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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Book · September 2013

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6 authors, including:

Edson L. L. Baldin Ricardo Toshio Fujihara


São Paulo State University Universidade Federal de São Carlos
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Amanda Souza
São Paulo State University
6 PUBLICATIONS 4 CITATIONS

SEE PROFILE

Available from: Ricardo Toshio Fujihara


Retrieved on: 16 August 2016
Organizadores

Edson Luiz Lopes Baldin


Ricardo Toshio Fujihara
Patrícia Leite Cruz
Amanda Rodrigues de Souza
Adriana Zanin Kronka
Eduardo Negrisoli
TÓPICOS ESPECIAIS EM PROTEÇÃO DE PLANTAS
Copyright © Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais
1ª edição 2013
Tiragem 500 exemplares

Organização
Edson Luiz Lopes Baldin
Ricardo Toshio Fujihara
Patrícia Leite Cruz
Amanda Rodrigues de Souza
Adriana Zanin Kronka
Eduardo Negrisoli

Arte
Ricardo Toshio Fujihara

Impressão
Grafilar. Tel.: (014) 3812-5700

FEPAF – Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais.


Unesp – Campus de Botucatu – Lageado.
Fazenda Experimental Lageado s/nº
18.603.970 – Botucatu – SP – Brasil
Tel.: (14) 3882-6300 – fepaf@fca.unesp.br
www.fepaf.org.br

Trabalho resultante do III SIMPROT – Simpósio em Proteção de Plantas, realizado na Faculdade de Ciências
Agronômicas da UNESP de Botucatu-SP, entre 24 e 26 de setembro de 2013.

ISBN: 978-85-98187-57-0
TÓPICOS ESPECIAIS EM PROTEÇÃO DE PLANTAS

Organizadores

Edson Luiz Lopes Baldin


Ricardo Toshio Fujihara
Patrícia Leite Cruz
Amanda Rodrigues de Souza
Adriana Zanin Kronka
Eduardo Negrisoli

FEPAF
Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais
2013
APRESENTAÇÃO

O livro – Tópicos em Proteção de Plantas - organizado pelos professores doutores


Edson Luiz Lopes Baldin, Ricardo Toshio Fujihara, Adriana Zanin Kronka e Eduardo
Negrisoli, e pelas pós-graduandas Patrícia Leite Cruz e Amanda Rodrigues de Souza, é
resultante do III SIMPROT - Simpósio em Proteção de Plantas, realizado na Faculdade
de Ciências Agronômicas da UNESP de Botucatu – SP, entre 24 e 26 de setembro de
2013.
A obra visa disponibilizar conhecimentos técnicos atualizados, gerados por
conceituados pesquisadores que atuam em temas relacionados à Fitossanidade no
Brasil.
As informações contidas nos 12 capítulos são fruto de sua ampla experiência, bem
como resultantes de pesquisas associadas à Entomologia, Fitopatologia, Matologia,
Nematologia e Tecnologia de Aplicação de Defensivos. Além da apresentação de
possíveis agentes prejudiciais às lavouras, são também divulgadas técnicas inovadoras
que auxiliam na diagnose e no manejo fitossanitário, respeitando-se os limites entre a
eficiência almejada e a preservação do agroecossistema.
Esperamos que a publicação sirva como uma ferramenta adicional para
produtores, acadêmicos e pesquisadores com interesse nos avanços da Área de
Fitossanidade no Brasil.

Os organizadores
SUMÁRIO

Capítulo 1. POTENCIAL IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA .......... 1


Waldir Cintra de Jesus Junior, Lilianne Gomes da Silva, Mariana Duarte, Wanderson Bucker
Moraes, Ana Paula Rossi, Fábio Ramos Alves, Laedio Magno Busato e Rodolfo Ferreira Mendonça

Capítulo 2. O FUTURO DOS DEFENSIVOS AGRÍCOLAS NO BRASIL ........................................ 27


Alvemar Ferreira

Capítulo 3. QUIMIGAÇÃO PARA O CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS .............................. 35


Rogério Faria Viana

Capítulo 4. PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO ARROZ CULTIVADO SOB O SISTEMA


DE TERRAS ALTAS .................................................................................................................. 51
Elza Alves Corrêa, Tamires Tangerino, Marcelo Rocha Corrêa e Eduardo Negrisoli

Capítulo 5. ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E O CONTROLE DE PLANTAS


DANINHAS .............................................................................................................................. 59
José Claudionir Carvalho

Capítulo 6. OGM FOCANDO CONTROLE DE DOENÇAS .......................................................... 69


Ricardo Harakava

Capítulo 7. MANEJO DE DOENÇAS EM VIVEIROS FLORESTAIS ............................................. 72


Edson Luiz Furtado, Gleice Viviane Nunes Pereira e Marília Pizetta

Capítulo 8. NEMATOIDES ENTOMOPATOGÊNICOS .............................................................. 85


Fabio Silber Schmidt, Lucas Detogni Simi, Fernanda de Oliveira, Lizandra Alexa de Carvalho, Ari
Gitz, Mario Yacoara de Menezes Neto e Luís Garrigós Leite

Capítulo 9. INFLUÊNCIA DOS SEMIOQUÍMICOS NA PREFERÊNCIA HOSPEDEIRA DE


PARASITOIDES DE OVOS ........................................................................................................ 93
Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno e Marina Mouzinho Carvalho

Capítulo 10. MANEJO DE FORMIGAS CORTADEIRAS ............................................................ 103


Ricardo Toshio Fujihara, Marcílio de Souza Silva e Luiz Carlos Forti

Capítulo 11. USO DE PLANTAS INSETICIDAS NO CONTROLE DE PRAGAS EM


TOMATEIRO ..................................................................................... .......................... 117
Elaine Ferrari de Brito e Edson Luiz Lopes Baldin

Capítulo 12. PANORAMA PARA O MANEJO DE LEPIDÓPTEROS-PRAGA EM GRANDES


CULTURAS .............................................................................................................................. 137
Silvana V. Paula-Moraes e Alexandre Specht
Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

Capítulo 1

“POTENCIAL IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA”

Waldir Cintra de Jesus Junior, Lilianne Gomes da Silva, Mariana Duarte, Wanderson Bucker
Moraes, Ana Paula Rossi, Fábio Ramos Alves, Laedio Magno Busato e Rodolfo Ferreira
Mendonça

Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, ES, 29500-000, E-mail:
wcintra@yahoo.com

INTRODUÇÃO
O último relatório divulgado pelo “Intergovernmental Panel on Climate
Change” (IPCC, 2007) mostra que os impactos do aquecimento global podem ser
dramáticos. Ainda não se pode ter certeza sobre as consequências de longo prazo, pois
o período de observação ainda é muito curto, mas os efeitos serão múltiplos, dado que
envolverá alterações não somente na temperatura, mas também no regime de chuvas,
no nível do mar, na biodiversidade e em vários outros elementos.
O aquecimento global provocado pela emissão de gases de efeito estufa é um
dos maiores paradigmas científicos da atualidade (EEROLA, 2003). Nos países
industrializados o debate em torno da questão e as suas possíveis conseqüências é
intenso. De acordo com o IPCC, considerando os efeitos naturais e antropogênicos no
ajuste dos dados observados e simulados, a previsão é a de que a temperatura global
deverá aumentar entre 1,4°C e 5,8°C nos próximos 100 anos, tendo a média de 1990
como referência (PINTO; ASSAD; ZULLO JUNIOR, 2004). De acordo com o Relatório de
Avaliação Nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, todo o Brasil
deverá ficar ao menos 3oC mais quente até o final do século, sendo que conforme as
previsões as chuvas podem aumentar 30 % no Sul-Sudeste e diminuir até 40 % no
Norte-Nordeste (PIVETTA, 2013).
É importante frisar que a previsão é de aumento não apenas na média da
temperatura, mas também em sua variância. Por isso, a incidência de eventos
extremos deve aumentar, com verões ou invernos excepcionalmente chuvosos ou

1
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

secos, quentes demais ou de menos. Essas oscilações terão diferenças regionais


importantes e, seguramente, levarão a uma redivisão do mapa da produção agrícola.
Dentre todas as atividades econômicas a agricultura é a que apresenta maior
dependência das condições ambientais, especialmente as climáticas. Assim, estima-se
que qualquer mudança no clima possa afetar o zoneamento agrícola, a produtividade
das culturas e as técnicas de manejo, alterando o atual cenário da agricultura
brasileira, em cada região, com sérias consequências econômicas, sociais e ambientais
(EPA, 1989).

Existem várias literaturas sobre o assunto Mudanças Climáticas e Efeito na


Agricultura (ASSAD et al., 2004; CECÍLIO et al., 2009; CERRI et al., 2007; GHINI, 2005;
JESUS JUNIOR et al., 2011, 2012a, b; LIMA, 2002; MARENGO et al., 2011; NOBRE;
ASSAD; OYAMA, 2005; PINTO, 2012; SIQUEIRA et al., 1994, 2001). O assunto é
extremamente interessante e pode envolver a análise de múltiplos enfoques. Não será
objetivo dos autores deste capítulo discorrer sobre todos os aspectos envolvidos com
o assunto, porém pretendemos, modestamente, discutir alguns aspectos que
entendemos serem relevantes e apresentar alguns exemplos de trabalhos que estão
sendo desenvolvidos com a temática. Temos por objetivo estimular os profissionais de
Ciências Agrárias a se enveredarem pelo importante assunto, o qual atualmente,
mesmo que empiricamente, é tratado e comentado por toda sociedade.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Desde a década de 1980, têm-se intensificado o estudo e as discussões a
respeito de um fenômeno ambiental que afeta o planeta com graves implicações para
a economia e vida em sociedade. Trata-se do fenômeno cunhado pelas Nações Unidas
como Mudanças Climáticas Globais (MCG). A Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima, aprovada em 1992, define esse fenômeno da seguinte
forma: “Mudança que possa ser direta ou indiretamente atribuída à atividade humana,
que altere a composição da atmosfera mundial e que se some àquela provocada pela
variabilidade climática natural observada ao longo de períodos comparáveis”.
O clima no planeta sempre sofreu alterações naturais e sobrevive às mudanças
climáticas há milhões de anos. A escala de tempo em que ocorriam essas mudanças,

2
Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

no entanto, era outra. Atualmente, mudanças climáticas globais vêm ocorrendo no


intervalo de poucas décadas.
De acordo com Nobre, Reid e Veiga (2012), o clima varia naturalmente tanto
em escala temporal quanto espacial, fato que pode ser comprovado a partir do
registro deixado pelas bolhas de ar aprisionadas nas geleiras da Antártica. Há todo tipo
de variação. Nos últimos 400 mil anos, ocorreram quatro ciclos distintos. Esses ciclos
são glaciais e interglaciais. No pico interglacial, no qual nos encontramos, a
temperatura está mais alta cerca de 5°C a 6°C em relação ao pico do último período
glacial, 20 mil anos atrás. Há 120 mil anos tivemos o último período interglacial e a
temperatura estava um pouco acima da temperatura atual. Destaca-se que todas essas
variações são naturais. Porém, ainda de acordo com os autores, nos últimos 100 a 150
anos o ritmo em que a temperatura começou a subir está muito maior do que ocorreu
no passado. Por exemplo, nas últimas duas décadas a Terra está aquecendo quase
0,2°C por década, que é um ritmo 50 vezes mais acelerado do que o ciclo natural
glacial-interglacial. Assim, de acordo com os autores, algo diferente certamente está
acontecendo. Caso o aumento fosse estritamente de origem natural, o que explicaria a
diferença de velocidade de aumento em relação ao que se observou por vários milhões
de anos. Nesse sentido, Cecílio et al. (2008) discutem muito bem a polêmica do
aquecimento global antrópico e natural.
Quando se analisa a evolução da concentração de CO 2 em função do tempo
(Figura 1), fica claro que nas últimas décadas o incremento no nível desse gás tem sido
muito grande, tendo atingido 400 partes por milhão (ppm) em maio de 2013.

Figura 1. Evolução da concentração de CO2 em função


do tempo. Fonte: adaptado de Revista FAPESP (2013).

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Com base no quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças


Climáticas (IPCC, 2007) verifica-se que o aquecimento global aparece como inequívoco.
A temperatura média global à superfície aumentou quase 0,8°C nos últimos 120 anos,
o nível do mar subiu quase 20 centímetros na média global durante o século XX, a área
coberta com neve está diminuindo e as geleiras estão derretendo. Ainda segundo o
relatório, a elevação da temperatura média global verificada nos últimos 50 anos foi
causada principalmente pelo aumento antrópico das concentrações de gases de efeito
estufa.
Como é de conhecimento geral, o sistema climático terrestre é bastante
complexo, e muito resta a ser compreendido pelos cientistas com relação à magnitude,
tempo e impactos das mudanças climáticas. É inquestionável, no entanto, a existência
do fenômeno, e os cientistas, ambientalistas e governos têm buscado alertar a
sociedade sobre os impactos dramáticos das mudanças no clima sobre a saúde
humana e dos ecossistemas, segurança alimentar, atividade econômica, recursos
hídricos, infraestrutura física, agricultura, etc (FURRIELA, 2004).
Ao se tentar identificar as causas das MCG verifica-se que ao longo de dois
séculos, tendo como ponto inicial a Revolução Industrial, a concentração de gases de
efeito estufa na atmosfera como vapor d’água, dióxido de carbono, ozônio, metano e
óxido nitroso, vem aumentando devido à intensificação da atividade agrícola,
industrial e de transporte, principalmente pelo uso de combustíveis fósseis, o que de
certo modo tem evidenciado que as atividades antrópicas (dos seres humanos) são as
principais responsáveis pelo aumento da temperatura média do planeta (FURRIELA,
2004).
Se as emissões continuarem aumentando no ritmo atual, é quase certo que os
níveis de CO2 na atmosfera passarão a ser, no século 21, duas vezes maiores do que as
concentrações do período pré-industrial. De acordo com um consenso científico, o
resultado mais importante seria um “aquecimento global” de 1 oC a 3,5oC durante os
próximos 100 anos. Com o aumento da temperatura global previsto para o próximo
século, os impactos associados às mudanças climáticas serão sentidos em todo o
mundo e, provavelmente, terão implicações profundas para a população humana
(MARENGO et al., 2011).

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Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

A resolução do problema do aquecimento global não é simples. Depende do


engajamento e compromisso de todos os atores, incluindo governos, iniciativa privada,
instituições de pesquisa e a cidadania. Deter as mudanças climáticas ou minimizar seus
impactos depende da alteração dos hábitos de consumo, sistemas de produção e de
geração de energia, entre outras medidas. Tal mudança do modelo atual dos sistemas
de produção e consumo é o grande desafio que esse fenômeno ambiental global
impõe, e as resistências para alterar o paradigma desenvolvimentista são enormes, por
razões de ordem econômica, social, política e geopolítica, principalmente (MARENGO
et al., 2011).
Portanto, torna-se prioritário aumentar o conhecimento de como o clima da
região pode mudar e avaliar o risco das mudanças climáticas regionais associadas aos
diversos níveis de emissões de gases de efeito estufa. Essa informação é fundamental
para servir de subsídio aos sistemas de tomada de decisão na formulação de
estratégias de mitigação e planejamento de adaptação (MARENGO et al., 2011).
Assim, cabe a toda sociedade o papel de entender, se conscientizar, modificar
hábitos, alterar ações e atitudes e alterar paradigmas. Só com conhecimento técnico-
científico e ações será possível enfrentar toda a problemática envolvida com as
mudanças climáticas, minimizando seus efeitos sobre os aspectos econômicos,
ecológicos e sociais, garantindo a sustentabilidade do planeta.

POTENCIAIS IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA


A agricultura é uma atividade altamente dependente dos fatores climáticos,
tais como temperatura, pluviosidade, umidade do solo e radiação solar. Os principais
impactos das alterações desses fatores sobre a agricultura devem ocorrer na
produtividade e no manejo das culturas, como irrigação, zoneamento das culturas,
controle de pragas e doenças, ocorrência de distúrbios fisiológicos, etc., bem como nos
sistemas sociais e econômicos.
De acordo com Lima (2002), a pesquisa e desenvolvimento na temática da
agropecuária e MCG têm ainda muitos desafios pela frente, principalmente no que se
refere à vulnerabilidade da agropecuária à mudança do clima, do ponto de vista
agronômico, econômico e ambiental; aos efeitos de aumentos de concentração de
gases (CO2, O3) em culturas e florestas; da adaptação de espécies vegetais e animais às
doenças e pragas e efeitos do clima. Da mesma forma, há muito para ser feito sobre

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

avaliação de fluxos de gases atmosféricos (CH 4, CO2, N2O, NOx e CO) no sistema solo-
planta-atmosfera de agrossistemas e em sistemas de produção animal, sobre o papel
da conversão das terras no estoque e sequestro de carbono, nas diferentes
ecorregiões do País; sobre as oportunidades de uso de biomassa vegetal e animal para
uso energético, e consequente redução do uso de combustíveis. Além desses estudos,
há muitas outras vertentes a serem descobertas e exploradas dentro da temática, e
cuja prioridade de pesquisa estará se delineando em função da atual conjuntura
global.
Serão apresentados, de forma resumida, alguns dos possíveis impactos das
MCG sobre as plantas e agricultura.

Mudanças climáticas e fisiologia das plantas


A compreensão das respostas das plantas cultivadas à ação dos fatores do
ambiente é de fundamental importância para minimizar os efeitos deletérios das
condições infra e supraótimas desses fatores sobre a fotossíntese e sobre os distúrbios
fisiológicos (como florescimento fora de época, abortamento de flores e frutos,
maturação precoce, etc.). Neste contexto, o conhecimento do funcionamento do fluxo
e destino do carbono nos tecidos das plantas é de suma importância.
De acordo com Buckeridge et al. (2008) quando se compara o rendimento
quântico das plantas C3 e C4 em diferentes temperaturas verifica-se que as diferenças
entre o desempenho dos dois sistemas em diferentes temperaturas têm vantagens e
desvantagens que dependerão do clima da região em que as plantas se encontram.
Enquanto as plantas C4 têm desempenho constante em temperaturas que variam
entre 10 e 40oC, as plantas C3 apresentam queda linear no desempenho com o
aumento da temperatura (Figura 2).
Deste modo, fica claro que as plantas C3 levam vantagem até cerca de 28oC, mas
que, devido ao fato das plantas C4 não apresentarem queda de rendimento em
temperaturas mais altas, estas últimas passam a ter maior eficiência relativa acima de
28oC. O fato das plantas C4 tolerarem temperaturas mais elevadas também permite
que seus sistemas de captação de luz possam suportar intensidades luminosas
superiores. Assim, enquanto as plantas C3 se desenvolvem bem entre 400 a 500
µmoles de fotons.m-2.s-1, as plantas C4 podem suportar intensidades maiores que 2000

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Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

µmoles de fotons.m-2.s-1. Portanto, se forem consideradas as intensidades luminosas


normalmente encontradas em condições naturais, fica evidente que as plantas C3 se
adaptam bem a condições mais sombreadas, enquanto as plantas C4 se desenvolvem
melhor em altas intensidades luminosas e altas temperaturas (BUCKERIDGE et al.,
2008).

Figura 2. Rendimento quântico comparativo


das plantas C3 e C4 em função da
temperatura.
Fonte: adaptado de Buckeridge et al. (2008).

Porém, além da questão da temperatura é importante entender como esses dois


tipos de planta são influenciados pela água. Ainda conforme Buckeridge et al. (2008),
as plantas C4 são bem mais eficientes que as plantas C3 em relação a água, em função
da maior eficiência em captar e armazenar o carbono oriundo do CO 2, ou seja, maior
eficiência da bomba de armazenamento do ácido de quatro carbonos, que permite às
plantas C4 um gerenciamento melhor da abertura estomática, processo este
fundamental no controle da transpiração foliar (Tabela 1).
Tais características são extremamente importantes em cenário de mudanças
climáticas. Assim, é extremamente importante o entendimento das questões
fisiológicas de cada espécie em relação às alterações nas condições de temperatura,
disponibilidade hídrica, concentração de CO 2, etc. Somente com este conhecimento
será possível minimizar os possíveis efeitos negativos oriundos das MCG.

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Tabela 1. Comparação geral entre os desempenhos dos sistemas fotossintéticos das


plantas C3 e C4.

Variável Sistema fotossintético


Plantas C3 Plantas C4
Fotorrespiração sim não
Ponto de compensação de CO2 20-100 0-5
Temperatura ótima 20-25 30-45
Eficiência quântica versus temperatura diminui estável
Taxa de transpiração 500-1000 200-350
Saturação de luz 400-500 >2000
Fonte: adaptado de Buckeridge et al. (2008).

Vários estudos têm sido desenvolvidos analisando as respostas das plantas à


atmosfera enriquecida com CO2. De forma geral, os efeitos resultantes do aumento da
concentração de CO2 nas plantas podem ser classificados como diretos e indiretos. Os
efeitos diretos referem-se aos incrementos na disponibilidade de substrato para a
fotossíntese e na produtividade primária das plantas devido à ação do CO 2 como
“fertilizante atmosférico”. Os efeitos indiretos relacionam-se às alterações provocadas
pelo efeito estufa, principalmente oriundas do incremento da temperatura, que pode
afetar a fisiologia e a produtividade das plantas (BUCKERIDGE et al., 2008).
Para que o enriquecimento de CO2 seja realmente efetivo é necessário que os
demais fatores envolvidos na fotossíntese e no crescimento das plantas, como luz,
água e nutrientes, não estejam em quantidades limitantes ao crescimento e
desenvolvimento da planta.
Adicionalmente aos efeitos diretos na fisiologia das plantas, as MCG poderão
também alterar a ocorrência de distúrbios fisiológicos, os quais quase sempre estão
relacionados a fatores do ambiente. Vale ressaltar que os distúrbios fisiológicos
ocorrem de forma sazonal ao longo do ano, o que demonstra, certamente, a influência
dos fatores climáticos, especialmente a temperatura, na ocorrência dos mesmos.
Portanto, quando se pensa em MCG e agricultura, tal fato tem de ser considerado.

Mudanças climáticas e zoneamento das culturas


O conhecimento das condições climáticas de determinada região, assim como
suas projeções futuras poderá ser de extrema importância para o manejo das culturas,
visto que a delimitação das regiões climaticamente homogêneas poderão determinar

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Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

as áreas mais favoráveis ao desenvolvimento das culturas, assim como o período


propício para o plantio. Desta forma, a elaboração e disponibilização de mapas de
aptidão poderão fornecer importantes informações para futuras recomendações
práticas, lógicas e coerentes de serem executadas para o manejo das culturas, assim
como para o manejo de pragas e doenças. Tais previsões poderão, por exemplo,
auxiliar na delimitação de regiões ou “zonas” com potencial de clima, solo e água que
permitam a máxima exploração de uma determinada cultura.
Estudos simulando os impactos sobre a agricultura por meio de modelos
matemáticos foram apresentados por Siqueira, Steinmetz e Salles (2001) para o trigo,
milho e soja, por Marengo (2001) e Assad et al. (2004) para o café, e por Nobre, Assad
e Oyama (2005) para o milho, feijão, arroz, soja e café. A maior parte dos trabalhos
analisou os seguintes aspectos: a) utilização de modelos destinados à previsão da
produtividade agrícola com base em modelos de simulação de crescimento das
culturas (SIQUEIRA et al., 1994); b) determinação do impacto das MCG no zoneamento
agroclimático de culturas (ASSAD et al., 2004; ZULLO JÚNIOR; PINTO; ASSAD, 2006); c)
modificações na provável distribuição de áreas de risco de estabelecimento e
desenvolvimento de diferentes patógenos agrícolas (GHINI et al., 2007; JESUS JUNIOR
et al., 2008).

Mudanças climáticas e doenças de plantas


O aparecimento e desenvolvimento de uma doença é resultante da interação
de 3 fatores: planta suscetível, agente patogênico e fatores ambientais favoráveis, que
são conhecidos por triângulo de doença. O ambiente, portanto, é um componente
relevante nesta interação, podendo, inclusive, impedir a ocorrência da doença mesmo
na presença de hospedeiro e patógeno.
O ambiente influencia todos os estádios de desenvolvimento, tanto do
patógeno quanto da planta hospedeira, assim como da doença, nas diversas etapas do
ciclo das relações patógeno-hospedeiro. Além desses, também pode afetar outros
organismos com os quais a planta e o patógeno interagem, como endofíticos,
saprófitas ou antagonistas. Assim, numa área onde tanto a planta quanto o patógeno
estão presentes, o aparecimento e o desenvolvimento da doença são determinados
pelo ambiente. Importantes doenças podem se tornar secundárias se as condições

9
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

ambientes não forem favoráveis. Contrariamente, doenças secundárias podem se


tornar importantes caso o ambiente seja extremamente favorável.
Com relação aos impactos das mudanças climáticas sobre as doenças de
plantas, estes podem se expressar em diferentes aspectos, podendo causar efeitos
diretos e indiretos tanto sobre os patógenos quanto sobre as plantas hospedeiras e a
interação de ambos (CHAKRABORTY, 2005; GHINI, 2005). Entre os principais destacam-
se os efeitos nos danos causados pelas doenças, na distribuição geográfica das
doenças, na eficiência dos métodos de controle e nos demais organismos que
interagem com a planta (CHAKRABORTY; TIEDEMANN; TENG, 2000; CHAKRABORTY,
2001, 2005).
Sobre os patógenos, a distribuição geográfica, por exemplo, é determinada pela
gama de temperaturas nas quais o mesmo pode crescer, mas muitas espécies
prevalecem somente em regiões onde a temperatura e outros fatores climáticos estão
próximos aos valores ótimos para permitir um rápido desenvolvimento. Nesse sentido,
Ghini et al. (2005) analisaram o efeito das MCG sobre a distribuição espacial de
Meloidogyne incognita e do bicho mineiro (Leucoptera coffeella) do cafeeiro no Brasil,
concluindo que haverá um aumento na infestação, tanto do nematoide quanto da
praga, pelo maior número de gerações por mês, em comparação com a situação
climática atual. Em outro estudo, Ghini et al. (2007) analisaram os possíveis impactos
das MCG sobre a distribuição da sigatoka negra da bananeira no Brasil, concluindo que
haverá redução gradativa da área favorável à doença no país para as décadas futuras.
Resultados semelhantes foram obtidos por Valadares Júnior, Jesus Júnior e Cecílio
(2007).
Ainda no tocante a distribuição geográfica das doenças de plantas,
Chakraborty, Tiedemann e Teng (2000) verificaram, em um estudo experimental, que
entre 15 patógenos necrotróficos a favorabilidade da doença aumentou em nove, foi
reduzida em quatro e permaneceu inalterada em outros dois patossistemas.
Adicionalmente, a distribuição temporal também pode ser afetada
(CHAKRABORTY, 2005). Coelho et al. (2003) estudaram o efeito da temperatura e do
molhamento foliar no desenvolvimento da ferrugem (Uromyces appendiculatus) e da
mancha angular (Phaeoisariopsis griseola). Os autores concluíram que o plantio de
inverno é favorável a ocorrência da ferrugem e os plantios da água e da seca são

10
Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

favoráveis à da mancha angular. Vale ressaltar que as condições favoráveis são


específicas para cada patossistema e, assim, não podem ser generalizadas.
As mudanças climáticas também podem ter efeitos diretos sobre a planta
hospedeira. Um dos mecanismos envolvidos é a alteração da predisposição da planta,
que consiste na modificação da sua suscetibilidade às doenças por fatores externos a
ela, isto é, fatores não genéticos, que atuam antes da infecção (SCHOENEWEISS, 1975).
A elevação da concentração de CO 2 altera o início e a duração dos estádios de
desenvolvimento do patógeno. O período latente, isto é, o período compreendido
entre a inoculação e a esporulação, pode ser alterado, assim como a capacidade de
multiplicação de alguns patógenos. Kobayashi et al. (2006) verificaram que a
porcentagem de plantas de arroz infectadas por Rhizoctonia solani e Magnaporthe
oryzae foi maior sob condições elevadas de CO 2. Dessa forma, a efetividade dos genes
de resistência das plantas pode ser suplantada mais rapidamente, como resultado do
desenvolvimento acelerado das populações dos patógenos (CHAKRABORTY, 2001;
CHAKRABORTY; DATTA, 2003).
De acordo com GHINI (2005) as seguintes relações podem ser esperadas entre
o aumento na concentração de CO2 e o efeito nas plantas e doenças (Tabela 2).

Tabela 2. Relações entre aumento na concentração de CO 2 e o efeito nas plantas e


doenças.

Plantas Doenças
Aumento da biomassa Maior quantidade de tecido para ser infectado
Menor dano
Aumento do teor de Maior desenvolvimento dos patógenos que
carboidratos dependem de açúcares
Aumento da densidade de Maior desenvolvimento dos patógenos que
copa e tamanho de plantas dependem de alta umidade do ar
Aumento da quantidade de Maior sobrevivência dos patógenos necrotróficos
resíduos das culturas
Diminuição da abertura Menor penetração dos patógenos
dos estômatos
Diminuição do ciclo da Maior desenvolvimento dos patógenos necrotróficos
cultura Menor desenvolvimento dos patógenos biotróficos
Fonte: Modificada de Ghini (2005).

11
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Doenças que requerem insetos ou outros vetores podem sofrer uma nova
distribuição geográfica ou temporal, que será resultante da interação ambiente -
planta-patógeno-vetor (SUTHERST; INGRAM; SCHERM, 1998). Morandi et al. (2005),
mesmo antes da detecção oficial do Huanglongbing (=greening) dos citros
(Candidatus Liberibacter americanus) no Brasil, estudaram a ocorrência do inseto
vetor (Diaphorina citri), concluindo que as regiões Norte e Noroeste do estado de
São Paulo foram classificadas como favoráveis ou muito favoráveis ao
desenvolvimento de D. citri durante o período de brotação dos citros, entre agosto
e março.
Adicionalmente, todas as modalidades de controle de doenças de plantas
são afetadas pelas condições climáticas. Uma consequência direta das modificações
causadas pelas mudanças climáticas nas relações patógeno-hospedeiro é na
resistência genética de plantas às doenças. Modificações na fisiologia da planta
podem alterar os mecanismos de resistência.
Assim, há necessidade de maior entendimento de todas essas relações, de
modo a antecipar e minimizar os prováveis impactos tanto na interação patógeno -
hospedeiro quanto no manejo das doenças (SCHERM; COAKLEY, 2003). É nossa
responsabilidade estudar o assunto e dar solução ao mesmo, evitando assim que as
futuras gerações sofram as consequências de muitas das irresponsabilidades das
gerações atuais.
Com relação ao potencial efeito das MCG no controle químico de doenças
de plantas, Jesus Junior e Zambolim (2007) questionaram: “A eficiência dos
produtos químicos (agrotóxicos) será a mesma em condições de elevação de
temperatura?”. Nesse sentido, é necessária e urgente a realização de trabalhos
analisando tais efeitos.
Ferraço et al. (2007) avaliaram o efeito do fungicida piraclostrobina na
cultura do mamão em relação ao manejo quanto a volume de calda e temperatura
na aplicação, verificando que se a aplicação do fungicida for realizada no horário
quente do dia, há maior fitotoxidez ocasionada pelo produto do que se este for
aplicado no horário ameno (Tabela 3), independentemente da dose aplicada.

12
Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

Tabela 3. Efeito da dose e horário de aplicação de determinado fungicida na


ocorrência de fitotoxidez em frutos de mamoeiro.

Fungicida, Dose (%) e Horário de aplicação Fitotoxidez (%)


Fungicida, 0,04 % e quente 30,6
Fungicida, 0,03 % e quente 26,3
Fungicida, 0,04 % e ameno 25,6
Fungicida, 0,03 % e ameno 19,5
Testemunha 0
Fonte: Adaptada de Ferraço et al. (2007).

Jesus Junior e Zambolim (2007) discutem vários aspectos relacionados ao controle


químico de doenças de plantas, inclusive sobre o potencial impacto das MCG nesta
estratégia de manejo. Adicionalmente, Ghini (2008) mencionou possíveis efeitos que as
MCG trarão sobre o controle químico, os quais devem ser bem compreendidos.
A análise do potencial impacto das MCG sobre algum aspecto específico deve levar
em consideração inúmeros aspectos, principalmente aqueles relacionados à incerteza das
previsões. Nesse sentido, no caso da análise do potencial impacto das MCG sobre as
doenças de plantas não se pode esquecer que tanto o patógeno quanto a planta hospedeira
podem evoluir, dado que o processo é lento, ou seja, adaptações deverão acontecer e
precisam ser consideradas antes que conclusões precipitadas e equivocadas sejam
apontadas como certas.

Mudanças climáticas e disponibilidade hídrica


Caso a previsão de mudança do regime e da intensidade das chuvas se confirme, a
quantidade de água no solo e também o nível de água nos lençóis freáticos poderão
diminuir, podendo levar à desertificação ou limitação de água no campo em detrimento das
cidades em algumas regiões (GIORGINO, 2007).
Culturas muito dependentes da irrigação, como a fruticultura no Nordeste brasileiro,
provavelmente, terão de se adaptar às condições de elevado estresse hídrico e altas
temperaturas. O calendário de plantio também poderá ser alterado para muitas culturas de
forma a concentrar a produção em um período de menor possibilidade de perda do vigor
produtivo (GIORGINO, 2007).
Outra consequência da previsão de menor disponibilidade de água diz respeito à
geração de energia. A matriz brasileira ainda é muito dependente de hidrelétricas e uma

13
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

menor disponibilidade energética pode gerar efeitos desastrosos na economia e na


produção das agroindústrias (GIORGINO, 2007).
Taques e Dadalto (2007) realizaram o zoneamento agroclimático para o cafeeiro
conilon no Estado do Espírito Santo, verificando que parte do estado está compreendida por
regiões consideradas “aptas com restrição hídrica” e com “impedimento hídrico” (Figura 3)
nas condições atuais.

Figura 3. Zoneamento agroclimático para o cafeeiro conilon no Estado do


Espírito Santo, nas condições atuais. Fonte: Adaptada de Taques e Dadalto (2007).

O resultado desse estudo demonstra claramente a importância da questão hídrica


para a sustentabilidade do agronegócio brasileiro. Em se confirmando as previsões de MCG,
a questão da disponibilidade hídrica poderá inviabilizar o cultivo em várias regiões.
De acordo com Gondim et al. (2008) a disponibilidade hídrica para as culturas
perenes da Bacia do rio Jaguaribe, no estado do Ceará, considerando os cenários de MCG,
será reduzida, havendo necessidade de água para a irrigação em decorrência da tendência
do aumento da temperatura e da evapotranspiração e redução da precipitação ocasionada
pelas mudanças climáticas.
Diante desses cenários, e considerando que há previsão de decréscimo na
disponibilidade hídrica com as MCG, uma pergunta extremamente importante é: Haverá
disponibilidade de água para irrigação em todas as áreas que apresentam restrição hídrica?
Certamente não. Assim, é papel da pesquisa buscar soluções para tal problema, o qual
poderá inviabilizar o cultivo em várias regiões do Brasil.

14
Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS E O SETOR AGROFLORESTAL: ESTUDOS DE CASO


Potencial impacto das mudanças climáticas na cafeicultura
No tocante a estudos relacionados ao potencial impacto das MCG no zoneamento
agroclimático do café no Brasil, Assad et al. (2004) efetuaram várias simulações e avaliaram
os impactos que um aumento na temperatura média do ar de 1oC, 3oC e 5,8oC e um
incremento de 15 % na precipitação pluvial teriam na potencialidade da cafeicultura
brasileira, definida pelo atual zoneamento agroclimático do café arábica nos Estados de
Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
Com base nos resultados obtidos, os autores concluíram que:
1. Comprovados os cenários atuais preconizados pelos modelos do IPCC, considerando um
aumento de 1oC, 3oC e 5,8oC na temperatura média anual do globo, o cultivo do café arábica
nos estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná será drasticamente reduzido nos
próximos 100 anos, se mantidas as condições genéticas e fisiológicas das atuais variedades;
2. No caso de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, a restrição ao cultivo atingirá mais de 95 % da
área dos estados, inviabilizando praticamente a cultura do cafeeiro;
3. Nos cenários estudados, o deslocamento da produção será para áreas montanhosas, de
difícil manejo, onde temperaturas médias anuais abaixo de 23oC ainda serão observadas;
4. No Estado de Minas Gerais, o cultivo se restringirá a 28 municípios (em 2001 foram
contabilizados 702 municípios produtores de café) e, no Estado de São Paulo, o cultivo será
restrito a nove municípios (no ano de 2001 foram contabilizados 455 municípios produzindo
café); no Estado de Goiás, considerando o aumento de até 3oC, o cafeeiro será considerado
cultura de alto risco, mesmo com a irrigação exercendo a função de suprimento de água e
regulador térmico, e;
5. No Estado do Paraná haverá um deslocamento da área produtiva para a região Sul;
mesmo assim, com o aumento de 5,8oC na temperatura média anual haverá uma forte
redução das áreas aptas para o cafeeiro, saindo de 70,4 % (situação atual) para 25,2 %; com
o aumento previsto de chuvas (15 %), a cultura do café no Paraná poderá apresentar
problemas de qualidade de bebida, sendo este também um fator restritivo para a cultura.
Apesar dos resultados pessimistas apresentados pelos autores, tais dados devem
servir de alerta. Vale ressaltar, entretanto, que esses cenários podem ser contornados
considerando-se algumas situações: 1) implementação de práticas mitigadoras, que
permitam aumentar o sequestro de carbono, reduzindo o efeito estufa; 2) melhoramento

15
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

genético das plantas para adaptá-las aos estresses ambientais; 3) implementação de


estratégias adequadas de manejo da cultura cafeeira, como por exemplo, seleção de áreas
adequadas para plantio, arborização etc.
Apesar do cenário alarmante e preocupante gerado a partir da publicação do
trabalho de Assad et al. (2004), de acordo com Fazuoli, Thomaziello e Camargo (2007) para
se minimizar a problemática há necessidade de implementação de estratégias de adaptação
e mitigação, como por exemplo:
- Irrigação: esta prática tem permitido o estabelecimento do cafeeiro em regiões de baixa
altitude em que as temperaturas médias são elevadas para o cultivo normal do café arábica;
- Arborização: considerando que o cafeeiro arábica é originário dos altiplanos da Etiópia em
condições de sub-bosque, ou seja, de meia sombra, o emprego de arborização ou
consorciação pode proporcionar diminuição da temperatura média em até 2°C, proteção
contra vento e agregação de valor à produção do café com espécies de uso florestal ou
aquelas de exploração comercial;
- Adensamento: o plantio do cafeeiro em espaçamentos mais adensados entre linhas e entre
plantas na linha (plantio em renque), normalmente acarreta menores produções por planta,
mas aumenta a produção por área. Tal estratégia conduz a um menor estresse da planta,
mantendo-o mais enfolhado, o que proporciona um microclima mais ameno, com menores
temperaturas no interior da planta, abaixo do ambiente externo; e,
- Manejo do Mato: melhora a conservação do solo por evitar a erosão, reduz a temperatura
do solo e permite melhor distribuição do sistema radicular do cafeeiro. Tal prática aumenta
também o teor de matéria orgânica e a capacidade de retenção de água possibilitando
cultivo mais tolerante às condições climáticas adversas.
Portanto, segundo Fazuoli, Thomaziello e Camargo (2007) outros aspectos primor-
diais foram totalmente ignorados por Assad et al. (2004), que consideraram somente a
variável “temperatura média” para elaborar o trabalho. Ainda de acordo com Fazuoli,
Thomaziello e Camargo (2007), ao longo de dezenas de anos várias instituições de pesquisa
desenvolveram tecnologias que permitiram atenuar o efeito de temperaturas adversas,
viabilizando o cultivo comercial em regiões consideradas pelo zoneamento agroclimático
como marginais e até mesmo inaptas para a cultura do café arábica.
Os referidos autores concluem enfatizando que é importante aumentar e estimular
as pesquisas para encontrar soluções no enfrentamento do aquecimento global e suas

16
Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

conseqüências. Porém, segundo Fazuoli, Thomaziello e Camargo (2007), devemos ser mais
cautelosos nos informes à sociedade, e em particular aos agricultores, que já enfrentam
problemas diversos em toda a cadeia produtiva do agronegócio do café e que certamente
vai interferir no planejamento de médio e longo prazo.

Potencial impacto das mudanças climáticas na hortifruticultura


Ainda não há estudos conclusivos sobre as alterações no zoneamento da
hortifruticultura no Brasil em decorrência das mudanças climáticas. Porém, na revista
Hortifruti Brasil (GIORGINO, 2007), vários analistas lançaram-se no desafio de discutir o
assunto e fazer algumas considerações sobre o impacto no setor levando em consideração
as previsões de alterações climáticas para o País, por região, até 2050 (Tabela 4).
Os analistas concluíram que o calendário de produção dos hortifrutícolas será
alterado no País e que os riscos climáticos sobre a cultura se intensificarão nos próximos
anos, de modo que o setor deverá conviver com períodos mais prolongados de seca, chuvas
intensas no verão, elevadas oscilações de temperatura e até fortes tempestades, com
possibilidade de formação de furacões.
Giorgino (2007) cita várias ações a serem implementadas pelo setor hortifrutícola
brasileiro para minimizar os problemas oriundos das MCG. Dentre as ações podem ser
citadas: 1) Desenvolver um zoneamento agroclimático para a hortifruticultura baseado nos
modelos de previsão do clima; 2) Implementar e adicionar ações que reduzam a emissão de
poluentes nos atuais sistemas de Produção Integradas, como o PIF ou outros que utilizam o
conceito de Boas Práticas Agrícolas, como o EurepGap; 3) Mobilizar centros de pesquisa para
que incorporem nas suas agendas de trabalho estudos que minimizem os impactos do
aquecimento global na agricultura. É importante desde já o desenvolvimento de variedades
mais resistentes à seca, a altas temperaturas e à maior incidência de pragas e doenças; 4)
Aumentar a proteção aos recursos hídricos e reavaliar sistemas de irrigação para que
promovam um manejo mais racional do uso da água, principalmente em regiões onde o
déficit hídrico deverá tornar-se uma grande limitação para a produção agrícola; 5)
Desenvolver um programa de seguro agrícola específico para as condições do setor
hortifrutícola nacional; 6) Criar linhas de crédito subsidiadas que permitam o setor
hortifrutícola desenvolver e renovar sua tecnologia de modo a se adaptar às novas
condições climáticas; 7) Captar investimentos financeiros privados para fomentar o

17
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

desenvolvimento e a difusão de tecnologia, de manejos fitossanitários e de práticas agrícolas


de clima tropical.

Tabela 4. Potenciais impactos das mudanças climáticas no setor hortifrutícola por


região do país.

Região Alteração climática Prováveis impactos no setor hortifrutícola


prevista
Sudeste Chuvas mais intensas - Plantio e colheita no verão serão prejudicados pelo
e concentradas no aumento das chuvas;
verão, tempestades,
períodos de seca - No verão, a umidade excessiva poderá aumentar a
irregulares e geadas incidência de doenças fúngicas;
no inverno.
- Secas irregulares e geadas poderão aumentar os
riscos de produção e de desenvolvimento das culturas,
alterando os calendários de plantio e colheita.
Nordeste Maior restrição - Pode haver alteração no ciclo de desenvolvimento
hídrica, parte do das culturas e dos calendários de plantio e colheita,
lençol freático poderá bem como mudança na produtividade;
desaparecer e o clima
da região pode passar - Com a maior restrição de água, os sistemas de
de semi-árido para irrigação terão que ser mais eficientes;
árido.
- Chuvas incomuns podem mudar o calendário de
colheita e, conseqüentemente, o de exportação.
Norte A vegetação da - Apesar de a região não ter nenhum pólo produtor de
floresta amazônica importância nacional, a produção e coleta de frutas
poderá transformar- típicas poderão ser inviabilizadas, visto que o
se em cerrado e o desenvolvimento tecnológico da hortifruticultura
volume de chuva deve nessa região é menor e pode não acompanhar as
reduzir. alterações climáticas.
Centro- Chuvas serão mais - A concentração de chuvas no verão pode aumentar a
Oeste concentradas no incidência de doenças fúngicas e os riscos sobre a
verão e, produção;
conseqüentemente, o
período de seca será - O estresse hídrico nas plantas será maior com os
mais prolongado. períodos de seca prolongados, exigindo plantas mais
Além disso, há riscos resistentes à seca ou mais investimentos em irrigação
de geadas na região. nas áreas que dispõem de reservatórios.
Sul Previsão de dias mais - As plantas estarão sob condições de maior estresse,
quentes, maior devido aos dias mais quentes e a invernos mais curtos,
freqüência de alterando o calendário de produção e demandando
períodos de seca, plantas mais resistentes às variações climáticas;
inverno mais curto,
maior quantidade de - Os riscos sobre a produção serão maiores no inverno,
geada no inverno e devido à maior freqüência de geadas;
tempestades intensas.
- Infra-estruturas de produção e armazenamento terão
que ser adaptadas a ventos intensos.
Fonte: Adaptada de Giorgino (2007).

18
Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

Além disso, pesquisas estão sendo conduzidas visando verificar o efeito (ou
impacto) das MCG sobre as principais hortaliças e fruteiras cultivadas. Para fins
didáticos, apresentaremos um item sobre o potencial impacto das MCG na cultura do
mamoeiro, tomando por base as experiências da nossa equipe de pesquisa.

Potencial impacto das mudanças climáticas na cultura do mamoeiro


O mamoeiro apresenta ampla distribuição geográfica, o que demonstra a
grande capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas. Esta cultura é
cultivada em todos os estados brasileiros. Porém, a produção comercial concentra-se
nas regiões Nordeste e Sudeste.
Campanharo et al. (2008) realizaram o zoneamento agroclimático do mamoeiro
no Espírito Santo, considerando os cenários atual e futuro, sendo que para o futuro os
autores empregaram o cenário A2 do IPCC, para as décadas de 2020, 2050 e 2080
(Figura 4).

Figura 4. Zoneamento agroclimático para o mamoeiro no Estado do Espírito Santo,


considerando as condições atuais e futuras (cenário A2 para as décadas de 2020, 2050
e 2080 do IPCC). Fonte: adaptado de Campanharo et al. (2008).

Segundo os autores, atualmente apenas 14,26 % do território enquadra-se na


zona apta. Entretanto, áreas com excelente produtividade (situadas no norte do
estado), bem como mais da metade do Espírito Santo, enquadraram-se em zonas

19
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

aptas, porém com restrições hídricas, sendo necessária a utilização de irrigação. Este
fato provavelmente está associado ao volume de precipitação, que nessas regiões está
abaixo do necessário para a cultura. Áreas aptas, porém com restrições térmicas, estão
localizadas principalmente nas regiões montanhosas do Estado, destacando-se grande
parte da microrregião do Caparaó e Sudoeste Serrana, o que totaliza 14 % do território
em estudo. Áreas com sérias restrições térmicas e hídricas perfazem
aproximadamente 3 % do estado, principalmente longe do litoral. Áreas inaptas
totalizaram 4 % do Espírito Santo. Nos cenários futuros são previstos reduções de
áreas aptas ao cultivo e aumento das áreas onde o cultivo só será possível com o
emprego de irrigação (nos cenários A2 e B2, para as décadas de 2020, 2050 e 2080).
Portanto, de acordo com os autores, o setor deve se preparar para conviver com essas
possíveis mudanças.
Com relação à fisiologia das plantas, verifica-se a necessidade de maior
compreensão das respostas da planta de mamoeiro à ação dos fatores ambientais para
minimizar os efeitos deletérios das condições infra e supraótimas desses fatores sobre
a fotossíntese e os distúrbios fisiológicos em frutos. Alguns autores verificaram que em
condições de clima quente e seco há supressão do ovário, o que leva à esterilidade das
plantas de mamoeiro, situação esta em que não há produção de frutos. Além disso, os
distúrbios fisiológicos denominados pescoço, mancha fisiológica e carpeloidia
provavelmente são influenciados pela temperatura do ar. No caso da ocorrência do
pescoço, verifica-se que a variedade Sunrise Solo é mais suscetível que a Golden e que
a irrigação por aspersão reduz o problema em relação à aplicação de água por gotejo e
microaspersão. Uma das hipóteses para essa redução na ocorrência do pescoço deve
estar relacionada à redução na temperatura do ar em situações de irrigação por
aspersão.
Outras alterações na cultura do mamoeiro em função das MCG são esperadas:
alterações na expressão sexual das plantas; alteração na distribuição temporal e
espacial das doenças; alteração na resistência genética das plantas e modificação nas
estratégias de manejo. No caso das doenças, a antracnose provavelmente terá
redução na taxa de progresso devido às altas temperaturas, o oídio será favorecido
pelas condições de baixa umidade relativa do ar. Moraes et al. (2011) verificaram que
haverá a redução da favorabilidade climática a pinta preta do mamoeiro no Brasil no

20
Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

decorrer das décadas futuras, especialmente nos principais Estados produtores.


Adicionalmente, as doenças viróticas, como mosaico e meleira, também sofrerão
modificações, pois o aumento de temperatura afeta a replicação viral, podendo causar
“atenuação” do sintoma. Caso isso ocorra, pode comprometer o programa de
erradicação das referidas doenças, uma vez que as plantas podem estar infectadas,
servindo de fonte de inóculo, porém sem ser detectadas por equipes que realizam a
erradicação, dado a ausência de manifestação de sintomas.

Potencial impacto das mudanças climáticas no setor florestal


Várias pesquisas estão sendo desenvolvidas no setor florestal relacionadas às
MCG, dentre as quais se destacam: avaliação do enriquecimento com CO 2 no
desenvolvimento das plantas, zoneamentos agrometeorológicos e acúmulo de CO2
pelas florestas plantadas (sequestro de carbono).
As implicações do aumento da concentração de CO 2 atmosférico sobre os
processos fisiológicos das espécies florestais têm sido estudadas, uma vez que tal
alteração poderá ter efeitos diretos nas plantas na forma de fertilizante atmosférico ou
indiretos na forma de incremento da temperatura, podendo afetar a fisiologia e
produtividade das plantas. Além disso, estudos envolvendo o enriquecimento de CO 2
demonstraram que plantas com metabolismo fotossintético do tipo C3 tem biomassa
aumentada em torno de 47 %, ao passo que plantas C4 têm aumento de 11 % quando
submetidas ao dobro da concentração atual de CO 2, o que faz com áreas de florestas
tropicais tenham grande potencial para sequestro de carbono (BUCKERIDGE et al.,
2008).
Campanharo et al. (2011) avaliaram os possíveis impactos das MCG sobre o
zoneamento agroclimático da seringueira no Estado do Espírito Santo, considerando
também as áreas de escape ao mal-das-folhas, constatando que atualmente o Espírito
Santo possui boa aptidão para a heveicultura, com predomínio de áreas com pouca
probabilidade de ocorrência da doença, mas que nos cenários futuros a tendência é de
que o estado esteja predominantemente ocupado por áreas inaptas, devido ao
incremento excessivo da temperatura.
No tocante às doenças do eucalipto, Mafia, Alfenas e Loos (2011) tentaram
relacionar os patógenos com as MCG. Assim, de acordo com os autores as doenças

21
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

causadas por Ralstonia solanacearum, Xanthomonas sp. e Quambalaria eucalypti,


poderão ser favorecidas por altas temperaturas, permanecendo no futuro como as
doenças de viveiro mais importantes. No campo, Puccinia psidii poderá ter menor
importância se comparado a outras doenças que ocorrem no eucalipto, em
contrapartida, doenças causadas por Ceratocystis fimbriata, Cylindrocladium sp., R.
solanacearum, Rhizoctonia solani e Xanthomonas sp. merecerão maior atenção, uma
vez que também são favorecidas por altas temperaturas e os patógenos são
agressivos. Assim, verifica-se que as doenças de eucalipto poderão ter seu potencial de
ocorrência aumentado, reduzido ou constante devido às mudanças climáticas (Figura
5). Acredita-se que patógenos oportunistas terão maiores chances de causar danos,
principalmente em função do estresse da planta.

Figura 5. Importância de patógenos do eucalipto considerando os cenários


atual e futuro. Fonte: adaptado de Jesus Junior et al. (2012a).

22
Potencial Impacto das Mudanças Climáticas na Agricultura

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora o assunto MCG esteja atualmente no centro de toda discussão
científica, ainda inexistem trabalhos conclusivos sobre o potencial impacto dos
mesmos. Tem-se que tomar muito cuidado para que o sensacionalismo ou opiniões
extremistas envolvam o importante assunto. Somente dados científicos podem trazer
à tona o real problema e as possíveis maneiras de se minimizar o mesmo, ou seja,
quais deverão ser as medidas mitigadoras, tanto a curto, médio e longo prazo.
É de fundamental importância a previsão, mesmo que com certo grau de
incerteza, do impacto das MCG e como estas irão afetar a produtividade das culturas. É
necessário antever os problemas de modo a minimizar os prejuízos, ou seja, há de se
estudar estratégias de mitigação e adaptação. Nesse sentido, somente trabalhos
multidisciplinares trarão avanços no entendimento do impacto das MCG na agricultura
e suas soluções.
As alterações causadas pelas MCG trarão uma nova dimensão à produção
agrícola mundial. Será necessária mais tecnologia e uma organização mais profissional
do setor. Não será o fim da agricultura, mas o início de novos tempos. Devemos estar
preparados!
Para concluir gostaria de enfatizar as palavras de Laderach et al. (2009):
“Climate change brings not only bad news but also a lot of potential. The
winners will be those who are prepared for change and know how to
adapt”.

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26
O Futuro dos Defensivos Agrícolas no Brasil

Capítulo 2

“O FUTURO DOS DEFENSIVOS AGRÍCOLAS NO BRASIL”

Alvemar Ferreira

Mestre. Coordenador de Pesquisa & Desenvolvimento, Dupont do Brasil, Goiânia, GO. E-mail:
alvemar.ferreira@dupont.com. Telefone: (62) 9228-4815

O MUNDO
Desde os primórdios da evolução da espécie humana, o homem luta
incessantemente pela sua sobrevivência. A busca por alimento é uma preocupação
desde sempre, não somente para a manutenção de si próprio, mas também de seus
familiares, garantindo a sobrevivência da espécie humana na qual estamos inseridos
nos dias de hoje. A alimentação básica que conhecemos hoje em dia é a mesma desde
a pré-história, ou seja, é composta de vegetais, frutos e carne.
Depois de vários períodos, durante a evolução, o homem finalmente deixa de
ser nômade e passa então a se fixar em determinados locais onde produz seus
próprios alimentos. Ainda na pré-história, o homem aprende a cultivar a terra e tirar
dela alimentos necessários à sua subsistência e também aprende a criar animais. Dá-se
início então à domesticação dos animais.
Com a fixação do homem e o crescimento populacional, aumentou-se
consideravelmente a necessidade de se aumentar a produção, mas também a
produtividade, ou seja, produzir mais alimentos dentro do mesmo espaço.
A partir de então, iniciou-se a intensificação da produção de várias culturas. A
mais emblemática intensifação ficou conhecida como revolução verde, nas décadas de
1950 e expandindo até a de 1960, onde foi possível notar o aparecimento de
diferentes variedades de culturas e diferentes práticas agrícolas em todo o mundo. O
modelo consistia na introdução de variedades mais produtivas e mais homogêneas de
trigo, arroz e milho, alinhado à introdução da irrigação, fertilizantes e pesticidas.
A região do mundo onde essa revolução foi rapidamente percebida foi a Ásia,
com grande salto econômico, redução da pobreza, conservação de áreas, uma vez que

27
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

se deixou de avançar sobre áreas frágeis do ecossistema. Entre 1975 e 2000, a


produtividade de cereais no sul da Ásia cresceu mais de 50 %, enquanto a pobreza
decresceu 30 %. A produção de cereais, raízes e tubérculos e oleoginosas passaram de
1,8 bilhões para 4,6 bilhões de toneladas. Esse crescimento na produtividade permitiu
uma redução nos preços dos produtos agrícolas, e consequentemente reduziu
significamente a insegurança alimentar nos anos 70 e 80. Apesar do rápido
crescimento populacional, o número de pessoas desnutridas caiu. A proporção de
desnutridos na população mundial saiu de 26 % para 14 % entre 1969-1971 e 2000-
2002.

Seguindo o mesmo modelo da revolução industrial, a agricultura industrializada


mundial adotou a mecanização, padronização de cultivo, uso racional de mão-de-obra
e o uso de químicos, tanto para nutrir como para proteção de plantas. Grandes
aumentos na produtividade têm sido alcançados através do uso de equipamentos
pesados, cultivo intensivo, variedades com alto potencial produtivo, irrigação, insumos
manufaturados e aumento intensivo de capital.
Esse importante aumento na oferta de alimentos que salvou e está salvando
vidas, deve estar alinhado com princípios ambientais. É sabido que para alcançarmos a
produção atual de alimentos, foram derrubadas muitas florestas e alguns ecossistemas
foram prejudicados e até mesmo alterados. De forma geral, a nautreza que já existia
aqui antes dos seres humanos não pode pagar a conta de todo esse avanço e por isso
devemos adotar princípios ambientais.

28
O Futuro dos Defensivos Agrícolas no Brasil

Há necessidade de sermos mais eficientes no fornecimento de alimentos. No


cultivo de grande escala, a gestão deve ser baseada em processos biológicos e a
integração de uma variedade de espécies de plantas é muito importante, bem como o
uso racional de insumos como fertilizantes e pesticidas. Técnicas agronômicas bem
conhecidas nos dias de hoje devem ter seu uso intensificado, sendo as principais:
 Aumentar a produtividade mantendo a saúde do solo
 Trabalhar com rotação de culturas
 Usar sementes de qualidade e variedades altamente produtivas
 Realizar manejo integrado de doenças, pragas e plantas daninhas
 Fazer manejo eficiente da água, através de irrigação
Esses princípios agronômicos básicos são pontos chaves para se ter uma
agricultura eficiente e sustentável.

O BRASIL
Dentro do contexto mundial, o Brasil tem uma grande importância na produção
de alimentos, e segundo dados do Ministério da Agricultura, o país disputará a
liderença na produção de alimentos com os Estados Unidos. A safra de grãos vem
aumentanto ano a ano e até 2021 deve crescer em 23 %. A área de colheita será 9,5 %
maior que atual, ou seja, haverá também um importante ganho de produtividade. As
regiões do país que devem crescer são Norte e Nordeste representadas pelos estados
do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, região que ficou conhecida por MAPITOBA,
onde se deve aumentar a produção de algodão, frango, carne bovina soja, celulose e
papel. Além dessas áreas, também chamadas de novas fronteiras agrícolas, a
agricultura avançará sobre as áreas de pastagem degradadas. Hoje estima-se que mais
de 100 milhões de hectares ocupados com pasto estão degradados.
O quadro abaixo mostra a situação de 3 culturas importantes para o Brasil
dentro do contexto nacional e internacional em termos de produção e exportação para
os próximos anos.
Outros produtos como leite e milho terão incrementos significativos nas
exportações, a venda de leite crescerá 50 % e o milho 56 %. O cenário caminha para
que o Brasil tenha 12 % do mercado de milho, 33 % do mercado de soja, 49 % do
mercado de carne de frango, 30 % da carne bovina, 12 % da carne suína.

29
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

O mercado interno ainda será o principal destino da produção agropecuária


brasileira, sendo 85,4 % do milho, 83 % da carne bovina, 81 % da carne suína, 67 % da
carne de frango e 64,7 da soja.

CULTURA CRESCIMENTO DA SAFRA (%) CRESCIMENTO DA EXPORTAÇÃO (%)


Algodão 47,8 68,0
Café 24,0 46,0
Soja 36,0 39,0

Mercado de defensivos no Brasil


Atualmente o Brasil movimenta um importante mercado de defensivos
agrícolas no mundo, ao redor de 8,5 bilhões de dólares.
O quadro abaixo mostra o tamanho do mercado dentro de cada cultura em
ordem de importância. Essas culturas representam 90 % do mercado de defensivos e o
restante envolve frutas e hortifruti em geral. O tamanho do mercado não está
diretamente relacionado à área plantada, mas também pela característica de cada
cultura e seus desafios em manter alto desempenho em termos de produtividade. A
soja está em primeiro lugar, obviamente pela sua área plantada, cerca de 30 milhões
de hectares, o algodão está em segundo, com apenas 800 mil hectares. Comparando
essas duas culturas, observa-se claramente que o uso de insumos está diretamente
relacionado aos problemas fitossanitários que cada cultura exige.

Cultura Valor US$ 1000


Soja 3.692.397,00
Algodão 1.059.330,00
Cana-de-açúcar 981.214,00
Milho 740.862,00
Café 314.381,00
Citros 259.616,00
Trigo/ Aveia/Centeio/ Cevada 203.188,00
Feijão 201.198,00
Pastagem 175.946,00
Fonte: Sindag.

30
O Futuro dos Defensivos Agrícolas no Brasil

Fonte: Sindag.

Frente à alta exigência nos tratos culturais, as companhias vêm investindo


muito em biotecnologia, dando origem às culturas transgênicas. A soja, o algodão e o
milho, foram as primeiras culturas a receberem permissão da CTNBio para serem
cultivadas em terras brasileiras e são as que ocupam maior espaço em hectares
plantados.
Além da transformação dessas culturas, permitindo o uso de herbicidas até
então não seletivos às cultura da soja, algodão e milho, como o glifosato e o
glufosinato de amônio, usados para controle das plantas daninhas infestantes nessas
culturas, as companhias detentoras dessa tecnologia têm utilizado também à
transgenia para o controle de insetos na soja, algodão e milho.
Mas, o uso dessa tecnologia isolada não tem garantido até agora controle total
sobre os insetos para as quais foram direcionadas. O exemplo mais recente é da
Spodoptera frugiperda no milho. Vários eventos ao longo dos anos foram perdendo
sua efetividade, obrigando as companhias a subsitituir um evento por outro, a fim de
obter melhor desempenho no controle da praga alvo. Segundo especialistas, a rápida
perda da efetividade não está diretamente relacionada à tecnologia, mas sim com
todo um contexto de técnicas agronômicas também efetivas que foram deixadas de
lado, tais como: rotação de culturas, rotação entre transgênico e não transgênico,
implementação de área refúgio, ou seja, o agricultor é obrigado a destinar uma parte
da área plantada para o plantio de cultivar não transgênico. Essa técnica é

31
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

importantissíma para evitar o desenvolvimento de insetos resistentes a essa


tecnologia. Além disso, o monitoramento, a fim de verificar a presença de insetos-
praga nas lavouras foi abandonado, ficando o controle apenas a cargo dos
transgênicos. Mesmo em plantas trangênicas o uso de defensivos é indispensável
quando se o atinge nível de controle preconizado pelos fornecedores de sementes.
Todas as técnicas agronômicas desenvolvidas ao longo das últimas décadas não
podem ser abandonadas e simplesmente apostar apenas em uma tecnologia. O
sucesso no controle de plantas daninhas, pragas e doenças na lavoura está
diretamente relacionado ao conjunto de medidas apropriadas em cada situação.
Por isso, o uso de defensivos agrícolas no Brasil ainda terá sua importância.
Trata-se de uma ferramenta indispensável na agricultura. Conforme destacado
anteriormente, os insumos introduzidos na lavoura colaboram substancialmente com a
produção, e consequentemente, com a produtividade da agricultura não somente
brasileira, mas também para a agricultura mundial.
Os defensivos devem ser usados com cautela, e o uso de equipamentos de
proteção individual, além dos cuidados com o meio ambiente devem ser levados em
conta no momento da decisão de se lançar mão dessa ferramenta de proteção de
cultivos.
O uso de defensivos no Brasil ganhou força a pelo menos 40 anos atrás. Muitos
desses produtos foram introduzidos sem critérios claros e definidos, até porque as
metodologias de análise de toxicidade, equipamentos usados para detectar essas
substâncias nos alimentos naquele tempo não eram sofisticados como nos dias atuais.
Muitos defensivos que não eram considerados prejudicias à saúde do trabalhador e
aos consumidores, passaram a serem vistos com outros olhos pelos agentes de saúde.
Com técnicas mais apuradas, chegou-se a conclusão de que alguns produtos deveriam
ser banidos, mas por outro lado, alguns desses produtos não têm substitutos, ou seja,
se forem retirados do mercado abruptamente podem causar prejuízos irreparáveis aos
produtores e até mesmo a economia do país.
A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem analisado vários
ingredientes ativos (i.a). Os produtos a base de abamectina, carbofuran, glifosato,
lactofem, paraquat e tiram estão aguardando para serem avaliados. Os produtos à
base de acefato, phorate, parathion methyl estão sendo avaliados.

32
O Futuro dos Defensivos Agrícolas no Brasil

Os produtos a base de cyhexatin, endosulfan, phosmet, metadmidofós, tiverem


avaliação concluídas e foram banidos.
Além disso, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) está reavaliando quatro neonicotinóides: imidacloprido,
clotianidin, fipronil e tiametoxam, a fim de verificar se realmente estão prejudicando
as abelhas.
O desafio das companhias de tecnologia que pesquisam novas moléculas é
encontrar substitutos para esses inseticidas. Milhões são investidos por diversas
empresas com intuito de encontrar novos inseticidas eficazes, que não sejam
agressivos aos usuários e que sejam ambientalmente favoráveis.
Isso está sendo possível e alguns inseticidas chegarão ao mercado mundial nos
próximos anos. Produtos do grupo das diamidas já é uma realidade no Brasil, com
excelente eficácia, alta seletividade e principalmente baixa toxicidade ao ser humano.
Outro desafio para as indústrias, além de lançar no mercado novos ingredientes
ativos é encontrar grupos químicos diferentes, ou seja, produtos que atuam em sítios
diferentes dentro dos insetos, permitindo assim, a rotação entre grupos diferentes
(modo de ação variável), prolongado a vida útil desses produtos e preservando sua
efetividade.
Nós técnicos e agricultores envolvidos na cadeia produtiva somos responsáveis
por manter todo tipo de tecnologia ou ferramenta um maior tempo possível para que
tenhamos uma agricultura sustentável.

AGRADECIMENTOS
A Luiz Valério e Andréia Paes Shiwa (Departamento de Registro da Du Pont) e a
Ricardo do Prado (Departamento de Marketing da Du Pont).

LITERATURA CONSULTADA
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. The challenge.
Disponível em: <http://www.fao.org/ag/save-and-grow/en/1/index.html>. Acesso
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33
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

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34
Quimigação para o Controle de Pragas e Doenças

Capítulo 3

“QUIMIGAÇÃO PARA O CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS”

Rogério Faria Vieira

EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, Centro Regional da Zona da Mata. Vila
Gianetti, 47, Campus da UFV, Cx. Postal 216, 36571-000, Viçosa, MG.

INTRODUÇÃO
Quimigação é a distribuição de produtos químicos e biológicos pela água de
irrigação. Os principais produtos aplicáveis são fertilizantes (fertigação ou
fertirrigação), herbicidas (herbigação), inseticidas (insetigação), fungicidas
(fungigação), nematicidas (nematigação) e produtos biológicos (bioinsetigação).
A quimigação pode ser realizada com todos os métodos de irrigação: superfície,
aspersão e localizada (gotejamento e microaspersão), mas é na irrigação por aspersão
e na irrigação localizada que ela tem maior potencial. Na irrigação por gotejamento só
é possível empregar agrotóxicos que visam ao solo (os sistêmicos podem chegar à
parte aérea), e eles são distribuídos de modo localizado. Na irrigação por aspersão, no
entanto, os agroquímicos podem visar ao solo, à parte aérea das plantas, ou a ambos,
e a aplicação é feita em toda a área cultivada (COSTA; VIEIRA; VIANA, 1994).
Na aspersão convencional, o agrotóxico pode ser aplicado em qualquer
momento do molhamento. Por isso, quando se deseja máxima concentração do
produto na folhagem com mínimo escorrimento, aplica-se o produto próximo ao final
da irrigação. No pivô-central ou no sistema linear, no entanto, o agrotóxico deve ser
continuamente injetado, porquanto o sistema é móvel. Portanto, pode-se aplicar um
produto com menor lâmina de água no sistema convencional que no pivô-central. Os
sistemas de irrigação localizados mais difundidos são gotejamento e microaspersão. A
quimigação com irrigação localizada pode proporcionar resultados diferentes em
regiões úmidas em comparação com regiões áridas. Nestas, o desenvolvimento das
raízes é limitado ao bulbo molhado pelo emissor, fato que pode beneficiar o

35
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

aproveitamento do produto aplicado via água. Nas regiões úmidas, o sistema radical se
estende além do bulbo molhado, fato que pode limitar a eficiência da quimigação
(COSTA; VIEIRA; VIANA, 1994).

Vantagens da quimigação
a) Reduz a compactação do solo, os danos mecânicos à cultura e os custos de
aplicação. A quimigação evita a entrada de trator na lavoura para a aplicação de
agrotóxicos e evita, assim, a compactação do solo, os danos mecânicos à cultura e os
custos com equipamento, mão de obra e combustível.
b) Proporciona boa uniformidade de distribuição. Os defensivos normalmente
são aplicados via pivô-central com alta uniformidade (coeficiente de uniformidade - CU
= 80 %). Os CUs das aplicações feitas por pulverizadores tratorizados variam de 50 % a
92 %; nas aplicações aéreas, ficam em torno de 70 %. No gotejamento, o CU pode
atingir 90 %, mas esse sistema exige mais cuidados na manutenção que nos demais.
c) Há menor risco de intoxicação do operador. Isso ocorre em razão da grande
diluição do herbicida na água e, também, porque a injeção do herbicida na água de
irrigação pode ser realizada em local fechado.
d) Permite imediata incorporação do agrotóxico no solo. A profundidade de
incorporação do agrotóxico no solo pode, em certos casos, ser controlada pela
variação da lâmina d´água aplicada. Ademais, a irrigação fornece o teor de água
necessário para sua ativação.
e) Maior flexibilidade de aplicação. A quimigação pode ser realizada em
qualquer hora do dia e da noite e em condições climáticas que dificultam ou
impossibilitam o uso do trator (solo molhado) e do avião (neblina). Além disso, a
aplicação pode ser feita independentemente da altura das plantas e do fechamento do
vão entre as fileiras.
f) Maior eficiência em relação aos métodos convencionais. Essa vantagem
ocorre quando se empregam alguns inseticidas (com propriedades específicas) pelo
gotejamento. Nesse caso, uma ou duas aplicações do inseticida por gotejamento
equivale a múltiplas aplicações foliares (GHIDIU, 2012).

36
Quimigação para o Controle de Pragas e Doenças

g) Redução ou eliminação da deriva. No gotejamento não ocorre deriva,


enquanto na aplicação via pivô a deriva é menor que nas aplicações com trator ou
aérea.

Desvantagens da quimigação
a) Nem todos os produtos aplicados pelos métodos convencionais são eficazes
na quimigação. Além dessa desvantagem, deve aparecer na bula do produto que ele é
recomendado para o equipamento de irrigação usado pelo agricultor. Por causa da
relativamente menor área com potencial de uso da quimigação em relação aos
métodos convencionais, poucos produtos são registrados para a quimigação no Brasil.
b) É tecnologia pouco estudada. Por ser tecnologia relativamente pouco
estudada nas condições brasileiras, não há suporte técnico para seu uso generalizado.
c) Exige investimentos em equipamentos e no treinamento do operador. Há
poucas opções de equipamentos (tanque, injetores, etc.) no mercado brasileiro. O
operador deve ter conhecimentos básicos sobre irrigação, bomba injetora, válvula de
retenção, propriedades físico-químicas do agrotóxico, etc.
e) Há risco de intoxicação oral e dermal. A quimigação via aspersão não deve
ser feita em locais próximos a casas, cursos de água, estradas, etc. Diferentemente dos
métodos convencionais, há risco de a água de irrigação ser usada para beber ou
banho. Placas de advertência e conscientização dos trabalhadores para o perigo
reduzem esses riscos.
Vale ressaltar que as doses de agrotóxicos usadas na quimigação geralmente
são as mesmas empregadas no método convencional (pulverização).

Agrotóxicos que visam à parte aérea das plantas


Nesta categoria estão a maioria dos fungicidas e inseticidas. Em culturas anuais,
pulverizam-se de 200 a 1.000 L.ha-1 de calda para obter boa cobertura da planta sem
perdas significativas do agrotóxico por escorrimento. No entanto, quando o agrotóxico
é distribuído via pivô-central, a lâmina de água varia, em geral, de 4 a 9 mm (40.000 a
90.000 L.ha-1). Essa lâmina excede em 40 a 90 vezes o volume máximo de calda usado
na pulverização. Logo, três princípios são básicos na quimigação de produtos que
visam à parte aérea das plantas:

37
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

(A) Em geral, os agrotóxicos solúveis em água são ineficazes quando aplicados


por aspersão. Na formulação, a palavra “solúvel” ou “solução” (concentrado solúvel,
solução aquosa) indica essa propriedade do agrotóxico. Exemplos de agrotóxicos
solúveis em água: metamidofós, metomil, monocrotofós (VIEIRA; SILVA, 2006). No
gotejamento é diferente. Nesse caso, o agrotóxico é aplicado no solo para ser
absorvido pelas raízes e assim chegar à parte aérea, onde controla pragas sugadoras e
que se alimentam de folhas. Logo, o produto deve ser solúvel em água, sistêmico
(móvel no xilema) e não fitotóxico (GHIDIU, 2012). Produtos com baixa solubilidade em
água, além de poderem obstruir os emissores não são distribuídos com boa
uniformidade na lavoura (WANG et al., 2009).
(B) Os agrotóxicos pouco solúveis em água geralmente são eficazes quando
aplicados por aspersão. Os agrotóxicos com essa propriedade são formulados como
suspensão concentrada (SC), concentrado emulsionável (CE ou EC), pó molhável (WP),
etc. Exemplos de agrotóxicos pouco solúveis em água: clorpirifós (Nufos 480 EC),
deltametrina (Decis 25 EC), fluazinam (Frowncide 500 SC), procimidona (Sumilex 500
WP), tiofanato metílico (Cercobin 700 WP). As quimigações normalmente são
realizadas com o pivô-central na velocidade máxima e com velocidade do vento abaixo
de 20 km.h-1. A tendência é de a eficiência do agrotóxico diminuir com o aumento da
lâmina de água, sobretudo acima de 8 mm (VIEIRA; SUMNER, 1999).
A aplicação desses agrotóxicos pelo método convencional proporciona, em
algumas situações, maior controle da praga ou da severidade da doença que a obtida
com a quimigação. Entretanto, em geral, as produtividades das culturas tratadas com
os dois métodos são semelhantes. A menor concentração do agrotóxico aplicado via
pivô na parte aérea da planta é compensada, pelo menos em parte, pela melhor
distribuição dele na planta e pelo efeito do produto no solo. Ademais, a quimigação
mantém as plantas hidratadas por mais tempo que a pulverização, e o solo é molhado,
o que deve favorecer a absorção e translocação do agrotóxico. No gotejamento,
agrotóxicos formulados como pó molhável ou suspensão podem não ser adequados na
quimigação.
(C) A adição de óleo não emulsificante ao agrotóxico (proporção de 1:1-3,
agrotóxico:óleo) pode melhorar-lhe a eficiência e reduzir o efeito indesejável do uso
de grande volume de água (> 6 mm por volta do pivô). Essa melhoria deve-se às gotas

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Quimigação para o Controle de Pragas e Doenças

(óleo + agrotóxico) formadas, que não se misturam com água. Essas gotas têm mais
afinidade que a água por folhas e insetos. Por isso, elas são mais retidas no alvo que a
água (COSTA; VIEIRA; VIANA, 1994).
Em razão de as gotas não se misturarem com a água, alguns cuidados devem
ser tomados para distribuir o agrotóxico o mais uniforme possível ao longo do pivô. A
velocidade da água dentro da tubulação no ponto de injeção do agrotóxico deve ser
superior a 1,5 m.s-1. Essa turbulência gera gotas pequenas, menos sujeitas a flutuar na
água dentro da tubulação. Gotas grandes podem ser removidas próximo ao centro do
pivô em maior proporção que as pequenas, o que causa desuniformidade na
distribuição do agrotóxico na lavoura. A injeção do agrotóxico no centro da tubulação
(Figura 1), onde a velocidade da água é maior, também reduz o tamanho das gotas. É
importante frisar que a mistura agrotóxico + óleo é assunto pouco estudo no Brasil e
os resultados podem variar de produto para produto (VIEIRA; SILVA, 2006).

Figura 1. Local (centro da tubulação) recomendado para injeção


do produto na água de irrigação. Fonte: North Dakota State University.

Agrotóxicos que visam ao solo quando aplicados via aspersão


Nesta categoria estão os nematicidas e alguns fungicidas e inseticidas. A
profundidade de deslocamento do agrotóxico com a água de irrigação depende do
solo, do volume de água e das propriedades do agrotóxico (especialmente da

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

solubilidade em água, da adsorção à matéria orgânica e à argila e da meia-vida). Em


geral, os produtos que apresentam certa mobilidade no solo são os mais adequados
para uso na quimigação, especialmente se sujeitos a perdas por volatilidade e/ou
fotodecomposição. No caso do pivô-central, se um produto com certo grau de
volatilidade é aplicado, parte dele é perdida como gás antes de a água atingir o solo.
Sobre este, pode haver mais perdas por volatilização e/ou fotodecomposição se a
lâmina de água não for suficiente para incorporá-lo e/ou se as propriedades do
produto restringirem-lhe a movimentação no solo. O clima também influencia as
perdas por volatilização. Estas são maiores em alta temperatura, baixa umidade do ar
e ventos fortes (VIEIRA; SILVA, 2006).
A matéria orgânica e a argila podem adsorver agrotóxicos, limitando-lhe a
movimentação e atividade no solo. Logo, o agrotóxico é mais móvel em solos arenosos
e com baixo teor de matéria orgânica que em solos argilosos e com alto teor de
matéria orgânica. No plantio direto, os resíduos de plantas sobre o solo podem reter
parte do produto, reduzindo-lhes a eficácia (VIEIRA; SILVA, 2006).
Na irrigação por aspersão, o teor de água do solo antes da irrigação influencia a
profundidade que a água atinge. Em solo seco, a profundidade de penetração da água
e, por conseguinte, a do agrotóxico, é menor que em solo úmido. O teor de água do
solo também influencia a volatilização: produtos voláteis aplicados em solo úmido são
menos adsorvidos aos coloides, o que favorece as perdas na forma de gás (VIEIRA;
SILVA, 2006).

Influência da qualidade da água na quimigação


Conhecer as características da água de irrigação em relação ao pH, à dureza, ao
teor de argila e de compostos orgânicos em suspensão, aos nutrientes nela dissolvidos
e à sua salinidade é útil para o sucesso da quimigação.
O pH da água pode acelerar a degradação por hidrólise (alcalina) de
agrotóxicos. Estes são formulados para tolerar alguma variabilidade de pH da calda,
mas pHs extremos podem afetar-lhes a estabilidade física. Em geral, os defensivos
apresentam maior eficiência quando a calda tem pH entre 6,0 e 6,5.
Os principais causadores da dureza da água são os cátions Ca++ e Mg++. A água
dura reduz a eficiência dos agrotóxicos destas maneiras: 1) muitas formulações têm

40
Quimigação para o Controle de Pragas e Doenças

surfactantes aniônicos (com presença de Na + ou K+); estes cátions podem ser


substituídos por Ca++ ou Mg++ presentes na água dura, o que pode dar origem a
compostos insolúveis; 2) compostos insolúveis podem ser formados quando o
ingrediente ativo do agrotóxico é à base de ácido ou de sal.
Argila e compostos orgânicos em suspensão na água podem adsorver
substâncias, inclusive ingredientes ativos de agrotóxicos, reduzindo-lhes a eficácia. O
uso de tanque pequeno para a pré-mistura, onde o produto é diluído em pouca água
(de boa qualidade) ou em óleo, associado a uma bomba com capacidade de trabalhar
de modo compatível com a capacidade do tanque, minimiza o problema (KISSMANN,
1997).

Equipamentos de injeção e medidas de segurança


Para injetar o produto na água de irrigação, não use a pressão negativa (vácuo)
gerada pela bomba de irrigação. Essa forma de injeção proporciona alto risco de
contaminação da fonte de captação da água. A injeção do produto pode ser feita de
modo adequado com uma peça especial acoplada à linha de irrigação, denominada
venturi, ou por bombas dosadoras. Um tanque de pré-mistura é conectado à bomba
dosadora ou à venturi.
Durante a quimigação, pode ocorrer de a bomba dosadora ou a bomba de
irrigação desligar subitamente. No primeiro caso, a água com agrotóxico pode voltar
para o tanque de pré-mistura e derramar seu conteúdo no solo. No segundo caso, a
água com agrotóxico presente na tubulação de irrigação pode retornar à fonte de
captação de água. Em ambos os casos pode haver contaminação do ambiente. Por isso
é essencial um dispositivo de intertravamento para assegurar que o desligamento da
bomba de irrigação interromperá o funcionamento da bomba dosadora.
Além disso, antes do ponto de injeção do produto na água de irrigação de pivô-
central, é necessário equipamento de proteção contra refluxo (Figura 2). A válvula de
retenção evita o retorno da água (refluxo) que pode contaminar a fonte de captação
de água. A válvula de alívio de vácuo, que fica entre a bomba de irrigação e a válvula
de retenção, permite a entrada de ar na tubulação quando o fluxo de água é
interrrompido. Essa válvula evita, entre outros problemas, um vácuo que leve ao
sifonamento da água da adutora no sentido da fonte de abastecimento. O ponto de

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

inspeção permite a inspeção visual do funcionamento da válvula de retenção. O dreno


de baixa pressão drena a água (mais agrotóxico) não retida pela válvula de retenção
(COSTA; VIEIRA; VIANA, 1994). Uma mangueira pode ser usada para direcionar o
líquido que sai do dreno para um local seguro.

Figura 2. Equipamento de proteção contra refluxo usado em


pivô-central antes do ponto de injeção do produto na água
de irrigação. Fonte: Hoffman & Chils (2013).

Os sistemas de segurança também devem estar presentes no sistema injetor:


tanque de pré-mistura, bomba dosadora, linha de injeção, mangueiras e conexões
(Figura 3). Do lado da sucção da bomba dosadora um filtro de linha e uma válvula
solenoide são essenciais. Quando o motor da bomba dosadora é ligado, a corrente
atinge o solenoide, que abre a válvula para a passagem do líquido. Do lado da descarga
da bomba dosadora, uma válvula de retenção evita que a água de irrigação chegue ao
tanque de pré-mistura, se a bomba dosadora parar de funcionar (COSTA; VIEIRA;
VIANA, 1994).
No gotejamento, as peças do equipamento necessárias para a quimigação são:
tanque de pré-mistura com agitador e um filtro na saída, bomba dosadora para baixa
pressão, válvula de retenção para prevenir o retorno da solução para o tanque de pré-

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Quimigação para o Controle de Pragas e Doenças

mistura e válvula que desligue o equipamento quando há queda de pressão. O


intertravameno para assegurar que o desligamento da bomba de irrigação
interromperá o funcionamento da bomba dosadora também é necessário no
gotejamento. Ademais, a eliminação dos vazamentos no equipamento de gotejamento
garante mais produto (e de modo mais uniforme) para as plantas. O uso de uma
bandeja sob o equipamento de injeção recolhe o agrotóxico que vazar durante a
quimigação (GHIDIU, 2012).

Figura 3. Sistema injetor de agrotóxicos em uso no pivô-central.


Fonte: North Dakota State University.

Fungigação
Muitos fungicidas aplicados na folhagem das plantas são protetores. Eles só são
eficazes no local de aplicação (ação local) e devem estar presentes na superfície das
plantas antes do patógeno, ou, no mínimo, antes de os esporos germinarem, para
prevenir infecção. Por isso é importante que ele seja distribuído uniformemente sobre
as plantas. Outros fungicidas, no entanto, não exigem distribuição uniforme para
serem eficazes. Eles têm ação erradicante e muitos são absorvidos e translocados
sistemicamente na planta (VIEIRA; SILVA, 2006).

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Na pulverização com trator ou avião, os fungicidas são diluídos em 30 a 1.000


litros de água.ha-1 antes da aplicação. Na fungigação, no entanto, o volume mínimo de
água aplicado por alguns pivôs é de 2,5 mm (25.000 L.ha-1 de água), o que excede em
25 vezes o volume máximo de água usado nos métodos convencionais. Na irrigação
por aspersão convencional, porém, o volume mínimo de água aplicado pode variar em
torno de 4.000 L.ha-1, se o fungicida for distribuído próximo ao final da irrigação. Com
esses sistemas de irrigação, a densidade de resíduos de defensivo na folhagem
imediatamente após a aplicação, ou um ou dois dias depois, é menor em relação à
obtida com a aplicação tratoriza ou a aérea. No entanto, essa diferença diminui com o
passar dos dias (COSTA; VIEIRA; VIANA, 1994). McMaster e Douglas (1976) mostraram
que, dois e 10 dias depois da aplicação do clorotalonil por avião (28 L.ha-1), as
densidades de resíduos foram de 5,5 e 0,1 g.cm-2, respectivamente, enquanto na
aplicação via aspersão convencional (4200 L.ha-1), a densidade de resíduos não se
alterou: 0,1 g.cm-2. Na aplicação tratorizada (234 L.ha-1), a densidade diminuiu de 5,8
para 1,4 g.cm-2 no período considerado. Foi feita uma irrigação entre as avaliações
Segundo Brenneman, Sumner e Harrison (1990), embora a quimigação (17.800
L.ha-1) resulte em menor densidade de resíduos do clorotalonil na folhagem que a
aplicação tratorizada (120 L.ha-1), a diferença não é tão grande como se poderia
antecipar apenas com base no volume de água. Nesse estudo, o volume de água
empregado na fungigação foi 148 vezes maior que no método convencional. Portanto,
poder-se-ia teorizar que haveria 148 vezes mais clorotalonil na folhagem com a
aplicação tratorizada. No entanto, a diferença foi de 26, 15 e 5 na posição superior,
média e inferior do dossel das plantas, respectivamente. Em pivô-central, não houve
diferença significativa no resíduo de clorotalonil nas folhas de batata quando se
comparou 51.000 L.ha-1 com 15 141 L.ha-1 de água para a distribuição do fungicida
(GEARY et al., 2004).
Com relação aos fungicidas sistêmicos, há evidências de que grande volume de
água aplicado via pivô compromete menos seu desempenho que o dos fungicidas
protetores. O cyproconazole compensa o potencial de “lavagem” na fungigação pela
rápida absorção pelas folhas e, ou, pela absorção radical (VIEIRA; SILVA, 2006).
Os seguintes fatores favorecem o controle de doenças na fungigação e,
considerados em conjunto, compensam, pelo menos em parte, o potencial de

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Quimigação para o Controle de Pragas e Doenças

“lavagem” causado pelo grande volume de água aplicado via pivô: a) a folhagem é
molhada por vários minutos, favorecendo a atividade do fungo e, consequentemente,
seu controle; b) a cobertura do dossel das plantas com o fungicida é quase completa,
por causa de sua redistribuição na folhagem advinda do molhamento ininterrupto por
vários minutos ; c) a redução de inóculo na lavoura é maior, em razão da uniformidade
de distribuição do fungicida no dossel das plantas e, também, sobre o solo; d) o
controle de patógenos do solo pode ser maior; e) os danos mecânicos à cultura, que
predispõem as plantas a doenças, não ocorrem; e f) em geral a distribuição via pivô-
central é mais uniforme que nos métodos convencionais (VIEIRA; SILVA, 2006).
Os resultados com fungigação no controle do mofo-branco, doença causada
por fungo de solo, são muito bons. Nesse caso, o fungicida que atinge o solo também
ajuda a reduzir a intensidade da doença (VENEGAS; SAAD, 2010; VIEIRA; SILVA, 2006).
Por isso, o uso da fungigação no controle dessa doença é tão eficiente, ou mais,
que o método convencional (VIEIRA; SILVA, 2006). Ademais, a aplicação do fungicida
via água de irrigação dispensa a entrada do trator em feijoal com flores ou com flores e
vagens pequenas, fases da cultura em que o fungicida deve ser distribuído.
No gotejamento, Tolentino Júnior et al. (2011) obtiveram bom controle da
pinta-preta (Alternaria solani) do tomate com os fungicidas sistêmicos azoxystrobin,
difeconazol, metiram + pyraclostrobin e tebuconazol aplicados via fungigação. As
produtividades obtidas nos tratamentos com fungigações foram semelhantes às
obtidas com pulverizações. No geral, as produtividades com o uso de fungicidas foram
48 % maior que as obtidas na testemunha sem controle.

Insetigação
Estudos relacionados a insetigação (por aspersão) para o controle de pragas na
camada superficial do solo são escassos. O clorpirifós aplicado para o controle de
pragas da parte aérea das plantas também pode controlar com eficácia algumas pragas
no solo (COSTA; VIEIRA; VIANA, 1994). Em Florestópolis, PR, Schmidt e Carneiro (1997)
obtiveram bom controle da larva-alfinete (Diabrotica speciosa) na cultura do milho
com o clorpirifós (1.200 g.ha-1 do i.a.) aplicado via pivô-central. No entanto, os
melhores resultados foram com o inseticida distribuído no sulco de plantio. Segundo
agricultores da região de Barreiras, BA, o clorpirifós aplicado via pivô-central

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

proporciona controle adequado da lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e da


lagarta-rosca (Agrotis ipsilon).
Entre os agrotóxicos aplicados na parte aérea das culturas por intermédio da
água de irrigação por aspersão, é com os inseticidas que se tem alcançado os
resultados mais positivos, especialmente no milho, algodão, feijão, soja e hortaliças.
Para serem eficazes via pivô-central, os inseticidas devem ser pouco solúveis em água
ou solúveis em óleo.
Em geral, estes inseticidas e, ou, acaricidas são eficazes: bifenthrin, cyfluthrin,
cypermethrin, esfenvalerate, fenvalerate, lambdacyhalothrin, permethrin (piretroides),
clorpirifós, diazinon, malathion, parathion metil, triazofós (organofosforados), carbaryl,
thiodicarb (carbamatos), dicofol, endosulfan (organoclorados) e propargite. Em
pessegueiros, houve redução de 74 % e 98 % na população do pulgão Myzus persicae
com a aplicação do naled e do pirimicarb via quimigação. Esses dois inseticidas são os
mais solúveis em água entre os que têm proporcionado bom controle de pragas na
insetigação (COSTA; VIEIRA; VIANA, 1994).
Em estudo conduzido em Cachoeira Dourada, MG, clorpirifós foi aplicado para
o controle de Spodoptera frugiperda em milho via avião (30 L.ha-1), trator (200 L.ha-1) e
pivô-central (70.000 L.ha-1). Logo, o volume de água usado na quimigação foi 350 e
2.333 vezes maior do que na tratorizada e aérea, respectivamente. No entanto, a
deposição do inseticida nas folhas logo após a aplicação foi apenas seis vezes maior
nos métodos convencionais em comparação à quimigação. Dez dias após a aplicação, a
diferença aumentou em torno de 10 vezes. O controle da praga foi semelhante nos
três métodos de aplicação (CUNHA; NASCIMENTO, 2013).
Estudo com feijão foi conduzido por Schmidt e Martins (1998) em Nova Fátima,
PR. Estes testaram o clorpirifós (450, 675 e 720 g.ha-1) e o triazofós (400 g.ha-1),
aplicados duas vezes via pivô-central (3 mm) no estádio R6 da cultura, no controle do
ácaro-branco (Polyphagotarsonemus latus). Com uma aplicação, o controle só foi
eficaz com as doses de 675 e 720 g.ha-1 de clorpirifós; com duas, todos os tratamentos
proporcionaram 95 % ou mais de controle.
Em geral, os inseticidas methomyl, monocrotophos e methamidophos
apresentam desempenho insatisfatório na insetigação por aspersão, porque têm alta
solubilidade em água. A aplicação do acephate (solubilidade em água de 818.000 mg.L-

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Quimigação para o Controle de Pragas e Doenças

1
) e do dimethoate (39.800 mg.L-1) via aspersão também não é recomendável. No
entanto, houve bom controle do tripes Frankliniella spp. com o dimethoate em feijoal
com densa folhagem. Quanto ao acephate, a insetigação e a aplicação tratorizada
proporcionaram controle semelhante da Empoasca fabae em batata (COSTA; VIEIRA;
VIANA, 1994).
A aplicação de produto à base de Bacillus thuringiensis via água de irrigação no
feijoal é mais promissora na irrigação por aspersão convencional do que por pivô-
central (COSTA; VIEIRA; VIANA, 1994), porque naquele sistema é possível aplicá-lo em
menor volume de água.
Os inseticidas podem ser injetados na água de irrigação sem diluição, ou podem
ser diluídos em água ou em óleo não-emulsificante até volume que fique dentro da
capacidade de funcionamento da bomba injetora-dosadora. A mistura com óleo não-
emulsificante melhora-lhes o desempenho em relação à mistura com água. A razão
dessa melhoria da eficiência do agrotóxico é a seguinte: eles são distribuídos na forma
de gotas (óleo e defensivo) com a água, mas sem se misturar com ela. Quando a água
(e o produto por ela carreado) atinge folhas e insetos, o inseticida + óleo é mais retido
na superfície deles que a água. Óleos vegetais (soja, algodão) ou à base de petróleo, na
proporção de 1:1 (inseticida: óleo), têm sido empregados com sucesso.
Os óleos vegetais brutos, refinados uma vez, são os preferidos. Os inseticidas
formulados como suspensão concentrada, como o thiodicarb, geralmente podem ser
injetados em mistura com óleo. No entanto, essas formulações podem danificar a
bomba dosadora. Para inseticidas com baixa solubilidade em água, como os
piretróides (0,1 a 0,002 mg.L-1) e o clorpirifós (0,4 mg.L -1), o uso de óleo nem sempre é
necessário (COSTA; VIEIRA; VIANA, 1994).
É recomendável, na insetigação, usar o pivô-central na velocidade máxima (100
%). É imprescindível, ademais, que o sistema de irrigação apresente boa uniformidade
de distribuição de água. A mistura de inseticida com óleo não-emulsificante, antes da
injeção na água, reduz os efeitos indesejáveis do uso de lâminas de água maiores de 6
mm.
No entanto, essa mistura pode distribuir o inseticida de modo mais
desuniforme que a água. Por isso, deve-se minimizar a causa dessa desuniformidade,
que é o tamanho grande das gotas (óleo + inseticida) levadas pela água. Estas, por

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

serem mais sujeitas a flutuar, são liberadas, em maior proporção, nas proximidades do
centro do pivô, em comparação com as gotas pequenas. Para contornar esse
problema, recomenda-se injetar o inseticida diluído em óleo somente quando a
velocidade da água dentro da tubulação no ponto de injeção do defensivo for superior
a 1,5 m.s-1. A injeção no centro da tubulação (Figura 1), onde a velocidade da água é
maior, favorece a quebra de gotas. O uso de bomba dosadora de precisão é outra
medida que ajuda na obtenção de boa uniformidade de aplicação (COSTA; VIEIRA;
VIANA, 1994).
No caso do gotejamento, alguns produtos proporcionam melhor resultado
quando aplicados no início da irrigação, enquanto outros produtos são mais eficientes
quando aplicados no final da irrigação (GHIDIU, 2012). Essa diferença está relacionada
à solubilidade em água do produto e ao seu K oc (quando maior o Koc, menor a
movimentação no solo). A maioria dos inseticidas aplicados via gotejamento são
eficazes dentro de 24 a 72 horas após injeção na água de irrigação (GHIDIU et al.,
2012).
Nos EUA, os seguintes inseticidas têm registro para aplicação por gotejamento
em fruteiras e hortaliças: azadirachtin (neem), chlorantraniliprole, clothianidin,
dimethoate, diazinon, dinotefuron, imidacloprid, malathion, methomyl, oxamyl e
thiamethoxam (GHIDIU, 2012).
Em estudo conduzido em Jaboticatubas, MG, o controle do bicho-mineiro-do-
café via quimigação por gotejamento com imidacloprid (uma aplicação) foi um pouco
mais eficiente que a pulverização convencional. Foram testadas três doses do
imidacloprid (0,6; 0,9 e 1,2 kg.ha-1). No tratamento com insetigação, irrigou-se o
cafezal por 30 min. antes da aplicação da solução de imidacloprid através de injetor
tipo venturi. A insetigação foi feita por 2 h, seguida de 30 min. de aplicação de água
pura para a limpeza da tubulação e incorporação do inseticida (SOUZA, 2002). Em
Mossoró-Açu, RN, o imidacloprid (240 g.ha-1), aplicado aos 10 e aos 40 dias após o
plantio, foi usado para o controle da mosca-branca do melão.
A produtividade do melão foi 21 % (insetigação) e 14 % (pulverização) maior
que a testemunha que não recebeu inseticida (SILVA et al., 2000). Em laranjal, o
imidacloprid foi eficiente no controle de Homalodisca coagulata, vetor da bactéria
Xylella fastidiosa, e persistiu na planta por três meses com a concentração mínima

48
Quimigação para o Controle de Pragas e Doenças

desejada no xilema de 10 µg.L-1 (BYRNE; TOSCANO, 2006). O imidacloprid pode atingir


105 cm de profundidade no solo, se a lâmina de irrigação for maior que a demanda
evapotranspirativa da planta (FELSOT et al., 1998).

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50
Plantas Daninhas no Arroz Cultivado sob o Sistema de Terras Altas

Capítulo 4

“PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO ARROZ CULTIVADO SOB O


SISTEMA DE TERRAS ALTAS”

Elza Alves Corrêa1, Tamires Tangerino2, Marcelo Rocha Corrêa3 e Eduardo Negrisoli4

1 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus Experimental de Registro.


Professora Doutora, Plantas Daninhas e Métodos de Controle.
2 Graduanda do curso de Agronomia.
3 Eng. Agr. Dr., TechField Consultoria Agrícola e Ambiental, Botucatu-SP.
4 Eng. Agr. Dr., TechField Consultoria Agrícola e Ambiental, Botucatu-SP, Prof. Dr. Faculdades Integradas
de Bauru, FIB/Bauru-SP.

INTRODUÇÃO
O arroz (Oryza sativa L.) é uma monocotiledônea da família Poaceae,
provavelmente originária do sul da Índia. É considerada uma espécie autógama e,
portanto, com polinização cruzada bastante baixa e dependente do genótipo e do
ambiente (MAGALHÃES JÚNIOR et al., 2004).
O arroz constitui-se em uma das mais importantes culturas agrícolas do
mundo, com mais de 90 % da sua produção proveniente das regiões tropicais e
subtropicais da Ásia. Essa cultura é responsável pelo fornecimento de 50 a 70 % do
aporte diário de carboidratos e proteínas, na maioria dos países asiáticos, sendo
também alimento básico para vários países da América Latina e Caribe (EMBRAPA,
2004). No Brasil, o arroz é uma das mais importantes culturas anuais, pois é cultivada
praticamente em todos os Estados.
Como qualquer cultura agrícola, o arroz está sujeito a uma série de fatores do
ambiente que, direta ou indiretamente, influenciam o rendimento, qualidade e custo
de produção. Dentre estes fatores, as plantas daninhas assumem lugar de destaque,
face aos efeitos negativos observados no crescimento, desenvolvimento e
produtividade. A intensidade da interferência da comunidade infestante sobre as
plantas de arroz cultivado sob o sistema de terras altas, normalmente, é medida pelos
efeitos negativos sobre a produtividade, cujos valores são bastante variáveis, pois

51
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

dependem de fatores ligados à cultura, à comunidade infestante e ao ambiente


(PITELLI; DURIGAN, 1983).
Segundo Oerke e Dehne (2004), as plantas daninhas são responsáveis por
significativas perdas mundiais na produção de arroz, estimadas em 35 %, enquanto
pragas e patógenos correspondem a 24 % e 16 %, respectivamente. Na cultura do
arroz de terras altas da África Ocidental, Johnson et al. (1998) verificaram perdas de
produção ocasionadas por plantas daninhas da ordem de 30 % entre diferentes
manejos. Fischer et al. (2001), na Colômbia, constataram perdas variáveis de 18 % a 55
%. No Brasil, diversos relatos de queda na produção de grãos, em função da
competição com plantas daninhas, estimam perdam em torno de 57 % (AZEVEDO;
COSTA, 1988), 56 % a 71 % (DOMINGUES, 1981), 60 % (PITELLI, 1981), 82 % (DIARRA;
SMITH JR; TALBERT, 1985), 92 % (CASTRO; ALMARIO, 1992) e 96 % (ALCÂNTARA;
CARVALHO, 1985).
A infestação de plantas daninhas varia de uma região para outra e também
nos diferentes sistemas de implantação das lavouras de arroz. Durante alguns meses
da estação quente do ano, além da temperatura e luminosidade adequadas ao
crescimento vegetal, somam-se os efeitos da umidade do solo e da adição de
nutrientes. Em níveis satisfatórios dos recursos do ambiente, o estabelecimento e o
crescimento de plantas daninhas são muitos favorecidos (FLECK et al., 2004).
Este fato torna as plantas daninhas responsáveis pelos maiores problemas
agronômicos da cultura, especialmente devido à interferência que provocam no arroz,
reduzindo a produtividade de grãos, a qualidade das sementes, além de outros efeitos
que causam ao sistema produtivo deste cereal. Desta forma, é necessário que se faça
levantamento fitossociológico das plantas daninhas existentes antes de se planejar a
lavoura e, consequentemente, o manejo de plantas daninhas a ser empregado.
Para Bleasdale (1960) e Silva (2006), o grau de interferência entre as plantas
daninhas e plantas cultivadas depende de diversos fatores relacionados à comunidade
infestante (composição específica, densidade e distribuição) e à própria cultura
(gênero, espécie ou cultivar, espaçamento entre sulcos e densidade de semeadura).
Além disso, depende também da época e duração do período de convivência e, pode
ser modificado pelas condições edáficas, climáticas e pelos tratos culturais.

52
Plantas Daninhas no Arroz Cultivado sob o Sistema de Terras Altas

Para Pitelli (1985), quanto maior for o período de convivência cultura-


comunidade infestante, maior será o grau de interferência, porém isto dependerá da
época do ciclo da cultura em que este período for concedido.
Pitelli e Durigan (1984) definiram o período de convivência como o período a
partir do plantio ou da emergência da cultura em que esta deve ser mantida livre da
presença das plantas daninhas para que sua produção não seja afetada qualitativa
e/ou quantitativamente e o chamaram de período total de prevenção da interferência
(PTPI). Após esse período, as plantas cultivadas, principalmente pelo sombreamento,
controlam e impedem o crescimento das plantas daninhas. Assim, toda e qualquer
prática cultural que aumente o crescimento inicial da cultura, pode contribuir para um
decréscimo no PTPI, permitindo menos cultivo ou uso de herbicidas de menor poder
residual.
Outro tipo de período estudado e definido por Pitelli e Durigan (1984) é o
período anterior à interferência (PAI), conceituado como a época, a partir da
semeadura ou do plantio, em que a cultura pode conviver com as plantas daninhas,
antes que a sua produtividade ou outras características sejam alteradas
negativamente.
O período crítico de controle das plantas daninhas (PCPI) é o período em que
o controle das plantas daninhas deve ser obrigatoriamente realizado para prevenção
da interferência na produtividade ou outra característica da cultura. Na prática, um
maior PCPI indica menor capacidade competitiva da cultura e quando o PAI for maior
que o PTPI, não se caracteriza o PCPI (PITELLI; DURIGAN, 1984).
O estabelecimento destes períodos, não só orientará para o manejo, como
também permitirá caracterizar os sistemas de produção em função da maior ou menor
agressividade das plantas daninhas ou pela maior ou menor capacidade de
sombreamento das culturas.
Para a cultura arroz cultivado sob o sistema de terras altas, no Brasil, vários
autores avaliaram o período em que a cultura deve ser mantida livre da presença das
plantas daninhas e propuseram períodos críticos de interferência (PCPI) situados entre
20 e 50 dias após a emergência da cultura (BURGA; TOZANI, 1980; ALCÂNTARA;
CARVALHO, 1985; SILVA, 2006, SILVA; DURIGAN, 2006). Tangerino et al. (2012) citam
que, para diminuir ao máximo a interferência das plantas daninhas na produtividade

53
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

do arroz cultivado sob o sistema de terras altas, a cultura deverá permanecer livre de
plantas daninhas até 49 dias após a emergência. Pelo fato de a maioria dos cultivares
modernos apresentar baixa taxa de crescimento inicial e menor porte que os de
cultivares tradicionais, uma cobertura adequada do solo pelas plantas só ocorre aos
40-50 dias após a semeadura (SILVA; DURIGAN, 2009).
Silva e Silva (2007) citaram que, levando-se em conta as premissas do manejo
integrado das plantas daninhas que considera, além dos aspectos ambientais, a
rentabilidade do agricultor, foi proposto o Período Anterior ao Dano no Rendimento
Economico (PADRE), baseado na hipótese de que aspectos econômicos como o custo
de controle e o valor monetário dos grãos devem ser utilizados como critério para
determinar o período aceitável de interferência das plantas daninhas antes de se
decidir pelo seu controle (VIDAL; FLECK; MEROTTO JR, 2005).
Além dos problemas com a interferência, algumas plantas daninhas são
consideradas nocivas, quando ocorrem em áreas com o objetivo de produção
sementes como exemplo o arroz preto, que é considerado nociva proibida.
Verificou-se, face aos relatos dos diferentes autores (GELMINI, 1983;
ALCÂNTARA, 1989; COBUCCI; RABELO; SILVA, 2001; TANGERINO et al., 2012) que as
plantas daninhas mais frequentemente associadas ao arroz de terras altas, foram:
capim-arroz (E. crusgalli, E. colonum), grama-seda (C. dactylon), capim-marmelada (B.
plantaginea), capim-braquiária (B. decumbens) capim-colchão (D. horizontalis), capim-
carrapicho (C. echinatus), capim-pé-de-galinha (E. indica), tiririca (C. rotundus), caruru
(Amaranthus spp), corda-de-viola (Ipomoea spp), trapoeraba (Commelina spp),
carrapicho-de-carneiro (Acanthospermum hispidum DC.) e mentrasto (A. conyzoides).
Segundo Silva (2006), a identificação das principais plantas daninhas na
cultura do arroz é de grande importância para a definição da estratégia mais eficiente
e econômica de manejo. Existe uma grande variabilidade entre elas quanto às suas
características de crescimento, de reprodução, de recrutamento dos recursos do meio,
distribuição dentro das áreas cultivadas, época e duração do período em que a cultura
e a comunidade infestante convivem também influenciam muito a intensidade da
competição, dentre outras.
Para a aplicação de manejo de plantas daninhas adequado em uma lavoura,
exige-se a identificação das espécies e classificação daquelas que têm maior

54
Plantas Daninhas no Arroz Cultivado sob o Sistema de Terras Altas

importância. Portanto, o estudo fitossociológico das plantas daninhas, envolvendo


parâmetros populacionais como frequência, abundância, coeficiente de similaridade e
coeficiente de importância, é imprescindível para determinação e aplicação do manejo
das espécies daninhas (ALVES, 2005; GOMES et al., 2010; TANGERINO et al., 2012). Na
maioria dos casos, essas espécies são tolerantes aos métodos de controle empregados,
fatores que aumentam os custos de produção por aumentar a necessidade de
aplicações de herbicidas, dificultando assim, os cultivos agrícolas.
O controle de plantas daninhas consiste na adoção de certas práticas que
resultam na redução de infestação, mas não necessariamente na sua completa
eliminação. Com as práticas de controle é possível evitar perdas de produção devido à
competição, melhorar a condição de colheita e evitar o aumento da infestação na área
(FORNASIERI FILHO; FORNASIERI, 2006). Para Velho et al. (2012), o controle deve ser
realizado no início de desenvolvimento da cultura, em face do rápido crescimento das
plantas daninhas, sobretudo gramíneas, e do lento desenvolvimento inicial das plantas
de arroz.
O controle químico das plantas daninhas, pelo emprego de herbicidas, tem
sido o método mais amplamente utilizado nas lavouras de arroz, em função de sua
praticidade, eficiência e rapidez. Segundo Fornasieri Filho e Fornasieri (2006), para a
utilização correta de herbicidas, fazem-se necessários conhecimentos mínimos sobre a
ação destes, a fim de alcançar máxima eficiência biológica e causando o mínimo
impacto ambiental.
Para a escolha adequada de herbicidas, devem-se considerar alguns fatores,
tais como a seletividade do produto selecionado, as espécies infestantes na área, a
época em que se pretende fazer as aplicações, as características físico-químicas do
solo, o sistema de cultivo, a disponibilidade de produto no mercado e seu custo.
Cobucci (1998) cita que os herbicidas registrados para o uso na cultura do arroz de
terras altas podem ser agrupados segundo a época e os métodos de aplicação.
Os herbicidas de pré-semeadura são aplicados para a implantação da cultura,
anterior à semeadura para eliminação das plantas daninhas e/ou da cobertura morta.
Tal operação é chamada de manejo ou de dessecação, e são empregados herbicidas
não seletivos de ação total, tais como glyphosate, paraquat, sulfosate (COBUCCI;
RABELO; SILVA, 2006).

55
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

As aplicações de pré-emergência são feitas logo após a semeadura e antes da


emergência das plantas daninhas e do arroz, sendo utilizados para essa finalidade os
herbicidas oxadiazon e pendimethalin. Aplicações de pós-emergência são feitas após a
emergência da cultura e das plantas daninhas, com registrados para essas modalidades
os ingredientes ativos propanil, bentazon, fenoxaprop-p-etil, 2,4-D, cihalofope-butilico
e metsulfuron-methyl (COBUCCI; RABELO; SILVA, 2006).
A associação de métodos de controle deve ser utilizada sempre que possível.
Porém, é conveniente que a estratégia de controle esteja adaptada às condições
locais, à infraestrutura, à disponibilidade de mão-de-obra e implementos e à análise de
custos (COBUCCI, 1998; COBUCCI; RABELO; SILVA, 2001).
Silva e Durigan (2009) afirmam que por muito tempo não foi dada importância
ao controle de plantas daninhas em arroz de terras altas, por ter sido este cultivado,
quase sempre, em áreas recém-desbravadas, ainda livres de plantas daninhas, sem
necessidade de medidas de controle. Em consequência, há, atualmente, carência de
produtos e tecnologia para o controle de plantas daninhas na cultura de arroz nesse
ecossistema (VELHO et al., 2012). Essa carência é agravada pela baixa capacidade de
competição do arroz com plantas daninhas, em relação a outras culturas, o que
representa, no momento, um dos principais obstáculos para a introdução da cultura do
arroz de terras altas em sistemas agrícolas permanentes.

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58
OGM e o Controle de Plantas Daninhas

Capítulo 5

“ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E O CONTROLE DE


PLANTAS DANINHAS”

José Claudionir Carvalho

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Proteção de Plantas, Gerente técnico de herbicidas no Brasil,


Syngenta Proteção de Cultivos Ltda.

INTRODUÇÃO
A tecnologia do uso de herbicidas propiciou uma das maiores revoluções
no meio agrícola, o plantio direto, reduzindo a aração e adotando práticas de
lavoura de conservação. Em seguida, a introdução de culturas tolerantes ao
glifosato (TG) foi uma das mudanças tecnológicas mais significativas, juntamente
com a mecanização e a hibridação de sementes. Agricultores de todo o mundo
estão colhendo os benefícios de um sistema simplificado de controle de plantas
daninhas, que reduz custos, tempo e trabalho e aumenta a flexibilidade
operacional. Com tanta vantagem, a adoção foi rápida, especialmente nas
Américas. Nos estados dos EUA mais relevantes no cultivo da soja, assim como na
Argentina e Brasil, cerca de 90 % das lavouras são TG. Globalmente, cerca de 171
milhões de hectares foram semeados em 2012 com culturas geneticamente
modificadas em mais de 30 países, dos quais cerca de 100 milhões de ha tem um
traço de tolerância a herbicida. Três culturas dominam esta adoção de tecnologia,
soja, algodão e milho (CLIFF, 2013).

MANEJO DAS PLANTAS DANINHAS NO AMBIENTE TG NO BRASIL


Manejo Outonal
O manejo outonal se baseia no uso de produtos com ação dessecante,
como paraquat e glifosato, visando ao controle de plantas daninhas já emergidas
em áreas de pousio, normalmente associado a outro herbicida que apresente

59
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

atividade residual no solo. Esse segundo herbicida tem duas funções: a primeira é
ajudar no controle das plantas daninhas já emergidas e que são de difícil controle,
como Ipomoea sp., Commelina sp., Tridax procumbens, Borreria alata sp. ou
resistentes, como: Digitaria insularis, Conyza spp. e Lolium multiflorum; a
segunda é promover o manejo da sementeira que se encontra no solo.
O controle residual da sementeira evita (ou, no mínimo, atrasa) a
emergência de fluxos subsequentes de plantas daninhas no período de
entressafra. Dessa forma, no momento do plantio da cultura de verão, o
agricultor encontra uma situação mais adequada para realizar a semeadura em
relação à infestação de plantas daninhas.
Outra forma de reduzir a proliferação de plantas daninhas é o plantio de
leguminosas que proporcionam um melhor condicionamento do solo e competem
com as plantas daninhas. Além disso, reduzem a cobertura do solo pelas plantas
daninhas e o seu florescimento, e consequententemente menor produção de
sementes e infestação na cultura seguinte.

Manejo pré-colheita de cereais


Arroz, trigo e cevada dessecados com herbicidas não seletivos como o
paraquate, o glufosinato de amônia e glifosato, quando aplicados na maturação
fisiológica dos grãos, não afetam as características qualitativas do cereal, além de
trazer benefícios por acelerar o período de colheita, permitir o plantio da safra
seguinte antecipada e reduzir significativamente a infestação das plantas
daninhas na cultura semeada em sucessão.

Manejo pré-plantio
A prática mais comum para um bom controle das plantas daninhas é
aplicar o herbicida glifosato, com antecedência mínima de 20 a 25 dias da
semeadura. No dia da semeadura ou imediatamente após deve-se proceder uma
aplicação complementar com glifosato ou paraquate + diurona ou paraquate, com
o objetivo de eliminar possíveis rebrotas e o primeiro fluxo de plantas daninhas
que emergem após a dessecação.

60
OGM e o Controle de Plantas Daninhas

O herbicida mais utilizado na dessecação de manejo é o glifosato, em


doses que variam de 720 a 1.080g e.a./ha para controle de plantas daninhas
anuais ou 1.440 g e.a./ha em áreas de pastagem com espécies perenes. Em áreas
onde ocorrem as espécies Commelina benghalensis (trapoeraba), Spermacoce
latifolia,(erva-quente) Richardia brasiliensis (poaia-branca), Tridax procumbens
(erva-de-touro) e Sida sp. (guanxuma), nas quais o controle com glifosato não é
totalmente satisfatório, utiliza-se o herbicida 2,4-D amina na dose de 670 g
e.a./ha. Quando a cultura for soja, deve-se manter um intervalo de dez dias entre
a aplicação de 2,4-D amina e a semeadura. Em áreas onde a utilização de 2,4-D
amina pode representar risco às culturas vizinhas sensíveis (como, por exemplo,
algodão), uma vez que existe a possibilidade de ocorrer deriva, o herbicida
chlorimurom-etílico ou carfentrazona pode ser utilizado com glifosato, o que
melhora a performance e o espectro de controle das plantas daninhas, mas, com
um custo superior.
A adição de um herbicida residual ao herbicida não seletivo paraquate,
paraquate + diurom ou glifosato retarda a emergência de novos fluxos de plantas
daninhas e os herbicidas residuais metolacloro, imazaquim, diclosulam,
sulfentrazona e atrazina em combinação com os herbicidas não seletivos citados
são os mais usados nessa modalidade.
No entanto, é importante ressaltar que para o perfeito funcionamento
desses herbicidas residuais há necessidade de ocorrência de boas precipitações
pluviais (acima de 20 mm) para deslocar os herbicidas residuais que ficaram
retidos na palha para o solo.

Manejo na cultura
Após o estabelecimento da cultura da soja ou milho, aplica-se glifosato no
estádio V2-V4 e ainda pode haver necessidade de mais uma aplicação de glifosato
no estádio V5-V6, ao redor de 14 dias após a aplicação da primeira. Outra opção é
a combinação de glifosato e um herbicida residual como metolacloro , imazetapir,
sulfentrazona ou diclosulam na cultura da soja ou atrazina, mesotriona ou
tembotrina na cultura do milho para controle em pós-emergência das plantas
daninhas e de novos fluxos de ervas, até o fechamento da cultura.

61
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Manejo de “cultura voluntária TG” em cultura TG


Milho voluntário em soja
O milho “resteva” que sobra após a colheita acaba germinando dentro da
cultura da soja plantada em sucessão. Quando ele é tolerante a glifosato,
compete com a soja pelos recursos e o uso de glifosato não o elimina. Trabalhos
mostram que apenas uma planta de milho por m 2 pode reduzir em até 30 % a
produtividade da soja (Figura 1). A germinação das sementes presas ao sabugo
são os mais comuns, pois conseguem perdurar após a colheita do milho até a
semeadura da soja em sucessão, competindo como se fosse uma planta daninha,
causando severos prejuízos. O controle mais utilizado nesse caso são os
herbicidas do grupo dos inibidores da ACCase, como cletodim, tepraloxidim,
haloxifop e fluazifope (Figura 2). Devido ao aumento de custo para controle do
milho voluntário, muitos agricultores relutam na adesão à semeadura de milho TG.
Perda de rendimento da soja (%)

Densidade de plantas de milho

Figura 1. Convivência de milho TG com soja TG e perda de produtividade. Fonte:


Luiz Kozlowski (2013).

Dessecação de soja na pré-colheita


Quando a cultura da soja completa sua maturação fisiológica se se dá o maior
acúmulo de matéria seca, e a partir daí a cultura só perde água. Isto ocorre a partir do
estádio R 6.5 (escala de estádios de Ferh e Caviness), onde já não se tem perdas no
rendimento. O mais recomendável é que se faça a dessecação com herbicida entre os
estádios R 6.5 e R 7 (Figura 3).

62
OGM e o Controle de Plantas Daninhas

A dessecação é muito usada quando se tem problema de retenção foliar ou


haste verde e confere uma certa homogeneidade à planta, que fica toda com o mesmo
aspecto e coloração uniforme. Há uma aceleração do processo de desidratação dos
grãos de forma que facilita a operação de colheita.

Figura 2. Controle de milho voluntário TG dentro da cultura da soja. Fonte: Miriam Inoue
(2013).

Figura 3. Produtividade (kg.ha-1) em soja dessecada com herbicidas. Fonte:


Penckowski (2012).

Os benefícios da dessecação pré-colheita da soja são a uniformidade de


maturação, antecipação de até sete dias da colheita e assim permite antecipação do

63
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

plantio da próxima cultura (safrinha). Os benefícios de se ter o plantio antecipado são


o melhor aproveitamento da umidade do solo na cultura em sucessão, a venda da
safra antecipada, a obtenção de melhor preço, ganho de capital de giro para aquisição
de insumos e o plantio da cultura subsequente no limpo devido à dessecação de
plantas daninhas adultas e jovens.
Os herbicidas mais usados para essa dessecação são paraquat a 1,0 – 1,5 L
p.c./ha, diquate a 1,0 – 2,0 L p.c./ha e paraquate + diquate a 0,75 – 1,0 L p./ha de cada
produto.

Manejo de soja TG na cultura do milho em sucessão


As sementes de soja TG da safra anterior que ficam no solo após a colheita
acabam germinando na cultura do milho em sucessão. Koslowski (2013) encontrou
perda de 14 % de produtividade do milho quando uma planta de soja por m2 emergiu
sete dias após a emergência do milho. (Figura 4). A atrazina é um dos herbicidas mais
usados para o controle da soja TG voluntária. Pode ser aplicada em combinação com
glifosato quando o milho atinge o estádio V2-V4.
Perda de rendimento de milho (%)

Densidade de plantas de soja

Figura 4. Emergência de soja TG sete dias após a emergência do


milho. Fonte: Koslowski (2013).

Necessidade do refúgio
Recomenda-se o plantio de milho não transgênico (não Bt) em cerca de 10 % da
área como refúgio, com o objetivo de manter a biodiversidade em termos de insetos
64
OGM e o Controle de Plantas Daninhas

benéficos. O evento Bt vem usualmente associado ao TG e assim, o controle das


plantas daninhas com glifosato nessa situação deve ser feito com muito cuidado, pois
10 % da área de milho não é resistente a esse herbicida (Figura 5).

Uso de glifosato

Bt + TG

Figura 5. Esquema de plantio de milho transgênico com área de refúgio com


milho não transgênico.

Resistência de plantas daninhas a glifosato


A resistência de plantas daninhas a herbicidas é a capacidade natural e
herdável de alguns biótipos, dentro de uma determinada população, de
sobreviver e se reproduzir após a exposição à dose de um herbicida, que seria
letal a uma população suscetível da mesma espécie. Assim, o aparecimento de
biótipos de plantas daninhas resistentes aos herbicidas está condicionado a uma
mudança genética na população, imposta pela pressão de seleção e causada pela
aplicação repetitiva do herbicida na dose recomendada. O surgimento da
resistência aos herbicidas é identificado, geralmente, quando 30 % das plantas
mostram-se resistentes.
Paraquat, glifosato e glufosinato foram os únicos herbicidas não seletivos
comercialmente bem sucedidos em toda a história da indústria de proteção
química à lavoura. O glifosato é o único que controla plantas daninhas perenes.
Portanto, é essencial para a segurança alimentar garantir que o glifosato
permaneça como opção eficaz para agricultores do mundo.

65
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Antes da introdução de culturas GM tolerantes ao glifosato, esse herbicida


era geralmente usado apenas como parte de um sistema de manejo de plantas
daninhas envolvendo diversos outros métodos de controle: mecânico, cultural e
uma grande variedade de herbicidas seletivos. A diversificação dos métodos
garantia que quaisquer plantas daninhas que sobrevivessem ao glifosato eram
controladas por outro meio. Todavia, em situações nas quais o glifosato é
utilizado várias vezes na mesma cultura, no mesmo ciclo e com a exclusão dos
outros meios de controle de plantas daninhas, a pressão de seleção é muito maior
e o aparecimento de plantas daninhas resistentes é inevitável. Atualmente, no
Brasil, existem cinco espécies de plantas daninhas com casos relatados de
biótipos resistentes ao glifosato, sendo elas: Lolium multiflorum, Conyza
bonariensis, Conyza canadensis, Conyza sumatrensis e Digitaria insularis. Estima-
se que hoje existam mais de 9,0 milhões de hectares de populações das cinco
espécies resistentes ao glifosato, com predominância maior no sul do país.
Conyza spp são em maior número, cerca de 6 milhões de hectares, Lolium
corresponde a cerca de 1,5 milhão e Digitaria insularis com 1,5 milhão.
Assim, a chave do manejo de resistência é a redução da pressão de seleção
pelo uso da combinação de várias técnicas. Os princípios gerais do manejo de
resistência são: a) aplicar práticas de manejo integrado. Uso de herbicidas com
múltiplos sítios de ação com sobreposição do espectro de plantas daninhas
controladas através da rotação, aplicação sequencial ou misturas. b) Uso da dose
de herbicida recomendada e época de aplicação própria para as espécies de
plantas daninhas de mais difícil controle presentes no campo. c) Monitorar
campos após a aplicação do herbicida para assegurar que o controle foi atingido.
d) Evitar que as plantas daninhas se reproduzam por sementes ou órgãos
vegetativos. e) Manter os equipamentos livres de plantas daninhas após o uso.
Para culturas anuais, começar com um campo limpo e o controle precoce de
plantas daninhas por uso do tratamento de dessecação ou aração/gradeação em
combinação com um herbicida residual em pré-emergência. Usar práticas culturas
tais como cultivo ou rotação de culturas e finalmente usar bons princípios
agronômicos que aumentam a competição da cultura.

66
OGM e o Controle de Plantas Daninhas

As pesquisas na última década mostram que algumas espécies de plantas


daninhas suscetíveis a glifosato estão crescendo a sua área infestada no Brasil.
Bidens pilosa tem aumentado cerca de 10 % ao ano, Amaranthus sp 13 %,
Digitaria horizontalis 15 % e Eleusine indica 36 %. (Dados Kleffmann 2001 – 2011).
O uso indiscriminado de glifosato e falhas nas técnicas preconizadas podem ser as
causas dessas plantas daninhas não estarem sendo controladas como
antigamente e assim induzir uma tendência de seleção de massa e ocasionar o
surgimento de populações de biótipos dessas espécies com algum grau de
resistência a glifosato.
Por outro lado, existem ainda as plantas daninhas que são tolerantes ao
glifosato. Elas possuem algum mecanismo que reduz o efeito do gli fosato como
baixa translocação, absorção ou metabolização e assim elas são classificadas
como espécies de difícil controle e somente em altas doses ou em misturas com
outros ingredientes ativos podem ser controladas com eficiência. Normalmente
são dicotiledôneas: Spermacoce latifolia (erva-quente), Tridax procumbens (erva-
de-touro), Ipomoea spp. (corda-de-viola), Richardia brasiliensis (poaia-branca) e
Chamaesyce hirta (erva-de-santa-luzia), mas existem exceções, monocotiledôneas
como Chloris sp. (capim-branco) e Commelina benghalensis (trapoeraba).

LITERATURA CONSULTADA
CHRISTOFFOLETI, P.J.; LÓPEZ-OVEJERO, R.F. 2008. Resistência das plantas daninhas a
herbicidas: definições, bases e situação no Brasil e no mundo. In: CHRISTOFFOLETI, P.J.
(Coord.). Aspectos de resistência de plantas daninhas a herbicidas. 3.ed. Campinas: HRAC-
BR, 9-34.
CHRISTOFFOLETI, P.J.; VICTORIA FILHO, R.; SILVA, C.B. 1994. Resistência de plantas daninhas
aos herbicidas. Planta Daninha, v.12, n.1, p.13-20.
CHRISTOFFOLETI, P.J. OVEREJO, R. Manejo de Resistência de Plantas Daninhas. Disponível em:
<www.monsanto.com.br>`rpditps>Stewardship>. Acesso em: 23 ago. 2013.
CLIFF, J. 2012 ISAAA Report on Global Status of Biotech/GM/Crops. Disponível em:
<www.isaaa.org/resources/publications/briefs>. Acesso em: 23 ago. 2013.
HEAP, I. Criteria for configuration of herbicide-resistant weeds - with specific emphasis on
confirming low level resistance. Disponível em: <http://www.weedscience.org>. Acesso
em: 23 ago. 2013.
INOUE, M. Controle de milho voluntário TG dentro da cultura da soja. Consherb, 2013.
KISSMANN, K.G. 2003. Resistência de plantas daninhas a herbicidas. Disponível:
http://www.hrac-br.com.br/arquivos/texto_reisitencia_herbicidas.doc
KOSLOWSKI, L. Convivência de milho TG voluntário com a cultura da soja TG e perdas de
produtividade. Consherb, 2013.
KOSLOWSKI, L. Convivência de soja TG voluntária com a cultura do milho TG e perdas de
produtividade. Consherb, 2013.

67
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

PENKOWSKI, L.H. Produtividade (kg.ha-1) em soja dessecada com herbicidas. Fundação ABC,
2013.
VARGAS, L.; DA SILVA, A.A.; BORÉM, A.; REZENDE, S.T. DE; FERREIRA, F.A.; SEDIYAMA, T.
Resistência de plantas daninhas a herbicidas. Viçosa: Jard, 1999. 131 p.
VIDAL, R.A.; FLECK, N.G. Análise do risco da ocorrência de biótipos de plantas daninhas
resistentes aos herbicidas. Planta Daninha, v.15, n.12, p.152-161, 1997.
WEED SCIENCE. International survey of herbicide resistant weeds 2009. Disponível em:
<http://www.weedscience.org>. Acesso em: 23 ago. 2013.

68
OGM Focando Controle de Doenças

Capítulo 6

“OGM FOCANDO CONTROLE DE DOENÇAS”

Ricardo Harakava

Pesquisador Científico, Laboratório de Bioquímica Fitopatológica, Instituto Biológico, São Paulo, SP.

As variedades de plantas transgênicas atualmente em uso no Brasil são


resistentes a herbicidas, como a soja resistente ao glifosato, ou resistentes a
lagartas de lepidópteros, como o milho que expressa uma toxina da bactéria
Bacillus thuringiensis. Recentemente, a primeira planta transgênica resistente a
doença foi aprovada para plantio no Brasil. Trata-se do feijoeiro resistente ao
vírus do mosaico dourado, desenvolvido pelos pesquisadores da EMBRAPA, Josias
Faria e Francisco Aragão (BONFIM et al., 2007).
No mundo, ainda são poucas as variedades de plantas transgênicas
resistentes a doenças aprovadas comercialmente para uso. Um caso de sucesso é
o mamão papaya resistente ao vírus da mancha anelar, utilizado no Havaí desde
1998 (TENNANT et al., 1994).
Tanto o feijoeiro como o mamão papaya transgênicos apresentam
resistência a vírus pela ativação do mecanismo de silenciamento gênico, ou
interferência por RNA, utilizando-se partes dos genomas dos próprios
fitopatógenos. A ativação do silenciamento gênico resulta na degradação
específica de ácidos nucleicos do patógeno, levando a um bloqueio da replicação
e da expressão gênica do mesmo.
Estudos recentes indicam que o mesmo mecanismo pode resultar em
resistência a fungos biotróficos, que estabelecem íntimo contato com a célula da
planta hospedeira através de haustórios (NOWARA et al., 2010; TINOCO et al.,
2010). A ativação do silenciamento de um gene essencial do fungo nas células de
uma planta transgênica, resulta na formação de pequenos RNAs chamados siRNAs
que podem ser translocados pelos haustórios para o interior do fungo, onde

69
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

resultam na degradação dos mRNAs do gene essencial, inibindo o


desenvolvimento do patógeno. Resistência a bactérias tem sido obtida
experimentalmente através da expressão de genes codificadores de peptídeos
líticos bactericidas ou enzimas, como a lisozima, que degradam a parede celular
bacteriana (DURING, 1996). Outras estratégias utilizadas contra bactérias incluem
a interferência no mecanismo de quorum sensing (mecanismo de regulação da
expressão gênica em resposta à densidade populacional bacteriana) e a expressão
de enzimas que degradam o exopolissacarídeo (GONZÁLEZ; KESHAVAN, 2006;
MALNOY et al., 2005).
Uma estratégia promissora consiste na ativação dos mecanismos de
resistência a doenças já existentes nas plantas, através da alteração da expressão
de genes envolvidos em suas vias regulatórias (SALMERON; VERNOOIJ, 1998).
Plantas apresentam dois níveis de reconhecimento de patógenos, uma primeira
linha que reconhece padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) e uma
segunda linha que reconhece as moléculas efetoras produzidas pelos patógenos
as quais buscam bloquear as respostas de defesa desencadeadas pelos PAMPs
(JONES; DANGL, 2006).
O primeiro sistema é conhecido como PTI (PAMP triggered immunity) e o
segundo como ETI (Effector triggered immunity). A PTI tende a resultar em
resistência de amplo espectro enquanto a ETI tende a ser mais específica. Através
do aumento da expressão de genes que ativam estes mecanismos ou do
silenciamento de genes que os reprimem, plantas transgênicas com estas vias
pré-ativadas têm sido desenvolvidas. As alterações genéticas mais desejadas são
aquelas que resultam em um efeito de priming, que seria um estado de pré -
ativação que resulta em rápida e intensa resposta somente após a efetiva invasão
pelo patógeno (CONRATH et al., 2006).
Desta forma, evita-se que o mecanismo de resistência permaneça
constantemente ativado, o que poderia prejudicar o desenvolvimento da planta.
Um atrativo a mais desta estratégia seria a utilização de genes oriundos das
próprias plantas, que poderia vir a diminuir a rejeição por parte dos
consumidores.

70
OGM Focando Controle de Doenças

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BONFIM, K., FARIA, J.C., NOGUEIRA, E.O.P.L., MENDES, E.A., ARAGÃO, F.J.L. RNAi-
mediated resistance to bean golden mosaic virus in genetically engineered common
bean (Phaseolus vulgaris). Molecular Plant-Microbe Interactions, v.20, p.717-726,
2007.
CONRATH, U., BECKERS, G.J.M., FLORS, V., GARCÍA-AGUSTÍN, P., JAKAB, G. Priming:
getting ready for battle. Molecular Plant-Microbe Interactions, v.19, p.1062–1071,
2006.
DURING, K. Genetic engineering for resistance to bacteria in transgenic plants by
introduction of foreing genes. Molecular Breeding, v.2, p.297-305, 1996.
GONZÁLEZ, J.E., KESHAVAN, N.D. Messing with bacterial quorum sensing. Microbiology
and Molecular Biology Reviews, v.70, p.859-875, 2006.
JONES J.D., DANGL J.L. The plant immune system. Nature, v.444, p.323-329, 2006.
MALNOY, M., FAIZE, M., VENISSE, J.-S., GEIDER, K., CHEVREAU, E. Expression of viral EPS-
depolymerase reduces fire blight susceptibility in transgenic pear. Plant Cell Reports,
v.23, p.632-638, 2005.
NOWARA, D., GAY A., LACOMME, C., SHAW, J., RIDOUT, C. HIGS: host-induced gene
silencing in the obligate biotrophic fungal pathogen Blumeria graminis. Plant Cell,
v.22, p.3130-3141, 2010.
SALMERON, J.M., VERNOOIJ, B. Transgenic approaches to microbial disease resistance in
crop plants. Current Opinion in Plant Biology, v.1, p.347-352, 1998.
TENNANT, P.F., GONSALVES, C., LING, K.-S., FITCH, M., MANSHARDT, R., SLIGHTOM, J.L.,
GONSALVES, D. Differential protection against papaya ringspot virus isolated in co at
protein gene transgenic papaya and classically cross-protected papaya.
Phytopathology, v.84, p.1359-1366, 1994.
TINOCO, M.L., DIAS, B.B., DALL’ASTTA, R.C., PAMPHILE, J.A., ARAGÃO, F.J. In vivo trans-
specific gene silencing in fungal cells by in planta expression of a double-stranded
RNA. BMC Biology, v.8, p.27, 2010.

71
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Capítulo 7

“MANEJO DE DOENÇAS EM VIVEIROS FLORESTAIS”

Edson Luiz Furtado1*, Gleice Viviane Nunes2 Pereira e Marília Pizetta3

1 Professor Assistente Doutor.*Bolsista do CNPq.


2 Doutoranda em Agronomia (Proteção de Plantas).
3 Doutoranda em Ciência Florestal.
1,2,3 FCA/UNESP – Departamento de Proteção Vegetal, Laboratório de Patologia Florestal, Botucatu, SP.

INTRODUÇÃO
O viveiro para produção de mudas florestais constitui-se em um importante
setor base dentro do processo produtivo, uma vez que este é responsável pelo
abastecimento de mudas para implantação de florestas, recuperação de áreas
degradadas, arborização urbana, entre outras finalidades. Gomes e Paiva (2006)
afirmam que o êxito na formação de florestas de alta produtividade, na produção de
mudas de espécies ornamentais e na elaboração de projetos paisagísticos depende,
em grande parte, do padrão de qualidade das mudas plantadas.
O Brasil destaca-se como um dos principais países com maior área cultivada
com florestas de crescimento rápido, principalmente com espécies do gênero Pinus e
Eucalyptus (ZANETTI, 2008). Desse modo, ocorre uma grande demanda na quantidade
(Figura 1) e principalmente na qualidade das mudas produzidas, uma vez que a
qualidade reflete no crescimento futuro das árvores e, portanto, pode interferir na
produtividade das florestas.
Segundo o Decreto nº 5.153, de 23 de julho de 2004, viveiro é uma área
convenientemente demarcada e tecnicamente adequada para a produção e
manutenção de mudas (BRASIL, 2004). Wendling et al. (2001) descrevem que viveiro
de produção é uma área destinada à produção e manejo das mudas, até que elas
atinjam o tamanho ideal e qualidade adequada para resistirem às condições adversas
dos locais definitivos onde serão implantadas.

72
Manejo de Doenças em Viveiros Florestais

Figura 1. Necessidade de mudas florestais (*1000), do ano de 2012 a 2016.


(Furtado, 2013).

O viveiro florestal, devido às suas características, reúne uma série de condições


ambientais associadas à fisiologia do hospedeiro que favorecem o desenvolvimento de
doenças. Dentre os principais problemas fitopatológicos que podem ocorrer neste
ambiente, 90 % das doenças são acometidas por fungos. Entre esses, tem-se os fungos
habitantes de solo que causam principalmente tombamento de mudas e podridões de
raízes e, fungos agentes de manchas foliares e ferrugens em folhas e brotações novas
(RESENDE; PÁDUA; TOYOTA, 2008). Os fungos e pseudo-fungos causadores de
tombamento e podridões de raízes produzem esporos de repouso (escleródios, micro-
escleródios e esporos sexuais) que perduram no solo por vários anos (Tabela 1),
dificultando a erradicação dos mesmos.
A ocorrência desses organismos está diretamente relacionada com o ambiente
favorável, tais como umidade e temperatura, bem como uma fonte de contaminação
(sementes, solo, água, substrato e equipamentos contaminados). Diante disso, é de
suma importância a adoção de medidas de manejo que visem à redução do inóculo
inicial, impedindo a entrada de material contaminado ou sua eliminação no viveiro.
Neste contexto, surge o manejo de doenças que tem como definição a
utilização de todas as técnicas disponíveis dentro de um programa unificado, de tal

73
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

modo a manter a população de organismos nocivos abaixo do limiar de dano


econômico e a minimizar os efeitos colaterais deletérios ao meio ambiente (NAS,
1969). De modo geral, o manejo de doenças em plantas consiste na utilização de várias
medidas de controle, incluindo a resistência genética, juntamente com as táticas de
controle cultural, que abrangem desde a escolha do local de implantação do viveiro
até as condições de cultivo das mudas, além do controle físico, biológico e químico.

Tabela 1. Exemplos de patógenos, esporos de repouso e tempo de


sobrevivência.

Patógeno Estrutura de resistência Sobrevivência (anos)


Fusarium sp. clamidosporos 5 – 15 anos
Phytophthora sp. oósporo 2 – 8 anos
Pythium sp. oósporo 5 anos
Rhizoctonia sp. escleródios 5 anos
Cylindrocladium sp. microescleródio 5 anos
Modificado de Amorim, Rezende e Bergamin Filho (2011).

DOENÇAS EM VIVEIROS FLORESTAIS


Doença pode ser definida como um processo dinâmico, resultante da interação
entre hospedeiro, patógeno e o ambiente, expressa através de sintomas e sinais. Desta
definição, deve-se entender o hospedeiro como a espécie de planta que está sendo
multiplicada; o patógeno, como o agente capaz de produzir a doença (fungos, bactérias,
vírus etc.); ambiente, como a condições climáticas e físicas do local de acondicionamento
das mudas; os sintomas são todas as modificações na aparência dos tecidos e órgãos da
planta (sementes manchadas, sementes apodrecidas, podridão de raízes, tombamento de
mudas, canela preta, manchas das folhas, seca de ramos, plantas murchas, cancros, entre
outros); os sinais, por sua vez, são a presença de estruturas do patógeno no tecido doente
(pus bacteriano; micélio, estruturas esporíferas de fungos e esporos) (FURTADO et al.,
2001).
As doenças em plantas podem ser de natureza abiótica, quando forem causadas
por fatores ambientais, tais como excesso de umidade, vento, geada, entre outros, ou de
natureza biótica, quando são causadas por um microrganismo, como fungos, vírus,
bactérias e nematoides (KRUGNER, 1997).
Em viveiros florestais, as mudas podem ser atacadas por patógenos em vários
estádios, tais como, na fase de multiplicação de brotos para estaquia, enraizamento,
74
Manejo de Doenças em Viveiros Florestais

aclimatação à sombra e durante a aclimatação a céu aberto (crescimento e rustificação)


(ALFENAS et al., 2009). Assim como na propagação seminal, onde a doença pode se
manifestar desde a germinação até a expedição da muda.
De acordo com George Mc New (1960), as doenças de plantas são classificadas de
acordo com os processos fisiológicos vitais da planta afetados pelos patógenos. Desse
modo, este autor classificou as doenças em seis grupos: I – Podridão de Órgãos de
Reserva, II – Damping off, III – Podridão de raiz e colo, IV Doenças Vasculares, V –
Manchas, Ferrugens, Oídio, Míldio, VI – Viroses, Galhas, Carvões. Dentre as principais
doenças que incidem as mudas em viveiros florestais, estas pertencem aos grupos II, III, IV
e V (Figura 2), pois além dos míldios, as viroses e os carvões são raros nas espécies
florestais.
As doenças do grupo II, conhecidas também como Damping off ou tombamento de
mudas, normalmente ocorrem na fase inicial de desenvolvimento das mudas, antes ou
após a germinação das sementes. Podem também atacar as sementes em processo de
germinação ou as plântulas recém-emergidas (RESENDE; PÁDUA; TOYOTA, 2008).
Os principais causadores do tombamento são fungos de solo que retiram seu
alimento de restos de matéria orgânica. Essas doenças podem ocorrer em qualquer
região, pois existem várias espécies de fungos causadores de tombamento adaptadas a
diferentes regiões geográficas e condições climáticas.
Entre as principais espécies importantes associadas ao tombamento de mudas em
viveiros, estão Pythium sp. e Phytophthora sp. (pseudo-fungos), Rhizoctonia solani,
Cylindrocladium sp., Fusarium sp.. Também podem ocasionar danos esporádicos em
plântulas ou podridões em sementes recém-semeadas, os fungos Colletotrichum sp.,
Phoma sp., Helminthosporium sp., Cercospora sp. e Botrytis sp. (BEDENDO, 2011).
Os principais danos ocasionados pelos fungos causadores do tombamento de
mudas ocorrem em sementes e nas primeiras raízes e caules tenros, durante a
germinação, antes ou após a emergência. O tombamento pré-emergência geralmente não
é percebido de imediato, uma vez que este pode ser confundido com a não germinação
das sementes. No tombamento de pós-emergência, ocorre o anelamento próximo à base
das mudas e, posterior arqueamento de suas hastes no solo. As lesões resultantes
estrangulam a base da muda, possui aspecto de podridão mole e são comumente
chamadas de mela das sementeiras (RESENDE; PÁDUA; TOYOTA, 2008).

75
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

A- Podridão de raízes B- Sinais de Fusarium sp.

C- Tombamento de mudas D- Sinais de Rhizoctonia sp.

E- Ferrugem F- Sinais de Puccinia psidii

G- Podridão de estacas H- Sinais de Botrytis cinerea


Figura 2. Sintomas e sinais das principais doenças do viveiro. Fonte: Furtado et al. (2008).
76
Manejo de Doenças em Viveiros Florestais

As doenças do grupo III afetam principalmente a absorção de água e de


minerais do solo e causam danos às raízes, sendo assim, são designadas como
podridões de raízes e colo. Estes patógenos podem atacar as plantas desde seu estádio
inicial de desenvolvimento até o estádio adulto. Os fungos e os cromistas são os
principais agentes causais das podridões de raízes e colo. Dentre os cromistas os
principais representantes pertencem aos gêneros Pythium e Phytophthora, enquanto
dentre os fungos verdadeiros destacam-se os gêneros Sclerotium sp., Cylindrocladium
sp., Rhizoctonia sp., Fusarium sp., Botrytis sp. e Rosellinea sp. (FURTADO et al., 2008;
BEDENDO, 2011).
A podridão de raízes é comum em viveiros de espécies florestais onde as
situações de alta umidade e temperatura criam condições ótimas ao aparecimento de
patógenos. Podridões de raízes e colo são doenças que ocorrem geralmente em
reboleiras nos viveiros. As mudas infectadas inicialmente exibem sintomas de seca ou
deficiência nutricional, em função da má absorção de água e nutrientes pelas raízes
(RESENDE; PÁDUA; TOYOTA, 2008).
As plantas atacadas exibem sintomas de necrose nos tecidos, o que resulta em
sintomas de escurecimento e apodrecimento das raízes. Na podridão de colo, os
primeiros sintomas são observados junto à superfície do solo, como lesões profundas
de cor marrom, geralmente úmida, que podem levar a planta ao tombamento ou
sofrer rachaduras na casca.
As doenças do grupo IV, conhecidas como murchas, ocorrem quando um grupo
de patógenos coloniza os vasos do xilema, tecido da planta responsável pelo
transporte de água e nutrientes absorvidos pelas raízes. Os patógenos causadores de
murchas são fungos e bactérias que sobrevivem, na ausência do hospedeiro, em restos
de cultura e matéria orgânica presente no solo. O patógeno pode atacar plantas desde
seu estádio inicial de desenvolvimento até o estádio adulto, havendo
comprometimento tanto na produção quanto na longevidade da planta (BEDENDO,
2011).
Em viveiros clonais de eucalipto, Ralstonia solanacearum é o causador da
murcha bacteriana, e quando detectado é necessário fazer a erradicação das plantas
doentes. Por ser um patógeno que coloniza os vasos do xilema, os sintomas

77
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

observados são folhas cloróticas e, consequente, murcha e seca da planta devido ao


bloqueio dos vasos do xilema pela bactéria (FURTADO et al., 2008).
O material propagativo originário de matrizes infectadas no campo, a água de
irrigação e a areia utilizada no canaletão dos minijardins são possíveis fontes de
inóculo da doença em viveiro, se contaminados previamente. Esta bactéria pode
sobreviver no solo por períodos prolongados, associados com matéria orgânica e
plantas daninhas, sem induzir sintomas (HAYWARD, 1991; ALFENAS et al, 2006).
As doenças do grupo V afetam o processo da fotossíntese, interferindo no
desenvolvimento vegetativo e reprodutivo das plantas. Conhecidas como manchas
foliares, os patógenos deste grupo são responsáveis por causar manchas necróticas na
superfície foliar, as ferrugens e oídios também se adequam a este grupo e apresentam
sintomas de aspecto pulverulento na folha, fato que dificulta a fotossíntese.
Os sintomas iniciam-se em folhas jovens e provocam necroses do tecido foliar,
levando à morte parcial ou total das folhas e consequente queda. Os agentes causais
sobrevivem em restos de cultura, sementes, hospedeiros alternativos ou mesmo nos
tecidos de plantas adultas, próximas ao viveiro (RESENDE; PÁDUA; TOYOTA, 2008).
De um modo geral, as manchas foliares ou queimas foliares estão associadas a
fungos e bactérias. Dentre os fungos mais importantes, destacam-se Puccinia psidii,
Oidium sp., Pestalotia sp., Sporothrix eucalypti, Cylindrocladium, Helminthosporium,
Cercospora, Colletotrichum, Corynespora, Apiosphaeria, Phyllachora, entre outros.
Xanthomonas sp. e Pseudomonas sp. são as principais bactérias causadoras de
manchas foliares. As condições climáticas favoráveis para a ocorrência destes
patógenos, na sua maioria, são temperaturas elevadas (25–30oC) e níveis de umidade
relativa do ar superiores a 80 % (RESENDE; PÁDUA; TOYOTA, 2008; FURTADO et al.,
2008).

MANEJO DE PRAGAS E DOENÇAS


O manejo integrado de doenças (MID) teve sua origem no manejo integrado de
pragas (MIP), portanto, cabe aqui uma pequena revisão da origem destas filosofias.
A partir dos anos 40, o objetivo da entomologia para o controle de pragas era o
extermínio total dos agentes nocivos às culturas agrícolas, através do desenvolvimento
de novos inseticidas, como o DDT e o BHC, produtos muito baratos e de largo espectro,

78
Manejo de Doenças em Viveiros Florestais

esta ideia foi aplicada por mais de três décadas. Com o passar do tempo, porém, o uso
indiscriminado de pesticidas provocou sérias perturbações no ecossistema e
agroecossistema, trazendo efeitos para os recursos naturais e animais, inclusive o
homem. Com a evolução desses acontecimentos, o controle adequado de pragas,
mesmo com o uso dos químicos, teve elevado aumento do custo (BERGAMIN FILHO;
AMORIM, 2011). Dentre o fungicidas deste grupo, estão os derivados de mercuriais,
por seu efeito erradicante e prolongado no ecossistema.
Durante este período, paralelamente, foi conseguindo avanços nos estudos na
área de entomologia aplicada, pois, para florestas, pela própria característica do
sistema, o controle químico não era econômico. Desse modo, teorias a respeito de
controle biológico e manejo do ecossistema, baseados no conhecimento mais
profundo da ecologia aplicada e dinâmica populacional, ganharam destaque (ZADOKS;
SCHEIN, 1979).
Assim, nas décadas de 50 e 60, surge um conceito mais amplo de controle de
agentes nocivos, denominado controle integrado, definido pela FAO (1968) como:
“um sistema de manejo de organismos nocivos que (...) utiliza todas as
técnicas e métodos apropriados da maneira mais compatível possível para
manter as populações de organismos nocivos em níveis abaixo daqueles que
causam injúria econômica”.

Aspectos como controle químico, considerações de ordem econômica, maior


preocupação ecológico-social contribuíram para que o conceito de controle integrado
fosse aceito pela comunidade e, logo, uma nova filosofia abrangendo o manejo
integrado de pragas (GEIER, 1966) foi desenvolvida (BERGAMIN FILHO; AMORIM,
2011).
O termo manejo integrado de doenças (MID), análogo a MIP, mas específico
para a área fitopatológica, foi proposto alguns anos depois (CHIARAPPA, 1974). O
manejo integrado, consiste na:
“Utilização de todas as técnicas disponíveis dentro de um programa
unificado, de tal modo a manter a população de organismos nocivos abaixo
do limiar de dano econômico e a minimizar os efeitos colaterais deletérios
ao meio ambiente” (NAS, 1969).

79
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Manejo integrado de doenças consiste na implementação de medidas de


controle que utilizem harmonicamente os processos químicos, físicos, biológicos e
culturais de forma planejada em benefício da produtividade, proteção ambiental e,
principalmente, segurança das pessoas envolvidas nas atividades de maneira eficiente
e econômica (ZAMBOLIM, 1994).
No manejo integrado de doenças são levados em consideração os
componentes do triângulo da doença: hospedeiro, patógeno e ambiente, os quais
devem ser monitorados para que a importância de uma dada doença seja determinada
durante as diferentes fases do plantio. Desse modo para que haja sucesso no manejo
integrado de doenças em viveiros, é de suma importância ter conhecimento sobre as
doenças que ocorrem no mesmo, características dos patógenos envolvidos, eficiência
dos métodos de controle, conhecimento dos inimigos naturais, métodos de
amostragem e conhecimento do nível de dano econômico.
Na prática, o manejo integrado envolve três ações principais: determinar as
fases do ciclo vital de um patógeno, cuja interferência possibilite mantê-lo em níveis
toleráveis, ou seja, abaixo do limiar de dano econômico; combinar o conhecimento
biológico com a tecnologia disponível para alcançar a modificação necessária, ou seja,
exercer a ecologia aplicada e; desenvolver métodos de controle adaptados às
tecnologias disponíveis e compatíveis com aspectos econômicos e ecológico-sociais
(BERGAMIN FILHO; AMORIN, 2011). Luckmann e Metcalf (1994) sintetizam estes
aspectos:
“Na produção vegetal, o manejo integrado deve assegurar uma agricultura
forte e uma ambiente viável. Na saúde pública, deve assegurar a proteção
do homem e de seus animais domésticos, além de manter adequado o
ambiente onde o vivem”.

MANEJO INTEGRADO DE DOENÇAS DO VIVEIRO


Algumas medidas de manejo adotadas para mitigar a ocorrência de doenças em
viveiros, relacionados ao MID, podem ser classificadas em medidas de higiene, práticas
culturais e o próprio controle químico, quando for o caso. As práticas culturais
utilizadas no controle de doenças visam modificar as condições micro e mesoclimáticas
e alterar o nível de inóculo; estas têm uma influência significativa na incidência e
severidade das doenças (GRIGOLETTI JUNIOR; AUER; SANTOS, 2001).

80
Manejo de Doenças em Viveiros Florestais

Essas práticas são medidas simples de manejo e, quando aplicadas, reduzem


problemas fitossanitários. A primeira medida a ser adotada é o local de instalação de
um viveiro florestal, este local deve ser estratégico, evitando-se locais sombreados e
que mantenham uma umidade muito elevada, boa insolação e ventilação necessária
para que haja evaporação rápida da água e para que as mudas não fiquem estioladas
por falta de luz e, bom sistema de drenagem, utilização de pedra brita no chão e
canaletas para escoar o excedente. Os viveiros permanentes deverão ser isolados ou
afastados de plantios da mesma espécie, a fim de se evitar grande pressão de inóculo
proveniente dos plantios. Para evitar este problema é recomendável a utilização de
barreiras vegetais como quebra-vento com espécies distintas daquelas produzidas no
viveiro (GRIGOLETTI JUNIOR; AUER; SANTOS, 2001).
Deve-se atentar para o tipo de recipiente utilizado para produção da muda, que
varia de acordo com a espécie cultivada e do tempo em que a muda permanece no
viveiro. As mudas não devem permanecer por muito tempo no viveiro em embalagens
pequenas, pois causam problemas na formação radicular e desproporção da parte
aérea e o sistema radicular, facilitando estresses, que sujeitam à ação de doenças e
pragas. As embalagens (tubete, saco plástico, laminado e outros) deverão estar limpas
e livres de patógenos. Quando reutilizadas, as embalagens deverão ser desinfestadas
para evitar a contaminação das novas plantas (GRIGOLETTI JUNIOR; AUER; SANTOS,
2001).
Para o preparo do substrato no viveiro, a incorporação do adubo orgânico ou
inorgânico deverá ser bem misturada para evitar o contato direto do adubo com as
raízes, provocando a queima. O adubo orgânico deverá estar totalmente decomposto,
para que não haja danos nas raízes ou mesmo a introdução de microrganismos
patogênicos. A reutilização do substrato, utilizada muitas vezes por pequenos
viveiristas, não é uma prática recomendada, pois pode favorecer a ocorrência de
patógenos, infectando novas plantas (GRIGOLETTI JUNIOR; AUER; SANTOS, 2001).
A qualidade, a quantidade e a pureza da água são fundamentais para o bom
desenvolvimento das mudas. O pH é o principal fator que pode interferir na qualidade
da água, por influenciar a absorção de nutrientes e a contaminação por patógenos,
que podem veicular doenças no viveiro. Os fatores que determinam a quantidade de
água são o tipo de substrato, o tamanho do recipiente, a umidade relativa, a

81
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

temperatura, entre outros. Uma boa distribuição das mudas e um substrato com boa
textura são ideais para uma irrigação eficiente. Irrigações mais frequentes e com
menor volume de água evitam o acúmulo e a permanência de água livre por mais
tempo na superfície foliar e no substrato (GRIGOLETTI JUNIOR; AUER; SANTOS, 2001).
Desta forma, em viveiros próximos a centros urbanos, deve ser dada a preferência
para água de poço artesiano e semi-artesiano.
Outro aspecto que deve ser considerado é a seleção de matrizes para produção
de sementes e/ou estacas ou garfos para enxertia, importante para obtenção de
mudas de qualidade. O sucesso na produção de uma muda sadia depende, em grande
parte, do estado sanitário do órgão que lhe deu origem. Sementes e/ou estacas devem
estar na sua melhor condição de vigor e sanidade, quando utilizadas. Mudas
procedentes de material propagativo de baixa qualidade ficam mais suscetíveis a
patógenos oportunistas (GRIGOLETTI JUNIOR; AUER; SANTOS, 2001).
Os procedimentos envolvendo o corte de estacas, enxertia, plantio, bem como
o descarte de cepas e mudas doentes, deverão ser realizados com tesouras de poda e
demais ferramentas sempre esterilizadas, luvas descartáveis, bandejas limpas e
esterilizadas com álcool ou hipoclorito de sódio, estas medidas são importantes para
evitar a propagação de doenças de uma planta para outra vizinha e, também, de uma
espécie para outra.
A seleção e o descarte de mudas são importantes porque, além de uniformizar
as mudas por tamanho, permitem isolar aquelas impróprias para o plantio, por
estarem doentes ou fora de padrão, que podem ser fontes de contaminação para as
demais. Deve ser realizada a separação de mudas bastante enfolhadas das outras, para
evitar o estiolamento, melhorar a ventilação e facilitar a irrigação (GRIGOLETTI
JUNIOR; AUER; SANTOS, 2001).
No viveiro, qualquer fator que provoque o enfraquecimento ou estresse das
mudas facilitará a instalação e o desenvolvimento de patógenos ou oportunistas. As
mudas poderão sofrer estresse, tanto nas sementeiras, na fase de plântula, como
depois de transplantadas nas embalagens. A causa poderá ser devido a fatores
nutricionais, hídricos, transplantio mal executado ou permanência das mudas nas
embalagens além do tempo necessário. As condições de temperatura e umidade
podem ter ação direta sobre as mudas ou indireta favorecendo o patógeno.

82
Manejo de Doenças em Viveiros Florestais

Tanto a falta como o excesso denutrientes provocam estresse na planta. Nas


sementeiras, a quantidade de sementes por área e a profundidade de semeadura são
fatores importantes a ser considerados. A alta densidade de plântulas, sementes
plantadas muito profundamente favorecem a ocorrência de tombamento de mudas.
(GRIGOLETTI JUNIOR; AUER; SANTOS, 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No último século, houve maior pressão sobre a produção nas culturas agrícolas
e florestais, devido ao aumento da demanda por esses produtos e, com isso, a
produção em grandes áreas cultivadas com a mesma espécie, tem facilitado à
ocorrência de pragas e doenças.
O conceito de controle de doenças tem sofrido alterações nas últimas décadas.
Anteriormente, o objetivo era eliminar completamente o patógeno com o uso
indiscriminado e contínuo de produtos químicos sem medir as consequências. Este
procedimento tem provocado alterações no ambiente, como a seleção de patógenos
resistentes, ocorrência de surtos de doenças consideradas como secundárias,
diminuição de microrganismos benéficos, além de causar efeitos deletérios ao homem,
aos animais e ao ambiente, devido ao acúmulo de resíduos no solo, na água e nos
alimentos.
Com o passar do tempo, viu-se que erradicar completamente os patógenos era
praticamente impossível, sendo mais fácil tentar conviver com o problema. Dessa
forma, surgiu um novo conceito de controle de doenças, conhecido por manejo.
Portanto, para que se alcance sucesso na produção de mudas florestais, é
imprescindível o conhecimento dos patógenos envolvidos, do tipo do viveiro e das
práticas utilizadas, para assim traçar as melhores estratégias de manejo das doenças.
Estes conhecimentos possibilitam a utilização de práticas culturais adequadas, visando
à prevenção e ao controle dessas enfermidades. Contudo, é importante manter o
viveiro de produção de mudas sempre limpo e livre de patógenos, a inspeção
sistemática das mudas e o monitoramento no viveiro devem ser realizados para
detectar qualquer sintoma precocemente para tomada das devidas medidas de
controle.

83
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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sementes e mudas de espécies florestais. 1. ed. Lavras: UFLA, 2008. cap. 2, p. 126.

84
Nematoides Entomopatogênicos

Capítulo 8

“NEMATOIDES ENTOMOPATOGÊNICOS”

Fabio Silber Schmidt1; Lucas Detogni Simi²; Fernanda de Oliveira1; Lizandra Alexa de Carvalho1;
Ari Gitz1; Mario Yacoara de Menezes Neto1; Luís Garrigós Leite2

1 Bio Controle Métodos de Controle de Pragas – Lab. de Pesquisa, Rua Ema Gazzi Magnusson, 405, Dist.
Ind. Vitoria Martini, CEP 13347-630, Indaiatuba-SP. E-mail: fabio@biocontrole.com.br
2 Instituto Biológico – Lab. Controle Biológico, Rodovia Heitor Penteado, km 3,5, CP 70, CEP 13001-970,
Campinas-SP.

INTRODUÇÃO
O Brasil tornou-se líder na produção e exportação de diversos produtos
agrícolas na última década, e juntamente com esse status chegou à primeira posição
no consumo de agroquímicos, o que mostra um crescimento que diverge de uma
produção sustentável de alimentos. Com a expansão das áreas de cultivo devido à
crescente demanda do mercado, consequentemente houve aumento significativo no
número de pragas de solo, deixando os agricultores na dependência muitas vezes do
controle químico. Porém, o uso irracional destes pesticidas trouxe consequências ao
meio ambiente e a saúde humana, além de resultados de controle nem sempre
satisfatórios. Os insetos de hábito subterrâneo são de difícil controle por meio do uso
convencional de defensivos químicos, surgindo oportunidade para métodos
alternativos, como o controle microbiano através de nematoides entomopatogênicos,
com vantagens principalmente de ordem econômica e ambiental.
Entre as razões para o crescente interesse por tais nematoides, podemos citar:
i) possibilidade de criação massal “in vitro”, atualmente a custos economicamente
viáveis; ii) compatíveis a muitos defensivos químicos e biológicos, podendo
demonstrar ação sinérgica em combinações; iii) específicos para insetos, com
comprovada eficiência no controle de certos grupos ou espécies, em destaque para
pragas de solo ou que passam nele parte de ciclo biológico; iv) em muitos casos,
comportamento de busca do hospedeiro; v) persistência por longos períodos no

85
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

ambiente vi) não toxicidade ao homem ou a animais domésticos e de interesse


zootécnico.

NEMATOIDES ENTOMOPATOGÊNICOS
Mundialmente, o controle biológico de pragas de solo é alvo de muitas
pesquisas, sendo uma prática há muito tempo adotada, especialmente pelo uso de
nematoides entomopatogênicos (NEPs). Os nematoides do gênero Steinernema e
Heterorhabditis são os principais agentes largamente utilizados para o controle de
pragas, incluindo, além das pragas de solo, também pragas da parte aérea que
possuem parte do seu ciclo no solo, e insetos que habitam ambientes crípticos.
Com cerca de 1 mm de comprimento, esses agentes possuem o
comportamento de busca e a capacidade de penetrar o corpo de insetos hospedeiros,
através de suas aberturas naturais ou através da cutícula. A localização do hospedeiro
é possível através de quimiorreceptores localizados na região cefálica, que detecta
principalmente o CO2 liberado pelo inseto.
Os nematoides entomopatogênicos das famílias Steinernematidae e
Heterorhabiditidae apresentam simbiose com bactérias dos gêneros Xenorhabdus spp.
ou Photorhabdus spp, respectivamente, que são encontradas no intestino ou glândulas
especializadas no sistema gastrointestinal (Figuras 1 e 2).

Figura 1. Nematoide Steinernema brazilense com a bactéria


mutualística do gênero Xenorhabdus spp. (coloração
vermelhada).

86
Nematoides Entomopatogênicos

Figura 2. Galleria mellonella infectada pelo nematoide Heterorhabditis megidis.

Após penetrar o corpo do inseto, os NEPs alcançam o hemoceloma e ocorrerá a


liberação da bactéria, que provoca septicemia e morte do hospedeiro em
aproximadamente 48 horas.
Com a rápida multiplicação da bactéria no cadáver do inseto, os nematoides
iniciam sua reprodução e alimentam-se da suspensão bacteriana desenvolvida na
hemolinfa recém-digerida do inseto. Após duas a três gerações, com o fim do
alimento, o nematoide é convertido no estado de juvenil infectivo (JI) (3 estágio
juvenil), e milhares de vermes deixam os cadáveres na busca de novos hospedeiros.
Trata-se, portanto, de uma associação mutualística na qual o nematoide atua como um
vetor da bactéria, e esta, por sua vez, fornece alimento ao nematoide.
O ciclo de vida para a maioria dos Steinernematídeos e heterorhabditídeos, da
infecção à emergência dos juvenis infectivos, varia de 7 a 10 e 12 a 15 dias
respectivamente, em temperatura ambiente.
Alguns fatores abióticos podem interferir no ciclo de vida desses organismos.
Altas temperaturas afetam os nematoides de diferentes formas, como pela destruição
da cutícula, enquanto que as baixas temperaturas podem causar a coagulação do
citoplasma. A temperatura afeta, além da sobrevivência, o crescimento, a reprodução
e a distribuição dos nematoides, sendo um fator crítico na motilidade e na infecção do
patógeno. Temperaturas entre 5oC a 15oC podem inativá-los, sendo a temperatura
ótima entre 15oC e 30oC.

87
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

A sobrevivência dos nematoides sob condições ambientais desfavoráveis deve-


se em grande parte à manutenção da cutícula do segundo estádio juvenil sobre a do
terceiro. Essa cutícula continua presente e protege o nematoide contra a desidratação
excessiva ou prolongada no solo e também contra a atuação de fungos parasitos.
Cabe ressaltar que no campo existem diversos fatores que podem ter influência
sob a reciclagem e manutenção destes agentes. Por outro lado, a capacidade dos
nematoides infectarem mais de um estágio de desenvolvimento de uma mesma
espécie pode provocar um aumento na quantidade de inóculo no campo, acarretando
muitas vezes, um controle maior do que o esperado.
A quantidade de lipídios armazenados no organismo dos nematoides, além da
umidade e temperatura são de extrema importância para sua sobrevivência no solo.
Essa capacidade de sobrevivência em diferentes temperaturas tem sido avaliada em
diversos estudos, procurando selecionar isolados que estejam adaptados as
adversidades de cada região. Cada espécie e até mesmo isolados da mesma espécie
reagem diferentemente às variações de temperatura e umidade. Desta forma, a
seleção dos nematoides entomopatogênicos faz-se necessária para o sucesso nos
programas de controle biológico de pragas.
Todavia, a persistência desses nematoides sob condições favoráveis tem sido
atribuída principalmente à capacidade de reciclar-se no hospedeiro, o que evidencia a
necessidade da presença de insetos suscetíveis na área a ser tratada, procurando obter
um controle duradouro da praga alvo.
Para diminuir os efeitos do clima sobre o entomopatógeno, mais investimentos
em estudos de formulação e técnicas de aplicação. As formulações objetivam, dentre
outras finalidades, maior persistência dos nematoides no ambiente, garantindo
melhores resultados. Além disso, o planejamento na aplicação pode ser um fator
essencial para garantir o controle de uma determinada praga utilizando estes agentes.
Muitos insetos não podem ser controlados por NEPs em decorrência de uma
resistência natural ou comportamento que dificulta a infecção. O planejamento de um
programa de controle biológico deve desenvolver estratégias para a identificação de
quais pragas podem de fato ser combatidas, analisar o comportamento da praga e
relacionar com o entomopatógeno, e definir os métodos ideais de aplicação a serem
empregados. Para a definição das taxas de infectividade de determinadas espécies de

88
Nematoides Entomopatogênicos

inseto frente à linhagem de nematoide selecionada, é de suma importância que sejam


realizados estudos prévios em laboratório e casas de vegetação.

PRODUÇÃO DE NEMATOIDES ENTOMOPATOGÊNICOS


Um dos fatores mais importantes para se considerar no desenvolvimento de
um bioinseticida a base de nematoides é a produção destes agentes a baixo custo e em
escala suficiente para atender a demanda do mercado. Na ultima década, o progresso
bastante significativo na produção de nematoides entomopatogênicos, especialmente
in vitro, tem permitido empresas produzirem nematoides eficientes, a custos
reduzidos. Atualmente, já existem diversos produtos à base de nematoides
entomopatogênicos comercializados principalmente nos Estados Unidos e Europa.
Na produção in vitro, o nematoide é cultivado em meio artificial previamente
inoculado com a bactéria simbionte, alimentando-se dos componentes do meio e da
cultura do microrganismo. Dentre os métodos de produção in vitro, destacam-se os
processos da esponja (meio sólido) e de fermentação (meio líquido), os quais podem
permitir elevados rendimentos do nematoide. Em grande escala de produção, o uso do
meio sólido torna o processo laborioso e suscetível a contaminações, sendo mais difícil
de ser monitorado. A esponja não é biodegradável e, para a comercialização do
nematoide, deve ser removida. Desta forma, para fins comerciais, a produção de
nematoides em meio líquido é mais prática e econômica. O nematoide pode ser
utilizado sem a necessidade de ser previamente extraído da esponja, e todos os
componentes do meio de cultura são biodegradáveis.
Apesar do mercado em potencial que existe na América Latina, não existe ainda
nenhuma empresa voltada para produção massal in vitro de nematoides
entomopatogênicos nesta região do globo. A Empresa Bio Controle em parceria com o
Instituto Biológico, com financiamento da FAPESP (programa PIPE) e FINEP vem
estudando a produção in vitro de nematoides entomopatogênicos, procurando
adaptar os processos da esponja e de fermentação para as condições do Brasil. Até o
momento, tem-se estudado principalmente o processo da esponja, sendo já
desenvolvido um meio de cultura a base de proteína animal, o qual permite a
produção de Steinernema feltiae (IBCB n47) e Steinernema brazilense (IBCB n06), com
rendimento superior a 200.000 JI /ml e 120.000 JI/ml, respectivamente. A esponja

89
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

serve como suporte físico para retenção do meio de cultura e para a reprodução do
nematoide. Têm sido avaliados diferentes tipos de suportes físicos visando substituir a
esponja sintética e permitir fornecimento do nematoide juntamente com o substrato,
sem haver a necessidade de extração e formulação prévia.

FORMULAÇÃO DE NEMATOIDES ENTOMOPATOGÊNICOS


Formulação de nematoides entomopatogênicos é um assunto pouco explorado
na América Latina, sendo as informações disponíveis obtidas dos países que utilizam
esses agentes para o controle biológico de pragas, referentes basicamente aos gêneros
Steinernema e Heterorhabditis.
A ‘formulação’ de um nematoide entomopatogênico significa acrescentar a ele
determinados compostos que, a um só tempo, i) permitam o seu armazenamento por
um adequado tempo de prateleira, com perda mínima das qualidades; ii) possibilitem
a sua preservação durante o período de transporte e até a época de sua aplicação sob
condição de campo; e iii) facilitem o transporte a menores custos, além do manuseio e
aplicação por parte do produtor. Na maioria das formulações, a qualidade do produto
durante o seu armazenamento é mantida pela redução do metabolismo do nematoide,
o que pode ser conseguido através da refrigeração, dessecação parcial, ou alteração na
osmolaridade. A temperatura adequada para armazenar formulações de nematoides
varia de acordo com a espécie do organismo. O clima da região de origem do
nematoide é pré-indicativo da temperatura adequada para armazenamento.
Empresas que comercializam NEPs no EUA e Europa geralmente fazem uso de
formulações mais sofisticadas, na forma pó-molhável.

A EMPRESA BIO CONTROLE E A PRODUÇÃO DE NEMATOIDES


A Bio Controle foi fundada em abril de 1997, no auge dos defensivos químicos
no Brasil e propôs soluções para a agricultura, buscando alternativas biológicas e
outras opções de manejo para substituir ou minimizar a utilização dos agrotóxicos,
promovendo a sustentabilidade ambiental, e incrementando a qualidade e
produtividade dos cultivos agrícolas. Além disso, possui uma estrutura organizada
voltada para a inovação tecnológica de produtos e processos, e para o gerenciamento
e negócios do seu portfólio. Conta com um laboratório muito bem equipado para

90
Nematoides Entomopatogênicos

testes de produção e formulação de produtos biológicos e vem realizando atividades


de Pesquisa & Desenvolvimento relacionadas principalmente a testes primários de
novos produtos e também dos produtos que já comercializa.
Diante do crescimento do mercado de controle biológico, a Bio Controle investe
em inovações para melhor atender seus clientes e criar mais opções de produtos e
serviços de alta qualidade. Em 2012, a empresa ficou na 6ª posição do ranking da
revista Globo Rural das 30 melhores empresas no segmento de defensivos agrícolas.
A Bio Controle é uma das poucas empresas na América que desenvolve a
produção massal in vitro de nematoides entomopatogênicos. Os estudos são
realizados com a parceria do Instituto Biológico de Campinas, e financiamento da
FAPESP. A empresa trabalha com três espécies de nematoides entomopatogênicos,
incluindo o primeiro macrorganismo registrado pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento para o controle de Sphenophorus levis (Coleoptera:
Curculionidae) na cultura de cana-de-açúcar.
Atualmente, a empresa possui uma metodologia definida para produção in
vitro em substrato sólido (Figuras 3 e 4), e vem realizando testes para o
desenvolvimento de uma formulação em “pó molhável”.

Figura 3. Produção “in vitro” de nematoides pelo processo da


esponja. Produção de inóculo em frascos.

91
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Figura 4. Produção “in vitro” de nematoides pelo processo


da esponja. Produção em sacos.

A empresa fornece nematoides para o desenvolvimento de testes e para uso


em pequenas culturas, e possui um plano de ampliação na escala de produção para
atender também grandes demandas.
O processo de produção em substrato sólido permite uma produção massal,
mas gera dificuldades diretamente proporcionais a uma escala de produção maior,
relacionadas principalmente à necessidade de ampliação do espaço físico e
contratação de mão de obra. Dessa forma, a Bio Controle possui outro projeto em
andamento subsidiado pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) para
desenvolvimento também do processo de produção in vivo em meio líquido utilizando
fermentadores (titulo do projeto: “Desenvolvimento do processo fermentativo e
construção de um fermentador especifico para a produção de NEPs em meio líquido”).

LITERATURA RECOMENDADA
FERRAZ, L.C.C.B. Nematoides entomopatogênicos. In: ALVES, S.B. (Ed.) Controle microbiano de
insetos. Piracicaba: FEALQ, 1998. p.541-569.
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para o controle de pragas agrícolas e urbanas.In: ALVES, S.B.; LOPES, R.B. (Ed.) Controle
microbiano de pragas na América Latina: avanços e desafios. Piracicaba: FEALQ, 2008.
p.171-196.

92
Influência dos Semioquímicos na Preferência de Parasitoide de Ovos

Capítulo 9

“INFLUÊNCIA DOS SEMIOQUÍMICOS NA PREFERÊNCIA HOSPEDEIRA DE


PARASITOIDES DE OVOS”

Regiane Cristina Oliveira de Freitas Bueno e Marina Mouzinho Carvalho

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu.
Departamento de Proteção Vegetal, FCAUNESP, Cx. Postal 237, 18603-970, Botucatu, SP.

INTRODUÇÃO
A medida de controle de pragas predominantemente utilizada pela maioria dos
produtores brasileiros é a aplicação de inseticidas. Contudo, a aplicação desses produtos
fitossanitários, muitas vezes utilizados de forma abusiva e errônea, tem acarretado sérios
problemas ao ambiente, além causar o aumento no custo de produção, eliminação de
inimigos naturais, seleção de populações das pragas resistentes aos inseticidas utilizados,
contaminação da água, solo e etc. Além disso, devido a esse desequilíbrio ecológico
causado na lavoura, pragas anteriormente consideradas secundárias passaram a encontrar
condições satisfatórias para aumentar a população tornando-se pragas-chave, como o
exemplo recente dos surtos de lagartas da subfamília Heliothiinae, que ocorreu na última
safra, principalmente nas culturas da soja, milho e algodão.
Uma alternativa ao método de controle químico é a utilização de práticas
sustentáveis, como o controle biológico aplicado. Dentro dessa concepção, os parasitoides
de ovos tem grande potencial de sucesso, visto que controlam as pragas-alvo no início do
ciclo, impedindo que as mesmas causem danos às culturas. Nesse contexto, o controle
biológico é considerado um importante componente de programas de Manejo integrado
de pragas (MIP). Atualmente, existem estudos sobre centenas de espécies com resultados
satisfatórios para prática do Controle Biológico (AZEVEDO; ABBOUD; CARMO, 2010), que
consiste no uso de inimigos naturais, ou seja, predadores, parasitoides e/ou organismos
entomopatogênicos para controlar os insetos-pragas.
É importante salientar que o sucesso ou fracasso das liberações de parasitoides de
ovos dependem basicamente do conhecimento das características bioecológicas dos

93
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

parasitoides e da interação com os hospedeiros alvos, assim como do número de


parasitoides a ser liberado, da densidade da praga, espécie(s) do(s) parasitoide(s)
utilizada(s), época e número de liberações, relação com a fenologia da planta, densidade
de outros inimigos naturais presentes no agroecossistema e das condições climáticas
locais (BOURCHIER; SMITH, 1996).
Assim, é fundamental o conhecimento da preferência hospedeira dos parasitoides
em campo, uma vez que existe a ocorrência de mais de uma espécie de inseto, sendo que
esta diversidade pode interferir no desempenho dos parasitoides em suprimir o número
de insetos de uma praga-alvo, em virtude da maior oferta de ovos (SIQUEIRA et. al., 2012).
O sucesso de um inimigo natural encontra-se intimamente relacionado à habilidade em
encontrar a presa ou hospedeiro (GAZIT; LEWIS; TUMLINSON, 1996).
Durante o ciclo de vida os parasitoides passam por uma etapa crucial, que é o
momento no qual as fêmeas precisam procurar um novo hospedeiro para parasitar
(busca) e, uma vez localizado, decidir se realizam a oviposição ou não (seleção). Para isso,
o parasitoide tem uma sequência de etapas comportamentais que incluem: a localização
do habitat do hospedeiro, a localização do próprio hospedeiro, o reconhecimento do
hospedeiro, a aceitação e a adequação do mesmo (VINSON, 1998).
Para tanto, os parasitoides de ovos utilizam-se de diversos sinais químicos, físicos e
visuais provenientes ou associados aos hospedeiros, sendo os sinais químicos
(aleloquímicos e feromônios) os mais comumente utilizados durante o forrageamento
(TUMLINSON et al., 1992). Muitos inimigos naturais utilizam-se de cairomônios
(aleloquímicos que provocam respostas favoráveis ao receptor) de hospedeiros ou presas
no forrageamento (EIRAS; GERK, 2001) para encontrar o hospedeiro adequado ao
desenvolvimento da prole (DICKE; BALDWIN, 2010). Sabe-se ainda que parasitoides
exploram a comunicação entre indivíduos da espécie hospedeira e que, muitas vezes, são
atraídos por feromônio sexual do hospedeiro, uma vez que este indica a presença (atual
ou futura) de ovos do hospedeiro na área (VINSON, 1984).
A capacidade de busca de parasitoides encontra-se diretamente associada a esses
cairomônios presentes nos hospedeiros (VINSON, 1976). Ao responder às substâncias
químicas específicas os parasitoides restringem a busca em áreas onde há maior
probabilidade de encontrar hospedeiros, e assim, aumentam as chances de sucesso
reprodutivo (MORRISON; LEWIS; NORLUND, 1980). A manipulação da abundância e

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Influência dos Semioquímicos na Preferência de Parasitoide de Ovos

distribuição de inimigos naturais por semioquímicos tem potencial para melhorar as


estratégias de controle biológico. Entretanto, estudos em ambientes complexos (campo),
voltados para estabelecer a ação cairomonal de semioquímicos e a influência na
distribuição e abundância de parasitoides ainda são escassos. Esses conhecimentos são
fundamentais para estabelecer bases científicas sólidas que permitam a aplicação dos
semioquímicos no manejo integrado de pragas.

Princípio dos semioquímicos


A localização ou preferência pelo habitat do hospedeiro é um processo que envolve
vários fatores intrínsecos (internos) e extrínsecos (externos), que podem ser biológicos ou
físicos. Entre os fatores físicos, além da luz, do vento, da umidade e da temperatura, a
presença de substâncias químicas também influenciam a preferência da fêmea pelo
habitat do hospedeiro (VINSON, 1991; VET; DICKE, 1992).
A relação existente entre os agentes de controle biológico e os hospedeiros foram
muito estudados no intuito de verificar se substâncias químicas estariam envolvidas para
estimular o comportamento de busca pelo habitat do hospedeiro. Os resultados indicam
que as substâncias químicas podem desencadear estímulos que direcionam ou “induzem”
os inimigos naturais a localizarem os hospedeiros e ainda, que as mesmas podem estar
relacionadas com o próprio hospedeiro (VINSON, 1976).
Essas substâncias químicas são denominadas de semioquímicos, que são
compostos que conduzem uma informação entre dois indivíduos, despertando no
receptor uma resposta fisiológica e podem ser classificados como feromônios ou
aleloquímicos (VET; DICKE, 1992). Os feromônios têm atuação intraespecífica e em geral
são favoráveis a ambos os indivíduos envolvidos. Os aleloquímicos geram respostas
interespecíficas que se distinguem em relação à vantagem seletiva dos organismos
envolvidos, sendo o alomônio denominado quando somente o emissor adquire vantagem
seletiva, ou seja, o emissor é favorecido pela emissão de alguma substância química; o
cairomônio quando ocorre vantagem seletiva para o receptor, emitido por um nível trófico
inferior, mas utilizado por um nível trófico superior geralmente para encontrar recursos; e
sinomônio que apresentam vantagem seletiva para os dois organismos – receptor e
emissor (PRICE 1997, VET; DICKE 1992).

95
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Assim, os sinais recebidos pelos insetos e especificamente pelos parasitoides,


durante as etapas de localização do habitat e do hospedeiro modificam os padrões de
movimento, podendo gerar respostas de orientação ou de deslocamento. Durante as
etapas de reconhecimento e aceitação os sinais contribuem para identificar e selecionar o
hospedeiro (VINSON 1985).
Os semioquímicos podem ser utilizados no manejo de pragas em campo, onde os
compostos têm potencial para atrair ou reter os parasitoides em uma área particular ou
aumentar os índices de parasitismo, alterando assim a dinâmica das relações
hospedeiro/parasitoide (VET; DICKE 1992). Hospedeiros sésseis, tais como ovos, liberam
poucos compostos voláteis (VINSON, 1984). Portanto, os semioquímicos provenientes de
substâncias depositadas sobre ou próximo aos ovos no momento da oviposição, ou
utilizadas para fixá-los ao substrato, podem atuar na atração a curta distância e/ou
durante o contato (FERREIRA; PINTUREAU; VOEGELLE, 1979; RENOU et al., 1992). Dessa
forma, esses compostos são importantes na localização e reconhecimento do ovo
(FRENOY; DURIER; HAWLITZKY, 1992).
Os semioquímicos provenientes do corpo do adulto também são frequentemente
utilizados na localização do hospedeiro por parasitoides de ovos, pois auxiliam no
comportamento de busca (LEWIS; NORLUN, 1984) e atuam como arrestantes, mantendo o
parasitoide na área em que está o hospedeiro (PARKER; LAWSON; PINNELL, 1971).

Interações Tritróficas entre plantas, insetos-praga e parasitoides


Embora possam ser estudados separadamente cada componente de um sistema,
em um contexto ecológico, um organismo ou população de uma espécie não ocorre
isoladamente. Os indivíduos, na verdade, fazem parte de um sistema complexo e
interdependente com outros organismos, de tal maneira que a dinâmica de todos é
afetada mutuamente (PUTMAN 1994). As características das plantas podem afetar os
herbívoros, assim como os inimigos naturais (DICKE 1999; BUKOVINSZKY et al., 2009).
Nesse contexto tritrófico é importante a realização da análise das interações entre planta-
herbívoro-inimigo natural em sistemas onde as características de todos os elementos
podem auxiliar o controle biológico e assim tornam-se importantes componentes do
manejo de pragas (DICKE, 1999).

96
Influência dos Semioquímicos na Preferência de Parasitoide de Ovos

Diferentes cultivares ou variedades de plantas podem apresentar variações na


composição dos compostos secundários relacionados à defesa e dos voláteis liberados
após a herbivoria (BALLHORN et al., 2008). Entre esses estão às defesas induzidas por
herbívoros (DIHs), que se manifestam após as injúrias que podem ser recorrentes de
atividades de alimentação ou oviposição (DICKE; SABELIS, 1988). Esses compostos podem
ser produzidos no local da injúria ou através de um efeito sistêmico em diferentes locais
da planta e podem agir diretamente sobre os herbívoros, repelindo ou afetando a biologia
(KESSELER; BALDWIN, 2001) ou indiretamente por atrair os inimigos naturais (DUDAREVA
et al., 2006).
Parasitoides, principalmente os especialistas, podem identificar as diferenças
provocadas pela DIHs na qualidade das plantas consumidas pelos hospedeiros e escolher
aqueles com melhores condições para o desenvolvimento da descendência (BUKOVINZKY
et al., 2009). Nesse sentindo, Altieri et al. (1981) estudaram a interação química do
parasitoide Trichogramma spp. com diversas culturas, entre elas a soja, o tomate, o
algodão e o feijão caupi e concluíram que as plantas pulverizadas com extratos de plantas
daninhas tinham aumento de parasitismo e consequente supressão das populações de
insetos-praga nas culturas. Outro exemplo é o aumento do parasitismo Trichogramma
pretiosum Riley, 1879 (Hymenoptera: Trichogrammatidae) em ovos do hospedeiro
Anagasta kuehniella (Zeller, 1879) (Lepidoptera: Pyralidae) quando este são pulverizados
com solução aquosa de extratos de plantas de Amaranthus retroflexus (ALTIERI et al.,
1982).

Importantes casos de interação dos semioquímicos com parasitoides de ovos


Os estudos com a utilização de diferentes fontes de semioquímicos pelos
parasitoides durante a busca pelos hospedeiros tem sido priorizados pelos diversos
pesquisadores. Colazza, Mcelfresh e Millar (2004) em estudos de laboratório demonstrou
que Trissolcus basalis Wollaston, 1858 (Hymenoptera: Scelionidae) responde a voláteis
produzidos por machos virgens e fêmeas em estágio de pré-oviposição do percevejo
Nezara viridula (Linnaeus, 1758) (Hemiptera: Pentatomidae). Telenomus calvus Johnson,
1984 (Hymenoptera: Scelionidae) utiliza-se de feromônios de Podisus maculiventris (Say,
1832) (Hemiptera: Pentatomidae) para localizar as posturas e parasitá-las (VILELA; PALLINI
2002). Telenomus podisi Ashmead, 1893 (Hymenoptera: Scelionidae) é atraído tanto pela

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

substância adesiva de ovos quanto pelo feromônio sexual de Euschistus heros (Fabricius,
1974) (Hemiptera: Pentatomidae) (BORGES et al., 1999). Resultados similares foram
obtidos por Conti et al (2003) que constataram que Trissolcus brochymenae (Ashmead,
1881) (Hymenoptera: Scelionidae) são estimulados por voláteis de machos, fêmeas e
ninfas do percevejo Murgantia histrionica (Hahn, 1895) (Hemiptera: Pentatomidae).
Outro exemplo é o comportamento de Telenomus remus Nixon, 1937
(Hymenoptera: Scelionidae) que responde positivamente a componentes do feromônio
sexual de Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797) (Lepidoptera: Noctuidae) (LEWIS;
NORLUND, 1984) e de Spodoptera litura Fabricius (ANANTHAKRISHNAN, 1998).
O parasitoide de ovos T. remus apresenta processo de oviposição característico
entre os indivíduos deste grupo, pois inicia o parasitismo após os ovos do hospedeiro
serem examinados pelas fêmeas. Nesse processo as fêmeas caminham sobre a massa de
ovos e utilizam as antenas para examinar minuciosamente a superfície de cada ovo.
Durante o desenvolvimento e logo após o término da fase pupal, o adulto abre um
pequeno orifício no ovo do hospedeiro, por onde emerge. Em geral, a emergência das
fêmeas ocorre algumas horas depois dos machos, que permanecem estáticos ao lado dos
ovos do hospedeiro até a emergência das fêmeas. Os machos são atraídos pelo feromônio
liberado pelas fêmeas quando ainda em estágio de pupa. Os machos permanecem
parados sobre os ovos até a emergência das fêmeas, então eles as auxiliam na emergência
e em seguida ocorre a cópula.
Logo após o acasalamento, as fêmeas iniciam a busca por ovos viáveis do
hospedeiro, sendo estas atraídas pelas substâncias químicas (Z)-9-tetradeceno-1-ol
acetato e (Z)-9-dodeceno-1-ol acetado presentes nos ovos de S. frugiperda (CAVE, 2000).
Além disso, sinomônios provenientes de plantas de milho, sorgo, algodão (FARIA, 2001) e
tomate (LEWIS; NORLUND, 1984) também atraem esse parasitoide facilitando a
localização de ovos de S. frugiperda nestas culturas (LEWIS; NORLUND, 1984). É
importante ressaltar que T. remus é mais atraído para plantas de milho quando
comparadas a sorgo e algodão (FARIA, 2001), mas não há diferença na atratividade
quando as plantas de milho encontram-se sadias ou atacadas por lagartas (PEÑAFLOR,
2006).
Algumas secreções orais produzidas pela mastigação dos insetos foram
identificadas, como a â-glucosidase presente nas lagartas de Pieris brassicae (Linnaeus,

98
Influência dos Semioquímicos na Preferência de Parasitoide de Ovos

1758) (Lepidoptera: Pieridae) e a glutamina presente nas lagartas de Spodoptera exigua


(Hübner, 1808) (Lepidoptera: Noctuidae) (MATTIACCI; DICKE; POSTHUMUS, 2005), sendo
que estas proteínas atuam com a mastigação do inseto e as plantas hospedeiras reagem a
elas emitindo uma mistura de voláteis, que atraem as vespas parasitoides da espécie
Cotesia glomerata (Linnaeus, 1758) (Hymenoptera: Braconidae) e Cotesia marginiventris
(Cresson, 1865) (Hymenoptera: Braconidae).

Alteração da resposta dos parasitoides aos semioquímicos


Para se garantir o sucesso de um programa com a utilização de controle com
parasitoides de forma conjunta com a ação de semioquímicos é fundamental verificar a
efetividade de substâncias associadas aos ovos e adultos do hospedeiro. No entanto, os
parasitoides podem modificar a resposta aos semioquímicos, em função da adaptação
sensorial que pode ocorrer devido à exposição prolongada destes insetos a determinados
odores, de tal forma que os torne insensíveis às substâncias químicas (CARDÉ; BELL; 1995).
Os parasitoides para encontrar os ovos dos insetos-pragas nos agroecossistemas
utilizam o sistema sensorial para localizar os sinais químicos emitidos pelo hospedeiro. No
entanto, é comum que os parasitoides procurem sempre ovos da espécie onde foram
multiplicados, comportamento este conhecido como condicionamento pré-imaginal
(PREZOTTI; PARRA, 2002). Tal comportamento pode influenciar à escolha da fêmea
durante o processo de parasitismo, ou ainda diminuir a eficiência do controle, caso os
parasitoides sejam multiplicados em hospedeiros diferentes daqueles que serão alvos na
liberação.
Contudo, um exemplo de que cada espécie deve ser avaliada separadamente é o
caso anteriormente mencionado do parasitoide T. remus, introduzido no Brasil há cerca de
20 anos (PEDRASI; PARRA, 1986). Atualmente, ainda não foi estabelecido programa de
controle biológico aplicado com liberação massal ou reintrodução de novos indivíduos, e a
hipótese do insucesso do programa era que os parasitoides tinham preferência
hospedeiro por serem mantidos em criação massal por muitas gerações, com possível
perda da capacidade de busca ao hospedeiro natural S. frugiperda. No entanto, após a
realização de avaliações da preferência hospedeira de T. remus confirmou-se que este
parasitoide apresenta característica de escolher o hospedeiro natural, S. furgiperda entre
várias espécies (GOULART et al., 2011) e talvez os programas de controle biológico com

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

este inimigo natural não tenha sido consolidado em função de condições abióticas, como
o clima adverso em localidades de plantio de milho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversos estudos têm examinado as possibilidades de integração entre diferentes
táticas de controle de pragas, dentre estas, as relações interações tróficas entre plantas,
pragas e os inimigos naturais tem se destacado (KAROWE; SCHOONHOVEN, 1992). Os
estudos que abordam as relações com utilização das características das plantas na atração
de insetos merece destaque, pois esta prática de controle é reconhecidamente
comprovada como eficientes no controle de diversas pragas (LIN et al., 1983; ULMER et al.,
2002) e paralelamente, a alternativa de se utilizar parasitoides, torna-se real, pois é
crescente o número de laboratórios de produção que tem surgido e a utilização desses
insetos, em várias regiões brasileiras (PARRA; ZUCCHI, 2004).
Dessa forma, os semioquímicos possuem função importante no processo que
envolve o comportamento de busca pelo habitat de hospedeiros, pois é um dos recursos
utilizados pelos insetos durante esta fase do processo. Muitos estudos têm demonstrado
que parasitoides utilizam os voláteis de plantas como estratégia de busca pelo habitat dos
hospedeiros, além de serem beneficiados pelas alterações que os compostos químicos de
espécies vegetais exercem sobre eles. O conhecimento das características desses
compostos químicos e das interações com parasitoides trazem a possibilidade do uso das
substâncias atrativas no sentido de promover aumento das taxas de parasitismo o que irá
beneficiar diretamente diversos programas de Controle Biológico.

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102
Manejo de Formigas Cortadeiras

Capítulo 10

“MANEJO DE FORMIGAS CORTADEIRAS”

Ricardo Toshio Fujihara1, Marcílio de Souza Silva2 e Luiz Carlos Forti3

1 Professor Adjunto Doutor, CCA/DCNME, UFSCar, Campus de Araras, Rodovia Anhanguera, Km 174,
Caixa Postal 153, 13600-970, Araras, SP. E-mail: rtfujihara@cca.ufscar.br
2 Doutor, FCA/UNESP, LISP, Fazenda Exp. Lageado, Rua José Barbosa de Barros, 1780, Caixa Postal 237,
18610-307, Botucatu, SP. E-mail: agromss@hotmail.com
3 Professor Adjunto Doutor, FCA/UNESP, LISP, Botucatu, SP. E-mail: luizforti@fca.unesp.br

INTRODUÇÃO
As formigas representam o grupo de insetos sociais mais amplamente distribuído e
numericamente abundante, compreendendo 12.941 espécies (BOLTON, 2013). Apesar de
95 % serem benéficas ao homem e à natureza, os 5 % restantes, as formigas cortadeiras,
são reconhecidas pelo seu elevado poder destrutivo em áreas agrícolas e reflorestamentos
na região Neotropical, gerando severas perdas econômicas (FOWLER et al., 1989; FORTI,
2000).
São popularmente conhecidas como saúvas e quenquéns (gêneros Atta e
Acromyrmex - Hymenoptera: Formicidae: Attini), e entre 8 a 12 milhões de anos (SCHULTZ;
BRADY, 2008), vivem no continente americano, desde o sul dos Estados Unidos (34oN) até
o centro da Argentina (41oS) (DELLA LUCIA; SOUZA, 2011). Com seu comportamento
forrageiro, podem desfolhar até 15 % das plantações e 50 % das espécies vegetais ao
redor de suas colônias (VASCONCELOS; FOWLER, 1990; URBAS et al., 2007).
As folhas, flores e ramos tenros das plantas servem de substrato para o cultivo do
fungo simbionte Leucoagaricus gongylophorus (Möller) Singer (DE FINE LICHT, 2011;
MASIULIONIS; WEBER; PAGNOCCA, 2013), dieta exclusiva das larvas, e importante
constituinte na alimentação de operárias adultas, que também ingerem os líquidos
extraídos das folhas, durante a coleta e processamento (ANDRADE et al., 2002; PAUL;
ROCES, 2003). Por esse motivo, exigem grande quantidade de material vegetal, atacando
as plantas em qualquer fase de desenvolvimento e sob vasta ocorrência.

103
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Distribuição geográfica e importância econômica


Quanto à distribuição geográfica das espécies de formigas cortadeiras, as
informações disponíveis encontram-se dispersas e desigualmente atualizadas. Contudo,
dados compilados estão disponíveis em Delabie et al. (2011).
Para as regiões brasileiras, poucos foram os estudos desenvolvidos, destacando-se
os trabalhos de Gonçalves (1942, 1945, 1960, 1961), Mariconi (1970), Kempf (1972),
Mayhé-Nunes (1994), Delabie et al. (1997), Gusmão e Loeck (1999), Grurzmacher, Loeck e
Medeiros (2002), Rando e Forti (2005) e Santos et al. (2010).
Das 15 espécies de Atta (BACCI et al., 2009; DELABIE et al., 2011) e 32 de
Acromyrmex (DELABIE et al., 2011; BOLTON, 2013), respectivamente, 9 e 21 estão
presentes no Brasil, o que equivale a mais de 60 % do total de formigas cortadeiras. É por
isso que, em nosso país, os problemas ocasionados pelas infestações são mais agudos e de
maior impacto econômico (Tabela 1).

Nível de dano
Estimativas numéricas sobre os danos diretos provocados por formigas cortadeiras
são insuficientes e desatualizadas. No Brasil, vários desses valores se originam de cálculos
empíricos, com quantificações muitas vezes inadequadas (DELLA LUCIA; SOUZA, 2011). Os
exemplos a seguir são citados rotineiramente nas diversas publicações científicas e
técnicas, evidenciando a escassez de informações dessa natureza:
1. Em plantios de Eucalyptus, os prejuízos ocasionados por Atta sexdens rubropilosa
Forel, 1908 (saúva-limão) em mudas, brotações iniciais e plantas adultas foram
calculados em torno de 14 % numa densidade de 4 colônias/ha (AMANTE, 1967a);
2. Numa pastagem, 10 ninhos adultos/ha de A. capiguara Gonçalves, 1944 (saúva-
parda) chegam a cortar 52,5 kg de forragem por dia, equipotente à alimentação
diária de três bois em regime de pasto (AMANTE, 1967b);
3. Um único sauveiro de Atta bisphaerica Forel, 1908 (saúva-mata-pasto) pode
forragear mais de 3,5 toneladas/ano de cana-de-açúcar, o que equivaleria à perda
de 450 kg de açúcar ou 300 litros de álcool (DOW AGROSCIENCES, 1998).
4. Segundo Ulisses Ribas Júnior (com. pessoal) citado por Reis Filho et al. (2007), a
morte de mudas de Pinus por formigas cortadeiras no primeiro ano representam
de 3 % a 5 % de perdas, com o replantio demandando um custo adicional.

104
Manejo de Formigas Cortadeiras

Embora não existam dados conclusivos sobre as perdas para todas as culturas,
pode-se afirmar que quando as plantas são novas os danos podem chegar a 100 % (FORTI,
2000).

ALGUMAS BARREIRAS QUE DIFICULTAM O CONTROLE DE FORMIGAS CORTADEIRAS


As formigas cortadeiras possuem várias características biológicas e
comportamentais que as tornam muito eficientes no corte e transporte de folhas.
Entretanto, estas constituem uma barreira para a utilização de novas moléculas e métodos
alternativos de controle (MARINHO; DELLA LUCIA; PICANÇO, 2006):
Insetos eusociais: as formigas cortadeiras são consideradas verdadeiramente
sociais, no qual várias gerações convivem na mesma colônia (sobreposição); ocorre
cuidado cooperativo à prole (alimentação e proteção); e são divididas em castas
reprodutivas e não reprodutivas, exercendo atividades específicas (divisão de trabalho)
(WILSON; HÖLLDOBLER, 2005). Essas particularidades favorecerem seu desenvolvimento e
especialização quando comparadas a outros herbívoros, como a alocação de recursos,
reprodução, sobrevivência e, consequentemente, seu sucesso (MARINHO; DELLA LUCIA;
PICANÇO, 2006).
Associação simbiótica: a evolução entre formigas, o fungo L. gongylophorus e o
substrato vegetal permitiu grande capacidade na escolha de plantas e no cultivo do fungo
simbionte. Alguns autores, como por exemplo, Borba et al. (2006) e Kost, Tremmel e Wirth
(2011), sugerem que a seleção de substratos pelas formigas cortadeiras esteja relacionada
diretamente com a promoção do crescimento do jardim de fungo. Contudo, a quantidade
de seiva, bem como as defesas estruturais e mecânicas das plantas (dureza, pelos, resina
ou a produção de látex) (CHERRETT, 1972), e as características bioquímicas e fisiológicas
(compostos secundários, qualidade nutricional) das espécies vegetais também podem
atuar nesta escolha (HUBBELL; HOWARD; WIEMER, 1984). Deste modo, há de se
considerar que nem todo o substrato vegetal ou isca tóxica oferecida será imediatamente
transportado ao ninho.
Tal seletividade sobre os vegetais dificulta o planejamento de programas de
melhoramento de plantas visando à resistência e, por cultivarem fungo, dificultam o
estabelecimento de programas de controle biológico, principalmente com o uso de fungos
entomopatogênicos.

105
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Tabela 1. Espécies de Atta (saúva) e Acromyrmex (quenquém) presentes no Brasil, importância econômica, tipo e registro de culturas atacadas.

Nome científico Saúva Importância Tipos de Registro de culturas atacadas


Gênero Atta econômica plantas cortadas
Atta bisphaerica Forel, 1908 -mata-pasto ++++ monocotiledôneas cana-de-açúcar e pastagens
A. capiguara Gonçalves, 1944 -parda ++++ monocotiledôneas cana-de-açúcar e pastagens
A. cephalotes (Linnaeus, 1758) -da-mata ++++ dicotiledôneas principalmente mandioca e cacau
A. goiana Gonçalves, 1942 - ? monocotiledôneas ?
A. laevigata (Smith, 1858) -cabeça-de-vidro ++++ mono e dicotiledôneas cana-de-açúcar, pastagens, plantas em geral, reflorestamentos
A. opaciceps Borgmeier, 1939 -do-sertão, formiga-de-roça ++ mono e dicotiledôneas cana-de-açúcar, pastagens e algodão
A. robusta Borgmeier, 1939 -preta ++ dicotiledôneas nenhuma específica, pois vivem em áreas naturais de restinga
A. sexdens Linnaeus, 1758 -limão ++++ dicotiledôneas Eucalyptus, Pinus e plantas em geral
A. vollenweideri Forel, 1893 formiga-isaú (Argentina e Paraguai) ++ monocotiledôneas pastagens
Gênero Acromyrmex Quenquém
106

Ac. ambiguus (Emery, 1888) -preta-brilhante ++ dicotiledôneas reflorestamentos


Ac. ameliae Souza et al., 2007 *parasito social de Ac. subterraneus subterraneus e Ac. subterraneus brunneus
Ac. aspersus (F. Smith, 1858) -rajada ++ dicotiledôneas reflorestamentos
Ac. balzani (Emery, 1890) -boca-de-cisco, -rapa-rapa ++ monocotiledôneas pastagens
Ac. coronatus (Fabricius, 1804) -de-árvore ++ dicotiledôneas reflorestamentos, plantas em geral
Ac. crassispinus (Forel, 1909) -de-cisco ++++ dicotiledôneas Eucalyptus, Pinus e plantas cultivadas
Ac. diasi Gonçalves, 1983 - ? dicotiledôneas ?
Ac. disciger (Mayr, 1887) -mirim, formiga-carregadeira ++++ dicotiledôneas reflorestamentos e plantas cultivadas
++++ = geralmente ocasionam severas injúrias às plantas;
++ = ocasionalmente acometem injúrias às plantas;
? = importância econômica desconhecida.

Fonte: extraído e adaptado de Cherrett (1986), Fowler et al. (1989), Peixoto (1995), Forti (1997), Teixeira, Schoereder e Louzada (2004), Delabie et al. (2011).
*Souza, Soares e Della Lucia (2007).

106
Manejo de Formigas Cortadeiras

Continuação da Tabela 1 ...

Nome científico Quenquém Importância Tipos de Registro de culturas atacadas


Gênero Acromyrmex econômica plantas cortadas
Ac. fracticornis (Forel, 1909) - ++ monocotiledôneas pastagens
Ac. heyeri (Forel, 1899) formiga-de-monte-vermelha ++++ mono e dicotiledôneas pastagens,trigo e cevada
Ac. hispidus Santschi, 1925 formiga-mineira ++ dicotiledôneas reflorestamentos
Ac. hystrix (Latreille, 1802) -de-cisco-da-amazônia ++ dicotiledôneas ?
Ac. landolti (Forel, 1885) - ++ monocotiledôneas pastagens
Ac. laticeps (Emery, 1905) -mineira, -campeira ++++ dicotiledôneas plantas cultivadas
Ac. lobicornis (Emery, 1888) -de-monte-preta ++++ mono e dicotiledôneas plantas cultivadas de ambos os tipos
Ac. lundii (Guérin, 1838) -mineira-preta, formiga-mineira-preta ++++ dicotiledôneas reflorestamentos e plantas cultivadas
Ac. niger (Smith, 1858) -mineira-de-duas-cores, -mineira dicotiledôneas reflorestamentos
Ac. nobilis Santschi, 1939 -mineira-da-amazônia ? dicotiledôneas ?
107

Ac. octospinosus (Reich, 1793) -mineira-da-amazônia, carieira ++++ dicotiledôneas reflorestamentos e plantas cultivadas
Ac. rugosus (F Smith, 1858) formiga-quiçaçá, formiga-mulatinha ++++ dicotiledôneas Eucalyptus e outras plantas
Ac. striatus (Roger, 1863) formiga-de-rodeio, formiga-de-eira ++++ mono e dicotiledôneas Eucalyptus, plantas em geral, eventualmente pastagens
Ac. subterraneus (Forel, 1893) -de-cisco-graúda, -caiapó-capixaba ++++ dicotiledôneas Eucalyptus, Pinus e outras dicotiledôneas

++++ = geralmente ocasionam severas injúrias às plantas;


++ = ocasionalmente acometem injúrias às plantas;
? = importância econômica desconhecida.

Fonte: extraído e adaptado de Cherrett (1986), Fowler et al. (1989), Peixoto (1995), Forti (1997), Teixeira, Schoereder e Louzada (2004), Delabie et al. (2011).

107
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Arquitetura dos ninhos: no gênero Atta, os ninhos adultos são extremamente


grandes e de elevada complexidade estrutural (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990), estando as
muitas câmaras contendo os jardins de fungo interligadas por meio de longos túneis. Além
disso, ninhos como o de A. laevigata são muito profundos, podendo atingir 7 m (MOREIRA
et al., 2004). Esses fatores dificultam a completa disseminação de produtos tóxicos ou
biológicos no interior dos ninhos, bem como a determinação das dosagens corretas. De
acordo com Gonçalves (1960), o conhecimento da arquitetura dos ninhos é um dos
aspectos relevantes para a utilização do procedimento mais adequado ao controle.
Apesar dos ninhos de Acromyrmex serem internamente pouco profundos,
apresentando em sua maioria, um pequeno número de câmaras quando comparados aos
ninhos de Atta (MOREIRA et al., 2007), geralmente são inconspícuos, com a área externa
do ninho formada por terra solta, terra solta e palhada ou fragmentos vegetais (DELLA
LÚCIA; MOREIRA, 1993), dificultando sua localização e controle.
Assepsia do substrato vegetal: durante o processamento do substrato vegetal no
interior da colônia, as folhas são “lambidas” e maceradas, permitindo que o fungo
simbionte colonize rapidamente o tecido vegetal (WILSON, 1983; ANDRADE et al., 2002).
O ato de “lamber” está associado com a assepsia das folhas, devido à presença de enzimas
na saliva das formigas que inibem o crescimento de micro-organismos competitivos (BOT
et al., 2001a; POULSEN, et al., 2002a,b).
Características comportamentais: a presença de um intruso é rapidamente
transmitida para outras companheiras, o que eleva o potencial de defesa da colônia
(DELLA LUCIA et al., 2001). Caso um indivíduo entre em contato com alguma substância
estranha e tóxica, mudanças comportamentais podem ocorrer, desencadeando numa
rápida discriminação do mesmo pelas operárias (MARINHO; DELLA LUCIA; PICANÇO,
2006).
Por exemplo, operárias mais velhas e menos valorosas são expostas ao
gerenciamento do material refugado nas câmaras de lixo, e se mantém isoladas das
câmaras contendo os jardins de fungo (BOT et al., 2001b). Para tanto, as formigas
cortadeiras reconhecem suas companheiras de ninho por meio de substâncias produzidas
por glândulas e distribuídas por meio do allogrooming (autolimpeza) e da trofalaxia (troca
nutricional e forma de comunicação) (SOROKER; VIENNE; HEFETZ, 1995).

108
Manejo de Formigas Cortadeiras

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE INGREDIENTES ATIVOS PARA FORMICIDAS


De modo geral, somente os ingredientes ativos que apresentam ação retardada são
eficientes para formigas cortadeiras quando formulados em iscas tóxicas (FORTI et al., 1998),
pois é necessário que o inseticida preencha algumas exigências, tais como: (a) ser letal em
baixa concentração e ao mesmo tempo não matar as formigas rapidamente quando em alta
concentração; (b) ser um inseticida de ingestão, com ação lenta; (c) não ser repelente; (d)
ser facilmente difundido por trofalaxia para a maioria das operárias e, (e) ser degradado
rapidamente, com baixa toxicidade para os vertebrados e não causar muitos prejuízos ao
ambiente.

Ingredientes ativos registrados no mercado


Para atingir o controle eficiente e com sucesso é interessante que os ingredientes
ativos possuam as características físico-químicas anteriormente citadas, pois a formulação
de formicidas em isca granulada (GB) tem sido a forma mais empregada pelos agricultores e
silvicultores do país.
Isto se deve às vantagens apresentadas quando se compara com outras formulações
como, por exemplo, a facilidade de aplicação, o baixo risco de contaminação de aplicadores
e o controle eficiente de colônias adultas (que causam maiores danos e apresentam
dificuldade de controle).
Assim, essa formulação ganhou expressivo espaço na agricultura, sendo o principal
ingrediente ativo utilizado a sulfluramida, por permitir o controle químico de formigas
cortadeiras com resultados satisfatórios. Apesar de existirem outros ingredientes ativos em
diversas formulações registrados no Brasil (Tabela 2), a procura por iscas granuladas
contendo sulfluramida é bem expressiva entre os formicidas comercializados no país.
Outro ingrediente ativo bastante empregado em formicidas é o fipronil, mas sua
formulação como isca granulada não apresenta resultados tão satisfatórios quando
comparados com aqueles obtidos com sulfluramida, pois esse ingrediente ativo apresenta
uma ação rápida contra as formigas cortadeiras, o que dificulta o sucesso de controle, sendo
mais recomendado seu emprego em outras formulações como o granulado dispersível
(WG), a suspensão concentrada (SC) ou a suspensão concentrada para o tratamento de
sementes (FS) que possuem diferentes procedimentos de aplicação do produto e que
podem ser usadas em situações diferentes das iscas granuladas.

109
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Tabela 2. Marcas comerciais, ingredientes ativos e formulações de formicidas registrados no Brasil.

Marca comercial Ingrediente ativo Grupo químico Formulação


Amulet Fipronil Fenil pirazol FS – Suspensão Concentrada (Tratamento de sementes)
Belure Fipronil Fenil pirazol FS – Suspensão Concentrada (Tratamento de sementes)
BIOISCA Tefrósia Anil Branco GB – Isca Granulada
Bistar Bifentrina Piretroide KN – Concentrado Nebulizável à Frio
Bistar UBV Bifentrina Piretroide UL – Ultra Baixo Volume
Blitz Fipronil Fenil pirazol GB – Isca Granulada
Bunema 330 CS Metam-Sódico Isotiocianato de metila SL – Concentrado Solúvel
Exspire Isca Formicida Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada
Fluramim Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada
Formicida Granulado Dinagro-S Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada
Gemini Permetrina Piretroide HN – Concentrado Termo Nebulizável
Grão Verde AG Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada
Isca Formicida Atta Mex-S Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada
Isca Formicida Exatta Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada
110

Isca Tamanduá Bandeira-S Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada


Klap Fipronil Fenil pirazol SC – Suspensão Concentrada
K-Othrine 2P Deltametrina Piretroide DP – Pó Seco
Lakree Fogging Clorpirifós Organofosforado HN – Concentrado Termo Nebulizável
Landrin Pó Clorpirifós Organofosforado ED – Líquido Eletro Aplicável
Mirex-S Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada
Mirex-S Max Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada
Mirex-S Plus Sulfluramida Sulfonamida fluoralifática GB – Isca Granulada
Regent 800 WG Fipronil Fenil pirazol WG – Granulado Dispersível
Ryme Fipronil Fenil pirazol WG – Granulado Dispersível
Salasat Fipronil Fenil pirazol WG – Granulado Dispersível
Salasat 800 Fipronil Fenil pirazol WG – Granulado Dispersível
Shelter Fipronil Fenil pirazol FS – Suspensão Concentrada (Tratamento de sementes)
Source Fipronil Fenil pirazol FS – Suspensão Concentrada (Tratamento de sementes)
Standak Fipronil Fenil pirazol SC – Suspensão Concentrada
Sumifog 70 Fenitrotiona Organofosforado UL – Ultra Baixo Volume
Tai Fipronil Fenil pirazol FS – Suspensão Concentrada (Tratamento de sementes)
Fonte: AGROFIT (2013).

110
Manejo de Formigas Cortadeiras

Características da sulfluramida que justificam sua eficácia


Durante muitos anos, o dodecacloro, um ingrediente ativo organoclorado utilizado
no Brasil, continha todas essas características associadas, porém, por ser persistente no solo
e ser bioacumulativo foi proibido em 1992 (BOARETTO; FORTI, 1997). Sua proibição foi dada
com a descoberta de outro princípio ativo substituto, a sulfluramida.
A sulfluramida é um ingrediente ativo que pertence ao grupo químico sulfonamida
fluoralifática, mas com o nome químico IUPAC (International Union of Pure and Applied
Chemistry): N-etilperfluor-octano-1-sulfonamida, primeiramente estudado no combate das
formigas lava-pés Solenopsis invicta Buren (Hymenoptera: Formicidae) nos EUA (FORTI et al.,
1998).
Esse composto, quando presente no organismo, é transformado no metabólito
perfluoroctano sulfonamida que bloqueia o fluxo de elétrons da cadeia respiratória, nas
mitocôndrias, interrompendo a síntese de adenosina trifosfato (representado pela sigla ATP
na língua inglesa).
Desse modo, as operárias intoxicadas apresentam movimentos lentos e
agressividade diminuída. Além disso, a contaminação por sulfluramida ocorre por ingestão e
com contribuição da trofalaxia, e possivelmente durante o grooming (BRUGGER et al., 2008)
entre as operárias. Após quatro dias da aplicação, as colônias não apresentam corte de
folhas, muitas operárias encontram-se mortas e a cultura de fungo torna-se desorganizada.
Além disso, é menos persistente do que o dodecacloro (JACOB, 2002).
A maioria das iscas tóxicas presentes no mercado é à base de sulfluramida
(concentração de 0,3 %), devido a sua eficiência de 90 a 100 % de mortalidade no controle
de várias espécies de formigas cortadeiras, como A. laevigata (F. Smith, 1858)
(Hymenoptera: Formicidae) (ZANUNCIO et al., 1992), A. subterraneus molestans Santschi,
1925 (Hymenoptera: Formicidae) (ZANETTI et al., 2003a) e A. sexdens rubropilosa (ZANETTI
et al., 2003b).
Apesar da descoberta da sulfluramida, a busca e o desenvolvimento de novos
ingredientes ativos continuam. Em virtude disso, muitas pesquisas têm dado ênfase na
busca de outros ingredientes ativos como, por exemplo, o diflubenzuron e fenoxicarbe,
dentre outros (JACOB, 2002). De acordo com Zanuncio et al. (1993), existem muitos
produtos capazes de matar as formigas, mas poucos têm ação retardada nas concentrações

111
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

adequadas, sendo portanto, ineficazes para serem usados como ingredientes ativos de iscas
formicidas.
Por isso, pesquisas que visem à descoberta ou que ao menos possam servir de
subsídios científicos para o desenvolvimento de novos ingredientes ativos para serem
empregados em iscas formicidas são de extrema importância, pois permitem o uso de
produtos fitossanitários seguros e eficientes, tornando-se uma opção de controle
economicamente viável para os produtores rurais.

LEVANTAMENTO E MANEJO DE FORMIGAS CORTADEIRAS


O levantamento de colônias de formigas cortadeiras apresenta certa dificuldade
devido a grande variação de espécies. Em termos práticos, durante muito tempo foi
recomendado à medição da quantidade (dose) de isca formicida usando-se a relação da área
de terra solta (multiplicação da largura pelo comprimento) e o tamanho do ninho, mas a
pesquisa realizada por Moreira et al. (2004) com a espécie A. bisphaerica mostrou que a
área de terra solta dos formigueiros não representa o tamanho real do ninho. Esta situação
geralmente subestima ou superestima a dose a ser empregada. Entretanto, os fabricantes
de iscas formicidas ainda não possuem outro parâmetro para determinar a dose correta,
sendo este, o método ainda recomendado.
Desta forma, torna-se difícil realizar um levantamento preciso e eficiente. No
controle de áreas extensas já existem métodos para determinar o nível de controle baseado
no monitoramento do ataque de formigas cortadeiras, principalmente no cultivo de
espécies florestais que são comumente prejudicados devido ao corte de folhas destes
insetos, principalmente na fase de implantação das áreas de produção (OLIVEIRA et al.,
2011). Várias empresas do setor já realizam amostragens de áreas, mas encontram algumas
dificuldades devido à falta de informações mais precisas e específicas acerca das espécies
quanto à sua bioecologia.
Mesmo assim, a melhor recomendação a ser feita pelos técnicos é que o controle
destes insetos deva ser realizado de forma preventiva, antes mesmo do plantio das espécies
de importância econômica, garantido a germinação, a emergência e o bom
desenvolvimento vegetativo das plantas. Outra forma de prevenir os danos de formigas
cortadeiras é a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP), pois permite que outras
medidas de controle mais sustentáveis também sejam empregadas.

112
Manejo de Formigas Cortadeiras

Apesar dos esforços de todos os envolvidos com a diminuição de danos provocados


pelo forrageamento de formigas cortadeiras, o método químico com isca granulada ainda
representa a principal técnica de controle destes insetos, seja ela, a granel (direta) ou com o
uso de microporta-isca (indireta).
Assim, é fundamental que aplicadores façam a leitura minuciosa de rótulos e bulas
dos formicidas a fim de compreender as instruções de uso e manuseio, estando atentos,
principalmente, quanto ao uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Além disso, os
fabricantes recomendam a dose a ser empregada para cada espécie de formiga cortadeira e
cultura danificada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As formigas cortadeiras estão presentes em todo o território nacional, causando
danos em diversas culturas de grande interesse econômico. Dependendo da fase da cultura,
estes insetos podem destruir todo o cultivo ou danificar ao ponto de causarem
representativa perda econômica para agricultores, silvicultores e pecuaristas. Desta forma,
devem-se adotar medidas de controle efetivas com o objetivo de diminuir os danos
provocados pelo corte de partes das plantas pelas formigas.
Entretanto, o produtor ou as empresas agrícolas só possuem um método de
controle curativo que é aquele baseado em formicidas químicos industrializados, devendo-
se consultar um técnico habilitado para que esse profissional elabore um receituário
agronômico que leve em consideração os conceitos e os princípios do MIP. Vários formicidas
estão disponíveis no mercado nacional, mas apenas a sulfluramida tem apresentado
resultados mais satisfatórios devido à capacidade demonstrada em campo de controlar
ninhos de diversas idades.
Entretanto, é fundamental que os principais centros de pesquisas sobre este
superorganismo continuem na busca de novos ingredientes ativos em formulações que
viabilizem seu uso em condições de campo, e que apresentem eficiência igual ou superior a
sulfluramida, mas que provoquem menos impacto ao homem, animais e ambiente.
Por outro lado, medidas alternativas ao uso de produtos químicos para o controle de
formigas cortadeiras provavelmente serão o principal foco dos pesquisadores, apesar de seu
estabelecimento mais difícil.

113
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

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116
Plantas Inseticidas no Controle de Pragas em Tomateiro

Capítulo 11

“USO DE PLANTAS INSETICIDAS NO CONTROLE DE PRAGAS EM


TOMATEIRO”

Elaine Ferrari de Brito e Edson Luiz Lopes Baldin

Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, Departamento de Proteção Vegetal,


Botucatu, SP, 18610-307. E-mail: elaine.ferrari@fca.unesp.br

INTRODUÇÃO
O tomate Solanum lycopersicum L. é uma das culturas com maior volume de
produção e consumo no mercado brasileiro, onde são comercializados cerca de quatro
milhões de toneladas ao ano (AGRIANUAL, 2013). A cultura do tomateiro é
considerada muito suscetível ao ataque de pragas e doenças e destaca-se pelo uso
intensivo de agrotóxicos por unidade de área cultivada (SINDAG, 1998). Em função
disso, os riscos da presença de resíduos tóxicos nos frutos aumentam, expondo à
população a possíveis danos à saúde. Segundo o Programa de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos, das amostras de tomate analisadas em 2010, 16,3 %
apresentavam resíduos de agrotóxicos acima do limite máximo permitido, além de
agrotóxicos não autorizados para a cultura (PARA, 2010). Outros problemas frequentes
relacionados à utilização de pesticidas sintéticos são: contaminação da água e do solo,
rápida seleção de insetos-praga resistentes a esses produtos e intoxicação dos
aplicadores (KOGAN, 1998).
No passado, o uso de plantas com atividade inseticida para a proteção de
culturas e grãos armazenados ao ataque de pragas e doenças foi bastante comum,
principalmente em países tropicais (SAITO, 1998; THACKER, 2002). As primeiras plantas
conhecidas como inseticidas foram o Chrysanthemum cinerariifolium Trevir., que tem
como princípio ativo as piretrinas, extraídas de flores de plantas deste gênero.
Lonchocarpus spp., Derris spp. e Tephrosia spp. são leguminosas que possuem a
rotetona como principal ingrediente ativo. Outras espécies muito utilizadas foram,
Nicotina tabacum L., N. rustica L., N. glutinosa L., detentoras de um potente alcalóide

117
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

conhecido como nicotina, além de Ryania speciosa Vahl., Quassia amara L.,
Schoenocaulon officinale A. Gray., que possuem outros ingredientes ativos (PERRY et
al., 1998; WIESBROOK, 2004; HILJE; MORA, 2006). Embora apresentassem eficiência, o
seu uso na agricultura foi praticamente abolido na década de 50, como resultado do
aparecimento e rápida disseminação dos inseticidas sintéticos. Fatores como a
facilidade de produção em escala industrial (moléculas simples), a elevada eficiência e
facilidade no uso, além do baixo custo de produção foram determinantes para o
estabelecimento definitivo dessa nova tecnologia na agricultura moderna (SAITO,
1998; REGNAULT-ROGER, 2005; HILJE; MORA, 2006).
Atualmente, o uso desses compostos ainda é o método de controle
predominante para o manejo de artrópodes-praga, doenças e plantas daninhas na
agricultura mundial e o Brasil ocupa posição de destaque no consumo desses
produtos. Dados recentes mostram que a comercialização de agroquímicos no país
aumentou mais de 72 % entre 2006 e 2012 (SINDAG, 2012). Embora sua utilização
tenha permitido incrementos significativos na produção, o uso intensivo e
indiscriminado dessas moléculas, tem contribuído para proporcionar efeitos deletérios
sobre o meio ambiente e o homem (KOGAN, 1998).
O ressurgimento dos estudos com inseticidas botânicos deveu-se à necessidade
de novas ferramentas para o controle de pragas, sem os problemas de contaminação
ambiental, resíduos nos alimentos, efeitos prejudiciais sobre organismos benéficos,
bem como evitar a rápida seleção de insetos resistentes (SAITO, 1998). Assim, diversos
compostos de origem vegetal têm sido apontados como alternativas aos agroquímicos
usados no controle de importantes pragas agrícolas (REGNAULT-ROGER, 2005; SCOTT
et al., 2007, 2008; KOUL et al., 2008; BEZERRA-SILVA et al., 2012).
Uma das espécies mais estudadas nas últimas décadas é Azadirachta indica A.
Juss, (Meliaceae) comumente conhecida como nim. Esta planta possui em sua
constituição um grupo de limonóides denominados azadiractinas, consideradas
potentes reguladores de crescimento e deterrentes alimentares. Estes compostos
apresentam ação inseticida e acaricida, além de baixíssima toxicidade a mamíferos,
com ação sobre mais de 400 espécies de insetos-praga e ácaros (MARTINEZ, 2002). Os
produtos à base de nim são considerados seletivos a inimigos naturais e apresentam
rápida degradação, diminuindo a presença de resíduos tóxicos nos alimentos e no

118
Plantas Inseticidas no Controle de Pragas em Tomateiro

ambiente (SCHMUTTERER, 1990; MANSOUR et al., 1993, 1997; SPOLLEN; ISMAN, 1996;
EL GENGAIHI et al., 2000; MARTINEZ, 2002; MOURÃO et al., 2004; ISMAN, 2006). Além
disso, podem ser utilizados em sistemas de produção orgânica, desde que possuam
registro de produto fitossanitário expedido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) (BRASIL, 2013). Os bons resultados obtidos com o nim vêm
estimulando a pesquisa com outras meliáceas, como Melia azedarach L. e Trichilia
spp., além de plantas de diversas outras famílias botânicas (THOMAZINI et al., 2000;
GONÇALVES-GERVÁSIO; VENDRAMIM, 2004).
Este novo cenário, estimulado pela crescente preocupação da sociedade com
os impactos da agricultura sobre o meio ambiente e também pelo surgimento de
novos segmentos de mercado, mais exigentes quanto à presença de resíduos tóxicos,
abre novas perspectivas para a área de inseticidas botânicos, seja para o uso direto
pelos produtores ou servindo como modelo químico nas indústrias, visando à síntese
de novos produtos (VENDRAMIM; CASTIGLIONI, 2000; ISMAN, 2006; GUINI; BETIOL,
2000).

O USO DE INSETICIDAS BOTÂNICOS NO BRASIL


As plantas possuem diversas substâncias químicas em seu metabolismo,
estando algumas intimamente relacionadas à fotossíntese, respiração e crescimento, e
outras não diretamente relacionadas a esses processos metabólicos, denominadas
substâncias químicas secundárias (EDWARDS; WRATTEN, 1981). Os inseticidas
botânicos são, portanto, derivados de plantas que ao longo de sua evolução
desenvolveram sua própria defesa química contra os insetos herbívoros, sintetizando
metabólitos secundários com atividade tóxica sobre insetos (CLOYD, 2004). Esses
inseticidas podem ser obtidos por extração direta do principio ativo, como ocorre com
o nim (A. indica), ou pela síntese de moléculas ativas análogas, como acontece com os
inseticidas piretróides (HILJE; MORA, 2006).
Até o momento, o Brasil possui apenas um inseticida botânico com registro
junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e certificação
pelo Instituto Biodinâmico (IBD) para uso em cultivos orgânicos. Este produto, com
nome comercial Azamax®, tem como principios ativos as azadiractinas A/B e está
registrado para diversas culturas. Dentre as hortaliças, é recomendado para o controle

119
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

de Myzus persicae (Sulzer) em alface, tomate e repolho, Brevicoryne brassicae (L.) em


pimentão, Bemisia tabaci (Genn) biótipo B em repolho e tomate, Plutella xylostella (L.)
em couve; Thrips palmi (Karny) e Tuta absoluta (Meyrick) em tomate (AGROFIT, 2013).
Outros produtos à base de plantas comercializados no Brasil não possuem registro
como fitossanitários, mas também são utilizados para o controle de pragas, como por
exemplo, OrganicNeem® [1,7 g/l de azadirachtina (AzA)], Neemseto® [2,4 g/l AzA, AzB,
Nimbina (N), Salanina (S)], dentre outros. No entanto, como não existe uma garantia
quanto à padronização da concentração do ingrediente ativo nestes produtos,
diferenças de eficácia podem ser verificadas na prática (MARTINEZ, 2002).
Embora existam esforços, o uso de inseticidas botânicos no Brasil ainda é
restrito, sendo basicamente adotado por produtores orgânicos ou de base familiar, os
quais produzem e utilizam extratos caseiros para o controle de insetos-praga. Um dos
problemas relativos à baixa adoção dos produtos à base de plantas pelos produtores
se deve à falta de padronização das formulações que estão no mercado, promovendo
alta variabilidade de resultados no controle de pragas. Outra limitação importante é a
instabilidade desses produtos na presença de luz, exigindo sucessivas aplicações e,
consequentemente, onerando o custo de produção.
Para a indústria, as dificuldades no registro de produtos dessa natureza
decorrem da necessidade de testes ecotoxicológicos de todas as substâncias ativas
existentes no produto. No entanto, sabe-se que inseticidas botânicos, em sua grande
maioria, são constituídos por uma mistura complexa de vários compostos e a relação
entre a composição química desses produtos e a atividade biológica sobre as espécies
alvo é ainda mais complexa, uma vez que existem relações sinérgicas entre os
compostos denominados “ativos” e outros considerados inertes ou inativos
(GONZALEZ-COLOMA et al., 2006; MIRESMAILLI et al., 2006; ISMAN, 2008, 2011; JIANG
et al., 2009). Para a agricultura orgânica, até o momento, foram publicadas 15
especificações de referência e existem outras 237 solicitações de estabelecimento de
especificação de referência encaminhadas ao MAPA, das quais 47 envolvem extratos
vegetais. As especificações de referência são garantias mínimas que os produtos
fitossanitários com uso aprovado para agricultura orgânica deverão seguir para
obtenção de registro. Sendo assim, o estabelecimento de uma especificação de

120
Plantas Inseticidas no Controle de Pragas em Tomateiro

referência precede o pleito de registro de um produto fitossanitário com uso aprovado


para a agricultura orgânica (BRASIL, 2013).
O modo de ação dos produtos botânicos é outro fator que pode também
justificar a razão pela qual poucos inseticidas botânicos estão disponíveis em escala
industrial. Efeitos subletais ou insetistáticos, como deterrência alimentar e inibição do
crescimento de formas imaturas do inseto, são muitas vezes mais comuns que a
mortalidade do indivíduo, tornando os resultados mais lentos (ISMAN, 2006; ISMAN;
AKHTAR, 2007).

A PESQUISA ENVOLVENDO PLANTAS INSETICIDAS NO MANEJO DE PRAGAS DO


TOMATEIRO
Embora a cultura do tomateiro apresente uma alta incidência de espécies
pragas, a maioria dos trabalhos envolvendo o uso de plantas inseticidas como
ferrarmenta de controle se resumem à Tuta absoluta (Meyrick) e Bemisia tabaci
(Gennadius) biótipo B.

Tuta absoluta
Tuta absoluta (Lepidoptera: Gelechiidae) conhecida vulgarmente como traça-
do-tomateiro, é uma das mais limitantes pragas da cultura do tomate na América do
Sul (BARRIENTOS et al., 1998; MIRANDA et al., 1998). Em 2004, essa espécie entrou
para a lista de pragas quarentenárias da EPPO (Organização de Proteção de Plantas da
Europa e Mediterrâneo), e atualmente encontra-se presente em diversos países da
Europa. A Espanha foi o primeiro país a notificar a presença da traça em 2006,
seguindo-se pela Itália, França, Marrocos, Portugal, Argélia e mais recentemente Reino
Unido (OEPP/EPPO, 2009).
Características intrínsecas do inseto como, alto potencial reprodutivo, hábito
minador e ampla aptidão para vários hospedeiros secundários, promoveram a rápida
dispersão deste inseto para outros locais. Entretanto, o grande volume de exportações
infestadas com o inseto é considerado o principal fator dessa disseminação (TROPEA;
GARZIA 2009; OEPP/EPPO, 2009).
O principal hospedeiro de T. absoluta no Brasil é o tomateiro, mas este inseto
também pode atacar outras solanáceas de importância econômica como, batata

121
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

(Solanum tuberosum L.), pimentão (Solanum muricatum L.), fumo (Nicotiana tabacum
L.) e berinjela (Solanum melongena L.), além de algumas solanáceas silvestres, como
maria-pretinha (Solanum americanum Mill.) e joá-bravo (Solanum aculeatissimum
Jacq.), capazes de manter populações representativas da traça, principalmente
durante a entressafra (DESNEUX et al., 2010).
Tuta absoluta ocorre durante todo ano e danifica todas as partes da planta do
tomateiro, com exceção das raízes, formando galerias transparentes, principalmente
nas gemas apicais (SOUZA; REIS, 2003). Em ataques severos, as lagartas podem
destruir completamente as folhas do tomateiro, causando secamento dos folíolos e
consequentemente morte da planta (MIRANDA et al., 1998; DESNEUX et al., 2010).
O controle de T. absoluta em sua maioria é feito através de sucessivas
aplicações de inseticidas químicos durante o ciclo da cultura. Isso tem favorecido à
seleção de populações resistentes a diferentes ingredientes ativos utilizados para o seu
controle. No Brasil, Argentina e Bolívia, já foram detectadas populações resistentes da
traça aos inseticidas abamectina, cartap, permetrina, metamidofós (MOORE, 1983;
SIQUEIRA et al., 2000; 2001; SALAZAR; ARAYA, 1997, 2001; LIETTI et al., 2005; REYES et
al., 2012).
Em via oposta, a diversos trabalhos que vêm avaliando plantas com potencial
inseticida através da identificação química de compostos e também medindo a
atividade dessas substâncias sobre organismos alvo. Grande parte dos estudos
realizados no mundo concentra-se no nim, A. indica (SCHMUTTERER, 1990; NISBET et
al., 2000; MUSABYIMANA et al., 2001). O uso do nim pode ser feito na forma de óleo
(misturado com emulsificantes), pó seco, extratos aquosos ou orgânicos, (metanólico,
etanólico, acetônico, clorofórmico, hexânico), constituindo formulações comerciais ou
semi-comerciais (SAXENA, 1989).
Trindade et al. (2000) estudaram o efeito tóxico do extrato metanólico da
amêndoa da semente de nim sobre ovos e lagartas da traça-do-tomateiro e obtiveram
100 % de mortalidade larval no sexto dia de avaliação, com a menor concentração
(2000 mg.L-1). Entretanto, a viabilidade de ovos e o período de incubação de T.
absoluta não foram afetadas pelo extrato.
Gonçalves-Gervásio e Vendramim (2007) testaram o efeito de extratos aquosos
de sementes de nim sobre lagartas de T. absoluta em diferentes formas de aplicação e

122
Plantas Inseticidas no Controle de Pragas em Tomateiro

verificaram que em todas as vias testadas (contato, sistêmico e translaminar) as


mortalidades foram superiores a 90 % na maior concentração usada, 10 g/100 ml de
água.
Boiça Júnior et al. (2007) visando o controle de pragas tardias do tomateiro,
testaram a eficiência do óleo de nim seguindo os preceitos do Manejo Integrado de
Pragas (MIP) em relação ao controle convencional, com aplicações em intervalos de 3
a 6 dias + o MIP convencional. Os autores verificaram que tanto o MIP convencional
como o MIP-Nim foram eficientes no controle das pragas tardias do tomateiro, quando
a pressão da população era baixa. Além disso, a produção de tomate obteve
incrementos de até 74 % e o número de pulverizações foi reduzido em até 77 % em
relação ao controle convencional.
Em trabalho mais recente, Tomé et al. (2013) utilizaram uma formulação
comercial à base de nim (Azamax®, 12mg i.a./ L) e investigaram a toxicidade aguda
sobre duas populações da traça-do-tomateiro, além de seus efeitos subletais. Os
autores verificaram que esse produto causou elevada mortalidade sobre lagartas de T.
absoluta, afetando também o comportamento de adultos quanto à oviposição e
lagartas quanto à preferência pelo substrato utilizado para alimentação.
Dentro das perspectivas para desenvolvimento de moléculas estáveis e com
alto efeito sobre organismos alvo, a nanotecnologia tem se apresentado uma
importante ferramenta, considerando sua aplicação no desenvolvimento de produtos
contendo ingredientes ativos em escala nanométrica (DURÁN; AZEVEDO, 2007;
FERREIRA et al., 2012).
Ferreira et al. (2012) avaliaram a bioatividade de 22 nanoformulações de nim
sobre o desenvolvimento de T. absoluta e constataram que as nanoformulações NC40
(nanocápsulas de PHB3 + óleo/extratos de nim + Tween) em suspensão aquosa e NC40
(nanocápsulas de PHB+ óleo/extratos de nim + Tween) na forma de pó afetaram o
desenvolvimento do inseto.
Outra espécie botânica pertencente à família das meliáceas e que vem sendo
muito estudada é Melia azedarach L., conhecida como cinamomo. Essa espécie
destaca-se pela ampla distribuição geográfica no Brasil, favorecendo sua utilização
como inseticida. Outro fator importante é que esta planta possui composição química
semelhante ao nim, também produzindo azadiractina, além de outros limonóides

123
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

como as azedarachinas (HUANG et al., 1996). Outros derivados da M. azedarach


podem provocar diferentes reações nos insetos, agindo como inibidores da
alimentação, redutores de crescimento e fecundidade, ou causando alterações
morfogenéticas e comportamentais (BREUER et al., 2003).
Brunherotto e Vendramim (2001) testaram o efeito de extratos aquosos (0,1 %)
de diferentes estruturas de M. azedarach sobre o desenvolvimento da traça-do-
tomateiro. De modo geral, todos os extratos afetaram negativamente o
desenvolvimento do inseto, entretanto, o extrato aquoso de folhas se destacou dentre
os demais. Em outro estudo, Brunherotto et al. (2010), avaliaram o efeito de extratos
aquosos de folhas de M. azedarach e de sementes de nim, associados a três genótipos
de tomateiro sobre o desenvolvimento, reprodução e longevidade de T. absoluta. Os
autores verificaram que apenas um genótipo resistente, LA444-1 e os extratos de M.
azedarach e de sementes de A. indica afetaram adversamente o desenvolvimento do
inseto. Não foi constatado sinergismo ou antagonismo com a utilização associada de
planta resistente e extrato de plantas inseticidas, observando-se apenas efeito aditivo.
Ainda dentro da família das meliáceas vários pesquisadores têm isolado
limonóides de diferentes espécies do gênero Trichilia sp. e demonstrado sua atividade
sobre insetos, incluindo efeitos fagodeterrentes e reguladores de crescimento
(NAKATANI et al., 1981; XIE et al., 1994). De acordo com Thomazini et al. (2000),
extratos aquosos das folhas e ramos dessa espécie prejudicam o desenvolvimento de
T. absoluta, entretanto, o extrato das folhas destaca-se como o mais ativo sobre este
inseto.
O modo de ação dos extratos de folhas T. pallida foi verificado por Gonçalves-
Gervásio e Vendramim (2004). Os autores avaliaram o efeito translaminar, sistêmico e
tópico de extratos das folhas dessa meliácea, em comparação com o extrato aquoso
das sementes de nim, sobre T. absoluta. Verificou-se que os extratos aquosos de
sementes de nim provocam alta mortalidade larval da traça, independentemente da
forma de aplicação. Embora em menor intensidade, extratos aquosos e clorofórmicos
de folhas de T. pallida em concentrações maiores do que 5 % também prejudicam o
desenvolvimento dessa praga, sendo o efeito translaminar mais pronunciado que os
demais.

124
Plantas Inseticidas no Controle de Pragas em Tomateiro

Visando identificar frações promissoras como fontes de substâncias inseticidas


Cunha et al. (2005), avaliaram extratos aquosos e não aquosos de T. pallida sobre T.
absoluta. Como resultado, a fração em metanol, juntamente com aquela em acetato
de etila, foram consideradas altamente promissoras como fontes de substâncias
inseticidas contra o inseto. Na sequência dos estudos, Cunha et al. (2008), também
avaliaram substâncias isoladas a partir do extrato em diclorometano de T. pallida (0,1
%) e verificaram que o triterpeno 24-metilenocicloarta-3β-ol e o esteróide 24-
metileno-3,22-diidroxicolesterol, ambos de folhas, juntamente com o limonóide
gedunina de frutos, apresentaram maior atividade inseticida sobre lagartas de T.
absoluta.
O uso de óleos essenciais, como inseticidas botânicos vem ganhando mercado,
principalmente em outros países devido à possibilidade de serem usados em rotação
ou em combinação com outros protetores de culturas, incluindo pesticidas
convencionais ou de origem microbiana (ISMAN, 2000, 2011).
Umpiérrez et al. (2012) avaliaram o efeito inseticida do óleo essencial extraído
de duas espécies da família Asteraceae, Eupatorium buniifolium Hook. e Artemisia
absinthium L., sobre duas pragas importante do tomateiro, incluindo T. absoluta. Os
autores verificaram efeito inseticida sobre T. absoluta tanto em contato direto com o
inseto via aplicação em papel filtro, como na forma de liberação de vapores.

Bemisia tabaci biótipo B


Bemisia tabaci biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae) é uma praga altamente
polífaga, que pode colonizar mais de 700 espécies de plantas (OLIVEIRA et al.,
2001). É considerada uma das principais pragas para a maioria das plantas
cultivadas, incluindo o tomateiro, pela severidade dos danos diretos e pela
transmissão de vírus, com grande impacto socioeconômico em todo o mundo
(BROWN; BIRD, 1992; BROWN, 1994; HAJI et al., 2005).
Na cultura do tomate, os sintomas de seu ataque podem ser identificados
pela presença de excreções açucaradas, as quais favorecem a formação de
fumagina nas folhas, comprometendo o processo fotossintético e afetando a
produção e a qualidade dos frutos. A mosca-branca é uma eficiente vetora de
vírus, principalmente os pertencentes ao grupo dos geminivírus, com 17

125
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

diferentes registros associados à cultura do tomate. No Brasil, as perdas na


cultura do tomate devido a geminiviroses, foram estimadas entre 30 % e 100 %
(LIMA et al., 2001; HAJI et al., 2005). A ação dos vírus, de um modo geral,
apresenta sintomatologia típica e se caracteriza por amarelecimento irregular dos
frutos e nanismo acentuado, além de enrugamento das folhas terminais e
presença de frutos com polpa esponjosa ou “isoporizada” (LOURENÇÃO; NAGAI,
1994).
Para o manejo de B. tabaci biótipo B os programas de controle se resumem
à utilização de inseticidas sintéticos isolados ou em misturas associados ao
controle cultural (PALUMBO et al., 2001). O uso de extratos vegetais pode ser
uma ferramenta importante no manejo da mosca-branca, uma vez que podem
controlar o inseto, reduzir ou eliminar o número de pulverizações com inseticidas
sintéticos e, ainda, possibilitar a implementação de outras estratégias de manejo
(BEZERRA-SILVA et al., 2010). No Brasil, pesquisas com meliáceas dos gêneros
Trichilia sp., Toona sp., Melia sp., têm sido realizada e os efeitos
inseticidas/insetistáticos têm revelado significativa eficiência contra formas
imaturas e adultas da mosca-branca (CUNHA et al., 2005; BOGORNI; VENDRAMIM,
2005).
Souza e Vendramim (2000a) determinaram a atividade ovicida de extratos
aquosos de folhas de M. azedarach L. e de ramos de T. pallida, sobre a mosca-
branca B. tabaci biótipo B, em tomateiro. Os extratos aquosos das meliáceas, em
concentrações variando de 1 a 3 %, apresentaram efeito ovicida sobre a mosca -
branca. Entretanto, mesmo na maior concentração, estes extratos não afetaram a
duração do estádio ninfal do inseto.
Souza e Vendramim (2000b) testaram a bioatividade de extratos aquosos a
3 % (p/v) de três meliáceas, M. azedarach (frutos verdes), T. pallida (ramos) e A.
indica (sementes), sobre B. tabaci biótipo B em tomateiro. Em relação à fase de
ovo, o extrato de T. pallida foi o que provocou maior mortalidade, seguido pelos
extratos de A. indica e M. azedarach. A maior mortalidade ninfal foi constatada
com o extrato de A. indica e nenhum dos extratos afetou a duração das fases de
ovo e de ninfa, assim como a longevidade e fecundidade da mosca -branca.

126
Plantas Inseticidas no Controle de Pragas em Tomateiro

Souza e Vendramim (2001) avaliaram a atividade inseticida de extratos


aquosos na concentração de 3 % p/v de ramos, folhas, frutos verdes e frutos
maduros de M. azedarach e de ramos, folhas e córtex de T. pallida, sobre ovos e
ninfas B. tabaci biótipo B em tomateiro e constataram que os frutos verdes de M.
azedarach foram as estruturas mais efetivas, seguido pelas folhas e os frutos
maduros. Para T. pallida, os ramos foram os mais efetivos, seguido pelas folhas.
Contudo, nenhum dos extratos testados afetou a duração das fases imaturas.
Souza e Vendramim (2004) compararam a atividade inseticida de extratos
aquosos e orgânicos de ramos de T. pallida e aquosos de sementes de A. indica,
sobre ninfas de B. tabaci biótipo B em plantas de tomateiro. Os autores
concluíram que todos os extratos têm bioatividade contra a mosca -branca, sendo
o extrato aquoso de sementes de nim mais eficiente que os demais. Nas
concentrações utilizadas, a ação inseticida pelas vias translaminar, sistêmica e de
contato foi constatada apenas com o extrato aquoso de sementes de nim.
Souza e Vendramim (2005) avaliaram o efeito inseticida translaminar,
sistêmico e de contato de extrato aquoso de sementes de nim, sobre ninfas de B.
tabaci biótipo B em tomateiro e verificaram que o extrato testado apresenta
efeitos deletérios sobre ninfas de B. tabaci, independente do modo de aplicação.
Cavalcante et al. (2006) investigaram o potencial inseticida de extratos
aquosos de folhas de Prosopis juliflora Sw., Myracrodruon urundeuva Fr.,
Leucaena leucocephala Lam., Mimosa caesalpiniifolia Benth., sobre B tabaci
biótipo B, e avaliaram a presença de compostos secundários, a mortalidade de
ovos e ninfas, além de alterações na fertilidade do inseto. Os extratos aquosos de
P. juliflora e L. leucocephala em concentrações variando entre 3 e 10 %, causaram
mortalidade e alterações nos parâmetros de fertilidade de B. tabaci biótipo B.
Além disso, os extratos aquosos de M. caesalpiniifolia a 7 e 10 % afetaram a taxa
intrínseca de crescimento da população e o tempo médio de geração da mosca -
branca.
Bezerra-Silva et al. (2010) avaliaram o efeito de extratos orgânicos de A.
indica, M. azedarach, Toona ciliata M. e T. pallida sobre ovos e ninfas de B. tabaci
biótipo B e verificaram que os extratos em diclorometano de folhas e de ramos
das meliáceas afetaram significativamente a sobrevivência de ovos e ninfas da

127
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

mosca-branca. Já os extratos em etanol afetaram a fase ninfal, entretanto, não


apresentaram atividade ovicida.
Utilizando essas mesmas espécies, Bezerra-Silva et al. (2012) avaliaram a
bioatividade de extratos brutos e suas frações sobre a mortalidade B. tabaci
biótipo B em plantas de tomate em casa de vegetação. O extrato diclorometânico
de ramos de T. pallida e o extrato de folhas de T. ciliata ocasionaram mortalidade
de ninfas, mas não afetaram a viabilidade dos ovos. Já o extrato etanólico de
ramos de A. indica aumentou o período embrionário da mosca-branca.
Adicionalmente, os folíolos pulverizados com a fração em diclorometano do
extrato diclorometânico de folhas de T. ciliata foram menos colonizados pelos
adultos. As frações em diclorometano e em metanol dos extratos
diclorometânicos de ramos de T. pallida e de folhas de T. ciliata, respectivamente,
inibiram a oviposição da mosca-branca. Os autores concluíram que todos os
extratos e suas frações contribuem para a diminuição da população de B. tabaci
biótipo B em casa de vegetação.
Baldin et al. (2007a) avaliaram uma possível interação de genótipos de
tomateiro resistentes e extratos aquosos à base de sementes de A. indica e ramos
e folhas de T. pallida no controle de B. tabaci biótipo B. Os autores constataram
que a interação foi significativa, indicando um efeito aditivo pelo u so de
genótipos resistentes e extratos vegetais no controle da mosca-branca.
Visando identificar alternativas para o controle de B. tabaci biótipo B em
tomateiro, Baldin et al. (2007b) realizaram testes de atratividade e preferência
para oviposição em casa-de-vegetação, utilizando-se quatorze extratos aquosos a
3 % (p/v). Os resultados obtidos no trabalho indicaram que a pulverização de
extratos provenientes de partes vegetais de Mentha pulegium L., A. indica, M.
azedarach e T. pallida torna as plantas de tomateiro menos atrativas aos adultos
de B. tabaci biótipo B. Constatou-se também que os extratos de A. indica e
Ricinus communis L., provocam redução na oviposição do inseto sobre os folíolos
de tomateiro. Além disso, verificou-se que a aplicação de extratos aquosos de
A.indica e M. pulegium via sistema radicular provoca significativa mortalidade de
ninfas da mosca-branca, revelando bom potencial inseticida.

128
Plantas Inseticidas no Controle de Pragas em Tomateiro

Barbosa et al. (2011) avaliaram o efeito inseticida dos extratos aquosos de


folhas de Ruta graveolens L. e alcoólicos de folhas de Copaifera langsdorffii Desf.
e de folhas de Chenopodium ambrosioides L. a 5 % sobre pragas e inimigos
naturais em tomateiro. Para B. tabaci, os autores concluíram que o extrato
elaborado com C. langsdorffii apresentou maior efeito inseticida. Além disso,
constataram que o extrato dessa planta apresentou um efeito residual de 72
horas após a aplicação, porém também apresentou elevado efeito inseticida
sobre Trichogramma sp.
Flores et al. (2008a, 2008b) avaliaram o efeito fagodeterrente de extratos
brutos e suas frações de Quassia amara L., e Sechium pittieri Cogn., sobre adultos
de B. tabaci biótipo B em tomateiro. Constatou-se que todas as frações do extrato
de Q. amara causaram deterrência na oviposição e alimentação em doses que
variaram de 0,1 e 1 % sobre adultos da mosca-branca. Nos testes subsequentes,
realizados em casa de vegetação, a fração em metanol revelou os melhores
resultados sobre B. tabaci biótipo B seguida pela fração em éter dietílico. Já com
os extratos de S. pittieri as frações causaram fagodeterrência em concentrações
baixas como 0,1 % (fração em éter dietílico) e 0,5 % (fração em água e
água/metanol). Não houve efeitos significativos das frações do extrato de S.
pittieri sobre adultos de B. tabaci biótipo B em casa de vegetação.
Bouchelta et al. (2005) testaram a atividade inseticida de alcaloides,
saponinas e flavonoides extraídos de frutos de Capsicum frutescens L. sobre ovos
e adultos de B. tabaci biótipo B em tomateiro. Os alcalóides apresentaram melhor
efeito ovicida e adulticida, com mortalidades de 59 % e 86 % na maior
concentração (20 g.L -1 ), respectivamente.
Silva et al. (2013) avaliaram os possíveis efeitos de sete extratos
provenientes de cinco espécies vegetais, Ruta graveolens (folhas), A.indica (folhas
+ ramos), T. pallida (ramos), T. pallida (folhas), A. indica (amêndoas),
Chenopodium ambrosioides (inflorescências + ramos+ folhas) e Mentha pulegium
(folhas), sobre Bemisia tabaci biótipo B em Cucurbita pepo L. O extrato à base de
folhas de M. pulegium se destacou dos demais, apresentado elevado efeito
repelente e deterrente à oviposição da mosca-branca.

129
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

PERSPECTIVAS DE USO DE PLANTAS INSETICIDAS PARA O CONTROLE DE PRAGAS


O Brasil tem grande potencial para produção de novos inseticidas de
origem botânica, uma vez que está situado em uma região tropical, cuja
biodiversidade é abundante com muitas espécies ainda desconhecida. No entanto
obstáculos precisam ser vencidos para que o uso de plantas inseticidas seja cada
vez mais utilizado.
Isman (2006) relacionou as principais barreiras que dificultam a
comercialização de produtos de origem botânica, destacando a falta de
sustentabilidade na produção de recursos (biomassa) para a fabricação desses
produtos, a falta de padronização no processo de produção, além das dificuldades
relativas à regulamentação no uso dos mesmos.
Para a produção dos inseticidas botânicos em escala comercial, é
necessário que a produção de biomassa atenda à demanda do mercado durante
todo o ano. Ao menos que essas plantas sejam extremamente abundantes na
natureza ou que sejam produzidas para outra finalidade a sustentabilidade na
produção se torna questionável. Annona scamosa L. e Rosmarinus officinale Linn.
são exemplos de espécies com atividade inseticida comprovada sobre divers os
organismos e que já são produzidas em escala comercial, principalmente
atendendo as indústrias de cosméticos e alimentícia. A utilização de resíduos
provenientes da indústria alimentícia seria outra forma sustentável de produção
de biomassa. Proveniente do processo de concentração do licor extraído do
bagaço da laranja, D’-limonene é um ingrediente ativo utilizado em diversas
formulações comerciais no mundo para o controle de diversos organismos. O uso
da engenharia genética poderá ser uma ferramenta útil para a obtenção de
produtos de origem botânica, sem a dependência de grandes volumes de matéria -
prima. Com isso, espera-se poder modificar os genes de espécies vegetais
agronômicas para produção constitutiva de moléculas inseticidas, reduzindo a
necessidade de obtenção do produto botânico, extração e formulação para
finalmente ser utilizado como inseticida. Já existem pesquisas relacionadas
também com a produção de azadiractina via cultura de tecidos, entretanto, a
viabilidade econômica ainda é questionável.

130
Plantas Inseticidas no Controle de Pragas em Tomateiro

Outra limitação refere-se à variação no desempenho de um determinado


produto, mesmo quando preparado pelo mesmo processo. Essa variação poderia
ser atenuada caso houvesse melhor padronização química dos ingredientes ativos
majoritários.
Entretanto, a regulamentação para a comercialização desses produtos
continua sendo o fator mais determinante para a aprovação de novos produtos
de origem botânica. Em muitos países, a legislação que regulamenta o uso de
agrotóxicos é a mesma utilizada para os biopesticidas, incluindo os inseticidas
botânicos. A utilização desses produtos por mercados específicos é outro fator
que restringe o seu uso e consequentemente limita os lucros. Com isso, o número
de empresas que se dispõem a pagar preços tão elevados para o registro dessa
classe de produtos é irrelevante.
Apesar dessas limitações diversas pesquisas vêm sendo desenvolvidas em
todo o mundo, com o intuito de tornar o uso de produtos de origem botânica uma
ferramenta útil para o controle de pragas e doenças em outros sistemas de
produção agrícola, além da produção orgânica e dos cultivos protegidos.

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136
Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

Capítulo 12

“PANORAMA PARA O MANEJO DE LEPIDÓPTEROS-PRAGA EM GRANDES


CULTURAS”

Silvana V. Paula-Moraes1 e Alexandre Specht1

Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Cx. Postal 08223, 73310-970, Planaltina, DF.

INTRODUÇÃO
No Brasil, a agricultura tem desempenhado papel de destaque na economia e
sua relevância pode ser demonstrada pela sua participação no Produto Interno Bruto
(PIB), bem como pelas divisas geradas pelas exportações de comodities,
abastecimento do mercado interno e como gerador e distribuidor de renda. Muito
desse desempenho se deve a expansão da fronteira agrícola do Cerrado (ALVES;
CONTINI; HAINZELIN, 2005). Entretanto, diante do cenário em que a exploração
agrícola na região do Cerrado está consolidada, surge a demanda pelo
redimensionamento dos sistemas produtivos, baseado na premissa de que o
agronegócio além de ser competitivo, também deve contemplar o aspecto de
sustentabilidade.
Em todas as regiões agrícolas do mundo, os desafios do agronegócio para ser
uma atividade competitiva e sustentável tangenciam, em maior ou menor grau,
questões de sanidade vegetal. A agricultura atual é caracterizada pela introdução, em
grandes áreas, de uma única espécie vegetal de interesse econômico. Especificamente
no caso da entomofauna, ocorrem mudanças na estrutura desta comunidade, que
resultam em um ambiente ecologicamente simplificado, favorecendo o aumento nas
taxas de reprodução e sobrevivência de algumas espécies de insetos, que podem
acarretar perdas na espécie cultivada (RISCH, 1981).
A ocorrência de perdas pelo ataque de pragas ocorre pelas injúrias causadas
nos tecidos vegetais e geram danos econômicos nas culturas que podem até mesmo,
comprometer a exploração agrícola em 100 %. O dano econômico que pode ser

137
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

desencadeado pelo ataque de pragas está em função do potencial de impacto da


espécie de inseto, além do modelo de exploração agrícola, que pode favorecer ou
desfavorecer seu poder de destruição da espécie vegetal explorada.
O conceito de Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma filosofia de controle de
pragas que surgiu dentro das bases do controle biológico na tentativa de resga tar uma
alternativa ao controle químico (STERN et al., 1959). Posteriormente, evoluiu para um
sistema de manejo de pragas, baseado nos pressupostos de avaliação do
agroecossistema, tomada de decisão e escolha de medidas de controle, não se
restringindo somente ao controle biológico (PEDIGO; RICE, 2009).
Este manejo pressupõe a geração e sua validação a partir de dados científicos, de
forma a caracterizar, prever e minimizar a ocorrência de injúrias e consequentes
danos econômicos causados por pragas. A tomada de decisão para o manejo deve ser
baseada considerando níveis populacionais da praga e a adoção das táticas e
estratégias de controle, de forma coordenada e compatíveis.
O presente capítulo aborda a caracterização de lepidópteros-pragas, com a
reunião de informações detalhadas da superfamília Noctuoidea; um breve histórico da
recente detecção de Helicoverpa armigera no Brasil; e finaliza com considerações
sobre o MIP e manejo da resistência de lagartas em um cenário da adoção da
tecnologia de plantas expressando proteinas da bactéria Bacillus thurigiensis (Bt) em
espécies vegetais.

CARACTERIZAÇÃO DE LEPIDÓPTEROS-PRAGAS
A caracterização dos insetos-praga impactantes pressupõem o reconhecimento
e categorização das espécies de impacto econômico. Especificamente o grupo das
lagartas apresentam uma ou mais espécies que podem associar-se às plantas de
interesse econômico atuando em complexos que em cada cultura e situação, são
formados por espécies de maior importância, conhecidas como "pragas-chaves" e por
espécies menos prejudiciais conhecidas como "pragas-secundárias" (PEDIGO; RICE,
2009).
As lagartas pertencentes à superfamília Noctuoidea representam
aproximadamente 30 % de todos os lepidópteros (HEPPNER, 1991), agrupando em
torno de 70.000 espécies (KITCHING; RAWLINS, 1998; ZAHIRI et al., 2011, 2012;

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Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

DUARTE et al., 2012). Uma das características destes representantes é a capacidade


de se alimentar de diferentes espécies vegetais, o que determina que uma ou mais
espécies podem desencadear dano econômico a diversas culturas como as de milho,
soja e algodão. A origem única desta superfamília fundamenta-se na presença do
órgão timpânico metatorácico e suas estruturas associadas abdominais (por exemplo,
KITCHING; RAWLINS, 1998; FIBIGER; LAFONTAINE, 2005; LAFONTAINE; FIBIGER, 2006;
DUARTE et al., 2012).
Os noctuóides constituem a linhagem mais diversa e cosmopolita de todos os
lepidópteros, com adultos e imaturos apresentando uma enorme gama de tamanhos,
coloração e biologia, incluindo etologia, hábitos alimentares, etc (KITCHING; RAWLINS,
1998). A grande riqueza de espécies e diversidade de caracteres, aliada a distribuição
cosmopolita, fez com que Noctuoidea representasse um grupo enigmático e de difícil
categorização taxonômica, mesmo em nível de família, ao longo do tempo (ex.:
HAMPSON, 1898-1915; SEITZ, 1919-1944; SCOBLE, 1995; KITCHING; RAWLINS, 1998;
MITCHELL; MITTER; REGIER, 2006; FIBIGER; LAFONTAINE, 2005; LAFONTAINE; FIBIGER,
2006).
Entretanto, com o aumento da capacidade dos computadores,
aprimoramento e disponibilização de recursos de microscopia eletrônica, e
principalmente da biologia molecular como ferramenta, diversos trabalhos de cunho
sistemático tem sido levados a efeito elucidando as relações filogenéticas dos
principais grupos (SPEIDEL; FÄNGER; NAUMANN, 1996a; 1996b; KITCHING; RAWLINS,
1998; MITCHELL; MITTER; REGIER, 2006; FIBIGER; LAFONTAINE, 2005; LAFONTAINE;
FIBIGER, 2006; LAFONTAINE; SCHMIDT, 2010; ZAHIRI et al., 2011; ZAHIRI et al., 2012).
Atualmente considera-se que a superfamília Noctuoidea é formada pelas
famílias Oenosandridae, Notodontidae, Nolidae, Euteliidae, Erebidae e Noctuidae
(LAFONTAINE; SCHMIDT, 2010; ZAHIRI et al., 2011; ZAHIRI et al., 2012).
A família Oenosandridae é formada por três espécies e é restrita à Austrália
enquanto as demais famílias são cosmopolitas e mais diversas (KITCHING; RAWLINS,
1998).
A família Notodontidae é representada especialmente por espécies que vivem
em ambientes florestais. As larvas frequentemente alimentam-se de folhas de plantas
arborescentes ou arbóreas. As lagartas podem viver agregadas ou ter hábito solitário,

139
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

dependendo da espécie ou do ínstar. Apesar de alguns notodontídeos serem


cripticamente coloridos, vários são capazes de pulverizar ácido fórmico e cetonas
provenientes da glândula cervical nos predadores e parasitóides. Outros erguem e
chicoteiam seus pseudópodes anais modificados, adotando várias posturas para
parecerem ameaçadores (KITCHING; RAWLINS, 1998).
Entre as subfamílias mais comuns, representadas por espécies de importância
destacam-se Pyrgaerinae - Rosema demorsa R. Felder, 1874 (Figura 1); Notodontinae -
Cerura splendens Jones, 1908 (Figura 2); Dudusinae -Crinodes besckei Hübner, 1824
(Figura 3); Hemiceratinae -Hemiceras meona Cramer, 1797 (Figura 4); Heterocampinae
– Dognina bleura (Schaus, 1915) (Figura 5) que é praga de eucaliptos; Nystaleinae -
Nystalea nyseus (Cramer, 1775) é referida como praga de eucalipto (ZANUNCIO et al.,
1993) e N. aequipars Walker, 1858 (Figura 6) e Dioptinae com Phaeochlaena gyon
Fabricius, 1787 (Figura 07).
A família Nolidae é formada por pequenas mariposas de corpo delicado e asas
relativamente estreitas e longas. As larvas normalmente apresentam setas muito
conspícuas em tufos. As pupas ficam encerradas em um casulo muito característico,
em forma de canoa com uma saída vertical, anterior em forma de fenda (KITCHING;
RAWLINS, 1998). Apesar da maioria das espécies terem pequeno porte e sem
importância econômica expressiva, alguns gêneros incluem pragas agrícolas, como
ocorre com representantes de Earias Hübner, [1825], conhecidos como brocas
espinhosas da maçã-do-algodoeiro, constituindo-se pragas-chave da cultura na África,
Indo-austrália e Austrália (PINHEY, 1975). A larva de Nola sorghiella Riley, 1882
ocasionalmente causa danos em sorgo nos Estados Unidos (STEHR, 1987). No Brasil,
encontram-se assinaladas espécies como Meganola bifiliferata Walker, [1863] 1862
(Figura 8) e Iscadia dukinfieldia Schaus, 1906 (Figura 9) (POOLE, 1989; SPECHT;
CORSEUIL, 1996, 2002; SPECHT; SILVA; LINK, 2004).
A família Euteliidae é representada por mariposas características cuja posição
de repouso dos adultos é não usual e característica, na qual as asas são dobradas no
sentido do longitudinal e ficam presas em um ângulo de 45 – 90º ao abdome, o qual é
curvado dorsalmente ou dorso-lateralmente. A aparência geral é de uma folha seca
dobrada ou um pequeno conjunto de ramos. As larvas são lisas, com os cinco pares de
larvópodes desenvolvidos, a pupação ocorre em um casulo no solo ou em árvores

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Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

podres (HOLLOWAY; BRADLEY; CARTER, 1992). Os euteliídeos ocorrem primariamente


nos trópicos, mas são característicos das savanas e hábitats semiáridos. Apesar da
grande diversidade de famílias de plantas hospedeiras destaca-se a família
Anacardiaceae, com várias espécies tornando-se pragas de manga (HOLLOWAY, 1985).
Entre as espécies mais características e vistosas encontradas no Brasil encontra -se
Eutelia abscondens (Walker, 1858) (Figura 10).
A família Erebidae é a mais diversa de Noctuoidea com 18 subfamílias,
algumas das quais eram antes tratadas como famílias (ZAHIRI et al., 2012). Entre as
principais subfamílias que apresentam espécies de importância agrícola destacam-se
Scoliopteryginae, Lymantriinae, Herminiinae, Arctiinae, Calpinae, Scolecocampinae,
Htpenodinae, Erebinae e Hypocalinae.
Scoliopteryginae abriga diversas espécies aparentadas cujas larvas são verdes
e crípticas (CRUMB, 1956; BECK, 1960). Nas Américas e Brasil, conta com
representantes dos gêneros Anomis Hübner, [1821] e Alabama Grote, 1895. As várias
espécies de Anomis são pragas de algodão ou juta (Corchorus capsularis – Tiliaceae) e
muitas podem desfolhar Hibiscus agrícolas e ornamentais (HOLLOWAY; BRADLEY;
CARTER, 1992). As larvas de Alabama argillacea (Hübner, 1823) (Figura 11) conhecidas
como curuquerê-do-algodoeiro causam grandes perdas anuais na cultura (GALLO et
al., 2002).
Lymantriinae inclui perto de 100 espécies com ocorrência para o Brasil
(BROWN; FREITAS, 1999), cujas larvas de muitas espécies alimentam-se em
hospedeiros arbóreos e são frequentemente polifitófagas (KITCHING; RAWLINS, 1998).
Muitas espécies que se alimentam de árvores constituem-se em pragas-chave de
florestas, desfolhando grandes áreas. No Brasil, esta subfamília encontra-se
representada principalmente por gêneros como Eloria, Sarsina, e Thagona. As
espécies mais conhecidas são Sarsina violascens (Herrich-Schäffer, 1856) (Figura 12)
popularmente conhecida como “mariposa violácea” que é polifitófaga cujas lagartas
são pragas de mirtáceas (SILVA et al., 1968; ZANUNCIO et al., 1992; ZANUNCIO, 1993;
GALLO et al., 2002; MORAIS et al., 2010) e Thagona tibialis (Walker, 1855) (Figura 13)
popularmente conhecida como “branca-de-neve”.
Herminiinae inclui principalmente mariposas noturnas, relativamente
pequenas e de coloração parda, ocorrentes nas regiões tropicais das Américas. Muito

141
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

pouco se sabe sobre as espécies ocorrentes no Brasil representadas por gêneros como
Bleptina (Figura 14), Hyponeuma e Scopifera (POOLE, 1989; SPECHT; SILVA; LINK,
2004). Hyponeuma taltula (Schaus, 1904), cujas larvas agem como lepidobrocas, é
referida como séria praga canavieira em diversos estados brasileiros (GUAGLIUMI;
MENDES, 1974; PLANALSUCAR, 1974; ZENKER et al., 2007).
Arctiinae compreende um grupo muito diverso com aproximadamente 2.000
espécies representadas no Brasil (BROWN JR.; FREITAS, 1999). Compreendem
mariposas de pequeno a médio porte que podem ser facilmente reconhecíveis pela
presença de um par dorsal de glândulas produtoras de feromônio eversíveis
associadas com a papila anal das fêmeas. Muitos arctiíneos utilizam plantas
hospedeiras contendo o alcalóide pyrrolizidina que é utilizada tanto na defesa
(ROTHSCHILD et al., 1979) quanto na síntese de feromônios dos adultos (CONOR et al.,
1981). A mimicria com himenópteros é frequente dentro das linhagens com venação
reduzida (DANFORTH; MICHENER, 1988). Esta subfamília é representada por três
tribos (ZAHIRI et al., 2012), destacando-se em nosso meio Lithosiini e Arctiini.
Apesar de Lithosini não apresentar espécies de importância econômica
(KITCHING; RAWLINS, 1998) seus representantes são muito comuns e em diversas
ocasiões algumas espécies como Agylla argentea (Walker, 1863) (Figura 15)
apresentam populações muito elevadas.
Arctiini é muito diversa e encontra-se representada por gêneros como
Bertholdia, Cosmossoma, Ctenucha (Figura 16), Dysschema (Figura 17), Eucereon,
Eurota (Figura 18), Hypercompe, Paracles (Figura 19), Premolis, Saurita, Thalesa,
Utetheisa, entre outros (TESTON et al., 2006). Entre as espécies de importância
encontram-se Saurita cassandra (Linnaeus, 1758) cujas larvas se alimentam de folhas
do abacateiro (Persea americana Mill. - Lauraceae) (GALLO et al., 2002); Thalesa
citrina (Sepp, 1848) que ataca as folhas da mamoneira (Ricinus comunis Linn. -
Euphorbiaceae) diminuindo a produtividade (GALLO et al., 2002); Utetheisa ornatrix
(Linnaeus, 1758) (Figura 20) cujas larvas alimentam-se de representantes de
Aquifoliaceae, Leguminosae e Malvaceae (SILVA et al., 1968; PASTRANA, 2004), sendo
considerada praga das diversas espécies de feijão do gênero Crotalaria Linn. -
Leguminosae (GALLO et al., 2002). Eupseudosoma aberrans Schaus, 1905 e E.
involutum (Sepp, [1855]) causam danos à diversas espécies de Myrtaceae, sendo

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Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

consideradas pragas da cultura de eucalipto (GALLO et al., 2002; CARMO; PENEDO,


2004); Anthichloris eriphia (Fabricius, [1777]) é considerada praga da bananeira, cujas
larvas conhecidas como lagartas-perfuradoras-do-limbo-foliar destroem a porção
central da folha prejudicando o desenvolvimento da planta; Syntomeida melanthus
(Cramer, 1780) é considerada praga da cultura da batata-doce (Ipomoea batatas Lam.
- Convolvulaceae) por consumir completamente o limbo foliar reduzindo a área
fotossintética (GALLO et al., 2002); Premolis semirufa (Walker, 1856) (Figura 21) é
considerada praga da seringueira (Hevea brasiliensis (Willd. ex Adr. de Juss.) Muell.-
Arg. - Euphorbiaceae) pois as larvas, de hábito noturno, desfolham completamente
extensas áreas de seringais da região amazônica, especialmente nas épocas de chuva
(GALLO et al., 2002). Além disso, quando os seringueiros vão recolher o látex
coagulado, entram em contato com as cerdas das larvas ou dos casulos. Essas cerdas
penetram pela pele, atingem as articulações e provocam anquilosamento dos dedos,
que se caracterizam por inchaço, dores e imobilidade articular. As formas crônicas,
especialmente em indivíduos poliacidentados resultam em lesões irreversíveis
conhecidas como pararamose (COSTA, 2003).
Calpinae reune mariposas que se caracterizam pela armadura apical
especializada da espirotromba (SPEIDEL; FÄNGER; NAUMANN, 1996b), a qual é
modificada para perfurar frutos com casca grossa ou pele de mamíferos (BÄNZIGER,
1975, 1979). Em muitas espécies as margens dorsais da asa anterior são sinuosas,
muitas vezes com um pronunciado lobo mediano e um no ângulo do tornus. As larvas
alimentam-se de Menispermiaceae (HOLLOWAY et al., 1992), Annonaceae e
Piperaceae (TOOD, 1959). Na maioria, as larvas são heterocromáticas, mudando
padrão e coloração abruptamente entre os diferentes ínstares. Incluem gêneros com
representantes no Brasil como Eudocima e Gonodonta (Figura 22).
Eulepidotinae é representada por gêneros como Anticarsia, Antiblemma,
Eulepidotis e Oxidercia. Apesar de praticamente inexistirem informações sobre
biologia e ecologia das espécies destes gêneros (POOLE, 1989), Anticarsia gemmatalis
Hübner, 1818 (Figura 23) apresenta grande importância econômica por ser praga-
chave da cultura da soja, atacando também diversas outras culturas, especialmente de
leguminosas como alfafa ervilha várias espécies e variedades de feijão (SILVA et al.,
1968; MOSCARDI et al. 2012).

143
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Scolecocampinae reúne no Brasil espécies dos gêneros Gabara e Isogona


(POOLE, 1989; SPECHT; SILVA; LINK, 2004). As larvas das espécies conhecidas são
lepidobrocas que se alimentam de gramíneas atacando cana-de-açúcar (GUAGLIUMI;
VILAS BOAS, 1975) e, segundo, Fibiger e Lafontaine (2005), de fungos em vegetação
morta. Entre as espécies que ocorrem em todo o Brasil encontra-se Isogona natatrix
Guenée, 1852 (Figura 24).
Hypenodinae inclui noctuóideos muito pequenos e, segundo Kitching e
Rawlins (1998), suas larvas são primariamente algófagas, liquenívoras ou micetófagas.
Entretanto, entre as plantas hospedeiras dos representantes do gênero Schrankia
descacam-se capins, especialmente do gênero Paspalum (Poaceae) sendo também
referida Calluna vulgaris (L.) Hull (Ericaceae) e Thymus serpyllum L. (Lamiaceae)
(POOLE, 1989).
Erebinae é a subfamília mais diversa de Erebidae e inclui desde espécies
pequenas até mariposas grandes muito longevas incluindo espécies como a mariposa-
imperador Thysania agrippina (Cramer, 1776) (Figura 25), que é considerada a espécie
com maior envergadura do mundo, podendo chegar a 30 cm e outras como Ascalapha
odorata (Linnaeus, 1758) (Figura 26), Letis hypnois (Hübner, 1821), Ramphia albizona
(Latreille, 1817) e Thysania zenobia (Cramer, 1777). A subfamília ainda abriga
representantes de elevada importância agrícola como representantes das tribos
Euclidiini e Melipotini.
A tribo Euclidiini é representada especialmente pelo gênero Mocis, que no
Brasil tem como principal espécie M. latipes (Guenée, 1852) (Figura 27) que é muito
conhecida, tanto pelo aspecto característico de suas lagartas, quanto pelos danos que
causam principalmente às diversas culturas de gramíneas (GALLO et al., 2002).
Melipotini é especialmente representada pelo gênero Melipotis, que é muito
diverso, composto por adultos característicos como M. fasciolaris (Hübner, 1825)
(Figura 28), entretanto existem poucos conhecimentos sobre biologia e ou ecologia.
As espécies cujas larvas são conhecidas alimentam-se de plantas das famílias
Leguminosae (Acacia spp. e Prosopis sp.), Salicaceae e Sapindaceae (POOLE, 1989).
Hypocalinae encontra-se especialmente representada por Hypocala
andremona (Stoll, 1781) (Figura 29) que apesar de alimentar-se de folhas de laranjeira
(Citrus sinensis (L.) - Rutaceae) (BIEZANKO; RUFFINELLI; LINK, 1974) é considerada

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Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

praga-chave da cultura do caqui (Diospyros kaki L. - Ebenaceae) (GALLO et al., 2002)


atacando tanto as folhas jovens quanto os frutos pequenos, na região do cálice,
determinando a sua queda (ANDERSON; PINHEIRO, 1974); também pode atacar
durante a fase final de desenvolvimento dos frutos, pouco antes do
amadurescimentos, acelerando a maturação promovendo a contaminação dos frutos
por fungos e bactérias que podem provocar o apodrecimento e queda dos frutos
precocemente (AMANTE, 1965).

A família Noctuidae agrupa todos os representantes de Noctuoidea cuja asa


posterior apresenta apenas três veias partindo da célula discal da asa poste rior. Onde
a veia M2 emerge em torno de um terço acima da porção inferior da célula discal.
Geralmente a veia M2 é reduzida ou vestigial, de forma que parece que a veia cubital
parece ter três ramificações. É formada por 20 subfamílias e contêm a maioria d as
espécies de grande importância agrícola (ZAHHIRI et al., 2011).
Plusiinae inclui mariposas cuja distribuição das cerca de 400 espécies é
distintamente bimodal com a maioria dos Abrostolini e Argyrogrammatini sendo
tropical e a maioria dos Plusiini ocorrendo em biomas temperados ou subárticos
(KITCHING, 1987). Os plusiíneos na maioria das vezes são associados com habitats
abertos e perturbados. Muitas espécies são migratórias e polífagas em plantas
herbáceas na fase de larvas (EICHLIN; CUNNINGHAN, 1978; HOLLOWAY et al., 1992;
LAFONTAINE; POOLE, 1991).
Estas características determinam que um grande número de espécies seja
economicamente importante atuando como pragas de culturas entre as quais
destacam-se: aspargo, alcachofra, alfafa, batata-inglesa, crucíferas, ervilhas, feijão,
fumo, linho, pepino, soja, tomate, entre outras (SILVA et al., 1968; PASTRANA, 2004;
ANGULO; OLIVARES; WEIGERT, 2006). Existe o assinalamento de 40 espécies na região
neotropical (HEPPNER, 1991); destas, no Brasil destacam-se Mouralia tinctoides
(Guenée, 1852) (Figura 30); Trichoplusia ni (Hübner, 1803); Chrysodeixis includens
(Walker, [1858]) (Figura 31); Autoplusia egena (Guenée, 1852) e Rachiplusia nu
(Guenée, 1852) (Figura 32) (POOLE, 1989; SPECHT; CORSEUIL, 1996). Excelentes
contribuições sobre a biologia e morfologia são encontradas principalmente em
Eichlin e Cunningham (1978), Lafontaine e Poole (1991) e Angulo et al. (2006).

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

Pantheinae constitui um dos menores táxons de Noctuidae com pouco mais


de 63 espécies no mundo (HEPPNER, 1991). No Brasil existe o registro da ocorrência
de Bathyra chavannesi (C. Felder & Rogenhofer, 1874) (Figura 33) no Rio Grande do
Sul (SPECHT; CORSEUIL, 2002a; SPECHT et al., 2005), Santa Catarina e Paraná (SPECHT;
SILVA; LINK, 2004). As informações sobre a biologia restringem-se à época de
ocorrência dos adultos e de lagartas e pupas coletadas em cerejeira (Eugenia
involucrata D.C. - Myrtaceae), as pupas, envoltas por casulos rudimentares de seda,
também foram encontradas presas entre ramos da própria planta hospedeira. A
maioria dos panteíneos de outros países apresentam biologia similar, com larvas
alimentando-se de plantas arbóreas, especialmente Coniferae, Podocarpaceae,
Fagaceae, Salicaceae, Aceraceae e Rosaceae (KITCHING; RAWLINS, 1998).
Diphtherinae inclui apenas o gênero Diphtera Hübner, [1820] que no Brasil é
representado por D. festiva (Fabricius, 1775) (Figura 34). Trata-se de uma espécie de
ampla distribuição no continente Americano, cujos adultos apresentam coloração
muito variável (THÖNY, 1997). É extremamente comum no Norte e Nordeste do Brasil
(LÜBECK; OLIVEIRA; ALMEIDA, 1995) cujas larvas alimentam-se preferencialmente de
plantas das famílias Sterculiaceae, Fabaceae e Malvaceae (POOLE, 1989; BECKER;
MILLER, 2002; HEPPNER, 2003).
Agaristinae é representada por mariposas que podem ter hábito diurno,
geralmente com coloração vistosa, usualmente com a asa posterior amarelada ou
alaranjada. Muitas espécies são favorecidas por apresentarem comportamento
territorial enquanto outras produzem som durante o voo, também por friccionar os
tarsos posteriores em veias alares dilatadas ou por um órgão sonoro na asa anterior.
As lagartas geralmente são muito coloridas e se alimentam de plantas de diversas
famílias, especialmente Onagraceae e Vitaceae, porém com pouca expressão
econômica (KITCHING; RAWLINS, 1988). A pupação usualmente ocorre em uma
câmara formada em madeira mole ou casca. A pupa apresenta um cremáster truncado
característico e é densamente espinulosa, especialmente na porção dorsal (RAWLINS,
1992). No Brasil as espécies mais comuns pertencem aos gêneros Arpia, Aucula
(Figura 35), Darceta, Euscirrhopterus, Neotuerta e Rhosus (POOLE, 1989).
Oncocnemidinae é representada especialmente por Neogalea sunia (Guenée,
1852) (Figura 36), com ocorrência registrada do sudeste dos Estados Unidos até o

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Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

sudeste da Argentina. Suas lagartas alimentam-se, especialmente de Lantana camara


Linn. – Verbenaceae, causando sérios danos, em ajardinamentos. Esta especificidade
fez com que S. sunia tenha sido empregada no controle biológico de L. camara em
diversos países como Austrália, Hawaii e Ilha Norfolk, onde este vegetal se tornou
praga (PALMER; PULLEN, 1995; BAARS; NESER, 1999). Os principais aspectos
morfológicos e biológicos de N. sunia encontram-se descritos em Bado, Pannunzio e
Artale (2004).
Heliothinae, em todo o mundo é representada por pouco mais de 452
espécies com apenas 20 espécies ocorrentes no Neotrópico (HEPPNER, 1991; POOLE;
MITTER; HUETTEL, 1993). O tegumento das larvas é coberto por grânulos cônicos com
espinhos apicais muito pequenos. A subfamília tende a ser mais diversa em áreas de
pouca precipitação entretanto, muitas espécies são economicamente importantes
com diversas sendo consideradas pragas-chave principalmente de culturas como
algodão, soja, milho, tomate. O hábito de alimentarem-se preferivelmente de flores,
frutos e sementes resulta em maiores perdas culturais (HARDWICK, 1965). No Brasil
seus representantes são vulgarmente conhecidos como broca-da-espiga-do-milho,
broca-grande-do-fruto, broca-grande-do-tomateiro, lagarta-das-espigas [Helicoverpa
zea (Boddie, 1850) (Figura 37)]; lagarta-da-maçã-do-algodoeiro [Heliothis virescens
(Fabricius, 1777). Ainda destacam-se espécies como Helicoverpa gelotopoeon (Dyar,
1921) que ataca diversas culturas no Sul do Brasil e Heliothis tergemina (C. Felder &
Rogenhofer, 1874) que ataca preferencialmente solanáceas (SPECHT; SILVA; LINK,
2004). A recente detecção de H. armigera (Hübner, 1809) (Figura 38) (SPECHT et al.,
2013) na maior parte do Brasil, atacando diversas culturas de interesse econômico
tem demandado esforços de todo o setor produtivo e do próprio Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em promover ações emergenciais que
visam mitigar o impacto desta espécie em todas as regiões do Brasil.
Condicinae, na região neotropical agrupa principalmente representantes dos
gêneros Condica (Figura 39) e Perigea. As larvas de Condica geralmente são
polifitófagas, mas tendendo a preferir plantas herbáceas da família Asteraceae
nativas, cultivadas ou invasoras (POOLE, 1989). C. concisa (Walker, 1856) ataca a
cultura do amendoim (Arachis hypogaea Linn. - Fabaceae) e C. sutor (Guenée, 1852) é
polifitófaga e considerada praga de aipo (Apium graveolens Linn. - Apiaceae) (CRUMB,

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Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

1956; PASTRANA, 2004); as larvas de P. glaucoptera (Guenée, 1852) alimentam-se de


chicória Cichorium endivia Linn. - Asteraceae (PASTRANA, 2004).
A subfamília Eriopinae é enigmática devido seus exemplares apresentarem
características próprias de diversas outras subfamílias não relacionadas. No
continente americano é representada apenas pelo gênero Callopistria que reúne 118
espécies válidas tendo C. fimbripes (Walker, 1858) e C. floridensis (Guenée, 1852)
(Figura 40) citadas para o Brasil (POOLE, 1989). Estas espécies como as demais do
gênero são especializadas em se alimentar de pteridófitas (POOLE, 1989; SPECHT;
SILVA; LINK, 2004), podendo serem consideradas pragas em viveiros (GALLO et al.,
2002).
Noctuinae é a subfamília que reúne a maioria das espécies consideradas
pragas-chave das principais culturas e é representada por espécies polifitófagas, com
alto potencial biótico e de dispersão. É constituída por 18 tribos entre os quais se
destacam no Brasil representantes de: Prodeniini, Elaphriini, Hadenini, Leucaniini,
Glottulini e Noctuini.
A tribo Prodeniini é especialmente representada pelo gênero Spodoptera que é
cosmopolita e reune 30 espécies, das quais pelo menos a metade é considerada de
importânca agrícola (POGUE, 2002). A maioria das espécies é polífaga cujas lagartas
alimentam-se de diversas culturas de interesse econômico, podendo migrar de uma
cultura para outra. Devido a importância existem muitas publicações sobre seus
representantes, cabendo destacar os estudos sistemáticos de Tood e Poole (1980) e
Pogue (2002). As espécies mais comuns no Brasil são S. albula (Walker, 1857); S.
cosmioides (Walker, 1858); S. dolichos (Fabricius, 1794) (Figura 41); S. eridania (Stoll,
1782) e S. frugiperda (J.E. Smith, 1797).
A tribo Elaphriinae agrupa gêneros muito diversos como Bryolymnia, Elaphria,
Galgula, Gonodes, e Hampsonodes com diversas espécies com ocorrência registrada
para o Brasil (POOLE, 1989). Destaca-se Elaphria agrotina (Guenée, 1852) (Figura 42)
cujas larvas alimentam-se de abacaxizeiro (GALLO et al., 2002) algodoeiro, feijão e
soja (PASTRANA, 2004).
A tribo Hadeninae tradicionalmente agrupa os noctuídeos trifineos com olhos
compostos pilosos. As lagartas apresentam a hipofaringe dividida por um sulco
transverso profundo. Entre as espécies ocorrentes no Brasil destacam-se as do gênero

148
Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

Dargida, Faronta (Figura 43) e Polia, cujos representantes se alimentam de gramíneas,


podendo causar danos expressivos em diversas culturas, especialmente de cereais
(CRUMB, 1956; SILVA et al., 1968; SPECHT; SILVA; LINK, 2004).
A tribo Leucaniinnae é facilmente definida devido aos estados de caráter
derivados. Nas larvas o lobo apical da hipofaringe é densamente coberto com longos
espinhos em formato de pêlos formando um “pincel” apical; a mandíbula é adaptada
para quebrar sílica nos capins dos quais as larvas se alimentam com cumes normais na
superfície inferior substituídos por uma área molar fortemente esclerotizada, e a
fileira de dentes apicais é substituída por uma grossa e arredondada superfície
esmagadora. Os adultos geralmente podem ser reconhecidos pelas finas listras
longitudinais da asa anterior apesar de padrões similares ocorrerem
convergentemente em outros grupos de noctuídeos que se alimentam de gramíneas.
Entre os principais gêneros destacam-se Leucania como L. humidicola Guenée, 1852
(Figura 44) e L. jaliscana Schaus, 1898 e Mythimna (=Pseudaletia) representada
especialmente M. adultera (Schaus, 1894) e M. sequax (Franclemont, 1951) (Figura
45), espécies geralmente consideradas praga-chave ou secundárias de cereais (SILVA
et al., 1968; LIMA; RACCA FILHO, 1996; ADAMS, 2001; GALLO et al., 2002; PASTRANA,
2004).
A tribo Glottulini agrupa poucas espécies associadas especialmente a flores
de corte que tenham bulbos. No Brasil, bem como em toda a América, a espécie de
maior importância é Xanthopastis timais (Cramer, 1780) (Figura 46) que é praga de
inúmeras espécies de Amarilidaceae e Iridaceae (SILVA et al., 1968; PASTRANA, 2004)
os principais aspectos da morfologia e biologia desta espécie encontram-se descritos
em Biezanko e Guerra (1971).
A tribo Noctuinae é caracterizada por mariposas que apresentam um
mecanismo distinto de dobradura das asas no qual as asas permanecem
horizontalmente sobre o abdome e sobrepõem-se de maneira que as regiões costais
de ambas as asas anteriores fiquem paralelas entre si, de cada lado do abdome. As
larvas dos seus representantes caracterizam-se pela presença de fiandeira
relativamente curta com a margem apical superior (ocasionalmente a inferior
também) franjada ou fendida (FIBIGER; LAFONTAINE, 2005). As larvas da maioria das
espécies apresentam hábito subterrâneo, são polifitófagas e muito vorazes; no início

149
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

do desenvolvimento alimentam-se de folhas, mas logo após passam a cortar a base


das plantas causando sérios danos às culturas por diminuir o número de plantas
cultivadas; são conhecidas como lagartas-roscas pelo hábito de se enrolarem ao
serem perturbadas ou retiradas do abrigo sob o solo (GALLO et al., 2002; PASTRANA,
2004; ANGULO et al., 2006). As espécies de maior importância no Brasil pertencem
aos gêneros Agrotis como A. ipsilon (Hufnagel, 1766) (Figura 47) e A. malefida
Guenée, 1852; Anicla especialmente representada por A. infecta (Ochsenheimer,
1816) (Figura 48), Peridroma, por P. saucia (Hübner, [1808]) (Figura 49) e Tripseuxoa
nas regiões mais frias do Brasil (Figura 50).

DETECÇÃO DE Helicoverpa armigera NO BRASIL


A partir das safras 2011/2012 foram feitos relatos citando o aumento
progressivo da incidência de representantes de Helicoverpa na cultura da soja e
algodão (GASSEN, 2013). Em função de um comunicado técnico que relata o aumento
progressivo da incidência de H. gelotopoeon em soja, na Argentina, a partir de 2008
(IGARZABAL, 2010), muitos pesquisadores e técnicos atribuíam os ataques na soja e,
posteriormente no algodão, a esta espécie também no Brasil.
A situação foi se agravando em diversos Estados e, durante a safra 2012/2013,
a partir de novembro de 2012, os produtores do Oeste da Bahia procuraram a
Embrapa para avaliar a situação que estava fora de controle. Desde as primeiras
avaliações em campo, foi priorizada a identificação específica do(s) agente(s)
causador(es). Em função de relatos semelhantes em diferentes estados da federação
foram realizadas coletas também no Distrito Federal, em Mato Grosso e no Paraná.
No dia 13 de março, em função do estudo da genitália (HARDWICK, 1965; POGUE,
2004) concluiu-se que a principal espécie do complexo era Helicoverpa armigera
(Hübner [1809]) então foi feita a caracterização molecular, finalizada em 21 de março.
Como H. armigera era exótica e classificada como quarentenária A1 para o Brasil, foi
feita notificação atendendo a todos os critérios estabelecidos por lei, encaminhada
pela chefia da Embrapa Cerrados DSV/SDA/MAPA (protocolo n o 70570.000355;2013-
42 - 25/03/13), conforme estabelecido pela Portaria Interministerial 290/96 e IN n o 2
(09/01/02). Somente após receber autorização (Ofício DSV/SDA/MAPA n. 160/2013 de
11/04/13) encaminhada para a Chefia da Embrapa Cerrados foi submetido para

150
Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

publicação (SPECHT et al., 2013), o qual caracteriza os representantes de H. armigera


ocorrentes no Brasil quanto à morfologia da genitália e partes de três genes. Neste
mesmo período, outro grupo de pesquisadores, de forma independente publicou nota
sobre o primeiro registro de ocorrência nos estados da Bahia, Goiás e Mato Grosso
(CZEPAK et al., 2013).
Helicoverpa armigera é praga em grande variedade de cultivos explorados para
produção de alimentos, fibras e óleos, incluindo hospedeiros do grupo das
monocodiledôneas e dicotiledôneas (FIREMPONG; ZALUCKI, 1990). As lagartas podem
atacar tanto a parte vegetativa como estruturas reprodutivas das plantas hospedeiras
com alta capacidade de destruição (ZALUCKI et al., 1986). O impacto econômico de H.
armigera é registrado em países como África, Austrália, China e Índia, especialmente
na cultura do algodão (DOWNES; MAHON; OLSEN, 2007). Na Índia, além de algodão, é
considerada a praga mais importante nos cultivos de guandu, grão-de-bico, girassol,
tomate, sorgo, milheto, quiabo e milho (CAB, 2009). É ainda considerada a praga mais
importante na cultura do tomate, na Espanha e em Portugal (ARNÓ et al., 1999).
O impacto econômico gerado pelo ataque desta espécie se deve as
características ecológicas que envolvem um grande número de plantas hospedeiras,
alta capacidade de reprodução e mobilidade em diferentes habitats na paisagem
agrícola (FARROW; DALY, 1987; FITT; FALUCKI; TWINE, 1989). A capacidade de voo de
H. armigera é registrada na ordem de locomoção de até 1.000 km, em populações do
Sul da Europa e mesmo norte da África, alcançando a Grã-Bretanha (LAMMERS;
MACLEOD, 2007). No caso específico da Europa, esta alta mobilidade a torna uma
praga transiente, sendo a explicação para a ocorrência de surtos populacionais
impactantes em países, nos quais a diapausa (DUFFIELD; DILLON, 2005) não garante
alta sobrevivência e estabelecimento (LAMMERS; MACLEOD, 2007). Zalucki et al.
(1986) descrevem H. armigera como de imigração facultativa e a partir da técnica de
marcação de insetos, foram detectados adultos dispersos a 10 km do ponto de
emergência (FITT; DILLON, 1993).
A identificação da presença desta praga no Brasil desencadeou importante
demanda de pesquisa, no sentido da geração de informações da biologia, ecologia e
comportamento da espécie nas diversas regiões brasileiras, em especial na região do
Cerrado do Brasil Central. O estabelecimento de sistema de manejo para esta praga é

151
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

também crítico, de forma que as medidas de controle não sejam isoladamente


baseadas no controle químico. Exemplos em outros países relatam a ocorrência de
sérios problemas de seleção de populações resistentes a diferentes grupos de
inseticidas (ZALUCKI; ADAMSON; FURLONG, 2009). A resistência de H. armigera a
piretróides (KRANTHI et al., 2001) é reportada na Austrália, Tailândia, Turquia, Índia,
Indónesia, Paquistão (CAB, 2009), Espanha (TORRES VILA et al., 2002), China, Israel e
Nova Zelândia (KONUS, 2004). Sendo também resistrados na Austrália casos de
resistência a endosulfan, organofosforados e carbamatos (ZALUCKI; ADAMSON;
FURLONG, 2009).
A abordagem de manejo regional de pragas (KIPLING; STADELBACHER, 1983) é
proposta como alternativa para o manejo de H. armigera, considerando as
características ecológicas supracitadas que inviabilizam práticas de controle aplicadas
somente em nível de propriedade (MUELLER; HARRIS; PHILLIPS, 1984). Para tanto,
torna-se necessário considerar a paisagem agrícola da região de cultivo. Um dos
aspectos relevantes é a distribuição espacial e temporal de plantas hospedeiras e seu
papel como cultura “armadilha” ou cultura “foco” de infestação desta praga,
contribuindo para a movimentação e densidade populacional da praga (CAPRIO,
2001), no mosaico formado pelos diferentes cultivos hospedeiros em determinada
região.

MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS E A TECNOLOGIA DE PLANTAS EXPRESSANDO


PROTEÍNAS DO Bacillus thurigiensis (Bt)
A última geração de medidas de controle de algumas espécies alvos de
coleópteros e lepidópteras-pragas surgiu, viabilizada pela engenharia genética, que
permitiu o emprego de genes que expressam proteínas da bactéria Bacillus
thurigiensis (Bt) em espécies vegetais. O uso da tecnologia de plantas Bt tem gerado o
questionamento se esta tecnologia é simplesmente mais uma ferramenta para o
manejo de pragas dentro da filosofia do MIP ou se tornou um novo fundamento
(HUNT; PAULA-MORAES, 2010). A redução da aplicação de inseticidas, com
consequente favorecimento do controle biológico natural (NARANJO, 2005) de pragas
tem sido listado com um dos benefícios da tecnologia de plantas transgênicas. Até
mesmo a supressão de praga-chave no agroecossistema tem sido listada como

152
Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

benefício da introdução de plantas expressando a toxina Bt (HUTCHISON et al., 2010).


A ressurgência de pragas secundárias, por outro lado, pode representar um problema,
já que espécies de pragas podem ter a sobrevivência favorecida pela diminuição e
mesmo eliminação do controle químico no agroecossistema. Por outro lado, a
eliminação de competição interespecífica entre pragas secundárias e espécies
controladas pela tecnologia Bt (HELLMICH et al., 2008) podem ser também favorecida,
com consequente aumento da sobrevivência de pragas até entāo de status secundário
na cultura.
Ainda deve-se considerar que a tecnologia de plantas transgênicas expressando
a toxina Bt pode favorecer e mesmo demandar a implementação de outras estratégias
e táticas do MIP. O uso de plantas de algodão expressando a toxina Cry 1Ac para
controle da lagarta Helicoverpa spp. é um exemplo. O controle de Helicoverpa spp.
por esta toxina não é totalmente efetivo, permanecendo a demanda de plano de
amostragem para detecção de lagartas e nível de controle para tomada de decisão,
como é proposto por Naranjo et al. (2008), para controle de lagartas em último
estágio de desenvolvimento.
Um aspecto crítico na tecnologia Bt é o manejo da resistência de forma a pelo
menos retardar a evolução de resistência de populações de pragas alvo desta
tecnologia (por exemplo: TABASHNIK, 1994; ILSI 1998). Este aspecto deve ser
observado e torna crítico pelo risco de evolução de resistência. A toxina do Bt é
expressa em alta dose na planta (por exemplo, GEORGHIOU; TAYLOR, 1986; ROUSH,
1989; GOULD, 1994), o que gera alta exposição para as lagartas alvo e na maioria dos
casos alta persistência durante o ciclo da cultura. Estes aspectos são considerado s
vantagens da tecnologia, entretanto geram também uma pressão de seleção para
sobrevivência de algumas lagartas. Como resultado, existe o risco de estabelecimento,
em gerações futuras, de população de lagartas no qual a toxina perde o efeito de
controle.
O manejo da resistência é baseado no fato de que a planta expressando a
toxina em dose extremamente alta é letal para grande parte da população (por
exemplo, GEORGHIOU; TAYLOR, 1986; ROUSH, 1989; GOULD, 1994). O plantio de
áreas de refúgio, nas quais são cultivadas a mesma cultura, e que não é transgênica
mantém populações de indivíduos susceptíveis, que migram e acasalam com insetos

153
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

resistentes promovendo a redução do risco de evolução da resistência à toxina em


questão (por exemplo, TABASHNIK, 1994; TABASHNIK et al., 2008), sendo importante
considerar aspectos da capacidade de dispersão/migração de adultos e movimento
larval (por exemplo, PAULA-MORAES et al., 2012; DANA; HUNT; PAULA-MORAES,
2012).
Uma conclusão sobre a adoção da tecnologia Bt para controle de lagartas nas
culturas do milho, algodão e futuramente na cultura da soja é sobre a necessidade de
entendimento da dinâmica populacional de pragas e o efeito da paisagem sobre esta
dinâmica. Tradicionalmente o MIP teve foco na abordagem em campos individuais de
culturas. Com o advento das plantas expressando a toxina Bt no agroecossistema,
torna-se estratégico o entendimento do movimento de populações de pragas, em
escala espacial, considerando a heterogeneidade da paisagem.
Também é importante considerar os aspectos temporais, com ênfase na
sucessão hospedeira. Estes aspectos são particularmente importantes em áreas
tropicais, como é o caso do cultivo de milho, algodão e soja no Cerrado, considerando
espécies com potencial para se tornarem pragas, como as do gênero Spodoptera, das
subfamílias Heliothinae (Heliothis e Helicoverpa) e Plusiinae, descritas anteriormente.
Estas espécies apresentam grande mobilidade, possuem mais de uma planta
hospedeira e apresentam várias gerações anuais. Entretanto, além das culturas
anteriormente citadas, é importante ainda considerar outras espécies de plantas que
podem influenciar na dinâmica populacional desta pragas.

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160
Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

1 - Rosema demorsa (36 mm) 2 - Cerura splendens (44 mm) 3 - Crinodes besckei (76 mm)

4 - Hemiceras meona (49 mm) 5 - Dognina bleura (36 mm) 6 - Nystalea aequipars (52 mm)

7 - Phaeochlaena gyon (30 mm) 8 - Meganola bifiliferata (23 mm) 9 - Iscadia dukinfieldia (33 mm)

10 - Eutelia abscondens (37 mm) 11 - Alabama argillacea (36 mm) 12 - Sarsina violascens (45 mm)

13 - Thagona tibialis (38 mm) 14 - Bleptina clara (23 mm) 15 - Agylla argentea (37 mm)

Figuras 1-15. Noctuóides ocorrentes no Brasil, nome científico e envergadura, entre


parênteses.

161
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

16 - Ctenucha wittigera (40 mm) 17 - Dysschema sacrifica (53 mm) 18 - Eurota herrichi (46 mm)

19 - Paracles variegata (35 mm) 20 - Utetheisa ornatrix (42 mm) 21 - Premolis semirufa (53 mm)

22 - Gonodonta sicheas (43 mm) 23 - Anticarsia gemmatalis (41 mm) 24 - Isogona natatrix (36 mm)

25 - Thysania agrippina (279 mm) 26 - Ascalapha odorata (145 mm) 27 - Mocis latipes (42 mm)

28 - Melipotis fasciolaris (46 mm) 29 - Hypocala andremona (48 mm) 30 - Mouralia tinctoides (45 mm)

Figuras 16-30. Noctuóides ocorrentes no Brasil, nome científico e envergadura, entre


parênteses.

162
Manejo de Lepidópteros-Praga em Grandes Culturas

31 - Chrysodeixis includens (35 mm) 32 - Rachiplusia nu (31 mm) 33 - Bathyra chavannesi (60 mm)

34 - Diphtera festiva (48 mm) 35 - Aucula magnifica (52 mm) 36 - Neogalea sunia (34 mm)

37 - Helicoverpa zea (41 mm) 38 - Helicoverpa armigera (36 mm) 39 - Condica steligera (38 mm)

40 - Callopistria floridensis (38 mm) 41 - Spodoptera dolichos (49 mm) 42 - Elaphria agrotina (23 mm)

43 - Faronta albilinea (37 mm) 44 - Leucania humidicola (26 mm) 45 - Mythimna sequax (48 mm)

Figuras 31-45. Noctuóides ocorrentes no Brasil, nome científico e envergadura, entre


parênteses.

163
Tópicos Especiais em Proteção de Plantas

46 - Xanthopastis timais (47 mm) 47 - Agrotis ipsilon (51 mm) 48 - Anicla infecta (36 mm)

49 - Peridroma saucia (49 mm) 50 - Tripseuxoa strigata (36 mm)

Figuras 46-50. Noctuóides ocorrentes no Brasil, nome científico e envergadura, entre


parênteses.

164

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