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Universidade Federal de São Carlos

V Jornada de Gestão e Análise Ambiental


2 a 4 de outubro de 2018

Anais do Evento

ISBN 978-85-94099-03-7

São Carlos – SP
Fevereiro de 2019
V Jornada de Gestão e Análise Ambiental
Universidade Federal de São Carlos
Rod. Washington Luís, km 235 - SP-310
São Carlos, SP

Corpo Editorial
Prof. Dr. Vandoir Bourscheidt
Prof. Dr. Victor S. Saito
Msc. Murilo Cassimiro
Eng. Mauricio Rosso Pinto

Comissão geral Comissão de patrocínios


• Prof. Dr. Victor Satoru Saito • Prof. Dr. Felipe Martello
• Prof. Dr. Vandoir Bourscheidt • Disc. Milena dos Santos Ricco
• Msc. Raul Sampaio de Lima • Disc. Isadora Haddad Ruiz
• Bel. Elton Vicente Escobar Silva • Disc. Isadora Ferreira Meneses
• Disc. Isadora Haddad Ruiz • Disc. Karielle Ferreira
• Disc. Milena dos Santos Ricco
Comissão de evento sustentável
Comissão científica • Prof. Dr. Frederico Yuri Hanai
• Prof. Dr. Rodolfo Figueiredo • Disc. Daniel Campesan
• Profa. Dra. Sonia Buck • Disc. Leticia Assis
• Msc. Camila Tavares Pereira • Disc. Jackson Sousa
• Msc. Murilo Casemiro • Disc. Rafael Rolim
• Bel. Elton Vicente Escobar Silva
• Eng. Mauricio Rosso Pinto Comissão de palestrantes
• Profa. Dra. Adriana M. Z. Catojo
Comissão de divulgação • Disc. Guilherme A. M. dos Santos
• Prof. Dr. Luciano Elsinor Lopes • Disc. Larissa Ferreira
• Profa. Dra. Patrícia Ferreira
• Msc. Dánika A. Castillo Ospina
• Disc. Nathalia Espinossi Stoppa
• Disc. Lara Regina Alves
• Disc. Leticia Oswaldino

Este evento é um projeto aprovado pela Pró-Reitoria de Extensão da UFSCar pelo


Processo Nº 23112.004131/2017-51.
Patrocínios:

Apoio especial:

Apoio institucional:

Apoio externo:
V Jornada de Gestão e Análise Ambiental

Apresentação:

A discussão sobre as questões ambientais é atualmente imprescindível, urgente e


de grande complexidade, sendo necessária uma abordagem interdisciplinar,
multidisciplinar e ao mesmo tempo integradora. Desse modo, são necessárias
oportunidades para o exercício desta abordagem, assim como para a ampliação do
conhecimento e a integração de saberes sobre as ciências ambientais.

Nesse sentido, vem sendo realizada desde 2011 a Jornada de Gestão e Análise
Ambiental da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O evento é organizado
atualmente por pós-graduandos do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais,
graduandos do Curso de Gestão e Análise Ambiental e por docentes de ambos os cursos
lotados no Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos.
O evento tem como objetivo propiciar discussões, debates, troca de experiências,
compreensão de casos e atualizações sobre problemáticas na área ambiental, congregando
acadêmicos, profissionais, empresas, consultores, ambientalistas, coordenadores e
gestores públicos atuantes em questões ambientais.

A quinta edição teve como tema “Áreas Naturais Protegidas”. O tema foi
escolhido mediante votação sobre diversas sugestões dadas pelos alunos/docentes,
visando um processo democrático e que represente o interesse da maioria. A temática,
por outro lado, vem ao encontro de interesses atuais da sociedade, que demanda o debate
sobre a importância, os impactos e sobre a forma de se gerir as diferentes categorias de
áreas naturais protegidas.
V Jornada de Gestão e Análise Ambiental

SUMÁRIO
TRABALHOS COMPLETOS

A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DE PEQUENAS ÁREAS VERDES PARA A


EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O PROJETO “VISITAS ORIENTADAS À TRILHA DA
NATUREZA” NO CERRADO DA UFSCAR, SÃO CARLOS, SP, BRASIL .......................................... 11

INCLUSÃO DE OFICINAS DIDÁTICAS E ATIVIDADES PARA DISSEMINAÇÃO DAS


GEOCIÊNCIAS E CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL .................. 23

TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA: DO


FLORESCIMENTO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL A UMA PRETENSA
SUSTENTABILIDADE ............................................................................................................................. 34

RESILIÊNCIA SOCIOECOLÓGICA NO ASSENTAMENTO RURAL SANTA HELENA:


EXPERIÊNCIAS NO ÂMBITO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA .................................................... 46

ANÁLISE SOBRE O BALANÇO HÍDRICO E ENERGÉTICO NA BACIA DO RIBEIRÃO


FEIJÃO/SP NO CONTEXTO DA AGRICULTURA SINTRÓPICA ....................................................... 54

RECEBIMENTO, REABILITAÇÃO E DESTINO DE PSITACÍDEO ARARA-CANINDÉ


(ARA ARARAUNA, LINNAEUS, 1758), NA REGIÃO DE ARARAS, INTERIOR DE
SÃO PAULO .............................................................................................................................................. 66

A PAISAGEM SOB A PERSPECTIVA DE UMA ESPÉCIE ENDÊMICA DO CERRADO:


LAGARTO DA CAUDA AZUL ............................................................................................................... 77

COMPOSIÇÃO FLORESTAL DA MATA CILIAR NO TRECHO URBANO DO RIO


SANTO ANTÔNIO, CARAGUATATUBA/SP ........................................................................................ 88

HÁ COMPETIÇÃO ENTRE APIS MELLIFERA E VISITANTES FLORAIS NATIVOS NO


CERRADO? ............................................................................................................................................... 98

TILLANDSIA L. (BROMELIACEAE) COMO INDICADOR DA CONSERVAÇÃO DA


FLORESTA ciliar DO RIO MOGI GUAÇU Na GUARNIÇÃO DA AERONÁUTICA DE
PIRASSUNUNGA (sp) ............................................................................................................................ 109

INDICADORES DE ATRAÇÃO E AFUGENTAMENTO DE FAUNA EM ÁREAS


VERDES PÚBLICAS NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS (SP) .............................................................. 118

VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA DO RIBEIRÃO ANHUMAS -


CAMPINAS, SP ....................................................................................................................................... 131

DIAGNÓSTICO DO USO DA TERRA EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE


NO CAMPUS LAGOA DO SINO/UFSCAR .......................................................................................... 141

ZONEAMENTO AGROCLIMÁTICO DA CULTURA DO CAFÉ ARÁBICA (COFFEA


ARABICA L) NO MUNICÍPIO DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO - MG ........................................ 150
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DO PERÍMETRO DO MUNICÍPIO DE IPEÚNA
INSERIDO NA APA CORUMBATAÍ TEJUPÁ ..................................................................................... 161

GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AO DIAGNÓSTICO MULTITEMPORAL DAS


ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DE CORPOS D’ÁGUA DA
MICROBACIA DO RIO JACARÉ-GUAÇU NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS-SP ........................ 170

COMPARAÇÃO ENTRE DADOS DE PRECIPITAÇÃO REMOTOS E DE SUPERFÍCIE ................. 181

UTILIZAÇÃO DE COMPONENTES DE IMAGENS DE SATÉLITES NA ESTIMATIVA


DO VOLUME EM POVOAMENTOS DE EUCALYPTUS SP .............................................................. 191

ANÁLISE DE SUSCETIBILIDADE À EROSÃO LAMINAR ATRAVÉS DE SIG: UM


SUBSÍDIO AO CONTROLE, MONITORAMENTO E PRESERVAÇÃO DE ÁREAS
PROTEGIDAS NA ZONA DE AMORTECIMENTO DA ARIE MATA SANTA
GENEBRA ............................................................................................................................................... 204

AVALIAÇÃO DA DINÂMICA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA ZONA DE


AMORTECIMENTO DA ARIE MATA DE SANTA GENEBRA, CAMPINAS, SP ............................ 216

INTEGRATION OF MULTI-SENSOR IMAGERY FOR LAND-COVER CHANGE


DETECTION IN SERRA DA CANASTRA NATIONAL PARK .......................................................... 225

APLICAÇÃO DE KRIGEAGEM BI E UNIDIMENSIONAL PARA A MODELAGEM DO


AVANÇO DA PLUMA DE REJEITOS DA BARRAGEM DE FUNDÃO NO RIO DOCE .................. 236

POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS À PROBLEMÁTICA DA DEGRADAÇÃO


FLORESTAL E PERDA DE BIODIVERSIDADE E SUAS RELAÇÕES COM O
OBJETIVO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - ODS 15 - DA ONU ................................ 248

INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE APLICADOS AO CONTEXTO DE


PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE CIDADES NA CONCEPÇÃO DE
METABOLISMO URBANO ................................................................................................................... 262

ANÁLISE CRÍTICA DOS EFEITOS DA URBANIZAÇÃO NOS RECURSOS HÍDRICOS


NA CIDADE DE MARINGÁ/PR ............................................................................................................ 274

COMPARISON OF LSMM APPLIED TO LANDSAT 8 IMAGES BEFORE AND AFTER


C-CORRECTION .................................................................................................................................... 285

TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO ECONÔMICO PARA


INCENTIVO À RECICLAGEM: ESTUDO DAS EMBALAGENS DE VIDRO
UTILIZADAS PARA O ENVASE DE BEBIDAS .................................................................................. 294

INTEGRAÇÃO ENTRE AS FERRAMENTAS DE GESTÃO AMBIENTAL:


AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA E A AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL .................... 306

ANÁLISE DO PERFIL DOS ALUNOS DO CURSO DE BACHARELADO EM GESTÃO


E ANÁLISE AMBIENTAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS ............................. 316

PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE PARA


GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................... 327

USO DE HYDRILLA VERTICILLATA E DE SALVINIA AURICULATA COMO


ALTERNATIVA PARA NUTRIÇÃO DE EISENIA FETIDA ................................................................ 338

CONTRIBUTIONS TO THE EUTROPHICATION ANALYSIS BASED ON REMOTE


SENSING DATA: APPROACHES USING MODIS FOR MULTIPLE WATER BODIES .................. 346
FERRAMENTA PARA AVALIAÇÃO DE MATERIAIS SUSTENTÁVEIS PARA USO
NA CONSTRUÇÃO CIVIL..................................................................................................................... 355

O PLANEJAMENTO NO PROCESSO DE GESTÃO DE PESQUISA NOS PARQUES


ESTADUAIS DE SÃO PAULO .............................................................................................................. 367

PRINCIPAIS FITOFISIONOMIAS PROTEGIDAS PELOS PARQUES ESTADUAIS DO


ESTADO DE SÃO PAULO ..................................................................................................................... 377

PROPOSTA DE UMA ESTRUTURA CONCEITUAL PARA PROMOVER O MANEJO


DOS ECOSSISTEMAS DE ÁREAS ÚMIDAS NA AVALIAÇÃO AMBIENTAL
ESTRATÉGICA ....................................................................................................................................... 391

PROPOSTA DE ZONEAMENTO VISANDO A IMPLANTAÇÃO DO PARQUE


URBANO SANTA MARTA - CAMBUÍ, SÃO CARLOS-SP ................................................................ 402

BANCO DE DADOS DIGITAIS GEORREFERENCIADOS DOS PLANOS DE MANEJO


DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL DO ESTADO DE
SÃO PAULO ............................................................................................................................................ 410

CONTROLE DA POLUIÇÃO SONORA E PLANEJAMENTO AMBIENTAL NO


MUNICÍPIO DE SOROCABA, SÃO PAULO ........................................................................................ 417

ANÁLISE DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL DA PAISAGEM DAS ÁREAS DE


INFLUÊNCIA DO RESERVATÓRIO DO LOBO, ITIRAPINA-SP ...................................................... 428

PANORAMA DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APAs) NO ESTADO DE


SÃO PAULO ............................................................................................................................................ 438

ANÁLISE AMBIENTAL DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA ZONA NORTE DE


ARARAQUARA- IMPACTOS SOBRE OS RECURSOS HÍDRICOS .................................................. 450

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA E DO USO E OCUPAÇÃO DO ENTORNO DOS


CORPOS HÍDRICOS DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA E ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE
ITIRAPINA – ITIRAPINA, SP ................................................................................................................ 458

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO POR MEIO DE ANOS


PADRÕES (HABITUAL, SECO E CHUVOSO) NO MUNICÍPIO DE ITIRAPINA/SP ....................... 469

CRESCIMENTO DE RICCIOCARPUS NATANS EM MEIO CONTAMINADO COM


CALDA BORDALESA ........................................................................................................................... 481

ANÁLISE PRELIMINAR DO DESEMPENHO DE UM CARNEIRO HIDRÁULICO


PARA USO EM BOMBEAMENTO DE ÁGUA .................................................................................... 490

EFEITO DE PARASITICIDA DE PEIXES SOB O CRESCIMENTO DE RICCIOCARPUS


NATANS ................................................................................................................................................... 503

IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE INDICADORES PARA A GESTÃO DE ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS E O PLANEJAMENTO DO USO DA TERRA ....................................................... 511

EFEITO DO CHUMBO NA DECOMPOSIÇÃO AERÓBIA DE MYRIOPHYLLUM


AQUATICUM (VELL.) VERDEC. .......................................................................................................... 522

PROPOSIÇÃO DE CENÁRIOS DE COBRANÇA PELOS SERVIÇOS DE LIMPEZA


PÚBLICA BASEADO NO VOLUME DE RESÍDUOS GERADOS ...................................................... 530

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE METANOGÊNICA ESPECÍFICA DE LODO


ANAERÓBIO COMO ESTRATÉGIA PARA PARTIDA DE BIORREATORES ................................. 543
PROCEDIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE GERENCIAMENTO
DE RESÍDUOS DA UNESP (CAMPUS RIO CLARO) BASEADO NA LEI 12.305/10 –
POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS .............................................................................. 555

ANÁLISE DO MODELO DE GESTÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO


MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP .................................................................................. 564

ANÁLISE DE ALCANCE POPULACIONAL E GERAÇÃO DE RESÍDUOS DA


CONSTRUÇÃO CIVIL DAS BACIAS DE CAPTAÇÃO DOS PONTOS DE ENTREGA
VOLUNTÁRIA DE RIO CLARO - SP ................................................................................................... 574

CARACTERIZACIÓN DE LA POBLACIÓN RECICLADORA PARA LA INCLUSIÓN


SOCIAL EN LA CIUDAD DE MONTERÍA, CÓRDOBA ..................................................................... 582

ESTABILIDADE DE MÉTRICAS BIOINDICADORAS DE COMUNIDADES DE


MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS DE MATA ATLÂNTICA – ITANHAÉM
(SP) ........................................................................................................................................................... 595

COMUNIDADES BIOINDICADORAS SÃO ESTÁVEIS NO TEMPO? RESULTADOS


PRELIMINARES UTILIZANDO MACROINVERTEBRADOS DE RIACHOS .................................. 606

ANÁLISES DO ESTOQUE DE CARBONO NA PRODUTIVIDADE DAS RAÍZES FINAS


E DA ESTRUTURA FLORÍSTICA EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NA
AMAZÔNIA OCIDENTAL .................................................................................................................... 616

RESUMOS EXPANDIDOS

A HISTÓRIA ORAL E A MEMÓRIA COLETIVA NAS CIÊNCIAS AMBIENTAIS .......................... 629

QUADROS DA NATUREZA - MONITORAMENTO PARTICIPATIVO NO CAMPUS


DA UFSCAR DE SÃO CARLOS ............................................................................................................ 634

CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS, A LEI E OS DIREITOS COMUNITÁRIOS NA


RESEX CHICO MENDES, XAPURI/AC ............................................................................................... 637

REVITALIZAÇÃO DAS FLOREIRAS E HORTA DA ESCOLA- PEQUENAS


MÃOZINHAS CULTIVANDO O FUTURO .......................................................................................... 641

A SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL COMO MEIO PARA A PRESERVAÇÃO DO


BIOMA CERRADO ................................................................................................................................. 647

A DIVERSIDADE DE CORES DAS FLORES É INFLUENCIADA POR MUDANÇAS NA


PAISAGEM? ............................................................................................................................................ 652

ANÁLISE DA DINÂMICA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DAS ÁREAS NO


ENTORNO DO RESERVATÓRIO DO LOBO, ITIRAPINA-SP ........................................................... 657

ANÁLISE DE TEMPERATURA DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA LOCALIZADA NO


MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS - SP. .................................................................................................... 662

AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE CORREÇÃO TOPOGRÁFICA APLICADOS A


ÍNDICES DE VEGETAÇÃO ................................................................................................................... 666

USO DA CHUVA DE SEMENTES COMO INDICADOR DA RESTAURAÇÃO DE


ÁREAS DEGRADADAS EM SOROCABA, SP .................................................................................... 670
OS FRUTOS DA ESTAÇÃO: DIVULGAÇÃO DE FLORA, FAUNA, AMBIENTE
CERRADO DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA E DA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE
ITIRAPINA .............................................................................................................................................. 673

GESTÃO AMBIENTAL PAITER SURUÍ: REFLORESTANDO NA TERRA INDÍGENA


(TI) PAITEREY KARAH ........................................................................................................................ 677

ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL DO ENTORNO DA REPRESA DO LOBO,


NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO ........................................................................................ 682

POMARES URBANOS EM SÃO CARLOS, SP – RELATO DA EXPERIÊNCIA DE


IMPLEMENTAÇÃO ............................................................................................................................... 686

AVALIAÇÃO DO MONITORAMENTO DE DESREGULADORES ENDÓCRINOS EM


ÁGUAS DO ESTADO DE SÃO PAULO ............................................................................................... 690

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE ESGOTO COM “PALL RING”


REUTILIZÁVEIS .................................................................................................................................... 695
TRABALHOS COMPLETOS
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DE PEQUENAS ÁREAS


VERDES PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O PROJETO
“VISITAS ORIENTADAS À TRILHA DA NATUREZA” NO
CERRADO DA UFSCAR, SÃO CARLOS, SP, BRASIL

Alisson C. Oliveira1; A. R. Araujo1; A. C Mello1; Liane B Printes 2

¹Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São Carlos;


(alissoncleiton.oliveira@gmail.com; alicerulli.contato@gmail.com;
amandamello.bio@gmail.com)
4
DeAEA, Universidade Federal de São Carlos; liane@ufscar.br

Resumo: O Cerrado é o segundo maior domínio fitogeográfico do Brasil e junto a Mata


Atlântica, compõe os dois hotspots mundiais de conservação da biodiversidade do país.
Sendo um complexo de três biomas, o Cerrado possui suas particularidades e é envolto
de mitos. No campus de São Carlos, SP, da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), com 26 anos de atuação, o projeto de extensão “Visitas Orientadas à Trilha da
Natureza” proporciona diversas experiências para aproximar a comunidade interna e
externa a um fragmento de Cerrado inserido no campus. A Trilha da Natureza é mantida
por voluntários, bolsistas-atividade, bolsistas de extensão, estagiários e servidores da
UFSCar, vinculados ao Departamento de Apoio à Educação Ambiental (DeAEA) e à
Secretaria de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (SGAS). Desta forma, o presente
trabalho tem por finalidade contextualizar a importância de se preservar o cerrado da
UFSCar, apresentar as abordagens de educação ambiental da Trilha da Natureza e
mencionar algumas atividades recentes concluídas.
Palavras-chave: Domínio Fitogeográfico; Hotspots; Projeto de Extensão; Educação Ambiental;
Departamento de Apoio à Educação Ambiental.

1. Introdução

O Cerrado é o segundo maior domínio fitogeográfico do Brasil, sendo superado


em extensão apenas pelo amazônico. O Cerrado não é um bioma, mas um complexo de
três biomas: campos tropicais, savanas e florestas estacionais (BATALHA, 2011). Desta
forma, distribui-se em mosaico por boa parte do território brasileiro, ora com fisionomias
mais abertas, ora com fisionomias mais fechadas. Junto a Mata Atlântica, o Cerrado
compõe os dois hotspots mundiais de conservação da biodiversidade no país. O termo
hotspot designa áreas detentoras de grande riqueza biológica, com alto nível de
endemismo e alto grau de ameaça (Myers et al., 2000). No Cerrado está 5% de toda a
biodiversidade do planeta, coexistindo no que ainda resta deste domínio: 20% no Brasil
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
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e menos de 1% no estado de São Paulo, e destes, apenas a metade encontra-se protegida
na forma de Unidades de Conservação (DURIGAN; SIQUEIRA; FRANCO, 2007)
Diante deste cenário, ações de proteção ao Cerrado devem ser conduzidas para
minimizarmos os impactos antrópicos e mantermos o que ainda resta deste domínio,
assegurando seus serviços ecossistêmicos para a posteridade. A Educação Ambiental
(EA) vem contribuir no sentido da conservação deste domínio. O Cerrado varia em
paisagens, e por exibir características próprias é importante apresenta-las à sociedade,
sobretudo à que habita áreas próximas desta vegetação, na intenção de trabalhar a
percepção ambiental das pessoas quanto a dinâmica do ecossistema, a sua importância e
o status de conservação do hotspot Para além da importância do conhecimento sobre este
domínio, verifica-se a necessidade de aproximar a sociedade promovendo uma reconexão
com o Cerrado e outras áreas naturais. A EA, através da sensibilização e da promoção de
um pensamento crítico possui um imenso potencial para contribuir com a de conservação
do Cerrado. No Projeto “Visitas Orientadas à Trilha da Natureza”, procuramos trabalhar
dentro de uma perspectiva crítica de EA que colabore com a formação de sujeitos
ecológicos (CARVALHO, 2013).
Ao considerarmos o contexto das universidades públicas, e o tripé da pesquisa, do
ensino e da extensão, podemos verificar que projetos de extensão representam
oportunidades para a prática da EA não formal, com resultados que vão além dos muros
institucionais, visto que a extensão universitária faz a junção entre atores universitários e
extrauniversitários (FUENTES, 2016). Segundo Nunes, França e Paiva (2017), a EA em
áreas verdes, quando praticada em atividades sistematizadas e bem organizadas, pode
colaborar para um processo de formação enriquecedor às/aos participantes, além de
proporcionar a sensibilização para questões ambientais, outrora despercebidas. No
campus de São Carlos, SP, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o projeto
de extensão “Visitas Orientadas à Trilha da Natureza” procura proporcionar diversas
experiências no sentido de aproximar a comunidade interna e externa a um fragmento de
cerrado, remanescente na universidade, com a intenção de contribuir para a formação
ambiental de todos os envolvidos.
A Trilha da Natureza nasceu em 1992 no Departamento de Botânica (DB) da
UFSCar, para receber estudantes dos ensinos fundamental e médio e contribuir para a
formação de estudantes do curso de Ciências Biológicas, mas ao longo do tempo abarcou
públicos distintos, atendendo eventos acadêmicos, solicitações de visitas guiadas por
grupos não vinculados à UFSCar, projetos sociais, e outros. O projeto se sustenta na

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
educação ambiental não formal e na oportunidade de se ter uma área de cerrado
remanescente no campus. Assim, há 26 anos a Trilha da Natureza vem conduzindo visitas
guiadas à um trecho, de aproximadamente, 2km de fisionomias savânicas e ripárias. A
Trilha é mantida pela atuação de voluntários, bolsistas-atividade, bolsistas de extensão,
estagiários e servidores da UFSCar, vinculados ao Departamento de Apoio à Educação
Ambiental (DeAEA) e à Secretaria de Gestão Ambiental e Sustentabilidade (SGAS).
Sabendo-se que o estado de São Paulo atualmente conta com menos de 1% do
Cerrado, o fato de a UFSCar ter cerca de 240 hectares de uma área de cerrado torna claro
a oportunidade de aproximar a comunidade universitária, e aos munícipes, deste domínio,
no intuito de contribuir para uma melhor compreensão sobre a sua fragilidade de forma
específica e para maior sensibilização ambiental de forma ampla. Durante as visitas à
Trilha da Natureza, podemos trocar algumas informações específicas, como o fato de que
há quatro nascentes no cerrado da UFSCar, e que 15% do abastecimento da água do
município advém da Estação de Captação de Água do Espraiado (SOUZA et al., 2011);
que o cerrado é habitat do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e do tamanduá-bandeira
(Myrmecophaga Tridactyla) e sobre o registro de, aproximadamente 215 espécies de aves
(MOTTA-JÚNIOR; VASCONCELLOS, 1996). Podemos, também, simplesmente
propiciar momentos de vivência e contato direto com este ameaçado ambiente.
Em síntese, o projeto Visitas Orientadas à Trilha da Natureza objetiva aproximar
e fortalecer a ligação da comunidade interna e externa com este remanescente de cerrado
do campus de São Carlos da UFSCar a partir de uma abordagem crítica, trabalhando com
a percepção ambiental acerca de sua riqueza em biodiversidade, de seus mais distintos
serviços ecossistêmicos, de sua importância enquanto um fragmento nativo, como parte
de um corredor ecológico e valorizando o simples fato dele ainda resistir Despertando
assim o interesse da comunidade pela sua conservação e promovendo a participação da
comunidade no sentido de fortalecer a proteção desta área. O presente trabalho objetiva
relatar a abordagem da EA aplicada pelo projeto; compartilhar algumas das experiências
de 2018 na pretensão de elucidar a importância de áreas verdes para a educação
ambiental; e destacar a importância do projeto para a formação dos membros da Trilha
da Natureza.

2. Relato de Experiência
A área de Cerrado da UFSCar, local onde acontecem as atividades da Trilha da
Natureza, está representada na figura 1. Constata-se que o cerrado da UFSCar se estende

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por 246 ha, e que as principais interferências antrópicas no local são: o aviãozinho, espaço
de solo descoberto onde ocorrem práticas de aeromodelismo e atividades de atletismo; o
Centro de Convenções, instalação que supostamente receberia diversos eventos e
impulsionaria a economia da cidade; o Instituto Federal, instituição de ensino superior; e
a silvicultura, que se distribui em 214 ha. Há três ambientes lênticos: o lago Mayaca, o
lago da ABASC, e a represa do Espraiado. O córrego que abastece o lago da ABASC é
chamado de Fazzari, e tem suas nascentes no cerrado da UFSCar, bem como o córrego
que abastece a Estação de Captação do Espraiado. Assim, há 70 hectares de vegetação
ripária, devido à presença de matas de galeria na área.

FIGURA 1 – Área de estudo.

De acordo com o estudo intitulado “Percepção Ambiental: Uma Análise com os


Servidores da Universidade Federal de São Carlos (SP)”, Villa et al (2015) constata que
73% dos servidores, entre técnicos administrativos e docentes, conhecem a existência da
área de cerrado na UFSCar, e que 63% conhecem a Trilha da Natureza. O projeto que
originalmente foi concebido no Departamento de Botânica, agora é vinculado ao
Departamento de Apoio à Educação Ambiental, e compartilha, com o Centro de
Divulgação Científica e Cultural da Universidade de São Paulo do campus de São Carlos,

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a responsabilidade de manter ações de educação ambiental através de visitas monitoradas
ao fragmento natural. O CDCC recebe visitantes desde 2008, e atende estudantes dos
ensinos fundamental e médio de São Carlos e Região.
O percurso é representado na figura 2, que apesar de não estar em escala, é didático
o suficiente para demonstrar informações gerais da trilha, e de seu entorno. Percebe-se
que a trilha tem seu início próximo ao quiosque, segue um aceiro e adentra uma trilha no
cerrado, a qual conduz até outro aceiro, caminho necessário para se chegar ao tablado.
Contudo, quando a visita é conduzida pelo projeto de extensão da UFSCar, a trilha tem
seu início na estrada de terra próxima à rotatória, uma vez que no local existe uma entrada
próxima ao DeAEA, e por fazermos as visitas caminhando, é preciso percorrer um trecho
de cerrado até se chegarmos no quiosque. Normalmente, o CDCC adentra a área de
ônibus, até o quiosque. A trilha é de, aproximadamente, 2 km, e passa por: a) ambientes
dominados por gramíneas e outras espécies invasoras; b) ambientes de Cerrado Stricto
Sensu, com indícios da fauna nativa e espécies características da flora; c) ambientes
lóticos e lênticos, representados pelo córrego Fazzari e pelo lago Mayaca; d) ambiente de
floresta ripária, compreendido pela mata de galeria do córrego Fazzari.
Partindo-se dos quatro ambientes mencionados anteriormente, a seguir serão
relatadas as paradas comumente adotadas durante as visitas guiadas pelos monitores da
Trilha da Natureza da UFSCar:
a) Ambientes dominados por espécies invasoras: logo ao adentrarmos o primeiro aceiro
da visita, deparamo-nos com a presença demasiada de uma gramínea nas bordas do
caminho que percorremos: é o capim-gordura (Melinis minutiflora) e,
principalmente, a brachiaria (Urochloa decumbens). Conforme caminhamos, é
possível vermos alguns eucaliptos esparsos, e no momento que antecede à
experiência na mata de galeria é inevitável avistarmos uma espécie de samambaia
(Pteridium sp.) na entrada do tablado (caminho feito de madeira dentro da área da
mata de galeria). O fato de haver espécies invasoras no Cerrado deve ser considerado
para se trabalhar a percepção dos visitantes sobre desequilíbrios ecossistêmicos e
interferências antrópicas no ambiente, visto que a presença de gramíneas está, muitas
vezes, relacionada a atividades agropecuárias. Ademais, para visitas de propostas
mais técnicas, pode-se, através da ocupação pela brachiaria, por exemplo, explicar o
efeito de borda.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
b) Ambientes de Cerrado Sensu Strictu: ambientes de cerrado mesclam-se com a
vegetação exótica na maior parte da trilha, mas é totalmente possível ver o cerrado
em suas características mais marcantes e únicas, através do solo; das pegadas da
fauna silvestre registrada em bancos de areia, que se acumulam devido ao transporte
pela água da chuva de sedimentos à montante; das espécies da flora, tais como o
barbatimão (Stryphnodendron adstringens), quaresmeira-branca (Miconia albicans),
pimenta-de-macaco (Xylopia aromática) e a gabirobeira (Campomanesia
adamantium). No que tange à flora do cerrado da UFSCar, três espécies são
enfatizadas: a lobeira (Solanum lycocarpum), o angico (Anadenanthera falcata) e o
pequizeiro (Caryocar brasiliense).

FIGURA 2 – Roteiro da Trilha da Natureza. Fonte: CDCC – USP (2018)

Através da exposição da lobeira, podemos explicar parte da dinâmica das


comunidades que habitam o cerrado. Isto porque, enquanto monitores começamos a
introduzir o tema apresentando a morfologia da planta: os espinhos presentes, as flores
vistosas e os frutos, caso tenha algum. Depois, procuramos instigar os visitantes a
pensarem a razão do nome da planta ser “lobeira”, objetivando adentrar a relação entre o

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
vegetal e o lobo-guará, animal que ao se alimentar da fruta-do-lobo dispersa as suas
sementes ao defecar. Entretanto, as sementes dispersadas pelo lobo-guará são fontes de
nutrientes para as colônias de fungos dentro dos sauveiros, o que faz as formigas levarem
as sementes para dentro do sauveiro, e depois que os nutrientes da camada proteica das
sementes são absorvidos, as saúvas as retiram e depositam, novamente, no ambiente.
O angico é um testemunho de incêndio no cerrado da UFSCar, e através da sua espessa
e rústica cortiça é possível ver fuligem, e pedaços de madeira totalmente queimados.
Normalmente pedimos a ajuda de algum visitante voluntário para falarmos sobre a
questão do fogo no cerrado, pedindo para que o visitante passe a mão sobre o caule da
árvore e mostre às pessoas a cor de sua mão (figura 3). Quando os participantes percebem
que se trata de fogo, começamos a expor, com precaução, a relação do fogo e o domínio.
Vamos tecendo, coletivamente, dois cenários: um de queimada natural e outro de
queimada antrópica, e os visitantes vão falando o que pensam sobre as causas, e as
consequências destes dois tipos de queimadas sobre a biota. A intenção é enfatizar que há
grandes diferenças entre o fogo natural e o antrópico, e que nem sempre o fogo é benéfico
ao cerrado, posto que, muitas vezes, é devastador, quando criminoso ou acidental.
Finalizamos a fala comentando que é possível aplicar técnicas de manejo do fogo

FIGURA 3 – Parada para o debate sobre o fogo no Cerrado. Fonte: Trilha da Natureza (2018).

Há um trecho visivelmente mais denso na trilha da natureza, chamado de “Trilha


no cerrado”, na figura 2. Neste caminho fazemos uma imersão no cerrado, visto que o

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
efeito de borda é menor e a presença de gramíneas exóticas é mais rara. Fazemos uma
parada para apresentarmos o pequi aos visitantes, árvore icônica do domínio e de grande
relevância para a culinária brasileira, além de ser mencionada na literatura brasileira,
como por exemplo, no livro Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, demonstrando
que há uma relação cultural entre habitantes de alguns estados com esta planta. Ademais,
abordamos que a polinização do pequizeiro ocorre por quiropterofilia, tópico que introduz
uma exposição sobre os morcegos e a sua variedade alimentar.
c) Ambientes lêntico e lótico: o lago Mayaca, conhecido assim devido à abundância da
macrófita Mayaca fluviatilis, é um ponto de parada muito importante por dois
motivos principais: beleza cênica e ecologia. O lago pode secar totalmente em
períodos de estiagem, demonstrando uma paisagem diferente aos visitantes. Contudo,
felizmente é comum vermos o Mayaca cheio por vários meses, e nestas ocasiões ele
impressiona pela sua água rasa e pelos capim-vassourinha (Andropogon bicornis) às
suas margens. No que tange à ecologia, durante o dia conseguimos ver algumas aves,
e a noite conseguimos ouvir diversas espécies de anfíbios vocalizarem. Salientamos
sempre que mesmo tratando-se de um ambiente de gênese antrópica, atualmente o
Mayaca é fundamental para o ecossistema.
d) Ambiente de floresta ripária: no tablado realizamos uma imersão num ambiente
ripário, próximo ao córrego do Fazzari, que também tem suas nascentes no Cerrado
da UFSCar. Antes de adentrarmos a área, enfatizamos na entrada que os visitantes
irão ver, e sobretudo, sentir, uma outra paisagem. Contudo, nunca dissociamos o fato
de que a vegetação ripária compõe, também, o domínio Cerrado, mas se diferencia
do mesmo em diversos aspectos, os quais os próprios participantes compartilham
com o grupo ao adentramos totalmente o trecho. Nesta etapa da visita, é comum
ocorrer uma maior interação, pois afinal de contas trata-se de um contraste muito
diferente, e coisas como “as árvores são maiores”, “as árvores são mais retas”, “é
mais fresco”, etc., são ditas, e aproveitamos a deixa para explicar estes fatores
ecológicos e a importância do Cerrado para a manutenção do ciclo hidrológico. Por
fim, fazemos a dinâmica do silêncio, que consiste em permanecermos poucos
minutos em silêncios, confortavelmente acomodados, para nos conectarmos ao
ambiente; ao finalizarmos o silêncio discutimos sobre o que foi escutado e
evidenciamos como mesmo, aparentemente distante, o ser humano impacta o
ambiente, visto que durante a dinâmica o barulho é constante provindo do tráfego da
rodovia que conecta São Carlos e Ribeirão Preto.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
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Todavia, não há rigidez no trajeto, ou seja, de acordo com o grupo desenvolvemos
uma abordagem, para tornar a visita mais enriquecedora para os interessados. Ainda há
visitas específicas, nas quais iniciamos a visita com um enfoque pré-definido. Sempre
ouvimos atentamente as experiências dos participantes e procuramos valorizar dividir
com o grupo o conhecimento trazido por todos. Esta prática faz com que cada visita seja
única e que seja um aprendizado para todas e todos em sentido amplo.
A procura pelo projeto tem aumentado nos últimos anos e a expectativa é de que
continue aumentando. Os motivos para tal são principalmente a percepção por parte das
professoras e professores de que esta atividade complementa o aprendizado de crianças e
adolescentes sobre o estudo do Cerrado. Em algumas escolas, a visita ao cerrado da
UFSCar já constitui atividade de rotina. Da mesma forma, docentes de cursos de
graduação e pós-graduação da UFSCar, e de outras instituições já incorporam a visita à
Trilha da Natureza dentre as atividades práticas a serem realizadas. A cidade de São
Carlos carece de espaços e oferta de projetos de lazer e aprendizado continuado. A Trilha
da Natureza apresenta grande potencial neste sentido, justificado pelo interesse e
participação crescentes da população em todas as atividades oferecidas pelo Projeto.
Além destas visitas "sob demanda" desde que o Projeto está sob coordenação do DeAEA,
em 2014, adotamos a prática de ofertar as Visitas Abertas à Comunidade. Estas são visitas
que tem o intuito de levar pessoas interessadas da comunidade interna e externa a
conhecerem o cerrado da UFSCar. São marcadas com antecedência de pelo menos duas
semanas e são divulgadas de forma ampla (via Inforede, redes sociais e imprensa externa).
Procuramos alternar os dias da semana (dias úteis, feriados ou finais de semana) e os
períodos das visitas (diurna, noturna ou vespertina), de forma a contemplar públicos
diversos. Recebemos um público extremamente diverso em termos de idade, origem,
formação, etc. A figura 4 é o registro de uma visita noturna ocorrida em 2017.

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FIGURA 4 – Foto oficial da visita noturna de 28/05/2017. Fonte: Trilha da Natureza (2017)

Para demonstrar a diversificação das atividades da Trilha da Natureza, podemos


trazer uma experiência recente. Ocorreu em março, em São Carlos, o 29º Pedal
Integração. A Trilha foi parceira e atuou no dia do evento difundindo um pouco o Cerrado
aos ciclistas que parariam no quiosque da UFSCar, local para se hidratar, alimentar-se e
descansar. Estima-se que tenham passado pela nossa exposição cerca de 150 ciclistas,
muitos dos quais paravam para interagir conosco. Dividimo-nos para conseguir falar com
o maior número de interessados, e através do esforço coletivo do grupo de monitores a
atividade foi um sucesso e uma experiência incrível para o nosso know-how. A exposição
contou com: insetário; lobo-guará, tamanduá-bandeira e tucano (Ramphrastros toco)
taxidermizados; maquete da bacia hidrográfica do córrego do Espraiado; penas de aves;
fotos e placas pirografadas com frases relacionadas ao Cerrado. A figura 5 mostra o
momento no qual a monitora Amanda Mello conversa com crianças que participavam da
atividade de ciclismo, e estavam interessadas no insetário.
Desta forma, até o início de maio de 2018 realizamos 11 visitas, recebendo 215
visitantes. A tabela 1 contém informações sobre as visitas guiadas pelos monitores do
projeto da UFSCar. Além destas visitas, o CDCC atendeu 10 grupos escolares até o
começo de maio de 2018.

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FIGURA 5 – .Atividade desenvolvida no 29º Pedal Integração. Fonte: Trilha da Natureza (2018)

TABELA 1 – Visitas à trilha da natureza guiadas em 2018 pelos monitores da UFSCar..

Público Data Participantes


Visita aberta 02-05-2018 30
Grupo Ecociente, Dourado-SP 25-04-2018 20
Participantes da Jornada Universitária em Defesa da
25-04-2018 7
Reforma Agrária
Participantes do Ciclo Siete (Parceria com o Parque
22-04-2018 16
Ecológico de São Carlos)
Visita aberta 14-04-2018 11
Calourada da Gestão e Análise Ambiental 07-04-2018 5
Visita Aberta 05-04-2018 19
Visita Aberta 29-03-2018 61
Calourada da Ciências Biológicas 07-03-2018 25
Calourada da USP de São Carlos 01-03-2018 15
Visita aberta 10-02-2018 6

Em síntese, O projeto já existe há 26 anos, e uma das suas características mais


marcantes é o envolvimento dos integrantes da equipe, uma vez que o projeto possibilita
o desenvolvimento de diversas habilidades, tais como falar em público, trabalhar em
equipe e aprender sobre a educação ambiental. Se não houvesse o Cerrado da UFSCar,
não haveria a Trilha da Natureza. Proteger o Cerrado da universidade não assegura,
apenas, a manutenção de serviços ecossistêmicos ao redor da área, mas também, a

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existência de 5% de toda a biodiversidade mundial e o abastecimento de oito das 12
principais bacias hidrográficas brasileiras. Enfim, são inúmeros os benefícios do Cerrado
para a sociosfera; e nós, membros da Trilha da Natureza, consideramo-nos
disseminadores de sementinhas de conscientização e admiração ao domínio, um dos dois
hotspots do Brasil e um dos 34 mundiais.

3. Considerações Finais

O Cerrado Resiste.

Referências
BATALHA, M. A. O Cerrado Não é um Bioma. Biota Neotropica., v. 11, n. 1, p. 21-
24. 2011.
CARVALHO, I. C. M. O Sujeito Ecológico: A Formação de Novas Identidades
Culturais e a Escola. 1º ed. Campinas: Mercado de Letras, 2013, v.1, p. 115.124.
CDCC. Roteiro da Trilha da Natureza. Disponível em:
<www.cdcc.usp.br/visitas/visitas_trilha.html>. Acesso em: 05 maio. 2018
DURIGAN, G; SIQUEIRA, M. F; FRANCO, G. A. D. Threats to the Cerrado
Remnants of the State of São Paulo, Brazil. Sci. Agric., v. 64, n. 4, p. 355-363. 2007
FUENTES, S. La Extensión Universitaria em Buenos Aires: Legitimidades y
Transformaciones Recientes. Ciencia, Docencia y Tecnologia., v. 27, n. 53, p. 234-
267. 2016.
MOTTA-JÚNIOR, J. C; VASCONCELLOS, L. A. Levantamento das Aves do Campus
da Universidade Federal de São Carlos, Estado de São Paulo, Brasil. Anais do VII
Seminário Regional de Ecologia. São Carlos, SP, 1996, p. 159-171.
MYERS, N et al. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, v. 403, p.
853–858. 2000.
NUNES, M. E. R; FRANÇA, L. F; PAIVA, L. V. Eficácia de Diferentes Estratégias no
Ensino de Educação Ambiental: Associação entre Pesquisa e Extensão Universitária.
Ambiente e Sociedade., v. XX, n. 2, p. 61-78. 2017.
SOUZA, F et al. Qualidade dos Sedimentos do Rio Monjolinho: Índice de
Geoacumulação. R. Ciência, Tecnologia & Ambiente, v. 4, n. 1, p. 78-87, 2016.
TRILHA DA NATUREZA. Disponível em:
<https://www.facebook.com/TrilhaDaNaturezaUfscar/?ref=settings>. Acesso em: 08
maio. 2018.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

INCLUSÃO DE OFICINAS DIDÁTICAS E ATIVIDADES PARA


DISSEMINAÇÃO DAS GEOCIÊNCIAS E CONSCIENTIZAÇÃO
AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

Jackeline. G. Mello1; Mateus. L. Landgraf 1; Marcilene. Ferreira Dantas 2

1
Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, Gestão e Análise Ambiental,
jg.mello97@gmail.com, mateuslanalan@gmail.com
2
Orientadora. Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, Departamento de
Engenharia Civil – DECiv, marcilene.dantas@gmail.com

Resumo: As ocupações urbanas a partir da expansão dos territórios ocasionaram em uma


grande crise ambiental. Diante disso, faz-se necessário compreender a importância da
preservação do meio físico visando manter a qualidade do ambiente. Assim, surge o ramo
de educação ambiental que busca a disseminação de conteúdos, em diferentes níveis de
ensino, para despertar no indivíduo a conscientização quanto a necessidade de
preservação do patrimônio. O campo da geociências é capaz de beneficiar o
desenvolvimento sustentável, tendo em vista que possui elementos integradores dos
conhecimentos existentes sobre o ambiente. O presente estudo visou analisar a eficiência
das geociências através de oficinas didáticas como ferramenta para efetivar a educação
ambiental. Foram aplicadas oficinas de Bacia Hidrográfica para estudantes do ensino
fundamental 2 do ensino público, sendo aplicado um questionário antes e depois para
coleta dos dados. Os resultados obtidos revelaram que o público alvo demonstrou
aprendizagem do conteúdo aplicado, mostrando uma maior sensibilização aos problemas
ambientais usados como exemplo e o interesse em aprender mais sobre o conteúdo. Desta
forma, é possível notar resultados positivos na metodologia desta oficina para alunos do
ensino fundamental 2.

1. Introdução:

Os processos de degradação ambiental pela inexistência de cautela do homem


quanto às ocupações urbanas a partir da expansão dos territórios e a utilização imprudente
dos recursos naturais existentes ocasionaram uma grande crise ambiental. Segundo
Foladori (1999), uma crise ambiental pode ser basicamente conceituada de forma como
o rompimento do equilíbrio dinâmico de um sistema, ou seja, o ambiente extrapolou a sua
capacidade de se manter em perfeita harmonia, com recursos suficientes para a
manutenção de toda a vida que nele se encontra. A crise hídrica que assola o Brasil em
2014/2015 é um exemplo dessa utilização desenfreada dos recursos, onde o homem
extrapolou o uso dos recursos hídricos e agora enfrenta o desequilíbrio relacionado à esse
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uso irracional em diferentes âmbitos da esfera natural e social. É importante destacar que
a falta de água afeta todas as atividades humanas essenciais, gerando um colapso não
apenas industrial e urbano, mas também nas relações humanas e na maneira que se é
percebido um ambiente.
Tendo em vista toda trajetória humana até a revolução industrial, a percepção do
ambiente e natureza pelo homem esteve e está em constante modificação. Nos primórdios
da humanidade, essa percepção consistia, apenas, em conhecer para garantir sua
sobrevivência. Sendo assim, a natureza passa a ser considerada objeto exclusivo para
atender as necessidades humanas. No período de transição entre as décadas de 60 e 70 os
problemas ambientais segundo Effting (2007) já mostravam irracionalidade com o
desenvolvimento econômico. Assim em 1972 a Organização das Nações Unidas realiza
a Conferência de Estocolmo onde ocorre a recomendação de estabelecido um Programa
Internacional de Educação Ambiental.
Diante este contexto a educação ambiental passa a ser considerada campo de ação
pedagógica, adquirindo relevância. Segundo Lucatto e Talamoni (2007) a educação e a
escola têm de sistematizar e socializar o conhecimento, bem como de possibilitar a
formação de cidadãos suficientemente informados, conscientes e atuantes, para que as
questões ambientais possam ser não apenas discutidas, mas para que se busquem soluções
para as mesmas.
“Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais
o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimento,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade
de vida e sua sustentabilidade.” (Art. 1º, Lei nº 9.795 de abril de 1999.).
No entanto, o processo de construção do conhecimento sobre as questões
ambientais tem como desafio o nível de abstração necessário, para se entender os
inúmeros mecanismos complexos que interagem no ambiente sendo que os mesmos são
interdependentes e, portanto, uma visão fragmentada impossibilita a real compreensão de
sua magnitude. Para isso em sua prática faz-se necessário uma visão ampla do ambiente,
trabalhada sob a lógica da transdisciplinaridade, abrangendo conhecimento de várias
ciências. (SOARES et. al. 2015).
Os estudos interdisciplinares são caracterizados pela interação de diferentes
disciplinas, com o intuito de se resolver um problema temático (Galvão e Finco, 2009)
.Sendo assim, os conteúdos abordados nas geociências garantem uma compreensão

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articulada sobre as questões referentes a atualidade e o modelo de desenvolvimento
sustentável, visando impactar positivamente a esfera socioeconômica e assim permitindo
a construção de uma visão interligada do tempo, do espaço físico e dos compartimentos
biológicos, como também contribui para a formação de opiniões críticas e cidadania,
proporcionando reflexões quanto a sustentabilidade, utilização de recursos e a dinâmica
da Terra.
Para uma educação ambiental transformadora, englobando a visão popular, do
ponto de vista da representação do perfil cultural, do senso comum e do comportamento
civil do indivíduo diante do ambiente, e a visão científica que produz o embasamento
teórico para justificar a mudança, é necessária a utilização de abordagens e metodologias
que proporcione interatividade, diálogo, reflexões, analogias e curiosidade para então
concretizar a unificação de um conhecimento coletivo, nota-se a necessidade de projetos
educacionais que estimulem a disseminação do conhecimento produzido pelas
universidades dentro das salas de aula de ensino fundamental e médio e que permitam por
meio da interatividade a construção de parcerias entre as esferas de ensino e seus
indivíduos.
Tendo em vista os problemas de cunho ambiental, segunda a Agência Nacional
das Águas (ANA,2014) é notória a redução das pluviosidades no território brasileiro
desde 2012, delineando um complexo quadro de escassez hídrica. O fenômeno
relacionado às mudanças climáticas, e o impacto direto na disponibilidade hídrica carrega
consigo grandes problemas relacionados aos múltiplos usos da água na manutenção não
só da vida, mas da atual formação da sociedade. Evidenciando assim a necessidade de se
trabalhar os múltiplos aspectos das bacias hidrográficas, onde dentro do campo da
geociências é possível abordar essa temática de maneira multidisciplinar e integradora.
A bacia hidrográfica envolve componentes estruturais e funcionais, processos
biogeofísicos, econômicos e sociais, tornando-se assim uma unidade ideal para integrar
esforços de pesquisa e gerenciamento, por isso vêm sendo utilizada como instrumento de
percepção ambiental e atuando como um laboratório experimental para o ensino (Tundisi
& Schiel, 2002; Tundisi, 2003).
A Percepção Ambiental deve ser entendida enquanto um processo participativo,
envolvendo uma série de fatores sensoriais, subjetivos e valores sociais, culturais e
atitudes ambientais das comunidades residentes nas cidades em relação ao espaço natural
e transformado(MELAZO;2005). Segundo Faggionato (2002), cada indivíduo percebe,
reage e responde diferentemente frente às ações sobre o meio. As respostas ou

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manifestações são, portanto, resultado das percepções, dos processos cognitivos,
julgamentos e expectativas de cada pessoa. Assim estas percepções constituem o principal
elemento da educação ambiental, onde podemos mensurar a percepção do indivíduo e
direcioná-la dentro do coletivo para um pensamento onde a máxima preservação do
ambiente e seus recursos seja compreendida e aplicada.
Por fim, este trabalho busca analisar a eficácia e competência das temáticas dentro
das geociências através de oficinas didáticas como ferramenta para a educação ambiental,
em função de sua natureza que permite compreender uma ampla rede de interações,
padrões históricos e o comportamento do ser humano, o que proporciona maiores chances
de sensibilização, mudanças de conduta e a conquista consciência relacionadas ao meio
natural.

2. Objetivos:

O presente trabalho teve por objetivo utilizar-se de oficinas didáticas para ampliar
os conhecimentos do meio físico e socioambiental. A partir de temas fundamentados nas
geociências, visando o auxílio e disseminação de conhecimentos relacionados ao meio
ambiente e, assim, contribuir para o processo de conscientização e educação ambiental
dos indivíduos, para que, estes adquiram uma nova visão. Sendo essa visão, integrada e
de valorização dos recursos ambientais e serviços ecossistêmicos. Foi também observada
a eficácia das temáticas descritas no campo das geociências para a educação ambiental

3. Metodologia:

A ação educativa é realizada a partir de oficinas didáticas, desenvolvida em


conjunto com o programa de extensão GeoEdu - Geociências como ferramenta na
popularização da Ciência: "minha terra...eu conheço...eu cuido" do Departamento de
Engenharia Civil - DECiv, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) - São Carlos,
para promover a popularização do conhecimento científico relacionados às Geociências
a partir de atividades que visam o aumento da interface dos laboratórios com a
comunidade externa e interna a universidade.
O público-alvo para a essas ações são crianças de faixa etária de 11 a 15 anos,
compreendendo as turmas de 6° ao 9° ano identificado na rede de ensino municipal como
fundamental 2; a escolha desta faixa etária deve-se pela compreensão de que as mesmas
estão desenvolvendo responsabilidade social e ganhando maior autonomia, assim podem
desenvolver um comportamento adequado frente à questões ambientais e também

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cobrarem tal comportamento de pessoas adultas. O procedimento inicial para a seleção
das temáticas a serem desenvolvidas foi o levantamento do conteúdo programático
municipal do ensino fundamental 2, onde identificou-se que os conteúdos relacionados
geociências complementam a disciplina de ciências naturais.
Entre os eixos de ensino abordados são trabalhados problemas ambientais de
natureza antrópica, manejo e conservação ambiental, a questão sobre bacias hidrográficas
torna-se pertinente para ação educativa uma vez que esta é uma unidade de gestão de
recursos hídricos e territorial diretamente impactada pelas intervenções antrópicas.
A elaboração de uma oficina pode ser dividida em quatro etapas:
● 1° Etapa – Levantamento bibliográfico de ferramentas da educação ambiental e
estudo de casos de aplicação de oficinas relacionadas às geociências.
● 2º Etapa – Escolha do tema central: A bacia Hidrográfica Onde Vivo.
Sua escolha ocorreu por ser um eixo temático que aborda a água, sua importância, tipos,
estados físicos e o ciclo hidrológico, sendo todos temas previsto dentro do conteúdo
programático de ensino e por ser uma unidade que integra múltiplos usos deste recurso,
na os impactos sobre ela atinge esfera social, econômica e ambiental.
● 3°Etapa – Escolha dos tópicos acessórios: Os elementos que compõe uma bacia
hidrográfica; relevo, vertente, pontos altímetros, curvas de nível, divisores de
água, montante, jusante, canal principal, tributários, ordenamento de rios, foz.
● 4° Etapa – Elaboração de atividades práticas para fixação de conteúdo: a oficina
conta com três atividades práticas; criar uma bacia hidrográfica a partir de uma
folha de papel sulfite, delimitação da bacia hidrográfica onde a escola está inserida
e por último é apresentado uma imagem de satélite com o recorte da bacia
hidrográfica com o objetivo de ilustrar o uso e ocupação da área.
Os aspectos referentes a oficina foram abordados de maneira expositiva com
elementos comuns do dia a dia, em diálogo e questionamento com os alunos, para assim
incentivar a participação dos mesmos nas atividades realizadas e proporcionar troca de
conhecimento entre monitores e alunos e ocorrer a construção de um saber comum. Para
a execução das atividades foi necessária uma equipe composta por quatro monitores e um
aplicador que temporariamente assumiria o papel de professor e coordenaria as
atividades; as oficinas foram montadas para atender no máximo quarenta alunos. A turma
a ser trabalhada é dividida em quatro grupos, para garantir uma maior interação entre
aluno- monitor e um ensino claro, diminuindo os equívocos de interpretação e dúvidas.

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Como ferramenta de coleta de dados foram aplicados dois questionários, um para
o momento anterior a execução da oficina, que tem como função avaliar o grau e
compreensão do tema abordado, e se apresentam familiaridade. O segundo questionário
é executado após aplicação da oficina, para avaliar sua eficácia para conscientização a
partir dos conhecimentos adquiridos pelos alunos expressados na resposta. Após a
realização dos questionários os dados coletados foram tabulados, armazenados e
manipulados através do programa Excel,
A ação educativa foi realizada em período de aula, em turmas do quinto ano do
ensino fundamental; uma turma do período da manhã e uma da tarde na Escola Municipal
de Ensino Básico Janete Maria Martinelli Lia e uma turma no período da tarde na Escola
Municipal de Ensino Básico Angelina Dagnone De Melo, localizadas no município de
São Carlos.

4. Atividades práticas:

A primeira atividade consistiu na criação de uma bacia hidrográfica a partir de


uma folha de papel sulfite branca, onde o papel é amassado e em seguida esticado
suavemente para obter um terreno declivoso, de maneira lúdica os alunos são instruídos
a identificar elementos na superfície do papel que se assemelham com os elementos que
compõe uma bacia hidrográfica, como pontos altimétricos, divisores de água, foz,
nascentes, áreas altas, áreas baixas, canal principal e tributários; após a identificação de
tais elementos o monitor deve borrifar água sobre a folha de papel simulando a chuva, a
partir disto é levantado questionamentos sobre a direção do escoamento das águas,
pontos de acúmulo de água, o que é um vale, a importância da mata ciliar e o porquê de
não descartar lixo em lugares impróprios.

FIGURA 1 – Momento da atividade prática em que o aluno cria sua própria bacia hidrográfica durante a
oficina. Fonte: GeoEdu (2016).

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A atividade aplicada em seguida constitui-se do processo de delimitação da bacia
hidrográfica em uma folha A2 que possui curvas de níveis, pontos altimétricos e
hidrografia, e a localização da escola escola e para tal é necessário que os alunos não
tenham dúvidas sobre as características e os elementos que a compõe, pois, a delimitação
acontece primeiramente definindo o canal principal e o limite da bacia pela foz,
conectando sua marcação com os pontos altimétricos mais elevados, é importante que o
limite traçado circule o canal principal e seus tributários e nunca os cruze.
Por último foi apresentado aos alunos uma imagem de satélite com o recorte da
bacia hidrográfica com o objetivo de ilustrar o uso e ocupação da área, assim proporcionar
reflexões sobre as características e qualidade ambiental como também destacar os
impactos ambientais e suas consequências.
Para proporcionar maior aproximação com o dia a dia foi estimulado que os
participantes da oficina procurassem suas casas e delimita-se o caminho percorrido até a
escola e o caracterizassem para promover a percepção do entorno.

FIGURA 2 – Momento da atividade prática em que o aluno alunos localizam suas casas e observam o uso
e ocupação através da imagem de satélite. Fonte: GeoEdu (2016).

5. Resultados:

Dentro das questões ambientais abordadas a oficina destacou as ações antrópicas


como a intervenção de maior intensidade sobre uma bacia hidrográfica, apresentando
como impactos a degradação e poluição hídrica, contaminação do solo, remoção de
vegetação, alteração da paisagem e do regime hídrico, impermeabilização e riscos à
saúde, esta ênfase tem o intuito de demonstrar relações de causa e efeito. A partir disto
foi exposto para cada impacto métodos de prevenção e remediação para que estimule nos
alunos mudanças de comportamento na interação homem e meio ambiente.
Nos momentos iniciais da oficina os alunos são questionados sobre sua
compreensão do que é uma bacia hidrográfica, assim é aberto espaço para a exposição de
suas ideias e debate, chamando assim a atenção das crianças para o tema, após a conclusão

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
das definições pelos alunos segundo suas convicções, o conceito é introduzido pelos
monitores.
Entre as respostas para tal questão é observado que a maioria dos alunos associa
o termo “bacia hidrográfica” com o objeto de plástico usado no dia-a-dia. Quando
verificado os resultados dos questionários para avaliação do conhecimento prévio, fica
evidente uma lacuna nos métodos de preparação do aluno, esta é identificada quando os
mesmo não conseguem correlacionar que seus comportamentos modelam o entorno e que
o mesmo afeta a sua qualidade de vida. Os dados referentes a terceira turma possuem
caráter positivo quanto às respostas devido a intervenção da docente que preparou os
alunos especificamente para a realização da oficina, pedindo para que eles realizassem
uma tarefa sobre “O que é Bacia Hidrográfica” (Figura 3).

FIGURA 3 – Análise comparativa das respostas dos alunos para a questão “Você sabe o que é uma bacia
hidrográfica” aplicada no questionário prévio. Fonte: Próprio autor (2018).

Nas questões seguintes, foi abordado o conhecimento sobre as características e


componentes da bacia, e se os estudantes teriam conhecimentos de rios, córregos e
nascentes ao seu redor, durante a avaliação as mesmas não apresentaram discrepância
significativa entre suas respostas.
A Figura 4 representa as respostas obtidas com o questionário aplicado após a
finalização das atividades, para assim avaliar a sedimentação do conteúdo e a efetividade
da oficina e temáticas abordadas nas geociências como ferramenta de educação
ambiental. Os resultados demonstram um aumento significativo na sensibilização dos
alunos em relação às ações antrópicas e os impactos que essas exercem no meio ambiente,
como o desmatamento que ocasiona o assoreamento dos corpos hídricos prejudicando a
vida nesse ambiente citado em uma das respostas.
Neste momento uma porcentagem dos alunos apresentou aos monitores situações
de seu dia-a-dia que a partir da oficina identificaram como sendo impactantes, tendo o
destaque para o descarte de lixo em áreas próximas aos corpos hídricos, os mesmos

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
destacaram possíveis soluções para essas situações como o plantio de novas mudas para
promover a regeneração da vegetação local e programas de conscientização, que ensine
o que seria positivo e negativo para o meio ambiente.

FIGURA 4 – Análise comparativa das respostas dos alunos para a questão “Você acredita que o homem
impacta a bacia hidrográfica onde vive? ”. Fonte: Próprio autor (2018).

Para uma avaliação do desempenho direto da oficina, foi proposto que os alunos
respondessem sim ou não para seu interesse em aprender mais sobre bacias hidrográficas,
justificando as respostas negativas. De acordo com a Figura 5 foi possível constatar que
as turmas 2 e 3 tiveram uma aderência em 100% em conhecer mais sobre o tema, já para
a turma 1 apenas 5% foram contrárias.

FIGURA 5 – Análise da disposição dos alunos a aprender mais sobre bacias hidrográficas.
Fonte: Próprio autor (2018).

A Figura 6 mostra alguns exemplos de respostas da Figura 5, sendo possível notar


a fixação do conteúdo passado como a importância da mata ciliar, o que são afluentes, o
que é Bacia hidrográfica, ponto do encontro dos rios, entre outros e o motivo pelo qual
eles gostariam de aprender mais sobre o tema.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 6 – Amostra de respostas referente a pergunta da figura 5.

6. Conclusão

Com a realização das etapas do projeto foi possível estabelecer uma base teórica
coesa e sólida sobre as geociências aplicada a educação ambiental pelos monitores e
participantes do projeto GeoEdu, tal aporte proporcionou a construção de cartilhas e
oficinas didáticas em diferentes níveis de conteúdo, incluindo uma gama elevada de
elementos, processo e condições relacionadas ao meio ambiente, assim atingindo uma
educação ambiental transformadora, que consiste na transformação integral dos
comportamentos civis e sociais, a sustentabilidade e a ética ecológica passam a ser
consideradas nas decisões do indivíduo.
A atuação do projeto sobre salas do ensino fundamental, demonstrou ser cativante
e eficiente, pois trata-se do momento de formação da opinião crítica do indivíduo,
despertar a curiosidade e senso de responsabilidade junto às questões ambientais nesta
época, permite que eles cresçam cobrando soluções para preservar os recursos e
harmonizar a relação homem-natureza.
Como também a presença de 4 monitores diminui a distância entre professor e
aluno, motivando os alunos a tirarem suas dúvidas e levantar mais questionamentos sobre
o assunto, garantindo assim uma troca de conhecimento maior e melhor entre educador e
educando.
Diante dos resultados apresentados é possível afirmar que a metodologia de
educação ambiental que utiliza as geociências permite conexão entre tópicos julgados

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
complexos, uma sensibilização satisfatória pelo emprego de práticas que combinam o
cotidiano dos participantes á conceitos teóricos.
No entanto é necessário ressaltar as atividades do projeto em sua maioria foram
realizadas de maneira contínua, aquelas efetuadas de forma pontual apresentaram ser de
menor eficiência, assim verifica-se a necessidade de implementação de programas
contínuos em parceira com as universidades, para a construção do conhecimento. Por fim
conclui-se que o projeto atingiu os objetivos e avalia as geociências como uma ferramenta
eficiente para a educação ambiental.

Referências:
LUCATTO, L. G., & BISCALQUINI TALAMONI, J. L. A construção coletiva
interdisciplinar em educação ambiental no ensino médio: a microbacia hidrográfica do
Ribeirão dos Peixes como tema gerador. Ciência & Educação, 13(3), Bauru, SP, 2007.
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geociências como estratégia de educação ambiental em escolas da rede municipal de
São Carlos (SP). Revista Brasileira de Educação Ambiental (REVBEA), V.10, No 2:
204-227, São Paulo, SP, 2015
GALVÃO D.M., FINCO G. Geociências no Ensino Médio: Aprendendo para a
cidadania. In: Encontro Nacional de Pesquisas em Educação em Ciências, 7,
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do Litoral Brasileiro: A Experiência do Laboratório de Educação Ambiental em Áreas
Costeiras. Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar - CTTMAR/UNIVALI.
Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology, v. 4, n. 1, p. 103-120. Vale do
Itajaí, SC 2010.
ARAÚJO, A. F. de. JÚNIOR, V. P. . Teatro e educação ambiental: um estudo sobre
ambiente, expressão estética e emancipação. Revista Eletrônica do Mestrado em
Educação Ambiental (REMEA), v. 18, Rio Grande, RS, 2007.
MELAZO, G. C. Percepção ambiental e educação ambiental: uma reflexão sobre as
relações interpessoais e ambientais no espaço urbano. Periódico Olhares & Trilhas,
Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Uberlândia, MG, 2005.
ANA. Agência Nacional de Águas. Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil - Encarte
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<http://conjuntura.ana.gov.br/docs/crisehidrica.pdf>. Acesso em: Junho de 2018
FOLADORI, G. O capitalismo e a crise ambiental - Revista Raízes, 1999. Disponível
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FAGGIONATO, S. Percepção Ambiental. Texto disponibilizado em 2002. Disponível
em: http://educar.sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt4.html>. Acesso em: Junho de 2018.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA:


DO FLORESCIMENTO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL A UMA
PRETENSA SUSTENTABILIDADE

Silva, Julia L.¹; Samora, Patricia R.²

¹ Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da


Pontifícia Universidade Católica de Campinas, julialopes123@gmail.com
² Orientadora. Docente no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, prsamora@gmail.com

Resumo: O movimento ambientalista ocupa hoje um relevante espaço político, já que


possui sua importância reconhecida por diversos segmentos sociais – governo, empresas,
ONGs, universidades etc. Contudo, pode-se dizer que este não teve um começo claro,
tendo emergido simultaneamente em vários locais, em tempos diferentes e por motivos
diversos. Neste sentido, o presente artigo busca traçar um panorama do surgimento e
desenvolvimento da preocupação com a questão ambiental no Brasil e no mundo, bem
como pontuar o caminho tortuoso que marca a evolução histórica deste movimento. Feito
isto, realizamos também uma análise crítica do Relatório Brundtland, considerado um
marco na história do movimento ambientalista e considerado referência até hoje no que
tange a questão ambiental. Por fim, buscamos elaborar uma reflexão sobre o real alcance
do chamado desenvolvimento sustentável, notadamente guiado pelas forças do mercado
nos dias de hoje. Para tanto, partimos reconhecendo o histórico do movimento
ambientalista em escala mundial, de forma a abordar a questão ambiental, suas raízes e
desenvolvimento, por meio de uma perspectiva histórica.
Palavras-chave: Movimento Ambientalista; Sustentabilidade; Crise Ambiental.

1. Introdução

Castells (1999) define ambientalismo como todas as formas de comportamento


coletivo que, tanto em discurso quanto em prática, visam corrigir formas destrutivas de
relacionamento entre homem e natureza. Apesar de, hoje, ocupar relevante espaço
político por ter sua importância reconhecida por diversos segmentos sociais, o movimento
ambientalista não teve um começo claro, já que emergiu simultaneamente em vários
locais, em tempos diferentes e por motivos diversos (FERREIRA, 2008).
Ainda segundo a autora, a evolução do movimento ambientalista se deu através
de um processo lento e gradual, que culminou em uma revolução conceitual no século
XX (FERREIRA, 2008). Apesar de haver relatos de muitos séculos atrás sobre a
preocupação com a degradação da natureza, pode-se dizer que o início do movimento
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
data do pós-guerra, período em que se acentuou a preocupação com o meio ambiente, o
qual ganhou repercussão de maiores dimensões, gerando um movimento mais intenso e
global. O movimento ambientalista, tal qual o conhecemos hoje, ganhou força graças ao
progresso da pesquisa científica, da intensificação da atividade industrial e do
crescimento da população urbana, fatores que tiverem níveis variados de influência para
a degradação do meio ambiente (McCORMICK, 1992).
O ambientalismo mundial passou pelas seguintes correntes ao longo de sua
história: Protecionismo, Conservacionismo, Ecologia Política e, no período mais recente,
Gestão Articulada e Gestão de Sustentabilidade. O ambientalismo brasileiro trilhou este
mesmo percurso em função da forte influência do movimento mundial. Cabe ressaltar,
contudo, que este processo foi marcado por diversos avanços e retrocessos, uma vez que
está inserido em um contexto mais amplo e político. Neste sentido, buscamos estabelecer,
aqui, o trajeto histórico do surgimento e desenvolvimento da questão ambiental no Brasil
e no mundo, bem como pontuar o caminho tortuoso que há décadas marca a evolução
histórica deste movimento, bem como elaborar uma reflexão a respeito do atual alcance
do chamado desenvolvimento sustentável, notadamente guiado pelas forças do mercado
e, portanto, a serviço de uma minoria.

2. Material e métodos

Para alcançarmos os objetivos estabelecidos neste artigo, em que buscamos


analisar o desenvolvimento do movimento ambientalista em escala mundial, o método
empregado é a revisão bibliográfica dos principais autores que versam sobre o assunto.

3. Discussão

Segundo McCormick (1992), o início do ambientalismo como movimento mais


amplo tem origem na Grã-Bretanha, na era vitoriana, em função do crescimento do
interesse da população por história natural, durante um período rico em descobertas
científicas que muito revelaram sobre as consequências da exploração da natureza. Nesta
época, caracterizada como protecionista, a Inglaterra era a grande referência para os
naturalistas e ilustradores botânicos. A invenção da litografia trouxe a beleza da natureza
para um público amplo, o que tornou a história natural um passatempo popular vitoriano.
As obras de Carl von Linné, taxonomista botânico, e de John Ray, naturalista, foram de
extrema importância para o desenvolvimento das teorias de Darwin e de Wallace quanto
à evolução das espécies. Tal atmosfera culminou em uma consciência biocêntrica,

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
contraposta à visão antropocêntrica até então difundida, reestabelecendo as relações do
homem com seu meio natural. A partir de então, o ser humano não mais era visto como
um ser independente das demais espécies.
De acordo com Ferreira (2008), em 1865, na Inglaterra, foi criado o primeiro
grupo ambientalista do mundo, o Commons, Open Spaces, and Footpaths Preservation
Society, que promoveu campanhas pela preservação de áreas verdes urbanas no país. Foi
através deste movimento, em conjunto com as pressões promovidas pelo grupo, que o
governo da rainha Vitória começou a reservar áreas para o lazer público. Paralelo a esses
acontecimentos afloravam pressões pela preservação ambiental também nos EUA,
influenciado pela história natural e pelo romantismo. Em função do movimento
preservacionista, foi criado em 1872 o primeiro parque nacional do mundo, o Parque
Nacional de Yellowstone, com área de 800 mil hectares, tornando-se modelo para outros
países (CASTELLS, 1999).
McCormick (1992) afirma que a fase protecionista foi marcada pela proteção total
da natureza, através da percepção de que o meio ambiente deveria ser intocável, isolado
e sem nenhuma interferência do homem. No final do século XIX, contudo, surgiu nos
Estados Unidos um movimento ambientalista bipartido que, de um lado, tinha os
preservacionistas de áreas virgens e, do outro, os conservacionistas, centrados na
administração racional dos recursos naturais, que se fundava na tradição de uma ciência
florestal racional de vertente alemã, ideia que serviu de origem para as discussões do que
se denominou “desenvolvimento sustentável”, décadas mais tarde.
Já no início do século XX, o ambientalismo conservacionista cresceu e se
estabeleceu como um movimento concreto, tendo por algum tempo apoio do governo
norte americano. No I Congresso Internacional para Proteção da Natureza, que aconteceu
em 1909, em Paris, foi discutida a preservação ambiental e verificados os progressos da
proteção na Europa, propondo a criação de um organismo internacional de proteção da
natureza. Porém, em função da eclosão da Primeira Guerra, esse processo foi
interrompido. Até a década de 1930, pode-se dizer que houve interesse pela cooperação
internacional e a aceitação de que o movimento tinha objetivos que extrapolavam as
fronteiras nacionais. No entanto, a conversão dessa intenção em ações práticas só ocorreu
depois da Segunda Guerra Mundial (FERREIRA, 2008).
McCormick (1992) ainda defende que, em meados do século XX, com a
exacerbação do impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente, as questões
relativas à sustentabilidade começaram a ter maior destaque, através dos primeiros

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
estudos científicos realizados sobre o tema. Foi em função dos desastres ambientais e do
avanço dos conhecimentos científicos que houve uma sensibilização da sociedade para a
questão ambiental, pois os sinais de deterioração ficaram evidentes para mais pessoas e
não apenas para os cientistas e grupos conservacionistas. Nesse período, o movimento de
conservação já estava sendo ultrapassado por um novo movimento, independente e mais
ativista, preocupado com questões ambientais mais amplas, como superpopulação,
poluição, e custos do crescimento tecnológico e econômico, denominado Ecologia
Política.
Foi neste contexto que, em 1949, realizou-se a Conferência Científica da ONU
sobre a Conservação e Utilização de Recursos, importante marco na ascensão do
movimento ambientalismo internacional, já que iniciava a discussão a respeito da
necessidade de cooperação entre países para avançar em pesquisas ecológicas, visando
um trabalho conjunto das nações que possibilitasse converter o conhecimento em ação.
Neste momento, os efeitos dos interesses econômicos no bem-estar ambiental eram
gritantes, em função da corrida armamentista e do desenvolvimento industrial. Alguns
desastres foram observados no período, como a chuva de granizo radioativa em 1952 na
Austrália, e em Nova York no ano seguinte, eventos que se deram em função de testes
nucleares que estavam sendo realizados. Com estes e outros eventos sem solução,
percebeu-se a necessidade de um novo ambientalismo que ampliasse suas bases
científicas. Neste período, a natureza deixou de ser considerada como um horizonte
infinito e aberto à exploração humana para se tornar um horizonte de vulnerabilidade (O
DESENVOLVIMENTO..., 2017).
Em 1958, no Brasil, foi criada a Fundação Brasileira para a Conservação da
Natureza - resultado da ligação dos cientistas brasileiros com o movimento
conservacionista internacional - que surgiu como uma reação ao desenvolvimentismo
exacerbado e a qualquer custo que estava em voga no país. A organização conseguiu
amplitude e repercussão em todo o país, transformando-se em um marco para o
ambientalismo brasileiro, tanto que ainda em 1959 o governo federal voltou a utilizar a
criação de parques como instrumento de conservação, criando três em 1959 e oito em
1961, no curto governo de Jânio Quadros. Durante a década de 1960, apesar da produção
de novas leis de proteção ambiental – como o Código Florestal de 1965 e a Lei de
Proteção aos Animais, Drummond (1997) ressalta:
Temas como a poluição do ar, qualidade do ar, qualidade da água,
aglomeração urbana, zoneamento das atividades urbano-industriais e

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
isolamento de certas atividades de maior impacto sobre o meio
ambiente ainda não suscitavam o debate público. [...] A consciência
ambientalista do Brasil foi muito prejudicada pelos altos e baixos da
democratização do país. A ditadura de 1964 desmobilizou a cidadania,
resultando numa atuação estatal tímida e particularmente voltada para
a preservação do chamado ambientalismo geográfico, naturalista.
(DRUMMOND, 1997, p. 25)
Cabe destacar, ainda, que neste momento, durante a década de 1960, a população
brasileira passou a ser predominantemente urbana. Logo, os problemas ambientais acima
citados pelo autor se intensificaram com a aglomeração populacional em áreas
urbanizadas. O intenso crescimento econômico da época, aliado ao processo de
urbanização com crescente desigualdade social resultou na concentração espacial da
pobreza, cuja expressão mais concreta é a segregação espacial e ambiental (VILLAÇA,
2012). A dificuldade de acesso aos serviços e infraestruturas urbanas de qualidade, as
menores oportunidades de emprego e de profissionalização passaram a ser parte da
realidade de boa parte da população brasileira, perpetuando o ciclo de precariedade à
medida que contribuíam para a ocupação de áreas inadequadas do ponto de vista
ambiental, para a poluição de cursos d’água, para o descarte inapropriado de resíduos,
etc., consolidando uma crise ambiental mais ampla até hoje enfrentada.
Neste mesmo período, surgiram diversas manifestações civis de contracultura no
mundo todo, as quais contestavam o modo de desenvolvimento vigente, para as quais o
ambientalismo foi forte inspiração (CASTELLS, 1999). Em 1962, servindo como
canalizador dessa onda de insatisfação para a questão ambiental, foi publicado nos
Estados Unidos o livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, o qual relatava os
efeitos negativos causados pela utilização dos pesticidas e inseticidas químicos sintéticos,
levando à tona um grande problema ambiental e transformando temas como estes em
interesse público, o que conseguiu alarmar e chamar a atenção da opinião pública para o
meio ambiente. Castells (1999) defende que ideias de preservação da natureza, busca por
qualidade ambiental e perspectivas de vida ecológica surgiram no século XIX e
permaneceram restritas às elites intelectuais dominantes por muitas décadas. Ou seja,
eram tendências dissociadas da realidade social. Foi justamente no final da década de
1960 que, nos EUA, na Alemanha e na Europa Ocidental surgiu o “ambientalismo de
massas”, com base em opiniões públicas que, a partir daí, rapidamente se disseminou.
Em 1968, Aurélio Peccei, industrial italiano, fundou o Clube de Roma, grupo
formado por trinta profissionais de diferentes países para discutir os dilemas ambientais
da época, tendo como objetivos produzir diagnósticos da situação mundial e apontar

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
alternativas para os líderes mundiais. (McCORMICK,1992). Desse grupo de estudo
surgiu o relatório "O Limite do Crescimento", publicado em 1972, que defendia que as
raízes da crise ambiental residiam no crescimento exponencial. O documento trazia,
também, a ideia de que o crescimento populacional ocorre em escala maior que a
produção de alimentos, o que levaria a sociedade a um colapso causado pela exaustão dos
recursos e insuficiência de alimento. Embora o relatório representasse uma visão
catastrófica e Malthusiana, ele muito contribuiu para o debate que antecedeu a
Conferência da ONU de 1972, pois trouxe à tona a noção de limitação dos recursos
naturais e fez com que a população repensasse novos conceitos e formas para o
crescimento.
Como resultado de todos esses acontecimentos da década de 1960 e início de
1970, ocorre em 1972, em Estocolmo, a Conferência sobre Meio Ambiente Humano, que
representa o marco da história do movimento ambientalista. Esta Conferência foi a
primeira tomada de consciência, no plano diplomático mundial, da discussão em torno
dos ecossistemas que, de maneira integrada, sustentam a vida na Terra. Colocando, assim,
a importância da fragilidade da natureza no meio diplomático internacional (O
DESENVOLVIMENTO..., 2017).
O objetivo da Conferência foi fazer um balanço dos problemas ambientais globais
e buscar soluções com o intuito de reduzir os danos causados ao meio ambiente
(McCORMICK, 1992). Necessário pensar, contudo, o contexto mundial no momento em
que a Conferência foi realizada. Em 1972 o mundo era marcado por polaridades definidas
– leste-oeste e norte-sul. Mesmo que tenha suscitado questões de interesse geral, a
Conferência foi caracterizada por discussões ideológicas, bem como teve importância
diplomática reduzida, já que apenas dois Chefes de Estado compareceram ao evento,
Indira Gandhi da Índia e Ingemund Bengtsson da Suécia (O DESENVOLVIMENTO...,
2017).
Os produtos resultantes da Conferência foram a criação do Programa de Meio
Ambiente das Nações Unidas e a inserção do meio ambiente na política dos países
desenvolvidos. Este momento ficou conhecido como a fase de gestão articulada do
movimento ambientalista, caracterizada pela proliferação de Organizações Não
Governamentais e pela percepção da emergência de problemas ambientais de escala
global, como o aquecimento global e a destruição da camada de ozônio.
Segundo Ferreira (2008), desde a Conferência de Estocolmo até o final da década
de 1980 foi observado um salto na consciência ambiental, como consequência das

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
tendências das duas últimas décadas. Neste contexto, a Comissão Mundial para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, presidida por Gro
Harlem Brundtland, ex-primeira ministra da Noruega, elaborou o documento “Nosso
Futuro Comum” também conhecido como Relatório Brundtland, em 1987, no qual os
governos signatários se comprometiam a promover o desenvolvimento econômico e
social em conformidade com a preservação ambiental. Foi neste relatório que a definição
mais difundida do conceito desenvolvimento sustentável foi apresentada:
“desenvolvimento sustentável é aquele que atende as necessidades do presente sem
comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias
necessidades”, marcando a fase do movimento ambientalista em que estamos até hoje: a
fase da gestão de sustentabilidade.

3.1 O Relatório Brundtland e a difusão da questão ambiental

A premissa básica defendida pela Comissão parte da constatação de que o planeta


é um só e finito. Logo, existiriam preocupações e desafios comuns à toda humanidade, o
que demandaria esforços também comuns a todos (LAYRARGUES, 1997). Ou seja, o
documento decide não culpar os atores sociais responsáveis pela degradação ambiental,
mas, ao invés disto, focar na busca por soluções para remediar tal quadro. Ainda segundo
o autor, esta generalização de fatos omite um contexto histórico e, consequentemente,
retira o componente ideológico da questão ambiental. Resultado disto é que o tema passa
a ser tratado com ingenuidade e descompromisso já que falta a visibilidade do contexto
histórico e político que inicialmente gerou a crise ambiental.
Outro ponto importante que precisa ser abordado no tocante a este documento,
sinalizador de uma nova fase da consciência ambiental, diz respeito à erradicação da
pobreza, que é considerada uma das principais causas e um dos principais efeitos dos
problemas ambientais no mundo (LAYRARGUES, 1997). Quando se fala sobre justiça
social e ambiental, supõem-se que sejam realizados esforços no sentido de melhorar o
padrão de vida da população pobre, o que significa aumentar seu poder de consumo.
Entretanto, é sabido que se todo a população consumisse como os EUA, o planeta não
suportaria tal pressão e entraria em colapso. Ou seja, o padrão de consumo de países
desenvolvidos é insustentável e não pode ser generalizado para o restante da sociedade.
Logo, tem-se que, para alcançarmos a justiça social, seria necessário um nivelamento
médio do poder de consumo entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento.
Com o aumento do padrão de consumo dos países em desenvolvimento e a diminuição

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do padrão de consumo dos países desenvolvidos, obteríamos o que o autor chama de “teto
de consumo material”. Contudo, é justamente esta premissa que a Comissão Brundtland
não aborda e, aqui, se mostra contraditória.
Ao considerar um “piso de consumo material”, ao invés de um “teto”, a Comissão
aposta em inovações tecnológicas futuras que permitiriam o acesso de todos ao consumo
sem comprometer a sustentabilidade do planeta. Portanto, segundo esta lógica, não
haveria necessidade de os países desenvolvidos restringirem seu consumo, já que,
teoricamente, isto não estaria agravando a crise ambiental. O que esta ideologia deixa
implícito, todavia, é que o principal problema a ser combatido seria a “poluição da
pobreza”, afirmação extremamente controversa se considerarmos o contexto histórico e
político, o qual é deixado de lado pela própria Comissão, como previamente dito.
Aqui cabe o questionamento sobre as reais diferenças entre o chamado
desenvolvimento sustentável e o modelo convencional, guiado pelas forças do mercado.
Layrargues (1997) defende que o desenvolvimento sustentável assume uma postura de
projeto ecológico neoliberal que, simbolizando reforma, produz a ilusão de mudanças.
Ou seja, sob a pressão de uma nova realidade que demanda uma nova postura, o mercado
exibe uma nova “roupagem” sem ter mudado sua estrutura de funcionamento. A maior
contradição está no reconhecimento do próprio Relatório de que “a maior parte da
pesquisa tecnológica feita por organizações comerciais dedica-se a criar e processar
inovações que tenham valor de mercado”. Portanto, não existe o comprometimento com
a produção de bens que atendam às necessidades dos mais pobres. O maior problema,
segundo o autor, é acreditar que o chamado desenvolvimento sustentável pretende
preservar o meio ambiente, sendo que, na realidade, sua maior preocupação é preservar a
ideologia hegemônica.
Isto posto, cabe sinalizar que foi apenas durante a década de 1970, após a
Conferência de Estocolmo, que o movimento ambientalista do Brasil, como em grande
parte do resto do mundo, ganhou forças. No Brasil, a década de 1970 ainda foi marcada
pela implantação da Lei Federal nº 6.766/79, a qual dispõe sobre o parcelamento e uso do
solo (importante instrumento urbanístico que visa a proteção do meio ambiente) e pela
organização fundada na época, a Associação Gaúcha de Proteção do Ambiente Natural,
primeira associação ecologista da América Latina (VIOLA, 1986).
Já na década de 1980 foi instituída, através da Lei 6.938/81, a Política Nacional
do Meio Ambiente, que criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA,
integrado por um órgão colegiado, e o Conselho Nacional do Meio Ambiente –

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
CONAMA. O SISNAMA representou um grande avanço para o ambientalismo brasileiro
uma vez que inseriu a sociedade civil organizada dentro da estrutura administrativa, de
modo a permitir uma participação concreta da população nas decisões políticas
ambientais. Já o CONAMA, por sua vez, foi formado por representantes de ministérios e
entidades setoriais da Administração Federal, diretamente envolvidos com a questão
ambiental, bem como de órgãos ambientais estaduais e municipais, de entidades de classe
e de organizações não governamentais.
Isto posto, destaca-se a ocorrência, já no início da década de 1990, da Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como
Rio 92, segunda grande reunião das Nações Unidas. Importante destacar que esta foi a
primeira Conferência sobre temas globais após a queda do muro de Berlim. Neste
momento, o mundo estava marcado pelas polaridades USA – URSS, considerados polos
organizadores da agenda diplomática mundial. A Rio 92, contudo, mostrou-se como
exceção ao tratar de temas globais à luz da cooperação e não do confronto (O
DESENVOLVIMENTO..., 2017). O autor ainda destaca que esta foi a menos
governamental das Conferências globais, já que foi aberta a ONGS, contou com um fórum
global, e, também, foi aberta à opinião pública. Ou seja, foi capaz de tratar da globalização
dos temas discutidos em sintonia com a globalização da participação.
Os objetivos do encontro se deram no sentido de discutir um equilíbrio justo entre
as necessidades econômicas, sociais e ambientais das gerações presentes e futuras, além
de firmar as bases para uma associação mundial entre os países desenvolvidos e em
desenvolvimento. Para isto, buscou estabelecer uma agenda de cooperação internacional
para pôr em prática e consolidar o conceito de “desenvolvimento sustentável” no planeta,
tratando de problemas globais como mudanças climáticas e acesso e manutenção da
biodiversidade. O resultado da reunião foi o estabelecimento de acordos internacionais; a
elaboração da declaração do Rio - carta de princípios pela preservação da vida na Terra -
e a Agenda 21, plano de ação para o século XXI que visa minimizar os problemas
ambientais mundiais.
Pode-se dizer que a Conferência foi um marco na vida diplomática do Brasil, já
que este foi o maior evento organizado pelo país até então, o qual recebeu mais de cem
Chefes de Estado. O resultado pode ser considerado um “momento kantiano” da vida
internacional, marcado pela abertura à uma razão abrangente da humanidade, que colocou
o conceito do desenvolvimento sustentável em uma base indivisível, à medida que diz
respeito a todos (O DESENVOLVIMENTO..., 2017).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
3.2 A questão ambiental a partir de uma perspectiva neoliberal

Neste mesmo período se observou a consolidação do ideário neoliberal a nível


mundial e, consequentemente, a questão ambiental passou a ser tratada com um viés
economicista e desenvolvimentista. Neste contexto, se pressupôs que as decisões tomadas
com racionalidade e economia dos meios garantiria o bem-estar dos ecossistemas
naturais, o que lançou a discussão ambiental ao jogo de forças neoliberais, legitimando o
livre mercado como a forma mais adequada de resolver os problemas ambientais
enfrentados (ACSELRAD, 2008). A chamada modernização ecológica passou a ter
destaque, já que designaria estratégias de cunho neoliberal para enfrentar os impasses
ambientais. Tal lógica deixou de lado, contudo, a dimensão social da questão (SILVA;
SAMORA, 2017).
De acordo com Acselrad (2008), tais estratégias constituíram o pensamento
ecológico dominante nos meios políticos e empresariais das últimas décadas,
naturalizando questões centrais acerca da atual crise ambiental, como questionamentos a
respeito do que se produz, de como se produz e para quem se produz. Os benefícios de
um suposto desenvolvimento se concentraram nas mãos de poucos, bem como transmitiu
os riscos ambientais para os mais pobres, uma vez que a racionalidade econômica justifica
a migração dos riscos para as localidades menos desenvolvidas (ACSELRAD, 2008).
Destituída de sua dimensão sociológica, a crise ambiental passou a ser tratada
como um mero debate sobre desperdício e escassez dos recursos naturais. Isto posto,
destaca-se que diversos autores constatam que os riscos ambientais afetam de modo
desigual e injusto as identidades socioculturais hierarquizadas em decorrência de classes
sociais, de questões étnico-raciais e de gênero, já que existe uma coincidência entre áreas
de degradação ambiental e local de moradia destas minorias em diversos países, o que
rompe com a lógica simplista que defende a “democraticidade” dos riscos ambientais
(ACSELRAD, 2008; ALIER, 2007; BULLARD, 1983).
Em função deste quadro, surgiu durante a década de 1980, nos EUA, o Movimento
de Justiça Ambiental, que se propôs articular a questão ambiental à desigualdade social.
O movimento levou a questão da justiça ambiental à condição de tema central na luta
pelos direitos civis. Como desdobramento, ocorreu, na década seguinte, a I Cúpula
Nacional de Lideranças Ambientalistas de Povos de Cor, a qual elegeu uma agenda
nacional que visava incorporar as questões das minorias à política ambiental americana

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(ALIER, 2007). Finalmente, em 2002, consolida-se a Rede Brasileira de Justiça
Ambiental, bastante influenciada pelo seu precursor norte-americano.
No mesmo ano, em 2002, aconteceu a Conferência Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável em Johannesburgo, também conhecida como Rio + 10,
organizada pela Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Esta conferência reuniu líderes e representantes de 193 países, organizações não
governamentais e mais de 700 empresários para negociar compromissos relacionados à
implantação do desenvolvimento sustentável, que revisaram e avaliaram o progresso do
estabelecimento da Agenda 21 a nível local, regional e internacional.
Mais recentemente, em 2015, houve também a Conferência de Paris, cujo objetivo
se deu no sentido de fortalecer a resposta global à ameaça das mudanças climáticas, bem
como direcionar a capacidade dos países para lidar com os impactos daí decorrentes. Nela,
foi aprovado o Acordo de Paris, assinado por 195 países que se comprometeram a reduzir
suas emissões de gases do efeito estufa. Neste sentido, outro marco importante foi a Nova
Agenda Urbana, Habitat III (2016), elaborada pela ONU, que ressalta a urgente
necessidade de redução da vulnerabilidade dos países em desenvolvimento frente ao
cenário de mudanças climáticas atualmente encontrado, destacando, portanto, a discussão
a respeito da injustiça ambiental à nível mundial.

4. Conclusões

O crescimento exponencial do espaço que a questão ambiental e o movimento


ambientalista conquistaram desde o final do século XIX em diversas esferas sociais e
políticas é marcante. Pode-se dizer que boa parte deste sucesso se deve ao fato de que tal
movimento tem demonstrado notável capacidade de adaptação às condições de
comunicação e mobilização ao longo das décadas (CASTELLS, 1999). No entanto, é
importante enfatizar que o ambientalismo não se dá apenas em função da conscientização,
já que procura também exercer influência na legislação e nas políticas públicas. Chama-
se atenção, também, para o caminho tortuoso que marca a evolução histórica do
movimento ambientalista, uma vez que vários atores sociais tentam se apropriar do
discurso ambiental para fortalecer seus próprios interesses, fato observado tanto em escala
global quanto local.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Referências bibliográficas

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Celso Lafer. Campinas: Instituto CPFL, 2017. (83 min.). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=PLT8tc8k8T0&t= >. Acesso em maio de 2018.
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Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

RESILIÊNCIA SOCIOECOLÓGICA NO ASSENTAMENTO


RURAL SANTA HELENA: EXPERIÊNCIAS NO ÂMBITO DA
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Vaz, Renata M. G. F. C.1; Figueiredo, Rodolfo A.2; Fialho, Amanda M.3; Grilli, Victor
M.3; Morales, Lucas S.3
1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais/UFSCar,
remaria.guerreiro@gmail.com;
2
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais/UFSCar,
rodolfodcam@gmail.com;
3
Graduanda/o em Análise e Gestão Ambiental/UFSCar, amandammaltez@hotmail.com,
grillivictor@gmail.com, lucs.morales@gmail.com,

Resumo: A produção agroecológica e a permanência das/os agricultoras/es no campo são


desafios presentes na sociedade de hoje em nosso país, sendo que a agricultura familiar é
responsável por praticamente toda a produção de alimentos consumida pelas/os
brasileiras/os, e a valorização dos alimentos saudáveis, orgânicos e/ou agroecológicos é
crescente em todo mundo. Os assentamentos rurais constituem-se em áreas essenciais da
reforma agrária brasileira, e o assentamento Santa Helena, localizado no município de
São Carlos (SP), destaca-se pela sua produção agroecológica de hortaliças, legumes e
frutas. A fim de colaborar com esta comunidade de agricultoras/es, formou-se um grupo
de extensão universitária na UFSCar com o intuito de fazer um diagnóstico
socioambiental participativo junto a elas/eles, assim como criar uma agenda de ações
pautada nas demandas locais e na experiência do grupo extensionista, embasado no
referencial teórico da resiliência socioecológica e na metodologia participante. Como
resultado dessa parceria, foram feitos trabalhos formativos, mutirões agroecológicos,
rodas de conversa, oficinas e avaliações sobre o desenvolvimento do trabalho. Conclui-
se que a parceria potencializou o fortalecimento da resiliência socioecológica das/os
assentadas/os.
Palavras-chave: Agroecologia; Reforma Agrária; Metodologia Participante.

1. Introdução
O presente trabalho é fruto de um projeto de extensão universitária desenvolvido
por um grupo de estudantes de graduação do bacharelado em Gestão e Análise Ambiental
e da pós-graduação em Ciências Ambientais, juntamente com um professor coordenador
do Departamento de Ciências Ambientais, todas/os da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar). O projeto intitulado “Ações para fortalecimento da resiliência do
sistema socioecológico Assentamento Rural Santa Helena, município de São Carlos (SP)”
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
foi desenvolvido durante o segundo semestre de 2017, com apoio da Pró-Reitoria de
Extensão (ProEx) da UFSCar.
A extensão, para nós, é entendida como comunicação, no sentido profundo e
verdadeiro da palavra, como nos indica Paulo Freire (2006) em sua obra Extensão ou
Comunicação? “[...] o conhecimento não se estende do que se julga sabedor até aqueles
que se julga não saberem; o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo,
relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica dessas relações”
(FREIRE, 2006, p. 36). Ainda, o mesmo autor enfatiza a importância do diálogo entre os
sujeitos para a construção do conhecimento. Entre os vários motivos que o torna
indispensável, ele destaca:

[...] a de diminuir a distância entre a expressão significativa do


técnico e a percepção pelos camponeses em torno do significado.
Deste modo, o significado passa a ter a mesma significação para
ambos. E isto só se dá na comunicação e intercomunicação dos
sujeitos pensantes a propósito do pensado, e nunca através da
extensão do pensado de um sujeito até o outro. (FREIRE, 1977,
p. 68).

Ainda, sobre a importância da dialogicidade, Freire (1987, p. 45) esclarece:

[...] o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro


que se solidariza o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados
ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se
a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem
tampouco tornar-se simples troca das ideias a serem consumidas
pelo permutantes.

A agricultura familiar, foco das ações realizadas, é imprescindível para a produção


de alimentos no Brasil. Segundo o IBGE (2006, p. 20), "apesar de cultivar uma área menor
com lavouras e pastagens [...] a agricultura familiar é responsável por garantir boa parte
da segurança alimentar do país, como importante fornecedora de alimentos para o
mercado interno". O Assentamento Rural Santa Helena é um Projeto de Desenvolvimento
Sustentável (PDS Santa Helena), criado em 2005 no município de São Carlos (SP). Ele é
composto por 14 famílias, cada uma com seu próprio lote de cerca de 5,3 hectares,
utilizados para a produção agropecuária. Além disso, oito famílias do Assentamento
integraram em 2014 a Organização de Controle Social Nova Santa Helena que, em
parceria com Ministério de Desenvolvimento e Agrário e o SENAR-SP (Serviço Nacional
de Aprendizagem Rural), oficializou a produção orgânica e assim garante sua qualidade
e rastreabilidade. Atualmente, seis dessas famílias permanecem associadas.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A resiliência socioecológica, base teórica escolhida pelo grupo para entender a
dinâmica atual das/os assentadas/os do Santa Helena, vem cada vez mais sendo utilizada
para a compreensão de sistemas integrados por ecossistemas e sociedades humanas que
apresentam retroalimentação recíproca e interdependência (SALAS-ZAPATA et al.,
2011), uma vez que tem a potencialidade de verificar as pressões que tais sistemas sofrem
e suas possibilidades de adaptação ou transformação em uma realidade em constante
transformação (BUSCHBACKER, 2014). De acordo com Walker et al. (2004), resiliência
é a capacidade do sistema continuar a apresentar as mesmas funções, estruturas e
feedbacks ao passar por mudanças abruptas ou graduais, sejam estas de ordem natural ou
social. O sistema socioecológico, então, poderá absorver tais distúrbios e se reorganizar
de modo a manter a identidade (FOLKE et al., 2010).
As pessoas são as responsáveis por moldarem os sistemas socioecológicos através
de suas ações de manejo e tais ações, intencionais ou não, influenciam a resiliência do
sistema. O aprendizado sobre os atributos de um sistema socioecológico resiliente,
portanto, podem levar as pessoas a terem novas percepções sobre as pressões, as
mudanças ocorridas e as possibilidades de rumos para o futuro desenvolvimento do
sistema. Krasny et al. (2011) indicam que tal aprendizado deve se dar através da
observação, da ação e da reflexão sobre as formas de manejo dos recursos
socioambientais atuais e de como tais práticas podem ser aperfeiçoadas.
O trabalho foi realizado com o objetivo de fazer um diagnóstico socioambiental
participativo preliminar e construir uma agenda de atividades em comum com as/os
agricultoras/es do assentamento, abarcando demandas socioprodutivas e de cunho
educativo para o fortalecimento da resiliência socioecológica, diante das habilidades
presentes nos membros das/os extensionistas e interesse mútuo por parte das/os
assentadas/os.

2. Metodologia
A abordagem do trabalho encontra-se no âmbito das metodologias participativas,
que têm como principal característica a construção coletiva de compreensões e de ações
(FREIRE, 2006). Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (2017), as
metodologias participativas estão baseadas "nos princípios da ética, interdisciplinaridade,
participação, transversalidade, coerência, universalização, compromisso,
interinstitucionalidade e no respeito às diversidades étnicas, culturais e ideológicas". A
equipe, durante o desenrolar das atividades, esteve em constante diálogo com as/os

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agricultoras/es familiares do Assentamento Rural Santa Helena a fim de construírem e
reconstruírem suas compreensões de mundo tendo por base o conceito de resiliência
socioambiental.
Para o desenvolvimento de um diagnóstico participativo, foram elencados os
problemas socioambientais locais, que permitiram ao coletivo fazer uma análise das
interações existentes entre as/os moradoras/es do assentamento, na qual se destacaram as
relações comunitárias internas e externas relacionadas à produção agroecológica,
aspectos ambientais, organizacionais e políticos. Tassara e Ardans (2007, p. 36) afirmam
que as ações sobre um determinado território devem se fundamentar na elaboração, em
um primeiro momento, de um diagnóstico socioambiental, pois, pautando-se nesse
exercício, é possível desenvolver uma intervenção democrática junto ao grupo escolhido.
O diagnóstico pode ser entendido como

[...] uma ação intelectual de desconstrução dos silenciamentos


subjacentes à produção de não-realidades socioambientais,
silenciamentos estes lidos em função das perdas psicossociais
identificadas em relação a um padrão de desejabilidade apoiado
sobre elos indissociáveis entre democracia, território e
sustentabilidade (TASSARA; ARDANS, 2007, p. 56).

A pesquisa-ação também foi referência para o desenvolvimento do trabalho, pois


é considerada um tipo de pesquisa participante engajada, que busca unir a pesquisa à
prática, ou seja, desenvolver o conhecimento e a compreensão como parte da prática.
Diferentemente das pesquisas tradicionais, permite a intervenção na prática, de modo
inovador, ainda no desenvolvimento do processo da pesquisa, e não apenas com
recomendações em sua finalização. Pode ser aplicada em qualquer ambiente de interação
social que se caracterize por um problema, no qual se incluem pessoas, tarefas e
procedimentos (ENGEL, 2000).
A questão da transformação de uma situação inicial para uma final, ou seja, a
desejada, é definida em função da estratégia ou dos interesses das/os atrizes/atores. Nessa
abordagem é necessário que as normas e critérios sejam constantemente relembrados na
busca de soluções (THIOLLENT, 2011).

3. Resultados e Discussão
Como forma de manter o vínculo, estreitar laços com as/os agricultoras/es e
organizar o planejamento participativo das ações, o grupo esteve presente no momento

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
em que elas/es se utilizam para montar as cestas agroecológicas para a entrega às/aos
consumidoras/es, que ocorre todas as segundas-feiras, no centro comunitário do
assentamento.
Foram feitas reuniões entre as/os participantes da equipe executora do projeto, nas
quais foi realizado o aprofundamento da equipe na temática resiliência em sistemas
socioecológicos, assim como o planejamento e a avaliação de ações realizadas no
assentamento. Também foram realizados encontros entre a equipe executora do projeto
com as/os as/os agricultoras/es para diagnóstico e troca de conhecimentos e experiências
sobre resiliência.
O diagnóstico socioambiental participativo traz uma série de elementos
importantes para a compreensão do quadro complexo que é um sistema socioecológico.
Por meio do diagnóstico, associado às visitas ao assentamento, foi possível registrar
algumas percepções particulares, mas comuns às/aos assentadas/os. As questões
abordadas visavam identificar perfis do grupo (nome, sexo, idade, estado civil etc.), as
moradias, história de vida das/os agricultoras/es, motivações e objetivos pessoais,
aspectos socioeconômicos, além de percepções relacionadas à vida coletiva.
Destacou-se que o perfil da produção familiar é relativamente variado, havendo
cultivo de milho, mandioca, banana, mamão, couve, repolho, abóbora, feijão, entre
outros. Uma parte é destinado ao autoconsumo, grande parcela é comercializada e o
excedente é destinado para alimentação dos animais de criação. A produção animal é de
galinhas, leitões e vacas, em pequena escala.
O cultivo de orgânicos se mostrou interessante após um curso sobre o tema
realizado pelo SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) no assentamento,
fazendo com que algumas famílias passassem a ter mais confiança na produção orgânica.
Nesse sentido, obtiveram-se respostas relacionadas à utilização do neem (inseticida
biológico), a partir da planta encontrada na propriedade. Alguns também relataram que já
sofreram intoxicação pelo uso de agrotóxicos em seus trabalhos antecedentes.
No que diz respeito às relações comunitárias, consideram que há necessidade de
aperfeiçoar o trabalho no coletivo, embora desenvolvam diversas atividades em conjunto,
e para alguns esta questão é de grande valor. As atividades que reúnem uma parte maior
das/os assentadas/os é a montagem das cestas e as aulas que frequentavam do EJA
(Educação de Jovens e Adultos). Percebeu-se certa naturalidade com a situação das
perguntas, uma vez que muitas/os universitárias/os e coletivos visitam o assentamento.

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Dentre os aspectos socioeconômicos, destacou-se o escoamento de produtos
especialmente pelas cestas, PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e PAA
(Programa de Aquisição de Alimentos), e também o Restaurante Universitário da UFSCar
como uma oportunidade de comercialização interessante. As/os assentadas/os relataram
serem provenientes de diversas regiões do país (Nordeste, Sul), com ricas trajetórias de
vida e de luta até conquistarem a terra no atual assentamento.
Uma vez que o processo de construção de vínculo entre o grupo de extensão e a
comunidade exige tempo, tranquilidade e confiança, o diagnóstico socioambiental se
mostrou como uma ferramenta de aproximação, tendo em vista sempre a importância das
pessoas sentirem-se confortáveis em responder ou não às perguntas. Deste modo, as
questões foram abordadas buscando a maior naturalidade possível e em forma de
conversa.
Entre demandas levantadas no diagnóstico socioambiental destacou-se a
necessidade da realização de mutirões, tendo em vista o fato que grande parte das famílias
produtoras de orgânicos se constituem de casais de idade avançada, e muitas/os de
suas/seus filhas/os não residem nos lotes. Portanto, há necessidade de mão-obra
complementar para que o trabalho seja exitoso. Desta maneira, foram feitos cinco
mutirões em alguns lotes específicos, nos quais foram realizados manejos das áreas de
cultivo juntamente com as/os agricultoras/es. Além disso, e também como resposta a
questões colocadas pelas/os assentadas/os, foi realizado um dia de campo com um
engenheiro agrônomo colaborador, que tratou de assuntos como sanidade do solo e
nutrição de plantas em cultivos agroecológicos, realizou uma oficina prática para captura
de microrganismos eficientes (E.M.), prática de podas em árvores frutíferas em sistemas
agroflorestais, entre outras atividades.
A equipe do projeto de extensão participou da organização da festa julina do
assentamento e do coletivo que organizou a Primeira Semana de Agricultura Orgânica do
Município de São Carlos, em cujas reuniões compareceram diversos setores da sociedade
civil organizada, além do vereador que propôs o projeto de lei instituindo a Semana e do
Secretário Municipal de Agricultura. Um dos eventos da Semana foi realizado no
Assentamento Santa Helena e resultou na constituição da primeira feira exclusivamente
de produtos orgânicos do município de São Carlos, que iniciou as atividades em dezembro
de 2017.
Foram cerca de 20 agricultoras/es diretamente envolvidas/os, tendo em vista que
ao longo das reuniões compareceram 14 agricultoras/es e que nos mutirões, além delas/es,

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também seus familiares se agregaram nos afazeres. O público direto foi menor que o
inicialmente esperado, uma vez que metade das famílias do assentamento não se envolveu
nas atividades do projeto. As razões do não envolvimento possivelmente estão ligadas a
essas famílias não trabalharem com agricultura de base ecológica e não terem
disponibilidade de tempo para atender às reuniões e mutirões. O envolvimento dessas
famílias, portanto, é um desafio a ser encarado e superado na continuidade das atividades.

4. Conclusão
Pode-se concluir, portanto, que a realização do projeto de extensão promoveu
resultados relevantes no tocante a fortalecer a resiliência socioecológica do Assentamento
Rural Santa Helena, posto que os mutirões e o dia de campo com a assessoria foram
executados tendo por base as fragilidades detectadas no diagnóstico socioambiental
participativo com o grupo de agricultoras/es que trabalham com a produção orgânica e se
constituem em uma associação. Além disso, o capital social da comunidade foi ampliado
pela integração com o pessoal da universidade.
Para o grupo proveniente da UFSCar, o projeto se constituiu em uma oportunidade
de entrar em contato com uma comunidade extramuros da universidade, aprendendo com
ela e podendo colocar em práticas conhecimentos adquiridos em seus cursos. Além disso,
o projeto proporcionou a possibilidade de uma das estudantes de graduação realizar sua
monografia de final de curso na comunidade e de uma pós-graduanda incluir a
comunidade de agricultoras/es do Assentamento Santa Helena como um dos focos de sua
tese de doutoramento.

Referências
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preparar para um futuro imprevisível? Boletim Regional, Urbano e Ambiental, v. 09,
p. 11-24, 2014.
ENGEL, G.I. Pesquisa-Ação. Educar, n. 16, p. 181-191, 2000.
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FREIRE, P. Extensão ou comunicação? 13ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
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ANÁLISE SOBRE O BALANÇO HÍDRICO E ENERGÉTICO NA


BACIA DO RIBEIRÃO FEIJÃO/SP NO CONTEXTO DA
AGRICULTURA SINTRÓPICA

Barbosa, Mariana A. G. A.1; Anjinho, Phelipe S.2; Mauad, Frederico F.3

1,2
Universidade de São Paulo. Contato: mariana.abibi@usp.br;
phelipe.anjinho@usp.br.
3
Orientador. Universidade de São Paulo. Contato: mauadffm@sc.usp.br

Resumo: A agricultura sintrópica é um método alternativo de produção que busca manter


a resiliência e a sustentabilidade das áreas agrícolas. O entendimento do comportamento
dos balanços hídrico e energético são de suma importância ao planejamento das
atividades agrícolas. Com objetivo de estimar o balanço hídrico e energético da bacia
hidrográfica do Ribeirão Feijão e discutir a relação biunívoca entre agricultura sintrópica
com a dinâmica hidroenergética, são utilizadas fórmulas baseadas em parâmetros físicos,
medidos em estações meteorológicas, para o cálculo da radiação líquida e do
déficit/excedente de água no solo. Os resultados mostram, conceitualmente, a necessidade
de irrigação nas áreas da bacia do Ribeirão Feijão entre os meses de abril e outubro. Desta
forma, a discussão sobre a implementação de modelos de agricultura sintrópica evidencia
as vantagens sociais, ambientais e econômicas no contexto do melhor aproveitamento do
uso do solo.
Palavras-chave: Balanço; Energia; Água; Solo; Sintropia.

1. Introdução

A agricultura é uma atividade complexa que interage constantemente com o meio


ambiente. Tal interação pode implicar em perdas de produtividade por estressores bióticos
e abióticos, sendo necessário desenvolver medidas alternativas para contornar as
incertezas no campo.
O atual modelo agrícola, baseado na agricultura convencional, proporciona a
utilização excessiva e insustentável dos recursos naturais, por meio do uso abusivo de
defensivos agrícolas, máquinas, monoculturas intensivas e criação de animais (BEUS &
DUNLAP, 1990 apud MATSUMURA, 2016). Tal modelo degrada os ecossistemas
naturais, sobretudo pelas modificações na dinâmica hidrológica e energética, resultando
na escassez de água na bacia de contribuição e no aumento da entropia dos sistemas
terrestres.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Por outro lado, os modelos alternativos, como a agricultura sintrópica, têm como
principal objetivo conciliar agricultura e meio ambiente, com foco na sustentabilidade das
unidades de produção.
A agricultura sintrópica, desenvolvida pelo pesquisador Ernst Götsch, é um
método alternativo de produção, baseado na própria estrutura, funcionamento e dinâmica
dos ecossistemas naturais, de forma a manter a resiliência e a sustentabilidade das áreas
agrícolas. Diferentemente dos modelos convencionais, a agricultura sintrópica tem como
foco a implantação de sistemas com alta biodiversidade, sucessão natural das espécies e
recuperação da qualidade ambiental, proporcionando maior estabilidade
(AGENDAGOTSCH).
O conhecimento e a compreensão dos componentes envolvidos nos balanços
hídrico e energético são de suma importância ao planejamento das atividades agrícolas,
sobretudo para o entendimento e modelagem dos processos de transferência de água e
energia entre os sistemas solo-planta-atmosfera (LIMA, 2004).
Diante desse contexto, o presente estudo tem como objetivo estimar o balanço
hídrico e energético da bacia hidrográfica do Ribeirão Feijão e discutir a relação
biunívoca entre a agricultura e a dinâmica hidroenergética do ambiente.
Para tal, foram utilizadas técnicas de equacionamento dos componentes da
radiação solar para estimar o balanço de energia, considerando que o balanço de ondas
longas e o balanço de ondas curtas regem a quantidade de energia disponível no sistema.
E ainda, foram calculados valores de evapotranspiração potencial, inseridos no contexto
do roteiro proposto por Thornthwaite & Mather (1955) para o cálculo do balanço hídrico
normal.

2. Material e métodos

2.1 Caracterização da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Feijão

A bacia hidrográfica do Ribeirão Feijão está localizada na região centro-leste do


Estado de São Paulo entre os paralelos 22° 1' 43" S e 22° 13' 46" S e meridianos 47° 53'
34" W e 47° 42' 31" W. A bacia ocupa uma área de 239,97 km² e está inserida na Unidade
de Gerenciamento dos Recursos Hídricos do Estado de São Paulo (URGHI 13) dos rios
Tietê e Jacaré – Guaçu, e abrange os municípios de Analândia, Itirapina e São Carlos
(FIGURA 1).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A bacia está situada no interior da Área de Proteção Ambiental de Corumbataí.
No que concerne ao uso e ocupação do solo, a região possui características estritamente
rurais, com predomínio de pastagens para a criação de gado bovino, além de áreas
voltadas para atividades agrícolas, especialmente para culturas de café, cana-de-açúcar,
citrus, milho, áreas de reflorestamento com destaque para a produção de Pinus e
Eucaliptus e alguns fragmentos de áreas naturais como os campos e cerrados (TEIXEIRA,
1993 apud RODRIGUES, 2001).

FIGURA 1 - Mapa de localização da bacia hidrográfica do ribeirão Feijão.

2.2 Balanço energético

O espectro de distribuição da radiação solar que chega à superfície terrestre é


constituído predominantemente de ondas curtas (comprimentos menores que 3.000 nm).
A radiação de onda curta, ao interagir com a atmosfera e a superfície, sofre processos de
atenuação (absorção, difusão e reflexão), sendo que uma parte do que chega ao limite
externo da atmosfera (Qo) atinge a superfície (Qg), onde outra parte sofre também
reflexão (rQg).
Ainda, os corpos terrestres são também emissores de energia radiante, mas com
um espectro de comprimento de ondas longas (comprimentos de onda acima de 3.000

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
nm). A quantidade de energia, está também relacionada à temperatura de emissão do
corpo, pela lei de Stefan-Boltzmann (PEREIRA, ANGELOCCI e SENTELHAS, 2007).
Para cada instante haverá um balanço de radiação (Rn) que é característico da
superfície. Esse balanço de radiação (radiação líquida) é composto do balanço de onda
curtas (BOC) e do balanço de ondas longas (BOL), podendo ser representado por:

Rn = BOC + BOL (1)

O BOC é calculado a partir do valor de radiação medido, subtraindo-se a parcela


refletida, que é proporcional ao coeficiente de reflexão da superfície (r).

BOC = Qg – rQg (2)

O valor de r utilizado foi de 25%, que representa um valor médio do intervalo


referente aos valores característicos de uma superfície coberta por gramado.
O BOL diário pode ser estimado a partir de medidas meteorológicas feitas em uma
estação, por equações empíricas, como a de Brunt adaptada por Doorenbos & Pruitt
(1975). Os cálculos para se obter o valor do BOL são realizados em uma planilha Excel,
para valores diários de Qg, conforme Equação 3.

(3)

Sendo: Tmed(K)^4 = ((Tmáx+273)^4+(Tmín+273)^4)/2

Ea = (((Esmáx+Esmín)/2)*URméd)/100
Esmáx = 0,6108*10^((7,5*Tmáx)/(237,3+Tmáx))
Esmín = 0,6108*10^((7,5*Tmín)/(237,3+Tmín))
Qgs = (0,75+2*10^-5*Altitude)*Qo
Qo = 37,6*(Sen (φ)*SEN(δ)*hn*(PI/180)+COS(φ)*COS(δ)*SEN(hn))*(d/D)2
φ = Latitude = -21,96 δ = 23,45*SEN(360*(NDA-80)/366*PI/180);
NDA = número de dias acumulados
(d/D)2 =(COS(360/365*NDA)))*0,033+1)
hn = Arc.cos (-1*TAN(δ)*TAN(φ))
Os cálculos apresentados são estimativas válidas para casos em que os valores
de radiação líquida não são medidos diretamente.

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2.3 Balanço hídrico do solo

O balanço hídrico é a contabilização da água do solo, resultante da aplicação do


Princípio de Conservação de Massa num volume de solo vegetado. A variação de
armazenamento de água no volume considerado (∆ARM), por intervalo de tempo,
representa o balanço entre o que entrou e o que saiu de água do volume de controle
(Equação 4).
±ALT = P – ETR – EXC (4)
A precipitação (P) é um parâmetro com monitoramento amplamente difundido,
possuindo grande base de dados disponíveis. A evapotranspiração real (ETR) é um fator
que depende da evapotranspiração potencial (ETP) e da disponibilidade hídrica do solo.
Caso a disponibilidade de água seja maior que a ETP, o excedente hídrico (EXC)
corresponde à parcela drenada para fora do volume de controle do solo.
Conceitualmente, a ETP é limitada apenas pelo balanço vertical de energia, ou
seja, pelas condições do ambiente local, podendo ser estimada por fórmulas teórico-
empíricas desenvolvidas e testadas para várias condições climáticas e é um valor
indicativo da demanda evapotranspirativa da atmosfera de um local, num período. E a
ETR é a quantidade de água realmente utilizada, com ou sem restrição hídrica.
A ETP pode ser estimada por vários métodos, que consideram parâmetros
medidos nas estações. O método de Thornthwaite é um método simples, que exige
somente dados de temperatura e tem boa aplicabilidade na escala mensal. Outro método,
de Penman-Monteith, é bastante representativo, mas de difícil aplicação, pois requer uma
variedade de dados meteorológicos, que nem sempre estão disponíveis (PEREIRA,
ANGELOCCI e SENTELHAS, 2007).
O método de Thornthwaite:

ETP = ET*Correção (5)

Sendo: ET = 16(10*Tméd.mensal/I)^a
I=
a = 6,75*(10^-7)*I^3 - 7,71*(10^-5)*I^2 + 1,7912*(10^-2)*I + 0,49239
Correção = (ND/30)*(N/12); ND = número de dias do mês; N = fotoperíodo médio
mensal.
Quando a disponibilidade de água não é suficiente para suprir o processo de
ETP, ocorre o déficit hídrico (DEF), que é estimado pela diferença:
DEF = ETP – ETR (6)

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A lâmina de água correspondente ao intervalo de umidade do solo é denominada
CAD (Capacidade de Água Disponível) e é o parâmetro que caracteriza a capacidade do
tipo de cultura em utilizar a água disponível no solo. Diferentes plantas possuem
diferentes valores de CAD, no entanto, neste trabalho é adotado um valor médio igual a
100 mm, que abrange a faixa entre culturas anuais e culturas perenes, que correspondem
a maior parcela do uso do solo no Ribeirão Feijão.
Assim, a partir do roteiro proposto por Thornthwaite & Mather (1955), pode-se
calcular o balanço hídrico por meio da seguinte sequência (PEREIRA, ANGELOCCI e
SENTELHAS, 2007):

(7)
(8)

(9)

(10)

, quando ALT ≤ 0 (11)

(12)

(13)

(14)

Considerando que as colunas do Neg-AC e do ARM devem ser preenchidas


simultaneamente, para depois prosseguir com o cálculo referente às outras colunas, a
coluna do Neg-AC deve ser preenchida a partir do primeiro mês negativo de P-ETP e o
armazenamento correspondente é:

ARM = CAD* (15)

Essa relação deve ser mantida enquanto P-ETP apresentar valores negativos. A
partir do primeiro mês com P-ETP positivo:

(16)

(17)

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3. Resultados

O cálculo da radiação líquida foi realizado a partir dos dados obtidos no sistema
da Estação da Embrapa Pecuária Sudeste para o ano de 2016 (Coordenadas geográficas
da estação meteorológica: -21,96 S, -47,84 O, 860 m), apresentados na Tabela 1.
A partir da sequência de cálculos demonstrada no item anterior, determinou-se
os valores do BOL, BOC e do balanço de radiação, Rn (Tabela 2). A quantidade de
energia é expressa por unidade de área e de tempo.

TABELA 1 – Entrada de dados meteorológicos – ano 2016.

Mês TMÉDIA TMÁX TMÍN URMÉD URMÁX URMÍN Prec. Vento Qg


o o o
C C C % % % mm m/s MJ/m2.dia
Jan 22,7 28,5 19,2 85,7 97,6 64,6 495 2,4 19,01
Fev 23,8 30,2 19,9 82,3 97,2 56,5 150,6 1,8 19,89
Mar 23 29,4 19 83,5 97,2 59,2 201,3 2 18,38
Abr 23,6 30,4 18,8 65,2 84,1 41,6 7,2 1,8 19,39
Mai 18,9 25 14,9 77,4 91,2 55,6 149,7 2,1 13,48
Jun 17,3 23,5 13 75,4 89,7 52,7 98,8 1,9 13,92
Jul 19,3 26,3 13,9 59,7 80,1 35,7 2,6 1,9 16,56
Ago 20 27 14 63,3 85,4 39 56,2 2,3 17,13
Set 20,8 28,5 14,8 64,3 87,3 37,4 31,8 2,7 20,89
Out 21,8 29,4 16,6 73,8 93,7 46,9 172,2 2,9 21,07
Nov 21,8 28,5 17,2 79,3 95 54,7 228,6 2,6 21,42
Dez 23,1 29,8 18,4 78,5 95,7 52,3 202,2 2,3 22,92

TABELA 2 – Valores do balanço de radiação.

Mês BOL BOC Rn


MJ/m2.dia MJ/m2.dia MJ/m2.dia
Jan -2,01 14,26 12,25
Fev -2,25 14,92 12,67
Mar -2,45 13,79 11,34
Abr -4,06 14,55 10,49
Mai -3,20 10,11 6,91

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Jun -4,17 10,44 6,27


Jul -5,22 12,42 7,20
Ago -4,29 12,85 8,56
Set -4,18 15,67 11,49
Out -3,12 15,80 12,67
Nov -2,70 16,01 13,31
Dez -2,76 17,19 14,43

A partir do balanço de radiação, o valor de radiação líquida indica a quantidade


de energia que fica disponível na área da bacia do Ribeirão Feijão. Nos sistemas
vegetados, essa energia captada pode ser utilizada no aquecimento do ar e das plantas (H,
calor sensível), no aquecimento do solo (G), na evapotranspiração (LE, calor latente), e
nos processos de sínteses biológicas (F) (PEREIRA, ANGELOCCI e SENTELHAS,
2007).
Se considerarmos que, na evapotranspiração, parte da energia é transformada em
calor latente de vaporização, toda vez que a superfície estiver bem umedecida, a maior
parte da energia disponível é utilizada nessa transformação, o que representa 70 a 80% da
Rn. Em épocas mais secas, a maior parcela de energia disponível é convertida em
aumento de temperatura (PEREIRA, ANGELOCCI e SENTELHAS, 2007).

FIGURA 2 – Gráfico do balanço de radiação.

O gráfico apresentado na Figura 2 mostra claramente o padrão da incidência de


radiação na região onde está localizada a bacia do Ribeirão Feijão. Por estar localizada
em latitudes da faixa tropical do hemisfério sul, a radiação líquida é alta nos meses de
verão e tende a diminuir nas épocas próximas aos meses de inverno.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Ainda, a partir dos dados de temperatura média e precipitação normais para o
município de São Carlos (CEPAGRI, 2017), e assumindo que o armazenamento (ARM)
inicial é igual ao CAD (uma vez que janeiro se encontra no período chuvoso), é calculado
o balanço hídrico normal, como caracterização da região. A ETP apresentada na Tabela
3 foi estimada pelo método de Thornthwaite, como demonstrado anteriormente.

TABELA 3 – Dados normais de temperatura e precipitação e balanço hídrico normal para o munícipio de
São Carlos/SP. Estimativa da ETP por Thornthwaite.

Mês T oC P ETP P-ETP NegAC ARM ALT ETR DEF EXC


mm mm mm mm mm mm mm mm
Jan 23,0 268,7 111,77 156,9 0,0 100,0 0,0 111,8 0,0 156,9
Fev 23,0 227,4 101,89 125,5 0,0 100,0 0,0 101,9 0,0 125,5
Mar 23,0 136,7 104,33 32,4 0,0 100,0 0,0 104,3 0,0 32,4
Abr 22,0 59,4 86,03 -26,6 -26,6 76,6 -23,4 82,8 3,3 0,0
Mai 19,0 49,7 59,67 -10,0 -36,6 69,3 -7,3 57,0 2,7 0,0
Jun 18,0 32,1 48,91 -16,8 -53,4 58,6 -10,7 42,8 6,1 0,0
Jul 18,0 15,5 50,27 -34,8 -88,2 41,4 -17,2 32,7 17,6 0,0
Ago 20,0 26,6 66,49 -39,9 -128,1 27,8 -13,6 40,2 26,3 0,0
Set 21,0 68,9 76,04 -7,1 -135,2 25,9 -1,9 70,8 5,2 0,0
Out 22,0 132,8 92,57 40,2 -41,4 66,1 40,2 92,6 0,0 0,0
Nov 22,0 164,9 94,10 70,8 0,0 100,0 33,9 94,1 0,0 36,9
Dez 23,0 240,1 111,35 128,7 0,0 100,0 0,0 111,4 0,0 128,7

FIGURA 3 – Balanço hídrico normal para o município de São Carlos/SP.

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De maneira geral, o balanço hídrico normal para a Bacia do Ribeirão Feijão
apontou para um grande volume de excedente no meses de dezembro, janeiro e fevereiro,
devido à alta pluviosidade, e valores mais equilibrados para o resto do ano. O período
entre abril e outubro, sob uma perspectiva de cultivos agrícolas, necessitou um
incremento de água como entrada no volume de controle, sendo representado pela parcela
da irrigação, que não foi levada em consideração nesta análise do balanço.

4. Discussão

A partir da definição do conceito de agricultura sintrópica, como método


alternativo de produção que busca manter a resiliência e a sustentabilidade das áreas
agrícolas, práticas como os sistemas agroflorestais (SAF’s) buscam sistematizar esse
conceito.
Nesse sentido, os SAF’s são sistemas que buscam regenerar florestas e ampliar
as áreas de proteção recuperando pastagens e áreas desmatadas com manejo,
diversificação das espécies e práticas conservacionistas. Indicam serem manejos
oportunos à recuperação de áreas degradadas, favorecendo a conservação,
proporcionando lucratividade adicional na renda de famílias rurais e diversificação na
produção de alimentos com menos ou nenhum agrotóxico (NEVES, 2015).
Estudos sugerem efeitos positivos sobre o solo, aumento da fertilidade devido à
maior fixação de nitrogênio e aumento da biodiversidade. Para a Bacia Hidrográfica do
Ribeirão Feijão, Neves et al. (2015) calcularam cinco anos para a estabilização de um
SAF implantado nas APPs com o objetivo de recuperação de áreas degradadas integrada
à saúde do trabalhador e produção comercial.
O mapa de uso do solo revelou que 69% das áreas de APP da bacia do Ribeirão
do Feijão estão sendo utilizadas em inconformidade com a legislação. O estado de São
Paulo dispõe de uma legislação que prevê o uso de sistemas agroflorestais como
alternativa de regeneração de APPs (NEVES et al., 2015).
Os cálculos do balanço hídrico mostraram períodos de déficit hídrico, como base
em um CAD que caracteriza cobertura não florestal do solo. Assim, considerando que
grande parcela da bacia do Ribeirão Feijão, principalmente em áreas de APP, não possui
cobertura florestal, pode-se tomar esses valores como representativos da realidade,
indicando a atual necessidade de irrigação.
A evapotranspiração é um componente muito importante na relação hídrica-
energética, uma vez que representa uma parcela significativa no balanço hídrico e é

63
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
diretamente proporcional a energia disponível no sistema. A ET redistribui o vapor da
água e a energia da superfície para a atmosfera, o que reflete as interações entre meio
físico e meio biótico, a complexidade do sistema.
Medidas e modelagem dos fluxos de energia, incluindo a ET, para diferentes
superfícies que tem impacto nos balanços de água e energia, são vitais para melhorar o
planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos. E isso requer medidas de vapor de
água e trocas de energia entre vegetação e microclimas por períodos longos o suficiente
para se entender o comportamento e a dinâmica envolvidos com a transferência de fluxo,
pois assim modelos robustos podem ser desenvolvidos para se estimar os mesmos
processos em diferentes cenários (IRMAK, 2010).
Os avanços científicos das últimas décadas têm permitido quantificar esse
processo complexo para diferentes sistemas agroflorestais e corpos d’água com uma
precisão razoável, no entanto esses avanços são dinâmicos e ainda estão evoluindo para
melhor entendimento do processo e métodos para quantifica-lo (IRMAK, SKAGGS e
CHATTERJEE, 2014).

5. Conclusão

A radiação solar atua diretamente sobre o desenvolvimento e o crescimento das


plantas, e indiretamente pelos efeitos no regime térmico de qualquer sistema terrestre,
assim como sobre a evaporação de água pelas superfícies naturais.
Se aplicado o conceito de agricultura sintrópica por meio dos SAF’s na bacia do
Ribeira Feijão, o esperado é que o balanço hídrico se equilibre, mantendo períodos com
um excedente mínimo, que favorece não apenas a cobertura do solo, mas também os
corpos d’água que drenam a área. E ainda, a diversidade proporcionada pelo SAF interfere
no equilíbrio de espécies animais, que estão diretamente relacionados à cadeia energética
do sistema.
Por fim, mesmo que a melhoria nos balanços de água e energia ainda não seja
precisamente quantificada em situações de agricultura sintrópica, os exemplos e os
conceitos mostram que os benefícios estão presentes nos âmbitos físico, biológico, social
e econômico. A auto sustentabilidade, resiliência e produtividade desses sistemas
comprovam sua viabilidade e motivam recursos financeiros e humanos a atuarem cada
vez mais nessa esfera.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Referências bibliográficas
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IRMAK, S.; SKAGGS, K. E.; CHATTERJEE, S. A Review Of The Bowen Ratio
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LIMA, J. R. Balanço Hídrico e de Energia em Solo Cultivado e sem Vegetação, para as
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Acesso em 19 ago. 2017.

65
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

RECEBIMENTO, REABILITAÇÃO E DESTINO DE PSITACÍDEO


ARARA-CANINDÉ (ARA ARARAUNA, LINNAEUS, 1758), NA
REGIÃO DE ARARAS, INTERIOR DE SÃO PAULO
Barros, Lívia T. S.1; Catojo, Adriana M. Z. 2
1
Universidade Federal de São Carlos; Bacharelado em Ciências Biológicas
livia.tank@hotmail.com
2
Universidade Federal de São Carlos; DCAM; PPGCAm
acatojo@gmail.com

Resumo: Os biomas brasileiros estão cada vez mais comprometidos, principalmente pelo
desmatamento. Grande parte da fauna silvestre, que sobrevive ao desmatamento, passa
por um processo de urbanização. O tráfico de animais também compromete a vida da
fauna silvestre, e a arara-Canindé é uma das espécies prejudicadas. Para receber animais
silvestres apreendidos, resgatados ou entregues espontaneamente, existem os Centros de
Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) e os Centros de Triagem de Animais
Silvestres (CETAS). Em Araras (SP), está localizado o Centro Pró Arara, um CRAS que
recebe somente aves. Uma das espécies mais recebidas é a arara-Canindé: 49 indivíduos
já foram entregues ao centro desde sua criação. Este trabalho teve como objetivo listar as
principais causas do recebimento de araras-Canindé pelo Centro Pró Arara, identificando
a origem dessas ocorrências, além de indicar o destino de algumas araras, com o auxílio
das fichas de entrada e saída desses animais. O maior número de recebimentos foi por
apreensões e entrega espontânea, transferências de outros CRAS e resgate em ambiente
urbano/ou rural. O principal motivo da saída das araras foi a soltura, seguido de morte, e
por devolução à proprietária. Os esforços para a conservação de araras-Canindé são
altamente relevantes já que a espécie é categorizada como Criticamente Ameaçada de
Extinção para o Estado de São Paulo, segundo lista do Governo do Estado de São Paulo
– Secretaria do Meio Ambiente e Fundação Parque Zoológico de São Paulo (2009), por
isso a atuação dos CRAS contribui para uma possível manutenção de populações
ameaçadas e não ameaçadas.
Palavras-chave: arara-Canindé, Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS),
recebimento, destino.

1. Introdução

Os biomas1 brasileiros estão cada vez mais comprometidos pelas ações antrópicas.
No período compreendido entre 2014 e 2015, 18.433 hectares foram desmatados em todo
o território nacional (SOS MATA ATLÂNTICA, 2016). Assim, grande parte da fauna

1
O termo Bioma pode ter sua definição alterada de acordo com cada autor, no presente trabalho entende-se Bioma
segundo Whittaker (1971 apud COUTINHO, 2006)
A major kind of community, conceived in terms of physiognomy, on a given continent, is a biome or formation.
(formation is used when the concern is with plant communities only, biome when the concern is with both plants
and animals...)...we have to use both structure and environment when we define biomes.
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
silvestre, que sobrevive ao desmatamento, passa por um processo de urbanização, ou seja,
passa a buscar acesso, abrigo, água e alimento no meio urbano. Por isso o contato com os
humanos está se tornando comum, o que gera grandes consequências para a vida desses
animais. Se o animal for carismático, atrai a prática da captura e passa a ser criado como
um animal doméstico, como é o caso de muitas aves silvestres, atividade que é proibida
por lei.
Outro fator que compromete a vida da fauna silvestre, principalmente a das aves,
é o tráfico de animais, presente em todo o mundo. No Brasil, é estimado que 38 milhões
de exemplares sejam retirados anualmente da natureza, e que aproximadamente quatro
milhões deles sejam vendidos (DESTRO et al., 2010). Segundo dados de RENCTAS
(2011), a arara-Canindé (Ara ararauna) está entre as espécies comercializadas
ilegalmente para colecionadores particulares e zoológicos.
O Brasil é o país com maior diversidade de psitacídeos do mundo, abrigando 72
espécies reconhecidas (GALETTI; GUIMARÃES JR.; MARSDEN, 2002). Os
Psittaciformes são muito visados para o comércio devido a sua plumagem, geralmente
bem colorida, e por se adaptarem facilmente ao cativeiro (GUEDES, 2004), o que gera
uma ameaça para as espécies dessa Ordem. As araras-Canindé fazem parte da Ordem
Psittaciformes, subdividida nas famílias Cacatuidae e Psittacidae (SICK, 1997). A ordem
é caracterizada por habitar zonas tropicais e possuir características morfológicas bem
conhecidas, como o bico recurvado. Assim como outros animais que se alimentam de
frutos, a arara-Canindé tem um importante papel na dispersão de sementes.
Para receber animais silvestres apreendidos, resgatados ou entregues
espontaneamente por particulares, existem os Centros de Reabilitação de Animais
Silvestres (CRAS) e os Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS). Assim que
chegam, os animais são identificados, marcados e recebem cuidados de um
veterinário para que possam ser devolvidos à natureza ou encaminhados para outros
locais adequados, como criadouros registrados pelo Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), centro de pesquisa ou
zoológico, caso a soltura seja inviável. A diferença entre os dois Centros é que os CETAS
são responsabilidade do IBAMA, e os CRAS são mantidos pelas prefeituras.
Em Araras, o Centro Pró Arara foi criado no ano de 2014 e tem como principal
objetivo a reabilitação de aves silvestres. Desde que foi fundado, já reabilitou 373 aves.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Segundo Mônica Brito2, responsável pelos animais do Centro, uma das espécies mais
recebidas é a arara-Canindé. Quando possível, as araras reabilitadas são encaminhadas
para a área de soltura presente na região, para então voltarem à natureza.

2. Objetivo Geral

O presente trabalho teve como objetivo listar as principais causas de recebimento


de araras-Canindé pelo Centro Pró Arara, desde o início de suas atividades, além de
indicar o destino de algumas araras do CRAS.
Como objetivos específicos, o estudo pretende:
• identificar a origem dessas ocorrências;
• verificar as condições de reabilitação dos animais;
• observar e acompanhar alguns animais logo após a soltura.

3. Material e Métodos

Os dados sobre a origem, condições físicas e destino das araras-Canindé foram


coletados no banco de dados do próprio Centro, através das fichas de entrada e de saída
das aves. As fichas de entrada informam o número da ficha, o número do Boletim de
Ocorrência (quando existente), a espécie e nome científico do animal, o sexo (quando
possível), o número de identificação da anilha, o setor/viveiro em que o animal irá ficar
no CRAS, a data de entrada e o peso, o histórico/origem da ave e os procedimentos
realizados na ave durante sua permanência no CRAS. As fichas de saída informam o
número da ficha, a espécie e nome científico do animal, o sexo (quando possível), o
número de identificação presente na anilha, o setor/viveiro do animal no CRAS, a data de
entrada e o peso no dia da entrada, a data de saída e o peso no dia da saída, o número da
Autorização de Transporte Animal, o tempo de permanência da ave no CRAS, o motivo
da saída da ave e o seu destino. Com base em cada ficha, foram elaboradas tabelas no
Excel com as informações relevantes para este trabalho:
• Entrada: Número da ficha; Boletim de Ocorrência; Sexo; Identificação (ID); Peso;
Data e Hora de entrada; Histórico/Origem; Procedimentos Realizados no CRAS.
• Saída: Número da Ficha; Data e Hora de saída; Motivo da saída; Destino.

4. Resultados

2
Comunicação pessoal da bióloga Mônica Brito, do Centro Pró – Arara, em 17 de outubro de 2016.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
No total foram analisadas 72 fichas, sendo 49 de Fichas de Entrada e 23 de Saída,
somente da espécie Ara ararauna. Os animais que ainda permanecem no CRAS não
possuem fichas de saída.
No período de três anos, desde a criação do CRAS, foram recebidas 373 aves, das
quais 49 eram araras-Canindé sendo que destas, 23 já saíram do centro. O gráfico 1 mostra
a quantidade total de araras-Canindé recebidas e os motivos do recebimento nesse
período.O gráfico 2 mostra a quantidade total araras-Canindé que saíram do CRAS e os
motivos da saída nesse período.

Entrada

Entrega
Espontânea

GRÁFICO 1 – Quantidade total de araras-Canindé recebidas no CRAS de Araras e respectivos motivos, no


perído de 2014 a 2017.

Saída

Soltura

GRÁFICO 2 – Quantidade de araras-Canindé que saíram do CRAS de Araras e respectivos motivos, no perído de
2014 a 2017.

Assim que chegam ao CRAS, as aves são encaminhadas ao ambulatório


(FIGURAS 1 e 2) onde recebem o primeiro atendimento médico, como avaliação da

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
condição física e coleta de material biológico para exames, além de outros atendimentos
mais específicos, caso existam lesões corporais.

FIGURA 1 – Ambulatório do CRAS de Araras, SP. Fonte: Própria autora.

FIGURA 2 – Gaiolas nas quais as aves que chegam ao CRAS de Araras, SP ficam até que seja feito o atendimento
veterinário. Fonte: Própria autora.

Posteriormente vão para a área de quarentena (FIGURAS 3 e 4), local em que


permanecem sob monitoramento por no mínimo 40 dias.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 3 – Área de quarentena do CRAS de Araras, SP. Fonte: Própria autora.

FIGURA 4 – Área de quarentena do CRAS de Araras, SP. Fonte: Própria autora.

Se as condições de saúde dos animais estão boas, eles são encaminhados para os
viveiros. O viveiro 1 (Figura 5) abriga papagaios em reabilitação e os que estão já prontos

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
para a soltura. A Figura 6 mostra os viveiros 2 e 3, que abrigam maritacas em processo
de reabilitação e as que já estão aptas a soltura, respectivamente.

FIGURA 5 – Viveiro número 1, que abriga papagaios em reabilitação no CRAS de Araras, SP.
Fonte: Própria autora.

FIGURA 6 – Viveiros número 2 e 3, que abrigam maritacas em processo de reabilitação e as que já estão aptas a
soltura, respectivamente no CRAS de Araras, SP. Fonte: Própria autora.

A Figura 7 mostra o viveiro número 4, que abriga as araras e os tucanos em


processo de reabilitação e os que já estão prontos para a soltura.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 7 – Viveiro número 4 abriga as araras e os tucanos em processo de reabilitação e prontos para a soltura no
CRAS de Araras, SP. Fonte: Própria autora.

5. Discussão

Os dados mostram que os recebimentos de araras-Canindé pelo CRAS foram


majoritariamente por entrega espontânea por parte de seus proprietários: dos 16 casos
registrados, apenas 1 tinha a posse legalizada. As 16 apreensões realizadas pela Polícia
Militar Ambiental (PMA) tiveram origem em Araras, São J. da Boa Vista, Campinas, Rib.
Preto, Rio Claro, Sta Gertrudes, Mogi Guaçu, Votuporanga, Franca, Sta Fé do Sul,
Taquaritinga e Sta Rita do Passa Quatro. Os psitacídeos, devido a habilidade de imitar a
voz humana, combinada com a inteligência, beleza e docilidade, são as aves mais
populares e procuradas como animal de estimação no mundo (RENCTAS, 2011). No
Brasil, que detém o maior número de espécies do mundo (SICK, 1997), são muito
afetados pelo tráfico nacional e internacional.
A segunda causa do recebimento, 10 animais, foi por transferência de outros
Centros, como o CRAS PET/SP. A transferência foi proposta pela Prefeitura de Araras
para que o CRAS pudesse ser inaugurado, e o CRAS PET aceitou, pois estava com
superlotação de aves em processo de reabilitação.
O resgate em ambiente urbano configurou o terceiro motivo de recebimento:
quatro indivíduos foram resgatados em ambiente urbano - um em uma praça pública, dois
em um parque urbano e outro estava aparentemente perdido no limite urbano de um
município. A ave que estava na praça pública recebia alimento da população, um risco
para o animal, que poderia estar recebendo alimentos inapropriados, e para a própria
população, por se tratar de um animal silvestre.
Dois indivíduos foram regatados em ambiente rural, um deles machucado, por
isso tinha sua saúde comprometida e o outro estava saudável e provavelmente
descansando. O proprietário do local decidiu comunicar as autoridades competentes para

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
fazer o resgate, por se tratar de um animal silvestre. Após o resgate foi constatado que um
dos animais já havia passado pelo CRAS e tinha sido solto.
O processo de reabilitação das araras-Canindé ocorre pelo reestabelecimento das
condições de saúde, e quando são transferidas para o viveiro 4 começam a treinar o voo.
Quando a capacidade de voo é recuperada, aliada à capacidade de alimentação
independente, as aves são encaminhadas para a saída do CRAS. Algumas aves
apresentam lesões irreversíveis nas asas, o que impossibilita o voo.
O destino dos animais é predominantemente o encaminhamento para a área de
soltura, localizada na zona rural de Araras, no Haras Aratinga, mantido por particular,
onde os animais permanecem alguns dias em um viveiro para aclimatação, antes da
soltura. Nesse local existem pontos de alimentação, alguns ninhos artificiais, chamados
de caixas-ninho, e existem muitas árvores e abrigos naturais. Nos primeiros meses após
a soltura, as aves costumam voltar para passar a noite nas árvores do Haras. Com o passar
do tempo, as aves passam a ser independentes e arriscam voos mais distantes. Ocorreram
19 solturas de arara-Canindé no período.
Três indivíduos procedentes do Parque Ecológico do Tietê chegaram ao CRAS
com a saúde comprometida e morreram na semana em que chegaram.
Num dos casos, o animal foi apreendido pela PMA e encaminhado para o CRAS,
mas a proprietária conseguiu reaver a posse por meios judiciais. A responsável pelo
CRAS se assegurou que a arara não sofria maus tratos e recebia alimentação adequada e
redigiu um documento para ser apresentado ao juiz, explicitando a situação. O juiz cedeu
a guarda da ave para a senhora novamente. No começo do ano de 2017 o CRAS recebeu
a notícia de que a arara havia falecido. Na biopsia foi constatado um tumor no oviduto,
que pode ter sido a causa da morte, além de sua idade avançada.
Em março de 2017 ocorreu o primeiro nascimento de um filhote de um casal de
araras-Canindé reabilitadas pelo CRAS e soltas no Haras. Os ovos foram postos em uma
das caixas-ninho presentes no próprio Haras.

6. Conclusões

Os esforços para a conservação de araras-Canindé são altamente relevantes; no


Estado de São Paulo a espécie tem poucos registros de ocorrência recente em ambiente
natural (ANTUNES, apud SÃO PAULO, 2008). Mesmo que não esteja na Lista de
Espécies Ameaçadas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) publicada em 2016, a espécie é categorizada como Criticamente Ameaçada de

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Extinção, segundo a lista de São Paulo (2009). Logo, a manutenção da espécie depende
de medidas a serem feitas a curto prazo.
Os resultados deste estudo mostram que o principal motivo de recebimento de
araras-Canindé no Centro Pró-Arara foram a apreensões realizadas pela Polícia Militar
Ambiental.
Um dos meios de conservação de espécies da fauna silvestre são os Centros de
Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), e por esse motivo o investimento neste
centro deve ser ressaltado junto à Prefeitura Municipal de Araras, para sua manutenção,
aliado a pesquisas científicas sobre o comportamento, genética, ecologia e outras áreas
da biologia, uma vez que no local de soltura (Haras Aratinga), ocorreu recentemente o
nascimento de um filhote. É de suma importância que os CRAS recebam apoio
governamental para que tenham sucesso, desde seu estabelecimento até seu
funcionamento. Seria importante também incentivar os proprietários rurais particulares a
tornar suas terras áreas de soltura.
Uma das opções para os animais que não têm condição de reabilitação é
encaminhá-los para zoológicos legalizados e divulgar as informações junto à população,
para que todos tenham conhecimento dos casos existentes de animais que não conseguem
se recuperar e não podem voltar à vida silvestre, que pode funcionar como forma de
sensibilização e informação educativa.

Referências Bibliográficas

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– 382.

76
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

A PAISAGEM SOB A PERSPECTIVA DE UMA ESPÉCIE


ENDÊMICA DO CERRADO: LAGARTO DA CAUDA AZUL

Ferreira, L.1; Silva, K. F.2; Delgado, B. R.3;


Lopes, L. E.4
1, 2
Discentes do Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental - UFSCar;
larissa10ferreira@gmail.com; karielleferreira@gmail.com
3
Discente do Bacharelado em Recursos Naturais - Universidade Nacional de Rosario;
barbara.r.del@gmail.com)
4
Docente do Departamento de Ciências Ambientais - UFSCar; lucianolopes@ufscar.br

Resumo: A intervenção antrópica por meio do uso do solo acarreta perda ou fragmentação
do habitat. Em paisagens constituídas por manchas de habitat natural em uma matriz
agrícola, a identificação de populações viáveis é relevante para conservação da
biodiversidade. A espécie Micrablepharus atticolus endêmica do cerrado, tem seu habitat
afetado pelo processo de fragmentação da paisagem. Nesse sentido, o intuito do trabalho
é analisar a importância das Unidades de Conservação (UCs) para espécie e quantas áreas
de habitat são capazes de suportar uma população mínima viável em São Carlos e região.
Foi utilizado o mapeamento do Inventário Florestal do Estado de São Paulo de 2009 para
identificar as áreas de habitat e não-habitat para a espécie. Na paisagem com uma área
total de 760.530 ha, apenas 4,61% corresponde a savana. Da área total de savana na
paisagem, 25% encontra-se dentro de UCs. A Área Mínima Viável (AMV) da espécie
encontrada foi de 450 ha. Considerando as manchas maiores que a AMV, 58% da área de
savana encontra-se em UCs. Por outro lado, as manchas maiores que a AMV localizadas
fora das UCs apresentam uma área total de 6.026 ha, ressaltando-se sua importância para
a conservação da espécie. As estratégias para a conservação da biodiversidade nessas
áreas devem ultrapassar os limites das UCs e considerar as características e potencial de
conservação nas manchas vizinhas. Dessa forma, deve existir uma gestão integrada dessas
áreas e das UCs, assim como o desenvolvimento de políticas públicas voltadas aos
habitats de espécies endêmicas.
Palavras-chave: Endemismo; Unidades de Conservação; População mínima viável;
Micrablepharus atticolus.

1. Introdução

O cenário atual de uso e ocupação do solo por atividades antrópicas acarreta


diversos problemas ambientais nos compartimentos dos ecossistemas, assim como
alterações na paisagem e na sua dinâmica de funcionamento. A intervenção antrópica
pode afetar significativamente as comunidades biológicas podendo causar a perda ou
fragmentação do habitat (FRANZ, 2014), sendo uma das ameaças mais comuns que pode
levar a extinção de espécies e a diminuição da biodiversidade (D’EON et al., 2002).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A designação de áreas protegidas é uma medida importante para a conservação
(MCDONALD; BOUCHER, 2011). Uma das estratégias estabelecidas para preservar a
biodiversidade é a conservação in situ dos ecossistemas e seus habitats (SILVA et al.,
2013). Nesse sentido, as Unidades de Conservação são o melhor mecanismo para a
preservação de recursos naturais (HASSLER, 2005).
De acordo com Shaffer (1981), a população mínima viável consiste na menor
população isolada, para qualquer espécie em seu hábitat, com uma alta chance de
sobrevivência por um longo tempo, apesar dos efeitos previsíveis das estocasticidades
demográfica, ambiental e genética, além de catástrofes naturais. Considerando uma
paisagem em que o habitat natural constitui-se em pequenas manchas em uma extensa
matriz agrícola, a estimativa de uma população mínima viável é relevante para a
conservação da biodiversidade.
O Cerrado constitui a savana com maior biodiversidade, mas também a mais
ameaçada globalmente. Já perdeu 48,2% de sua cobertura original e sofre com um intenso
processo de fragmentação de habitats, desta forma a criação de Unidades de Conservação
(UCs), como parques e reservas, é a política pública de conservação mais importante para
essa fisionomia (GANEM et al., 2013).
Esta fisionomia apresenta um alto índice de endemismo, sendo 17% de répteis, e
contudo apresenta apenas 2,2% de áreas legalmente protegidas (KLINK; MACHADO,
2005). O estudo da fauna de lagartos do Cerrado evidencia que a riqueza e endemismos
estão concentrados, principalmente, em ambientes abertos como nos campos e cerrados
de interflúvio. A perda de espécies poderá se concentrar nas espécies endêmicas
dependentes de ambientes abertos (MACHADO et al., 2008), como aponta Klink e
Machado (2005), tais ambientes são exatamente os mais visados pela expansão da perda
de habitats.
A espécie estudada, Micrablepharus atticolus, apresenta características como
endemismo, baixa capacidade de deslocamento à grandes distâncias (considerando o seu
tamanho corporal) e habitat bastante afetado pelo processo de fragmentação da paisagem.
Nesse sentido, o intuito do trabalho é analisar qual a importância das UCs frente a
conservação dessa espécie endêmica e quantas áreas de habitat são capazes de suportar
uma população mínima viável da espécie.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Materiais e métodos

2.1 Área de estudo

A área de estudo corresponde ao município de São Carlos, e todos os municípios


que fazem divisa com seu limite: Descalvado, Ibaté, Ribeirão Bonito, Itirapina,
Analândia, Brotas, Araraquara, Luís Antônio, Rincão, Américo Brasiliense, Santa Lúcia
e Santa Rita do Passa Quatro. Encontram-se presentes nessa área de estudo Unidades de
Conservação, tais como o Parque Estadual de Vassununga, a Estação Ecológica de Jataí,
e as Estações Ecológica e Experimental de Itirapina.

FIGURA 1 - Mapa político de São Carlos e região, localizando os municípios e as Unidades de


Conservação (UCs). Base de dados: IBGE. Org.: Os autores.

O município de São Carlos, localiza-se na região Administrativa Central do


Estado de São Paulo (IGC, 2016), entre as coordenadas geográficas 22°09'39" e
21°35'50" de latitude sul e 48°05'27" e 47°43' 09" de longitude oeste (IBGE, 2016), sendo
que sua altitude máxima é de cerca de 950 m, com um mínimo de 520 m (SOARES;
SILVA; LIMA, 2003).
O clima da região é classificado entre CWA e AW no sistema de Köppen,
representando uma transição do clima quente tropical com inverno seco para tropical com

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
verão seco e inverno úmido (Embrapa-CCPSE, 1999). A vegetação atual é muito
heterogênea, bastante fragmentada e empobrecida, na qual predomina principalmente
cerrado com diferentes fisionomias, matas semideciduais, matas ciliares e áreas de
regeneração (SOARES; SILVA; LIMA, 2003).
A delimitação da área de estudo é arbitrária em relação às características da
espécie estudada, pois não existem critérios para determinar a abrangência da capacidade
de deslocamento dos organismos. Diante disso, adotou-se o município de São Carlos
como a região central e os municípios limítrofes, visando a gestão ambiental de São
Carlos e região.

2.2 Descrição da espécie

A espécie M. atticolus, popularmente conhecida como lagarto da cauda azul, é um


réptil pertencente à família Gymnophthalmidae. Possui o hábito semi- fossorial,
forrageando ativamente na serapilheira durante os períodos mais quentes do dia,
eventualmente ocorrendo dentro de cupinzeiros ou sobre eles. Sua dieta é formada
principalmente de ortópteros, aranhas, baratas e hemípteros (CAMPELO, 2017). Seu
tamanho é de aproximadamente 4 cm, medindo do focinho até a cloaca (DAL VECHIO,
2014).
M. atticolus tem ocorrência restrita no cerrado, com maior freqüência em áreas de
cerrado sensu stricto e campos, sendo rara sua ocorrência em matas de galeria (LEDO,
2009). A distribuição está associada positivamente com altitude e negativamente com as
médias de temperaturas nos trimestres mais secos e nos mais úmidos, coincidindo regiões
mais altas e temperatura mais amena (CAMPELO, 2017). No Brasil encontra-se nos
Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Rondônia, Tocantins,
Pará e Distrito Federal (RODRIGUES, 1996).
Neste sentido, a conservação dessa espécie é importante pois está presente na lista
da fauna ameaçada do Estado de São Paulo, classificada como vulnerável (BRESSAN;
KIERULFF; SUGIEDA, 2009). Estudos realizados demonstram que a ocorrência de M.
atticolus está restrita às fisionomias abertas de cerrado (NOGUEIRA, 2006; THOMÉ,
2006; ARAUJO; SANTOS, 2011), formações vegetais mais vulneráveis ao
desaparecimento no Estado de São Paulo (DURIGAN; RATTER, 2006; ARAUJO;
SANTOS, 2011).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2.3 Procedimentos metodológicos

O presente trabalho teve como base de dados o mapeamento de uso e ocupação


da terra disponibilizado no Sistema de Informações Florestais do Estado de São Paulo de
2009 (SIFESP), a partir do inventário florestal realizado pelo Instituto Florestal da
Secretaria do Meio Ambiente. As classificações dividiam-se em cinco categorias:
Floresta Estacional Semidecidual, Formação Arbórea/Arbustiva em região de Várzea,
Savana, Floresta Ombrófila Densa e Matriz.
Levando em consideração as características e distribuição da espécie baseadas em
informações da literatura, realizou-se uma reclassificação a partir do inventário florestal.
Os critérios adotados foram que as áreas de habitat utilizadas por M. atticolus são
classificadas como savana, enquanto que as demais categorias de não habitat,
classificadas como matriz. Com a imagem reclassificada em savana e matriz, utilizou-se
o programa de Software Fragstats para calcular as métricas da paisagem, onde foram
consideradas:
- Nível da paisagem: TA (área total da paisagem);
- Nível de classe: CA (área total da matriz e da savana) e PLAND (porcentagem da
área total da matriz e da savana);
- Nível de mancha: AREA (área total de cada mancha) e ENN (distância do vizinho
mais próximo da mesma categoria).
Calculou-se a menor área para manter uma população mínima viável da espécie,
a área mínima viável (AMV). Para esse cálculo, dividiu-se o número de indivíduos da
população mínima viável pela sua densidade populacional (ind/ha). A partir desse
resultado encontrado realizou-se uma classificação das manchas de savana em manchas
com uma área maior e com uma área menor que a AMV.
Para a análise de dados, foi adotado um valor de 4189 indivíduos como população
mínima viável adulta (REED et al., 2003), referente à espécie Anolis limifrons,
morfologicamente semelhante à espécie M. atticolus, pois não foram encontrados dados
relativos da espécie estudada. De acordo com Poe (2004) o tamanho corporal para a
espécie A. limifrons é de 4,35 cm, medindo do focinho até a cloaca, semelhante ao da
espécie de interesse. Enquanto que para densidade utilizou-se 9,3 indivíduos/ha (SOUSA
et al., 2015), encontrada para M. atticolus em um estudo realizado em área de cerrado em
Brasília (DF). Não foi encontrado essa informação para o Estado de São Paulo.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A partir da AMV calculada utilizou-se a métrica AREA no nível da mancha para
identificar quantas e quais manchas apresentavam área suficiente para suportar uma
população mínima viável da espécie.
As informações foram inseridas e analisadas utilizando técnicas de
geoprocessamento, através do Sistema de Informação Geográfica (SIG), utilizando-se o
Software ArcGis® 10.4.1. Foram elaborados Planos de Informação no Sistema de
Projeção Geográfica Universal Transversa de Mercator - Fuso 23 Sul, Datum
SIRGAS2000.

3. Resultados e discussões

A área total da paisagem (TA), correspondente à 760.530 ha é composta


principalmente de 725.432 ha de áreas de não-habitat ou matriz, e de 35.098 ha de áreas
de savana ou de habitat para a espécie. Suas porcentagens de ocupação da paisagem
(PLAND) foram de 95,38% (matriz) e 4,61% (savana), respectivamente. A nível de
mancha (AREA), podemos observar que a maioria encontra-se entre 3 e 55 ha, sendo que
150 manchas encontra-se em uma área entre 7 e 20 ha (Figura 2). Enquanto que para
métrica ENN a nível de mancha, obteve-se uma distância mínima de 60 m, máxima de
15.893 m e uma média de 488 m.

FIGURA 2 – Número de manchas de savana por classe de tamanho das manchas em hectares na região de
São Carlos - SP. Base de dados: Inventário Florestal do Estado de São Paulo - SIFESP. Org.: Os autores.

Considerando a savana remanescente da região da área de estudo, a disposição


das manchas apresenta uma distância média de 488 m (ENN). Como a capacidade de
deslocamento da espécie é pequena, e considerando o seu tamanho corporal, as manchas
situam-se em distâncias maiores que a sua capacidade de deslocamento. Para a espécie

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
M. atticolus, as manchas estão isoladas, pois não apresenta capacidade e condições
favoráveis para deslocar-se na distância entre as suas áreas de habitat. Nesse sentido, a
AMV deve estar contida em uma única mancha, e não em várias, para suportar uma
população mínima viável.
A AMV da espécie M. atticolus encontrada foi de 450 ha. As manchas de habitat
com área maiores que a AMV e com áreas menores podem ser visualizadas na Figura 3.
As Estações Ecológica e Experimental de Itirapina apresentam uma área maior do que a
AMV, no entanto não consta no mapeamento do Instituto Florestal e por isso não foi
considerada nessa análise.

FIGURA 3 – Composição da paisagem considerando a savana como habitat de Micrablepharus atticolus


e distinção entre áreas maiores e menores que a Área Mínima Viável (AMV) capaz de suportar uma
população viável da espécie. Base de dados: Inventário Florestal do estado de São Paulo - SIFESP.
Org.: Os autores.

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TABELA 1: Área total de savana na paisagem contida em manchas maiores e menores do que a Área
Mínima Viável (AMV), capaz de suportar uma população viável de Micrablepharus atticolus, dentro e
fora de Unidades de Conservação (UCs). Base de dados: Inventário Florestal do estado de São Paulo -
SIFESP. Org.: Os autores.
Área fora de
Área total Área dentro de UCs
UCs
Áreas maiores que a AMV 14461 ha 8434 ha 6026 ha
Áreas menores que a AMV 21106 ha 613 ha 20492 ha
Área total da savana 35098 ha
Área total das UCs 16500 ha

Ao analisar a composição da paisagem para M. atticolus na região da área de


estudo foi possível obter a porcentagem relativa à área total da savana, equivalente a
apenas 4,6% (35098 ha) da área total da paisagem (760530 ha), sendo a área de potencial
ocupação do M. atticolus (Tabela 1). Observa-se que a cobertura de savana em relação
ao total da paisagem é pouca, considerando que a matriz compõe 95,38%, podemos
enfatizar que dos 4,6% da savana, apenas 41% (14461 ha) relativo ao número total de
manchas podem ser ocupadas como habitat, pois representam áreas maiores que a AMV.
Em um trabalho realizado sobre a vegetação nativa original da região da área de
estudo feito por Soares, Silva e Lima (2003) verificou-se que a vegetação de savana era
cerca de 27%. Desta forma, comparando com os dados obtidos nesse trabalho, torna-se
evidente a redução dessa fisionomia ao longo do tempo e, consequentemente, uma menor
quantidade de manchas que poderiam suportar uma população mínima viável da espécie.
As UCs presentes na região da área de estudo representam uma parcela importante
da área conservada de savana, pois da sua área total na paisagem, 25% encontra-se dentro
de UCs, e em relação à área total das manchas maiores que AMV, 58%. O valor da
porcentagem de savana dentro de UCs apresentado é dado sem considerar a Estação
Ecológica de Itirapina, que não foi contabilizada por não estar incluída na classificação
do Instituto Florestal como uma área de savana. Se fosse levada em consideração, seria
uma área ainda maior de savana conservada e de habitat para a espécie, ressaltando a
importância dessa área estar dentro de UCs. Por outro lado, as manchas maiores que a
AMV localizadas fora das UCs (41%), também apresentam uma importância para
conservação da espécie, pois são capazes de suportar uma população mínima viável.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
No entanto, as áreas menores que a AMV também apresentam importância para
conservação da espécie, tanto dentro quanto fora de UCs, pois pequenas manchas podem
ser cruciais para a sobrevivência e resiliência da comunidade (MATTHEWS; JONES;
WHITTAKER, 2015). Essas áreas são ainda mais importantes para a dispersão de
espécies a longa distância através de redes de habitat, reduzindo o isolamento dos habitats
maiores e contribuindo para a persistência da espécie em amplas escalas espaciais e
temporais (SAURA; BODIN; FORTIN, 2014).
Não apenas para a espécie M. atticolus, mas também para diversas espécies
animais e vegetais que estão ameaçadas de extinção, as áreas localizadas fora das UCs
são importantes para a conservação, pois estima-se que 20% das espécies ameaçadas ou
endêmicas não ocorrem nas áreas legalmente protegidas (KLINK; MACHADO, 2005).
Nesse sentido, as estratégias para a conservação da biodiversidade nessas áreas devem
ultrapassar os limites das UCs e considerar as características e potencial de conservação
nas manchas vizinhas (VIANA; PINHEIRO, 1998).
Dessa forma, destaca-se a importância e necessidade das Unidades de
Conservação e das áreas vizinhas maiores que a AMV para manutenção e garantia das
populações de M. atticolus, visto que o valor da área de habitat para espécie está muito
próximo tanto dentro quanto fora das UCs.

4. Conclusões

Esse trabalho representa uma primeira abordagem da Área Mínima Viável para
essa espécie endêmica. Como continuidade sugerimos a obtenção de dados de densidade,
capacidade de deslocamento e população mínima viável para M. atticolus na região, assim
como a elaboração de bases de dados de uso e ocupação com maior acurácia.
Os dados disponíveis evidenciam que as UCs são áreas importantes para
preservação, visto que são legalmente protegidas e demonstram abrigar grande parte do
habitat de savana, tornando possível a manutenção de espécies endêmicas. Além das UCs,
as áreas de manchas maiores que a AMV que não estão localizadas em UCs representam
valores significativos de habitat para a espécie, sendo recomendável que sejam
transformadas em áreas legalmente protegidas.
Dessa forma, ressalta-se a importância da gestão integrada dessas áreas e das UCs,
assim como o desenvolvimento de políticas públicas voltadas aos habitats de espécies
endêmicas localizadas em áreas próximas de UCs.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
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87
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

COMPOSIÇÃO FLORESTAL DA MATA CILIAR NO TRECHO


URBANO DO RIO SANTO ANTÔNIO, CARAGUATATUBA/SP

Prado, Larissa M.1

Dória, Karolina. M. A. B. V. S.2


1
Centro Universitário Módulo, Ciências Biológicas, lari.maximiliano@hotmail.com
2
Orientadora, Centro Universitário Módulo, karolina.doria@modulo.edu.br

Resumo: A vegetação ciliar é característica de margens ou áreas adjacentes a corpos


d’água, sua composição é baseada em espécies típicas, resistentes ou tolerantes ao
encharcamento ou excesso de água no solo. São importantes para preservação do
equilíbrio ambiental. O estudo teve como objetivo verificar a composição florestal e os
parâmetros fitossociológicos no trecho urbano do Rio Santo Antônio, no município de
Caraguatatuba-SP. Foram realizadas visitas in loco para identificação da vegetação e
utilizado o software Past 3.0 para cálculos de diversidade e equitabilidade. Foram
registradas a presença de 749 indivíduos, com 679 identificados, pertencendo a 78
espécies, sendo a maioria de origem exótica com 60,26%. Para os parâmetros
fitossociológicos a palmeira-imperial (Roystonea oleracea) apresentou a maior densidade
absoluta e relativa com 28,947 e 8,812 respectivamente, e maior abundância absoluta e
relativa, com 66 e 4,406. O índice de diversidade de Shannon (3,683) e a equitabilidade
de Pielou (0,8454) demostram que a mata ciliar, mesmo com predomínio de espécies
exóticas, apresenta uma grande diversidade arbórea.
Palavras-chave: Mata ciliar; Vegetação; Conservação.

1. Introdução

A Mata Atlântica se estende no Brasil do nordeste ao sul, com um alto grau de


diversidade biológica e endemismo. Atualmente persiste em pequenos e isolados
fragmentos, porém, sua riqueza é extraordinária, com quase 1.000 espécies de aves e
20.000 espécies de angiospermas. Dentre os diversos ambientes, a Serra do Mar, está
melhor preservada por ser inacessível e pela proteção legal dentro dos parques que a
compõe. Por outro lado, os manguezais e a restinga sofrem forte pressão do processo de
urbanização e expansão portuária. Desta forma, a Mata Atlântica é considerada um
hotspost de diversidade com grande prioridade para conservação (MYERS et al, 2000;
RIDGELY et al, 2015).
As matas ciliares são formadas pela vegetação existente nas margens dos corpos
d’água. São extremamente importantes para proteção dos recursos hídricos, abrigando
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
uma elevada diversidade biológica e são essenciais para manter a qualidade da água,
também, atuam na formação de corredores ecológicos, ligando fragmentos florestais
(KUNTSCHIK, EDUARTE, UEHARA, 2014).
Dentre as funções da mata ciliar, estão o controle à erosão, redução dos efeitos de
enchentes, possibilidade de habitat, com a grande oferta de ninhos para aves, refúgio e
alimento para fauna, manutenção do microclima e preservação da biodiversidade
(LEANDRO, VIVEIROS, 2003; KAGEYAMA et al, 2002).
Sendo assim, a principal ferramenta para o conhecimento da flora de determinada
área é o levantamento florístico, onde, seus resultados iram fornecer subsídios para
estudos taxonômicos, fenológicos, fitossociológicos e ecológicos, assim como, para um
adequado planejamento para manejo sustentável e áreas de essencial conservação
(GUGLIERI et al, 2008).
O objetivo do estudo foi verificar a composição florestal e os parâmetros
fitossociológicos no trecho urbano do Rio Santo Antônio.

2. Material e métodos

A área de estudo abrange as margens do trecho urbano do Rio Santo Antônio,


localizados no município de Caraguatatuba, Litoral Norte de São Paulo, Brasil. O trecho
apresenta aproximadamente 795 metros, conforme a Figura 1.

FIGURA 1 – Localização do Rio Santo Antônio. Fonte: Elaborado no QGIS (2018).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Para tanto, efetuou-se o levantamento in loco da vegetação, identificando os
indivíduos de ambas as margens do rio, através visualização das espécies e de registro
fotográfico dos indivíduos, das folhas, do caule, e das sementes e flores quando possível.
Houve contagem do número de indivíduos e espécies presentes na área, assim como a sua
origem.
As espécies vegetais foram classificadas de acordo com a determinação científica
do nome seguindo os critérios propostos para fanerógamas, com base em Souza e Lorenzi
(2008). As famílias botânicas seguiram o Sistema de Classificação proposto por
Angiosperm Phylogeny Group III.
Para análise fitossociológica do local foram calculados a Densidade Absoluta
(DeAb) que corresponde a relação do número total de indivíduos de um táxon por área,
obtida pela Equação 1:

1ℎ𝑎
𝐷𝑒𝐴𝑏𝑖 = 𝑛𝑖 . (1)
𝐴

Onde ni é o número total de indivíduos do táxon; A é o táxon encontrado na área


amostra e 1ha é unidade de área.
A Densidade Relativa (DeRel) representando a porcentagem que o táxon aparece
na amostragem, com a seguinte Equação 2:

𝑛𝑖
𝐷𝑒𝑙𝑅𝑒𝑙 = . 100 (2)
𝑁

Onde ni é o número total de indivíduos do táxon e N é o total de indivíduos


amostrados.
Foram calculados a abundância relativa e a abundância absoluta para cada espécie
identificada. O número total médio de exemplares por espécie será utilizado para calcular
os índices de diversidade de Shannon (H’) e equitabilidade de Pielou (J’) (LUDWING,
REYNOLDS, 1988) através do software Past 3.0.

3. Resultados

Foram registradas a presença de 749 indivíduos, sendo 54 não identificados, 3


identificados a nível de família, 13 a nível de gênero e 679 a nível de espécie, pertencendo
a 19 ordens, 28 famílias, 66 gêneros e 78 espécies, conforme a Tabela 1.

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TABELA 1 – Espécies registradas no trecho urbano do Rio Santo Antônio.

Ordem/Família/Espécie Nome popular DeAb DeRel AbAb AbRel Origem


APIALES
Araliaceae
Schefflera actinophylla Árvore-guarda-chuva 7,895 2,403 18 1,202 E
Schefflera arborícola Cheflera 3,070 0,935 7 0,467 E
ARECALES
Arecaceae
Cocos nucifera Coqueiro 0,877 0,267 2 0,134 N
Dypsis lutescens Palmeira-areca 7,895 2,403 18 1,202 E
Licuala grandis Palmeira-leque 1,754 0,534 4 0,267 E
Phoenix roebelenii Fênix 0,439 0,134 1 0,067 E
Rhapis excelsa Ráfia 0,439 0,134 1 0,067 E
Roystonea oleracea Palmeira-imperial 28,947 8,812 66 4,406 E
Syagrus romanzoffiana Jerivá 6,579 2,002 15 1,001 N
ASTERALES
Asteraceae
Vernonia condensata Boldo-baiana 0,439 0,1335 1 0,067 E
CYCADALES
Cycadaceae
Cycas revoluta Cyca 4,386 1,225 10 0,668 E
DILLENIALES
Dilleniaceae
Dillenia indica Coração-de-elefante 0,877 0,267 2 0,134 E
DIPSACALES
Adoxaceae
Sambucus nigra Sabugueiro 0,439 0,134 1 0,067 E
FABALES
Fabaceae
Acacia fistula Acassia 1,754 0,534 4 0,267 E
Bauhinia variegata Pata-de-vaca 2,193 0,668 5 0,334 E
Caesalpinia pluviosa Sibipiruna 1.316 0,401 3 0,200 N
Cassia grandis Cassia 3,509 1,068 8 0,534 N
Clitoria fairchildiana Clitória 3,509 1,068 8 0,534 N
Delonix regia Flamboyant 13,596 4,139 31 2,069 E
Erytrina speciosa Mulungu 4,825 1,469 11 0,734 N
Hymenaea courbaril Jatobá 0,439 0,134 1 0,067 N
Inga uruguensis Ingá 12,719 3,872 29 1,936 N
Leucaena leucocephala Leucena 22,368 6,809 51 3,405 E

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Libidibia ferrea var.
Pau-ferro 0,439 0,134 1 0,067 N
Leiostachya
Paubrasilia echinata Pau-brasil 0,439 0,134 1 0,067 N
Schizolobium parahyba Guapuruvu 1,316 0,401 3 0,200 N
Senna macranthera Fedegoso 0,439 0,134 1 0,067 N
GENTIANALES
Apocynaceae
Thevetia peruviana Chapéu-de-napoleão 3,947 1,202 9 0,601 E
LAMIALES
Bignoniaceae
Jacaranda mimosifolia Jacarandá-mimoso 2,193 0,668 5 0,334 N
Spathodea campanulata Espatódea 13,158 4,005 30 2,001 E
Tabebuia chrysotricha Ipê-amarelo 1,316 0,401 3 0,200 N
Tabebuia imperiginosa Ipê-roxo 0,439 0,134 1 0,067 N
Temcoma stans Ipê-de-jardim 0,439 0,134 1 0,067 E
Lamiaceae
Plectanthus barbatus Boldo 0,439 0,134 1 0,067 E
Verbenaceae
Duranta repens aurea Pingo-de-ouro 0,439 0,134 1 0,067 E
LAURALES
Lauraceae
Cinnamomum verum Canela 0,439 0,134 1 0,067 E
Nectandra megapotamica Canelinha 0,439 0,134 1 0,067 N
Persea americana Abacate 10,088 3,071 23 1,535 E
MAGNOLIALES
Annonaceae
Annona montana Araticum 1,316 0,401 3 0,200 E
Annona muricata Graviola 0,877 0,267 2 0,134 E
MALPIGHIALES
Euphorbiaceae
Alchornea sidifolia Tapia 2,632 0,801 6 0,401 N
Euphorbia tirucalli Aveloz 0,439 0,134 1 0,067 E
Codiaeum variegatum Croton 0,439 0,134 1 0,067 N
Crtoton urucurana Sangra-d’água 5,702 1,736 13 0,868 E
Malpighiaceae
Malpighia emarginata Acerola 2,193 0,668 5 0,334 E
MALVALES
Bombacaceae
Castanha-do- 10 0,668
Bombacopsis glabra 4,386 1,335 N
maranhão

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Malvaceae
Ceiba speciosa Paineira 7,895 2,403 18 1,202 E
Hibiscus rosa sinensis Hibisco 2,193 0,668 5 0,334 E
Hibiscus tiliaceus Algodão-da-praia 2,193 0,668 5 0,334 N
Muntingiaceae
Muntingia calabura Calabura 0,877 0,267 2 0,134 N
MYRTALES
Combretaceae
Laguncularia racemosa Mangue-branco 2,632 0,801 6 0,401 N
Terminalia catappa Chapéu-de-sol 9,211 2,804 21 1,402 E
Lyhthraceae
Lagerstroemia indica Resedá 0,439 0,134 1 0,067 E
Myrtaceae
Eugenia brasiliensis Grumixama 1,316 0,401 3 0,200 N
Eugenia involucrata Cereja-do-rio-grande 0,439 0,134 1 0,067 N
Eugenia uniflora Pitanga 7,895 2,140 18 1,202 N
Psidium cattleyanum Araçá 3,509 1,068 8 0,534 N
Psidim guajava Goiaba 6,579 2,003 15 1,001 N
Syzgium cumini Jambolão 1,316 0,401 3 0,200 E
POALES
Poaceae
Saccharum officinarum Cana 0,439 0,134 1 0,067 E
ROSALES
Moraceae
Artocarpus altilis Fruta-pão 0,877 0,267 2 0,134 E
Artocarpus heterophyllus Jaca 0,439 0,134 1 0,067 E
Ficus benjamina Fícus 3,947 1,202 9 0,601 E
Morus nigra Amora 8,772 2,671 20 1,336 E
Rosaceae
Eriobotrya japônica Ameixa-amarela 2,632 0,801 6 0,401 E
Urticaceae
Cecropia pachystanchya Embaúba 0,439 0,134 1 0,067 N
SAPINDALES
Anacardiaceae
Anacardium occidentale Caju 0,439 0,134 1 0,067 N
Mangifera indica Manga 11,842 3,605 27 1,802 E
Schinus molle Aroeira-salsa 0,439 0,134 1 0,067 N
Schinus terebinthifolius Aroeira-pimenteira 4,825 1,467 11 0,734 N
Spondias purperea Seriguela 2,632 0,801 6 0,401 E
Rutaceae

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Citrus x aurantifolia Limão-galego 0,439 0,134 1 0,067 E
Citrus japônica Quincã 0,439 0,134 1 0,067 E
Citrus x liminia Limão-cravo 2,193 0,668 5 0,334 E
Citrus x sinensis Laranja 1,754 0,534 4 0,267 E
Murraya paniculata Murta-de-cheiro 3,070 0,935 7 0,467 E
SOLANALES
Convolvulaceae
Ipomoea carnea Algodão-bravo 0,439 0,134 1 0,067 N
ZINGIBERALES
Musaceae
Musa paradisíaca Banana 21,053 6,409 48 3,204 E
DeAb: Densidade Absoluta; DeRel: Densidade Relativa; AbAb: Abundância Absoluta;
AbRel: Abundância Relativa; Origem (E: Exótica; N: Nativa). Fonte: Autoria própria
(2018).

O índice de diversidade de Shannon calculado foi de 3,683 e a equabilidade de


Pielou (0,8454), conforme a Tabela 2 e demostram que a mata ciliar apresenta uma grande
diversidade de espécies arbóreas.

TABELA 1 – Índices de dominância, diversidade e equitabilidade.

Shannon-Weaver H’ 3,683
Pieleu J 0,8454
Fonte: Autoria própria (2018).

As espécies exóticas predominam com 60,26% (n=47) e as nativas com apenas


39,74% (n=31), conforme a Figura 2.

39,74%

60,26%

Exótica Nativa

FIGURA 2 – Origem das espécies. Fonte: Autoria própria (2018).

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As famílias com maior riqueza de espécie foram a Fabaceae com 14 espécies,
seguido da Arecaceae (7), Myrtaceae (6), Anacardiaceae (5), Bignoniaceae (5) e Rutaceae
(5), conforme a Figura 3.

FIGURA 3 – Número de espécie por família. Fonte: autoria própria (2018).

Em relação ao número de indivíduos por família, a Fabaceae teve destaque com


157, seguida da Arecaceae com 107 e tanto a Myrtaceae, quanto a Musaceae com 48
indivíduos, conforme a Figura 4.

FIGURA 4 – Número de indivíduos por família. Fonte: Autoria própria (2018).

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4. Discussão

A palmeira-imperial (Roystonea oleracea), seguida da leucena (Leucaena


leucocephala) apresentaram a maior densidade e abundância absoluta e relativa. Ambas
são árvores exóticas, o que prejudica a diversidade do local, sendo a leucena invasora e
inadequada por inibir o crescimento de espécies nativas, por alelopatia (POTT, POTT,
2002).
O índice de Shannon em um estudo desenvolvido por Salomão et al (2008) em
mata ciliar do Rio Miranda no município de Miranda, Mato Grosso do Sul, foi de H’=2,77
para a vegetação, indicando que a diversidade do Rio Santo Antônio é relativamente
maior com H’=3,683. Battilani, Scremin-Dias e Souza (2005) encontraram um valor
próximo ao identificado no rio para o índice de Shannon com H’=3,413 em um trecho da
mata ciliar do Rio da Prata no município de Jardins, Mato Grosso do Sul.
O valor encontrado para a equabilidade de Pielou foi também similar ao
encontrado por Battilani, Scremin-Dias e Souza (2005) que obteve J’=0,815, em um
trecho de mata ciliar em Jardins, e no Rio Santo Antônio foi constatado J’=0,8454, vale
ressaltar que o mais próximo de 1, representa uniformidade máxima.
As famílias com maiores riquezas de espécies observada no Rio Santo Antônio
foram semelhantes ao resultado encontrado por Battilani, Scremin-Dias, com as famílias
Mimosaceae (4 espécies), Sapindaceae (4), Fabaceae (3), Myrtaceae (3) e Rustaceae (3)
com maior representatividade de espécies, e Souza (2005) no Rio da Prata em Jardins,
MS e com Campos et al (2007) em um levantamento florístico e fitossociológico da mata
ciliar do Rio das Mortes em São João del-Rei, Minas Gerais encontrou maior
representatividade com as famílias Fabaceae (5 espécies), Mytaceae (4), Euphorbiaceae
(3) e Anacardiaceae (3).
No Rio Santo Antônio, as maiores representatividades foram para as famílias
Fabaceae (14 espécies), Arecaceae (7), Myrtaceae (6), Anacardiaceae (5), Bignoniaceae
(5) e Rutaceae com (5), sendo as demais com pouca significância.

4. Considerações Finais

A composição florestal apresentou uma boa diversidade de espécies, entretanto,


pode-se observar um maior índice de exemplares exóticos que acabam competindo pelo
espaço com as espécies nativas e muitas vezes agindo como invasora. Sendo assim, há

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
necessidade de desenvolvimento de projetos visando a recuperação desta mata ciliar, com
a utilização de espécies nativas, propiciando assim um aumento na diversidade florestal.

Referências

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trecho da mata ciliar do Rio da Prata, Jardim, MS, Brasil. Acta bot. Bras. v.19, n.3,
p.597-608, 2005.
CAMPOS, A. C. A. L. et al. Levantamento florístico e fitossociológico da mata ciliar do
Rio das Mortes em São João del-Rei, Minas Gerais. Revista Brasileira de Biociências,
Porto Alegre, v.5, n.2, p.1177-1179, 2007.
GUCLIERI, A. et al. Levantamento floristico da vegetação herbácea e subarbustiva da
mata de galeria do córrego Boa Sorte, Corguinho, Mato Grosso do Sul, Brasil. In:
SIMPÓSIO NACIONAL CERRADO, 4, SIMPÓSIO INTERNACIONAL SAVANAS
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KUNTSCHIK, D. P.; EDUARTE, M.; UEHARA, T. H. K. Matas ciliares. São Paulo:
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LEANDRO, M. D.; VIVEIROS, C. A. F. de. Mata Ciliar, Área de Reserva Permanente.
Linha direta, n.296, p.18, 2003.
LUDWIG, J.A.; REYNOLDS, J.F. Statistical ecology. New York: John Wiley, 1988.
MYERS, N. et al. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, v. 403,
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Campo Grande, 2002.
RIDGELY, R. S. et al. Aves do Brasil: Mata Atlântica do Sudeste. São Paulo: Editora
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SOUZA, V. C; LORENZI, H. Botânica Sistemática: guia ilustrado para identificação
das famílias de fanerógamas nativas e exóticas no Brasil, baseado em APG II. 2.ed .
Instituto Plantarum, Nova Odessa, 2008.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

HÁ COMPETIÇÃO ENTRE APIS MELLIFERA E VISITANTES


FLORAIS NATIVOS NO CERRADO?

Santos, M.R. 1; Ruiz, I.H. ²; Ferreira, P.A 3; Lopes, L.E. 4.


(1)
Discente Gestão e Análise Ambiental/UFSCar (milenasrt15@gmail.com)
(2)
Discente Gestão e Análise Ambiental/UFSCar (isadora.rhaddad@gmail.com)
(3)
Pós Doutoranda Departamento de Biologia/USP (patybio13@yahoo.com.br)
(4)
Professor Departamento Ciências Ambientais/UFSCar
(lucianolopes@ufscar.br)

Resumo: A polinização é uma das mais importantes interações entre plantas e animais.
No cerrado, 75% das plantas são polinizadas por abelhas, nativas ou introduzidas. Com o
estabelecimento da abelha Apis mellifera no Brasil, suas altas taxas de recrutamento,
dominância e abundância, podem consumir até 80% da produção de néctar e pólen nas
plantas que antes eram visitadas apenas por espécies nativas. Sendo assim, o presente
trabalho visa analisar as influências e/ou impactos da proximidade de colônias de A.
melífera sobre a visitação floral feita por espécies nativas na área de cerrado da Estação
Experimental de Itirapina/SP. Observamos visitantes florais em plantas nativas do
cerrado durante 60 min. no período da manhã. Não foi verificado um padrão visual que
explique a relação do efeito causado pela proximidade de colônias de A. melífera sobre a
visitação floral feita por espécies nativas na Estação Experimental de Itirapina/SP, no
entanto, fatores como efeito de borda, preferência florística e mecanismo de polinização
de acordo com as espécies vegetais podem influenciar a taxa de visitas dos diferentes
insetos em plantas do cerrado.

Palavras-chave: abelhas introduzidas; visitação floral; polinização.

1.Introdução

Entre os processos ecossistêmicos, a polinização configura uma das mais


importantes interações para manter a estrutura, o funcionamento e a biodiversidade em
diferentes ecossistemas (BAWA, 1990; REICH, et al., 2014).
Em sua maioria, as espécies vegetais de todo planeta são beneficiadas pelo
mecanismo de polinização, realizado por animais como as abelhas, aves, insetos e outros
(KLEIN et al., 2007). Além disso, 35% das plantas utilizadas como alimento para
população humana são favorecidas pela polinização animal (KLEIN et al., 2007).
Contudo, muitos estudos mostram que visitantes florais, principalmente as abelhas, são
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afetados negativamente devido principalmente à perda e fragmentação de habitats e à
introdução de espécies de animais e plantas exóticos (DARGAS, 2016).
Diante disso, Winfree et al. (2009) verificou que em locais com perda de habitats
naturais há uma influência significativa sobre a redução na abundância e na riqueza de
espécies de abelhas, evidenciando que este processo interfere na ocorrência desses
animais. Além disso, as espécies exóticas como as abelhas africanas e/ou europeias (Apis
mellifera), podem acarretar em efeitos positivos ou negativos para os ecossistemas
naturais, especificamente para a polinização de algumas espécies vegetais (SAX et al.,
2007).
Quando introduzidas em outros países para fins comerciais A. mellifera se
reproduziram com diferentes espécies e resultam em animais híbridos com alta
plasticidade (HORSKING, et al., 1999). No Brasil essa espécie chegou com essas
modificações avançadas e, com isso, houve um estabelecimento eficiente de A. mellifera
no país, com facilidade em ocupar diferentes nichos, altas taxas de recrutamento,
dominância e abundância, além de iniciarem forrageamento antes de espécies nativas
podendo consumir até 80% da produção de néctar e pólen das plantas (HORSKING, et
al., 1999).
De acordo com Silberbauer-Gottsberger & Gottsberger (1988) cerca de 75% das
plantas presentes em fitofisionomias de cerrado no Brasil, principalmente em estados
como São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso, são polinizadas preferencialmente por
abelhas (MENDONÇA, et al., 2008).
Porém, a presença de A. mellifera ocasiona competição por alimento e por locais
para nidificação, o que pode causar efeitos positivos ou negativos na visitação florística
por espécies animais nativos (SCHAFFER et al., 1983). Consequentemente, essas abelhas
podem apresentar vantagens sobre as espécies nativas animais (PATON, 1993), sendo
que a localização das colônias de abelhas exóticas influencia no efeito, onde a eficiência
na busca e exploração de recursos e forrageamento são consideradas duas das
características marcantes da A. mellifera (SEELEY, 1984).
Desta forma, este trabalho visou analisar se há influência significativa e/ou
impactos causados pela proximidade de colônias de abelhas A. mellifera sobre outros
visitantes florais de espécies de plantas nativas de cerrado na Estação Experimental de
Itirapina/SP.

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2. Materiais e métodos

2.1 Caracterização da área de estudo

O estudo foi realizado em um fragmento de cerrado conhecido como Cerrado do


Valério, localizado na área da Estação Experimental, unidade da Divisão de Florestas e
Estações Experimentais do Instituto Florestal, no município de Itirapina-SP (FIGURA 1).
A vegetação na Estação Experimental é dominada por fitofisionomias abertas, cerca de
94% da cobertura total, sendo compostas principalmente por campo sujo, campo úmido
e campo cerrado, além de plantações de Pinus spp. e Eucaliptus spp (INSTITUTO
FLORESTAL, 2006).

FIGURA 1 – Localização da área de estudo. Área do cerrado do Valério na Estação Experimental de


Itirapina. Composta por áreas de sensu stricto, cerradão e mata de galeria, mas também por plantações de
Pinus spp., Eucaliptus spp.

De acordo com o Plano de Manejo (2006), o qual se baseou na classificação de


Köeppen, a região apresenta clima úmido com inverno seco, precipitação anual média de
aproximadamente 1459 mm e temperatura média de 19,7 ºC (Cwa).

O fragmento do Valério, de acordo com Mendonça et al. (2008) é composto


predominantemente por elementos do cerrado sensu stricto e de mata, com estrato arbóreo
ocupando cerca de 50-60% da cobertura do fragmento.

2.2 Amostragens de visitas às flores

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Foi realizada uma coletada de dados entre 9h e 11h, no mês de outubro de 2017,
onde foi realizada a observação de visitantes florais em espécies vegetais nativas do
cerrado que apresentavam flores, durante 60 minutos em um dia (MEDEIROS, 2011).
Foram feitas observações em 9 pontos diferentes do Fragmento do Valério,
variando de acordo com distâncias estipuladas da colônia de A. mellifera. A amostragem
foi realizada a 5 metros da borda, no sentido interior do fragmento, e a colônia de A.
mellifera (Coordenada UTM 23S -47,857372 O -22,2118687 S) encontrava-se a cerca de
10 metros para o interior do fragmento.
Os pontos de amostragem foram distribuídos, aproximadamente, de 100 em 100
metros ao longo da estrada, a partir das colônias de A. mellifera, sendo 5 pontos
amostrados a direita da colônia e 4 pontos a esquerda, entre os 4 pontos, o primeiro
(referente ao P6) encontra-se a 35m da colônia A mellifera. O local de estudo e
amostragem pode ser visto na figura 1 e a disposição dos pontos de observação são
colocados na figura 2.

FIGURA 2 – Imagem referente aos pontos de coleta e a distância das colônias de Apis mellifera em área
de cerrado sensu stricto na Estação Experimental de Itirapina-SP em outubro de 2017.

Em cada ponto (figura 2) duas pessoas permaneceram frente à planta observada


durante 60 min. rotacionando em torno da mesma em intervalos de 15 minutos. Durante
a observação foram registradas as visitas de insetos nas flores e se os insetos visitantes
florais eram da espécie A. mellifera ou de outras espécies. Assim registramos a frequência

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de A. mellifera e de não-apis nas flores. A categoria de não-apis englobou borboletas,
moscas, formigas, aranhas, aves e demais visitantes florais não identificados.
Após o término da observação, foram registradas por fotografias as espécies
vegetais observadas, e coletados ramos com flores para confecção de exsicatas.
Vale ressaltar que durante os primeiros 30 minutos do experimento a incidência
luminosa era menor, devido à presença de nuvens. Após 30 minutos as nuvens se
ausentaram e o sol passou a irradiar diretamente sobre a maioria das espécies vegetais
observadas.
Como medida e análise preliminar, fizemos a interpretação gráfica dos dados
coletados. Os dados foram organizados em planilhas e os gráficos gerados a partir do
software Microsoft Office Excel para análises. Além disso, fizemos uma análise de
regressão linear para verificar a existência de influência entre as distâncias das colônias
de A. mellifera e a frequência de abelhas A. mellifera e outros visitantes florais nas plantas
observadas.

3. Resultado e discussões

As observações foram feitas em seis espécies vegetais diferentes (Figura 3)


dispersas na região de borda do fragmento de cerrado. Durante o período observamos 371
visitantes florais, sendo que, aproximadamente, 14,56% foram A. mellifera e 85,44%
visitantes não-apis. Ao analisar o gráfico (Figura 4) de frequência de A. mellifera e não-
apis em função da distância da colônia, não verificamos um padrão visual que explique a
relação entre a distância das colônias e a frequência de visitas de A. mellifera.

FIGURA 3 – Famílias vegetais nativas observadas durante a amostragem de visitas de aninais às flores
em área de cerrado sensu stricto na Estação Experimental de Itirapina-SP em outubro de 2017.

O resultado obtido pode ter sido influenciado pela diversidade de plantas


analisadas, em função de que cada espécie possui um mecanismo para atrair visitantes

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florais e obter a polinização (FREITAS, 1998). Outro fator que pode ter influenciado é o
efeito de borda na região amostrada, já que o experimento foi realizado a 5 metros da
borda.
Com isso, é possível que A. mellifera tenda a buscar recursos mais abundantes no
interior do fragmento, pois segundo Urbanetz et al. (2003) em estudo realizado na mesma
área a abundância e diversidade de espécies florais foi maior no interior do fragmento e
menor na borda. Contudo esta variação ocorre naturalmente devido ao mosaico da
vegetação característico de todo o cerrado amostrado, e pode não haver relação
significativa com o efeito de borda.

FIGURA 4 – Relação da frequência de visitantes florais da espécie de abelha Apis Melífera e de outas
espécies de animais pela distância da colônia de A. mellifera no cerrado sensu stricto na Estação
Ecológica de Itirapina-SP em outubro de 2017.

A partir disso, usamos o teste estatístico de Regressão linear simples para verificar
se há relação significativa entre à distância da colônia e a frequência de visitantes florais.
Para a relação entre a distância das colônias e a frequência de A. mellifera foram obtidos
R² (ajustado) igual a 0.03, p-value de 0.345 e coeficiente angular de -0.021, mostrando
que não há relação significativa entre as variáveis, onde são explicados apenas 3% dos
dados sendo, aproximadamente, 34% a chance de erro.
Para a relação entre as colônias de A. mellifera e a frequência de visitas de
visitantes não-apis, foram obtidos R² (ajustado) igual a 0.142, p-value de 0.954 e
coeficiente angular igual a 0.005, com isso, também concluímos que a influência da
presença de colônia de A. mellifera não tem um efeito significativo na frequência de

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visitantes florais de outras espécies animais às espécies de plantas observadas no cerrado,
sendo que a regressão explica apenas 14% dos dados.
Desta maneira, verificamos que não houve um impacto negativo significativo de
A. mellifera na frequência dos visitantes florais quando avaliados a partir da distância da
colônia, no entanto, foi observada uma maior quantidade de visitantes não-apis. Fica
evidente que as maiores frequências de visitação são de espécies não apis, mesmo quando
relacionadas às menores distâncias da colônia, onde era esperada maior frequência de A.
mellifera (Figura 5).

FIGURA 5 – Gráfico de percentual de visitantes florais não-apis pela distância da colônia no cerrado
amostrado na Estação Ecológica de Itirapina-SP em outubro de 2017.

Ao verificar que não há relação significativa entre a distância da colônia e visitas


flores de animais não-apis, buscamos verificar a relação com outros parâmetros, como a
diversidade de visitantes florais em relação às diferentes espécies vegetais observadas
(Tabela 1).

Segundo Castro (2001), cada guilda (conjunto de associações de visitantes florais)


de polinizadores reage ou é atraída por um conjunto específico de sinais liberados pelas
flores, variando de espécie para espécie. Desta forma, a relação entre plantas e
polinizadores é delicadamente harmoniosa e pode ser facilmente perturbada ou até mesmo
interrompida.

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TABELA 1 - Diversidade de visitantes florais por Família observada.

Família vegetal Diversidade de visitantes


florais

Melastomataceae 21

Myrtaceae 12

Malpighiaceae 7

Solanaceae 6

Bromeliaceae 6

Sapindaceae 3

Algumas espécies da família Solanaceae, por exemplo, apresentam deiscência


poricida, ou seja, a liberação do pólen nas anteras ocorre através dos poros apicais que
necessitam de vibrações para liberação (NUNES-SILVA, et al., 2010). Além dessa
família, espécies de Myrtaceae, mesmo com anteras com deiscência longitudinal são
polinizadas por vibrações. Com isso, espécies de abelhas evoluíram suas formas
estruturais e adaptações comportamentais para coletar e transportar cargas de pólen, como
vibrações do tórax para liberar o pólen (THORP, 2000).
Essas adaptações não são características de A. mellifera, a qual, de acordo com
SANTOS, et al. (2009), é incapaz de realizar polinização por vibração. Neste estudo essas
relações foram encontradas quando na espécie vegetal observada, da família Solanaceae,
foram registradas 54 visitas florais, sendo que nenhum foi referente a A. mellifera.
Outra relação analisada foi sobre a família vegetal mais abundante nas
observações (Melastomataceae). Segundo Goldenberg e Varassin (2001), em sua maioria
as espécies da família Melastomataceae também apresentam polinização por deiscência
poricida e são polinizadas por abelhas que realizam movimentos vibratórios. Entretanto,
foi realizada uma análise de regressão a fim de verificar se as distâncias da colônia de A.
mellifera influenciam na frequência de visitas de A. mellifera e de outras espécies nativas
às flores de Melastomataceae (Figura 6).

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FIGURA 6 – Frequência de visitantes florais em Melastomataceae na Estação Ecológica de Itirapina-SP


em outubro de 2017.

Com relação à presença de A. mellifera, os dados estão ajustados a reta, mostrando


R² (ajustado) igual a 0.428 e p-value de 0.781. Já para a presença de visitantes não apis,
R² (ajustado) obtido foi de 0.484 e p-value 0.897, o que mostra que a relação de causa e
efeito da distância das colônias A. mellifera na visitação de espécies nativas de visitantes
florais não foi significativa, também para espécies da família Melastomataceae vegetal
analisada. Além disso, foram registradas 50 visitas florais na família Melastomataceae,
sendo que apenas 5 eram de A. mellifera, corroborando a análise estatística.

4. Considerações Finais

O estudo evidenciou que não há impacto negativo significativo sobre as visitas


florais de espécies animais nativas do cerrado, em relação à distância das colônias de A.
mellifera.
Mesmo próximo à colônia verificou-se baixa frequência de A. mellifera,
possivelmente pelo fato dessas percorrerem grandes distâncias, tanto na horizontal quanto
na vertical, em busca de alimento. Como o experimento foi realizado na região de borda
do fragmento de cerrado onde segundo Urbanetz et al. (2003) ocorre menor abundância
e diversidade de espécies florais, as abelhas A. mellifera podem estar forrageando áreas
no interior do fragmento, com maior abundância e diversidade de recursos florais.
Além disso, as famílias vegetais como Melastomataceae e Solanaceae apresentam
especificações como deiscência poricida que favorecem a visitação floral por visitantes

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não-apis, em específicas espécies que efetuam movimentos vibratórios. Portanto, a
composição florística observada favoreceu a visitação por espécies nativas em 60%.
Com isso fica evidente a importância da preservação de habitats que abrigam
espécies vegetais nativas como as do cerrado que possibilitam a permanência e
abundância de espécies de visitantes florais nativas.

5. Referências

BAWA, K. S., 1990, Plant-pollinator interactions in tropical rain forests. Ann. Rev.
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108
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

TILLANDSIA L. (BROMELIACEAE) COMO INDICADOR DA


CONSERVAÇÃO DA FLORESTA CILIAR DO RIO MOGI GUAÇU
NA GUARNIÇÃO DA AERONÁUTICA DE PIRASSUNUNGA (SP)

Silva, J.V.1; Queiroz, I.H.B.2

Sebastiani, R.3
1
Universidade Federal de São Carlos, Rod. Washington Luís, km 235, SP 310, São
Carlos, SP. CEP 13565-905. jose.victorlula@hotmail.com
2
Universidade Federal de São Carlos, Rod. Anhanguera, km 174, Araras, SP. CEP
13600-970, Caixa Postal 153. ih.bq@hotmail.com
3
Orientadora. Universidade Federal de São Carlos, Rod. Anhanguera, km 174, Araras,
SP. CEP 13600-970, Caixa Postal 153. renatasebastiani2014@gmail.com

Resumo: Tillandsia é representado no Brasil por 87 espécies, 19 delas presentes no Estado


de São Paulo, caracterizando-se pelo hábito epifítico ou rupículo, folhas com margem
inteira, ausência de apêndices petalinos, frutos cápsula e sementes com apêndices. A
Guarnição da Aeronáutica de Pirassununga é uma importante área de conservação em São
Paulo, por abrigar 1.500 hectares de vegetação nativa, principalmente Cerrado e Floresta
Estacional Semidecidual, além de quatro quilometros de Floresta Ciliar do Rio Mogi
Guaçu. Este trabalho objetivou reunir elementos para a conservação da Floresta Ciliar da
Guarnição através do levantamento de Tillandsia. As coletas foram feitas entre novembro
de 2014 e janeiro 2018, através de visitas aleatórias na área de estudo, considerando cerca
de 30 m a partir da margem do Rio. Espécimes em estado reprodutivo foram herborizados
e depositados em herbário, enquanto os espécimes estéreis foram cultivados em estufas
para posterior identificação e herborização. Foram identificadas seis espécies de
Tillandsia, T. loliacea Mart. ex Schult. & Schult.f., T. mallemontti Glaz ex Mez, T.
pohliana Mez, T. recurvata (L.) L., T. tenuifolia L. e T. tricholepis Baker. Considerando
estes resultados e o fato de que são reconhecidas 10 espécies de Tillandsia para a Floresta
Ciliar em São Paulo, é possível supor que a Guarnição abriga boa parte da diversidade
deste gênero, sendo importante para a conservação da biodiversidade.
Palavras-chave: Bromeliaceae, conservação da biodiversidade, epífitas.

1. Introdução

Bromeliaceae é a maior família de angiospermas localizada restritamente nas


Américas, principalmente em áreas tropicais e subtropicais, com aproximadamente 3350
espécies distribuídas em 56 gêneros (Crayn et al., 2015). No Brasil há atualmente 1340
espécies, distribuídas em 46 gêneros (Flora do Brasil 2020, em construção, 2018).
Bromeliaceae é caracterizada por possuir uma grande variabilidade de hábitos,
podendo ser terrícula, rupícula ou epífita. São geralmente herbáceas e podem ser
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
espécimes de poucos centímetros como os representantes do gênero Tillandsia L., até
indivíduos de até 10 metros de altura (Moreira, 2006). Normalmente suas folhas assumem
um formato de roseta, gerando o chamado tanque na base das folhas. Esse tanque é
responsável pela reserva de nutrientes e água e gera uma importante relação entre
Bromeliaceae e a fauna local, servindo de abrigo e fonte de alimentos para diversas
espécies animais e microrganismos. Suas inflorescências são geralmente bem vistosas, o
que aumenta o uso de Bromeliaceae na ornamentação (Moreira, 2006).
Tillandsia é o maior gênero de Bromeliaceae, possuindo 557 espécies descritas.
Tillandsia é representada por 87 espécies no Brasil, sendo 19 para o Estado de São Paulo
(Flora do Brasil 2020 em construção, 2018). Este gênero é caracterizado por indivíduos
de pequeno porte, as folhas podem ser em roseta ou dispostas ao longo do caule, sendo
as inflorescências geralmente vistosas. As espécies do gênero ocorrentes no Estado de
São Paulo não formam tanque, sendo rupícolas ou epífitas (Wanderley & Martins, 2007).
De acordo com a Flora do Brasil 2020 em construção (2018), ocorrem 17 espécies de
Tillandsia L. na vegetação denominada Floresta Estacional Semidecidual e 10 espécies
em Floresta Ciliar.
A família Bromeliaceae possui alta importância ecológica, pois está inserida em
quase todos os ambientes tropicais e subtropicais. Com suas características de reserva de
água, acaba criando habitats dentro de si, mantendo um pequeno ecossistema associado a
ela. Portanto, Bromeliaceae está sempre associada a ambientes que sofrem risco de ação
antrópica e alvo de desmatamento e coleta exploratória, gerando um alto impacto nos
ambientes de onde eles é retirada.
O reconhecimento de epífitas pode dar indícios do estado de conservação de uma
formação vegetal. Segundo Rocha et al. (2004), é importante monitorar a densidade e
abundância dessas plantas nas áreas de interesse de conservação, devido não apenas a sua
importância na manutenção de imensa variedade de formas de vida, mas também, pela
sensibilidade que revelam alterações do ambiente, como bioindicadoras das condições e
qualidade dos sistemas que se quer conservar. Nesse sentido, estudos em sistemática são
fundamentais, pois permitem reconhecer quais são as espécies ocorrentes em uma
determinada área, contribuindo para a conservação da biodiversidade.
Assim, o objetivo deste trabalho foi reunir elementos sobre a conservação da
Floresta Ciliar da Guarnição da Aeronáutica de Pirassununga através do levantamento de
Tillandsia L.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Material e métodos

2.1. Área de estudo

A Guarnição da Aeronáutica da Pirassununga localiza-se no Município de


Pirassununga (22°02’S e 47° 30’W). Possui uma área total de 6.502 hectares, sendo 3.500
hectares destinados às atividades agropecuárias, como cultivo de cana-de-açúcar, milho,
soja e criação de bovinos e suínos, além de produção agroindustrial. Aproximadamente
1.500 hectares de áreas fragmentadas correspondem à Floresta Estacional Semidecidual
contínua a cerca de quatro quilômetros de Floresta Ciliar do Rio Mogi Guaçu (Figura 1),
bem como áreas de Cerrado. Esta região onde foi desenvolvido o estudo é de clima Cwa
de Köppen, temperado macrotérmico, moderadamente chuvoso com inverno seco
(Batalha et al., 1997), com temperatura do mês mais frio inferior a 18 ºC e máxima do
mês mais quente 22 ºC (Neto et al., 2012), altitude média de 600 m e solo do tipo
Latossolo Vermelho- Amarelo (Mantovani & Martins, 1988).

A B

FIGURA 1 – A. Rio Mogi Guaçu, nos limites da Guarnição da Aeronáutica de Pirassununga. B. Aspecto
do interior da Floresta Ciliar referente à Guarnição.

2.2. Metodologia
As coletas foram feitas de novembro de 2014 a janeiro de 2018, através de visitas
aleatórias na área de estudo. A distância percorrida no total do estudo resulta em uma
trilha de aproximadamente um quilômetro, considerando a distância maxima de 30 m a
partir da margem do Rio Mogi Guaçu. Os espécimes em estado reprodutivo obtidos foram
herborizados segundo as técnicas usuais (Fidalgo & Bonini, 1989) e depositados no
herbário HARA (Universidade Federal de São Carlos, campus Araras), enquanto os
espécimes estéreis foram cultivados em estufas para posterior coleta e herborização das
estruturas reprodutoras. Os espécimes foram identificados através da chave de
identificação e descrição presentes na Flora Fanerogânica do Estado de São Paulo

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(Wanderley & Martins, 2007). A distribuição dos espécimes nas fitofisionomias foi
confrontada com a Flora do Brasil 2020 em construção (2018).

3. Resultados

Foram reconhecidas seis espécies de Tillandsia, correspondentes a 48 coleções


obtidas na área de estudo (Figura 2). A seguir, é apresentado brevemente o levantamento
de Tillandsia para a Guarnição da Aeronáutica de Pirassununga.
Tillandsia L.
Epífitas. Folhas em roseta, rosuladas ou dispostas ao longo do caule, polísticas ou
dísticas, poucas a numerosas bainha pouco distinta. Inflorescências simples ou composta
com brácteas florais geralmente vistosas. O escapo sempre ultrapassa as folhas. Flores
dísticas ou polísticas com pétalas livres, sépalas livres ou conatas. Frutos em capsula
castanhos, propágulos plumosos.
Chave de identificação para as espécies de Tillandsia L.
1. Folhas elípticas a lanceoladas.
2. Lâmina foliar cilíndrica .......................................................... 4. T. recurvata
2’. Lâmina foliar filiforme ...........................................................2. T. mallemontti
1’. Folhas estreito-triangular.
3. Pétalas azuladas ................................................................... 5. T. Tenuifolia
3’. Pétalas amarelas ou brancas
4. Folhas dispostas ao longo do caule ........... ............... 6. T. tricholepis
4. Folhas rosuladas.
5. Inflorescência com 4-5 flores, pétalas amarelas
..............................................................................1. T. loliacea
5’. Inflorescência com 10-15 flores, pétalas brancas
..............................................................................3. T. pohliana

1. Tillandsia loliacea Mart. ex Schult. & Schult.f. in Roem. & Schult., Syst. 7(2): 1024.
1830.
Caule inconspícuo. Folhas rosuladas, polisticas, eretas e suberetas, densamente lepidotas,
bainha ovóide. Inflorescência simples, 3-7 flores, raque geniculada. Brácteas florais verde
acinzentadas. Flores dísticas, pétalas amarelas liguladas com ápice agudo.

2. Tillandsia mallemontii Glaz. ex Mez in Mart., Eichler &Urb., Fl. Bras. 3(3): 608. 1894

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Caule conspícuo. Folhas elípticas a lanceoladas, dísticas ou subdísticas, dispostas ao
longo do caule, densamente lepidotas, bainha oval. Inflorescência simples, 2-4 flores,
brácteas verdes. Flores dísticas pétala azul a violeta, ápice obtuso.

3. Tillandsia pohliana Mez, in Mart., Eichler & Urb., Fl. Bras. 3(3):597. 1894.
Caule inconspícuo. Folhas rosuladas, polísticas, eretas, densamente lepidotas, bainha
pouco distinta. Inflorescência 10-15 flores. Brácteas florais castanho-claro, ápice
apiculado. Flores polísticas com pétalas alvas, ápice obtuso.

4. Tillandsia recurvata (L.) L., Sp. Pl., ed: 240.1762


Caule formando touceiras, caule inconspícuo com entrenós curtos, recobertos pela
bainha, raízes reduzidas. Folhas poucas, elípticas a lanceoladas, dísticas e fortemente
recurvadas, bainha distintamente mais larga que a lâmina. Flores não vistas.

5. Tillandsia tenuifolia L., Sp.pl. 286. 1753.


Caule inconspicuo a alongado. Folhas rosuladas ou dispostas ao longo do caule, folhas
contendo bainha alargada. Inflorescência simples, ovóide ou cilíndrica. Brácteas florais
róseo-claras, ápice apiculado. Flores polísticas com pétalas azuladas.

6. Tillandsia tricholepis Baker, Four. Bot. London 16:237.1878.


Caule conspícuo, folhas dispostas ao longo do caule, polísticas, eretas a suberetas,
densamente lepidotas, bainha largo-oval distinta da lâmina. Flores não vistas.

4. Discussão

De acordo com a Flora do Brasil 2020 em construção (2018), todas as espécies


aqui reconhecidas ocorrem em Floresta Ciliar e Floresta Estacional Semidecidual, exceto
T. pohliana, até o momento reconhecida apenas para Floresta Estacional Semidecidual.
No presente estudo as seis espécies reconhecidas foram encontradas em ambas as
formações vegetais. Este fato deve-se, provavelmente, pela presença de um grande
fragmento de Floresta Estacional Semidecidual contínuo à Floresta Ciliar, permitindo o
fluxo de plantas e animais entre essas duas formações vegetais.

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A B

C D

E F

FIGURA 2 – Espécies de Tillandsia ocorrentes na Guarnição da Aeronáutica de


Pirassununga. A. T. loliaceae Mart ex Schult & Schult.f. B. T. mallemontti Glaz. ex Mez.
C. T. pohliana Mez. D. T. recurvata (L.) L. E. e F. T. tenuifolia L.

Trabalhos como de Costa et al. (2011) e Bataghin et al. (2012) apontam em seus
resultados espécies de Tillandsia L. ocorrentes em áreas de estudo cuja vegetação é de
Floresta Estacional Semidecidual. Costa et al. (2011) encontrou três espécies das quais

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
duas foram aqui identificadas, T. recurvata e T. tricholepis. Bataghin et al. (2012)
encontrou três espécies de Tillandsia L. sendo elas T. recurvata, T. tricholepis e T stricta
Sol. Dentre todas espécies supracitadas, apenas T. stricta não foi encontrada no presente
trabalho.
As espécies T. recurvata e T. tricholepis aparecem nos resultados de ambos os
estudos de Bataghin et al. (2012) e Costa et al. (2011). De acordo com Wanderley e
Martins (2007) ambas as espécies são comuns dentro do estado de São Paulo, inclusive
em formações florestais em geral, permitindo sugerir que ambas sejam espécies de alta
ocorrência em Floresta Estacional Semidecidual. Nenhum dos estudos supracitados
compreendem a áreas de Floresta Ciliar e apenas Bataghin et al. (2012) realizou seus
estudos no Estado de São Paulo, o estudo de Costa et al. (2011) foi realizado no estado
do Paraná. Apesar dos dois trabalhos terem sido feitos em estados diferentes, a lista de
espécies citadas são muito parecidas entre si e com a lista contida no presente estudo.
As espécies de Tillandsia são de ampla distribuição e, frequentemente, observadas
em áreas com maior luminosidade ou mesmo em áreas antropizadas (Bataghin et al.,
2012). Tillandsia geralmente tem grande resistência ao déficit hídrico e apresentam
caracteres xeromórficos em nível foliar (Bataghin et al., 2010).
Nas comunidades, de modo geral, a abundância e a diversidade de organismos
existentes estão fortemente relacionadas à complexidade estrutural do ambiente em que
a comunidade vive, provida bioticamente pelos próprios organismos da comunidade que,
por estarem presentes, imediatamente criam condições para a existência de outras formas
de vida na comunidade (Rocha et al., 2004). Dentre esses organismos, destacam-se as
bromélias, que resultam em maior efeito de inclusão de novas espécies do que o
encontrado na maioria das outras formas de organismo viventes (Rocha et al., 2004). As
bromélias são frequentemente utilizadas por animais como abrigo ou refúgio; algumas
espécies animais passam todo ou parte do seu ciclo de vida no interior destas plantas
(Rocha et al., 2004).
Assim, manter espécies de bromélias nos seus ambientes significa não apenas
conservar as espécies de bromélias, mas sim conservar uma ampla gama da diversidade
local (Rocha et al., 2014). Uma importante estratégia para programas visando a
conservação de sistemas naturais deve obrigatoriamente abranger a manutenção ou
recuperação da diversidade e riqueza de Bromeliaceae (Rocha et al., 2014).
Segundo Kersten e Kuniyoshi (2009) a ocupação do ambiente epifítico só ocorre
em estágios médios de recuperação da floresta. A presença de forófitos de grande porte

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
são essenciais para a comunidade epifítica que, na maioria das vezes, requer acúmulo de
solo suspenso e podem servir como fonte de propágulos para o crescimento de epífitas
em outros forófitos (Wolf 2005 apud Bataghin et al., 2010). Este tipo de estrutura de
vegetação referida acima coincide com o que foi reconhecido para os forófitos na
Guarnição da Aeronáutica de Pirassununga. De acordo com Damasceno (2005), a
presença de epífitas depende da existência de nichos ecológicos adequados, bem como de
heterogeneidade ambiental. No caso das bromélias propiciam o desenvolvimento de
muitas espécies de samambaias, musgos, dicotiledôneas e de diversas plantas vasculares
como das famílias de angiospermas (Tiepo, 2005).
É importante observar a breve variação da vegetação entre a transição de Floresta
Estacional Semidecidual e Floresta Ciliar, uma vez que como observado durante as
excursões à área de estudo ocorrem espécies arbóreas características de Floresta
Estacional Semidecidual logo na margem do rio. Este fato também ocorre com espécies
do gênero Tillandsia L., sugerindo que a Floresta Ciliar é composta pela sua vegetação
específica, com a adição de espécies que ocorrem na vegetação adjacente a ela. Segundo
Bataghin et al. (2012), as epífitas podem refletir o grau de preservação local, funcionando
também como indicadores biológicos do estágio sucessional da floresta.

5. Conclusão

Mesmo as espécies T. recurvata e T. tenuifolia serem pioneiras tardias na sucessão


de espécies epifíticas (Kersten & Kuniyoshi, 2009), considerando a presença do
fragmento de Floresta Estacional Semidecidual contínuo à Floresta Ciliar, a presença de
estratos na vegetação e de forófitos de grande porte, a área de estudo mostrou-se relevante
na conservação das epífitas, especialmente as do gênero Tillandsia L. Como foram
reconhecidas seis espécies na área de Floresta Ciliar, sendo relatadas dez, de acordo com
a Flora do Brasil 2020 em construção (2018), esse gênero tem boa representação no local.
Portanto, é esperado que a preservação das duas fitofisionomias seja feita em conjunto.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

INDICADORES DE ATRAÇÃO E AFUGENTAMENTO DE FAUNA


EM ÁREAS VERDES PÚBLICAS NO MUNICÍPIO DE CAMPINAS
(SP)

Beretta, Victor Z.; Longo, Regina M.; Santos, Simone M.

PUC-Campinas/Sistemas de Infraestrutura Urbana - vzberetta@gmail.com;


rmlongo@uol.com.br;simensan@gmail.com

Resumo: O adensamento urbano condiciona a formação de diversos microecossistemas,


os quais refletem de modo direto na fauna urbana. Na medida em que se identifica a
estreita relação entre atividades antrópicas e as características dos habitats, tornam-se
relevantes os estudos que visam avaliar as consequências do processo de urbanização para
a diversidade de espécies. O presente trabalho teve por objetivo realizar um levantamento
de indicadores de atração e afugentamento de fauna em ambientes urbanos. O estudo foi
realizado no Parque Ecológico Hermógenes de Freitas Leitão Filho em Campinas-SP.
Inicialmente realizou-se uma visita de campo no local com uma listagem de controle
(checklist), realizando uma análise preliminar da área, levantando indicadores de atração
e afugentamento de fauna: diversidade de espécies vegetais, qualidade da cobertura
vegetal, dispersão de sementes, presença de espelho d’água, dimensão e proximidade da
vegetação, presença de outras áreas verdes no entorno, contato com vias de acesso e
qualidade e quantidade da iluminação artificial. Os dados obtidos foram analisados por
meio da listagem de Battelle Columbus (adaptada), atribuindo valores a cada indicador,
obtendo o Índice de Qualidade Ambiental (QA) da área, sendo aplicadas checagens para
atração e afugentamento de fauna. O parque apresentou QA para atração de 912,5 e 375
pontos para afugentamento. Foi possível observar um equilíbrio satisfatório no local, uma
vez que o parque é utilizado pela população, principalmente aos finais de semana, além
de possuir uma razoável variedade de espécies de cobertura vegetal, presença de espelho
d’água, entre outros aspectos.
Palavras-chave: Área verde; atração e afugentamento de fauna; infraestrutura urbana;
indicador ambiental.

1. Introdução

A vegetação intraurbana, importante variável a ser pensada na qualidade do


ambiente urbano, vem sendo cada vez mais extinta nos centros urbanos devido pressões
antrópicas desencadeadas. Com a urbanização acelerada, diversos fatores surgem como
sua consequência; como poluição atmosférica e das águas, alteração do microclima,
surgimento de ruídos, produção de lixos, destruição de solos, entre outras (PAULA;
FERREIRA, 2014).
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A qualidade ambiental pode ser definida como resultado da integração entre
elementos da paisagem naturais e não naturais através do ordenamento e planejamento do
espaço, harmonizando os benefícios da vegetação com os diferentes tipos de uso de solo.
Nesta concepção, a vegetação se destaca, uma vez que, com o ser humano tomando posse
do meio, a biota é a primeira componente a sofrer o impacto, sendo removida da superfície
terrestre (SOUZA; AMORIM, 2016).
Nesse sentido, torna-se indispensável a criação de áreas verdes públicas,
assegurando os benefícios da qualidade ambiental no espaço urbano, como conforto
térmico, atenuação da poluição do ar, sonora e visual, abrigo para fauna, dentre outros.
Ademais, atuam como indicador de qualidade de vida na malha urbana, uma vez que estão
ligadas ao lazer e recreação da população (LONDE; MENDES, 2014).
A partir das análises elaboradas sobre o espaço urbano de Campinas (SP), Morero
et al. (2007) compreende áreas verdes como:
[...] locais onde predominam a vegetação arbórea, praças, jardins e
parques, e sua distribuição deve servir a toda a população, sem
privilegiar qualquer classe social e atingir as necessidades reais e os
anseios para o lazer, devendo ainda estar de acordo com a sua estrutura
e formação (como idade, educação, nível socioeconômico) (MORERO;
SANTOS; FIDALGO, 2007).
Ainda, segundo o mesmo autor, a determinação da localização, do tamanho, a
destinação e infraestrutura das áreas verdes devem ser resultados de um criterioso
planejamento, afim de se obter o equilíbrio requerido. As áreas verdes desempenham
diversas funções no espaço da cidade, sejam elas funções ecológicas, estéticas ou sociais.
O Quadro 1 representa a síntese dessas funções.

QUADRO 1 – Síntese das principais funções desempenhadas pelas áreas verdes públicas. Fonte:
Adaptado de SOUZA; AMORIM, 2016
Funções Características
Inicialmente desempenhada pela simples existência de vegetação e
solo permeável na área. Estes aspectos, quando em conformidade:
• Reduzem a poluição atmosférica;
Função
• Suavizam temperaturas no inverno e no verão;
Ecológica
• Previnem processos de erosão do solo;
• Minimizam a ocorrência de enchentes e alagamentos;
• Auxiliam na estabilização do microclima da cidade.
Pode ser exercida pela harmonização da paisagem urbana,
quebrando a artificialidade ocasionada pela crescente massa de
Função concreto e edificações em detrimento dos elementos da natureza
Estética como fauna e flora;
Ainda, contribuem para o embelezamento da paisagem urbana,
desde que estejam corretamente manejadas, em excelente estado de

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
limpeza e conservação, além de apresentarem condimentos e outros
componentes que as caracterizam.

QUADRO 1 (continuação) – Síntese das principais funções desempenhadas pelas áreas verdes públicas.
Fonte: Adaptado de SOUZA; AMORIM, 2016
Funções Características
A função social pode ser desempenhada de diversas maneiras:
• Quando equipamento e mobiliários encontram-se em bom
estado de uso e conversação, possibilitando práticas de
atividades urbanas;
• Na medida em que seu acesso seja viabilizado para todos
Função
de forma igualitária, seja em função de sua localização ou
Social
estrutura física do terreno;
• Quando sua implantação proporciona à sociedade um
ambiente para realização de atividades nos momentos
livres, ter contato com a natureza, seja com a componente
arbórea ou com a fauna local.

No entanto, nota-se que a busca de soluções para os municípios é um processo que


deve ser considerado a dimensão social e ambiental, além do uso e ocupação do território
e das condições e características presentes no espaço urbano (BERTINI et al., 2016).
Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo realizar o levantamento de
indicadores de atração e afugentamento de fauna a partir da avaliação in locu da qualidade
ambiental das áreas verdes públicas do município de Campinas (SP).

2. Material e Métodos

O presente trabalho foi realizado em áreas verdes públicas do município de


Campinas (SP). O município está localizado no interior do estado de São Paulo, no
entroncamento de grandes e importantes rodovias estaduais, como a Rodovia dos
Bandeirantes (SP348), Rodovia Anhanguera (SP330) e Rodovia Dom Pedro I (SP065).
Com aproximadamente 794 Km² de área, o município de Campinas possui, segundo
último censo do IBGE, 1.080.113 habitantes, com densidade demográfica de,
aproximadamente, 1.360 habitantes por quilômetro quadrado (IBGE, 2017).
Em contraposição, o município apresenta duas realidades bastante distintas. Por
um lado, é configurado como polo industrial de alta tecnologia, centro universitário e de
pesquisas de elevada importância, referência na área da saúde, além de possuir
infraestrutura rodoviária e aeroportuária. Contraditoriamente, apresenta quadro de
desigualdade social e desenvolvimento urbano desordenado, consequentemente, com
impacto ambiental e problemas na infraestrutura urbana (MAINIERI, 2008).
O Parque Ecológico Hermógenes Leitão Filho localiza-se nos limites entre a
Universidade de Campinas (UNICAMP) e o bairro Cidade Universitária, e, nele, está a

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
lagoa Chico Mendes, que ocupa 74% da área total do parque. O parque possui área de
135 mil m² e possui, além da lagoa, uma pista para corrida e caminhadas, bancos para
descanso, bosques com churrasqueiras, equipamentos de ginástica, entre outros. Ademais,
possui vegetação nativa e exótica, e fauna diversificada (CAMPINAS, 2017).
Define-se indicador, de maneira geral, como qualquer parâmetro ou derivados
deste que tem capacidade de descrever um estado ou uma resposta dos fenômenos que
ocorrem em um determinado meio (SANTOS, 2004). De acordo com o Ministério do
Meio Ambiente (MMA), indicadores ambientais são fornecidos com caráter cientifico,
funcionando como uma ferramenta para avaliação de fenômenos e alterações ao longo do
tempo de um meio, recursos naturais ou de atividades humanas. Deste modo, o Quadro 2
apresenta os indicadores selecionados para avaliação nas visitas in locu. Estes foram
divididos em dois grupos: fatores do meio físico e fatores do meio antrópico.

QUADRO 2 – Indicadores de meio físico e antrópico selecionados. Fonte: Autor, 2018.


Fatores Temáticas Indicadores
Quantidade de espécies
Tipo de espécies (flor ou
fruto)
Vegetação
Qualidade (área
sombreada)
Sobreposição de copas
Presença ou ausência
Meio
Espelhos d’água Proximidade da
Físico
vegetação
Áreas verdes Tamanho das áreas
Fezes
Indícios de fauna Pegadas
Penas
Área impermeável
Dispersão de sementes
Para carros
Vias de acesso
Para pedestres
Populacional
Densidade
Veículos
Quantidade de postes
Meio
Posicionamento das
Antrópico Iluminação
luminárias
Tipo de lâmpadas
Uso e ocupação do entorno
Poluição sonora
Qualidade do ar

Inicialmente foi realizada uma visita in locu com a listagem de controle (checklist)
afim de se avaliar preliminarmente os indicadores levantados. Os dois fatores (meio físico
e antrópico) foram divididos em temáticas e cada temática dividida em indicadores. Cada
um desses indicadores tiveram um critério de avaliação, facilitando a avaliação no local;
alguns por levantamento expedito ou através da ferramenta Google Earth. Com exceção

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
dos indicadores Área do Espaço Verde Urbano, Áreas Verdes nas proximidades e
Dimensão dos Espelhos d’Água, que foram adquiridos pelo Google Earth, os demais
indicadores foram obtidos por meio de levantamento expedito.
Para realizar a avaliação dos fatores analisados na checklist que atraem ou
afugentam a fauna, utilizou-se uma adaptação da metodologia de Battelle Columbus. Este
método é um exemplo de listagem de controle, as quais consistem em uma simples relação
de fatores que devem ser associados, sistematicamente, os impactos ocorrentes na área de
estudo. Os fatores são, em geral, elementos do meio como solo, água ou vegetação. No
casso de Battelle Columbus, trata-se de um método multidisciplinar hierarquizado,
constituído de quatro categorias ambientais que se desdobram em 18 componentes, estes,
que se subdividem em 78 parâmetros (SANTOS, 2004). A determinação do grau do
impacto líquido de cada parâmetro é dada pela expressão (DEE et al, 1973):
QA = UIP * UIA
Onde: QA = Índice de qualidade ambiental; UIP = Unidade de importância; e UIA =
Unidade de impacto ambiental
Deste modo, o método de Battelle Columbus utilizada no presente trabalho, foi
adaptada afim de atender os objetivos esperados. Foram feitas duas Battelle adaptadas:
uma com as temáticas de atração, afim de se avaliar quanto atrativo estava o espaço verde
urbano; e uma com as temáticas de afugentamento, afim de se avaliar quais aspectos
estavam afugentando a fauna do Parque. Assim, o método permitirá quantificar os
parâmetros dos impactos ambientais e definir um índice de impacto global da seguinte
forma:
• Inicia-se a Unidade de Importância (UIP) com 1.000 (mil) pontos e divide-se entre
as 3 temáticas (para atração) e 2 temáticas (para afugentamento), de maneira
proporcional a importância do objetivo do trabalho;
• A pontuação de cada temática foi dividida entre seus indicadores, seguindo o
mesmo critério de importância;
• Construiu-se a tabela apoio (Tabela 1) com os valores necessários para o seu
equilíbrio, distribuindo a unidade de impacto ambiental conforme analisado em
campo pela checklist;
• A Unidade de Impacto Ambiental (UIA) expressa o valor de cada critério
conforme a tabela apoio, sendo pontuado de 0 (zero) à 1 (um), onde zero
representa degradação total do ambiente e um representa melhor qualidade do

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
espaço verde (para a Battelle de Atração); para a Battelle de Afugentamento, o
fator zero representa que o indicador não está contribuindo para a afugentamento
de espécies e o fator um que está contribuindo totalmente para a afugentamento
das espécies;
• Por fim, realizou-se a multiplicação da UIP de cada indicador ambiental com o
seu UIA, obtendo o QA.

TABELA 1 – Tabela apoio para avaliação dos fatores de atração e afugentamento de fauna.
Battelle
Classificação na Columbu
Temáticas Descrição Condições s - UIA
Checklist
0-1
< 10 Muito ruim 0
N° de espécies 10 - 20 Ruim 0,25
(quantidade de 20 - 30 Bom 0,50
espécies) 30 - 40 Muito Bom 0,75
> 40 Excelente 1
Vegetação Qualidade da < 30% Muito ruim 0
Cobertura Vegetal e 30% - 60% Ruim 0,25
Sobreposição de
Copas (% de área 60% - 90% Bom 0,75
sombreada) > 90% Excelente 1
Dispersão de Ausente Muito ruim 0
Sementes Presente Excelente 1
<2 Muito ruim 0
Área do Espaço 2-5 Ruim 0,25
Verde Urbano 5 - 10 Bom 0,50
Espaço Verde (hectares) 10 - 15 Muito Bom 0,75
Urbano
> 15 Excelente 1
Áreas Verdes nas Ausente Muito ruim 0
Proximidades Presente Excelente 1
Ausente Muito ruim 0
Presença/Ausência
Presente Excelente 1
< 5% Muito ruim 0
5% - 10% Ruim 0,25
Espelho D'água Dimensão dos 10% -
Espelhos (% da Bom 0,50
15%
área total) 15% -
Muito Bom 0,75
20%
> 20% Excelente 1
Distante (> 100 m) Muito ruim 0
Espelho Proximidade da
Próximo (100 - 50 m) Bom 0,50
D’água vegetação
Muito próximo (< 50 m) Excelente 1
Tráfego de carros no Presente Muito ruim 1
Vias de interior / exterior Ausente Excelente 0
Acesso
Presente Muito ruim 1

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Tráfego de pedestres
Ausente Excelente 0
no interior / exterior
<1 Excelente 0
1-2 Muito Bom 0,25
Quantidade de Postes
2-3 Bom 0,50
(n° de postes/hectare)
3-4 Ruim 0,75
Iluminação
>4 Muito ruim 1
Correto Excelente 0
Posicionamento das
Aceitável Bom 0,50
Luminárias
Incorreto Muito ruim 1
FONTE: Autor, 2018.

3. Resultados

De uma maneira geral, pode-se observar pelos resultados obtidos em trabalhos de


levantamento de campo que o Parque Ecológico Hermógenes de Freitas Leitão Filho
possui área em torno de 13 hectares e abrange mais de 60 espécies de vegetação, entre
elas arbórea/flor, arbórea/fruto, gramíneas e paisagísticas. O local apresenta-se
parcialmente sombreado decorrente da sobreposição de copas de árvores já bastante
desenvolvidas, o que proporciona um ambiente adequado para caminhadas e atividades
físicas e de lazer por parte da população. A cobertura vegetal já desenvolvida promove
também uma dispersão de sementes, o que pode ser observado no local. Ainda, no parque
existe um espelho d’água de, aproximadamente, 9 hectares, que fica muito próximo à
vegetação (menos de 50 metros de distância).
As Tabelas 2 e 3 apresentam os resultados obtidos pela avaliação in locu do
Parque. Analisando-se os dados obtidos foi possível observar a presença de fauna por
meio de fezes, de pegadas e penas de aves e, ainda, por meio de fotos feitas no local.
Dentre as espécies encontradas foi possível observar pássaros, como pombas, patos,
garças brancas, além de insetos como formigas, borboletas, besouros, cupins e outros
animais como, capivara, tartarugas, lagartos etc. A presença de áreas impermeáveis no
local é baixa (inferior a 30%) uma vez que, a pista de caminhada é de solo compactado e
apenas nas áreas de playground, academia ao ar livre e alguns quiosques possuem piso
impermeável. No local, pode-se observar o fluxo intenso de pedestres, principalmente no
interior do parque, e de veículos no exterior do local.
Em relação a iluminação artificial, observaram-se postes apenas nos locais de
prioridade, ou seja, no playground, academia ao ar livre e entrada do local. Sendo assim,
9 postes foram identificados com lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão e

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corretamente posicionados, ou seja, voltadas totalmente para o chão, não dispersando
iluminação para o meio ambiente.
TABELA 2 – Resultados obtidos na checklist para fatores do meio físico.
Fatores Temáticas Indicadores Critério de Avaliação Parque Ecológico
N° de Espécies 62
Arbórea/Flor X
Arbórea/Fruto X
Tipo de espécies
Gramíneas X
Paisagísticas X
Totalmente Aberta (> 90%)
Vegetação Qualidade da cobertura Parcialmente Aberta (90% - 60%)
vegetal Parcialmente Sombreada (60% - 30%) X
Totalmente Sombreada (< 30%)
Totalmente Sobreposta (> 90%)
Parcialmente Sobreposta (90% - 60%) X
Sobreposição de Copas
Parcialmente Espaçadas (60% - 30%)
Totalmente Espaçadas (< 30%)
Presente X
Meio Físico

Ausente
Espelhos d'água Distante (>100 m)
Proximidade da
Próxima (50m - 100 m)
vegetação
Muito Próxima (<50m) X
Áreas Verdes Tamanho das áreas (ha) 12,98
Presente X
Fezes
Ausente
Presente X
Pegadas
Indícios de Fauna Ausente
Presente X
Penas
Ausente
Registro de Animais (fotografias) X
Pouca (< 30%) X
Área Impermeável Relação de existência Média (30% - 60%)
Muita (> 60%)
Dispersão de Presente X
Sementes Ausente
Fonte: Autor, 2018.

TABELA 3 – Resultados obtidos na checklist para fatores do meio antrópico.

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Fatores Temáticas Indicadores Critério de Avaliação Parque Ecológico
Presente X
Carros na borda da praça
Ausente
Pedestres na borda da Presente X
praça Ausente
Vias de Acesso
Carros no interior da Presente
praça Ausente X
Pedestres no interior da Presente X
praça Ausente
População no exterior da praça (n° de pessoas/minuto) 6
População no interior da praça (n° de pessoas/minuto) 11
Densidade
Veículos no exterior da praça (n° de carros/minuto) 30
Veículos no interior da praça (n° de carros/minuto) 0
Quantidade de postes 9
Meio Antrópico

Incorreto (luz direcionada


diretamente no horizonte - luminárias
esféricas, tipo globo)
Posicionamento das Aceitável (luminária com certa
luminárias proteção, porém não totalmente
Iluminação direcionada para o chão)
Correto (luz é totalmente direcionada
X
para o chão)
Incandescente
Vapor de Mercúrio de Alta Pressão
Tipo de Lâmpadas
Vapor de Sódio de Alta Pressão X
LED
Área Úmida
Área Edificada X
Uso e Ocupação do
Espaço Verde Urbano X
entorno
Mata
Pastagem
FONTE: Autor, 2018.
Por fim, vale ressaltar que o uso e ocupação do entorno é de áreas edificadas e
espaço verde urbano. A Figura 1 apresenta detalhamento do espaço e da fauna encontrada.

FIGURA 1 – Fotos da paisagem e fauna registradas na avaliação in locu do Parque. Fonte: Autor, 2018.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
As Tabelas 4 e 5 apresentam as temáticas e seus respectivos indicadores de atração
e afugentamento, com os 1.000 pontos máximos a serem atingidos pela metodologia
Battelle Columbus no ano de 2017, distribuídos de forma a representar quantitativamente
o cenário da área em estudo.
TABELA 4 - Avaliação dos impactos em cada indicador de Atração pelo método Battelle
Columbus.
Parciais
Temáticas Indicadores UIA de cada
Indicador

Pontos UIP Descrição 0-1 QA


125 N° de espécies 1 125
125 Qualidade da Cobertura Vegetal 0,75 93,75
500 Vegetação
125 Sobreposição de Copas 0,75 93,75
125 Dispersão de Sementes 1 125
100 Área do Espaço Verde Urbano 0,75 75
Espaço Verde
200 Presença/Ausência de Áreas
Urbano 100 1 100
Verdes nas Proximidades

100 Presença/Ausência 1 100


300 Espelho D'água 100 Dimensão dos Espelhos 1 100
100 Proximidade da vegetação 1 100
∑ dos Indicadores 1000 912,5
FONTE: Autor, 2018.
TABELA 5 - Avaliação dos impactos em cada indicador de Afugentamento pelo método Battelle
Columbus.

Parciais
Temáticas Indicadores UIA de cada
Indicador

Pontos UIP Descrição 0-1 QA


125 Tráfego de carros no interior 0 0

125 Tráfego de carros no exterior 1 125


500 Vias de Acesso
125 Tráfego de pedestres no interior 1 125

125 Tráfego de pedestres no exterior 1 125

250 Quantidade de Postes 0 0


500 Iluminação
250 Posicionamento das Luminárias 0 0
Somatória dos Indicadores 1000 375
FONTE: Autor, 2018.

Pela análise das Tabelas 4 e 5 foi possível observar que com a aplicação do método
para os fatores de atração, o esperado para um espaço verde urbano 100% equilibrado,
seriam os 1.000 pontos na somatória final da Unidade de Impacto Ambiental (UIA). Neste
sentido, o Parque apresentou boas condições de equilíbrio nas temáticas de atração,

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
obtendo como somatória final da tabela de atração (Tabela 4) 912,5 pontos, demonstrando
necessidade de melhorias para alguns indicadores que não alcançaram a pontuação
integral, como qualidade da cobertura vegetal, sobreposição de copas e área do espaço
verde urbano. Porém, para os fatores de afugentamento, a condição ideal, ou seja, 100%
equilibrada, seria a pontuação da UIA apresentar 0 pontos, uma vez que esses fatores
dispersam a fauna. No entanto, a somatória final da tabela de afugentamento (Tabela 5)
apresentou 375 pontos, demonstrando a necessidade de readequação dos indicadores
levantados, como tentativa da diminuição do tráfego de pedestres e veículos no entorno
do parque.
O Gráfico 1 apresenta um resumo das temáticas de atração (verde) e
afugentamento (azul) para o Parque. Neste, está representando a porcentagem da Unidade
de Impacto Ambiental (UIA) média de cada temática.

Temáticas de Atração e Afugentamento


1
1 0,875 0,875
0,75
0,75
UIA (%)

0,5

0,25
0
0
Vegetação Espaço Verde Espelho Vias de Acesso Iluminação
Urbano D'água
Temáticas

GRÁFICO 1 – Resumo das temáticas de atração (verde) e afugentamento (azul). Fonte: Autor, 2018.

4. Discussão

De acordo com Biondi (2006), a diversidade de espécies é vista como aspecto


benéfico ao ambiente urbano, uma vez que quanto maior, melhor será a possibilidade de
instalação de fauna diversificada e maior é a resistência às variações e absorção de
impactos negativos como a poluição e variação climática.
Pires (2016) destaca a importância da presença de espelhos d’água, mesmo para
as espécies que não dependem diretamente da água para reprodução, uma vez que elas
necessitam de hábitat terrestre úmido afim de evitar a dessecação ou até mesmo morte
por desidratação, além de prejuízos ao processo respiratório. Ademais, a presença de
tráfego ao redor do espaço verde urbano contribui para o afugentamento da fauna, uma
vez que os veículos emitem gases, geram trepidações e ruídos (ROCHA, 2005).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O Parque é utilizado pela população, principalmente aos finais de semana. O local
obteve ótimo equilibro nos aspectos de atração, perdendo poucos pontos nos aspectos de
afugentamento de fauna. A pontuação perdida na tabela de afugentamento provém do
indicador via de acesso, uma vez que o fluxo de pessoas e veículos é bem intenso no local.

5. Conclusão

As áreas verdes são de extrema importância por assumirem papel de equilíbrio


entre o espaço modificado pela ocupação urbana e o meio ambiente. Deste modo, após os
resultados levantados e discutidos, observa-se que existem diversos fatores que atraem a
fauna como a qualidade e quantidade de vegetação e a presença de espelhos d’água; e
fatores que dispersam a fauna, como o tráfego de pessoas e veículos e a iluminação
artificial.
Neste sentido, quando se pensa no equilíbrio dos espaços, tem-se em mente que
devem atender a população, assim como a fauna também. Ainda, o equilíbrio entre uma
boa qualidade da cobertura vegetal, diversidade de espécies, presença de espelho d’água,
controle da iluminação artificial nos espaços verdes urbanos, contribuem para equilíbrio
da temperatura na região, favorecendo a espécie humana e a fauna.

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130
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA BACIA DO


RIBEIRÃO ANHUMAS - CAMPINAS, SP

Adalgiso Alves Camargo Júnior 1; Danilo Mangaba de Camargo 2 ; Maurício Corégio da


Silva1

Mara Lúcia Marques.3


1
Pontifícia Universidade Católica de Campinas - Centro de Ciências Exatas,
Ambientais e de Tecnologia – Faculdade de Geografia - adalgiso.alves@hotmail.com,
mauriciocoregio@gmail.com
2
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP
Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Programa de Pós-Graduação em
Geociências e Meio Ambiente – danilo.mangaba@gmail.com
3
Orientador, Pontifícia Universidade Católica de Campinas - Centro de Ciências
Exatas, Ambientais e de Tecnologia – mara.marques@puc-campinas.edu.br

Resumo: O potencial de risco a inundação, em áreas com elevada densidade populacional,


pode estar associado aos aspectos físicos e ao tipo de uso e ocupação da terra, permitindo
analisar a suscetibilidade ao evento, a partir da mensuração de indicadores
socioambientais. O objetivo dessa investigação consistiu na aplicação da análise espacial
para o estudo da vulnerabilidade socioambiental da bacia do Ribeirão Anhumas, no
município de Campinas. Na geração do Índice de Vulnerabilidade Social (IVsocial) foram
integrados indicadores socioeconômicos e o mapa de risco potencial de inundação foi
elaborado pelo método multicritério pela análise AHP (Analytic Hierarchy Process). Os
mapas resultantes de IVsocial e o de Riscopotencialinundação, foram sobrepostos pelo método
multicritério para gerar o Índice de Vulnerabilidade Socioambiental (IVsocioambiental). Os
resultados indicam que do total de 144,76 km2 da bacia, 50,08 km2 apresentam
vulnerabilidade alta e média-alta, sendo essa ocupada por cerca de 94 mil habitatantes.
Palavras-chave: Risco; Inundações; Análise de Vulnerabilidade.

1. Introdução

A ocupação urbana de forma desordenada pode ser considerada como um dos


fatores que coloca parcelas da população das cidades vulneráveis aos perigos
socioambientais, dentre eles, destaca-se o risco à inundação. No Brasil, nas últimas
décadas, as inundações têm ocorrido com maior frequência e magnitude em praticamente
todas as regiões do país. Essa problemática ocorre, principalmente, em razão do processo
de ocupação das margens de rios e impermeabilização do solo de bacias urbanas (HORA;
GOMES, 2009). Essas ocorrências tornam a inundação um desastre que afeta milhões de
pessoas anualmente, conforme dados disponibilizados pelo EM-DAT (International
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Disaster Database) (GUHAR-SAPIR et al., 2016). Diante desta realidade, tem-se
discutido medidas preventivas e estratégias de planejamento que possam diminuir os
impactos dos eventos de inundação (AMARAL; RIBEIRO, 2009). Dentre essas medidas,
o mapeamento das áreas de risco à inundação se constitui em uma informação útil à
prevenção, ao controle e à gestão das inundações (TUCCI; BERTONI, 2003). Porém,
entende-se que o mapeamento das áreas de risco ou susceptíveis à inundação pode não
ser o suficiente para revelar a real dinâmica e os efeitos das inundações, considera-se que
o potencial de danos também está associado a vulnerabilidade socioeconômica (HOGAN
et al., 2001).
Nessa perspectiva, o presente trabalho tem como objetivo analisar a
vulnerabilidade socioambiental da Bacia do Ribeirão Anhumas, Campinas – SP. A partir
da identificação e mapeamento das áreas de risco potencial de inundação uma vez que a
bacia comporta grande parte do núcleo urbano de Campinas, com alta densidade de
ocupação urbana na região sul da bacia e população de, aproximadamente, 310 mil
habitantes.

2. Material e Métodos

2.1 Aspectos conceituais

A abordagem de vulnerabilidade socioambiental possibilita integrar a dinâmica


social e dinâmica ambiental, permitindo a identificação de situações geográficas distintas,
pois as condições econômicas, sociais, políticas e culturais da população definem a
capacidade de absorver ou resistir aos impactos diante da materialização de um risco
(MENDONÇA et al., 2016). A análise dessa problemática requer a utilização de uma
ampla gama de variáveis, tornando necessário o emprego de técnicas e métodos
adequados. Nesse sentido, a análise espacial se une à temática da vulnerabilidade
socioambiental, como uma forma de reestruturar e espacializar a integração de dados, que
visam a distribuição espacial e identificação de padrões (ROSA, 2011).
A abordagem socioambiental considera as relações existentes entre o ambiente e
a sociedade, o que faz com que as condições de vida da população assumam papel
decisivo na exposição dos indivíduos à uma ameaça ou perigo, que seja percebível e que
esteja suscetível aos seus efeitos (VEYRET; RICHEMOND, 2007). Destaca-se que os
conceitos de risco e vulnerabilidade estão intrinsecamente associados, porém diferem
entre si, já que o risco implica a exposição das pessoas a perigos externos e a

132
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
vulnerabilidade mede a capacidade de resposta a ocorrência de eventos danosos (PNUD,
2007). Nota-se que o risco define a exposição e a vulnerabilidade concerne à
suscetibilidade a ele, ficando ainda mais evidente quando se constata que a geração e
exposição dos riscos ambientais são cada vez menos dependentes das circunstâncias
naturais e cada vez mais resultantes das intervenções sociais e culturais, que
desencadearão uma espécie de risco ambiental antropizado (DESCHAMPS, 2004;
MARANDOLA JR; HOGAN, 2006).
A importância da vulnerabilidade no estudo ambiental em espaços urbanos é
demonstrada pela indicação a exposição física da população a um perigo e também a
capacidade desta em se recuperar de eventos causadores de impactos negativos
(MENDONÇA, 2004).

2.2 Área de estudo

A bacia do Ribeirão Anhumas, no município de Campinas possui área de 144 km²


(Figura 1). Está inserida em uma área de contato entre duas unidades morfoestruturais, a
Depressão Periférica Paulista e o Planalto Atlântico.

FIGURA 1 - Localização e contextualização espacial da área de estudo (Organizado pelos autores)

O tipo climático, de acordo com a classificação de Koeppen é considerado Cwa – clima


subtropical de inverno seco e verão quente, com precipitação média anual de 1.424,5mm

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(CEPAGRI, 2017). Conforme apontado no levantamento de pontos críticos de inundação,
realizado pela prefeitura municipal em 2013, aproximadamente 35% dos pontos críticos
mapeados encontram-se na bacia do Ribeirão Anhumas.

2.3 Índice de Vulnerabilidade Socioambiental (IVsocioambiental)

O Índice de Vulnerabilidade Socioambiental (IVsocioambiental) foi obtido pela


análise espacial em sistemas de informação geográfica, pelo método multicritério de
integração de dados, agregando os mapas de Índice de Vulnerabilidade Social e de Risco
Potencial de Inundação.
Na elaboração do Índice de Vulnerabilidade Social (IVsocial) a unidade de área
para mapeamento foi o setor censitário. Foram extraídos do Censo Demográfico de 2010
– Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) oito parâmetros, os quais foram
agrupados em seis indicadores, escalonados de 0 a 1 (Equação 1) e ponderados pelo Índice
de Desenvolvimento Humano de Campinas (GOERL et al., 2012).

𝐷𝑑 + 𝑁𝑚 + 𝑀𝑚 + 𝑇𝑥𝐷𝐸𝑃 + 𝑇𝑥𝐴 + 𝑇𝑥𝑅𝐸𝑁𝐷𝐴𝑐𝑎𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒


𝐼𝑉𝑠𝑜𝑐𝑖𝑎𝑙 = (1)
IDHM
Onde Dd é Densidade Demográfica, Nm é Número de moradores no setor censitário, Mm é
Média de moradores por domicílio, TxDEP é Soma da proporção da população ≥65 anos
e <12 anos, TxA é Proporção de pessoas analfabetas acima de 12 anos, TxRENDAcarente é
Soma da proporção dos responsáveis sem rendimento e com rendimento de até 1 salário
mínimo (Salário mínimo em 2010, aproximadamente, correspondia a US$ 342,00) e
IDHM é o índice de desenvolvimento humano (Campinas=0,805) (PNUD, 2013).

Para o mapeamento das áreas de Risco Potencial de Inundação (Riscopotencial inundação) foi
gerado um banco de dados geográfico no SIG ArcGis 10.4.1 (ESRI, 2016), cotendo os
parâmetros (Quandro 1): (1) mapa hipsométrico do município de Campinas classificado
em 6 classes altimétricas, a partir do Modelo Digital de Elevação (MDE) – TOPODATA
(VALERIANO & ROSSETTI, 2012); (2) mapa de declividade, gerado pelo MDE –
TOPODATA e reclassificação em 4 classes, conforme proposta de EMBRAPA (1979);
(3) mapeamento de uso e cobertura da terra da Unidade Hidrográfica de Gerenciamento
de Recursos Hídricos 5 (SMA, 2013), delimitado ao município de Campinas e
reclassificação pelas classes de uso e cobertura da terra, conforme IBGE (1999); e (4)
mapa de classes de solo obtido por digitalização das feições e reclassificação do Mapa
Pedológico Semidetalhado do município de Campinas, na escala 1:50.000
(VALLADARES, et al., 2008), empregando o agrupamento das classes de solos pelo

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
segundo nível categórico do sistema brasileiro de classificação de solos (SANTOS, et al.,
2006). Foi empregado o método de análise AHP (Analytic Hierarchy Process) proposto
por Saaty (1977). Gerou-se a matriz de decisão para os quatro parâmetros utilizados:
hipsometria, declividade, uso da terra e tipo de solo, conforme a relação de importância
pareada. Para a atribuição de pesos, utilizou-se quatro matrizes de comparação que
obtiveram consistência, elaboradas pelos autores e um especialista na área de estudo. Esse
procedimento foi adotado para diminuir o grau de subjetividade na atribuição destes
pesos. As cargas individuais para as variáreis que compõem cada parâmetro foram
atribuídas na aplicação da ferramenta de sobreposição ponderada (Weighted Overlay), as
cargas individuais receberam valores entre 1 e 10, como apresentado na Tabela1.

TABELA 1: Parâmetros e atribuição de cargas e pesos.


Parâmetro Variável Carga Peso*
550 – 560 10
560 – 580 9
Hipsometria 580 – 600 8
600 – 650 0,1234
(m) 7
600 – 700 5
700 – 800 4
Áreas Urbanizadas 9
Cultivos Permanentes 4
Cultivos Temporários 6
Uso e Cobertura Silvicultura 4
0,2095
da Terra Pastagens/Campos 5
Área Florestal 2
Água 10
Solo Exposto 7
0-3 10
Declividade 3-8 8
0,5598
(%) 8 - 20 6
20 - 45 3
Argissolo Amarelo 6
Argissolo Vermelho 6
Argissolo Vermelho-Amarelo 6
Cambissolo Haplico 5
Complexo de Gleissolo Haplico e Melanico 9
Classes de Solos – Pedologia 0,1071
Latossolo Amarelo 1
Latossolo Vermelho 3
Latossolo Vermelho-Amarelo 2
Nitossolo Haplico 7
Nitossolo Vermelho 7
*Razão de consistência 0,06071

O mapeamento das áreas de risco potencial de inundação foi produzido pelo


método de sobreposição multicritério ponderado, conforme Equação 2
Riscopontencial inundação= Hipsometria×0,1234+Declividade×0,5598
(2)
+UsocoberturaTerra×0,2095+TipoSolos×0,1071
O Índice Vulnerabilidade Socioambiental (IVsocioambiental) foi obtido pela
integração, pelo método multicritério ponderado, do mapa de IVsocial, convertido para o
formato raster, com o mapa do Risco potencial inundação (Equação 3).
IVsocioambiental=IVsocial×0,5+Risco potencial inundação×0,5 (3)

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Foi utilizado o filtro de pixel majoritário no mapa resultante IVsocioambiental para
compatibilização da unidade de área de análise (setor censitário). O índice de
vulnerabilidade socioambiental foi classificado em quatro intervalos de ocorrência:
média-baixa, média, média-alta e alta, empregando o método de Quantis.

3. Apresentação e discussão dos resultados

Os mapeamentos resultantes são apresentados na Figura 2. No que tange ao risco


potencial de inundação, verificou-se que a maior ocorrência da classe de risco alto possui
uma concentração maior na zona do baixo curso do Ribeirão Anhumas, localizado no
setor norte da área de estudo, próximo a seu exutório. Tal ocorrência pode ser vinculada
com os fatores morfológicos da área analisada, uma vez que atuação dos processos de
inundação e enchente caracterizam as áreas de deposição de sedimentos (baixo curso)
produzidos à montante (alto curso) e transportados no médio curso, conformando a
existencia de planícies de inundação (CHARTON, 2008). Todavia, nota-se também que
a classe de médio-alto risco potencial de inundação atravessa á área de estudo em uma
faixa em sentido sul-norte acompanhando o curso do rio principal.
Em termos da vulnerabilidade social, o mapeamento obtido apresentou uma
distribuição em que a classe de maior frequência é a de baixa vulnerabilidade com número
de 258 setores censitários e a de menor frequência mapeada foi a classe alta
vulnerabilidade. A distribuição espacial dos setores com alta vulnerabilidade social segue
também um padrão sul-norte a partir do médio curso da bacia. Tal processo possui raízes
no próprio processo de urbanização do município que, dada questões relativas a valoração
das terras, resultou na ocupação de áreas de várzea pela população de baixa renda (VITTE
et al., 2010)
O mapeamento da vulnerabilidade socioambiental da bacia conjuga as
informações constantes nos mapeamentos dos índices de vulnerabilidade social e risco
potencial de inundação, em uma escala de análise de 1:50.000. A classe de média
vulnerabilidade socioambiental é aquela de maior representatividade na Bacia do
Ribeirão Anhumas, ocupando uma área de 83,24 km² e com população de 196.640
habitantes. A segunda classe em ocorrência é a de média alta vulnerabilidade com área
de 33,17 km² e população de 76.361 habitantes. A classe de alta vulnerabilidade, por sua
vez possui área de 16,91 km² com população na ordem de 18.015 moradores. Por fim, a
classe de menor representatividade areal é a de média baixa vulnerabilidade (4,45 km²),
conquanto que sua população atinja o número de 19.881 pessoas.

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FIGURA 2 – Vulnerabilidade socioambiental na Bacia do Ribeirão Anhumas.

Vale ressaltar que a principal área com o maior grau de vulnerabilidade socioambiental
localiza-se no extremo norte da área estudada. Resultado que pode ser avalidado pela
sobreposição do mapa de vulnerabilidade socioambiental com os pontos críticos de

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
inundação mapeados pela Prefeitura de Campinas (CAMPINAS, 2013), onde de um total
de dez (10) pontos sete (7) encontram-se em áreas mapeadas com vulnerabilidade média-
alta e alta.

4. Considerações Finais

A análise da vulnerabilidade socioambiental frente ao risco potencial de


inundação na Bacia do Ribeirão Anhumas, possibilitou a identificação da bacia como uma
área de média vulnerabilidade. Por ter utilizado o setor censitário como unidade-área de
discretização dos dados, é possível vislumbrar uma atualização desse mapeamento assim
a cada nova edição do Censo demográfico, tornando-se uma ferramenta monitoramento
a médio prazo, o que contribui para o planejamento e gestão em de bacia hidrográfica.
As técnicas de geoprocessamentos aliadas a metodologias de tomada de decisão
multicritério mostraram-se ferramentas eficazes no estudo do risco à inundação. Uma
direção para trabalhos futuros é dada pela perspectiva de mapeamento do risco potencial
de inundação por índices morfométricos que possibilitem uma interpretação da propensão
de inundação por indicadores como: coeficiente de compacidade e o fator de forma da
bacia, ponderando o risco em diferentes bacias hidrográficas.

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140
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

DIAGNÓSTICO DO USO DA TERRA EM ÁREAS DE


PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO CAMPUS LAGOA DO
SINO/UFSCAR

CREMASCO, Camila R. ¹

TOLEDO, André M. A.²

¹Universidade Federal de São Carlos. Graduação em Engenharia Ambiental.


cacremasco@gmail.com
² Orientador, Universidade Federal de São Carlos. amatoledo@gmail.com

Resumo: Este trabalho teve como objetivo geral realizar o diagnóstico do uso e cobertura
da terra em áreas de preservação permanente no entorno de quatro represas do campus
Lagoa do Sino da UFSCar, por meio de geoprocessamento. Neste sentido, utilizou-se a
técnica para delimitar as áreas de preservação permanente (APPs), bem como para
identificar e quantificar as classes de uso da terra a partir da interpretação visual de
imagem de satélite. Em seguida, realizou-se o processamento de sobreposição das APPs
com o mapa de uso da terra para realizar o diagnóstico ambiental nas represas. Os
resultados obtidos mostram a presença de 8 diferentes tipos de uso da terra, sendo que
44,66% das APPs analisadas estão irregulares devido ao uso do solo para agricultura.
Palavras-Chave: análise ambiental; geoprocessamento; represa.

1. Introdução/Revisão Bibliográfica
A expansão das fronteiras agrícolas, motivada pela necessidade crescente de
produzir alimentos em quantidades cada vez maiores, promoveu a derrubada de
importantes áreas de florestas para implantação de empreendimentos agropecuários
(RIBEIRO et al., 2005).
Diversos são os impactos causados por essas atividades de expansão, como a
destruição de nascentes por impermeabilização e soterramento, e o aumento do
escoamento superficial, que além de levar possíveis metais pesados e agrotóxicos para
cursos d'água, causa assoreamento e erosão.
É certo, portanto, a necessidade da manutenção dos sistemas ambientais, para
garantir o contínuo acesso aos recursos naturais e dos serviços ambientais essenciais para
os diferentes modos de vida e biomas (Calijuri e Cunha, 2013). Diante disso, diversas são
as técnicas para mitigar problemas ambientais, destacando-se assim a importância das
áreas de preservação permanente (APPs).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O conceito de APP surgiu com a criação do primeiro código florestal, em 1934,
sofrendo diversas alterações com o passar dos anos. Barcelos (1995) exalta que as APPs
demandam atenção especial porque estão voltadas para a preservação da qualidade das
águas, vegetação e fauna, podendo-se assim afirmar que as APP’s devem ser mantidas
em suas características originais ou o mais próximo disso, e devem ser reconhecidas como
indispensáveis para a manutenção da vida humana e seu desenvolvimento. No entanto,
mesmo com a criação do código florestal, o histórico de produtores rurais revela um
contínuo desrespeito legal consolidado no uso indevido dos recursos das APPs (Calabria,
2004).
Com isso, técnicas de Sistema de Informações Geográficas (SIG) e Sensoriamento
Remoto auxiliam na identificação, delimitação e fiscalização de áreas de preservação,
através do uso de softwares de processamento digital de imagens, que são capazes de
armazenar, analisar e localizar espacialmente dados (Piroli et al., 2002).
Hasenack et al (2003) relata que as técnicas de análise espacial introduzidas com
o geoprocessamento facilitam a integração e a espacialização dos dados de um grande
número de variáveis, possibilitando a visualização dos dados e a espacialização dos
resultados na forma de mapas.
Com isso, o objetivo do presente trabalho foi realizar o diagnóstico de uso e
cobertura da terra em áreas de preservação permanente de quatro represas da fazenda do
campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

2. Material e métodos

2.1. Área de Estudo

A fazenda do campus Lagoa do Sino da Ufscar é altamente produtiva, com


plantações de milho, soja e trigo. A região possui forte vocação agrícola, em função da
qualidade do solo e disponibilidade de recursos hídricos. Os muitos remanescentes de
Mata Atlântica e Cerrado caracterizam a região como aquela que possui um dos maiores
índices de preservação de mata nativa do estado de São Paulo.
O clima da região, segundo a classificação de Koppen, é Cfa, clima temperado
úmido, com precipitação durante todo o ano (inexistência de período de seca), invernos
entre -3ºC e 18ºC e verões com temperaturas acima de 22ºC.

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O trabalho foi realizado nas áreas de preservação permanente (APPs) da fazenda,
abrangendo, neste contexto, quatro importantes lagoas/represas, conforme mostrado na
Figura 1.

FIGURA 1 - Localização geográfica das quatro lagoas na área sob estudo. Fonte:GoogleEarth.

Este trabalho foi realizado com base na lei 4.771/1965 (BRASIL, 1965), por
considerar maior dimensão das APPs, em relação à lei 12.651/2012 (BRASIL, 2012), e
também pelo fato desta ser considerada como base para recuperação de áreas degradadas
pelos gestores da propriedade, não sendo, portanto, necessário realizar o trabalho baseado
na lei atual.

2.2. Processamento e análise dos dados


Para caracterizar as APPs, foram primeiramente adquiridos mapas na rede digital.
A imagem foi obtida na plataforma google earth, em resolução máxima (4800x2912),
salva em formato "jpg". Em seguida realizou-se o registro, considerando o sistema de
projeção UTM, datum WGS84, zona 22 Sul, sendo as coordenadas dos pontos de controle

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obtidas na plataforma google earth. Para avaliar o resultado deste processo, foi
reprojetada para o datum Sirgas 2000 e efetuou-se a sobreposição da imagem
georreferenciada com a hidrografia do estado de São Paulo, obtida na plataforma
'DataGeo', da Secretaria de Meio Ambiente do estado de São Paulo, sendo possível
constatar que foi expressivamente satisfatório.
Foi realizado o processamento dos mapas com o software Arcgis 10.0, devido ao
maior número de ferramentas disponíveis para atender todas as etapas de processamento
e produtos mencionados. Com isto, gerou-se o mapa de uso do solo da fazenda,
correspondente ao ano de 2016, com base na interpretação visual de imagens de satélite.
Em seguida, as quatro represas foram selecionadas e separadas em outro arquivo para
realizar o diagnóstico nas APPs.
No processamento dos polígonos correspondentes às represas, determinou-se a
área e o perímetro de cada uma e com o uso da ferramenta Buffer gerou-se as áreas de
preservação permanente, considerando distância de 50 metros do corpo hídrico.
Para o diagnóstico ambiental, realizou-se o cruzamento do mapa de APPs com o
uso da terra, possibilitando a identificação e quantificação do passivo ambiental nessas
áreas.

3. Resultados e discussão

Os resultados obtidos são mostrados a seguir. O mapa de uso da terra da fazenda


objeto de estudo pode ser visto na Figura 2.
Percebe-se na Tabela 1 que 61% da fazenda é destinada a agricultura, possuindo
também uma área verde de 24%, que no caso são de fragmentos de floresta, com densa
arborização visível pelas imagens de satélite, e a área de regeneração, percebível pela
notável quantidade de pequenos arbustos e partes de mata, sem qualquer outro uso
perceptível.

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FIGURA 2 - Mapa de uso da terra da fazenda de estudo.

TABELA 1 - Quantificação das classes de uso nas APPs.


Classes de uso Área(ha) Percentual
Agricultura 392,53 61,61
Áreas construídas 10,81 1,70
Bacias de captação 0,14 0,02
Carreadores 6,95 1,09
Fragmentos florestais 69,26 10,87
Pasto/Campo 56,75 8,91
Regeneração 84,98 13,34
Represas 15,67 2,46
Total 637,09

As quatro represas objetos de estudo podem ser vistas na Figura 3, em destaque


em azul.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 3 - Mapa das lagoas de estudo.

Utilizando a mesma numeração da Figura 1 para as lagoas, pode ser visualizada


na Tabela 2 as áreas e perímetros de cada uma delas.

TABELA 2 - Área e perímetro das lagoas de estudo.


Represa Área (ha) Perímetro (m)
1 0,18 171,65
2 2,97 775,87
3 1,52 596,13
4 2,20 648,54

Geraram-se então as APPs das represas com 50 metros de largura da margem,


conforme pode ser observado na Figura 4, abrangendo área total de 141.448,43 m2 ou
14,15 há no entorno das quatro represas.

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FIGURA 4 - Mapa das áreas de preservação permanente (APP) das lagoas de estudo.

Sobrepondo os mapas das Figuras 2 e 4, obteve-se o mapa de uso da terra nas


APPs, mostrado na Figura 5.

FIGURA 5 - Mapa de uso da terra nas APPs.

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É possível observar ocorrência de atividades agropecuárias, correspondente às
classes ‘pasto/campo’ e ‘plantações’, nas APPs, caracterizando uso irregular nessas áreas.
A Tabela 3 apresenta as áreas de ocupação das classes de uso da terra nas APPs.
Neste contexto, considerando que a área degradada corresponde a 6,32 ha, e sendo a área
total de 14,15 ha, constata-se que 44,66% das APPs encontram-se em situação de uso
irregular.
TABELA 3 - Quantificação das classes de uso nas APPs.
Classes de uso Área(ha)
Plantações 5,50
Pasto/Campo 0,82
Fragmento de matas 7,83
Total de área degradada 6,32

As alternativas de recuperação das áreas de preservação permanente degradadas


podem ser: regeneração da vegetação nativa, muvuca de sementes e plantio de mudas de
espécies nativas. Considera-se nesta sequência, das técnicas apresentadas, aumento do
custo no processo de recuperação, mas por outro lado a regeneração da vegetação nativa
demora consideravelmente mais neste contexto.
No caso de plantio de mudas, para exemplificar, considerando a área total irregular
das APPs (Tabela 3) e espaçamento entre mudas de 3 metros, calcula-se que seriam
necessárias 7.019 mudas para recuperação dessas áreas.

4. Conclusão

Ao final do estudo, foi possível identificar e delimitar as áreas de preservação


permanente das 4 lagoas da fazenda de forma clara e eficiente com uso da técnica de
geoprocessamento. Neste caso, foi constatado que 44,66% das APPs encontram-se em
situação de uso irregular, ou seja, ocupadas com atividade agropecuária.
Vale salientar a importância da preservação das APPs como forma de proteção
dos mananciais de água e da manutenção da biodiversidade.

Referências bibliográficas
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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
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Florestal. Diário Oficial (da) República Federativa do Brasil. Poder Executivo. Brasília,
DF, 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2012/Lei/L12651.htm#art83>. Acesso em: 23 março 2016.
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149
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ZONEAMENTO AGROCLIMÁTICO DA CULTURA DO CAFÉ


ARÁBICA (COFFEA ARABICA L) NO MUNICÍPIO DE SÃO
SEBASTIÃO DO PARAÍSO - MG
1
Escobar-Silva, Elton V. 1Jacó, Ana P. 2Collares, Eduardo G.
1
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de
São Carlos – PPGCAm, UFSCar. Departamento de Ciências Ambientais. Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde.
eltescobar@gmail.com; eng.anapaulajaco@gmail.com;
2
Professor Doutor em Geotecnia - Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG -
Unidade Passos, MG. eduardo.collares@uemg.br

Resumo: O cultivo de café possui uma influência significativa na economia do país, sendo
o estado de Minas Gerais o maior produtor do grão dessa cultura. O seu cultivo está
diretamente ligado a condições agroclimáticas específicas e, assim, para a identificação
de áreas aptas e inaptas para o manejo dessa cultura é necessário o conhecimento prévio
de indicadores do meio físico, tais como temperatura e deficiência hídrica. A partir do
conhecimento desses indicadores e de sua espacialização territorial por meio de Sistema
de Informações Geográficas (SIG) é possível criar o seu Zoneamento Agroclimático
(ZA). Assim, este trabalho propõe o ZA da cultura do café Arábica (Coffea arabica L) no
município de São Sebastião do Paraíso, sudoeste do estado de Minas Gerais. Utilizou-se
a ferramenta ArcMap do aplicativo SIG ArcGIS® 10.5.1 for desktop (ESRI) para
compilar os dados climáticos e gerar o ZA. A área de estudo apresentou excelentes
aptidões climáticas e hídricas para a produção cafeeira Arábica, sendo que apenas uma
pequena faixa apresentou restrição. Além disso, o ZA se mostra uma ferramenta chave de
auxílio frente à possibilidade de implantação de uma cultura, facilitando a escolha do
local adequado.
Palavra-chave Agroclimatologia; Geoprocessamento; Coffea.

1.Introdução
A dinâmica e a influência direta de sistemas naturais na superfície terrestre
demandam de investigação profunda e minuciosa para a compreensão de suas possíveis
consequências nos sistemas de produção vegetal criados pelo homem (WOLLMANN e
GALVANI, 2013). O entendimento das variáveis ambientais limitantes para a produção
de determinada cultura vegetal é imprescindível nos dias atuais (MALUF et al., 2001). A
fertilidade e movimentos da água no solo, movimentos atmosféricos, processos
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geomorfológicos são algumas dessas variáveis limitantes (WOLLMANN e GALVANI,
2013).
O cultivo de café está diretamente ligado a condições agroclimáticas específicas,
logo, para a delimitação de áreas aptas e inaptas para o manejo dessa cultura é necessário
o conhecimento de indicadores do meio físico (PEZOPANE et al., 2010; MALUF et al.,
2001).
O termo zoneamento agroclimático é definido na literatura como a delimitação da
aptidão de regiões de cultivo em função do fator clima, isto é, o zoneamento agroclimático
é a delimitação da aptidão das regiões de cultivo quanto ao fator clima em escalas
macroclimáticas e regionais (OMETTO, 1981). A partir do conhecimento dos indicadores
do meio físico e de sua espacialização territorial por meio de um Sistema de Informações
Geográficas (SIG) é possível criar o seu zoneamento agroclimático, potencializando
assim o uso dos recursos naturais e facilitando o manejo da cultura (ANDRADE JÚNIOR
et al., 2001; MALUF et al., 2000; TOLEDO et al., 2009).
A cultura do café Arábica (Coffea arabica L) possui uma influência significativa
na economia do país, sendo o estado de Minas Gerais o maior produtor do grão (CONAB,
2017). Os principais parâmetros que influenciam no zoneamento agroclimático do cultivo
do fruto são: temperatura e déficit hídrico (MESQUITA et al., 2016). A temperatura
média de aptidão para o cafeeiro arábica constitui-se entre 18 e 23ºC. Já a faixa
considerada ideal de precipitação média anual está entre 1.200 e 1.800 mm. Essa espécie
pode suportar um déficit hídrico de até 150 mm. A altitude recomendada para o cultivo
desta variedade de café encontra-se entre 600 e 1.200 metros, estando diretamente ligado
com a longevidade e produtividade da lavoura (MESQUITA et al., 2016).
O objetivo deste artigo constitui-se em propor o Zoneamento Agroclimático da
cultura do café Arábica no município de São Sebastião do Paraíso, sudoeste do estado de
Minas Gerais, visto que o município caracteriza-se por ser um dos principais produtores
do grão no estado e responsável por boa parte da produção de cafés finos do Brasil.

2. Material e métodos

2.1 Caracterização da área de estudo

O Município de São Sebastião do Paraíso está localizado na mesorregião do Sul e


Sudoeste do estado de Minas Gerais (FIGURA 1), possui uma extensão territorial de

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814,92 km2 e uma população total de 64.980 habitantes, conforme o censo do IBGE no
ano de 2010.
Segundo o sistema de classificação climática global proposto por Köppen-Geiger
e Strähler-Arthur (1900), o clima da região sul e sudoeste do estado de Minas Gerais,
onde localiza-se a área de estudo, é classificado como tropical de altitude influenciado
por massas de ar polares, com características de clima temperado úmido, de inverno seco
e verão moderado. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil -
INMET (2016), o município apresenta temperatura média anual de 20,6 °C.

FIGURA 1 – Mapa de localização e caracterização da área de estudo

A geologia da região é representada por rochas da Bacia do Paraná, onde ocorrem


principalmente arenitos das Formações Botucatu e Aquidauana e basaltos da Formação
Serra Geral, além de rochas metamórficas (xistos, gnaisses e quartzitos) dos Grupos
Canastra e Araxá (CPRM, 2003). Localmente ocorrem arenitos, conglomerados,
folhelhos e siltitos oriundos da Formação Aquidauana; arenitos da Formação Botucatu;
Basaltos e Diabásios da Formação Serra Geral, além de calcários e rochas metabásicas e
as principais classes de solo são Cambissolos Háplicos, Argilossolos Vermelho-
Amarelos, Latossolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos e Neossolos Litólicos
(COLLARES E GOMES, 2013).

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Segundo Magri, Pejon e Collares (2013), a geomorfologia da área de estudo é
caracterizada por declividades mais elevadas na maior parte de sua extensão, sendo
constituída por morrotes, morros e escarpas. As unidades com declividades mais amenas
são representadas por colinas, morros com encostas suavizadas, planícies e platôs. A
variação altimétrica engloba valores entre 726 a 1.250 metros de altitude, sendo as
maiores altitudes concentradas na porção que vai de sul a sudoeste e na região do extremo
norte do município.
A cobertura vegetal do estado de Minas Gerais é constituída pelos biomas Cerrado,
Mata Atlântica, e Caatinga, além de suas diversas formas de transição (IEF, 2005). A área
de estudo localiza-se em zona de transição entre Cerrado e Mata Atlântica, apresentando
em sua maior porção aspectos de difícil caracterização, porém com predominância do
bioma de Cerrado. A vegetação é composta por gramíneas, arbustos e árvores, com
fragmentos dispersos de Florestas Estacionais Semideciduais ao longo de toda esta região
(IEF, 2005; COURA, 2007).
No setor agropecuário, com destaque para o cultivo do café, Minas Gerais é o estado
com maior produção cafeeira no Brasil, correspondendo a mais de 50% da produção
nacional do produto e cerca de 17% da produção mundial (CONAB, 2016).
As cidades que abrangem as regiões Sul e Sudoeste de Minas Gerais apresentam
altitudes elevadas e clima naturalmente ameno, características estas que contribuem
fortemente para a produção de café em grande escala, desta forma, o Sul de Minas é
considerado a maior região produtora de cafés Arábica (Coffea arabica L) no Brasil.
São Sebastião do Paraíso é caracterizado por apresentar aptidões de solo e
condições climáticas favoráveis para a produção de cafés 100% Arábica de alta qualidade,
sendo responsável por boa parte da produção de cafés finos do Brasil. As variedades do
café Arábica mais cultivadas no município são o Catuaí vermelho e amarelo e o Mundo
Novo, mas também há lavouras das variedades Obatã, Icatu e Catuaí Rubi.

2.2 Metodologia

Segundo Santos et. al (2015), para a elaboração do zoneamento agroclimático é


preciso seguir quatro etapas metodológicas, sendo elas: 1) delimitação das faixas
representativas das exigências climáticas da cultura; 2) espacialização das características
climáticas da região; 3) reclassificação espacial das características climáticas da região,
com base nas exigências climáticas da cultura; e 4) elaboração do mapa de zoneamento
agroclimático (Tabela 1).

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TABELA 1. Etapas metodológicas para elaboração do zoneamento agroclimático

Etapa Descrição Metodológica

1 Delimitação das faixas representativas das exigências climáticas da cultura

2 Espacialização das características climáticas da região

3 Reclassificação espacial das características climáticas da região, com base nas


exigências climáticas da cultura

4 Elaboração do mapa de zoneamento agroclimático, delimitando as áreas em


que há concordância ou não, ou restrições entre as exigências climáticas da
cultura e os limites permissíveis dos índices climáticos para essa cultura.
Fonte: Adaptado de Santos et al. (2015).

Diversos autores sugerem três classes de classificação quanto à aptidão climática:


apta, apta com restrição e inapta (OMETTO, 1981; ZOLNIER, 1994; MATIELLO et al.,
2002, dentre outros). A classe apta abrange condições térmicas e hídricas da área
favoráveis para o bom desenvolvimento e produção da cultura em escala comercial; a
classe apta com restrição engloba a área que apresenta restrições hídricas ou térmicas,
podendo ser ambas, que, eventualmente, podem prejudicar as fases de desenvolvimento
da cultura; a classe inapta incorpora áreas cujas as características normais do clima não
se apresentam favoráveis ou adequadas à exploração comercial da cultura, pois
apresentam limitações quanto aos fatores hídricos ou térmicos, ou ambos (Tabela 2).
TABELA 2. Classes de aptidão climática para cada cultura

Classes Características

Apta condições térmicas e hídricas da área favoráveis para o bom


desenvolvimento e produção da cultura em escala comercial

Apta áreas que apresentam restrições hídricas ou térmicas, podendo ser ambas,
com que, eventualmente, podem prejudicar as fases de desenvolvimento da
restrição cultura

Inaptas áreas cujas as características normais do clima não se apresentam


favoráveis ou adequadas à exploração comercial da cultura, pois
apresentam limitações quanto aos fatores hídricos e/ou térmicos
Fonte: Adaptado de Ometto (1981); Zolnier (1994); Matiello et al. (2002).

Como referência para os parâmetros analisados, faixas de aptidão térmica e hídrica,


relativos à espécie arábica (coffea arabica L) foram consideradas as recomendações feitas
por Matiello (1991), Santos et al. (2000), Matiello et al. (2002), Santinato et al. (2008),
Omena (2014), expostas na Tabela 3.

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TABELA 3. Faixas de aptidão térmica e déficit hídrico para a cultura do café Arábica

Coffea arabica L
Classe Temperatura Deficiência
hídrica

Apta 19,0 a 22,0 °C < 150 mm

Restrita 18,0 a 19,0 e 22,0 a 23,0 °C 150 a 200 mm

Inapta < 18 °C e > 23 °C > 200 mm


Fonte: Matiello (1991), adaptado pelos autores.

Os dados climáticos do município de São Sebastião do Paraíso - MG e das regiões


limítrofes dos municípios circunvizinhos, obtidos das normais climatológicas do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET) e do projeto Projeto Grande Minas (COLLARES,
2013), dos últimos 50 anos foram, inicialmente, avaliados quanto à sua qualidade e
consistência. Após a avaliação dos dados obtidos, elaborou-se o banco de dados referente
a temperatura e deficiência hídrica da área de estudo e para os municípios vizinhos.
Para gerar zoneamento agroclimático para a cultura do café arábica no município
de São Sebastião do Paraíso – MG, utilizou-se o software ArcMap da ferramenta SIG
ArcGIS® 10.5.1 for desktop (ESRI, 2017), incluindo suas principais ferramentas básicas
e comandos.
A partir dos mapas de regionalização das informações das temperaturas médias e
deficiência hídrica anual foi possível analisar a abrangência geográfica dos campos
homogêneos, materializando os valores de temperatura e deficiência hídrica em forma de
mapas georreferenciados. A construção desses mapas serviu para a interpolação, isto é
estimar valores em áreas não contempladas pela amostragem, e definição dos limites das
regiões de temperatura climaticamente homogêneas. Utilizou-se o método kriging com
semivariograma modelo esférico (padrão do ArcGIS) e raio de busca de 12 pontos para
a interpolação.

3. Resultados e discussão

O Mapa de Temperatura média anual, ilustrado no quadro 1 da Figura 2, apresenta


a média das faixas de temperatura ocorridas no município, variando de 21,3 a 22,25 °C,
sendo as áreas mais quentes concentradas na porção norte-noroeste e as mais frias
estendendo-se gradativamente para a porção sul e sudeste da área de estudo.

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O Mapa da média anual de Deficiência Hídrica apresenta variância relativamente
baixa, sendo que o déficit hídrico da área de estudo apresenta valores máximos de 9,35
mm, conforme ilustrado no quadro 2 da Figura 2. Desta forma, após elaboração dos
resultados, verificou-se que a área de estudo apresenta-se totalmente apta a este
parâmetro, uma vez que são considerados valores de até 150 mm de deficiência hídrica
para caracterizar a área como apta para a cultura do café Arábica (Coffea arabica L).
A partir da obtenção dos Mapas das médias anuais de Temperatura e Deficiência
Hídrica da área de estudo foi realizada a reclassificação destes mapas atribuindo-se pesos
a fim de definir as classes de aptidão térmica e deficiência hídrica para a cultura do café
Arábica. Posteriormente, através da sobreposição e interpolação destes mapas foi gerada
a Carta de Zoneamento Agroclimático quanto ao potencial à cultura do Café Arábica no
Município de São Sebastião do Paraíso-MG, conforme quadro 3 da Figura 2.
Nesta Carta são apresentadas as áreas com maiores aptidões para a cultura do café
Arábica (Coffea arabica L) e baseando-se na metodologia das faixas de aptidão
estabelecida por Matiello (1991) verificou-se que 68,7% da área de estudo foi classificada
como totalmente apta por apresentar valores térmicos adequados, variando de 21,3 a
22,0°C e índices mínimos de deficiência hídrica.
As áreas classificadas como “aptas com restrição” constituem-se em 31,3% da área
total do município e apresentam restrições mínimas de temperatura, uma vez que a
temperatura média anual apresenta valores máximos de 22,25°C e a deficiência hídrica
não apresenta-se como um fator restritivo para o cultivo do café arábica na área de
abrangência do município.O Zoneamento agroclimático realizado na área de estudo para
o café arábica não apresentou nenhuma área restrita ou inapta, tanto por temperatura
quanto por deficiência hídrica. O Gráfico 1 apresenta a quantificação em quilômetros
quadrados e o percentual das áreas com maiores aptidões para a cultura do café arábica
no município em estudo.
Após a elaboração da Carta de Zoneamento Agroclimático e com o intuito de
evidenciar a aptidão e ocupação atual quanto ao cultivo do café arábica no município, foi
realizado por meio de fotointerpretação o mapeamento das áreas de cultivo do cafeeiro,
que totalizam 133,8 km², cerca de 16,4 % da área total do município.

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FIGURA 2 – Mapa de Temperatura média anual. Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia - INMET; Quadro 2:
Mapa de Deficiência Hídrica média anual. Fonte: Projeto Grande Minas (COLLARES, 2013); Quadro 3: Carta de
Zoneamento Agroclimático quanto ao potencial à cultura do Café Arábica no Município de São Sebastião do Paraíso-
MG.

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GRÁFICO 1. Quantificação das áreas com maiores aptidões para a cultura do café arábica

Neste mapeamento é possível perceber que as áreas onde ocorrem a cultura


atualmente são bem distribuídas, sendo as maiores porções concentradas nas regiões que
vão de norte/noroeste à sul/ sudoeste do município. Além disso, observa-se uma grande
concentração do plantio na faixa classificada como apta com restrição, configurando que
a restrição de temperatura identificada no zoneamento chega a ser praticamente
insignificante frente às aptidões agroclimáticas do município de São Sebastião do Paraíso,
MG.

4. Conclusões

Levando-se em consideração a metodologia empregada para a realização do


zoneamento agroclimático no município de São Sebastião do Paraíso, MG foi possível
constatar o grande potencial que o município possui para a produção cafeeira, visto que
a área em geral apresenta excelentes aptidões climáticas e hídricas.
Apenas uma faixa constituída por 31,3% da área de estudo apresentou uma pequena
restrição quanto à temperatura, configurando-se como praticamente insignificante frente
às aptidões agroclimáticas do município.
Desta forma, é importante ressaltar que o zoneamento agroclimático constitui-se
como uma ferramenta eficiente que possibilita a identificação e delimitação das áreas em
que há concordância ou não, ou restrições entre as exigências climáticas da cultura e os
limites permissíveis dos índices climáticos para a cultura em estudo, uma vez que os
estudos realizados permitem transmitir os resultados de forma clara e objetiva através de
documentos cartográficos interpretativos.
Além disso, este estudo mostra-se importante para ser utilizado como ferramenta
de auxílio frente à possibilidade de implantação de uma cultura, facilitando a escolha do

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
local mais adequado onde a cultura se desenvolva e produza satisfatoriamente com o
mínimo custo possível, ou em caso de identificação de áreas restritivas ou inadequadas é
possível prever a viabilidade de implantação da cultura com o auxílio de algum tipo de
manejo, ou até mesmo gastos com adubos e fertilizantes, irrigação, drenagem de solos,
dentre outros.

Referências
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de soja no estado do Piauí. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Passo Fundo, v.9,
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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DO PERÍMETRO DO


MUNICÍPIO DE IPEÚNA INSERIDO NA APA CORUMBATAÍ
TEJUPÁ

Nogueira, Gustavo, R. ¹; Dias, Livia, C., C. ²;

Moschini, Luiz, E. ³

¹ Discente do curso de Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental/UFSCar –


gnogueiraufscar@gmail.com
² Discente do Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais/UFSCar –
diascclivia@gmail.com
³ Docente do Departamento de Ciências Ambientais/UFSCar – lemoschini@ufscar.br

Resumo: O modelo de desenvolvimento econômico da sociedade ocasionou ao longo dos


anos a degradação ambiental, principalmente sobre a vegetação do planeta, resultado da
intensa utilização de recursos naturais e poluição do meio ambiente. O Índice de
Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI) constitui uma importante ferramenta para
análises espaciais da vegetação. Com isso, o objetivo deste estudo foi analisar a
variabilidade espacial do NDVI da APA perímetro Corumbataí do município de
Ipeúna/SP. Como resultados, encontram-se seis tipos de usos e ocupações no território
que interferem no meio ambiente da APA.
Palavras-chave: APA, NDVI e Planejamento Ambiental.

1. Introdução

Os impactos originados dos usos inapropriados do território estão associados a


ausências de planejamento e de politicas públicas voltadas ao ordenamento territorial.
Proporcionando diversos problemas ambientais, como a fragmentação de hábitats, que
afetam diretamente os ambientes naturais, ocasionada pelo desenvolvimento acelerado e
não planejado das cidades, das monoculturas e dos polos industriais (BORGES, 2002).
Este processo de degradação ambiental culminou na necessidade da elaboração de
políticas públicas por meio de dispositivos legais como a formulação de Leis, decretos e
normas além da determinação de áreas geográficas para a proteção do patrimônio
biológico e genético brasileiro. Assim foi possível observar ao longo do tempo o
surgimento de certos instrumentos legais como, por exemplo: a criação do Código
Florestal Brasileiro Decreto nº 23.793 de 1934, e posteriores atualizações de acordo com
a Lei nº 4.771 1965 e a Lei nº 12.651 de 2012; a criação de órgãos ambientais como o
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Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), a Agência Nacional de Águas (ANA); a criação da Política
Nacional do Meio Ambiente Lei Nº 6.938/1984; e da Convenção da Diversidade
Biológica – CDB.
De acordo com o Art. 7° da Lei nº 9.985/2000, as Unidades de Uso Sustentável e
as Unidades de Proteção Integral constituem os grupos integrantes do SNUC de unidades
de conservação, importantes áreas geográficas para a proteção da diversidade biológica
nacional.
Dentre as categorias de Unidades de Conservação de Uso Sustentável, como
previsto no Art.14 da Lei nº 9.985/2000, existem as Áreas de Proteção Ambiental (APA).
Estas áreas possibilitam a conciliação do desenvolvimento econômico da população local
com ações que visem a proteção ambiental, evitando conflitos de desapropriação e
proporcionando a redução de impactos negativos por meio da preservação do patrimônio
cultural e ambiental regional (PÁDUA, 2001).
O estado de São Paulo propôs a criação de Áreas de Proteção Ambiental (APA)
por meio do Decreto Estadual nº 20.960 de 8 de junho de 1983 para conciliar os interesses
de desenvolvimento econômico e urbano com os objetivos de proteção do meio ambiente
abrangendo três áreas principais: Corumbataí, Botucatu e Tejupá.
As APAs podem recobrir grandes proporções de municípios, como é o caso do
município de Ipeúna no estado de São Paulo (RODRIGUES, 2009), que engloba a APA
do perímetro Corumbataí e a APA Picaricaba Juqueri Mirim (BRASIL, 2018).
As APAs, assim como outras unidades de conservação, abrangem grandes
proporções de terra, sendo o necessário um Sistema de Informação Geográfica (SIG) para
auxiliar e viabilizar os estudos relacionados as análises ambientais do município.
O Sistema de Informação Geográfica (SIG) é uma importante ferramenta que
abriga diversos softwares, onde auxilia em estudos ambientais e facilita em análises
relacionadas à caracterização, ao diagnóstico e ao planejamento do ambiente físico por
meio da integração de dados espaciais (RIBEIRO, 1999). Tal sistema é importante, por
exemplo, para a manipulação de dados relacionados com fragmentos de vegetação de um
município.
Os índices espectrais de vegetação são importantes e muito utilizados para
monitorar e planejar o manejo de fragmentos de áreas verdes de uma região, em escalas
variadas. O índice mais convencional é o Índice de Vegetação de Diferença Normalizada

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(Normalized Difference Vegetatiton Index - NDVI), onde é possível realizar uma análise
das múltiplas variações que ocorrem nessas áreas e de suas características biofísicas por
meio da interpretação de imagens espaciais e dos valores obtidos conforme o período de
tempo (ZANZARINI, et al., 2013).
Com base nas considerações anteriores, o uso de SIG se faz essencial para a
caracterização ambiental, e principalmente para estudos de fragmentos de vegetação em
determinado espaço geográfico. Esta ferramenta torna possível a análise dos possíveis
conflitos resultantes do uso do solo em APAs. Diante disso, o objetivo deste estudo foi
analisar a variabilidade espacial do índice de vegetação da diferença normalizada (NDVI)
do município de Ipeúna/SP, a fim de comparar e analisar as características ambientais
físicas da APA perímetro Corumbataí com o uso e ocupação do solo.

2. Metodologia

2.1. Caracterização da Área de Estudo

O município de Ipeúna localiza-se na microrregião de Rio Claro, a qual está


inserida na região administrativa de Campinas. Ipeúna faz limite com os municípios de
Rio Claro a leste, Itirapina e São Pedro a oeste e Charqueada. Atualmente, encontra-se
com uma população de 7.047 em uma área de aproximadamente 190 km² (IBGE 2016).
O município está inserido na bacia do Rio Corumbataí e a sua principal via de acesso é
por meio da rodovia SP-191, utilizada também como conexão para Rio Claro.
O espaço territorial de Ipeúna começou a ser habitado por volta de 1890 onde se
formou o primeiro povoado do município (FILISETTI, 2000 apud FAGUNDES, 2011).
Ao longo de seu desenvolvimento no século XX, a intensificação do uso do solo foi
marcada principalmente pelo desenvolvimento da cana-de-açúcar, abertura de áreas para
pastagem e expansão urbana. Porém, tal processo de desenvolvimento desconsiderou as
fragilidades das terras ocasionando em vários problemas ambientais. (FAGUNDES,
2011).

2.2. Processo Metodológico

O método que foi utilizado para análise inicial das características físicas do
município de Ipeúna tem como base metodológica o que foi proposto por Costa et al.
(2015), e baseado nos estudos de Ross (1994, 2012). Esta metodologia aborda fatores
físicos, bióticos e abióticos de cada ambiente, onde tendem a incluir estudos

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interdependentes de geologia, pedologia, geomorfologia, declividade, pluviosidade e uso
e ocupação do solo.
Todas as cartas foram elaboradas por meio do método de digitalização em tela

“on-screendigitizing”, sendo trabalhadas no software ArcGis®.

A variabilidade espacial do Índice de Vegetação da Diferença Normalizada


(NDVI) é calculada com base na seguinte equação (ROUSE et al., 1973 p.309 apud
GAMARRA et al., 2016):

Em que:
NIR: Refletância da vegetação na banda do infravermelho próximo; R:
Refletância da vegetação na banda do vermelho.

Os valores obtidos por meio dos cálculos variam de -1 a 1 e representam as


densidades da vegetação no território geográfico (ZANZARINI, et al., 2013). Segundo
Gamarra et al. (2016), esses intervalos representam uma medida indireta da vegetação,
onde se indica a quantidade de matéria e energia na área estudada, sendo que valores <=0
normalmente não são vegetados.
Para o cálculo e a construção da carta de NDVI, utilizou-se as bandas 4 e 5 da
imagem de satélite Landsat 8.

3. Resultados e Discussões

3.1. Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI)

O NDVI do município de Ipeúna apresentou algumas tipologias de uso e ocupação do


solo, sendo elas representadas e esquematizadas da maior para menor área em hectare na
Tabela 1. Encontra-se distribuidas as diferente tipologicas com destaque as atividades
agrícolas que ocupam a maior parte da APA com 48% do território (Tabela e Figura 1).

TABELA 1: Área em hectare do NDVI da APA perímetro Corumbataí

Tipo de Ocupação Área (ha)


Atividades agrícolas 6500,06
Solo Exposto 3148,24
Vegetação arbustiva 1907,47
Vegetação arbórea 1640,17
Área urbanizada 276,14
Corpos Hídricos 24,41

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Uso e Ocupação do Solo identificados por meio do NDVI APA


perímetro Corumbataí

2%
Atividades agrícolas
12%

Solo Exposto

Vegetação arbustiva 14%


48%

Vegetação arbórea

Área urbanizada
24%
Corpos Hídricos

FIGURA 1: Porcentagem da área do NDVI da APA perímetro Corumbataí

3.2. Caracteristicas físicas da APA

A hipsometria do territorio da APA do perímetro Corumbaí do município de


Ipeúna varia de 500 a 1060 metros com intervalos de 80 metros entre elas. A região
abrange as áreas mais elevadas a intermediárias, onde situam-se a oeste e noroeste do
municípo, seguindo de baixas altitudes a leste, nordeste e sudoeste.
Observa-se a predominância do baixo declive de 0% a -12% com 9.564,8 ha, o
que representa 71 % do território, caracterizando a região da APA com grandes
proporções de terras planares. Porém, todas as extensões intermediárias a sudeste de 20%
a 30% de declividade e outras zonas acentuadas (declive > 30) a oeste e noroeste
encontram-se na unidade de conservação.
Segundo o Art. 4° da Lei nº 12.651 de 2012, as áreas com declividade maior que
45° devem ser consideradas áreas de preservação permanente. Por meio das análises de
sobreposição de imagem, observa-se que a as porções com o declive maior que 30%
encontram-se preservadas com vegetação arborea e arbustiva, mas há interferências
significativas de atividades agrícolas e a presença de solo exposto, ressaltando o possível
descomprometimento com a lei e a conservação ambiental dessas áreas.
A maior parte da rede hidrográfica do município de Ipeúna encontra-se na APA
do perímetro Corumbataí com 132 km de comprimento e os represamentos com 24
hectares no total. A APA abriga a maior propoção do Rio Passa-Cinco que alimenta o
Rio Corumbataí, um dos principais afluentes da UGRHI 5. As principais represas
encontramse próxima a área urbanizada.

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A APA perímetro Corumbataí possui 7 tipos de substrato rochoso: Formação
Botucatu, Formação Corumbataí, Formação Irati, Formação Itaqueri, Formação
Pirambóia, Formação Rio Claro e Formação Serra Geral. A formação Pirambóia é
detentora da maior área do município, com 7439,70 ha (Figura 1).

FIGURA 1: O gráfico de pizza corresponde a porcentagem de cada formação em relação a área total da
APA perímetro corumbataí. O gráfico de de barras corresponde a área em hectare de cada formação.

O substrato pedológico Pirambóia é constituído em sua maioria por estruturas


arenosas e friáveis, onde predominam arenitos muito finos a finos, siltosos, brancos com
seleção regular e estratificações cruzadas (MICHAEL STRUNGALE et al., 2004).
Segundo Medonça e Gutierre (1998) a formação Pirambóia, em conjunto com a formação
Botucatu, constitui um dos mais importantes reservatórios de água doce do estado
de São Paulo, onde abastece municípios como Araraquara, Bauru, Presidente Prudente e
outros, além de ser utilizado para abastecimento nos setores público, industrial e rural.
Os resultados do NDVI e da sobreposição das informações, observa-se que a
grande proporção da área que constituí a formação Pirambóia e Botucatu é tomada por
atividades agrícolas e solos expostos nos domínios da APA perímetro Corumbataí.
A pedologia do município de Ipeúna inserido na APA contempla 6 tipos de solos,
sendo eles: NEOSSOLOS QUARTZARÊNICO, LATOSSOLOS VERMELHO
AMARELO, LATOSSOLOS VERMELHO, NEOSSOLOS LITÓLICOS,
NITOSSOLOS VERMELHO, NITOSSOLOS HÁPLICO e NITOSSOLOS
VERMELHO. Os NITOSSOLOS HÁPLICO recobrem maiores proporções da
área de estudo com cerca de 9.793 ha que representa 74% da APA perímetro Corumbataí
(Figura 2). Constatou-se a presença de LATOSSOLOS VERMELHO AMARELO com
876 ha e NEOSSOLOS QUARTEZÊNICOS com 1337 ha, ambos não significativos mas
importantes para a região.

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Os NITOSSOLOS HÁPLICO possuem minerais homogêneos com caraterística
argilosa e estruturas físicas que possibilitam a retenção de água, enquanto Os
LATOSSOLOS VERMELHO AMARELO possuem baixa permabilidade, coesão e
retenção de água; os NEOSSOLOS QUARTEZÊNICOS são solos com alta
permeabilidade, baixa retenção de água e nutrientes. Ambos substratos pedológicos
citados anteriormente possuem alta fragilidade e, por isso, são sensíveis sob manejo
agrícola (BRASIL, 2014).

FIGURA 2: O gráfico de pizza corresponde a porcentagem de cada formação pedológica em relação a área
total da APA perímetro corumbataí. O gráfico de de barras corresponde a área em hectare de cada formação
pedológica.

Os resultados do NDVI sobrepostos a pedologia da APA perímetro Corumbataí evidencia


que as regiões que possuem os tipos pedológicos Latossolos Vermelho Amarelo a leste e
sudeste e os Neossolos Quartezênios a oeste e noroeste da APA perímetro Corumbataí
são ocupados por grandes extensões significativas de atividades agrícolas e solos
expostos.

4. Considerações Finais

A APA perímetro Corumbataí sofre grandes pressões das atividades agrícolas que
imperam o município de Ipeúna. Por meio dos resultados, percebeu-se que a área é
constituída por importantes formações rochosas e pedológicas, além de possuir regiões
com altas declividades e importantes formações hídricas para o município. Os esforços
de conservação sobre essas áreas devem ser redobrados, para garantir a permanência dos
recursos naturais e a preservação do meio ambiente.
O Índice de Vegetação da Diferença Normalizada constituí uma ferramenta
importante para a análise espacial de uma unidade de conservação, sobretudo de uma área

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
de proteção ambiental, pois como discutido anteriormente, essas regiões podem abranger
grandes áreas e, com isso, dificultar o manejo e tomada de decisão sobre a mesma.

Agradecimentos

Os autores deste estudo agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio financeiro.

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ISBN: 978-85-94099-03-7

GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AO DIAGNÓSTICO


MULTITEMPORAL DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE DE CORPOS D’ÁGUA DA MICROBACIA DO RIO
JACARÉ-GUAÇU NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS-SP

Ruiz, Isadora H.¹; Ricco, Milena S.²; Stoppa, Nathalia E.³

Guerrero, João Vitor R.4

¹Universidade Federal de São Carlos, isadora.rhaddad@gmail.com; ²Universidade


Federal de São Carlos, milenarst15@gmail.com; ³Universidade Federal de São Carlos,
nathaliaespinossi@gmail.com.
4
Orientador, João Vitor Roque Guerrero, Universidade Federal de São Carlos,
jvguerrero2@gmail.com.

Resumo: Em virtude da elevada expansão agropecuária no país, no ano de 1965 foi


sancionada legislação específica para assegurar a preservação da vegetação nativa, lei
está nomeada de Código Florestal Brasileiro. No ano de 2012, esta mesma lei passou por
modificações, entretanto desde 1965 os proprietários rurais tinham a obrigação de
proteger áreas próximas a corpos d’água, nascentes, locais com relevo acentuado e áreas
localizadas no interior do imóvel rural, de forma a assegurar o uso econômico sustentável
dos recursos naturais. A partir disso, surge a carência de mecanismos que auxiliem no
diagnóstico dessas propriedades. As geotecnologias possuem potencial para verificar a
adequação dessas áreas de acordo com a legislação vigente, uma vez que alguns autores
alertam para o não cumprimento da legislação por parte dos proprietários rurais. Neste
sentido, este trabalho realizou um diagnóstico multitemporal sobre as mudanças ocorridas
nas Áreas de Preservação Permanente de corpos d’água e nascentes, entre os anos 2000 e
2016, na microbacia Jacaré-Guaçu localizada no município de São Carlos-SP. Foi
possível evidenciar os diferentes usos da terra que ocorrem nessas áreas e sua dinâmica
no espaço de tempo analisado.
Palavras-chave: Área de preservação permanente; Cadastro ambiental rural; Código
florestal brasileiro; Geotecnologias; Jacaré-Guaçu.

1. Introdução
As áreas de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) são de extrema importância
para a preservação de mananciais e recursos hídricos, por serem capazes de manter a
estabilidade climática, hidrológica e geomorfológica, fluxo gênico de fauna e flora e a
proteção do solo (BRASIL, 1965).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Essas áreas exercem uma gama de serviços ecossistêmicos fundamentais para o
bem-estar social e desenvolvimento sustentável, além de propiciar condições ambientais
para ecossistemas terrestres e aquáticos (OKUYAMA, et al. 2012).
Desta maneira, uma legislação ambiental foi criada e aperfeiçoada para conceituar
e regulamentar as APPs, visando à proteção e a garantia de um ambiente saudável e
equilibrado para comunidades e populações (JACOVINE, et al. 2008). No entanto no ano
de 2012, foram aprovadas modificações nesta lei, o Código Florestal de 1965, as quais
são consideradas retrocessos por muitos pesquisadores (SOARES-FILHO et al., 2014;
BRANCALION et al., 2016), em relação à conservação dessas áreas. De maneira geral,
as alterações foram feitas sobre Reservas Legais e APPs, que prejudicam os nichos de
biodiversidade e tornam os sistemas mais frágeis (PAIM, 2015).
De acordo com Jacovini et al. (2008) desde de sua promulgação, em 1965, o Código
Florestal é desrespeitado como legislação em todo país, e com o avanço das atividades
agropecuárias por todo território nacional a conservação de áreas de proteção permanente
ao entorno de corpos d’água vem sendo comprometida.
Tendo em vista a importância das APPs para a manutenção da qualidade dos
ecossistemas terrestres e aquáticos, são necessários estudos que contemplem está temática
e visem diagnosticar e propor pareceres de planejamento, manutenção e conservação
destas áreas.
A área de estudo desta pesquisa consiste na microbacia do rio Jacaré-Guaçu
localizada no município de São Carlos, sendo uma região de especial interesse pelos
diversos conflitos de uso do solo existentes no local, tais como agricultura temporária e
pecuária, que colocam em risco a qualidade e disponibilidade dos recursos hídricos locais
e do bem-estar ambiental dos habitantes da região. Além disto, a região da microbacia
está caracterizada como Zona de Proteção de Mananciais e apresenta entre os objetivos
específicos garantir a obediência do Código Florestal Brasileiro.
Com o intuito de diagnosticar as mudanças ocorridas no microbacia e suas Áreas
de Proteção Permanente de corpos d’água entre os anos de 2000 e 2016 o presente
trabalho tem como objetivo comparar os diferentes usos da terra neste período e analisar
o cenário das APPs na bacia.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Materiais e métodos

2.1 Área de estudo

A microbacia do rio Jacaré-Guaçu localiza-se no limite administrativo entre os


municípios de São Carlos, Brotas Itirapina e Ribeirão Bonito (Figura 1). Segundo Sistema
Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo (SigRH), a
microbacia está inserida no Comitê de Bacias Hidrográficas do Tietê-Jacaré (UGRHI-13)
e apresenta área total de 80 km². Além disso, a área está inserida na Área de Preservação
Ambiental Corumbataí (APA Corumbataí) e, de acordo com o SIgRH, a bacia faz limite
com a Estação Ecológica do município de Brotas-SP.

FIGURA 1 - Localização da área de estudo e sua hidrografia.

Em sua maioria a vegetação que caracteriza a área de estudo é composta por


Floresta Estacional Semidecidual e Savanas. Nela nasce afluentes do rio Tietê-Jacaré que
posteriormente são utilizados para abastecimento público nas cidades vizinhas, Brotas e
Ribeirão Bonito (Plano de Bacia Hidrográfica Tietê-Jacaré, 2018).

Além disso, de acordo com o Plano Diretor Estratégico (2016) do município de São
Carlos, a microbacia está localizada na Zona de Proteção de Mananciais (9B), pois
apresenta mananciais com potencial a se tornarem fontes de abastecimento hídrico em
médio prazo. O clima da região em que se encontra a bacia é caracterizado por Nimer

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(1989) como tropical, com temperatura média anual de 18ºC a 20ºC e apresenta, pelo
menos, três meses de estação seca.

2.2 Materiais

A realização do diagnóstico multitemporal proposto baseou-se na obtenção de


dados primários, processamento e análise visual dos planos de informação. Os dados
geográficos utilizados são demonstrados na tabela 1:

TABELA 1 - Relação de dados utilizados

Tipo de dado Ano do dado Órgão que disponibiliza

Shapefile das Áreas de Setembro de Sistema Nacional de Cadastro


Preservação Permanente 2016 Ambiental Rural (SICAR)
(município de São Carlos-
SP)

Shapefile limite Setembro de IBGE (Instituto Brasileiro de


administrativo do Estado de 2016 Geografia e Estatística)
São Paulo, municípios de
São Carlos, Brotas, Ribeirão
Bonito e Itirapina

Imagens SRTM do Satélite Setembro de EarthExplorer (USGS-Serviço


Landsat 7 datadas de 16 de 2016 Geológico dos Estados Unidos)
junho de 2000 e 12 de
junho de 2016

Rede de Drenagem do Setembro de Secretaria de Meio Ambiente do


Estado de São Paulo (1:50.000) 2016 Estado de São Paulo (SMA): Coordenadoria
de Planejamento Ambiental

Cartas topográficas SF-23- Setembro de IBGE (Instituto Brasileiro de


Y-A-I-1 e SF-22-Z-B-III-2 2016 Geografia e Estatística)
(1:50.000)

Fonte: Elaborada pelos autores

2.3 Métodos

A partir da aquisição dos dados, estes foram inseridos e organizados em um banco


de dados geográficos no software ArcGis 10.5, padronizados no sistema de projeção
Universal Transversa de Mercator, Fuso 23 Sul, datum SIRGAS 2000.
A microbacia foi delimitada por meio da conversão de dados analógicos - cartas
topográficas de São Carlos SF-23-Y-A-I-1 e Ribeirão Bonito SF-22-Z-B-III-2,

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
disponibilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na escala
1:50.000 - para o formato digital.
Subsequente, foi realizada a classificação dos usos e cobertura da terra, obtidos a
partir da análise de imagens do satélite Landsat 7 e 8, por meio da composição de bandas
654 realizada pela ferramenta do software ArcGis Composite Band. A partir do produto
da composição de bandas os usos da terra da área de estudo foram classificados de forma
manual, por análise visual das imagens, e categorizadas por tipos segundo Manual
Técnico de Uso da Terra, disponibilizado pelo IBGE (Tabela 2).

TABELA 2 - Classificação de Uso da Terra, segundo manual do IBGE

Classes Tipos

Área antrópica não Área Urbanizada


agrícola

Culturas temporárias
Áreas antrópicas agrícolas
Culturas permanentes

Pastagem

Silvicultura

Áreas de vegetação natural Vegetação nativa

Água Águas

Outras áreas Áreas descobertas

Fonte: Manual Técnico de Uso da Terra, disponibilizado - IBGE (Adaptada pelos autores)

Utilizada como referencial, sobre a Rede de Drenagem aplicou-se a ferramenta


buffer, a qual gera polígonos que contornam um objeto a uma distância determinada pelo
operador de acordo com a metragem instituída pela a Lei nº 12.657, de 25 de maio de
2012 (Código Florestal Brasileiro) para APPs. Nas demarcações de APPs no entorno de
nascentes e olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, deve ser
aplicado o raio mínimo de 50 metros e nos cursos d’água de menos de 10 metros de
largura, aplicada uma margem mínima de 30 metros (BRASIL, 2012).Além disso, os
dados disponibilizados pelo SICAR como APPs cadastradas via Cadastramento
Ambiental Rural (CAR) até o ano de 2017, foram utilizadas para análise comparativa com
as áreas delimitadas por buffer, segundo o Código Florestal.

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Para análise das modificações que ocorreram na bacia entre os anos de 2000 e 2016,
o banco de dados foi sobreposto a fim de comparar a ocupação destas áreas nos dois anos
e identificar as evoluções.

3. Resultados e discussão

Segundo dados disponibilizados pelo SICAR referente ao ano de 2016, a área de


estudo apresentou 35 propriedades rurais que desenvolviam atividades
predominantemente agropecuárias. Com isso, foi verificado uma redução de 4,57% nas
áreas de vegetação nativa entre os anos 2000 e 2016 (Tabela 3), sendo estas substituídas
por atividades agrícolas.

TABELA 3 - Percentual dos usos do solo nos anos 2000 e 2016.

Percentual de usos do
solo

Tipos de uso Ano 2000 Ano 2016

Água 0,36 % 0,35%

Área descoberta 34,14% 28,89%

Vegetação nativa 38,78% 34,21%

Cultura temporária 24,07% 26,30%

Pastagem 2,65% 10,25%

Fonte: Elaborada pelos autores

Considerando os tipos de uso do solo (Figura 2), nota-se que a bacia em sua grande
maioria era ocupada por vegetação nativa e áreas descobertas no ano 2000. Após 16 anos
essas áreas foram substituídas por cultura temporária e pastagem, resultando em uma
diminuição de 5,25% das áreas descobertas e um aumento de 2,23% das culturas
temporárias e 7,60% de pastagem.

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FIGURA 2 - Tipos de uso e ocupação do solo de 2000 e 2016.

3.1 Área de Preservação Permanente (APP)


Como objeto de análise neste estudo foi avaliado apenas Área de Preservação
Permanente de corpos d’água e nascentes, desta forma foram consideradas APPs de
nascentes (50 metros) e de corpos d’água (30 metros). A partir dos dados disponibilizados
pelo SICAR a demarcação cadastrada de APPs estava abaixo do estabelecido pela
legislação vigente. Com a aplicação do buffer nestas áreas, verificou-se que as áreas de
APPs deveriam ocupar aproximadamente 695 ha, enquanto os valores do SICAR
apresentaram área igual a 407 ha (Figura 3).

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FIGURA 3 - Comparação entre as APPs disponibilizadas pelo CAR e as APPs propostas de


acordo com o Código Florestal de 2012.

No ano 2000, as áreas que eram caracterizadas como APPs, em sua maioria,
estavam ocupadas por vegetação nativa (53,59%); área descoberta, refere-se ao segundo
maior uso (37,39%); cultura temporária (7,13%); e pastagem (0,7%). Desta forma, a
microbacia estava de acordo com a legislação da época e atual (Código Florestal de 1965
e Lei de Proteção da Vegetação Nativa de 2012).
Já no ano de 2016, passaram a ser ocupadas por cultura temporária, área descoberta
e pastagem. Ainda assim, sua maior parte continuava ocupada por vegetação nativa
(50,34%), seguida por pastagem (Figura 4).

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FIGURA 4 - Uso e ocupação do solo nas APPs propostas de acordo com o Código Florestal de 2012.

4. Considerações Finais

Em síntese, a microbacia do Jacaré-Guaçu apresentou redução (fragmentação) na


vegetação nativa e nas áreas descobertas entre 2000 e 2016. Com relação às Áreas de
Preservação Permanente, de acordo com os dados do SICAR, sua grande maioria está
abaixo do estipulado pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa de 2012, e a partir da
aplicação da metodologia foi possível verificar que os usos predominantes das APPs em
2016 foram de vegetação nativa, área descoberta e pastagem.
A análise multitemporal mostrou-se ferramenta significativa para compreender a
dinâmica da ocupação da terra em bacias hidrográficas. Além disso, auxiliou no

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
levantamento de informações que podem ser utilizadas no planejamento ambiental e
desenvolvimento de estratégias para gestão e conservação dos recursos hídricos.
O SICAR demonstrou-se uma ferramenta de extrema importância para a consulta
pública online e também para o auxílio no controle, monitoramento e planejamento
ambiental de todas as propriedades rurais, garantindo proteção das funções
ecossistêmicas e da biodiversidade local. Entretanto é necessário maior cumprimento das
leis federais e dos planos municipais que ordenam a ocupação territorial para que possam
garantir a conservação de áreas como APPs e, consequentemente, assegurar a qualidade
e disponibilidade dos recursos hídricos.

Referências

BRANCALION, P.H et al. Análise crítica da Lei de Proteção da Vegetação Nativa


(2012), que substituiu o antigo Código Florestal: atualizações e ações em curso. Natura
& Conservação. v.14, p.1-16, 2016.
BRASIL (1965). Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965: Institui o Código Florestal.
Brasília: Presidência da República.
BRASIL (2012). Lei 12.651 de 25 de maio de 2012: Proteção da Vegetação Nativa.
Brasília: Presidência da República.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. IBGE - Portal de Mapas, 2016.
Disponível em https://portaldemapas.ibge.gov.br/portal.php#homepage, acesso em
07/09/2017
IBGE, Manual Técnico de Uso da Terra. Rio de Janeiro. IBGE, Departamento de
Recursos Naturais e Estudos Ambientais. Primeira Divisão de Geociências do Nordeste,
58 p. 1999.
JACOVINE, L. A. G.; CORRÊA, J. B. L.; SILVA, M. L.; VALVERDE, S. R.; FILHO,
E. I. F.; COELHO, F. M. G.; PAIVA, H. N. Quantificação das áreas de preservação
permanente e de reserva legal em propriedade da bacia do Rio Pomba - MG. Revista
Árvore, v. 32, n. 2, p. 269 – 278. 2008.
NIMER, N. Climatologia do Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio
de Janeiro, 1989.
OKUYAMA, K. K; ROCHA, H. C.; NETO, W. H. P; ALMEIRA, D.; RIBEIRO, D. R.
S. Adequação de propriedades rurais ao Código Florestal Brasileiro: Estudo de caso no
estado do Paraná. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.16, n. 9,
p.1015- 1021, 2012.
PAIM, E. L. T. Mudanças introduzidas pelo novo Código Florestal brasileiro.
Publicado em março de 2015. Disponível em
https://jus.com.br/artigos/36954/mudancas-introduzidas-pelo-novo-codigo-florestal-
brasileiro, acesso em 14/09/2017.
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo - Coordenadoria de Planejamento
Ambiental. Rede de drenagem do Estado de São Paulo. Disponível em

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
http://www.ambiente.sp.gov.br/cpla/mapa-da-rede-de-drenagem-do-estado-de-sao-
paulo/, acesso em 07/09/2017.
Serviço Americano Geológico (USGS) - Earth Explorer (2017). Disponível em
https://earthexplorer.usgs.gov/, acesso em 07/09/2017.
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__________. (2016) Lei 18.053 de 19 de setembro de 2016: Institui o Plano Diretor
Estratégico do Município de São Carlos. São Carlos: Prefeitura do Município de São
Carlos.

180
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

COMPARAÇÃO ENTRE DADOS DE PRECIPITAÇÃO REMOTOS


E DE SUPERFÍCIE

Bueno, José Otávio de A.1; Bourscheidt, Vandoir.2


1,
Universidade Federal de São Carlos, tvnalmeida@gmail.com
2
Orientador, Universidade Federal de São Carlos, vandoir@gmail.com

Resumo: O regime de precipitação e as características das bacias hidrográficas, bem como


seu regime hidrológico, influenciam a disponibilidade de água. Assim, tendo em vista o
desenvolvimento dos métodos de medição de precipitação, este estudo buscou comparar
e demonstrar os métodos pontuais e de superfície, como pluviômetros, e os remotos e
contínuos, como satélites e radares, utilizando como área de estudo o Sistema Cantareira,
localizado nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Os resultados obtidos indicam que
dados pontuais e de superfície quando comparados com os remotos e contínuos
apresentam correlação significativa para períodos mais longos e baixa correlação para
períodos menores.
Palavras-chave: Precipitação; dados remotos e de superfície; IMERG.

1. Introdução

A precipitação é um dos fatores determinantes para as condições de tempo e clima


de uma bacia hidrográfica, além de ser um indicador da disponibilidade da água para seus
diversos usos (DOORENBOS & KASSAM, 1994).
Em grandes bacias hidrográficas ou sistemas de grande porte, a medição da
precipitação pode ser realizada por pluviômetros ou, principalmente, por radares e
satélites meteorológicos. O pluviômetro capta as maiores precipitações possíveis em um
intervalo de 24 horas de forma pontual, extrapolando tais medidas para toda a área de
interesse e estimando a precipitação para as áreas mais distantes dos pontos de medição,
enquanto os radares e imagens de satélites apresentam medidas em um contínuo espacial,
tornando-os propícios para interpolar os dados contínuos com a precipitação obtidas nos
locais onde estão instalados os pluviômetros (SANTOS et al, 2001).
Os pluviômetros e pluviógrafos são efetivos nos parâmetros de intensidade e
duração da chuva, porém não possuem boa representatividade espacial, visto sua
pontualidade. Essa limitação de representatividade se dá principalmente em chuvas
convectivas, com células da ordem de 10 km (CALVETTI et al, 2003). Além disso, os
dados observados em estações meteorológicas possuem custos consideráveis de
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
manutenção e instalação, tornando imprescindível a leitura no local ou transferência por
radiofrequência (MASSAGLI et al, 2011).
Os dados obtidos em estações meteorológicas a partir de satélites e radares
possuem fontes de erro maiores que os pluviômetros, porém permitem uma amostragem
eficiente de forma temporal e espacial para se estimar a taxa de precipitação (CALVETTI
et al, 2003). Informações obtidas através de radares meteorológicos, no entanto, não estão
disponíveis para todas as regiões. Nesse sentido, informações por meio de satélites vêm
buscando diminuir as limitações de cobertura, fornecendo dados com uma precisão
razoável (10 km) em períodos que permitem boas estimativas dos totais precipitados
sobre grandes bacias hidrográficas (até 30 minutos), como é o caso do GPM/IMERG
(NASA, 2016), utilizado neste trabalho.
Por serem estimativas, estes dados (radar e satélite) normalmente precisam passar
por processos de validação em relação as medidas consideradas reais, obtidas através dos
pluviômetros. Diversos trabalhos abordam esta temática, tanto para a relação com radares
meteorológicos (CALVETTI et al., 2009; BRINGI, RICO-RAMIREZ & THURAI, 2011)
como para produtos oriundos de satélites (COLLISCHONN et al., 2007; VIANA,
FERREIRA e CONFORTE, 2010; HOU et al, 2014; SOHN et al., 2010).
Os resultados entre as estimativas por radar e satélite e as medidas obtidas com
pluviômetros costumam variar, mas de um modo geral, se evidenciam as limitações de
cada técnica. O radar, por exemplo, depende da relação entre a altura do feixe, relevo,
distância e a altura das nuvens. As estimativas também costumam variar sazonalmente e
com a intensidade da chuva, superestimando e subestimando os valores sistematicamente
(CALVETTI et al., 2009; SOHN et al., 2010; BRINGI, RICO-RAMIREZ & THURAI,
2011). Outra observação recorrente é a melhora na estimativa de precipitação quando do
aumento do intervalo de tempo usado na integração das informações (ANTONIO, 1984).
Ainda existem trabalhos específicos que se utilizam das próprias medidas obtidas através
de radares de superfície para avaliar as estimativas obtidas por satélites (CIACH et al.,
1997).
Neste sentido, este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade e aplicabilidade
de dados obtidos por satélite nas estimativas de precipitação. De forma mais específica,
procurou-se responder qual a relação entre os dados obtidos por satélite e por
pluviômetros.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Material e métodos

2.1 Área de estudo

A análise realizada neste estudo se concentrou na área hidrológica do Sistema


Cantareira (Figura 1), que possui aproximadamente 228 mil hectares (227.949,22 ha) e
está localizado no Estado de São Paulo, com 125.787,2 hectares, abrangendo 8
municípios – Bragança Paulista, Caieiras, Franco da Rocha, Joanópolis, Mariporã, Nazaré
Paulista, Piracaia e Vargem – e no Estado de Minas Gerais, com 102.162,1 hectares,
abrangendo 4 municípios – Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí-Mirim (ISA,
2006).

FIGURA 1 - Figura de localização do Sistema Cantareira.

2.2 Obtenção dos dados

Os mapas referentes ao limite e municípios do Sistema Cantareira foram obtidos


a partir de Rosimeire Rurico Sacó e Alexandre Degan, do Laboratório de
Geoprocessamento do Instituto Socioambiental, provenientes do documento elaborado
no ano de 2006 “Cantareira 2006 – Um olhar sobre o maior manancial de água da Região
Metropolitana de São Paulo”, pelo ISA.
Os dados pluviométricos, integrando dados provenientes de satélites e
pluviômetros, foram obtidos de 3 fontes – da missão Global Precipitation Measurement
(GPM – NASA), através do produto IMERG; de estações automáticas do Instituto

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Nacional de Meteorologia (INMET); e de pluviômetros automáticos do Centro Nacional
de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN).
A “Global Precipitation Measurement” é uma missão da NASA que consiste em
uma rede de satélites que detectam informações na faixa espectral do infravermelho (IR)
e de micro-ondas (PMW), fornecendo informações e observações globais sobre a
precipitação de chuva e neve (KUMMEROW et al., 2014).
O download dos dados do satélite GPM/IMERG foi realizado via FTP
(ftp://arthurhou.pps.eosdis.nasa.gov/), tanto em formato HDF, para o período mensal
como TIFF (GIS), para o acumulado de sete dias. Cada Imagem baixada do IMERG é
formada por um conjunto de vários pixels de 100 km² cada, sendo que o valor de cada
pixel representa a precipitação acumulada na região do pixel, sendo assim cada imagem
possui um banco de dados próprio que representa a precipitação acumulada em um
determinado período para uma determinada área.
Os dados pluviométricos adquiridos junto ao sítio do INMET provêm de uma
estação meteorológica automática localizada no distrito de Monte Verde, pertencente ao
município de Camanducaia - MG. Já os dados pluviométricos do CEMADEN foram
adquiridos a partir do site http://www.cemaden.gov.br/mapainterativo/ e referentes aos
pluviômetros automáticos localizados nos municípios que fazem parte da área de estudo
do projeto, sendo 3 disponíveis no estado de Minas Gerais (Camanducaia, Extrema e
Itapeva - perfazendo um total de 22 estações) e 8 para São Paulo (Bragança Paulista,
Caieras, Franco da Rocha, Joanópolis, Mariporã, Nazaré Paulista, Piracaia e Vargem –
perfazendo um total de 31 estações).
A série de dados do satélite GPM/IMERG, os dados do CEMADEN e do INMET
foram utilizados neste estudo para o período de março de 2014 (início da série
GPM/IMERG) até dezembro de 2016.

2.3 Preparação dos dados

Os dados IMERG adquiridos são disponibilizados em escala global, de modo que


foi preciso recortá-los apenas para a área de estudo. Utilizou-se um buffer de 13 km a
partir dos limites da área de estudo, para que fossem mantidos os pixels que estivessem
dentro e no entorno da área do sistema Cantareira. Tal procedimento foi realizando
utilizando o Software ArcGIS 10.4.
Em relação aos dados do CEMADEN, foi necessário inicialmente realizar um
procedimento de validação dos dados, visto que foram observados diversos períodos com

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
falhas na aquisição. Os dados são disponibilizados normalmente em intervalos de 10
minutos ou horários, para cada dia do mês, sendo que cada download é feito apenas para
o período de um mês. Dessa forma, foi necessário verificar a consistência desses dados
analisando cada estação. Destaca-se que, com essa análise, todos os dados para 2016 das
estações do CEMADEN acabaram descartados do estudo.
Após a filtragem dos dados válidos, foram obtidos os valores acumulados de
precipitação para dois intervalos: 7 dias e mensal. Para o intervalo de 7 dias, os dados de
cada estação foram ordenados e acumulados mantendo-se a sobreposição de dias: do dia
01 ao dia 07, do dia 02 ao dia 08 e assim sucessivamente. Já o acumulado mensal foi feito
sem sobreposição, apenas agrupando os dados para cada mês. Estas duas escalas foram
adotadas desta forma para convergir os dados de superfície com a estrutura dos dados de
sete dias e mensais do IMERG.
Após a validação dos dados e acumulo dos valores de precipitação, foram
separadas apenas as estações válidas com suas respectivas coordenadas geográficas, a
partir das quais foi criado um arquivo vetorial com a localização de cada estação.
Utilizando este arquivo, foram extraídas as estimativas de precipitação do arquivo raster
do IMERG para cada estação, utilizando o a ferramenta “Extrair Múltiplos Valores para
Pontos” do ArcGIS 10.4.
Após a extração desses valores, foi criada uma tabela contendo a precipitação
acumulada no período de 7 dias e mensal das imagens do IMERG, para a localização
específica das estações do CEMADEN e do INMET. Tendo em vista que os dados de
precipitação estimados do IMERG vêm com um fator de escala para o produto de 7 dias,
foi necessário dividir os valores extraídos por 10. No caso dos dados mensais, estes são
disponibilizados como a média mensal da taxa horária[mm/h], sendo necessário convertê-
los para [mm/mês].
Para facilitar o processo de acondicionar os dados e comparar as tabelas com seus
respectivos valores, foi utilizada então uma linguagem de programação python. Nela
criou-se um código para ler as tabelas com os dados do CEMADEN/INMET e os valores
extraídos do IMERG, retornando os valores de precipitação observados para cada fonte
em datas idênticas nas duas tabelas, resultando em uma nova tabela com os dados
filtrados. Estes procedimentos foram realizados tanto para os dados acumulados de sete
dias quanto para os dados mensais de ambas as fontes.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Após todos os tratamentos dos dados e com as tabelas finais contendo as datas e
os valores de precipitação acumulados para o CEMADEN, INMET e IMERG, deu-se
início a análise de comparação dos dados.

3. Resultados e discussão

Após o download dos dados, obteve-se inicialmente um total de 53 estações. No


entanto, após as filtragens explicadas anteriormente, restaram 25 estações, sendo
necessário mesclar os anos de 2014 e 2015 para se obter um N (número de dias sem
falhas) mais representativo, acima de 100 pelo menos, para representar um período maior
que três meses.
A Figura 2 ilustra a distribuição das estações após os recortes com um buffer de
13 km, bem como a estimativa de precipitação do IMERG em um período de 7 dias para
a área de estudo.

FIGURA 2 - Representação da estimativa de precipitação do IMERG e distribuição das estações ao longo


do sistema Cantareira com um buffer de 13 km.
Após o processo de validação e integração dos dados de superfície (CEMADEN
e INMET) e satélite (IMERG), obteve-se as tabelas com as colunas de data, estação,
localização geográfica e precipitação [mm/7dias ou mm/mês]. A partir dos dados
tabelados, foram gerados os gráficos de dispersão, bem como foram obtidos os valores

186
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
do coeficiente de determinação (R2), para analisar a relação entre cada estação e os dados
IMERG.
Os gráficos com os menores e maiores valores de R² encontrados para o período
de 7 dias e mensal do CEMADEN são apresentados nas Figuras 3 e 4, respectivamente.
Os gráficos da Figura 3 mostram valores de R² relativamente baixos, que resulta da grande
dispersão e indica uma menor correlação entre os dados. O maior valor de R2 encontrado
para o período de 7 dias foi 0.62, sugerindo que, para este intervalo de tempo, os produtos
de satélite têm menor concordância com as medidas em superfície.

FIGURA 3- Gráficos de dispersão com os menores (cima) e maiores (baixo) valores de R² para o período
de precipitação acumulada de 7 dias do CEMADEN e precipitação do IMERG.
Já para os dados de precipitação com acumulação mensal (Figura 4), pode-se
observar uma correspondência maior entre os dados do CEMADEN e do IMERG, sendo
que o menor valor encontrado de R² foi de 0.55, seguido pelo valor que de 0.71, sendo
este ultimo maior do que todos os valores observados para o período de sete dias. Nesse
intervalo de tempo (mensal), os valores de R2 chegam a 0.99, entretanto vale ressaltar que
a quantidade de pontos resultantes para obter o ajuste da reta são reduzidos.
Considerando os dados do INMET (Estação Monte Verde), os gráficos de
dispersão para o período de 7 dias e mensal são apresentados na Figura 5. Observa-se
uma quantidade maior de dados disponíveis (para o período de 2014 a 2016), contudo o
valor de R² continua baixo para os dados acumulados de 7 dias (a esquerda), com sendo
da ordem de 0.4. Entretanto, para o período mensal (a direita), a correlação entre os dados
aumenta significativamente, com valores de R² da ordem de 0.9, o que corrobora com os
resultados obtidos com os dados do CEMADEN.

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FIGURA 4 - Gráficos de dispersão com os menores (cima) e maiores (baixo) valores de R² para o período
de precipitação acumulada mensal do CEMADEN e precipitação do IMERG.

FIGURA 5 – Gráficos de Dispersão da estação do INMET para o período de sete dias e mensal.
Visando resumir as relações entre os dados de superfície e satélite obtidas para
todas as estações, os valores de R² foram agrupados e subdivididos em classes entre 0 e
1 para ambos os períodos em estudo (Tabela 2). Uma observação a ser feita é que o
número total de estações disponíveis para estudo quando se tratando do período mensal
do CEMADEN, caiu para 22 porquanto alguns meses estavam com dias incompletos, ou
seja, começando ou terminando na metade, estes foram retirados da comparação para o
período mensal, todavia estavam em condições de uso para o período de 7 dias, não
influenciando assim no resultado.

TABELA 2 - Número de estações contidas nas respectivas classes de R²

Estações do CEMADEN Estação do INMET (em anos)



7 DIAS MENSAL 7 Dias MENSAL
0 - 0.50 9 3
0.50 - 0.75 16 2
Acima de 0.75 20 3

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Independente das variações no total de medidas, observa-se, em resumo, que para
os intervalos de 7 dias todas as estações analisadas apresentaram menor correlação com
os dados obtidos com o IMERG, com valores de R2 abaixo de 0.75. Por outro lado, para
o período mensal, apenas duas estações ficaram com valores de R² entre 0.5 a 0.75,
enquanto que os demais valores de R² estão acima de 0.75. Este resultado sugere que os
dados acumulados de 7 dias do IMERG provavelmente não m um bom desempenho para
intervalos de tempo mais curtos, mas para a escala mensal, a sua correlação com dados
de superfície é alta, podendo possivelmente substituir os dados de superfície nessa escala
temporal. Além disso, este resultado também concorda com estudos realizados
previamente (SOHN et al., 2010; CIACH et al., 1997).

4. Conclusão

As estações meteorológicas de superfície apresentam dados reais de precipitação


acumulada, todavia não estão disponíveis para boa parte dos territórios e por estarem
sujeitas a uma série de falhas nos seus dados podem não atingir um nível de eficiência
desejado dependendo do tipo de estudo. A este propósito os dados de precipitação
estimada disponíveis por intermédio do GPM/IMERG são mais consistentes e tornam-se
uma opção viável quando se tratando de estudos em que não se é possível ter estações na
superfície, principalmente em áreas de difícil acesso. Todavia quando comparadas duas
das formas em que os dados estão disponíveis para download, conclui-se que os dados de
precipitação estimada para o período de 7 dias apresentam muita variação (grande
dispersão) em relação aos dados de superfície, resultando em pouca significância. Por
outro lado, as estimativas de precipitação para o produto mensal apresentaram maior
concordância com os dados reais de superfície, chegando a valores de R² de 0.99, e estão
de acordo com estudos similares realizados em outras regiões. Sendo assim, estes
produtos são mais indicados e confiáveis para serem empregados em estudos e projetos
que pretendam utilizar estimativas de precipitação por satélite.

Agradecimentos

Nosso agradecimento ao CNPq pela bolsa de Iniciação Científica e aos diferentes


órgãos (INMET, CEMADEN e NASA/GPM) pela disponibilização dos dados utilizados
neste trabalho.

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190
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

UTILIZAÇÃO DE COMPONENTES DE IMAGENS DE SATÉLITES


NA ESTIMATIVA DO VOLUME EM POVOAMENTOS DE
EUCALYPTUS SP

Aló, Lívia. L.1; Bernardi, Lucas. K.2; Almeida, Alessandro. A. A.3


Thiersch, Cláudio. R.3; Martins, Antônio. C. G.4
1
Universidade Estadual Paulista, UNESP, Doutoranda em Ciência Florestal,
Faculdade de Ciências Agrárias – livialanzi@yahoo.com.br
2,3
Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, Mestrando em Planejamento e Uso
dos Recursos Renováveis, Departamento de Ciências Ambientais
4
Orientador, Professor Adjunto na Universidade Federal de São Carlos, UFSCar.
Departamento de Ciências Ambientais
5
Coorientador, Professor Adjunto na Universidade Estadual Paulista, UNESP.
Instituto de Ciência e Tecnologia de Sorocaba

Resumo: Visando o aumento do grau de precisão das estimativas dos inventários


florestais, as imagens de satélite multiespectrais vêm sendo utilizadas como auxiliares
nos processamentos dos mesmos, já que estas imagens possuem diferentes componentes
que se correlacionam com as variáveis dendrométricas. O objetivo deste estudo foi avaliar
a construção e o desempenho de modelos na estimativa do volume por parcela de
povoamentos florestais de Eucalyptus sp., utilizando componentes de imagens de satélites
associados a dados de inventário florestal. Com esse propósito, processou-se um
inventário florestal de 210 parcelas, a fim de estimar o volume (m³ ha-1) por parcela. As
imagens obtidas da área do estudo a partir do satélite SPOT-6 continham as bandas: azul,
verde, vermelha e a infravermelho próximo. A partir destas, foram extraídos o nível de
cinza (NC) das bandas, a razão simples entre as bandas, medidas de textura e índices
extraídos das texturas referentes à área da parcela. Os modelos de regressão foram
gerados através do método Stepwise e selecionados pelo método AIC (Critério de
Informação de Akaike). Nas análises das imagens e da matriz de correlação geradas, foi
observada a correlação das variáveis com o volume e também a autocorrelação existente
entre as variáveis. Os modelos selecionados foram compostos pela idade, pela banda 2 e
pelo menos por duas componentes de textura, e conseguiram explicar em média 90,82%
do volume de madeira, além de gerar modelos significativos.
Palavras-chave: inventário florestal; sensoriamento remoto; modelos de regressão.

1. Introdução
As imagens multiespectrais adquiridas por satélites têm sido muito utilizadas
como auxiliares nos processamentos dos inventários florestais, pois as informações
armazenadas nas imagens vão além da sua localização geográfica, possuindo, por
exemplo, dados como a quantidade de radiação refletida pela floresta com suas diferentes
características (BAUERMANN, 2008).
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A textura é uma importante característica para a identificação de objetos ou
regiões de interesse em uma imagem, pois suas propriedades representam o arranjo
estrutural das superfícies e seus relacionamentos com o ambiente ao redor, isto é, a
distribuição espacial e dependência espacial entre os níveis de cinza (NC) (HARALICK
et al., 1973). Na área florestal, têm sido utilizadas as texturas extraídas das imagens de
sensoriamento remoto como informação auxiliar para a classificação de cobertura da
vegetação e para a estimação de parâmetros da vegetação (GOMES e MAILLARD,
2013).
Portanto, a inclusão de componentes de imagens como as informações espectrais
e a textura, juntamente com características dendrométricas em modelos de estimativa do
volume, podem proporcionar resultados mais precisos, que contribuirão de maneira
significativa com o manejo e com o planejamento florestal. Dentro destas circunstâncias,
o objetivo deste trabalho foi avaliar a construção e o desempenho de modelos na
estimativa do volume por parcela de povoamentos florestais de Eucalyptus sp., utilizando
componentes de imagens de satélites associados a dados obtidos em campo.

2. Material e Métodos

2.1. Área de estudo e processamento da base de dados

Os dados volumétricos foram obtidos por meio do processamento do inventário


florestal realizado em um povoamento de Eucalyptus sp. situado na região sul do estado
do Mato Grosso do Sul. O povoamento possui uma área de 9.431,21 ha com 11 cultivares
e idades que variam de 1,5 a 4 anos, onde 210 parcelas circulares de 500 m² foram
distribuídas de forma sistemática e georreferenciadas. Em cada parcela, foi realizada a
mensuração da circunferência à altura do peito (CAP) de todas as árvores, medição da
altura total (HT) de 25% das árvores e da altura dominante (HDOM) conforme o conceito
de Assmann (1970). Além da mensuração das parcelas, também foi realizada a cubagem
de acordo com as classes de idade (2, 3 e 4 anos).
Para a estimativa das alturas totais não mensuradas, foi realizado um ajuste por
parcela do modelo hipsométrico proposto por Curtis (1967) e as estimativas dos volumes
das árvores foram dadas pelo ajuste por classe de idade do polinômio de quinto grau
proposto por Schöepfer (1966).

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2.2. Caracterização e processamento das imagens

As imagens utilizadas foram obtidas no mesmo mês que as coletas de dados em


campo (17/07/2015) a partir do satélite SPOT-6. As imagens do satélite fusionadas com
a banda pancromática possuem uma resolução espacial de 1,5 m e uma resolução
radiométrica de 12 bits por pixel. A resolução espectral é composta por 4 bandas que
englobam os intervalos espectrais: a banda azul (455-525 nm), a banda verde (530-590
nm), a banda vermelha (625-695 nm) e a banda infravermelho próximo (760-890 nm).
As imagens foram recortadas de acordo com os talhões da fazenda, gerando-se um
raster contendo as informações de cada pixel, isto é, suas coordenadas (X, Y) e os
respectivos NC de cada banda espectral. Com essas informações, os valores médios dos
NC de cada banda foram analisados estatisticamente visando conhecer o comportamento
destas. Também foi calculada a razão simples entre as bandas, isto é, banda 1 dividida
pela banda 2, banda 1 pela banda 3 e assim sucessivamente a partir dos valores de NC
(TERRA et al., 2010).
Com as informações das coordenadas dos pixels, os valores de NC de cada banda
e a razão simples entre as bandas, foram extraídos os valores médios desses componentes
para cada parcela amostrada em campo através da utilização de buffer de 24 por 24 m,
isto é, amostrando uma média de 576 m². As informações das imagens foram obtidas por
meio do software estatístico R (R CORE TEAM, 2016), com o auxílio dos pacotes 'sp',
'raster' e 'maptools' (PEBESMA e BIVAND, 2005; HIJMANS et al., 2015; BIVAND et
al., 2016).
Para a extração de características da textura, foi utilizado o método da matriz de
coocorrência (GLCM) proposto por Haralick et al. (1973).
Para selecionar as amostras de onde foram extraídas as medidas de textura,
primeiramente recortou-se as áreas referentes às parcelas nas imagens de cada uma das
bandas originais (1,5 x 1,5 m), isto é, para a imagem da banda 1, foram recortadas 210
imagens referentes às parcelas, e o mesmo foi feito para as outras bandas. As imagens
recortadas de cada parcela possuem uma janela de 17 x 18 pixels.
A definição do tamanho da janela utilizada neste trabalho foi baseada na área da
parcela, sendo essa mesma definição utilizada em outros trabalhos (ALENCAR-SILVA
e MAILLARD, 2011; GOMES e MAILLARD, 2013).
As GLCM foram calculadas para cada imagem utilizando a distância d=1 e os
quatro ângulos de orientação do pixel vizinho (0º, 45º, 90º e 135º) para abranger os

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
variados tipos de relacionamentos espaciais entre os pixels, sendo por fim calculada a
média dos quatro direcionamentos. As medidas de textura calculadas nesse trabalho
foram:
• Contraste (CON): é uma medida que representa a variação local da intensidade
de um pixel e seu vizinho, ou seja, mede a presença de uma transição abrupta de NC na
imagem (HARALICK et al., 1973). A fórmula do contraste está representada na Equação
1:
𝑁𝑐 𝑁𝑐

𝐶𝑂𝑁 = ∑ ∑(𝑖 − 𝑗)2 𝑃(𝑖, 𝑗, 𝑑, 𝜃) (1)


𝑖=0 𝑗=0

Em que: P (i, j) = o conteúdo da coordenada (i, j); Nc = o NC da imagem; d = a


distância; θ = o ângulo.
• Correlação (COR): representa a dependência linear no NC entre um pixel eo seu
vizinho sobre toda a imagem. A comparação é realizada em todos os pixels da imagem
(HARALICK et al., 1973). Seu cálculo está representado na Equação 2:
∑𝑁𝑐 𝑁𝑐
𝑖=0 ∑𝑗=0 𝑖𝑗 𝑃(𝑖, 𝑗, 𝑑, 𝜃) − 𝜇𝑥 𝜇𝑦
𝐶𝑂𝑅 = (2)
𝜎𝑥 𝜎𝑦
Em que: P (i, j) = o conteúdo da coordenada (i, j); Nc = o NC da imagem; d = a
distância; θ = o ângulo; µxµy = as médias nas direções x e y; σxσy = os desvios-padrão.
• Energia (ENE): também é conhecida como segundo momento angular e avalia
a uniformidade da textura em uma imagem, ou seja, uma medida da suavidade do local
(HARALICK et al., 1973). A energia pode ser dada por:
𝑁𝑐 𝑁𝑐

𝐸𝑁𝐸 = ∑ ∑[𝑃(𝑖, 𝑗, 𝑑, 𝜃)]2 (3)


𝑖=0 𝑗=0

Em que: P (i, j) = o conteúdo da coordenada (i, j); Nc = o NC da imagem; d = a


distância; θ = o ângulo.
• Homogeneidade (HOM): conhecida também como momento diferencial inverso,
ela representa a proximidade da distribuição dos elementos na GLCM com a sua diagonal,
isto é, mede a regularidade presente na imagem (HARALICK et al., 1973). A expressão
é dada por:
𝑁𝑐 𝑁𝑐
𝑃(𝑖, 𝑗, 𝑑, 𝜃)
𝐻𝑂𝑀 = ∑ ∑ (4)
1 + (𝑖 − 𝑗)2
𝑖=0 𝑗=0

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Em que: P (i, j) = o conteúdo da coordenada (i, j); Nc = o NC da imagem; d = a
distância; θ = o ângulo.
Também foram criados índices a partir das medidas de textura obtidas. Os índices
MUL, são medidas de textura multiplicadas pelo valor médio da banda a qual foi extraída
a textura, a exemplo, o MULCONb1, em que os valores da textura CONb1 obtidos da
medida textura contraste da banda 1 foram multiplicados pelos valores médio da banda
1. O mesmo foi feito para todas as medidas de textura de cada banda, gerando um total
de 16 índices MUL. Também foram criados os índices INV, onde o inverso das medidas
de textura foi multiplicado pelos valores médios das bandas que compõem a textura
exemplo, INVCONb1, em que o inverso da textura CONb1 obtidos da medida textura
contraste da banda 1 foi multiplicado pelo valor médio da banda 1, produzindo 16 índices
INV.
O processamento para obtenção dos descritores texturais foi realizado utilizando
funções do toolbox desenvolvidas para o software MATLAB 7.14 (R2012a)
(MATHWORKS, 2012). As funções utilizadas foram a graycomatrix, que gera a matriz
GLCM, e a graycoprops, que gera o valor de cada uma das características para a GLCM.
Após a obtenção dos 61 componentes extraídos das imagens, foram determinados
os coeficientes de correlação entre as componentes de imagens e o volume obtido em
campo para avaliar o potencial das variáveis nas estimativas do volume de madeira.

2.3. Modelos de regressão e análise das estimativas

Para gerar os modelos de estimativa de volume (m³ ha-1), foram considerados


como variáveis dependentes os volumes obtidos por meio do inventário florestal e, como
variáveis independentes a idade dos plantios e as componentes de imagens, isto é, os NC
das quatro bandas, as medidas de textura e os índices extraídos da textura.
Para a construção dos modelos e determinação de quais componentes de imagens
melhor estimam o volume de madeira, foi utilizado o método Stepwise, o qual avalia os
efeitos das variáveis através da adição ou remoção de apenas uma variável em cada etapa.
Para a escolha dos cinco melhores modelos de regressão dentre os encontrados pelo
método de Stepwise, foi utilizado o método de AIC (Critério de Informação de Akaike).
O método AIC foi desenvolvido por Akaike (1983), sendo sua equação:
𝐴𝐼𝐶 = −2𝐿 + 2𝑝 (5)
Em que: L = o logaritmo neperiano do máximo da função de verossimilhança; p
= o número de parâmetros deste modelo. De acordo com esse critério, o melhor modelo

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é aquele que apresenta o menor valor de AIC (ODA-SOUZA et al., 2008). Com a
utilização destes modelos, foi possível estimar o volume por parcela e analisar os volumes
gerados pelos cinco modelos testados.
Para os cálculos de regressão e análise foi usado o software estatístico R (R CORE
TEAM, 2016), juntamente com os seguintes pacotes: 'leaps' e 'MASS' (LUMLEY, 2009;
VENABLES e RIPLEY, 2002).

3. Resultados e Discussão

3.1. Volume por parcela

Por somatório, os volumes totais por parcela foram obtidos a partir das estimativas
dos volumes totais por classe de idade das 13.407 árvores mensuradas no inventário
florestal (Tabela 1).

TABELA 1: Estatísticas descritivas dos volumes totais (m³ ha-1) por classe de idade.

Classe de idade Mín. Máx. Média Mediana 1° Q. 3° Q. Var. Desvio Pad.


2 1,16 76,50 25,76 22,13 14,85 32,38 231,32 15,21
3 82,41 174,80 121,20 119,50 109,20 136,90 475,08 21,80
4 117,70 249,80 180,40 177,50 166,60 192,80 1060,24 32,56
Em que: Mín. = mínimo; Máx. = máximo; Q. = quartil; Var. = variância; Pad. = padrão.

3.2. Caracterização e processamento das imagens

É possível observar a existência de correlação inversa dos NC das bandas 1, 2 e 3


com os volumes e valores muito similares entre si, enquanto a correlação entre banda 4 e
o volume é praticamente nula (Tabela 2).
No espectro da região visível, as correlações encontradas com o volume podem
ser explicadas devido ao comportamento espectral da vegetação na região do azul e na
região do vermelho, onde ocorre a maior incidência de absorção das radiações
influenciadas pela ação dos pigmentos fotossintetizantes (clorofila e caroteno) presentes
nas folhas, enquanto na região do verde há uma relativa diminuição da absorção em
consequência da coloração esverdeada da maioria das folhas (BAUERMANN, 2008). Já
a região do infravermelho próximo é pouco afetada pela clorofila, mas muito influenciada
pela estrutura foliar da vegetação (BAUERMANN, 2008). Nesta região, as folhas verdes
absorvem pouca energia, resultado da interação da energia incidente com a estrutura do
mesófilo (WATZLAWICK, KIRCHNER e SANQUETTA, 2009).

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TABELA 2: Valores médios dos NC das bandas e dos índices e a correlação destes com o volume
observado.
Componentes Média R
B1 17,49 -0,48
B2 29,48 -0,51
B3 35,50 -0,53
B4 129,88 -0,09
B1/B2 0,59 -0,43
B1/B3 0,49 -0,44
B1/B4 0,14 -0,42
B2/B3 0,83 -0,32
B2/B4 0,23 -0,40
B3/B4 0,28 -0,32
Em que: Média = média dos valores; R = correlação.

Existe uma correlação inversa entre os valores médios de NC da razão simples


entre as bandas com o volume observado (m³ ha-1) (Tabela 2). Porém, todas as correlações
encontradas entre a razão simples das bandas com o volume foram menores que as
correlações das bandas originais com o volume, com exceção da banda 4.
Os valores das correlações encontradas entre o volume observado (m³ ha-1) pelas
medidas de texturas (contraste, correlação, energia e homogeneidade) de cada uma das
bandas, pelos índices MUL e pelos índices INV obtidos através das quatro medidas de
texturas e das quatro bandas podem ser visualizadas na Tabela 3.

TABELA 3: Valores médios da textura e dos índices de textura e a correlação destes com o volume
observado.

Componentes Média R Componentes Média R Componentes Média R


CONb1 2,35 -0,30 MULCONb1 43,35 -0,35 INVCONb1 9,27 0,23
CORb1 0,50 -0,50 MULCORb1 9,01 -0,52 INVCORb1 35,73 0,21
ENEb1 0,06 0,39 MULENEb1 1,05 0,32 INVENEb1 394,23 -0,40
HOMb1 0,62 0,34 MULHOMb1 10,69 -0,32 INVHOMb1 28,94 -0,46
CONb2 6,07 -0,24 MULCONb2 181,85 -0,30 INVCONb2 5,90 0,17
CORb2 0,49 -0,45 MULCORb2 14,54 -0,52 INVCORb2 61,62 0,22
ENEb2 0,03 0,33 MULENEb2 0,76 0,25 INVENEb2 1361,26 -0,37
HOMb2 0,51 0,27 MULHOMb2 14,87 -0,18 INVHOMb2 59,08 -0,45
CONb3 8,72 -0,19 MULCONb3 312,91 -0,25 INVCONb3 4,96 0,14
CORb3 0,47 -0,39 MULCORb3 16,78 -0,48 INVCORb3 77,18 0,17
ENEb3 0,02 0,27 MULENEb3 0,70 0,20 INVENEb3 2090,24 -0,30
HOMb3 0,47 0,22 MULHOMb3 16,55 -0,13 INVHOMb3 77,08 -0,41
CONb4 112,64 -0,08 MULCONb4 14608,37 -0,10 INVCONb4 1,37 0,08
CORb4 0,53 -0,36 MULCORb4 68,19 -0,38 INVCORb4 253,80 0,27
ENEb4 0,01 0,13 MULENEb4 0,65 0,07 INVENEb4 26218,49 -0,16
HOMb4 0,25 0,10 MULHOMb4 32,73 0,04 INVHOMb4 522,86 -0,12
Em que: Média = média dos valores; R = correlação.

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O maior valor de correlação encontrado nas medidas de textura foi o da COR da
banda 1 com -0,4967 (Tabela 3). Os valores de textura foram diferentes dos encontrados
por Sette (2009) em seu estudo sobre estágios sucessionais da Mata Atlântica no sul da
Bahia, o qual encontrou, entre as medidas de texturas obtidas pela banda 2 (verde) pelo
satélite FORMOSAT 2 e o volume do estágio avançado de regeneração, uma correlação
de 0,571 para o COM, 0,029 para COR, 0,539 para ENE e 0,776 para HOM.
Com relação às medidas de contraste (CON) obtidas pelas texturas de cada banda,
a variação de contraste foi de: 0,70 - 11,33 para a banda 1; 1,09 - 24,05 para a banda 2;
2,80 - 31,98 para a banda 3; e 42,15 - 334,12 para a banda 4, a qual teve a maior variância
de CON. Os valores de COR encontrados para as bandas 1, 2, 3 e 4 variaram de 0,28 -
0,87, 0,32 - 0,83, 0,29 - 0,79 e 0,35 - 0,75, respectivamente. Os valores de COR podem
variar de -1 a 1, sendo que quanto mais próximo de 1, maior é a dependência entre os tons
de cinza da imagem; caso contrário, está descorrelacionada (HARALICK et al., 1973).
Para as bandas 1, 2, 3 e 4, os valores de ENE variaram nos intervalos: 0,01 - 0,17;
0,01- 0,07; 0,01 - 0,05; e 0,00 - 0,01, respectivamente. A faixa de possíveis valores de
ENE vai de 0 a 1, em que a imagem com energia próxima a 1 é uma imagem homogênea,
isto é, que possui o mesmo tom de cinza em toda a sua extensão. Portanto, as imagens
das parcelas possuem muitas variações de NC. As medidas de textura HOM variaram de
0,42 - 0,75 para a banda 1, 0,35 - 0,64 para a banda 2, 0,32 - 0,60 para a banda 3 e 0,17 -
0,33 para a banda 4. A faixa de variação da HOM é de 0 a 1, onde quanto mais próximo
de 1, os valores mais se aproximam da diagonal da matriz de coocorrência de tons de
cinza, ou seja os valores dos pixels vizinhos estão próximos (HARALICK et al., 1973).
As maiores correlações encontradas para os índices de textura MUL foram de -
0,52 para MULCOR banda 1 e -0,52 MULCOR banda 2. Já o menor valor de correlação
foi de 0,04 para MULHOM banda 4, e para os índices de textura INV foi de -0,46 para
INVHOM banda 1 e o menor valor foi de 0,08 para INVCON banda 4 (Tabela 3).

3.3. Modelos de regressão e análise de estimativas

Primeiramente, foi gerada uma matriz de correlação entre as 60 variáveis obtidas,


sendo uma delas a variável dependente (volume observado) e as outras 59 como variável
independente, que se dividem em: idade (variável cadastral); quatro bandas originais do
satélite SPOT-6; seis razões entre bandas; 16 medidas de textura (CON, COR, ENE e
HOM para cada banda); 32 índices de textura (16 MUL e 16 INV). Pela matriz, foi
possível verificar que muitas das variáveis são altamente correlacionadas entre si, como

198
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
por exemplo, as bandas da faixa do visível (bandas 1, 2 e 3), evidenciando que muitas das
informações extraídas de uma banda também são encontradas nas outras duas bandas.
A alta correlação deve-se à combinação de dois fatores: muitos objetos (alvos)
possuem valores de NC muito próximos na região do visível ou na região do
infravermelho, resultando em valores de NC pouco diferenciados entre si; e o
sombreamento topográfico, que é o mesmo em todas as bandas de um mesmo sensor,
sendo que em áreas de relevo acidentado com baixo ângulo de iluminação solar faz com
que o grau de correlação entre as bandas aumente (MENESES e ALMEIDA, 2012).
Outro ponto importante na análise da matriz gerada é a correlação existente entre
as variáveis independentes com a variável volume (m³ ha-1). É possível observar que a
idade possui a maior correlação com o volume (0,95) e que, entre as variáveis obtidas
pelas imagens, as maiores correlações foram de -0,53 para a variável banda 3, de -0,52
para a variável MULCOR das bandas 1 e 2, de -0,51 para banda 2 e -0,50 para COR banda
1.
As 59 variáveis independentes juntamente com a variável principal foram
utilizadas, por meio da análise do Stepwise, para a construção dos modelos de regressão,
dos quais cinco modelos foram selecionados pelo menor AIC (Tabela 4).
TABELA 4:Modelos de regressão selecionados e ajustados para estimativa do volume de madeira (m³ ha-
1
).
N Modelo de regressão (coeficientes ajustados) AIC R²ajust
1 93,66 - 4,7*B2 - 93,04*CORb2 + 3,68*MULCORb1 + 56,74 Id -495,3810 0,9081
65,51 - 6,92*B2 + 2,44*B3 + 2,02*INVHOMb1 -0,84*INVHOMb3 +
2 56,96*Id -494,4859 0,9082
113,79 - 5,31*B2 - 64,65*CORb2 + 2,31* MULCORb1 + 1,28*INVHOMb1 -
3 0,52*INVHOMb3 + 56,42*ID -494,0185 0,9084
91,79 - 6,52*B2 + 1,66*B3 - 53,11*CORb2 + 1,72*MULCORb1 +
4 1,49*INVHOMb1 - 0,62*INVHOMb3 + 56,60*Id -492,6684 0,9082
146,41 - 8,54*B2 + 1,80*B3 - 173,50+CORb2 + 1,37*MULCORb1 +
5 4,23*MULCORb2 + 1,37*INVHOMb1 - 0,57*INVHOMb3 + 56,40*Id -491,1539 0,9080
Em que: N = número do modelo; B2 = banda 2; B3 = banda, CORb2 = textura COR da banda 2;
MULCORb1 = multiplicação da COR da banda 1 pela banda 1; MULCORb2 = multiplicação da COR da
banda 2 pela banda 2; INVHOMb1 = inverso da HOM da banda 1 foi multiplicado pela banda 1;
INVHOMb3 = inverso da HOM da banda 3 foi multiplicado pela banda 3; Id = idade do plantio; R²ajust =
coeficiente de determinação ajustado.

De modo geral, todos os modelos são compostos pela banda 2 e com pelo menos
dois componentes de textura, como esperado, uma vez que estas variáveis estão entre as
15 que apresentaram as maiores correlações com a variável volume. Os valores de R²ajust
entre os modelos foram muito similares, variando de 0,9080 a 0,9084. Isso significa que
os modelos selecionados para a estimativa do volume permitiram explicar, em média,
90,82% do volume a partir das variáveis selecionadas. A seleção da banda 2 corrobora

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com as informações extraídas do seu intervalo espectral referente à vegetação, isto é, a
banda verde reflete boa parte da radiação eletromagnética (luz) (BAUERMANN, 2008).
Das 16 medidas e dos 32 índices de textura, cinco variáveis foram selecionadas
para o modelo de predição de volume. A medida de textura de correlação (COR)
representa a ideia de linearidade de dependências de tons de cinza em uma imagem.
Portanto, em uma imagem onde exista certa ordenação local de NC, o valor da correlação
é alto (HARALICK et al., 1973).
No estudo feito por Gomes e Maillard (2013), em que foi feita a estimativa da
idade da vegetação do cerrado, a união das bandas espectrais e da textura dos dados
RapidEye trouxe um incremento de mais de 15% no poder preditivo do modelo. Porém,
para os outros parâmetros da vegetação como volume, DAP, densidade e área basal, as
texturas não apresentaram altos coeficientes de determinação.
As estimativas dos volumes (m³ ha-1) por parcela obtidas pelos modelos
selecionados e suas estatísticas podem ser verificados na Tabela 5, juntamente com o
volume observado e suas estatísticas. Observa-se que os valores médios preditos pelos
modelos estão próximos do volume médio observado por classe de idade, com exceção
na idade mais adulta (Classe 4), em que os valores foram subestimados em todos os
modelos.

TABELA 5: Estatísticas dos volumes (m³ ha-1) por classe de idade estimados pelos modelos selecionados.
Volume Cl. idade Mín. Máx. Média Mediana Var. Desvio Pad.
2 1,16 76,50 25,76 22,13 231,33 15,21
Observado 3 82,41 174,80 121,20 119,50 475,08 21,80
4 117,70 249,80 180,40 177,50 1060,23 32,56
2 0,00 63,08 25,76 25,06 241,05 15,53
Modelo 1 3 117,70 145,70 133,70 134,40 49,00 7,00
4 144,70 174,60 161,30 164,00 73,33 8,56
2 0,00 59,85 25,72 25,42 236,98 15,39
Modelo 2 3 122,30 142,70 134,60 135,80 28,51 5,34
4 142,60 173,00 160,20 163,40 84,63 9,20
2 0,00 63,34 25,70 24,87 240,13 15,50
Modelo 3 3 118,60 144,70 134,40 136,10 42,06 6,49
4 141,70 174,50 160,50 160,50 85,69 9,26
2 0,00 62,51 25,71 26,15 238,51 15,44
Modelo 4 3 120,60 144,40 134,50 136,00 38,25 6,18
4 142,60 174,00 160,40 164,40 79,23 8,90
2 0,00 64,85 25,69 25,74 236,18 15,37
Modelo 5 3 120,20 144,80 134,60 136,10 40,70 6,38
4 142,70 174,10 160,40 163,50 78,45 8,86
Em que: Cl. = classe; Mín. = mínimo; Máx. = máximo; Var. = variância; Pad. = padrão.

O comportamento dos dados gerados pelos modelos com o volume observado


possui uma linearidade (Figura 2).

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FIGURA 2: Distribuição dos volumes observados pelos volumes estimados nos cinco modelos
selecionados.
Os cinco modelos selecionados estimaram valores de volume próximos aos
valores de volume observados por parcela e os valores de R²ajust também foram similares
entre os modelos portanto, os cinco modelos podem ser utilizados para estimar o volume,
porém, deve se levar em consideração o princípio da parcimônia, no qual quanto menos
variáveis um modelo possuir e quanto mais ele puder explicar com estas variáveis melhor.
Através dos modelos escolhidos com a utilização das componentes de imagens é
possível estimar o volume de madeira (m³ ha-1) para área total. Estes modelos podem ser
reaplicados em povoamentos de Eucalyptus sp., porém, sobre as mesmas condições aqui
aplicadas, já que os resultados podem variar devido ao tipo de vegetação, estrutura da
floresta e outras variáveis dendrométricas que influenciam as composições das imagens.

4. Conclusões

Para os modelos de predição de volume gerados, dos 58 componentes de imagem


obtidos, sete componentes de imagens foram selecionados, sendo a banda 2, a banda 3, a
medida de textura COR (correlação) da banda 2, o índice MULCOR da banda 1 e da
banda 2 e o índice INVHOM da banda 1 e da banda 3, estando estas componentes entre
as 15 variáveis que apresentaram maiores correlações com o volume observado.
As regressões geradas pelo método Stepwise com a união das bandas espectrais e
medidas de textura foram capazes de explicar em média 90,82% do volume de madeira e
ainda gerar modelos significativos. Portanto, foi demonstrado o potencial da utilização
das técnicas de sensoriamento remoto associadas ao inventário florestal em estimativas
de variáveis dendrométricas.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
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203
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISE DE SUSCETIBILIDADE À EROSÃO LAMINAR


ATRAVÉS DE SIG: UM SUBSÍDIO AO CONTROLE,
MONITORAMENTO E PRESERVAÇÃO DE ÁREAS
PROTEGIDAS NA ZONA DE AMORTECIMENTO DA ARIE
MATA SANTA GENEBRA

Queiroz, Mateus C.1; Aprígio, Patrik O.2

Fundação José Pedro de Oliveira – FJPO,


1,2

estagio.ambiental@fjposantagenebra.sp.gov.br,
patrik.aprigio@fjposantagenebra.sp.gov.br.

Resumo: Atualmente é notório que os processos erosivos causam impactos diretos na


degradação dos solos. Estes ocorrem não somente pelas variáveis físicas do ambiente,
como também pela intensificação das atividades humanas, descaracterizando a fisionomia
de fragmentos protegidos. Para mitigar e evitar seus impactos, faz-se necessário obter
dados sobre os meios físicos e antrópicos através de sistemas de informações geográficas
(SIG), por meio da análise de suscetibilidade e potencial à erosão laminar como uma
ferramenta de gestão e planejamento para as áreas protegidas. Neste trabalho foi
desenvolvido o mapeamento da Zona de Amortecimento da Área de Relevante Interesse
Ecológico Mata Santa Genebra (ARIE MSG) com área de 1543,03 hectares, em uma
região sujeita a intensiva atividade agrícola e expansão urbana e com alguns fragmentos
protegidos. Os resultados mostram que 5,87% da área encontra-se em classes de muita e
moderada suscetibilidade física, à erosão laminar, e 66,50% encontra-se em locais com
médio e alto potencial erosivo, indicando que o uso da zona de amortecimento é
inadequado para as condições de solo e declividade. Assim, sendo necessário orientar-se
pelo estudo para ordenar diretrizes de uso e práticas conservacionistas na zona de
amortecimento e áreas protegidas envoltórias.
Palavras-chave: Processos erosivos; Degradação dos solos; Sistemas de Informações
Geográficas (SIG); Suscetibilidade à erosão laminar; ARIE Mata Santa Genebra.

1. Introdução

Em meio ao cenário de expansão urbana e de avanços no agronegócio, as erosões


têm despertado o interesse de pesquisas, principalmente, em razão da descaracterização
que geram em áreas protegidas (PETSCH e MONTEIRO, 2012). De acordo com Xavier
et al. (2010), é necessário gerar dados sobre as variáveis físicas e antrópicas, como uma
ferramenta para qualificar e quantificar os processos causadores de impactos, e
diagnosticar áreas com alto risco ambiental, auxiliando, assim, na gestão do território,
principalmente na envoltória de fragmentos florestais protegidos, que conforme Laurance
et al. (2002), tem sua área de borda degradada pela influência do efeito de matriz.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Nesse contexto, os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são utilizados para
aquisição e tratamento de dados georreferenciados, que auxiliam na eficiência da gestão
do território a partir de estudos e levantamentos de elementos condicionantes (XAVIER
et al., 2010; PETSCH e MONTEIRO, 2012). Para isso, a geração de cartas de
suscetibilidade à erosão são um subsídio para a análise de áreas passíveis de degradação,
seja por fatores naturais como o tipo de solo e declividade ou por ação direta gerada pelas
atividades antrópicas.
Portanto, a realização do estudo visa analisar a suscetibilidade à erosão a partir da
elaboração das cartas de suscetibilidade e potencial à erosão laminar, permitindo avaliar
as pressões sofridas na Zona de Amortecimento (ZA) da ARIE Mata Santa Genebra
(MSG) em Campinas-SP, além de constituir uma importante ferramenta de planejamento
para a adoção de práticas conservacionistas no entorno de fragmentos protegidos.

2. Materiais e Métodos

2.1. Área de Estudo

O estudo foi desenvolvido na ZA da ARIE MSG, localizada nos municípios de


Campinas-SP e Paulínia-SP (Figura 1). A ARIE MSG tem predomínio de Floresta
Estacional Semidecídua, e está inserida em uma região relativa à formação geológica de
intrusão Diabásica do Mesozóico, que possui predomínio pedológico de Latossolo
Vermelho Escuro Álico com textura argilosa, e caracterizam-se os relevos suaves e
convexos, com declividades que dificilmente ultrapassam os 7%, com altitude média de
605 metros (BRASIL, 2010).
Predominam no entorno da ARIE MSG as atividades ligadas aos comércios
atacadistas, metalúrgicos, empresas de grande porte, mineradoras, entre outras, além de
agricultura extensiva de cana-de-açúcar e hortaliças (BRASIL, 2010).
Além da ARIE, em sua ZA também incidem fragmentos protegidos através de
tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas
(CONDEPACC) e outras áreas importantes para o equilíbrio ecossistêmico, com a função
estratégica de formar corredores e instituir um mosaico de ecossistemas de elevada
relevância ecológica. São eles: Cerrado São Marcos1, o Refúgio de Vida Silvestre

1 Em processo de estudo de tombamento pelo Comunicado 06/04/2004. Caracterizado pela fisionomia


campo cerrado, típico de ecótonos entre a Mata Atlântica e o Cerrado.

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Quilombo Santa Genebra2, Várzea próxima a MSG3, Maciços Naturais “C” e “D”4
(HERRMANN, 2012).

FIGURA 1 – Localização da zona de amortecimento da ARIE Mata Santa Genebra e demais áreas
protegidas. Fonte: Autor, 2018.

2.1. Processos metodológicos

Neste trabalho utilizou-se a análise das unidades de paisagem natural proposta por
Crepani et al. (2001), disposto em categorias morfodinâmicas. A adaptação ocorreu
definindo cinco categorias, e relacionando-as a um índice relativo conforme sua relação
morfodinâmica de estabilidade/instabilidade (Tabela 1).
A criação dos mapas e cartas basearam-se nos procedimentos constantes da Figura
2. Para rasterização, foram definidos pixels de 30 metros, em escala de 1:50.000. As
manipulações e cruzamentos matriciais foram realizados através do software livre QGIS
(versão 2.14.9.).

TABELA 1 – Avaliação da estabilidade das categorias morfogênicas.


Categoria morfodinâmica Relação pedogênese/morfogênese Índice relativo
Estável Prevalece a pedogênese 1,0

2 UC instituída pela Lei Complementar nº 76/2014 (artigo 10, inciso I). Constitui fisionomia de campos
de várzea com a finalidade de proteger integralmente a várzea do Ribeirão Quilombo, possui área de
20,23 ha.
3 Tombada pelas Resoluções nº 147 e 151 de 2016. Caracterizadas por fisionomia brejosa, essenciais para
a regulação da nascente próxima.
4 Bens tombados pelas Resoluções nº 47 e 48 de 2004. Constituem fisionomia de campo de várzea e
Floresta Paludosa e Floresta Paludosa principalmente, com áreas de 46,5 e 52,3 há, respectivamente.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Pouco estável Pouca pedogênese 2,0
Intermediário Equilíbrio pedogênese/morfogênese 3,0
Pouco instável Pouca morfogênese 4,0
Instável Prevalece a morfogênese 5,0
Fonte: Adaptado de Crepani et al. (2001).

FIGURA 2 – Fluxograma metodológico de elaboração dos mapas. Fonte: Adaptado de Xavier et al.
(2010).

2.1.1. Suscetibilidade à erosão laminar


A produção da carta de suscetibilidade à erosão laminar utilizou os dados de
pedologia e declividade. O dado pedológico foi reclassificado pela associação entre as
unidades pedológicas e as respectivas categorias morfodinâmicas, segundo a Tabela 2,
baseado na metodologia de Salomão (1999) e Xavier et al. (2010).
A carta pedológica utilizada foi gerado a partir da integração do mapa
semidetalhado do município de Campinas-SP em escala 1:50.000 (COELHO;
VALLADARES; CHIBA, 2008), e do mapa pedológico do estado de São Paulo em escala
1:500.000 (OLIVEIRA; CAMARGO; ROSSI; CALDERANO FILHO, 1999), disponível
no Sistema de Infraestrutura de Dados Espaciais Ambientais do Estado de São Paulo
(DataGEO).

TABELA 2 – Classes de erodibilidade pela importância dos tipos de solos.


Grau de erodibilidade Unidades pedológicas
- Solos hidromórficos em relevo plano: Gleissolos, Planossolos,
1 – Estável
Organossolos, Neossolos Quartzarênico.
- Latossolos de textura média;
2 – Pouco estável - Latossolo Vermelho e Vermelho-Amarelo de textura argilosa e muito
argilosa, A proeminente e moderado;
- Terra roxa estruturada.
- Argilossolos de textura argilosa;
3 - Intermediário - Latossolo Vermelho e Vermelho-Amarelo de textura argilosa e muito
argilosa, A moderado.
- Argilossolos de textura média;
4 – Pouco instável - Argilossolo Vermelho-Amarelo de textura média argilosa, A moderado;
- Latossolo Vermelho de textura argilosa, A moderado, relevo ondulado.
- Cambissolos;
5 - Instável - Neossolos Litólicos;
- Neossolos quartzarênicos em relevos suave-ondulado e ondulado.
Fonte: Adaptado de Salomão (1999), Crepani et al. (2001), e Xavier et al. (2010).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O mapa de declividade utilizado, foi gerado a partir do Modelo Digital de
Elevação, disponível no Topodata em escala 1:50.000 (INPE, 2011). O dado foi gerado
por reclassificação, segundo o método utilizado por Xavier et al. (2010) (Tabela 3).

TABELA 3 – Classes de vulnerabilidade erosiva pela declividade nas encostas.

Grau de vulnerabilidade erosiva Declividade (%) Classes de relevo


1 -Estável 0 a 3% Plano
2- Pouco estável 3 a 8% Suave ondulado
3- Intermediário 8 a 12% Moderadamente ondulado
4- Pouco instável 12 a 20% Ondulado
5- Instável >20% Forte Ondulado
Fonte: Adaptado de Xavier et al. (2010).

O cruzamento matricial seguiu o procedimento de critérios condicionantes por


meio de álgebra de mapas, adaptados de Salomão (1999) e Xavier et al. (2010), visto as
variações da área de estudo para as condições de solo e relevo (Tabela 4).

TABELA 4 – Critério para definição de classes de suscetibilidade à erosão laminar.


Pedologia Declividade
2 – Pouco 3 – Suave 5 – Forte
1 – Plano 4 – Ondulado
ondulado ondulado ondulado
1 – Estável V V V IV IV
2 – Pouco estável V V IV IV III
3 – Intermediário V IV IV III II
4 – Pouco instável IV IV III II I
5 - Instável IV III II I I
Fonte: Adaptado de Salomão (1999) e Xavier et al. (2010).

Integrando as classes de erodibilidade dos solos com o grau de vulnerabilidade


erosiva da declividade, por meio do cruzamento matricial, obteve-se a carta de
suscetibilidade à erosão laminar, conforme Tabela 5.

TABELA 5 – Classes de suscetibilidade à erosão laminar.


Classes Categoria morfodinâmica Índice relativo
I Extremamente suscetível 5,0
II Muito suscetível 4,0
III Moderadamente suscetível 3,0
IV Pouco suscetível 2,0
V Pouco a não suscetível 1,0
Fonte: Adaptado de Salomão (1999) e Xavier et al. (2010).

2.1.2. Potencial à erosão laminar


A produção da carta de potencial à erosão laminar utilizou a carta de
suscetibilidade à erosão laminar e o mapa de uso e ocupação do solo. O dado sobre o uso
e ocupação do solo foi reclassificado por meio da associação entre os usos da ZA,

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definidos por meio das terminologias utilizadas por Cavararo (2013) para o uso da terra,
e os respectivos graus de potencial erosivo das ocupações, conforme Tabela 6.
O mapa de uso e ocupação do solo utilizado foi elaborado por Aquino (2017), por
meio de interpretação visual e vetorização manual de imagens Landsat 8 OLI, obtidas no
site Earth Explorer do United States Geological Survey (USGS).

TABELA 6 – Classes de uso e ocupação do solo.


Grau de potencial erosivo Uso e ocupação do solo
Corpos d’água, cobertura vegetal estabelecidas e sem atividade antrópica
1 - Estável
(florestal, campestre).
Cobertura vegetal de porte alto e médio com atividade antrópica muito
2 - Pouco estável
reduzida (silvicultura, florestal fragmentada).
Cobertura vegetal de baixo e médio porte com atividade antrópica
3 - Intermediário
reduzida (vegetação campestre).
Cobertura vegetal de baixo e médio porte com atividade antrópica
4 - Pouco instável
moderada (cultura permanente e pastagem).
Área descoberta e cobertura vegetal de baixo e médio porte com intensa
5 - Instável
atividade antrópica (cultura temporária, e área urbanizada).
Fonte: Adaptado de Salomão (1999) e Xavier et al. (2010).

Por meio dos critérios definidos por Salomão (1999) e Xavier et al. (2010) foi
realizado o cruzamento matricial utilizando o procedimento de critérios condicionantes
por meio de álgebra de mapas, visto a variação da área para o uso e ocupação do solo
(Tabela 8).

TABELA 8 – Critério para definição de classes de potencial à erosão laminar.


Vulnerabilidade Uso e Ocupação do Solo
1– 2 – Pouco 4 – Pouco
3 – Intermediário 5 – Instável
Estável estável instável
1 – Pouco a não suscetível III III III III II
2 – Pouco estável III III II II II
3 – Intermediário III II II I I
4 – Pouco instável III II I I I
5 - Instável II I I I I
Fonte: Adaptado de Salomão (1999) e Xavier et al. (2010).

Integrando as classes de suscetibilidade com as de uso do solo, por meio de


cruzamento matricial, obteve-se o mapa final de potencial à erosão laminar, seguindo a
classificação conforme Tabela 7, adaptadas de Salomão (1999) e Xavier et al. (2010),
refletindo a suscetibilidade com as devidas variáveis antrópicas.

TABELA 7 – Classes de potencial atual à erosão.


Classe Potencial Índice Relativo
I Alto potencial 5,0
II Médio potencial 3,0
III Baixo potencial 1,0
Fonte: Adaptado de Salomão (1999), Ross (2007) e Xavier et al. (2010).

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3. Resultados

Através do levantamento cartográfico dos grupos pedológicos (Figura 3) foi


possível observar o percentual referente as classes predominantes de solo identificadas na
área de estudo (Tabela 9).

FIGURA 3 – Carta dos grupos de solos da ZA. Fonte: Autor, 2018.

TABELA 9 – Áreas correspondes às classes de solo na ZA da ARIE MSG.


Código Descrição Área (%) Área (ha)
Complexo de: GLEISSOLO HÁPLICO e
MELÂNICO – NEOSSOLO FLÚVICO – CAMBISSOLO
GXb1 0,61 9,39
FLÚVICO, todos Tb Distrófico e
Eutrófico, A moderado e textura indiscriminada
LATOSSSOLO VERMELHO e VERMELHO-AMARELO
LVd4 7,57 116,82
Distrófico típico, A moderado, textura argilosa
LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico húmico,
LVAd1 4,86 75,06
textura argilosa
LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico, A
LVAd5 18,18 280,58
moderado, textura argilosa
LATOSSSOLO VERMELHO Distroférrico e Distrófico típico,
LVdf1 18,94 292,18
A proeminente e moderado, textura argilosa e muito argilosa
LATOSSOLO VERMELHO Distroférrico típico, A moderado
LVdf2 3,35 51,65
e proeminente, textura argilosa e muito argilosa
LATOSSSOLO VERMELHO Eutroférrico e Distroférrico
LVef1 39,19 604,76
típico, A moderado, textura muito argilosa e argilosa
Complexo de: ORGANOSSOLOS - GLEISSOLOS, ambos
OX1 5,55 85,58
HÁPLICOS
ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico típico, A
PVAd2 1,75 27,01
moderado, textura média/argilosa
Área Total 100 1543,03

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Nota-se pelo mapa de solos, que na ZA há o predomínio geral de Latossolo
Vermelho, seguido de Latossolo Vermelho-Amarelo, diferenciando-se pela
mineralização, textura e camada do horizonte A. Há também uma área com associação
entre estes grupos (LVd4) que ocupa 7,57% da área, sendo importante considerar que
estes grupos classificam-se entre os graus de pouco a muito suscetível.
Com base no mapa de declividade (Figura 4), obteve-se as áreas e as respectivas
porcentagens (Tabela 10) da área de estudo.

FIGURA 4 – Carta das classes de declividade. Fonte: Autor, 2018.

TABELA 10 – Áreas correspondes às classes de declividade na Zona de Amortecimento da ARIE MSG.


Declividade (%) Área (%) Área (ha)
0 a 3% 18,03 278,29
3 a 8% 61,37 947,02
8 a 12% 15,45 238,33
12 a 20% 4,50 69,41
> 20% 0,65 9,98
Total 100 1543,03
Tendo em vista a baixa variação da declividade, os valores mais frequentes
encontram-se entre 3 a 8%, caracterizando relevo suave ondulado. E apenas 0,65% da
área de estudo contida na classe de ondulações fortes.
Do levantamento de uso e ocupação de solo (Figura 5), foram identificados seis
principais usos do solo na área de estudo (Tabela 11). Os maiores percentuais encontram-
se entre as classes de cultura temporária, florestal e campestre.

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FIGURA 5 – Mapa de uso e ocupação do solo da ZA. Fonte: Autor, 2018.

TABELA 11 – Áreas correspondes às classes de solo na Zona de Amortecimento da ARIE MSG.


Uso do Solo Área (%) Área (ha)
Área descoberta 1,18 18,19
Área urbanizada 3,04 46,92
Campestre 14,19 219,02
Corpo d’água 0,30 4,59
Cultura temporária 59,85 923,55
Florestal 21,44 330,76
Total 100 1543,03

O mapa de vulnerabilidade à erosão laminar (Figura 6) permitiu analisar o


percentual de áreas vulneráveis à erosão laminar (Tabela 12).

FIGURA 6 – Carta de suscetibilidade à erosão laminar da ZA. Fonte: Autor, 2018.

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TABELA 12 – Áreas correspondentes as classes de suscetibilidade à erosão laminar.
Vulnerabilidade Área (%) Área (ha)
I – Extremamente suscetível 0,00 0,00
II – Muito suscetível 0,72 11,11
III – Suscetível 5,15 79,39
IV – Pouco suscetível 60,99 941,14
V – Pouco a não suscetível 33,14 511,39
Total 100 1543,03

Já mapa de potencial à erosão laminar (Figura 7) permitiu analisar o percentual de


áreas com potencial à erosão devido as ações antrópicas (Tabela 13).

FIGURA 7 – Carta de potencial à erosão laminar da ZA. Fonte: Autor, 2018.

TABELA 13 – Áreas correspondentes as classes de potencial à erosão laminar.


Potencial Área (%) Área (ha)
I – Alto potencial 2,43 37,47
II – Médio potencial 64,07 988,64
III – Baixo potencial 33,50 516,91
Total 100 1543,03

4. Discussão

Com os resultados notou-se que 60,99% da ZA encontra-se em área pouco


suscetível. Já as áreas muito suscetíveis caracterizadas por solos de média suscetibilidade
com declividade forte ondulada, ocupam 0,72%. Não sendo mapeadas áreas com extrema
suscetibilidade.
Grande parte da ZA encontra-se classificada com médio potencial à erosão
(64,07%), localizados principalmente em locais com uso intensivo, porém com
declividade e solos que variam de pouco a muito suscetível.

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O grupo de baixo potencial à erosão (33,50%), localiza-se prioritariamente nas
áreas protegidas na ZA da MSG, com a importante função de proteger a qualidade e
quantidade dos recursos hídricos e a estabilidade dos solos. A proteção destas áreas tem
o viés de proteção dos mananciais e nascentes existentes, que contribuem para as bacias
do Quilombo e Anhumas em Campinas-SP.
É interessante notar que as áreas com as declividades mais acentuadas e com solos
relativamente suscetíveis, classificados como áreas muito suscetíveis, quando em uso
pouco intensivo e vegetado, mesmo que em fisionomia campestre, tiveram um baixo
potencial à erosão laminar. Enquanto o alto potencial à erosão laminar (2,43%), situa-se
principalmente nos relevos ondulados, em solos considerados suscetíveis e uso intensivo
tanto pela agricultura intensiva quanto pela urbanização.
Portanto, o uso e ocupação do solo é a característica que foi mais determinante na
classificação do potencial à erosão laminar, visto que concentram-se principalmente nas
bordas dos fragmentos protegidos.

5. Considerações Finais

Com a realização da análise de suscetibilidade à erosão na ZA da MSG, foi


possível avaliar a influência das combinações das variáveis físicas e antrópicas sobre os
processos erosivos. Onde nota-se que apesar da baixa suscetibilidade natural do terreno e
do solo em grande parte da área, o uso e ocupação acaba sendo um fator determinante
para avaliar o potencial à erosão laminar. Enquanto que, em usos menos intensivos
geralmente associados à alta suscetibilidade ocorre um equilíbrio.
Além disso, os dados gerados neste trabalho servirão para embasar a identificação
de locais suscetíveis e com potenciais à erosão laminar, auxiliando na tomada de decisão
quanto ao controle e monitoramento de processos erosivos, através da indicação de áreas
prioritárias para recuperação, conservação e/ou restauração ecológica.
Por fim, pode-se concluir que a análise de suscetibilidade e potencial à erosão
laminar por meio de cartas temáticas, constitui uma ferramenta importante para o
planejamento e a gestão de áreas protegidas, auxiliando a avaliação de locais a serem
conservados e a adoção de práticas conservacionistas de solo.

Referências

AQUINO, E. P. S. Estágio supervisionado do bacharelado em geografia


apresentado à Mata Santa Genebra. Campinas: Pontifícia Universidade Católica de
Campinas (PUC-Campinas), 2017. 15 p.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Plano de Manejo ARIE Mata de Santa
Genebra. Campinas: Fundação José Pedro de Oliveira, 2010.
CAVARARO, R. (Ed.). Manual técnico de uso da terra. Rio de Janeiro: Ministério do
Meio Ambiente (MMA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Diretoria de Geociências, Coordenação de recursos Naturais e Usos da Terra, 2013.
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COELHO, R. M.; VALLADARES, G. S.; CHIBA, M. K. (Orgs.). Mapa pedológico
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José dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, 2001. 103 p.
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XAVIER, F. V.; CUNHA, K. L.; SILVEIRA, A.; SALOMÃO, F. X. T. Análise da
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Brasília, v. 11, n. 2. p. 10, 2010.

215
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

AVALIAÇÃO DA DINÂMICA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO


NA ZONA DE AMORTECIMENTO DA ARIE MATA DE SANTA
GENEBRA, CAMPINAS, SP

Aquino, Érica P. S.1


Aprigio, Patrik. O.2
1
Pontifícia Universidade Católica de Campinas, graduanda em Geografia, erica-
psaquino@hotmail.com
2
Orientador, Fundação José Pedro de Oliveira, Engenheiro Ambiental,
patrik.aprigio@fjposantagenebra.sp.gov.br

Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar a dinâmica de uso do solo na Zona de
Amortecimento da Área de Relevante Interesse Ecológico Mata de Santa Genebra (ARIE
MSG), Campinas, SP, entre os anos de 1985, 2000 e 2017. Para tanto, utilizaram-se
imagens dos satélites Landsat 5 TM, Landsat 7 ETM e Landsat 8 OLI. Os cenários foram
construídos a partir de análise visual e vetorização manual. As classes majoritárias nos
três cenários foram culturas temporárias, fragmentos florestais e campos naturais. No
período considerado, houve aumento progressivo das classes fragmentos florestais e
campos naturais e diminuição paulatina de culturas temporárias. As alterações de uso e
ocupação do solo não foram, contudo, consideradas percentualmente significativas. Os
dados obtidos podem ser consequência do não alargamento do perímetro urbano e da
criação de áreas protegidas na ZA da ARIE MSG.
Palavras-chave: Geoprocessamento; Uso e ocupação do solo; Zona de amortecimento;
Unidade de conservação.

1. Introdução

Diminuição em área e fragmentação dos ecossistemas naturais é consequência


direta do crescimento da populacional e da expansão das áreas ocupadas por atividades
agrícolas ou industriais, aumentando os riscos de extinção local e constituindo a ameaça
à biodiversidade (TURNER 1996).
A ARIE MSG é um fragmento isolado de Floresta Estacional Semidecidual com
251,7 ha, localizado na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Apesar de sua
pequena extensão, é o maior fragmento nativo remanescente da RMC, desempenhando,
em escala regional, papel fundamental em complexa rede composta por diversos
fragmentos de até 50 ha de área.
Nesse contexto, e considerando as implicações das alterações dos tipos de uso e
ocupação do solo para a conservação de áreas protegidas, principalmente no que diz
respeito à conectividade e à permeabilidade da matriz na paisagem, este trabalho tem
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por objetivo a criação de cenários de uso e ocupação do solo da ZA da ARIE para os
anos de 1985, 2000 e 2017, visando à compreensão da dinâmica das alterações ocorridas.

2. Materiais e métodos

2.1 Área de estudo

A Zona de Amortecimento1 (ZA) da ARIE MSG, coordenadas UTM 283548 E,


7474182 S, totaliza 1.543 ha, dos quais 1.426 ha localizam-se no município de Campinas
e 117 ha, no município de Paulínia (Figura 1).

FIGURA 1 – Zona de Amortecimento da ARIE MSG.

Além da importância para minimização dos impactos negativos do entorno sobre


a ARIE MSG2, a ZA da ARIE MSG é fundamental para conservação e conectividade,
devido a existência de outras áreas protegidas, que formam um mosaico de
fitofisionomias (Floresta Mesófila Semidecídua Higrófila (Fragmento B, Bem Natural

1 Definida por meio da Portaria Conjunta nº 01/2012, que foi sancionada pelas Prefeitura Municipais de
Campinas, Paulínia e pela Fundação José Pedro de Oliveira, órgão gestor da UC.
2 Declarada ARIE por meio do Decreto Federal nº 91.885/1985.

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C3 e Bem Natural D4), Cerrado (Cerrado São Marcos5) e campos de várzea (Várzea

próxima à Mata de Santa Genebra6 e Refúgio da Vida Silvestre7) (ICMBio, 2010).

2.2 Dados e procedimentos utilizados

Neste trabalho, foram utilizadas imagens dos satélites Landsat 5 TM, Landsat 7
ETM e Landsat 8 OLI, cujas datas de imageamento foram, respectivamente, 07/11/1985,
24/11/2000 e 15/11/2017. As imagens foram obtidas no site do United States Geological
Survey (USGS).

A construção dos cenários de uso e ocupação do solo fundamentou-se na análise


visual de composições coloridas e na vetorização manual de feições, utilizando, para os
sensores TM e ETM, as seguintes combinações de bandas espectrais nos canais RGB:
321; 432 e 543; e, para o sensor OLI, 432, 543 e 654. Para identificação e
reconhecimento de feições, foram considerados os elementos interpretativos constantes
de Novo (2010), Florenzano (2011) e de Moreira (2012).

Todas as etapas de processamento como redução de dimensionalidade das


imagens, composição de bandas espectrais, aplicação de contrate, bem como vetorização
de feições, foram realizadas no QGIS 2.14.5.

3. Resultados

As classes de uso e ocupação do solo foram baseadas em IBGE (2013), até o


nível II. Identificaram-se quatro classes de nível I e sete classes de nível II, a saber: áreas
antrópicas não agrícolas (área urbanizada e edificações); área antrópicas agrícolas
(culturas temporárias e pastagens); área de vegetação natural (fragmentos florestais e
campos naturais) e água (corpos d’água).

Nos três cenários, as classes de nível I majoritárias foram ecossistemas naturais


e áreas antrópicas agrícolas. Comparando-se os três cenários, houve diminuição
porcentual paulatina desta classe, e aumento percentual gradual da primeira (Tabela 1).

Por outro lado, nos três cenários, os corpos d’água e as áreas antrópicas não
agrícolas foram as classes de nível I minoritárias. Comparando-se os três cenários, houve

3 Tombado pela Resolução CONDEPACC nº 47/2004.


4 Tombado pela Resolução CONDEPACC nº 48/2004.
5 Aberto processo de estudo tombamento nº 04/03. Comunicado CONDEPACC s/nº, de 06/04/2004.
6 Tombada pela Resolução CONDEPACC nº 83/2009.
7 Declarado Unidade de Conservação pela Lei Complementar nº 76/2014.

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aumento percentual gradual desta classe, enquanto aquela classe manteve-se
praticamente constante (Tabela 1).

TABELA 1 – Área das classes de nível I e porcentagem em relação à ZA nos três cenários

1985 2000 2017


Área (ha) % da ZA Área (ha) % da ZA Área (ha) % da ZA
Ecossistemas
499.3 32.4 499.3 32.4 538.7 34.9
naturais
Área antrópicas
1034.8 67.1 1013.2 65.7 951.5 61.7
agrícolas
Área antrópicas
3.8 0.2 26.8 1.7 48.9 3.2
não agrícolas
Corpos d’água 5.1 0.3 3.8 0.2 3.9 0.3
Total 1543.0 100.0 1543.0 100.0 1543.0 100.0
Em relação às classes de uso de nível II, culturas temporárias, fragmentos
florestais e campos naturais foram as classes majoritárias nos três cenários (Figuras 1, 2
e 3). Comparando-se os três cenários, houve aumento progressivo das classes
fragmentos florestais e campos naturais e diminuição paulatina de culturas temporárias
(Tabela 2). Por outro lado, as classes de uso de nível II com menor porcentagem em
relação à área da ZA foram, nos três cenários, pastagens, área urbanizada, edificações e
corpos d’água. Enquanto as pastagens sofreram diminuição paulatina, houve aumento
gradual de área urbanizada e área construída (Tabela 2).

TABELA 2 – Área das classes de nível II e porcentagem em relação à ZA nos três cenários
1985 2000 2017
Área (ha) % da ZA Área (ha) % da ZA Área (ha) % da ZA

Culturas temporárias 945.7 61.3 935.9 60.7 898.9 58.3

Edificações 3,8 0,2 7.1 0.5 16.6 1.1

Área urbanizada 0 0.0 19.6 1.3 32.3 2.1

Pastagens 89.0 5.8 77.3 5.0 52.7 3.4

Campos naturais 197.4 12.8 184.7 12.0 208.8 13.5

Corpo d'água 5.1 0.3 3.8 0.2 3.9 0.3

Fragmentos florestais 301.9 19.6 314.6 20.4 329.8 21.4

Total 1543.0 100.0 1543.0 100.0 1543.0 100.0

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FIGURA 2 – Uso e ocupação do solo na ZA da ARIE. Cenário 1985.

FIGURA 3 – Uso e ocupação do solo na ZA da ARIE. Cenário 2000.

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FIGURA 4 – Uso e ocupação do solo na ZA da ARIE. Cenário 2017.

4. Discussão

O predomínio de ecossistemas naturais e de áreas antrópicas agrícolas na Zona de


Amortecimento nos três cenários decorre, principalmente, da instituição de áreas
protegidas naturais, e da manutenção do perímetro urbano nos municípios de Campinas
e Paulínia.
Na ZA, o perímetro urbano do município de Campinas não é alterado desde 1994,
quando foram incorporadas glebas lindeira a face leste da UC (FUPAM, 2015). Já a
porção da ZA situada no município de Paulínia foi incorporada à Zona Urbana em 1995
(FARIAS, 2010). Atualmente, cerca de 33% da área da ZA está inserida em perímetro
urbano. A manutenção do perímetro urbano e a consequente não conversão de uso e
ocupação do solo, principalmente, na porção oeste da ZA, explicam o fato de áreas
antrópicas agrícolas ser, nos três cenários, o uso predominante na ZA
Este fato tem implicações para a gestão e conservação da ARIE MSG, pois, de
modo geral, conversões de usos antrópicos não agrícolas em área urbanizadas podem
acarretar significativo impacto ambiental negativo à ARIE MSG, pois intensificam o
isolamento dos ecossistemas naturais devido à fragmentação e ao aumento de efeito
barreira, o que pode implicar extinções locais de espécies.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Por outro lado, ecossistemas naturais ocuparam cerca de um terço da ZA, nos três
cenários. Isso decorre, principalmente, da instituição de áreas protegidas. A declaração
da MSG como ARIE, a instituição do Refúgio da Vida Silvestre do Quilombo, UC
municipal, e o tombamento de três fragmentos de vegetação como bens naturais
municipais foram decisivos para conservação desses ecossistemas.
O aumento paulatino de fragmentos florestais (Tabela 2) é consequência de ações
de restauração florestal desempenhadas pela Fundação José Pedro de Oliveira e usuários
do território. Nos instrumentos jurídicos de criação dessas áreas protegidas, dispõem-se
sobre faixas envoltórias e Zonas de Amortecimento, que visam à minimização dos
impactos do entorno sobre as áreas naturais, por meio da regulamentação dos uso e
ocupação do solo. Dentre estas regulamentações, consta a necessidade de formação de
barreiras de vento com espécies vegetais nativas, nas faixas mais próximas dos bens
naturais e UC. O cumprimento dessas normas é, possivelmente, uma das causas do
incremento em área de fragmentos florestais observado na Tabela 2.

5. Conclusão

A partir dos cenários de uso e ocupação do solo construídos para os anos de 1985,
2000 e 2017, concluiu-se que, em termos percentuais, não houve alterações
significativas de uso e ocupação do solo na ZA da ARIE. Os dados obtidos podem ser
consequência do não alargamento do perímetro urbano e da criação de áreas protegidas.

A estratégia de criação de áreas protegidas mostrou-se efetiva para conservação


de ecossistemas naturais existentes na ZA da ARIE, motivando inclusive o incremento
desses ecossistemas por meio da restauração ecológica em áreas envoltórias.

A manutenção de matriz permeável à fauna no entorno da ARIE MSG, associada


à implementação de corredores ecológicos, visando à minimização de seu grau de
isolamento, é imprescindível para perenização desses ecossistemas. Assim, para
trabalhos futuros, sugere-se a elaboração de cenários prospectivos com objetivo de
avaliar impactos negativos decorrentes de possíveis conversões do uso do solo na ZA da
ARIE.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

INTEGRATION OF MULTI-SENSOR IMAGERY FOR LAND-


COVER CHANGE DETECTION IN SERRA DA CANASTRA
NATIONAL PARK

Rebeca S. G. S. Carneiro1; Willian Vieira de Oliveira1; Jessyca F. S. Duarte.1


1
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Caixa Postal 515 – 12227-010 – São José dos Campos – SP – Brazil
{rebeca.carneiro, willian.oliveira, jessyca.duarte}@inpe.br

Abstract: This study provides information on the process of land-cover change detection
using multi-temporal and multi-sensor data, based on the analysis of image difference
resulted from the subtraction of NDVI images. It is used images of the Serra da Canastra
National Park acquired from the sensors Landsat-8/OLI and CBERS-4/MUX, from 2014
and 2016. Despite simple, the NDVI image difference technique makes it possible to
efficiently identify biomass gains and losses. In this study, it was considered as changes
only areas that presented at least a 10% change between the NDVI images. Burn scars
were identified inside the park’s territory.
Keywords: NDVI; Normalization; Image difference.

1. Introduction
The advent of high spatial and temporal resolution satellite imagery, along with
the improvement of Geographic Information Systems (GIS) and image processing
techniques, has allowed a more consistent and detailed mapping and monitoring of the
Earth’s surface (SELCUK et al., 2003; LO & CHOI, 2004; RAWAT, KUMAR &
BISWAS, 2014). Change detection techniques, for example, are commonly used in order
to detect alterations along time, and can be applied for several purposes, including drought
or flood monitoring, forest change, land-use or land-cover change and urban growth
monitoring.
The process of land cover change detection, which is discussed in this paper, aims
to identify differences in the state of targets on the earth’s surface through the analysis of
data acquired in different times (SINGH, 1989). There are a great variety of remote
sensing and digital image processing techniques that can be used in order to identify, map
and quantify nuances that occurs on ecosystems, including those based on: algebra, such
as image difference and vegetation indexes; transformation, such as principal
components; and, techniques based on classification, which may be supervised or
unsupervised.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Remote sensing studies focused on monitoring and evaluating causes and effects
of changes in landscape require a constant availability of data that efficiently describes
the area of interest, especially with no cloud cover. This need highlights the importance
of the integration of data acquired from different sensors, once the analysis of multi-
sensor imagery makes it is possible to identify different features on the Earth’s surface.
In this context, this study aims to detect land-cover changes in the Serra da
Canastra National Park from 2014 to 2016, through the integration of images acquired
from the sensors: Landsat-8/OLI and CBERS-4/MUX. The process of change detection
was based on the analysis of image difference resulted from the subtraction of NDVI
(Normalized Difference Vegetation Index) images obtained regarding both the analysed
dates. In this study, it was also analysed the park’s surrounding areas, as an alternative to
identify any major changes that may have impacted areas inside the park’s territory.

2. Land-cover change

First of all, it is important to emphasize the difference between land-use and land-
cover. Although land-use and land-cover represent two different terminologies, they are
commonly used interchangeably (DIMYATI et al., 1996). Rawat and Kumar (2015) state
that the term land-cover is related to the physical characteristics of earth’s surface, which
can be covered, for instance, by forests, wetlands, bare soil, water or human settlements.
On the other hand, the authors define that land-use refers to activities that take place on
land, whether for preservation or economic purposes. Although one affects the other, this
paper is focused only on analysing land-cover change, since an efficient land-use mapping
requires more than just analysing satellite imagery.
Land-cover change does not necessarily imply on land degradation, once it may
affect positively or negatively the environment (BROWN et al., 2014). In addition,
changes in land-cover over time are related to a range of factors, including not only
economic, but also social and biophysical conditions. Besides, alterations on Earth’s
surface can be caused not only by anthropic and natural factors, but also by the
combination of both of them. In general, land-cover monitoring provides information
essential to a sustainable management of natural resources.

3. NDVI image differencing for change detection purposes

NDVI is a widely used vegetation index, which represents a normalized ratio of


the near-infrared (NIR) and red spectral bands (see Equation 1). These spectral bands are

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
used due to the fact that most of the red light that reaches a healthy green canopy is
absorbed while most of the NIR light is reflected (PIETRAGALLA & VEGA, 2012).
This vegetation index ranges from -1 to 1, where -1 indicates no vegetation surface and 1
suggest very dense vegetation.
𝑁𝐼𝑅−𝑅𝐸𝐷
𝑁𝐷𝑉𝐼 = 𝑁𝐼𝑅+𝑅𝐸𝐷
(1)

In the field of change detection, two NDVI images can be used in order to generate
a third image that represents the changes that occurred during the analysed time period.
This method, named NDVI image differencing, makes it possible to emphasize targets
such as urban sprawl, land cover changes, and deforestation (BATISTA & SANTOS,
2013). Through the use of the NDVI index, image features that represent, for example,
agricultural and natural vegetation targets can be efficiently differenced.

4. Material and Methods

The Serra da Canastra National Park, located at the state of Minas Gerais, covers a
preservation area of approximately 200 square kilometres, encompassing six cities
(ICMBIO, 2017). This national park aims to preserve natural ecosystems of great
ecological relevance, and provides support to the development of a range of scientific
research. The study area is presented in Figure 1.

FIGURE 1. Localization map of the Serra da Canastra National Park.

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The Landsat-8/OLI and CBERS-4/MUX images, from 2014 and 2016,
respectively, were obtained in the INPE’s digital image catalogue (INPE, 2017b). The
shapefile of the park’s limits was obtained from the ICMBio/MMA’s website (ICMbio,
2017). In order to analyse the land-cover of the entire park, it was necessary to combine
two OLI scenes and four MUX scenes. The Table 1 describes the main characteristics of
the sensors and the scenes analysed.
TABLE 1. Sensors’ characteristics and scenes used.
Landsat-8/OLI CBERS-4/MUX
Spatial/Temporal Resolution 30m (multispectral) /16 days 20m / 26 days
Swath width 185 km 120 km
155_122 28/08/2016;
219_074 03/08/2014; 155_123 28/08/2016;
Scenes/Acquisition date
220_074 10/08/2014. 156_122 25/08/2016;
156_123 25/08/2016.
Source: INPE (2017a); NASA (2017).

The flowchart illustrated below (Figure 2) presents the procedures developed in


this paper. First of all, the 6S model for atmospheric correction was applied to the
Landsat/OLI images, in order to use them as parameters to perform a more consistent
radiometric normalization of the CBERS-4/MUX images. Then, the images were restored
using the SPRING software (version 5.1.2). The restoration process aimed to restore
radiometric information degraded from the original scene (BOGGIONE, 2003).

FIGURE 2. Flowchart of the procedures performed.

The OLI images were used as reference to register the MUX images. Before the
radiometric normalization, it was necessary to convert the images’ digital numbers (DN)
into reflectance values. The OLI images were rescaled using the function presented by

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
USGS (2017). See Equation 2, where: 𝜌𝜆,𝑂𝐿𝐼 is the TOA (Top of Atmosphere) planetary
reflectance with correction for solar angle; 𝑀𝜌 indicates the band-specific multiplicative
rescaling factor; 𝑄𝑐𝑎𝑙 indicates the quantized and calibrated standard product pixel values
(DN); 𝐴𝜌 represents the band-specific additive rescaling factor; and, 𝜃𝑆𝐸 refers to the local
sun elevation angle.
𝑀𝜌 ∗𝑄𝑐𝑎𝑙 +𝐴𝜌
𝜌𝜆,𝑂𝐿𝐼 = (2)
𝑠𝑖𝑛 (𝜃𝑆𝐸 )

On the other hand, the MUX images were rescaled to reflectance values through
the functions described by Pinto (2016), presented in Equation 3, where 𝜌𝜆,𝑀𝑈𝑋
represents the TOA planetary reflectance; 𝐿𝑖 represents the spectral radiance at the
sensor; 𝑑 is the Earth-Sun distance; 𝐸0,𝜆 is the mean exoatmospheric solar irradiance;
and, 𝜃 represents the solar zenith angle. The parameters used were acquired from
INPE’s website and Pinto (2016).
𝜋 ∗ 𝐿𝑖 ∗𝑑²
𝜌𝜆,𝑀𝑈𝑋 = 𝐸 (3)
0,𝜆 ∗ cos(𝜃)

After obtaining the reflectance values, mosaics were created for the images of
each sensor. Due to spatial resolution difference, the CBERS-4/MUX images were
resampled to 30 meters, which represents the spatial resolution of the OLI sensor. Then,
the radiometric normalization of the MUX image was performed, using the Averages and
Variances Normalization method (UMV) and applying the OLI image as reference. This
method aims to standardize the mean and variance of the adjustment image through the
reference image (LEONARDI, 2003).
The Equation 4 represents the function applied for normalization, where 𝑆 ′ is the
normalized image; 𝑆 is the image to be normalized; and, G and O are the gain and offset,
respectively. In addition, in order to validate the normalization performed, 10 samples
from pseudo-invariant features (PIFs) were collected and analysed. These samples were
collected from both the infrared and red bands of the OLI and MUX sensors.
𝑆′ = 𝑆 ∗ 𝐺 + 𝑂 (4)
Finally, the normalized images for both the red and infrared bands of the OLI and
MUX sensors were used in order to obtain the NDVI images (See Equation 1). The image
difference was calculated considering as changes only the areas that presented at least a
10% change in the NDVI values. In order to better illustrate the differences, it was also
generated an image representing only the biomass gain and loss. To reduce noise, only
polygons above 6.25ha were extracted.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
5. Results and Discussion

The process of registration showed that the images presented a displacement of


less than 1 pixel. The Figure 3 shows the mosaics created from both the Landsat/OLI and
CBERS-4/MUX imagery. In this mosaics, it is represented not only the park’s territory,
but also its surrounding areas. Changes in the park’s surrounding areas were also analysed
in order to identify any major changes that may have caused impacts in the national park.
The mosaic referring to the MUX images is already resampled and normalized in relation
to the OLI’s mosaic.

(a) (b)

FIGURE 3. Mosaics: (a) OLI imagery (2014); (b) Normalized MUX imagery (2016).

After the normalization process, the mean and variance values for both MUX
and OLI images were similar, with means of 21.413 and 21.412, and variances of
63.936 and 63.25, respectively. The samples collected, referring to pseudo-invariant
features, showed no significant change in reflectance for both the infrared and red bands
of both the OLI and MUX sensors, even with the two-year span. The Table 2 presents
the samples collected from the mosaics created, referring to both the OLI and MUX
infrared and red spectral bands.

TABLE 2. Samples from pseudo-invariant objects.


Grey level of the sampled points [0 – 255]
Samples
Sensor Spectral band
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Infrared 74 49 54 57 50 24 49 86 45 35
OLI
Red 10 09 42 19 47 24 09 15 13 25
Infrared 74 49 53 58 49 24 49 85 49 35
MUX
Red 10 10 42 19 47 23 10 15 13 25

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
The efficiency of using the NDVI image differencing technique for land-cover
change detection purposes has been proved in several studies (LU et al., 2005; DYMOND
et al., 2008; PU et al., 2008; BERBEROGLU & AKIN, 2009). In this study, this
technique allowed to identify efficiently biomass gains and losses inside the Serra da
Canastra National Park for the analysed period. The Figure 4 illustrates both the NDVI
images and the difference image, along with an image highlighting the biomass gains and
losses, represented in green and red, respectively. In the difference image, generated from
the subtraction of the NDVI images, the dark grey pixels represent vegetation loss, while
light grey pixels indicate vegetation gain.

(a) (b)

(c) (d)

FIGURE 4. Results: (a) 2014 NDVI image; (b) 2016 NDVI image; (c) Difference image; (d)
Biomass gains (green) and losses (red), and no change (white).

Through a visual analysis of the resulting images, it is possible to observe that


some areas presented a gain in biomass. However, in general, the difference image shows
great signs of land-cover degradation, which could have been caused, for instance, by fire
or deforestation. The results show traces of burn scars inside the park’s area, which may
be considered a recurrent factor in the area, due to the characteristics of the biome

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(Cerrado, Brazilian Savannah) and the dry season in which the data were collected and
its impactor on the vegetation spectral response. It can also be noted that the surrounding
areas of the park also presented significant changes, which can be related to agricultural
activities in the region.
According to the reports provided by INPE (2016a, 2016b), related to the
Queimadas program and the Multi-Agency Integrated Operational Coordination Centre
virtual system (CIMAN Virtual), many were the fire outbreaks identified in the analysed
area in August of 2016, period in which the CBERS images were acquired. In August
2016, the number of fire outbreaks identified in the Serra da Canastra National Park (1188
fire outbreaks) was much greater than any other month since January 2014. In July and
August 2014, for example, it was reported 117 and 407 fire outbreaks, respectively (INPE,
2016a). Therefore, these data can be used in order to explain the great biomass loss
detected in the northwest region of the park, since the CBERS images used in this study
were acquired just after the fire outbreaks increase. The burn scars data from Queimadas
and the results of biomass losses reached is presented in Figure 5.

(a) (b)

FIGURE 5. Burn Scars: burn scars reported by Queimadas in 2016/08/15 and 2016/09/16 (a)
and the results of biomass losses (b) inside the limits of Serra da Canastra Nacional Park.

It is important to emphasize that not only the differences between the geometry of
data acquisition for both sensors, but also the variations of relief and solar angle, may
affect the final result and interfere with the analysis. Besides, digital image processing
techniques such as resampling and co-registration may also negatively impact the result.
The resampling technique, for example, makes use of a low-pass filter, which smooths
the image and reduces the image’s detail level. Shadows can also affect the analysis.

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6. Conclusion

The integration of multi-sensor data provides support to studies that require high data
availability. In this study, it was integrated data acquired from both Landsat-8/OLI and
CBERS-4/MUX sensors in order to detect land-cover changes in the Serra da Canastra
National Park, from 2014 to 2016. Despite simple, the NDVI image difference
technique makes it possible to efficiently identify biomass gains and losses in the
analysed period, including the identification of areas that appear to have been degraded
by fires, presenting traces of burn scars. In addition, although it decreases the chance of
cloud coverage, it is believed that the drought period in which the images were taken
may have slightly interfered with the results, due to its impacts on the vegetation
spectral response.

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MODELAGEM DO AVANÇO DA PLUMA DE REJEITOS DA
BARRAGEM DE FUNDÃO NO RIO DOCE

Rogério Flores Júnior¹; Daniel Andrade Maciel¹; Luciana Shigihara Lima¹

¹ Instituto Nacional de Pesquisas Espacias (INPE) – rogerio.floresjr@gmail.com;


daniel.maciel@inpe.br; luciana.lima@inpe.br

Resumo: A disponibilidade de água no Brasil, apesar de sua abundância, vem sofrendo


quedas alarmantes. A contaminação do rios e lençóis freáticos vem acontecendo com
frequência, devido a má gestão. Um exemplo de contaminação de um rio foi o
rompimento da barragem de rejeitos de uma mineradora em Mariana - MG, que afetou
600 km do curso d’água do rio Doce. Campanhas intensivas foram realizadas após o
ocorrido, a fim de analisar a quantidade de poluentes na calha do rio após o acidente.
Porém, estes monitoramentos não mostram a variação espacial e também não dão uma
visão real do acontecimento. Assim, técnicas de interpolação geoestatística podem ajudar
na análise espacial de como o acidente impactou o rio Doce, dando a possibilidade de
avaliar o avanço da pluma de contaminação. Técnicas geoestatísticas são comumente
utilizadas em superfícies sem barreiras, como o solo. Em cursos d’água a aplicação destas
técnicas deve ser estudada mais a fundo. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar duas
técnicas de interpolação geoestatística (Bidimensional e Unidimensional) para estimar a
concentração de sólidos totais na calha do rio Doce após o acidente de Mariana.
Palavras-chave: Krigeagem, rio Doce, Pluma de rejeitos.

1. Introdução

Essencial a vida e abundante no planeta Terra, a água cobre aproximadamente


74% da superfície terrestre. Porém, desta imensa superfície apenas 0,02% deste total está
presente em lagos, reservatórios, rios e córregos com água doce (CHOW; MAIDMENT;
MAYS, 1962). De acordo com Luz, Sampaio e França (2010) os setores produtivos que
mais contaminam o meio ambiente são o mineiro e o metalúrgico, lançando diariamente
gases e resíduos aquosos e sólidos de diferentes toxicidades. A mineração compõe no
Brasil um dos setores básicos da economia e contribui de forma incontestável para a
melhoria da qualidade de vida de gerações presentes e futuras. Porém, os impactos
ambientais causados por este tipo de exploração são consideráveis, alterando de forma
drástica a geomorfologia da área minerada e áreas vizinhas, onde ocorrem depósitos de
pilhas de estéril e de rejeitos, além da presença de substâncias químicas nocivas na fase
de beneficiamento de alguns minérios (SILVA, 2007).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Acidentes envolvendo barragens, principalmente barragens de rejeitos de
mineração, causam destruição e devastação desde a área do rompimento e ao longo de
todo o rio à jusante. Em novembro de 2015, em Mariana, Minas Gerais ocorreu o
rompimento da Barragem do Fundão, gerando o lançamento de cerca de 60 milhões de
metros cúbicos de rejeitos no rio Doce (IBAMA, 2015). Este foi o maior acidente
envolvendo uma barragem de rejeitos no planeta. Segundo Bowker (2015), outros
acidentes, como o de Luzon, nas Filipinas em 1982 e 1992 atingiram a metade deste
valor.Em relação à área afetada, o desastre de Mariana atingiu maiores distâncias,
segundo IBAMA (2015), alcançando distancias de até 600 km, contra o acidente em El
Porco, na Bolívia, em 1996, que atingiu 300 km de distância.
Campanhas extraordinárias de medição foram realizadas pela Agência Nacional
de Águas (ANA), Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e Instituto Mineiro de Gestão das
Águas (IGAM) em toda a extensão do rio Doce que foi atingida pelo acidente em Mariana
(BRASIL, 2017). Estes monitoramentos apontaram valores extremamente altos de
diversos parâmetros de qualidade de água (PQA). Foram encontrados, após o acidente,
na estação de monitoramento de Mariléia, valores de Sólidos Totais de 344890 mg.L-1,
um valor de Turbidez de 606200 UT e valores de Ferro Dissolvido de 23,6 mg.L-1
(IBAMA, 2015).Visto que estes valores são considerados extremamente altos, a
necessidade de uma visão espacial das consequências do ocorrido com a lama no rio Doce
é de sumária importância, já que seu monitoramento é realizado pontualmente.
Esta visão espacial é obtida através da utilização de técnicas de geoestatística, que
possibilita o tratamento das variáveis de maneira regionalizada, admitindo a existência de
variações espaciais e influência do tamanho da amostra. A geoestatística permite também
a quantificação dos erros cometidos nas avaliações, podendo ser utilizada para modelar
padrões espaciais, predizer valores em locais não amostrados, obter incerteza associada a
um valor estimado em local não amostrado e otimizar malhas de amostragem
(ANDRIOTTI, 2003). Para isto necessita-se da utilização de técnicas que interpolem a
variável da forma mais precisa possível.
Várias técnicas de interpolação são encontradas na literatura, partindo de análises
pontuais para se obter os valores em locais não amostrados através de predição. A
interpolação pode ser considerada como a estimativa de valores de uma variável em uma
área interior aos pontos de amostragem disponíveis, representando o comportamento
desta variável em mapas, de forma contínua (ANDRIOTTI, 2003). Segundo Camargo,
Fucks e Câmara (2004), estas técnicas envolve a criação de estruturas de dados e

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
superfícies de ajuste em que se obtém uma representação contínua de um determinado
fenômeno a partir de um conjunto representativo de amostras, obtidas em campo. Para
que essa representação seja realista, é necessário o uso da modelagem para simular a sua
variabilidade espacial.
Neste sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar duas técnicas de krigeagem
(unidimensional e bidimensional) para interpolação de dados na calha do Rio Doce e
avaliar o impacto do acidente de Mariana na distribuição espacial dos sólidos totais.

2. Metodologia

2.1 Área de estudo

A bacia do rio Doce (Figura 1) possui área de drenagem de 86.715 km2, estando
86% desta no estado de Minas Gerais e 14% no território do Espírito Santo. Segundo
Milanez e Losekann (2016) a bacia vem sofrendo um processo de desmatamento e
urbanização ao longo dos últimos 150 anos com o incentivo da indústria madeireira.

FIGURA 1: Bacia do rio Doce e estações de coleta de dados. Fonte: O Autor.

A partir da década de 1960 com o declínio do ciclo madeireiro, criou-se mão de


obra para o desenvolvimento da indústria mineiro-siderúrgica, em expansão no país na
época, tornando-se o principal agente no leste de Minas Gerais. O avanço deste setor está
diretamente ligado com a participação do capital externo, que fortaleceu a exportação e a

238
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
criação de grandes frentes de mineração (MILANEZ; LOSEKANN, 2016). Isto levou a
bacia do rio Doce a ser conhecida como "Vale do Aço". Mesmo passando por algumas
crises nas décadas subsequentes, tem se mantido desde de os anos 2000 como principal
produtor brasileiro de aço (SANTOS, 2009).
O Rio Doce possui suas nascentes na Serra da Mantiqueira e na Serra do
Espinhaço em Minas Gerais, com 879 km de extensão até sua foz, em Linhares, no
Espírito Santo e é responsável pela formação da quinta maior bacia hidrográfica do país
(MILANEZ; LOSEKANN, 2016). O rompimento da barragem de Fundão (Figura 2) e a
consequente liberação de 60 bilhões de litros de rejeitos de mineração sobre os sistemas
hídrico do vale do rio Doce causou a desestabilização da dinâmica fluvial, criando fortes
distúrbios ecológicos e a perda da capacidade de resiliência do meio devido a elevada
carga de sedimentos. Estudos preliminares demonstraram os efeitos da pluma de resíduos
em trechos ao longo curso do rio.

(a)Área de barragens antes do rompimento. (b) Área atingida pela pluma de rejeitos.
FIGURA 2: Barragem de Fundão antes (a) e após (b) do acidente.
Fonte: DigitalGlobe e Globalgeo Geotecnologias.

O trecho mais afetado foi entre a barragem do Fundão à confluência


Santarém/Gualaxo do Norte, apresentando depósitos de sedimentos em todo o leito,
assoreamento e descaracterização da calha fluvial. O segundo trecho, que segue até a
usina elétrica de Risoleta Neves, apresenta depósitos dos rejeitos em seu leito menor e
mudança da morfologia da planície. O terceiro trecho, estende-se até à Usina Hidrelétrica
de Baguari, e não apresenta grandes mudanças morfológicas, apenas alguns depósitos de
recobrimento em barras fluviais. O trecho final na foz do rio Doce apresentou mudanças
no padrão hidrosedimentológico, porém não foram encontrados depósitos no rio
(MILANEZ; LOSEKANN, 2016).

239
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2.2. Dados de qualidade da água

A aquisição dos dados de qualidade de água foi realizada por meio de dados
públicos, obtidos através do monitoramento especial do rio Doce, realizado em estações
de monitoramento do IGAM e da ANA (BRASIL, 2017). As coordenadas das estações
de monitoramento foram obtidas para cada posto segundo os dados da Agência Nacional
de Águas (BRASIL, 2017). O parâmetro avaliado no trabalho foi Sólidos Totais (ST –
mg L-1). Foram utilizados os dados do dia 7 de novembro até o dia 30 de novembro de
2015.

2.3 Área do rio Doce

Foi realizada uma classificação supervisionada, através do software Ecognition


Developer pelo método do vizinho mais próximo para separar a área de água do rio Doce.
Foram utilizadas imagens provenientes do satélite Landsat 8, sensor OLI, para as
órbitas ponto 216-73, 217-73, 217-74 e 215-74, do ano de 2015. Realizada a pós
classificação, os arquivos foram exportados para o formato vetorial.

2.4 Análise geoestatística

Para a análise geoestatística, foi utilizado o pacote geoR (Ribeiro Jr; DIGGLE,
2016), implementado em ambiente R (R Core Team, 2017). A análise geoestatística foi
realizada em duas diferentes maneiras: Utilizando as coordenadas UTM Datum SIRGAS
2000 zona 23 sul para cada ponto amostral. A segunda maneira foi utilizada usando uma
Krigeagem unidimensional, em que as coordenadas em X é dada pela distância do curso
d’água em relação ao primeiro ponto do rio (CHEN, YEH e WEI , 2012;RIZO-DECELIS;
PARDO-IGÚZQUIZA; ANDREO, 2017).

2.5 Krigeagem

A Krigeagem é considerada um modelo de interpolação não tendencioso, isto é, a


diferença entre valores estimados e verdadeiros para o mesmo ponto deve ser nula. Possui
a menor variância dentre os estimadores não tendenciosos, chamado de variância mínima.
A estrutura teórica da Krigeagem é baseada no conceito de variável regionalizada, que é
uma variável distribuída no espaço (ou tempo) em que seus valores são considerados
realizações de uma função aleatória. Essa teoria permite incluir hipóteses estatísticas em
processos espaciais locais. A estacionariedade do processo estudado neste procedimento
geoestatístico é considerada a hipótese implícita (CAMARGO, 1998).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2.6 Modelagem geoestatística

Utilizando o pacote geoR foram gerados 2 semivariogramas por data analisada,


representando a utilização das coordenadas reais e a utilização das distâncias. Foram
avaliados os dias 10, 15, 20, 25 e 30 de novembro de 2015. A modelagem dos
semivariogramas e o ajuste ao modelo gaussiano foi realizada pelo processo eyefit,
disponível no pacote geoR. A interpolação pela Krigeagem bidimensional foi realizada
no software ArcGis 10.2, pela ferramenta Geoestatistical Analyst. Os valores de efeito
pepita, alcance e patamar utilizados foram os obtidos na modelagem no geoR.
Em relação à krigeagem unidimensional, para a obtenção das distâncias foi
utilizada a ferramenta Flow Length, disponível no software ArcGis 10.2. Esta ferramenta
calcula a distância entre cada pixel até um pixel final. O pixel final escolhido foi o último
em que haviam dados disponíveis (estação mais próxima a foz) e o primeiro o primeiro
que haviam dados disponíveis. Assim, pode-se obter os resultados da Tabela 1. Este
método leva em consideração a distância real, considerando todo o caminho percorrido
pelo curso d’água.

TABELA 1: Distância ao longo do rio para cada estação. Fonte: Os Autores.

Estação Distância(Km)
Rio Doce - IGAM 0
Rio Casca - IGAM 54
Mariléia - IGAM 102
Córrego Novo - CPRM 106
Ipatinga - IGAM 148
Belo Oriente - IGAM 176
Belo Oriente - CPRM 180
Gov. Valadares Montante - IGAM 256
Gov. Valadares - CPRM 258
Gov. Valadares Jusante - IGAM 272
Tumiritinga - IGAM 298,8
Conselheiro Pena - IGAM 333,4
Resplendor - IGAM 366,4
Aimorés - IGAM 390,4

Um arquivo shapefile com as distâncias da Tabela 1 foi utilizado como


coordenada, com o valor de Y variando de 1 a 10, para possibilitar a interpolação no
software. A ferramenta Geoestatistical Analyst foi utilizada para a interpolação e os

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
valores de efeito pepita, alcance e patamar utilizados foram os obtidos a partir da
modelagem no pacote geoR. Para a avaliação das metodologias de interpolação, o erro
médio reduzido e o coeficiente de correlação (R2) foram avaliados através da validação
cruzada (JAKOB; YOUNG, 2016).

3. Resultados e Discussão

A Figura 1 representa os variogramas para as 5 datas analisadas. O


comportamento dos semivariogramas obtidos, tanto para a análise bidimensional quanto
para a análise unidimensional obtiveram comportamento melhor que o obtido por Chen,
Yeh e Wei (2012).

(a) dia 10. (b) dia 15.

(c) dia 20. (d) dia 25.

(e) dia 30.

FIGURA 3: Variogramas gerados a partir dos dados de TSS. Gráficos à direita – Krigeagem
Bidimensional; Gráficos à esquerda: Krigagem Unidimensional. Fonte: Os Autores.

Os valores de efeito pepita foram menores em todos os semivariogramas analisados


para a kriga- gem unidimensional. Os valores de alcance também foram maiores para os
unidimensionais. O valor de patamar em todos os casos analisados foi maior para a

242
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
krigagem bidimensional. Assim, evidencia-se uma melhor aproximação do
semivariograma gerado a partir dos dados em uma dimensão.
A utilização da validação cruzada para o teste dos modelos gerados pode ser

observada na Tabela 2. Para as datas avaliadas, foi possível observar que os valores de R2
foram maiores para os dias 25 e 30 para o modelo unidimensional e muito semelhantes
para os dias 10, 15 e 20. Estes valores foram também mais altos que os obtidos por Chen,
Yeh e Wei (2012), em que encontraram valores do coeficiente de determinação de 0,52
para o modelo Gaussiano.
Мокiн, Крижановський, емчук (2011) obtiveram uma diminuição dos erros e
aumento da qualidade do modelo de Krigeagem ao utilizarem a Krigeagem
unidimensional.

TABELA 2: Resultados da validação cruzada. Fonte: Os Autores.

Coords UTM Coords Distância


Dia Erro R2 Erro R2
10 -0.039 0.938 0.38 0.85
15 -0.79 -0.09 0.35 -0.063
20 -0.02 0.62 0.17 0.61
25 -0.05 0.26 -0.31 0.81
30 1.82 -0.01 0.14 0.95

A Figura 4, representa a Krigeagem aplicada para o dia 10 de novembro de 2015,


5 dias após o acidente em Mariana. É possível perceber através da Figura 4 que a frente
de rejeitos se encontra a montante das cidades de Ipatinga e Caratinga (MG), na porção
média do rio Doce. Este fato ocorreu nos dois métodos de Krigeagem utilizados. Já no
dia 15 (Figura 5a), os resultados foram diferentes. A Krigeagem bidimensional mostrou
uma maior concentração de sólidos totais no final e no início do rio Doce, já a
unidimensional mostrou que as concentrações mais altas estavam próximas do município
de Governador Valadares - MG. As diferenças entre estas duas interpolações podem ser
explicadas pelos baixos valores de coeficiente de determinação e alto valor de erro obtidos
na validação cruzada para o dia 15.

243
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 4: Mapa da Krigeagem espacializado para dia 10. Fonte: Os autores.

Nos dias 20, 25 e 30 (Figuras 5b, 5c, 5d) o comportamento volta a ser semelhante
para as duas interpolações. O dia 20 de novembro apresenta maiores valores de sólidos
para a região do rio Casca - MG, no dia 25 a região de Belo Oriente – MG e no dia 30
para a região de Sem-Peixe – MG. Analisando as imagens é possível perceber a evolução
temporal da frente da lama de rejeitos e seu avanço pelo rio, bem como a diminuição
gradual da concentração de sólidos em todo o seu curso. Apesar da diminuição, este valor
ainda é muito maior que o encontrado pelas análises da ANA antes da frente de rejeitos
chegar (Cerca de 1000% de aumento na concentração). Os mapas espacializados para a
Krigeagem nos dias subsequentes estão apresentados na Figura 5.
Analisando as médias das interpolações (Tabela 3) é possível avaliar que a
diferença entre as médias foi pequena entre as datas, com exceção do dia 10, em que a
diferença média entre os valores de sólidos totais foi alta. Os valores de desvio padrão
tiveram um bom comportamento também, com valores bem próximos em todas as datas.

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(a) dia 15. (b) dia 20.

(c) dia 25. (d) dia 30.

FIGURA 5: Mapas de variação espacial gerados a partir dos dados de TSS. Fonte: Os Autores.

TABELA 3: Valores de média e desvio padrão para as estimativas por krigeagem. Fonte: Os Autores.

Krig. Bidimensional Krig. Unidimensional


Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão % Desvio
Dias % Média
(mgL-1) (mgL-1) (mgL-1) (mgL-1) Padrão
10 9755,00 11765,50 14494,70 11172,94 32,69 -5,30
15 1905,50 129,40 1526,60 304,90 -24,82 57,56
20 1708,89 573,40 2023,30 659,30 15,54 13,03
25 1238,30 383,40 1336,30 381,50 7,33 -0,49
30 614,50 251,30 762,10 291,60 19,37 13,82

Os valores de média e desvio padrão obtidos para as duas interpolações apresentaram


valores bastante próximos, apenas os valores de média obtidos para o dia 10 que
apresentaram diferenças consideráveis. Já os valores de desvio padrão foram bem
semelhantes em todas as datas analisadas.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
4. Conclusão

Os resultados deste trabalho permitiram comparar a utilização de dois diferentes


tipos de Krigeagem, podendo assim concluir:
• Foi possível espacializar e observar a variação dos dados de sólidos totais no Rio
Doce ao longo do tempo;
• A Krigeagem unidimensional se mostrou com melhores resultados que a
bidimensional, pelos testes de validação cruzada.
• Os resultados médios entre os valores de sólidos totais e seu desvio padrão foram
bem próximos.
Pode-se destacar que a utilização de interpoladores não determinísticos para
fenômenos extraordinários, como o ocorrido em Mariana-MG, apresentam pouca
recorrência na literatura. Portanto, faz-se necessária a realização de novos estudos visando
a consolidação dos parâmetros a serem atribuídos.

4.1. Agradecimentos

Os autores agradecem aos orientadores, ao CNPq pela bolsa de mestrado e à pós-


graduação do INPE.

Referências

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247
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS À PROBLEMÁTICA DA


DEGRADAÇÃO FLORESTAL E PERDA DE BIODIVERSIDADE E
SUAS RELAÇÕES COM O OBJETIVO DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL - ODS 15 - DA ONU

Silva, Alessandra L.1; Longo, Regina M. 2


1
Mestranda. Sistemas de Infraestrutura Urbana. PUC Campinas.
alessandra_ls@yahoo.com
2
Orientadora, Pesquisadora e Profª Drª . PUC Campinas. regina.longo@puc-
campinas.edu.

Resumo: A degradação dos ecossistemas naturais tem feito parte do processo de


crescimento de muitas cidades e nações; muitas vezes, não há planejamento adequado, o
que conduz, por exemplo, à degradação de ecossistemas, fragmentação florestal, perda de
biodiversidade, entre outros. Compreender estes fenômenos é, portanto, imprescindível
no contexto de gestão ambiental, especialmente para subsidiar o desenvolvimento de
políticas públicas relacionadas ao uso e ocupação do solo, preservação, recuperação e uso
sustentável das florestas. Diante do atual cenário de crise ambiental, o meio ambiente
começou a ser colocado em pauta na agenda pública, sendo requeridas mudanças e
redefinições no contexto da política ambiental internacional e nacional. Como forma de
auxiliar as nações no estabelecimento destas novas públicas ambientais, a ONU
estabeleceu no ano de 2015 os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Neste
contexto, o presente trabalho elabora um levantamento de políticas públicas nos níveis
internacional, nacional, regional, estadual e local relevantes ao cumprimento do ODS-15,
cujas metas estão relacionadas à proteção, recuperação e uso sustentável das florestas e
conservação da biodiversidade. Identificou-se inúmeros instrumentos de cooperação
internacional que contribuem para o alcance destas metas; além disso, países como
Alemanha, Índia, Polônia, dentre outros, apresentam políticas exemplares relacionadas às
florestas. No contexto nacional, o Ministério do Meio Ambiente apresenta políticas
especialmente voltadas à compatibilização entre os interesses econômicos e a preservação
das florestal. Ressalta-se, porém, que os objetivos globais só conseguem se materializar
em uma escala reduzida sendo essencial para tanto o desenvolvimento de políticas
públicas locais.
Palavras-chave: Degradação florestal; Objetivos de Desenvolvimento Sustentável;
Políticas Públicas.

1. Introdução

As políticas públicas podem ser definidas como um conjunto de ações e decisões


do governo, em diversas áreas, destinadas a promover o bem-estar da sociedade
(PETERS, 1986 apud SOUZA, 2006). Nos últimos anos, em um cenário de crise
ambiental, que envolve fatores climáticos, desmatamento, extinção de espécies e outros,
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
a sociedade tem se mobilizado diante das questões ambientais e vem demandando dos
poderes públicos soluções mitigadoras e/ou propulsoras de novos modelos sociais e
econômicos. O meio ambiente começou então a ser colocado em pauta na agenda pública
através dos processos de formulação, implementação e gerenciamento de políticas
públicas, especialmente das políticas ambientais nacionais e internacionais (SALHEB et
al., 2009, PECCATIELLO, 2011).
Um marco desta nova fase foi o Relatório Brutland (Nosso Futuro Comum),
publicado em 1987, que estabeleceu o conceito de desenvolvimento sustentável e
destacou a necessidade de estabelecer um possível compromisso entre políticas sociais,
de crescimento econômico e proteção ambiental (PECCATIELLO, 2011). Apesar de os
governos serem impelidos a agir e as temáticas ambientais sejam bastante manifestas nas
agendas políticas e fóruns internacionais, as políticas ambientais têm o desafio de
representar localmente a espacialização de soluções globais, como destaca a suma
“impacto global, ação local” (MELLO-THÉRY, 2011).
Neste sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) exerce papel essencial
de influência sobre as diretrizes, políticas e governos nacionais e locais. A exemplo disso
cita-se o estabelecimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, comumente
denominados como ODS. Esta nova agenda mundial apresenta 17 objetivos, 169 metas e
mais de 300 indicadores (ALVES, 2015). Um destes objetivos, o ODS 15, dá enfoque
especial à problemática da degradação das florestas e prevê
Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas
terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a
desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de
biodiversidade (ONU, 2017).
O ODS 15 subdivide-se ainda em doze metas, dentre as quais destacam-se: a
conservação, recuperação e uso sustentável de ecossistemas terrestres, especialmente as
florestas e zonas úmidas; redução da degradação de habitats naturais; detenção do
desmatamento e perda de biodiversidade; integração dos valores dos ecossistemas e da
biodiversidade ao planejamento nacional e local, nos processos de desenvolvimento, nas
estratégias de redução da pobreza e nos sistemas de contas; entre outros.
Diante disto, o presente trabalho se propõem a realizar um levantamento das
estratégias e políticas públicas adotadas nos níveis internacional, nacional, regional e
estadual a fim de alcançar estas metas propostas pela ONU, especialmente com relação à
problemática da degradação florestal e da perda de biodiverdide.

249
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Material e Métodos

O presente estudo consiste em uma pesquisa descritiva do tipo documental


elaborada através de fontes primárias e secundárias. Diferentemente da pesquisa
bibliográfica que utiliza como fontes materiais já elaborados como livros e artigos, a
pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas que incluem, por exemplo,
jornais, relatórios, documentos oficias, entre outros (FONSECA, 2002). Desta forma,
neste trabalho, as fontes de dados compreenderam especialmente documentos
governamentais como legislações, planos, programas e até mesmo relatórios e demais
informações divulgadas por órgãos de gerenciamento e fiscalização relacionados à
temática de conservação de florestas. Realizou-se, portanto, o levantamento de políticas
públicas relativas a este tema nas esferas internacional (global), estrangeira, nacional,
regional e estadual, organizando-as de acordo com sua data de surgimento ou
promulgação. Os principais locais de busca consistiram em sites governamentais, sendo
eles:
- Órgãos internacionais (globais): Organização das Nações Unidas (ONU), União
Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN);
- Nações estrangeiras: Departamentos, secretarias e legislaçõs ambientais;
- Nacionais: Ministério do Meio Ambiente (MMA);
- Regionais: Órgãos gestores da Mata Atlântica, Amazônia Legal, Cerrado;
- Estaduais: Secretarias de Meio Ambiente.

3. Resultados e Discussão

3.1 Instrumentos Internacionais

Partindo de uma escala mais ampla, foram identificados os principais


instrumentos internacionais considerados como essenciais ao avanço da discussão quanto
à degradação florestal, desertificação e outros temas destacados no Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável nº 15 (ODS 15) da ONU. O Quadro 1 apresenta uma síntese
de alguns desses instrumentos desde o ano de 1948, quando a discussão sobre
conservação da natureza ainda era escassa e foi instituída a International Union for
Conservation of Nature (IUCN), até o ano de 2015 com a instituição do Arranjo
Internacional sobre Florestas (AIF).

250
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
QUADRO 1 – Instrumentos internacionais importantes para a consolidação do Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável 15 (ODS 15) da ONU.
Instrumentos
Ano Descrição
internacionais
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) é uma
organização intergovernamental mundial formada por membros
International Union
diversos (estatais, não-estatais e especialistas em áreas de
1948 for Conservation of
conservação da natureza) fundada com o objetivo de divulgar
Nature (IUCN)
informações científicas e auxiliar seus membros ativos na solução dos
problemas ambientais (IUCN, 2017).
Tratado intergovernamental lançado em 1971, no Irã, que visou
assegurar a conservação e o uso racional de todas as zonas úmidas
1971 Convenção Ramsar por meio de ações locais, nacionais e de cooperação internacional
(RAMSAR, 2017). Foi promulgada no Brasil através do Decreto nº
1.905 de 16 de maio de 1996.
Convenção internacional assinada por 168 países que funciona como
Convenção sobre
arcabouço legal e político para outras convenções e acordos, visto
1992 Diversidade Biológica
que abrange tudo o que se refere direta ou indiretamente à
(CDB)
biodiversidade (MMA, 2017).
Destinada especialmente às áreas áridas e subúmidas secas (áreas
Convenção das secas), onde estão abrigados alguns dos ecossistemas e povos mais
Nações Unidas de vulneráveis do planeta. Contou com 195 países signatários e
1994 Combate à estabelece o trabalho em conjunto entre os governos e populações
Desertificação locais na busca por melhores condições de vida, restauração do solo
(UNCCD) e da produtividade da terra e mitigação dos efeitos da seca (UNCCD,
2017).
Fórum composto por todos os Estados membros das Nações Unidas
Foro das Nações (ONU) que se reúnem bienalmente com o objetivo de promover a
2000 Unidas sobre discussão quanto à gestão, conservação e desenvolvimento
Florestas (UNFF) sustentável de todos os tipos de florestas, fortalecendo o
compromisso político a longo prazo neste aspecto (ONU, 2017).
Plataforma
Órgão intergovernamental responsável pela interface ciência-política
Intergovernamental
nos assuntos de biodiversidade e serviços ecossistêmicos. Cientistas
sobre Biodiversidade
2010 e especialistas do mundo todo contribuem anual e voluntariamente
e Serviços
com pesquisas científicas da IPBES e através destes que trabalhos
Ecossistêmicos
busca-se auxiliar os tomadores de decisão (IUCN, 2017).
(IPBES)
Trata-se de um acordo instituído em 2015 durante a 11ª sessão do
UNFF cujos objetivos principais são: promover a o manejo florestal
Arranjo Internacional
2015 sustentável; reforçar a contribuição das florestas para a agenda de
sobre Florestas (AIF)
desenvolvimento pós-2015 e fortalecer quadros de governança
florestal e meios para sua implantação, dentre outros (UNFF, 2017).

Vale ainda dar um destaque especial à Convenção sobre Diversidade Biológica


(CDB), promovida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
em 1992, que funcionou como um marco na discussão da problemática ambiental, ao
discorrer, sobretudo, quanto à conservação da diversidade biológica, o uso sustentável de
seus componentes, a partilha justa e equitativa dos benefícios decorrentes do uso de
recursos genéticos e a conservação da biodiversidade florestal. Destaca-se que a partir

251
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
deste momento houve um considerável progresso nas políticas públicas relacionadas a
este tema (CDB, 2017).

3.2 Políticas Públicas de Países Estrangeiros

Com relação às políticas públicas pertinentes ao alcance do ODS 15 e que estão


sendo desenvolvidas pelas nações estrangeiras, no Quadro 2 são apresentadas algumas
delas. Nas questões relacionadas à preservação florestal, a Alemanha é um país que se
destaca como referência mundial. A política florestal alemã está fundamentada na Lei
Florestal Federal, instituída em 1975, e cujos objetivos envolvem não apenas a
conservação e aumento da área florestal como também seu manejo adequado e
sustentável, além do apoio ao setor florestal e equilíbrio dos interesses da comunidade
dos proprietários (VERÍSSIMO; NUSSBAUM, 2011; CHIAVARI.; LOPES, 2017;
BURGER, 1976). Além disso, por apresentar um setor madeireiro extramente importante,
a Alemanha investe intensamente em certificação florestal; de forma que dos
aproximadamente 229 milhões de hectares de florestas no mundo já certificadas pelo
Programa para o Reconhecimento de Certificação Florestal (PEFC), 7,3 milhões de
hectares estão em território alemão (NETWORK MEDIA PRODUCTION, 2017).

QUADRO 2 – Políticas Públicas importantes para a consolidação do Objetivo de Desenvolvimento


Sustentável 15 (ODS 15) da ONU adotados em países estrangeiros.
País Instrumentos de países estrangeiros
Lei da Preservação das Florestas e da Promoção de Manejo Florestal (1972)
(Lei Florestal Nacional) (1)
Alemanha
Programme for the Endorsement of Forest Certification(1)
(PEFC - Programa para o Reconhecimento de Certificação Florestal) (1)
Polônia Programa Nacional de Expansão das Florestas(1)
Suécia Conselho Regional Florestal(1)
Japão Código Florestal(1)
China Programa de Reflorestamento “Grain for Green” (2)
Inglaterra Comissão Florestal(1)
National Forest Roadless Area Conservation(1)
Estados Unidos
Programa Reflorestamento (Virgínia) (1)
Lei Florestal de 1961(1)
Holanda
Programa Nacional de Florestas (NFP) (1)
Política Florestal de 1952(1)
Índia Lei de Conservação Florestal (1980) (1)
Forest Management Scheme (Plano de Gerenciamento Florestal)(3)
Indonésia Programas de replantio após exploração de madeira(1)
* Fonte das informações: (1)VERÍSSIMO; NUSSBAUM (2011), (2)UCHIDA; XU; ROZELLE (2017), (3)MOEF
(2017)

252
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
3.3 Políticas Públicas Nacionais

No momento de ascensão de políticas ambientais mundiais, ocorrida no início dos


anos 90, um programa voltado às florestas brasileiras também se destacou. Trata-se do
Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicas do Brasil (PPG7), idealizado pelos
países integrantes do G7 durante a Reunião dos Chefes de Estado e Governos em 1990.
Apesar desta participação internacional, o Programa volta-se especificamente às florestas
tropicais brasileiras. Nesta época o Brasil buscava uma “promoção” ambiental como
forma de responder às pressões internacionais (ABDALA, 2007). A partir daí
identificaram-se inúmeros outros programas e projetos promovidos pelo governo visando
institucionalizar melhor a gestão e proteção das florestas e vegetação nativa em território
nacional. As principais políticas públicas identificadas estão descritas brevemente no
Quadro 3.

QUADRO 3 – Políticas Públicas e outros instrumentos nacionais importantes para a consolidação do


Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 15 (ODS 15) da ONU.
Política públicas/
Ano Descrição
Instrumento nacionais
Programa de cooperação multilateral entre o governo brasileiro e a
comunidade internacional que discutiu a respeito de manejo
Programa Piloto para socioambiental das florestas brasileiras nas seguintes linhas de
1990 Proteção das Florestas ação: experimentação e demonstração; conservação de áreas
Tropicais do Brasil protegidas; fortalecimento institucional; ciência e tecnologia para
o desenvolvimento sustentável; lições e disseminação de
conhecimentos (MMA, 2017).
Projeto coordenado pelo MMA que funcionou como mecanismo de
Projeto de Conservação
auxílio técnico e financeiro na implementação do Programa
e Utilização Sustentável
Nacional da Diversidade Biológica (PRONABIO), e visou
1996 da Diversidade
identificar ações prioritárias, estimular subprojetos e parcerias
Biológica Brasileira –
entre setor público e privado e divulgar informações sobre
Probio I
biodiversidade (MMA, 2017).
Programa criado através do Decreto nº 3.240/2000 e coordenado
pelo Departamento de Florestas (DFLOR), com a finalidade de
promover a articulação das políticas públicas setoriais brasileiras
Programa Nacional de para a promoção do desenvolvimento sustentável aliado à
2000
Florestas (PNF) conservação das florestas brasileiras, através de atividades de
reflorestamento, repressão de desmatamentos ilegais, uso
sustentável de florestas nativas e plantadas, dentre outras (MMA,
2017).
Sistema estabelecido pela Lei nº 9.985/2000 que é composto pelo
conjunto de Unidades de Conservação (UC) no território brasileiro
Sistema Nacional de nos níveis federal, estadual e municipal. Visa potencializar o papel
2000 Unidades de das Unidades de Conservação, através de um planejamento
Conservação (SNUC) adequado e integrado que gere conservação dos ecossistemas e da
biodiversidade e geração de renda e desenvolvimento (MMA,
2017).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
QUADRO 3 – Políticas Públicas e outros instrumentos nacionais importantes para a consolidação do
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 15 (ODS 15) da ONU (continuação).
Política públicas/
Ano Descrição
Instrumento nacionais
Órgão consultivo do Serviço Florestal Brasileiro, composto por
Comissão de Gestão de 24 representantes escolhidos pelo Ministro de Estado do Meio
2006
Florestas Públicas Ambiente, que visa assessorar, aviar e propor diretrizes para a
gestão de florestas públicas brasileiras (MMA, 2017).
Documento público e atualizado anualmente criado pela Lei de
Plano Anual de Outorga Gestão de Florestas Públicas e que apresenta as atividades de
2006 Florestal (PAOF) gestão e conservação das florestas públicas para o próximo ano,
além de indicar áreas que poderão ser alvo de concessões de
manejo florestal sustentável (MMA, 2017).
Projeto que cujo objetivo consiste em integrar e potencializar
Projeto Nacional de
as iniciativas no país, com o intuito de implementar os objetivos
Ações Integradas
adotados na CDB em 1992. Visa a transformação dos modelos
2008 Público-Privadas para
de produção, consumo e ocupação territorial, especialmente dos
Biodiversidade – Probio
setores de agricultura, ciência, pesca, florestas e saúde (MMA,
II
2017).
Metodologia de gestão de ecossistemas elaborada pelo
professor Dr. Pierre Ibisch e Dr. Peter Hobson da Universidade
Método MARISCO –
alemão “Eberswalde University for Sustainable Development
Manejo Adaptativo de
and Writtle College” e divulgada e apresentada no Brasil por
2014 Vulnerabilidade e Risco
meio de uma parceria entre o MMA E a Cooperação Alemã
em Sítios de
para o Desenvolvimento Sustentável (Deutsche Gesellschaft
Conservação
für Internationale Zusammenarbeit - GIZ) (MMA, 2017;
MARISCO METHOD, 2017).
Documento estabelecido pela Portaria MMA nº 370/2015 que
formaliza e demostra perante a Convenção-Quadro das Nações
Estratégia Nacional
Unidas sobre Mudança do Clima os esforços brasileiros até o
2015 para REDD+
ano de 2020 nos aspectos de prevenção e controle do
(ENREDD+)
desmatamento e da degradação florestal, recuperação florestal
e fomento ao desenvolvimento sustentável.
Criada pelo Decreto nº 8.972/2017 como forma de auxiliar a
Política Nacional de
implementação do Novo Código Florestal (Lei nº
Recuperação da
2017 12.651/2012), por meio de programas e ações que induzam a
Vegetação Nativa
recuperação das florestas e outras formas de vegetação nativa
(Proveg)
(MMA, 2017).
Instrumento de implementação da PROVEG cujo objetivo é
Plano Nacional de
ampliar e fortalecer as políticas públicas, incentivos
Recuperação da
2017 financeiros, boas práticas agropecuárias e outras medidas para
Vegetação Nativa
a reocupação de, no mínimo, 12 milhões de hectares de floresta
(PLANAVEG)
até 2030 (MMA, 2017).
Programa lançado pelo Ministério do Meio Ambiente e Serviço
Florestal Brasileiro cujo objetivo é recuperar nascentes e Áreas
de Preservação Permanentes (APP). Inclui um aplicativo
Programa Plantadores interativo que permite participação social nas ações de
2017
de Rios recuperação dos rios e nascentes e também integra proprietários
rurais do Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SiCAR) a
outras pessoas e instituições que desejam investir em projetos
de recuperação das florestas (MMA, 2017).
Iniciativa ainda em fase de elaboração (Portaria MMA nº
Programa 229/2017). O objetivo para esse programa é que o governo
2017 Conectividade de promova a conectividade territorial considerando os fatores
Paisagens biodiversidade e conservação, além do humano e uso do solo
(AMAZÔNIA NOTÍCIA E INFORMAÇÃO, 2017).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O Brasil, por ser um país denso e vasto, tanto em termos territoriais quanto em
termos de biodiversidade, conta ainda com algumas políticas públicas regionais que
facilitam a recuperação e conservação das florestas de maneira diferenciada e, portanto,
mais efetiva em cada um dos biomas. Dentre estas políticas destacam-se: os Planos de
Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal e o Plano
Amazônia Sustentável; a Rede de Manejo Florestal da Caatinga; o Projeto Corredor de
Biodiversidade da Mata Atlântica do Nordeste, a Lei da Mata Atlântica e parcerias entre
as Nações Unidas e ANAMMA (Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio
Ambiente) na região da Mata Atlântica (MMA, 2017; PARAÍBA, 2012; ONU, 2017).

3.4 Políticas Públicas Estaduais

Considerando o princípio já apresentado “think global - act local”, ou seja, “pense


globalmente e aja localmente”, para que as metais globais e nacionais sejam alcançadas
de forma efetiva é necessária a implantação de ações em uma escala mais reduzida. Este
tipo de escala considera características ecossistêmicas mais semelhantes e estáveis, além
de permitir maior participação pública. O Quadro 5 apresenta exemplos de políticas
públicas identificas em alguns dos Estados brasileiros analisados, representado as cinco
regiões do país.

QUADRO 5 – Exemplos de Políticas Públicas Estaduais importantes para a consolidação do Objetivo de


Desenvolvimento Sustentável 15 (ODS 15) da ONU.
Estado Instrumentos de países estrangeiros
Política Estadual das Florestas (PEF/TO)(1)
Tocantins
Plano Estadual de Florestas(1)
Política Florestal(2)
Pagamento por Serviços Ambientais(2)
Paraná
ICMS Ecológico(2)
Áreas Estratégicas para a Conservação da Biodiversidade no Paraná (2)
Inventário Florestal(3)
Ceará
Mapeamento do Zoneamento Costeiro(3)
Programa Plantando o Futuro – Projeto de Plantio e Recuperação de Nascentes e
Áreas Degradadas(4)
Programa de Reflorestamento Ciliar da Cemig(5)
Minas Gerais
Projeto Conservador de Águas(6)
Programa Florestas Renováveis – Pequeno Fazendeiro Florestal(7)
Projeto Corredor Ecológico(8)
Programa de Remanescentes Florestais(9)
São Paulo Programa PSA/RPPN – Resolução SMA nº 37/2012(9)
Programa de Voluntariado da Fundação Florestal(9)
Amazonas Programa Bolsa Floresta(10)
* Fonte das informações: (1) SEPLAN (2017); (2)SEMA (2017); (3)SEMACE (2017); (4)AGÊNCIA MINAS
GERAIS (2017); (5)CEMIG (2017); (6)MINAS GERAIS (2017); (7)SIF (2017); (8)SEMAD (2017); (9) SÃO
PAULO; (10)FAS-AMAZÔNIA (2017).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Nesta escala de atuação foi possível perceber o predomínio de instrumentos
financeiros como forma de auxiliar o alcance das metas ambientais. No Estado de Minas
Gerais, por exemplo, que se destaca em políticas públicas voltadas à conservação e
recuperação florestal, existem inúmeros projetos deste tipo. O Programa Florestas
Renováveis – Pequeno Fazendeiro Florestal, por exemplo, foi instituído em 2006, com o
objetivo de fomentar a expansão da base florestal de Minas através de financiamentos a
projetos de fomento florestal de empresas industriais em integração com pequenos
produtores rurais (SIF, 2006).
No Estado de São Paulo destaca-se o Programa de Remanescentes Florestais,
intituído pela Lei nº 13.798/2009, que visa identificar áreas prioritárias para a recuperação
florestal, apoiando a restauração de paisagens fragmentadas e criando mecanismos
financeiros de retorno de investimentos em plantio. Uma das formas para que isso ocorra
é através do Pagamento por Serviços Ambientais que envolve: conservação de
remanescentes, recuperação de matas ciliares, reflorestamento e outros. As propostas são
então avaliadas pelo Estado considerando a abordagem geográfica, necessidade na região,
tema específico e realidade socioeconômica local (MARINHO, 2004).

5. Considerações Finais

Diante da crise ambiental atual que afeta o clima, os recursos naturais e o


equilíbrio ambiental do plante, demandam-se novas posturas governamentais com relação
às suas políticas públicas. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
instituídos pela ONU como parte da Agenda global para 2030 constituem um desses
importantes instrumentos estabelecidos para conduzir estas novas políticas. Com relaçao
ao objetivo nº 15 (ODS15), que destaca a necessdade de conservação e recuperação dos
ecossistemas florestais, através deste estudo constatou-se que existem atualmente
importantes instrumentos e políticas públicas, tanto nacionais quanto internacionais, que
contribuem efetivamente para o alcance dessas metas.
Entretanto, verificou-se que os instrumentos globais como as convenções e fóruns
intergovernamentais funcionam apenas como um guia à preservação e conservação das
flroestas; de forma que cabe então a cada nação, conhecendo suas realidade e maiores
necessidades, promover meios locais pelos quais estes objetivos globais possam ser
alcançados. Nações como Alemanha e Índia têm provado que a preservação das florestas
e da biodiversidade independe de desenvolvimento econômico e transpõe questões
culturais.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Desta forma, para que mudanças efetivas aconteçam no âmbito da preservação
florestal é necessário alinhar as ações locais (nacionais, estaduais e municipais) às
diretrizes globais; integrando-as e de forma que envolva diversos setores (público,
privado e sociedade em geral). Somente desta forma os objetivos propostos poderão ser
alcançados satisfatoriamente, conduzindo a uma melhor qualidade ambiental desde a
escala de municípios até a escala global.

Referências

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE APLICADOS AO


CONTEXTO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL DE
CIDADES NA CONCEPÇÃO DE METABOLISMO URBANO

Suquisaqui, Ana Beatriz V.¹


Hanai, Frederico Y.²
¹ Gestora e Analista Ambiental - Universidade Federal de São Carlos
(biasuqui@hotmai.com)
² Orientador, Prof. Dr. no Departamento de Ciências Ambientais – Universidade
Federal de São Carlos (fredyuri@ufscar.br)

Resumo: Atualmente, as cidades comportam mais da metade da população do planeta, o


que explica a crescente preocupação com a qualidade de vida e a sustentabilidade urbana.
Tanto a qualidade de vida, quanto a qualidade ambiental urbana são temas importantes
para o planejamento das cidades e a tomada de decisão do poder público. Pela necessidade
de se conhecer melhor os problemas e procurar soluções, surge o conceito de metabolismo
urbano, muito importante para se analisar os fluxos de energia, de recursos e de materiais
no sistema urbano. Nesse contexto surge a necessidade de se utilizar novas ferramentas
que possam apoiar esses estudos, como os indicadores. O presente trabalho teve como
objetivo geral identificar, estudar, selecionar e definir indicadores de sustentabilidade
para a aplicação ao contexto de planejamento e gestão ambiental de cidades, na concepção
de metabolismo urbano, sob a ótica da qualidade ambiental e da qualidade de vida urbana.
Essa pesquisa foi do tipo descritiva e as análises dos indicadores foram realizadas por
meio da escala Likert e da metodologia FOFA (SWOT). Pôde-se concluir que em alguns
dos temas estudados existe uma deficiência na quantidade de indicadores encontrados e
principalmente, muitos dos indicadores apresentados nos artigos, não se caracterizavam
um indicador, contudo a ideia abordada pôde ser aproveitada.
Palavras-chave: Indicadores de sustentabilidade; Metabolismo urbano; Planejamento
urbano; Gestão ambiental.

1. Introdução

A população urbana excedeu a população rural pela primeira vez na história em


2007, fenômeno esse de primordial importância devido aos impactos que a urbanização
vem causando na qualidade de vida das pessoas (CHRYSOULAKIS, et al., 2014).
Dentro desse contexto, a sustentabilidade urbana é um tema imprescindível para
possibilitar o desenvolvimento das cidades com qualidade de vida e sem o esgotamento
de recursos (NUNES et al., 2006). Para isso, Acselrad (2001) considera que a
sustentabilidade não se refere apenas as questões de meio ambiente, mas também às
questões econômicas, sociais e políticas, que devem estar todas relacionadas para que seja
possível embasar uma discussão.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
De acordo com Edwards (2008), o único modelo de cidade sustentável possível é
a cidade compacta e de uso misto, que segundo Leite e Awad (2012), é a cidade que pode
ser considerada um modelo de desenvolvimento urbano, além de promover altas
densidades de habitantes e com adequado uso misto do solo, promovendo uma mistura
das funções urbanas, como habitação, comércio e serviços.
A problemática urbana e os aspectos da sustentabilidade são a base para a
identificação e criação de indicadores de sustentabilidade urbana, de forma que seja
possível avaliar os processos de desenvolvimento e sustentabilidade das cidades
(MARTINS e CANDIDO, 2015).
Os indicadores transformam questões complexas em informações mais
simplificadas, uma vez que tentam melhorar a comunicação de dados de um determinado
local em um determinado período. Dessa forma, os principais objetivos de indicadores de
sustentabilidade urbana são agrupar e mensurar informações para que certas
características fiquem mais visíveis (NUNES et al., 2006).
Portanto, esses indicadores são de extrema importância para o desenvolvimento
da conscientização dos problemas urbanos, para auxiliar os esforços governamentais
locais em busca da sustentabilidade urbana (MICHAEL et al., 2014), e ainda são cruciais
para auxiliar na definição do objetivo a ser atingido, na revisão de desempenho e na
facilitação de comunicação entre o poder legislativo, os especialistas e o público (SHEN
et al., 2010).
A qualidade de vida nas cidades, especialmente na dimensão ambiental, assume
um importante papel na avaliação da prosperidade de áreas urbanas, já que essas duas
condições geram um impacto direto na qualidade de vida das pessoas, afetando sua saúde
diretamente (ar, barulho, etc) e indiretamente (mudanças climáticas, biodiversidade, etc).
Dessa forma, se bem gerida, as áreas urbanas podem melhorar as condições ambientais e
consequentemente, a qualidade de vida (SILVA, 2015).
A poluição do ar e o barulho são alguns dos principais fatores que podem diminuir
a qualidade de vida nas cidades. O tráfego de automóveis é, atualmente, reconhecido
como o maior contribuinte para o barulho nas áreas urbanas. Além disso, reduzindo os
níveis de poluição do ar, os países podem reduzir os problemas de doenças no coração,
câncer de pulmão e doenças respiratórias crônicas e agudas, incluindo a asma (SILVA,
2015).
Os estudos sobre a qualidade ambiental urbana fornecem suporte para que se
entenda os problemas ambientais resultantes do rápido crescimento das cidades,

263
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
permitindo assim que seja possível tomar decisões a respeito do planejamento e gestão
das cidades, buscando diminuir ou até mesmo evitar os impactos causados por ações
antrópicas (ESTEVEZ e NUCCI, 2015).
Com a intenção de resumir as ideias de modelagem e de avaliação dos efeitos das
atividades urbanas no ambiente, Wolman em 1965, desenvolveu uma discussão e propôs
o conceito de Metabolismo Urbano (WOLMAN, 1965), uma vez que ele se preocupava
com a poluição do ar e outros resíduos produzidos nas cidades dos Estados Unidos
(KENNEDY et al., 2010).
O conceito de metabolismo urbano é fundamental para o desenvolvimento de
cidades sustentáveis e seu estudo envolve, de forma geral, a quantificação de entradas,
saídas e armazenamento de energia, água, nutrientes, materiais e resíduos (KENNEDY,
2010), além do fluxo de materiais e de energia dentro da cidade. As principais
metodologias incluem avaliação dos fluxos, medição e/ou cálculo das entradas no sistema
urbano (INOSTROZA, 2014).
Spiller e Agudelo (2011) consideram que o modelo de metabolismo urbano
atualmente é linear, uma vez que os recursos são usados, na maioria das vezes, apenas
uma vez e posteriormente são descartados no ambiente. Esse padrão de consumo linear é
o centro da presente exploração dos recursos, a saturação de aterros sanitários e
consequentemente o desequilíbrio dos ecossistemas.
Em contrapartida, a transição para um metabolismo urbano que seja circular, por
meio do aumento da eficiência, da reutilização e da reciclagem, irá evitar a geração de
resíduos, aumentará a resiliência dos sistemas urbanos e será crucial para alcançar a
sustentabilidade ambiental (SPILLER e AGUDELO, 2011).
Portanto, objetivo geral da pesquisa foi identificar, estudar, selecionar e definir
indicadores de sustentabilidade para a aplicação ao contexto de planejamento e gestão
ambiental de cidades, na concepção de metabolismo urbano, sob a ótica da qualidade
ambiental e da qualidade de vida urbana.

2. Material e métodos

A metodologia adotada para a realização das ações da Pesquisa foi do tipo Descritiva e
se dividiu em duas fases.
A primeira fase dessa pesquisa foi o levantamento de informações em artigos,
teses, dissertações e livros, sobre os temas indicadores de sustentabilidade urbana,

264
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
qualidade de vida urbana, qualidade ambiental urbana e metabolismo urbano, a partir de
uma Revisão Bibliográfica Sistemática.
O protocolo de Revisão Bibliográfica Sistemática utilizado para essa pesquisa foi
baseado no trabalho desenvolvido por Castillo Ospina (2016), em que se definiu as duas
bases de dados que mais contemplam resultados positivos quando se trata do assunto de
indicadores. Portanto, as bases indicadas e utilizadas para a presente pesquisa foram Web
of Science e Scopus.
Posteriormente foi realizada a definição de quais strings seriam utilizados para
realizar a revisão sistemática, todos definidos em inglês para um maior alcance de artigos.
Para isso, foi necessário fazer um levantamento de informações para conhecimento dos
operadores lógicos que poderiam ser utilizados.
Na sequência, foram realizadas as seleções dos artigos que foram utilizados para
iniciar a redação da revisão bibliográfica do presente estudo, além de permitir o
levantamento dos indicadores os quais foram analisadas nas etapas seguintes do trabalho.
As listas de indicadores foram: indicadores de sustentabilidade urbana; indicadores de
qualidade de vida urbana; indicadores de qualidade ambiental urbana e; indicadores de
metabolismo urbano.
Além disso, foi realizado um levantamento dos princípios da qualidade de vida
urbana e do metabolismo urbano, além de critérios para seleção de indicadores, uma vez
que, segundo Zhang (2006), para serem relevantes, os indicadores precisam ser
selecionados com base em critérios bem definidos.
Esses critérios foram agrupados de acordo com semelhanças entre si e divididos
em 10 categorias diferentes. Por fim, essas 10 categorias diferentes, foram divididas em
3 grupos de acordo com suas características em relação a importância, conceituação ou
exequibilidade.
A segunda fase da pesquisa se concentrou na análise dos indicadores. Para isso,
os indicadores foram avaliados sob a perspectiva dos critérios selecionados na fase
anterior, por meio da escala de Likert.
Na presente pesquisa, a escala de Likert foi aplicada à cada categoria de critérios
dos indicadores, de forma que a variação ordinal foi atribuída de 1 a 5, em que 1
significava que o indicador não contemplava a categoria de critérios, 2 contemplava
pouco, 3 contemplava razoavelmente, 4 contemplava satisfatoriamente e 5 contemplava
completamente a categoria de critérios.

265
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A análise consistiu em 3 etapas. A primeira foi o preenchimento de uma tabela
contendo as 4 listas de indicadores. Para cada uma das listas, haviam 10 colunas contendo
as categorias de critérios gerais. As notas atribuídas para cada indicador seguiram a lógica
da Escala de Likert citada anteriormente, com valores variando de 1 a 5.
Depois de atribuídas as notas para cada critério de cada indicador, foram
calculadas as médias das notas dentro dos 3 grupos e posteriormente a média final. Os
indicadores com pontuação entre 1 e 3 foram considerados inaptos para utilização,
portanto foram descartados. Já os indicadores com pontuações entre 3 e 4 foram
considerados razoáveis, de forma que foram analisados e redefinidos juntamente com 3
especialistas em indicadores, com o objetivo desses indicadores se tornarem aptos. Já os
indicadores com pontuação maior que 4 foram considerados aptos, de forma que foram
selecionados diretamente para serem analisados no método FOFA.
Ao finalizar a redefinição dos indicadores razoáveis, foi possível gerar uma lista
geral contendo todos os indicadores aptos e todos os indicadores redefinidos e a partir
disso, os indicadores foram divididos em algumas categorias diferentes com o objetivo
de se realizar a análise FOFA em cada uma das categorias estabelecidas, possibilitando
assim a verificação dos pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades de cada categoria
e de alguns indicadores em especial.
Com a finalização da análise FOFA, foram sugeridas 4 listas de indicadores
baseados nos princípios de qualidade ambiental urbana e de metabolismo urbano:
indicadores de sustentabilidade urbana; indicadores de qualidade de vida urbana;
indicadores de qualidade ambiental urbana; e indicadores de metabolismo urbano.
Por fim, foi realizada uma análise quanto ao atendimento dos princípios de
qualidade de vida urbana e metabolismo urbano, em cada uma das listas de indicadores,
com a intenção de identificar a suficiência (ou lacunas) de indicadores em cada tema, com
a finalidade de verificar as demandas de novas investigações e pesquisas.

3. Resultados e discussão

A partir do levantamento de informações na Revisão Bibliográfica Sistemática,


foram definidos os critérios de seleção dos indicadores, como ilustra a Tabela 1.
Os Quadros 1 e 2 ilustram os princípios de qualidade de vida urbana e de
metabolismo urbano, respectivamente, definidos na pesquisa.

266
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A partir das análises realizadas nos indicadores, esses foram descartados,
redefinidos ou enviados diretamente para a segunda fase da análise, de acordo com suas
respectivas pontuações, como ilustra a Tabela 2.
Foi possível perceber que para todos os temas, exceto para o tema “Indicadores
de qualidade de vida urbana” que obteve a maior porcentagem referente aos indicadores
Aptos, as maiores porcentagens foram de conceituação Razoável. Esse resultado mostra
que, apesar da maioria dos indicadores se encontrarem numa situação razoável, a minoria
deles tiverem um desempenho ruim a ponto de serem descartados da pesquisa, o que
significa que os indicadores levantados na pesquisa são bons.
Com a realização da análise FOFA foi possível observar que para algumas
categorias de indicadores, as Oportunidades são o aprimoramento e definição de novos
indicadores. Além disso, algumas categorias não contemplam todos os aspectos
relacionados com o tema em questão e, portanto, isso se torna uma ameaça do ponto de
vista da pesquisa.
Além disso, foi observado que, a partir dos strings utilizados para a busca de
informações, não houveram indicadores que contemplassem os 4 temas que englobam o
saneamento, formado por resíduos sólidos, água, esgoto e águas pluviais. Em nenhuma
das listas de indicadores levantadas, foi abordado o tema de águas pluviais.
Para o tema de sustentabilidade urbana, foram identificados algumas categorias
com ausência ou pouca quantidade de indicadores que contemplem os respectivos
aspectos. Contudo, foram identificadas duas novas categorias para esse tema, “águas
pluviais” e “Compactação”, e dessa forma, há a necessidade da continuidade de estudos
de indicadores para que possam ser identificados novos indicadores para essas categorias.
Para o tema de qualidade de vida urbana, além da necessidade de se enriquecer algumas
categorias com novos indicadores, foram identificadas duas novas categorias que
deveriam existir nesse tema para que todos os princípios da qualidade de vida urbana
pudessem ser atendidos. As novas categorias são “Bem-estar” e “Qualidade ambiental”,
com a necessidade de novas pesquisas para a identificação de indicadores que possam
contemplar essas novas categorias.
Para o tema de Metabolismo urbano, foi observado que alguns princípios não
foram atendidos nas categorias de indicadores. Para isso, sugere-se 4 novas categorias
para que tais princípios possam ser atendidos. As novas categorias são “interação de
ciclos e fluxos”, “efeitos e impactos”, “predição” e “armazenamento”.

267
TABELA 1 - Grupos, categorias, critérios e definição para a seleção de indicadores

268
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar

Grupo Ca tegori a Cri téri os Ca ra cterís tica s


Sa tis fa zer a neces s i da de dos O i ndi ca dor deve prover i nforma çã o pa ra os us uá ri os e
Rel evâ nci a
us uá ri os ; s i gni fi ca tivos . pa ra determi na r objetivos e metas .
Importânci a
O i ndi ca dor deve s er útil e pertinente do ponto de vi s ta da
Util i da de Ser útil .
pes qui s a e do objetivo pel o qua l el e s erá util i za do.
Nã o s er a mbíguo, foco prá tico, fá ci l O i ndi ca dor deve s er s i mpl es e cl a ro, s eu s i gni fi ca do deve
Entendi mento
i nterpretaçã o. s er de fá ci l compreens ã o, também por nã o es peci a l i s tas
O i ndi ca dor deve s er o ma i s confi á vel pos s ível e pos s ui r
Confi a bi l i da de/Va l i dez Ser confi á vel , ter va l i da de.
Concei tua çã o va l i da de ci entífi ca e a na l ítica .
Concei tua l mente bem O i ndi ca dor deve ter bom funda mento teóri co de boa
funda mentados , es copo a dequa do. qua l i da de em termos técni cos e ci entífi cos , ba s ea do em
Concepçã o
Pers pectiva s i s têmi ca , vi s ívei s , um conheci mento cons i s tente do s i s tema i nves tiga do e
perceptívei s e i ntegra dos . de s eus a tri butos ;
O i ndi ca dor deve s er ca pa z de a pres entar compa ra ções a o
l ongo de uma s éri e tempora l (es ta ca ra cterís tica a mpl i a
Há bei s pa ra mos tra r tendênci a a o
Tempora l i da de el ementos de referênci a , cons ol i da ndo a a pl i ca çã o de
l ongo do tempo.
metodol ogi a s de obtençã o de da dos e genera l i za çã o do
s eu us o);
O i ndi ca dor deve s i na l i za r a s muda nça s de tendênci a no
Rea tivos , s ens ívei s a res pos ta a
Res pos ta à s muda nça s a mbi ente ou na s a tivi da des huma na s rel a ci ona da s ,
a l tera ções ; s er efi ci ente e efi ca z.
preferenci a l mente em curto pra zo;
Exequi bi l i da de O i ndi ca dor deve pos s ui r a ca pa ci da de de des pertar
Rea çã o/Predi çã o Ter res s onâ nci a
i nteres s e e gera r a ções dos a gentes envol vi dos ;
O i ndi ca dor deve s er a pres entado de tal forma que
Ser mens urá vel , compa rá vel e
Mens ura bi l i da de permi ta compa ra ções entre di ferentes s i tua ções e
vi á vel .
pa s s ível de s er a pl i cá vel , com ba i xo cus to. Fá ci l de medi r.
Es pa ci a l i da de/ Abra nger a s pectos rel a ci ona dos à O i ndi ca dor deve es tar a pto a s er util i za do de a cordo com
Abra ngênci a es ca l a cons i dera da a bra ngênci a e a es ca l a es tuda da .
Fonte: Autoria própria
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
QUADRO 1 - definição dos princípios de qualidade de vida urbana.
Fonte: autoria própria. Baseado em Nahas (2002); von Wirth (2015); Wendel (2012); Pan (2016);
Turkoglu (2015) e em discussões, sugestões e recomendações dos participantes da pesquisa.
Princípios Descrição
Princípio do acesso às áreas verdes A população deve ter fácil acesso a áreas verdes.
Princípio da equidade na distribuição e no acesso da
Toda a população deve ter acesso a serviços,
população a certos serviços, instalações e
instalações e oportunidades.
oportunidades
As atividades industriais devem atender legislações e
Princípio da qualidade ambiental, na perspectiva do
resoluções de forma a respeitar as condições do meio
desenvolvimento humano sustentável
ambiente de forma a manter sua qualidade.
Toda a população deve ter acesso a serviços sócias
Princípio da acessibilidade aos serviços sociais
como.
Toda a população deve ter acesso a serviços de saúde
Princípio da acessibilidade aos serviços de saúde
como hospitais, postos de saúde, médicos, entre outros.
O planejamento urbano deve ocorrer de tal forma a
Princípio da inclusão e responsabilidade social atender a população portadora de algum tipo de
(acessibilidade) deficiência, assim como deve oferecer oportunidades à
essas pessoas.
Toda a população deve ter acesso a moradia de
Princípio do acesso a moradia
qualidade.
Os espaços públicos devem ter qualidade para atender
Princípio da qualidade dos espaços
a população.
Toda a população deve ter acesso ao transporte público
Princípio do acesso ao transporte público assim como os transportes devem ter adaptações para
(acessibilidade) atender a parcela da população portadora de algum tipo
de deficiência.
O poder público deve garantir à população segurança
Princípio da segurança (contra violência) contra violência por meio de policiamento, guarda
municipal, entre outros.
O poder público deve oferecer a população estruturas
Princípio da segurança contra acidentes
que previnam acidentes.
O poder público deve tomar as devidas precauções para
Princípio da segurança contra riscos ambientais evitar que a população esteja exposta a riscos
ambientais.
Princípio do acesso à educação Toda a população deve ter acesso a educação.
Toda a população deve ter acesso as áreas de recreação
Princípio do acesso a áreas de recreação e lazer
e áreas de lazer.
Toda a população deve ter acesso a atividades
Princípio do acesso a atividades culturais
culturais.
Acesso a atividades, espaços, estruturas e instalações
Princípio da promoção ao bem-estar que promovam satisfação e sentimentos agradáveis aos
moradores.

QUADRO 2 - definição dos princípios de metabolismo urbano.


Fonte: autoria própria. Baseado em Pincetl et al. (2012); Kennedy (2010); Asian Development Bank
(2014) e em discussões, sugestões e recomendações dos participantes da pesquisa.
Princípios Descrição
Princípio da quantificação de entradas e saídas de As entradas e saídas de energia devem ser
energia contabilizadas e quantificadas.
As entradas de água para os diversos usos devem ser
Princípio da quantificação de entradas de água e saída
contabilizadas e quantificadas, assim como as saídas de
de efluentes líquidos
efluentes líquidos em suas diversas fontes.
As entradas de recursos em suas diversas origens,
Princípio da quantificação de entradas de recursos
devem ser contabilizadas.
Os resíduos sólidos devem ser contabilizados e
Princípio da quantificação de resíduos sólidos quantificados de acordo com as diferentes formas de
disposição.
A poluição do ar deve ser quantificada de acordo com
Princípio da quantificação da poluição do ar
os materiais e partículas que o compõe.
As formas de armazenamento de energia, água,
Princípio do armazenamento de energia, água,
nutrientes, materiais e resíduos deve ser contabilizado e
nutrientes, materiais e resíduos
quantificado.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Princípio da interação dos ciclos e fluxos de matéria e Os ciclos e fluxos de matéria e energia devem ser visto
energia de forma sistêmica e não individual.
As pressões, impactos e adversidades causadas no meio
Princípio da identificação e consideração dos efeitos de
ambiente, devem ser identificados e levados em
pressão, impactos e adversidades
consideração para a análise do metabolismo urbano.
Princípio da reação, resposta e resiliência frente às Deve haver formas de resposta, reação e resiliência
pressões, interferências e impactos (consideração pelos quando as pressões e interferências impactarem na
diferentes impactos na biodiversidade) biodiversidade.
O uso e ocupação do solo devem ser identificados para
Princípio do uso e ocupação do solo
que as tomadas de decisões ocorram de forma eficiente.
A fontes de energia renováveis devem ter prioridade de
Princípio da utilização de Energia Renovável utilização, assim como o poder público deve oferecer
esse tipo de energia a população.

TABELA 2 - Porcentagem de indicadores encontrados por temas


% de indicadores % de indicadores % de indicadores
com atribuição de com atribuição de com atribuição de
Total de
Tema conceito maior conceito entre 3 e conceito menor
indicadores
que 4 na Escala 4 na Escala de que 3 na Escala
de Likert Likert de Likert
Indicadores de
165 20% 63% 17%
sustentabilidade urbana
Indicadores de qualidade de
66 48% 41% 11%
vida urbana
Indicadores de qualidade
21 10% 76% 14%
ambiental urbana
Indicadores de metabolismo
77 24% 71% 5%
urbano
Fonte: Autoria própria

4. Conclusão
O presente trabalho analisou diversos indicadores sobre sustentabilidade urbana,
qualidade de vida urbana, qualidade ambiental urbana e metabolismo urbano, afim de
verificar as lacunas existentes nesses temas e sugerir novos indicadores com a intenção
de preencher essas lacunas encontradas.
Partindo da importância da utilização de indicadores, foi possível concluir que, no
que se refere a quantidade de artigos encontrados em ambas as bases de dados estudadas,
o tema de “indicadores de sustentabilidade urbana” possui muito mais publicações do que
os outros três temas pesquisados.
Essa quantidade maior de artigos encontrados pode ser explicada pela maior
familiarização em relação a esse assunto. Atualmente, as questões de sustentabilidade
urbana são muito estudadas, pois de acordo com Marans (2015), a preocupação
decorrente às mudanças climáticas e a diminuição dos recursos naturais desperta o
interesse dos governantes em desenvolver as cidades de forma mais sustentável.
De todos os temas pesquisados, o que menos apresentou resultados foi
“indicadores de qualidade ambiental urbana”, o que pode ser explicado pelo fato de que,
um dos maiores desafios para o desenvolvimento sustentável urbano, é considerar a

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
dimensão ambiental no processo de planejamento para o desenvolvimento urbano
(AZAMI et al., 2015).
Devido a importância de se estudar o Metabolismo Urbano, observa-se a
necessidade de se aumentar a quantidade de estudos sobre esse tema, visto que a partir
dessa pesquisa, foi possível concluir que ainda é escassa a quantidade de trabalhos
publicados contendo indicadores de metabolismo urbano, principalmente trabalhos
brasileiros.
Em relação aos indicadores levantados na pesquisa, pode-se concluir que os
artigos que trouxeram tais indicadores, os apresentavam de forma a não se caracterizarem
um indicador. Assim, foi possível observar que na maioria dos casos, a ideia por trás do
que o artigo trazia como indicador era boa, contudo não se caracterizava de fato como um
indicador. Com isso, na fase de redefinição dos indicadores foi possível aproveitar as
ideias trazidas nos artigos, transformando-os então em indicadores de fato.
No que se refere aos temas abordados pelos indicadores, foi possível observar que,
ao juntar todos os indicadores levantados nos 4 temas, foi contemplado muitos aspectos
interessantes e pertinentes do ponto de vista dos temas da pesquisa. O único tema que não
apresentou indicadores foi sobre águas pluviais.
É importante ressaltar que, em relação aos indicadores ou temas que não foram
contemplados nas listas encontradas, a presente pesquisa não pode concluir que esses
indicadores ou temas não são ou são pouco estudados. O que se conclui é que não
houveram resultados positivos do ponto de vista dos temas pesquisados e dos strings
utilizados, mas em outros temas ou utilizando-se outros strings, podem ser encontrados
esses indicadores identificados como ausentes na presente pesquisa.
Por fim, a pesquisa enfatiza a necessidade de novas pesquisas na área de
indicadores de sustentabilidade urbana para que as atuais lacunas e ausências possam ser
preenchidas de forma a oferecer indicadores cada vez mais consistentes para o auxílio da
tomada de decisão pelo poder público.

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273
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISE CRÍTICA DOS EFEITOS DA URBANIZAÇÃO NOS


RECURSOS HÍDRICOS NA CIDADE DE MARINGÁ/PR

Araújo, Angélica A.1 Martinez, Carlos Eduardo N.M.2


Okawa, Cristhiane M.P.3, Mauad, Frederico F .4
1
Escola de Engenharia de São Carlos, USP - Programa de Pós Graduação em
Ciências da Engenharia Ambiental, e-mail: angélica.ardengue@gmail.com
2
Escola de Engenharia de São Carlos, USP - Programa de Pós Graduação em
Ciências da Engenharia Ambiental, e-mail: carlosenmm@gmail.com
3
Universidade Estadual de Maringá, UEM - Departamento de Engenharia Civil,
e-mail: crisokawa@gmail.com
4
Escola de Engenharia de São Carlos, USP – Departamento de Hidráulica e
Saneamento
e-mail: mauadffm@sc.usp.br

Resumo: O crescimento nos centro urbanos vem causando impactos negativos nos
recursos hídricos. A intensa urbanização e mudanças na estrutura das cidades vem
colocando em risco a disponibilidade de água, devido à sua degradação. O objetivo desse
artigo é proceder a uma análise crítica dos efeitos da urbanização sobre a conservação de
recursos hídricos na cidade de Maringá, Paraná. A pesquisa foi realizada com base em
referenciais teóricos já elaborados que abordam em suas análises a temática em questão.
Sabe-se que alguns instrumentos de gestão são altamente eficazes para garantir a
sustentabilidade dos recusos hídricos, tais como: o planejamento do uso da água (ou sua
reavaliação ao longo do tempo) por meio de planos diretores, uma legislação específica
de uso e ocupação do solo, educação ambiental sobre a importância da conservação dos
recursos hídricos em área urbana, a interação da Prefeitura Municipal com fornecimento
de dados para Instituições de Ensino Superior para elaboração de pesquisas que possam
contribuir para o desenvolvimento sustentável do município. No entanto, embora muitos
desses instrumentos estejam presentes na cidade de Maringá, a falta de uma fiscalização
eficiente e de uma maior sensibilização ambiental por parte da população são fatores
determinantes. Conclui-se que, para uma gestão dos recursos hídricos que seja eficaz e
promova a sua conservação, além de planos diretores e legislações municipais bem
estruturados, é necessário investimento em programas de educação ambiental e
fiscalização intensa, tanto por parte do poder público municipal quanto por parte dos
órgãos gestores de recursos hídricos do Estado do Paraná.
Palavras-chave: Conservação ambiental; Urbanismo e gestão da água; Gestão de rios
urbanos.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
1. Introdução

O processo de urbanização no Brasil não é um fenômeno novo, ele começou de


forma acelerada depois da década de 60, gerando uma população urbana com
infraestrutura inadequada (TUCCI, 2007).
A mudança do uso da terra e a qualidade da água é uma relação que vem sendo
analisada em diversos estudos, pois acredita-se que esses fatores foram afetados por
atividades humanas influenciadas diretamente pela rápida urbanização e industrialização
(RASHID et al., 2018).
A expansão econômica e as altas taxas de urbanização trouxeram mudanças na
estrutura espacial das cidades, aumentando muito a quantidade de estresse no ecossistema
sob forma de desperdício e poluentes. Essas mudanças afetaram de forma significativa a
qualidade da água (REN et al., 2003).
A carga poluidora nas bacias afetadas pelo aumento da densidade populacional
pode exceder a capacidade de autopurificação das bacias hidrográficas e, juntamente com
a mudança no uso da terra, o ambiente hidrológico e qualidade da água podem ser
afetados. Esse impacto não se dá apenas nos rios, mas também nas águas subterrâneas e
nascentes, resultando em um declínio na qualidade dos recursos hídricos disponíveis
(MOURI, 2015; ESCOLERO et al., 2016).

Os cursos d’água e seu entorno delimitam uma área conhecida como fundo de
vale. Os fundos de vale urbanos são os mais afetados pela poluição gerada pelo homem
pela disposição inadequada de resíduos sólidos e lançamento de esgotos brutos. Outros
impactos que podem ser observados com frequência nessas áreas são a supressão da
vegetação ciliar ou substituição das espécies nativas por espécies exóticas, a erosão das
margens do curso d’água e o assoreamento no seu leito, permitindo assim a transformação
da região de fundo de vale em uma área desvalorizada e pouco integrada ao tecido urbano
(PEREIRA et al., 2015).
Ainda em relação à qualidade da água, nota-se que ela é de grande importância
não apenas para ser usada para o abastecimento público, mas também para o
entretenimento dos habitantes, pois a sua presença é fundamental para harmonização
paisagística, para a manutenção da integridade de um ambiente ecológico, entre outros
fins (NOORHOSSEINI et al., 2017).
Na cidade de Maringá, Paraná, o rio usado para abastecimento público (rio Pirapó)
não se encontra na área urbana, porém existem diversos rios urbanos que tem sofrido ação

275
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
antropogênica e degradação ambiental decorrentes da urbanização. Impactos como:
presença constante de resíduos sólidos urbanos em fundos de vale; erosão intensa de leito
e margens dos rios em alguns pontos e assoreamento em outros; descargas clandestinas
de esgotamento sanitário nas redes de águas pluviais e posteriormente nos rios urbanos;
são alguns dos impactos já detectados na literatura sobre rios urbanos nessa cidade e que
serão discutidos nos resultados desse artigo.
O trabalho proposto tem por objetivo mostrar os impactos que a expansão urbana
realizada de forma acelerada e sem planejamento ou medidas de contenção adequadas
exercem sobre a sustentabilidade dos recursos hídricos disponíveis para a população, seja
qual for o seu uso prioritário, assim como proceder a uma análise crítica sobre os efeitos
da urbanização sobre a conservação de recursos hídricos na cidade de Maringá, Paraná.

2. Material e Métodos

2.1. Caracterização da área de estudo

O município de Maringá localiza-se no Noroeste do Estado do Paraná, ocupando,


de acordo com dados de IBGE (2017), uma extensão territorial de 487,052 km². A cidade
foi fundada oficialmente em 10 de maio de 1947, sendo sua fundação e seu planejamento
promovido pela Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná (MARINGÁ, 2011)
No que se diz respeito ao clima, conforme Maringá (2011), o município recebe a
classificação de clima subtropical e semiúmido. As temperaturas médias anuais são
superiores a 20ºC, sendo que as médias de temperatura mais elevadas são percebidas entre
os meses de novembro e março e as mais baixas entre maio e julho. Classificada como
região semiúmida, a cidade possui os menores teores de umidade entre os meses de julho
e setembro e os maiores durante o período entre janeiro e março, principalmente no
primeiro mês do ano, onde a cidade enfrenta episódios de chuvas intensas.
A cidade de Maringá se localiza em um divisor de águas do Rio Ivaí e Pirapó. Na
área urbana da cidade encontram-se diversos rios, tais como o córrego Mandacaru, que é
um importante afluente do ribeirão Maringá (PEREIRA et al., 2015) e o ribeirão
Morangueiro que é um dos principais afluentes da bacia do alto rio Pirapó e tem sua
nascente na área urbana de Maringá, no parque Alfredo W. Nyffeler, com uma extensão
de 12,5 km de direção nordeste-sudeste, até desaguar no Ribeirão Sarandi (FIORELLI et
al., 2015). Ambos os corpos d’ água serão discutidos neste estudo.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2.2. Caracterização da pesquisa

A metodologia utilizada fundamentou-se em estudo bibliográfico, o qual constitui


parte de uma pesquisa descritiva ou experimental, que tem por objetivo buscar material a
partir de referencial teórico já elaborado em diversas fontes como livros, publicações em
periódicos e, de preferência, artigos científicos, além de outras referências relacionadas
que tragam conceitos que circunscrevem a temática proposta pela pesquisa (GIL, 1999;
ANGELIS NETO, 2016).
O estudo em seu resultado apresenta um levantamento de alguns trabalhos
científicos que expõem os efeitos da urbanização sobre os recursos hídricos disponíveis
em suas localidades a fim de discutir e comparar com os resultados encontrados nos
artigos disponíveis concernentes à cidade de Maringá, PR.

3. Resultados e Discussão

3.1. Impactos ambientais observados em rios urbanos no Brasil e no mundo

Com relação à poluição decorrente de descarga indevida de efluentes no corpo


d’água e da presença de resíduos sólidos urbanos, Ghodrati et al. (2012), em seu estudo
no rio Zarjub, no Iran, constatou que o crescimento urbano e o desenvolvimento industrial
são fatores distintos, mas inter-relacionados e integrantes na degradação do rio. A
poluição do Zarjub tem origem de diferentes efluentes, incluindo esgotos de escoamento
urbano, sanitário, doméstico, de locais públicos como hospitais, hotéis e banheiros
públicos e também de resíduos sólidos urbanos que são carreados pelas chuvas e acabam
depositados nos corpos d’água.
O adensamento da bacia e o avanço da urbanização sobre o meio natural
resultaram em diversos conflitos e impactos de uso de solo. Em consequência disso, a
Zona Especial de Preservação – ZEP da bacia do riu Cuiá em João Pessoa – PB, por
apresentar restrições mais rígidas para sua ocupação devido à vulnerabilidade da área e
sua importância no amortecimento dos impactos da urbanização sobre os recursos
hídricos, apresenta situação de degradação. Na nascente do rio foi evidenciada
descaracterização da vegetação nativa, a presença de vegetação exótica, de edificações,
de áreas de pastagem e o descarte de resíduos sólidos, provocando diversas consequências
ao meio, fragmentação dos remanescentes florestais, queimadas, erosão, entre outros.
Destaca-se a presença de erosão, que resulta em problemas que podem ser irreversíveis,

277
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
tais como: assoreamento do rio, alagamento, deslizamento, voçoroca e desnutrição do
solo (ANJOS et al., 2017).
As mudanças e a variabilidade climáticas influenciam diretamente na quantidade
e na qualidade de água, portanto é necessário considerar esses impactos para realizar o
planejamento e proteção das fontes de água. O planejamento que considera as variações
de temperatura e precipitação consegue avaliar os efeitos da mudança das vazões nos
corpos hídricos, que contribui para a diluição de efluentes e contaminantes na água
(JALLIFFIER-VERNE et al., 2015). Assim, proceder estudos que considerem as
mudanças climáticas locais e regionais torna-se de suma importância quando se pretende
estudar impactos em rios urbanos.
Outro problema encontrado em rios urbanos é a eutrofização, sendo esse um dos
problemas globais do ambiente aquático. A proliferação anormal de algas na água afeta a
qualidade dos corpos hídricos por suas características fisiológicas internas e fatores
externos. O crescimento de algas é afetado não apenas por fatores externos como luz
solar, nutrientes, transparência, temperatura da água e valor do pH, mas também por
condições hidrodinâmicas no corpo d'água como velocidade de fluxo, vazão e perturbação
da água. Entretanto, não são somente os fatores externos que estão ligados a eutrofização
da água uma vez que esta está intimamente relacionada às atividades humanas na bacia.
Esgoto doméstico industrial, urbano e agrícola são continuamente conduzidos para os
corpos d’água, aumentando a quantidade de nutrientes (nitrogênio e fósforo) no meio
(PANG et al., 2018).
Um problema recente é a aplicação de inseticidades para controle de mosquitos
transmissores de doenças como dengue, chikungunya e zika. Anderson et al. (2018) em
seu estudo destacam a aplicação de inseticidas para controle de mosquitos nos Estados
Unidos, que vêm sofrendo surtos dessas doenças. Muitas vezes o controle é controverso
devido aos impactos na saúde e no ambiente causado pelos produtos químicos utilizados.
Em áreas urbanas a aplicação pode ser em maiores quantidades por área, sendo foco de
concentrações cumulativas dos inseticidas em sistemas naturais. Concentrações
resultantes de uma única aplicação são improváveis de causar mortalidade, mas
aplicações múltiplas podem resultar em concentrações de preocupação ambiental, pois
podem atingir os cursos d’água e fontes públicas de abastecimento de água.
Por fim, a sensibilização ambiental pública é um dos mais importantes indicadores
de sustentabilidade do ambiente, pois reflete o conhecimento das pessoas, comportamento
dos cidadãos e capacidade pública em relação a uma sociedade sustentável como um todo

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(NOORHOSSEINI et al., 2017). Portanto, um bom Programa de Educação Ambiental é
essencial para promover a conservação dos recursos hídricos e garantir a qualidade da
água em uma região.

3.2. Impactos ambientais observados no córrego Mandacaru e no ribeirão


Morangueiro, localizados na cidade de Maringá, Paraná

Embora o planejamento inicial da cidade de Maringá possua um enfoque


ecológico, garantindo a preservação de áreas verdes e a arborização, como nas cidades de
Londrina e Umuarama, houve práticas prejudiciais ao ambiente no decorrer dos últimos
anos (MENEGUETTI, 2009). Assim como em outras cidades, o deslocamento
populacional da área rural para a área urbana acarretou no uso desordenado do solo,
trazendo complicações relacionadas à falta de saneamento e ao ineficaz sistema de
drenagem adotado.
O ribeirão Morangueiro foi caracterizado por Zola et al. (2013), os quais
constataram em seu trabalho que essa é uma área que sofre erosão decorrente de chuvas
intensas e de rede coletora de drenagem urbana insuficiente. Esse processo é agravado
em consequência da alta taxa de impermeabilização do solo ao redor da bacia, o que tem
elevado o escoamento superficial, gerando um aumento no fluxo de águas da chuva que
escoam para o local devido à geomorfologia da região. Outra constatação foi relacionada
à presença de resíduos sólidos urbanos carreados durante os eventos de chuva bem como
aqueles depositados inadequadamente no fundo de vale do ribeirão pela população.
Com relação à qualidade da água, em uma caracterização ambiental realizada em
um fundo de vale localizado no ribeirão Morangueiro afetado por ações antropogênicas,
foi realizada uma análise da água para verificar se os parâmetros químicos estavam de
acordo com os padrões estabelecidos pela legislação vigente. Com os resultados das
amostras pôde-se constatar que o lançamento indevido de efluentes verificado a montante
da coleta não interfere na qualidade da água no que diz respeito à quantidade de demanda
bioquímica de oxigênio (FIORELLI et al., 2015), indicador de matéria orgânica baseado
na concentração de oxigênio consumido para oxidar a matéria orgânica, biodegradável ou
não.
Com relação à presença de erosão, Valim et al. (2015) e Valim et al. (2016), os
autores evidenciaram em seus trabalhos que na região do parque Alfredo Werner Nyffeler
onde se encontra a nascente do ribeirão Morangueiro o processo erosivo existente está
acelerado e já atingiu metade da tubulação do sistema de drenagem local, apresentando

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
risco para toda a população que vive no entorno da região, podendo levar a estrutura de
drenagem ao colapso e contribuir com o desaparecimento da nascente do rio. Esse
problema aconteceu devido a soma de vários fatores como a retirada de vegetação, a
impermeabilização de certas áreas causada pelas construções e a má adequação de
terrenos topográficos por meio de aterros mal executados, que fizeram com que as águas
superficiais tivessem uma ação efetiva na erosão.
E com relação à educação ambiental, a nascente do ribeirão Morangueiro foi
objeto de estudo em um trabalho realizado por Uyeno et al. (2015), os quais
desenvolveram a elaboração de uma cartilha ambiental para promover a conservação do
fundo de vale. A cartilha ambiental foi utilizada por Carmo Filho (2017) em uma escola
pública como uma campanha de sensibilização de público infanto-juvenil sobre a
importância da conservação do recurso hídrico.
A mesma situação de presença de resíduos sólidos urbanos foi observada em uma
área no Córrego Mandacaru, localizado na região urbanizada da cidade, onde se constatou
a presença desses resíduos depositados nas margens. Esses materiais prejudicam o
ambiente natural pelo longo tempo que demoram para ser decompostos ou então pela
proliferação de vetores de doenças e contaminação (PEREIRA et al., 2015).
Polastri et al. (2017) realizaram em seu trabalho um diagnóstico sobre a situação
do córrego Mandacaru em relação à sua drenagem pluvial onde foi observado a presença
ou ausência de dissipador de energia, erosão e assoreamento. Foram analisados 15 pontos
na área em questão, compreendendo locais com dissipador de energia com ou sem erosão,
locais sem dissipador de energia com ou sem erosão, além de pontos de erosão e
assoreamento ao longo das margens e leitos do córrego. Por fim, foi constatado que não
são utilizados dissipadores de energia em quase todos os pontos de descarga de águas
pluviais no leito do córrego, o que potencializa a erosão do solo próximo a estes pontos.
No entanto, onde são utilizados dissipadores de energia ainda ocorre erosão, porém menos
severas, indicando que o uso do dispositivo de dissipação reduz consideravelmente a
erosão direta.
No mesmo córrego, Pereira et al. (2015) descreveram alguns impactos ambientais
existentes no local, cujas nascentes se localizam em região central do município de
Maringá. Pode-se verificar além da presença de processos erosivos e de assoreamento a
existência de supressão da vegetação ciliar, espécies exóticas e trechos com a estrutura
da drenagem urbana com necessidade de reparo. Os processos erosivos observados no

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
córrego estão afastando suas margens e próximos de atingir as marginais, colocando em
risco a segurança da população.

4. Discussão

A partir dos resultados da pesquisa em referencial teórico já elaborado, nos quais


são expostos os efeitos da urbanização nos recursos hídricos, é possível certificar que os
processos de ocupação do solo com expansão populacional urbana desordenada
contribuem para a degradação do ambiente e da água.
Ghodrati em seu trabalho expõe a existência de despejo de efluentes no rio
Zarjub e no trabalho de Fiorella et al. (2015) são apresentados resultados de análise da
água que recebe efluentes. Por mais que os resultados tenham demonstrado que o despejo
não esteja prejudicando a qualidade da água, é de importância ressaltar que a
autodepuração de um corpo hídrico após o lançamento de esgoto pode ser prejudicada
por alterações climáticas apresentado no trabalho de Jalliffier-Verne et al. (2015), como
também pela quantidade de efluentes despejados no rio, a velocidade de escoamento da
água, o relevo do rio, entre outros fatores que influenciam na qualidade da água.
De acordo com Noorhosseini et al. (2017), a sociedade tem que ter conhecimento
das questões ambientais e dos impactos que seu comportamento pode causar ao
desenvolvimento sustentável do meio ambiente, como dos recursos hídricos. Uyeno et al.
(2015) elaboraram uma cartilha ambiental com esse propósito que foi aplicada em escola
para público infanto-juvenil por Carmo Filho (2017), para que desde cedo se obtenha
informações da importância e do convívio em harmonia com o ecossistema.
A presença de descarte incorreto de resíduos sólidos foi verificada tanto nos
resultados encontrados no Brasil e no mundo como para a cidade de Maringá. Os resíduos
provenientes da poluição difusa, que são carreados para o corpo hídrico ou suas margens,
podem trazer problemas como descritos por Pereira et al. (2015). Outra importante
questão é a disposição inadequada de resíduos sólidos realizada pela população que
deposita móveis velhos, pneus, produtos eletrônicos, pilhas, geladeiras, sofás, entre outros
objetos, nos fundos de vale da cidade de Maringá, tal como constado por Zola et al. (2015)
e Polastri et al. (2017). A falta de fiscalização e punição incentivam esse comportamento,
além da falta de informação sobre qual seria o local correto para proceder ao descarte na
cidade de Maringá.
A efetiva aplicação das leis ambientais existentes, principalmente as municipais,
a fiscalização mais severa de órgão específicos e a conscientização da sociedade sobre a

281
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
importância dos rios urbanos diminuem consideravelmente a degradação causada pela
urbanização acelerada sem planejamento (POLASTRI et al. 2017), degradações estas
apresentadas em diversas pesquisas feitas no Brasil, no mundo e no município de
Maringá. Valim et al. (2016) citam medidas não estruturais para sanar ou evitar problemas
através de normas, leis, regulamentos, ações educacionais, planejamento e zoneamento
urbano e uso do solo, plano diretor urbano e plano de drenagem urbana, instrumentos que
só serão eficazes se o empenho da sociedade, administração pública, gestores políticos e
institucionais colaborarem para sua execução e concretização.
Uyeno et al. (2015) ressaltam em seu trabalho de forma brilhante a importância
da educação, dizendo que ela promove um repensar de práticas sociais e globais para a
construção de uma sociedade equitativa e ambientalmente sustentável, destacando os
problemas ambientais causados pelo modo de vida das cidades. A educação deve ser vista
como um processo permanente de aprendizagem que forma cidadãos conscientes.

5. Considerações finais

Urbanização não é um fenômeno novo, a degradação dos recursos hídricos e a


diminuição da qualidade da água não está necessariamente relacionado a urbanização,
mas ao crescimento populacional desordenado.
Pode-se constatar com os resultados das pesquisas realizadas na região do ribeirão
Morangueiro na cidade de Maringá, Paraná que o desenvolvimento urbano sem o devido
planejamento ou sua reavaliação vem impactando o afluente em questão que é um dos
principais da bacia do rio Pirapó.
É necessário que as autoridades de instituição governamentais, gestores e
população compreendam a importância de se garantir a sustentabilidade dos recursos
hídricos, principalmente quando se estão expostos aos impactos do meio urbano.
Essa compreensão se torna possível quando a educação ambiental para ser inserida
na formação da sociedade, indiferentemente da posição social que ela ocupa dentro de
sua cidade.

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Universidade Federal de São
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02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

COMPARISON OF LSMM APPLIED TO LANDSAT 8 IMAGES


BEFORE AND AFTER C-CORRECTION

Caio A. Petri1, Jessyca F. S. Duarte1, Lucas M. Oliveira1, Rebeca S. G. S. Carneiro1


1
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – São José dos Campos, SP, Brasil
{caio.petri; jessyca.duarte; lucas.maia.oliveira; rebeca.carneiro}@inpe.br

Abstract: This paper aims to analyse the efficiency of c-correction on optical satellite
images over shaded vegetation areas. Thus, Landsat 8 (OLI) images that cover an area of
the municipality of Mogi das Cruzes, São Paulo State, Brazil, were used. The Linear
Spectral Mixing Model was applied to obtain the image-shadow fraction and then
evaluate the result of c-correction. The results obtained after the subtraction of the images
showed a significant difference in the shaded areas of vegetation. We can observe a
greater gain at these areas after the application of c-correction. In conclusion, the authors
highlight the possible impacts of topographic correction and the application of the linear
model of spectral mixing in remote sensing and environmental sciences, concluding on
the usefulness of such techniques and on the importance of knowing the methods for a
correct interpretation of the results.

Keywords: Topographic Correction. Digital Image Processing. Remote Sensing.

1. Introduction

In environmental sciences, data sources used for monitoring natural processes


have fundamental importance, and the quality of the data must be observed with caution.
Satellite images, for example, created a large research field aiming the quality of earth
observations based on environmental sciences necessities. Satellite images can be
understood as matrices in which each pixel represents a variation of the infinite distance
of an area, within a target angle (JENSEN, 2009). After a series of corrections, as
geometric, atmospheric and other components, surface reflectance images are generated,
as the ones used in this paper. Since most of the images are obtained by passive sensors
and most of the objects of study behave as non-Lambertian surfaces, the radiances
represented by each pixel tend to vary according to the geometry of illumination and the
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
capture of electromagnetic radiation by the sensor. Still, almost all the images are not
captured at the nadir, that is, they do not have solar illumination and sensors in
perpendicular position to their plane. Thus, the surfaces present shadows that can interfere
with the interpretation of the data and induce false results, as attested by Lima and Ribeiro
(2014). It is important to point out that what is discussed above specifically deals with
the application of passive optical sensors, capable of good coverage at different
wavelengths of the solar spectrum in a relatively accessible way. In contrast, they are
strongly limited by atmospheric conditions (JENSEN, 2009).

1.1. Topographic Correction

The topographic shading makes it difficult to extract information from satellite


images. In order to correct errors generated by the morphologies and shadows, several
methods of topographic correction were elaborated, as the c-correction (TEILLET et al.,
1982) and the Gamma correction (SHEPPERD and DYMOND, 2003). For this paper,
the c-correction method was used, proposed by Teillet et al. (1982). This method can be
described by the equations 1, 2 and 3:
𝑐𝑜𝑠𝜃𝑧+𝑐
ρh = ρT ( ) (1)
𝑐𝑜𝑠𝑖+𝑐

ρT = m cos i +b (2)

c = b/m (3)

Where: c is the constant derived from the linear relationship between the spectral
reflectance (ρT) and the cosine of the solar incident angle (cos i). The c constant is
obtained for each band by the division between the linear coefficient or intercept (b) and
the angular coefficient (m) of the linear regression between ρT (y) and cos i (x) (Lima et
al., 2012).

1.2. Linear Spectral Mixing Model (LSMM)

At certain spatial resolutions, pixels do not represent homogeneous areas, being


common to be composed of more than one element in reality. As an example, if we
consider a 30 meters spatial resolution, pixels in the transition area from forests to a dam
will represent the average behavior, in digital numbers, equivalent to the percentage of
the pixel represented by each surface target. In order to classify the image by the elements
that have the greatest influence on a pixel, the LSMM (Linear Spectral Mixing Model)

286
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
was elaborated. Shimabukuro et al. (1998) justify that the linear relationship is used to
represent the spectral mixture of the components within the sensor resolution element.
Thus, the response of each pixel in any spectral band can be defined as a linear
combination of the responses of each component. In this way, each pixel of the image,
which can assume any value in the gray scale, provides information about the proportion
and the spectral response of each component within each element of resolution. The
authors describe the model by the equation 4:

Ri = A* Vegei + B* Soili + C* Wateri + Ei (4)

Where: Ri is the Pixel response on band I; A is the is the proportion of vegetation; B is


the proportion of soil; C is the is the proportion of water; Vegei is the spectral response
of the vegetation component in the band i; Soili is the spectral response of the soil
component in band i; Wateri is the spectral response of the shadow component or water
in band i; Ei is the error in band i; and i are the bands of sensor.

1.3 Impacts in Environmental Sciences

Considering an environmental application for the reflectance images, it is possible


to understand, as explained above, how the proposed correction can change substantially
the results. Analysing how those corrections affects data, in this sense, it becomes
important to measure the quality of the correction and, within the scope of the intended
application, how the new data should be interpreted. In the specific case of topographic
correction, the expected results are of an increment for the previously shaded areas,
levelling the values of the image as if there was a constant illumination. Thus, for a forest
area, for example, one should expect only a noticeable difference in overall image
brightness. This result can help significantly in the classification of land use and land
cover, when approaching elements that belong to the same class, depending on the
classification legend adopted.
The impacts of using an LSMM for the environmental sciences, unlike
topographical correction, establish a more complex and fundamental relation in
importance. At the same time as it is a more complex method, the results may be of greater
significance for the general interpretation of the information. Sometimes considered as a
classification method, due to the high separation capacity of the surface elements, the
LSMM is very efficient for a fast and efficient separation of coverings such as forests and
fields, as well as uses such as agriculture and urban areas.

287
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Thus, this study aims to analyze the differences observed between the application
of an LSMM in a reflectance image without correction, and in the same images with the
c-correction method.

2. Materials and Methods


The study area has the Atlantic Forest as its original vegetation, with a reasonable
remaining cover. The city of Mogi das Cruzes is localized in the State of São Paulo, Brazil
(Figure 1). The Landsat images were acquired in July 26th (2017), and transformed in
reflectance values to make the application of the c-correction and the LSMM possible
(USGS, 2017).
Landsat 8 images have a spatial resolution of 30 meters and a temporal resolution
of 16 days. The orbit/point number that includes Mogi das Cruzes is 219/076. The spectral
bands 4, 5 and 6 from OLI sensor were used, being necessary to convert the images from
digital numbers (DN) to apparent reflectance values (Top-of-atmosphere, TOA), through
the equation available at virtual page of United States Geological Survey (USGS, 2017).
It can be observed at equation 5.
𝑀𝜌𝑄𝑐𝑎𝑙+𝐴𝜌
ρλ = (5)
𝑠𝑖𝑛 𝜃𝑆𝐸
Where: ρλ = TOA planetary reflectance; θSE = Local sun elevation angle; Mρ = Band-
specific multiplicative rescaling factor; Aρ = Band-specific additive rescaling factor; Qcal
= Quantized and calibrated standard product pixel values (DN).

Having the reflectance images, the topographic correction was applied, being
necessary to use information of sun elevation and sun azimuth, both available at image
metadata. In sequence, the LSSM was applied using SPRING (CAMARA et al, 1996)
software to generate the fraction-images of vegetation, soil and shadow, where it was
pretended to observe the difference between reflectance values in shaded areas before and
after the c-correction method application.

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FIGURE 1: Localization of the study area.

3. Results and Discussion

The converted images of each spectral band in reflectance values, before and after
topographic correction, can be observed at Figure 2. After the corrections, the LSMM
was applied in the image with the c-correction, and in the original image without
topographic correction, with the intention of highlight shaded portions, and then compare
what was changed in that areas before the topographic correction. To apply the LSMM,
it was necessary to join the image bands and create an RGB composition (bands 6, 5 and
4).
With the c-correction application, it is expected that reflectance values increase at
shaded areas in the original image, and reduce in areas that were illuminated. Three
fraction-images were generated for corrected and non-corrected images, being:
vegetation, soil and shadow (Figure 3). The comparison was realized by arithmetic
operations between the bands, subtracting each corrected fraction-image by the non-
corrected fraction-image (Figure 4). A 5% of difference threshold was defined.

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FIGURE 2: Images without topographic correction and with c-correction.

FIGURE 3: Fraction-images generated from LSMM.

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Figure 4: Image difference between bands in each fraction.

Figure 2 shows that all the bands changed after the correction. The brighter areas
had lost brightness, while less bright areas had brightened. Besides, the visual aspect of
the corrected images is more continuous, as if the image were flatter and less rough. The
Figure 3 points how the fraction images have changed. The vegetation fraction had
significant gains, especially in slopes that were not naturally illuminated; the soil fraction
showed the same pattern but on a smaller area; and the shade fraction increased in the
naturally lighten areas, reducing the effect of the natural lighting.
From Figure 4, it is possible to see the difference between corrected and
uncorrected bands: practically all the area of the three images shows gains or losses
greater than 5%, except in the water bodies. Highlight that the vegetation fraction
presented gains in areas with low illumination, the shadow fraction had gains in lighted
areas, and the soil fraction had gains in areas of exposed soil. From this, it is believed that
the corrected images would present better results than the uncorrected ones if a classifier
were applied. Finally, the difference between coloured compositions is greater in areas
with exposed or urban soil and areas of vegetation with low illumination, it presents
medium in water bodies, and it is small in areas covered by lighted vegetation.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
4. Conclusion

The results obtained satisfy the context of the application of a LSMM, with a
satisfactory separation between different use components and land cover for the chosen
area. In the vegetation fraction, it is possible to observe that the totality of the areas related
to vegetal coverings received enhancement, or reflectance values, greater. For the soil
fraction, it was highlighted, in the context of the study area, the highlight presented for
the urban areas. In the traditional LSMM division, this is an expected effect when
considering some characteristics of exposed soil and urban areas in general. In the shade
fraction, besides the easy identification of shaded areas, the areas with water are quite
evident. Again, this is an expected effect for LSMM. In this way, it is pertinent to affirm
that LSMM is an efficient method for the separation of differentiated elements of the
surface, important components in different types of use and land cover. However, it is
relevant that the separation in only three fractions ends up mixing substantially different
elements in a traditional classification, such as water and shade or even exposed soil and
urban areas. Therefore, it is recommended a finer classification of the study area after the
application of the LSMM if the purpose of application is the separation in traditional
classes of use and land cover.
When considering the promoted topographic correction, it is possible to conclude
that there was a generalized homogenization of the fractions, observable by the slight
increase of the image values in shaded areas. As the method is integrated with the LSMM
results, it is interesting to observe the results of all the extracted fractions, which have
different behaviors according to the type of fraction. The observed difference in an RGB
composition allows, in turn, an integrated analysis of the results of all fractions.
Finally, it is possible to conclude that the study developed evidences the
importance of topographic correction promoted in satellite images, increasing the
potential of any classification of use and coverage or processing that considers
homogeneity within classes. It was also shown the potential of LSMM application in a
generalized context in terms of land use and land cover. In these cases, this application
can merge some classes. If the chosen area had a homogeneous forest cover, for example,
the LSMM could present a behavior different from that observed in this work. As a
reflection, it is important to consider that digital image processing methods are a powerful
tool in the joint fields of remote sensing and environmental sciences, and that the
knowledge of the researcher or professional that uses these methods is as important as

292
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
their own potentialities, since the correct interpretation of the data must be performed so
that the results obtained are sufficiently profitable.

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TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO


ECONÔMICO PARA INCENTIVO À RECICLAGEM: ESTUDO
DAS EMBALAGENS DE VIDRO UTILIZADAS PARA O ENVASE
DE BEBIDAS

Casari, Fernando R.¹


Castro Marcus A. A. de²

¹ Mestrando em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente pelo Centro


Universitário de Araraquara - Uniara.
Araraquara. Advogado. E-mail: fercasari@gmail.com.
² Professor assistente (RDIDP) do curso de
Engenharia Ambiental da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-
UNESP-Rio Claro.

Resumo: No presente estudo procede-se uma análise da tributação como instrumento de


indução por parte do Estado para promover o fomento à reciclagem de embalagens de
vidro destinadas ao envase de bebidas, em razão da relevante participação deste setor
como destinatário da produção de vidro. Esta proposição está calcada na sustentabilidade
ambiental do processo de reciclagem frente ao processo de fabricação de embalagens de
vidro a partir de matérias-primas virgens. Neste contexto, a pesquisa analisa a carga
tributária aplicada à fabricação do vidro a partir de matérias-primas virgens e do
processo de reciclagem do caco de vidro. No tocante às embalagens de vidro para envase
de bebidas o estudo tem como objetivo analisar a possibilidade de promover a
sustentabilidade econômica do processo reciclagem a partir da Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) como instrumento econômico para
fomentar reinserção do vidro reciclado para a fabricação de embalagens de vidro
utilizadas para o envase de bebidas. Para atingir os objetivos mencionados procedeu-se
a investigação do processo de fabricação das embalagens de vidro para envase de
bebidas, seu processo de reciclagem por meio levantamento bibliográfico, pesquisa
qualitativa através de formulários direcionados a fabricantes de embalagens de vidro e
fabricantes de bebidas, análise do tratamento dispensado pela legislação tributária
brasileira em relação à reciclagem de embalagens de vidro utilizadas para o envase de
bebidas. Constatou-se desajuste da tributação incidente sobre embalagens de vidro e
insumos em relação aos princípios do poluidor pagador e protetor recebedor. A
incidência da CIDE sobre as embalagens de vidro, segundo os cenários propostos,
constitui instrumento econômico capaz de fomentar processo produtivo com menor
impacto ambiental elevando o valor da embalagem produzida à margem da reciclagem
de R$1,50 para R$1,80.
Palavras-chave: embalagens de vidro para envase de bebidas; tributação ambiental;
instrumentos econômicos.

1. Introdução
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O consumo exacerbado da sociedade além de gerar a degradação ambiental pela
exploração dos recursos naturais conduz a outro efeito negativo que é a geração de
resíduos sólidos, cujo grande desafio da sociedade moderna é o equacionamento da
geração excessiva de resíduos e o depósito em aterros sanitários, notadamente os
resíduos domiciliares em razão do aumento de sua geração, ausência de gerenciamento
adequado e comprometimento dos aterros sanitários.
Dentre os resíduos pós-consumo este trabalho procede abordagem da embalagens
de vidro que apesar de serem consideradas geradoras de menor impacto ambiental em
razão de suas características físicas e mecânicas, tem aplicação reduzida em relação a
materiais como alumínio, plástico e PET, representando aproximadamente 4,86% do total
de embalagens disponibilizadas no mercado (ABIVIDRO, 2012 apud LANDIM et al.
2016).
O Brasil produz em média 980 mil toneladas de embalagens de vidro por ano,
usando cerca de 45% de matéria-prima reciclada na forma de cacos. Parte deles é gerado
como refugo nas fábricas e parte retorna por meio da coleta seletiva. Deste montante,
cerca de 50% é destinada para produção de embalagens (frascos, garrafas, potes),
demonstrando a grande representatividade desta espécie de produto para os fabricantes
de vidro (CEMPRE, 2017).
As embalagens de vidro apresentam características que lhe são exclusivas, a saber:
a) infinitamente reciclável; b) as embalagens podem ser retornáveis, ou seja, destinadas
para a mesma finalidade para qual foi concebida; c) reutilizável, no sentido que podem
ser empregadas para outras finalidades (CESAR et al. 2004).
Entretanto, a efetiva reciclagem do material pós-uso ainda representa um desafio
para o setor. Segundo dados disponibilizados no site do CEMPRE aproximadamente 47%
em peso das embalagens de vidro foram reciclados em 2011 no Brasil, somando 470 mil
ton/ano. Desse total, 40% é oriundo da indústria de envaze, 40% do mercado difuso, 10%
do de bares, restaurantes, hotéis e 10% do refugo da indústria.
Por outro lado a comparação dos índices de reciclagem do vidro (47%) com outros
materiais como, por exemplo, do PET (58%) e do alumínio (98%), demonstra que o
patamar de reciclagem do material , apesar das vantagens ambientais, carece de incentivos
e, sinaliza para o enfrentamento de dificuldades e entraves (CEMPRE, 2018).
Na Alemanha, o índice de reciclagem em 2010 foi de 87%, correspondendo a 2,6
milhões de toneladas, na Suíça o índice foi de 95% e nos EUA 40% (CEMPRE, 2018).
O baixo índice de reciclagem das garrafas de vidro destinadas a bebidas tem como

295
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
principais fatores que dificultam à reciclagem a existência de contaminantes que
compromete a qualidade do caco, a necessidade de segregação por cor e os elevados
custos da logística reversa (JAIME, 2007).
O baixo preço praticado pelos depósitos de sucata na compra de embalagens de
vidro pós-consumo desestimula a coleta deste material pelas cooperativas e catadores
informais e, portanto, evidencia a falta de sustentabilidade econômica da base da cadeia
de reciclagem. Segundo dados do CEMPRE, (2017) os preços praticados pelos depósitos
de material reciclável em 2017 no Município de São Paulo para o vidro foi R$ 0,15/kg
para o material limpo, enquanto que em relação ao alumínio o valor pago foi R$ 3,50/kg.
A partir da Lei 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos,
a reciclagem é considerada como mecanismo de promoção do gerenciamento e gestão de
resíduos sólidos.
Nesse sentido, procede-se à caracterização do atual cenário da tributação incidente
sobre as embalagens de vidro destinadas a bebidas, considerando a utilização de matérias-
primas virgens e os processos de reciclagem, com o debate das formas de intervenção do
Estado na economia por meio de instrumentos econômicos com a finalidade de promover
o fomento da reciclagem das embalagens de vidro.
À luz dos ensinamentos de Pigou, defende-se a necessidade de intervenção do
Estado na Economia para que as externalidades negativas representadas pelos custos
ambientais decorrentes da atividade de produção de embalagens de bebidas, a partir de
material virgem, sejam internalizadas no processo de produção (PIGOU, 1962 apud
MONTERO, 2011).
Para tanto, o presente trabalho procede a análise do papel do Estado de intervenção
na economia, elegendo-se, dentre os instrumentos de indução, a tributação ambiental
como mecanismo adequado a incentivar a reciclagem de embalagens de vidro destinadas
ao envase bebidas.
A partir da abordagem dos tributos de natureza real incidentes sobre as embalagens
de vidro, insumos e vidro reciclado e a caracterização do atual cenário de tributação, sob
o enfoque da finalidade extrafiscal da tributação e as espécies tributárias que lhe são
compatíveis, busca-se identificar a espécie de tributo adequada a servir de instrumento
econômico ao Estado para intervenção no setor produtivo de embalagens de vidro, sob o
enfoque dos princípios do poluidor-pagador e protetor recebedor.
Levado a efeito tal procedimento, propõe-se a utilização da Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico - CIDE, como instrumento do Estado a ser utilizado

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
para promover a alteração de comportamento dos agentes econômicos, com sua
incidência sobre a atividade de fabricação de embalagens de vidro buscando incentivar o
desenvolvimento da fabricação por meio da reciclagem, justificável pela sustentabilidade
ambiental do processo produtivo, sem perder de vista a manutenção do equilíbrio
orçamentário-financeiro.
Nesse sentido, o trabalho analisa a possibilidade de fomentar o processo de
reciclagem de embalagens de vidro utilizadas para o envase de bebidas por meio da
tributação aplicada à luz dos princípios do poluidor-pagador e protetor-recebedor,
promovendo sua sustentabilidade. Assim são propostos como objetivos específicos:
- Caracterizar o atual cenário da tributação incidente sobre as embalagens de vidro
destinadas ao envase de bebidas, considerando a utilização de matérias-primas virgens e
o processo de reciclagem;
- Propor cenários econômicos de aplicação da Contribuição de Intervenção no
Domínio Econômico (CIDE) como instrumento econômico para o fomento reinserção do
vidro reciclado na cadeia produtiva para fabricação de embalagens de vidro destinadas ao
envase de bebidas e promovendo a internalização dos custos ambientais ao processo
produtivo decorrente do uso exclusivo de recursos naturais.

2 . Tributação ambiental

É inerente ao conceito de tributo previsto no artigo 3º do Código Tributário


Nacional, Lei 5.172/1966 que a tributação consiste em uma atuação compulsória do
Estado por meio de exigência econômica destinada a atividades lícitas, ou seja, não
constitui sanção para o exercício de atividades ilícitas, justificando a inserção no
dispositivo acima citado da expressão “que não constitua sanção de ato ilícito”, daí sua
adequação a servir de instrumento econômico.
As espécies de tributos estão previstas na Constituição Federal a partir do artigo
145, prevendo os impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimos compulsórios
e contribuições e, consequentemente as hipóteses de incidência, a repartição das
competências tributárias e as limitações ao poder de tributar do Estado através dos
princípios constitucionais tributários (COSTA, 2011).
No tocante aos princípios tributários, são pertinentes à temática proposta os
princípios da legalidade, da isonomia e uniformidade e do não confisco tributário.
O princípio da legalidade é decorrência do princípio republicado que é a forma de
governo instituída no artigo 1º da Constituição Federal se traduz no império a lei e na

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
obrigatoriedade desta espécie normativa para a instituição ou majoração e tributos, nos
termos do artigo 150, I da CF.
Os princípios da isonomia e uniformidade, previsto no artigo 151, I da CF estão
fundados no princípio universal de justiça preconiza tratamento diferenciado aos
contribuintes na medida de suas desigualdades.
O princípio do não confisco tributário vem descrito no artigo 150, IV da
Constituição Federal e sinaliza ao Estado e ao contribuinte que incidência tributária deve
ser norteada pelo princípio da razoabilidade. Neste sentido, apesar da tributação possuir
natureza compulsória e importar em apropriação de valores aos quais os contribuintes
estão obrigados em razão da legislação tributária, há limites para o Estado que,
respeitando este parâmetro pratica ato legítimo e não confiscatório (AMARO, 2010).
Ao lado dos princípios tributários, a tributação ambiental é caracterizada pela
ingerência de princípios ambientais à tributação. O princípio do poluidor-pagador foi
consagrado no artigo 16 da Conferência sobre Mudanças do Clima de 1992, estando
diretamente ligado à utilização pelo Estado de instrumentos econômicos destinados a
impor ao agente produtor os custos ambientais em razão da prevalência do interesse
público e de forma equilibrada a evitar distorções no mercado e economia internacionais
(ONU, 2012).
Milaré (2001) no tocante a finalidade do princípio do poluidor-pagador assevera
tratar-se de pilar do Direito Ambiental que impõe a internalização ao agente econômico
das externalidades negativas decorrentes, assegurando o ressarcimento à sociedade dos
efeitos negativos promovidos.
Aponta-se como aspecto favorável da tributação ambiental a liberdade de escolha
do agente econômico em seguir o caminho mais ou menos agressivo ao meio ambiente,
suportando os efeitos decorrentes dessa escolha que se refletem em uma tributação com
maior ou menor onerosidade de acordo como o comportamento eleito. Destaca-se ainda,
a desnecessidade de grandes alterações administrativas para a sua colocação em prática
que, além de buscar incentivar os agentes econômicos a um comportamento gerador de
menor impacto ambiental, traduz- se em fonte de receita para o Estado (SOUZA FILHO,
2012).
O Brasil cunhou-se pelo caminho de fomentar a intervenção estatal para a proteção
ambiental por meio da tributação, autorizando maior rigor tributário às atividades lesivas
ao meio ambiente. Referido regramento decorreu da inclusão ao artigo 170 da CF do
inciso VI, prescrevendo a defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos
de elaboração e prestação, introduzida pela Emenda Constitucional 42 de 2003.
Visando estabelecer critérios seguros quanto à tributação sobre as embalagens de
vidro destinadas ao envase de bebidas foram considerados, tão somente, os tributos de
natureza real, que segundo Alexandre (2011), levam em consideração somente o produto,
serviço ou patrimônio, independentemente de quem seja a pessoa do contribuinte, ou seja,
não consideram em sua base de cálculo aspectos subjetivos do contribuinte, incidindo de
forma objetiva, tomando em consideração o objeto tributado.
A partir da detida análise da legislação tributária, considerando apenas os tributos
de natureza real, constatou-se que no tocante a embalagens de vidro para bebidas e seus
insumos tem incidência o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e ICMS (Imposto
sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), nos termos da Lei Federal 4.502/1964,
Decreto 7.212/2010 e a TIPI 2017 (Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos
Industrializados) a Lei Complementar Federal 87/1996 que estabelece regras gerais sobre
o ICMS e o Decreto 45.490/2000 do Estado de São Paulo desse tributo.
Não há a incidente de IPI pela ausência de processo de industrialização quanto às
matérias-primas virgens destinadas a fabricação do vidro. No tocante ao ICMS,
considerou-se a alíquota interna do Estado de São Paulo, que em relação às matérias-
primas virgens do vidro sofrem a incidência de ICMS de 12% em cada operação de
circulação da mercadoria. Em relação ao caco de vidro destinado à reciclagem a
transferência desse produto para o fabricante implica na incidência de ICMS com alíquota
de 18%. Em relação às embalagens incide a alíquota de 15% de IPI e 18% de ICMS,
independentemente dos insumos utilizados.

2.1. A Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - CIDE

A Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, habitualmente designada


por CIDE, está prevista constitucionalmente no artigo 149 da Carta de 1988 constatando-
se pelo mencionado dispositivo que o diploma constitucional previu est espécie tributária,
contudo, não elegeu a hipótese de incidência deste tributo, apenas estabeleceu a
competência da União, regulamentação quanto a receitas que não podem ser atingidas,
modalidades de alíquota e forma de incidência, conforme detalhado nos parágrafos
segundo, terceiro e quarto do artigo 149, deixando expressamente a cargo de lei
infraconstitucional a instituição e regulamentação a partir das linhas traçadas neste
dispositivo constitucional.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Sabbag (2014) esclarece que a CIDE é espécie tributária que foi instituída no
ordenamento jurídico brasileiro com finalidade de intervenção econômica.
Costa (2011) compartilha da possibilidade de instituição da CIDE como tributo
ambiental desde que seja instituída por meio de lei, que seja destinada à intervenção na
economia e que se destine a dar efetividade aos primados do artigo 170 da Constituição
Federal.

3. Materiais e métodos

Foi procedido levantamento de dados secundários perante o banco de dados da


CAPES - Portal Periódicos, http://www.periodicos.capes.gov.br, SciELO - Scientific
Electronic Library Online, portal http://www.scielo.org, Google Acadêmico,
http://scholar.google.com.br e Science Direct , pelo portal https://www.elsevier.com.
Na análise comparativa do atual cenário da tributação incidente sobre as
embalagens de vidro destinadas ao envase bebidas, considerando a utilização de matérias-
primas virgens e os processos de reciclagem, procedeu-se a verificação do volume de
vidro reciclado no Brasil obtidos junto a Abividro (2012) e a discrepância em relação aos
patamares europeus verificados em publicação da Federação Europeia de Embalagens de
Vidro FEVE, apud Pereira (2014) que apresenta níveis de reciclagem superiores, visando
identificar e compreender as razões de realidades diferentes. Realizou-se o estudo dos
processos produtivos de fabricação de embalagens de vidro considerando o consumo de
energia, recursos naturais e emissão de CO2, e a redução destes elementos em razão do
emprego do vidro reciclado no processo de fabricação de embalagens, com ênfase na
redução do consumo de energia elétrica, a partir de dados fornecidos pelo IPEA (2010).
A análise da atual tributação sobre embalagens de vidro deteve-se aos tributos de
natureza real. Neste sentido foram abordadas a Lei Federal 4.502/1964, Decreto
7.212/2010 e a TIPI 2017 (Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos
Industrializados), Decreto 7.619/2011 e Medida Provisória 656/2014, convertida na Lei
13.097/2015 no tocante ao IPI. No tocante ao ICMS a Lei Complementar Federal 87/1996
que estabelece regras gerais sobre esse tributo e o Decreto 45.490/2000, Convênio ICMS-
88/91, cláusula primeira, com alteração do Convênio ICMS-103/96 do Estado de São
Paulo que traz especificidades do ICMS sobre a incidência e não incidência tributária,
alíquotas e isenções em relação às matérias-primas virgens destinadas à fabricação de
embalagens de vidro e do caco de vidro. Procedeu-se a abordagem das alíquotas do ICMS,
que é tributo estadual, segundo a legislação do Estado de São Paulo, pela impossibilidade

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
de abordar cada ente federado. Deste modo foram apenas considerados os impostos IPI
(imposto sobre produtos industrializados) e ICMS (imposto sobre circulação de
mercadorias e serviços), desconsiderando outros tributos incidentes sobre a obtenção de
receita ou que utilizam o valor do faturamento como aspecto quantitativo do tributo, o
que conduziria a um campo de incertezas quanto a tributação da embalagem de vidro e
seus insumos.
Foram elaborados formulários direcionados a fabricantes de embalagens de vidro,
fabricantes de bebidas e entrevistas perante cooperativa de reciclagem e depósito de
sucata.
Visando propor cenários econômicos de aplicação da Contribuição de Intervenção
no Domínio Econômico (CIDE) como instrumento econômico para fomentar a reinserção
do vidro reciclado na cadeia produtiva para fabricação de embalagens de vidro para
envase de bebidas, calculada nos princípios do poluidor- pagador e protetor recebedor
adotou-se a economia no consumo de energia no processo de reciclagem como valoração
do custo de produção para a simulação das alíquotas da CIDE como tributo ambiental.
Considerando a inexistência de limite técnico para a aplicação do vidro reciclado
e os ditames do princípio do não confisco tributário, a propositura dos cenários tomou em
consideração alíquotas entre 0% a 20%, de acordo com o percentual de aplicação de vidro
reciclado, estabelecendo-se faixas com variação de 2% a cada 10% de caco de vidro como
critério para aplicação da alíquota. A aplicação de vidro reciclado em patamar superior a
90% implica em isenção do encargo.

4. Resultados e discussão

Constatou-se a partir de pesquisa da legislação que os insumos sofrem a incidência


de ICMS, dentre os quais se enquadram o caco de vidro e as matérias-primas virgens
(areia sílica, barrilha, feldspato e calcário), verificando-se que a alíquota do ICMS em
relação às matérias-primas virgens acima é de 12% em geral, frente à alíquota de 18%
sobre o caco de vidro, o que reflete distorção do sistema tributário no sentido de gerar
desestímulo da reciclagem. Tomando em consideração nominalmente a tributação
incidente, verifica-se o desajuste em relação aos princípios do poluidor- pagador e
protetor-recebedor. No tocante ao IPI, a distorção apontada também prevalece ao ponto
que as embalagens, independentemente do emprego de vidro reciclado, tem incidência da
alíquota de 15%. Os quadros 1 e 2 reproduzem a incidência de IPI e ICMS.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
QUADRO 1: Incidência de tributos ao longo da cadeia de fabricação de embalagens de vidro
com matérias-primas virgens.

Matérias-primas Embalagens de
virgens bebidas
IPI - 0% • IPI - 15%
ICMS - 12% • ICMS - 18%

Total de tributos
IPI + ICMS

• 45%

Fonte: O autor.

QUADRO 2: Incidência de tributos ao longo da cadeia de fabricação de embalagens de vidro


através da reciclagem.

Vidro Reciclado Embalagens de


bebidas
IPI - 0% IPI - 15%
ICMS - 18% ICMS - 18%

Total de tributos
IPI + ICMS

• 51%

Fonte: O Autor.

Nos termos do Quadro 3, realiza-se a propositura de cenários de acordo com o


percentual de vidro reciclado aplicado no processo de fabricação de embalagens de vidro
destinadas ao envase de bebidas, considerando faixas de 10% de caco de vidro
incorporado com exata correlação à alíquota aplicada da Contribuição de Intervenção no
Domínio Econômico como tributo ambiental, implicando a incorporação superior a 90%
em isenção do encargo.
O resultado da escolha pelo processo produtivo com maior impacto ambiental
implicaria na aplicação da alíquota de 20% da CIDE e na elevação do valor do vasilhame

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
novo de R$ 1,50 para R$ 1,80. Por outro lado, a adoção do processo produtivo de menor
impacto ambiental manteria inalterado o preço do vasilhame em R$ 1,50.
Considerando o atual patamar de reciclagem de 47%, a aplicação da tributação
ambiental incidente para o fabricante que agir nestes termos implicará numa alíquota da
CIDE de 10% e no custo de R$ 0,15 por vasilhame, elevando o seu preço para R$ 1,65.
Projetando a aplicação do vidro reciclado no percentual de 60%, a alíquota da CIDE seria
de 8% e haveria o acréscimo de R$ 0,12 por embalagem, e seu valor final de R$ 1,62.
A previsão de alíquotas progressivas de acordo com o percentual de aplicação do
caco de vidro implica na aplicação da tributação ambiental segundo o arbítrio do
contribuinte, atendendo aos princípios tributários e os princípios do poluidor-pagador e
protetor recebedor, ou seja, sofrerá a tributação de acordo com processo produtivo eleito
quanto a aplicação do vidro reciclado, conforme Quadro 3.

QUADRO 3: Proposição de alíquotas da CIDE como tributo ambiental:

Embalagens IPI ICMS Valor Caco de Vidro Alíquota Encarg Valor


de vidro de o em final R$
bebidas R$
Embalagem 15% 18% 1,50 0% 20% 0,30 1,80
Nova
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 0% 18% 0,27 1,77
Nova a 10%
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 10% 16% 0,24 1,74
Nova a 20%
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 20% 14% 0,21 1,71
Nova a 30%
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 30% 12% 0,18 1,68
Nova a 40%
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 40% 10% 0,15 1,65
Nova a 50%
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 50% 8% 0,12 1,62
Nova a 60%
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 60% 6% 0,09 1,59
Nova a 70%
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 70% 4% 0,06 1,56
Nova a 80%
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 80% 2% 0,03 1,53
Nova a 90%
Embalagem 15% 18% 1,50 Acima de 90% 0% 0 1,50
Nova
Fonte: O autor.

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5. Conclusões

Com base nos dados obtidos no capítulo dos resultados as seguintes conclusões
foram obtidas:
A análise da carga tributária aplicada aos processos de fabricação e reciclagem de
embalagens de vidro utilizadas para o envase de bebidas evidenciou a existência de
distorção dos princípios do poluidor pagador e protetor-recebedor. O processo de
fabricação com aplicação do vidro reciclado tem a incidência de 51% de tributos sobre os
insumos e produto final. Já processo produtivo exclusivamente ou com predominância de
aplicação de recursos naturais a tributação é 45%. Ressalta-se que se tratam de valores
nominais e absolutos, sem a aplicação do princípio da não cumulatividade do ICMS
justificada pela inexistência de abordagem das fases de circulação dos insumos e
embalagens.
Nos cenários propostos, optando o agente econômico pelo processo produtivo
com maior impacto ambiental implicaria na aplicação da alíquota máxima de 20% da
CIDE e consequente elevação do valor do vasilhame novo de R$ 1,50 para R$ 1,80. Por
outro lado, a adoção do processo produtivo de menor impacto ambiental manteria
inalterado o preço do vasilhame em R$ 1,50.
A instituição da tributação ambiental ao tempo que desonera a atividade geradora
de menor impacto ambiental onera a atividade mais impactante e assegura ao Estado a
obtenção de recursos financeiros aptos a investimentos para incentivos da reciclagem e
reutilização, contribuindo para o custeio da implantação de outros instrumentos
econômicos, especialmente o depósito-reembolso a ser implantado de forma
complementar à tributação ambiental e incentivos fiscais e creditícios à reciclagem.

Referências

ABIVIDRO. Disponível em: http://www.abividro.org.br. Acesso em: 16/10/2017.


ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário esquematizado. 3. Rio de Janeiro.
Forense. São Paulo. Método. 2011.
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 16ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2010
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tecnica/id/6/vidro. Acesso em: 26/06/2017.
CESAR, Ana Paula; PAULA, Débora Almeida; KROM, Valdevino. A importância da
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Retornável e Descartável. In: COLTRO, leda. Avaliação do Ciclo de Vida como
Instrumento de Gestão. CETEA/ITAL - ISBN 978-85-7029-083-0 (on-line) Vol. 1.
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MILARÉ, Edis. Direito do Meio Ambiente. 2ª. ed. São Paulo: Revistas dos Tribunais,
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MONTERO, Carlos Eduardo Peralta. Extrafiscalidade e meio ambiente: O tributo
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Rio de Janeiro, 2011. Disponível em
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SABBAG, Eduardo. Manual de direito tributário. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
SOUZA FILHO, Vano Sérvio Reis de. Tributação ambiental: a possibilidade da
cobrança de tributos visando à defesa do meio ambiente. Revista Tributária e de
Finanças Públicas, São Paulo: Revista dos Tribunais, v.20, n.103, p. 321-346, mar./abr.
2012.

305
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

INTEGRAÇÃO ENTRE AS FERRAMENTAS DE GESTÃO


AMBIENTAL: AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA E A
AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL

Gomes, Giovana M.1; Bernardi, Yara R.2

Ometto, Aldo, R.3


1
Mestrado em Engenharia de Produção – EESC – USP ,giovana.gomes@usp.br
2
Mestrado em Ciências da Engenharia Ambiental – EESC –
USP,yara_bernardi@usp.br
3
Orientador, Professor Associado do Departamento de Engenharia de Produção –
EESC – USP

Resumo: A integração do instrumento de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e da


técnica de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) conduz um novo contexto de gestão
ambiental pública no Brasil. O presente artigo tem por objetivo elencar potências de
convergência e divergência entre os dois instrumentos, identificando assim como os
setores público e privado podem usufruir de ambos para o aperfeiçoamento da tomada de
decisão que apoie a melhoria das condições ambientais. Para tal, foi construída uma
matriz de comparação entre os princípios, objetivos e fases da AIA e da ACV, utilizando
critérios que indicam possível integração, lacuna ou segregação dos elementos analisados.
De forma geral, os potenciais de convergência nas três matrizes elaboradas foram
expressivos, no entanto, alguns tópicos relativos aos princípios dos dois instrumentos
receberam ressalvas quanto a sua integração, enquanto que nenhum potencial de
divergência foi apontado para os objetivos e fases da AIA e ACV. Percebe-se, portanto,
grande potencial de convergência dos dois instrumentos, principalmente no âmbito de
ampliação do escopo da AIA, através da avaliação de impactos ambientais que
extrapolam os limites geográficos do empreendimento, auxiliando a atividade de
licenciamento e subsidiando recomendações viáveis a todo o ciclo de vida do produto ou
processo em questão.
Palavras-chave: Avaliação de Impacto Ambiental. Avaliação do Ciclo de Vida. Gestão
Ambiental.

1. Introdução

Questões relacionadas ao meio ambiente vêm ganhando destaque no cenário


nacional e internacional e países do mundo todo estão cada vez mais preocupados com as
consequências no meio ambiente de suas atividades de desenvolvimento, tanto no setor
privado quanto no público. E, a fim de reduzir os impactos causados pelas atividades
antrópicas, foram desenvolvidos diversos mecanismos de gestão do meio ambiente.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A gestão ambiental pode ser entendida como o gerenciamento dos recursos
naturais a fim de conservá-los e preservá-los para que as gerações futuras possam
desfrutá-los de acordo com suas necessidades (FLORIANO, 2007), podendo ocorrer em
duas esferas distintas: a pública e a privada.
A gestão ambiental pública tem como objetivo orientar a resolução de conflitos
sociais relacionados às questões ambientais, enquanto que a gestão ambiental empresarial
pretende prevenir a degradação do meio ambiente com as necessidades socioeconômicas
(SANCHES, 2011). A gestão ambiental privada ou empresarial visa melhorar o
desempenho ambiental da organização, conciliando os anseios da sociedade juntamente
com os da empresa (FLORIANO, 2007). Apesar desta última ser de caráter voluntário,
ela é impulsionada, em muitos casos, por pressões externas, da sociedade, do setor
público, de seus clientes e até do próprio setor privado.
O Poder Público, direcionado através de uma política ambiental, promove a
gestão ambiental em seu âmbito de atuação, apoiada em diretrizes, princípios e
instrumentos para se atingir seus objetivos.
As primeiras ações governamentais em relação aos problemas naturais eram de
caráter corretivo, sendo consideradas pouco eficazes, e somente a partir da década de
1970, começaram a surgir iniciativas de prevenção dos impactos ambientais (SANCHES,
2011).
No ano de 1969, nos Estados Unidos, foi criada a política ambiental americana, a
National Environmental Policy Act (NEPA), na qual o termo “impacto ao meio ambiente”
foi introduzido na dinâmica das atividades (SANTOS, 2004). A partir de então, outros
países aderiram a esta ideia, começando a desenvolver um pensamento voltado ao cuidado
com o meio ambiente. Neste contexto, a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) surgiu
como um processo sistemático para a avaliação dos impactos ambientais de projetos
(SANTOS, 2004), vinculado ao setor público
No Brasil, no ano de 1981, a AIA foi instituída como um dos treze instrumentos
da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938), e posteriormente
regulamentada pela Resolução Conama nº 01 de 1986, estabelecendo sua necessidade e
aplicação no território nacional. Desta forma, ela tornou-se um instrumento obrigatório,
sendo aplicada na prática em conjunto com o licenciamento ambiental para a obtenção de
licenças pelas atividades e empreendimentos. Assim sendo, a política ambiental brasileira
torna-se uma ferramenta de ação para a gestão ambiental pública.

307
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Jay et al. (2007) definem a AIA como sendo um processo sistemático que
considera prováveis impactos antes de uma decisão ser tomada e, por isso, é considerada
uma ferramenta de gestão ambiental antecipatória e participativa. Complementando,
Sánchez (2008) define o processo de avaliação de impacto ambiental como um conjunto
de atividades e procedimentos sequenciais, com a finalidade de considerar os impactos
ambientais de maneira prévia à tomada de decisão potencial de causar significativa
degradação ao meio ambiente, ou seja, é voltado para a análise da viabilidade ambiental
de uma proposta.
A International Association for Impact Assessment (IAIA), entidade que
representa referência sobre o tema a nível mundial, com a elaboração de relatórios e
documentos técnicos, definiu uma série de princípios das melhores práticas que se
aplicam como um pacote único a todos os estágios da AIA. De acordo com os princípios
estabelecidos por ela, a AIA deve ser: útil, rigorosa, prática, relevante, custo-eficaz,
eficiente, focalizada, adaptativa, participativa, interdisciplinar, credível, integrada,
transparente e sistemática (IAIA, 1999).
Além dos instrumentos obrigatórios estabelecidos em lei para a manutenção da
qualidade do meio ambiente, existem aqueles que são empregados de maneira voluntária,
elaborado por entidades credenciadas, como a Organização Internacional de
Normalização (ISO). No Brasil, esta organização está representada pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas, a ABNT. As normas da Série ISO 14000 padronizam a
implantação da gestão ambiental, especificando normas técnicas, as quais criam
mecanismos que contribuem para o cuidado com meio ambiente, guiando o investimento
das organizações na melhoria contínua do seu desempenho ambiental, porém destaca-se
o seu caráter voluntário (SANCHES, 2011). Duas destas normas da série ISO estão
relacionadas à implantação da ACV, sendo elas as normas ABNT NBR ISO 14.040 e
14.044, que apresentam os princípios, estrutura, requisitos e orientações a respeito da
Avaliação do Ciclo de Vida, devendo ser utilizadas em conjunto.
Enquanto a AIA trata de analisar os impactos ambientais relacionados à
concepção, instalação, operação e desativação de projetos, sendo obrigatória para
empreendimentos potencialmente causadores de significativa degradação ambiental e
parte da gestão ambiental pública, a ACV investiga aqueles impactos ambientais
relacionados ao ciclo de vida de um produto, não é obrigatória e faz parte da gestão
ambiental empresarial (SANCHES, 2011).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
De acordo com Seo e Kulay (2006), o ciclo de vida de um produto “pode ser
entendido como o conjunto de etapas necessárias para que um produto cumpra sua função,
compreendido desde a obtenção dos recursos naturais até a sua disposição final, após ter
se esgotado o cumprimento da função”.
A NBR ISO 14040, como orientadora para o conhecimento e aplicação de uma
ACV no território brasileiro, a define como “compilação e avaliação das entradas, saídas
e dos impactos ambientais potenciais de um sistema de produto ao longo de seu ciclo de
vida” (ABNT, 2009).
A ACV é uma ferramenta de cunho sistêmico, importante para mapear as fases do
processo de produção, apresentando novos conhecimentos, que auxilia no processo
gerencial de uma tomada de decisão mais informada (ABNT, 2009b; SEO; KULAY,
2006; MACHADO; CAVENAGHI, 2009).
A literatura sobre a AIA e ACV é extensa, porém, pouco se estuda a respeito da
interação entre ambas as ferramentas de avaliação de impactos.
Tomando esta lacuna como base, o presente artigo pretende analisar a
possibilidade de integração entre a Avaliação de Impacto Ambiental e a Avaliação do
Ciclo de Vida, de forma a verificar possível contribuição da ACV para a AIA. Foram
identificadas as convergências e divergências por meio da comparação entre seus
princípios, objetivos e fases, estabelecidos para a AIA pela IAIA e para ACV pelas
normas NBR ISO 14.040 e 14.044.

2. Metodologia

A metodologia do presente artigo foi adaptada de Sanches (2011) e para tal foi
utilizada uma matriz de comparação entre os princípios, objetivos e fases da Avaliação
de Impacto Ambiental (AIA) e da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), apresentada nos
quadros 1, 2 e 3.
A referência para o conteúdo da AIA foi o documento orientador sobre as
melhores práticas da AIA, da International Association for Impact Assessment (IAIA,
1999), enquanto que a referência para a ACV foi a Norma Brasileira ABNT NBR ISO
14040:2009 (ABNT, 2009), que estabelece os princípios e a estrutura da ACV.
Em uma primeira etapa, a matriz foi preenchida separadamente pelos autores do
artigo e, posteriormente, os resultados foram comparados e as divergências foram
debatidas, até que se obtivesse um consenso, de forma a minimizar a subjetividade
inerente ao método.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Os critérios para comparação foram adaptados de Sanches (2011), ou seja:
● (Verde) Potencial de Convergência: quando os princípios, objetivos ou fases
estão diretamente relacionados ou quando as lacunas existentes na AIA podem ser
preenchidas com a execução da ACV.
● (Vermelho) Potencial de Divergência: quando os princípios, objetivos ou fases
são opostos, ou não se visualiza integração.
● (Branca) Não há relação entre os instrumentos.
A seguir são apresentados os resultados e discutidos os pontos de divergência e
convergência entre os instrumentos.

2. Resultados e Discussão

A possível integração entre a AIA e ACV orienta a execução do trabalho, a título


de exemplo, tem-se que a AIA no licenciamento ambiental de uma fábrica de cervejas
certamente não avalia, por exemplo, os impactos ambientais relacionados ao consumo
energético da mesma, as alternativas de matérias primas e demais opções de processos
produtivos e tecnologias, e a disposição final, após o consumo, das embalagens de
cerveja. Ao passo que, a realização de uma ACV poderia propiciar a avaliação, ainda na
etapa de licenciamento prévio, do processo produtivo de menor impacto, em relação aos
recursos utilizados e resíduos sólidos gerados pelo consumo dos produtos, e recomendar,
por exemplo, uma escolha entre dois ou mais materiais para embalagem do produto.
Recomendações desta natureza poderiam subsidiar a decisão da viabilidade ambiental
pela melhor alternativa tecnológica, o que propicia melhoria nas condições ambientais
(OMETTO; FILHO; SOUZA, 2006).
Os resultados são apresentados nos quadros 1, 2 e 3, para comparação entre os
princípios, objetivos e fases da AIA e ACV, respectivamente. Da análise do Quadro 1,
referente aos princípios, pode-se perceber um alto potencial de convergência (24 células
verdes) e quatro células vermelhas indicando divergências, sendo discutidos abaixo os
principais resultados obtidos.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Quadro 1 - Matriz comparativa de Princípios.

Fonte: Elaborado pelos Autores e Adaptado de Sanches (2011).

Interdisciplinar e Integrada (AIA) x Foco Ambiental (ACV): A ACV tem como


objetivo avaliar os impactos ambientais de um processo ou sistema de produto, não
considerando, em seu escopo, as questões sociais e econômicas (ABNT, 2009). Já a AIA
contempla outros elementos, tendo por princípio a consideração de aspectos biofísicos e
socioeconômicos, inclusive do conhecimento tradicional (IAIA, 1999). Neste contexto, é
necessário estudar como a integração dos instrumentos pode ser realizada sem que
comprometa os objetivos e aspectos legais e técnicos da AIA e ACV..
Participativa (AIA) x Transparência (ACV): Ambos os instrumentos são
direcionados para tomada de decisão, porém a AIA tem como princípio a transparência
das informações produzidas para propiciar a participação dos grupos afetados com a
tomada de decisão e quaisquer cidadãos que tenham interesse em opinar (IAIA, 1999). Já
a transparência da ACV está relacionada com a indicação das limitações do método, a
fim de assegurar uma adequada interpretação dos resultados (ABNT, 2009), já que a
divulgação de dados para o público externo, no caso da ACV, envolve questões de
desenvolvimento de produtos e competitividade. Caso haja integração prática entre os
instrumentos, é preciso que as exigências legais da AIA sejam atendidas, de forma que a
ACV propicie informações suficientes para assegurar a participação do público afetado
em sua elaboração e interpretação dos resultados.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Custo efetiva e Focada (AIA) x Completeza (ACV): A AIA deve ser conduzida
dentro dos limites disponíveis de informação, tempo, recursos e metodologia e focar em
efeitos ambientais significativos decorrentes da tomada de decisão (IAIA, 1999). Já a
ACV considera todos os atributos do ambiente, da saúde humana e dos recursos (ABNT,
2009). A exaustão dos temas para o estudo pode tornar o processo inefetivo
transativamente, ou seja, trará uma alta demanda de tempo para execução, o que pode
prejudicar o timing para a tomada de decisão.
O Quadro 2 apresenta a comparação entre os objetivos declarados para ambos os
instrumentos, sendo que no caso da ACV estes objetivos são exemplos gerais, mesmo
assim pertinentes, já que a definição dos objetivos é uma das fases dessa técnica. Nota-se
a que não foram identificadas potenciais divergências entre ambas. Destaca-se que apesar
da AIA não declarar formalmente como objetivo o marketing, é inerente a necessidade
de divulgação dos projetos e das avaliações em pauta para tomada de decisão.
Quadro 2 - Matriz comparativa de Objetivos.

Fonte: Elaborado pelos Autores e Adaptado de Sanches (2011).

Assim como o quadro anterior, o Quadro 3, que apresenta a análise comparativa


das fases dos instrumentos, não apresentou pontos de divergência. Ao contrário, como
ambos são instrumentos de avaliação prévia, possuem estrutura semelhante e grande

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
potencial de alinhamento na prática, ainda, a fase de acompanhamento da AIA tem
potencial de retroalimentar a ACV quanto à identificação de questões chave não previstas
na avaliação, o que ampliaria o conceito de iteratividade da ACV.
Apesar disto, levando-se em consideração o monitoramento de ambos
instrumentos, a AIA caracteriza-se por ser um processo antecipatório, podendo o
monitoramento das previsões ser realizado após o estabelecimento do projeto, enquanto
que a ACV se caracteriza por ser um processo reativo, sendo as previsões feitas baseadas
nos dados monitorados (SÁNCHEZ, 2008).

Quadro 3 - Matriz comparativa de Fases.

Fonte: Elaborado pelos Autores e Adaptado de Sanches (2011).

A realização das comparações dos quadros 1, 2 e 3 atestam o cerne da


possibilidade de integração de ambos instrumentos, a identificação de impactos
ambientais, sendo a AIA focada na concepção, instalação, operação do empreendimento
e a ACV no ciclo de vida do processo/produto, afirmando o que Sanches (2011) também
concluiu, que ambos os instrumentos buscam identificar os aspectos e impactos
significativos potenciais, utilizando-se de indicadores quantitativos.
Em relação aos princípios dos instrumentos analisados, nota-se uma divergência
de apenas 5% entre eles, podendo ser aplicados conjuntamente para incitar a melhoria das
condições ambientais.
Diante do exposto, a longo prazo, a inclusão da Avaliação do Ciclo de Vida no

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
quadro legislativo brasileiro se daria por meio da sua inserção no processo de
licenciamento ambiental, assim como se dá atualmente com a aplicação da Avaliação de
Impacto Ambiental, incorporando todas as atividades do ciclo de vida de um
empreendimento, inclusive o ciclo de vida dos produtos oriundos desta empresa,
promovendo uma mudança no escopo do licenciamento das atividades (OMETTO;
FILHO; SOUZA, 2006).

4. Conclusão

O presente artigo buscou identificar a potencialidade de integração na execução


da AIA e da ACV. Da análise dos quadros foi possível perceber o alto potencial de
convergência dos instrumentos e os pontos de divergência foram destacados, descritos e
recomendadas formas de superá-los.
A ACV tem grande potencial de ampliação do escopo da AIA pela introdução da
avaliação dos impactos dos produtos/processos extramuros das empresas (SANCHES,
2011), de modo a auxiliar a tomada de decisão sobre o licenciamento da atividade com a
abordagem de ciclo de vida dos processos, o que pode propiciar melhoria da qualidade
ambiental (OMETTO; FILHO; SOUZA, 2006). Por fim, a integração da ACV e da AIA
pode ser uma forma de política de comando e controle para exigência de processos
produtivos circulares, menos poluentes e/ou com menor consumo de recursos naturais.

Referências

ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS) NBR ISO 14040 –


Gestão ambiental - avaliação do ciclo de vida: princípios e estrutura. Rio de
Janeiro. 2009 a.

ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS) NBR ISO 14044 –


Gestão ambiental - avaliação do ciclo de vida: requisitos e orientações. Rio de
Janeiro. 2009 b.

FLORIANO, E.P. Políticas de Gestão Ambiental. 3ª Ed. Revisada. Departamento de


Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria: Santa Maria, Rio Grande do
Sul, 2007.

INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR IMPACT ASSESSMENT (IAIA).Principles


of environmental impact assessment best practice. Fargo: IAIA, Special Publication

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
v.1, 1999. Disponível em: <http://www.iaia.org/uploads/pdf/principlesEA_1.pdf>.
Acesso em: 25 out.2017.

JAY, S. et al. Environmental impact assessment: Retrospect and prospect.


Environmental Impact Assessment Review, v. 27, n. 4, p. 287–300, 2007.

MACHADO, C. G.; CAVENAGHI, V. Use of life cycle assessment in sustainable


manufacturing: review of literature, analysis and trends. In: POMS 20TH ANNUAL
CONFERENCE, 20., 2009, Orlando, Florida U.s.a. Anais... . Orlando, 2009. p. 12 - 13.

OMETTO, A. R.; FILHO, A. G.; SOUZA, M. P. Implementation of life cycle thinking


in Brazil’s Environmental Policy. Environmental Science & Policy, v. 9, n. 6, p. 587–
592, 1 out. 2006.

SANCHES, R. A avaliação de impacto ambiental e as normas de gestão ambiental


da série ISO 14000: características técnicas, comparações e subsídios à integração.
2011. Dissertação (Mestrado em Ciências da Engenharia Ambiental) - Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.
doi:10.11606/D.18.2011.tde-25042011-103032. Acesso em: 2017-10-25.

SÁNCHEZ, L.E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo:


Oficina de Textos, 2008. 495p.

SANTOS, R. F. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Ed. Oficina de


Textos. 2004.

SEO, E.S.M.; KULAY, L.A. Avaliação do Ciclo de Vida: ferramenta gerencial para a
tomada de decisão. Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio
Ambiente. v.1, n.1, ago. 2006.

315
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISE DO PERFIL DOS ALUNOS DO CURSO DE


BACHARELADO EM GESTÃO E ANÁLISE AMBIENTAL DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

Silva, Wesley R. N. 1; Gonçalves, Juliano C. 2; Souza, Bianca F. 3; Ferreira, Larissa 3;


Landgraf, Mateus L. 3; Barbosa, Priscila. C. 3; Madio, Lucas 3; Ribas, Luiz C. P. S. 3;
Santos, Bruna F. 3; Rego, Maysa, R. 3; Silva, Karielle F. 3; Brandão, Mayna F. S. 3;
Costa, Bruno A. N. N. 3, Assis, Letícia C. 3; Batista, Vinícius R. 3
1
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências Ambientais, grupo
PET Ambiental, e-mail: wesley.rafael.ns@hotmail.com
2
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências Ambientais, grupo
PET Ambiental, e-mail: juliano@ufscar.br.
3
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências Ambientais, grupo
PET Ambiental

Resumo: O curso de bacharelado em Gestão e Análise Ambiental foi criado em resposta


a demanda por profissionais na área ambiental que apresentem uma visão multidisciplinar
e capaz de propor soluções aos desafios socioambientais encontrados em diversos
contextos. Dessa forma, o intuito do trabalho é descrever e analisar o perfil acadêmico
dos alunos graduandos do curso de Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental, da
Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, campus São Carlos. Foram realizadas
pesquisas bibliográficas, documental (estudo do Projeto Pedagógico do curso) e de campo
(observação não estruturada e a utilização de questionário). Foi observado o aumento dos
alunos ao longo dos anos que escolheram a Gestão e Análise Ambiental como primeira
opção de curso e o conhecimento do Projeto Pedagógico antes de ingressar, assim como
as características da área ambiental e multidisciplinaridade como fatores que despertam
o interesse. O meio de divulgação que demonstrou-se mais eficiente foram as mídias
digitais e a indicação por amigos. Os alunos apresentaram que a demanda do esforço em
relação ao curso é grande. A participação em atividades extracurriculares é alta. Destaca-
se uma heterogeneidade das turmas quanto a identidade por núcleos disciplinares, porém
resultados semelhantes no interesse em buscar um emprego na área ou fazer
mestrado/doutorado após formados. Profissionais interessados em atuar, tanto no
mercado de trabalho quanto com o desenvolvimento de pesquisas, são de suma
importância para a resolução de problemas na área socioambiental, ainda mais que
tenham o comprometimento com a conservação ambiental e a melhoria da qualidade de
vida.
Palavras-chave: Perfil Acadêmico; Análise Alunos Graduandos; Curso de Gestão e
Análise Ambiental.

1. Introdução

Nos últimos anos as questões ambientais tornaram-se cada vez mais evidentes,
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
principalmente em razão dos problemas enfrentados pela sociedade, como: a escassez de
água, desmatamento, mudança climática, extinção de espécies, entre outros. Desta forma,
passou a ser reconhecida a importância de estudos ambientais, que viabilizem a redução
de impactos decorrentes de atividades antrópicas e surge a necessidade de formar
profissionais capazes de articular todas as dimensões da área ambiental (ALMEIDA Jr,
2007; DA SILVA, 2017).
O curso de Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental (GAAm) foi criado em
resposta a demanda por profissionais na área, iniciando suas atividades em 2009, com os
primeiros egressos formados em 2012. Este ano o curso GAAm completa dez anos. Trata-
se de um momento de reflexão do curso sobre si mesmo e sobre a atuação dos egressos
no mercado de trabalho.
Segundo Imasato et al.(2017), a análise do perfil de acadêmicos, é abordado de
maneira escassa, apesar de ser muito relevante para aperfeiçoar o desempenho acadêmico.
As informações sobre o tema são pouco conhecidas e estudadas nas diversas áreas
acadêmicas.
Partindo da necessidade de reflexão sobre si mesmo, o curso de GAAm está, neste
momento, estudando uma mudança na matriz curricular. Colaborando com este esforço,
este artigo tem o objetivo de descrever e analisar o perfil acadêmico dos alunos do curso.
O perfil acadêmico dos alunos é analisado a partir do entendimento das
motivações para ingresso no curso, conhecimento, por parte dos alunos, da matriz
curricular, dificuldades enfrentadas no curso e a identificação dos alunos com os
diferentes núcleos disciplinares abordados no curso.

2. O curso de Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental e o perfil acadêmico de


seus alunos

Com início em 2009, o curso GAAm possui uma carga horária de 3180 horas, ou
seja 208 créditos em disciplinas (cada crédito é o equivalente a 15 horas aula) e 60 horas
em atividades complementares (que são atividades consideradas relevantes para a
formação dos alunos, como cursos, participação em pesquisa, extensão, eventos
científicos e técnicos, entre outros). O curso é integral e tem duração de 8 semestres. A
tabela 1, apresenta a carga horária do curso de GAAm.
O curso é divido em três núcleos, cada qual com um conjunto de disciplinas, que
são: núcleo básico, núcleo de análise ambiental e núcleo de gestão ambiental. Além destes
núcleos existem os projetos interdisciplinares, que são obrigatórios e abordam os

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
conhecimentos adquiridos ao longo do curso e também dialogam com as disciplinas
estudadas nos semestres em que são oferecidos. São 6 disciplinas de projetos
interdisciplinares e 2 disciplinas de formação específica em que os alunos optam por
estágio ou monografia (ou podem fazer um semestre de monografia e um semestre de
estágio e vice-versa). A figura 1 apresenta os núcleos de disciplinas e os projetos
interdisciplinares.

TABELA 1 – Carga horária do Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental por tipo de


atividade
Atividade Créditos Carga Horária
Disciplinas Obrigatórias 196 2940
Disciplinas Optativas 12 180
Atividades Complementares − 60
Total 208 3180
Fonte: elaborado pelos autores.

FIGURA 1 – Articulação entre os núcleos disciplinares do Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental.


Fonte: UFSCAR (2011).

De acordo com informações coletadas no Departamento de Ciências Ambientais


(DCAm), atualmente há 175 alunos cursando GAAm e 160 alunos formados, conforme
pode ser observado na tabela 2, abaixo. Desde 2012 o curso forma acima de 23 alunos
por ano, com pico em 2014 quando 38 alunos se formaram.

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TABELA 2 – Alunos cursando e formados do Bach. em Gestão e Análise Ambiental, por turma, de 2009
a 2018 (situação de 16/04/2018)
Turma Cursando Ano de Formatura Total de alunos Total
(a) formados (a + b + c +
d + e +f+g)
2012 2013 2014 2015 2016 201
(b) (c) (d) (e) (f) 7
(g)
2009 0 23 11 1 1 1 37 37
2010 1 13 15 5 2 35 36
2011 0 22 9 3 34 34
2012 7 11 8 1 20 27
2013 4 9 15 24 28
2014 14 10 10 24
2015 36 36
2016 32 32
2017 37 37
2018 44 44
Total 175 23 24 38 26 23 26 160 335
Fonte: tabulação realizada pelos autores com auxílio da secretaria de Coordenação de Curso GAAm.

3. Metodologia

Os métodos utilizados na construção deste artigo são a pesquisa documental e


pesquisa de campo. A pesquisa documental consistiu no estudo do Projeto Pedagógico do
Curso de Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental, cuja última versão é de junho de
2011. Na pesquisa de campo, foram utilizados dois procedimentos de coleta de dados,
que são: a observação não estruturada e a utilização de questionário. O questionário foi
respondido por 96 alunos do curso de Gestão e Análise Ambiental, o que corresponde a
cerca de 60% dos alunos do curso.

3.1 A pesquisa de campo: questionário e observação

A pesquisa de campo foi realizada no segundo semestre de 2017. Os alunos foram


entrevistados em sala de aula, com autopreenchimento dos questionários.
O questionário foi construído a partir de um conjunto de variáveis que se
transformaram em perguntas. O quadro 1 apresenta as variáveis constitutivas dos
questionários aplicados.
QUADRO 1 - Variáveis do perfil acadêmico do curso de GAAm
Variáveis Pergunta
Opção de curso universitário O Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental foi sua primeira opção
de curso universitário?
Interesse pelo curso O que mais despertou seu interesse no curso?

Conhecimento prévio do curso Você procurou conhecer ou analisou a grade do curso/ projeto

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pedagógico antes de ingressar na UFSCar?
Esforço no curso Para você quanto esforço o curso demanda?
Participação em atividades Você participa ou participou de atividades extracurriculares?
extracurriculares
Identificação com um núcleo Dentre os núcleos disciplinares, qual das opções você mais se
disciplinar do curso identificou?
Sugestões para melhoria do Na sua concepção, quais temáticas, disciplinas seriam importantes serem
curso acrescentadas na grade curricular do curso?
Área de interesse para atuação Quais são suas áreas de interesse para atuação?
profissional
Atividade quando se tornar Após formado(a) no curso de GAAm, o que você irá fazer?
egresso do curso
Fonte: elaborado pelos autores.

A observação não estruturada foi utilizada para coletar impressões dos alunos
sobre o curso e sobre a carreira de Gestor e Analista Ambiental. A partir da observação é
possível coletar informações que permitam agregar elementos na interpretação dos dados
do questionário. Cada variável, dentre as apresentadas acima, permitiu elaborar o perfil
acadêmico do aluno de GAAm. Os resultados obtidos com os questionários serão
apresentados na próxima seção podendo, para algumas questões, ser organizados de tal
forma que seja possível detectar a frequência a qual as respostas aparecem em função do
ano de ingresso do aluno.

4. Resultados

4.1 O perfil acadêmico dos alunos do curso de GAAm

Inicialmente foi verificado que para os anos de 2013, 2015 e 2016 o curso de
Gestão e Análise Ambiental (GAAm) não foi a primeira opção, entretanto a diferença
para os alunos que escolheram o curso como primeira opção nesses respectivos anos tem
uma diferença aproximada 2% menor. Para os de 2012, 2014 e 2017 os resultados são
contrários, pois a maioria dos alunos que ingressaram nesses anos a primeira escolha foi
GAAm, tendo uma diferença notável nos anos de 2014 e 2017 (Figura 2).
Complementarmente, os alunos ficaram sabendo da existência do curso principalmente
por divulgação que eles receberam de amigos e a influência das mídias digitais compõe
praticamente 80% das respostas dadas.

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Figura 2 - Questionamento se o Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental foi sua primeira


opção de curso universitário

Os fatores que despertaram interesse pelo curso (Figura 3), estão relacionados
inicialmente com o interesse pela área ambiental, o qual é o tema de maior recorrência
para as turmas a partir de 2014. Cabe dizer que a multidisciplinaridade do curso também
exerceu considerável força motivadora para os ingressantes, principalmente nas turmas
de 2012 e 2013.

FIGURA 3: O que mais despertou seu interesse no curso?

Na Figura 4 observamos que grande parte dos alunos que responderam o


questionário procurou conhecer a grade do curso/projeto pedagógico antes do ingresso.
Pode-se se dizer que entre os alunos que não analisaram a grade curricular/projeto

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pedagógico antes do ingresso há uma homogeneidade nas turmas, visto que apresentam
valores pequenos, em média 4% sendo a turma de 2017 a com maior índice, de 6%. Já os
alunos que conheceram a grade antes do ingresso representam cerca de 75% do total de
alunos, o que podemos considerar que a maioria buscou mais informações previamente
ao ingresso.

FIGURA 4 - Você procurou conhecer ou analisou a grade do curso/projeto pedagógico antes de


ingressar na UFSCar?

É constatável que a grande maioria dos alunos da GAAm demanda um esforço


relativamente alto de seu tempo para o cumprimento das atividades acadêmicas (Figura
5), tratando-se dos anos de 2012, 2014, 2015 e 2016 a grande maioria responderam que
GAAm demanda um grande esforço e para os demais a grande maioria optaram por um
médio esforço.

FIGURA 5 - Para você, quanto esforço o curso demanda?

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Observa-se a partir da Figura 6 que os alunos do curso apresentam uma grande
participação em atividades extracurriculares, visto que 83% dos alunos responderam que
já participou ou participa. Nota-se variações de preferências das atividades
extracurriculares em relação aos anos de ingresso, porém é possível destacar a maior
participação, em termos gerais, em projetos de extensão, organização de eventos e
iniciação científica. Em relação à iniciação científica percebe-se um aumento da
participação nessa atividade a partir do 5º semestre do curso.

FIGURA 6 - Você participa ou participou de atividades extracurriculares?

A Figura 7 evidencia a heterogeneidade das turmas quanto a identidade por


núcleos disciplinares. A turma de 2012 apresenta poucos dados, já as turmas de 2013 e
2014 apresentam uma identidade maior com o núcleo de gestão ambiental,
respectivamente 4% e 10% do total de alunos. A turma de 2015 não revela uma

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
predominância por algum núcleo, apresentando 3% de diferença entre os núcleos
preferidos (gestão ambiental e básico) e o preterido (análise ambiental). Nas turmas de
2016 e 2017 vê-se grande identidade dos alunos pelo núcleo básico, respectivamente 11%
e 12% do total de respostas. Os alunos que não informaram o ano apresentam equilíbrio
nos núcleos preferidos.

FIGURA 7 - Dentre os núcleos disciplinares, qual das opções você mais se identificou?

O questionário abordou as áreas de interesse dos alunos para atuação profissional


e há um elevado equilíbrio entre as respostas para os anos de 2012 até 2014 com uma
pequena vantagem do Licenciamento Ambiental sobre as outras áreas (Figura 8). Na
turma de 2015, diferente dos outros anos, houve uma predominância de interesse pela
área de sensoriamento remoto enquanto o licenciamento ambiental deixou de ser o maior
interesse ficando, inclusive, atrás da atuação em Recursos Hídricos. No entanto, o
Licenciamento Ambiental voltou a ser a principal área para a turma de 2017. Vale
ressaltar que o a área de Recurso Hídricos deixou de ter baixa adesão para se tornar uma
das principais áreas para as turmas de 2015, 2016 e 2017.
Quanto ao futuro do aluno após se formar no curso de Gestão Ambiental (Figura
9), foi observado que há uma grande homogeneidade dos dados quando comparados
turma a turma. A grande maioria dos alunos que respondeu o questionário têm como
objetivo buscar emprego na área após formado, com exceção da turma de 2015, que têm
um empate entre a resposta “fazer mestrado, doutorado” e “buscar emprego na área”. No
geral pode-se elencar a resposta “fazer mestrado, doutorado” como a segunda mais
preferida entre os alunos do curso, seguida de “buscar uma especialização” e “cursar outra
graduação”.

324
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 8 - Quais são suas áreas de interesse para atuação?

FIGURA 9 - Após formado no curso de GAAm, você irá:

4. Considerações Finais

A busca pelo curso de Gestão e Análise Ambiental têm aumentado nos últimos
anos, apresentando a área ambiental e a multidisciplinaridade como características que
despertam o interesse pelo curso. Destaca-se maior visibilidade do curso nas mídias
digitais, mostrando-se como um meio que facilita a busca pelo seu projeto pedagógico
antes do ingresso no mesmo. Os alunos consideram que o curso demanda um esforço
grande, contudo isso não é um impedimento para a participação em atividades
extracurriculares. Recomenda-se a elaboração de questionários com o intuito de
compreender quais os fatores que exijam um esforço grande ao longo do curso. Com os

325
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
problemas socioambientais tornando-se cada vez mais frequentes na sociedade, destaca-
se a importância de profissionais com uma formação multidisciplinar interessados em
atuar, tanto no mercado de trabalho quanto com o desenvolvimento de pesquisas, que
tenham o comprometimento com a conservação ambiental e a melhoria da qualidade de
vida.

Referências

ALMEIDA Jr, A. R. Gestor ambiental: profissional ou intelectual? OLAM Ciência e


Tecnologia, Rio Claro, v. 7, n. 3, p. 54-64, 2007.
DA SILVA, Heloina Oliveira Oliveira. A importância da educação ambiental no âmbito
escolar. Revista Interface (Porto Nacional), n. 12, p. 163-172, 2017.
IMASATO, T.; PERLIN, M. S.; BORENSTEIN,D. Análise do Perfil dos Acadêmicos e
de suas Publicações Científicas em Administração. Revista de Administração
Contemporânea, Curitiba, v. 21, n. 1, jan./fev. 2017. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
65552017000100062&lng=pt&tlng=pt >. Acesso em: mai. 2018.
UFSCAR. Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental. Projeto Pedagógico.
Universidade Federal de São Carlos. Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. São
Carlos/SP, 2011.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE


SOFTWARE PARA GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Felipe, B. F ¹ ; Miquelotto, B²; Benedeti,L.L1.


Moraes, C. S. B3; Antonello, S. L4.

¹ Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Câmpus de Rio Claro, da Universidade


Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho; Engenharia Ambiental;
brunaferratifelipe@gmail.com; benedeti.leticia@gmail.com
² FHO/UNIARARAS; Engenharia de Software; bruno.miquelotto.bm@gmail.com
3
Orientadora; Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento
(DEPLAN); Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE); clausbm@rc.unesp.br
4
Co-orientador; Instituto de Geociências e Ciências Exatas - Câmpus de Rio Claro, da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

Resumo: Após a instituição da Lei Federal nº 12.305/2010, Política Nacional de Resíduos


Sólidos, a questão dos resíduos sólidos no Brasil tornou-se mais presente devido à
responsabilidade compartilhada, uma gestão integrada é proposta, e instrumentos que
facilitem essa gestão são cada vez mais procurados por diversas instâncias, como o poder
público e instituições privadas. O presente projeto visou estruturar e subsidiar o
desenvolvimento do software SiGRes – Sistema de Gerenciamento de Resíduos, uma
ferramenta administrativa computacional, que possui a característica de ser adaptável a
cada situação, para que sejam sempre levados em consideração os aspectos intrínsecos à
organização e à legislação vigente, propondo-se o uso na implantação de planos e
gerenciamento de resíduos com custo reduzido, incentivando e facilitando as práticas de
gestão de resíduos de forma adequada em organizações públicas e privadas, além da
sintetização dos resultados de forma a facilitar a análise dos indicadores de desempenho
após a implantação de um sistema de gerenciamento de resíduos. O número de
publicações com relação aos resíduos sólidos vem crescendo a cada ano no mundo e no
Brasil, porém, há algumas lacunas científicas, uma delas em relação a sistemas de
informação voltados para esse gerenciamento de resíduos, evidenciando a necessidade
deste trabalho.
Palavras-chave: Resíduos Sólidos. Software. Gerenciamento.

1. Introdução

Conforme a Lei Federal nº 12.305/ 10 – Política Nacional de Resíduos Sólidos


(PNRS) -, a responsabilidade pelo resíduo deve ser compartilhada, envolvendo os
cidadãos, as empresas, as prefeituras e os governos estaduais e federal além de empresas
e demais instituições públicas e privadas. O desenvolvimento de um “Plano de
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Gerenciamento de Resíduos”, integrado ao Plano Municipal é hoje uma obrigação, e, para
a elaboração, implementação, operacionalização e monitoramento de todas as etapas do
plano de gerenciamento de resíduos sólidos, além do controle da disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos, será designado responsável técnico devidamente
habilitado. Para instituições que se preocupam com os impactos ambientais decorrentes
de suas atividades, e suas potenciais correlações com a sociedade como um todo, a
questão do gerenciamento adequado dos resíduos sólidos é essencial.
Um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos bem implementado traz para a
instituição os conceitos de sustentabilidade tão em evidência no meio empresarial, o
ambiental, o econômico e o social. Do ponto de vista ambiental, identifica os riscos à
saúde humana e ambiental, associados às atividades que compõem o manejo dos resíduos
sólidos, evita futuras penalizações ambientais em relação à disposição final e
armazenamento inadequado e também a contaminação do terreno da empresa. No âmbito
econômico, o gerenciamento eficaz de resíduos sólidos proporciona inúmeros benefícios,
uma vez que permite que os materiais recicláveis que possuam valor comercial sejam
vendidos nos mercados específicos para cada tipo de material, diminui o desperdício de
matéria prima, reduzindo os custos de produção e ainda permite que os materiais possam
ser reaproveitados em alguns processos. Assim, é possível economizar, aumentar a
qualidade e a visibilidade do produto e até gerar competitividade no mercado. Já na
questão social, há integração de diferentes esferas da sociedade, desde a geração de
emprego e renda aos trabalhadores que estão direta e indiretamente ligados às atividades
de prestação de serviços ou indústria de reciclagem até a programas de educação
ambiental, por ONGs e outras organizações que promovem a ética, o desenvolvimento
sustentável, a proteção do meio ambiente e melhoria da saúde, todos são beneficiados
pela adoção desta medida (MORAES; FONSECA, 2014).
O presente projeto buscou estruturar e desenvolver o software SGR – Sistema de
Gerenciamento de Resíduos, uma ferramenta administrativa computacional, cujo objetivo
principal é promover e facilitar algumas atividades do gerenciamento de resíduos, como
estruturar o sistema de gerenciamento conforme a PNRS - Política Nacional de Resíduos
Sólidos, passo a passo, permitindo que a administração seja realizada com maior
facilidade e eficácia, além de um maior controle e segurança dos processos
proporcionando uma visão holística do contexto mesmo com o rápido acréscimo de
informações e mudança constante no decorrer dos processos consecutivos; com um
sistema dinâmico, seguro e rápido, gerenciar as tarefas exigidas por um Plano de Resíduos

328
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
a partir do rastreamento e documentação; auxiliar o sistema de monitoramento para que
além das tarefas supracitadas seja possível que o sistema seja um facilitador de sua própria
revisão, auxiliando no diagnóstico de erros e consequentemente no desenvolvimento de
melhorias; facilitar a troca de informações on-line dentro da organização, dinamizando o
processo comunicativo; e, facilitar a tomada de decisões pela administração geral de cada
setor.
Como base, foram utilizados os softwares já existentes no mercado, porém com
melhorias no que se refere a satisfazer as necessidades e expectativas do presente projeto
para universidades. Trata-se de um sistema de informação para registro de dados e
produção de informações referenciadas que se caracteriza pela estrutura lógica e
simplicidade de operação, além de ser adaptável a cada situação, para que sejam sempre
levados em consideração os aspectos intrínsecos à organização e à legislação vigente.
Segundo Deus et al (2015), o número de publicações de cunho socioambiental
com relação aos resíduos sólidos vem crescendo a cada ano no mundo e no Brasil, todavia,
alguns tópicos têm sido abordados mais amplamente do que outros, criando lacunas
científicas, sendo uma delas os sistemas de informação voltados para esse gerenciamento
de resíduos, evidenciando a necessidade de serem realizadas pesquisas neste âmbito, que
contribuiriam para o desenvolvimento tecnológico da área.

Além disso, previamente a este projeto, foi realizada uma pesquisa de softwares
de gerenciamento de resíduos existentes no mercado, cujos resultados estão na tabela
abaixo. Com ela, nota-se a necessidade de desenvolvimento de um software que seja
acessível financeiramente e que seja especialmente para o gerenciamento de resíduos.

QUADRO 1 – Levantamento de softwares de gerenciamento de resíduos disponíveis no mercado.

Softwares de Gerenciamento de Resíduos Disponíveis no Mercado

Empresa Software Comentários

Módulo de resíduos dentro do software SGA,


Pago/Vídeo
A Solução SGA integrado com outros softwares de
demonstrativo
gerenciamento, software para instalação
Pago/Demonstração Módulo de resíduos dentro do software SGI, boa
B SGI Online
grátis interface, versão web
Sistema de Controle de
C Pago Versão web e software para instalação
Resíduos
Pago/Demonstração
D SE Waste -
online
Software exclusivo para GR, desde 2000 no
E Solidus Pago
mercado, software para instalação

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Materiais e Métodos

A proposta de diretrizes para elaboração do software foi desenvolvida


considerando: o estudo de mercado preliminar, o Método PDCA, e as técnicas de
desenvolvimento de software, aplicando todos os itens necessários para este projeto da
Lei 12.305/10 – Política Nacional de Resíduos Sólidos, os quais são descritos a seguir.

O PDCA, ou Ciclo de Deming, segundo Gavira et al. (2017), é um método


proveniente da gestão da qualidade, essa ferramenta auxilia no gerenciamento de
processos ou de sistemas, sendo o caminho para que as metas atribuídas aos produtos dos
sistemas empresariais sejam atingidas e permitindo o controle do processo. Composto por
quatro etapas cíclicas, é projetado para ser usado como um modelo dinâmico, sempre se
reiniciando ao final das quatro fases, podendo sempre ter uma nova análise, implicando
em novo processo de mudança em busca da melhoria contínua. Suas quatro fases são:

• Plan (planejar) que, aplicada ao gerenciamento de resíduos, busca estabelecer uma


meta ou identificar o problema, obtendo uma visão geral da instituição e a partir
dela elaborar uma política ambiental que seja condizente com a situação da
instituição;

• Do (executar), que visa realizar as atividades conforme o plano de ação fazendo


os devidos ajustes, pois durante a implantação sempre nota-se aspectos diferentes
dos que foram originalmente mapeados no plano inicial;

• Check (verificar) o objetivo é monitorar e avaliar periodicamente os resultados


para que se comprove a eficiência do projeto desenvolvido, se este está de acordo
com o proposto e se os resultados são suficientes para a manutenção do sistema;

• Act (agir), agindo de acordo com o avaliado e de acordo com os relatórios, de


forma a melhorar a qualidade, eficiência e eficácia, aprimorando a execução e
corrigindo eventuais falhas.

A Figura 2 ilustra a aplicação do PDCA aplicado a um Plano de Gerenciamento


de Resíduos - PGR.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 1 – Etapas do Software (segundo a Lei 12310/10 e o PGR). Fonte: Adaptado e


Baseado em MORAES; FONSECA, 2014.

A legislação ambiental base neste projeto foi a Lei n 12.305/ 10 - Política Nacional
dos Resíduos Sólidos. Instituída em 2010, a política se configura como um significativo
avanço no âmbito de resíduos sólidos, por explorar desde a geração até tratamento e
destinação final, sob a premissa do desenvolvimento sustentável, estabelecendo uma
gestão participativa e responsabilidades compartilhadas entre a União, Estados e
Municípios, além de instituições privadas e públicas. Nesse sentido, a PNRS trata de um
conjunto de princípios, objetivos e instrumentos para uma gestão integrada dos resíduos
sólidos e, ainda, aponta metas que devem ser seguidas na elaboração de suas políticas e
planos (JACINTO, 2016).
Com uma equipe de trabalho formada por profissionais da área de
Engenharia/Gestão Ambiental e Engenharia de Software foram utilizados conceitos de
leis e de gerenciamento ambiental e do desenvolvimento do software em questão.
Iniciando pelo método ágil Scrum, que consiste em desenvolver pequenas partes do
software a cada ciclo, e ao final do ciclo entregar ao usuário o módulo desenvolvido, e já
planejar o desenvolvimento do próximo módulo, caso o que foi entregue esteja em
conformidades. A cada novo ciclo é realizada uma análise dos requisitos e definição do
que será implementado.
Para a fase de análise do sistema foi utilizada a linguagem UML que definiu os
diagramas de caso de uso, com ajuda de ferramentas de modelagem de diagramas como
Astah Community (versão comunitária). O software foi separado em dois módulos
iniciais, front-end e back-end. No desenvolvimento do back-end foi utilizada a linguagem

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
de programação PHP em sua versão 7.00, e para auxiliar no desenvolvimento com o PHP
foi utilizado o framework - conjunto de códigos e bibliotecas – Laravel, que facilita a
criação de serviços e funcionalidades corriqueiras como inserção, deleção, seleção de
dados e gerenciamento de versões de banco de dados, permitindo ao desenvolvedor focar
nas regras de negócio. Para o front-end foram utilizadas as linguagens HTML, CSS,
Javascript e o framework Knockout.JS para gerenciar o fluxo da aplicação e interações
do usuário. A comunicação e troca de informações do back-end para o front-end e vice-
versa deu-se por requisições HTTP iniciadas pelo front-end.
Como banco de dados foi utilizado MySQL e como ferramenta de manipulação
do banco de dados, o MySQL Workbench. Já para o servidor da aplicação foi utilizado o
Apache para uso com o PHP. Ferramentas de criação de layout de tela (para demonstração
aos usuários) como Pencil também foram utilizadas. Todas as ferramentas e plataformas
utilizadas são de uso gratuito.

3. Resultado

Como citado anteriormente na metodologia, o software está sendo desenvolvido


tendo o ciclo PDCA como base, sendo possível identificar cada uma de suas etapas bem
facilmente no layout. Foi colocado um calendário para que as atividades realizadas e a
realizar pudessem ser registradas e organizadas, de acesso a toda a equipe do projeto e da
instituição, como é possível observar na figura 2 abaixo.

FIGURA 2 – Painel do software em comparativo ao ciclo PDCA e calendário. Fonte: ambiente de rede
do software.

Antes de iniciar o ciclo, é possível fazer o cadastro dos setores envolvidos no

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
gerenciamento e quem serão os multiplicadores responsáveis por ele, gerando dados que
poderão ser analisados separadamente (figura 3).

FIGURA 3 – Painel do software para a inclusão de setores. Fonte: ambiente de rede do software.

Entrando na etapa 1 do ciclo, o P (plan – planejar), temos como atividade inicial


o preenchimento do check list, que após completo, nos dará um panorama geral de como
é a situação dos resíduos na instituição atualmente e ajudará a identificar quais devem ser
as áreas de atuação principais em um primeiro momento. Na figura 4, podemos avaliar
como é o preenchimento do software neste caso. Outro ponto inserido nessa etapa são os
fornecedores cadastrados no sistema, que também será alimentado pela equipe executora
(figura 5).

FIGURA 4 – Painel do software para a inclusão de dados do check list. Fonte: ambiente de rede do

333
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
software.

FIGURA 5 – Painel do software para a inclusão de dados dos fornecedores. Fonte: ambiente de rede do
software.

Complementar ao check list, temos a área de objetivos e metas (figuras 6 e 7), na


qual listamos o que deve ser feito dentro do tempo estipulado, aparecendo também dentro
do calendário para que lembretes possam ser enviados a toda a equipe e a comparação de
dados seja mais fácil.

FIGURA 6 – Painel do software para observação do check list e objetivos e metas. Fonte: ambiente de
rede do software.

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FIGURA 7 – Painel do software para a inclusão de objetivos e metas. Fonte: ambiente de rede do software

4. Discussão

Como primeira etapa, que auxiliou nos resultados deste trabalho, foi realizada
uma pesquisa na Internet de softwares de gerenciamento de resíduos existentes no
mercado. Nota-se a necessidade de desenvolvimento de um software que esteja disponível
a todos e que seja especialmente voltado para o gerenciamento de resíduos, considerando
que todos que entraram na pesquisa têm um alto custo para a implantação e manutenção,
e principalmente, somente 40% deles voltam-se especialmente para a gestão de resíduos,
abordando todos os aspectos da PNRS, além disso, o software desenvolvido segue uma
metodologia inovadora na área de gerenciamento de resíduos, o ciclo PDCA, e o fato de
ser em versão web, sem necessidade de instalação e banco de dados próprio também faz
com que ele seja mais acessível a quaisquer tipos de organizações, com muito ou pouco
recurso disponível para o investimento nessa área.
Já que a elaboração do software tem como suporte o que foi e vem sendo aplicado
no PGR UNESP, foi possível testar a metodologia PDCA para o gerenciamento de
resíduos antes mesmo deste ser desenvolvido, observando o que poderia ser feito dentro
de cada etapa e o que deveria ser melhorado e/ou corrigido para que o gerenciamento
fosse cada vez mais efetivo.
É possível observar na quadro 2 abaixo, como era feito o preenchimento dos check
lists anteriormente, em documentos de Word, ressaltando que a compilação dos dados
nesse último era manual e com o software passa a ser automática, como mostrado na

335
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
figura 4. Além disso, o sistema automaticamente inserirá as normas a serem atendidas, de
acordo com cada tipo de resíduo cadastrado nessa etapa, parte que será sempre atualizada
e editada pela equipe executora do projeto. Todas essas etapas também eram realizadas
manualmente, o que mostra as facilidades proporcionadas pelo software.

QUADRO 2 – Modelo do check list utilizado para o diagnóstico dos resíduos no campus.

Fonte: Baseado em MORAES; FONSECA, 2014.

Para Moraes et al (2015), as Instituições de Ensino Superior (IES) têm papel de


destaque no desenvolvimento tecnológico e fornecimento de conhecimento, com isso, é
indispensável que essas organizações sejam o exemplo da sociedade, que é comumente
objeto de pesquisa das mesmas, dando início a um processo de conscientização e
desenvolvimento; e isto enquadra-se em diversas questões, inclusive na socioambiental.
Tendo isso em vista, a preocupação de regularizar a universidade nas legislações vigentes
em relação aos resíduos sólidos é imprescindível. O projeto em questão visa facilitar a
gestão desse processo, melhorando a tomada de decisão por meio de informações
centralizadas; automatizando e otimizando as tarefas rotineiras; melhorando o controle
interno das operações e, além disso, aumentando a capacidade de reconhecer problemas
com maior antecedência (BERALDI; ESCRIVÃO FILHO 2000).

5. Conclusão

Com a pesquisa bibliográfica realizada foi possível perceber que existe uma
quantidade pequena de softwares com esse objetivo e, os que já estão no mercado têm um
alto custo e algumas limitações técnicas por não serem (em sua maioria) desenvolvidos
exclusivamente para o gerenciamento de resíduos; além disso, há uma lacuna científica a
ser preenchida, já que não há muitas pesquisas com esse cunho. Portanto, podemos
concluir que a relevância tecnológica de projetos como esse é imensurável e devem ser
incentivados.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Referências

BERALDI, L. C.; ESCRIVÃO FILHO, E. Impacto da tecnologia de informação na


gestão de pequenas empresas. Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 1, p. 46-50,
2000.
BRASIL. Lei n 12.305 de 02 de Agosto de 2010. Política Nacional dos Resíduos
Sólidos. Brasília/ DF, 2010.
DEUS, R. M.; BATTISTELLE, R. A. G.; SILVA, G. H. R. Resíduos sólidos no Brasil:
contexto, lacunas e tendências. Eng. Sanit. Ambient., Dez 2015, vol.20, no.4, p.685-
698.
GAVIRA, M. O., MORAES, C. S. B., DADARIO, A. M. Administração e gestão
sustentável: contexto e ferramentas. São Carlos: RiMa Editora, 2017
GUEDES, G.T.A. UML2: Uma Abordagem Prática. São Paulo: Novatec, 2009. 485 p.
JACINTO, A. C.; ZOGAHIB, A. L. N.. Política pública de resíduos sólidos: uma
análise da lei nº 12.305/201 que institui a política nacional de resíduos sólidos –
PNRS, por meio dos serviços executados pela secretaria municipal de limpeza
pública. Revista de Administração de Roraima-UFRR, Boa Vista, Vol. 6 n. 2, p.520-
510, jul-dez. 2016. Disponível em <http://revista.ufrr.br/index.php/adminrr/>
MAEDA, A. Y. Diretrizes para Elaboração do Plano de Gerenciamento de
Resíduos da UNESP (Campus Rio Claro) baseado na Lei 12.305/10 – Política
Nacional de Resíduos Sólidos. Iniciação Científica – PIBIC/ IGCE/ UNESP. Rio
Claro, 2016.
MORAES, C. S. B.; FONSECA, J. C. L. Manual para o Plano de Gerenciamento de
Resíduos da UNESP (PGR UNESP). IGCE, UNESP, 2014. (projeto de pesquisa).
MORAES, C. S. B.; MAEDA, D. Y; SILVA, A. I; LIMA, S. C. S.; PINTO, W. L. H.
Diagnóstico e Propostas de Diretrizes para o Plano de Gerenciamento de Resíduos do
IGCE da UNESP. In: Anais do XVII ENGEMA - Encontro Internacional sobre
Gestão Empresarial e Meio Ambiente. São Paulo, 2015.
MORAES, C. S. B et al. Relatório parcial: etapa P (planejamento) do programa de
gerenciamento de resíduos: PGR UNESP (Campus Rio Claro). Rio Claro:
Universidade Estadual Paulista, 2015
PRESSMAN, R.S. Engenharia de software. Tradução de José Carlos Barbosa Dos
Santos. SÃO PAULO : MAKRON BOOKS, 1995. p. 1056.
SANCHES, C. S. GESTÃO AMBIENTAL PROATIVA. REVISTA
ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS. 2000, VOL.40, N.1 [CITED 2016-05-28],
PP.76-87.
SUMMERVILLE, I. Engenharia de Software. Tradução de I. Bosnic; K. G. O.
Gonçalves. 9. ed. São Paulo: Person Prentice Hall, 2011.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

USO DE HYDRILLA VERTICILLATA E DE SALVINIA AURICULATA


COMO ALTERNATIVA PARA NUTRIÇÃO DE EISENIA FETIDA

Kotsubo, Karolina¹

Cunha-Santino, Marcela B.2

1
UFSCar, Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental. E-mail:
karol.kotsubo@gmail.com
2
Orientadora, UFSCar, Departamento de Hidrobiologia, PPG-ERN. E-mail:
cunha_santino@ufscar.br

Resumo: Em um cenário em que a maioria dos ecossistemas aquáticos continentais


brasileiros estão eutrofizados e, portanto, propiciam uma situação favorável para o
crescimento excessivo de macrófitas, torna-se necessária uma alternativa para a redução
da biomassa dessas plantas. O presente trabalho visou testar a aceitação da biomassa de
Hydrilla verticillata e de Salvinia auriculata como fonte de matéria orgânica e de
nutrientes para a vermicompostagem. Considerando assim a composição das duas
espécies de macrófitas e suas características físicas estruturais acreditamos que a
utilização das macrófitas será maior na espécie Hydrilla verticillata quando comparada a
Salvinia auriculata. Realizando um experimento de vermicompostagem testou-se o uso
de biomassa de macrófitas como alternativa de nutrição para a Eisenia fetida e avaliou-
se a eficiência de utilização de Hydrilla verticillata e de Salvinia auriculata na produção
de húmus. A taxa de consumo de H. verticillata para a produção de húmus foi 4,4 g ao
dia e a de S. auriculata foi 3,1 g ao dia. Quando comparados os resultados obtidos com
as duas espécies testadas de macrófitas, podemos considerar que a hipótese proposta foi
corroborada, uma vez que a porcentagem de biomassa restante no final do processo de
vermicompostagem, quando comparada à massa inicial, foi menor para a S. auriculata.
Concluiu-se preliminarmente que o uso de biomassa de macrófita para
vermicompostagem consiste numa boa alternativa para uso dessas plantas.
Palavras-chave: planta aquática, vermicompostagem, eutrofização.

1. Introdução

As macrófitas são plantas aquáticas que representam importância ecológica pela


sua elevada produção primária, além de representar um habitat e refúgio para diversas
espécies e ser capaz de absorver nutrientes e metais (Bento et al., 2007). Dadas suas
características reprodutivas, essas plantas podem se reproduzir rapidamente e ocupar
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
grandes áreas (Thomaz, 2002), principalmente quando os corpos d’água se encontram
eutrofizados (Rocha et al, 2009). A eutrofização é comum aos corpos hídricos no Brasil,
visto que a partir da década de 60 houve um rápido crescimento populacional e
desenvolvimento das cidades, majoritariamente sem planejamento (Tundisi, 2008). Uma
das principais consequências disso é o acréscimo de nutrientes na água, proporcionando
um cenário favorável para a assimilação desses elementos químicos (i.e. P e N) pelas
macrófitas, promovendo a reprodução rápida dessas plantas (Valente et al, 1997).
Nesse cenário, a utilização de macrófitas consiste em uma alternativa para
redução da sua biomassa. Uma das aplicações para essa biomassa é na produção de húmus
de compostagem, visto que se trata de matéria orgânica e se encaixa nos critérios
necessários. Algumas das vantagens do uso de húmus são: melhora da qualidade do solo,
melhor estruturação do mesmo pela adição de nutrientes, aumento da retenção de
umidade e diminuição no uso de fertilizantes sintéticos (Santos et al., 2006).
As macrófitas são majoritariamente compostas de água, mas possuem também
em sua composição macro e micronutrientes. Esse fator, associado à presença de matéria
orgânica, aponta para o uso dessas plantas como matéria prima para a
vermicompostagem.
A vermicompostagem consiste em um processo de decomposição de resíduos
auxiliado pela ação de microrganismos e da macrofauna (Pereira Neto, 1987). Esse
processo resulta em um composto nutritivo, conhecido como húmus, que é essencial para
o fornecimento de nutrientes para as plantas e para a estabilização do solo. Para a
formação de um bom composto algumas variáveis como pH, temperatura e condutividade
elétrica devem ser monitorados, considerando que existe um intervalo ótimo.
Considerando assim a composição das duas espécies de macrófitas e suas
características físicas estruturais acreditamos que a utilização das macrófitas será maior
na espécie Hydrilla verticillata quando comparada a Salvinia auriculata. Portanto,
testou-se o uso de biomassa de macrófitas como alternativa de nutrição para a Eisenia
fetida no processo de vermicompostagem e avaliou-se a eficiência de utilização de
Hydrilla verticillata e de Salvinia auriculata na produção de húmus.

2. Materiais e métodos

Para a realização da vermicompostagem montou-se um minhocário, que


consistiu na sobreposição de 3 caixas de 4 litros cada. Entre cada caixa há orifícios para

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
permitir a passagem das minhocas. Foi adicionado nas duas caixas superiores um
substrato sem aditivos nutricionais e cerca de 50 indivíduos de E. fetida.
A seguir, foram adicionadas biomassa de macrófitas em duas formas: fresca e
seca, na proporção 1/3. Nas figuras 1, 2 e 3 é possível observar, respectivamente, a
biomassa da espécie Hydrilla verticillata em sua forma fresca, em sua forma seca e a
biomassa adicionada ao minhocário.

FIGURA 1 - Biomassa de Hydrilla verticillata na forma fresca.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 2 - Biomassa de Hydrilla verticillata na forma seca.

FIGURA 3 - Biomassa de Hydrilla verticillata adicionada no


minhocário.

As espécies que serão testadas são Hydrilla verticillata e Salvinia auriculata. A


vermicompostagem ocorreu durante 4 semanas e após esse período foi avaliada a

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eficiência de produção de húmus por cada espécie de macrófita. Na vermicompostagem
utilizando biomassa de Hydrilla verticillata foram adicionados 64,2 g de macrófita fresca
e 15,6 g de macrófita seca; para o experimento com Salvinia auriculata foram
adicionados 32,7 g de macrófita fresca e 8,8 g de macrófita seca. As variáveis pH,
condutividade elétrica e temperatura do húmus em formação foram monitoradas 2 vezes
por semana durante 4 semanas sendo medidas por pHmetro, condutivímetro e termômetro
de mercúrio, respectivamente. Após o final do período de vermicompostagem, a biomassa
remanescente das macrófitas teve sua massa medidas novamente e a utilização de cada
espécie de macrófita foi calculada.

3. Resultados
Os valores médios (± DP) de temperatura, umidade, pH e condutividade elétrica
monitorados do húmus durante o período de vermicompostagem estão apresentados na
Tabela 1. A temperatura obtida nos dois experimentos foi similar, apresentando a mesma
ordem de grandeza entre os valores (Tabela 1).

TABELA 1 - Variáveis monitoradas durante a produção de húmus utilizando biomassa de


H. verticillata e S. auriculata.
Hydrilla verticillata
Média Desvio padrão
Temperatura (ºC) 22,8 1,6
Umidade (%) 72,72 10,27
Condutividade elétrica (mS/cm) 1,7 0,43
pH 8,1 0,2
Salvinia auriculata
Temperatura (ºC) 24,0 0
Umidade (%) 68,94 0,35
Condutividade elétrica (mS/cm) 2,8 0,027
pH 7,5 0,02

Os valores de umidade no experimento com H. verticillata indicam uma maior


variação em relação à de S. auriculata (DP = 0,32). Os valores de condutividade elétrica
do húmus foram elevados, sendo os obtidos para S. auriculata 1,6 vezes maior que os de
H. verticillata. O pH do húmus formado foi básico para ambas as espécies.
A umidade da biomassa fresca de H. verticillata foi 93,3%, representando uma
adição ao experimento de 4,3 g de massa seca; uma vez que nesse processo deve-se

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adicionar tanto biomassa seca quanto fresca; dessa forma, a massa inicial adicionada para
ser processada pela vermicompostagem foi 19,9 g. A massa final ao término do período
de vermicompostagem foi 0,7 g. A quantidade remanescente após 4 semanas, i.e. não
utilizada no processo, foi de somente 3,7% da massa inicial, desse modo a taxa de
consumo de macrófita de 4,4 g ao dia.
Em relação à biomassa remanescente de S. auriculata, esse valor foi 0,3 g. A
umidade para essa espécie foi 91,9%; sendo que das 32,7 g de macrófita fresca que foram
adicionadas aos experimentos apenas 2,6 g representam massa seca, totalizando dessa
forma, 11,2 g de massa seca adicionadas no início do processo. Como a massa final do
experimento foi 0,3 g, a quantidade restante foi de somente 2,7% da massa inicial do
experimento, o que representa uma taxa de consumo de 3,1 g ao dia.

4. Discussão

Quando comparados os resultados obtidos com as duas espécies testadas de


macrófitas, podemos considerar que a hipótese proposta foi corroborada, uma vez que a
porcentagem de biomassa restante no final do processo de vermicompostagem, quando
comparada à massa inicial, foi menor para a S. auriculata. A taxa de consumo da
macrófita (i.e. formação húmus) para H. verticillata foi maior que o encontrado para S.
auriculata. A H. verticillata é uma macrófita submersa, apresentando menores teores de
compostos estruturais quando comparada com a S. auriculata (espécie flutuante).
A biomassa de H. verticillata apresenta cerca de 20% de fibras (Shearer et al.,
2008) e sua biomassa é composta por 1,58% de N e 0,11% de P (Milan, 2011). S.
auriculata apresenta 47,2% de fibras (Moozhiyil e Pallauf, 1986), seu conteúdo de N e P,
correspondem a 0,84% e 0,21%, respectivamente (Williams, 1956). A maior quantidade
de fibras na biomassa de S. auriculata, associado com sua composição química (i.e.
proporção de celulose, lignina e hemicelulose) pode representar uma menor patabilidade
por parte dos indivíduos de E. fetida. A adição de recursos com teores elevados de N pode
ser vantajosa para a vermicompostagem, desde que facilmente disponível para as
minhocas (Aquino, 1996), esse fato relaciona-se com a biomassa de H. verticillata que
apresenta maior conteúdo de N (1,9 vezes) em relação a S. auriculata.
A umidade é fator limitante para o processo de vermicompostagem, uma vez que
E. fetida realiza as trocas gasosas através da epiderme; dessa forma, a umidade adequada
é de 60% a 70% (Aquino, 2005), essa variável se manteve adequada à sobrevivência de
E. fetida durante o período experimental. Os valores médios obtidos para temperatura

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variam pouco durante o experimento, permanecendo próxima dos 24ºC. A temperatura
ideal para o processo de vermicompostagem é ca. 25°C, entretanto, elas suportam
condições onde a temperatura atinge os 30°C (dos Anjos, 2015). A condutividade elétrica
apresentou pouca variação durante o experimento, porém os valores obtidos são muito
elevados, indicando a liberação de íons a partir da biomassa de macrófita, que foram
sendo incorporadas no húmus durante a vermicompostagem. O pH do composto formado
apresentou meio básico, assim como estudos realizados resíduos sólidos vegetais
enriquecidos com esterco ou madeira (Cotta et al., 2015).

5. Conclusão

A utilização de diferentes resíduos na vermicompostagem é interessante, por


representar uma oportunidade para minimizar a degradação ambiental, uma vez que
utiliza recursos orgânicos que seriam descartados na produção de húmus. Assim, diante
dos resultados obtidos preliminarmente concluímos que o uso da biomassa de macrófitas
aquáticas como alternativa no processo de vermicompostagem é viável. A produção do
húmus durante a vermicompostagem utilizando as duas espécies reafirma a possibilidade
de uso de macrófitas como alternativa de recurso orgânico. Tendo em vista testar o uso
alternativo de macrófitas como recurso para a vermicompostagem, poderiam ser
realizados testes específicos para averiguar a qualidade do composto gerado.

6. Agradecimentos

Os autores agradecem a FAPESP pela concessão da bolsa de estudos (Processo


2017/06625-3) para o desenvolvimento desse estudo.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

CONTRIBUTIONS TO THE EUTROPHICATION ANALYSIS


BASED ON REMOTE SENSING DATA: APPROACHES USING
MODIS FOR MULTIPLE WATER BODIES

Saito, Victor S.1; Bourscheidt, Vandoir1; Oswaldino, Letícia da S.1; Stoppa, Nathalia
E.1; Santos, Milena R.1; Ruiz, Isadora H.1

1
Departamento de Ciências Ambientais, UFSCar – Universidade Federal de São
Carlos, Brasil.

E-mail address: victor.saito@gmail.com (Victor S. Saito); vandoir@gmail.com


(Vandoir Bourscheidt); leticiaoswaldino@gmail.com (Letícia da S. Oswaldino);
nathaliaespinossi@gmail.com (Nathalia E. Stoppa); milenarst15@gmail.com (Milena
R. Santos); isadora.rhaddad@gmail.com (Isadora H. Ruiz).

Abstract: The management of water resources availability and quality is one of the main
concerns when considering the environmental problems associated with population
growth and urban areas sprawl. Water is often affected by land use changes and
eutrophication processes that lead to the increase in primary production or even changes
in other environmental variables, emphasizing the need for continuous monitoring.
Several methods to monitor aquatic environments are available, but are very time
consuming and usually require high financial and human resources. In this sense, the
remote sensing has emerged as a new and promising technology to facilitate the
monitoring, specially considering the strong relation between plant pigments (used during
photosynthesis) and reflectance at different wavelengths, as previously shown by several
authors. In this paper, we analyse the agreement between MODIS (Moderate Resolution
Imaging Spectroradiometer) product MOD09GA and models developed for different
regions worldwide, as well as to some new empirical models, to verify our capacity to
explain chlorophyll-a concentration variability in reservoirs in the state of São Paulo. The
results indicate that spatial variation is an important factor and that existing models can
not be generalized to other areas. The use of a site specific factor may be applied to
overcome this limitation, but additional analyses are needed.
Keywords: MODIS, Chlorophyll-a, stepwise regression, random forest algorithms.

1. Introduction

Water scarcity is one of the main problems society will face in the next century.
Among the most important problems, eutrophication is thought to be one that will
increase due to both climate change and land use practices (ELLIOTT; JONES;
THACKERAY, 2006). Water eutrophication is the phenomena of increase in nutrient
levels, followed by the increase of primary productivity by phytoplankton. The increase
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in primary production decreases dissolved oxygen, strongly impacting all compartments
of aquatic ecosystems and the water quality for human use (MOSS, 2011).
Given the strong impacts that water eutrophication have for humans, monitoring
strategies are urgent. Among the methods used for water monitoring, we have the
temporal measurement of physical and chemical variables - e.g. water nutrients, but also
of biological variables such as chlorophyll-a concentration. Although already widely
applied worldwide, these monitoring techniques are still expensive and demands large
personal staffs and expensive equipments (LANGE; LAMBERT, 1995).
In recent years, Remote Sensing (hereafter RS) emerged as a promising tool to be
used for ecosystem monitoring. RS approaches rely, among other types, on satellite
images that can be readily used to analyze landscape features on large scale extents. These
images have being used intensively to understand forest cover patterns, ocean
productivity and in less intensity, continental water body monitoring (GREEN;
SUSSMAN, 1990; LANGE; LAMBERT, 1995; OGASHAWARA et al., 2014;
O’REILLY et al., 1998).
The use of RS techniques for primary producers (e.g. trees and algaes) monitoring
is especially promising given the direct link we can draw between plant photosynthesis
and reflectance patterns (GREEN; SUSSMAN, 1990). Plants can use solar energy for
photosynthesis capturing specific band colors. This in turn emits specific reflectance
signals that can be captured by satellites, given us the opportunity to measure primary
productivity over large scale extents in a cheaper and faster way compared to field
measurements.
While these methods to capture primary productivity are strongly studied for
forests and oceans, continental water bodies are less studied, especially those in the
Tropical region. So far it is unknown whether the methods developed for european, and
north american systems may work in systems with different water conditions and with
different phytoplankton structure (i.e. with different species composition). So, given our
urgency in monitoring our water bodies and due to the promising of RS techniques in this
sense, here we show the initial results of applying such methods for lentic systems in São
Paulo State in Brazil.

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2. Material and Methods

2.1 Chlorophyll-a data

We used data of chlorophyll-a concentration from the CETESB (2013) monitoring


network. Data from January 2000 to April 2018 were acquired through an Online
Information System (InfoÁGUAS), which provides the surface water quality indexes
(lotic and lentic environments) of the state of São Paulo. In the InfoÁGUAS, the data
refers to bimonthly samplings.
In the CETESB protocol, water samples are taken approximately 30 cm below the
surface (BRANDÃO et.al. 2011) and are analyzed using monochromatic
spectrophotometry (CETESB, 2014), which is based on the absorbance in 3 different
wavelengths to estimate chlorophyll-a, b and c (trichromatic method). However,
chlorophyll-a is most suitable for phytoplankton analysis since it is predominant and
encompasses all vegetation groups. The chlorophyll-a concentration is determined
through the optical density in three wavelengths (664, 665 e 750 nm) and the information
is returned in terms of pigments per volume units (µg/L).
Considering the 33 reservoirs monitored by CETESB in the São Paulo State, only
28 presented a significant amount of chlorophyll-a data for the period of 2000 to 2018.

2.2 MODIS data

MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) data was processed


using the Application Programming Language (API) and cloud infrastructure of Google
Earth Engine (GORELICK et al., 2017). MOD09GA (Version 6) imagery with spatial
resolution of 500 meters were obtained for the complete time series (Feb 2000 - Apr
2018). The product, which is composed by seven bands in the spectral range from 459
nm to 2155 nm, is expected to return the surface reflectance already corrected for
atmospheric effects (VERMOTE; WOLFE, 2015). Binary QA data was used to mask
poor quality and cloudy pixels. For each reservoir location (lat/lon), the values of
reflectance of the underlying pixel were extracted for all the available bands (1-7).
Due the limitation of the pixel size (and possible spectral mixture between land
and water) and uncertainties in the exact location (lat/lon) of the sample points, a
secondary analysis was made to select only points in the middle of the reservoir, resulting
in 4 sites at 3 different reservoirs (sampled several times) (Figure 1).

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FIGURE 1 - Sites selected after the secondary analysis. The MODIS image is also shown to
emphasize the pixel size and location over the reservoirs.

2.3 Testing published models

We tested several published models, mainly based on the idea of Normalized


Difference Indexes (NDIs), aiming to test the generalization of models developed for
other regions and other lentic systems. 1) We tested the four semi-empirical models
developed by Wen et al. (2014); 2) the best model developed by Ogashawara et al. (2014);
3) and the empirical model selected by Huang et al. (2014).

2.4 Stepwise regression models

We used two different approaches to find the best empirical model/algorithm to


explain the variation in chlorophyll-a concentration. First, we applied stepwise regression
models to find the best combination of variables that builds the model with the smallest
Akaike Information Criteria (AIC). Second, we applied Random Forests aiming to find
the algorithm that best explain and predicts the variation in chlorophyll-a.
Stepwise regressions were made both using forward inclusion and backward
elimination of variables. We run one stepwise regression using all the seven bands and
the NDI index and another regression including the identity of the site (e.g. site 1 at Billing
Reservoir) as a factor (dummy variable). We used this procedure to identify the
contribution of intrinsic and unmeasured characteristics of each site (e.g. reservoir depth,

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total solids, etc.) in explaining the variation in water chlorophyll-a that cannot be
explained by satellite variables.

2.5 Random Forests algorithms

We applied a ensemble machine learning technique called Random Forest (RF)


and compared the performance of this non-parametric method to the commonly used
stepwise regression method. Random Forests is an ensemble technique to improve
regression trees method by combining a large set of decision trees. In RF, each tree is
built using a deterministic algorithm by selecting a random set of variables and a random
sample from the training dataset (i.e. the calibration data set). For each Random Forest
we created 1000 decision trees based on the stabilization of the Mean Square Error of
previously generated Random Forests using different number of trees.
We used a Monte-Carlo approach (300 randomized RF) to select 250 from ours
290 sites each time in each RF created. A linear model was used to cross validate the
power of random forest to predict Chlorophyll-a concentration. For that, we regressed the
real chlorophyll-a concentration from the outside 40 sites against the predicted
concentration made by a RF.

3. Results

3.1 Testing published models

Applying any model presented in other studies explained a very small percentage
of variation in the chlorophyll-a from our dataset (Adj. R² <0.02).

3.2 Stepwise regression models

The best model selected by stepwise regressions using MODIS variables were
composed by bands 1 to 5 and explained 16% of chlorophyll-a variation (Adj. R²) in time
and space (P<0.001). When we included the factor variable (site identity) the bands
selected to compose the best model were the b1, b2, b3 and b5, and also the factor
variable. The model above explained a higher proportion of variation compared to the
previous model (Adj. R²=0.25, P<0.001).

3.3 Random Forests algorithms

The 300 RF created using only MODIS variables (without site identity) resulted
in algorithms with mean pseudo-R²=0.18 (Standard Deviation=0.06) (Figure 2a). The

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validation of these algorithms using linear regressions between the real chlorophyll-a
from unselected data (40 from 290) and the predicted concentrations from RF resulted in
R²=0.23 (sd=0.19) (Figure 2b). When comparing the pseudo-R² of RF with their
validation, we found a negative relationship (Figure 2c). When the algorithm was more
robust, with higher pseudo-R², the validation resulted in low variation explained by the
linear model.
When we included the site identity as a explanatory variable in RF we found a
higher percentage of chlorophyll-a variation explained (Figure 2d). The built algorithms
explained 34% of variation (mean pseudo-R², sd=0.05) and the validation procedure
resulted in linear models with R²= 0.39 (mean, sd=0.19) (Figure 2e). Overall, RF
overcomed the best model selected by stepwise regressions considering the amount of
chlorophyll-a variation explained.

FIGURE 2 - Results of Random Forest analysis (RF). The histogram from the Pseudo-R² generated
by RF when using only MODIS variables (a) and when using also site identity as explanatory variable (d).
The histogram showing the R² of linear models relating the real chlorophyll-a from our validation dataset
with the concentration predicted by RF using only MODIS data (b) and when using also sites identities (e).
The relationship of the Pseudo-R² and the linear model R² when using only MODIS data (c) and when using
also sites identities (f).

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4. Discussion

The use of remote sensing for eutrophication monitoring is promising. All plants
use chlorophyll-a for photosynthesis and this pigment has a well defined spectral
behavior, with high absorption in the blue and red regions (around 450 nm and 700 nm,
respectively) and higher reflectivity in the green region (around 500 nm), giving a
straightforward link between algae biomass and the spectral region captured by satellites.
Supporting these ideas, previous studies indeed found strong links between spectral bands
(mainly in the visible range) from different satellite and chlorophyll-a concentration in
situ, some of them specifically for MODIS (HUANG et al., 2014; WEN et al., 2014).
However, in our study we could explain a smaller percentage of chlorophyll-a
concentration variation using MODIS data in comparison to these studies. This is
probably because most models to date were focused in one singular water body while our
aim was to find a model suitable for multiple sites in the São Paulo State. This aim was
found to be challenging but also the most desirable for environmental agencies.
The problems of modelling multiple sites simultaneously were evident when we
used the site identity as explanatory variable. The explanatory power of both the best
multiple regression and the random forests using this variable increased considerably.
This means that the chlorophyll-a variation in our dataset was strongly related to each site
selected for our study, probably because each of them were influenced by the surrounding
land use, the climatological characteristics of each site, as well as any other limnological
characteristic intrinsic to each water body (BRAGA et al, 2005, SARTOR, 2008). In the
end these characteristics will affect water reflectance blurring the signal of eutrophication
and decreasing the power of our models.
Besides the above mentioned challenges when modelling multiple sites, we also
found that RF were more powerful than Stepwise Regressions, meaning that the simple
additive combination of bands is not enough to capture the variation in chlorophyll-a
concentration. Instead, we found that only algorithms of machine learning that considers
complex interactions among bands may be able to predict chlorophyll-a for multiple sites
in different times. Additionally, our approach was also influenced by the low number of
sites that could be used considering the size of the pixels from MODIS. When the pixel
including a sampling site was not entirely within the water body, we had to exclude it
from our dataset decreasing the number of analyzed sites and prejudicing our model
approach.

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Finally, besides the challenges explained above, the application of remote sensing
techniques for water monitoring should not be abandoned giving the benefits it would
bring for economic activities like fishing, if we could predict eutrophication and algal
bloom more precisely. These processes have negative effects for society as the decrease
in water quality and the production of toxic components, urgering our efforts to keep
developing improved monitoring tools (BARRETO, et al., 2013).

5. Final considerations

Our initial efforts trying to model chlorophyll-a concentration using MODIS


bands proved to be challenging and promising. For instance, we found that each site used
in our model have intrinsic characteristics that affected the water reflectance blurring the
signals of chlorophyll-a variation in our model. Besides the challenges, we could predict
some variation in chlorophyll-a concentration, particularly using machine learning
techniques, opening a promising avenue for our ongoing investigations.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

FERRAMENTA PARA AVALIAÇÃO DE MATERIAIS


SUSTENTÁVEIS PARA USO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Lima, S. C. S¹
Moraes, C. S. B.²

1
UNESP Rio Claro, stephani-cris@hotmail.com, graduanda em Engenharia Ambiental
2
Docente em Engenharia Ambiental, UNESP Rio Claro, clausbm@rc.unesp.br

Resumo: A construção civil é um setor extremamente impactante ao meio ambiente, tanto


pela geração de resíduo como pela extração de matéria prima, a partir de tal fato foi notada
a necessidade de se utilizar materiais menos impactantes ao meio ambiente e que
possuíssem características equivalentes aos materiais usuais. Portanto avaliar os materiais
ditos sustentáveis e poder compara-los tornou-se extremamente relevante, desta forma
houve a criação de uma metodologia simplificada para poder executar tais comparações.
Palavras-chave: Ferramenta; Construção sustentável; Análise.

1. Introdução

A questão ambiental se tornou uma preocupação mundial desde a década de 70.


O crescente desenvolvimento populacional e da qualidade de vida desequilibram o
sistema terrestre, pois o consumo por recursos disparou acentuadamente. Diferentes
setores das atividades humanas geram danos ao meio e atitudes que minimizem esse
processo de degradação devem ser introduzidos e aprimorados, como por exemplo, na
construção civil (LUCAS, 2011)
O ramo da construção impacta diretamente e indiretamente o meio ambiente e por
esse fato apresenta extrema relevância no cumprimento de metas e objetivos de um
desenvolvimento sustentável. É muito intenso o efeito negativo gerado no ambiente
causado pelas grandes empresas e indústrias que rodeiam a construção civil. A exploração
de recursos para confecção de materiais, como por exemplo, exploração intensiva das
pedreiras, a extração descontrolada de areia, além dos processos inadequados, como usos
desenfreado de energia, o desperdício de materiais nas operações da edificação e a
disposição inadequada dos mesmos provoca grade desequilíbrio no ecossistema por
atingir negativamente a biodiversidade (ROCHETA; FARINHA, 2007).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A construção civil é o setor econômico que mais impacta o meio-ambiente,
especialmente no consumo de recursos naturais e geração de resíduos, com significativa
geração de poeira e poluição sonora em canteiros localizados dentro das cidades (JOHN
& AGOPYAN, 2011).
Os impactos gerados pelo excessivo consumo de energia e recursos, além da
geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos tanto na fase da edificação, habitação ou
outras formas de utilização e a demolição devem ser considerados para que o meio
ambiente e mesmo o homem sejam minimamente afetados e prejudicados. Para tanto o
termo de construção sustentável é recorrente nos dias atuais ganhando espaço nas linhas
de pesquisa e na prática por construtoras que já veem a possibilidade de projetos de
construções que agridam menos o meio ambiente.
Há um crescente interesse na redução de impactos ambientais associados ao setor
da construção civil, seja na fase de produção de materiais e componentes para edificação,
seja na construção, no uso ou na demolição da mesma. A segregação, a que é submetida
parte da população desprestigiada de serviços sociais se apresenta tanto física quanto
socialmente, reduzindo a sustentabilidade das ocupações e impactando o meio ambiente
(FLORIM, QUELHAS, 2004).
Quando necessidades atuais são supridas por ações que não comprometerão as
futuras gerações podemos considerar estas como ações sustentáveis (WCED, 1987). Por
tanto é apresentado um novo conceito para construção civil, o modelo de construção
sustentável, cujo visa a “economia verde” e melhores práticas de caráter socioambiental.
As alterações no modelo de construção tradicional iniciam-se na fase do projeto até a
construção do edifício com a seleção dos materiais e meios que impactem menos possível
o ambiente (CNI; CBIC, 2012).
Ao termo construção sustentável são atribuídas diversas definições. Segundo a
Agenda 21 define-se construção sustentável para países em desenvolvimento como: “um
processo holístico que aspira a restauração e manutenção da harmonia entre os ambientes
natural e construído, e a criação de assentamentos que afirmem a dignidade humana e
encorajem a equidade econômica” (CIB; UNEP-IETC, 2002).
A construção civil é sustentável quando se potencializa a eficiência, durabilidade,
reciclabilidade, desempenho e aproveitamento de recursos, e propicia redução de ruído,
entulho, materiais, manutenção, consumo de energia entre outros (KWAI, 2013).
As construções sustentáveis conferem resistência e durabilidade em sua estrutura
e são eficientes e satisfatórias aos usuários. Por tais fatos a manutenção se faz pouco

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
necessária possibilitando processos menos onerosos. Algumas pesquisas da área
apresentam alta produtividade dos operários na construção e melhoria das condições de
trabalho por meio das práticas sustentáveis adotadas (PINHEIRO, 2003).
A construção civil apresenta influencias nas ações que almejam a sustentabilidade,
uma vez que grande quantidade de capital e de recursos energéticos, matérias e de pessoas
estão envolvidas nas etapas das edificações de instituições públicas e privadas, sendo
locais para promover a educação, a saúde, o trabalho, o lazer e mesmo moradias (DALLA
COSTA; MORAES, 2013).
Devido à necessidade por construções mais sustentáveis a certificação ambiental
aparece atualmente como ferramenta interessante, pois avalia em diversos critérios os
processos que a construtora deve realizar e possuir para ser sustentável, com isso
melhores práticas são introduzidas ao processo de construção por meio dos órgãos de
certificação que analisam todas as etapas do projeto de edificação até sua execução
(SANTESSO, 2013).
A almejada construção sustentável pode sugerir uma grande amplitude e de difícil
alcance, como o conceito de sustentabilidade, contudo, se ocorrerem pequenas mudanças
localizadas que fossem aumentando gradualmente, essa ideia poderá ser concretizada
paulatinamente, tornando-se ações práticas (MORAES, 2016).
Um dos instrumentos para atingir este fim que pode ser mencionado é a
ecoeficiência, onde há o investimento em recursos naturais renováveis e vantagens
ambientais, visando a construção como a habitabilidade de uma residência, aumentando
assim, a qualidade de vida das famílias que serão beneficiadas (LIPPI et al., 2009).
A construção sustentável segue as mesmas etapas que a construção tradicional, a
grande diferença é que em todas as fases se procuram integrar os princípios da
sustentabilidade. Nenhuma etapa é considerada independente das restantes, mas as opções
tomadas em cada uma delas têm impacto no objetivo final de construir um edifício
sustentável (LUCAS, 2008).
Os edifícios que apresentam nos seus projetos formas de impactarem menos o
ambiente não devem ser apenas visados em grandes construções, mas também podem e
devem atingir a população em suas residências.
Portanto, este trabalho visa de forma geral estudar as tecnologias e alternativas no
campo da construção sustentável, em especial, os materiais mais sustentáveis existentes
que podem ser utilizados nessas edificações para viabilizar residências unifamiliares com
menor custo econômico e redução de impactos socioambientais.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Metodologia

Inicialmente foi realizada uma coleta de dados das certificações Alta Qualidade
Ambiental (AQUA) e Leadership in Energy & Environmental Design (LEED), seguido
de uma análise das dificuldades recorrentes entre diversos autores, originando assim uma
lista de parâmetros a serem analisados quando se deseja analisar qual o material mais
adequado a ser empregado na obra.
Originando uma tabela em que os materiais são analisados de acordo com vários
parâmetros e ao fim desta análise os mesmos recebem uma nota facilitando a análise do
material é o mais indicado para a necessidade em questão.
A lista de parâmetros foi resultado das dificuldades apresentadas principalmente
por Bissoli-Dalvi (2013), Santesso (2013), Kwai (2014) e por Silva (2008). Sendo os
parâmetros de análise seguintes: (1) A durabilidade do material é refletida na vida útil e
no preço, (2) A reciclagem é mais cara que a disposição e transportes corretos, (3) Alta
disponibilidade, (4) Baixa manutenção, (5) Baixo custo, (6) Consome muita água, (7)
Consome muita energia, (8) É renovável, (9) É reutilizável e/ou reutilizado, (10) Fácil
manuseio, (11) Funciona como isolante térmico e/ou acústico, (12)Gera pouco resíduo,
(13) Necessita de outro material, que pode contaminar o canteiro de obras, (14) Necessita
possuir um treinamento especializado, (15) O material possuí algum selo ambiental, (16)
Pode ocorrer uma parceria com ONG’s, cooperativas, Associações sem fins lucrativos,
(17) Pode ser reaproveitado, (18) Possuí algum material perigoso na composição, (19)
Possuí logística reversa, (20) Requer mais e/ou outros materiais para o acabamento, (21)
Visualmente agradável quando instalado.
Tais parâmetros foram escolhidos visando simplificar a análise de materiais. O
responsável por selecionar os materiais deve analisar individualmente cada material e
assinalar cada linha da planilha uma única vez na melhor resposta para cada parâmetro.
Cada resposta possui um valor diferente e, consequentemente, pode-se originar um
ranking que será resultado da média aritmética simples das notas atribuídas, conforme a
equação 1, a cada parâmetro contido na tabela, sendo os valores de cada parâmetro; 5
(cinco) para excelente, 3 (três) para bom, 1 (um) para regular, -1 (menos um) para ruim e
-3 (menos três) para não existe (tabela 1).

∑ Parâmetro
𝑀= (1)
21

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TABELA 1 – Planilha para a análise dos materiais selecionados

Fonte: Elaborado Pela Autora

3. Resultados e discussão

Como resultado parcial da pesquisa foi obtido em sua primeira etapa uma maneira
simples de classificar materiais e auxiliar na tomada de decisão, pois ao atribuir valores
(notas) aos materiais e fornecer a possibilidade que ainda criar rankings individuais, como
por exemplo um ranking de materiais com preço classificados como excelente, que
facilitará o entendimento e seleção dos materiais mais adequados às necessidades/
expectativas de cada edificação.
Entretanto durante as tentativas de aplicação da metodologia ocorreu resultados
discrepantes para um mesmo material devido a subjetividade de alguns parâmetros
tornando-se, portanto, necessária uma padronização para a interpretação dos parâmetros
e suas respectivas notas, desta forma a segunda etapa resultou em um guia de como
interpretar os parâmetros e outro de como pontua-los.

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3.1 Interpretando os parâmetros

Para auxiliar o uso da tabela na atribuição de notas segue um pequeno roteiro, que
consiste na resposta ideal de cada pergunta para se atribuir nota máxima, juntamente com
pontos que causam a diminuição da nota do material, segue então o roteiro.

1- A durabilidade do material é refletida na vida útil e no preço

Para garantir a nota máxima o preço dividido pelo valor numérico da vida útil
deve ser menor ou igual ao valor de mercado do material tradicional equivalente. Para o
cálculo utilize a fórmula 2.
Vida útil
Durabilidade = (2)
Preço
Para diminuição da nota levar em consideração preços muito elevados que não
condizem com a realidade da obra e/ou do mercado, assim como a durabilidade e/ou a
vida útil do material sustentável ser menor que a do material tradicional.

2- A reciclagem é mais cara que a disposição e transportes corretos

Para garantir a nota máxima deve-se verificar que o destino ambientalmente


correto mais econômico é a reciclagem, tendo como opções levar em eco pontos, destinar
o resíduo para ONG’s ou fazer parcerias com cooperativas, pois dessa forma diminui a
pressão sobre aterros sanitários e de inertes.
A diminuição de nota ocorrerá conforme a reciclagem se torne a opção de
destinação correta de maior valor, assim quanto mais cara a reciclagem em relação aos
outros tipos de disposição correta, menor será a nota.
3- Alta disponibilidade

Para obter a nota máxima o material sustentável deve ser de fácil aquisição não
necessitando esperar longos prazos ou prazos maiores que os do material tradicional
equivalente para obtê-lo. Desta forma o rebaixamento da nota ocorrerá sempre que o
material sustentável possuir um prazo de entrega maior que o do seu equivalente
tradicional e quanto maior esta diferença menor será a nota.

4- Baixa manutenção

A nota máxima será obtida sempre o material sustentável necessitar de


preferencialmente baixíssima ou nenhuma manutenção, pois evita a produção de mais
resíduos, ou seja, a nota será diminuída conforme a necessidade de manutenção requerida

360
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
pelo material.

5- Baixo custo

A nota máxima e a diminuição da mesma estão diretamente relacionadas com o


preço do material, quanto mais barato de se adquirir o material maior a nota, caso seja
gratuito a nota será máxima, e quanto maior o valor de aquisição menor será a nota.

6- Consome muita água

A nota máxima está relacionada a baixa ou nula necessidade de água para se


instalar o material unida sempre que possível com o ciclo de vida do material, para se
saber a quantidade do consumo de água na produção do material, portanto quanto mais
água envolvida na produção e instalação do material menor a nota e quanto menor o
consumo de água maior a nota.

7- Consome muita energia

A nota máxima está relacionada a baixa ou nula necessidade de uso de energia


para se instalar o material unida sempre que possível com o ciclo de vida do material,
para se saber a quantidade do consumo de energia na produção do material, portanto
quanto maior o uso de energia envolvida na produção e instalação do material menor a
nota e quanto menor o consumo de energia maior a nota.
O uso de energias renováveis para a produção/instalação é um fator em que a nota
não é diminuída, já o uso de energias não renováveis é um fator que diminui a nota.
8- É renovável

A nota máxima está relacionada ao fato do material ser um produto reciclado e/ou
reutilizado ou com o fato de ser desenvolvido com tecnologias renováveis. A nota diminui
de acordo com a ausência de produtos renováveis e/ou reciclados e produzidos através de
tecnologias não renováveis.

9- É reutilizável e/ou reutilizado

A nota máxima está relacionada ao fato do material quando finalizado seu uso
possui a possibilidade de ser reciclado e/ou reutilizado. A nota diminui conforme a
impossibilidade de se fornecer outro destino ao material que não seja o descarte em aterro.

10- Fácil manuseio

A nota máxima está ligada a qualquer função relacionada ao fato de armazenar e

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
manipular o material escolhido seja simples, não necessitando de maquinário específico
ou de extremo cuidado em que a majoritária mão de obra da construção civil não seja
capaz de lidar com o material. A nota irá decrescer conforme não atendimento dos
requisitos citados anteriormente.

11- Funciona como isolante térmico e/ou acústico

A nota máxima será atribuída quando o material for um isolante térmico e acústico
simultaneamente. Os fatores que descressem a nota é o material ser isolante térmico ou
acústico, ou nenhum dos dois e claro a eficiência do material deve ser levada em
consideração.

12- Gera pouco resíduo

A nota máxima será atribuída quando o material ao ser utilizado/instalado gere


pouco ou nenhum resíduo. A diminuição da nota ocorre conforme a quantidade de resíduo
gerado e se este resíduo necessita de uma disposição e/ou armazenagem diferenciada.

13- Necessita de outro material, que pode contaminar o canteiro de obras

A nota máxima será atribuída conforme a menor necessidade de outros materiais


para que ocorra a instalação ou quando o material necessário para a instalação já faz parte
do canteiro de obras ou da própria obra.

O decréscimo da nota ocorre sempre que muitos materiais sejam necessários para
a instalação, caso o material extra possua toxicidade para os trabalhadores e para o meio
ambiente ou que o material necessário seja de valor muito elevado e/ou extremamente
específicos.

14- Necessita possuir um treinamento especializado

Para obter a nota máxima o material selecionado não deve necessitar de nenhum
treinamento ou curso próprio para que possa ser instalado, ou seja, qualquer trabalhador
da área de construção civil deve ser capaz de instala-lo. A nota decairá sempre que for
necessário um curso ou treinamento prévio pago e que a empresa não forneça.

15- O material possuí algum selo ambiental

A nota máxima será atribuída sempre que o material possuir um ou mais selos
ambientais reconhecidos, seja em âmbito nacional ou internacional. Lembrando que os
selos ISO são desconsiderados na atribuição da nota e que a mesma pode aumentar ou

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
diminuir conforme a importância do selo.

16- Pode ocorrer uma parceria com ONG’s, cooperativas, Associações sem fins lucrativos

A nota máxima ocorrerá sempre que o resíduo for destinado para locais,
instituições e funções diferentes do aterro. A nota decresce de acordo com a dificuldade
ou inexistência de parcerias.

17- Pode ser reaproveitado

A nota máxima ocorrerá sempre que o material puder ser reaproveitado no próprio
canteiro de obras ou para outra destinação em que não seja descartado
desnecessariamente, o decréscimo ocorre sempre com de acordo com a dificuldade e
inexistência de se reaproveitar o material.

18- Possuí algum material perigoso na composição

A nota máxima sempre ocorrerá quando o material não possuir substâncias ou


materiais perigosos ao ser humano e ao meio ambiente em sua composição e a mesma
decresce de acordo com o nível de periculosidade do material em questão.

19- Possuí logística reversa

A nota máxima sempre será atribuída quando o material possuir uma logística
reversa funcional e a mesma decresce de acordo com a dificuldade ou inexistência da
logística reversa.

20- Requer mais e/ou outros materiais para o acabamento

A nota máxima sempre ocorrerá quando o material analisado não necessitar de


acréscimo de qualquer outro tipo de material para execução do acabamento, portanto a
nota decairá sempre que for necessário adicionar mais materiais para o acabamento e
quanto maior a quantidade necessária e mais caro o material acrescido menor a nota.

21- Visualmente agradável quando instalado

A nota máxima ocorrera sempre que após finalizada a instalação o material


sustentável seja visualmente agradável assim com seu material equivalente tradicional, o
decaimento da nota ocorre sempre que visualmente o material sustentável se apresente
como inferior ao tradicional.

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3.2 Como pontuar os materiais

Durante a escolha de qual a melhor maneira para pontuar o parâmetro analisado,


segue um auxílio na escolha das notas.
Excelente: Nota escolhida sempre que a resposta ao parâmetro possuir um sentido
positivo muito alto. Como por exemplo: Baixo Custo: “Excelente”, pois o preço de
mercado é um concorrente direto dos produtos comumente usados, podendo ser até
menor, sendo assim acessível e competitivo a grande maioria das camadas sócias.
Bom: Nota escolhida sempre que a resposta ao parâmetro possuir um sentido
positivo alto, porém não o mais próximo ao ideal. Como por exemplo: Baixo Custo:
“Bom”, pois o preço de mercado não é concorrente direto dos produtos comumente
usados, porém em promoções pode ter preço menores, mas não atendendo aos
consumidores de todas as camadas sociais.
Regular: Nota escolhida sempre que a resposta ao parâmetro possuir um sentido
de neutralidade e/ou indiferença. Como por exemplo: Baixo Custo: “Regular”, pois os
preços se equivalem em um valor mais elevado no preço de mercado, em que uma
quantidade maior de camadas sociais é excluída.
Ruim: Nota escolhida sempre que a resposta ao parâmetro possuir um sentido
negativo. Como por exemplo: Baixo Custo: “Ruim”, pois o preço do produto comumente
usados já é mais elevado e o produto ambientalmente correto analisado possuir um preço
ainda maior, então boa parte das camadas sociais são excluídas.
Não Existe: Nota escolhida sempre que a resposta ao parâmetro possuir um
sentido de não aplicável. Como por exemplo: Baixo Custo: “Não Existe”, pois, o produto
ambientalmente correto não é vendido ou não existe produto ambientalmente correto
equivalente.

4. Conclusão

Este trabalho busca fornecer uma ferramenta de baixo custo em que seu usuário
não necessite ser especialista no assunto, juntamente com a versatilidade de poder ser
utilizada em construções existentes ou novas, possibilitando assim a garantia do bem-
estar dos usuários da mesma.
Visando analisar a real aplicabilidade desta ferramenta, as próximas etapas do
trabalho consistem em realizar e consolidar os tipos de matérias ditos sustentáveis em que
a nova ferramenta será aplicada possibilitando assim criação de rankings específicos por

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
tipo de material ou um ranking geral, possibilitando que o responsável pela obra possa
selecionar com maior segurança em quais materiais investir diminuindo os riscos de
adquirir um material dito sustentável e o mesmo não se enquadra nos termos da
sustentabilidade e reduzir o risco de prejudicar trabalhadores que entrem em contato com
o material em questão.

5. Agradecimentos

Agradeço ao grupo Acert pela possibilidade de entrar em contato com o tema e a


financiadora PIBIC pela confiança e possibilidade de desenvolver este projeto.

Referências

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O PLANEJAMENTO NO PROCESSO DE GESTÃO DE PESQUISA


NOS PARQUES ESTADUAIS DE SÃO PAULO

Pegler; Gabriela F.1

Catojo; Adriana M. Z.2


1,2
Universidade Federal de São Carlos, CCBS, Programa de Pós Graduação em
Ciências Ambientais. gabipegler@hotmail.com
3
Orientadora, Universidade Federal de São Carlos, CCBS, Departamento de Ciências
Ambientais. acatojo@gmail.com

Resumo: As pesquisas científicas são de extrema importância às Unidades de


Conservação, na medida em que subsidiam melhores práticas e técnicas de manejo e
maximizam os objetivos de conservação dessas áreas. Para uma eficiente gestão de
pesquisa é necessário planejamento, dinâmico e contínuo, necessitando de avaliações de
rápida e prática aplicação. O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia do planejamento
nos Parques Estaduais de São Paulo na perspectiva de sua influência no processo de
gestão de pesquisa. A avaliação foi realizada pela adaptação do método proposto por
Cifuentes, Izurieta e Faria (2000), que compara o cenário ótimo e o atual para cada
indicador estabelecido, associando-o a uma escala padrão com 5 níveis (0 a 4). O
planejamento foi avaliado pelo principal instrumento para esse fim, o Plano de Manejo.
Os Programas de Pesquisa desses documentos foram avaliados por um questionário
enviado aos gestores das Unidades. Obtivemos 23 respostas aos questionários. A maior
parte dos Parques apresentou um desempenho do grupo de indicadores de Planejamento
≤ 40,99%, representando 30,43% do total das Unidades. Os subindicadores associados
aos piores desempenhos estão relacionados à execução tanto do Plano de Manejo quanto
do Programa de Pesquisa, nos permitindo concluir que, apesar da existência e atualidade
de ambos, representados pelo desempenho mediano do subindicadores relacionados, não
há garantia de execução das ações previstas, bem como das metas e objetivos
estabelecidos. Observa-se a necessidade de implementar estratégias que permitam a
execução das ações previstas nos Planos de Manejo, como a qualificação dos responsáveis
por sua execução.
Palavras-chave: Plano de Manejo, Programa de Pesquisa, Parques Estaduais de São
Paulo.

1. Introdução

Os denominados “parques de papel” ainda representam uma realidade mundial,


haja vista a negligência no processo de planejamento em grande parte deles
(TERBORGH; SCHAIK, 2002). Tal processo de planejamento, essencial ao ordenamento
do manejo e gestão das Unidades de Conservação, é considerado dinâmico e contínuo,
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
necessitando de avaliações e análises sistemáticas para a otimização dos resultados em
relação aos objetivos estabelecidos (MILANO, 1997).
A pesquisa, o monitoramento e o gerenciamento desempenham papéis
complementares na conservação das áreas protegidas. A primeira busca por soluções dos
problemas relacionados à efetividade da conservação, além de responder novas questões
decorrentes da gestão dessas áreas. Já o monitoramento permite avaliar o alcance dos
objetivos estabelecidos sob a gestão atual, identificando sucessos e fracassos de um plano
de gerenciamento específico (STAB; HENLE, 2009).
Apesar do volume de informações referentes à ciência da conservação aumentar
enormemente e a necessidade de as ações de manejo, baseadas em evidências científicas
de qualidade, ser um fator evidente, a conversão do conhecimento científico em práticas
de conservação é um problema amplamente reconhecido, assim como a falta de
embasamento científico nas decisões referentes a esforços para conservação (PULLIN;
KNIGHT, 2005), muitas dessas questões justificadas pela ineficiência da gestão de
pesquisa nas áreas protegidas.
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi avaliar a eficácia do planejamento nos
Parques Estaduais de São Paulo na perspectiva de sua influência no processo de gestão
de pesquisa, como parte dos resultados do projeto “A gestão do conhecimento nos
Parques Estaduais de São Paulo”.

2. Material e Métodos

A avaliação foi realizada pela adaptação do método proposto por Cifuentes,


Izurieta e Faria (2000). Participaram do estudo 20 Parques Estaduais, sendo 1 (um) deles
o Parque Estadual da Serra do Mar (PESM), que possui 10 núcleos mas apenas 1 (um)
Plano de Manejo para todos. A inclusão dos PE tinha como critérios a existência de um
Plano Manejo aprovado pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) até
2016, quando a primeira etapa do trabalho de análise dos Programas de Pesquisa foi
iniciada, e o gerenciamento do Parque estar sob responsabilidade da Fundação Florestal
(FF) ou do Instituto Florestal (IF) do Estado de São Paulo. O método original
(CIFUENTES; IZURIETA; FARIA; 2000) propõe a avaliação pelo uso de indicadores
previamente estabelecidos, a comparação entre o cenário ótimo e o atual para cada
indicador e a associação desses cenários a uma escala padrão com 5 níveis (0 a 4). O
maior valor corresponde à melhor situação possível, o “cenário ótimo”, e o menor valor
à pior situação possível de ocorrer no sistema. Um dos aspectos selecionados e adaptados

368
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
para este estudo foi “Planejamento”, com os seguintes indicadores:
• Plano de Manejo – Existência e atualidade desse instrumento técnico de
planejamento, características da equipe de planejamento e execução das
ações previstas no documento.
• Programa de Pesquisa – Diretrizes e linhas de ação necessárias ao
cumprimento dos processos relacionados à pesquisa na área, sendo a
estrutura programática e a existência e o grau de execução das metas e
ações estabelecidas critérios indispensáveis a serem avaliados.
A avaliação foi realizada pelos gestores dos Parques por meio de questionários
enviados via web. Os dados obtidos permitiram a construção de uma matriz, na qual os
“totais ótimos” representam a somatória das maiores pontuações possíveis para cada
indicador, correspondendo a 100% do total a ser alcançado. O somatório das pontuações
das respostas ao questionário gerou um “total alcançado”. Comparando esses dois
valores, obtivemos uma porcentagem capaz de averiguar o comportamento dos aspectos
de Planejamento.
A escala de valoração utilizada nesse estudo é adaptada de Faria (2004), que a
adequou em relação às amplitudes dos níveis de manejo apresentados por Cifuentes,
Izurieta e Faria (2000), visando diminuir a rigidez do processo. Assim, a qualidade de
gestão de pesquisa pode variar entre o desempenho “excelente”, quando a UC avaliada
atinge um percentual ≥ 85 do ótimo e o desempenho “muito inferior”, quando o percentual
alcançado é ≤ 40,99.
A Tabela 1 mostra os níveis de qualidade de gestão de pesquisa para os Parques
Estaduais avaliados.
Tabela 1 – Níveis de qualidade de gestão de pesquisa para os Parques Estaduais.
% do total ótimo Nível de qualidade Quantidades de Porcentagem
de gestão pesquisa Parques
≤ 40,99% muito inferior 5 21,74
41 – 54,99 inferior 9 39,13
55 – 69,99 mediano 4 17,39
70 – 84,99 elevado 5 21,74
≥ 85% excelente 0 0

4. Resultados

Obtivemos 23 respostas aos questionários, sendo oito referentes a respostas dos


gestores dos Núcleos do Parque Estadual da Serra do Mar – PESM. Dos dados coletados

369
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
dos questionários produziu-se o Quadro 1, que apresenta a matriz do grupo Planejamento,
com seus respectivos indicadores e subindicadores associados. Vale salientar que as
questões em branco foram desconsideradas.

QUADRO 1 – Matriz com os dados referentes ao grupo Planejamento, seus indicadores e respectivos
subindicadores.

A seguir, foi elaborada uma matriz mais refinada com os valores dos indicadores
representados pelas médias de seus subindicadores, que retrata a situação do grupo
Planejamento para cada Unidade avaliada (Quadro 2).

370
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
QUADRO 2 – Matriz com os valores dos indicadores representados pelas médias de seus subindicadores.

371
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A Figura 1 apresenta a classificação geral dos Parques quanto ao desempenho do
dos indicadores do grupo Planejamento.

FIGURA 1 – Classificação dos Parques quanto ao desempenho dos indicadores do grupo “Planejamento”.

Legenda:

PERT – PE do Rio Turvo PETAR – PE Turístico do Alto da Ribeira


PECD – PE Caverna do Diabo PECE – PE Campina do Encantado
PESM_Ber – PESM Núcleo Bertioga PESM_Car – PESM Núcleo Caraguatatuba
PEIA – Parque Estadual da Ilha Anchieta PESM_Cur – PESM Núcleo Curucutu
PESM_PD – PESM Núcleo Padre Dória PEMD – PE Morro do Diabo
PERP – PE Rio do Peixe PEC – PE da Cantareira
PESM_SS – PESM Núcleo São Sebastião PEMS_IP – PESM Núcleo Itutinga Pilões
PESM_SV – PESM Núcleo Santa Virgínia PEIC – PE da Ilha do Cardoso
PEPF – PE de Porto Ferreira PECB – PE Carlos Botelho
PESM_Ita – PESM Núcleo Itariru PEI – PE de Intervales
PEV – PE de Vassununga PEJ – PE do Jaraguá
PEIb – PE de Ilhabela

372
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Para os indicadores de Planejamento, a maior parte dos Parques apresentou um
desempenho “muito inferior” (≤ 40,99%), representando 30,43% do total das Unidades
(7 Unidades). Seis Parques ou 26,09% deles obtiveram um desempenho “inferior” (41-
54,99%). 17,39% apresentaram um desempenho “mediano” (55-69,99%), totalizando
quatro Unidades e, por fim, seis Parques obtiveram um desempenho “elevado” (70-
84,99%). Nenhum Parque apresentou um desempenho “excelente” (≥ 85%).
O Parque Estadual do Rio Turvo foi o pior avaliado quanto os indicadores de
Planejamento, provavelmente pelo fato de o gestor da Unidade ter considerado que o
Parque não possui um Plano de Manejo, por tratar-se de um Plano Espeleológico.
Entretanto, esses documentos apresentam Programas de Pesquisa, e, portanto, foram
considerados no estudo.
Não houve diferença discrepante entre o desempenho geral dos indicadores Plano
de Manejo e Programa de Pesquisa (Quadro 2), sendo que o primeiro apresentou um
desempenho “mediano”, posicionado no limite da classe em relação à pontuação obtida
(55 – 69,99), e o segundo teve um desempenho “inferior”, alcançando 45,10% do
percentual ótimo.
A Figura 2 apresenta o desempenho geral dos subindicadores do grupo
Planejamento.

Figura 2 – Desempenho geral dos subindicadores do grupo “Planejamento”.

4. Discussão

Podemos observar, na Figura 2, que os subindicadores que tiveram os piores


desempenhos estão relacionados à execução tanto do Plano de Manejo como um todo,

373
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
quanto do Programa de Pesquisa, nos permitindo concluir que, apesar da existência e
atualidade de ambos, representadas por um desempenho “mediano” dos subindicadores
relacionados a esse aspecto, não há garantia de execução das ações previstas, metas e
objetivos estabelecidos. O subindicador relacionado à equipe de planejamento do Plano
de Manejo e do Programa de Pesquisa apresentou um desempenho “elevado”,
demonstrando que a maior parte desses documentos foi elaborada por uma equipe
técnico-científica interdisciplinar com a devida participação da comunidade.
Dentre os Planos de Manejo dos Parques Estaduais avaliados neste estudo, 70%
foram publicados entre 2008 e 2010 e, portanto, o esforço institucional nesse período foi
investido na elaboração desses documentos. Os resultados apresentados evidenciam a
atual necessidade da implementação de estratégias que permitam à gestão das áreas
executar as ações previstas tanto no Plano de Manejo como um todo, quanto nos
respectivos Programas de Pesquisa.
A baixa correlação entre os dois indicadores pode nos revelar a inexistência de
causalidade entre Planos de Manejo e Programas de Pesquisa bem estruturados e um
desempenho satisfatório das ações previstas nesses documentos de planejamento.

4. Conclusões

Os Parques, categoria de manejo de Unidades de Conservação de Proteção


Integral, possuem como principal objetivo conciliar a conservação da natureza, visitação
pública e a pesquisa científica, sendo a última de grande relevância por possuir a
capacidade de subsidiar a gestão quanto a melhores técnicas/práticas de manejo e tomadas
de decisão.
As pesquisas científicas mostram-se de extrema importância para as Unidades de
Conservação, na medida em que proporcionam a obtenção de conhecimentos e
informações indispensáveis ao manejo ambiental e histórico-cultural dessas áreas. No
entanto, para uma gestão de pesquisa eficiente é necessário haver planejamento capaz de
direcionar as ações previstas para o alcance dos objetivos estabelecidos.
O presente trabalho mostrou que apesar dos Parques possuírem Planos de Manejo,
principal instrumento de planejamento das Unidades de Conservação, sua implementação
mostra-se insatisfatória, assim como a execução dos objetivos e linhas de ação dos
Programas de Pesquisa, o que pode acarretar prejuízos ao processo de gestão de pesquisa.
Milano (1997) considerou que a situação crítica das Unidades de Conservação do país,
àquela época, devia-se mais à falta de implementação dos Planos de Manejo do que à sua

374
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
qualidade, além do processo de deterioração das instituições ambientais. O que se observa
atualmente, no contexto dos Parques Estaduais de São Paulo, é um cenário semelhante.
Visando uma mudança dessa realidade, principalmente no que tange à melhoria
da execução das ações previstas nos Programas de Pesquisa dos Parques, a qualificação
dos recursos humanos nas Unidades mostra-se indispensável para interpretação e total
entendimento do principal documento de planejamento da área. Se as instituições
responsáveis são capazes de criar equipes adequadas e capacitadas para elaboração e/ou
supervisão dos Planos de Manejo, deve-se prever o mesmo empenho na ponta do processo
de gestão, representado pelos técnicos envolvidos nas ações cotidianas das Unidades,
responsáveis pela execução das atividades previstas nos Planos de Manejo.

Agradecimentos

Agradecemos a participação dos gestores dos Parques Estaduais de São Paulo, que
dedicaram um pouco de tempo, em meio às diversas atribuições que lhes competem, para
responderem ao questionário. Agrademos ao Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais da Universidade Federal de São Carlos e à Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa concedida.

Referências

CIFUENTES, M.; IZURIETA, A.; De FARIA, H. H. Medición de la efectividad del


manejo de áreas protegidas. Serie Tecnica no 2. Turrialba, Costa Rica: WWF, GTZ,
UICN. Forest Innovations Project. 2000.

FARIA, H. H. D. Eficácia de gestão de unidades de conservação gerenciadas pelo


Instituto Florestal de São Paulo, Brasil. 2004. 401f. Tese (Doutorado em Geografia) –
Faculdade de Ciências e de Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente
Prudente. 2004.

MILANO, M. S. Planejamento de Unidades de Conservação: um meio e não um


fim. In: Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. 1997, Curitiba.
Anais...Curitiba: IAP: UNILIVRE: Rede Nacional Pro Unidades de Conservação, 1997.
v. 1
PULLIN, A. S.; KNIGHT, T. M. Assessing Conservation Management’s Evidence
Base: a Survey of Management-Plan Compilers in the United Kingdom and Australia.
Conservation biology, 19(6):1989-1996. 2005.

375
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
STAB, S.; HENLE, K. Research, management, and monitoring in protected areas.
In: Gherardi, F., Corti, C., Gualtieri, M. (eds.) Biodiversity conservation and habitat
management, Vol. 1. Encyclopedia of Life Support Systems Vol. 5. EOLSS Publishers,
Oxford, p. 128 - 152, 2008.
STAB, S.; HENLE, K. Research, Management, and Monitoring in Protected Areas.
Biodiversity Conservation and Habitat Management. 2009.Volume I, v. 1, p. 127.

TERBORGH, J.; van SCHAIK, C. Porque o mundo necessita de parques. In:


Tornando os parques eficientes: estratégias para conservação da natureza nos trópicos.
Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2002. p. 25-36.

376
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

PRINCIPAIS FITOFISIONOMIAS PROTEGIDAS PELOS


PARQUES ESTADUAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Lima, Victor M. B. G.1


Catojo; Adriana M. Z.2

1
Universidade Federal de São Carlos, CCBS, Graduação em Ciências Biológicas.
martynguerra@hotmail.com
2
Orientadora, Universidade Federal de São Carlos, CCBS, Departamento de Ciências
Ambientais. acatojo@gmail.com

Resumo: Tendo áreas naturais em sério risco devido ao crescente desmatamento, o Brasil
instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, que versa sobre a
criação e manutenção de áreas para conservação dos recursos naturais e da biodiversidade
a eles associada, dividindo as Unidades de Conservação entre as de proteção integral dos
recursos e as de uso sustentável. No Estado de São Paulo atualmente existem 34 Parques
Estaduais, Unidades de Conservação de Proteção Integral, sendo localizados
majoritariamente nas áreas litorâneas do Estado. São Paulo possui remanescentes da Mata
Atlântica em toda sua área, com porções de Cerrado nas áreas centrais e nas divisas com
os Estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. A fisionomia presente em maior
número de Parques do Estado de São Paulo é a Floresta Ombrófila Densa, seguida da
Floresta Estacional Semidecidual, considerando a predominância da Mata Atlântica nas
Unidades analisadas. Apenas 4 parques possuíam áreas de Cerrado, o que torna essa
fisionomia ainda mais vulnerável e suscetível à degradação. O SNUC prevê ainda a
elaboração de Planos de Manejo para as Unidades de Conservação, que devem conter
informações detalhadas sobre as características da vegetação presente; porém, apenas 21
dos Parques possuíam esse documento e as informações presentes não eram homogêneas,
tornando necessário realizar pesquisas complementares para o agrupamento dos dados.

Palavras-chave: Fitofisionomias, Unidades de Conservação, Parques Estaduais, Mata


Atlântica, Cerrado.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
1. Introdução
A caracterização das áreas naturais do planeta é uma ideia que acompanhou a
origem dos pensamentos filosóficos de Aristóteles, com o primeiro modelo de descrição
do mundo natural, onde posteriormente foram adicionadas informações, sempre atuando
como referência para os estudos da área de botânica, ecologia e ciências ambientais
(Lloyd et al., 1990).
Estima-se que o Brasil possui mais de 56.000 espécies de plantas, em torno de
19% da flora mundial, mas deixa essa diversidade em risco, sem a atuação de políticas
públicas para sua defesa.
A Mata Atlântica (MA) originalmente ocupava uma vasta área do continente sul
americano, a segunda maior em cobertura, depois da Floresta Amazônica (Galindo-Leal;
Câmara, 2005). A estima-se que atualmente seja uma das primeiras em relação a áreas
degradadas, cuja redução chegou a 93% de da cobertura original. O Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 80% do Estado de São Paulo, no período
pré-colonização, eram de Mata Atlântica (Veloso et al., 1992). Atualmente ela ocupa
apenas 27% da área inicial, com matas em diversos estágios de recuperação e menos de
8% de áreas conservadas ou em avançado grau de recuperação (Myers et al., 2000).
Os termos fitofisionomia e formação vegetal são usados como sinônimos, para
descrever o ambiente e a vegetação uniforme de uma área, e foram propostos
paralelamente (Coutinho, 2006). Pela Lei nº 11.428/2006, as seguintes fitofisionomias
compõem a Mata Atlântica (MA): Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista
(“Mata de araucárias”), Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual,
Floresta Estacional Decidual, Manguezais, Restinga, Campos de Altitudes, Brejos e
Encraves Florestais.
Além dessa classificação, também são considerados a altitude, o relevo e a
presença de corpos d’água que podem influenciar a vegetação das áreas. Florestas de
terras baixas, altomontana, montana e etc, são especificações das vegetações que variam
com a altitude do solo destas florestas (Veloso et al., 1992).
O Cerrado (Ce), a vegetação savânica brasileira, é o segundo domínio em áreas
naturais do país, próximo a 200 milhões de hectares (23% do território brasileiro).
Com o avanço das atividades agropecuárias sobre ecossistemas brasileiros, uma
das possibilidades para redução e prevenção de danos foi a criação de Unidades de
Conservação para proteger as áreas naturais. A Lei nº 9.985/2000 criou o Sistema

378
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e regulamenta e categoriza as UC, de
acordo com o uso dos recursos naturais presentes.
As Unidades de Conservação são divididas em duas subcategorias: Unidades de
Conservação de Proteção Integral (UCPI) e Unidades de Conservação de Uso Sustentável
(UCUS). As UCPI são Unidades de Conservação cujo objetivo é conservar os recursos
naturais, não sendo permitida sua exploração direta (Brasil, 2000). Os Parques Nacionais,
Estaduais e Municipais, se enquadram nessa categoria.
A área do Brasil dentro das UC é de 1.550.436 km² e a área total do país de
8.515.759 km² (IBGE, 2017), ou seja, pouco mais de 18% do território nacional estão
dentro de Unidades e a maior parte está nas UCUS, cujos recursos naturais podem ser
explorados (Ministério do Meio Ambiente, 2017).
O Estado de São Paulo apresenta vegetação predominante de Mata Atlântica, do
litoral à região central (Câmara, 1991) e Cerrado na região central e na divisa com Minas
Gerais (Ribeiro et al., 1998). Por ser o Estado que passou pelo processo de
industrialização e urbanização mais acentuado do país, as áreas naturais foram
massivamente degradas e continuam atualmente em constante risco.
São Paulo possui 227 Unidades de Conservação, 97 delas de Proteção Integral
(Ministério do Meio Ambiente, 2017), das quais, 34 são Parques Estaduais. Assim, o
Estado de São Paulo tem papel importante na preservação dos remanescentes de Mata
Atlântica e de Cerrado, por contar com 42% do total de suas UC de usos mais restritivos.

2. Objetivos

O foco deste trabalho foi mapear e manter dados atualizados sobre as


fitofisionomias presentes nos Parques Estaduais de São Paulo, com objetivo de
identificar, e quando possível quantificar essas fitofisionomias e agregar as informações
disponíveis em diversas plataformas num único documento.

3. Material e Métodos

Os objetos deste estudo são os Parques Estaduais de São Paulo.


A pesquisa ocorreu pela consulta aos Planos de Manejo e artigos científicos que
versam sobre a vegetação dos Parques, tendo foco na busca de informações sobre as
fitosionomias presentes nos Parques e quando possível, sua quantificação.
As informações foram pesquisadas nos sítios da Fundação para a Conservação e
Produção Florestal do Estado de São Paulo (FF), do Instituto Florestal (IF) e do Instituto

379
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
de Botânica (IB) da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e no Cadastro
Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) do Ministério do Meio Ambiente.
Considerando que as áreas naturais do Estado de São Paulo possuem fragmentos
remanescentes de MA e de Ce, a pesquisa utilizou as seguintes palavras-chave:
fitofisionomia, formação vegetal, estrutura vegetal, área, uso da terra, mata, cerrado,
vegetação de savana, formação savânica, floresta, campos e reflorestamento.
A classificação mais utilizada nos PM e em documentos oficiais, fornecidos pelo
IBGE, Ministério do Meio Ambiente (MMA) e demais órgão públicos, é a de VELOSO;
RANGEL FILHO; LIMA (1991). Assim, este documento reproduz essa nomenclatura.

4. Resultados e Discussão

Em 2017 foram identificados 34 Parques, organizados em ordem alfabética na


Tabela 1, que mostra as informações sobre os nomes dos PE, suas áreas (ha), as
fitofisionomias presentes e as datas dos Planos de Manejo.
Dos 34 parques analisados, 21 possuem Planos de Manejo publicados, 2 possuem
Planos de Manejo Espeleológicos (Caverna do Diabo e Rio do Turvo), 2 possuem Plano
emergencial de Uso Público (Marinho da Laje de Santos e Restinga de Bertioga), 2 têm
Planos em elaboração e 7 não possuem Plano. O PM do Parque Estadual Turístico Alto
do Ribeira está em análise no Conselho Estadual de Meio ambiente (Fundação Florestal,
2017).
Não há consenso entre denominações para a vegetação dos fragmentos de Mata
Atlântica. Alguns autores nomeiam de maneira diferente a mesma área, para diferenciar
Floresta Estacional Semidecidual de Floresta Ombrófila Densa; BARROS et al., 2002,
acreditam que não é necessária essa diferenciação.
O Parque Estadual do Aguapeí (PEA) possui as fitofisionomias de Floresta
Estacional Semidecidual Submontana original e vegetação de várzeas. Mais de 22% do
total do Parque são Campos Antrópicos; há pequenas porções com cana-de-açúcar (São
Paulo, 2010).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
TABELA 1. Dados referentes aos Parques Estaduais do Estado de São Paulo, seguindo a denominação de
Veloso et al., 1991, para as fitofisionomias.
Parque Estadual Área (ha) Fitofisionomias Plano de
Manejo
1. Aguapeí 9.043,97 MA – FES (Submontana) e Publicado em
Várzeas 2010
2. Alberto Löefgren 174,00 MA – FOD (Submontana) Publicado em
2012
3. ARA 64,30 MA – FES Não Elaborado
4. Campina do 2.359,50 MA – Restinga, Campo de Várzea Publicado em
Encantado e FOD de Terras Baixas 2008
5. Campos do Jordão 8.341,00 MA – FOD (Altomontana) e FOM Publicado em
(Altomontana) 2015
6. Cantareira 7.916,52 MA – FODM, FOD (Submontana Publicado em
e Montana Aluvial) 2009
7. Carlos Botelho 37.644,36 MA – FOD (Altomontana, Publicado em
Montana, Submontana), FOA e 2008
Campo
8. Caverna do Diabo 40.219,66 MA – FOD Montana e Publicado em
Submontana e Campo arbustivo 2010
*PM
Espeleológico
9. Fontes do Ipiranga 562,00 MA – FOD Publicado em
2007
10. Furnas do Bom Jesus 2.069,06 MA - FES e Cerrado Não elaborado
11. Ilha Anchieta 828,08 MA – FOD e Restinga Publicado em
1989
12. Ilha do Cardoso 22.500,00 MA – FOD, Restinga e Publicado em
Manguezal 2001
13. Ilhabela 27.025,00 MA – FOD (de Terras Baixas, Publicado em
Montana, Submontana) e Refúgio 2015
Montano
14. Intervales 46.086,00 MA – FOD (Alto-Montana, Sub- Publicado em
Montana), FOA e FES 2008
15. Itaberaba 15.113 MA – FOD (Montana) Em elaboração
16. Itapetinga 10.191,63 MA Em elaboração
17. Itinguçu 8.134 MA Não elaborado
18. Jaraguá 491,98 MA – FOD com espécies de FES Publicado em
e Cerrado 2010
19. Juquery 1.927,70 MA – FOD (Montana) e Cerrado Não elaborado

20. Jurupará MA – FOD (Montana e


26.250,47 Publicado em
Submontana) 2010
21. Lagamar de Cananéia 40.758,64 MA – FOD (Montana), Restinga, Não elaborado
Manguezal

381
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
...continuação da TABELA 1. Dados referentes aos Parques Estaduais do Estado de São Paulo, seguindo
a denominação de Veloso et al., 1991, para as fitofisionomias.
Parque Estadual Área (ha) Fitofisionomias Plano de Manejo
22. Mananciais de 502,96 MA– FOD (Altomontana), Publicado em
Campos do Jordão FOM, CA e Reflorestamento 2015
de Pinnus
23. Marinho da Laje de 5.000,00 Ecossistema Marinho Emergencial,
Santos 2010
24. Morro do Diabo 33.845,33 MA – FES e Cerrado Publicado em
2006
25. Nascentes do 22.268,94 MA - FOD e FES Não elaborado
Paranapanema
26. de Porto Ferreira 611,55 MA – FES e Cerrado Publicado em
2003
27. Prelado 4.693 MA – FOD e FOM, Restinga, Não elaborado
Manguezais e CA
28. Restinga de Bertioga 9.312,32 MA – Restinga e FOD Emergencial,
2014
PM em
elaboração
29. Rio do Peixe 7.720,00 MA – FES e vegetação de Publicado em
várzea 2009
30. Rio Turvo 73.893,87 MA - FOD (Montana e Publicado em
Submontana), e Campos 2010
arbustivos *PM
Espeleológico
31. Serra do Mar 315.390 MA – FOD, Restinga, CA, Publicado em
Manguezal e Várzea 2008
32. Turístico do Alto 35.712,00 MA – FOD / FOA 1a versão - 2010/
Ribeira (PETAR) e versão parcial
(online) – 2016
33. de Vassununga 2.071,42 MA – FES e Cerrado Publicado em
2009
34. Xixová-Japuí 901,00 MA – FOD (Submontana e de Publicado em
terras baixas) 2010

Abreviaturas:
CA – Campos de Altitude;
FES - Floresta Estacional Semidecidual;
FOA - Floresta Ombrófila Aberta;
FOD – Floresta Ombrófila Densa;
FOM – Floresta Ombrófila Mista

O Parque Estadual ARA (Assessoria de Reforma Agrária) não possui PM e a


literatura é deficiente na caracterização da vegetação. As informações disponíveis

382
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
descrevem a cobertura vegetal como Floresta Estacional Semidecidual (Pref. Mun. de
Valinhos, 2017).
O PE da Campina do Encantando (PECE) possui grandes áreas inundadas e
fisionomia de Restinga. Há fragmentos de Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, e
Campos de várzea às margens do Rio Pariquera Mirim (PM PECE, 2008).
O Parque Estadual de Campos de Jordão (PECJ) tem vegetação de Mata Atlântica,
com as formações: Floresta Ombrófila Densa Altomontana, Floresta Ombrófila Mista
Altomontana e Campos de altitude (Refúgio altomontano herbáceo).
A vegetação do Parque Estadual da Cantareira (PEC) é descrita com três
fisionomias principais: Floresta Ombrófila Densa Montana, Floresta Ombrófila Densa
Submontana e Floresta Ombrófila Densa Montana Aluvial (Negreiro et al., 1974).
No Parque Estadual Carlos Botelho (PECB) as formações vegetais são a Floresta
Ombrófila Densa Altomontana, Floresta Ombrófila Densa Montana, Floresta Ombrófila
Densa Submontana, Floresta Ombrófila Densa Paludosa, Floresta Ombrófila Aberta
Montana e Estepe (Ferreira de Lima et al., 2011).
O Parque Estadual da Caverna do Diabo (PECD) compõe o Mosaico do
Jacupiranga. As fitofisionomias principais do PECD são a Floresta Ombrófila Densa
Submontana e Montana e Campos. Ao redor da “Caverna do Diabo” há vegetação
secundária de floresta ombrófila em recuperação (Figueiredo et al., 2010).
No Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI) a vegetação é de Floresta
Ombrófila Densa, com espécies de Floresta Estacional Semidecidual (Tanus et al., 2012).
O Parque Estadual Furnas de Bom Jesus (PEFBJ) tem a vegetação descrita como
Floresta Estacional Semidecidual e fragmentos de Ce no interior (Oliveira-Filho; Fontes,
2000).
O PM do Parque Estadual da Ilha Anchieta (PEIA) descreve a principal formação
florestal como Floresta Perenifólia Higrófila Costeira, e categoriza como “Mata
Latifoliada” Densa, “Mata Latifoliada” Rala , Restinga e Campo Antrópico (PM, 1989).
O PM do Parque Estadual Ilha do Cardoso (PEIC) descreve cinco formações:
Vegetação pioneira de dunas, restinga, floresta pluvial tropical de planície litorânea,
floresta pluvial tropical e mangue (Noffs; Baptista-Noffs, 1982). As florestas pluviais
atualmente são chamadas de Floresta Ombrófila (Coutinho, 2006).
No Parque Estadual Ilhabela (PEIB) a vegetação é de Floresta Ombrófila Densa
de Terras Baixas, Submontana, Montana, Refúgio Montano e Costão Rochoso. A Floresta
Ombrófila Densa Submontana é a maior formação, com 15.593,353 ha (mais que 53%) e

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
mais de 9.597 ha são vegetação original não degradada. A Floresta Ombrófila Densa
Montana ocupa 12.574,858 ha (43% da área total), e é a segunda maior no Parque. A
Floresta Ombrófila Densa de Terras baixas ocupa 333,02 ha, (1,144% da área total). O
Refúgio Montano ocupa 67,6480 (0,232%) e os Campos Antrópicos menos de 2% da área
(PM, 2015).
Com 46.086 ha, o PE Intervales (PEI) tem fitofisionomia predominante de
Floresta Ombrófila Densa Montana. As outras são: a Floresta Ombrófila Densa Alto-
Montana, Floresta Ombrófila Densa Sub-Montana e a Floresta Ombrófila Aberta
Montana (não descrita para o Estado de São Paulo). Existem Campos e Savanas Alto-
Montanas e Antrópicos, e Floresta Estacional Semidecidual (Sallun; Sallun Filho, 2009).
Para o PE Itaberaba (PEIT) a vegetação da Unidade é descrita como Floresta
Ombrófila Densa Montana com diferentes portes arbóreos (Pellin, 2010).
A vegetação do PE do Itapetinga (PEITP) é composta por Floresta Ombrófila
Densa Montana, na maior parte da UC, e a Montana de Mata Baixa, na Pedra Grande
(Pellin, 2010).
O PE Itinguçu (PETI) pertence ao Mosaico de UC de Juréia-Itatins (MUCJI),
assim como o PE do Prelado (PEP). Levantamentos sobre espécies vasculares mostram
defasagem nas informações dos Parques do Mosaico (Colli-Silva et al., 2016).
O PE do Jaraguá (PEJ) tem a vegetação majoritariamente de Floresta Ombrófila
Densa com espécies de Floresta Estacional Semidecidual. Na região de solo raso ocorrem
algumas espécies típicas de Ce (Souza et al., 2009).
O PE Juquery (PEJU) não possui PM. A vegetação é de Floresta Ombrófila Densa
Montana (Kronka et al., 2005) e existem fragmentos de Cerrado na área (Baitello, 2013).
O PE Jurupará (PEJUR) apresenta as fitofisionomias de: Floresta Ombrófila
Densa Montana, ocupando 20.969,38 ha, a Submontana, em 630,56 ha e vegetação de
afloramento rochoso e reflorestamento. Atividades antrópicas ocupam área de 2.900,85
ha, mais que 11% do Parque (Santiago; Gallo, 2011).
O PE Lagamar de Cananéia (PELC) é um dos três Parques do Mosaico do
Jacupiranga. No PELC existem fisionomias de Restinga e Manguezal, mas predomina a
Floresta Ombrófila Densa Montana (FF, 2017).
O PE dos Mananciais de Campos de Jordão (PEMCJ) apresenta as formações de
Floresta Ombrófila Densa Altomontana, ecótono entre Floresta Ombrófila Mista e
Floresta Ombrófila Densa Altomontana. Existem fragmentos de Pinus (Silva et al., 2007).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O PE Marinho da Laje de Santos (PEMLS) é o primeiro Parque estadual marinho
de São Paulo. Possui um PM Emergencial, que descreve a vegetação como não
significativa.
O PE do Morro do Diabo (PEMD) possui vegetação de Floresta Estacional
Semidecidual, com um pequeno fragmento de Ce (Faria, 2006).
Criado em 2012, o PE das Nascentes do Paranapanema (PENP) não possui PM.
As formações vegetais presentes na área são Floresta Ombrófila Densa Montana
(19.011,86 ha – 74,15% da área total), Floresta Ombrófila Densa Alto-Montana (731,70
ha – 2,85%), Floresta Ombrófila Densa Aluvial (87,15 ha – 0,34%), Floresta Ombrófila
Aberta com bambus (4.131,24 ha – 16,11% do total) e a área restante tem reflorestamento
(Martensen, 2012).
O PE de Porto Ferreira (PEPF) possui as fisionomias de Floresta Estacional
Semidecidual (69,6% da área – 425,63 ha), e Cerrado (30,4% – 185,92 ha), com todas as
fitofisionomias (Tabanez et al., 2003).
O PE da Restinga de Bertioga (PERB) possui um PM Emergencial, de 2014. A
fisionomia predominante é a Restinga, mas também é encontrada Mata de encosta e
Floresta Ombrófila Densa (Moura Banzato et al., 2013).
O PE Rio do Peixe (PERP) possui vegetação de Floresta Estacional Semidecidual.
A vegetação de várzea ocupa 2.293,22 ha, quase 30% do PERP. O Parque tem mais de
2.045 ha de Campo Antrópico (26,5% do território) e uma área com cana-de-açúcar
(3,4%) (PM, 2009).
O PE do Rio Turvo (PERT) também integra o Mosaico Jacupiranga. Possui um
Plano de Manejo Espeleológico. A vegetação é majoritariamente formada pelas Florestas
Ombrófila Densa Submontana e Montana e nas encostas há Campos arbustivos (Paixão,
2010).
O PE da Serra do Mar (PESM) é dividido em 11 núcleos, mas apenas 8 núcleos
integram o PM. O PESM se estende por todo o litoral do Estado e apresenta muitas
formações vegetais, desde Floresta Ombrófila Densa Montana, Submontana, de Terras
Baixas, Estepe, Campos de altitude, Restinga e Manguezal.
Conhecido como PETAR, o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira tem
fitofisionomia predominante de Floresta Ombrófila Densa e Floresta Ombrófila Aberta
(Ivanauskas et al., 2012).
O PE de Vassununga (PEV) é dividido em 6 glebas: “Pé-de-Gigante” (1.212,92
ha), “Capão da Várzea” (12,18 ha), “Capetinga Leste” (231,06 ha), “Capetinga Oeste”

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(331,24 ha), “Praxedes” (152,50 ha) e “Maravilha” (131,52, ha). A Gleba “Pé-de-
Gigante”, com 58,55% da área total, tem vegetação típica de Ce, com trechos de Floresta
Estacional Semidecidual Montana; as outras Glebas possuem remanescentes de Floresta
Estacional Semidecidual (Bertoni et al., 1986).
O PE Xixová-Japuí (PEXJ) possui território terrestre e marinho. Na porção
terrestre a vegetação é de Floresta Ombrófila Densa Submontana e Floresta Ombrófila
Densa de Terras Baixas. Do total, 4,85 ha possuem sedimentos marinhos recentes com
vegetação arbórea/arbustiva (PM, 1997).
A maior parte das UC do Estado de São Paulo se encontra na porção litoral ou
proximidades, na região remanescente de Mata Atlântica.
A Tabela 2 mostra que a fisionomia mais comum entre os Parques é a Floresta
Ombrófila Densa, encontrada em 24 dos 34 Parques. A Floresta Estacional Semidecidual
é a segunda mais comum, presente em 9 Parques, seguida da vegetação de Restinga, em
6 Parques, e de Cerrado, em 4 Parques. Nenhum Parque apresenta Floresta Estacional
Decidual.
TABELA 2. Fitofisionomias presentes nos Parques Estaduais do Estado de São Paulo.
Fitofisionomia Parques Estaduais
PEAL / PECJ / PEC / PECB / PECD / PECE / PEFI / PEI / PEIA / PEIB /
Floresta Ombrófila Densa PEIC / PEIT / PEITP / PEJ / PEJU / PEJUR / PELC / PEMCJ / PENP / PERB
PERT / PESM / PETAR / PEXJ
Floresta Ombrófila Mista PECJ / PEMCJ
Floresta Ombrófila Aberta PEI / PENP / PETAR / PECB
Floresta Estacional Semidecidual PEA / PEARA / PEFBJ / PEI / PEJ / PEMD / PEPF / PERP /PEV
Floresta Estacional Decidual -
Restinga PECE / PEIA / PEIC / PELC / PESM / PERB
Várzea PEA / PERP
Manguezal PEIC / PELC / PESM
Cerrado PEJU / PEMD / PEPF / PEV

Dos que têm Plano de Manejo, apenas 3 possuem vegetação cerrado: PEMD,
PEPF e PEV. O PM do PEMD não quantifica as áreas; o do PEPF apresenta 185,92 ha e
o PM do PEV indica uma área de 1.212,92 ha; somadas, há menos de 2.000 hectares de
vegetação de Cerrado protegidos dentro dos Parques Estaduais.
Dos Parques analisados, apenas 9 possuíam informação detalhada sobre as
fisionomias, com porcentagens de áreas ocupadas: PEA, PEIB, PEJUR, PEMD, PEPF,
PENP, PERP e PEV. Com exceção do PENP, essas informações estavam nos PM. O fato
de os Planos de Manejo apresentarem essas informações demonstra sua importância para
a caracterização da vegetação das Unidades.

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Porém, as informações presentes nos Planos de Manejo são incompletas, e apesar
de todos trazerem a caracterização das fisionomias presentes nas áreas, apenas 8 dos 21
Planos traziam informações com descrição da vegetação e da quantidade de área coberta,
deixando incompleta a caracterização dessas Unidades de Conservação.

5. Conclusões

Planos de manejo são documentos obrigatórios e fundamentais para a gestão das


UC (SNUC, 2000). Sua elaboração deve trazer a descrição minuciosa das características
da vegetação presente, permitindo a pesquisa para identificar a fragilidade na proteção de
alguns ambientes.
A Mata Atlântica tem predominância dentro dos Parques, o que pode ser explicado
pela presença da maioria dos Parques ocorrer na região litoral ou nas proximidades.
Nessa fitofisionomia, a mais presente nos Parques é a Floresta Ombrófila Densa.
Com apenas 4 Parques apresentando vegetação de Cerrado, ele é mantido numa
situação precária de conservação nesta categoria de Unidades de Conservação no Estado
de São Paulo.
É indispensável a elaboração dos Planos de Manejo para poder discutir políticas
públicas voltadas à conservação das áreas naturais do Brasil.

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390
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

PROPOSTA DE UMA ESTRUTURA CONCEITUAL PARA


PROMOVER O MANEJO DOS ECOSSISTEMAS DE ÁREAS
ÚMIDAS NA AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA

Silva, Fabio L.1; Stefani, Marta S.2; Cunha-Santino, Marcela B.3; Bianchini Júnior,
Irineu 4

Smith, Welber S. 5
1
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade
Federal de São Carlos, São Carlos-SP, Brasil. E-mail: fabioleodasilva@gmail.com
2
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Universidade de
São Paulo, Itirapina-SP, Brasil. E-mail: ma_stefani@hotmail.com.
3
Universidade Federal de São Carlos; Departamento de Hidrobiologia; Laboratório de
Bioensaios e Modelagem Matemática; Programa de Pós-Graduação em Ecologia e
Recursos Naturais, São Carlos-SP, Brasil. E-mail: cunha_santino@ufscar.br.
4
Universidade Federal de São Carlos; Departamento de Hidrobiologia; Laboratório de
Bioensaios e Modelagem Matemática; Programa de Pós-Graduação em Ecologia e
Recursos Naturais, São Carlos-SP, Brasil. E-mail: irineu@ufscar.br.
5
Universidade Paulista (campus Sorocaba-SP); Laboratório de Ecologia Estrutural e
Funcional; Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental,
Universidade de São Paulo, Itirapina-SP, Brasil. E-mail: welber_smith@uol.com.br.

Resumo: Os ecossistemas de áreas úmidas continuam entre os mais ameaçados em todo


o mundo, desde 1700 EC, aproximadamente 87% da área total desses sistemas pode ter
sido perdida. A Conservação sobre Diversidade Biológica (CDB) e a Convenção
RAMSAR estabeleceram acordos para lidar com essa questão. Nesse contexto, as
políticas podem auxiliar na tomada de decisão e favorecer o atendimento desses acordos
internacionais durante o processo de desenvolvimento. Sendo assim, a Avaliação
Ambiental Estratégica (AAE) de planos, programas e políticas auxilia no entendimento
das implicações das ações e possíveis alternativas para o processo de desenvolvimento.
Buscando auxiliar na gestão das áreas úmidas, uma estrutura conceitual e geral pautada
na AAE foi desenvolvida. A estrutura possui cinco etapas: (i) ecossistemas de áreas
úmidas e processo de desenvolvimento, (ii) áreas úmidas prioritárias e sua avaliação, (iii)
avaliação de impactos sobre áreas úmidas e identificação de alternativas sustentáveis, (iv)
alternativas de comparação e (v) monitoramento de ações estratégicas. Conclui-se que a
estrutura conceitual auxilia no atendimento dos acordos estabelecidos
internacionalmente, contudo, é necessário o fornecimento de recursos para a sua
implementação e consercvação das áreas úmidas.

Palavras-chave: Manejo de ecossistemas; instrumento de política ambiental;


planejamento; desenvolvimento sustentável.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
1. Introdução

Muitos esforços têm sido direcionados para a preservação das áreas úmidas nos
últimos anos, porém esses ecossistemas encontram-se entre os mais ameaçados na
atualidade, principalmente pela perda de qualidade da água, destruição dos habitats,
rupturas em sua continuidade e redução dos serviços ambientais fornecidos por essas
áreas (MA, 2005; SECRETARIAT OF THE CONVENTION ON BIOLOGICAL
DIVERSITY, 2014). Segundo Davidson (2014), aproximadamente 87% das áreas úmidas
globais foram perdidas entre o período que compreende 1700 EC e os dias atuais, porém
os maiores níveis de perdas ocorreram no século passado (64 - 71%). O agronegócio e a
urbanização surgem como os principais diretores do processo de conversão das áreas
úmidas, dada a necessidade de se fornecer alimentos e abrigo para uma crescente
população urbana (MA, 2005; CHARLES et al., 2010; SECRETARIAT OF THE
CONVENTION ON BIOLOGICAL DIVERSITY, 2012).
Diante da necessidade de lidar com o comprometimento dos ecossistemas de áreas
úmidas, a formulação de medidas começa a ser fomentada, bem como políticas públicas
ambientais. Nesse sentido, destaca-se o Plano Estratégico para a Biodiversidade 2011 -
2020, estabelecido pela Conservação sobre Diversidade Biológica (CDB), cujo principal
intuito é a redução da depledação dos ecossistemas naturais que são responsáveis pela
provisão de serviços ambientais essenciais para a humanidade (CBD, 2010). O Plano
Estratégico (2016 - 2014) elaborado pela Convenção RAMSAR em 2015, também trata-
se de uma das medidas que visam auxiliar na preservação das áreas úmidas, visto que
estabelece a necessidade de suas partes "prevenir, parar e reverter a perda e degradação
das zonas úmidas" (CONVENÇÃO RAMSAR, 2015).
Apesar de formalmente assumir o compromisso de cumprir esses acordos
internacionais, o Brasil parece desrespeitar essas medidas, dada a adoção de iniciativas
governamentais que desrespeitam o conteúdo dessas políticas e favorecem à expansão da
rede hidrelétrica e o desenvolvimento da aquicultura (LIMA JUNIOR et al. 2016). A Lei
de Proteção da Vegetação Nativa - LPVN (Lei Federal 12.651/2012), norma que versa
sobre ecossistemas terrestres e suas interfaces com os ambientes aquáticos, trata-se de um
mecanismo precário e isento de uma abordagem ecologicamente embasada para proteger
nossas áreas úmidas (PIEDADE et al., 2012; BRANCALION et al., 2016). Este
dispositivo permite a antropização de áreas naturais, anteriormente protegidas pelo
Código Florestal de 1965 (Lei Federal nº 4.771/1965), favorecendo o agronegócio e o

392
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
progresso do desenvolvimento em todo o país, uma vez que por meio de uma redação
menos restritiva em alguns aspectos e mais permissiva em outros (e.g. o pulso de
inundação não é considerado na delimitação das áreas de preservação permanente).
Tendo como base o arcabouço jurídico brasileiro, percebe-se que a política urbana
pode auxiliar a preencher a lacuna existente na LPVN, no que refere-se à proteção das
áreas úmidas. O Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) é o mecanismo que regula
a política urbana brasileira, define instrumentos para o planejamento urbano e orienta o
desenvolvimento das cidades (PLÉROLA & ALMEIDA, 2016) em todo o território
nacional. Um dos instrumentos que merece destaque é o Plano Diretor, instrumento que
desempenha um importante papel no processo de desenvolvimento das cidades,
organização espacial de todo território do município, promoção da função social e direito
à realização da cidade (CARVALHO & RODRIGUES, 2017).
O Plano Diretor trata-se de um instrumento com força de lei, dada a sua aprovação
pelos mebros do conselho municipal. Tal mecanismo abrange todo o território municipal
(i.e. áreas urbanas e rurais) e fornece elementos que favorecem o gerenciamento do
município. Buscando realizar a verificação da concretização dos objetivos e o
estabelecimento de novos, uma revisão do Plano Diretor é exigida a cada dez anos. Tendo
como base o seu caráter estratégico, entende-se que esse instrumento de política urbana
pode trazer elementos que favoreçam a gestão dos ecossistemas de áreas úmidas no nível
local.
Diante do exposto, nota-se que as políticas públicas ambientais internacionais
podem influenciar no processo de desenvolvimento em todos os níveis (i.e. nacional,
estadual e local). Sendo assim, é imprensidível a realização de uma análise cuidadosa dos
impactos ambientais adversos na formulação da ação estratégica (MORTBERG et al.,
2008). Portanto, existe a necessidade da implementação de uma proteção ambiental que
seja efetiva e voltada para os ecossistemas de áreas úmidas (SCHULZ et al., 2014). Nesse
contexto, a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) de planos, programas e políticas
pode contribuir no levantamento das principais implicações das ações governamentais e
alternativas que possibilitem um desenvolvimento ambientalmente sustentável,
prevenindo a ocorrência de interferências antrópicas na saúde coletiva e deterioração dos
ecossistemas (BINA et al., 2011; DOREN et al., 2012).
A AAE pode contribuir na gestão das zonas úmidas em nível local, já que contribui
para a proteção de características essenciais (e.g. socioculturais, ecológicas), além de
influenciar a tomada de decisão, principalmente no que refere-se aos recursos naturais e

393
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
serviços ambientais (HETTIARACHCHI et al., 2014; GENELETTI, 2015; LAVOIE et
al., 2016). Tendo os diferentes contextos de desenvolvimento e assumindo a estrututa
clássica da AEE como premissa, elaborou-se uma estrutura conceitual para inserir os
ecossistemas de áreas úmidas no processo de desenvolvimento. Características ecológicas
e elementos normativos na estrutura da AAE (THERIVEL, 2004) foram incluídos,
considerando todas as etapas e buscando integrar decisões estratégicas e políticas durante
o manejo de áreas úmidas.

2. Material e métodos

Partiu-se do princípio de que a ação estratégica (e.g. políticas, programas,


projetos) é uma abordagem que possibilita a proteção das áreas úmidas, permite mudanças
no cenário de degradação e possibilita a promoção de sua conservação, conforme exigido
pelos acordos internacionais e mecanismos nacionais (e.g. Política Nacional de Meio
Ambiente, Política Nacional de Recursos Hídricos, Política Nacional de Biodiversidade).
Ressalta-se que a AAE pode estar inserida no processo de tomada de decisão, adotando
uma ênfase ambiental integrada que abrange o todo o contexto de aplicação (OLIVEIRA
et al., 2009).
A formulação da estrutura conceitual pautou-se na estrutura clássica da AAE,
assim como a sua abordagem, buscou integrar a experiência relacionada com a
governança das áreas úmidas e proteção dos seus serviços essenciais (i.e. THERIVEL,
2004; HETTIARACHCHI et al. 2014; GENELETTI, 2015). Considerando uma
abordagem geral, elementos que contribuirão para inserir tanto as políticas públicas
internacionais e as nacionais no contexto de desenvolvimento foram incluídos. A
aplicação desta estrutura pode ser redesenhada para atender às características peculiares
dos governos, auxiliando na tomada de decisão e promovendo a proteção das áreas
úmidas nos níveis administrativos, principalmente no nível administrativo local, onde as
políticas e os planos são mais aplicados de maneira efetiva.

3. Resultados e discussão

Uma estrutura contendo cinco etapas para integrar o manejo de áreas úmidas no
contexto da AAE (Figura 1) foi desenvolvida. Tal estrutura permite a integração de
elementos dos diferentes níveis de governança (e.g. nacional, estadual, local), assim como
favorece a inserção de políticas internacionais. A abordagem adotada, permite a
integração dos serviços ambientais fornecidos pelas áreas úmidas no processo, situação

394
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
também explorada por Geneletti (2015).
Primeiramente, é preciso identificar um levantamento das principais fontes de
ação estratégica que influenciam no processo de desenvolvimento, incluindo a legislação
relacionada com os ecossistemas de áreas úmidas. Esse levantamento possibilita
identificar os elementos afetados pela implementação de mecanismos e ações
reguladoras, além dos elementos que precisam ser listados no escopo. O início da etapa
pode ocorrer mediante a identificação dos principais usos antropogênicos das áreas
úmidas (e.g. econômico, educacional e cultural). A existência de experiências prévias
contribui para o ajuste e formulação de estratégias, contudo, é indispensável a
consideração da base institucional para a promoção da AAE em cada contexto.

FIGURA 1 - Estrutura conceitual para integrar o manejo das áreas úmidas na AAE. Fonte: Silva
(2018)

Na sequência, deve ocorrer a identificação dos ecossistemas de áreas úmidas com


elevada importância ecológica, assim como os serviços ambientais por eles
proporcionados. Deve-se verificar os sistemas mais ameaçados, situação que favorece o
estabelecimento de medidas protecionistas. Abordagens ecológicas tornam-se necessárias
nessa etapa, sendo assim, parcerias com a academia pode favorecer a determinação do
status de cada área úmida existente. O caráter multidisciplinar da equipe garante a
consideração de características vitais (e.g. fragilidade ambiental, determinantes sociais,

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
riscos de conversão em outros usos da terra) para o processo.
A obtenção da linha base é um fator de extrema importância, visto que auxilia na
identificação da situação atual dos ecossistemas de áreas úmidas e serve como base para
o desenvolvimento das etapas seguintes.
A etapa seguinte demanda uma consulta especializada, já que todo efeito benéfico
e adversos relacionados com o processo de desenvolvimento devem ser identificados.
Medidas de ação com foco nas necessidades reais da população e que respeitem o
funcionamento dos sistemas ecológicos devem ser consideradas. O emprego de
indicadores é essencial, pois permitem verificar se a efetivação das medidas está
ocorrendo de fato, porém eles devem ser adequados ao contexto e objetivos.
A comparação das alternativas deve ocorrer somente quando todos os impactos
decorrente do processo de desenvolvimento forem identificados. Nota-se a existência de
uma forte relação dessa etapa com os dados da linha base e o instrumento de política
ambiental Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). Somente devem ser selecionadas
aquelas medidas que de fato mitiguem os impactos adversos e potencializem os benéficos,
preservando assim os ecossistemas naturais e não alterando significativamente os
objetivos da ação estratégica.
A aplicação da AAE voltada aos ecossistemas de áreas úmidas demanda uma boa
compreensão desse instrumento, situação que faz necessário uma boa avaliação do
documento gerado e o estabelecimento de conexões com todos os níveis de decisão
(FISCHER, 2010; BINA et al., 2011). Nesse passo, deve-se verificar se o processo de
desenvolvimento está sendo promovido sem o comprometimento da integridade
ecológica dos sistemas de áreas úmidas mediante o emprego de indicadores (e.g.
FISCHER, 2010).
A consulta pública é um aspecto importante que oferece a possibilidade de incluir
algumas características socioeconômicas essenciais, necessidades vitais das partes
interessadas e possíveis problemas não levantados pelos especialistas. Problemas podem
ser evitados ou simplificados e o bem-estar da população tem mais chances de ser
assegurado de forma efetiva. Também é importante a consulta específica de organizações,
como seção de gerenciamento ambiental pertinente, ou o departamento responsável pelo
uso dos recursos naturais. A participação do Comitê de Bacia Hidrográfica é essencial
nessa fase, visto que trata-se de um órgão formado pela academia e a sociedade civil
organizada.
Dada a sua capacidade de sintetizar informações, os indicadores auxiliam na

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
verificação da implementação de cada etapa descrita anteriormente. Na AAE, os
indicadores são uma ferramenta que são úteis de maneira técnica e comunicativa (GAO
et al., 2017), visto que possibilitam a difusão de informações para o público. Pensando
no contexto apresentado, indicadores passíveis de serem utilizados são apresentados na
Tabela 1. O principal intuito foi maximizar os esforços voltados para o gerenciamento
das áreas úmidas, bem como o emprego de elementos que refletem a assiduidade das
metas durante a implementação da ação estratégica.
A estrutura desenvolvida permite o atendimento dos objetivos estabelecidos nas
conferênciais internacionais, a abordagem adotada permite a promoção da proteção dos
ecossistemas de áreas úmidas e o processo de deselvolvimento, salvaguardando a
prestação de serviços dos ambientais e favorecendo a conservação da diversidade
biológica. A consideração de todos os elementos influenciadores (e.g. políticas, planos)
no momento da formulação da ação estratégica e experiências anteriores contribuem para
o adequado gerenciamento das áreas úmidas (Figura 2) e reversão do cenário de
degradação.

FIGURA 2 - Ação estratégica e o manejo das áreas úmidas. Fonte: Adaptado de Silva (2018).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
TABELA 1 - Indicadores para auxiliar na implementação da estrutura conceitual
Fase Indicador Descrição Referência
Sistema de grade baseado na performance do
1 Score qualitativo trabalho, onde é possível atribuir notas de A a G, de Fischer (2010)
acordo com o a qualidade do atendimento
Determina as funções das várzeas e sua condição
ambiental, indicando áreas prioritárias e
Avaliação Funcional do
características ambientais importantes (funções WPEM (2009)
Processo
hidrológicas, sítios RAMSAR) necessárias para a
baseline e análise dos serviços ambientais
Permite um processo de análise multicritério e
fornece o valor ecológico das várzeas após alguns
ajustes, bem como a conectividade e integridade
2 Valor Ecológico Lavoie, Deslandes, Proulx
desses sistemas. É possível identificar áreas (2016)
(MACBETH)
prioritárias para manejo ou proteção e o
estabelecimento de parâmetros para a análise
multicritério
E.g. CCME (1995); Resolução
Permite a comparação entre as áreas mediante os CONAMA n° 355 (Brasil,
Guidelines e valores de
valores adotados como referência para as varáveis 2005); Mecanismos
background regulatórios de agências
limnológicas
ambientais
E.g. Indicadores (Sanchez,
2013), Matrizes de Impacto
Determinação de toda a extensão do impacto, assim (Fisher, 2004), Ároves de
Descritivo, analítico e/ou Impacto (Fisher, 2009),
3 como os impactos significativos e formas de Geoprocessamento (e.g. Silva
métodos de envolvimento
mitigação et al. 2017), Avaliação de
Risco Ecológico (ARE), Ad
hoc consultation
Tiering, Hierarquia das Identificação de alternativas apropriadas e
4 E.g. Therivel (2004)
alternativas atendimento das necessidades reais
Fornece elementos essenciais para verificar a
Critério de performance IAIA (2002)
efetividade da AEE
E.g. Índice de Qualidade da
Água (Cvetkovic & Chow-
5 Índices limnológicos, Fornecem informações sobre o estado atual das Fraser, 2011), Índice de
modelos e estrutura da várzeas e facilita a divulgação das informações, geoacumulação (Muller, 1969),
comunidade bem como a sua síntese Estrutura da comunidade de
macroinvertebrados (Hepp et
al. 2010, Allan et al. 2012)
Fonte: Adaptado de Silva (2018)

4. Considerações Finais

A estrutura apresentada auxilia no atendimento dos acordos estabelecidos


inernacionalmente, assim como fornece meios para o atendimento das exigências
presentes nos mecanismos normativos nacionais. A AEE surge como um instrumento de
política ambiental que favorece a redução dos impactos ambientais adversos sobre os
ecossistemas de áreas úmidas, sempre entendendo às demandas existentes no território.
As etapas apresentadas, bem como os indicadores, favorecem o monitoramente e
contribuem para salvaguardar os serviços ambientais prestados pelas áreas úmidas, além
de auxiliar na proteção de sua biodiversidade associada e na promoção do

398
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
desenvolvimento da região de interesse. O sucesso da aplicação da estrutura dependende
da vontade política e da provisão de recursos, materiais e humanos, para a sua
implementação.

5. Agradecimentos

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico - CNPq pelo auxílio fornecido (Processo: 830728/1999-6).

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401
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

PROPOSTA DE ZONEAMENTO VISANDO A IMPLANTAÇÃO DO


PARQUE URBANO SANTA MARTA - CAMBUÍ, SÃO CARLOS-SP

VICENTE, Caroline. P.1; REIS, Giovanna. C.²; DANIEL, Paulo.F.³


Orientador(a): PERES, Renata. B.

1
Discente em Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São Carlos.
carol.pardi@outlook.com;
² Discente em Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São Carlos.
giovannacreis@gmail.com;
³ Discente em Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São Carlos.
paulo.fdaniel@yahoo.com.br;

Resumo: Os parques urbanos podem representar áreas para a conservação da


biodiversidade, mitigação de cheias, atenuação do microclima, proteção dos
remanescentes de vegetação, além de oferecerem espaços socioeducativos, contribuindo
para a melhoria da qualidade de vida e da saúde da população. Na cidade de São Carlos
decretou-se, no ano de 2017, a criação de sete parques urbanos com a finalidade de
proteção dos remanescentes da Mata Atlântica e Cerrado, realização de pesquisa
científica e uso público para atividades culturais e educacionais, recreação e lazer. Para
cada parque deve ser proposta a elaboração de um plano de manejo e zoneamento
ambiental.

Palavras-Chaves: Planejamento Ambiental Urbano, Parques Urbanos, Zoneamento


Interno.

1. Introdução

A constituição assegura o direito do cidadão “ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”
(BRASIL, 1988), previsto no art. 225, ficando sob responsabilidade do Poder Público,
conforme § 1º:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo


ecológico das espécies e ecossistemas;
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material
genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos
e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade.

Desde o século XVII, países europeus começaram a promover e valorizar o uso


da vegetação nas paisagens urbanas, por meio de praças, bosques e parques públicos,
ocupando espaços considerados restritos em meio ao caos das cidades (WHATELY,
2008). Ainda como tema atual, o meio ambiente torna-se o foco em diversas discussões,
principalmente com o objetivo de assegurar a produtividade dos ecossistemas ao longo
das gerações (SCHNEIDER, 2012).
No último ano, em São Carlos (São Paulo), foram instituídos sete parques urbanos
mediante ao Decreto Nº 170 de Julho de 2017, nomeados “Parques Urbanos de Proteção,
Lazer, e Educação Ambiental”. Entre eles estão os Parques Cambuí e Santa Marta,
localizados na região noroeste do perímetro urbano do município. Apesar de estarem no
meio de um bairro residencial, a área verde é bem conservada por causa de um trabalho
de recuperação realizado pela comunidade do entorno que buscou a conscientização, a
solidariedade e a cidadania.
Segundo Gangloff (1996) os parques públicos atraem investimentos, turistas e
geram empregos ampliando do contexto social para o ambiental. São fundamentais como
refúgios de proteção e conservação da biodiversidade além de promover recreação, saúde,
bem estar e um estilo de vida menos sedentário e estressante e menos doente (SORDI &
DAL MAGRO, 2017; THOMPSON, 2012; CARRUS, 2015; SALDIVA, 2018).

403
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Dependendo da característica principal do parque urbano sua função será definida,
classificando-o como recreativo, social, cultural, econômico, educacional ou ambiental
(RIBEIRO, 1998), desta forma é essencial um estudo tanto das características do parque
em si quanto da população ao redor do mesmo.
A criação desses Parques Urbanos gera jurisprudência para uma proposta de
Zoneamento Ambiental nessas áreas, que contribuirá para a preservação local e a
conservação dos processos ecológicos existentes, assegurando benefícios à qualidade de
vida da população. Considerando esses fatores, este trabalho tem como objetivo propor o
zoneamento interno para o Parque Santa Marta e o Bosque Cambuí, definindo diretrizes
para o uso e ocupação do solo, controlando a impacto sobre o ambiente natural ao mesmo
tempo que incentiva uma aproximação da população ao local.

2. Metodologia

2.1. Área de estudo

O Parque Santa Marta se encontra dentro da cidade de São Carlos em meio à área
urbana, sendo um pedaço da Floresta Estacional Semidecídua. É uma área de
aproximadamente 2,7 ha, pertencentes à antiga Fazenda Santa Adele, que foi dividida em
lotes menores para a formação do Bairro Parque Santa Marta, na zona norte da cidade.
Apesar de o entorno do bairro apresentar alto índice de urbanização, o verde nos
parques é bem conservado, com a presença de diferentes tipos de vegetação,
exemplificado no araçá-roxo, fruta-de-pomba, cambuí, canela-sassafrás, peroba-poca,
jacarandá-paulista, tarumã, jequitibá-branco, jatobá, ipê-felpudo, canela-batalha e outras
mais. Em alguns locais do Parque essas interações, fauna-flora, nem sempre ocorrem
porque foram áreas muito desmatadas por ações antrópicas. O local é público e portanto,
de acesso livre a todos que queiram visitá-lo, e como um grande número de pessoas visita
o lugar ocorrem alguns problemas: o pisoteamento de mudas jovens, o afugentamento de
aves e pequenos animais e a retirada de algumas espécies, principalmente orquídeas,
bromélias e cactos pois os visitantes levam para suas casas na intenção de usá-las como
objetos decorativos. Para tentar melhorar essa situação, a Associação dos Moradores do
bairro fez algumas melhorias no local, como a instalação de uma cerca em volta de uma
porção da área para impedir a entrada de carros, implantação de placas de identificação
nas árvores, a definição de trilhas para proteger e manter a integridade do local e plantios
coletivos de espécies nativas. Eventos didáticos e comemorativos são realizados para

404
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
promover uma maior conscientização do público à respeito do Parque e a importância em
preservar áreas como o mesmo, o que auxilia na preservação ambiental de forma geral.
Essas atividades vêm sendo realizadas desde 1994 e já contribuíram para a recuperação
de áreas degradadas e melhoria do aspecto geral do local.
O Parque Cambuí é uma área pública municipal do bairro Parque Santa Marta,
tendo aproximadamente 4 ha originários da mata ciliar dos mananciais urbanos da
microbacia do córrego Santa Maria do Leme e do seu afluente Cambuí. Por iniciativa dos
moradores desta região iniciou-se na década de noventa um processo de restauração,
reabilitação e recuperação da área pública. Atualmente a área em recuperação possui uma
trilha com percurso de 1.500 m adequado para Educação Ambiental e o resultado deste
trabalho de recuperação florestal é visível, as árvores estão desenvolvidas, sequência de
florações e frutificações e os animais retornaram em busca de alimentos e abrigo. A
existência deste patrimônio público só é possível graças à conscientização, a
solidariedade e a participação de pessoas, que por meio de suas demonstrações de
cidadania, promoveram este trabalho de recuperação florestal no Parque Cambuí.

2.2. Métodos

Para a realização deste foram feitos levantamentos bibliográficos prévios,


buscando embasamento para diretrizes de uso de parques urbanos. Além disso, visitas in
loco foram realizadas para buscar aproximação da realidade, bem como a caracterização
da área quanto a reivindicações dos moradores dos bairros do entorno.
Nas visitas foram aplicados questionários para identificar as caraterísticas do
público que provavelmente fará um uso mais intenso das instalações do parque, além de
permitir que os moradores do entorno expusessem suas demandas e o que esperavam dos
parques. Algumas demandas foram apresentadas pela associação de moradores e a ONG
Veredas, atuantes no bairro Parque Santa Marta e entorno.
Após a coleta de dados realizamos o zoneamento interno baseado nas diretrizes
propostas no Roteiro Metodológico do IBAMA (2002) que auxilia o planejamento básico
de uma unidade de conservação.

3. Resultados e Discussão

3.1. Zoneamento

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Diante da análise de mapas e entrevistas e visita de campo, o zoneamento interno
é proposto baseado no roteiro metodológico do IBAMA, buscando utilizar as
classificações de zoneamento de unidades de conservação para a aplicação nos Parques
Urbanos em estudo, sendo que quatro principais zonas são destacadas: Zona Intangível,
Zona de Uso Intensivo, Zona de Uso Extensivo e Zona de Uso Especial, definidas como:
I - Zona Intangível
É aquela onde a primitividade da natureza permanece o mais preservada
possível, não se tolerando quaisquer alterações humanas, representando o mais
alto grau de preservação. Funciona como matriz de repovoamento de outras
zonas onde já são permitidas atividades humanas regulamentadas. Esta zona é
dedicada à proteção integral de ecossistemas, dos recursos genéticos e ao
monitoramento ambiental. O objetivo básico do manejo é a preservação,
garantindo a evolução natural.
II- Zona de Uso Extensivo
É aquela constituída em sua maior parte por áreas naturais, podendo apresentar
algumas alterações humanas. Caracteriza-se como uma transição entre a Zona
Primitiva e a Zona de Uso Intensivo. O objetivo do manejo é a manutenção de
um ambiente natural com mínimo impacto humano, apesar de oferecer acesso
aos públicos com facilidade, para fins educativos e recreativos.
III- Zona de Uso Intensivo
É aquela constituída por áreas naturais ou alteradas pelo homem. O ambiente
é mantido o mais próximo possível do natural, devendo conter: centro de
visitantes, museus, outras facilidades e serviços. O objetivo geral do manejo é
o de facilitar a recreação intensiva e educação ambiental em harmonia com o
meio.
IV - Zona de Uso Especial
É aquela que contêm as áreas necessárias à administração, manutenção e
serviços da Unidade de Conservação, abrangendo habitações, oficinas e outros.
Estas áreas serão escolhidas e controladas de forma a não conflitarem com seu
caráter natural e devem localizar-se, sempre que possível, na periferia da
Unidade de Conservação. O objetivo geral de manejo é minimizar o impacto
da implantação das estruturas ou os efeitos das obras no ambiente natural ou
cultural da Unidade. (IBAMA, 2002)

Os Parques são pequenos perto da paisagem em que se encontram, portanto foram


delimitadas áreas de possível expansão de proteção ambiental, além de integrar todas a
as áreas destinadas a uso através de uma ciclovia, visando melhorar a mobilidade urbana
da região.

406
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
As áreas foram delimitadas a partir de uma análise entre as entrevistas, ou seja, a
vontade da população do entorno, e as possibilidades de proteção do meio ambiente.
Desta forma, viabilizou a recreação com a conservação à partir dos espaços mais
favoráveis para cada tipo de uso.

Figura 1: Proposta de zoneamento interno das unidades de conservação

As áreas com maior uso da população foi classificada como Zona de Uso Intensivo,
permitindo diversos tipos de atividades, aproximando dessa maneira o homem e a
natureza. As áreas nas quais houve um maior receio da população referente ao mau uso
do local foram classificadas como Zona de Uso Extensivo, pois permite a transição de
pessoas no local, porém não dá abertura para certos tipos de atividades prejudiciais ao
meio ambiente.
A região interna da Zona de Uso Extensivo foi classificada como Zona Intangível para
evitar a entrada da população a fim de preservar a natureza sem nenhum tipo de
intervenção humana.
Já as Zonas de Uso Especial foram classificadas dessa maneira para abrir um espaço
que futuramente se destinará a sede do local, e possibilitará edificações, principalmente
para o administrativo do parque com uma área de 0,0019km².

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A ciclovia possui um total de 5,2 km no perímetro do parque, circundando a Zona de
Uso Intensivo (0,13 km²) e a Zona de Uso Extensivo (0,19km²). A Zona Intangível possui
cerca de 0,056km², de forma que essa zona encontra-se no interior da zona de Uso
Extensivo, devido ao objetivo de alta conservação.
As discussões realizadas mostram que a localização dos Parques são muito
próximas da área urbana da cidade, especificamente dentro de zonas residenciais, com
um fluxo intenso de moradores dos arredores, dessa forma o zoneamento define todas as
áreas abrangidas e as possíveis expansões.
Uma das zonas dentro do Parque é a Zona de Uso Intensivo, que são as áreas com
maior utilização pela população. A Zona de Uso Extensivo são as áreas que tiveram
maior descrença por parte da população em relação ao mau uso do local. A Zona
Intangível é uma parte interna da Zona de Uso Extensivo, que foi classificada desta
maneira para evitar o contato intensivo da população, com a intenção de preservar a
natureza. As Zonas de Uso Especial receberam essa classificação para que futuramente
seja um espaço para sede do local.Foi sugerido também a implementação de uma Ciclovia
que vai circundar a Zona de Uso Intensivo, a Zona de Uso Extensivo e consequentemente
a Zona Intangível dentro da zona de Uso Extensivo.

4. Conclusão

O uso intensivo dos recursos naturais que ocorreram nos últimos séculos aliado
ao crescimento urbano desenfreado das cidades, contribuiu de forma significativa para a
diminuição e degradação do meio ambiente, portanto os Parques Urbanos que formaram
o corpus deste trabalho são a alternativa encontrada para todas as questões ligadas a perda
dos recursos naturais que antes existiam, devolvendo assim o equilíbrio necessário.
Visando toda a importância deste tema, o projeto tem como finalidade propor e
auxiliar a melhoria da qualidade de vida e bem estar da população, preservando algumas
das áreas verdes existentes no município. O zoneamento restringe o acesso a algumas
áreas para manter o ambiente natural com o mínimo de impacto humano, além de
colaborar com futuras propostas de aperfeiçoamento local. Por se tratar de um direito civil
previsto em constituição e de preocupação atual e comum a todos os cidadãos
apresentamos essa proposta de zoneamento visando contribuir com o uso consciente do
parques pela população local, gerando assim benefícios à natureza e ao homem.

Referências Bibliográficas

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
BRASIL. Lei Federal n. 6.938 de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política
Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e
dá outras providências. Presidência da República – Casa Civil, Brasília, DF, 31 ago.
1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso
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BRASIL. Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I,
II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza e dá outras providências. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2000. Disponível em:
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GANGLOFF, D. Urban forestry in the USA. Second National Conference on Urban
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em<http://www.ufscar.br/hidro/site/2010/09/bosque-da-santa-marta/>. Acesso em: 06
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ILHA, A. Parques Estaduais, Reservas Biológicas, Estações Ecológicas. In: Roteiro
Metodológico para Elaboração de Planos de Manejo. Rio de Janeiro, 2010
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<http://parquesantamartasc.com.br/?p=448>. Acesso em: 15 abr. 2018
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Biológica, Estação Ecológica. Ministério do Meio Ambiente, Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e da Amazônia Legal, IBAMA, Brasília, 135p, 2002.
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409
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

BANCO DE DADOS DIGITAIS GEORREFERENCIADOS DOS


PLANOS DE MANEJO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE
PROTEÇÃO INTEGRAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Cerqueira, João V. B.
Catojo, Adriana M. Z.

¹ Universidade Federal de São Carlos, Bacharelado em Gestão e Análise


Ambiental.jvbercerqueira@gmail.com
² Orientadora, Universidade Federal de São Carlos, CCBS, Departamento de Ciências
Ambientais. acatojo@gmail.com;

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo realizar pesquisas acerca dos Planos de
Manejo (PM) dos Parques Estaduais de São Paulo e criar um Banco de Dados (BD)
atualizado desses documentos, com base nas pesquisas realizadas nos órgãos
governamentais que gerenciam essas Unidades de Conservação (UC). Esses documentos
são extremamente importantes para o gerenciamento das Unidades e muitas vezes
encontram-se dispersos em diversos sítios, sendo difícil obter as informações necessárias
às pesquisas que se pretende realizar nas Unidades. Colecionados os documentos, foram
obtidas informações, em pdf, dos limites desses Parques Estaduais e de suas Zonas de
Amortecimento, que foram georreferenciadas e digitalizadas para integrar esse BD. Para
a atualização dessas informações foram criados vetores utilizando o software ArcGis
(10.2.2). Apenas algumas dessas Unidades trazem poucas informações no formato
vetorial para serem utilizadas em Sistemas de Informações Geográficas. Muitas das
informações presentes, acessíveis para o público, se encontram desatualizadas ou com
projeções geográficas desatualizadas. Os dados concentrados e organizados em um BD
são de suma importância para a gestão das Unidades, para os pesquisadores que realizam
pesquisas nas UC, para os estudantes que estão iniciando seus conhecimentos nessas áreas
e para o público interessado em obter informações e esclarecimentos sobre essas UC.
Atualmente, essas informações estão armazenadas no Laboratório de Geotecnologias e
Conservação (LAGECON) da Universidade Federal de São Carlos. Estuda-se ainda uma
maneira de disponibilizar as informações para o público por meio de um sítio específico
a ser acessado via internet.
Palavra-chave: Unidade de Conservação; Unidade de Conservação de Proteção Integral;
Parques estaduais; Estado de São Paulo; Plano de Manejo.

1. Introdução

O Plano de Manejo é um documento técnico que contém as orientações e


informações necessárias ao adequado desenvolvimento das atividades e ações definidas
para se cumprir os objetivos da Unidade de Conservação (UC) (Brasil, 2000). Constitui-
se no documento guia para o gerenciamento e a administração da UC.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
De acordo com o SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação – Lei
9985/2000), todas as Unidades de Conservação devem ter seus Planos de Manejo (PM)
elaborados em até 5 anos após sua criação e disponibilizá-los aos pesquisadores e ao
público. Depois de concluídos, devem ser revisados e atualizados a cada dois anos.
Bessa (2015) ressalta que há uma grande importância que esses documentos sejam
revisados periodicamente, para que os dados sejam atualizados e haja correções de erros
das versões anteriores. Além disso, o meio ambiente está em constante mudança, com
ações antrópicas se intensificando por todo o território, portanto, os Planos de Manejo
devem acompanhar essa dinamicidade da natureza, das atividades da região e de
mudanças até mesmo jurídicas.
A maior parte das informações acerca das Unidades de Conservação fica
armazenada nos sítios das instituições governamentais que administram essas UC,
embora haja muitas delas dispersas em diversos outros sítios, o que dificulta a realização
de pesquisas acerca dessas áreas.
Além dos Planos de Manejo, que trazem um conjunto de informações que
auxiliam na tomada de decisão sobre uma determinada porção protegida do território,
outras informações são necessárias às pesquisas sobre essas áreas protegidas.
Assim, este projeto teve como objetivo realizar uma pesquisa mais aprofundada
acerca dos Planos de Manejo das Unidades de Conservação de Proteção Integral dos
recursos naturais (UCPI) do tipo Parque, sob a administração do Estado de São Paulo, e
elaborar um banco de dados dos com informações georreferenciadas dessas áreas
protegidas, com o intuito de organizá-las e facilitar a pesquisa sobre esse tema.
Posteriormente, tornar esse banco de dados acessível a toda comunidade, disponibilizado
em um sítio eletrônico do Laboratório de Geotecnologias e Conservação da
Biodiversidade.
A grande vantagem da geração de dados georreferenciados a partir de SIGs é a
qualidade dos dados e a facilidade de edição e interpretação das informações tanto pelo
software quanto pelo próprio pesquisador. Assim, possuir um banco de dados com
informações georreferenciadas sobre as áreas de estudo, com projeções mais usuais e
atualizadas, auxiliam de forma a resgatar as informações com maior agilidade e
confiabilidade, facilitando as consultas, o ensino e a pesquisa acerca dos Parques
Estaduais de São Paulo.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Metodologia

Para a elaboração desse Banco de Dados inicialmente foram realizadas pesquisas


bibliográficas sobre os Planos de Manejo de Parques do Estado de São Paulo em sítios
eletrônicos governamentais nas esferas federal, estadual e municipais. Nos documentos
obtidos foi feita uma breve leitura para o entendimento do contexto da Unidade de
Conservação. Posteriormente, as figuras de localização dos limites das áreas, presentes
em quase todos os Planos de Manejo, serviram para a digitalização dos limites dos PE.
Para aqueles PM que não possuíam essas figuras, foram realizadas pesquisas em projetos
de lei de criação dessas áreas e em outros documentos oficiais para a obtenção dos limites,
além de artigos científicos.
As figuras de localização foram importadas no Software ArcGis (10.2.2) e depois
georreferenciadas, utilizando a projeção presente no texto do Plano de Manejo ou na
própria figura. A ferramenta utilizada para essa tarefa foi “georeferencing”, atribuindo
coordenadas a pontos específicos da figura. Após essa etapa, os limites foram
digitalizados e foram criados os vetores. Além dos limites dos Parques foram também
espacializadas as suas Zonas de Amortecimento, informação necessária para verificar as
influências antrópicas do entorno sobre essas UC. Com os vetores prontos, foi feita a
reprojeção para SIRGAS 2000, utilizada oficialmente atualmente em documentos
cartográficos.
Esses dados digitais georreferenciados e os planos de manejo foram salvos em
diretórios específicos com o nome de cada Unidade, facilitando o entendimento e a
localização de cada uma das informações geradas.

3. Resultados

Dos 35 Parques Estaduais de São Paulo, 21 possuem Planos de Manejo. A Tabela


1 mostra os nomes dos Parques Estaduais, seus perímetros e áreas (em ha) e os atributos
que foram adicionados ao banco de dados (Fitofisionomias, limites vetoriais, o
zoneamento interno desses PE e suas zonas de amortecimento, organizados em ordem
alfabética.
Desses 21 Planos de Manejo, alguns não apresentam informações necessárias para
a caracterização das áreas, como o limite da zona de amortecimento, caso dos Parques
Ilha do Cardoso, Vassununga, das Fontes do Ipiranga, Ilha Anchieta, da Caverna do Diabo
e do Rio Turvo.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Tabela 1 - Os Parques Estaduais de São Paulo, suas áreas (em ha) e os atributos que foram
adicionados ao banco de dados desses Parques.

Nome do Área (ha) Perímetro Fitofisi- Data do Limites Zonea- Zona de


Parque onomia Plano de mento Amorte-
Estadual Manejo Interno cimento
Águas da 187,60 - MA - - - -
Billings
Aguapeí 9.043,97 80.524,34 MA 2010 Sim Sim Sim

Alberto 174,00 7.563,12 MA 2012 Sim Sim Sim


Löfgren
Ara 64,30 - MA - - - -
Campina do 2.359,50 28.281,66 MA 2008 Sim Sim Sim
Encantado
Campos do 8.341,00 69.436,81 MA 2015 Sim Sim Sim
Jordão
Cantareira 7.916,52 86.301,39 MA 2009 Sim Sim Sim
Carlos 37.644,36 142.461,86 MA 2008 Sim Sim Sim
Botelho
Caverna do 40.219,66 259.472,31 MA ** 2010 Sim Não Não
Diabo
Fontes do 562,00 13.810,54 MA 2007 Sim Sim Não
Ipiranga
Furnas do 2.069,06 34.893,95 MA / Ce * Sim Sim Sim
Bom Jesus
Ilha Anchieta 828,08 19.227,58 MA 1989 Sim Sim Não
Ilha do 22.500,00 89.683,82 MA 2001 Sim Sim Não
Cardoso
Ilhabela 27.025,00 132.841,45 MA 2015 Sim Sim Sim
Intervales 46.086,00 220.145,25 MA 2008 Sim Sim Sim
Itaberaba 15.113 MA - - - -
Itapetinga 10.191,63 - MA - - - -
Itinguçu 5.040 ha - MA - - - -
Jaraguá 491,98 11.165,83 MA /Ce 2010 Sim Sim Sim

Juquery 1.927,70 - MA / Ce - - - -

Jurupará 26.250,47 107.321,48 MA 2006 Sim Sim Sim

Lagamar de 40.758,64 - MA - - - -
Cananéia
Man. de 502,96 11.241,64 MA 2015 Sim Sim Sim
Campos do
Jordão
Marinho da 5.000,00 - *** 2010 Não Não Não
Laje de Santos Marinho

Morro do 33.845,33 120.927,41 MA /Ce 2006 Sim Sim Sim


Diabo

Nasc. do 22.268,94 - MA - - - -
Parana-
panema
*Relatório Preliminar ** PM espeleológico *** Plano Emergencial de Uso Público

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

...continuação da Tabela 1 - Os Parques Estaduais de São Paulo, suas áreas (em ha) e os atributos que
foram adicionados ao banco de dados desses Parques.

Nome do PE Área (ha) Perímetro Fitofisi- Data do Limites Zoneam. ZA


onomia PM Interno
Porto Ferreira 611,55 12.618,82 MA / Ce 2003 Sim Sim Sim
Prelado 1.828 ha - MA - - - -
Restinga de 9.315,46 - MA *** Não Não Não
Bertioga 2014
Rio do Peixe 7.720,00 76.790,60 2009 Sim Sim Sim
Rio Turvo 73.893,87 356.281,88 MA ** 2010 Sim Não Não
Serra do Mar 315.390 1.327.953,20 MA 2008 Sim Sim Sim
Turístico do 35.712,00 164.910,93 MA 2016 Sim Não Sim
Alto Ribeira
Vassununga 2.071,42 48.566,61 MA / Ce 2009 Sim Sim Não
Xixová-Japuí 901,00 23.025,68 MA 2010 Sim Sim Sim
*Relatório Preliminar ** PM espeleológico *** Plano Emergencial de Uso Público

O Parque Estadual do Jaraguá não possui Plano de Manejo, porém possui grande
quantidade de imagens georreferenciadas com características da áreas e informações para
compor o banco de dados. O Parque Estadual da Restinga de Bertioga possui um Plano
Emergencial de Uso Público, porém não possui imagens georreferenciadas, apenas
diretrizes e informações teóricas para uso da área e o Parque Furnas do Bom Jesus possui
apenas um relatório preliminar com algumas informações sobre a área.
No Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) do sítio eletrônico
do Ministério do Meio Ambiente, é possível ter acesso a informações vetoriais sobre
Unidades de Conservação administradas em todas as esferas (federal, estadual e
municipal). Esses dados estão em SAD 69 e em formato KML, o que demanda reprojeção
para o DATUM utilizado atualmente. Dos 35 Parques Estaduais de São Paulo, estão
disponíveis no CNUC as informações vetoriais referentes aos limites de 15 deles:
Aguapeí; Alberto Löfgren; Campina do Encantado; Cantareira; Caverna do Diabo; Ilha
Anchieta; Ilha do Cardoso; Ilha Bela; Morro do Diabo; Porto Ferreira; Rio do Peixe; Rio
Turvo; Serra do Mar; Vassununga e Xixová-Japuí. Para os outros 9, foi necessário
vetorizar as imagens. São eles: Campos do Jordão; Carlos Botelho; Fontes do Ipiranga;
Furnas do Bom Jesus; Intervales; Jaraguá; Jurupará; Mananciais de Campos do Jordão;
Turístico do alto do Ribeira (PETAR). Para 11 PE, não foi possível espacializar os dados.
A Figura 1 mostra a localização desses 24 Parques.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

Figura 1 – Localização dos 24 Parques Estaduais espacializados.

4. Considerações finais

Os Planos de Manejo ainda precisam ser elaborados para muitas dessas Unidades
e muitos deles necessitam ser atualizados, para estarem em conformidade com a
legislação que rege as áreas protegidas.
A atualização dessas informações auxilia a gestão e o manejo dessas Unidades de
Conservação de Proteção Integral.
As informações do banco de dados digitais georreferenciados dos Planos de
Manejo das Unidades de Conservação de Proteção Integral do Estado de São Paulo estão
armazenadas no Laboratório de Geotecnologias e Conservação (LAGECON) da
Universidade Federal de São Carlos. Estuda-se ainda uma maneira de disponibilizá-las
para o público, por meio de um sítio específico a ser acessado via internet.

Referências

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conservação. Disponível em:
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI226407,11049-
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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
BRASIL. (2000). Lei 9.985. Regulamenta o art. 225, parágrafo 1, incisos I, II, III e VII
da Constituição Federal, institui o SNUC e dá outras providências. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9985.htm. Acesso em 09/09/2017

416
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

CONTROLE DA POLUIÇÃO SONORA E PLANEJAMENTO


AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE SOROCABA, SÃO PAULO

Fernandes, Karen A.1


1
Universidade Estadual Paulista – Campus Rio Claro, Ecologia,
ka.fernan10@hotmail.com

Resumo: Muitas atividades humanas geram poluição sonora, a qual pode afetar a saúde e
o bem-estar de animais humanos e não humanos. Ao mesmo tempo em que as atividades
humanas se desenvolvem, o Poder Público (nas esferas federal, estadual e municipal) e a
coletividade são responsáveis por salvaguardar a qualidade ambiental, tal como prevê o
Artigo 225 da Constituição Federal de 1988. Nesse contexto, o estudo visa fazer algumas
considerações acerca das normas que versam especificamente sobre a poluição sonora no
município de Sorocaba, interior paulista, a fim de fazer apontamentos ao planejamento
ambiental do município. Para isso, recorre-se à busca das normas do município através
do sistema LeisMunicipais integrado, com o uso das palavras-chave “poluição sonora” e
“ruído”, bem como à busca por material bibliográfico que traga os efeitos da poluição
sonora sobre os animais humanos e não humanos. Foram encontradas 36 normas que
abordam o assunto, sendo que atualmente apenas a Lei 11.367/16, Lei do Silêncio, versa
especificamente sobre a poluição sonora. As Leis n.º 11.534/17 e 11.634/17 acrescentam
os Capítulos V-A e V-B, respectivamente, à Lei do Silêncio. O acréscimo do Capítulo V-
B à Lei do Silêncio e a Lei n.º 10.711/14 podem ser vistos como um avanço na tutela dos
animais não humanos, com potencial para atenuar os impactos negativos da poluição
sonora e alcançar um planejamento ambiental que integre os animais humanos e não
humanos com o ambiente em si. Em outras palavras, entende-se que o município de
Sorocaba vem avançando no controle das atividades geradoras de poluição sonora, algo
positivo para o planejamento ambiental, embora com viés ainda antropocêntrico.
Palavras-chave: Ruídos antropogênicos; Lei do Silêncio; Direito Ambiental.

1. Introdução

As atividades humanas geram poluição sonora, por exemplo, mineração (SILVA,


2007) e refino de petróleo (GURGEL et al., 2009). A poluição sonora, ou ruídos
antropogênicos, pode acarretar problemas de saúde aos seres humanos (PIMENTEL-
SOUZA, 1992), bem como modificar o comportamento e a reprodução de animais
silvestres (KIGHT; SAHA; SWADDLE, 2012; SLABBEKORN; PEET, 2003), ou ainda
ocasionar a morte (acidental ou não) de animais domésticos segundo relatos de tutores a
veículos de informação (ANDA, 2017).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
A poluição, de maneira geral, é definida pela Lei n.º 6.938/81 (Política Nacional
de Meio Ambiente - PNMA) como o resultado de atividades que degradam a qualidade
ambiental, prejudicam a saúde da população ou afetam negativamente a biota, podendo
ser via energia ou matéria (BRASIL, 1981). Paralelamente, a Lei nº 997/76 do estado de
São Paulo conceitua poluente como “[...] toda e qualquer forma de matéria ou energia
que, direta ou indiretamente, causa poluição do meio ambiente [...]” (SÃO PAULO,
1976). Dito isso, a poluição sonora pode ser entendida, então, como ruídos que trazem
malefícios à saúde e incomodam o bem-estar (MILARÉ, 2001), podendo culminar em
perda da audição, alterações no sono e incômodos diversificados nos animais humanos
(MACHADO, 2012).
A Constituição Federal do Brasil de 1988 (CF/88) determina que a União, Distrito
Federal, estados e municípios devem proteger o meio ambiente, bem como “combater a
poluição em qualquer de suas formas” (BRASIL, 1988, grifo nosso). Ou seja, inclui a
responsabilidade do combate à poluição sonora de maneira indireta, e as esferas municipal
e estadual estão submetidas às determinações da União.
Dessa forma, a emissão de ruídos, no Brasil, é submetida a padrões e critérios
estabelecidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) através da Resolução
Conama 001, de 08 de março de 1990 (BRASIL, 1990). Esta resolução determina duas
Normas Brasileiras (NBR), aprovadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), sobre a emissão de ruídos de acordo com a zona e período, além de dispor os
métodos para avaliação do ruído sonoro: NBR 10.151 e NBR 10.152, que tratam da
“Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade” e “Níveis
de ruído para conforto acústico”, respectivamente (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2000, 1987). Assim, se a emissão de ruídos por uma atividade
ou empreendimento for superior à estabelecida por estas normas, configura-se como
poluição sonora.
A importância da NBR 10.151 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2000) é notória ao dispor o nível de ruído permitido e o método para medir
os ruídos de acordo com as zonas e período do dia. No geral, a NBR 10.151 classifica os
tipos de áreas e o limite permitido em decibels para ambientes externos, por exemplo,
“áreas de sítios e fazendas”, “área mista, predominantemente residencial” e “área
predominantemente residencial” de acordo com o período (diurno ou noturno)
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000). No mais, Milaré

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(2001) ressalta ainda que os municípios podem adotar posturas mais restritivas quanto à
poluição sonora, citando o caso da Lei do PSIU em São Paulo.
Visto o panorama geral dos malefícios causados pela poluição sonora e os
instrumentos que regem a poluição sonora no Brasil, é crucial avaliar os meios adotados
pelos municípios a fim de amenizar a poluição sonora.
Assim, o presente estudo objetiva discutir as normas do município de Sorocaba,
São Paulo, que versam sobre o assunto e propor apontamentos ao planejamento ambiental
do município.

2. Material e métodos

O município de Sorocaba, interior paulista, está situado no sudeste do estado


(Figura 1). É habitado por 586.625 pessoas segundo o censo demográfico de 2010, cuja
densidade demográfica é de 1,3 habitantes por quilômetro quadrado em uma área
territorial de 450.382 quilômetros quadrados (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2017).

FIGURA 1: Localização do município de Sorocaba a sudeste no estado de São Paulo, Brasil.

A busca pelas normas do município de Sorocaba que versam sobre a poluição


sonora ou emissão de ruídos foi feita através do sistema LeisMunicipais integrado
(https://leismunicipais.com.br/prefeitura/sp/sorocaba) a partir das palavras-chave
“poluição sonora” e “ruído”.
A fim de discutir os aspectos relacionados ao planejamento ambiental do
município e os impactos negativos da poluição sonora sobre os animais humanos e não
humanos, fez-se o levantamento de material bibliográfico pertinente a esses assuntos.

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3. Resultados e discussão

Foram encontradas 36 normas municipais que tratam da poluição sonora e/ou


emissão de ruídos, quais sejam nove Decretos e 27 Leis. Somente a Lei 11.367, de 12 de
julho de 2016 (Lei do Silêncio) (SOROCABA, 2016) versa especificamente sobre o
controle e fiscalização da poluição sonora, além de impor penalidades aos poluidores e
dar outras providências.
A prevenção e o controle da poluição sonora é prevista na Lei n.º 11,022, de 16
de dezembro de 2014 (Plano Diretor revisado), sendo igualmente previsto que a Prefeitura
de Sorocaba atue na mitigação da poluição sonora dos Espaços Livres (SOROCABA,
2014b). A poluição sonora no município é definida pela Lei n.º 10.711, de 08 de janeiro
de 2014, que trata do uso e locação de imóveis para realização de eventos recreativos,
como:
[...] qualquer alteração das propriedades físicas do meio ambiente
provocada por sons e ruídos com frequência, intensidade e duração que
causam sensação sonora indesejável de incômodo, aborrecimento e
irritação, com afetação, direta ou indiretamente, à saúde, ao sossego e
ao bem estar da coletividade. (SOROCABA, 2014a)

A primeira Lei a tratar especificamente sobre o controle e fiscalização de


atividades que potencialmente geram poluição sonora é a Lei n.º 4.913, de 04 de setembro
de 1995 e tem 13 artigos (SOROCABA, 1995). A Lei atual é a Lei do Silêncio
(SOROCABA, 2016), que revogou as seis Leis anteriores sobre o assunto (inclusive a Lei
n.º 4.913/95) e é formada por 39 artigos. Entende-se neste trabalho que os principais
avanços que a Lei do Silêncio trouxe são os seguintes:
1) Exigência de tratamento acústico a estabelecimentos e instalações com
finalidade recreativa (Art. 4º): a exigência de tratamento acústico garante maior chance
de conforto acústico às pessoas que moram próximas a estabelecimentos recreativos,
culturais e de lazer (uma casa de shows, por exemplo).
2) Impõe à Secretaria de Meio Ambiente do Município de Sorocaba e Área de
Fiscalização da Secretária da Fazenda a responsabilidade de fiscalizar a emissão de ruídos
(Art. 7º): ou seja, define expressamente quais órgãos devem atuar na fiscalização.
3) Atividades em desconformidade com esta Lei podem levar Notificação de
Advertência, multa, interdição ou até mesmo o fechamento do estabelecimento (Art. 8º):
estabelece penalidades de diferentes graus, que variam de acordo com a reincidência,
além de penalizar se o alvará estiver irregular (indisponível na entrada ou vencido).
4) Apresenta capítulos definidos para normatizar os ruídos sonoros emitidos por:

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aparelhos de som de veículos estacionados (seja em áreas públicas ou particulares)
(Capítulo III); escapamento de veículos (Capítulo IV); alarmes de segurança (Capítulo
V), sendo dividido em Capítulo V-A (aparelhos de senha em ambientes público e privado)
e Capítulo V-B (fogos de artifício e artefatos pirotécnicos).
Há que se destacar o Capítulo V-B, que diz respeito ao acréscimo do Artigo 26-B
da Lei n.º 11.634, de 12 de dezembro de 2017 à Lei do Silêncio. A Lei n.º 11.634/17
proíbe o uso de fogos de artifício que gerem ruídos acima de 65 decibels nas áreas
públicas do município de Sorocaba, sendo consideradas as normas NBR 10.151 e NBR
10.152 e, no caso de descumprimento, é aplicada uma multa de R$ 1.000,00. Entretanto,
uma liminar movida pela Associação Brasileira de Pirotecnia Assobrapi conseguiu que a
Eficácia da Lei n.º 11.634/17 fosse suspensa desde fevereiro de 2018, cujo processo pode
ser acompanhado no endereço eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
(http://www.tjsp.jus.br/). A ação direta de inconstitucionalidade movida pela Associação
supracitada pode mascarar um conflito de interesse puramente econômico, na medida em
que a Lei n.º 11.634/17 pode diminuir as vendas de fogos de artifícios.
O uso dos fogos de artifício com ruídos é problemático, uma vez que pode haver
acidentes e acarretar em estresse para os animais humanos e não humanos. Recentemente,
os veículos de informação têm relatado a morte de animais domésticos (cães e gatos) por
ataque cardíaco ou atropelamento (correm desorientados pelas ruas), devido ao uso de
fogos de artíficio (ANDA, 2017). Alguns veículos trazem matérias relatando outros
sintomas de medo dos animais (agitação, choro, latido, tremor, fazer xixi
involuntariamente, epilepsia, entre outros) e medidas de precaução para amenizar o
sofrimento dos animais não humanos (FAGUNDES, 2017; TRUKSA, [2016?]).
É válido salientar que vários municípios do estado de São Paulo vêm adotando
medidas mais restritivas quanto ao uso de fogos de artifícios em áreas públicas e/ou
privadas, como é o caso de Caçapava (CAÇAPAVA, 2018), São Paulo (SÃO PAULO,
2018) e Campinas (CAMPINAS, 2017), basicamente, com a finalidade de garantir o
sossego público e o bem-estar dos animais domésticos. A nível Federal, tem-se o Projeto
de Lei (PL) n.º 6.881 de 2017 (BRASIL, 2017), que acrescenta o Artigo 56-A à Lei n.º
9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), visando a proibição do uso de fogos de artifício
com estampido a fim de proteger os animais não humanos, bem como as pessoas que
soltam fogos e às vezes se machucam. O PL encontra-se em tramitação no Senado, dado
que recebeu 53.361 apoios até o momento no Portal e-Cidadania (PORTAL E-
CIDADANIA, 2018).

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Quanto aos seres humanos e animais silvestres, os impactos negativos da poluição
sonora vêm sendo relatados pelos estudos científicos. Lacerda et al. (2005) relatam que
das 892 pessoas questionadas/entrevistadas em Curitiba – Paraná, 54,6% apresenta
irritabilidade, 28% baixa concentração, 19,8% insônia e 19,2% dor de cabeça,
identificando diferentes reações psicossociais aos ruídos da rua. Stansfeld e Matheson
(2003) compilam diversos efeitos da poluição sonora à saúde humana, que perpassam
distúrbios do sono, doenças cardiovasculares, distúrbios psiquiátricos, mudanças
endócrinas, além dos efeitos sobre as crianças, entre outros efeitos. O estudo de Paz,
Ferreira e Zannin (2005) ilustra a poluição sonora e os incômodos gerados de acordo com
a zona urbana avaliada: o nível sonoro médio encontrado em áreas centrais é de 72,9
decibels, sendo que 94% da população se sente incomodada com os ruídos, enquanto o
nível sonoro médio na área controle (bairro) é de 53,3 decibels e apenas 50% da população
se sente incomodada com os ruídos. Outros fatores associados ao nível de conforto
acústico que as pessoas sentem dizem respeito aos tipos de ruídos: 66,8% das pessoas se
sentem incomodadas com ruídos do trânsito, seguidos por vizinhos (33,1%), sirenes
(23,3%), animais (21,4%) e construção civil (20,9%) (LACERDA et al., 2005).
Em relação aos animais silvestres, os ruídos advindos de estradas podem aumentar
o estresse em anuros, diminuir a resposta imunológica e modificar a coloração, podendo
inclusive alterar a seleção sexual (TROÏANOWSKI et al., 2017). A ave chapim-real é
capaz de modificar a vocalização a fim de conseguir garantir a reprodução em ambientes
ruidosos, sendo destacado que as espécies que não apresentam essa plasticidade podem
estar sujeitas à ausência de reprodução e, consequentemente, declinar o número de
indivíduos da população, ou até mesmo a diversidade de espécies de uma dada localidade
(SLABBEKORN; PEET, 2003). Não por acaso, é sugerido que as áreas protegidas, as
quais devem garantir a conservação dos seres vivos da área, sejam silenciosas a fim de
conservar a fauna silvestre (BARBER; CROOKS; FRISTRUP, 2010).
Nesse contexto, é interessante notar que Milaré (2001) e Machado (2012), teóricos
consagrados no Direito Ambiental brasileiro, sequer citam os efeitos da poluição sonora
sobre os animais não humanos. Ou seja, o Direito Ambiental no Brasil ainda é
marcadamente antropocêntrico (SILVA, 2003), o que é refletido na ausência de
abordagem dos impactos negativos da poluição sonora sobre os animais não humanos, e
também na própria legislação ambiental do município de Sorocaba: a Lei n.º 10.711/14,
que conceitua a poluição sonora, também é marcadamente antropocêntrica ao considerar
como poluição apenas os ruídos que afetam o sossego e a saúde da população. Por outro

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lado, o número de normas que visam proibir o uso de fogos de artifícios vem aumentando
no estado de São Paulo, de maneira geral, mas é algo incipiente na medida em que os
quatro municípios (Caçapava, Campinas, São Paulo e Sorocaba) aprovaram os Projetos
de Lei entre 2017 e 2018.
Outras normas do município de Sorocaba tratam indiretamente da poluição
sonora. A Lei n.º 10.711/14 regulamenta o uso e locação temporária de imóveis, por
exemplo chácaras e salões, com finalidade recreativa (festas, comemorações, shows e
outros eventos similares), tornando obrigatória a existência de Alvará de Autorização
(SOROCABA, 2014): se o imóvel for usado para atividades recreativas que geram ruído,
som ou poluição sonora, deve atender às disposições presentes nesta Lei. A justificativa
é que a locação de imóveis para atividades recreativas, frequentemente, gera incômodos
aos vizinhos da área devido aos ruídos. Embora a referida Lei estivesse pautada em
proteger a vizinhança da poluição sonora (visão novamente antropocêntrica), ela pode
auxiliar também na diminuição da poluição sonora que incide sobre a fauna silvestre que
vive no fragmento próximo à chácara, por exemplo. Isto conflui com as metas, diretrizes
e objetivos da Política Municipal de Meio Ambiente, ao prever a criação de um Sistema
Municipal de Espaços Livres (áreas verdes e áreas ambientalmente protegidas) por meio
de Lei, cuja determinação é que a poluição sonora seja mitigada. No mais, de acordo com
o Decreto n.º 22.281, de 18 de maio de 2016, empreendimentos ou atividades econômicas
geradores de poluição sonora devem elaborar o Estudo de Impacto de Vizinhança e
Relatório de Impacto de Vizinhança, a fim de avaliar os impactos à qualidade de vida da
população (SOROCABA, 2016).
Ora, se uma das atribuições do município é zelar pela conservação da fauna e bem-
estar da população, a inclusão de medidas para controlar e fiscalizar as atividades
geradoras de poluição sonora é crucial para a concretização de um planejamento
ambiental adequado. Afinal, o planejamento ambiental deve levar em consideração os
ecossistemas naturais, bem como aqueles artificiais, no caso, o ecossistema urbano e
agroecossistema (FRANCO, 2008): em outras palavras, deve considerar os ambientes
natural e artificial, e os animais não humanos inseridos nesses ambientes. Além disso, o
planejamento ambiental deve minimizar os impactos decorrentes do desenvolvimento das
atividades humanas considerando os ecossistemas e aspectos da sociedade (SILVA,
2006), o que implica na necessidade de se dar mais atenção à poluição sonora.

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4. Considerações finais

Entende-se que o município de Sorocaba vem avançando nas normas que regem
a poluição sonora, embora a tutela dos animais não humanos esteja sendo colocada de
forma indireta e se revele como um empecilho ao planejamento ambiental. O município
apresenta muitas normas que, dentre outras disposições, tratam da emissão de ruídos e
poluição sonora. A Lei do Silêncio trouxe muitos avanços no controle e fiscalização de
atividades geradoras de poluição sonora, sendo a única Lei que versa especificamente
sobre a poluição sonora. Já a implementação da Lei n.º 11.634/17, que proíbe o uso de
fogos de artifícios em áreas públicas, é bastante positiva, tanto em proteção aos animais
humanos que se incomodam com os ruídos ou se machucam, quanto aos animais não
humanos que sentem medo e ficam estressados. A Lei n.º 10.711/14, por sua vez, deve
garantir maior regulação de outras atividades geradoras de poluição sonora, o que pode
ser vislumbrado como um avanço no planejamento ambiental do município, embora a
definição de poluição sonora adotada ainda seja antropocêntrica. Isto sugere a
necessidade da transposição de alguns desafios a fim de se alcançar um planejamento
ambiental que efetivamente leve em consideração os seres vivos que integram o meio
ambiente.

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ordinaria/2014/1071/10711/lei-ordinaria-n-10711-2014-dispoe-sobre-regulamentacao-
da-locacao-e-uso-de-imoveis-para-realizacao-de-festas-comemoracoes-eventos-e-
atividades-similares-de-carater-eventual-e-da-outras-providencias>. Acesso em: 2 jun.
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desenvolvimento físico territorial do município de Sorocaba e dá outras providências.
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Lei n.º 11.367, de 12 de julho de 2016. Dispõe sobre o controle e a fiscalização das
atividades que gerem poluição sonora; impõe penalidades e dá outras providências. (Lei
do silêncio). Sorocaba, SP, 2016. Disponível em:
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_propositura=11367&tipo_propositura=1>. Acesso em: 11 mai. 2018.
Lei n.º 11.634, de 12 de dezembro de 2017. Acrescenta o Capítulo V-B à Lei nº 11.367,
de 12 de julho de 2016, que dispõe sobre o controle e a fiscalização das atividades que
gerem poluição sonora, impõe penalidades e dá outras providências. Sorocaba, SP,
2017. Disponível em:
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fogos-de-artificio/>. Acesso em: 10 mai. 2018.

427
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISE DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL DA PAISAGEM


DAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA DO RESERVATÓRIO DO LOBO,
ITIRAPINA-SP

ANJINHO, Phelipe. S.1; BARBOSA, Mariana. A. G. A2; SANTO, Allita. R3

MAUAD, Frederico. F 4
1,2,3
Universidade de São Paulo, phelipe.anjinho@usp.br, mariana.abibi@usp.br,
allita@usp.br
4
Universidade de São Paulo, mauadffm@sc.usp.br

Resumo: A análise da paisagem das áreas de influência de reservatórios é muito


importante para entender o estado de conservação da vegetação nativa, bem como as
possíveis interferências antrópicas que podem alterar a qualidade ambiental da região e
comprometer a disponibilidade e qualidade das águas que chegam nesses sistemas. Em
vista disso, o objetivo desse estudo foi analisar a vulnerabilidade da paisagem das áreas
de influência do reservatório do Lobo, Itirapina-SP. Para tal, utilizou-se o Índice de
Vulnerabilidade Ambiental da Paisagem (IVA-P). Os resultados demonstram uma
situação negativa no que se refere a vulnerabilidade ambiental da paisagem da bacia, onde
aproximadamente 70% das áreas de vegetação natural da região se encontram nos
intervalos de IVA-P = 0,6 a 0,8 e IVA-P = 0,8 a 1,0, que representam áreas de menor
resiliência e, consequentemente, mais susceptíveis às perturbações ambientais. Tal
situação salienta a necessidade de ações direcionadas à restauração e conservação dos
fragmentos de vegetação natural, a fim de diminuir o grau de vulnerabilidade no qual se
encontram.
Palavras-chave: Reservatório; Paisagem; Vulnerabilidade ambiental.

1. Introdução

As paisagens são unidades espacialmente heterogêneas, formadas por um


conjunto de elementos físicos, biológicos, políticos, econômicos e sociais que interagem
no ambiente (TURNER et al.,1998, p.512). As principais alterações na paisagem ocorrem
em virtude das modificações no uso e ocupação do solo (FERNANDES; AGUIAR;
FERREIRA; 2011) para a promoção do desenvolvimento socioeconômico,
transformando as áreas naturais em áreas antropizadas.
A conversão de habitats naturais para paisagens culturais, dominadas pelo homem,
tem causado impactos sobre os ecossistemas em todo o mundo (MEYER; TURNER,
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
1994), sendo considerada a principal forma de impacto ambiental (FOLEY, 2005). Nos
recursos hídricos, as modificações na paisagem podem comprometer a integridade
ecológica dos ecossistemas fluviais, alterando o habitat, a quantidade e qualidade das
águas, além de outros serviços ecossistêmicos associados (ALLAN, 2004; TUNDISI,
2010).
Sendo assim, estudos que proporcionam o entendimento da paisagem,
diagnosticando seu estado de conservação ambiental, bem como as consequências que as
mudanças de uso da terra podem causar sobre os ecossistemas naturais, são muito
importantes para as atividades de planejamento e tomada de decisão.
Em vista disso, o presente estudo teve como objetivo analisar a vulnerabilidade
da paisagem das áreas de influência do reservatório do Lobo, Itirapina-SP, mediante a
utilização do Índice de Vulnerabilidade Ambiental da Paisagem (IVA-P).

2. Materiais e Métodos

O presente estudo consiste em analisar a vulnerabilidade da paisagem das áreas


de influência do reservatório do Lobo. Portanto, considerou-se como área de influência
toda a área de drenagem do reservatório, que compreende a bacia hidrográfica do ribeirão
do Lobo. O limite da área de estudo foi adquirido, em formato digital, no Sistema
Ambiental Paulista (DataGeo), por meio do sítio eletrônico
www.datageo.ambiente.sp.gov.br.
A metodologia desse trabalho é fundamentada nos estudos de Moschini (2005) e
Trevisan (2017). Esta envolve o uso de dados cartográficos e ferramentas de
geoprocessamento para análise espacial.
A modelagem espacial utilizada foi realizada com base na integração entre dois
índices intermediários ao IVA-P, são eles: Índice de Qualidade Ambiental da Vegetação
(IQA-BIO) e Índice de Qualidade Ambiental dos Recursos Hídrico (IQA-HIDRO). Esses
analisam, basicamente, o estado de conservação da vegetação natural e a vulnerabilidade
dos recursos hídricos frente as fontes impactantes.
O produto final desse trabalho consiste na análise espacial do IVA-P, que indica
a capacidade da paisagem em absorver impactos decorrentes das atividades antrópicas
desenvolvidas na bacia.

2.1 Área de estudo

A bacia de contribuição do reservatório do Lobo (Figura 1) localiza-se na região

429
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
central do Estado de São Paulo, entre os paralelos 22° 9’ 30” S e 22° 20' 0" S e meridianos
47° 57' 0" W e 47° 45' 0" W. Situa-se entre os municípios de Brotas e Itirapina, ocupando
uma área de drenagem de aproximadamente 221,5 km².

FIGURA 6- Localização da bacia hidrográfica do Ribeirão do Lobo

2.2 Levantamento de dados espaciais

Para a realização do estudo foram utilizadas cartas topográficas dos municípios de


Itirapina (SF-23-M-l-3) e São Carlos (SF-23-Y-A-l-1) em escala 1: 50.000 (IBGE, 1969;
1971) e imagem do satélite Landsat 8, disponível no Instituto Geológico dos Estados
Unidos (USGS). Todas as informações cartográficas foram analisadas em Sistema de
Informação Geográfica (SIG), utilizando-se o software ArcGis 10.3. Nesse trabalho,
adotou-se o sistema geodésico de referência SIRGAS 2000, projeção Universal
Transversa de Mercator (UTM) e zona 23 sul.

2.3 Mapa de uso e ocupação do solo

O mapa de uso e ocupação do solo foi gerado mediante a digitalização da imagem


dos sensores Operational Land Imager (OLI) e Thermal InfraRed Sensor (TIRS) do
satélite Landsat 8, com 10 bandas espectrais com resolução espacial de 30 metros e 1
banda espectral com resolução espacial de 15 metros (OLI panchromatic band 8), com
data de passagem em 15 de julho de 2017.

430
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2.4 Índice da qualidade ambiental da vegetação (IQA-BIO)

O IQA-BIO é um indicador que reflete a vulnerabilidade da paisagem em relação


à perda de biodiversidade e habitat, decorrente dos efeitos da fragmentação da vegetação
natural (CANTER, 1996). Foi estimado a partir do cálculo dos valores da área, forma e
distância dos fragmentos (Equação 1), utilizando a ferramenta Raster Calculator do
software ArcGis 10. 3.
IQAárea + IQAforma + IQAdistância
IQABio = (1)
3
Os limites dos fragmentos de vegetação natural foram extraídos do mapa de uso e
ocupação do solo, gerado para a área de estudo. Em seguida, foi calculado as métricas da
paisagem (área, forma e distância). Para tanto, utilizou-se como referência os trabalhos
de Moschini (2005) e Trevisan (2017).
O IQA-área foi determinado partindo do pressuposto que, quanto maior o
tamanho dos fragmentos, maior seu nível de contribuição à conservação da
biodiversidade. Sendo assim, adotou-se como grau mínimo de qualidade (IQA-área = 0)
os fragmentos com áreas equivalentes a 1 hectare e grau máximo (IQA-área = 1) para
fragmentos com áreas superiores a 1.000 hectares.
O IQA-forma foi determinado a partir da aplicação do índice de forma
(IF=0,25*P/√A), proposto por Valente (2001). Fragmentos com índice de forma
próximos a 1 são menos sujeitos ao efeito de borda e, portanto, considerados de maior
qualidade ambiental (IQA-forma = 1), enquanto fragmentos com índices próximos a zero
apresentam maior efeito de borda e, de modo geral, menor poder de conservação
ambiental.
O IQA-distância foi gerado com base na análise da distância entre os fragmentos
de vegetação natural, ou seja, quanto maior a proximidade entre os fragmentos, maior seu
poder de preservação da biodiversidade. Portanto, adotou-se o menor grau de qualidade
ambiental para fragmentos que apresentaram distancia superiores a 1.000 metros entre si
(IQA-distância = 0), e grau máximo para fragmentos cuja distância é próxima a zero
(IQA-distância = 1).
Em seguida, os dados foram reescalonados com base na lógica fuzzy, do tipo
linear [y=f (x)], com valores de zero a um (MARRO et al., 2013). Ou seja, áreas com
valores de IQA-BIO = 0 representam grau mínimo de qualidade, enquanto valores
próximos a 1 apresentam grau máximo de qualidade.

431
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2.5 Índice de qualidade ambiental dos recursos hídricos (IQA-HIDRO)

O IQA-HIDRO reflete a susceptibilidade dos recursos hídrico em relação às fontes


de poluição ambiental, decorrentes das atividades humanas desenvolvidas na paisagem
(MOSCHINI, 2005). Este índice foi elaborado com base na análise da distância dos
corpos hídricos frente às possíveis fontes impactantes, determinadas por meio da
espacialização do uso e ocupação do solo. Rios com distâncias próximas a zero foram
considerados com grau mínimo de qualidade (IQA-HIDRO = 0), enquanto que o grau
máximo de qualidade (IQA-HIDRO = 1) foi atribuído aos rios cuja distância entre as
fontes impactantes é superior a 1.000 metros.
As fontes de poluição foram identificadas, reclassificadas, assim como a rede de
drenagem, e processadas utilizando o módulo Distance do ArcMap 10.3. Logo após, os
dados foram reescalonados com base na lógica fuzzy do tipo linear [y=f (x)].

2.6 Índice de vulnerabilidade da paisagem (IVA-P)

O IVA-P reflete o potencial da paisagem em absorver ou não impactos decorrentes


das atividades antrópicas. Caracteriza-se como o inverso da capacidade da paisagem em
absorver alterações ambientais sem perda de qualidade, ou seja, quanto maior a
capacidade de resiliência da paisagem, menor será sua vulnerabilidade (TREVISAN,
2017). A determinação do IVA-P foi estimada por meio da média entre os índices IQA-
HIDRO e IQA-BIO, conforme apresentado na Equação 2. Para tanto, utilizou-se a
ferramenta Raster Calculator do ArcGis 10.3.
IQAHidro + IQA𝐵𝑖𝑜
𝐼𝑉𝐴𝑃 = (2)
2
Em seguida, os dados foram resescalonados com base na lógica fuzzy do tipo linear
[y=f (x)]. Foi atribuído IVA-P = 1 às regiões com maior grau de vulnerabilidade ambiental
da paisagem, enquanto as áreas com valores próximos a zero (IVA-P = 0) foram
consideradas de menor vulnerabilidade.

3. Resultados e discussões

A Figura 2 apresenta o IQA-HIDRO e o IQA-BIO espacializado para área de


estudo, enquanto as Tabelas 1 e 2 apresentam os valores de área distribuídos em função
dos intervalos propostos.
De modo geral, os resultados indicam que os recursos hídricos da bacia estão
muito vulneráveis à poluição em função da proximidade com as fontes impactantes. Os

432
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
intervalos de menor qualidade (IQA-HIDRO = 0 a 0,2 e IQA-HIDRO = 0,2 a 0,4) indicam
as regiões cujas distâncias entre os corpos hídricos e as fontes impactantes são mínimas.
Essas regiões estão distribuídas por toda a bacia hidrográfica, ocupando uma área de
aproximadamente 20.930 ha, que representa 94% da área da bacia. As principais
atividades humanas que potencialmente podem alterar a qualidade das águas da região
são as atividades agropecuárias, com destaque para as áreas de silvicultura, cana-de-
açúcar, citricultura e pastagens.
Os resultados obtidos para o IQA-BIO demonstram que os fragmentos de
vegetação natural da bacia apresentam condições favoráveis à conservação da
biodiversidade, em que 56,92% da área está no intervalo de IQA-BIO = 0,8 a 1,0.
Contudo, observa-se que a representatividade desse intervalo ocorre em virtude da
Estação Ecológica de Itirapina, que é uma unidade de conservação cujo objetivo principal
é preservar as fitofisionomias e o patrimônio genético de fauna e flora do bioma cerrado
no Estado de São Paulo, além das áreas alagadas do rio Itaqueri e ribeirão do Lobo. Sendo
assim, as demais áreas naturais da região encontram-se em situação pouco favorável à
conservação ambiental, indicando forte interferência das atividades antrópicas na bacia,
relacionado com a conversão da vegetação natural em áreas agrícolas.

TABELA 1 - Valores do Índice de Qualidade Ambiental da Vegetação para a bacia hidrográfica do


ribeirão do Lobo.

Intervalo Área (ha) Percentual (%)

0,4 – 0,6 992,9 15,78


0,6 – 0,8 1756,7 27,92
0,8 – 1,0 3541,3 56,29
Total 6290,8 100

TABELA 2 - Valores do Índice de Qualidade Ambiental dos Recursos Hídricos para a bacia hidrográfica
do ribeirão do Lobo.

Intervalo Área (ha) Percentual (%)

0,0 – 0,2 19504,86 88,05


0,2 – 0,4 1425,96 6,44
0,4 – 0,6 792,39 3,58
0,6 – 0,8 326,73 1,47
0,8 – 1,0 101,96 0,46
Total 22151,90 100

433
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 2 - IQA-HIDRO e IQA-BIO para a bacia hidrográfica do ribeirão do Lobo.

O Índice de Vulnerabilidade Ambiental da Paisagem (IVA-P) expressa a


susceptibilidade da paisagem em relação a perda de biodiversidade de habitats
decorrentes das condições de fragmentação da vegetação e da qualidade dos recursos
hídricos frente as atividades humanas desenvolvidas na paisagem (MOSCHINI, 2005). É
uma importante ferramenta para o planejamento ambiental, visto que aponta áreas de
baixa qualidade ecológica, possibilitando a elaboração de estratégias de conservação
ecológica, além de indicar os locais mais conservados do ponto de vista ecológico,
prioritários à conservação (TREVISAN, 2017).
A Figura 3 apresenta o IVA-P para a bacia hidrográfica do ribeirão do Lobo e a
Tabela 3 apresenta a área e a respectiva porcentagem de cada intervalo analisado. Os
resultados demonstram uma situação negativa no que se refere a vulnerabilidade
ambiental da paisagem da bacia, onde aproximadamente 70% das áreas de vegetação
natural da região se encontram nos intervalos de IVA-P = 0,6 a 0,8 e IVA-P = 0,8 a 1,0,
que representam áreas de menor resiliência e, consequentemente, mais susceptíveis
às perturbações ambientais. Tal situação, salienta a necessidade de ações direcionadas à
restauração e conservação dos fragmentos de vegetação natural, a fim de diminuir o grau
de vulnerabilidade no qual se encontram.

434
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 3 - Índice de vulnerabilidade ambiental da paisagem da bacia hidrográfica do ribeirão do Lobo.

TABELA 3 - Valores do Índice de Vulnerabilidade Ambiental da Paisagem da bacia hidrográfica do


ribeirão do Lobo.

Intervalo Área (ha) Percentual (%)

0,0 – 0,2 169,54 2,70


0,2 – 0,4 581,89 9,25
0,4 – 0,6 1177,22 18,72
0,6 – 0,8 1766,87 28,09
0,8 – 1,0 2593,97 41,24
Total 6289,48 100

4. Considerações finais

Os índices utilizados nesse trabalho proporcionam maior entendimento sobre o


estado de conservação dos ecossistemas naturais da bacia hidrográfica do ribeirão do
Lobo. Possibilitam analisar o estado de conservação dos fragmentos de vegetação nativa
e os impactos ambientais que podem ser gerados devido às alterações na estrutura da
paisagem para a promoção do desenvolvimento social e econômico da região.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O IQA-Hidro indica que os recursos hídricos da bacia apresentam alta
vulnerabilidade à degradação devido à proximidade com as fontes impactantes
distribuídas na paisagem.
O IQA-BIO indica que os fragmentos de vegetação natural da região, em suma,
apresentam boas condições à conservação da biodiversidade. Entretanto, analisando os
resultados, é possível observar que essa situação é fortemente influenciada pela Estação
Ecológica de Itirapina e pelas áreas alagadas do rio Itaqueri e ribeirão do Lobo, sendo que
a grande maioria dos fragmentos de vegetação natural da bacia se encontram em situações
adversas.
As análises para o IVA-P indicam uma situação negativa em relação à
vulnerabilidade ambiental da paisagem da bacia, sendo que aproximadamente 70% dos
fragmentos de vegetação natural se encontram nos maiores intervalos para o IVA-P,
indicando áreas de maior susceptibilidade ambiental.
Essa condição sinaliza a necessidade de um planejamento territorial que considere
a sustentabilidade dos ecossistemas naturais da bacia. É essencial a implementação de
medidas de recuperação e conservação dos remanescentes de vegetação nativa,
proporcionando maior conectividade entre esses na paisagem. Além disso, ressalta-se
também a importância de ações direcionadas a restauração fluvial por meio de projetos
que incrementem as matas ciliares, reduzindo ou amenizando os impactos das atividades
humanas sobre os recursos hídricos do local.

Referências

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ecosystems. Annu. Rev. Ecol. Evol. Syst., v. 35, p. 257-284, 2004.
CANTER, L. W. Environmental impact assessment - Series in Water Resources and
Environmental Engineering. 2nd ed. McGraw-Hill International Editions, 1996,660 p.
FERNANDES, M. R.; AGUIAR, F. C.; FERREIRA, M. T. Assessing riparian vegetation
structure and the influence of land use using landscape metrics and geostatistical tools.
Landscape and Urban Planning, v. 99, n. 2, p. 166-177, 2011.
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áreas naturais e semi-naturais da paisagem: estudo de caso, município de
Araraquara, SP. 2005. 88f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais) -
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005.

436
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TREVISAN, D. P.; MOSCHINI, L. E. Avaliação da sustentabilidade ecológica do
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VALENTE, R.O.A. Análise da estrutura da Paisagem na Bacia Do Rio Corumbataí-
SP, 2001. 162f. Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais) - Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz - Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2001.
MARRO, A. A.; SOUZA, A. M. C.; CAVALCANTE, E. R. S.; NUNES, G. S. B. R. O.
Lógica Fuzzy: Conceitos e aplicações, material didático. Anais... VII Congresso Ibero-
americano de Informática Educativa, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, p.127 – 136, 2013.
TUNDISI, J. G.; MATSUMURA TUNDISI, T. Impactos potenciais das alterações do
Código Florestal nos recursos hídricos. Biota Neotropica, v. 10, n. 4, 2010.
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437
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

PANORAMA DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APAS)


NO ESTADO DE SÃO PAULO

Jesus, Silvia C.1; Catojo, Adriana M.Z.2


1
Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Universidade Federal de São Carlos;
silvia.jesus@msn.com.
2
Departamento de Ciências Ambientais, Universidade Federal de São Carlos

Resumo: As Unidades de Conservação (UCs) cobrem 14% do Estado de São Paulo, ou


seja, aproximadamente 34.500 km2 do território paulista. 79% desta área protegida são
cobertas por Áreas de Proteção Ambiental (APAs) que são UC de Uso Sustentável e
pouco restritivas quanto ao uso da terra. Este trabalho apresenta o cenário atual das APAs
no Estado de São Paulo quanto ao uso e cobertura da terra e sua adequação aos propósitos
de criação destas UCs. Em média, 47% da área resguardada por APAs é coberta por
vegetação nativa; em termos quantitativos, pode ser um indicador de que o uso da terra
predominante nas APAs paulistas está voltado à conservação, mas não se efetivamente
este papel está sendo cumprido. Em sua maioria, as APAs no Estado de São Paulo não
apresentam o plano de manejo e zoneamento ambiental previstos no Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC – Lei 9.985/2000) e na Resolução CONAMA nº
10/1988. Sendo assim, as APAs podem ser qualificadas como áreas que obrigatoriamente
devem seguir um Zoneamento Ambiental com orientação sobre as atividades permitidas
e restringidas, antes de constituírem espaços destinados à conservação da biodiversidade.
Palavras-chave: Áreas de Proteção Ambiental; Unidades de Conservação; Zoneamento
Ambiental; SNUC.

1. Introdução

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei 9.985/2000)


prevê, dentre as Unidades de Uso Sustentável, a categoria de Área de Proteção Ambiental
(APA) que tem como finalidade “proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo
de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais”.
Essas Unidades enquadram-se na categoria V da IUCN (União Internacional para
a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) que define as “paisagens protegidas
terrestres e marinhas, de lazer e recreação” e tem como objetivo a proteção da
biodiversidade, da qualidade cênica e do componente cultural das paisagens. São
paisagens que foram extensamente antropizadas ao longo do tempo e têm como principais
usos a agricultura, silvicultura e turismo. Outros exemplos de áreas protegidas desta
categoria são os parques naturais europeus e as Reservas da Biosfera (IUCN, 2018).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
As APAs estão localizadas em territórios públicos e privados e seu
estabelecimento visa conter a degradação ambiental causada por atividades desenvolvidas
em terrenos particulares (DOUROJEANNI E PÁDUA, 2007), mas assegurando o direito
do proprietário ao direito de uso do seu imóvel (BRASIL, 1988) e não requerem
desapropriação de terras (SALVIO, 2017).
Essas áreas protegidas são espaços onde há um planejamento de uso definido pelo
licenciamento ambiental e, mais do que destinadas à conservação da biodiversidade, são
áreas de restrição de atividades (MAGNANI, 2002). Por outro lado, as APAs podem
funcionar como corredores ecológicos na conectividade entre outras UCs de categorias
mais restritivas (PÁDUA, 2002).
As APAS são pouco restritivas quanto à cobertura da terra, sendo, portanto, a mais
vulnerável das categorias do SNUC. Terborgh e van Schaik (1997) apresentam o conceito
de “eficiência relativa para conservação da biodiversidade”, que é capacidade de uma
categoria de UC em salvaguardar a diversidade biológica quando comparada às demais
categorias. A Figura 1 representa graficamente esta comparação entre UCs no que se
refere à eficiência de proteção da biodiversidade. Os autores apontam que as APAs são
relativamente ineficientes para a conservação da biodiversidade quando comparadas a
outras categorias de UCs (Figura 1).

FIGURA 1. Eficiência relativa das áreas protegidas para conservar a biodiversidade


Fonte: Modificado de Terborgh e van Schaik (1997)

O objetivo deste trabalho é discutir se as APAs estaduais e federais no Estado de


São Paulo estão cumprindo os propósitos de proteção de diversidade biológica e
ordenação do território previstos no SNUC, a partir da cobertura da terra nessas áreas
protegidas.

439
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Materiais e Métodos

A área de estudo compreende as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) estaduais


e federais que estão total ou parcialmente no Estado de São Paulo (Figura 2). Foram
analisados dois conjuntos de dados sobre as Unidades de Conservação (UCs) do Estado
de São Paulo: a) dados tabulares do CNUC – Cadastro Nacional de Unidades de
Conservação (MMA, 2018); e b) base cartográfica de UCs estaduais e federais fornecidos
Pelo Instituto Socioambiental (ISA, 2018).

FIGURA 2. Distribuição das APAs federais e estaduais no Estado de São Paulo

Nos polígonos de APAs foram analisados os quantitativos das classes de cobertura


da terra a partir do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo do Brasil
(MAPBIOMAS, 2018), considerando o ano de 2016, coleção 2.0. São mapas anuais de
cobertura da terra gerados a partir de imagens da coleção Landsat, com acurácia de 83%
e 75% para a Mata Atlântica e Cerrado, respectivamente.
As classes “Floresta Densa”, “Floresta Aberta”, “Mangue”, “Formações Naturais
não Florestais”, “Áreas Úmidas não Florestais”, “Vegetação Campestre (Campos)” e
“Praias e Dunas” foram agrupadas na classe “Vegetação Nativa” que representa os usos
não relacionados a atividades antrópicas. São identificadas também as classes
“Silvicultura”, “Pastagem”, “Culturas Anuais”, “Culturas Semi-Perene (Cana de
Açúcar)”, “Agricultura ou Pastagem”, “Infraestrutura Urbana”, “Outras áreas não
vegetadas”, “Corpos d’água” e “Não observado”.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
3. Resultados e discussão
As Unidades de Conservação (UCs) cobrem 14% do Estado de São Paulo, ou seja,
aproximadamente 34.500 km2 (ISA, 2018) do território paulista. 79% desta área protegida
são cobertas por Áreas de Proteção Ambiental (APAs), sendo 30 estaduais
(aproximadamente 24.000 km2) e 04 federais (aproximadamente 6.100 km) – ISA, 2018;
e 07 municipais (aproximadamente 2.400 km2) – (Prefeitura Municipal de Itu, 2018;
Prefeitura Municipal de São Paulo, 2018; Prefeitura Municipal de Campinas, 2018;
Ministério Público do Estado de São Paulo, 2018). Estes quantitativos consideram que há
quase 700 km2 de sobreposição entre APAs federais e estaduais.
O SNUC e o Decreto 4.340/2002 estabeleceram dois instrumentos que sustentam
a gestão das Unidades de Conservação: o Plano de Manejo e o Conselho Gestor. Apenas
04 das 41 APAs que estão parcial ou inteiramente no Estado de São Paulo têm Plano de
Manejo. Estas são a APA Corumbataí Botucatu Tejupá – Perímetro Botucatu e APA
Itupararanga (estaduais), geridas pela Fundação Florestal do Estado de São Paulo, e APA
Pedregulho e APA Municipal do Capivari-Monos (municipais), geridas respectivamente
pelas secretarias municipais de Itu e São Paulo. Destas, apenas a APA Corumbataí
Botucatu Tejupá – Perímetro Botucatu não possui um Conselho Gestor, de acordo com o
CNUC (MMA, 2018). Outras Unidades no Estado que têm Conselho Gestor são as APAs
Cananéia-Iguapé-Peruíbe, Ilhas e Várzeas do Rio Paraná e Serra da Mantiqueira
(federais), Cabreúva, Cajamar e Jundiaí (estaduais), e Baleia-Sahy, Bororé-Colônia e de
Campinas (municipais). O conselho gestor é especialmente importante nos casos em que
o gerenciamento da UC é descentralizado, como no caso das APAs que podem abranger
vários municípios ou bacias (DOUROJEANNI e PÁDUA, 2007).
No caso das APAs, o Plano de Manejo deve incluir o Zoneamento Ambiental que
estabelece os usos promovidos, permitidos, tolerados e proibidos, segundo cada zona
ambiental ou Área de Ocorrência Ambiental. O Roteiro Metodológico para Gestão de
Áreas de Proteção Ambiental – APA (IBAMA, 2001) apresenta a definição de tipologias
de Zonas Ambientais, e adota conceitos que incluem o de Área de Ocorrência Ambiental,
que são “áreas de pequena dimensão territorial que apresentam situações físicas e bióticas
particulares, ocorrendo de forma dispersa e generalizada em quaisquer das zonas
ambientais estabelecidas, seja de proteção ou conservação”. São então definidas
categorias normativas para atividades agrárias, atividades de parcelamento e ocupação do
solo rural e urbano, atividades de turismo ecológico, edificações e obras, atividades
industriais e atividades de mineração (IBAMA, 2001). O Roteiro Metodológico também

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
fornece as diretrizes para a composição do plano de manejo destas UCs. São orientações
que devem ser descritas no Zoneamento Ambiental da APA sobre o conteúdo do Plano e
não é específico quanto às atividades restritas na Unidade ou quanto a percentuais ideais
de uso do solo. Os conflitos de uso e os usos permitidos são descritos no zoneamento, que
é particular de cada APA.
A Resolução CONAMA nº 10/1988, anterior ao SNUC, descreve alguns pontos
específicos sobre as restrições de uso e obrigação de autorização de instalação de algumas
atividades e prevê que onde existam ou possam existir atividades agrícolas ou pecuárias,
haverá a Zona de Uso Agropecuário, onde não será admitida “a utilização de agrotóxicos
e outros biocidas que ofereçam riscos sérios na sua utilização, inclusive no que se refere
ao seu poder residual” e, ainda, “não será admitido o pastoreio excessivo, considerando-
se como tal aquele capaz de acelerar sensivelmente os processos de erosão”. No interior
das APAs também não são permitidas “atividades de terraplanagem, mineração,
dragagem e escavação que venham a causar danos ou degradação do meio ambiente e/ou
perigo para pessoas ou para a biota”. O Decreto trata também da necessidade de licença
ambiental especial para “qualquer atividade industrial potencialmente capaz de causar
poluição”, assim como da obrigação de autorização prévia da entidade administradora da
APA para o estabelecimento de projetos de urbanização, e da imposição de anuência do
INCRA e da entidade administradora das APAs para a criação de loteamentos rurais.
Como mencionado anteriormente, não é permitido o uso de agrotóxico na Zona
de Uso Agropecuário das APAs (Resolução CONAMA nº 10/1988). Contudo, o
Ministério da Agricultura (2018) divulgou informações sobre agrotóxicos e afins para
controle de pragas e apontou que São Paulo foi o Estado que mais comercializou
agrotóxicos e afins em 2013, operando quase 300 mil toneladas de agrotóxicos e
apresentando o maior quantitativo de fábricas de agrotóxicos e desinfestantes
domissanitários. Considerando a relação entre comercialização e área plantada (kg/ha),
São Paulo é o segundo no ranking, operando 35,72 kg/ha de área plantada.
Medeiros et al. (2016) avaliaram as taxas de perda de solo por erosão no Estado
de São Paulo e constataram que 30% das áreas com altas taxas de perda de solo (>12 Mg
ha-1 ano-1) são atribuídas ao plantio de cana-de-açúcar e 67% à pastagem. As áreas cujas
taxas de erosão estimadas se destacam pela grande intensidade dos processos de perda de
solo estão localizadas principalmente no norte, nordeste, central e sudoeste do Estado,
que são áreas essencialmente agrícolas.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Quanto ao uso por atividades de mineração, os dados vetoriais divulgados pela
Agência Nacional de Mineração – ANM (2018) mostram que há 112 processos
minerários cadastrados no Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, cujas
áreas de exploração estão em APAs paulistas, o que é uma incoerência em relação à
legislação.. São processos de licenciamento ambiental para a exploração de argila, areia,
granito, água mineral e outros recursos que estão nas fases de autorização de pesquisa,
disponibilidade, requerimento de lavra, requerimento de licenciamento ou requerimento
de pesquisa. A APA dos Rios Piracicaba e Juqueri-Mirim e a APA Corumbatai, Botucatu
e Tejupá são as que abrangem os maiores números de processos, sendo 36 e 33 ações,
respectivamente.
O Estado de São Paulo é o maior produtor de cana-de-açúcar, com mais de
4,5 milhões de hectares de área colhida na safra 2017/18 (CONAB, 2018). A cana-de-
açúcar é uma alternativa para o setor de biocombustíveis com potencial para reduzir a
emissão de gases do efeito estufa – GEEs com expectativa do aumento da área plantada
(LEITE e LEAL, 2007). O Estado ocupa também o terceiro lugar em termos de área
destinada à silvicultura, com 12% do território ocupados por Eucalipto, Pinus e outras
espécies destinadas à indústria de celulose (IBGE, 2016). Por outro lado, os percentuais
de uso do solo nas APAs paulistas não refletem a situação do Estado. De acordo com os
resultados do projeto MapBiomas, as coberturas relacionadas à Vegetação Nativa são
dominantes e correspondem a 47% da área definida como APA (Figura 3).

FIGURA 3. Percentuais médios de área por cobertura da terra nas APAs do Estado de São Paulo
Fonte: MAPBIOMAS (2016), ISA (2018). Organizado pela autora.

Os percentuais de uso da terra apresentados não indicam necessariamente se as


APAs paulistas estão cumprindo o propósito de conservação da biodiversidade. Embora
a maior parte das APAs esteja coberta por vegetação nativa, é importante considerar a

443
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
distribuição, tamanho individual e qualidade destes fragmentos. Ou seja, esses
percentuais podem indicar quanto há dos usos voltados à conservação e não se
efetivamente cumprem este papel.
A Figura 4 mostra a proporção de cobertura da terra de acordo com o MapBiomas,
ano de referência 2016 nas APAs que estão na base cartográfica de Unidades de
Conservação do ISA (2018). No caso de UCs que estão em mais de um Estado, está
representada apenas a porção paulista.
A parcela de “Culturas Semi-Perenes” representada pelo MapBiomas 2016 pode
estar subestimada e parte do território efetivamente coberto por cana-de-açucar pode ter
sido identificado como “Agricultura ou Pastagem”.
Altos percentuais de áreas de Agricultura e Pastagem (>20%, que é o percentual
médio desta classe de cobertura da terra nas APAs) não indicam necessariamente que a
APA não esteja cumprindo seu papel de ordenamento territorial. No caso da APA
Corumbataí Botucatu Tejupá – Perímetro Botucatu, por exemplo, é prevista a Zona
Agrosilvopastoril.
Embora a maior parte das APAs paulistas não tenha o zoneamento estabelecido,
o percentual de cobertura da terra em algumas Unidades pode ser explicado pelas suas
condições geográficas e socioeconômicas. As APAs Cananeia – Iguape – Peruíbe, da Ilha
Comprida e da Serra do Mar pertencem a mosaicos de UCs que abrangem Unidades de
Proteção Integral: Mosaico do Litoral de São Paulo e Paraná e Mosaico de Unidades de
Conservação de Paranapiacaba, respectivamente; no interior dos mosaicos, faz-se
necessário conciliar as atividades desenvolvidas em cada UC que compõe o mosaico,
especialmente quanto aos usos nos limites das Unidades. Essas APAS estão localizadas
em áreas de alto declive (>40%) (INPE, 2018), correspondendo a relevos forte-ondulados
e montanhosos, de acordo com a classificação da Embrapa (1999); esta condição
geomorfológica é um dos principais limitantes ao uso de maquinários agrícolas, além de
interferir na produtividade do solo e influenciar na quantidade de radiação solar que atinge
as encostas e em aspectos hidrológicos. Além de outras circunstâncias biofísicas,
socioeconômicas e políticas, estes são os principais determinantes que inviabilizam as
atividades agropastoris e promovem a manutenção da vegetação nativa nestas APAs,
ainda que estas Unidades não apresentem o zoneamento ambiental.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 4. Percentuais de cobertura da terra nas APAs do Estado de São Paulo


Fonte: MAPBIOMAS (2016), ISA (2018). Organizado pela autora.

As APAs do Tietê, de São Francisco Xavier, Bairro da Usina e da Várzea do Rio


Tietê apresentam um percentual de áreas destinadas à Silvicultura maior do que aquele
de Vegetação Nativa. Estas áreas plantadas com Pinus e Eucalipto, quando não têm
destino comercial, podem desenvolver um sub-bosque de espécies nativas e servir como
corredores entre outros fragmentos de vegetação, além de manter a estabilidade do solo
aumentando a infiltração de água e diminuindo o escoamento superficial, e promover a
regulação do microclima local. Viani et al. (2010) compilaram estudos sobre a
regeneração natural sob plantios florestais que mostram que florestas plantadas podem
acelerar a sucessão secundária, principalmente em áreas de floresta ombrófila densa,
floresta estacional semidecidual, cerrado e áreas de contato entre esses dois últimos tipos
de vegetação. Os autores constataram que, caso estas áreas de plantio comercial sejam

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
manejadas apropriadamente, com preservação do sub-bosque, podem atuar como redutos
de biodiversidade para alguns grupos de seres vivos (vertebrados, insetos, fungos e
microorganismos). Em relação aos aspectos hidrológicos e de conservação do solo, o
estudo de van Dijk e Keenan (2007) mostra que as florestas plantadas podem aumentar a
recarga das águas subterrâneas e diminuir o escoamento superficial devido à melhoria da
infiltração, diminuir o volume de sedimentos e nutrientes e transportados para os sistemas
fluviais, reduzir os escorregamentos rasos e influenciar os padrões de precipitação nas
escalas local a regional, alterando as transferências de calor e umidade da superfície e da
atmosfera.
Um assunto referente às áreas protegidas – incluindo as terras indígenas, são os
recorrentes casos de sobreposição destas Unidades. A Tabela 1 mostra a área de
sobreposição entre as APAs federais e estaduais paulistas. São 697 km2 de áreas que
devem seguir um zoneamento que pode ser contraditado por outro, ou seja, não há
definição sobre qual órgão deve gerir estas áreas. Das 4 APAs federais, 2 estão totalmente
sobrepostas com APAs estaduais. A APA Mananciais da Bacia do Rio Paraíba do Sul não
tem qualquer documento de ordenação e a APA da Serra da Mantiqueira (APASM) tem
um projeto de Plano de Manejo com um volume dedicado ao Zoneamento Preliminar
desta APA (ICMBio, 2018). Esse documento descreve uma Zona de Sobreposição
Territorial que consiste em “áreas nas quais há sobreposição do território da Unidade de
Conservação com outras áreas”, mas esta definição considera UCs de Proteção Integral e
Reservas Particulares de Patrimônio Nacional (RPPNs); fora do Estado de São Paulo há
sobreposição com outras UCs – Parque Estadual da Serra do Papagaio e Floresta Nacional
Passa Quatro (Minas Gerais) e Parque Nacional de Itatiaia (Rio de Janeiro) (ISA, 2018).
O Plano de Manejo da APASM sugere a compatibilização da gestão com as demais UCs
de modo a impulsionar as proposições de zoneamento para estas Unidades.

TABELA 1. Sobreposição entre APAs federais e estaduais (área em km2)14 15 16


Área das APAs Federais (km2)
APA da Serra da APA Mananciais da Bacia
Área das APAs Estaduais (km2) Mantiqueira do Rio Paraíba do Sul

424 282

14
Considera apenas a porção das APAs no Estado de São Paulo.
15
Área calculada usando a projeção South America Albers Equal Area Conic – EPSG: 102033.
16
Os polígonos de sobreposição com mais de 10 km2 foram desconsiderados pois referem-se a sobreposição entre
APAs adjacentes causada por desarticulações entre as bases cartográficas de Unidades de Conservação.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

% de sobreposição

% de sobreposição

% de sobreposição

% de sobreposição
sobreposição

sobreposição

sobre a APA
sobre a APA

sobre a APA

sobre a APA
estadual

estadual
Área de

Área de
federal

federal
(Km2)

(Km2)
APA Campos do Jordão
162 56% 38% - - -
288
APA Sapucaí-Mirim
262 70% 62% - - -
377
APA Silveiras
- - - 163 39% 58%
415
APA São Francisco Xavier
- - - 110 99% 39%
110
Total 424 100% - 273 97% 17 -
Fonte: MAPBIOMAS (2016), ISA (2018). Organizado pela autora.

4. Conclusões
Mais do que representar espaços destinados à conservação da biodiversidade, as
APAs podem ser qualificadas como áreas que obrigatoriamente devem seguir um
Zoneamento Ambiental com orientação sobre as atividades permitidas e restringidas.
Alguns elementos previstos na Resolução CONAMA nº 10/1988, como o uso de
agrotóxicos e erosão do solo, não podem ser analisados apenas nos limites das APAs e de
outras UCs, mas é importante considerar que existe uma área de influência destes
impactos que, usualmente corresponde aos limites da bacia hidrográfica em que se
inserem estes eventos. Estes conflitos de uso da terra devem ser contemplados no
zoneamento da APA, assim como as estratégias de mitigação dos impactos causados por
estas atividades.
Os casos de sobreposição entre UCs devem ser necessariamente contemplados nos
Planos de Manejo das APAs que precisam incluir uma zona de sobreposição de áreas
protegidas, especialmente quando coincidirem com áreas de uso mais restrito.
Embora as APAs constituam Unidades altamente antropizadas, podem atuar como
corredores ecológicos e de conectividade entre outras UCs de proteção integral ou uso
sustentável, servindo ao propósito de conservação da biodiversidade.

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Mineração. Disponível em < http://www.anm.gov.br/assuntos/ao-minerador/sigmine >. Acesso
em 04 mai. 2018.

17
Os 3% da APA Mananciais da Bacia do Rio Paraíba do Sul que não sobrepõe com as APAs estaduais referem-se a
desarticulações entre as bases cartográficas de Unidades de Conservação.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
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449
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISE AMBIENTAL DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA


ZONA NORTE DE ARARAQUARA- IMPACTOS SOBRE OS
RECURSOS HÍDRICOS

Oliveira, Simone C.1;

Scarpinella, Gustavo D’A.2 , Silva, Ricardo. Siloto.3


1,
Departamento Autônomo de Água e Esgotos de Araraquara
(simonecoliv@gmail.com)
2,3
Co-orientador, e Orientador. Universdidade Federal de São Carlos
(gscarpinella@gmail.com; rss@ufscar.br)

Resumo: As transformações ambientais ocorridas numa bacia hidrográfica devido à


ocupação antrópica e a urbanização podem trazer sérios problemas à qualidade de vida
da população local. Este estudo discorre sobre as pressões antrópicas no processo de
ocupação da zona norte do município de Araraquara-SP, tomando como estudo de caso a
bacia de captação do Ribeirão das Cruzes, onde está localizado o maior reservatório de
água para abastecimento público da cidade. Foi realizada uma análise utilizando-se
imagens do Google Earth, ferramentas do Sistemas de Informações Geográficas (SIG),
dados hídricos e revisão de legislação local, no período de 1984-2017, período de
ocupação urbana da região, com destaque para a fase inicial (anos de 1980) e
posteriormente, os últimos dez anos do período registrado com a intensificação da
implantação de empreendimentos imobiliários de alto padrão e habitações de interesse
social. Os impactos ambientais observados destaca-se a degradação dos recursos hídricos
na área de estudo culminando no assoreamento do reservatório das Cruzes.
Palavras-chave: Ocupação Urbana; Recursos Hídricos; Assoreamento .

1. Introdução

O processo de urbanização brasileiro, como nos demais países da América Latina,


apresentou um intenso crescimento, especialmente a partir da segunda metade do Século
XX. A economia, até então pautada na geração de recursos vindos dos ciclos produtivos
agrários, passou a ser direcionada por uma política de industrialização do país.
Até 1940 a população brasileira se concentrava na zona rural. Na década seguinte,
começou a haver uma migração para as áreas urbanas em função do processo de
industrialização vivido no país, o “milagre brasileiro”, fenômeno que diversificou o modo
de produção vigente e direcionou o processo de ocupação para os espaços urbanos. Aliado
a outros acontecimentos como o êxodo rural, que condicionou esta migração da população
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
agrária às cidades em busca de melhores condições de vida, o país viveu neste período
uma grande transformação. O aumento populacional estimulou o consumo por bens e a
demanda por habitação. O espaço da cidade foi se transformado e tendo sua capacidade
física e funcional completamente alterada.
Conforme afirma Maricato (2003), o crescimento urbano sempre se deu com
exclusão social e quase sempre associado a tragédias urbanas ambientais. Enchentes,
desmoronamentos, poluição dos recursos hídricos, poluição do ar, impermeabilização do
solo, desmatamentos, demanda habitacional, retorno de epidemias e violência ainda são
fatos que ocorrem com frequência na zona urbana em função da maneira como são
ocupados os espaços livres da cidade e como é desenvolvido o planejamento urbano.
O desafio de planejar, limitar e gerenciar a ocupação dos espaços urbanos
impulsiona esforços de diversas áreas do conhecimento e demanda a articulação de
diferentes setores da sociedade e da administração pública afim de tornarem esses locais
com mais qualidade de vida. Neste sentido, este estudo, parte da reflexão apresentada na
tese de doutorado da autora, analisa os impactos decorrentes do processo de ocupação
urbana da zona norte do município de Araraquara – SP. O local, de grande relevância
ambiental, abriga importantes cursos d’água, que compõem parte do sistema de
abastecimento público. Foi realizado um levantamento de imagens da área de estudo,
obtidas no aplicativo Google Earth, além de ferramentas do Sistemas de Informações
Geográficas (SIG), dados hídricos e revisão de legislação urbano ambiental do município,
no período de 1984-2017com o objetivo de se traçar uma linha do tempo demonstrando
o processo de ocupação da área. A fase inicial de ocupação da zona norte, ocorrida a partir
de 1985, foi marcada pela implantação do primeiro parcelamento do solo no local, antes
ocupado por uma fazenda com usos diversos. Durante décadas a região foi pontuada por
grande vazios urbanos que permaneceram na latência da especulação imobiliária. Por
volta de 2010, após a implantação da política habitacional do Governo Federal, sobretudo
com o Programa Habitacional Minha Casa Minha Vida, observa-se um avanço na
ocupação deste território. Atualmente, a referida localidade está quase toda preenchida,
ocorrendo poucos vazios urbanos percebe-se a alternância entre condomínios horizontais
e verticais construídos para as classes média e alta ocupando a área central da zona norte,
e nas áreas limítrofes a predominância das habitações de interesse social. Este processo
de ocupação urbana nesta área contribuiu para o comprometimento do volume de água
ofertada para o abastecimento público o que foi observado em estudos batimétricos,
monitoramento da disponibilidade de água captada bem como transformação do território

451
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
natural.
As transformações do meio físico, os problemas ambientais, o descompasso entre
os interesses econômicos, a gestão dos recurso naturais pelo poder público, a participação
da sociedade nas decisões, conduzem à reflexão acerca de modelos de desenvolvimento
urbano pouco estruturados, e fragilizados sob o ponto de vista social, ambiental e
econômicos.

2. Material e Métodos

2.1 Caracterização geral da área de estudo

Araraquara está localizada na porção oeste do Estado de São Paulo, e fica 270 km
de distância da capital, sob as coordenadas 21°47’37’’ de latitude sul e 48°10’52’’ de
longitude oeste. Possui uma área total de 1.312 km² com aproximadamente 80 km²
ocupados pela área urbana. Situada no Planalto Ocidental, Araraquara tem altitude média
de 646 metros, com máxima de 715 metros e mínima de 600 metros. Seu relevo é
desenhado pelas Cuestas Basálticas e pela Depressão Periférica Paulista. Os rios estão
num padrão paralelo com traçados ligeiramente inclinados, sendo as vertentes mais
inclinadas altamente susceptíveis aos processos erosivos. A vegetação primária do
município é de Floresta Latifoliada Tropical, com diversas espécies típicas do bioma
cerrado, característica das áreas de Latossolo Roxo com predominância da Floresta
Estacional Semidecidual, Floresta Ombrófila Densa Alta-Montana, Savana, Savana
Florestada e Vegetação Secundária da Floresta Estacional em Contato Floresta
Estacional. O clima predominante é do tipo Aw (Classificação climática de Koppen),
sendo tropical chuvoso com inverno seco e mês mais frio com temperatura média superior
a 18ºC. O mês mais seco apresenta precipitação inferior a 60 milímetros. No verão, as
temperaturas são altas (média de 31º C) e a pluviosidade elevada (embora apresente média
anual de 1.397 milímetros), com inverno de temperaturas amenas e pluviosidade reduzida
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas - IPT, 2012). A Figura 1 apresenta a localização do
área de estudo, evidenciando a delimitação geográfica do Brasil e na sequencia o Estado
de São Paulo, com destaque para o município de Araraquara; e neste território a bacia do
Ribeirão das Cruzes e suas microbacias que compõem o sistema de abastecimento
superficial denominado Represa de Captação das Cruzes, localizado na porção norte
(Zona Norte) onde está posicionada a área de estudo em questão.

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Figura 1- Localização da bacia hidrográfica das Cruzes (área de estudo). Fonte: Oliveira, 2017.

2.2 Metodologia de Análise

A água utilizada no município de Araraquara é proveniente de mananciais


superficiais (Ribeirão das Cruzes, Ribeirão Anhumas e Córrego Águas do Paiol) e
subterrâneo (Aquifero Guarani).
A rede hidrográfica superficial tem uma distribuição homogênea por todo seu
território compreendendo tanto o perímetro urbano quanto a área rural.
A Bacia do Ribeirão das Cruzes, em sua porção urbana, é composta pelos córregos
do Tanquinho, Serralhal, Marivan, Águas do Paiol, Cupim, Martins e Lageado.
Na secção inicial da Bacia, foi feito em 1945 um barramento para o abastecimento
público - a represa das Cruzes -, cuja capacidade inicial de reservação era de 70.000 m3 e
respondendo por 33 % da oferta de água no município. Essa capacidade de reservação ao
longo dos anos foi sendo diminuída. Em levantamento realizado num determinado
período foi possível constatar que o volume médio de água captada foi sendo reduzido
conforme ocorreu um aumento da população na zona norte.

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A Figura 2, evidencia a redução do volume de água captada (em m 3) na represa
das Cruzes, no período de 2007 a 2014.

Figura 2- Volume médio (m3) anual de água superficial captada em Araraquara-SP.


Fonte: Oliveira, 2017.

O perfil de consumo de água para abastecimento humano no município aumentou


conforme a população cresceu e o manancial de captação superficial registrou uma queda
na produção do volume hídrico, devido ao seu assoreamento. Foram realizados estudos
batimétricos no ano de 2003 e de 2009, no reservatório das Cruzes mostrando a situação
complexa do excesso de sedimentos no reservatório. A Figura 3 apresenta
esquematicamente a área do reservatório devidamente seccionada num estudo realizado
pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), para a
realização do levantamento batimétrico realizado em 2003 e ao seu lado há um desenho
esquemático da seção longitudinal do mesmo reservatório, obtido após nova batimetria
realizada em 2009.

Figura 3 – reservatório das Cruzes em dois momentos (2003 e 2009) . Fonte: Oliveira, 2017.

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Não há como desconsiderar a perda de volume de reservação da concepção
original (70.160,44 m3), para a alteração sofrida em 2003 (onde esta mesma capacidade
caiu para 69.541,54 m3). Posteriormente, em 2009, o volume foi reduzido a 39.859,69
m3. É interessante observar que, junto à diminuição do volume disponível de água, houve
um aumento expressivo de ligações domiciliares entre 2003 e 2009. Em 2003, a região
contava com um total de 66.642 ligações domiciliares, e em 2009, com 85.281. Em 2013,
foram contabilizadas aproximadamente 102.000 ligações (DAAE, 2014).
A pressão pela demanda de água é observada nas imagens obtidas a partir do
Google Earth, onde é possível verificar a ocupação urbana da área de estudo, conforme
se segue na Figura 4, destacando o ano de 1984 e na Figura 5 o ano de 2017.

Figura 4 – Área de estudo em 1984. Fonte: Oliveira, 2017.

Figura 5 - Área de estudo em 2017.Fonte: Oliveira, 2017.

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A partir das imagens do Google Earth verificou-se uma alteração na ocupação do
espaço. A expansão urbana no território é bem marcada pelo período citado. Entretanto
este aspecto fica bem marcado com a Figura 6, a qual aponta como este processo de
expansão se concentra na zona norte do município. Até o ano de 2005, momento de
aprovação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (Lei 350/05) esta transformação
ocorre de forma mais tímida e com uma tendencia ao espraiamento, o que se mantém até
o ano de 2010 onde ocorre uma valorização da zona norte embora o Plano Diretor vigente
determine a ocupação com restrição. Com a revisão da lei,sendo portanto aprovado um
novo Plano Diretor em 2014 (Lei 850/14), é permitida a ocupação deste território,
configurando uma nova paisagem e um novo cenário, sobretudo do ponto de vista
populacional.

Figura 6- Evolução da expansão urbana em Araraquara (2006-2016). Fonte: Oliveira, 2017

3. Considerações Finais

O aumento na demanda de água e o decréscimo da produção para esta região


configuraram um problema econômico, social e ambiental crítico. Econômico pela
necessidade de uma restruturação da oferta e busca de novas fontes de abastecimento.
Social, pelo aumento populacional e a consequente demanda por um recurso natural
essencial à sobrevivência e bem-estar humano. E ambiental pela rápida transformação do
território e a pressão exercida na região, decorrente da urbanização acelerada.
A relação causal detectada aponta para problemas observados em situações

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similares como solos suscetíveis a processos erosivos, áreas com restrição de uso,
imposição do mercado imobiliário, alteração na base legal local, ineficiência da gestão
pública e o desarticulação no planejamento e tomada de decisões. Todas as questões
elencadas, culminam no impacto expressivo da região destacando principalmente o
aspecto mais perceptível, o processo de assoreamento do reservatório, perpetuando um
modelo de gestão desgastado e defasado.
Pelos dados apresentados nos estudos batimétricos, bem como a sequência de
imagens registradas pelo Google Earth, foi verificado um processo crescente de
assoreamento, que limitou ano após ano a capacidade operacional do manancial. Esse
processo de perda do volume útil de reservação de água, embora pudesse ser num
primeiro momento um fator limitante para expansão urbana na região, não foi considerado
como deveria.
A necessidade de investimentos para reversão do quadro (como desassoreamento
ou dragagem), a busca por novos mananciais, a recomposição da cobertura vegetal das
margens do corpo hídrico, a melhoria na drenagem e da adoção de diferentes formas de
manejo para a bacia, têm sido postergadas e espera-se maior envolvimento da participação
popular e comprometimento da gestão pública.

Referências

ARARAQUARA. Prefeitura Municipal de Araraquara. Lei Complementar nº 350, de 28


de dezembro de 2005. Plano Diretor de Desenvolvimento e Política Urbana
Ambiental de Araraquara. Araraquara, 2005.
ARARAQUARA. Prefeitura Municipal de Araraquara. Lei Municipal nº 850, de 14 de
fevereiro de 2014. Plano Diretor de Desenvolvimento e Política Ambiental de
Araraquara. Prefeitura Municipal de Araraquara. Lei Complementar 850 de 11 de
fevereiro de 2014. Araraquara, 2014.
DAAE. Departamento Autônomo de Água e Esgotos. Relatório da Gerência Comercial.
Levantamento do Número de Ligações. Relatório Interno, DAAE, Araraquara, SP.
2014.
DAEE. Departamento de Águas e Energia do Estado de São Paulo. Batimetria e Estudo
do Assoreamento do Reservatório do Ribeirão das Cruzes. Relatório Técnico. São
Paulo, 2009, 77 pp.
MARICATO, Ermínia. Metrópole, legislação e desigualdade. São Paulo, Revista de
Estudos Avançados, 2003, 17 (48), p. 151-167.
OLIVEIRA, Simone C. Ocupação antrópica da bacia do ribeirão das Cruzes em
Araraquara, SP: Análise e Proposições. 220 p. Universidade Federal de São Carlos,
2017.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISE DA QUALIDADE DA ÁGUA E DO USO E OCUPAÇÃO


DO ENTORNO DOS CORPOS HÍDRICOS DA ESTAÇÃO
ECOLÓGICA E ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE ITIRAPINA –
ITIRAPINA, SP

Garcia, Cairê A.1; Toyama, Daniele2; Capoia, Emilene F.2; Delgado, Bárbara3;
Menezes, Denise B.4; Borges, Leonardo M.5; Lopes, Luciano E.6; Ferreira, Patrícia A.6;
Buck, Sonia M. C.6; Cunha-Santino, Marcela B.7
1
Universidade Federal de São Carlos, discente Gestão e Análise Ambiental
(caireag@gmail.com)
2
Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Exatas e da Terra,
Departamento de Engenharia Civil, Programa de Pós – Graduação em Engenharia
Urbana (danitoyama01@gmail.com; emilenefrazao@gmail.com)
3
Universidad Nacional de Rosario, Facultad de Ciencias Agrarias, discente Recursos
Naturales (barbara.r.del@gmail.com)
4
Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Exatas e da Terra,
Departamento de Engenharia Civil (denisebm@ufscar.br)
5
Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Biológicas e de Saúde,
Departamento de Botânica (aquitemcaqui@gmail.com)
6
Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Biológicas e de Saúde,
Departamento de Ciências Ambientais (lucianolopes@ufscar.br;
patybio13@yahoo.com.br; sbuck@ufscar.br)
7
Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Biológicas e de Saúde,
Departamento de Hidrobiologia/UFSCar (cunha_santino@ufscar.br)

Resumo: A qualidade da água superficial está condicionada aos usos que ocorrem ao seu
redor. O presente trabalho buscou avaliar a qualidade da água de três corpos hídricos
localizados na Estação Ecológica e Experimental de Itirapina, através do uso do Índice
de Qualidade da Água - IQA e do sensoriamento remoto para determinar o grau de
Hemerobia do uso e ocupação das área no entorno dos corpos hídricos. Os três córregos
estudados apresentaram boa qualidade da água, porém o córrego Água Branca está mais
degradado uma vez que recebe o efluente da estação de tratamento de esgoto de Itirapina
e o uso do entorno é predominante para silvicultura e solo exposto. O ribeirão Itaqueri
possui ocupação do entorno predominante por área florestal e silvicultura, e o córrego
Geraldo apresenta ocupação por áreas urbanizadas, silvicultura e pastagem. Esses usos
podem gerar pressão nas áreas remanescentes de cerrado, e degradação dos recursos
hídricos. Como conclusão, destaca-se que a qualidade dos trechos hídricos estudados é
boa, porém o uso do entorno e os impactos provocados em cada um reflete nas variáveis
limnológicas. O uso e ocupação do solo também é um importante instrumento para se
avaliar evolução dos processos na zona de amortecimento. Sugerimos que seja feito o
monitoramento periódico da qualidade dos recursos hídricos bem como da ocupação do
solo na área.
Palavras-chave: Corpos Hídricos, Sensoriamento Remoto, Índice de Qualidade das
Águas, Hemerobia.
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1. Introdução

As águas são um bem finito, dotado de valor intrínseco que deu origem e sustenta
a vida e está presente em inúmeros processos ecossistêmicos. A unidade espacial usada
no estudo das águas continentais é a bacia hidrográfica que ao longo de sua extensão é
cenário para diferentes atividades humanas geradoras de diversos impactos ambientais.
Segundo Merten e Minella (2002) o rio é um integralizador dos fenômenos ocorrentes
nas vertentes da bacia, que pode ser avaliado pelos parâmetros de qualidade da água. De
acordo com Andrade et al. (2007), a qualidade da água é determinada por processos
naturais (intensidade das precipitações, intemperismo, cobertura vegetal) e pela
influência antrópica (agricultura, concentração urbana, atividade industrial e uso
excessivo da água).
Como principais consequências dos diferentes processos e influências na bacia
hidrográfica sobre a água pode-se citar a alteração na disponibilidade hídrica e, portanto,
no ciclo hidrológico, através de usos consultivos para abastecimento doméstico e
industrial e a utilização em serviços e na irrigação agropecuária, bem como alteração na
qualidade da água por meio de retirada da mata ciliar, despejo de efluentes industriais e
domésticos, contaminação difusa por uso de agrotóxicos e fertilizantes, criação de
animais e proliferação de vetores de doenças de veiculação hídrica.
As Unidades de Conservação - UC são instrumentos fundamentais em qualquer
estratégia de conservação dos recursos naturais e da biodiversidade. Atualmente, a
legislação que define e regulamenta as categorias de unidades de conservação nas
instâncias federal, estadual e municipal é o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação - SNUC. As unidades são separadas em dois grupos: (i) proteção integral,
com a conservação da biodiversidade como principal objetivo e (ii) áreas de uso
sustentável, que permitem várias formas de utilização dos recursos naturais, com a
proteção da biodiversidade como um objetivo secundário (MMA-SNUC, 2000).
No entanto, a sua criação não é suficiente tornando necessário alcançar uma boa
efetividade de gestão. A maioria dos impactos sofridos por uma UC derivam dos usos do
solo em seu entorno. A fim de minimizá-los, o SNUC considerou que o entorno das
unidades deve estar sujeito a normas e restrições específicas, estabelecendo a Zona de
Amortecimento - ZA, que tem o objetivo de ordenar o uso e ocupação do solo do entorno
da UC e minimizar esses impactos. O uso do solo reflete diretamente na qualidade da
água, e no caso da Estação Ecológica de Itirapina - EEI, objeto deste estudo, a ZA foi

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definida a partir dos divisores de água da Bacia do Itaqueri e do Lobo, abrangendo toda
a drenagem que se relaciona com a unidade (ZANCHETTA et al., 2006). Entretanto a
maior parte da área do entorno abriga atividades agrícolas (cultivo de cana-de-açúcar e
pastagem) (DUTRA-LUTGENS, 2000), que diminuem a infiltração da água, aumentam
o escoamento superficial, a taxa de perda do solo e o carreamento de sedimentos e
defensivos agrícolas que se acumulam nos canais, degradando os corpos hídricos.
Portanto, para o monitoramento dos recursos hídricos é necessário considerar a influência
desses fatores na qualidade da água.
O município de Itirapina localizado no interior do estado de São Paulo, com o
território de 564,603 km² e população estimada para o ano de 2017 em 17.589 habitantes
(IBGE, 2017), abriga uma UC. A Estação Ecológica e a Estação Experimental de Itirapina
possuem 5.512 ha, abrangendo também uma porção do município de Brotas. É gerida
pelo Instituto Florestal, órgão da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
(INSTITUTO FLORESTAL, 2017).
O presente trabalho foi realizado em parceria com as Estações Ecológica e
Experimental de Itirapina e avaliou a qualidade da água em córregos da região, bem como
mapeou os usos do solo no entorno desses recursos hídricos, a fim de subsidiar a discussão
acerca da importância dessas áreas de preservação ambiental para a qualidade ambiental
do município.

2. Materiais e Métodos

2.1 Área de estudo

A economia de Itirapina é gerada principalmente pela prestação de serviços


(~71%), seguido pela indústria (~16%) e agropecuária (11%) (IMP, 2017). O município
possui em seu território as Estações Ecológica e Experimental. A Estação Ecológica é
uma Unidade de Conservação de Proteção Integral que possui 2.300 ha destinados à
conservação da biodiversidade e à pesquisas científicas. A fitofisionomia do ambiente é
composta pelo cerrado (campo sujo, campo limpo, campo cerrado e campo úmido, e
fragmentos de cerrado sensu stricto, matas galeria e cerradão) (INSTITUTO
FLORESTAL, 2017). A Estação Experimental possui 3.212 ha e constitui uma área
reflorestada com Pinus ssp. e Eucalyptus ssp., onde são realizadas atividades de
resinagem, produção florestal e conservação da biodiversidade (INSTITUTO
FLORESTAL, 2017).

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Como afirma Zanchetta et al. (2006),

a área de estudo [...] localiza-se na Bacia do Tietê Médio Inferior. É drenada


pelos ribeirões Itaqueri e do Lobo, e córregos do Geraldo, do Limoeiro e Água
Branca, que deságuam na represa do Lobo. A rede de drenagem apresenta
baixa densidade, devido à natureza e propriedade dos solos; à litologia da área,
composta basicamente, por arenitos eólicos da Formação Botucatu, e ao relevo
plano e suave ondulado, portanto, todos esses fatores são responsáveis pela alta
infiltração da água no solo, em detrimento ao deflúvio.

2.2 Metodologia

A fim de determinar o Índice de Qualidade das Águas - IQA (CETESB, 2013),


foram realizadas amostragens em três corpos hídricos (Figura 1): córrego Geraldo (P1,
coordenadas 0205543; 7539786), ribeirão Itaqueri (P2, coordenadas 0205028; 7537234)
e córrego Água Branca (P3, coordenadas 0205883; 7538797). Em cada corpo hídrico
foram realizadas três réplicas, distanciadas em 10 metros. A água foi coletada em
subsuperfície e armazenada em frascos plásticos protegidos da incidência da luz e em
baixa temperatura (~4ºC) até a análise em laboratório. Foram determinadas as seguintes
variáveis (e seus respectivos métodos): coliformes fecais (detecção em gel desidratado),
pH (potenciométrico), DBO5 (polarográfico), nitrogênio total (quimioluminescência),
fósforo total (espectrofotométrico), temperatura (equilíbrio térmico), turbidez
(nefelométrico), sólidos totais (gravimétrico), oxigênio dissolvido (polarográfico).
O IQA fornece um valor entre 0 e 100, que categoriza a qualidade da água
analisada, sendo Ótima (79<IQA≤100), Boa (51<IQA≤79), Regular (36<IQA≤51), Ruim
(19<IQA≤36) e Péssima (IQA≤19) (CETESB, 2013).
Foi elaborado, por meio do sensoriamento remoto, uma carta de uso e ocupação
do solo e posteriormente foram determinados os graus de hemerobia. Para elaboração do
mapa de uso e opação do solo foi utilizada a imagem de satélite do Landsat 8, obtida no
United States Geological Survey, composição RGB das bandas 6, 5, 4, e da banda 8
(pancromática). Foi utilizado o software ArcGis 10.2.2. e a classificação do uso do solo
foi realizada de acordo com o Manual Técnico de Uso da Terra (IBGE, 2013).
Para a identificação da condição de hemerobia foi utilizada a classificação
sugerida por Fushita (2011), citado por Toyama, Fushita e Cunha-Santino (2017), onde
a hemerobia considera os efeitos das ações humanas na paisagem conforme
seu grau de naturalidade, que de acordo com a interação homem ambiente
enquadram-se em um gradiente, variando de ahemerobiótico que representa o

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
ambiente natural a metahemerobiótico que pode ser descrito como um
ambiente cultural com paisagens artificiais intencionalmente criadas e
totalmente dependentes do controle e manejo humano.

FIGURA 1 – Imagem de satélite parcial da Estação Ecológica e Experimental de Itirapina. Os números


indicam os pontos de coleta: 1- Córrego do Geraldo, 2- Ribeirão Itaqueri e 3- Córrego Água Branca.
Fonte: Zanchetta et al. (2006).

3. Resultados

A Tabela 1 apresenta os resultados das análises limnológicas e o cálculo do IQA


bem como sua classificação. Devido a erro experimental e metodológico, os valores de
demanda bioquímica de oxigênio foram comprometidos. Assim, para o cálculo do IQA
foi assumido o valor máximo dessa variável em todos os pontos, tornando-o um
parâmetro de contribuição neutra para a determinação do índice.

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TABELA 1 – Resultados das análises limnológicas.

Parâmetros Córrego Geraldo Ribeirão Itaqueri Córrego Água Branca


(P1) (P2) (P3)
O. diss. (mg/L) 5,89 5,33 3,40

Col. fec. (UFC/100 0 1040 80


ml)
pH 4,68 5,40 5,92

DBO (mg/L) 0,00 0,00 0,00

Temperatura (ºC) 21,4 21,5 22,9

Nitrogênio (mg/L) 0,4464 0,4272 2,308

Fósforo (mg/L) 0,4824 0,6053 0,8833

Turbidez (NTU) 1,65 5,34 3,61

Res. tot. (mg/L) 21,67 33,5 47,83

IQA 72,5 58,4 59,1

Classificação Boa Boa Boa

Fonte: Autor (2018).

As Figuras 2, 3 e 4 apresentam os mapas de uso e cobertura da terra e a


classificação da hemerobia nos pontos de amostragem.

FIGURA 2 – Mapa de uso e ocupação do entorno do córrego Geraldo (P1) e da classificação de


hemerobia. Fonte: Autor (2017).

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FIGURA 3 – Mapa de uso e ocupação do entorno do ribeirão Itaqueri (P2) e da classificação de


hemerobia. Fonte: Autor (2017).

FIGURA 4 – Mapa de uso e ocupação do entorno do córrego Água Branca (P3) e da classificação de
hemerobia. Fonte: Autor (2017).

Considerando a classificação sugerida por Fushita (2011), encontrou-se três graus


de hemerobia no entorno dos pontos de amostragem, sendo eles ahemerobiótico,
euhemerobiótico, e metahemerobiótico. As porcentagens de cada ponto encontram-se na
Tabela 2.

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TABELA 2 – Porcentagem dos graus de hemerobia no entorno dos corpos hídricos estudados.

Hemerobia Córrego Geraldo Ribeirão Itaqueri Córrego Água Branca

Ahemerobiótico 34.85% 47.15% 38.88%

Euhemerobiótico 50.82% 52.45% 59.90%

Metahemerobiótico 14.34% 0.40% 1.22%


Fonte: Autor (2018).

4. Discussão

O córrego Geraldo, no local de coleta, não possui vegetação ciliar em parte de sua
margem devido a existência de uma estrada, a água é transparente e não possui odor
desagradável. O leito é de aparência arenosa com seixos, raízes e troncos que servem de
habitat para a ictiofauna.
O ribeirão Itaqueri possui mata ciliar preservada e densa com vegetação arbustiva
e arbórea formando dossel e há deposição de serrapilheira em alguns pontos. O trecho
analisado possui leito predominantemente constituído de argila e areia, com água
transparente e inodora. O trecho possui duas pontes: uma de madeira para passagem de
veículos e outra de concreto para passagem de trens, estando esta última parcialmente
deteriorada e com blocos de concreto desprendidos e caídos no canal do rio.
O córrego Água Branca sofre a interferência direta de uma estrada. Por outro lado
a vegetação do entorno é densa, água transparente e inodora. Nesse córrego ocorre o
despejo do efluente tratado pela estação de tratamento de esgoto de Itirapina. A água dos
três corpos hídricos estudados foi classificada com qualidade boa.
A água do córrego Água Branca apresentou o menor valor de oxigênio dissolvido,
altos níveis de nitrogênio, fósforo e resíduos totais em comparação com os outros dois
córregos, indicando estado de degradação superior aos outros. O nitrogênio e o fósforo
na água podem advir de atividades agropecuárias, que abundam nos arredores do Água
Branca (Figura 4) e/ou de despejos urbanos ou industriais que não passam por tratamento.
Os resíduos totais referem-se ao material particulado em suspensão na água, maior em
ambientes impactados negativamente e por fim a baixa concentração de oxigênio
dissolvido na água é indicativo de alta oxidação de matéria orgânica, e baixos níveis de
OD pode provocar a mortandade de espécies aquáticas (EMBRAPA, 2017).
Com relação ao pH das amostras de água, obteve-se um comportamento mais
ácido que deve-se ao fato de a área de estudo estar sob o domínio morfoclimático do

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cerrado onde o solo naturalmente apresenta característica mais ácida, refletindo também
na acidez da água superficial e subterrânea.
A ocupação do entorno de todos os pontos é composta majoritariamente por usos
antrópicos agrícolas, como pastagem e silvicultura (Pinus ssp. e Eucalyptus ssp.). Em
relação às áreas antrópicas não agrícolas o ponto 1 conta com áreas de infraestrutura
urbana, como um condomínio de chácaras, barracões, tanques de pesca e estrada, além de
áreas de pastagem e silvicultura. O ponto 2 possui áreas de mineração de areia, cultura
temporária, pastagem e silvicultura. O ponto 3 possui estrada e áreas de pastagem e
silvicultura. Os pontos 2 e 3 possuem extensas áreas de vegetação natural compostas por
Campo Úmido, Cerrado S. Strictu, Cerradão, Floresta Ripária e Planícies de Inundação.
Considerando a área total no entorno de todos os pontos, o grau hemerobiótico
com maior área foi o euhemerobiótico, com 53,8%, este é composto por áreas de solo
exposto, culturas temporárias, aceiros, pastagem e silvicultura. Esses tipos de uso
modificam fortemente a paisagem e são considerados como euhemerobiótico por
apresentarem dependência tecnológica e energética para a manutenção de seus processos
e baixa capacidade de autorregulação (TOYAMA; FUSHITA; CUNHA-SANTINO,
2017).
O grau ahemerobiótico, ocupa 40,7% da área total, e é composto pelas áreas de
vegetação natural (Campo Úmido, Campestre, Cerradão, Cerrado, Floresta Ripária,
Floresta em regeneração) e os ambientes aquáticos e brejosos (Represa do Lobo e planície
de inundação). Esses ecossistemas não dependem das atividades antropogênicas para a
manutenção de seus processos, ou seja, possuem alta capacidade autoregulação, e a
principal fonte de energia é a solar, indicando um baixo grau de hemerobia, ou seja, alta
naturalidade (TOYAMA; FUSHITA; CUNHA-SANTINO, 2017).
Por fim, as áreas de infraestrutura urbana, de mineração, as estradas e o tanque de
piscicultura classificaram-se como metahemerobiótico, ocupando 5,4% da área total,
ecossistemas completamente dependentes de energia antropogênica possuindo baixa
condição de naturalidade (TOYAMA; FUSHITA; CUNHA-SANTINO, 2017).
As áreas com classe mais alta de hemerobia encontram-se no entorno do ponto 1
(córrego Geraldo), na região adjacente a represa do Lobo, onde ocorrem atividades
turísticas e no ponto 2 (ribeirão Itaqueri) onde há uma cava de mineração de areia. A
segunda área de maior grau são as regiões de produção agrícola, localizada
principalmente no entorno do ponto 3 (córrego Água Branca), visto que os ponto de
amostragem se encontram inseridos na Estação Experimental, que tem seu uso composto

466
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
principalmente por silvicultura. Essas duas categorias somam 59,3% do entorno dos
pontos de amostragem, enquanto as áreas de maior naturalidade, de baixo grau de
hemerobia, representam 40,70%.
Considerando os possíveis impactos à qualidade da água nesses usos, destacamos
a contaminação por defensivos agrícolas e compostos fertilizantes advindos das áreas de
cultura temporária e silvicultura. A área de mineração pode causar aumento na turbidez
da água, erosão ao longo das margens e alterações no nível do lençol freático.

5. Conclusão

Através do cálculo do IQA, obtemos a classificação boa nos três córregos


coletados. Porém o córrego Água Branca apresentou o menor valor de oxigênio
dissolvido, altos níveis de nitrogênio, fósforo e resíduos totais em comparação com os
outros dois córregos, o que leva a inferência de que existem impactos ambientais
ocorrendo no entorno do córrego Água Branca. Porém, são necessárias investigações
mais aprofundadas, analisando diversos parâmetros físico-químicos da água e
comportamento de autodepuração dos riachos para verificar possíveis contaminações na
água e os possíveis impactos que a qualidade do Água Branca pode provocar nos
ecossistemas da EEI.
O uso e ocupação do entorno dos córregos e da EEI é predominantemente agrícola,
o que pode gerar pressão sobre as áreas naturais remanescentes, através da supressão da
vegetação para atividades agrícolas ou ainda pelo carreamento de sedimentos com
fertilizantes o que pode aumentar os níveis de nitrogênio e fósforo na água, e provocar o
assoreamento dos córregos e eutrofização. Além disso, como já tem sido exposto, a rede
de drenagem apresenta alta infiltração no solo, em detrimento ao deflúvio, o que implica
que a contaminação na água superficial pode resultar num aumento da contaminação do
solo e possível contaminação da água subterrânea.
Em síntese, faz-se necessário um planejamento da zona de amortecimento da
estação que objetive um modelo de desenvolvimento levando em consideração o âmbito
socioambiental, econômico e cultural, com o menor prejuízo possível da qualidade da
água, mantendo a dinâmica biológica da hidrografia da região. Ainda, sugerimos um
planejamento de monitoramento ambiental nos locais para a obtenção de dados
atualizados e contínuos. Desta forma será possível uma análise mais detalhada dos
processos de degradação e como prevení-los.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Referências
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468
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA PRECIPITAÇÃO POR


MEIO DE ANOS PADRÕES (HABITUAL, SECO E CHUVOSO) NO
MUNICÍPIO DE ITIRAPINA/SP

Ruezzene, Camila B.1; Parizotto, Denise 2; Santos, Bruno C.3; Neves, Gabriela L.4 ;
Okawa, Cristhiane M. P. 5; Mauad, Frederico F. 6; Tech, Adriano R. B.7
Miranda, Renato B.8

1,3,4
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. camila.ruezzene@gmail.com,
bruno-unifal@hotmail.com, gabriela.leiteneves@usp.br.
2
Universidade Federal de Santa Maria. deniseparizotto3@gmail.com.
5
Docente da Universidade Estadual de Maringá. cmpokawa@uem.br
6
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental,
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
mauadffm@sc.usp.br.
7
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental,
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. adriano.tech@usp.br
8
Orientador, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental,
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
rbm1706@gmail.com

Resumo: Dentre os fatores climáticos que são originados da interação de elementos


atmosféricos com a superfície terrestre, a precipitação pluvial é o elemento meteorológico
que possui maior atuação nas condições ambientais. A avaliação e a caracterização dessa
variável, a partir de estudos de séries históricas, assim como a detecção de padrões e
eventos extremos, se torna essencial para a previsão de impactos gerados pela alta
intensidade ou escassez da chuva nas atividades do homem e consequentemente no
desenvolvimento socioeconômico. Diante da importância da precipitação pluvial e de
suas influências, o presente trabalho teve como objetivo analisar o comportamento das
chuvas na região de Itirapina entre os anos de 1979 a 2017. Para tal, foram obtidos dados
pluviométricos coletados na Estação Climatológica do Centro de Ciências de Engenharia
Ambiental Aplicada ao Meio Ambiente (CRHEA). Após um tratamento estatístico dos
dados, utilizou-se a metodologia da classificação de anos padrões. Os resultados
mostraram que houve uma maior ocorrência de padrões para anos normais ao longo do
período analisado anualmente, sendo que padrões “normal levemente tendente a seco
(NTS)” ocorreram mais vezes. No entanto, foram observados padrões “tendente a seco
(TS)” nas análises semestrais e trimestrais e ainda padrão “extremamente seco (S)” na
estação de inverno. Conclui-se, de maneira geral, que foi possível encontrar um maior
número de frequência de anos com menores índices pluviométricos, que podem estar
sendo influenciados dinamicamente perante as oscilações de eventos de escalas
macroclimáticas, na gênese ou inibição dos sistemas atmosféricos.
Palavras-chave: Clima; Chuvas; Ano Padrão; Variabilidade pluviométrica.
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
1. Introdução

As ocorrências das precipitações são derivadas de fenômenos atmosféricos que se


interagem com a superfície terrestre por meio de trocas de calor e umidade. A precipitação
pluvial possui grande atuação, nas condições do ambiente, pois representa o principal
componente de entrada do balanço hídrico, contribuindo assim com a recarga de corpos
d´água (CALVETTI et al., 2006; GOUVEUA et al., 2018).
Assim, o conhecimento do regime pluviométrico e da variabilidade da
precipitação se torna fundamental nas análises ambientais e de cenários socioeconômicos,
já que eventos de grande intensidade ou de escassez podem gerar impactos negativos nas
atividades do homem e consequentemente no desenvolvimento de uma região. Estudos
de precipitação são realizados por meio de simulações numéricas e geração de modelos
que permitem a realização de projeções e avaliação de impactos relacionados a processos
erosivos, produção agrícola e eventos climáticos, sendo também aplicados na gestão e
gerenciamento dos recursos hídricos (KLEIBER et al., 2012; SANTOS et al., 2018).
A análise de séries históricas de chuvas, assim coma a detecção de padrões, é de
suma importância, já que tem sido observado o aumento da ocorrência de eventos
extremos, como grandes enchentes ou secas prejudicando o abastecimento da água, a
produção de energia e outras atividades que podem afetar direta ou indiretamente a
população (GOUVEA, et al., 2018).
No contexto de precipitações no estado de São Paulo, a conjuntura do efeito
orográfico e os fenômenos climáticos dominam a dinâmica nas diferentes regiões,
embora, a influência populacional e da região litorânea são fatores que podem alterar a
intensidade e frequência das chuvas (BARRETO, 2013). O predomínio dessas
influências, reflete também na sazonalidade, ao exemplo da região central do estado
paulista, com estação úmida entre os meses de outubro a março, de intensidade
concentrada principalmente nos meses de dezembro a fevereiro e a estação seca,
correspondente aos meses de abril a setembro, apresentando uma precipitação média de
1493 mm, anualmente (MACHADO; MATTOS, 2001; CABRERA; YOULTON;
WENDLAND, 2013).
As precipitações respondem anualmente a intensidade e frequência apresentando
parâmetros de interpretações prevalentes. Por meio da análise de parâmetros estatísticos
como média, desvio padrão e coeficiente de variação e da metodologia de Anos-Padrão é
possível avaliar o comportamento da variável precipitação e classificar os períodos de

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

chuvas através de modalidades – Normal, Chuvoso, Tendente a Chuvoso, Seco, e,


Tendente a Seco (SANTOS; SOUZA; VECCHIA, 2017).
Dentro desse contexto, o presente estudo tem por objetivo analisar o
comportamento das chuvas por meio da classificação de anos padrões na região de
Itirapina entre os anos de 1979 a 2017.

2. Material e método

A pesquisa tem como área de estudo o município de Itirapina/SP (Figura 1) que,


conforme a classificação de Monteiro (1973), está inserido na região da porção do Estado
de São Paulo, onde a dinâmica das massas de ar é qualificada como região de climas
controlados por massas equatoriais e tropicais, dando a caracterização de climas tropicais
com períodos secos (abril a setembro) e úmidos (outubro a março).

FIGURA 1 – Mapa de localização da área de estudo.

Foram utilizados dados pluviométricos coletados na Estação Climatológica do


Centro de Ciências de Engenharia Ambiental Aplicada ao Meio Ambiente (CRHEA), que
pertence a Universidade de São Paulo (USP).
Para a análise pluviométrica, foi feito um tratamento estatístico dos dados de
maneira a extrair o máximo de informações na escala temporal anual, semestral e
trimestral, a fim de otimizar a análise pluviométrica do estudo.
E por último, foi utilizado a metodologia dos “anos padrões” na forma de
classificar e caracterizar o comportamento pluviométrico ao longo da série (1979-2017).
Essa caracterização representa “os diferentes graus de proximidade do ritmo “habitual”

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
ao lado daqueles afetados por irregularidades na circulação (MONTEIRO, 1991, p.38)”
e, estabelecendo assim, os padrões habituais e excepcionais, obtido pelo total
pluviométrico médio mensal e do desvio-padrão, que estabelece categorias qualitativas
para o comportamento da precipitação do período e na classificação dos anos extremos,
de acordo com a Figura 2.

FIGURA 2 – Classificação de Anos Padrões. Fonte: ADAPTADO DE SANT’ANA NETO (1995).

A utilização desse método já foi realizada em outros trabalhos (BARBOSA, 2007;


BRAIDO; TOMMASELLI, 2010; SANTOS; SOUZA; VECCHIA, 2017; SILVA;
SILVA, 2012), de maneira que possam contribuir na compreensão da variabilidade
pluviométrica em relação à bacia hidrográfica, produção agrícola e, sobretudo, na
repercussão no espaço geográfico.

3. Resultados

3.1 Análise anual

A Figura 3 apresenta o comportamento pluviométrico e os valores dos desvios da


média ao longo do período de 1979 a 2017. Anualmente, a média pluviométrica foi de
1506,8 mm. Pode-se observar os picos positivos que representam os excedentes e os picos
negativos, os faltantes. Nota-se que o ano de 1983 possui o pico positivo mais
representativo para essa série com excedentes maiores que 900 mm de chuvas, já o pico
negativo mais representativo ocorre no ano de 2014 com diminuição de mais de 300 mm.

FIGURA 3 – Desvios anuais da média no período de 1979 a 2017 na estação do CRHEA/USP.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Pode-se ainda verificar, por meio da tabela 1 de classificação anual de anos
padrões, que a maior ordem de frequência do comportamento pluviométrico das chuvas
foi de “anos normais”, sendo que padrões pluviométricos “normal levemente tendente a
seco (NTS)” ocorreram com maior frequência (11 vezes), com 28,20 % do total.
TABELA 1 – Classificação anual dos anos padrões

Classes Anual % Frequência


C 1x 2,56% 5º
TC 6x 15,38% 4º
NTC 6x 15,38% 4º
N 8x 20,51% 2º
NTS 11x 28,20% 1º
TS 7x 17,94% 3º
S - - -

A segunda maior frequência foi de padrões “pluviométricos normais (N)”


ocorrendo 8 vezes ao ano e com um percentual de 20,51%. Na classificação de anos secos
não foram encontrados padrões “extremamente secos (S)” e para anos chuvosos foi
encontrado apenas 1 ano extremamente chuvoso com 2,56% do total.

3.2 Análise semestral

Na figura 4a e 4b estão representados o período semestral seco e chuvoso. A média


para o período semestral seco foi de 341,5mm e o período chuvoso de 1173 mm.

FIGURA 4 – Desvios semestrais da média no período seco (a) e chuvoso (b).

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Nota-se que foi possível detectar que, para o período seco, o maior pico excedente
continua sendo demonstrado para o ano de 1983, no entanto, o ano de 2006 foi o que
apresentou maior falta de chuvas para todo o período. Para o período chuvoso, o maior
pico positivo (excedente) ainda está representado pelo ano de 1983 e o maior pico
negativo (falta) para o ano de 1994.
Ao analisar a classificação semestral (Tabela 2) dividida entre período seco e
chuvoso, pode-se observar que para o período seco houveram nos anos seco, uma maior
frequência de padrões “tendente a seco (TS)” com 20,51% do total e em 2° ordem de
frequência foram encontrados os padrões pluviométricos para “normal levemente
chuvoso (NTC)” e “tendente a chuvoso” ambos com a mesma frequência e
correspondendo a 15,38% de todo o período. A menor ocorrência foi para os padrões
extremamente chuvoso apresentando em última ordem com 10,25% dos dados.

TABELA 2 – Classificação semestral dos anos padrões


Semestre Frequênci Semestre Frequênci
Classes
Seco % a Chuvoso % a
10,25
C
4x % 4º 3x 7,69% 4º
15,38
TC
6x % 2º 5x 12,82% 3º
15,38
NTC
6x % 2º 5x 12,82% 3º
12,82
N
5x % 3º 6x 15,38% 2º
12,82
NTS
5x % 3º 14x 35,89% 1º
20,51
TS
8x % 1º 6x 15,38% 2º
12,82
S
5x % 3º - - -

Para o período chuvoso, a maior frequência dos padrões pluviométricos é de anos


normais “levemente tendente a seco (NTS)” com uma ocorrência de 14 vezes nesse
período, correspondendo a 35,89% de todo o período. A segunda maior frequência foi
representado pelas classes de padrões “normais” e “tendente a seco (TS)”, com um
percentual para ambos de 15,38%. Não houveram registros de ocorrência de padrões seco
para esse período e a menor frequência foi para a classe chuvosa com percentual de 7,69%
do total.

3.3 Análise trimestral

Observa-se na figura 5 os desvios trimestrais para o período do verão (5a) e


primavera (5b). A média para o período do verão foi de 729,8 mm e o período da

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
primavera de 357,2 mm. O ano que apresentou o maior excedente para o verão foi o de
1983 com mais de 250 mm, sendo que, 2014 novamente representou o ano com maior
falta de precipitação. Já para a primavera o ano de 1981 foi o que apresentou maior
excedente e o ano de 1986 que apresentou maior pico negativo.

FIGURA 5 – Desvios trimestrais da média no período do verão (a) e primavera (b).

Ao analisar trimestralmente os padrões pluviométricos, verificou-se no período


do verão (Tabela 3), que a maior frequência foi encontrada para os padrões de classe
“normal (N)” e “normal tendente a seco (NTS)” com a ocorrência de 9 vezes e um
percentual de 23,07% dos dados. A menor frequência foi verificada para padrões
“tendente a chuvoso (TC)” ocorrendo apenas 2 vezes para esse período, com 5,12%.

TABELA 3 – Classificação trimestral para a primavera e verão.


Classes Primavera % Frequência Verão % Frequência
C 9x 23,07% 2º 6x 15,38% 3º
TC 3x 7,69% 5º 2x 5,12% 5º
NTC 1x 2,56% 6º 3x 7,69% 4º
N 3x 7,69% 5º 9x 23,07% 1º
NTS 7x 17,94% 3º 9x 23,07% 1º
TS 10x 25,64% 1º 7x 17,94% 2º
S 6x 15,38% 4º 3x 7,69% 4º

Para o período da primavera, a maior frequência de classes foi encontrada 10


vezes nesse período para padrões “tendente a seco (TS)” correspondendo a 25,64% dos

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
dados. A segunda maior frequência foi para a classe chuvosa com uma ocorrência de 9
vezes e um percentual de 23,07%. Ainda para esse período, a menor frequência
encontrada foi para a classe de “normal tendente chuvoso (NTC)” tendo ocorrido apenas
uma vez e com percentual de 2,56%.
A figura 6 mostra o trimestre do outono (6a) e do inverno (6b). A média para o
outono foi de 324 mm e do inverno de 108,9 mm. No outono é verificado que o maior
excedente de chuvas se encontra no ano de 1983 e o faltante mais representativo no ano
2000. Para o inverno, o pico de maior excedente foi registrado para o ano de 2004 e o
faltante para o ano de 1988.

FIGURA 6 – Desvios trimestrais da média no período de outono (a) e inverno (b) .

Na tabela 4, observa-se a classificação trimestral para o outono e inverno nos anos


de 1979 a 2017. Conforme a classificação, foi encontrado para o outono, como primeira
classe o padrão “tendente a seco (TS)” com frequência de 9 vezes e um percentual de
23,07%, a segunda maior ordem foi correspondente a classe “normal tendente a seco
(NTS)” com uma ocorrência de 4 vezes e um percentual de 10,25%.
No inverno foi encontrado como primeira maior ordem de frequência a classe de
padrões “extremamente seco” com ocorrência de 8 vezes ao ano. A segunda maior ordem
foi correspondente a classe “extremamente chuvosa” com ocorrência de 8 vezes e 23,07
% desse período. Não foram encontrados registros de classe de “normal tendente a

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
chuvoso (NTC)”. Pode-se ainda verificar que a maior classe de frequência para esse
período foi para o “normal tendente a seco (NTS)” com apenas duas ocorrências.

TABELA 4 – Classificação trimestral para a outono e inverno.


Classes Outono % Frequência Inverno % Frequência
C 5x 12,82% 3º 9x 23,07% 2º
TC 5x 12,82% 3º 5x 12,82% 4º
NTC 5x 12,82% 3º - - -
N 3x 7,69% 5º 6x 15,38% 3º
NTS 4x 10,25% 4º 2x 5,12% 6º
TS 9x 23,07% 1º 4x 10,25% 5º
S 8x 20,51% 2º 13x 33,33% 1º

4. Discussão

Por meio da classificação de anos padrões, foi possível observar que, para uma
análise anual, houve uma maior ocorrência de padrões para anos normais ao longo do
período analisado. Diante disso, a representatividade do semestre chuvoso na precipitação
anual é correspondente a 77,8% e o semestre seco com apenas 22,6% ao longo do ano.
Entre os trimestres, o período que mais contribui nos valores de precipitação anual é o
verão com 48,4%, a primavera 23,7%, o outono 21,5% e o inverno apenas 7,22%.
Realizando análises semestrais e trimestrais foram observadas maior ocorrência
tanto para anos normais quanto para anos secos. Os padrões “normal tendente a seco
(NTS)” tiveram maior frequência na análise semestral para o semestre chuvoso e na
análise trimestral para a estação do verão.
Esse resultado também foi apresentado em Santos, Souza e Vecchia (2017), onde
observou-se ao longo da série de 1993/1994 a 2013/2014 uma maior ocorrência de
semestres chuvosos no intervalo classificado como Anos Normais (N). Pois, no período
de outubro a março, esse caráter de transição climática, sobretudo da Região Sudeste,
estabelece sua característica mais importante para o período, devido à alta variabilidade
sazonal da precipitação.
Essa variabilidade, é devida pela combinação de mecanismos atmosféricos
associados à atuação da sazonalidade distribuída durante entre seis meses do ano e
mantém um padrão latitudinal de distribuição de energia no globo terrestre expressiva nas
suas porções mais meridionais, na qual grande parte do território brasileiro encontra-se
inserida.

477
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Dessa maneira, eventos de chuvas sempre ocasionam grandes perdas e prejuízos
à população nesta época do ano, devido as condições que os sistemas atmosféricos
condicionam o transporte de umidade e a elevação do ar (áreas de baixa pressão) para as
áreas Centro-Sul do país, resultando para uma forte atividade convectiva, ou seja, valores
de precipitações mais elevados.
E por último, os padrões “tendente a seco (TS)” ocorreram com maior frequência
na análise semestral para o semestre seco e na análise trimestral para a primavera e
outono. Na análise trimestral, no inverno, o padrão “extremamente seco S” foi o que
apresentou maior frequência dentro da série analisada. Essas classificações deixam
evidente a caracterização seca durante o período de abril a setembro, devido à redução de
energia recebida no continente e resultando no enfraquecendo dos principais sistemas
atmosféricos que atuavam no período chuvoso.
Pode-se notar que o ano de 1983 foi o ano que apresentou maior pico positivo
(excedente) em todas as análises, exceto na análise trimestral, nas estações da primavera
e inverno, representando assim um ano atípico na série analisada. Anomalias do ano de
1983 também foram notadas em um estudo realizado por Nery e Alves (2009) onde
observou-se chuvas significativas acima da média climatológica para o ano de 1983. Os
autores ainda destacam o fato de que os anos 1982/1983 foram anos da ocorrência de um
dos maiores eventos El Niño – Oscilação Sul da década de 80 e dos últimos 100 anos
(NERY; ALVES, 2009).
Destaca-se ainda que o ano de 2014 apresentou o maior pico negativo dentro do
período analisado anualmente e na análise trimestral, na estação de verão. Em Santos,
Souza e Vecchia (2017) também foi evidenciado que o ano de 2014 se apresentou como
um ano excepcional, apresentando maiores desvios negativos em relação à média das
séries históricas analisadas.

5. Conclusão

Analisando a variabilidade e o comportamento da precipitação ao longo dos trinta


e nove anos (1979 a 2017), no município de Itirapina, é possível concluir que, de uma
maneira geral, a série apresenta maior ocorrência de padrões “normais”, e “levemente
tendente a seco (NTS)”.
Diante disso, observa-se que foi possível encontrar um maior número de
frequência de anos com menores índices pluviométricos, o que pode levar a alguns
questionamentos se há um novo reordenamento dos sistemas atmosféricos que são

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
influenciados dinamicamente perante as oscilações de eventos de escalas
macroclimáticas, na gênese ou inibição dos sistemas atmosféricos e que poderão ser
analisados mais detalhadamente em próximos estudos.
Esses resultados devem ser considerados sobre uma análise de impacto negativo
sobre a população e desenvolvimento socioeconômico, já que eventos ocasionais de
escassez da água tem se tornado um problema para o país e para o estado de São Paulo.
O presente estudo considera, de maneira preliminar, o comportamento climático,
o que representa a necessidade de esforços para aprofundar as considerações junto às
tendências climáticas regionais.

Referências

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

CRESCIMENTO DE RICCIOCARPUS NATANS EM MEIO


CONTAMINADO COM CALDA BORDALESA

Zago, Caroline.F.S.1

Cunha-Santino, M. B.2 Bianchini Jr., I.2

1
UFSCar, Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental. E-mail: cfszago@gmail.com
2
UFSCar, Departamento de Hidrobiologia, PPG-ERN. E-mail:
cunha_santino@ufscar.br e irineu@ufscar.br

Resumo: A comunidade de macrófitas aquáticas influencia diretamente tanto o


metabolismo quanto a estrutura dos ecossistemas límnicos. Em condições favoráveis,
apresentam uma acentuada produtividade e, após a senescência desses vegetais, passam
a contribuir na ciclagem de nutrientes e de carbono. No presente estudo determinou-se o
crescimento de uma macrófita aquática flutuante em meio contendo contaminante
proveniente de atividades antrópicas (fungicida Calda Bordalesa). Testou-se a hipótese
de que a presença da Calda Bordalesa e suas diferentes concentrações (2,5 e 5,5 v/v)
acarretarão às macrófitas impactos significativos em seu crescimento. A largura de R.
natans na condição do contaminante em meio 2,5 v/v foi 21% da condição controle, na
concentração de 5,0 v/v, essa percentagem correspondeu a 15%. O comprimento também
indicou uma diminuição em função da presença da Calda Bordalesa. Os indivíduos de R.
natans submetidos ao contaminante foram, semanalmente, perdendo sua coloração verde,
tornando-se marrom, ou seja, apresentaram clorose. Observou-se também, nesses
indivíduos, a ausência de rizomas, estagnação no tamanho, não apresentando reprodução;
indicando que a presença desse contaminante emergente afetou o crescimento dessa
espécie, corroborando com a hipótese de que a presença da Calda Bordalesa interfere no
crescimento de R. natans. Ressalta-se que a produtividade primária é um dos principais
processos de um ecossistema, e a sua modificação pode causar um efeito em toda a cadeia
trófica, afetando tanto o fluxo de energia quanto o de matéria.
Palavras-chave: planta aquática, contaminação, bioensaio

1. Introdução

São conhecidas como macrófitas aquáticas, vegetais que embora sejam


originalmente terrestres, passaram por adaptações e modificações para colonizar
ambientes aquáticos. Tais adaptações permitem seu crescimento em distintos gradientes
do meio aquoso, por isso são classificadas em submersas, emergentes, com folhas
flutuantes e flutuantes (Ruiz, 2008). Incluindo macroalgas, musgos, espécies de
pteridófitas adaptadas ao meio aquático, e angiospermas oriundas do ambiente terrestre,
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
as macrófitas aquáticas compreendem as formas macroscópicas da vegetação (Bianchini
Jr. e Cunha-Santino, 2008). O desempenho funcional exercido pela comunidade de
macrófitas aquáticas vem sendo amplamente discutido, uma vez que influem diretamente
no metabolismo de ecossistemas límnicos, ressaltando a sua elevada produtividade e a
contribuição na ciclagem de nutrientes nesse ecossistema (Pott e Pott, 2000). Esses
vegetais caracterizam-se por apresentar grande produtividade, sendo ela um dos
principais processos ecossistêmicos em um ambiente aquático.
Atualmente, a presença de compostos nos corpos hídricos vem tornando-se
frequente e um grande desafio em relação à gestão desses ecossistemas. A grande maioria
dos contaminantes persiste no ambiente e são cumulativas, alocando-se no solo e nos
sedimentos de rios, e transportada facilmente por longas distâncias (Meyer et al., 1999).
São oriundos de resíduos ou subprodutos derivados de usos industriais, resíduos
hospitalares e domésticos e, principalmente de resíduos de agrotóxicos (Guimarães,
2005).
O objetivo deste trabalho foi acompanhar o crescimento de Ricciocarpus natans
(macrófita flutuante) quando expostas a duas concentrações do fungicida Calda
Bordalesa. A hipótese desse estudo foi de que a presença da Calda Bordalesa interfere no
crescimento de R. natans.

2. Materiais e métodos

Ricciocarpus natans é uma macrófita aquática de distribuição global (Figura 1).


De hábito flutuante e podendo atingir até 1,5 cm de comprimento essa espécie demonstra
um metabolismo ativo ao longo do ano. Apresenta reprodução vegetativa pela bifurcação
do ápice em crescimento (Rial & Lasso, 1998) e por esporos (Pott & Pott, 2000). Pela sua
tolerância e rápida resposta às mudanças no seu ambiente é considerada um excelente
bioindicador (Zechmeister et al., 2003). A Calda Bordalesa é constituída por óxido de cal
e sulfato de cobre é permitida sua utilização nos cultivos orgânicos uma vez que seus
componentes são considerados pouco tóxicos e contribuem para o equilíbrio nutricional
das plantas. Embora no comércio haja o produto pronto, sua produção caseira é usual,
eficiente e econômica (EMBRAPA, 2008).

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FIGURA 1 - Macrófita Ricciocarpus natans (Foto: Zago, C. F. S.).

A macrófita aquática R. natans foi coletada em um Jardim de cultivo localizado


no Departamento de Botânica da Universidade Federal de São Carlos, campus São Carlos.
Foram coletados indivíduos saudáveis da espécie R. natans. No laboratório, foram
selecionados indivíduos que estejam no mesmo estágio de desenvolvimento, esses
indivíduos foram contabilizados e tiveram seus comprimentos medidos.
A formulação da Calda Bordalesa ocorreu 24h antes da montagem do
experimento. Iniciou-se pela dissolução do sulfato de cobre na proporção de 10 mg/L em
água destilada e adição subsequente de óxido de cálcio na proporção de 10 mg em 100
ml de água destilada. Dessa mistura inicial foram realizadas diluições (v/v) de 5,0% e
2,5% em água coletada no reservatório do Monjolinho (campus UFSCar, São Carlos, SP).
Para cada tratamento proposto, os bioensaios foram preparados em réplicas. Em cada
bioensaio adicionou-se dez exemplares de R. natans no meio aquoso a ser testado: (i)
controle: apenas água do ambiente, (ii) concentração de 2,5% de Calda Bordalesa (v/v) e
(iii) concentração de 5,0% de Calda Bordalesa (v/v). Os bioensaios foram incubados em
câmara germinação (marca ColdLab, modelo CL 286) sob condições controladas (25°C
e RFA = 47,25 mol m-2 s-1) com um regime de luz de 12/12 h (claro e escuro). Durante
cerca de 5 semanas (com periodicidade de 1 vez por semana), mediu-se com paquímetro
os comprimentos (C) e as larguras (L) dos indivíduos de R. natas em cada tratamento
(Figura 2).
Para verificar a diferença entre as medidas de largura e comprimento de R. natans
nas duas concentrações de Calda Bordalesa e o controle, foi utilizado o teste não
paramétrico de Kruskal-Wallis seguido de pós teste de Tukey, considerando um nível de
significância de p < 0,05.

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FIGURA 2 - Execução do experimento (Foto: Zago, C. F. S.)

3. Resultados

A Figura 3 mostra a largura e comprimento (em %) de Ricciocarpus natans em


função da concentração de Calda Bordalesa. A largura de R. natans na condição do
contaminante em meio 2,5 v/v foi 21% da condição controle, na concentração de 5,0 v/v,
essa percentagem correspondeu a 15%. O comprimento também indicou uma diminuição
em função da presença da Calda Bordalesa.

FIGURA 3 - Largura e comprimento (em %) de Ricciocarpus natans em função da concentração de Calda


Bordalesa: LB (largura de R. natans na condição controle), LC (largura de R. natans na condição do
contaminante em 2,5 e 5,0 v/v), CB (comprimento de R. natans na condição controle) e CC (comprimento
de R. natans na condição do contaminante em 2,5 e 5,0 v/v).

A variável largura foi significativamente diferente entre a largura do tratamento


controle e a largura dos tratamentos com 2,5 e 5,5% de Calda Bordalesa (p = 0,002). De
mesma forma, a variável comprimento do tratamento controle foi significativamente
diferente do comprimento do tratamento com 2,5% de Calda Bordalesa (p = 0,004).

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Nas Tabelas 1,2,3 e 4 estão apresentados os números de indivíduos de R. natans
no início e no final do experimento, tanto no controle como nas duas concentrações de
Calda Bordalesa.

TABELA 1 - Número de indivíduos de R. natans no início e final do experimento dispostos no controle,


quando concentração (v/v) foi igual a 5,0%.

N° inicial de indivíduos N° inicial de indivíduos


20 46

TABELA 2 - Número de indivíduos de R. natans no início e final do experimento dispostos na solução,


quando concentração (v/v) foi igual a 5,0%.

N° inicial de indivíduos N° inicial de indivíduos


20 18

TABELA 3 - Número de indivíduos de R. natans no início e final do experimento dispostos nos controle,
quando concentração (v/v) foi igual a 2,5%.

N° inicial de indivíduos N° inicial de indivíduos


20 36

TABELA 4 - Número de indivíduos de R. natans no início e final do experimento dispostos na solução,


quando concentração (v/v) foi igual a 2,5%.

N° inicial de indivíduos N° inicial de indivíduos


20 20

Conforme pode ser observado, os indivíduos que se encontravam em condições


sem contaminante (controle) obtiveram um desenvolvimento evidente, sendo que em 5
semanas cresceram e se reproduziram. Contudo as macrófitas dispostas na solução com
Calda Bordalesa estagnaram tanto seu crescimento quanto em sua reprodução, i.e, não
houve reprodução em nenhuma concentração testada, além de apresentar perda de seua
coloração natural e saudável, e perda do seu rizoma, confome ilustra a Figura 4.

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FIGURA 4 – Diferença visual da Ricciocarpus natans (Foto:Zago, C. F. S.)

Dessa forma a influência da Calda Bordalesa na reprodução da R. natans, fica


evidente ao analisar as Tabelas 4 e 5. A percentagem de reprodução da R. natans no
controle se mostra expressiva, com elevada percentagem de reprodução em relação ao
tratamento com Calda Bordalesa em que a percentagem de reprodução foi 0%, destacando
que na concentração de 5,0 houve a morte de dois indivíduos.

TABELA 4 - Percentagem de reprodução de R.natans no experimento dispostos na solução e controle,


quando concentração (v/v) foi igual a 5,0%.

Controle 5,0 % Calda Bordalesa


115% 0% *

*Nesse caso além de 0% de reprodução, 2 indivíduos morreram.

TABELA 5 - Percentagem de reprodução de R.natans no experimento dispostos na solução e controle,


quando concentração (v/v) foi igual a 2,5%.

Controle 2,5 % Calda Bordalesa


90% 0%

4. Discussão

Durante o período de experimento, o efeito negativo sobre o crescimento de R.


natans em função da concentração de 5,0 % e 2,5 % apresentaram o mesmo padrão. Os
indivíduos de R. natans da condição controle, visualmente encontram-se saudáveis

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
apresentando rizomas bem desenvolvidos. Semanalmente, durante as medições,
apresentavam crescimento tanto na largura quanto no comprimento e, muitos indivíduos
se reproduziram. Segundo Costa (2014) a macrófita Potamogeton pectinatus em contato
com o meio contaminado com cobre verificou-se a redução no teor de clorofila - clorose
- bem como diminuição na fotossíntese, comportamento semelhante ao que ocorreu com
a Ricciocarpus natans. Os indivíduos de R. natans dispostos nas soluções - esse
comportamento ocorreu em ambas as concentrações- da Calda Bordalesa foram,
semanalmente, perdendo sua coloração verde, tornando-se marrom, ou seja, apresentaram
clorose. Observou-se também, nesses indivíduos, a ausência de rizomas, estagnação no
tamanho, não apresentando reprodução; indicando que a presença desse contaminante
emergente afetou o crescimento dessa espécie, corroborando com a hipótese de que a
presença da calda bordalesa interfere no crescimento de R. natans, uma vez que
apresentam grande capacidade de absorver e reter cargas de metais.
De acordo com Meyer et al. (1999), a presença dos contaminantes emergentes
está em grande ascensão nos corpos hídricos. Gerados em grandes quantidades, apresenta
como via principal a água, i.e, estão em contato com as comunidades aquáticas a todo o
momento, podendo sim interferir no funcionamento desses ecossistemas. A presença de
contaminantes emergentes nos corpos hídricos representa um grande problema para a
reprodução e desenvolvimento dos organismos, afetando a produtividade primária dos
ecossistemas aquáticos. Ressalta-se que a produtividade primária é um dos principais
processos de um ecossistema, e a sua modificação pode causar um efeito em toda a cadeia
trófica, afetando tanto o fluxo de energia quanto o de matéria (Bianchini Jr. e Cunha-
Santino, 2008).
Torna-se um agravante essa situação, uma vez que, os contaminantes emergentes,
categoria que os agroquímicos se enquadram, mesmo os ditos como orgânicos, se
encontram, ainda persistem nos ambientes aquáticos, já que os tratamentos convencionais
não conseguem retirá-los do meio. Em seus estudos, Montagner (2017) mostra que
persistência, bio-acumulação são fatores alarmantes, pois os contaminantes emergentes
são resistentes à degradação fotoquímica e persistentes no ambiente mesmo após os
devidos tratamentos de água.
Dessa forma, o comprometimento e os impactos sobre as comunidades de
macrófitas podem ter proporções ainda maiores. Ao exemplo desse estudo, expondo a R.
natans a duas diferentes concentrações de um único contaminante, a Calda Bordalesa,
percebe-se que a mesma é impactada significativamente, prejudicando o crescimento, a

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
reprodução e a própria produção da mesma. Quando transpõe-se esses contaminantes para
ao meio ambiente, não somente a Calda Bordalesa mais inúmeros outros emergentes estão
presentes no meio, e em caráter cumulativo, os impactos sobre esses ecossistemas tornam-
se maiores, refletindo em inúmeros organismos.

5. Considerações Finais

Com o intuito de fazer uma experimentação para identificar os impactos que os


contaminantes emergentes causam as comunidades aquáticas i.e como a Calda Bordalesa
veio a impactar o desenvolvimento da R. natans, e visando uma gestão de inúmeras áreas
que possam ter a presença desses contaminantes observou-se a ocorrência de impacto
significativamente negativo no crescimento da R. natans em meio contendo Calda
Bordalesa. Esse impacto foi claramente notório, afetando o crescimento (largura e
comprimento) de R. natans, e consequentemente a sua reprodução. As diferenças entre as
larguras e comprimentos nas distintas concentrações mostraram-se eficientes indicadores
de inibição do crescimento em R. natans.

Referências
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02 a 04 de Outubro de 2018
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ANÁLISE PRELIMINAR DO DESEMPENHO DE UM CARNEIRO


HIDRÁULICO PARA USO EM BOMBEAMENTO DE ÁGUA

Daniel Jadyr Leite Costa1; Vinicius Galindo2


1
Docente do curso de Gestão e Análise Ambiental (GAAm) – UFSCar, orientador,
email: danielcosta.geo.gmail.com
2
Estudante de graduação do curso de GAAm – UFSCar,
email: galindovi96@gmail.com

Resumo: A falta de água nas bacias hidrográficas para o atendimento das atividades
humanas pode ser originada por diversos motivos, dentre eles destacam-se: a baixa
disponibilidade do recurso hídrico frente a demanda exercida; e a dificuldade de acesso
ao recurso disponível. A dificuldade de acesso é recorrente nas áreas rurais
principalmente em pequenas comunidades com baixo poder aquisitivo, resultando em
falta de investimento em infraestrutura de abastecimento de água, como a instalação de
rede elétrica e bombas hidráulicas convencionais. Nesses casos, torna-se oportuna a
instalação de sistemas de bombeamento alternativos que não consomem energia elétrica,
como é o caso do Carneiro Hidráulico (CH). O CH é um equipamento de baixo custo,
fácil manuseio e considerado uma tecnologia limpa por não queimar combustíveis fósseis.
Neste trabalho foi realizada uma análise preliminar do desempenho do bombeamento de
água de um CH a partir de um sistema construído em escala piloto. Foram realizadas
variações operacionais e geométricas de sua câmara de ar. Para cada condição foi
determinada a frequência dos golpes de aríete, a variação da pressão interna na câmara de
ar e a vazão de bombeamento. Os resultados preliminares indicam que a melhor condição
de bombeamento de água é atingida com o uso da câmara de ar com maior volume, em
conjunto com a operação de menor frequência de golpes de aríete.
Palavras-chave: Abastecimento de água; Método alternativo; Carneiro Hidráulico.

1. Introdução

A água é um bem essencial à vida e a sua conservação é de extrema importância


para a humanidade. No ano de 1997, com a Lei Federal nº 9.433 (BRASIL, 1997), foi
instituída a Política Nacional dos Recursos Hídricos, que define como um de seus
fundamentos a água como sendo um recurso natural limitado e dotado de valor
econômico.
A criação dessa política teve como objetivo assegurar que a atual geração, assim
como as futuras, tenha acesso à agua de qualidade em quantidade suficiente através da
utilização racional e de maneira integrada. Entretanto, o alcance desse objetivo tem se
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
tornado cada vez mais distante da realidade, visto que há um crescente distanciamento
entre a disponibilidade e demanda hídrica em inúmeras bacias hidrográficas brasileiras.
A escassez de água não pode mais ser considerada como atributo exclusivo de
regiões áridas e semi-áridas. Muitas áreas com recursos hídricos abundantes, mas
insuficientes para atender a demandas excessivamente elevadas, também experimentam
conflitos de usos e sofrem restrições de consumo que afetam o desenvolvimento
econômico e a qualidade de vida (FIESP/ANA, 2005). As demandas elevadas
concentram-se, geralmente, nas regiões mais urbanizadas.
Entretanto, em áreas rurais, a natureza do problema é um pouco diferente. Nessas
regiões, geralmente, a demanda é relativamente baixa quando comparado com a
disponibilidade de água presente na bacia hidrográfica. Nesses casos, a principal
dificuldade encontrada pelas populações é a falta de recursos financeiros para
investimento em infraestrutura de abastecimento de água, o que inviabiliza a instalação
de rede elétrica próximo dos mananciais superficiais e a instalção de sistemas de
bombeamento convencionais, como são as bombas centrífugas com alimentação por
energia elétrica.
A falta ou escassez da rede elétrica nas proximidades dos mananciais de
abastecimento das zonas rurais é comum, o que cria a necessidade de sistemas alternativos
de captação e bombeamento de água, como relatado por diversos autores (e. g. ROJAS,
2002; ABATE & BOTREL, 2002, GOUVEA et al, 2013).
É neste cenário que o equipamento Carneiro Hidráulico (CH) surge como um
grande atrativo. A água disponibilizada pelo CH pode ter diversas finalidades de uso,
dentre elas o uso doméstico, o uso para irrigação e o consumo animal. As vantagens do
CH residem no fato de que ele é considerado uma tecnologia limpa, pois não utiliza
combustíveis fósseis e não consome energia elétrica, sua construção e manutenção são de
baixo custo, e sua operação não exige mão-de-obra qualificada.
Neste trabalho, foi realizado um estudo preliminar sobre o desempenho do
bombeamento de água de um CH a partir de um sistema construído em escala piloto,
realizando variações operacionais do equipamento e geométricas da câmara de ar. As
variações operacionais e geométricas realizadas tiveram o intuito de encontrar a melhor
condição de bombeamento de água.

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2. Material e Métodos

2.1 Sistema piloto

O sistema piloto foi composto pelo conjunto de elementos conforme apresentado


na Figura 1, adaptada de Junior et al (2007):

FIGURA 1 - Diagrama esquemático de um carneiro hidráulico. 1. Reservatório de alimentação; 2. Tubo de


alimentação; 3. Válvula de pé e crivo; 4. Válvula de retenção; 5. Câmara de água-ar; 6. Tubo de recalque;
7. Reservatório de armazenamento. Desníveis: h. Queda disponível; H. Altura de recalque ou
bombeamento. Fonte: Junior et al (2007)

Todos os acessórios do CH foram constituídos por material tipo PVC, exceto a


válvula de pé e crivo que era composta por aço, pois é o local de ocorrência dos golpes
de aríete. Nesta região a rigidez do material é importante para que não exista elasticidade
nas paredes e consequente redução da transferência de energia produzida pelo golpe para
o escoamento.

2.2 Desnível entre os elementos do sistema

Após realizada a instalação do sistema de bombeamento em escala piloto, foram


determinados os desníveis existentes entre o reservatório de alimentação e o carneiro
hidráulico (desnível h da Figura 1), e entre o CH e o reservatório de armazenamento
(desnível H da Figura 1). Os desníveis foram determinados com nível de mangueira,
seguindo as orientações de Oliveira et al (1989), com uso de uma mangueira cristal com
diâmetro interno de 5/16”.

2.3 Frequência dos golpes de aríete

O número de golpes de aríete que ocorrem na válvula de pé e crivo durante o


funcionamento do CH é resultante do esquema de montagem dos elementos e acessórios

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que compõem o sistema (CARARO et al 2007) e, vice-versa, de modo que a variação do
número de golpes (frequência dos golpes) ocasiona interferência no desempenho do
bombeamento.

A contagem dos golpes de aríete foi realizada com uso de um cronômetro em


conjunto com a percepção auditiva do número de ruídos emitidos durante um intervalo
de tempo. O intervalo definido foi de 1 (um) minuto, obtendo como resultado a dimensão
de trabalho golpes de aríete por minuto (gpm). A variação da frequência de golpes de
aríete foi realizada a partir da regulagem de um parafuso instalado na extremidade do
crivo da válvula de pé.

2.4 Aferição da pressão interna na câmara de ar

A aferição da pressão foi realizada por meio de um sensor de pressão, da marca


Vernier18, com capacidade de frequência amostral de 1 ms, que corresponde a 10-3 s, ou
seja, 1000 (mil) aferições por segundo. Uma imagem do sensor esta apresentada na Figura
2.

FIGURA 2 - Sensor de pressão da marca Vernier. Fonte: Manual do usuário.

De acordo com o manual do usuário19, o sensor possui uma capacidade aferição


máxima de 21,4 m.c.a. (metros de coluna de água), para condições permanentes de
longa duração, e 41,3 m.c.a., para estímulos intermitentes.

2.5 Vazão de bombeamento


Durante o funcionamento do CH no decorrer de cada ensaio, com o uso de um
cronômetro, foram obtidos os tempos (T) de esvaziamento do reservatório de alimentação
de um nível de água pré-definido até outro nível abaixo. Assim, tendo-se o tempo de
passagem de um volume (V) de água conhecido, poderá ser determinada a vazão de
alimentação (Q) do sistema, Q = V.T-1.

18
Vernier Software & Technology: www.vernier.com
19
User Manual. Gas Pressure Sensor of Vernier. Disponível em: www.vernier.com/products/sensors/.

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A vazão de bombeamento real (qreal) foi definida por meio da aplicação do método
volumétrico para a parcela de água que atinge o reservatório de armazenamento. Foram
utilizados cronômetro e proveta graduada para essa finalidade.

2.6 Tratamento dos dados de pressão

Os dados aferidos na câmara de ar pelo sensor de pressão foram coletados por um


equipamento portátil, o LabQuest da marca Vernier, que por sua vez registrou os dados
na extensão qmbl, os quais foram convertidos em txt por meio do software Logger Lite
da Vernier. A conversão no formato txt foi realizada com o objetivo de transferir os dados
para uma planilha eletrônica, formato tipo xls (Excel), para o tratamento matemático dos
mesmos.

2.7 Tratamento dos dados de vazão de bombeamento

Levantados os dados de vazão de bombeamento real (qreal) em função das


condições adotadas de volume da câmara de ar (𝑉𝑎𝑟 ) e frequência de golpes de aríete por
minuto (𝑔𝑝𝑚), foi possível obter a seguinte relação: 𝑞𝑟𝑒𝑎𝑙 = 𝑓[𝑔𝑝𝑚, 𝑉𝑎𝑟 ]. Essa relação
foi obtida por meio da calibração entre o modelo matemático mais representativo e os
dados experimentais.

2.8 Calibração do modelo aos dados experimentais

O processo de calibração se refere ao ajuste do modelo a um conjunto de dados


experimentais. Isso consiste em variar parâmetros do modelo para obter uma ótima
concordância entre o modelo e os dados (CHAPRA & CANALE, 2014). Esse processo
foi realizado por meio do Método dos Mínimos Quadrados (MMQ), através da ferramenta
Solver do Excel, conforme apresentado por Giorgetti (2008) e Costa (2015).

3. Resultados e Discussão

Na Figura 3a está apresentada uma imagem do CH construído para a execução


deste trabalho, na Figura 3b uma imagem do reservatório de alimentação com volume de
armazenamento de 50 litros, e na Figura 3c a régua de nível localizada no interior do
reservatório.

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a. b. c.
FIGURA 3 – a. Carneiro Hidráulico; b. Reservatório de alimentação; c. Régua de nível do reservatório.

A régua de nível foi utilizada para fornecer o volume de água que alimentou o
CH. Esse volume foi obtido a partir de uma curva-chave previamente encontrada para o
reservatório utilizado, que a mesma possui a relação existente entre o volume (𝑉) e o nível
de água, ou seja, 𝑉 = 𝑓[ℎ], sendo ℎ o nível de água no reservatório. O reservatório que
foi utilizado (Figura 3b), possui parede inclinada e perímetro no formato de uma elipse,
isso resultou em uma curva-chave polinomial de segunda ordem, como apresentado na
Equação 1.
𝑉 = 0.0144ℎ2 + 1.8029ℎ + 3.6309 (1)
A apresentação gráfica da relação 𝑉 = 𝑓[ℎ], por meio do polinômio obtido através
de ajuste com uso do Método dos Mínimos Quadrados (MMQ), está apresentada no
Gráfico 1. Foi encontrado um coeficiente de determinação estatístico r2, igual a 1.

60

50 y = 0.0144x2 + 1.8029x + 3.6309


r² = 1
40
Volume (L)

30

20

10

0
0 5 10 15 20 25
Nível de água no reservatório de alimentação (h) (cm)

GRÁFICO 1 – Curva-chave, 𝑉 = 𝑓[ℎ], do reservatório de alimentação.

Na Figura 4 estão apresentadas imagens do CH em dois momentos diferentes. Na


figura do lado esquerdo, Figura 4a, está apresentada a situação em que o CH foi
construído com a Câmara de Ar 1, que a mesma é capaz de armazenar 15ml de ar. Na

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figura do lado direito, Figura 4b, está apresentada a situação em que o CH foi construído
a Câmara de Ar 2, que possibilitou o acúmulo de 300ml de ar.

a. b.
FIGURA 4 - a. Câmara 1 (15ml de ar); b. Câmara 2 (300ml de ar).

Na Figura 5, estão apresentadas duas imagens em campo do esquema de


montagem do sistema de aferição de pressão acoplado no CH, Figura 5a, e o módulo de
interface com o usuário, equipamento Labquest, Figura 5b.

a. b.
FIGURA 5 - a. Sistema de aferição de pressão; b. Módulo de interface com o usuário.

Para a aferição de pressão interna nas câmaras de ar optou-se por realizar uma
amostragem de 10 aferições por segundo. O sensor de amostragem contínua foi
programado para aferir a pressão na dimensão kilopascal (kPa).
Nas Figuras 2, 3 e 4, estão apresentados exemplos do comportamento da variação
da pressão interna na Câmara de Ar 2 (300ml), para a operação do CH com 84 golpes por
minuto (gpm), 130 gpm, e as duas frequências em conjunto, respectivamente. A Figura
3, que apresenta as duas frequências em conjunto, plotadas no mesmo plano cartesiano,

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
foi criado com o intuito de poder visualizar as duas condições na mesma escala e realizar
análises que não poderiam ser feitas isoladamente.

159
Pressão (kPa)

154

149

144

139
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Tempo (s)
FIGURA 2 - Variação da pressão (kPa) ao longo do tempo, na Câmara 2, com 84 golpes por minuto
(gpm).

154
Pressão (kPa)

152
150
148
146
144
142
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo (s)

FIGURA 3 - Variação da pressão (kPa) ao longo do tempo, na Câmara 2, com 130 golpes por minuto
(gpm).

159
Pressão (kPa)

154

149

144

139
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo (s)

FIGURA 4 - Variação da pressão (kPa) ao longo do tempo, na Câmara 2, com 84 golpes por minuto
(gpm), linha vermelha; e 130 golpes por minuto (gpm), linha azul.

Considerando que cada aferição de pressão está sendo representada nos gráficos
por um ponto, em todos os gráficos é possível verificar que efetivamente foram realizadas
10 aferições por segundo, como foi programado para acontecer.
Na Figura 2, a pressões que foram aferidas acima de 154 kPa correspondem as
pressões máximas atingidas no interior da câmara de ar, e que foram ocasionadas
posteriormente aos golpes de aríete da válvula de pé e crivo. Como a tomada de pressão

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do sensor foi posicionada na câmara de ar, as variações de pressão apresentadas ocorrem
no interior da câmara e não na válvula de pé e crivo. Nota-se, portanto, as etapas de
compressão e descompressão do ar. A ocorrência das duas etapas pode ser definido como
1(um) ciclo realizado. Certamente, a etapa de descompressão do ar na câmara, que é a
redução da pressão interna correspondente ao trecho do ponto máximo ao ponto mínimo
de pressão, é o momento em que ocorre o bombeamento de água para o reservatório de
armazenamento (item 7, da Figura 1).
Pode-se notar também que em ambas as condições de operação, seja de 84 ou de
130gpm, nem sempre houve o registro da intensidade máxima real da compressão (kPa),
como pode-se observar mais claramente nos dois últimos ciclos do Gráfico 2, ocorridos
entre os momentos de 9 e 10 segundos, e também em inúmeros ciclos do Gráfico 3. Isso
ocorre, pois a frequência de amostragem realizada pelo sensor (10 aferições por segundo),
não coincide exatamente com os momentos reais de pressão máxima de ar na câmara.
Em ambas as situações, operações com 84 e 130 gpm, é possível obter a amplitude
média aproximada das condições operacionais, que se refere a diferença entre a média
dos valores máximos obtidos e a média dos valores mínimos. Por meio da Figura 4, é
possível verificar que a amplitude de variação de pressão para a condição de 84 gpm é
maior do que quando operado com 130 gpm. Os autores desse trabalho julgam ser
necessário encontrar o significado dessas diferenças quanto a interferência no
desempenho do bombeamento do CH. A discussão a respeito de assunto ainda está em
andamento pela equipe de trabalho, buscando-se encontrar maior amadurecimento
científico antes de apontar conclusões mais bem fundamentadas. Entretanto, a partir dos
resultados preliminares aqui apresentados é possível deduzir, de maneira ainda
especulativa, algumas conclusões diante do observado.
Considerando que o objetivo desse trabalho foi encontrar a melhor condição de
bombeamento para o CH, os autores sempre buscaram analisar o comportamento
sensorial e estético do equipamento com relação a alguns aspectos observados durante a
sua operação, como por exemplo, a intensidade e frequência dos ruídos produzidos pelos
golpes de aríete (aspecto sensorial), e qual seria a sua interferência no desempenho do
CH. Esse tipo de análise caracteriza-se como sendo de cunho bastante prático, e por isso,
geralmente é realizada pela maioria dos usuários convencionais desse tipo de
equipamento. Por exemplo, ao observar o seu funcionamento, o usuário poderá julgar, de
maneira precoce, como sendo verdadeira a hipótese de que quanto mais rápido for o

498
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número de batidas por minuto, produzidas pelo golpe de aríete, melhor será o seu
desempenho no bombeamento de água.
Sendo assim, considerando as condições operacionais de 84 e 130 gpm, os autores
tiveram precocemente a impressão de que com a segunda condição operacional, 130 gpm,
haveria o melhor desempenho do bombeamento de água, visto o número de golpes ser
maior para o mesmo intervalo tempo. Entretanto, essa hipótese só pode ser verdadeira se,
incondicionalmente a frequência de golpes por minuto estabelecida, o volume de parcelas
de água bombeadas por golpe sempre for o mesmo. E não foi isso o que ocorreu.
Os resultados experimentais da vazão obtida em função do número de golpes
estabelecidos, apresentaram um comportamento exatamente contrário do que se
imaginava. Na Figura 5, estão apresentadas as vazões (L/min), obtidas em função do
número de golpes por minuto (gpm), para as Câmaras 1 e 2.

FIGURA 5 - Vazão obtida (L/min) em função do número de golpes (gpm) e da câmara utilizada.

Considerando o desempenho da Câmara 2, houve aumento da vazão bombeada


conforme a redução da frequência dos golpes de aríete por minuto. Por exemplo, para
essa condição geométrica da câmara de ar, a operação com 130 gpm, resultou em
1,54L/min de água bombeada para o reservatório de armazenamento, e a operação com
84 gpm, resultou em 2,25L/min.
A explicação da proporcionalidade inversa entre a quantidade de golpes e a
quantidade de água bombeada, deve-se ao fato que quanto maior for tempo previsto entre
a ocorrência de um golpe e outro, mais abrupta será a interrupção ao escoamento na
válvula de pé e crivo, resultando em maior energia produzida pelo golpe, e

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consequentemente maior relação entre a taxa de compressão e descompressão da câmara
de ar, o que por fim resulta no aumento do desempenho do bombeamento da água.
Em observação a Figura 5, considerando a Câmara 1 (15ml), verifica-se que ao se
utilizar uma frequência de 116 gpm, foi obtida a vazão de 1,53L/min. Utilizando-se a
menor frequência de operação dessa câmara, que foi de 58 gpm, ocorreu uma vazão de
bombeamento ainda menor do que a anterior, 1,43L/min, o que não poderia ser esperado
tomando-se como referência o comportamento da curva obtida com uso da Câmara 2.
Para esse caso, foi observada uma alteração no aspecto estético do CH durante o
bombeamento de água.
Considerando que em sistemas convencionais de abastecimento de água o golpe
de aríete é um evento indesejável, pois ocasiona uma sobre pressão no local de sua
ocorrência nas paredes das tubulações (AZEVEDO NETTO & FERNANDEZ, 2015), e
são necessários equipamentos protetores para amortecer a onda de energia resultante do
mesmo (RIGHETTO, 1972), no caso do CH tal consideração não é válida, pois o
bombeamento de água é condicionado ao golpe. Entretanto, a partir desta consideração é
possível entender os papéis exercidos pela câmara de ar. Além de possuir a função de
bombeamento de água devido a sua descompressão, ela também é responsável pelo
amortecimento da energia dispendidada pelo golpe nas tubulações e acessórios do CH,
aumentando o seu tempo de vida útil. Sendo assim a sua inexistência, ou a presença de
um volume de ar pequeno ou mal dimensionado, pode trazer danos físicos e operacionais
ao equipamento.
No caso da utilização da Câmara 1, com volume de ar disponível de 15ml,
demonstrou ser insuficiente e incapaz de cumprir com as funções de amortecimento e
demcompressão-bombeamento. Foi notado pelos autores que durante o funcionamento
do CH com a câmara, na condição de 58gpm, o equipamento sofreu trepidações e
movimentações bruscas nos momentos de ococorrência dos golpes de aríete (evento que
caracteriza alteração no seu aspecto estético). Nessas condições, a energia produzida pelo
golpe de aríete é transferida, em grande parte, para as paredes das tubulações e acessórios
hidráulicos, ao invés de ser aproveitada para o desenvolvimento do ciclo completo de
bombeameno, que se refere a ocorrência sequencial das seguintes etapas: golpe de aríete
- injeção do fluido na câmara de ar e água - compressão do ar - retenção do fluido -
descompressão - bombeamento. Como consequência há diminuição significativa do
desempenho hidráulico do equipamento.

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5. Conclusão

É possível concluir, de forma preliminar, que para o adequado funcionamento do


equipamento CH o dimensionamento do volume da câmara de ar deve ser realizado
criteriosamente, seja por meio de modelos teóricos e/ou a partir de dados obtidos
empiricamente.
Tomando-se como referência os dados empíricos obtidos nesse trabalho foram
encontradas as melhores, e também as piores, condições de desempenho do bombeamento
hidráulico com o uso de duas câmaras de ar com volumes distintos. Tais resultados são
preliminares, pois os autores pretendem continuar as análises do desempenho hidráulico
do bombeamento de água a partir de câmaras de ar com volumes maiores e também com
geometrias diferentes das encontradas habitualmente no comércio e em pesquisas já
divulgadas.

Referências Bibliográficas
ABATE, C.; BOTREL, T. A. Carneiro hidráulico com tubulação de alimentação em aço
galvanizado e em PVC. Scientia Agrícola, Piracicaba, v. 59, n. 1, p. 197-203, 2002.
AZEVEDO NETTO, J. M.; FERNANDEZ, F. M. Manual de hidráulica. 9. ed – São
Paulo: Blucher, 2015.
BRASIL. Lei Federal no 9.433 de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1997.
CARARO, D. C. et al. Características construtivas de um carneiro hidráulico com
materiais alternativos. R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v. 11, n. 4, p. 349-354, 2007.
CHAPRA, S. C. & CANALE, R. P. Numerical methods for engineers. McGrawHill,
7th ed, 2014.
COSTA, D. J. L. Modelo Matemático para Avaliação Hidrodinâmica de Escoamentos em
Regime Não-permanente . Tese (Doutorado em Hidráulica e Saneamento) – Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2015.
FIESP/ANA. Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Agência Nacional de
Águas. Conservação e reúso da água em Edificações, São Paulo, 2005.
GIORGETTI, M. F. Fundamentos de fenômenos de transporte para estudantes de
engenharia. São Carlos: Suprema, 2008.
GOUVEA, C. A. K. et al. Aumento de eficiência de um carneiro hidráulico para uso no
meio rural. Revista Espacios, v.34, n.6, p. 12-25, 2013
JUNIOR, A. S. et al. Hidráulica. Itajubá, MG: FAPEPE, 44p. Série Energias Renováveis,
2007.
OLIVEIRA E. B. et al. Manual de orientação: desenho e topografia. Ministério da
Educação. Coordenadoria de Ensino Agrícola. Brasília, DF, 1989.

501
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
RIGHETTO, A. M. Considerações sobre o golpe de Ariete em instalações hidráulicas.
Dissertação (Mestrado em Hidráulica e Saneamento) - Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 1972.
ROJAS, R. N. Z. Modelagem, otimização e avaliação de um carneiro hidráulico. Tese
(Doutorado em Agronomia) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2002.

502
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

EFEITO DE PARASITICIDA DE PEIXES SOB O CRESCIMENTO


DE RICCIOCARPUS NATANS

Franco, Flavia. D.¹


Cunha-Santino, Marcela. B.2; Bianchini Jr., Irineu3

1
UFSCar, Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental. E-mail: flaaviaf@hotmail.com
2
Orientadora; UFSCar, Departamento de Hidrobiologia, PPG-ERN. E-mail:
cunha_santino@ufscar.br
3
Co-orientador; UFSCar, Departamento de Hidrobiologia, PPG-ERN. E-mail:
irineu@ufscar.br

Resumo:Macrófitas aquáticas representam uma comunidade importante para o


metabolismo dos ecossistemas aquáticos, representando a base das cadeias alimentares
em sistemas aquáticos continentais. A produção primária aquática pode ser afetada por
fatores abióticos, sendo originários tanto de fontes naturais quanto antrópicas. Algumas
substâncias, como os contaminantes emergentes, podem gerar um efeito negativo sobre a
produção primária das macrófitas. Nesse contexto, este estudo analisou o efeito de um
contaminante emergente (Labcon® Ictio), utilizado como parasiticida de peixes
ornamentais, sobre o crescimento da macrófita aquática Ricciocarpus natans. A hipótese
testada foi de que a presença do parasiticida na água afeta o crescimento de R. natans.
Mediu-se, durante oito semanas consecutivas, o comprimento de R. natans em dois
tratamentos: controle e com a presença do parasiticida. Observou-se diferença
significativa (p = 0,0289) entre o crescimento dos indivíduos de R. natans nos dois
tratamentos, assim como na reprodução da macrófita; os indivíduos sob efeito do
parasiticida cresceram 25% a menos que os do controle e, também, se reproduziram
menos. Deste modo, foi possível verificar o efeito negativo do parasiticida no crescimento
da macrófita. Assim, a presença desse contaminante emergente pode afetar o crescimento,
a abundância e a distribuição de macrófitas aquáticas, uma vez que essas possuem grande
capacidade de absorção e sensibilidade ao composto testado.
Palavras-chave: Macrófitas aquáticas; Contaminantes emergentes; Contaminação.

1. Introdução

As macrófitas aquáticas são formas de vegetação em ecossistemas aquáticos


continentais, podendo ser classificadas como emersas, flutuantes, enraizadas, submersas
livres e enraizadas com folhas (CUNHA-SANTINO e BIANCHINI JR., 2011). São
organismos que possuem grande capacidade de adaptação, sendo fundamentais para o
metabolismo dos ecossistemas em que estão presentes, como na ciclagem de nutrientes e
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
fluxo de energia (POMPÊO, 2017) e, por serem produtores primários são essenciais no
desenvolvimento e na manutenção das cadeias tróficas (ROCHA, 2012).
As macrófitas podem apresentar elevada produtividade primária já que possuem
crescimento contínuo em regiões tropicais, o que as tornam mais produtivas (GIMENES
et al., 2010). A produção primária aquática pode ser afetada por vários fatores, como
temperatura, concentração de nutrientes e outras substâncias presentes na água (BIUDES
e CAMARGO, 2008).
Entre os tipos de substâncias que podem afetar a produção primária aquática, estão
os contaminantes emergentes presentes na água, tanto em águas para abastecimento
quanto em corpos hídricos, sendo, portanto, compostos que podem apresentar algum risco
ao ecossistema, causando impactos negativos ao ambiente. Vale ressaltar que essas
substâncias podem ser de origem natural, como toxinas de algas, e de origem antrópica,
que se categorizam em mais classes do que a de origem natural, incluindo entre elas
agroquímicos, fármacos, cosméticos (RAIMUNDO, 2011; GIL et al, 2012) e outros
produtos que o tratamento de água comum não consegue tratar.
Tendo em vista a existência de contaminantes emergentes nas águas, este estudo
objetivou acompanhar o crescimento e a reprodução da espécie de macrófita Ricciocarpus
natans exposta à parasiticida de peixes, comumente, utilizado no tratamento de
ictiofitiríase. A hipótese do presente estudo é de que a presença do parasiticida na água
afeta negativamente o crescimento de macrófitas aquáticas.

2. Materiais e métodos

Ricciocarpus natans é uma espécie de macrófita aquática pequena e de flutuação


livre, capaz de formar grandes populações flutuantes, podendo alcançar até 1,5 cm de
comprimento (RUIZ, 2008). Pode se reproduzir de modo sexual, a partir de esporos, e de
modo assexual que, ao crescer até certo ponto, a macrófita de separa e, através de lóbulos
regenerantes, um novo indivíduo é gerado (SILVA e SILVA, 2013).
Indivíduos de R. natans foram selecionados no jardim de cultivo do Departamento
de Botânica da Universidade Federal de São Carlos, campus São Carlos. O critério de
seleção inicial dos indivíduos foi o estágio inicial do ciclo de vida, adotando, como
parâmetro, indivíduos com variação de 3 a 5 mm de comprimento.
Foram preparados dois tratamentos, sendo: (i) Solução de Labcon® Ictio
(composto por verde malaquita: 0,60 g; azul de metileno: 0,30 g; sulfato de magnésio:
0,30 g; cloreto de potássio: 0,20 g e sulfato de cobre: 1,00 g) na proporção de 0,025 ml/L

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
conforme recomendado pelo fabricante (Figura 1) e controle (sem adição do Labcon®
Ictio).

FIGURA 1 - (A) Labcon® Ictio utilizado no estudo e (B) meio de crescimento com Labcon® Ictio
(Fotos: Agropet 459 e Flavia Franco).

Ambos os tratamentos foram montados em duas réplicas com 10 indivíduos em


cada (Figura 2). O número inicial de indivíduos foi fixado em 10 para que o meio de
crescimento contido nos bioensaios (nutrientes e espaço) não seja limitante à população
de R. natans, que possui o tempo de duplicação de 23 dias (TRIQUES, 2017). Esse
procedimento garantiu, durante o período experimental, que não houve competição entre
os indivíduos. As réplicas dos dois tratamentos foram incubadas em câmaras de
germinação em condições controladas com temperatura (25º C) e um regime de luz de
12h/12h. Sendo que a temperatura de incubação considerou a média anual de ambientes
aquáticos da região São Carlos (SANTOS et al., 2011). Já o fotoperíodo foi baseado em
estudos que contemplaram bioensaios de crescimento com macrófitas aquáticas
(BIANCHINI et al., 2010) em regiões tropicais. Para medir o crescimento da macrófita,
foi utilizado o intervalo de uma semana entre as medições com duração total de 8
semanas.

505
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

B
FIGURA 2 - (A) Réplicas da solução de Labcon® Ictio e (B) Réplicas do controle (Fotos: Flavia Franco).

Para verificar a diferença entre as medidas de comprimento de R. natans nos dois


tratamentos, foi utilizado o Teste t, considerando um nível de significância de p < 0,05.

3. Resultados

Na Figura 3A, podemos observar os valores do comprimento acumulado dos


indivíduos de R. natans entre os tratamentos controle e com a solução de Labcon® Ictio.
Na Figura 3B, apresenta-se a regressão linear, relacionando os comprimentos da solução

506
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com o parasiticida e do controle, indicando que os indivíduos que cresceram na solução
com Labcon® Ictio apresentaram seus comprimentos 25% menor em relação aos que
cresceram no controle.

A B
FIGURA 3 - Variação temporal do comprimento acumulado dos indivíduos de R. natans nos dois
tratamentos (A) e regressão linear entre os comprimentos acumulados de nos dois tratamentos (B).

Os resultados mostram que houve diferença significativa (p = 0,0289) entre os


dois tratamentos, indicando um efeito negativo no tratamento com Labcon® Ictio em
relação ao controle. Também se observou diferença entre número de indivíduos que se
reproduziram durante o experimento. Após as 8 semanas de medição, o número de
indivíduos totais de R. natans no tratamento controle foi 36 e no meio de crescimento
com Labcon® Ictio foi 28, isto é, 77% a menos.

4. Discussão

R. natans é considerada uma macrófita bioindicadora, possuindo capacidade de


absorção pelo seu sistema radicular, absorvendo, assim, contaminantes presentes na água,
o que torna essa espécie sensível a metais presentes na água (BOUDET et al, 2010;
SATHISH et al, 2013). O tamanho dos indivíduos de R. natans indicou que o crescimento
entre os bioensaios foi diferente; sendo que, no controle, a média do comprimento dos
indivíduos foi maior em relação aos da solução com Labcon® Ictio. Outro parâmetro
observado foi a reprodução dos indivíduos. Sendo a reprodução do tratamento controle
mais elevada que a solução com o parasiticida.
Para ocorrer essa inibição, alguma substância que compõe o parasiticida
influenciou para que o crescimento e a reprodução fossem diferentes nos tratamentos.
Segundo CARL ROTH® (2015), a Ficha de Dados de Segurança do azul de metileno
mostra que o mesmo não deve ser classificado como perigoso para o ambiente aquático e

507
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
não tem potencial bioacumulativo significativo em organismos. Já em relação ao verde
malaquita, sua ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos (DBI-UFLA,
2010) classifica-o como perigoso em ambientes aquáticos e bioacumulativo, mas não há
relato sobre toxicidade em plantas aquáticas. Enquanto o sulfato de magnésio e o cloreto
de potássio são nutrientes fundamentais no crescimento e na reprodução de macrófitas
aquáticas, assim, propiciando ambientes mais adequados para o desenvolvimento das
mesmas (VALENTE, 1997; TREVELIN et al, 2007). A outra substância presente no
Labcon® Ictio é o sulfato de cobre, um metal com elevada toxicidade e que afeta
diretamente os produtores primários, sendo que sua presença nas concentrações de 5 a 31
μg/L diminuiu o crescimento de Vallisneria spiralis, uma macrófita emersa (GARDHAM
et al., 2005). O sulfato de cobre em três concentrações (1, 5 e 10 mg/L) diminuiu
significativamente ou inibiu o crescimento de uma macrófita submersa, a Elodea
canadensis (MAL et al., 2002). Deste modo, a presença de sulfato de cobre, composto do
parasiticida avaliado, nos meios de crescimento interviu no crescimento e na reprodução
de R. natans; influenciando na produção primária.

5. Conclusão

Ao analisar os resultados sobre o crescimento e reprodução de R. natans em ambos


os tratamentos, observou-se uma diferença significativa na presença de Labcon® Ictio;
desta forma, concluiu-se que, nas condições testadas, a presença do parasiticida na água
afetou negativamente o crescimento e a reprodução da espécie de macrófita estudada.

Referências

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510
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE INDICADORES PARA A


GESTÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS E O PLANEJAMENTO DO
USO DA TERRA

Mazzini Stephanie R. O.¹ Castillo-Ospina1, Danika ²

Hanai, Frederico Yuri

¹Programa de Gestão e Análise Ambiental, Departamento de Ciências Ambientais,


Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR. Rodovia Washington Luis, km 235 - São
Carlos - SP. BR (+55) 19 983348108. stephaniemazzini@gmail.com
²Programa de Ciências Ambientais, Departamento de Ciências Ambientais,
Universidade Federal de São Carlos UFSCAR. Rodovia Washington Luis, km 235 –
São Carlos - SP - BR. (+55)16 981456457. dnkcastillo@gmail.com
³Orientador, Departamento de Ciências Ambientais, Universidade Federal de São
Carlos- UFSCAR. Rodovia Washington Luis, km 235 - São Carlos - SP. (+55) 16 3306-
6809. fredyuri@ufscar.br.

Resumo: Com os desafios da gestão de águas subterrâneas e do planejamento do uso da


terra surge a necessidade de criar novas estratégias de planejamento territorial que
abordam a gestão integrada de diversos aspectos ambientais por meio de ferramentas de
planejamento e de estruturas de indicadores de gestão ambiental. O presente trabalho tem
como objetivo identificar, selecionar e analisar indicadores potenciais que integrem a
gestão de águas subterrâneas e o planejamento do território. Para isso, foi necessário
realizar um levantamento da literatura relacionada com o tema, usando como metodologia
a revisão bibliográfica sistemática. Esta revisão centrava-se na identificação de
indicadores e princípios relacionados à gestão de águas subterrâneas e o planejamento de
uso e ocupação solo dentro de estudos técnicos e científicos publicados nas principais
bases de dados da área. Com isso, a partir dos 500 estudos selecionados da revisão
resultaram-se 380 indicadores e 20 princípios direcionados a ser apoio na tomada de
decisões na gestão de águas subterrâneas e no planejamento do território, beneficiando
assim a sociedade como um todo.
Palavras-chave: indicadores; águas subterrâneas; planejamento ambiental.

1. Introdução

A integração da gestão de águas subterrâneas e o planejamento territorial têm sido


realizados em diversos países, porém, Mostert (2006) e Rahaman e Varis (2005) afirmam
que a implementação dessa abordagem é um grande desafio, pois a água está relacionada
com o a evolução da sociedade e suas prioridades variam de região a região não podendo
ser avaliada fora do contexto além das dificuldades de considerar todas as funções e
aspectos da água e do uso e ocupação do solo.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Alvim (2006) e Silva e Porto (2003) defendem que o modelo integrado de gestão
de recursos hídricos e o planejamento territorial tem grande importância para o
desenvolvimento sustentável. Dessa forma, necessita-se da aplicação de indicadores que
“São componentes que fornecem informações indispensáveis para a compreensão do
mundo, para tomada de decisões e para planificação de ações” (Meadows, 1998, p. 1).
Os indicadores ambientais devem ser produzidos, pois são fundamentais no
planejamento e na ação governamental do desenvolvimento econômico e social, além de
serem importantes instrumentos de planejamento e gestão do território, servindo para
melhorar a utilização dos recursos naturais e também como medida de prevenção de
degradação ambiental e de suas consequências para a sociedade e para a economia.
(BESSA JUNIOR 2000)
Com os diversos estudos de indicadores de gestão de águas subterrâneas e
planejamento do uso do solo necessita-se aplicar uma revisão bibliográfica sistemática
crítica e analítica, considerando a definição de critérios e aspectos para uma seleção de
indicadores eficaz.
A revisão bibliográfica sistemática possibilita a identificação de indicadores já
estabelecidos na literatura e os novos indicadores, além de identificar os princípios
principais de gestão de águas subterrâneas e o planejamento do uso do solo.
Estes princípios, segundo Sarkera; Baldwinb e Rossa (2009), são uma excelente
guia de governança para a gestão dos recursos hídricos subterrâneas, devido a que são
suporte para as instituições responsáveis pelo gerenciamento do recurso hídrico e
fortalecem as relações entre instituições de gestão que tem responsabilidades conjuntas.
Para realizar a integração de gestão das águas subterrâneas e o planejamento
territorial, é fundamental desenhar estratégias e ferramentas que facilitem sua aplicação.
Assim os indicadores e os princípios se convertem em ferramentas e diretrizes relevantes
para a o gerenciamento dos recursos solo e água.
Dessa forma, este estudo contribua criação de um modelo de abordagem integradora de
indicadores aplicados na gestão de águas subterrâneas e o planejamento territorial
auxiliando na tomada de decisão de órgãos públicos e contribuindo para o
desenvolvimento sustentável da sociedade como um todo.

2. Materiais e Métodos

Para a execução deste estudo, foi necessário realizar diferentes etapas metodológicas:

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2.1. Revisão bibliográfica

O processo de revisão apresentado se realizou em três sub-etapas básicas. A


primeira chamada “entradas, consistiu-se pela literatura preliminar para definir o
problema, o protocolo de busca, as perguntas de pesquisa, podendo ser artigos científicos
e livros, e o planejamento da revisão. A fase seguinte foi chamada de “processamento”
pois foram estabelecidas e executadas todas as técnicas, ferramentas e os processos de
análise e síntese de informações. E por fim, a última etapa chamada “saídas” que foi
constituída pelos relatórios e a síntese de resultados (CONFORTO; AMARAL; SILVA,
2011). Para este estudo pesquisa foi contemplada a definição de critérios que auxiliaram
na seleção, e análise dos indicadores com uma abordagem integrada de gestão de águas
subterrâneas e o planejamento do uso da terra

2.2. Definição de princípios

Os princípios foram definidos a partir da informação levantada na revisão


bibliográfica sistemática. Afim de avaliar a informação encontrada, foram utilizados os
seguintes critérios de seleção de princípios:
• Funcionalidade de guia para a governança para a gestão dos recursos hídricos
subterrâneas
• Fortalecimento das relações entre instituições de gestão que tem
responsabilidades conjuntas.
• Caráter integrado entre os aspectos sociais, ambientais, econômicos e políticos
• Incluir à resolução de conflitos como tema central

2.3. Identificação e agrupamento de indicadores

Na definição dos princípios, foram identificados os aspectos relevantes que foram


base para direcionar a gestão das águas subterrâneas e o planejamento de uso ocupação
do solo. Dentro deste estudo um aspecto é considerado como um componente ou processo
que ajuda a implementar um princípio visando integrar a gestão das águas subterrâneas e
o planejamento de uso e ocupação do solo. Estes aspectos foram os tópicos centrais para
o agrupamento dos indicadores encontrados na revisão bibliográfica sistemática.

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3. Resultados e Discussão

Com a revisão bibliográfica sistemática revisou-se 500 artigos técnicos científicos


e selecionou-se 380 indicadores e 20 princípios adaptados para a integração entre a gestão
de águas subterrâneas e o planejamento do uso e ocupação do solo.
Após do levantamento e definição de princípios, se identificaram e agruparam os
indicadores selecionados de acordo com os aspectos de cada princípio norteador (Tabela
1).
TABELA 1: Princípios e aspectos para a gestão de águas subterrâneas e ocupação do território
Princípio Aspectos

1. Definição dos limites do sistema Definição de Unidades de gerenciamento


para gestão do aquífero
2. Definição dos direitos de acesso à Definição de direitos individuais e sociais
água sobre o recurso hídrico subterrâneo
3. Equivalência proporcional entre Legislação, normas e procedimentos para
investimentos e benefícios investimentos na extração de águas
4. Atuação conjunta e integrada das Integração de responsabilidades das
Instituições instituições de gestão
5. Participação social e democrática Participação social e democrática
6. Regulamento das ações e dos usos Normatização do comportamento social em
de águas subterrâneas relação à água subterrânea e ao uso do solo
7. Supervisão do comportamento dos
Supervisão do comportamento social em
usuários na gestão de águas
relação à água subterrânea e ao uso do solo
subterrânea e uso do solo
8. Mecanismos de resolução de
conflitos na gestão de águas Resolução de conflitos
subterrâneas

9. Monitoramento do recurso Monitoramento e avaliações técnicas do


hídrico subterrâneo e do uso do recurso hídrico subterrâneo e o
solo planejamento de uso do solo
Sanções proporcionais aplicadas devido aos
10. Implementação de sanções
impactos e interferências nos recursos
proporcionais
hídricos subterrâneos
11. Valorização e inclusão de
Valorização dos conhecimentos científicos
conhecimentos científicos

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12. Adaptação do planejamento e
gestão das águas subterrâneas Estratégias de adaptação às mudanças
frente aos desafios ambientais e climáticas
condições climáticas adversas
13. O papel da mulher nos processos
Gênero e gestão hídrica
de gestão de águas subterrâneas
14. Interações dos sistemas Relações entre a gestão de águas
socioambientais na gestão de água subterrâneas com os sistemas
subterrâneas socioambientais
15. Interações dos sistemas Relações entre o planejamento do uso do
socioambientais no planejamento solo e a gestão de águas subterrâneas com
do uso e ocupação do solo os sistemas socioambientais
16. Ocupação adequada e a proteção
Ocupação do território, proteção do solo e
do solo no planejamento de uso e
zoneamento
ocupação do solo
17. Ocupação do solo adequada e a Ocupação do solo, zoneamento e proteção
proteção das águas subterrâneas das águas subterrâneas
18. Escopo e abrangência adequados
para planejamento do uso e Períodos, prazos e escala de planejamento
ocupação do solo
19. Modelos conceituais no
Modelos conceituais para planejamento do
planejamento do uso e ocupação
uso do solo
do solo
20. Acessibilidade às informações e
comunicação efetiva de dados Acessibilidade e comunicação pública da
sobre planejamento do uso e informação
ocupação do solo

De acordo com o agrupamento dos indicadores obteve-se o número de indicadores


para cada princípio sendo respectivamente:

1. Definição dos limites do sistema para gestão de águas subterrâneas: dois (2)
indicadores delimitam o sistema do aquífero para a gestão considerando a água
como recurso de sustento a vida.

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2. Definição dos direitos de acesso à água: oito (8) indicadores contribuem com a
definição dos direitos sociais e individuais para o uso das águas subterrâneas
dentro dos processos de gestão considerando a água subterrânea como recurso
finito e vulnerável.
3. Equivalência proporcional entre investimentos e benefícios: doze (12) indicadores
abordam o desenvolvimento de normas para investimentos na extração de águas
subterrâneas e seus benefícios.
4. Atuação conjunta e integrada das Instituições: cinco (5) indicadores abordam a
execução de forma conjunta e integrada das responsabilidades de diversas
instituições de gestão.
5. Participação social e democrática: cinco (5) indicadores abordam a execução da
gestão com ampla participação democrática, envolvendo a participação dos
diferentes níveis da administração pública e da sociedade civil nos processos de
governança da água subterrânea e no planejamento de uso do solo
6. Regulamento das ações e dos usos de águas subterrâneas: um (1) indicador com
abordagem de estabelecimento de normas sociais que delimitem o comportamento
dos usuários, possibilitando a regulação do uso e garantia de segurança dos
recursos hídricos subterrâneos.
7. Supervisão do comportamento dos usuários na gestão de águas subterrânea e uso
do solo: quatro (4) indicadores se baseiam-se na supervisão do comportamento
dos usuários para a garantia efetiva da governança da água e o cumprimento das
normas estabelecidas para uso do território
8. Mecanismos de resolução de conflitos na gestão de águas subterrâneas: quatro (4)
indicadores têm uma abordagem relacionada com o desenvolvimento de
mecanismos de resolução de conflitos na distribuição e na gestão do recurso
hídrico subterrâneo a nível local.
9. Monitoramento do recurso hídrico subterrâneo e do uso do solo: quarenta e nove
(49) indicadores se estabelecem os sistemas de monitoramento de dados e
avaliações técnicas dos aquíferos e do uso e ocupação do solo.
10. Implementação de sanções proporcionais: um (1) indicador baseia-se na
implementação de sanções proporcionais sobre os usuários (de acordo ao grau de
severidade e ao contexto de situações), pelo não cumprimento de suas obrigações
pelo uso das águas subterrâneas

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
11. Valorização e inclusão de conhecimentos científicos: quatro (4) indicadores são
fundamentados na valorização e na integração da informação e de conhecimentos
multidisciplinares provenientes de estudos científicos.
12. Adaptação do planejamento e gestão das águas subterrâneas frente aos desafios
ambientais e condições climáticas adversas: dezoito (18) indicadores estão
relacionados à inclusão de estratégias de adaptação nos diversos planos de
gerenciamento das águas subterrâneas.
13. O papel da mulher nos processos de gestão de águas subterrâneas: um (1)
indicador descreve a relação intrínseca da mulher e o reconhecimento de seu papel
na gestão e preservação do recurso hídrico subterrâneo.
14. Interações dos sistemas socioambientais na gestão de água subterrâneas: cento e
cinquenta e dois (152) indicadores orientam à gestão das águas subterrâneas no
destaque dos sistemas ambiental, econômico e social.
15. Interações dos sistemas socioambientais no planejamento do uso e ocupação do
solo: setenta e cinco (75) indicadores orientam o planejamento de uso do solo na
busca da sustentabilidade, reconhecendo os sistemas ambiental, econômico e
social que interagem dinamicamente, que imersos a riscos e incertezas na tomada
de decisões.
16. Ocupação adequada e a proteção do solo no planejamento de uso e ocupação do
solo: dezenove (19) indicadores ressaltam a importância da ocupação apropriada
do território considerando a aptidão do solo e as condições ecológicas nas que está
imerso, assegurando sua preservação e proteção nos processos de planejamento
de uso do solo.
17. Ocupação do solo adequada e a proteção das águas subterrâneas: seis (6)
indicadores baseiam-se na ocupação apropriada do território considerando as
condições ecológicas do ecossistema hídrico subterrâneo, assegurando sua
preservação e proteção do aquífero nos processos da sua gestão
18. Escopo e abrangência adequados para planejamento do uso e ocupação do solo:
dois (2) indicadores destacam a importância do dimensionamento apropriado
tanto dos períodos (longo, médio e curto prazos), assim como da escala geográfica
(local a global) para o planejamento do uso e ocupação do solo, a fim de assegurar
a definição adequada dos horizontes projetados.
19. Modelos conceituais no planejamento do uso e ocupação do solo: um (1) indicador
relaciona se à definição de modelos conceituais que facilitem estabelecer

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instrumentos e/ou ferramentas padronizados para supervisar os processos do
planejamento de uso e ocupação da terra
20. Acessibilidade às informações e comunicação efetiva de dados sobre
planejamento do uso e ocupação do solo: onze (11) indicadores relacionam-se à
acessibilidade pública de dados e informações confiáveis, simples, claras e
práticas sobre o planejamento do uso do solo, garantindo a compreensão e a
participação efetiva de todos os envolvidos nos processos de planejamento.

Nº de indicadores por princípio


160 152
140
Número de indicadores

120
100
75
80
60 49
40
19 18
20 12 11 8
6 5 5 4 4 4 2 2 1 1 1 1
0
14 15 9 16 12 3 20 2 17 4 5 7 8 11 1 18 6 10 13 19
Princípios

FIGURA 7- Número de indicadores por abordagem (princípio)

Os princípios integradores e os números de indicadores variaram de acordo com


o tema abordado, analisando os dados nota-se que há cinco princípios que contém os
maiores números de indicadores (Figura 1), são eles: 9. Monitoramento do recurso hídrico
subterrâneo e do uso do solo; 12. Adaptação do planejamento e gestão das águas
subterrâneas frente aos desafios ambientais e condições climáticas; 14. Interações dos
sistemas socioambientais na gestão de água subterrâneas; 15. Interações dos sistemas
socioambientais no planejamento do uso e ocupação do solo e 16. Ocupação adequada e
a proteção do solo no planejamento de uso e ocupação do solo. Estes princípios, em geral
abordam os sistemas socioambientais para a gestão de águas subterrâneas e para
planejamento e uso da terra, contudo os demais princípios apesar de tratarem de aspectos
importantes para a integração dos indicadores não obtiveram números de indicadores
relevantes.

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Porcentagem de indicadores distribuidos nos


princípios

18% Grupo 1
Grupo 2

82%

FIGURA 8- Distribuição dos indicadores de acordo com a abordagem. Grupo 1: Princípios 14, 15, 9, 16 e
12; Grupo 2: 1,2,3,4,5,6,7,8,10,11,13,17,18,19 e 20

Com a variação alta dos números de indicadores, criou-se dois grupos, o primeiro
contém os cinco princípios com maiores números de indicadores, sendo eles os princípios
9, 12, 14, 15 e 16 e o segundo grupo contém os princípios 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 13,
17, 18, 19 e 20 com o menor número de indicadores. Dessa forma, o Grupo 1 totalizou
313 indicadores e o Grupo 2, 67 indicadores (Figura 2), ou seja, há 82% dos indicadores
classificados no primeiro grupo de princípios e 18% dos indicadores distribuídos no
segundo grupo de 15 princípios.

Porcentagem de indicadores distribuídos no


Grupo 1

6%
6% 14
15

16% 9

48% 16
12

24%

FIGURA 9- Porcentagem de indicadores distribuídos nos 5 princípios com maior número de indicadores

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Nos cinco princípios com maiores números de indicadores (Grupo 1) nota-se que
48% dos indicadores identificados na revisão bibliográfica sistemática integram os
sistemas socioambientais na gestão de água subterrâneas (Princípio 14), 24% integram os
sistemas socioambientais no planejamento do uso e ocupação do solo (Princípio 15) , 16%
são indicadores de monitoramento do recurso hídrico subterrâneo e do uso do solo
(Princípio 9), 6 % dos indicadores abordam a adaptação do planejamento e gestão das
águas subterrâneas frente aos desafios ambientais (Princípio 12) e 6 % dos indicadores
correspondem a ocupação adequada e a proteção do solo no planejamento de uso e
ocupação do solo: condições climáticas adversas (Princípio 16) (Figura 3), porém ainda
há uma grande variação de distribuição de indicadores dentro do Grupo 1.

Porcentagem de indicadores distribuidos no


Grupo 2
2% 2% 2% 1% 3
3%
20
3% 2
18% 17
6% 4
5
6% 7
8
16% 11
6% 1
18
7% 6
10
7% 12% 13
9% 19

FIGURA 10- Distribuição dos menores números de indicadores em 15 princípios

Os demais princípios (Grupo 2), totalizaram-se 15 princípios e obtiveram os


menores números de indicadores selecionados o que prejudica a criação de um modelo
de crítico e analítico de indicadores com abordagens de integração de gestão de águas
subterrâneas e o planejamento e uso do solo.
Com a análise dos dois grupos pode-se observar que há diversas lacunas de ordem
técnicas e conceituais, a serem preenchidas para promover a melhor aplicação de
indicadores com uma abordagem integradora de gestão de águas subterrâneas e
planejamento e uso do solo afim de auxiliar na eficácia do zoneamento terrorial (Montaño
2007).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
4. Conclusão

O estudo mostrou a existência de lacunas, tanto em princípios integradores, já que


estes foram adaptados a partir dos existentes sobre a gestão e o planejamento, quanto na
produção de artigos e pesquisas relacionados à aspectos importantes de gestão como
participação, acessibilidade da informação, proteção do solo e das águas subterrâneas,
resolução de conflitos, supervisão dos usuários do solo e água.
Por tanto, existe uma possível tendência dos estudos em analisar aspectos mais
técnicos e científicos referentes à águas subterrâneas e a ocupação e uso do solo, dando
pouca ênfases a outros aspectos relevantes para a gestão e o gerenciamento das águas
subterrâneas e o solo. De forma conjunta com a presente pesquisa identificou-se,
selecionou-se, e definiu um conjunto de princípios e indicadores com abordagem
integrada de gestão de águas subterrâneas e planejamento do uso da terra, informação
fundamental para auxiliar a tomada de decisão na esfera pública e no desenvolvimento
sustentável das cidades.

Referências Bibliográficas

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metropolitana entre 1994 e 2002. Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo da FAU/USP, São Paulo, v. 19, 2006.
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v.1, n.1, 2005.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

EFEITO DO CHUMBO NA DECOMPOSIÇÃO AERÓBIA DE


MYRIOPHYLLUM AQUATICUM (VELL.) VERDEC.

Soares, Beatriz S.1

Bianchini Jr., Irineu 2, Cunha-Santino, Marcela Bianchessi da 2


1
Centro de Ciências Biológicas e Saúde (CCBS), beasegninisoares@gmail.com
2
Departamento de Hidrobiologia - UFSCar, irineu@ufscar.br ,
cunha_santino@ufscar.br

Resumo: O chumbo é um elemento tóxico usado desde a antiguidade e ainda hoje faz
parte de diversos processos industriais. Seu efeito prejudicial se deve a sua interação com
enzimas, sua similaridade com cálcio, sua ação como desregulador endócrino e a sua
capacidade de bioacumulação e biomagnificação. Esse estudo visou avaliar o efeito da
adição de chumbo na velocidade da ciclagem aeróbia de detritos de Myriophyllum
aquaticum (Vell.) Verdec em meio aquático. Para tanto, foi determinado o consumo de
oxigênio em duas concentrações de chumbo (0,005 e 0,01 mg L-1). As variações
temporais dos consumos acumulados de oxigênio foram ajustadas a um modelo
exponencial. Supõe-se que a presença do chumbo irá interferir negativamente na
decomposição de M. aquaticum devido à influência nas rotas metabólicas
decompositores. Foram observadas diferenças significativas entre o tratamento controle
e os dois tratamentos com presença de chumbo (p = 0,001) e, também, entre os dois
tratamentos com chumbo (p = 0,001). O tratamento sem Pb apresentou o maior valor de
kd e menor OCmáx (0,00495 d-1 e 487 mg O2 g-1, respectivamente), o tratamento com
0,005 mg L-1 de Pb apresentou valores intermediários de kd (0,00308 d-1) e de OCmáx
(629 mg O2 g-1). A incubação com maior concentração de Pb apresentou o menor valor
de kd e o maior de OCmáx: 0,00098 d-1 e 2169 mg O2 g-1, respectivamente. Os resultados
indicaram o decréscimo dos coeficientes de consumo de oxigênio em função do
incremento da concentração de Pb corroborando a hipótese testada.
Palavras-chave: Chumbo; Contaminação; Macrófitas; Modelagem matemática; Oxigênio
dissolvido.

1. Introdução

O chumbo é um metal pesado, ou seja, um elemento de densidade maior que 5 g


cm-3 e que em alguns casos pode ser elementos traço em reações bioquímicas; entretanto,
em grandes quantidades, forma compostos complexos inespecíficos nas células (NIES,
1999). Esse metal é capaz de interferir em sistemas enzimáticos podendo interferir na
ação de várias enzimas ou mesmo inibi-las, assim como também apresentar um
comportamento similar ao cálcio (MOREIRA & MOREIRA, 2004). Esse elemento é
muito utilizado por indústrias no manejo de ácido sulfúrico, produção de baterias,
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
pigmentos, na construção civil, em soldas, forro de cabos, é ainda presente em ligas
metálicas, na proteção contra a radiação, na produção de vidros e cerâmicas, inseticidas,
explosivos, entre outros; vários compostos de chumbo são utilizados para estabilizar
plásticos de cloreto de polivinila (PVC) (Chumbo e a Indústria, 2017). O chumbo também
é muitas vezes encontrado em cosméticos como tinturas para cabelo e batons, remédios e
cigarros (CETESB, 2012).
Geralmente o chumbo é encontrado no ambiente na forma de galena (sulfeto de
chumbo), associada aos minerais de zinco, prata e cobre (Chumbo e o Meio Ambiente,
2017) e em ambientes aquáticos sua maior parte do chumbo fica ligada aos sedimentos e
sua presença na forma iônica livre (Pb2+ e Pb4+), formas ativas, sofre interferência do
pH, temperatura, salinidade, ácidos húmico e algínico (CASTRO, 2012).
O chumbo é considerado um desregulador endócrino já que pode danificar e
alterar o funcionamento de órgãos, interferindo em receptores e no metabolismo dos
hormônios e causam danos aos organismos em pequenas quantidades (BILA &
DEZOTTI, 2007), além da sua capacidade de bioacumulação (processo de absorção de
substâncias por organismos) e biomagnificação (processo de acumulação progressiva de
substâncias ao longo da cadeia trófica) (MONTONE, 2017). O chumbo é capaz de inibir
ou imitar o cálcio, competindo em vários processos bioquímicos como a ativação da
calmodulina envolvendo a ligação com grupos carboxila; interferir no funcionamento das
membranas celulares; inibir proteínas devido à formação de complexos estáveis com
ligantes capazes de doar elétrons como oxigênio (-OH), nitrogênio (-NH2), fósforo (-
H2PO3) e enxofre (-SH) que, no caso, está ligada com a ativação da proteína Quinase C
(MOREIRA & MOREIRA, 2004). Também pode interferir na ação de enzimas podendo
inibir ou até mesmo estimular as suas atividades. Isso ocorre em enzimas como Fosfatase
alcalina e Citocromo oxidase (VALLEE & ULMER, 1972).
Devido a sua capacidade de se ligar a enzimas como a Citocromo oxidase, enzima
que faz parte do Complexo IV, responsável pelo transporte de elétrons para o O2
molecular, reduzindo a H2O, e a Succinato desidrogenase, componente do Complexo II,
é capaz de atuar negativamente na fosforilação oxidativa, reações metabólicas pelo qual
os organismos aeróbicos sintetizam ATP através do transporte de elétrons por complexos
na membrana mitocondrial (VALLEE & ULMER, 1972; NELSON & COX, 2004).
Considerando as interferências metabólicas do chumbo nos organismos decompositores,
supõe-se, em princípio, que a presença desse metal irá interferir negativamente na
decomposição aeróbia dos detritos de M. aquaticum devido à influência nas rotas

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
metabólicas dos microrganismos. Para tanto, o objetivo desse estudo foi medir o consumo
de oxigênio dissolvido acumulado durante a decomposição aeróbia de detritos de M.
aquaticum em meio contaminado com duas concentrações de chumbo (0,005 e 0,01 mg

L-1).

2. Materiais e métodos

2.1 Local de coleta


As coletas de amostras de água e de M. aquaticum foram realizadas no
Reservatório do Monjolinho (22º 00’ S e 47º 54’ O) que está localizado no campus da
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos-SP. O reservatório tem 73.251 m3 de
volume e 4,69 ha de área; possui altura média de 1,5 m e máxima de 3,0 m, o tempo de
residência varia de 2,1 a 22,9 dias dependendo da estação do ano (SANTOS, 2009).

TABELA 1 – Variáveis do Reservatório do Monjolinho.

Variáveis Valores

Temperatura 19.87°C
Turbidez 23,76 UNT

Oxigênio dissolvido 6,74 mg L-1


DBO 2,7 mg L-1
pH 6,63

C-Org 2,81 mg L-1


C-Inorg 3,75 mg L-1
N-Kjeldhal 0,7 mg L-1

Fonte: SANTOS, 2009.

2.2 Macrófita
Myriophyllum aquaticum (Vell.) Verdec. (Pinheirinho d'água) foi escolhida para
o experimento devido a sua frequência no reservatório. Pertence a Ordem Saxifragales
que possui uma grande variedade de organismos (BERRY, 2009), na Família
Haloragaceae que possui indivíduos herbáceos ou subarbustivos, geralmente aquáticos ou
palustres, podendo ser anuais ou perenes (AONA & AMARAL, 2003).
Segundo Wersal (2015) é uma macrófita nativa da bacia amazônica, enraizada,
mas possui folhas que ficam fora da água, podendo ficar até 30 cm acima da superfície.
Prefere regiões subtropicais, mas foi introduzida em diversos países e apesar de serem
dioicas, as plantas masculinas são dificilmente encontradas fora da América do Sul e por

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
esse motivo, tem reprodução vegetativa por fragmentação nessas regiões. É uma planta
muito tolerante e cresce rapidamente quando invade um novo ambiente, impedindo que
a luz solar chegue ao lago e as trocas de oxigênio, bloqueando o fluxo de água o que
provoca inundações mais intensas e de maior duração, reduzindo a concentração de
oxigênio dissolvido e podendo aumentar as taxas de evapotranspiração e perda de água,
podendo assim ser prejudicial aos peixes e as outras plantas. M. aquaticum pode também
acumular metais pesados como zinco, cádmio, cobre e chumbo (WERSAL, 2015).

2.3 Método
Os procedimentos experimentais semelhantes aos do teste de demanda bioquímica
de oxigênio (DBO) foi utilizado para analisar indiretamente o consumo (i.e., oxidação
bioquímica) de matéria orgânica lábil, com base no consumo de O2 pela respiração de
microrganismos (VALENTE, PADILHA, & SILVA, 1997). Para tanto, foi coletada
amostra de água (ca. 10 L) do reservatório do Monjolinho; em seguida, a amostra foi
filtrada com membrana de acetato de celulose (porosidade 0,45 µm de diâmetro de poro).
As amostras filtradas foram divididas em 12 frascos de aproximadamente 300,0 ml
juntamente com fragmentos de macrófita nos meios contendo ou não chumbo, segundo
os seguintes tratamentos:
• 3 frascos com água e 100 mg de macrófita, porém sem chumbo (Tratamento
controle);
• 3 frascos com água, 100 mg de macrófita e 0,005 mg L-1 de chumbo;
• 3 frascos com água, 100 mg de macrófita e 0,01 mg L-1 de chumbo;

As diferentes concentrações de chumbo foram escolhidas com base na Resolução


CONAMA 357, na qual a concentração máxima permitida para água doce de Classe 2 é
de 0,033 mg L-1. Durante 80 dias os frascos foram mantidos em uma incubadora a 20°C
e no escuro. A concentração de O2 em cada frasco foi determinada por polarografia
(oxímetro YSI, modelo 58). Quando a concentração de oxigênio estava próxima de 2 mg
L-1 os frascos foram aerados por aproximadamente 2 horas. Ao final do experimento, os
valores de consumo de O2 das amostras com macrófita tiveram subtraído os valores de
O2 consumida desde a amostra de água e os resultados foram ajustado a um modelo cinético

de 1a ordem com o uso de algoritmo iterativo de Levenberg-Marquardt (PRESS et al., 2007).


De acordo com a Equação 1, tais ajustes definiram os valores dos coeficientes de
desoxigenação (kd) e o consumo total de oxigênio (OCmáx).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Para as representações das cinéticas das mineralizações, as variações temporais
dos consumos acumulados de oxigênio (OC) foram ajustadas a um modelo de primeira
ordem (Eq. 1), a exemplo do utilizado nos testes de DBO (DAVIS & CORNWELL, 1991;
BORSUK & STOW, 2000). Para os ajustes e determinações dos coeficientes, utilizou-se
um método de regressão não linear, o algoritmo iterativo de Levenberg-Marquardt
(PRESS et al., 2007).
𝑂𝐶 = 𝑂𝐶𝑚𝑎𝑥 × (1 − 𝑒 𝑘𝑑𝑡 ) (1)
Onde: OC = valor acumulado de oxigênio consumido; OCMAX = quantidade máxima de
oxigênio consumido (mg g-1 PS); kd = coeficiente de desoxigenação (dia-1); t = tempo
(dia).
Para verificar as diferenças entre os consumos acumulados de oxigênio dissolvido
nos tratamentos (controle e duas concentrações de chumbo) foi utilizado o teste
paramétrico ANOVA com medidas repetidas seguidas de pós-teste de Tukey,
considerando um nível de significância de p < 0,05.

3. Resultados
Os resultados de consumo acumulado de oxigênio mostram que a amostra de água
consumiu Ca. de 11 mg L-1 (Fig. 1). De modo geral, os consumos foram mais intensos
no início do experimento (ca. 10 dias); Fig. 1. Em seguida decresceram e mantiveram-se
oscilando entre 0 e 2,00 mg de O2 dia-1. O tratamento sem Pb (com apenas detrito da
macrófita) apresentou o maior valor de kd e menor OCmáx (0,00495 d-1 e 487 mg O2 g-
1 MS, respectivamente), a incubação com concentração intermediária de chumbo
apresentou valores intermediários de kd e de OCmáx intermediário (0,00308 d-1 e 629
mg O2 g-1 MS, respectivamente). A incubação com maior concentração de Pb apresentou
o menor valor de kd e o maior de OCmáx (0,00098 d-1 e 2169 mg O2 g-1 MS,
respectivamente).

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FIGURA 1 – Consumos de oxigênio da decomposição de Myriophyllum aquaticum sem adição de chumbo


(controle) e na presença desse elemento (Pb: 0,005 e 0,01 mg L-1).

3. Discussão
De acordo com os resultados, o chumbo foi responsável pela diminuição do kd e
aumento do OCmáx; a presença de chumbo levou a diminuição das taxas de reação e
aumento da quantidade de O2 consumido. Esses resultados indicam uma provável
alteração nas rotas metabólicas ligadas a oxidação aeróbia da matéria orgânica (alteração
na estequiometria da reação; Eq. 2). Nesse caso sem a presença do chumbo estimou-se
que foram oxidados ca. 182 mg de carbono ≡ 43% do carbono da planta. Se mantida a
relação estequiométrica (2,66) a adição de chumbo elevou a oxidação do carbono a 56%
(0,005 mg L-1) e 193% (0,01 mg L-1). Foram observadas diferenças significativas entre
o tratamento controle e os dois tratamentos com presença de chumbo (p = 0,001) e,
também, entre os dois tratamentos com chumbo (p = 0,001). Assim, supõe-se que a
presença do chumbo tenha alterado a relação estequiométrica e ainda o crescimento e
morte dos microrganismos (a reciclagem desses organismos aumentou o consumo de O2
em detrimento da oxidação do detrito).

6𝐶6 𝐻12 𝑂6 + 6𝑂2 ⟹ 2𝐶𝑂2 + 6𝐻2 𝑂 (2)

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4. Conclusão

Com base nos procedimentos experimentais verificou-se que, mesmo em baixas


concentrações de chumbo, houve efeito negativo na velocidade da ciclagem de detritos
em meio aquático, comprovando a hipótese inicial.

5. Agradecimentos

FAPESP – Processo 2017/20722-1.

6. Referências
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Estado de São Paulo-Volume. [s.l.] M.G.L. Wanderley; G.J. Shepherd; A.M. Giulietti
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02 a 04 de Outubro de 2018
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PROPOSIÇÃO DE CENÁRIOS DE COBRANÇA PELOS


SERVIÇOS DE LIMPEZA PÚBLICA BASEADO NO VOLUME DE
RESÍDUOS GERADOS

Takeda, Cintia M.1

Castro, Marcus C. A. A.2


1
UNESP – Rio Claro/ Discente Engenharia Ambiental - cintia.minori@gmail.com
2
UNESP – Rio Claro/Docente do Departamento de Geologia Aplicada –
mccastro@rc.unesp.br

Resumo: O manejo adequado dos resíduos sólidos urbanos na despesa corrente total da
Prefeitura é em média 3,7%. Desta forma, para subsidiar os custos dos serviços de coleta
e disposição final de resíduos domiciliares foi proposto um sistema de cobrança
proporcional ao volume de resíduo domiciliar gerado, aferido por meio da compra de
sacolas padronizadas para acondicionar dos resíduos para a coleta regular municipal. Para
tal foi realizado o levantamento de dados junto à Prefeitura de Rio Claro, Cooperativa de
catadores e Associação de recicláveis, e a empresa responsável pelos serviços de coleta
regular e operação do aterro sanitário. Com os dados obtidos, foram calculados os
custos/tonelada da coleta regular e disposição final dos resíduos domiciliares (R$/t), a
taxa de geração per capita do município (kg/hab.dia) e o custo/volume (R$/L) de resíduos
domiciliares. Posteriormente, foram criados cenários de participação da população na
entrega dos recicláveis, considerando-se que 10%, 20% e 28%, em peso, do total de
resíduo disposto no aterro sanitário seria destinado para a reciclagem. Com os resultados
obtidos pode-se constatar que na situação atual (cenário zero), uma residência com três
pessoas gastaria R$10,42/mês com a coleta+disposição, por outro lado à medida que
participasse da reciclagem, os custos passam a ser: R$ 6,25/mês, R$ 3,70/mês e
R$ 2,31/mês (cenário 10%, 20% e 28%, respectivamente). Além disso constatou-se que
o modelo de cobrança proposto garante o equilíbrio financeiro do sistema.
Palavras-chave: Gerenciamento de resíduos sólidos domiciliares; Cobrança pelos
serviços de limpeza pública; Instrumentos Econômicos.

1. Introdução

A instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) pelo Decreto no


7.404/2010 estabeleceu diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de
resíduos sólidos e atribuiu responsabilidades aos geradores e ao poder público com o
intuito de aprimorar o manejo de resíduos sólidos. O Artigo 19 da PNRS (Lei no
12.305/2010) que especifica o conteúdo do Plano Municipal de Gestão Integrado de
Resíduos Sólidos, prevê a cobrança pelos serviços de limpeza pública, em nível
municipal, de forma a obter o equilíbrio financeiro do sistema.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Apesar da cobrança pela prestação dos serviços de coleta regular e disposição final
estar assegurada pela legislação brasileira, no cenário atual somente 43,1% dos
municípios brasileiros realizam essa cobrança, sendo que o maior índice se encontra no
Sul do Brasil (82,3%), enquanto que o menor no Nordeste (6,2%) (SNIS, 2018). Ainda
de acordo com SNIS (2018), em 2016 apenas 2,4% do total de municípios participantes
apresentavam equilíbrio financeiro (despesas=receita). Desta forma, alcançar a
autossuficiência financeira no gerenciamento de resíduos sólidos é um desafio para 97,6%
dos municípios brasileiros.
A carência de municípios que realizam a cobrança pode ser considerada uma das
causas da destinação inadequada de resíduos domiciliares, visto que o manejo de resíduos
sólidos é oneroso para os municípios. Em 2016 os gastos representaram, em média, 3%
das despesas dos cofres públicos (SNIS, 2018).
Um fator que dificulta a implantação de sistema de cobrança dos serviços de
limpeza pública é a falta de um consenso a respeito da base de cálculo a ser aplicada.
Alguns correlacionam o consumo de água com a geração de resíduo domiciliar. Outros
determinam o valor da cobrança baseado nos fatores de frequência de coleta, padrão de
edificação, área construída do imóvel ou o valor venal do mesmo.
Outro parâmetro utilizado para estimar a geração de resíduos é o consumo de
energia elétrica. Pisani et al. (2018) desenvolveram equação para estimar a taxa de
geração de resíduos com base no consumo de energia e renda per capita de 238
municípios brasileiros. A aplicação do teste de t-Student mostrou que a equação obtida é
capaz de representar valores de geração com probabilidade acima de 99 %.
Assim, a presente pesquisa visa desenvolver um mecanismo de cobrança pelos
serviços de coleta+disposição dos resíduos domiciliares que seja proporcional ao volume
gerado em cada residência, e que promova a autossuficiência financeira deste setor, tendo
como recorte o município de Rio Claro – SP. Além de incentivar economicamente o
munícipe a realizar a segregação e a entrega de materiais recicláveis em pontos de entrega
voluntária (PEV’s).
A seguir são apresentados algumas comparações de valores de cobrança pela
prestação dos serviços de coleta regular e disposição final praticados em municípios
brasileiros.

1.1 Experiências municipais de cobrança pelos serviços de limpeza publica


Com a finalidade de possibilitar uma comparação dos valores de cobrança

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
praticados nos municípios brasileiros, considerou-se como padrão o valor correspondente
a uma casa de 100 m2 para o cálculo dos valores, bem como a faixa de variação dos
valores praticados.
Os municípios de Campinas – SP, Jundiaí - SP e Viçosa-SP são exemplos
nacionais que realizam a cobrança pela prestação dos serviços de coleta regular e
disposição final com base na área construída do imóvel, localização e frequência de
coleta.
Em Campinas – SP uma residência com 100 m² dependendo de sua localização
pode pagar uma taxa de R$ 69,70/ano (R$ 5,81/mês) ou R$ 92,95/ano (R$ 7,75/mês)
junto ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Já no município de Jundiaí – SP, o
valor da cobrança da mesma residência considerada varia de R$ 8,58 a R$ 26,00 por mês,
sendo o valor anual variando de R$ 103,00 a R$ 312,00, respectivamente. Por fim, em
Viçosa – MG, a cobrança varia de R$ 13,51/mês a R$ 27,01/mês, sendo faturada
mensalmente junto com a conta de água.
Já em Araraquara–SP a base de cálculo da taxa de limpeza pública é baseada no
consumo de água. A Lei Municipal nº 8.313/2014, estima que a cada 1 m³ de água
consumido, sejam gerados 2,01 kg de resíduo. No entanto, nesse cálculo são levados em
consideração outros parâmetros, como disponibilidade dos serviços, taxa de investimento,
categoria do imóvel, frequência de coleta e índice de evasão de receita de água e esgoto.
Segundo o Decreto n° 11.402/2017 dependendo da quantidade de água consumida, o
valor mensal varia de R$ 9,10/mês até R$ 196,89/mês, sendo cobrada junto com o boleto
da conta de água.
Dentre os municípios pesquisados, Atibaia – SP é o único que apresenta um
modelo de cobrança baseado no volume de resíduo gerado. Assim, de acordo com a Lei
complementar no 486/05, o valor pago mensalmente pelo munícipe é definido por meio
de uma autodeclaração da faixa de geração volumétrica diária de resíduo domiciliar. Com
a última atualização da cobrança pelo Decreto nº 8.216/2017, o valor pago varia de
R$23,66 a R$ 307,27 por mês. A Tabela 1 apresenta um resumo da estimativa da faixa
do valor da cobrança pela prestação dos serviços de limpeza pública para uma residência
de 100 m² dos municípios apresentados.
Diante deste cenário, observa-se uma grande variação dos valores praticados nos
municípios, em parte justificada pelas diferentes práticas de gestão adotadas que
certamente acarretam em custos distintos. Porém, uma parcela desta discrepância deve-
se aos parâmetros utilizados na base de cálculo. Assim, o sistema de cobrança deve ser

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
justo e proporcional a quantidade de resíduo gerado de forma a incentivar a redução da
geração.
Entretanto, observa-se que em todos os modelos de cobrança a quantidade de
resíduo gerado não é aferida, sendo realizada de forma indireta, com base em parâmetros
como consumo de água, área construída, valor venal do imóvel e tipologia (residencial
ou comercial).

TABELA 1 – Faixa de variação do valor de cobrança pela prestação dos serviços de limpeza pública de
coleta regular + disposição final para uma residência de 100 m²
Variação do valor praticado pelos
municípios relativo à prestação dos
Município Legislação específica
serviços de limpeza pública para uma
residência de 100 m²

Lei Municipal nº 6.355/1990


Campinas - SP* 5,81 - 7,75
Lei Complementar nº 178/2017

Lei Complementar nº 460/2008


Jundiaí - SP* 8,58 - 26,00
Decreto nº 27.240/2017

Viçosa - MG* 13,51 - 27,01 Lei Municipal nº 2.436/2014

Lei Municipal nº 8.313/2014


Araraquara - SP 9,10 - 196,89
Decreto n° 11.402/2017

Lei Complementar nº 486/2005


Atibaia - SP 23,66 - 307,27
Decreto nº 8.216/2017

*Municípios com a cobrança realizada junto com o boleto do IPTU, valor total dividido por 12 meses.

Portanto, o fato da cobrança não estar atrelada a efetiva geração de resíduos, não
incentiva ou prioriza o princípio da “redução da geração” e fere o princípio do protetor-
recebedor, ambos estabelecidos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos. Desta forma,
mesmo que o munícipe gere menos resíduos este não será beneficiado por adotar boas
práticas, uma vez que esta redução não é aferida nos modelos apresentados.

2. Material e Método

2.1 Levantamento de dados

Inicialmente foi realizando um levantamento de dados do município de Rio Claro


– SP de forma a caracterizar as práticas adotadas no gerenciamento de resíduos sólidos
urbanos, com ênfase nos domiciliares, e na infraestrutura existente na coleta regular,

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
disposição final e coleta seletiva, bem como os custos que a prefeitura arca com o
fornecimento desses serviços. Para isso foi aplicado um questionário com perguntas
abertas para a Prefeitura, Cooperativa e Associação de reciclagem, bem como a empresa
que presta o serviço de coleta regular.
A partir do acesso ao contrato firmado entre a prefeitura municipal e a empresa
responsável pela coleta e operação do aterro sanitário, calculou-se o custo unitário (R$/t)
desembolsado pela prefeitura com a coleta+disposição do resíduo domiciliar. Com base
nos apontamentos de geração mensal de resíduos domiciliares, fornecidos pela empresa,
calculou-se a média mensal de geração de resíduos domiciliares, com base nos meses de
2017.
A partir da geração mensal calculou-se a geração “per capita” mensal de resíduos
(kg/hab.mês). A referência para o número de habitantes foi de 192.479 (FUNDAÇÃO
SEADE, 2017). Finalmente o custo por peso foi convertido para custo volumétrico (R$/l)
a partir do peso específico do resíduo domiciliar de 0,2 kg/l.
O peso específico de 0,2 kg/l foi obtido a partir da média dos valores de peso
específico encontrados em 4 artigos científicos (Tabela 2) que pesquisaram a
característica física do resíduo domiciliar solto.

TABELA 2 – Peso específico aparente do resíduo domiciliar


Referência Peso específico (kg/l)
Monteiro (2001) 0,23
Rezende et al. (2013) 0,14
Silva & Santos (201?) 0,23
Miyamoto & Zanta (2016) 0,19
Média 0,20

2.2 Elaboração dos cenários de cobrança

Segundo Welivita et al. (2015), a base de cálculo da cobrança proporcional à


quantidade de resíduo domiciliar gerado, pode ser baseada no peso ou no volume. Na
cobrança com base no volume, a aferição da quantidade de resíduo domiciliar pode ser
por meio de sacolas com volume padronizado (“bags”), selos com indicação dos volumes
(“tag/sticker”) e os pequenos containers/recipientes duráveis (“bins”). Na presente
pesquisa o sistema adotado para a aferição do volume de geração foi a utilização de
sacolas padronizadas.
No modelo proposto, o valor de venda da sacola corresponde ao custo para coletar
e dispor o respectivo volume de resíduos acondicionado. Como alternativa para reduzir

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
as despesas do munícipe com a aquisição de sacolas os materiais recicláveis podem ser
entregues gratuitamente para a coleta seletiva existente ou ainda nos postos de entrega
operados pela cooperativa. Desta forma reduziria o número de sacolas necessárias para
acondicionar os resíduos para a coleta regular.
Conforme a caracterização física dos resíduos domiciliares apresentada no Plano
Municipal de Saneamento Básico do município de Rio Claro – SP, 28% dos resíduos
domiciliares são compostos por material reciclável. Nesse sentido, foram elaborados 4
cenários (zero, 1, 2, e 3), sendo o cenário “zero” a condição atual, e os cenários 1, 2 e 3
uma redução progressiva de 10%, 20% e 28%, em peso, do total resíduo domiciliar
desviado da coleta regular e destinado a reciclagem. Os cenários foram propostos com a
hipótese de que os munícipes participariam gradativamente da coleta seletiva ou entrega
de recicláveis em PEV’s como forma de reduzir as despesas com a aquisição de sacolas.
Em cada cenário proposto foi estimada a taxa de geração volumétrica de resíduo
domiciliar por pessoa (l/pessoa.mês). Entretanto, com a segregação e entrega dos
recicláveis para a coleta seletiva, o valor do peso específico do resíduo destinado a coleta
regular é crescente, pois a porcentagem de material orgânico em relação ao total de
resíduos aumenta em cada cenário. Desta forma, no cenário zero em que não há mudanças
no comportamento do munícipe, o resíduo domiciliar destinado para a coleta regular
apresenta uma composição igual ao da situação atual. Desta forma, o peso específico de
0,2 kg/l foi adotado para calcular a taxa de geração volumétrica.
Com a participação dos munícipes na coleta seletiva, acredita-se que o resíduo
domiciliar destinado para a coleta regular será composto somente por resíduos orgânicos
e rejeitos. Como o material orgânico apresenta um peso específico mais elevado que os
demais materiais acredita-se que o peso específico do resíduo domiciliar nesta condição
é semelhante ao peso específico do resíduo compactado pelo caminhão coletor. Por isso,
no cenário 3 foi utilizado o peso específico de 0,65 kg/l obtido pela média de pesagem
dos caminhões de coleta, e conhecendo-se a capacidade volumétrica de cada caminhão
coletor.
Em função da dificuldade de determinar o peso específico dos cenários 1 e 2
adotou-se uma relação linear para estima-los, obtendo-se os valores de 0,30 kg/l e 0,45
kg/l, respectivamente. Os cenários zeroA, 1A, 2A e 3A foram elaborados considerando-
se que o peso específico do resíduo domiciliar não sofre alteração com a participação dos
munícipes na coleta seletiva. A tabela 3 apresenta os pesos específicos utilizados em cada
cenário.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Com a finalidade de estimar o valor mensal desembolsado por residência/família
em cada cenário, adotou-se como parâmetro uma residência de 3 pessoas, pois esta foi a
densidade média nacional de pessoas por domicilio fornecida pelo IBGE (2016).

TABELA 3- Pesos específicos utilizados em cada cenário

Cenário zero 1 2 3
Redução da quantidade de resíduo domiciliar
0% 10% 20% 28%
destinado para coleta regular (%)
Peso específico (kg/l) do resíduo domiciliar
0,20 0,30 0,45 0,65
aterrado
Cenário zeroA 1A 2A 3A
Redução da quantidade de resíduo domiciliar
0% 10% 20% 28%
destinado para coleta regular (%)
Peso específico (kg/l) do resíduo domiciliar
0,20 0,20 0,20 0,20
aterrado

Finalmente, os valores de cobrança obtidos na pesquisa foram comparados com


os valores de cobrança praticados por outros municípios brasileiros. Ademais, com o
intuito de verificar a sustentabilidade financeira da implantação da cobrança, analisou-se
a quantia que o município de Rio Claro - SP conseguiria arrecadar mensalmente com a
cobrança em cada cenário.

3 Resultados e Discussão

3.1 Caracterização do sistema de coleta e disposição final de resíduos domiciliares


de Rio Claro – SP

A partir de dados levantados, constatou-se em Rio Claro – SP a coleta regular tem


uma abrangência de 100% tanto na área urbana quanto na rural, no entanto, na zona
urbana ela ocorre de porta em porta, já na rural é por meio de containers. Os resíduos
coletados são destinados ao aterro sanitário municipal. Em média, são coletados
mensalmente 3.856,76 t/mês, desta forma a taxa de geração de resíduo domiciliar urbana
é de 0,67 kg/hab./dia (20,04 kg/hab./mês). Segundo o SNIS (2018), a taxa de geração nos
municípios com populações entre 100 mil a 250 mil habitantes é de 0,85 kg/hab./dia.
Logo, Rio Claro – SP apresenta uma taxa de geração menor em relação aos outros
municípios de mesmo porte.
Segundo o contrato firmado entre a prefeitura municipal e a empresa responsável
pela coleta e operação do aterro sanitário, o custo unitário da coleta regular de Rio Claro
é de R$105,61/t, já o custo com a disposição final em aterro sanitário é R$67,67/t, o que

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
acarreta em um custo total de R$173,28/t.
De acordo com a Prefeitura Municipal de Rio Claro – SP, a coleta seletiva em Rio
Claro – SP abrange 100% da área urbana, e ocorre de porta em porta. A cooperativa e a
associação comercializam em média 149,31 t/mês de recicláveis, que corresponde a
3,73% total de resíduos domiciliares. Porcentagem acima da média, quando comparada
com outros municípios de mesmo porte, que seria de 2,8% de recuperação (SNIS,2018).
O custo associado à coleta seletiva é R$ 14.166,71/equipe (aluguel de caminhão
mais motorista), considerando que são 4 equipes, o gasto mensal é de R$56.666,84/mês,
valor integralmente arcado pela prefeitura de Rio Claro. Considerando a média de
material vendido por mês, chega-se a um custo de R$379,52/t de material coletado pela
coleta seletiva. Já a média de arrecadação mensal devido a comercialização de recicláveis
pela Cooperativa fica em torno de R$380,00/t.

3.2 Análise do cenário de cobrança

A tabela 4 apresenta os valores pagos pelos munícipes e arrecadados pela


prefeitura a partir da aplicação da cobrança, em cada cenário de participação da população
na coleta seletiva, considerando-se que o peso específico do resíduo domiciliar não é
constante. Por sua vez a tabela 5 apresenta a caracterização dos mesmos cenários
considerando-se que o peso específico do resíduo domiciliar é constante, isto é, não sofre
alteração com a participação dos munícipes na coleta seletiva.

Na tabela 5 observa-se que a manutenção do peso específico constante mantem o


equilíbrio financeiro em todos os cenários, porém a redução do valor pago/residência nos
cenários varia muito pouco (aproximadamente R$ 3,0/mês) com o aumento da
participação, o que pode desestimular a participação da população na segregação dos
materiais para a coleta seletiva. Por outro lado, na tabela 4 onde o peso específico adotado
nos cenários é variável, representa uma redução significativa no valor desembolsado
mensalmente, de R$ 10,42 com participação zero na coleta seletiva, para R$ 2,31,
diferença que certamente trará maior estímulo a participação na coleta.

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TABELA 4 – Caracterização do cenário após a aplicação da cobrança considerando-se que o peso específico
do resíduo domiciliar destinado para o aterro sanitário não é constante

*peso específico adotado de 0,2 kg/l para o cálculo do custo volumétrico da coleta+disposição.

TABELA 5 – Caracterização do cenário após a aplicação da cobrança considerando-se que o peso


específico do resíduo domiciliar destinado para o aterro sanitário é constante

*peso específico adotado de 0,2 kg/l para o cálculo do custo volumétrico da coleta+disposição.

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No entanto, essa diminuição no volume de resíduo destinado para a coleta regular
implica na redução da arrecadação da prefeitura a medida que aumenta a participação na
coleta seletiva (Tabela 4). Por exemplo, ao se comparar o cenário zero com o cenário 3 é
notório que a arrecadação reduz em 77,85%, e consequentemente a prefeitura necessita
arcar com aproximadamente R$333 mil/mês no cenário 3. Isso ocorre, pois, o peso
específico de 0,20 kg/l representa apenas a relação peso/volume do cenário zero. Desta
forma, para os cenários 1, 2 e 3 o custo volumétrico da coleta+disposição é subestimado.
Assim, acredita-se que o modelo da Tabela 4 representaria a realidade quando o
modelo de cobrança for aplicado, neste caso atuaria mais como um incentivo à
participação dos munícipes na coleta seletiva do que para garantir a autossuficiência
financeira dos serviços de coleta+disposição.
Ao comparar os valores obtidos na pesquisa com os praticados por outros
municípios brasileiros que realizam a cobrança com base em outros indicadores, nota-se
que o valor estimado a partir do peso específico encontra-se dentro da faixa inferior
praticada por outros municípios.
Um diferencial do método de cálculo proposto para se estimar a cobrança pelos
serviços de coleta+disposição de resíduos sólidos adaptada para Rio Claro é o estímulo a
segregação de material reciclável, e a redução dos valores desembolsados pela prefeitura
para coleta e disposição final dos resíduos e, consequentemente, o aumento da vida útil
do aterro sanitário.
No caso de Campinas – SP, Jundiaí – SP e Viçosas – MG a redução do custo com
a coleta+disposição de resíduos sólidos domiciliares é inviável, mesmo que o munícipe
realize a segregação e a destinação do material para a coleta seletiva, pois a base de
cálculo é a área construída, localização do imóvel e a frequência de coleta.
Já no caso de Araraquara – SP, o munícipe só consegue reduzir os custos com o
uso do serviço de coleta+disposição, caso ele diminua no consumo de água, pois a
quantidade de água consumida por uma residência corresponde à quantidade de resíduo
sólido gerada pela mesma.
O caso que mais se aproxima do modelo proposto é Atibaia – SP, na qual a
cobrança é realizada proporcionalmente ao volume de resíduo gerado por dia. Porém
nesse caso, o volume mínimo de geração diária que o munícipe pode declarar é 10 l/dia,
com um valor base de cobrança de R$ 23,66/mês, valor acima do estimado para o
município de Rio Claro. Um outro aspecto positivo do presente modelo de cobrança para
a Prefeitura, é que acredita-se que com a mudança do comportamento dos munícipes com

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maior participação na entrega dos recicláveis será possível reduzir o número de viagens
diárias dos caminhões da coleta regular para o aterro, pois teria aproximadamente uma
redução de 28% em peso dos resíduos coletados. Logo, haverá uma redução também dos
custos de coleta por parte da empresa.

4. Conclusão

A partir da presente pesquisa, constatou-se que a cobrança pelos serviços de coleta


e disposição final baseado no volume de resíduos gerados permite o equilíbrio financeiro
do sistema e certamente incentiva a população a participação dos programas de
reciclagem do município. Os valores obtidos na pesquisa estão na faixa inferior dos
valores praticados em outros municípios. Por fim, o modelo proposto tem a vantagem de
desonerar o munícipe caso ele participe da coleta seletiva, o que não ocorre nos casos em
que a cobrança é realizada com base na área construída do imóvel, frequência de coleta e
localização do imóvel.

5. Agradecimentos

Agradecimentos a Fapesp pelo financiamento da pesquisa.

Referências

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542
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE METANOGÊNICA ESPECÍFICA


DE LODO ANAERÓBIO COMO ESTRATÉGIA PARA PARTIDA
DE BIORREATORES

Blasius, Jandir. P.1; Caritá, Vitor. B.2: Castro, Marcus César. A. A.3; Maintinguer,
Sandra. I.4
1,2
1Mestrando do Programa de Geociências e Meio Ambiente,Universidade Estadual
Paulista -UNESP/IGCE Rio Claro-SP.
(jandirblasius@gmail.com/caritageog@gmail.com)
3
Orientador, Prof. Assistente Dr. do Departamento de Geologia Aplicada da
UNESP/Rio Claro-SP (mccastro@rc.unesp.br)
4
Coorientadora, UNESP - Instituto de Pesquisa em Bioenergia – IPBEN -Laboratório
Central - Rio Claro-SP (mainting2008@gmail.com)

Resumo: Este trabalho avaliou a atividade metanogênica específica (AME) de um lodo


anaeróbio proveniente de uma estação de tratamento de esgoto de um abatedouro de aves,
como estratégia para partida de biorreatores em batelada e investigou diferentes relações
substrato/inóculo (So/Xo), a fim de eleger a mais indicada para biometanização. Os testes
foram realizados com reatores em batelada com volume de 500 mL e meio reacional
composto por: inóculo, água, meio de cultivo Del Nery e acetato, sob condições
anaeróbicas, em temperatura de 35ºC. O tratamento e modelagem dos dados foi realizada
no software Estatística. Os resultados demonstraram bom desempenho do inóculo, com
índices que variaram de 0,2063 a 0,2361 g DQOCH4.g STV-1.d-1. A relação So/Xo = 0,5
produziu 289 mL de metano, enquanto, relações de 1,0 e 1,5 produziram 265 e 229 mL,
respectivamente. O rendimento para as três relações foi de 96,3, 88,3 e 76,3 mL de metano
por grama de DQO adicionada para as relações 0,5, 1,0 e 1,5, respectivamente. A relação
igual a 0,5 foi a que apresentou maior índice de AME (0,2361 g DQOCH4.g STV-1.d-1),
seguido por 1,0 (0,2082 g DQOCH4.g STV-1.d-1) e 1,5 (0,2063 g DQOCH4.g STV-1.d-1).
Sendo assim, para a aplicação de tal lodo em testes com resíduos orgânicos foi
recomendado o uso de relações So/Xo igual a 0,5 e 1,0, sendo que estas apresentaram
índices de desempenho muito próximos.
Palavras-chave: Tratamento de resíduos; Biometanização; Digestão anaeróbia

1. Introdução

No Brasil, a fração de matéria orgânica representa cerca de 50% da composição


gravimétrica total dos resíduos sólidos urbanos produzidos (SNIS, 2015). Esse percentual
de resíduos e efluentes, que são oriundos de diversas atividades, sejam industriais ou
domésticas, por conterem elevada carga orgânica, se não receberem tratamento adequado,
se tornam fontes potenciais de poluição do solo, ar e das águas superficiais e subterrâneas.
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Uma alternativa adequada para gestão e tratamento dos resíduos orgânicos é
através do processo de digestão anaeróbia. Apesar desse processo ser considerado
economicamente viável pela capacidade de recuperação energética dos subprodutos
gerados, possui algumas limitações. Tais como a baixa eficiência na produção de biogás
e o longo tempo para estabilização da matéria orgânica, baixa eficiênca na remoção de
sólidos voláteis (KHALID et al., 2011), alta taxa de conteúdo orgânico presente nos
resíduos e baixa porcentagem de sólidos aplicados em reatores (LIU et al., 2016).
Para um bom desempenho dos biorreatores é necessário ter conhecimento da
quantidade e qualidade dos microrganismos ativos, bem como da sua capacidade de
conversão de substratos orgânicos em metano. Para isto podem ser aplicados testes de
Atividade Metanogênica Específica (AME).
O teste de AME de um lodo como fonte de inóculo representa a capacidade
máxima de produção de metano por um grupo misto de culturas anaeróbias. Este teste é
realizado sob condições controladas para promover a máxima atividade bioquímica de
conversão dos substratos específicos em metano por unidade de massa (SILVA;
BISCARO; PASSOS, 2010).
A AME estabelece a capacidade máxima de remoção de Demanda Química de
Oxigênio (DQO) da fase líquida e assim, é possível estimar a taxa máxima de
carregamento orgânico a ser aplicada sem que haja risco de desequilíbrio do processo
anaeróbio. Este parâmetro funciona como base para avaliar a eficiência da atividade
microbiana na digestão anaeróbia e como controle operacional dos reatores anaeróbios
(FORESTI; AL., 1999).
Devido à falta de padronização internacionalmente aceita, diferentes métodos para
determinação da AME são descritos na literatura (MARTINS; AMORIN; SALOMON,
2017). Isso dificulta a comparação dos resultados absolutos obtidos a partir de cada
protocolo, sendo que estes se diferem em relação a concentração de biomassa, ao tipo de
biomassa, a relação So/Xo, ao tipo e concentração de nutrientes, ao tempo de teste e a
quantidade de metano produzido.
Para quantificar o metano produzido pelo teste de AME podem ser utilizados
métodos manométricos ou volumétricos. Os métodos manométricos, baseados na relação
entre a pressão e volume produzido de metano, fazem uso de equipamentos como
respirômetros ou sistemas Oxitop®. Já os métodos volumétricos se baseiam na medição
direta do volume de metano produzido, com determinação do volume e composição do
biogás (AQUINO et al., 2007).

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O desempenho de qualquer processo biológico é baseado na atividade
microbiológica e devido ao grau de complexidade das rotas metabólicas e a alta
sensibilidade do consórcio microbiano, principalmente das arqueas metanogênicas
(LIMA, 2015) ,a adoção do teste de AME serve para avaliar as condições do sistema. De
modo geral, para realização dos testes de AME é importante fornecer nutrientes e
substrato em excesso para que o sucesso do processo dependa apenas da atividade e
concentração de inóculo.
Este trabalho buscou objetivamente avaliar a atividade metanogênica específica
de um lodo anaeróbio como fonte de inóculo, com uso de substrato sintético, como
estratégia para partida de biorreatores em batelada, com aplicação de resíduos orgânicos.
Ainda, foi determinado a relação So/Xo mais favorável para biometanização.

2. Materiais e métodos

2.1 Coleta e caracterização do lodo inóculo

Para desenvolvimento desse trabalho foi realizada a coleta do lodo granular


proveniente de reatores anaeróbios UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) de Estação
de Tratamento de Efluentes (ETE) de abatedouro de aves no município de Tietê - SP. O
lodo coletado (volume de 30 L) foi armazenado em recipientes de polietileno,
previamente descontaminados, com capacidade volumétrica de 5 L. Após a coleta, o lodo
foi conservado sob refrigeração em temperatura de 4ºC.
Antes da inoculação nos reatores, o lodo foi caracterizado em Sólidos Totais (ST),
Sólidos Totais Voláteis (STV) e Sólidos Totais Fixos (STF), conforme metodologia de
APHA (2005).

2.2 Ensaio de Atividade Metanogênica Específica

Como não existe uma padronização para realização do ensaio de AME e por não
haver disponibilidade financeira para aquisição de reagentes e soluções específicas (ácido
propiônico, ácido butírico e soluções de nutrientes), esta pesquisa fez uma adaptação entre o
meio de cultivo desenvolvido por Del Nery (1987) e a metodologia de Aquino et al. (2007).
Nesse caso, os nutrientes foram disponibilizados pelo meio de cultivo Del Nery (cujo meio é
descrito no trabalho da autora), e como fonte de carbono foi utilizado o acetato de sódio.

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O uso do acetato como único substrato para o teste de AME, ao invés de uma mistura
de ácidos graxos (acético + propiônico + butírico) se deu porque o ácido acético (acetato) é
o precursor de 70 a 75% do metano gerado em condições anaeróbias (MONTEGGIA, 1997).
Para padronização do teste foi fixado uma concentração de substrato (acetato de
sódio) de 3g DQO.L-1. Este valor seguiu a metodologia de Simões (2017), que estudou
estratégias de aclimatação de lodos anaeróbios para partida de biometanizadores alimentados
com fração orgânica de resíduos sólidos.

2.3 Relação Substrato/Inóculo (So/Xo)

Neste estudo foram avaliadas diferentes relações So/Xo (0,5; 1,0; 1,5) para
determinar qual seria a mais indicada para aplicação nos testes com resíduos orgânicos.
O cálculo de tais relações foi baseado na Equação 1:

(1)

Onde So/Xo = relação substrato/inóculo escolhida previamente; DQO So = 3g DQO.L-1 e


Massa em STV Xo = valor de M1 em g STV.L-1.

A partir de cada relação estabelecida, foi determinado o volume de inóculo a ser


adicionado em cada reator, de acordo com a Equação 2:

V 1 . M1 = V 2 . M2 (2)

Onde V1= Volume do inóculo (mL); M1 = Concentração do inóculo (31,94 g STV. L-1);
V2 = Volume do meio reacional (0,25L); e M2 = Concentração estabelecida previamente
(3 g DQO.L-1).

2.4 Procedimento experimental

O ensaio de AME foi realizado com lodo in natura. A composição do meio reacional
(lodo + substrato + água) de cada relação So/Xo adotada, é apresentada na Tabela 1.
Antes da partida, o pH foi fixado em 7 e os reatores foram purgados por 20 minutos
com um gás inerte (N2), para garantir as condições de anaerobiose. Então, os frascos foram
vedados com tampa de borracha, tampa de rosca com abertura central e com uma camada de
silicone. Em seguida os reatores foram incubados a temperatura constante de 35°C ± 0,1°C.

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TABELA 1 – Composição do meio reacional para o teste de AME.

Meio de Volume reacional


Reatores Inóculo (mL) Água (mL)
cultivo (mL) (mL)
So/Xo = 0,5 200 47 3 250
BR So/Xo = 0,5 0 47 203 250
So/Xo = 1,0 200 23 27 250
BR So/Xo = 1,0 0 23 227 250
So/Xo = 1,5 200 16 34 250
BR So/Xo = 1,5 0 16 234 250
*BR:reatores “branco”

O volume de metano produzido no ensaio foi mensurado através do método de


deslocamento de volume líquido (Figura 1), com uso de um aparato experimental
adaptado de Aquino et al. (2007).

FIGURA 1 – Esquema do aparato utilizado para aferição do volume de metano produzido nos ensaios..

2.5 Cálculo da Atividade Metanogênica Específica

A AME é obtida através da tangente no período de máxima inclinação da curva


da fase exponencial de produção de metano, conforme demonstrado na Equação 3
(ROCHA, 2003):

(3)

𝜕CH4
Onde AME: Atividade Metanogênica Específica (em g DQOCH4.g STV-1.d-1); :
𝜕𝑡
variação do volume de metano produzido durante um intervalo de tempo (mL); STV:

Massa de inóculo adicionada ao reator (g STV.L-1); Volume do reator (0,5L); 𝐹CH4 : Fator

de conversão do volume de metano (mL) em equivalente em g de DQO, na temperatura


de 35°C e pressão de 1 atm (400,1 mL CH4.g DQO-1).

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2.6 Tratamento dos dados e análise gráfica

Os resultados dos parâmetros analisados foram tratados por métodos estatísticos


no software EXCEL 2013. Para plotagem gráfica e para cálculos de correlação foi
utilizado o software Estatistica® (versão 8.0). Este programa foi utilizado para fazer a
modelagem da geração de metano para cada reator utilizando a Equação 4, que representa
o modelo Gompertz modificado:

(4)

Onde 𝑅𝐶𝐻4 : rendimento acumulado de metano no tempo t (mL.g STV-1); P: potencial de

produção de metano do substrato (mL.g STV-1); 𝑅𝑚𝑎𝑥 : taxa máxima de produção de

metano (mL.g STV-1.d-1); 𝜆: duração da fase lag (dia); t: tempo (dia); e: exp (1) = 2,7183

A Equação 4 assume que a taxa de produção específica de metano em reatores em


batelada corresponde ao crescimento específico das bactérias metanogênicas (JIUNN-
JYI; YU-YOU; NOIKE, 1997). E por se tratar de um modelo empírico de regressão não
linear, este modelo modificado passou a ser utilizado para estimar a produção acumulado
de metano (KAFLE; CHEN, 2016).

3. Resultados e discussões

3.1 Caracterização do lodo inóculo

Na Tabela 2 são apresentados os dados obtidos da caracterização do lodo em


termos de sólidos totais, sólidos totais fixos e sólidos voláteis.

TABELA 2 – Composição do meio reacional para o teste de AME.

Amostra P0 P1 P2 ST STF STV STF/ST (%) STV/ST (%)


1 33,57 33,98 33,65 40,80 7,70 33,10 18,87 81,13
2 35,06 35,43 35,12 37,95 6,84 31,11 18,02 81,98
3 39,77 40,15 39,84 38,64 7,02 31,62 18,17 81,83
Média - - - 39,13 7,19 31,94 18,35 81,65
DP - - - 1,49 0,45 1,03 0,45 0,45
DP = Desvio padrão; P0 corresponde ao peso do cadinho vazio calcinado; P1 representa o peso do cadinho calcinado
+ amostra seca em estufa (105°C); e P2 é o peso do cadinho calcinado + amostra calcinada em mufla (550°C).

O lodo abordado nesse trabalho apresentou uma concentração média de 39,13 ±


1,49 g.L-1 de sólidos totais, 7,19 ± 0,45 g.L-1 de sólidos totais fixos e 31,94 ± 1,03 g.L-1 de
sólidos totais voláteis. Em relação a quantidade de ST, foram encontrados índices de
18,35 e 81,65 % de STF e STV, respectivamente.

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Os teores orgânicos típicos (expressos em STV/ST) em lodos variam de 60 a 80%
e as taxas de degradação orgânica correspondentes são geralmente de 56% a 65%, quando
o tempo de retenção hidráulica é de 15-30 dias (APPELS et al., 2008). Lodos com baixo
conteúdo orgânico geralmente apresentam baixo desempenho na digestão anaeróbia.
Liao; Li (2015) complementam que a taxa de degradação orgânica diminui para 25-35%
quando a relação STV/ST for inferior a 50%. E isso torna inviável economicamente a
recuperação energética a partir da digestão anaeróbia.
A caracterização do lodo abordado nesta pesquisa mostra que os sólidos voláteis
representam em torno de 81,65% do conteúdo de sólidos totais. Isso indica um alto
potencial de transformação orgânica do substrato em vista da provável riqueza de
microrganismos presente no lodo.

3.2 Atividade Metanogênica Específica

A Figura 2 apresenta os resultados referentes a produção acumulada de metano


durante o tempo de duração do ensaio AME, de acordo com cada relação So/Xo
empregada. Os símbolos plotados no gráfico se referem a média das triplicatas dos
reatores (descontados os valores dos reatores “brancos”), enquanto as linhas representam
os dados tratados pelo modelo de Gompertz.
300

250
Produção acumulada de CH 4 (mL)

200

150

100

50
So/Xo = 0,5
So/Xo = 1,0
So/Xo = 1,5
0

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Tempo (dias)

FIGURA 2 – Modelagem dos dados de produção de metano pela aplicação da equação de Gompertz.

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A maior produção de metano foi observada na relação So/Xo=0,5, seguida pela
relação 1,0 e 1,5, que geraram cerca de 289, 265 e 229mL, respectivamente. Esses dados
sinalizam que os reatores designados com maior quantidade de inóculo em g de STV.L-1,
foram os que mais produziram metano.
As amostras dos reatores “branco” (inóculo + água), produziram uma média de 58
(So/Xo=0,5), 45 (So/Xo=1,5), e 16 mL (So/Xo=1,5) de metano nos reatores. Portanto, foi
observado uma certa relação entre o volume produzido e a quantidade de biomassa
presente no lodo, que mostrou que quanto mais inóculo foi utilizado nos testes, maior foi
o volume de metano gerado. Isso pode ser atribuído a disponibilidade e ao consumo da
matéria orgânica no lodo.
Essa análise ressalta a importância de se realizar testes com reatores “Branco”,
tendo em vista que o volume final produzido pela atividade endógena representou em
cerca de 26,17 (So/Xo=0,5), 21,67 (So/Xo=1,5), e 6,53% (So/Xo=1,5) do volume
acumulado nos testes.
O rendimento de metano para as três relações foi de 96,3, 88,3 e 76,3 mL de
metano por grama de DQO adicionada para as relações 0,5, 1,0 e 1,5, respectivamente.
Os valores estimados de produção de metano pela equação de Gompertz
Modificada (Tabela 3) se aproximaram dos dados observados nos testes, com valores de
aproximadamente 270, 261 e 233 mL de metano para as relações So/Xo de 0,5, 1,0 e 1,5
simultaneamente.

TABELA 3 – Parâmetros obtidos pela aplicação da equação de Gompertz.

Relação Valor Limite Limite


Parâmetros R²
So/Xo estimado inferior superior
P (mL) 269,8363 255,0471 284,6254
0,5 Rm (mL.d-1) 364,6477 75,1541 654,1413 0,9801
L (d) 0,1531 -0,2845 0,4649
P (mL) 261,6166 248,5983 274,6350
1,0 Rm (mL.d-1) 148,2765 100,0707 196,4823 0,9878
L (d) -0,0336 -0,3032 0,2361
P (mL) 233,9229 219,5361 248,3094
1,5 Rm (mL.d-1) 104,9252 70,1801 139,6703 0,9847
L (d) -0,0530 -0,4102 0,3042
P = Potencial de produção de metano; Rm = Taxa máxima de produção de metano;
L = Tempo de duração da fase Lag.

Na Figura 2 não é possível verificar a existência uma fase lag de adaptação dos
microrganismos ao substrato (acetado de sódio). Isso pode ser relacionado a atividade
metabólica do inóculo que não necessitou de tempo para se adaptar ao substrato. É
observado também que a produção de metano na fase exponencial do processo variou de

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acordo com a relação So/Xo. Sendo que a duração desta fase na relação So/Xo= 0,5 teve
tempo inferior a um dia, enquanto as outras relações variaram de 2 a 2,58 dias. Isso indica
que quanto maior a quantidade de inóculo adicionada ao teste, menor foi o tempo para
consumo do substrato.
O tratamento dos dados apresentou boa correlação linear entre os dados coletados
nos testes e os estimados pelo tratamento estatístico e de modelagem. Para relação
So/Xo=0,5 foi encontrado índice de 0,9801, para So/Xo=1,0, 0,9878 e para So/Xo=1,5,
0,9847.
A Tabela 4 reúne os parâmetros calculdados para determinação da AME, bem
como seu índice.

TABELA 4: Parâmetros calculados para determinação da AME do lodo.

Produção de CH4 no
Concentração de Duração da
So/Xo final da fase AME
lodo (g STV.L-1) fase exponencial (dia)
exponencial (mL)
0,5 6 0,8469 240 0,2361
1 3 2,0 250 0,2082
1,5 2 2,58 213 0,2063

A relação So/Xo=0,5 apresentou maior índice de AME (0,2361) em comparação


com as demais relações estudadas, o que é relacionada com a quantidade de massa de
inóculo adicionada nos testes.
De acordo com Angelidaki et al. (2009), para serem considerados ativos, os lodos
granulares devem apresentar valores de AME na faixa de 0,1 a 0,3 g DQOCH4 . g SSV-1.
d-1 . Portanto, o lodo utilizado nesse trabalho é considerado ativo e apresenta condições
relevantes para que seja empregado em biorreatores com resíduos orgânicos.
Rocha (2003) avaliou a AME de quatro lodos granulares da indústria de
refrigerante, cervejaria, refinaria de milho e usina de açúcar e encontrou máxima AME
com o lodo de cervejaria (1,74 g DQOCH4.g STV-1.d-1) para a relação So/Xo=0,0625. Já
para testes com relação So/Xo=2,25, o índice de AME encontrado foi de 0,11 g DQOCH4.g
STV-1.d-1. O autor observou uma relação decrescente entre o índice de AME versus a
quantidade de massa de inóculo utilizada no teste e o mesmo comportamento é destacado
na Figura 3.
Na Figura 3 é observado que o valor de AME decresce com o aumento da relação
So/Xo, que é relacionado ao decréscimo da massa de inóculo adicionada nos testes. Isso
ocorre porque em condições com maior disponibilidade de microrganismos, a matéria
orgânica é consumida rapidamente e menor é o tempo de duração da fase exponencial,

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que influi diretamente no cálculo da AME, que considera o tempo de duração desta fase,
bem como a sua produção máxima acumulada.

0,240

0,235
AME (g DQOCH4.g STV-1 .d -1 )

0,230

0,225

0,220

0,215

0,210

0,205
0,5 1,0 1,5

Relação So/Xo

FIGURA 3 – Relação entre o índice de AME e as relações So/Xo empregadas.

Simões (2017) estudou a AME de lodo de aterro e lodo de estação de tratamento


de esgoto com objetivo de avaliar estratégias de aclimatação de lodos anaeróbios para
aplicação em biometanizadores alimentados com fração orgânica dos resíudos sólidos
urbanos. O autor verificou que nos testes com relação So/Xo igual a 0,5, o índice deste
parâmetro foi superior a ao teste com relação So/Xo igual a 1,0 para o lodo de aterro.
De modo geral, diversos trabalhos encontrados na literatura adotam diferentes
meios para aplicação do teste de AME, pois cada autor utiliza diferentes tipos e
concentrações de substrato e de inóculo e distintas relações So/Xo. Portanto, a falta de
padronização do teste de AME dificulta a comparação dos resultados com outros
trabalhos.

4. Considerações Finais

O teste de AME se mostrou um método eficaz na avaliação da atividade


metabólica dos microrganimos a serem utilizados em biorretores. A aplicação prática
deste ensaio foi considerada uma boa estratégia que pode predizer o comportamento do
consórcio microbiano frente sua aplicação em novos sistemas biológicos de tratamento
de resíduos orgânicos.

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As relações So/Xo igual a 0,5 e 1,0 apresentaram um comportamento similar
durante os testes, em termos de produção de metano e índice de AME, o que ressalta a
utilização das mesmas nos testes com resíduos orgânicos.
Por fim, os índices de AME servirão para avaliar o processo de digestão aneróbia
de resíduos em escala real, onde a partir da comparação dos resultados com o uso de
substrato sintético, será verificado se os substratos orgânicos podem conter alguma carga
tóxica para os microrganismos e assim, buscar alternativas para melhorar o desempenho
do sistema.

Referências

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Biometria, p. 141–150, 2010.
SIMÕES, A. L. G. Estudo da aclimatação de lodos aneróbios como estratégia de
inoculação para partida de biometanizadores alimentados com fração orgânica dos
resíduos sólidos urbanos. Dissertação De Mestrado, p. 316, 2017.
SNIS. Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos – 2015. BRASIL.
Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental - SNSA..
Brasília: MCIDADES. SNSA, 2017. 173 p.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

PROCEDIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE


GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DA UNESP (CAMPUS RIO
CLARO) BASEADO NA LEI 12.305/10 – POLÍTICA NACIONAL DE
RESÍDUOS SÓLIDOS

Dolphine, Larissa M. 1

Moraes, C. S. B 2.
1
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Rio Claro
(SP); larissa.dolphine@yahoo.com.br
2
Orientadora, Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento,
Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESP), Rio Claro (SP); clausbm@rc.unesp.br

Resumo: A elevada taxa de geração de resíduos é uma questão muito discutida


atualmente. Diante desse cenário, surgem legislações aplicáveis a esse aspecto, tal como
a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que abrange um conceito importante de
responsabilidade compartilhada. Assim, todo gerador é responsável por seu resíduo,
sendo de extrema importância a elaboração e implantação de um Plano de Gerenciamento
de Resíduos (PGR) em empresas privadas e públicas, municípios, instituições, governos,
entre outros. O projeto a ser apresentado corresponde à implementação e ao
monitoramento do PGR na UNESP Campus Rio Claro, através da aplicação de auditorias
e propostas de ações corretivas e preventivas, a fim de obter uma melhora contínua no
gerenciamento adequado dos resíduos gerados por essa instituição de ensino.
Palavras-chaves: Resíduos; Gerenciamento; Instituições de Ensino Superior.

1. Introdução

A questão do gerenciamento adequado dos resíduos sólidos é essencial para as


instituições que se preocupam com os impactos ambientais decorrentes de suas
atividades. Conforme a Lei Federal nº 12.305/10 (PNRS), a responsabilidade pelo resíduo
passa a ser compartilhada, com obrigações que envolvem os cidadãos, as empresas, as
prefeituras e os governos estaduais e federal além de empresas e demais instituições
públicas e privadas. Cabe a esses geradores desenvolverem um “Plano de Gerenciamento
de Resíduos”, integrado ao Plano Municipal (independentemente da sua existência). Para
a elaboração, implementação, operacionalização e monitoramento de todas as etapas do
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
plano de gerenciamento de resíduos sólidos, será designado um responsável técnico
devidamente habilitado.
Um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos bem implementado traz para a
instituição os conceitos de sustentabilidade tão em evidência no meio empresarial, o
ambiental, o econômico e o social. Do ponto de vista ambiental, são identificados os
riscos à saúde humana e ambiental, associados às atividades que compõem o manejo dos
resíduos sólidos, evitando futuras penalizações ambientais em relação à disposição final
e armazenamento inadequado e também a contaminação do terreno da empresa. Do ponto
de vista econômico, o gerenciamento eficaz de resíduos sólidos proporciona inúmeros
benefícios, uma vez que permite que os materiais recicláveis que possuam valor comercial
sejam vendidos nos mercados específicos para cada tipo de material, diminui o
desperdício de matéria prima, reduzindo os custos de produção e ainda permite que os
materiais possam ser reaproveitados em alguns processos. Assim, é possível economizar,
aumentar a qualidade e a visibilidade do produto e até gerar competitividade no mercado.
Já do ponto de vista social, há integração de diferentes esferas da sociedade. Desde a
geração de emprego e renda aos trabalhadores que estão direta e indiretamente ligados às
atividades de prestação de serviços ou indústria de reciclagem até a programas de
educação ambiental, por ONGs e outras organizações que promovem a ética, o
desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente e melhoria da saúde, todos
são beneficiados pela adoção desta medida.
Conforme a PNRS, os resíduos constituem o material, substância, objeto ou bem
descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se
procede, se propõe a proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou
semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades
tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou
exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor
tecnologia disponível.
As Instituições de Ensino Superior (IES), cujas funções são a de formar não só
profissionais, mas cidadãos, por meio de boas práticas de ensino, pesquisa, cultura e
extensão (ANDRADE et al, 2011), se tornam fundamentais no incentivo à aplicação
contínua de ações e práticas sustentáveis criativas, de modo que possam ajudar a
sociedade nos processos adaptativos decorrentes das mudanças climáticas e na busca de
soluções minimizadoras dos atuais e futuros impactos socioambientais.
O principal foco do projeto é propor procedimentos (como diagnóstico dos

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
resíduos, auditorias, avaliação da porcentagem de atendimento à legislação, medidas
corretivas e preventivas, e monitoramento constante), para a aplicação do Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos no Programa de Gerenciamento de Resíduos da
UNESP, campus de Rio Claro/ SP, conforme os itens exigidos pela PNRS. Além disso,
sugere a gestão organizacional das etapas do gerenciamento de resíduos, focando na
obtenção da melhoria da qualidade ambiental, propondo a busca de novas tecnologias e
alternativas para a resolução de problemas identificados em cada tipo de resíduo gerado.
Dessa maneira, o projeto também visa a diminuição dos impactos negativos
socioambientais e econômicos, a educação ambiental na instituição e o envolvimento da
comunidade ao entorno.

2. Materiais e Métodos

O projeto que visa a aplicação do PGR – Plano de Gerenciamento de Resíduos da


UNESP, campus Rio Claro, se baseia no cumprimento da PNRS e no conceito dos 4 R´s
(Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Repensar) para efetivar suas etapas. O Plano está ligado
diretamente ao Programa de Gerenciamento de Resíduos da UNESP (projeto existente no
campus), e está baseado na aplicação do método PDCA que é o ciclo de desenvolvimento
que tem foco na melhoria continua. É constituído pelos seguintes passos: i) Plan
(planejar) estabelecer uma meta ou identificar o problema; ii) Do (executar): realizar,
executar as atividades conforme o plano de ação, iii) Check (verificar): monitorar e avaliar
periodicamente os resultados, iv) Act (agir): agir de acordo com o avaliado e de acordo
com os relatórios, de forma a melhorar a qualidade e a eficiência, aprimorando a execução
e corrigindo eventuais falhas.

FASE A: Etapas realizadas do projeto (MAEDA, 2016)


A Etapa 1 (P – Planejar) : elaboração e aplicação de um check list para diagnóstico
da situação do campus da UNESP (indicadores), com base nas etapas de gerenciamento
dos resíduos sólidos.
A Etapa 2 (D – Fazer): elaboração do documento PGR da UNESP, de acordo com o
Artigo 21 da PNRS, campus Rio Claro/SP, contendo os itens solicitados pela referida lei.
FASE B: Etapas realizadas neste projeto (etapa atual)

A Etapa 3 (C – Checar) é a fase em que se encontra o projeto, e deu-se pela


elaboração da proposta de aplicação e monitoramento do documento PGR – Plano de
Gerenciamento de Resíduos (UNESP, campus Rio Claro), contendo a avaliação da

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
porcentagem de atendimento as legislações aplicáveis a cada tipo de resíduo e dos
indicadores gerais (etapa 1) em todos os setores do campus, com um plano de auditorias
anuais, aplicação de auditoria no campus todo, e propostas de aplicação de ações
corretivas e preventivas.
As auditorias correspondem a uma maneira de avaliar as informações necessárias
para alcançar os objetivos ambientais propostos pela organização e também de controlar
o sistema de gestão ambiental, estabelecendo os objetivos de melhoria, ações corretivas
e preventivas.
Para a realização das auditorias, foi elaborado um checklist semelhante ao
utilizado na Etapa 1, apresentando 3 indicadores principais, sendo estes: Resíduos
gerados por setor; Gerenciamento e Legislação. Cada um desses indicadores é
desmembrado em outros: tipo e quantidade (referentes aos resíduos gerados por setor);
segregação, identificação/armazenamento, tratamento e transporte/destinação final
(referentes ao gerenciamento); lei e descrição (referentes à legislação). O modelo descrito
está esquematizado na tabela 1 a seguir:

TABELA 1- Modelo de checklist referente as auditorias a serem aplicadas em cada setor.


Resíduos gerados/
Gerenciamento Legislação
setor
Transporte/ Descrição
Identificação/
Tipo Quantidade Segregação Tratamento Destinação Lei
Armazenamento
final
1
2
Fonte: elaborado pelos autores.

A Etapa 4 (A – Agir) ainda deve ser realizada, e corresponde à verificação da


documentação final (Plano - Artigo 21 - PNRS) e à gestão que poderá ser implantada e
efetuada na unidade com diretrizes de monitoramento e avaliação do PGR – Plano de
Gerenciamento de Resíduos da UNESP, campus Rio Claro, conforme exigido por lei, e a
proposta de um Manual Guia para Implantação e Gerenciamento dos Resíduos.
As etapas do projeto são descritas a seguir e apresentadas na Figura 1. O foco
principal deste projeto atual é a execução das ações previstas no Programa de
Gerenciamento de Resíduos da UNESP, com base no Plano exigido pelo Artigo 21 da
PNRS e proposição de melhoria organizacional do mesmo, ou seja, continuar com o
projeto (MAEDA, 2016) aplicando as etapas C e A da metodologia PDCA.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

FIGURA 1 - Etapas da metodologia PDCA para aplicação do PGR UNESP - Artigo 21 da Lei 12.305/10
(PNRS). Fonte: Adaptado e Baseado em MORAES; FONSECA, 2014.

3. Resultados

Como descrito na metodologia, este projeto propõe a aplicação e o monitoramento


do Plano de Gerenciamento de Resíduos (UNESP Campus Rio Claro) através da
realização de auditorias, planos e propostas de ações. O projeto está na fase de aplicação
dessas auditorias, portanto ainda não apresenta todos os resultados. Foi realizada a etapa
de revisão bibliográfica, seguida da elaboração de métodos e documentos para a auditoria
e estando na fase de aplicação das auditorias.

No total são 50 setores, sendo 25 no Instituto de Geociências e Ciências Exatas


(IGCE) e 25 no Instituto de Biociências (IB), que estão representados nas tabelas
seguintes:

TABELA 2 – Setores do IGCE para realização das auditorias


Setores IGCE

Departamento Seção de Seção Técnica de Pós-


CEA DEMAC
Geografia Materiais Graduação (STPG)
Departamento da Seção de
Seção Técnica de
CEAPLA DEPLAN Educação Recursos
Graduação (STG)
Matematica Humanos
Seção
Divisão Técnica Departamento da Seção de Atividades
DGA Técnica
Acadêmica (DTA) Matemática Auxiliares
Saúde
Seção de Conservação
Diretoria Técnica de
DPM Moradia STAEPE e Manutenção/
Informática (DTI)
Vigilância
Seção
Diretoria Técnica de Departamento Setor de Técnica
Setor de Transportes
Serviços (Zeladoria) da Física Comunicações Acadêmica
(STA)
Fonte: elaborado pelos autores

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TABELA 3 – Setores do IB para realização das auditorias
Setores IB
Seção de Seção Técnica
Departamento Divisão Técnica
Biblioteca Conservação e de
Educação Acadêmica
Manutenção Contabilidade
Diretoria Técnica Seção de
Departamento
CEIS de Serviços STAEPE Atividades
Ecologia
(DTS) Auxiliares
Seção Técnica
Departamento da Seção Técnica de Seção Técnica
Departamento de Biologia Admnistrativa
Zoologia Materiais de Graduação
RH
Seção Técnica Seção Técnica
Diretoria / Vice Seção Técnica
Departamento Botânica de de Pós-
Diretoria Acadêmica
Comunicações Graduação
Departamento da Dir.
Setor de Seção Técnica
Bioquímica e Administrativa Zeladoria
Vigilância de Finanças
Microbiologia (DTAd)
Fonte: elaborado pelos autores

Até o momento foram realizadas auditorias em 46 setores. Os locais cujo


diagnóstico já foi feito estão destacados em vermelho nas tabelas 2 e 3. Alguns exemplos
das auditorias já aplicadas, incluindo tipo de resíduo, quantidade e legislação aplicável,
podem ser observados nas tabelas 4, 5 e 6 abaixo:

TABELA 4 - Auditoria PGR/ UNESP- RC – Ceapla.


CEAPLA
Legislação
Resíduos Quantidades
Lei Descrição
Orgânico Art. 36 da Institui sistemas de compostagem para resíduos sólidos
10,75 Kg/
(bnaheiro + Lei orgânicos e articulação com os agentes econômicos e
semana
cozinha) 12305/10 sociais formas de utilização do composto produzido
Recicláveis Institui a separação dos resíduos recicláveis
(papel + 7,3 Kg/ semana Decreto descartados pelos órgãos e entidades da administração
plásticos) Federal pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a
5.940/2006 sua destinação às associações e cooperativas dos
Papelão 900 g/ semana catadores de materiais recicláveis, e dá outras
providências.
Estabelece os limites máximos de chumbo, cádmio e
mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no
Pilhas 2 un/mês CONAMA território nacional e os critérios e padrões para o seu
401/2008 gerenciamento ambientalmente adequado, e dá outras
providências.
Cartuchos 1/mês Obrigação em estruturar e implementar sistemas de
Art. 33 da logística reversa, mediante retorno dos produtos após o
Lei uso pelo consumidor, de forma independente do serviço
Lixo Eletrônico Acumulado 12.305/10 público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos
sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes de equipamentos eletroeletrônicos.
Fonte: elaborado pelos autores

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
TABELA 5 - Auditoria PGR/ UNESP-RC - Biblioteca
BIBLIOTECA
Legislação
Resíduos Quantidades
Lei Descrição
Institui sistemas de compostagem para
Art. 36 da resíduos sólidos orgânicos e articulação
Orgânico (copa e banheiros) 8 Kg/semana Lei com os agentes econômicos e sociais
12.305/10 formas de utilização do composto
produzido
Recicláveis (papel e plástico) 4 Kg/semana Institui a separação dos resíduos
Decreto recicláveis descartados pelos órgãos e
Papéis (revistas, apostilas, Federal
300Kg/6 meses entidades da administração pública
documentos) 5.940/2006 federal direta e indireta, na fonte
geradora, e a sua destinação às
associações e cooperativas dos catadores
Jornal 1 caixa/mês
de materiais recicláveis, e dá outras
providências.
Estabelece os limites máximos de
CONAMA chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas
401/2008 e baterias comercializadas no território
Pilhas 3Kg/mês
nacional e os critérios e padrões para o
seu gerenciamento ambientalmente
adequado, e dá outras providências.
Fonte: elaborado pelos autores.
TABELA 6 - Auditoria PGR/ UNESP-RC - Restaurante Universitário.
RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO
Legislação
Residuos Quantidades
Lei Descrição
Institui sistemas de compostagem para
Art. 36 da resíduos sólidos orgânicos e articulação
Orgânico 222,5Kg/semana Lei com os agentes econômicos e sociais
12.305/10 formas de utilização do composto
produzido
Recicláveis (lata de
alumínio, garrafas e 5,25 Kg/semana
embalagens plásticas) Institui a separação dos resíduos
Papelão 10Kg/mês recicláveis descartados pelos órgãos e
Decreto entidades da administração pública federal
Galões de plástico de
Federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua
embalagem de produto 1 un (1,2 Kg)/ mês
5.940/2006 destinação às associações e cooperativas
de limpeza
dos catadores de materiais recicláveis, e dá
Vidros (embalagens de Aproximadamente outras providências.
cogumelo e palmito) 11 unidades/ 15 dias
Papel (guardanapos,
13 Kg/semana
tickets)
Obrigação em estruturar e implementar
sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo
Art. 33 da
consumidor, de forma independente do
Óleo 30litros/20 dias Lei
serviço público de limpeza urbana e de
12.305/2010
manejo dos resíduos sólidos, os
fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes de óleos lubrificantes.
Fonte: elaborado pelos autores.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
4. Discussão
Como não concluiu-se ainda a realização das auditorias em todos os setores, o
projeto apresenta apenas resultados parciais, pois ainda não há dados suficientes para
comparar com o diagnóstico realizado anteriormente.
Entretanto, com as auditorias já aplicadas foi possível perceber que a universidade
produz uma grande quantidade e variedade de resíduos, destacando-se assim, a
importância de se realizar um gerenciamento adequado desses resíduos. É essencial que
esse diagnóstico seja feito para que se proponha medidas eficazes a serem implantadas
em todos os setores, permitindo a adequação à legislação, diminuição dos impactos
negativos que podem sem gerados, promovendo a participação e integração de alunos,
funcionários, professores e da comunidade externa.
Quando todos os setores forem diagnosticados, será possivel processar os dados,
principalmente em relação à quantificação, e assim, verificar se houve mudanças, e propor
as medidas corretivas e preventivas para melhoria contínua e efetiva implantação do
Plano de Gerenciamento de Resíduos.

5. Conclusão
O projeto ainda está em andamento, mas mesmo não tendo todos os resultados é
importante ressaltar sua importância. É fundamental que o diagnóstico dos resíduos seja
realizado antes de qualquer ação a ser implantada, pois permite uma visão e conhecimento
da situação em que a UNESP se encontra, e permite a identificação dos problemas. Dessa
maneira, é possível aplicar as medidas ideais para a implementação do Plano de
Gerenciamento de Resíduos. Além disso, pode-se concluir que esse plano deve ser
constantemente monitorado para uma avaliação da situação dos resíduos, buscando
sempre o atendimento a legislação e melhorias ambiental, social e econômica contínuas.

6. Agradecimentos
O projeto de pesquisa tem o apoio financeiro do CNPq como bolsa de iniciação
científica (PIBIC). Ele também é apoiado pelo grupo de pesquisa do PGR- Programa de
Gerenciamento de Resíduos da Unesp de Rio Claro, sendo uma pesquisa componente
desse Projeto de Extensão.

7. Referências Bibliográficas
ANDRADE, V. H. V. P.; DEAJUTE, T. C.; MEIRA, A. M.; MORAES, C. S. B.
Adequação Ambiental: uma proposta participativa para Departamento em Instituição de
Ensino Superior. In: Anais do 26º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Ambiental. Porto Alegre/ RS, 2011.
BRASIL. Lei n 12.305 de 02 de Agosto de 2010. Política Nacional dos Resíduos
Sólidos. Brasília/ DF, 2010.
MAEDA, A. Y. Diretrizes para Elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos
da UNESP (Campus Rio Claro) baseado na Lei 12.305/10 – Política Nacional de
Resíduos Sólidos. Projeto de Pesquisa - Iniciação Científica – PIBIC/ IGCE/ UNESP,
2016.
MORAES, C. S. B.; FONSECA, J. C. L. Manual para o Plano de Gerenciamento de
Resíduos da UNESP (PGR UNESP). IGCE, UNESP, 2014. (projeto de pesquisa).
MORAES, C. S. B.; MAEDA, D. Y.; SILVA, A. I.; LIMA, S. C. S.; PINTO, W. L. H.
Diagnóstico e Propostas de Diretrizes para o Plano de Gerenciamento de Resíduos do
IGCE da UNESP. In: Anais do XVII ENGEMA - Encontro Internacional sobre
Gestão Empresarial e Meio Ambiente. São Paulo, 2015

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Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISE DO MODELO DE GESTÃO DE RESÍDUOS DA


CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO-SP

Silva, L. A.1
Castro, M. C. A. A. 2
1
Autor,Universidade de Araraquara (Uniara, leandroarquitetura@gmail.com)
2
Orientador, Professor adjunto da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita
Filho UNESP [mccastro@rc.unesp.br]

Resumo: A indústria da construção civil é hoje responsável por setores como


infraestrutura, transportes, saneamento básico, planejamento urbano, além da construção
de edifícios destinados a várias atividades e operações, atendendo sempre às necessidades
e anseios da sociedade contemporânea. A gestão de resíduos da construção civil é
considerada uma prática de grande importância para o meio ambiente, seja atenuando o
impacto ambiental gerado pelo setor, ou adotando soluções mais eficazes no canteiro de
obras, transporte ou destinação adequada dos resíduos. Cabe destacar a realização de um
estudo analítico da cadeia produtiva utilizada predominantemente pelo modelo atual das
construtoras, tendo como ênfase o tratamento dos resíduos sólidos gerados devidos à
intensiva atividade exercida pelo setor. O presente trabalho tem como objetivo promover
a discussão da origem e os fatores que contribuem para a elevada geração de resíduos e
seu impacto direto sobre o meio ambiente, focando a gestão dos resíduos de construção
civil em São José do Rio Preto/SP, classificando-os e quantificando-os até a sua
destinação final, assim como realizar uma análise sistêmica do potencial de reuso e
possibilidade de aprimoramentos dentro de pontos chaves da gestão integrada.
Palavras-chave: Construção Civil; Gestão; Meio Ambiente; Resíduos.

1. Introdução

Dentro do contexto histórico brasileiro, podemos observar um grande aumento na


produção de resíduos, causado pelo aumento do consumo de materiais e pela baixa
qualificação profissional empregada no setor, principalmente nos empreendimentos
habitacionais.
Para Karpinsk (2009), a construção civil hoje é responsável por uma quantidade
considerável de resíduos depositados em encostas de rios, vias e logradouros públicos,
criando locais de deposições irregulares nos municípios. Além de comprometerem a
paisagem urbana, esses resíduos invadem pistas, dificultando o tráfego de pedestres e de
veículos, como também a drenagem urbana. Outro ponto de contexto negativo ocorre na
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
ligação existente entre os resíduos não inertes e o aumento de vetores de doenças e
degradação das áreas urbanas, prejudicando a vida da sociedade como um todo. Dentro
dessa realidade percebemos a significativa magnitude da atividade na esfera pública, e o
seu impacto ambiental devido a quantidade de recursos naturais utilizados.
A cidade de São José do Rio Preto/SP, é a sede da 8ª região administrativa do
estado de São Paulo e está situada na região norte do estado e Sudeste do Brasil (Latitude
20º49’11” Sul e Longitude 49º22’46” Oeste) distando 451 km da capital do Estado.
Possui área total de 431,30 km² e área urbana de 135,01 km². Faz divisa ao Norte com os
municípios de Onda Verde e Ipiguá, ao Sul com os municípios de Cedral e Bady Bassit,
a Leste com o município de Guapiaçu e a Oeste com o município de Mirassol conforme
é apresentado na figura 1. É a maior cidade do norte do Estado, com economia baseada
no comercio, indústria, agricultura e prestação de serviços (SÃO JOSÉ DO RIO PRETO,
2016).

2. Caracterização da área de estudo

FIGURA 1 – Mapa de localização do município. Fonte: adaptado de (PMSJRP, 2016).

A cidade possui uma população estimada de 446.649 habitantes (IBGE, 2017),


204.269 imóveis e uma estimativa de 3.407 alvarás de construção emitidos no ano de
2015, isso corresponde a 978.531,51 m² de área construída e aprovada pela Secretaria
Municipal de Obras (SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, 2016, p. 23).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2.1 Legislação aplicada ao setor de resíduos da construção civil

O município de São José do Rio Preto/SP regulamenta a questão do resíduos da


construção civil através das leis Municipais nº 17.743/2017, nº 9.393/2004 e do Decreto
Municipal nº 12.765/2005.
•Lei Municipal nº17.743 de março de 2017 – Nomeia os integrantes para compor o
Grupo Gestor dos Resíduos Sólidos, nos termos da Lei n° 10.263, de 22 de dezembro de
2008.
•Lei Municipal nº 9.393 de dezembro de 2004 – Define os agentes e delega suas
atribuições, objetivos e responsabilidades para com a gestão dos resíduos no município,
institui o sistema para gestão sustentável de resíduos da construção civil e resíduos
volumosos, determina a destinação adequada de acordo com a natureza do resíduo,
disciplina e orienta os geradores e por fim, fiscaliza e penaliza os infratores que não se
adequarem a legislação.
•Decreto Municipal nº 12.765 de abril de 2005 – Regulamenta a lei municipal
anterior. Define que as áreas de reciclagem de resíduos da construção civil, são locais
destinados ao recebimento e transformação de resíduos da construção civil classe A, já
triados para produção de agregados reciclados, e ainda deverão atender às especificações
da norma NBR 15.114/2004 – Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem
– Diretrizes para projeto, implantação e operação. Esse Decreto ainda aborda o Plano de
Gestão de Resíduos da Construção Civil (PGRCC).
Além dos três dispostos legais mencionados, o municípios tem como base a
resolução nacional nº 307/2002 do CONAMA e suas resoluções complementares.

2.2 Gestão dos Resíduos da Construção Civil

Atualmente, para o preenchimento do Plano de Gerenciamento de Resíduos da


Construção Civil (PGRCC), o gerador deverá realizar um cadastro prévio dentro da
plataforma criada pela CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo)
chamada de SIGOR (Sistema Estadual de Gerenciamento Online de Resíduos Sólidos).
Esse documento busca diagnosticar e remediar o problema de resíduos da
construção civil contido em cada obra realizada na cidade abordando os seguintes
aspectos:
1-Estimativa de quais classes de resíduos da construção civil serão gerados;
2-Qual o volume de resíduos da construção civil será gerado;

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
3-Quais ações de redução de geração de entulho serão tomadas;
4-Quais destinações finais ambientalmente corretas serão acolhidas para o entulho
gerado.
Após o processo de aprovação do Alvará junto à Secretaria Municipal de Obras,
o responsável técnico será autorizado a iniciar a etapa de execução da construção ou
reforma da edificação. O município determina que os geradores destinem seus resíduos
de maneira adequada de acordo com o volume transportado. Os pequenos geradores
poderão destinar seus resíduos aos ecopontos desde que o volume transportado não
ultrapasse 1m³. Os 16 ecopontos do município realizam sua triagem e destinação através
do auxílio do funcionário responsável, esse que é subordinado a secretaria de serviços
gerais do município , já os volumes acima de 1 m³. Deverão ser obrigatoriamente
transportados por uma empresa licenciada pelo município e destinada a uma área de
transbordo e triagem particular, independentemente do tipo de gerador.

FIGURA 2 – Destinação dos resíduos em S.J.Rio Preto/SP Fonte: adaptado de (PMSJRP, 2017).

O gerador de grande volume deverá durante a construção recolher sua via de


Controle de Transporte de Resíduos, conhecidos como CTR. Serão emitidas 3 vias desse
controle para cada caçamba coletada pela transportadora contendo resíduos da construção
civil, sendo uma via do motorista, uma da área de transbordo e triagem e uma via do
proprietário. Esse documento deverá ter seu preenchimento realizado pelo agente
responsável pelo transporte, constando dados do transportador, gerador, dados sobre a
destinação final dos resíduos da construção civil, data, assinaturas do transportador, do
gerador, do destinatário com carimbo do recebimento no destino.

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FIGURA 3 – Controle de Transporte de Resíduos. Fonte: (SINDUSCON-SP, 2012)

O gerador de grandes volumes, após a conclusão da obra deverá junto ao


profissional responsável realizar dois processos técnicos, o alvará de conclusão de obra e
auto de conclusão de obra, ou popularmente conhecido como habite-se. Esse último
procedimento nada mais é do que uma certidão expedida pela Secretaria Municipal de
Obras atestando que o imóvel está pronto para ser habitado e seguiu durante seu processo
de construção ou reforma todas as exigências legais solicitadas pelo município.
Podemos destacar entre as exigências legais solicitadas pelo município para
realização dos dois processos técnicos, a adequação da edificação de acordo com o código
de obras e o recolhimento do controle de transporte de resíduos (CTRs), que deverá ser
apresentado de maneira individual para cada caçamba recolhida pela empresa de
transporte licenciada.

2.3 Investigação das práticas de gestão

Uma investigação das práticas de gestão adotadas no município permitiu ter


contato direto com os sujeitos envolvidos no processo gestão dos resíduos da contrução
civil, como o gerador, secretarias gestoras, cooperativas, estrutura física e operacional.
As pesquisas de campo foram divididas em duas etapas permitindo uma compreensão
inicial do local de estudo e posterior investigação da atual questão dos resíduos da
contrução civil no município de São José do Rio Preto/SP.
Em uma primeira etapa foram realizadas visitas para estabelecer o primeiro
contato junto as secretarias do núcleo de gestão do equipamento público (Meio Ambiente
e Urbanismo, Obras, Serviços Gerais e Trânsito), ecopontos, áreas de transbordo e

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
triagem, aterro, usinas e central de reciclagem, onde encontra-se a usina de
beneficiamento e reciclagem dos resíduos da construção civil municipal. Essas visitas
tiveram como objetivo analisar o panorama geral dos agentes envolvidos no processo de
gestão de resíduos do município de São José do Rio Preto/SP.

FIGURA 4 – Organograma de análise da gestão. Fonte: adaptado de (PMSJRP, 2017).

Numa segunda etapa, foram levantados os dados utilizados no desenvolvimento


do presente trabalho. Esse levantamento foi feito através de observação direta do autor e
através de pesquisas nos documentos internos dos diversos agentes envolvidos na gestão
de resíduos da constução civil do município conforme estabelecido pelo Plano Integrado.
Nesta etapa também foram realizadas entrevistas com os agentes diretamente
relacionados com as etapas do diagnóstico presente no trabalho e documentos
fotográficos que permitam a coleta de dados. O objetivo deste levantamento de dados foi:
•Compreender o processo histórico até a implantação do Plano de Gestão de
resíduos da construção civil no município;
•Investigar qual é a dimensão da estrutura física e operacional criada para a Gestão
dos resíduos da construção civil no município – Equipamentos, ecopontos, áreas de
transbordo e triagem (ATTs), central de reciclagem;
•Investigar o funcionamento e aplicabilidade do Plano de Gestão de resíduos da
construção civil no município junto aos principais geradores de resíduos da construção
civil de iniciativa privada – Sistema construtivo predominantemente tradicional e sistema
construtivo predominantemente racionalizado.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.

•Investigar as práticas de gestão de resíduos por parte do gerador que contribuam


para a redução do impacto causado ao meio ambiente.
•Identificar os possíveis entraves existentes no atual modelo do Plano de Gestão de
resíduos da construção civil no município – Elementos analisados: Fragilidade legal,
instalações físicas, equipamentos, treinamento e capacitação profissional, custos
operacionais, manutenção, fiscalização, entre outros.

2.4 Processo histórico dos Resíduos da Construção Civil no município

No ano de 1997 a prefeitura de São José do Rio Preto/SP chegou a estimar 1431
áreas de descarte irregular dentro do município, conhecidos como “bota fora” (PINTO,
1999, p. 47). Após o levantamento desse diagnóstico, a prefeitura tomou iniciativas para
buscar alternativas de destinação adequada aos resíduos que segundo Silva (2012), eram
dispostas em terrenos baldios, fundos de vales e até áreas de proteção permanente, como
beira de córregos.

FIGURA 5 – Pontos de Descarte / Definição de bacias de captação. Fonte: (PINTO, 1999).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Após o diagnóstico realizado pelo município, ficou evidenciado quais pontos
possuíam maiores concentrações de descarte irregular. Foram montadas inicialmente
estruturas de madeira nos pontos evidenciados que pudessem receber e dar uma
destinação adequada a esses resíduos. Já em 2004, após um levantamento municipal, ficou
evidenciada a eficiência dos Ecopontos dentro do município, cabendo então aos gestores
naquele momento providenciar adequações que atendiam as recomendações do
Ministério das Cidades e Meio Ambiente, como instalação de alambrados e colocação de
caçambas para deposição dos materiais (SILVA, 2012, p. 43-45).
Atualmente o município conta com 16 ecopontos criados pela Prefeitura
Municipal para a captação de pequenas quantidades de RCC e programas de coleta
seletiva. A secretaria de Serviços Gerais do Município destina um profissional
responsável em cada ecoponto para realizar a administração, manutenção e triagem dos
resíduos, cabendo a mesma ainda elaborar mensalmente para cada um dos pontos de
apoio, relatórios de volume recebido e quantidade e tipos de resíduos já triados conforme
estabelece o Decreto Municipal nº 12.765/2005.

2.5 Morfologia Urbana dos Resíduos da Construção Civil

FIGURA 6 – Usinas de reciclagem, ATTS e Ecopontos. Fonte: adaptado de (SMURB, 2017).

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O levantamento das informações apontadas no capítulo anterior permitiram
compreender a morfologia urbana dos Resíduos da Construção Civil na cidade de São
José do Rio Preto-SP. A morfologia é considerada dentro do estudo urbano como a forma
e a transformação da cidade como um plano vivo.
São José do Rio Preto-SP conta hoje com 16 ecopontos, 10 áreas de transbordo e
triagem, 3 usinas de beneficiamento e reciclagem, 1 central de galhos conforme pode ser
visto na figura 6.

3. Considerações Finais

A partir dos resultados preliminares do levantamento da morfologia urbana dos


resíduos da construção civil no Município de São José do Rio Preto-SP, foram
identificados pontos como, centrais de reciclagem e beneficiamento (municipal e
particulares), áreas de transbordo e triagem, 16 ecopontos espalhados pela malha urbana,
uma central para recebimentos de galhos administrada pelo município e um aterro de
iniciativa particular destinado ao recebimento dos resíduos da construção civil.
O presente trabalho ainda busca utilizar os resultados do diagnóstico da Gestão
dos Resíduos no município, propor uma alternativa que busque reduzir os entraves
existentes dentro do sistema de coleta dos resíduos, através do uso de aplicativos de
disque-denúncia ou implantação de um sistema de fiscalização dos transportadores
cadastrados no município em tempo real.

4. Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15114/2004 -


Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem – Diretrizes para
projeto, implantação e operação.Rio de Janeiro, 2004.
BRASIL. Resolução no 307, de 5 de Julho de 2002.Ministério do Meio
Ambiente.Distrito Federal, 2002.
IBGE. Informações Estatísticas - São José do Rio Preto/SP. Disponível em:
<http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=354980&search=sao-
paulo%7Csao-jose-do-rio-preto>. Acesso em: 28 maio. 2017.
KARPINSK, L. A. et al. Gestão diferenciada de resíduos da construção civil - uma
abordagem ambiental. 1. ed. Rio Grande do Sul: EDIPUCRS, 2009.
LEITE, A. D. A economia brasileira : de onde viemos e onde estamos. 2. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2011.
PINTO, T. DE P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da
construção urbana. Tese (Doutorado em Engenharia Civil)—São Paulo: Escola
Politécnica, 1999.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
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José do Rio Preto, 2004.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. Decreto no12.765 2005 de 8 de abril de 2005São José do
Rio Preto, 2005.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. Conjuntura Econômica 2016 São José do Rio Preto-
SP. 31. ed. São José do Rio Preto: Secretaria Municipal de Planejamento Estratégico,
Ciência, Tecnologia e Inovação., 2016.
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. Decreto no 17.743 de 30 de Março de 2017São José do
Rio Preto, 2017.
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resíduos sólidos urbanos: estudo de caso de São José do Rio Preto / SP. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Urbana)—São Carlos: Universidade Federal de São Carlos,
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Construção Civil. Disponível em: <http://pcc2302.pcc.usp.br/textos>. Acesso em: 30
set. 2016.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISE DE ALCANCE POPULACIONAL E GERAÇÃO DE


RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL DAS BACIAS DE
CAPTAÇÃO DOS PONTOS DE ENTREGA VOLUNTÁRIA DE RIO
CLARO - SP

Carita, Vitor B.1; Blasius, Jandir P.2; Castro, Marcus C. A. A.2

1
Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”; caritageog@gmail.com
2
Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Resumo: Os geradores de pequenos volumes de resíduos da construção civil (RCC) são


responsáveis por 59% do total do volume gerado de RCC em um município. A gestão
dstes resíduos é de responsabilidade da prefeitural municipal, através da implantação de
pontos de entrega voluntária (PEV’s) ou ecopontos. Para avaliar a efetividade destes
pontos foi desenvolvido o conceito de bacias de captação, ou seja, uma área ao redor do
ponto em que o alcance de atração dos resíduos é otimizada. Para analisar os Pev’s do
municipio de Rio Claro – SP foi utilizado o software QGIS 3.0.2, e para cacular o alcance
e a população atendida foram utilizadas as ferramentas de buffer e calculadora de campo.
Concluiu-se através destas análises que o sistema de gestão de pequenos volumes do
municipio de Rio Claro esta defasado pois atinge apenas 23% da área urbana e 35% da
população.
Palavras-chave: Ecoponto; Gestão; Pública; SIG.

1. Introdução

O setor de construção civil é responsável por 50% do volume de resíduos gerados


em um município (BRASIL, 2015) e é a indústria que mais consome matérias-primas,
com até 75% dos materiais e matérias-primas produzidos no país (JOHN, 2000).
Os geradores de Resíduos da Construção Civil (RCC) e sua respectiva
participação no volume gerado, são: (i) executores de reformas e demolições (59%); (ii)
construtores de novas residências (20%); (iii) construtores de novas edificações (21%)
(BRASIL, 2010b). É de responsabilidade destes geradores a destinação correta dos
resíduos, cabendo as punições necessárias no caso de descumprimento da legislação
vigente (BRASIL, 2010a). Porém, no caso de geradores de pequenos volumes a
contratação de caçamba estacionárias se torna muito onerosa para o volume gerado, de
forma que estes acabam descartando por conta ou contratam pequenos transportadores
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(carroceiros) que retiram o entulho do local, sendo que geralmente o resíduo é descartado
em locais irregulares.
Cabe ao poder público disciplinar, regulamentar e fiscalizar as atividades dos
atores responsáveis pelas atividades da gestão dos RCC (BRASIL, 2010a). Além disso, é
papel do poder público criar instrumentos e estruturas de limpeza pública que permitam
aos pequenos geradores darem uma destinação aos seus resíduos em condições
ambientalmente e socialmente adequadas (CONAMA, 2002).
A coleta de pequenos volumes é um serviço público representado pelos Pontos de
Entrega Voluntária (PEV’s) ou Ecopontos. Nestes pontos são permitidos o descarte de
até 1m³/hab, além do descarte de outros materiais, como os recicláveis e resíduos de
logística reversa. Devem ser organizados de forma a atrair a maior quantidade possível
de resíduo e atender a maior população possível através de pontos estratégicos e
estabelecidos de acordo com bacias de captação (PINTO; GONZÁLES, 2005).
Estabelecidas de acordo com as características anteriormente citadas, as bacias de
captação são um instrumento que possibilitam a eficiência de atração dos resíduos,
gerando intensa redução de deposições irregulares e de áreas deterioradas. Os locais
estabelecidos tendem a funcionar como “ralos” captores de resíduos, mas para que com
plenitude e sejam realmente eficientes é necessário uma participação efetiva dos gestores
da administração pública (PINTO, 2000).
Desta forma, a presente pesquisa busca responder, através de uma análise das suas
bacias de captação com métodos de SIG, se os PEV’s do município de Rio Claro – SP
atendem toda a população, e busca também estimar uma taxa de geração de pequenos
volumes.

2. Materiais e Métodos

A presente pesquisa pode ser definida como um estudo de caso exploratório, pois,
segundo Yin (2001), estes são estudos que investigam um fenômeno dentro de seu
contexto de realidade. Além disso, é exploratório pois busca uma visão geral, visto que o
tema escolhido ainda foi pouco explorado.
O município de Rio Claro localiza-se a 22º24′39” de latitude sul e 47º33′39”
de longitude oeste, na Região Centro-Leste do estado de São Paulo, a 190 km da capital.
Rio Claro faz limite ao norte com Corumbataí e Leme, ao Sul com Piracicaba, à Leste,
Araras e Santa Gertrudes e à Oeste com lpeúna e ltirapina.
A pesquisa foi delimitada pela análise das bacias de captação dos PEV’s do

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
município de Rio Claro e seu impacto na gestão dos pequenos volumes de RCC gerados
pela população. As bacias de captação devem levar em conta a capacidade de
deslocamento dos pequenos geradores, algo entre 0,5 e 2,5 km (BRASIL, 2010b). Para
esta pesquisa, foram definidas como tendo um limite de alcance de 1km. Esta distância
foi escolhida porque é o que os funcionários do PEV consideram como a distância média
percorrida pelos usuários.
Foi realizada uma pesquisa documental para obter as legislações pertinentes ao
setor de resíduos da construção civil no município. Já os dados sobre a geração e gestão
de resíduos no município foram obtidos a partir de pesquisa de campo e aplicação de
questionários.
Para analisar o impacto das bacias foram utilizados como base de cálculo os
setores censitários do IBGE (2010b), que forneceram também os dados sobre a população
de cada setor. Para realizar estas análises, os dados obtidos através dos bancos de dados
do IBGE (mapa base dos setores e dados de população) foram inseridos no software QGIS
3.0.2. Foram então calculadas as áreas de cada setor e sequencialmente a densidade
populacional, através da ferramenta “tabela de atributos – calculadora de campo”.
Em seguida foram inseridos os pontos de localização dos PEV’s do Município
através de informações obtidas com a prefeitura municipal. A partir destes pontos, foram
calculadas as bacias de captação usando a ferramenta “Vetor – Geoprocessamento -
Buffer” utilizando o valor de “1000” no campo “Distância”.
Por fim, foi realizada uma análise de intersecção (ferramenta “Vetor –
Geoprocessamento – Intersecção”) entre o buffer da bacia de captação e os setores
inseridos nela. A partir disto foram calculadas as novas áreas atingidas pela bacia, e
calculadas a população atendida através da multiplicação desta nova área pela densidade
populacional de cada setor, calculada anteriormente.
Para calcular a taxa de geração dos pequenos geradores foi obtido o volume médio
mensal de RCC descartado pelos PEV’s. Então este valor foi multiplicado pelo peso
específico do material (1300kg/m³) e então dividido pela população atingida pelas bacias
de captação.

3. Resultados

O município de Rio Claro possui 79,76 km² de área urbana, em um total de


aproximadamente 500 km². A população estimada para o ano de 2017 é de 202.950
habitantes (IBGE, 2017), com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de R$

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
42.663,58- com um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,803 (IBGE, 2010a).
A densidade populacional média dos setores censitários fica em 4973,68hab/km²,
com uma média de 690 habitantes por setor (Figura 2). Os setores censitários são áreas
de levantamento cadastral com número de domicílios e residentes que permitam o
levantamento por um recenseador, de maneira que suas formas e dimensões variam.

FIGURA 11 - Mapa de Densidade Populacional por Setor Censitário em Rio Claro - SP. Dá um espaço
após a legenda
A geração total de RCC descartados de forma regular no município gira em torno
de 8970m³/mês, dos quais 2860m³ são descartados nos PEV’s, 3000m³ na Área de
Trasbordo e Triagem, 1800m³ na Usina de Beneficiamento de RCC, e 1310m³ no Aterro
de Inertes. Além destes, são recolhidos aproximadamente 660m³/mês de RCC
descartados irregularmente em pontos variados do município, porém este valor não
corresponde ao total descartado de forma irregular, mas apenas ao coletado pela
prefeitura, visto que a prefeitura não consegue realizar a limpeza de todos os pontos
irregulares ao mesmo tempo.
No município de Rio Claro existem atualmente 6 PEV’s implantados pela
prefeitura e administrados por uma empresa privada, a mesma que realiza a coleta dos
resíduos e administra o aterro. Os PEV’s foram instituídos em antigos locais de descarte
irregular de resíduos, de forma a aproveitar uma área já impactada. Os PEV’s e sua

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
localização são apresentados a seguir:
- Ecoponto Jardim São Paulo (Rua 1B JS, entre as Avenida 26 e 28);
- Ecoponto Cervezão (Rua 6 com Avenida M21);
- Ecoponto São Miguel (Avenida 64A com anel viário);
- Ecoponto Jardim Palmeiras (Avenida 3-JP ao lado da ETE Palmeiras);
- Ecoponto Jardim Santa Elisa (Avenida 54 com a rua 27-JF);
- Ecoponto Jardim Inocoop (Final da Avenida Tancredo Neves, próximo a rodovia
Fausto Santo Mauro).
O custo médio de gestão e manutenção de cada PEV é de R$12.077,06/mês, para
um total de R$72.462,38/mês. Este custo corresponde a 38,2% do total expendido com
gestão de resíduos no município.
Os materiais descartados são destinados de acordo com seu tipo, por exemplo: os
materiais recicláveis como papel, plástico, papelão e vidros são coletados pela
Cooperativa Cooper Viva; os aparelhos eletrônicos são coletados pela Ecovil; e os RCC
são enviados para o aterro onde ficam separados e são usados na pavimentação das vias
rurais.
As bacias de captação dos PEV’s de Rio Claro abrangem uma área aproximada de
18,7 km². Esta área atende uma população de 70.481 habitantes (Tabela 2), e são
localizadas principalmente em áreas de periferia e expansão urbana. O PEV de maior
alcance é o PEV do Cervezão, que atinge uma população de 20.582 habitantes, e fica
localizado numa das áreas de maior adensamento populacional do município.

TABELA 4 - População Atendida por cada PEV

Ecoponto População atendida


Cervezao 20.582
Jd. São Paulo 12.112
Jd. Sta. Elisa 10.101
Jd. São Miguel 11.476
Jd. Inocoop 8.180
Jd. Das Palmeiras 8.030
Total 70481
Fonte: AUTOR

4. Discussão

Apesar das exigências da PNRS e da Resolução CONAMA 307, não há nenhuma


legislação específica para a gestão dos RCC no municipio, que regule o descarte de
pequenos volumes, responsabilidade do poder público municipal. As únicas legislações

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
existentes se referem aos transportadores de RCC, e ao que cabe como punição ao gerador
ou transportador que venha a ser pego descartando em local irregular.
De acordo com um manual publicado pelo Ministério do Meio Ambiente
(BRASIL, 2010b), a infraestrutura mínima para o manejo do resíduo gerado pelo pequeno
gerador deve ser calculada de acordo com a dimensão da sua população. No caso de
municípios com população aproximada de 200 mil habitantes (caso de Rio Claro), é
necessário desenvolver um sistema de gestão com um mínimo de 8 PEV’S, além das
infraestruturas para os grandes geradores.
Neste sentido, o municipio encontra-se abaixo da infraestrutura minima de gestão
dos pequenos volumes, com apenas 6 PEV’s. Além disto, com 1km de bacia de captação
apenas 23% da área urbana do município de Rio Claro é abrangida pelos PEV’s
atendendendo 35% da população (Figura 2). Leva-se em consideração que parte da
população inclusa na bacia não faz uso do PEV, porém parte da população dos entornos
(não inclusas na bacia) fazem uso, de forma que se considera como não tendo influência
nas análises geradas nesta pesquisa.

FIGURA 12 - Bacias de Captação dos PEV's de Rio Claro - SP e Setores Censitários. Fonte: AUTOR

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Apesar disso, o volume de RCC coletado nestes PEV’s é considerável,
aproximandamente 32% do total coletado mensalmente no município. Este valor
corresponde a cerca de 1,7kg/hab/dia, que é um valor razoável comparando-se com os
valores de outros municípios do Brasil, que giram entre 0,6kg/hab/dia e 2,1kg/hab/dia
(PINTO, 2016).
Extrapolando estes valores obtidos para o resto da população (132.469 hab.)
podemos perceber que 225.197 kg de resíduos de construção civil não são coletados
diariamente no municipio por conta da falta de estrutura para os pequenos geradores. Isto
equivale a aproximadamente 38 caçambas de 5m³ de RCC descartados de maneira
irregular
Somando estes valores calculados podemos observar que estes são
aproximadamente 58% do valor total gerado no municipio, o que se assemelha aos valores
considerados na literatura que apresentam que o pequeno gerador é responsável por 59%
de todo o RCC. Estes dados comprovam a teoria de que o pequeno gerador é responsável
por grande parte do resíduo de construção gerado.

5. Conclusões

Desta forma, o sistema de gestão de pequenos volumes do municipio de Rio Claro


está defasado e ineficiente. É necessário que o municipio expanda o setor de forma a
alcançar, se não a totalidade, a maior parte da população. há a necessidade doque o poder
publico desenvolva legislações que facilitem a regulamentação do setor, assim como
preconizado na PNRS.
Além disso, é preciso que sejam desenvolvidas novas áreas de deposição e
beneficiamento deste material. Pois, cabe ao município reduzir o material descartado, não
apenas irregularmente, mas também o regular, além de fomentar o mercado de agregados
reciclados, principalmente através do consumo deste material nas obras públicas, coisa
que não é feita em Rio Claro.
Para os próximos trabalhos é necessário desenvolver análises referentes à renda
da população atingida e a localização dos PEV’s em relação a morfologia do terreno e
aos pontos de descarte irregular conhecidos pelo poder público. Estes estudos permitiram
entender a facilidade de acesso aos PEV’s e auxiliariam na implantação de novos pontos
em relação aos locais de maior necessidade, ou seja, onde há maiores

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Referências

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Providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.html>. Acesso em Jun. 2017.
BRASIL – Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente
Urbano. Manual para Implantação de Sistema de Gestão de Resíduos de
Construção Civil em Consórcios Públicos. Brasília, 2010. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/srhu_urbano/_arquivos/4_manual_implantao_siste
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BRASIL – Ministério do Meio Ambiente. Cidades Sustentáveis – Urbanismo
Sustentável – Construção Sustentável. 2015. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/urbanismo-
sustentavel/constru%C3%A7%C3%A3o-sustent%C3%A1vel>. Acesso em Mar. 2018.
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente (2002). Resolução Nº 307, de 5 de
julho de 2002. Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Habitação. Publicada no
Diário Oficial da União em 17/07/2002.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
www.ibge.gov.br/censo2010. Rio de Janeiro, 2010. Acesso em Mar. 2018.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
https://censo2010.ibge.gov.br/sinopseporsetores/. Rio de Janeiro, 2010. Acesso em
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da População Pesidente no Brasil e Unidades da Federação com Data de Referência em
1º de julho de 2017. Rio de Janeiro, 2017. Disponível em:
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metodologia de pesquisa e desenvolvimento. São Paulo, 2000. 102p. Tese (livre
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YIN, R. Estudo de caso: Planejamento e Métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001. 2ª
edição.

581
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

CARACTERIZACIÓN DE LA POBLACIÓN RECICLADORA


PARA LA INCLUSIÓN SOCIAL EN LA CIUDAD DE MONTERÍA,
CÓRDOBA

Viviana Cecilia Soto Barrera1, Angelica Bustamante Ruiz2,


Harold Andrés Ramos Mooffarrij 3 & Juan Carlos Garrido Machado4

1,2,3,4
Universidad de Córdoba. Departamento de Ingeniería Ambiental Montería,
Colombia.
1 2
vcsoto@correo.unicordoba.edu.co, angelicabustamante@correounicordoba.edu.co
3
hramosmooffarrij73@correo.unicordoba.edu.co,4jgarridomachado62@correo.unicord
oba.edu.co

Resumen: El proyecto de investigación realizado por la Universidad de Córdoba, tiene


como propósito fundamental, caracterizar la población recicladora de oficio de la ciudad
de Montería, Córdoba y establecer medidas de fortalecimiento de la actividad de
aprovechamiento de residuos sólidos como mecanismo de empoderamiento ambiental y
mejora de su bienestar laboral. Esta investigación es de tipo descriptivo y propositivo en
el cual se desarrolló un censo que permitió establecer su composición y estructura en
función de variables demográficas, sociales, económicas y de mercado de los 172
recicladores de base identificados. Los datos obtenidos sugieren la necesidad de fortalecer
la Asociación y conformación de organizaciones de recicladores de base, para poder gozar
de las acciones afirmativas a que tienen derecho constitucionalmente, como también, se
definen las acciones necesarias para la inclusión social de esta población como el eslabón
más importante en la cadena del reciclaje.

1. Introducción

A nivel mundial la tendencia de la producción de Residuos Sólidos Urbanos


(RSU), está creciendo, en promedio se estima que en el 2025 cada una de las personas
producirá 1,42 Kg de basura al día, más del doble de los producido hoy (0,64 Kg). Para
América Latina y el Caribe (ALC), el Banco Mundial proyecta que la generación de RSU
pasará de los 130 millones de toneladas que se produjeron en el 2012, a 220 millones de
toneladas en el 2025 (Residuos, 2016). Por su parte en Colombia, de los 32.024 Toneladas
diarias que se generan a nivel nacional, se reciclan 6.025 toneladas diarias de los cuales
el 52% (3.161 toneladas diarias) es recuperada (Ferrer, 2015).
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En ALC, es a partir de los años ochenta que diversas cooperativas y otras formas
de asociación comenzaron a florecerse en la región, (Terraza & Sturzenegger, 2010) y
gracias a los movimientos sociales ha generado la conformación de leyes reguladoras en
torno al reciclaje. (Correa Herrera & Cumbe Juela, 2015). El reciclaje no es una actividad
nueva, surge con el crecimiento de las principales urbes de Colombia en la década de
1950 (Parra, 2015) y no es sólo el proceso de ampliar el ciclo de vida de los materiales,
es optimizar los recursos naturales, es también un negocio, una industria (Camilo et al.,
2012). Gracias a la actividad de los recicladores, miles de toneladas de residuos
reciclables dejan de llegar diariamente a los rellenos sanitarios, contribuyendo a la tasa
de reciclaje (Parra, 2015). De acuerdo a (Santos, Macedo, Marques, & Flach, 2016), los
recicladores informales en muchos países de la región y específicamente en Colombia
son percibidos aún como un problema social, sin llegar a recibir reconocimiento a pesar
de los beneficios ambientales, sociales y económicos que su trabajo genera. En Colombia,
existen aproximadamente 50.000 familias que tienen como única fuente de subsistencia
el reciclaje (Ballesteros, Urrego, & Botero, 2008), de las cuales sólo 5% se encuentran
organizadas en cooperativas o precooperativas de acuerdo a estudios realizados en las
principales ciudades del país como Bogotá y Medellín (Históricos et al., 2004). En la
actualidad, no se conoce la dinámica del sector del reciclaje en los municipios menores
por la carencia de registros y atención por parte de las entidades municipales (Corredor,
2010), sin embargo, en la ciudad de Montería se sabe que desde la década de 1990 han
existido una serie de cooperativas de recicladores o recuperadores de las cuales hasta la
actualidad sólo se mantiene la Cooperativa Multiactiva de Servicios Ambientales de
Recicladores de Córdoba E.S.P. (COOPRESCÓRDOBA E.S.P.), fundada en el año de
1997 por los recuperadores que ejercían su labor en el botadero a cielo abierto “El
Purgatorio” de Loma Grande, toda esta población de recuperadores a través de los años
ha sufrido una severa exclusión en todas las esferas sociales y económicas.
Se entiende por exclusión a toda situación que aparentemente sufra una población
que no tiene las garantías sociales para su existencia, (Valdés, 2016), surge siempre
acompañado por otras dos situaciones, que se caracterizan como transitorias, pero que se
intensifican y se perpetúan, que son la desigualdad social y la pobreza (Fagner et al.,
2016) que resulta, no sólo como la carencia de los bienes, de derechos sociales, sino
también como la carencia de reconocimiento social de la actividad que desarrollan grupos
marginados (Claves & Constitucional, 2013), se caracteriza por ser una práctica laboral
individualista y competitiva (La, Ximena, & Malca, 2015).

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Los recicladores trabajan recogiendo, acopiando y comercializando, bajo una
lógica de trabajo informal (Rubio Campos, 2015), es quien menos gana en esta cadena
(Valdés, 2016) y tiende a ser víctima de discriminación por parte de la sociedad,
(Ballesteros et al., 2008).
A nivel local, en el año 2007 se llevó a cabo el proceso de cierre del botadero a
cielo abierto “El Purgatorio”, restringiendo el acceso a 103 recuperadores y sus núcleos
familiares que desarrollaban sus actividades de reciclaje en este lugar. Sin embargo, a
diario muchas personas en la ciudad realizan esta labor, en condiciones inadecuadas de
seguridad y salud. Las personas que llegaban a los grandes centros poblados encontraban
en el reciclaje la mejor oportunidad para subsistir (Corredor 2010; Ministerio de
Vivienda, Ciudad y Territorio 2015).
El proceso de construcción de política pública para la gestión de los residuos, en
el componente de reciclaje inclusivo, debe ser entendido desde la defensa de los
recicladores organizados (RLR, 2017). Es así como mediante Sentencia T 724 de 2003 Y
T-291 de 2009, la Corte Constitucional se ha pronunciado sobre los recicladores de oficio
como sujetos de especial protección constitucional y sobre la necesidad de promover
acciones afirmativas a su favor. El “reciclaje inclusivo” priorizan la recuperación y el
reciclaje, reconociendo y formalizando el papel de los recicladores como actores clave de
dichos sistemas (The Economist Intelligence Unit, 2017).
Según el Articulo 2 Decreto 2981 de 2014 del Ministerio de Vivienda, Ciudad y
Territorio (MVCT), el Reciclador de oficio, es la persona natural o jurídica que se ha
organizado de acuerdo con lo definido en el artículo 15 de la Ley 142 de 1994, para prestar
la actividad de aprovechamiento de residuos sólidos. El reciclador de oficio o “reciclador
de base” se incluye tanto a trabajadores formales como a informales que se dedican a la
recuperación y venta de materiales reciclables [hallables]. (The Economist Intelligence
Unit, 2017).
Bajo este contexto surge la iniciativa de la academia de abordar el proceso de
inclusión como un reconocimiento al aporte ambiental y la reducción de la vulnerabilidad
del reciclador de oficio de la ciudad de Montería que tuvo como objetivo fundamental,
caracterizar la población recicladora de oficio y establecer medidas de fortalecimiento de
la actividad de aprovechamiento de residuos sólidos como mecanismo de
empoderamiento ambiental y mejora de su bienestar laboral.

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2. Materiales y métodos

El presente proyecto de investigación se llevó a cabo en el municipio de Montería


y el corregimiento Los Garzones, a la población recicladora que confluye en el territorio
mencionado. Esta investigación es de tipo descriptivo y propositivo; busca describir la
situación actual de los recicladores de oficio en la ciudad de Montería y su rol en la gestión
integral de residuos sólidos de la ciudad. La investigación fue abordada desde el enfoque
cualitativo (Gutberlet et al. 2009), orientada a la acción (Kidd & Kral 2005) a través de
una metodología participativa (Brose, 2001) a partir de la recolección de información
primaria, con enfoque cuantitativo basado en encuestas y entrevistas semiestructurada
(Sembiring & Nitivattananon, 2010; Valdés, 2016). El instrumento para recopilar la
información primaria fue una encuesta preparada para la población recicladora de Oficio
(Ministerio de Vivienda, Ciudad y Territorio, 2015), la muestra adoptada de
organizaciones de recicladores fue no probabilística, conforme a las posibilidades de
contacto y con apoyo de la organización de segundo nivel, Organización de Recicladores
de la Costa Norte de Colombia ARCON y la organización base Cooperativa de
Recicladores de Córdoba – COOPRESCORDOBA, apoyado con el Modelo Presión,
Estado Respuesta PER para evaluar la situación de los recicladores (Wolfslenhner &
Vacik 2008; OCDE, 1994) que ha sido ampliamente utilizada en la gestión integral de
residuos sólidos (Fei et al. 2016). Figura 1.

FIGURA 1 – Método de investigación basado en el modelo Presión, estado respuesta PER. Fuente: Fei et
al. 2016.

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3. Resultados

3.1. Caracterización de la población recicladora de oficio.

La caracterización de los recicladores de la ciudad de Montería inicia con el


reconocimiento de las personas que desarrollan la actividad de aprovechamiento, a
quienes se les aplica el respectivo censo poblacional como reciclador de oficio en la
ciudad de Montería y el corregimiento Los Garzones. El censo fue desarrollado entre los
meses de diciembre de 2016 y julio de 2017, identificando 676 personas que derivan su
sustento de las actividades de separación, clasificación y comercialización de materiales
aprovechables, donde sólo 172 corresponden a empleos directos es decir los recicladores
de base.

Los resultados encontrados muestran, que el 94% de la población recicladora son


hombres y solo el 6% mujeres, las edades oscilan entre los 14 y los 86 años, predominando
el rango de edad entre los 55 y los 59 años, rango cercano al utilizado para categorizar a
las personas como adulto mayor (54 años para mujeres y 59 para hombres) Figura 1. El
61% de los encuestados (105) son originarios de Montería y 39% (67) corresponden a la
zona del Alto Sinú, Tabla 1. De esto el 45% de la población manifestó ser desplazada por
la violencia a causa de los grupos al margen de la ley. Adicionalmente el 46% han cursado
sólo la Básica Primaria, 61 recicladores (35%) son analfabetas, la secundaria sólo fue
terminada por el 8% (14), el 11% restante no estudió.

FIGURA 2. Pirámide poblacional recicladores 2017. TABLA1. Lugar de procedencia y


estado.
Los recicladores no están preparados académicamente para encontrar un empleo
estable, se trata muy a menudo de trabajadores informales que sufren estigma y
marginalidad (Giovannini, 2014). Es así que la actividad del reciclaje se debe analizar

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desde el punto de vista de su vulnerabilidad, exclusión y desigualdad, estados asociados
a la pobreza, (Castaño, 2017), y a la problemática que los acoge, lo que se evidencia en
la Figura 3 y 4.

FIGURA 3. Grado de escolaridad. FIGURA 4. Población vulnerable de recicladores.

Las condiciones de informalidad en las que laboran estas personas les impide ser
sujetos plenos de derechos no pudiendo satisfacer todas sus necesidades básicas (Oshige,
2015), adicionalmente la pobreza los expone al rechazo social (Katerine, López,
Alejandra, & Ángel, 2015), en Montería el 68% de los recicladores se encuentran en la
línea de pobreza y pobreza extrema. Figura.4.

FIGURA 5. Índice de Pobreza Monetaria en TABLA 2 Pobreza Monetaria, Córdoba 2016. Boletín
los Recicladores de Montería. Técnico DANE 2017.

A nivel general el reciclador es catalogado como indigente y generalmente duermen en


las calles (Montoya a, 2011), sin embargo, cuando se indaga a la población recicladora
de oficio de Montería encontramos que no son habitantes de calle, pero el 32% viven en
situación de precariedad, en zonas subnormales y periféricas de la ciudad.

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FIGURA 6. Tipo de vivienda de los recicladores de FIGURA 7. Grado de Hacinamiento


oficio Montería. 2017. asentamientos Recicladores.

El 45% de la población recicladora en la ciudad sufrió de desplazamiento forzado


mientras que el 12% pertenece a la población de la tercera edad, el 2% perteneciente al
grupo étnico racial, el 2% a trabajadores infantiles y el 1% desmovilizado y/o reinsertado,
además el 8,7% sufre algún tipo de discapacidad física o sensorial. Por su parte el 93%
de la población recicladora pertenecen al régimen subsidiado y el 7% restante al régimen
contributivo. El 94% de los encuestados realiza la actividad de recolección de los
materiales reciclables en barrios y/o vías públicas, el porcentaje restante lo hace dentro
de bodegas y/o centros de acopio, así mismo para movilizar su material hasta el sitio de
venta se obtuvo que el 62% lo transporta en triciclos con pedales, prototipos tradicionales
para transportar entre 220 y 230 Kilogramos de material. El 23% utiliza la carreta, el resto
en medios no convencionales. En relación con la pregunta sobre donde venden el material
se encontró que el 6% lo vende en bodegas mayoristas, el 25% por su parte comercializa
el material en la organización de recicladores de la ciudad (COOPRESCÓRDOBA
E.S.P.) y la gran mayoría, el 69% aseguró vender su material en bodegas minoristas que
son las que más se encuentran distribuidas en la ciudad.

3.2 El establecimiento de medidas para inclusión social

Una vez caracterizada la población recicladora de la ciudad de Montería, se


identificaron las interrelaciones entre los factores demográficos, sociales, económicos y
de mercado considerados (presión) y el estado actual de los recicladores con el propósito
de establecer las medidas o acciones necesarias para atender la problemática de exclusión
de los recicladores de la ciudad (respuesta), consolidado en el modelo PER, ver tabla 3.

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TABLA 3. Modelo Presión, estado, respuesta PER de los recicladores de base de la ciudad de Montería

4. Discusión

En Colombia al igual que en otros países de ALC se ha venido reglamentando la


formalización de los recicladores en el Servicio Público de Aseo, según Decreto 596 de

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2016 del MVCT, de igual forma Perú con la Ley 29419, regula la Actividad de los
Recicladores, a fin de, promover su formalización, sin embargo, se cumple parcial e
incipientemente, por la falta de idoneidad en la aplicación de norma. (Características &
En, 2010).
En Montería predomina el rango de edad entre los 55 y los 59 años, situación que
corrobora el desgaste de la estructura social y productiva de los individuos que se dedican
a la actividad de reciclaje. Este rango difiere sobre el mayor rango de edad (36 a 45 años)
encontrado en recicladores informales de Medellín (Ballesteros et. al 2008) o de
Bucaramanga, cuyo mayor rango se ubica entre los 21 a 40 años (Alcaldía de
Bucaramanga, 2015). Esta distribución en la población refleja la baja probabilidad de
inserción laboral que poseen los recicladores de la ciudad para desempeñar actividades
en el sector formal. Por su parte la Red de Emprendedores Nicaragüenses del Reciclaje
(Rednica), registra que la edad media es de 36 años y la mediana de 34. En términos
generales se concentran en los rangos de edad entre 20 y 30 años y de 30 a 40 años.
Comparando la caracterización de la población recicladora con otras ciudades del
país encontramos que el perfil sociodemográfico y de salud ocupacional es similar en
otras ciudades de Colombia, el estudio realizado en San Andrés de Tumaco (2012),
mostro que el grupo de trabajadores presentó condiciones socio-económicas y familiares
desfavorables representada por pertenecer a los estratos socio-económicos uno, tener un
bajo nivel de escolaridad, no estar afiliado a ningún régimen de pensiones ni de riesgos
laborales, convivir con otras familias y no tener vivienda propia (Camilo et al., 2012).
Es importante que la comercialización de los residuos reciclables, le permita al
reciclador la adquisición de la canasta básica (Zegarra, 2015), situación que no se da para
los recicladores de Montería que obtienen menos de un salario mínimo, donde el 47% se
encuentra en la línea de pobreza y el 21% en pobreza extrema; en Medellín el 42 % viven
en situación de pobreza (Katerine et al., 2015), así mismo el 86.57% de los recicladores
en el Perú se encuentra en situación de pobreza extrema (Ciudad Saludable, 2010).
Claramente la población recicladora de la ciudad de Montería se caracteriza por
ser una población altamente vulnerable desde el punto de vista socioeconómico y está
expuesta a factores de riesgos como lo manifiesta Montoya (2011), sin embargo, a
diferencia de los resultados de su estudio para Armenia, es una población que tiene la
capacidad de asociarse, que responden a las dinámicas de organización y que es una labor
de la que depende su núcleo familiar. El reciclador de oficio en Montería lleva en

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promedio 16 años ejerciendo la actividad de recuperación de materiales y el 65% de los
recicladores trabajan de lunes a sábado.

5. Conclusión

Las variables sociales manifiestan que los recicladores de oficio de la ciudad se


encuentran asentados en barrios periféricos y deprimidos de la ciudad, con bajo acceso a
servicios básicos, inadecuadas condiciones de vivienda y al menos el 32% de estas
presentan algún grado de hacinamiento. Las variables demográficas identificadas
demuestran que la mayoría de los recicladores se encuentran al final de su vida
productiva, estos posen una vocación campesina y son producto de las migraciones y
desplazamientos del campo a la ciudad. Es claro el alto nivel de pobreza y vulnerabilidad
en la que viven los recicladores de oficio en la ciudad de Montería, encontrándose que
sólo el 31% está por encima de la línea de pobreza.
El proyecto logró establecer que es posible desarrollar iniciativas de inclusión
social articulando el trabajo de la academia con los buenos propósito de la empresa
privada, un poco de interés de sector público y la sociedad. También que se requiere que
los entes territoriales acojan estas iniciativas que redundan en acciones afirmativas a favor
de la población recicladora.

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ESTABILIDADE DE MÉTRICAS BIOINDICADORAS DE


COMUNIDADES DE MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
DE MATA ATLÂNTICA – ITANHAÉM (SP)

Toyama, Daniele1

Saito, Victor S. 2
1
Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Engenharia Civil, Programa
de Pós-graduação em Engenharia Urbana, danitoyama01@gmail.com
2
Orientador, Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências
Ambientais, victor.saito@gmail.com

Resumo: As alterações e impactos negativos sobre os recursos hídricos modificam o


ecossistema aquático. Os macroinvertebrados bentônicos são sensíveis às alterações e
possuem potencial uso como bioindicadores. Neste trabalho utilizamos dados de
comunidades de macroinvertebrados em riachos localizados na Mata Atlântica (Itanhaém
– SP), em sítios referência, com o objetivo de testar a estabilidade temporal e espacial de
métricas de biomonitoramento de riachos na bacia do rio Itanhaém. Foram determinadas
as métricas de abundância, riqueza de gêneros, famílias e ordens, Índice de Shannon para
gêneros, famílias e ordens e percentuais dos grupos Ephemeroptera, Plecoptera e
Trichoptera. Verificamos que espacialmente, há baixa variação, o que sugere que a
similaridade na estrutura dos riachos deve afetar a distribuição e abundância dos insetos
aquáticos na região. O Índice de Shannon, juntamente com a abundância relativa dos
grupos sensíveis, revelaram-se como potenciais métricas para o biomonitoramento, uma
vez que foram estáveis tanto no tempo, como no espaço. Além disso, estas métricas
podem utilizar a identificação até o nível de família, a fim de reduzir custos e tempo com
a etapa de identificação e triagem de macroinvertebrados.
Palavras-chave: Biomonitoramento; Microbacia do rio Branco; Invertebrados bentônicos.

1. Introdução

Os ecossistemas aquáticos continentais são fortemente influenciados pelas


características fisiográficas e pelos processos naturais e antrópicos que ocorrem nos
ecossistemas terrestres adjacentes (THOMAZ; BINI, 1999). Considerando sua
fragilidade, destaca-se a importância de se desenvolver ferramentas de monitoramento
ambiental, a fim de subsidiar a tomada de decisão em ações de gestão ambiental.
A fauna aquática é sensível às mudanças físicas e químicas da água e é uma
potencial ferramenta de biomonitoramento (forma de se determinar a qualidade da água,
geralmente medida pelas alterações estruturais e funcionais das comunidades nos
ecossistemas aquáticos [SILVEIRA, 2004]). Dentre as comunidades de ecossistemas
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aquáticos, os macroinvertebrados ocupam os diversos habitats existentes no riacho e
apresentam uma grande diversidade, formando um grupo com alto potencial de indicação.
Segundo Silveira (2004), a estrutura da comunidade de invertebrados se relaciona
com variações nas características ambientais dos rios. Os macroinvertebrados bentônicos
são bons indicadores da poluição ambiental, uma vez que respondem a estresses
hidráulicos, orgânicos e tóxicos, reduzindo as espécies sensíveis e proliferando espécies
tolerantes no ambiente (ARMITAGE, 1996 apud SILVEIRA, 2004). Outro benefício do
uso desses organismos é o baixo custo na coleta e identificação, e os mesmos podem
indicar mudanças advindas dos impactos humanos (BONADA et al., 2006). Ainda
segundo Bonada et al. (2006) esses organismos denunciam fontes de poluição mesmo que
a mesma não seja identificada por meio de análises químicas, pois os organismos vivem
parte de sua vida em um ambiente, enquanto que as análises químicas detectam apenas
impactos pontuais e momentâneos.
Uma questão ainda aberta, principalmente na região Neotropical, é em relação à
variação temporal nas comunidades de macroinvertebrados aquáticos e como isso pode
afetar a acurácia bioindicadora dessas comunidades (LINKE; BAILEY; SCHWINDT,
1999). Apesar de a sazonalidade ser relativamente bem estudada nas comunidades de
invertebrados aquáticos (e.g. variação entre verão e inverno) (MELO; FROEHLICH,
2001), estudos que contabilizem variações temporais maiores (e.g. mais de dois anos de
coletas) ainda são escassos. Dentro desse contexto, este trabalho busca diminuir essa
lacuna, pois se insere em um programa de longa duração com objetivo de gerar dados de
forma sistematizada em larga escala temporal.
Neste trabalho utilizamos dados de comunidades de macroinvertebrados em
riachos do município de Itanhaém, localizado na região costeira do estado de São Paulo
com estimativa de crescimento urbano médio de 10% entre os anos de 2000 e 2010, e
uma Taxa Geométrica de Crescimento Anual da população de 5,08% entre 1991 e 2000
e 1,92% entre 2000 e 2010, saltando de 71.995 para 87.057 habitantes, o que demonstra
um elevado desenvolvimento antrópico nessa região (FREITAS, 2014). A bacia
hidrográfica objeto deste estudo foi a do rio Branco, e na região de coleta há produção de
banana e áreas preservadas de Mata Atlântica. Com a amostragem realizada, buscamos
verificar se existe variação temporal na comunidade de macroinvertebrados, bem como
identificar se existe variação entre métricas relacionadas a riqueza e abundâncias ao longo
do tempo e do espaço.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O presente trabalho teve como objetivo testar a estabilidade de métricas de
biomonitoramento de riachos na bacia do rio Itanhaém. Utilizamos métricas
tradicionalmente consideradas, a fim de descrever a variação temporal na comunidade de
invertebrados aquáticos em riachos da bacia e identificar os níveis de variação entre
métricas indicadoras baseadas em riqueza e abundância ao longo do tempo.

2. Metodologia

2.1 Área de estudo

A comunidade de macroinvertebrados estudada pertence a microbacia do rio


Branco, que por sua vez compõe a bacia hidrográfica do rio Itanhaém, que está sob o
domínio morfoclimático da Mata Atlântica, e sua parte superior possui riachos
preservados, podendo ser considerada uma área de referência para o estudo de
biomonitoramento ambiental. De acordo com Camargo, Pereira e Pereira (2002), a bacia
hidrográfica do rio Itanhaém possui 930 km² e abrange os municípios de Peruíbe,
Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, São Paulo e Itanhaém. A parte superior da bacia
abrange o Parque Estadual da Serra do Mar, apresentando uma área com ecossistemas
bastante protegidos, enquanto a porção inferior é densamente urbanizada, recebendo
intensos impactos antrópicos.

2.2 Coleta, triagem e identificação de amostras

Os macroinvertebrados foram coletados em quatro riachos, em intervalos de três


a cinco meses, totalizando cinco coletas temporais em cada riacho. Foram utilizados
amostradores de rede com malha de abertura de 250 micrômetros, totalizando cinco
amostras de 900 cm² por riacho em cada coleta. O material coletado em campo foi fixado
em etanol 70% e triado em laboratório com o auxílio de estereomicroscópios (lentes de
aumento de no mínimo 20 vezes). A maioria dos indivíduos foi identificada até o nível
de gênero, através da chave de Mugnai, Nessimian e Baptista (2010).

2.3 Aplicação de índices e análises estatísticas

Foram calculadas onze métricas para cada riacho ao longo de cinco tempos
distintos. Os cálculos foram executados no R® e foi utilizado o pacote Vegan (OKSANEN
et al., 2017) nas análises estatísticas e aplicação de alguns índices.

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Foi calculada a abundância de organismos no tempo e no espaço. A abundância
refere-se ao total absoluto de indivíduos de macroinvertebrados coletados nos riachos
estudados. Também foi determinada a riqueza e o Índice de Shannon para os diferentes
níveis taxonômicos de gêneros, famílias e ordens no tempo e no espaço.
A riqueza refere-se ao número de gêneros, famílias e ordens presentes na
comunidade amostrada. O Índice de Shannon (H’) baseia-se no uso da teoria da
informação para estimar a diversidade de comunidades, onde a informação é dependente
do número total de indivíduos, número total de espécies (gêneros, famílias e ordens) e
proporção do número de indivíduos de cada espécie (AMARAL et al., 2013).
Também foram determinados os percentuais relativos de organismos pertencentes
às ordens Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera (EPT), que entre os
macroinvertebrados bentônicos, constituem um grupo predominante e considerado
sensíveis às alterações ambientais (AMARAL, 2014).
Como os dados não apresentaram normalidade, utilizamos testes de Kruskal-
Wallis para múltiplas comparações para verificar se houve diferença significativa entre
os diferentes riachos e entre os diferentes tempos considerando um valor de significância
de α=0,05.

3. Resultados e discussão

As ordens de maior abundância presentes na comunidade amostrada são Diptera


(2091 indivíduos), Ephemeroptera (990 indivíduos), Coleoptera (634 indivíduos) e
Plecoptera (435 indivíduos). Podemos verificar que existe uma grande variabilidade na
métrica abundância durante o tempo (Figura 1), porém a mesma se mantém estável ao
considerarmos os diferentes riachos na microbacia.
Com relação às métricas de riqueza (Figura 2), observa-se o mesmo
comportamento de variabilidade temporal nos três níveis de identificação, enquanto que
a comparação entre os riachos não indicou diferenças significativas.
O Índice de Shannon (H’) (Figura 3) mostrou estabilidade temporal e espacial nos
três níveis taxonômicos. A diferença dos resultados entre a métrica de riqueza e do Índice
de Shannon deve-se ao fato de que este último é baseado na abundância proporcional de
gêneros (AMARAL, 2013), além disso, difere-se também o peso dado aos gêneros raros.

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FIGURA 1 – Boxplot da Abundância no tempo e no espaço das comunidades de macroinvertebrados


estudada. As letras indicam os pares com diferenças significativas (P>0.05) no teste de Kruskal-Wallis.
Fonte: Autores (2018).

FIGURA 2 – Boxplot da Riqueza para gêneros, famílias e ordens no espaço e no tempo para a
comunidade de macroinvertebrados estudada. As letras indicam os pares em que existe diferença ao nível
de significância de 5% no teste de Kruskal-Wallis. Fonte: Autores (2018).

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FIGURA 3 – Boxplot do Índice de Shannon (H’) para gêneros, famílias e ordens no tempo e no espaço
para a comunidade de macroinvertebrados estudada. Fonte: Autores (2018).

Na riqueza de gêneros, grupos raros possuem o mesmo peso que os gêneros


comuns, enquanto no Índice de Shannon o peso é intermediário (MELO, 2008). A
estabilidade de uma métrica permite que a mesma possa ser utilizada em diversos
momentos de biomonitoramento.
As métricas de percentuais de EPT (Figura 4) apresentam estabilidade temporal,
tanto considerando cada ordem individualmente, como utilizando todas em conjunto.
Porém obteve-se diferença significativa de variação espacial quando analisamos o
percentual dos três grupos juntos (EPT).
A elevada abundância de Trichoptera, em geral, indica águas oligotróficas, pois
esses insetos vivem reconhecidamente em águas correntes ou remansos, limpas e bem
oxigenadas (CALLISTO; MORETTI; GOULART, 2001). Nas comunidades amostradas,
destaca-se a ocorrência dos gêneros Smicridea (723 indivíduos), Chimarra (260
indivíduos) e Phylloicus (143 indivíduos). Oliveira e Nessimian (2010) relatam a
ocorrência desse último gênero associado a substratos orgânicos, como corredeiras e
remansos com folhiço; material que estes organismos utilizam para a construção de
abrigos. Alguns indivíduos dos gêneros Smicridea e Chimarra vivem em área de
correnteza para obter maior fluxo de alimentos e maior oxigenação. Os representantes

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raspadores e filtradores-coletores do gênero Smicridea apresentam preferência pelo
substrato rochoso (OLIVEIRA; NESSIMIAN, 2010).

FIGURA 4 – Boxplot apresentando os percentuais de EPT (Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera) na


comunidade estudada. As letras indicam os pares em que existe diferença ao nível de significância de 5%
no teste de Kruskal-Wallis. Fonte: Autores (2018).

Os Ephemeroptera vivem em águas limpas e correntes ou ambientes lênticos, e


ainda podem viver em ambientes poluídos (CALLISTO; MORETTI; GOULART, 2001).
Os grupos mais representativos são Farrodes (526 indivíduos), Baetidae (265 indivíduos)
e Leptohyphes (169 indivíduos). A maioria das ninfas alimenta-se de materiais vegetais e
detritos, e em sua fase adulta formam revoadas de acasalamento sobre ou próximo aos
ambientes aquáticos (MARIANO; FROEHLICH, 2007). Os Baetidae, por serem
raspadores, vivem em ambientes de substrato rochoso (OLIVEIRA; NESSIMIAN, 2010).
Considerando que a área de estudo é um sítio de referência, podemos concluir que a
presença desses organismos indica a boa qualidade ambiental.
O grupo Plecoptera é composto por organismos típicos de ambientes limpos e de
água em boa qualidade (CALLISTO; MORETTI; GOULART, 2001). Na comunidade
estudada, há predominância dos gêneros Gripopteryx (161 indivíduos) e Kempnyia (98
indivíduos). O gênero Kempnyia habita preferencialmente pequenas corredeiras com
folhiço retido, enquanto Grypopteryx vivem associados a substratos rochosos

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
(OLIVEIRA; NESSIMIAN, 2010), ambos mesohabitats abundantes nos riachos de
Itanhaém.
Segundo Oliveira e Nessimian (2010), o tipo do substrato é um dos principais
fatores que afetam a distribuição e abundância de insetos aquáticos, ou seja,
independentemente da altitude ou tamanho da corrente, substratos semelhantes abrigarão
comunidades semelhantes. Isso corrobora a alta estabilidade espacial verificada nas
comunidades estudadas. Todos os riachos onde foram realizadas as coletas possuem
semelhanças com relação aos habitats disponíveis, uma vez que possuem a mesma
formação de substrato rochoso, com alta declividade e encontram-se em região
preservada de Mata Atlântica.
Em contrapartida, a alta instabilidade temporal em métricas como riqueza e
abundância provavelmente deve-se ao fato de a comunidade de macroinvertebrados ser
bastante delicada em alguns quesitos, podendo ser afetada, por exemplo, pelo regime de
chuvas. Alguns estudos buscaram responder questões relacionadas a instabilidade
temporal. Saito e Mazão (2012) realizaram um estudo em riachos de primeira ordem no
Cerrado a fim de verificar os efeitos das chuvas estocásticas nas comunidades de
macroinvertebrados. O estudo mostrou que não há diferença na riqueza entre os períodos
de seca e de cheia, porém nos períodos de seca havia uma maior densidade numérica de
organismos. Nosso trabalho suporta a ideia de que o regime de chuvas, a declividade e o
fluxo d’água do canal são fatores importantes na estruturação da fauna de
macroinvertebrados (SAITO, MAZÃO; 2012).
Em suma, as métricas relacionadas a abundância e a riqueza possuem
variabilidade temporal, demonstrando que algumas características das comunidades são
instáveis no tempo. A métrica relacionada ao percentual de EPT apresentou variabilidade
significativa no espaço. Porém, as métricas relacionadas ao Índice de Shannon e
percentual dos grupos vistos de forma individual (Ephemeroptera, Plecoptera e
Trichoptera) não possuem variabilidade significativa no tempo e no espaço. Com relação
ao uso do grupo Plecoptera para o biomonitoramento, devemos destacar que o mesmo
possui abundância relativa baixa, o que implica em baixo potencial para discernir dos
locais impactados.
A estabilidade nas análises com o Índice de Shannon leva a reflexão do esforço
realizado para a identificação dos indivíduos até gênero, considerando que a identificação
ao nível de família e ordem gerou os mesmos resultados. Porém, devemos considerar que
a identificação apenas até ordem poderia gerar resultados equivocados ao avaliarmos um

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riacho impactado. Estudos de Heino e Soininen (2007) revelam que dados até nível de
família podem ser utilizados para levantamentos rápidos de biodiversidade, porém para
estudos de conservação de fauna, dados em nível de gênero são mais indicados. Além
disso, ressaltam que uma abordagem taxonômica mais alta não é viável quando é
necessário mapear a ocorrência de espécies raras para fim de conservação da
biodiversidade, neste caso a identificação até o nível de espécie é mais eficiente. Ou seja,
a escolha de níveis taxonômicos mais elevados não pode ser realizada sem restrições
(HEINO, 2014), sendo necessário observar a finalidade de estudo e seu grau de
detalhamento.

4. Considerações Finais

Os riachos são dinâmicos ao longo do tempo o que demonstra a importância de


uma análise temporal antes de se definir um protocolo de biomonitoramento.
Espacialmente, há baixa variação, o que sugere que a similaridade na estrutura dos riachos
deve afetar a distribuição e abundância dos insetos aquáticos na região, determinando
comunidades similares em diferentes riachos de uma mesma paisagem. Outra possível
explicação que não podemos avaliar neste trabalho, é que os riachos são todos próximos
entre si e uma elevada dispersão das espécies entre riachos mantenha as similaridades
encontradas. O Índice de Shannon e a abundância relativa individual de grupos sensíveis
revelaram-se como boas métricas para o biomonitoramento, uma vez que foram estáveis
tanto no tempo, como no espaço. Além disso, estas métricas podem utilizar a identificação
até o nível de família, ou ordem a fim de reduzir custos e tempo com a etapa de
identificação e triagem de macroinvertebrados. Os resultados mostraram que existe uma
variação temporal em métricas de biodiversidade, revelando a importância dos estudos
de longa duração para o biomonitoramento e avaliação de comunidades de
macroinvertebrados aquáticos.

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo financiamento


desta pesquisa, Processo nº 2017/06983-7.

Referências

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Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

COMUNIDADES BIOINDICADORAS SÃO ESTÁVEIS NO


TEMPO? RESULTADOS PRELIMINARES UTILIZANDO
MACROINVERTEBRADOS DE RIACHOS

Stoppa, Nathalia E. ¹
Saito, Victor S. ²

¹ Departamento de Ciências Ambientais, UFSCar - Universidade Federal de São


Carlos, São Carlos, Brasil. Endereço eletrônico: nathaliaespinossi@gmail.com
² Departamento de Ciências Ambientais, UFSCar - Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos, Brasil. Endereço eletrônico: victor.saito@gmail.com

Resumo: O biomonitoramento é o monitoramento do ambiente através do uso de variáveis


biológicas, como a abundância ou riqueza de grupos sensíveis a impactos ambientais.
Essa abordagem assume que as comunidades indicadoras são relativamente estáveis a
variações ambientais naturais ao longo do tempo e, portanto, a variação encontrada para
diferentes locais ou ao longo do tempo é gerada por impactos ambientais. Nós
investigamos tal assunção analisando comunidades de cinco riachos de Mata Atlântica ao
longo de cinco períodos diferentes. Foi possível identificar padrões na composição,
abundância e variação das comunidades de macroinvertebrados. O padrão tem como
característica a ocorrência de poucos morfotipos abundantes e muitos morfotipos raros,
bem como uma maior variação temporal comparada à variação entre riachos. Esses
resultados preliminares indicam que caracterizar a variação temporal de riachos de
referência é importante para aumentar a acurácia de protocolos de biomonitoramento.
Palavras-chave: Biomonitoramento; Macroinvertebrados; Variação Temporal.

1. Introdução

Tradicionalmente, o monitoramento ambiental de ecossistemas aquáticos na


maioria dos órgãos ambientais ao redor do mundo é feito utilizando as variáveis físicas e
químicas da água, como pH, níveis de oxigênio dissolvido e nutrientes. Em alguns países,
entretanto, o monitoramento físico e químico é complementado por técnicas de
biomonitoramento.
O biomonitoramento é o monitoramento do ambiente através do uso de variáveis
biológicas, por exemplo, utilizando a abundância ou riqueza de grupos sensíveis a
impactos ambientais (BONADA et al., 2006). Um bioindicador “ideal” é uma espécie ou
grupo de espécies cuja presença, abundância e comportamento refletem o efeito de algum
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estresse com causas antrópicas na biota (BONADA et al., 2006). Este monitoramento
através de ferramentas biológicas possui grande potencial, visto que há uma relação direta
entre organismos e o ambiente durante todo o seu ciclo de vida (CALISTO et al., 2005).
Um grupo com grande potencial indicador para biomonitoramento de sistemas
aquáticos são os macroinvertebrados, representados por anelídeos, crustáceos, moluscos
e insetos. Estes organismos formam comunidades aquáticas que apresentam grande
importância pelo fato de responderem às variações ambientais de forma previsível.
Especificamente para riachos, os macroinvertebrados são importantes bioindicadores
devido à natureza lótica dos riachos. Nesses ambientes, eventos de impacto, como
descarga de poluentes, terão uma assinatura apenas pontual nas características da água
(e.g. água ficará momentaneamente ácida, mas rapidamente a água desse trecho será
levada rio abaixo), porém podem deixar assinaturas de longa duração nas comunidades
de macroinvertebrados (e.g. extinção local de grupos indicadores que não se recuperam)
(ROSENBERG; RESH, 1993). Portanto, as diferentes características morfológicas,
fisiológicas e comportamentais frente às alterações ambientais possibilitam a obtenção de
respostas eficientes por estes organismos (MARTINS et al., 2014, SAITO et al. 2015).
Sendo assim, existem algumas características principais que são de grande
relevância para o uso de macroinvertebrados no biomonitoramento. São elas: seu caráter
ubíquo de ocorrência, com ampla distribuição; a grande riqueza de espécies que permite
diferentes respostas ambientais (sensíveis ou tolerantes); sua natureza sedentária, com
baixa capacidade de deslocamento, que facilita a análise espacial dos efeitos poluentes; o
ciclo de vida relativamente longo destes animais, possibilitando análises de efeitos em
longo prazo; e a sua compatibilidade com equipamentos de baixo custo, facilitando a
coleta (ROSENBERG; RESH, 1993).
Apesar das vantagens apresentadas, as comunidades bioindicadoras não são
estáticas no espaço e ao longo do tempo. Espacialmente, a variação na abundância e
distribuição geralmente está relacionada a alterações que ocorrem naturalmente no
ambiente, como tamanho e descarga do fluxo; substrato; vegetação; e temperatura
(LINKE et al., 1999; HEINO, MUOTKA, PAAVOLA 2003). Já na escala temporal, sabe-
se que a variabilidade sazonal, que acompanha as estações do ano, pode ser uma das
principais causas de variação temporal nas comunidades de macroinvertebrados nos
ambientes temperados (LINKE et al., 1999). Porém, nos ambientes tropicais, que são mais
dinâmicos temporalmente (SOININEN et al. 2007), pouco sabemos sobre as causas da
variação temporal em comunidades bioindicadoras, principalmente considerando escalas

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
de tempo maiores que dois anos (i.e., a maioria dos estudos até o momento [MELO E
FROEHLICH, 2001]).
Sendo assim, analisamos a composição e a abundância nas comunidades, a fim de
comparar a variação temporal com a variação entre riachos de referência.

2. Materiais e Métodos

2.1. Identificação dos Dados

A etapa de identificação dos macroinvertebrados coletados foi realizada no


Laboratório do Departamento de Ciências Ambientais (DCAm) da UFSCar, utilizando
estereomicroscópios com lentes de aumento de no mínimo 20 vezes e chaves de
identificação (e.g. DOMÍNGUEZ e FERNÁNDEZ, 2009 e em HAMADA et al. 2014).
Foram identificados os indivíduos presentes em amostras de cinco riachos ao
longo de cinco períodos com espaçamento de aproximadamente quatro meses entre
coletas (compreendendo um intervalo entre os anos de 2013 e 2016). Sendo assim, os
resultados apresentados neste relatório dizem respeito apenas às amostras citadas e são
considerados parciais.

2.2. Análise dos Dados

Após a identificação das amostras em estudo, foram feitas análises estatísticas para
a obtenção dos resultados. O primeiro passo foi o planilhamento dos dados, ou seja, a
compilação das informações sobre cada coleta. Em seguida, os dados foram analisados
no software R.
Primeiro foram gerados gráficos para cada riacho sobre a variação da abundância
dos morfotipos em relação ao tempo, a fim de identificar, em um primeiro momento, a
ocorrência ou não de algum padrão de variação temporal. Em seguida, foi feito um
ranqueamento da abundância dos morfotipos em cada tempo e riacho separadamente, a
fim de se identificar padrões de abundância no tempo e espaço.
Posteriormente, foram feitas análises de Escalonamento Multidimensional (MDS)
para observar as diferenças nas composições das comunidades em cada riacho e em cada
tempo e verificar qual apresenta maior dissimilaridade: a variação temporal ou a variação
espacial. O resultado do MDS nos permite encontrar a melhor configuração
bidimensional dos dados que represente a diferença entre os pontos.

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A fim de confirmar os resultados gráficos com a análise MDS foi feito o teste
PERMANOVA. A PERMANOVA possibilita testar estatisticamente por mínimos
quadrados se os grupos (tempo ou riachos) são significativos em comparação a uma
hipótese nula gerada por permutações (aleatorizando quais comunidades caem em cada
grupo).

3. Resultados

As comunidades de macroinvertebrados das amostras identificadas apresentaram


um total de 10.450 indivíduos de 13 ordens diferentes. As ordens mais expressivas foram:
Coleoptera (com 5069 indivíduos), Diptera (2091), Trichoptera (1505) e Ephemeroptera
(990). As outras ordens presentes, mas menos abundantes, foram Plecoptera, Odonata,
Hemiptera, Lepidoptera e Megaloptera.
A figura 1 apresenta gráficos da variação da abundância de cada morfotipo pelo
tempo (tempos 1, 2, 3, 4 e 5) de cada riacho. A partir dos resultados apresentados é
possível notar que que não há um padrão de variação, ou seja, as linhas se apresentam de
forma relativamente heterogênea. Isso significa que podem existir vários fatores
influenciando a abundância das comunidades, pois se houvesse um só fator que afetasse
todos os morfotipos encontrados seria esperado certo sincronismo das variações.

FIGURA 1 - Gráficos da variação da abundância pelo tempo de cada riacho das comunidades de
macroinvertebrados da bacia do Rio Itanhaém. Fonte: os autores.

Já a figura 2 apresenta os gráficos de rank-abundância em cada riacho e tempo


(por exemplo: V1, V6, V11, V16 e V21 representam o riacho 26 em cada um dos 5

609
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
tempos). Observando cada gráfico é possível notar certa padronização da maioria das
curvas, indicando a existência de um padrão na abundância dos morfotipos nas
comunidades de macroinvertebrados. Este padrão representa a ocorrência de poucos
morfotipos abundantes e muitos morfotipos raros. As diferentes cores das curvas
expressam diferentes modelos de curvas.

FIGURA 2 - Gráficos de rank-abundância distinguidos por riachos e por tempos das comunidades de
macroinvertebrados da bacia do Rio Itanhaém. Fonte: os autores.

O padrão geral de que existem poucos morfotipos abundantes e muitos morfotipos


raros nas comunidades de macroinvertebrados estudadas pode ser confirmado na figura
3, de acordo com a disposição da curva. A figura também indica quais são os morfotipos
mais abundantes: Chironomidae (ordem Diptera), Smicridea (ordem Trichoptera),
Farrodes (ordem Ephemeroptera). Assim, é possível notar que os morfotipos mais
abundantes são de diferentes ordens, ou seja, existem mais de uma ordem adaptadas aos
ambientes de riachos.
A figura 4 apresenta um diagnóstico do MDS e de acordo com o valor de R² é
possível inferir sobre a efetividade do MDS. Observa-se que R²=0,971 (alto valor), o que
significa que a ordenação dos dados é boa, ou seja, as distâncias observadas na ordenação
correspondem de forma acurada à dissimilaridade real entre as comunidades.

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FIGURA 3 - Representação do padrão geral de distribuição dos dados coletados das comunidades de
macroinvertebrados da bacia do Rio Itanhaém. Fonte: os autores.

FIGURA 4 - Diagnóstico do MDS (Escalonamento Multidimensional) para as comunidades de


macroinvertebrados da bacia do Rio Itanhaém. Fonte: os autores.

Em seguida, foi realizado o MDS para os riachos e MDS para os tempos,


separadamente, a fim de identificar o comportamento da dissimilaridade existente entre
os grupos (riachos e tempo) de comunidades. A figura 5 apresenta o resultado do MDS
onde as coletas são agrupadas por riachos. A interpretação do gráfico mostrado na figura
exige certa compreensão acerca dos dados apresentados: os formatos geométricos
indicam os riachos e as cores indicam os tempos. Nota-se que o conjunto V2, V7, V12,
V17 e V22 (correspondente ao riacho 25, de acordo com a figura 2) encontra-se um pouco
distanciado; isto significa que o riacho 25 é a comunidade mais diferente em relação à
composição e abundância.

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FIGURA 5 - Resultado do MDS (Escalonamento Multidimensional) para riachos das comunidades de


macroinvertebrados da bacia do Rio Itanhaém. Fonte: os autores.

Já a figura 6 apresenta o MDS para os tempos. Neste caso deve-se considerar que
os formatos geométricos indicam os tempos e as cores indicam os riachos. Assim, vemos
que, de acordo com a figura 2, o tempo 1 (V1, V2, V3, V4 e V5) é o que apresenta maior
dissimilaridade em relação à composição e abundância, pois é o mais distante do restante
das comunidades.

FIGURA 6 - Resultado do MDS (Escalonamento Multidimensional) para tempos das comunidades de


macroinvertebrados da bacia do Rio Itanhaém. Fonte: os autores.

Utilizando a PERMANOVA foi testada a diferença de composição e abundância


entre os riachos. Os valores de F e P obtidos foram 1,4992 e 0,055, respectivamente, o
que nos permite inferir que a diferença observada entre o riacho 25 e os outros não é
suficiente para separá-lo como um com composição diferente.

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Já o teste da diferença entre os tempos forneceu os valores de F=3,2664 e P=0,001. Estes
valores indicam que existem diferenças significativas no tempo, provavelmente
suportando as diferenças observadas no MDS de que a dissimilaridade é maior quando
separamos os grupos em tempos do que quando agrupamos por riachos.

4. Discussão

A partir dos resultados do Escalonamento Multidimensional e da PERMANOVA


foi possível constatar que as comunidades estudadas variaram mais com o tempo. Uma
possível razão para a variação temporal pode ser as condições sazonais, as quais os
riachos são submetidos ao longo do ano (MELO E FROEHLICH, 2001). De acordo com
KIKUCHI E UIEDA (1998), períodos mais secos apresentam maior ocorrência de
macroinvertebrados devido ao menor volume de água, enquanto períodos chuvosos
apresentam ocorrência menor devido ao volume da água e à velocidade, o que dificulta a
estabilização destes organismos em riachos, fatores que provavelmente levaram a uma
elevada variação no tempo das comunidades. Porém, se as variações ambientais sazonais
fossem o principal fator modulador da variação temporal, esperávamos uma variação com
padrão bem definido (e.g. aumento e diminuição na abundância total de forma notável)
(SAITO E MAZÃO 2012), porém nossa figura 2 indica que isso não ocorreu. Nós
observamos uma variação nas abundâncias alta, mas não organizada, indicando que
outros fatores além da sazonalidade afetam a variação sazonal.
Atualmente, as teorias vigentes de ecologia de comunidades (e.g. CHESSON
2000, VELLEND 2010) consideram que a presença e abundância das espécies são
afetadas não só por fatores determinísticos, como a sensibilidade aos fatores físicos e
químicos de um riacho (processos baseados no nicho das espécies), mas também por
fatores mais estocásticos, como as chances de colonização e de nascimento e morte dentro
de uma população. Estes fatores estocásticos podem afetar a variação temporal nos
riachos analisados (como sugere nosso gráfico 2) e, portanto, devem ser consideradas
parte da caracterização natural destas comunidades.
Desta forma, assumir que as comunidades indicadoras são relativamente estáveis
à variações ambientais naturais ao longo do tempo e considerar que uma possível variação
encontrada para diferentes locais ou ao longo do tempo seja gerada por impactos
ambientais, pode ser perigoso para o biomonitoramento, dado que as comunidades podem
variar significativamente ao longo do tempo, sem necessariamente ter relação a algum
impacto.

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Com isso, além de levar em consideração a variação espacial – já que tratamos de
riachos referências – caracterizar estas comunidades indicadoras no tempo evita a
ocorrência do risco de diagnosticar um impacto inexistente, simplesmente pelo não
entendimento da variação temporal natural das comunidades.

5. Conclusão

A partir dos dados analisados e dos resultados obtidos é possível concluir que existe certo
padrão na composição e abundância das comunidades de macroinvertebrados aquáticos
na bacia do Rio Itanhaém, porém com elevada variação ao longo do tempo. Esses
resultados preliminares indicam que caracterizar a variação temporal de riachos de
referência é importante para aumentar a acurácia de protocolos de biomonitoramento.

Referências

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taxonomia, biologia e ecologia. Manaus: Editora do Instituto Nacional de Pesquisas da
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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
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VELLEND, Mark. Conceptual synthesis in community ecology. The Quarterly review
of biology, v. 85, n. 2, p. 183-206, 2010.

615
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

ANÁLISES DO ESTOQUE DE CARBONO NA PRODUTIVIDADE


DAS RAÍZES FINAS E DA ESTRUTURA FLORÍSTICA EM
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NA AMAZÔNIA OCIDENTAL

Albrigo, N. S.1; Freire, G. A. P.1; Ventura, D. J.2; Marinho, G. O.1; Araújo, A. C.3;
Camila B. Ruezzene4;
Fotopoulos, Igor G.5

1
Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR/Ji-Paraná. Curso Bacharelado
em Engenharia Ambiental. E-mail: nayara.santosalbrigo95@gmail.com,
paesfreire@gmail.com, guigost.bc@gmail.com
2
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Mestre em Biologia Ambiental. E-
mail: dionejvs@hotmail.com.
3
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa/Belém-PA. PhD,
Pesquisador do Laboratório de Análises de Sistemas Sustentáveis Embrapa Amazônia
Oriental. E-mail: alessandro.araujo@embrapa.br.
4
Universidade Federal de São Paulo – USP/São Carlos. Mestranda em Ciência da
Engenharia Ambiental. E-mail: Camila.ruezzene@gmail.com.
5
Orientador, Universidade Federal de Rondônia – UNIR. MSc, Professor do
Departamento de Engenharia Ambiental. E-mail: fotopoulos@unir.br.

Resumo: Os solos da Amazônia são considerados uma das maiores reservas de carbono
do planeta e nos seus substratos encontram-se os sistemas radiculares das plantas, que
correspondem uma das principais estruturas de entradas de carbono nos ecossistemas
florestais. Neste contexto, as florestas tropicais apresentam grande relevância para o fluxo
de CO2, pois asseguram a alta eficiência da sua ciclagem tanto acima quanto abaixo do
solo. Não obstante, nas faixas onde as florestas tropicais estão inseridas há um empenho
central na magnitude dos estoques de CO2, sobretudo, para a compreensão dos fatores
que determinam a sua dinâmica no ambiente. O presente trabalho teve como objetivo
analisar a produção de raízes finas, bem como caracterizar os aspectos fitossociológicos
do levantamento florístico de um hectare de floresta primária de terra firme na Reserva
Biológica do Jaru, visando, com isto, ampliar as informações sobre a dinâmica do carbono
na província Ocidental da Amazônia. Para tanto foram inclusos na pesquisa os dados dos
indivíduos arbóreos com DAP ≥ 10 cm, além da biomassa das raízes finas coletadas em
16 pontos no interior dessa unidade, a cada três meses no decorrer de um ano. Com base
nos resultados obtidos, o índice de Shannon-Wiener foi de 4,47 e a equabilidade de Pielou
de 87%, indicando que a comunidade inventariada possui alta diversidade e uma
vegetação com distintas composições de espécies. Quanto à análise do carbono presente
nas raízes finas, obteve-se média total de 4,89 Mg C/ha, assinalando que o fluxo de
carbono mantém-se constante, o que sustenta a ideia de que o trecho de floresta estudada
corresponde a um sumidouro de carbono e/ou que a vegetação está em desenvolvimento.
Os parâmetros fitossociológicos nessa pesquisa foram gerados a partir do programa
FITOPAC e os dados das raízes finas obtidos com base no protocolo RAINFOR.
Palavras-chave: Rondônia, ecologia vegetal, ciclo biogeoquímico.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
1. Introdução

Atualmente os estoques de carbono e a dinâmica das florestas tropicais são


assuntos de interesse científico e de importantes políticas internacionais, estimuladas pela
necessidade global para reduzir a emissão de CO2 na atmosfera. Com base nos avanços
dessa linha de pesquisa, os solos da Amazônia são considerados uma das maiores reservas
de carbono do planeta (TADINI et al., 2015) e nos seus substratos, encontram-se os
sistemas radiculares das plantas que correspondem a uma das principais estruturas de
entradas de carbono nos ecossistemas florestais (CHIMENTO; AMADUCCI, 2015).
Neste contexto, as florestas tropicais apresentam grande relevância para o fluxo
de CO2, pois asseguram a alta eficiência da sua ciclagem tanto acima quanto abaixo do
solo (PAZ et al., 2016), sendo que nos estratos edáficos inferiores os insumos orgânicos
de carbono utilizados pelos vegetais na produção de raízes variam entre 30 e 80% do
quantitativo total (SPRUNGER et al., 2017). Além do mais, nas faixas onde as florestas
tropicais estão inseridas há um empenho central na magnitude dos estoques de CO2,
sobretudo, para a compreensão dos fatores que determinam a sua dinâmica no ambiente
(KELLER et al, 2009).
De modo geral, a Amazônia se destaca por abranger a maior quantidade de
ecossistemas de florestas tropicais do mundo, dispostos em uma área aproximada de
5,76x106 km2 e com biomassa aérea fresca estimada em 93±23 PgC. Este bioma é um
gigantesco reservatório dinâmico de carbono que pode ser gradativamente emitido à
atmosfera por meio de ações geradas com o desmatamento, uso e ocupação do solo ou
impactos decorrentes das mudanças climáticas (MALHI et al, 2006).
Todavia as plantas tendem a adaptar o seu funcionamento ecofisiológico de
acordo com as alterações no ambiente, um exemplo são os fechamentos dos estômatos
das folhas para reduzir a perda de água e CO2 dissolvido nos períodos de seca prolongada.
Outra situação diz respeito quando o solo apresenta extrema baixa de umidade e as plantas
passam a absorver água e nutrientes por meio das raízes finas (SILVA, 2015). Neste
sentido, a tendência adaptativa dos vegetais para a produção de raízes finas vem a ser um
bioindicador eficiente acerca dos gradientes ambientais.
Apesar da importância do sistema radicular para o crescimento da planta e à
ciclagem biogeoquímica, as pesquisas com biomassa, absorção de recursos, interações
entre raiz-micorriza, além de outros aspectos, não são tão desenvolvidos quanto os
estudos das partes aéreas do vegetal, isto porque as raízes são consideradas componentes

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críticos dos ecossistemas terrestres devido a pouca informação que se tem sobre elas
(SMITHWICK et al., 2014).
Não obstante, para o conhecimento detalhado de uma determinada comunidade
vegetal é de suma importância o levantamento fitossociológico, que tem como propósito
caracterizar a composição e a estrutura da floresta (SCHNEIDER; ROCHA, 2014). A
partir deste procedimento, é possível entender melhor a dinâmica ecossistêmica e
extrapolar as informações para ambientes semelhantes, admitindo comparações diretas
dos resultados, caso os métodos utilizados na coleta de dados e as características da flora
forem compatíveis.
A presente pesquisa teve como objetivo analisar a produção de raízes finas na
camada superficial do solo, bem como obter os principais parâmetros fitossociológicos
da vegetação arbórea, em um hectare de floresta primária de terra firme na Amazônia
Ocidental, com o propósito de ampliar as informações sobre a ecologia e a dinâmica do
carbono nos ecossistemas florestais brasileiros.

2. Metodologia

2.1. Área de Estudo

O estudo foi desenvolvido na Reserva Biológica do Jaru (10º11’11,4’’S e


61º52’29,9’’W), área localizada no estado de Rondônia, entre os municípios de Ji-Paraná,
Vale do Anari e Machadinho D’Oeste (Figura 1).

FIGURA 1 – Limite territorial da Reserva Biológica do Jaru e área de localização.

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A Reserva Biológica do Jaru (REBIO Jaru) é uma unidade de conservação federal
de proteção integral do bioma amazônico, criada pelo decreto Lei nº 83.716, de 11 de
julho de 1979, e atualmente sob tutela do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio). Esta unidade está inserida em uma área de floresta tropical
primária, classificada como Floresta Ombrófila Densa e Aberta (GALLO-DE-
OLIVEIRA, 2007 apud ICMBIO, 2010). O clima, segundo a classificação de Kӧppen, é
definido como tropical de monção com precipitação variando entre 1700 mm ao sul e
2400 mm ao norte da região da reserva (KOEPPEN; PÉREZ, 1948).

2.1. Inventário Florístico

Para o inventário florístico foi instalada uma parcela permanente de 1 hectare (100
x 100 m), a 80 m da torre de observação micrometeorológica do Programa LBA, mais
especificamente na direção noroeste e a montante dos ventos predominantes da torre,
onde foram plaqueados todos os indivíduos arbóreos com diâmetro a altura do peito
(DAP) igual ou maior que 10 cm, fazendo uso em princípio de uma fita métrica para as
medidas do tronco e, em seguida, estimativa visual da altura das plantas.
A coleta do material botânico foi realizada com o uso de podão e por meio de
técnicas de ascensão vertical de acesso ao dossel (PERRY, 1978). Todo o material
coletado foi etiquetado, prensado com papel e seco em estufa para que não embolore e
nem solte folhas.
A identificação das espécies vegetais foi realizada com a consulta de literaturas
especializada, a partir de chaves de identificação e com a ajuda de um parabotânico
(DURIGAN, 2003). Os espécimes incluídos na pesquisa foram classificados em famílias
de acordo com a APG III (2009), e as nomenclaturas descritas conforme a página da WEB
do Missouri Botanical Garden (http://mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html).
Atualmente este material encontra-se conservado no laboratório de físico-química da
Universidade Federal de Rondônia – UNIR/Campus de Ji-paraná.

2.1. Tratamento dos dados fitossociológicos

Para análise dos dados fitossociológicos foram calculados o índice de valor


importância (IVI) e o índice de valor de cobertura (IVC), assim como a frequência,
dominância e densidade relativas das espécies. Além destes parâmetros, também foram
tabulados a área basal, o volume total, os índices de diversidade de Shannon-Wiener e
equabilidade de Pielou.

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O índice de valor de cobertura (IVC) e o índice de valor de importância (IVI), são
estimadores da importância ecológica de um táxon dentro de uma comunidade florestal.
O índice de valor de cobertura (IVC) de cada espécie é calculado pela soma dos valores
relativos de densidade e dominância (HACK et al., 2005), sendo possível um valor
máximo de 200% (no caso da floresta ser composta por apenas uma espécie).
As análises dos parâmetros de área basal e volume total, bem como os índices de
diversidade de Shannon-Wiener e equabilidade de Pielou, foram realizados de acordo
com os procedimentos descritos por DURIGAN (2003).
Todos os parâmetros fitossociológicos e de diversidade descritos no estudo, foram
calculados por meio do programa FITOPAC 2.1 (SHEPHERD, 2010).

2.1. Coleta de Raízes

Para o estudo das raízes foram feitas campanhas de campo a cada três meses, no
decorrer de um ano, com coletas referentes aos trimestrais de maio, agosto e novembro
de 2016 e fevereiro e maio de 2017, por meio de In-growth cores (que permitem a entrada
das raízes através de estruturas cilíndricas feitas de telas plásticas, com 12 cm de diâmetro
e 40 cm de altura, dos quais 10 cm ficam acima do nível do solo e dispostos em 16 pontos
entre as interseções dos corredores horizontais e verticais, das 25 subunidades de 20m x
20m, alocados no interior da parcela permanente de 100 x 100m). Para a separação do
material utilizou-se a contagem de quatro tempos de 10 minutos, conforme detalhado no
protocolo da Rede Amazônica de Inventários Florestais – RAINFOR
(http://www.rainfor.org/pt).
No laboratório as raízes foram secas a 80º C em estufa de ventilação forçada por
24h e em seguida realizou-se a triagem do material com o auxílio de uma bandeja, uma
peneira milimetrada, uma balança de precisão, além de pincel e pinça para auxiliar na
separação da terra, de acordo com a metodologia descrita no Rainfor-Gem.

2. Resultados e Discussão

Na composição florística inventariada registrou-se um total de 503 indivíduos,


distribuídos em 175 espécies, agrupadas em 42 famílias botânicas, com área basal total
de 24,92 m²/ha e volume total de 787,16 m³. De acordo com Durigan (2003), o índice de
área basal está relacionado com a fertilidade do solo, ou seja, quanto mais rico o ambiente
edáfico em nutrientes, maior será a área basal computada e, conseguintemente, a reserva
e o estoque de carbono na comunidade.

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As onze famílias representadas na Figura 2 correspondem mais de 60% dos táxons
encontrados na área de estudo, deste montante, a família Fabaceae possui 16,57% das
espécies registradas, com frequência absoluta de 100% e IVC equivalente a 57,16%,
sendo esta a família de maior dominância no interior da parcela permanente.

Lauraceae 6
Chysobalanaceae 6
Annonaceae 7
Burseraceae 7
Euphorbiaceae 7
Lecythidaceae 8
Myristicaceae 8
Malvaceae 10
Sapotaceae 15
Moraceae 15
Fabaceae 29
0 10 20 30
Número de Espécies
FIGURA 2 – Relação das famílias com os maiores números de espécies.

Na presente pesquisa as espécies com maiores IVI foram Anomalocalyx uleanus


(Pax & K.Hoffim.) Ducke (22,66%) e Macrolobium suaveolens Benth. (17,69%),
conforme ilustra a Tabela 1. Estes táxons pertencem as famílias Euphorbiaceae e
Fabaceae, respectivamente, as quais também estão entre as famílias mais representativas
em números de espécies (Figura 2).

TABELA 1 – Espécie, família, nome vulgar (NV), potencial*, número de indivíduos (Nº) e índice de
valor de importância (IVI), dos vinte táxons mais representativos na parcela permanente de 1 ha na
Reserva Biológica do Jaru.
IVI
Espécie Família NV Potencial* Nº
(%)
Anomalocalyx uleanus (Pax &
Euphorbiaceae Arataciú-preto a; c 65 22,66
K.Hoffm.) Ducke
Macrolobium suaveolens Benth. Fabaceae Tamaquaré / Arapari ______ 22 17,69
Attalea speciosa Mart. Arecaceae Babaçu d; b; e 16 9,49
Copaifera multijuga Hayne Fabaceae Copaíba d; f 15 9,25
Tachigali chrysophyllum Poepp. Fabaceae Tachi- folha-amarela _______ 17 8,34
Dialium guianense (Aubl.) Sandwith Caelsapiniaceae Jataipeba g 6 7,52
Minquartia guianensis Aubl. Oleacaceae Acariquara-roxa d; f 8 6,21
Tetragastris panamensis Kuntze Burceraceae Breu de leite g 11 5,94
Heisteria acuminata (Humb. & Bonpl.)
Oleacaceae Açaí-pretinho d 12 5,91
Engl.
Copaifera piresii Ducke Fabaceae Copaíva / Pau de óleo d; f 2 5,16
Couratari macrosperma A.C.Sm. Lecythidaceae Tauari g; h 4 5,10
Toulicia guianensis Aubl. Sapindaceae Pitomba-brava _______ 10 4,98

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a; b; d; g;
Bertholletia excelsa Bonpl. Lecythidaceae Castanha 1 4,79
h
Matisia ochrocalyx K.Schum Bombacaceae _______ _______ 10 4,61
Neea floribunda Poepp. & Endl. Nyctaginaceae João-mole _______ 9 4,17
Euterpe precatoria Mart. Arecaceae Açaí-solitário a; b; h 9 4,16
Caryocar villosum (Aubl.) Pers. Caryocaraceae Piquiá d; f; g 1 3,96
Tachigali setifera (Ducke) Zarucchi &
Fabaceae Tachi branco _______ 4 3,89
Herend.
Pseudolmedia laevis (Ruiz & Pav.) Moratinga da folha
Moraceae _______ 7 3,86
J.F.Macbr. peluda
Geissospermum urceolatum
Apocynaceae Acariquara-branca _______ 3 3,69
A.H.Gentry

* Onde: (a) Alimento para fauna; (b) Alimentação humana; (c) Produção de carvão / lenha; (d) Óleo; (e)
Construção / artesanato; (f) Medicinal; (g) Madeireiro; (h) Econômico.

A família Euphorbiaceae se destaca ainda pelo potencial ecológico e pela


importância econômica (Tabela 1), com gêneros na Amazônia capazes de produzir óleo
e látex, alimentos para a população humana e princípios ativos com finalidades
farmacêuticas. Além do mais, os espécimes dessa família são amplamente distribuídos
nas regiões tropicais e subtropicais, com formas de vida que se estendem desde ervas até
árvores (SOARES FILHO, 2017).

A alta dominância da família Fabaceae nesse estudo pode estar relacionada com a
eficiência adaptativa que as espécies desse táxon possuem, especialmente às condições
climáticas e edáficas da Amazônia (FOTOPOULOS, 2006). Não obstante, seus frutos são
na grande maioria estruturados na forma de vagem, o que possibilita a alta produção e
dispersão de sementes (CARVALHO; GAIAD, 2017). Ademais, o sistema radicular dos
representantes dessa família interage de maneira simbiótica com bactérias dos gêneros
Bradyrhizobium e Rhizobium, que possuem capacidades de fixar o nitrogênio
atmosférico (OLIVEIRA, 2010), assegurando vantagem competitiva na disputa por
nutrientes.

Considerando o índice de equabilidade de Pielou (J), o valor registrado foi de 0,87


ou 87%. Este índice varia de 0 a 1, sendo que 1 representa a máxima diversidade possível
de ser obtida (DURIGAN, 2003). Todavia, o índice de diversidade de Shannon-Wiener
(H’) para a área de estudo foi de 4,47. Sabe-se que quanto maior o H’ maior a diversidade
da comunidade analisada e, de acordo com o total de espécies registradas no inventário
florístico (175), a área de estudo pode ser considerada de elevada diversidade.

Em uma análise comparativa desse índice destaca-se o trabalho desenvolvido por

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Azevedo (2014), em 1,5 hectare de floresta primária de terra firme na Reserva Biológica
do Jaru, o qual registrou valores mais elevados (H’=5,10) quando confrontado com o
presente estudo. Porém, o índice de diversidade de Shannon-Wiener deve ser analisado
com ressalvas, pois está positivamente relacionado com o tamanho da amostra e com o
critério de inclusão dos indivíduos, geralmente bastante variado nos estudos
fitossociológicos desenvolvidos na Amazônia (OLIVEIRA, 2000).

Em razão de uma justificativa coerente para alta diversidade encontrada na


REBIO Jaru, é enfatizada a hipótese dos distúrbios intermediários estabelecida por
Connell (1978), o qual postulou que perturbações com intensidades moderadas podem
promover a heterogeneidade ambiental, a exemplo das clareiras abertas nos ecossistemas
florestais a partir da queda de árvores provocadas por fortes chuvas ou descargas elétricas,
permitindo a coexistência de espécies colonizadoras (pioneiras) e de táxons
remanescentes (maduros) na mesma localidade. Tais gradientes ambientais são
responsáveis por desestruturarem as comunidades e desencadearem os processos de
sucessão ecológica (GUREVITCH, SCHEINER, FOX, 2009; DURIGAN, 2012).

Segundo Durigan (2003), diferentes fitofisionomias dentro de uma mesma


formação florestal podem refletir o estado de conservação, bem como a capacidade de
suporte e resiliência do ambiente. Assim, a partir da estrutura da comunidade florística e
do histórico evolutivo de cada feição vegetal, é possível conhecer a dinâmica e demais
atributos de uma floresta em estudo.

Neste contexto e baseado nos dados biométricos da flora inventariada, constatou-


se que cerca de 41% dos troncos apresentaram diâmetro > 20 cm, especialmente para as
espécies Bertholletia excelsa Bonpl (117,5 cm), Chrysophyllum cf. pomiferum (Eyma)
T.D.Penn. (112,1 cm) e Caryocar villosum (Aubl.) Pers. (105,7 cm). Não obstante, foi
registrado um grande percentual da vegetação com classe diamétrica entre 10 e 20 cm de
DAP (Figura 3), indicando que a área de floresta estudada está em processo de sucessão
ecológica, com diversos desdobramentos de formas de vidas e distintas composições de
espécies na comunidade vegetal.

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295
300
Número de Indivíduos 250
200 145
150
100
39
50 10 5 5 2 2
0
10―20 20―30 30―40 40―50 50―60 60―70 70―80 80―120

Classes Diamétricas

FIGURA 3 – Relação do número de indivíduos por classes diamétricas.


Em relação ao estoque de carbono nas raízes finas, obteve-se uma média total de
4,89 Mg C/ha. Sobre este índice, é importante salientar que as médias não variaram entre
as coletas, porém, o trimestre que apresentou maior média de estoque de carbono
correspondeu a triagem de maio e agosto (1,52 Mg C/ha) (Figura 4). Provavelmente como
consequência da transição entre as estações úmida e seca, período no qual os gradientes
de adaptação são possivelmente ativados nos vegetais e estes modificam o sistema
radicular para maior adequação a sazonalidade do ambiente (OLIVEIRA et al, 2005;
SILVA, 2015).
Diante desta capacidade, é visível a maior produção de biomassa de raízes finas
nos meses correspondentes a estação seca (Figura 4). Pois os maiores índices foram
expressos nos meses de maio e agosto (1,52 ± 2,68 Mg) e agosto e novembro (1,36 ± 1,11
Mg), quando comparados com os meses de novembro e fevereiro (0,75 ± 0,42 Mg) e
fevereiro e maio (1,27 ± 1,15 Mg).
Com base nos dados da Figura 4, constata-se que a produção de biomassa de raízes
finas é constante, o que sugere que o trecho de floresta estudado é um sumidouro de
carbono. Sobre este aspecto, Coronado e Baker (2010) mencionaram que uma floresta só
pode ser considerada um sumidouro de carbono se a quantidade armazenada aumenta
com o tempo, ou seja, se a quantidade de carbono que entra é maior do que a que sai.
Considerando as conotações deste raciocínio e as análises fitossociológicas do
inventário florístico, deduz-se que a área analisada corresponde a um sumidouro de
carbono. Haja vista que cerca de 59% da comunidade inventariada possui diâmetro < 20
cm (Figura 3), o que evidencia indivíduos em estágios intermediários de sucessão
ecológica e, portanto, com tendência a absorver elevadas quantidades de carbono para o
seu desenvolvimento.

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1,52

Biomassa de raízes finas (Mg


1,80 1,36 1,27
1,50
1,20 0,75
C/ha) 0,90
0,60
0,30
0,00
Maio - Ago. Ago. - Nov. Nov. 2016 - Fev. - Maio
2016 2016 Fev. 2017 2017

FIGURA 4 – Biomassa de raízes finas em Mg C/ha coletadas a cada trimestre na Reserva Biológica do
Jaru.

Assim, a estrutura fitossociológica da comunidade inventariada na Reserva


Biológica do Jaru veio corroborar com os resultados obtidos no estoque de carbono da
biomassa seca de raízes finas, atendendo os objetivos propostos na presente pesquisa e
ampliando as informações sobre a dinâmica de carbono nas florestas do flanco Sul da
Amazônia.

4. Conclusão

Estima-se que a vegetação estudada está em processo de sucessão ecológica


natural, devido o quantitativo de árvores com classes diamétricas nas faixas entre 10-20
cm e acima de 20 cm. Ademais, infere-se que a floresta inventariada corresponde a um
sumidouro de carbono, haja vista a heterogeneidade na estrutura e composição florística,
além, também, da produção constante de biomassa nas raízes finas, o que sugere que as
espécies estão em desenvolvimento e estocando carbono no ecossistema.
Contudo, a presente pesquisa necessita de mais coletas de dados para uma
descrição mais detalhada dos resultados, afim de aferir com maior precisão a
caracterização e a ecologia da flora em estudo.

Referências

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RESUMOS EXPANDIDOS
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

A HISTÓRIA ORAL E A MEMÓRIA COLETIVA NAS CIÊNCIAS


AMBIENTAIS

Cassimiro, Murilo O.¹ Gonçalves, Juliano C.²

¹Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências Ambientais;


murilo_29@hotmail.com
²Orientador, Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências
Ambientais; juliano@ufscar.br

Resumo: O objetivo deste trabalho é analisar a difusão do uso do conceito de memória


coletiva e do método da história oral para compreensão das relações entre ser humano e
ambiente. Como metodologia foi realizada uma revisão bibliográfica e analisados os
registros de publicação de artigos com temática ambiental que usam o conceito de
memória coletiva e a metodologia de história oral na base de dados SCOPUS de 2000 a
2017. Como resultado, observamos que ainda é pequeno tanto o uso da memória coletiva,
quanto a metodologia de história oral para estudos ambientais.
Palavras-chave: Memória Coletiva, História Oral, Ciências Ambientais.

1. Introdução

Há uma grande variedade de conceitos e métodos para tentar compreender a


relação do ser humano com o ambiente. Na década de 70 do séc. XX, com o surgimento
da História Ambiental, que busca analisar como os seres humanos influenciam e são
influenciados pelos elementos naturais existentes (Castro, 2003), houve importante impulso
para disseminar estudos com o uso do conceito de memória coletiva e o uso do método de
história oral para estudos com temática ambiental, notadamente nas Ciências Ambientais.
Num esforço de conceituação, Thomson (1997, p.57) afirma que “a memória gira
em torno da relação passado-presente, e envolve um processo contínuo de reconstrução e
transformação das experiências relembradas (...)”. Assim, “na maioria das vezes, lembrar
não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as
experiências do passado. A memória não é sonho, mas sim, trabalho” (BOSI, 1994, p.55).
A memória fornece um relato de acontecimentos que marcaram a vida do relator,
pois: “fontes orais contam-nos não só o que o povo fez, mas o que queria fazer, o que
acreditava estar fazendo e o que agora pensa que fez” (PORTELLI , 1997, p.31). A
memória atua como auxiliar na tomada de decisões ao ressignificar os acontecimentos e
buscar, a partir das experiências adquiridas, a melhor solução e decisão para o presente
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
ou para o futuro.
A História Oral tem como preocupação e enfoque fundamental a criação de
diversas possibilidades para os ser excluídos da história oficial, e que desse modo, não
possuem formas e forças para enfrentar as injustiças sociais (GUEDES-PINTO, 2002). A
História Oral oferece uma mudança no conceito da história e garante um sentido social à
vida de quem participa e de quem lê os relatos (MEIHY, 2005). A metodologia de história
oral implica no recolhimento de relatos de informantes que também se empoderam no
processo.
O objetivo deste artigo é analisar a difusão do uso do conceito de memória coletiva
e do método da história oral para compreensão das relações entre seres humanos e
ambiente.

2. Material e métodos

Foi realizada uma revisão bibliográfica memória coletiva e o método de história


oral. Para compreender a difusão do conceito de memória coletiva e o uso da metodologia
da história oral em estudos sobre o ambiente, foi realizada uma pesquisa na base de dados
SCOPUS (https://www.scopus.com/search/form.uri?display=basic), que é uma das
maiores base de dados de periódicos revisados por pares com 21.548 títulos indexados.
No SCOPUS utilizamos os termos de busca: oral history; e environment. Houve
um retorno de 529 documentos para o período de 2000 a 2017. Os artigos da área médica
foram suprimidos, dado que seu retorno estava ligado ao termo oral e à interpretação
médica do termo ambiente. Ficaram 208 artigos que foram analisados, a partir da leitura
dos seus resumos, em que 80 foram selecionados. Uma segunda busca no SCOPUS foi
realizada com os termos: collective memory; e, environment. Retornaram 66 documentos
e após análise e leitura dos resumos 16 foram selecionados.

3. Resultados e discussão

O grupo social é condição necessária para a memória da mesma maneira que a


memória é condição indispensável à existência de um grupo social. Nesse sentido, a
memória é sempre social, sobretudo porque o indivíduo só se explica na vida comunitária
(MEIHY, 2005) e na relação com o ambiente em que vive.
Segundo HOBSBAWN (1997), rememorar a história de gente comum valoriza a
exploração de uma dimensão desconhecida do passado, ou seja, as pessoas relembram de
acontecimentos considerados pouco importantes, mas, que ao serem analisados como um

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todo permitem uma nova gama de significados sobre estes acontecimentos. O uso do
método da história oral, insere o narrador na narrativa e valoriza do subjetivo ao objetivo,
trazendo uma escrita diferente e uma visão diferente da história. No caso da temática
ambiental, o esforço se volta para o entendimento da interação com ser humano/ambiente,
em que se revelam as condutas sociais que motivam as formas de uso deste ambiente e
que moldam a percepção ambiental historicamente construída.
Os dados obtidos na plataforma SCOPUS estão sintetizados no gráfico 1, abaixo.
O número de publicações que envolvem o uso do método de história oral com uma
temática ambiental tem aumentado ao longo dos anos. Contudo, o uso do conceito de
memória em trabalhos com temática ambiental não demonstra crescimento, havendo
grande oscilação e mostrando a possibilidade de maior integração e a necessidade de
desenvolvimento desta área de interface para as Ciências Ambientais.

9
Número de artigos publicados

8
7
6
5
4 Memória Coletiva
3
História Oral
2
1
0
2017
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016

Anos

FIGURA 1 – Artigos publicados na plataforma SCOPUS que abordam a relação ser humano/ambiente
que usam o conceito de memória coletiva e com o método de história oral, no período de 2000 a 2017 .

A tabela 1 apresenta as áreas do conhecimento, de acordo com divisão da


SCOPUS, para os artigos públicados com base na metodologia explicitada para a
construção da figura 1. Os resultados mostram que a área de Ciências Sociais (Social
Sciences) tem maior aplicação da metodologia da história oral nos artigos publicados na
temática ambiental de intereção entre seres humanos/ambiente, com as Ciência
Ambiental (Environmental Science) em segundo lugar. No caso do uso do conceito de
memória coletiva há um empate entre as duas áreas supracitadas. A história oral e a
memória coletiva fornecem subsídios para o estudo e aprofundamento nas questões da
natureza, dos recursos ambientais, da cultura e das interações que diferentes pessoas,

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podendo ser de diferentes locais, compartilham de modo comum. Trazem a visão de quem
vive o dia a dia, de quem convive na comunidade e de quem tem uma identidade com o
ambiente.

TABELA 1 – Percentual, por áreas de conhecimento,dos artigos publicados com temáticas ambientais
com o uso do conceito de memória e com o uso de metodologia de história oral

Áreas dos artigos publicados História Oral (%) Memória Coletiva (%)
Social Sciences 36,77 34,78
Environmental Science 23,87 34,78
Arts and Humanities 18,71 13,04
Agricultural and Biological Sciences 7,74 -
Earth and Planetary Sciences 5,81 -
Business, Management and Accounting 2,58 -
Decision Sciences 1,29 -
Energy 1,29 -
Others 1,94 -
Medicine 8,70
Psychology 8,70
Fonte: Pesquisa dos autores.
Os trabalhos com mémoria coletiva e História Oral enxergam diferentes aspectos
e compreendem de maneira mais profunda as relações humanas, culturais e ambientais,
pois, como diz Le Goff (1996, p. 477), “a memória, onde cresce a história, que por sua
vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos
trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão
dos homens”.

4. Considerações Finais

A pesquisa com história oral, ambiental e com memória, já se faz presente em


diversos campos e setores, que, a partir delas, conseguem extrair as representações sociais
e percepções ambientais. Assim, o reconhecimento desses temas, tornam-se fundamentais
para fornecer subsídios para possíveis processos de sensibilização, tomada de decisões e
que se façam presentes junto às questões socioambientais, trazendo informações
qualitativas e não apenas números e dados concretos

5. Referências
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das Letras, 1994. 488 p.
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HALBWACHS, M. A Memória Coletiva. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais
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632
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
HOBSBAWN, E. Sobre História. São Paulo: Cia das Letras, 1997. 432 p.
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THOMSON, A. Recompondo a Memória: questões sobre a relação entre a história oral
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633
Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

QUADROS DA NATUREZA - MONITORAMENTO


PARTICIPATIVO NO CAMPUS DA UFSCAR DE SÃO CARLOS

Patrícia Alves Ferreira1; Victor Marques Grilli1; Guilherme Spinoza Andreo1; João
Pedro Arantes Bigato2; Luciano Elsinor Lopes1
1
Departamento de Ciências Ambientais. Universidade Federal de São Carlos.
2
Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais. Universidade Federal de São
Carlos.

Resumo: O monitoramento participativo é uma interessante iniciativa que aproxima a


sociedade dos ambientes naturais e antrópicos. Visa ainda contribuir para os
levantamentos de dados a respeito das espécies e melhor entendimento e manutenção dos
processos ecológicos. Dessa forma surgiu o projeto Quadros da Natureza, que propõe o
monitoramento participativo de aves, plantas e animais visitantes florais no campus São
Carlos da Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. A proposta é de que o
monitoramento se dê a partir de observações e registros fotográficos de aves, plantas e
animais polinizadores pela comunidade de São Carlos. Até o presente foi realizado um
minicurso de fotografia da natureza, e a constituição de um banco de imagens. Os animais
e plantas retratados foram identificados. A divulgação ocorre por meio de mídias sociais
Facebook e Instagram. Apesar de bem recebido, o projeto ainda necessita de maior
divulgação e envolvimento da comunidade para realmente funcionar como um
monitoramento participativo.

1. Introdução

Monitoramentos participativos propiciam a valorização do meio ambiente e da


informação sobre ele por parte de uma população. O surgimento de iniciativas de
monitoramento participativo tem sido frequente em todo o mundo, como uma tentativa
de suprir a necessidade de levantamentos e manejo da biodiversidade e dos recursos
naturais (MMA, ICMBio). Muitas delas se apoiam no envolvimento de pessoas que
residem, usam esses recursos, ou participam na gestão das áreas onde se desenvolvem os
monitoramentos.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
O envolvimento comunitário acontece por diversas motivações e através de
mecanismos variados, alcançando resultados relacionados tanto à conservação da
biodiversidade quanto ao empoderamento das comunidades locais (BUTTEL 2000).
Apesar de variado, o protagonismo das populações vem se intensificando e gerando uma
grande diversidade de iniciativas chamadas genericamente de monitoramento
participativo. Por compreender o potencial de contribuição para conservação da
biodiversidade e para o desenvolvimento local, diversas organizações e governos buscam
aprimorar e difundir as iniciativas monitoramento participativo no mundo todo.
Dessa forma surgiu a proposta de realizar o monitoramento pariticpativo das
espécies de aves, plantas e polinizadores na área do campus de São Carlos da
Universidade Federal de São Carlos.

2. Objetivos
Aproximar a comunidade interna e externa da UFSCar ao ambiente do campus,
por meio da observação de plantas, aves e abelhas.

3. Metodologia
A metodologia do monitoramento proposto pelo projeto envolve três atividades
essenciais: 1. A observação e aquisição de imagens pelos participantes e envio para a
equipe do projeto; 2. A identificação das aves, plantas e visitantes florais por
pesquisadores da UFSCar; 3. A divulgação das imagens identificadas e informações
básicas de história natural dos organismos nas redes sociais (Facebook© e Instagram©).

4. Resultados
O presente relato se refere às atividades desenvolvidas pelo projeto Quadros da
Natureza no período entre maio de 2016 a junho de 2017.
Workshop para definição das espécies de plantas - O projeto realizou um
workshop para a seleção de espécies de plantas nativas, com potencial para arborização e
ajardinamento do Campus. Com a participação de estudantes, professores, pessoas da
comunidade externa a UFSCar, o workshop selecionou um conjunto de 30 plantas.
Criação do catálogo de espécies para coleta de sementes - Após a definição das
espécies de plantas para o plantio, foram compiladas informações úteis das espécies de
plantas escolhidas, como imagens, dados sobre frutificação, floração e das sementes em
catálogo representativo.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Levantamento de espécies no campus São Carlos da UFSCar. Está em andamento
um levantamento de espécies no campus, por meio de visitas semanais com auxílio de
câmeras fotográficas.
Banco de Imagens - A equipe do projeto Quadros da Natureza construiu um banco
de 249 imagens de plantas em flor, aves e visitantes florais no Campus São Carlos da
UFSCar. Adicionalmente, durante o Curso Básico de Fotografia foram obtidas 381
imagens, cedidas pelos participantes para compor o acervo do Projeto.
Curso básico de fotografia da natureza – O curso foi realizado em maio de 2017,
e apresentou os aspectos básicos da fotografia digital, com ênfase em câmeras
fotográficas de telefones celulares. Os participantes realizaram fotos e compartilharam
experiências por meio da apreciação e comentários das fotos realizadas, na busca por
aprimoramento da técnica de fotografia.
Monitoramento contínuo - O monitoramento fotográfico é realizado atualmente
por meio da rede social Facebook (https://www.facebook.com/quadrosdanatureza/), onde
o projeto Quadros da Natureza possui uma página e realiza postagens a respeito das
espécies de aves, plantas e abelhas no Campus São Carlos.
As pessoas têm recebido e curtido as postagens, porém o maior desafio é que elas
de fato participem obtendo e enviando suas imagens. Para isso será realizada uma
campanha de divulgação mais intensa e cursos mensais de fotografia da natureza no
Campus.

Agradecimentos
O presente projeto contou com bolsa da Pró-Reitoria de Extensão da
Universidade Federal de São Carlos – PROEX.

Referências Bibliográficas
MMA – ICMBio: Seminário Internacional de Monitoramento Participativo para o
Manejo da Biodiversidade e dos Recursos Naturais. Disponível em:
http://www.simpar2014.eco.br/pt/home
BUTTEL, F. H. “Sociologia ambiental, qualidade ambiental e qualidade de vida:
algumas observações teóricas”. In: HERCULANO, S.; PORTO, M. F. de S.; FREITAS,
C. M. de (Orgs.). Qualidade de vida e riscos ambientais. Niterói, EdUFF, 2000.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS, A LEI E OS DIREITOS


COMUNITÁRIOS NA RESEX CHICO MENDES, XAPURI/AC

SOARES, R.G.S1; SOARES.W.A.S.J2; GONÇALVES, C.J3

(1) Universidade Federal de São Carlos. Departamento de Ciências Ambientais. Email:


raisoresgomes@gmail.com;
(2) NuPER – Núcleo de Pesquisa e Extensão Rural da Universidade Federal de São
Carlos. Email: wsoares.adv@gmail.com;
(3)) Universidade Federal de São Carlos; Departamento de Ciências Ambientais.
Email: juliano@ufscar.br;

Resumo: As comunidades tradicionais inseridas em áreas de conservação estão


submetidas as legislações ambientais que limitam de forma pouco democrática as
condições de uso da Terra. Dessa forma estabelece-se um conflito socioambiental entre
usos tradicionais e as limitações impostas pela legislação. Este trabalho analisa as
evidências desse conflito sob a perspectiva dessas comunidades e das instituições que as
representam. As evidências são colhidas pela análise de multas e processos judiciais,
informações publicadas e entrevistas com lideranças. Segundo o STTR de Xapuri, no
período de maio a outubro de 2015, forma aplicadas penalidades com sanções que vão
desde a apreensão de bens a valores que ultrapassam o poder aquisitivo desses
trabalhadores, o que resulta na inclusão dessas pessoas na ilegalidade. Na análise de
processo jurídico decorrente destas penalidades encontramos evidência de utilização da
lei para criminalização dos povos da floresta, indicada nos autos pelo próprio juiz
responsável. Os processos criminais desconsideram o contexto, extraindo o crime dos
termos da lei em sua forma fria e literal. Sobre essas ações existe ainda a denúncia de
utilização da legislação como forma de marginalização dos povos das florestas e
enfraquecimento de suas organizações sociais, visto serem suas lideranças os principais
alvos desses processos. Sem julgamento do mérito da questão, este estudo evidencia a
existência do conflito e dá voz àqueles atores que apesar de principais afetados, não
possuem o mesmo poder de argumentação, força política e visibilidade, que dispõe o
poder público e as grandes instituições envolvidas.
Palavras-chave: RESEX; Comunidades Tradicionais; Jornada.

1. Introdução

“Agora, não se pode fazer uma coivara, retirar um pau para fazer galinheiro
porque tudo é proibido. ”. “Eles não oferecem alternativas e ainda multam
quem tenta fazer um roçado. Essa é uma lei do cão”. (Fala do seringueiro
morador da Resex Chico Mendes/ACLuiz Targino, 83 anos, in
ALTOACRE.COM. 2015).
As populações tradicionais habitam territórios onde os recursos ambientais são
essenciais à sua sobrevivência e, em geral, estes recursos são abundantes e preservados.
Por isto há uma constante pressão e conflito socioambiental advindo da expansão de
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
atividades capitalistas e/ou da ameaça à manutenção das atividades de subsistência pela
definição pouco democrática dos limites e das condições de uso das Unidades de
Conservação (ALLEGRETTI, 2008).
Tem se, portanto estabelecido a condição de conflito socioambiental uma vez que
os envolvidos têm na questão ambiental a base de suas reivindicações e que diferentes
grupos sociais lutam pela construção do que é a realidade socioambiental local. São,
portanto, fenômenos complexos que envolvem o mundo biofísico e seus ciclos naturais
e a rede de relações sociais a eles conectados, numa dada formação histórica (LOPES,
2006, p.34; LITTLE., 2002).
A ocorrência de conflitos ambientais em geral está relacionada às circunstâncias
nas quais um determinado grupo sofre o impacto ambiental do uso de um recurso natural
por outro predominante, econômica ou politicamente, sendo esta, uma condição definida
como injustiça ambiental. Neste caso temos o conflito socioambiental como uma
consequência da injustiça ambiental
É nesta perspectiva que trazemos os conflitos relacionados à aplicação da
legislação ambiental e o respeito à cultura e aos costumes das comunidades tradicionais,
chamadas aqui como povos da floresta e as instituições que os representam, como o
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Xapuri / Acre (STTR de Xapuri),
com grande número de membros residentes no interior da Reserva Extrativista Chico
Mendes (Acre).

2. Materiais e métodos

Analisamos multas sofridas pelos povos da floresta aplicadas no período entre


maio a outubro de 2015 fornecidas pelo STTR de Xapuri referentes a seus filiados. Em
conjunto analisamos um dos processos judiciais decorrentes dessas multas à uma das
lideranças locais. A perspectiva dos povos da floresta é coletada por meio de entrevista
com lideranças sindicais e seringueiros, depoimentos publicados, e relatórios de entidades
representantes.

3. Resultados e discussão

Encontramos 12 multas aplicadas pelos seguintes órgãos: Instituto do Meio


Ambiente do Acre-IMAC, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis –IBAMA e ainda do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade- (ICMBio) no caso de moradores da área da Resex Chico Mendes. As

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
sanções foram aplicadas sob alegação de crime ambiental. Alguns exemplos se referem a
acusações de corte ilegal de madeira, e criação ilegal de animais. No entanto, segundo o
STTR de Xapuri, tratam-se de práticas tradicionais ou de subsistência.
As sanções variam entre a simples apreensão do recurso natural à cobrança de
valores de até R$ 330 mil, sendo a grande maioria acima de R$ 30 mil. Tais valores
ultrapassam em muito o poder aquisitivo desses trabalhadores. Condição que acaba por
incluir essas pessoas na ilegalidade, e sob a alcunha de infratores.
Independentes de serem pagas ou não, essas multas podem ser acrescidas de
processos criminais. Os povos das florestas são enquadrados nos artigos da lei de crimes
ambientais e podem levar de 1 a 5 anos de prisão (Art. 40 da lei 9605/98).
Um dos processos judiciais decorrentes dessas multas evidencia bem a existência
desse conflito. O líder sindical Osmarino Amâncio Rodrigues, foi multado sob a acusação
de ter cortado árvores em sua colocação (área da Resex reservada a cada morador).
Conforme consta nos autos, Osmarino alega que cortou árvores que estavam mortas e que
o objetivo era construir uma casa para ele e para sua mãe. Durante o inquérito criminal a
perícia confirmou a veracidade dessas informações.
A sentença proferida pelo juiz deste caso, é ímpar em decisões judiciais na qual
se admite o crime, posto que, não se atribui pena. Na sentença, o juiz afirma que:
“ O laudo elaborado pela Polícia Federal é ilustrado com fotografia,
demonstrando que a castanheira teve queda natural, isto é, tombou, deixando
cratera e suas raízes expostas. Esse contexto evidenciando a queda natural
das árvores não se harmoniza com o auto de infração que atribui ao acusado
a responsabilidade pela derrubada desta árvore (castanheira), sugerindo que a
menção à castanheira foi um “esforço” e não um “reforço” para demonstrar
a culpa do acusado”, (...). (Jair Araujo Facundes - Juiz Federal in Autos
6468/74 Crimes Ambientais Sentença- Março de 2015-Rio Branco-Acre, grifo
dos autores).
Ainda nessa sentença encontramos, nas palavras do próprio juiz o contexto de
injustiça ambiental imposto aos moradores da ResEx:
“Há várias decisões deste Juízo Federal que advertem sobre a distribuição de
ônus da preservação ambiental, e de como, por vezes, o ônus mais severo,
antes as restrições que impõe, recaem justamente em parte mais
vulnerável (agricultores, extrativistas, seringueiros, pescadores artesanais
etc.(...)” (Jair Araujo Facundes -Juiz Federal in Autos 6468/74 Crimes
Ambientais Sentença- Março de 2015-Rio Branco-Acre, grifo dos autores).

Além de Osmarino, outros seringueiros são vítimas de multas ambientais que


ultrapassam sua capacidade econômica. A maioria não tem voz em sua defesa além da
atuação do sindicato que nas palavras de sua vice-presidente na ocasião do inquérito “ se
sentem uma gota no oceano, nessa luta contra grandes instituições públicas e privadas”
(Dercy Teles de Carvalho Cunha).

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Entende-se que, a restrição de uso da terra é uma determinação legal necessária.
O que se discute é quanto à forma que as leis são executadas e a quem elas beneficiam.
A garantia de uso de subsistência do recurso florestal está prevista no plano de manejo da
ResEx, (IBAMA, 2006 p.53) mas apesar disso, a alegação dos povos da floresta é de que
esse direito não lhes é garantido em sua prática.

4. Considerações Finais

O conflito sociambiental demonstrado acima se reflete no controle de como


determinado recurso deve ser usado, e fere diretamente o princípio da justiça ambiental,
no que tange a defesa da valorização e reconhecimento das diferentes formas de viver e
produzir dos territórios, neste caso, por populações tradicionais. Os processos criminais
desconsideram o contexto, extraindo o crime dos termos da lei em sua forma fria e literal.
Sobre essas ações existe ainda a denúncia de utilização da legislação como forma de
marginalização dos povos das florestas e enfraquecimento de suas organizações sociais,
visto serem suas lideranças os principais alvos desses processos, como foi visto no
processo contra a liderança sindical.

5. Referências

ALLEGRETTI. M., A construção social de políticas públicas. Chico Mendes e o


movimento dos seringueiros. Desenvolvimento e Meio ambiente, n. 18, p. 39-59, jul.
/dez. 2008. Editora UFPR.
BRASIL, Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Crimes Ambientais. Brasília- DF,
Senado, 1998
BRASIL, MINISTÉRIO DO MEIO AMBINETE Manifesto de Lançamento da Rede
Brasileira de Justiça Ambiental. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/destaques/item/8077. Acesso em 05 de novembro de 2015.
LITTLE, Paul. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma antropologia
da territorialidade. Série Antropologia 322. Universidade de Brasília, 2002.
LOPES, José Sérgio Leite. Sobre processos de “Ambientalização” dos conflitos e sobre
dilemas da participação. Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, ano 12. nº 25. p.31-
64., 2006.
NATAL. J. ALTOACRE.COM seu jornal da Fronteira. Reportagem especial: manejo
florestal no Acre não garante a sustentabilidade e conservação ambiental. Jorge
Natal. Publicado em 15 de novembro de 2015. Disponível em:
http://www.oaltoacre.com/-conservacao-ambiental/. Acesso em novembro de 2015.

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Carlos - UFSCar
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ISBN: 978-85-94099-03-7

REVITALIZAÇÃO DAS FLOREIRAS E HORTA DA ESCOLA-


PEQUENAS MÃOZINHAS CULTIVANDO O FUTURO

Freitas, Renata C. V.1; Amaral, Vanessa de C. F. do2, Freitas, Vinícius J. O.3


1
Pós-graduanda em ensino lúdico pela Faculdade São Braz, rvhtinha@yahoo.com.br
2
Graduanda em Matemática pela Faculdade Campos Elíseos,
nessa.4v@hotmail.com
3
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais,
viniciusjfreitas@yahoo.com.br

Resumo: Na Educação Infantil é necessário desde cedo trabalharmos com as crianças


possibilidades de reflexão e atitudes positivas que envolvam questões ambientais. Neste
trabalho abordamos o eixo ambiente e sociedade que, é de extrema importância para o
seu desenvolvimento íntegro. Assim, fizemos com que as crianças criassem o hábito de
preservar e conservar o meio ambiente, dentro do espaço escolar. O objetivo principal
deste trabalho foi fazer com que as crianças se percebessem como parte integrante do
meio ambiente, aprendendo a plantar, cultivar e preservar o meio ambiente dentro e fora
do espaço escolar. A escola por ser um espaço social deve abordar de forma lúdica essa
temática, fazendo com que as crianças entendam a importância da natureza, o cuidado
com o outro e a alimentação saudável, além de conseguirem identificar o que as plantas
e hortaliças precisam pra se desenvolver e respeitarem o meio ambiente, cuidando-o e
preservando-o. Devido a essas justificativas, procuramos desenvolver esse trabalho..
Palavras-chave: educação infantil; meio ambiente, preservação.

1. Introdução

A preocupação com o meio ambiente vem cada vez mais sendo discutida nos dias
de hoje. Desta forma, visando a formação de um indivíduo social preocupado com as
condições ambientais do meio em que vive, foi desenvolvido este trabalho na educação
infantil com crianças entre 5 e 6 anos do Cemei Dr. João Baptista Paino da Rede
Municipal de São Carlos.
Com o intuito principal de proporcionar uma vivência concreta e prazerosa do
meio ambiente, em específico, das plantas e hortaliças: a observação científica do seu
crescimento, de suas partes, das variedades de hortaliças, bem como noções de plantio,
sustentabilidade e preservação da natureza, além de incentivar o hábito de uma
alimentação saudável nas crianças da Educação Infantil.
De acordo com Sato (2004) o aprendizado ambiental é um componente vital, pois
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
oferece motivos que levam os alunos se reconhecerem como parte integrante do meio em
que vivem e faz pensar nas alternativas para soluções dos problemas ambientais e ajudar
a manter os recursos para as futuras gerações.
Essa adição de conhecimento no educando o permitirá identificar as plantas e
hortaliças no meio ambiente, perceber sua diversidade e a interdependência entre os
mesmos. Isso também contribuirá na sua integração com os demais componentes da
natureza melhorando assim a qualidade de vida das pessoas como um todo.

2. Objetivos

O trabalho desenvolvido tem como objetivo geral estimular a consciência


ambiental em alunos da educação infantil da escola Cemei Dr. João Baptista Paino, por
meio da criação e cuidado de uma horta na escola.
Desta forma, o projeto também apresenta os seguintes objetivos específicos:
• levar a criança a valorizar o meio ambiente e identificar-se como parte integrante
do mesmo;
• apresentar as partes das plantas às crianças;
• fazer com que as crianças observem e cuidem do desenvolvimento das plantas e
hortaliças;
• desenvolver o hábito de uma alimentação saudável já na educação infantil;
• promover mudanças de comportamento para o cuidado com o meio ambiente, tanto
na escola como fora dela;
• estimular os alunos a serem multiplicadores dos conhecimentos de educação
ambiental em sua comunidade.

2. Desenvolvimento

A Constituição Federal de 1988 elevou o status do direito a educação ambiental,


essencial para a qualidade de vida ambiental, atribuindo ao estado o dever de promover a
educação ambiental a todos os níveis de estudo e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente (art. 225, inciso VI).
A definição de educação ambiental é dada no artigo 1° da lei n° 9.795/99 como
processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem como uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade, colocando o ser humano como responsável individual, ou seja, fala da

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
ação individual na esfera privada e de ação coletiva na esfera pública (LIPAI, 2010)
Assim, a educação ambiental é capaz de contribuir para o enfrentamento de
problemas ambientais na dimensão da educação, e, em especial esse projeto contribui
para o respeito ao meio ambiente, bem como seu cuidado, além do incentivo ao consumo
de alimentos saudáveis por parte dos alunos.
Desta forma, para iniciarmos esse projeto, primeiramente fizemos um
levantamento dos conhecimentos prévios das crianças através de uma roda de conversa,
questionando-as sobre como viam as floreiras da escola e a natureza em torno da mesma.
Esta conversa informal sobre o meio ambiente e a preservação do mesmo gerou muitas
dúvidas e questionamentos por parte das crianças.
Num outro dia, iniciamos com um vídeo de plantio e cuidados com a natureza
para que as crianças pudessem ter noção de cuidados com a terra e plantas, depois,
novamente em roda-de-conversa, deixamos as crianças exporem seu ponto de vista a
respeito de suas ideias e de quais estratégias teríamos que fazer para dar vida às floreiras
da escola e revitalizá-las.
Depois, num outro momento, pedimos para que as crianças trouxessem mudas de
flores e, ou, hortaliças para fazermos o plantio. Vieram vários tipos de flores, entre elas a
Cravinia, Sálvia (sangue de Adão), Beijo; e hortaliças trouxeram alface, alface roxa e
rúcula e tubérculo rabanete (figura1).

FIGURA 1- mudas trazidas pelas crianças

Desta forma, fizemos o plantio: preparamos a terra, adubamos com terra vegetal
e enfim executamos o plantio (Figura2). As crianças foram muito participativas e
interessadas. Após, todo o processo de plantio, aguamos.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
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FIGURA 2 – preparação e plantio das mudas

No outro dia, as crianças, assim que chegaram à escola já foram logo perguntando
sobre nossa horta e floreiras, que queriam molhá-las. Fomos observá-las e depois
aguamos. Todos muito entusiasmados com esse projeto, não esqueciam nem se quer um
dia de cuidar das nossas flores e hortaliças (Figura3).

FIGURA 3 – entusiasmo das crianças cuidando da horta.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
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Em alguns dias, quando estávamos observando nossa horta, as crianças notaram
que cresceram alguns “matinhos” e que estes estavam atrapalhando o crescimento de
nossas hortaliças, dessa forma arrancamos as ervas daninha e depois molhamos nossa
hortinha (Figura 4).

FIGURA 4- Retirando as ervas daninha e aguando nossa horta e floreiras.

E, assim, esse trabalho foi feito dia-a-dia com as crianças, durante 2 meses. Sendo
que para finalizá-lo, depois que nossas hortaliças cresceram, fizemos a colheita e todas as
crianças puderam comer o que produziram na merenda escolar. (Figura 5).

FIGURA 5- Crianças provando o alface cultivado na escola.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
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Até as crianças que não simpatizavam muito com o sabor das hortaliças
experimentaram nossa alface e rúcula, que estava uma delícia!

4. Considerações Finais

O projeto realizado a partir da revitalização das floreiras e da horta serviu como


forma de possibilitar o entendimento do processo e cuidado das flores e da produção de
alimentos sustentáveis e saudáveis, proporcionando um contato maior com a natureza,
permitindo a adição de conhecimentos que não seriam jamais mencionados em sala de
aula e ainda dando às crianças a oportunidade de manusearem a terra, as mudas e os
instrumentos, além de se sentirem úteis por terem trabalhado para chegar aos resultados
esperados. O nível de interesse que as crianças apresentaram por aprender coisas novas e
a curiosidade em seus olhos demonstrou o quanto a atividade foi envolvente e importante
para a aprendizagem e desenvolvimento das crianças. Os professores observaram o
desempenho e a habilidade das crianças, no desenvolvimento de cada atividade. Também
analisaram que as crianças conseguiram criar hábitos de preservação e cuidados com o
meio ambiente, identificando-os em seu entorno.

Referências

BRASIL. Lei nº 9394 de 20 de Dezembro de 1996. Brasília, 1996. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 16 de fev. de 2018.
BRASIL. Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil. Brasília, 2010.
Disponível em: < http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-
I.pdf>. Acesso em: 16 de fev. de 2018.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente e Ministério da Educação. Programa Nacional
de Educação Ambiental. MMA/MEC, 1999.
Cultivando verduras orgânicas. Plantar em casa. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=EIfuwjeH9pk. Acesso em 23 de fev. de 2018.
LIPAI, Eneida Maekawa. Educação ambiental nas escolas. Disponível em:
HTTP://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicaçao3.pdf acesso em 20/04/2010.
Acesso em: 16 de maio de 2018.
SATO, Michele (2004). Educação Ambiental. São Carlos. Rima.

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Carlos - UFSCar
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A SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL COMO MEIO PARA A


PRESERVAÇÃO DO BIOMA CERRADO

Teodoro, Cátia C.1; Silva, Fabio L.2; Firme, Paloma F. C. P.3; Oliveira, Alisson C.4;
Almeida, Vinícius T. B.5; Printes, Liane B.6
1
Programa de Pós-Graduação em Ciências da Engenharia Ambiental, Universidade de
São Paulo, Itirapina-SP, Brasil. E-mail: catiateodorosc@gmail.com.
2
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais, Universidade Federal
de São Carlos, São Carlos-SP, Brasil. E-mail: fabioleodasilva@gmail.com
3
Graduanda em Ciências Biológicas (Licenciatura), Universidade Federal de São
Carlos, São Carlos-SP, Brasil. E-mail:paloma.costa14@gmail.com.
4
Graduando em Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São Carlos, São
Carlos-SP, Brasil. E-mail: alissoncleiton@gmail.com.
5
Graduanda em Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São Carlos, São
Carlos-SP, Brasil. E-mail: vi.almeida2323@gmail.com.
6
Bióloga, Doutora em Biologia Animal, Departamento de Gestão de Resíduos,,
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos-SP, Brasil. E-mail: liane@ufscar.br.

Resumo: O Bioma Cerrado é segundo maior do Brasil, porém sofreu elevadas taxas de
conversão de suas áreas nos últimos anos. Torna-se necessário então a promoção da
sustentabilidade para assegurar a proteção e conservação desse bioma de transição. Nesse
sentido, a educação ambiental surge como um meio que possibilita o desenvolvimento
justo e sustentável, além de contribuir para a criação de uma sociedade ecologicamente
responsável. Diante do exposto, buscou-se desenvolver um trabalho de sensibilização
ambiental em uma escola estadual no município de São Carlos-SP, localizada em uma
área com fragmentos vegetais de Cerrado nas adjacências. Ao todo, 100 crianças
participaram das atividades que envolveram uma apresentação sobre o Cerrado, a
realização da "Dinâmica do Equilíbrio" e a "Dinâmica Passarinho", assim como uma
pequena exposição da biota existente nessa bioma. Conclui-se que a sensibilização
ambiental, despertada através do trabalho de educação ambiental, pode contribuir para a
preservação do Cerrado por meio da conscientização e formação de cidadãos
ambientalmente responsáveis.
Palavras-chave: Instrumento de Política Ambiental, Ecossistemas naturais, Sociedades
sustentáveis.

1. Introdução

O Bioma Cerrado (COUTINHO, 2006) é o segundo maior do Brasil, ocupa cerca


de 23% do território nacional (WWF, 2000). Apesar de sua importância para a provisão
de água, recarga de aquíferos e proteção de uma rica biodiversidade, o Cerrado sofreu
elevadas taxas de conversão de suas áreas (WATSON et al. 2016).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Sendo assim, a promoção da sustentabilidade nos ambientes de ocorrência do
Cerrado, torna-se essencial para assegurar o funcionamento e a manutenção do
metabolismo dos ecossistemas (VINCENT; ROBERTS; MULKEY, 2015). Tal contexto
demanda a necessidade de se construir sociedades sustentáveis, promover a valorização
do ambiente natural (SMITH et al. 2013) e integração dos saberes.
A educação ambiental surge como um meio que possibilita o desenvolvimento
ambientalmente sustentável e socialmente justo, favorecendo o despertar do interesse
sobre o meio natural (MOCIOR; KRUSE, 2016; SMITH et al., 2013). Ressalta-se que
esse processo ainda é reconhecido como um elemento necessário para a formação de uma
sociedade ecologicamente responsável e politicamente atuante, conforme indica a Política
Nacional de Educação Ambiental (BRASIL 1999).
Diante do exposto, buscou-se desenvolver um trabalho de sensibilização para a
preservação do Bioma Cerrado em uma escola estadual no município de São Carlos-SP,
localidade marcada por altas taxas de conversão das suas áreas de vegetação nativa.

2. Material e métodos

O município de São Carlos insere-se na porção centro-oeste do Estado de São


Paulo (ca. 240 km da capital) e possui uma população de 221.950 indivíduos, segundo o
senso de 2010 (IBGE, 2017). A escola onde o trabalho foi realizado chama-se Escola
Estadual Aracy Pereira Lopez, situada na região periférica do município e localizada
próxima de fragmentos vegetais de Cerrado. O público alvo foram crianças do primeiro
ao quinto ano do ensino fundamental.
Cerca de 100 crianças participaram das atividades realizadas no dia 01 de junho
de 2017, porém em momentos distintos, dada a necessidade de adaptações na linguagem.
Agrupamos crianças que estavam no primeiro e segundo ano em um grupo, já aquelas
que estavam no terceiro e quarto ano fizeram parte do segundo grupo e, por fim, o quinto
ano formou um grupo único. Inicialmente foi realizada uma pequena apresentação acerca
do Bioma Cerrado e a sua importância, além da biota associada. Com o intuito de abordar
temas relacionados a conservação do Cerrado e a dependência existentes entre a sua
biodiversidade, dinâmicas foram utilizadas. Tendo como base o trabalho de Puida et al.
(2008), realizamos às seguintes dinâmicas: (i) dinâmica do equilíbrio e (ii) dinâmica
passarinho.
Na ocasião, realizamos uma pequena exposição após a realização das atividades
com todas as crianças. Foram colocadas em exposição galhos de árvores, fotografias de

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
animais da área de Cerrado existente dentro da Universidade Federal de São Carlos e
alguns animais: lobo-guará, tamanduá-mirim, gambá, uma cobra coral e insetos
(besouros, borboletas, escorpião, aranhas). Os animais expostos estavam taxidermizados
e foram emprestados do acervo do Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC)
da Universidade de São Paulo e do Projeto de Extensão Visitas Orientada à Trilha da
Natureza, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

2.1. Dinâmica do equilíbrio

O objetivo foi trabalhar a importância das interações existentes entre as espécies


que ocorrem no Cerrado, para tanto atribuímos de maneira desproporcional entre os
participantes seis nomes de espécies arbóreas do Cerrado (i.e. Ipê-amarelo, Pequizeiro,
Lobeira, Angico, Baru e Jatobá), fazendo uma pequena adaptação das espécies presentes
na dinâmica desenvolvida por Puida et al. (2008). Posteriormente, solicitamos para eles
formarem uma roda, entrelaçando os seus braços e pedimos que quando mencionado o
nome de uma espécie, os representantes correspondentes deviam ajoelhar-se sem perder
a união com os braços dos colegas ao lado. A dinâmica ocorreu até o momento onde os
participantes que continuavam em pé cedessem ao peso dos demais colegas, devido à
perda de equilíbrio.

2.2. Dinâmica passarinho

Foi solicitado para os participantes formarem grupos de três pessoas. Selecionou-


se, ao acaso, grupos para representarem árvores e o passarinho. Aqueles que eram árvores,
davam as mãos e a criança representando o passarinho foi orientada a ficar entre os
colegas árvores, conferindo assim a ideia de ninho. Um participante foi deixado para
representar o passarinho sem ninho. Um dos coordenadores falava passarinho, todos
deviam trocar de "ninhos" e não podiam permanecer no mesmo em que estavam. Já
quando mencionava-se "árvore", os representantes também faziam a troca de lugar com
os outros participantes da categoria. Quando mencionada a palavra "natureza", todos os
participantes, árvores ou passarinhos, trocavam de posições e assumiam uma nova
tipologia. Essa dinâmica teve o intuito de trabalhar a questão do desmatamento que ocorre
nas regiões de Cerrado, reforçando o papel do Bioma Cerrado na preservação e
conservação da biodiversidade.

649
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
3. Resultados e discussão

Ambas as dinâmicas atingiram seus objetivos, as crianças compreenderam a


importância da vegetação para a manutenção das espécies e a dependência existente entre
espécies, contudo, ressalta-se a necessidade de algumas adaptações na dinâmica do
equilíbrio para melhor desenvolvê-la. Destaca-se que em vários momentos, algumas
crianças relataram já avistarem o tatu nas áreas de vegetação do município.
O conceito de extinção foi bem desenvolvido com o público durante a dinâmica
passarinho, principalmente pela grande empatia que todos apresentaram pelo lobo-guará
e o tamanduá-mirim. Ao final da dinâmica, associamos o fato de um passarinho ficar sem
ninho com o desmatamento, como também trabalhamos com o conceito de extinção
através da ideia de que sem ter onde viver, os animais como o labo-guará o e tamanduá-
mirim acabariam morrendo e deixariam de existir nas áreas de Cerrado.
A exposição dos animais foi um momento que possibilitou uma aproximação com
a biota existente na região, bem como favoreceu a troca de saberes e sensibilização
ambiental para com o atual cenário de degradação observado em São Carlos.

4. Considerações Finais

O desenvolvimento de atividades de educação ambiental possibilitou a


aproximação das crianças com a vegetação de cerrado e a sua biodiversidade associada,
além de possibilitar a sensibilização ambiental. Verificou-se que poucas crianças sabiam
sobre aspectos do Cerrado, fator que demonstra a necessidade de se trabalhar mais o tema
em sala de aula. A continuidade do processo de educação ambiental pode contribuir com
a formação de cidadãos ambientalmente responsáveis.

Agradecimentos

Ao Departamento de Apoio a Educação Ambiental (DeAE) da UFSCar e ao


Centro de Divulgação Científica e Cultural (CDCC) da Universidade de São Paulo (USP),
por emprestarem os animas para a exposição.

Referências

BRASIL. Lei n ° 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental,


institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9795.htm>. Acesso em 29 de maio de
2017.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
COUTINHO, L. M. O conceito de bioma. Acta Botânica Brasiliensis, v. 20 n°1, p. 1 –
11, 2006.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Cidades.
Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang
=&codmun=354890>. Acesso em 26 de maio de 2017.
MOCIOR, E.; KRUSE, M. Educational values and services of ecosystems and
landscapes – An overview. Ecological Indicators, v. 60, p. 137–151, jan. 2016.
PUIDA, D. B.; OLIVEIRA, G. M. A.; CARVALHO, R. H.; NUNES, E. C. Educação
ambiental para a conservação do cerrado no distrito de Cana Brava, João Pinehiro,
Minas Gerais, Brasil. In: Anais do IX Simpósio Nacional Cerrado - Desafos e
Estratégias para o equilíbrio entre sociedade, agronegócio e recursos naturais e II
Simpósio Internacional de Savanas Tropicais. Brasília - DP, p. 1 - 7, 2008.
SMITH, L. M. et al. Relating ecosystem services to domains of human well-being:
Foundation for a U.S. index. Ecological Indicators, 10 years Ecological Indicators. v.
28, p. 79–90, maio 2013.
VINCENT, S.; ROBERTS, J. T.; MULKEY, S. Interdisciplinary environmental and
sustainability education: islands of progress in a sea of dysfunction. Journal of
Environmental Studies and Sciences, v. 6, n. 2, p. 418–424, 4 jul. 2015.
WATSON, K. B. et al. Quantifying flood mitigation services: The economic value of
Otter Creek wetlands and floodplains to Middlebury, VT. Ecological Economics, v.
130, p. 16–24, 2016.
WWF. Expansão Agrícola e Perda da Diversidade no Cerrado: Origens Históricas e o
Papel do Comércio Internacional. Brasília: WWF Brasil, 2000.

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Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

A DIVERSIDADE DE CORES DAS FLORES É INFLUENCIADA


POR MUDANÇAS NA PAISAGEM?

Fracacio, Guilherme.1; Lopes, Luciano. E.2, Ferreira, Patrícia. A.2

1
Graduando em Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São Carlos, São
Carlos-SP, Brasil. E-mail: guilherme.fracacio@gmail.com
2.
Universidade Federal de São Carlos. Departamento de Ciências Ambientais. Email:
lucianolopes@ufscar.br; paf1306@gmail.com

Resumo: As áreas de floresta atlântica no estado de São Paulo vêm sendo fragmentadas
ao longo dos anos e esses problemas tendem a impactar a funcionalidade dos processos
ecológicos, em especial a polinização. Com isso, o trabalho busca analisar se diferentes
quantidades de floresta em paisagens fragmentadas de Floresta Atlântica influenciam a
diversidade de cores de flores no sub-bosque. O trabalho foi realizado na região entre as
Serras da Cantareira e Mantiqueira em 30 áreas com diferenças na composição florestal
e uso e ocupação do solo. Vimos que a distribuição de cores das flores não variou em
função da quantidade de floresta e nem da heterogeneidade da paisagem, tanto para os
fragmentos florestais quanto para as áreas abertas adjacentes aos fragmentos. Esse
resultado pode refletir o histórico evolutivo das plantas que já passaram por mudanças
drásticas no ambiente no passado, sendo que espécies de todas as cores são capazes de se
manter, mesmo em paisagens degradadas. Outra possibilidade é que, devido sua grande
longevidade, espécies vegetais com flores de todas as cores se mantém nessas paisagens,
pois ainda não responderam às novas condições da paisagem fragmentada.

Palavras-chave: Diversidade Funcional, Floresta Atlântica, Fragmentação de Habitat.

1. Introdução

A fragmentação é o processo natural ou antrópico que reduz a quantidade de


habitat e afeta diretamente a estrutura da paisagem, aumentando o isolamento entre os
fragmentos de habitat remanescente (Fahrig 2003). As paisagens fragmentadas que
possuem maiores áreas de habitat naturais, conectadas e que são heterogêneas (ou seja,
tem maior diversidade de ambientes) tendem a ofertar um maior aporte de recursos para
os animais visitantes florais, assim como permitem e favorecem o movimento desses
animais entre as áreas de habitat remanescentes na escala local, favorecendo
a abundância das populações e a manutenção de maior diversidade de espécies (Fahrig
et al. 2011).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Objetivo

O objetivo deste trabalho é verificar a variação na diversidade de cores das flores


de espécies vegetais de sub-bosque em um gradiente de paisagens fragmentadas de
Floresta Atlântica com diferentes quantidades de floresta remanescente e diferentes
heterogeneidades de tipos de ambientes.

3. Métodos

A amostragem foi realizada em fragmentos de Floresta Atlântica na região das


Serras da Cantareira e Mantiqueira, localizadas no interior do estado de são Paulo. Trinta
(30) fragmentos com características florestais e estágio de sucessão semelhantes, foram
selecionados em um gradiente de paisagens com quantidade de floresta variando de 10%
a 90%. Cada um dos 30 fragmentos selecionados representa o centro de uma paisagem de
1 km de raio na qual foi calculada a quantidade de floresta. Em cada parcela hexagonal
foram registradas as plantas com flores presentes no sub-bosque. As 30 parcelas foram
visitadas três vezes, em dias claros e sem chuva, totalizando três campanhas de
amostragem.
As cores das flores foram classificadas de acordo com Girão et al. (2007), que
considera seis (6) classes distintas de grupos de cores, sendo elas “branco”, “esverdeado”,
“amarelo”, “lilás”, “vermelho” e “rosa”.
Para análise dos dados coletados, foi utilizado a análise canônica RDA (análise
de redundância; Legendre & Legendre 1998), na qual as variáveis resposta (número de
espécies de cada cor) foram relacionadas às variáveis explicativas (quantidade de floresta
e diversidade de ambientes na paisagem) considerando paisagens de 1km e de 5km de
raio.

4. Resultados e Discussões

Coletamos 1143 indivíduos de plantas, de 290 espécies e 44 famílias. As famílias


mais abundantes foram Asteraceae, Rubiaceae e Poaceae. Há duas vezes mais espécies
de plantas fora dos fragmentos de floresta do que no sub-bosque. Nas áreas abertas
adjacentes 29% do total de cores era branca, 29% lilás, 23% amarela, 9% verdes, 6% rosa
e 4% vermelhas. Já nas áreas de fragmento florestais foram coletadas espécies vegetais
das quais 52% das flores eram brancas, 8% esverdeadas, 12% amarelas, 14% lilás, 7%
vermelhas e 7% rosa. Percebemos que há uma maior equitatividade entre a distribuição
das cores das flores nas áreas abertas, enquanto nos fragmentos de floresta cerca de 60%

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
de todas as espécies observadas tinham flores dentro das categorias brancas ou
esverdeadas. Em ambos os ambientes as plantas com flores rosas e vermelhas são as
menos frequentes.
Contudo, não foi possivel estimar o índice de Pielou “J”, que representa a
equitabilidade das espécies, tendo em vista que o mesmo, leva em consideração o número
de índividuos de cada espécies que ocorreram em cada uma das comunidades, e estes
dados não foram coletados na presente pesquisa.
É esperada uma relação entre as cores apresentadas pelas flores e os visitantes
florais que podem ser polinizadores dessas plantas (Faegri e Van der Pijl 1979). Essa
relação entre as características das flores e o potencial de atratividade de visitantes florais
de grupos específicos tem sido discutida e considera importante para o entendimento do
funcionamento dos sistemas de polinização de plantas (Waser et al. 1996). Segundo Girão
et al. 2007, é esperado, que entre outras características florais, que as cores das flores
respondam a gradientes de degradação ambiental. Nesse estudo observou-se uma maior
proporção de flores de cores brancas e esverdeadas em fragmentos florestais pequenos e
isolados, enquanto houve uma maior proporção de flores de outras cores em fragmentos
de floresta maiores e mais próximos entre si (Girão et al. 2007).
Nossos resultados mostram que a distribuição das cores na paisagem não varia em
função da quantidade de floresta e nem da heterogeneidade da paisagem, tanto para as
áreas de mata atlântica (fragmentos florestais) quanto para as áreas abertas próximas aos
fragmentos ). Esse resultado contrapõe com a hipótese proposta que em um gradiente de
quantidade de floresta e heterogeneidade ambiental em paisagens fragmentadas haveria a
maior diversidade de cores de flores em áreas com maior quantidade de floresta e maior
heterogeneidade da paisagem, como sugerido pelos resultados apresentados no trabalho
de Girão et al. (2007). Além disso Com isso, podemos ressaltar que a metodologia
utilizada com o agrupamento das classes de cores pode ter influenciado esse gerado o
resultado inesperado, tendo em vista que o método generaliza e condensa diferentes
espécies de plantas e toda a diversidade de cores em apenas 6 classes.
Diferente do estudo de Girão et al. 2007, que amostrou uma área de Mata Atlântica
que foi fragmentada para instalação de áreas para cultivo de cana-de-açúcar
possivelmente no início do século XVIII. As áreas amostradas no nosso estudo tem
sofrido intensa pressão de uso do solo sendo alvo de especulação agrícola e urbana com
muita frequência principalmente nas últimas décadas (Ribeiro et al. 2009). Essa diferença
no histórico de fragmentação e também da heterogeneidade das áreas estudadas por Girão

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
et al. (2007) e das áreas que nós estudamos pode ser um dos motivos que explicam a
discrepância dos resultados. O histórico evolutivo das espécies vegetais podem apresentar
respostas adaptativas como resultado da interação com os animais polinizadores e em
resposta a pressões ambientais em um longo tempo evolutivo. Contudo as respostas
ecológicas dessas plantas a variações nas comunidades de polinizadores assim como às
características ambientais podem ser mais fracas ou até inexistentes. Ou seja, as plantas
que observamos no nosso estudo podem ainda não ter respondido à possível ausência de
polinizadores nas paisagens amostradas, devido à fragmentação e a redução da
quantidade de florestas. As plantas que não foram retiradas do ambiente podem ser manter
nos fragmentos ao longo do tempo. Contudo devido à falta de polinizadores essas plantas
podem não estar mais se reproduzindo. Esse aspecto, portanto pode vir a ser observado
ao longo do tempo e de acordo com a demografia das populações.

5. Conclusão

Com base resultados obtidos no estudo podemos concluir que a hipótese de


distribuição das cores na paisagem variam em função da quantidade de floresta e
heterogeneidade não foi observada nas áreas estudadas, tanto para os fragmentos
florestais quanto para as áreas abertas adjacentes. Portanto vale refletir sobre a
metodologia utilizada para classificação das cores, que pode ter sido ineficaz para a
proposta. Sendo assim propomos que estudos sobre a reprodução e demografia de
espécies de plantas com flores rosas e vermelhas sejam desenvolvidos para entender como
as variações ambientais recentes influenciam a manutenção dessas plantas na paisagem a
longo prazo.

Referências
FAEGRI, K. & VAN DER PIJL, L. 1979. The principles of pollination ecology. 3 rd
edition. Pergamon Press, Oxford, England.
FAHRIG, L., et al. Functional landscape heterogeneity and animal biodiversity in
agricultural landscapes. Ecology letters, v. 14, n. 2, p. 101-112, 2011.
FAHRIG, L. Effects of habitat fragmentation on biodiversity. Annual review of
ecology, evolution, and systematics, v. 34, n. 1, p. 487-515, 2003.
GIRÃO, L.C.; TABARELLI, M.; LOPES, A.V.; BRUNA, E.M. (2007). Changes in
tree reproductive traits reduce functional diversity in a fragmented Atlantic forest
landscape. PLoS ONE 2, e908.
LEGENDRE, Pierre; LEGENDRE, Louis. Numerical ecology: second English edition.
Developments in environmental modelling, v. 20, 1998.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
RIBEIRO, M.C.; METZEGER, J.P.; MARTENSEN, A.C.; PONZONI, F.J.; HIROTA,
M.M. (2009). Brazilian Atlantic forest: how much is left, and how is the remaining
forest distributed? Implications for conservation. Biological Conservation 142: 1141–
1153
WASER, N. M. et al. Generalization in pollination systems, and why it matters.
Ecology, v. 77, n. 4, p. 1043-1060, 1996.

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ANÁLISE DA DINÂMICA DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DAS


ÁREAS NO ENTORNO DO RESERVATÓRIO DO LOBO,
ITIRAPINA-SP

Allita Rezende dos Santos.1; Phelipe da Silva Anjinho.2; Mariana Abibi Guimarães
Araujo Barbosa.3; Frederico Fabio Mauad.4
1, 2, 3, 4
Programa de Pós-graduação em Ciências da Engenharia Ambiental (PPG-SEA),
Escola de Engenharia de São Carlos/ Universidade de São Paulo (EESC/ USP), Centro
de Recursos Hídricos e Estudos Ambientais (CRHEA), Núcleo de Hidrometria. 1
allita.santos@gmail.com; 2 phelipe.anjinho@usp.br; 3 mariana.abibi@usp.br; 4
mauadffm@sc.usp.br.

Resumo: A ocupação antrópica e as alterações ambientais provenitentes de atividades do


desenvolvimento humano é responsável por muitos dos impactos negativos que afetam
as áreas de conesrvação e o meio ambiente. O material proveniente das atividades do
meio agrícola é caracterizado por grandes concentrações de fósforo e nitrogênio, além de
responsáveis pelos sedimentos depositados nos sistemas aquáticos, o que compromete a
qualidade da água. Diante do exposto, o objetivo desse estudo foi analisar a dinâmica de
uso e ocupação do solo das áreas no entorno do reservatório do Lobo, Itirapina (SP), a
partir da sua caracterização com a utilização de imagens de satélite datadas dos anos de
1985 e 2017. As mudanças do uso do solo identificadas foram o aumento das áreas
agrícolas que representaram 24% da área total, além de constatada a perda de 5% de áreas
de conservção ambiental representadas por cerrado, mata ciliar e vegetação natural. A
partir disso conclui-se que essas alterações podem estar causando impactos negativos na
qualidade da água e influenciando no depósito de sedimentos com fim no reservatório.
Palavras-chave: Cobertura do solo; SIG; Conservação.

1. Introdução

A conservação ambiental é de suma importância para a subsistência dos seres


vivos. No entanto, as alterações provenientes da ocupação antrópica causam impactos
negativos ao meio ambiente que reflete na extenuação dos recursos e do patrimônio
natural. Em contrapartida, na visão moderna de gestão territorial do meio urbano e rural,
toda ação de planejamento ou monitoramento do espaço deve ser considerada a
perspectiva ambiental no contexto de conservar o meio ambiente. Dessa forma, inclui-se
o meio físico-biótico, a ocupação humana e seu interesse de desenvolvimento econômico.
Na parte central do estado de São Paulo o clima é quente com o verão chuvoso,
um período seco no inverno e ventos relativamente intensos. Esses são fatores importantes
para o transporte e deposição de sedimentos no sistema aquático, aliados a presença de
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
atividades do setor agrícola que geralmente apresentam áreas de uso intensificado e de
desmatamento (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI; RODRIGUES, 2003). O material
proveniente desse setor é caracterizado por grandes concentrações de fósforo e nitrogênio,
comprometendo a qualidade da água que demanda por investimento no tratamento para
consumo e irrigação (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI, 2014).
Diante do exposto, objetiva-se nesse estudo analisar a dinâmica de uso e ocupação
do solo das áreas no entorno do reservatório do Lobo, Itirapina (SP).

2. Materiais e métodos

Nesse estudo considerou-se como área do entorno um raio de 2 km ao redor do


reservatório do Lobo, localizado entre os municípios de Brotas e Itirapina. A área de
estudo possui 53,6 km² e compreende a zona de influência direta do reservatório
(FIGURA 13).

FIGURA 13- Localização da área de estudo.

Para a elaboração dos mapas de uso e ocupação do solo foram utilizadas imagens
dos sensores Thematic Mapper (TM) e Enhanced Thematic Mapper (EMT) do satélite
Landsat 5, com 7 bandas espectrais, levantadas no dia 09 de julho de 1985; e os sensores
Operational Land Imager (OLI) e Thermal InfraRed Sensor (TIRS) do satélite Landsat 8,
com 10 bandas espectrais de resolução espacial de 30 metros e, 1 banda espectral com
resolução espacial de 15 metros (OLI panchromatic band 8), com data de passagem em
15 de julho de 2017, obtidas na base de dados da U.S Geological Survey (USGS).
Os mapas de uso e ocupação do solo foram gerados por meio da digitalização das
imagens de satélite para a área de interesse. Para tanto, utilizou-se o software ArcGis 10.3.

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As classes de uso do solo foram indentificadas e classificadas conforme as diretrizes do
Manual Técnico de Uso da Terral (IBGE, 2013).

3. Resultados e discussões

As atividades identificadas na área de estudo e alterações ocorridas entre as datas


selecionadas são demonstradas na Figura 2. As ocupações e usos do solo identificados
são a agricultura, a cana-de-açúcar, o cerrado, a citricultura, os corpos hídricos, a mata
ciliar, a ocupação humana de baixa densidade, a pastagem, a silvicultura, a vegetação
natural e a área sujeita a inundação.

FIGURA 14- Dinâmica de uso e ocupação do solo das áreas no entorno do reservatório do Lobo

Na Tabela 1, apresenta-se o percentual de uso e ocupação do solo em relação a


área total de estudo, para cada tipo. As mudanças ocorridas foram o aumento das áreas
ocupadas por cana-de-açúcar, citricultura, ocupação humana, pastagem, silvicultura, e
declínio na área de agricultura. Essas mudanças representam aproximadamente 24% da
área total, e isso pode ter influência direta sobre os componentes do ciclo hidrológico, tais
como infiltração, escoamento superficial e evapotranspiração, além de comprometer a
qualidade da água (CALIJURI et al., 2015).

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TABELA 5- Dinâmica de uso e ocupação do solo das áreas no entorno do reservatório do Lobo
Uso e ocupação do solo Percentual de área Percentual de área Variação
(1985) (2017) %

Agricultura 9,29 0 -9,29


Cana-de-açúcar 0,55 9,13 +8,58
Cerrado 26,83 23,67 -3,16
Citricultura 0 0,55 +0,55
Corpos hídricos 10,87 10,87 0
Mata ciliar 5,19 5,12 -0,07
Ocupação humana de baixa densidade 5,09 7,86 +2,77
Pastagem 11,67 13,26 +1,59
Silvicultura 7,58 8,74 +1,16
Vegetação natural 19,09 16,95 -2,14
Área sujeita a inundação 3,84 3,84 0
Total 100 100

Identificou-se a abertura de novas áreas que antes eram conservadas. Foram


ocupadas regiões de cerrado, de mata ciliar e de vegetação natural, representando mais de
5% da área total de estudo, o que pode estar permitindo uma maior contaminação química
na água do reservatório. Segundo Tundisi e Matsumura-Tundisi (2014), isso acontece
porque as fontes não-pontuais de fósforo e nitrogênio são controladas pela cobertura
vegetal presente na área, como as matas ciliares, o mosaico de vegetação e os sistemas de
zonas húmidas, removendo nutrientes e diminuindo a entrada de metais pesados no
reservatório.

4. Conclusão

A análise da dinâmica de uso e ocupação do solo na área de estudo mostrou que


houveram alterações nas regiões de atividades agrícolas e um declínio na áreas de
conservação ambiental, representando perda de parte da vegetação nativa que minimiza
a contaminação química da água do reservatório. Essas alterações podem estar causando
impactos negativos na qualidade da água e influenciando no depósito de sedimentos que
chegam no reservatório.

Referências

CALIJURI, M. L. et al. Impact of land use/land cover changes on water quality and
hydrological behavior of an agricultural subwatershed. Environmental Earth Sciences,
v. 74, n. 6, p. 5373–5382, 1 set. 2015.
IBGE, I. B. DE G. E E. (ED.). Manual técnico de uso da terra. 3a̲ edição ed. Rio de

660
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, 2013.
TUNDISI, J. G.; MATSUMURA-TUNDISI, T. The ecology of UHE Carlos Botelho
(Lobo-Broa Reservoir) and its watershed, São Paulo, Brazil. Freshwater Reviews, v. 6,
n. 2, p. 75–91, 2014.
TUNDISI, J. G.; MATSUMURA-TUNDISI, T.; RODRIGUES, S. L. Gerenciamento e
Recuperação das Bacias Hidrográficas dos Rios Itaquerí e do Lobo e da UHE
Carlos Botelho (Lobo-Broa). São Carlos: IEE, 2003.

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ANÁLISE DE TEMPERATURA DE UMA BACIA HIDROGRÁFICA


LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS - SP.

Santos, Bruna F.¹; Bueno, José Otávio de. A.²


Hanai, Frederico Y.³
1,2
Universidade Federal de São Carlos, brunafelixsantos_@hotmail.com,
tvnalmeida@gmail.com
2
Orientador, Universidade Federal de São Carlos, fredyuri@ufscar.br

Resumo: As inúmeras transformções impostas ao meio ambiente e as constantes


modificações do território têm ocasionado impactos aos ecossistemas naturais. Dentre
elas pode-se citar as variações climáticas, que com a redução da vegetação alteram o
microclima urbano. Com isso, ressalta o papel importante da arborização que auxilia na
diminuição da incidência solar sobre a superfície e também no ganho de calor. Nesta
perspectiva, este estudo teve como objetivo analisar a variação da temperatura da Bacia
Hidrográfica do Córrego do Medeiros, localizada no município de São Carlos – SP,
utilizando transectos móveis. A metodologia consistiu em uma coleta de dados realizada
por um percurso com uma distância de 1.530 metros (transecto). Os resultados mostraram
uma variação de temperatura de 20,15°C até 21,55°C, o que pode ser explicada pelo tipo
de ocupação no entorno da bacia, locais onde a concentrção de árvores eram maiores a
temperatura consequentemente foi menor, desta forma é notório a influência que a
vegetação tem na manutenção do microclima urbano.
Palavras-chave: Bacia Hidrográfica; Temperatura; Microclima Urbano.

1. Introdução

A expansão dos municípios sem levar em consideração as características do


meio físico, alteram significativamente o meio natural, dentre essas transformações pode-
se citar o clima, que altera a atmosfera em uma escala mais local (AMORIM, 2000).
Ainda de acordo com Amorim (2000), alterações como a extração da vegetação
nativa, a impermeabilização do solo, canalização de riachos, concentração de
construções, o aumento da circulação de indivíduos e automóveis, alteram o
comportamento da atmosfera sobre a cidade.
Nesta perspectiva, as bacias hidrográficas também são alvos das expansões
urbanas o que acarreta em degradações ambientais. Os recursos naturais que a compõem
como o solo, água e vegetação estão em constantes mudanças em resposta a evolução
natural e as atividades humanas (JÚNIOR et al, 2010).
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Com isso, ressalta-se o papel importante da arborização urbana que pode
contribuir com benefícios físicos e climáticos. A vegetação auxilia na diminuição da
radiação solar sobre a superfície, na umidificação e depuração do ar e do ganho de calor,
evidenciando os benefícios ao microclima urbano e também relacionados ao conforto
térmico (GONÇALVES; CAMARGO; SOARES, 2012). .
Portanto, o estudo teve como objetivo analisar as características térmicas da Bacia
Hidrgráfica do Córrego do Medeiros localizada no município de São Calos – SP,
utilizando transectos móveis.

2. Local de Estudo

A área da Bacia Hidrográfica do Córrego do Medeiros, utilizada no estudo situa-se no


município de São Carlos, localizado no interior do estado de São Paulo, na região Centro-
Leste, e encontra-se entre os bairros Jardim Bicão e Vila Carmem. A nascente da Bacia
esta protegida dentro do parque do Bicão – Centro de Lazer Veraldo Sbampato.

3. Materiais e Métodos

Para analisar as variações de temperatura dentro da Bacia Hidrográfica do Córrego


do Medeiros, foram realizadas medições com transectos móveis, que correspondem a
trajetos pré-estabelecidos dentro de determinada área, onde são registrados dados
climáticos. O equipamento utilizado para coletar as medidas de temperatura do ar foi um
Data Logger HOBO® Pro v2, configurado para realizar as coletas a cada segundo a uma
altura de aproximadamente 1(um) metro do solo, para verificar a menor variação possível
do ponto de vista do pedestre.
Para tanto, a coleta de dados foi realizada durante o dia 02 de junho de 2017, entre
os horários das 15h00 às 18h00 horas, em conformidade com a metodologia adotada por
Ferreira; Carrilho e Mendes (2015). Com este levantamento foi possível verificar as
diferenças de temperatura a cada segundo em cada ponto do percurso, tanto em áreas onde
a ocorrencia de árevores eram maiores quanto em locais que não havia arborização.
O trajeto foi escolhido com o intuito de analisar qual o comportamento da
temperatura do ar em relação a proximidade com áreas arborizadas, partindo da área mais
antropizada em direção a uma área que a arborização era mais intensa além de poder
verificar como esse comportamento se altera conforme se aproxima ou distancia dessas
áreas.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
4. Resultados e discussão

A análise realizada na Bacia Hidrográfica do Córrego do Medeiros no município


de São Carlos, considerou os seguintes aspectos do ambiente: às áreas de ocupação, a
quantidade de área construída, fontes de calor, alta trafegabilidade de automóveis e as
áreas de vegetação, sendo fatores condicionantes a alterarem o clima do local.
O trajeto realizado teve 1.530 metros de distância, sendo o percurso iniciado na
Rua Dr. João Sabino, onde foram coletadas as maiores temperaturas, e seu ponto final
localizado na Rua Cícero Soares Ribeiro com temperaturas menores em relação ao ponto
inicial, fato que se dá pela menor distância que o ponto se encontra de áreas arborizadas
(Figura 1).

FIGURA 1 - Variação da temperatura ao longo do trajeto

No local da área de estudo foi observada uma intensa ocupação com casas
residências e comércios, como oficinas, supermercados, farmácias, academias entre
outros. Sendo assim, caracterizada pela intensa movimentação da população pelo local.
O resultado da análise obtida por meio do transecto móvel, na Bacia Hidrográfica
do Córrego do Medeiros, variam em temperaturas de 20,15°C até 21,55°C. A temperatura
próxima ao Parque do Bicão é menor em relação ao ambiente construído no entorno,

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
sendo os valores maiores conforme se distancia do parque, fato que se dá por conta da
alta densidade de árvores que se encontram no local, enquanto que no entorno a
quantidade de árvores é baixa, sendo este o fator principal para o aumento da temperatura,
resultado que também foi encontrado por Amorim (2000) em seu trabalho, destacando a
influência da vegetação no microclima.

5. Considerações Finais

O estudo obteve resultados de variação de temperatura, por meio da utilização de


transectos móveis em lugares com alta e baixa quantidade de vegetação, sendo notória a
influência da cobertura vegetal no microclima urbano e também de acordo com os
diagnósticos realizados na área de estudos, ficou evidente que a intensa transformação
por meio das atividades antrópicas interfere diretamente na temperatura do local,
promovendo seu aumento tanto no ar quanto na superfície urbana.
A este propósito, destaca-se a importância de se realizar estudos como este para
auxiliar a tomada de decisão por parte do poder público e dos moradores, contribuindo
para a criação de ambientes que contenham áreas com vegetação que possam amenizar a
temperatura das bacias hidrográficas.

6. Referências

AMORIM, M. C. C. T. O Clima Urbano de Presidente Prudente/SP. 2000. 322 f.


Tese (Doutorado em Geografia Física) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2000.
FERREIRA, L. F. CARRILHO, S. T.; MENDES, P. C; Áreas verdes urbanas: uma
contribuição aos estudos das ilhas de frescor.
GeosciencesandHumanitiesresearchmedium, Ituiutaba, v. 6, n.2, p. 101-120, 2015.
JÚNIOR, J. M. B.; FRANCISCO, P. R. M.; FILHO, J. F. C.; SÁ; T. F. F. Sistemas de
informações geográficas (SIG) para gestão ambiental de bacias hidrográficas,
2010. Disponível em <
https://www.ufpe.br/cgtg/SIMGEOIII/IIISIMGEO_CD/artigos/CartografiaeSIG/SIG/R_
235.pdf > Acesso em 17 de maio de 2017.
GONÇALVES, A.; CAMARGO, L. S.; SOARES, P. F. Influência da vegetação no
conforto térmico urbano: estudos de caso na cidade de Maringá - Paraná, Anais do III
Seminário de Pós-Graduação em engenharia Urbana, 2012.

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AVALIAÇÃO DE MÉTODOS DE CORREÇÃO TOPOGRÁFICA


APLICADOS A ÍNDICES DE VEGETAÇÃO

Perez, Gabriel G.1

Bourscheidt, Vandoir2
1
Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Universidade Federal de São
Carlos, gerez.18@gmail.com
2
Orientador, Departamento de Ciências Ambientais, Universidade Federal de São
Carlos, vandoir@ufscar.br

Resumo: Índices de vegetação podem ser muito úteis para diversas aplicações, mas efeitos
de sombra causados pela topografia podem causar problemas no seu uso. Neste trabalho,
foram comparados quatro métodos de correção topográfica para seis índices de vegetação
usando imagens do Sentinel 2. Os métodos de correção utilizados foram Cosine
correction, C correction, Minnaert with slope, e Normalization. Os índices calculados
foram o índice de vegetação melhorado (EVI), índice de clorofila por red-edge invertido
(IRECI), posição do red-edge para o Sentinel 2 (S2REP), índice de vegetação por
diferença normalizada (NDVI), índice de vegetação por razão (RVI), e índice de
vegetação ajustado para o solo (SAVI). Os resultados mostram que o método Minnaert
with slope foi o mais bem-sucedido na minimização dos efeitos da topografia. Os índices
que mais se beneficiaram da correção topográfica foram EVI, IRECI e SAVI. Os outros
três índices não parecem sofrer muito com efeitos de relevo.
Palavras-chave: Sentinel 2; Topografia; Relevo; Sombra; Sensoriamento Remoto.

1. Introdução

Índices de vegetação são uma maneira simples de converter as informações


contidas em bandas espectrais de satélites em uma única imagem. Podem ser usados para
diferenciar áreas de vegetação natural de plantações (RISSO, 2009), estimar biomassa em
pastagens (MUTANGA; SKIDMORE, 2004), estimar o índice de área foliar em florestas
(MAJASALMI; RAUTIAINEN, 2016) e muitas outras aplicações. Apesar de sua
utilidade, a topografia pode gerar problemas na utilização desses índices (GAIDA, 2016).
Para minimizar esse efeito, diversos métodos de correção topográfica podem ser
aplicados às imagens antes do cálculo dos índices. Esses métodos consistem no uso de
informações sobre o relevo e elevação e azimute solar para compensar pelos efeitos de
sombra causados pela topografia. Assim, o objetivo deste estudo foi determinar o melhor
dentre quatro métodos de correção topográfica para seis índices de vegetação distintos.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Metodologia

O estudo foi conduzido em uma área de Mata Atlântica no estado de São Paulo
(Brasil) usando uma imagem do Sentinel 2 (23KLQ, 08/01/2016) e um MDS
disponibilizado pela EMPLASA (2010). O software usado para aplicar a correção
topográfica nas imagens foi o QGIS, com o algoritmo topographic correction do SAGA.
Quatro métodos de correção topográficas foram aplicados às bandas do Sentinel 2: Cosine
Correction (CIVCO, 1989), C Correction (TEILLETP; GUINDON; GOODENOUGHD,
1982), Minnaert with Slope (LAW; NICHOL, 2004), e Normalization (LAW; NICHOL,
2004). Seis índices de vegetação foram calculados usando as bandas corrigidas com cada
método e as bandas não corrigidas como controle. Os índices de vegetação usados foram
o índice de vegetação melhorado (EVI) (HUETE et al. 1997), índice de clorofila por red-
edge invertido (IRECI) (FRAMPTON, 2013), posição do red-edge para o Sentinel 2
(S2REP) (FRAMPTON, 2013), índice de vegetação por diferença normalizada (NDVI)
(ROUSE, 1974), índice de vegetação por razão (RVI) (PEARSON; MILLER, 1972), e
índice de vegetação ajustado para o solo (SAVI) (HUETE, 1988). Após o cálculo dos
índices, todas as imagens foram importadas para o ambiente de desenvolvimento
integrado (IDE) spyder (python), com o qual foi calculada a variância de cada uma delas
e gerados gráficos no estilo boxplot para comparar a distribuição dos valores dos pixels.
Para analisar a performance de cada método de correção, foram comparadas a distribuição
dos pixels nos boxplots, os valores de variância obtidos e a análise visual das imagens.

3. Resultados e discussão

Dentre os métodos de correção utilizados, o método de Minnaert with slope foi o


mais bem-sucedido na maioria dos casos, especialmente para os índices EVI e SAVI. Isso
ocorre, pois, os outros métodos de correção parecem superestimar o efeito de sombra do
relevo e deixam o terreno sombreado mais claro do que as áreas sem sombra, causando
um efeito de relevo inverso. Também se observou que SAVI (Figura 1), EVI e IRECI são
os índices que visualmente se beneficiam mais com correção topográfica das bandas,
tendo a maior redução de variância após a correção (Tabela 1 e Figura 2). Já os índices
RVI, NDVI e S2REP, não tiveram melhoras significativas e parecem não ser tão afetados
pelos efeitos do relevo. Isso ocorre, pois, os efeitos de sombra causados pela topografia
provavelmente afetam diferentes regiões do espectro de maneira similar. Assim, índices
como o RVI e NDVI não são tão afetados, pois dependem da proporção entre as bandas

667
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
e não de seus valores absolutos, embora ainda sofram algum efeito (GAIDA et al. 2016).
Já índices como o EVI e o IRECI, por outro lado, utilizam uma quantidade
desproporcional de bandas como numerador e denominador em seus cálculos. Isso faz
com que os efeitos de sombra causados pelo relevo fiquem desbalanceados na equação
desses índices, tornando-os mais suscetíveis à topografia.

FIGURA 1 – Comparação de diferentes métodos de correção para índices de vegetação e uma


composição RGB. No centro, o modelo digital de superfície (MDS) usado para as correções.

Tabela 1 – Variância das imagens por método de correção e índice de vegetação


Índice Uncor. Cosine Minnaert C Cor. Norm.
EVI 0.00284 0.00179 0.00144 0.00182 0.00179
IRECI 0.02525 0.01734 0.02025 0.01824 0.01734
NDVI 0.00031 0.00031 0.00027 0.00036 0.00031
RVI 1.53618 1.53618 1.49392 1.69218 1.53618
S2REP 0.74806 0.75086 0.77158 0.78152 0.75086
SAVI 0.00163 0.00090 0.00082 0.00086 0.00090

FIGURA 2 – Boxplot dos pixels das imagens por índice de vegetação e método de correção topográfica.
Legenda: não corrigido (1), Cosine (2), Minnaert (3), C Correction (4) e Normalization (5).

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4. Conclusão
Conclui-se que, para a maioria dos índices analisados, o método Minnaert with
slope de correção topográfica é o que mostra melhores resultados, e os índices que mais
se beneficiam de sua aplicação são o SAVI e o EVI. O IRECI também se beneficia da
correção, mas o melhor método para corrigi-lo foi Cosine correction. O NDVI, RVI e
S2REP parecem ser pouco afetados pelo relevo e não mudam muito com a correção.

Referências
CIVCO, D. L. Topographic normalization of landsat thematic mapper digital imagery.
Photogramm. Eng. Rem. Sens., v.55, n.9, p.1303–1309, set.1989.
EMPLASA. Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A. "Modelo Digital de
superfície (DSM) do estado de São Paulo." São Paulo: EMPLASA, 2010.
FRAMPTON, W. J. et al. Evaluating the capabilities of Sentinel-2 for quantitative
estimation of biophysical variables invegetation. ISPRS journal of photogrammetry
and remote sensing, v.82, p.83-92, 2013.
GAIDA, W. et al. Variações da reflectância e dos índices de vegetação em função dos
parâmetros da modelagem topográfica no Parque Estadual do Turvo, Rio Grande do
Sul, Brasil. Inv. Geog. Bol. Inst. Geog., v. 2016, n. 91, p.105-123, 2016.
HUETE, A. R. A soil-adjusted vegetation index (SAVI). Remote Sens. Environ. v.25,
n.3, p.295-309, 1988.
HUETE, A. R. et al. A Comparison of Vegetation Indices over a Global Set of TM
Images for EOS-MODIS. Remote Sens. Environ., v.59, n.3, p.440-451, 1997.
LAW, K. H.; NICHOL, J. Topographic correction for differential illumination effects
on IKONOS satellite imagery. Int. Arch. Photogramm. Remote Sens. Spat. Inform.
Sci., v.35, p.641-646, 2004.
MAJASALMI, T.; RAUTIAINEN, M. The potential of Sentinel-2 data for estimating
biophysical variables in a boreal forest: a simulation study. Remote Sensing Letters, v.
7, n. 5, p.427-436, 2016.
MUTANGA, O.; SKIDMORE, A. K. Narrow band vegetation indices overcome the
saturation problem in biomass estimation. International Journal of Remote Sensing,
v. 25, n. 19, p.3999-4014, 2004.
PEARSON, R. L.; MILLER, L. D. Remote mapping of standing crop biomass for
estimation of the productivity of the shortgrass prairie. Remote Sens. Environ. v.8,
p.1355, 1972.
RISSO, J. et al. Potencialidade dos índices de vegetação EVI e NDVI dos produtos
MODIS na separabilidade espectral de áreas de soja. ANAIS XIV‐SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, p.379-386, 2009.
ROUSE J. W. Jr. et al. Monitoring vegetation systems in the Great Plains with ERTS.
THIRD ERTS SYMP. p.309-317. 1974.
TEILLETP, M.; GUINDON, B.; GOODENOUGHD, G. On the slope-aspect correction
of multispectral scanner data. Canadian Journal of Rem. Sens., v.8, n.2, dez. 1982.

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USO DA CHUVA DE SEMENTES COMO INDICADOR DA


RESTAURAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS EM SOROCABA, SP

Dutra, Felipe B.1; Souza, Marcos. A. S.2

Piña-Rodrigues, Fatima. C. M.3


1,2
Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba. ¹ Curso de Bacharelado em
Ciências Bioloógicas; ² Curso de Engenharia Florestal; Rodovia João Leme dos
Santos, km 110, Sorocaba, 18052-780. fedutrabiobach@gmail.com
3
Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba. CCTS – Departamento de
Ciências Ambientais, Rodovia João Leme dos Santos, km 110, Sorocaba, 18052-780.
fpinarodrigues@gmail.com

Resumo: A Chuva de sementes é considerada um mecanismo de regeneração natural da


floresta. Ela representa um indicador devido à sua capacidade de expressar a dinâmica
natural da vegetação e o potencial de resiliência de determinada comunidade. O trabalho
teve como objetivo avaliar o aporte de chuva de sementes em uma área degradada
recomposta pelo modelo denso-diverso-funcional. A chuva de sementes obtida foi
verificada quanto a diversidade, densidade e origem afim de indicar o estágio de
restauração e se existe a relação entre a diversidade do aporte de sementes e a diversidade
de espécies na área restaurada.
Palavras-chave: Chuva de sementes; Restauração; Denso-diverso-funcional.

1. Introdução

A chuva de sementes é responsável pela inserção de novos indivíduos e/ou


espécies em uma área, promovendo a alteração na diversidade genética das populações,
aumento da riqueza de espécies e da distribuição geográfica de futuros indivíduos
(NATHAN; MULLER-LANDAU, 2000; CAMPOS et al., 2009; ZHOU; CHEN, 2010) .
Por estas e outras funções essenciais, a chuva de semente pode ser utilizada como um
bioindicador para avaliar o grau de degradação ou recuperação de um ecossistema
(MACHADO; PINÃ-RODRIGUES; PEREIRA, 2008). O estudo objetivou avaliar o
aporte de chuva de sementes como indicadora do processo de restauração ecológica e
diversidade de espécies existente, em uma área degradada recomposta sob o modelo
denso-diverso funcional (DDF) onde foi adaptado de Miyawaki (1999) que fundamenta-
se em restabelecer funções e processos ecológicos, a partir da empregação de espécies
arbóreas, arbustivas e herbáceas com diferentes funções e grupos funcionais. No plantio

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
utiliza alta diversidade de espécies e densidade de indivíduos (PIÑA-RODRIGUES et al.,
1997).

2. Materiais e métodos

O estudo foi realizado em um fragmento de floresta atlântica semidecidual,


localizada ao norte da cidade de Sorocaba, São Paulo (S 23º 17’; O 47º 16’). Para
restauração foram empregadas 145 espécies basedas em sua sindrome de polinização,
dispersão e função ecológica. A metodologia envolveu coleta mensal de serapilheira de
outubro/2014 a dezembro/2017 por meio de 54 coletores cônicos de helanca distribuídos
em seis blocos (10 x 100 m) em Sorocaba - SP. As sementes e frutos foram triados,
identificados quanto a síndrome de dispersão e em nível de espécie quando possível, e
quantificadas quanto ao número de propágulos no período de julho/2015 a
dezembro/2017, calculando-se os índices de Shannon, Pielou, abundância e densidade.
Para comparar com outras áreas foi realizada revisão sistemática de literatura de estudos
sobre o tema em zonas de Floresta Estacional.

3. Resultados

Ao longo de 38 meses coletou-se 53 morfoespécies de semente, sendo


identificadas no nível de espécie 45,3% totalizando 24.729 propágulos, tendo pico de
deposição em meses chuvosos. Em todos os blocos a diversidade (H) foi considerada
como baixa (H’< 1,90) e o índice de Pielou em cada mound foi inferior a 0,5
representando a dominância de algumas espécies na chuva de semente. A área estudada
apresentou dominância de espécies autóctones, zoocóricas e pioneiras, sendo as mais
frequentes Croton urucurana Baill. e Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze, classificadas
em estágio inicial de sucessão.

4. Considerações finais

Os resultados de diversidade e abundância foram similares a outras áreas de


florestas em estádio inicial de sucessão como os estudos de Araújo et al. (2004), Campos
et al. (2009) sendo este uma Reserva Biológica, Caldato et al. (1996) realizado numa
reserva genética; Vieira e Gandolfi (2006) realizado numa área de restauração com 15
anos e à uma área de preservação permanente com 12 anos (SILVA et al., 2015). Portanto,
o modelo de restauração adotado, o DDF, já apresenta aos cinco anos condições que
propiciam a atração da fauna e a chegada de propágulos para a futura regeneração.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Referências

ARAUJO, M. M. Caracterização da chuva de sementes, banco de sementes do solo e


banco de plântulas em Floresta Estacional Decidual ripária Cachoeira do Sul, RS,
Brasil. Scientia Forestalis, n. 66, p.128-141, dez. 2004.
CALDATO, S. L. et al. Estudo da regeneração natural, banco de sementes e chuva de
sementes na Reserva Genética Florestal de Caçador, SC. Ciência Florestal, Santa
Maria, v. 6, n. 1, p.27-38, 1996.
CAMPOS, E. P. et al. Chuva de sementes em Floresta Estacional Semidecidual em
Viçosa, MG, Brasil. Acta Bot. Bras.,Viçosa, v. 23, n. 2, p.451-458, 2009.
MACHADO, M. R. et al. Produção de serapilheira como bioindicador de recuperação
em plantio adensado de revegetação. Revista Árvore, Viçosa, v. 32, n. 1, p.143-151,
2008.
MIYAWAKI, A. Creative ecology: restoration of native forests by native trees. Plant
Biotechnology, v.16, n.1. p. 15-25, 1999.
NATHAN, R.; MULLER-LANDAU, H. C. Spatial patterns of seed dispersal, their
determinants and consequences for recruitment. Reviews Tree, v. 15, n. 7, p.278-285,
jul. 2000.
PIÑA-RODRIGUES, F. C. M., REIS, L. L., MARQUES, S. S. Sistema de plantio
adensado para a revegetação de áreas degradas da Mata Atlântica: bases ecológicas e
comparações custo-benefício com o sistema tradicional. Floresta e Ambiente,
Seropédica, v.4, p. 30-41, 1997.
SILVA, F. R. et al. The restoration of tropical seed dispersal networks. Restor Ecol, v.
23, n. 6, p.852-860, jul. 2015.
VIEIRA, D. C. M.; GANDOLFI, S. Chuva de sementes e regeneração natural sob três
espécies arbóreas em uma floresta em processo de restauração. Revista Brasileira de
Botânica, São Paulo, v. 29, n. 4, p. 541-554, 2006
ZHOU, H.; CHEN, J. Spatial genetic structure in an understorey dioecious fig species:
the roles of seed rain, seed and pollen-mediated gene flow, and local selection. Journal
Of Ecology, v. 98, n. 5, p.1168-1177, jun. 2010.

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OS FRUTOS DA ESTAÇÃO: DIVULGAÇÃO DE FLORA, FAUNA,


AMBIENTE CERRADO DA ESTAÇÃO ECOLÓGICA E DA
ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE ITIRAPINA

Souza, Jackson1; Baptista, Maria V.2; Brandão, Mayna F. S.3; Santos, Milena Ricco4

Menezes, Denise B.5; Buck, S. M. C.6; Borges, L. M.7; Ruffino, P. H. P.8


1, 2, 3, 4
Graduandos em Gestão e Análise Ambiental, Universidade Federal de São
Carlos -UFSCar, sousajackss@yahoo.com.br; mariavitoriabapt@gmail.com;
maynaferraz@live.com; milenarst@hotmail.com
5,6,7
Orientadores, Universidade Federal de São Carlos -UFSCar, denisebm@ufscar.br
8 Orientador, Instituto Floresta / SMA - SP phruffino@if.sp.gov.br

Resumo: O objetivo do projeto foi produzir materiais de divulgação das áreas protegidas
na forma de folheto, banners e exposição itinerante com fotografias de aspectos do
ambiente. A partir de registros feitos por professores e estudantes do curso de Gestão e
Análise Ambiental durante as viagens de campo integradas de Geologia Ambiental e
Biogeografia às Estações Ecológica Experimental de Itirapina, estes materiais são
contribuição às pesquisas e à divulgação do domínio cerrado em área de afloramento da
Formação Botucatu. As atividades proporcionaram grande experiência individual e
coletiva aos seus participantes; o contato com participantes das dinâmicas foram
considerados positivos como forma de educação ambiental, agregando às ddiscussões
suas experiências e pontos de vista.
Palavras-Chaves: Cerrado; Educação Ambiental; Práticas de campo.

1. Introdução

As áreas naturais de Cerrado sofrem grande pressão do crescimento populacional,


tornando-se cada vez mais raras e modificadas pelas dinâmicas urbanas. Meio físico,
fitofisionomias, flora e fauna são os componentes que compõe um mosaico de árvores
curtas, retorcidas e distribuídas em relevos de grandes altitudes, geralmente
desvalorizados por caracterizar uma área infértil e com baixa disponibilidade hídrica.
Por sua condição natural de escassez de nutrientes, o Cerrado vem perdendo cada
vez mais espaço para as monoculturas, substituindo incansavelmente a diversidade
biológica por soja, cana e outros grãos presentes diariamente na dieta humana.
Diversidade de plantas, animais, características fisiográficas e culturas tradicionais que
surgiram desde os primórdios da população mundial foram perdidas o agronegócio,

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estabelecendo cada vez mais a uniformização de paisagens (GOMES et al., 2015). A falta
de compartilhamento de memórias culturais entre gerações distancia cada vez mais o ser
humano de sua essência primitiva, a natureza.
No Brasil, o domínio do Cerrado ocorre em mais de 10 estados entre a
região norte, centro oeste e sudeste e possui aproximadamente 203 milhões de hectares
(IBAMA). Apresenta diferentes formações com fisionomias que variam de campestres,
savânicas até florestais, conhecidas como cerradão.
No estado de São Paulo o domínio encontra-se altamente fragmentado
principalmente pelo avanço das atividades agrícolas e silvo pastoris no limite estadual.
Estima-se que apenas 1% da área natural de Cerrado paulista esteja protegida; destes,
exatos 1% (2.300 hectares) compõem a Estação Ecológica Itirapina (EEcI), responsável
pela conservação das principais fisionomias abertas do Cerrado Paulista (ZANCHETTA
et al, 2006). As Unidades de Conservação são um dos principais instrumentos da
conservação da biodiversidade, uma vez que conservam áreas naturais de Cerrado sem
alteração humana e possibilitam a regeneração de áreas já alteradas pelo meio antrópico.
Dificuldade de acesso a informação é um dos limitantes para a conservação
ambiental, exigindo cada vez mais o desenvolvimento práticas de educação ambiental
voltadas à população de forma acessível. A essência do projeto aqui apresentado é
compartilhar conhecimento sobre as riquezas naturais ocorrentes na Unidade de
Conservação de Itirapina, almejando ampliar a conexão entre população, território e o
bioma Cerrado.

2. Relato da experiência

O projeto foi desenvolvido por etapas, desde as ideias de material a ser produzido
até a elaboração dos produtos finais. Reuniões em grupo foram muito importantes para a
exposição de ideias e pontos de vista de cada integrante do projeto, contribuindo
fundamentalmente na decisão sobre o tipo de material a ser elaborado e nas metodologias
de abordagem utilizadas.
O material didático foi preparado a partir de registros de campo realizados em
viagens técnicas com a turma de estudantes de graduação em Gestão e Análise Ambiental.
Foi elaborado um banner para cada aspecto do ambiente, desde a vegetação até as
formações geológicas, incluindo também as unidades físicas das estações e a equipe
técnica presente nas viagens. Os graduandos responsáveis por cada um dos temas
pesquisaram para elaboração dos textos e selecionaram as fotografias, passando por

674
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
identificação correta de flora e fauna. Além disso, foi elaborado um folheto na forma de
guia de campo, contendo fotografias identificadas de aspectos observados nas áreas,
informações sobre Cerrado e Estação Ecológica e Experimental de Itirapina. Os folhetos
destinam-se à distribuição nas apresentações de divulgação já realizadas e futuras e parte
para os gestores das estações, do IF, a serem utilizados com visitantes da área. (Figura 1).

FIGURA 1 – Um dos banners produzidos, à esquerda; à direita o folheto

Trabalhou-se com dois grupos de alunos de graduação do curso de Gestão e


Análise Ambiental da Universidade Federal de São Carlos e um grupo de jovens da cidade
de Itirapina, integrantes do projeto Flor da Idade desenvolvido na Estação Experimental
(Figura 2). Os diferentes grupos sociais e econômicos nos quais o projeto foi aplicado
fizeram com que diferentes metodologias de abordagem fossem trabalhadas, criando uma
relação de troca de conhecimento entre ambas as partes.

FIGURA 2 – Atividade com estudantes à esquerda; apresentação para participantes de projeto de Itirapina
juntamente com gestor do IF.

As atividades, principalmente práticas, proporcionaram grande experiência


individual e coletiva aos seus participantes. O contato direto com a população e com as
experiências vividas pelos indivíduos de cada local traz, em grande peso, novas

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
percepções e pontos de vida, o que pode ser considerado o material mais importante das
práticas de educação ambiental.

3. Considerações Finais

Disseminar informação sobre o ambiente em que estamos inseridos é


extremamente importante para o desenvolvimento da sensibilização ambiental humana.
Nesse aspecto, as práticas de educação ambiental encontram grandes barreiras,
principalmente nas metodologias de ensino. Contato direto, interação, dinâmicas,
ambientes propícios para imersão do assunto e material visual são essenciais para o
desenvolvimento de atividades que, de alguma forma, irão sensibilizar o público que se
deseja atingir. O desenvolvimento de projetos de educação ambiental soma, cada vez
mais, às práticas de conservação da natureza e ambiente em que vivemos.

4. Agradecimentos

Os autores agradecem à SMA- SP pela autorização de pesquisa, à ProEx UFSCar


pelo apoio financeiro, aos técnicos e gestores das Estações Ecológica e Experimental de
Itirapina pela parceria e apoio, aos graduandos em Gestão e Análise Ambiental que
disponibilizaram suas fotografias para elaboração dos materiais.

5. Referências

GOMES, J.C.C; ASSIS, W.S. (Eds) Agroecologia: princípios e reflexões conceituais.


Brasília: Embrapa, 2015, 245 p. Disponível em:
http://aao.org.br/aao/pdfs/publicacoes/agroecologia-principios-e-reflexoes-conceituais-
Joao-Carlos-Costa-Gomes-Embrapa.pdf, acesso em 10/05/2018.
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente. Projeto de Monitoramento do
Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite – PMDBB. Disponível em
http://siscom.ibama.gov.br/monitora_biomas/, acesso em 10/05/2018.
RATTER, J.A., BRIDGEWATER, S. & RIBEIRO, J.F. Analysis of the floristic
composition of the Brazilian cerrado vegetation III: comparison of the woody
vegetation of 376 areas. Edinburgh Journal of Botany, 2003, 60:57-109.
RUGGIERO, P.G.C.; BATALHA, M.A.; PIVELLO, V.R. & MEIRELLES, S.T.
Vegetation-soil relationships in cerrado (Brazilian savanna) and semideciduous forest,
Southeastern Brazil. Plant Ecology. 2002. 160: 1-16.
ZANCHETTA, D. et al. Plano de Manejo Integrado Estações Ecológicas e
Experimental de Itirapina.1ª revisão. SãoPaulo:Instituto Florestal, 2006, 257p.

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02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

GESTÃO AMBIENTAL PAITER SURUÍ: REFLORESTANDO NA


TERRA INDÍGENA (TI) PAITEREY KARAH

SURUI, Sergio P.1, VAZ, Renata M. G. F. C.2


1
Graduando em Análise e Gestão Ambiental/UFSCar. Email:
sergiopamaan@gmail.com
2
Ecóloga, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências
Ambientais/UFSCar. Email: remaria.guerreiro@gmail.com

RESUMO: Os Paiter Suruí, povo indígena habitante dos estados de Rondônia e Mato
Grosso, foram contactados em 1969 pela Funai, e, ao longo das décadas subsequentes,
sofreram um decréscimo populacional significante, aliado à usurpação de seu território
relacionada aos projetos de desenvolvimento nacionais. A exploração ilegal madeireira
causou grandes impactos na biodiversidade do território Paiter, o que levou à organização
do grupo para alavancar projetos em prol da recuperação das áreas desmatadas da floresta.
O presente estudo pautou-se na revisão da literatura e na experiência in loco do autor
principal do trabalho, da etnia Paiter Surui, com o intuito de realizar uma reflexão atual
sobre o tema reflorestamento na TI Paiterey Karah. A partir dos anos 2000, vêm sendo
realizados projetos de cunho socioambiental nas aldeias Paiter Surui, com destaque para
o de reflorestamento. Até o momento, foram recuperados cerca de 20 hectares de floresta,
através de parcerias entre os indígenas e organizações-não-governamentais. Entre os
desdobramentos deste projeto, destacam-se diversas outras iniciativas que estão em curso
neste território, com o objetivo de promover a gestão ambiental e territorial da TI e
garantir os direitos indígenas conquistados.

Palavras-chave: gestão ambiental indígena; projetos socioambientais; reflorestamento.

1. Introdução

Os Paiter (“gente de verdade”), conhecidos pela sociedade nacional como povo


Suruí, falantes de língua Tupi da família Mondé, foram oficialmente contactados pela
Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1969, no estado de Rondônia, no acampamento
Sete de Setembro, criado pelo referido órgão. Em 1973, os indígenas passaram a residir
de forma permanente no local, quando foram em busca de assistência de saúde após uma
epidemia de sarampo que dizimou cerca de 300 pessoas (ISA, 2018).
Inicialmente contavam com uma população de 5.000 pessoas que, logo após o
contato, foi reduzida a 250 membros. Hoje, estima-se cerca de 1.375 indivíduos,
distribuídos em 25 aldeias. A Terra Indígena (TI) Sete de Setembro foi demarcada em
1976 e homologada em 1983, com 248.000 hectares, e compreende parte dos municípios

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
de Cacoal (RO), Espigão D’Oeste (RO) e Rondolândia (MT) (ISA, 2018; CARDOZO,
2011, p. 5).
A maneira de viver dos Paiter Suruí relaciona-se, de maneira integral, ao vínculo
com a floresta. Entre as práticas fundamentais do grupo, destacam-se a pesca, caça e o
extrativismo. De acordo com Bavaresco (2011, p. 12):
[...] a floresta e a diversidade biológica existentes na TI Sete de
Setembro são alicerces de um sistema de uso e ocupação dos
recursos naturais extremamente refinados. O que se coleta é
transformado em alimentos, remédios, adornos, pinturas
corporais, artesanatos e gera olibeterê (dinheiro), ofertas aos
parentes, retribuições ou presentes. São todos produtos que
sustentam a vida em sociedade.

O território dos Paiter Suruí, pela sua rica biodiversidade, é alvo de invasões de
grupos madeireiros. Com o intuito de enfrentar esta questão e recuperar áreas degradadas,
foi elaborado um projeto de reflorestamento e também de REDD (Redução de Emissões
por Desmatamento e Degradação). No ano de 2000, foram realizados o Diagnóstico
Agroambiental Participativo e o Plano de Gestão de 50 anos da Terra Indígena Sete de
Setembro. Como resultado dessas ações, o etnozoneamento, feito em 2011, possui entre
suas subdivisões a “zona de recuperação”, definida como “lugar onde a terra indígena foi
desmatada para criar gado ou retirar madeira e locais nos rios e igarapés onde diminuiu a
quantidade de peixe”, e tem como objetivo específico geral “recuperar a área desmatada
ou degradada e de diminuição de peixe, e as que ficaram fora da demarcação do território”
(CARDOZO, 2011, p. 32).

2. Objetivo e Metodologia

A partir do projeto realizados pelo povo Paiter e seus parceiros, a fim de reflorestar
a TI, o presente trabalho tem por objetivo realizar uma reflexão sobre essa iniciativa e
contextualizá-la nos dias de hoje, com base na experiência in loco do autor principal,
enquanto pertencente à etnia Paiter Suruí e aluno do curso de graduação em Gestão e
Análise Ambiental da UFSCar, pautada na revisão bibliográfica sobre o tema.

3. Resultados

3.1. Ações de reflorestamento na TI Paiterey Karah

As ações de reflorestamento desenvolvidas pelos Paiter Suruí, em vigor desde


2003, têm possibilitado novas vivências no cotidiano das aldeias, de grande importância

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
para a gestão ambiental e territorial indígena. Com esse projeto conseguimos avançar e
adquirir novos conhecimentos, que permitiu o diálogo sobre as práticas tradicionais entre
as crianças, os jovens e os mais velhos, além de contribuir para a educação e a saúde
indígena. São ações que proporcionam o fortalecimento da cultura dos Paiter Suruí, a
defesa de seus direitos, vivendo de maneira sustentável, vivendo sua cultura. Essa
experiência é um exemplo de resistência e de responsabilidade e com as futuras gerações.
Sobre os primeiros passos desse plano, Bavaresco (2011, p. 31) afirma:
a ideia inicial do projeto era reflorestar uma área degradada de
pasto e capoeira, consequências das atividades agrícolas dos
colonos antes da demarcação física da TI Sete de Setembro, e
enriquecê-la com espécies nativas. As ações do projeto também
serviram para formar os jovens indígenas na temática ambiental
por meio de oficinas, cursos de capacitação, e atividades práticas
em suas aldeias. À medida que as áreas próximas às aldeias foram
sendo reflorestadas, floresceu a conscientização ambiental do
Povo Paiter Suruí e a revalorização da floresta como pressuposto
essencial para manutenção do modo de vida tradicional indígena.

Sendo assim, o objetivo das ações de reflorestamento tem sido o de possibilitar


aos Paiter Suruí se beneficiarem no futuro com seus produtos e subprodutos (sementes e
frutas) de uma maneira sustentável. Através do projeto, fizemos plano de gestão do
território. Durante o levantamento, percebemos que 7% da mata estava desmatada,
definindo o que plantaríamos. Assim, buscamos parceiros, que hoje são: Associação de
Defesa Etnoambiental Kanindé, Associação Aquaverde, entre outros. A Associação
Metareilá20 objetiva reorientar a exploração abusiva dos recursos naturais existentes no
território Paiter, do ponto de vista cultural e para fomentar a economia sustentável, que
proporcione a geração de renda.
A seleção das espécies para o plantio foi feita, principalmente, com base no uso
tradicional e pela sua importância na alimentação. Entre elas destacam-se o mogno,
cerejeira, ipês, copaíba, babaçu, pupunha, castanha-do-brasil, açaí, patauá, tamboril,
tucumã, mangueira e abacateiro. O número total de mudas plantadas foi determinado pela
quantidade de trabalho que os indígenas conseguiram disponibilizar para o plantio, sem
afastá-los de suas atividades tradicionais, como a pesca, a caça e as roças.
De acordo com Suruí (2013, p. 61), ao fazer uma análise junto ao seu povo sobre
a percepção dos sujeitos que estiveram envolvidos com o projeto Pamine/reflorestamento

20
A Associação Metareilá, de acordo com Bavaresco (2011, p. 64), surgiu em 1989 “como ferramenta não
indígena” para atuar em prol dos direitos do povo Paiter Suruí.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
na TI Paiterey Karah (Sete de Setembro), elencou pontos importantes relacionados ao
desenvolvimento da iniciativa, entre eles:
reflorestamento trouxe resgate do próprio conhecimento para
alguns dos Paiter Suruí e novo conhecimento que é do não-índio;
[...] há, por parte de alguns participantes do projeto, o
reconhecimento da importância da floresta para a saúde,
educação, cultura e alternativa de renda; [...] reconhecimento por
parte de alguns Paiter Suruí de que a extração ilegal da madeira é
um fator que contribui para a desunião do povo.

Diante das conquistas e desafios mencionados, as atividades têm sido feitas


pautadas no respeito ao meio ambiente, no direito dos povos indígenas, no conhecimento
da floresta e na luta por uma qualidade de vida melhor. Com o apoio das ONGs, parceiras
do povo Paiter Suruí, podemos dar continuidade aos esforços empreendidos até o
momento, e assim adquirir novos conhecimentos e desenvolver boas oportunidades.

4. Considerações finais

Hoje temos mais de um de projeto relacionado à gestão ambiental e territorial em


andamento no território Suruí. Como resultado das ações de reflorestamento, temos 20
hectares de área recuperada e aproximadamente 150.000 mudas plantadas.
Além desta iniciativa, temos a criação de peixes, que faz parte do projeto
denominado “Permacultura”, a fim de promover a subsistência alimentar dos Paiter Suruí,
com o apoio da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé; projeto para mulheres
indígenas - gestão da loja de artesanatos produzidos por elas; projeto da castanha, mais
recente, realizado pela Associação Metareilá, com o apoio do Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
Portanto, o trabalho com reflorestamento, iniciado em 2003, foi o ponto de partida
para o desenvolvimento de diversas ações socioambientais, que hoje possibilitam o
fortalecimento comunitário e a gestão ambiental e territorial da TI Paiterey Karah, em
consonância com os direitos indígenas promulgados na Constituição Federal de 1988 e
de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial
Indígena (PNGATI), em vigor desde 2012.

Referências

BAVARESCO, A. Pamine: o renascer da floresta – reflorestamento da Terra Indígena


Paiterey Karah (TI Sete de Setembro) pelo povo Paiter Suruí. Brasília: Supernova
Design, 2011.

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
BRASIL. Decreto nº 7.747, de 05 de junho de 2012. Institui a Política Nacional de
Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas – PNGATI, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo. Brasília: seis de junho de 2012.
Seção 1.
CARDOZO, I. B. Etnozoneamento Paiterey Garah: terra indígena Sete de Setembro.
Porto Velho, RO: Kanindé – Assossiação de Defesa Etnoambiental, 2011.
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL/ISA. Surui Paiter. Disponível em:
https://pib.socioambiental.org/pt/povo/surui-paiter/846). Acesso em: 05 abril 2018.
SURUÍ, C. Reflorestamento da terra indígena sete de setembro: uma mudança da
percepção e da conduta do povo Paiter Suruí de Rondônia? 2013. 63 f., il. Dissertação
(Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável) - Universidade de Brasília,
Brasília, 2013.

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ANÁLISE DA FRAGILIDADE AMBIENTAL DO ENTORNO DA


REPRESA DO LOBO, NOROESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

Souza, Bianca F.¹; Dias, Lívia C. C.²

Moschini, Luiz E.³

¹Discente do curso de Gestão e Análise Ambiental/UFSCar,biancafogaca@outlook.com


²Discente do Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais/ UFSCar,
diascclivia@gmail.com
³Docente do Departamento de Ciências Ambientais/UFSCar, lemoschini@ufscar.br

Resumo: A intensificação das pressões antrópicas sobre o meio acarretou em um avanço


no processo de degradação ambiental, potencializando seu grau de fragilidade. Portanto,
é essencial utilizar instrumentos de gestão que visem minimizar os impactos ambientais
decorrentes das ações humanas. Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho é
analisar a fragilidade ambiental do entorno da Represa do Lobo, como auxílio ao
ordenamento territorial.
Palavras-chave: Análise Ambiental; Ordenamento Territorial; Instrumento de Gestão.

1. Introdução

O desenvolvimento econômico, baseado na ocupação desordenada do meio físico


e no uso irracional de seus recursos, resulta na intensificação da degradação ambiental e
na perda das características naturais do meio (OLIVEIRA, 2017).
Com o intuito de orientar e organizar o processo de ocupação e exploração dos
recursos naturais são formuladas as políticas e os instrumentos de gestão a fim de
subsidiar diretrizes para o ordenamento territorial. O planejamento territorial é um dos
principais instrumentos de gestão, pois leva em consideração a manutenção da
estabilidade e funcionalidade do ambiente e a fragilidade das áreas com intervenções
antrópicas (BACANI et al., 2008).
A fragilidade ambiental é o grau da sensibilidade dos ecossistemas às pressões
antrópicas, podendo ser maior ou menor em função da capacidade de suporte do ambiente.
(ROSS, 1994).
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho consiste em analisar a fragilidade
ambiental do entorno da Represa do Lobo, como auxílio para o ordenamento territorial.
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
2. Material e Métodos

2.1 Área de Estudo

A área de estudo contempla o entorno da Represa do Lobo perfazendo uma área


de 740,24 km2, contemplando os municípios de Brotas, Itirapina, Analândia e São Carlos,
no interior do estado de São Paulo.

2.2 Análise da Fragilidade Ambiental

Para a análise de fragilidade ambiental do entorno da Represa do Lobo foram


considerados as seguintes variáveis físicas-biológicas: geologia, pedologia, declividade e
uso e cobertura da terra. O método de análise foi adaptado de Trevisan e Moschini (2016).
As variáveis foram categorizadas e receberam pesos para cada parâmetro de acordo com
suas particularidades, classificando a fragilidade em Muito Baixa, Baixa, Média, Alta e
Muito Alta.

3. Resultados e Discussão

A área de estudo é predominantemente caracterizada pela baixa declividade. Isto


contribui com o baixo grau de fragilidade ambiental, pois relevos planos diminuem a
suscetibilidade dos processos erosivos do solo.
As informações geológicas da área de estudo estão distribuídas em oito tipos distintos,
sendo que a maior parte da área é recoberta por formações com características que contribuem
para o alto grau de fragilidade ambiental, sendo elas: Unidade de Depósitos Colúvio-Eluvionares,
Depósitos Aluvionares, Botucatu e Serra Geral.
A área de estudo é recoberta por nove tipos de solos, predominantemente ocupada por
NEOSSOLO QUARTZARÊNICO e LATOSSOLO VERMELHO AMARELO. Apesar da
presença significativa de solos com baixa propensão a erosões, cerca de metade da área situa-se
em solos com alto grau de fragilidade potencial.
Foram identificadas treze categorias de uso e cobertura da terra na área de estudo
com predomínio de atividades agrícolas intensiva, como o cultivo da cana-de-açúcar,
pastagem, infraestrutura rural e solo exposto. A intensificação destas atividades acarretam
em impactos negativos, tais como degradação do solo, desmatamento, perda de
biodiversidade e alteração nos serviços ecossistêmicos (PENGUE, 2004).
Cerca de 31% da área de estudo é ocupada por áreas de vegetação nativa,
representada por remanescente florestal de Mata Mesófila Semidecidual e Cerrado. A

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Unidade de Conservação de Itirapina contribui significativamente para a manutenção das
áreas de vegetação nativa, sendo de fundamental importância para a minimização dos
impactos negativos causados pelas atividades antrópicas. Essas áreas auxiliam na
estabilidade do solo, prevenção de processos erosivos, percolação de água, proteção aos
cursos d’água e na conservação da biodiversidade, dentre outros (IMASUL, 2016).
Diante as características encontradas, foram determinado os graus de fragilidade
ambiental da área de estudo (Figura 1), com destaque no grau de baixa fragilidade
representado 50,27% da área, seguido pelo grau de média fragilidade com 31,64%.

FIGURA 1: Fragilidade ambiental da área de estudo

A distribuição destes graus de fragilidades está associada principalmente ao solo


da região, pois as áreas com fragilidade ambiental média, alta e muito alta estão dispostas
sobre o NEOSSOLO QUARTZARÊNICO, que naturalmente é mais frágil. Enquanto que a
maior parte das áreas com grau de fragilidade ambiental muito baixa e baixa estão
situadas sobre o LATOSSOLO VERMELHO AMARELO, que se caracteriza por baixa
suscetibilidade a fragilidade.
Destaca-se ainda que a região central da área de estudo, situada sobre o
NEOSSOLO QUARTZARÊNICO, possui baixo grau de fragilidade ambiental, decorrente
da influência direta do uso e cobertura da terra, que corresponde a um fragmento de
vegetação nativa.
Diante disto, torna-se evidente a tendência de perda da qualidade ambiental
presente na área de estudo, frente a possível expansão das atividades agrícolas,

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
contribuindo para o aumento da fragilidade ambiental e influenciando diretamente na
conservação e manutenção dos serviços ambientais providos pelo ecossistema.

4. Conclusão

A determinação do grau de fragilidade ambiental permitiu analisar o estado de


conservação da área de estudo, além de correlacioná-lo com suas as características físicas-
biológicas. A área de estudo encontra-se em um baixo grau de fragilidade ambiental, mas
devido ao avanço das atividades agrícolas, é necessário atentar-se ao ordenamento destas
práticas, com intuito de proteger a biodiversidade local.
Os estudos referentes às temáticas de fragilidade ambiental auxiliam tomadas de
decisões ao abordarem a utilização dos espaços e recursos naturais, levando em
consideração a capacidade suporte do meio, diretamente relacionada às caraterísticas
naturais de cada paisagem. Desta forma, o presente trabalho contribui para as discussões
do ordenamento territorial, podendo ser aplicado em outras regiões.

Agradecimentos

Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo


(FAPESP) processo 2017/07673-1, pelo apoio financeiro a pesquisa.

Referências
BACANI, V. M.; SAKAMOTO, A. Y.; LUCHIARI, A.; QUENOLD, H. Sensoriamento
remoto e SIG aplicados à avaliação da fragilidade ambiental de bacia
hidrográfica. Mercator Revista de Geografia da UFC, v. 14, n. 2, 2015.
IMASUL. Métodos e técnicas para restauração da vegetação nativa. Documento
técnico para orientação na Restauração da Vegetação Nativa no Bioma Mata Atlântica
do Mato Grosso do Sul. - Campo Grande: Imasul, 2016.
OLIVEIRA, A. N. S. A Fragilidade ambiental como suporte na identificação de
conflitos ambientais na APA da Marituba do Peixe, Alagoas. 168f. 2017.
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Alagoas, 2017.
PENGUE, W. Producción agroexportadora e (in)seguridad alimentaria: El caso de La
soja en Argentina. Revista Iberoamericana de Economía Ecológica. v. 1, p 46-55,
2004.
ROSS, J. L. S. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados.
Revista do Departamento de Geografia, São Paulo, n.8, p.3-74, 1994
TREVISAN, D. P.; MOSCHINI, L. E. Determinação das áreas com fragilidade
ambiental do município de São Carlos, São Paulo, Brasil. Revista Geografia, Ensino
& Pesquisa, v. 20, n.3, p. 159-167, 2016.

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POMARES URBANOS EM SÃO CARLOS, SP – RELATO DA


EXPERIÊNCIA DE IMPLEMENTAÇÃO

Gustavo DAlmeida Scarpinella1

Resumo: No presente resumo é relatada a experiência vivida a partir do desenvolvimento


de um conjunto de ações propostas para a implementação de pomares urbanos na cidade
de São Carlos, SP. Foram tomadas como estudo de caso 3 praças, localizadas em 3 bairros
diferentes do perímetro urbano de São Carlos (Jockey Clube, Jardim Araucária e Jardim
Cardinalli). Até o momento da submissão deste documento, foi realizado o plantio em
dois espaços. Foi adotada, para tomada de decisões e ações, uma tríplice base formada
pela área acadêmica, poder público municipal e sociedade civil organizada. Os resultados
demonstram uma baixa adesão da sociedade civil organizada (Associações de Moradores
de Bairro) e um atraso nas respostas e ações por parte do poder público municipal. Tais
fatores incorreram em um atraso de 5 meses no cronograma inicialmente previsto, mas
não impediram a efetividade das atividades. Cada Associação de Moradores ficou
responsável pelo desenvolvimento de algumas ações pós-plantio, como rega e
manutenção da limpeza do terreno. A escolha das espécies frutíferas (que somaram 143
exemplares de 22 espécies distintas) foi feita por cada grupo de Associados, após a
apresentação (por parte dos propositores do projeto) de uma lista de espécies de boa
aptidão edafoclimática local. O baixo custo de implementação, o auxílio do poder público,
a atuação em área pública para sua (re)qualificação, a oportunidade de trabalho voluntário
e em grupo, e a busca pela melhoria da qualidade de vida foram fatores que propiciaram
o desenvolvimento de pomares urbanos nestes espaços.
Palavras-chave: agricultura urbana; pomar urbano; São Carlos

1. Introdução

Vertente da agricultura urbana, os pomares urbanos vêm ganhando adeptos,


formal e informalmente, nas cidades brasileiras (OLIVEIRA & SOUSA, 2007;
PHILADELPHIA ORCHARD PROJECT, 2017; SEMEDO & BARBOSA, 2007). O
enriquecimento da biodiversidade, uma maior segurança alimentar, a coesão social e o
aproveitamento de áreas públicas de uso livre foram os eixos motivadores para o trabalho
de extensão descrito neste resumo expandido.
Esta narrativa é fruto do trabalho de extensão do projeto de pesquisa de pós-
doutorado desenvolvido pelo autor no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
Engenharia Urbana – PPGEU, da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar -, que
teve início em 2017, com duração prevista para 24 meses.

2. Materiais e métodos

Foram selecionadas 3 áreas públicas de uso livre (praças) em bairros diferentes de


São Carlos, SP, que contassem necessariamente com Associação de Moradores de Bairro.
O objetivo foi o de (re)qualificar tais áreas, a partir da inserção de exemplares frutíferos
de boa aptidão edafoclimática local.
Para o desenvolvimento das ações que culminassem nos pomares urbanos
instituídos, foi considerada uma base de tríplice de ação e apoio, formada pelo meio
acadêmico, sociedade civil organizada e poder público municipal.
Com auxílio de Sistema de Informação Geográfica – SIG, a partir do uso do
software Quantum GIS (versão 2.18.0), foram identificados: os bairros da área urbana de
São Carlos; quais contavam com Associação de Moradores de Bairro e; as áreas públicas
de uso livre.
As áreas selecionadas após a prospecção foram as praças localizadas nos bairros
Jardim Cardinalli, Jardim Araucária e Jockey Clube (com áreas respectivas de 4.600m 2,
3.300m2 e 8.000m2). As áreas foram caraterizadas quanto à presença e localização de
equipamentos urbanos e exemplares arbustivos e arbóreos vivos. Para tal, foi utilizado
um GPS de mão, da marca Garmin, modelo e-trex 30. As informações foram transferidas
para o computador, via cabo, para o software Easy GPS (versão 5.79) em formato gpx.
Foi realizada uma investigação do subsolo quanto à existência de tubulações de água e
esgoto, fiações elétricas, de telefonia e gás de rua. O resultado destas pesquisas foi
caracterizado a partir de mapeamento apresentado em SIG.
As praças dos bairros Jockey Clube e Jardim Cardinalli não contavam, ainda, com
ponto de água (para irrigação dos pomares). Para resolução desta pendência, foi contatado
o Serviço Autônomo de Água e Esgoto – SAAE –, que realizou a instalação dos pontos
de água, após a construção de estrutura para tais ligações.
Para os grupos dos bairros, foi proposta uma lista de espécies frutíferas – nativas
e exóticas – que são ou foram cultivadas em escala comercial no município de São Carlos.
A fonte de tal pesquisa foi o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE, de 2006. Foi também considerada uma relação de espécies frutíferas
nativas endêmicas que não figuraram no Censo Agropecuário. A seleção das espécies, ao
final, foi baseada no porte das áreas, em sua disponibilidade de espaço e nas

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
peculiaridades técnicas de cada exemplar. O pesquisador, ao final, foi o responsável por
orientar o número, a disposição e o espaçamento dos exemplares selecionados para cada
espaço.
Com dimensões aproximadas de 70cm de profundidade X 70cm de largura X 70
cm de comprimento, foram abertas covas com retroescavadeira (cedida pela Secretaria de
Serviços Públicos de São Carlos - SSP) e em cada uma delas, com antecedência de 40
dias do plantio, foram depositados aproximadamente 20 litros de esterco bovino (cedido
pela Unidade Embrapa Pecuária Sudeste) e 250 gramas de calcário dolomítico. Após a
adubação, e o revolvimento do adubo com o solo, as covas foram fechadas. Estacas de
bambu foram cedidas pela SSP. Sua função é de sinalização da existência das mudas e de
tutoramento das plantas em seu estágio jovem. As mudas, após pesquisa de preço em três
viveiros diferentes, foram adquiridas de viveiro com certificação e entregues às vésperas
dos plantios.
Para o plantio, as covas foram novamente reabertas, com cavadeira manual. As
mudas foram plantadas e amarradas, com fita plástica, aos tutores anteriormente fixados.
Como reforço de adubação, foi aplicado 1kg de fertilizante orgânico em cada cova. Um
volume expressivo de palha seca ao redor de cada exemplar serviu para proteger as covas
contra o embate das gotas de água de chuva e para se manter o solo mais úmido.
Meses antes do plantio, foi oferecido um minicurso de poda e manutenção de
plantas frutíferas aos interessados e Associados participantes o projeto. O conteúdo foi
dado por duas engenheiras agrônomas, que gentilmente cederam seu tempo e
compartilharam seus conhecimentos a respeito do tema.

3. Relato da Experiência

Foram plantados, ao todo, 83 exemplares no Jd. Araucária e 33 no Jd. Cardinalli.


No Jockey Clube (plantio previsto para final de junho de 2018), serão 26 exemplares. No
total, 22 espécies diferentes, sem contar as variedades híbridas de citros. Os espaços que
receberam as mudas estão com os exemplares em estágio inicial de desenvolvimento,
recebendo regas constantemente.
É inegável que há uma sensação de dever cumprido quando se atesta o plantio de
árvores frutíferas em espaços públicos, com auxílio voluntário de moradores que
acreditam na melhoria de seus bairros. No entanto, até que o plantio ocorresse, alguns
revezes atrasaram o cronograma inicialmente previsto: a morosidade do poder público
nas respostas e nas ações; o trabalho realizado pela retroescavadeira (5 meses após ser

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solicitado); a baixa adesão nas três áreas adotadas (números sempre inferiores a 10
voluntários, durante os trabalhos de grupo); a comunicação deficitária entre as
Associações e seus associados e; o desinteresse, ou até mesmo as questões culturais e
sociais que ainda distanciam as pessoas das áreas de uso comum em uma cidade.
Se por um lado, fatores dificultaram a celeridade do pomar urbano, que tem um
cronograma inicialmente estimado em 12 meses (entre a seleção dos espaços e o plantio
das mudas frutíferas), por outro, foram reveladas empatia e proatividade dos voluntários
envolvidos com a ideia do projeto. Com esta ação conjunta, foi possível observar, mesmo
que em pequena escala: a ideia de pertencimento destes espaços públicos; a coesão social,
tão necessária para qualquer desenvolvimento de ações públicas ou de um senso comum.
Vê-se o pomar urbano como mais uma ferramenta de incubação e crescimento dos
agrupamentos sociais verdadeiramente comprometidos com espaços comuns e com os
potenciais benefícios que esta categoria de espaço pode proporcionar.

4. Considerações finais

A implementação de pomares urbanos teve ampla aceitação por parte dos atores
envolvidos - poder público municipal e associações de moradores de bairro -, embora
tenha havido uma baixa adesão popular e um atraso considerável no cronograma total
previsto. Há necessidade, portanto, de uma maior participação social para que o número
de voluntários seja mais expressivo e estes espaços atendam satisfatoriamente a questões
sociais como a coesão, a sensação de pertencimento de espaços públicos e seu melhor uso
e aproveitamento. Os benefícios ambientais também devem ser mencionados, embora no
estágio inicial passem desapercebidos pela população.

Referências
OLIVEIRA, F. das C.; SOUSA, V.F.de. Pomares mistos de frutas: Alternativa para
segurança alimentar e geração de renda no semi-árido piauiense. Rev. Bras. de
Agroecologia, v.2, n. 2, out. 2007.
PHILADELPHIA ORCHARD PROJECT. 2017. Disponível em:
<https://www.phillyorchards.org/>. Acesso em: 29 nov. 2017.
SEMEDO, R.J. da C. G.; BARBOSA, R. I. Árvores frutíferas nos quintais urbanos de
Boa Vista, Roraima, Amazônia brasileira. Acta amazônica, v. 37, n.4, p. 497–504, 2007.

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Universidade Federal de São
Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

AVALIAÇÃO DO MONITORAMENTO DE DESREGULADORES


ENDÓCRINOS EM ÁGUAS DO ESTADO DE SÃO PAULO
1
Ribeiro Vanessa G; V;
Moraes Maria; L; L

1
Universidade Federal de São Paulo, UNIFESP, Campus Diadema SP – Brasil.
Programa de Pós-graduação em Análise Ambiental Integrada;
nessagi.vasques@gmail.com

Resumo: Desreguladores endócrinos têm sido lançados cotidianamente em águas


superficiais no mundo todo. Entretanto, na maioria dos países ainda não existe uma
normatização para estes compostos, sendo os mesmos considerados contaminantes
emergentes. O presente trabalho visou avaliar as dificuldades encontradas para o
monitoramento destes contaminantes em águas no estado de São Paulo (SP). O estudo foi
efetuado através da avaliação de entrevistas semiestruturadas com gestores do órgão
ambiental do estado de SP. Foi evidenciado que o mesmo realiza monitoramento da
atividade estrogênica em alguns pontos do estado desde 2013 tanto em água superficial
como subterrânea. Entretanto, a técnica de analise utilizada é baseada em um ensaio
biológico de triagem, que define somente se o ponto tem ou não atividade estrogênica.
Porém, esta técnica não é capaz de identificar os compostos causadores de tal resposta
estrogênica. Segundo os entrevistados, seria importante o desenvolvimento de técnicas
químicas analíticas mais acessíveis para posterior identificação destes compostos em
águas.
Palavras-chaves: desreguladores endócrinos, legislação, monitoramento.

1. Introdução

Contaminantes emergentes são substâncias potencialmente tóxicas, nas quais seus


efeitos ou a presença no meio ambiente ainda são pouco conhecidos (Moreira; Gonçalves,
2011). Segundo Sauvé e Desrosiers (2014) “os contaminantes emergentes são produtos
químicos naturais, fabricados pelo homem ou materiais que foram agora descobertos que
estão presentes em vários compartimentos ambientais, cuja toxicidade ou persistência são
susceptíveis de alterar o metabolismo de um ser vivo”.
Uma das classes destes contaminantes são os desreguladores endócrinos.
Desregulador endócrino (DE) é uma substância ou mistura química exógena capaz de
alterar as funções do sistema endócrino, causando efeitos adversos no organismo e sua
Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
descendência (Ghiselli; Jardim, 2007). Os efeitos adversos à saúde humana se manifestam
normalmente em diferentes tipos de câncer e infertilidade masculina
(COM, 2001). Em animais os DE podem interferir, desregular sua reprodução e o
desenvolvimento de organismos. Estes compostos quando existentes em águas,
ocasionam a modificação do sistema reprodutivo, causando feminização de espécies
(Batista et al., 2011).
Os DE ainda não estão incluídos em normativas ou legislações de controle
ambiental e tampouco estão inseridos em programas de monitoramento de rotina pelos
órgãos de meio ambiente e saúde brasileiros (Moreira; Gonçalves, 2011).
Neste trabalho foram realizadas entrevistas semiestruturadas com gestores do
órgão ambiental do estado de SP, para avaliar a situação atual de controle, as
metodologias empregadas e as dificuldades encontradas para monitoramento de DE em
águas. O trabalho visa contribuir para a qualidade do recurso hídrico e a segurança
ambiental dos organismos aquáticos e do ser humano.

2. Material e métodos

As entrevistas foram realizadas na CETESB - Agência Ambiental de Pinheiros


em São Paulo - Capital, através de um roteiro semiestruturado, com os gestores da
companhia, dos respectivos departamentos (Tabela 1), mediante a autorização prévia do
órgão público ambiental. Primeiramente, realizou-se uma reunião para apresentar o
projeto e conversar com alguns gestores. Posteriormente, os mesmos receberam por e-
mail um convite para participação da pesquisa. As entrevistas aconteceram no período de
novembro à dezembro de 2017. Após a assinatura dos entrevistados no TCLE (Termo de
Consentimento Livre Esclarecido) a conversa informal foi registrada por gravação,
posteriormente transcrita e analisada para elaboração de tabelas e gráficos de acordo com
a ferramenta de análise de conteúdo (Bardin, 1977).

TABELA 1: Número de entrevistados e Departamentos, onde foram realizadas as entrevistas.


ENTREVISTADOS DEPARTAMENTOS
G1 Setor de análises toxicológicas
G2 Divisão de toxicologia humana e saúde ambiental
G3 Divisão de qualidade das águas e do solo
G4 Setor de águas interiores
G5 Departamento de análises ambientais
G6 Divisão de análises físico-químicas
G7 Divisão de apoio ao controle de fontes de poluição

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
G8 Setor de análises toxicológicas
LEGENDA 1: Os entrevistados de G1 a G3 responderam o questionário elaborado para Bioensaio (BIO).
Os entrevistados de G4 a G8 responderam o questionário elaborado para qualidade (QUA).

3. Resultados

Os questionários foram aplicados para os gestores da área de qualidade e toxicologia,


sendo os resultados compilados e apresentados na Figura 1.

Existe monitoramento no estado de SP para


AE em água?
Existe monitoramento nos outros estados para
AE em água?
Ausência de legislação é uma barreira para o
monitoramento de AE?
P%

Existem poucas técnicas analíticas acessíveis? N%

O teste BLYES identifica as substâncias


responsáveis pela AE?
A CETESB esta apta para detectar AE em
água (BIO-BLYES)?

0 20 40 60 80 100

FIGURA 1: Representação do panorama da situação atual dos desreguladores endócrinos.


LEGENDA 2: P (positivo) e N (negativo). AE (atividade estrogênica), BIO (Bioensaio) e BLYES (Bioluminescent
Yeast Estrogen Screen).

4. Discussão

A CETESB possui uma rede de monitoramento no estado de São Paulo com cerca
de 400 pontos no total, para monitorar a qualidade da água superficial (G1-BIO). Através
de uma parceria com a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em 2009
iniciou-se os estudos sobre a presença de DE em águas (Vasconcelos, 2012; G3-BIO).
Estes compostos atingem os mananciais pela contaminação por efluentes domésticos,
industriais ou oriundos de poluição difusa. A CETESB monitora a ocorrência dos DE em
35 pontos, desde 2013, pela determinação da atividade estrogênica (AE), através de um
bioensaio chamado BLYES (Figura 1). O BLYES (Bioluminescent Yeast Estrogen
Screen) é um teste in vitro que utiliza uma linhagem da levedura Saccharomyces
cerevisiae geneticamente modificada pela inserção de um gene para expressão do receptor
de estrogênio humano. Os resultados do ensaio são expressos em atividade equivalente

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Jornada de Gestão e Análise Ambiental da UFSCar
São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
comparada a uma substância referência, no caso o hormônio natural 17-beta-estradiol
equivalente do estradiol (CETESB, 2016).
De 2015 em diante, dentre os 35 pontos, foram selecionados 10 pontos que
estavam apresentando atividade estrogênica constante. Estes pontos estão sendo medidos
consecutivamente a cada dois meses, totalizando seis coletas por ano (CETESB, 2016;
G1-BIO). Alguns entrevistados explicaram que o monitoramento da atividade estrogênica
é realizada a fim de se entender qual o caminho dos DE no meio ambiente (G2-BIO; G8-
QUA). Porém, ainda não é realizada a análise química para identificar os compostos
presentes, pois as técnicas analíticas existentes para estas análises ainda são muito
dispendiosas, não sendo acessíveis para a maioria das agências do Brasil.
Uma vez que no Brasil ainda não existe legislação para DE em águas, os limites
de detecção para AE adotados pela companhia para o teste BLYES são valores
orientadores provenientes de estudos científicos, onde o limite de detecção é de 3,8 ng/L
para água subterrânea e 5 ng/L para água superficial, conforme explicado pelo
entrevistado G1-BIO.
Foi constatado que a ausência de limites para DE na legislação não impõe uma
barreira para a realização do monitoramento. Dado que se confirma, já que a companhia
vem efetuando um acompanhamento da AE em alguns pontos, mesmo sem exigência
legal. Vale ressaltar que a sede da companhia em Pinheiros – SP é a única no país como
órgão ambiental a efetuar este tipo de controle e que as demais agências no país não fazem
qualquer tipo de acompanhamento destes contaminantes (G7-QUA).

5. Conclusão

Segundo os entrevistados, apesar do BLYES ser capaz de indicar os pontos


contaminados por DE através da medida da AE, faz-se necessário o desenvolvimento de
métodos analíticos mais acessíveis que sejam capazes de identificar tais substâncias nas
águas, uma vez que os métodos existentes são muito dispendiosos, sendo de difícil
adaptação a todas as agências do Brasil.

Referências Bibliográficas

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.


BATISTA R. C. et al. Remediação Eletroquímica do 17α-Etinilestradiol sob Diferentes
Regimes de Agitação e Força Eletromotriz. Cleaner production initiatives and challenges
for a sustainable world. 3rd International workshop advances in cleaner production. 2011.

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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIAS. Relatório Final COM (1999) 706,
de 14 de junho de 2001. Estratégia comunitária em matéria de desreguladores endócrinos
– substâncias suspeitas de interferir com os sistemas hormonais de seres humanos e dos
animais.
COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO (CETESB). Série
Relatórios. Qualidade das águas interiores no estado de São Paulo, 2016.
GHISELLI, G.; JARDIM, W. F. Interferentes endócrinos no ambiente. Química nova, v.
30, n. 3, p. 695-706, 2007.
MOREIRA, J. C.; GONÇALVES, E. S. Contaminantes Emergentes - Desafios e
Perspectivas. 51º Congresso Brasileiro de Química. Revista Química Industrial 2011.
Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Fundação Oswaldo
Cruz – Escola Nacional de Saúde Pública (FIOCRUZ/ENSP). 2011.
SAUVÉ, S.; DESROSIERS, M. A review of what is an emerging contaminant. REVIEW
Open Access. Chemistry Central Journal 8:15. 2014.
VASCONCELOS, Y. Análise de Água: Levedura luminescente. Pesquisa FAPESP Nº
193. 2012.

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Carlos - UFSCar
02 a 04 de Outubro de 2018
ISBN: 978-85-94099-03-7

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE ESGOTO


COM “PALL RING” REUTILIZÁVEIS

Araújo Júnior, Luiz P. V. 1; Maeda, Leonardo K. 2;


1
Universidade Federal de São Carlos – Programa de Pós em Engenharia Urbana -
PPGEU; luizpaulovajr@gmail.com
2
Universidade Federal de São Carlos – Programa de Pós em Engenharia Urbana -
PPGEU; nardo.maeda@gmail.com

Resumo: A carência de esgoto é um problema recorrente nas grandes cidades e nas


pequenas comunidades, a dificuldade que o poder público tem de promover água de
qualidade e tratamento de saneamento a custos mais baixos tem motivados muitas
pesquisas, sendo o reúso ou materiais a custo mais baixos uma das possíveis soluções
para o problema. Esse trabalho se justifica pela necessidade de promover saneamento para
comunidades distantes e carentes, com materiais mais econômicos e com obras de fácil
execução, não necessitando de mão de obra especializada. O objetivo deste trabalho foi
avaliar a eficiência de “pall ring” no tratamento de esgoto de comunidade carente. A
metodologia empregada neste estudo foi através de um estudo de caso realizado na cidade
de Passa Quatro, no estado de Minas Gerais. A obra estudada possui 30 metros
comprimento, 2,5 metros e 1,5 de profundidade. Na obra, foi empregada uma manta
geotêxtil (não tecido) com enchimento “pall ring” de material plástico de estrutura
vazada. Foram avaliados parâmetros como DBO, turbidez, coliforme, DQO, fósforo total,
nitrato, sólidos totais, sendo que em todos os parâmetros a técnica se mostrou ser
eficiente. Os resultados do estudo foram considerados satisfatórios e a técnica de
tratamento de esgoto com “Pall Ring”, se mostrou eficaz e sustentável, podendo ser
empregada em outros locais em especial em comunidades carentes.
Palavras-chave: reuso de materiais; avaliação da eficiência; tratamento de esgoto
alternativo; comunidades carentes; saneamento sustentável;

1. Introdução

Não é de hoje que a demanda por água vem aumentando, mas sim desde o século
passado, assim como o crescimento populacional e o lançamento de esgotos não tratados
nos cursos da água. Os dois primeiros motivos são causadores do aumento do consumo
de água e o terceiro motivo é uma das causas da poluição e degradação desse bem tão
preciso.
Os meios de comunicação vêm divulgando constantemente, principalmente através da
televisão, a dificuldade de certas regiões de acesso ao tratamento de esgoto. Em 1998, o
Ministério das Cidades divulgou que 65% das internações hospitalares de crianças abaixo
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São Carlos, 02-04 de outubro de 2018.
de 10 anos resultavam da inadequação dos serviços e ações de saneamento,
principalmente por diarreia. No Brasil, cerca de 95% da população tem acesso a redes de
abastecimento de água, porém apenas 50% do esgoto produzido são coletados e desses
apenas 32 % são tratados (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2005).
Com todo esse panorama desfavorável é necessário buscar medidas de maneira a
atender à população, em especial pequenas comunidades e locais onde o saneamento
convencional não é capaz de alcançar. Através de materiais alternativos e, muitas das
vezes, reutilizáveis procurando proporcionar técnicas simples e eficientes.
Nesse contexto, a utilização de “Pall Rings” reutilizáveis apresenta-se como uma
solução viável para o tratamento de esgotos de comunidades carentes, já que pode garantir
um menor custo de energia.

2. Objetivo

O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de “pall ring” no tratamento de


esgoto de comunidade carente. Sendo empregados materiais econômicos e não sendo
necessária mão de obra especializada.

3. Metodologia

O estudo consistiu na análise do local e viu-se a necessidade do emprego de uma


técnica alternativa, os técnicos avaliaram e optaram pela solução do emprego de “pall
ring”.
Na sua forma possui as laterais abertas, sendo composto de uma estrutura
cilíndrica ou esférica, com o objetivo de ter acesso total ao seu interior, sendo que os
esforços diametrais geram uma ótima resistência estrutural, conforme mostra a figura 1.

FIGURA 1 – “Pall ring” empregado. Fonte: Próprio autor (2017)

A obra foi realizada na cidade de Passa Quatro, uma cidade do sul do estado de
Minas Gerais, estância hidromineral e região turística.
O método executivo comparado com outras técnicas de tratamento é simples, para

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aperfeiçoar a execução foi utilizada uma retroescavadeira, no entanto, esse processo pode
ser realizado por homens, se necessário. Na técnica foi uma aberta uma vala de
aproximadamente 2,5 metros, com uma profundidade de 1,5 e de 30 metros de
comprimento. Posteriormente a isso, foi colocada uma manta geotêxtil (não tecido),
seguida de uma camada de geomembrana PVC e outra manta geotêxtil sobre os “pall
ring” sendo que os materiais ficaram funcionando como um “recheio”, conforme ilustram
as figuras 2 e 3.

FIGURA 2 - Execução de vala. FIGURA 3 – Realização da técnica.


Fonte:Autor (2017)

Através da figura 4 é possível perceber a evolução do processo, mostrando que a


técnica é eficiente. Sendo que o último frasco se apresenta totalmente traslúcido, sendo
mostrado nas garrafas o esgoto coletado antes da aplicação da técnica e pós aplicação.

FIGURA 4 – Demonstrativo da evolução do sistema. Fonte: Autor (2017)

4. Resultados

Tabela 1 – Resultados antes (Início) e pós (Final) emprego da técnica.

EFICIÊNCIA INICIAL/FINAL
Parâmetro Inicial Final Eficiência (%)
Coliforme 1,40E+08 9,30+04 99, 934
DBO 495,00 50,00 89, 899
DQO 720,00 105,00 85, 417
Fósforo Total 7,00 4,00 42, 857
Nitrato 7,15 2,60 63, 636

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Nitrogênio Total 62,00 31,00 50, 000
Sólidos Totais 299,00 190,00 36, 455
Turbidez 357,00 30,10 91, 569
Fonte: Acervo Aguapé Engenharia e Projetos Ecológicos

Os resultados mostram a eficiência técnica, analisando parâmetros importantes da


qualidade da água, alcançaram ótimos resultados de eficiência sendo que a DBO alcançou
89,90%, estando com margem de segurança do que a normas federais exigem que é de
60% (BRASIL, 2011).

5. Conclusão

O “Pall Ring” é um material plástico reciclável, leve e com um alto índice de


vazios, o que confere facilidade no manejo e um alto rendimento de aproveitamento de
área e volume do reator de tratamento de esgoto.
A técnica mostrou ser uma ferramenta simples, eficiente e não exige uma mão
de obra qualificada ou específica a quem for empregá-la, com resultados consideráveis,
podendo ser empregada em pequenas ou em grandes dimensões.

Referências

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional de Meio Ambiente,


CONAMA. Resolução CONAMA 430, 13 de maio de 2011 – Resoluções, 2011.
Disponível em: http://www.mma.gov.br Acesso em: 14.abril.2018.
CAVALCANTI, C. Breve Introdução à economia de sustentabilidade. In:
Desenvolvimento e Natureza: estudos para uma cidade mais sustentável. São Paulo:
Cortez Editora, 1998.
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO –
CMMAD. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas,
1991.
MC (MINISTÉRIO DAS CIDADES). Gasto público em saneamento básico:
relatório de aplicações de 2005. Disponível em: <www.cidades.gov.br/secretarias-
nacionais/saneamento-ambiental/>. Acesso em: 20 agosto.2016.

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