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O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e as decisões do Conselho de


Segurança

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Eduardo Uziel
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O Capítulo VII da Carta das Nações
Unidas e as decisões do Conselho de
Segurança
Eduardo Uziel

The article analyses the references to Chapter VII of the United Nations Charter in decisions of the Security Council.
Historically, Chapter VII has been equated with mandatory decisions and the authorization to use force to
“impose peace”. There is a political and scholarly debate regarding the meaning of Chapter VII, which has
consequences for UN efforts to maintain peace. The article assesses speeches and legal and academic texts in
order to highlight the diverse meanings of Chapter VII. Security Council decisions may have divergent interpre-
tations mainly when they refer to Chapter VII. There is no consensus on the meaning of such references, a fact
that affects, above all, peacekeeping operations. The article concludes that the references to Chapter VII
evolved significantly over time and are politically manipulated.

Quando a imprensa noticia as discus- Chapter VII of the Charter of the United
sões e decisões do Conselho de Segurança Nations” –, ou traz meandros – “acting
das Nações Unidas (CSNU), com frequên- under Chapter VII of the Charter of the
cia realça as referências – ou ausência United Nations with regard to Section I
delas – ao Capítulo VII da Carta das below” – ou é vaga – uma situação “cons-
Nações Unidas contidas nas resoluções titutes a threat to international peace and
do órgão. Seja nas sanções ao Irã e à security”. O Estatuto de Roma, que criou
Coreia do Norte, na autorização para o Tribunal Penal Internacional, faz men-
proteger civis na Líbia ou na imposição ção, em dois artigos cruciais, a decisões
de sanções à Síria, o interesse por essa do CSNU tomadas sob o Capítulo VII da
menção ao Capítulo VII tem crescido. Carta.2
Mesmo uma leitura superficial das reso- O Capítulo VII da Carta consiste em 13
luções do CSNU nos últimos vinte anos artigos (39 a 51) e versa sobre “ações rela-
evidencia a presença de referências ao tivas a ameaças à paz, ruptura da paz e
Capítulo VII, a um ou mais de seus artigos atos de agressão”. Entre seus dispositivos,
ou a sua linguagem em um número sig-
nificativo de resoluções.1
O mais comum é que, ao final de um Eduardo Uziel é diplomata, atualmente subchefe da
preâmbulo, o Conselho afirme que, “acting Divisão de Oriente Médio I do Ministério das Relações
Exteriores do Brasil.
under Chapter VII”, tomará uma decisão. O autor agradece as contribuições de João A. C. Vargas
Mas há casos em que a formulação é mais e os textos enviados pelos professores Michael Wood e
específica – “acting under Article 40 of Patrick Johansson.

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artigos

atribui ao Conselho a competência de Obrigatoriedade das decisões


determinar a existência de ameaças à paz
e de decidir as medidas necessárias para A Carta das Nações Unidas é um docu-
manter ou restaurá-la. Tais medidas po- mento lacunoso e sibilino. Embora seu
dem envolver ou não o uso da força e artigo 25 indique que todos os Estados-
devem ser implementadas pelos membros -membros “concordam em aceitar e exe-
da Organização. Estipula, também, o di- cutar as decisões do Conselho de Segu-
reito à legítima defesa. rança”, não explica o que constitui uma
O especial significado do Capítulo VII decisão ou se o CSNU pode expressar-se
– que denuncia incontáveis horas de ne- de algum modo sem “tomar decisões”. As
gociação por trás de cada referência – é regras de procedimentos, adotadas provi-
encontrado na política do Conselho de soriamente em 1946, apenas aumentam as
Segurança e no uso que historicamente dificuldades ao falarem de “moções” e
seus membros fizeram das decisões do “resoluções”. No quotidiano do Conselho,
órgão. Se indagarmos o porquê desse “resolução” é o termo utilizado para deci-
valor especial atribuído ao Capítulo VII sões substantivas, que também podem ser
são dois os aspectos a levar em conta. Em tomadas por “declaração presidencial” ou
primeiro lugar, muitos advogam que o “carta”. Nesse contexto, o termo “decisão”
Capítulo VII da Carta é o único que con- é reservado para as questões de procedi-
fere obrigatoriedade às decisões do CSNU. mento (Bailey e Daws, 1998, pp. 263-266).
Assim, somente as resoluções que estejam Como resultado dessa imprecisão, desde
no âmbito daquele Capítulo vinculam os o início, houve disputas e pressões políticas,
Estados-membros das Nações Unidas; as sobretudo entre os cinco membros perma-
demais são apenas recomendações. Em nentes do órgão (P-5), para determinar
segundo lugar, criou-se uma conexão es- quais expressões da vontade do Conselho
treita entre o Capítulo VII e a autorização são decisões no sentido da Carta e, portan-
para o uso legítimo da força no cenário to, obrigatórias. Ainda na conferência de
internacional. Desse modo, missões de paz São Francisco, houve debates sobre a pos-
ou forças multinacionais autorizadas pelo sibilidade de explicitar a quais capítulos ou
CSNU sob o Capítulo VII poderiam valer-se artigos da Carta aludiria o artigo 25, mas a
da força para impor uma solução a conflitos proposta não foi aceita (Cot e Pellet, 1985,
sem violar a Carta. No entanto, nenhum p. 475). Em 1947, o CSNU deteve-se no tema
desses dois motivos pelo qual o Capítulo quando tratou da comissão a ser estabele-
VII figura de modo proeminente nos deba- cida para investigar problemas na fronteira
tes do Conselho pode ser deduzido auto- grega. Naquele momento, a URSS e seus
maticamente da Carta. Este artigo procura satélites advogaram que somente decisões
evidenciar a arquitetura que criou histori- tomadas sob o Capítulo VII seriam obriga-
camente essas duas percepções e demons- tórias; as demais, meras recomendações,
trar que não há consenso sobre elas. com valor limitado à esfera moral. EUA,
Ressalve-se que não será empreendida França, Reino Unido e outros ocidentais
uma pesquisa de todas as ocasiões em que insistiram que o CSNU pode criar obrigações
o CSNU referiu-se ao Capítulo VII. Tam- com base em qualquer artigo pertinente da
pouco se trata de buscar seu valor jurídico. Carta, desde que queira fazê-lo (Nações
O objetivo é menos ambicioso – ressaltar Unidas, 1954, pp. 393-397).
que existe um sentido político por trás Não foram muito elaboradas as explica-
dessas referências. ções sobre os argumentos de cada lado, mas

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O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e as decisões do Conselho de Segurança

os que defendiam a obrigatoriedade so- afirmou que somente são vinculantes as


mente do Capítulo VII parecem ter tido resoluções aprovadas no âmbito de ques-
preocupação com a possibilidade de executar tões relativas ao artigo 39 da Carta (Nações
(enforce) decisões, de restringir a soberania Unidas, 1971, pp. 5-6).
e de conduzir a ações compulsórias auto- Após o desbloqueio do CSNU iniciado
máticas (um conhecido receio soviético). em meados da década de 1980 e consolidado
Mesmo alguns juristas ocidentais, como com o fim do bloco soviético, a questão da
Jimenez de Aréchaga, aderiram à tese ini- obrigatoriedade das decisões do Conselho
cialmente soviética e registraram incons- voltou a atrair atenção. Isso resultou de
tância nas posições dos países ocidentais quatro fatores básicos: 1) o órgão multipli-
(Jiménez de Aréchaga, 1996, pp. 49-53). De cou notavelmente o número de resoluções,
fato, ao longo das décadas seguintes, houve declarações presidenciais e outros instru-
mudanças radicais de posição, conforme a mentos aprovados por ano; 2) as decisões
política do CSNU e do cenário internacional passaram a dizer respeito a um número
colocavam um ou outro Estado em posição crescente de casos, do ponto de vista geo-
mais delicada e exigiam uma concepção gráfico e temático, passando a tratar de
mais restritiva sobre o caráter obrigatório aspectos antes ignorados dos conflitos; 3) o
das decisões do Conselho. Conselho adotou resoluções que formula-
De modo geral, até o fim da Guerra Fria, vam demandas incisivas e intrusivas para
o CSNU não aprovou muitas resoluções que os Estados, tais como desocupação de ter-
fizessem referência explícita ou alusões ao ritórios, desarmamento e inspeções de veri-
Capítulo VII, e a discussão sobre a obriga- ficação, adoção de legislação interna sobre
toriedade das decisões do órgão tendeu a terrorismo ou cessação de atividades de
emergir em ocasiões específicas, das quais enriquecimento de urânio; 4) e, em parte
ressaltam-se três. Na discussão sobre o como resultado das demais, o Capítulo VII
status do território de Trieste, o secretário- da Carta passou a ser explicitamente citado
-geral Trygve Lie opinou que todas as deci- em resoluções, o que sugeriu a alguns que
sões do CSNU devem ser cumpridas pelos uma categoria à parte de decisões estava
Estados: “a obrigação dos Estados de cum- sendo estabelecida (Johansson, 2008).
prirem as decisões do Conselho de Seguran- A tradição que favorece a obrigatorie-
ça aplica-se igualmente a decisões tomadas dade das decisões do CSNU apenas quan-
sob o artigo 24 ou sob poderes específicos” do relativas ao Capítulo VII ganhou força
(Nações Unidas, 1947, p. 45). No caso do a partir da década de 1990 e tem sido
Canal de Corfu, em suas apresentações à apoiada por EUA, Reino Unido e França
Corte Internacional de Justiça (CIJ), também (P-3), entre outros, nos debates do Conse-
em 1947, assim como na discussão sobre a lho. Juridicamente, baseia-se na ideia
Grécia, o Reino Unido sustentou que a enunciada com clareza por Kelsen de que
Resolução 22 (1947) era vinculante, apesar o termo “decisões” no artigo 25 da Carta
de falar de “recomendação”, enquanto a pode ser interpretado de maneira restriti-
Albânia negou estar obrigada pela decisão va, como referindo-se apenas ao artigo 39
do CSNU (Corte Internacional de Justiça, e opondo-se ao conceito de “recomenda-
1949, p. 20). Em 1971, o Conselho debateu ções” que prevaleceria no Capítulo VI
a opinião consultiva da Corte Internacional (Kelsen, 2000, p. 95; Security Council
de Justiça sobre a Namíbia (que será consi- Report, 2008, pp. 28-29).3
derada adiante). Nesse contexto, o Reino Na primeira de uma série de palestras
Unido reverteu sua posição anterior e proferida em 2006, Michael Wood, antigo

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artigos

consultor jurídico da Missão britânica jun- debates sob o Capítulo VI ou VII da Carta.
to às Nações Unidas, confirmou esse racio- Não há invocação de um dos capítulos, mas
cínio. Para Wood, existe na Carta uma antes a avaliação do Conselho sobre a natu-
distinção clara entre recomendações e de- reza da questão, à luz de sua responsabili-
cisões que podem ser formuladas pelo dade primária na manutenção da paz, e sua
Conselho de Segurança. “Decisões” são consideração dos fatos em cada caso são
vinculantes para todos os Estados e dizem determinantes quanto ao modo de proceder.
respeito apenas a temas do Capítulo VII da O procedimento adotado foi genérico e
Carta. Com respeito a todos os demais ca- adequado para considerer temas sob os
pítulos, o CSNU pode apenas sugerir ou Capítulos VI e VII (Nações Unidas, 1954,
encorajar condutas dos Estados. Mesmo p. 463).
que essas sugestões tenham grande valor Daws e Bailey afirmam claramente que
político, não criam obrigações legais. Opina a Carta traz elementos insuficientes para
também que, em sua prática atual, o Con- determinar quais decisões são obrigatórias
selho, para evidenciar que uma resolução e afastam a ideia de que referências a artigos
deve ser considerada obrigatória, deve específicos (artigos 2(5), 25 ou 49) sejam
enunciar sua vinculação ao Capítulo VII da necessárias para estabelecer o caráter vin-
Carta (Wood, 2006a, pp. 7-15). culante. Apesar disso, afirmam que houve
Apesar de advogar a obrigatoriedade um consenso crescente nos anos 1990 de
somente de “decisões” relativas ao Capítu- que só as resoluções adotadas sob o Capí-
lo VII, Wood reconhece que, dentro desses tulo VII são obrigatórias e listam as resolu-
textos, pode haver aspectos recomendató- ções que consideram estar nessa categoria
rios. Isso significa dizer que uma obrigação (Bailey e Daws, 1998, pp. 266-271).
somente é criada quando o CSNU utiliza o Wood responde ao desafio de modo
verbo “decides” (ou um equivalente) para mais claro e baseado nos textos adotados.
indicar a conclusão a que chegou. Termos Para ele, três elementos devem estar pre-
como “encourages”, “calls upon” e seme- sentes: a) a determinação de que há ameaça
lhantes indicariam meras sugestões, ainda à paz, rompimento da paz ou ato de agres-
que incluídas no corpo de uma resolução são, nos termos do artigo 39; b) referência
explicitamente aprovada no âmbito do clara à ação sob o Capítulo VII; c) e existên-
Capítulo VII (Wood, 2006a, pág. 14; e Wood, cia de uma “decisão” conforme ao artigo
2006c, p. 12). Várias resoluções recentes 25, ou seja, o uso do verbo “decides” ou
que mencionam o Capítulo VII ou seus seus equivalentes. Essa fórmula é a favori-
artigos trazem linguagem de encoraja- ta dos P-3 e foi consolidada ao longo dos
mento ou sugestão para diversos atores anos 1990. Wood oferece como exemplo a
internacionais (Security Council Report, Resolução 1718 (2006), sobre Coreia do
2008, pp. 9-12). Norte, mas admite que é frequente a falta
Mas, para os que sustentam que somen- de clareza, o que sugere a necessidade de
te as resoluções adotadas sob o Capítulo recorrer à leitura dos debates e declarações
VII são obrigatórias, surge a necessidade dos Estados para poder ter certeza do cará-
de indicar claramente quais decisões são ter vinculante das resoluções (Wood, 2006a,
tomadas sob o Capítulo VII. Essa tarefa não p. 14). Aduz que, em alguns casos, o CSNU
é simples. Como assinala o Repertoire do chegou à conclusão de que havia ameaça à
CSNU produzido pelo Secretariado: paz, mas deixou de inseri-la no texto – o
Nenhuma distinção no procedimento pare- que não o torna menos obrigatório (Wood,
ce ter sido introduzida para diferenciar 2006c, pp. 5-6).

110 POLÍTICA EXTERNA


O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e as decisões do Conselho de Segurança

Uma terceira linha de raciocínio é dada ponto de vista formal, nota que todos os
por Johansson, que parte do pressuposto de atos de um órgão colegiado dependem da
que apenas sob o Capítulo VII pode o CSNU tomada de uma decisão. Assim, as ações do
tomar decisões obrigatórias e procura definir Conselho estariam sempre ao abrigo do
o que são “resoluções do Capítulo VII”. artigo 25 (Kelsen, 2000, p. 95). O segundo
Um de dois critérios tem que ser atendido: argumento explica que o artigo 25 é uma
1) haver constatação de rompimento da paz, especificação do artigo 2 (5)6 da Carta e,
ameaça à paz ou ato de agressão; 2) estar como tal, evidencia uma obrigação geral de
presente uma referência a agir sob o Capí- apoiar as Nações Unidas, dentro do campo
tulo VII, em conexão com a ação a ser toma- específico de atuação de seus órgãos (Kelsen,
da (Johansson, 2008, pp. 2-3).4 Admite que 2000, p. 97). Por fim, ressalta que qualquer
pode haver dispositivos referentes a outros medida decidida pelo Conselho poderá ser
capítulos da Carta que sejam inseridos em implementada por meio dos instrumentos
“resoluções do Capítulo VII”, as quais não previstos no artigo 39. Em seu entendi-
deixam de perder essa qualidade (Johansson, mento, quando pode haver uma sanção, há
2008, pp. 10-11). uma obrigação (Kelsen, 2000, p. 294). Acres-
Para Johansson, há um crescente uso centa que, se todas as decisões são obriga-
das “resoluções do Capítulo VII”. Seriam tórias, os Estados também estarão vinculados
três os objetivos do CSNU ao adotá-las: 1) mesmo quando o CSNU se vale de expressões
determinar a existência de situação grave que, aparentemente, introduzem recomen-
que justifique ação coercitiva; 2) manter dações (Kelsen, 2000, p. 444).
uma continuidade formal com resoluções Por meio da Resolução 284 (1970), o
anteriores; 3) delegar para países ou orga- CSNU solicitou uma opinião consultiva da
nismos regionais os poderes de uso da força Corte Internacional de Justiça sobre a manu-
constantes do Capítulo VII (Johansson, 2008, tenção da presença sul-africana na Namíbia,
pp. 21-23). apesar de a Resolução 276 (1970) ter decla-
Vale comentar que Johansson represen- rado ilegal que a África do Sul continuasse
ta uma tendência em que a referência ao a administrar o território vizinho. Como
Capítulo VII torna-se dominante. O autor questão preliminar à opinião solicitada,
não consegue explicar, porém, o que o per- emitida em 1971, a CIJ teve que tomar uma
tencimento ao Capítulo VII implica, para posição clara sobre a obrigatoriedade. Nesse
além da obrigatoriedade de parte das ações sentido, a Corte afirmou o caráter vinculante
acordadas pelo CSNU. Do mesmo modo, da Resolução 276 (1970) e explicou:
não explica porque o Capítulo VII prevalece Argumenta-se que o artigo 25 é aplicável
sobre ações claramente pertencentes a ou- apenas a medidas executórias adotadas sob
tros capítulos ou referências explícitas ao o Capítulo VII da Carta. Não é possível
Capítulo VIII eventualmente contidas na encontrar na Carta uma base para essa
mesma resolução.5 visão. O artigo 25 não se restringe a deci-
Tanto quanto a tradição da obrigatorie- sões sobre execução, antes referindo-se a
dade apenas do Capítulo VII, a ideia de que “decisões do Conselho de Segurança”
todas as resoluções do CSNU são vinculan- adotadas de acordo com a Carta. Ademais,
tes tem argumentos sólidos e data dos o artigo está não no Capítulo VII, mas logo
primeiros anos das Nações Unidas. Kelsen após o artigo 24, na parte da Carta que
igualmente, na década de 1950, constrói três trata das funções e poderes do Conselho de
argumentos para explicar que todas as Segurança (Corte Internacional de Justiça,
decisões do CSNU são obrigatórias. De um 1971, pp. 52-53)

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artigos

A CIJ também considerou a questão da p. 281). Em segundo lugar, desenvolveu o


obrigatoriedade dos dispositivos específi- tema da obrigatoriedade de decisões rela-
cos da Resolução 276 (1970). O texto da tivas a outros capítulos e explicitou que a
resolução condena a recusa sul-africana de principal dificuldade nesse caso é identifi-
cumprir decisões anteriores da Assembleia car, no Capítulo VI, por exemplo, oportu-
Geral, declara ilegal a presença sul-africana nidades para tomar decisões obrigatórias.
na Namíbia e considera inválidos todos os Argumentou, sobretudo, que não é a refe-
atos da África do Sul em nome da Namíbia. rência a capítulos que realmente conta
No entanto, apenas exorta os Estados a não para estabelecer o caráter vinculante, mas
manterem com a África do Sul relações a intenção do Conselho de Segurança ao
econômicas que fossem contrárias à decisão decidir7 (Higgins, 1972, pp. 278-282).
de ilegalidade tomada pelo CSNU. A Corte Em estudo recente, a ONG Security
esclareceu que a declaração de ilegalidade Council Report demonstrou que, historica-
era obrigatória no sentido de que era uma mente, o CSNU oscila significativamente
decisão inicial, para futura implementação nas indicações de obrigatoriedade de uma
(em argumento semelhante ao de Kelsen), resolução ou de um dispositivo dentro de
e que deveria ser suficiente para que o go- uma resolução. Nesse sentido, há casos em
verno sul-africano deixasse o território. que nem o artigo 25 nem o Capítulo VII
Acrescentou que a obrigatoriedade de foram objeto de uma referência ou alusão,
obedecer a cláusulas introduzidas por ver- mas posteriormente o Conselho tratou uma
bos exortatórios depende de uma análise decisão como se fosse vinculante, cobrando
sistemática do contexto em que a decisão sua implementação ou estabelecendo san-
foi tomada – e que, nesse caso, eram vincu- ções por seu descumprimento. A conclusão
lantes. Encerrou essa parte da opinião ao é de que os termos em que são expressos a
afirmar que todos os Estados-membros decisão são centrais para sua obrigatorie-
das Nações Unidas, integrantes ou não dade e, nesse sentido, os verbos que iniciam
do CSNU e mesmo que tenham votado os parágrafos tornam-se palavras-chave.
contra a resolução, estão obrigados a Isso significa dizer que verbos como “deci-
obedecê-la (Corte Internacional de Justiça, des”, “demands”, “determines”, entre ou-
1971, pp. 52-54). tros, estabelecem comandos obrigatórios,
No ano seguinte, Rosalyn Higgins (que enquanto outros como “encourages”, “calls
viria a ser presidente da CIJ de 2006 a 2009) upon” e “invites” fazem recomendações
escreveu artigo em que procurou explicitar (Security Council Report, 2008, pp. 7-9).
e corroborar os argumentos da Corte em No que concerne às questões que o pró-
favor da obrigatoriedade de todas as reso- prio CSNU formulou como recomendações,
luções do CSNU, de acordo com o artigo 25 os defensores da corrente de que todas as
da Carta. Embora não tenha enumerado decisões são vinculantes parecem seguir a
novas razões pelas quais não só as decisões opinião de Hersch Lauterpacht, no caso
relativas ao Capítulo VII são vinculantes, “Voting Procedure on Questions relating to
contribuiu para as discussões ao sublinhar Reports and Petitions Concerning the
dois aspectos. Em primeiro lugar, recordou Territory of South West Africa”, de 1955.
que, na Conferência de São Francisco, hou- Nesse sentido, sugere-se que mesmo reco-
ve declarações em favor de restringir o mendações devam ser levadas a sério, dado
poder vinculante das decisões do CSNU, a importância que lhes atribui o Conselho.8
mas que as votações na conferência foram Se o artigo 25 prevalece em estabelecer
contrárias a essa tendência (Higgins, 1972, a obrigatoriedade, cabe indagar como

112 POLÍTICA EXTERNA


O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e as decisões do Conselho de Segurança

podem ser identificados os dispositivos nas quaisquer dessas atitudes (Kelsen, 2000,
decisões que têm por objetivo ser obrigató- p. 96; Wood, 2006b, pp. 6-7).
rias (ainda que as recomendações tenham As discussões doutrinárias sobre a obri-
seu peso próprio) e quem tem a autoridade gatoriedade das decisões do Conselho de
para fazê-lo. Na primeira parte da questão, Segurança retratadas acima refletem, sobre-
parece haver consenso de que, em razão da tudo, a ausência de consenso no órgão sobre
natureza dos processos negociadores, o o tema. Nos primeiros anos das Nações
texto final das decisões do CSNU é frequen- Unidas, havia uma tendência de discutir,
temente ambíguo ou impreciso: inclusive em abstrato, o sentido dos artigos
No entanto, é fato que a linguagem do da Carta e os limites dos poderes do Con-
Conselho com frequência traz um grau de selho. Havia um autêntico desconhecimen-
ambiguidade e que isso deriva das com- to do que seria permitido à nova Organiza-
plexas negociações que precedem a adoção ção realizar. Combinado com a polarização
de uma resolução. Esse processo é regido característica da primeira fase da Guerra
pela necessidade de transigência política Fria, esse fato fez emergir discussões tra-
e algumas vezes pela urgência de decidir vestidas de caráter jurídico que incluíram
algo. Esses fatores muitas vezes prevale- temas como a obrigatoriedade das decisões.
cem sobre a consideração criteriosa da Somava-se a isso a instrumentalização do
redação e da clareza (Security Council CSNU pelos países ocidentais – mais nu-
Report, 2008, p. 9). merosos nas Nações Unidas – para realçar
Como consequência, os Estados, outros o isolamento soviético, o que favorecia o
atores internacionais e acadêmicos buscam ressurgimento periódico de temas em que
clareza para poder executar ou analisar as a URSS pudesse sofrer constrangimentos.
decisões. Os autores parecem concordar Ainda durante a Guerra Fria e sobretudo
que o principal mecanismo para tanto é a após seu fim, o CSNU reduziu sua tendên-
pesquisa das negociações e debates que cia a debater exaustivamente pontos con-
conduziram à decisão, combinada com dos troversos e passou a buscar o consenso
precedentes do próprio Conselho e a exe- como objetivo de suas deliberações (ainda
gese da Carta (Corte Internacional de que gere muitas vezes as ambiguidades
Justiça, 1971, p. 53; Wood, 2006a, p. 14). mencionadas acima). Nesse contexto, o
Quanto à segunda parte da questão, debate sobre o caráter vinculante das deci-
está afastada a ideia de que caiba revisão sões não desapareceu do CSNU, mas tor-
judicial das decisões do CSNU (Corte In- nou-se bem menos importante e reapareceu
ternacional de Justiça, 1971, p. 45). A auto- de modo ancilar em alguns casos.
ridade para interpretar as decisões do Esse debate não é só notável por reapa-
Conselho recai sobre ele próprio. Os Esta- recer esporadicamente, mas também por
dos, na prática, executam as decisões de demonstrar flutuações significativas das
acordo com suas interpretações, uma vez posições dos membros do Conselho. Embo-
que o CSNU raramente prescreve uma ra seja demonstrável que alguns dos mem-
maneira de fazê-lo. Mas o caráter obrigató- bros eletivos também alternaram suas opi-
rio das decisões é estabelecido pelo próprio niões, é mais fácil indicar que os P-5 o fizeram.
Conselho, seja ao exigir o cumprimento, Nas décadas de 1940 e início da de 1950, a
seja ao estabelecer sanções, seja ao interpre- URSS foi defensora da obrigatoriedade so-
tar suas próprias decisões anteriores. Isso mente das decisões referentes ao Capítulo
não significa afirmar, porém, que o Conse- VII, enquanto Reino Unido e França advo-
lho de Segurança tomará necessariamente gavam a prevalência do artigo 25. Quando

113 Vol 21 Nº 4 abr/mai/jun 2013


artigos

foi analisada a opinião consultiva da CIJ decisões do CSNU (Nações Unidas, 1954b).
sobre a Namíbia, em 1971, as posições já As próprias Resoluções 242 (1967) e 338
haviam se invertido totalmente, estando os (1973), vistas como base do processo de paz,
soviéticos a favor de uma interpretação têm sua obrigatoriedade discutida (Security
ampla do termo “decisions”, enquanto Council Report, 2008, p. 5).
britânicos e franceses preferiam restringir O personalíssimo relato do então Repre-
seu significado. Os EUA adotaram postura sentante Permanente dos Estados Unidos,
oscilante de início, mas sua interpretação John Bolton, sobre as negociações da Reso-
jurídica da questão tem tendido crescente- lução 1695 (2006) a respeito da Coreia do
mente a concordar com a de França e Reino Norte produz também outro exemplo.
Unido. Atualmente, a China é o membro Segundo o autor, os EUA tinham interesse
permanente que mais claramente sublinha em uma decisão do CSNU que fosse a pri-
o caráter obrigatório de todas as decisões meira em mais de dez anos a mandar uma
do CSNU, independentemente de referên- forte mensagem política à Coreia do Norte.
cias ao Capítulo VII, embora a Rússia dê Paralelamente, os juristas do Departamento
sinais de que tem a mesma interpretação. de Estado insistiam que uma resolução
Ao contrário do que querem alguns autores, somente seria vinculante se contivesse refe-
não há um consenso sobre o tema, e também rência a ameaça à paz, ao Capítulo VII e o
os membros eletivos defendem posições verbo “decides”. Bolton desdenha dos
divergentes (Security Council Report, 2008, juristas em seu relato porque considera a
pp. 8-9). Mas a lição parece ser de que os menção ao Capítulo VII uma “buzz phrase”
membros do CSNU (permanentes e eleti- com o objetivo de obter “protective comfort”,
vos) são guiados pelas conveniências polí- mas, nas negociações, insistiu em sua inclu-
ticas do momento em suas opiniões, ainda são. As pressões políticas, afinal, permiti-
que tentem manter um mínimo de coerência ram que China e EUA pudessem concordar
com o passado recente e com as doutrinas com uma linguagem que fazia alusão vaga
que promovem. ao Capítulo VII e que cada país interpretou
A razão para essa inconstância doutri- como preferiu do ponto de vista da obriga-
nária deriva das consequências políticas e toriedade. Japão e EUA argumentaram que
jurídicas de aderir a uma ou outra inter- a referência ao Capítulo VII era clara e
pretação. Bons exemplos podem ser eviden- tornava o texto vinculante; a China não
ciados em um tema controverso como o compartilhou dessa tese (Bolton, 2007, pp.
Oriente Médio. Poucas resoluções sobre 298-303).
o conflito israelo-árabe foram adotadas
explícita ou implicitamente sob o Capítulo
VII (Bailey e Daws, 1998, p. 272; Johansson, Uso da força
2008, p. 28). A implicação é clara: se for
aceito que somente o Capítulo VII pode O segundo motivo pelo qual o Capítulo
vincular os Estados, a esmagadora maioria VII é particularmente valorizado na lingua-
das penosas decisões do CSNU sobre o gem do CSNU está ligado às ideias de
tema seriam meras recomendações. No coerção, uso da força, consentimento das
entanto, na década de 1950, quando a situa- partes e soberania, sobretudo em seu rela-
ção política da região e o acervo de decisões cionamento com as operações de manuten-
do Conselho eram diferentes, Israel fez ção da paz das Nações Unidas e outras
afirmações que indicam concordância forças multinacionais autorizadas pelo Con-
com a tese de serem obrigatórias todas as selho. Mesmo durante as negociações que

114 POLÍTICA EXTERNA


O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e as decisões do Conselho de Segurança

precederam o estabecimento das Nações da força é um dos grandes mitos do Con-


Unidas, já havia uma preocupação, sobretudo selho de Segurança (Wood, 2006a, p. 12).
da União Soviética, de que a simples referên- De 1946 a 1988, a Guerra Fria paralisou
cia ao poder de legitimar a guerra incluído em grande parte as atividades que a Carta
no Capítulo VII pudesse deslanchar uma vislumbrava para o Conselho de Segurança,
sequência de eventos que levasse ao uso da e as rivalidades decorrentes da bipolari-
força contra um ou mais Estados sem que dade exigiam decisões cautelosamente
houvesse completa concordância dos P-5 negociadas e frequentemente de linguagem
(Nações Unidas, 1954a, p. 393). diluída. Nesse período, referências ao Ca-
Neste ponto, é importante ressaltar dois pítulo VII ou a seus artigos eram utilizadas
aspectos. Em primeiro lugar, os poderes de modo muito econômico, em parte devi-
concedidos pela Carta ao Conselho de Se- do a desconfiança de uma das superpotên-
gurança, em especial sob o Capítulo VII, cias de que a outra planejasse utilizar uma
são sem precedentes na história contempo- decisão preliminar do Conselho para legi-
rânea das Relações Internacionais. Caso timar o uso da força contra um de seus
tivesse havido acordo entre os P-5, o CSNU aliados. Com a ascensão de Gorbachev e
poderia ter comandado forças internacio- posteriormente com a derrocada da URSS,
nais postas à sua disposição e autorizado o houve um desbloqueio do processo decisó-
uso da força para impor soluções a conflitos rio do CSNU, permitindo que o órgão to-
– que não requereriam qualquer tipo de masse mais decisões sobre um número
consentimento das partes. Mas, sabida- maior de temas. Houve um crescimento
mente, essa perspectiva nunca se materia- significativo das decisões alusivas ao Capí-
lizou, e o Conselho, confrontado com a tulo VII, que passava a contar com referên-
hipótese de total inatividade, preferiu atuar cias explícitas no texto (Johansson, 2008,
sem necessariamente usar todos os poderes p. 2; Nações Unidas, 2007, pp. 877-878).
coercitivos a seu dispor (Ruggie, 1996, pp. O ponto de inflexão para o uso da refe-
1-3; Nicholas, 1962, pp. 64-66). rência explícita ao Capítulo VII foi a Guer-
Em segundo lugar, o Capítulo VII dá ao ra do Golfo, iniciada em 1990. Na Resolução
Conselho uma ampla gama de instrumen- 661 (1990), que impõe sanções ao Iraque, a
tos para lidar com situações de ameaças à expressão “acting under Chapter VII” vol-
paz, rompimento da paz ou agressão, que ta a aparecer, e a maioria das resoluções
historicamente incluíram investigações, sobre o tema seria adotada sob a mesma
tribunais ad hoc, administração de territó- égide. Entre elas, a Resolução 678 (1990)
rios, sanções e, também, a autorização para tornou-se paradigmática, porque ligou a
o uso da força. Não há um itinerário neces- expressão “acting under Chapter VII” à
sário ou automático a seguir, e o CSNU ideia de uso de “all necessary means” para
pode nunca chegar a tomar qualquer me- que as tropas da coalizão internacional li-
dida coercitiva. Isso significa que somente bertassem o Kuwait. Ao utilizar as duas
sob o Capítulo VII pode ser autorizado o expressões, a decisão do Conselho permitiu
uso da força e que o CSNU tem ampla um acordo entre os P-5 e uniu duas carac-
margem de manobra nessa autorização, terísticas: a) criou uma base legal ampla
mas outros instrumentos que não resultam para atuação das forças militares, que não
em uso da força nem sequer são coercitivos estavam restritas a um artigo específico da
também podem ser autorizados sob o Carta, mas antes atuavam sob o manto geral
Capítulo VII. A ideia de que invocar o Ca- da autoridade conferida pelo Capítulo VII;
pítulo VII ser o mesmo que autorizar o uso b) estabeleceu, sem sombra de dúvidas, a

115 Vol 21 Nº 4 abr/mai/jun 2013


artigos

legitimidade do uso da força para a imple- que estariam perenemente associados às


mentação das decisões do CSNU, faculdade operações de manutenção da paz. Em
que o Conselho hesitara em usar nos 40 primeiro lugar, como derivava da Assem-
anos anteriores (Berman, 2004, pp. 156-161). bleia Geral, não poderia usar a força para
Como a campanha multinacional contra impor uma decisão das Nações Unidas.
o Iraque foi considerada um êxito em libe- Em segundo lugar, pelo mesmo motivo,
rar o Kuwait e refrear as ambições de Sadam devia contar com o consentimento das
Hussein, o mecanismo de gatilho, autori- partes em conflito para que pudesse atuar
zação e permissão para o uso da força no terreno. Em terceiro lugar, não se pro-
passou a ser visto como um modelo. As punha a resolver o conflito, mas apenas a
muitas operações de manutenção da paz ser imparcial e evitar atritos que instigas-
autorizadas nos anos seguintes diferiram sem a retomada das atividades (Nações
em sua organização (levada a cabo pelo Unidas, 1958, pp. 62-75). Embora o man-
Secretariado e não por uma coalizão de dato de nenhuma missão tenha feito men-
países) e em seus objetivos (implementar ção ao Capítulo VI da Carta,9 a exclusão
acordos e não vencer um inimigo declara- do Capítulo VII como base da UNEF e
do) da Guerra do Golfo. Mas o molde da manutenção de seus princípios como di-
Resolução 678 (1990) passou a ser aplicado retrizes para as missões posteriores cria-
a várias dessas situações, fosse para mani- ram a ideia de que o peacekeeping estava
festar forte apoio político, fosse para refor- inequivocamente ligado ao Capítulo VI e,
çar a legitimidade de eventuais e limitadas logo, impossibilitado de valer-se da força.
ações coercitivas, fosse para buscar inspi- As novas missões, na década de 1990,
ração em um sucesso anterior das Nações adotadas com base no paradigma da Re-
Unidas. No contexto da multiplicação de solução 678 (1990), começaram a ser per-
missões de paz em cenários controversos, cebidas como algo novo.
a referência ao Capítulo VII tinha também O início da década de 1990 foi marcado
a vantagem adicional de sugerir que uma por um triunfalismo das potências ociden-
operação das Nações Unidas no período tais, sobretudo dos EUA, que se refletiu nas
pós-Guerra Fria não necessariamente de- atitudes e conceitos das Nações Unidas. Em
penderia do consentimento das partes para 1992, o recém-empossado secretário-geral
realizar suas tarefas e que, se indispensável, Boutros Boutros Ghali publicou seu relató-
poderia até mesmo utilizar a força (Freu- rio “Uma Agenda para a Paz”. Nesse do-
denschuß, 1993-1994, p. 3 e pp. 13-14). Mas cumento, procurou organizar o que era
essa nova tendência conflitava com a visão visto como uma diferenciação crescente
clássica das missões de paz. entre manutenção da paz (peacekeeping) e
As missões de paz ditas clássicas foram imposição da paz (peace enforcement). Pro-
criadas de modo improvisado na década pôs que o CSNU fizesse pleno uso dos
de 1940 e consolidadas após a crise de poderes que lhe haviam sido concedidos
Suez, em 1957. Claramente, não estavam pela Carta e passasse a impor sua vontade
previstas na Carta, e o fato de que a pri- por meio de tropas postas à disposição das
meira grande missão (UNEF) foi estabele- Nações Unidas. Extrapolava-se com isso a
cida pela Assembleia Geral e não pelo experiência da Guerra do Golfo com a pro-
Conselho de Segurança marcou o desen- posta de que a Organização passasse a dis-
volvimento desse instrumento. Ao avaliar por de “unidades de imposição da paz”, que
os primeiros anos da experiência em Suez, poderiam agir sem o consentimento das
Dag Hammarskjöld consolidou princípios partes em conflito, com base em autorização

116 POLÍTICA EXTERNA


O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e as decisões do Conselho de Segurança

ao abrigo do Capítulo VII da Carta. O vontade internacional por meio do uso da


peacekeeping tradicional ainda seria útil, força se necessário, independentemente da
mas, autorizado com base no Capítulo VI, vontade das partes em conflito (Ruggie,
ficaria restrito a situações em que as partes 1996, pp. 8-9). Crescentemente, analistas e
pudessem obter um acordo e precisassem pessoal envolvido em missões passaram a
de um tertius que pudesse apoiar sua im- falar de “missões do Capítulo VI” e “mis-
plementação. Naquele momento de êxito sões do Capítulo VII” – em movimento
contra o Iraque, essa diferença conceitual semelhante ao que ocorreu em relação às
pareceu ter sentido. No entanto, não foram próprias resoluções do CSNU. Para quem
desenvolvidas as doutrinas operacionais e adotava essa nomenclatura, uma operação
arranjos jurídicos e logísticos necessários organizada pelo Secretariado, financiada
para lidar com as duas propostas bastante pelo orçamento das Nações Unidas e con-
diversas de atuação. Ademais, os anos se- tando com o consentimento das partes e
guintes demonstrariam que os Estados uma força multinacional organizada por
não estavam preparados para prestar o um Estado líder com liberdade de ação
apoio político indispensável às propostas eram essencialmente o mesmo porque o
do secretário-geral (Nações Unidas, 1992, Conselho mencionava em seus mandatos
pp. 10-14; Ruggie, 1996, pp. 5-7; Doyle e o Capítulo VII. Opunham-se conceitualmen-
Sambanis, 2006, p. 11). te às missões de paz em que o Conselho não
Como resultado da confusão de concei- se referia ao Capítulo VII (Berdal, 2000, p. 70;
tos, da falta de mandatos claros e da ausên- Dallaire, 2005, pp. 40-41 e 71-72; Mays, 2004,
cia de apoio político e meios materiais, as pp. 24-25).
missões de paz na Somália, em Ruanda e Em meio à tentativa de reorganizar e
na Bósnia-Herzegovina fracassaram suces- fortalecer as missões de paz, o Relatório
sivamente. Na Somália, houve descoorde- Brahimi, de 2000, procurou introduzir uma
nação entre os componentes e um número nuance quanto às operações em cujo man-
crescente de tarefas de imposição da paz dato havia referência ao Capítulo VII. Para
que a operação de manutenção da paz não o documento, ainda existem missões tradi-
era capaz de realizar em função da resistên- cionais, cujo mandato contempla o uso
cia violenta de grupos locais. Em Ruanda, mínimo da força (mas não há menção a que
a missão recebeu tarefas inadequadas para capítulo estão conectadas). Existem, porém,
o cenário político e foi impedida de usar a missões multidimensionais, que atuam em
força para defender populações em perigo. cenários mais perigosos, onde as partes são
Na Bósnia-Herzegovina, o mandato era fragmentadas e indisciplinadas e, como
confuso e solicitava ações incisivas, sem que consequência, há mais atos de violência.
fossem dados os meios materiais adequa- Nesses casos, as missões recebem mandatos
dos para executá-las (Security Council robustos, adotados com referências ao Ca-
Report, 2008, pp. 22-23). pítulo VII, como forma de demonstrar o
A segunda metade dos anos 1990 teste- compromisso político do CSNU. Essas
munhou um recuo das operações de ma- missões não deixam de contar com o con-
nutenção da paz, carentes de apoio político sentimento das partes e não podem ser
e padecendo de inconsistências conceituais. confundidas com forças multinacionais
Houve uma reação de países para tentar encarregadas de impor a paz, ainda que os
definir esse novo peacekeeping, geralmente mandatos de ambas as categorias conte-
no sentido de associar missões estabeleci- nham referências ao Capítulo VII (Nações
das sob o Capítulo VII com a imposição da Unidas, 2000, pp. 3-7).

117 Vol 21 Nº 4 abr/mai/jun 2013


artigos

Apesar dos esclarecimentos do Relatório exemplo. Adotada sob forte pressão dos
Brahimi, houve uma forte e duradoura EUA, contém a referência ao Capítulo VII,
associação entre as referências ao Capítulo e o verbo “decides” figura em vários pará-
VII (“missões do Capítulo VII”) e a ideia de grafos, mas não há autorização para o uso
imposição da paz. Esse verdadeiro mito no da força. A Resolução afirma, porém, que o
CSNU está no cerne do segundo motivo CSNU dá ao Iraque uma última oportuni-
pelo qual tanta importância é atribuída a dade para cumprir suas obrigações impos-
referência ao Capítulo VII, porque diz res- tas por outras resoluções.11 A Resolução
peito ao limite da atuação das missões de 1441 (2002) impôs um regime intrusivo de
paz estabelecidas pelo Conselho (Security inspeções de desarmamento ao Iraque, que
Council Report, 2008, p. 21). Esquematica- teve êxito limitado. Os EUA, então, procu-
mente, pode-se afirmar que há uma per- raram obter nova decisão do Conselho, no
cepção difundida de que qualquer missão início de 2003, que autorizasse claramente
militar cujo mandato contenha a menção o uso da força contra o Iraque. Na impos-
ao Capítulo VII é vista como de imposição sibilidade de amealhar os votos necessários
da paz. Como peace enforcement, poderia e ante a ameaça do veto francês e russo, os
desconsiderar a vontade das partes em EUA mudaram seu discurso para afirmar
conflito e mesmo a soberania de um Estado que a referência ao Capítulo VII, o verbo
e impor uma solução, mesmo que fosse “decides” e o descumprimento da cláusula
necessário recurso à força. Como conse- de última oportunidade criavam um gatilho
quência o termo “acting under Chapter VII” automático para o uso da força, sem neces-
tornou-se tabu para uns e um fetiche para sidade de nova decisão. Seguiu-se a invasão
outros. do Iraque, e o impacto do uso dessa argu-
Para Estados como França, Reino Unido mentação pelos EUA foi tão profundo que
e EUA, a menção ao Capítulo VII é suficien- cinco anos depois, russos e chineses reluta-
te para que o consentimento das partes vam em fazer referência ao Capítulo VII por
seja desnecessário. Esses mesmos países receio de que o mesmo raciocínio fosse
têm interesse em promover a associação empregado (Bolton, 2007, p. 300). Quando,
entre operações de manutenção da paz e nos casos da Coreia do Norte e do Irã,
forças multinacionais autorizadas pelo aceitaram uma fórmula de compromisso,
CSNU (como no Iraque e no Afeganistão), asseguraram-se de que as resoluções conti-
cujos mandatos também fazem referência vessem a ressalva: “underlines that further
ao Capítulo VII. Caracteristicamente, há decisions will be required should such
uma preocupação crescente dos países additional measures [relativas ao Capítulo
onde atuam as missões de paz de que sejam VII] be necessary”.
evitadas ou circunscritas as referências ao Como nota final, vale frisar que, nos
Capítulo VII, de modo a impedir que uma últimos anos, o Secretariado tem procurado
missão de paz possa utilizar a força contra dissociar a ideia de referência ao Capítulo
um governo ou possa permanecer em um VII do uso da força e de desconsideração
território contra a vontade das partes.10 pelo consentimento das partes. A razão
É importante notar que essas percepções para esse esforço é a preocupação crescen-
não decorrem apenas das experiências te de um número de países que contribuem
passadas e de confusão conceitual, mas com tropas para missões de paz, e suas
também da política do Conselho, que ali- forças não podem atuar em “operações do
menta a desconfiança. O caso da Resolução Capítulo VII” porque são de imposição da
1441 (2002), sobre o Iraque, é um bom paz. Do mesmo modo, alguns Estados

118 POLÍTICA EXTERNA


O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e as decisões do Conselho de Segurança

anfitriões sentem-se desconfortáveis com a maneira de modular o grau de assertivida-


menção ao Capítulo VII porque esse permi- de que o CSNU espera dessa missão e o
tiria que sua soberania fosse violada. grau de apoio político que está disposto a
Em sua doutrina sobre o tema, o Secre- emprestar-lhe, autorizando o uso limitado
tariado explicita que o CSNU não precisa da força, se necessário (Nações Unidas,
invocar um capítulo específico da Carta nos 2008, pp. 34-35; Security Council Report,
mandatos das missões e que a prática de 2008, pp. 23-24).
mencionar o Capítulo VII (usada pela pri-
meira vez na UNIKOM, em 1991) tem como
objetivo expressar um forte compromisso Conclusão
político com um processo de paz e transmi-
tir essa ideias às partes. Ainda que existam Para efeito da análise neste artigo, dois
áreas cinzentas na atuação no terreno, a aspectos foram ressaltados pelos quais as
referência aos capítulos da Carta não define referências ao Capítulo VII atraem particu-
a natureza de uma missão, que deve ser lar atenção: a ideia de que somente as reso-
procurada nas tarefas que constam de seu luções adotadas sob aquele Capítulo são
mandato, no conceito de operações e nas obrigatórias; e a percepção de que missões
regras de engajamento (Nações Unidas, de paz ou forças multinacionais autorizadas
2008, pp. 14 e 19). sob aquele Capítulo não necessitam do
O Secretariado também reafirma que o consentimento das partes e podem usar a
consentimento das partes e o uso da força força para impor uma solução a um confli-
somente em legítima defesa permanecem to. Na prática do CSNU e na visão dos
princípios básicos das operações de manu- Estados-membros e do Secretariado, é
tenção da paz. Traça uma definição de essencial ressaltar, essas duas questões são
peacekeeping robusto que explicita o uso da frequentemente confundidas e associadas.
força somente de modo tático e com o con- O fato de que representantes de países,
sentimento das partes; a imposição da paz analistas acadêmicos e jornalistas tratem de
utiliza a força de modo estratégico e inde- “resoluções do Capítulo VII” e de “missões
pendente do consentimento das partes. do Capítulo VII” é um importante sinal de
Como explicita um estudo recente: que existe uma associação entre os dois
O consentimento dos principais atores no aspectos. Para fins de análise, porém, será
nível macro é visto como essencial, mas preferível recapitulá-los separadamente:
missões das nações Unidas podem usar a Obrigatoriedade: desde o início dos tra-
força com o objetivo limitado de proteger balhos do CSNU houve debates sobre se as
civis sob ameaça e de forçar grupos margi- decisões do órgão seriam todas obrigatórias
nais no nível local a aderir ao processo mais ou se apenas aquelas adotadas com algum
amplo de paz (Security Council Report, tipo de referência ao Capítulo VII vincula-
2008, p. 23). riam os Estados. Esquematicamente, há os
Nesse contexto, há uma consciência da que acreditam que o artigo 25 da Carta
necessidade de separar as operações de determina que todas as decisões são vincu-
manutenção da paz (sobretudo as robustas) lantes e há os que advogam uma definição
do conceito de imposição da paz, com base restritiva do termo “decisão”, que se oporia
no consentimento das partes como critério às recomendações do Conselho. Esse deba-
definidor, não na referência ao Capítulo VII. te não é puramente doutrinário e envolve
Assim, em um mandato de missão de paz, a conveniência política dos Estados, mem-
as referências ao Capítulo VII seriam uma bros ou não do CSNU. Tampouco é um

119 Vol 21 Nº 4 abr/mai/jun 2013


artigos

debate acabado, visto que não há consenso o que tende apenas a dificultar o debate
entre analistas e entre os Estados. sobre o tema (Bolton, 2007, p. 303; Wal-
Uso da força/consentimento das partes: com lensteen e Johansson, 2004, p. 18). Mas não
o crescente ativismo do CSNU após a Guer- se trata, fundamentalmente, de um pro-
ra Fria e abundância de referências ao Ca- blema derivado de confusão ou desconhe-
pítulo VII em suas decisões, surgiu uma cimento. A questão das referências ao
preocupação em precisar os poderes e limi- Capítulo VII é um item vivo (ainda que
tes das missões de paz e forças multinacio- sub-reptício) da política interna do CSNU.
nais cujos mandatos são explicitamente Para alguns países, é um instrumento útil
adotados com alusão ao Capítulo VII. Tema de barganha, para outros, é um motivo de
de consequências práticas no terreno, tende desconfiança que exige precauções espe-
a gerar correntes que podem ser divididas ciais, para outros ainda, é quase um tabu,
em dois grandes grupos. De um lado, os que deve ser evitado a todo custo. De
que veem na referência ao Capítulo VII uma qualquer modo, incluir ou não uma refe-
natureza distinta para essas operações, que rência ao Capítulo VII é uma decisão que
prescindiriam do consentimento das partes pode influir sobre a resolução de uma
em conflito para agir e teriam autorização disputa ou modificar o modo de atuação
para o uso legítimo da força, de modo a de operações de manutenção da paz no
impor uma solução se necessário. De outro terreno (Johansson, 2008, p. 25; Security
lado, os que advogam que a referência ao Council Report, 2008, pp. 28-29; Nações
Capítulo VII é uma expressão de apoio Unidas, 2006). Por fim, é necessário res-
firme do CSNU e que, ao menos para as saltar que, no que concerne ao Conselho
missões de paz, o consentimento das partes de Segurança, importam menos a lógica
ainda é indispensável e o uso da força deve jurídica ou o precedente histórico e mais
ser mínimo e em nível tático. a disposição dos membros do CSNU (e
Tanto para os analistas quanto para os não apenas dos membros permanentes)
diplomatas que atuam no Conselho de de tomarem as medidas para que suas
Segurança, há um considerável grau de decisões sejam implementadas.
ambiguidade e imprecisão no valor que deve
ser atribuído às referências ao Capítulo VII, Fevereiro de 2013

Notas
1. Com base em uma definição restritiva, Wallensteen e 2. Os artigos são o 13 (“The Court may exercise its juris-
Johansson indicam que, em média, cerca de 25% das reso- diction with respect to a crime referred to in article 5 in
luções do CSNU após 1990 são adotadas sob o Capítulo VII accordance with the provisions of this Statute if: b) A
e que 93% das resoluções adotadas sob o Capítulo VII são situation in which one or more of such crimes appears to
posteriores a 1990 (Wallensteen e Johansson, 2004, pp. have been committed is referred to the Prosecutor by the
19-20). Johansson e Amer afirmam que, nos anos de 2005 Security Council acting under Chapter VII of the Charter
e 2006, cerca de 50% das resoluções foram adotadas sob of the United Nations”) e 16 (“No investigation or prose-
o Capítulo VII (Johansson e Amer, 2007, pp. 5-6). Johansson cution may be commenced or proceeded with under this
afirma que, em 2007, mais de 60% das resoluções foram Statute for a period of 12 months after the Security
adotadas sob o Capítulo VII (Johansson, 2008, p. 17). Council, in a resolution adopted under Chapter VII of the

120 POLÍTICA EXTERNA


O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas e as decisões do Conselho de Segurança

Charter of the United Nations, has requested the Court ‘Chapter VI’ or ‘Chapter VII’ resolutions (…) but upon
to that effect; that request may be renewed by the whether the parties intended them to be ‘decisions’ or
Council under the same conditions”). ‘recommendations’” (pp. 281-282).

3. Artigo 39: “O Conselho de Segurança determinará a 8. “A Resolution recommending (…) a specific course
existência de qualquer ameaça à paz, ruptura da paz ou of action creates some legal obligation which, however
ato de agressão, e fará recomendações ou decidirá que rudimentary, elastic and imperfect, is nevertheless a
medidas deverão ser tomadas de acordo com os Artigos legal obligation and constitutes a measure of supervision.
41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a segu- The State in question, while not bound to accept the
rança internacional”. recommendation, is bound to give it due consideration
in good faith” (Corte Internacional de Justiça: 1955,
4. A definição completa dada pelo autor é “A Security
pp. 118-119).
Council Resolution is considered to be ‘a Chapter VII
resolution’ if it makes an explicit determination that the 9. O próprio Hammarskjöld percebeu que a ideia de
situation under consideration constitutes a threat to the peacekeeping não se encaixava exatamente em qualquer
peace, a breach of the peace, or an act of aggression, capítulo da Carta, e houve países que sugeriram a inclu-
and/or explicitly or implicitly states that the Council is são de um capítulo entre o VI e o VII. Por isso, o SGNU
acting under Chapter VII in the adoption of some or all referiu-se às missões como “Capítulo VI e meio”. Poste-
operative paragraphs” (Johansson: 2008, p. 14). riormente, nos anos 1990, a expressão foi erroneamen-
te recuperada para designar missões que tinham regras
5. O Capítulo VIII diz respeito à cooperação com arranjos
de engajamento menos restritivas quanto ao uso da
regionais para a manutenção da paz e da segurança
força em legítima defesa e estariam entre o peacekeeping
internacional, e tem ganhado crescente importância nas
tradicional e a imposição da paz (Security Council Report:
resoluções do Conselho na medida em que organismos
2008, p. 21).
como a União Africana e a União Europeia têm desen-
volvido estruturas para participar mais ativamente da 10. Para demonstrar a ubiquidade desses conceitos,
resolução de conflitos, inclusive por meio do envio de basta uma busca simples na internet com os termos
tropas. “Capítulo VII” e “imposição da paz”. Os resultados trarão
sites brasileiros, inclusive oficiais, e diversos artigos que
6. Artigo 2 (5): “Todos os membros darão às nações toda
fazem a associação taxativa entre a referência ao Capí-
assistência em qualquer ação a que elas recorrerem de
tulo VII e ser uma missão de imposição da paz.
acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxí-
lio ao Estado contra o qual as Nações Unidas agirem de 11. Parágrafo 2: “Decides, while acknowledging para-
modo preventivo ou coercitivo”. graph 1 above, to afford Iraq, by this resolution, a final
opportunity to comply with its disarmament obligations
7. “The binding or non-binding nature of those resolutions
under relevant resolutions of the Council (...)”.
turns out not upon whether they are to be regarded as

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