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UERJ – Faculdade de Direito

Disciplina: Direito Administrativo I


Data da Aula: 24/11/2004 (Quarta-feira)
Professora: Patrícia Baptista
Transcritora: Renata Bastos de Moraes

Regime Previdenciário dos Servidores Públicos

Pelo texto Constitucional existem três regimes de previdência. Vamos abstrair um pouco
dos servidores públicos e pensar na previdência no global. Vamos para o artigo 193 da CF/88.

Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar
e a justiça sociais.

Ela fala no artigo 193 da Ordem Social, dentro da ordem social ela cuida da Seguridade
Social, capítulo II, artigo 194.

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social.

Integram o que a CF chama de seguridade social ações relativas à previdência social,


assistência social e saúde. Vamos esquecer saúde, porque “não é a nossa praia”.
Eu queria primeiro perguntar a vocês qual é a diferença entre assistência social e
previdência social. Isso é relevante, muito relevante do ponto de vista jurídico. O que é um
benefício assistencial e um benefício previdenciário? Isso é relevante. A gente precisa saber
identificar na legislação um benefício assistencial e um benefício previdenciário. De acordo com o
texto constitucional, artigo 203.

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e
ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei.

E o artigo 201 diz.

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter
contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:
I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e
dependentes, observado o disposto no § 2º.

Bom, então eu tenho dois regimes, um regime assistencial e um regime previdenciário.


O INSS paga um salário mínimo por mês aos maiores de 65 anos que não tenham outra
fonte de renda ou maiores de 70 anos que não tenham outra fonte de renda e pagam um salário

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mínimo por mês aos deficientes físicos com mais de 65 anos, com mais de 60 anos que não
tenham outra fonte. São benefícios assistenciais ou previdenciários? O INSS paga!

Aluno: Assistencial.
Profª: Por quê?
Aluno: Porque as pessoas estão numa situação de não ter outra fonte de renda, então...
Ela interrompe: Qual a explicação?

Surge um debate curto e inaudível, alguém fala algo sobre contribuição e a profª continua:
Agora estamos chegando lá. Porque o benefício assistencial, o artigo 203 fala, a assistência é
prestada a quem dela necessitar! Então os benefícios assistenciais são devidos a quem deles
necessita, de acordo com os critérios legais evidentemente, independentemente de contribuição.
Para eu fazer jus a um benefício assistencial, não preciso ter contribuído pra isso, na verdade não
devo ter contribuído pra isso, fazer jus a um benefício assistencial, como bolsa família, escola, tudo
isso que se possa imaginar, esses são mais claros do que a “aposentadoria” que o INSS paga aos
maiores de determinada faixa etária que não tenham outra fonte de renda, que nunca contribuíram
pra isso, estão assistidos pelo Estado. Quem custeia esses benefícios assistenciais? Quem
custeia a assistência? A assistência social é custeada por recursos orçamentários, ela é custeada
pela sociedade através dos recursos de impostos, não é só população economicamente ativa que
paga imposto. Então, a assistência social é custeada pelo orçamento, pelas receitas de impostos.
O que a difere da previdência? E aí chego ao ponto que quero chegar. O texto
constitucional prevê três regimes previdenciários. Á previdência, tem direito aos benefícios
previdenciários os que são vinculados ao regime, os que para ela contribuem. Então, pergunto a
vocês: a licença maternidade é um benefício assistencial ou previdenciário?

Aluno: Assistencial.
Profª: Assistencial? Previdenciário! Porque só a gestante vinculada ao regime previdenciário vai
fazer jus ao recebimento de seu salário por período de 120 dias previsto na CF.

E aí, falaram que o texto constitucional prevê três regimes de previdência. Chamados: o
regime geral, o regime da previdência pública e o regime da previdência complementar. Existem,
isso é constitucional, três regimes previdenciários: a previdência geral, a previdência pública e a
previdência complementar.
Alguém pergunta algo e ela responde: Previdenciário. Só tem direito à pensão a viúva do
sujeito vinculado ao regime de previdência.
Vamos voltar. Tirando o regime da previdência complementar, a qual, à luz do artigo 202
da CF.

Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma


autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na
constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei
complementar.

O único regime previdenciário facultativo é o regime da previdência complementar,


também chamada de previdência privada. Esse é um regime facultativo. Tanto o regime da
previdência geral, como o regime da previdência pública são compulsórios. E aí eu pergunto a
vocês: Por que isso é compulsório? Vamos supor: O Estado me obriga a ser previdente. Por que o
Estado me obriga a ser previdente?

Aluno: Solidariedade social. (O restante está inaudível)


Profª: Estamos num bom caminho, é mais ou menos por aí. O que mais? Dentro dessa ótica de
solidariedade social vamos detalhar o que seria isso.
Aluno: É você dar assistência social àqueles que necessitam. (Segue um debate inaudível)
Profª: É... Vamos explorar a idéia da solidariedade social. Por que o Estado me obriga a ser
previdente por força do princípio da solidariedade social? O que aconteceria se ele não
obrigasse a gente a ser previdente?

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Aluno: Ninguém iria contribuir.
Profª: O estado não conta com a nossa previdência individual. Ele não conta que nós sejamos
previdentes, e se não formos previdentes, como fatalmente aconteceria, se não nos
preparássemos para o período da nossa inatividade, o que iria acontecer? A gente ia recair na
assistência do Estado, ele teria que nos suportar, como ele já faz com esses velhinhos que nunca
contribuíram e não têm nada, na verdade é uma solidariedade de relações (não tenho certeza
quanto a ‘relações’). Isso encareceria o ônus social e o ônus entre as relações, então, por esta
razão a previdência do regime geral ou previdência pública são compulsórias. Você não decide se
você vai ser previdente, o Estado te obriga a ser previdente. Teoricamente seria uma poupança
obrigatória, se funcionasse como um sistema de poupança. Porque na verdade existem dois
regimes: o regime de acumulação, que é um dos regimes de previdência, no qual você constituiu a
sua reserva. É um regime bom, o que você vai receber no futuro é a conseqüência da soma das
suas contribuições, do seu conjunto de reservas. Isso no Brasil, há algum tempo, é distorcido. Na
verdade o que acontece é que não se instaurou ainda um regime de acumulação, se tem tentado
fazer isso, mas é muito complicado, porque como funciona? Tanto na previdência geral, como na
previdência pública, a soma das contribuições dos ..... ativos custeia os benefícios dos ..... inativos.
Com isso a gente vive numa situação de bomba relógio, o número de inativos só cresce, o número
de ativos diminui. Essa conta não fecha mais, essa conta fechava com sobra até 20 anos atrás,
tinha muito mais ativos suportando o número muito menor de inativos, então eu tinha a soma das
contribuições dos ativos suficiente, sobrava para custear os benefícios dos inativos. Eu não sei se
vou me aposentar um dia, porque quando eu chegar lá esse negócio vai estar muito desfavorável.
Só pra vocês terem uma noção, na Procuradoria do Estado o número de inativos é maior do que o
número de ativos, só um exemplo. No serviço público é muito comum em muitos órgãos ser assim,
e aí, como você faz? Nesse regime que as contribuições dos ativos pagam os benefícios dos
inativos a conta não fecha, alguém paga a conta, esse é o problema.

Aluno: (Parte inaudível). Não é necessário de forma nenhuma que haja recursos extras (inaudível),
aí decorre muito mais de orientação econômica (inaudível). Segundo lugar: o regime se equilibraria
se (inaudível). Terceiro lugar: se o país tivesse sustentado taxa de crescimento acima de 4% ao
ano, há 10 ou 15 anos, haveria hoje superávit no regime previdenciário, mesmo público. Então, na
verdade existe uma relação de causa e efeito, não é a previdência que faz o país não crescer, o
crescimento econômico baixo que causa prejuízo na previdência.
Profª: É, têm esses aspectos, é muito relevante (inaudível).

Porque lembro a vocês que um bando de gente virou servidor público e nunca tinha
contribuído porque não era servidor público, era celetista e a Constituição transformou o povo todo
em servidor, e aí esse pessoal nunca contribuiu. O que eles recebem de benefício previdenciário
nunca foi feito um regime acumulativo pra isso, nunca houve a contribuição. E na do serviço
público, eu vou chegar no regime de previdência pública, no serviço público essa é a orientação,
até porque e aí esse é um ponto muito interessante que ninguém se dá conta, até a emenda 20 de
98, formalmente falando, os servidores públicos não contribuíam para a sua aposentadoria, (parte
inaudível) não que não contribuíssem para a previdência, contribuíam, mas eu chego lá. Outro
aspecto importante é, a gente não pode esquecer do fator demográfico relevante, e esse elemento
demográfico também é um dos responsáveis pelo desequilíbrio. A par de todos os outros, ......., de
qualquer forma, é bom que se saiba que se não fosse o regime acumulativo, como opção
econômica, alguém pagaria a conta. Você tem que ver a opção que a sociedade vai fazer, esse é o
problema, a sociedade tem que fazer essa opção. Comentário inaudível de algum aluno.
Vamos voltar. A previdência é compulsória em razão da solidariedade social. Existem dois
regimes de previdência compulsória: o da previdência geral e o da previdência pública. Na
verdade, o texto constitucional até a EC 20, não falava em previdência pública, não cuidava muito
do regime, não era um regime claramente bem explicado. Hoje é nítido, existe um regime de
previdência pública, que é o regime de previdência dos servidores públicos.
O que se tem tentado fazer já de algum tempo? Unificar os regimes. As Administrações
Públicas têm tentado a unificação dos regimes, o que eu acho que seria um princípio de
solidariedade social, de igualdade social razoável. Não se justifica muito se mantenham dois

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regimes, senão por razões históricas, uma série de elementos de ordem político-histórica, que
bloqueiam um pouco a uniformização do regime. O ideal seria a gente ter um único regime de
previdência pública no país. Um regime de previdência para todos, o que não se consegue também
por problemas concretos, práticos.
Qual é a grande diferença entre o regime da previdência geral e o regime da previdência
pública? Tirando os beneficiários, evidentemente. Os vinculados ao regime da previdência pública
são os servidores públicos. E os vinculados ao regime da previdência geral são os funcionários.
Agora, por exemplo, é preciso prestar atenção, desde a EC 20/98 os servidores públicos,
exclusivamente ocupantes de cargo em comissão, função de confiança, não são mais
vinculados ao regime da previdência pública, e sim, por determinação constitucional, ao regime de
previdência geral. Por quê? Faz mais sentido! Os servidores públicos exclusivamente ocupantes de
cargo em comissão são transitórios na Administração, então o texto constitucional determinou que
esse pessoal seja regido pelo regime da previdência geral. Os empregados públicos,
evidentemente, também não contribuem para o regime da previdência pública, mas para o regime
da previdência geral. São contribuintes do regime da previdência pública os servidores públicos
ocupantes de cargos de provimento efetivo, de acordo com próprio texto constitucional.
Qual é a grande diferença entre o regime da previdência geral e o regime da
previdência pública? Na verdade as diferenças têm se esfacelado desde a EC 20. Lembro que
antes da EC 20/98, ela foi de 20/12/1998, os servidores públicos do país jamais haviam contribuído
para alcançar o benefício de aposentadoria, que é um dos benefícios previdenciários. NÃO
confundir aposentadoria e previdência, aposentadoria é apenas UM dos benefícios previdenciários
existentes, licença médica, maternidade, pensão, isso tudo é benefício previdenciário, ou seja,
fazem jus a esses benefícios aqueles que para eles contribuem. E até a EC 20/98 os servidores
públicos não contribuíam para a sua aposentadoria, não havia previsão de contribuição dos
servidores públicos para o benefício de aposentadoria, o que não significa dizer, de modo algum,
que os servidores públicos não contribuíam para a previdência, eles contribuíam, vou chegar já.
Quem custeava por determinação legal a aposentadoria dos servidores públicos que jamais pra ela
haviam contribuído? No regime da previdência pública, o Estado brasileiro em geral custeava
essas aposentadorias. Na verdade, era parte do regime estatutário que a aposentadoria fosse
paga pelo Estado.

Aluno: E a contribuição social?


Profª: Que contribuição social? Eu estou falando que até 98 os servidores públicos não contribuíam
para aposentadoria, de 98 pra cá, eles contribuem. Contribuem, desde que a Administração
Pública a qual eles pertencem tenha instituído seu regime previdenciário. Regime previdenciário
como todos os aspectos relacionados a servidor público é matéria que se situa, em alguma
medida, no campo da autonomia federativa, então eu preciso ter um regime previdenciário público
estadual, um regime previdenciário público municipal e um regime previdenciário público federal.
As regras básicas desses regimes são as mesmas por causa do texto constitucional, que é uma lei
federal, lei nº 9717 se não me engano que fixa regras básicas, se discutiram a constitucionalidade
por sinal dessa lei. Agora, que há necessariamente leis municipais, estaduais e federais fixando
cada qual um regime previdenciário público de seus servidores, isso é indiscutível. Então, desde
que o ente da federação ao qual o servidor público esteja vinculado, tenha instituído seu regime
previdenciário depois da EC 20/98, que se passou a contribuir após isso. É uma contribuição ao
regime previdenciário, uma contribuição previdenciária global, inclusive destinada a suportar o
benefício da aposentadoria. Antes de 98, como era? Dizia eu que antes de 98 os servidores
públicos não contribuíam para aposentadoria, mas dependendo do ente federado ao qual fossem
vinculados, havia contribuição previdenciária. Por exemplo, havia, aqui no estado, duas
contribuições previdenciárias, uma contribuição de 9% sobre o salário que era para o Instituto de
Previdência do Estado do Rio de Janeiro, que era destinada a quê? Não era pra aposentadoria.
Era pra outros benefícios previdenciários previstos numa determinada lei, dentre os quais pensão,
auxílio funeral, etc. E havia uma contribuição de 2% para o sistema de saúde. Essas são
contribuições sociais, o nome que vem, a rubrica do contracheque, isso não é relevante, varia de
ente federativo para ente federativo. Era uma contribuição pra previdência, só não se destinava à
aposentadoria. Deu pra entender? Enfim, a matéria sofreu essa modificação em 98 e sofreu agora
nova modificação com emenda 41.

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Qual era a grande diferença entre o regime da previdência geral e o regime da previdência
pública? Era, porque ela já não é mais. A integralidade do benefício. No regime da previdência
geral, já de algum tempo, há um teto de contribuição e um teto de benefício. No regime da
previdência pública, não havia, antes de 98 claro que não, e depois de 98 foram criadas regras
transitórias, mas o fato é que não havia um teto para as contribuições nem teto para benefício, o
servidor público contribuía sobre a integralidade de sua remuneração e a expectativa de benefício
previdenciário, tipo pensão, a partir de 88, que antes de 88 não havia isso nas pensões, havia teto
nas pensões, percentuais nas pensões, e a CF/88 cometeu o crime de não pôr teto, de assegurar
aos pensionistas 100% da remuneração do servidor. É um crime, é uma má utilização do dinheiro
público que não tem tamanho. Na verdade algumas legislações que eu conheço asseguravam
160%, o sujeito valia mais morto que vivo, no Brasil, aqui no estado mesmo.

Aluno: Proventos não, né?


Profª: Não, proventos nunca vi. Na verdade já vi sim. Antes de 88 também havia leis, você tem que
levar em conta determinados acontecimentos históricos. Dava-se ao servidor, aqui no estado
também, lá pros anos 70, início dos anos 80, havia um incentivo à aposentadoria, você tinha mais
20%, 120%. Era 100% da aposentadoria integral mais uma vantagem dessa de 20% para se
aposentar, completando o tempo ir embora, não antes do tempo. Como se poderia explicar isso?
Necessidade de renovação do quadro de carreira. Incentivo à aposentadoria decorre de quê? Uma
massa de trabalhadores tentando entrar no mercado de trabalho e você tem um quadro estagnado
e você não tem um programa de recurso, ou pelo menos esse programa de recurso previdenciário
não é relevante, como não era mesmo, nos anos 70!

Então, havia leis que davam incentivos ao sujeito. Hoje é o contrário, há dispositivos que
incentivam a permanência. Não só constitucionais. A CF/88, por exemplo, diz assim: aquele que
tendo completado tempo de serviço pra se aposentar e desejar continuar trabalhando ganha
isenção da contribuição previdenciária até se aposentar, quando se aposentar volta a contribuir. É
um incentivo de ótica diversa. Há normas aqui no Estado do Rio que dizem assim: o servidor que
tendo completado tempo e desejar continuar trabalhando tem direito a ganhar triênio em dobro, sei
lá. É uma questão de política pública. O legislador pode optar de um jeito como de outro, assim
como ele optou em determinado momento histórico a incentivar o sujeito a ir embora pra casa. Ele
hoje optou por fazer diferente.
Vamos voltar ao regime anterior a 98 e ao regime implantado pela EC 20. E a grande
distinção entre o regime da previdência geral e o regime da previdência pública é o fato de que
havia a previsão da integralidade, e uma outra coisa que foi imposta pela CF/88 que não havia
antes, a paridade. São duas coisas distintas: a integralidade e a paridade. Que aliás acabaram de
cair com a EC 41, nem a integralidade, nem a paridade estão mais previstas. A integralidade
consiste justamente em receber como benefício previdenciário a integralidade da remuneração da
atividade e a paridade é assegurar que essa integralidade, que essa remuneração na inatividade
chamada de aposentadoria, guarde permanente relação de paridade com a remuneração dos
servidores em iguais condições na atividade. Nem a integralidade, nem a paridade são mais
asseguradas aos servidores que ingressaram após a EC 41 de 2003.

Fim do lado A

Era o artigo 40 (não tenho certeza, pois está cortado), parágrafo 4º, na redação original do
texto de 88 quem assegurava a integralidade era a paridade das pensões.

Art. 40, § 4º - Os proventos da aposentadoria serão revistos, na mesma proporção e na mesma


data, sempre que se modificar a remuneração dos servidores em atividade, sendo também
estendidos aos inativos quaisquer benefícios ou vantagens posteriormente concedidos aos
servidores em atividade, inclusive quando decorrentes da transformação ou reclassificação do
cargo ou função em que se deu a aposentadoria, na forma da lei.

Não tinha para a aposentadoria, aposentadoria já havia, a Constituição assegurou a


integralidade e a paridade para as pensões! Como eu estava dizendo, a viúva e os demais

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dependentes passaram a ter direito a 100% da pensão. Demagogia previdenciária. A EC 41
acabou com a paridade e a integralidade para as novas pensões e novos servidores . Há dois ou
três regimes previdenciários transitórios em vigor hoje, a situação previdenciária do servidor
público hoje é um caos. Regime transitório da emenda 20 e da 41.
Qual é a outra grande diferença que se passou a ter com a EC 20/98 entre os dois
regimes? Essa emenda introduziu duas coisas: Primeiro, a aposentadoria não mais por tempo de
serviço, mas por tempo de contribuição. Foi uma mudança importante para o regime
previdenciário do servidor público. Este, pelo regime anterior à emenda 20, tinha direito a se
aposentar por tempo de serviço, e após a emenda 20/98 a aquisição do tempo necessário para
aposentadoria passou a ser do tempo de contribuição. Qual a grande diferença disso? Eu fui
estagiária dois anos da Procuradoria Geral do Município, havia uma legislação que permitia que o
tempo de estágio prestado em órgão da Administração Pública, essas legislações, eu insisto, todas
as que eu tô mencionando variam de ente pra ente, variam da União, do estado e do município,
cada um tem, hoje menor, mas um certo grau de autonomia na fixação de seu regime
previdenciário, hoje muito menor, porque a previsão constitucional sobre essa matéria é muito mais
extensa e há uma lei federal, que é a Lei 9717/98, que regula um pouco essa matéria, mas antes
dessas mudanças constitucionais todas a autonomia dessa questão previdenciária era bem
grande. Então, havia leis municipais, estaduais que diziam assim: “pode ser contato como tempo
de serviço público o tempo prestado como estagiário”. No meu caso, havia um dispositivo legal que
permitia computar como tempo de serviço metade do tempo prestado como estagiário no serviço
público, ou seja, dois anos, eu contei como tempo de serviço público um ano, para o qual eu jamais
contribuí. Depois da EC 20 passou a ser relevante o tempo de contribuição. Na verdade não houve
regra transitória, a Constituição dizia assim: “Tudo que era tempo de serviço até aqui passa
automaticamente a ser tempo de contribuição”. Isso é um regime transitório, tem que haver uma
regra de transição, mas hoje se vocês forem estagiários de qualquer órgão não vão contar esse
tempo pra aposentadoria. A CF/88 não permite mais, porque a regra é o tempo de contribuição.
A EC 20 instaurou também um tempo mínimo de contribuição conjugado ao fator idade,
que também não havia. Antes da CF/88 não era raro um servidor público se aposentar com 40 e
poucos anos, imagine um sujeito que começou a trabalhar com 15, 16 anos, ou uma professora
que normalmente começava a trabalhar com 18 anos e tinha tempo de serviço de 25 anos. Havia
legislação que permitia que as férias não gozadas e as licenças prêmio não gozadas fossem
computadas em dobro para aposentadoria. Não havia antes da emenda 20 nem a regra do tempo
de contribuição nem o limite etário conjugado à contribuição.
E no regime da previdência geral? A emenda 20 não introduziu o fator idade, não foi
aprovado, foi aprovado para o regime da previdência pública, mas não foi aprovado para
previdência geral, ficando, assim, somente o tempo de contribuição. Não tenho certeza, mas
acho que a emenda 41 introduziu o limite etário na previdência geral, mas tem que checar. Na
verdade, a emenda 41 reduziu as diferenças entre o regime da previdência geral e o regime da
previdência pública. Quer dizer que eu não vou ter direito à integralidade? Não! Eu vou, porque eu
estou nas regras de transição. Já era servidora antes dessas mudanças. A grande novidade do
regime da previdência introduzida pela emenda 41 vai ser sentida em muito tempo. Até porque a
emenda 41 deixou muita coisa para legislação infraconstitucional, como definir quais são os tetos,
até hoje não teve nenhuma legislação infraconstitucional, uma coisa é aprovar o texto, outra coisa
é conseguir implementar, aprovar legislação infraconstitucional necessária para aplicar as
mudanças introduzidas no texto constitucional. Não foram aprovadas, e é muito difícil aprovar essa
legislação, regulamentar essas alterações, todas as dificuldades políticas que se têm pra fazer
essas mudanças são mais fortes e mais sentidas, não tem nada suficientemente claro ainda, de
como vai ser esse novo regime.

Aluno: Comentário inaudível.


Profª: Tem que ler, mas me parece que quem já é servidor vai continuar com as regras antigas, em
princípio. (parte inaudível) Sendo já servidor, já que a CF usa a expressão “servidor”, você não
muda de status, você continua servidor, em princípio não se aplica, as mudanças de cargo, mesmo
que incongruente, mas tem que olhar com cuidado. Mas como conheço pessoas que já mudaram
de cargo e o fizeram com certa tranqüilidade, então eu tenho quase certeza de que dá margem a
essa interpretação de que não é no cargo essa ....., e sim no serviço público.

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Aluno: Eu já escutei que só seria aplicada essa regra se houvesse um sistema de convênios entre
as esferas de governo.
Profª: Mas esse sistema de convênios, independentemente dessa questão, ele é obrigatório, já de
algum tempo, porque a CF exige que haja um sistema de compensação, ela afirma que deve ser
compensado. Vamos supor: hoje servidor estadual, independentemente de ter havido ou não
alteração em relação ao servidor estadual, que contribui para regime da previdência pública
estadual, se resolvo fazer um concurso e passar pra administração federal, eu continuo vinculado
ao regime da previdência pública, não mudei, e a CF manda que haja entre os regimes
previdenciários dos diversos entes uma compensação, quer dizer, há que se considerar o meu
tempo de contribuição porque eu de fato contribuí para previdência pública. E se obriga a fazer
essa compensação, inclusive entre o regime da previdência geral e o regime da previdência
pública. Por exemplo, sou celetista, sou vinculada ao INSS, contribuí 20 anos pro INSS, resolvi
fazer concurso público, vai matar meu tempo de contribuição de 20 anos? É claro que não! Obriga-
se a fazer um sistema de compensação, o texto constitucional menciona isso, isso deveria ter sido
feito sempre.

É que a Administração Pública não dá a mínima (?). Não se faz, mas a rigor essas
compensações são necessárias, o servidor tem esse direito. O que acontecia e aí isso a CF não
queria mais, aí há um problema, é que justamente o regime da previdência geral tinha um teto de
contribuição, e você levava para o serviço público aquele seu tempo de contribuição por um teto X,
como tempo de serviço. O sujeito contribuía a vida inteira sobre o teto da previdência geral, aí com
50 anos ele resolvia fazer um concurso pra juiz, trabalhava 5, 6, 7 anos, e se aposentava com
salário de juiz, é óbvio que a conta matemática não vai prestar. Isso o texto constitucional não
permite mais. Vamos supor, terminar com a regra da integralidade, na verdade a redação da
emenda 41 fala que o benefício da aposentadoria vai ser a média ponderada entre as
contribuições etc, algo próximo, mas não muito claro pois depende de lei infraconstitucional, do que
é o regime do INSS, ou seja, você não vai receber o máximo da sua última remuneração, mas você
vai receber a integralidade das médias ponderadas das suas remunerações ao longo do tempo.
Essas coisas todas são muito complicadas e de operacionalização muito difícil.
Eu pessoalmente acho o seguinte, minha opinião pessoal, não é jurídica, mas é política, eu
acho um absurdo que o Estado brasileiro pague a integralidade, que existam dois regimes, que
você trate a sociedade de forma diferente, eu acho um absurdo que o Estado brasileiro me obrigue
a contribuir pra minha previdência sobre a minha remuneração integral, eu acho justo assim: qual
mínimo para que eu não onere as gerações futuras? R$ 1.500,00, vamos supor. Eu contribuo
então proporcionalmente a esse valor e dali pra frente quem decide o que fazer com meu dinheiro
sou eu. Hoje me obrigam a contribuir pra um fundo mal administrado, mal gerido, que eu não sei o
que vão fazer com meu dinheiro, não tenho opção pra fazer minha ? Eu tenho dificuldade até de
escolher uma previdência complementar porque eu já recolho muito pra previdência pública. O
desconto é muito alto, e eu sei que quando eu chegar na idade eu não vou ter o que me é devido,
o Estado brasileiro faz tudo pra não pagar os velhinhos direito. Hoje eu recolho sobre tudo, mas lá
na frente eu não vou receber sobre tudo porque o Estado arruma mil artifícios jurídicos pra não
pagar. Então pra que o Estado brasileiro tem que ser paternalista a esse ponto pra mim?
Paternalista e mal intencionado, porque ele precisa desse dinheiro pra pagar o resto de suas
contas. O Estado brasileiro também não pode abrir mão da integralidade, por que ele não
consegue aprovar esse teto? Também porque os estados e municípios ..... a União, essas
reformas não passam também porque a Administração Pública não quer. Então, ela precisa desse
dinheiro que ela tira de mim, não podendo abrir mão dessas contribuições permitindo que sejam
diminuídas da integralidade da remuneração. Isso porque os benefícios de hoje sustentam os
aposentados de hoje. Então você tem um problema deles, que é o orçamentário, que eles não
conseguem resolver. Esse é o ponto.
O Estado brasileiro me tunga porque eu não posso gerir a minha previdência, ele presume
que eu seja incapaz de gerir a minha previdência. É uma opção política. Mas a bandeira dos
servidores públicos pela integralidade e pela paridade, é uma bandeira que é uma faca de dois
gumes para os próprios servidores. E ainda tem um outro problema que é o outro ponto que eu ia
falar. Ah sim, tem um outra questão. Tem a transição. Eu já estou há 10 anos contribuindo sobre

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o todo, eles não podem dizer simplesmente que agora eu não mais tenho direito ao todo, estou há
10 anos contribuindo. A transição aí é absolutamente necessária, se houvesse uma transição...
Eles não vão me pagar, isso é certo. Já vi milhares de subterfúgios jurídicos que as Administrações
Públicas usam para dar aumento aos ativos e não estendê-los aos inativos por causa da regra da
paridade. Agora esses subterfúgios vão diminuir porque a regra da paridade caiu. Caiu do ponto de
vista constitucional, ela ainda não caiu infraconstitucionalmente. Mas a regra da paridade ela
sempre foi formal, no sentido de que a Administração Pública engendrava mil caminhos jurídicos
pra mil denominações diversas, isso tudo que a gente estudou sobre gratificação, etc, a
Administração dava uns nomes a umas verbas que ela criava justamente com a finalidade de
cortar (?) com que ela ficasse enquadrada num determinado rol jurídico e impedir que se
considerasse aquela verba extensível aos inativos.
Foram raros os casos da Administração Pública ao longo dos anos 90 em que se tenha
dado um aumento com nome de “aumento”, com finalidade específica de fazer com que isso não
fosse extensível aos inativos. Isso levava os velhinhos pra justiça. Você tinha o Judiciário
abarrotado de ações dos inativos e pensionistas cobrando aplicação das regras anteriores à
emenda 20 que era paridade e integralidade absoluta. Por que eu vou achar que a Administração
vai fazer alguma coisa diferente daqui a trinta ou quarenta anos? Não vai. Na hora de recolher ela
recolhe, mas na hora de pagar... Então eu acho que a paridade e a integralidade não podem sumir
assim, como de fato não sumiram (não deu pra entender direito essa parte), você tem uma
previsão de desaparecimento disso em regime transitório a longo prazo e ainda não sei
exatamente como isso vai ser, o regime não é claro, alguém que entra no serviço público hoje não
tem, por falta de legislação infraconstitucional necessária, a idéia suficiente de qual será o seu
regime previdenciário, de quais serão as regras de sua aposentadoria. A emenda 41 ainda não foi
suficientemente regulamentada. Esse é um problema sério. Mas não se pode perder de vista as
questões relevantes, paridade e integralidade, eu tenho mil regimes de transição e a Administração
não poderia extingui-los de uma hora pra outra.

Aluno: Pergunta inaudível


Profª: Olha, eu não sei o que acontece com os pensionistas. Eu acredito, até mesmo por conta da
executividade, mas não tenho certeza, que uma pensionista que ganhava 100% continua
ganhando. Eu acho até que se garante expressamente isso, o direito daqueles que já tinham
benefícios fixados com base nas regras anteriores.

As regras novas trazem os novos benefícios, ou seja, qual é a regra que se aplica à
concessão do benefício previdenciário? Regra jurídica, a gente fala que é o princípio do tempus
regit actum, ou seja, o tempo rege o ato, rege a aposentadoria, rege a pensão, a regra vigente no
momento da aquisição do direito.
Tem uma súmula bastante relevante do STF 359, é uma regra importante: o servidor
público tem direito adquirido ao regime de previdência da sua aposentadoria vigente à época em
que preencheu os requisitos necessários ao benefício.

Súmula 359. Ressalvada a revisão prevista em lei, os proventos da inatividade regulam-se


pela lei vigente ao tempo em que o militar, ou o servidor civil, reuniu os requisitos
necessários.

A súmula diz o seguinte, vamos supor que no dia 18/12/1998 eu tivesse completado tempo
pra me aposentar, no dia 20/12/1998 foi promulgada a EC20, evidentemente não me aposentei em
dois dias, nem requeri a aposentadoria em dois dias, quais são as regras aplicadas a minha
aposentadoria? As regras do dia 18/12/1998. Tem gente que tem direito a se aposentar com as
regras anteriores à emenda 20, tem gente que tem direito a se aposentar pelas regras emenda 20,
etc. Porque as regras que vão reger a aposentadoria, de acordo com a súmula 359 do STF, são as
vigentes no momento em que se completou os requisitos necessários. As regras que regem a
concessão do benefício de pensão, são as existentes no momento do óbito do servidor.
Parte inaudível. O princípio da assistência pública (acho que foi isso que ela falou), é
uma coisa hoje extremamente complexa. Outro dia um amigo que trabalha no município me ligou
pra falar de aposentadoria por invalidez, o que que eu achava. Havia uma norma constitucional,

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que a aposentadoria por invalidez em determinadas doenças, como câncer ou acidente de serviço,
etc dava direito à integralidade independentemente do tempo de contribuição e ele queria saber se
isso estava em vigor, o que eu achava depois das mudanças até a emenda 41. Mesmo o inativo
por invalidez por essas causas não tem mais direito a 100% da remuneração da atividade, mas sim
ao sistema tipo do INSS, média das contribuições. Então, esse sujeito tem direito à integralidade,
mas não os 100%, calculada com base na média das contribuições. A certeza que eu tenho hoje é
que eu não vou me aposentar justamente, o Estado brasileiro fatalmente não vai me pagar tudo
que me tira de contribuição. Lógico que tem o princípio da solidariedade social, mas se eu
aplicasse num fundo tudo que ele me tira, eu poderia ter um benefício previdenciário maior do que
a integralidade do meu salário, eu acho o regime injusto. Aquele sujeito que contribuiu com base
em um salário mínimo durante 30 anos, aí de repente conseguiu aquele cargo e se aposentou com
último salário, ele estará causando prejuízo à sociedade, a sociedade vai estar pagando pra ele.
Mas é tudo uma questão política, num bom sentido até, opções políticas da sociedade, o problema
é que a sociedade não tem muita noção disso.

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