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A CASA POPULAR
A pesquisa do professor Carlos Lemos, em andamento (1969), ainda niio foi publicada.
Seus resultados provisórios aparecemresumidos no relatório feito para o FAP (Fundo de
Amparo a Pesquisa), cuja cópia está no Departam_ento de História da FAUUSP. [A pesquisa
coordf;nada por Carlos Lemos e Maria Ruth Sampaio foi publicada em 1978, pela
sao Paulo. 61 FAUUSP, como título Habitariio popular paulistana autoconstruída. (N.o.)]
aglomerante, a madeira nao apan:;lhada de 3ª para estrutura do telhado.
Portas, janelas de tábuas, sem V1a(6.2 #lgmnas vezes, sao materiais usados:
31 das 122 casas pesquisadas pelo pr¿f�ssor Carlos Lemos empregara m mate
{.() 7. :
··s- !1-,.pe<lu<;iion.á-0.c;rj_..9-Bo_�_ente um o?j_�to pí:l_ra o sujeito, mas t�bém um
._ sujeito para o ob}e_to [,..] Produz, por conseguinte, o objeto do consumo, o
modo de consumo e o instinto de consumo. 3
�-..Y.--t\-.!-,_Q_�_J?.� _ _yso_ SOCIAL Ora1 .f6n;ado ao__pr_irp. árÍo por press5es económicas,
-:
atiuge .
o social: a eficácia, r;q_�--;;�ícfá�� p-o-�-co que tem,_imp5-�_ a permanén-
. .
, ---.A
PEQUENA PROPRIEDAD:�)Como ser em transi�ao, o operário se determina
�n:l.CLSJl_Q_e_ s.sffo.-de-rearr;ac;Oes (efetivas ou apenas aspiradas) gradativamente
'superiores' de ser mercadoria, no operariado e na categoría dos trabalhadores
nao_ manuais assalariados; e, quando vem a participar da categoria dos peque-
K. Marx, Contribuii¡ao a crítica da economia política. Sao Paulo: Martins Fontes, 2003,
P- 237·
Em cerLa.s zonas, como Santa Catarina e Paraná, a madeira substitui o tijolo. A única
constante na casa popular, com relagao aos materiais, é seu baixo prer;;o e possibilidade
de aquisir;;ao parcelada. Em país subdesenvolvido, isto é sinónimo de produtos com
baixíssima composir;;ao orgallica do capital, isto é, muita forga de trabalho.
A taipa, por sua vez, só foi superada pelo tijolo depois que este foi suficientemente
provado aqui e de escassearem os barnbuzais. A cobertura da casa popular fornece ótimo
exemplo do conservadorismo técnico. A passagem do sapé a Lelha e da taipa ao tijolo foi
suave, contínua, sem grandes inovai,¡Oes. O Lijolo, entretanto, permite a cobertura em
abóbada, mais barata e eficaz que a telha. A técnica disponível na tradigao, entretanto,
1
nao possibilitou o seu surgimento. Novamente, o compromisso popular com determinada
1, técnica é baseado em condir;;ües históricas de formagao desta camada, no nível simples
que possua, nos materiais disponi;eis. Nao há urna técnica popular: a abóbada, aqui
desconhecida, foi a cobertura típicamente popular na krgélia. 65
1.um nos prnprietários urbanos ou almeja dela participar, continua a aceitar para os
uno, o outros, o ser mercadoria. 5
-
BAIXA DE SALÁRIOS As conseqüencias silo imediatas: o barateaniento da
moradia que obteve recorrendo a todas as suas mínimas habilidades e dispo
nibilidades, o seu sacrificio, terá como recompensa automática o abaixamento
relativo dos salários, sempre determinados pelo custo menor do absoluta-
mente indispensavel a sua manuten<;,:3.o. Seguranienfe, a economia feita na
obtern;ao da casa seguirá a reduc;§.o de seu salário real. É._a leido sistema. E
o antagonismo é insuperável dentro dele: nao pode permanecer sem casa, é
levado a construí-la. Faz com o que tem: nada, mil "jeiti:nhos", economizando
na já magra mesa. Portantoi faz com pequeno custo - nao paga administra-
98.0, empreiteiro, m8.o-de-obra, adota materiais rudimentares ou usados, área
mínima, sem banheiro, pia, esgoto, água corrente, luz. É tao baixo o custo que
:nem as barbaridades minuciosamente prograniadas no BNH conseguem com
petir. Como conseqü€ncia da m. ultiphca9ao desta microscópica sub-produc;ao,
associada a deteriorac;,:8.o crescente das zonas centrais "modernas'\ baixa a cota
do salário destinada a moradia: E, progressivaniente, disfarc;ado sob aumentos
66 nominais totalmente inflacionados, baixa correspondentemente o salário real 67
rr,D '">
------
'
i\
1egativas do operário - baixa acentuada por novo gasto, o da conduc;ao. Basta:m como
Jndigües indicac;ao deste fato as seguintes informag6es do DIEESE (Departamento Inter
que quer sindical de Estatística e Estudos Sócio-Econ&micos): no Boletím Informativo
:ado, quer n. g, de Janeiro de 1968, p. 2, lemos "Levantamentos efetuados pelo DIEESE
w·coretivo rnostram que o aluguel médio de casas na cidade de Sao Paulo, em Janeiro
rgán1ca (de 1968) foi de NCR$ 174,19, muito diferente da quantia de NCR$ 34,65 deter
eda,:t-e· minada pelo referido decreto (sobre o salário mínimo)", Ora, tal discrepancia
mbém somente se explica pela enorme economía marginal que o operário consegue
:lo tosco ao produzir a própria casa, justificando runa redugao em relac;ao a média que
ñriigues; o governo decreta com satisfaga.o.
)Uscar as
quistas RESUMO Em resumo, encontramos na casa operária urna excer,;:8.o aparente ao
te dé-Sfeita sistema. A prodw;ao, aqui, nao é guiada pelo lucro, pelo valor de troca. O seu
Lente depo- > im.óvel é a produ93.o de um valor de uso. Entretanto, o sistema e o modo de
Lfirmar produc;ao capitalista estiio presentes sob várias outras formas: no fato do valor
---
Lda, tudo
_____..
:::is centra1s,
de uso particular na miséria tornar-se valor de uso social 1 e aparecer como
valor de troca, apontando a existencia de mercado de outros miseráveis; na
üscuidade, contradic;ao entre ser operário, expressiio social de um. sistema de produc;ao
J da vida avam;ado, e o fato de ter que recorrer, no atendimento a press6es vitais, as
ána, o formas mais atrasadas, e mesmo reacionárias, de produ93.o; na resultante de
1as nao há sua poupan9a, o pouco conforto irnediato, acarretando desconforto e preju
, marcas de ízo mediatos maiores. A produc;8.o aparentemente marginal revela o sistema
totalmente inclusivo.
Lto da A MANSÁO
/1 ,;)ff',,i�,
�s e dispo • "'
11.,..
Í
)aixarnento , ,7,, > INTRODU�A.o No outro laq.fJ da escala social, no Monnnbi, por exemplo, o
s.d
,oluta ((fazer sua casa" signific'/�plicar capital. �� �� ���� s �� �!?i??:1º indispens�;.1:el
- - -- .- ¡
feita na a con,str��-�?--�º??-té�-� ��:iox_acúmulo -de elementos ..sup_��f��os c�!llP_atívªeis --"!
1
,tema. E corno funcionamento/e a sanidade.mental. Os materiais, a ip,3.o-de--=-obra-··
m casa, é esp__e?t�liz_ªd·ª-�:·i��éCr}'{Ca na� ��is ¿o;stitue��ac;Oe�, � contrário, se o
,nornizando ieÜS�
--:.
·toa�� es�Fo-
capitalexíSt��-t{!ª-�-�-E_�r=rI:iti-do; 1:Üdo �
-
�iSpO�íveis: Pedi"as
ninistra de Oüió'Pietó:--iifo16es desenhad�s;tá.hullS deT�carandá dá Bahía de 50 cen-
ados, área tímetros, rnármores, granitos polidos, fórmicas, vidros de 2 metros, metais
:i custo que especiais, a90, alumínio, ladrilhos portugueses, massa corrida, "spots", lumi- i
.1ern com nárias suecas, torneirinhas em forma de peixe - materiais de tradii;;8.o nobre \
produi;;i:io, cu requintadamente industrializados ou artesanais alimentam a imagina9ifo
Jaixa a cota esgotada do decorador, Lajes, balan9os, pergolados, rampas, abóbadas, robus-!
) aumentos tas li3.mi�as de concreto de madeirit lixado, motores, engenhos eletrónicos,
;alário real 67 treli9as, taipas, pedrinhas - tecnicamente, qualquer ousadia é realizável.
r
SugestOes sutis, desejos remotos (comO "t>anheiros de teto de vidro1 vaga satis-
fa�8.o exibicionista), detalbadas subdivis6l:"1l___de fun�Oes diáfanas, efeitos mági-
cos, st.upresas, arranjos lúdicos-· encontrara.o hdesigners"
·- especializados aptos
··--------
para efetivá-los. � -� · -
A CASA COMO MERCADORIA Mas , olhernos melhor esta imagem, esta seme
lhani;:a. Para "fazer sua casa", comprou matéria-prima, técnica, projetos e,
sobretudo, fon;:a de trabalho. Esse procedirnento nao lhe é desconheci�o ou
n9vo: as rela90es de produ98.o d� nianS[o- esti� ·p:r6Xllllá.S dá que" �-stá.b-elece na
..s.ua ip.9-�-s-=ti,ia o� �·�t_rº :.neg6Cí� ciü:álquer: COffio _aqui, lá a �erca:niiliza9ao está
_
68 im2l��i_ta- n� p-rOdU.9-aO. MEl.��-valia a¿um�j�qi - __cQTT±Px.�.o_s meins. p_a,rª ficar.gr-ª- 69
-
1/~ �I
[ fL {ijj'·
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vaga satis ._:sci.J!__a de nova mais-valia 1 só que aqui, sob a forma da prodw;:;3.o de um objeto
�itos mági -�s_p��Üí�i\_-��� 1ar; dOCé Tar. -K•ser.ñ:�ihan�a"de·-atúai;:;ao nos dois casos traz1 -como
dos aptos automática co��eqüéncia, comportamento semelhante diante dos produtos.
l\_�bos s8.o, para ele, mercadorias. As de lá, há que vender imediatamente, a
,�·:,, d-;;�-�á, permanecerá em seu poder.
', ,,,y··
· em zona Se for necessário ou conveniente, venderá. Mas para garantir esta possí
/lifieUtQS vel venda, deverá zelar para que o produto, sua casa, possua Uill valor de uso
; _4a g�r_E!-n- social. Nas discuss5es como arquiteto, nas modificai;:;Oes que introduz na obra,
géneros tem sempre mn olho no mercado. E, consciente da dignidade de sua pou
.rquiteto, panga, restringe o que fez de e��mamente pessoal para que nao contagie a
:, técnicos'•...,., validade social de sua..mans_ij9.._i�-��trigg_�__!!!ª.�- n§.o elimina todas as orig.i.nali-
:. Soma, na\
! energxas
ante, sem o uso CONSPÍCUO A sua imagem e seme1harn;a também tem que atentar para
nos contra- as conveniéncias sociais. É hmnem de prestígio, posse e visiio. Sua aparéncia e
a de seus objetos precisam responder as imposigües de sua posigao. É mesmo
o ·pa1sa fon;ado a isto.
niio rea-
:-f��li a,- Aos olhos da comunidade, os homens de prestígio precisam ter atingido mn
�ticas, seu certo padrKo convencional de riqueza, embora tal padriio seja de certo modo
e r�c;:la_-_ indefinido[ ... ] Para obter e conservar consideragao alheia, nao é bastante que
1terpretam c',j o homem tenha simplesmente riqueza ou poder. .É preciso que ele patenteie
rosidade tal riqueza ou poder aos olh6s de todos, porque sem prava patente nao lhe
lS excessf'.:'" clara.o os outros tal consideragao. 7
pois pode
;oe1a1s Nos primórdios históricos do modo de produgao capitalista - e cada parvenu
npnma capitalista percorre individualmente essa fase - predominam a sede de
rec1sar a riqueza e a avareza como paix.Oes absolutas. Mas o progresso da prodUí;ao
�vantam capitalista niio cria apenas rnn mundo de prazeres. Ele abre com a especulagao
.iio prev1s e o sistema de crédito milhares de fontes de súbito enriquecimento. �-�_c_�rt_o____ _
rescentar. lµ_�.!.E�-cl�s-��y.9!,Yirµ�n:_t_()1 l!IP- _gi:ªn c_orweucion_al d_e �sbanjamento, que é ao
le, foi feita mesmo tempo ostentagi:io de riqueza 1_ e portanto, meio de obter crédito, t9rna�
-��-�i_é�-��a,:nece�sidaae d6-iiegÓ�io pa:ra,_o 'infeliz' capitalista. O hum entra nos
custos de represe::_���º do capital. 8
-
;a seme
jetos e,
�cido ou
::i.b�lece na 7 Thorstein Veblen, A teoría da classe ociosa. Sao Paulo: Pioneira, 1965, pp. 43 e 48.
izagao está 8 Karl M;arx, O capital. Tradu�ao de Regis Barbosa e Flávio Kothe. Sao Paulo: Abril
k_.-:ficar. grá- 69 Cultural, col Os Economistas, 1983, v.11 t.2, p. 173.
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o'
g "Ao mesmo tempo, o efeito sobre o consUIIlo é de concenLrá-lo sobre as linhas mais eviden
tes aos observadores, cuja opiniiio favorável é alm.ejada, enquanto as inclinai;;Oes e aptidOes,
cuja prática niio envolve gastos honoríficos de Lempo e de substáncia tendem a ser religa
das ao desuso. Através desta discriminai;;iio em favor do consillilo visível se verifica que a
vida doméstica da maioria das classes é relativamente mesquinha em comparai;;ao com a
parte ostensiva da sua existencia que se desenrola perante os olhos do observador. Como
U1Ila segunda conseqüéncia da me�ma discrinünai;;iio, as pessoas geralmente escondem da
70 observai;;iio pública a sua vida privada." T Veblen, op. cit., pp. 111-112. 71
..._____ _
j :_)·\,
'
1
,scritas por salas de jogos, de música, muros etc. Outra parte substancial, entretanto, é
io diferente destinada a disfa:n;ar a inevitável vida privada: circulac;§.o paralela de servigo,
mencana · .. sala de almogo, entrada e pátio de servi90, sala intima etc. Note-se que isto
.899). Mas, --nª9_12r�_te_:i1,4_©..siwp1es.µiente esconder empregados - que, afinal, sao demons
- - -
:ag8.oi meras t!agao móvel de riqueza, -�aS-suB.s ocupag5es 1igadaS a vídcl priv�di.- - -
urguesia Ago�;,·Ó illstrürr:Í�-nto -abrigo - que malgrado a sobrecarga suntuária, é
)S restos ainda furn;:3.o da casa - é intruso componente de um todo maior, o ambiente
com trac;os demonstrador de riquezas, A exibig[o segue regras de comportamento radi
da rnetró- calmente distintas das espontáneas maneiras de viver. Os milhares de tiques,
o ?�jeto gestos, etiquetas 1 cuja furn;:8.o é demonstrar que quem os exibe possui suficien
nansa.o tes recursos para desenvolver estas ativ idades totalmente inúteis, tem cenário
� classe, já detenninado: salas, espac;os, móveis, tapetes, quinquilharias que nao devem
iteriais ser usadas. Aos caros comportam_ entos aleatórios, conespondem depósitos de
,ra, exp6em trabalho dirigidos para a produgi:io de objetos sem serventia. A prodigalidade
e cuidado se manifesta melhor quando nao é necessária.
sicológicas Mas, se o objeto por sua intrínseca razi:io servir, deverá servir contrariado:
ito na pra9a. se for obrigado a sentar ou habitar, deve ficar patente que se senta ou h abita
mrgues. revestido de normas e desconforto específicos: surge óbvia urna riqueza que
Jliar sua pode diluir-se em objetos e espagos absurdos.
'--· 1\1.a.s�.i.!!4...�_trial contemporáneo sabe o valor e o prest_ígj._o d _ a_té.cniGa--ef.icaz,
m primeiro da.J!!l�Q�agao q�ilisp-erü.-aa presern,;a--desagradável -¿(l- -�perário e _o explora
,tam a Ulll sorne!!�� itT��i�s ·de �Ei°aiag·¡:re-s ·cúin}JleXas. E O traba:lhO- de-sperdi-9ado terá
todos a d_uas oportunidades preferenciais de surgimento: nos_produtos de.mórbido
la social, ar�es-�-�to-e-·119-fpr�clutÜs de_ tec110logia a�angada ) empenhados em se!vic;os
r-nao di�p�D-sáve_is_, P�edes figurando taipa, formas minuciosamente desenhadas de
concreto, molduras de gesso patinadas escondem alto-falantes mudos,
::listinr,;:[o, \ "high-fidelities", interfones, controles remotos. Tudo em tom morno, discreta-
-------
a,grande \. menteª apa,rente: _
;rada social, ·- "-�i� ��igitPii���V:�i'l! � '.'11, _ ogy�;;m::richism� �-,; aparéncia para afirmar riqueza,
-
.s, terra90s, mor.rña"gó para espalhar- -fastio e indiferern;;a. O tema é imenso e asquerosa
mente variado. Bastam essas referéncias. Percebemos já, com maior acuidade,
a imagem e semelhanga que a casa reflete: a sua casa, como ele próprio, existe,
IJ_/'--
_
l mais eviden- J para os outros, Qu melhor, para oferecer aos outros wna imagem de si, ima
Des e apLidOes, ge_rn_ esperada, pré-estabelecida. Nao- u:ma kagelll real, ·a_ t11al, mas a 1:m.agem
a ser religa d.Q_Pil2�[so�{i1 j q�e_po - cfe, _por s ��;it;:;9io-�eco-�.6�ic�,- p��t�ñ1 e- r. A casa e o
rifica que a cenário convencional para a representagao de seu triunfo. Imagem e original
ra�ao coma comec;am a inverter suas posigües. Pois sua "imagem e semelharn;a", seu lar,
1dor. Como é componente essencial de sua definig8.o mesma e lhe empresta o sucesso e
�scondem da honrabiJidade que espelha.
71
TESO URO Ora_, ªJl]._éUJ.s3.q,_ yimos_, é mercadoria. Declara no imposto sobre a
renda entr; ¿s "bens" imó�eis e sabe que P�de realizá -la quando bem enten
der. Para isso, entretanto, deve preservá-la, garantí-la contra a usura que
poderá corroer seu valor. Logo, é parcimonioso no seu emprego. Tem que
,ga��-tir a permanencia do valor de troca _ do �II?-Ó y_�l_e_me_smo_ a coÚti�uidade
dº)'"ªJ�i-aeus�·-soc1á.L-
como o operário de Veleiros jamais penetrará neste mercado, o "social,'
aqui, em oposi�ao radical ao que ocorre em V�l�i::_os, é sin_Qnimo__d,e_�'-societ�'-'�
:•a-m-au.��-�- só _tem valor de uso para os VIPS. Conseqü@;;:c{�; há origi_11•�Jidades
que se pe;�ite� - coillpietamerite �� -
- jeti�3.�-��s;�igora-..:..:;·mas q;e nao devem
-
�er iricompativei-s-com·o ·uso· ;¿qti.e•rido a uma casa por quaisquet daS-famí
lias "society", Ora, o que podem ser tais originalidades possíveis? Vimos, a
vida-privada está eliminada. Sobram graciosos jogos de sala.o, ou talvez U1Ila
estufazinha para cultivar suas flores preferidas, as orquídeas parasitas ou, se é
intelectual, uma biblioteca para livros reais ou urna galería para seus primi
tivos, ou qualquer outro "hobby 11 do género. Tais originalidades, entretanto,
se transpirarem na organizar,;:[o da casa, de modo algmn interferir[o no seu
eventual uso por outros, mesmo ao contrário, poder3.o ser sornadas as outras
manifesta�0es de consumo conspícuo, já que, para o novo proprietário, ter[o
a mesma esséncia, a inutilidade intrínseca dos gastos honoríficos e suntuosos.
Portanto, a originalidade nao corromperá sua mercadoria e isto possibilita a
concrega".o de sua aspirag3.o: que a casa seja diferenciadora, particular.
Mas, na.o basta afirmar-se como parte de urna classe, deseja afirmar-se
dentro dela, na hierarquia menor, incluída na maior, como superior aos
outros membros.
Uso parcimonioso de U1Il valor de uso de alto valor de troca , retido em
sua posse: é a definiga".o de tesouro. Sua casa é urna reserva substancial, posta
i margem da circulagao. Ouro feito concreto, conhece a alquimia que devol
verá o ouro - a venda. O aspecto ostentatório colabora com a fungao tesauro:
porque a ostentagao é basicamente a exposigfio de trabalho inutilizado, mas
,--� _oncent:rado. O tesauro em qualquer de suas formas tem valor determinado
pelas horas de trabalho médio social posta nele. O objeto suntuário é denso
e farto em trabalho coagulado, sem prestimosidade imediata, é verdade,
mas sempre procurando pelos aspirantes ao prestígio social. É mesmo seu
resultado. Daí, inclusive, o horror, entre eles, a qualquer objeto produzido
em série, o que indica, quase sempre, baixo custo unitário, comparado com
o artesanalmente produzido. As formas ousadas ou rebuscadas, revestimen
tos difíceis, caixilhos especiais etc., como arcas, cadeiras e santos velhos, sao
i i
prova de produg3.o artesanal, _com alto dispendio de forga de trabalho e, por
tanto, valiosas. Porque é suntuária, a casa é excelente acúmulo de riqueza 73
'
;obre a social, isto é, trabalho. É excelente tesouro, portanto. (Há razOes mais deter
�m enten minantes para que o proprietário da mansa.o a veja como tesouro. Adiante
·a que voltaremos a isso ).
n que "O tesouro nao tem somente uma forma bruta, tem tan1bém urna forma
tiriUídade estética": os objetos, espa<;os e requintes todos repletos de trabalho social
depositado, constituem os componentes da man sa.o, tesouro suntuariamente
"social" exposto. Se o consumo conspícuoprocura o que nao tem serventia, o tesouro
'_' society.": exige oconsmno cuidadoso, reduzido. Casamento perfeito: a riqueza reser
'1idades vada está depositada no que nao estimula o uso, na inutihdade imediata, que
tifo devem constitui a maior parte da mansa.o. O entesourador nao precisa ter cuidados
.SJá.mí- maiores: como a casa, que fez para si, é fundrunentalmente inútil, seu con
t.IIlos, a smno será, forr;:osa:niente-,-- m.í:nim.-o;··
vez runa E os criados, estas outras corporifica�Oes de riqueza, encarregar-se-3.o de
:as ou, se é retocar e arrumar quaisquer desarranjo p rovocadopelo raro uso.
1s pnm1- A sua casa, fruto de sua vontade, feita 8.. sua imagem e semelhanga, des-
tretanto, , tinada basicaJTI.ente a assinalar nao somente a sua c1asse, mas sua posic;;ao
:> no seu .�entro dela, sua personalidade, sua originalidade, para cuja prodw;ao criou
LS outras e·quipe a seu gosto, que comando u e submeteu, que fez penetrar na sua inti
·io, ter[o mida0-e a procura de seus desejos específicos, a sua casa, na parte visível, n[o o
,untuosos. particulari�a.
úbilita a
ff. PARTICULARIZA<;:Ao Nela, representa personagem anterior a si mesmo, mais
nar-se �á.,
do que vive.__ como em todo tesouro, nao é o uso que garante a troca, mas
aos a �.!?.�a_pos_�í�_�lj�sti�ca_ �� s�-Ji_ajti_�o.-:�€_:�--�����loY � e uso é__o_ v�J_or g_e
iroca contido. No tesourosuntuário - do lar - templo burgu€s - - predomina o
doem - váro:r SObre o uso, a forma abstrata do trabalho social puramente quantitativa,
;ial, posta sobre a conveniéncia pessoal O ser medido, interpretado pelos projetistas, é
ue devol reflexo animado de suas coisas. Sua intimidade exposta, preferéncias estéticas,
) tesouro: fru�!I ª-�fie§_,_ hábitos, idiossincrasia�;[� -so���ie-desV-i�s,- �-áis ou menos pró
-��os, -
:i.do, mas -da
- -fu�clam.ell1ag8.()· de seu-ser, a--magnitude do próprio capital. Mas a
rrninado casa híbrida do Morumbi se colllpüe-de duas partes, a visível e a privada. Ora,
é denso seria pouco prováveLque__ cl__ yiQ-_a_ P.!ivada nao fosse largamente contaminada
J.ade, pela ostentada: seus padrües sao apena·s-- pouco menos rígidos do que os públi-
no seu cos. A suP��i�rídáde a ser p:rovad·a d·iante de criado s, a ostentar;:iio <liante dos
:luzido \ íntimos, o comportamento tradicion�l entre os próprios membros da família,
tdo com enfim, toda a ideol a _.2_gia burguesa comparece taJTI.bém _aql!-1. A estereotipia da
:stimen f�ília b � - ;g�{e�a-e se�;h.-ábit�s rnternos-gera·-�� -�o�figurai;iio esteriotipada
lhos, sao da parte usável da casa que compOe, nao esque�amos, parte irremovível do
Lo e, por tesouro: E o dispéndio conspícuo se aproxima da esteriotipia privada pela rigi
lqueza 73 dez anOnima de seus conteúdos.
- - ---- - - - - - -
-
Apesar, portan to, da possibilidade de consecw;;ao de todas as idiossincra
sias, de todos os prazeres e de todo o conforto, só atravessa a complexa trama
do comportamento burgués em rela93.o a sua casa a autoritária presenga da
riqueza, Há diferenciagá.o; a esteriotipia da vida privada, do conteúdo da
ostentagao, a auséncia do prazer possível coexistem com a diferern;a, isto é, a
personifica�ao nao se dará através da adaptagao do esquema a urna pessoa e
sua família, seus hábitos e desejos especiais, mas pela simples variagao formal
do objeto morado. A casa é marca, sinal 1 nao utensílio particulaJ'..e sua vincu-
lag_a_o a tal prnprieíáDO-é-ConV-e"ncional, isto é, puramente jurídica. A diferern;;1:/
entre duas mansOes é a rnesma que separa dois capitalistas, tantos NCR$.
[Ao entesouradorJ só lhe interessa a riqueza na sua forma social e é por isso
que na terra a pOe forado alcance da sociedade [ ... ] Na sua sede de prazer
ilusória e sem limites, renuncia a qualquer prazer. Por querer satisfazer
todas as necessidades sociais 1 quase nao satisfaz as suas necessidades de
primeira ordem. 10
_L
,.v··•·
fSs1ncra Mas nem todo burgués tem a clarividéncia do Sr, Rotchild, cujo escudo
�xa trama e:ram. notas de nao sei quantos milhares de libras. Há que atribuir unia
sern;;a da forma qualquer ao ouro feito concreto. Mas qualquer forma frustra. Sua par
do da ticularidade estreita nega a universahdade latente no ouro. A forma limita
:1., isto é, a o conteúdo. Mas o conteúdo específico do proprietário, para cuja captagao
pessoa e e configurac,;:3.o tanto ernpenho requintado foi pasto, é precisaniente aquela
�a.o formal universalidade. Na ausencia de forma concisa que a expresse1 o suceda.neo
ma..V1ncu- é a mu1tiplica�3.o de sua especificidade, a neutralidade anünima da riqueza
\. diferern;a/ invade sua moradia inteira.
lCR$. Tu.do fez para que a imensa gama de seus possíveis, todos os prazeres do
mundo, fosse revelada e concretizada. JVIas o triunfo final é de sua externa
é por lSSO raiz, a abstrata riqueza impessoal, revelada em cada canto de seu desandado
e prazer movimento. Gerado pelo capital, é Midas, irrecuperável, reproduz eterna
sfazer mente sua origem. E mora na sua esséncia: no tesouro.
es de
(ÍV \
\
dos incontáveis materiais - entre revestimentos e pastilhinhas, tacos, lam
bris, azulejos, cerámica, elementos vazados, rod apés, granilite etc. Nao tem
a '"qualidade n do Mormnbi; mas sao fartos, os de segundo grupo, fundamen
talmente. A anarquía da produc;ao é visível, nas suas dimensües: poneos tem
medidas compatíveis comas de outros. O tijolo de barro tem 11 centímetros h
de largura, o elemento vazado 9,5, os ladrilhos e a cerfunica 15, ou 10, ou 12.
Os vidros sao múltiplo de 5 ) o caixi1ho de nada. As madeiras sao cortadas em
centímetros, a tábua de pinho em polegadas. O sistema métrico predomina,
/ mas a tubu1a9ao é fiel 8. polegada de origern. Os restos inevitáveis freqüente
mente va.o para Veleiros. i\!:megados "design�rs" ,__arquiteto_s �p.chem páginas,
an_µ�:=:���do q�e_ Q__.µi_ó_ª-_�1o__ exiSt€-:-M3.s o disperso capital constante, posto em
máquinas de ocasiao, está muito acima destes problemas secundários. Dizem
que o operário brasileiro tem baixo rendimento, cerca de 70%. É a ra�a,
também dizem.
A quantidade e diversidade dos materiais de acabamento que se disp0em
na constrw;:8.o civil média é altamente ilustrativa da classe média._��;i _pa,r_te
_,,,.d.a.osten-ta;;¡:ao...da_b�:rg_11_?§ÜLfugir do padrii�, do-que é produzido.industrial
_mente. É vulgar. 12 A classe média ta:mbém se preocupa com a_ostentagao. Mas
�-félz rids·limites de sua dispónil5ílidadi� pecuniária menor. Tem que aceitar
a industriahzagao. Ora, assim como a mania da burguesía da colonia é ser
burguesia metropolitana - o que faz com que se comporte quase como classe
média metropolitana - a mania da classe média é ser burguesia. A burgue_�ia--
usa produtos artesanais, a classe média os copia industrialmente: f6-�míéá -
imitando-- jacararrdá,- -feehaduras coloniais·da La Fonte, portas Polidor almo
f�.?�da_s _n? l?-gar do portal _de -igrej-a·,--lustres também coloniais ·da Pelotas etc.
,,/ Como a própria palavra afirma, a regra do revestir é a máscara e a máscara,
no caso, é moldada nas originalidades do Morumbi e reproduzida em série.
A máscara nao tem originalidade. Logo, a mais precária também serve. Daí
várias conseqü€ncias sobre os materiais de revestimento, os básicos, comuns a
quase todas as obras, assim como a vida privada a quase todas as classes, niio
se prestando a ostentac;:8.o: a) fi�am _ _lim.itados ao poder aquisitivo desta classe,
isto im.plica em pequena produc;:ao ou inais freqüentemente em péssima
i i
12 Aqui, evidentemente. O produto industrializado no estrangeiro serve. A.final, a burguesia
norte-am.ericana é a mais alta classe brasileira. A nossa burguesía pode, porLanto,
consumir os produtos da classe média abastada de lá. O seu "status" relativamente é o
mesmo, descontadas pretensües ai:istocráticas que se satisfazem coma arca ou o santo
76 velho e a imita�Uo do colonial. 77
;, lam- \/.}Prodw;:a".o, por nao atingir quantidade compatível com boas instalag5es;13 b)
a.o tem substituem__qll_a_lidade por ef1::i�o, a repetigao enfática na propaganda de que
ndam.en ""ºS[◊-d�;á-;eis é a melhor prova de que nao sao; e) quando_sao contrafac;ao
cos tem de produtos industriais que a burguesia impo_r!a� J�stj.ficam _o emprego d�-
.metros m�-q�_i�¡iio-VeIBo�-fjf[_::arnQ�iza:dcffoi.i-d�·p;ís, concorr�d� v�taj���-ente
), ou 12. �¿���en.tu;is si����s naci�;;ais. Se. _ �_a_? patentes metropolitanas baseadas,
- logia desenvolvid�..:....:: q ·u·e-nao "é i:\jJroVaVeimente, nao
, portante, exn. 1:1.:rn_ª__t,ecno_
;atlas em - -
lomina, será a nossa -, sao aqui. p.r.o_d_µ�tª.§:.�_�m condigües inferiores de "know -how n ,
�qüente mao--de=obr_a_, __9rgª_11i?;fl..�f(o_ d� nabalh;;-�qVij:;am�lifOs�)na-rér_ia;_:p"r""i:rii.iC<:ltc-.; sao" -
l pág1nas1 pbri g_9-t9ri_ª=1Il?
. �!� ��--q�a_lidade pr.ecária; 14 d) multiplicam-se ininterrupta
,osto em mente, de acordo comos últimos figurinos nacionais, subproduto dos interna
,. Dizem cionais; 15 e) etc.
É bom lembrar: tais revestimentos sao, na maioria, absolutaniente dispen
'-Sáveis do ponto de vista técnico. Raros silo objetivam.ente necessários. Mas
1spüem consomem de 20 a 40% do on;amento de uma casa ou aparta:rnento - a varia
� .paxte gao acompanhando os níveis da classe média atendida.
;trial O tema revestimento. parece-detalhi-smo-de-er-iti.ca-inóqua:,Mas exa
Lg8.o. Mas minemos seu papel económico: em primeiro lugar, dizer que 30·%, em
Lceitar média, do capital empregado em constrrn;ao civil massificada vai p_ara
é ser "acabamentos'1, em país de imenso déficit habitacional, é caracterizar a
o classe ifracionalidade nuclear do sistema. A prodrn;ao da constrrn;ao representa
rrgue§>J.a-- _,terca de 10% do PIE. Destes 10%, metade é de construg3.o civil. Desta
lliCa (metade, 30% é revestimento, isto é, 1,5% do PIE. É rnuito. Em seguida, este
.-"' "
almo .\mesmo fato pode ser associado a outro: nao há déficit de materiais de cons
, \
>tas etc. tr�o no Brasil. As indústrias <leste setor trabalham com 48% de capaci-
3.scara, dade � média.16 _ _ - --
- - __ ___ ,.---- - -- -
-�--
séne.
-e. Daí
)illUilS a
es, n[o
i classe, 13 Servem como exem.plo as primeiras tintas e colas plásticas aquí produzidas. Desde o
na precursor do Epox, fabricado pelo Sr. Pini, que niio conseguía aderir as paredes; e a cola,
debelo nome Dupont AE 704, que niio cola, as pequeninas indústrias que pululam.
14 Exemplos: "pumex" (concreto expandido), "eterniL" (fibro-cimento), vidros, lougas etc.
15 O burgués do Morumbi compra L'oeil ou o Connaisseur. Importa e copia. A Casa &
burguesia Jardim fotografa e traduz, e disso urna original industrieta de revestimentos pode surgir
to, tranqüilamente. Veja-se azulejo pintado, pedrinhas coladas (a Fulget faliu, passou a
mte é o moda).
1 santo 16 Vé-s� que a recente "crise do cimento" (em 1968) foi artificial. O cartel de produtos,
77 agora sob investiga<¡;iio, fez desaparecer o produto para aumentar o prego,
·'!>
SETORES CAPACIDADE OCIOSA MÉDTA %
Vidro 50
Plástico 40
Metal 57
Cimento 59
Cerámica e olaria 43
Madeira 36
l\1ármore e granito 51
IVIÉDIA 48
Dados Pxtraídos do Relatório d;i Coopern,;ao IndLtSlrial para o Plano Habüaciona1 -- CIPHSB. Es Ludo n. 10, vol
II,i g67,p.264-
➔ de sucesso ser conhecida de todos; gostar de run disco de sucesso _é quase o mesmo que
reconhecé-lo. O comportamento valorativo tornou-se runa ficr,¡3.o para quem se vé
cercado de mercadorias muisicais padronizadas." (p.165).
19 Ilusiio, ver "Desenho e o canle�o na concep\;ao do convento de La Tourette", pp.214-21
80 desta coletánea [Nota do autor em 2005] 81
:tiros _devem CQ!J_espondfr ao que é comum as casas da burguesía da classe média: l
·i. for,rr:;i,a_JU.€lreadorirr, ·simp1e-smente:-··;.,
1Tudo se ,.-.. ____ .. "
:1 nacional.
tla�oes. FETICHE Á primeira vista, a mercadoria parece mna coisa trivial 1 evidente.
agües Analisando-a, ve-se que ela é 1,una coisa muito complicada, cheia de
er1a1s, sutileza 1netafísica e manhas teológicas. Como valor de uso, nao há nada
arcas pre misterioso nela, quer eu a observe sob o ponto de vista que satisfaz neces
� do ope sidades humanas pelas suas propriedades, ou que ela somente :recebe essas
que fez: propriedades como produto do t:rabalho humano. É evidente que o homem
mmarcas por me.io de sua atividade modifica as formas das matérias naturais de
um modo que lhe é útil. A forma da madeira, por exemplo, é modifi-
·e neces- cada quando dela se faz urna mesa. Nao obstante a mesa continua sendo
1 espa�o madeira, uma coisa ordinária física. Mas logo que ela aparece como mer
muito cadoria, ela se transforma numa coisa fisicaniente metafísica. Além de se
:orbusier pór comos pés no chao, ela se püe sobre a cabega perante todas as out:ras
'ª, inde- mercadorias e desenvolve de sua cabec;,:a de madeira cismas muito mais
1 de Le estranhas do que se ela comegasse a dangar por sua própria iniciativa.20
:rabalho,
'11, cons- mercadoria, para continuar seu reinado, esconde o que é e toma empres
lo con- tado o que nao é. �sconde as re1a<;¡6es humanas de que é pura intermediária e
.¿;:
ega na faz p_arecer as--Fela�ciesliu--:--nianas-·com.--=-o-:cánsequencia- de -su.a -�mtólloma movi-
/
1seqüencia ll?-entagao. Ac!_quire ar'Es 4_e_ ip_d_ep _ end&ncia. D__ v_alor, refle:xo__d9_ trabalho social
r--l
téria resis 1 genérico, se transforma em sua propriedade intrínseca.
-
nca e o ,_Ef�ti�hísillo dá merc"adoria o Ilo�-� d�;t�� se�s-"b'iZarros caprichos".
Esta inversiio, plenamente justificada pela aparencia do mercado, tem
� comum importante furn;;:ao entretanto. Pois é ela que permite as fabulagües da forma
,áno nao é mantenedora do sistema. Ela alicerca a falsa a- historicidade da forma merca
·ocuram a doria, pois o valor e suas lei�-�rge�1 co���rop�i;;i�des natu��i�-das·c-�isi� �
-
; diluídos �i¿
�------�;-�o-dOi -lllOdC)s tiáiiSi101':i:OS d8_:� r�lªgi5es hillTianas.
·-··---· --- -- --- -- -
'
ntrafagao Sua importánciél é tal que, na proporgao mesma- ern que o sistema se
:-ox1ma desagrega, a mercadoria faz ginásticas para nao mostrar que é produto do
Lem. Nao trabalho humano, e persegue a aparencia dos objetos naturais ou de objetos
o. Logo, resultado dos processos industriais afastados de qualquer presern;a hllillana.
''Argúcias teológicas". Daí este desenho exato, de geometría perfeita moldada
.--eni-i:r:;r:epreensíveis superficies metálicas dos produtos rnais avangados, tipo
�smo que Ulrn e Cia\ Procedentes de misteriosa e sobre-humana tecnología, nao t@m
se vé
'pp. 214-21
81 20 Karl Marx. O capital, op. cit., v. I, t. 1, p. 70.
porque temer o desmascaraxnento: nao há homens na sua vizinhan9a, Ora,
por trás do revestimento, vimos, há sinais embara�osos de sua indubitável
presern;;:a. Mesmo difuso e freqüentemente atabalhoado, o registro das maos
do operário incomoda a periclitante paz do consumidor, cria problemas de
consciéncia, pois levanta perguntas a respeito dos anónimos e repelidos auto
res do tesauro apropriado.
E isso é absolutamente daninho ao sistema. N.um temp9__ em _g__ue as coi-
5ªs_ d_eJ�J:J:_t;_!P_ 9 _homem 1 revelar que as co\sas encobrem rela9_6es humanas-
, é_��JJ:y�_rt�r _? _C?rie�·__Há que apagar o trabalho revelador1 e para isto nada
me1hor que o trabalho inútil, o revestimento. A esséncia do revestimento
é magnificamente adaptada: nele o homem operário está ausente, só com
parece a for9a de trabalho abstrata a depositar valor nos materiais inú
teis. Necessidade 1 carencia, finalidade objetiva, estes móveis de trabalho
humano significativo já fahavam na sua produ,;;:[o. A palmrra mesma diz: re
vestir, cobrir o que já está completo, mascarar. Ou a outra, acabamento, com
suas ressonáncias fúnebres. O revestimento que fantasía cada classe de suas
aspirai;0es é o mesmo que encobre as marcas das razües que fundanientam
a mascarada: a aliena�ao do produto da for�a de trabalho alienada. Voltare
mos ao tema.
;___¡
\.,-
cada '7/
Mas a própria manufatura atual nao apresenta seu melhor rendimento.
1ando é Entre suas virtualidades técnicas e de eficácia, e sua atuagao presente, interfe
Lll'gem rem as infuneras determinac;Oes da mercadoria que produz.
Lo.Na '� A necessidade falsa de p�i:IícttV1(1uahzm;B:-0-psl-a-poose--do objeto.dife-
lnado r�--O-�fe1i!:h-€-,1]a-YGer:.ca.doxiª� _ a __cp�_enc�� de n�?- pr�_ _4uiid
_ ?--_ g_�!8:1!1 1 '_poros ''
0
1
1, nao 'pÜros" a diluir-ajá precária racionahdade da manufatura da constrU<5§.o civil.
1
: Castro,
lítica da 26 "Nos paises ditos 'subdesenvolvidos' [ .. J a abundáncia e o pre1,;o baixo da rnáo-de-obra
nao incitam. a substituí-la por mn equipam.ento muito cusloso, exigindo, aléln disso,
quadro� de dire1,;áo e de vigiláncia de alta Lecnicidade". Georges Friedrnann, Le Travail
87 en Miettes. Paris: NRF, 1964, p. 210.
�-
Mas ) deixemos as inteng6es. Importa aqui o fato de o BNH criar1 comos recur-
sos extraídos do operariado pelo Fundo de Garantia por Tempo de Servi90) um
imenso mercado novo e relativamente artificial de classe média-média. (É bom
lembrar: apesar das ofertas 1 quase nao houve sindicato de trabalhadores que con
seguisse formar cooperativas habitacionais. Os operários nao suportariam. as condi-
:,fg5es do "financiamento 1) feíto com seus próprios recursos do Fundo), Sintomatica
mente, os illlensos recursos ) que facilmente equipariam indústrias suficientes para
a superas:ao real do déficit habitacional em poucos anos, com qualidade1 sao redi
vididos, encamlllilados a grandes empreendedores e const.rutores. Os quais, com
a garantia do 1'desenvolvirnento do nosso subdesenvolvimento'\ de nenhum
gringo i vista com suas máquinas usadas, e da impraticabilidade de nova glo
riosa guerra com o Paraguai, espalhan1, em doses homeopáticas, em salutares e
ténues despenhadeiros, suas casinhas, impulsionando com novo vigor o absurdo
e desumano processo tradicional da construc;ao civil.
Mas há razües mais determinantes para a tranqüilidade na contradiga.o
dos que discursam. desenvolvimento e estipularn processos arcaicos de pro
dugiio. Antes de mencioná-las, entretanto, há que examinar o combustível: o
ope=��o d�_":_� nstru93.o civil.
- _
',
, "'--I?ºRvA DE TRABALHO .A)manufatura móvel que constituí a constrw;;ao civil
�:r;;-prega-uperári�ue podem ser reunidos em trés géneros: um pequeno
27 Friedrich Engels, A questii.o da habitara.o. Siio Paulo: Acadt'mica, 1988, p. 38. Neste
mesmo trabalho de Engels, coleta.nea de arLigos que escreve contra o proudhoniano A.
lvlulberger, si'io examinadas as relai,¡Oes entre a questiio da moracha operária, vista como
flagelo isolável dos demais problemas do proletariado e o socialismo pequeno-burguCs.
Engels demonstra, ao contrário, que "os focos de epidemias, os mais imundos porücs nos
quais, noite após noite, o modo de produgiio capitalista encerra nossos trabalhadores,
niio siio eliminados \pelos BNHs daquele Lempo] mas apenas... mudados de lugar/ A
mesma necessidade económica os faz nascer aqui como lá. E, enguanto subsistir o modo
de prodm;iio capitalista, será loucura pretender resolver isoladarnente a questi'io da
habitai;iio ou qualquer outra questao social que diga respeito a sorte dos operários. A
solm;;iio reside, sim, na aboli1sao d ste modo de produs:iio, na apropria�iio pela própria
_e
classe operária de todos os meios de produ�iio e de existéncia." F. Engels, op. ciL., p. 66. 89
.do grupo de semi-oficiais, seus ajudantes e grande quantidade de serventes. Na
a sua propor�ao de 30% dos dois primeiros grupos para 70% do último (informa
�ifo do Senai).
Q�- -��!'X�.!1-te.s, cuja ocupac;;ao é ser pura energía física auto-movente, sao alta
mente instáveis, trabalhando dias, meses, raramente anos em urna obra e
\l"este m.una empresa. Último dos empregos, salário-mínimo, nenhum direito traba
niano A. lhista respeitado, sua posi i;;iio é disputadíssima: constituí ponto privilegiado de
ista como pressao do exército de reserva de for�a de trabalho. A manufatura particular,
burgués. seguindo seus cronogramas e gráficos "Pert" contrata e descontrata ininter
porües nos ruptamente os operários desta área sem preocupai;;Oes, pois sabe que a oferta é
tdores,
w!A
ir o modo 28 Karl l\!Iarx., O capital, op. cit., v. 1, t. 1, p. 276.
o da 29 O salário horá.rio médio do servenl.e (NCR$ 0,58) corresponde ao salário mínimo,
rios. A aproxinrndam.ente. Os semi-oficiais portanto, recebem menos de dois salários míninlos
irópria mensa�s. Segundo informagües do DIEESE, o salário médio do operário da construg3.o civil,
t., p. 66. 89 em 1968, foi de NCR$ 182,52 (BoleLim citado).
macú;a a qualquer momento com a vantagem suplementar de escapar as leis
trabalhistas mais facilmente. Além disso, a mobilidade é refon;ada pelo com
portamento do próprio servente: :rest:rito as tarefas primárias para as quais
nenhum aprendizado é necessário, mas sempre se vendendo como 1'se:r em
transi98.o", impossibihtado, portanto, de aumentar o valor de sua forc;a de tra
balho pela aquisic;ao de maior qu.alificac;a'.o no próprio trabalho, procura rea
lizar rnn valor maior para sua forga de traba1ho desqua1ificada deslocando-se
entre setores e ram.os de produc;ao. 30 Ora, objetiva e subjetivamente instável,
sem nenhum lago forte ou interesse específico em relac;ao a const:rug[o, lá só
permanece enquanto sua animalidade, sua forc;a, serve. A radical negagao de
sua humanidade no trabalho impede qualquer vincu1ag3.o nao contratual com
ela ou com o ramo. Constituí, assim, o operário-padrao, sornando a alienai;:8.o
objetiva dos produtos de seu trabalho a alienagiio subjetiva com relaga.o a pro
dugao específica em que está envolvido. 31
Os outros operários t€m furn,;:0es específicas na obra. Estas, entretanto, sao
parte de oficios decompostos: por exemplo, na.o há um oficial que trabalhe
madeira em geral, nas empresas médias e grandes. Há o carpinteiro para as
fórmas de concreto, o especialista em tesouras e coberturas, outro em escadas
que nao rangem, o marceneiro que faz armários, outro caixilhos, o colocador
de pisos de tábuas, o taqueiro, o aplicador de lambris, etc, A divisa.o do traba
lho desta manufatura móvel fragmenta os campos tradicionais, ainda visíve1
em casos mais restritos nas pequenas empresas. Note-se que esta semi-qua
lificagao é distinta da semi-qualificag8.o industrial. Neste, o conhecimento
adquirido no manejo do maquinário é generalizável em muitos casos dentro
I! de certos limites tecnológicos. Permite a ampliagao e a transladag3.o sem
maiores dificuldades. Entretanto, a semi-qualificagao de alguns operários da
constrw53.o civil é intransferível para outros campos da produgao - e a pró
pria industrializagao do setor imporia a formagao renovada, a experiencia da
1¡ .. �anufatura sendo praticamente inútil.
;
Cada operário <leste grupo torna-se senhor de urna fragmento ou seqü@n
cia limitada de fragmentos de um oficio, num movimento de decomposigiio e
nao de composigao. Desenvolve sua destreza até o virtuosismo, economizando
gestos, aperfeigoando "macetes", selecionando instrumentos, misto de acordo
das recomendagües já meio arcaicas da scientifi'c management com a regrinha
do speed as a skill, dos tayloristas.
locador de seus poucos gestos específicos, que seja sujeito, limitado mas ativo e hábil,
) traba durante o tempo mesmo em que é pura mercadoria 1 Util enquanto para si é
visível valor de troca, objeto das determina90es do mestre, sempre preservando o que
t-qua levarrta,--ape�.?E de estar sempre levantando sua própria negagiio encarnada.
ento O semi-ofici-;;¡r;---d9no de reduzido campo tem com ele lagos mais deter
dentro miriaNt{:§_9_:)Je..a. .f.ugá:.z sensa9fio de realizag[o suspensa, pois sua ocupa9ao
em parcelada é que lhe garante sustento e salário pouco maior que o mínimo,
.rios da representando semi-qualifica<;ao que aumenta o valor social de seu trabalho.
l prÓ Sua minúscula reserva é sua vinculaga".o única com um pouco mais de huma
ncia da nidade: sua alimentag[o supera levemente a do ajudante. Há resquícios de
gente no que faz. Desaparei;:a sua furn;ao, superada por algmn progresso, e
;eqüén seu horizonte é o retorno ao subsolo dos serventes. Há que prezar, valorizar,
jOs1giio e defender o que faz. Mistificar mesmo, envolvendo de mistérios e imputando
nizando lhe sabedoria tradicional, adquirida em anos de prática segura. A qualquer
� acordo inova�ao, instintivamente reage: a mudam;;:a, ameagando seu domínio inelás-
egrinha
11
tico, pode ser sinünimo de caréncia.540 ope:rá:rio semi-qualificado da const:ru
r,;:[o civil, como conseqüéncia do modo arcaico de produgao manufatureira, é
tecnicamente conservador,55 como defesa passiva de sua subsisténcia. Nisto,
1
34 Houve Lempo ern que o concreto aparenLe nao era moda e tinha raza.o de ser: r-azilo
económica. Seu emprego, entretanto, atraía forte rear;¡Ko. Dos prnpl"letários, para os
quais o concreto aparente aparentava economía - no que acertavam - corrornpendo o
efeito "estético" que o gasto conspicuo sempre produz na burguesía. E dos operários,
que temiam a inovar;¡íio: sujeira era deixada nas formas, ferros pressionados para
apaTecerern, tintas ou batidas intencionais procuravam impedir a permanencia do
concreto aparente. Sabotagem mesmo. Com o tempo, virou moda, o operário teve que
se submeter-. E até aproveitou: hoje é illlla nova especialidade paTa o operário que já
consegue reproduzir perfeitarnente, lisinho-lisinho, as graciosas filigranas dos projetos.
E, como conseqüenLemente ficou bem caro, destruindo sua intenr;¡íio original, pode ser
¡
1
1
�---·-
1 ___;
,zao 36 A respeito, entre a imensa bibliografía, ver: K Marx, O capital, op. cit., t. 1; K Marx,
1¡1
a os Manuscritos económico/ilos(!ficos. Sao Paulo: Boitempo, 2004; G. Friedmann, O traba
2ndo o lho em migalhas. Sao Paulo: Perspectiva, 1972. Do operário, Taylor exige, sinLeÜzando ,¡,,
"
ários, o comportamento do capital, "nao produzir mais por sua própria iniciativa, mas exe
1
a cutar pronLamenle as ordens dadas nos menores detalhes." F. VV. Taylor, La direction
·11,•.l
do des Ateliers, Paris: Dunod 1930, p. 137- Na manufatura ou mesmo na indústria sobo
i ¡i
ve que capitalismo, tudo o que é coletivo - mesmo a produüvidade maior do Lrabalho, fruLo de
.ie já sua divisao e da coopera9ao dos trabalhadores - é atribuído ao capital, quer haja ou nao
11
)rojetos. verdade nisso. Organiza¡;;ao, planejamento, decis5es sao fun95es que a todos envolvem
ade ser e, "naturalmente", direito do capital. Logo, a for�a conservadora do capital investido
na manufatura é infinitamente superior a do operário. Num trecho dos "Gnmdisse",
da Cons-
1a maior
apresentado como intTodugiio ao Livro u do Capital, diz Marx: "Sejam quais forem as
formas sociais da produgao, Lrabalhadores e meios de produ9ao continuam. sempre seus
1
llldicato fatores. Mas u.ns e outros só o sfio em potencial quando estiio mutuamente separados.
)rár10 por Para que haja produgiio ao todo, eles precisam combinar-se. O modo específico de levar
�, o faz a efeito essa combinagiio distingue as diferentes épocas económicas da estrutura social 11 "
i!
'apital. No presente caso, a separagaü do trabalhador livre de seus meios de produgiio é o ponlo
,1
� o meca- de partida dado." O capital. op. cit., v.II, pp. 32-3. Ora, tal separagiio dos meios de produ
¡,¡
dente dos ¡;;iio implica necessariamente na separai;fio das razóes da prodrn,;fio, mediaLas e im.ediatas.
> traba- No caso específico, o operário da constrw;i'io civil niio somente é afasLado de seu produto, 'I
:1a nas mas desconhece mesmo, freqüentemente, suas razües de projeto, cálculo, oportunidade,
: zelador etc, Nao,tem, nem pode ter, portanto, qualquer influencia que pese nos scus rUlllos. Nos
93 manuscritos, Marx é explicito: "Até aquí examinanios o estranhamento, a extcri.orizai;¡i'io ➔
revolucionária, enquanto a de todos os modos de produg&o anteriores
era conservadora. 57
'i
rário: já havia roubado o que desejava. Por meses, os alpendres das capelas
¡1 1
➔ do trabalhador sob apenas UIIl de seus aspectos, qual se ja, a sua relagao comos produ
,
I'
tos do seu trabalho. Mas o estranham.ento nao se mostra somente no resultado, rnas
tarnbém, e principahnente, no ato da produgao, dentro da própria atividade produtiva.
Corno poderia o trabalhador defrontar-se alheio ao produto da sua atividade se no ato
rnesrno da produgao ele nao se estranhasse a si mesmo? O produto é, sim, somente o
resumo da alividade, da produgao." K. Marx, Manuscritos económico-filosóficos. op. cit.,
p. 82. Em resumo , o operário, apesar de tecnicarnente conservador na construgao civil,
é pouco determinante porque: a) nao tema posse dos meios de prodw;ao, b) a forma da
produc;¡ao imp6e , em certa :medida compatível como emprego de sua habilidade, a sua
alienag3.o quanto ao produto, suas raz6es.
94 37 Karl Marx, O capital. op. cit., v.I, t.2, p. 89. 95
:es das superquadras abrigaran1 centenas de familias de candangos sem ocupac;ao,
os antigos e os chegados, informados das antigas condic;Oes. Pouco a pouco
se retiraram para as fave1as chamadas cidades satélites. Retirantes, haviam
[l Brasí- JBrg�I!.S!-,Üi?~-�P!l Pf:i!Jt�º==d_Q_Qfic.ip'-,,.4guardam, definhando:-qu;- �olt�ID-a S€T
L e Nie necessários, que o capital os compre, novamente, e como magia propiciatória,
ldades enfeitam suas choc;as com as colunas do Alvorada. O trágico lllillpesinato
ontes de oscila entre duas mortes: por miséria em Brasília1 por miséria no Nordeste ou
vilégio da outro inferno qualquer. A política brasileira foi desenhada no espac;o: branca
- ordem e conforto calculado para o senhor do capital e do poder e os que
utores cabem em suas reservas - e morte, marginahzac;ao, fome, afastamento para os
que des excedentes. E ainda assim, o candango conserva o que fez, prova de sua capa
le um cidade, nao pisa na grama. Voltará.38
que foi. O que houve? O candango veio do campo-latifúndio - sohdao, doern;;:a,
tes da seca, terras boas cercadas, trabalho irregular quando havia.59 Em Brasília, um
ssibili salário e o aprendizado de urna ocupagao que garantía o salário, esforc;o cole
:rantasia tivo cujo vazio dissimulado e o hipócrita feitio nao percebia, a vida gostosa do
LS 24 núcleo Bandeirante, com sua gente, cachac;a e prostitutas importadas. Téc
nicos, arquitetos, operários, e até o presidente em aparente cooperagao con
��penho sentida .• N •::jxupr-e:B:Sa,FlB-S-ciiscurso.s.,....o_..e_log_ill__p.Q !!JJ!Q§QL.�!!g__a;Q,ª(JQI: .Pf_p_Qi s,._ 8: . _
ram.A xer.da�o.-sist-e.ma:,-s-ua·im-ensa--i-ndifere:n�: ter.minada.a,_explo.r:ai;ª_Q, _d_�:-�� ___
�� os candangos. O candango resiste mudamente na amarga frustragao:
o.tiram achancto:·sep�uidor de habilidade ontem prezada, espera novo chamamento.
>Ita a Exige, por vezes, quando seu sindicato existia. O raquítico pegou elefantiase
)nte 11 das e a exibe supondo saúde. Para nada mais serve. E se soma, enquanto aguarda
�na mais impotente novo capricho do capital, ao enorme exército de reserva de mi'io-de
do ope obra subocupada e desocupada, garantindo, exclusivamente, baixos salários
lpelas para os sorteados que conseguem ocupac;iio. Estima pelo trabalho feito, vai
dade pelo sub-oficio apreendido, vínculo insubstituível e intransferível com
sua subsistencia, impotencia <liante das determinagOes do capital, colaboragao
; produ- mediata na manutenga.o do processo de produgao obsoleto e de alto grau de
i,mas explora98.o do trabalho.
rodutiva.
e no ato l,,,- __.,
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MAIS-VALI':}{.studemos numericam.ente as relac;Oes operário-empresário.
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ente o '�_,.,<'-'--- Ape.sar ae"-Serem simples índices, estes números indicam a média do funcio
JS. op. cit., namento real da especula9[0 imobiliária entre nós, hoje. Como poderíamos
;a.o civil,
forma da
de, a sua 38 Ver, a respeito, O. Niemeyer. iVfinha experiéncia em Brasília. Rio de Janeiro: Vitória, 1961.
39 Ver a respeito, Francisco Julia.o. Que sao as ligas camponesas? Silo Paulo: Civilizac¿ilo
95 Brasileira, 1962.
esperar, há carencia total de informai;Oes exatas a respeito nos vários órg§.os
púbhcos, mna de cujas furn;:Oes é obt€-los. Somente o DIEESE, entidad.e vincu
lada aos sindicatos operários, possui alguns dados e análises gue apresentamos
em anexo. Suponhamos que o especulador possua um capital de 100 (mil,
milhües de dólares ou cruzeiros, nao importa) o qual, aliás, é freqüentemente
realizado pelos compradores. E que para a constrw;:;ao divida, em média, estes
Joo em duas partes: 75% aplica em rnatéria-prima e bens de produgao (areia,
cimento, pás, canteiro, etc.) e 25% em m3.o-de-obra (isto é, com 25 compra
fon;;a de trabalho e paga as leis sociais). Nenhum especulador que se preze
aceita participar em algum negócio imobiliário se seu lucro líquido, descon
tados a desvaloriza�ao da moeda, a infla�ao, custos etc., nao atinge 100% no
mínimo em dois anos em média. Portanto, o incorporador paulista de 1969,
se p6e 100, retira 200, Ora, sabe-se que as trocas, fora flutua�Oes de prei;:o
determinadas pelas variag6es da oferta e da prodrn;:ao, sao foitas pelo justo
valor no mercado, pelo valor real. O iludido, portanto nao é o comprador que
teria adquirido por 200 o que valeria somente 100. O objeto produzido, a casa
ou apartamento, vale realmente 200. Entretanto, se pudéssemos examinar o
registro de gastos, o prego de custo, só encontraríamos 100. É que, no processo
de produgiio, 100 é acrescido aos 100 iniciais- o trabalho de transformagao da
matéria prima em casa ou apartamento gera um valor novo, cuja expressao
monetária é i gual a Joo.
Em esquema:
40 Karl Marx. Le Capital París: Pléiade, 1968, L.n, p. 510 e nola p. 511. [Referencia
mantida na edir;;[o francesa, preparada e traduzida por Maximilien Rubel, pois nao foi
encontrada na edig[o brasileira, traduzida diretam.ente do alemíio, de edi r;;[o preparada
96 por Engels. (N.o.)J 97
1s órgaos Taxa de lucro lucro mais-valia 100 100%
esentamos
, (mil, Taxa de lucro maís-valia rno ±
:ntemente Mais-vaha salários cap. variável
édia, estes
a.o (areia 1
compra A taxa de mais-valia e:xpressa com maior aproximac;ao o grau de explorai;;ao do
� preze trabalho. A taxa de lucro, dividindo a mais-valia, que é produzida exclusivamente
, descon- pela forr,;:a de trabalho paga pelo capital variável, disfa.rr,;:a a magnitude desta
00% no explora�ao ao dividi-la, também, pelo capital constante. Dizer taxa de lucro de
:le 1969, 100% é dizer que a taxa de mais-valia é de 400%, é dizer que o sobre-trabalho
prei;:;o é 4 vezes superior ao trabalho necessário. Ou ainda, significa que o operário da
o justo construi;;a.o civil, durante sua jornada de trabalho de 8 horas por exemplo, produz
rador que o próprio salário em l hora e 36 minutos e o "lucro,, nas 6 horas e 24 minutos
ldo, a casa restantes nao pagas. Repetimos: apesar de os números serem simples exemplos,
rm1nar o as rela90es se aproximam das reais. Ou, seja, os candangos trabalham l hora e 36
o processo minutos para si e 6 horas e 24 minutos para o capitalista empreendedor � isto
rma9a'.o da em Sao Paulo, 1969. O lucro do incorporador é produzido diariamente, durante
:pressao a fase do processo de produ1,sao, durante a fase da construi;;ao. Sua realizagao, isto
é, a transformai;;:[o do capital mercadoria em dinheiro, a transfigura'58.o da forma
imóvel para a forma monetária é que se opera na venda. Lembremos ainda que
também nos 25% que representaram o capital variável esta.o incluídas as leis sociais.
,[... ]Esta Como estas leis representam cerca de 50% da folha de pagamentos, em
mas no verdade o operário recebe somente o produto de 48 minutos de seu dia de 8
horas de trabalho. Pode-se afirmar que, como tendencia geral como desen
volvimento do capitalismo, as várias taxas de explorag[o do trabalho, as taxas
de mais-valia se aproximam nos vários setores de produ1,s8.o. Entretanto, essa
tendencia é contrariada por certos fatores: em particular, no caso da cons
trui;;:8.o civil, o fato do exército de reserva de forga de trabalho exercer aqui,
prioritariamente, sua press[o, leva a acentuagao inevitável desta taxa no setor.
Mas1 a taxa de lucro real no setor deve ser ainda maior.
l
constrrn;:iio civil é derivada. Como conseqüéncia, se quiséssemos efetivamente 'I
,1
!¡
'.
f.Em
le cons- rísticas e necessidades.
1s. Mas, Segunda observagiio. O governo fala no "boom" da construgao civil a partir
lidades de 1967. A milo-de-obra no setor, diz ainda o governo, passou de 12% a 20%
. Daí (sup0e-se que da milo-de-obra urbana-industria}). Imensos interesses se con
o para centram: ora, para o industrial isolado que, no imediato, deseja urna "lua de
:a, dimi- mel", a industrializag8.o do setor é urna perspectiva tentadora, apesar de con
1eno trariar seus interesses de classe. Já se pode apontar os primeiros investimentos.
dia. Seguramente, a forma de produi;;¡ao arcaica será contestada por capitalistas
, que cuja fome próxima de mais-valia afasta a cautela a longo termo. Os prognós
1eiro. ticos, no caso ) s[o bastante difíceis. O que é seguro é que haverá atrito entre os
nec;ou a capitalistas isolados e seus representantes no poder) que t@m os olhos postos na
A._ seguir, classe e m�nos no seu componente particular. Mas nilo ultrapassará, segura l.
)roduto 101 mente, a regiiio das disputas cordiais. Afinal, eles se entendem. 11
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