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UNIVERSIDADE DO MINHO
Relatório de Estágio
Versão definitiva
Orientadores:
Professora Doutora Maria Zita Pires Castelo Branco
Professora Doutora Maria João Pinto Monteiro
Relatório de Estágio
Versão definitiva
Orientadores:
Professora Doutora Maria Zita Pires Castelo Branco
Professora Doutora Maria João Pinto Monteiro
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“O principal objetivo da educação é criar pessoas
capazes de fazer coisas novas, e não simplesmente
repetir o que as outras gerações fizeram”.
(Jean Piaget)
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O Júri:
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Agradecimentos
Ao longo deste percurso formativo exigente e de sacrifício, várias foram as pessoas que
contribuíram para o seu desenvolvimento e sem as quais a sua concretização não teria sido
possível. A todas quero expressar o meu reconhecimento e profunda gratidão.
À Professora Doutora Maria Zita Castelo Branco, pelo privilégio da sua brilhante orientação,
pela disponibilidade, compreensão, dedicação, imenso saber transmitido, pela motivação para
a concretização deste trabalho e por mostrar que tem um coração gigante.
Ao enfermeiro gestor onde decorreu o estágio, pelo apoio e por ter oferecido as condições ideais
para o desenvolvimento de oportunidades de aprendizagem.
Aos meus queridos amigos, Vânia e Paulo, por terem ajudado a cuidar das minhas filhas recém-
nascidas nas minhas ausências, sem eles não teria sido possível.
À minha querida amiga Elisabete Mota, pela amizade incondicional, por nunca me ter deixado
desistir e acreditar sempre que eu alcançaria a meta final. Não há palavras para descrever o seu
apoio e dedicação.
Ao Francisco, pela paciência e compreensão nos dias mais complicados, pelo incentivo, por me
fazer crer que por detrás de cada adversidade existe uma simples solução, pelo sacrifício e
capacidade de cuidar dos nossos filhos pequenos nas minhas longas ausências.
Aos meus queridos filhos, Santiago, Alice e Matilde, que transformaram a minha vida e que a
cada dia me inspiram a olhar e viver as pequenas grandes coisas da vida, que suportaram as
minhas ausências com um entendimento inexplicável e que foram sempre a minha principal
motivação para terminar este percurso.
E, por fim, à pessoa que cumpriu metade deste percurso com duas bebés na barriga e outra
metade com duas gêmeas recém-nascidas e um menino pequeno, àquela que, apesar das
adversidades, obstáculos, lágrimas e todo o sacrifício, chegou ao fim: EU!
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Resumo
Resultados: Verificou-se que 71,7% dos enfermeiros considera sentir segurança na prestação
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de cuidados de enfermagem ao doente submetido a ventilação não invasiva. No entanto, 78,3%
reconheceu que não existe uniformização dos cuidados; 48,3% dos participantes considerou ter
conhecimentos suficientes sobre os ventiladores utilizados na instituição, mas apenas 30%
considerou ter conhecimento de nível bom para manuseá-los. Relativamente às diversas
interfaces existentes, metade dos participantes tinham um nível de conhecimento suficiente,
enquanto 31,7% um nível bom. Dos participantes, 78,3% referiu ter formação em ventilação
não invasiva. Todos os participantes deste estudo consideraram pertinente a criação de um
documento orientador e a utilidade de um manual com princípios básicos para a prestação de
cuidados de enfermagem à pessoa submetida a ventilação não invasiva.
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Abstract
Background: This report is part of the option curricular unit: Internship of the Master's course
in Nursing of the Person in Critical Situation of the School of Health of the University of Trás-
os-Montes and Alto Douro in consortium with the Higher School of Nursing of the University
of Minho. This aimed at a critical-reflexive analysis of the competencies developed, according
to the Common and Specific Competencies Regulation of the Nurse Specialist in Nursing of
Persons in Critical Situation of the Ordem dos Enfermeiros. During the internship, a research
paper was developed on the theme "noninvasive ventilation in the general emergency service:
promoting the improvement of nursing care".
Respiratory diseases continue to be one of the main causes of morbidity and mortality in
Portugal and worldwide, representing a high cost, associated with greater use of health services,
production losses as a result of the disease and the reduction in the quality and years of life of
patients. Non-invasive ventilation, is an advanced means of therapy used as first line in patients
with acute/chronic respiratory disease, given its numerous advantages when compared to with
invasive ventilation. Nurses are responsible for the care of patients undergoing to non-invasive
ventilation during initiation, monitoring and continuity of care, and their constant updating is
essential.
Results: It was found that 71.7% of nurses felt confident in providing care to patients
undergoing to non-invasive ventilation, although 78.3% recognized that there is no
standardization of care. 48.3% of the participants considered having sufficient knowledge about
the ventilators used in the institution, but only 30% considered having a good level of
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knowledge to handle them. Regarding the various existing interfaces, half of the participants
had a sufficient level of knowledge, while 31.7% had a good level. 78.3% of the sample reported
having had training in non-invasive ventilation. All participants of this study considered it
pertinent to create a guiding document and the usefulness of a manual with basic principles for
the provision of nursing care to the person submitted to noninvasive ventilation.
Conclusion: The competencies of the Nurse Specialist in Nursing of the Person in Critical
Situation were deepened, with a view to its incorporation into clinical practice, consolidating
the specialized intervention to the person in critical situation. The creation of a standard of
procedures for nursing care for patients submitted to non-invasive ventilation was manifested
by the study participants and will result in the improvement of the quality of care, with gains in
health for the patient and the institution, reducing hospitalization times and costs and referral
to intensive care.
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Índice Geral
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 1
1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTÁGIO........................................................................................... 5
3. METODOLOGIA .......................................................................................................................47
3.1. Tipo e desenho do estudo ................................................................................................47
3.2. População e amostra .......................................................................................................49
3.3. Questões de investigação .................................................................................................50
3.4. Variáveis .........................................................................................................................51
3.5. Instrumento de colheita de dados ....................................................................................52
3.6. Procedimento de recolha de dados e considerações éticas................................................53
3.7. Tratamento e análise de dados ........................................................................................54
xv
6. SÍNTESE CONCLUSIVA DO ESTUDO ..........................................................................................63
CONCLUSÃO ...............................................................................................................................67
APÊNDICES .................................................................................................................................79
Apêndice 1 - Guia de acolhimento de visitas.............................................................................81
Apêndice 2 - Avaliação da percentagem de área queimada ........................................................83
Apêndice 3 - Questionário provisório .......................................................................................85
Apêndice 4 - Questionário versão definitiva .............................................................................89
Apêndice 5 - Parecer favorável da Comissão de Ética ...............................................................93
Apêndice 6 - Consentimento informado ...................................................................................95
Apêndice 7 - Proposta de NP: Intervenções de enfermagem ao doente submetido a VNI .............97
Apêndice 8 - Manual de cuidados ao doente submetido a VNI ................................................. 107
Apêndice 9 - Fluxograma de atuação na VNI.......................................................................... 145
xvi
Índice de Figuras
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Índice de Tabelas
xix
Abreviaturas e Siglas
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OE - Ordem dos Enfermeiros
OMS - Organização Mundial de Saúde
p. - página
PBCI - Precauções Básicas de Controlo de Infeção
PCR - Paragem Cardiorrespiratória
PPCIRA - Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infeções e Resistência a
Antimicrobianos
PSC - Pessoa em Situação Crítica
RCAAP - Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal
REPE - Regulamento do Exercício Profissional do Enfermeiro
SciELO - Scientific Electronic Library Online
SE - Sala de Emergência
START - Simple Triage And Rapid Treatment
SU - Serviço de Urgência
SUG - Serviço de Urgência Geral
VI - Ventilação Invasiva
VNI - Ventilação Não Invasiva
VV - Via Verde
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INTRODUÇÃO
A multiplicidade e exigência das situações de cuidados num serviço de urgência são estímulos
que nos desafiam no estudo e treino para a sua compreensão e melhoria de desempenho. O
investimento na formação surge, assim, como uma ferramenta e um contributo para a reflexão
sobre a prática, que pode influenciar a produção de conhecimento, a melhoria da qualidade dos
cuidados e consequentes ganhos em saúde para a pessoa e família, alvo dos cuidados de
enfermagem. A motivação profissional assenta também na deontologia profissional pela
responsabilidade do enfermeiro na procura da excelência do exercício e o dever de atualização
contínua dos seus conhecimentos, utilização competente das tecnologias e formação
permanente e aprofundada nas ciências humanas (Ordem dos Enfermeiros [OE], 2009).
Exercer funções num SU implica cuidar diariamente de doentes em situação crítica. Assim,
conceituamos a pessoa em situação crítica (PSC) como aquela que vê a sua vida ameaçada por
falência ou eminência de falência de uma ou mais funções vitais e cuja sobrevivência está
dependente de meios avançados de vigilância, monitorização e terapêutica (Regulamento n.º
429/2018, de 16 de julho).
Um elevado número destes doentes apresenta falência respiratória com necessidade de suporte
ventilatório, nomeadamente de ventilação não invasiva (VNI). Além das patologias
respiratórias, também as cardiovasculares, neuromusculares, esqueléticas e do sistema nervoso
central, em fase aguda ou crónica, podem apresentar como manifestação a hipoventilação e
consequente insuficiência respiratória aguda (IRA), com necessidade de se instituir VNI
(Morais, 2016). O doente com VNI exige cuidados específicos e complexos, entre os quais os
cuidados de enfermagem, essenciais para a execução com sucesso deste procedimento técnico
(Borges & Botelheiro, 2013).
Uma vez que se trata de uma área em constante evolução, suscitou-nos a necessidade de
aprofundarmos conhecimentos e desenvolvermos competências técnicas e científicas com a
1
finalidade de contribuir para a melhoria dos cuidados do doente com necessidade de VNI.
Assim, este estágio constituiu-se como um processo de aprendizagem que concorreu para o
desenvolvimento de um quadro de competências comuns e específicas para que, enquanto
Enfermeira Especialista em Enfermagem de Pessoa em Situação Crítica (EEEPSC), possamos
diferenciar-nos como profissionais qualificados, com competências científicas, técnicas e
relacionais.
Este relatório de estágio, para além de constituir um instrumento de avaliação, pretende servir
de testemunho do modo como decorreu o estágio e efetuar uma análise crítico-reflexiva sobre
as aprendizagens e competências desenvolvidas no mesmo, bem como o percurso feito para as
desenvolver, por forma a avaliar o grau de sucesso na prossecução dos objetivos e atividades
propostos. Além disso, objetiva apresentar um trabalho de investigação realizado no âmbito da
PSC submetida a VNI.
Para tal, foi feita uma revisão da literatura em bases de dados, nomeadamente, na Biblioteca do
Conhecimento Online (B-on); Scientific Electronic Library Online (SciELO); Medical
Literature Analysis and Retrievel System Online (Medline), Repositório Científico de Acesso
Aberto de Portugal (RCAAP) e índices bibliográficos nacionais e internacionais da área da
saúde e das ciências sociais e humanas, de forma a construir um quadro de referência, baseando-
se a restante metodologia numa lógica de trabalho contínuo em contexto de estágio, promotor
do desenvolvimento de competências por meio da análise reflexiva.
Este relatório é constituído por dois capítulos: no primeiro capítulo será feita uma breve
contextualização do estágio e a análise e reflexão sobre o desenvolvimento de competências
relativas ao EEEPSC; o segundo capítulo, integra toda a apresentação do trabalho de
investigação, nomeadamente a fundamentação teórica que contextualiza o estudo no âmbito do
doente submetido a VNI, bem como a descrição do percurso metodológico realizado,
finalizando com a apresentação e discussão dos resultados.
Por fim, em jeito de conclusão, é feita uma autorreflexão sobre este percurso formativo.
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1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTÁGIO
Assim, este estágio teve como objetivo geral desenvolver e aprofundar competências na
prestação de cuidados de enfermagem especializados à PSC e família que vivência processos
complexos de doença e/ou falência orgânica, bem como na resposta em situações de
catástrofe e emergência multivítima, e no controlo da infeção, tendo em conta a dimensão
ética e deontológica da profissão.
Para a sua concretização, foi realizado um estágio clínico com a duração de 400 horas, no
período compreendido entre 20 de setembro de 2021 e 04 de fevereiro de 2022, na sala de
emergência (SE) do SUG de um hospital do norte do país.
O SU onde foi realizado o estágio é uma urgência polivalente e pertence a uma instituição de
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saúde, integrada na Administração Regional de Saúde do Norte, sendo a sua área de influência
direta cerca de 300.000 habitantes, estendendo-se ainda a cerca de meio milhão de habitantes
para algumas valências (Manual da Qualidade, 2018).
Este nível de prestação de cuidados é caracterizado por maior grau de diferenciação técnica,
para o atendimento de situações de urgência/emergência, referenciados no âmbito do sistema
de emergência médica (ACSS, 2015), dispondo de várias valências bem como uma viatura
médica de emergência e reanimação.
O SUG tem como missão prestar cuidados de saúde ao indivíduo com doença
urgente/emergente com níveis de qualidade e eficiência elevados e colaborar na promoção da
saúde, no ensino, na investigação e no desenvolvimento científico e tecnológico. Orienta a sua
ação em valores como a aceitação incondicional do doente enquanto membro de uma família
ou comunidade, a qualidade na relação com o doente, a competência técnica e humana de todos
os profissionais e a cultura de multidisciplinaridade e melhoria contínua (Manual da Qualidade,
2018).
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O método da triagem requer que o enfermeiro selecione primeiramente o fluxograma que seja
o mais específico possível em relação à queixa apresentada ou observada pelo doente e,
seguidamente, percorre os discriminadores do fluxograma, selecionando o primeiro que seja
verdade ou que não se consiga negar.
Nesta unidade estão implementadas quatro vias verdes (VV) - acidente vascular cerebral
(AVC), coronária, sépsis e trauma, pelo que, no momento da triagem, é ativada a VV adequada
de acordo com os sintomas apresentados pelo doente. A criação das VV foi determinante para
melhorar a acessibilidade e permitir o tratamento mais eficaz, tendo em conta o fator tempo,
entre o início de sintomas e o diagnóstico/tratamento, imprescindível para a redução da
morbilidade e mortalidade (CNPDC, 2007). Assim, com a ativação de uma destas VV, pelo
enfermeiro da triagem, ou referenciada pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes, são
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agilizados todos os procedimentos e exames complementares de diagnóstico (Anexo 1).
Estes doentes são encaminhados de imediato para a SE, local onde foi realizado o estágio e, por
isso, iremos descrevê-la de forma mais pormenorizada.
A SE possui quatro unidades individuais de reanimação, cada uma equipada com material
necessário para uma primeira abordagem, nomeadamente ventilador invasivo de transporte,
rampas de oxigénio e ar comprimido, sondas de aspiração, tubos de guedel, insuflador manual,
equipamento de monitorização e equipamentos para perfusão de terapêutica. Está estruturada e
organizada de forma a permitir uma rápida atuação por todos os profissionais, sendo que todo
o material está devidamente identificado e de fácil acesso. O enfermeiro responsável pela SE
diariamente, no turno da manhã, faz o checklist de todo o material, verifica a funcionalidade de
todos os equipamentos, e assegura que a sala está devidamente preparada para reanimar um
doente, de modo a assegurar uma atuação mais rápida, metódica e segura de todos os
profissionais envolvidos.
Após a estabilização do doente crítico, este pode ser encaminhado para diferentes setores
consoante o diagnóstico e o tipo de vigilância, de modo a dar continuidade ao plano terapêutico.
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Segundo este modelo, o enfermeiro perito é capaz de perceber uma situação como um todo,
utiliza como paradigma de base as experiências vivenciadas e centra-se diretamente no cerne
do problema ignorando um grande número de considerações desnecessárias:” O perito, que tem
uma enorme experiência, compreende, agora, de maneira intuitiva cada situação e apreende
diretamente o problema sem se perder num largo leque de soluções e de diagnósticos estéreis”
(Benner, 2001, p.58).
Tendo em conta a associação entre ser perito e prestar cuidados especializados importa
compreender o que é ser enfermeiro especialista (EE), quais as suas funções e competências
exigidas. Segundo a OE, EE é aquele a quem se reconhece competência científica, técnica e
humana para prestar cuidados de enfermagem especializados. O perfil de competências comuns
e específicas visa prover um enquadramento regulador para a certificação das competências e
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comunicar aos cidadãos o que podem esperar dos cuidados de enfermagem especializados.
Assim, a certificação das competências clínicas especializadas assegura que o EE possui um
conjunto de conhecimentos, capacidades e habilidades que, ponderadas as necessidades de
saúde do grupo alvo, mobiliza para atuar em todos os contextos de vida das pessoas e nos
diferentes níveis de prevenção (Regulamento n.º 140/2019, de 06 de fevereiro).
Assim, está implícita a importância que a realização de estágio clínico assume no percurso
formativo para a obtenção do título de especialista, necessariamente imbuído da capacidade de
reflexão crítica para a transformação dos contextos de prestação de cuidados.
Oliveira (2010), defende que a aprendizagem apenas ocorrerá se houver reflexão sobre as
experiências e se estas forem desconstruídas, através da capacidade e flexibilidade cognitiva
para desenhar possíveis cenários interpretativos. Na linha de pensamento defendida pelo autor,
o subcapítulo seguinte comporta um relato descritivo e reflexivo sobre o percurso de aquisição
de competências comuns do EE, contextualizando as atividades desenvolvidas que
contribuíram para a efetivação com sucesso deste percurso formativo. O segundo subcapítulo
apresenta uma componente mais específica, em que explanamos o percurso de aquisição de
competências específicas do enfermeiro especialista em enfermagem médico-cirúrgica
(EEEMC) na área de cuidados à PSC.
A OE, enquanto associação pública profissional, que regula o exercício da profissão e tem como
desígnio promover a defesa da qualidade dos cuidados de enfermagem prestados à população,
preconiza que todos os enfermeiros partilhem um conjunto de competências comuns, aplicáveis
em todos os contextos de prestação de cuidados, definidas como:
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Este domínio pressupõe que o EE seja capaz de demonstrar habilidades de tomada de decisão
ética e deontológica, assegurando a segurança do doente e o respeito pelos direitos humanos
(Regulamento n.º 140/2019, de 06 de fevereiro).
Também Benner (2001) chama a atenção para que, os enfermeiros, ao desenvolverem a sua
aprendizagem em contextos de grandes especificidades e complexidades, em que encontram
sofrimento e vulnerabilidade a todo o momento, precisam também de desenvolver um sentido
de grande responsabilidade face às dimensões éticas e relacionais que devem estar inerentes à
perícia clínica.
Este domínio remete-nos igualmente para a dimensão da bioética, em especial para o Modelo
principialista de Beauchamp e Childress (1994), baseado em quatro princípios fundamentais
que servem de base para o agir humano e devem ser adotados pelo enfermeiro como um dever
a ser cumprido. São estes, o Princípio da Autonomia, o Princípio da Beneficência, o Princípio
da Não Maleficência e o Princípio da Justiça. Sucintamente, o primeiro remete para o direito
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de o doente ser informado acerca do que lhe diz respeito para a tomada de decisão livre e
esclarecida acerca dos procedimentos propostos; o princípio da beneficência relaciona-se com
o dever de agir em benefício do outro e prevenir o dano; contrariamente, o princípio da não
maleficência obriga a não causar dano; por último, o princípio da justiça exige que seja dado a
cada um o que lhe é devido, garantindo a igualdade de oportunidades e benefícios.
O processo de tomada de decisão, segundo Benner (2005), pressupõe um caminho formal por
etapas (recolha de informação, análise das hipóteses de resolução do problema, prós e contras
das várias hipóteses), optando por aquela que favoreça maior evidência. Segundo a autora, só
quando se atinge o nível de perito é que se obtém uma compreensão profunda da situação global,
compreendendo de forma intuitiva cada situação, facilitando o processo de decisão. Assim,
procuramos que a tomada de decisão fosse norteada pelos princípios, valores e normas
deontológicas. Em SE, as decisões são muitas vezes tomadas num debate reflexivo entre a
equipa multidisciplinar. A título de exemplo, salientamos o caso de uma senhora com dissecção
da aorta, hemodinamicamente instável, a correr risco de vida eminente, que necessitava ser
transferida para uma instituição mais diferenciada. Com a recusa da doente, a equipa analisou
e identificou as suas prioridades, tendo procedido à referenciação para a assistente social.
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A prática de enfermagem foi baseada no respeito pelos princípios enumerados na Carta dos
Direitos do Doente Internado, na qual consta que os doentes têm direito ao consentimento ou
dissentimento livre e esclarecido. A mesma carta sublinha que, em situações de emergência, o
consentimento pode ser presumido. Nesses casos, o Conselho Nacional de Ética para as
Ciências da Vida (2005) preconiza que deve prevalecer o princípio da beneficência.
A qualidade em saúde é atualmente uma das prioridades de toda a organização da área da saúde.
Neste contexto, a OE (2001) emitiu o manual dos padrões de qualidade dos cuidados de
enfermagem, assumindo como prioritária a criação de sistemas de qualidade em saúde. Assim,
o EEEMC deve ser um agente dinamizador no desenvolvimento de práticas de qualidade,
gerindo e colaborando em programas de melhoria contínua e colaborando em projetos
institucionais nesta área (Regulamento n.º 140/2019, de 06 de fevereiro).
Na instituição onde foi realizado o estágio, a melhoria contínua da qualidade dos cuidados de
enfermagem é um imperativo. Isto é explanado através do esforço do departamento da comissão
de qualidade e segurança do doente, que criou equipas de trabalho por áreas, que garantem a
melhoria da qualidade nessas áreas específicas, assim como questionários que são enviados aos
doentes de forma aleatória para obter feedback acerca da satisfação relativa aos cuidados
recebidos e implementação de procedimentos de melhoria de cuidados, baseados nos padrões
de acreditação da Joint Comission International (JCI).
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vigilância; 4) Cirurgia segura; 5) Redução dos riscos relacionados às infeções associadas aos
cuidados de saúde (IACS); 6) Prevenção de danos decorrentes de quedas (Despacho n.º 1400-
A/2015, de 10 de fevereiro).
Durante o estágio na SE, procuramos basear a prática nas metas acima mencionadas e adotadas
pela instituição.
Quanto à meta “Comunicação efetiva”, uma das mais importantes em contexto de SE, dada a
complexidade do ambiente clínico, que se caracteriza pela presença contínua de diferentes
profissionais e doentes, com prescrição de terapêutica em simultâneo, é imperativo o
estabelecimento de uma comunicação eficaz. Neste âmbito, sendo a prescrição farmacológica
da responsabilidade do médico, utilizámos como estratégia a repetição de informação a fim de
confirmar a mesma, de modo a nunca administrar terapêutica sem confirmar verbalmente.
A meta “Redução dos riscos relacionados às IACS” constitui-se como um problema de âmbito
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universal. As IACS são um dos maiores riscos nas pessoas hospitalizadas, aumentando a
morbilidade, mortalidade, duração do internamento e aumento dos custos inerentes ao
tratamento. A maioria dos cuidados que envolvem uma potencial contaminação, são executados
por enfermeiros, assumindo estes um papel de relevo nesta problemática, pois a qualidade dos
cuidados que prestam pode evitar a instalação das infeções nosocomiais, com todos os custos
que isso tem para o doente e para o sistema de saúde. Por isso, a prevenção das IACS surge
como uma preocupação crescente, no que respeita à melhoria da qualidade e segurança nos
cuidados de saúde, tendo nos últimos anos vindo a ser desenvolvidas e implementadas
recomendações, programas de controlo de infeção apelando às boas práticas (DGS, 2017a). Em
consonância, a instituição em causa, com o apoio direto do Programa Nacional de Prevenção e
Controlo de Infeções e Resistência a Antimicrobianos (PPCIRA), disponibiliza formação
específica, material informativo para afixação acerca da correta higienização das mãos, uso de
equipamento de proteção individual (EPI) e o correto descarte dos resíduos hospitalares.
No contexto da SE, pelas características dos doentes que são atendidos e pela natureza das
intervenções que são realizadas, nomeadamente procedimentos invasivos como linha arterial,
cateter venoso central, entubação orotraqueal, drenos torácicos, entre outros, as medidas de
prevenção das infeções necessitam de ser redobradas bem como devem ser assegurados
mecanismos de controlo e verificação dos procedimentos (Direção-Geral da Saúde [DGS],
2017a). Com o início da pandemia COVID-19, em 2020, todas as medidas de transmissão de
infeção foram reformuladas e monitorizada a sua concretização e eficácia. Com base nestes
desígnios, o estágio foi pautado pelo cumprimento da higienização das mãos nos cinco
momentos preconizados, à utilização adequada do EPI e correto manuseamento de materiais
asséticos. No sentido de melhorar a nossa intervenção e a segurança dos cuidados, frequentamos
a formação subordinada ao tema «Recomendações gerais de limpeza e desinfeção das
instalações», dirigida as enfermeiros e assistentes operacionais do SUG, que tinha como
objetivo apresentar a norma de procedimentos (NP) relativa à limpeza e desinfeção das
instalações no serviço.
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de forma a torná-lo seguro para o doente, nomeadamente a manutenção das grades dos leitos
elevadas. Quando o doente manifestou comportamentos que o colocaram a ele ou à sua
envolvente em risco de sofrer danos, foi necessário proceder à sua contenção mecânica,
conforme norma da DGS (Anexo 4). A instituição preconiza medidas preventivas que objetivam
criar um ambiente seguro, individualizando as intervenções, por forma a contribuir para a
conceção e implementação das mesmas, para a redução desta ocorrência nos serviços de saúde
e das potenciais lesões causadas pelas mesmas. Quando uma queda ocorre, deve ser feito o
registo num documento preconizado para o registo de quedas (Anexo 5).
Ainda com foco na melhoria da qualidade, cumpre-nos sublinhar que a padronização dos
cuidados prestados através da existência de protocolos, garante um aumento da segurança na
prática, pois permite a integração de novas tecnologias alcançando-se a inovação no cuidar, a
racionalização dos recursos e a divulgação de conhecimento (Pimenta et al., 2017). Alicerçadas
nesta evidência, elaborámos uma Norma de Procedimentos (NP) que visa os cuidados de
enfermagem ao doente submetido a VNI no SUG, um guia de acolhimento de visitas (Apêndice
1) e um documento informativo para afixação na SE que permite uma rápida avaliação da
percentagem de área queimada em doentes queimados (Apêndice 2).
Este domínio pressupõe que o EE seja capaz de gerir os cuidados de enfermagem em articulação
com a equipa de saúde e também de adaptar a liderança e a gestão dos recursos às situações e
contexto.
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A participação e reflexão sobre os processos de tomada de decisão foi uma constante, pois o
trabalho em equipa em SE é fundamental.
De acordo com a CRRNEU (2012), a formação dos profissionais nas áreas de emergência é de
extrema importância, afirmando que “as especificidades de atuação em emergência em
ambiente intra ou extra-hospitalar devem ser alvo de formação e gestão adequada” (p.90). A
experiência profissional de 12 anos nesta área, conjugada com o processo de formação pessoal
e profissional, aqui explanado durante a realização do estágio na SE, permitiram aperfeiçoar a
atuação perante os doentes em situação de urgência/ emergência. Para tal, contribuiu a
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participação nas reuniões e formações em serviço às quais tivemos oportunidade de participar,
a frequência do curso “Suporte Imediato de Vida”, a oportunidade de rever critérios, normas,
procedimentos e protocolos do serviço, treinar técnicas invasivas de maior complexidade e
acompanhar diferentes EE na SE, detentores de competências de liderança e de gestão,
permitindo-nos aprender mais com cada um deles.
Procuramos estar atentas às necessidades do serviço, quer formativas quer relacionadas com o
acolhimento do doente e com a organização em SE. Neste âmbito, integrámos a equipa de
trabalho e investigação da VVAVC, objetivando maior eficácia no momento da sua ativação e
agilização dos cuidados ao doente crítico com suspeita de AVC.
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Cuidar um doente em situação crítica implica desde logo a mobilização de um vasto corpo de
conhecimentos diferenciados, e a capacidade de transposição, transformação e adaptação dos
mesmos, de forma rápida e eficaz na abordagem à vítima. Por isso, foi importante perceber
quais os critérios de admissão à SE, de modo a aprofundar conhecimentos teóricos e teórico-
práticos para podermos dar resposta às necessidades do doente crítico.
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nos capacitaram para antecipar focos de instabilidade, respondendo em tempo útil a situações
clínicas complexas e de grande instabilidade e imprevisibilidade.
No cuidado ao doente crítico, a analgesia tem um papel fundamental visto que a dor pode
resultar em mais comorbilidades, redução da qualidade de vida e perpetuação da dor. No
Programa Nacional para a Prevenção e Controlo da Dor está explícita a importância da sua
avaliação para sinalizar lesões ou alterações em múltiplos sistemas orgânicos. A abordagem
dos doentes deve ser baseada na melhor evidência científica, no sentido de prevenir e controlar
a dor, melhorar a sua qualidade de vida e capacidade funcional (DGS, 2017b). “A negação ou
a desvalorização da dor do Outro é um erro ético no confronto com o sofrimento e a dor, bem
como uma falha na excelência do exercício profissional” (OE, 2008, p.7).
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não é uma escala perfeita, pois não informa sobre a qualidade, tipo ou localização da dor. Além
disso, os fármacos sedativos e/ou relaxantes musculares, a condição física do doente e o uso de
contenção física para segurança influenciam a capacidade de o doente apresentar os
movimentos dos membros, e também permanece alguma ambiguidade em relação aos itens do
indicador adaptação ao ventilador. No entanto, devemos ter em conta que existem indicadores
fisiológicos que podem traduzir dor, tais como: alteração dos sinais vitais, cianose, palidez,
hipoxia, hipertensão intracraniana, midríase e sudorese (Batalha, 2016).
Apesar dos esforços de toda a equipa multidisciplinar, nem todas as vidas se conseguem salvar.
É nessa altura que nos confrontamos com a morte e a necessidade de ter habilidades
facilitadoras da “dignificação da morte” e dos processos de luto. O código deontológico obriga
a “respeitar e fazer respeitar as manifestações de perda expressas pelo doente em fase terminal,
pela família ou pessoas que lhe sejam próximas” e “Respeitar e fazer respeitar o corpo após a
morte” (Lei n.º 111/2009, de 16 de setembro, artigo 87). A este propósito, o conselho
jurisdicional da OE emitiu um parecer cujo conteúdo orienta o enfermeiro para ser detentor de
conhecimento sobre o processo de perda e ter uma compreensão empática relativamente às
emoções vividas pelo doente e seus familiares (OE, 2013). A comunicação da morte de um
familiar é sempre causa de ansiedade e stresse para quem tem de o fazer, então, sempre que
possível, a notícia foi dada pelo médico assistente e pelo enfermeiro responsável da SE. Neste
contexto, facilitamos aos familiares a expressão de sentimentos, emoções e dúvidas e
permitimos que se despedissem pessoalmente, com recurso à relação empática, de forma a
respeitar as suas manifestações expressas pela perda e dignificar o doente após a sua morte.
21
conhecimentos específicos no domínio da gestão da ansiedade e do medo do doente e familiares.
Assim, o referencial teórico que norteou a nossa prática de cuidados remete-nos para a escola
do cuidar. São duas as teorias que suportam esta escola: a teoria do cuidado humano, de Jean
Watson e a teoria da diversidade e da universalidade do cuidado cultural, de Madeleine
Leininger (Kérouac et al., 1996).
Para Watson, a pessoa é considerada a forma única que cresce e que inclui o corpo, alma e
espírito, uma realidade interna e externa da pessoa. É enfatizado o esforço das enfermeiras em
melhorar a qualidade dos cuidados à abertura para dimensões como a espiritualidade e a cultura
na prática de cuidados (Watson, 2002). Este cuidado transpessoal, defendido por Watson,
enriquece o profissional e favorece a recuperação da PSC, dando ênfase à integralidade da
atenção, recorrendo à tecnologia e consideração pelas necessidades socioculturais e espirituais.
Reconhece a prática do cuidado como interpessoal, baseando-se em fatores que resultam na
satisfação de necessidades humanas, promoção da saúde e no crescimento individual e familiar,
reconhecendo o ambiente como favorecedor e facilitador do desenvolvimento pessoal, em união
com o conhecimento biofísico e comportamental humano (Silva et al., 2010).
Segundo a OE (2018), é uma situação de emergência, exceção e catástrofe que coloca a pessoa
em risco de vida. Importa então clarificar que:
uma situação de emergência resulta da agressão sofrida por um indivíduo por parte de
um qualquer fator, que lhe causa a perda de saúde, de forma brusca e violenta, afetando
ou ameaçando a integridade de um ou mais órgãos vitais, colocando a vítima em risco
de vida;
22
g
Perante qualquer um destes cenários, a OE preconiza que o EEEPSC tenha competências que
lhe permita atuar desde a conceção, planeamento à gestão de uma resposta eficiente e eficaz,
sem esquecer a preservação dos vestígios que indiciem prática de crime.
Os cuidados de saúde nas situações de catástrofe e emergências multivítimas têm como objetivo
primordial evitar ou reduzir a perda de vidas humanas e o sofrimento físico e psicológico
subsequente. Assim, a elaboração de planos de intervenção constitui-se como um instrumento
fundamental, para lidar com a situação de forma apropriada, sendo que o treino adicional
promove o desenvolvimento de competências e permite responder adequadamente às
necessidades num cenário real (Lennquist, 2012).
No SU onde decorreu o estágio, no gabinete de triagem, existe um armário selado que guarda
o plano de emergência e catástrofe interno e todos os materiais específicos necessários,
nomeadamente protocolos e algoritmos de forma a assegurar uma assistência eficaz às vítimas
(Anexo 7 e 8). Neste plano constam todos os recursos disponíveis, designadamente recursos
humanos, capacidade hospitalar, recursos técnicos, sistemas de comunicação, meios de
transporte disponíveis e medicação emergente, e descreve as funções dos diferentes
profissionais, bem como a reestruturação do serviço que deve ser feita e de outros serviços que
possam estar diretamente relacionados com as necessidades das vítimas, nomeadamente o bloco
operatório e o serviço de imagiologia. Ao momento da redação deste relatório, o plano
encontrava-se em reestruturação, motivo pelo qual não o anexamos aqui.
Está também definido um perito responsável pelo plano e pela definição do elemento triador.
Em situações de emergência e catástrofe, a triagem tem como objetivos assegurar uma
assistência precoce, a aplicação de manobras life-saving, determinar o nível de urgência,
implementar a utilização criteriosa de recursos críticos, documentar as vítimas e controlar o seu
23
fluxo, determinar áreas de cuidados/vigilância e iniciar medidas terapêuticas (Instituto Nacional
de Emergência Médica [INEM], 2012). Segundo o INEM, a triagem deve ser feita em dois
momentos: triagem primária e secundária. Na primeira utiliza-se o método Simple Triage And
Rapid Treatment (START) e colocam-se as pulseiras nas vítimas mediante a Figura 2.
EMERGENTE
NÃO GRAVE
Para realizar esta triagem são feitas questões muito simples como a vítima anda? Está ferida?
Respira? Frequência respiratória? Frequência cardíaca? com o objetivo de realizar uma triagem
célere.
Durante o decorrer do estágio não houve qualquer situação de catástrofe ou exceção, mas foi
realizado um simulacro a nível regional, intitulado “Livex Túnel Marão 2021” que envolveu o
Comando Regional de Emergência e Proteção Civil do Norte, Comandos Distritais de
Operações de Socorro do Porto e Vila Real e a Infraestrutura de Portugal S.A., com a finalidade
de testar e exercitar a resposta operacional estabelecida no plano de intervenção e respetiva
articulação com o plano de emergência interno em caso de acidente grave e/ou incêndio no
interior do túnel do Marão. Apesar de não termos estado presentes, tivemos oportunidade de o
ver documentado posteriormente e fazer um debrifing com o nosso perito responsável, tendo
sido uma mais-valia para refletir e entender como funciona na prática, não só o plano interno
do SUG, mas também o municipal e nacional.
24
g
Neste âmbito, importa referir as IACS, uma vez que são as infeções que mais aumentam a
morbilidade e a mortalidade, prolongam os internamentos e agravam os custos em saúde.
Também porque implicam um maior uso de antibióticos, causando a sua resistência,
inviabilizam a qualidade dos cuidados, tornando-se a principal ameaça à segurança dos
cidadãos (DGS, 2017a). Conforme o Relatório Anual Programa Prioritário Infeções e
Resistências aos Antimicrobianos, em Portugal existe uma prevalência de IACS de cerca de
7,8% em meio hospitalar (DGS, 2018).
O EE deve conhecer e aplicar estes padrões de atuação, bem como sensibilizar toda a equipa e
criar estratégias pró-ativas para que todos cumpram estas regras. Neste sentido, e tendo em
conta a emergência da admissão do doente na SE e sua estabilização, muitas vezes a utilização
de EPI e feixes de intervenção para a prevenção de infeções são descurados. Através do
exemplo, tentámos demonstrar que o uso dessas medidas não é motivo de atraso na intervenção
que prestamos ao doente, mas uma mais-valia para a segurança do mesmo e do profissional de
saúde. Promovemos momentos de reflexão com o enfermeiro tutor para analisar e refletir sobre
essas atitudes e sobre as normas emanadas pelo PPCIRA, reforçando que utilizar as medidas de
prevenção em SE não só evita as IACS, como promove a prestação de cuidados de enfermagem
de qualidade, não afetando o tempo de resposta do profissional, que se pretende seja célere.
Igualmente, e após a saída do doente da unidade da SE, assegurámos que todos os equipamentos
eram corretamente desinfetados e a unidade ficasse devidamente disponível para receber um
novo doente.
25
instituídos e ser exemplo na implementação das medidas de controlo de infeção face às vias de
transmissão na PSC, guiando-nos pelas PBCI.
Findo este capítulo, apraz enaltecer a realização do estágio que, através da integração e
apropriação do conhecimento na prática de cuidados, serviu como contributo para a aquisição
e desenvolvimento de competências acrescidas na área da PSC, sentindo-nos muito mais
seguras e capazes para assegurar a função de responsável da SE, atuar de forma eficaz e
eficiente no reconhecimento e tratamento do doente crítico e capazes de mobilizar a equipa para
a qualidade dos cuidados.
26
g
27
1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO
A PSC é considerada, aquela cuja vida está ameaçada por falência ou eminência de falência de
uma ou mais funções vitais e cuja sobrevivência depende de meios avançados de vigilância,
monitorização e terapêutica (Regulamento n.º 429/2018, de 16 de julho).
A VNI é um meio avançado de terapêutica cada vez mais utilizado como primeira linha de
tratamento em doentes críticos com patologia respiratória aguda ou crónica agudizada (J. Costa
et al., 2018).
A falência respiratória aguda é uma condição que pode surgir em doentes sem doença pulmonar
de base ou em doentes com história de doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) (J. Santos
et al, 2020).
29
respiratórias, sendo que, destes, 0,4 milhares de milhões foram gastos com doentes DPOC só
em custos diretos.
No SU onde foi realizado o estágio, em 2018 e 2019 registaram-se 5.450 episódios de urgência
triados pelo fluxograma “Dispneia” com prioridade laranja. Destes, 1.342 foram submetidos a
VNI. Supõe-se que este número seja ainda mais elevado tendo em conta que nem todos os
doentes submetidos a VNI foram triados por este fluxograma.
Tendo as doenças respiratórias um custo tão elevado para a sociedade, e para Portugal em
particular, pode concluir-se que investimentos na prevenção de tais doenças e melhoria dos
cuidados de saúde que impliquem redução do tempo de internamento vão gerar enorme valor
(Almeida, 2020). Como referido pelo Dr. José Miguel Carvalho à Fundação Portuguesa do
Pulmão: “só uma intervenção regular e eficaz poderá melhorar a saúde respiratória da
comunidade no futuro”.
Segundo as mais recentes guidelines da European Respiratory Society (ERS, 2016), além da
DPOC, a VNI também está indicada no edema agudo do pulmão (EAP), doentes em pós-
operatório, cuidados paliativos, trauma e pós extubação de ventilação mecânica invasiva. Em
Portugal, a DGS (2015b), em norma emitida em 2011, admite que, além da IRA, a síndrome de
apneia do sono, a síndrome obesidade/hipoventilação e doenças neuromusculares, são indicação
para VNI.
30
respostas satisfatórias dos clientes e dos profissionais na resolução de problemas de saúde
específicos” (p.4).
Objetivos específicos:
2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
31
Assim, neste capítulo será feita a abordagem do conceito de VNI, objetivos, indicações e
contraindicações, complicações mais frequentes, seleção do material e cuidados de enfermagem
ao doente submetido a VNI, com base nos referenciais teóricos sustentados na evidência
científica disponível.
A VNI é uma forma de ventilação que fornece suporte ventilatório sem recurso a métodos
invasivos, objetivando melhorar a compliance pulmonar, permitir o recrutamento de atelectasia
alveolar e, consequentemente, aumentar a área de trocas gasosas. Por outro lado, aumenta a
pressão intratorácica levando à diminuição do edema pulmonar e da pré-carga, com melhoria
da função cardíaca (Pereira et al., 2016). D’Orazio et al. (2018) assumem a VNI como uma
técnica de ventilação mecânica cuja conexão entre o doente e o ventilador é efetuada através de
uma máscara de forma a realizar o aporte de ar com vista à diminuição do trabalho respiratório
e à manutenção/recuperação da homeostasia do oxigénio e do dióxido de carbono.
Esta estratégia terapêutica foi desenvolvida durante a epidemia da poliomielite em 1930, com
a aplicação do suporte ventilatório através do designado pulmão de aço, através de pressão
negativa, que simulava a inspiração, decorrendo a expiração de uma forma passiva (Figura 3).
Nos anos 40 e 50, a VNI evoluiu e passou a exercer pressão positiva levando à diminuição da
utilização da VNI por pressão negativa. Na década de 80, com o desenvolvimento de máscaras
nasais e com a inserção da Continuous Positive Airway Pressure (CPAP) na síndrome de apneia
obstrutiva do sono, esta técnica passou a ter maior relevância (S. Ferreira et al., 2009).
32
Desde então, a VNI é considerada uma modalidade terapêutica essencial no tratamento da IRA
ou crónica agudizada, assistindo-se a uma utilização crescente desta técnica, dadas as suas
inúmeras vantagens quando comparada com a VI, nomeadamente redução do tempo de
internamento hospitalar, redução da incidência de pneumonia nosocomial e da mortalidade
(Girou et al., 2003).
Para J. Costa et al. (2018), os principais objetivos da VNI são: melhorar as trocas gasosas,
diminuir a frequência respiratória, diminuir o trabalho dos músculos respiratórios, melhorar os
sinais de fadiga respiratória, melhorar a oxigenação, a hipercapnia e acidose respiratória,
diminuir o Auto Positive Expiratory End Pressure, aumentar o volume pulmonar inspiratório e
expiratório e controlar a hipoventilação noturna e, consequentemente, melhorar a qualidade de
sono.
Atualmente existem guidelines desenvolvidas pela British Thoracic Society (BTS) (Davidson
et al., 2016; Davies et al., 2018), ERS (2016), American Thoracic Society (ATS) (Rochwerg et
al., 2017) e Indian Society of Critical Care Medicine (ISCCM) (Chawla et al., 2020).
Estima-se que cerca de 20% dos doentes hospitalizados por DPOC agudizada apresenta na
admissão risco de falência respiratória do tipo hipercápnica, passível de condicionar aci dose
respiratória aguda ou aguda em crónica. Como tal, verifica-se que a introdução precoce de VNI
permite, em comparação com a oxigenoterapia convencional, otimizar as trocas gasosas,
melhorar a sintomatologia apresentada, assim como evitar a necessidade de entubação
orotraqueal (Mas & Masip, 2014). O impacto positivo no doente com EAP, particularmente no
cardiogénico, verifica-se na medida em que a VNI potencia o trabalho respiratório e facilita o
trabalho do ventrículo esquerdo ao reduzir o seu afterload (ERS/ Rochwerg et al., 2017).
33
As restantes indicações encontradas na literatura científica estão expostas na Tabela 1.
IRA - Insuficiência respiratória aguda; VNI - Ventilação não invasiva ; DPOC - Doença pulmonar obstrutiva crónica .
Mas e Masip (2014) e a DGS (2015b) consideram ainda importante a utilização da VNI nos
doentes com doenças neuromusculares, sublinhando que, embora nestes casos seja
maioritariamente realizada em contexto domiciliário, de modo a evitar a progressão da
insuficiência respiratória, a sua importância em contexto agudo deve ser considerada perante
descompensações agudas de insuficiência respiratória crónica.
Apesar do largo espetro de indicações para a aplicação de VNI, é necessário conhecer quais as
contraindicações encontradas na evidência científica mais atual. A BTS/ICS (Davidson et al.,
2016), Mas e Masip (2014) e Esquinas (2011) são unânimes na definição de contraindicações
absolutas e relativas (Tabela 2).
34
presença, podem ser preditores de falência da VNI. Mas e Masip (2014) identificaram fatores
como a síndrome de dificuldade respiratória aguda, choque, secreções excessivas, elevação
significativa da frequência respiratória, hipoxemia severa e sinais de fadiga respiratória.
Esta modalidade terapêutica não está isenta de complicações apesar de ser feita uma avaliação
rigorosa antes de iniciar a VNI. Podem existir várias complicações associadas, que aumentam
de forma proporcional em relação à duração, agitação do doente e sobretudo à constante
necessidade de ajustar a interface (Davidson et al., 2016; Chawla et al., 2020). A taxa de
complicações é muito diversa, no entanto, uma revisão da literatura realizada por Nava et al.
(2009) aponta uma incidência entre 30% e 50%. As complicações constituem -se como
determinantes de sucesso ou insucesso de VNI: assim é necessário que sejam conhecidas todas
as complicações potenciais, objetivando a adoção de protocolos de monitorização e abordagem
na prática clínica, de forma a minimizar a sua ocorrência e melhorar o outcome global dos
doentes (Chawla et al., 2020).
Gay (2009), corroborado por Hill (2009) e Carron et al. (2013), categorizou as complicações
em três grupos: complicações relacionadas com a interface, complicações relacionadas com a
pressão e fluxo de ar e as complicações relacionadas diretamente com o doente.
35
As complicações produzidas pela pressão e fluxo relacionam-se com cefaleias, otalgias,
obstrução nasal, secura das mucosas, conjuntivite, distensão gástrica e barotrauma.
Por fim, as complicações relacionadas com compromisso hemodinâmico manifestam -se através
de hipoxemia severa, acumulação de secreções na via área, agitação, pneumonia de aspiração e
intolerância à ventilação. Estes factos evidenciam-se num estudo realizado por Yesilbalkan e
Ozbudak (2019), cujas complicações identificadas na amostra em estudo vão ao encontro das
supramencionadas.
As primeiras horas de utilização da VNI nas situações agudas são crucias. Entende-se que o
tempo utilizado na seleção do ventilador/modo ventilatório, da interface mais adequada, a
comunicação com o doente acerca do procedimento e das suas expectativas a fim de obter a sua
colaboração, são de enorme valor para o sucesso da técnica bem como para a prevenção de
complicações.
Para realizar a VNI são necessários um ventilador e uma interface. A seleção do equipamento
revela-se de suma importância para o sucesso da VNI e para minimizar as complicações
decorrentes da mesma, como já referido.
Os modos ventilatórios podem ser regulados por volume ou pressão: nas modalidades cicladas
por volume, o profissional de saúde define o volume corrente a ser entregue ao doente em cada
36
inspiração, que gera uma pressão variável; nas modalidades cicladas por pressão, é definida a
pressão a ser atingida em cada inspiração, sendo variável o volume (Davidson et al., 2016). Este
é o modo ventilatório preferencial na VNI, uma vez que apresentam um menor custo, maior
capacidade para compensar fugas e é melhor tolerada pelos dentes (Seyfi et al., 2019). Além
disso, a pressão disponibilizada é controlada, evitando o aumento súbito da mesma que causaria
desconforto para o doente e melhora a sincronia doente-ventilador (Davidson et al., 2016).
Nas modalidades cicladas por pressão positiva, distinguem-se dois modos ventilatórios: o modo
CPAP e o modo Bilevel Positive Airway Pressure (BIPAP).
O CPAP é o modo no qual o ventilador aplica uma pressão positiva contínua nas vias aéreas
durante todo o ciclo respiratório, mantendo, por isso, níveis supra-atmosféricos de pressão tanto
na inspiração como na expiração.
A maioria dos ventiladores não invasivos apresenta um circuito único, através do qual as
pressões inspiratórias e expiratórias ocorrem de forma alternada. Estes, por possuírem apenas
um ramo, necessitam, portanto, de um meio de remoção do CO 2 exalado que pode ser no
circuito (e.g., Swivel) ou na própria interface (máscara ventilada) (Simonds, 2015).
Diferentes tipos de ventiladores têm sido usados com sucesso na VNI, pelo que para escolher o
ideal, é necessário ter em conta, além da patologia e comorbilidades do doente, parâmetros
como a capacidade de compensação de fugas, rebreathing de CO2, FiO2 administrada,
monitorização de curvas e volumes, alarmes, experiência do utilizador, disponibilidade de
equipamento na instituição, portabilidade e custo (Hess, 2013). Sempre que possível deve ser
utilizado apenas um único modelo de ventilador em qualquer área clínica para facilitar o treino
e familiaridade da equipa com o equipamento (BTS, 2002; Raurell-Torredà et al., 2018). Na
Figura 4 apresenta-se alguns dos ventiladores existentes na instituição.
37
V60 ResMED Stellar ResMED VPAP
Após a escolha do modo ventilatório, é necessário optar pela interface mais adequada. Esta é o
elo de ligação entre o doente e o ventilador, através da qual se aplica a ventilação, sendo decisiva
para o sucesso da VNI (Agency for Clinical Innovation [ACI], 2017; Esquinas, 2011; S. Ferreira
et al., 2009).
Um estudo efetuado por Yaman et al. (2021) revela que a escolha da interface correta promotora
de conforto do doente é um fator chave para a adaptação do doente à VNI e consequente sucesso
da mesma.
Para realizar VNI, a interface pode ser uma máscara nasal (cobre apenas o nariz), facial (cobre
nariz e boca), facial total (cobre nariz, boca e olhos) ou capacete/helmet (cobre toda a cabeça)
(ACI, 2017) (Figura 5).
38
A principal aplicabilidade das máscaras nasais está no contexto da insuficiência respiratória
crónica (Mas & Masip, 2014; Nava et al., 2009). Assim, embora permitam a fala, a alimentação,
a tosse, a mobilização de secreções e reduzam os riscos associados ao vómito, permitem uma
acentuada fuga de ar pela boca, não permitindo a administração de grandes pressões necessárias
no doente em situação aguda (ACI, 2017; Mas & Masip, 2014).
A máscara facial total é de fácil aplicação e a vedação criada em torno do perímetro do rosto
elimina algumas fugas de ar. Além disso, não provoca pressão na pirâmide nasal, tornam-se
mais confortáveis. Constitui-se, por isso, como alternativa em doentes com VNI de longa
duração. Não são a primeira linha de escolha pois aumentam a sensação de claustrofobia e da
secura oronasal, além de que podem ser difíceis de encaixar, estando associadas a maior
intolerância da parte do doente (ACI, 2017; Mas & Masip, 2014).
O helmet, além das vantagens enunciadas para a máscara facial total, permite também a
realização de VNI em contexto de alterações anatómicas e/ou trauma facial. No entanto, o
doente está exposto a um nível de ruído muito elevado. Torna-se menos eficaz, uma vez que há
maior assincronia doente-ventilador um grande aumento do espaço morto, consequentemente
menor capacidade de correção da hipercapnia (ACI, 2017; Mas & Masip, 2014).
A interface mais utilizada em doentes com patologia aguda é a máscara orofacial (ACI, 2017;
Borges & Botelheiro, 2013; Chawla et al., 2020; Esquinas, 2011; Mas & Masip, 2014). Embora
esteja relacionada com aumento de lesão da pirâmide nasal, constitui-se como interface mais
eficaz na administração de pressões elevadas, na capacidade de correção da hipercapnia,
ocorrendo menores fugas de ar e necessitando pouca colaboração da parte do doente ( ACI,
2017; Mas & Masip, 2014).
Tão importante quanto a escolha do tipo de máscara, é escolher o tamanho correto, existindo
três disponíveis: S, M e L.
39
Iniciar VNI com máscara oronasal
1 - Verificar montagem interface/ventilador
2 - Adaptar o tamanho
Doente adaptado
Avaliar efeitos secundários da máscara Tentar máscara facial total ou outro
(pele, olhos, conforto, sono) modelo orofacial
Doente não
Doente adaptado
melhor
Como já referido, a IRA é uma patologia com elevada incidência no contexto de urgência.
Embora a utilização da VNI possa ser variável nos diferentes serviços hospitalares, está
demonstrado que deve ser utilizada preferencialmente nas unidades mais diferenciadas onde
podemos encontrar doentes mais graves, que podem beneficiar desta modalidade terapêutica.
O SUP é, portanto, o local onde é iniciado o tratamento, visando a oxigenação durante as
primeiras horas, com administração em simultâneo de tratamentos farmacológicos com
diuréticos, vasodilatadores, broncodilatadores e esteroides. Desta forma, há uma rápida
estabilização do doente, evita-se a entubação orotraqueal e, muitas vezes, até o internamento
em unidades de cuidados intensivos (Esquinas, 2011).
40
maioria da literatura relacionada com a sua implementação nas unidades de cuidados intensivos
(Asseiro & Beirão, 2012; Esquinas, 2011; Rocha & Rocha, 2019; Vilaça, 2015).
Vilaça (2015), refere que vários autores demonstraram a eficácia da VNI no contexto de
urgência/emergência, permitindo a prevenção de entubação orotraqueal, a redução de
admissões nas unidades de cuidados intensivos, do tempo de internamento hospitalar e da
morbimortalidade e diminuição dos custos financeiros. Este sucesso deve-se à rapidez de
instituição desta terapêutica durante a fase aguda da doença, permitindo uma melhor resposta
fisiológica (Barradas, 2016).
Jacob et al. (2018), constata que, em Espanha, a VNI é utilizada em 45,7% dos serviços de
urgência existentes em todo o país. No seu estudo verifica que, após o início da VNI no serviço
de urgência, a taxa de permanência no mesmo é muito elevada, sendo que 86,2% permanece
mais de 12 horas e em 66,7% dos casos a VNI foi suspensa no serviço.
Ghosh e Elliott (2019), referem que mais importante do que o local onde se inicia a VNI, é a
presença de profissionais de saúde treinados e com conhecimentos fundamentados.
Apesar do reduzido número de estudos, todos eles salientam a falta de protocolos de atuação e
de experiência/conhecimentos dos profissionais de saúde como o principal motivo pela não
adesão à VNI (Asseiro & Beirão, 2012; Rocha & Rocha, 2019; Esquinas, 2011; Vilaça, 2015).
Outro obstáculo identificado foi a sobrecarga de trabalho que implica para a equipa
multidisciplinar que, em contexto de urgência, já é muito elevado (Rocha & Rocha, 2019).
Yaman et al. (2021), no seu estudo sobre o impacto dos cuidados de enfermagem no doente
submetido a VNI, concluiu que nas primeiras 6 horas de VNI, os enfermeiros despendiam cerca
de 110 minutos (30%) no cuidado direto ao doente, sendo que 65 minutos (54%) eram
despendidos nas primeiras 2 horas. Este estudo foi realizado numa unidade de cuidados de
intensivos onde o rácio enfermeiro/doente era de 1/2, o que não acontece num serviço de
urgência. Rocha & Rocha (2019), mencionam também motivos financeiros e a falta de
equipamentos específicos, na medida em que a imprevisibilidade de admissões no SU leva a
que os custos e despesas hospitalares possam apresentar oscilações importantes. No entanto,
ressalva que, apesar do custo inicial elevado, contribui para a melhoria do doente em fase aguda
41
e diminui o tempo de hospitalização, reduz os custos e aumenta a mobilidade de doentes nas
enfermarias.
Assim, é necessária a implementação de protocolos nas instituições de saúde sobre a VNI dado
que, para a sua utilização com segurança, requer a existência de uma equipa com competências
avançadas sobre os três componentes básicos: doente, interface e ventilador ( Chawla et al.,
2020; Esquinas, 2011).
Em síntese, a VNI pode ser iniciada dentro dos critérios de elegibilidade da técnica no SU,
desde que os profissionais possuam conhecimentos aprofundados e atuais e estejam treinados
acerca de tudo o que implica a VNI, desde o seu início à monitorização do doente, de modo que
atempadamente seja detetada falha no sucesso e se possa proceder à entubação orotraqueal e
instituição da VI (Asseiro & Beirão, 2012; Esquinas, 2011; Rocha & Rocha, 2019; Vilaça,
2015). Está recomendada a elaboração de programas de formação contínua para médicos e
enfermeiros que desempenham funções no SU. Só desta forma haverá ganhos em saúde e
diminuição de custos associados aos cuidados de saúde, caso contrário, continuará a ser
excluída a VNI em determinadas situações (Asseiro & Beirão, 2012; Carvalho et al., 2008;
Esquinas, 2011; Rocha & Rocha, 2019; Vilaça, 2015).
Criar sistemas de qualidade em saúde revela-se uma ação prioritária. Essa necessidade está
assumida formalmente, tanto por instâncias internacionais como a OMS e o International
Council of Nurses, bem como por organizações nacionais como o Conselho Nacional da
Qualidade. Assim, cada associação profissional da área da saúde assume um papel fundamental
na definição dos seus padrões de qualidade em cada domínio específico. A estratégia nacional
para a qualidade da saúde 2015-2020 estabelece que a qualidade e segurança dos cuidados de
saúde são uma obrigação ética, pois contribuem para a redução dos riscos evitáveis e para a
equidade e respeito com que esses cuidados são prestados. Assim, a qualidade dos cuidados
tornou-se uma questão central para a avaliação e gestão dos sistemas de saúde, assumindo que
todos têm direito a ter acesso à mais inovadora tecnologia e aos cuidados baseados na mais
recente evidência científica (DGS, 2015a).
Os enfermeiros que prestam cuidados ao doente crítico têm-se deparado com uma evolução
constante de técnicas, materiais e equipamentos disponíveis para cuidar do mesmo. Por isso,
42
torna-se imprescindível que procurem uma atualização constante, privilegiando tanto a
aquisição de novos conhecimentos teóricos como de práticas clínicas (DGS, 2013). O Código
Deontológico do Enfermeiro (OE, 2005) também refere que o profissional deve exercer a sua
prática com conhecimentos técnicos e científicos adequados, visando melhoria da qualidade
dos cuidados.
Na evidência científica atual, é irrefutável que os enfermeiros são parte integrante durante a
iniciação, monitorização e continuidade de cuidados a doentes submetidos a VNI (Green &
Bernoth, 2020; Yaman et al., 2021).
Durante a VNI, os cuidados de enfermagem podem muitas vezes representar um desafio para a
equipa, uma vez que a adaptação e ajuste dos mesmos deve ser individual e temporal, tendo em
conta os achados clínicos (Esquinas, 2011).
43
administração de VNI, baseados nas orientações emanadas pela ACI (2017), BTS/ICS
(Davidson et al., 2016; Davies et al., 2018) e Chawla et al. (2020), com a respetiva justificação
para a sua implementação, objetivando a prevenção das complicações relacionadas com VNI.
44
Segundo um estudo realizado por Barradas (2016), a avaliação sistemática dos sinais vitais
durante a VNI é fundamental para prever o sucesso ou falência da mesma. A dor, enquanto 5º
sinal vital, pode ser causa de intolerância da VNI, conforme estudo realizado por D’Orazio et
al. (2018), no qual refere que 12% da amostra referiu como desconforto a dor associada à
interface.
A sedoanalgesia durante a VNI ainda suscita várias dúvidas pois, se por um lado pode promover
o alívio da sintomatologia e melhorar a tolerância à VNI, por outro, pode ter um efeito
potencialmente perigoso devido ao risco de sedação excessiva (Mas & Masip, 2014; Strickland,
2019). Os mesmos autores referem que as benzodiazepinas e os opióides são os fármacos mais
utilizados para sedação durante a aplicação da VNI, nomeadamente a morfina, remifentanil,
propofol e midazolam, sendo frequentemente utilizados sem grandes complicações.
As guidelines da BTS/ICS (Davidson et al., 2016) defendem que a sedação durante a VNI deve
ser realizada sob vigilância intensiva e que a utilização de sedativos/ansiolíticos em perfusão
só deve ser utilizada em unidades de cuidados intensivos. Em casos de agitação e taquipneia, a
melhor opção terapêutica será a administração de morfina associada ou não à administração de
benzodiazepinas.
45
cuidados prestados a nível intra e interinstitucional (Nascimento et al., 2021).
Strickland (2019), elaborou uma figura na qual facilmente se entende a importância dos
cuidados de enfermagem no processo de administração de VNI, conforme exposto na Figura 7.
Iniciar VNI
(instruir o doente, obter a sua colaboração,
início gradual)
Avaliar tolerância
(fugas, assincronia, dor, conforto, efeitos
adversos)
Alternativas
(Oxigénio de alto fluxo, alternar oxigénio
de alto fluxo com VNI)
Em síntese, apraz reforçar que a VNI, enquanto tratamento de eleição no doente crítico com
patologia respiratória aguda, exige um ajuste contínuo dos parâmetros ventilatórios e interfaces,
baseado nos resultados gasimétricos, na avaliação clínica do doente e na sua adaptação ao
tratamento (ACI, 2014). Como determinante para o sucesso e qualidade dos cuidados, a VNI
deve ser instituída num ambiente controlado, com disponibilidade de ventiladores e diferentes
tipos de interfaces e onde seja possível realizar uma monitorização adequada do doente (Davies
et al., 2018).
O enfermeiro, enquanto profissional que está na primeira linha de adaptação da VNI, tem um
papel fundamental na preparação, otimização, vigilância e monitorização dos doentes sob VNI,
na medida em que pode garantir a sua colaboração, conforto e prevenir complicações (Davidson
46
et al., 2016). Contudo, tal como evidencia um estudo desenvolvido por Raurell-Torredà et al.
(2018), os enfermeiros apresentam lacunas nos seus conhecimentos teórico-práticos,
nomeadamente acerca dos cuidados que devem planear e implementar, colocando em causa o
sucesso da VNI e a qualidade e segurança dos cuidados. O mesmo é corroborado por Göktaş et
al. (2017), que evidenciam a necessidade de mais formação dos enfermeiros nesta área e a
criação de protocolos de atuação, de forma a melhorar a qualidade e uniformizar os cuidados
prestados. Também José Alves, Presidente do Observatório Nacional das Doenças
Respiratórias e da Fundação Portuguesa do Pulmão, refere que há muito a melhorar nesta área
a nível de todos os profissionais de saúde. Como referem Ghosh e Elliott (2019), “a VNI
aplicada ao paciente certo, com o ajuste certo, da maneira certa e no momento certo melhora os
resultados” (p.237).
Contudo, apesar das evidências destacadas pelas entidades competentes em VNI acerca da
importância dos cuidados de enfermagem, existem poucos estudos sobre esta problemática em
Portugal.
3. METODOLOGIA
Assim, nesta fase importa delinear o caminho para a realização do estudo, dando a conhecer o
tipo de estudo, a população, amostra, procedimentos de amostragem, perguntas de investigação,
instrumento de colheita de dados e local de colheita e, por último, o tratamento e análise de
dados.
Este estudo seguiu uma metodologia de investigação ação participativa, uma vez que o
conhecimento produzido tem sentido e interesse para um contexto particular e tem em conta a
47
experiência dos participantes (Fortin et al., 2009). Numa primeira fase, para a recolha de dados,
foi utilizado o questionário, para obtenção de informação objetiva e mensurável e, numa
segunda fase, a elaboração de uma proposta de intervenção.
Sendo participativa, significa que os participantes estão envolvidos na investigação e que este
é o princípio que define todo o processo de pesquisa (Brito, 2018). Assim, constitui-se como
uma cocriação de conhecimento num processo que, além de prático, é também capacitador e
colaborativo (Onwuegbuzie et al., 2009, cit. por Brito, 2018). Permite, portanto, o incentivo da
aprendizagem social e individual, melhora a compreensão dos problemas, identifica soluções e
reduz o conflito, por ser mais fácil aceitar algo no qual se foi participante ativo (Blackstock et
al., 2007), uma vez que o objetivo explícito desta abordagem é criar uma mudança positiva no
contexto dos participantes (Brito, 2018).
Segundo Tripp (2005), a investigação-ação inicia-se por um reconhecimento, uma análise das
práticas atuais dos participantes e envolvidos no estudo, objetivando a identificação das práticas
a melhorar.
Isto significa que existem duas metodologias a serem descritas e justificadas numa abordagem
48
deste tipo: os processos de investigação-ação a serem utilizados em campo e o método de estudo
de caso (narrativo) que será empregue para contar a história do projeto e dos seus resultados.
Assim, esta proposta de estudo, ao contrário da pesquisa tradicional, possui uma maior
proporção metodológica do que substantiva.
Tripp (2005) e Brito (2018) identificam quatro diferentes modos pelos quais as pessoas podem
participar num projeto de investigação-ação: obrigação, cooptação, cooperação e colaboração.
Neste trabalho, os peritos escolhidos participaram em modo de cooperação, uma vez que fomos
capazes de os mobilizar para que concordassem em participar no nosso projeto, enquanto
parceiros consultados regularmente, muito embora estivesse assumido que o projeto seria
somente nosso (Brito, 2018; Tripp, 2005).
A amostra é parte da população; são os elementos da população que restam após aplicar critérios
de exclusão. Este processo designa-se amostragem e permite escolher uma porção da população
de modo a representar uma população inteira, isto é, possibilita estimar as características da
49
mesma com base na informação obtida através de uma amostra (Fortin et al., 2009). Assim,
foram excluídos da população: i) enfermeiros que não assinaram o consentimento para
participar no estudo; ii) enfermeiros que se encontravam ausentes do serviço no período de
recolha de dados.
Após a aplicação dos critérios de exclusão, a amostra ficou constituída por 60 enfermeiros,
representando cerca de 92% da população.
Esta amostra foi obtida através de uma amostragem não probabilística por conveniência, pois a
probabilidade relativa de um qualquer elemento ser incluído na amostra é desconhecida e os
elementos foram escolhidos com base na nossa conveniência, mediante critérios selecionados
por nós, isto é, uma seleção não aleatória. Para o estudo em questão, consideramos o método
de amostragem adequado, uma vez que pretendemos responder às necessidades apenas de um
determinado serviço.
• Qual a perceção dos enfermeiros no que respeita à pertinência da melhoria dos cuidados
de enfermagem ao doente submetido a VNI?
• Qual o grau de conhecimento dos enfermeiros sobre o manuseio dos ventiladores, o tipo
de interfaces e os equipamentos utilizados na VNI?
50
3.4. Variáveis
Incluímos, ainda, as variáveis de estudo que constam no questionário relativas à perceção dos
enfermeiros sobre a VNI, sua pertinência e conhecimentos (Tabela 5).
51
Tabela 5. Variáveis de estudo relativas à perceção dos enfermeiros sobre a VNI, sua pertinência, conhecimentos
e formação
Variáveis
Perceção dos enfermeiros acerca da pertinência do tema e da criação de documentos orientadores
Considero este tema pertinente.
Seria vantajoso a criação de um documento orientador para a prestação de cuidados de enfermagem à pessoa submetida
a VNI.
Seria útil um manual sobre VNI no SUG.
Perceção dos enfermeiros acerca da uniformização e segurança dos cuidados de enfermagem no doente submetido a
VNI
Considero que existe uniformização nos cuidados de enfermagem ao cliente submetido a VNI internado no SU G.
Sinto segurança na prestação de cuidados a pessoas com VNI.
Qual o conhecimento dos enfermeiros acerca dos materiais a utilizar na VNI
Considero ter conhecimentos suficientes para o manuseio dos ventiladores existentes na Instituição utilizados na VNI
Conheço os diferentes tipo de:
a) Máscaras utilizados na VNI
b) Equipamentos utilizados na VNI
Qual a formação dos enfermeiros em VNI
Já frequentou algum curso de Ventilação para enfermeiros?
VNI - Ventilação não invasiva; SUG - Serviço de urgência geral.
Na primeira fase do estudo foi utilizado o questionário como instrumento de recolha de dados.
Fortin et al. (2009) referem que o questionário é um instrumento de medida que traduz os
objetivos de um estudo com variáveis mensuráveis e que ajuda a organizar, normalizar e
controlar os dados, de tal modo que as informações procuradas possam ser colhidas de forma
rigorosa.
Posto isto, a escolha deste instrumento de colheita de dados deveu-se ao facto de este
possibilitar uma maior sistematização dos resultados, bem como reduzir o tempo necessário
para a recolha e análise dos dados. Além disso, garante o anonimato e redução de custos (Amaro
et al., 2005).
O questionário foi estruturado em quatro partes: a primeira parte composta por questões
fechadas de escolha múltipla, para caracterizar a equipa relativamente a dados
sociodemográficos e profissionais; a segunda parte incluiu três questões de resposta fechada,
para conhecer a perceção da equipa de enfermagem relativamente à pertinência do tema em
estudo, à segurança nos cuidados prestados ao doente submetido a VNI e à existência de
uniformização nos cuidados de enfermagem; a terceira parte, organizada com três questões de
resposta fechada, que objetivaram o conhecimento que a equipa de enfermagem detinha
relativamente à temática em estudo, bem como o nível de formação na área da VNI; por último,
52
a quarta parte compreendeu duas questões de resposta fechada que pretendiam conhecer a
pertinência que a equipa atribui à existência de documentos orientadores para a uniformização
e melhoria dos cuidados de saúde prestados ao doente submetido a VNI no SUG (Apêndice 3).
Conscientes de que a ética é a ciência da moral e a arte de dirigir a conduta que obriga a um
conjunto de premissas e interdições com enorme valor na vida (Fortin et al., 2009), durante a
investigação todos os procedimentos adotados tiveram em conta os princípios éticos conforme
as convenções de Oviedo e Helsínquia.
53
beneficência, da não maleficência, da fidelidade, da justiça, da veracidade e da
confidencialidade.
Efetuada a recolha de dados, foi necessário partir para o processo de análise descritiva, de modo
a dar resposta às questões de investigação.
A análise de dados de qualquer estudo que comporte valores numéricos começa pela utilização
de estatísticas descritivas que permitem descrever as características da amostra do estudo e
descrever os valores obtidos pela medida das variáveis (Fortin et al., 2009).
O tratamento dos dados do nosso estudo foi efetuado através da construção de uma base de
dados no programa informático IBM-SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences),
versão 27, na qual foi elaborada uma matriz dos dados previamente codificados e feita a sua
análise utilizando a estatística descritiva, procedendo-se ao cálculo das frequências absolutas e
frequências relativas para todas as variáveis e elaboração de tabelas.
A apresentação dos resultados constitui-se como mais uma etapa no processo de investigação.
Os resultados são informações numéricas que resultam da análise estatística dos resultados
obtidos junto dos participantes com a ajuda do instrumento de medida (Fortin et al., 2009).
Para auscultar e conhecer a perceção da equipa de enfermagem, neste capítulo foi feita a
apresentação e discussão dos resultados provenientes da aplicação do questionário aos
participantes.
54
categoria de “enfermeiro especialista”.
Contudo, contrariamente aos resultados anteriores, a maioria dos participantes (61,7%) situava-
se na categoria com 9 ou menos anos de exercício no SUG em estudo, com apenas 15 elementos
a exercer funções no SUG há mais de 15 anos. Assim, embora seja uma equipa com elevada
experiência profissional, esta não foi adquirida no SUG (Tabela 6).
55
Como evidenciado na Tabela 7, embora 71,7% dos enfermeiros considerasse sentir segurança
na prestação de cuidados ao doente submetido a VNI, mais de metade (78,3%) reconheceu que
não existe uniformização dos cuidados no SUG sendo que, todos os enfermeiros da amostra
consideraram pertinente haver intervenção para a melhoria dos cuidados de enfermagem.
Tabela 7. Perceção dos enfermeiros acerca da pertinência do estudo, uniformização e segurança dos cuidados de
enfermagem no doente submetido a VNI
Sim Não
n % n %
Considero este tema pertinente 60 100 - -
Green e Bernoth (2020), numa revisão de literatura, identificaram que 53% dos erros cometidos
pelos enfermeiros durante os cuidados ao doente submetido a VNI, poderiam ter conduzido a
alterações moderadas a graves.
Como já referido, a escolha do ventilador, o seu manuseio e o tipo de interface são fatores
essenciais no sucesso da VNI.
Ao longo dos anos, houve um grande progresso nos ventiladores para a prevenção das
complicações associadas à VNI e melhoria da tolerância do doente ao procedimento. Contudo,
56
nada substitui a atuação de profissionais qualificados e experientes na otimização e sucesso da
VNI (Esquinas, 2011; Hill, 2002; Mas & Masip, 2014). Atualmente, existe no mercado uma
grande variedade de equipamentos de VNI, exigindo da parte dos enfermeiros o domínio na sua
utilização.
Conforme a Tabela 8, verificou-se que 48,3% dos participantes considerou ter conhecimento
suficiente sobre os equipamentos utilizados na instituição, no entanto, verificou-se que apenas
30% dos enfermeiros considerou ter conhecimento de nível bom para manusear os diferentes
ventiladores existentes na instituição.
n - Frequência absoluta .
Pertab (2009), cit. por Palma (2018), também considerou que os enfermeiros devem ter
conhecimento básico acerca da funcionalidade e utilização dos ventiladores. Facto reforçado
por Hess (2013), que afirma que o sucesso da VNI depende muito da experiência dos
profissionais, do seu conhecimento, treino e formação adequada.
57
nomeadamente a presença de fugas (Hess, 2013). Eliminar as fugas associadas à interface é
uma prioridade para melhorar a tolerância à VNI e diminuir a assincronia doente-ventilador,
daí a importância da escolha da interface (Strickland, 2019). No entanto, na tentativa de fazer
esta correção, por vezes o ajuste da interface não é feito de forma correta, originando pressões
elevadas sobre a pele, aumentando, assim, o desconforto e risco de lesão cutânea na face do
doente, sendo importante conhecer todas as opções disponíveis de modo a mudar para outro
sistema que seja mais bem tolerado (Carron et al., 2013; Hess, 2013).
O estudo de Yaman et al. (2021), sobre o impacto dos cuidados de enfermagem na adaptação à
interface, demonstra que os enfermeiros devem estar preparados para resolver complicações
associadas à mesma, quer no que diz respeito ao suporte dado ao doente, quer no conhecimento
de diferentes interfaces, que possam melhorar o seu conforto.
Outro estudo realizado em Portugal acerca dos conhecimentos dos enfermeiros sobre VNI
revelou que cerca de 95% dos participantes considerava o seu conhecimento insuficiente
(Palma, 2018). Estes dados são consistentes com o estudo de Göktaş et al. (2017), onde 94% da
sua amostra referenciou que não acreditavam possuir conhecimentos suficientes sobre VNI.
No que concerne à questão sobre a formação realizada no âmbito da VNI, 78,3% dos
participantes referiu ter feito formação específica, sendo que, destes, 33,3% a realizou há menos
de 1 ano e, mais de metade (61,6%) há menos de 3 anos (Tabela 9). Assim, seria de esperar que
os resultados sobre os conhecimentos anteriormente demonstrados fossem mais elevados.
Num estudo realizado por Jacob et al. (2018), no serviço de urgência de um hospital público
em Espanha, 96,1% dos participantes referiu a necessidade de treino regular. Os mesmos
autores remetem para um estudo de Cabrini (2011), no qual apenas 13% dos participantes
mencionou ter formação adequada.
O estudo de Raurell-Torredà et al. (2018), indicou que apenas 25% dos enfermeiros respondeu
corretamente a questões relativas a conhecimentos básicos sobre VNI. Os mesmos autores,
58
baseados no seu estudo e em outros estudos europeus, afirmaram que a formação sobre VNI foi
de caráter teórico, sem qualquer componente prático, o que justifica o baixo grau de
conhecimentos dos enfermeiros.
Também Asseiro e Beirão (2012) incentivam a formação dos profissionais de saúde nesta área,
de modo a promover a qualidade de vida do doente e diminuir os custos associados aos cuidados
de saúde. Referem que sem formação, a utilização da VNI continuará a ser excluída em
determinadas situações. Esta premissa também foi evidenciada no estudo de Jacob et al. (2018),
referindo que uma grande percentagem de participantes considera que as dificuldades na
implementação da VNI eram consequência dos problemas relacionados com a formação.
A OE (2007) defende que os enfermeiros devem basear a sua atuação profissional em práticas
recomendadas com elevado grau de evidência, indicando a NP como documento orientador das
boas práticas, tendo em conta que esta se baseia na evidência científica de elevado nível. A NP
permite a uniformização dos cuidados de enfermagem, com ganhos para a saúde e para a
instituição.
59
sendo que, 95% concorda totalmente com a sua criação (Figura 9).
5%
Concordo parcialmente
Concordo totalmente
95%
Jacob et al. (2018) realizaram um estudo tendo verificado que, nos serviços de urgência de 51
hospitais em Espanha, apenas 39,2% tinha um protocolo de atuação para os doentes com VNI.
Asseiro e Beirão (2012) e Jacob et al. (2018) realçam a necessidade de uma boa organização no
serviço de urgência, com protocolos e conhecimentos sistematizados na adaptação e
manutenção da VNI.
Uma revisão da literatura efetuada por Green e Bernoth (2020) para estudar a experiência de
enfermeiros na utilização da VNI, evidenciou limitações no seu uso relacionadas com a falta de
formação padronizada, baseada em guidelines.
Tendo em conta as características do SUG onde o estudo foi realizado e a gestão da distribuição
dos enfermeiros pelas diferentes áreas funcionais, nem todos os enfermeiros prestam cuidados
a doentes com VNI regularmente. Neste sentido, relativamente à questão sobre a pertinência da
criação de um manual de princípios básicos sobre VNI, 100% dos participantes concordou com
a sua elaboração (Figura 10).
60
3%
Concordo parcialmente
Concordo totalmente
97%
Figura 10. Percentagem de enfermeiros que considera útil um manual com princípios básicos sobre VNI
5. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Face às necessidades identificadas após aplicação dos questionários, e tendo em conta que no
regulamento das competências comuns do EE está previsto que os profissionais detenham
competências no domínio da melhoria contínua da qualidade e desenvolvimento das
aprendizagens profissionais, considerámos pertinente o desenvolvimento e implementação de
estratégias, que promovessem a atualização e a uniformização das práticas de enfermagem ao
doente em situação crítica submetido a VNI.
Assim, após o diagnóstico da situação, o nosso objetivo foi desenvolver uma NP, no sentido de
disponibilizar um instrumento orientador de boas práticas, para apoiar a tomada de decisão,
sobre as intervenções de enfermagem ao doente submetido a VNI.
61
de acordo com a evidência científica mais atual em detrimento da experiência empírica do
quotidiano (P. Santos et al., 2015), corroborado também pela DGS que defende que as normas
se assumem como um “importante instrumento de implementação da Estratégia Nacional para
a Qualidade na Saúde” (DGS, 2022).
Numa primeira etapa foi realizada uma pesquisa bibliográfica de forma a recolher a melhor
evidência científica sobre VNI. Pelo rigor e nível de evidência, foram selecionadas três
entidades: ACI (2017), BTS (Davidson et al., 2016, 2018) e ISCCM (Chawla et al., 2020). Foi
também contactada a enfermeira responsável pela PPCIRA, para obtermos as recomendações
acerca da limpeza e desinfeção dos equipamentos de VNI existentes na instituição.
Nesta reunião foram sugeridos dois pontos de discussão pelos peritos, nomeadamente a
frequência da hidratação das mucosas e a existência de orientações sobre a imobilização dos
doentes durante a VNI. Relativamente ao primeiro ponto, ficou unanimemente acordado que
seria executada duas vezes por turno, coincidente com o momento de posicionamento dos
doentes. No âmbito da contenção física, foi realizada nova pesquisa bibliográfica, constatando-
se que as guidelines preconizam que o doente sob VNI deve estar orientado e colaborante. Esta
informação foi transmitida em nova reunião com os peritos e enfermeiro gestor . O feedback
obtido foi positivo, tendo sido salientado que a NP estava de acordo com as necessidades
diagnosticadas.
Após verificação e aprovação pelo enfermeiro gestor e diretor do serviço, a entrega da proposta
de NP e a solicitação para aprovação à comissão de qualidade e segurança do doente, ficou a
cargo do enfermeiro gestor.
62
A ausência de resposta a este procedimento solicitado pelo enfermeiro gestor, provavelmente
relacionada com o contexto de pandemia e a necessidade de priorizar e reorganizar serviços,
condicionou a continuidade do processo de investigação ação, nomeadamente a implementação
da norma no SUG e a avaliação dos resultados em função da sua aplicação.
Com esta proposta de intervenção, esperamos melhorar a qualidade dos cuidados prestados
neste SU e consciencializar os enfermeiros que participaram no estudo, acerca da importância
da formação contínua e uma prática baseada em guidelines atuais, bem como demonstrar aos
superiores hierárquicos a importância de proporcionar momentos formativos teóricos e práticos
no que concerne à VNI.
A VNI é uma técnica que sofreu uma evolução considerável nos últimos anos. As evidências
científicas disponíveis revelam que esta constitui uma alternativa mais económica, eficaz e de
simples execução no tratamento de determinadas afeções respiratórias. O reconhecimento da
sua eficácia ventilatória e das suas vantagens levou ao seu crescente uso, fundamentalmente
nas situações de IRA, tratando-se, atualmente, de uma prática corrente em contexto hospitalar,
nomeadamente nos SU, onde é mais elevada a incidência de patologias agudas.
63
prevenção de complicações e eficácia da VNI desde o início da sua implementação, na seleção
dos materiais adequados, assegurando o esclarecimento, colaborando no conforto, na vigilância
e monitorização do doente, torna-se imperiosa a necessidade de os profissionais alicerçarem a
sua prática em evidência atual e obterem formação prática regularmente. A evidência científica
deve ser integrada na criação e implementação de guidelines, guias orientadores e normas de
atuação nas instituições de saúde. Todos os estudos analisados sobre VNI nos SU salientam a
necessidade de uma equipa qualificada, de implementação de NPs e formação contínua. Foi
possível comprovar que os resultados obtidos se aproximam, em diversos parâmetros, da
problemática geral descrita na literatura sobre VNI, no que concerne à inexistência de normas
e protocolos e de formação dos enfermeiros.
Uma atitude mais dinâmica e sustentada numa norma de procedimento no cuidado ao doente
submetido a VNI traduzir-se-á, com certeza, na melhoria da qualidade dos cuidados, com
ganhos para o doente e para a instituição, reduzindo os tempos e custos de internamento e a
referenciação para cuidados intensivos.
Findo este estudo, entendemos que apresenta algumas limitações, como o tamanho da am ostra
e a existência de poucos estudos acerca desta temática, nomeadamente em Portugal, onde a
64
maioria tem origem em trabalhos académicos.
Ao longo da realização deste trabalho foram surgindo algumas sugestões para investigações
futuras. Assim, já não inserido num percurso académico, a nossa proposta será realizar o estudo
com uma amostra representativa da realidade nacional, permitindo uma compreensão mais
aprofundada sobre os fatores que influenciam a prática dos cuidados de enfermagem aos
doentes submetidos a VNI.
65
CONCLUSÃO
O processo de cuidados num SUG pode sofrer influência do ambiente fortemente stressante e
imprevisível próprio desses serviços. No entanto, o enfermeiro que cuida da PSC tem um papel
fundamental no sucesso dos planos terapêuticos instituídos, através da observação e
monitorização contínua de cada doente, tendo em conta as suas necessidades e a dimensão
humana do cuidado. Este estágio proporcionou-nos, portanto, um olhar diferente sobre os
cuidados que eram prestados de uma forma muitas vezes rotineira e pouco fundamentada.
Com base nesta reflexão e sabendo que, embora o recurso à VNI constitua, atualmente, uma
das principais estratégias terapêuticas para o suporte ventilatório e que esta prática não está
isenta de riscos e complicações, surge a ideia de que os cuidados ao doente submetido a VNI
no SU não poderiam ser somente aqueles que eram prestados. Embora desconhecêssemos de
antemão o impacto do papel do enfermeiro no sucesso desta técnica, sabíamos que haveria mais
e melhor a fazer. Foi com este objetivo que mergulhámos no mundo da VNI e demos início a
este estudo, com o qual inferimos que o enfermeiro tem um papel preponderante no
planeamento das intervenções ao doente com necessidade de suporte ventilatório não invasivo,
contribuindo consideravelmente para a avaliação, monitorização e adaptação do doente ao
tratamento, bem como no apoio e ensinos ao doente/família.
67
Assim, após a identificação das necessidades formativas dos participantes do estudo sobre VNI,
da sua perceção relativamente à pertinência do tema, este estudo culminou com a realização de
uma NP para o SUG, que ficou a aguardar aprovação da comissão de qualidade e segurança do
doente.
Após aprovação da NP, será nossa intenção dar continuidade a este projeto: apresentá-lo a todos
os enfermeiros do SUG, numa formação de serviço que abordará também conceitos chave da
VNI; inserir a NP no SClinico®, de forma a ser parametrizada e elaborar um plano de cuidados,
para que a aplicação da NP seja passível de avaliação, permitindo deste modo concluir o ciclo
de investigação ação e criar mudanças positivas nas práticas dos cuidados de enfermagem.
Este percurso foi um longo caminho percorrido, marcado por um grande investimento pessoal,
muita resiliência e trabalho, tendo vivenciado diversas dificuldades a diferentes níveis. Estas
começaram durante a revisão da literatura na seleção da informação mais pertinente, depois na
estruturação e elaboração deste relatório. Do ponto de vista pessoal, vários obstáculos surgiram,
nomeadamente a conciliação entre a prática académica, profissional e vida pessoal, tendo o
cansaço, a gestão do tempo e do trabalho sido limitações com impacto na elaboração deste
relatório. No entanto, todas as contrariedades foram encaradas como desafios, que pouco a
pouco foram superadas.
E assim, pela experiência vivida ao longo deste percurso formativo, é de salientar os seus
contributos para a nossa prática, uma vez que cuidamos diariamente da PSC, agora, com maior
perícia e competência. Sem dúvida, sentimo-nos mais competentes e com mais conhecimentos
científicos, técnicos, éticos e relacionais para dar resposta às necessidades físicas, psicológicas
e sociais do doente/família. Consideramos ter adquirido capacidade de analisar e mobilizar
conhecimentos, refletindo-se em mudanças efetivas na nossa prática de cuidados, sendo um
caminho que pretendemos continuar a percorrer e partilhar com a restante equipa, uma vez que
este trabalho não tem somente fins académicos, mas também pretende beneficiar o SU, visando
a procura conjunta da qualidade dos cuidados de forma a obter ganhos em saúde, funcionando
como um programa de melhoria contínua e da consequente valorização da profissão de
enfermagem.
68
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77
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APÊNDICES
79
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83
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QUESTIONÁRIO
Universidade do Minho
Escola Superior de
Enfermagem
Para tal, peço a sua colaboração no preenchimento deste questionário, garantindo que todas as
questões éticas serão garantidas, nomeadamente o anonimato e a confidencialidade
relativamente aos dados obtidos bem como a divulgação dos mesmos.
Assinale com “X” a sua resposta. Se necessitar anular coloque um círculo à volta da resposta.
Parte I
85
Parte II
86
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Parte III
87
Parte IV
Esta parte do questionário tem o intuito de obter dados que permitam conhecer o
grau de importância que a equipa atribui à existência de documentos orientadores
que contribuam para a melhoria dos cuidados de saúde prestados ao doente
submetido a VNI internados no SU.
Sugestões:
88
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QUESTIONÁRIO
Universidade do Minho
Escola Superior de
Enfermagem
Para tal, peço a sua colaboração no preenchimento deste questionário, garantindo que todas as
questões éticas serão garantidas, nomeadamente o anonimato e a confidencialidade
relativamente aos dados obtidos bem como a divulgação dos mesmos.
Por favor assinale com uma cruz (x) a sua resposta. Se necessitar anular coloque um círculo à
volta da resposta.
2. Sexo: F M
Até 3 De 4 a 9 De 10 a 15 Mais de 15
Até 3 De 4 a 9 De 10 a 15 Mais de 15
89
Parte II
Sim Não
Sim Não
Sim Não
90
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Sugestões:
91
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+
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95
96
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97
98
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99
100
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101
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104
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105
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MANUAL
Índice
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1
i
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iii
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Abreviaturas e Siglas
v
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INTRODUÇÃO
Segundo J. Santos et al. (2020), as doenças respiratórias continuam a ser uma das principais
causas de morbilidade e mortalidade a nível mundial e em Portugal. Em 2018, foram
responsáveis por 13.305 (11,7%) óbitos em Portugal, sendo que a DPOC foi responsável por
2,5% da mortalidade (com um aumento de 7,9% face a 2017). E a nível da União Europeia, é a
sétima principal causa de morte (J. Santos et al. (2020). Dados do Instituto Nacional de
Estatística (2018) indicam que esta percentagem de óbitos por DPOC se mantém nos 2,5%. Nos
cuidados de saúde primários, o número de utentes com problemas ativos de DPOC aumentou
cerca de 152%, entre 2011 e 2019 (J. Santos et al., 2020).
A ventilação não invasiva (VNI) é um meio avançado de terapêutica cada vez mais utilizado
como primeira linha de tratamento em doentes críticos com patologia respiratória aguda ou
crónica agudizada (J. Costa et al., 2018). De tal forma que exige que os profissionais de saúde
conheçam como funciona a técnica e o tipo de equipamento que pode ser utilizado e atualizem
os conhecimentos relativamente a esta ferramenta terapêutica em constante evolução, de modo
a garantirem uma atuação segura e de qualidade (Araújo, 2019).
Este manual pretende servir de apoio aos enfermeiros do serviço de urgência polivalente (SUP)
enquanto ferramenta teórica básica de auxílio ao cuidado do doente submetido a VNI na sala
de observações.
Organizámos os conteúdos segundo uma sequência de fases que pensamos ajudar a estruturar
a forma de pensar e o cuidado: ventilação não invasiva, DECIDIR, PREPARAR, CUIDAR e
resolver problemas.
1
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PARTE 1
VENTILAÇÃO
NÃO
INVASIVA
3
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As suas vantagens residem na eliminação das complicações da entubação oro traqueal, como
trauma, pneumonia associada ao ventilador, sedação, impossibilidade de comunicação, redução
do tempo de internamento hospitalar e da mortalidade, mantendo os mecanismos de defesa das
vias respiratórias e maior conforto para o doente.
Esta estratégia terapêutica foi desenvolvida durante a epidemia da poliomielite em 1930, com
a aplicação do suporte ventilatório através do designado pulmão de aço, através de pressão
negativa, que simulava a inspiração, decorrendo a expiração de uma forma passiva (Figura 1).
Nos anos 40 e 50, a VNI evoluiu e passou a exercer pressão positiva levando à diminuição da
utilização da VNI por pressão negativa. Na década de 80, com o desenvolvimento de máscaras
nasais e com a inserção da Continuous Positive Airway Pressure (CPAP) na síndrome de apneia
5
obstrutiva do sono, esta técnica passou a ter maior relevância (S. Ferreira et al., 2009).
PARTE 2
DECIDIR
7
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A British Thoracic Society (BTS) (Davidson et al., 2016; Davies et al., 2018), European
Respiratory Society (ERS, 2016), American Thoracic Society (ATS) (Rochwerg et al., 2017) e
Indian Society of Critical Care Medicine (ISCCM) (Chawla et al., 2020) recomendam a
utilização de VNI na agudização da DPOC com hipercapnia e no Edema Agudo do Pulmão
(EAP).
Estima-se que cerca de 20% dos doentes hospitalizados por DPOC agudizada apresenta na
admissão risco de falência respiratória do tipo hipercápnica, passível de condicionar acidose
respiratória aguda ou aguda em crónica. Como tal, verifica-se que a introdução precoce de VNI
permite, em comparação com a oxigenoterapia convencional, otimizar as trocas gasosas,
melhorar a sintomatologia apresentada, assim como evitar a necessidade de entubação
orotraqueal (Mas & Masip, 2014). O impacto positivo no doente com EAP, particularmente no
cardiogénico, verifica-se na medida em que a VNI potencia o trabalho respiratório e facilita o
trabalho do ventrículo esquerdo ao reduzir o seu afterload (ERS/ Rochwerg et al., 2017).
IRA - Insuficiência respiratória aguda; VNI - Ventilação não invasiva; DPOC - Doença pulmonar obstrutiva crónica .
Mas e Masip (2014) e a Direção-Geral da Saúde (DGS 2015a) consideram ainda importante a
utilização da VNI nos doentes com doenças neuromusculares, sublinhando que, embora nestes
casos seja maioritariamente realizada em contexto domiciliário, de modo a evitar a progressão
da insuficiência respiratória, a sua importância em contexto agudo deve ser considerada perante
descompensações agudas de insuficiência respiratória crónica.
Apesar do largo espetro de indicações para a aplicação de VNI, é necessário conhecer quais as
9
contraindicações encontradas na evidência científica mais atual. A BTS/ICS (Davidson et al.,
2016), Mas e Masip (2014) e Esquinas (2011) são unânimes na definição de contraindicações
absolutas e relativas (Tabela 2).
10
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A insuficiência respiratória aguda (IRA) é uma patologia com elevada incidência no contexto
de urgência. Embora a utilização da VNI possa ser variável nos diferentes serviços hospitalares,
está demonstrado que deve ser utilizada preferencialmente nas unidades mais diferenciadas. O
SUP é, portanto, o local onde é iniciado o tratamento, visando a oxigenação durante as primeiras
horas, com administração em simultâneo de tratamentos farmacológicos com diurét icos,
vasodilatadores, broncodilatadores e esteroides. Desta forma, há uma rápida estabilização do
doente, evita-se a entubação orotraqueal e, muitas vezes, até o internamento em unidades de
cuidados intensivos (Esquinas, 2011).
Vilaça (2015), refere que vários autores demonstraram a eficácia da VNI no contexto de
urgência/emergência, permitindo a prevenção de entubação orotraqueal, a redução de
admissões nas unidades de cuidados intensivos, do tempo de internamento hospitalar e da
morbimortalidade e diminuição dos custos financeiros. Este sucesso deve-se à rapidez de
instituição desta terapêutica durante a fase aguda da doença, permitindo uma melhor resposta
fisiológica (Barradas, 2016). No entanto, Gosh e Elliott (2019) referem que mais importante do
que o local onde se inicia a VNI, é a existência de uma equipa multidisciplinar experiente e
com conhecimentos fundamentados, num local com equipamento disponível, capacidade de
monitorização pela necessidade de vigilância contínua dos doentes sob VNI para correção das
anomalias que se apresentem e capacidade de escalar terapêutica (entubação e VI).
Apesar do reduzido número de estudos, todos eles salientam a falta de protocolos de atuação e
de experiência/conhecimentos dos profissionais de saúde como o principal motivo pela não
adesão à VNI (Asseiro & Beirão, 2012; Esquinas, 2011; Rocha & Rocha, 2019; Vilaça, 2015).
Outro obstáculo identificado foi a sobrecarga de trabalho que implica para a equipa
multidisciplinar que, em contexto de urgência, já é muito elevado (Rocha & Rocha, 2019). Estes
autores mencionam também motivos financeiros e a falta de equipamentos específicos, na
medida em que a imprevisibilidade de admissões no SUP leva a que os custos e despesas
hospitalares possam apresentar oscilações importantes. No entanto, ressalvam que, apesar do
11
custo inicial elevado, contribui para a melhoria do doente em fase aguda e diminui o tempo de
hospitalização, reduz os custos e aumenta a mobilidade de doentes nas enfermarias.
Assim, é necessária a implementação de protocolos nas instituições de saúde sobre a VNI dado
que, para a sua utilização com segurança, requer a existência de uma equipa com competências
avançadas sobre os três componentes básicos: doente, interface e ventilador (Chawla et al.,
2020; Esquinas, 2011).
Em síntese, a VNI pode ser iniciada dentro dos critérios de elegibilidade da técnica no SUP,
desde que os profissionais possuam conhecimentos aprofundados e atuais e estejam treinados
acerca de tudo o que implica a VNI, desde o seu início à monitorização do doente, de modo que
atempadamente seja detetada falha no sucesso e se possa proceder à entubação orotraqueal e
instituição da VI (Asseiro & Beirão, 2012; Esquinas, 2011; Rocha & Rocha, 2019; Vilaça,
2015). Está recomendada a elaboração de programas de formação contínua para médicos e
enfermeiros que desempenham funções no SUP. Só desta forma haverá ganhos em saúde e
diminuição de custos associados aos cuidados de saúde, caso contrário, continuará a ser
excluída a VNI em determinadas situações (Carvalho et al. 2008; Esquinas, 2011; Asseiro &
Beirão, 2012; Rocha & Rocha, 2019; Vilaça, 2015).
12
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PARTE 3
PREPARAR
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A interface é o elo de ligação entre o doente e o ventilador, através da qual se aplica a ventilação,
sendo decisiva para o sucesso da VNI (Agency for Clinical Innovation [ACI], 2017; Esquinas,
20011; Ferreira et al., 2009).
Um estudo efetuado por Yaman et al. (2021) revela que a escolha da interface correta promotora
de conforto do doente, é um fator chave para a adaptação do doente à VNI e consequente
sucesso da mesma.
Existem muitos tipos de máscara, com formas e materiais diferentes. A escolha da máscara a
usar depende de fatores como: tipo de doença (aguda ou crónica), anatomia da face, colaboração
do doente e tipo de circuito e ventilador. Pode ser utilizada uma máscara nasal (cobre apenas o
nariz), facial (cobre nariz e boca), facial total (cobre nariz, boca e olhos) ou capacete/helmet
(cobre toda a cabeça) (ACI, 2017) (Figura 2).
A principal aplicabilidade das máscaras nasais está no contexto da insufi ciência respiratória
crónica (Mas & Masip, 2014; Nava et al., 2009). Assim, embora permitam a fala, a alimentação,
a tosse, a mobilização de secreções e reduzam os riscos associados ao vómito, permitem uma
acentuada fuga de ar pela boca, não permitindo a administração de grandes pressões necessárias
15
no doente em situação aguda (ACI, 2017; Mas & Masip, 2014).
A máscara facial total é de fácil aplicação e a vedação criada em torno do perímetro do rosto
elimina algumas fugas de ar. Além disso, não provoca pressão na pirâmide nasal, tornam-se
mais confortáveis. Constitui-se, por isso, como alternativa em doentes com VNI de longa
duração. Não são a primeira linha de escolha pois aumentam a sensação de claustrofobia e da
secura oronasal, além de que podem ser difíceis de encaixar, estando associadas a maior
intolerância da parte do doente (ACI, 2017; Mas & Masip, 2014).
O helmet, além das vantagens enunciadas para a máscara facial total, permite também a
realização de VNI em contexto de alterações anatómicas e/ou trauma facial. No entanto, o
doente está exposto a um nível de ruído muito elevado. Torna-se menos eficaz, uma vez que há
maior assincronia doente-ventilador um grande aumento do espaço morto, consequentemente
menor capacidade de correção da hipercapnia (ACI, 2017; Mas & Masip, 2014).
A interface mais utilizada em doentes com patologia aguda é a máscara orofacial (ACI, 2017;
Borges & Botelheiro, 2013; Chawla et al., 2020; Esquinas, 2011; Mas & Masip, 2014). Embora
esteja relacionada com aumento de lesão da pirâmide nasal, constitui-se como interface mais
eficaz na administração de pressões elevadas, na capacidade de correção da hipercapnia,
ocorrendo menores fugas de ar e necessitando pouca colaboração da parte do doente (ACI,
2017; Mas & Masip, 2014).
Tão importante quanto a escolha do tipo de máscara, é escolher o tamanho correto, existindo
três disponíveis: S, M e L.
Conhecer os componentes e saber montar um sistema de VNI é fundamental para que a técnica
funcione de forma adequada. O sistema mais habitual utilizado em VNI tem dois componentes
principais: o ventilador e a máscara (interface). O fluxo de ar é conduzido do ventilador para a
máscara/doente através de uma traqueia simples unidirecional. Como a pressão é sempre
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positiva nos dois tempos respiratórios, com níveis diferentes, é obrigatório um dispositivo que
permita a expiração (válvula expiratória). Na Figura 3, está exemplificada a montagem de um
circuito para VNI.
Traqueia Máscara
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3.3. Modalidades ventilatórias
Os modos ventilatórios podem ser regulados por volume ou pressão: nas modalidades cicladas
por volume, o profissional de saúde define o volume corrente a ser entregue ao doente em cada
inspiração, que gera uma pressão variável; nas modalidades cicladas por pressão, é definida a
pressão a ser atingida em cada inspiração, sendo variável o volume (Davidson et al., 2016). Este
é o modo ventilatório preferencial na VNI, uma vez que apresentam um menor custo, maior
capacidade para compensar fugas e é melhor tolerada pelos dentes (Ferreira et al., 2009). Além
disso, a pressão disponibilizada é controlada, evitando o aumento súbito da mesma que causaria
desconforto para o doente e melhora a sincronia doente-ventilador (Davidson et al., 2016).
Nas modalidades cicladas por pressão positiva, distinguem-se dois modos ventilatórios: o modo
CPAP e o modo Bilevel Positive Airway Pressure (BIPAP).
O CPAP é o modo no qual o ventilador aplica uma pressão positiva contínua nas vias aéreas
durante todo o ciclo respiratório, mantendo, por isso, níveis supra-atmosféricos de pressão tanto
na inspiração como na expiração.
Na Tabela 3 expõem-se outros parâmetros que surgem no display do ventilador em modo S/T
e que são passíveis de serem alterados pelo profissional de saúde.
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PARTE 4
CUIDAR
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Os enfermeiros que prestam cuidados ao doente crítico têm-se deparado com uma evolução
constante de técnicas, materiais e equipamentos disponíveis para cuidar do mesmo. Por isso,
torna-se imprescindível que procurem uma atualização constante, privilegiando tanto a
aquisição de novos conhecimentos teóricos como de práticas clínicas (DGS, 2013). O Código
Deontológico do Enfermeiro (Ordem dos Enfermeiros [OE], 2005) também refere que o
profissional deve exercer a sua prática com conhecimentos técnicos e científicos adequados,
visando melhoria da qualidade dos cuidados.
O enfermeiro, enquanto profissional que está na primeira linha de adaptação da VNI, tem um
papel fundamental na preparação, otimização, vigilância e monitorização dos doentes sob VNI,
na medida em que pode garantir a sua colaboração, conforto e prevenir complicações (Davidson
et al., 2016; Davies et al., 2018).
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4.1. Cuidados de enfermagem antes de iniciar a ventilação não invasiva
11- Explicar procedimento ao doente, bem como a 2- Diminuir a ansiedade do doente e obter a sua
sua importância; colaboração;
12- Posicionar o doente em decúbito dorsal em 3- Promover uma respiração eficaz; prevenir obstrução da
Fowler ou semi-Fowler, conforme tolerância (se doente via área superior e promover o conforto do doente;
obeso, posicionar em decúbito lateral);
13- Verificar a permeabilidade da via aérea e aspirar 4- Providenciar ventilação adequada através da otimização
secreções se necessário; da permeabilidade da via aérea;
14- Colaborar com o médico na preparação e 5- Adaptar o modo ventilatório e parâmetros à situação
programação do ventilador; clínica do doente;
15- Proteger a pirâmide nasal com hidrocolóide ou 6- Prevenir úlceras por pressão;
poliuretano e observar se existem lesões ou
deformidades na face; 7- Facilitar a adaptação do doente à máscara, diminuir a
16- Escolher o tamanho da máscara adequado para o sensação de claustrofobia e prevenir fugas excessivas;
doente e proceder à sua colocação:
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Segundo um estudo realizado por Barradas (2016), a avaliação sistemática dos sinais vitais
durante a VNI é fundamental para prever o sucesso ou falência da mesma. A dor, enquanto 5º
sinal vital, pode ser causa de intolerância da VNI, conforme estudo realizado por D’Orazio et
al. (2018), no qual refere que 12% da amostra referiu como desconforto a dor associada à
interface.
A sedoanalgesia durante a VNI ainda suscita várias dúvidas pois, se por um lado pode promover
o alívio da sintomatologia e melhorar a tolerância à VNI, por outro, pode ter um efeito
potencialmente perigoso devido ao risco de sedação excessiva (Mas & Masip, 2014; Strickland,
2019). Os mesmos autores referem que as benzodiazepinas e os opióides são os fármacos mais
utilizados para sedação durante a aplicação da VNI, nomeadamente a morfina, remifentanil,
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propofol e midazolam, sendo frequentemente utilizados sem grandes complicações.
As guidelines da BTS/ICS (Davidson et al., 2016) defendem que a sedação durante a VNI deve
ser realizada sob vigilância intensiva e que a utilização de sedativos/ansiolíticos em perfusão
só deve ser utilizada em unidades de cuidados intensivos. Em casos de agitação e taqui pneia, a
melhor opção terapêutica será a administração de morfina associada ou não à administração de
benzodiazepinas.
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PARTE 5
RESOLVER
PROBLEMAS
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Esta modalidade terapêutica não está isenta de complicações apesar de ser feita uma avaliação
rigorosa antes de iniciar a VNI. Podem existir várias complicações associadas, que aumentam
de forma proporcional em relação à duração, agitação do doente e sobretudo à constante
necessidade de ajustar a interface (Davidson et al., 2016; Chawla et al., 2020). A taxa de
complicações é muito diversa, no entanto, uma revisão da literatura realizada por Nava et al.
(2009) aponta uma incidência entre 30% e 50%. As complicações constituem -se como
determinantes de sucesso ou insucesso de VNI: assim é necessário que sejam conhecidas todas
as complicações potenciais, objetivando a adoção de protocolos de monitorização e abordagem
na prática clínica, de forma a minimizar a sua ocorrência e melhorar o outcome global dos
doentes (Chawla et al., 2020).
Gay (2009), corroborado por Hill (2009) e Carron et al. (2013), categorizou as complicações
em três grupos: complicações relacionadas com a interface, complicações relacionadas com a
pressão e fluxo de ar e as complicações relacionadas diretamente com o doente.
As primeiras horas de utilização da VNI nas situações agudas são crucias. Entende-se que o
tempo utilizado na seleção do ventilador/modo ventilatório, da interface mais adequada, a
comunicação com o doente acerca do procedimento e das suas expectativas a fim de obter a sua
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colaboração, são de enorme valor para o sucesso da técnica bem como para a prevenção de
complicações.
Os limites da VNI são difíceis de delinear, sendo necessária informação completa do estado de
saúde do doente. Preconizam-se três situações diferentes relativamente ao prognóstico do
doente sob VNI: i) “VNI sem teto terapêutico”, na qual a falta de melhoria clínica dentro de
uma a duas horas implica falência de VNI e necessidade de VI; ii) “VNI como teto terapêutico”,
na qual o intuito é tratar o doente com VNI, mas, cuja falência não é indicação para VI devido
à situação clínica de base do doente; iii) “VNI paliativa”, na qual o objetivo passa por aliviar
os sintomas e não tratar o doente.
Segundo Davidson et al. (2016) e Davies et al. (2018), a VNI deve ser suspensa em caso de:
➢ Exaustão respiratória;
➢ Nenhuma melhoria nas trocas gasosas duas horas após início da VNI;
➢ Doente agitado/confuso;
➢ Intolerância à interface;
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ANEXOS
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