas de corrosão, bem como depósitos de cinza
compactos nas caldeiras de queima. Os resultados obtidos num caso de estudo efectuado para a
região Norte de Portugal Continental, mostram que, entre 2006 e 2011, arderam 145.065 ha,
tendo sido consumidas 1.78 milhões de toneladas de biomassa (12,29 t ha-1) que, convertidas em
valores de Carbono, representam 881.332 toneladas (6.08 t C ha-1). Se convertidos em valores
de energia, considerando os PCS de cada espécie representam 33.572 GJ.
Palavras-chave: Matos mediterrâneos, Biomassa, Poder calorífico, corrosão de caldeiras, GIS

Abstract: Land cover and land use in North-Central Portugal and Galicia (NW Spain) are mainly
occupied by large areas of shrub lands (about 1.4 million hectares and 1, respectively), which are
cyclically burnt. In the last 10 years, Portugal and Spain have established policies to promote
energy production by forest biomass combustion, in power plants, in order to minimise the fire
impacts’ as well to reduce its occurrence. This way, it is crucial to analyse the thermo-physical-
chemical biomass characteristics, and to assess resulting ash’s properties. This study
characterises biomass from four main woody shrub species: broom (Cytisus multiflorus), heath
(Erica arborea), carqueisa (Pterospartum tridentatum) and gorse (Ulex europaeus). The achieved
results shown a high calorific value of 24.44 MJ kg-1 for heath, 22.46 MJ kg-1 for the broom,
21.94 MJ kg-1 for carqueisa and 21.16 and MJ kg-1 for the gorse. Biomass carbon content (C)
ranged from 46.2 to 49.8%, and nitrogen content (N) ranged from 0.63 to 2.05%, being the heath,
the shrub species with the highest rate of C and lowest of N. All species showed sulphur (S)
content below 0.1%. Ashes, from the biomass combustion, ranged from 1 to 2%. Chemical
analysis shown that ash silica content ranged from 16.6% and 33.6% and alkali ranged from 24 to
30%, which could result in potential corrosion problems and ash compact deposits on boiler firing.
H. Viana, D.J. Vega-Nieva, L. Ortiz Torres, J. Lousada e J. Aranha

Achieved results, from a case study for the northern region of mainland Portugal, shown that,
between 2006 and 2011, they were burnt out 145,065 ha of shrublands, having been consumed
1.78 million tonnes of biomass (12,29 t ha-1), which converted into Carbon values, represents
881332 tons (6.08 t C ha-1). If converted into energy values, considering the HHV for each
species, represents 33,572 GJ.
Keywords: Mediterranean shrub land, biomass, higher calorific value, ash, boiler corrosion, GIS

1. INTRODUÇÃO

A procura de soluções para obtenção de energia a partir de fontes renováveis tem feito proliferar
vários projetos no sector da biomassa, um pouco por toda a Europa. Com efeito, na persecução de
inverter a tendência de emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE), e resultantes consequências
nas alterações Climáticas (United Nations, 1998), como reconhecido pelo Painel Intergovernamental
sobre Alterações Climáticas (IPCC, 2006), a União Europeia (EU) encetou, desde os anos 90, uma
estratégia pioneira para o Clima e energia. Identificado o sector energético como o principal
responsável pelas emissões de GEE (European Commission, 1997), foram definidas políticas
promovendo a produção de energia a partir de fontes renováveis (European Commission, 2000,
2001), reduzindo desta forma a dependência dos combustíveis de origem fóssil. As metas a atingir,
definidas para cada Estado membro da EU, comtemplam a produção de energia a partir da biomassa
(eletricidade, calor e biocombustíveis), em virtude deste recurso ser abundante e, portanto, com um
grande potencial. Neste seguimento, quer em Portugal (DGGE, 2006), quer em Espanha (Gobierno
de España, 2010), foram estabelecidos políticas para a produção de energia, nomeadamente pela
construção de centrais de biomassa dedicadas. Estas centrais, as já em funcionamento, assim como
as previstas, necessitarão de elevadas quantidades de biomassa, de forma regular que, como
apresentado em anteriores estudos (Viana et al., 2010; Viana et al., 2011), poderão não suprir as
futuras necessidades, se a fonte de combustível for apenas a biomassa florestal residual de pinheiro-
bravo e eucalipto. Por outro lado, têm-se vindo a implementar diversas unidades de produção de
pellets, que requerem também madeira de pinheiro-bravo. Acresce que, em Espanha, as centrais de
biomassa e fábricas de pellets têm proliferado a um ritmo elevado, muitas das quais, com uma
localização muito próxima, que antecipam a aquisição de matéria-prima em Portugal (APPA, 2011). A
disponibilidade limitada de biomassa florestal residual de pinheiro bravo e eucalipto, em Portugal e
Espanha (Viana, 2012), tem feito crescer o interesse sobre a avaliação do potencial dos matos para
aproveitamento energético (Viana et al., 2012). Desta forma, neste trabalho (1) apresentam-se
algumas características da biomassa e propriedades da cinza da combustão de quatro espécies de
mato com maior interesse em termos de biomassa no Norte-centro de Portugal e NW de Espanha: a
giesta (Cytisus multiflorus), a urze (Erica arborea), a carqueja (Pterospartum tridentatum) e o tojo
(Ulex europaeus); e (2) apresenta-se um estudo de caso com a quantificação do potencial energético
e do carbono (C) acumulado (t ha-1) por estas espécies no Norte do país.

555
H. Viana, D.J. Vega-Nieva, L. Ortiz Torres, J. Lousada e J. Aranha

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Análises termo-físico-químicas

As espécies analisadas foram recolhidas em parcelas localizadas no Norte-Centro de Portugal


(39°11′53″N, 06°14′17’W - 42°50′50″N, 08°19′02″W) e na Galiza, NW de Espanha (42°56′26.06″N,
7°26′25.89W - 42°31′28.05″N, 7°31′10.41W). A biomassa colhida em campo foi transportada em
recipientes hermeticamente fechados para caracterização termo-físico-química, de acordo com as
especificações técnicas apresentadas nas normas (CEN EN 14774-1:2009; CEN EN 14918:2009; DD
CEN/TS 14780:2005; DD CEN/TS 15104:2005; DD CEN/TS 15148:2005; DD CEN/TS 15289:2006).
As análises foram efectuadas nos Laboratórios do Instituto Politécnico de Viseu, da Escuela
Universitaria de Ingeniería Técnica Forestal, Universidad de Vigo e da Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro.

2.2. Avaliação do potencial energético e carbono fixado pelos matos

No exercício para quantificar o poder energético e o carbono (C) fixado pelos matos, numa área
selecionada no Norte do país, utilizaram-se as áreas ardidas no período de 2006 e 2011. Com dados
provenientes de estudos anteriores (Aranha et al., 2008), recolhidos em 336 parcelas de amostragem
(146 no Minho, 145 em Trás-os-Montes e 45 nas Serras do Marão e do Alvão), estabeleceram-se
modelos alométricos que relacionam a acumulação da carga arbustiva lenhosa pós-fogo, entre os 2 e
os 10 anos de idade. Com os dados provenientes das análises do poder calorífico das análises
químicas elementares, estabeleceram-se modelos para predição do potencial energético e C fixado,
nas parcelas consideradas. A distribuição espacial foi feita por modelação geoestatística, o que
permitiu obter dois mapas com a distribuição contínua das estimativas do potencial calorífico e do C
libertado (t ha-1), neste período.

3. RESULTADOS

3.1. Características da vegetação

Nas parcelas de amostragem, os parâmetros da vegetação (altura, percentagem de cobertura do


solo), foram medidos, a biomassa foi separada por espécie e pesada em campo e, em laboratório,
determinado o conteúdo de humidade e massa volúmica das espécies estudadas (Tabela 1). Em
cada parcela foi recolhida uma subamostra, de cada espécie presente, para as posteriores análises
laboratoriais.

556
H. Viana, D.J. Vega-Nieva, L. Ortiz Torres, J. Lousada e J. Aranha

Tabela 1 - Características da vegetação presente nas parcelas de amostragem


Espécie h (m) CC (%) B (t ha-1) H% MV (kg m-3)
Norte-Centro de Portugal
Cytisus multiflorus 0,8 (±0,3) 27,5 (±22,3) 10.3 (±9.1) 52,3 (±1,2) 417,5 (±89,6)
Erica australis 0,7 (±0,4) 21,4 (±17,2) 3.9 (±4.2) 45,6 (±2,8) 569,2 (±183,4)
Pterospartum tridentatum 0,2 (±0,1) 12,0 (±7,3) 1.7 (±2.4) 47,6 (±0,5) 485,2 (±40,0)
Ulex europaeus 0,7 (±0,5) 25,4 (±11,8) 2.9 (±3.4) 49,6 (±3,9) 417,9 (±104,7)
Outras espécies 0,1 (±0,2) 2,4 (±2,6) 0.1 (±0.3)
total 18.9 (±13.4)
Galiza – NW de Espanha
Cytisus multiflorus 1,6 (±0,8) 83,7 (±16,1) 8.9 (±9.6) 59,2 (±1,7) 408,1 (±53,8)
Erica australis 0,9 (±0,7) 85,9 (±14,3) 4.8 (±5.3) 58,9 (±0,9) 483,3 (±63,5)
Pterospartum tridentatum 0,4 (±0,3) 38,6 (±15,7) 3.3 (±4.8) 46,3 (±1,5) 420,5 (±77,5)
Ulex europaeus 0,9 (±0,7) 87,2 (±10,4) 9.1 (±10.2) 46,7 (±2,2) 435,2 (±66,0)
Outras espécies 0,2 (±0,3) 2,6 (±0,3) 0.2 (±0.5)
total 26.3 (±16.2)
Sendo: h (m) - altura média do mato, em metros; CC (%) – Percentagem de Cobertura do solo; B (t
ha-1) - Biomassa média nas parcelas amostradas, peso seco em toneladas por hectare; H% -
Percentagem de humidade; MV - Massa volúmica (peso seco, Kg m-3).

3.2. Caracterização termo-físico-químicas da vegetação

Na tabela 2 apresenta-se a análise química elementar da biomassa das espécies de mato estudadas.
Como se observa, o teor de carbono fixado pela componente aérea, destas espécies de mato, varia
entre os 46.2 a 49.84%, valores semelhantes aos obtidos para o lenho de diversas espécies
arbóreas, como reportado por outros autores (e.g. Elvira and Hernando, 1989). O Enxofre, associado
ao problema de corrosão das caldeiras, encontra-se abaixo dos 0,1%, limite máximo definido como
não problemático (Obernberger et al., 2006). Taxas de Azoto acima de 0,6% são consideradas
problemáticas, pela potencial emissão de óxidos de Azoto (NOx) (Obernberger et al., 2006). Os
valores encontrados nas espécies analisadas, acima deste limite, indicam que deverão ser usados
filtros nas caldeiras de combustão, adequados à mitigação da emissão destes gases.

Tabela 2 – Análise elementar das espécies em estudo


Espécie C H O N S
Norte-Centro de Portugal
Cytisus multiflorus 46,20 (±0,26) 6,88 (±0,09) 44,35 (±0,29) 1,24 (±0,06) <0,1
Erica australis 49,84 (±0,10) 7,04 (±0,08) 41,06 (±0,09) 0,63 (±0,02) <0,1
Pterospartum tridentatum 47,95 (±0,16) 6,97 (±0,09) 42,96 (±0,18) 0,67 (±0,04) <0,1
Ulex europaeus 46,32 (±0,43) 6,85 (±0,04) 44,37 (±0,52) 0,95 (±0,01) <0,1
Galiza – NW de Espanha
Cytisus multiflorus 48,84 (±0,69) 6,55 (±0,39) 43,2 (±0,19) 2,05 (±0,65) <0,1
Erica australis 48,13 (±0,46) 6,08 (±0,55) 42,7 (±0,33) 0,82 (±0,08) <0,1
Pterospartum tridentatum 48,78 (±0,31) 6,65 (±0,03) 42,3 (±0,17) 0,96 (±0,25) <0,1
Ulex europaeus 48,88 (±0,53) 6,49 (±0,12) 42,4 (±0,26) 1,72 (±0,09) <0,1
onde: C – Carbono, H – Hidrogénio, O – Oxigénio, N – Azoto, S – Enxofre

557
H. Viana, D.J. Vega-Nieva, L. Ortiz Torres, J. Lousada e J. Aranha

Os poderes caloríficos superiores (PCS), das espécies estudadas, são apresentados na Figura 1,
sendo representados os valores médios, máximos e mínimos medidos, nas duas áreas de estudo,
que não mostraram diferenças significativas entre as duas regiões (p-value ≤ 0.05).

Figura 1 - Poder calorífico superior das espécies de matos estudadas

O PCS destes matos são elevados, acima até dos valores encontrados noutro tipo de vegetação,
como é o caso do pinheiro-bravo e eucalipto (Viana, 2012), revelando um potencial interessante neste
aspecto. Contudo, a compactação destes materiais vai condicionar a Densidade Energética (GJ m-3)
(Viana et al., 2012) e, portanto, influenciar os aspectos económicos para a utilização desta vegetação.
Com efeito, a compactação, associada aos aspectos técnicos de recolha e ao transporte,
determinarão a viabilidade efetiva para o aproveitamento desta vegetação.

3.3. Avaliação do potencial energético e carbono fixado pelos matos

Com o intuito de se exemplificar o potencial energético e o carbono (t ha-1) que este tipo de vegetação
pode armazenar selecionaram-se as áreas ardidas no Norte de Portugal, entre 2006 e 2011 e, desta
forma, quantificou-se o C (t ha-1) e a energia “perdidos” neste período, pela ação dos incêndios. Para
isso, foi quantificada a acumulação de biomassa nestas áreas, com base em parâmetros e relações
alométricas, estabelecidas em estudos prévios (Figura 2). Utilizando as fracções de C e o PCS de
cada espécie, apresentados anteriormente, foram estimadas as quantidades de C (t ha-1) e o
potencial energético, como apresentado nas Figuras 3 e 4, respectivamente.

558
H. Viana, D.J. Vega-Nieva, L. Ortiz Torres, J. Lousada e J. Aranha

Figura 2 – Biomassa ardida entre 2006 e 2011.

Figura 3 – Carbono (t ha-1) estimado para as áreas ardidas entre 2006 e 2011.

559
H. Viana, D.J. Vega-Nieva, L. Ortiz Torres, J. Lousada e J. Aranha

Figura 4 – Potencial energético estimado para as áreas ardidas entre 2006 e 2011.

As estimativas mostram que numa área ardida de cerca de 145.065 ha, entre 2006 e 2011, foram
consumidas 1.78 milhões de toneladas de biomassa (12,29 t ha-1), correspondendo a 881.332
toneladas de C (6.08 t ha-1). Estes valores podem ser convertidos em emissões de dióxido de
carbono para a atmosfera, utilizando o factor de conversão (44/12=) 3.67 (IPCC, 2006).
A energia estimada para esta biomassa foi de 33.572 GJ, considerando os PCS de cada espécie. Os
valores apresentados são apenas exemplificativos havendo que considerar, evidentemente, as
eficiências do processo de combustão, no caso de se querem obter os valores de energia possível de
gerar com as quantidades de biomassa quantificadas. Por outro lado, de forma a quantificar a
biomassa possível de ser aproveitada, teriam que se considerar apenas as áreas possíveis de
explorar, o que não é objectivo deste estudo.

4. CONCLUSÃO

A análise feita às quatro espécies de matos: giesta (Cytisus multiflorus), urze (Erica arborea),
carqueja (Pterospartum tridentatum) e tojo (Ulex europaeus), com maior predominância e interesse
para aproveitamento energético, mostrou que esta biomassa tem um elevado potencial para ser
utilizada como combustível para as centrais de biomassa. Por outro lado, são armazenadas elevadas
quantidades de carbono (t ha-1) nesta biomassa, as quais são libertadas como CO2 para a atmosfera
aquando da ocorrência de fogos florestais. As restrições técnicas e económicas da exploração

560
H. Viana, D.J. Vega-Nieva, L. Ortiz Torres, J. Lousada e J. Aranha

desta biomassa poderão ser o maior obstáculo à utilização como fonte de combustível. Contudo,
os estudos viabilidade económica da exploração desta biomassa devem atender à ausência das
emissões de CO2 para a atmosfera, que são evitadas pelos incêndios florestais.
Os resultados obtidos anteveem alguns problemas associados à combustão nas caldeiras de
biomassa, como sejam a emissão de óxidos de azoto (NOx), de corrosão e de aglomeração de
cinzas, pelo que devem ser aprofundados os estudos nesta vertente.

REFERÊNCIAS

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562
7º Congresso Florestal Nacional 
“Florestas – Conhecimento e Inovação” 
5 a 8 de Junho de 2013

É possível cultivar paricá na Europa?

Sabrina B. Vieira1, Jaqueline M. Gomes2, João O. P. de Carvalho2.

1: Engenheira Florestal, Bolsista do CNPq - Ciência sem Fronteira; Universidade de Santiago de


Compostela - USC; Av. Madrid, 63, 7º derecha, Codigo Postal: 27002 – Lugo
2: Engenheira Florestal, Mestre em Ciências Florestais; e Engenheiro Florestal, D.Phil., Bolsista PQ do
CNPq, Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais na Universidade Federal Rural da
Amazônia-UFRA; Av. Presidente Tancredo Neves, 2501, Bairro Montese – CEP 66077-901 – Belém-PA

E-mail: sabrina_benmuyal@hotmail.com
Resumo: Neste artigo são oferecidas informações preliminares sobre a silvicultura da espécie
arbórea paricá (Schizolobium parahyba var amazonicum (Huber ex Ducke)), nativa da Amazônia,
pertencente à família Fabaceae. É uma espécie heliófila, cujas árvores atingem até 40 m de
altura e chegam a medir 100 cm de diâmetro. As informações técnicas e científicas foram obtidas
na literatura sobre a silvicultura da espécie, com a finalidade de conhecer seu comportamento e
suas formas de adaptação, para estudar a possibilidade de indicação do seu cultivo para a região
Européia. Os resultados obtidos mostram que a espécie paricá é encontrada em varias regiões
do Brasil, inclusive no sul, suportando as diferentes condições climáticas e edafológicas,
mostrando sua capacidade de adaptação em vários ambientes, onde se pode observar a
influência da interação genótipo x procedência x ambiente. Por ser uma espécie de rápido
crescimento e possuir sementes de fácil aquisição e madeira de boa qualidade para o mercado,
está sendo muito utilizada para a recuperação de áreas degradadas, reflorestamentos comerciais
e vários sistemas de manejo e uso da terra como, por exemplo, enriquecimento de áreas abertas
em florestas primárias e secundárias e sistemas agroflorestais, entre outros. Com isso, é possível
inferir que a espécie paricá constitui uma alternativa que pode ser ecologicamente e
economicamente viável para as áreas onde se preza a produção de pastos e cultivo de pinus,
pois é uma espécie que tem grande possibilidade de se adaptar em regiões tropicais e
temperadas. Sugere-se que sejam realizados, inicialmente, plantios experimentais para conhecer
melhor o seu comportamento silvicultural.
Palavras-chaves: Schizolobium parahyba, espécie de rápido crescimento, plantação de árvores,
espécies arbóreas da Amazônia, recuperação de áreas alteradas.

Abstract: Preliminary information on silviculture of Schizolobium parahyba var. amazonicum


(Huber ex Ducke), an Amazonian tree species that belongs to Fabaceae, are given in this paper.
It is a light-demanding species with trees reaching 40 m in height an 100 cm in diameter. The
technical and scientific information were obtained from literature on the species silviculture,
aiming to know its behavior and its way of life, in order to study the possibility of indicating its
planting for European region. The results show that the species is found in many places in Brazil,
including in the South, living in different climates and soil types, showing its capacity of adapting
in different environments, where we can observe the influence of the genotype x origin x
environment interaction. Parica is a fast growing species, their seeds are of easy purchase and its
timber has very good quality for selling. Then, for that, the timber is very used for recovery of
altered areas, commercial planting and other management and land use systems as, for example,
enrichment planting on open areas in secondary and primary forests and in agroforestry systems,
among others. Therefore we can suggest that this species constitutes an alternative that can be
ecologically and economically feasible for areas in general used for pasture or pinus planting,
because parica is an species with high possibility for adapting in tropical and temperate regions.
Initially, we suggest experimental plantings in order to better know the species silvicultural
behavior.
Keywords: Schizolobium parahyba, fast growing tree species, tree planting, Amazonia tree
species, recovery of altered areas.
Sabrina B. Vieira, Jaqueline M. Gomes, João O. P. de Carvalho

1. INTRODUÇÃO

A Amazônia vem passando por um processo de desmatamento contínuo há décadas, mas felizmente
no Brasil a taxa de desmatamento vem reduzindo a cada ano, embora nos países vizinhos continue
aumentando. Por isso, o número de florestas plantadas com espécies nativas vem crescendo na
Amazônia e se tornando uma opção economicamente viável. A espécie mais utilizada nessas
plantações é Schizolobium parahyba var amazonicum (Huber ex Ducke), sinonímia botánica
Schizolobium amazonicum (Huber ex Ducke), conhecida vulgarmente na Amazônia oriental como
paricá, pertencente à família Fabaceae. É uma espécie arbórea altamente heliófila, de crescimento
rápido, com indivíduos de grande porte, que atingem até 40 m de altura e chegam a medir 100 cm de
diâmetro. Ocorre naturalmente desde o México na América do Norte (PENNINGTON e SARUKHÁN,
1998), Honduras (THIRAKUL, 1998) e Costa Rica (HOLDRIDGE e PÓVEDA. 1975) na América
Central e, além do Brasil, em mais quatro países amazônicos: Bolívia (KILLEEN et al., 1993),
Colômbia (TRIVINO-DIAZ et al., 1990), Equador (RODRIGUEZ ROJAS e SIBILLE MARTINA, 1996) e
Peru (ENCARNACION C., 1983). Na Amazônia brasileira ocorre com mais frequencia nos estados do
Acre (ARAUJO E SILVA, 2000), Amazonas (DUCKE, 1949), Mato Grosso (RONDON, 2002), Pará
(GALEÃO et al., 2006) E Rondônia (OLIVEIRA e PEREIRA, 1984).
É possível cultivar paricá na Europa? A princípio a resposta a esta pergunta seria: “dificilmente, pois
se trata de uma espécie tropical que normalmente não deve resistir a baixas temperaturas”.
Entretanto, Schizolobium parahyba var. parahyba, conhecida como guapuruvu, que ocorre na Mata
Atlântica no litoral brasileiro e na região sul do Brasil, considerada como sendo a prima sulista da
paricá, suporta baixas temperaturas, inclusive inferiores a 0oC e com geadas. Segundo Carvalho
(2007), a paricá plantada em Rolândia, estado do Paraná, no sul do Brasil, tolerou temperaturas
mínimas de até -2ºC (dois graus negativos) e não apresentou danos evidentes por geadas. Por que
não experimentar paricá em plantios puros ou mistos ou em enriquecimento de florestas em outras
regiões temperadas?
Neste artigo são apresentadas informações gerais sobre a silvicultura de Schizolobium parahyba var
amazonicum (Huber ex Ducke), que vem sendo plantada tanto em escala experimental como em
escala industrial em várias regiões do Brasil.

2. METODOLOGIA

São apresentadas informações silviculurais sobre paricá, com base na pouca literatura científica
existente sobre a espécie. Há dados sobre plantios em pleno sol em áreas de agricultura e pecuária,
assim como plantios na forma de enriquecimento em florestas primárias e em florestas secundárias.

3. RESULTADOS

A região amazônica é caracterizada por elevada diversidade biológica, alta acidez e saturação com
alumínio e baixa concentração de nutrientes no solo, além de altos índices de chuva e temperatura
(ROCHA, 2009). Essa biodiversidade é bem superior à biodiversidade na região européia (XUNTA
GALICIA, 2010), que é caracterizada por uma elevada irregularidade térmica e pluviométrica, entre as
estações do ano, e por um déficit de precipitações no verão, o que produz um caráter específico no

564
Sabrina B. Vieira, Jaqueline M. Gomes, João O. P. de Carvalho

tipo de composição e formação vegetal (PLANO FORESTAL ESPAÑOL, 2002).


Na região da Galícia e parte de Portugal, é comum o uso do solo para produção de pasto. Nessas
áreas poderiam ser testadas e introduzidas novas espécies para recuperação da área e como
alternativas de produtos madeireiros, considerando que a produção nessas regiões está fortemente
centrada na transformação da madeira de pinus. Dessa forma, o uso do solo europeu se adaptaria a
novas circunstâncias de melhora em competitividade, capacidade empresarial e qualidade dos
produtos (XUNTA DE GALICIA, 2010). O cultivo de paricá, por exemplo, poderia ser testado, pois de
acordo com Crespo et al. (1995), a espécie se desenvolve até mesmo em solos de baixa fertilidade
química, baixo conteúdo de matéria orgânica, com pH de 3,7 a 5,5 e baixa capacidade de troca de
cátions com níveis de saturação de alumínio de 70% a 80%.
Há de se considerar que a adaptabilidade é um dos fatores determinantes no desenvolvimento da
planta, ou seja, para a definição da unidade de seleção mais apropriada na atividade florestal,
considera-se que as interações genótipo x procedência x ambiente sejam em geral significativas,
resultado, em parte, da expressiva variação genética natural (ROCHA, 2009). A procedência das
sementes utilizadas na produção de mudas de paricá para o reflorestamento deve ser avaliada
geneticamente, pois a sua qualidade influencia no desenvolvimento da planta (ROSA, 2006). As
sementes de paricá são de fácil aquisição, que aliada ao rápido crescimento da planta e bom preço
da madeira no mercado, as tornam muito procuradas pelas empresas madeireiras e por pequenos
produtores (SABOGAl et al., 2006).
O plantio de paricá vem sendo utilizado para a recuperação de áreas degradadas, que além do
benefício ecológico proporcionado, pode suprir de matéria-prima as indústrias madeireiras. Assim
como as madeiras de pinus e eucalipto, a madeira de parica é utilizada no Brasil na produção de
painéis aglomerados e MDF (Medium Density Fiber) (IWAKIRI et al., 2010) e na produção de vigas de
MLC (Madeira Laminada Colada), tendo desempenho satisfatório quanto à resistência e módulo de
elasticidade. Neste caso, é possível conceber elementos estruturais como vigas e pilares para a sua
aplicação na construção civil, como já acontece para a madeira de pinus de floresta plantada no
Brasil (TEREZO e SZÜCS, 2010).
A espécie apresenta grande potencial para ser utilizada em programas de reflorestamento, pois
produz volume de madeira em quantidade e qualidade e em curto período de tempo. Quando bem
conduzida possui um excelente desenvolvimento, mas depende de: tipo de semeadura, para
produção uniforme de mudas de qualidade; tipo de plantio, monocultivo ou consorciado com outras
espécies; espaçamento adequado, para evitar competição e garantir a qualidade da madeira; e
adubação, para contribuir com os elementos do solo (ROSA, 2006).
Nas pesquisas de MARQUES (1990), SILVA (1997) e CORDEIRO (1999) sobre o comportamento de
paricá em diferentes regimes de preparação de área para plantio, foi constatado que esta espécie
adapta-se perfeitamente ao sistema de manejo de solo utilizando resíduos orgânicos como cobertura,
incluindo resíduos de madeira das indústrias de transformação, com alta taxa de sobrevivência e de
crescimento. Pode ser indicada como espécie mais adaptada para a recuperação de áreas
degradadas na Amazônia, além de proporcionar alternativa econômica para o setor de base florestal.
Em 67 áreas com plantações de paricá, com idades aproximadas de cinco anos, na Amazônia

565
Sabrina B. Vieira, Jaqueline M. Gomes, João O. P. de Carvalho

brasileira, a espécie teve diferentes comportamentos, de acordo com o histórico ou situação de uso
da área, conforme relatado por SABOGAL et al. (2006), como segue: 1) em plantio em área agrícola,
o incremento médio anual em diâmetro (IMAd) foi de 4,30 cm, em altura até o primeiro galho (IMAh)
foi de 2,68 m e em volume (IMAv) foi de 10,91 m3 ha-1; 2) em plantio em pastagem, IMAd = 3,49 cm,
IMAh = 3,16 m e IMAv = 15,70 m3 ha-1; 3) em enriquecimento de florestas secundárias, IMAd = 3,36
cm, IMAh = 2,51 m e IMAv = 20,18 m3 ha-1; 4) em enriquecimento de florestas primárias, IMAd = 2,60
cm, IMAh = 1,47 m e IMAv = 16,39 m3 ha-1. Na pesquisa de GOMES et al. (2013) em enriquecimento
de floresta primária com a espécie plantada em clareiras causadas por exploração florestal de
impacto reduzido, o IMAd foi de 1,4 cm e IMAh = 1,84 m. No estudo de KEEFE et al. (2009) também
em enriquecimento de florestas primárias exploradas, o IMAd foi de 2,14 cm.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em decorrência do seu rápido crescimento, da sua capacidade de se adaptar às diversas condições


edafoclimáticas, bem como do valor econômico da sua madeira, paricá tem sido a espécie nativa
mais cultivada nas áreas de reflorestamento na região amazônica e tem potencial para ser cultivada
em outras regiões tropicais. Sugere-se também que sejam estabelecidos plantios experimentais da
espécie em regiões temperadas, inclusive na Ibéria Caucasiana. Entretanto, estudos mais detalhados
devem ser realizados sobre a sua silvicultura, principalmente a respeito de pragas e doenças que
possam interferir no seu desenvolvimento.

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