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UNIFEMM

Centro Universitário de Sete Lagoas


Pós-Graduação em Psicanálise: Teoria, Clínica e Extensão

Sidney Stefani Ramos Souza

Construção e Interpretação

Elaborar um ensaio de 1 a 3 páginas para cada


disciplina e módulo do curso escrevendo sobre
alguma temática das aulas ministradas ou
bibliografias recomendadas.

Orientador: Prof. Fábio Bispo.

Sete Lagoas
2021
Resumo

O tema desse recorte é um estudo psicanalítico da histeria em Freud. Nesse


sentido ela trilha o caminho dos primeiros contatos de Freud com a interpretação e
construção baseado na histeria. A proposta é conciliar as aulas ministras sobre
construção e interpretação baseado no caso clínico de Elisabeth Von N.

Palavras-chave: Elisabeth, Associação livre, histeria, hipnose, histérica.


O caso clínico de Elisabeth Von R

Natural da Hungria, Elisabeth foi consultar Freud em 1892, aos 24 anos de idade,
em decorrência de dores nas pernas e dificuldade para andar (“hiperalgesia em músculos
da perna e da coxa). A paciente segundo Freud apresentava sintomas de conversão
histérica, como dores nas pernas, bem como delírios de perseguição. Ela adoeceu em
dois momentos diferentes: na morte do pai, da qual era muito próxima e mais tarde na
morte da irmã. Nas investigações Freud conclui que Elisabeth adoeceu no primeiro
momento em função de uma divisão de seus interesses entre um caso amoroso e os
cuidados com o pai enfermo. No caso da morte da irmã, deveu-se a uma paixão secreta
pelo cunhado.
Do ponto de vista técnico o caso apresenta uma série de avanços comparados a
Emmy von N. O abandono da hipnose, uma vez que a paciente se mostrou não
hipnotizável, um avanço um pouco maior da técnica da livre associação, mas Freud ainda
utilizava a mão na testa da paciente. Não se sabe exatamente quando ele deixou de usar
essa técnica. A teoria de pano de fundo continua a mesma que da comunicação
preliminar, o que faz com que a associação livre não seja tão livre, pois visa investigar a
causa dos sintomas. É feito a remoção do material psíquico patogênico por camadas.
Elizabeth ocupava um lugar fálico na família; pouco feminino. O pai costuma dizer que
ela ocupava o lugar de um filho. Segundo Freud,1925 - os meios que primeiramente adotei
para superar a resistência do paciente, pela insistência e pelo estímulo, tiveram de ser
indispensáveis para a finalidade de proporcionar-me um primeiro apanhado geral que era de
se esperar. Mas em última análise veio a ser um esforço demasiado de ambos os lados, e
além disso parecia aberto a certas críticas evidentes. Deu, portanto, lugar a outro que era, em
certo sentido, seu oposto. Em vez de incitar o paciente a dizer algo sobre algum assunto
específico, pedi-lhe então que se entregasse a um processo de associação livre - isto é, que
dissesse o que lhe viesse à cabeça, enquanto deixasse de dar qualquer orientação consciente
a seus pensamentos
Freud construiu sua noção empírica de trauma a partir do tratamento de seus
pacientes neuróticos, em especial, do que ocorria com a histeria, observando que seus
pacientes sofriam por causa de acontecimentos (reais ou fantasiados) ocorridos no
passado. Antes mesmo de Freud ter criado a teoria psicanalítica, a histeria já era
concebida como uma psicopatologia que tinha, na sua origem, um acontecimento
traumático de natureza emocional, muitas vezes de conteúdo sexual, ainda que ela só
pudesse ocorrer naquelas pessoas predispostas (organicamente) a esse tipo de afecção.
“Um estudo da história da psiquiatria pode mostrar como a histeria foi vagarosamente
reconhecida como entidade mórbida ao longo do século XIX, para ser, ao final desse
século, tomada como patologia clínica modelar a partir da qual todas as outras
psiconeuroses eram analisadas” (cf. Ellenberger, 1994 [1970], pp. 139-210). Articulando
os aspectos psicológicos e metapsicológicos para definir o que é um trauma, Freud diz:
“Pode-se mesmo dizer que o termo "traumático" não tem outro sentido que econômico.
Chamamos assim a uma experiência vivida que leva à vida da alma, num curto espaço
de tempo, um acréscimo de estímulos tão grande que sua liquidação ou elaboração, pelos
meios normais e habituais, fracassa, o que não pode deixar de acarretar perturbações
duradouras no funcionamento energético” (1916-17, p. 275). No histórico da Elizabeth
ocorrerão vários fatores traumáticos e catastróficos desde a morte do pai, fragilidade da
mãe, casamento das irmãs, a posição como enfermeira e até mesmo o fato de ser
considerada como filho para o pai. O reforço do pai em considera-la como amigo ou
confidente e de que ela teria dificuldades em encontrar um marido deixou um legado à
herança do falo fazendo ela um homenzinho. Elizabeth passa a viver um outro papel de
enfermeira e cuidadora do pai.
Os Estudos sobre a histeria contêm cinco casos clínicos, porém o fenômeno da
resistência só vem se configurar efetivamente no último dos cinco relatados, o da Srta.
Elisabeth von R., cujo tratamento se iniciou no outono de 1892 e foi descrito por Freud
como sua “primeira análise integral de uma histeria”. A situação que nos interessa aqui
se inicia com o episódio em que Freud não é bem sucedido em pôr a paciente em hipnose
profunda e, portanto, lança mão da técnica da pressão. A princípio, a técnica pareceu
funcionar bem, fornecendo bastante conteúdo para a análise da paciente, porém, em
algumas situações, como escreveu Freud, “parecia haver impedimentos de cuja natureza
eu não desconfiava na época” (Breuer & Freud, 1895/1987, p. 166). Se estas ocorrências
eram inicialmente vistas por ele como decorrentes de um dia desfavorável, suas
observações da paciente durante a aplicação da técnica de pressão o levaram a concluir
que o método não falhava, mas que havia algum processo mental em curso, o qual a
Srta. Elisabeth tentava reprimir. A resistência também ocorrerá dentro da transferência
resistência radial – do discurso – quando o paciente as sempre volta nas mesmas
histórias e assuntos.
Freud (1917/1976e) dá o nome de recalque ao processo patogênico que é
demonstrado pela resistência, ou seja, o processo pelo qual um ato inadmissível à
consciência é tornado inconsciente, o movimento através do qual o sujeito procura repelir
da consciência ou manter no inconsciente representações (pensamentos, imagens,
recordações) ligadas à libido. O recalque produz-se, dessa forma, nos casos em que a
satisfação da libido, suscetível de proporcionar prazer por si mesma, ameaça provocar
desprazer frente às exigências do ego. Sendo assim, o mecanismo do sintoma histérico
(assim como da neurose em geral) recai no recalque: processo psíquico que impede que
representações inconscientes cheguem à consciência. Segundo Freud (1925) a teoria da
repressão (recalque) tornou-se a pedra angular da nossa compreensão das neuroses. Um
ponto de vista diferente teve então de ser adotado no tocante à tarefa da terapia. Seu objetivo
não era mais ‘ab-reagir’ um afeto que se desencaminhara, mas revelar repressões e substituí-
las por atos de julgamento que podiam resultar quer na aceitação, quer na condenação do
que fora anteriormente repudiado. Demonstrei meu reconhecimento da nova situação não
denominando mais meu método de pesquisa e de tratamento de catarse, mas de psicanálise.
Contudo, podemos analisar no caso de Elisabeth vemos Freud já engajado na
investigação dos problemas das neuroses e considerando a existência de processos
mentais inconscientes. Nesse caso se instaura dores corporais após conflitos
psiquíquicos sendo convertidos em dores corporais. No momento em que Elisabeth diz
que não consegue sair do lugar, desenvolve um problema ao caminhar demonstrando
uso de signos na somatização das dores. É quando Freud abandona a prática da hipnose
e se defronta com o fenômeno clínico da resistência que o conceito de recalcamento
começa a se delinear. Quando Freud solicita a seus pacientes que tentem lembrar do fato
traumático que poderia ter causado os sintomas, verifica que, por mais que se esforcem,
esbarram numa resistência a que as ideias patológicas se tornem conscientes. Observa
que, em todos os casos, tratava-se de uma ideia de natureza aflitiva, capaz de gerar
vergonha, autocensura e sofrimento psíquico.
Freud, 1920 fala sobre a impossibidade de recordar onde o paciente não pode
recordar a totalidade do que nele se acha reprimido (recalcado), e o que não lhe é
possível recordar pode ser exatamente a parte essencial.
Concluiindo, o que impedia que essas ideias fossem livremente recordadas pelos
pacientes era uma defesa psíquica. A defesa surge como censura do eu do paciente à
ideia ameaçadora, forçando-a se manter fora da consciência.
Fazendo um recorte em uma das aulas ministradas “Se a primeira fase é marcada pelo
entusiasmo com os efeitos da interpretação; e a segunda é marcada por uma preocupação
com as interferências do laço transferencial; a terceira fase é marcada pelo confronto com as
impossibilidades: impossibilidade relacionada com o esgotamento do inconsciente, de torná-
lo totalmente consciente; impossibilidade relacionada com a cura da neurose, que também
aponta para uma análise infinita; impossibilidade de transpor o rochedo da castração;
impossibilidade relacionada com a eliminação do malestar oriundo do conflito entre as pulsões
e as necessidades impostas pela civilização”. Em construções em análises, a tarefa do do
analista é a de completar aquilo que foi esquecido a partir dos traços que deixou atrás de si
ou, mais corretamente, construí-lo. A ocasião e o modo como transmite suas construções à
pessoa que está sendo analisada, bem como as explicações com que as faz acompanhar,
constituem o vínculo entre as duas partes do trabalho de análise, entre o seu próprio papel e
o do paciente. Seu trabalho de construção, ou, se se preferir, de reconstrução, assemelha-se
muito à escavação, feita por um arqueólogo, de alguma morada que foi destruída e soterrada,
ou de algum antigo edifício.
Referências

Ellenberger, Henri F. 1994 [1970]: Histoire de la découverte de l'inconscient. Mesnil-sur-


l'Estrée, Fayard. [ Links ]

1916-17: A General Introduction to Psychoanalysis. SE 15 e 16.

Cf. a Introdução do editor inglês aos Estudos sobre a histeria (Breuer & Freud, 1895/1987).

Freud, S. (1976e). Conferência XIX – Resistência e recalque. In Edição Standard das Obras
completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 16). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho
original publicado em 1917)

FREUD, S. Construções em análise (1937)

FREUD, S - Um estudo autobiográfico, Inibições, sintomas e ansiedade (1925)

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