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RESPONSABILIDADE EM MATÉRIA AMBIENTAL

Parte 1: Regras Gerais

 PRINCÍPIO INFORMADOR

Poluidor-Pagador: Art. 225, §3º: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados

 FÓRMULA DA RESPONSABILIDADE

 CONCEITO DE POLUIDOR:

Art. 3º, V da Lei 6938/81: “poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”.

 CONCEITO DE DANO AMBIENTAL

Paulo de Bessa Antunes: “Se o próprio conceito de meio ambiente é aberto, sujeito a ser preenchido casuistica-
mente, de acordo com cada realidade concreta que se apresente ao intérprete, o mesmo entrave ocorre quanto à
formalização do conceito de dano ambiental”.

Édis Milaré: “dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais, com consequente degradação – alteração adversa
ou in pejus – do equilíbrio ecológico ou da qualidade de vida”.

Há, em verdade, uma dupla face da danosidade ambiental, pois seus efeitos não alcançam somente os seres hu-
manos, como, da mesma forma, o ambiente que o cerca.

Por esta razão, possível distinguir:

a) Dano ambiental coletivo


b) Dano ambiental individual

 Dano ambiental coletivo – tutela pode ser via ACP, MS Coletivo etc., pela atuação do Ministério Público.
 Dano ambiental individual – ação indenizatória individual – baseada no direito de vizinhança.

De acordo com o STJ:


(...)O conceito de dano ambiental engloba, além dos prejuízos causados ao meio ambiente, em sentido amplo, os
danos individuais, operados por intermédio deste, também denominados danos ambientais por ricochete - hipó-
tese configurada nos autos, em que o patrimônio jurídico do autor foi atingido em virtude da prática de queimada
em imóvel vizinho (...).
RESP 1381211

Resultado:

- Características do dano ambiental:


- Pulverização de vítimas (bem difuso)
- De difícil reparação
- Dificuldade de valoração

Parte 2: Responsabilidade Civil ambiental


 Lei 7.347/85

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 Lei 6.938/81

 FORMAS DE REPARAÇÃO

Art. 14. – Lei 6938/81: “§1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor
ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente”.

Da “efetiva reparação” (“reparação in integrum”):


“Segundo a doutrina e a jurisprudência dominantes, o princípio que rege as condenações por lesões ao meio ambi-
ente é o da máxima reparação do dano, traduzindo-se na ausência de limites para a recomposição do bem
degradado, de modo a assegurar o mais perfeito restabelecimento do status quo ante”.
“Nesse diapasão, essa CORTE SUPERIOR DE JUSTIÇA construiu o entendimento no sentido de que, os deveres
– de restaurar e de indenizar - não se excluem, mas pelo contrário, se somam, tendo em vista que a eventual
possibilidade de a restauração in natura não se mostre suficiente à recomposição integral do dano causado,
além do que nem todos danos ambientais são recuperáveis, existem aqueles que são irreversíveis e conso-
lidados”. AREsp 1093640

Dano moral coletivo:


De acordo com o STJ, possível a condenação do poluidor em danos morais coletivos, presumindo-se a ocorrência
dos danos às presentes e futuras gerações.
No entender do Tribunal, o dano moral coletivo atinge os direitos de personalidade do grupo massificado, sendo
desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta dor, repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo
isolado.

Natureza objetiva:

Art. 14. – Lei 6938/81: “§1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a tercei-
ros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente”.

De acordo com o STJ:

Sistemática dos processos representativos de controvérsia (arts. 1.036 e 1.037 do CPC/2015), "a responsabilidade
por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator
aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato" (REsp nº 1.374.284/MG).

Teoria do risco integral: não se quebra o vínculo de causalidade pelo fato de terceiro, caso fortuito ou força maior
(Dif. da Teoria do Risco Administrativo ou a Teoria do Negócio do Direito do Consumidor).

“(...) Cabe esclarecer que, no Direito brasileiro e de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a
responsabilidade civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador, público ou
privado, proprietário ou administrador da área degradada, é de natureza objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida
pelos princípios do poluidor-pagador, da reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura e do favor
debilis* (...)” (STJ - REsp 1.401.500/PR).
*Proteger a parte vulnerável

Responsabilidade pessoal ou propter rem?

As obrigações de reparação e de indenização relativas às propriedades, são consideradas de natureza propter rem
pelo STJ.

“(...) As obrigações ambientais ostentam caráter propter rem, isto é, são de natureza ambulante, ao aderirem ao
bem, e não a seu eventual titular. Daí a irrelevância da identidade do dono – ontem, hoje ou amanhã, exceto para
fins de imposição de sanção administrativa, civil e penal. O dever de cumprir os ônus (entre eles, as limitações)

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ambientais transmite-se junto e inseparavelmente com o imóvel, na esteira do princípio nemo plus iuris in alium
transferre potest quam ipse habet (ninguém pode transferir a outrem direito maior do que aquele que possui). Ao
titular do bem em que incidem obrigações ambientais só é cabível aliená-lo, por qualquer forma, com idênticas
características e encargos, tal qual recebido. São obrigações ambulatórias, que gravam a propriedade e seguem,
inexorável e perpetuamente, os adquirentes sucessivos. Transferem-se do alienante ao adquirente, imunes às mu-
tações subjetivas, derivadas que são tão só do status de proprietário ou posseiro do sujeito, seja ele quem for”.

Súmula 623

As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor
atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.

Internalização:
Código Florestal – Art. 2º.: “§2º As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor,
de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural”.

Poluidor indireto:

“Para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano ambiental, equiparam-se: quem faz, quem não faz quando
deveria fazer, quem deixa fazer, quem não se importa que façam, quem financia para que façam, e quem se bene-
ficia quando outros fazem” (STJ - RESP 650728).

Inversão do ônus da prova:

“(...) Como corolário do princípio in dubio pro natura, ‘Justifica-se a inversão do ônus da prova, transferindo para o
empreendedor da atividade potencialmente perigosa o ônus de demonstrar a segurança do empreendimento, a
partir da interpretação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art. 21 da Lei 7.347/1985, conjugado ao Princípio
Ambiental da Precaução’ (REsp 972.902/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 14.9.2009), técnica
que sujeita aquele que supostamente gerou o dano ambiental a comprovar ‘que não o causou ou que a substância
lançada ao meio ambiente não lhe é potencialmente lesiva’ (REsp 1.060.753/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda
Turma, DJe 14.12.2009) (...)”

Súmula 618
A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.

Imprescritibilidade:

Tratando-se de direito difuso, a reparação civil assume grande amplitude, com profundas implicações na espécie
de responsabilidade do degradador que é objetiva, fundada no simples risco ou no simples fato da atividade danosa,
independentemente da culpa do agente causador do dano.

O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, está protegido pelo
manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos,
independentemente de não estar expresso em texto legal.

Em matéria de prescrição cumpre distinguir qual o bem jurídico tutelado: se eminentemente privado seguem-se os
prazos normais das ações indenizatórias; se o bem jurídico é indisponível, fundamental, antecedendo a todos os
demais direitos, pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer , considera-se imprescritível o direito
à reparação.

O dano ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis e como tal está dentre os poucos acobertados pelo manto
da imprescritibilidade a ação que visa reparar o dano ambiental.
REsp 1120117 / AC

STF:

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Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DANO AO MEIO AMBIENTE.
REPARAÇÃO CIVIL. IMPRESCRITIBILIDADE. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. 1. Revela especial rele-
vância, na forma do art. 102, § 3º, da Constituição, a questão acerca da imprescritibilidade da pretensão de repara-
ção civil do dano ambiental. 2. Repercussão geral da matéria reconhecida, nos termos do art. 1.035 do CPC.

Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85):

PREVISÃO

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por
danos morais e patrimoniais causados:

l - ao meio-ambiente;

OBJETO

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não
fazer.

LEGITIMADOS

I - o Ministério Público;
II - a Defensoria Pública;
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;
V - a associação que, concomitantemente:

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
OBS: O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.

CUIDADO 1:

Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro
legitimado assumirá a titularidade ativa.

CUIDADO 2:

§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta
às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

PROCESSAMENTO

Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento para
a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das peças informativas, fa-
zendo-o fundamentadamente.

§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro órgão
do Ministério Público para o ajuizamento da ação.

LIMINAR: Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.
A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o
pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar
outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

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Súmulas:

Súmula 613 - Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental. (Súmula 613,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/05/2018, DJe 14/05/2018)

[...] Inexiste direito adquirido a poluir ou degradar o meio ambiente. O tempo é incapaz de curar ilegalidades ambi-
entais de natureza permanente, pois parte dos sujeitos tutelados - as gerações futuras - carece de voz e de repre-
sentantes que falem ou se omitam em seu nome. (REsp 948921SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 23/10/2007, DJe 11/11/2009)

Parte 3: Responsabilidade Administrativa ambiental


 Decreto 6.514/08

OBJETIVO:

Pune não só comportamento típico, como também toda atividade contrária a quaisquer regras jurídicas de uso,
gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.
Inverte-se o ônus da prova ao acusado (presunção de legitimidade do auto de infração).

AUTORIA:

A autoria é pressuposto jurídico da incidência da pena, se traduz no comportamento, omissivo ou comissivo, daquele
que concorre para a prática da infração. Hipóteses excludentes se aplicam.

NATUREZA HÍBRIDA:

(...) "Isso porque a aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva da
esfera cível (para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou
seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e com
demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano“ (...). (REsp 1.401.500/PR).

Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º:
(...)§ 3º A multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo:

I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão
competente do Sisnama ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha;
II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do Sisnama ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha.

PODER DE POLÍCIA:

Prerrogativa da Administração Pública (Poder Executivo). Intervenção na esfera jurídica do particular, em defesa de
interesses maiores relevantes para a coletividade. Importância deste poder reside tanto na prevenção de ativi-
dade lesivas ao meio ambiente, como na repressão.

Rol não taxativo das possíveis infrações – arts. 24 a 93 – Dec. 6514/08:


Infrações contra a fauna;
Infrações contra a flora;
Infrações relativas à poluição e outras infrações ambientais;
Infrações contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural;
Infrações cometidas em unidades de conservação.

Sanções e as medidas administrativas acautelatórias – art. 72 – Lei 9.605/98:


Advertência;
Multa simples;
Multa diária;
Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora e demais produtos e subprodutos objeto de infra-
ção, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração;

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Destruição ou inutilização dos produtos, subprodutos e instrumentos da infração;
Suspensão da venda ou fabricação de produto;
Embargo de obra ou atividade e suas respectivas áreas;
Demolição de obra;
Suspensão parcial ou total de atividades; e
Restritiva de direitos.

PRESCRIÇÃO:

Súmula:

Súmula 467 - Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da Adminis-
tração Pública de promover a execução da multa por infração ambiental. (Súmula 467, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 13/10/2010, DJe 25/10/2010)
A jurisprudência desta Corte é de que o prazo para a cobrança da multa aplicada em virtude de infração adminis-
trativa é de cinco anos, nos termos do Decreto n.º 20.910/32, que deve ser aplicado por isonomia por falta de regra
específica para regular esse prazo prescricional. (Resp 1115078 RS, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção,
julgado em 24/03/2003, DJe 06/04/2010)

AUTUAÇÃO:

Dano – lavratura de Auto de Infração – dado ciência ao autuado;


Intimação: pessoal, representante legal, por carta registrada com AR, edital;
Auto: impresso próprio, identificação do autuado, descrição clara e objetiva das infrações administrativas, indicação
dos dispositivos legais, não devendo conter rasuras ou emendas.
PROCESSO ADMINISTRATIVO:

RECURSO AO CONAMA:

a) Da decisão proferida pela autoridade superior caberá recurso ao CONAMA, no prazo de vinte dias.
b) O recurso será dirigido à autoridade superior que proferiu a decisão no recurso, a qual, se não a reconsiderar no
prazo de cinco dias, e após exame prévio de admissibilidade, o encaminhará ao Presidente do CONAMA
c) A autoridade julgadora junto ao CONAMA não poderá modificar a penalidade aplicada para agravar a situação
do recorrente.
d) O recurso interposto não terá efeito suspensivo, salvo quanto à penalidade de multa.
e) Na hipótese de justo receio de prejuízo de difícil ou incerta reparação, a autoridade recorrida ou a imediatamente
superior poderá, de ofício ou a pedido do recorrente, dar efeito suspensivo ao recurso.

Parte 4: Responsabilidade Penal ambiental

 Lei 9.605/98
 Decreto 6.514/08

1. Sujeitos:

Art. 2º Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes
cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e de
órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta
criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

• Agressor
• Diretor da Pessoa Jurídica
• Administrador da Pessoa Jurídica
• Membro do Conselho da Pessoa Jurídica
• Membro de Órgão Técnico da Pessoa Jurídica
• Auditor da Pessoa Jurídica

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• Gerente da Pessoa Jurídica
• Preposto ou Mandatário da Pessoa Jurídica

Pela análise do referido artigo, possível constatar que será considerado crime ambiental omissivo impróprio (ou
comissivos por omissão), quando alguém, podendo agir para evitar um crime, se queda inerte, permitindo sua ocor-
rência (trata-se da figura do garantidor).

2. Responsabilidade da Pessoa Jurídica:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto
nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de
seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras
ou partícipes do mesmo fato.

Requisitos para responsabilização da PJ:

a) Infração seja cometida por decisão de representante legal ou contratual, ou órgão colegiado (não é um empre-
gado);
b) Infração penal seja cometida no interesse ou benefício da pessoa jurídica.

“(...) VII. A pessoa jurídica só pode ser responsabilizada quando houver intervenção de uma pessoa física, que atua
em nome e em benefício do ente moral. VIII. "De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou
indiretamente pela conduta praticada por decisão do seu representante legal ou contratual ou de seu órgão colegi-
ado.“ (...) IX. A Lei Ambiental previu para as pessoas jurídicas penas autônomas de multas, de prestação de serviços
à comunidade, restritivas de direitos, liquidação forçada e desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à
sua natureza jurídica. X. Não há ofensa ao princípio constitucional de que "nenhuma pena passará da pessoa
do condenado...", pois é incontroversa a existência de duas pessoas distintas: uma física - que de qualquer
forma contribui para a prática do delito - e uma jurídica, cada qual recebendo a punição de forma individua-
lizada, decorrente de sua atividade lesiva. XI. Há legitimidade da pessoa jurídica para figurar no pólo passivo da
relação processual-penal (...) (STJ – RESP 610.114).

Teoria da Dupla Imputação:

- Informativo de jurisprudência 714, STF.


- RE 548.181/PR
- STJ: modificou sua posição em 2015 – RMS 39.173 – seguinte orientação do STF.

Responsabilidade das PJs de Dir. Público:

- Paulo Affonso Leme Machado - sim


- Gilberto Passos de Freitas - não

Habeas Corpus e as PJs:

- De acordo com o STF, não cabe HC impetrado por uma PJ: “2. Na concreta situação dos autos, a pessoa jurídica
da qual o paciente é representante legal se acha processada por delitos ambientais. Pessoa Jurídica que somente
poderá ser punida com multa e pena restritiva de direitos. Noutro falar: a liberdade de locomoção do agravante não
está, nem mesmo indiretamente, ameaçada ou restringida. 3. Agravo regimental desprovido (HC 88747).

INFORMATIVO DE JURISPRUDÊNCIA 516

A pessoa jurídica não pode figurar como paciente de habeas corpus, pois jamais estará em jogo a sua liberdade de
ir e vir, objeto que essa medida visa proteger. Com base nesse entendimento, a Turma, preliminarmente, em votação
majoritária, deliberou quanto à exclusão da pessoa jurídica do presente writ, quer considerada a qualificação como

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impetrante, quer como paciente. Tratava-se, na espécie, de habeas corpus em que os impetrantes-pacientes, pes-
soas físicas e empresa, pleiteavam, por falta de justa causa, o trancamento de ação penal instaurada, em desfavor
da empresa e dos sócios que a compõem, por suposta infração do art. 54, § 2º, V, da Lei 9.605/98. Sustentavam,
para tanto, a ocorrência de bis in idem, ao argumento de que os pacientes teriam sido responsabilizados duplamente
pelos mesmos fatos, uma vez que já integralmente cumprido termo de ajustamento de conduta com o Ministério
Público Estadual. Alegavam, ainda, a inexistência de prova da ação reputada delituosa e a falta de individualização
das condutas atribuídas aos diretores. (HC 92921/BA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 19.8.2008)

- De acordo com o STJ, cabe HC impetrado por uma PJ: “II. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça
consolidou-se no sentido de que o habeas corpus não se presta para amparar reclamos de pessoa jurídica, na
qualidade de paciente, eis que restrito à liberdade ambulatorial, o que não pode ser atribuído à empresa. III. Admite-
se a empresa como paciente tão somente nos casos de crimes ambientais, desde que pessoas físicas também
figurem conjuntamente no pólo passivo da impetração, o que não se infere na presente hipótese (Precedentes) (STJ
RHC 28.811).

3. Competência:

Em regra, competência é da justiça estadual. Excepcionalmente, a competência será da justiça federal, quando
se enquadrar nas situações previstas no artigo 109, CF (notadamente: crimes contra bens, serviços ou interes-
ses da União, de suas autarquias ou empresas públicas, crimes previstos em tratados internacionais ratifica-
dos pelo Brasil, quando iniciada a execução no país e delitos cometidos a bordo de navios ou aeronaves.

4. Desconsideração da Personalidade Jurídica:

Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento
de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

Teoria menor da desconsideração: de acordo com o STJ, incide com a mera prova de insolvência da pessoa
jurídica para o pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de
confusão patrimonial (RESP 279.273)

5. Microssistema jurídico da dosimetria da pena:

Art. 6º Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará:

I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o
meio ambiente;
II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental;
III - a situação econômica do infrator, no caso de multa.

6. Liquidação forçada da PJ:

Art. 24. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a
prática de crime definido nesta Lei terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instru-
mento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional.
Equivalente à uma “pena de morte civil”.

7. Intervenção mínima
Quando no caso concreto as demais esferas de responsabilização forem suficientes para atingir integralmente os
objetivos da prevenção e da reparação tempestiva e integral, a verdade é que não há mais razão para incidência
do Direito Penal;

STF:
A finalidade do Direito Penal é justamente conferir uma proteção reforçada aos valores fundamentais compartilhados
culturalmente pela sociedade. Além dos valores clássicos, como a vida, liberdade, integridade física, a honra e
imagem, o patrimônio etc., o Direito Penal, a partir de meados do século XX, passou a cuidar também do meio
ambiente, que ascendeu paulatinamente ao posto de valor supremo das sociedades contemporâneas, passando a

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compor o rol de direitos fundamentais ditos de 3a geração incorporados nos textos constitucionais dos Estados
Democráticos de Direito. (...).

(...) Parece certo, por outro lado, que essa proteção pela via do Direito Penal justifica-se apenas em face de danos
efetivos ou potenciais ao valor fundamental do meio ambiente; ou seja, a conduta somente pode ser tida como
criminosa quando degrade ou no mínimo traga algum risco de degradação do equilíbrio ecológico das espécies e
dos ecossistemas. Fora dessas hipóteses, o fato não deixa de ser relevante para o Direito. Porém, a
responsabilização da conduta será objeto do Direito Administrativo ou do Direito Civil. O Direito Penal atua,
especialmente no âmbito da proteção do meio ambiente, como ultima ratio, tendo caráter subsidiário em relação à
responsabilização civil e administrativa de condutas ilegais. (...).

(...) Esse é o sentido de um Direito Penal mínimo, que se preocupa apenas com os fatos que representam graves e
reais lesões a bens e valores fundamentais da comunidade.

8. Características

Maioria das infrações penais em matéria ambiental – o fato ilícito decorre da falta de autorização legal, licença,
ou seja, o agente é punido não por ter praticado o fato ou exercido tal ou qual atividade considerada danosa ao
meio ambiente, mas sim, por não ter obtido a autorização para tanto;

Ex: caçar animais silvestres tanto pode ser ilícito penal como fato atípico, já que a caça não só poder ser proibida
como também permitida por meio de autorização.

Ex 2: Poluição – alguém pode estar agredindo o meio ambiente através de queimadas e não estar cometendo
nenhuma infração, pois detem a lincença para tanto.
Direito Ambiental – perspectiva preventiva – risco/dano – crimes de perigo – ex. art. 54, “causar poluição de qualquer
natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana”.
Descarta a ocorrência do dano como elemento necessário para a caracterização do crime, bastando apenas a
probabilidade de dano.

9. Sanções

Penas aplicáveis às pessoas físicas:

 Pena privativa de liberdade – reclusão e detenção para crimes e prisão simples para contravenções;
 Penas restritivas de direitos – prestação de serviços à comunidade; interdição temporária de direitos; suspensão
parcial ou total de atividades; prestação pecuniária e recolhimento domiciliar.
 Pena de multa

 Penas restritivas de direitos – prestação de serviços à comunidade; interdição temporária de estabelecimento,


obra ou atividade; suspensão parcial ou total de atividades; proibição de contratar com o Poder Público.
 Pena de multa

ATENUANTES:

 Baixo grau de instrução ou escolaridade do agente;


 Arrependimento do infrator, manifestado pela espontânea reparação do dano, ou limitação significativa da degra-
dação ambiental causada;
 Comunicação prévia do agente do perigo iminente de degradação ambiental;
 Colaboração com os agentes encarregados de vigilância e do controle ambiental.

AGRAVANTES:

 I - reincidência nos crimes de natureza ambiental;


 II - ter o agente cometido a infração:

a) para obter vantagem pecuniária;

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b) coagindo outrem para a execução material da infração;
c) afetando ou expondo a perigo, de maneira grave, a saúde pública ou o meio ambiente;
d) concorrendo para danos à propriedade alheia;
e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de
uso;
f) atingindo áreas urbanas ou quaisquer assentamentos humanos;
g) em período de defeso à fauna;
h) em domingos ou feriados;
i) à noite;
j) em épocas de seca ou inundações;
l) no interior do espaço territorial especialmente protegido;
m) com o emprego de métodos cruéis para abate ou captura de animais;
n) mediante fraude ou abuso de confiança;
o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou autorização ambiental;
p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou parcialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos
fiscais;
q) atingindo espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades competentes;
r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções.

10. Dos Crimes

 Crimes contra a flora – arts. 38 a 53;


 Crimes de poluição – art. 54;
 Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural – art. 62 a 65);
 Crimes contra a administração ambiental (arts. 66 a 69-A);
 Crimes com tratamento diferenciado – arts. 55, 56, 60 e 61.

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